DEZFACES

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Adriana Versiani Álvaro Andrade Garcia Ana Caetano Ana Paula Paiva Camilo Lara Carlos Augusto Novais Carlos Barroso Carlos Versiani dos Anjos Clô Paoliello diOli Emília Mendes Imaculada Kangussu Leo Cunha Marco Scarassat Marcus Vinícius de Faria Mário Alex Rosa Sofia Caetano Avritzer Vera Casa Nova

Belo Horizonte dezembro 2010

#1 fase

Adriana Versiani Álvaro Andrade Garcia Ana Caetano Ana Paula Paiva Camilo Lara Carlos Augusto Novais Carlos Barroso Carlos Versiani dos Anjos Clô Paoliello diOli Emília Mendes Imaculada Kangussu Leo Cunha Marco Scarassat Marcus Vinícius de Faria Mário Alex Rosa Sofia Caetano Avritzer Vera Casa Nova


a rose is a rose is a rose is a rose is a rose is a rose * dois quartetos e dois tercetos são dois quartetos e dois tercetos são dois quartetos e dois tercetos são dois quartetos e dois tercetos * sete buracos da minha cabeça são sete buracos da minha cabeça são sete buracos da minha cabeça são sete buracos da minha cabeça * dezfaces são dezfaces são dezfaces são dezfaces são dezfaces * cemflores são cemflores são cemflores são cemflores são cemflores * uma antologia das mil folhas é uma antologia das mil folhas é uma antologia das mil folhas é uma antologia das mil folhas *

entenda o

um editorial é um editorial é um editorial é um editorial é um editorial

número da página número do fascículo total de fascículos número de página sequencial

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* um jornal * um não

expediente dezfaces

editorial

Belo Horizonte, dezembro de 2010 Editores Adriana Versiani, Camilo Lara, Carlos Augusto Novais. Revisão Carlos Augusto Novais. Capa Flor em ferro fundido (...) Conhece a Giralda em Sevilha? De certo subiu lá em cima. Reparou nas flores de ferro dos quatro jarros das esquinas? Pois aquilo é ferro forjado. Flores criadas numa outra língua. Nada têm das flores de fôrma moldadas pelas das campinas. Dou-lhe aqui humilde receita, ao senhor que dizem ser poeta: o ferro não deve fundir-se nem deve a voz ter diarreia. Forjar: domar o ferro à força, não até uma flor já sabida, mas ao que pode até ser flor se flor parece a quem o diga. [O ferrageiro de Carmona. In: MELO NETO, João Cabral de. Crime na Calle Relator. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.]

Projeto gráfico, capa, direção de arte e formatação Glória Campos e Clô Paoliello/ Mangá Ilustração e Design Gráfico.

Tiragem 1.000 exemplares Impresso na Gráfica Editora Jornal do Comércio. Contatos Adriana Versiani driarroba@gmail.com Camilo Lara camilara@uol.com.br Carlos Augusto Novais carlosanovais@yahoo.com.br


13 caretas aforísticas de nietzsche ou das inquietações do humano demasiadamente desumano

Casa Nova | Vera

1. ”Inimigos da verdade”: .........................................................................................................................................................as verdades 2. ”mundo às avessas”: ............................................................................................................................................... a crítica do evento 3. ”ter caráter”: ......................................................................................................................................... o temperamento das vísceras 4. ”a coisa necessária”: ...................................................................................................................................a reversão do platonismo 5. ”a paixão pelas causas”: ....................................................................................................................................... o fogo das criações 6. ”a calma na ação”: .....................................................................................................................................a inquietação dos desejos 7. ”indo profundamente demais”: ........................................................................................................................ a fidelidade perigosa 8. ”ilusão dos idealistas”: ................................................................................................................................o deslocamento do olhar 9. ”observação de si mesmo”: ..................................................................................................................só com porrada sai do lugar 10. ”a profissão certa”: .............................................................................................................o profissional não vive sem o amador 11. ”nobreza de caráter”: ....................................................................................................................a perversão é o melhor remédio 12. ”meta e caminho”: .......................................................................................................................................... obstinação e dialética 13. ”o que há de revoltante num estilo de vida individual”: ................... a mediocridade é a fonte dos pobres de espírito.

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Kangussu | Imaculada

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um condenado à morte escapou ou o vento sopra onde ele quer

E’ uma provocação ter de eleger, dentre escritos, músicas, quadros e filmes, uma obra como aquela que mais me marcou. Ainda assim, no meio de três ou quatro livros e canções que me vieram imediatamente à memória enquanto ouvia o convite, a escolha foi quase imediata: a eleita seria o filme Um condenado à morte escapou. O filme do cineasta francês Robert Bresson (1901-1999), lançado em 1956, tem o título original de Un condamné a mort s’est échappé ou Le vent souffle ou il veut. A segunda parte ficou de fora na tradução.

O que se vê na tela é um prisioneiro empenhado em fugir de uma prisão da qual qualquer tipo de fuga parece ser tecnicamente impossível. A ação acontece na França, em 1943, e começa com a chegada do condenado à morte – capturado pelo exército alemão, acusado de participar da Resistência francesa – ao cárcere, do qual, conforme o título nos revela, conseguirá escapar. Então, desde a primeira vez que assisti o filme, como sabia de antemão que o protagonista conseguiria escapar, i.e, que teria “sucesso” e, como o protagonista


anotações escritas à mão, relançadas em Notes sur le cinematographe (Gallimard, 2007), cuja tradução foi publicada pela Iluminuras: “Criar não é deformar ou inventar pessoas e coisas. É estabelecer entre pessoas e coisas que existem e tais como existem, novas relações.” “Uma imagem esperada demais (clichê) nunca parece exata, mesmo se o for.” “Reconhecemos o verdadeiro por sua eficácia, por sua força.” “Não corra atrás da poesia. Ela penetra sozinha pelas articulações (elipses)”. O certo é que o assombro com Um condenado à morte escapou repete-se a cada vez que assisto o filme. Possivelmente, e entre outras coisas, por tratar-se de uma condenação à qual, no abismo íntimo, quase todo mundo deseja escapar.

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estava do lado justo, nas minhas perspectivas, acompanhei sua luta pela fuga profundamente entusiasmada, com o prazer da vitória, antecipada pelo título, presente desde o início. Certo júbilo vingativo era provocado pela certeza de que a ignomínia não iria vencer e de que o Bem, o Belo e o Verdadeiro encontrariam a liberdade. E o fato de as condições serem totalmente adversas intensificava essa sensação, era como ganhar o jogo “de virada”. O (lindo) condenado à morte que consegue escapar comporta-se como um verdadeiro herói e, o que ainda hoje parece-me uma das grandes qualidades do filme, dentro de um contexto “real”, quero dizer, ele não tem super poderes, nem são criadas situações distintas daquelas que poderiam realmente ocorrer. Nenhum milagre, nenhum deus ex machina se faz presente. Ele vence através de uma determinação inquebrantável, revelada na disciplina e paciência do trabalho vagaroso, difícil, solitário, que precisa permanecer oculto já que não há ninguém em quem ele possa confiar. São qualidades humanas, colocadas juntas e ordenadas em escala heróica, tendo em vista a própria vida como prêmio, que produzem sua vitória. E seu encanto. Trata-se de uma elegia às potências vitais que nos compõem. De uma espécie de epifania reveladora de seu caminho constitutivo. Pelo menos, assim me parece. Claro que uma boa história, ao contrário do que pensava Aristóteles, não é suficiente para se produzir uma grande obra. Na dimensão estética, essencial é a forma, o “como”. E nesse aspecto Bresson é um mestre. O cineasta atinge um rigor formal e uma sobriedade visual raramente alcançada, em procedimentos semelhantes aos mais tarde adotados pela dupla Straub-Huillet, através da simplicidade das composições, despojamento cenográfico, uso econômico da música, transformação dos ruídos em som, trabalho com não-atores: resumindo, da economia dos meios. Segundo seus conselhos, “quando um violino é suficiente, não utilizar dois”, e mais, “tenha certeza de ter esgotado tudo o que se comunica pela imobilidade e pelo silêncio”. Depois do impacto inicial, descobri que o roteiro deste filme, ganhador da palma de ouro em Cannes por sua mise en scène, foi escrito pelo próprio Bresson, ele mesmo encarcerado por mais de um ano em um campo de prisioneiros durante a II Guerra. E também que a obra fora considerada como uma metáfora do misterioso processo de salvação, produzida pelo católico jansenista declarado que foi Bresson. Talvez. Podemos saber mais sobre a posição do artista a partir de suas

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Andrade Garcia | Álvaro

call center #1 o software não aceita exceções e quando elas ocorrem ele te executa e não adianta buscar humanos o software é desumano o software é feito para desatender para manter afastadas as reclamações as ponderações, as humanidades os possíveis acontecimentos sãos o software é o resultado de uma brutal concentração o software é escravagista

o serviço de atendimento é uma fraude para nos afastar da humanidade humanos podem decidir eles têm arbítrio ponderam usam o bom senso a intuição eles pensam

e kafkiano

o software não

e foi planejado por gente do

o software é só um escudo

marketing e da casta superior

para não vermos que cortaram empregos enxugaram as companhias e afastaram de nós quem podia resolver de perto nossos problemas

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por que nossos problemas não existem quando o cara vem e desliga primeiro a luz e cobra para religar depois do transtorno que causou e a ligação telefônica sempre cai quando ligo para a operadora não é engraçado? o software não tem propósito além de ampliar o saque agride o cliente e o trabalhador só serve ao empresário o atendente é um escravo posto para estender a máquina a uma aceitabilidade humana ele é 1 plug in do sistema

não pode decidir nem pode arbitrar ele é um protocolo que tem úlceras por ser xingado por milhões enquanto ganha um mínimo preso como galinha num cubículo em que posso ajudar, senhor? o atendente não te conhece e nunca mais vai falar com você e não pode fazer nada além do que faria a máquina o sistema é insano e cruel e o software é seu refinamento deseja algo mais, senhor?

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Scarassat | Marco

música experiência

Grave um som qualquer. Reproduza-o pelos altofalantes. Grave esta sonoridade advinda das caixas. Repita a operação Até que seu som original esteja impregnado pelo meio que o difunde, Até que a distorção separe da sonoridade tudo aquilo que lhe é índice Até que seu som seja espaço. Até que o meio seja a mensagem...

Neste exercício de composição proposto por Lívio Tragtenberg, fui arrebatado pelo disparo não certeiro, difuso, múltiplo, da música pós-serialista. Na ocasião, eu me encontrava no primeiro ano do curso de composição musical e até então meu universo de projeções composicionais estava ligado, no máximo, à ousada demolição do sistema tonal que, de fato, ocorrera praticamente um século antes. A estrutura do ensino de música conservatorial,

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a programação, mentalidades e práticas musicais na década dos anos 1990 ainda geravam esse delay. O sistema tonal, sustentáculo das grandes formas musicais do passado, erigiu, em música, o que no campo da fé foi o projeto político do Deus único. A ideia de um centro e, como desdobramento, toda uma cosmologia de hierarquias nos valores das notas

musicais e sua funcionalidade harmônica nas práticas musicais, nas pedagogias, no sistema cartesiano de notação, nas formas, nas tensões e distensões causadas pelo distanciamento ou reencontro com o centro tonal. Como se fora uma evolução natural da música modal, das práticas musicais europeias, sacras, pagãs, nobres ou populares, esse sistema tornou-se modelo hegemônico para o fazer musical. E ainda hoje realimenta, em grande medida, a cadeia produtiva musical, através da indústria dos espetáculos, o mass media e a estrutura imóvel do ensino de música. Para realizar o exercício, escolhi a batida de dois botijões de gás. Deveria reproduzir o áudio gravado para novamente gravar o áudio difundido, através de outro gravador, desde que entre eles houvesse o ar, o meio. Feita


a primeira re-gravação, repeti várias vezes o procedimento. Pouco a pouco a sonoridade ini­ cial do botijão de gás foi sendo desmaterializada pela presença cada vez mais intensa do espaço multiplicado. O entre-gravadores efetuou uma operação no entre-ouvidos trazendo a tona algumas das questões latentes da vanguarda musical da segunda metade do século XX: materialidade, indeterminação, espacialidade e o uso da tecnologia. Essa experiência remete às primeiras experiências da música concreta feitas por Pierre Schaeffer e Pierre Henry, remete também à poiesis composicional de Alvim Lucier na instalação sonora I am sitting in a room (1969); e, sobretudo, ao conceito de música definido por John Cage, como sendo os sons de dentro e os de fora da sala de concerto. As tensões internas no campo das Artes expandiram os limites internos dos fazeres artísticos, na mesma medida em que aproximaram os limites entre as linguagens expressivas. Com a paleta musical expandida e sem o controle panó(p)tico do sistema tonal, o contexto em que surge a música experimental é esse, expansão e extrapolação do

próprio fazer musical, artesania tecnológica e tangência com os demais fazeres artísticos. Aqui no Brasil, devemos em parte a Walter Smetak, o suíço-bahiano inventor das Plásticas Sonoras, visionário de uma multimídia desplugada, a pulsão inquieta do experimentalismo musical. Estar diante da obra plástico sonora de Smetak nos dá a sensação de estarmos à frente de algo que transita entre o quase milenar e o original, ou até mesmo o atemporal, mítico. Esta transitoriedade revela-se desde o aspecto da constituição material de suas esculturas, estando entre algo que nos reporta aos povos primeiros, pela utilização de materiais tais como a cabaça e o bambu, mas que se mistura à utilização de materiais residuais do homem contemporâneo, colados num contexto diferente dos desígnios originais desses objetos, formando um instrumento híbrido de contemplação plástica e sonora, numa proposição de uma arte total, que englobasse as demais. Ele juntava tudo o que via ao redor: cravelhas usadas, cabos de vassoura, cordas velhas, mecanismos de relógio etc, com materiais da natureza como: a cabaça e o bambu. Dava a esses materiais um novo sentido, pois deixavam seu contexto original e conquistavam o universo

mítico dos seus conceitos. Na realidade, eram como que materializações fragmentárias de conceitos fragmentários, compondo assim um objeto novo, intermediador e intermediário de uma arte que pretendia ser una, transformadora e depositária da crença de um novo mundo que estaria por vir. Em muitos sentidos, a música experimental insere-se no que hoje é o campo da Arte Sonora. Aliás, sem desprezar a música como produção sociocultural humana, mas até por isso mesmo, ao se considerar o quanto o fazer musical expandiu-se, principalmente após a segunda metade do século XX, creio ser mais oportuno pensar hoje em Arte dos Sons, Arte Sonora, ou mesmo Sônica, ainda que a posse desse território, no primeiro caso, ainda esteja sob o domínio dos artistas plásticos que apreenderam o conteúdo material, conceitual e plástico do universo musical. A abrangência do fazer musical, desde o que o senso comum

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elétricos e eletrônicos, juntar com fragmentos conceituais de outras culturas e moldar essa junção com práticas de exploração sonora através da improvisação livre ou dirigida e, assim, na interação com o objeto, gerar sons a partir da forma.

conhece como música, passando pela relação de inserção e contágio desta com o visual, o contrato audiovisual e, por conseguinte, a utilização sistemática do ruído, música concreta e eletrônica, a música eletroacústica, a aproximação da música às demais linguagens e expressões, a paisagem sonora, o desenho de som no cinema, o fenômeno da música pop e sua apropriação, colagem e deformação pelos DJ’s, a radioarte, as esculturas sonoras, o circuit bending, música para celular, a criação de ambientes e instalações sonoras, os happenings, performances e ação política de intervenção sonora em espaços públicos; todas

essas manifestações retratam a paleta de atuação artesanal e conceitual daqueles que intencionam fazer do som seu veículo de expressão, filtro da realidade, leitura de mundo. Isso posto, a verdade é que o campo de atuação do compositor, hoje, tornou-se mais vasto e abrangente do que a capacidade do conceito música de se expandir. A música, dessa forma, torna-se apenas mais uma das artes ligadas ao sonoro, ou à arte sonora. No meu caso, agora não mais como um estudante de composição fascinado com um exercício de gravação, que de fato deu materialidade à música que eu intencionei fazer, ilustro o que agora faço, ou como faço, com os dizeres de Swami Sivananda: Sons são vibrações e dão origem a formas. Cada som produz uma forma no mundo sutil, e uma combinação de sons criam formas complexas.

Ele estava falando da importância da repetição do Mantra, mas, num

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certo sentido, isto está muito ligado com a maneira de eu conceber meu trabalho de composição. Sons que geram formas. Representar uma sonoridade através da forma plástica e, ao mesmo tempo dar a essa forma a possibilidade do som musical que a completa como estrutura é, certamente uma influência do contato com a obra de Walter Smetak. Construir a música materialmente com as minhas próprias mãos. Inventar um instrumento musical composto por pedaços de outros instrumentos, quebrados e/ou rejeitados, pedaços de outros objetos abandonados, circuitos


o tigre da estação

Lara | Camilo

pela cidade, em seu centro o poeta exterminador lança suas asas de avião arrasta seus anos rock ‘n’ roll atiça palavras de ordem eriça o chão da praça cantador sem multidão artífice do baile da solidão no deserto do espelho: ninguém estende tapete para a dor.

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Caetano | Anatexto e tradução Avritzer | Sofiatradução Caetano

Poesia e música trazem consigo uma história antiga de afinidades eletivas. Dos poetas provençais até os versos ritmados da música popular brasileira ou americana, muito da dinâmica interna da sonoridade poética do verso e das energias que o movem fazem da poesia também uma epifania da voz, como bem disse o linguista Paul Zumthor. É nessa fronteira tênue entre a voz e a letra que se encontra a poesia de Tom Waits. Californiano de Pomona, ele é conhecido como músico, instrumentista, compositor, cantor e ator. Possui uma considerável obra, constituída de quase 30 álbuns (incluindo álbuns de estúdio, compilações e álbuns ao vivo), e mais de 50 participações diretas (como ator) e indiretas (compondo trilhas sonoras) em filmes. Um dos filmes onde participou como ator e músico, Down by Law (1986) de Jim Jarmusch, foi relativamente bem divulgado no Brasil no circuito Cult. Tom Waits lançou o seu primeiro álbum Closing Time em 1973 e, nesse início de carreira, fazia a primeira parte de shows de Frank Zappa e John Hammond. Já foi indicado a um grande número de prêmios musicais, tendo ganho Grammy Awards por dois álbuns, Mule Variations e Bone Machine. A música de Tom Waits não se prende a um gênero musical determinado. Pode-se facilmente encontrar em seus álbuns rock, jazz, folk, blues, dentre outros tantos gêneros e estilos musicais. Sua produção a partir de 1983 é claramente mais experimental aproximando-o da dicção da geração beat. O próprio Tom Waits considera que a participação de sua mulher Kathleen Brennan foi decisiva nessa fase da sua obra. De fato, a partir dos anos 80, eles assinam juntos várias letras. O poema 9a com Hennepin faz parte do álbum Rain Dogs de 1985. O músico explicou em entrevista que a esquina citada no título está em Minneapolis, mas todas as referências são de New York. O poema é um típico exemplo do seu repertório beat, falado em tom arrastado com o acompanhamento abafado de bateria e baixo. Seu lirismo rústico e urbano soa como a lamúria mastigada de um mendigo de rua.

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9th & Hennepin

9a com Hennepin

Well it’s Ninth and Hennepin All the doughnuts have names that sound like prostitutes And the moon’s teeth marks are on the sky Like a tarp thrown all over this And the broken umbrellas like dead birds And the steam comes out of the grill Like the whole goddamn town’s ready to blow... And the bricks are all scarred with jailhouse tattoos And everyone is behaving like dogs And the horses are coming down Violin Road And Dutch is dead on his feet And all the rooms they smell like diesel And you take on the dreams of the ones who have slept here And I’m lost in the window, and I hide in the stairway And I hang in the curtain, and I sleep in your hat... And no one brings anything small into a bar around here They all started out with bad directions And the girl behind the counter has a tattooed tear One for every year he’s away, she said Such a crumbling beauty, ah There’s nothing wrong with her that a hundred dollars won’t fix She has that razor sadness that only gets worse With the clang and the thunder of the Southern Pacific going by And the clock ticks out like a dripping faucet til you’re full of rag water and bitters and blue ruin And you spill out over the side to anyone who will listen... And I’ve seen it all, I’ve seen it all Through the yellow windows of the evening train...

Bom, aqui é esquina de Nona com Hennepin Todos os donuts têm nomes que soam como prostitutas E vejo marcas dos dentes da lua no céu Como uma lona cobrindo tudo aqui E os guarda-chuvas quebrados como pássaros mortos E a fumaça subindo da grelha Como se a maldita cidade estivesse prestes a explodir ... E os tijolos todos marcados com tatuagens de prisão E todos se comportam como cães E os cavalos descem a Violin Road E Dutch está morto em pé E todos os quartos cheiram a diesel E você embarca nos sonhos de quem dormiu ali E estou perdido na janela, e me escondo na escadaria E me dependuro nas cortinas, e durmo no seu chapéu ... E por aqui ninguém traz nada pequeno ao bar Eles todos começaram por maus caminhos E a garota atrás do balcão tem uma lágrima tatuada Para cada ano que ele está longe, ela diz Uma beldade se esfarelando, Ah, não há nada de errado com ela que não se conserte com cem dólares E ela tem aquela tristeza cortante que só piora Com a toada e a trovoada do Southern Pacific passando E o relógio bate como uma torneira pingando Até que você esteja tão cheio de whisky, cerveja e gin que põe para fora tudo o que pode para quem quiser ouvir ... E eu já vi tudo isso, já vi tudo isso Pelas janelas amarelas do trem noturno ...

Tom Waits

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Novais | Carlos Augusto

ossos do ofício

para arthur bispo do rosário & ricardo aleixo

cadáveres desovados nas trilhas dos desenganos cadáveres em suas túnicas andrajos de poemantos cadáveres exumados na ausência da própria sorte cadáveres em covas rasas ossos expostos ao sol cadáveres enterrados no ar fétido dos pulmões cadáveres em vala comum multiplicados aos milhões cadáveres cremados no calor das virilhas cadáveres já sem carne sustentando o vazio

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cadáveres encomendados em listas de supermercados cadáveres nascidos de outros tantos cadáveres cadáveres que procriam o legado da nossa miséria cadáveres de minha morte à procura de si mesma cadáveres marginais nem heróis nem poetas cadáveres presos no amanhã cadáveres de outras eras cadáveres no armário armados até os dentes cadáveres vivos às costas atrelados a mim para sempre

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abz do inferno

para marcelo dolabela

ninguém tecla A para o além ninguém imprime B para baudelaire ninguém canta C para o outro corvo ninguém rascunha D para o dia D ninguém promete E para o engano ninguém significa F para a fala ninguém fala G para os gagos ninguém antecipa H para a hora H ninguém oferece I para o inimigo ninguém alivia J para os jurados de morte ninguém abraça K para kamicaze ninguém acende L para lúcifer ninguém disca M para morrer

ninguém representa N para ninguém ninguém acumula O para o ouro de tolo ninguém arrisca P para a poesia ninguém redige Q para o quase ninguém interpreta R para a razão ninguém suspira S para sofrer ninguém digita T para sua tara ninguém grita U para seu uivo ninguém escolhe V para sua versão ninguém planeja W para waterloo ninguém resolve X para o X do problema ninguém diagrama Y para o Ying & Yang ninguém escreve Z para todos os zeuses

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Matheus Pesso da Silva Reis Nanheny Fernande s Santos Nathália Thaís Toqu etti de Oliveira Norma Prado Priscila Menezes Ricardo Morais Bica lho Costa Victor Gabriel Ferr eira Moraes

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fase

dezfacinhas

Gabriel da Silva Santana Izadora Fernandez Joana Guimarães Leo Cunha Lorraine Stéphane Rodrigues de Fre itas Luca Giroletti Leroy Maria Tereza de Carvalho Cisalpino

Belo Horizonte dezembro 2010

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Nanheny Santos

o que me deixa feliz

1.

tomar café não ir à escola a pé não ter chulé

2.

Victor Moraes

tocar violão escutar música do Japão e falar alemão

coisas legais de se fazer

Natália Oliveira

vestir uma saia ir à praia viajar para o Himalaia

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coisas que me deixam feliz

Lorraine Freitas Matheus Reis

ir à escola chupar carambola e depois ir embora

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** Papai Noel um dia se sentiu triste queria um mundo que não existe

*

Ricardo Costa Matheus Reis

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flores no jardim laço de cetim terminar um poema assim

Gabriel Santana

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Maria Tereza Cisalpino

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Leo Cunha

objetos voadores

1. O avião, num traço, apaga um pedaço do céu. Borracha ou fumaça? 2. Um dia, sem rumo, sumo num foguete. Onde eu arrumo o bilhete? 3. Quando eu pisco sai um cisco e entra um disco voador

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dois bichos

Izadora Fernandez

O gato tem 7 vidas muito + que o pato O pato tem 1 vida muito - que o gato pode chover canivete que pato não morre afogado

a árvore

Joana Guimarães

rra: Joguei uma semente na te nasceu edra: Joguei uma semente na p morreu cima Joguei uma semente pra passarinho comeu _ 1 de 5_7


o príncipe

Priscila Menezes

Ele puxava as rédeas do grande dragão azul Ele passava férias nas praias de Honolulu Penteava os meus cabelo s e prendia com frufru.

Norma Prado

um dia na fazenda

paz As vacas vivem em s tetas. a n s o rr e z e b s u e s com Norte o d ra p o s e u q o t n e Ov us pais. e m s o d a ri ó t is h a conta

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Até o próximo número!


rua santa efigênia

Alex | Mário

[poema da Série Cidades Minhas – 1996]

Nessa rua

Nessa rua

comprida de remorsos

de pouca luz a sombra tua

Nessa rua

me tumultua

estreita de silêncios Nessa rua Nessa rua

em passos santos

de noite nua

descubro os teus

a lua só curva

nos meus ateus Nessa rua tua contrário de ti amor de mim Nessa rua para dentro da tua atravessei

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Barroso | Carlos

a renato russo

meu coração vive um cão comendo a barriga meu coração vive um cão sem saída na avenida faminta meu coração vive um cão Hasta la vista

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pra conquistar esse amor

nem trabalho de tarô nem Ogum nem Xangô ou poema de Rimbaud nem hai kai de Bashô

pra conquistar esse amor

nem múltiplos orgasmos ou romantismo de Carlos

nem música de Beethoven nem humor de Grande Otelo

pra conquistar esse amor

ou uma noite em um hotel

nem leitura de Lucaks

nem soco de Eder Jofre

nem barra de chocolate

nem romance de Joyce

ou frase de Engels ou Marx

ou pintura de van Gogh

nem ideograma de Pignatari

pra conquistar esse amor

nem idéia de Voltaire ou aforismo de Baudelaire

nem rosas vermelhas nem uma caixa de ameixas ou buquê de amor-perfeito pra conquistar esse amor nem um beijo

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Mendes | Emília

à maneira de leonardo cohen brás cubas remix da série: poemas polifônicos

Todo mundo sabe que a esperança é maior que a experiência. Todo mundo nos diz para ter esperança, as coisas são assim. Todo mundo quer ser o último sobrevivente. Todo mundo sabe que os últimos serão os últimos e nada lhes restarão senão despojos. No entanto, é preciso nutrir este teatrinho capitalista de histeria beirando à paranóia que é a preservação do planeta. Esse mundo está cansado de acabar, sempre, todo mundo sabe. Todo mundo sabe que a natureza é mãe e inimiga. A onça mata o novilho porque o raciocínio da onça é que ela deve viver; e se o novilho é tenro, tanto melhor: eis o estatuto universal. Todo mundo sabe: a natureza faz da vida um flagelo, ela é um imenso escárnio e regozija com isso. Todo mundo vive com este sentimento como se sua mãe ou seu cachorro estivessem por morrer, é a natureza, todo mundo sabe. Todo mundo sabe que as mulheres têm medo dos homens e os homens têm medo das mulheres. Todo mundo sabe que se eu for pensar muito na vida, morro cedo, amor. Todo mundo sabe que tristeza não tem fim, felicidade, sim. Todo mundo sabe que os amores clandestinos são mais excitantes. Todo mundo sabe que o saldo positivo dessa vida é não ter filhos, cessar esse legado de miséria. Brás Cubas o sabe. Todo mundo sabe. Todo mundo sabe que todo bom cristão tem um fetiche e uma perversidade inerentes. Todo mundo sabe que a carne é muito forte e que a teoria é que não convence. O amor multiplica a miséria e a miséria agrava a debilidade. O mal ora morde as vísceras, ora morde o pensamento. Todo mundo sabe que o mito do escolhido é só uma brilhante construção retórica. Delícias sem culpa são melhores, era para todo mundo saber.

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Todo mundo sabe que é inconveniente ter nascido. Todo mundo tem que lidar com a incompletude da vida, faz parte, amor! O bem e o mal são incontornáveis. Todo mundo sabe que nenhum deus nos livra de todo mal. Todo mundo sabe que minha inimizade não mata. Todo mundo quer ser amado incondicionalmente, ser endeusado e, como os deuses, não necessitar do humano, as coisas são assim, todo mundo sabe. Todo mundo sabe que o homem transforma tudo o que toca em temporalidade, em finitude. Todo mundo sabe que os poetas escrevem um ou dois versos e já festejam a vida eterna. Todo mundo sabe que isso é coisa de sublime idiota. Eles buscam esta coisa chamada glória e encontram esta outra chamada miséria. Todo mundo sabe que o sucesso tem muitos pais. A vida é assim, a pura vaidade encarnada, todo mundo sabe. Todo mundo sabe que a indiferença é irresistível. Todo mundo sabe que as raivas ficam enraizadas no coração. Todo mundo sabe que o amor ri com deboche e some como uma ilusão. Todo mundo sabe que este mundo é só estupidez e monotonia. Todo mundo sabe que a razão convida a sandice para festins e orgias. Todo mundo sabe que ao vencedor, as batatas... saindo do forno... Todo mundo sabe, todo mundo sabe!

Mini - CV’s Brás Cubas - um transcendente. Emília Mendes - I´m your woman. Leonard Cohen - he´s your man.

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Versiani | Adriana diOli Paoliello | Clô

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o que é da historia está guardado


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Paiva | Ana Paula

linhas vivas para o livro experimental

As maneiras de fazer arte são inúmeras e as descobertas das sensações muitas vezes colocaram os homens e suas obras a provocar os espectadores, de modo pungente e original. Linhas, formas, suportes, insumos, perspectivas têm função comunicativa. Na arte, o heterogêneo significa posição, seja como estilo, ruptura, amostragem, chance à ação. No caso da produção editorial, o experimental sempre esteve presente porque o suporte livro, veículo de transmissão cultural, tão variado ao longo dos tempos, desde a Antiguidade se vale do objetal-conceitual-artístico. O livro objeto, livro de artista ou livro experimental é aquele que ganha linhas vivas, espaços muitas vezes modulados, saídos do unidimensional, manipuláveis, lúdicos, sensoriais, e mesmo quando não-literal é um livro que tem força de literariedade e enunciação por causa de seus ganchos e jogos de linguagem. O espectador da obra é convidado à participação e flana por imagens sonoras, fragrâncias, poética visual, reinterpretações do espaço narrativo, exploração de materiais, imagens móveis. O leitor atualiza a obra na aventura da leitura. Mas como a poesia visual influencia o livro experimental? Bem, de inúmeros modos a co-

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meçar pelo ritmo novo, surpresa cognitiva, quebra de linearidade, saída do lugar-comum e valorização do fato de que a escrita é também um veículo de imaginação. A poesia visual é afim à idéia de que uma obra de arte – incluindo um livro – deve irrigar planos de ação, motivando empenho leitor, interação e até a provocação. O prazer estético e a performance plástica sugerem uma peculiar relação da poesia concreta com o livro objeto lúdico. Theo Van Doesburg, artista plástico, designer gráfico e poeta, professor da Bauhaus e fundador da revista De Stijl, vanguardista no Neoplasticismo, conceitou arte concreta em 1930. De lá para cá, as artes visuais e a arte concreta influenciam livros e escritas mundo afora. Pela condensação dos meios expressivos em linguagem pop up ou jump, acendimento cromático alternado, eco visual, harmonia compositiva, engenharia do papel, ressonância poética, ludicidade, espacialidade visual e surpresa estética, o projeto dos Poemóbiles ou livros poemas, de Augusto de Campos, é um excelente exemplo de reformismo visual que reorientou as artes gráficas e ideário de confecção de livros artísticos-modernos de intercâmbio tátil e jogo de cena óptico valorizando a materialidade da linguagem e seu lado objetal. Voltando no tempo, as produções editoriais experimentais do passado talvez não sejam apreciadas como tão performáticas como as disponíveis na atualidade – a exemplo da obra de Susan Winn, Field of Greens, e de Patricia Kaczmarek, Zelda –, sobretudo porque o homem ainda estava aperfeiçoando técnicas, maquinário, acabamentos e descobrindo matérias-primas, processo que aliás não se interrompe no métier editorial. Mas já existia a valorização de uma estética experimental nova nos antecessores dos livros em códex – os pugillares ou livros de tabuletas de madeira, os livros acordeon batak (Sumatra), as flautas de registro em bambu (Indonésia), os livros de folha de palma (Índia), os livros em cortiça, os papiros de velino em volumen – e nos livros artísticos alceados, a exemplo do livro de Kells e de Lindisfarne, chef d’œuvre da exuberância plástica celta no final do século VII e início do VIII. A arte intrincada celta realça aspecto resplandecente, inova em caligrafia original, bestiários, refinamento geométrico. Adorna, floreia, interroga, imprimindo nos desenhos estilo e intensidades. A surpresa visual e a reinvenção do real figurativo também são acompanhadas de pesquisa de proporções, colorações e substratos, assim como de presteza para se lidar com ferramentas e suportes, molduras de cena convencionais e roubos de cena surpreendentes adaptados a


manchas gráficas hipnóticas-exploratórias, abstratas-geométricas e seus repertórios visuais expansivos e muitas vezes transfigurados. As iluminuras, as incrustações de pedrarias nas capas e suas opções em marfim, couro, metal, tecido: tudo enfim, de modo interdependente, contribui para uma evolução em curso de formas tradicionais editoriais e de concepções vanguardistas para o livro experimental. Até pelo fato de haver livros cinturados e preparados para a locomoção e viagem, como os girdle books da Europa Medieval, observamos deslocamentos na relação homem-livro e adaptabilidades as quais nos ajudam hoje a entender instâncias do livro via experimentalismos. Surgiram assim objetos livros de diversos materiais, inclusive de papel, o que repercute em reações e adaptações integrando arte e utilitarismo. Os próprios livros medievais não tinham apenas a função de informar, mas se acresciam da intenção de ornar para decorar e encantar. Iluminuras de extremo requinte, formas de apresentação plástica (relevo, montagem, entalhe, encadernação) e inspiração religiosa são também engrenagens para o experimentalismo. Somente no século XII a escala e a demanda de produção cambiam. Impulsiona-se a transição do livro religioso para o laico devido à multiplicação das escolas e a difusão do saber nas cidades. Assim, se antes eram prioritariamente os monges que detinham o savoirfaire da produção de livros, realizando as mais belas obras primas nos scriptoria, assiste-se a partir deste momento a um ritmo novo pela liberdade de criação, observação de demanda e investigação de meios. Nas redondezas das universidades européias nascentes criase um mercado novo para o livro. Agentes e livreiros da época, os stationnaires, se prontificam a transgredir o padrão de confecção do livro a fim de torná-lo mais acessível, evitando assim a imobilização e inacessibilidade a obras de destaque. Explora-se uma consciência inteligente dos processos. A arte se move neste diálogo. Saído da reclusão das abadias e mosteiros, e, portanto, da propriedade inalienável das instituições religiosas e suas censuras, disponível nos idos do século XIII para encomenda e venda, e em novas linhas editoriais, o objeto livro se transfigura no fluxo das novas inquietudes e mudanças, experimentando nos ateliês editoriais recém fundados maneiras diferentes de pensar um suporte de leitura adequado à acessibilidade, funcionalidade emergente e a um comércio embrionário abrangente. Nesta trajetória artesanal, evoluída, o livro experimental comunica a história da qual faz parte. Profissões urbanas são criadas e convidam

escribas, artistas iconográficos, editores, agentes e mais tarde tipógrafos a uma arte menos restritiva. O livro ansiava por lançar-se a uma escala nunca vista. Frontispícios, capas, miolos sentem o impacto cultural – a exemplo de Hortus sanitatis, de Peter Shöffer, 1485; e Hypnerotomachia Poliphili, de Francesco Colonna, 1499. Alguns fatores são preponderantes para o acento experimental das obras produzidas no medievo e Renascimento Urbano: há intensa buscas por óxidos de coloração; usos artísticos de xilografia, sobretudo a partir dos séculos XIV e XV; manchas gráficas adaptadas aos tipos móveis, a partir do século XV; dobraduras artísticas para os chamados movable books , nos idos do século XVI; composições analógicas em caligramas que valorizam a poesia visual e o simbólico; impressão em suportes de opacidade variada – usos nobres e usos populares com vistas à acessibilidade como no caso da Bíblia dos pobres, no século XV; vendas ambulantes de livros pelo colportage – de porta em porta, na rua, nas feiras, perto das universidades; impressões mais justas e econômicas no século XVI cujo pioneiro é o editor Aldo Manuzio; criação de famílias de letras artísticas; gravações em talha doce, buril e água forte; demanda por livros de entretenimento – como almanaques, calendários, livros recreativos, guias práticos e de base; abertura de livrarias para escoamento da produção; avanços dos processos de produção no século XVIII – maquinário e acabamentos; inovação tecnológica como a quadricromia e a fotografia; competição com outros tipos de comunicação periódica – jornais, folhetins, revistas, cartazes, publicidades; demanda escolástica; bibliofilia. Este conjunto impulsiona o experimentalismo. Uma sequência de fatos espelha a evolução contínua das originalidades discursivas humanas. No entanto, se tivermos que descrever o livro experimental, que acervo imaginativo-estético-exploratório este suporte nos deixa? Sabemos que são livros performáticos, inventivos, plásticos, muitas vezes acionadores do sensório, ativadores de ações e intervenções em seus jogos gráficos e visuais. Ora, tendo por parâmetro o livro modelar, padrão, ao qual reverencia ora faz provocação, o livro experimental dos séculos XX e XXI pode figurar em estatuto de escultura, design objetal lúdico, poema-objeto, ou representar ruído, crise das estruturas permanentes do livro convencional, sugerindo conceitos não triviais. É suposto que, voltado para a expressão da subjetividade humana aplicada às artes gráficas, o livro experimental valoriza fusão de artes e técnicas, conexões cotidianas e projetivas, a sensibilização do

Em 1543 o livro de Andreas Vesalius, De humani corpori fabrica librorum epitome, impresso em Basel, faz o estilo livro turn up (virar e desvirar) e lift-the flap (levantar dobradura). Estes mecanismos de acabamento gráfico e de apresentação de conteúdo mediante movimento e revezamento de cenas na mesma mancha gráfica passaram então a ser utilitários no século XVI para demonstrações e verificações em livros de anatomia, navegações, ciência natural, astronomia. 1

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receptor pelo convite à ação e algumas vezes a encenação pela qual se ativam modos de entendimento. Ademais, a categoria livro de artista trata sobretudo de produções independentes, seriadas ou de tiragem limitada, valorativas do artesanal em mix com técnicas vanguardistas de acabamento ou impressão. Fotografia, pintura, desenho, maquete – no caso dos pop up ou livros jump –, bi e tridimensionalidade, vincos e dobraduras, alceamentos, encaixes, tudo se disponibiliza ao experimental, à participação e interação, variando técnicas, substratos e o savoir-faire artístico. A comunicação discriminativa é aquela que se prolonga além do visto. Nessas produções algo renasce sobre algo visto nos exercícios de criação e manuseio: emociona-se, comove-se, aflige-se, agita-se, estimula-se, surpreende-se, arrisca-se, porque os efeitos, ecos e ruídos puxam conversa, criando empenho e nova curiosidade de leitura. Como num mergulho, jogo, brincadeira lúdica, acesso fenomenal. Percebe-se que a relação da produção editorial com as artes visuais sempre foi intensa, haja vista a importância nos livros das iluminuras e acabamentos, a necessidade de mediação entre padrão estético e utilitarismo – os Livros de Horas do século XV, imagéticos, narravam aos analfabetos os fatos da Bíblia. A arte experimental também servia como trampolim à sensação, ao pensamento – no caso das belas cosmografias. Como uma explicação mental para os fatos vistos, como uma visão através de, associativa, estendida do olho, dedo, mão à mente, memória, estímulos nervosos. Visão de associações contínuas e cumulativas, sequenciadas e projetivas. Imagens se colocam muitas vezes a falar conosco e assim se confessam ou se recriam; em mutação de previsibilidades e acionamento de sentidos. Enquanto signos e linguagem codificada, os livros experimentais não objetivam o linear-estático. Podem advir como algo pronto e carregado de reconhecimento, mas sofrem acréscimos na leitura, observação e contato. Como tudo que vemos passa por dentro do nosso ser-saber-querer-imaginar, o livro experimental atravessa esses lugares de certeza e dúvida, abrindo as portas e janelas que habitam em nós. A moldura, o ritmo, a linguagem, o corte de cena são diferenciados nesses suportes artísticos. A distribuição indagativa do conceito e o efeito desses modos de contar levantam hipóteses e visões peculiares. Para além de referentes óbvios, clichês, abre-se um “buraco da fechadura”: um furo para a entrada de luz e para o imaginar. Por onde apreendemos o visto segundo uma inserção, contexto, expectativa, inibição, intenção, vício, bagagem, ação, dedução. Se a obra nos chega pela via do interpretativo e se toda imagem tem um interior, guarda consciências, colaborativamente cabe ao artista e ao receptor, na leitura, a chance de rasgar, abrir, (re)inventar, bisbilhotar, espreitar, revelar, flagrar, focar, ampliar ou reduzir o visto (a obra). Porque entre ver e enxergar há um caminho diferenciado de saber. Afinal, cada um impressiona o visto com suas ideias. Mas não sejamos ingênuos de pensar que a linhagem, a origem, não proporcionam também uma identidade. Por isso falamos do livro experimental em suas origens. Quando reavivo camadas de história, às recordações adiciono significações presentes e reanimo a ação criativa. O livro, que desde sempre foi experimental, segue um processo em curso, contínuo e renovado. Os livros experimentais, portanto, servem como objeto de estudo e deleite, terreno para o saber. Seus oferecimentos sensíveis animam o leitor, vibrando afeto e intelecto. Mesmo quando não verbais, vêm como um silêncio preenchido... que fascina e aturde, infere e comunica.

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Algumas vezes no experimental, a imagem que mostra também esconde. Imita o real, não sem esconderijos. O referente está presente, no amálgama de aprendizados que o homem desenvolve, mas não sem o subjetivo, pessoal, projetivo. Assim, tudo que se passa no interior de um enquadramento experimental esconde continuações. Lados de dentro, de fora, seleções, dispensas de cena, sugestão, o que rodeia e o focal. Todos são momentos decisivos na leitura não superficial. Na liga de heranças e ocasiões. No espaço-tempo que emoldura ideias-impressões e vai educando o olhar menos para o imediato e mais para o reinscrito cambiante, acionável. Há no mercado atualmente livros que não precisam dizer tudo, linearmente. Há livros que nascem para o alado, a mobilização, a indagação, a curiosidade. Dizem o suficiente, a fim de sugerir que entre o artista-inventor e o observador-interventor há muito mais do que se imagina diante do que se distingue nos acessos, utilitarismos, aproveitamentos da leitura apropriada. Os livros experimentais adultos ou infantis investem num deslocamento do saber, o qual pode ser acionado. Sim, o que o olho capta é inimitável a princípio. Todo referente é um isso foi para alguém num tempo-espaço. Mas a interpretação que prevalece, quando nos interpela por dentro, intimamente, semeia dizeres, sensações, percepções, cognições, associações – individuais e coletivas. Enxergar seria ver neste timing, num senso móvel de oportunidade da leitura, em durações que nos visitam e intensamente nos desafiam a posicionamentos, à ação, a uma relação com a significância do suporte livro experimental. Digamos assim: tudo abriga máscaras, disfarces, labirintos. Contrasta verdade e sentimento. Tudo que nos atravessa passa por “ser” e “não-ser” até se caracterizar. O livro experimental, como o que punge aberto, morde, belisca, é um suporte de transpasse, que nos flecha e arrebata, sem o risco de uma proposição de leitura morninha ou batida. Aderente à curiosidade humana, o livro experimental usa técnicas mixadas, ora artesanais ora industriais, antigas e inovadoras. É um material físico, impresso, acessível ao lado de um mundo de coisas palpáveis, ainda que ocupe um lugar mental, de dentro, enquanto medium de conectar mão e mente, idéia de frente e de fundo, o agora e o anterior, o novo e todavia o que já está lá, na bagagem dos tempos. Relacional e provocador por natureza, uma vez que investiga e revela a inovação dos usos aplicados à arte editorial, o livro experimental é aquele que surge sobressaído em agitação interior, exploração de formatos, suportes, sensações, pungente como o desencadear de uma aventura ao redor de nós mesmos. Sem os livros experimentais os artistas gráficos, ilustradores, artistas iconográficos, encardenadores, autores, impressores e profissionais do ramo estariam restritivamente limitados à composição de um padrão funcional que teria se mostrado adaptado ao uso. Os experimentalismos colocam em jogo os desafios do aprendizado continuado, os conflitos de pontos de vista, as chances para os modos de expressar o ao redor e o mundo das ideias ao longo do tempo. Sem os experimentalismos editoriais alguns homens criativos não precisariam mais ser os artífices e produtores por trás dos livros. Muito mais poderia então ser mecanizado, serializado, repetido em estruturas aceitas e já adaptadas. O experimentalismo, no entanto, é uma inquietude positiva, é uma engrenagem intrínseca à evolução humana. Livros também refletem homens, temporalidades, história, demandas, pois ambos são parceiros em permanente renovação.

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de Faria| Marcus Vinícius

traduções de emily dickinson

1. Sometimes with the Heart Seldom with the Soul Scarcer once with the Might Few – love at all.

Algumas vezes com o Coração Com a Alma mais raro Mais raro ainda com o Poder Pouco – amor declaro.

2. Beauty crowds me till I die Beauty mercy have on me But if I expire today Let it be in sight of thee –

Beleza esmaga-me até morrer Beleza tenha pena de mim Mas se eu expirar hoje Que seja perante ti –

3. There are two Mays And then a Must And after that a Shall. How infinite the compromise That indicates I will!

Existem dois Podes E depois um Deve E logo mais um Precisa. Que infinidade de cerimônia Para dizer eu quero! 4. The Hills erect their Purple Heads The Rivers lean to see Yet Men has not of all the Throng A Curiosity. As Colinas erigem suas Pontas Purpúreas Os Rios se curvam para ver Para Homens não todos da Turba Uma Curiosidade.

5. Silence is all we dread. There’s Ransom in a Voice – But Silence is Infinity. Himself have not a face.

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Silêncio é tudo que tememos. Uma Voz resgata-se – Mas Silêncio é Infinitude. Nem sequer tem face.


6. Today or this noon She dwelt so close I almost touched her – Tonight she lies Past neighborhood And bough and steeple, Now past surmise.

Hoje ou esta tarde Ela morava tão perto Quase pude tocá-la – Hoje à noite ela dorme Além a vizinhança E arbustos e torres de igreja, Agora passa da imaginação. 7. A little Snow was here and there Disseminated in her Hair – Since she and I had met and played Decade had gathered to Decade – But Time had added not obtained Impregnable Rose For Summer too indelible To obdurate for Snow – Um pouco de Neve aqui e ali Sobre o seu Cabelo – Desde quando ela e eu brincávamos Décadas e décadas se passaram –

8. All the letters I can write Are not fair as this – Syllables of Velvet – Sentences of Plush, Depths of Ruby, undrained, Hip, Lip, for Thee, Play it were a Humming Bird – And just sipped – me –

O Tempo passou e não vingou Inexpugnável Rosa Ao Verão indelével E resistente à Neve – As cartas que posso escrever Não são belas como esta – Sílabas de Veludo – Sentenças de Pelúcia, Imo de Rubi, inviolado, Velados, lábio, para Ti, Como se fosse um Colibri – Beberica-me –

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Versiani | Carlos

petrus

mais vivo a cada segundo segundo os ainda vivos em cada um

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Álvaro Andrade Garcia Nasceu em Belo Horizonte, em 1961. É escritor e diretor de audiovisuais e de projetos multimídia.Tem publicados oito livros de poesia e dois de prosa. Escreveu crônicas e ensaios para imprensa. Criou e produziu videopoemas, videocrônicas, web documentários e portais na internet. Toda sua produção está disponível no site www.ciclope.art.br, dedicado à poiesis e à imaginação digital, no ar desde 2002. Ana Caetano Nasceu em Dores do Indaiá-MG, em 1960. Publicou Levianas (1984) e Babel (1994) com Levi Carneiro; e Quatorze (1997). Participou da coordenação dos projetos Temporada de Poesia, em 1994, e Poesia Orbital, em 1997; do CD Cacograma (2001); e foi co-editora da revista Fahrenheit 451. Ana Paula Mathias de Paiva Carioca; professora de Produção de Livros Artísticos e de Design Gráfico, desde 2002; assistente de edição do Ateliê Vis à Vis, membro do FILAC (Fundo Internacional do livro de Arte Criação), no ano de 2003, na França; autora de A aventura do livro experimental; parecerista e tradutora desde 1999; Mestre em Comunicação Social (Semiótica); doutoranda em Educação e Linguagem; ministra oficinas de gêneros lúdicos literários e de livro objeto. Camilo Lara Nasceu em Itaguara-MG. É professor e coordenador da Seção de Atividades Culturais do Cefet-MG. Tem dois livros de poemas publicados em co-autoria. Foi um dos organizadores da Coleção Poesia Orbital em 1997. Carlos Augusto Novais João Monlevade-MG, 1958. Poeta e professor de Literatura e Filosofia. Livros de poesia: A

de Palavra, 1989; alvo. s. m., 1997; Antologia Dezfaces, 2008. CD de poesia: Cacograma, 2001 (em parceria). Participações: Alegria Blues-Banda, 1979; Salto de Tigre, 1993. Co-editor: Mostra poética de BH, 19941996; Poesia Orbital, 1997 (coleção de livros de poesia), Inferno, 2000. Carlos Barroso Carlos Antonio Barroso Mourão, também conhecido como Carlão. É jornalista especializado em política. Trabalhou na TV Bandeirantes-Minas (repórter e comentarista político), no Hoje em Dia, Diário da Tarde e Estado de Minas. Um dos fundadores da revista de poesia e artes Cemflores, publicou Poetrecos (Coleção Poesia Orbital, 1997) e Carimbalas (Edição Cemflores, 2008). Carlos Versiani dos Anjos Natural de Ouro Preto/MG. Poeta, autor, ator e diretor teatral. Professor, mestre em História. Livros de poemas: Espelhos (1997), Mulheres (2005), O Anu (2004). Conto e teatro: O Túnel (2008). Livro didático: Cultura e Identidade Brasileira. Peças: O Bom das Bocas, Brasiléia quer se casar, Cândido, A Poção, Inconfidências Noturnas. Clô Paoliello Designer gráfico e ilustradora, é também leitora voraz. Desenha por linhas tortas, nem sempre acerta. diOli David W. Oliveira - diOli, tem 29 anos e pouca barba. Gosta de usar camisas de malha, se possível sem estampa. Quando anda na chuva, sorri. É co-editor do Barkaça (www.barkaca.com). Emília Mendes Escritora de vagas horas. Vez por outra, arrisca-se em tímidas publicações como Cantigas de amores a ilustres senhores (1997), uma primeira parceria com Madame Du Deffand e o mundo do séc. XVIII. Poemas esparsos no DezFaces e em O Cometa, dentre outros lugares. Dedica-se à arte da bricolagem junto ao grupo de recitativo Los Borrachos, agradando a alguns e desagradando a muitos, como deve ser. Gabriel da Silva Santana Aluno do 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Cora Coralina, de Belo Horizonte.

Imaculada Kangussu É doutora em Filosofia pela UFMG e professora de Estética na UFOP. Artigos publicados em diversos periódicose livros, entre eles Katharsis (C/Arte, 2003) e Theoric Aesthetic (Escritos, 2005), dos quais é co-organizadora. Publicou o livro Sobre Eros (Scriptum, 2007). Izadora Fernandez Paiol da Aurora - 2001 - Nas noites de inverno, inventa constelações. Joana Guimarães Nasceu em Jardim do Sol, tem 08 anos. É bailarina e toda tarde dança com sua mãe. Leo Cunha (Bocaiúva/MG, 1966) Escritor e professor do curso de Jornalismo do UNI-BH. Autor de 3 livros de crônicas e cerca de 40 livros de prosa e poesia para crianças e jovens. Traduziu ou adaptou mais de 20 livros, de autores como Dickens, Stevenson, Cortázar, Shakespeare. Prêmios: Jabuti, Nestlé, João de Barro, entre outros. Lorraine Stéphane Rodrigues de Freitas Aluna do 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Cora Coralina, de Belo Horizonte. Luca Giroletti Leroy Tenho 7 anos, quase nasci na Inglaterra e tenho cabelo de roqueiro. Adoro desenhar e estudo na escola Cecília Meireles em Belo Horizonte. Matheus Pesso da Silva Reis Aluno do 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Cora Coralina, de Belo Horizonte. Marco Scarassat Nasceu em Campinas-SP, 1971. Compositor e artista sonoro, professor de prática do ensino de música na FaE-UFMG. Autor do livro Walter Smetak: o Alquimista dos Sons, Ed. Perspectiva/Sesc, 2009. Marcus Vinicius de Faria Publicou os livros de poemas Armadilha para hábil caçador pegar o bicho quanto antes, 1981. Desejo insano, 1987, e Outros tempos, 1997. Tem poemas e traduções publicados em diversos periódicos e antologias, dentre elas, Poesia jovem – anos 70 – Literatura Comentada.

Maria Tereza de Carvalho Cisalpino Nasceu em Belo Horizonte, em 2001. Aluna do terceiro ano do Ensino Fundamental da escola Municipal Cora Coralina. Mário Alex Rosa (São João Del Rei) Mestre e doutorando em literatura brasileira pela USP; Professor de Literatura Brasileira do UNI-BH. Publicou poemas e artigos em revistas e suplementos de literatura brasileiros.

minibiografias

Adriana Versiani Adriana Versiani dos Anjos. Nasceu em Ouro Preto–MG, 1963. Tem quatro livros de poemas publicados, dentre eles, A Física dos Beatles (2005) e Conto dos dias (2007) e o virtual Explicação do fato (2008. Germina literatura – Revista Virtual). Integrou o Grupo Dazibao, de Divinópolis/ Belo Horizonte. Foi co-organizadora da Coleção Poesia Orbital e do jornal Inferno. Faz parte do conselho editorial da Revista de Literatura Ato.

Nanheny Fernandes Santos Aluna do 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Cora Coralina, de Belo Horizonte. Nathália Thaís Toquetti de Oliveira Aluna do 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Cora Coralina, de Belo Horizonte. Norma Prado Nasceu em Kyoto no ano de 2000 - Vive em uma fazenda e colhe amoras, quando é tempo de amoras. Priscila Menezes Nasceu em Balneário Camboriu tem dez anos, estuda francês e toca piano no pátio do colégio. Ricardo Morais Bicalho Costa Aluno do 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Cora Coralina, de Belo Horizonte. Sofia Caetano Avritzer Sofia tem 16 anos, é estudante da Fundação Torino onde atua como co-editora da revista literária Carpe Diem. Já publicou algumas traduções de poemas do inglês e do italiano no jornal cultural Letras. Vera Casa Nova É professora da Faculdade de Letras da UFMG, pesquisadora do CNPq, doutora em Semiótica pela UFRJ, pós-doutora em Antropologia Visual pela EHESS/Paris, poeta e ensaísta. Victor Gabriel Ferreira Moraes Aluno do 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Cora Coralina, de Belo Horizonte.

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Barroso | Carlos

PatrocĂ­nio

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