Revista Dance

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Grupo Corpo Dança contemporânea brasileira 2

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O projeto DANCE, é uma revista híbrida experimental, fruto de um trabalho de conclusão de curso de design, que tem a “dança”

Sobre a Revista Híbrida

como seu principal tema. Esse produto editorial é híbrido, pois

Essa revista foi projetada para ser lida tanto em su-

com um único layout gráfico ele proporciona uma leitura agra-

porte impresso quanto no digital, de modo que ela

dável tanto no suporte impresso quanto no digital, explorando

se trata de um arquivo PDF interativo que pode ser

diversas possibilidades existentes em ambos os meios.

impresso ou utilizado em uma tela de computador.

Essa revista será uma publicação semestral que apresentará di-

Se, primeiramente, o usuário estiver lendo essa revista

ferentes grupos brasileiros de dança, suas histórias, obras, carac-

em sua versão impressa, terá a oportunidade de des-

terísticas e curiosidades, através de possibilidades interativas e

frutar de todas as características que o produto ofe-

dinâmicas, usando imagens estáticas e em movimento, além de

rece, ou seja, pode levá-lo para qualquer lugar, sentir

áudios e animações. Nessa primeira edição piloto foi apresentado

sua textura, seu cheiro e até mesmo fazer anotações

o trabalho de um grupo brasileiro de dança contemporânea, o

em suas páginas. Entretanto, posteriormente, com um

Grupo Corpo, suas obras, sua equipe e todo o esforço necessário

dispositivo digital, o leitor poderá ter acesso à outra

para a produção dos espetáculos.

versão da revista, podendo assistir a vídeos, ouvir mú-

Em cada edição, além de apresentar como principal assunto um

sicas e ler muito mais sobre o conteúdo apresentado

grupo de dança diferente, haverá sempre uma seção denominada

através dos hiperlinks externos. É necessário ressaltar

“Agenda” que informará ao leitor sobre alguns grupos de dança

que também é possível, fazer o download da versão

que estarão se apresentando em Campinas e outras cidades da

digital e imprimi-la.

região durante todo o semestre que segue a publicação.

A maneira de utilizar essa revista é muito fácil. Seu

As informações utilizadas nesse boneco da revista híbrida foram

sentido de leitura é o tradicional e logo abaixo serão

retiradas principalmente do site oficial do Grupo Corpo (disponível

apresentados alguns ícones de auxílio ao leitor para

em: <http://www.grupocorpo.com.br/>) e de outros sites secun-

manipular o produto no suporte digital.

dários, como o Wikipédia (disponível em: <https://www.wikipedia. org/>) e Época (disponível em: <http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/08/grupo-corpo-celebra-40-anos-em-boa-forma.html>) Desse modo, esperamos que cada página desta revista possa ser agradável e interessante para todos os leitores amantes da dança

VÍDEO

ÁUDIO

SAIBA MAIS SOBRE O ASSUNTO

e da cultura brasileira. Daniela Fecchio Martins Editora

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Saiba quais gru­ pos de dança irão se apresentar em Cam­ pinas e região durante o primeiro semestre de 2016! Um de nossa lista é o Gira Dança, de Natal/RN.

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BACH Obra do Grupo Corpo de 1996, Bach foi uma forma de homenagear um dos maiores compositores de todos os tempos, Johann S. Bach.

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SU

RI

AGENDA

10 SEM MIM Na obra Sem Mim (2011), é possível per­ ceber uma intensa re­ lação entre os movimen­ tos feitos pelos bailarinos e aqueles das ondas do mar. 6

26 POR TRÁS DO PALCO Um bom espetáculo não surge simplesmen­ te do nada. Muito esfor­ ço e dedicação podem ser visto no trabalho de prepara­ ção do Grupo Corpo. 7


AGENDA

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GIRA DANÇA

QUASAR CIA DE DANÇA

RAÇA CIA DE DANÇA

SOPRO CIA DE DANÇA

CIDADE: Campinas

LOCAL: Paulínea

CIDADE: Piracicaba

LOCAL: Paulínea

PERIODO: Jan./2016 - Jun./2016

PERIODO: Mar./2016 - Jul./2016

PERIODO: Fev./2016 - Jul./2016

PERIODO: Mar./2016 - Jul./2016

GIRA DANÇA é uma companhia de dança

A QUASAR é um veículo de manifestação ar-

RAÇA Cia. de Dança de São Paulo foi cha-

O SOPRO Cia de dança apresenta espetácu-

contemporânea com sede em Natal/RN, que

tística, que se expressa através da dança con-

mada a habitar o imaginário de três gerações

los de dança que seguem um estilo-técnico

foi criada em 2005 e desde então, tem apre-

temporânea, desenvolvendo uma grande pro-

de bailarinos acordando neles a percepção

contemporâneo definido, mesclando nos li-

sentado em palcos de todo o Brasil um traba-

posta estética própria e diversa. Movimentos,

de modo distinto de abordar a dança.

mites da dança, teatro e poesia, formando

lho que rompe preconceitos, limites pré-esta-

a irreverência e velocidade contrastam com

Uma Cia. Brasileira, não pelas suas propos-

um híbrido na arte, que é a característica

belecidos e cria novas possibilidades dentro

sutileza e leveza, em uma dança envolvente,

tas temáticas e sim porque seus corpos exa-

básica dos alicerces da miscigenação da cul-

da dança contemporânea.

que busca na excentricidade.

lam brasilidade.

tura brasileira.

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O mar (de Vigo), que leva e traz de volta o amado, o amigo, é o que dá vida e movimento à Sem Mim, espetáculo do Grupo Corpo de 2011, o qual é totalmente baseado nas canções galego portuguesas de Martín Codax do século XIII. A intenção de utilizar ritmos contemporâneos e brasileiros junto ao espírito profundo medieval traz o grande diferencial dessa obra. Fotografia de José Luiz Pederneiras de um movimento da obra Sem Mim, da cantiga que demonstra a emoção do encontro entre o amado e amada.

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O

mar (de Vigo), que leva e traz de volta

As cantigas Galego-Portuguesas de

o amado, o amigo, é o que dá vida e

Martín Codax inspiram Rodrigo Pe-

movimento a Sem Mim. O balé é em-

balado pela trilha original urdida a quatro mãos pelo viguês Carlos Núñez e pelo brasileiro José Miguel Wisnik a partir do único conjunto de peças do cancioneiro profano medieval galego -português que chegou aos nossos dias com as respectivas partituras de época: o célebre “ciclo

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do mar de Vigo”, de Martín Codax. Nas sete

A lírica do trovador medieval leva Rodrigo

derneiras a produzir movimentos que

canções, datadas do século XIII, o poeta se pro-

Pederneiras a pautar sua partitura de movi-

nuncia sempre em nome da mulher; mais especi-

mentos na alternância entre calmaria e fú-

alteram entre calmaria e fúria e no

ficamente de jovens apaixonadas que pranteiam

ria e no vaivém próprios das ondas do mar,

a ausência ou festejam a iminência do regresso

e, também, a (re)produzir, no jogo de cena,

além de reproduzir, no jogo de cena,

do amado-amigo. Na avidez do reencontro, elas

o apartamento entre feminino e masculino,

a relação entre feminino e masculino.

confidenciam ora com o mar, ora com a mãe, ora

onde um(a) reclama sempre a falta do outro,

com amigas. E, para aplacar ou fustigar o seu de-

em coreografia marcada pelo fluxo constante

sejo, saem a banhar-se nas ondas do mar de Vigo.

de avanços e recuos e pela recorrência.

vaivém próprios das ondas do mar,

A sincronização de movimentos para cima e para baixo, remetem ao calmo e continuo movimento do mar.

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Avanços e recuos e pela recor-

paisagens e elementos distintos: mar, monta-

combinação de uma forma geométrica (um

Pode-se fazer uma relação entre

rência de movimentos, sinuosos

nhas, nuvens, barco, rede de pesca, alvorada.

enorme quadrado de alumínio vazado) com

ou abruptos, de tronco.

Sobre malhas finas inteiriças tingidas de acor-

uma forma orgânica (metros e metros de uma

imagens dos movimentos da obra

A partir da combinação de uma

do com a cor da pele de cada bailarino, Freusa

trama sintética fabricada para o sombreamen-

forma geométrica (um enorme quadrado

Zechmeister aplica inscrições e texturas base-

to de culturas agrícolas), ambas manipuláveis

Antonio García Patiño, pois ambos

de alumínio vazado) com uma forma orgâni-

adas em ornamentos da Idade Média, trans-

verticalmente, Paulo Pederneiras constrói um

recriam os dizeres das cantigas Gale-

ca (metros e metros de uma trama sintética

formando o corpo dos bailarinos em suporte

cenário metamórfico que, no decorrer do es-

go-Portuguesas de amigo, como as

fabricada para o sombreamento de culturas

para uma simbologia da época, e criando a

petáculo, vai se transfigurando e formando

agrícolas), ambas manipuláveis verticalmente,

ilusão de que a cena é povoada por homens e

representações de paisagens e elementos

Paulo Pederneiras constrói um cenário meta-

mulheres “em pelo”, cuja “nudez” é coberta

distintos: mar, montanhas, nuvens, barco,

mórfico que, no decorrer do espetáculo, vai se

apenas por um dos signos mais arcaicos do

rede de pesca, alvorada, sobre malhas finas

tadas para o espetáculo

transfigurando e formando representações de

imaginário marítimo: a tatuagem. A partir da

inteiriças tingidas de acordo com a cor.

do Grupo Corpo.

A imagem do canto superior esquerdo é uma ilustração do artista Antonio García Patiño e pode ser relacionada com as imagens abaixo, que são movimentos da obra Sem Mim. Ambas revelam a relação e os sentimentos existentes entre a mulher e seu amado.

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Sem Mim com ilustrações do artista

de Martín Codax, datadas do século XIII, resga-

A imagem ao lado é uma ilustração do artista Antonio García Patiño que conversa com a imagem abaixo, de modo que ambas demonstram a consolação que existia, cantada nas cantigas de amigo, quando as mulheres aguardavam a chegada do amado.

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Acima, cenas de coreografias da obra Sem Mim (2011) do Grupo Corpo.

CANTIGA IV

CANTIGA V

CANTIGA VI

CANTIGA VII

Ai Deus, se sabe ora meu amigo

Quantas sabedes amar amigo

E no sagrado em Vigo

Ay ondas que eu vin ver!

como eu señeira estou en Vigo?

treides comigo a lo mar de Vigo

bailava corpo bonito:

Se me saberedes dizer

E vou namorada!

E bañar-nos-emos nas ondas.

Amarei!

por que tarda meu amigo

Ai Deus, se sabe ora meu amado

Quantas sabedes amar amado

Em Vigo no sagrado

como eu en Vigo señeira maño?

treides comigo a lo mar levado

bailava corpo delgado:

Ay ondas que eu vin mirar!

E vou namorada!

E bañar-nos-emos nas ondas.

Amor hei!

Se me saberedes contar

Como eu señeira estou en Vigo

Treides comigo a lo mar de Vigo

Bailava corpo bonito

e nullas gardas non hei comigo?

e veeremo-lo meu amigo

que nunca tivera Amigo:

E vou namorada!

E bañar-nos-emos nas ondas.

Amarei!

Como eu señeira en Vigo maño

Treides comigo a lo mar levado

Bailava corpo delgado

e nullas gardas migo non trago?

e veeremo-lo meu amado

que nunca tivera amado:

Carlos Núñes e José Miguel Wisnik, sobre a

E vou namorada!

E bañar-nos-emos nas ondas.

Amor hei!

obra de Martín Codax, transmitem movimentos

sen min?

por que tarda meu amigo sen min?

As músicas da obra Sem Mim produzidas por

e sentimentos que podem ser sentidos e enten-

E nullas gardas non hei comigo

Que nunca tivera amigo

ergas meus ollos que choran migo!

senão no segredo em Vigo:

didos pelos espectadores, quando esses escu-

E vou namorada!

Amarei!

tam os ritmos, interpretam as letras e assistem aos movimentos dos bailarinos.

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Um jogo entre o que se ouve e o que se vê, no qual o barroco de Bach e o barroco de Minas Gerais, no Brasil, se realizam como dança. A coreografia aspira ao que está acima, e a música, ao que está dentro das partituras de Bach, as quais Marco Antônio Guimarães, o compositor, nos ajuda a descobrir.

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U

m Bach mais que barroco. Mineiro. De

estreou mundialmente em setembro de 1996

um azul ultramarino intenso. E grafite.

na tradicional Bienal da Dança de Lyon, arran-

E dourado. Como as igrejas do ciclo do

cando dez minutos ininterruptos de aplausos.

ouro, nas antigas Geraes – talhadas pelo gênio

Vigésima sexta coreografia na cronologia da

de Aleijadinho, ungidas com afrescos de Ataíde.

companhia mineira de dança, Bach brota de

Um Bach divinamente profanado. Que despenca

uma criação livre e iluminada de Marco An-

de súbito dos céus para outra vez ascender às

tônio Guimarães em torno da obra do maior

alturas. Um Bach que cantata, mas que também

compositor de todos os tempos. Mineiro,

ciranda. Um Bach mais que barroco, mineiro.

moldado para a música na legendária usina

Assim – clássico, contemporâneo, universal,

de sons montada em Salvador pelo suíço Wal-

interiorano, divino, profano, solene, malemo-

ter Smetak, cérebro e medula óssea do Uakti

lente – é Bach, a primeira produção do GRUPO

(o mais instigante e original dos conjuntos ins-

CORPO na qualidade de companhia residente

trumentais brasileiros), colaborador do COR-

da Maison de La Danse, de Lyon – condição

PO desde 1992, quando compôs a trilha ma-

que ocupou por três anos consecutivos. Bach

gistral de 21, Guimarães mergulhou por um.

Vigésima sexta coreografia na cronologia da companhia mineira de dança, Bach brota de uma criação livre e iluminada de Marco Antônio Guimarães em torno da obra do maior compositor de todos os tempos, Johann Sebastian Bach.

Ao lado esquerdo, Johann Sebastian Bach (1685 - 1750), que foi um compositor, cantor, cravista, maestro, organista, professor, violinista e violista oriundo do Sacro Império Romano-Germânico, atual Alemanha.

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Ano no universo barroco de João Sebastião

ções: Conceição Nicolau e Sandro Assunção, do

(1685-1750). Escarafunchou bibliotecas; vas-

coral do Palácio das Artes de Belo Horizonte.

culhou cada vereda da memória; retrogradou

A intensa carga de religiosidade que emana

movimentos; fundiu cantatas, coros e prelú-

da música de Bach encontra tradução visu-

dios; revelou partes ocultas na partitura do

al no desdobramento do espaço cênico em

gênio; transmutou suítes em acompanhamen-

dois planos: um aéreo/celeste, outro rasteiro/

tos e, como Gounot na Ave Maria, derramou

terreno – recurso determinante no resulta-

sobre eles nova melodia. Fez mais. Fez o que ja-

do final do espetáculo, idealizado por Paulo

mais havia feito antes: pesquisou, alterou e criou

Pederneiras, diretor artístico e iluminador do

timbres e instrumentos em teclados eletrônicos.

grupo, que desta vez assina a cenografia ao

Quase uma heresia para quem dedicou a vida à

lado do “titular da pasta”, o artista plástico

investigação de novas texturas sonoras, tendo

Fernando Velloso. Como estalactites futuris-

por base, invariavelmente, instrumentos acús-

tas, um feixe de tubos metálicos tingidos de

ticos (no mais das vezes inventados, também).

negro se precipita dos urdimentos.

Na trilha, sintetizadores e dois instrumentos de corda (o Chori, da linhagem do mestre Smetak, e o Gig, de lavra própria) são comandados pessoalmente pelo (re)criador, enquanto duas vozes celestiais conduzem árias, cantatas e can-

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Diversos tubos metálicos tingidos de negro se precipita dos urdimentos, criando uma inusitada zona coreográfica, de onde os bailarinos despencam na cena e por onde forjam a ascensão. Iluminada na diagonal a “peça” cenográfica faz alusão ao órgão, instrumento que o compositor alemão tangeu com paixão e maestria.

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Uma inusitada zona coreográfica, de onde

Freusa Zechmeister despe as pernas e os braços

os bailarinos despencam na cena e por onde

dos bailarinos e brinca com as três cores básicas

forjam a ascensão. Iluminada na diagonal a

do cenário sobre macaquinhos de couro stretch

“peça” cenográfica imprime na retina do es-

ou elanca fosca e botinhas de cano curto.

pectador a imagem (ou semelhança) do ins-

O idioma singular e brasileiríssimo, desenvol-

trumento que o compositor alemão tangeu

vido pelo CORPO em 21 anos de dança, ex-

com paixão e maestria.

pande seu universo vocabular, incorporando

Um mesmo e profundo azul colore o piso e as

aqui e ali fonemas, sílabas e dicções do rock

duas camadas de tecido que compõem o fun-

– língua desde sempre universal. Enquanto a

do do palco. Do meio para o final do espetá-

coreografia de Rodrigo Pederneiras liberta-se

culo, descem sobre a cena 172 m de retalhos

cada vez mais da forma, tirando os pontos de

de popeline ultramarino, num portentoso pa-

apoio do espectador e lançando-o no domí-

tchwork monocromático, versão glorificada

nio irresistível do inesperado imagem (ou se-

nica, em que tons vigorosos de azul, preto e dourado conferem, por vezes,

dos alegres tapetes populares do interior.

melhança) do instrumento.

uma dimensão futurista.

2

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Nas imagens acima podemos observar os figurinos desenhados por Freusa Zechmeister, que deixa, o mais livre possível, todos os movimentos realizados pelos bailarinos.

À parte o desempenho do elenco do Corpo, que reúne talentos exaltados pela crítica internacional, “Bach” tem como ponto forte a ambientação cê-

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por trás do palco

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Para se ter o espetáculo visto no palco, existe um longo caminho a ser percorrido. O preparo é intenso e deve, sempre, ser levado a sério pelos bailarinos e toda a equipe do Grupo Corpo. Registro de vários momentos dos ensaios ilustram todo o processo existente até a conclusão da obra final.

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O

espetáculo se pauta pelo lirismo,

Ao mesmo tempo que ganhava currículo cos-

pleno de movimentos delicados que

mopolita, com a realização de turnês mundo

passam longe do gestual extravagan-

afora, o Corpo manteve sua natureza domés-

te e das acrobacias que vemos em conhecidas

tica. É essencialmente um grupo mineiro, cria-

atrações de dança contemporânea. “Não gosto

do pelos irmãos Pederneiras. Paulo, Pedro,

muito de fogos de artifício. Não é nossa praia”,

Rodrigo e Miriam ainda integram a equipe,

afirma Pederneiras. Tanto os figurinos quanto a

enquanto o primogênito, José Luiz, e a caçu-

cenografia e a iluminação servem como supor-

la, Marisa, partiram para outros projetos. O

te para realçar o bailado, sem desviar a atenção

primeiro endereço da turma foi a própria casa

dele. Uma parte da exibição tem como pano de

dos pais, que abriram mão da moradia em

fundo um grande painel branco com textura se-

prol do sonho maior dos filhos. Como apên-

melhante à de um papel amassado. Na outra, as-

dice, o Corpo ganhou uma escola de dança

soma um mosaico com mais de 1.000 fotografias

e, tempos depois, um projeto social que hoje

Segundo Rodrigo Pederneiras, de uma maneira geral, o Grupo

que remetem às quatro décadas de existência

envolve 600 crianças e adolescentes. O grupo

da companhia. A pompa se resume a um collant

chega aos 40, mas com vigor e corpinho de

Corpo abriu diversas portas, janelas e deu uma arejada muito

de veludo usado pelas bailarinas na segunda me-

20, como mostra este ensaio fotográfico feito

tade da apresentação, que tem duração de 115

durante a preparação para o espetáculo, que

so sempre aconteceu com o grupo: todas as plateias aplaudiram

minutos e a participação de 21 dançarinos.

chegou em São Paulo e ao Rio de Janeiro.

de pé no intervalo e no final do espetáculo.

grande no movimento de dança no Brasil. Algo raro e maravilho-

Abaixo e na página anterior, podem-se observar momentos dos ensaios dos bailarinos no Grupo Corpo, buscando a perfeição no movimento coreografado, que além de ser sincronizado, tem que ser sentido. Fotos: Leo Drumond.

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A revista DANCE realizou uma entrevista com Rodrigo Pederneiras, coreógrafo e um dos principais responsáveis pela formação do Grupo Corpo, na qual pode-se perceber sua opinião sobre o grupo e algumas de suas obras. Quantos espetáculos você já coreografou?

Você tem medo de se repetir?

Já fez essa conta?

R: Não. Não tenho medo nenhum. Às vezes

R: Para o Corpo, em 39 anos, foram 32 espetácu-

a gente acaba se repetindo mesmo, o que não

los. Mas já trabalhei muito fora também, na Fran-

acho ruim. Você acaba criando certas referências

ça, Suíça, Alemanha, Canadá, Estados Unidos.

para o seu trabalho. Acho isso até importante.

Há pouco fiz um trabalho para a Limon Dance Company, em Nova York, com música feita pelo

Qual é o seu espetáculo preferido?

Paquito D’Rivera especialmente composta para

R: O preferido é sempre o último. Mas “21”

o grupo. Também trabalhei com todas as maio-

(1992) foi um trabalho em que eu tive uma par-

res companhias do Brasil, como a Companhia de

ceria muito boa com Marco Antônio Guimarães

Dança do Palácio das Artes, o Ballet do Rio de

(do Uakti). A “Missa do Orfanato” também é

Janeiro e São Paulo Cia. de Dança.

um trabalho que eu adoro. Em “Lecuona” tive uma boa parceria com nosso cenógrafo Fernan-

Qual é a principal diferença entre trabalhar

do Velloso. É um espetáculo que nasceu a partir

com o Corpo e para essas companhias que

das conversas que tive com o Nando a respeito

te contratam?

das canções (de Ernesto Lecuona). Gosto muito

R: É uma diferença muito grande. Não posso

de “Sem Mim”, de “Nazareth” (1993), do Triz e

querer fazer o que faço para o Grupo Corpo,

de muitos outros que realizamos.

no mesmo espaço de tempo que faço para

Retrato de Rodrigo Pederneira, coreógrafo do Corpo desde 1978, que tem seu trabalho reconhecido nacional e internacionalmente.

30

o Corpo, com outra companhia. Seria pos-

Quais características tem que ter o bailarino

sível se tivesse um tempo muito maior, mas

que vem para o Grupo Corpo?

normalmente é impossível, porque as com-

R: Primeira coisa que nós olhamos é a técnica

panhias têm cronogramas já planejados. Aqui

clássica. Tem que ter essa técnica muito apura-

no Grupo Corpo existe uma relação muito

da. Depois fazemos testes com repertório da

próxima entre eu e os bailarinos, os bailarinos

companhia, para ver como ele se insere nesse

já conhecem o meu tipo de trabalho, a minha

tipo de linguagem e também a força que esse

forma de trabalhar, a maneira de lidar.

bailarino tem individualmente. 31


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