R$ 33,00
ANO 1 | EDIÇÃO 1
Live once, so travel.
ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING Curso de graduação em Design com habilitação em Comunicação Visual e ênfase em Marketing
PROJETO INTEGRADO DO 3º SEMESTRE Supervisionados e orientados pelos professores das respectivas disciplinas… PROJETO III – Cultura e Informação Profª Marise De Chirico COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM II Profª Regina Ferreira da Silva MARKETING II Prof. Giancarlo Ricciardi MÓDULO COR E PERCEPÇÃO Profª Paula Csillag PRODUÇÃO GRÁFICA Profª Mara Martha Roberto
PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO Carlos Juliano Madureira Daniela Esther Sentinella Thais Menezes
© Alex Strohl
Fotografia clicada por Alex Strohl nas sua expedição as monhanhas do Alaska com sua Canon 5D
HORIZONTE
6 9
Carta Itinerantes
12-17 18-22 40-47
Amostra Curtas Find Out
24-31 32-35 36-39
Noite longa e estrelada O essencial no seu bolso As lentes que registram
88-89 90-93
Como deveria ser? Desapego Pragmático
50-57 58-65 66-73 74-79 80-87
A vida em modo avião Faça cada garfada valer a pena Você não precisa dar conta de tudo Seja o motivo de viajar Hoje faz sentido, amanhã não mais
96-101 108-109
Rádio Um lugar para pensar
102-107
A trilha sonora da sua viagem
112-115 132-151 152-153 154-157
Word Coffee Break Quando faz-se carreto Aventura da rotina
116-123 124-131
Por que ir ou por que não ir? O que aprendi na estrada?
160
Pureza
Š Alex Strohl
Fotografia tirada na reserva natural do CanadĂĄ pelo Alex Strohl com sua Canon 5D
CARTA
PRAZER,
6
mood.online
Aflorar a curiosidade pela busca do “eu”, da essência e de quem realmente somos. Buscar motivação e estar em contato com sua essência, acolhendo o desejo constante de viver. Ser capaz de plantar novos sonhos, desejos e medos para poder colher um novo sentido da vida sendo isso muito mais que um conceito, o significado da palavra Mood. Entre o contexto de relatos de pessoas que já se submeteram a novas experiências e aquelas que estão se descobrindo nos lugares que foram visitar, permitindo-lhes viver, aprendendo a arte do desapego e se livrando de pesos, matériais e psicologicos que não fazem bem, a revista se desenvolve. Com as fotogafias, prezamos transmitir sentimentos e sensações. A presença de conteúdos relacionados a filmes, livros e relatos de colunistas como Eugenio Mussak, um grande contador de histórias de rua, a psicanalista Diana Corso entre outros grandes nomes.
Não seria começar, nem recomeçar, apenas se trata de se dar uma nova chance. Essa revista é para nós que sentimos que falta algo na vida, que perante a sociedade rotineira, não vê um porque dela ser assim. Para quem têm receio de mudar, mas sente a necessidade de mudar. Somos uma revista que trata de valores através de uma viagem. A vida é feita de escolhas, portanto todos nós temos a oportunidade de mudar. O medo e o arrependimento sempre estarão presentes, mas eles não servem para nos recuar, servem como precaução, pois farão da coragem, momentos únicos. Inspire-se e relembre de seus sonhos e do porque os manteve como sonhos. Encare essa jornada conosco, reencontrando-se, refletindo, transformando e se conectando. Convido você, nosso querido leitor, a se aventurar e mergulhar nesse mundo. Garanto-lhe, a viagem será inesquecível.
© Alex Strohl
Fotografia clicada próximo ao Glacier Lagoon pelo Alex Strohl com sua Canon 5D
ITINERANTES
STAFF
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DIRETORA DE ARTE E FOTOGRAFIA
DIRETORA DE REDAÇÃO E ILUSTRA
DIRETOR DE REDAÇÃO E FOTOGRAFIA
Daniela Esther Sentinella. Com alma de designer desde os 12 anos, e olhar de fotografa desde que nasceu, passou por poucas e boas e decidiu ir em busca de sua essência. Através das loucas viagens feitas com sua mãe, percebeu que há muito mais no mundo do que reviver esse ciclo vicioso que a sociedade impõe a todos.
Thaís Menezes. Estudante de Design e ilustradora. Desenha desde os 6 anos, quando passou por uma tragédia em sua família, se encontrou entre lápis e papeis, podendo então transmitir tudo o que se passava em sua cabecinha de criança. Até hoje, busca na ilustração paz e é por meio dela que consegue se comunicar melhor.
Carlos Juliano Madureira. 19 anos. Estudante de design, viciado em games e carros. Já fez grandes viagens, mas a melhor viagem que está sendo feita por ele é a de busca grandes amigos e um futuro com muitas aventuras. Uma pessoa muito criativa e aberta para novas ideias que possui essa vontade louca de dirigir sem destino.
www.danielasentinella.com instagram.com/danisentinella
www.thamenezes.com instagram.com/thaismenezes.s
www.carlosmadureira.com instagram.com/carlosjuliano_
COLABORADORES
Lana. Apaixonada por estampas, e combinações de cores. Ama admirar todos os detalhes e então criar composições.
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Thiago. Um estudante do 2º ano de administração, apaixonado por paisagens simetricas e pela harmonia que te traz.
Isabela. Desenhista no tempo livre e designer pro resto da vida e busca contribuir pra deixar o mundo cada vez mais bonito.
© Divulgação
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mood.online
© Alex Strohl
ACHADOS | AMOSTRA
LIVROS JACK KEROUAC
RUBEM ALVES
Sal Paradise é o narrador. Ele vive com sua tia até que se muda e conhece um andarilho que se chama Dean compartilha o seu amor por literatura e jazz, e a ânsia de correr o mundo. Tornam-se amigos e, juntos, atravessam os Estados Unidos, numa jornada, tanto uma viagem pelo interior de um país quanto uma viagem de autoconhecimento.
O resgate de tudo o que é singelo. A luta pela felicidade em vida. A revolta por tudo aquilo que, embora lógico, não faz sentido – e, ainda assim, é aceito –. A palavra que é sentida pelo coração. Uma árvore, uma horta, uma amizade, a arte. Todos eles ganham uma nova dimensão em Ostra feliz não faz pérola, de Rubem Alves.
FILMES 12
A VIDA SECRETA DE WALTER MITTY
Essa aventura hilariante celebra o verdadeiro potencial que existe em cada um. Walter Mitty (Bem Stiller) leva uma vida repleta de experiências memoráveis… mas na sua imaginação. Na vida real, ele é um tímido processador de imagens na revista Life. Quando seu emprego é colocado em risco, Walter precisa levar toda a ação de seus sonhos para a vida real, e assim perceber que não existe nada mais memorável do que viver.
COMER, REZAR E AMAR
Elizabeth (Julia Roberts) descobre que sempre teve problemas em seus relacionamentos. Um dia, ela larga tudo, sai da zona de conforto decidida a viver novas experiências em uma jornada que se transforma em uma busca por auto-conhecimento. Na Itália, ela encontra o verdadeiro prazer da gastronomia. Na Índia, explora sua espiritualidade. Em Bali, encontra sua paz interior e, inesperadamente, equilíbrio de um verdadeiro amor.
APLICATIVOS VSCO CAM
É uma ótima opção para buscar o que fazer em qualquer lugar. Possui uma lista com opções de pontos turísticos, baladas, bares e restaurantes, entre outros programas. Basta digitar o local e selecionar o tipo de atividade.
DISPONÍVEL PARA IOS E ANDROID.
DISPONÍVEL PARA IOS, ANDROID E WINDOWS.
Fotos: Divulgação
mood.online
TRIPADVISOR
Crie. Descubra. Conecte-se. Fotografe e edite suas imagens com predefinições superiores para dispositivos móveis e controles de câmera avançados. Publique imagens e diários e explore o conteúdo de pessoas que você segue.
MARTHA MEDEIROS
CHERYL STRAYED
m livro que parece mais U uma conversa ao pé do ouvido. Não há nada inventado, tudo aconteceu de verdade: as melhores lembranças, as grandes furadas ainda em tempos de pré-internet, paisagens de tirar o fôlego. A autora sempre compartilha suas mais afetuosas memórias de viagens feitas sem grana em várias épocas da vida.
No livro, Cheryl conta sobre sua extasiante jornada de autoconhecimento. Ela percorreu uma trilha que cruza a costa oeste dos Estados Unidos totalmente sozinha e sem ter tido qualquer experiência com longas caminhadas antes. A leitura passa a sensação de que estamos evoluindo e amadurecendo e que ficamos mais fortes a cada obstáculo.
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DIÁRIOS DE MOTOCICLETA
he Guevara (Gael García Bernal), um jovem estudante de C Medicina que em 1952, decide viajar pela América do Sul com seu amigo Alberto Granado (Rodrigo de la Serna). Começam a viagem de moto, e depois de 8 meses, passam a seguir viagem pedindo carona na beira da estrada e caminhadas, conhecendo novos lugares e pessoas e a cada dia que passava, vivendo novas experiências.
Fotos: Divulgação
BANDSINTOWN
THE WAY
om é um médico americano que viaja para a França para T recuperar o corpo de seu filho, Daniel que morreu numa tempestade enquanto fazia o trajeto “El caminho Santiago”. Levado por sua profunda tristeza e pelo desejo de compreender melhor seu filho, Tom decide então deixar sua vida californiana vazia para trás, e embarca numa peregrinação histórica, refazendo a trajetória de seu filho.
WAZE
aplicativo permite o usuario acompanhar O os seus artistas favoritos, receber alertas quando eles estão em turnê perto de você, acompanhar o que você ouve e compartilhar os concertos com seus amigos.
Waze é um aplicativos de trânsito e navegação. Junte-se aos outros motoristas e compartilhe informações de trânsito das vias em tempo real, economizando tempo e combustível em seus deslocamentos diários ou em viagens.
DISPONÍVEL PARA IOS E ANDROID.
DISPONÍVEL PARA IOS, ANDROID E WINDOWS. mood.online
ACHADOS | AMOSTRA
MÓVEIS
Tok&Stock Online
BÁUS MINAS
BEZEL MESA CENTRO
Tok&Stock Boas soluções para organizar ambientes diversos com estilo. São ótimos para guardar roupas de cama, louças ou coleções de CDs e DVDs, além de substituírem mesas laterais e de centro ou até mesmo criados-mudos. R$ 350 (Pequeno) | R$ 550 (Grande)
Tok&Stock A coleção DI.SE.ÑO foi desenvolvida por um expoentes criativos deste país. Produzida em material de ótima qualidade, a linha Bazel possui design refinado e moderno, perfeita para ser ambientada em espaços descolados. R$ 775
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ALINE LUMINÁRIA
BASS ESTANTE C/ FUNDO
Tok&Stock Com desenho enxuto e formas delicadas, a luminária Aline foi pensada especialmente para ambientes com atmosfera elegante e moderna. Esbanja praticidade e pode ser usada para iluminar qualquer cenário da casa. R$ 260
Tok&Stock A estante Bass possui diversas prateleiras e divisórias, que podem receber livros, pequenos eletrônicos, DVDs, CDs e adornos. Pode ser uma ótima solução para decorar e organizar a casa sem abrir mão do estilo. R$ 1.560
PANA BUFFET/ARMÁRIO
SELA BANCO BAIXO
Tok&Stock Produzido em material de ótima qualidade, o buffet e armário de duas portas Pana possui design refinado e minimalista, assinado pelo Estúdio Diário. Perfeito para ser ambientado em espaços descolados e modernos. R$ 1.600
Tok&Stock Com design lúdico e sustentável. O banco baixo Sela é uma boa solução para dar um toque de originalidade à decoração de ambientes jovens e despojados. Pode ser usado sozinho ou combinado outros itens da mesma linha. R$ 1.600
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ACESSÓRIOS
MOCHILA KEROUAC
MEMO BOTTLE A5
Beatnik & Sons A Kerouac é costurada a mão e confeccionada com couro genuíno, e tem um design contemporâneo. Indicada para quem quer mais espaço, para quem quer escalar um monte alto, ou viver de forma elegante o seu dia a dia na cidade. R$ 369
Memo Bottle Com capacidade de 750ml e dimensões: 243mm x 148mm a A5 MemoBottle é ideal para viagens, o escritório ou faculdade. Tendo capacidade de 750ml, a A5 é uma garrafa de água reutilizável para o bebedor premium. $29
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BLACK HOLD SIMPLE STRAP
CICLI BIANCO – SINGLE SPREED
Black Hold Alça da Black Hold é feita em couro macio com excelente ergonomia e toque suave. Muito confortável e com o estilo característico de nossos produtos. Comprimento de 103 cm e largura 3,8 cm R$129
Saint Studio Bicicleta Single Speed desenvolvida com design exclusivo em parceria com a Vela de aço de alto carbono, pedais com sinalizador, guidão em alumínio, modelo reto com 460mm de comprimento. R$1.990
T-SHIRT SUEDE POCKET
QUADRO LESS AND MORE
Saint Studio Saint Studio é uma loja que preza ‘O menos é sempre mais”. Sua camiseta T-Shirt Suede Pocket é feita de tecido importado, 88% algodão peruano, com bolso frontal em ecológico na cor cinza mescla e cola wide. R$105
Saint Studio Saint Studio preza ‘O menos é sempre mais”. Moldura básica em madeira com acabamento laqueado, visor em vidro cristal e impressão a laser em papel Offset. Tamanho total 23×32 R$79 mood.online
ACHADOS | CURTAS
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ATENÇÃO PLENA
MOCHILEIRO AO EXECUTIVO
Olhar para o mundo e para as dificuldades com mais gentileza e clareza. O mindfulness ou a chamada “atenção plena” ajuda demais nisso. Isso porque o mindfulness é uma prática de regulação da atenção que propõe uma nova interação com qualquer coisa que aconteça na nossa vida de maneira mais consciente, aberta e gentil. O resultado é um maior controle das nossas reações e escolhas, uma rotina mais leve e menos estressante. E nesse finalzinho de agosto e início de setembro, uma super especialista no assunto, a inglesa Tamara Russell, estará no Brasil para alguns encontros com treinamento e um retiro, em São Paulo. O treinamento será composto por cinco encontros e o retiro de imersão terá três dias. Para maiores informações e para se inscrever: casadohorto620@gmail.com
Carregar tênis e sapatos na mala é uma das tarefas mais chatas de qualquer viagem: os pisantes ocupam espaço demais, geram um peso incômodo e, com frequência, chegam amassados ao destino das férias, entretanto, uma empresa italiana propôs uma solução para acabar com estes inconvenientes. Batizada de Shooz, a organização inventou um calçado capaz de ser adaptado para as diversas situações vividas pelo turista em uma jornada pelo mundo, com três tipos de sola que podem ser acopladas a diferentes partes superiores dos pisantes, criando tênis para caminhadas, sapatos sociais e calçados para momentos casuais e o melhor de tudo, todas estas peças podem ser carregadas facilmente na bagagem do viajante. Os viajantes podem transformar o calçado em tênis ou sapato o que ajuda quem viaja a negócios, mas que também quer desfrutar de momentos de lazer na jornada. Para saber como adquirir a invenção e assistir o vídeo em inglês que a empresa fez para promover o produto, acesse: https://one-footwear.myshopify.com/
Fotos: Divulgação
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O DIREITO DE IR, VIR E SENTIR.
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PAISAGEM COSTURADA
MOCHILA DE JACK KEROUAK
Apaixonada por viajar e pelas artes, a designer singapurense Teresa Lim tem um jeito muito especial de registrar os belos lugares que visita. Em vez de fotos, bordados. Com linhas, agulha e tecido, artista singapurense cria expressivos bordados como forma de guardar recordações dos lugares que visita. É a ideia do projeto Sew Wanderlust, que ela mantém há dois anos. “Fotografar se tornou algo muito fácil, e eu queria algo a mais. Quando termino um bordado, eu realmente sinto que conheço aquele lugar”, conta ela, que reserva um tempinho da viagem para as agulhas e linhas e garante que assim eterniza melhor esses momentos de descobertas. Teresa já bordou lugares de mais de 15 cidades, entre elas Paris, Luxemburgo e Amsterdã.
A Beatnik foi criada em 2001 pelo designer e artesão Elgson Elígio Lourenço que no final da década de 80, influenciado pelo movimento punk, começou a produzir mochilas em lona de algodão para vender em shows e eventos culturais da cena underground curitibana. O propósito era criar bolsas e mochilas para que as pessoas pudessem viver na estrada com tudo que precisassem com elas sendo liberdade, handmade e literatura são as inspirações para a Beatnik & Sons. A primeira coleção da Beatnik & Sons, On The Road, homenageia o livro homônimo escrito pelo lendário Jack Kerouak, escritor que cunhou o termo “beatnik” como movimento cultural literário do final da década de 60 e início de 70 e todas as peças da marca tem seus nomes inspirados nos personagens e nos artistas do movimento.
Fotos: Divulgação
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FIM DE TARDE NA CIDADE
A Land Rover está na estrada registrando uma jornada inédita que percorrerá quatro regiões brasileiras e trará particularidades do País e dos brasileiros ao abordar histórias e experiências. O material irá se transformar em branded content a ser veiculado na grade do Canal OFF, da Globosat. A estreia está prevista para novembro deste ano e será apresentada ao público com o título “Filhos deste Solo”. A jornada “Filhos deste solo” contempla quatro expedições com as primeiras unidades de seus veículos nacionais – Range Rover Evoque e Discovery Sport. O objetivo é mostrar a grande diversidade, não apenas de paisagens, praias e montanhas, mas principalmente de povos e culturas que existem no Brasil. A ideia é mostrar os primeiros modelos que saíram da fábrica da Jaguar Land Rover em Itatiaia, mais do que serem feitos no Brasil, são produzidos por brasileiros, e para brasileiros.
Gabriela Saueia, fotógrafa desde os 15 anos, em 2013, decidiu que a paixão por paisagens se transformaria em um projeto de intervenção urbana. Intitulada Depois das Seis (instagram.com/depoisdasseis), a iniciativa consiste em fotografar o pôr do sol. Todos os dias, com uma câmera Diana Instant Back – que revela instantaneamente em polaroide – ela clica o fim de tarde em diferentes bairros de São Paulo e depois, distribui as imagens pela cidade, impressas em cartazes lambe-lambes, logo o projeto registra a beleza do entardecer de São Paulo e fotos são aplicadas em cartazes na cidade para despertar o nosso olhar. “Eu quero mostrar que existe cor em São Paulo. É só a gente prestar mais atenção no que está ao nosso redor”, observa a fotógrafa.
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Fotos: Divulgação
JORNADA LAND ROVER
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ACHADOS | CURTAS
TROCANDO DE CASA Graças à criatividade dos empreendedores espalhados pelo mundo, hoje há um monte de ferramentas legais para diminuir o custo da sua viagem. O site Home Exchange é um deles. Lembra do filme O Amor Não Tira Férias, onde a personagem da Cameron Diaz troca de casa com outra mulher do outro lado do mundo para as férias natalinas? O Home Exchange tem a mesma proposta! Você entra no site e cria um perfil para sua casa, incluindo uma descrição detalhada do ambiente e da cidade/bairro. Há mais de 50 mil perfis de apartamentos, chalés, sobrados, mansões, condomínios, casas de praia, cabanas, palácios em 150 países.
A recomendação para achar a casa ideal é entrar em contato com a outra parte com pelo menos dois meses de antecedência. Mas não se preocupe, se você é daqueles que só resolvem viajar repentinamente, o Home Exchange também possui listagens “de última hora”. Além disso, o site oferece dicas de como descrever e fotografar sua casa, oferece também um manual de etiqueta para conversar com outros membros, um sistema para checar a segurança da possível troca e até um passo a passo de como deixar sua casa pronta para a pessoa que se hospedará lá. Dá para experimentar o site por 14 dias gratuitamente. Decidir fazer parte custa $9,95/mês.
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Fotos: Divulgação
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WORDS: ISABELLA VILLALBA PHOTOS: TIINA TORMANEN
NOITE LONGA E ESTRELADA Em um passeio pela Lapônia, fotógrafa mostra a beleza de encontrar o brilho na escuridão das noites de 24 horas da Finlândia Durante o inverno, a fotógrafa finlandesa Tiina Tormanen costuma viajar por lugares remotos de seu país. Na série Night Walk, ela mostra imagens das noites que duram 24 horas na época mais fria do ano na Lapônia, um vilarejo com 100 habitantes, rodeado por
uma floresta nevada, centenas de lagos congelados e que fica coberto por milhares de estrelas. “Mesmo a -35ºC, é possível encontrar uma beleza pura. Diante do cosmo, a sensação é de fragilidade, o que poderia até parecer triste, mas me faz sentir livre e cheia de alegria. Em vez da escuridão, quero compartilhar a beleza”, diz.
WORDS: ISABELLA VILLALBA PHOTOS: DIVULGAÇÃO
O ESSENCIAL NO SEU BOLSO Canivete ou facas? Claro, o qual é compacto, fácil de transportar e multi-uso. A necessidade de um canivete está normalmente relacionada à sua atividade profissional ou por alguma atividade que pretenda executar A
aventura pode trazer uma série de di-
ficuldades,
principalmente quando lembramos de todas aquelas ferramentas que ficaram em casa. Por isso, os canivetes sempre são grandes aliados importantes para situações em que não se pode levar sua caixa de ferramentas mas mesmo assim precise dela. Sendo desenhados com um design compacto e moderno, os canivetes são capazes de dar conta das maiores dificuldades que um viajante pode ter num ambiente selvagem. Além de lâminas para diversas ocasiões, os modelos
mais modernos contam também com saca-rolhas, abridores de garrafas, pinças, argolas, chaves, desencapadores, entre outros. Tudo isso em apenas um pequeno acessório que pode salvar uma viagem toda. Marcas renomadas mundialmente como a Victorinox, oferecem de 7 a 33 funções em apenas um canivetee outros itens de cutelaria também são muito úteis aos que vão para um ambiente de mata. Essas lâminas são objetos imprescindíveis para os fãs de caça e pesca. Mas ao contrário de canivetes multiuso, é importante saber os itens corretos de cutelaria dependendo de cada tipo de uso. Não apenas para os cortes de animais, mas também para lidar com as mais difíceis e fechadas vegetações que você pode encontrar.
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A necessidade de um canivete está normalmente relacionada à sua atividade profissional ou por alguma atividade que pretenda executar, entretanto há uma diferença básica entre canivetes e facas é que eles são dobráveis. Isso facilita o transporte, além de ser mais seguro carregar no bolso, pois há uma proteção envolvendo a lâmina. Você provavelmente já deve ter ouvido falar na Victorinox, mas sabia que eles podem ser divididos em diferentes tipos e categorias? Além disso, seu objetivo é usar em casa, em um camping ou em trekkings? Além disso há diversos modelos feitos para combate e defesa pessoal. Há diferentes categorias como utilitários, táticos, ou multifuncionais. Vamos tratar um pouco sobre cada tipo e as principais dicas de como escolher o canivete ideal. Assim como a portabilidade, a trava também é uma peça muito importante. Independente do seu uso, seja para caça, defesa ou uso doméstico, uma boa trava irá impedir o deslize da lâmina pelo cabo. Mesmo que não seja uma situação emergencial, poderá acabar causando algum acidente com você mesmo caso esteja carregando o canivete no bolso. Para preservar a integridade e um bom corte de sua lâmina do canivete, é interessante e essencial tomar alguns cuidados. Quando trabalhar alguma coisa que possa molhar a lâmina, como polpa de frutas ou mesmo água, tome cuidado com a água que escorrer para dentro. Não por uma questão de enferrujar, porque quase todos são feitos de aço inoxidável, mas no caso das frutas (ou qualquer outro objeto viscoso), o líquido poderá secar dentro do equipamento e danificá-lo ao longo do tempo. Para limpar, basta mergulhar o canivete em água quente ou morna e abrir repetidas vezes. Dessa maneira, qualquer líquido que tenha secado dentro irá sair. Também existem óleos especiais para manutenção, que podem ser aplicados após retirar o canivete da água. As lâminas, depois que já não estiverem com o corte perfeito, também podem ser afiadas com pedras de amolar especiais para isso. Caso tenha alguma dúvida ou não saiba qual é a ideal para a lâmina, consulte um especialista em alguma loja, e outra dica importante é proteger seu canivete de altas temperaturas, que no longo prazo, poderão compremeter seu investimento.
Um relĂłgio e um mapa tambĂŠm sĂŁo itens importantes e essenciais
WORDS: ISABELLA VILLALBA PHOTOS: JOHANNES HULSCH
AS LENTES QUE REGISTRAM Pensando em quem gosta de fotografia e quer registrar suas aventuras, o fotógrafo Dylan Furst vem com a ideia de simplificar e ajudar a fazer boas fotos nas viagens A documentação fotográfica durante uma
viagem é um elemento essencial para a memória, seja esta uma lembrança pessoal ou uma reportagem pública. Saber contar uma história com imagens valoriza e engrandece a experiência vivida em outros espaços e culturas. O ato de viajar é uma oportunidade singular de aprendizado e o fascínio de conhecer e desvendar novos mundos, de poder partilhar e experienciar novas emoções, sensações e culturas está enraizado em nós portugueses, desde a
nossa gloriosa época dos descobrimentos. É algo muito nosso e foi esse fascínio pelo desconhecido que nos moveu na descoberta de quase meio mundo, sem medo de desvendar e percorrer caminhos nunca antes trilhados, levando-nos de encontro a diferentes povos e culturas, sem saber muito bem o que esperar. Uma jornada é uma escola dinâmica de conhecimento. Como uma herança, esse fascínio passou de geração em geração até aos nossos dias e eu não fujo à regra e sinto essa necessidade, essa tentação, esse desejo e sempre que me é possível, ponho a mochila às costas e aí vou eu de encontro a um país, a uma cultura que seja novidade para mim.
Pequenos detalhes que influenciam na essência da 38 fotografia
PLANEJAMENTO
Estude com antecedência o local, pesquisando o que será visitado e fotografado. Defina a duração da viagem de modo a ter tempo suficiente para clicar os lugares mais importantes com uma melhor luz.
TEMPO
Passar poucos dias nos destinos é um erro bastante comum. Grandes imagens refletem intimidade com um local, e intimidade exige tempo. Sem pressa, é possível se aprofundar nos cenários e explorar uma boa luz.
REFERÊNCIAS
Literatura e cinema são grandes exercícios para a arte de fotografar. Quem vai ao Pantanal pode se iniciar na cultura visual do lugar lendo poemas de Manoel de Barros; se for a Nova York, veja filmes de Woody Allen. mood.online
EQUIPAMENTO
É importante colocar na mala baterias e cartões de memória extras, além de uma segunda câmera – especialmente quando viajar a destinos onde não existem locais que consertam máquinas –. E uma informação muito importante: lembre-se também de fazer back-up das imagens.
OLHAR
“Sinta” o lugar, esteja de fato nele e tente traduzir as sensações e os sentimentos em imagens. As grandes fotos são carregadas de sentidos. Descubra o que toca você e exercite o “faro” para encontrar boas cenas. Escreva também anotações – isso ajuda a contar a história da viagem –.
QUANTIDADE DE FOTOS
Evite fotografar o tempo inteiro, esse é um grande erro cometido pela maioria dos iniciantes. Muitas vezes, o exagero de imagens faz o olhar deixar passar detalhes do lugar ou momento que você esta. Esteja sempre atento. Melhor fazer uma foto boa do que várias fotografias iguais e sem propósito.
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LUZ
A hora do dia em que se fotografa é essencial. A luz fica mais suave e melhor do nascer do sol às 9h30 e das 15h até o pôr do sol. Sob sol alto, suba em prédios ou mirantes, você registrará a paisagem com as sombras no chão.
ENQUADRAMENTO
Não deixe muito espaço em cima da foto. Quando fotografar alguém, o “teto” da foto deve ficar próximo à cabeça. Sempre que possível, coloque um objeto em primeiro plano – uma pessoa, uma barraca ou um barco –.
FOCO
Use o foco automático, já que o manual é recomendado para profissionais. Mas verifique onde sua câmera está focando – repare no quadradinho que aparece no visor –. A máquina deve apontar para aquilo que você deseja.
NOITE
À noite, use um ISO – ferramenta de controle de sensibilidade da camera – alto e desligue o flash. Tome cuidado com a velocidade de captação da foto, que pode atrapalhar na fotografia final e acabar borrando ou escurecendo a imagem. Se possível, ande com um pequeno tripé na bolsa, mas lembre-se: que o tempo gasto para montá-lo pode fazer com que você perca uma boa foto, logo fique atento caso o momento realmente precise do uso do tripe, mas uma dica para substitui-lo é apoiar a câmera em uma mureta, até mesmo no chão.
EDIÇÃO
Edite o material fotografado para chegar a um conjunto mais significativo de imagens. Para os mais avançados em fotografia, com esse processo o fotógrafo consegue perceber o que funcionou e como funcionou, aumentando seu repertório técnico e estético. Os mais iniciantes, além da filtragem das fotografias mais significantes – que serve como uma ferramenta de desapego –, durante a viagem podem fazer uma edição sem precisar de grandes programas de edição utilizando o próprio celular. mood.online
ACHADOS | FIND OUT
JÁ OLHOU PARA O CÉU HOJE?
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O ato de fotografar é o ato de observar, de recortar a realidade através de certo ângulo, de um ponto de vista definido. Fotografar um lugar, uma pessoa, um animal, é estabelecer uma conexão e toda essa observação e conexão fazem do ato de viajar uma experiência de exploração do mundo externo e interno. A fotografia é a revelação do oculto em nós. Muitas pessoas fotografam apenas com o propósito de recordar uma experiência, entretanto, a fotografia possibilita uma profunda auto-observação. Através dos registros fotográficos obtidos em um local, você pode se conhecer melhor. Experimente rever suas fotografias de viagem se perguntando: qual é a minha forma de olhar a realidade? Qual o tema mais recorrente, com o qual tenho mais identificação? Essa análise pode ser bastante reveladora, pois frequentemente o que buscamos fora é um reflexo do que procuramos acessar internamente.
Fotografar é um ato de amor. A fotografia encanta e embriaga e através dela podemos apresentar nosso olhar único e pessoal, sendo capaz até de transportar e transmitir sentimentos. Com a fotografia desnudamos parte de nossa alma. Quer saber mais sobre uma pessoa? Deixe uma câmera nas mãos dela para que registre suas emoções, seus encantamentos… Alguns se descobrirão poetas, outros, profetas… novos mensageiros das diversas manifestações do amor. Nós da Mood queremos saber como você enxerga as ruas, as cenas, os personagens de sua cidade, logo propomos a você, futuro aventureiro, à buscar dentro da sua própria cidade, diante da predominancia de tantas tantas linhas retas, simetrias e pontos definidos, buscar a simplicidade e suavidade das linhas orgânicas que se complementam da sua forma, com o seu olhar.
Marque sua foto no instagram com a hashtag #moodonline ou mande no nosso email ola@moodonline. com com o assunto FIND OUT. Caso sua foto for escolhida pelos diretores de arte da MOOD, você receberá um e-mail de aviso e sua foto aparecerá na próxima edição. Acompanhe mais no site mood.online
mood.online
ERIC LUIS
ADRIAN SKY
Fotografo nascido e criado em Toronto, Canada. Adora fotografar simetrias e lugares abandonados, mas de vez em quando se surpreende com formas orgânicas que encontra e que clica na cidade.
Com sua camera,se torna um verdadeiro contator de histórias. Um fotografo de São Francisco que busca capturar desde olhares e sorrisos em um casamento, até se aventurar em uma viagem entre monhanhas.
Artista de rua, pintor. Adrian, depois de passar por um momento muito difícil na vida, descobriu na fotografia, além de uma nova paixão, uma nova forma de mostrar seu ponto de vista.
www.timgaweco.com www.instagram.com/ tgaweco
www.eluisphoto.com www.instagram.com/ ericluis
www.adriansky.com www.instagram.com/ adriansky
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Fotos: Divulgação
TIM GAWECO
mood.online
ACHADOS | FIND OUT
TIM GAWECO
Fotografias tiradas dos predios de Vancouver, Canadรก
ACHADOS | FIND OUT
ERIC LUIS
Fotografia do Antelope Canyon no Arizona, no sudoeste americano
Fotografias tiradas com a Canon 5D em Praga, na Europa
ACHADOS | FIND OUT
ADRIAN SKY
Partes do museu de New York pelo fotogrรกfo Adrian Sky
© Alex Strohl
WORDS: PEDRO WICKBOLD PHOTOS: ERIC LUIS
A VIDA EM MODO AVIÃO É possível trazer o olhar do viajante para o dia a dia, mesmo quando não se está de fato turistando por aí, e assim ter uma rotina mais alegre e criativa Era uma manhã comum, de um dia comum.
Saí de casa em direção ao parque para fazer meu exercício matinal. No meio do caminho, me deparei com um prédio bonito, cheio de pequenos vasos de plantas que transformavam a estrutura em uma verdadeira obra de arte. Não lembrava de já tê-lo visto por ali e
imaginei que só poderia ser uma construção recém-inaugurada. Perguntei ao porteiro, que, rindo respondeu que o lugar era daquele jeito havia mais de 15 anos. Intrigado, segui em frente, e, no meio da corrida, uma árvore gigante com flores roxas e belas me chamou a atenção. Um pensamento imediato foi: “Não é possível que em tantos anos frequentando esse lugar nunca tenha reparado nessa árvore tão linda”.
Explico que o motivo de tantas surpresas em um mesmo dia. Passei um ano viajando com a minha esposa, em uma aventura na qual percorremos 37 países, mais de 100 cidades e que resultou em muito aprendizado. Durante esse período, nosso cotidiano era acordar, tomar café e sair pelas ruas atrás de exposições, parques, galerias, museus, praias, teatros, pessoas e lugares que pudessem nos resumir um pouco de cada cantinho especial do planeta e que estava diante de nós a partir daquele momento. Para termos êxito nesse objetivo, o segredo era manter um olhar atento a tudo o que nos interessava e, principalmente, estarmos abertos a nos desafiar mesmo quando algo não parecia convidativo.
Nosso dia-a-dia era acordar, tomar café e sair pelas ruas… 52
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OLHAR CURIOSO
Como tudo na vida, quando treinamos e repetimos sucessivamente algum comportamento acabamos o incorporando e deixando que faça parte da nossa rotina. O olhar de viajante (ou o olhar curioso) foi o melhor hábito de que poderíamos ter nos apropriado para deixar o mundo ainda mais interessante. O tema é complexo pela dificuldade em trazer frescor para a realidade maçante que o dia a dia nos coloca. Segundo a psicóloga paulista Loren Chermann, a pressão social da vida adulta limita a curiosidade pura que as crianças trazem consigo. “Elas são espontâneas nas falas, nas curiosidades e nas dúvidas e agem naturalmente em nome da vontade sincera em adquirir conhecimentos. Não têm vergonha em fazer perguntas que possam parecer simples demais e enxergam possibilidades em tudo. O que os adultos não percebem é que a necessidade de parecer sempre bem-sucedido e não cometer erros acaba limitando a troca genuína que somos capazes de fazer”, acredita Chermann. A comparação com o universo infantil traz uma lição importante para nos aventurarmos mais: viver sem escudos. Nossa história de vida naturalmente nos molda para aten-
dermos uma determinada cartilha, em um ambiente social que nos cobra muitas vezes para sermos aquilo que não queremos ser, ou até mesmo agir para não fugir das regras estabelecidas em determinado contexto. Se libertar dessas amarras e entender que podemos enxergar coisas positivas e ter curiosidades genuínas em qualquer lugar – conhecido ou totalmente novo – sem precisar provar nada a ninguém, pode ser o pontapé inicial para reparar em tudo com mais interesse.
Fazer um caminho diferente, nos permite enxergar o lado desconhecido de onde se vive SIMPLICIDADE
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A advogada paulistana Andréia Fernandes conta que mudar a maneira de circular pela cidade trouxe uma série de novidades para a sua rotina. Após vender o carro, passou a caminhar mais e a fazer percursos pequenos de bicicleta: “É interessante perceber como mudar a sua perspectiva influencia em todos os quesitos de uma grande metrópole. Me sinto mais segura fora de um carro, menos notada. Sou mais uma na andança natural do dia a dia, e sair de dentro de um espaço fechado me fez enxergar várias coisas novas que passavam despercebidas. Descobri, por exemplo, uma livraria linda na rua de casa”, conta ela. Enxergar o vai e vem das pessoas e os acontecimentos da cidade é o que propõe Tomás, o sócio da Compartibike, empresa que faz projetos de mobilidade, em vários municípios brasileiros: “Seja no carro, seja na nossa rotina, estamos acostumados a ficar presos na cidade, e poder vivenciá-la de diferentes maneiras é libertador. Fazer um caminho diferente, usar um meio de transporte alternativo, nos permite enxergar o lado desconhecido de onde se vive. Sair da mesmice e perceber que o mundo tem outras possibilidades nos abre portas e liberta a criatividade”, acredita Tomás.
“Não é exclusivamente ter uma vida nova que é o segredo para trazer mais entusiasmo para o dia a dia”, conta o publicitário João Ferreira. Depois de uma temporada estudando na Califórnia (EUA), faz atividades simples que nunca imaginou aprender por aqui se tornaram fundamentais – e, por que não, interessantes no seu acervo de conhecimento –. “Nunca tinha operado uma máquina de lavar na minha vida. Na primeira vez que usei uma, acabei colocando amaciante no lugar do sabão e as roupas saíram daquele jeito. Na segunda lavagem já estava tudo certo. Parei e pensei como não saber uma coisa tão simples, por pura falta de curiosidade, acabava tirando minha liberdade em vez de facilitar a vida”, comenta.
A EMPATIA DO VIAJANTE
Na viagem que fiz junto com minha esposa, algumas situações foram responsáveis pela aquisição de uma maneira diferente de olhar para as coisas e, principalmente, para as pessoas. O último lugar do nosso roteiro foi a Etiópia, país africano, que nos colocou frente a perigos e novas realidades. Por lá, dormimos ao lado de um vulcão em atividade na fronteira com a Eritreia, país cuja democracia é completamente instável. Fomos escoltados pelo exército da onu e pela polícia local – em 2012, quando quatro cientistas foram assassinados por rebeldes do país vizinho. De lá, viajamos mais seis horas de carro até a grande depressão de Danakil, 160 metros abaixo do nível do mar. Dormimos a céu aberto em estruturas de madeira no povoado Afar, que sobrevive da extração de sal para venda em cidades cujo percurso de camelo chega a levar três dias inteiros. Sem nenhuma estrutura médica ou escolar e sob um sol de extenuantes 52 graus durante o dia, esse povoado, talvez, tenha sido o lugar em que nos sentimos mais completos. Isso porque aquelas pessoas, desconhecidas até então, não nos deixaram faltar nada mesmo quando nada tinham, e o melhor, sem pedir qualquer coisa em troca. Nós nos pegávamos contemplando o céu e pensando na vida de quem ali morava: eles eram tão diferentes e tinham uma rotina completamente diversa da nossa, e ao mesmo tempo, alimentavam valores tão fundamentais para uma sociedade mais humana.
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Em seu livro O Poder da Empatia (Zahar), o escritor e filósofo Roman Krznaric, um dos fundadores da The School of Life e do Museu da Empatia, sediado em Londres, na Inglaterra, ressalta que viagens com propósito reforçaram a diminuição de seu déficit de empatia e melhoraram sua percepção para uma visão menos estreita do mundo. Na experiência que teve trabalhando como observador voluntário do respeito aos direitos humanos em uma aldeia na Guatemala, o desenho de um menino, que contava com uma floresta com aviões e helicópteros disparando projéteis, despertou sua curiosidade para um tema novo: “Foi, em parte, o impacto desse desenho que me inspirou a dedicar vários anos ao trabalho com questões de direitos mood.online
humanos e justiça social na Guatemala e em outros países em desenvolvimento”. Roman também cita a próxima tendência no mercado de turismo: as viagens empáticas, aquelas que possuem como principal objetivo oferecer experiências de empatia ao redor do globo, proporcionando uma dinâmica de autoconhecimento, desde o seu planejamento até sua execução. Para essa ideia, ele deu até nome e subtítulo: “Fugas Empáticas – Desfaça Sua Bagagem Pessoal”.
COMEÇAR AGORA?
Há uma foto interessante circulando pela internet que mostra um cavalo amarrado a uma cadeira de plástico. Na prática, aquele objeto não exerce força alguma para impedir que o animal saia andando, entretanto serve como metáfora para a nossa inércia em vdescobrir uma nova maneira de viver. Falta de tempo, falta de dinheiro, medos, riscos, são realmente suficientes para nos segurar ou são apenas cadei-
Um 57 processo de transformação baseado em seu interesse pelo novo
ras de plástico agarrando nossas vontades? Não é preciso dar a volta ao mundo ou experimentar se estabelecer a milhares de quilômetros de distância de sua terra natal para entrar em um processo de transformação baseado em seu interesse pelo novo, pelo outro, pelo muito e pelo pouco. Qualquer um, no seu dia a dia, na rua de casa, no bairro onde mora, onde for, pode exercitar o tal olhar do viajante. Vale começar, por exemplo, conversando com desconhecidos. Essa, aliás, é uma alternativa brilhante para aguçar nossa percepção. Quantas vezes você não viajou e fez amigos por aí esperando um ônibus, no metrô ou na fila do aeroporto? Que tal fazer isso no cotidiano? Conhecer outros pontos de vista,
outros grupos, debater ideias, trocar experiências, buscar evolução, praticar empatia e entender um pouco mais os anseios de quem não é igual a você são coisas que apuram a visão e engrandecem nos tornando mais humanos. Na volta ao Brasil, eu e minha esposa adquirimos o hábito de conversar com “pessoas invisíveis”, gente que vive nas ruas ou o vendedor da banca de revistas da esquina, o ambulante que espalha suas mercadorias na calçada, o varredor de rua, o porteiro do prédio comercial, enfim, pessoas que passam despercebidas no individualismo do nosso dia a dia. Depois de uma conversa, mesmo que rápida, é comum que aquele homem ou aquela mulher agradeçam simplesmente porque demos um pouco de atenção a eles. O mais importante não é mudar de vida, mas transformar a maneira como a enxergamos. Você pode fazer isso de diversas formas. Pode começar a qualquer momento, em qualquer lugar e hora. Melhor então que seja aqui e agora. mood.online
WORDS: RAFAEL TONON | PHOTOS: DIVULGAÇÃO
FAÇA CADA GARFADA VALER A PENA Experimentar novos sabores e abrir o paladar para experiências gastronômicas pode nos ajudar a entender quem somos e como nos relacionamos com o mundo Foi
uma sopa fria, com o nome bonito e sonoro de vichyssoise (pronuncia-se “vichissoáze”), que alterou a órbita gustativa de um Anthony Bourdain ainda menino, a bordo de um navio saído dos Estados Unidos em direção à Europa. “Foi meu primeiro indício de que comida era algo mais que uma substância para se enfiar na boca quando batia a fome”, conta o hoje chef e apresentador de programas de gastronomia na abertura de Cozinha Confidencial (Companhia das Letras), seu icônico livro de memórias. Aquela sopa à base de alho-poró, cebola, batata, nata e caldo de galinha
servida no restaurante da classe econômica do navio despertou o sentido adormecido do seu paladar – que, segundo ele, jazia profundamente coberto por ketchup –. “Aquela sopa fria nunca mais me deixou. Ela ressoou, me acordou, me deixou consciente da língua e, de alguma forma, me preparou para todos os acontecimentos futuros.” Todo mundo deve ter na ponta da língua uma história parecida de uma comida que foi mesmo capaz de ressoar, de despertar, de abrir quase como uma nova dimensão na nossa percepção de paladar. Os roteiristas de filmes são obcecados por inserir em suas narrativas aquele momento em que tudo muda na história da mocinha. Nesse instante, ela percebe que a vida precisa seguir outro caminho ou, então, se dá conta de que foi enganada e resolve não ser mais tonta.
Esse momento em que “a ficha cai” é conhecido como turning point. E eu acho que todo mundo tem uma comida bem turning point na vida, uma vichyssoise para chamar de sua, que é um balde de água fria (tá, um pouco mais que morna) no paladar. Quando, como a mocinha hollywoodiana, a gente percebe que tinha sido enganado até então, como pode? E que comida não era nada daquilo que a gente vinha provando… Às favas com essa gente toda que nunca nos ofereceu um prato de verdade. A partir daí, ficamos, como diz Bourdain, mais bem preparados para todos os acontecimentos futuros, mais atentos – pelo menos à mesa –. A questão é que as comidas turning point vão ficando mais raras depois que uma primeira e deliciosa comida turning point aparece na nossa frente. Pelo menos em relação à intensidade da impressão que elas podem causar em nosso paladar. Você come esperando uma virada, um estalo, uma festa de empolgação das papilas gustativas, mas às vezes demora a vir. E quanto mais comidas turning point você prova mais a próxima demora a aparecer. Porque, quando se ultrapassa uma barreira gustativa, costuma não ter volta; a gente fica mais exigente, e ser surpreendido fica mais raro.
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Comida é algo a mais do que uma substância para se enfiar na boca quando bate a fome Um amigo tem uma metáfora muito primária, e por isso mesmo muito boa, para dizer como funciona nosso paladar. Ele é como um cavalo no meio de uma escada. Com jeitinho, você faz com que o animal suba alguns degraus. Mas não tem chance, de forma alguma, de fazê-lo descer um degrau que seja. Mas isso não significa que é uma tarefa inglória surpreender e oferecer novos degraus ao nosso paladar tantas vezes, certo? Errado. Com alguma dedicação e atenção, é possível fazer com que todas as refeições sejam ainda mais prazerosas. Nem sempre é fácil, é verdade eu confesso, prinmood.online
cipalmente nos dias de hoje, quando o que falta às refeições é justamente atenção – um celular à mão, muitos problemas na cabeça –. Mas nos reunimos, a seguir, algumas dicas de especialistas para que as refeições nos tragam alguma euforia infantil. Como já disse o grande gastrônomo francês Brillat-Savarin: “Animais se alimentam, o homem come; apenas um homem inteligente sabe como jantar”. Coloquemos, pois, a nossa inteligência na mesa de jantar!
Uma refeição é como um ritual pois pensamos no lugar, na companhia, nos alimentos, nos vinhos PROGRAME A REFEIÇÃO
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“Em primeiro lugar, é preciso pensar na refeição como se pensa em uma viagem”, adverte o ex-crítico gastronômico do jornal francês Le Figaro François Simon. “O corpo adora saber o que vai acontecer; não se trata de renunciar ao inesperado, mas o estômago é um músculo lento, que precisa ser bem tratado. Ao lhe mandarmos sinais de antemão, garantimos que iremos comer melhor, digerir melhor”, escreve ele em Comer É um Sentimento (Editora Senac). Simon diz que chega a pensar em algumas refeições uma semana ou alguns dias antes. “Uma refeição é um ritual. Pensamos no lugar, na companhia, nos alimentos, nos vinhos, no tempo”, afirma ele. “É preciso aceitá-la, recebê-la lentamente, como um barco que aporta. Rebocá-la, acolhê-la, festejá-la.” Isso vale, segundo ele, inclusive para um prosaico sanduíche, por que não? Atrelar, antes mesmo de sair de casa, o pão da padaria preferida com o banco de uma praça especial pode fazer maravilhas pela refeição. “Durante os dias ensolarados, era um prazer divino sentar ao sol, abrir o jornal, retirar o papel-manteiga do sanduíche e comê-lo com a maior vontade”, diz ele, para concluir: “Percebemos que o apetite é apenas um ajuste, o alinhamento das coisas mais simples: um
jornal, um sanduíche bem crocante, um lugar ao sol, o ar refrescante de um parque. Você come lentamente, com a alma em paz, o coração alegre. Assim é o apetite: um amigo, um companheiro durante toda a viagem”.
ABRA O APETITE DEVAGAR
Simon acredita que ultimamente andamos maltratando nosso estômago quando vamos, finalmente, iniciar uma refeição. “Abrir o apetite é não se enganar por todas as frivolidades bonitinhas que o dono do restaurante despejar na mesa”, diz. É preciso acarinhá-lo. “O estômago pede apenas uma coisa: começar suavemente, tranquilamente, sendo o quente ou o morno a resposta exata às suas preces.” É por isso que as sopas são um afago antes de uma massa ou uma carne difícil de digerir. Um pouco de pão, mas nunca um copo de água gelada. Uma taça de vinho, sim, bebericada de forma branda. “O estômago quer doçura, compreensão. Ele quer alimentar-se, e só. Por que embebedá-lo, saturá-lo, aterrá- lo, afogá-lo, matá-lo? Jamais, jamais mesmo, ele pediu para sofrer tal tormento”, afirma.
MASTIGUE E COMA A SEU TEMPO
O consultor e comentarista gastronômico Luiz Américo Camargo, que foi por muitos anos crítico de restaurantes do Paladar (O Estado de S. Paulo), teve que encontrar prazer nas refeições que precisava fazer a trabalho. Criou, para isso, um manual para tornar as horas à mesa mais agradáveis. “Eu acho que a mastigação é um processo essencial. Você precisa se divertir com a mordida (quando o prato exigir isso, é claro), e também facilitar as coisas para a sua própria digestão”, diz ele. “É preciso ter um mínimo de concentração com esse ato. Engolir tudo de qualquer jeito, o que é muito comum, é suprimir parte do prazer.” Ele também defende saber o timing de comer. “Afinal, comer devagar não é regra. Tem alimentos que exigem velocidade, e outros mais vagareza. Um sushi chega a você e é preciso abocanhá-lo, se demorar, ele pode desmontar”, pontua. “Ao mesmo tempo que ninguém vira uma taça de vinho…”.
ABRA-SE PARA O INESPERADO
Para Luiz Américo, do mesmo modo que as pessoas deveriam ver TV num volume mais baixo, elas precisariam também pensar sobre os excessos na ingeridos na alimentação: de
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sal, de açúcar, de indutores artificiais entre outras coisas. “Querem, além de sabores fáceis e conhecidos, mordidas fáceis e rápidas, é uma visão infantil da comida. É preciso também ter espaço para a sutileza, para os sabores mais puros”, ele defende. Também acredita que seria bom se as pessoas fugissem do monotemático. É difícil ser surpreendido se acostumamos nosso paladar às mesmas coisas, né? “Devemos nos manter abertos para novas surpresas, para novidades, sem preconceitos, sem prejulgamentos; o que pode significar desde passar por uma experiência de vanguarda até provar um ingrediente novo, um prato novo. Podendo ser até mesmo uma dobradinha”, diz. mood.online
PRESTE ATENÇÃO
Comer demanda atenção. Afinal, para degustar a comida precisamos estar com todos os sentidos apurados. “Os seres humanos têm, em média, 10 mil papilas gustativas, a maioria localizados na língua. É um número suficiente para entendermos toda a dimensão da árdua tarefa que temos ao degustar”, apontam James e Kay Salter, os escritores e autores do livro Viver É Comer. Por isso, é preciso estar com o “equipamento gustativo” preem ótimas condições. “Eu sempre evitei fazer críticas gripado. Esperava um dia ou dois, até melhorar”, diz Luiz Américo. Evitar o que tira a atenção também é uma forma de aproveitar mais o momento. O celular é uma das maiores spraga das refeições. “É o que eu tenho visto de pior nos hábitos das pessoas hoje em dia; falta de respeito com o cozinheiro e consigo mesmo. Será que não dá mesmo para comer offline?”, pergunta.
65 É preciso também ter espaço para a sutileza, para os sabores mais puros
ACIMA DE TUDO, DIVIRTA-SE
Vale pra sempre: nunca acreditar em guias, em vinhos que precisam ser tomados, em pratos que devem ser experimentados, nem sequer em manuais práticos escritos em revistas (ops)… Nunca acreditar em qualquer obrigação que seja capaz de limar a graça. Cozinhar também é uma parte divertida de comer, eu acrescentaria. “Com apenas um pouco de concentração, experiência e com vontade de entender como os ingredientes funcionam, é possível obter ótimos resultados na cozinha e, finalmente, passar a cozinhar sem receitas, tornando-se um mestre em sua própria cozinha, ou seja, rei do seu
paladar”, aponta Glynn Christian, que é chef, apresentador e autor de Como Cozinhar sem Receitas (Gutenberg), e um dos melhores livros de culinária que conheço. A obra de Christian mostra que o importante é se render ao prazer, à satisfação, e se deixar descobrir seus gostos pessoais, conhecer a si mesmo. “É preciso ter um mínimo de concentração. Engolir tudo de qualquer jeito, é suprimir parte essencial do prazer.” Ele também defende saber o timing de comer. “Afinal, comer devagar não é regra e jamais foi. Existem alimentos que exigem uma maior velocidade, e outros mais vagareza. Um sushi chega a você e é preciso abocanhá-lo, se demorar, ele pode desmontar”, pontua. De vez em quando, explorar alguma nova surpresa. É, no fim, tentar levar o cavalo para o próximo andar. E convencê-lo de que lá está uma cumbuca de vichyssoise –ou algo que o valha– . mood.online
WORDS: SIBELE OLIVEIRA PHOTOS: BERTY MANDAGIE
VOCÊ NÃO PRECISA DAR CONTA DE TUDO A vida não é como um jogo cujo controle está nas nossas mãos o tempo todo. Confiar que algo pode dar certo independentemente do seu comando traz equilíbrio e o puro significado da leveza “Nem quando está tendo um derrame você perde o controle!” O tom de voz do marido era de indignação, mas Regina Deliberai Trevisan achou graça. A jornalista havia chegado em casa tarde. Tivera um dia tão corrido que não sobrou tempo nem para jantar, pois além da rotina agitada de costume, precisou preparar a viagem a trabalho que faria na manhã seguinte. Depois de colocar tudo em ordem, tomou um banho e se deitou para ver televisão. De repente, começou a se sentir estranha, como se sua mente estivesse funcionando em câmera lenta. Esforçou-se para falar, mas a voz não saiu. Pensou que se tratava de uma indisposição passageira, até ouvir o marido di-
zer que aquele não era um bom sinal. Chegando ao hospital, o médico disse que tal mal-estar provavelmente era um ataque isquêmico transitório. Apesar de estar com a pressão arterial nas alturas e do susto de quase ter um AVC, a jornalista não se preocupou tanto. Achou que o marido estava exagerando. Regina sempre foi o que se espera de uma mulher moderna. Profissional modelo, mãe de família dedicada, amiga devotada. Dava conta de tudo sem grande embaraço. Do trabalho como gerente de comunicação numa grande empresa em Cuiabá, de tudo o que acontecia em sua própria empresa, do marido, dos filhos do primeiro casamento, do filho do segundo casamento, da enteada, dos familiares e dos amigos. E ainda encontrava tempo para supervisionar o relacionamento entre os filhos, entre o marido e os filhos, entre a enteada e a mãe, entre o marido e a ex-mulher.
Tanta coisa que dá para cansar só de pensar, mas Regina só percebeu que estava cansada quando viu a saúde ameaçada; teve até vontade de se divorciar do terceiro marido, mesmo sem nenhuma crise e antes do sonho de ter mais um filho. “Busquei independência e caí na cilada de ter muitas pessoas e situações dependentes de mim. Queria estar o tempo todo consciente, ter controle sobre todas as coisas. Quando veio a hipertensão, foi o momento de corte. Eu estava num esgotamento completo”, recorda. Conheci Regina por um post no blog dela, em que a jornalista se assumia controladora – uma “controladora do bem”, preocupada mais com a felicidade dos outros do que com a própria –. Era como um polvo intermediando todas as relações com tentáculos elásticos.
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Não é errado dirigir a própria existência, mas o problema está no exagero Com tempo para tudo e para todos, menos para ela mesma. Como acontece com muitos de nós, que de tanto ouvirmos e lermos que devemos assumir o controle da vida, seguimos o conselho à risca. Não há nada de errado em querer dirigir a própria existência. O problema está no exagero, em acreditar na ilusão de que se pode dominar tudo e isso traz muito sofrimento. Primeiro porque nem tudo depende de nós, como sabiamente disse o filósofo grego Epicteto. “Das coisas existentes, algumas são encargos nossos, outras não.” E também porque quando programamos nossa rotina com precisão matemática, aumentamos o risco de frustração quando algo sair diferente. Assim, tiramos da vida a capacidade que ela tem de nos surpreender com caminhos mais interessantes que os escolhidos por nós.
RELAXAR É VIVER
O objetivo desta matéria é de propor uma mudança de hábito. Sair da tentação de manter um controle ferrenho sobre a vida e migrar para uma postura mais equilibrada, mood.online
flexível e relaxada, que mantenha a porta sempre aberta para novas possibilidades entrarem. O controlador é perfeccionista que vive em busca do que julga ser a perfeição como quem procura um tesouro atrás do arco-íris, mesmo que jamais possa alcançá-lo. E um exímio vigilante, que não se permite desviar os olhos de seus objetivos, pois tem a sensação de que basta um cochilo para tudo dar errado. “A pessoa controladora acha que é a única que sabe gerenciar tudo. Ela sofre um desgaste contínuo porque está sempre em estado de alerta. À noite, não consegue descansar”, explica Ana Maria Rossi, uma psicóloga e presidente da International Stress Management Association do Brasil (isma-br). Antes de pensar no controle como um obstáculo que nos impede de chegar mais longe, é importante sempre lembrar que ele tem a sua serventia. É fundamental nos posicionarmos diante dos muitos acontecimentos que inundam os nossos dias, mas sem uma rigidez que encha nossos horizontes de limites. “Devemos ter controle sobre a nossa vida, sobre as nossas coisas, mas que esse controle não seja exacerbado ao ponto de afetar nossa saúde e nossos relacionamentos”, afirma Ana Maria. É bastante tênue a linha que separa o controle praticado de maneira saudável daquele que se torna obsessivo. O controlador nunca relaxa. Dorme mal, vive com os músculos tensos, tende a ter a pressão arterial alta, a respiração e os batimentos cardíacos acelerados e passa por uma tempestade emocional quando não se sente no controle. Como se estivesse a bordo de um barco à deriva num alto-mar de ansiedade e angústia, buscando desesperadamente retomar o comando. Na ânsia de encontrar remos para voltar ao norte conhecido, torna-se hostil e pode ter explosões de raiva e agressividade, que fatalmente respingam em quem está por perto. É assim que, sem querer, cava-se seu próprio isolamento. Por trás do empenho em conduzir a existência com mão de ferro, na maioria das vezes uma pessoa controladora nutre um desejo sincero de garantir o bem-estar de si e de quem está por perto. O controlador geralmente quer de verdade o melhor para os outros e pauta suas ações por critérios como responsabilidade e cuidado. Só que erra a medida e
invade o espaço alheio, às vezes sem se dar conta. “O controlador tolhe a criatividade dos outros porque precisa fazer as coisas de acordo com os padrões dele”, diz Ana Maria. Dosar a autoridade, acrescentar uma pitada de humildade e confiar mais no outro já é uma boa maneira de ajustar essa medida, pois, como diz o ditado, ninguém sabe tanto que não possa aprender mais, nem tão pouco que não possa ensinar.
CONTROLE, UMA ILUSÃO
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Para investigar como a sensação de controle influencia nossa vida, Ellen Langer, psicóloga e atualmente professora da Universidade de Harvard, já realizou alguns estudos e experimentos a respeito. E identificou o fenômeno da “ilusão de controle”, que diz respeito à propensão que temos de pensar que podemos controlar ou influenciar de alguma maneira resultados sobre os quais não temos nenhum poder. É uma espécie de pensamento mágico, que acontece conosco o tempo todo. Quando acreditamos que estaremos mais seguros no trânsito com as mãos no volante, que o nosso projeto é melhor que os dos colegas de trabalho ou que temos mais chances de ganhar a Mega-Sena se escolhermos os números que vamos jogar. Como se fôssemos os mais capazes e os fatores externos não tivessem a menor influência nos resultados. No livro Dance with Chance: Making Luck Work for You (Dance com o acaso: fazendo a sorte trabalhar para você, em tradução livre, sem edição em português), os autores Spyros Makridakis,Robin Hogarth e Anil Gaba dizem que perceber e aceitar a realidade é o passo mais certeiro para tomar boas decisões. “Nós controlamos claramente nossas decisões. Podemos decidir se investiremos nossas economias no mercado de ações, se aceitaremos um emprego ou se levaremos o nosso guarda-chuva. No entanto, não temos nenhum controle sobre se o mercado de ações irá subir ou descer, se o nosso novo chefe vai ser paranoico ou se vai chover. No fim das contas, nosso sucesso ou fracasso é uma combinação das nossas próprias ações e do efeito do ambiente.” Vista por um lado, a ilusão de controle tem o seu lado positivo, já que nos faz acreditar mais em nossas capacidades e habilidades. Ela pode até surtir o efeito de uma injeção de motivação e con-
fiança, mas também nos joga para fora da realidade à medida que passamos a valorizar apenas o que parte de nós. Deixamos de raciocinar analiticamente, nos embriagamos com a sensação de poder e acreditamos ser possível manipular e influenciar o futuro. É aí que mora o perigo. Porque, quando a nossa percepção da realidade é afetada, corremos o sério risco de perder o controle de vez. “Em muitas circunstâncias, é melhor dissipar a ilusão de controle e dançar com o acaso. Paradoxalmente, ao fazê-lo, ganhamos mais controle sobre muitos aspectos de nossa vida”, garantem os autores do livro. Reconhecer que não somos os donos da verdade e dançar conforme a música dos acontecimentos é o melhor jeito de fugir da armadilha da ilusão de controle.
LARGUE O PILOTO AUTOMÁTICO
“Por favor, não me chame de controladora.” “Mas você é controladora, Sacolão. Fale a verdade. Ninguém nunca disse isso para você antes?” “Tudo bem, acho que provavelmente você tem razão. Talvez eu tenha mesmo mania de querer controlar tudo. Só acho estranho você ter reparado. Porque eu não acho que isso seja óbvio para quem vê de fora. Quero dizer… aposto que a maioria das pessoas não consegue ver esse meu problema na primeira vez em que olha para mim.” O diálogo acima foi extraído do best-seller autobiográfico Comer, Rezar, Amar. Elizabeth Gilbert era uma mulher que tinha uma vida aparentemente perfeita, com tudo no devido lugar. Morava em uma boa casa, tinha um marido apaixonado e uma carreira de sucesso. Ainda assim, se sentia triste e perdida. Quando não aguentou mais, pediu o divórcio, tentou um novo amor que não deu certo, caiu em depressão e tomou uma decisão. Deixou tudo para trás e ganhou a estrada mundo afora. Foi assim que ela desistiu de controlar a vida para apostar no inesperado. Como Elizabeth, muitos acreditam que sua faceta controladora não é óbvia para os outros. Mesmo porque não acham que cabem no rótulo de um controlador. E, se não se reconhecem dessa maneira, não veem razão alguma para mudar. Até porque, para mudar, é preciso sair da zona de conforto. Assim como a lagarta, que tem um enorme trabalho para construir seu casulo fio a fio, transforma-se em borboleta dentro dele e
Deixar tudo para trás e ganhar a estrada mundo afora
depois precisa rasgá-lo antes de voar para a liberdade. O controlador também precisa sair do seu próprio casulo – o controle –, que é feito principalmente de prazer de exercer o poder, insegurança e medo de sentir dor e uma das melhores maneiras de rompê-lo é delegando responsabilidades, mesmo que para isso seja necessário instruir as pessoas a agir da forma que ele julga correta. Outra sugestão é ter uma conversa franca consigo mesmo, que, segundo a psicóloga Ana Maria Rossi, pode começar com perguntas simples.
Até porque, para mudar, é preciso sair da zona de conforto…
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“Qual é a necessidade que tenho de manter todo esse controle? O que estou afirmando para mim mesmo? Qual o custo desse comportamento para mim? O que está acontecendo fisiologicamente e emocionalmente comigo? Será que estou tendo prazer com o que faço?” Pode não ser fácil, mas vale a pena. Elizabeth Gilbert conheceu pessoas e lugares novos, provou sabores inéditos, encontrou um amor calmo e descobriu a força da fé. A fé também foi a ajuda que Regina Deliberai Trevisan, cuja história abriu esta reportagem, encontrou para se soltar do controle excessivo do qual era refém. Depois do despertar espiritual, ela leu o livro Limites – Quando Dizer Sim, Quando Dizer Não e criou o blog Amigoterapia, para refletir com algumas amigas sobre os ensinamentos da obra. Desprendeu-se da forma antiga, e optou por não se encaixar em nenhum outro tipo de forma. Sua rotina atual não é nem sombra do que foi. Continua atarefada, mas não sobrecarregada. Acompanha de longe tudo o que acontece em sua empresa, e ainda consegue reservar algumas horas do dia para fazer o que gosta. O convívio com o marido e os filhos melhorou. “Controlar o nosso próprio pensamento é a única tarefa possível, o resto é perda de tempo”, avalia. Regina se concentra em viver um dia de cada vez. Talvez esse seja o grande segredo para se libertar das amarras do controle.
WORDS: DENIS UCHÔA | PHOTOS: JOHANNES HULSCH
SEJA O MOTIVO DE VIAJAR Se você continuar fazendo tudo como sempre fez, continuará a alcançar os mesmos resultados que sempre alcançou. Deixe-se levar por novas experiências Conhecer
novos lugares, novas culturas, novas formas de pensar. Pra quem acha que uma viagem é somente despesa, pode começar a rever seus conceitos. Para o empreendedor (seja ele um empresário ou um colaborador), viagem é investimento. Viajar ajuda a abrir a mente para novos conhecimentos e gera ideias que você não conseguiria ter sem sair do lugar pois quem viaja expande horizontes, conheçe novas pessoas, amplia laços afetivos e, acima de tudo, constrói memórias.
Isso porque as situações às quais somos submetidos quando estamos longe da nossa zona de conforto – ou seja, nossa casa, trabalho, amigos e rotina – são capazes de nos desafiar, promovendo aprendizado e experiências que vão ser válidas para toda a vida. Isso se consegue alcançar através de experiências obtidas ao longo de nossa vida, pois nós temos a opção de aprender com nossos erros, com nossos acertos, ou melhor, com nossas ações. Sempre nos desenvolvendo, crescendo por dentro e reverberando esses aprendizados. Precisamos somente ter a mente aberta para absorver tudo isso, vendo sempre o lado positivo dos acontecimentos.
Recentemente, assisti a uma palestra sobre o Pensamento Lateral, onde se discutiam exatamente caminhos alternativos para a forma tradicional e linear de pensar. No trabalho apresentado, sugeria-se estimular o cérebro a pensar por ângulos diferentes, por papéis diferentes, de forma a seguir caminhos diferentes. A mente humana é fascinante A mente humana trabalha por um caminho, mas, depois que recebe novos conhecimentos, passa a trilhar outra via, gerando variadas maneiras de processar as informações, gerando, consequentemente, novas ideias.
Viajar por si, com os olhos e pés, para entender o que é seu
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Viajar não é uma questão de sorte, pode até estar relacionado, mas acho que tem mais haver com atitude e objetivos. Mas o fato é como viajar pode ajudar você a entender melhor sobre suas raízes? Consigo perceber que todos nós estamos condicionados à muitas coisas para se viver no dia a dia: pelo menos 03 refeições, eletricidade, internet, transporte, aquecimento, ar condicionado, segurança, banho quente, uma boa cama… Quando visitamos lugares onde coisas que para nós são simples e básicas do nosso cotidiano nem sempre vão estar disponíveis, é uma forma de valorizar mais o que temos e enxergar melhor a vida. Se você continuar fazendo tudo como sempre fez, continuará alcançando os mesmos resultados que sempre alcançou. Você precisa viver novas experiências, falar com pessoas diferentes, visitar e viver novas culturas. Pensar no que você, durante a viagem, agregará ao local através das pessoas as quais teve contato, é a essência da questão. É passar de um pensamento restrito e egocêntrico, para um pensamento amplo e humanístico. A viagem terá valor maior quando planejada considerando o benefício de um todo. Desta forma, estaremos sempre ligados a qualquer lugar pelas pessoas que interagimos durante a viagem. Todo o jeito de viagem te torna mais rico. Vivenciar grandes impactos culturais viajando dentro do seu próprio país: Pantanal, a região
Sul, o Nordeste e até o interior de Minas Gerais pois nosso país é muito diverso culturalmente. Seja no Brasil, ou no mundo, as diferentes comidas, línguas, costumes, etnias e estilos de vida, contribuem para formar toda esta riqueza. E vivenciar estes choques culturais irá, com certeza, mudar sua maneira de pensar. Não pense que é preciso ter que viajar a outro país para desfrutar dos benefícios que uma viagem pode proporcionar. Um passeio mais curto ou próximo para visitar parentes, por exemplo, pode ser uma opção. Não importa o destino o importante é o ato de viajar e aproveitar o que o lugar pode oferecer sem pensar no trabalho ou no momento da volta pra casa.
CURIOSIDADE DE TURISTA
É possível até mesmo conhecer melhor a própria cidade. Geralmente as pessoas acham que já sabem tudo sobre o que está ao redor. Muitas vezes uma volta por bairros diferentes pode se transformar em uma experiência totalmente nova. O segredo é encarar a vida com os olhos e a curiosidade de um turista. “Um homem precisa viajar por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto…” – Conhecido por suas longas e solitárias expedições marítimas ao redor do mundo, o célebre viajante Amyr Klink resume bem no pensamento acima a importância da experiência de viajar. Mas por quais motivos uma viagem proporciona tanto conhecimento e crescimento pessoal? Por que sempre voltamos de um lugar diferentes de como fomos, com a sensação de renovação e o desejo de querer viajar novamente? Você precisa realmente colocar os pés na estrada, pois nem a internet nem o Discovery Travel vão lhe proporcionar as sensações que você só terá pessoalmente. Tire seus planos da caixa e vá realizá-los. A possibilidade de conversar com as pessoas de um lugar distante, de ver a paisagem, de respirar aquele ar e de comer os pratos da região. Tudo isso irá completar uma vivência que não se pode descrever com palavras, e que com certeza, é o melhor investimento que você pode fazer em você mesmo.
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Às vezes me sinto triste ou com medo, mas foco numa energia positiva, no meu sonho. Penso que lidar com o outro com respeito pode influenciar as pessoas positivamente. Cria um círculo virtuoso: passamos a exigir esse mesmo respeito em outras relações de consumo. Para mudar uma história ruim, precisamos fazer diferente, não dá para errar igual. No começo é difícil, mas depois o movimento sempre flui.
INVESTIMENTO
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Aos que estão acomodados ou aos que não aproveitam tanto o destino quando costumam viajar, saiba que as pessoas têm medo de mudança, de se confrontar com outras culturas. As pessoas sofrem de depressão e outras doenças psicológicas e se fecham em casa, enquanto o mundo lá fora não para, por isso reforço que viajar é importante para viver melhor. Sair do cotidiano. Conhecer novos lugares, trocar experiências com outras pessoas. Pedir ajuda a amigos que já viajaram. Começar a planejar uma viagem. Nem que seja para daqui um ano. Garanto que haverá muito mais disposição para enfrentar o dia-a-dia. A verdade é que, onde quer que você esteja na sua jornada, neste momento, a aceitação e a gratidão por tudo que lhe está sendo suprido é o maior passo que você pode dar na direção da almejada verdadeira felicidade. Mesmo que você não consiga perceber imediatamente os benefícios que uma viagem pode lhe proporcionar, com certeza já notou a diferença em pessoas que tenham o hábito de viajar ou que já tenham vivido em outras cidades ou países. As pessoas não viajam porque tem mais dinheiro, elas tem mais dinheiro porque viajam. Viajar pode significar muito mais que simplesmente curtir os atrativos turísticos, ficar em hotéis bacanas e experimentar restaurantes transados. Embora todas essas ações sejam muito legais e que também permitem o intercâmbio cultural, é verdadeiramente enriquecedora a experiência de se permitir aprender, se libertar dos preconceitos e buscar refletir sobre os aspectos culturais dos lugares, sem se sentir superior ou inferior por pensar e ser diferente. Usemos as viagens a nosso favor, exploremos tudo o que ela pode nos oferecer, sem nos esquecermos do exercício fundamental que deve ser feito em todos os momentos de nossas vidas, o da empatia.
É olhando para dentro que encontramos as respostas
WORDS: ANA HOLANDA | PHOTOS: DIVULGAÇÃO
HOJE FAZ SENTIDO, AMANHÃ NÃO MAIS Há momentos em que a vida nos coloca diante de uma bifurcação. Daí temos de decidir se damos um voto de confiança às pessoas e aos sonhos ou se apostamos nossas fichas em novas histórias Lúcia
se abriu para um novo amor após autora da obra O Anel Que Tu Me Deste (Artemeios). Já a o divórcio. Vera entrou na faculdade assim psicóloga Celina Figueiredo, especialista em psicologia do que as filhas adultas agarraram seus diplo- budismo, vê em cada nova investida um exercício libertador. mas. Mara voltou a dirigir depois de uma “Quando damos uma segunda chance a alguém ou a uma sitemporada longe do volante. Tatiana reatou tuação, passamos a olhar o outro e a nós mesmos de forma uma antiga amizade graças a uma conversa diferente”, diz ela. Essa lógica, destaca Celina, compreende regada a lágrimas e abraços. Os nomes des- a essência do budismo. “Os seguidores de Buda buscam a lisas personagens são fictícios, mas suas his- berdade interna, ou seja, não deixam que a mente se prenda tórias, reais. Você provavelmente conhece a padrões condicionados”, explica. Logo, mudar de ideia, realguém que deu uma segunda chance a direcionar o ângulo de visão, desbravar horizontes inexploamigos, parceiros, hobbies e estudos. Talvez rados, enfim, começar a acreditar no potencial de regeneravocê mesmo já tenha feito isso. Mas, afinal, ção da vida é uma forma de escrever nossa trajetória com um o que colhemos quando recomeçamos uma pouco mais de fluidez. “Temos de prestar atenção ao frescor história do zero? “Ganhamos a possibilidade de cada dia e aos ciclos de renovação da natureza. Dessa made resgatar um sonho significativo”, afirma neira, aprendemos que aquilo que hoje faz sentido amanhã Lidia Aratangy, terapeuta de casais e família, pode não mais fazer, e vice-versa”, diz Celina.
QUESTÃO DE LIMITE
Persistir, se reinventar, se refazer e sonhar são habilidades que dominamos com capricho. “Uma das nossas características mais marcantes é a capacidade de recusar o que parece não ter alternativa”, afirma o filósofo e professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Mario Sergio Cortella, autor de Não Nascemos Prontos! Provocações Filosóficas (Vozes), entre outras obras. Na busca por soluções, ele explica, o inconformismo ativa em nós o que podemos chamar de fome de jogo. Uma vez acomodadas na mesa de apostas, usamos nossas fichas por rodadas seguidas.
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Quando damos uma segunda chance a alguém, passamos a olhar o outro e a nós mesmos de uma forma diferente A esperança nos mantém ali, firme e forte e soprando em nossos ouvidos que seremos vencedores. “Não existe limites quando acreditamos na causa pela qual lutamos. Só não recorre à segunda, à terceira, ou à quarta chance quem desistiu”, ele defende, se apoiando em um exemplo clássico de Thomas Edson, criador da lâmpada. “Ele errou 1430 vezes antes de conceber sua invenção e não esmoreceu.” Mas, como qualquer jogador sensato, precisamos reconhecer também o momento exato de abandonar o páreo. “Claro que há a persistência tola, aquela que não traz resultados satisfatórios e esperados. Porém, enquanto você enxergar possibilidades, deve insistir sim”, opina Cortella. Já a terapeuta Lidia Aratangy, ao contrário dele, prefere traduzir ao pé da letra a expressão segunda chance. “Para ser de fato uma segunda cartada, ela precisa apresentar uma condição nova, porque, se for igualzinha à da última vez, vai dar no mesmo lugar e não vai significar nada”, alerta Aratangy.
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Isso quer dizer que, se você decidiu voltar a estudar, essa vontade deve vir acompanhada de uma disposição bem diferente daquela que o fez aposentar os livros lá atrás, por exemplo, por falta de ânimo ou de disposição. “Do contrário, a desistência vai novamente se repetir”, ela avisa. O mesmo raciocínio pode ser aplicado aos relacionamentos amorosos. Aceitar as súplicas do parceiro ou da parceira e reatar a relação é válido quando o outro elaborou, verdadeiramente, uma proposta inédita para a retomada daquilo que cultivavam juntos. Agora, se o outro oferece apenas mais do mesmo, vale a pena ficar com o pé atrás. “Se você tomou um mesmo analgésico três vezes e ele não fez nenhum efeito, não adianta tomar a quarta, melhor mudar de remédio”, compara a terapeuta.
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Muitos sentem medo de se desapegar não só de pessoas e de situações PONTO FINAL
Repetir o mesmo padrão de comportamento, além de cansativo, enfraquece a forma de nos posicionarmos no mundo. São nessas horas que agimos como a mãe que só sabe fazer ameaças diante das estripulias dos filhos e que nunca toma providência a correção justa e necessária. “Quando ficamos presos a uma ideia, nos enrijecemos e nossa energia é rapidamente consumida por esse estado mental”, esclarece Celina. Eis o problema. Por medo da mudança, de seguir em um território desconhecido, muitas pessoas permanecem presas a uma história há muito desgastada ao invés de se abrir para novas possibilidades e experiências. E, nesse meio tempo, se recusam a ver os inúmeros sinais que a vida nos dá de que aquela situação está se arrastando além da conta. “É preciso muita coragem para encerrar uma história antiga. Por isso, é muito comum nós nos agarrarmos ao que já conhecemos, mesmo que isso não seja bom. Adaptamo-nos ao terreno e ali permanecemos, mood.online
afinal, sabemos onde ficam seus buracos e suas minas, e mais, sabemos entortar o pé para não pisar neles”, ilustra Lidia. Para fugir dessa posição de descrédito perante os outros e nós mesmos, temos de aprender a sustentar nossas posições com bastante firmeza. Mas, para mudar de atitude, é preciso, antes, compreender por que teimamos ou insistimos tanto em ouvir sempre a mesma música repetidamente. Sem esse reconhecimento, dizem os especialistas, fica difícil trocar o disco e se abrir para o novo, para novas melodias e tons. “Muitos sentem medo de se desapegar não só de pessoas e de situações mas do hábito de agir sempre da mesma maneira”, observa Celina. Segundo ela, esse ciclo vicioso só é interrompido quando olhamos para dentro de nós e conseguimos responder a três perguntas cruciais: O que eu posso hoje? O que eu quero hoje? Do que eu preciso hoje? De tempos em tempos, aconselha Lidia, também é saudável vasculharmos “os baús de nossas renúncias”, aquele cantinho escondido onde depositamos os sonhos alimentados mas não realizados. “Vivemos de acordo com uma escala de prioridades móvel, já que as circunstâncias e as pessoas mudam. A chegada de um filho, por exemplo, transforma muita coisa”, exemplifica. Cientes disso, devemos reorganizar nossa casa interior sempre que ela estiver entulhada de desejos – vivos e mortos. Como? Identificando os projetos que ainda pulsam dentro de nós e, por isso, merecem uma segunda chance e descartando os que perderam a razão de ser. “Quando nos dispomos a fazer essa seleção, ganhamos a coragem de desligar os aparelhos que mantêm vivo um sonho há muito moribundo, mas que a gente se recusa a deixar morrer por medo ou apego e que, muitas vezes, está canalizando parte de nossa atenção”, afirma Lidia. Em troca, ela garante, liberamos toneladas de energia que podem, agora, ser canalizadas para esferas mais significativas da nossa vida.
JUSTO OU BONZINHO?
Quando estamos face a face com nossos pares, atuando no jogo das relações, temos de fazer um outro tipo de avaliação. Dessa vez, diante do espelho. Não adianta sairmos por aí distribuindo votos de confiança sem antes reconhecermos, de fato, a veracidade de nossas inten-
ções. Do contrário, corremos o risco de vestir a carapuça do bom samaritano. “Aceitar tudo o tempo todo, ou seja, ser altruísta ao extremo, indica fragilidade e insegurança. O atrito faz parte da vida social e das relações. E quem não se deixa marcar por ele é porque está tendo envolvimentos superficiais”, diagnostica Cortella. Essa postura também é perigosamente sedutora, aponta Lidia Aratangy, pois a pessoa tende a se sentir superior em relação às outras que estão ao redor. “O bonzinho assume o papel daquele que sempre compreende, que perdoa com facilidade.” Mas será que esse perfil existe de verdade? “Essa relação é desigual, pois quem sempre estende a mão atua como vítima e coloca o outro na posição de algoz, de carrasco.
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Quando se perdoa, se liberta e torna-se capaz de reconhecer a própria humanidade Quando temos esse tipo de atitude, não estamos olhando para nossas próprias limitações”, complementa Celina. Em matéria de reconciliação, se o discurso persegue os louros da vaidade, automaticamente, se desvia do propósito original. “O verdadeiro perdão é humilde”, enfatiza Lidia. Quem perdoa com o coração não precisa de platéia, aliás, vale frisar, perdoar é uma missão incrivelmente difícil para boa parte de nós. Como, relevar uma ofensa, dissolver uma mágoa que tanta dor e sofriemnto causou no passado? “O único caminho é conseguir reconhecer que, se fosse você que estivesse naquela situação, provavelmente teria feito o mesmo que a pessoa, pois somos humanos e compartilhamos as mesmas fragilidades, inseguranças e medos”, propõe Lidia. Para a psicóloga Celina, a trilha do perdão tem um nome muito profundo e muito transformador: compaixão. “Quando julgo o outro, o coloco dentro de uma caixa de qualificações. Ao passo de que, quando o perdoo, me liberto e assim sou capaz de reconhecer também a minha própria humanidade”.
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COMO DEVERIA SER Aceitar o momento presente, mesmo se ele não corresponde ao que você gostaria, é o primeiro passo rumo à mudança. WORDS: PAULA ABREU PAINTING: OWEN GENT
O Brasil é o segundo país mais estressado o momento presente é sempre perfeito, e nos do mundo. Mais de 70% da população expe- voltamos contra ele. Rejeitamos ou resistimos
rimenta regularmente sintomas físicos e psicológicos causados pelo estresse. Hoje tenho uma boa e uma má notícia pra você. A boa é que muito provavelmente a maior causa do seu estresse está em uma única palavra. Ao eliminá-la do seu vocabulário e da sua vida, você vai se sentir cada vez mais tranquilo e em paz. A má notícia é que eliminar essa palavra da sua vida é simples, mas não é fácil. A vida é Deus em ação. Se você não acredita em Deus, chame de universo, cosmos, amor, ou mesmo o campo unificado descoberto pela física quântica. Fato é que existe uma inteligência superior regendo tudo o que acontece a cada instante no mundo – inteligência essa já reconhecida pela ciência. Essa inteligência leva o mundo a caminhar em uma única direção, que é a da evolução. E você, por incrível que pareça, faz parte do mundo e desse plano evolutivo do universo. Se a vida é Deus em ação, e se está cientificamente comprovado que existe uma Inteligência Superior por trás de tudo o que acontece no mundo, não há erros no universo: o momento presente é sempre perfeito. Acontece que, assim como quando colocamos um endereço no GPS do carro, na vida também enxergamos apenas um pedacinho do mapa da nossa jornada: os próximos 20 metros, mais ou menos. Muitas vezes, a gente tem a nítida sensação de ter desviado da rota, ou de ter pego um caminho errado, ou mesmo de estar perdido. Esquecemos que
à realidade, seja ela o nosso trabalho, nossos relacionamentos, nossa saúde ou situação financeira. E aí usamos inadvertidamente a tal palavrinha que é a causa de todo o estresse: deveria. Toda vez que você se estressa, é porque você acredita que o mundo não está funcionando exatamente do jeitinho que você gostaria. Do jeitinho que deveria. Mas, pare um minuto e reflita sobre o seu passado: quantas vezes você passou por um problema, ou mesmo viveu uma grande tragédia e, meses, anos ou décadas depois, olhando para trás, viu que aquilo foi importante para você e, muitas vezes, o melhor que poderia ter acontecido na sua vida? Pode ter sido uma demissão, separação, divórcio, uma doença grave ou mesmo a morte de uma pessoa querida. Naquele momento, você pode ter se sentido sem chão, perdido, desamparado, frustrado ou com raiva do mundo. Mas, depois de um tempo, o que aconteceu? Você cresceu, foi forçado a descobrir talentos, desenvolver novas habilidades, abriu os olhos para possibilidades que antes não enxergava, passou a ver o mundo de uma nova perspectiva e… evoluiu! (psiu, lembra que esse é o plano do Universo?). Aceite o momento presente, mesmo quando ele – momentaneamente, não se esqueça disso! – não for o que você acredita que deveria ser. E só utilize essa palavra a partir de hoje para lembrar que tudo está acontecendo do jeitinho como deveria, o tempo inteiro.
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PAULA ABREU é coach e autora do livro Escolha Sua Vida (Sextante). Seu site é escolhasuavida. com.br.
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O DESAPEGO PRAGMÁTICO Praticar essa qualidade no nosso cotidiano pode nos ajudar a encontrar o que é essencial na vida e nas relações ao redor. WORDS: EUGENIO MUSSAK PAINTING: OWEN GENT
Encontrei uma imagem no Facebook recentemente que me fez parar para pensar. Era de um homem com seu cão, caminhando, vistos de costas, tendo à frente algumas árvores e o Sol no horizonte. A cima, uma pergunta: “Você sabe por que seu cão é mais feliz do que você?”. Para encontrar a resposta, bastava olhar apenas para os balões de pensamento acima da cabeça de ambos. Na do homem, seus desejos: um carro, uma bebida, uma casa, entre outros. Na do cachorro aparecia ele próprio ao lado do dono. Em resumo, o cão era mais feliz porque desejava ter exatamente o que já ele tinha, enquanto o homem sempre projetava seus desejos para aquilo que ainda não possuía, mas como jamais teria tudo o que desejava e, mesmo que tivesse, passaria a ter novos desejos, o homem estaria condenado a nunca conhecer a felicidade verdadeira. Eu confesso que passei a olhar para a Preta e a Branca, minhas cachorrinhas sempre presentes ao meu lado, por sua sabedoria natural. A metáfora tem a ver com o desapego das coisas e a valorização das experiências. Enquanto o homem se ocupava em pensar sobre as coisas e as conquistas que queria ter, o cão tratava de viver aquele momento, o agora e aproveitar a experiência de estar vivo. Me lembro que há algo da sabedoria budista na postura desse cão. É que um dos mais importantes ensinamentos do budismo é justamente aquele com o qual, eu, ocidental contemporâneo, criado
na sociedade de consumo, tenho mais dificuldade: o desapego. Buda teria percebido que a razão maior do sofrimento é o apego, pois, enquanto formos apegados a coisas que pertencem ao mundo físico, ao plano tangível, estaremos ocupando nossa mente com coisas que não são essenciais, e a busca disso nos afasta do essencial, onde estaria a verdadeira felicidade. Nós, os apegados, sofremos porque somos impermanentes, estamos aqui de passagem, e impermanência não combina com apego, definitivamente. Só que essa visão budista ultrapassa as crenças religiosas, uma vez que é dotada de uma lógica irrefutável. Qual o sentido de passar a vida apegado a coisas que, com certeza, só serão suas durante o tempo que dure sua vida? Repare quanta energia você gasta para manter o que, no fundo, nunca lhe pertenceu e nunca pertencerá de verdade. Os budistas relacionam desapego com felicidade. A página em que encontrei a metáfora é da inglesa Jetsunma Tenzin Palmo, uma ocidental monja budista na Índia. Ela se manteve em meditação e contemplação, o que incluiu passar 12 anos dentro de uma caverna no Himalaia, onde ficou absolutamente isolada. Pessoalmente, acredito que nós, que não tivemos tal experiência, não temos como assumir um desapego absoluto dos bens materiais e das relações afetivas, mesmo sabendo que podemos perder tudo isso a qualquer momento, e que um dia iremos embora sem levar nada do que consi-
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EUGENIO MUSSAK lembra aqui de histórias que passam a existir quando se transformam em artigos, há 12 anos.
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deramos ser nossa posse. É que o desapego cia de fé religiosa, pode ser um sinal de innão faz parte de nossa cultura, de nossa teligência prática, pois o apego pode ser inieducação, de nosso modelo mental. Entre- migo do progresso. Estar apegado a velhos tanto, não foram poucas as vezes em que pertences não abre espaço para os novos. me percebi refletindo sobre o quanto o mo- Não conseguir fechar o ciclo de uma relação delo do apego me fazia mal. Quantas vezes afetiva impede que se abra outro, talvez bem não fiz novas conquistas, não experimentei mais rico e prazeroso. O desapego tem seu novas alegrias, não atingi novos patama- lado pragmático, sim. Não somos poços sem res de sabedoria, pelo simples fato de estar fundo onde cabe tudo o que acumulamos. profundamente apegado ao que tinha con- Na verdade somos pequenas caixas de jóias quistado até então. A conquista só acontece onde só cabem aquelas que usamos, que depois da abdicação, concluí. Um amigo me amamos e nos fazem bem. Não podemos contou que recusou uma oportunidade pro- ser como o padre Rodrigo Mendoza, interfissional espetacular porque teria que pas- pretado pelo ator Robert de Niro no filme A sar um bom tempo no exterior, por causa Missão, que caminha pela floresta e até sobe do apego à sua casa. Como ele não é um cachoeiras carregando uma rede cheia de caracol, recusou o convite, para depois ficar velhas pratarias, que prejudicam seu avanço. se lamentando, pois, ao escolher não abrir Pois tem muita gente assim, que avança pela mão de morar onde gostava tanto, abriu vida carregando pesos mortos, de coisas mão de um upgrade em sua carreira. Isso ou de culpas. Falta-lhes desapego. E é imé o que os americanos costumam chamar pressionante como o apego é confundido de trade off, uma escolha que é uma troca. com amor. Costumamos nos apegar àquilo Ao trocar a promoção pelo conforto da casa ou àqueles que amamos. Ao querer mannão teria sido traído pelo apego? E se tivesse ter ao lado alguém que você ama, mesmo ido ele não estaria demonstrando apego contrariando a vontade do outro, você não exagerado à sua carreira, em detrimento da estará infelicitando o objeto de seu amor? fidelidade às suas origens? Sem resposta. O Talvez fosse bom ouvir mais uma reflexão fato é que muitas vezes temos que exercitar da monja Palmo. Segundo ela, o apego é o o desapego em nome de outros valores. Não oposto do amor. Enquanto o apego diz: “Eu é um exercício simples, especialmente para quero que você me faça feliz”, o amor dequem não passou 12 anos em uma caverna, clara: “Eu quero que você seja feliz”. nem tem o objetivo de atingir o nirvana em E o sentido da vida? é você encontrar um signivida. Mas há muitos ocidentais, que não são ficado para aquilo que você faz. É aquilo que dá budistas mas têm simpatia pela profundi- significado para os seus atos, é perceber o sigdade de suas mensagens e pela placidez de nificado do que você faz na vida Basta perceber sua prática. O conceito do desapego, passa a com novos olhos nosso cotidiano, é um exercíser muito útil. Para um budista, o desapego cio simples, que produz resultados igualmente tem a ver com elevação espiritual, com o mágicos e transformadores. Como disse Chrisdistanciamento do que é volátil e a valoriza- tine, em um dos diálogos com o Fantasma: ção do que é essencial. Para um não budista, “Não pense em como as coisas poderiam ter exercer algum desapego sem ser decorrên- sido. Pense em como elas podem vir a ser”…
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THROUGHT THE MONTAINS
Welcome Home, Son Wasterland Mountain Sound Me The High Road Buildings & Mountains One Tree Hill - Remastered
Radical Face Daniel Gidlund Of Monsters and Men The 1975 Broken Bells The Republic Tigers U2
Cosmos
Jacoo
Devotion
DuĂąe
Jungle
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Petit Biscuit
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SEM DESTINO
Hung On Tigh
Snakadaktal
Misty Mountain Hop
Led Zeppelin
Mountain Sound Drive Share With Me The Sun Blue Window Left Hand Free I’m Sorry Deep Inside Aloha
Of Monsters and Men Gavin Rossdale Portugal. The Man
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Crayon alt-J Swell Safakash Mome
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LONELY RIDE
Holland Road Wasterland
Mumford & Sons Daniel Gidlund
Mountain Sound
Of Monsters and Men
Speed Of Sound
Coldplay
Midnight Island Crosses Reprieve Those Days Harlem River Wake Me
Harrison Brome
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José Gonzáles Vallis Alps KAASI Kevin Morby Message To Bears
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WORDS: RAFAEL TONON | PHOTOS: ALEX STROHL
A TRILHA SONORA DA SUA VIAGEM Mais do que selecionar um apanhado de músicas para uma simples viagem, um momento de fossa ou uma nova paixão, as playlists funcionam como um retrato das fases pelas quais passamos Não sei se você tem, como eu, o hábito de fazer playlists. Uma boa dose de paciência
é necessária para ouvir e escolher uma sequência de músicas. E paciência é artigo que, em geral, nos falta. Mas recomendo esse pequeno cultivo, especialmente se você gosta de música. Essas listagens de canções não são apenas pequenas coletâneas pessoais. São também testemunhas de tempos passados, como as fotos, as cartas e os “testimoniais” do saudoso Orkut. Correndo o risco de soar piegas, as listas de músicas conseguem fazer um retrato de quem éramos – e como
éramos – tão bem quanto qualquer outro tipo de objeto de afeto. Melhor ainda: essas trilhas sonoras reproduzem uma parte de nós que é impossível reconstruir por outras vias porque reflete o modo como pensávamos, tanto de maneira racional (retratada na estrutura da lista), quanto emocional (simbolizada pelos artistas e canções escolhidas). O desafio está posto. Busque uma velha fita cassete, um CD coletânea ou lista de mp3 e veja se aquela pessoa não é um tanto diferente da que você se tornou hoje. Contumaz produtor de “trilhas sonoras da vida”, tive dezenas de encontros com versões minhas ao fazer esse texto e atesto: é quase como ter, na garagem, o DeLorean, carro construído pelo cientista Emmet Brown, no filme “De Volta Para o Futuro”.
Se você ainda não tem esse hábito e gosta de música, fica a recomendação e os passos a seguir. Nunca foi tão fácil organizar e guardar suas canções favoritas, graças às muitas ferramentas ao alcance de praticamente todos. Afinal, a playlist feita hoje pode ser um tesouro no futuro, porque nos reapresenta a quem um dia fomos em forma de preciosos sons.
A playlist feita hoje é um tesouro no futuro, porque ela representa em forma de sons a quem um dia fomos ABRA SEUS OUVIDOS
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Para enfileirar canções em uma sequência que desperte o interesse do seu ouvinte (pode ser você mesmo), será necessário ter um repertório amplo. Um bom “montador de playlists” não pode ter preconceitos. Ouça de tudo: visite a parada de sucessos de vez em quando, confira aquela banda que um amigo recomendou e também o programa de música popular na TV, que normalmente passa batido. Pérolas podem estar escondidas nos lugares mais inesperados. Zé Luís, locutor e apresentador da rádio 89, recorre às filhas para se manter atualizado: “[Peço] ‘Grava pro pai alguma coisa?’ E aí fico conhecendo coisas que, talvez, não teria acesso, e me ajudam muito, mesmo na minha profissão. Eu trabalho numa rádio de rock, não tenho a obrigação de conhecer a música a fundo, mas tenho que saber quem está fazendo sucesso. Nesse aspecto, as playlists delas cumprem esse papel”.
BUSQUE NOVAS FONTES
Já mais atento aos sons à sua volta, agora você precisa buscar músicas fora do circuito de coisas com as quais tem contato no dia a dia. Ouve sempre a mesma rádio? Troque de vez em quando. Quando está concentrado recorre ao mesmo álbum? Experimente outro. Tudo ajuda a aumentar o arsenal musical: festas, filmes, conversas. E, dessa forma, comece a guardar as canções que mais lhe mood.online
agradam. Fazer isso é importante porque é assim que seu repertório vai se construindo. Sempre que ouvir um som que desperte seu interesse, tente saber quem é o autor dela. Se você usa um smartphone, duas ferramentas para fazer isso são os aplicativos Soundhound e o Shazam, que identificam a música que está tocando em um determinado ambiente e revelam quem está cantando. Esse é, digamos, o momento da concepção das playlists: quando você começa a juntar material para os próximos passos.
Deixe sua criatividade ser seu guia PENSE EM TEMAS
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Como (quase) tudo que é legal na vida, uma lista boa tem que ter um assunto, uma história, uma questão. Pablo Vilanova, um dos responsáveis pelo site 60’ Playlists, onde é possível encontrar listas como “Prestenção” (com bandas novas) e “Ressaca de Carnaval IV”, conta como surgem as ideias. “Costumo seguir entre dois caminhos: ou faço algo para ouvir em alguma ocasião, ou penso em um conceito – geralmente engraçadinho, porque sou um (mau) piadista – e monto uma lista em cima disso”. Uma das coisas mais atraentes ao cria-la é deixar a cabeça fazer relações livremente. “Em geral, playlists inspiradas em um estado de espírito, em um tema ou momento especial são mais interessantes do que aquelas focadas em um único artista ou estilo”, acredita Vilanova. E Gustavo Diament, diretor geral do Spotify para a América Latina, acrescenta: “deixe sua criatividade ser o guia”.
SELECIONE AS CANÇÕES
Pronto, você já ouviu uma porção de artistas diferentes, nos lugares mais variados possíveis e encontrou um tema que lhe agrada. Agora é a hora de afunilar suas escolhas. Com os recursos disponíveis atualmente, dá para fazer listas infinitas, mas é bom sempre pensar em limitar o tempo. Como escolher as que mais se encaixam? Uma sugestão é ouvir tudo de novo para ter uma ideia geral. Depois, escolher quais canções entram e quais mood.online
vão ficar de fora – e isso exige uma pequena dose de desapego. Aqui, Vilanova aconselha: “Eu parto das músicas que conheço para encaixar no conceito das playlists, mas sempre e até sem querer, acabo pesquisando algumas coisas novas até que fique satisfeito com o encaixe no resultado final”.
CONTE UMA HISTÓRIA
Essa dica não precisa ser levada ao pé da letra, mas é bom pensar que a sua lista pode ser como a trilha sonora de um filme. “Normalmente, vou jogando todas as músicas, depois consolido a ordem criando uma narrativa pessoal ou só juntando as do mesmo estilo”, explica Alexandre Caldera, também do 60’ Playlists. Por fim, compartilhe. Se resolver usar a internet, mostre aos amigos o resultado final. Coloque nas redes sociais, mande por email, peça opiniões. Alguém pode dar uma sugestão de algo que “não pode ficar de fora” daquela seleção. E em aplicativos como Rdio, Deezer e Spotify, é possível criar playlists colaborativas. Assim, um amigo que utilize o mesmo serviço consegue adicionar sugestões ali. “Mantenha suas playlists sempre atualizadas”, aconselha Diament, do Spotify. “Os usuários são notificados sempre que novas canções são adicionadas a uma lista que seguem”.
ESCOLHA A FERRAMENTA
Outro ponto muito importante e que você precisa saber: existem inúmeras maneiras de criar sua playlist. A melhor escolha vai depender do seu estilo de vida e de como costuma ouvir música. A forma mais prática é usando a internet e as dezenas de possibilidades que ela oferece. Por exemplo, o bom e velho Youtube. No site de vídeos, o usuário consegue salvar as faixas de que mais gosta e montar uma “lista de reprodução”. Uma vantagem dessa opção é a facilidade em compartilhar com os amigos e a universalidade: qualquer um que esteja na internet consegue ouvir. Hoje, existem ferramentas de streaming que são pagas, que por uma taxa mensal dão acesso a milhões de músicas de artistas variados e têm suporte para criação de listas, como as já citadas aqui Rdio, Spotify e Deezer. Todas possuem um vasto catálogo e oferecem um período de um mês de “degustação” gratuito da plataforma.
O app em si já vem instalado nos iPhones e iPads atuais. Você pode levar toda a sua biblioteca do iTunes direto para lá para facilitar o uso e ainda é possível descobrir novas canções com base no seu gosto musical.
$ 0.99/month.
O Tidal é bem parecido com o Spotify e é muito fácil de usar. Ele permite que você ouça suas músicas favoritas em alta qualidade e que salve diversas canções no modo offline e também possui uma assinatura mensal.
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REFLETIR | INSIGHT
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UM LUGAR PARA PENSAR Entre a partida e a chegada, podemos aproveitar o tempo do percurso para olhar a paisagem e viajar no nosso mundo mental. WORDS: DIANA CORSO PAINTING: OCT STREITENBERGER
Eu andei mais em trens imaginários do que em reais. Não tive a sorte de crescer no tempo
do trem. Nas andanças da vida conheci barcos e aviões, mas minha quilometragem foi mesmo de ônibus. Criança enjoadinha, literalmente falando, jamais cheguei ao destino com a roupa limpa e uma cara que não tivesse caldo verde. Só de olhar para o ônibus já sentia a chegada das náuseas. Não estamos falando de ônibus espaçosos, esses que parecem barcos de cruzeiro sobre rodas, mas do transporte rodoviário dos anos 1960. Eram veículos arredondados, pequenas janelas que mal abriam, sempre acima da linha dos olhos das crianças. Ali dentro, inclusive, os passageiros fumavam sem parar. Eu não me conformo em pensar que vieram para substituir os trens, que tinham movimentação cadenciada e previsível, eram espaçosos e havia como caminhar dentro deles. Além disso, a paisagem movia-se de modo que os olhos podiam acompanhar a chegada e a partida de uma imagem. O trem nos conta histórias, com seu balanço e o filme da janela. Depois disso, transportar-se tornou-se supersônico; até os trens já não fazem “tchu-tchu”, embora ainda tenham nos trilhos uma condição de estabilidade que os estômagos frágeis agradecem. Deixamos de viajar de trem por fatores como petróleo, culto à velocidade, popularização dos carros. Mas gosto tanto de percursos que lastimo a e ciência de que passamos a dispor. Há uma espécie de meditação associada ao tempo demorado da chegança, à alternância entre o olhar sugado pela
paisagem e o pensamento regido pelo cérebro descansado. Quando não estamos dirigindo, quando os trilhos impõem um caminho e uma velocidade únicos e a locomotiva lá na frente puxa os vagões passivos, podemos repousar das decisões e disputas, pois ninguém precisa ultrapassar o outro. Embarcamos na melancolia do que deixamos e na expectativa do que nos espera. E o percurso cria um lapso em que essas duas pontas se desconectam. Uma parte importante de nós existe nesse intervalo de tempo. Gosto de sonhar com um mundo de trens cadenciados e sem pressa. Não estou me referindo a vagões lotados onde se viaja como bichos rumo ao frigorífico. Hoje providenciamos esse momento de alheamento da pior forma: suportamos os engarrafamentos fugindo para dentro dos dispositivos eletrônicos, refugiando-nos na música, na comunicação compulsiva, porque não há nada na janela. Editamos uma trilha sonora ou improvisamos uma companhia para enfrentar o tempo inexistente do trajeto congelado. A paisagem do trem não carece desses improvisos, é a mesma para todos, fica disponível para que cada um possa percorrê-la com seus pensamentos. Presos em lugares-nenhuns-que-se-movem, sonhamos com férias e viagens, onde nos dispomos a chegar a algum-lugar-para-contemplar-a-paisagem. Se algo ainda me enjoa é tanta claustrofobia. O mundo ficou menor, no sentido de que é possível percorrê-lo com uma e ciência incrível, real ou virtualmente, mas nosso olhar nunca foi tão estreito.
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DIANA CORSO é autora do livro Tomo Conta do Mundo – Conficções de uma Psicanalista.
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© Alex Strohl
TRANSFORMAR | WORD Fotográfia tirada na aldeia de Oia, em Santorini, na Grécia
A GRÉCIA POÉTICA
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Toda viagem pode ser uma jornada de autoconhecimento. Em vez de viagem, podemos até falar em odisseia – seja a uma cidade próxima ou ao outro lado do planeta – já que todos os passos nos levam a paisagens e paradas diferentes, mesmo que a gente já conheça o caminho. E um credo que adotei há anos, após ler e reler uma crônica de Cecília Meireles (que viajou o mundo e fez da sua poesia uma extensão de tudo o que viu e sentiu) é que não me considero um turista, mas um viajante. A Grécia é naturalmente poética, como não poderia deixar de ser. Berço da civilização ocidental, lar dos deuses e campo repleto de oráculos e paisagens que nos remete às nossas origens culturais e aos nosso mitos – sim, convivemos diariamente com nossas histórias, as mesmas que aconteceram e têm sido contadas há alguns milênios –. Todos os instrumentos dos quais dispomos para tornar nossas vidas significativas – seja a literatura, os oráculos, a música e tantas outras artes – são reflexos daquilo que trazemos dentro de nós. A poesia de cada pedaço de chão grego me fez encarar a palavra e a imagem como meu principal ofício. Um poema que me veio lá: Teu corpo é breve, o que te eterniza são os passos.
LEONARDO CHIODA 23 anos. Administrador fascinado por viagens que te fazem pensar e refletir além de ser apaixonado por poemas. © Leonardo Chioda
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Pôr do Sol na praia no extremo sul de Bali
FUGIR DA MESMICE Viajante e empreendedora, mas não viajo apenas por sucesso. Às vezes viajei por medo. Fugi da mesmice, tive pânico do derradeiro encontro comigo mesma, com minha relação afetiva real do momento, com o desafio do desenvolvimento depois da página 5, quando manter as coisas em alta requer mais que competência e fascínios. Quando requer fé, coragem, bondade, paciência e continuidade. Pegar um avião e ir a Bali, nadar com elefantes, rezar com hindus e descobrir que tudo se revela em nós, de novo e outra vez. Ir à New Orleans e cantar de corpo e alma, aprender com a cultura do outro. Pesquisar, tomar café da manhã na esquina. Ter uma viagem em que o autoconhecimento seja marcante depende mais do viajante, mas o lugar abraça a gente. Então, escolhi a Bahia de todos os Santos. A desconhecida, a igreja de Iemanjá, com os pescadores ensinando a gente a colocar oferendas para a Deusa do Mar. A magia no ar. Viajamos para ampliar horizontes? Pensamos em encontrar e ultrapassar fronteiras… Outras. Queremos descortinar áreas da alma, ir mais fundo no nosso entendimento da nossa vida, nos divertir, rir, acender nossa fagulha. Quando subo no avião, eu que sou acusada de ter alma de aviador, ou no trem, carro, cavalo, moto, estar “On the road again” é ajudar a elevação da consciência.
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CLAUDIA RIECKEN
© Claudia Riecken
Empreendedora de 26 anos. Viaja para sair desse ritmo vicioso da rotina de cidade grande para se encontrar e crescer.
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TRANSFORMAR | WORD As montanhas ao fundo e as casinhas. Paisagem típica de se ver no Nepal
O ATO DE OBSERVAR
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Além de trabalhar como astróloga também me dedico à fotografia. E foi em uma expedição fotográfica que tive a oportunidade de conhecer um lugar que particularmente me encantou: o Nepal. Um destino exótico, repleto de cores e aromas, jardins, stupas (monumentos) budistas, construções antigas… Maravilhas para os olhos e para a alma, criadas pela natureza e pelo homem. Estar naquele lugar incrível, com tantos estímulos visuais e espirituais, além de poder fazer um registro pessoal do que vi e vivi foi uma dádiva incrível. O ato de fotografar é o ato de observar, de recortar a realidade através de certo ângulo, de um ponto de vista definido. Fotografar um lugar, uma pessoa, um animal, é estabelecer uma conexão e toda essa observação e conexão fazem do ato de viajar uma experiência de exploração do mundo externo e interno. Muitas pessoas fotografam apenas com o propósito de recordar uma experiência, entretanto, a fotografia possibilita uma profunda auto-observação. Através dos registros fotográficos obtidos em um local, você pode se conhecer melhor. Experimente rever suas fotografias de viagem se perguntando: qual é a minha forma de olhar a realidade? Qual o tema mais recorrente, com o qual tenho mais identificação? Essa análise pode ser bastante reveladora, pois frequentemente o que buscamos fora é um reflexo do que procuramos acessar internamente.
GIANE PORTAL Com seu hobbie sempre falando mais alto, Giane é facinada por olhares e por observar ações durante a viagem.
© Giane Portal
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Duna do Pôr do Sol na Praia de Jericoacoara, Fortaleza
ME DEIXEI LEVAR Para Jericoacoara – ou simplesmente Jeri – é citado em muitos artigos de revistas, sites e guias da viagem como uma das praias mais bonitas, foi o meu destino. Com águas claras e tranquilas e dunas espetaculares, com o pôr-do-sol mais bonito que eu já vi – por que o Sol se põe no mar, o que é bem raro no Brasil –. Fui sem expectativas para Jeri pois me diziam que até pouco tempo atrás lá não havia energia eletrica e nem tem ruas asfaltadas mas fui surpreendido assim que cheguei. Abri meu coração para o novo. Quando conhecemos lugares, pessoas e comidas que são totalmente diferentes da nossa, e em Jeri foi assim. Mesmo estando no Brasil, lá havia brasileiros, alemães, italianos, argentinos, do mundo inteiro, diversos tipos de comida e pela primeira vez me deixei levar – mesmo com receio – mas sem medo. Logo, chegamos a um ponto que por mais que a cultura, a geografia e o clima sejam totalmente diferentes daquilo que nos é familiar, ainda assim, somos todos um, nossas emoções são as mesmas, sorrimos, choramos, temos esperanças em relação ao futuro… Essa viagem me ajudou a perceber muitas coisas e ser grata por tudo o que tenho além de ser um ótimo exercício de desapego. Em uma viagem de autoconhecimento, passamos dias explorando nossas almas. Nos vestimos de nós mesmos e isso basta.
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MARCELLO TORONTO
© Marcello Toronto
Socio de um bistro de comida vegana, Marcello esta sempre em busca de viagens para aumentar seu repertório culinário.
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WORDS: CAROL FERNANDES | PHOTOS: SAM ELKINS
LUGARES QUE MUDAM PESSOAS O fato de estar sozinha não a impediram de viver experiências incríveis pelo mundo. Uma aventureira que acumulou muitas histórias pra contar, que aprendeu muito com elas e que jamais se esquecerá dos ensinamentos que adquiriu Sabe um desses desejos que acompanham a
gente há tempo e que já acostumamos a pensar nele de vez em quando, mas sem nem botar mais muita pilha? Pois eu estava chegando na soleira da porta dos 60 com este: viajar
pelo mundo! Ele quase fazia parte da minha vida e ainda parecia tão distante e impossível como nos meus 20 anos. Nada como seguir o exemplo dos filhos: minha filha tinha largado o emprego para fazer um mochilão pela América Latina, e eu pensei com meus botões “por que não”?
Era a faísca que faltava para reduzir a pó os empecilhos reais ou imaginários que me prendiam. O sonho começava a se transformar em projeto. Do meu jeito, que não sou de grandes planejamentos. Decidi me dar de presente nos meus 60 anos uma comemoração de aniversário em Londres, onde minha filha estava morando por um período. De quebra, sairia a conhecer um pouco do mundo. Tive que pensar em dinheiro, passagem, alojamento, deslocamentos… Alguns cliques no Google deram uma ideia geral e o orçamento básico inicial foi sendo montado com cortes nas despesas, mudança de planos e de hábitos, suspensão de supérfluos e ajustes nas finanças. Tinha uma sensação estranha ver um sonho antigo tomando forma, misto de alegria e incredulidade com pavor. Que só aumentou quando me vi saindo da imigração no aeroporto de Londres.
Ver um sonho antigo tomando forma 118
VIAGENS
Ultimamente eu venho colecionando muitas experiências desde aquela primeira viagem, em 2011, que durou quatro meses e me levou pelo Reino Unido, Itália, França e Rússia. No ano seguinte, em 2012, fui para o Irã e a Suíça, acompanhando uma amiga e, de lá, parti sozinha de novo para a Holanda, Bélgica e França. Em 2013, mais quatro meses entre a Alemanha e a Itália. Para reduzir os custos, comecei a trocar trabalho por casa e comida. E desse mesmo jeito, gastando praticamente só com as passagens, fiquei quatro meses nos Estados Unidos, no ano passado, morando em casas de família.
MEDOS
Os meus muitos medos, na verdade, viajaram comigo quase clandestinamente. Eles se revezaram durante o tempo em que eu rodava com minha mala por cidades, países e continentes, mas eles me ensinaram sobre mim mesma, sobre quem eu sou, sobre o que realmente me assusta, como ajo e reajo em situações e ambientes desconhecidos. Fui me sentindo mais forte a cada pequena conquista, logo me descobri corajosa. mood.online
Medo é instinto, melhor manter. Se prestar atenção, ele ajuda a ficar esperta, “sempre alerta” como o lema dos escoteiros. Bom manter as mesmas precauções que adotaria em qualquer localidade no Brasil. Nada de dar bobeira em ambiente que não se conhece nem fala a língua, correr risco que não se enfrentaria na própria cidade. Só não dá pra se deixar levar pelos medos, os imaginários quase sempre são mais apavorantes que a eventual situação a ser enfrentada.
Fui me descobrindo junto com os lugares que escolhi visitar IDADE
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Pra viajar não importa a idade. Quando se começa, vira febre que só cura batendo a porta da casa e saindo em direção ao mundo. Espero ser o empurrãozinho que falta para quem ainda não pegou a estrada sozinha por achar tudo meio assustador. Principalmente, se um desses medos estiver relacionado à idade… Em nenhum momento senti que não ser mais jovem tenha atrapalhado minhas andanças e aventuras pelo mundo a fora. Pelo menos na Europa, vi que é bastante comum encontrar pessoas de mais idade viajando com suas mochilas ou equipamentos esportivos, sozinhas, casais, pequenos grupos. Benditos trilhos dos trens e suas estações ligando vários países! Facilidade da qual fomos privados no Brasil. Quem estiver com a saúde em dia, consegue arrastar sua própria mala e fazer longas caminhadas. Se pretende ficar fora por um período mais longo, é melhor fazer uma avaliação médica e odontológica. Importante também é levar um bom seguro para os meses em que pretende ficar fora, além dos medicamentos usuaise e de rotina. Ah, e sapatos confortáveis são essenciais.
COMUNICAÇÃO E AMIZADES
Sou tagarela, gosto mesmo de puxar assunto em albergues, ônibus, barcos ou na rua me rendeu boas dicas, boa companhia e amizades. Com algumas, continuo mantendo conmood.online
tato. Larissa, uma russa a quem abordei na rua na cidade francesa de Nice, nos recebeu semanas depois em Moscou, minha filha e eu. Fez o papel de guia, apresentou-nos sua família e ajudou a montar nossa programação em São Petersburgo. Sem ela, teríamos aproveitado muito pouco da Rússia. Num ônibus entre as cidades italianas de Catânia e Siracusa, na Sicília, conheci a alemã Elke. Ela me convenceu a desistir da minha planejada caminhada ao vulcão Etna para acompanhá-la até a Calábria, para onde ela estava indo ao batizado de uma neta. Esta mudança de planos me proporcionou 15 incríveis dias de encantamento em Tropea, cidadezinha daquelas encarapitadas sobre uma rocha à beira-mar. Atravessei a França de Sul a Norte. Com poucas palavras soltas que eu lembrava dos meus tempos de ensino médio fiz amizade com uma francesa que não falava um ovo em inglês. Coisa de malucas: cada uma comentava e respondia de um jeito, eu em inglês, ela em francês. Passeamos, pegamos trem, fomos para outra cidade, ela me fez até pedir carona na estrada para voltar. Na Grécia e na Rússia, países em que encontrei poucas pessoas que falassem inglês, foi a vez de empregar a mímica, gestos, grunhidos e, por fim, apontar com o dedo. No Irã, para onde fui com uma amiga dando início à minha nova aventura no ano seguinte, fiquei surpresa em ver jovens se aproximarem querendo conversar para utilizar o inglês que quase todos falavam muito bem. Um inglês elementar e a ajuda da mímica quebram quase todos os galhos. Mas, claro, quanto maior for o nível de fluência, mais longe se pode ir e mais se aproveita. Ira com a russa Larissa na Praça Vermelha, com a francesa Michele num barzinho em Tropea, na Calábria, e com a alemã Elke no trem (que entra num navio, atravessa o Estreito de Messina, já sai em cima dos trilhos e continua até a Calábria, na Itália).
APRENDIZADOS
Fui me descobrindo junto com os lugares que escolhi visitar. Sem uma amiga ao lado para tagarelar, na maior parte do tempo tinha que guardar para mim mesma as belezas, as curiosidades, as minhas impressões sobre tudo o que via e ouvia. Gostei de po-
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der fazer isso no meu ritmo, sem horários, ficar mais nos lugares que gostei e simplesmente indo embora dos que não gostei. Eu acho que o pai de todos os outros medos é o medo do desconhecido. Eu morria de medo de me perder pelas ruas, de esquecer o endereço do albergue, de não saber o que fazer diante de uma situação totalmente mood.online
inesperada, me surgiram imprevistos que contornei usando o pouco bom-senso e muita sorte que Deus me deu. Esqueci todo o dinheiro para os quatro primeiros meses da viagem da minha vida num bed&breakfast, em Londres; quando voltei, no final do dia, estava tudo intacto no mesmo lugar em cima da cama. Perdi passagem de bobeira; comprei outra. Dormi demais e perdi o navio para a Córsega; cancelei as reservas e mudei o itinerário. Cada episódio superado
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O pai de todos os outros medos é o medo do desconhecido
foi importante para me dar mais confiança e crescer como pessoa. Cresci de uma forma que nunca creceriria se estivesse presa e obsecada em uma rotina. Nada mais foi o mesmo. Os momentos que vivi, as aventuras que enfreitei me fizeram abrir os olhos e questionar o porque de tudo, meus valores e principios. Sinceramente foi a melhor coisa que fiz.
Um dos seus grandes sonhos é viajar. Não deixe que seus medos atrapalhem a sua jornada. Há coisas importantes a descobrir lá fora e que valem para os períodos em que não se está viajando: desfrutar o presente, o aqui e o agora, o que nos rodeia; ver as coisas com os olhos de uma criança – essa é uma lição que eu aprendi com a minha mãe –, se encantar pela primeira vez todos os dias; viver com bem menos coisas materiais do que antes; aprender que viver, isso sim é uma viagem. mood.online
WORDS: CAROLINA BARBOSA | PHOTOS: DIVULGAÇÃO
O QUE EU APRENDI NA ESTRADA De cima da motocicleta vieram os ensinamentos para superar a perda do pai. As paisagens, afinal, nos mostram que a jornada da vida sempre continua apesar dos problemas que possam surgir durante o percurso “É
tumor e É maligno, filha.” As palavras por completo. De repente, vi o jeito prático, racional e materepetiram-se embora minha mãe tivesse dito mático dele, um engenheiro mecânico que sempre adorou apenas uma vez, em tom trêmulo. A frase trabalhar com máquinas grandes, dissipar-se em um homem atordoou minha cabeça como uma música bastante abatido, e tive medo. A jornada, afinal, estava apenas sem ritmo. Fiquei confusa enquanto abafava começando. Quando a descoberta completou quase 30 dias, um o choro no lenço floral que usava, na sala de detalhe me incomodou: meu pai ainda não havia ligado a moto. espera do hospital, no dia em que tudo de- Era tempo suficiente para eu notar. A Harley-Davidson branca sabou. Quantas famílias não teriam ouvido – customizada com acessórios cromados e guidão elevado para coisas piores naquele mesmo local, sentadas dar o charme que ele queria – representava seu sonho de connaquele sofá azul? Meu pai foi diagnosticado sumo. O modelo Road King (ou, em tradução livre, “Rei da escom câncer às vésperas de completar 50 anos. trada”) havia sido escolhido por mim e pela minha mãe, já que A doença, já havia tomado o estômago quase ele queria que fizéssemos parte desse sonho e hobby.
Cresci sabendo da paixão do meu pai por motos – principalmente na categoria custom –. Mas o sonho de consumo dele sempre foi ter uma Harley-Davidson. Ele não teve muitas motos ao longo da vida, porque queria investir mais nisso como um hobby, por isso desejava tanto uma Harley. Gostávamos de observar motos na estrada, visitar concessionárias e já tínhamos até as roupas próprias para a Harley, por exemplo, antes mesmo de comprar uma. Essas motos mais potentes, de passeio, sempre chamaram nossa atenção pela tradição, conforto, beleza e ronco do motor. Quando uma passava por nós na rua, meu pai sempre reconhecia o som. No 30º dia pós descoberta do câncer, com as esperanças renovadas e uma provocação minha durante o café da manhã – “A moto não vai sair da garagem, não?!” –, meu pai então, decidiu sair comigo pela primeira vez.
A jornada estava apenas começando… 126
A ESTRADA
Na ocasião, eu e ele na rodovia Dom Pedro, flutuando feito pássaro, me dava a sensação de que nada daquilo estava realmente acontecendo. Experimentei a leveza que havia muito não sentia. Nesse dia em que resolvemos sair, chegando às 9h30 da manhã de um sábado ao centro de Morungaba, interior de São Paulo, onde tomamos um cappuccino de tamanho generoso e comemos um pão de queijo em uma loja que vendia geleias de fabricação própria. O empreendimento também abrigava um pequeno sebo, com livros e discos em várias línguas e gostos e um pouco antes de seguirmos viagem, passamos em um local que ficava do outro lado da rua e exibia, em suas prateleiras, mais de 70 variedades de ervas e especiarias onde compramos algumas e prosseguimos a viagem em direção a Pedreira, localidade próxima à Morungaba. Nesse trecho da viagem, me redescobri frágil. Fiquei preocupada com a estabilidade da motocicleta, ao passo que meu pai nos conduzia ora muito próximo ao acostamento, ora passando por todas as tartarugas na linha central do asfalto, que dividia as faixas. mood.online
Meu pai interrompeu meus pensamentos e o silêncio quando gritou algo por dentro do capacete, sugerindo que em seguida pararíamos no centro da cidade de Pedreira. Pouco tempo depois, estávamos lá. Especificamente dentro de uma loja de placas e ímãs variados – em estampas do Elvis, de motocicletas, de propagandas vintage da Cola-Cola e o que mais se pode imaginar. Meu pai procurava placas com ilustrações e fotografias relacionadas à Harley para colocarmos no quintal de casa, junto às outras que possuíamos. Seus olhos sorriam o tempo todo, numa espécie de renovação que se sobrepunha às novidades da doença – como a careca que teve de adotar após os fios de cabelo começarem a cair em tufos, tamanha a força da quimioterapia em seu organismo.
A estrada nunca foi nosso caminho e sim o destino 128
Compramos alguns itens de decoração e seguimos viagem até nossa casa, antes que as nuvens escuras e densas despejassem uma chuva dolorosa na estrada. No final do percurso, começou a chover muito forte e quando chegamos em casa, estávamos encharcados e exaustos. Eu com gripe forte, meu pai com câncer. Pronto, foi o que a minha mãe precisava para nos acusar de “irresponsáveis”. Mas, apesar de toda a preocupação, aquela volta trouxe um pouquinho de brilho aos nossos olhos, como se voltássemos a ter a mesma visão tranquila, quando o câncer era um problema distante.
VOLTAR OU NÃO PARA ESTRADA
A parte mais bonita de todo o trajeto foi dividir as inseguranças que a estrada trazia, enquanto os pássaros tomavam o céu e as paisagens verdes dançavam com o tempo, conforme passávamos rápido demais pelas fazendas. Nessa hora, o sol reinava forte sobre nós, mas a luz também vinha da liberdade em estar onde se quer apesar dos obstáculos. A estrada nunca foi nosso caminho, afinal, e sim o destino. O desejo de sentir a plenitude da vida, apesar de ela ser frágil. mood.online
Uma mesma paixão. Infelizmente, essa foi nossa última vez juntos na estrada. Com o passar dos meses, a doença avançou, se espalhando pelo corpo, e o tratamento quimioterápico o deixava fraco demais para pilotar. Aliás, ele não tinha forças sequer para andar, tamanha a sensibilidade e o peso que sentia do próprio corpo. Nessa fase, algumas internações, infelizmente foram necessárias para que a alimentação e o organismo do meu pai se restabelecessem.
O LIVRO
No meio de tudo isso, a promessa de voltar à estrada era uma meta e uma analogia à própria vida e que ainda fazíamos questão de alimentar sempre. “Eu ainda tenho alguns quilômetros para rodar”, ele dizia. Achávamos que se tratava apenas do motociclismo, mas ele também se referia aos anos de vida. Eu alternava as idas ao hospital com o meu trabalho, como assessora de imprensa de uma consultoria, e também à produção de um livro de fotojornalismo sobre mulheres envolvidas com o hobby do motociclismo. Durante dois meses, frequentei a concessionária onde meu pai comprara a Harley-Davidson dele para entrevistar e fotografar mulheres que, assim como ele, que amavam dividir suas preocupações com o asfalto e a beleza das paisagens enquanto pilotavam. Nesse período, acumulei mais de mil cliques e incontáveis caracteres de depoimentos e entrevistas. Eu via o brilho dos olhos do meu pai (de quando pilotava) nos olhos de muitas mulheres com quem conversei. E depois voltava a ver essa mesma vitalidade quando mostrava o material ao meu pai. Ele vibrava ao acompanhar um trabalho que tinha tanto a ver com ele, mesmo não o envolvendo diretamente. Quando o livro foi impresso, só conseguia pensar como meu pai reagiria ao ver um projeto inspirado no motociclismo, uma atividade que ele escolhera como hobby e paixão. Deixei que ficasse com um exemplar, já que eu não queria interferir na leitura ou observação das fotografias. Era um momento de intimidade. A leitura seria um espelho refletindo sua relação e paixão pelas máquinas de duas rodas. A produção do livro me ajudou a entender a importância do vínculo com uma atividade que renda prazer, como uma “válvula de escape”.
A estrada sempre forneceu, ao meu pai, uma energia de renovação pela vida, mesmo após a descoberta do câncer. Era um sinal de esperança e uma possibilidade de cura, que não se concretizou. Meu pai faleceu uma semana após o término do livro, num quarto de hospital. Eu vi meu companheiro de aventuras respirar pela última vez duas semanas antes do Natal e me abalei com a rápida viagem que ele teve pela Terra.
Somos as belezas dos caminhos que percorremos, e também paisagens expostas e frágeis 130
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Foram dez meses de luta contra uma doença que evoluiu de forma agressiva, semelhante à potência de uma motocicleta de alta velocidade na estrada, que passa rasteira demais para ser assimilada aos detalhes, mas também barulhenta o bastante para não ser ignorada. Tive consciência de que os quilômetros rodados da vida valem pelas companhias de viagem que acumulamos durante o percurso – nossos amigos e familiares – e pelas lições que aprendi ao longo do caminho. Há um jargão entre os motociclistas que diz que nós apenas observamos a paisagem quando estamos dentro de um carro, mas, em cima de uma moto, fazemos parte dela. Considerando essa afirmação e sabendo que a natureza está sujeita a todo tipo de intempérie, somos paisagens expostas. Somos belezas frágeis, como as bonecas de porcelanas. Meu pai, dentre tantos ensinamentos obtidos em sua longa estadadia no mundo, me ajudou a entender o valor, a complexidade e a vulnerabilidade da vida como uma longa estrada: um caminho tortuoso, cheio de curvas perigosas e obstáculos até chegar às paradas e aos destinos preparados para cada um de nós. Somos as belezas dos caminhos que percorremos, mas também somos paisagens expostas e frágeis, a qualquer soprar de vento somos balançamos.
Noite em Hatchers Pass em Willow, Alasca
A profissĂŁo que Alex adotou influencia diretamente no seu estilo de vida
TRANSFORMAR | COFFEE BREAK
PHOTOS: ALEX STROHL
Alex nos lembra de explorar, nunca perder o nosso extinto de sermos curiosos, dizer sim a criatividade e com suas fotografias nos lembra onde uma foto pode nos levar e as histรณrias que ela pode contar.
Quantos anos atrás da camera? Aos 8 anos, eu me lembro que tive uma câmera em minhas mãos, mas comecei a levar a sério só a partir de 2008. O ponto de viragem foi quando eu ajudei um amigo com um projeto de esqui nos Alpes franceses. Pouco depois, mudou-se para Quebec para a universidade e não podia deixar de mergulhar em fotografar a paisagem canadense robusta e vasta. Alex, consegue descrever seu estilo de fotografia em apenas 3 palavras? Esta pergunta é tipicamente mais fácil para o público do que para o ator, mas eu diria: experiencial, autêntico (pelo menos eu me esforço para isso) e inspirador. Imagine isto: Você está dirigindo e olha para o lado e pega a camera para tirar uma foto. O que faz você parar para fotografar? Tudo que toma é um momento. A combinação de um belo assunto e alguns detalhes sobre o meio ambiente que nunca pode ser exatamente o mesmo e é isso o que me fascina. Aqueles punhado de segundos pegar o meu olho. Se é a luz, tempo ou ângulo. Qual foi o melhor conselho de fotografia que lhe foi dado quando começou? Para continuar fotografando. Fotografia não é diferente de qualquer outra coisa, é preciso prática e compromisso para melhorar, tendo dito isso, com o intuito d nos empurrar e forçar os bloqueios criativos. Nada vai ajudar mais do que continuar a “fazer”. O que está em seu kit de fotografia? Minha camera Canon 5DS, minha lente Canon 24 milímetros f 1.4 e Canon 50 milímetros f 1.4 – que estão sempre comigo –, um par de jacarés para a neve, e Google Maps.
Uma das viagens que Alex mais admirou em fazer e lhe agregou muito como pessoa
Alex, sempre acompanhado da esposa se aventuram em Alberta, Canada
7:00 da manhã de uma terça-feira, como seria um dia típico para você? Bem às 7h na terça-feira, eu ainda estou na cama. Não devo levantar até as oito horas (ou mais tarde, dependendo da carga de trabalho da noite passada). Andrea e eu desfrutariamos de pequeno almoço antes de sair para fotografar ao meio-dia. Então, de volta para casa e para o trabalho: respondendo aos e-mails e editando, sempre. Eu venho tentando sair mais de uma vez para fotografar antes que fique escuro, mas eu estou sempre feliz em voltar para casa para fazer o jantar, acender a fogueira, rever minhas últimas fotos e ler. Nome de 3 pessoas/fotógrafos que você admira e recomenda seguir. Há tantas pessoas talentosas lá fora, por isso é difícil de filtrar em apenas três, mas os fotógrafos em cima da minha cabeça são: Jared Chambers, Chris Burkard, Florest Woodward. Olhando para suas fotografias não há dúvida de que as paisagens foram feitas para sua camera. Depois de tantas viagens, qual é o seu local favorito até hoje? Alaska, por ser um local robusto e amplo. É realmente diferente de qualquer outro lugar que já estive. Estou voltando no final do mês e não poderia estar mais animado com isso. Por que a fotografia se tornou algo importante para você? O que ela realmente significa? A fotografia é importante pra mim devido ao poder que ela tem de levar e transmitir uma mensagem ou ideia. Uma foto pode contar uma história e é definitivamente a maneira mais fácil que eu encontrei para expressar minha. Recentemente eu fui atraído para o vídeo de uma maneira semelhante, é algo que eu quero explorar mais.
Alex Strohl vive e respira sempre em busca de novas aventuras. Fotografia clicada na Islândia
O primeiro livro de Alex Strohl “Alternative Living” está disponível no site alternativeliving.co
ALEX STROHL
Alex Strohl é um fotógrafo nascido em Madrid. Francês cujas aventuras ao redor do mundo influenciam em seu estilo único de fotografia. Seu trabalho tem sido destaque em publicações notáveis que variam de Forbes a Vanity Fair para Buzzfeed. Alex nos dá uma dose diária de selvagens fotos e paisagens com detalhes realistas. Suas fotos têm a capacidade de nos transportar para o lugar onde esta fotografando.
Fotografia tirada na Islândia pelo Alex com sua Canon 5DS
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QUANDO FAZ-SE CARRETO Mudar de casa nos ajuda a olhar para dentro e a ver que, em qualquer lugar, podemos nos sentir em um novo lar. WORDS: DIANA CORSO PAINTING: OWEN GENT
Mudança
é um caminhão carregando e descarregando pesados móveis, colchões, caixas de livros, panelas e brinquedos, malas de roupa. Ver o passeio desses objetos pela calçada é um pouco constrangedor e instiga a curiosidade. É como olhar dentro da intimidade daqueles moradores, condenada a desfilar em público, carregada em braços desconhecidos. As caixas têm dizeres, garranchos, títulos, são como um mapa para que seus donos amenizem a perda de referências. Os primeiros volumes a serem embalados costumam guardar uma lógica, códigos precisos. Roupas, papéis e objetos viajarão juntos, revelando a desestrutura da alma, verdadeiro estado daquele que precisa desmontar sua vida. Partimos de um lugar que costuma ser tão familiar como nosso próprio corpo, tanto que podemos percorrê-lo na escuridão sem medo. Embarcamos rumo a outro que parece que nunca chegará a ser tão pessoal e íntimo quanto o anterior. Num primeiro momento, quando faz-se necessária a separação do que vai conosco, tropeçamos com o que tornou-se obsoleto. O balanço acaba sendo feito quando mexemos nas gavetas, no fundo dos armários. Esbarramos em caquinhos de memória que ficaram escondidos em algum canto, quietinhos, mensagens do passado escapando do descarte porque ainda tinham algo a dizer. Cada um desses restos pede uma despedida. Irão fora ingressos usados, contas que suamos para pagar, enigmáticas despesas insignificantes, bilhetes recebidos ou nunca enviados, foto-
grafias sem álbum, roupas que já não servem, objetos quebrados esperando um conserto que nunca virá. Perdemo-nos em devaneios, caímos no labirinto em que cada uma dessas pontas soltas nos lança. Uma simples gaveta pode ter mil ganchos de memórias. É preciso finalizar cada uma dessas pendências, descartando e classificando-as. Nossa vida encaixotada parece menor do que foi. Escolhas implicam perdas, principalmente das ilusões. Vai fora o que ainda fantasiávamos que éramos e que tínhamos. Acondicionar também é descobrir quais partes nossas são mais frágeis, precisamos seguir com elas, mas sempre ameaçam não chegar inteiras. Levamos também o que nunca foi nem será firme e forte. Também precisamos escolher o que nos é imprescindível, pois muitas caixas demorarão para serem abertas. Ao chegar, ficamos acampados, rodeados pela desordem, estranhando os barulhos da noite, sem saber para que lado da cama colocar os pés ao acordar. Para mudar, tivemos que encarar o medo da perda de identidade, o risco de sentirmo-nos exilados, sem pouso. Não somos caracóis, não derreteremos ao sol. Nossa capacidade de mudança é sempre maior do que apostamos. Com o tempo, nossa mobília interior vai tornando-se embutida. Sabemos o que em nós é objeto frágil e carregamos com maior cuidado, já descartamos muitas coisas e descobrimos que é possível viver sem elas. Se pudermos nos sentir em casa dentro de nós mesmos, novos lugares sempre poderão ser um lar.
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DIANA CORSO é autora do livro Tomo Conta do Mundo – Conficções de uma Psicanalista.
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A AVENTURA DA ROTINA A diferença entre o dia a dia enfadonho e aquele repleto de novas descobertas está dentro da gente, na maneira como olhamos para o que está ao nosso redor. WORDS: LUCAS TAUIL DE FREITAS PAINTING: OWEN GENT
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um dia estava começando. Final de junho e fazia muito frio. Apesar disso, eu resolvi sair a pé pelas ruas de Curitiba em direção ao colégio onde lecionava. As aulas começavam às 7h30, e o tema daquele dia seria o Evolucionismo, a aventura de Darwin. Eu me queixava da rotina das aulas, da monotonia da repetição dos assuntos em várias turmas. Fiz o cálculo de que cheguei a cerca de 20 mil aulas ao longo de minha carreira. Tenho orgulho disso, mas me lembro também das agruras – entre elas, a rotina. Entretanto, certa vez, lancei outro olhar sobre esse assunto, e parece que algo começou a mudar em minha relação com o cotidiano a partir de então. Enquanto caminhava, observava a paisagem familiar à minha volta. Acostumado àquela região da cidade, conhecia bem as ruas, as árvores secas, as pedras portuguesas das calçadas, e até os transeuntes, que pareciam velhos conhecidos. A maioria deles usava roupa pesada, aqueles casacos que, ao contrário dos ursos, hibernam no verão e acordam no inverno, cheirando a naftalina. De repente vi algo – ou alguém – diferente. Uma pessoa caminhava embrulhada em um cobertor com estampas coloridas. Dava passos decididos e, da extremidade superior da trouxinha em que havia se transformado, saía um bafo quente que condensava no ar, criando uma nuvem efêmera, denunciando a troca de gases com a atmosfera. “É isso que somos”, pensei. “Entrepostos de produtos químicos.
Enquanto interagimos quimicamente com o planeta, nos mantemos vivos.” O ser que me fez pensar era quase felliniano, um personagem do teatro do absurdo que, no entanto, nada mais fazia do que se defender do frio. E foi aquele vulto que me fez pensar sobre o meu dia. Ou melhor, sobre os meus dias. Eu já tinha percorrido aquele caminho centenas de vezes. Conhecia cada loja, os porteiros dos prédios e até as imperfeições da calçada. Era sempre igual, como seria igual o meu dia. As mesmas aulas, os mesmos alunos, suas dúvidas e indisciplinas. As conversas com os colegas na sala dos professores, os assuntos de sempre, as dificuldades da carreira do magistério, os novos livros que estavam lendo e os resultados do futebol. Rotina. Mas o cobertor ambulante que exalava uma nuvem me fez repensar tudo. Eu nunca havia visto tal criatura antes – era uma novidade. Os dias que pareciam ser sempre iguais talvez não fossem tão iguais, afinal de contas. Novos personagens no palco, ou velhos personagens interpretando novos papéis, sei lá. Comecei a prestar atenção. Passei a lançar novos olhares sobre velhas coisas. O resultado? Vi detalhes que nunca havia visto antes, apesar de estarem ali, diante de mim, desde sempre. Durante a aula, tratei desse assunto com os alunos. Expliquei que Darwin havia criado, a partir de suas minuciosas observações, não apenas uma teoria das ciências naturais, mas um novo jeito de pensar. “O darwinismo não
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LUCAS TAUIL DE FREITAS traça rumos, conta histórias e alinhava pessoas, mas gosta mesmo é de sonhar.
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se limita à biologia”, expliquei. Pode também ser aplicado à economia global, à competitividade das empresas, ao posicionamento dos profissionais.”Darwin, na prática, questionou a crença dogmática sobre o aparecimento da vida na Terra, incluindo a do próprio Homem. Desafiou a realidade. Aliás, o que seria a realidade? – e esse passou a ser o assunto da aula. Será que a verdade realmente existe? O que é sempre será? Essas são algumas perguntas que a alma humana se faz todos os dias e para as quais não encontra respostas. Pelo menos não respostas satisfatórias. E, quando não há respostas, as perguntas acabam sendo dirigidas a ninguém e a todos ao mesmo tempo. Perguntas feitas a filósofos poderiam ser respondidas por físicos quânticos ou por biólogos com a mesma propriedade. Aliás, há áreas do pensamento que com frequência se encontram na esquina da rua da dúvida com a avenida da incerteza. Uma das afirmações em que filósofos e físicos estão de acordo é que o olhar do observador tem o poder de modificar o fato observado. O olhar… A maneira como vemos – essa é a chave. Para modificar a realidade temos que, primeiro, mudar a maneira como a observamos. Lançamos um novo olhar e a mágica acontece. Experimente. Einstein disse ser impossível encontrar uma solução usando o mesmo modelo mental que criou o problema. É preciso criar um novo ângulo de visão, olhar a questão com outros olhos. Aliás, esse é o papel dos consultores de empresas, ou mesmo dos psicólogos de consultório. Não só eles olham com os olhos deles, como nos ajudam a modificar o nosso próprio olhar. E essa mesma teoria pode ser aplicada à rotina. Mas, será que a rotina existe mesmo? Serão todos os dias iguais, ou serão nossos olhos que não conseguem ver que hoje é diferente de ontem? Será possível livrar a rotina da
monotonia? Aprendi com os físicos quânticos, filósofos e com o cobertor ambulante da rua e também com poetas, pintores e cineastas. Falando nisso, vi um filme maravilhoso da jovem cineasta Julia Murat. Trata-se de uma trama lenta, ambientada em uma pequena vila do interior do Rio de Janeiro que parece ter parado no tempo, imune a influências de qualquer fato modernizador do mundo. Não há mais produção de café, a ferrovia está desativada. Cada um dos poucos moradores cumpre seu pequeno papel, e assim seguem os dias, repletos de uma imensa monotonia. Entre eles, Madalena, uma viúva, que continua acordando de madrugada para fazer os pães, que leva para o armazém do Antônio, onde toma com ele uma caneca de café na soleira da porta. Eis que um dia aparece a jovem Rita, uma talentosa fotógrafa interessada em captar imagens do cotidiano simples com uma câmera artesanal, feita com uma lata de biscoitos. Hospeda-se na casa de Madalena, frequenta a missa, almoça com os habitantes e busca a beleza escondida na rotina interiorana. A maravilhosa aventura que esse filme revela que, em sua busca pelo belo, Rita estimula as pessoas a buscarem também. E elas o fazem, e começam a lançar novos olhares sobre suas vidas, modificam a percepção do cotidiano, ainda que não tenham consciência disso. Não é um filme sobre simplicidade e monotonia. É sobre o poder modificador do olhar. Não há palavras sendo disparados em ritmo frenético, e sim um tempo para a observação, para o pensamento e para a mudança do mundo interior. Desde aquele dia frio, nunca mais dei uma aula para os mesmos jovens – eles se renovaram todos os dias. Eles não sabem disso, só quem sabe é este professor, que aprendeu a aperfeiçoar o olhar e a lembrar das histórias que nunca se repetem.
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© Alex Strohl
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Live once, so travel.