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CLASSIFICADOSVEÍCULOS
BRINCADEIRA DE CRIANÇA
ROLIMÃ
O chiado dos rolimãs no asfalto pode ser ouvido ao longe por quem passa nas proximidades da Avenida Montreal, no Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima. O zumbido freqüente nos fins de semana e nas férias ressoou novamente no feriado escolar, aproveitado por Anderson Ferreira, Pedro Henrique da Silva e Ozias Gonçalves (fotos abaixo). Desde que o bairro começou a ser asfaltado, há quatro anos, o trio prepara os carrinhos de rolimã. À época, logo depois da pavimentação das vias, o brinquedo se tornou febre e reunia cerca de 10 meninos, que desciam embalados pelas ruas transversais. Da turma inicial, os três são os que resistem com a brincadeira, deixando marcas no asfalto e na pele. Arranhões nos ombros, canelas e quedas do carrinho fazem parte do repertório de quem se aventura. O agravante é que os carrinhos produzidos pelo trio não têm freio. “O nosso freio é dar um peão”, explica Pedro.
manhas, explica que, para o rolimã ficar mais acelerado, o ideal é passar spray antiferrugem nas esferas.
MERCADO Ozias e Anderson, assim como Pedro, também fazem os próprios carrinhos. O mais difícil é achar os rolimãs; por isso, é comum encontrar alguns modelos com apenas uma roda no eixo da frente e duas no traseiro. O preço de um rolimã do VW Fusca é cerca de R$ 35, quando comprado novo no mercado paralelo de peças. Porém, os garotos não fazem questão do rolamento novo, e peregrinam por oficinas em busca das esferas em bom estado que, na prática, é o suficiente para garantir algumas descidas. PRODUÇÃO Depois de encontrar as rodas, é preciso preparar
o eixo. O ideal é uma madeira que seja ao mesmo tempo leve e resistente. Mas, na maioria das vezes, o carrinho é feito com a primeira encontrada. Os garotos medem o tamanho do raio do rolimã no eixo, marcam com uma caneta e cortam a madeira usando uma talhadeira, deixando um pedaço mais estreito para entrar no rolimã.
AERODINÂMICA Filho de mecânico, o garoto está no terceiro rolimã. O primeiro feito pelo pai não resistiu aos embalos e o eixo traseiro quebrou. Depois, Pedro fez o segundo, mas como usava rolamentos de VW Fusca – os mais comuns nos carrinhos – não se diferenciava dos outros. Por isso, o terceiro e atual tem os rolimãs traseiros de máquina de cortar grama e os dianteiros do Chevrolet Omega. “Como as rodas de trás são maiores, corta o vento e melhora a aerodinâmica”, explica Pedro, estudante da 8ª série e que pretende cursar engenharia mecânica ou ser jogador de futebol.
FOTOS: MARCOS VIEIRA/EM
OFERTA Essa é a opção mais barata, mas que para ser feita pre-
cisa das ferramentas adequadas. Quem quer saciar o desejo ou reviver os tempos de infância também pode comprar um carrinho. No Mercado Central, no Centro de Belo Horizonte, existem modelos com preços que variam de R$ 80 a R$ 100. A madeira lixada e pintada e o acabamento mais bem-feito podem justificar o investimento, mas a sensação não é a mesma de produzir o próprio carrinho.
PARA MAIORES Anualmente, é realizado no câmpus da Universidade de São Paulo (USP) um Grande Prêmio, que teve origem em um trabalho de final de curso, na década de 80, e hoje é patrocinado por marca de rolamentos. A velocidade na descida da Rua do Matão chega a 70km/h, e alguns participantes competem fantasiados, mas é preciso ser maior de 18 anos ou então ter uma autorização dos pais. Marcas como Audi e Volvo já produziram versões sofisticadas, com carenagem e repletas de adereços para os carrinhos.
ACIDENTE Como tem os equipamen-
tos em casa, ou melhor, na frente de casa, onde fica a oficina do pai, Pedro não terá muito trabalho para consertar o banco do seu carrinho, que partiu ao meio durante a sessão de fotos. O garoto se empolgou e passou por um quebra-molas sem reduzir e o impacto provocou o acidente. “Esse quebra-molas é malfeito. O baque dele se parece com um meio-fio. Não tem uma rampa para que o carrinho suba”, explica Pedro. Conhecedor das
ANDERSON FERREIRA, 14 ANOS
LANTERNAGEM E PINTURA
PEDRO HENRIQUE DA SILVA, 14 ANOS
OZIAS GONÇALVES, 14 ANOS
ASSISTÊNCIA
BANCO DE COURO
CHAVES