PREFEITURA MUNICIPAL DE BELÉM SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESCOLA MUNICIPAL THEÓDOR BADOTTI
INDICADORES DE SUCESSO
SUGESTÕES DE TÍTULOS: •
ESCOLA THEÓDOR BADOTTI : DO ANONIMATO À FLORESCÊNCIA • •
DO ANONIMATO RUMO AO SUCESSO
DO ANONIMATO À CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE • • •
DO ANONIMATO À PUBLICIDADE DO ANONIMATO AO CRESCIMENTO
A TRAJETÓRIA DO INSÍPIDO AO INSTIGANTE
APRESENTAÇÃO A Escola Municipal Theódor Badotti foi oficializada a partir de 1990, através de convênio com a SEDUC, no entanto, só em 1996 passou para a gestão da Prefeitura Municipal de Belém, como anexo de outra escola municipal. Já em 1998, a escola foi incluída nos programas federais, através da Prefeitura. Localizada no bairro do Tenoné, em uma área de difícil acesso, com características de um espaço rural, atendendo a crianças, em sua maioria oriunda de famílias de baixo poder aquisitivo, que sobrevivem do trabalho informal ou subemprego, através do serviço temporário. Algumas famílias vivem da aposentadoria de avôs/avós. Especulase que são poucos os trabalhadores com carteira assinada. Há um contingente de pessoas de classe média constituído por comerciantes, professores e servidores públicos. Estima-se que o índice de desemprego seja elevado. A escola vem obtendo visibilidade no Sistema Municipal de Ensino a partir dos resultados do IDEB, desde a sua implantação em 2005, cujo resultado obtido foi de 2.7 e considerando-se o salto qualitativo de 4.5, 4.5 e 5.8, nos anos 2007,2009 e 2011, respectivamente. A ideia de formalizar-se um documento para expor as ações de sucesso partiu de uma visita do prefeito de Belém, Dr. Zenaldo Coutinho, em 08/02/2013, que declarou publicamente sua admiração com o resultado obtido, considerando a simplicidade física e localização da escola. A iniciativa da visita partiu do próprio gabinete do senhor Prefeito ao constatar que naquele local visitado, ainda por ocasião de sua campanha, agrega uma escola que faz parte de um grupo dos melhores índices de desempenho de escolas públicas do Pará. É com muito prazer que vimos compartilhar as experiências que ao longo desses anos têm apresentado sucesso. Não temos a pretensão de esgotar essa matéria, pois o nosso trabalho é dinâmico tanto quanto o pensamento.
GESTÃO NA PRÁTICA O que garante sucesso em uma escola? O segredo está no trabalho compartilhado. Desde a secretaria da escola, perpassando pelos coordenadores, professores, operacionais e comunidade. O foco é sempre a aprendizagem dos alunos e todos os segmentos devem convergir para que fluam bons resultados. Inspirados no pensamento de Paulo Freire, em citação de Gutierrez,1988, p.106, sobre “a prática de pensar a prática é a melhor maneira de aprender a pensar justa e corretamente” , queremos através da ação-reflexão chegar a esse patamar de pensamento e expressá-lo através da ação educativa.
Ambiente educativo: Entendemos que esse ambiente deve ser acolhedor, agradável, de respeito mútuo, de crescimento e, para garantirmos essa performance, exercitamos no cotidiano princípios básicos de convivência social. O atendimento dispensado aos pais/responsáveis deve ser sempre cordial. Isto quebra possíveis conflitos e mesmo que sejam convocados por um motivo adverso (faltas, disciplina...) devem ser tratados com respeito a fim de que o diálogo flua. As relações interpessoais e intrapessoais são valorizadas com uma ênfase a não confundir-se espaço de trabalho com extensão da própria casa, o que nessas circunstâncias fragiliza o ambiente de trabalho. As crianças sentem-se acolhidas, em função do cuidado que estabelecemos, desde sua entrada na escola, frequência, comportamentos apresentados, enfim, tudo o que diz respeito a elas, estamos atentos. É interessante mencionar que o índice de frequência diária é considerado muito bom, mesmo no período de chuvas. Frequentemente crianças chegam encharcadas à escola e imediatamente são acolhidas; providenciamos blusas e shorts sobressalentes (resultado de doações de funcionários), tudo isto para garantirmos as aulas. A comunidade de entorno é participativa e tem liberdade para sugerir, dar informações e fazer reclamações, inclusive, as quais são registradas e investigadas em sua natureza e imediatamente, realizado o retorno ao reclamante, inclusive alunos. A escola funciona como um polo de apoio às questões de cunho social. Frequentemente, pessoas nos procuram para pedir orientação sobre situações diversas como separação, a guarda de filhos, dificuldades para educar filhos, opiniões quando há algo que está incomodando as famílias na comunidade, etc.
Prática Pedagógica: Entendemos ser a grande sacada de todo o crescimento. Não há como deixar de mencionar o compromisso dos profissionais, a motivação, a vontade de dar certo. Parafraseando Guttiérrez,1988, sem esse compromisso não há qualquer possibilidade de transformação. Princípios considerados imprescindíveis da prática pedagógica: - Planejamento: Construído conjuntamente com professores, coordenadores e analisado pela direção. Levado muito a sério em todas as atividades. - Estabelecimento de metas qualitativas: Instituídas de forma a garantir a agilidade no processo de apropriação do conhecimento. A partir da Educação Infantil cada professor tem liberdade de estabelecer sua meta, de preferência mensal. - Acompanhamento pedagógico. A coordenação pedagógica, grande aliada, realiza um trabalho corpo-a-corpo com os professores visitando as salas de aulas, observando a
rotina, auxiliando os professores diante das tarefas avaliativas e orientando-os. Atitude semelhante é realizada pela direção. - As horas pedagógicas são rigorosamente realizadas e sob a orientação da coordenação pedagógica, nas quais as atividades semanais são planejadas fazendo-se sempre a retrospectiva do que foi realizado e o que ficou pendente. - Alunos com deficiência têm um acompanhamento individualizado, através de um plano básico de aprendizagem. - A otimização do tempo de aula é um aspecto muito debatido com professores, pois entendemos que dispomos de recursos didáticos e tecnológicos suficientes que facilitam a aprendizagem. Assim, somos contrários ao uso de transcrição excessiva de textos no quadro de escrever, assim como a cópia mecânica. O livro didático é amplamente utilizado. - Aulas todos os dias. Raramente liberamos turma sem aula. A maioria das nossas crianças vem de longe; assim, adotamos como ética não dispensá-las. Contamos sempre com o auxílio dos professores de informática e de sala de leitura. Esses professores contam com um plano de trabalho sobressalente para essas situações. Os professores são orientados a nos avisarem quando precisam se ausentar da escola por algum motivo. No caso de doenças, imprevistos... quando não há possibilidade de atendimento através das salas de informática e leitura a coordenação entra em cena com atividades que funcionam como um sensor pedagógico. Essas atividades no geral são de leitura, ditado, construção de texto e cálculo envolvendo situações problemas. - Maratona de leitura. Periodicamente, a gestora da escola toma leitura dos alunos, procedimento carinhosamente, apelidado pelos professores de “operação pente fino”. Isto causa um impacto impressionante nos alunos, que se preparam de alguma forma para esse momento. O resultado disto é a aproximação maior das crianças com a gestora, ao perguntarem, frequentemente, quando a leitura será tomada novamente. A gestora dispõe de um registro particular sobre sua visão em relação a essa leitura, que em seguida é compartilhado com os professores e coordenadores sobre o desempenho dos alunos. Checam-se nesse momento as estratégias de atendimento e superação das dificuldades que estão sendo desenvolvidas. Assim, entendemos que o gestor precisa ter uma visão pedagógica bem apurada para identificar possíveis sintomas que possam se transformar em fracasso escolar. - Controle de frequência: A cada 03 ausências consecutivas e 05 alternadas os pais são convocados para darem explicações. Os professores informam à secretaria da escola e a partir de então os comunicados são expedidos e acompanhados. - Visitas domiciliares: Uma vez os responsáveis sendo convocados e não comparecendo, a coordenação realiza visitas domiciliares, para localizar alunos evadidos, aprofundar-se em alguma situação que está interferindo no processo de aprendizagem dos alunos, ou para outra matéria de interesse da escola.
Avaliação:
Cada etapa corresponde a uma hierarquia de importância, onde uma está atrelada à outra como uma espécie de simbiose. Comungamos com o pensamento de Hoffmann (1993) ao afirmar que “a avaliação é a reflexão transformada em ação. Ação, essa, que nos impulsiona a novas reflexões. Reflexão permanente do educador sobre sua realidade, e acompanhamento passo a passo do educando, na sua trajetória de construção do conhecimento”. Consideramos a avaliação responsabilidade da instituição desde o momento em que o aluno é matriculado. Assim, cumprimos um protocolo avaliativo: - Avaliação diagnóstica: os alunos são avaliados no início de cada período. Todos os alunos novos são avaliados na leitura, interpretação, ditado e cálculo, considerando-se o nível para o qual está se matriculando. Nesse momento, analisamos as situações de alunos em distorção de idade que apresentam uma boa performance para classificação e/ou reclassificação, considerando que muitos vêm para a escola sem documentação escolar e/ou registro no censo. Todos os alunos da escola participam desse momento de avaliação. - Mapeamento dos alunos que apresentam dificuldades. Nesse quesito, são identificados os vários níveis e analisados os casos para o atendimento também através da coordenação. - Apoio pedagógico individualizado: Através da coordenação pedagógica, os alunos identificados com dificuldades são atendidos de forma individual ou agrupados conforme a necessidade, em horários reservados entre a coordenação e professores regentes para essa finalidade. Cada atendimento dura em média 60 minutos e a expectativa é que o aluno supere a dificuldade e acompanhe a turma normalmente. No momento em que isso acontece, o espaço é automaticamente cedido para outro aluno. Esse atendimento é dinâmico e permanece o ano inteiro. Há casos em que crianças com histórico de retenções, incluídas nesse atendimento e que não avançam, são atendidas pela diretora, que é psicopedagoga, que traça um atendimento, no máximo em duplas. Esse atendimento causa um grande impacto, principalmente no que se refere à autoestima da criança; é encantador vê-las perguntando quando será atendida. O ponto negativo neste aspecto, é que não há um horário reservado para o atendimento, em função das várias responsabilidades do gestor dentro de uma escola, mas é gratificante. - Leituras extras: Os alunos do C2 - 1º e 2º anos, que apresentam dificuldades, participam de um atendimento pedagógico emergencial, onde cumprem um programa de leitura de no mínimo três textos semanais. Cada texto é substituído à medida que a avaliação pela coordenação é considerada satisfatória, nos aspectos da fluência, entendimento, síntese... - Maratona de exercícios: Medida semelhante nas dificuldades em Matemática. São realizadas listas de exercícios a serem cumpridas nos finais de semanas. Como instrumentos são aproveitados os livros didáticos de anos anteriores que estão “parados” nas estantes, assim como material xerografado. - Parceria das professoras de sala de leitura: por muito tempo essas professoras realizaram esse trabalho de apoio pedagógico individualizado, pois não contávamos com um quadro de coordenadoras na escola. Hoje as professoras da sala de leitura
auxiliam na avaliação processual das crianças, à medida que atendem a todas as turmas nos seus respectivos turnos. - Parceria da sala de informática: É impressionante como essa parceria tem dado certo. Os professores regentes estão sempre atrelados com o trabalho da sala de informática, informando onde precisam de auxílio. - Provas mensais: Utilizadas regularmente na avaliação dos nossos alunos. Após corrigidas são encaminhadas à direção da escola, que acompanha os resultados, registra e faz observações, se necessário. Os professores realizam a correção em sala e discutem com os alunos os erros. É a releitura que chamamos. Os resultados são entregues aos pais em reunião. Usamos também como instrumentos avaliativos os trabalhos em grupo (realizados em sala), exercícios e pesquisas (estas, quando há indicação de material disponível pelo professor). Destacamos aqui as provas do ALFAMAT e Expertise, que já fazem parte do cronograma obrigatório de avaliações. - Conselhos de ciclos: Funcionam como um foro de discussões sobre as aprendizagens dos alunos. São em geral presididos pela gestora da escola. Através dos dados são feitos os encaminhamentos para o plano pedagógico de emergência.
Gestão democrática: A gestão procura viabilizar um espaço de formação e aprendizagem onde os profissionais podem decidir sobre seu trabalho e aprender mais, conjuntamente. Entendemos que todas as pessoas que trabalham na escola realizam ações educativas, desde o atendimento respeitoso aos pais, a distribuição de merenda envolvendo atitudes educativas das colaboradoras, às reuniões pedagógicas realizadas a qualquer momento, tornando-se espaço de participação de todos. - Matrículas: durante todo o ano recebemos pessoas interessadas em matricular-se na escola. Como a demanda é excessiva em relação à oferta, procedemos da seguinte forma: a partir de novembro, abrimos as inscrições para as turmas novas (Ed. Infantil e C1 1º ano), assim evitamos as filas indesejáveis. No período destinado às matrículas, apenas confirmamos. - Registro da demanda escolar: a secretaria efetua o registro da demanda de matrícula. Como o processo de migração interna é intenso, à medida que uma transferência é expedida uma nova matrícula é efetuada. - Princípio da unidade: a escola tem um rumo. A rotina que acontece no 1º turno se sucede nos demais. Coordenadores, professores e demais colaboradores quando chegam à escola são orientados sobre as práticas que são desenvolvidas e que têm dado certo. - Comunicação com os pais: quaisquer atividades ou situações são informadas com antecedência. - Participação dos pais: considerada ativa, inclusive há liberdade de acesso direto à gestora.
- Parceria com o Programa Família Saudável: no encaminhamento de crianças doentes, cujos familiares não conseguem atendimento no posto médico mais próximo.
Formação dos profissionais: - Formação continuada: professores e coordenadores participam, frequentemente, das formações do programa ALFAMAT e Expertise e/ou viabilizadas pela Diretoria de Educação, Conselho Municipal... O grande segredo é que aproveitam tudo o que é estudado. - Reuniões pedagógicas: seguem um cronograma previsto em calendário. São convocadas para informar sobre o trabalho que é realizado, entrega das avaliações ou outra matéria de interesse de ambas as partes Os professores são orientados a enfatizarem inicialmente pontos positivos dos alunos, a fim de facilitar o diálogo. Em seguida os pontos de conflito são colocados com leveza.
Aspectos Físicos: Este aspecto é o menos sedutor. De aparência simples, a escola está localizada numa área de periferia a 700m, da linha de ônibus, em uma área considerada de difícil acesso, na Passagem São João,297, no Tenoné. Localidade desprovida de rede de esgoto, asfalto, água encanada, coleta regular de lixo e com iluminação precária. Quando chove ficamos basicamente ilhados do sistema de comunicação, o telefone fixo para imediatamente de funcionar, a telefonia móvel, mesmo sem chuva já não apresenta sinal. Em relação às operadoras de telefonia móvel, costuma-se usar de humor, que para funcionarem precisa-se subir nas árvores. O que tem de sobra é lama, situação esta que está prestes a ser passado, pois com a visita do atual Prefeito, Zenaldo Coutinho, temos a esperança de que fomos enxergados: as obras na rua já iniciaram. A escola agrega 5 salas de aula funcionando em três turnos. Atende um pouco mais de 400 alunos desde a Educação Infantil até o C2- 2ºano. As salas são pequenas e comportam em média 30 alunos em espaço reduzido, pois a demanda é grande. Os outros espaços são adaptados: laboratório de informática (no corredor), secretaria e sala dos professore. Os arquivos de alunos ficam em armários também nos corredores. Não há sala de direção e coordenação, quadra de esportes, sala de leitura, biblioteca, vias de acesso para pessoa com deficiência, enfim, não e não.
O que há em abundância: COMPROMISSO E UM ENORME IDEAL PARA TRANSFORMAR MENTES VAZIAS EM SERES PENSANTES ATRAVÉS DO CONHECIMENTO.
DIFICULDADES: Pontuaremos apenas as que têm uma implicação direta na aprendizagem:
- A localidade é caracterizada por extensas áreas de ocupação; o movimento migratório interno é intenso; assim, muitos alunos que são preparados na escola vão embora para outras localidades e outros novos chegam com transferências e na maioria das vezes com dificuldades tamanhas que destoam dos demais alunos. É comum recebermos alunos no C2 para serem alfabetizados. - A outra situação é a morosidade da SEMEC, quando acenamos sobre profissionais que já não têm motivação para trabalhar, apresentam faltas excessivas, prejudicando o avanço dos alunos. Em média, essas situações arrastam-se por 01 ano até que sejam resolvidas, quando já não há mais tempo para resgatar-se o que ficou para trás.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: No decorrer deste trabalho pensamos na sua incompletude, pois a cada dia nos descobrimos reféns da nossa timidez, falta de ousadia para inovar, recriar. Já galgamos alguns degraus, mas ainda é muito pouco para o tamanho do resultado que almejamos. Temos pela frente grandes desafios e um deles é a superação da retenção no 3º ano, mas com qualidade. Esta é a nossa grande meta para o ano de 2013. Já descobrimos caminhos que têm dado certo, mas existem outros muitos que precisam ser desvendados. Queremos muito!
BIBLIOGRAFIA: HOFFMANN, Jussara. Avaliação: Mito & Desafio. Porto Alegre – RS; Educação & Realidade. 1993. Indicadores da qualidade na educação/Ação educativa, Unicef/PNUD, Inep-MEC (coordenadores). São Paulo; Ação Educativa,2004. GUTIÉRREZ, Francisco. Educação como práxis política. São Paulo; Summus, 1988.