Aspirantex 2013
Durante a semana do dia 8 a 11 de janeiro de 2013, acompanhei o dia a dia do Grupamento de Mergulhadores de Combate da Marinha do Brasil (GRUMEC). Motivado a conhecer a carreira do oficial MEC, escolhi o GRUMEC como “estágio de verão” (programa de viagens realizado nas férias visando dar aos aspirantes o conhecimento amplo da Marinha e de seus meios, bem como uma familiarização com o trabalho a bordo dos meios da esquadra) da escola Naval.
Apresentei-me pela manhã do dia 8 de janeiro (terça-feira) e fui conduzido para a Praça D’armas do Grupamento, onde fui apresentado aos oficiais de bordo que mostraram a clara intenção de esclarecer minhas dúvidas e me motivar na carreira de MEC. Eu pude observar grande vibração e entusiasmo por parte de todos os militares com quem tive contato durante meus quatro dias de estágio, quer sejam oficiais ou praças.
Naquela mesma manhã fui apresentado ao Comandante da Força de Submarinos (Comfors), excelentíssimo Senhor CA Glauco Castilho Dall’Antonia, que, percebendo meu entusiasmo por ali estar, sugeriu que fossem realizadas atividades diretamente relacionadas com o mergulho de combate junto às equipes operativas do GRUMEC, sem perder de vista a segurança. Missão dada é
missão cumprida: na mesma tarde daquela terça-feira treinei minha “aquacidade” (termo utilizado entre os MEC referente à habilidade de realizar trabalhos na água) mergulhando com equipamentos de mergulho autônomo de circuito aberto, familiarizando-me com o mesmo.
Na quarta-feira, após o Treinamento Físico Militar (TFM), tive a oportunidade ímpar de embarcar na famosa
ser um membro das operações especiais. Não se tratava de uma ação real, porém, os MECS encaravam a situação como se fosse de verdade, empregando equipamentos e armamentos especiais, com direito a realizar a escalada do costado do navio carregado de equipamentos através de uma escada de abordagem. Exigentes consigo mesmos e dedicados, os MECS não toleram erros e trabalham duro em equipe para alcançar esse nível de excelência.
Na quinta-feira tive instrução e prática de tiro com armas de emprego dos mergulhadores de combate, tais como pistola 9 mm e fuzil M4 - confesso que em meus 5 anos de Marinha não atirei tanto quanto naquele dia. Durante o treinamento, pude perceber que, para realizar um resgate ou uma operação de assalto com sucesso, teria que praticar inúmeras vezes
‘’HURRICANE’’ - a lancha de abordagem rápida utilizada pelos mergulhadores de combate em retomadas de navios e plataformas - e assim ‘’voei’’ pela Baía de Guanabara. Na tarde da quarta-feira acompanhei o Grupo Especial de Retomada e Resgate (GERRMEC) em um treinamento de ação contra terrorista simulando o sequestro de um navio. Nesta atividade pude constatar que a frase “Treinamento com repetição até a exaustão, leva a perfeição” deve ser o lema de quem almeja
mais. Além do peso do armamento, do colete balístico e dos equipamentos, a adrenalina de saber que os disparos têm que ser rápidos e certeiros torna esse tipo de atividade extremamente exigente.
Quando um mergulhador emprega o seu armamento, errar não é uma opção e a rapidez de efetuar um disparo é um requisito necessário de modo a garantir a vida de um refém e dos demais membros da equipe. Depois desse dia eu pude perceber que, somente meus treinos no Playstation 3 no camarote com meus
colegas MEC em adestramento de turma não iriam adiantar. Imagino que tudo isso se complique ainda mais quando os MECS atuam partindo após uma longa natação submersa, extenuante aproximação com a “Hurricane”, salta de para quedas ou qualquer uma das formas “especiais” de infiltração.
Sexta-feira, último dia da minha empolgante estada, teve instrução e prática de defesa pessoal na qual o comandante do GRUMEC, CMG ÍTALO, estava presente, lutando conosco. É satisfatório e motivante ver um militar no posto avançado da carreira ainda ter condições de ir para um combate ou operação da mesma forma que um tenente recém formado. Tive a oportunidade de assistir e executar algumas técnicas que não são ensinadas em
academias convencionais que a atividade de operações especiais exige um preparo físico, emocional e moral elevado. Ao final da instrução retornamos ao GRUMEC onde participei de uma confraternização com todos os membros do Grupamento. Durante a confraternização percebi que não havia só elementos MEC, mas militares exercendo funções administrativas essenciais para o cumprimento das missões como o gerenciamento dos materiais utilizados, a parte logística, manutenção de botes e motores, motoristas das viaturas utilizadas durante as operações. Foi importante observar isto e saber que os mesmos são valorizados entre os MEC, pois tive a noção de que o sucesso de uma operação depende não só dos elementos das equipes, mas da dedicação
dos outros militares que exercem as funções que não são vistas nas fotos dos “fast-rope” (método de infiltração por meio de aeronave de asa rotativa em que é lançado um cabo preso a aeronave e os elementos descem da mesma por este cabo).
Assim terminou meu estágio em uma das Organizações Militares de maior prestígio no meio naval, que apesar de possuir um efetivo reduzido, se faz presente nas mais diversas áreas do meio operativo. A semana do dia 8 ficará em minha memória, mas se a sorte estiver ao meu lado um dia terei a honra de fazer parte desse grupo de guerreiros dispostos a lutar pelo Brasil a qualquer hora, em qualquer lugar. São os Mergulhadores de Combate da Marinha do Brasil.