Merguladores de Combate treinam na áfrica do Sul
Capitão-Tenente Felipe Fonseca Mesquita SprangerINTRODUÇÃO
Em outubro de 2012, uma Equipe de mergulhadores de combate (EqMec) teve a oportunidade de participar das comissões Atlasur IX e Ibsamar III, a fim de manter o aprestamento dos meios envolvidos e a interoperabilidade dos países participantes, permanecendo durante vinte e sete dias no 4° Regimento de Forças Especiais da África do Sul, localizado em Donkergat, na península de West Coast, na cidade de Langebaan, África do Sul.
U NIDADES PARTICIPANTES
Além da EqMec, participaram desta comissão as seguintes unidades: uma equipe do 4° regimento de Forças especiais da África do Sul, que foi criado em 1978 e é especializado em operações marítimas e possui experiência de combates anteriores em Moçambique, Angola e Namíbia, através de operações de sabotagem e reconhecimento; uma equipe de operações especiais do Uruguai, a Seção de
Reconhecimento (SECRON) dos Fuzileiros Navais (FUSNA), com experiência em missões de paz da ONU no Haiti, Congo, Camboja e Chipre; e duas equipes de operações especiais da Marinha da Índia, os Marines Comandos (MARCOS), com experiência em operações de combate à pirataria na região do Oceano Índico e no Golfo de Aden e no combate ao terrorismo internacional, decorrentes dos ataques terroristas à cidade de Mumbai, em novembro de 2008.
TROCANDO EXPERIêNCIAS E CONHECIMENTOS
Desde o primeiro dia em que chegamos à África do Sul, fomos muito bem recebidos pelos sul-africanos. Começávamos a fazer as primeiras das muitas amizades que fizemos no período do exercício. Cabe aqui um parêntesis de que os operações especiais se entrosam facilmente uns com os outros, não importando a nacionalidade, a idade ou a patente. Não sei se ocorre o mesmo com as outras atividades, mas quem é um operações especiais sabe bem do que estou falando.
Durante este período, as equipes da África do
Sul, Brasil, Índia e Uruguai realizaram diversos tipos de treinamentos, onde todas elas procuraram mostrar seus procedimentos, métodos e equipamentos utilizados em determinados exercícios específicos e missões.
Foram realizados exercícios de assalto, emboscada, reconhecimento, coleta de dados de inteligência, neutralização e destruição de instalações, resgate de pessoal, acompanhamento de alvos específicos, ataque mergulhado, ações antipirataria, tiro, tiro de precisão, combate em ambiente confinado, abordagem de navio em movimento, “fast rope”, demolição, lançamento de paraquedista em terra e na água, sendo realizados lançamentos semiautomático (gancho) e lançamento por comandamento (livre), diurno e noturno.
Foi seguido um programa de treinamento, elaborado pelo comando do 4° Regimento de Forças Especiais da África do Sul, em que as equipes eram mescladas e cumpriam determinadas missões. No início foram realizados exercícios mais básicos, de menor complexidade, e com o passar dos dias, conforme as equipes ficavam mais entrosadas, o grau de complexidade das missões aumentava, e, em paralelo a isso, aumentava também o respeito dos estrangeiros com a EqMec.
O dia em que isso ficou mais evidente foi quando recebemos a missão de realizar um ataque mergulhado ao
porto de Saldanha, onde havia embarcações atracadas engajadas em pirataria. Foram formadas duas duplas de mergulho: uma formada por mim e meu dupla MEC e outra formada por dois mergulhadores de combate sul- africanos. Cada dupla faria seu próprio planejamento e atacaria um alvo cada.
Fomos lançados na água praticamente no mesmo ponto, e a partir daí cada dupla traçou seu rumo até o alvo e foi para o fundo. Chegamos ao alvo e realizamos o ataque. Retraímos para o ponto de recolhimento e regressamos para a base. Mais uma missão completada. Durante o debriefing, meu dupla e eu
fomos perguntados a respeito dos nossos procedimentos e do nosso planejamento. Ficou claro para nós que os nossos anfitriões estavam surpresos com o nosso desempenho na água em relação à dupla sulafricana. A cada exercício, eles olhavam para nós com outros olhos, elogiando cada vez mais a nossa postura.
C ONCLUSÃO
Esta foi uma excelente oportunidade de operar na costa oeste da África, em uma área geográfica com características específicas em relação às condições meteorológicas, do terreno e com águas a baixas temperaturas, diferentes das encontradas no Brasil. Um aspecto importante foi a possibilidade realizar as três fases das operações especiais (planejamento, ensaio e execução), onde eram considerados as características e os métodos de cada país.
Além de contribuir para estreitar os laços com as nações
participantes e aumentar a interoperabilidade entre os grupos de operações especiais, foi a primeira vez que uma EqMec operou com equipes de operações especiais da África do sul e da Índia. Este período serviu para elevar o nome do GRUMEC, da Força de Submarinos e da Marinha do Brasil, demonstrando o nosso elevado grau de profissionalismo, entusiasmo e abnegação. Este fato foi comentado e enaltecido pelos militares das nações participantes e despertou o interesse daquelas unidades em conhecerem e operarem no Brasil em uma futura oportunidade.