Capitão-de-Fragata (RM2) Theotonio Toscano de Brito Neste ano de 2008, o Curso Expedito de Desativação de Explosivos foi guindado à categoria de curso especial. Talvez agora seja a ocasião de fazer uma breve apresentação para Submarinistas e Mergulhadores do que seja a atividade e o estado em que se encontra na atualidade. Iniciado em 1999 com estrutura de curso expedito, teve duração de quatro semanas, com ênfase na parte terrestre dos processos de desativação e alunos exclusivamente mergulhadores.O ano de 2000 transcorreu sem o curso, reiniciado em 2001 com duração de oito semanas e abrangendo tanto a desativação em terra, como a subaquática. Em seguida, o curso passou a contar com elementos do 88
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CFN, específicamente do Batalhão de Engenharia, e, mais tarde, com elementos do Batalhão Tonelero. Na atualidade, o Curso Especial de desativação de Explosivos divide-se em dois blocos, a saber, Alfa e Bravo, o primeiro com duração de seis semanas, destinado apenas à parte terrestre, e o segundo estendendo-se por mais três semanas para a parte subaquática. Ao pessoal do CFN cabe apenas o bloco Alfa. Os militares formados têm como destino o próprio CIAMA e o GRUMEC. No trato diário, são conhecidos como DAE e são tão pouco conhecidos que já ensejaram perguntas do tipo: “ Vocês são de algum destacamento aéreo embarcado?”
A atividade DAE teve sua origem na Segunda Guerra Mundial, mais precisamente na Inglaterra assolada por imensos bombardeios alemães. Um sem-número de voluntários encontrou a morte nos primórdios da atividade. Partindo de conhecimento zero, passaram a estudar as bombas inimigas, espoletas e minas terrestres e subaquáticas, desenvolvendo equipamentos muito simples que, ao longo do tempo, mesmo se modernizando, mantém as mesmas características nos dias de hoje. Os processos de desativação têm seu maior fundamento nas escolas européias, visto que a maioria dos enfrentamentos mundiais se deu naquela região do mundo.
Ataque de baixa ordem em munição 127mm
Basicamente passam por fases de identificação e análise de risco, sendo de suma importância a criação de um banco de dados nacional e internacional. A partir daí, passa-se às formas de atuação, bem diferentes das que costumamos ver pela televisão nas ações de um sem número de esquadrões antibomba. Em tempos de paz, os enfrentamentos criminosos chegam, no máximo, a atuações contra granadas e artefatos de fabricação caseira. Nosso trabalho, além de incluir esses tipos de alvo, contempla munições, foguetes, minas e torpedos. O diferencial está na utilização das formas de atuação. Em breves palavras, trabalha-se com procedimentos de remoção de espoletas, procedimentos de baixa ordem na massa explosiva e procedimentos de alta ordem. Para procedimentos de remoção de espoletas contamos com ferramental mecânico e ferramental de carga explosiva para a separação. De modo a entender as duas formas de atuação seguintes, cabe uma pequena explicação sobre o
conceito de baixa ordem. Consiste em entregar quantidade de energia apenas suficiente para romper a carcaça do alvo e não permitir que tenha valor para induzir o modo detonação. O método de se entregar essa energia é através uma onda de choque produzida por uma pequena carga explosiva, usualmente da ordem de 18 a 25 gramas, colocada a distâncias padronizadas da munição. O gráfico teórico de uma detonação nos apresenta, também, uma região de vácuo logo após o pico de pressão, o que contribui para evitar a detonação da massa explosiva do alvo. Os procedimentos de alta ordem não são sofisticados, consistindo apenas em fazer detonar o alvo, desde que não haja possibilidade de danos colaterais severos a estruturas vizinhas e ao meio ambiente. Os ataques DAE contra granadas são executados com ferramental desespoletador, que consiste em lançar um bizel de aço contra o capacete das granadas, retirando-os. As atuações contra viaturas armadilhadas e objetos suspeitos são executados com cargas especiais de projeção líquida, que produzem um tiro
com baixa temperatura no alvo. As formas de atuação subaquáticas passam, primeiramente, por execução de buscas ou varreduras no fundo ou em obras vivas de navios, e, posteriormente, pela desativação de trem explosivo através anulação da espoleta ou utlização de cargas explosivas de baixa ordem.Os equipamentos são aqueles de circuito fechado e semifechado notadamente amagnéticos. Concluindo essa breve apresentação, vale observar a característica operativa da atividade DAE, de grande importância para as operações navais.
Ataque subaquático em munição de 105mm
O CF (RM-2) Toscano é instrutor de Explosivos e Desativação de Explosivos no CIAMA
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