Viva Saúde - Dr. Leôncio Queiroz Neto

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catarata pode afetar até o sono Mas não há razão para temer a doença: ela é de fácil diagnóstico, e tem diversos tratamentos seguros e definitivos disponíveis texto Leonardo Vinhas e Veridiana Mercatelli

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Causas e sintomas

“Quem acredita que a catarata é uma doença exclusiva de idosos está enganado”, avisa o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do hospital oftalmológico Instituto Penido Burnier. Segundo ele, a principal diferença entre as faixas etárias está relacionada à causa. Queiroz Neto explica que a catarata senil é decorrente do envelhecimento natural do sistema ocular, que enrijece e opacifica, de modo que a tendência é que a doença tenha alta incidência na população de idade mais avançada (veja o quadro ao lado). Já a catarata juvenil pode ser hereditária (quando há histórico de casos na família) ou decorrente de uma lesão na região da cabeça.

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Armando Crema, cirurgião oftalmologista e doutor em Ciências pela Unifesp, diz que os sinais e sintomas são essencialmente os mesmos, independentemente do tipo de catarata. Os mais comuns, segundo ele, são visão embaçada ou opaca (“como se houvesse neblina nos olhos”), falta de foco, visão de cores desbotadas, aparecimento de um círculo (halo) em volta de luzes, dificuldade para enxergar à noite, sensibilidade à luz do sol e a outras luzes, visão duplicada ou imagens múltiplas em um olho (“mais comum no início da doença”), necessidade de aumentar a luz para ler e ainda troca frequente de óculos ou lentes de contato com graus cada vez maiores ou menores. É raro que a catarata seja assintomática. “Geralmente, o paciente apresenta alguma alteração já no início da doença. De qualquer forma, as alterações mais significativas aparecem com o tempo, conforme o cristalino fica mais opaco”, diz Crema.

O cristalino é uma “lente natural” que fica atrás da íris e permite que os raios de luz cheguem à retina, formando ali a imagem que vemos. Quanto menos transparente ele for, menor a nitidez da visão

Olhos (mal) fechados

Um recente estudo multicêntrico (ou seja, realizado simultaneamente em mais de um centro de pesquisa) publicado por cientistas dinamarqueses na Ophthalmology, revista da Academia Americana de Oftalmologia,

Alerta para a idade Fonte: Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) / Consultoria: Leôncio Queiroz Neto, oftalmologista

nome é conhecido, mas a doença ainda é pouco compreendida. Para boa parte da população, a catarata é uma patologia oftalmológica que está associada ao envelhecimento e só pode ser tratada cirurgicamente. Mas a realidade é mais ampla – e, felizmente, menos alarmista: “Catarata é o nome dado para a redução da transparência ou perda da elasticidade do cristalino, que atrapalha a entrada de luz nos olhos e leva a diminuição da visão”, define Lísia Aoki, oftalmologista do Hospital das Clínicas (FMUSP). O cristalino é uma “lente natural” que fica atrás da íris, e é ele que permite que os raios de luz cheguem à retina, formando ali a imagem que vemos. Quanto menos transparente – ou quanto menos elástico –, menor a nitidez de nossa visão. Existem dois grandes tipos de catarata, classificados de acordo com os fatores que levam à sua existência: senil e congênita. A primeira é decorrente do envelhecimento natural do sistema ocular, que enrijece e opacifica o cristalino. Já a segunda, como indica o nome, é presente desde o nascimento e pode estar associada a doenças congênitas (toxoplasmose, rubéola), diabetes, trauma, uso de medicamentos (corticoides), substâncias tóxicas (nicotina), radiação (UV, raio X), doenças oculares (uveite, pseudoexfoliação), cirurgias intraoculares prévias (vitrectomia posterior, trabeculectomia) e desnutrição.

Quanto mais a idade avança, maior o risco de a catarata senil se instalar Incidência entre idosos 17% das pessoas entre 55 e 65 anos 47% das pessoas entre 65 e 75 anos 73% das pessoas com mais de 75 anos

Fatores que podem antecipar o desenvolvimento da catarata exposição dos olhos ao sol sem proteção obesidade traumas diabetes consumo excessivo de sal

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tratamento

Como acontece a cirurgia da catarata “O procedimento é seguro, rápido e eficaz”, garante Armando Crema, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) e da Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares (SBCII).

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Antes Quanto mais opaco está o cristalino, mais esbranquiçada a pupila se torna. Assim, enquanto ainda se veem áreas transparentes na pupila, os médicos dizem que a doença não atingiu seu ápice. Mesmo assim, a visão é prejudicada para o paciente. Ocorre a perda da nitidez (as imagens parecem estar cobertas por uma névoa), a leitura é afetada (tanto de perto como de longe) e as cores perdem vivacidade.

O procedimento cirúrgico

O paciente recebe anestesia local e, geralmente, é liberado no mesmo dia.

Durante o procedimento, uma pequena incisão é feita (1) para que o cristalino seja substituído (2) por uma lente artificial intraocular (3), que recupera a visão até em casos em que a doença levou a cegueira.

Antes e após a cirurgia, são prescritos colírios anti-inflamatórios e antibióticos para que a recuperação seja mais rápida.

A maioria dos pacientes percebe uma melhora pouco tempo após a cirurgia, mas sua visão pode continuar melhorando nos seis meses seguintes.

Depois Implantada a lente que substitui o cristalino, a pupila recupera sua transparência. O paciente sai da sala de cirurgia já com os olhos abertos, sem necessidade de curativos que obstruam a visão – geralmente, são receitados colírios para diminuir o desconforto pós-operatório. O prazo para melhora da visão é de até duas semanas, mas há casos em que ela apresenta melhorias significativas já no dia seguinte ao procedimento.


trouxe novidades sobre a relação entre a qualidade da nossa visão e a do nosso sono. O levantamento foi feito com cerca de 9 mil participantes com mais de 65 anos, todos com catarata, mas nenhum havia passado por tratamento cirúrgico ainda. Pouco mais da metade deles se queixava de insônia. “Nosso relógio biológico é controlado no período de 24 horas pela produção de hormônios, que sofre grande influência da luz e regula nosso estado de vigília e sono. Quando uma pessoa contrai catarata, a quantidade de luz azul que penetra nos olhos é menor. Esse comprimento de luz está associado ao estado de vigília. Quando recebemos pouca luz azul durante o dia, acontece uma diminuição da produção de melanopsina (pigmento que regula nosso relógio biológico) pelas células ganglionares da retina. Por isso essa doença interfere na nossa maneira de dormir”, explica Leôncio Queiroz Neto. O oftalmologista ressalta que, nos recém-nascidos, o sistema nervoso central e o sistema visual são pouco desenvolvidos – o que explica por que um bebê precisa dormir até 17 horas por dia. “Por isso, a catarata congênita não influi no sono tanto quanto os tipos juvenil ou senil”, diz. Existem ainda outras investigações sobre os impactos da catarata na qualidade de vida. Segundo relata Armando Crema, “há estudos contemporâneos que afirmam que a baixa visão pode aumentar a probabilidade da ocorrência de quedas, traumas e fraturas ósseas decorrentes de acidentes”. E Queiroz Neto cita pesquisas que propõem que, conforme a catarata progride, há uma influência no estado emocional – alguns estudos comprovam a relação entre catarata e depressão.

Recuperar a visão

“Cataratas na fase inicial podem ser tratadas somente com uso de óculos com lentes que protejam contra radiação ultravioleta”, diz Lisia Aoki. “A cirurgia é indicada quando a doença diminui a capacidade de enxergar e os óculos não corrigem mais adequadamente a queda da visão.” Lísia ressalta que, no caso da catarata congênita, o tratamento tem algumas particularidades. “Nas crianças, www.revistavivasaude.com.br

devemos atentar ao risco da ambliopia, que é a ‘cegueira’ por não desenvolvimento neurológico da visão. Os casos de catarata congênita unilateral têm maior risco de evoluir para esse problema, de forma que a cirurgia é indicada mais precocemente, com técnicas e lentes que podem ser diferentes em relação ao que é adotado nos adultos”, aponta. Seja como for, a intervenção cirúrgica é a forma de tratamento mais comum e a mais eficaz (confira o quadro ao lado). “A boa notícia é que o procedimento é seguro, e as novas lentes intraoculares que são implantadas para substituir o cristalino permitem eliminar o uso de óculos, mesmo para portadores de astigmatismo”, exalta Queiroz Neto. Além da ampla melhora na qualidade da visão, ele destaca que “o sono também ganha mais qualidade, porque o ciclo biológico se reequilibra com a maior penetração de luz nos olhos. Vale ressaltar que a luz influi no estado psicológico e diminui a depressão entre idosos”.

Levantamento feito com cerca de 9 mil pessoas com mais de 65 anos, todos com catarata, mas nenhum com histórico de tratamento cirúrgico, mostrou que pouco mais da metade deles se queixava de insônia

a verdade sobre a doença Pode chamar de boato, crença popular ou fake news: independentemente do nome, existem muitas suposições falsas sobre a catarata. A oftalmologista do Hospital das Clínicas de São Paulo Lisia Aoki esclarece as principais: Existem colírios “milagrosos” que substituem as cirurgias

“Não existem colírios que diminuam ou evitem a progressão da catarata. Alguns estudos experimentais estão em desenvolvimento para uso de medicações para adiar ou evitar a cirurgia, mas ainda não há tratamento com colírios que tenha evidência científica.” Catarata inevitavelmente leva a cegueira

“A catarata pode levar a cegueira, mas, se o paciente só tiver essa doença, a cegueira é reversível. Feita a cirurgia, se não houver outros problemas oculares, a visão retorna ao normal.” A cirurgia envolve alto risco

“Qualquer cirurgia tem risco, e a de catarata não é exceção. Mas o risco de perder a visão é bem pequeno, menor que 1% na maior parte dos serviços de cirurgia. O percentual só aumenta em casos de diabetes descompensada e doenças com imunossupressão.”

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