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Ilustração: Victor Zalma
Desenhos Molho 4 Maya Hayuk 66
Teste Sua caixinha de música: Wander Wildner 10
Entrevistas Lulina 12 Sally Shapiro 17 Flu 18 Hot Chip 19 Bunny Rabbit 20 Daniel Johnston 22 Grizzly Bear 24 Mellotrons 26 Vijay Iyer 28 Erasto Vasconcelos 30 Electrelane 36 My Cat Is An Alien 38 Bonde do Rolê 39 Girl Talk 42
Resenhas PELVs 48 Bryan Ferry, Joanna Newsom 50 Menomena, The Stooges, Vamoz!,Yoko Ono Compactos de Vinil 62 Ao Vivo 64
Mais Editorial Invasão Sueca Diário de Turnê: Fossil Gogol Bordello Javiera Mena Top 20: Alexandre Kassin Selo: Morr Music
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Sem TĂtulo (2007)
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Editorial do Coquetel Molotov 15 de março, 23h, Ramones ligado, precisamos terminar este editorial. E o chato é que olhamos para um lado e vemos o novo CD/DVD do Gang Gang Dance, God´s Money, olhamos para o outro e está o material do disco Veneer, do José González, pronto para ser lançado, e, ainda, acabamos de receber de Gilberto Custódio a resenha do novo disco do Butcher´s Orquestra e não tem mais espaço. As coisas estão assim. A cada minuto, novidades, e tentamos passar um pouco do que achamos importante nesses últimos meses. Esta edição foi feita com muito carinho e está linda! A mooz, mais uma vez, entregou seu coração para os projetos do Coquetel. Nas páginas a seguir vocês encontram pedaços de sonhos levados por muita música. Afinal, apenas por amor a ela e às pessoas em torno dela que isso tudo faz sentido. Como tudo do Coquetel, esta revista só existe graças aos esforços de nossos colaboradores, artistas, leitores e apoiadores. Pessoas que contribuem com muito mais do que textos e arte. E com esta revista, nos despedimos de Viviane Menezes, que deixou o Coquetel Molotov e passa a se dedicar a outros projetos. Vivi se despede com uma colaboração na matéria de capa de Erasto Vasconcelos. Deixa muitas saudades.
Editorial da mooz Revista Coquetel Molotov N°2. Dá vontade de ficar repetindo pra cair a ficha. Agora é real. Depois de mais de um ano, aí está. Não foi fácil chegar aqui, mas esta revista tem gostinho de vitória, superação e, acima de tudo, de uma grande evolução. Vê-la impressa é como receber um certificado de que, aos trancos e barrancos, estamos seguindo a trilha certa. Desde que começamos a mooz, há exatos 2 anos, tudo que queríamos era fazer design voltado para a indústria cultural, e de cara tivemos a oportunidade de trabalhar com o Coquetel Molotov. Mesmo assim pensamos em desistir um bocado de vezes. Sério, às vezes parece impossível! Mas quem se entrega de coração a um projeto de vida, não cai fácil. É por isso que estamos aí. É por isso que o Coquetel está aí. E é por isso que a revista está de volta, e em cores. A revista agora é colorida de cabo a rabo! Esperamos que tenham uma experiência agradável ao ler e ver cada página, e que esperem ansiosos (mas não por muito tempo) pela terceira edição. Boa leitura!
* Esta revista é dedicada a João Nunes da Silva (1917 - 2007)
EXPEDIENTE Editora: Ana Garcia (aninha@coquetelmolotov.com.br) Projeto Gráfico: mooz (www.mooz.com.br) Editor de arte e fotografia: mooz Co-Editor: Jarmeson de Lima (jarmeson@coquetelmolotov.com.br) Resenhas: Tathianna Nunes (tathi@coquetelmolotov.com.br) Ao Vivo: Coquetel Molotov Revisor: Filipe Luna (filipeluna@gmail.com) e Roberta Holder (betinhaholder@yahoo.com.br)
Leonardo Faria (stereoleo@gmail.com) Marcos Maia (coletivosupernova@yahoo.com.br) Patrícia Arvelos (www.patriciaarvelos.com) Tammy Karlsson (detammy@yahoo.se) Tuca Siqueira (tucasiqueira@uol.com.br) Sanja Gjenero (www.sxc.hu/profile/lusi)
Ilustradores: Allan Sieber (www.uol.com.br/allansieber) Daniel Johnston (www.hihowareyou.com) David Edmundson (platatop@hotmail.com) Diego Medina (www.diegomedina.com) Jornalista Responsável: Jarmeson de Lima Nascimento Eliane Testone (elianetestone@hotmail.com) DRT/PE 2970 Heto (maquinado.org) Produção: Coquetel Molotov Human Empire (www.humanempire.com) Julieta Pillar Japiassú (julietapillar@hotmail.com) Editor on-line: Jarmeson de Lima Luciana Lins (lulinaaa@yahoo.com.br) Marcelo Garcia (www.molho.tv) Colaboradores: Aldemi Souza, Alexandre Kassin, Aluízio Gomes Maya Hayuk (www.mayahayuk.com) Jr., Ana Lira, André “Balaio” Gomes, Anísio Curtina, Bóris Rti9 (www.rti9.com) Orellana, Bruno Dias, Bruno Nogueira, Cleyton Brito, Cristian Roberto Opalio (www.mycatisanalien.com) Araya, Dagoberto Donato, Daniela Arrais, Danilo Corci, DJ Thaís Beltrame (www.fotolog.com/thais_beltrame) Dolores, Eliane Testone, Endrigo Chiri, Fábio Trummer, Felipe Victor Zalma (zalma_eh_purosuingue@hotmail.com) Rodrigues, Filipe Luna, George Frizzo, Gilberto Custódio Jr., José Teles, Kiki Ferreira, Luiz Otávio Pereira, Marcelo Damaso, Fotografia de capa: Tuca Siqueira Márcio Custódio, Márcio Padrão, Rafael Crespo, Ramiro Ilustração de capa: mooz Zwetsch,Thais Coimbra, Thomas Morr, Viviane Menezes Fotógrafos: Anderson Brito (anderson.brito@see.go.gov.br) Eddie Edmundson (eddie1@speedmais.com.br) Elder Costa (eldermc@gmail.com) George Frizzo (www.fossilsoundtrack.com) Fernanda Chemale (www.wanderwildner.com.br) Felipe Gurgel (fgurgel@gmail.com)
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Impressão: CEPE Tiragem: 3.000 Exemplares Agradecimentos: CEPE, CHESF, Prefeitura do Recife, Rádio Universitária FM, Red Bull, Saraiva Mega Store, Swedish Institute, UK Pub, Virtuosi, Amplitude, Estereoclipe, Slag, Alf Olofsson, Bruno Ramos, Diana Gazatti, Diogo Nunes, Eduardo Pereira, Fred Lasmar, Gutie, João Z, Júlio Cavani, Lívio Meireles,
Pedro Mendes, Silvia Guimarães, Tiago Arantes, Viviane Menezes, Wendy McNeil, The Evens, Mellotrons, família, amantes, amigos, bandas, colaboradores e você Coquetel Molotov é: Ana Garcia, Jarmeson de Lima e Tathianna Nunes mooz é: Daniel Edmundson, Eduardo Rocha, Gustavo Gusmão e Marina Pontual Enviar material para: Coquetel Molotov Caixa Postal 6280 CEP: 52041-000 Recife-PE Site: www.coquetelmolotov.com.br Rádio: Todos os sábados das 11h às 12h na Universitária FM, 99.9 www.tvu.ufpe.br Esta revista utiliza a fonte Coquetel Molotov, exclusivamente desenvolvida pela mooz para os títulos das matérias
Todos os textos, fotos e ilustrações estão no CC sob a Licença Creative Attribution-NonCommercial-NoDerivs 2.0 Brazil Commons, exceto as fotos de divulgação http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/br/ A revista Coquetel Molotov tem o apoio da CEPE, CHESF e Prefeitura do Recife A REVISTA COQUETEL MOLOTOV É GRATUITA E NÃO PODE SER COMERCIALIZADA. LEIA E PASSE ADIANTE
Palavras: Coquetel Molotov Fotos: Tammy Karlsson e Tathianna Nunes Ilustração: mooz
Com a parceria mais que bem vinda do Swedish Institute, a Invasão Sueca já começou. O porta-voz é o Coquetel Molotov que passou a criar bons laços musicais com o país e trouxe em dezembro de 2006 três grupos de uma só vez. Jens Lekman, Hell on Wheels e El Perro del Mar foram os primeiros a vir da Escandinávia para conhecer o caloroso público brasileiro. A invasão começou em Curitiba, passou por São Paulo e Rio de Janeiro e ainda contou com a participação especial do norueguês Erlend Oye (Kings of Convenience e The Whitest Boy Alive). A Invasão Sueca continua neste ano e em abril ganha um site oficial com diversas novidades do mundo sueco. As bandas participantes da Invasão Sueca ainda terão o privilegio de terem discos lançados no Brasil, a exemplo do The Odd Church do Hell on Wheels. O lançamento do disco Veneer de José González, em maio, marca o início da Invasão Sueca neste ano, que ainda tem três turnês com artistas diferentes na manga! De agora em diante, qualquer invasão que venha da Suécia será sinônimo de boa música!
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preocupação era passar com toda a bagagem e a parafernália que usamos nos shows - guitarras, processadores de efeitos, baixo, peças de bateria – pelo check in sem pagar excesso. Sem chance. Cada rack de efeitos, as conhecidas pedaleiras, pesavam o suficiente para nos preocuparmos. Os instrumentos iam na mão.
26.11, 12° Goiânia Noise Festival Goiânia/GO.
Palavras: George Frizzo Fotos: Anderson Brito, Elder Costa, George Frizzo, Felipe Gurgel e Marcos Maia Ilustração: mooz
A versão oficial dizia que seria uma mini tour de divulgação do disco Desconforto (Peligro/Open Field), primeiro CD do Fossil. Rock instrumental experimental climático, vindo do Nordeste do país. Os números apontavam para 11 shows, cinco músicas por show, em média, quatro cidades e 20 dias de viagem. A versão não divulgada era mais cruel; horas intermináveis de espera.
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Longas distâncias percorridas a pé carregando instrumentos. Noites em claro a espera do metrô. E o pior; alimentação a base de pizza, macarrão instantâneo e salgados de padaria. Não há mais glamour nenhum no rock, muito menos na música instrumental. 24.11, A viagem - Fossil Tour 2006 começa. Quatro horas da manhã. Não há ânimo que sustente quem dormiu pouco. Nosso vôo para Goiânia sairia em uma hora e nossa
Chegamos a Goiânia, e no caminho do aeroporto para o hotel passamos por um Parque dos Dinossauros. Tudo indicava que estávamos na cidade certa. Mas foi só na última noite que fizemos o nosso primeiro show da tour. Era a noite mais pesada, com Ratos de Porão como atração principal. Entramos completamente na química do festival. O show foi explosivo, nos trazendo uma excelente resposta de público. O que veio como sorte para os outros shows da tour, afinal, foi do convite para o festival que surgiu a idéia dessa viagem.
30.11, Milo Garage - São Paulo/SP A primeira vez do Fossil na cidade cinza, e também a primeira vez no Milo Garage. A noite era de festa, da famosa Festa Peligro,
comandada por Guilherme Barrella. Na platéia, ilustres nos assistiam, e alguns amigos também estavam presentes. O show foi bem à vontade e nos sentimos tocando em casa. Um bom show, com direito a benção do próprio Milo. A festa seguiu com uma boa discotecagem e voltamos para casa só pela manhã.
o Ordinária Hit e o Eu Serei a Hiena em uma formação compacta (sem baixo e bateria, apenas duas guitarras). O público reduzido se mostrou bastante atento. Não pude deixar de provar o Yakisoba vegetariano super recomendado que é servido no restaurante ao lado. Aprovado.
01.12, Funhouse - São Paulo/SP
Campinas fica cerca de uma hora de São Paulo. O Bar do Zé é o point tradicional do rock campinense, onde quase todas as boas bandas da capital tocam. Não poderia ser diferente com a gente, mesmo só de passagem, fomos convidados pelo Fluid para fazer a visita. Acontece que não tínhamos onde ficar, então foi descer do ônibus, tocar, beber, subir no ônibus e voltar a São Paulo. E assim foi. O show refletiu o cansaço da banda, lento e melancólico, a ponto de alguém perguntar se nos inspirávamos no clima gelado do Nordeste. Era uma piada, a pessoa havia gostado do show.
09.12, Bar do Zé - Campinas/SP Foi unânime, um dos melhores shows que fizemos na tour. A Funhouse é uma das casas de shows mais tradicionais de São Paulo. A noite era de casa cheia, a produção foi muito atenciosa e retribuímos com um show energético. O público, bastante receptivo, pediu bis e foi prontamente atendido.
03.12, Germinal - São Paulo/SP O Germinal é um restaurante vegetariano, lugar curioso e totalmente atípico para shows desse gênero. As bandas que tocaram eram extremamente pesadas: Fossil (instrumental experimental), Vincebuz (stoner), Fuzzly (stoner) e Elma (metal). Nosso show foi curto, mas intenso, três músicas apenas. Primeiro show com o Elma, banda que nos acompanharia por mais uns três shows.
06.12, Clube Berlin - São Paulo/SP Noite chuvosa, como a maioria das outras noites. Já comentei que São Paulo é absurdamente grande? A cidade é tão grande que permite se fazer vários shows em um espaço pequeno de tempo, no nosso caso duas semanas. E sem tocar nos sábados e domingos, os dias tradicionais para shows. Nesse show tivemos problemas em uma das pedaleiras. Pane total na guitarra do Eric. Terminamos o show como um trio.
07.12, Clube Belfiori - São Paulo/SP Excelente clube. Ótimo clima para um show mais intimista. Eu particularmente curti muito o primeiro show do Cleberdantas, projeto de dois músicos do Hurtmold (uma de minhas bandas nacionais preferidas), que dividiam o palco com o Fossil e o Elma nesta noite. A casa definitivamente gostou de nós, surgindo o convite para um outro show, e nós que sem dúvida, gostamos da casa, aceitamos o convite.
08.12, Espaço Impróprio - São Paulo/SP Localizado pertinho da Augusta, rua onde ficam alguns bordéis e casas de shows importantes de SP. O Impróprio, faz jus ao nome, é pequeno e pra chegar no lugar do show (que é embaixo do bar) você desce uma escada muito sui generis. O show foi legal, tocaram com a gente
12.12, Clube Belfiori - São Paulo/SP O mais intimista de todos os shows que fizemos. O Fossil trabalha com o conceito de música aberta em seu som, dessa forma um show pode ser mais climático e intimista em quanto outro mais visceral e pesado, tocando simplesmente as mesmas músicas nos dois shows. Tivemos como convidados da noite os paulistas do Labirinto, climático som instrumental.
13.12, Black Jack - São Paulo/SP O contraponto do show anterior. O Black Jack é (era, pois fechou logo após esse show) tido como a casa do metal em São Paulo. Não por menos tocamos com Are You God?, Elma e Facada, todas de muito peso. Definitivamente foi o nosso show mais pesado e bizarro, mas totalmente de acordo com a noite.
16.12, Festival Algumas Pessoas Tentam Te Fuder - Rio de Janeiro/RJ Em um ônibus fretado pela produção do Festival seguimos de São Paulo ao Rio de Janeiro por seis horas. Fossil (CE), Mr. Spaceman (CE), Grenade (PR) e Motormama (SP). Fazia sol quando chegamos na Lapa. O Algumas Pessoas... se dividia em 2 casas, uma quase ao lado da outra, onde as bandas tocavam simultaneamente. O show foi bem dinâmico. Plugar os instrumentos e tocar de forma quase mecânica. A estrada pode fazer isso, deixar você mais amortecido com o impacto da ação “tocar ao vivo”, da freqüência dos shows. Tudo pode se tornar automático. Porém, com o Fossil cada show é diferente, e isso é excitante.
www.fossilsoundtrack.com
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Testado por: Jarmeson de Lima Fotos: mooz e Fernanda Chemale / Divulgação Ilustração: mooz
Acreditem ou não, Wander Wildner nunca foi punk. Sua vida é que foi assim. Sentimental e romântico por demais, ele faz essas baladas sangrentas que qualquer punk gostaria de expressar sem saber. Essa inspiração vem de longe (de fontes como Zé Ramalho, Ednardo e o Journey to the Center of the Earth, de Rick Wakeman) conforme pude notar ao ver os vinis que ele adquire nessas jornadas – que vez por outra viram turnês. Wander é quase um andarilho. De cidade em cidade ele finca sua bandeira e permanece até o show seguinte, tocando só ou acompanhado das bandas de seus amigos locais. É quase sempre assim que ele vem a Recife para tocar e passear um pouco. E foi numa dessas visitas que me encontrei com ele para testar seu ouvido musical. A cada música, foram sendo reveladas ótimas histórias e causos inacreditáveis desse punk-brega-rajneesh. Devo
Frank Jorge
“Satisfaction”
“Vida de Verdade”
É o Devo, não é?! Eu me lembro do clipe deles. Banda sensacional. Todo mundo no Replicantes era muito fã deles. Pelas idéias inventivas, pelos clipes maravilhosos. Por tudo ser uma brincadeira e não se levarem a sério. É fazer música e qualquer coisa por diversão. Afinal, a vida é para se divertir. Isso de que a vida tem que ser difícil é uma coisa católica. É uma pena que estão demorando muito a relançar esses discos do Devo. Pois é. O Devo era dos anos 80, daquela época em que a gente ouvia B-52s e essas coisas new-wave. Era muito bom! B-52s é uma dessas bandas que eu mais gosto. E do Devo eu lembro muito bem dos clipes porque o (Carlos) Gerbase tinha um hobby de gravá-los da televisão. Ele tinha uma produtora de vídeo e, quando estava em casa na hora em que passavam esses programas, ele gravava. Senão programava tudo e deixava gravando pra depois editar. Pouco antes de a gente ensaiar, o Gerbase sempre mostrava os últimos clipes que ele tinha gravado. Então posso dizer até que eu já era de uma geração de videoclipes.
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(Pausa) Ah, É o Frank! (Pausa) Pra você ver como é... Eu cheguei a notar um pouquinho de Los Hermanos no instrumental inicial (risos). E os arranjos de cordas aí são do Marcelo Camelo, não é? Muito engraçado, cara. É do disco solo mais recente dele, Vida de Verdade. Eu tenho que confessar que ainda não ouvi esse disco. Ouvi algumas coisas em show e nas rádios em Porto Alegre. O começo dessa música poderia ser qualquer coisa. Tem um tom de fanfarra e achava que poderia até ser um grupo regional daqui. Achei que tem uma orquestração bem ao estilo Pet Sounds. É. O Frank é um gênio! É impressionante o trabalho dele. É coisa de gênio. Engraçado que ele já tocou em carreira solo com baixo e teclado... Mas teve uma vez em que eu estava em Porto Alegre e assisti a um show dele no Ocidente e o vi tocando guitarra! E uma guitarra violenta, apertando distorção e solando! Caralho, que maravilha! Nunca tinha visto esse lado de guitarrista dele assim, tipo Elvis Costello. Ele é um puta músico e muito foda. Pena que o Frank não viaja. Não pode muito por causa da família e dos filhos. Mas eu sinto falta dele mostrar às pessoas porque a Graforréia foi uma das bandas mais importantes dali do Sul nos anos 80, ao lado do De Falla e Replicantes. Essas foram as bandas mais originais dali. E cada uma numa praia diferente, com características diferentes. Sinto falta do pessoal ouvir mais esse tipo de som. Gostaria que ele estivesse mais na estrada. Não só ele, mas muita gente também como o Júpiter Maçã que poderia estar fazendo mais shows.
Trashmen “Surfin’ Bird” Putz, “Surfin’ Bird”! Mas com quem seria?! Esse é o original? É sim, eu acho. É do Trashmen. Ah, Trashmen. Legal. Eu nunca tinha ouvido essa versão. Mas já ouvi Trashmen em coletâneas. Inclusive tem uma muito legal de músicas dessa época. Pena que não vou lembrar o nome agora. A música do Trashmen que está na coletânea é outra e não essa. Mas de que ano é essa música? Assim de cabeça eu não sei dizer o ano. Deve ser 60 e poucos mesmo. É bem toscão. E olha o jeito que ele canta. Tirando um sarro. Tirando sarro total. A voz é bem peculiar... É o rock, né! Isso é coisa que veio de Jerry Lee Lewis. Tá na essência do rock. Dia desses eu tava vendo um DVD com um filme sobre a vida de Jerry Lee Lewis e foi impressionante. Nem o conhecia direito, só de clipes e shows. Mas ele é realmente impressionante! O DVD tem todas as primeiras apresentações dele na TV. É genial! Tem essa brincadeira que é coisa do comecinho do rock mesmo.
The Playboys “Big Haule” Esse eu não conheço. Ainda não ouvi. (Pausa) Realmente não sei o que é. É o The Playboys. Ah é? Que legal. Você conhecia a galera da banda antes ou só a partir do Abril Pro Rock de 2005? Hum... Numa vez em que eu estive aqui eles me deram um disco. Depois, numa outra vez, eles me mandaram um pelo correio. E a terceira vez que os encontrei foi lá no Abril Pro Rock, onde me convidaram a tocar com eles no Palco 3. Eu achei muito legal a história e ainda o trabalho que eles fazem lá no manicômio. No lugar até tinha uma exposição de fotos desse trabalho. Eu achei a idéia muito bacana. Mas eu não conheço eles assim tão bem quanto conhecia
a galera do Paulo Francis Vai Pro Céu. Com o Paulo Francis eu já tinha trabalhado mais e o The Playboys estou conhecendo assim, em doses homeopáticas. Mas esse é um dos hits da banda. Tirando onda com o medo das pessoas por tubarão. Ah! (Pausa) Mas eu tenho medo de tubarão também. Eu até parei de entrar na praia de Boa Viagem. Eu estava num hotel por lá, mas saí. Tinha até passado um dia, mas, como também não pegava o canal 11 (TVU), eu saí [risos]. É que não adiantava ficar lá em Boa Viagem sem poder ir para a praia. Não faz sentido. É muito ruim isso. Noutro ano eu vim quatro vezes para cá e nem tomei banho de mar. Não dá pra você dar mole assim. Pegaram um tubarão dia desses na beira da praia. Imagina! Eu prefiro nem entrar. Mas é uma merda isso.
Olho Seco “Haver Futuro” Que tosqueira essa gravação! Nem dá pra entender nada da letra. Não dá nem pra ouvir a voz quase. É alguma banda local? É o Olho Seco. Putz! Que gravação tosca [risos]. O clássico do punk rock eram essas gravações toscas. Veja só como era. Ninguém sabia gravar essas coisas na época. Não se tinha essa noção e as bandas nem sabiam direito o que estavam fazendo. Nem sabiam tocar direito. Só sabiam fazer música. E os caras que iam gravar também não sabiam como fazer. Primeiro porque não entendiam a música. E se você não entende a música, não saca o jeito que os caras estão fazendo. Foi assim no primeiro LP do Replicantes. Aquelas guitarrinhas, aqueles riffs de guitarra abelha... Ninguém sabia como extrair esse som. Ninguém sabia como gravar aquilo. Os caras nunca tinham gravado algo assim. Tanto é que o som que tava no disco era o som que a gente tocava. Era aquilo mesmo. Era amplificador Gianini com distorcedor Gianini ligado numa caixa com três entradas: baixo, guitarra e voz. E de que jeito é que guitarra, baixo e voz saem numa mesma caixa? Horrível, né! A gente não sabia fazer música e aprendeu tocando mesmo. O Replicantes não sabia como era um esquema de gravação. Só sabíamos que havia distorcedor e que era com ele que se produzia esse barulho pra ficar diferente do que era o normal, a MPB.
A idéia da banda na época então qual era? Era fazer música. Era fazer uma banda pra tocar porque a música que rolava na época era muito ruim. Isso foi bem no começo, mas eu ainda não era da banda. Quando entrei, uns três meses depois, a banda já tinha umas sete músicas. A idéia era passar o tempo porque o verão em Porto Alegre é muito quente e não havia nada para fazer. Isso foi em 83/84 e a música que rolava nas rádios era muito ruim! O pessoal do Replicantes sabia que o Sex Pistols tinha começado a banda sem saber tocar. Isso foi o bastante pra eles comprarem baixo, guitarra, a bateria de um amigo e um amplificador para fazer umas sete músicas em dois meses. Quando eu entrei, tentei tocar guitarra e não consegui porque não sabia. E isso foi engraçado porque nessa época eu estava em turnê com o Alceu Valença em
“Eles já ouviam Dammned, Buzzcocks, Dead Kennedys, mas eu não conhecia isso. A única referência musical dos quatro do Replicantes que era igual foi o Camisa de Vênus” Wander Wildner Recife. Eu trabalhava na equipe de luz do Alceu e a gente estava por aqui. Liguei pra eles de Recife e uma amiga falou: “Os guris estão pensando em montar uma banda”. Quando cheguei em Salvador, uma semana depois, eu liguei pra ela de novo e ela disse: “Os guris já compraram os instrumentos e estão tocando!”. E aí eu falei brincando: “Legal! Quando terminar a turnê aqui eu volto e entro na banda!” (risos). Nessa época, em Salvador, tocava a cada meia hora no rádio uma música de uma banda chamada Camisa de Vênus. E eu ouvia e pensava: “O que é isso?!”. Eu nunca tinha ouvido punk rock antes. Eles já conheciam, mas eu não. Fiquei curioso e fui numa loja que tinha embaixo do hotel. Perguntei se tinha o K7 da banda e comprei pra ouvir no meu walkman. Ouvi aquilo até o final da turnê. Foi curioso porque eles também estavam ouvindo isso em Porto Alegre. Eles já ouviam Damned, Buzzcocks, Dead Kennedys, mas eu não conhecia isso. Então a única referência musical em comum dos quatro era o Camisa de Vênus. Eu ouvia um rock mais clássico. Quando eu tinha meus 19 anos, o Gerbase me gravou um disco do Rolling Stones.
Erasmo Carlos “Estou dez anos atrasado” É o Erasmo Carlos agora. O vocal nem começou ainda, mas eu sei que é. É demais isso. Eu conheci melhor a obra dele no ano passado quando o Carlinhos, do Bidê ou Balde, me mostrou. Eu fiquei louco. Fui depois lá na Baratos Afins e comprei o Erasmo Carlos e os Tremendões (risos). Comprei porque o Carlinhos tinha ficado de me gravar e esqueceu. Mas depois ele me copiou esse disco e mais o Carlos, Erasmo. Esse disco eu acho muito bom. Isso é incrível! Ele fazia isso na época de uma carreira paralela a do Roberto Carlos. É outra concepção de música. Eu coloco isso no nível de Simonal que está em outro patamar musical. Essa música, por exemplo, não tem refrão, cara. Ele só vai contando uma história. Só é uma pena que ninguém conhece isso direito. Todo mundo só conhece o Erasmo com o Roberto naquela época da Jovem Guarda. Os discos mais clássicos dele não se tornaram populares. Por isso estou voltando a ouvir tudo em vinil. Como aconteceu, por exemplo, no caso de Simonal. Todas as coisas que eu ouvi dele, uma vez ou outra, foram antigamente, no rádio, e já nem me lembrava mais. O (Carlos) Miranda é que me mostrou um dia desses aquele disco da coleção 2 em 1. Eu ouvi e pensei: “Nossa! Caramba, o que é isso, cara?!”. Mas agora eu não tenho mais comprado CD. Estou nessa vontade louca de ouvir tudo em vinil. Nisso eu acabei comprando um aparelho Philips portátil antigo, todo cinza. Lindo! E estou comprando agora coisas em vinil que ouvi e ouvia quando era menor. Tenho comprado por aí nessas viagens que faço. E o que tenho procurado ultimamente de mais raro são os três primeiros discos em vinil dos Novos Baianos, que é bem difícil de encontrar.
www.wanderwildner.com.br
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Palavras: Ana Garcia Fotos: Leonardo Faria e mooz Ilustrações: Julieta Pillar Japiassu, Lulina, mooz e Rti9
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“Eu fico tremendo”, começa Lulina. “Fico com vontade de sair correndo e preciso de no mínimo três cervejas para começar a cantar”. É, percebemos que você é dolorosamente tímida, quando você cobre o seu rosto com o seu cabelo e se esconde por trás da sua guitarra, quando você olha para baixo quando sorri e praticamente sussurra a música inteira no microfone. Queremos parar de olhar, mas não conseguimos. Você é a nossa nova esperança. Luciana Lins é a cantora, guitarrista e a mente por trás do que era o seu projeto solo Lulina. Depois de ter se mudado de Recife para São Paulo, Luciana adicionou alguns outros músicos – Leo no casiotone, metalofone e percussão; Bruno na bateria; Six no baixo; e Du (quando não está viajando pelo mundo com CSS) –, conhecidos como os Causadores, para os seus shows ao vivo. Criando uma mistura de letras infantis e apaixonantes, vocais lo-fi e violão, ela faz o que os próprios definem como “folk geográfico com arranjos futuro do pretérito”. Exatamente o que encontramos no último disco caseiro lançado pela Lulina, Sangue de ET (2005), o primeiro álbum que ela grava sozinha, no seu computador “Hermeto” (“um iBook albino”). Ela arriscou tocar sanfona, improvisar bateria com palitinho japonês em latas de cerveja, gaitas e teclados e Leo ajudou na mixagem e efeitos. Lulina está no momento gravando Cristalina, o seu primeiro disco de estúdio, na YB. Deve ser lançado ainda este ano pela Slag Records. Enquanto isso, ela continua com suas produções caseiras, gravando Aceitação do 14, um disco caseiro com letras mais diretas “sem tantas metáforas no formato de um sanduíche: duas músicas são só violão e voz, envolvendo um miolo de psicodelia e queijo prato, em 14 faixas dessa vez”. Os seus álbuns podem ser encontrados pela Peligro Discos. Quais são as mudanças que você sente quando sobe num palco? Eu fecho os olhos e imagino que estou cantando sozinha no meu quarto ou peço para os amigos ficarem na frente da platéia. Fico imaginando que estou só entre amigos e ninguém vai gritar: “Horrível! Sai daí, coisa ridícula!”. Musicalmente, as canções ao vivo ganharam muito com os arranjos dos Causadores e na hora do show existe uma energia maravilhosa entre nós. Houve uma mudança drástica na sonoridade depois de ter ido morar em São Paulo? Sim, o som mudou tanto nos discos gravados em casa, quanto na versão ao vivo com a banda. Antes eu gravava sozinha. Isso fazia com que as músicas ficassem básicas, apenas voz e violão. Quando vim para SP, fiquei muito amiga de Leo, que eu já conhecia de Recife, e ele me ajudou a gravar minhas coisinhas aqui, já que eu não tinha computador. No início, ele só ligava o programa e me deixava cantar e tocar sozinha. Aos poucos, fomos nos entrosando e criando coisas juntos. O álbum Abduzida (2003) é o primeiro resultado disso. Hoje em dia, eu gravo voz, guitarra e mais alguma
idéia de solo na casa de Leo e o deixo produzir o resto da música. Ele acrescenta o que ele sente que precisa nos arranjos. Um exemplo disso é o álbum de 2004, o Bolhas na Pleura, que é bem diferente dos anteriores porque eu deixei toda a produção nas mãos dele. A formação com banda foi outra grande surpresa. Em Recife eu tinha os Pnins, amigos e músicos excelentes que faziam mágica criando arranjos em véspera de shows (sim, quase sempre só sobrava tempo para a gente ensaiar um ou dois dias antes de algum show). Quando vim para SP, tive a sorte de conhecer o Dú. Ele ouviu os álbuns caseiros e gostou. Graças a ele montei uma banda aqui também, os Causadores. Montei um esquema que é o que eu sempre quis: a banda se adapta ao que a música precisa e não o contrário, que é o mais comum. Nosso esquema é mais solto: usamos guitarras, um casiotone, uma bateria, um baixo e um computador, mas, se uma música precisa só de um pandeiro e um metalofone, nós largamos tudo e mudamos de instrumentos. A mistura dos Causadores ficou muito boa e ainda temos muito a explorar na sonoridade. Estamos só começando. Você considera a sua música pop ingênua? Pop, no sentido de popular e fácil de pegar, eu considero sim. Muitas músicas têm melodias grudentas e são fáceis de tocar. Já ingênuo não acho tanto. Se for por causa dos temas, vou usar o mesmo argumento de Erasmo [de Rotterdan], quando escreveu Elogio da Loucura. Para justificar o fato de o livro ser aparentemente bobo, ele diz que não é o único a fazer isso: conta que Homero já escreveu A Guerra dos Ratos e das Rãs, Virgílio já fez um poema sobre mosquitos e Plutarco compôs um diálogo entre Ulisses e um grilo transformado em suíno. Ainda termina dizendo: “Se meus censores não se contentarem com essas razões, então imaginem que já joguei xadrez e brinquei de cavalinho de pau”. João Gilberto faz músicas com patos. João Donato tem uma música que eu acho genial chamada “A Rã”. Assim, eu também faço minhas musiquinhas sobre ETs, formigas, baratas, “bubararas”, “biriguis” e todo o universo da Lulilândia, que refletem o que eu sou mesmo, não tenho como fugir disso. Gosto de poesia e sou uma viciada em metáforas, uso isso nas músicas. E você sente que é punk rock? Com certeza tem o espírito faça-você-mesmo. Caramba, eu nunca sei o que eu sou. A melhor definição é a dos Causadores: folk geográfico com arranjos futuro do pretérito. Esse é o som. Ora distorcemos guitarras para inventar barulhos de naves alienígenas, ora fazemos valsinhas e arranjos singelos com metalofone. Depende do que a música pede. Não gosto de rótulos, todo mundo está o tempo todo tentando classificar as coisas, usando como parâmetro as suas próprias referências. Então eu sou qualquer coisa que qualquer um achar que eu sou, sem problemas. Só eu não sei dizer que som é esse, não tenho muito conhecimento musical pra classificar o que eu faço. Eu arriscaria dizer que são “musgas”. Só não me peça pra explicar o que é isso também. As suas músicas são sobre o quê? Sobre a minha vida, real e imaginária. Sobre as coisas que vejo no mundo e dentro da Lulilândia. Todo ano eu faço um álbum sobre o que eu vivi, juntando todas as músicas feitas no período. Começou em 2001 com o Acoustique de France, um disco onde invento que sou uma cantora famosa na França. No final de 2002, percebi que várias músicas minhas falavam de sono e sonho. Então fiz o disco
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“Em 2004, eu tive, logo no início do ano, um problema no pulmão. O médico diagnosticou ‘Bolhas na Pleura’ e na hora meus olhos brilharam” Lulina
Cochilândia, gravado numa madrugada sozinha, cantando baixinho para não acordar ninguém. Em 2003, eu fui para a Amazônia e depois para SP, de férias, só que acabei recebendo uma proposta de emprego e ficando por lá. Foi o ano do álbum Abduzida, que mistura a descoberta de “biriguis” e “bubararas” na Amazônia com os seres estranhos que me abduziram em São Paulo. Em 2004, eu tive logo no início do ano um problema no pulmão. O médico diagnosticou “Bolhas na Pleura” e na hora meus olhos brilharam. Bolhas na Pleura é o nome do disco de 2004. E, em 2005, a Lulilândia cada vez mais passou a ser uma cidade só de veraneio. Tive muitos problemas emocionais, e uma realidade menos fantasiosa e mais observadora começou a povoar as minhas canções. Daí surgiu o álbum Sangue de ET, nome de uma bebida que tomei numa festa e que eu inventei ser a salvação para lavar a alma das desgraças. Já 2006, foi o ano da Aceitação do 14, quando eu aceitei os problemas e saí do Lexotan à água de côco: depois de passar os piores bocados da minha vida, eu comecei a viver os momentos mais felizes dos meus últimos três anos. O 14 realmente me surpreendeu.
e já estava de saco cheio de tocar as mesmas músicas. Aí comecei a inventar as minhas, compondo baixinho no meu quarto. Com o tempo, passei a usar a música como válvula de escape: uma forma de conversar comigo mesma, já que eu não era muito de me abrir com os outros. Assim fui compondo por anos, sem mostrar para ninguém. Só aos 20 anos a minha família descobriu que eu sabia tocar violão. E só aos 22 tomei coragem e comecei a mostrar algumas composições aos amigos. Por que você decidiu começar a cantar? A guitarra e o canto vieram juntos? Eu não decidi, a coisa foi surgindo. Quando eu tinha uns oito anos, fiz uma bandinha com meu irmão e meu melhor amigo na época. A gente construiu os instrumentos (duas guitarras de madeira, que a gente mesmo pintou e colocou umas cordas de nylon, e uma bateria feita com latas de leite em pó). Isso foi o mais próximo que cheguei de querer um dia tocar e cantar. Quando comecei realmente a compor com o violão no meu quarto, foi mais pra desabafar mesmo. Não tinha a pretensão de mostrar pra ninguém as coisas que eu tocava ou cantava – porque me achava péssima tocando (aprendi sozinha, ainda hoje toco errado muitas notas) e achava minha voz fraca, tinha vergonha de tudo. Não achava que um dia ia tocar guitarra, montar uma banda e cantar minhas músicas por aí. Até hoje acho tudo isso muito nonsense.
Quando você começou a tocar violão? O que te impulsionou? Eu tinha uns 15 anos quando peguei um violão antigo que morava no meu guarda-roupa e resolvi tentar aprender algumas músicas, usando aquelas revistinhas com cifras de violão. Meu objetivo era aprender umas baladinhas para impressionar os meninos da rua. Achei que isso me ajudaria a conquistar o menino que eu gostava e funcionou. Só que eu tinha poucas revistas
Lembra da sua primeira música? Como era? Ainda tem a letra? Antes de aprender violão eu gostava de criar músicas no colégio. Inventava canções para facilitar a decoreba de alguns assuntos e acabava espalhando para os amigos. A música mais antiga que fiz foi para um trabalho da escola sobre comidas típicas. Eu tinha oito anos, a letra era assim: “O mungunzá da Lulu é gostoso pra chuchu / mungunzá feito com côco gaste pouco o seu tutu / meu mungunzá tem uma coisa que outros mil não têm / é gostoso, economiza e não dá diarréia em ninguém”. Depois que comecei a compor com violão no meu quarto, a música mais antiga que me lembro é uma com uma letra estranha, algo como: “A nossa casa está coberta de pele morta...”. Acho que estava estudando muita Biologia nessa época, lembro da professora falando que, quando a gente coça o braço, cai um monte de células mortas pela casa. Existiam artistas que te impressionavam na época? Você queria ser alguém? Até hoje me considero uma pessoa com poucas referências musicais. Quando comecei a compor, ainda na escola, escutava Nirvana, Ramones, Sepultura e o que os meninos me apresentavam. Quando entrei na faculdade, minha vida musical mudou. Foi quando conheci Belle and Sebastian, Velvet Underground, Beat Happening, Vaselines, Cat Power, PJ Harvey, Stereolab, Yo La Tengo e pirei. Descobri todo um universo musical novo com o qual eu me identificava completamente.
O que você sente que tem mudado desde então? O fato de conhecer novas músicas é algo inspirador, só que mais para as coisas que eu sinto, penso ou escrevo do que para o som que eu faço. A base das minhas composições continua a mesma: uso um violão ou uma guitarra e voz, e só depois é que penso se aquilo vai virar um indie rock ou um samba. A descoberta de sons novos é legal porque acrescenta experiências à sua vida, que é de onde você vai tirar as composições de verdade. Mas em termos de sonoridade, as minhas músicas têm mudado menos por influência do que eu escuto e mais por influência das pessoas que criam e tocam comigo, que trazem suas referências musicais e pessoais e acrescentam muito às músicas.
www.myspace.com/lulina
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Palavras: DJ Dolores Fotos: Divulgação Ilustração: rti9 e mooz
Perguntado qual seria seu disco de world music favorito, o auto-intitulado cigano punk, Eugene Ürtz respondeu na hora: “Fresh Fruits for Rotting Vegetables. No lugar de onde vim, Dead Kennedys é chamado de world music”. Nada mais coerente que a resposta desse ucraniano que cultivou sua cultura rock com toscos LPs piratas prensados em sobras de radiografia na era de chumbo do regime soviético. Atualmente radicado em NYC, Ürtz é o cara à frente do Gogol Bordello, grupo hardcore muito pouco ortodoxo desde o primeiro álbum, Voila Intruder (Rubric, 1999) até o mais recente Underdog World Strike (SideOneDummy, 2005), produzido por Steve Albini, uma porrada que mistura folk balcânico, reggaeton, bhangra e hardcore sem freios ou bom senso. Entre ambos, Multi Kontra Culti Vs. Irony (Rubric, 2002) e o EP East Infection (Rubric, 2005) apenas amadureceram o conceito adotado por Ürtz: “pense localmente, bote pra f* globalmente”. O carismático Eugene Ürtz é uma figura à parte no mundo performático do rock: espécie de Iggy Pop bigodudo e tão esguio quanto. Se atira ao público, sobe nas mesas e, frequentemente, faz a banda terminar os shows na rua, do lado de fora dos clubs, numa interminável jam session cigana. Sua disputadíssima noite como DJ – todas as terças, desde 1998 - no Bulgarian Bar, em Nova Iorque, é tão explosiva quanto suas canções e, reza a lenda, que na primeira vez terminou com metade das mesas quebradas. Temperamento ucraniano é fogo! Mesmo o nome da banda reflete um senso de humor muito especial: Gogol Bordello ou, traduzindo livremente, Puteiro do Gogol, é uma homenagem sarcástica ao escritor Nicolai Gogol (Almas Mortas, O Nariz), que morreu aos 43 anos de idade, louco e ... virgem. Com os camaradas do Balkan Beat Box - formado por judeus novaiorquinos – há o projeto J.U.F. (Jewish-Ukrainian Friendship) que toma o caminho do dub/dancehall com zero caloria de afetação em dois álbuns magníficos, sendo o mais recente, Balkan Reggaeton, em parceria com o MC Pedro Erazo, do Equador.
Se você acha que a música popular anda muito chata em suas variações mainstream – pop, rock, eletrônica – dê ouvidos a periferia do mundo! Esses caras têm uma fome cosmopolita que me faz lembrar o início da cena manguebeat - ainda sem o glamour e o bairrismo do presente - no Recife quando a música era a única janela para o resto do mundo como nos versos de “Madagaskar – Roumania (Tu Jésty Fáta)”: “Cus even in Madagascar / we’ll find some shack below radar / put two turntables and a film projector in that room / and punk rock ‘n’ roll most faithfully... / It will occure-cure-cure! ... cure cure cure!”
E se o assunto lhe interessou... Procure Gypsy Beats and Balkan Bangers (Atlantic Jaxx, 2006), compilação assinada por Felix B (Basement Jaxx) e Russ Jones (Future World Funk), uma boa introdução ao gênero. O Selo belga Crammed acaba de lançar Eletric Gypsyland 2 com remixes inéditos assinados por queridinhos como o Animal Collective e Nouvellle Vague enquanto o primeiro volume da série tem Señor Coconut, Arto Lindsay e este humilde DJ que vos escreve. Passou batido no Tim Festival, mas você pode – e deve – procurar os dois discos organizados por Shantel, DJ da incrível festa Bucovina Club, originalmente de Frankfurt e agora espalhada como vírus pelo mundo afora. Nesse caso, uma viagem da música mais tradicional – mas não menos vibrante – às máquinas contemporâneas.
www.myspace.com/gogolbordello
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Palavras: Cristian Araya Salamanca Ilustrações: Thais Beltrame
Depois de cinco anos de apresentações como Erasure ou Boney M. Para ela, não existia a ideologia negativa no circuito indie de Argentina e Chile, da música mainstream dos anos 80. Era apenas música. O mesmo no fim do ano passado, foi lançado com os compositores melódicos espanhóis dos anos 70, como Manuel Esquemas Juveniles (Quemasucabeza), Alejandro. Artistas que ainda esperam um par de gerações para serem o álbum de estréia de Javiera Mena considerados cool por algum improvável revival. – gerando uma onda rara de ódio/amor quase incondicional. Mas como é possível uma recémEm todo este tempo, Javiera Mena viveu o que alguns artistas não vivem chegada de 24 anos alcançar reações tão viscerais? em três vidas. Ela já se apresentou em palcos de punk rock e discotecas É necessário revisar sua história singular. electroclash. Chegou a ter um grupo de apoio com uma mini seção de cordas, para tocar só com dois teclados Casio à moda de alguma A primeira vez que ouvi falar em Javiera Mena foi em estrela teen dos anos 80. Desde que seu álbum foi lançado, ela tem dezembro de 2001. O lugar era uma grande sala de aula da sido a favorita da imprensa com a cabeça mais “aberta”. Não obstante, Universidade Católica do Chile, onde tinham mudado as muitas pessoas dizem que não gostam de Javiera Mena só porque cadeiras de lugar e se havia posto alguns microfones alguns dizem que ela é, de longe, o melhor da música chilena em no local onde fica o professor. Era um tipo de minimuito tempo. E muitos fundamentalistas do indie ficaram perturbados festival. Quatro bandas novas, gente bebendo cerveja quando os seus artigos vinham ao lado de Gepe (outro grande músico e som péssimo, como de praxe. De repente, ela pára chileno com menos de 25 anos e também baterista da Javiera) como as em frente ao microfone. Figura miúda, franja sobre o grandes promessas chilenas do Século XXI. olho esquerdo, violão acústico na mão. A gente se cala como se fosse um passe de mágica e Javiera começa Fui um dos poucos que pôde escutar antes Esquemas Juveniles. Um a cantar. Ao princípio, muito tímida e depois mais e trabalho que demorou mais de um ano para ser gravado, sob o mais segura de si mesma, até que, ao final, um estrondo atencioso ouvido do produtor Cristián Heyne (responsável por projetos cheio de admiração e surpresa termina sua primeira canção. de pop mainstream de impacto em toda a América Latina), e que Hoje, Javiera Mena continua uma luta com sua voz ao vivo - o grande argumento dos críticos para falarem mal dela. Dessa menina com o violão acústico só permaneceram algumas características. Como se essa imagem fosse apenas o contorno do que Javiera é hoje. Ela evoluiu vertiginosamente durante os anos e, nestes quatro últimos, passou por três fases muito diferentes. Desde sua etapa folclórica pop (e não folk pop) – que remetia diretamente à música tradicional chilena –, passou pelo tecnopop do início dos anos 80, para arrematar em sua atual etapa: onde a batida pop manda e que, sem arrependimentos, poderia remeter a The Carpenters. Pode parecer estranho quando se vê isso tudo escrito no papel, mas essas três etapas têm um denominador comum: o pop. Javiera se iniciou no mundo da música (em público, ao menos) quando estava terminando o segundo grau. Desde então foi conhecendo e deslumbrando-se com novos e velhos estilos de música pop, que, para ela, resultavam em uma grande novidade. É por isso que eu, que cresci com a ética indie dos anos 90, ficava com cara de espanto cada vez que Javiera me contava como lhe agradavam grupos
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tomou o tempo que tinha que tomar. Numa decisão arriscada, Javiera eliminou um álbum gravado em 2002, que dava conta de sua primeira fase (a etapa folclórica), por já não considerá-lo representativo de seu som atual. O tempo lhe deu a razão. Aquele álbum gravado num estúdio caseiro não tem muito a ver com o som pop de hoje. Nem a sua forma de cantar. Heyne deu às canções de Javiera uma atmosfera sonhadora, cheia de arranjos de cordas e uma calidez impossível de se conseguir num estúdio caseiro, além de lhe ensinar a cantar como é devido. Mas Javiera não é nenhuma mascote de produtor. Ela compôs e fez os arranjos de todas as músicas e, mais ainda, teve a decisão final sobre todas as canções. Algo raro, considerando a trajetória de Heyne. Voltando ao disco, as 10 músicas que estão incluídas nele têm um resultado comovente do princípio ao fim. Surpreendem porque não se espera um disco assim de uma pessoa de 24 anos. O lógico é que, nessa idade, a pessoa esteja ainda identificada com suas influências musicais ou estéticas e não que esteja cantando como uma femme fatale. O álbum também é a prova de fogo para todos aqueles que estão falando muito, no momento, sobre Javiera Mena sem saber quem ela realmente é.
www.javieramena.cl
Você é romântica como suas músicas sugerem? Sim! Você está apaixonada neste momento? Sim. Você poderia falar mais sobre o que está sentindo? Não sei explicar, mas é um sentimento muito bom. O que te faz feliz? E o que te deixa triste? Com certeza a minha péssima autoestima me deixa triste. Amor me deixa feliz. Você é feliz? Às vezes Sally é feliz, outras vezes não. Aos 10 anos, que cantora você queria ser? Acho que Lena Philipson. Ela fazia um som Swedish 80’s/schlagermusic, (seus recentes trabalhos estão bem distantes disso). Palavras: Tathianna Nunes | Foto: Frida Glingberg / Divulgação | Ilustração: mooz
Existe um mistério em torno de Sally Shapiro, a mais nova princesa do ítalo-disco. A moça não faz entrevistas por telefone, não gosta que desconhecidos tirem suas fotos, nunca gravou um clipe e nem se apresentou ao vivo. Além disso, pouco se sabe sobre a pessoa por trás da cantora. Segundo seu parceiro, o produtor e compositor Johan Agebjörn, Sally é muito tímida para relevar seu nome verdadeiro. Timidez que nos leva a questionar sua existência. Quando perguntei o que faz além de cantar, ela respondeu: “Como Sally Shapiro, sou apenas uma cantora. Em outros momentos, ando sob a luz da lua pensando nos meus casos de amor”. Não me admira a escolha de Sally de se guardar apenas para ela. Aqui, tanta restrição, beneficia a música que fala por si só: sensível e eloqüente por ela mesma. A inspiração vem da paixão de Sally e Johan pelo ítalo-disco dos anos 80. “Acho uma pena que
este estilo maravilhoso tenha sido esquecido em 1989. Parte do que é revivido hoje é apenas instrumental, o lado eletrônico do ítalo-disco, e tudo isso é bom, mas a possibilidade de fazer algo com vocais e mais pop é maravilhosa”, explica Sally. Tudo começou quando Johan soltou algumas mensagens no seu site anunciando o single de estréia: I’ll Be By Your Side (Diskokaine, 2006). Em seguida veio o elogiado (e com razão) Disco Romance (Diskokaine, 2007), álbum de estréia do projeto. Ambos de Gotemburgo, Suécia, Sally e Johan mostram coragem ao cantar amor nesses tempos de ceticismo e chamam atenção por evocar o ítalo-disco em um mundo que idolatra guitarras. Por esses, entre outros motivos, Sally desponta no universo da música pop como a mais nova diva nórdica.
O que você acha de trazer de volta o ítalodisco ao mundo da música pop que hoje é dominado por guitarras? Realmente, estou muito surpresa (positivamente) que pessoas que curtem indie pop também gostam da nossa música. Nós pensávamos que apenas os nerds da ítalo-disco iam curtir. Estávamos escutando muito pop e indie pop, mais até do que música eletrônica. Às vezes, fico cansada da total dominação das guitarras nesse gênero musical. É divertido saber que a nossa música se espalhou neste meio. Algum plano de tocar ao vivo? Por enquanto não existem planos. Sou muito tímida, mas talvez um dia. Tudo vai depender do que sentirei depois. Qual é a melhor e a pior coisa na música eletrônica atualmente? A pior coisa está em todo o bolo de música eletrônica sem melodias ou quando os temas são repetidos umas 100 vezes. Eu fico terrivelmente irritada e estressada quando escuto este tipo de música. A melhor coisa é que cada vez mais encontramos garotas fazendo música eletrônica. Qual a importância de Disco Romance na sua vida? Não é tão importante. Estar apaixonada é tão maior.
www.johanagebjorn.info
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Palavras: Jarmeson de Lima Ilustração: Allan Sieber
Ele é um dos músicos gaúchos mais intrigantes e irrequietos de que se tem notícia. Não é só porque ele era do De Falla, saiu da banda e resolveu fazer um trabalho solo autoral. Também não é apenas porque ele já compôs trilhas sonoras de diversos filmes e curtas metragens, alguns inclusive do peculiar desenhista Allan Sieber. Talvez porque ele tenha trabalhado com muita gente diferente e de diversos estilos, produzindo discos e fazendo remixes para: Nervoso, DJ Dolores, Grilowsky, Instituto e Totonho, para citar alguns. Com estilo ou sem estilo definido, procurando se deixar guiar pelas idéias em conjunto com os computadores, Flu, sozinho ou em grupo, quer fazer música e continuar com essa alegria. Como foi a gravação dos seus discos? Minhas primeiras gravações solo foram num esquema bem caseiro. Na época do primeiro disco E A Alegria Continua (Trama, 1999), eu tinha um pequeno estúdio caseiro em Porto Alegre. Era uma salinha com microfone e amplificador para guitarra. Agora estou num apartamento no Rio e quando preciso gravar guitarra e voz, eu combino com os amigos. Na época eu produzi muita coisa no estúdio do Marcelo Fróes, que tocou guitarra comigo por um bom tempo. Isso ajudou um pouco a alimentar a minha liberdade artística porque podia criar fora do meio do meu estúdio. Como é tocar e colocar em prática nos shows a música que você produziu praticamente em casa? Em Porto Alegre, já cheguei a tocar e ter uma banda com sete pessoas. Tinha duas guitarras, duas percussões, bateria, baixo, teclado... Com isso, já estava saindo da música que estava fazendo para chegar à praia do rock alternativo. Mas aí eu percebi algumas coisas: a primeira é que eu estava tocando numa banda muito grande e eu não sei dizer não para as pessoas. E, em vez de sair gente da banda, eu preferi sair. Eu fui embora de Porto Alegre e, quando cheguei ao Rio, quis fazer um som com uma banda mais enxuta. Então fiquei com a idéia de tocar com base eletrônica, guitarra e, quando possível, bateria. Um trio e um iPod, o que dispara as bases. Um iPod? Sim. O ideal seria um laptop, para fazer algo diferente com teclado. É algo que quero ter e seria importante porque aquela base no iPod já está gravada, não tem muito como dar uma variada naquilo. Ela funciona para dar aquelas texturas estranhas. Mas sempre tento animar isso. Chamo um guitarrista. Toco um violão meio esquisito. E com baterista faz uma sujeira maior. E o que você coloca no repertório dos shows? O show hoje em dia está com repertório de meus dois primeiros discos e mais algumas covers que ando tocando. Uma delas é “Frique Comigo”, dos Mutantes, mas que está no disco da Rita Lee, Hoje É o
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Primeiro Dia do Resto da Sua Vida. Também estou tocando aquela “Loving You”, da Minnie Ripperton. E ainda uma versão de “Não Me Mande Flores”, do De Falla, com uma base mais rock, mais pesadinha. Como foi sair do DeFalla e fazer um projeto mais eletrônico? No De Falla teve um disco onde a gente começou a flertar com o eletrônico. Foi o Kingzobullshit Backinfulleffect, de 92. Foi a partir dali que comecei a dar uma olhada e dar uma mexida nisso tudo. Mas foi naquele mesmo ano em que o De Falla tocou no Hollywood Rock. Com isso, em 93 e 94 foram muitos shows, um atrás do outro, sem parar, e não deu pra fazer muita coisa. Mas aí o Edu acabou indo morar em São Paulo e a banda ficou parada por um tempo. Nisso, eu e o Marcelo, guitarrista do De Falla na época, compramos um PC-486 com 270 Mb de HD e 8 Mb de RAM. Coisa bem básica para época, mas que ajudou a gente a começar a aprender e flertar com música eletrônica. Quais as diferenças de estilo entre seus discos? Cada um soa tão diferente. Esses discos têm aquelas mudanças totais e radicais que parecem construção de música de rock progressivo. Isso é uma característica minha desde que comecei a tocar com o Miranda nos anos 80. A gente sempre foi mais pro lado da pesquisa musical. O King Crimson era uma banda que a gente sempre admirou por isso e foi uma influência forte. Foi algo que ficou na minha carreira e na de todos nós ao tentar fazer umas maluqueiras, misturar guitarras e esses novos elementos. Mas, no final, como você define a sua música? No contexto de música eletrônica, rock e MPB, eu acho que sou mais como um artista experimental. Fico transitando entre os estilos, flertando com tudo e tentando descobrir minha personalidade musical. Eu estava tocando numa produção de áudio mais fechada, com trabalhos em publicidade e trilhas. Eu estava ficando perdido. Tinha dinheiro, pagava minhas contas, mas não estava feliz com meu trabalho e minha vida artística. Tive que dar uma fugida da cidade, ficar mal de grana de novo e começar minha vida do zero para tentar descobrir esses caminhos.
www.myspace.com/flufli
No Mix Palavras: Fábio Trummer, Eddie Ilustração: David Edmundson
Palavras: Ana Garcia e Filipe Luna | Fotos: Divulgação | Ilustração: mooz
Se você ainda não subiu no bonde do Hot Chip, apresse-se para não chegar atrasado. Impulsionados pelo monstruoso sucesso do cometa “Over and Over”, o quinteto britânico está bem próximo de chegar à estratosfera do planeta pop. O mantra, repetido tantas vezes quanto o macaquinho da propaganda da pilha – citado na própria canção – bateu os chimbais, ecoou por pistas de dança do mundo inteiro e colocou a banda de soul eletrônico com teclados Casio de hip hop crunk a um passo da breve eternidade no carrossel das paradas de sucesso. The Warning (DFA/Astralwerks), álbum de 2006, que trazia o sucesso acima referido é apenas o segundo disco da banda – o primeiro é Coming on Strong (Astralwerks), de 2005 – e um passo definitivo em direção de sonoridades mais populares. “São discos diferentes”, diz Joe Goddard, metade da dupla fundadora da banda, por e-mail. “The Warning é um pouco mais grandioso, mais forte, mais sério, mais maduro, mais confiante, mais extremo em termos de ritmo, sonoridade e emoção”. Joe fundou a banda junto com Alexis Taylor, nos idos de 2000 em Londres, e não se podia imaginar parceria melhor para a banda do que as qualidades dos dois. Na verdade, muito do que define o Hot Chip vem do contraste dos vocais dos dois. Enquanto Alexis canta em doses de falsetes, sem a afetação ou pretensa grandiosidade de outros cantores pop, Joe rebate num monocórdico canto quase falado. Uma canção como “Playboy”, de Coming on Strong, exibe bem a beleza da dualidade vocal da banda e exibe ainda o humor próximo do absurdo da dupla, numa óbvia tiração de onda com o gangsta rap. A melancolia de Alexis é intercalada pelo refrão: “Dirigindo o meu Peugeot / com rodas de 20 polegadas cromadas / Yo La Tengo estourando no som / de rolê com a capota abaixada”. Em vez de pick-ups Escalades, um Peugeot. Em vez de 50 Cent, Yo La Tengo. “Quando escrevi essa música quis virar do avesso todos clichês de hip hop: dirigindo um Peugeot (carro menos hip hop) e ouvindo Yo La Tengo (banda menos hip hop possível)”. Esse besteirol é sempre balanceado por uma dose sadia de seriedade, mas na medida, sem muito exagero, e isso é um dos encantos da banda inglesa. Ao mesmo tempo em que eles gostam de hip hop, têm uma ligação muito forte com a literatura inglesa – grande influência nas letras da banda. Fãs de autores como Raymond Carver, Charles Bukowski e Paul Auster, um deles, Alexis, chegou até a cursar literatura na faculdade. Hoje a banda aumentou, mas a essência ainda permanece porque, no fundo, as duas cabeças pensantes da banda ainda continuam no controle criativo. “A gente ainda compõe e grava do mesmo jeito de antes: eu e Alexis no meu estúdio/quarto”, explica Joe. “Depois ensinamos as músicas para a banda. Gostamos assim porque podemos fazer exatamente do jeito que queremos”. Entenda a banda por: Felix Martin, baterias eletrônicas; Al Do It, guitarra e sintetizador Roland; e Owen Clarke, guitarra e sintetizador Korg. Alexis toca o Fender Rhodes e teclado Casio, enquanto Joe cuida do baixo. A formação ao vivo promete, mas os brasileiros ficam apenas na imaginação por enquanto. Tentando adivinhar se eles já descobriram como Stevie Wonder vê as coisas, como diz a letra de “Keep Fallin’”. Enquanto isso, vá procurando o seu lugar no bonde. Logo logo ele enche...
Tenho escutado um grupo de funk/jazz africano, do Benin, chamado TP. Orquestre Poly Rithmo, de 1972/1980. Os caras fazem um som muito diverso que mistura influências do funk americano dos anos 70, música cubana, afro beat, dialetos e, às vezes, até um francês muito particular acompanhado de umas guitarras nervosas que mantém a tradição da sempre boa guitarra africana. Outro CD que guardo sempre comigo é uma coletânea de músicas dos Bálcãs, Gipsy beats & Balkan Bangers que trazem um mix de fanfarras tradicionais, remix de bons DJs, muita adrenalina, música para beber e sair dançando. Algumas delas são hits em qualquer pista, pode ser nas ruas de Olinda, no chuveiro ou passando o tempo no trânsito, ninguém fica parado. Por conta dos cem anos do frevo, estamos trabalhando muito neste terreno e, por isso, ando escutando muito este ritmo ultimamente. Os meus prediletos são os frevos baianos da década de 70 e 80 dos Novos Baianos, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa. Gosto muito do frevo tocado com baixo, guitarra e bateria. Recentemente, comprei ainda, uma caixa com uns CDs de Baden Powel, Violão Vadio. Nesta coletânea tem várias composições dele com outras pessoas cantando, acompanhadas ou não por ele. Acredito que deve ter três ou quatro décadas de diferença da data de gravação, um apanhado de sua produção, gravação de estudos, concertos solo com bandas geniais. O cara era foda! Outro som que tenho escutado muito, inclusive nas casas ou carros de amigos, é um jazz/arrastado que lembra trilhas de cinema, sons com imagem. Ethiopiques, acho que seja este o nome deles. O último trabalho do Mundo Livre S/A também me pegou de jeito. Fiquei feliz de ver o samba andando pra frente. Para mim, este trabalho dos caras de Candeias e Barra de Jangada é o que temos de mais moderno e sofisticado no samba. Muito massa! E é sempre bom ouvir o Bowie, Pixies, Stooges. Vi os Yeah Yeah Yeahs!!! E caiu a chapa, outro que vi e me encantou foi o Cidadão Instigado, isso!
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Palavras: Ana Garcia Foto: Divulgação Ilustração: mooz
BIANCA CASSADY vs MILITIA SHIMKOVITZ Uma conversa entre as donas do selo Voodoo-EROS Por: Ana Garcia | Ilustração: Divulgação
forest fire damned liar tired whore mommy praying to the moon wolf god pack of daughters just like your father lined up to the gun sun-tanned and sticky perm worms in the biscuit shake that shit yo ankle bracelets all sparkly shinning like feathers dainty little demons freebasing dreams on the dance floor moppin it up taste like muther fuck kill the cops so what
Recife, Pernambuco, e ela em Brooklyn, Nova Iorque. “Eu lembro que Black Cracker gritou comigo. Estava em um bar no Brooklyn, sozinha e sem inspiração. O seu brilho se tornou uma droga. Ela é completamente viciante”. Com uma voz doce e um sotaque bonito, Bunny conta um pouco da sua infância e que tudo na vida é uma influência, inclusive o que ela escutava fora do seu quarto. “Eu cresci escutando as sirenes nas ruas, crianças chorando, saltos das prostitutas batendo ao ritmo dos cocôs dos pombos batendo no concreto, sinos de igrejas e canções de natal”. Os seus ídolos? “Oprah Winfrey, Henry Darger, Tammy Fay Barker...”. Como chegaram na Voodoo-EROS? “Elas estavam correndo pelo bairro causando problemas. É, gostamos do seu estilo”.
Passamos alguns minutos falando sobre a cena de Nova Iorque. Ela conta que a família da Voodoo-Eros e as suas amigas do CocoRosie estão indo morar na França, vão se unir de vez com Spleen. Quando eu pedi para ela contar a história de Lovers and Crypts ela começa a rimar baixinho Melisa Rincon é Bunny Rabbit, projeto que no telefone: “Lugar para adorar os antigos nasceu no guarda-roupa do estúdio de Black líderes, amantes da adoração, líderes Cracker, alias Celena Glenn, uma obscura controlam o seu destino, Bunny é a nova produtora conhecida por poucos pelas suas adoração, Bunny é gangster, Bunny ama você, apresentações como a beatboxer do CocoRosie histórias sobre amantes e criptas (adoração pelo mundo. Junto com Black Cracker, hoje antiga), amor e adoração, criptas são lugares a sua parceria de trabalho e de vida, Bunny para imortalizar os líderes, criptas são uma Rabbit criou Lovers and Crypts, o primeiro ato gangue de amantes solitários, procurando do “Tall Tales of Bunny Rabbit”, um registro de poesias com batidas escuras e alucinógenas, amor, um sentido de permanecimento, o propósito da vida, Bunny ama você, não melodias doces e sedutoras com pitadas de hip temer a morte, não se sentir impotente, você é hop, punk e folk, lançado recentemente pela amado”. Voodoo-EROS, gravadora coordenada pela Bianca Cassady e Militia Shimkovitz.
www.myspace.com/loversandcrypts “Como tudo começou?”, Bunny Rabbit repete a minha pergunta numa noite qualquer em que conversamos pelo telefone. Eu em
Bianca: Qual é o seu nome? Militia: Militia Shimkovitz, aka Alamosa Bill, Melish. Bianca: Qual é o seu espírito animal? Militia: Eu pensei que era o grande búfalo branco, mas recentemente eu percebi que talvez seja um cachorro. Talvez um Chihuahua cego. Bianca: O que você faz? Militia: Eu faço pequenos desenhos e sopa de matzoball. Eu colo páginas para o site. Eu colo as mãos de amigas para elas ficarem bem. Bianca: O que os seus pais desejam que você estivesse fazendo? Militia: Pesquisa medicinal, esposa, mãe. Bianca: Carta livre. Militia: Eu tenho dois cactos em um pote ao lado da minha cama. Toda noite eu desejo bons sonhos para um e chamo o outro de idiota. Como um experimento. Essa manhã eu percebi que o cacto que eu tenho chamado de idiota é realmente maior e mais forte do que o outro. Isso me faz pensar que muitos organismos são guiados a prosperar apenas quando empurrados. Talvez nós todos precisemos de algo que se oponha a nós. Militia: Qual é o seu nome? Bianca: O meu nome é Red Bone Slim, o irmão gêmeo de Tea Cake. A minha mãe me chama de Loui e o meu amante me chama de Shug. Militia: Qual é a sua ocupação? Bianca: Eu canto músicas espirituais para uma geração de drogas, sou uma poeta viajante. Militia: Quais são algumas das características do The Eternal Children (próximo disco do CocoRosie)? Bianca: Unicórnios, transexuais, animais... Militia: Quem você mais admira? Bianca: James Baldwin e Billie Holiday. Militia: Qual é o seu maior arrependimento? Bianca: Teve uma vez que eu tentei pular sobre uma senhora que estava dormindo ao meu lado durante um vôo noturno. Eu não quis acordá-la, então eu tentei pular por cima dela, mas ao invés disso eu caí direto no seu colo, bem forte. Ela acordou horrorizada e olhou para mim com os olhos tristes e confusos. Ela não gritou comigo e nem chorou. Eu acho que ela já passou por tanta coisa na vida e isso era mais um incidente ruim. Foi tão triste. Eu queria me matar. Militia: Carta livre. Bianca: Ontem à noite tive um bonito sonho em que eu dava conselhos sobre como conseguir meninas para um menino no colegial. Eu disse para ele ser doce porque as garotas amam doçuras – e se elas não gostam é porque elas gostam de ser tratadas mal e então ele não deveria se importar com essas vagabundas. www.voodooeros.com
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Palavras: Ana Garcia e Tathianna Nunes Ilustrações: Daniel Johnston / Divulgação
Qual é a sua primeira memória musical? Natural de Austin, Texas (EUA), dono de Primeira memória musical? Como? Nossa! Não sei! Bem, eu nunca uma voz quase infantil, Daniel Johnston prestei atenção à música pop até o primeiro grau, quando o meu é um mito arredio. Sua música é irmão levava para casa uns álbuns maravilhosos. Muita coisa incrivelmente honesta, capaz tanto diferente e boa como Queen, Carpenters, Elton John e, claro, de sugerir momentos de desconforto Beatles. Eu escutava tudo o que meu irmão ou minha irmã quanto de diversão pura, e nasce de seu levavam para casa e amava tudo. isolamento do mundo. Os seus primeiros K7s eram gravados na casa dos seus pais no início dos anos 80 – apresentando um vocabulário Quando você começou a compor? próprio recheado de obsessões. No início dos anos 90, Daniel foi Lembro que eu desenhava e escrevia músicas e histórias. descoberto por outros artistas e teve algumas canções gravadas por Mas, no começo, não pensava em ser um compositor. Quando descobri que realmente queria isso – pelo bandas como Yo La Tengo e The Pastels. Mas ficou para Kurt Cobain o menos fazer música – estava no segundo grau e vi crédito de transformar Johnston em um novo herói cult, valendo-se de uma apresentação de uma banda de rock. Eu um gesto simples: deixou-se fotografar vestindo uma camiseta com o desenho do disco de Johnston Hi, How Are You (Homestead, 1983). A realmente enlouqueci, é isso que eu quero fazer! Quero fazer músicas como essas! Foi maravilhoso. partir desse momento, grupos como Sonic Youth, Butthole Surfers e Half Japanese já homenageavam o compositor. No final de Você está satisfeito com suas composições e álbuns? 2004, a coletânea Late Great Daniel Johnston: Discovered Covered Satisfeito? Eu não sei. Eu quero que as minhas músicas reuniu novos adeptos de suas canções. Em 18 faixas, Teenage sejam cada vez melhores. Eu quero que cada álbum seja Fanclub, Tom Waits, Beck, TV On The Radio e Flaming Lips, melhor que o último, mas isso não significa que eu estou entre outros, se desdobram em reinventar o mundo de satisfeito com eles. Uma música é o que ela é e as pessoas amor, dor e situações estranhas do músico. apreciam ou não. Se elas querem dizer se uma música
Daniel Johnston é sem sombra de dúvida uma das figuras mais influentes do chamado lo-fi. Produziu grandes discos, belíssimas canções e vários desenhos em meio a internações em clínicas psiquiátricas regadas a doses de medicação pesada. Daniel luta uma batalha diária contra uma doença mental crônica que o tem contaminado durante quase toda a sua vida. Esse “demônio”, como o próprio Daniel costuma chamar, é retratado no documentário sobre a sua vida: The Devil and Daniel Johnston, lançado em 2005 sob a direção de Jeff Feuerzeig. Conversamos com Daniel em 2004, época em que a sua saúde se encontrava mais estável, ele chegou a exclamar: “Eu não tenho depressão há anos. Finalmente conseguimos o remédio certo!”. Mas, nos últimos anos, o estado de saúde de Daniel tem se agravado e a sua família teme que o pior esteja próximo de acontecer.
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é boa ou não pelas qualidades ou erros, elas não estão realmente escutando a música. Eu canto por cantar porque é o que faço. Eu não sei... A música é uma pintura, ninguém pergunta a um artista se ele gostaria de pintar melhor. É o que é. É a expressão de um momento. Sim, eu quero ser melhor, mas você sabe, sou o que sou. Tenho a impressão que a base das suas músicas é a sua própria vida. Sim, eu tenho sorte neste sentido. Eu escrevo sobre a minha vida. Tudo que eu canto eu senti por experiência e este deveria ser o caminho para qualquer pessoa que esteja tentando escrever uma música. Cantar algo que viu, sente ou espera. Caso contrário, não é realmente uma música. Você tem idéia do efeito que sua música causa nas pessoas? Ela afeta você também? Sim, eu acho, mas não tenho certeza se entendo o efeito que causa nas pessoas ou não! Quando eu entregava as minhas fitas cassetes, bem no início, era porque queria
compartilhá-las e pensava que tinha algo nelas e queria que as pessoas escutassem isso. Algumas pessoas não entenderam. Sorte minha que muitas pessoas entenderam e assim as fitas começaram a se comunicar. Que artistas conseguiram passar alguma coisa pra você? Gosta de cantar alguma música de outros músicos? Bem, eu escuto muita música, mas eu não escuto rádio ou música pop. Eu não fico sabendo do que está acontecendo na cena pop mundial. Não é bom e não vale a pena. Eu escuto muitos álbuns antigos e estou comprando álbuns antigos o tempo todo. Às vezes, eu só escuto uma vez. Eu não faço muitos covers de artistas. De vez em quando, eu coloco umas linhas de uma música dos Beatles em um disco ou algo assim porque fica bem. Mas eu não procuro artistas para fazer um cover. O que você sente quando uma música é finalmente terminada? Bem, quando um álbum é acabado, a sensação é boa. Mas, quando uma música é terminada... Eu escrevo muitas músicas. Isso é o que eu realmente quero continuar fazendo agora. Eu fico animado em escrever músicas e eu tenho sorte suficiente de estar fazendo isso o tempo todo – a não ser quando estou desenhando. Mas quando uma é terminada eu quero é escrever outra! Se você pudesse mudar alguma coisa, o que seria? Eu não sei. Eu acho que gostaria de ser rico ou magro ou alguma coisa assim. Mas eu não sei se iria mexer com o destino. As coisas são da forma que são. Eu posso dizer que gostaria que tivesse sido melhor. Eu acho que gostaria que eu tivesse a energia criativa que eu tinha quando eu era mais jovem. A minha arte era melhor naquela época também. Eu gostaria de não ter problemas com depressão ou de não ter perdido tempo em instituições. Eu não desejo isso pra ninguém. Você consegue pensar em piores ou melhores momentos?
Os melhores momentos são provavelmente enquanto eles estão acontecendo. E você não consegue reviver isso ou ter algo melhor. Alguns dos meus grandes momentos foram algumas aparições na MTV em que eu me sentia bem na época. Trabalhar com ótimos músicos como Brian Beatty ou Mark Linkous foi muito excitante. Eu gravei na BBC de Londres, no estúdio onde grandes bandas já gravaram antes, e isso foi legal. Momentos ruins tiveram muitos também, mas isso é depressão crônica. Muitos altos e baixos. O que faz você triste? Não poder comprar histórias em quadrinhos
ou discos. Eu realmente gosto de colecionar HQ e estou sempre procurando por uma oportunidade para sair e comprar música e HQ. Eu moro em uma cidade pequena que não está perto de nada interessante. Então é difícil sair. O que deixa você com raiva? Eu não sei. Eu não sinto muita raiva. O que faz você sorrir? THE DEVIL AND DANIEL JOHNSTON Uma menina bonita. Uma pessoa com um Direção: Jeff Feuerzeig rosto doce que parece ter muita bondade dentro Palavras: Jarmeson de Lima de si. Só o seu sorriso ou a forma como ela anda Ainda hoje a música de Daniel Johnston incomoda, ou vira a sua cabeça. Eu gosto de uma menina causa estranheza e ainda assim encanta as bonita. Isso me fará escrever uma música. Country ou Blues? Oh, eu sou blues, com certeza. Eu não tenho nada contra música country, mas eu sou blues. Você nunca pensou em deixar a música para trabalhar apenas nos desenhos? Eu desenho muito, é a única forma que eu recebo um trocado. Eu uso hidrocor. As pessoas pedem acrílico, mas eu fico confortável em usar hidrocor. Eu desenho desde a alfabetização. Os meus pais sempre me mantiveram bem equipado com papéis e lápis para me ocupar e eu vivia os meus desenhos como eu vivia as minhas músicas. Eu vi que você tocou no Benicassim, na Espanha, há alguns anos. Você gosta de festivais? Oh, eles são OK. Eu me sinto muito sob pressão com um público muito grande, mas todo mundo é ótimo. Todo mundo tem sido ótimo em todos os lugares que fomos. Estávamos no Benicassim, mas também em outros nove shows na Europa um mês antes disso e tivemos alguns shows na Inglaterra e na Escócia. Eu não gosto de viagens de avião demoradas. Eu não gosto de esperar e viajar, eu fico sempre querendo chegar em casa para poder trabalhar nos meus projetos. Eu só quero ficar em casa e escrever músicas, mas as pessoas falam que eu preciso sair de casa e ser visto e eu acho que isso é verdade. A música é... A minha salvação. Como eu teria conseguido sobreviver alguns momentos se não pudesse cantar sobre o que estava acontecendo? Eu conheço muitas outras pessoas que falam a mesma coisa quando passam por momentos difíceis, então eu sei que existe algo nisso. A música é algo que eu tenho que fazer. É uma compulsão. É a minha vida.
www.hihowareyou.com
pessoas. Se sua música carrega tantos elementos contraditórios e díspares, é porque assim podemos concluir que foi a sua vida. Pelo menos enquanto foi retratada no excelente documentário The Devil and Daniel Johnston. O filme tenta recontar toda a trajetória de Daniel, desde o começo de suas tentativas de composição musical, em sua casa – sendo atordoado pela repressora educação cristã de seus pais – até este período atual de sua vida. Dispondo de muito material do arquivo pessoal de Daniel, o que inclui gravações em fitas K7 e imagens em super-8, o diretor Jeff Feuerzeig reconstitui certos episódios que marcaram a adolescência do jovem cantor – que em tom autobiográfico usava seu gravador portátil como um diário. Nesse mesmo diário, ele já cantava músicas para seus amores platônicos. Mas antes do espectador pensar em algo do tipo “já vi esse filme antes”, há alguns episódios na vida de Daniel que não aconteceriam com ninguém mais e a nenhum outro artista além dele. Episódio memorável No 1: Enquanto era empregado da McDonalds em Austin, Daniel copiava suas fitas musicais e entregava aos amigos e às pessoas que conhecia. Numa dessas, a MTV americana, em seus primórdios, veio realizar um show na cidade com as bandas locais. Como Daniel era bastante conhecido no local, chamaram-no para o evento. Nesse momento ele conhece a fama e o mundo conhece Daniel, que solta na TV sua famosa frase: “Eu sou Daniel Johnston e esta é minha música”. Episódio memorável No 2: Daniel viaja para Nova York, onde é acompanhado pelo Sonic Youth. Andando pela cidade junto com a banda, Daniel tem um surto e entra em pânico, querendo sair de lá a qualquer custo. A medicação dada não resolve e a banda não sabe mais o que fazer com ele.
Episódio memorável No 3: Já nos anos 90, Kurt Cobain aparece na MTV com a camiseta Hi, How Are You. Nesse momento vemos pela segunda vez o impacto que a Music Television teve (in)voluntariamente em sua carreira. Surge um grande hype em torno do nome de Daniel Johnston e seu nome é disputado por duas das maiores gravadoras dos EUA. Mas devido ao seu recém-adquirido fanatismo religioso cristão, ele se nega a assinar contrato com a Elektra porque o Metallica faz parte da gravadora e ele acredita que a banda tem pacto com o diabo.
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Palavras: Ana Garcia e Tathianna Nunes Fotos: Divulgação e Sanja Gjenero Ilustração: mooz
“Minhas primeiras memórias musicais seriam escutar meu avô e minha avó cantando clássicos em um piano velho e desafinado. Por alguma razão, aquelas vozes estranhas, mas maravilhosas, em conjunto com o desafino do piano, soavam perfeitas. Acabei usando este piano em “Shift”, música de Horn of Plenty (Kanine, 2004)”. Desde pequeno, Edwart Droste já elucidava seu interesse em fazer parte de um mundo paralelo na música, onde tecnologias duvidosas se aliam aos clássicos para criar algo belo e precioso. Tendo como base uma família musical, - “minha mãe acaba de se aposentar, mas passou boa parte de sua vida ensinando música a crianças, e meu avô foi, durante um bom tempo, uma das cabeças do Departamento de Música de Harvard”, - Droste cria uma série de composições que compilam
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colagens e misturam samplers de sons descompromissadamente encontrados com várias vozes, pianinhos, banjos, barulhos e outras coisinhas. Posso estar enganada, mas o grupo nova-iorquino Grizzly Bear, projeto do lindíssimo multi-instrumentista Ed Droste com seus amigos Christopher Bear, Daniel Rossen e Chris Taylor (também maravilhosos e, melhor de tudo, solteiros), não é algo temporário. Com dois discos lançados, Horn of Plenty e Yellow House (Warp, 2006), eles são inesquecíveis não apenas pelo cuidado nos detalhes de sua música, mas pela preocupação que dividem na forma como sua arte se comunica e reflete sensações e sentimentos. Estamos diante de uma música intensa de coração e melodia. Ao mesmo tempo, intimista
e sedutora. Com composições que vão além do freak folk que já estamos familiarizados, Droste encanta ao criar uma música experimental com amor por clássicos, valores e inovações. Oi. Poderia se apresentar e contar uma história? Oi, o meu nome é Edward Droste e cresci em Boston, MA. Passei verões em Cape Cod comendo lagosta e fazendo todo tipo de coisas, infelizmente eu nunca fui muito macho e não sabia nada sobre passear de barco. Uma vez peguei um pequeno barco de motor para andar, mas as ondas não paravam de bater e tive que ser rebocado para casa. Foi muito embaraçoso. Eu estou aqui no momento e por isso que lembrei dessa história. Quando você começou a tocar? Por quê? Comecei com minhas aulas de guitarra no segundo grau logo depois que descobri o primeiro álbum da Liz Phair chamado Exile in Guyville. Fiquei tão surpreso com
as suas 18 músicas e com as formas e estilos diferentes que ela tinha. Era como uma grande jornada épica, pelo menos para mim. Algumas das músicas mais simples que ela escreveu, me fazia pensar em como poderia escrever músicas simples que ainda podem ser grandes, por isso, fui atrás de uma guitarra. Quando consegui, comecei a estudar música. Você lembra da sua primeira música? A primeira música que escrevi foi no segundo grau, mas não lembro muito dela. Eu lembro que escrevia MUITAS músicas ruins, mas eram prolíficas. Eu escrevi uma dúzia delas. Foi engraçado pensar nelas recentemente. Depois eu parei por um tempo e voltei a escrever material novo. Por mais estranho que seja, a PRIMEIRA música que eu escrevi era chamada de “Frolic”, mas a música nunca foi usada para nenhum lançamento. Permanece não ouvida por muitos, apenas alguns amigos a têm. Não é muito boa. Qual era a sua motivação na época? E hoje? Motivação sempre muda. Mas durante boa parte da minha vida a música tem sido um processo bastante terapêutico. Muitas vezes era como se fosse uma página do meu diário, uma forma de processar os meus sentimentos. Claro que agora, que as coisas estão ficando um pouco maiores para a banda, existem outras motivações que me inspiram, mas música é sempre sobre sentir algo, e poder botar algo para fora. Que instrumentos você toca? Gostaria de tocar outros? Eu toco guitarra, uma harpa automática (que qualquer um pode tocar), e um pouco de teclado, mas honestamente considero a minha voz o meu instrumento e eu não quero, realmente, tocar mais. Eu gosto mesmo de escrever músicas e cantar. Você cresceu escutando o quê? A minha mãe escutava muita música folk escocesa. A minha primeira fita cassete era Labour of Love (II) do UB40, eu acho. Era chamado de (II)? Ou número 2? Tinha vinho tinto nele. De qualquer forma, eu escutava muito enquanto a minha mãe me dava banho!!! O meu primeiro show foi do Violent Femmes em Boston. Depois eu fiquei mais velho e comecei a escutar todo tipo de música. Pixies, Jeff Buckley, Breeders, U2 e coisas típicas da sétima série. E Nirvana, é claro! Você se sente ligado a alguma cena musical de Nova Iorque? Sinceramente, não. Eu não sinto que a nossa música necessariamente é ligada a alguma
cena ou local. E eu realmente não sinto essa “comunidade” que todo mundo fala, principalmente porque não tenho tocado com muitas das bandas da “cena” e não conhecemos muitas pessoas. Talvez, se mais pessoas nos convidassem para tocar com elas, eu me sentiria mais parte de alguma comunidade, mas honestamente só me sinto parte do meu ciclo de amizades. O que você pode falar sobre os outros integrantes? Somos todos tão diferentes. Chris Bear, o baterista, é o mais calmo e pacifista da banda, ele nunca entra em uma discussão ou arruma algum problema e é o que deixa as mulheres loucas. Chris Taylor tem uma personalidade forte e é uma pessoa maravilhosa que está sempre com novas idéias. Daniel é o gênio musical e um verdadeiro compositor, mas muito tímido e quieto. Você acha que está crescendo como músico? Sim, muito. Ao mesmo tempo em que é imensamente difícil trabalhar com três outras pessoas e tê-las sempre te desafiando e te confrontando, é também incrivelmente excitante porque sempre cria algo bem mais dinâmico do que algo que compus sozinho. Acredito que nesse disco, Yellow House, estamos estreando como banda. Horn of Plenty é ótimo, mas não é mais o Grizzly Bear que existe agora. Agora, uma pergunta muito importante: o que faz Grizzly Bear sorrir? Ah, eu só posso falar por mim, mas ficar com o meu cachorro, namorado e amigos me faz feliz. Conhecemos a sua música através do grupo dinamarquês Efterklang. Como foi a sua turnê na Europa com eles? Fazer turnê com eles foi uma das melhores experiências que já tivemos. Eles são músicos muito talentosos e a Europa é incrível. Eu não estava esperando ninguém nos shows, mas acabaram sendo fantásticos. Você é tão bem tratado na Escandinávia e na França e isso faz você querer voltar e fazer tudo novamente. O público é carinhoso, as casas noturnas e os promotores também. O dinheiro é bom. A comida é deliciosa. Vocês se apaixonaram? Bem, eu sou o único na banda que é gay e o único que está em um relacionamento. Eu estou com o meu namorado agora, tirando férias em Cape Cod, os outros meninos ainda são solteiros! Garotas, podem espalhar!
www.grizzly-bear.net
PROGRAMA DE RÁDIO: SUPER 45 Palavras: Boris Orellana Foto: Eddie Edmundson The Legends – “Lucky Star” Johan Angergård é o principal compositor do The Legends (ele é também o dono da gravadora sueca Labrador). Eles começaram com um som mais orientado para o rock e se tornou um projeto solo eletrônico a la Junior Boys com um pouco mais de força. O último álbum Facts and Figures (Labrador, 2006) é uma boa recomendação. Contriva – “Number Me” O trio alemão já lançou três álbuns. Eles eram relacionados com o post rock de Chicago, mas se tornaram mais pop e “Number Me” é um bom exemplo de como um pop sofisticado deveria ser. Javiera Mena – “Perlas” Uma jovem chilena cantora e compositora explora os lados interessantes do pop: indietronics, orquestração, sonhos e folk. Javiera e Gepe, outro compositor chileno, são umas das melhores revelações do pop chileno. The Early Years – “So Far Gone” Uma grande banda de space rock que segue a tradição do Spiritualizaed e o início do Stereolab. Jarvis Cocker – “Fat Children” Ele voltou para formar o “Scott Walker do século 21”, o álbum de estréia Jarvis é definitivamente forte e “Fat Children” é incrível! Fat Jon & Styrofoam – “Acid Rain Robot Repair” A mistura perfeita de música eletrônica para os indies e hip hop. Uma verdadeira mistura de estilos que podem ser encontrados no álbum The Same Channel. Este é o disco que Notwist e Themselves nunca conseguiram fazer. Booka Shade – “Body Language” Textos leves de electro para as crianças, esta faixa é pop e dançante. Eric Matthews – “Our house” Eric é um cantor e compositor pop que estava fora da cena durante seis anos. Ele finalmente voltou com um grande álbum, Foundations Sounds, que inclui alguns tesouros do pop como “Our House”. É essencial para o fã de pop orquestrada. Super 45 vai ao ar todas as quintas-feiras pela Radio Concierto, do Chile, sob a produção de Boris Orellana e Patrício Urzua. www.super45.cl
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Palavras: Márcio Padrão Ilustração: David Edmundson
Haymone e Ênio, o par de guitarras e vocais da banda recifense Mellotrons, estão à vontade. Depois de dez anos de estrada e recentes mudanças na formação, os músicos parecem felizes com o primeiro CD homônimo e dispostos a ampliar consideravelmente suas influências. Com composições próprias, as mais antigas cantadas em inglês e as mais recentes em português, os Mellotrons passeiam entre a sonoridade do My Blood Valentine e Sonic Youth, que marcaram o início de suas atividades como banda, e as referências ao Clube da Esquina e Gang of Four. Está mais do que na hora dos Mellotrons levarem sua música para além das fronteiras de Pernambuco. Coca-Cola, crítica e autocrítica, distorções, garfos, reggae e inquietações pós-adolescentes aparecem aqui como cenário ideal para relembrar os dez anos de banda e sobre os planos desses recifenses de conquistarem o mundo. O primeiro disco do Mellotrons saiu no ano passado depois de... Quantos anos de carreira? Oito? Nove? Haymone: A banda começou em 97.
Quando era isso? Haymone: Guri, não sei nem dizer. Comecei a banda com 15 anos. Acho que quando eu tinha 12, ia pra casa de César e lá tinha uma bateria fuleira. Levava meu amplificador e guitarra e ficava tocando Nirvana, volume no talo. Paralelamente, César tinha conhecido Henrique e Marcos no colégio, e era uma galera que também gostava de rock. Não sei exatamente dos detalhes, mas César e Henrique marcaram no estúdio para ensaiar e César disse: “tem um primo meu que toca também”. O primeiro ensaio da banda foi esse, em 16 de maio de 1997. Eu numa guitarra, Henrique na outra e César na bateria. Só. Depois Marcos foi se incorporando... Ênio: Marcos é irmão de Henrique, que hoje toca guitarra no Vamoz!.
Dez anos.
Vocês gostavam das mesmas coisas?
Haymone: Os dez anos são dez anos de banda
Haymone: Mais ou menos, tínhamos
reunida. Ênio: E pararam um ano por causa de vestibular...
muita coisa em comum. Como as bandas grunge, pós-grunge, e coisas velhas como Beatles, Pink Floyd... Ênio: Henrique tinha uma pegada bem anos 70 na guitarra. Haymone: Ainda tem.
Na teoria, quando a banda começou?
Haymone: César, baterista da banda, é meu
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primo. Quando eu comecei a tocar violão e guitarra, ele tocava teclado, depois foi tocar bateria. A gente começou a se interessar por música juntos. Ênio: Ele estudou música junto com Rafael Guerra (atual baixista) ainda quando crianças. Haymone: A música sempre esteve presente na nossa vida, bem como a vontade de ter uma banda. Eu tocava junto com ele na minha casa...
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Vocês falam que a primeira fase da banda é a shoegazer, o que encontramos no disco. Poderiam comentar o que esse disco significa para a banda? Haymone: A idéia nem era mostrar a fase shoegazer, mas de ser o registro dessa primeira fase, que tem algumas características musicais bem específicas. A guitarra tem mais ênfase que os outros instrumentos, as letras são em inglês, e o som é bem calcado em influências como Sonic Youth. Ênio: Na verdade é o fechamento da fase em inglês, porque não é o shoegazer apenas. “Tongue” é uma música mais anos 80, “Slow Motion” é mais climática, meio dream pop... Então é mais a fase em inglês que, dentro dela, tem algumas coisas shoegazer e outras coisas diferentes também. “Dreams” é bem mais popzinha. Haymone: Mas acho que tem também uma mudança de foco da banda. Antigamente as músicas eram mais guitarras. E hoje em dia acho que é mais equilibrado, sabe? Temos mais instrumentos, como o teclado; há um cuidado maior com baixo e bateria. O paradigma com o qual construímos as músicas ficou diferente. Como foi a produção do disco, todos os percalços, desde a idealização até a finalização? Haymone: A gente queria gravar há muito tempo. A maioria das músicas tem quatro, cinco anos. Aí o primeiro problema foi grana. A gente resolveu juntar dinheiro, trabalhar, tocar e participar de concurso, esse tipo de coisa, e gravar um disco de verdade. Ênio: Quando Zé (Guilherme) se dispôs a produzir nosso disco, começamos a garimpar instrumentos com a galera. Guitarras de um, amplificadores de outro, juntamos uns pedais. Às vezes gravávamos a guitarra com
três amplificadores na sala, aí foi “liga nesse”, “liga naquele som que está melhor”. Haymone: Tinham umas dez guitarras, três baixos... Ênio: E aí foi um problema porque a gente achava que Zé Guilherme iria produzir o disco sozinho, mas, como Leo e William (do estúdio Mr. Mouse) também são produtores, o choque era muito grande. Eles têm visões muito diferentes. Quem era o produtor? Zé Guilherme, Léo ou William? Ambos: Era Zé! Haymone: Zé é um cara que conhece a banda há muito tempo, ele mesmo disse que queria produzir a banda. Foi meio óbvia a escolha. Só que Leo e William têm muito orgulho de trabalhar como se fossem um integrante extra da banda. Ênio: Eles querem colocar o “som Mr. Mouse” em qualquer disco que for produzido lá no estúdio deles. Mas às vezes a banda não quer. Eles nos pediam nossas referências, a gente levava e eles desprezavam tudo. Haymone: Lembro que a gente levou o Loveless, do My Bloody Valentine... Ênio: Falaram que o disco jamais seria gravado daquele jeito. Haymone: Disseram que o som da bateria parecia uma caixa de sapato. Mas, pela descrição de vocês, o modo de gravação se assemelha muito ao das suas influências. Foi uma imposição? Ênio: Queríamos a maior gama de possibilidades. Haymone: O atrito começou mais na parte de mixagem e masterização. Na gravação foi tranqüilo. O mago (apelido de Ênio) foi gravar “Colors to Remind Me” e tava tão alto que a luz do estúdio e os LEDs dos pedais começavam a apagar. Ênio: Você não conseguia ficar dentro da sala de jeito nenhum sem fone de ouvido. Haymone: Isso foi o material bruto. Mas quando foi mixar... Ênio: Gravar foi uma paz, bicho. Na hora de sentar e dizer “vamos organizar esse som aqui”, o pau comia solto. Eles paravam e ouviam o disco do The Killers como referência, essas bandas novinhas pós-punk e a gente: “Pô, não é isso! Vocês estão com a visão errada da coisa.” Haymone: Foi um processo meio áspero. Ênio: E como tecladistas, eles queriam adicionar teclado em tudo. “The Line” foi um caso clássico. Tinha um som de teclado que eles queriam, e até hoje eu não sei se tem no refrão.
Até hoje eu escuto.
que a gente. Agora, eram ofuscadas pela cena mangue porque, em primeiro lugar, essas Acho que o som do disco é muito bom. Têm bandas mangue eram melhores, não há como algumas coisas que eu faria diferente. Ainda negar isso. Mas também havia um apelo acho que as guitarras talvez devessem ter um maior da mídia por conta do regionalismo, pouco mais de destaque, a bateria também do orgulho, num momento em que o Estado poderia soar diferente, o baixo está muito estava com a auto-estima baixa pra caralho. O discreto. som que a gente faz sempre existiu, e, desde Ênio: Mas a gente conseguiu um marco, bicho, os anos 80, havia aqui bandas com referências porque o noise no final de “Hear/Listen” é a semelhantes às nossas. coisa mais cavalar que já ouvi em uma banda. Ênio: Tempo Nublado, pô. Das próprias bandas que eu gosto, nunca tinha Haymone: Não vou dizer que fomos ouvido nada tão brutal. influenciados por essas bandas, porque mal chegamos a ver os shows delas. Mas As influências mais atuais, como o reggae, sempre eu lembro do Supersoniques, que foi meio existiram? que uma banda de transição. Lembro muito Haymone: Acho que veio aos poucos. Hoje de Ênio olhando pro palco, pros pedais de ouvimos muita música eletrônica, disco music, Gomão (o guitarrista). Sobre representar, electrofunk, Afrika Bambaata, freestyle... acho que não represento porra nenhuma. Ênio: Olhe, freestyle eu escuto desde pirralho. Só a mim mesmo. Acho que essa busca por Foi a primeira coisa que ouvi na vida, antes representatividade foi muito herdada do mesmo de rock. Ia para baile funk quando era modelo do manguebit. Pernambuco sempre mais novo. foi um Estado muito bairrista. E não é que a gente negue ou não goste da Nação Zumbi. Haymone: Marcos sempre gostou muito Nós somos fãs da Nação Zumbi, vamos de reggae. Acho que veio por ele, tenho essa pros shows. impressão. Ênio: Os caras são foda. Haymone: Mas a gente acha que essa idéia As canções mais recentes, “Equador”, “Mirante” da representatividade, isso é uma opinião e as demais dessa safra têm influências diferentes minha, virou discurso oficial. Tipo, Hino além do shoegazer mais explícito. Quais foram os de Pernambuco versão mangue, versão motivos dessa mudança de linha? guitarra. E o pessoal aplicava aquele modelo Haymone: Eu tenho uma tese de que há de representatividade do mangue para uma dois tipos de banda: a banda círculo e a cena e um pessoal que não se preocupava banda espiral. A primeira vai se desenvolver com isso. E aí vêm as frases feitas, “Recife é sempre o máximo que está dentro daquele mangue, mas também é asfalto” ou frases de círculo; nunca vai sair deste círculo e sempre efeito como “Somos a nova geração!”. Nova estará se aperfeiçoando neste limite. A banda geração o caralho. O som que fazemos já se espiral é aquela que, antes de completar o fazia. Querer juntar todo mundo em uma círculo, vai iniciar outro, depois outro, e vai unidade e uma cena é mais interessante pros sempre renovar esse paradigma. Acho que jornalistas do que pras bandas. E uma outra o Mellotrons é uma banda espiral, e não vai coisa totalmente inventada pelos jornalistas - e parar. A forma como ouvimos e sentimos eu sou jornalista, ou quase jornalista - que acho música é muito inquieta. nojenta é: “e essa cena indie?”. Aí teve outro Ênio: Como diria Ed O’Brien, do Radiohead: jornalista que fez “indie x Olinda”, pra rolar as “você tem que fazer algo que tenha medo. O diferenças entre a “galera Olinda” e a “galera importante é não saber o que está fazendo”. indie”. Mas a gente é amigo da galera de Olinda! Ênio: Parece coisa dos mods contra os rockers. O Mellotrons vem sendo considerado pela Haymone: Somos amigos de André da imprensa como uma das bandas representantes Bonsucesso (Samba Clube), de Júnior Black da de uma nova geração do pop de Recife que, de Negroove, tá ligado? Música é música, minha um modo geral, não se apegam à musicalidade gente. São sete notas, bemol, sustenido... Essa da Nação Zumbi e Mundo Livre - bandas que mania de querer tribalizar as coisas e dividir representam a geração anterior - e buscam uma em grupos é uma besteira. diversidade mais universal e menos regional. Quais Ênio: O negócio é cada um se preocupar com são as verdades e falácias por trás dessa definição? o seu e fazer bem direitinho. É esse o conselho Haymone: A primeira falácia é que as bandas que eu tenho para a cena indie do Recife. mangue representam a geração anterior. Nessa geração havia bandas que cantavam em inglês, www.mellotrons.net guitar bands, que ouviam as mesmas coisas
Haymone: Mas o resultado agradou a gente.
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Palavras: Kiki Ferreira Ilustração: mooz
Sentada no balcão do bar, olhando todas aquelas garrafas enfileiradas na estante, eu só conseguia sentir pena de mim mesma porque o amor da minha vida da semana passada tinha sido indiscreto o suficiente para entrar no meu apartamento sem bater, naquela manhã, e me encontrar vestindo as cuecas de outrem. Consegui perdoálo pela intromissão, ele não foi magnânimo o suficiente para perdoar-me pela fornicação. O que há de se fazer? Garçom, scotch duplo, sem gelo. E para piorar eu estava em Williamsburgh – o bairro que mais me enoja no mundo. Recheado de novos bichos grilos, artistas modernetes e masturbadores intelectuais. É o canto mais descolado do Brooklyn e eu não ousava por os pés ali – back off bitch, meu negócio é Manhattan – a não ser que houvesse alguma promessa de bagaceira. E essa noite eu tinha ido porque meu amigo Mike Ladd quase me obrigou. Num breve intervalo de minhas lágrimas ao telefone, ele achou uma brecha para me forçar a ir a um bar ver um de seus amigos tocar, um tal de Vijay Iyer. Parece que eles tinham gravado muitas coisas juntos. Uns discos meio experimentais, brincando com hip hop e free jazz. Eu não tinha parado muito para ouvir, eu só dizia que gostava das músicas de Mike para colocá-lo na horizontal. Por mim ele podia até fazer o que quiser. Não estava nem aí... Poucas pessoas estavam no bar e ele desculpou-se por não ter trazido seu quarteto completo. Por isso tocaria poucas músicas de sua autoria. A fraca luz iluminando o rosto concentrado de Vijay era muito excitante, ainda mais quando via seus dedos percorrerem carinhosamente as teclas do piano. Às vezes ele ia devagar, repetindo o mesmo acorde pacientemente, ou desenhando melodias que me arrepiavam a espinha. Uma ou outra hora ele 28
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ficava intenso e então parava. Eu não conseguia acreditar, parecia que o rio São Francisco corria debaixo de mim. Eu precisava daquele homem, e era logo! Acabado o show, levantei e fui até a mesa onde ele dava autógrafos. Olhei para ele que retribui e me encarou doce, mas firmemente. Não sabia o que dizer, era a primeira vez que um homem me deixava sem palavras. Comprei um dos discos que estavam na mesa e arrumei um pretexto para falar com ele – vou pedir uma entrevista. Oi Vijay, conheço pouco a sua história, mas amei o seu show. Você mora aqui? Obrigado por gostar de minha música. Sim, moro aqui mesmo em Nova Iorque. Os meus pais são imigrantes, da Índia; vieram aos EUA nos anos 60. Você gosta de morar aqui? Pensa em se mudar? Obviamente as lideranças políticas dos EUA têm sido terríveis nos últimos anos, então isso é embaraçoso às vezes. Mas nós também temos uma quantia saudável de discórdia e debate, e eu realmente acredito que essa sanidade prevalecerá. Eu amo viajar, já estive no mundo inteiro e claro que tenho raízes internacionais, mas me sinto mais em casa aqui em Nova Iorque. Naturalmente, a cidade é muito diferente do resto dos EUA; Nova Iorque tem cultura, inteligência, diversidade, progressividade e é viva com suas atividades. Você sabe. Nessas suas viagens, você tem gostado de que locais? Amei as partes da Índia e África por onde estive. Amo o sudeste da Ásia, como Malásia e Singapura, lugares que trazem elementos do sul e do leste da Ásia. É ótimo ver o hibridismo cultural em ação! Eu gosto de cidades onde encontro cultura interessante, onde a população é densa.
Mas eu gosto de relaxar na praia também. Barcelona é amável porque tem uma cultura de cidade e de descanso, ao mesmo tempo. Melbourne e Vancouver são ótimas também. Conheço diversos músicos daqui e notei que muitos americanos com descendências diferentes estão numa procura pelas suas raízes através de livros, música e arte em geral. Por que isso está ficando cada vez mais forte? Talvez porque os EUA estejam se tornando mais tolerantes a certos tipos de diferença, de modo que essas pessoas que você menciona podem ser elas mesmas mais completamente. Contudo, não é tão fácil se engajar nesse processo de aprender as nossas raízes e criar algo novo. As pessoas que são “diferentes”, às vezes, têm um relacionamento complicado com a sua “diferença”. Algumas pessoas as enfatizam cinicamente porque pensam que isso vai ajudá-las a ganhar popularidade. Você normalmente pode ouvir que eles não fazem música do coração. Mas quando você se coloca nesse processo de aprendizagem da sua herança de uma forma honesta, enquanto ainda mantém a sua individualidade, te ajuda a desenvolver algo novo e pessoal. Verdade. Eu também não sou daqui, sou brasileira e uma pianista frustrada. Ver você tocar me faz querer tentar de novo. Você começou a tocar muito cedo? Ah, sim, desde os meus quatro anos. Eu lembro de um momento quando eu tinha seis anos de idade. A minha irmã e eu já tínhamos aulas de música havia dois anos: piano para ela, violino para mim. Às vezes eu tocava o seu piano escondido, “descobrindo” melodias usando apenas o meu ouvido. Um dia a minha irmã e eu improvisamos um dueto para quatro mãos. Lembro da excitação do processo colaborativo e exploratório musical, e lembro sentir o instrumento vibrar quando golpeei a oitava inferior. Mais tarde eu implorei-a para tentar novamente. Ela recusou, então eu continuei esta busca sônica sozinho. Essa é ainda a sua motivação? Eu não sou motivado por fama nem dinheiro – só espero fazer música que faça diferença nas vidas das pessoas. Sou interessado em fazer algo que gosto de escutar e eu só gosto de música que me surpreende, então isso se torna um desafio. Mas eu também quero dar uma experiência singular para as pessoas, e, idealmente, fazê-las repensar o que elas acreditam sobre o mundo. E eu também sou interessado em música como forma de acessar estados diferentes da consciência. O que levou você ao jazz? Suponho que foram diversas coisas: o meu interesse no piano; a emoção de improvisação; o ritmo, a ciência e o poder dele; as possibilidades de se expressar como individual ou coletivo; e também o som de luta da comunidade afro-americana, que ressoou em mim – uma pessoa descendente da Índia.
Como você consegue fazer música que não cai numa categoria? Nenhum dos meus heróis musicais jamais se preocupou com categorias, então nunca tive uma preocupação com limites. Eu toquei muitos tipos diferentes de músicas durante a minha vida: em orquestras e quartetos de cordas; em bandas de rock e hip hop; estudei percussão africana, música japonesa de corte, música indiana do Norte e do Sul; já toquei música pop; estudei e toquei repertórios de toda a história do jazz; e eu trabalhei como compositor, improvisador, teórico, pianista e tecladista em formatos variados. Como as suas idéias surgem? Muito da minha música é inspirado por problemas políticos ou sociais, ou por experiências da minha própria vida. Passo muito tempo desenvolvendo novos trabalhos antes de estar pronto para executá-los – gosto de explorar muitas possibilidades diferentes. Eu gosto especialmente de desenvolver idéias com os meus colaboradores, que são todos muito criativos e inteligentes. Foi um pulo gigantesco dos seus trabalhos de jazz para a sua colaboração com o meu amigo Mike Ladd em In What Language? Aprendi muito do meu trabalho de estúdio com grupos diferentes de hip hop, e também com o meu próprio trabalho com a banda de funk rock Burnt Sugar, com o poeta Amiri Baraka e o saxofonista Steve Coleman. Suponho que a oportunidade de compor música com texto falado me fez pensar além da idéia normal do jazz como um fórum para improvisadores. Para este projeto, qualquer improvisação tinha que operar em serviço dos poemas e do significado do projeto – caso contrário iria distrair a atenção da mensagem geral. Então eu tinha que pensar muito mais na composição vendo a forma como cada elemento operaria – isto é, mais como um produtor da área de rock ou pop. Mike também quis evitar a idéia de rappers rimando sobre batidas e quis que estes poemas trabalhassem como palavras escritas. Eu também não queria fazer muitas melodias cantadas demais, porque quis a música mais difusa para este projeto. Permitimos que os ritmos livres de texto falado pulassem fora dos ritmos cíclicos da minha música. E passamos muito tempo no estúdio para esculpir o som, o que é diferente do som normal, “ao vivo”, do jazz. Acabou sendo um pouco diferente do jazz ou hip-hop ou qualquer outra coisa que um de nós havia feito. Imagino... E você volta para casa sozinho hoje? Ah, sim, mas eu tenho que dormir.
www.vijay-iyer.com
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Palavras: Ana Garcia e Viviane Menzes Fotos: Tuca Siqueira Ilustrações: mooz
Quer um bolinho, quer? Quer um cafezinho, quer? Diga o que você quer, que eu lhe dou
Levamos um bolinho de chocolate e guaraná para a casa de Erasto Vasconcelos, um pequeno apartamento em Maranguape I. A simples moradia esconde um senhor que participou ativamente da história da música popular brasileira nas últimas três décadas. O sobrenome ficou famoso através de seu irmão, Naná, que experimenta o reconhecimento desde sua juventude. Assim como ele, Erasto tocou com todo mundo que era alguém nesses mais de 30 anos (incluindo Milton Nascimento, Gilberto Gil, Lô Borges, Caetano Veloso, Alceu Valença). Mas o destino lhe reservou um reconhecimento tardio, apenas nesse milênio, quando o músico já beira os 60 anos de idade. Homem de bom coração, talentoso, espirituoso, com uma vivência assustadora e em nada amargurado, Erasto sempre desfrutou do respeito dos artistas de sua e de nossa geração. Mas apenas esses últimos conseguiram registrar a musicalidade natural desse homem em disco. Jornal da Palmeira (Candeeiro), sua estréia, foi lançado em 2005. Para o público, uma revelação de 59 anos, para outros músicos, um mestre, um igual, que finalmente tinha o seu trabalho entregue de maneira definitiva ao mundo. Uma história que poucos conhecem e que ele teve o prazer de nos contar, depois de rodar o mundo e pousar no humilde bairro de Maranguape. Erasto recebeu nossa visita com uma música improvisada em seu berimbau e magnetizou a diminuta platéia que se acomodava nervosamente em sua sala. Findo o privado espetáculo, senta em seu sofá e acende um cigarro...
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Vocês fumam?
Como foi a sua infância? Olha, eu tive uma infância pobre, no Sítio Novo. Parecia uma aldeia Fumamos, podemos todos acender um cigarro. africana, com casas de palha. Hoje em dia está tudo arrumadinho, é outra Bebem também? coisa. Mas até que era muito bonito porque tinha dois sítios, tinha aquele braço de mangue, antes de chegar a Peixinhos, o que era muito verde. Tinha Um pouco, quase trouxemos um vinho, mas achamos melhor trazer um um curtume e um matadouro, as únicas sujeiras do local, e que era um bolinho com guaraná. pouco saudável para os crustáceos. Os produtos químicos não afetavam muito Eu não bebo, nem vinho eu tomo. Sabia que estou há 20 anos sem beber? o mangue, que só veio a morrer depois que criaram a fábrica de fosfato, que era adubo para a agricultura. Hoje você vê que não fizeram nada, plantaram Não, ainda bem que não trouxemos. nada. Então, eu tive uma infância muito saudável. Eu gostava muito das Eu tive que radicalizar mesmo, eu tinha muita depressão quando bebia. manifestações populares, tinha um Coco de Roda com três cantadores, até Eu pegava o violão e ficava tocando as minhas músicas... Chorando. hoje eu canto o Coco deles. Descia um Boi de Casa Amarela, eles alugavam uma casa no bairro e saiam de porta em porta dizendo que ia acontecer o Por que você foi morar nos EUA? espetáculo no sábado e as pessoas davam o dinheiro. Eu ia pro SESI no Sítio Eu queria saber como funcionava a política negra no Harlem, Nova Novo, que hoje está fechado. Eu acho isso um crime. Era o melhor prédio de Iorque. Era muito hostilizada. Agora não é mais. Hoje os negros são todos os SESI. Tinha um salão maior do que o Clube Atlântico, tinha um “Afro Americans”, não é mais “Black Americans”. Eu cheguei a morar palco do tamanho do Teatro do Parque e uma quadra esportiva. Tinha uma em três lugares diferentes em Nova Iorque. assistente social chamada Maria de Lurdes Vieira da Cunha, que eu conheci um dia que estava no SESI com um amigo e ela disse para jogarmos bola. Os EUA têm problemas raciais sérios, especialmente em cidades como Boston. Ela colocou a bola na mão e disse: “É muito importante ganhar e perder. É bem acirrada. Eu conheci Boston também, Washington, Connecticut, Então, ganhando ou perdendo, os dois têm que apertar as mãos e se que é uma cidadezinha a quatro horas de Nova Iorque e é uma parabenizarem”. Eu peguei essa frase dela e levei isso para toda a minha comunidade portuguesa, dominada há 400 anos. Uma vez eu fui fazer vida. A minha infância foi no SESI. Tinha também o Matinée, que eu um baile e eu sentei ao lado do presidente do clube. Perguntei como adorava para dançar. A música cubana na época, antes de Roberto estava sendo morar no EUA e ele respondeu: “Olha, estamos aqui há Carlos, era a música mais tocada. Nós éramos mais latinos, a verdade 400 anos, ganhamos isso aqui na porrada”. Na época, Manhattan era é essa. Nos anos 60, teve a infiltração da música americana, apareceu o melhor lugar para morar, hoje em dia eu já não acho. Cidades como a guitarra, aquele jeito de cantar em forma de protesto. Eu lembro que essa e Londres, Paris, Milão, estão todos sob o estado de tensão por causa no Rio de Janeiro iam fazer uma passeata contra a guitarra. O meu pai, dessa guerra com os terroristas que é estimulada pelo Bush. Pierre de Holanda Vasconcelos, pegou uma guitarra logo. Ele tocava manolo, cavaquinho e escrevia arranjos. Era muito interessante, todos Como foi essa experiência de morar nos EUA? os dias às 15h ele sentava para tocar os clássicos com Jacó (do Bandolim) Eu trabalhava muito, das 8h às 18h e ia pro cinema, o Cinema Itália, o e Pixinguinha. Eu já estava solfejando na época, sabia tudo direitinho. que era um estudo para mim. Era interessante porque antes de passar Eu também adorava ouvir muito frevo de rua. Até hoje eu adoro. Eu fui o filme, tinha conferências com atores, diretores, cineastas ou alguma muito fã das bandas militares. Eu não perdia um 7 de setembro antes de pessoa ligada ao segmento do cinema. Tinha um lugar para fumar, o que 1964. Depois eu parei. Houve uma comemoração do exército, depois da era importante. Você podia fumar um baseado também, eu era muito revolução, e eu fui à avenida ver as bandas e ouvi um oficial dizer: “Agora amigo da menina que fazia a programação e sempre levava uns três. Eu nós ganhamos essa porra, vamos botar pra f...”. Eu fiquei indignado e parei ia todos os dias. Isso foi uma coisa muito legal na minha vida, deu um de ir. enriquecimento muito grande para compor. Você tem quantos irmãos? O que mais foi importante para você compor? Seis, eu sou o caçula. São quatro homens e duas mulheres, um faleceu. Quando eu me senti um compositor, eu acho que o elemento mais forte foi a pintura. A sua mãe teve um papel importante? Teve. Ah, você também pinta? Não, não. Eu desenho como uma criança, é bem primitivo. Mas eu Inclusive tem uma música... comecei a compor porque acompanhei muitos pintores. Eu morei no Tem, a música “Coentro, Cebolinha, Tomate, Pimentão” é da minha mãe. Rio de Janeiro uns 15 anos e conheci Aluísio Zaluar, um pintor carioca Eu fiz apenas musicar o que ela diz: “Menino vai comprar coisa na feira muito conceituado. Um dia, durante uma das nossas conversas, ele / coentro, cebolinha, tomate, pimentão / filho meu vá ver coisa ligeira”. disse que eu deveria conhecer os pintores do Sítio Histórico de Olinda. Ela teve um papel muito importante porque era uma pessoa que também Então eu fiz isso. Conheci Thiago Amorim primeiro, nos anos 70, depois gostava muito de dançar. Todas as coisas que eu fiz na infância, ela fez Luciano Pinheiro, estive algumas vezes com João Câmara e ia para também. Ela tinha uma formação muito boa de terreiro, de histórias. algumas exposições. Depois eu tive uma oportunidade de vender Gênios da Pintura, quando trabalhava no Abril Cultural. Os Gênios da Pintura Você tem também uma paixão por passarinhos, verdade? vendia que só. Eu trabalhei muito para subsidiar a música, viajar, pagar “Pio da Galera”, uma música com flautas, fala sobre passarinhos. É apartamento, essas coisas, e para fazer o trabalho que eu queria. uma grande leitura da minha infância, eu me vendo correndo atrás dos passarinhos, conversando com eles. E essa coisa de saber estilo, O que mais foi importante? característica de cada um, canto, isso facilitou muito a compor. Fui muito O primordial para compor foi a minha infância. ligado a passarinho, criava. Queria matar o passarinho e nunca conseguia.
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Você começou a tocar o quê? O meu primeiro instrumento foi o melê, feito com uma latinha de leite. Você conhece a tabla? É o instrumento da formação clássica da Índia. Inclusive o Sgt. Pepper’s... tem. O melê tinha um som parecido e fazíamos a la ursinha, como todos os garotos faziam. [Erasto canta] “Oh minha a la ursinha onde você vai / vou brincar o carnaval / não volto mais / e sobe ladeira / e desce ladeira / é gente boa”. Eu brincava muito de a la ursinha. Qual foi a sua primeira composição? Foi para botar um apelido em um amigo, no vizinho, porque ele encabulava todo mundo. Era assim: “Quando o samba é brasileiro, ui / na cabeça um pandeiro / biringueta e guaxela / e soltou o paxulé / faz o samba ferver / chora pai / chora mãe / chora a cabeça de Duda também”. Era ele, Duda, o cabeção. Eu compus esse samba para ele e todo mundo ria. Era uma loucura. Eu gostava muito de cantar. O meu pai era um músico organizado e ele recebia da União Brasileira dos Compositores os cadernos com as letras e as partituras. Eu pegava esse caderno e ligava o rádio porque naquela época as músicas saíam com muita antecedência e aí eu ficava cantando junto. Você chegou a trabalhar muito jovem? Sim, eu entregava bolsa de filé aos 13 anos. Ia pro Mercado São José às 4h da manhã e passava o dia andando de ônibus fazendo entrega. Mas foi no Mercado que eu conheci Capiba e Nelson Ferreira. Também trabalhei com ouro, relógio, jóia, lapidação. Inclusive cheguei ao Rio com todo esse conhecimento de relógio. Também trabalhei como vendedor de livros, como eu disse, e fazendo música. Como foi morar no Rio de Janeiro? Em 1968, Naná escreveu uma carta no dia das mulheres falando que eu tinha que ir pro Rio. Eu peguei uma carta de apresentação e fui. Precisei trabalhar, mas eu queria música. Já acompanhava a cena musical desde o fim da Bossa. Naná disse que estava no Tropicalismo e eu disse que vinha acompanhando ao pé da letra. Lembro da primeira vez que vi Caetano, ele cantou “Um Dia”. (Erasto começa a cantar) “Luz de sol, janela aberta / Festa e verde o teu olhar / Pé de avenca na janela / Brisa verde, verdejar / Vê se alegra tudo agora / Vê se pára de chorar / Abre os olhos, mostra o riso / Quero, careço, preciso / De ver você se alegrar / Eu não estou indo-me embora / Tô só preparando a hora / De voltar”. Quando eu ouvi isso a primeira vez, fiquei apaixonado. Não deu outra: todos os artistas que pensei em conhecer, conheci todos. Da velha guarda conversei com Pixinguinha, Cartola, Ismael Silva, e até toquei com ele. Depois que cheguei no Rio, no dia seguinte, já estava na casa do Milton Nascimento. Naná disse para ele: “Esse cara sabe de tudo”. Milton olhou para mim e disse “Então, eu vou embora, não vou ficar aqui não”. Ele foi mesmo. Que outras lembranças você tem dessa época? Tinha um rapaz que ainda está vivo, graças a Deus, chamado Maurício Maestro, do Boca Livre. Todo mundo ensaiava na casa dele, inclusive Milton e Toninho Horta. Tinha um cara também que era baixista, ele tinha um grupo de rock chamado Soma e a Bolha. Eu toquei com eles, foi o meu primeiro show no Rio. O pessoal navegava com o concretistmo
mineiro e a Bossa Nova, depois o Tropicalismo. O que eu não gostava na época é que cada um tinha uma bandeira na mão, sempre perguntavam se a pessoa estava no grupo baiano ou mineiro. Fui para Bahia porque eu quis saber como era a cultura de lá, já que eu tinha a formação dos terreiros. Mas tive a oportunidade de conviver com os dois grupos, não só com o pessoal do Tropicalismo depois que eles voltaram, mas também com o grupo mineiro. Em 76/77, dividi uma casa com Lô Borges em Santa Tereza. Era Márcio Borges, Lô e eu. A casa tinha um quintal enorme. Como foi morrar com Lô Borges? Mineiro é o seguinte, passa um dia e ele não diz nada, passa outro... Lô estava assim, uns dois anos sem tocar. Todo mundo reclamando porque ele não ia fazer show, mas era uma coisa bem saudável. O Márcio escrevia também. Pintava todo mundo na casa, que ia ser um teatro e eu transformei em um salão onde o pessoal ensaiava e eu dava as minhas oficinas de percussão. Fazíamos festas juninas reunidos no quintal e eu chamava o pessoal do morro. Eu tive uma universidade muito rica. Então, tinha que dar a minha interpretação.
“Existe uma discussão que eu acompanho há mais de 30 anos: a minha música não toca no rádio. Todas as gerações que eu tive a oportunidade de conhecer reclamavam disso e hoje tocam.” Erasto Vasconcelos
Você ficou satisfeito com a sua trajetória? Teve um reconhecimento merecido? É muito interessante essa sua pergunta... Existe uma discussão que eu acompanho há mais de 30 anos: a minha música não toca no rádio. Todas as gerações que eu tive a oportunidade de conhecer reclamavam disso e hoje tocam. Após 20 anos. Você olha pro Brasil, analisa a política e sabe o que vai acontecer em 10 anos, quem será presidente, etc. Na música, isso ocorre também. Houve até briga entre artistas porque tinha mais conceito. Hoje em dia até gravadora está falindo e a nova geração tem mais acesso à informação. É lamentável dizer que essa geração foi quem produziu o meu disco, Jornal da Palmeira, ou que tomou a iniciativa. Eu não culpo ninguém por isso. Sei como é o sistema, mas também sei a qualidade do meu trabalho. Então, não saí para procurar alguém, sinceramente. Não pedi para gravar um disco. Eu sempre... Tem músicas gravadas que fiz há mais de 30 anos. Eu acho que se o trabalho está aí em cima, então vai aparecer um dia alguém... E aconteceu exatamente isso. Quem foi atrás? Não é que foi atrás... Tudo gera através de trabalho. Eu fiz o Jornal da Palmeira solo e chamava um artista convidado. Convidei o Bonsucesso, Eddie, Comadre Fulozinha, Naná... O Marcelo Soares (Estúdio Muzak e Candeeiro Records) foi lá e Fabinho tinha dito que estava interessado em fazer algo. Eu já conhecia Rogerinho (Bonsucesso Samba Clube) porque eu via ele garoto passando com um baixo e um dia perguntei para onde ele ia, e ele disse que ia tocar com a Eddie. Eu nem sabia o que era. Um dia encontrei com Rogerinho e outros meninos em Olinda, isso há 10 anos, e eles disseram que tinham uma banda. Eu disse: “De rock de garagem”. E eles: “Não, é boa, tem talento e tudo”. Eu pedi uma fita, era o roteiro do Sonic Mambo. Eu gostei e disse que faria uma música para eles. Estava com uma idéia de um baixo que eu tinha ouvido no rádio, era uma mistura de música country da Califórnia com black music do Harlem. Fiz uma música para eles, mas terminou que saiu nada do que eu tinha imaginado.
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Quando eles gravaram? Fizeram outro arranjo. Eu fiz uma fita mesmo, era uma coisa bem orgânica, já que o nome do grupo é Eddie e Eddie para mim é Éden – que é cinema. Eles gostaram e chamaram para fazer uma turnê. Aí eu fiquei tocando com o Eddie, viajei pro Norte, Nordeste. Foi assim que Fabinho me conheceu bem, ouviu muitas coisas minhas, já toquei várias coisas para ele - violão, flauta... Ele disse que queria produzir um disco e eu deixei. O Marcelo foi lá ver e eles fizeram um projeto. Eles perguntaram o que eu queria gravar, conversamos e fizemos um roteiro. Eu compus o meu Jornal como um jornal sonoro mesmo, uma coisa bem digestiva. Não tem uma unanimidade, mas várias pessoas gostaram, é difícil fazer uma coisa que agrade todo mundo.
“Essa postura de terceiro mundo eu não assumo, eu vivo no terceiro mundo, mas não sou o terceiro mundo.” Erasto Vasconcelos
Agradou você? Sim, sou muito exigente comigo mesmo. Tenho uma dificuldade de querer gravar. Eu tinha um professor de música, que conheci em Ouro Preto, chamado Conrado. Tocamos juntos, eu tocava Calimbe e ele ficava impressionado. Ele adoeceu, fui visitá-lo no hospital e ele tinha visto eu tocar com o grupo Bendegó, da Bahia. Ele achava que seria bom se eu fizesse gravações de estúdio, apesar de cortar a minha criatividade. Fiz muita gravação de estúdio, mas não dexei de fazer shows. Poderia gravar para novelas, ser um percussionista exclusivo. Para viver no Rio de Janeiro tem que fazer estúdio, gravar com todo mundo. Eu toquei com todo mundo, mas não gravei com todo mundo. O importante foi que todos me trataram com muito carinho e eu ouvi com muita atenção. A poesia era muito importante, a poesia musicada. Eu fazia através delas, com a minha composição, o meu protesto, os meus discursos, esculhambava e nego não sabia. Tudo que passava na minha cabeça, através do som eu passava o meu recado. Alguma história? Por exemplo, no “Poema da Paz”, quando eu digo “paz” e ponho o maracá dos índios, eu digo uma coisa a mais. Peço paz para os índios. Quando fiz esse poema, comecei a fazer isso ao vivo com os instrumentos. Fiz um show na Escola das Belas Artes e teve um impacto muito forte. Naquela época, até hoje, estão aí os índios tendo que demarcar as terras. A dificuldade de adaptação é uma coisa... Corre um risco muito grande, podemos perceber isso quando saímos daqui e vamos morar num outro lugar. Ou educa ou deixa como ele está. Sempre fica no meio termo. Todas as minhas composições contam uma história. É como se fosse um quadro. Ela tem que ter começo, meio e fim. Eu tenho uma história, como todo músico. Eu sou compositor por isso.
Na verdade, eu queria saber se aconteceu alguma injustiça. Olhe, sou uma pessoa muito feliz pelo que sou. Isso resolve tudo. Moro aqui em Maranguape 1, no único lugar que deu para comprar. Pretendo sair, quero morar numa casa que tenha uma mangueira ou jaqueira para poder ficar no quintal olhando para a cerca e para o muro. Claro que se você levar para esse lado a vida, você vai encontrar uma série de tropeços, injustiças, mas eu não os guardo. Eu só guardo as coisas boas que eu posso contar para você aqui. Prefiro nem lembrar as coisas ruins. Ontem, estava dizendo para um amigo, se eu quiser o meu violão chora, a minha flauta canta... Levanto a hora que quero, durmo a hora que quero. Eu não sou melhor nem pior que ninguém. Gosto dessa nova geração que estou curtindo agora como Mundo Livre, Nação Zumbi, Mombojó, Bonsucesso, Eddie e A Roda. Eu acho que esse pessoal universalizou mais as coisas, serão mais conhecidos que a geração anterior. Eles irão fortalecer mais essa coisa da indústria da música. Porque o cara brigava tanto para que a música vendesse ou tocasse, que esquecia o universo. A geração de hoje está antenada no universo. Essa postura de terceiro mundo eu não assumo, eu vivo no terceiro mundo, mas não sou o terceiro mundo. Eu acho que tudo é uma coisa só. Só que um tem dinheiro e outro não tem, mas a miserabilidade você encontra em qualquer lugar. Então, como surgiu a idéia do Jornal da Palmeira? Eu compus o Jornal da Palmeira em um sitio chamado Bonsucesso, precisava de um lugar para relaxar essas depressões que eu tinha. A história já tinha começado no Jardim Brasil. Eu tinha um hábito de ficar horas olhando para uma coisa para ver o que iria acontecer, o que iria se transformar ou quem iria chegar. Comecei pelo mar durante uma viagem de 25 dias de navio. Olhava tanto para o mar e todos os dias escrevia um poema. Quando cheguei em Nova Iorque, tinha um musical pronto. Foi de ficar olhando que compus o Jornal da Palmeira. É sobre o relacionamento dos seres que a Bíblia cita, a caça e o caçador. Fiquei admirado quando comecei a ver as coisas mesmo, como é a vida, o seu ciclo. Ela tem um negócio de jacaré comendo cobra, cobra comendo cobra. Você nunca teve uma instrução musical? Eu já tive com professor no que diz respeito a poesia. Mas os meus professores foram Torquato Neto, Conrado, João das Neves, Geraldo Tomas, esses foram os meus reais professores, de poesia, de vida. Se você ver, na formação da música popular brasileira da minha geração, é isso mesmo. Ninguém tem uma universidade explícita. Até hoje é isso. Eu estou começando. Esse é o meu primeiro CD, Jornal da Palmeira. Foi além do que esperava, hoje está no Japão, na França, saiu uma crítica boa no Jornal do Brasil. Aprendi que de uma hora para outra tudo pode acontecer. Aí volto a Maria de Lurdes Vieira da Cunha com a bola na mão, preciso saber ganhar e perder.
Você está conformado? Não é conformismo. Eu poderia já nos anos 70 ter um CD pronto. Não sei se foi timidez, só sei que não rolou. Eu comecei a organizar musicais. Você fez essa pergunta se eu estou feliz ou se sou reconhecido, eu não me preocupo com isso. Antônio Carlos Jobim disse que, quando ele gravou “Garota de Ipanema”, achava que iria atingir o quarteirão e atingiu o universo. Vou fazer 59 anos, então se eu morro amanhã e alguém perguntar o que é que eu fiz, eu tenho tudo organizado. Tenho tudo gravado, já fiz mil coisas com mil pessoas. Eu tenho uns 5 prontos aí, mas foi o Jornal da Palmeira que rolou. Eu acho importante ter feito isso e não as pessoas me conhecerem.
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Palavras: Eliane Testone e Filipe Luna Ilustração: Eliane Testone
A primeira vez que ouvi Electrelane foi na pior situação possível para se escutar uma banda nova. Foi no carro, durante uma saída para resolver coisas do trabalho. Eliane Testone, a Eli, estava junto comigo e ela havia trazido um disco para ouvirmos. Era Power Out (Beggars Banquet, 2003), segundo trabalho das meninas de Brighton. Eram quase dez da noite e estava cansado e com fome, por isso digo que era a pior situação possível. Mas o lance é que tem pessoas que conseguem mudar seu estado de espírito – principalmente quando o assunto é música. Se você não conhece Eli, deixa que eu te explico. Ela é guitarrista do Lava, toca também no Hats e foi do Pin-ups. Trabalhamos junto numa revista, ela é designer e dona de um carisma insuperável, criando as situações mais engraçadas que você possa imaginar (pergunte da vez em que ela entrevistou Tommy Lee e Dave Navarro – é hilariante). E é Riot Grrrl de carteirinha. Devaneios de lado, preciso dizer que meu queixo caiu quando ouvi o som das Electrelane. É daquelas bandas que têm “aquilo” que ninguém sabe definir, mas que todo mundo sabe o que é quando escuta. Mistura delicadeza, agressividade e aquela batida contínua, meio krautrock, de um jeito inusitado. De vez em quando as músicas têm letras mesmo, noutras os vocais são apenas mais um instrumento. Emma Gaze, Mia Clarke, Ros Murray (substituta da antiga baixista, Rachel Dalley) e Verity Susman fazem um som original. Cutucado por Eli, resolvi colocar a nossa guitar hero para entrevistar a metade da Electrelane. Eu só dei uma ajudinha. 36
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Quando foi o primeiro show da Electrelane? Como foi? Emma: Na verdade, foi muito, muito engraçado. Vínhamos ensaiando há tanto tempo, antes mesmo de pensar em fazer um show. Fizemos um monte de fitas demos para entregar e realmente entregamos. Estávamos andando pela cidade um dia e vimos o nosso nome em um pôster – mas eles escreveram errado, eu acho que estava escrito “Electrolaine”, então ficamos na dúvida. De qualquer forma, depois descobrimos que era realmente a nossa banda e ficamos com muito medo. Eu acho que não dormi direito durante semanas. Isso foi em 6 de junho de 1999... Ou talvez 1998, eu não consigo lembrar agora. Mia: O meu primeiro show com Electrelane foi em outubro de 2000, junto com a banda Le Tigre. Eu fui muito influenciada por Kathleen Hanna na época, e foi o meu primeiro show! Eu estava extremamente animada e nervosa, mas eu lembro que deu tudo certo. Quais as influências da banda, musicais ou não?
Emma: Eu sempre fui inspirada pela coleção de disco da minha mãe, quando era criança. Entrava escondida na sala e tocava Rolling Stones, Roxy Music, Neil Young. Também entrava nos quartos dos meus irmãos – e sempre levava bronca. Eles tinham ótimos 45”, como Martha and the Muffins, Joy Division, The Jam e muitos discos do selo Two Tone. Eu tenho sete irmãos mais velhos, então sempre tinha muita música pela casa. A minha mãe era hippie, as crianças eram os mods.
Mia: Alguns dos artistas e grupos que têm me influenciado musicalmente são: Joy Division, Kyuss, Deerhoof, Liars e Felt. Os meus guitarristas favoritos são Guy Picciotto do Fugazi, Scout Niblett e Brace Paine da banda The Gossip. Outras inspirações e influências na minha vida têm sido os textos de Jorge Luis Borges e Yevgeny Yevtushenko e fotografias de Robert Frank e Gabriel Garcia Lorca. Foi natural a banda construir esse som peculiar e único? Como isso aconteceu?
Emma: Bem, as outras podem não concordar, mas eu acho que, embora tivéssemos uma idéia do “som” que queríamos, realmente aconteceu naturalmente. Especialmente agora, parece muito natural tocarmos juntas e parece muito específico para o grupo o tipo de pessoas que somos. Mia: Eu acho que a forma como Electrelane soa é muito natural. É algo que parte da nossa forma individual de tocar e de como escrevemos músicas. Se alguém da banda saísse ou fosse substituído, eu acho que seria completamente diferente. Embora passemos muito tempo desenvolvendo a nossa música (tanto compondo como ao vivo), não é algo que realmente planejamos ou discutimos muito. Então como tem sido tocar com Ros, depois que Rachel Dalley saiu?
Emma: Rachel não queria fazer mais turnês e eu acho que foi tudo bem natural quando Ros se juntou à banda. Era estranho, no começo, tocar com alguém novo, mas agora eu já me acostumei. Mia: Ter Ros na banda tem sido ótimo. A forma dela tocar baixo realmente adiciona muita coisa na estrutura das nossas músicas e ela é uma pessoa maravilhosa. O que é mais importante para vocês, concentrar nas gravações ou fazer muitos shows? Mia: Eu acho que ambos são importantes. Certamente gostamos de tocar ao vivo. Muito. E eu acho que o nosso som ao vivo é bem mais forte que as nossas gravações. Vocês conseguem viver da banda? Mia: Ganhamos muito pouco com Electrelane. Eu também escrevo sobre música para várias revistas e jornais na Grã Bretanha e nos EUA. Primeiro vocês criaram o próprio selo, a Let’s Rock!, para lançar os próprios discos, mas depois decidiram assinar com a Too Pure. Vocês fizeram diferente de todas as outras bandas, por quê? Emma: Eu fico feliz que tenhamos feito da forma que fizemos. Temos mais conhecimento agora sobre como as coisas funcionam. Não é fácil fazer isso, na verdade, e, depois de alguns anos, tudo fica mais claro.
Mia: Tivemos muita sorte por fechar um negócio de distribuição com uma empresa chamada 3MV. Eles também providenciam fundo para o Let’s Rock!. Então não era como se cuidássemos do nosso próprio selo. Era mais sobre ter um controle criativo da nossa música e arte. Ainda temos essa oportunidade com a Too Pure, o que é ótimo.
rir. Geralmente, assim que começamos a tocar eles ficam envergonhados! Meio “Ooooh...”. Isso é um bom sentimento.
Mia: Bem, infelizmente, situações com homens mal educados acontecem em qualquer lugar, mas não acontece constantemente nos shows. Como funciona o processo criativo? Emma: É muito improvisado. Entramos no estúdio e tocamos até algo aparecer, o que é muito divertido. Às vezes as pessoas levam idéias, mas normalmente é um esforço das quatro e depois trabalhamos na estrutura – Verity é muito boa para direcionar essa parte. Como tem sido gravar com Steve Albini?
Emma: Foi ótimo. Ele é TÃO rápido que chega a ser ridículo. Ao contrário da crença popular, ele é muito simpático e doce. Gostamos muito dele. Precisamos fazer um disco mais barato dessa vez, então não iremos voltar para lá. Mas fizemos dois discos com ele, Axes e Power Out, então eu acho que essa foi uma boa experiência com Albini. O profissionalismo dele é impressionante. Ele é o que todo engenheiro de som sonha em ser. Sabe exatamente o que cada pessoa faz e como conseguir o melhor som de qualquer coisa. Mia: As duas vezes que gravamos com ele foram maravilhosas – e muito diferentes da forma que gravamos o nosso primeiro álbum, Rock It To The Moon, por causa da sua experiência e conhecimento de engenheiro. A banda morou em diversos lugares como Londres, Brighton, Berlin... Como cada cidade influencia a sua criatividade? Onde vocês estão morando no momento? Emma: No momento estamos morando em Berlin durante todo o verão, trabalhando no novo disco, o que é ótimo. Eu divido meu tempo entre Brighton e Los Angeles. Eu acho que tem sido algo muito positivo morar em diversos lugares – dá mais espaço a todas, além de uma vida diferente por um tempo, o que é muito importante porque, se estamos fazendo turnê para promover um disco ou escrevendo/gravando, é muito intenso e eu acho que todas gostam quando ficamos longe da banda e fazendo coisas completamente diferentes. Mia: Eu estou morando em Chicago agora. Antes eu estava morando em Praga. A cidade que cada uma mora tem um efeito enorme na criatividade, então é muito importante morarmos onde queremos. Vocês gostam de outro tipo de arte?
Emma: Eu tiro fotografias e geralmente sou encarregada da arte – seja fazendo ou pedindo para outras pessoas fazerem. Normalmente faço as fotos e a arte das capas. Mia tem feito algumas coisas também. Eu acho que nós duas iremos fazer uma colaboração para o próximo álbum. Mia: Sim, somos todas muito interessadas em arte. Eu tiro muitas fotografias e faço curtas em Super-8. O que vocês têm escutado ultimamente?
Bem, sendo tão lindas e tudo, vocês têm tido problemas durante os shows com homens mal educados? Emma: Isso é engraçado. Não recentemente. Originalmente, eu acho que tínhamos problemas com homens que não estavam nos levando a sério e com certeza nos sentíamos intimidadas porque, na verdade, não sabíamos muita coisa. Ninguém sabe quando começa. É tentar e errar. Mas agora, porque temos tanta confiança, rimos das coisas que nos colocavam para baixo, ou dos comentários de algumas pessoas. O que poderia talvez estragar o show inteiro alguns anos atrás, hoje nos faz
Emma: Fomos ao show da banda The Gossip na semana passada – eu sei que não é nova, mas eu tinha que dizer porque é completamente incrível. Eu ainda estou pensando sobre isso. Tenho ouvido muita música folk americana antiga no momento, não é muito da moda... Mia: Eu estou amando os novos discos do Metallic Falcons e Grizzly Bear. Têm muitas bandas incríveis de Chicago no momento, como Sterling, Coughs, Lichens, Voltage e Russian Circles.
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Palavras: Ana Garcia Fotos: Ramona Panzini / Divulgação Ilustração: Roberto Opalio
O duo espacial dos irmãos Maurizio e Roberto Opalio tem um catálogo prolífico como My Cat Is An Alien (MCIAA) em diversos selos de países diferentes desde 1997. Ambos tocam praticamente os mesmos instrumentos: guitarra e uma grande variedade de percussão. Maurizio ainda pega na guitarra acústica, no mini-xilofone e no velho acordeom que era da sua mãe, enquanto o seu irmão utiliza brinquedos com uma sonoridade espacial, pianos, teclados e faz o vocal. A primeira experimentação do MCIAA foi em 1998, um CD-R todo coberto por fios elétricos, com uma arte exclusiva de Roberto, que parou na mão do Thurston Moore, do Sonic Youth. Ele gostou tanto do disco que convidou o grupo para abrir a turnê da sua banda na Itália e lançar discos pelo seu selo Ecstatic Peace. Isso também ajudou os irmãos a começarem novos projetos com músicos abstratos e experimentais de todo o mundo, como a série de splits que eles criaram no próprio selo Opax intitulada From the Earth to the Spheres. Não demorou para Jackie-O Motherfucker, Jim O’Rourke, Thuja e muitos outros participarem também. O último show do MCIAA, em Torino, foi com Keiji Haino. Como foi essa experiência? Roberto: Conhecemos Keiji Haino no festival Music Lover’s Field Companion, em Newcastle, e alguns dias depois nos encontramos no CCA (Centre for Contemporary Arts), em Glasgow. Foi uma experiência incrível, já que ele é um dos
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artistas que mais admiramos. Depois, a nossa colaboradora Ramona Ponzini conseguiu trazê-lo para a Itália por conta de sua primeira apresentação ao vivo no nosso país. Foi uma noite fantástica. Com que outros artistas vocês têm tido boas experiências musicalmente? Maurizio: Uma das melhores colaborações que fizemos foi com Tom Greenwood, do Jackie-O Motherfucker. Fizemos o primeiro contato quando ele pediu para MCIAA aparecer no U-Sound Archive vol. 19. Então pensamos em convidar Jackie-O para participar das nossas série de splits From the Earth to the Spheres. No ano retrasado, ele pediu para Roberto, eu e Ramona fazermos uma turnê na Europa como a banda de abertura temporária do Jackie-O. Foi a primeira vez que tocamos todos juntos e encontramos uma mágica imediata entre nós quatro. Para fazer música improvisada, o elemento essencial é ter uma boa ligação entre os artistas. Vocês também colaboraram com Sonic Youth. Como isso aconteceu? Maurizio: Tocamos algumas vezes com Sonic Youth na Itália e na Europa. Tudo começou quando terminamos de gravar o primeiro CD-R do MCIAA. Como o Sonic Youth foi a primeira banda a abrir as nossas mentes para novas concepções de sons – e de arte como um todo – quando éramos adolescentes, influenciando a nossa forma de ver a vida e expressão, decidimos mandar uma cópia para eles em Nova York. Isso parecia ser a forma mais direta de dizer “obrigado”. Claro que não esperávamos nada, mas fomos convidados para abrir a turnê de 98 na Itália. Para criar as suas experimentações espaciais, o visual tem um papel importante? Roberto: Pessoalmente, eu não encontro nenhuma linha de separação entre música e arte visual; ao mesmo tempo em que não vejo a
necessidade de ser interconectada. Às vezes a música pode explicar algo que nenhuma outra forma de arte pode... Bem, de qualquer forma, eu normalmente não consigo separar o visual da música. Durante o último ano, fiz muitas pinturas no meu estilo espacial, onde a forma livre abstrata utilizada com acrílico, cera e vários outros materiais, incluindo fragmentos reais de meteoritos, se encontraram com a minha imagem de ícone alienígena. Eu gosto da idéia de colocar pinturas, filme e instalações junto com projeções em uma galeria onde MCIAA poderia fazer um show. Esse espírito de lançar discos e fazer música o máximo possível mudou com o tempo? Maurizio: Desde quando começamos, a nossa necessidade de lançar, de uma forma fácil e direta, coisas que pudessem se encaixar com a nossa urgência de criatividade nos levou a criar a Opax Records. Então começamos a fazer lançamentos em CD-Rs limitados com capas artesanais. Só agora, com a série de splits From the Earth to the Spheres, começamos a fazer LPs em vinil. Apesar dos lançamentos caseiros com desenhos artesanais tomarem muito tempo e energia, amamos fazer essas edições especiais. A motivação continua a mesma ou mudou? Roberto: As nossas motivações para fazer música e arte com certeza nunca mudaram durante esses anos. Na verdade, eu acredito que nascemos para nos expressarmos através da arte. Não é uma escolha realmente. Isso é apenas o que sabemos fazer. E algumas vezes não é fácil de aceitar, porque é um destino difícil... Você normalmente sente que está em uma isolação psíquica... Mas a arte é a única parte verdadeira de você mesmo. A vida sem arte não tem muito significado para nós. A arte fala das perguntas sem respostas. Arte é liberdade total. Arte é “O Signo”.
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Palavras: Ana Garcia Ilustração: Heto
Rodrigo Gorky está esperando ansiosamente o visto de trabalho chegar para poder acompanhar Marina Ribatski e Pedro D’Eyrot, que já deram início a mais uma turnê européia do Bonde do Rolê. Eles mal conseguiram dormir depois do inacreditável show no Rec-Beat, festival que acontece durante o carnaval de Recife, e já tiveram que partir para abrir shows de bandas como Junior Boys e The Gossip. Na quarta-feira de cinzas, decidimos ficar em casa e tomar uma cerveja na minha varanda. Rodrigo começa a contar a sua história. Antes do Bonde do Rolê você estudava Letras e era sempre começávamos uma competição de quem “Robot Rock”. Ao mesmo tempo, a gente ainda levava a sério um outro projeto que se chamava DJ da cena electro. O que você pode dizer sobre descia mais o nível. Começava com funk carioca Géssica. essa cena no Brasil? e ia para as coisas bregas dos anos 80. Um dos Do Montage? (Risos). É meio besteira, mas DJs de rock tentava subir o nível e tocava uns Como Marina entrou na história? toda a cena electro no Brasil tem normalmente rockinhos dos anos 50, daí eu descia o nível de A gente queria alguém para cantar e tinha que a pessoa que faz e a pessoa que não recebe novo e tocava coisas a la Jovem Pan dos anos 90, ser menina. Eu tinha conhecido Marina uma vez os créditos devidos. Isso acontece muito com tipo Corona. num boteco. Ela falou que estava interessada em a pessoa que faz a festa e o DJ da festa. Em fazer alguma coisa diferente do que ela tinha Curitiba, eu era o DJ que ficava reclamando Então, a festa ajudou a criar o Bonde do Rolê? feito até o momento: bandas de rock de menina porque as pessoas não viam a minha importância. Sim, junto com alguns outros fatores... Era a de protesto, sabe? “Corta o pinto dos caras”, Isso ajudou a criar o Bonde, porque eu estava festa, eu querendo montar um projeto com umas coisas assim. Em nota, Marina não é insatisfeito com as festas em que tocava e recebia Pedro, Diplo indo tocar no Milo – todo mundo sapatão. Então, a gente acabou chamando ela. pouco. Então, comecei a fazer festas e convidar falando que ele era o máximo porque tocava Eu e o Pedro pegamos um CD e gravamos os amigos – Pedro era um deles. Acho que uma funk carioca com música eletrônica ao mesmo todas as coisas que queríamos que ela colocasse das últimas festas que a gente fez foi do Duelo tempo, coisa que eu já fazia há muito tempo. Ah, o vocal. Mostramos e ela gostou muito. Isso foi do Rockfest Eletrônico – dois DJs de eletrônico e minhas idas para faculdade com Pedro, a gente em março/abril de 2005. A gente normalmente de um lado (eu e Pedro) e dois DJs de rock estudava na PUC à noite, falando um monte de conta como maio de 2005 o começo da banda, do outro lado da pista com outro setup. A besteira. Pedro dizia: “qualquer dia desses vamos quando a gente fez o primeiro show. Mas, gente ficava zoando, baixando o som deles gravar um funk, eu tenho as letras” – e ficava quando fomos ver as coisas sérias, um era mais e tocando música em cima. Meio que cantando. A gente pensou em fazer uma com Daft preguiçoso que o outro – a gente não conseguia batalhazinha besta, mas era superdivertido. Punk, já que Diplo estava pegando todos os ouros. fazer nada. Até que decidimos beber um pouco. Mais ou menos 4h da manhã, já bêbados, Assim, gravamos a primeira, só eu e Pedro, que é o Começamos a beber, beber, e aí a gente fez outro funk. Marina chegou lá e pegou a caneta, já tinha uma base ali e gravamos na hora. Onde era o ensaio? O ensaio era lá em casa. Pedro morava comigo e a Marina foi lá um dia para gravar. Ligou o microfone no computador e gravou. Isso foi com a “Ventoinha”, que tem o sample do Darkness. A gente faz os falsetes e tudo mais. Na mesma época, eu estava indo tocar em Florianópolis com o povo da Devassa. Era uma permuta de
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Eram shows para quantas pessoas? festas: eles levavam a gente para Florianópolis e ele foi na nossa casa, levou os apetrechos e Entre 400 e 600 pessoas. A receptividade a gente os levava para Curitiba. Era uma festa de gravamos tudo direitinho. Nessa mesma época, era grande. O show do Barbican foi bem legal, electro, eles devem ter tido Montage já... Ah não, Diplo ficou no Brasil depois do Tim Festival estava cheio de gente, foi no mesmo dia que teve o Bondage, que é um pouco menos gay, para uma turnêzinha como DJ e a gente estava tem umas meninas na banda. A gente foi para ouvindo o povo falar “meu, sabe aquele funk que o povo da Orquestra Imperial refez o disco Tropicália. O Devendra (Banhart) estava lá, o Florianópolis e toquei a música. Os meninos tem Alice in Chains no meio? Então, o Diplo Gruff (Rhys) do Super Furry Animals também perguntaram o que era e eu disse que era a tocou vocês na balada ontem”. Quando Diplo estava lá no meio. Eu lembro que no camarim eu minha banda. No mês seguinte eles iam fazer foi a Porto Alegre, o Fredi deu um CD para ele e estava o tempo todo em cima do Gruff, mas ao a festa de aniversário e a gente foi fazer o show. nós começamos a conversar pelo MySpace e por invés de falar que sou muito fã, eu ficava “e como Foi num iate, ele saía no meio da festa, andava e-mail. Foram nessas conversas que ele falou que está Euros”? Euros (Childs) é o cara de uma banda até um ponto e voltava. A idéia era muito boa, estava abrindo um selo. Eduardo Ramos ficou chamada Gorky que eu gosto muito do País de Gales mas a gente só tomou nesse show, trataram a megaempolgado. Foi tudo na mesma época, ai o e eles são amigos. gente como cocô, foi horrível. disco saiu em março do ano passado, em vinil. Qual foi o próximo passo? Ah, sim, e logo em seguida vocês começaram uma Gravamos as músicas e colocamos no Trama turnê, certo? Virtual. Mas o site não aceitou por causa dos Nessa mesma época, Diplo tinha voltado pro samples. Seis, oito horas depois já estava Brasil e disse que estava combinando com o fora do ar. Ou seja, eles ouviram. Eu achei booking agent dele da Europa para viajar com isso superlegal. Então, a gente colocou no o Bonde em maio. E ao mesmo tempo o Dú MySpace, esperando que não desse problema estava dizendo que no meio do ano iria rolar e até hoje não deu. Em agosto de 2005, turnê nos EUA com CSS e Diplo. Passamos Fredi, da Comunidade Nin-Jitsu - do “tive, um mês, ônibus com cama e tudo mais. tive, detetive”!, nos escreveu. Todo mundo As coisas iam acontecendo super rápido. E ficou megaempolgado porque o cara tinha aí, teve a entrevista da Rolling Stone. Eles gostado do som. A gente não tinha nenhuma estavam fazendo uma matéria e queriam pretensão de gravar isso porque seria colocar o Bonde como uma das dez bandas impossível conseguir a liberação de todos os de 2006, que Wolfmother, TV on the Radio samples, mas queríamos, pelo menos, ter estavam na lista. O Dú conseguiu nos escalar algo gravado direito. Combinamos de gravar, no Barbican, o festival da Tropicália. Aí voltamos pro Brasil já com o pensamento: temos que fazer o disco.
Do Gorky’s Zygotic Mynci? Isso, vem daí o Rodrigo Gorky. Eu estava meio sem noção e meio travado. Muita gente famosa e a gente no camarim, não tendo que ficar ali na porta esperando uma abertura, que nem no show do Tom Zé ontem. Abria a porta e tinha umas dez cabeças olhando para dentro. Aí a gente ficou entre maio e julho, depois a gente viajou para os EUA com o Cansei. Ficávamos trocando e-mails coletivos, dizendo que quando chegássemos em NY íamos fazer tal coisa. “Vamos beber toda noite, vamos fazer acontecer”.
Como foram os primeiros shows lá fora? É que no Brasil ou o povo já conhecia e ficava se divertindo ou o povo ficava de braço cruzado olhando pra a gente com cara de nojo. E o povo da Suécia, por exemplo, é louco, louco, louco, pulando e dançando um monte, gritando. Foi que nem aqui em Recife. Ficamos mal-acostumados com esse público da Suécia.
Foi assim? Foi. A gente bebeu bastante, sofreu bastante com o calor, os shows foram muito, muito bons e outros muito, muito ruins. Por quê? Não sei, o primeiro show, em Buffalo, foi bem mais ou menos. O mais engraçado é que eles estão chamando a gente para fazer outro show. Então a gente acha que essa coisa de show ruim para a banda é muito relativa. O que faz um show ruim? Hum... O timing ruim, por exemplo, eu começar uma música e um dos dois pede para parar ou diz que não era essa a música que queria tocar. Ou quando um deles está emburrado, fica de cara fechada no show ou quando erra demais as letras. Então é culpa da banda? Porque mesmo que tenha cinco ou dez pessoas na platéia... Agora mesmo fizemos um show, em outubro, que tinha 10 pessoas na platéia e dissemos que eles tinham que ficar do nosso lado para fazer o show, sabe? Não importa a quantidade, mas, basicamente, quando o show é ruim a culpa é da banda e não do público, porque o público faz milagres.
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O fato de cantar em português não dificulta? explicava que o funk meio que ia e saía de moda aqui Voltando ao timeline... O público não canta, mas eles vão na vibe da no Brasil, menos no Rio. Aí eu encaixava o Bonde, Em julho de 2006, em Montreal, o Dú já era coisa. Eles vêem os dois lá pulando, porque que a gente pegou tudo o que sabia de funk com as o nosso empresário e assim como ele correu eu não fico pulando muito, é algo divertido, influências desse pessoal do sul e tentou fazer algo atrás pro Cansei lá fora, ele estava correndo pra se contagiam com isso. As batidas são boas diferente, indo um pouco além. gente. Ele conseguiu o interesse do Laurence para dançar. Eles nunca reclamaram que não (Bell), um dos donos da Domino, que foi até o estavam entendendo as letras. No começo Como foi para Marina que veio de um background nosso show em Montreal. Ele ficou chocado, rolava um pouco deles não entenderem nada diferente? adorou o show, e começou a negociar com o que falamos mesmo... Até teve um problema Marina só ouvia o que tocava na TV, acho que Dú sobre o Bonde sair pela Domino. Isso só mais sério, Marina e Pedro começaram ela levou bem na esportiva no começo. Mas se se concretizou em outubro, quando a gente já a chamar o povo de caipira e a falar um pegar a Deize ou a Tati, elas são bem do rock estava quase terminando o disco. Nessa época, monte de bosta em português. Teve um também. Elas gritam bastante. Eu lembro que fizemos outra turnê na Europa. Em novembro/ show em Bristol que estava uma bosta e o as instruções eram: “Marina grita mesmo, dezembro, a gente quase fecha o álbum e o disco povo estava lá porque era o lugar da moda tem que ser barraqueira, fingir que está sai em Junho, mas o primeiro single sai agora e a bebida era barata. O DJ que estava quebrando barraco mesmo, amanhã você vai em março. A gente gravou o clipe para “Solta o tocando antes era quem tinha chamado a estar morta”. Frango” no Rio, com um diretor inglês chamado gente para tocar, acho que ele é do Rio, e Barney Clay – ficou bem legal. Vamos gravar no meio do show Marina vira e fala que não Mudou o seu conceito de banda? o segundo clipe que é do “Office Boy” e ainda precisa dessa porra. Tinha um cara comendo Eu acho que as coisas agora estão mais estamos vendo os lados-b. Aliás, estou com um um salgadinho na frente dela pouco se profissionais. No começo era realmente... e-mail para responder sobre os lados-b e remixes. importando se estava tendo show e se ela estava se esgoelando ou não. E do meu lado Marina sempre foi assim no palco? A quem você pediu para fazer remix? estava o cara que falava português. Foi muito Ah, desde o começo. Hoje eles são bem mais Eu mandei uma lista bem legal, coloquei o pessoal feio, coisas que não se repetirão. Em New desinibidos. A gente já fez um monte de show, do Simian Móbile Disco, Peaches, e coloquei Orleans todo mundo falou besteira. Marina então eles estão melhorando nisso. Eu também, umas bandas meio nada a ver, de amigos. No chamou o povo de caipira, a Love (do CSS) um pouco. Antigamente eu não saia lá de trás, eu Brasil não tem ninguém porque é mais fácil a falando do Katrina, umas coisas sem noção fazia questão de ficar escondido. Alguns truques gente pedir colaboração do que fazer um remix... que não precisava... Mas fora isso, eu acho a gente vai aprendendo de interação, de pedir para Ah, mas tem Adriano (Cintra do CSS). Em março que instiga um pouco as pessoas a tentarem cantarem o refrão junto, fazer piadinha entre as estaremos fazendo EUA e Canadá, vamos tocar descobrir o que a gente está cantando. músicas. no South x Southwest e em abril, se tudo der certo, vamos abrir a turnê do Klaxons nos EUA. Já falaram algo absurdo sobre vocês lá fora? O que você pode falar de Marina e Pedro, já que não Depois fazemos mais algumas datas na Europa Até hoje a crítica mais forte foi uma do primeiro estão aqui. e, em maio, voltamos pro Brasil. Dependendo vinil falando que é uma menina berrando com Eles são muito novos: Pedro tem 23 e Marina, a gente faz um festival que eu não posso falar... uma base mal feita, com Alice in Chains por 22. Ainda vão aprender bastante com os erros, (aponta para a cerveja Skol). baixo, sabe? Se não me engano foi a resenha do mas estão bem melhores que há um ano atrás. Pitchfork. Mas a gente é isso mesmo! Muitas coisas ruins aconteciam entre a gente no Bem, eu conheço Eduardo há alguns anos e sei que começo. Falta de paciência, um estourar com o é um sonho para ele ter uma banda na Subpop e Já fizeram alguma comparação nada a ver? outro sem motivo aparente. Coisas pequenas do outra na Domino. Não é surreal? Normalmente eles ficam falando do Beastie Boys relacionamento – nesse caso são três pessoas. É muito surreal. Em dois anos ele conseguiu e ficam perguntando como são as favelas. Mas a Marina verá mais a gente que o namorado dela fazer coisas que quase ninguém conseguiu gente diz que não é das favelas, que é da classe este ano. Isso não deve deixar ela muito feliz, mas, fazer, ele pegou duas bandas mais ou menos média de Curitiba. O que eu tento fazer é não querendo ou não, é o relacionamento que tem com novas e fez isso... Uma na Subpop e outra na classificar... Eu explico como ondas do funk. a gente. O Pedro é mais farra, você viu aqui... Pedro Domino, que são selos que ele sempre cultuou. A primeira onda surgiu por volta de 89 com o se joga na platéia, sai beijando, ele está pouco se Só faltava colocar o Grenade na Merge e DJ Marlboro e ele fez um monte de versões de ferrando porque não é um rapaz comprometido. fechava os sonhos dele. Ah, e o Tony da Gatorra clássicos do Miami Bass. Aí chegou 94 e eles Ele aproveita, os olhos dele brilham quando vamos na Warp. Se isso acontecer ele morre no dia começaram a fazer um tipo de funk, usando para Europa, “ai Suécia, wow, meninas bonitas a seguinte de tanta felicidade. Ele ainda vê as samples assim e assado. Em 98, um pessoal do qualquer lado”. Nos EUA as meninas são... Aliás, coisas bem deslumbrado, qualquer coisinha ele Rio Grande do Sul, que não tinha nada a ver com não vou falar... super se empolga. Eu meio que me acostumei, a cena, usou de influência aquilo – aí eu citava não tem mais aquele teor de novidade que Edu K e a Comunidade Nin-Jitsu. Eu explicava São fáceis. tinha. Toda semana tem Cansei na NME, sei que esse povo é bem separado do que acontece É. Não sei se posso falar isso, mas ele disse que é lá... Eu achei um pouco estranho no começo, nas favelas, mas eles estavam antenados com o a terra do boquete. Que é muito fácil, as meninas mas estou me acostumando. que estava acontecendo. Em 2000 já não tinha não têm apego. Ele disse que as meninas do Brasil mais nada a ver com aquela primeira onda de são bem mais difíceis. As de lá, estão ficando com www.myspace.com/bondedorole funk carioca que tinha aparecido em 89, porque a pessoa e é natural: está beijando, espera um a sonoridade já era bem diferente, as letras pouco, faz um boquete e vai embora. Aqui dão começaram a ficar mais de putaria. Eu também um beijo e pronto. Ele acha isso o máximo.
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Palavras: Ana Garcia e Filipe Luna Fotos: Divulgação Ilustração: mooz
Girl Talk é o pseudônimo do DJ Greg Gillis. Nativo de Pittsburgh, trabalhando como engenheiro biomédico durante o dia, ele canaliza suas outras energias criativas no projeto Girl Talk, onde cada música é construída a partir de samples facilmente reconhecíveis de sucessos recentes, recontextualizados em uma nova canção. Pertence a geração pós-Napster, mais interessada em samplear canções e “confrontá-las” com o trabalho de outros artistas. Violar direitos autorais e royalties aos artistas sampleados são necessidades dessa brincadeira. Ele absolutamente detona as noções de mash-up no seu terceiro álbum, o violentamente alegre Night Ripper (Illegal Art, 2006). Gillis costurou mais de uma centena de canções que fluem perfeitamente durante os 41 minutos da mixagem. Batidas e rimas fornecidas por artistas como G-Unit, Jermaine Dupri, the Ying-Tang Twins, DJ Assault, Junior Mafia e Mobb Deep, junto com pedaços de canções de Smashing Pumpkins, Pavement, Michael McDonald, Fleetwood Mac, Britney Spears e Sonic Youth. Nos agradecimentos de Night Ripper estão todas as 164 bandas e artistas que “emprestaram” seu talento ao álbum. O ritmo do disco é impressionante. Com a teoria da “Longa Cauda” (do livro The Long Tail), agora quase um evangelho, tem algo de engraçado e profundo no jeito em que ele junta a cultura pop: Nas sente a paranóia dos Pixies, Trina ganha um salve das riot grrrls, rappers de Houston relaxam em The OC, e a única coisa que se interpõe entre você e a união mundial é a RIAA. Night Ripper é um ousado trabalho artístico que se arrisca a levar centenas de processos de violação de direitos autorais. Alguns podem tentar desvalorizá-lo por falta de originalidade, mas a atitude esquizofrênica de Gillis para com a música pop é tão excêntrica que não dá para ficar com raiva. Não apenas um nerd de estúdio, Gillis também é um maníaco e intenso performer ao vivo, conhecido por suas incitações frenéticas ao microfone e pela tendência de se despir durante as apresentações enquanto dança ao redor do seu laptop. Ele leva o conceito de mash-up para um novo patamar e está quase confirmado como uma das atrações musicais para a próxima edição do festival Resfest, que acontece em abril. 42
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Você tem boas memórias musicais de quando era criança? Pode contar algumas? Eu lembro amar “Pour Some Sugar On Me” de Def Leppard e “Unskinny Bop” do Poison. É muito engraçado porque ambas são lentas, músicas sexual de rock com um tempo de hip hop. Depois, eu lembro de gostar de new jack swing. Eu ganhei um walkman e a fita Poison de Bel Biv Devoe de Natal. Eu não parava de tocar a fita e decorei todas as músicas em uma semana. Então você cresceu escutando isso? É, eu escutei principalmente rap e grunge. Eu comecei a gostar de música mais pop relativamente cedo, como Kriss Kross e Bel Biv Devoe. Eu lembro por ter ficado fascinado escutando N.W.A. e Public Enemy pela primeira vez. O meu amigo conseguiu algumas fitas do seu irmão e achávamos que eram coisas bem underground, porque eram tão crua e vulgar. Eu não tinha idéia de que estava mudando a cultura pop. Depois, eu vi Nirvana na MTV em algum momento e pensei que era estranho e ótimo. Eu lembro ter ficado um pouco envergonhado pela sua estranheza inicialmente, eu não queria mostrar para os meus amigos. Qual é a sua era musical favorita? Provavelmente o inicio dos anos 90: new jack swing, gangster rap, grunge e techno-pop. Você tem alguns pensamentos sobre a era musical que estamos vivendo agora? É sempre difícil colocar o seu dedo no som de hoje. Eu amo a maioria da música pop que está sendo lançada e eu sinto que tem muita energia criativa boa na máquina da música pop. No lado underground da coisa, eu acho que estamos em um momento incrível de mudanças. Veículos como MySpace e You Tube estão equalizando o campo da música e qualquer pessoa pode estar em uma banda de sucesso. Isso é ótimo.
Quando o Girl Talk começou? A idéia inicial mudou? Eu comecei o projeto em 2000, logo depois de me formar no segundo grau. Eu estava em uma banda experimental de barulho no colégio e mexemos um pouco com sampling, trabalhando com manipulações de 4 canais e usando CDs. Mas quando a banda terminou, eu pensei que seria ótimo começar um projeto que era completamente baseado em manipular a música pop. Nessa época, eu era mais interessado em música de vanguarda. O meu material tem ficado um pouco mais acessível com os anos, mas eu acho que a idéia geral tem permanecido igual: recontextualizar música familiar em novas formas. Como funciona as questões legais? Você conhece algo sobre o Creative Commons? Eu tenho que limitar os meus comentários sobre este assunto por razões óbvias. Mas não tivemos nenhum problema legal até agora. Eu acho que as pessoas na indústria musical estão começando a entender que música como as minhas não estão machucando ninguém e que, se alguma coisa, é uma ferramenta de promoção que faz com que as pessoas fiquem animadas com música pré-existente que elas podem não ter conhecido previamente. Eu toquei recentemente num show beneficente para o Creative Commons, em Nova Iorque, com Diplo e Peeping Tom. Lawrence Lessing também fez um discurso curto. Deve ter feito bastante sentido lançar o disco pela Illegal Art. Certo? Illegal Art é um selo ao qual eu era familiar quando estava no colégio por causa da sua compilação, Deconstructing Beck. Eu mandei uma demo quando eu comecei a fazer música e eles foram bem receptivos. Desde então, eles lançaram três discos e têm dado muito apoio a todas as músicas que eu já fiz, apesar do estilo ter mudado tanto. As coisas têm mudado tanto, desde Night Ripper? Sim, definitivamente. Eu costumava fazer shows uma vez por mês. Agora, eu pulo em um avião toda sexta-feira para fazer um fim de semana de shows. Eu ainda tenho o meu trabalho durante o dia, mas isso tem sido mais difícil de manter. Eu faço entrevistas quase todos os dias agora. Eu estou sempre ocupado trabalhando com remixes e conseguindo material novo preparado para os shows ao vivo. Tem sido maravilhoso, mas extremamente trabalhoso. Como são os shows ao vivo? Eu venho de um background de tocar com
“O meu material tem ficado um pouco mais acessível com os anos, mas eu acho que a idéia geral tem permanecido igual: re-contextualizar música familiar em novas formas.” Greg Gillis bandas de rock, grupo de rap e essas coisas. Então naquela época, eu sempre senti que era necessário fazer algo de entretenimento nos shows, mesmo se eu estiver fazendo tudo no meu laptop. Eu tento interagir com o público o máximo possível e, recentemente, os shows têm sido completamente loucos. As pessoas chegam já preparadas para enlouquecerem e ter um bom momento, então normalmente é uma mistura de show de rock com house party. Quando você escuta uma música, você já sabe o que irá utilizar? Normalmente eu consigo escutar as partes que eu sei que irão funcionar bem em algum outro contexto, mas no contexto que irei usar é um mistério. Eu estou sempre sampleando material e catalogando, não me preocupando de como eu irei utilizá-lo. Depois eu passo por um processo de erro e acerto, tentando combinações diferentes e eventualmente encontro o que eu gosto. Quais são as suas influências e quem são algumas pessoas que você admira? Eu sou influenciado por todos que eu sampleio. Eu acho que alguns dos meus heróis musicais são Dr. Dre, Merzbow e Kurt Cobain. As minhas influências não musicais são principalmente os meus amigos. Eu sempre faço faixas pensando se os meus amigos irão gostar ou não. Você já quebrou o coração durante alguma turnê? Eu tive pequenos problemas de relacionamentos por estar na estrada, no passado, mas nada de partir o coração. Eu fiz turnês por todo o EUA, mas as minhas turnês recentes têm sido relações de fim de semana, então não é tão extremo.
www.girl-talk.net Agradecimentos: Allmusic, Folha de S.Paulo, Pitchfork, Popmatters, Spin e Stylus Magazine.
DEBATENDO A MÚSICA Palavras: M. Collective Ilustração: mooz Imagine várias cidades de cerca de 60 países, com suas diferenças, discutindo música ao mesmo tempo. Depois, visualize, em cima do melhor dessas discussões, um grande encontro mundial para troca de experiências e informações que retornam para estas cidades. Não bastasse isso, imagine um ambiente descontraído e criativo. Este parece o cenário perfeito para fomentar idéias que ajudem no desenvolvimento da produção musical como um todo. E assim, em cima deste cenário, a Red Bull Music Academy e suas Info Sessions procuram criar um momento que estimule a interatividade entre diversos contextos culturais. No Brasil, as Info Sessions acontecem em nove cidades durante os meses de março e abril. Porto Alegre, Campinas, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Goiânia, Belém, Fortaleza e Recife serão visitadas por importantes nomes ligados à produção musical do país. Entre palestras, workshops, música, conversas e bate-papos, profissionais da música trocam conhecimentos sobre diversos temas do universo musical - história, tecnologia, habilidades, mercado, direitos autorais, distribuição e métodos de produção. Acredito que uma das vantagens desses encontros esteja na possibilidade de estreitar fronteiras entre os diversos centros de produção musical. Fazer com que a música de Belém do Pará, por exemplo, fique conhecida em outras regiões e vice-versa. Outra vantagem, é que as Info Sessions funcionam como uma prévia do Red Bull Music Academy, um dos maiores encontros internacionais de música. Afinal, quem realmente faz música no Brasil tem a possibilidade de levar os problemas e as qualidades da produção musical do país para uma mesa de debate internacional. Ao todo, 30 artistas de países diferentes, escolhidos previamente nas Info Sessions, terão a chance de trocar experiências com experts das mais diversas vertentes musicais. Este ano, a Academia completa 10 anos e vai para Toronto, Canadá. As atividades do encontro são realizadas em duas fases, divididas entre os meses de setembro e outubro. Se você é um Dj, músico ou produtor procure participar. Informações no site: www.redbullmusicacademy.com.br
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Palavras: Alexandre Kassin Ilustração: Diego Medina
Missão ingrata escolher 20 discos. É muito difícil dizer o que eu gosto mais, porque sempre fica baseado no que eu estou ouvindo na hora. Acho que para qualquer um que gosta realmente de discos, fica muito difícil decidir os prediletos sem deixar algo de fora. Hoje mesmo, relendo o que eu escrevi, já acho que muita coisa poderia ter entrado e não entrou, de qualquer jeito, pra quem curte música, nessa lista abaixo tem boas dicas de discos, outras que não têm nada de especial, mas que realmente eu estava ouvindo naquele momento. O que importa é que, como em qualquer lista, aqui tem uma parte de meus gostos.
Takako Minekawa Cloudy Cloud Calculator (Universal/Polygram) Adoro esse disco. Sempre ouço e sempre lembro dele. Tive a sorte de poder falar isso pra Takako pessoalmente. Comprei o disco em São Paulo e por muito tempo foi a música que tocava no meu carro. Gosto dos outros discos dela também, mas esse tem algo especial, talvez por ser pouco produzido. Parece algo que qualquer um faria em casa. Aliás, já estava na hora de vir um disco novo dela. Demorou.
Jorge Ben Força Bruta (Universal) Jorge Ben é o grande cara. Fica até difícil não botar uns cinco discos dele aqui nessa lista. Esse disco especialmente tem uma idéia bem particular, violão, percussão e cordas. Se todo mundo que acha o Melody Nelson do Gainsbourg impressionante ouvisse o Força Bruta sem barreiras, talvez Jorge Ben estivesse na lista dos caras mais cool do planeta.
Music Machine Turn On: The Best of the Music Machine (Collectables) Não conhecia Music Machine até pouco tempo atrás. Lembro de ter visto muito quando lançaram essa coletânea, mas não prestei muita atenção, depois comprei e hoje acho um grande clássico de todos os tempos. Engraçado como várias bandas que começaram na cola dos Beatles na verdade fizeram um trabalho muito mais relevante do que os próprios. Um bom exemplo são os Mutantes, para mim eles são muito melhores que os Beatles, embora talvez eles não achem isso.
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Bruce Haack
On Fillmore
Bite (Dimension 5) Têm vários discos do Haack que poderiam estar aqui, mas ultimamente tenho ouvido muito esse. Quase todos os vocais são com Vocoder, essa já é a fase final desse pioneiro do eletrônico. Vale conferir também o filme sobre ele chamado Haack. O filme é muito engraçado e tem Mouse on Mars, DJ Me DJ You, Money Mark, Tipsy, falando sobre Bruce. Tem também imagens dele em programas de televisão nos anos 50 tocando seus instrumentos como o Dermatron, instrumento que consistia num piano de cauda com um pianista, um amplificador, vários cabos ligados ao pianista e ao braço de Bruce de maneira que, enquanto o pianista tocava, Bruce conseguia fazer sons como um Theremin tocando na TESTA do pianista.
Sleeps with Fishes (Quakebasket) Eu os conheci no Percpan. Glenn é baterista do Wilco e Darin é baixista do Jim O’Rourke. Eles fizeram esse duo de música abstrata, que ao vivo é uma grande experiência, na qual Glenn toca vibrafone e tem um set de percussão bastante inventivo, com vários instrumentos feitos por ele ou planejados. Caixas com molas, baquetas com guizos, e Darin tocando baixo acústico e programações e barulhinhos. Foi bastante impressionante esse show ter passado despercebido, ninguém comentou nada nos jornais e nem em lugar nenhum.
Doiseu Mimdoisema Nunca Mais Vai Passar O Que Eu Quero Ver (Independente) Diego Medina sempre foi mais avançado que o Ween, e olha que Ween pra mim é das melhores bandas. Algum dia alguém deveria lançar uma coletânea de tudo que Diego já fez, desde a Opera Rock sobre Tchambie e a caneca de Café, as demos da Video Hits, os discos de barulho. Isso sem contar que talvez ele seja um dos grandes ilustradores nacionais. Pra quem não conhece vale conferir a página dele: www.diegomedina.com.
Bob Marley Catch a Fire (Tuff Gong) Melhor do mundo. Voltei a ouvir recentemente, depois de alguns anos de enjôo pela exaustão. É impossível não gostar. E olha que aqui no Rio se cada banda hippie que faz cover de Bob Marley desse um real pra Etiópia talvez a miséria acabasse. Mas ouvindo o próprio, dá pra entender que, fora as canções serem brilhantes e alçarem ele ao posto de único Pop Star terceiro mundista, a banda que tocava com ele era formada por alienígenas. É indescritível o som dos Wailers, muito estranho e muito experimental de um certo jeito.
Moacir Santos Choros e Alegria (Biscoito Fino) Disco novo, mas um clássico instantâneo. Coisas (1965) foi um disco que ouvi muito na vida. Também gosto dos outros, mas sempre achei Coisas um marco e totalmente moderno no sentido que essa palavra perdeu. Coisas é fora de seu tempo, é de qualquer época. Esse disco traz esse frescor de volta. Para mim, está entre os melhores discos lançados nessa década.
Kraftwerk Minimum Maximum (Astralwerks) Disco ao vivo do Kraftwerk. É muito bom, uma frieza cirúrgica e festiva. Com esse disco você tem a certeza de que o que eles estavam fazendo há 30 anos ainda é, não só relevante, mas ponto central da cultura de massa. Os maiores movimentos de música recente têm Kraftwerk na sua essência, e isso fica muito claro nesse disco duplo. Tudo veio do Kraftwerk. Se existe a expressão Mãe África, deveria existir a Mãe Germânia.
Cody Chesnutt Headphone Masterpiece (Ready Set Go) Masterpiece. Eu lembro o dia que o Miranda me mostrou esse disco no carro dele em São Paulo. Cada música que entrava, era uma pedrada nova na minha cabeça. Realmente genial esse disco. Tomara que venha um novo dele logo e que não tentem fazer dele um cara pop produzidão.
João Donato Quem É Quem (Odeon) Obra Prima. Som de bateria pequenininho, piano Rhodes e aquelas músicas inacreditáveis. É o melhor dos muitos discos do Donato, e olha que são muitos ótimos discos - o psicodélico Bad Donato (1970), Lugar Comum (1975), Leiliadas (1986), Muito À Vontade (1963), o cara só tem clássicos. Impressionante também que esse é o primeiro disco que ele canta, por sugestão do Marcos Valle, que é também produtor do disco.
Merzbow Tentacle (Alchemy Records) Vi um show dele e foi estranhamente relaxante, sério mesmo. Tinha Aube (projeto de Akifumi Nakajima) abrindo. O show do Aube, que também é barulho, não foi nada relaxante, mas o do Merzbow foi. Era muito alto, mas foi relaxante e tinha dinâmica. Tinham uns caras dançando do meu lado, isso talvez tenha sido um pouco exagerado, mas com certeza posso dizer que não senti agressividade no show, dava pra ver, conversar e entrar dentro da música.
Cidadão Instigado Método Tufo de Experiências (Slag) Disco do ano, no hit parade do meu coração. Já conhecia o Catatau há tempos, temos alguns amigos em comum e lembro dele quando tocou no Rio de Janeiro, mas acho que ele mudou bastante daquela época. Talvez eu também. Hoje, eu o acho sem sombra de dúvida um dos melhores guitarristas do Brasil, fora isso, os músicos que o acompanham no disco e no show são memoráveis.
Cansei de Ser Sexy
Bingo Miki & The Inner Galaxy Orchestra Back to the Sea (Three Blind Mice) Jazz japonês, são umas suítes com moogs super arranjadas. O jazz japonês tem uma característica forte, não parece música de lugar nenhum, é difícil dizer de onde veio aquilo, pode ter sido de qualquer lugar. Uma música inrotulável. Quem me indicou Bingo Miki foi Ed Motta e os próprios japoneses não sabem muito dele.
Miho Kei Kokeratzu Suíte (MCA / Universal) Também suítes de jazz japonês, mas a formação é koto (instrumento japonês mais tradicional), guitarra fuzz em linha, bateria, piano elétrico e uma cantora lírica muito boa e com um som único. Mesmo caso do anterior, não é de lugar nenhum, podia ser um disco do Mike Patton ou uma trilha de desenho animado francês psicodélico. Tem outra banda dos anos 50 de lá no mesmo caso, que são os Tokyo Cuban Boys de Cuba, que só tem a intenção, mas isso de alguma maneira soa bastante refrescante.
Sam Prekop Who’s Your New Professor (Thrill Jockey) Sam é do Sea and Cake (junto com Archer Prewitt, John McEntire e Eric Claridge). Seu disco solo é muito bom, esse disco é ótimo e o outro, homônimo de ‘99, também vale a pena. Essa cena atual de Chicago é bastante interessante, muitas bandas boas e muitas bandas feitas em análise combinatória que sempre é legal.
Black Mountain Black Mountain (Jagjaguwar) Um grande disco de rock. Que bom que tem rock de novo, o mundo já estava ficando chato.
Glenn Gould Bach / Not Bach (Sony) Estou curtindo ouvir Glenn Gould, é como se o João Gilberto fosse pianista clássico. Cada nota tem a maior importância. Acontece comigo um lance que acontece quando eu ouço João Gilberto também, eu não consigo dormir, mesmo a música sendo relaxante. Aquela perfeição me deixa bastante tenso e eu não consigo desligar torcendo por ele a cada compasso.
Justin Timberlake Future Sex Love Sounds (Jive) Comprei o disco do Justin Timberlake por causa do Timbaland. Quase tudo que o Timbaland faz eu dou uma olhada, achei que não fosse curtir muito este disco, mas o disco é ótimo e Timbaland sempre se supera.
Cansei de Ser Sexy (Trama) Torço por eles, são uma grande banda e, principalmente, muito divertidos. O disco tem uma coisa que eu gosto muito, o som é macio, não é eletrônico duro, muito bem mixado. Acho que melhores discos estão por vir ainda, na medida em que eles pegarem a confiança e extrapolarem os seus limites.
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Palavras: Morr Ilustração: Human Empire
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Pop é um som. Pop é uma melodia. Pop é um está colado em cima do jukebox do seu escritório: a sentimento; sentimento minúsculo, excelente e gigante. primeira compilação do selo de 2000 foi chamada Putting Um sentimento, quando no seu melhor, pode durar the Morr Back into Morrissey. E a segunda, dois anos por muito tempo. Neste caso especial, já tem durado depois, foi intitulada de Blue Skied An’ Clear, uma clara oito anos, armazenando sons de Berlin, Prenzlauer Berg, homenagem aos shoegazers britânicos Slowdive. Morr Raumerstrabe. Realmente, o endereço não é tão importante. Music conquista bastante pelo convencimento do som. Morr O que importa é a música de pessoas de Weilheim, Music lança casos amorosos para o coração. Munique, Viena, Antwerp, Oakland e, cada vez mais, de Berlin. Às vezes, uma música melancólica típica de outono, Se uma pessoa procurasse seguir o caminho da Morr Music às vezes frutos do nascer do sol. Aqui, tem igualmente música com um dedo no mapa do mundo, uma rota específica contemporânea, como, também, momentos jorrados de pop, logo estaria determinada. Bem construída, mas não muito white noise, música folk, hip hop abstrato e eletrônico. pisada, é o caminho para Munique/Weilheim onde reside Lali Puna, M.S. John Soda e o Tied & Tickled Trio. Outra Foi Thomas Morr que encontrou esses sons. Ele os colheu e rota levaria para Bélgica, para The Go Find e Styrofoam. Em os mantêm trazendo repetidas vezes para ouvintes em todos os Viena iria encontrar Ernhard Fleischmann. Outros caminhos cantos do mundo. Esses sons são lançados pelo seu selo Morr levariam para Oakland (Man’s Bestfriend) e Londres (Isan), Music que, gradativamente, tem-se tornado referência para a Copenhagen (Thomas Knak aka Opiate), Itália (Populous), “eletrônica”. Tem sido com o Powerbook se tornando a nova Nova Iorque e Seattle (Andrew Kenny e Benjamin Gibbard), guitarra e a guitarra se tornando o novo Powerbook. Quando o ou ao norte da Islândia (Múm). som exigiu a canção, a música eletrônica fez o seu caminho do hard disc para o contexto de banda. O resultado deste processo Isso tornou possível uma ligação permanente com as cenas são álbuns maravilhosos de compositores parcialmente digitais locais. Trabalhando cada um igualmente, mas ocupando uma como Lali Puna e seu Scary World Theory de 2001 ou Masha idéia global. Apesar das diferenças no som, eles dividem uma Qrella com Unsolved Remained, tanto quanto Tied & Tickled atitude que caracteriza uma falta de confiança no mercado da Trio com as suas paisagens ilimitadas de jazz que envolvem música pop. Em outras palavras: Morr Music não procura pela os irmãos do Notwist, Markus e Micha Archer. Ou a cool e próxima promessa, mas encontra músicas esplêndidas. escura interpretação dos anos 80 do Tarwater, como no seu disco The Needle Was Travelling. Essas músicas estão cobertas pelas capas e livretos do artista Morr Music começou em 1999. Thomas Morr conseguiu juntar no seu selo tradições diferentes da música popular (e não muito populares) e utilizou a narrativa da história do faça-você-mesmo para se administrar. Em seguida, ele utilizou uma narrativa bem britânica aproveitando o melhor de uma terra pop maravilhosa cheia de sentimentos fortes e empáticos. Não é sem razão que um pôster do Morrissey
gráfico Jan Kruse (Human Empire), um amigo de infância de Thomas Morr. Jan é alguém que brilhantemente entende como visualizar o sentimento Morr, às vezes com caracteres cativantes, como um esquilo melancólico ou um “monstro cabeludo” com headphones. Mais que isso: ele desenha mapas do mundo da Morr Music. Aquele que seguir, pode se perder.
www.morrmusic.com
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PELVs
Anotherspot (Midsmumer Madness, 2006)
Inspirados antes de qualquer coisa pela beleza das praias e das mulheres do Rio, mas também compartilhando do mesmo interesse por música, cinema e cerveja, quatro amigos de infância montaram uma banda para se divertir e fazer o que, na descrição de Gustavo Seabra, seria uma “música cheia de guitarra achando que é surf music”. Passados 15 anos e três discos lançados, Seabra (guitarra e voz), Rafael Genú (baixo), Ricardo Mito (bateria) e Gordinho (guitarra e voz) convidaram os guitarristas Daniel Develly e Clínio Jr e o tecladista André Saddy para gravar seu quarto e melhor disco: Anotherspot. À primeira vista, a quantidade pode assustar, mas no disco as quatro guitarras se alinham, formando um som singular e consistente, que mantém a coerência com o restante da carreira do grupo. A adição de duas guitarras ajuda a enriquecer Anotherspot em detalhes. Arranjos muito bem feitos, além da ótima qualidade de gravação e produção, com destaque para a primeira faixa, “Baby of Macon” – dez minutos de um novo arranjo para uma antiga demo. O disco está com um som mais cheio que os anteriores e o mérito é da produção, dividida entre a banda e o experiente engenheiro de som Chico Donghia, ex-técnico de P.A. de Tim Maia. Sem desmerecer a coesão e qualidade do restante da discografia do PELVs, este novo disco afasta aquela impressão de que algumas músicas são bem parecidas. A variação dos temas agora fica mais evidente, principalmente quando o clima é menos melódico e mais etéreo em faixas como “Keep Your Music Away” e “The Ballad of Tom Cody and Ellen Aim”. Para fechar o pacote, destaca-se o projeto gráfico de Anotherspot, que repete a dobradinha de Península (Midsummer Madness, 2001), com um design detalhista de Fernando Valente sobre fotos do baixista Rafael Genú. Com esse disco, a PELVs acerta mais uma vez ao trabalhar bem suas melodias.
ENTREVISTA com Gustavo Seabra Qual a importância desse disco na sua vida e no seu trabalho? Cada disco é um marco para uma banda. Principalmente para uma banda independente em sua essência como a PELVs. Não é fácil existir tempo suficiente para lançar quatro discos. É um grande orgulho conseguir isso. E o orgulho é ainda maior quando percebemos uma nítida evolução no trabalho. Provavelmente não são todos que concordariam, mas, este é o nosso melhor disco. Você poderia contar um momento inesquecível para você durante a gravação deste disco? O processo de gravação desse disco não foi muito diferente dos dois últimos. Gravamos no estúdio Freezer, demoramos mais de um ano para terminar. Tudo dentro do normal. A diferença básica foi a presença, durante quase todo o processo, de um técnico de som e grande amigo Chico Donghia. Chico foi técnico de P.A. do Tim Maia durante muitos anos e tem uma veia analógica muito forte, o que nos ajudou muito a chegar na sonoridade que queríamos. Faz um tempo que vocês têm uma parceria com a Midsummer Madness. Como é a relação de vocês? Excelente. O MM nos acolheu numa época em que não existiam muitos selos interessados em bandas que cantavam em inglês. Éramos amigos antes do selo existir e continuamos amigos. Como tudo em relação à PELVs, fica tudo em casa. Para vocês, qual a vantagem de estar ligados a um selo? Acho que a maior vantagem é estar ligado a pessoas como o Lariú e o Lethier que realmente gostam da banda e fazem as coisas por prazer. Acho que a importância de estar ligado a um selo está se tornando cada vez menor. No nosso caso só nos ajuda, mas, sinceramente, não sei se nos ajudaria estar ligado a qualquer outro selo independente. É cada vez mais possível realizar as coisas sem precisar de um selo por trás. Mas aí também depende dos objetivos de cada banda... Como são feitas as suas composições? O que te inspira? Geralmente em casa, com um violão. Acho que a própria música inspira. A necessidade de superação. Acho que o Rio de janeiro também nos inspira de alguma forma, sei lá... Qual é a sua música favorita do novo disco? “Lia”. Trabalhar com aqueles reverbs e efeitos exige um cuidado especial. É perigoso. Se passar do ponto ou for mal feito estraga tudo. Pode soar brega. Acho que achamos o ponto. A sensação de recompensa é maior. Depois do disco lançado, o que vem por aí? Estamos começando a trabalhar em um projeto de um DVD comemorativo de 15 anos de banda. O conteúdo ainda... Uma dica para uma banda nova e independente que pretende gravar um disco... Faça você mesmo, com prazer e por prazer. Se for por dinheiro, faça um concurso público. Palavras: Tathianna Nunes
Ilustração: mooz
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Bryan Ferry Dylanesque (Virgin) No meio tempo em que lançava os primeiros discos do Roxy Music, Bryan Ferry tocava sua carreira solo, regravando canções de seus ídolos tal qual um crooner bizarro nascido de uma mistura de Humphrey Bogart com Frank Sinatra. Em 1973 muitos fãs de Bob Dylan torceram o nariz para sua versão do folk de protesto “A Hard Rain’s A-Gonna Fall”, carregada do glam rock num arranjo que ia além do violão e da gaita e adicionava backings femininos e efeitos sonoros que remetiam à guerra do Vietnam que se desenrolava naquele momento. Até hoje muitos fãs de Dylan ainda detestam essa regravação. O que eles não sabiam é que Ferry sempre quis gravar um disco inteiro dedicado ao repertório de Dylan e, apenas agora conseguiu prestar sua homenagem. Em Dylanesque encontramos um Bryan Ferry distante do som, cheio de texturas e reverberações, que o fez conhecido no mundo inteiro em hits como “Slave to Love” ou “More than This”. Aqui, ele busca um som mais cru e urgente. Não à toa, o disco foi todo gravado em uma semana com a banda tocando ao vivo em estúdio, talvez numa tentativa de remeter aos primeiros discos de Bob Dylan em que tudo era resolvido rapidamente sem preocupações maiores em aprimorar os arranjos das canções. Segundo Ferry, a seleção das faixas foi baseada simplesmente em seu gosto pessoal, assim boa parte do disco traz canções da primeira fase da carreira de Dylan, a exemplo de “The Times They Are A-Changin” e “All I Really Want to Do”. O disco guarda algumas surpresas como a participação do antigo colega de Roxy Music, Brian Eno em “If Not for You” e uma releitura da já batida “Knockin’ on Heaven’s Door”, que incrivelmente consegue evitar o lugar comum. Por outro lado, a revisão de “All Along the Watchtower”, que fecha o disco, não consegue fugir da inevitável comparação com a gravação definitiva que Jimi Hendrix fez em 1968. Enfim, Bryan Ferry nunca conheceu Bob Dylan pessoalmente e só veio a assistir a um show do segundo no ano passado. Quando perguntado sobre o que diria caso se encontrasse com o homenageado, responderia “eu espero que você não se importe”. Anísio Curtina
ilustração: mooz
!!! Myth Takes (Warp) Apesar de reconhecer os méritos do LCD Soundsystem, acredito que o ponto fraco da banda de James Murphy está nas canções longas demais com poucas variações na base. Portanto, a sensação que tive ao ouvir esse Myth Takes, terceiro disco do !!!, é que eles são um LCD melhorado. Os arranjos são mais encorpados e detalhados, mas sem deixar de lado a pegada dance em nenhum momento. Também lembra um pouco as canções mais rave do XTRMNTR, disco clássico do Primal Scream. Quase todas as faixas podem animar sua festa na boa, mas destacaria a matadora seqüência “Must Be the Moon” e “A New Name”. Márcio Padrão
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Air
Amy Winehouse
Pocket Symphony (EMI | Virgin) O duo Air está caminhando para se tornar como aqueles artistas, tipo Ramones e Björk, que não tem pretensão de alternar estilos a cada novo trabalho, mas sim se aprimorar dentro do universo que eles mesmos criaram. Pocket Symphony continua no mesmo caminho da trilha sonora do filme Virgens Suicidas e de Talkie Walkie. Para quem ainda gosta dos tecladinhos e climinhas suaves dos franceses, está tudo lá com a qualidade de sempre, como se fosse uma viagem de 47 minutos repartida em 12 canções/suítes. Para quem já enjoou, passe longe. Márcio Padrão
Back to Black (Universal | Island) Um antigo agente tentou colocar Amy Winehouse, 23, em uma clínica de reabilitação. Ela rejeitou o convite. Manteve o álcool em níveis constantes - sempre esclarecendo que não era alcoólatra. Lançou, aos 21, o disco Frank (Island, 2003). Depois, passou um ano e meio sem conseguir escrever nada. Até que encontrou o produtor Mark Ronson (que já trabalhou com Lily Allen, Christina Aguilera, Kanye West) e, quando estava contando a ele que não tinha problemas com álcool, e sim “apenas um problema com ela mesma, que vinha à tona quando ela bebia” (então tá!), a cantora inglesa compôs “Rehab”. A música virou o primeiro single do seu aclamado disco Back to Black, que vai do jazz ao soul, passando por reggae e hip hop, e lhe rendeu o prêmio de melhor cantora do ano passado, no Brit Awards. Com ecos de Motown e embalada por uma voz de diva soul dos anos 60 (muitos discos de Etta James, Aretha Franklin e Diana Ross na infância,
talvez), “Rehab” mostra Amy em sua melhor forma. Ela repete “they tried to make me go to rehab, but I said no, no, no”, e a gente concorda que é melhor deixar essa menina solta pelas ruas de Londres, escrevendo letras certeiras sobre desilusão, angústia, incerteza, álcool, drogas e coração partido. Tudo ao som de arranjos vintage, que misturam harpa, trompete, sax, violino e percussão. Para acompanhar, um drink, por favor. Daniela Arrais
Apples in Stereo New Magnetic Wonder (Yep Roc) Eu não vou esquecer que a primeira referência que tive do Apples foi um clipe das Garotas Superpoderosas. Fã de desenhos, isso contou a favor. Mas a experiência do disco completo supera. Disse isso só para dar uma “visualização” melhor de como as músicas parecem. Calma, não tem nada bobo (demais) ou fofo (demais). Power pop com jeito de festa indie
– daquelas mais vazias – dos anos 90. O melhor exemplo é “Can You Feel It”, que abre o disco. O bom é que ele pode ser todo ouvido no site da banda (www.applesinstereo.com), sem esperar um download chato. Um player simples, desses que vivem aparecendo em blogs, é atração central. Design divertido, com naves especiais que, novamente, lembram as Garotas Superpoderosas. Essa banda é um dos tantos motivos pelo qual não consigo pensar mais em falar de novos grupos sem comentar também os sites. Bruno Nogueira
Arcade Fire Neon Bible (Merge | Slag Records) Neon Bible coloca-nos mais uma vez diante da música única, forte e cheia de personalidade dos canadenses do Arcade Fire. Com a já conhecida atmosfera sombria e pesada do grupo, o disco nos insere, novamente, no meio de questões religiosas sobre morte e vida pós-morte. A assustadora faixa título “Neon Bible” (“Neon Bible, Neon Bible, not much chance for survival”) poderia ser tranquilamente trilha sonora de uma historinha de terror infantil (Só pontuando: essa é uma das que mais me assustam). Pessoalmente, gosto bastante da levada tensa e pop de “Black Mirror”, primeira música disco. Nela, os vocais e a constante repetição de Black Mirror, aliada aos ruídos que lembram um dia tenso de chuva, criam uma melodia única e rica em movimentos. A evolução desses canadenses como banda está no aperfeiçoamento técnico e na produção. Mas, ao mesmo tempo é estranho o grupo ter resgatado “No Cars Go”, do primeiro EP, para este disco agora. Tudo bem que eles a transformaram em um verdadeiro arranjo melodramático de cordas, vocais, baterias, enquanto a primeira era quase lo-fi. Uma curiosidade em torno deste disco foi a compra de uma igreja para sua gravação que propiciou, segundo a banda, um ambiente acústico perfeito. Às vezes penso no Arcade Fire como uma seita religiosa que, em um show, vai sugerir um ritual de suicídio coletivo. Fora isso, acho que estamos diante de uma das bandas mais completas e inovadoras dos últimos anos. Tathianna Nunes
Beirut Gulag Orkestar (Ba Da Bing) No fim do ano passado, Zach Condon foi hospitalizado por causa de uma estafa. Não é para menos. De uma hora para outra, ele deixou de ser um simples nerd do interior do Novo México (EUA) para virar a mais intrigante surpresa da música alternativa. Ele é a Beirut, banda que alarga as fronteiras do pop americano. Foi depois de uma viagem à Europa que Zach se apaixonou pela música cigana da península balcânica. No álbum de estréia, Gulag Orkestar, ele gravou piano, voz, percussão, clarineta, bandolim, acordeão e trompete. Fez praticamente sozinho o disco, em seu quarto de dormir. O garoto de vinte anos se cercou em seguida de diversos músicos amigos para uma extenuante seqüência de shows e para o lançamento do EP Lon Gisland (Ba Da Bing) no fim do ano passado. Estas são duas obras repletas de belas e sinuosas melodias, que parecem trilhas sonoras de filmes de Emir Kusturica (Não é à toa que Goran Bregovic é uma clara e reconhecida influência). A música da Beirut vai da melancolia a espasmos de alegria em pouco tempo. Viagem. André Balaio
The Berg Sans Nipple Along the Quai (Team Love) Antes da dupla franco-americana lançar o disco Along the Quai oficialmente, a gravadora americana já tinha distribuído cópias para algumas rádios universitárias dos EUA. Foi assim que quando um dos colaboradores do site chileno Super 45 visitou a sua terra natal, Santiago, trouxe diversos discos, incluindo essa preciosidade. Fomos todos encontrálo, na casa de um dos editores do site, para descobrir as novidades para este ano. Ele abriu uma bolsa enorme com diversos discos e todos pegavam logo o que lhes interessavam. Alguns passaram pela roda umas três vezes, incluindo o Along the Quai. Fiquei observando de longe, rezando para que ninguém se interessasse e que o disco acabasse na pilha dos rejeitados.
Quando vi o disco deixado de lado, peguei-o e abri imediatamente. Não acreditei! O Berg Sans Nipple realmente lançou mais um disco. A capa é toda marrom, com uma chama cortada, tem desenhos tribais dentro do encarte com suas três folhas soltas de textos e lindas imagens. Peguei a chave do carro e fui escutar o disco enquanto os outros continuavam na casa. O Berg Sans Nipple criou o som mais gostoso da música eletrônica. Como no anterior, os teclados continuam presentes. Talvez esteja um pouco mais pesado na percussão, com diversas camadas de feedback, melodias deliciosamente pop com pitadas de dub. A dupla está um pouco mais calma e mais sonhadora. As vozes, sempre ao fundo, estão cheias de efeitos. Com certeza um pouco influenciada pela sua passagem pelo Brasil em 2005. As faixas são todas conectadas em 44 minutos. “Mystic Song”, “Of the Sung” e “Along the Quai” são minhas favoritas. Ana Garcia
Bloc Party A Weekend in the City (Wichita Records) Na primeira audição, o disco novo do Bloc Party, banda revelação de meados de 2005, pode decepcionar e nos levar aos clichês: imitou a fórmula do CD anterior Silent Alarm, não tem nenhum grande hit e não correspondeu às expectativas. Porém, também creio que essas são formas apressadas e injustas de ouvir A Weekend In The City. Em primeiro lugar, acho que a banda conseguiu manter sua pegada nervosa, o que é um mérito; dá aquela sensação legal de estar ao vivo. Segundo: de fato, as músicas estão meio parecidas umas com as outras e lembram muito o primeiro disco, mas ainda assim interessantes. Principalmente as instigantes “Song for Clay (Disappear Here)” e “Waiting for the 7.18” e as mais calmas “Kreuzberg” e “I Still Remember” que tem a suavidade necessária para criar um bom contraste com as outras. Se tudo correr bem, a banda ainda deve render ótimas canções pelos próximos discos. Márcio Padrão
Blonde Redhead 23 (4AD) Kazu Makino e os gêmeos Simone Pace e Amedeo Pace preparam o lançamento de 23, o oitavo disco do Blonde Redhead. Disponível na web, o álbum é uma odisséia conservadora do grupo, que faz uma releitura de seu próprio material. Depois da obra-prima Misery is a Butterfly (4AD), de 2004, e dois anos de silêncio, já na faixa epônima eles mostram que aquele toque de Wolfgang Press e bandas climáticas da 4AD são o barato do trio. Kazu, com sua vozinha bonitinha, divide os vocais com Simone. Faixas como “Dr. Strangeluv”, “The Dress” e “SW” lembram bastante o trabalho anterior. Já “Spring and By Summer Fall”, “Top Ranking” e “Silently” flertam com o roquinho indie mais fuleiro. “Publisher” insere teclados e new wave em farelos agradáveis. “My Impure Hair”, batidona de violão, e “Heroine” são os pontos altos de 23, pela variação e inovação. Se não é o melhor álbum do Blonde Redhead, 23, definitivamente, deve ser um material para ser ouvido com atenção, já que mostra novas possibilidades musicais mesmo que embebido em referências oitentistas - para o tão homogêneo cenário roqueiro dos anos 00. Danilo Corci
Busdriver Roadkillovercoat (Epitaph) Cansei de dizer a Regan que com esse nome ele não vai comer ninguém. Depois vem reclamar a falta de groupies. Esses MCs cabeçudos e suas músicas difíceis. Quem se importa com refugiados? Quem vai dar para um motorista de ônibus? Não posso nem falar, mas a primeira vez que brinquei com Regan foi meio como ouvir esse seu disco novo. Ele tinha todas as ferramentas: negão, boas idéias, bem equipado de repertório. Mas a carapuça enganou essa pobre garota aqui. Às vezes não parece hip hop, não tem balanço, é caretinha como esse indie pop chato de hoje em dia. Quando ele chegava num lugar
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que eu dizia: “é isso aí, meu filho! Agora sim!”, logo mudava de idéia e partia para outra. Regan nunca me tirou de órbita e já tinha desistido dele. Dizem que ele era melhor no passado, mas o que eu conheci não me agradou. De qualquer maneira fui ouvir seu disco novo e tudo continua do mesmo jeito. No disco, senti coisas diferentes porque é uma verdadeira orgia, com produção de Nobody e do delicioso Boom Bip (esse sim preciso conhecer logo!). Embora a estrada em que esse ônibus passeia continue cheia de buracos, alguns momentos são umidificantes, como a ótima “The Troglodyte Wins”. Está melhor do que os anteriores, mas ainda não me convenceu. Apesar de negro de cor, na cama e na vitrola o motorista dirigiu meu ônibus como mais um branquelo desajeitado. Kiki Ferreira
Cabaret Cabaret (Rastropop Records) Sabe aquela frase do Homens de Preto quando Will Smith pergunta a Tommy Lee Jones “Sabe qual a diferença entre eu e você?” e responde “eu fico bem nessas roupas”?. O Cabaret começa mais ou menos por aí. Rock com afeto, vindo do Rio de Janeiro, que estréia num disco fundamental lançado pela independente Rastropop. É formada pelos personagens Marvel, Petter Glitter, Myself Deluxe e De La Foca. Sensíveis e maquiados, prontos para fazer uma explosão de más intenções em forma de rock de guitarras fortes. Nessa epopéia do romântico moderno, o disco começa na noite e termina na cama, já de botas, pronto para voltar ao show. “Rockstar Baby”, em meio ao repertório, esconde a melhor introdução ao palco. Voz radiofônica e riffs deliciosos formam uma equação perigosa para o sucesso. Bruno Nogueira
volta ao inglês. Sua relação com a literatura irlandesa, inglesa e norte-americana não a fizeram apenas escolher uma nova língua para cantar, como também é a principal inspiração deste disco. Yeats, Auden, Emily Dickinson, Christina Rossette e Dorothy Paker têm seus versos sussurrados e declamados por Bruni. Acompanhada de um violão, ela é esperta ao não se arriscar com tons altos desnecessários, e, assim, faz mais um disco belo e simples. Tathianna Nunes
Charlotte Gainsbourg 5:55 (WEA/Atlantic) Não deve ser fácil ser filha do polêmico cantor e compositor Serge Gainsbourg e da atriz e cantora Jane Birkin, mas Charlotte Gainsbourg parece tirar isso de letra. Ela começou a cantar profissionalmente aos 13 anos (mesma idade que atuou em seu primeiro filme) e, aos 15 anos, gravou “Lemon Incest”, um dueto memorável com seu pai, cuja letra sugeria um relacionamento sexual incestuoso e, no próprio vídeo da música, pai e filha dividem a mesma cama. Fazia alguns anos que não ouvíamos falar de Charlotte como cantora, mas, ao lado dos franceses Nigel Godin e Jean-Benoît Dunckel (ambos do Air), ela volta com 5:55. Além dos franceses, Charlotte convidou o legendário baterista nigeriano Tony Allen e contou, ainda, com a ajuda do produtor Nigel Godrich. Para completar o time, Jarvis Cocker (ex-Pulp) e Neil Tenant (Divine Comedy) que nos truxeram o melhor do cinismo inglês. Ao todo foram 11 músicas irônicas e sensuais levadas pela voz sussurrante de Charlotte. Destaque para “Operation”, na qual ela interpreta a anatomia do fim de um relacionamento; e para as sensuais e obsessivas “Beauty Mark” e “Everything I Cannot See”. Tathianna Nunes
Carla Bruni No Promisses (Naive) Se no primeiro disco, Quelqu’um Má Dit (Naive/V2, 2003), a ex-modelo italiana Carla Bruni cantava em francês, agora em No Promisses se
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Clap Your Hands Say Yeah! Some Loud Thunder (Wichita) Não é apenas o nome que é brilhante. O Clap Your Hands Say Yeah! faz música áspera, nervosa, cerebral,
Joanna Newsom
ilustração: mooz
Ys (Drag City) Joanna Newsom se tornou um dos nomes mais cultuados dos últimos anos no mundo da música alternativa. Isso porque, sua música segue sem paralelo nos dias de hoje. Harpista com formação clássica, mas também com influências de música Celta e do Country de seu país (EUA), Joanna debutou em 2002 com o lançamento de seu primeiro EP Walnut Whales. Desde então, lançou mais um EP, assinou com o Drag City e, finalmente, lançou seu esperado primeiro disco, o sensacional The Milk-Eyed Mender (Drag City, 2004). Nesta fase, com um punhado de canções folk, escritas num fomato pop convencional e emoldurado em uma voz quase infantil, Joanna encantava exatamente por sua simplicidade e espontaneidade. Caso que não se repete em Ys. Aqui, ela nos encanta de outra forma. As músicas estão mais complexas, com arranjos de cordas que ficaram a cargo de Van Dyke Parks, que já trabalhou nos anos 60 com The Beach Boys, The Byrds, entre outros. O arranjo de Van Dyke dá um clima de musical da Broadway ao disco. Gravado por Steve Albini (produtor do Nirvana, Pixies, ex-Big Black e guitarrista do Shellac) e mixado por Jim O’Rourke (guitarrista e produtor do Sonic Youth, Wilco, Smog, Beth Orthon entre outros), Ys cria um clima de conto de fadas nas cinco músicas que, de longas, alcançam 16 minutos. As letras contam fábulas sobre bichos que agem como humanos e sobre seres imaginários. Um universo quase Shakespeariano. Ouvir o disco é fazer uma viagem ao mundo de Joanna, que, por mais que pareça fantástico e místico, ela insiste em dizer que é real e que suas letras falam sobre fatos de sua vida. Daí talvez o grande mérito da artista, ao invés de soar como uma alucinaçãopsicodélica-datada-bicho-grilo, o álbum soa incrivelmente consistente e real. Rafael Crespo
mas muito pop. E com animadores resquícios de Lou Reed, Talking Heads e Flaming Lips. Some Loud Thunder respondeu bem às expectativas do difícil segundo disco, trazendo um grupo mais maduro e de sonoridade mais rica, usando até alguns efeitos eletrônicos junto aos instrumentos acústicos da banda. Em uma época em que quase toda música é feita para dançar, o disco do CYHSY é para ser ouvido com atenção e notado em cada detalhe. Como na linda e intrincada “Goodbye to the Mother and the Cover”, que é desde já uma das grandes músicas do ano. André Balaio
não é pop, não é MPB nem bossanova, mas é acolhido por fãs de todos esses estilos. Destaques para a músicatítulo “Revirando o Sótão”, “Veneza”, “Brechot do Brega” e “Dentro da Caixa”. Marcelo Damaso
Dinosaur Jr
Beyond (Fat Possum Records) Discos de retorno não costumam agradar. Mas, vou te falar, que coisa linda de se ouvir, este disco novo do Dinosaur Jr – com os três membros originais, é bom frisar. J Mascis, Lou Barlow e Murph, uma das formações mais disfuncionais que se tem registro no rock, mas que conseguiu produzir três álbuns impressionantes antes que Lou fosse mandado embora da banda e o Dinosaur Jr se tornasse praticamente um projeto solo de J, definhando em importância e qualidade até o final do grupo. Agora os caras voltaram batendo um bolão. O disco parece ter sido feito em 1990, entre o Bug (SST, 1988) e o Green Mind (Blanco y Negro/Sire, 1991). Tudo está no lugar certo, tudo perfeito. Parece que a fórmula ficou guardadinha em algum Deerhoof lugar, apurando, esperando por este Friend Opportunity (Kill Rock Stars) Beyond. Tome o de sempre: os vocais Desde que escutei este disco pela preguiçosos e solos imbatíveis do J, primeira vez, cada música me a tensão e o senso melódico do Lou. pegou de um jeito que fiquei sem Resumir é fácil, explicar é difícil. Faz reação. Posso dizer que estamos assim: é fã de Husker Du e Neil Young? diante da junção ideal de um Escuta o disco. É fã de Nirvana e Built vocal twee-pop com transgressões to Spill? Escuta também. Quer só ouvir melódicas e guitarras de riffs bom guitar rock? Escuta. quebrados e algo mais. O algo Dagoberto Donato mais fica por conta de batidas minimalistas, teclados, sinos e sons delicados que completam a textura de cada uma das músicas. Tudo bem que as letras e intervenções são bastante esquisitas, mas estão dentro daquele parâmetro de regular sanidade que pode conquistar Érika Machado fãs dos igualmente freaks No Cimento (Indie Records) Flaming Lips. Títulos como No Cimento é o disco oficial de estréia “Believe E.S.P”, “Whiter the da artista plástica mineira Érika Invisible Birds?” e “Kidz Are Machado. Oficial, porque antes ela So Small” dizem algo nesse havia gravado um CD ao vivo em sentido para você? Satomi seu quarto chamado Baratinho, que Matsuzaki, que empresta vendeu mais de 700 cópias nas feiras sua doce voz para a maioria de camelô de Belo Horizonte. Para das faixas, tem aquele jeito gravar No Cimento, Érika conseguiu japonês de cantar que um “dinheirinho” através da Lei de dá um charme maior às Incentivo Estadual e não pensou duas músicas. E mesmo com vezes na hora de chamar o conterrâneo cada uma delas sendo John Ulhoa (Pato Fu) para produzir tão diferentes entre si, o disco. A parceria resultou em percebemos o quanto o músicas suaves, ricas em detalhes e Deerhoof não está nem mergulhadas no universo infantil. aí para isso tudo. É um Pensando em imagens, Érika compõe disco que lhe leva para baladinhas bem descritivas, como aqueles áureos tempos a “Secador, Maçã e Lente” e “No do indie-pop dos anos Cimento”. É um disco muito delicado, 90 quando nem tudo mas que ainda tem espaço para as precisava ser hype ou guitarras sujas como podemos escutar “the-next-big-thing”. na divertida “Robertinha”. Jarmeson de Lima Tathianna Nunes
The Eternals Heavy International (Aesthetics) O rock já não depende das guitarras – e faz tempo. O The Eternals talvez seja um dos melhores exemplos disso: no esquema baixo, teclado, vocal e bateria, mais comum ao jazz, a banda alarga as fronteiras do estilo sem parcimônia. Provavelmente ciente de que sua música desafia os rótulos, esse trio de Chicago batizou a primeira faixa do seu terceiro disco, Heavy International, com uma alcunha sugestiva: “The Mix Is So Bizarre”. A bizarrice escorre, de fato, ao longo da audição das 13 faixas e bate em cheio no ouvido de quem fareja a vanguarda. A obviedade passa longe e a alquimia escancara um leque de influências que contempla o dub, o hip hop, a eletrônica e algo do jazz. E trata-se de um disco de rock, não se esqueça. Uma das vantagens do The Eternals é de ter bons músicos em sintonia com todo o aparato digital. Sua abordagem sobre a tecnologia foge às tendências das batidas dançantes ou da sobreposição de efeitos. “Beware the Swordbat”, por exemplo, quebra tanto a cadência que seria praticamente impossível dançá-la. A faixa, com mais de sete minutos, atinge o ápice da ousadia: baixo e bateria iludem o ouvinte num fragmento introdutório e logo somem para dar espaço a um falsete vocal, que flui nas estranhezas de uma base tão eletrônica quanto torta. De repente, muda o clima: baixo e bateria reaparecem num groove duro e a voz adota um timbre fantasmagórico. O arranjo evolui envolto em teclados e backing vocals – tudo em seu devido lugar, sem excesso. Heavy International é cheio de segundas intenções e, por isso, requer mais do que uma rápida orelhada. Ouça duas ou três vezes e, quando menos esperar, se verá envolto pela mistura bizarra do The Eternals. Ramiro Zwetsch
A Euterpia Revirando o Sótão (Ná Records) Revirando o Sótão é o disco de abertura desta banda paraense que traz em seu som influências de Tom Zé a Patife Band. Sonoridade ímpar. Não é rock,
The Evens Get Evens (Dischord) Ian MacKaye é um músico, que por sua trajetória e trabalhos no Fugazi e Minor Threat, dispensa maiores introduções. Por isso, vamos ao que importa, que é falar de sua nova banda: The Evens e seu segundo disco Get Evens. Digamos que o nome da banda cai bem pelo sentido que a tradução lhe dá. Na banda, Ian MacKaye e sua esposa Amy Farina se tratam em pé de igualdade mesmo tocando instrumentos diferentes. O diálogo guitarra/bateria aqui passa longe dos clichês pré-formatados do rock’n’roll atual. Em compassos diferentes, refrões e com uma pegada hard-folk, Amy e Ian alternam os vocais principais em faixas que lembram Minutemen, os primeiros trabalhos de PJ Harvey e, claro, Fugazi. Por que ouvir? Basta dizer que “Everybody Knows”, “Eventually” e “Dinner with the President” foram as músicas que passei dias lembrando após ter ouvido uma única vez. Jarmeson de Lima
Explosions in the Sky All of A Sudden I Miss Everyone (Temporary Residence) Explosions in the Sky vai fazer você se arrepiar e ter todas aquelas sensações estranhas ao mesmo tempo com seu recente All of A Sudden I Miss Everyone. “The Birth and Death of the Day” abre o disco de forma explosiva e vai ficando mais até se ligar em “Welcome, Ghosts”, estabelecendo uma continuidade que pode ser nomeada por assim dizer...Vanguarda pura. O que realmente surpreende, entretanto, é a forma como a banda conseguiu inserir o piano em suas músicas: tudo permeado por ambientações oriundas de efeitos sonoros. Parece exagero,
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mas não é. A introdução de “It’s Natural to be Afraid”, por exemplo, ficou arrasadora. “What Go You Go Home To?” é quase toda no piano. “Catastrophe and Cure”, “So Long” e “Longsome” também estão a todo vapor. As músicas do Explosions in the Sky sempre seguiram aquele modelo: começam calminhas e vão se construindo com riffs lentos e novos sons, até explodirem em fúria e beleza no final. Algumas fazem o oposto, mas é basicamente isso. Já em All of A Sudden I Miss Everyone, nota-se que as músicas são feitas de “momentos” - constroem-se rapidamente, explodem, e voltam a se construir diversas vezes durante a música, transformando-se em um conjunto de pequenas canções. Cleyton Brito
logo no primeiro. A nossa sorte é que recebemos um depois de eu ter enviado um e-mail dizendo que “In the Shape” é a melhor música de 2007... até o momento. Mas realmente é. Provavelmente, você ainda não ouviu falar da banda, mas a melhor coisa que as outras bandas, um pouco mais populares, podem fazer é colocar na lista do “Top Friends” do MySpace a banda desconhecida amiga. Foi assim que Grizzly Bear fez e isso tem ajudado esses meninos de Los Angeles a tocar mais e lançar esse maravilhoso disco. Para quem gosta de guitarras, riffs pegajosos, bom vocal sem aquele sotaque inglês e dançar sozinho no quarto – Foreign Born é uma ótima pedida. Aproveite para baixar algumas faixas no blog: http:// foreignbornmusic.blogspot.com. Ana Garcia
Expresso Monofônico Expresso Monofônico (Baratos Afins) A mais nova aposta do lendário selo paulista Baratos Afins é o Expresso Monofônico, também da capital, que faz um som remanescente dos anos 70, principalmente da MPB da época, fato que já pode ser observado pelo nome de algumas canções, como “Araçá (Para Caetano)” e “Cadê Meu Disco Voador?”, que cita letra de Arnaldo Baptista. Sonoramente lembram uma versão mais contida dos Mutantes ou mesmo Tom Zé, mas sem a força e carisma de ambos. O vocal feminino é extremamente afinado e profissional, o que tranca o restante da banda de sair para vôos mais psicodélicos. No geral é um disco longo e rico em ritmos, indo da canção pop mais tradicional a experimentalismos sonoros influenciadas pela vanguarda paulista dos anos 80 – Arrigo Barnabé, Jards Macalé e afins. São ao todo 15 canções, dentre as quais umas melhores que as outras. Um disco que fica na média, não é ruim, nem bom. Gilberto Custódio Jr
Foreign Born On the Wing Now (Independente) Ainda não foi lançada a versão oficial deste disco. Os meninos fizeram 500 cópias artesanais para vender durante os seus shows, mas esgotou
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Frida Hyvönen Until Death Comes (Secretly Canadian) Esta loura sueca esta transando com o seu piano. Sério. Ela expõe sua vida, com a maior facilidade, utilizando apenas a sua linda e inconstante voz e o seu parceiro, o piano. No começo, até achava que Frida era toda bonitinha, fazendo um pop fofo e tal, mas na verdade ela não tem nada de inocente. Conta, sem pudor, quando teve pela primeira vez um pau esfregando na sua cocha, canta sobre as suas ficadas, relações amorosas e até dos homens que levou para casa. “I am making sure that he gets home / The sun is shining / I have everything / The strength to see him off / With no promise of his return”. Tem até música meio homo-erótico, cuja Frida fala sobre uma tal Valerie que a amou mais que qualquer outra pessoa. Bem, até que eu estava suspeitando da galega quando escutei Djuna. Com certeza ela está se referindo a escritora Djuna Barnes, que tratava bem os temas sobre lesbianismo. Se autoexplorando sexualmente para compor, Frida lançou seu álbum de estréia originalmente pelo selo escandinavo Licking Fingers. Depois o seu amigo Jens Lekman ajudou a sueca a entrar na família da Secretly Canadian e dar
os seus primeiros passos fora do gelo nórdico. Com pequenas semelhanças com Blue de Joni Mitche ou Tapestry de Carole King, pela gravação crua, Until Death Comes é um disco curto de 29 minutos, mas com muitas histórias. Sempre no piano, Frida consegue variar os ritmos e as melodias das músicas, não há nada melhor que pegar as letras e cantar junto! Ana Garcia
da voz grave e cheia de sentimento, o músico australiano tocou sua guitarra tosca, piano e órgão tendo o apoio da guitarra e violino sujos de Warren Ellis, do baixo pulsante de Martyn Casey e da bateria tribal de Jim Sclavunos, seus velhos conhecidos. Tudo a serviço de belas canções. Além de rocks sujos e irados como “Get it on” e “Love Bomb”, o disco tem baladas comoventes e cheias de soul, como “Chain of Flowers” e “Vortex”. Diamante bruto. André Balaio
The Go Find Stars on the Wall (Morr Music) A primeira coisa que eu amo sobre todas as bandas da Morr Music é a arte criada pela Human Empire. Elas são normalmente tão coloridas, tão doces e me lembram um sorriso de bebê. É por isso que eu ainda acredito no CD e é por isso que eu fico tão feliz quando recebo todos os seus lançamentos. Ah, a música normalmente é maravilhosa – sempre um pop sofisticado puxando para o eletrônico. Aqui, Dieter Sermeus pegou a sua banda ao vivo que tem o acompanhado no palco nos últimos três anos e entrou no estúdio para criar o segundo lançamento Stars on the Wall. Os loops criados no laptop de Dieter encontrado no lançamento de Miami (Morr Music, 2004) agora estão um pouco mais sutis. O baixo e a bateria estão mais na cara e na maior parte do tempo encontramos guitarras, às vezes até acústica, vozes doces com órgão Hammond e sintetizadores analógicos, palminhas e delays. Pegajoso, mas ao mesmo tempo um pop melancólico gostoso para escutar... agora. Ana Garcia
Hell on Wheels The Odd Church (Hybris | Coquetel Molotov) Este é o quarto disco deste trio maravilhoso da Suécia e o primeiro a ser lançado no Brasil. Em The Odd Church, a voz de Åsa está bem angelical, o estilo único de Ricka de cantar e tocar está mais marcante e a bateria de Johan parece mais livre, embora bem moldada nas melodias e vocais. A primeira música, “Heard You on the Radio”, é um charmoso indie pop que não faz mal nenhum se ficar grudado na sua cabeça por algumas horas. “Alexandr”, apesar da letra um pouco surreal, chega perto do melhor do rock. “Come on”, “As We Play”, “Perversion” e “Stealing Notes from the Devil’s Notebook” trazem um rock poderoso e cativante. Aqui, o Hell on Wheels encontrou sua melhor forma. Thais Coimbra
The Hold Steady
Grinderman Grinderman (Anti) Por que um cantor cultuado como Nick Cave, com uma sólida carreira de mais de vinte e cinco anos, formaria uma nova banda? Em primeiro lugar, não se pode esperar de Cave atitudes de um típico rock star. Ainda bem. Porque a Grinderman, sua nova “banda de garagem” apareceu com uma urgência que poucos ousam ter hoje em dia. No disco homônimo recém-lançado, além
Boys and Girls in America (Vagrant) Há quanto tempo você não ouve um rockão, daqueles com altos riffs de guitarra, acordes de piano em tom maior, órgãos Hammond flamejantes e vocais gritados, sem achar isso ridículo ou démodé? Pois pode se preparar. The Hold Steady não inventou a roda, mas faz um som inteligente e empolgante como há muito não se ouvia. Esses novaiorquinos conseguiram juntar o hardrock setentista do Thin Lizzy ao típico som universitário dos anos 80, feito por um R.E.M. ainda jovem e cheio de viço. Há ainda vestígios do folk-rock
de Bob Dylan e do som cru do Hüsker Dü (talvez porque seus integrantes tenham morado em Minneapolis, terra do seminal power trio). E as letras têm influências literárias. O nome do último disco, Boys and Girls in America, é uma citação de On The Road – Pé na estrada, de Jack Kerouac. É sonzão, para sair ouvindo numa velha camionete em uma estrada empoeirada de um dia quente de verão. André Balaio
I’m From Barcelona Let Me Introduce My Friends (EMI) Tem como não gostar ou pelo menos não se afeiçoar a uma galera que canta sobre querer construir uma casa na árvore (“Treehouse”) ou sobre completar sua coleção de selos (“Collection of Stamps”)? E olhe que a galera que canta isso é grande. Estou falando dos 29 suecos que fazem parte do I’m From Barcelona com suas canções alegres e cheias de vida. Trilha sonora para pessoas felizes – Bem que esse poderia ser o subtítulo do disco desses suecos, que fazem melodias assobiáveis e refrões para cantar juntos. É até desnecessário tentar definir o som de uma banda pop com influências do folk que traz tanta gente para gravar um disco que tem acordeom, violas, trompa, violinos, palmas e
muitos coros. Por isso, a comparação é freqüente com grupos do tipo The Polyphonic Spree e Broken Social Scene. É a música pop até o talo conquistando novos fãs como se tivessem lido livros do tipo “Como conquistar amigos e ser popular”. Não à toa o nome do disco deles é “Let Me Introduce My Friends”. Bem apropriado, não?! Jarmeson de Lima
Irreversíveis
impregnadas de cotidiano. Recursos eletrônicos no meio de uma formação de baixo, guitarra e bateria com algo do indie rock, e que se aproxima aqui e ali da mpb menos tradicional. O uso de programações eletrônicas e samplers pode apontar na direção da ficção científica, gênero tão caro a Wells, mas há algo de nostálgico nisso tudo. Luiz Otávio Pereira
rotina do dia-a-dia e no amor, Dorion trabalha suas nuances diárias. Como na afetuosa relação mãe-filha: “Almost every night between two and four/ She rolls out of bed and onto the floor/ Sometimes I have to go in/ And put her back into her bed again”. Aqui, ela canta com uma doçura indescritível. Ao cantar o cotidiano (“So maybe this coffee is a bad idea/ And maybe this might not work out for me”), ela tende a simplicidade, quase medíocre, mas a execução e a delicadeza de suas pequenas canções carregam um peso artístico inestimável. Tathianna Nunes
Julie Dorion
H.G. Wells (Bolacha Discos) Talvez uma banda fazer um disco todo em referência a um escritor pareça algo pretensioso, como se quisessem mostrar que têm cultura por terem lido toda a obra de um determinado autor. Muita gente enxerga desse jeito por tomarem literatura como um tipo de cultura posta em um pedestal, que não deveria se misturar com música pop. No entanto, para a banda carioca Irreversíveis, lançar um disco intitulado H.G. Wells é algo simples, afinal, literatura faz parte da vida de um monte de gente. E nesse caso específico, os temas trabalhados por Wells fazem parte de uma cultura pop que nem é preciso ter lido os livros dele. Isso fica claro nas letras tão
Woke Myself Up if These Trees Could Talk (Jagjaguwar) Este disco promove o reencontro da canadense Julie Dorion com seus antigos colegas de banda Mark Gaudet, Chris Thompson e Rick White (que, por sinal, produz o disco). Todos ex-Eric’s Trip que desde 1996 haviam se separado tocando projetos distintos. A reunião não serviu apenas para matar a saudade, e sim resultou nos melhores arranjos de Dorion que, por vezes, recaem no Eric’s Trip ao trazer canções mais simples e, ao mesmo tempo, reflexivas. A tristeza melódica e temática do inacreditável Goodnight Nobody continua presente com nas letras, nas cordas poderosas e nas batidas marcantes. Inspirada pela
Menomena
Klaxons Myths of the Near Future (Universal) Quando o hype se confirma, aqueles chatos de plantão são obrigados a destorcer o nariz. E foi exatamente isso que aconteceu com o Klaxons. Líderes do tal movimento new rave (rótulo inventado por um de seus membros, Jamie Reynolds), o Klaxons fez muito barulho no final de 2006, com shows coloridos por bastões de neon, músicas dançantes, e alguns singles esgotados. Conclusão: criou-se desconfiança que só foi quebrada após o lançamento do primeiro álbum, foto: divulgação
Friend & Foe (Filmguerrero | Barsuk) Menomena é um trio de Portland, Estados Unidos, formado por três amigos de longa data. Justin é carpinteiro, Brent trabalha como garçom e Danny ganha a vida como artista gráfico. Gastos com shows, turnês e gravações acumularam uma dívida que passa de cinco mil dólares. Situação bem comum no mundo da música em qualquer parte do planeta: basta alguém ter uma idéia e resolver colocá-la para frente que chegam as dívidas. O estranho aqui é que Menomena já lançou dois discos muito bem recebidos por crítica e público. Mas, por falta de um empresário-produtor decente, o máximo que eles fizeram até agora foi cruzar a fronteira até o Canadá. A despeito de não terem uma pessoa que os ajude a projetar uma carreira, eles contam com o talentoso Craig Thompson, um designer incrível, responsável pela arte maravilhosa do último disco. Não fosse pelo apoio emocional e financeiro de seus pais, esposas e amigos, nunca teríamos a oportunidade de conhecer Friend & Foe, que, até agora, é um dos melhores discos lançados em 2007. A forma de criação do Menomena é basicamente a seguinte: o trio grava o que toca e depois reprocessa tudo num programa de computador que produz loops ou repetições a partir dos sons originais. À primeira vista, pode soar amador e até bem experimental, mas a combinação das experimentações do grupo com melodias pop se torna irresistível. Neste disco novo é possível identificar dois momentos diferentes: um primeiro, mais abstrato e instrumental como na faixa “Muscle ‘n Flo”, que traz uma bateria barulhenta acompanhada de um leve som de piano, e um segundo momento dedicado a um pop orquestral, em canções como “My My” e “Wet and Rusting”. A última pode ser um exemplo de canção pop perfeita, fazendo uso de guitarras, baterias, assobios, vozes distorcidas e de parafernálias eletrônicas para criar diferentes climas e atmosferas. No restante do disco, ainda aparecem palmas marcando o ritmo e saxofone a la Morphine. Este disco novo do Menomena sai por uma gravadora nova. Resta-nos torcer para que Friend & Foe também renove a sorte do trio e que muito mais discos venham por aí. Tathianna Nunes
coquetel coquetel molotov molotov || abril abril 2006 2007 | número 2
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Myths of the Near Future. O disco reforça as influências da rave britânica de Stone Roses e Happy Mondays, e começa arrebatador: “Two Receivers”, “Atlantis to Interzone” (um dos singles esgotados, faixa mais dançante do disco), e “Golden Skans”, essa uma balada perfeita para FMs. Na seqüência há uma caída, que é levantada por “As Above, So Below”, “Magick” e “Gravity’s Rainbow”. Música para dançar sem se preocupar com o futuro próximo. Bruno Dias
LCD Soundsystem
The Stooges
ilustração mooz
The Weirdness (Virgin) Pessoalmente, acho muito chato quando uma banda que fez história resolve voltar. Achei isto dos Sex Pistols, acho isto de Os Mutantes e tô achando dos Stooges. Com boa parte de sua formação original - Ron Asheton, na guitarra, Scott Asheton, na batera, e Mike Watt (ex- Minutemen), no baixo, em lugar do falecido Dave Alexander; The Stooges acabam de lançar The Weirdness, que como indica o título, uma tronchura. Aqui, não vejo mais a visceral música que se podia ouvir entre 1969 e 1973. Nem Iggy Pop, com aquela cara de quem vai saltar em cima de você a qualquer instante, mete mais medo, nem a música que faz contém aquela mesma urgência, de quem quer acabar o show antes que o mundo termine. As primeiras faixas do disco, “Trollin”, “You Can’t Have Friends”, “ATM”, “Idea of Fun”, poderiam estar em qualquer banda que persiste naquele punk californiano, de motto shakesperiano: much ado for nothing, em tupiniquim: muita zoeira por nada. Iggy Pop soa como um David Bowie tocando num som com bateria fraca. Onde o velho raw power, dá as caras é em “Free and Freaky”, que parece ter sido apanhada no fundo do baú, um ótimo, outtake de 1973. Nas letras, o que se poderia esperar de Iggy Pop? Fala do próprio dardo de Eros, com perdão do eufemismo castiço, (my dick is like a tree), detesta a humanidade (o que não é nenhuma novidade), canta a vida boa do sexo, drogas and rock and roll. O rolo compressor só volta a funcionar em “Mexican Guy” que, mesmo assim, está mais para o rock épico do Led Zeppelin do que para o menos é mais do antigo Stooges. Em “Passing Cloud”, a Iguana pop volta a lembrar o Camaleão Bowie, com a voz pastosa, pela cobertura de marshmallow de Steve Albini. Sacana como é, Iggy Pop pode até cometido mais uma sacanagem com os que queriam os Stooges de volta. Não estavam a fim de ver a banda reunida? Pois aí está esta porcaria, e o nome do disco é como vocês também queriam, The Weirdness, A tronchura! José Teles
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Sound of Silver (DFA) James Murphy continua um passo à frente da música. Sound of Silver deve ser o primeiro disco feito para ouvir exclusivamente com fones de ouvido. Não faria efeito nem mesmo na mais potente caixa de som, mas é perfeito para bombar uma pista em silêncio, apenas com iPods (ou, ok, os genéricos) no volume mais alto. Tem pelo menos uns cinco hits aqui, sendo “North American Scum” o mais potente. Batidinha rápida, viciante. A descartável, e isso é esquisito, é justo a que dá nome ao disco. Disco que, bom citar, revela a vontade do LCD em transformar as festas em algo político, recheado de mensagens do primeiro ao último refrão. E como um cara à frente de nosso tempo, Sound of Silver só vai ser lançado daqui uns meses, já velho e com clima de “so last week”. Bruno Nogueira
poucos, a canção vai ganhando corpo e adiciona clarinetes, flautas e um baixo. No final, estamos dançando e cantando junto com ele. Para mais ou para menos, todas as músicas de Loney, Noir trazem consigo a mesma áurea irradiante. Até em faixas meio melancólicas como “I Will Call You Lover Again” quando chegam ao fim, deixam a mesma sensação de um chocolate quente no inverno ou de um sorvete de baunilha no verão. Tathianna Nunes
The Loveninjas The Secrets of Loveninjas (Labrador) Anders, Dennis, Olle e Tor são quatro amigos de 20 e poucos anos que dividem seus interesses por gueixas, ninjas e música pop. Juntos formam o grupo sueco The Loveninjas. Inspirados pela produção musical e pelos excessos sexuais comuns à Suécia, esses amigos resolveram pescar idéias na pornografia da literatura dos Mangás japoneses para compor seu disco de estréia: The Secrets of the Loveninjas. Aqui ainda encontramos um pouco de romance nas dez músicas que falam de amor, corações partidos, encontros e desencontros. Mas tudo isso emoldado em um clima sujo a la sexo, drogas e rock’n’roll. A melodia é um capítulo à parte. Estamos diante de um delicioso indie pop com toques de um eletrônico lo-fi. Este é um disco maravilhoso, extremamente pop e viciante. Destaque para a fantástica “I Wanna Be Like Johnny C” e para a quase fofa “Do Me”. Tathianna Nunes
Loney, Dear Loney, Noir (Sub Pop) Com Loney, Noir entramos no mundo simples, doce e imensamente charmoso de Emil Svanängen, o nome por trás de Loney, Dear. Se prepare para se apaixonar, como num passe de mágica, pelas músicas pop e fofas deste sueco. Os melhores momentos em Loney, Noir são incandescentes, apressados e viciantes. O primeiro single do disco, “I Am John”, é um pop irresistível e alegre que combina uma guitarra acústica aos falsetes da voz maravilhosa de Svanängen. Aos
Ludovic Idioma Morto (Travolta Discos) Intensidade é a palavra que melhor resume esse novo e segundo álbum da banda paulista Ludovic. O vocalista Jair canta e grita como se não houvesse amanhã e fica explícito que o que sai de sua boca vem lá de dentro, do coração, da alma. As letras em português são fortes e diretas,
sem meias-palavras. Poesia dura que impressiona e prende atenção de qualquer um. Difícil alguém passar batido pela música do Ludovic. Podem até não gostar, mas indiferente ninguém fica. Sonoramente eles emulam Sonic Youth, Foo Fighters e Black Flag, sem exatamente copiar ninguém em particular. O álbum – ainda bem – quase não conta com nenhuma balada, é tudo rápido e rasteiro. É excelente. E ao vivo é ainda melhor. Eles conseguem multiplicar a intensidade do álbum por cem, simplesmente imperdível. Gilberto Custódio Jr.
The Magic Numbers Those the brokes (EMI | Heavenly) O quarteto britânico The Magic Numbers é tão doce que enjoa. Quando apresentaram ao mundo “Forever Lost”, música do primeiro disco homônimo, parecia que iam conquistar o título de novos queridindos. A canção tinha tudo que precisa para ser um hit: melodia empolgante, backings vocals lindos (aprenderam direitinho com o Mamas & Papas) e um refrão incrivelmente chiclete. Infelizmente, o resto do disco não acompanhava, mas quando notaram isso o estrago já estava feito. Um ano depois o quarteto ataca novamente e lança seu segundo álbum, Those The Brokes. Nele, resolvem adicionar mais soul e combinar com country, folk e pop. Dá certo em “Boy”, onde eles mostram que também freqüentaram a escola Jackson 5/Smokey Robinson & The Miracles. As demais, especialmente na segunda metade do disco, são de uma pieguice que lembra o pior do R&B americano. Morrissey e Stuart Murdoch aprenderam a cortar doce com boas doses de cinismo. Romeo, líder do grupo, ainda precisa aprender essa lição. Aluísio Gomes Jr
Mastodon Blood Mountain (Reprise) Mastodon voltou!!! O quarteto de Atlanta voltou no ano passado com
o terceiro álbum Blood Mountain pela Reprise, da Warner, e já estão confirmados em todos os grandes festivais, recebendo as melhores críticas possíveis – até das mídias que normalmente prestam atenção na próxima novidade indie pop. Se bem que não há nada mais indie hoje em dia que bandas de metal! Quem já viu o público dos shows do Sunn O)))? Mastodon é aquele tipo de banda que deveria estar lotando todas as arenas do mundo. No momento, não estão, mas tudo indica que essa situação não se prolongará por muito tempo. Dizem que o forte deles são mesmo os shows ao vivo e um grande público pode conferir isso durante a turnê com Slayer em 2004. Mas, eles também são bons de estúdio. O disco Blood Mountain é uma jornada épica que inclui canabalismo, diversoso mostros e criaturas, com poder e criatividade levando todas as barreiras da música pros limites, mas ainda mantendo verdadeiro para o som do Mastodon. Seguindo a tradição dos temas - nos discos anteriores, Remission (Relapse, 2002) era fogo, Leviathan (Relapse, 2004) era água. Blood Mountain é terra. Imagina o que nos espera para Vento... Isso lembra da época que o meu irmãop jogava Dungeons and Dragons. O álbum ainda traz participações de Scott Kelly, vocalista do Neurosis, Josh Homme do Queen of the Stone Age e Cedric Bixler-Zavala do Mars Volta, enquanto eles continuam com o mesmo produtor Matt Bayles, ex-Minus the Bear. Ana Garcia
Maxïmo Park Our Earthly Pleasures (Warp) Quando o mundo do pop viu como o Maxïmo Park era legal no palco, resolveu dar mais uma chance a banda. O primeiro disco meia-boca não fechou uma porta sequer para eles. Todos queriam acreditar na banda. E, bom, durante a turnê, parece que foi legal acreditar. Agora, com Our Earthly Pleasures, o segundo, a banda manda uma mensagem clara para todos que gritaram “Maxïmo, Maxïmo”, no Reading Festival. E a mensagem estampa, em letras enormes, “nosso negócio não é fazer discos”. “Girl Who Play Guitars” e “Our Velocity” abrem de maneira viciante e deliciosa, mas ficam
quase que esquecidas no restante do disco. Pensando com calma, talvez o Maxïmo devesse se livrar dos excessos. 12 músicas, para eles, parece ser demais. Our Earthly Pleasures consegue fácil destacar seis faixas que poderiam ser lançadas antes. “Russian Literature”, “The Unshokable”, “By the Monument”, “Parisian Sky” e as duas primeiras. Pronto, ta aí uma ótima compilação que não queimaria o filme da banda. Se o Maxïmo Park sabia que o disco chegaria antes na Internet, eles não precisavam ser julgados por 12 faixas. Um single aqui, outro ali e – insisto – seis faixas. A banda não teria a tal sombra do Franz Ferdinand que, na real, não tem nem nada a ver com o som deles. O disco acaba desanimando porque nos faz pensar que, justo essas bandas, que deveriam estar anos-luz de nosso raciocínio pop, continuam apostando em formatos tão datados. Que o excesso do Maxïmo vire a trilha sonora para o protesto “abaixo o disco”. Bruno Nogueira
Mzuri Sana Ópera Oblíqua (Trama) “Era uma vez três amigos, três vidas, três almas, três homens, três famílias, contra gente sem calma. Escute-me, ajude-me, mova-se, reflita se puder. Eu te pergunto o que é? Se puder descubra. Descubra se puder. Então bem pense o que quiser. Hip hop é forma de expressão e não de repressão. Presta atenção na rima, cada frase aqui te ensina ritmo e poesia, mas é sem hipocrisia. Dizem que eu rimo complicado, não, eu rimo iluminado. O beat nunca atravessa, sempre faz barulho a beça. A festa é ele quem começa. Raciocínio quebrado, porém nunca mal gravado. O que dá forma a nossa arte é a criação e a inovação. M-Sana, firmamento, se firmando na colônia. Lógico! Rap de raiz.” E isso tudo não sou eu quem está dizendo. É Parteum e Secreto, sobre as bases do Suissac, nas faixas do tão esperado primeiro disco do Mzuri Sana, Ópera Oblíqua. Precisa dizer mais alguma coisa? Endrigo Chiri Braz
Mula Manca & a Fabulosa Figura Amor e Pastel (Independente) Amor e Pastel é um disco muito bem cuidado. Esta é a sensação transmitida da primeira à última faixa do novo álbum da Mula Manca & A Fabulosa Figura, que, além do nome, trocou o ar quixotesco pela novela romântica, sem medo. O nome do disco, inclusive, é bastante sugestivo: remete às histórias de amor cotidianas, que acabam pasteurizadas nos folhetins televisivos e revistas populares. Contudo, o disco da Mula Manca não é um pastelão romântico gratuito e mal feito. Pelo contrário, as letras, melodias e arranjos mostram um resultado requintado. Isso pode ser visto em canções como “Outro Par”, “Fórmula 1” e “Dinheiro”, que deve ser o grande sucesso, embora haja composições como “Terra, Água e Sal” e “Deita Aqui” para deixar o ouvinte em dúvida. Esta última, por sinal, mostra a bela voz da cantora paraibana Eleonora Falcone, que traz o tom intimista necessário à canção e revela critério até na escolha dos convidados. Não resta dúvida que foi a dedicação do grupo que transformou Amor e Pastel em disco tão bonito. Ana Lira
Nouvelle Vague Bande a Part (Justin in Time) Há algo de mágico no Nouvelle Vague. Os produtores do grupo, Marc Collin e Oliver Libaux, conseguem recriar mundos estéticos sem perder a essência das canções originais. Assim como em sua estréia homônima, Bande a Part reúne mais uma série de músicas que vai do punk, pós-punk ao tecnopop da década de 80, e as transformam em bossa nova, jazz, pop francês dos anos 60 e outros estilos que caem elegantemente nos nossos ouvidos. “Killing Moon”, dos ingleses do Echo & The Bunnymen, abre o disco com uma melodia singela e lúdica. Nela, Melanie Pain não canta, sussurra docemente acompanhada por violão, acordeão e xilofone. E nas versões de “Even Fallen in Love” de Buzzcocks e “Blue Monday” do New Oder, Collin e Libaux não economizam nos detalhes e nos efeitos sonoros enriquecidos pela interpretação suave de Melanie.
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Outro ponto alto do disco está no som tranqüilo da versão de “Heart of Glass”, clássico das pistas dos anos 80 do Blondie, levada na percussão, violão e no vocal de Gerald Toto. Algumas versões não são tão estimulantes, como “Waves” de Blancmange e “Bela Lugosi Dead” do Bahaus, mas não afetam a graciosidade do disco. Tathianna Nunes
Of Montreal Hissing Fauna, Are You the Destroyer? (Polyvinyl) Depois de enfrentar um divórcio, ficar longe de sua filha e enfrentar uma depressão, Kevin Barnes, líder da banda americana de nome canadense, mostra como o sofrimento faz bem à arte no seu oitavo disco, Hissing Fauna, Are You the Destroyer? Aqui, Barners está cínico e, como se tivesse colocado no papel o resultado de sessões de terapia, nos insere em um universo de sentimentos vulneráveis que procura algo, desesperadamente, nas drogas, na religião ou até mesmo na violência. A primeira faixa do disco, “Suffer for Fashion” constrói, com seu ritmo e melodia, um pop frenético e contagiante, mas, nas letras, esconde momentos de grande tristeza. E assim, “Heimdalsgate Like A Promethean Curse”, “She’s A Rejector” e “Faberge Falls for Shuggie”, continuam o disco até serem interrompidas no krautrock de “The Past Is A Grotesque Animal”. Nela, Kevin Barners lamenta, em épicos doze minutos de duração, sua solidão: “It’s so embarrassing to need someone like I do you / How can I explain I need you here and not here too”. Hissing Fauna, Are You the Destroyer? é uma fonte infinita de suplícios de cortar o coração, que tenta ser disfarçada pelo talento de Barners de compor melodias contagiantes. E isso tudo vem dentro de uma caixinha linda e fofa. Tathianna Nunes
Panda Bear Person Pitch (Paw Tracks) Fato: o Animal Collective é uma das bandas mais importantes da
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atualidade. Goste você ou não, entenda você ou não, queira você ou não, conheça você ou não. Isso porque eles são o tipo de banda que muda vidas, que altera perspectivas, que leva à redefinição de conceitos, que soa nova, perigosa, desafiadora, instigante. E é esse tipo de banda que influencia gerações e gerações, mesmo que pouco ouvidas por seus contemporâneos. Panda Bear é um dos integrantes do Animal Collective, aqui em seu segundo trabalho solo. A linda “Comfy in Nautica”, que abre o disco, funciona como manual prático para o som do cara. Panda Bear põe em contato universos díspares ao levar as harmonias celestiais de Brian Wilson aos subterrâneos dos ruídos caseiros e loops mântricos. É experimental, é estranho, é lo-fi, mas é absurdamente melódico e cativante. Pop, diria, se isso fosse possível. Dagoberto Donato
Patrick Wolf The Magic Position (Loog | Universal) Este é o terceiro disco do multiinstrumentista britânico Patrick Wolf. Mantendo a tradição de mudar a cor do cabelo a cada lançamento, Wolf aparece ruivo na capa de The Magic Position, montado em um veadinho de um carrossel colorido e cheio de animais. Por mais bizarro que possa parecer, é uma capa bonita e intensa que combina perfeitamente com as músicas inquietas do disco. Mais uma vez, Wolf mergulha em suas tragédias pessoais (filho adotivo, apanhava no colégio, crises existenciais etc.) para dar profundidade e paixão à sua composição. “Overture”, a música de abertura, é exatamente o que se espera de Wolf: uma mistura perfeita de violinos, viola, teclados, entre outros instrumentos. Aqui, ele consegue recriar uma abertura tão perfeita quanto “The Libertine” foi para Wind and Wires (Tomlab, 2005). Em “The Magic Position” e “Accident & Emergency” encontramos um Wolf mais eletrônico e animado do que estamos acostumados. E “Magpie” amplia a diversidade do disco ao aparecer calma conduzida, lindamente, por pianos e violinos. Tathianna Nunes
com a balada psicodélica “Live in sunshine”. Pedaços de canções que a gente ama. André Balaio
Perrosky El Ritmo y la Calle (Algo) Assim que cheguei ao Chile, no início deste ano, fui avisada que eu não poderia voltar sem ter escutado algumas bandas. Perrosky foi uma delas. Quer uma prova? Cheguei a receber três discos de três pessoas diferentes insistindo que eu escutasse a banda. Escutei, claro. Estou aqui escrevendo, não estou? Agora é a sua vez, podem até conferir algumas músicas no MySpace. Os irmãos Álvaro (guitarra e voz) e Alejandro Gómez (bateria) dão vida ao duo chileno Perrosky. Eu já conhecia a dupla do grupo Guiso, uma ótima banda para quem gosta de rock de garagem. Mas parece que eles cansaram do barulho e decidiram criar um projeto influenciado por blues, folk, country, jazz, Mississippi, Johnny Cash, Elvis, Violeta Parra, cantora folk chilena dos anos 50, com direito a gaita e tudo. Este é o segundo disco e contém 17 músicas originais e sete breves introduções, muitas pegando emprestado os diferentes ritmos de Santiago. Ana Garcia
Romulo Fróes Cão (YB Music) Nesse disco se ouve elementos do samba da velha-guarda, Caetano Veloso, chorinho, Cartola, tudo envolto pela voz macia e aconchegante de Romulo, que acrescenta uma melancolia saudosista tocante e muito bonita. Apesar das referências serem todas de décadas passadas, Cão de forma alguma soa datado, talvez pelo fato de apostar num estilo de música atemporal, com ares de clássica. Outro fato que contribui para deixar o disco com aspecto atual é o acréscimo, de forma bastante discreta, de influências “roqueiras” – no release Romulo cita Smiths, Sundays e Cure. No disco a guitarra fuzz de Lanny Gordin vira e mexe aparece solando. Atualmente festejado pelo público indie paulista, Romulo Fróes tem tudo para alçar sua MPB triste sobre fãs dos Los Hermanos, Marisa Monte e outros grandes nomes atuais. O futuro é promissor. Gilberto Custódio Jr.
The Shins The Rapture Pieces of the People We Love (Universal) É o melhor rock feito para dançar? Ou a melhor dance music para agitar? Alguns podem tachá-los de modernosos demais, mas o fato é que the Rapture aponta os caminhos que o rock e a música eletrônica tomarão nos próximos anos. Seu novo disco, Pieces of the People We Love, mostra que o som da banda continua impactante. É música que só podia vir de Nova Iorque: gente antenada que ouvia Stooges e Giorgio Moroder, Sex Pistols e Chic. É disco-punk de primeira, música de festa com riffs potentes, irreverência e baterias envenenadas. O disco abre com “Don Gon Do It”, irresistível convite à dança. E avança alegremente com pérolas como “Get myself into it” e “Whoo! AlrightYeah...Uh Huh” para terminar
Wincing the Night Away (Sub Pop) Desde o álbum de estréia, The Shins vem se mantendo fiel a sua habilidade de criar um universo pop, belo e expressivo. E, em seu terceiro disco Wincing the Night Away, Mercer continua compondo músicas majestosamente pop, mas, o que faz deste um álbum especial estaria na estranheza de suas letras que transcende a dos antecessores. Nos títulos e no corpo, Mercer possui uma habilidade peculiar em brincar com a lógica de qualquer um. Em “A Comet Appears”, ele canta “Every post you can hitch your faith on/Is a pie in the sky/ Chock full of lies/A tool we devise/To make sinking stones fly,”. Nem todos conseguem adaptar uma metáfora a uma melodia e fazer disso uma reflexão existencial. Infelizmente, nem todos os devaneios funcionam, mas é um disco delicioso que, de repente, acaba te enfeitiçando e fazendo você cantar e dançar junto. Tathianna Nunes
mensagens anti-religiosas e que, por vezes, ridicularizam o presidente. O disco é bom e é o melhor em músicas e arranjos do The Thermals até então, embora, acredite que Harris e sua turma precisem diversificar mais nas melodias. Fica um pouco repetitivo. Tathianna Nunes
Supercordas Seres verdes ao redor: música para samambaias, animais rastejantes e anfíbios marcianos (Trombador Discos) Parece que os integrantes do Supercordas foram congelados na década de 60. Quando escaparam das cápsulas, perdidas em um campo qualquer, trouxeram à tona o espírito psicodélico da época em que haviam pegado no sono. A isso acrescente, ao segundo disco da banda, insetos, flores, sapos, luz, sol, vento, enfim, tudo o que se pode achar nas matas. Aqui, o Supercordas ignora o que vinha fazendo e ressurge com jeito de banda nova. As guitarras dissonantes, um teremim bem sucedido e um teclado Hammond coberto de camadas compõem um climax de passeio nostálgico pelo ar livre, com direito a canções completamente instrumentais em “Mangue”, “E o sol brilhou sobre o verde”, e “Musgo”. Ainda há espaço para faixas inquietantes como “Ruradélica”, “A charneca”, “Fotossíntese” e a animada cantada em caipirês “Frog rock”. Nas faixas instrumentais, o Supercordas continuam experimentando, porém, parece que o grupo anda antenado com as boas novas experimentações que acontecem ao redor do globo. Digamos assim: no novo disco, o conteúdo veio menos experimental, mas conquista uma sonoridade bem mais contemporânea. Psicodelia e futurismo navegando na mesma nave. Cleyton Brito
The Thermals The Body, the Blood, the Machine (Sub Pop) O terceiro disco do The Thermals traz o melhor do rock de garagem em 36 minutos de severas críticas políticas e religiosas. Não restam dúvidas de que Hutch Harris, líder do grupo, está com raiva e questiona Deus, seu Governo e suas relação com eles. Ao mesmo tempo em que procura suas respostas, Harris grita com sua guitarra em um disco inquieto e raivoso, não apenas nas letras, mas no punk versátil de levada pop do grupo. Em “I Might Need You to Kill” e “A Pillar of Salt”, por exemplo, Harris jorra agressividade e difunde
Transistors 1 Segundo (Pisces | Ordinary) Os Transistors fazem parte da efervescente cena das bandas de garagem da zona lesta da capital paulista, que também inclui Os Skywalkers, Laboratório SP, Os Haxixins, Os Migalhas e outras. Este é o 2° disco e temos algumas notáveis diferenças em relação ao debut, principalmente nas letras, que agora são em português (no disco temos duas em francês, cantada pelas garotas da banda). Os vocais do Alberto, que, talvez pelo fato de cantar na língua pátria, agora estão muito mais seguros e pessoais, como podem ser conferidos em “Algo Errado”, um dos grandes hits do disco. Outros destaques são “Não Mais”, que lembra o The Charts, saudosa banda mod da cidade, e “Doce Vida”, com sua referência lisérgica na letra. Ao todo são oito faixas, sem espaços para baladas ou qualquer outro devaneio. Simples e direto, o álbum deverá agradar em cheio fãs do bom e velho garage rock. Gilberto Custódio Jr.
Walden Walden (Pisces) Walden é o nome de um romance de Henry David Thoureau aonde ele descreve o período em que se isolou do mundo numa floresta. O subtítulo do livro é “A Vida nos Bosques”. Walden é o pseudônimo do músico paulista César Zanin, que também é partidário do isolamento em pró da reflexão e criação artística. Mas enquanto um se isola no mato, o outro se isola no quarto. Enquanto um escreve, outro compõe canções. O resultado é esse álbum, com 15 faixas, todas gravadas num porta-estúdio antigo, o Tascam 424. César canta, toca baixo, guitarra
Vamoz!
foto: divulgação
Damned Rock and Roll (Coquetel Molotov | Fire Baby | Monstro Discos) A partir deste ponto, o segundo disco da banda Vamoz! já não é mais novidade. Soa bonito associar tudo às influências bacanas que eles têm do Teenage Fanclub e todas essas bandas de indie rock modernosas, etc. Mas, confesso que depois de ouvir tudo, meu cérebro, num impulso de futilidade bêbada de vinho barato puxou o Mr Jones do Couting Crows em algum momento. E, aqui sim, uma confissão sem vergonha, fiquei bem mais feliz que se fosse o primeiro caso. Consigo pensar numa festa cheia de gelo seco barato daqui a mais 20 anos, com algum marmanjo bêbado, dançando qualquer uma das músicas desse disco enquanto nossos netos vão pensar “que brega”. Porque, no fundo, é isso que é o verdadeiro rock n’ roll. Pense em AC/DC, Motorhead e todas as bandas que no, primeiro espirro, as revistas gritaram que o rock acabou. Pensou? Com Damned Rock and Roll, agora você pode por a Vamoz! nesse filão. Botas de cowboy, whisky, óculos escuros em plena arena do show. A identidade sonora da banda é mansa, mas intimidadora. O material, desses que deixam o queixo cair de verdade, se completa com um DVD. São seis seções. “Vamoz! na Montanha”, com um show acústico gravado na Livraria Cultura (mais nove músicas do primeiro disco e deste segundo disco); um documentário com a gravação do Damned Rock and Roll, um clipe da música “Beside”, fotos da banda e um vídeoclipe para a música “Fire Baby”, mesmo nome do novo selo que se junta a Monstro e ao Coquetel Molotov para lançar este disco. Bruno Nogueira e faz as programações da bateria eletrônica. O resultado é espetacular. Influenciado tanto por Field Mice como por Guided By Voices, assim como João Gilberto e Flying Saucer Attack, César atinge o que muitos procuram, mas poucos conseguem hoje em dia: um trabalho autoral e de qualidade. Todas as canções são boas, todas contêm um certo apelo lo-fi intimista que cativam pela aparente simplicidade e despretensão bucólica. Impossível resistir. Gilberto Custódio Jr.
The Zincs Black Pompadour (Thrill Jockey) The Zincs são de Chicago via Londres, Inglaterra. Eles sempre fizeram um pop sombrio com uma vibração
peculiar e sem muitos aparatos. Era acompanhado apenas da voz barítona de James Elkington, de um violão, teclados e, ocasionalmente, de uma harmônica. Mas, depois do segundo álbum Dimmer (TJ, 2005) e da longa turnê pelos EUA, uma importante mudança aconteceu. Foi tão forte que assim que voltaram para casa, decidiram gravar um novo disco que refletisse essa nova fase. O som acústico do Dimmer evaporou e o brilho dos instrumentos eletrônicos, agora, dominam as músicas. Pense nas bandas dos anos 80 do Postcard e Rough Trade, um pouco da cena minimalista inglesa e nos órgãos dos anos 60 de New York. Ainda assim, você terá apenas uma idéia do que a banda é hoje. Para melhorar, Black Pompadour foi gravado e mixado no estúdio Soma, do nosso querido John McEntire, e traz uma participação especial de Edith Frost nas três músicas “Hamstrung and Juvenile”, “Rice Scars” e “Lost Solid Colours”. Ana Garcia
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Expressas Palavras: Ana Garcia Foto: Divulgação
Antibalas | “I.C.E.” Consegue imaginar uma das melhores bandas, Antibalas, com um dos melhores produtores, John McEntire, trancados no estúdio durante um mês? Security é a resposta, o quarto lançamento do coletivo de Nova Iorque.
Battles | “Atlas” A batida da bateria nessa música é quente. A música em si é ótima, tive que escutar umas três vezes para realmente entender, mas o vídeo é fantástico!!! Estão todos trancados (foto) em um cubo de espelho tocando. Imagina esses meninos ao vivo... Devem ser incríveis, de parar a respiração. Ainda são lindos... Mas bem, essa música está no novo disco Mirrored que deve sair em breve pela Warp.
Yoko Ono
ilustração: mooz
Yes,I’m a Witch (Astralwerks) Yoko Ono irá pro túmulo (ou crematório) carregando o estigma de ter contribuído para a dissolução da maior banda de rock de todos os tempos. Desde que se envolveu com John, Yoko foi alvo de preconceitos. De racismo, por ser japonesa (portanto, feia no conceito ocidental de beleza feminina), e machismo, por ser uma mulher que se imiscuía no trabalho do marido, ousando fazer música logo com um gênio do pop. Artista plástica, da turma da vanguarda nova-iorquina, ela nem sabia quem era John Lennon quando o conheceu. Tampouco precisava da grana dele. Era filha de banqueiro japonês. Claro que suas intervenções experimentais em meio às canções cartesianas de Lennon não poderiam deixar de desapontar fãs do Beatles e acirrar ainda mais os ânimos contra a japonesa atrevida. Mas Yoko Ono aprendeu em tempo recorde a chegar ao rock, ou pop, básico. Suas composições trazem esta coisa oriental da concisão. Ouça, por exemplo, o álbum Fly (1972), certamente o melhor que lançou nos anos 70. Lennon revelou que decidiu voltar a gravar quando estava de férias, nas Bahamas, com o filho Sean, e escutou o B-52 no rádio. O som era idêntico ao que Yoko fazia e a crítica, com raras exceções, destratava. Yes, I’m a Witch, um disco de remixes, faz justiça à música de Yoko Ono. Em cima dos vocais originais, uma pá de figurinhas carimbadas dá nova roupagem às canções da odiada japonesa. Cat Power, Peaches, DJ Spooky, Polyphonic Spree, Le Tigre, Jason Pierce of Spiritualized, entre outros, exorcizam as composições de Yoko Ono e ratificam que o bicho não era tão feio quanto foi pintado. O baladão “Death of Samantha”, com colaboração da inglesa Porcupine tree tem o tempero certo para não passar da balada à baba, é tão boa quanto Mr.Lennon, balada do álbum Fly . Ótima, a suingada “Kiss, kiss, kiss”, com a Peaches. O mesmo para Lê Tigre com “Sisters O Sisters”, da fase engajada de Yoko, início dos anos 70. Yoko Ono canta, na faixa título: “Sim, sou uma bruxa/ uma puta /Não ligo pro que dizem/Não vou morrer por vocês/ encarem a realidade/ vou estar por aqui ainda por um tempo”. Tomara que sim. Aos 74 anos, Yoko Ono ainda tem cara e coragem de enfrentar preconceitos, dogmas, cria tendências, não as segue. Os jovens artistas, que fazem música com ela neste disco, tiveram que se virar com o que havia no caldeirão da bruxa. José Teles
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CocoRosie | “Promise” Elas estão cada vez mais influenciadas pelo hip hop e, aqui, encontramos Bianca rimando algo do tipo “I will bathe you in the crystal light / That sleeps between my thighs” e Tez (o beatboxer do No Ar 2006) fazendo uma batida que faz qualquer um mexer a cabeça junto. Mas os pontos altos acontecem quando Sierra bota a sua voz de cantora de ópera para fora. Uma música linda, não consigo esperar para escutar o novo disco The Adventures of Ghosthorse and Stillborn que sai ainda neste mês. Dungen | “Gor Det Nu” Os suecos estão preparando o novo disco Tio Bitar (dez pedaços) que deve sair em breve pela Subliminal Sounds. Quem gostou de Ta Det Lugnt (Subliminal Sounds, 2004), provavelmente vai gostar deste próximo lançamento. A psicodelia continua presente, porém a bateria parece mais densa e ofuscada. Os fãs do Dungen têm tudo para gostar, afinal as marcas da banda, como o pianinho de fundo, baixo, muita guitarra e Gustav cantando em sueco ainda estão lá.
Feist | “My Moon, My Man” Leslie Feist irá lançar o seu terceiro disco solo, The Reminder, em maio, mas os curiosos já podem ter uma noção do que esperar com esta música. Destaque para o seu lindo vocal acompanhado de uma instrumentação impecável. Para quem não a conhece, Feist tem estado bem ocupada desde o seu último lançamento Let it Die (2004), colaborando com a sua metade – Broken Social Scene -, gravando com Peaches, Postal Service e, ainda, conseguiu lançar um disco só com lados-b! Savath & Savalas | “Apples” Guillermo Scott Herren está se preparando para lançar o terceiro álbum do seu projeto Savath & Savalas no início do segundo semestre pela Anti Records. Com certeza a nova casa, antes era a Warp, dará o devido valor a este projeto que é todo cantado em espanhol e nada convencional para quem está acostumado com o seu mais famoso, aliás, Prefuse 73. Aqui, encontramos um Guilhermo mais folk, cantando em espanhol com o sueco José González. Mais uma linda música de amor.
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Nessa coluna, escolhi escrever somente sobre os compactos lançados por gravadoras nacionais, pois felizmente houve um alto número desses lançamentos de uns tempos para cá. E a tendência é haver cada vez mais. Tenho informações de que mais gravadoras irão se dedicar a esse formato. E é óbvio que as que já investem no vinil vão continuar lançando. Caso você se interesse por algum desses disquinhos, é só digitar o nome da gravadora ou da banda na Internet e entrar em contato. É fácil, e os compactos geralmente são baratos. A maioria custa somente 10 reais.
Palavras: Gilberto Custódio Jr. Ilustração: mooz
MQN Buzz in My Head (Monstro Discos) A banda de Goiânia MQN foi quem tomou a atitude mais sensata e digna de aplausos de tempos recentes: aboliu o CD e a partir desse compacto só vai lançar música no formato vinil e digital. Além disso, disponibilizou toda a discografia em mp3 no próprio site. Esse compacto foi o primeiro da série intitulada sugestivamente de “Fuck CD Sessions”, que terá cinco volumes, a serem lançados no decorrer dos próximos meses. Todos eles serão prensados em vinil colorido, com capas feitas por designers e artistas plásticos, como é o caso desse 1o volume, que contém a excelente “Buzz in My Head” com “Speed Bullet” no lado B, ambas típicas MQNianas, ou seja, um stoner rock aditivado e grandioso. Fodão.
Ação Direta | Contrasto Split 7” (Pecúlio Discos) O Ação Direta existe há 18 anos e já tem sete discos na bagagem. Veteranos do punk hardcore paulista, a banda também já excursionou diversas vezes pela Europa. Esse é o single mais recente, um split com a banda italiana Contrasto. Duas músicas de cada. Do lado do Ação Direta, o destaque fica por conta da cover do Wolfpack (obscuro hardcore sueco), que é uma verdadeira castanhada na cabeça de tão pesada e furiosa. Uma beleza! Já o Contrasto consegue ser ainda mais agressivo e – pasmem! – rápido. Fica até difícil entender o que acontece no meio de tantos riffs ultra velozes e berros raivosos, mas como está descrito no release que a praia deles é um “fastcore cheio de distorção, bem noise mesmo”, quem sou eu para criticar? Vai ver não entendi nada mesmo.
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Armagedom Apogeu da Insanidade (Absurd Records) Clássica banda punk paulista que começou no início de tudo, lá em 82. Lançaram o 1o álbum em 86, intitulado Silêncio Fúnebre. Esse mesmo álbum foi relançado em CD e LP recentemente, sendo que a versão em vinil é azul, com direito a capa dupla e pôster da banda, um trabalho bastante caprichado da Absurd Records, gravadora de Osasco, cidade grudada a São Paulo. Essa mesma gravadora lança esse single em vinil 7” picture-disc, que marca a volta do Armagedom (a banda ficou um tempão sem tocar) em grande estilo e com um som mais rápido e pesado, definido pelos próprios como deathcore. Nesse single temos cinco sons nesse esquema de bateria bate-estaca, vocal podrão, letras em português e bastante peso nas guitarras.
Autoramas | Tormentos Double Trouble Split EP (Monstro Discos | Scatter Records) O Gabriel dos Autoramas é um grande defensor dos sete polegadas, ao ponto de reservar as melhores canções de sua banda para os disquinhos – a melhor música deles, “H.C.I.”, só foi lançada em vinil, há cinco anos. Nesse split, encontramos a inédita “Change”. Segue a tradição, canção ótima e exclusiva, talvez um pouco mais pesada e encorpada do que estamos acostumados a ouvir da banda, ou seria essa impressão um efeito do próprio formato? Pode ser também o efeito fuzz das guitarras. Aposto que é a junção dos dois – fuzz em vinil é o que há! A outra música é uma versão ao vivo para “Mais ou Menos”, do 2o álbum. Chatinha. Já disse que o vinil é laranja opaco? Então. A capa também é bem legal. Ah sim, do outro lado encontramos os Tormentos, considerada a melhor banda de surf 60’s da Argentina. Confesso que essa é a primeira vez que os escuto. A 1a música tem vocal, a 2a é instrumental e ambas seguem aquele esquema típico das bandas de surf music.
Bonde do Rolê Solta o Frango | James Bonde (Batidão) Esse single foi lançado numa tiragem super limitada pelo Batidão, um dos tentáculos da gravadora paulista Slag
Records. O disquinho não tem nem capa, ele vem somente protegido por um papel branco, e é considerado uma edição promocional. Foi distribuído gratuitamente para alguns poucos sortudos, que no futuro poderão revendê-lo no Ebay por uma pequena fortuna. A essa altura do campeonato todos já sabem quem são o Bonde do Rolê, então nem preciso dar mais detalhes.
Clangor | Eyehatelucy Split EP (Absurd Records) Clangor é uma banda paulista de hardcore que foge da mesmice acrescentando diversos elementos enriquecedores em seu som, como microfonia, mudança brusca de ritmos, passagens mais silenciosas, tudo, lógico, tendo como premissa um som barulhento, lo-fi e rápido, flertando com o grind/crust. Já o Eyehatelucy é ainda mais, digamos... Experimental. Eles são da Alemanha e fazem uma espécie de doom bastante lento, quase um drone, com vocais guturais e clima sinistro. Temos só uma música, intitulada “Klaustrophilia”, que a própria banda define como self-hatecore. O compacto acompanha um encarte de oito páginas em PB, com letras e textos políticos diversos.
DCV Jazz Rock (Gravadora Discos) Por falar no Gabriel (Autoramas), ele curte tanto os vinilzinhos que resolveu criar uma gravadora especializada neles, batizada criativamente de Gravadora Discos. Já lançou dois 7”, um deles é o Jazz Rock do DCV, que apesar do nome não tem nada de jazz rock. O que ouvimos nas seis canções é o bom e velho punk rock com pitadas de brega e letras em português com boas sacadas. Lembra bastante Wander Wildner, Camisa de Vênus, talvez um pouco de Walverdes ou Stuart. Eles são de Uberaba, MG, e esse é o primeiro lançamento da banda, um vinil amarelo mesclado com vermelho.
Derange Insane | Unholy Grave Split EP (Bucho Discos) Derange Insane é extremamente brutal e assustador. Crianças certamente terão pesadelos se ouvirem essa banda. O vocal gutural parece saído da boca de um monstro bem gosmento, numa linha meio gore que lembra Carcass. O ritmo é tão rápido que me deixa na dúvida se eu realmente posso chamar os quatro sons de canções. Isso não é música, mas é legal pra cacete. Eles são de Londrina, Paraná. Já o Unholy Soul vem do Japão e também pratica o bastardo grindcore. Só de imaginar os japoneses soltando esses vocais monstruosos já me deixa com um sorriso no rosto. Hilário. A gravadora Bucho Discos é de Santo André-SP e já lançou diversos compactos nessa linha extrema. Esse é um dos mais novos.
Discarga Que Venha Abaixo (Pecúlio Discos) Discarga é um clássico trio hardcore paulista. Estão na ativa há mais ou menos 10 anos. Esse single foi gravado no Estúdio Rocha (conhecido por ser a casa do Hurtmold e amigos) e produzido pelo Fernando Sanches (baixista do Againe/CPM 22). São três canções de cada lado, todas enveredando pelo lado mais rápido do hardcore, com um peso que beira o thrash. Influenciados por bandas paulistas da primeira geração do punk, como Cólera, Olho Seco e Hino Mortal, o Discarga consegue mandar o seu recado.
Industrial Noise | Fahrenheit AGX. Split EP (Absurd Records) O slogan da banda paulista Industrial Noise é “grindcore até a surdez!”. Por aí já dá pra ter uma idéia do que é o som dos rapazes, que nesse vinil azul detona cinco sons ultra rápidos e agressivos, mas com uma certa pegada melódica, um peculiar “groove”, pelo menos até onde o estilo permite. Talvez devido a pequenas variações de velocidade e mudanças de ritmo. A música
“Infância em Andamento” é o que podemos chamar de hit, um encontro de Napalm Death com Biohazard. Já o Fahrenheit AGX é da Bélgica, mas eles não parecem ter muito orgulho disso, já que no encarte chamam o próprio país de Hellgium e na música “Belgian Politics” metem o pau num estilo metralhadora giratória, com frases tipo “liberal rabitt”, “socialist up my ass” e “christian whore”. O som deles é thrash core 80’s e a banda conta com membros da lendária Agathocles, banda grindcore na ativa desde os anos 80.
Júpiter Maçã Beatle George (Monstro Discos) É sempre bom ouvir mais um novo single de uma das melhores bandas do Brasil, o Júpiter Maçã, que ressurge agora nesse vinil branco mesclado de vermelho e azul. A embalagem perfeita para a psicodelia pop do gaúcho com fama de maluco. São duas músicas que seguem o padrão Jupiteriano de ser, com as letras fritas de sempre e um som que remete aos anos 60. A ótima “Beatle George” tem direito a uma cítara onipresente na canção inteira. Genial. No lado B temos “Scotch and Coffee at Regent Street”, que já vale por esse nome, mas sonoramente abre ainda mais os parâmetros freaks do rapaz, com direito a voz forçada feminina e letra em inglês. Doidera.
Kvoteringen Roffarens Marknad (Terrötten) Essa é uma banda sueca que lança esse single por uma gravadora brasileira (de Porto Alegre), o que faz certo sentido, já que eles lembram bandas punk/hardcore brasileiras dos anos 80, como Lobotomia e Ratos de Porão. Claro que essas influências são turbinadas com traços de Discharge e Anti Cimex, e o que temos é um som bastante sujo e barulhento. A produção é bastante crua, soa como gravação ao vivo. Indicado somente para fãs mais dedicados do estilo.
Lafayette & Os Tremendões O Pão Duro / Pare o Casamento (Gravadora Discos) O tecladista Lafayette é considerado o co-inventor da Jovem Guarda. Na ativa desde meados dos anos 60, ele (res)surge agora com Os Tremendões, banda formada por membros de bandas cariocas como Acabou La Tequila, Carbona, Leela, Canastra e Autoramas. Esse single contém duas regravações de velhas canções nacionais: “O Pão Duro” (de
Getúlio Cortes) e “Pare o Casamento” (famosa com Wanderléa e Kid Abelha), com vocais do Nervoso e Érika Martins, respectivamente. Nada de muito genial, mas que certamente agradará fãs do Rádio de Outono, Penélope e jovem guarda em geral.
Mesrine | Archagathus Split EP (Bucho Discos) Mais um compacto da Bucho, gravadora paulista especializada em grind, noise, crust e extreme metal. Basicamente só lança vinil, como manda o figurino. Nesse split temos duas bandas do Canadá que tocam grind/crust. O Archagathus apresenta quatro faixas, sendo que a melhor, curiosamente, é cover de “Russian Roulette”, um hit dos paulistas Rot, grandes representantes mundiais do estilo. O Mesrine tem de curioso o fato de serem de Quebéc, uma província do Canadá cuja língua principal é o francês, tanto que entre essas quatro músicas, todas gravadas ao vivo, o vocalista conversa com o público em doce francês, para logo em seguida vomitar letras em inglês em cima de todos. Um esporro, um murro no meio do rosto do mais desavisado, uma facada na cara. Apropriadamente o EP se chama Live Murder.
My Own Lies | Betercore! Split 7” (Pecúlio Discos) Pecúlio Discos é a gravadora do Boka, baterista dos Ratos de Porão. Oriunda de SantosSP. É uma das únicas do país que ainda lança discos de vinil, tanto no formato 7” quanto no de 12”. É muito óbvio que Boka não vai lançar bandas de indiepop ou electro, mas somente vertentes mais agressivas do punk rock, como grind, crust, hardcore, thrash etc. É o caso desse single, que ainda tem a peculiaridade de ter somente bandas gringas prensadas no vinil: os holandeses do Betercore! e os alemães do My Own Lies. O primeiro toca crustcore politizado ao ponto de botar um manifesto anti-guerra no encarte (aliás, encarte bastante generoso: duas páginas), enquanto os alemães detonam um hardcore rápido com uma influência notável de thrash metal, principalmente nas guitarras. Violência sonora pura. Recomendado somente para fãs do estilo.
Retrofoguetes O Maravilhoso Natal dos Retrofoguetes (Monstro) A história desse compacto é a seguinte: a banda baiana gravou 5 canções natalinas para depois presentear os amigos com cópias em CD-R. Mas o resultado ficou tão bacana que a Monstro resolveu botar tudo num vinil vermelho sete polegadas. A produção é o que mais chama a atenção: está muito bem gravado. E a banda também não deixa por menos: utilizou guitarra de 12 cordas, piano, guizos, guitarra havaiana e contrabaixo acústico para enriquecer aquilo que já é naturalmente belo, que são as tradicionais canções de natal, apresentadas aqui de forma instrumental (a não ser a “E Nasceu Jesus”, que é um dueto da Nancyta e Jorginho Kig Cobra). Esse single é tão bom que todo mundo deveria comprar pelo menos umas 4 cópias para no final do ano presentear os camaradas que têm toca-discos. Presente melhor não existe.
Simbiose | Driller Killer Split EP (União Positiva Discos) Essa gravadora de Campinas-SP lança seu 3o compacto, um split com as bandas Simbiose de Portugal e o Driller Killer da Suécia. Ambas as bandas detonam um grindcore com fortes influências crust e um pouco de metal, principalmente o lado do Simbiose, que se chama “Terrorismo de Estado” e apresenta dois sons com as características de sempre: vocal gutural e ritmo ultra-rápido com bateria bate-estaca dando o tom. O lado do Driller Killer se chama “Ruled By None” e também apresenta dois sons, com uma pegada um pouco mais lenta do que a da banda portuguesa. Essa banda sueca é famosa para quem curte esse tipo de som. Eles têm diversos lançamentos. Prato cheio para fãs do estilo e custa baratinho.
Vários Artistas Brasil Instro/Surf Vol. 1 (Mondo 77) Olha só que belíssima idéia: quatro bandas nacionais tocando quatro canções instrumentais, todas influenciadas pela clássica surf music de Dick Dale e afins. Para completar o fetiche, o vinil é vermelho. Idealizado pelo Gabriel do Autoramas e patrocinado pelo selo paulista Mondo 77, essa compilação certamente agitará qualquer festa na praia: todas as bandas apresentam canções dançantes e com boa pegada. São elas: Dead Rocks, Psicotrópicos Deluxe, Super Stereo Surf, além de lógico, o próprio Autoramas, que bota no vinil uma de suas melhores músicas, a desde já clássica “Multiball” (presente no último álbum da banda). Um verdadeiro hit! Que venha o volume dois!
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Guillemots Brixton Academy, Londres Palavras: Marcio Custódio Fotos: Patricia Arvelos Ilustração: mooz
A sonoridade do Guillemots sempre esteve ali no meio termo: não é comercial, mas também não dá para dizer que é experimental. O que não sabíamos era se a atitude deles se espelhava no mainstream ou no underground. Até esse show no Brixton Academy. A jornada até aqui durou cerca de um ano e meio, desde que assinaram com uma gravadora e iniciaram turnê, até chegarem à casa de shows de maior prestígio na indústria da música britânica. A lógica seria a banda tocar os hits e presentear o público de cinco mil pessoas com o que eles realmente queriam ouvir. Mas não. Ao invés disso, decidiram fazer uma apresentação não convencional, sem nenhuma combinação com a grandeza do Brixton Academy e os cinco mil fãs presentes. Os roadies preparavam o palco vestidos de cientistas, com avental branco. Alias, o palco inteiro estava branco. O telão da turnê anterior, onde projetavam lindas imagens para o deleito dos presentes, não estava ali. Uma pena. A banda entrou, todos vestidos de branco. A primeira meia hora foi marcada por canções lentas, algum b-side e faixas novas. Tudo muito devagar. Se estivessem tocando numa casa menor, mais intimista, faria sentido. Mas como estavam no Brixton Academy, tudo ficou fora de lugar. A bonita “Made Up Love Song No.43” deu uma animada, mas não foi suficiente, assim como “Through the Window
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Pane”. Assisti o Guillemots uma porção de vezes antes, todos em locais menores, e sei do grande potencial que possuem ao vivo. Mas, hoje à noite, algo estava errado. A química tinha se dispersado pelo vasto espaço do Brixton. Alguns números excepcionais que são a marca registrada dos Guillemots e que estavam sendo apresentados até a turnê passada, como “Who Left the Lights Off, Baby?”, foram deixados de fora, infelizmente. No lugar acrescentaram faixas fracas como “She’s Evil”. Era de se imaginar que, quando os hits fossem tocados, tudo iria ficar mais agradável. Mas o Guillemots inventou de mudar tudo. A épica “We’re Here” deixou de ser épica e foi tocada acústica, apenas Fyfe Dangerfiled no palco, voz e violão. “Annie Let’s Not Wait” jogou fora sua maestria e foi encapsulada junto a um remix tosco. E “Trains To Brazil” foi tocada muito bem, mas aí era o final do show e muita gente já estava no bar, assistindo de longe, fora do clima. Nem “São Paulo”, o último número, conseguiu levantar o ânimo. O clima disperso do local, aliado a um repertório mal escolhido, culminou na primeira apresentação decepcionante do Guillemots que testemunhei. Depois dessa, é melhor que voltem as suas raízes e retornem ao underground. Definitivamente não combinam com uma casa de show grande.
José González Eternal, Austin Ele tem influência de tropicália, é sueco, os pais são argentinos, canta em inglês e faz intersecção sonora com uma dupla bizarra como o The Knife. Banquinho e violão, voz suave e quase baixa de não se ouvir, adora fazer do seu modo umas releituras pop de Joy Division a Kyle Minogue, mas como se o João Gilberto as estivesse cantando. Quase todas as suas músicas têm a palavra “heart” no meio, absolutamente todas são carregadas por umas dedilhadas de violão que podem machucar. Você olha do lado e vê um barbudão new-folk maravilhado, do outro tem um indie-kid atento. Olha para a frente e vê um cara sentado, mexendo o mínimo possível em seu instrumento, mexendo o mínimo possível sua boca para cantar. E ainda assim com um poder de deixar todos vidrados nesse não-movimento. José Gonzalez, junto com caras como o americano Willy Mason, são andarilhos do som acústico que fazem Bob Dylan não parar de ser cool jamais. Numa hora ou outra seus ouvidos precisam dele. Lúcio Ribeiro
Gordin toca com emoção, técnica e transgressão a ponto de colocar riffs em um volume muito alto. Que delícia ouvir toda a distorção que Lanny produzia com sua guitarra e pedal no Teatro de Santa Isabel. Jarmeson de Lima
Mellotrons | The Dead Superstars | Sweet Fanny Adams
Casarão Sabor de Pernambuco, Recife Certos shows são mais legais em lugares pequenos. Ter a oportunidade de ver shows intimistas, em locais com pouca gente lhe faz compartilhar e presenciar momentos bem mais agradáveis num show. Até mesmo os erros, as conversas com a platéia e as pausas entre as músicas dão um sabor especial a shows assim. Num desses bons momentos, três bandas amigas se reuniram na mesma noite para marcar a breve despedida de um amigo. Eram o Mellotrons, The Dead Superstars e Sweet Fanny Adams, que devido ao grau de intimidade e brodagem, poderiam, se o palco permitisse, formar a banda Sweet Dead Mellotrons. Quando a noite de fato começou, o Mellotrons abandonou a timidez, que muitos lhes disseram ter sido a marca do show que fizeram no Rec-Beat e entre músicas e outras, passaram a brincar também com os presentes. Estavam lá “You and I”, Lanny Gordin “Ano Novo”, “Equador” e a hipnotizante “Galáxia”, Teatro de Santa Isabel, Recife além de uma cover que fizeram do The Cure com a Acredito que a maioria dos apreciadores de música colaboração de Helder, do Sweet Fanny Adams. Logo gostaria de congelar no tempo e imortalizar seus em seguida, The Dead Superstars apresentando o artistas preferidos no seu auge. Só assim teríamos conhecido repertório de seu EP com as já consagradas sempre discos legais e inspirados de Gal, Caetano e “Like a Mouse”, “Electrotank” e músicas novas como Gil, por exemplo. Em comum a eles, em suas fases “21”. Desta vez, Haymone (Mellotrons) e Diego (Sweet mais criativas, tivemos a participação da guitarra Fanny Adams) sobem ao palco para encerrar o show alucinada de Lanny Gordin na Tropicália. E para tocando “100%” do Sonic Youth, influência assumida de mim, que nunca tive a chance de ver os shows desta dois dos três grupos. E como a noite estava apenas na galera naquela época, ter visto Lanny Gordin ao metade e todos a essa altura do álcool já se conhecem vivo foi um acontecimento incrível. Bem que tinha e são bem amigos, ninguém mais se importa se um ouvido os rumores do estado de saúde deste lendário instrumento fica com volume maior que outro ou se guitarrista, mas não sabia ao certo o que teríamos há distorção de mais ou de menos. Encerrando a noite, ao vê-lo tocando. O show começa e Lanny adentra Sweet Fanny Adams traz momentos mais dançantes no palco com um trio de músicos bastante jovem. com músicas como “Pretending” e “Once Again” e Ali, naquele momento silencioso no Teatro de Santa novamente chama músicos das bandas amigas para Isabel - cada um dos instrumentistas se posiciona tocar junto algumas covers. Jam sessions, álcool e Lanny, com sua guitarra, começa a tocar sem ter e diversão unida pela amizade. Se todos os shows pronunciado nenhuma palavra para saudar o público. fossem assim, não haveria necessidade de se falar em Nos primeiros acordes de sua guitarra, o timbre “mercado musical”, até porque a música de verdade característico que marcou os discos daquela geração não precisa ser comercializada e apenas sentida. tropicalista invadia aquele secular teatro. O trio que Jarmeson de Lima o acompanhava, chamado Projeto Alfa, executou de forma bem interessante uma releitura instrumental de alguns hits tropicalistas com guitarra, ruído/mm | Debate contrabaixo acústico e set de bateria/percussão. No James Bar, Curitiba repertório do show, “Baby”, “Tropicália”, “Atrás do Depois de dias de sol, Curitiba acordou novamente Trio Elétrico” e diversas incursões improvisadas de de mau-humor. O dia, nublado desde cedo, cada músico pelo free jazz, progressivo, post rock e prometia. A temperatura nem estava tão baixa, psicodelismo. mas o frescor de uma brisa fez os primeiros casacos de 2007 saírem do armário. Bons Lanny Gordin ao vivo é moderno, contemporâneo, presságios? experimental e um mestre, que se permite até mesmo ter seus pequenos deslizes. Na metade do O tédio da quinta-feira, aquela que funciona show, os músicos deixam Lanny no palco para um apenas no horário comercial, já havia acabado. solo. Ali no centro das atenções de todos, Lanny Começa a quinta-feira sem lei. O caos que se afinando a corda de seu instrumento, deixa a aproximava. Um “tapa” para entrar no grau, uma tarracha do graço da guitarra cair no chão e, meio cerveja para embalar. Seguindo reto pela Vicente sem entender o que se passava, tenta recuperar a peça Machado - três, quatro quadras, na contramão para colocar na guitarra novamente sem sucesso. Ao dos automóveis -, encontra-se o James Bar. receber outra guitarra e voltar a tocar, Lanny Gordin As portas da percepção estavam abertas. Já na fala pela primeira vez no show para os presentes e entrada, com o bar ainda completamente vazio, fala em tom de desculpa: “É a vida! É a vida...”. Mas é possível escutar os micro-ruídos que mais isso não afetou o restante do show e sua performance. tarde se transformariam em macro. Bastante concentrado e com precisão afiada, Lanny
Se lá fora o trânsito já não faz tanto barulho, dentro do bar o ruído/ mm contamina o ambiente com a sua parafernália eletrônica. Vozes, combinações, pedais afinados, teclado, acordeon. E o microfone mágico, que parece transmitir as mensagens dos deuses da distorção. O álcool sorvido logo vira coadjuvante tamanha é a massa de som chapante que sai pelas caixas. E era apenas a passagem de som. E o público foi chegando, chegando... Últimos preparativos. As luzes principais se apagam e as luzinhas dos pedais iluminam aqueles que se concentram perto da banda. Um acorde aqui, outro ali e o paredão sonoro vai se formando pouco a pouco. Eis que surge “Baixo e Guitarra”, música já clássica dentro do repertório do ruído/mm. O novo arranjo deixou a música mais dançante. Sim! Dançante. O ruído/mm já foi cinza e direto. Hoje, está mais solto e animado, ao vivo a energia corre nas veias. As músicas se completam em uma sucessão de operetas construídos na base do primor técnico e do improviso. Os instrumentos mudam de mão, são trocados. A variedade e a intensidade de sonoridades aumentam. Os ouvidos pouco acostumados estranham. Os já treinados se deliciam no vai e vem da microfonia. Mais um show daqueles, sempre mais do que se espera. Depois dos curitibanos ruidosos, quem começa o espetáculo é a paulistana Debate. Uma definição para o som? Porrada. E das boas. Acachapante, envolvente, enérgica e bem trabalhada. A dinâmica perfeita. A banda deve ser muito elogiada pelo cuidado com que prepara as suas apresentações. Profissionais ao extremo, o grupo trouxe todo o seu equipamento, que era suficiente para estremecer todo o quarteirão. Som no talo. Gritos, quebradas de ritmo perfeitas e um destaque especial para o baterista Ricardo Ribeiro. O “homem polvo” faz movimento sobre-humanos - sem erros - numa velocidade impressionante. Às vezes é difícil compreender como faz tudo aquilo com apenas dois braços e duas pernas! O público balançava a cabeça, dançava. Lembranças de Fugazi, At the Drive In e Hurtmold passavam pelo pensamento. Improviso e feeling. No debate entre curitibanos e paulistas, quem saiu vencedor foi o público. Felipe Rodrigues
Vanguart Cais da Alfândega, Recife Antes mesmo do Vanguart pisar no palco do Cais da Alfândega no Rec-Beat 2007, a enorme galeria de fãs da banda de Cuiabá tinha certeza de que aquele show seria memorável. Músicas em português, músicas em inglês, covers e muitas palavras de agradecimento. Todas elas se misturavam à euforia da banda e do público para transformar aqueles minutos no festival em momentos de êxtase delicadamente pontuados por violões e guitarras de uma melancolia que ainda por cima contrastava com o carnaval. Mas todo carnaval tem seu lado triste, poético, que é tão introspectivo quanto uma marchinha saudosa. E naquela noite, o Vanguart, que já possuía um bom fã-clube antes mesmo de fazer um show na cidade, aumentou sua legião de fãs em umas 10 vezes. No RecBeat 2007, ao ver a quantidade de gente que cantava junto as músicas que estavam na Internet, e que foi atrás deles após o show manifestar seu carinho, a banda de Hélio Flanders pode ter certeza de que ganhou no Recife uma segunda casa. Jarmeson de Lima
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Love Doves (2006) Ilustração: Maya Hayuk www.mayahayuk.com
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