Jornal Transcender

Page 1

TRANSCENDER ANO 12 - Nº 41 | 2017 | WWW.EDITORAMUNDOEMISSAO.COM.BR EDITORA MUNDO E MISSÃO

PREÇO: R$ 10,00

WWW.EDITORAMUNDOEMISSAO.COM.BR

o peso do

A riqueza acumulada por uma pequena parcela da população mundial equivale à riqueza das 99% restantes

ARTE E NATUREZA

Inhotim: o encontro sinérgico entre arte contemporânea e natureza

MENOS É MAIS

Por que a ideia de quantidade tomou conta da vida moderna?

LIDOS PARA VOCÊS

A eterna procura do outro na Hora da estrela, de Clarice Lispector


editorial

POR MASSIMO CASARO REDAÇÃO TRANSCENDER

Qualidade não tem vencimento EDITORA MUNDO E MISSÃO Rua Joaquim Távora, 686 São Paulo-SP – CEP 04015-011 Tel.: (11) 5549.7295 - 5904.1616 Fax: (11) 5549.7257 CNPJ 62.081.203/0003-79 www.editoramundoemissao.com.br vendas@editoramundoemissao.com.br

TRANSCENDER DIRETOR PRESIDENTE DO PIME Pedro Facci

T

odo mundo sabe que alguns ambientes culturais, que poderíamos definir como do “século passado”, não amam a Internet, particularmente as redes sociais virtuais. Mas o “desabafo” de um intelectual do calibre de Umberto Eco (5 de janeiro de 1932 - 19 de fevereiro de 2016) nos impressiona. Ao receber, no dia 10 de junho do 2015, a láurea honoris causa em Comunicação e Culturas das Mídias pela Universidade de Turim, o famoso semiólogo e romancista falou de forma bem contundente: “As redes sociais permitiram que as pessoas permaneçam conectadas, mas ofereceram também o direito de voz a legiões de imbecis que, antes, se expressavam só no bar, após ter tomado um copo de vinho, enquanto hoje têm o mesmo direito de fala dos Prêmios Nobel”. Uma fala duríssima, mas atrás do ataque não há a nostalgia do bom tempo antigo, o tempo da leitura, quando o pensamento se adaptava à “lentidão” do livro, mas uma reflexão mais específica sobre um tema que não pode mais passar despercebido. “O grande problema da escola TRANSCENDEr | abr-mai 2017 2

DIRETOR DA EDITORA Massimo Casaro massimo.casaro@editoramundoemissao.com.br

de hoje – ressaltou - é ensinar aos jovens como filtrar as informações da internet. Também os professores são neófitos frente a este instrumento”. Existe, de fato, o problema das fontes, porque existe, e vai se agravando, o problema da liberdade. Descriminar, escolher, descartar, recuperar estão entre as ações mais importantes e necessárias em que cada um joga, no mesmo tempo, a sua maturidade e o seu papel de cidadão. É, para todos os efeitos, um problema de civilização. Também a opinião de Umberto Eco sobre o futuro dos jornais e dos livros era bem diferente da dos preguiçosos simplificadores da realidade. “Eu permaneço fiel a Hegel quando afirmava que a leitura do jornal é a oração cotidiana do homem moderno. Voltaremos à informação em papel”, excreveu Eco. De fato, junto com o escritor e roteirista francês Jean-Claude Carrière, lançou em 2010 o livro N’espérez pas vous débarrasser des livres (Não espere se livrar dos livros, publicado em Portugal com o título A obsessão do fogo e no Brasil como Não contem com o fim do livro, Editora Record). A torto ou à razão era a sua posição. Qual é a nossa? T

REDAÇÃO Daniel Santos daniel.santos@editoramundoemissao.com.br Pedro Miskalo pedro.miskalo@editoramundoemissao.com.br Samara Chedid samara.chedid@editoramundoemissao.com.br Arte da capa: Emanuela Nardin emanuela.nardin@pime.org.br PROJETO GRÁFICO Daniel Santos IMPRESSÃO GRAFILAR Esta é uma publicação do Pontifício Instituto das Missões Exteriores que também publica no Brasil o jornal Missão Jovem e a revista Mundo e Missão - São Paulo/ SP. A Editora Mundo e Missão é afiliada à SIGNIS e membro da PREMLA www.portalmisionero.com/premla Todos os direitos reservados. A reprodução de qualquer conteúdo desta publicação, sem autorização prévia, é proibida. As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores.


ser

ARTIGO DO JOVEM POR VINICIUS ALVES, 17 ANOS, ESTUDANTE – SÃO PAULO, SP

O JOVEM NO BRASIL NUNCA É LEVADO A SÉRIO

Q

uando criança, talvez o que mais almejamos é crescer. Imaginamos o mundo como um arco-íris, em que tudo é lindo e harmônico, que nem mesmo as dificuldades cotidianas tiram esse brilho que é simplesmente viver. Até que conhecemos a tal da realidade nos mostrando que, para poder nadar em um mar de rosas, é preciso se acostumar com os espinhos. É o momento em que começamos a entender os complexos da vida. Os jovens, em geral, têm suas dificuldades diárias e os de periferia, por sua vez, vivem situações ainda mais problemáticas. É o momento em que queremos ter a chance de falar, gritar, extravasar nossa rebeldia, até mesmo tentar entender todo o sentido da vida de uma vez só. Mas vem aquela frustração quando percebemos que quase não temos voz na sociedade, de termos a percepção de que fomos historicamente prejudicados por diversas questões, desde nossa localização geográfica até a falta de responsabilidade do poder público para conosco. Como querer levantar voo e bater nossas asas pelo mundo tendo que viver num ambiente hostil, de abandono social e vulnerabilidade? Como consequência temos um dos maiores problemas dessa geração, que é a falta de motivação. “Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério...”, disse o cantor Chorão em uma de suas músicas. E o jovem ainda não é levado

a sério na sociedade brasileira, principalmente nas periferias. Primeiro, por não ser oferecida uma educação de qualidade a todos, talvez seja esse o maior problema. Segundo, por termos herdado a cultura da aceitação, de nos conformarmos com tudo, vivemos com a ideia de que morreremos na mesma situação que nascemos. Se nascemos em família pobre, morreremos pobres, como se estivéssemos predestinados e limitados a viver o que a sociedade espera de nós. É um erro aceitar frases do tipo “lugar de mulher é no pé do fogão”, como se as mulheres conseguissem fazer apenas o serviço doméstico, pois elas teriam nascidos para isso. Outro caso é o do jovem de condições humildes, que se realizará na vida se conseguir um emprego que lhe permita sobreviver, porque ele é incapaz de ter algo a mais do que aquilo. Temos que fugir de tudo isso. É hora de entendermos que a nossa trajetória está sendo escrita por nós mesmos e que rótulos preconceituosos não podem e não vão nos parar. Independente de todos os contratempos que passamos, o que não pode deixar de exalar da nossa alma é a vontade de viver e fazer melhor, de enxergar os erros da sociedade no passado e não deixar que eles se repitam. Essa luta é diária e contínua. Mesmo que nos rotulem como insensatos ou incapazes, temos muito o que ensinar e mais ainda o que aprender. Apenas pedimos: levem-nos a sério.

Quer ter um texto seu publicado aqui no Transcender? MANDE SEU ARQUIVO PARA NÓS: REDACAO@EDITORAMUNDOEMISSAO.COM.BR

Vamos avaliá-lo e, se for bacana, publicamos aqui na coluna. 3

jan-fev 2017 | TRANSCENDEr abr-mai


ser

COMO EU SEI QUE... POR MARCELLO MASSIMINI*

A consciência, a unidade e a diversidade No último artigo demo-nos conta de que a consciência humana não pode ser individualizada só partindo do comportamento. Devemos, então, aprender a defini-la e medi-la diretamente onde nasce: no cérebro

U

ma possível definição de consciência, certamente pré-científica, mas universal e imediata, é a seguinte: “a consciência é tudo aquilo que desaparece quando dormimos sem sonhar”. Acontece com qualquer pessoa que, ao acordar de um sono profundo, não se lembra de nada. Este fenômeno se verifica especialmente nas primeiras horas da noite e nos fornece uma ótima oportunidade para entender o quanto a consciência depende do funcionamento do cérebro. Com o adormecer, o cérebro muda levemente o seu modo de funcionar e nós, junto ao universo que nos circunda, cessamos de existir. O sonho nos oferece uma outra lição bonita sobre a consciência: TRANSCENDEr | abr-mai 2017 4

durante ele, a consciência retorna vivaz e colorida. O sonho nos ensina que o cérebro pode, sozinho, gerar infinitas possibilidades. Se quisermos medir a consciência, devemos substituir a definição anterior por uma mais científica. Mas, de onde partir? Naturalmente, da única coisa que podemos conhecer de modo direto, isto é, da nossa consciência. Nossa consciência possui duas características muito especiais. Antes de tudo ela é extraordinariamente informativa. Sempre que entramos em um estado consciente, definido - até mesmo o mais simples de todos, por exemplo, quando vemos um céu todo escuro -, excluímos uma quantidade de possíveis alternativas, como a de ver um céu azul ou amarelo.

Cada vez que criamos uma nova experiência, nosso cérebro escolhe uma entre as infinitas alternativas possíveis, numa fração de segundos. Isto significa que o cérebro é extremamente diferenciado, que contém no seu interior riquezas incomparáveis. O segundo ponto fundamental é que a nossa consciência é integrada; não podemos jamais, por exemplo, estar separadamente conscientes do campo visual da direita e da esquerda, da cor de uma maçã separadamente de sua forma. Isto significa que o cérebro, quando escolhe um estado entre os infinitos que tem ao seu dispor, o faz unitariamente. Destes dois axiomas deriva uma conclusão longe de ser banal: a consciência é um balanço impro-


COMO EU SEI QUE...

Pergunta de MARCELO LIMA, 16 anos, estudante de Osasco, SP

O que é o pecado? Porque, às vezes, parece que tudo o que o jovem faz é pecado...

E

sta palavra, em alguns setores e em certa lógica, está um tanto abandonada e muitas vezes ridicularizada. Na verdade, ela traz em si uma energia que alastra dentro da pessoa uma propensão negativa nos relacionamentos e nas escolhas centradas em si mesma de forma radical e egoísta. Na interpretação religiosa comum, o pecado se identifica com gestos, escolhas que indicam o egoísmo. Na verdade, o pecado é a postura interior da criatura que se “julga Deus" e tende a pensar e agir, como termo último e definitivo na gestão da propria vida. No livro do Gênesis temos clara esta raiz. O diabo disse a Eva: "Se você comer destes frutos, você não vai morrer, você vai ser como Deus... Não acredite nele, acredite em mim" (Gn 3,1-5). Aqui é oferecida a escolha entre o

que Deus disse e o que o Diabo sugere: seguir a palavra de Deus ou a dele. Aconteceu e ainda acontece para nós. Seguir a Palavra de Deus, ou seguir a lógica de certa cultura e do nosso egoísmo a respeito da moral, da ética? Esta raiz cria frutos amargos, chamados de pecados. O pecado envolve três realidade: Deus, eu e outros. Se uma pessoa se julga Deus e age se colocando no topo de tudo, sem responder na consciência a ninguém, há o risco de que utilize sua liberdade, seu talento, para subjugar, explorar os outros. Pode sentir-se no direito de viver sua vida, suas energias como quiser, sem os parâmetros de justiça, equidade, respeito. Pode considerar os outros à “sua disposição”. Pode dominar e aproveitar de tudo e todos. Em substância, é uma vida sem

vável entre diferenciação e integração. Em outras palavras, depende da improvável coexistência de duas forças que, normalmente, lutam entre si. Na verdade, elementos muito diferentes demoram a se integrar, enquanto muita integração leva a anular as diferenças. A dificuldade deste equilíbrio manifesta-se em muitos níveis, do sociológico (entre guetos e globalização) ao político (entre anarquia e ditadura). E mesmo assim, em algum lugar do universo este equilíbrio se realizou: no cérebro consciente. Se, de fato, formos ver como é feito o cérebro, encontraremos algo de único que distingue este objeto de todos os outros objetos que formam o universo. Os 100 bilhões de neurônios

que o compõem não poderiam ser mais diversificados entre eles. Somente no sistema visual alguns respondem a linhas com inclinações especiais, outros em direções particulares, outros para certas cores, certas formas, certos vultos – bilhões de possibilidades e infinitas combinações entre si. Por outro lado, os elementos deste variado “pote de confusões” neural estão estritamente ligados entre eles. Cada neurônio recebe conexões diretas de milhares de outros neurônios e estima-se que o número de conexões totais no cérebro (100 trilhões) seja superior ao número das estrelas em nossa galáxia. Tudo dentro de um pequeno órgão de um quilo e meio que cabe na palma da mão. Nesta perspectiva, damo-nos

TRANSCENDEr | abr-mai 2017 5

amor, num egoísmo profundo. O pecado vem do fato de que você substitui DEUS com o seu EU. Em Deus, temos a certeza de uma vida autêntica, transparente, útil e feliz. Jesus diz que, em nós, coexistem o joio e o trigo (Mt 13,25). Há o Espírito do Bem e o espírito Maligno. Os dois estão em luta perpétua no nosso interior (Rm.7,18-24: vejo o bem e faço o mal) e cada um traz os seus frutos diferentes, costruindo ou destruindo a nossa paz, nossos projetos de felicidade. E os dos outros. Durante a juventude, a batalha para encontrar o equilíbrio em muitas áreas do nosso crescimento (afetivo, comportamental, sexual) é um duro embate de vitórias e quedas. Também essas quedas são pecados? Elas são, mas no sentido de serem sinais de alarme que temos de considerar, a fim de crescermos de acordo com o plano que Deus tem para nós. O Senhor nos ajuda nesta luta, ilumina a mente e fortalece o coração, porque vê o nosso desejo para o bem, o nosso amor por Ele, pelos outros e por nós mesmos. Olhe para o alto, querido, sem temor, mas na alegria.

Resposta enviada pelo padre GIANFRANCO VIANELLO conta de como cada cérebro é único, precioso e especial, e de como cada vida consciente é um universo complexo, variado e único. Sobretudo, poderemos ter uma chave de leitura e um princípio que nos sugere como medir a consciência lá onde o comportamento não se manifesta diretamente. Devemos procurar o equilíbrio improvável e precioso entre diversidade e unidade, e devemos desenvolver um novo telescópio para identificar a luz desta estrela onde quer que ela brilhe. *É Docente de Neurofisiologia na Universidade dos Estudos de Milão e diretor de Doutorado em Filosofia e Ciências do Homem na mesma universidade. Desenvolve novos instrumentos para o estudo da consciência e das suas alterações nos pacientes que emergem do coma.

5

abr-mai 2017 | TRANSCENDEr


RELIGIÃO

POR MASSIMO CASARO REDAÇÃO TRANSCENDER

O significado da festa Festejar é algo espontâneo e necessário, mas nem por isso dispensa a procura do seu significado. No âmbito religioso, a festa é algo misterioso, como se prometesse mais do que se experimenta

Crédito: Tânia Neves

D

esde criança sempre tive a impressão que o significado da festa se encontrasse bem além de um simples descanso ou de um divertimento superficial, de uma efêmera suspensão do ritmo infernal da vida. A MELANCOLIA DA TARDE A melancolia é um sentimento próximo do que se experimenta quando não se alcança algo esperado. A festa acabou e não aconteceu o “milagre”. Tudo se torna como antes, com o mesmo pesadelo, as mesmas fadigas, os mesmos fracassos. É por isso que alguns, ou muitos, tentam prolongar artificialmente a ebriedade festiva? Pode ser que sim. Porque a festa desencadeia um sentimento forte e violento que condói a alma, que dá vigor TRANSCENDEr | abr-mai 2017 6

a tudo o que jaz no interior, esquecido ou sepultado sob a linearidade banal do tempo que flui. De fato, na festa explode o que, no dia a dia cansativo, atarefado, está sob a cinza; quase um sopro de vento que reacende a brasa aparentemente apagada. Revigora-a e a desencadeia. E o incêndio devora insatisfazível, jogando na cara aquela "falta” que aparece só no tempo “vazio”, não preenchido por todas as coisas que, na corrida cotidiana, impedem de pensar. É assim que se reconhece, como no mito grego, que Cronos, o tempo, devora os seus filhos. Mas há outra consideração a ser feita. O tempo devorador, enquanto rói o sentido da vida, eterniza aqueles que foram, particularmente, os nossos erros. E nós erramos nas escolhas, nos relacionamentos. Impiedosamente, o

tempo nos mostra que não estamos à altura de nós mesmos. De fato, além do sentido do limite, que faz de nós seres mortais, nos aflige também o desgosto de não ter feito ou não ter sido o que era justo. E tudo isso por falta de lucidez, de força, de coragem, de perseverança. SENTIDO, ESPERA, MEMÓRIA Tentei unir três palavras: sentido, espera, memória. Formam como que um círculo que expressa, rodeando, o ser humano. Porque é exatamente a necessidade de sentido que alimenta a espera que, por sua vez, precisa de memória. Mas o que é a memória? É algo mais denso, profundo, do que a simples lembrança. A lembrança, de fato, agita apenas o sentimento da perda: dos anos que passaram, da juven-


tude que se foi, de uma pessoa que não mais existe. A lembrança se projeta sempre para trás. Ao contrário da memória que, não obstante recupera algo acontecido, encontra-se sempre no presente, porque possui a força de comunicar a vida, revelando a sua substância. O SHABBATH E O DOMINGO Tentando desabrochar melhor o conteúdo da memória, recuperei alguns trechos de antigas leituras. O primeiro, de autoria do escritor judeu tcheco Jiri Langer, descreve o começo do shabbath, o sábado, em uma comunidade chassidim da Europa Oriental. “A multidão dos crentes flutua e encalça, espumeja e tumultua como um rio de lava fervente. Improvisamente todos, como obedecendo a uma ordem, param e voltam o rosto na direção do ocidente, da porta da sinagoga, baixando a cabeça à espera. Naquele momento entra invisível a Rainha Shabbath e oferece a cada um o dom precioso do céu: uma alma nova, festiva” (Jiri Langer, As nove portas). O segundo é também de um escritor judeu, Elias Canetti, que na sua autobiografia lembra de quando era criança e escutava o conto do êxodo na noite de Pessach, a Páscoa judaica. “Sendo o mais novo da família, eu tinha a função de pronunciar o ma-

nischtanah. (...) No início, o mais jovem dos convidados pergunta sobre o significado dos preparativos: pão sem fermento, ervas amargas e todas as outras iguarias incomuns que se encontram na mesa. O narrador - neste caso o meu avô -, responde à pergunta com o longo relato do êxodo do Egito” (Elias Canetti, A língua posta a salvo, Campos das Letras). O terceiro é de outro autor judeu, o filósofo Franz Rosenzweig que, na sua obra-prima, fala do sentido do domingo cristão. “No domingo, o cristão acumula o seu tesouro de fortaleza espiritual, que consumirá ao longo da semana (...). A consciência cristã sempre se arremessa, do centro da vida no qual

se encontra, para a direção do início. A cruz é sempre o início. É sempre a origem das coordenadas do mundo. Assim como daí se inicia a contagem cristã do tempo, também a fé sempre encontra novo lance no mesmo ponto. O cristão é para sempre um homem que se refaz; cumprir e terminar não são tarefas dele: se o começo é bom, tudo é bom. Esta é a eterna juventude do cristão. Na verdade, cada cristão vive, ainda hoje, o seu cristianismo como se fosse o primeiro cristão. E assim o domingo, com esta força que irradia a sua bênção sobre o trabalho semanal, é a imagem correta da força do cristianismo que se expande, sempre nova, pelo mundo” (Franz Rosenzweig, A estrela da redenção). T

Fotos: Ao lado.: Mesa preparada para o Shabbath, dia sagrado para os judeus. Abaixo.: Celebração do Holi, dos Hindus, que comemora a chegada da Primavera.

Crédito: Anthony Kurtz

7

abr-mai 2017 | TRANSCENDEr


RELIGIÃO

DESAFIO FILOSÓFICO POR MASSIMO CASARO

A poesia da comunicação

A

comunicação não é somente uma questão de palavras, mas também de “alma”, de estilo. Não tanto o estilo com o qual se fala ou se escreve, mas aquele com o qual se vive. Em outras palavras, a linguagem somos nós enquanto nos relacionamos. Escolher a linguagem é, portanto, optar pelo ser humano que queremos ser na relação com o outro. A linguagem, nos advertem os especialistas, é dividida em dois tipos: verbal e não verbal. Por meio da não verbal, a pessoa oferece uma notável série de informações, quase que inconscientemente, e o faz sobretudo através do tom, do timbre, do volume da voz e através dos gestos, da postura. De acordo com uma pesquisa realizada pelo psicólogo americano Albert Mehrabian, 7% do efeito da nossa comunicação depende das palavras, 38% do tom, do timbre, do volume, do ritmo, das pausas etc., e 55% da mímica, das expressões faciais, da gestualidade, da postura etc. A linguagem não verbal é, de fato, simultânea, concreta, contínua e pode ser somente interpretada, pois não possui um código predeterminado, mas interpreta o instante em que a pessoa se encontra. Segundo o psicólogo e filósofo austríaco Paul Watzlawick, um dos mais importantes estuTRANSCENDEr | abr-mai 2017 8

diosos da Teoria da Comunicação, cada comunicação se desenvolve ao mesmo tempo sobre dois planos: não verbal ou analógico, que é o plano da relação, e o digital ou verbal, que é o plano do conteúdo. Normalmente, e erroneamente, nos concentramos muito no segundo esquecendo que os sinais não verbais têm o poder de reforçar ou, ao contrário, enfraquecer os conteúdos. Também o antropólogo, sociólogo e psicólogo britânico Gregory Bateson acredita que a parte mais valiosa da comunicação é a não verbal porque reflete fielmente a verdadeira natureza dos sentimentos e as intenções da pessoa. A qualidade da comunicação, portanto, não depende só da qualidade das ideias ou da sua concatenação lógica, da sua clareza, mas sobretudo da assunção desta complexa, variada e, em alguns aspectos, incontrolável complexidade humana. Uma linguagem poética (do grego ποίησις, poiesis, que significa criação) ou seja “espelhamento” daquela potência criadora que Deus quis que os homens exercessem como sinal de sua filiação? Parece extraordinariamente belo, fascinante pensar na comunicação como um processo artístico, em que cada um aceita exercer a sua humanidade além dos próprios papéis e tarefas, para que estes não se tornem mecanismos de domínio e de defesa, mas sejam um modo para colocar-se à disposição da vida autêntica do outro. T

Nunca sem o outro

T

odo mundo sabe que a nata dos diálogos literários é representada pelos diálogos de Platão, cujo personagem-chave, a figura mais luminosa, é Sócrates. Quem é Sócrates? É o ideal do homem radicalmente não dialógico, que não pode ser intimamente interpelado, que não pode ser perturbado e sacudido pelas palavras do interlocutor, mas que, no ímpeto da discussão, permanece impenetrável, impassível, inacessível a qualquer outro “eu” e que, por conseguinte, está em condições de manipular o interlocutor, manobrando-o quase como um objeto, sem ser, por sua vez, manipulado. Uma figura semelhante representa o genial equivalente literário das concepções filosóficas helênicas sobre a essência autossuficiente. (...) É a individualidade na plena acepção do termo, algo “em si”. A filosofia grega criou o ideal da autossuficiência (autarquia). Tanto mais é perfeito, tanto menos o sábio grego precisa do outro, qualquer que este seja. Mas, para ser aberto ao diálogo essencial é preciso, exatamente, não ser “em si”, procurando a “nascente da vida” fora de si, no outro, seja ele Deus ou o outro homem. O “eu” deve precisar de um “tu”. Na Bíblia, ninguém se envergonha de precisar do outro; o homem tem sede e cobiça tanto a devoção de outro homem quanto o bem-querer de Deus, e também Javé procura, quase ciumento, doloridamente, o reconhecimento humano. (Sergej Averincev*, em “Atenas e Jerusalém, contraste e encontro de dois princípios criativos”) * (10/12/1937 – 21/02/2004) importante intelectual russo, cuja vivência intelectual perpassa os grandes processos sociais, políticos, culturais e religiosos que acompanharam a transição da União Soviética à nova Rússia. Pode ser definido como um historiador que tentou identificar a ideia fundamental de “Europa”. Nunca cultivou a sua especialização de historiador da literatura bizantina e eslava como campo fechado de pesquisa, mas como um ponto de partida para individuar a variedade das contribuições culturais que confluíram na tradição do leste europeu, para, depois, verificar a sua sintonia fundamental com a tradição cultural da Europa ocidental.


atualidades

CAPA/ECONOMIA PARA POUCOS POR REDAÇÃO TRANSCENDER

1%

VALE MAIS DO QUE

99% ?

Oito pessoas possuem uma riqueza equivalente à de outros 3,6 bilhões de indivíduos, metade da parcela mais pobre do planeta. Em outras palavras, o modelo atual de economia está a serviço de apenas 1% da população mundial

A

ONG britânica Oxfam divulgou no começo desse ano um relatório que confirma algo que muitos já sabemos, porém com números assustadores. Na última década, a renda dos 10% mais pobres aumentou em US$ 65, com crescimento de US$ 3 por ano. Do outro lado, a renda dos 1% mais ricos cresceu 182 vezes mais, US$ 11.800. Hoje, segundo a Oxfam, é possível afirmar que essa pequena parcela acumula um patrimônio superior ao de 99% da população global. TRANSCENDEr | abr-mai 2017 9

Os dados apontam que a soma do patrimônio total de apenas oito homens é igual ao da metade pobre do mundo todo. Enquanto o crescimento econômico beneficia os mais ricos, o resto da sociedade, principalmente a parcela mais afetada pela pobreza, sofre com a miséria e dificuldade de se alimentar. “O retrato da desigualdade esse ano está mais claro, mais certeiro e mais chocante do que antes. É mais do que grotesco o fato de que um grupo de homens que caberia facilmente em um carrinho de golf é mais rico do que a me-

tade mais pobre da humanidade”, disse Mark Goldring, chefe executivo da ONG. O mais preocupante é que essa enorme diferença entre privilegiados e o restante da humanidade está muito longe de diminuir e, seguindo estimativas, a tendência é que ela aumente ainda mais. Uma vez acumulada, a fortuna cresce rapidamente. No ano de 2009, existia 793 bilionários no mundo com uma riqueza total de US$ 2,4 trilhões. Já em 2016 esses mesmos indivíduos possuíam US$ 5,0 trilhões. 9

abr-mai 2017 | TRANSCENDEr


atualidades

CAPA/ECONOMIA PARA POUCOS

Um exemplo fácil para entender esse cenário: quando Bill Gates deixou a Microsoft, em 2006, ele tinha uma riqueza líquida de US$ 50 bilhões. Dez anos depois, esse valor havia aumentado para US$ 75 bilhões, apesar de suas admiráveis tentativas de doar esses recursos por meio da sua fundação. De acordo com Oxfam, caso a fortuna de Bill Gates continue subindo no mesmo ritmo, em 25 anos, ele se tornará o primeiro homem na história a acumular US$ 1 trilhão. Sem uma postura mais atuante dos governos para combater a desigualdade crescente, o futuro das nossas sociedades é preocupante. Ela colabora para o aumento da criminalidade, gera mais insegurança e compromete o combate à pobreza. Já existem movimentações de pessoas e organizações civis que demonstram insatisfação com essa situação. Por quê aceitar o cenário atual se experiência que ele oferece promove estagnação de salários, empregos precários e um vão gigante entre ricos e pobres? MULHERES EM PIOR SITUAÇÃO Já é sabido que as mulheres, em qualquer canto do mundo, sofrem com o machismo e a indiferença em muitos setores da sociedade. No campo do emprego, muitas delas recebem salários mais baixos em comparação aos homens, mesmo quando possuam as mesmas funções. Além disso, quase sempre, é a mulher a única responsável pelo trabalho doméstico não

1% VALE MAIS?

99% TRANSCENDEr | abr-mai 2017 10

remunerado. Ainda de acordo com o relatório da Oxfam, no ritmo atual, somente daqui a 170 anos a mulher atingirá os mesmos níveis salariais dos homens. QUE COMECE O COMBATE Além de aumentar a participação feminina na força de trabalho, é extremamente necessário a universalização do ensino, desde a infância. Crianças e jovens devem aprender desde cedo os valores sociais, a importância de empatia, o valor do altruísmo puro. Não encarar as outras pessoas como objetos para obtenção de vantagens. A lógica do capitalismo acaba desenvolvendo uma visão cruel de que o indivíduo precisa sempre ter mais, tornando a quantidade mais importante do que a qualidade. Criou-se a competição focando em ter, para ser; fortaleceu-se o individualismo. A pessoas devem ser participantes do crescimento e desenvolvimento econômico, e não ser utilizados pura e simplesmente como combustível dessa realidade desigual e prejudicial. O desafio para os próximos anos é a criação de uma alternativa positiva que vai na contramão disso e não a manutenção de um modelo que aumente ainda mais essas divisões. DESIGUALDADE EM VERDE E AMARELO No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sua última análise, a parcela 1% mais rica, em 2014, tinha um ganho em média de R$ 14.548,00; os 10% mais pobres ganhavam R$ 155,00 por mês. Cem vezes menos. O país passou por uma transformação significativa no campo social nos últimos anos. O relatório do Banco Mundial de 2015 afirmou que o Brasil praticamente conseguiu erradicar a extrema pobreza e pouco mais de 25 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema ou moderada. Tal resultado só foi possível por causa de políticas de distribuição de renda, baixa taxa de desemprego e políticas públicas voltadas para o social. Mesmo com mudanças significativas e entre as oito potências econômicas do mundo, ainda somos uma das nações mais desiguais. A fórmula para a construção de uma sociedade menos desigual passa por quatro pontos, o primeiro deles é a ma-

nutenção de um crescimento econômico sustentável e inclusivo. O segundo, pelas políticas públicas focadas em reduzir a extrema pobreza; o terceiro é o fortalecimento do mercado de trabalho, aumentando as taxas de empregos formais, com carteira assinada e igualdade salarial para homens e mulheres. Por último, altos investimentos na educação, garantido acesso universal desde a infância, reduzindo a evasão escolar e o analfabetismo. T

NO VIETNÃ O HOMEM MAIS RICO DO PAÍS GANHA EM 1 DIA O QUE A PESSOA MAIS POBRE GANHA EM 10 ANOS

SITUAÇÃO DAS MULHERES NO MERCADO NO BR

MULHERES EM TRABALHOS INFORMAIS RECEBEM, EM MÉDIA, 50% DO RENDIMENTO DAQUELAS EM TRABALHOS FORMAIS


NO BRASIL OS 6 MAIS RICOS POSSUEM A RIQUEZA EQUIVALENTE DE 100 MILHÕES DE BRASILEIROS

) V) V) EV BE A) B BE M R M M A (A K) (A AF A( HO OO ES NN OS PIR B L C N U A I E RIN L N C R I C M A E A E A S E M B NT AV O F TO A( OL RTOO) AN O S OR D ER FR E UL M D B B A A E R B P H RO O AL AD HS UA GE EL ÃO PO GL OS EP ED FUND C O L S J R R JOR U JO (CO CA MA (GR

74 MIL BRASILEIROS CONCENTRAM 23% DE TODA RIQUEZA

NO MUNDO

3 EM CADA 4 NEGROS ESTÃO ENTRE OS MAIS POBRES

17,6% DAS CRIANÇAS ATÉ 4 ANOS VIVEM COM ATÉ R$ 200

A. ET no trabalho

em casa

44,0 35,5

21,2 10,0

2015

SE CONTINUAR NO MESMO RITMO, EM 25 ANOS BILL GATES SE TORNARÁ O PRIMEIRO HOMEM A ACUMULAR

US$ 1 TRILHÃO

2015

rendimento médio das mulheres (% do total do que os homens ganham)

2005

70%

2015

TRANSCENDEr | abr-mai 2017 11

74%

11

Fontes: Receita Federal, G1, Oxfam Brasil, Oxfam Inglaterra, IBGE, FORBES E INAD.

17,8%

Jornada semanal (horas)

RICO D E T MAIS INH 1% A ,O RESTO DO P EO 15 LA QU N

ZA

NEGROS ENTRE OS MAIS RICOS

DE SD MAIS E 20 RIQ UE

abr-mai 2017 | TRANSCENDEr


ARTE

ARTE E NATUREZA POR SAMARA CHEDID

Onde arte e natureza vivem juntas Considerado um dos maiores museus a céu aberto do mundo, Inhotim convida o público a viver uma incrível experiência. Misturando obras de arte com natureza, o espaço propõe o questionamento da sociedade por meio da arte contemporânea em sintonia com a natureza

A

o passar pelas catracas do Instituto Inhotim, localizado em Brumadinho, uma cidade a 70 km da capital mineira, Belo Horizonte, a primeira pergunta que vem à mente é: estou realmente em um museu? A impressão é de entrar em um jardim ou um parque gigante. E Inhotim é isso mesmo. É uma mistura de muitas coisas: jardim, museu, galeria de arte... Mas, para além da grandiosidade estrutural do local, a beleza do ambiente começa a tomar conta do público. A exuberância da natureza, alinhada às obras de arte, cria no local uma atmosfera singular. O lugar é considerado um dos TRANSCENDEr | abr-mai 2017 12

maiores museus a céu aberto do mundo. A proposta de unir arte contemporânea com a natureza é do empresário Bernardo Paz, que resolveu abrir as portas da sua casa de campo, lugar que abrigava a sua coleção de arte contemporânea. Para Paz, a arte contemporânea tem a proposta de ser crítica em relação a vários aspectos da sociedade. “Ela exalta os benefícios criados, critica e destrói a sociedade atual, tentando criar uma sociedade melhor. Você passa por Inhotim e entra no Através. O que é o Através? Uma simplificação das dificuldades da vida. Você pisa em cacos de vidro, vai atravessando um monte de obstáculos para chegar ao outro lado. O que significa isso?

Você enxerga o outro lado, mas não vai reto”, afirma. Em seus 140 hectares, o Instituto Inhotim abriga diversos pavilhões e galerias de arte, além de várias obras espalhadas ao ar livre. Cada galeria pertence a um artista e foi construída de acordo com as suas características. Dessa forma, a arquitetura dialoga diretamente com o criador e a criatura. Além das obras de arte, o lugar também abriga um jardim botânico. Há diversas espécies de plantas cultivadas e cuidadas para enobrecer o lugar. Visitar Inhotim demanda tempo e vontade de experimentar e sentir a arte e a natureza, que unidas se transformam em um belo espetáculo. T


Os artistas e suas obras O Instituto Inhotim abriga trabalhos de mais de 100 artistas nacionais e internacionais. Entre exposições permanentes e temporárias, de acordo com a administração do Instituo, existem mais de 600 obras de artes.

Adriana Varejão

Tunga

Hélio Oiticica

Reconhecida internacional, é uma das mais renomadas artistas plásticas de arte contemporânea brasileiras. Suas obras têm como marca registrada os azulejos azuis. No Instituto Inhotim, Adriana possui uma galeria com seis obras. Uma de suas intervenções é a “Panacea phantastica ”, um conjunto de azulejos que retrata vários tipos de plantas alucinógenas de diversos lugares do mundo. A intervenção sugere a relação entre os efeitos alucinógenos das plantas e mudanças na percepção que podem ser provocadas também pela arte.

Primeiro artista contemporâneo brasileiro a ter uma obra exposta do Museu do Louvre, em Paris. Suas obras são repletas de referências simbólicas: crânios, tranças, vidros, dentes, líquidos viscosos são os “ingredientes” da sua arte. Falecido em 2016, o artista foi uma das inspirações para a idealização de Inhotim. No espaço possui uma galeria chamada “Psicoativa”. Em suas instalações nada está fora do lugar. Tudo está milimetricamente colocado no lugar justo. É notória a predominância da cor vermelha nas obras, como também a grandiosidade e o perfeccionismo.

Um dos maiores artistas plásticos da arte brasileira. Oiticica é conhecido por redefinir o papel do espectador, colocando-o como participante da obra, e não apenas como mero observador. Um dos exemplos disso é a Galeria Cosmococa, em Inhotim. A primeira recomendação ao entrar na galeria é tirar os sapatos. Lá dentro, o visitante pode entrar nas obras de arte e desfrutar do que é oferecido. Em uma das salas há uma piscina com luzes verdes e azuis. Quem quiser, pode dar um mergulho e assim fazer parte da arte em si.

? curiosidades - O Instituto Inhotim está entre os 25 melhores museus do mundo, segundo o Prêmio Travelers’ Choice, do site de viagens TripAdvisor. Inhotim conquistou a 23ª posição no ranking mundial.

Fotos: Acima à esquerda.: Celacanto Provoca Maremoto, 2004 - 2008, Adriana Varejão. Acima à direita.: Invenção da cor, Penetrável Magic Square #5, 1977, Hélio Oiticica. Ao lado.: Palíndromo Incesto; True-Rouge, 1997, Tunga.

- Em Inhotim há um exemplar raro da planta popularmente conhecida como “Flor-Cadáver”. E até pouco tempo, Inhotim possuía o único exemplar da planta na América do Sul. A flor-cadáver floresce a cada dez anos e exala um cheiro desagradável. - Recentemente, Inhotim registrou 22 espécies de plantas ameaçadas de extinção.

13

abr-mai 2017 | TRANSCENDEr


cultura

POR DANIEL SANTOS REDAÇÃO JORNAL TRANSCENDER

O cotidiano vive nas cores do grafite

C

ontar a história da arte de rua de São Paulo significa dedicar um espaço exclusivo ao grafite e à pichação. Basta dar um giro de 360º em qualquer rua da capital para encontrar um grafite ou picho marcando as paredes, muros, vigas ou pontes. Bonita ou não, a arte urbana gera muita controvérsia na sociedade e não é capaz de agradar a gregos e troianos. Afinal de contas, grafite pode ou não ser considerado arte? O debate ganhou força na opinião pública paulistana após o prefeito João Dória Jr. anunciar que os painéis de grafites da avenida 23 de Maio seriam apagadas em uma das etapas do programa “São Paulo Cidade Linda”. O argumento do prefeito para apagar os painéis da 23 de Maio era o de que muitos deles estavam pichados. A decisão foi alvo de inúmeras críticas, pois aquele que é considerado o maior painel de arte urbana do mundo seria substituído por uma tinta cinza. Os artistas de rua pedem autorização para uma intervenção artística na avenida desde o governo de Jânio Quadros (1986 a 1989), porém a au-

TRANSCENDEr | abr-mai 2017 14

torização só veio mesmo na prefeitura de Fernando Haddad, em 2016. “A avenida 23 de Maio foi o ápice do movimento artístico urbano paulistano", relembrou Rui Amaral em entrevista à BBC Brasil. Amaral é autor do primeiro grafite pintado à mão em São Paulo, em 1982. Até 2011, o grafite era considerado crime ambiental e vandalismo, hoje é visto como uma expressão da arte urbana; o picho, por sua vez, costuma trazer intervenções agressivas, xingamentos, além de assinaturas pessoais ou de gangues e, por esses motivos, continua sendo tratado como crime. Hoje, o grafite tem uma forte aceitação na sociedade, mesmo com críticas. Ele perdeu a má impressão de ser uma arte marginal, ou algo que destrói a cidade. GRAFITE X PICHAÇÃO De acordo com artigo do professor Rodrigo Cassio de Oliveira, o grafite recupera o ideal de uma arte capaz de gerar experiências estéticas que modificam a nossa percepção da cidade. “Nesse aspecto, o grafite e as pichações já se mostram fatalmente distintos. Ain-

da que alguém considerasse que um prédio, muro ou escultura pichados são experiências estéticas oferecidas aos transeuntes, ele não seria capaz de provar que a pichação pode romper com a percepção comum da cidade. Pelo contrário, as pichações aprofundam a experiência da cidade como ruína e destruição, banalizando-se rapidamente. Os grafites, por sua vez, são capazes de criar pequenos novos mundos”, afirma. Para Alexandre Barbosa Pereira, pesquisador de Antropologia Urbana da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) separar grafite da pichação contribui para que o grafite comece a ser aceito, mas apenas como forma de combate ao picho. "O grafite, mais associado à arte, é mais facilmente entendido como forma de ação do Estado e mesmo do mercado, já a pichação, execrada pela maioria da população, é uma máquina de guerra, nômade e difícil de ser capturada. Assim, fica mais fácil criminalizar esta e mesmo criar certo pânico moral em torno dela como forma de marketing político e publicidade pessoal", explica. A arena onde tudo acontece é a rua, e a tentativa de diversos grafiteiros é expressar e apre-


sentar à sociedade a realidade das ruas e do cotidiano. Ela é fruto de um esforço diário para contar histórias. Apesar das diversas críticas que ainda sofre, o grafite é aceito pela maior parte da sociedade como uma expressão artística genuína. Ela explora todas as possibilidades do cotidiano, denuncia desigualdades e apresenta um novo mundo. "Por trás de um grafite existe uma história que não pode ser ignorada. Ignorar a história de uma obra de arte é um tiro no pé", disse a grafiteira Bárbara Goys à BBC Brasil.

PARA AS RUAS DO MUNDO O grafite de São Paulo é considerado um dos melhores do mundo. São diversos os artista que tomaram conta de espaços, ruas, avenidas, prédios e em vários cantos do mundo. Grafitei-

ros como Os Gêmeos, Kobra, Zezão, Paulo Ito, Nina Pandolfo e Mag Magrela, além de obras no Brasil, têm artes feitas na Alemanha, EUA, França, Inglaterra entre outros países. T

GRAFITEIROS PARA CONHECER

Grafite de Os Gemos em Marval, França

NINA PANDOLFO Nasceu no interior de São Paulo e decidiu viver de sua arte aos 24 anos de idade. Seus desenhos são coloridos, cheios de vida e com uma grande constância de figuras femininas.

DERLON

Tem como marca os traços de xilogravura e arte popular. Utilizando poucas cores, criou uma simbiose da intervenção urbana com um dos principais meios de comunicação impressa da cultura popular.

CRIOLA Utiliza seu trabalho em Belo Horizonte para questionar os padrões de beleza impostos às mulheres, bem como fortalecer a identidade e a representatividade afro-brasileira. TRANSCENDEr | abr-mai 2017 15

Grafite de Paulo Ito em Berlim, Alemanha

NOVE Faz uso de elementos digitais e orgânicos sincronizados através de elementos geométricos, que ganham cores vibrantes através da aquarela que escorre sempre ao fundo de suas obras.

PANMELA CASTRO Costuma questionar a liberdade feminina, principalmente naquilo que diz respeito ao corpo, sexualidade e subjetividade da mulher.

ALEX SENNA Os riscos simples em preto e branco do artista, que é daltônico, foram influenciados pelas histórias em quadrinhos e ilustrações e retratam as relações humanas com elementos do imaginário infantil.

15

abr-mai 2017 | TRANSCENDEr


ética

POR MASSIMO CASARO REDAÇÃO TRANSCENDER

Ethos como liberdade Por que a “quantidade” tomou posse da nossa vida? E como enfrentar esta doença que está, cada vez mais, comprometendo não só a vida pessoal, mas também a vida social, como a sobrevivência do nosso planeta?

S

empre achei que no acúmulo existe algo a mais do que imoral, incompreensível, absurdo e doentio. Qual o sentido de 8 pessoas possuírem juntas mais dinheiro que a metade mais pobre do mundo? (Ler "Atualidades", págs 9-11) E também continuo acreditando, talvez sendo otimista, que se cada um deles mergulhasse um pouco mais nas profundezas de si mesmo, perceberia a sua insensatez, a sua tolice, o seu ridículo. Infelizmente, parece que eles, assim como muitíssimos outros, até os mais simples, continuam acreditando que muito dinheiro, muitos bens, muita bebida, e assim por diante lhes garantem a felicidade. Esta superficial e, portanto, ilusória ideia, que troca a qualidade pela quantidade, como se muita comida “satisfizesse” mais de que boa comida, é tão enraizada no sentido comum que passa despercebida. Por conseguinte tem que ser desmascaTRANSCENDEr | abr-mai 2017 16

rada não insistindo só nos valores, mas despertando uma nova sensibilidade. Os valores, de fato, não fazem parte apenas de um código ético convencional que tem quer ser respeitado, mas expressam, de uma forma concreta, vital, aquilo que cada um reconheceu como sentido da própria vida, portanto como núcleo permanente da sua felicidade. Sentido e felicidade, de fato, vão sempre juntos. Se, por exemplo, nos considerarmos indivíduos e, por conseguinte, entendermos a felicidade como o resultado do sucesso, sempre colocaremos em primeiro lugar os nossos interesses particulares, custe o que custar. Se, ao contrário, nos percebermos como pessoas e, por conseguinte, vermos a felicidade como o corolário da qualidade dos nossos relacionamentos, sempre colocaremos em primeiro lugar o bem comum, custe o que custar. É a postura originaria que determina os valores.

Quando reflito sobre a ética, mais precisamente sobre a sua fundação, sempre me lembro das palavras de Tomás de Aquino, quando escreveu, em latim, “Operari sequitur esse”, que significa “O agir segue o ser”. Mas é preciso acrescentar que este “ser” não coincide com uma natureza objetiva que elimina toda liberdade, impondo-se, mas com a mesma liberdade com que o ser humano decide (do latim decidĕre, comp. de dē- ‘de-’ e caedĕre ‘cortar’; propr. ‘cortar fora’) qual é a sua figura definitiva. Voltando ao nosso assunto, poderíamos afirmar que o acúmulo de qualquer tipo é sintoma da escolha de si mesmo, além ou fora de qualquer relacionamento, a não ser o puramente instrumental. Portanto, a mudança pode ser promovida só mostrando que existe uma maneira melhor, mais alegre e humana de viver. Como? Relacionando-se de verdade? T


lidos para vocês

LIVRE ADAPTAÇÃO DO ARTIGO “DEUS, ALTERIDADE MÁXIMA NA OBRA DE CLARICE LISPECTOR" DA PROFª. DRA. MARIA JOSÉ RIBEIRO

Deus, alteridade máxima Nem sempre os livros servem apenas como distração, às vezes representam também um desafio para a inteligência e a sensibilidade dos leitores. E os de Clarice Lispector pertencem com certeza ao número dos “desafiadores” menos quero encontrar o mundo e seu Deus” (p. 18). Olga Borelli, que foi secretária de Clarice Lispector por mais de dez anos, destaca uma prece da autora que tende ao nada, ao oco, ao silêncio, mas próxima do êxtase:

Escritora e poeta Clarice Lispector

A

obra de Clarice Lispector é pontuada por questões sobre a existência de Deus e a fragilidade da vida. Questões que se entrelaçam profundamente, sendo Deus constantemente envolvido com o sentido da vida humana. Por isso, constantemente desafiado, contestado e, no mesmo tempo, amado. Em A hora da estrela (HE), última obra de Lispector, a autora passa da negação de sua existência à comunhão com esse ser superior, chegando a uma entrega total e à aceitação da morte. Para a crítica literária francesa Hélène Cixous, esta obra é como um “salmo discreto, uma canção de louvor à morte” que Clarice Lispector escreveu quando “já não era mais quase ninguém nesta terra”. O questionamento sobre a fé e, por conseguinte, sobre a oração, surge nas primeiras páginas do romance quando o narrador Rodrigo afirma ter havido um tempo em que rezava: “A

reza era um meio de mudar a mente e, à escondida de todos, atingir-me a mim mesmo. Quando rezava conseguia um oco de alma”, (HE, p. 14). O mesmo narrador relata sobre a jovem Macabéa, uma nordestina de dezenove anos, órfã de pai, mãe e da tia que a criou. Ela invocava Deus inconscientemente, talvez porque intuía a existência de um ser superior, como se pode observar na passagem em que ela rouba um biscoito na casa da amiga. “Depois pediu perdão ao ser abstrato que dava e tirava. Sentiu-se perdoada. O ser a perdoava de tudo”, (HE, p. 66). Neste caso, a reza surge como ato mecânico, no qual rezar se torna um hábito. Deus surge como um outro longínquo, abstrato; alguma divindade que tudo perdoa. Mas em A hora da estrela, sempre nas palavras de Rodrigo que expressa os pensamentos de Clarice, Deus aparece também como “objeto” de busca: “Também eu, de fracasso em fracasso, me reduzi a mim, mas pelo

Fiz o que era mais urgente: uma prece. Eu só rezo porque palavras me sustentam. Eu só rezo porque a palavra me maravilha. Quem reza, reza para si próprio chamando-se de outro nome. A chama da vela. O fogo me faz rezar. Tenho secreta adoração pagã de flama vermelha e amarela. A vida seria insuportável sem o sonho. É que às vezes não se tem Mesmo mais nada e só restam os brandos e profundos sonhos Que mais parecem uma prece. A realização está no próprio ato De apenas sonhar. É preciso ter muita coragem para ir ao fundo da vida. Porque no fundo da vida nada acontece ao homem, ele só contempla. (...)

Para Lispector, mas também para muitos dos nossos contemporâneos, às vezes os mais sensíveis, o movimento entre o eu e o Outro; a identificação do eu e de Deus; a visão de Deus no outro; a negação de Deus; a entrega a Deus é sempre algo múltiplo, complexo, perturbador, como o é a alteridade que em Deus alcança sua expressão máxima. T

Livro A hora da estrela Clarice Lispector Rocco Ano: 1998 88 páginas

17

abr-mai 2017 | TRANSCENDEr


Contra o tempo livre Estamos convencidos que o tempo livre representa o maior sucesso da sociedade industrial capitalista, mas, ao contrário, é só uma ilusão, criada para que as pessoas acreditem que têm, na vida, algo a fazer que não seja trabalhar.

E

m maio de 1969, dois meses antes de falecer, o filósofo Theodor Adorno declarou em programa radiofônico, na Alemanha: “Ich habe kein hobby” (Eu não tenho hobbies, em tradução livre). No fogo da sua provocação havia um dos pilares da sociedade ocidental: o tempo livre ou, melhor, o tempo não trabalhado. Plasmado a partir do nobre conceito do otium (ócio) latino, que, porém, ao contrário do nosso tempo livre, era reservado às classes superiores e às suas atividades intelectuais, o tempo livre moderno é uma trapaça, uma maneira para transformar os trabalhadores em consumidores. Quando não produzem, consomem. O mecanismo é perfeito: trabalha e produz, descansa e consome. Não tem nada a ver nem com a felicidade, nem com a realização pessoal. É um

TRANSCENDEr | abr-mai 2017 18

tempo para se divertir, esta vez sim no sentido latim do termo devertere , que significa desviar, distrair, descarrilhar. O verdadeiro tempo livre – se realmente fosse inspirado pelo otium latino e colocado ao dispor também das “classes subalternas” – seria o tempo da reflexão, do estudo, da compreensão, das conversações inteligentes. Mas não é assim e pode-se, fácil e doloridamente, prever que nunca o será. Porque o autêntico tempo livre é perigoso, sedicioso. É no ócio, de fato, que se cultiva a consciência e se projeta a transformação do mundo. Por isso o tempo realmente livre é o grande inimigo de uma sociedade como a nossa, que tem medo da tomada de consciência da maioria das pessoas, sendo que é graças ao seu trabalho e ao seu consumo que se mantêm vivo o mecanismo que as escraviza.

O tempo livre, há quase um século, foi conquistado pelos lobbies dos hobbies, pela indústria do lazer, tornando-se o tempo da “suspensão da consciência”, algo parecido a uma religião com bilhões de adeptos. Mas que, ao contrário das religiões, não precisa de um livro para ser espalhada, porque não tem nenhuma mensagem a ser difundida, sendo o tempo livre um MacGuffin (termo cunhado por Alfred Hitchcock, para designar o objeto que serve de pretexto para avançar na história, e que não tem tanta importância assim), quase uma caixinha de Pulp Fiction (expressão usada para descrever histórias de qualidade menor ou absurdas): não é importante o que tem dentro, o importante é continuar a persegui-lo, como egocêntricos hamsters, aqueles roedores que correm sem parar no interior de sua roda dourada. Dentro de uma gaiola que chamamos casa.


DE CONSUMIDOR A CONSUM-ATOR

O

que é consumo e quem é o “consumAtor”? Para ajudar a entender esses conceitos, oferecemos estímulos para as crianças, adolescentes e jovens refletirem sobre o tema do consumo consciente. Algo importante para a nossa época e que vai ajudar no amadurecimento dos futuros cidadãos planetários. A proposta deste percurso é fazer emergir, através de reflexões e debates,

um pensamento crítico sobre o significado tanto econômico quanto simbólico do consumo. De fato, é um relacionamento melhor consigo mesmo que, cortando os elos da dependência afetivo-compulsiva, oferece condições para um uso mais livre e, por isso, responsável dos bens. LEVE ESSA VIVÊNCIA PARA A SUA INSTITUIÇÃO!

Site: ww.seretranscender.com.br/express-arte/ E-mail: contato@seretranscender.com.br Tel: (11) 5575-3474

VIVER DO ÓCIO A pertinente crítica de Adorno, depois de 50 anos, encontrou uma atualização no pensamento do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, quando escreve: “O ócio começa onde o trabalho cessa completamente. O tempo do ócio é outro tempo. O imperativo neoliberalista da prestação transforma o tempo em tempo de trabalho, totaliza o tempo como trabalho. A pausa é só uma fase. Hoje não temos tempo além do trabalhado. Nós o trazemos conosco não só nas férias, mas também no sono. Por isso, dormimos agitados: os sujeitos de prestação adormecem como adormece uma perna. Enquanto serve à regeneração dos trabalhadores, também o repouso não é outra coisa do que uma modalidade de trabalho: relaxar-se não é diferente de trabalhar, mas é o seu produto”.

TRANSCENDEr | abr-mai 2017 19

19

abr-mai 2017 | TRANSCENDEr


COLEÇÃO ANDRÉ LOUF COM ILUSTRAÇÕES ASSINADAS POR CLÁUDIO PASTRO COLEÇÃO ANDRÉ LOUF COM ILUSTRAÇÕES LANÇAMENTO CLÁUDIO PASTRO ASSINADAS POR O HOMEM

PROMOÇÕES QUE VOCÊ CONSELHOS INTERIOR PARA UMA VIDA NÃO PODE PERDER ESPIRITUAL André Louf

André Louf

POR R$ 25,00

POR R$ 25,00 LANÇAMENTO

O HOMEM INTERIOR

CONSELHOS PARA UMA VIDA PROMOÇÃO LANÇAMENTO ESPIRITUAL André Louf CONSELHOS HISTÓRIA DA PARA UMA IGREJA NOVIDA BRASIL POR R$ 25,00

PROMOÇÃO André Louf

O HOMEM HISTÓRIA DA POR R$ 25,00 INTERIOR IGREJA

André Louf José Artulino Besen POR R$ 25,00

ESPIRITUAL

José Artulino André Louf Besen

R$ 40,00

R$ 40,00 POR R$ 25,00

R$ 25,00

R$ 25,00

Frete grátis

Frete grátis

LANÇAMENTO

NA FRAGILIDADE A NOSSA FORÇA André Louf LANÇAMENTO POR R$ 25,00 LANÇAMENTO

O UNIVERSO RELIGIOSO

NA FRAGILIDADE A LANÇAMENTO FÁBULAS DA André Louf ÁSIA I André Louf NA FRAGILIDADE A NOSSA FORÇA NOSSA FORÇA

PORR$ R$25,00 25,00 POR

Vários autores

R$ 34,00

COMPRE ESSES E OUTROS LIVROS PELOS NOSSOS CANAIS DE ATENDIMENTO

Ettore Fasolini

R$ 40,00

www.editoramundoemissao.com.br Telefone: (11) 5549-7295

Telefone: (11) 5549-7295 / 5904 -1616 vendas@editoramundoemissao.com.br | www.editoramundoemissao.com.br Telefone: (11) 5549-7295 / 5904 -1616 vendas@editoramundoemissao.com.br | www.editoramundoemissao.com.br

Assine o jornal

Anúncio - MM - ABRIL - pág 52.indd 51

Telefone: (11) 5549-7295 / 5904 -1616 vendas@editoramundoemissao.com.br | www.editoramundoemissao.com.br www.editoramundoemissao.com.br/loja/jornal-transcender TRANSCENDER!

Anúncio - MM - ABRIL - pág 52.indd 51

08/03/2016 17:23:26

DEPÓSITO: em conta corrente (envie o comprovante de depósito - via fax ou correio) Banco do Brasil: Ag. 6805-5 - c/c: 8695-9 | Banco Bradesco: Ag. 3450-9 - c/c16222-1

Anúncio - MM - ABRIL - pág 52.indd 51

ASSINATURA COLETIVA

RENOVAÇÃO

ASSINATURA NOVA

VALE POSTAL

CHEQUE NOMINAL

CNPJ: 62.081.203/0003-79

Nome:_____________________________________________________ Nasc:______________ Endereço: ____________________________________Bairro____________________________ CEP:________________ Cidade: ____________________________________ Estado: _______ Tels com/res.: ____________________________ E-mail:________________________________

Após preencher os dados, por favor, DESTAQUE este pedido, acrescente a cópia do comprovante de DEPÓSITO, ou Cheque ao Pontifício Instituto das Missões, CRUZADO e NOMINAL e envie para a editora (endereço página 2).

ANÚNCIO.indd 1

08/03/2016 17:23:26

08/03/2016 17:23:26 ASSINATURA ANUAL

R$ 30,00

ASSINATURA EM GRUPO *

R$ 20,00

*Grupos de no mínimo 5 pessoas. A assinatura equivale a quatro edições por ano.

Novas assinaturas e renovações ganham brindes exclusivos!

20/07/2016 15:36:21


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.