TFG_Projeto Abrigo de Ideias

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ABRIGO DE IDEIAS


Pontifícia Universidade Católica de Campinas Centro de Ciências Exatas e de Tecnologias Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação Campinas I 2017 Danilo Pena Maia Orientador Prof. Antonio Fabiano Junior Banca examinadora Antonio Carlos Barossi Maria Eliza de Castro Pita



Por fazerem parte da minha vida e por serem fonte da minha resistência os culpo de todas as coisas que me orgulho. Culpo vocês por este trabalho. Culpo e agradeço. Agradeço. As mulheres que me ensinam todos os dias a ser o melhor homem que eu puder ser, à respeitar as pessoas e a lutar por tudo o que eu quiser conquistar. Obrigado por me fazerem acreditar. Mirian, Márcia e Camila. Mãe heroína, que me faz sentir amado, por dedicar a vida por mim e minha irmã e ser nosso maior exemplo. Madrinha, que me ensina que amar é fazer sacrifícios pelo outro sem esperar nada em troca. Irmã, a pessoa mais corajosa que eu conheço e que me ensina a enfrentar os meus medos e seguir meus sonhos. Ao meu Pai por tanta dedicação e suor para me manter estudando e por todo cuidado. Por me ensinar o valor das coisas simples. A tia Néia, “maedrasta” querida por tanto carinho e cuidado. Aos meus avós por todo amor e sabedoria. Ao meu avô Neivo que me ensinou a construir as coisas com as mãos e que me fez perceber quando eu era bem novo que o homem era capaz de construir o mundo. Tijolo sobre tijolo. Um por vez. A minha avó Marina por me ensinar sobre a vida com suas histórias e ser o melhor colo que existe. A minha família por todo amor e compreensão. A Jo, que me permitiu fazer parte do ambiente de trabalho mais agradável possível, por acreditar em mim e por me acolher e ensinar tanto. A Thais pela parceria e amizade e por ser uma pessoa inspiradora e generosa. Agradeço aos amigos de vida e principalmente aos companheiros de curso, por terem feito parte de algo tão especial. À Bruna Tonso e ao Gabriel Nacif pela parceria, irmandade, carinho. Por nunca me abandonarem e serem os irmãos que a vida me deu. Ao grupo PET Arquitetura e Urbanismo pelo acolhimento e ensinamentos, obrigado por me permitirem fazer parte de algo maior e tão agregador. Obrigado as 15 cabeças fervilhantes desse TFG que se juntaram a minha e fizeram do último trabalho o mais honesto e especial possível. Por terem dedicado tanto esforço a um lugar incrível e por acreditarem comigo que


a gente pode melhorar a vida das pessoas. Que a nossa luta seja sempre pela igualdade. Agradeço em especial a Raissa por ter sido uma amiga incrível, por me apoiar e me incentivar sempre. Sem você seria imensamente mais difícil. Ao Vera Cruz e as pessoas incríveis que nos receberam, por abrirem as portas de suas casas e nos ensinarem que em conjunto as lutas são menos doloridas e as conquistas mais gloriosas. Suas lutas são nossas lutas desde o primeiro dia até o fim. Aos professores da universidade que fizeram parte da minha formação. Esse trabalho e fruto do que aprendi e dos questionamentos que compartilhamos. Em especial a Maria Eliza e Bia Aranha, por terem feito da profissão uma missão e por terem dado as aulas mais incríveis. Agradeço aos professores Antônio Barossi e Marcos Acayaba por terem aceitado fazer parte deste trabalho e contribuir com seu tempo e inteligência para formar arquitetos pensantes e questionadores. Por fim agradeço aos meus orientadores. Por todos os dias lutarem por uma arquitetura mais humana, que não se constrói para o espetáculo senão o espetáculo das relações humanas, da troca e do coletivo. A Vera. Luz. Por ter sido a pessoa mais doce e ao mesmo tempo mais firme que conheci, por tantos ensinamentos e incentivo. Por ser uma criatura incrivelmente inspiradora e encorajadora. Ao Antônio, meu orientador desde a primeira aula de desenho numa terça feira em fevereiro de 2013. Por ter dito, neste mesmo dia, que queria mudar o mundo e que a gente podia mudar também. Por ter me ensinado que eu poderia fazer coisas lindas através do desenho e que essa seria a minha ferramenta de trabalho. A mais especial de todas. Por ter orientado todos os meus trabalhos e me ensinar que a cada projeto a gente redefine o que é arquitetura e testa seus limites. Que é a nossa forma de lutar por esse mundo melhor que queremos construir. Por ter me apresentado as coisas mais incríveis e principalmente por me fazer acreditar que eu posso alcançar coisas incríveis. Você me ajudou a vencer as minhas próprias batalhas e fez nascer um projeto do qual eu me orgulho. Ele esta impregnado das nossas lutas. Obrigado. 5



Uma pedra que brilha e revela uma dimensão mítica e necessária de existir. Uma linha de fluxo rápido na horizontal e outra na vertical entendem, dicotomicamente, que a redução de velocidade à procura do silencio é necessária para a percepção da essência do espaço. É ai que a caixa se quebra para anuncia os ocos da arquitetura. O ar entra e toma o poder. O homem entra e se liberta no espaço. Lidar com um programa aberto é lidar com o infinito. O projeto serve para o papel primitivo de dar abrigo ao homem e aos seus atos coletivos. Antonio Fabiano Junior



12|Origens 16|Introdução 23|Localização 31|Constelação - Os Pólos de Cidadania 34|Implantação 38|Casas do Saber Coletivo 40|Infraestrutura 46|O espaço - Abrigo de Ideias 56|Constructo 58|Considerações Finais 60|Referências Projetuais 66|Bibliografia


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|1|INTRODUÇÃO As cidades são formadas por pessoas e suas atividades. Mas são palcos de uma grande disputa: para alguns é meio de vida e de sobrevivência, para outros é negócio. A cidade de São Paulo, maior cidade do Brasil, assim como outras metrópoles da América Latina, tem enfrentado as consequências de um crescimento acelerado, desordenado e sem planejamento onde ocorre o espraiamento da cidade e o agravamento de problemas sociais como o desemprego, a segregação socioespacial e a precariedade e ineficiência do transporte público coletivo. O poder público, como principal agente mantenedor da igualdade, não cumpre sua função ao atender os interesses do mercado imobiliário e do setor privado, agravando a desigualdade urbana e permitindo que se intensifique a ocupação das franjas urbanas e áreas ambientalmente frágeis. Ocupação que é resposta a lógica das cidades-negócio. Cada porção da cidade tem sua própria lógica e dinâmica urbana, cujo acesso as infraestruturas advém de um processo histórico desigual de distribuição de cidade, mercantilização da terra urbana e dos direitos sociais que explica a expulsão dos mais pobres para as periferias, “produto do processo pelo qual os trabalhadores urbanizam eles mesmos a cidade” (Teresa Caldeira¹), onde as pessoas não tem acesso sequer a políticas públicas de habitação. Essa realidade não é uma exceção. Aqui falamos da regra. A mesma que nos permite compreender que se as pessoas não têm onde morar, nos mostra que o espaço do coletivo é um vislumbre. A igualdade urbana não depende apenas da distribuição de renda, mas fundamentalmente da distribuição de cidade, de políticas inclusivas e de planejamento. 14


“Tá vendo aquele edifício moço? Ajudei a levantar Foi um tempo de aflição Eram quatro condução Duas pra ir, duas pra voltar Hoje depois dele pronto olho pra cima e fico tonto Mas me chega um cidadão e me diz desconfiado, tu tá aí admirado ou tá querendo roubar? Meu domingo tá perdido vou pra casa entristecido Dá vontade de beber E pra aumentar o meu tédio eu nem posso olhar pro prédio que eu ajudei a fazer”

Lúcio Barbosa 15


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Diante dessa realidade o distrito do Jardim Ângela, no extremo sul da capital paulista, vive um estado de melancolia urbana², tendo sido considerada, em 1996, o bairro mais violento do mundo pela ONU. A violência e o tráfico ainda são fatores presentes na vida da população dessa região. Não só a violência do homem com seus iguais, mas a do estado negligenciando direito a qualidade de vida, a mobilidade, e o acesso a espaços livres e públicos. É violento terrorismo do estado. O terrorismo das instituições que promovem isso. A violência na periferia é uma reação violenta à uma sociedade truculenta a uma grande parcela da população. Renegar direitos mínimos de vivência urbana é promover a barbárie social. “O que cura é o contato afetivo de uma pessoa com a outra.” Nise da Silveira O afeto, afeta. Se a desigualdade, a violência e a falta de mobilidade são fatores atenuantes à melancolia urbana, a ocupação das ruas, sua apropriação pela arte, pelos movimentos sociais e pelas manifestações são os dispositivos antidepressivos da cidade. São processos que retomam o espaço de direito e que reforçam a ideia de vitalidade urbana, da diversidade de usos e dos olhos da rua - como defendido por Jane Jacobs.

polos de cidadania, pontos de encontro e troca. Esses lugares têm grande potencial transformador a medida que os entendemos como locais do coletivo, os quais evidenciam e intensificam a produção de cultura, conhecimento e vida urbana já existente nas favelas. Como toda cidade, são compostas por potenciais educativos³ que, quando ativados, podem transformar a vida das pessoas. Nesta lógica, este trabalho se coloca como uma arquitetura cujo programa é servir as necessidades da comunidade suprindo a falta de espaços do coletivo- portanto público - de discussões, apresentações, reuniões e saraus. Que seja de qualidade e que enalteça a relação de complementaridade dos seres humanos entre si e com o meio, além de ser um suporte para o resgate da diversidade de valores e conhecimentos da periferia, dos saberes locais. Trata-se de um lugar de construção coletiva que permita que as pessoas se sintam parte. Um lugar que lhes pertença e que foi construído como direito, parte de uma dívida com o território. Território o qual inclui o homem que o constitui. Essa é a urgência deste trabalho. Um questionamento sobre o tamanho da arquitetura, no limite do que é arquitetura.

São atos de resistência. Esse bairro, assim como toda periferia, se caracteriza por áreas densamente construídas, cujos entremeios são frestas, vazios remanescentes que ainda não foram ocupados. Esses vazios são a chave para a ressignificação das periferias através da criação de uma rede de espaços coletivos que podem se tornar referencias locais,

1.Aula proferida na AUH – Encontros, USP SP. http:// intermeios.fau.usp.br/midia/79225504 2.O conceito de melancolia na desigualdade urbana foi apresentado como tema do programa café filosófico do dia 12 de agosto de 2016, pela arquiteta e urbanista Ermínia Maricato. 3.Conceito de Cidades educadoras defendido pela educadora Helena Singer.

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Sou príncipe do gueto só quem é desce, sobe a ladeira Sou príncipe do gueto e meu castelo é de madeira. Milhões de brasileiros não tem teto não tem chão Eu sou apenas mais um na multidão Não vai pra grupo com minha calça, minha peita, minha lupa Se canto rap aí, não se iluda. Alá! to vendo a cena vai chover e o rio vai transbordar E meu castelo de madeira vai alagar. Isento de imposto eu mesmo abraço com meus prejuízos Natural sofrer se os cordões são indecisos. Mil avisos, periferia desestruturada Mil muleque louco, no crime mostra a cara. Centenas de vezes vi a cena se multiplicar Quando cheguei ate aqui não tinha ninguém agora tem uma pá. Muleque doido eu enfrentei o mundão de frente Ausente em várias "fita" bandido filho de crente No pente, desilusão, dinheiro, mulher Mais pra frente se deus quiser mais resistente à fé Rumo ao centro calos nas mãos multidões Toda essa rebeldia reforça os refrões Talvez você não saiba do herói que vive a guerra Com uma marmita fria sem mistura eu sou favela Vivi pensando a vida inteira em fazer um regaço Mas agora que conquistei meu sonho, aquele abraço. Mas não importa se chão de terra tem poeira Realizei meu sonho, meu castelo de madeira. Sou príncipe do gueto só quem é desce, sobe a ladeira Sou príncipe do gueto e meu castelo é de madeira. Hoje já choveu já ventou to de cara Em saber que meu castelo suporta tudo menos fogo e bala. Suporta dor, minhas crenças, minhas loucuras Suporta ate minhas "cabreiragem" com a viela escura. E o sobe e desce de uns "nóia" na fissura Chave de cadeia se trombar com a viatura Vida dura, brotou o espinho não a rosa Quebrada querida vida bandida verso e prosa. Meu orgulho, um rádio velho toca fitas Rap nacional tocando é o que liga. Às sete da noite a luz elétrica cai Se a comunitária sai do ar... aí vai. Coloco aquela fita de "drão bambambam". Um cérebro sobre rodas finado "coban". As crianças me vêem como um adulto equilibrado

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Não sabem das minhas "fitas" nem dos meus pecados. E os aplausos deixem pra depois Quebrada querida mãe, é só nos dois Vou lutar pra ser vencedor nessa porra "Desbaratinar" vidinha podre sodoma e gomorra Deus criou o mundo, e o homem criou o dinheiro Crack e cocaína, bebida e puteiro Mas não importa se chão de terra tem poeira Aqui! é meu castelo de madeira. Sou príncipe do gueto só quem é desce, sobe a ladeira Sou príncipe do gueto e meu castelo é de madeira. Do lado de cá, do lado de lá "Treta" todo dia sem parar Do lado de lá, do lado de cá É sempre a mesma coisa "mano", o que quê eu vou falar Você sabe o que o sistema faz, ignora! E trás problema psicológico, tensão é "foda". Descaso, humilhação transtorno permanente Eu vi até uma família de crente espancar um parente. Que amanheceu no outro dia em coma Alcoolizado, drogado, traumatizado foi pra lona Dez horas depois, perícia, policia, ambulância E o parente que bateu chorou, igual criança Esse é o sintoma da doença que me afeta Ganhei de cortesia mau humor e as frestas Não a festa, porque sorrir é difícil entenda Sou verdadeiro e não lenda Hoje já choveu oh, "mô" neurose Nem costumo beber, até tomei uma dose. Talvez pra clarear ou esconder os problemas Mil "fitinha" acontecendo esse é meu dilema. Coisa de louco, abrir a janela e ver no esgoto Cachorro morto, sentir o mau cheiro e o desconforto E junto com a lama, o drama, a sujeira "Brasilite" no calor é um inferno, mô canseira Sonhar, sonhar, querer não é poder Tem que ser "mano", fazer jus ao proceder. Pros "cu" que tem dinheiro e luxo é constrangedor Me ver "empreguinado" aqui com ódio e rancor. Sonhei com tudo isso a vida inteira Realizei meu sonho, meu castelo de madeira. E é treta todo dia, todo dia, o dia inteiro Só falta construir um banheiro Sou príncipe do gueto só quem é desce, sobe a ladeira Sou príncipe do gueto e meu castelo é de madeira. 19


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|1|LOCALIZAÇÃO

O projeto se localiza no extremo sul da cidade de São Paulo, à margem oeste da Guarapiranga, no Jardim Vera Cruz, região popularmente conhecida como fundão do Jardim Ângela. Área que se encontra a aproximadamente 37km do centro, onde se concentram a maioria das ofertas de emprego, atividades culturais e comerciais da cidade. Área onde a população do fundão se descola, por mais de duas horas ida e duas horas volta, para trabalhar. Ocupada de forma desordenada e muito acelerada devido à urgência de morar, a área é caracterizada pela sua relação direta com a água, tanto pelos inúmeros afloramentos – espetáculo natural – como pela proximidade com a represa – proeza humana de potencializar os espetáculos da natureza. Grande parte do bairro está assentado em declividades acima de 45% (como apresentado pelo levantamento do projeto urbano), intensificando os riscos de viver irregularmente e dificultando a mobilidade. Essa ocupação orgânica cria frestas e caminhos vitais para o funcionamento da dinâmica da periferia: vielas e escadarias que costuram o território - veias urbanas, pequenos ventos - luzes sutis no adensamento intenso na constituição do território.

Quanto a oferta de equipamentos públicos, o Jardim Vera Cruz possui o Clube Esportivo Náutico antigo Clube dos Funcionários, o Centro de Educação Unificado (CEU Vila do Sol), o Centro de Educação Infantil (CEI), a UBS Integral Vera Cruz, o terminal final de ônibus e duas quadras de futebol. Todos conquistados com muita luta e que somados aos equipamentos propostos pelo plano urbano, procuram melhorar a qualidade de vida das pessoas e salvaguardar o direito da população a equipamentos urbanos de qualidade. O projeto aqui apresentado se insere neste contexto de luta e conquista, no aglomerado urbano denso e totalmente relacionado à dinâmica urbana. Parte de uma rede de vazios qualificados, um ponto dentro de toda uma constelação. Um conjunto em harmonia com a cidade, abrigando todas as ideias e formas de expressão. A favela é como um coração, um músculo do corpo cheio de vazios. Vazios por onde a vida flui, ponto que oxigena o corpo. Corpo marcado pela luta diária, mas que não perde a esperança.

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Distrito Jardim Ă‚ngela Zona Sul Ă rea de Mananciais Represas Guarapiranga (1) e Billings (2)

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Av. do Mboi Mirim

Av. dos Funcionários Públicos

Projeto “Abrigo de Ideias” EE. Amélia Kerr Nogueira CEU EMEI Vila do Sol CEI Clube Esportivo Náutico Guarapiranga

Projeto “Abrigo de Ideias” CEU EMEI Vila do Sol E.E. Amélia Kerr Nogueira CEI

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|1| CEU EMEI Vila do Sol |2| Terminal de Ônibus |3|CEI |4|Praça de Esportes |5|E.E. Amélia Kerr Nogueira 25


ÁREA DO PROJETO CASA DO SABER COLETIVO

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FLORESTA DE BOLSO

MICROECOSSISTEMA URBANO

C

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|3|CONSTELAÇÃO POLOS DE CIDADANIA

“(..) há algo comum a toda cidade informal: o intenso adensamento. A necessidade urgente de morar transforma áreas com condições mínimas de edificações em aglomerados densos, não prevendo espaços de uso coletivo como função primordial. Porém, mesmo com intenso adensamento e ausência de um padrão espacial dos desenhos dos lotes assim como a cidade formal e infraestruturada – a periferia também tem vazios, mesmo que intersticiais, espaços não construídos e sem uma função propriamente dita a não ser a função natural de fazer a cidade respirar. Função que a princípio não lhes foi atribuída”. Trecho retirado do Memorial Urbano. 29


Os vazios são espaços potenciais a conexão dos indivíduos entre si e com a natureza e sua função é oxigenar o território, portanto, eles só podem ser qualificados em função do bem coletivo ou preservados como microecossistemas produtivos que salvaguardam o direito à cidade para a população da periferia. Cada fresta anuncia uma vocação e como parte de um conjunto maior proporcionam qualidade de vida as pessoas. A escala é completamente local e só tem efetividade e expressividade pela ideia da rede. Rede costurada por vias compartilhadas, vielas e passagens de pedestres. Uma constelação de pontos que configuram polos de cidadania. Dispositivos ativadores do desenvolvimento integral de todas as esferas da natureza humana e da vida na cidade. Espaços de construção coletiva e participativa que reforçam os laços comunitários e a integração dos tempos e espaços da vida: convívio, lazer, práticas, tradições e dinâmicas de deslocamento.

Cidadania¹ substantivo feminino 1. qualidade ou condição de cidadão. condição ou dignidade de quem recebe o título honorífico de cidadão. 2. condição de pessoa que, como membro de um Estado, se acha no gozo de direitos que lhe permitem participar da vida política. 1- 30

Dicionário Michaelis.


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|4|IMPLANTAÇÃO

O projeto integra o plano de mobilidade urbano vencendo um desnível de 20 metros entre a Rua Bernardo Clavijo, na cota 783.00, e a Rua Charles Rague, na cota 763.00, com um conjunto de escada com drenagem e plataformas elevatórias que permitem a fluidez das pessoas e da água – também sujeito das dinâmicas da cidade - pelo bairro já que a proposta se ancora no tripé da mobilidade, acessibilidade e drenagem urbana. Aproximadamente 150 metros do Centro de Educação Infantil (CEI) e 180 metros do terminal de ônibus, o volume translúcido ocupa uma área de 64.80m² e se volta para a rua, cuja relação se dá pela criação de patamares em grama que formam uma arquibancada urbana, tendo a rua como palco da vida social. Associado as escadas e as plataformas elevatórias, propõe-se uma trama de percursos pedonais que se sobrepõe à trama proposta de vias compartilhadas (antigas vias tradicionais de automóveis) intensificando, desta forma, a liberdade de percorrer o bairro a pé. Repousando sobre a meia encosta e voltado a face leste, a implantação do projeto é recuada em relação ao alinhamento da rua. Silêncio, respiro e pausa. A escadaria pede licença para o território, criando pequenas gentilezas urbanas com patamares que se estendem possibilitando o surgimento de novas frontalidades, de pontos de permanência e encontro e de oportunidades para atividades econômicas locais na afirmação do reconhecimento da dinâmica do lugar e na atuação no sentido de reforçar sua potenciação.

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Sua proximidade com a rua permite que esse espaço coletivo de atividades e ideias se conecte às oficinas, casas do saber coletivo, tendo a rua como fio condutor que costura os espaços livres e públicos num sistema íntegro, capaz de ressignificar a relação das pessoas com a cidade. Cidade a qual se coloca sobre uma área de mananciais e que, a partir da proposta urbana, estabelece uma relação complementar com a natureza. A rua é o espaço materializado do coletivo. Ela pode ter infinitas formas, jeitos e vocações mas é sempre isso, uma experiência de lugar. A forma da ação do projeto é o que detém a possibilidade de produzi-lo e a chave de sua luta está na mudança – do homem e do espaço - para que o primeiro entenda e valorize o segundo. Só assim a reciproca se alcançará. A criatividade, a espontaneidade e o domínio do processo do pensar torna o homem apto a qualquer momento a resignificar espaços, abrir vãos, criar cômodos, arrancar tudo, evidenciando dessa forma o domínio absoluto do espaço em que vive. É um projeto de um ponto e uma linha que indica uma ideia de tempo na sua manifestação espacial.


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10

20m

UE

RUA CHARLES RAG

AVIJO

RUA BERNARD O CL

763,00

783,00


|5|CASAS DO SABER COLETIVO

Partindo do pressuposto iniciado pelo projeto urbano de que o uso dos automóveis particulares é amplamente desincentivado, as garagens tornam-se obsoletas. Novos vazios construídos no território. Se é vazio deve, portanto, se integrar a rede de espaços públicos (de uso ou interesse público, capaz de ativar a vida urbana). Entendendo seu potencial pela relação com a rua, propõe-se que essas garagens sejam utilizadas como oportunidades não só para pequenos negócios locais de comércios e serviços, mas como pequenas oficinas de ofícios: barracões de aprendizagem, de produção e fomento a cultura e economia local – as Casas do Saber Coletivo. Lugares para o desenvolvimento de atividades de diversos segmentos, como produções que valorizam e incentivam a própria cultura local: impressões de livros e textos da

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comunidade ou produção de bens de consumo a partir da reciclagem dos resíduos do bairro, por exemplo. Oficinas onde também é possível realizar a produção, por moradores locais, de infraestruturas a serem implantadas no próprio bairro, como cata-ventos geradores de energia, peças componentes de escadas drenantes, feitas em argamassa armada e fibra de vidro – proposto por este trabalho. O trabalho procura, portanto, potencializar os conhecimentos da comunidade, incentivando novos saberes ao agregar ideias e reafirmar as relações de complementaridade dos indivíduos, compreendendo que toda cidade tem um potencial educador e que só precisa de incentivos para serem ativados. Cidade educadora com todas as suas dinâmicas e fragilidades.


Rua para pessoas

“Eu não quero tirar os meninos d

Po

Incentivo ao comércio em vielas

para pessoas

“Eu não quero tirar os meninos da rua, eu quero mudar a rua” - Tião Rocha

Esquema Garagens

Polos de Cidadania

Incentivo ao comércio em vielas 35


|6|INFRAESTRUTURA

Tendo em vista a extrema fragilidade do território em mobilidade, acessibilidade e drenagem, a proposta de infraestrutura se desenvolve a partir desse tripé, buscando resolvê-lo a partir do entendimento de que a solução proposta só pode ser dada pela compreensão de que todos esses elementos funcionam em conjunto. Um conjunto não somente pela relação entre seus elementos, mas em harmonia com o todo, a cidade. Desta forma, propõe-se que a escada, além de um equipamento urbano de conexão, seja também um elemento de encontro e permanência. É o entendimento de que a rua – espaço público por direito - não tem limites. “Se é espaço, é público”, como ensina Paulo Mendes da Rocha. Assim são criados pequenos espaços de parada,

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degraus com acento, que permitem exibições de filmes, reunião de pessoas, saraus. Patamares que se alargam e criam a possibilidade de pequenos comércios locais, tornando a escada um organismo vivo, sujeito do território. Um espaço de passagem, não mais intimidante, mas seguro pelos olhos de quem lá vive. Um caminho de possibilidades. Uma escada que ativa o potencial da cidade. A proposta, portanto, consiste na implementação de escadas drenantes e de plataformas elevatórias com passarelas, as quais estão associados cata-ventos geradores de energia, na busca pela autossuficiência energética dando uma dinâmica qualificadora e vital para a infraestrutura urbana utilizada aqui em escala pontual porém exemplar.


geradores eólicos

passarela metálica treliçada

plataforma elevatória 1,80x1,80m

degraus em argamassa armada

escorregador em vibra de vidro

degrau drenante em argamassa plataforma elevatória 1,80x1,80m

reservatório de águas pluviais

patamares de grama

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|escada drenante| A escada é composta por peças fabricadas nas Casas do Saber Coletivo, por moradores locais, em argamassa armada ou fibra de vidro. A partir da combinação das peças, pode-se formar diferentes composições que melhor se adaptem as necessidades ou desejos do local.

Seus componentes são: - degraus e peças de patamares em argamassa armada; - degraus hidráulicos e patamares hidráulicos em argamassa armada ou fibra de vidro; - peças para escorregador em fibra de vidro – tornando a escada também um espaço lúdico.

escada drenante

trecho a

trecho de fluxo rápido sem paradas. largura total da escada: 1,8m.

escada drenante

trecho b

trecho de com faixa de fluxo rápido e paramares de descaso/parada. largura total da escada: 1,2m + 0,6m

escada drenante

trecho c

trecho com faixa de fluxo rápido e escorregador. passeio lúdico. largura total da escada: 1,2m + 0,6m

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PATAMAR + PATAMAR HIDRÁULICO

DEGRAU 1 + DEGRAU HIDRÁULICO

DEGRAU 2 + DEGRAU HIDRÁULICO

DEGRAU 3 + DEGRAU HIDRÁULICO

CONJUNTO DEG.2 DEG.3

+

CONJUNTO DEG.2 DEG.3

+

CONJUNTO PATAMAR

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|plataformas elevatórias| Por necessitarem de uma estrutura de maior precisão e estabilidade, são desenvolvidas com componentes metálicos leves, fabricados pela indústria. Duas vigas treliçadas paralelas, formando o guarda-corpo e ligadas por vigas tubulares retangulares, estruturam as passarelas, cujo piso é composto por tábuas de madeira. Já a plataforma elevatória possui 1,80x1,80m de dimensão e é envolvida por uma estrutura metálica leve de perfis tubulares e recoberta por uma pele translúcida em policarbonato para preservá-la da chuva.

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|energia| Além do próprio projeto do espaço, é necessário que esse sistema de mobilidade e acessibilidade possa ser autossuficiente em termos de iluminação. Assim, propõe-se a instalação de pequenos cata-ventos geradores de energia elétrica a partir da energia eólica, fabricados nas Casas do Saber Coletivo, com de materiais reciclados, possibilitando a iluminação do conjunto sem que se tenha total dependência da rede. Esse gerador é composto por um motor de passo, retirado de uma impressora em desuso, diodos (cuja quantidade corresponde ao dobro da quantidade de fios do motor de passo), dois capacitores, placa perfurada de circuitos, que pode ser retirada de um rádio que não funciona mais e uma hélice de ventilador.

MOTOR DE PASSO

HÉLICE

CAPACITORES

LED

DIODOS PLACA DE CIRCUITOS

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|1|IMPLANTAÇÃO

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|7|O ESPAÇO “Você não pode criar o vazio, você pode desenhar seus limites, e assim o vazio ganha vida”. Peter Zumthor

Um pequeno volume prismático, translúcido, que paira sobre a água e está imerso na cidade. É costurado ao território por uma linha importante, dando sentido e evidenciando seu caráter urbano e completamente público. Um vazio cheio de possibilidades delineado por uma pele fina e suave. O projeto se insere no território como um espaço de paz. Uma pedrinha de luz que acolhe sem sufocar todas as atividades humanas que dão conta da complexidade da vida na cidade. É um trabalho sobre o direito à cidade, aos espaços da cidade. Sobre ser silêncio no caos, sobre coletividade e harmonia com a rua. Rua como concentradora de gente, de atividade humana, de encontro e troca. Uma investigação sobre o espaço livre público. 44


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O espaço se dá a partir do reservatório com filtro² conectado a escada drenante. Esse reservatório tem 43 mil litros de capacidade, divididos em 2 níveis – um na cota 765.40, com volume de 22 mil litros, e outro na cota 764.60, com 21 mil litros. Recobertos por seixos rolados, a exemplo das canaletas do Sesc Pompéia de Lina Bo Bardi, rememoram a forte presença dos rios nesse território. Presença marginal que a cidade esconde e atrapalha, mas que ganha volume avassalador e arrasa o caminho. Presença que desenha o território. A água desenha o território e o homem o ocupa. Devido à existência do filtro e da bomba, que mantem a água em movimento, e o tratamento com luz ultra violeta submerso, essa mesma água refresca o ambiente coberto no calor, através da evaporação, e pode ser utilizada para o lazer dos moradores, ressignificando o seu valor e sua relação com o homem. Proposta que reforça também a ideia da prainha do projeto urbano. É um projeto de retomada do valor à água, elemento tão plural quanto único. O gotejamento que sai da torneira é feito do mesmo elemento que umedece o ar. Só muda seu estágio. A água, vital para a vida, é celebrada como um manifesto. Manifesto não textual. Mani-festa-ação.

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2 3.60

B

1

3.60

3

4 1.80

1.80

0,00

3.20

+1,00

A

2.70

+1,55

+2,10

B

A 2.70

A

C+9,70

C +2,40

+1,60

2.80

C

+7,25

+6,04

+5,00

B

+4,00

PLANTA DO NÍVEL +1,60 +2,40 +1,60

0

1

3

5m

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0,00


B +6,04

+4,00

+2,60

0,00

+1,00

+1,55

+4,00

+5,00

+2,40

+1,60

+2,10

A

+9,70

C

+7,25

+6,04

+5,00

B

+4,00

PLANTA DO NÍVEL +4,00 +2,40 +1,60

0

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1

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5m

0,00


B +6,04

+4,00

0,00

+2,60

+1,00

+1,55

+5,00

+5,00

+4,00

+2,10

A

A

C

C +9,70 +2,40

+1,60

+7,25

+6,04

+5,00

B

+4,00

PLANTA DO NÍVEL +5,00 +2,40 +1,60

0

1

3

5m

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0,00


5m

1

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3

3.60

1.80

4

+7,25

A

B

C

2.70

2.70

+5,00 +9,70

+4,00

+7,25 +2,40 +1,60 +6,04

+5,00 0,00

CORTE AA’

+4,00

+2,40 +1,60

0,00

50

+2,40

+1,80

0

1

3

5m


O projeto é uma sucessão de planos que acompanham o sentido da topografia ao tocar o chão e planos suspensos, criando relações entre si e com o todo. Ora os planos se desdobram em arquibancada ora se elevam por um sistema de polias carregando pessoas e coisas. Um espaço em constante transformação, sua característica é a de não encerrar-se em si mesma. Junto ao reservatório da cota 764,60 existe um patamar longilíneo, na cota 765,60, com 9.96 metros de extensão por 1.80 metros de largura, ao qual se tem acesso pela plataforma elevatória, permitindo que todas as pessoas consigam acessar a água. Sobre o reservatório primário, de 22 mil litros, repousa o patamar no nível 767.00, o maior do projeto, com área de 41.30m², relacionado à escada e à parada da plataforma elevatória. Através dessa cota é possível acessar o projeto sem dificuldades. Relacionado a esse patamar existe uma arquibancada com 4 pisos, com 25cm de altura cada, permitindo acontecer, uma pequena plateia para as diversas atividades. Essa arquibancada extravasa a projeção da cobertura criando uma ambiência “externa” e mais relacionada à água. Ao lado oposto da arquibancada e também relacionado ao patamar central, existe outro plano na cota 768.00, acessado por uma escada marinheiro ou pela plataforma auto elevatória, cujo sistema de polias divide o peso do conjunto (peso próprio + carga variável) por 10.

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No nível 770.25, são dispostos planos associados a plataforma auto elevatória, formando um patamar de 9m de extensão. Nesse nível é proposto uma rede de cordas de trapézio, também fabricada pelos moradores e que possui área de 17m², presa à estrutura por argolas metálicas fixadas em chapas também metálicas, parafusadas nas vigas de madeira e centralizada no volume. Plano livre fazendo os pés voarem e não tocarem o chão. Todo o projeto é coberto por uma fina pele translúcida suspensa, de forma a não criar confinamento, somente abrigo. Nas extremidades das faces norte e sul existem aberturas permanentes que permitem a passagem dos ventos, renovando o ar do ambiente constantemente. Em suas laterais existem faixas de toldos coloridos, feitos nas oficinas, servindo não somente como anteparo para o vento quando necessário, mas como componente transformador do espaço que, assim como os parangolés de Helio Oiticica, ganham sentido com o movimento causado pelo vento. Uma experiência de auto-criação e expansão das sensações. Uma dança de cores. Externamente a cobertura, na porção que se relaciona a rua, o projeto se desenvolve também em patamares que desenham, através da grama, uma arquibancada para cidade, enaltecendo o caráter público da rua como palco dos acontecimentos urbanos e das manifestações culturais e políticas. Esse espaço é passível de transformação através do entendimento do sistema estrutural modular. Assim, as pessoas podem intervir de forma a remodelar o espaço “interno” conforme acharem necessário, acrescentando vigas nos vãos dos pilares compostos.

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B +6,04

+4,00

0,00 0,00

+1,00

+1,55

+5,00 +2,10

+5,00

A

A

C

C +9,70 +7,25

+7,25

+7,25

+6,04

+5,00

B

+4,00

PLANTA DO NÍVEL +7,25 +2,40 +1,60

0

1

3

5m

53

0,00


A

B

C

2.70

2.70

+9,70

+7,25 A

+5,00

B

C

2.70

+6,04

2.70

+9,70

+4,00

+7,25 +2,40 +1,60

+2,40

+6,04 +1,80

+5,00 0,00

5m

+4,00

CORTE BB’ +2,40 +1,60

0,00

54

+2,40

+1,80

0

1

3

5m


B

0,00

+9,70

0,00

+4,00

A

A

C

C

+9,70

+7,25

+6,04

+5,00

B

+4,00

PLANTA DE COBERTURA +2,40 +1,60

0

1

3

5m

55

0,00


4

1.80

3

3.60

2

3.60

1

+7,25

B

C

2.70

2.70 +5,00

+4,00

+2,40 +1,60

0,00

CORTE CC’

+2,40

0

56

1

3

5m


Era uma casa Muito engraçada Não tinha teto Não tinha nada Ninguém podia Entrar nela não Porque na casa Não tinha chão Ninguém podia Dormir na rede Porque na casa Não tinha parede Ninguém podia Fazer pipi Porque pinico Não tinha ali Mas era feita Com muito esmero Na rua dos bobos Número zero

Toquinho

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|8|CONSTRUCUTO A estrutura se dá por 9 pilares que tocam o chão, com vãos de 3.60m na transversal e 2.70m no sentido longitudinal, compostos por 4 caibros de madeira de 5x5 cm formando seções finais com vazios onde perpassam as vigas, resultando em uma estrutura versátil e permitindo que se criem mais planos nesse espaço ou que se remodele o mesmo. Os patamares, são construídos em madeira com vigas de 15x5cm e tábuas de 2,5cm de espessura. O plano de madeira no nível 768.00, oposto à arquibancada, é sustentado pelos pilares, também de madeira, na extremidade que toca o patamar do nível 767.00 e por tirantes de madeira, de mesma composição, fixados nas vigas superiores. As vigas que cruzam os pilares, travam a estrutura e apoiam os planos são de madeira com seção de 20x5cm. A pele translúcida que recobre a estrutura é composta por placas de policarbonato alveolar de 8mm sustentada por uma

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malha de caibros de 5x5cm. Estes são encaixados e parafusados uns nos outros e afastados 90 cm dos eixos dos pilares nas faces norte, sul, e oeste e na face leste afastado 1,80m. No topo dessa estrutura existe uma sucessão de caibros de madeira filtrando a luz no ambiente. A cobertura forma duas inclinações voltadas ao centro, onde existe uma calha metálica galvanizada que recebe as águas pluviais e as direciona para o filtro através de um condutor que desagua num recorte do piso, no patamar do nível 767.00. Na cobertura as placas de policarbonato são unidas por um perfil “super h” que impede a entrada de água pelas juntas. O filtro e reservatório que recebem a água da chuva são de alvenaria e concreto para conter o volume de terra do terreno inclinado. Para que seja estanque os reservatórios são recobertos por seixos rolados - pedras ovaladas, cuja forma foi esculpida pelo movimento da água - que rememoram os rios e permitem um contato confortável com a superfície.


+7,25 75

policarbonato alveolar 8mm

toldos coloridos

vigas inclinadas da cobertura 20x05cm

“esqueleto” de caibros de 05cm para suporte do policarbonato calha galvanizada

plataforma autoelevatória por sistema de polias rede de trapézio

pilar composto de 4 caibros de 05x05cm

viga de madeira 20x05cm

arquibancada de madeira

escorregador em fibra de vidro

reservatório de águas pluviais

degrau em argamassa armada muro de arrimo com seixos rolados

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|9|CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudar arquitetura me fez encarar a cidade e entender que o meu papel no mundo é, através de desenho, contribuir para que seja mais justo e menos desigual. Entender que o território é sempre sujeito e não objeto e que a vida das pessoas e como elas vivem são o dado mais importante. Aprendi que arquitetura é sobre questionar limites e por fim desenhá-los com cuidado. Limites, não barreiras. Arquitetura é sobre sentir o mundo e se preciso, criar abrigo com a delicadeza de quem planta uma semente: cuidadosa e silenciosamente. Como aquele silêncio segundos antes do choro da criança que nasce. Um choro que simboliza o primeiro contato do ar com os pulmões. O primeiro ato do ser humano é chorar. Chorar é uma conquista. A vida é feita de conquistas e só é conquista quando se luta. O Fundão do Jd. Ângela - Vera Cruz - me fez entender que favela contém as maiores conquistas do mundo, mesmo que se tenha ainda muito pelo que lutar. Espero que este projeto que apresento possa, de uma maneira muito singela, ser abrigo para os que lutam, um símbolo de conquistas e, portanto, de resistência. Resistência de quem está a margem de tudo e que ainda tem esperança. Que resiste como a natureza resiste em cada trinca do asfalto em que nasce flor. Resistência. Re-existência.

“Hoje sou marginal ao marginal, não marginal aspirando a pequena burguesia ou ao conformismo, o que acontece com a maioria, mas marginal mesmo: a margem de tudo...”. Hélio Oiticica 60


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|10|REFERÊNCIAS PROJETUAIS

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|11|BIBLIOGRAFIA CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo, Editora 34/Edusp, 2000. “Nest We Grow / Faculdade de Projeto Ambiental UC Berkeley + Kengo Kuma & Associates” [Nest We Grow / College of Environmental Design UC Berkeley + Kengo Kuma & Associates] 13 Abr 2015. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acessado 29 Nov 2017. <https://www. archdaily.com.br/br/765181/nest-we-grow-college-of-environmental-design-uc-berkeleyplus-kengo-kuma-and-associates> ISSN 0719-8906 Franco, José Tomás. “Como o projeto “Espaços de Paz” está transformando os espaços comunitários na Venezuela” [Cómo el proyecto “Espacios de Paz” está transformando los espacios comunitarios en Venezuela] 01 Nov 2014. ArchDaily Brasil. (Trad. Sbeghen Ghisleni, Camila) Acessado 29 Nov 2017. <https://www.archdaily.com.br/br/756317/comoo-projeto-espacos-de-paz-esta-transformando-os-espacos-comunitarios-na-venezuela> ISSN 0719-8906 Whelan, Jennifer. “TYIN tegnestue disponibiliza gratuitamente um guia para projetar e construir em áreas menos favorecidas “ [TYIN tegnestue Releases Downloadable Guide to Design/Build in Underprivileged Areas] 09 Out 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado 29 Nov 2017. <https://www.archdaily.com.br/br/796743/ tyin-tegnestue-disponibiliza-gratuitamente-um-guia-para-projetar-e-construir-em-areasmenos-favorecidas> ISSN 0719-8906 “Multiplicity and Memory: Talking About Architecture with Peter Zumthor” 02 Nov 2010. ArchDaily. Accessed 29 Nov 2017. <https://www.archdaily.com/85656/multiplicity-andmemory-talking-about-architecture-with-peter-zumthor/> ISSN 0719-8884 AUH Encontros - Teresa Caldeira. Organização: Intermeios FAUUSP. Disponível em: https:// vimeo.com/79225504. Acesso em: Maio de 2017 Romullo Baratto Fontenelle. “Centro de Formação Cassia Co-op / TYIN Tegnestue Architetos” 06 Out 2012. ArchDaily Brasil. Acessado 29 Nov 2017. <https://www.archdaily.com. br/74429/centro-de-formacao-cassia-co-op-tyin-tegnestue-architetos> ISSN 0719-8906 Conferencia LEVUFC: Professora Teresa Caldeira. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=-nu6BfJLcRI. Acesso em: Agosto de 2017.

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