ENTREcontextos: a arquitetura do local

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ENTREcontextos a arquitetura do local

Arquitetura comunitária em Camburí, Brasil | Manica, Moçambique

uma análise comparativa e crítica projetual


_ Universidade de São Paulo (USP) _ Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) _ Depto. de História da Arquitetura e Estética do Projeto (AUH)

AUH0156 - História e Teorias da Arquitetura IV Docentes orientadores: Prof. Dr. Hugo Massaki Segawa Profa. Dra. Mônica Junqueira de Camargo

Grupo 13: Danyella Manaia Lourenço Berto Karen Sayuri Takahashi Mateus da Silva Evangelista Nathielli Ferreira Ricardo Raquel Tavares Lima Giannasi

São Paulo, dezembro / 2020 2

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Imagem 1: Centro Comunitário de Cambury, projeto do escritório CRU! Architects, finalizado em 2018, em Camburí, São Paulo, Brasil.

Imagem 2: Centro Comunitário FFH, projeto do escritório CAS Studio e da associação Architecture for Humanity, finalizado em 2013, em Manica, Manica, Moçambique.

“[...] Na segunda frente, os sistemas de redes de equipamentos públicos municipais, isto é, os equipamentos que amparam o cidadão desde as primeiras semanas de vida até a construção do seu caráter filosófico e de seu ser político. Essa formação permite que o cidadão seja um agente transformador do seu próprio lugar, já que a arquitetura que nos interessa é a arquitetura do lugar, a construção de nosso endereço.” Alexandre Delijaicov em “Arquitetura do Lugar”, 2011. 3


Imagem 3: Foto de satélite do Centro Comunitário de Cambury e seu entorno, em 7 de junho de 2020.

Imagem 4: Foto de satélite do Centro Comunitário FFH e seu entorno, em 7 de junho de 2020.


SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2. CENTRO COMUNITÁRIO FFH DE MANICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 2.1. CONTEXTO HISTÓRICO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 2.2. ARCHITECTURE FOR HUMANITY E CAS STUDIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 2.3. PARTIDO PROJETUAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2.4. ASPECTOS ARQUITETÔNICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.5. ASPECTOS CONSTRUTIVOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

3. CENTRO COMUNITÁRIO DE CAMBURY. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 3.1. CONTEXTO HISTÓRICO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 3.2. CRU! ARCHITECTS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 3.3. PARTIDO PROJETUAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3.4. ASPECTOS ARQUITETÔNICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.5. ASPECTOS CONSTRUTIVOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

4. COMPARAÇÃO E CRÍTICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 4.1. PROGRAMA, DISPOSIÇÃO DOS AMBIENTES E OBJETIVOS DO PROJETO . . . 33 4.2. IMPACTO NA COMUNIDADE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 4.3. CONFORTO TÉRMICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 4.4. MÉTODO CONSTRUTIVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 4.5. SUSTENTABILIDADE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

5. CONCLUSÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 6. REFERÊNCIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 7. FONTES ICONOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47


1. INTRODUÇÃO O seguinte trabalho visa a analisar e correlacionar dois projetos arquitetônicos de mesmo programa a partir de referências bibliográficas e discussões realizadas tanto ao longo da disciplina AUH0156 História e Teoria da Arquitetura IV quanto entre os integrantes do grupo. Trata-se do Centro Comunitário de Manica, localizado em Manica, Moçambique, projeto dos arquitetos portugueses do CAS Studio; e do Centro Comunitário de Cambury, localizado em Camburí, litoral norte de São Paulo, Brasil, de autoria do escritório belga CRU! Architects. Dois projetos em países lusófonos, cheios de semelhanças e conexões em suas histórias. A motivação para a definição das obras partiu do interesse em estudar projetos que estivessem fora do âmbito central da produção de arquitetura — seja na localização no mundo, como o Norte global, seja na localização mais específica do território, em zonas urbanas —, tendo em vista a predominância deste tema nos estudos e análises críticas de maneira geral, em detrimento da produção arquitetônica em outros territórios. Nesse sentido, o Centro Comunitário de Manica se apresentou como uma possibilidade de estudo, tendo destaque por estar localizado na África Subsaariana e em uma zona periurbana. Já a escolha do Centro Comunitário de Cambury se deu pelo interesse em estudar a iniciativa desenvolvida pelo projeto Bamboostic no litoral norte de São Paulo, uma obra latinoamericana fora das capitais, chamando atenção pela forte presença da comunidade no projeto e pelos materiais utilizados. Ademais, dentre as diversas

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possibilidades de projeto e programa, estes foram escolhidos devido ao caráter social e à relação que ambos estabelecem com o território onde e para quem são projetados, dando enfoque à principal questão aqui estudada e analisada: a arquitetura do local, considerando suas condições físicas e suas culturas. Em primeiro lugar, então, apresentaremos cada um dos projetos separadamente, além de contextualizálos tanto na história do local, dada a importância da especificidade de inserção, quanto na sua concepção, influenciada pela origem e pela trajetória de seus arquitetos. Seguidamente, é feita a comparação e análise crítica dos dois projetos em conjunto, levantando algumas questões chaves como programa e desenho, impacto causado na comunidade, conforto térmico (questão muito presente nas obras), método construtivo bem como a ideia e sua inserção do conceito de sustentabilidade. Embora haja semelhanças no programa e em alguns aspectos construtivos, ambos projetos possuem algumas disparidades, as quais pretendemos explorar no trabalho em questão. Por fim, busca-se relacionar as observações feitas em cada uma dessas perspectivas de maneira resumida, retornando à questão inicial e central sobre a particularidade de cada contexto e a relação estabelecida com ele.


2. CENTRO COMUNITÁRIO FFH DE MANICA 2.1. CONTEXTO HISTÓRICO Moçambique localiza-se na costa sudeste africana, banhado pelo Oceano Índico e limítrofe à Tanzânia, Malawi, Zâmbia, Zimbábue, África do Sul e Suazilândia. Com cerca de 30 milhões de habitantes, sendo 34,03% população urbana e 65,97% rural (INE, 2020), o país foi marcado pela colonização portuguesa e pela Guerra Civil, também conhecida como Guerra dos Dezesseis Anos, entre 1976 e 1992. Contudo, a história de Moçambique não se inicia com a chegada dos portugueses em 1505. Os primeiros habitantes da África Austral eram bosquímanos, caçadores e coletores, que juntaram-se aos Bantu, povos oriundos da floresta densa da região do Congo. Esses povos antigos estruturavam-se internamente para caça, pesca, colheita de frutos e vegetais selvagens, com o auxílio de instrumentos de trabalho rudimentares, como pode ser identificado a partir de pinturas rupestres encontradas na região central de Moçambique, em Chinhamapere, Manica (NOTICE, 2015). Os primeiros estrangeiros a ocuparem a região foram os árabes-suaílis, antes do século VII, interessados na troca de produtos, como ouro e marfim. Nesse mesmo período, estruturas de organização mais complexas estabeleceram-se na região com base na agricultura e comércio. Dessa forma, quando os portugueses chegaram no início do século XVI, já havia pequenas estruturas sociais constituídas. Ao invadirem o

território africano, construíram feitorias, bases militares e vias para o escoamento do ouro e do marfim, visando a controlálos. No caso estudado, é notável a linha férrea Beira-Bulawayo, do final do século XIX, muito utilizada no período para escoamento de produtos e a qual atravessa o Moçambique e quase todo o Zimbábue, conectando sua segunda maior cidade à costa do Índico, passando também pelo município de Manica. Assim como no Brasil, Moçambique foi constituído a partir do tráfico de escravizados e massacre de povos nativos. Durante todo o século XIX, a estrutura política e econômica, principalmente da região norte do país, era baseada na captura, transporte, comercialização e exportação de escravizados para as Ilhas Mascarenhas, Madagascar, Zanzibar, Golfo Pérsico, Brasil e Cuba (UEM, 1983). Mesmo com a proibição do tráfico de escravizados em 1836, o mercado era mantido de forma ilegal, principalmente na região da Zambézia. Vale ressaltar que, embora vários povoados moçambicanos, organizados em pequenos grupos, apresentassem resistência ao domínio português, como o reinado de Ngungunhane no estado de Gaza, poucos triunfaram, e a revolta e anseio pela autonomia política passou a ganhar corpo e forma, efetivamente, apenas, aproximadamente, nos anos 1950 e 1960, no auge da Guerra Fria e em um contexto de extrema negligência de império português salazarista quanto à sua colônia. Após a independência, em 1975, conquistada por meio de uma guerra de 10

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anos contra Portugal, o território dividiuse em dois grupos, FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), o que manteve a herança de conflitos armados e instabilidade nacional. Em um primeiro momento, a rebelião da RENAMO contra o governo da FRELIMO, a qual adotava políticas comunistas, objetivava uma desestabilização de suas ações estatais, visando à construção de uma base de apoio popular. O conflito teve fim por meio do Acordo Geral de Paz, assinado em 1992 por ambas as partes, estabelecendo um sistema multipartidário e extinguindo a planificação centralizada da economia. Apesar de ser considerado um dos países mais pobres do mundo, a recuperação pós-guerra foi considerada um sucesso devido à evolução da maioria dos indicadores socioeconômicos (UNHABITAT, 2010). Contudo, a guerra acelerou um processo de imigração para áreas urbanas sem precedentes, o que resultou em uma urbanização deficiente e grande parte da população vivendo em situação precária, principalmente em assentamentos informais. A ocupação desenfreada da maioria das cidades moçambicanas e a instabilidade política dificultavam o acesso a infraestruturas essenciais e outros serviços municipais (UEM, 1983). Quanto à produção arquitetônica, percebe-se uma maior inserção de Moçambique no debate internacional somente a partir dos anos 1950, justamente quando a mobilização contra o domínio português sobre o território

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passa a ganhar mais força, mobilização essa não só sobre questão política, mas também no universo cultural, no qual, como em todas as colônias, sempre houve grande esforço de repressão às manifestações locais, impondo o modelo da metrópole. Nesse momento, entretanto, o modernismo começa a adquirir espaço no país, buscando uma maior adaptação às condições locais motivada pela curiosidade sobre a cultura tradicional africana, sempre escondida pelo obscurantismo de um sistema de educação conservador e atrasado, que impedia a formação de uma elite com raízes regionais (CABRAL, 2005), uma vez a maioria da elite existente se formava pelas universidades sul-africanas. Uma dessas pessoas formadas na África do Sul foi o escultor, pintor e arquiteto Amâncio de Alpoim de Miranda Guedes, mais conhecido como Pancho Guedes, tendo sido, todavia, de extrema importância para a história da arquitetura moçambicana ao se recusar a seguir o mesmo caminho que todos aqueles que não retornavam a Moçambique. Para Guedes e outros modernistas, o lusotropicalismo existente no período, vertente utilizada oficialmente pelo Estado, tratava-se apenas de “uma fachada hipócrita e, sobretudo, cega sobre o futuro” (CABRAL, 2055, p. 5) ao considerar que os brancos pudessem um dia realmente conviver e constituir uma sociedade africana que respeitasse todas as culturas, quando, na verdade, o racismo, como sabemos, é nitidamente presente. Eram propostas intervenções arquitetônicas de uma utopia, visando a


uma cidade esteticamente perfeita, mas sem considerar o contexto complexo de conflitos e até questões mais simples, como disponibilidade de materiais. É baseado nessa crítica que Guedes projeta a chamada Catedral das Palhotas para Maciene, em 1972, propondo, devido à condição dada de falta de dinheiro por parte de seu cliente, a utilização de pau, cana, lama e palha, aproveitando-se do saber tradicional da construção das casas, palhotas feitas tipicamente com tais elementos, e da facilidade de acesso desses elementos por quase zero custo. O projeto, contudo, não foi aceito, devido ao preconceito contra essa arquitetura tradicional na época — até mesmo por parte dos próprios negros, que “preferiam sempre uma ‘casa de branco’, tinham vergonha de suas palhoçams maravilhosas [...] perfeitamente adaptadas e econômicas” (ibidem, p. 8). Ainda que a Catedral das Palhotas não tenha sido construída, seus desenhos e conceitos foram e são extremamente presentes no ensino de arquitetura pós independência, importante na busca por uma identidade efetivamente moçambicana na contemporaneidade. E, apesar de, na época, essas tendências terem ficado restritas às áreas urbanas, hoje percebe-se a influência de Guedes na arquitetura de todo o país, até mesmo no distrito de Manica, predominantemente rural. A província de Manica é uma das onze províncias que constituem o país, sendo elas: Niassa, Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Tete, Sofala, Inhambane, Gaza, Maputo e Cidade de Maputo. Localizada

na região central, Manica possui 61.661 km² de área — o que corresponde a 7,7% do território do país — e dez distritos: Guro, Tambara, Barue, Macossa, Manica, Gondola, Sussundenga, Mossurize, Machaze e Cidade de Chimoio, capital. O distrito de Manica, onde localiza-se o projeto estudado neste trabalho, está na parte central a oeste da província, com uma área rural de 4.383 km² e população de 257.419 pessoas, totalizando uma densidade populacional de 58,7 pessoas/ km² (INE, 2013). Como grande parte do país, a região de Manica carece de diversos recursos. De acordo com o INE - III Recenseamento Geral da População e Habitação de 2007, apenas 0,7% dos agregados familiares do distrito de Manica possuía água canalizada dentro de casa e 9,7% tinham acesso à eletricidade. Com a realização da Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, a ONG Architecture for Humanity lançou o projeto, em parceria com a Federação Internacional de Futebol (FIFA) e a Street Football World, “Football For Hope” (FFH). O objetivo da iniciativa era construir 20 centros comunitários em 15 países africanos, como Cabo Verde, Camarões, Tanzânia, Lesoto, Ruanda, Namíbia, África do Sul, entre outros, visando a beneficiar organizações e comunidades locais, a partir da educação, saúde e esporte, com foco no futebol como elemento fundamental do desenvolvimento social. Entre os 20 centros comunitários, um deles foi projetado para o distrito de Manica.

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2.2. ARCHITECTURE FOR HUMANITY E CAS STUDIO Em busca de soluções arquitetônicas para crises humanitárias em comunidades carentes, a Architecture for Humanity foi criada em 1999 por Cameron Sinclair e Kate Stohr, e permaneceu até 2015 como uma organização beneficente internacional sem fins lucrativos. Seu projeto fundador foi um abrigo emergencial, projetado para o longo prazo, para os refugiados de Kosovo que retornavam ao país natal após o término da Guerra de Kosovo. Outros projetos de destaque marcaram a história da organização, como na costa central do Golfo após o desastre do Furacão Katrina, em 2005, e em Mianmar, antiga Birmânia, após a passagem do Ciclone Nargis, em 2008, os quais resultaram na conquista do prêmio Nacional de Design pelo Museu Cooper Hewitt Smithsonian Design. Dessa forma, a Architecture for Humanity participou, junto à FIFA, da organização do projeto da campanha FFH, a qual visava levantar fundos para a criação de 20 centros esportivos por todo o continente africano, promovendo a saúde, educação e futebol. O programa foi desenvolvido durante a Copa do Mundo da África do Sul de 2010, iniciado em 2007 e concluído em 2014, tendo sido anunciado durante a Copa do Mundo do Brasil. Seus centros foram projetados para regiões

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marcadas pela vulnerabilidade social e desprovidas de equipamentos de lazer; de todos os 20 centros comunitários, um localiza-se em Manica, Moçambique, organizado pelo Grupo Desportivo de Manica (GDM), junto aos arquitetos do projeto, com a missão de expandir a liberdade pessoal de cada indivíduo, permitindo que aproveitem e escolham a vida que desejam e, assim, valorizemna. O GDM é um clube de esporte e lazer fundado em 1980 pela comunidade de Manica durante a Guerra Civil pelos próprios moradores da província os quais acreditavam em um futuro melhor para a nação. Apesar dos desafios sociais e econômicos permanecerem, mesmo após o fim da guerra, o GDM se uniu à Universidade de Joanesburgo para projetar o centro comunitário. Para tal, foram convocados os arquitetos portugueses Alina Jerónimo Fernandes e Paulo Carneiro Fernandes, fundadores da CAS (Collective for Sustainable Architecture) Studio. Alina é formada pela Universidade Lusíada e aprofundou-se em arquitetura sustentável, em Barcelona; já Paulo é formado pela Faculdade de Arquitetura do Porto, e, juntos, em uma pósgraduação na Escola Nacional Superior de Arquitetura de Grenoble, na França, produziram uma dissertação intitulada “Earth Architecture - Constructive Cultures and Sustainable Development”. A dupla desenvolveu o projeto para o Centro Comunitário de Manica que resultou em uma pós-graduação intitulada “The Kingdom of Manica – Improvement of local construction systems”. Após o projeto em


parceria com a Architecture for Humanity e o GDM, Alina e Paulo criaram a CAS Studio, especializada em projetos de arquitetura e mobiliário sustentáveis, incorporando materiais naturais e ecológicos. Claramente, o projeto em Manica foi essencial para a carreira de ambos, transformando seus estudos e seus princípios sobre construção sustentável em prática e impulsionando sua atuação profissional. Marcou o início da realização de seu “sonho para a comunidade” ¹, incentivando, como já mencionado, a criação de seu escritório CAS Studio, no qual trabalham orgulhosamente até hoje.

2.3. PARTIDO PROJETUAL Como parte da iniciativa do FFH, o projeto partiu de um diálogo e colaboração entre organizações locais e os arquitetos contratados. Alina e Paulo Fernandes, antes de conhecerem Manica, pediram amostras do solo local para testarem em laboratório e analisarem seus aspectos, visto que desde o início os arquitetos visaram a usar produtos locais, com o menor impacto ecológico possível (BERLOGOS, 2016). Ao chegarem em Manica, checaram os recursos naturais disponíveis, bem como a grande quantidade de construções vernaculares, que indica um conhecimento local sobre o assunto. Tal informação é confirmada pelo INE, visto que, pelo levantamento de 2007, 40,6% das habitações do distrito de

Imagem 5: Implantação do complexo, com identificação de todos os usos projetados para o todo o terreno e seu entorno.

¹ No site oficial do escritório, Alina escreve: “With Paulo and Architecture for Humanity, I proudly designed and built a community centre for 3,000 children in the town of Manica. This place not only contributes towards building a dream for the community, it also learned how to live within the community, and to rediscover lost values in our modern society. We could

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Manica eram feitas com blocos de adobe, sendo o tipo de parede predominante da região. Contudo, os tijolos usados nas construções eram blocos cozidos, feitos a partir da queima da argila, o que consumia mais matéria prima local e provocava um desmatamento para o uso da madeira, recurso utilizado para o cozimento. Dessa forma, o projeto passou a ser desenvolvido a partir de tijolos de terra comprimida (BTC), que consomem menos energia e material, não necessitando, diferentemente dos blocos cozidos, de revestimento. Ademais, a escolha desse material, além de seguir o partido sustentável do projeto, garante um maior conforto térmico, vistas suas qualidades caloríficas e de retenção de umidade em um clima quente tropical como o de Manica. O critério de escolha do local do projeto foi a existência de uma organização que já tinha uma relação estabelecida e presente com a comunidade, realizando atividades de relevância social — no caso, o GDM, que, além de atividades de esporte, também fornecia aulas de inglês, de português, de informática e de educação para prevenção ao vírus da imunodeficiência humana (HIV) e à malária. Com a participação do grupo, então, as demandas locais foram atendidas (dentro da flexibilidade existente do exigido pelos patrocinadores, que envolvia um grande parque e alojamentos para jogadores) e, mais do que isso, houve a integração de mais de 40 pessoas que participaram ativamente do projeto, desde o desenho até a construção do edifício. Para isso, criaram-se cursos técnicos voltados para os habitantes que say that it was the start of CAS.”. 12

Imagem 6: Fotografia da fachada oeste da edificação.

participaram da construção, os quais produziram, durante dois meses, todos os tijolos usados no edifício com a terra das próprias escavações do terreno. Essa formação permitiu a geração de novos empregos locais e a evolução e retomada de técnicas construtivas tradicionais. O uso desse material, além de outros, como bambu e madeira, permitiu que o edifício se incorpore à paisagem de forma harmônica, tanto pela sua cor, junto à terra vermelha de mesma tonalidade, quanto pela tipologia, vernacular e horizontal. Outro princípio importante no projeto do centro comunitário, como dito anteriormente, foi o conforto térmico, visto que as temperaturas máximas da região podem chegar a 39,1°C (INE, 2012). Dessa forma, uma das principais


Imagem 7: Esquema de conforto da edificação do Centro Comunitário FFH (ventos dominantes e insolação no solstício de verão).

decisões tomadas, além da parede em adobe, foi o projeto da cobertura. Feitos pelos próprios artesãos locais, as vedações do teto em bambu ajudam no isolamento térmico e circulação de ar, elemento também otimizado pela abertura zenital no eixo central e de circulação, que garante uma troca de ar quente pelo ar fresco, proveniente das aberturas na direção do vento dominante. Ademais, para diminuir a insolação solar direta, a cobertura prolonga-se em beirais de nascente e a poente, projetados a partir dos raios solares no solstício de verão.

2.4. ASPECTOS ARQUITETÔNICOS O Centro Comunitário de Manica funciona como porta de entrada ao parque da região e como modelo de construção a futuros projetos de características semelhantes. Possui área total de 200

m², acrescidos a aproximadamente 1000 m² em área externa e paisagismo. Com o objetivo de compor um projeto com mais de 20 centros comunitários distribuídos pelo continente africano, o de Moçambique foi pensado de modo a proporcionar espaços voltados para o desenvolvimento de habilidades de jovens em situação de exclusão social e econômica. A volumetria assumida integra-se a paisagem, em sua maioria, pelo uso de materiais e técnicas da arquitetura vernacular. Por ser definida pelo tradicional telhado de duas águas, sua forma e disposição são interrompidas pela área central, local com maior altura que abriga o pátio e constrói um ambiente que guarda visuais das duas alas, servindo de eixo principal tanto de circulação, quanto de visualização seja dos ambientes e atividades internas à edificação, ou externas. Para a disposição do mobiliário, os arquitetos tiveram que lidar com o desafio de estabelecer um padrão capaz de

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Imagem 8: Planta da edificaçào do Centro Comunitário FFH.

Programa de necessidades 1. Recepção

32 m²

9. Café

4 m²

2. Sala multiuso

63 m²

10. Banheiro

6 m²

3. Circulação

8 m²

11. Sala de informática

30 m²

7. Administração

6 m²

12. Pátio

28 m²

8. Ateliê

4 m²

14. Praça / quintal

60 m²

Área total:

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214 m²


Imagem 9: Fotografia do eixo central do edifício, a partir de uma perspectiva de norte a sul, estando visível a plataforma mencionada.

atender aos outros centros semelhantes. Em relação aos espaços, o edifício possui um pátio coberto, zona central, que é possível ser visto pelas duas alas do centro. E, além de funcionar como canal de ventilação natural de ar, aloca a recepção e distribuição de fluxos. Em seguida, tem-se: salas de aula e multiusos para atividades diversas como formaturas, aulas sobre prevenção, shows ou até mesmo secar massaroca de milho. A leste do pátio central, encontram-se escritório,

armazém, banheiros, cafeteria e uma sala para aulas. Na parte externa, tem-se uma plataforma com cerca de um metro, bambu e blocos de terra que compõem os pilares e se unem aos bancos criando um ambiente sombreado. A partir disso, o visitante é guiado ao interior do parque das montanhas. Quanto à implantação, poucas dificuldades foram impostas pela topografia do terreno, de aproximadamente 100.000 m², visto que

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Manica fica em um vale, tendo quase toda sua área plana. O edifício do Centro Comunitário FFH foi colocado em uma orientação de maneira que, como já mencionado, do eixo central da planta, a norte seja visto o parque, servindo como uma porta de entrada para o complexo, e a sul fique enquadrada a montanha Vumba. Tudo se situa a aproximadamente 2,6 km do centro do distrito de Manica, já em uma de suas áreas periféricas, a nordeste. Por imagens de satélite, vê-se que, até o início do programa do Architecture For Humanity (imagens de junho de 2007), a área era pouquíssimo ocupada, havendo no terreno apenas algumas marcações típicas de zonas rurais e esparsas casas. Durante o período de construção, já percebe-se na região movimentações de terra, com sua preparação para a obra; abertura de vias e o que parecem estacionamentos de caminhões, tendo a

mesma quantidade de construções em outubro de 2010 e certa expansão em novembro de 2011. Após a finalização da obra, passando por imagens de outubro de 2013, maio de 2014, abril de 2016 e maio de 2019, é notável a continuação desse adensamento próximo ao Centro Comunitário, ainda que de maneira extremamente lenta se comparada a um ritmo de crescimento de cidades maiores, como costumamos estudar, mas sempre com a mesma tipologia e organização que o restante da cidade. Com isso, e tendo em mente a imagem 5, da implantação do projeto, observa-se que boa parte dele não foi construída — muito provavelmente por falta de recursos, uma vez que, segundo os arquitetos, a parte que foi construída se manteve dentro do “desafio” de caber no orçamento dos patrocinadores. Logo, apesar de, no desenho, a relação com

Imagem 10: Fotografia da parte construída do complexo, a partir de uma perspectiva de norte a sul, estando visível a montanha Vumba ao fundo.

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² Não são fornecidas informações sobre o projeto. Ao pesquisar mais sobre o assunto, na tentativa de encontrar o motivo da não construção, encontrou-se como possibilidade, considerando o período de atuação (2008-2014) e as províncias para as quais o projeto estava voltado, o “Empowering Urban Women Entrepreneurs Through Housing Development And Land


o entorno estar bem definida na escala menor, do que seriam as “quadras” imediatamente adjacentes — quase todas, com exceção do cemitério tradicional preexistente, ocupadas por um suposto projeto de habitação da UN-Habitat², pouco detalhado no implantação (o que demonstra que essa relação urbanística com sua vizinhança não esteve entre os pontos principais de partido de projeto) —, o compromisso com essa relação

urbanística em escala maior com o preexistente não se deu no momento de projeto, falhando com a crítica ao lusotropicalismo e à sua utopia ao não levar em consideração a complexidade do desenho urbano dado, ainda que as quadras imediatamente vizinhas estivessem desocupadas no momento. Entretanto, não se pode esquecer ou negar que o projeto, como foi deixado, existe naquele lugar, relacionando-

Imagem 11: Foto de satélite da região em 3 de junho de 2007.

Imagem 12: Foto de satélite da região em 20 de outubro de 2010.

Imagem 13: Foto de satélite da região em 11 de novembro de 2011.

Imagem 14: Foto de satélite da região em 11 de outubro de 2013.

Imagem 15: Foto de satélite da região em 3 de maio de 2016.

Imagem 16: Foto de satélite da região em 2 de maio de 2019.

Ownership In Ethiopia And Mozambique” (https://unhabitat.org/mozambique-projects), mas não são disponibilizados relatórios de resultados (https://open.unhabitat.org/node/35814), e o país apresentado como beneficiário é somente a Etiópia, levando-nos a crer que, em Moçambique, o plano não vingou, sem dar maiores explicações.

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se necessariamente com seu entorno de promessas não cumpridas. Para estabelecer, então, um convívio ainda mais harmonioso — não só visual, estabelecendo eixos ou correspondendo cores e tipologias, mas de uma qualidade arquitetônica e urbanística que vai além da simples provisão de um equipamento de cultura, lazer, esporte e mesmo educação (papel que o Centro Comunitário FFH de Manica cumpre bem) —, havia a necessidade de se planejar para essa expansão, um processo muito claro, que acontece nas cidades do mundo todo, e previsível, dada justamente a construção desse equipamento.

2.5. ASPECTOS CONSTRUTIVOS Os arquitetos do Centro Comunitário de Manica buscaram seguir o conceito de interpretar contemporaneamente a arquitetura vernacular e tradicional, em específico a casa “palhota” africana. Dentro disso, a utilização do bambu ocorreu conforme técnicas artesanais que proporcionaram a adaptação em relação ao conforto e durabilidade, além de valorizar o trabalho de artesãos locais. A materialidade das paredes, composto de terra vermelha, que funciona em uma espécie de prolongamento do solo, aliado ao bambu das portadas e dos tetos criam uma uniformidade visual e auxiliam no isolamento térmico da cobertura, como já explicado anteriormente. Os blocos utilizados para vedação

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foram os denominados Blocos de Terra Comprimidos Estabilizados (BTCs). As motivações dessa escolha estão envolvidas com a tradição local da utilização de alvenarias em tijolos, com o fato de serem 6 vezes mais resistentes à compressão se comparados aos blocos tradicionais e, além de não necessitar reboco, podem ser produzidos manualmente. Além da adequação à cultura construtiva tradicional, vernacular daquela comunidade específica, também é possível notar alguns elementos mais gerais, do modernismo dos anos 1950 e 1960, dos quais Pancho Guedes era grande defensor: a arquitetura que não se separa da vida cotidiana³, conectando o povo africano ao seu passado, mas no hoje. As “adaptações” à contemporaneidade são vistas, principalmente, no maior enfoque na questão da sustentabilidade, tema que tomou maior visibilidade conforme à importância dada e à maior frequência das conferências internacionais ambientais (aproximadamente nos anos 1990).

³ “Pancho que se recusava a ver a arquitetura como algo separado tanto da arte quanto da vida cotidiana, e sentia ser urgente construir uma linguagem cultural e artística que permitisse, por um lado, reduzir o sentimento de alienação da população africana em relação ao seu passado diante da modernidade e, de outro lado, reduzir o sentimento de


Imagem 17: Desenho do contexto de inserção do projeto na cidade.

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Imagem 18: Planta do projeto com destaque para o eixo central de circulação e para o fluxo de distribuição de visitantes ocasionado por ele.

Imagem 19: Corte longitudinal do projeto.

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3. CENTRO COMUNITÁRIO DE CAMBURY 3.1. CONTEXTO HISTÓRICO A comunidade de Camburí é localizada no litoral norte de São Paulo, no município de Ubatuba, na divisa entre Ubatuba e Paraty. Situado no Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar, no limite entre os estados de

São Paulo e Rio de Janeiro, o Centro Comunitário de Cambury começou a ser construído em 2004. Esse projeto está inserido em um contexto de tentativa de fornecer outros meios de sobrevivência para a comunidade local que não envolva a agricultura, uma vez que esta ficou muito limitada após a aplicação da lei que determina a implantação do Parque Estadual da Serra do Mar, em 1977. Este Parque tinha como objetivo a

Imagem 20: Imagem de satélite do litoral norte de São Paulo, com indicação do Parque Estadual da Serra do Mar e da localização de Camburí.

deslocamento e de estranhamento que a população de origem europeia tinha quanto à inserção africana.” (CABRAL, 2005, p. 4).

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proteção dos remanescentes florestais do bioma da Mata Atlântica, situada ao longo de toda a costa litorânea brasileira, que é historicamente ameaçada devido às atividades agrícolas, pecuárias e de produção de carvão. Nessa busca pela exploração da região para fins econômicos, cujos atores são sobretudo grileiros de terras e empresas imobiliárias, muitos habitantes tradicionais foram deslocados para outras regiões — processo que ocorre ainda atualmente. Foi nesse contexto que a Associação dos Moradores e Amigos do Camburí (AMAC) foi criada, através da mobilização da comunidade local, para fazer obstáculo à expropriação de suas terras. Além disso, nos anos 2000, foi criada a Associação dos Remanescentes de Comunidades de Quilombos do Camburí (ARQC), em busca do reconhecimento e da demarcação do território tradicional quilombola na região. Apesar de constituídas em momentos distintos, essas duas associações possuem o mesmo objetivo de preservar a comunidade e a cultura local, sobretudo no que diz respeito às relações que elas possuem com o meio ambiente, de modo integrado e sustentável. Considerando a relação que a comunidade de Camburí possui com o meio ambiente em relação às atividades geradoras de renda para os moradores locais – caça, agricultura e pesca –, o efeito colateral da implantação do Parque Estadual da Serra do Mar foi o estabelecimento de algumas restrições ambientais que impossibilitaram tais atividades. Durante os últimos 150 anos, a comunidade de quilombolas e caiçaras

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constituiu uma comunidade homogênea que se mantinha pela geração de renda dos setores, não tão diversificados, já citados anteriormente. No entanto, o pacote de medidas instituído proibia a coleta de frutos e a derrubada de árvores — que eram utilizadas pela população para a confecção de canoas —, criando obstáculos que se somaram à dificuldade de acesso à localização geográfica isolada da região, impossibilitando a geração de renda — apesar de também buscarem a preservação ambiental do bioma que mais perde florestas no Brasil até hoje. Nesse sentido, a ONG belga Bamboostic, em colaboração com o escritório CRU! Architects, desenvolveu o projeto do Centro Comunitário, que buscou oferecer novas formas de geração de renda para os moradores da região, bem como promover a consolidação da comunidade a partir da arquitetura. Segundo o arquiteto idealizador do projeto, Sven Mouton, “hoje, a atividade econômica de Camburí não se limita apenas à agricultura. Uma padariaescola, uma cozinha comunitária e uma cooperativa são elementos que agora integram a paisagem da região” (ROCHA, Revista Época, 2019).

3.2. CRU! ARCHITECTS Responsável pelo projeto e fundador do escritório CRU! Architects, o belga Sven Mouton iniciou em 2004 o Project Cambury (Projeto Camburí), com o objetivo de desenvolver socialmente


e economicamente a comunidade homônima localizada no Parque Nacional Serra do Mar, em São Paulo, no litoral norte. Especializado em bambu e em técnicas construtivas vernaculares, Mouton fez sua dissertação de mestrado sobre arquitetura vernacular da África do Sul na Universidade de Hasselt, Bélgica, entre 1994 e 1999, concomitantemente a um trabalho de campo em parceria com a Universidade Metropolitana Nelson Mandela, África do Sul, estudando a arquitetura tradicional de aldeias indígenas, como Venda, Xhosa, Ndebele, Zulu, entre outras. Em 1999, o belga iniciou um pós-mestrado em Urbanismo na Universidade de Gante, Bélgica, onde dissertou sobre “Recreation vs ecology in green urban areas”. Em 2004, após trabalhar em escritórios de engenharia e planejamento urbano, Sven Mouton e sua esposa, Hilde Duerinck, iniciaram um projeto em colaboração com a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), sob a orientação do professor Khosrow Ghavami, relacionado a construções civis de baixo custo em bambu e outros materiais não convencionais, focando em aplicações no vilarejo de Camburí. A partir desse projeto, criou-se o Bamboostic, uma organização sem fins lucrativos, a qual Sven comanda e fornece supervisão prática, enquanto Ghavami envia estudantes da pós-graduação para continuar o estudo. Focado em ecoconstrução social em bambu e outros materiais não convencionais, como barro, o Bamboostic já realizou a construção de centro comunitário (estudado neste

trabalho em questão), ponte, padaria, depósito etc, todos localizados em Camburí. A escolha da localidade se deu pelas condições econômicas da região. De acordo com o arquiteto, Camburí restringia-se à agricultura para a produção de renda local. “Não tinha como sobreviver de maneira fácil fora os bicos que eles faziam”, afirmou Mouton em entrevista dada para a Revista Época, em 2019. Com a construção de pontos de comércio a partir do projeto Bamboostic, a agricultura deixou de ser a única fonte de renda dos moradores. Após a criação do projeto, Sven e Hilde retornaram à Bélgica, onde fundaram o escritório privado de arquitetura chamado CRU! Architects, especializado em projetos urbanísticos e arquitetônicos, especialmente em bambu.

3.3. PARTIDO PROJETUAL O projeto do Centro Comunitário teve como base algumas demandas levantadas por uma das associações locais da região, a AMAC, que vive de maneira integrada com o meio ambiente, de modo que todo o partido projetual visou a estabelecer relações de proximidade com a natureza e com a comunidade local. Dentre as demandas levantadas, estavam as seguintes proposições: fornecimento de um espaço comunitário que abrigasse reuniões; atividades escolares e outros eventos; salas separadas para aulas e armazenamento de materiais; formação

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de uma percepção do centro geográfico do bairro; e integração do edifício dentro da paisagem circundante e da escola existente no terreno. Ao observar os requisitos dos moradores de Camburí, vê-se que um dos principais objetivos do projeto era transformá-lo em um novo ponto de encontro para a cidade a partir da presença de um espaço multifuncional, além de gerar um reconhecimento de sua importância pelos moradores locais. Nesse sentido, o método projetual utilizado pelo CRU! Architects contribuiu muito para que essa significação do espaço fosse realizada, já que eles não tomaram as decisões projetuais de modo isolado da comunidade, mas fizeram uma pesquisa e utilizaram-se de um método de escuta das demandas locais. Embora o CRU! Architects tenha oferecido assistência técnica e financeira para a realização do projeto, foram os moradores que

Imagem 21: Fotografia do Centro Comunitário de Cambury já construído e ocupado, com crianças brincando em um dos espaços.

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decidiram o conteúdo e o programa, além de serem responsáveis pela organização e funcionamento do centro comunitário na forma de uma associação cooperativa. Ademais, um outro fator que norteou todo o partido projetual foi a integração do projeto com o meio ambiente e a garantia do conforto térmico na edificação, de modo que todo o complexo do Centro Comunitário foi orientado na direção do mar, com o objetivo de garantir a melhor ventilação possível, tendo sido a característica litorânea e a proximidade do terreno à praia fatores decisivos na escolha da implantação. Outro dos elementos do partido de projeto foi essa responsabilidade ecológica em garantir modos de ventilação adequados e naturais, usufruindo-se das características térmicas do local, que está situado em uma região de Clima Litorâneo Úmido, onde há a predominância de um clima quente e úmido durante a maior parte do ano, ocorrendo apenas uma pequena diminuição da temperatura no inverno. Para aproveitar tal ventilação natural, então, o projeto foi pensado de modo a evitar o uso de paredes que bloqueassem o fluxo de ar no interior da edificação, tendo todos os ambientes uma boa circulação de ar e, consequentemente, uma boa eficiência térmica. O aproveitamento do fluxo de ar litorâneo na ventilação levou em consideração também os benefícios psicológicos para a saúde dos usuários do espaço. Segundo o arquiteto Sven Mouton, “quando a temperatura está mais quente e úmida, as velocidades mais rápidas do vento trazem um efeito


positivo ao bem-estar das pessoas” (ROCHA, 2019); sendo assim, aproveitouse da possibilidade de usufruir dessa ventilação a partir da elevação do telhado da edificação. A fim de provocar o efeito chaminé, no qual as aberturas presentes no topo da edificação são capazes de retirar o ar quente ascendente, o projeto prevê aberturas em uma altura elevada que propiciam um maior conforto térmico no seu interior.

Imagem 22: Diagrama do fluxo de ventos litorâneos no projeto.

3.4. ASPECTOS ARQUITETÔNICOS A construção do projeto foi realizada de modo participativo e gradual, permanecendo flexível para o acréscimo de novas construções comunitárias, as quais apareceram como demandas dos

moradores para a complementação do espaço multifuncional e visualmente integrado estabelecido pelo complexo comunitário de Camburí. Apesar de a sua construção ter começado em 2004, com o passar do tempo alguns ajustes foram sendo feitos para acrescentar ampliações no projeto. Os primeiros edifícios foram o centro administrativo, o qual era um espaço de reuniões, com a previsão do acréscimo de uma escola de surf e de música, sala de informática, biblioteca, um pátio com playground para a escola e um compartimento para armazenamento de materiais, além do escritório da associação. No entanto, não se sabe se alguns dos usos foram realmente atribuídos às salas construídas posteriormente por conta da ausência de identificação nos produtos gráficos disponibilizados. No ano de 2016, o projeto ainda não tinha sido totalmente concluído e a sua flexibilidade possibilitou a criação de uma padaria e de uma cozinha comunitária para atender à demanda da comunidade local por maior oferta de empregos, bem como para a difusão da culinária local destinada a visitantes. Sendo uma das motivações a construção de novas atividades geradoras de renda para a comunidade de Camburí, esse projeto alcançou seus objetivos e, hoje, além da agricultura, caça e pesca, os moradores possuem o turismo e a construção em bambu como suas principais atividades. O Centro Comunitário de Cambury foi projetado em um lote em frente à praia, de modo que tem-se uma visibilidade para os turistas que visitam a região,

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além da integração dele com a paisagem no seu entorno e da conformação de uma centralidade para a região, uma vez que se situa em frente a uma escola e ao lado de um campo de futebol. O projeto possui uma área total de 175 m² com uma fluidez espacial e uma multifuncionalidade dos espaços. A volumetria assumida pela edificação integra-se com a paisagem de maneira que a dissolução da edificação em três diferentes blocos unidos entre si pela junção das coberturas permitiu criar uma noção de permeabilidade do projeto. O bloco central é conformado pelo telhado de duas águas mais elevado, com aberturas superiores, e os dois blocos laterais mais baixos, conformados por telhados de apenas uma água. Além disso, é válido ressaltar que a ausência de paredes no bloco central permite a integração visual entre as diferentes partes do projeto. O escritório administrativo constitui uma edificação isolada, composta por um telhado de duas águas, mas que possui as mesmas técnicas e os mesmos materiais do centro comunitário. Além disso, é possível verificar que as demais edificações que compõem o que entendese como complexo comunitário, tal como a padaria e a loja de artesanato, compartilham da mesma linguagem arquitetônica do Centro Comunitário de Cambury. Esse bloco anexo que contém atividades geradoras de renda possui o telhado de apenas uma água, relacionando-se com a linguagem arquitetônica presente nas alas laterais do centro comunitário. Nessas edificações que foram acrescidas, é possível verificar,

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Imagem 23: Planta do projeto, com indicação dos espaços designados e da posição dos bambus e de seus encaixes.


Imagem 24: Planta do centro comunitário, com indicação dos usos dos espaços existentes hoje.

Imagem 25: Planta do projeto, com indicação dos espaços designados e dos preexistentes, sem aqueles que surgiram posteriormente, com o uso, ocupação e autogestão dos moradores da região.

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ainda, o estabelecimento de uma outra relação entre exterior e interior, dada pela permeabilidade das paredes de bambu.

Imagem 26: Planta de cobertura do projeto, com indicação das águas dos telhados.

3.5. ASPECTOS CONSTRUTIVOS Soma-se a tal entendimento das características ambientais e climáticas do local a escolha dos materiais construtivos, que traduziu o objetivo projetual da edificação de garantir uma edificação sustentável. O uso de materiais locais, assim como a aplicação e a combinação de seus efeitos térmicos são fatores que contribuíram para o atendimento à

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premissa ecológica do projeto. A utilização dos tijolos de taipa forneceu o isolamento natural e a massa térmica — ou seja, esse material possui a capacidade de absorção da energia térmica para estabilizar a temperatura de ar interna do ambiente. Além disso, o uso do bambu se deu tanto como estrutura da edificação, reduzindo o uso de materiais mais poluentes como o concreto e cimento, como na aplicação em portas e janelas dos edifícios anexos, a fim de proteger da radiação solar e controlar o gradiente de iluminação. Um outro fator importante considerado no projeto foi o fato de este ser localizado a poucos metros de distância da praia, de modo que foi necessário um estudo sobre o tipo de solo da região para que fosse feita uma fundação adequada, resistente à instabilidade do solo litorâneo. É possível verificar que essa fundação foi realizada utilizando pedras, permitindo a estruturação do bambu de maneira adequada. Dessa maneira, o conforto térmico foi atingido com uma solução ecológica que reuniu as técnicas e materiais locais, produzindo um ambiente com condições térmicas e de visibilidade adequadas, esta última requerida na demanda dos moradores de Camburí. Os materiais empregados na construção, além de demonstrarem uma responsabilidade ecológica, também buscavam estabelecer relações com a comunidade, de modo que foram escolhidas técnicas chamadas vernaculares que aproveitavam o uso de materiais locais disponíveis na região. A estrutura da edificação contém aproximadamente 500 toras de bambu, 1300 garrafas PET, além


Imagem 27: Fotografia onde se vê a fundação de pedras, os tijolos de taipa e as janelas de bambu.

de contar com o uso da taipa — processo de construção de paredes que utiliza barro amassado — e do adobe — técnica construtiva que molda o tijolo cru e o deixa secar ou cozer ao sol sem que haja a queima. A taipa foi muito difundida, anteriormente, pela comunidade quilombola, a qual já estava presente há mais de 300 anos na região de Camburí, tendo em vista que ela foi um refúgio dos povos escravizados nas plantações de café em Paraty, no Rio de Janeiro. Embora os povos escravizados tenham entrado em contato com a construção de taipa devido às obras realizadas por eles nas edificações em Paraty, não houve uma introdução dessa técnica na própria comunidade quilombola. A técnica da qual a comunidade mais se utilizava era o pau a pique, de origem africana, que foi incorporada no quilombo graças ao conhecimento geracional, utilizando as árvores, os galhos e os bambus abundantes na região como materiais de construção. Baseando-se nesta cultura local, de origem quilombola, e reconhecendo a tradição empregada nas construções em Camburí, o escritório CRU! Architects implementou um aperfeiçoamento dessas técnicas e buscou a implementação de um projeto que se constituísse como uma formação educativa para a associação local, de modo a alterar a percepção dos moradores em relação às técnicas vernaculares, uma vez que eles as viam de uma forma negativa, processo ocorrido devido à perda do conhecimento geracional e do consequente uso inadequado das mesmas. Nesse sentido,

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Imagem 28: Fotografia do momento da construção do Centro, dando-se aqui destaque às fundações de pedra e às garrafas PET mencionadas.

um dos fatores importantes na construção do projeto foi dialogar com o conhecimento já difundido na comunidade a fim de evidenciar os seus benefícios e a sua eficiência no âmbito da construção. Vale ressaltar que a escolha do método

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construtivo e das técnicas empregadas na construção do Centro Comunitário de Cambury também estiveram diretamente ligadas com os ventos decorrentes do clima litorâneo da região, de maneira que a força dos ventos foi um fator determinante


no projeto e, segundo os arquitetos, este aspecto influenciou toda a modulação e o design estrutural. O conhecimento de estruturas permite afirmar que os impactos dos esforços laterais provocados pelo vento são mais significativos quanto maior é a esbeltez da edificação, e, por isso, o projeto precisou contar com a realização de um modelo estrutural capaz de resistir aos esforços decorrentes da ação do vento, já que uma maior altura da edificação foi necessária para garantir a ventilação dos ambientes interiores. Em busca de garantir a resistência adequada a esses esforços, o projeto contou com uma estrutura de contraventamento, dada a partir da triangulação do bambu em treliças laterais apoiadas em quatro colunas.

Imagem 29: Diagrama da triangulação e contraventamento do módulo da estrutura do projeto.

Os arquitetos adotaram o bambu como material que permitia fazer construções maiores do que as de pau a pique, e, além disso, reintroduziram a taipa na comunidade. A escolha desses materiais, apesar de ter sido aceita pelos moradores locais com uma certa dificuldade, uma vez que eles os viam como materiais despretensiosos, foi uma escolha que permitiu formas de união da comunidade e de empoderamento local. “Depois de 14 anos, já mudou bastante a ideia que se tinha sobre o material. Hoje, eles o usam muito para fazer construções temporárias, até na própria casa”, disse Mouton (ROCHA, Revista Época, 2019). Ademais, essa escolha também esteve permeada por motivações econômicas, além de ecológicas e simbólicas. Esses dois materiais — o bambu e a taipa — possuem um preço significativamente menor se comparado a outros materiais de construção, como o cimento, além de trazerem menos impactos negativos ao meio ambiente relativos à produção e ao transporte. Além disso, a região de Camburí possui bambu em abundância, de modo que o seu uso, além de facilitar o transporte e a logística da obra, traz uma maior ligação entre a construção e o seu sítio de implantação. É importante ressaltar que, apesar de ser muito menos difundido enquanto matéria prima para a construção civil, o bambu possui uma força comparável ao aço e, além disso, é mais fácil de manusear. Todas essas características foram determinantes na sua escolha para a utilização no projeto do centro comunitário, o qual visava a ser uma construção ecológica e participativa.

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É preciso ressaltar que a construção foi realizada pelos próprios moradores de Camburí, apesar de ser coordenada pelo arquiteto Sven Mouton, de modo que estes foram atuantes em todo o processo construtivo, desde a fundação até os encaixes entre os bambus. No início, o escritório de arquitetura reuniu os moradores da região para ver quais estariam disponíveis para participar da construção, mas muitos tinham dúvidas da eficiência de edificações feitas com este material, pois acreditavam que ela teria uma baixa vida útil. No entanto, com o auxílio técnico, os moradores aprenderam a fazer os encaixes, cortar nas medidas e adquiriram o conhecimento de como fazer a estrutura do bambu da maneira mais correta, minimizando os riscos e mudando sua percepção sobre o material. A formação educativa que a construção do Centro Comunitário de Cambury propiciou ocasionou na formação da cooperativa local de ecoconstrução, que teve início no treinamento para o projeto do centro comunitário, mas que agora atua realizando além de habitações comunitárias locais, obras para clientes de classe média e alta que procuram construir edificações na região. O uso do aprendizado obtido oferece aos moradores de Camburí a possibilidade de geração de renda, obtida na construção de casas particulares de alta renda e podendo ser utilizada na melhoria da infraestrutura da comunidade, além de ser usada de salário para a comunidade caiçara e quilombola habitante da região. Ademais, esse conhecimento permitiu aos moradores a abertura de

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seus próprios negócios relacionados à construção de mobiliário em bambu, voltada para a escala de interiores, tais como a construção de camas, guardaroupas e armário. Além dessa cooperativa relacionada à construção ecológica, o centro comunitário reúne diversas outras cooperativas do bairro e garante-lhes maior visibilidade. Como exemplo, temse a cooperativa dos eco-monitores que buscam obter renda por meio do turismo. Além disso, conta com o espaço de uma padaria, que garante à comunidade a obtenção de renda através da culinária local, e com o espaço de uma loja, onde os artesãos locais podem vender suas produções artísticas, sobretudo para os turistas da região. Sendo assim, há uma maior diversificação das formas de geração de renda da comunidade.


4. COMPARAÇÃO E CRÍTICA Esta seção dedica-se à comparação entre os dois projetos, a fim de verificar aproximações e distanciamentos entre eles, permitindo um olhar crítico para as soluções projetuais adotadas. De primeira, percebem-se já diversas similaridades, como o fato de ambos os países terem passado por séculos de colonização portuguesa e os arquitetos estrangeiros de ambos os projetos terem feito pós-graduações em construção ecológica e sustentável - além de Mouton, arquiteto do Centro Comunitário de Cambury, ter estudado na África do Sul, país de extrema importância na formação arquitetônica de Moçambique, como já mencionado anteriormente. Mas, considerando a análise feita anteriormente para cada um dos centros comunitários, foi possível elencar cinco vertentes mais relevantes para realizar a comparação, que abrangem tanto aspectos arquitetônicos e construtivos, como a relação e os impactos na comunidade, bem como uma discussão acerca da sustentabilidade de cada um dos projetos. As diferentes abordagens tratadas neste tópico possuem como ponto em comum a relação de cada um dos projetos com os seus respectivos contextos, ambos em zonas isoladas de áreas urbanas, de modo que fica evidente o caráter comunitário que cada uma das edificações assume, bem como o diálogo com o sítio de implantação e a comunidade local.

4.1. PROGRAMA, DISPOSIÇÃO DOS AMBIENTES E OBJETIVOS DO PROJETO Embora os projetos possuam a mesma tipologia funcional — de centro comunitário —, os partidos e as funcionalidades de cada espaço não são efetivamente os mesmos. Em termos de área total, tem-se uma disparidade muito grande entre os projetos: o Centro Comunitário de Manica, com o lote de aproximadamente 100.000 m², admitiria um complexo com quadras poliesportivas, espaços para horta, tanque de peixe, pista de corrida, entre outros; ao passo que o Centro Comunitário de Cambury, em um lote de 175 m², admitiria um complexo que incluiria padaria, lojas e parque infantil. Observa-se, contudo, que, embora o tamanho do terreno do Centro Comunitário de Cambury seja menor que o de Manica, ambos os projetos tinham como um de seus objetivos a criação de uma centralidade na região onde eles se encontram. Também é possível notar que os processos projetuais dos dois centros comunitários foram realizados de maneira divergente no que diz respeito à relação com o entorno e com o anteprojeto proposto para cada um deles. Enquanto no Centro Comunitário de Manica foi-se pensado em um plano que compreendia

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desde a construção de habitações no entorno do complexo até um espaço agrário, com horta, árvores frutíferas e tanque de peixes, na prática, nem todo este plano foi concretizado. No caso do Centro Comunitário de Cambury, o projeto inicial compreendia apenas a construção do centro e do escritório administrativo, mas a construção do complexo foi realizada por etapas, de modo que hoje abriga outros edifícios anexos não previstos inicialmente, a fim de atender as demandas que foram surgindo pelos moradores. Essa diferenciação pode evidenciar as conexões dos projetos com as suas respectivas comunidades. Enquanto em Camburí os moradores tiveram maior participação na discussão projetual e houve a implantação de novas edificações de acordo com as demandas locais, o Centro Comunitário de Manica não possuiu uma articulação tão sólida com os usuários e suas demandas, uma vez que o projeto esteve circunscrito num objetivo maior de construção de diversos centros comunitários no continente africano, que já tinham um formato mais rígido exigido. Dessa forma, embora ambos os projetos dialoguem com os contextos aos quais eles pertencem, é possível verificar uma maior escuta aos moradores tradicionais em Camburí em contraposição ao que ocorre em Manica, já que, neste, a construção esteve relacionada à iniciativa dos patrocinadores. Tendo isso em vista, é possível comparar o papel dos patrocinadores na construção do Centro Comunitário de Manica em contraposição à autogestão do Centro

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Comunitário de Cambury, que será melhor comentada no próximo tópico, e questionar se a ausência da realização do plano inicial para o centro em Manica se deve ao desamparo por parte dos patrocinadores ou pela ausência de uma autogestão independente da comunidade após a finalização da primeira parte da construção do projeto. Em termos de funcionalidade das salas do centro comunitário, os objetivos se divergem — o Centro Comunitário de Cambury admite aulas voltadas para surf e música, enquanto o Centro Comunitário de Manica para aulas de inglês, português e informática —; e os espaços em si (como salas multiusos e aquelas específicas para aulas) foram incluídos no programa de modo estruturante. É válido ressaltar, ainda, que a diferença dos objetivos de cada um dos projetos traduziu-se na forma de representação de cada um deles. Considerando o objetivo do Centro Comunitário de Manica de conscientizar a comunidade em relação às doenças e de criar espaços voltados para jovens socialmente excluídos, é possível observar a disposição do programa e a funcionalidade especificada em cada um dos espaços projetados, tal como a sala de informática, que possui um espaço amplo e maior, se comparada a outras salas, reforçando o propósito de conectar esse público alvo com a tecnologia, e permitindo um maior acesso à informação e menor exclusão social. Ademais, é possível observar claramente a relação com a FIFA e o FFH no programa inicial, visto que grande parte dos espaços são


Imagem 30: Planta do Centro Comunitário FFH de Manica como é hoje.

Imagem 31: Planta do projeto do Centro Comunitário FFH de Manica inicialmente.

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Imagem 32: Planta do Centro Comunitário de Cambury como é hoje.

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Imagem 33: Planta do projeto do Centro Comunitário de Cambury inicialmente.


destinados a atividades relacionadas ao esporte, como as duas quadras multiuso, quadra de futebol, de basquete e pista de atletismo, espaços não elementares em um centro comunitário habitual. Já ao considerar o objetivo do Centro Comunitário de Cambury de promover uma diversificação da geração de renda para a comunidade quilombola e caiçara através da criação de espaços centrais para a comunidade, é possível entender essa motivação na própria representação feita na planta deste projeto, de modo que os únicos espaços identificados são aqueles relacionados à geração de renda, como a loja e a padaria, sendo que os demais não possuem uma funcionalidade definida, apresentando mais flexibilidade no seu uso. Entretanto, apesar dos usos de cada espaço estarem bem definidos no caso de Manica em contrapartida ao de Camburí, foi possível perceber uma semelhança na disposição projetual de cada uma das edificações a partir da relação dos fluxos. Percebe-se que o caminho de ambos é definido a partir da entrada que direciona o visitante a um pátio central comum, conduzindo-o aos ambientes desejados. Essa disposição espacial com a presença deste espaço central pode ser explicada, talvez, pelo anseio por parte dos arquitetos em projetar um ambiente de fácil acesso e uso intuitivo para os usuários através da criação de espaços contínuos e fluidos. Em Camburí, isso se intensifica também pela fluidez visual adquirida pela ausência de paredes e pela garantia da visibilidade no interior do projeto, enquanto em Manica, embora

haja maior materialidade, a disposição do programa é ordenada de modo a garantir o passeio espontâneo por seus ambientes através da circulação principal, da proximidade e do estabelecimento de pontos de observação de todas as salas para o pátio central.

Imagem 34: Planta do Centro Comunitário FFH de Manica com indicação dos fluxos de circulação.

Imagem 35: Planta do Centro Comunitário de Cambury com indicação dos fluxos de circulação.

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4.2. IMPACTO NA COMUNIDADE Fica claro, nos dois projetos, desde o início uma intenção de criar impacto positivo nas comunidades trabalhadas, ambas em zonas não urbanas e, de certa maneira, isoladas ou excluídas economicamente. O que ambos os casos têm em comum em relação a isso são o impacto positivo nas crianças da comunidade, a geração de empregos e de renda e a valorização de técnicas e conhecimentos chamados “vernaculares”. Comentaremos brevemente sobre tais impactos em cada uma dessas áreas da vida. Apesar de parecer algo relativamente trivial, a relação com as crianças é de extrema importância no sentido de criação de expectativa para o futuro da comunidade — por meio das atividades educacionais e de lazer realizadas. Demonstram a preocupação e o incentivo ao desenvolvimento pessoal, tanto cognitivo quanto motor, e comunitário, ao promover interação social. Embora ambos os projetos realizem todos os tipos de atividades, no Centro de Manica, o foco aparenta mais no lazer pelo esporte — tanto devido ao programa com o qual o projeto está relacionado, quanto pelas próprias atividades realizadas pela ONG presente no local, o GDM —, em Camburí, o fato de haver uma escola no mesmo terreno do centro comunitário traz maior atenção às atividades educacionais, ainda que existam ambas as práticas nos dois locais.

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Economicamente, é clara a ação direta da geração de empregos e formação profissional, seja pelas próprias atividades do centro comunitário, com um caráter mais permanente — o que indica maior importância dessa questão especificamente para o desenvolvimento do projeto —, como em Camburí, ou pelo processo de sua construção, com workshops, como ocorreu em Manica. Destaca-se, todavia, que essa ação procura sempre respeitar as formas de produção e de vida das comunidades, e, mais do que isso, valorizá-las a partir do trabalho de técnicos junto aos moradores da região no projeto, ouvindo suas demandas, retomando técnicas construtivas próprias e utilizando materiais locais, aproveitando-se de recursos já disponíveis — o que tangencia na questão da sustentabilidade, discutida no tópico 4.5 — e os conhecimentos existentes dos moradores, sem causar rupturas na cultura construtiva. Há, ainda, outra questão relevante no debate do tema do impacto: a liberdade de gerir o local não só no momento da construção, mas também no dia-a-dia, incentivando o senso de comunidade, estimulando o desenvolvimento de habilidades sociais e pessoais de comunicação e empatia, e tornando a adaptação cotidiana das atividades às necessidades do grupo mais leve e simples. A autogestão forma grupos sócio-espaciais (KAPP, 2018), autônomos, formados e posicionados política e socialmente; e é vista claramente no caso de Camburí, onde a cooperativa local de eco-construção continua atuando,


artesãos criam lojinhas e a comunidade inicia, por iniciativa própria, sua padaria. Como Kapp afirma em seu artigo, são efetivamente pessoas que compartilham o mesmo espaço e que o gestionam elas mesmas, de maneira coletiva. Já em Manica, pouco é mencionado, nas diversas fontes encontradas sobre o projeto, sobre os usos e a apropriação do espaço feita pelos moradores da região após a finalização da obra. Dessa maneira, torna-se difícil analisar o problema, mas imagina-se que, justamente pela falta de menção, as atividades se realizem de forma muito menos coletiva ou apropriada do espaço — o qual nunca foi finalizado, provavelmente tornando difícil o apoderamento, graças a uma possível sensação de decepção, ou de dever não cumprido. Com isso, então, destacase uma ideia muito presente no debate (brasileiro) da autogestão: não basta que ela exista apenas na construção (como foi no Centro Comunitário de Manica, com a produção manual de tijolos), pois, assim, não se trata da promoção da emancipação política, social e econômica, e sim apenas da utilização de uma mão de obra barata. Por fim, com a última observação, coloca-se um adendo de um possível impacto negativo apresentado pelo Centro Comunitário de Manica: o fato de somente uma pequena parte do projeto, mesmo após 8 anos da finalização da construção do edifício central, ter sido efetivamente construído: apenas a edificação do Centro, o local de produção de tijolos e duas das quatro quadras e campos de esporte, deixando de lado toda a grande área do parque, com lagos,

pista de caminhada, horta e quartos para hóspedes e jogadores. A comunidade, tendo feito parte do processo de projeto, como é afirmado pelos arquitetos, com certeza obteve conhecimento de tais intenções e, muitíssimo provavelmente, desenvolveu expectativas sobre o resultado da construção. Sem o cumprimento da promessa, o autoestima da comunidade sofre um abalo, deixando de crer, pouco a pouco — no caso de, por exemplo, ser realizado um outro projeto para a região e, novamente, não chegar até o fim —, na possibilidade e potencialidade de mudança e de aprimoramento de condições de vida.

4.3. CONFORTO TÉRMICO Pode-se observar uma semelhança entre os projetos no que tange ao conforto térmico da edificação, pois ambos possuem a ventilação como um dos pontos mais relevantes no partido projetual. É possível observar que essa preocupação está muito relacionada com a integração do projeto com o seu sítio de implantação. Tanto no Centro Comunitário de Manica quanto no Centro Comunitário de Cambury, a decisão projetual de realizar aberturas na edificação para garantir uma ventilação adequada no interior dos ambientes se deu a partir de espaços de ventilação zenitais a fim de garantir a saída do ar quente ascendente, e permitir um canal de ventilação de ar natural, a partir da entrada de ar frio. Enquanto no Centro Comunitário de Manica o edifício

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possui uma zona central com uma abertura superior, o Centro Comunitário de Cambury possui essas aberturas elevadas na construção, mas algumas edificações do complexo também possuem paredes permeáveis feitas de bambu, a fim de promover maior troca com o ambiente externo. Essa diferenciação se deve, sobretudo, às diferentes regiões nas quais os projetos foram realizados. A cidade de Manica possui caráter de vale, ao passo que Camburí, litorâneo. Com isso, os materiais e a disposição dos ambientes foram escolhidos de modo a proporcionar o melhor conforto térmico. Tanto no Centro Comunitário de Manica, quanto no Centro Comunitário de Cambury, o tijolo foi escolhido como o material que exerce, com a massa térmica, a função de estabilizar a temperatura. Contudo, no Centro Comunitário de Cambury, por haver interesse em aproveitar os fluxos proporcionados pelos ventos litorâneos, houve a tentativa de reduzir a quantidade de paredes construídas além de, nas edificações anexas, estas serem substituídas por divisórias de bambu. Dada a realidade de Manica, o centro comunitário foi projetado com poucas aberturas, evidenciando o papel das paredes no controle da temperatura. Ambos os projetos possuíram desafios construtivos em decorrência do contexto local em que foram inseridos; foram necessários estudos, como o de direção dos ventos, e a adequação dos materiais alternativos para que os requisitos de segurança fossem alcançados.

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Imagem 36: Produção de tijolos feita pelos moradores da região de Manica no Centro Comunitário FFH.

Imagem 37: Parede feita a partir de terra comprida dentro de fôrma pelos moradores de Camburí no Centro Comunitário de Cambury.


4.4. MÉTODO CONSTRUTIVO No que tange às técnicas e aos materiais construtivos, os dois projetos analisados no presente estudo apontam para inovações e pela busca por alternativas, considerando as características locais das regiões onde se encontram. Nas duas comunidades, havia a tradição construtiva local em terra crua (adobe e pau a pique); no entanto, foi perdendose o conhecimento dessa cultura entre as gerações, e muitas vezes a técnica era utilizada de maneira empírica. A construção de ambos os centros comunitários, aparecem, portanto, como uma alternativa e como uma forma de rememorar os hábitos construtivos locais. No caso de Manica, isso aparece, sobretudo, a partir da produção dos tijolos BTC no próprio canteiro de obras, valorizando a tradição local, mas também com a implantação da alternativa artesanal que utiliza a técnica do bambu para os fechamentos. Além disso, um outro fator relevante foi a utilização da própria terra proveniente da escavação na produção dos blocos de terra comprimida, que tornaram-se a estrutura da edificação. Em Camburí, embora haja também a implementação da técnica dos tijolos de taipa, o ponto mais significativo do projeto foi a alternativa utilizada através da estrutura de bambu, de modo que o material permitiu a aquisição de novos conhecimentos por parte dos moradores locais que ajudaram no processo construtivo. É possível verificar, ainda,

que a escolha dos materiais em ambos os projetos dialoga com a disponibilidade de matéria prima local — no caso de Manica, predominantemente a terra, e, no caso de Camburí, predominantemente o bambu —, de modo a valorizar a cultura e os símbolos locais, bem como o caráter ecológico dos mesmos. Vê-se, portanto, que as escolhas dos materiais refletem na forma como os projetos dialogam com a tradição de cada região. Em Manica, tem-se uma valorização direta do preexistente, uma vez que se tinha o anseio de manter a herança da construção em blocos. Já em Camburí, embora a técnica utilizada não faça parte da tradição construtiva local, ela não está desconexa do contexto regional no qual a obra se insere, já que ela faz um uso sustentável do bambu, material em abundância no local. Vale ressaltar que, mesmo que em Camburí tenha sido implementada uma nova forma de construir, isso não foi feito de uma forma impositiva, já que, além de eles terem trabalhado com materiais locais, também o fizeram de forma participativa. E, hoje, pode-se observar uma apropriação desta técnica por parte dos moradores e, como consequência, uma ressignificação da cultural local. Ambos os projetos utilizaram materiais e técnicas fora do convencional e por isso foram questionados da viabilidade dos mesmos. No caso do Centro Comunitário de Manica, essa realidade, aliada ao fato de não terem sido recebidas doações de empresas, fez os patrocinadores resistirem, em um primeiro momento, ao que estava sendo

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feito inicialmente, solicitando certificações de viabilidade; posteriormente, todavia, ganharam confiança no processo e avaliaram positivamente o resultado. No caso de Camburí, talvez por não haver patrocinadores envolvidos, os questionamentos partiram de parte da população em relação ao bambu; contudo, as opiniões contrárias foram revertidas.

4.5. SUSTENTABILIDADE O conceito de sustentabilidade foi criado por Lester Brown em 1980, em que ele define como uma sociedade sustentável aquela capaz de satisfazer suas necessidades sem comprometer as chances de sobrevivência das gerações futuras. Atualmente, esse conceito tem sido utilizado em excesso, acarretando em uma série de inconsistências. Entretanto, fato é que podemos assumir a sustentabilidade como a relação entre a energia gasta e a quantidade de informação gerada: quanto menor for o gasto de energia — seja ela de qualquer natureza — e maior for a capacidade de suprir as demandas exigidas pela sociedade, mais sustentável é a ação que está em curso. Nesse sentido, constata-se que os dois projetos possuem elementos que os destacam no cenário sustentável de arquitetura. Somente a utilização da orientação dos ventos e do sol como articuladores do sistema de conforto da edificação, por exemplo, reduz uma série de gastos energéticos para

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manter um sistema tão importante para a habitabilidade dos espaços. Além disso, a opção por utilizar materiais e técnicas construtivas locais é uma ação compensatória tanto no campo econômico quanto no campo da sustentabilidade, justamente por não exigirem importações de matérias primas e mão de obra especializada. O uso de espécies vegetais, como o bambu, como elementos construtivos, nos dois casos é bastante assertivo, pois permite o replantio da espécie, e o tratamento desses materiais para utilização proposta não demanda grandes processamentos. Outra escolha projetual presente nos dois casos foi o uso de terra crua, que, mais uma vez, é um material que não demanda um processo industrial com alto gasto de energia, visto que aproveita o próprio calor do sol para “curar” as peças construtivas. O treinamento da população para aperfeiçoar a metodologia construtiva também traz benefícios relativos à sustentabilidade, uma vez que diminui o desperdício de materiais e aumenta a produtividade e quantidade de construção gastando menos energia de trabalho e material para construção. Trata-se, logo, da promessa de uma sustentabilidade não só ambiental, mas também econômica e social - as quais são cumpridas.


5. CONCLUSÃO Com o desenvolvimento do presente estudo, o grupo percebeu, ao analisar os projetos sob um olhar contextualista, como a arquitetura tem um papel importante na produção social crítica do espaço, uma vez que, mais do que sua forma, seus métodos construtivos, as relações de trabalho estabelecidas e sua relação com seu entorno, a cidade e as pessoas (moradoras e usuárias do espaço) são definidoras das obras como um todo, tanto no seu interior quanto no seu exterior. É essencial lembrar que a arquitetura é feita para pessoas, e o impacto causado na percepção e na maneira de se conectar pessoal e socialmente é o que destaca tanto no Centro Comunitário de Manica quanto no de Camburí. Já sobre o processo de síntese e contraposição dos projetos, pode-se dizer que, apesar da diminuta quantidade de trabalhos analíticos disponíveis para consulta, através do estudo comparativo e dos materiais iconográficos, foi possível realizar uma análise crítica própria das obras com a finalidade de observar aproximações e dissonâncias — questão de extrema relevância para a formação do arquiteto e urbanista —, bem como identificar as soluções projetuais adotadas em cada um dos projetos, seus impactos na comunidade e os desafios enfrentados. Desse modo, entende-se a relevância de olhar para os enfrentamentos projetuais de contextos que não estão no centro da discussão global, tanto em termos de localização quanto em relação ao interesse mercadológico. Além

disso, hoje, com o aumento crescente da industrialização, há um simultâneo esgotamento dos recursos naturais, tornando ainda mais importante repensar as práticas arquitetônicas e as escolhas de materiais, visando um menor gasto energético e maior aproveitamento de recursos. Com a Internet e a grande disponibilidade de informações, acreditamos que é necessário aproveitar as oportunidades de estudar, entender e se aprofundar na produção existente fora dessas lógicas, que atêm-se aos interesses da comunidade utilizando-se de técnicas tradicionais, ou chamadas vernaculares.

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7. FONTES ICONOGRÁFICAS Imagem 1: Fotografia de Nelson Kon. Fonte: ArchDaily Brasil. Imagem 2: Fotografia de Edgar Lange. Fonte: ArchDaily Brasil. Imagens 3 e 4: Google Earth. Imagem 5: Redesenho feito pelo grupo. Imagem 6: Fotografia de Edgar Lange. Fonte: ArchDaily Brasil. Imagem 7: ArchDaily Brasil.

projeto. Fonte: ArchDaily Brasil. Imagens 30 a 33: Redesenho feito pelo grupo. Imagens 34 e 35: Estudo do grupo em cima da planta do projeto. Fonte: ArchDaily Brasil. Imagem 36: Fotografia de Edgar Lange. Fonte: ArchDaily Brasil. Imagem 37: Site oficial do escritório CRU! Architects.

Imagem 8: Redesenho feito pelo grupo. Imagens 9 e 10: Fotografia de Edgar Lange. Fonte: ArchDaily Brasil. Imagens 11 a 16: Google Earth. Imagens 17 a 19: Redesenho feito pelo grupo. Imagem 20: Estudo do grupo em cima de imagem de satélite. Fonte: Bing. Imagem 21: Fotografia de Nelson Kon. Fonte: ArchDaily Brasil. Imagem 22: Estudo do grupo em cima de desenho de perspectiva do projeto. Fonte: ArchDaily Brasil. Imagens 23 a 26: Redesenho feito pelo grupo. Imagem 27: Fotografia de Nelson Kon. Fonte: ArchDaily Brasil. Imagem 28: Site oficial do escritório CRU! Architects. Imagem 29: Estudo do grupo em cima de desenho de perspectiva do

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ENTREcontextos a arquitetura do local

Arquitetura comunitária em Camburí, Brasil | Manica, Moçambique


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