A R T E LO N D R I N A 5 ORGANIZAÇÃO danillo villa
A R T E LO N D R I N A 5
ORGANIZAÇÃO
DANILLO VILLA
Londrina, 2017
também existo onde não penso... Jacques Lacan
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A786 Arte Londrina 5/Organizador: Danillo Villa; colaboradores: Ricardo Basbaum, Maria Irene Pellegrino de Oliveira Souza...[et al].Londrina:Midiograf, 2017. 255 p. : il. ISBN: 978-85-7846-464-6 Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina.
REITORA
BERENICE QUINZANI JORDÃO VICE REITOR
LUDOVIKO CARNASCIALI DOS SANTOS DIRETORA DA CASA DE CULTURA
CLEUSA ERILENE CACIONE TÉCNICA ADMINISTRATIVA
MARISTELA CESTARI PANZA BARBOSA MEDIADOR
GABRIEL AUGUSTO DE PAULA BONFIM ARQUIVOS, PROJETO GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO E CAPA
KATHARINE NÓBREGA THAYARA COSTA uel.br/cc/dap
SUMÁRIO
O arte Londrina e a partilha do mundo à parte
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Da ni l l o V i l l a
A formação o professor de Arte
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no PARFOR/UEL e as mediações DaP D a n i l l o V i l l a e M a r i a I r e ne Pa l egr i no
Arte Londrina 5 Ri c ar do B a s ba um
40
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O teu corpo é luta exp os içã o I
50
Corpo como máquina de guerra Maria Caro l i n a d e A ra u j o A nto n i o
62
Questões mediativas
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Bianca Turner
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Bruno Trochmann
70
Claudia Nên
72
Daniel Antônio
76
Gabriela De Laurentiis
80
Maíra Vaz Valente
82
Margarida Holler
86
Paulo Aureliano da Mata
90
Rodrigo D’alcântara
94
Suellen Estanislau
98
Syvana Lobo
102
Wagne Carvalho
106
Yasmin Kozak
Pela estrada e fora
108
expos i ç ã o II
Sobre a exposição Pela estrada e fora
110
C a r l a D e l ga do de Souza
Questões mediativas
122
Coletivo Kókir
124
Daniel Jablonski
128
Fernanda Andrade
132
Flora Rebollo
136
Glayson Arcanjo
140
Júlia Milward
144
Júnior Pimenta
148
Luis Larocca
150
Manuela Costalima
154
Mariana Teixeira
158
Noara Quintana
162
Ricardo Alves
166
Sandra Lapage
170
Thiago R
174
178
As coisas se escoram tortas exp os içã o I I I
180
Objetos que se escoram tortos I l an a S el t ze r G o l dste i n
188
Questões mediativas
190
Brisa Noronha
194
Bruna Mayer
198
Bruno Makia
202
Erika Mal zoni
206
Guilherme Callegari
208
Hugo Curti
212
Luana Navarro
214
Mano Penalva
218
Mariana Lachner
222
Marinalva Rosa
224
Paula Scavazzini e Maurício Cardoso
228
Rafael Schultz Myczkowski
230
Rodrigo Arruda
234
Sergio Borghi
236
Talita Hoffmann
238
Currícul os re su m i do s
O A R T E LO N D R I N A E A PA R T I L H A D O M U N D O À PA R T E
Danillo Villa Professor do Departamento de Artes Visuais da Universidade Estadual de Londrina - UEL. Chefe da Divisão de Artes Plásticas - DaP Idealizador e coordenador geral do Arte Londrina
Uma exposição é um ajuntamento de ideias e seus desdobramentos são incontroláveis. Dimensão mais concreta do processo curatorial, uma exposição é também um exercício de compreensão. Para tanto, escutase atentamente o discurso tornado possível via obra, que satisfaz nossa necessidade de projeção e de integração através de um devir que nos reconecta aos mais diversos sentidos do mundo. O Arte Londrina, a cada edição, reestabelece este projeto em uma instituição pública, a Universidade Estadual de Londrina, retirando um pouco do poder privado a determinação da valoração dos bens culturais. Assim procedendo, problematizamos a questão sobre onde a sofisticação nasce ou está alocada e sobre quem tem o direito de determinar suas aparências e modos de existência. Estamos defendendo a pertinência e a pregnância de um tipo de objeto, que em nada tem a ver com posses, mas muito tem a ver com contato, experiência e partilha. No processo curatorial do Arte Londrina 5, em parceria com o artistaetc Ricardo Basbaum, (agradecimentos sinceros e afetuosos) recebemos e analisamos cerca de 200 dossiês das mais diferentes regiões do país. Observamos como as ideias apontavam umas para as outras sem que 1
1- Artista-etc, conceito desenvolvido pelo próprio Ricardo Basbaum em seu livro manual do artistaetc, refere-se ao processo de inventar-se, conciliando múltiplos interesses, desempenhando vários papéis simultâneos: o de artista, crítico, teórico, historiador e até patrocinador.
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houvesse, a priori, um acordo planificador, um recorte predeterminado. Foi interessante perceber as reincidências e atritos capazes de alguma combustão, e a curadoria tentou delineá-la, torná-la possível. Este era o plano: uma combustão sedutora; a partir daí, os diálogos foram estabelecidos entre as obras selecionadas. Como num vórtice de energias, e partindo de ideias percebidas nos trabalhos dos artistas, buscamos um caminho que aproximasse peças de um jogo que nos permitisse olhar e refletir sobre o momento presente, discutir conceitos propostos para compartilhamento nas exposições. A equipe da Divisão de Artes Plásticas (DaP) se ocupa com a recepção e montagem dos trabalhos. Textos e fotos para catálogo também são negociados, entrevistas são feitas. Entramos em contato com os artistas, nos entusiasmamos com a vinda de alguns deles para a cidade, nos esforçamos para suprir suas necessidades no espaço expositivo. Assim se estabelece uma relação de cordialidade, de tratativas de possíveis pendências e, como gostamos de receber visitas, a “casa” se prepara. Na efetividade desta aproximação, passamos a entender, um pouco mais e melhor, aspectos dos projetos artísticos de cada participante. Um pouco sobre o mundo no qual ele se lança, que tipo de demanda cotidiana enfrenta e que tipo de intenção e estratégia de construção, ou olhar rigoroso, desenvolve para recortar aquilo que é particular ao seu trabalho, sob a premissa de que o artista goza da liberdade de afirmação das suas afetações e intenções. Pode parecer que sim, mas não nos interessa simplesmente conectar a obra de arte com a vida do artista, esta questão não é tão simples. 18
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Interessa-nos o que a obra propõe de reflexão e as novas possibilidades para a percepção expandida do cotidiano de qualquer um, promovendo novas afetações. Elaboramos perguntas, a partir da reflexão sugerida pelos trabalhos, que nos orientam nas mediações. Há uma checagem de alcance dos conceitos, um teste a respeito do que os visitantes sabem sobre um determinado assunto, como se abrem para serem afetados. Em tempos de tanta incompreensão sobre o universo artístico, é de vital importância a atenção às reflexões e experiências propostas pelos trabalhos, pelos quais os artistas estão dispostos a lutar no sentido de salvaguardar a liberdade de entrarmos em contato com as mais diversas opiniões sobre o que quer que seja. Estamos sob o risco constante de negar esta liberdade e nos tornarmos subservientes a algum modelo restritivo, imposto arbitrariamente. Essa desobediência, inerente à obra de arte, os estranhos meios pelos quais os artistas nos oferecem alguma perspectiva, se constituem como as melhores incertezas. É provável haver um ingênuo otimismo neste ponto de vista, mas se as ideias podem ser colocadas em dúvida, se podemos, continuamente, repensar a partilha do estético, e ainda, se o trabalho artístico pode ser constituído com o que há de mais prosaico em termos materiais, e ainda assim promover reflexões e revisões, então, a arte me parece ser uma chance de redenção. Como uma espécie de rio multidimensional, os sentidos surgem e correm para onde haja alguma força gravitacional de atração, algum interesse ou afetação que solicite ou ative seu funcionamento. O tempo não para, a arte o acompanha. No Arte Londrina, as referências sugeridas pelos artistas, mencionadas nas entrevistas que aparecem no site da DaP (uel.br/cc/dap), são exemplo disso. 19
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Os conceitos que percorremos, nos aproximando de um trabalho, redefinem os limites para as nossas experiências. Do micro ao macro, do particular ao coletivo, da cor ao ser, com todos os retornos e desvios necessários para checagens de toda ordem e redefinições de percursos, os objetos de arte são constituintes de sentido, e, ao nos colocarmos diante deles a exigir respostas, somos indagados por eles em nossas certezas, sobre nossas limitações, sobre nossas experiências anteriores, nossas referências, se nadaremos contra ou a favor da corrente. Afinal, o contato com obras de arte não é, necessariamente, um acordo pacífico. Na elaboração coletiva de uma reflexão, a Divisão de Artes Plásticas se pensa, também, com uma extensão da escola, está aberta para a comunidade, quer interferir na elaboração de conceitos, quer constituir junto, questionando as aproximações entre arte e vida. São muitos os envolvidos no desenvolvimento do Arte Londrina, e, neste sentido, é necessário agradecer aos artistas que enviaram seus trabalhos. Ao Ricardo Basbaum que, generosamente, enfrentou a análise dos dossiês comigo e partilhou seus conhecimentos em fala dirigida aos alunos e professores do Departamento de Artes Visuais da Uel. O Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica, PARFOR-UEL, na pessoa da Profa. Dra. Maria Irene Pellegrino de Oliveira Souza, grande apoiador e responsável pela publicação deste catálogo. A equipe da Divisão de Artes Plásticas da Casa de Cultura da Universidade Estadual de Londrina, que trabalha apaixonadamente na partilha dos conteúdos nas mediações. A diretora da Casa de Cultura da UEL, Profa. Dra. Cleusa Cacione, que à cada edição junta-se ao projeto e compromete-se na sua viabilização. Também foram convidadas as pesquisadoras Carla Delgado de Souza, 20
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Ilana Seltzer Goldstein e Maria Carolina de Araujo Antonio, que colaboram, com suas ideias, para estender ainda mais as possibilidades de alcance do Arte Londrina. Nesta edição, ligamos para os artistas e realizamos uma entrevista rápida; pois, ao entrarmos em contato com um deles, em uma das edições anteriores, ficamos sabendo que trabalhava em uma região portuária e que só poderia falar conosco em momentos muito determinados de sua rotina. Isso nos faz pensar em quanto alguns são determinados em se manter produtivos como artistas, na inevitabilidade com que percebem e encaram os investimentos pessoais necessários para seus projetos. Interessa ao Arte Londrina, cada vez mais, os contextos nos quais as obras são constituídas antes de chegarem ao espaço expositivo. Fizemos, então, um levantamento mínimo de alguns modos de viver dos artistas e entendemos um pouco mais sobre os diferentes contextos onde os trabalhos aparecem e que tipo de enfrentamento está relacionado ao fazer artístico. Obtivemos algumas informações sobre como os artistas se relacionam com questões impostas pelos seus trabalhos, se possuem ou não ateliês, se há uma cena artística em sua cidade, se em algum momento tiveram que defender seu trabalho e se vivem dele. Ao ler as entrelinhas das entrevistas e perceber as dificuldades que os artistas enfrentam, movemos energias em favor da manutenção dos espaços institucionais e públicos destinados a eventos de arte. Diferentemente do que poderia parecer condescendência, há a percepção de que alguns trabalhos selecionados se constituem em condições adversas, há neles uma inevitabilidade derivada de uma força creditada aos artistas. As entrevistas foram feitas por telefone e os relatos estão aqui 21
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transcritos sem identificação de seus autores ou ordenação lógica ou hierárquica; assim, acentuamos diferenças, nuances que esclarecem a variedade de modos de viver e ver a arte: ... acho que o trabalho fica vulnerável sem o olhar do outro. Quando se trata de trabalhos mais conceituais, quando abro o processo criativo para o outro, é preciso defendê-lo e eu me fortaleço com isso... ... trabalho em casa, meu ateliê já foi um cômodo, já foi uma mesa e atualmente está todo na minha mochila... ... existe um museu de arte na cidade, porém seu funcionamento é burocrático e estranho... ... sou representado por uma galeria... ... passei uns perrengues, principalmente com a produção, é difícil comprar materiais, pagar transporte e essas coisas... ... transformei um cômodo da casa em ateliê e moro com duas cachorrinhas vira-latas, tenho muito amor por elas... ... não há muitos editais na cidade, a maioria deles surgiu nos últimos dois anos, não são tão tradicionais... ... apesar de já ter sido representada por uma galeria, no momento trabalho sozinha...
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... trabalhando como servidora pública, tenho pouco tempo para me dedicar à arte... ... meu salário vem do emprego e queria ter mais tempo para me dedicar à produção, mas sou agradecida, já que o salário me garante condições para produzir... ... observo o acaso e a rua... ... já expus meus trabalhos com peças íntimas em SP, e esperava um retorno sobre a provocação que podem ter causado, o que não aconteceu... ... meu ateliê fica na minha casa, monto os espaços de forma itinerante, entre o quarto e a sala... ... o cenário de arte na cidade é mais alternativo, contemporâneo, mas a demanda artística na cidade é baixa, se comparada a outras capitais... ... faço doutorado e minha produção gira em torno disso... ... investigo gênero. Violência e gênero. Denúncia e ativismo. Estou formando um grupo de artistas mulheres para pesquisar questões de gênero no ambiente artístico... ... os apagamentos [presentes nos trabalhos] são referências diretas aos apagamentos que as pessoas com necessidades especiais sofrem. O público participa do apagamento. 23
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... gosto de ouvir Billie Holiday e Nina Simone... ... divido ateliê com outros 6 artistas... ... minha produção acontece geralmente à noite e nos finais de semana, momentos favoritos para realizar meu trabalho como artista... ... eu vou gaguejar... ... o espaço do ateliê é muito importante para oxigenar minha produção. As trocas e conversas com os outros artistas, cada qual com sua produção, são frequentes no ateliê, que é todo aberto... ... recebemos curadores e pesquisadores a fim de trocar ideias... ... meu trabalho se compõe a partir de gambiarras, entendo que tudo está sujeito ao fracasso, dar errado faz parte do processo... ... a cena artística é forte, com muitos artistas se destacando no cenário nacional, a pintura é muito forte... ... meu ateliê fica longe de casa, numa região repleta de pessoas das artes... ... minha produção se define nas observações que faço em minhas caminhadas... ... minha principal dificuldade como artista é lidar também com o papel 24
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de gestor, não consigo lidar com os editais e as obrigações decorrentes, como tirar fotos boas, escrever textos bons e todas essas coisas... ... a arte é minha única fonte de renda, vivo dos prêmios e das vendas... ... não é lixo, é arte... ... por causa do meu filho pequeno, ando sem tempo e sem espaço... ... sempre monto e desmonto tudo e o trabalho pode ser feito em qualquer lugar... ... a cidade sofre por ser muito perto da capital, São Paulo suga muita coisa... ... minha principal fonte de renda eram as aulas como professor do Estado, pedi exoneração do cargo porque isso não era para mim. Ganho dinheiro atualmente com meus projetos musicais e com “bicos” de professor de arte... ... amo viajar e já passei por todos os estados do Brasil, considero essas viagens fundamentais para minha pesquisa, ando entendendo os objetos, suas diferentes formas e usos em localidades diferentes... ... acho caros os materiais artísticos, e apesar de trabalhar com materiais recicláveis e descartáveis, minha produção também demanda materiais de alto custo. Mesmo assim, enxergo esses problemas como motivadores...
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... quando me formei, meio que abandonei as artes visuais e fui fazer um som, liguei isso às artes visuais e comecei a trabalhar com performances sonoras... ... há muita dificuldade para conseguir espaços expositivos. ... nasci na Bahia, morei no Rio e agora moro em São Paulo... ... penso que há uma falta de compreensão sobre meus trabalhos... ... é a primeira vez que este trabalho vai ser exposto... ... meu projeto tem peculiaridades e não se encaixa muito bem nos editais, jamais faria um trabalho para encaixar em algum edital específico... ... dedico meu tempo, 100%, à minha produção, e priorizo me inscrever em editais com prêmios; só me inscrevi no Arte Londrina depois de ouvir falar muito bem do edital e do catálogo produzido pela Divisão... ... participei de um ateliê coletivo por um semestre, foi muito importante para a minha produção, me colocou no circuito e me fez conhecer outros artistas... ... minha única fonte de sustento é a bolsa do mestrado, moro em um lugar pequeno atualmente e não possuo um espaço específico de ateliê em casa, trabalho onde dá... ... a graduação me deu clareza sobre as coisas... 26
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... não cheguei a fazer parte de nenhuma galeria, não possuo os contatos... ... o circuito está florindo, sendo oxigenado pelas novas referências... ... penso que na graduação os embates são velados, os professores, às vezes, não criticam para parecerem legais. ... não possuo ateliê, produzo em casa mesmo, improviso espaços no quarto e na sala, depende do que quero fazer e da disponibilidade da família com o local... ... a cena artística na minha cidade está difícil, a nova administração municipal, o novo prefeito, cortou verbas para a cultura na cidade... ... estou muito nervosa, esta exposição vai ser minha primeira... ... estou cursando licenciatura em Artes Visuais, tenho vontade de linkar meus trabalhos com a educação... ... durante a graduação e até agora, no mestrado, sinto um certo preconceito, por não ter tantos títulos quanto outros artistas e também por ser gay... ... o circuito em minha cidade é menor, ultimamente várias galerias estão aparecendo... ... não penso em ganhar dinheiro com arte, pelo menos não agora, minha produção é muito íntima... 27
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AS EXPOSIÇÕES O TEU CORPO É LUTA - Os artistas presentes indagam o corpo para constituir uma cartografia. Porque há nele inscrições invisíveis com as quais se pode mapear uma vida. Há também paisagens inscritas no corpo. Há história. Há no mesmo corpo experiências de diferentes naturezas, em acordo ou desacordo. O corpo sofre e faz sofrer. O corpo se refaz e constitui um sujeito, também, quando se parte. Há paralelos entre esta exposição e a exposições SOMOS TODOS AMOSTRAS DO QUE HÁ POR AQUI (Arte Londrina 3), curadoria compartilhada com Beatriz Lemos; e ALGUNS DESVIOS DO CORPO (Arte Londrina 4), curadoria compartilhada com Cauê Alves. Nas exposições citadas, assim como nesta, o corpo retorna em sua dimensão política. Bianca Turner, Bruno Trochmann, Claudia Nên, Daniel Antônio, Gabriela de Laurentiis, Maíra Vaz Valente, Margarida Roller, Paulo Aureliano da Mata, Rodrigo D’Alcântara, Suellen Estanislau, Sylvana Lobo, Yasmin Kozak, Wagne Carvalho.
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PELA ESTRADA E FORA - Caminhos são criados para entender distâncias. Do conhecido ao desconhecido; pelos caminhos, o caminhante deixa vestígios e carrega outros. A destruição de algo pode ser o caminho para o novo. Permite-se, assim, que outros conheçam os caminhos percorridos e reconstituam a história de quem esteve ali, constituindo as suas próprias. Os caminhos podem ser rotas simples, para facilitar o retorno, por exemplo; ou podem ser rotas complexas, atravessando terrenos difíceis. Os caminhos podem ser abstratos, imateriais, se constituindo através de sons, sinais que permitam acessar alguém, podem ser espaços idealizados a indicar distâncias e riscos. Coletivo Kókir, Daniel Jablonski, Fernanda Andrade, Flora Rebollo, Glayson Arcanjo, Júlia Milward, Júnior Pimenta, Luis Larocca, Manuela Costalima, Mariana Teixeira, Noara Quintana, Ricardo Alves, Sandra Lapage, Thiago R.
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AS COISAS SE ESCORAM TORTAS - Os artistas parecem querer arrastar uma certa quantidade de material, tinta ou objetos que se acumulam e, através deste ajuntamento, desenvolvem um corpo/objeto. Há uma violação no estado inicial do material para que ele se transforme em outro corpo, mais adequado ao que se quer apontar, e menos idealizado. A pintura e o desenho são citados através de estratégias, como coletas e colagens, e tem como propósito expandir as linguagens, que são de tal maneira ampliadas que parecem escapar de um procedimento reconhecível. Na justaposição de elementos, as formas constituem-se pelo desvio, pelo viés, e tencionam a leitura que poderemos fazer, considerando o contexto de origem, com suas precariedades, como indicativos de uma utilidade anterior, muito longe do lugar onde o trabalho é exposto. A eficiência dos deslocamentos e hibridismos, e a fragilidade das escoras, das colas e das misturas, propõem uma referência furtiva a seres em relacionamento. Brisa Noronha, Bruna Mayer, Bruno Makia, Erika Malzoni, Guilherme Callegari, Hugo Curti, Luana Navarro, Mano Penalva, Mariana Lachner, Marinalva Rosa, Paula Scavazzini, Rafael Schultz Myczkowski, Rodrigo Arruda, Sergio Borghi, Talita Hoffmann. Depois tudo feito, o respeito.
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A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE ARTE N O PA R F O R / U E L E AS MEDIAÇÕES DAP
aos mestres com carinho... Danillo Gimenes Villa Idealizador e coordenador geral do Arte Londrina Maria Irene Pellegrino de Oliveira Souza Professora Associada do Departamento de Arte Visual, Coordenadora do Polo Arte na Escola e Coordenadora Geral do PARFOR na Universidade Estadual de Londrina. A docente tem atuado na área de formação de professores procurando disseminar o que pesquisa e produz junto ao Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – PARFOR
Diante da experiência artística, diante de uma obra de arte que nos surpreende, que nos inquieta, somos forçados a rever nossos conceitos e, muitas vezes, a modificá-los. Não existe cartilha para explicar a arte. Nossa reação diante dela é sempre uma reação pessoal. Tudo que podemos sentir diante de uma obra é fruto de nossas leituras, experiências, discussões. Não existe uma fórmula ideal para avaliar cada obra. Juca Ferreira1
A Divisão de Artes Plásticas (DaP) da Casa de Cultura (CC) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) tem sempre a preocupação em tornar cada vez mais próxima a relação professor/obra/artista/ escola. Assim, ao elaborar seus catálogos encara as obras de arte como cartografias disponíveis sobre territórios a serem descobertos. Pode-se afirmar que tais catálogos fomentam uma tomada de 1-O então Ministro de Estado da Cultura para o material educativo da 32ª Bienal de São Paulo – Incerteza viva.
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posse que significa auxiliar a qualificação do professor para uma horizontalidade do processo de construção do conhecimento. A segurança dos sujeitos envolvidos virá da efetiva alternância dos protagonismos e do desenvolvimento criativo das abordagens. As interações mediativas que ocorrem no espaço da DaP e os catálogos Arte Londrina constituem um recurso didático efetivo, pois o professor pode refletir sobre as exposições compartilhando-as com seus alunos. Na aproximação das obras de arte, desejada pelos curadores, espera-se que alguma afetação ou afetividade sejam desenvolvidas ou fomentadas, pela obra mesmo ou pela experiência sugerida nas estruturas tornadas acessíveis na relação estabelecida com elas, nas discussões sobre sua pertinência. As discordâncias, neste sentido, são tão importantes quanto as paixões, uma vez que são igualmente manifestações de uma conexão. A disponibilização dos e-mails ativos dos artistas no catálogo sugere uma outra possibilidade de interação com eles, que em sua maioria tem perfis em mídias sociais e por esta via estão disponíveis para abordagens que qualifiquem as aulas dos professores estudantes nas redes públicas de ensino. Colaborar para a criação e o entendimento das estratégias de aproximação de uma obra de arte e o desdobramento de seus sentidos é um dos propósitos do trabalho realizado na DaP/CC/UEL e em parceria estreita com o Departamento de Arte Visual da UEL, onde há o curso de 2ª Licenciatura em Artes Visuais do PARFOR. Ao induzir e fomentar a oferta de educação superior, gratuita e de qualidade, para professores em exercício na rede pública de educação básica, para que estes profissionais possam obter a formação exigida pela 34
DANILLO VILLA E MARIA IRENE SOUZA
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB o PARFOR contribui para a melhoria da qualidade da educação básica no País2. Falar em formação permanente de professores significa pensar na possibilidade de reformulação de conceitos, de mudanças de paradigmas e, consequentemente, de ação docente reformulada. Quando a formação permanente se transforma em Política Pública as ações de formação vão além da sua certificação oficial, pois incluem os outros profissionais da educação básica. Assim, diretores, orientadores educacionais, supervisores pedagógicos e administradores escolares também passam por um processo de ressignificação da educação à medida que os professores em formação contínua reformulam suas práticas. Um dos objetivos dessa formação é colocar o professor em contato com as discussões atuais sobre as teorias educacionais mais recentes visando a melhoria das ações pedagógicas na escola, pensar a práxis e dialogar com seus pares. Principalmente porque o conhecimento se organiza no cotidiano docente, mas sem diálogo a reflexão fica prejudicada. Ao estabelecer uma parceria com a produção de um material como o do catálogo do Arte Londrina, o PARFOR/UEL pretende impactar positivamente os professores estudantes, quando passam a ter acesso às disciplinas e aos conteúdos da área específica de Artes, sanando equívocos relativos à ausência de formação na área, em especial no início dos cursos. A reflexão tornada possível no contato com materiais como o catálogo leva a reformulação de conceitos. E neste sentido, espera-se que uma 2- Decreto nº 6.755, de 29 de janeiro de 2009, que institui a Política Nacional de Formação dos Profissionais do Magistério da Educação Básica.
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ARTE LONDRINA 5
atualização entre em curso, bem como uma ação mais proativa em relação a conteúdos desconhecidos. Isto se torna especialmente relevante porque os professores estudantes procuram soluções para os problemas da sala de aula e os professores formadores necessitam refletir para aprimorar a ação docente. Qualquer material que tenha fins didáticos opera na valorização dos professores, o que na sociedade contemporânea, cada vez mais se torna necessário um trabalho de mediação nos processos constitutivos da cidadania dos alunos. Cada vez mais se exige uma escola comprometida com as transformações; uma educação que desenvolva uma linguagem múltipla, capaz de abarcar a diversidade e compreender os desafios que fazem parte do universo da formação profissional do professor. O PARFOR/UEL tem sido responsável por trocas significativas entre os Professores Estudantes e alunos da graduação, compartilhando saberes e práticas de modo solidário. As iniciativas dos estudantes em formar grupos de estudos, oficinas de vivências metodológicas, bem como solicitar cursos de extensão, que são prontamente atendidos pela Coordenação do Programa, indicam que o PARFOR é uma política que de fato coloca em evidência para a IES diversos aspectos da Escola Básica Pública, de tal modo que a reflexão é inevitável. Numa primeira fase, cria-se a necessidade de apreender a abrangência e as implicações específicas da presença do «artista-professor» no ensino e, consequentemente, compreender o seu lugar no ensino secundário atual. Assim, a pergunta tem necessariamente um componente pragmático que procura situar-nos face às diferentes possibilidades do ser professor(a) de Artes Visuais. Na sequência de uma primeira tomada de consciência da 36
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problemática em estudo e respectiva análise da literatura, estruturou-se a questão principal de partida da seguinte forma: qual o lugar do artistaprofessor no Ensino de Artes Visuais na Educação Básica. É inquestionável o papel e a importância do contato com obras de arte para professores em formação. As facilidades de acesso virtual aos mais diversos conteúdos permitem investigações valorosas tanto de imagens quanto de textos. Um livro ou um catálogo impresso, entretanto, neste contexto, se configuram como poderosas estratégias de articulação de tempo, um tanto mais lento, e assim promovem uma reflexão de espessura singular na formação de qualquer profissional. Em se tratando da formação de professores de arte, auxiliam com a facilidade de retorno aos conteúdos e na sua checagem. Como um bicho de Lygia Clark, um livro se presta a uma série de manipulações que comprometem o sujeito que o manipula, que interage com seus conteúdos. Auxilia também o desenvolvimento da autonomia da percepção daqueles que fazem uso dele criticamente. Temos observado grande impacto nos professores estudantes quando cursam as disciplinas voltadas para as linguagens da arte que pressupõem uma poética, principalmente, porque os equívocos relativos à ausência de formação na área se fazem notar. Além disso, o fato de trabalharem em laboratórios específicos e receberem orientação individual dos docentes, uma vez que estas pressupõem um fazer criativo, leva ao desenvolvimento de habilidades que não acontece sem reflexão e reformulação de conceitos. Isso sem contar com as mediações nas exposições da DaP, que é algo pouco comum na vida desses professores estudantes, seja pela distância física de seus municípios de origem, seja pela própria falta de 37
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informações a esse respeito. Inúmeras vezes ouvimos depoimentos como este:
[...] Um dia, lá pelo meio do ano, ligaram dizendo que tinham aula a me oferecer. Fiquei tão feliz! O número de aulas era mais ou menos o seguinte: 10 aulas de língua portuguesa, 10 aulas de artes e 10 de língua inglesa. Opa! Eu estudei Letras Português-Inglês, mas e a arte? [...] Olharam-me com tranquilidade e disseram “fica calma é a mesma coisa de quando você estudou”[...] E lá fui eu para sala de aula, sabe fazer o que? Arte! Era uma arte o que estava fazendo com os alunos. Pensava eu, se largar as aulas de artes (porque achava que estava sem conteúdo) o professor de educação física ia ficar com elas, ou o de biologia, matemática, ou de qualquer outra disciplina, então, ficaram comigo mesmo. E durante cinco anos lecionando foi a mesma coisa, sempre me sobravam aulas de arte. [...] Já estava na hora de procurar estudar mais [...]. Há muitos professores despreparados lecionando arte nas escolas e junto com eles estava eu. Quando comecei a participar das primeiras aulas sobre Arte vi que tinha prejudicado muito a educação dos meus alunos e que não podia mais voltar atrás, mas sei que daqui pra frente posso fazer toda a diferença. [...] O curso está me fazendo ver a arte como nem eu mesma via e entendia. Estou no início e muitos dos meus paradigmas já estão sendo quebrados (I. M. M., 2010).
Depoimentos como este nos dão a certeza de que produzir um catálogo é o mesmo que criar um segundo recurso expositivo, depois da exposição propriamente dita, que permitirá ao professor retornar tantas vezes quantas forem necessárias para o alcance dos conteúdos que o estruturam. O estímulo que é a visitação de uma exposição para a formação de um profissional do magistério na área de arte é inegável, como também é 38
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inegável a dificuldade de acesso a este tipo de experiência, de distâncias físicas à falta de hábito, de timidez ao estranhamento que as obras de arte podem causar, vários são os obstáculos a serem vencidos para que efetivamente se estabeleça uma relação de familiaridade com os diversos aspectos que envolvem estar em contato e se deixar ser afetado por uma obra de arte. Na contramão das dificuldades, instituições como Museus e eventos como as Bienais de São Paulo, investem maciçamente seus conhecimentos e energia no sentido de estruturar meios de compartilhar o que alguns entendem como conteúdos herméticos, de difícil acesso. Posto que a importância da participação de todos na elaboração da cultura é fato, a consciência deste processo pode não ser. Muitos se sentem excluídos ou não entendem que a posse destes conteúdos não está restrita às instituições ou aos iniciados, tendo em vista a necessidade de interação permanente que justifica sua existência, sendo mesmo sua razão de ser. Interação e articulação das obras a partir de afetações próprias, aproximando-se de outras informações disponíveis, promovem um redimensionamento das distâncias entre arte e vida. Retiram as obras de sua aparente paralisia nas paredes ou nos espaços expositivos e promovem sua atualização tanto quando a do sujeito que entre em seu território de possibilidades. Sabendo que a maioria dos professores são privados do contato com obras de arte, de uma maneira geral, criamos um material que permite interações continuadamente, esperando que relações de afeto possam se estabelecer e qualificar a ação dos professores em formação. Os artistas que integram as exposições e os catálogos são de variados 39
ARTE LONDRINA 5
lugares do país, fazem uso das mais diferentes linguagens e neste sentido, oferecem um considerável número de procedimentos de abordagem de diferentes assuntos e conceitos. As dúvidas que porventura acometam os leitores, além de geradoras de discussões e pesquisas, podem ser compartilhadas com os artistas, facilmente conectáveis através de suas redes sociais, já que quase 100% deles estão em atividade. Às vezes, para renovar o nosso olhar sobre o mundo é necessário tomar emprestado os olhos dos outros. Colocar-se no lugar de outra pessoa pode ser um exercício de autoconhecimento3. No material educativo da 31ª Bienal Internacional de São Paulo há uma ficha que traz o trabalho de Ricardo Basbaum com a seguinte pergunta: gostaria de participar de uma experiência artística? ” A pergunta que funciona como título do trabalho do artista define o tipo de relação que se espera dos sujeitos envolvidos com arte. Fluxos ininterruptos que promovam a interação e o uso dos conceitos e objetos disponíveis e em jogo. Considerando a sala de aula neste contexto, o papel do professor, como um mediador, está em ativar as potências das obras ao mesmo tempo que ativa as potências que possam gerar afetações em seus alunos. Assim como o material educativo das Bienais de São Paulo funciona como estopim de reações a uma dada indagação, o catálogo do Arte Londrina é elaborado a partir de intenções semelhantes. Neste sentido, o PARFOR/UEL dá um passo além de complexidade conceitual na formação dos alunos de Artes Visuais, compartilhando um conteúdo de importância singular a respeito de arte contemporânea e com desdobramentos no 3- Trecho retirado de umas das fichas do material educativo “Caixa de Ferramentas”, da 31ª Bienal Internacional de São Paulo.
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DANILLO VILLA E MARIA IRENE SOUZA
tempo que irão refletir em um futuro de relações menos hierarquizadas entre as pessoas e a produção cultural do nosso tempo. A possibilidade de produzir catálogos que deem acesso à produção artística contemporânea é muito significativa, pois não é possível mudar a escola radicalmente da noite para o dia, é preciso um tempo de maturação e apesar de ser necessária uma mudança de concepção – que escola se quer e se precisa. Pelas lentes de Gadotti (1995) podemos dizer que tal mudança se dá na luta cotidiana, nas pequenas ações e, neste caso, pela superação da desinformação, do pré-conceito em relação à produção de Arte hoje. Só assim conseguiremos fazer com que os alunos da educação básica falem de Arte como falam os jogos visuais. Todos sabemos que o trabalho do professor se constrói dia-a-dia e nesse processo a reflexão é inevitável, ou melhor, é componente obrigatório, porque os professores cumprem não só a função de contribuir na mudança de seus alunos, como também na própria mudança; é um constante mudar e ser mudado, ser analisado e analisar. Pode-se dizer que esse compromisso do professor produz um pensar sobre a própria percepção e, desse modo, ele traça novos caminhos potencializando sua ação cotidiana na escola. GADOTTI, M. Escola cidadã. 4 ed. São Pulo: Cortez, 1995
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A R T E LO N D R I N A 5
Ricardo Basbaum (São Paulo, 1961) vive e trabalha no Rio de Janeiro. É artista, pesquisador, professor e crítico. Professor do Departamento de Arte da Universidade Federal Fluminense.
O conjunto de mostras anuais do Arte Londrina é um dos eventos que tem se afirmado, no calendário do circuito de arte do país, como lugar de exposição de propostas de artistas que iniciam ou ampliam suas trajetórias. O trabalho de Danillo Villa (artista, professor, curador), responsável por sua implantação e desenvolvimento, tem se desdobrado de modo contínuo e consistente – e é significativo ser este um programa efetivado com apoio da Universidade Estadual de Londrina, apontando assim para a direção da experimentação, investigação e pesquisa, sendo conduzido com algum distanciamento das operações e pressões imediatas do eixo galerias-museus e da dinâmica hegemônica do mercado de arte. Sem dúvida, este seria um caminho a ser aprofundado e explorado em edições futuras, no sentido de uma possível articulação com outras universidades e a construção de proximidade de uma dimensão experimental e investigativa. Mas é interessante perceber, quando se consulta a lista de nomes que integrarão as exposições de 2017, a presença de artistas de diversas regiões do país, alguns já com experiência e trânsito crescentes pelo circuito institucional e expositivo. Assim, fica confirmada a importância de ações como esta, que fomentam outras linhas de deslocamento para obras e artistas e implantam traços diversos no desenho do circuito de arte, permitindo trânsitos e inter-cruzamentos de outra ordem, trazendo para Londrina alguns traços do que está sendo feito, discutido e pensado em diferentes regiões do país. 43
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Para além da pressão econômica da renovação permanente imposta pelos mercados – onde o apetite pelo ‘novo’ é cuidadosamente regulado pelas técnicas publicitárias e comunicativas da novidade jovem, em planos de renovação estrategicamente articulados, iniciativas como o Arte Londrina trazem para o tabuleiro outra faceta, aquela dos trânsitos internos dos processos culturais em que se estabelece uma sociabilidade aberta às expectativas de alguma invenção coletiva, através do pensamento que se constitui nas vontades de indivíduos e grupos demarcarem diferença, arriscarem lances. É curioso como, até não muito tempo atrás, jovens artistas recémformados ou em processo de aquisição de suas ferramentas de linguagem acediam aos caminhos das práticas contemporâneas após alguma iniciação nas chamadas linguagens tradicionais da pintura, do desenho, escultura ou gravura. Isto é, a possibilidade de experimentação multimídia (performance, instalação, vídeo, som, apropriação, etc) era ofertada enquanto necessariamente articulada ao percurso modernista de “romper com a tradição” – só se construía uma legítima discursividade poética a partir do corte operado nas narrativas históricas, que justificavam o experimentalismo enquanto ferramenta de superação e expansão dos meios tradicionais; estes, entretanto, de certo modo ali retoricamente mantidos em um “dialogismo de inversão”, historicamente justificado. Pouco a pouco, em direção ao final do século XX, sob o impacto da condição conceitual da arte contemporânea1 – em que se elabora com mais complexidade a operação na qual a intervenção proposta se pensa 1-Para Peter Osborn, trata-se de uma “condição pós-conceitual”, a qual é ainda tomada como “transmídia”. Cf. Peter Osborne, Anywhere or not at all: philosophy of contemporary art, Verso, Londres e Nova York, 2013, p.44 (versão digital).
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RICARDO BASBAUM
enquanto obra, nos limites de fuga e determinação de um campo, muitas vezes alternativo – as práticas artísticas jovens passam a se formar diretamente a partir dos novos meios e linguagens híbridas, indicando uma iniciação já no limiar da multimídia, sem expressar qualquer dívida com as ferramentas das linguagens ditas tradicionais: começar o desenvolvimento de suas poéticas a partir do vídeo ou da performance, por exemplo, passa a ser uma condição corrente, implicando em uma outra relação técnica e epistemológica dos meios entre si e outro compromisso com a discursividade histórica e referências contextuais. Diga-se, de modo direto, “para o bem ou para o mal”, isto é, sob o risco e o desafio de construir consistência em um terreno teórico ao mesmo tempo insidiosamente naturalizado (no impacto do automatismo do regime hegemônico da economia da cultura), mas também em problematização contínua, na medida da ousadia em que se assumem as experimentações poéticas. Nesse sentido, é interessante perceber, no escopo dos artistas reunidos nas três mostras do Arte Londrina 5, o apelo plural das diversas linguagens ativadas e assumidas pelos artistas, no qual a genealogia dos meios adotados não se faz em geral a partir de qualquer responsabilidade histórica linear, mas atende às urgências expressivas de sobrevivência e de invenção, propondo configurações variadas de mobilização de imagem, objeto, superfície, sonoridade, arquitetura, discurso, corpo, etc – penso ser interessante que se observe, a partir das propostas de cada artista, como se resolve a questão de proposição dos meios e quais soluções de mistura e reorganização das ferramentas expressivas foram adotadas. Os meios técnicos à disposição de qualquer um, hoje, 45
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tornaram-se significativamente mais baratos que há décadas, ao mesmo tempo que se miniaturizam e incrementam suas capacidades de resolução e processamento. Na era da prática pós-estúdio, a posse de computador pessoal e telefone inteligente, conectados em rede, garantem suficientes recursos para que se produza trabalho avançado, com mobilidade. Os artistas participantes desta edição do Arte Londrina foram reunidos em três exposições, a partir de eixos temáticos-conceituais próprios, que a seu modo dialogam com os problemas que rapidamente delineamos aqui. Trata-se de um desenho curatorial de linhas amplas e abertas, mas que demarca eixos-chave (gerais, é claro) através dos quais pulsa a poética e mobilização dos artistas, em seus esforços e posicionamentos frente ao circuito de arte e à sociedade. De certo modo, os núcleos temáticos são intercambiáveis, atravessando as poéticas de todos os artistas – ou seja, as exposições não isolam os trabalhos e poéticas em exibição em territórios ultra-específicos e isolados uns dos outros, mas se propõem a traçar certas camadas de ênfases e nuances, a partir das quais os visitantes são convidados a construir contato com as obras. Aqui, o trabalho curatorial se posiciona como gesto permeável de mediação discursiva, voltado mais ao visitante do que à tarefa de formatar leituras demasiado justas de cada peça em exposição: afinal, é ao espectador que cabe ativar as obras presentes no espaço expositivo, fazendo-as funcionar, ao mesmo tempo em que se põe a si mesmo em deriva, buscando a experiência de contato – no limite, produtora de pensamento, ação transformadora. Não se pode, afinal, deixar que os protocolos curatoriais recalquem os fluxos de intensidade sensorial trazidos pelos trabalhos, forças que devem ocupar as salas de modo fluido, constituindo possíveis dispositivos a partir 46
RICARDO BASBAUM
dos quais ocorre a captura mútua espectador/trabalho, corpo/obra, em suas recíprocas materialidades. Uma primeira configuração temática (“o teu corpo é luta”) aponta para os enfrentamentos e disputas ativados particularmente nas propostas cujos sinais e objetualidades constroem seu foco nas estruturas de corporalidade – isto é, no corpo próprio, corpo do outro e suas políticas: tal eixo temático é, sem dúvida, central, e, como já foi apontado, igualmente se distribui pelo conjunto das três mostras. Mas é nesta exposição inicial que estão concentradas as proposições que se organizam em torno desta confrontação específica, reverberando de modo direto ao longo da pele e da carne e ativando o reviramento dentro-fora próprio da pulsação das formas de vida, hoje território decisivo de lutas e disputas. A segunda configuração (“pela estrada e fora”) toma como referência a condição relacional da proposição artística, em seus variados jogos de linguagem e hibridização de meios – não há qualquer hierarquia entre as diversas condições materiais assumidas pelas propostas em exposição; considerase, entretanto, fundamental que se perceba aí quais as ativações sensíveis estão em jogo, no sentido da produção de subjetividade deflagrada no contato com a obra de arte. Nesse caso, buscou-se ainda indicar a condição de deslocamento como sendo parte dos protocolos de produção de intensidade e movimento: necessariamente é preciso ativar os espaços, tanto nas escalas micro quanto macro. Finalmente, a partir do terceiro conjunto de obras (“as coisas se escoram tortas”) foi proposto ao espectador-visitante um eixo de contato e leitura a partir da desconstrução da genealogia do hábito em relação às formas e meios tomados em sua materialidade, assim como outras propriedades de identificação 47
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direta: ou seja, signos (cores, suportes, formalizações, etc) que remetem diretamente à compreensão estratificada do objeto simbólico “obra de arte”, levando à sua decodificação e desconstrução, conduzindo ao jogo e ao artifício enquanto processos habilmente desfeitos e refeitos na experiência de contato e ativação da obra, no espaço arquitetônico da galeria. É a partir da presença das obras em exposição, da possibilidade de manter vivas e ativas suas camadas sensíveis e forças daí derivadas, que o evento oferece espaços de ativação para que o público visitante, afinal, deflagre o potencial de intervenção e corte tão cuidadosamente construídos nas obras. Estamos certos que esta nova edição do Arte Londrina aponta nessa direção de impulso, contribuindo para a ativação dos processos de sensorialização e pensamento próprios da experiência com a obra de arte – deriva sempre mais que necessária.
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exposição 1
o teu corpo é luta
CORPO COMO MÁQUINA DE GUERRA
Maria Carolina de Araujo Antonio Professora de Antropologia e pesquisadora no Dpto. de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina - UEL
Qual é o seu corpo sem órgãos? quais são suas próprias linhas, qual mapa você está fazendo e remanejando, qual linha abstrata você traçará, e a que preço, para você e para os outros? Sua própria linha de fuga? Seu CsO que se confunde com ela? Você racha? Você rachará? Você se desterritorializa? Qual linha você interrompe, qual você prolonga ou retoma, sem figuras nem símbolos? Deleuze e Guattari
Maurice Leenhardt (1947), antropólogo e missionário francês em trabalho com os Canaques, na Nova Caledônia, na Melánesia, entre 19021920, arriscou a seguinte questão aos “nativos”: “Afinal, foi a noção de espírito que introduzimos no pensamento de vocês, não foi?”, e se deparou com a seguinte resposta: “Espírito que nada! Vocês não nos trouxeram o espírito. Já sabíamos da existência do espírito. Agíamos segundo o espírito. O que vocês nos trouxeram foi o corpo”. Tal resposta oferece uma perspectiva que coloca em xeque a grande divisória que orienta nossa cosmologia, a saber, a separação entre corpo e espírito/sujeito. A ideia de corpo incutida aos Canaques suscitou o que até então eles não concebiam: uma circunscrição do físico, sua objetificação em relação aos impulsos sensoriais, reflexivos. Os Canaques não tinham um termo, uma palavra, para designar o corpo, eles reconheciam e nomeavam suas diferentes partes, mas não o concebiam como totalidade. Os contornos da pessoa não eram dados pelo corpo, mas pela rede de relações sociais 53
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nas quais ela estava inserida, ou seja, fora das relações sociais, não havia pessoa, muito menos corpo. Levi-Strauss (1996), ao analisar as pinturas corporais produzidas pelas mulheres Kadiweu, pôde reconstituir o contexto no qual as pinturas estariam inseridas, já que suas formas e inscrições corporais desvendavam a estrutura social dessa sociedade, ou o “estilo” dessa estrutura. Para Vidal (1992), a ornamentação corporal entre os Kayapós expressa, de maneira formal e sintética, a compreensão que estes possuem de sua cosmologia, organização social e das relações entre o biológico/natureza e o social/cultural. Além disso, revelam a cada um as facetas de sua pessoa em contraposição aos demais, sendo um recurso para a construção de identificação e alteridade: “Aplicada no corpo, a pintura possui função essencialmente social e mágico-religiosa, mas também é a maneira reconhecidamente estética e correta de se apresentar (...) A decoração é concebida para o corpo, mas este só existe através dela.” (Vidal, 1992, p.144). O que estes trabalhos nos permitem observar é que o corpo e seus ornamentos não podem ser compreendidos, significados, como algo abstraído do contexto no qual estão inseridos, corpo e social compõem um só e mesmo sistema. O corpo serve a estas sociedades indígenas como veículo de comunicação, e estabelece uma dualidade essencial: a do indivíduo, em sua singularidade, e o sujeito social que ele encarna. O indivíduo é projetado no contexto social pelos ornamentos que o constituem, e só por meio das relações sociais pode ser reconhecido em sua singularidade. Há, portanto, um movimento dialético entre indivíduo, corpo e social. Um se inscreve no outro, e só podem ser significados a partir das relações que travam entre si. 54
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Na leitura antropológica, de um modo geral, observam-se diversos modos pelos quais o social determina como o corpo, o que implica na constatação de múltiplas noções e experiências de corporalidade. A experiência física do corpo é sempre modificada por categorias sociais, através das quais ele é conhecido. Suas funcionalidades fisiológicas e a natureza humana que carrega não constituem algo imanente, dado: o corpo é sempre performado ou praticado pelo social, através da linguagem e seus sistemas simbólicos. Entretanto, não se pode confundir a perspectiva antropológica, que busca desnaturalizar o que é visto como algo imanente, fixo, determinado pela natureza, com uma visão do corpo como mero receptáculo de determinações sociais. A consideração da centralidade do corpo na vida social está, justamente, em sua capacidade de articular sentidos cosmológicos, simbólicos, biológicos e psicológicos enquanto agente de pontos de vistas, transformações, metamorfoses. Com Lacan (2005), temos que o próprio ao corpo é que este “se goza”. O corpo goza através da apropriação de uma imagem, da imposição de um significante ou de sua incorporação, o corpo goza através da linguagem. Mas o real do corpo é, justamente, aquilo que escapa à significação. A dimensão real do nosso corpo é aquilo que temos de mais singular, mas que paulatinamente, desde nosso nascimento, torna-se emoldurado em enquadramentos ditados pela linguagem. Os encontros e afastamentos com os objetos de desejo e de gozo são determinados pela vida social. Consequentemente, as contradições e desencontros do simbólico frente ao real do corpo se faz sentir cotidianamente. A vida social, pode-se dizer, exige esses desencontros. Foucault já nos havia alertado como os sujeitos entram nos jogos de verdade, sejam estes na forma de práticas coercitivas – como no caso da 55
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psiquiatria, da medicina, do sistema judiciário – sejam nas formas de jogos teóricos ou científicos – como os saberes do mercado, da linguagem, da pedagogia e do governo do ser vivo. Através de dispositivos de práticas e cuidados de si, tem-se o controle e o governos dos sujeitos e seus corpos aliados a retóricas da liberação, individualidade e autonomia. Tais discursos e práticas são patrocinadas pela relação entre Estado, ciência e capital, e remetem à ideia de que existe uma natureza ou essência humana – definida, é claro, pela própria ciência, pelo determinismo biológico e seus dispositivos de disciplinarização – que deve ser encontrada/ recuperada/mantida. Diante estes discursos, Foucault (2010) afirma que se deve distinguir processos de liberação do sujeito com práticas de liberdade. Se tomarmos o exemplo da sexualidade, a liberação sexual não faz surgir por si mesma o ser pleno, pelo contrário, abre um jogo de verdades pautado em relações de poder que determinam novos códigos de como o corpo deve ser compreendido, considerado, desejado, gozado. A questão, portanto, não deve ser quais processos são necessários para a liberação da sexualidade, mas sim como se pode praticar a liberdade sexual de fato. A liberação é, em si mesma, política, um modelo político, uma vez que, nessa concepção, ser livre implica não ser escravo de quem quer que seja, nem de si mesmo, nem de seus apetites, o que leva a estabelecer consigo mesmo uma certa relação de domínio, de controle, de governo. Com isso, a ideia de liberação se encontra dentro de padrões rigidamente estabelecidos pelo biopoder e suas técnicas de regulação dos afetos. O cuidado de si se encerra na necessidade de conhecimento de uma série de regras de conduta ou de princípios que são, simultaneamente, jogos de verdade e prescrições. O cuidado de si torna-se o cuidado dos outros. 56
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Nas sociedades ocidentais, o corpo é pensado como um sistema integrado, funcional, organizado como as máquinas, que trabalham de maneira programada a seguir determinada produção. A ideia de organismo, da relação integrada de um órgão com o outro, visa sempre cumprir uma utilidade que lhe é pré-estabelecida: o corpo deve realizar determinado fim. Os impulsos, as sensações, as emoções, os desejos, o gozo, a dor, o prazer, enfim, todos os nossos órgãos, articulados em sistemas, são capturados pela cultura, determinados pela linguagem, encapsulados dentro de uma lógica específica regida pelo sistema de produção capitalista. Nas palavras de Deleuze e Guattari (2010), somos constiuídos como “máquinas desejantes”, mas o próprio desejo é concebido como algo imanente aos registros da linguagem. O corpo assim organizado torna-se um organismo voltado à produção/reprodução dos códigos, padrões, normas, valores, políticas, conceitos, sistemas de pensamentos determinados pelo campo social no qual está inserido. É assim que nos tornamos reféns de nossos corpos, que são determinados pelo nosso organismo, traídos pelos nossos órgãos. Na lógica do sistema capitalista que nos constitui e nos marca, não há esferas nem circuitos independentes: a lógica de sistema enlaça a produção ao consumo e ao registro. Desse modo, tudo é produção, produção de paixões, ações, sentimentos, desejos, volúpias, angústias e dores. Técnicas de fabricação do corpo que não apenas o modelam, como intentam tornálo imune à perda, à enfermidade. Idealização de um corpo sem cicatrizes, sem inscrição de seu tempo, espaço e relações. A submissão da própria interioridade, dos próprios afetos, prazeres e sensações a mecanismos de autoridade cada vez mais subliminares, pulverizados, de difícil apreensão e localização, favorece o enquadramento dos corpos. Estes dispositivos 57
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de controle incidem sobre o corpo e o tornam instrumento do próprio domínio de si. Frente a isso, Artaud declarou guerra ao corpo: Pelo fato de que a boa saúde é um amontoado de males encurralados, de um formidável anelo de vida com cem chagas corroídas e que, apesar de tudo, é preciso fazer que viva, que é preciso prolongar e perpetuar (...) O corpo sob a pele é uma fábrica superaquecida, e por fora o doente brilha, reluz, e todos os seus poros, estourados (Artaud, 2003, p.20).
Se é no corpo que as relações de poder e as produções sociais marcam e exercem seus registros, é com o corpo, e através dele, que se marcam as resistências. O corpo, então, torna-se o campo de luta. O corpo da mulher talvez seja o exemplo mais cabal do contexto em que se trava essa batalha. O movimento feminista contemporâneo, por exemplo, faz do corpo uma “máquina de guerra”, no sentido deleuziano dado ao termo, combatendo a unidade despótica implicada pelo Estado, pelo patriarcalismo, pelos mecanismos de manutenção da ordem, do bem-estar e seus dispositivos de generalização e controle. Atualmente, uma série de estudos antropológicos contemporâneos, realizados nas sociedades ocidentais modernas, buscam analisar a relação entre corporalidade e produção de subjetividades, relação esta que aparece nas mais variadas formas. Os estudos feministas e de gênero, e também aqueles voltados às novas identidades urbanas e dispositivos terapêuticos, problematizam de que modo uma certa estética do corpo está atrelada não só à inscrição de significados sociais sobre uma “materia bruta”, como se o corpo fosse tábula rasa, 58
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mas inclusive a regimes de corporalidade que constroem sujeitos: a corporalidade construindo pessoas. Assim, a experiência do corpo assume uma agência, deixa de ser mero objeto a ser modelado pelas representações sociais, e passa a ser agente da experiência individual e coletiva, veículo e produtor de significados, instrumento de constituição de novas modalidades de subjetivação. Com isso, observa-se uma série de experiências e regimes de enunciação em que os corpos incidem sobre o social, inscrevem sua marca, determinam a linguagem, marcam resistências, suscitam transformações, desterritorializam conceitos e sistemas arraigados de pensamento. O corpo marca o social, impõe resistências através de sua própria materialidade, é campo de luta. Isso porque, novamente com Foucault (2010), temos que o poder só se exerce em relação, ou seja, não há poder em si, mas relações de poder. Estas, pela própria condição relacional, são sempre móveis, podem se modificar, são reversíveis, instáveis, contingentes. Nessa concepção, só é possível haver relações de poder quando os sujeitos são/estão livres, caso contrário, temos “estados de dominação”, em que o poder não está em relação, é uma potência fixa, territorializada. A ideia é, portanto, observar como os jogos de verdade estão ligados a relações de poder e/ou a estados de dominação. Segundo Foucault (2010), trata-se de não apreender as relações de poder como más em si mesmas, como algo de que seria necessário se livrar, pois não há vida social sem relações de poder. O problema não é pensar em estratégias de dissolução das relações de poder, mas de se estabelecer relações pautadas em estratégias, lógicas e práticas de si que permitem limitar o máximo possível os estados de dominação. 59
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É este o ponto que nos permite estabelecer uma articulação entre a luta política pelos direitos, as reflexões críticas contra técnicas abusivas de governo e a instituição de uma ética da existência que busque a liberdade dos corpos/sujeitos. É preciso distinguir as relações de poder como jogos estratégicos entre liberdades – que permitem que uns tentem determinar a conduta dos outros, e que estes outros podem não se deixar dominar – e os estados de dominação, que descartam qualquer reversão. O corpo é o locus por execelência, onde se expressa o entrelaçar das determinações sociais, dos jogos de verdade, dos dispositivos de saber e governo de si, e das resistências, subterfúgios, transformações, desterritorializações. Se tomarmos novamente como exemplo a corporalidade feminina, vemos que os discursos que reinvindicam o empoderamento visam justamente reverter estados de dominação para instituir novas relações de poder, exercer a liberdade, enfim. Como nos diz Foucault: Mesmo quando a relação de poder é completamente desequilibrada, quando verdadeiramente se pode dizer que um tem todo o poder sobre o outro, um poder só pode se exercer sobre o outro à medida que ainda reste a esse último a possibilidade de se matar, de pular pela janela ou de matar o outro. Isso significa que, nas relações de poder, há necessariamente possibilidade de resistência, pois se não houvesse possibilidade de resistência – de resistência violenta, de fuga, de subterfúgios, de estratégias que invertam a situação -, não haveria de forma alguma relações de poder. Sendo esta a forma geral, recuso-me a responder à questão que às vezes me propõem: ‘Ora, se o poder está por todo lado, então não há liberdade’. Respondo: se há relações de poder em todo o campo social, é porque há liberdade por todo lado (2010, p.277 grifo nosso).
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E se há liberdade por todo lado, basta seguir as linhas de fuga. É na apreensão não das conexões e determinações significantes do sistema, mas em suas linhas de fuga, que Deleuze e Guattari exploram a descoberta de Artaud do corpo sem órgãos. O corpo pleno, sem órgãos, é o improdutivo, o estéril, o inengendrado, o inconsumível. O corpo sem órgãos não é a expressão de uma totalidade perdida, uma projeção, nada tem a ver com a imagem do corpo. É corpo sem imagem, é corpo sem a determinação da linguagem, portanto, é antiprodução: é aquele que substitui a “interpretação pela experimentação” (Deleuze e Guattri, 1996) O corpo é campo de luta, é máquina de guerra. As obras aqui expostas estabelecem, justamente, um curto circuito entre o organismo, suas máquinas desejantes e o corpo sem órgãos. Cada enlaçamento e comando das máquinas desejantes torna-se insuportável/insustentável ao corpo sem órgãos, é disto que tratam aqui cada uma das instalações. Às linhas sistematicamente conectadas opõem-se cortes, rupturas; às palavras, opõem-se gritos. À nitidez, sombras e sobreposições. A arte, aqui, aparece como o veículo por meio do qual a produção social e a produção desejante se desarranjam na reprodução de sistemas que codificam incessantemente os corpos, seus fluidos, suas materialidades, aprisionando-os, canalizando-os e regulando-os. O corpo, enfim, aparece e se deixa afetar em suas diversas formas e modalidades, e não falamos apenas no corpo/sujeito, mas nos corpos coletivos, tão bem representados pelas experiências suscitadas nas/ pelas obras. Suscitam desterritorialização, as corporalidades aqui referidas constituem zonas de devires intensivos de afetos múltiplos. Não recuam diante de nenhum meio para fixá-las. O que vemos são fluxos descodificados do desejo, única saída para que o real do corpo flua. 61
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ARTAUD, Antonin. Van Gogh - O Suicida da Sociedade. São Paulo: José Olympio, 2003. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Ed.34, 2010. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs – capitalismo e esquizofrenia. Vol. 3. Rio de Janeiro: Ed.34, 1996. FOUCAULT, Michel. A ética do cuidado de si como prática da liberdade. In: _______. Ética, sexualidade, política. Ditos e Escritos vol.V. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. LACAN, Jacques. O seminário, livro XXIII: o sinthoma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. LEENHARDT, Maurice. Do Kamo. La personne et le mythe dans le monde mélanésien. Paris: Gallimard, 1947. LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. VIDAL, Lux. A pintura corporal e a arte gráfica entre os Kayapó-Xikrin do Cateté. In:Vidal, Lux (org). Grafismo Indígena: estudos de antropologia estética. São Paulo: FAPESP, 1992.
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bianca turner
Rastreando é uma obra multimídia que trata da memória como um lampejo para o reconhecimento do agora. Sempre me perguntei como era viver no período da ditadura militar. Devido aos recentes acontecimentos na política brasileira em 2016, me vi lendo manchetes e notícias de jornal muito parecidas com muitas das manchetes publicadas entre 1964 e 1992. Minha pesquisa e trabalho artístico sempre exploraram a memória como conhecimento que resiste às evasões e ao esquecimento, apesar de sua subjetividade. Em Rastreando, projeto imagens do passado do Brasil em uma lousa preta e risco com giz os rastros que muitas vezes são esquecidos, criando assim uma imagem efêmera da minha interpretação do passado no ‘agora’. Esse trabalho transmite temas políticos de forma que, na passagem do fascínio estético para a reflexão, o observador é desafiado a olhar o passado sobrepondo seus acontecimentos. A forma que essa AÇÃO se dá, com o rasurar e apagar à frente do observador, além de encenar apenas o conteúdo, torna-se uma metáfora da instabilidade da memória histórica, da evasão e do esquecimento, por ser efêmera e por ser apagada depois, só restando a foto do desenho final. Por isso também o aspecto de se projetar num quadro negro e se ‘destacar’ e revelar algumas partes, pintando-as de branco.
Rastreando, 2017 Instalação multimídia a partir de performance Projeção de imagens e desenhos em giz sobre lousa preta 2,5 x 2,5 x 2,5 m
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bruno trochmann
Nunca conheci Damasco Nunca conheci Damasco, 2016 Performance Duração variável
Meu trabalho se constrói em uma prática diária na qual a produção sonora e visual dividem o mesmo espaço de forma bastante livre e informal, explorando temas relativos às lutas políticas no terceiro mundo e às relações entre diferentes culturas a partir de um olhar pessoal, tentando ao máximo me colocar em uma posição precisa de oposição à lógica colonial e imperialista do olhar dito ocidental. Este posicionamento pode não transparecer de maneira óbvia, mas norteia o processo em todos os campos do trabalho, seja desenho e colagem ou som e performance. 71
claudia nĂŞn
Claudia Nên é artista plástica natural de Itabaiana (Sergipe). Iniciou seu trabalho artístico com o desenho, logo depois transitou entre a técnica da xilogravura e da escultura. Como resultado desse diálogo, surgiu a escultura em argila que traz fortes elementos da xilogravura, seja na representação do imaginário popular ou de temas da contemporaneidade. Em muitos de seus trabalhos é possível perceber um movimento dialético que nos conecta a duas temporalidades, muitas vezes percebidas como distantes e distintas: o imaginário cultural e popular brasileiro e os conflitos próprios da sociedade contemporânea. O primeiro é percebido sobretudo nas técnicas empregadas, o segundo na forma-conteúdo. Desse movimento, que confronta a tradição com o tempo presente e um futuro inexistente, emerge um ser humano solitário que, longe da alegria – geralmente associada às festas, aos ritos e às tradições populares nordestinas – demonstra uma angústia própria da solidão, do individualismo, da impossibilidade contemporânea da experiência e do existir enquanto comunidade. É possível pensar a produção de Claudia Nên desde uma perspectiva do indivíduo, com uma explicitação da problemática condição do homem pós-contemporâneo e o seu destino, seus fracassos, frustrações e impossibilidades. Fabrícia Jordão Bicho de sete cabeças, 2012 Cerâmica pintada 17 x 19 x 21 cm Plantando bananeira, 2015 Cerâmica pintada 18 x 10 x 9 cm
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daniel antĂ´nio
ARTE LONDRINA 5
As imagens da série Véu estão ligadas a uma pesquisa que problematiza as possíveis interferências presentes entre o olhar do espectador e o que é mostrado na imagem. O véu mencionado aqui não é necessariamente o tecido que encobre o rosto das mulheres em algumas culturas, mas sim um elemento que - ao encobrir, esconder ou interferir de múltiplas formas na fotografia - projeta o espectador no mistério, na ausência. Essa noção, discutida por teóricos da arte como os franceses Georges DidiHuberman e Bernard Vouilloux, está diretamente ligada a uma teoria do psicanalista francês Jacques Lacan, que afirmou: “com a presença do véu, aquilo que está mais além, como falta, tende a se realizar como imagem. Na frente do véu pinta-se a ausência”1. 1- Jacques Lacan - Seminário - A relação de objeto (1956-1957) - Capítulo IX - A função do véu. Jorge Zahar Editor Ltda., Rio de Janeiro, 1995.
Véu, 2015 Fotografia analógica em papel algodão Medidas variadas. Total aproximado: 110 x 130 cm
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DANIEL ANTÔNIO
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gabriela de laurentiis
ARTE LONDRINA 5
Fragmentos amorosos II (Paisagens corporais) – Fotografia, 2015-2016. A partir de negativos autorretratos e retratos recortados e colados, crio as imagens. Amplio em papel fibra Ilford Multigrade Art 300, com o qual obtenho textura e profundidade, com uma grande gama de tons de cinza. Em seguida, as imagens são escaneadas e impressas BFK Rives, produzindo sobreposição de texturas. As imagens são uma conversação poética com o livro de Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso, no qual se lê: Corpo. Todo pensamento, toda a comoção, todo interesse suscitado no sujeito amoroso pelo corpo amado. Fragmentos amorosos II (paisagens corporais), 2015-2016 Fotografias analógicas ampliadas em papel Ilford Multigrade, digitalizadas e impressas em papel BFK Rives, com adesivação em acrílico preto. 29,7 x 42 cm
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GABRIELA DE LAURENTIIS
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maíra vaz valente
Entre as Formas Dissolvidas do Desejo, 2009-2013 Materiais: tecido de algodão, elástico de algodão e participadores Duração: variável
SINOPSE: Pares de camisetas conectadas por largos elásticos são os objetos criados para uma experiência performática. A artista traz os objetos consigo para o espaço, dispondo-os ao alcance do público. Convida os presentes a participarem da experiência através de instruções. 83
margarida holler
ARTE LONDRINA 5
A instalação Célula-Corpo reflete sobre diversas compreensões da ideia de corpo, considerando diferentes disciplinas. Com fios de cobre, Margarida Holler tece os corpos sociais do contemporâneo repensando suas reminiscências históricas transpassadas pelo “corpo utópico” descrito por Michel Foucault. Ao mesmo tempo que essas tessituras emergem em células individuais (que diferem nos tons das cores, nas espessuras dos fios e nas dimensões), uma simbiose emerge a partir de suas sobreposições. Esses corpos, por sua vez, instalados no espaço expositivo dão a ver uma discussão sobre sistemas – sociais, econômicos e culturais – pelos quais espera-se que o público perambule. Por fim, um corpo na parede engloba imãs cobertos por terra roxa: a terra que era a grande promessa para os migrantes e imigrantes que construíram a cidade de Londrina. E, nessa imantação (no seu sentido literal e figurado) ativada pelos trabalhos artísticos, Célula-Corpo é construída tal qual um mapa em que se pode imergir. Ananda Carvalho
Célula-corpo, 2016 Instalação Dimensões variáveis
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MARGARIDA HOLLER
detalhe
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paulo aureliano da mata
ARTE LONDRINA 5
Com ênfase na body art, exploro uma série de procedimentos artísticos em que mesclo a minha autobiografia com outras histórias reais e ficcionais, reunindo elementos da literatura, da cultura contemporânea e de mitologias de civilizações diversas. Em Eu Gisberta (2015) – bem como em outros trabalhos de body art executados por meio da tatuagem –, mantenho sobre o meu próprio corpo uma exposição ininterrupta, a qual opera como uma estética relacional, trazendo permanentemente à luz a sombria história que circunda Gisberta Salce, mulher transexual brasileira brutalmente assassinada na cidade do Porto, em Portugal, no ano de 2006, mais uma vítima da transfobia. O caráter de inscrição mortuária do nome Gisberta em meu rosto estabelece, assim, pela fotografia acompanhada de um texto-manifesto, uma relação entre o estatuto político do corpo lançado ao fundo do poço e o estatuto político da prostituta-transexualimigrante-soropositiva-indigente-toxicodependente na cidade, agentes próximos da condição de visibilidade de fantasma ameaçador que desconstroem os limites da normalização ao evocar outras condições de habitar o espaço, outras histórias de vida e outras classificações.
Eu Gisberta, 2015 Impressão em papel fotográfico fosco aplicado em placa alumínio Moldura caixa com perfil, pintura preto fosco e vidro antirreflexo, fixação com sarrafo e trilho 29,7 x 117,5 cm
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PAULO AURELIANO DA MATA
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rodrigo d´alcântara
ARTE LONDRINA 5
A série meus e de ninguém é um apanhado de desenhos provindos de um caderno processual. As imagens geradas trazem elementos de corpos masculinos ora em tensão, ora em diálogo entre si e os fragmentos paisagísticos que os orbitam. As formas sinuosas suscitam a potência geográfica no corporal, permeadas por frases e palavras soltas que reforçam o caráter de um miniatlas emocional a partir da contemplação íntima. Os desenhos, portanto, são concebidos numa trama de indícios de paisagens e grafismos que flertam com a crueza emocional e sentimentalismos intercalados por sugestões homoeróticas.
Meus e de ninguém, 2013-2014 Instalação de desenhos feitos com marcadores e aquarela sobre papel Medidas variadas
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RODRIGO D´ALCÂNTARA
detalhe
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suellen estanislau
ARTE LONDRINA 5
Desfalecida, 2016 Aquarela sobre papel 15 x 18 cm Na pรกgina anterior
Desbocada, 2016 Aquarela sobre papel 15 x 20 cm
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SUELLEN ESTANISLAU
MUITO MAL CRIADAS Meus monstros se alimentam daquilo que sentem ou daquilo que são acusados. Umberto Eco (2014) aponta, em “A História da Feiura”, diversos momentos em que os monstros encarnam diferentes personalidades, as fábulas são exemplo: Pinóquio de Collodi e sua eterna obsessão em se tornar um menino de verdade, as estrelas do terror como Frankenstein e sua ingênuidade, a dualidade de Mr. Hyde e o animalesco em King Kong. Esses seres personificam sentimentos humanos mutantes que se fixam na figura do monstro. Os trabalhos Desbocada e Desfalecida, fazem parte de uma série de trabalhos relativos a anatomias peculiares. Sempre me interessei por anti-heróis e esclareço, por meio do desenho de seus corpos, que podem ser bobinhos, nunca bonzinhos. Nessas aquarelas, declaro meu apreço por vilões dramáticos e exagerados de filmes e novelas mexicanas. Também sempre tive uma relação muito visual com palavras e, quando ouço uma nova, associo a uma imagem mental que não precisa estar ligada ao significado real da palavra. Em Desbocada e Desfalecida penso em uma aparência para alguns xingamentos, como se houvesse um sujeito particular ligado a eles.
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sylvana lobo
ARTE LONDRINA 5
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Vergonha – parte 1, 2015 Papel fotográfico sobre foam 90 x 60 cm Vergonha – parte 2, 2015 Papel fotográfico sobre foam 90 x 60 cm
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SYLVANA LOBO
VERGONHA Esta série faz parte de uma proposta de investigação de questões de gênero, com foco na violência sexual. Ela é constituída por fotografias de uma pessoa de ponta-cabeça usando uma calcinha onde se lê VERGONHA. A imagem foi girada em 180º pois é somente num mundo invertido que essa vergonha faz sentido e pode ser lida. Talita Hoffmann
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wagne carvalho
ARTE LONDRINA 5
Minha relação com os materiais repousa numa tentativa primeira de encará-los enquanto corpo, suas mudanças de estado, forma e cor, transições que de algum modo afirmam, para mim, suas características enquanto organismo. Quero assim transpor de algum modo relações entre um corpo fragmentado, pelas técnicas de diagnóstico médico que me interessam, ou como uma matéria que é transformada pela relação que estabelece com algum outro material ou fator. Cor e luz, elementos necessários para a visualidade me interessam, atualmente, suas correspondências e interações tomam parte de minha pesquisa.
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12,24, 2017 Cera, lâmpada fluorescente tubular e estrutura de ferro. 23 x 23 x 10 cm Vesicatório, 2015 Acrílica, Filme Rubi e monotipia sobre acetato 124 x 88 cm
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WAGNE CARVALHO
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yasmin kozak
AS RUGAS POR SI SÓ JÁ SÃO HISTÓRIAS Vestidos. Durante muito tempo associados ao guarda-roupa da mulher, não são propriamente roupas femininas. A década de 1950 é marcada pelas saias amplas e cinturas finas, vestimentas de difícil mobilidade. É também o período de juventude daquela que criou a mãe da artista e outros quatro filhos. Sua vida, eternizada nas memórias escritas na vestimenta, são agora lembranças de uma vida como menina, como mulher. Palavras foram transcritas no tecido à máquina de escrever, um presente do avô. Tecido. Analogia ao tecido epitelial. Órgão do corpo repleto de histórias. As rugas por si só já são histórias. Caminhos feitos em arame perfuram o tecido. Trajetórias de uma vida dura. São cicatrizes. Cartas trocadas pelos avós há mais de 50 anos são retiradas do fundo do armário e trazidas de volta à vida. As cópias das cartas, com sua transparência, revelam algo além da escrita: a volatilidade da memória.
detalhe
As rugas por si só já são histórias, 2015 Tecido de algodão cru, papel pergamenata, arame 75 x 97 cm
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exposição 2
pela estrada e fora
SOBRE A EXPOSIÇÃO PELA ESTRADA E FORA
Carla Delgado de Souza Professora de Antropologia e pesquisadora no Dpto. de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina - UEL
São várias as alusões (em ditados populares, em produções literárias e em textos acadêmicos) à importância dos caminhos. Mais importante do que chegar a um destino é o percurso que se faz até ele, pois é nele que nos transformamos – é ele, em última instância, que constitui a experiência, que é o tecido mais fino de nossas biografias. Depois de passarmos por uma experiência transformadora, já não somos mais os mesmos: mudamos de posição social, enfrentamos medos, passamos por privações (cf. Bruner, 1986). É disto que falam artistas e teóricos, nos seus mais diferentes textos: viver é, de certa forma, caminhar, construir uma trajetória, andar por uma estrada. Logicamente, há as viagens – os caminhos que percorremos geograficamente de um ponto a outro. O caminhar no sentido stricto do termo. Mas não é apenas desse deslocamento de que fala a exposição “Pela estrada e fora”, organizada pela Divisão de Artes Plásticas da Universidade Estadual de Londrina. Nessa exposição, tomamos contato com um sentido mais abrangente do termo “estrada”, bem como de noções como “dentro e “fora”. Isso ocorre porque os deslocamentos, as territorializações e as desterritorializações não são movimentos unicamente espaciais – eles ocorrem dentro de nossas mentes, corpos e espíritos também. É algo imanente ao ser humano. Viver, como afirmam os filósofos Gilles Deleuze e Félix Guatarri (1996), é um contínuo desterritorializar-se e (re)territorializar-se, num movimento que faz, de todos nós, seres em constantes movimentos e fluxos. 113
ARTE LONDRINA 5
Quando olhamos com cuidado as peças do coletivo Kókir, temos duas surpresas: uma estética e outra do ponto de vista da autoria. Em termos de autoria, o coletivo é formado, na verdade, por uma dupla de artistas nãoKaingangs – Sheila Souza e Tadeu dos Santos – e dois artistas Kaingangs (denominados, erroneamente, como artesãos) Luis da Silva e Joanilson da Silva. Eles se autodenominam “Kókir”, que na língua indígena em questão significa fome, assim como apresentam duas peças que, apesar de usarem trançados característicos da arte Kaingang, o fazem com certa autonomia formal: em vez de os apresentarem em cestaria, como geralmente são empregados, os trançados dão forma a objetos bastante comuns e usados pela sociedade indígena e não indígena envolvente. Na peça “Sustento voraz”, o trançado Kaingang cobre um carrinho de supermercado, remetendo à ideia de que o consumo não-indígena se faz sempre de forma ostensiva e predatória, além de permeada pelo comércio. A fome do branco, nesse sentido, está bastante vinculada ao próprio ato de consumir e, infelizmente, muitos deslocamentos deste mesmo homem branco ocorrem tendo como único objetivo o consumo. É comum, em cosmologias marcadamente capitalistas (cf. Sahlins, 2004), que os homens não tenham mais experiências que não possam ser comercializadas ou não se restrinjam, elas mesmas, a mercadorias. O mundo transforma-se, assim, num grande supermercado. A outra peça apresentada pelo coletivo representa uma fruteira Kaingang, que teria sido “mordida”. A fome se desloca do alimento para o objeto que serve de suporte ao alimento. Nesse sentido, os artistas aplicam um recurso metonímico à representação da fome, que permite, no limite, enxergar essa viagem entre modos de ser e de estar no mundo – o indígena e o da sociedade envolvente, na busca por um diálogo que também pode ser interpretado como uma fome que temos do “outro”. 114
CARLA DELGADO DE SOUZA
Daniel Jabloski também contribui com duas peças para a exposição. Comecemos pela ampliação fotográfica intitulada “todos os nomes”, título intencionalmente homólogo a um romance do aclamado escritor português José Saramago. Essa ampliação, de acordo com o artista, toma “um minúsculo bloco de texto da edição de segunda-feira, dia 16 de fevereiro de 2004, ano XXX, n° 3, parte V do Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro”, no qual constam os nomes completos de colegas de classe de Jabloski, que concluíam naquela data o Ensino Médio. Seguindo a pista dada pelo autor, que não quer discutir as implicações burocráticas do documento, somos tomados pelo intuito de querer saber o paradeiro de cada indivíduo que ali era representado por seu nome completo. Qual percurso a vida de cada um trilhou? Essa é uma pergunta que não cala e, como num espelho, nos faz refletir sobre os caminhos trilhados por nós mesmos desde o início de nossas juventudes. Já a série de nove fotografias que recebe o título “O sono louco - quem vigia o vigia?”, parte de um experimento realizado por Jabloski, que, ao viajar no tempo, traz para sua experiência contemporânea uma prática comum aos vigias dos trabalhos noturnos nas indústrias do século XIX: estes homens usavam relógios de ponto portáteis para realizar suas rondas nas fábricas de maneira regular. A viagem aqui ocorre no tempo: o artista estipula para si experienciar dormir com um relógio de ponto portátil, dando a ele outra intenção e significado. Sendo regularmente acordado pelo relógio, que começava sua atividade em uma hora exata, o artista verificava quanto tempo ele demorava para acordar a cada vez, pois assim que percebia seu despertar, ele acionava um mecanismo do dispositivo de controle responsável por registrar a hora que o artista finalmente conseguia acordar. Com isso, Jabloski podia autovigiar o tempo “gasto” 115
ARTE LONDRINA 5
com o processo de despertar, isto é, a disparidade entre a hora em que o relógio ponto acionava o alarme e a hora que ele de fato acordava. Artisticamente, a potência está em pensar como o sono, atividade essencial ao corpo e vista como não producente, deve ser vigiada em sociedades que tem como foco a produção. Dois deslocamentos são encontrados – o primeiro, no qual o sono é vigiado (e não a atividade produtiva, como acontecia antes, no século XIX) e o segundo, que revela a incorporação do controle por parte dos indivíduos na contemporaneidade (cf. Foucault, 2014). Não é mais necessário que outra pessoa nos vigie, pois todos nós nos autovigiamos, contabilizando nossos minutos de sono (e de prazer) e até mesmo o tempo “gasto” para que nossas mentes e nossos corpos saiam de um estado de descanso para o de alerta. A série de doze desenhos de Fernanda Andrade, chamada “Desenhocaminho”, toda feita em papel branco do mesmo tamanho (A4), traz uma concepção de deslocamento que ainda não havia sido trabalhada nessa exposição: a artista, aqui, quer tornar visíveis os caminhos percorridos na produção artística. A ideia de série (agrupamento de desenhos, no caso) é comum nas produções de artistas visuais que pensam por meio de sua arte, pois a forma se estabelece no aprendizado constante dos traços e não em um momento anterior, exclusivamente intelectual. Assim, em concordância com o que é afirmado por Geertz (1998), Fernanda Andrade evidencia que a percepção do mundo social e a concepção artística de qualquer criador não são independentes de uma forma que lhes é peculiar. Em seus desenhos, os caminhos do sentir e do criar são expostos, em uma certa dança de simetrias e traços que se repetem ou ressurgem recriados – os desenhos pensam-se a si próprios. 116
CARLA DELGADO DE SOUZA
Alfred Gell (1998) argumenta que um dos maiores poderes da arte reside em ela ser uma armadilha para o olhar. Tentando decifrar o indecifrável, somos abduzidos para dentro da obra de arte, que tem seus mistérios. Estamos presos e libertos ao mesmo tempo. Quanto mais tentamos entender os poderes da arte, mais ela utiliza sua agência, seduzindo-nos. O vídeo “Órbita”, de Flora Rebollo, dialoga abertamente com essa ideia, na medida em que a artista mostra como o desenho pode ser, ao mesmo tempo, salvação e rendição, liberdade e cativeiro. A proposta de Glayson Arcanjo trabalha diretamente com a noção de espacialidade e com caminhos da memória. Sua arte consiste em dispor doze peças na parede da galeria, sendo cada uma delas um pedaço de parede de casas em demolição. Cada peça, por sua vez, recebe a imagem transferida de outras casas que também estão sendo demolidas. Com isso, o tema da demolição aparece duplamente na obra de Arcanjo, o que revela uma certa concepção de denúncia, pois as cidades do Brasil tem crescido, sobretudo, verticalmente. Essa nova organização do espaço urbano frequentemente não permite a coexistência de moradias antigas e vários condomínios prediais, que podem acomodar muitas pessoas em um espaço de terra relativamente pequeno. Com a verticalização das cidades, muito do que se refere à memória e às referências espaciais se perde, principalmente em um contexto cultural que não respeita o patrimônio histórico e artístico. Os cacos de casas, representando por sua vez casas em cacos, permitem-nos imaginar como eram esses lugares, quem os habitava e qual era o tipo de sociabilidade ali feita e refeita cotidianamente. Com isso, o espectador se desloca do tempo imediato e de suas vivências contemporâneas e constrói, para si mesmo, histórias imaginadas de um 117
ARTE LONDRINA 5
passado não tão distante. Pode, inclusive, se lembrar das casas de sua infância, dos cheiros que elas tinham e até mesmo de algumas pessoas que ali habitavam. Os trabalhos de Júlia Milward também possuem uma íntima relação com a ideia de memória espacial e representação. A artista trabalha com fotografias usando, nos termos de Walter Benjamin (1987), a reprodutibilidade técnica desta arte ao seu favor. Com o auxílio de um scanner e de uma impressora, ela faz intervenções constantes nas fotografias que produz, até que a imagem apresentada não seja uma cópia do real, mas sim do imaginado. Os lugares (ou as pessoas) fotografados não são representações pretensamente fiéis e objetivas. Ao contrário disso: trazem deliberadamente a pessoalidade do olhar, da percepção da artista, afinal nós nunca nos lembramos de lugares ou de pessoas imparcialmente; essas lembranças são permeadas pelos nossos sentidos e sentimentos, por afetos, desejos, dores. O que Júlia Milward faz é tornar essas percepções subjetivas visíveis para o público. Os artistas Júnior Pimenta, Luis Larocca e Manuela Costalima expõem trabalhos que fazem sentido quando pensados a partir da potência da indeterminação, embora com ênfases e propostas diferentes. Trabalhando com o acaso e com o cotidiano, Júnior Pimenta propôs o painel “503 passos”, que é composto por fotografias tiradas por pessoas diversas, que saíram de suas casas, deram exatamente 503 passos e fotografaram o que viram de interessante. Obviamente, as pessoas puderam escolher em que sentido caminhar e em que hora do dia desejavam fotografar. Os passos também não são medidas exatas. Se podemos assegurar que cada fotografia é única, ela o é ainda mais dentro desse projeto, que pretende claramente artificar (cf. Shapiro, 2007) o cotidiano, transformando a 118
CARLA DELGADO DE SOUZA
materialização do olhar de cada fotógrafo, após um curtíssimo percurso, em arte. A arte de Luis Larocca dialoga mais com o aleatório, embora também tome o cotidiano como tema de conexão com o fantástico. O artista pretende proporcionar várias visões de microcosmos do espaço doméstico – como, por exemplo, os desenhos que são formados pelos tacos que constituem o piso de uma casa – sem ordená-las, embora conectandoas entre si. As percepções em escala micro, quando postas em conjunto, proporcionam visões ampliadas sobre o objeto, que é uma casa, para a qual não há porta de entrada, ou ponto de vista privilegiado. Vários caminhos visuais podem ser feitos e o aleatório dita a percepção visual do espectador. O improviso, uma outra faceta da indeterminação, é o mote da instalação de Manuela Costalima, que pretende dar destaque às várias formas com que nos apropriamos, de maneira bastante particular, dos espaços que ocupamos. Seja com canaletas para passar a fiação elétrica e tornar uma tomada acessível, ou na construção de “puxadinhos”, para termos um espaço de lazer (ou de trabalho) doméstico, nós deixamos nossas marcas nos lugares que habitamos, muitas vezes realizadas por meio de atalhos, caminhos e percursos que se dão no interior desse mesmo lugar. Na instalação da artista, são esses percursos improvisados que ganham destaque e nos fazem pensar os espaços dentro do espaço. Os vídeos de Mariana Teixeira, de nome “Para Ingmar Bergman, com amor”, são gravações de percursos feitas com um equipamento bem simples e corriqueiro: uma câmera de celular. Nesse sentido, as imagens produzidas pela autora dialogam com o improviso. No entanto, elas estabelecem um contraponto evidente com as citações dos filmes Persona 119
ARTE LONDRINA 5
e O sétimo selo, obras magistrais de Ingmar Bergman. Ao usar diálogos dos dois filmes, Mariana Teixeira procura aproximar a arte cotidiana e sem muitas pretensões da arte já consagrada do cineasta sueco, percorrendo um caminho nada comum ou esperado. As vídeoperformances de Noara Quintana são extremamente delicadas e sensíveis. O vídeo mais longo, de nome “Quadro Negro”, foi gravado em uma duna em Florianópolis. Logo no início, vemos apenas a areia clara e ouvimos o som do vento. Depois, a artista, vestida de preto, caminha levando consigo quatro hastes de metal, formando um retângulo vazado no chão. Em seguida, ela busca um material preto extremamente fino, que aparenta ser uma areia tingida, para preencher o quadro. Enquanto o quadro é preenchido de finos grãos pigmentados, vemos partículas que voam, pois o vento não cessa. Os opostos claro-escuro tendem a se misturar demonstrando a fluidez das formas, que fica ainda mais evidente quando as hastes de metal são retiradas, restando apenas a figura negra sobre a duna. O vídeo é interrompido com a imagem ainda fixa do quadro negro, mas com a certeza da efemeridade, da dissolução das partículas escuras no oceano de areia. O segundo vídeo, “Broken Fall”, começa com a imagem escura de uma ponte sobre um rio, no silêncio. Aos poucos, escutamos passarinhos, cujos trinados se intensificam com o raiar do dia quando a artista, então, sobe na mureta protetora da ponte e tenta equilibrar-se, ora num pé, ora em dois. O que de início nos passa uma ideia de liberdade, aos poucos nos angustia. No fim, a artista cai da ponte, diretamente nas águas do rio: a queda, que já havia sido anunciada no título do vídeo, aconteceu. As duas vídeoperformances de Noara Quintana remetem à apreensão do que se desfaz – seja pela fluidez, seja pela queda, ou até mesmo pelo escuro 120
CARLA DELGADO DE SOUZA
(que nos dois vídeos é – ou será – vencido pelo claro). As sutilezas são sugestivas, pois também não podem ser apreendidas. E o que seria da vida, das trajetórias humanas e não-humanas, sem sutilezas? Uma outra abordagem do distante é feita por Ricardo Alves, que traz para a exposição as pinturas “Transformador”, “Soyouz TMA19” e “Desenho de ondas supersônicas”. No entanto, o distante a que se refere Alves não é o fluido e o imaterial, e sim o que diz respeito ao espaço sideral, ao cosmos. Pintando equipamentos criados por humanos para a conquista espacial, Ricardo Alves procura mostrar nosso desejo pelo virtualmente inalcançável, pelo que está fora de nossos limites, ao mesmo tempo que expõe nossas falhas e fraquezas, ao representar os equipamentos de forma quase lúdica. Com isso, o artista parece denunciar que o desejo está além das possibilidades, ao passo em que vê esse mesmo desejo como impulsionador do futuro. Se Alves fragiliza nossas certezas e crenças na tecnologia com seu trabalho, Sandra Lapage percorre o caminho inverso – ela usa materiais extremamente frágeis e perecíveis (como folhas, ramos, capins) para fazer esculturas, atribuindo a eles uma solidez de estatuto simbólico. Os desenhos formados nas esculturas feitas pela artista buscam, como ela diz, “revelar a beleza pela imperfeição”, conquistando até mesmo olhares pouco preparados. Trata-se de três esculturas delicadas na forma e fortes na proposta, articulando características que são erroneamente tomadas como opostas. As esculturas-desenho da artista têm a intenção de captar o olhar do espectador e, com isso, produzir uma alteração na forma como ele vê o mundo e seus elementos. Outra contribuição que parte da noção de intencionalidade artística é a série “Exposições sonoras” proposta por Thiago R. Nela, o artista pretende 121
ARTE LONDRINA 5
expandir a noção de visualidade para outro sentido – a audição. Não é novidade a ideia de exposição sonora e nem mesmo o diálogo entre o visível e o audível. Vários artistas visuais já trabalharam com essa ideia, embora ela sempre ressurja em um contexto diferente, o que evidencia a pertinência desse tipo de proposta. Thiago R., como outros artistas que usam sons em exposições visuais, pretende fornecer elementos para que o espectador imagine sua jornada, sua caminhada, seu percurso e faz isso a partir de sons de passos, que amplificados, são gravados em looping, na composição denominada “540km”. A única visualidade “dada” das peças são as placas de aço, uma para cada peça, nas quais está escrito “exponho a velocidade do som nesse meio”, sendo determinadas velocidades distintas para cada placa: 6.400m/s, 6.100m/s e 2.300m/s. A arte visual intencional da série surge do diálogo entre o audível e o visível, fruto das imaginações e sinestesias de cada indivíduo pertencente ao público. Assim, ela é, na verdade, múltipla, variada e imprecisa. Cada indivíduo que forma o público da exposição, ao visitála, certamente se identificará com algumas propostas que falarão mais de perto à sua experiência, sua trajetória, sua vida. Confiar na própria percepção é o melhor caminho para fruir arte, uma vez que ela fala ao nosso intelecto, por meio de nossos sentidos. Não há uma única maneira de ser afetado pelas obras constituintes da exposição “Pela estrada e fora”, uma vez que os signos artísticos não são fechados, mas sempre abertos a novas interpretações a cada olhar. Por isso, a beleza de toda e qualquer exposição está nos percursos de apreensão de intenções e significados. Uma jornada que se inicia quando decidimos visitar a galeria, e como não poderia deixar de ser, intensifica-se em seu interior.
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CARLA DELGADO DE SOUZA
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existe uma cor que só você vê?
você
coletivo kรณkir
ARTE LONDRINA 5
FOME DE MISTURA Os trabalhos apresentados pelo coletivo Kókir estabelecem um diálogo entre arte contemporânea, cultura material e cidade. Esse diálogo configura-se em objetos mestiços, criados pelo coletivo junto a artesãos indígenas Kaingang. São como coisas sem lugar ou de muitos lugares que convergem no campo das relações estabelecidas entre artesanato e indústria, território urbano e indígena, ritual e espaços de arte. Como uma espécie de Dadá etnográfico, a produção envolve trançado indígena sobre grades de ventiladores, carrinhos de mercado, gaiolas e objetos comestíveis. Os Kaingang transformam grades de ventilador em fruteiras e, por sua vez, o coletivo Kókir simula uma mordida nas fruteiras, recortando a grade. Kókir é uma palavra Kaingang que significa “fome”. Os objetos apresentados sobrepõem três camadas diferentes: a produção industrial, a indígena e a do coletivo. A fusão entre estes elementos permite que as criações possam ser vistas como objetos urbanos industrializados e ao mesmo tempo artesanais, ao receberem o trançado Kaingang. Com a intervenção do coletivo, os objetos passam a ter uma terceira dimensão simbólica, incorporada ao contexto da arte contemporânea.
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Sustento Voraz, 2006 Carrinho de Supermercado trançado com fibra sintética Artesão Kaingang: Luiz da Silva 56,6 x 92,0 x 104,8 cm Apucaraninha, 2016 Grade de ventilador trançada com fibra sintética Artesão Kaingang: Joanilson da Silva 50 cm de diâmetro
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daniel jablonski
O Sono Louco – Quem Vigia o Vigia? 2016 Série de 09 fotografias - jato de tinta sobre papel fotográfico 43 x 30 cm cada
ARTE LONDRINA 5
Todos os nomes, 2012 Impressão jato de tinta sobre papel algodão 100 x 109 cm
As duas obras selecionadas para esta exposição participam de uma investigação continuada acerca dos cruzamentos entre a pequena história individual e a grande história coletiva. Elas interrogam meu próprio cotidiano em busca desse ponto de inflexão onde a experiência vai além da anedota pessoal e toma, subitamente, um caráter coletivo, social, político. E apontam para esses registros impessoais — jurídicos, históricos, médicos, burocráticos — como possibilidades na construção de uma narrativa documental sobre o indivíduo e o mundo ao seu redor. 132
DANIEL JABLONSKI
A obra Sono louco é a tentativa de me autodiagnosticar portador de um distúrbio de sono desconhecido, consistindo na impossibilidade de acordar na hora estipulada. Para tal, realizei uma experiência caseira: dormir durante um mês amarrado a um antigo relógio de ponto portátil. Usado no século XIX para assegurar que os vigias noturnos realizassem suas rondas em fábricas e galpões, ele serviu agora para determinar de maneira estritamente mecânica quanto tempo levo para me despertar a cada manhã. Esta série fotográfica retrata o processo de um “estudo de caso” em primeira pessoa, também apresentados em outras exposições na forma de uma instalação e de um longo ensaio homônimos. Todos os nomes propõe tal transformação ao confrontar o sujeito com a imagem de sua própria experiência duplicada pelo Estado. Ela é a ampliação de um minúsculo bloco de texto do Diário Oficial do Rio de Janeiro, e apresenta os nomes completos, em ordem alfabética, de todos os meus colegas de classe no ensino médio. Não se trata tanto de reavivar aqui uma velha e já surrada crítica à burocracia estatal, quanto de refletir sobre o efeito produzido pela justaposição paradoxal das palavras ‘diário’, vinda de um léxico da vida privada, e ‘oficial’, do poder público. E de lembrar ao espectador que seu nome também está inscrito em alguma edição da mesma publicação, guardada em alguma pasta, em algum arquivo, em algum lugar.
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fernanda andrade
Desenho - Caminho, 2015 Desenhos sobre papel canson 21 x 29,7 cm cada
ARTE LONDRINA 5
Dentro dos limites e da escala de folhas de papel A4 (territórioindústria), a mão refaz, re-traça o deslocamento cotidiano pela cidade. A caneta desliza sobre a superfície, guiada pela sensação de trajetos percorridos, criando registros de movimento, do corpo no espaço e do gesto da mão sobre o papel. Semelhante a uma escrita automática, o grafismo cria proporções imaginadas e códigos espontâneos, que aparecem com mais clareza no conjunto acumulado de desenhos. A repetição dá ritmo à passagem do tempo através do exercício contínuo, da rotina e do envelhecimento amarelado dos papéis. Colocados lado a lado, os papéis formam uma grade cartesiana que contém o seu oposto: a naturalidade dos gestos fluidos, circuitos e circulação, como matéria viva.
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FERNANDA ANDRADE
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flora rebollo
ARTE LONDRINA 5
O DESENHO Perguntaram a um sufi da Ordem dos Naqshbandis: “O nome da sua Ordem significa, literalmente, ‘Os Desenhistas’. O que vocês desenham, e que uso tem?” O sufi respondeu: “Nós fazemos muitos desenhos, e eles são de grande utilidade. Eis, a seguir, uma parábola sobre uma dessas formas. ” Foi permitido a um funileiro, que fora preso injustamente, que recebesse um tapete tecido pela sua esposa. Ele se prostrava sobre o tapete, dia e noite, para fazer suas orações, e depois de algum tempo, disse aos carcereiros: ‘Eu sou pobre e não tenho esperanças, e vocês são mal pagos. Mas eu sou um funileiro. Tragamme latão e ferramentas e eu farei pequenos artefatos que vocês poderão vender no mercado, e todos nós nos beneficiaremos.’ Os guardas concordaram, e em pouco tempo eles e o funileiro estavam ganhando dinheiro, com o qual compravam comida e algum conforto para eles. Então, um dia, quando os guardas foram até a cela, a porta estava aberta e ele tinha fugido. Muitos anos depois, quando a inocência desse homem já tinha sido provada, o homem que o prendeu perguntou-lhe como havia escapado, que mágica usara. Ele respondeu: ‘É uma questão de desenho, e de desenho dentro do desenho. Minha mulher é uma tecelã. Ela encontrou o homem que fez as fechaduras da cela e pegou o desenho com ele. Ela teceu esse desenho no tapete, no ponto em que minha cabeça tocava o tapete nas cinco orações do dia. Eu trabalho com metal, e esse desenho se parecia para mim, como o interior de uma fechadura. Eu concebi o plano dos artefatos para obter o material para fazer a chave... e escapei!’ Essa, disse o sufi Naqshbandi, “é uma das maneiras pelas quais o homem pode escapar da tirania de seu cativeiro.” (Conto extraído do livro Pensadores do Oriente, de Idries Shah, editora Roça Nova) 140
FLORA REBOLLO
Órbita, 2015 Vídeo, 9’12”
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glayson arcanjo
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ARTE LONDRINA 5
Sem Título, da série Arquivos de Destruição, 2016 Transferência sobre pedaço de parede retirado de casa demolida Dimensões variáveis
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GLAYSON ARCANJO
O que resta das ruínas? Os trabalhos da série Arquivos de destruição são fragmentos; pequenos pedaços de parede coletadas em escombros de casas em processo de demolição. Os objetos criados compõem duplos vestígios; tempo e espaço se sobrepõem à superfície das pedras como palimpsestos. Na ruína encontra-se uma parte que é permanência e outra que é esquecimento.
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jĂşlia milward
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De passagem por São Paulo encontrei algumas fotografias pousadas dentro de uma caçamba. Quem rejeitou posicionou com delicadeza as imagens entre os restos de gesso e concreto. Incoerência entre gesto e objetivo. Agente sem origem, sexo, idade ou profissão. Nas imagens apenas um nome aparece figurado: Oscar. Retirei essas fotografias do estado de adeus e inseri as minhas próprias camadas através de um protocolo baseado nos desencontros superficiais-temporais.
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ARTE LONDRINA 5
Protocolo para os desencontros superficiais-temporais: Scanner da imagem encontrada. Intervenção 1: passar a imagem colorida para preto e branco. Impressão 1: deve ser realizada em laboratórios de rua/em papel fotográfico. Intervenção 2: uma, apenas uma, inscrição na imagem (risco, traço, pedaços de papel, fitas, palavras...) Scanner da nova imagem Impressão 2: deve ser realizada em impressora jato de tinta homeoffice/em papel Canson. Intervenção 3: uma, apenas uma, inscrição na imagem (risco, traço, pedaços de papel, fitas, palavras...) 148
JÚLIA MILWARD
Em algum lugar do atlas, 2015 10 montagens fotográficas - impressão Fine Art/Papel Canson Arches Aquarelle 240 g Fotografias Verticais: 30 x 22,5 cm cada – Fotografias Horizontais: 30 x 40 cm cada
Scanner da outra nova imagem. Impressão 3: deve ser realizada em impressora jato de tinta homeoffice/em papel Couchê. ... Scanner Intervenção Impressão ... Prosseguir assim até quando acreditar ter chegado ao fim. Resultado = uma imagem aplainada dos desencontros de trajetos.
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jĂşnior pimenta
503 PASSOS O trabalho tem algo do banal, consiste em uma proposição para que o público saia de casa, caminhe 503 passos, faça uma fotografia, e que esta fotografia seja enviada para fazer parte da exposição. Nesse contexto o banal/cotidiano entra tanto no aspecto da cidade, do contexto pessoal de cada caminhada como também no acaso, da ausência de controle na construção dessas imagens. O conceitual e o cotidiano são coisas que interessam às minhas investigações. Dialogo muito com Keith Arnatt, quando ele coloca em um cartaz a frase: “I’m a real artist”, que fala de outra maneira o que falo agora: que o cotidiano é arte. Contudo, também coloco em questão se o que o outro (público) produz é arte por fazer parte do meu projeto ou porque tudo é arte? Podemos pensar o trabalho como uma afirmação, uma legitimação da vida, da ação cotidiana.
503 Passos, 2016 Cartaz A2
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luis larocca
ARTE LONDRINA 5
REPAROS CONSTANTES Como explicar situações aparentemente aleatórias que se repetem através do tempo e do espaço, de forma estranhamente familiar? Após uma infiltração no telhado, recorrências em torno da casa passam a se acumular, em formas de imagens, gravuras, fotografias de objetos e acontecimentos diversos, como tacos agrupados em um assoalho de madeira. Na tentativa de explicar o inexplicável, o cotidiano torna-se fantástico e a casa se abre para o universo, propondo uma relação entre o microcosmo e o macrocosmo, o espaço doméstico e o espaço sideral. De que maneira é possível perceber a repetição por meio de escalas tão distintas? (texto do artista)
Reparos Constantes, 2017 (em processo) Arquivo de fotografias, textos, gravuras e recortes. Dimensões variadas.
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LUIS LAROCCA
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manuela costalima
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ARTE LONDRINA 5
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MANUELA COSTALIMA
INFILTRADOS As grandes cidades fazem-se de uma combinação constante entre desenho, planificação, vontade de ordenamento do espaço e suas apropriações irregulares, adaptações provisórias que acabam por se consolidar; desvios que o tempo e a ocupação imprimem na grelha urbana. Na cidade ocupada e desviada, dos puxadinhos, camelôs e mendicantes, inserem-se os Infiltrados. Esses sistemas lineares, compostos de canos e lâmpadas tubulares, instalam-se como organismos vivos – um pouco camaleônicos –, imitando e dando continuidade a elementos preexistentes da paisagem. Trata-se, contudo, de intervenções dotadas de uma lógica própria, em que lâmpadas se depositam em viadutos, no meio de calçadas, debaixo de escadarias ou em canteiros tomados pelo mato. As infiltrações só se completam ao aproveitarem uma fonte de energia, “emprestada” por uma banca de jornal, um botequim ou mesmo por alguém que mora por ali. No improviso, o Infiltrado por fim se acende e traz à cena aquele lugar que antes passava à margem.
Infiltrado Londrina, 2016 Intervenção – canos de cobre, lâmpadas led e fiação elétrica Dimensões variadas
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mariana teixeira
ARTE LONDRINA 5
PAUSA: A EXPERIÊNCIA DA DÚVIDA O vídeo Para Ingmar Bergman, com amor da artista Mariana Teixeira filtra a vivência da cidade pela atmosfera dos filmes do dramaturgo sueco e nos coloca dois problemas conectados em suas dimensões opostas: o quanto a cidade nos força a uma “interioridade” necessária e a impossibilidade de uma experiência “subjetiva” mais plena. São três cenas: trânsito filmado por uma janela num dia chuvoso, um túnel de metrô e uma garota vista através da porta de entrada de um vagão, nas quais aparecem legendas de diálogos recortados e recombinados dos filmes Persona e O sétimo selo. Assim como cada imagem mantém sua autonomia em relação ao conjunto, os diálogos vagamente se relacionam uns com os outros e com os quadros capturados pela câmera do celular. Esta conexão frágil entre textos e imagens, por um lado, sugere a própria descontinuidade dos estímulos na cidade; por outro, atua como variações sobre um mesmo tema – diálogos e imagens repõem constantemente um sentido de melancolia, incomunicação, solidão e dúvida. O trabalho também nos informa sobre os procedimentos de corte e edição dos filmes de Bergman, além dos interesses centrais daquela obra. Para Ingmar Bergman, com amor acaba lidando com códigos de rebaixamento e interioridade, mas põe à prova a possibilidade dessas experiências, para além de sua estereotipia, verificando os
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MARIANA TEIXEIRA
espaços vazios e os silêncios na cidade sem julgamento ou adesão. A câmera apenas “atesta” a organização desses espaços e se existe alguma “busca” é por um objeto desconhecido. Nesse sentido o looping não é apenas uma contingência de exibição, mas enfatiza o fluxo do tempo gravado no vídeo; o trabalho de Mariana tem pouco mais de cinco minutos, mas é inevitável percebê-lo num tempo dilatado, assim como, independentemente do tamanho em que é exibido, sua escala é grande – o trecho do túnel reforça uma escala “abismal” colocando, inclusive, o buraco do túnel como análogo à lente da câmera e ao olho. O que me parece interessante é que esse “reencontro” dos filmes de Bergman com a cidade não é mera citação esteticista, nem pastiche, nem um fardo histórico que o trabalho carrega. A busca por uma experiência subjetiva menos amarrada em clichês e que procure de fato uma inspeção interior surge aqui sem nostalgia e afirma, quer queira, quer não, uma compreensão da arte como um espaço negativo, o trabalho de arte (a forma) como elaboração e adensamento de dúvidas. Leandro Muniz
Para Ingmar Bergman, com amor. 2014 Videoarte 5’45”
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noara quintana
ARTE LONDRINA 5
Noara Quintana parece a todo momento querer construir ou habitar, quem sabe seja isso ainda pintar, ainda escrever, qualquer coisa de improvável sobre paisagens. Coisa própria dos cães, própria dos artistas, Noara caminha sempre à espreita, sondando espaços aparentemente insondáveis, sobre os quais se possa pisar algum labiríntico trajeto, cartografar qualquer coisa cujo excesso se faz vazio, trazer à superfície um pouco de tempo perdido, tempo remoto, tempo vertiginoso, ou mesmo edificar um frágil castelo com pó de carvão vegetal. Talvez esse último O Castelo, o impossível castelo de Kafka!? Não, tal relação não seria provável, pois K. jamais adentra o castelo, enquanto que Noara já está dentro do seu, o edifica sobre si mesma, existe em sua fortaleza, faz-se o alicerce de 1,52m por 1,52m do Quadrado Negro que aos grãos de areia quer se fundir. Mas ainda não seria aquele Quadrado Negro, antes que algo edificado sobre a superfície, algo edificado sob a superfície, algo que almeja o fundo, ou que o fundo quer trazer ao plano? Estranho desejo esse de construir castelos subterrâneos, desejo de roedor esgaravatador kafkiano, edificador de obscuras câmaras sem entrada e sem saída, desejo de pintor de abismos Caspar D. Friedrich, ou mesmo de Bas Jan Ader, o nadador de profundidades marítimas Em busca de um milagre. Trecho extraído do texto “Sondagens: do fundo à superfície”, de Ricardo Mari.
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Broken Fall, 2011 Vídeo-performance 2’10” Quadrado Negro, 2013 Vídeo-performance, Duna, pó de carvão e barras de alumínio 10’
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NOARA QUINTANA
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ricardo alves Soyuz TMA19, 2015 Óleo sobre tela 50 x 40 cm
Transformador, 2015 Ă“leo sobre tela 40 x 30 cm
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ARTE LONDRINA 5
(...) É dessas imagens de mapeamento espacial, satélites e outros equipamentos criados pelos humanos para alcançar o inalcançável, o espaço e o domínio do universo, que Ricardo Alves se apropria para realizar suas pinturas. Extraídas da internet, essas paisagens construídas por aparelhos, muitas vezes mais ficcionais do que reais, são reconfiguradas pelo artista, trabalhadas em suas composições, para então originar suas pinturas. Assim como paisagens terrestres de bases de lançamentos espaciais são realizadas como se fossem territórios extraterrestres, ausentes de vida humana, telescópicos e outros artefatos de observação espacial são realizados pelo artista com toda estranheza que essas máquinas aparentam. A pintura de Ricardo Alves é olhar essa imagem falsamente construída e atribuir novos valores de cor, profundidade e sentido para elas, nova construção. Uma construção mais humana, que assume suas falhas, suposições e incompletudes, como em Ultra Deep Field falhado. É propor uma nova metodologia de observação, menos científica. É uma devolução à imagem do mistério que os satélites removem do universo ao fotografá-lo. É retomar o encanto de embate com o desconhecido de modo menos direto (...) Excerto do texto de Douglas de Freitas, Mensagem das estrelas, escrito por ocasião da exposição do artista no Museu de Arte de Ribeirão Preto.
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RICARDO ALVES
Desenho de ondas supersônicas, 2015 Óleo sobre tela 30 x 40 cm
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sandra lapage
ARTE LONDRINA 5
Pesquiso a arte de colecionar e de criar conexões inesperadas entre arte e objetos encontrados. Inspirada pelo trabalho de artistas da natureza como Andy Goldsworthy, Marinette Cueco, Markku Kosonen, Cornelia Konrads, Nils Udo, Bob Verschueren e outros, recolho objetos e crio assemblagens que brincam com a fragilidade de sua aparente efemeridade. Ao elevar objetos do cotidiano ao patamar de obra de arte, proponho uma discussão em torno das escolhas estéticas e políticas que guiam o estabelecimento de uma hierarquia entre objetos “valiosos” e objetos do cotidiano (Goldberg, Itzhak, Installations, (CNRS Editions, Paris, 2014), 101). Removidos de seu contexto original, objetos ditos mundanos ganham valor simbólico e revelam beleza absoluta justamente em suas imperfeições. Esta série apresenta um conjunto de “desenhos”: pequenas esculturas elaboradas com elementos naturais, presos com fios de costura e encapsulados em látex. Esta dezena de esculturas foi desenvolvida às margens do Rio Sena, durante uma residência de um mês em uma região onde a abundância de elementos naturais os “impôs” como materiais para desenvolvimento de estruturas e desenhos no espaço.
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Sem Título, 2016 Desenho imposto: estuaire, capins amarrados, encapsulados em látex 76 x 50 cm Sem Título, 2016 Desenho imposto: envahissantes, plantas encapsuladas em látex 60 x 40 cm
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SANDRA LAPAGE
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thiago r
Série Exposições Sonoras, 2015-2016 Tríptico – Impressão sobre Materiais Variados (Alumínio, Aço e PVC) 25 x 20 cm cada
EXPOSIÇÕES SONORAS Pensadas para serem dispostas como placas de aviso, a série Exposições Sonoras informa diferentes variações de acordo com as regras de elasticidade e inércia em que o som atravessa cada estrutura física. O trabalho propõe a relativização do fenômeno da escuta ao evocar no campo da visualidade alguns aspectos que escapam aos ouvidos.
ARTE LONDRINA 5
540 km, 2015-2016 Calçado, microfones de contato, gravador de áudio, mini caixas sonoras, fios, cabos, quadro de madeira e impressão 08 x 14 x 31 cm (calçado) – 31 x 39,7 cm (mapa)
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THIAGO R
540 km Trabalho realizado a partir da gravação sonora do trânsito entre a cidade de residência do artista e o local de realização da exposição. Mediante a confecção de microfones instalados nos calçados, o ato de caminhar se torna um modo de desvelar sons compostos pelo movimento do próprio artista e sua interação com o entorno e demais situações que possibilitam o trâmite entre cidades. Esses sons são gravados ao longo de todo o percurso, e tão logo o artista chegue ao seu destino a peça é dada por completa. O resultado da performance se torna um objeto sonoro composto pelos próprios calçados do artista e mini caixas de som amplificadoras que executam a peça sonora em loop. 179
exposição 3
as coisas se escoram tortas
O B J E TO S QUE SE E S C O R A M TO R TO S
Ilana Seltzer Goldstein Professora do Dpto. de História da Arte na Universidade Federal de São Paulo - Unifesp Co-coordenadora do grupo de estudos Práticas Artísticas, Antropologia e Etnografia - PRAEA
Falar de objetos nunca é só falar de objetos. No fundo, falamos de nós mesmos por meio e a partir de objetos. Ademais, olhar para objetos não é contemplar artefatos estáticos e definitivos. É buscar apreender processos de transformação e ressignificação. Brisa Noronha, em “Escadeira” (2014), alude, já no título, a dois objetos domésticos e utilitários distintos: uma cadeira e uma escada. A cadeira evoca repouso, segurança e estagnação, enquanto a escada sugere ascensão, instabilidade e risco. Talvez uma “escadeira” seja um híbrido que traduz e combina esses dois estados do ser. Nas imagens, as peças de madeira de cores e tamanhos diferentes permitem fácil encaixe, são destinadas à montagem e à desmontagem. Depreende-se do conjunto a ideia de que as mesmas unidades construtivas podem dar origem a objetos com funções e sentidos muito diferentes; que a matéria está sempre na iminência de transformação, reciclagem e reapropriação. De alguma maneira, a proposta de Rodrigo Arruda vai na mesma direção. O elemento contraditório e inesperado fornece o fio condutor de seus trabalhos. O prego de vidro, se utilizado, será destruído logo nas primeiras marteladas. Portanto, deixa de ser um prego, mesmo se parecendo com um. Já a argila é manipulada por Rodrigo não para dar forma a peças tridimensionais, mas para traçar linhas finas e longas, desenhando no espaço. Ao subverter o uso esperado de matérias-primas 183
ARTE LONDRINA 5
e formatos, lembra-nos de que pode haver surpresas, fragilidades e invenções nos processos mais corriqueiros e aparentemente estabelecidos. As Ciências Sociais contemporâneas nos ensinam, por meio de autores como Bruno Latour, que os limites entre objetos e sujeitos, coisas e pessoas nem sempre são claros. Existem, antes, trânsitos e jogos de espelhos entre eles. As videoperformances de Bruna Mayer ilustram com maestria que nossos corpos não são apenas sujeitos, mas também objetos. A educação dos gestos mais cotidianos, as formas de expressar desejos e a domesticação dos instintos, por exemplo, fazem parte da socialização em qualquer grupo humano. Essa fabricação do corpo não é somente simbólica e inconsciente. Há práticas que agem direta e fisicamente sobre ele. A boca que mastiga e regurgita, em “Ânsia”, faz pensar em nossa relação obsessiva com a comida e na artificialidade do que consumimos. Os fios que contornam o mamilo, em “Amarração”, poderiam aludir às cirurgias plásticas, cada vez mais recorrentes entre mulheres. (O título desse vídeo, aliás, talvez não seja casual: numa sociedade machista e que cultua a juventude, seios firmes e “turbinados” podem ser, aos olhos de alguns, estratégias melhores do que trabalhos de magia negra para uma mulher “amarrar” o seu homem.) Quanto a “Desdêmona”, cujo título vem de uma personagem de Shakespeare morta injustamente por Otelo, o vídeo mostra uma mulher em vias de sufocar, com a cabeça coberta por tecidos e linhas – as mesmas linhas que aparecem nos dois outros videos. Vistos em conjunto, os três apresentam corpos femininos submetidos a ações que os nutrem mas também intoxicam; modelam, mas também ferem, e que, no final, podem matar. Na instalação “A Seita”, da mesma artista, formas tridimensionais encapadas com panos e linhas – lembrando visualmente um procedimento 184
ILANA SELTZER GOLDSTEIN
utilizado por Antônio Bispo do Rosário – são ambíguas. Não sabemos se são pedaços de corpos – aqui um coração, ali um dedo, lá um pedaço de braço? – ou simplesmente pedras e outros restos de objetos inanimados. Se nos vídeos de Bruna Mayer os corpos são objetos, aqui, ao contrário, objetos são quase corpos, o que poderia ser lido como uma alegoria do fato de que somos cada vez mais dependentes de objetos e tecnologias: próteses, chips e telefones celulares têm se tornado nossas extensões. Bruno Makia, em suas reproduções de fachadas, revela uma outra faceta objetificadora do capitalismo tardio. Em uma das imagens, o título indica que o homem está trabalhando às 23h. Provavelmente esteja cansado, mas não pode parar devido a pressões do chefe ou de clientes. Enquanto trabalha, podemos vê-lo da rua, controlar sua produtividade. Na outra imagem, o título “Aquário” transmite a ideia de aprisionamento: aquários são ambientes fechados em que seres vivos recebem alimentação racionada e podem se reproduzir, para deleite alheio. A arquitetura corporativa é capaz de transformar os trabalhadores em objetos ou animais, expostos em vitrines, sem privacidade, comparáveis, intercambiáves. Já a arquitetura residencial muitas vezes abole a privacidade. As fotografias da série “à parte, ao outro”, de Sérgio Borghi, permitem vislumbrar vagamente frestas e janelas de apartamentos, remetendo ao enclausuramento dos habitantes de edifícios nas grandes cidades e à paradoxal intimidade que acabam por desenvolver com os sons e os indícios da vida de seus vizinhos, íntimos e anônimos simultaneamente. Talita Hoffmann se debruça mais uma vez sobre a arquitetura das cidades, porém com ênfase na permanente justaposição de elementos, destruídos, reconstruídos, abandonados e transformados, originando uma paisagem 185
ARTE LONDRINA 5
urbana caótica e heterogênea, que certamente surte efeitos sobre quem nela vive e transita. Estruturas e suportes dão ainda a tônica dos trabalhos de Érika Malzoni. Se por um lado vivemos num mundo cada vez mais calcado no valor intangível das coisas, por outro lado não abrimos mão tão facilmente de organizações e dispositivos tradicionais. É possível interpretar “Acervus”, composto por molduras de quadros vazias, como analogias às instituições consolidadas do sistema das artes, ao mesmo tempo (e paradoxalmente) estruturantes e engessadas, fundamentais e excludentes, cobiçadas e desgastadas. “Cretinismo”, também de Malzoni, constrói uma coluna vertebral com pares de meias colados pelas extremidades, formando as vértebras que sustentam a sociedade consumista: as marcas. Não se trata de meias quaisquer, mas de meias Nike e Puma, associadas a atributos como juventude, esporte profissional, street fashion, design e liderança mundial. São mercadorias desejadas devido a estratégias de marketing sofisticadas e agressivas, muito mais do que por aquecerem nossos pés, ícones de uma era em que se consomem imagens antes do que objetos. A presença de meias de grife numa exposição de arte atesta que um mesmo objeto pode entrar e sair da “condição de mercadoria”, como sustentam Arjun Appadurai e Igor Kopytoff, e que ele pode não ser considerado arte num dado momento, mas depois ser “artificado”, como argumentam Nathalie Heinich e Roberta Schapiro. Quando examinados, dentro do conjunto da exposição, os trabalhos de Guilherme Callegari, atravessados por linhas claras e escuras, intercaladas, remetem, segundo nossa livre leitura, a códigos de barra, emblemas da padronização, da digitalização e da globalização no capitalismo tardio. A 186
ILANA SELTZER GOLDSTEIN
partir do código de barras, com um simples scanner manual é possível decodificar diversas informações, transmitidas diretamente do artefato para a máquina. É o reino da impessoalidade. Do quantificável e armazenável. Como ficam os vínculos afetivos e sociais em meio à sociedade da eficiência, da objetificação e da mercantilização? Esta parece ser uma questão comum que mobiliza vários artistas, como Luciana Navarro, que denuncia: “Os abraços se encerravam no ar”; e Mariana Lachner, que afirma: “não acredito no amor” e representa partes do seu corpo cobertas por agulhas perfurantes, que ferem quem delas se aproximar. Mano Penalva, por sua vez, encontra respostas ao risco da impessoalidade e do vazio afetivo na intimidade do lar, nas singelezas cotidianas, nas pequenas liberdades de escolha e acolhimento que nos restam, traduzidas nas passadeiras artesanais entrelaçadas e nos materiais prosaicos reciclados com criatividade. Já Hugo Curti fotografa e projeta partes de corpos de pessoas que circulam pelo espaço expositivo, incorporando o elemento local, particular, único e vivo à exposição. O futuro da pintura, num mundo marcado pela realidade virtual e pela saturação de imagens, é discutido de duas formas diferentes. Marinalva Rosa se lança à força das cores e estampas, à materialidade do papel e da tinta, apegando-se no prazer formal e na busca estética, ao passo que Paula Scavazzini e Maurício Cardoso parecem sugerir que a pintura não goza mais de visibilidade, nem entre artistas, nem para o público. A dupla expõe um quadro coberto por tecido escuro, ao lado de um vídeo que mostra a artista pintando com os olhos vedados. A invisibilidade é igualmente tema dos trabalhos de Rafael Schultz Myczkowski intitulados “Apagamentos, retratos da privação”. O foco recai 187
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sobre os mecanismos de exclusão de pessoas com deficiências em nossa sociedade. O interessante é que o visitante assume papel ativo no processo de (não)apagamento dos retratados: à medida em que sua presença é detectada por sensores, as borrachas brancas interrompem seu vai e vem sobre os retratos desenhados com grafite. Rafael talvez esteja nos dizendo que está em nossas mãos a decisão de não apagar as diferenças e de lidar com as deficiências de modo mais aberto e respeitoso. Também mostra que a arte contemporânea precisa da participação do espectador. Evidentemente, existiriam muitas outras possibilidades de agrupar e interpretar os trabalhos dos artistas selecionados para a mostra “As coisas se escoram tortas”. O que se tentou compartilhar, aqui, foram impressões e conexões suscitadas pela exposição sob um olhar antropológico, segundo o qual as coisas operam como mediadoras de relações sociais e a arte é um processo aberto que condensa intencionalidades de diferentes agentes, conforme escreveu Alfred Gell. Tortas ou não, bem ou mal escoradas, as coisas nos interessam não apenas por sua forma ou por sua técnica, mas principalmente porque são depositárias – e ao mesmo tempo geradoras – de memórias, afetos e intencionalidades.
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brisa noronha
ARTE LONDRINA 5
Ao impor regras, padrões e preceitos para a realização de seus trabalhos, Brisa Noronha acaba por se concentrar no exercício empírico do fazer, que encontra seu desfecho na ordenação e organização do resultado de seus esforços. Empilhados, expostos lado a lado, organizados por tamanho, por suas afinidades ou decisões inconscientes da artista, esses objetos concentram nossas atenções sobre suas qualidades físicas, sua translucidez, sua rugosidade ou falhas de execução e queima, e deslancham no espectador um processo de contemplação silenciosa dos mais notáveis. Esses conjuntos de elementos, cada qual com sua personalidade, seus defeitos e idiossincrasias, têm em suas origens um tema básico que acaba por ser variado em diferentes modulações e registros, e que nos coloca frente a frente a um sofisticado jogo de oposições. Giancarlo Hannud
Escadeira, 2014 Fotografia impressa em papel de arroz 60 x 80 cm cada
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A Seita, 2016 Instalação, objetos amarrados, encapados e envoltos por fios e tecidos variados, expostos em conjunto no chão Dimensão variável
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A inquietação e o desconforto do corpo e da mente foram o fio condutor de uma pesquisa, que resultou em uma série de vídeos. Nela, o corpo se torna receptáculo dos estímulos internos e das fantasias inconscientes, trazendo à tona aspectos hostis da mente relacionados a um autoflagelamento. Sensações viscerais, que não passam pela via do pensamento, atuam diretamente sob o corpo de forma sutil e dissimulada. As ações buscam dar forma a essas sensações corporais latentes relacionadas a uma agressividade encoberta, de difícil acesso, que é intimamente ligada a culpas e prazeres ocultos. A Seita - Na instalação A Seita, formas ambíguas guardam em seu interior objetos não revelados, entrelaçados e envoltos por camadas de fios e tecidos, perdendo sua identidade original. Instaura-se uma tensão entre o dentro e o fora, o escondido e o revelado. Uma alusão ao casulo, criado por alguns insetos ao redor de si mesmos como uma forma de proteção em períodos mais vulneráveis de sua existência. Por outro lado, fios que enlaçam esses objetos como uma espécie de parasita, tumor ou doença que se apossa e se espalha tomando conta de toda sua superfície. Os novos objetos que se formam surgem de uma perturbação interna; de um estado emocional caótico e conturbado que se faz mais presente nas ações 198
BRUNA MAYER
Ânsia, 2016 Vídeo, 8’16” Amarração, 2016 Vídeo, 5’2” Desdêmona, 2016 Vídeo, 9’48”
compulsivas de amarrar e envolver. Se constituem enquanto resquício da ação obsessiva e repetitiva, que evoca a ideia de um ritual mágico e primitivo; uma seita religiosa ou um culto secreto. Em meio ao caos e à desordem de um mundo interno, uma tentativa de organização desses objetos que, de forma simbólica, representam os aspectos internos impalpáveis e imateriais. No vídeo Ânsia (8min18s), a câmera enquadra apenas a boca para revelar a ação de chupar e sugar avidamente fios variados para o seu interior. A artista começa puxando com a língua lentamente um único fio e, aos poucos, vai adicionando outros fios numa ação que se intensifica, até atingir o limite do corpo sob forma de engasgo. No vídeo Amarração (5min 2s), apenas o seio é revelado em uma ação hostil e agressiva de envolver e enlaçar a mama e o mamilo com linhas de costura. A edição do vídeo contribui para desestabilizar a percepção, gerando um desconforto no observador. No vídeo Desdêmona (5min 2s), a artista envolve o rosto com materiais variados, numa ação exagerada e ao mesmo tempo opressora que oscila entre o ocultar da face e o desejo de se libertar desse enlace autodestrutivo. 199
bruno makia
ARTE LONDRINA 5
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Numa sexta-feira qualquer depois das 23 horas, 2016 Impressão jato de tinta sobre papel fotográfico fosco 90 x 60 cm Aquário, 2016 Impressão jato de tinta sobre papel fotográfico fosco 20 x 30 cm
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BRUNO MAKIA
JANELAS A janela como elemento formal e poético não é algo novo dentro do nosso repertório visual e cultura imagética. Talvez uma história da arte ocidental pudesse ser contada (ou recortada) tendo esse elemento arquitetônico como denominador comum entre as imagens de diferentes momentos históricos. Nesse sentido, o olhar atento para as janelas na arte poderia nos indicar muitas das questões vigentes de cada época. E se na arte as janelas e o que vemos através delas podem nos dar indícios de uma forma específica de “se situar no mundo” impregnada com as mentalidades correntes de cada período da história, o que as nossas janelas teriam a dizer sobre nós mesmos? Em minha produção fotográfica, estabeleço uma relação próxima com a pintura por meio do enquadramento das linhas imaginárias que estruturam as imagens, na preocupação com as luminosidades, campos cromáticos, com as sombras, tratamentos e pós-produção das cores. Também dialogo com fotógrafos contemporâneos que registram as janelas das cidades, cientes de que as transformações impostas pelas forças atuantes nos espaços urbanos tendem a tornar em um curto espaço de tempo imagens poéticas em registros históricos documentais. Além do registro das janelas em si, interessa-me a investigação dos caminhos da linguagem, centrada na metalinguagem inerente ao ato de se registrar e expor janelas, tanto na pintura como na fotografia, entendendo esse objeto final apresentado como uma nova janela em potencial.
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erika malzoni
Sem título, da série desenhos, 2015 Lacres plásticos Aproximadamente 140 x 70 x 1 cm
ARTE LONDRINA 5
Acervus, 2013 Telas e cola 60 x 50 x 2 cm – 60 x 50 x 16cm (díptico)
Chamo de Percursos Aleatórios este conjunto de trabalhos independentes, que têm como característica em comum meu interesse pelo reaproveitamento de materiais, jogos e hábitos corriqueiros, e um questionamento pessoal dos protocolos do desenho, da representação das estruturas formais e dos suportes existentes. Geralmente encontro os materiais com os quais trabalho em deambulações no centro da cidade de São Paulo, no bairro onde moro e em viagens. A saturação da paisagem urbana e a quantidade de material excedente não justifica começar algo a partir do novo, e justamente devido a esse excesso de produção e consumo existentes, penso o conceito de colagem como uma arquitetura capaz de organizar estes materiais simples, comuns, precários, sem importância e que na maior parte das vezes já cumpriram seu papel. 206
ERIKA MALZONI
Cretinismo, 2014 Meias, linha e lona de caminhĂŁo 164 x 122 cm
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guilherme callegari
MatricialcontinuumII, 2016 Grafite sobre papel 42 x 51 cm (trĂptico)
Matricial1500, 2016 Grafite sobre papel 81 x 111 cm (polĂptico)
A série intitulada Matricial surgiu após a observação de imagens que continham erros de impressão gráfica, seja de uma impressora doméstica ou offset/profissional. É um trabalho muito repetitivo, feito apenas com lápis, papel e régua, como se fosse uma impressora imprimindo vários papéis errados, fazendo tudo aquilo que era para ser impresso perder todo o significado. O nome da série surgiu do tipo de impressora matricial, que fazia impressão com pequenos pontos e na maioria das vezes eram apenas documentos burocráticos com tipos. Uma vez que a base para todos os meus trabalhos é o design gráfico e a tipografia, a impressora matricial está certamente 100% dentro da minha pesquisa, como vários outros tipos de impressão gráfica. 209
hugo curti
ARTE LONDRINA 5
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HUGO CURTI
ESTUDO PARA A LOCALIZAÇÃO DO MEIO_2 Esse trabalho faz parte de um conjunto de ações que comecei a fazer em 2014 quando, em uma palestra, ouvi que “The power is in the middle” (o poder está no meio). Onde é esse meio ou centro das coisas? Como chegar até ele? Foi a partir dai que várias tentativas de buscar o meio ou o poder começaram, e algumas perguntas surgiram: Esse meio é “real”? Quais os métodos para determiná-lo? Quem determina? Uma dessas ações, a que foi proposta para o Arte Londrina 5, é achar o meio do corpo. Medir a altura e a largura e, dividindo por dois, cheguei ao meio, pronto resolvido. Não, esse é o meio geométrico, onde está o centro das emoções? E o centro dos pensamentos? Muitas outras possibilidades de pensar em meios ou centros surgirão, mas resolvi parar nessas três e começar um “trabalho de campo”, fotografar esses centros no maior número possível de pessoas para tentar entendê-los.
Estudo para localização do meio_2, 2015 Fotografia projetada Projeção com aproximadamente 2 metros de diâmetro
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luana navarro
Os abraços se encerravam no ar é composto por 16 folhas A4 que são o resultado do escaneamento de folhas sulfites em branco amassadas. Criando uma imagem fragmentada, o trabalho faz referência a um universo afetivo. Em uma das páginas aparece a frase os abraços se encerravam no ar. De feitura barata para circulação em massa, este trabalho tem sido distribuído em feiras de impressos.
Os abraços se encerravam no ar, 2014 16 folhas A4 em sulfite 90/g, impressão em preto e branco. 84 x 112 cm
detalhe
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mano penalva
Sem título, 2015 Tapetes manuais costurados e malha de construção 150 x 250 cm
ARTE LONDRINA 5
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MANO PENALVA
Do vigor comercial das cidades à relação com o espaço público-privado, Mano Penalva se interessa pela estética da vida ambulante, relações de troca e o estudo da cultura material. Mano trabalha com diferentes mídias como pintura, fotografia, escultura e instalação. Seu trabalho engloba apropriações, nas quais desenvolve um estudo do objeto inserido na cultura, realizando uma longa coleta de artigos comuns encontrados na rua e em mercados populares. Ao criar os trabalhos, subverte o valor dos objetos do cotidiano, propondo novos agrupamentos estéticos. Em alguns de seus trabalhos, Mano entra com interferências têxteis, como sacos de ráfia, bordados e apliques, reforçando a ‘domesticidade’ dos objetos em contraponto ao aspecto transitório e efêmero da rua. Mano caminha pelas chamadas “gambiarras”, aprendizado que o artista intitula de uma “tecnologia urbana” onde é possível “se virar com pouco” – uma espécie de reaproveitamento de elementos do cotidiano, concebidos a partir de coleção pessoal, que deixam suas funções originais para trás e constroem esculturas e formas com uma nova proposta. Juraci Guimarães Alto Alegre, da série Origem, 2015 Sacos de ráfia, elástico, silver tape e refletível 80 x 90 cm El Idolo, da série Origem, 2016 Sacos de ráfia e refletível 40 x 50 cm
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mariana lachner
Eu nĂŁo acredito no amor, 2016 Agulhas, papel e tecido DimensĂľes variadas
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EU NÃO ACREDITO NO AMOR, 2016 Me entrego aos amores com tudo que posso oferecer. Meus rins, minha garganta, meus olhos, minha buceta, meu estômago, meu coração. Meus órgãos vitais, pulsando para meus amores. Sinto necessidade de ser virada do avesso, que penetrem minha pele e aceitem o que posso oferecer. Então me exponho. Carne, sujeira e amor. Ofereço aqui tudo que tenho. Tudo que posso dar. Arrancados de mim, pregados na parede, para que possam ver além da pele. Meus órgãos. Todos para você. 221
ARTE LONDRINA 5
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MARIANA LACHNER
detalhe
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marinalva rosa
Sem TĂtulo 3, 2015 Pastel a Ăłleo sobre folha de revista 27,5 x 19,5 cm
Sem Título 4, 2015 Pastel a óleo sobre folha de revista 20 x 15 cm
Os trabalhos aqui apresentados fazem parte de uma série de desenhos que construo sobre diferentes tipos de papéis. Estes papéis, na maioria das vezes possuem informações preexistentes, como folhas de revistas ou papéis com elementos ornamentais, mero pretexto para a construção de sistemas pictóricos de superfície. O embate se faz na aceitação ou não do estado folha, o quanto de cobertura (massas de pastel oleoso) podem desprender o olhar do observador num pêndulo entre a informação impressa e a pintura. Digo pintura pela insistência de gestos que torna aparente a espessura de massa pigmentada, digo pintura pela absorção e fluência de meus pensamentos, livre associações que só a perturbação das tintas possibilita. 225
paula scavazzini e maurĂcio cardoso
ARTE LONDRINA 5
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Pintura, 2016 Pintura em tinta a óleo sobre tela reclinada sobre parede branca, velada por tecido de sarja na cor preta, dispositivo eletrônico multimídia de 12 polegadas exibindo vídeo em looping. 200 x 280 x 40cm
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PAULA SCAVAZZINI E MAURÍCIO CARDOSO
Maurício e Paula partilham do mesmo espaço de trabalho. Maurício possui trabalhos com apropriação e construção de objetos e Paula utiliza, majoritariamente, a pintura como linguagem. A convivência em um ateliê coletivo gera, naturalmente, interlocução entre os integrantes, o que reflete nos trabalhos. E é desta situação que surgiu o trabalho Pintura. Pintura consiste numa pintura em tinta a óleo sobre tela, de 180cm x 200cm, velada por tecido de lona de algodão na cor preta, reclinada sobre parede na cor branca. À direita, a 30cm, encontra-se um dispositivo multimídia eletrônico de 16 polegadas, que reproduz um vídeo, em looping, do processo de construção da pintura em tinta a óleo sobre tela, por um artista visual, vendado pelo mesmo tecido de lona de algodão na cor preta, usado para recobrir a pintura. O objetivo é discutir a linguagem da pintura na arte contemporânea através da própria pintura, principalmente, e de outras linguagens. O trabalho partiu de questões como o motivo de inserir mais uma imagem no mundo, já saturado de imagens, sendo criadas a cada segundo, por meios que podem ser mais velozes e simples, como o computador, o tablet, o aparelho celular etc, ao invés da tradicional tinta a óleo sobre tela. Até que ponto a obliteração do acesso do próprio artista e do público à imagem da pintura a modifica? A pintura sobrevive somente como uma ideia? Ademais, talvez seja possível perceber uma tentativa de embaçar, por assim dizer, a relação artista - obra/sujeito - objeto/”criador criatura”. Após algumas discussões e considerando a propriedade e os domínios da pintura em relação à própria ideia de pintura, surge o trabalho Pintura, com a proposta de se fazer uma pintura às cegas e que não seria vista por ninguém. “O artista vendado executa a pintura e ao seu comando determina seu fim. Nesse momento, a pintura é coberta e velada por tecido preto. Toda esta ação é registrada em vídeo, a partir de um ângulo que mantém o mistério sobre a imagem construída”. 229
rafael schultz myczkowski
katia, 2014 Desenho/Instalação, gambiarra analógica/digital 53 x 45 x 5 cm
APAGAMENTOS RETRATOS DA PRIVAÇÃO A partir da criação de visualidades daqueles que são tornados invisíveis, trago a público desenhos-instalações – retratos a grafite suspensos em estruturas de madeira e gambiarras eletrônicas. Tais dispositivos trabalham continuamente no apagamento de retratos e interrompem o movimento de apagamento apenas com a presença do observador. Ao aparecer e não ser completamente visto ou reduzido ao conteúdo, a obra pretende ser uma metáfora do meio termo: o que é revelado ao mesmo tempo é apagado. Meio termo, assim como a imagem que fazemos sobre o sujeito com deficiência. E ao tentar responder a esse imaginário, a obra descrita pretende visibilizar o sujeito sem expô-lo, direcionando o entendimento para outros rumos, colocando o espectador no lugar de testemunha de uma ação, na qual ele mesmo pode estancar o apagamento e, desse modo, passa de um sujeito passivo para a condição de cúmplice do apagamento simbólico e físico. O movimento e sons produzidos pelas gambiarras podem ser conhecidos no link: https://www.youtube.com/watch?v=JcYGJVJaU5M
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rodrigo arruda
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RODRIGO ARRUDA
Sem título | Fios de argila enrolados manualmente e dispostos livremente sobre base | comprimento total variável | 2014 Neste trabalho, fios de argila são enrolados manualmente e alinhados um ao lado do outro de modo a ocupar um comprimento determinado. A argila, tradicionalmente utilizada na construção de matéria, de massa, é reduzida a quase nada, a uma linha (esta que, paradoxalmente, possui peso e espessura). O comprimento total do trabalho varia de acordo com cada exposição. Uma vez que esta linha se estende por grandes ¬ comprimentos, ela adquire caráter de divisora de fronteiras, como em um mapa em escala 1:1. A argila é exposta crua, de modo que ela se dissolve e se fragmenta com o tempo. O material também não é colado na base em que é apresentado, de maneira que¬ mesmo um sopro pode desestabilizá-lo por completo. Sem título | vidro | 5 cm | 2013 Este trabalho pode ser descrito como um prego de vidro ou como um vidro em forma de prego. Trata-se de um objeto que é quase a negação de si mesmo. Sendo frágil e vulnerável, ele rejeita a função do pregar.
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Sem título, 2013 Vidro 5 cm Sem título, 2014 Fios de argila enrolados manualmente e dispostos sobre base Comprimento total variável
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sergio borghi
Ă€ parte, ao outro, 2016 Pigmento mineral sobre papel algodĂŁo 170 x 30 cm
À PARTE, AO OUTRO Sob a luz de alguns aspectos, a clausura de um ambiente doméstico subverte o valor de lar. O silencioso ritmo da solitude faz-se vivo em atos alheios: espirros, batidas, risadas, escarros, numa melodia orgânica e cadenciada. A música lasciva entra e contamina, obceca o corpo seco. Refém do outro, põe-se a avistá-lo, sentilo, vivê-lo. A série fotográfica à parte, ao outro propõe-se retratar a obsessão com o outro como um ato individualista. O ponto de partida do questionamento é o conceito de apartamento, um ambiente individual por excelência. Da clausura, o indivíduo cria relações com seus próximos por indícios, manifestados em sons corriqueiros e observações fragmentadas do cotidiano alheio. Refém de uma obsessão, projeta-se horizontalmente no outro e caminha rumo a uma amenidade contínua e fantasiosa, cada vez mais próximo de deslocar-se a favor do outro em detrimento de si mesmo. 237
talita hoffmann
Areia Movediça, 2015 Tinta acrĂlica sobre tela 140 x 150 cm
O processo de urbanização e industrialização tardio em países como o Brasil trouxe características únicas à infraestrutura urbana destes locais e, ao mesmo tempo, criou uma estética quase surrealista em grandes cidades. Casas abandonadas, prédios modernos, shoppings e museus convivem como se fossem colagens de imagens sobre o que restou de antigas construções. Em suas pinturas, Talita Hoffmann estabelece uma relação constante com a mudança nos espaços ao seu redor ou em cidades que passaram por fortes transformações. Planos e ambientes tomados por colagens, linhas e cores. A presença dos personagens é percebida na ausência, o sigilo e a desordem insinuam o barulho. O contraste é flagrante. A mostra da existência pelo abstrato. O concreto invade a tela em paletas de cores e conta histórias pela arquitetura. Mesmo em espaços vazios escondem-se narrativas. Paulo Kassab Jr.
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currĂculos resumidos
ARTE LONDRINA 5
é natural de Echaporã-SP, artista, Doutor em poéticas visuais pela Universidade
DANILLO GIMENES VILLA
de São Paulo – ECA – USP; Mestre em poéticas visuais pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP; Professor de Artes na Universidade Estadual de Londrina - UEL, desde 1998; Chefe da Divisão de Artes Plásticas – DaP - da Casa de Cultura da Universidade Estadual de Londrina; Curador da Divisão de Artes Plásticas desde 2011, destacando-se em seu trabalho a organização do edital ARTE LONDRINA. Exposições que participou como curador: ESTRATÉGIAS PICTÓRICAS, PÓS–PAISAGEM, NADA DO QUE LEMBRAMOS É VERDADE (curadoria compartilhada com Ricardo Resende); DEIXA QUE MINHA MÃO ERRANTE ADENTRE; ATRÁS, NA FRENTE, EM CIMA, EMBAIXO ENTRE. (Curadoria compartilhada com Paulo Miyada; O ESPAÇO SONHA O SUJEITO; NA ILHA SÓ EXISTE DENTRO; SOMOS TODOS AMOSTRAS DO QUE HÁ POR AQUI. (curadoria compartilhada com Beatriz Lemos); ALGUNS DESVIOS DO CORPO; SOBRE O QUE PODE SER FAMILIAR, TEMPORALIDADES, SOBREPOSIÇÕES E APAGAMENTOS. (curadoria compartilhada com Cauê Alves); participa de exposições como artista, desenvolvendo sua produção como uma armadilha para permanecer por aqui.Um dos Idealizadores do projeto Semana de Arte de Londrina, que discute a cidade e que em sua última edição SOBRECIDADE, teve como conceito estruturantes a relação dos artistas e os espaços urbanos; participa do projeto de pesquisa ARTE CONTEMPORÂNEA E COTIDIANO: O DEVIR DO OBJETO, com investigações sobre processos de criação e a inserção do objeto artístico como uma potência a ser compartilhada. 242
CURRÍCULOS RESUMIDOS
MARIA IRENE PELLEGRINO DE OLIVEIRA SOUZA é graduada em Licenciatura em Artes Plásticas pela FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado (1981), especialista em Fotografia pela Universidade Estadual de Londrina (1997), mestre em Educação pela Universidade Estadual de Londrina (2000) e doutora em Estudos da Linguagem (UEL) 2007. Atualmente é professora Associada-B da Universidade Estadual de Londrina. Tem experiência na área de Artes, com ênfase na formação de Professor em Arte Visual, bem como em Fotografia e Ensino; atuando principalmente nos seguintes temas: fotografia, desenho, ensino de arte, leitura de imagem e estudos do texto verbo-visual. De outubro de 2010 a março de 2012 foi Coordenadora Adjunta do PARFOR/UEL. Desde Abril de 2012 é Coordenadora Geral do PARFOR/UEL. De 2015 a 2016 foi coordenadora da Regional Sul do Fórum Nacional de coordenadores Institucionais do PARFORFORPARFOR e em outubro de 2016 foi eleita vice presidente do FORPARFOR. Coordena o Projeto de Extensão - ARTE NA ESCOLA: RENOVANDO CAMINHOS PARA A FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES DE ARTE. É membro do Comitê Estratégico do Instituto Arte na Escola. RICARDO BASBAUM possui Graduação e Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1982), Especialização em História da Arte e Arquitetura no Brasil pela PUC-RJ (1988), MA inFine Arts pelo Goldsmiths College, University of London (1994 Bolsista do British Council), Mestrado em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997 Bolsista CAPES) e Doutorado em Artes pela Universidade de São Paulo (2008). Recebeu a Bolsa Uniarte Faperj
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ARTE LONDRINA 5
entre 1996 e 1998. Atuou como professor da Faculdade Santa Marcelina (São Paulo) de 2009 a 2012. Professor Visitante da University of Chicago de outubro a dezembro de 2013. Artista-residente da Simon Fraser University (Vancouver) em outubro de 2014. Foi professor do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, de 1998 a 2016. A partir de 2017, atua como Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Artes do Instituto de Artes da UERJ. Atualmente é Professor Titular Livre do Departamento de Artes do Instituto de Arte e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense, com atuação como Professor Permanente no programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes. Tem experiência na área de Artes, com ênfase no campo da Arte Contemporânea, onde desenvolve pesquisa como artista, além de atuar nos campos de crítica e teoria da arte. Atua principalmente nos seguintes temas: arte contemporânea, texto de artista, arte conceitual, performance e experimentalismo, teoria e crítica de arte. MARIA CAROLINA DE ARAUJO ANTONIO é bacharel e licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina - UEL (2005). Mestrado (2010) e Doutorado (2015) em Antropologia Social pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR. Professora adjunta no Departamento de Sociologia da Universidade Norte do Paraná - UNOPAR. Professora colaboradora de Antropologia no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina - UEL. É pesquisadora associada ao Núcleo de Estudo da Hierarquia e Valor (Nehv) - PPGAS/UFSCAR e atua como colaboradora no projeto de pesquisa "Oficinas de pesquisa e práticas etnográficas (UEL). Tem experiência
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CURRÍCULOS RESUMIDOS
na área de Ciências Sociais, com ênfase em Antropologia, trabalhando principalmente com os seguintes temas: saúde mental, psicanálise, formas de subjetivação, construção social da pessoa, produção de conhecimento, tecnologias de cuidado e teoria antropológica. CARLA DELGADO DE SOUZA possui graduação em Ciências Sociais (licenciatura e bacharelado) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP (2002), mestrado em Ciência Social (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo - USP (2006) e doutorado em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (2011), com período sanduíche no Departamento de Musicologia da University of British Columbia - UBC (Canadá). É professora adjunta do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e autora do livro: Gilberto Mendes: entre a vida e a arte (FAPESP/UNICAMP, 2013). Tem experiência em estudos de teoria antropológica e em realização de trabalho de campo, interessando-se pelas discussões sobre música, arte, cultura imaterial, performance, biografia e escrita etnográfica. ILANA SELTZER GOLDSTEIN é graduada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP, 1993), Mestre em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP, 2000), Mestre em Mediação Cultural pela Universidade Paris 3 - Sorbonne Nouvelle (2002) e Doutora em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP, 2012). De 2008 a 2015, foi uma das editoras responsáveis pela Proa - Revista de Antropologia e Arte, publicação virtual vinculada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da
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ARTE LONDRINA 5
UNICAMP. Foi coordenadora e professora no MBA Gestão de bens Culturais, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), de 2008 a 2013. Elaborou, coordenou ou avaliou projetos artístico-culturais junto a instituições como o Serviço Social do Comércio (SESC), o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP), a Editora Companhia das Letras, o Instituto Brasil Leitor e a Base 7 Projetos Culturais. Participou das curadorias das exposições Terra Paulista: História, Arte e Costumes (Sesc Pompeia, 2005); Jorge, amado, universal? (Museu da Língua Portuguesa, 2012); Tempo dos Sonhos: a arte aborígene contemporânea da Austrália (Caixa Cultural, 2016 e 2017 e Casa Fiat de Cultura, 2017). Atualmente, é professora no Departamento de História da Arte na Universidade Federal de São Paulo - Unifesp, responsável pelas disciplinas História da Arte Ameríndia e Antropologia e Arte, além de colaborar no Laboratório de Curadoria e Gestão Cultural. Na mesma universidade, atuou como assessora cultural na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, foi vice-coordenadora da Câmara de Extensão do campus Guarulhos e membro da Comissão de Curso da Graduação em História da Arte de maio de 2015 a maio de 2017. É co-coordenadora da Cátedra Kaapora, voltada à valorização de conhecimentos e formas expressivas tradicionais e não-hegemônicos dentro da universidade; co-coordenadora do grupo de estudos Práticas Artísticas, Antropologia e Etnografia PRAEA; e vice-chefe do Departamento de História da Arte. Temas de interesse: antropologia e arte, exposição e comercialização de artes indígenas, sociologia da arte, gestão cultural, políticas culturais, identidade nacional, diversidade cultural, antropologia e literatura. 246
CURRÍCULOS RESUMIDOS
BIANCA TURNER é brasileira, nascida em 1984, é artista
multimídia, bacharel em ‘Design e Prática de Performance’ pela Central Saint Martins (2011, Londres) e Master of Arts em “Cenografia” pela RCSSD (2013, Londres). Participou de exposições coletivas em Londres onde residiu até 2013 e em São Paulo, como na Galeria Fauna (2014) e no Instituto Tomie Ohtake (2015) como parte do coletivo MOLA, coordenado por Lucas Bambozzi e Fernando Velazquez e também na ocupação In(Lar) em 2016. biancaturner@gmail.com | biancaturner.xyz BRISA NORONHA nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais,
em 1990,. Atualmente reside em São Paulo, onde trabalha e participa do grupo de acompanhamento de projetos Hermes Artes Visuais, orientado pelos artistas Nino Cais, Marcelo Amorim e Carla Chaim. Em 2015, foi premiada em segundo lugar no 22º Salão de Artes Plásticas de Praia Grande. É bacharel em Comunicação Social pela PUC, São Paulo e em Artes Visuais pela FASM, São Paulo, Brasil. emailbrisa@gmail.com | brisanoronha.com BRUNA MAYER nasceu em Curitiba – PR, em 1986, é artista visual.
Vive e trabalha em São Paulo onde desenvolve seu trabalho predominantemente nas áreas de instalação, audiovisual e pintura. Formou-se em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, em 2015. Desde então participa do grupo de estudos da Escola Entrópica com Paulo Miyada e Pedro França e faz acompanhamento individual de pesquisa e produção de arte contemporânea com a artista Regina Parra. Nos últimos anos, frequentou diversos cursos no MAM e no Instituto Tomie Ohtake, entre eles o curso de videoarte com o artista Luiz Roque. Ganhou o prêmio de melhor curta-metragem na 8a Edição do Los Angeles Brazilian Film Festival, EUA, com 247
ARTE LONDRINA 5
o curta Virgens, produzido em coautoria com o diretor Victor Ribeiro. Entre suas exposições mais recentes, destacam-se Novas Poéticas na Fundação Museu do Futuro; Arte Londrina 4, curadoria de Cauê Alves e Danillo Villa; Proces/sos Cri/ativos, na Ricardo Camargo Galeria; Permissões: Ruídos Poéticos, curadoria Cauê Alves na Galeria 13; Olhar Gráfico curadoria de Cauê Alves e Katia Salvany no MUBA. brunapmayer@gmail.com BRUNO MAKIA vive e trabalha na cidade de São Paulo. É artista
visual formado pela ECA-USP em 2009. Sua produção transita por diferentes linguagens, como: desenho, pintura, escultura, cerâmica, objetos e fotografia. Investiga como a memória se articula para conseguir cristalizar as experiências e construir narrativas em um tempo em que tudo parece ocorrer de maneira simultânea, fugaz e efêmera. Nesse sentido, sua pesquisa poética se desdobra em três linhas: Na medida do meu próprio corpo, Formas industriais de produção de memórias e Intervalares. Já participou de mostras coletivas em São Paulo-SP, Marília-SP, Ponta Grossa-PR, Ribeirão PretoSP, Curitiba-PR, Brasília-DF, Mococa-SP e Santo André-SP. brunomakia@gmail.com | brunomakia.com.br BRUNO TROCHMANN nasceu em Campinas-SP. Estudou
pintura e desenho com a artista Vania Mignone e se formou em artes pela Unicamp. Atua como artista visual e músico experimental em diferentes projetos como o duo Ajnabi, no coletivo Denominadores Incomuns, no trabalho solo Leila. É um dos idealizadores e coordenadores do selo/evento TUDOS de Campinas-SP, um projeto com o intuito de dar espaço para projetos de música experimental e arte sonora na cidade, e do selo/evento SIRENE também dedicado a engajar 248
CURRÍCULOS RESUMIDOS
música alternativa da cidade com outras cenas. bruno.trochmann@gmail.com | cargocollective.com/brunotrochmann CLAUDIA OLIVEIRA DE JESUS (CLAUDIA NÊN) nasceu em ItabaianaSergipe em 1980, formou-se em Educação Artística/Artes Visuais pela Universidade Federal da Paraíba/UFPB (2009), obteve título de especialização em Cultura e Criação pelo SENAC/SE (2011). Expõe com regularidade desde 2003. Trabalha especificamente com desenhos, pintura, escultura e xilogravura. claudianen@gmail.com | claudianen.com COLETIVO KÓKIR é formado por Tadeu dos Santos que nasceu
em Itambé-PR, em 197, e Sheilla Souza que nasceu em Maringá-PR, em1969. Entre 2016 e 2017, o Coletivo realizou as exposições simultâneas Sustento/Voracidade na Galeria Farol Arte e Ação e no Museu Paranaense. As ações do Coletivo propõem a mistura e o deslocamento, invertendo a lógica que opõe autóctone e contemporâneo. kokir.coletivo@gmail.com DANIEL ANTÔNIO nasceu em Divinópolis, Brasil, em 1978. Vive e trabalha em São Paulo. Tem mestrado em cinema e literatura pelas Universidades Sorbonne (Paris IV) e ParisEst Marne-la-Vallée. Participou do 7º Salão dos Artistas sem Galeria (curadoria Jacopo Crivelli Visconti, Marta Ramos-Yzquierdo e Douglas de Freitas), do 44º Salão de Santo André, do 23º Salão de Praia Grande e do Festival Camelo (BH). Expôs ainda no Paço das Artes (SP), Espaço do Conhecimento (MG), entre outros. Atualmente participa do grupo de acompanhamento de projetos com Nino Cais, Carla Chaim e Marcelo Amorim. daniel.antonio.oliveira@gmail.com
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DANIEL JABLONSKI é artista visual, professor e pesquisador independente. Sua produção multifacetada, conjugando teoria e prática, investiga o lugar da biografia na formação de novas mitologias e discursos do cotidiano. Suas obras já foram vistas em exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, notadamente no Centro Cultural São Paulo, no Museu da Imagem e do Som, no SESC Vila Mariana, e nas galerias Sancovsky, Zipper e Bolsa de Arte (SP) bem como na Casamata, Centro Cultural Sergio Porto e Espaço Cultural do BNDES (RJ), e na Universidade Torcuato Di Tella (Buenos Aires). Seus escritos, incluindo entrevistas, traduções, ensaios e críticas, podem ser encontrados tanto em publicações independentes, em revistas de arte como Amarello (SP) e Octopus Notes (Paris), bem como em publicações acadêmicas, como Concinnitas (pós-graduação em artes - UERJ) e Poiésis (pós-graduação em filosofia - UFF-Rio). Em 2016, venceu o prêmio do #7 Salão dos Artistas sem Galeria, promovido pelo Mapa das Artes (SP) e o prêmio do #41 Salão de Arte de Ribeirão Preto, com aquisição de obra pelo MARP. Foi também contemplado com o prêmio de residência no Lugar a Dudas, em Cali (COL), atribuído pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde ensinou por quatro anos. Atualmente vive e trabalha em São Paulo onde leciona no MASP - Museu de Arte de São Paulo. danieljablonski@vousvoici.com | danieljablonski.org ERIKA MALZONI nasceu em Itapetininga, em 1966, vive e trabalha em São Paulo. Faz uso de diversas mídias como forma de expressão, e seus trabalhos resultam do interesse por materiais banais, de pouco ou nenhum valor, os quais são re-significados. Exposições individuais: 2016 - INVÓLUCROS: do substrato ao esvaziamento - Oficina Cultural Oswald
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de Andrade - São Paulo/SP (curadoria Paula Borghi); 2016 - Movimento nº 01 - Centro Permanente de Exposições Secretaria da Cultura de Guarulhos/SP; 2016 - No meio do tempo - Museu Histórico Padre Lima -Secretaria da Cultura de Itatiba/SP (curadoria Galciani Neves); 2015 - ISSOVALE - Galeria Braz Cubas - Secretaria da Cultura de Santos/SP. Tem participado regularmente de salões, mostras coletivas e residências em instituições públicas e privadas dentro e fora do país, as quais se destacam: 2016 - residência da EAV Parque Lage - Rio de Janeiro/RJ; 2015 - Strip - Fredric Snitzer Gallery - Miami/Fl; 2015 - 47º Salão de Arte contemporânea de Piracicaba/SP; 2015 - Programa de Exposições do MARP (Museu de Arte de Ribeirão Preto /SP); recebeu prêmio menção honrosa no Salão de Arte de Jataí/GO em 2015. erikamalzoni@uol.com.br FERNANDA ANDRADE nasceu em Salvador, em 1983. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Bacharel em Pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro - EBA/ UFRJ. Estudou artes visuais e design gráfico na Holanda, e na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro. Em 2016 integrou a exposição coletiva Depois do Futuro, com curadoria de Daniela Labra, na EAV Parque Lage. A artista também participou do grupo de estudos Crises Produtivas com a curadora. Deslocamento foi o título da exposição individual para conclusão do curso de pintura em 2013, realizada na Galeria Macunaíma, na EBA/UFRJ. Em 2014, integrou a exposição coletiva Que safra é essa?, no Centro de Artes Calouste Gulbenkian, com curadoria de Julio Sekiguchi, entre outras coletivas. Seu projeto Interferências sobre rotina foi selecionado para o programa de residências da Residency Unlimited em Nova Iorque, em 2017. tupinanda@gmail.com | cargocollective.com/fernandaandrade
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FLORA REBOLO nasceu em 1983, vive e trabalha em São Paulo. É formada em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo com intercâmbio na École des Beaux Arts de Lyon, França. Realizará este ano sua primeira mostra individual através do “Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo”. Nos anos anteriores destacam-se as mostras ‘Coisas Sem Nomes’ no Instituto Tomie Ohtake em 2015 e a ‘XI Bienal do Recôncavo’, em 2013, premiada com residência artística em Milão, Itália. flora_rebollo@yahoo.com.br | cargocollective.com/florarebollo GABRIELA DE LAURENTIIS nasceu em 1987. Vive e trabalha em São Paulo. É artista visual e pesquisadora. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação da FAU-USP, tem mestrado em História Cultural pela UNICAMP e bacharelado em Ciências Sociais pela PUC-SP. Autora de artigos e do livro Louise Bourgeois e modos feministas de criar (no prelo), pela Coleção Leituras do Corpo, organizada por Christine Greiner, da editora Annablume. Participou de exposições coletivas, com destaque para a Mostra DELAS 2016, promovida pelo Ateliê Plano & Casa Colaborativa (Jundiaí/SP) e para a 27ª Mostra de Arte da Juventude do Sesc (Ribeirão Preto/SP). gabilaurentiis@gmail.com GLAYSON ARCANJO é natural de Belo Horizonte, MG. Vive
e trabalha em Goiânia, GO. Artista visual. Professor Auxiliar na área de Artes Visuais da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (UFG). Atualmente cursa o doutoramento em Artes (Poéticas Visuais e Processos de Criação) no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Mestre em Artes (Arte e Tecnologia da Imagem) pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte. Tem participado 252
CURRÍCULOS RESUMIDOS
de residências artísticas, projetos de criação, circulação e exposições nacionais; dentre elas: Expedição Catástrofe – Rumos Itaú Cultural, coordenação Cacá Fonseca e Pedro Brito (2017) / Residência Phosphorus. São Paulo, Brasil (Jun-Set 2014) / Residência Artística Topografias Aéreas: Uma fábula sobre poleiros e artistas - Rede Nacional FUNARTE (Mar-Abr 2013) / ArtePraia 2014 - Lei ROUANET. Casa da Ribeira, Natal RN (Maio 2014) / Mostra Diálogos Possíveis 3. CCUFG. Curadoria Carlos Sena, curador Assistente Divino Sobral. Goiânia-GO (Jun-Dez 2016) / Palavra+imagem: exposição itinerante. Museu Universitário de Arte MunA. Curadoria de Sylvia Furegatti e Lúcia Fonseca (Ago-Set 2015) / Mostra Triangulações. CCUFG - Centro Cultural Universidade Federal de Goiás. Curadoria Marília Panitz, Bitu Cassundé e Divino Sobral (Jul-Dez 2015) / Salão Nacional de Artes de Itajaí. Itajaí (SC). Curadoria Josué Mattos (Nov 2013) / Mínimo. Programa de Residência do Centro Rural de Arte. Cazón, Argentina (Abr-Mai 2015). glaysonarcanjo@hotmail.com | glaysonarcanjo.com GUILHERME CALLEGARI nasceu em Santo André no ABC Paulista,
em 1986 . Hoje vive e trabalha na mesma cidade onde nasceu. Formou-se em Design Gráfico com ênfase em tipografia em 2011. Foi premiado nos salões de Praia Grande e Santo André. Participou do 5º Salão dos Artistas Sem Galeria na Zipper Galeria e na Casa da Xiclet, e também do ABRE ALAS, na A Gentil Carioca. Participou de salões em Piracicaba e Jataí - GO. Tem individuais em São Paulo, na Casa Nova Arte e Cultura, e na Casa de Cultura de Paraty-RJ, entre outros locais. glhrme.callegari@gmail.com | guilhermecallegari.com HUGO CURTI nasceu em São Paulo em 17 de julho de 1967,
em uma família de arquitetos e artesãos, que estimulou desde 253
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cedo seu interesse pelas habilidades manuais. Cursou Geologia na USP e Gemologia na GIA, em Nova Iorque, e trabalha como joalheiro desde 1988. Desenvolveu paralelamente sua carreira de fotógrafo, trabalhando por 10 anos com Gal Oppido. Realizou diversas viagens pelo mundo acumulando experiências e aprimorando seus conhecimentos. A partir de 2012 iniciou sua trajetória nas artes visuais, aplicando todas as habilidades adquiridas ao longo do tempo. Participou de diversas mostras e exposições e tem trabalhos no acervo de instituições como Pinacoteca do Estado de São Paulo, MACUSP e na Chapel School. Continua vivendo e trabalhando em São Paulo e atualmente é sócio do Estúdio Extraordinário, um espaço coletivo de criação artística. hugo@hugocurti.com.br JÚNIOR PIMENTA nasceu em Orós-CE, vive e trabalha em
Fortaleza. É artista visual, Graduado em Design, cursou Arquitetura e Urbanismo e atualmente vem realizando pesquisas sobre suas relações com os lugares que habita. Nos últimos anos, realizou duas exposições individuais: Em 2013, Âmago, Sala Nordeste FUNARTE, Recife-PE; Estação Cabo Branco, João Pessoa-PB; Centro cultural Banco do Nordeste, Fortaleza-CE, com curadoria de Ana Cecília Soares. Em 2014, Descaminhos, no Museu de arte contemporânea, Dragão do Mar, Fortaleza-CE, curadoria de Marisa Flórido. jrpimenta@yahoo.com.br JÚLIA MILWARD nasceu na baía de Guanabara, criada nas
margens do Paraibuna, atravessou o oceano Atlântico até a Seine, desaguou no Rhône e praticou três anos de Stand Up Paddle no lago Paranoá. Atualmente margina o Tietê à procura de córregos. Graduada em Comunicação Social pela Universidade 254
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Federal de Juiz de Fora [BR] e em Artes Plásticas pela Université Paris 8 [FR]. Mestre em Fotografia Contemporânea pela École Nationale Supérieure de la Photographie [FR] e em Artes Visuais - Poéticas Contemporâneas pela Universidade de Brasília [BR]. Expôs coletivamente 36 vezes em 4 países diferentes [Brasil, França, China, Canadá]. Individualmente, quatro vezes. Participou de treze publicações e quatro residências artísticas. Ganhou três prêmios [Arca-Suiss + Transborda + 15º Salão de Arte Contemporânea de Guarulhos] e foi indicada para um outro [Pipa]. juliamilward@gmail.com | juliamilward.com LUANA NAVARRO (1985) desenvolve trabalhos a partir da
fotografia, vídeo, performance, textos, leituras em voz alta e publicações. Em 2016 organizou e lançou as publicações “Corpo sem sinônimo” e “Biblioteca para corpos em expansão”. Também neste ano concluiu o mestrado em Processos Artísticos Contemporâneos na UDESC, em Florianópolis, com a pesquisa intitulada “Quando o corpo acontece”. Vive em Curitiba. luananavarro85@gmail.com | luananavarro.com LUIS LAROCCA Natural de Curitiba. É mestrando em Artes Visuais pela EBA/UFMG. Especializou-se em Poéticas Visuais pela EMBAP/UNESPAR e graduou-se em Licenciatura em Artes Visuais pela FAP/UNESPAR. Participou da exposição Imagem Desconstruída, no MUMA/ Museu Municipal de Arte - Curitiba (2014) e no Espaço Cultural Badesc – Florianópolis (2015). Desde 2015, têm voltado sua produção para as publicações de artista, participando de feiras de impressos, tais como a Feira Grampo e a Feira Solar. luislrcca@gmail.com | cargocollective.com/parecequefaltaumabocca
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MAÍRA VAZ VALENTE nasceu em São Bernardo do Campo, em 1981. Vive e trabalha na cidade de São Paulo. Formada pela Escola de Comunicações e Artes (USP) em Artes Visuais, atualmente cursa Estudos Brasileiros: Sociedade Cultura e Educação na FESPSP. Sua pesquisa e produção estão focadas no campo da performance a partir da visualidade. Fundou e coordenou o grupo de estudos Núcleo Aberto de Performance (NAP) de 2007 a 2012. A artista tem participado de mostras no Brasil e no exterior (Portugal, Itália, EUA e México) de mostras e festivais de performance assim como exposições. Em 2015 colaborou ativamente com a plataforma de trabalho La Plataformance, junto de mais outros dezessete artistas. mairavazvalente@gmail.com | mairavazvalente.com MANO PENALVA nasceu em Salvador/BA, em 1987. Vive
e trabalha em São Paulo. É formado em Comunicação Social (PUC-RJ) e cursou Ciências Sociais com ênfase em Antropologia por 2 anos (PUC-RJ). Frequentou por 6 anos cursos livres de arte do Parque Lage. manopenalva@gmail.com | manopenalva.com MANUELA COSTALIMA nasceu em 1983, vive e trabalha São Paulo. É artista visual, formada em Arquitetura e Urbanismo pela FAUUSP (2013). Por meio de esculturas, intervenções urbanas, instalações sonoras, desenhos, entre outros suportes, tem desenvolvido um trabalho sobre a cidade e sua tensão entre espaço planejado e os desvios nele impressos pelo tempo e ocupação humana. Tem participado de exposições desde 2012, entre elas as individuais na Galeria Virgílio (São Paulo, novembro/ 2016), Paragens (Fundação Cultural BADESC, Florianópolis, julho/2015), Pedras Errantes, (galeria Zipper, SP, maio/2015) e O Duplo (Casa da Cultura
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de Paraty, novembro/2014). Realizou o livro de artista (Projeto Correspondência, dez/2015) premiado pelo PROAC e desenvolveu um conjunto de intervenções urbanas para a revista Celeuma (Infiltrados, julho/2016). Participou da residência artística na Bienal de Cerveira (Portugal, setembro/ 2016). manucosalima@gmail.com | manuelacostalima.com MARGARIDA HOLLER nasceu em São Paulo em 1946. É artista
visual e professora. Sua pesquisa parte da reflexão sobre a célula como matriz para construir uma abordagem sistêmica. Seus trabalhos elaboram a ideia de corpo-imagem, considerando os processos de interação, reprodução, fragmentação e deslocamento por meio de diferentes linguagens artísticas. Entre suas principais exposições evidenciam-se: Paço a Passo: Mnemis (Museu de Arte de Santa Catarina) em 2016, Mnemis: dogma da visibilidade silenciosa (QuaseGaleria Espaço t, Porto, Portugal), Entre Dois Mundos – Arte Contemporânea Japão-Brasil (Museu Afro Brasil, São Paulo) ambas em 2014. Entre 2013 e 2011, realizou a exposição individual Corpo-Morada-Morada Entre Lugares, Série Cordis, no Projeto Vitrines Masp (metrô Trianon - Masp, São Paulo) e as coletivas Bibliotheca Alexandrina International Biennale for Miniature Graphics (Egito), In Corporeo – Corpo, Arte, Processos e Reflexões (Casa de Cultura de Londrina, Universidade Estadual de Londrina -UEL, PR). Possui obras em acervos nacionais e internacionais: Fundação Pró Memória (São Caetano do Sul), Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Bibliotheca Alexandrina (Egito), Quase Galeria Espaço t (Porto, Portugal). margaridamph@gmail .com | ateliefidalga.com.br/
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MARIANA LACHNER nasceu em Rolandia – PR, em 1991. É
formada em Artes Visuais na Universidade Estadual de Londrina - PR (UEL) em 2014. As principais exposições que já participou foram: Bem Me Quer, no Edital W.C. Arte em 2014; Desenho como impureza ou risco visível, no memorial Rezende Barbosa em 2015; Exposição virtual Soy mujer, soy latino americana, em 2015; Já não sei mais por quais veias corre meu sangue, no Edital W.C. Arte em 2016; Sua (ou como não morrer de amor), no SESC Cadeião em 2016. mariana_lachner@hotmail.com | marianalachner.tumblr.com/ MARIANA TEIXEIRA nasceu em Campinas, em 1989. Vive e
trabalha em São Paulo. Graduou-se pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, no ano de 2015. Entre suas exposições mais recentes, destacam-se a 26ª Mostra de Arte da Juventude do SESC Ribeirão Preto, 7º Salão dos Artistas Sem Galeria, Programa de Exposições 2016 do MARP (Museu de Arte de Ribeirão Preto), 15º Salão de Arte Contemporânea de Guarulhos e 49º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba. Formou-se também em cinema pela Academia Internacional de Cinema, no ano de 2010. Trabalhou em diversos curtas e longas- metragens, alguns dos quais foram selecionados para festivais como o Festival de Curtas Kinoforum e a Mostra Internacional de Cinema. A artista faz uso da linguagem fotográfica e audiovisual como ponto de partida para sua produção e indagação. As experimentações e desconstruções de imagens, assim como o uso da narrativa visual, permeiam seu processo e busca. marianateixeiraelias@gmail.com | marianateixeira.me MARINALVA ROSA é bióloga, trabalha e reside em São Paulo
desde 1993. Entre 2015 e 2016 realizou diversas exposições 258
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coletivas e individuais em instituições culturais brasileiras, entre elas: Fundação Mokiti Okada (SP e RJ), Paço Municipal de Santo André, MARP, Pinacoteca de Piracicaba e Pinacoteca de São José de Rio Preto. Prêmio aquisição no Salão de Artes de Praia Grande (2016). marinalva.mrosa@gmail.com | marinalvamrosa9.wix.com/portfolio NOARA QUINTANA nasceu em Florianópolis – SC, em 1986. É artista visual, vive em São Paulo. Bacharela em Artes Plásticas pela UDESC e Mestre em Artes Visuais pela UNESP. Participou de diversas exposições, dentre elas: 21º Salão Anapolino de Arte, Anápolis, GO (2015); ABRE ALAS 10, Galeria Gentil Carioca, Rio de Janeiro, RJ (2014); e, Programa de Exposições, Museu de Arte de Ribeirão Preto - MARP, SP (2016). q_noara@hotmail.com | noaraquintana.com PAULA SCAVAZZINI nasceu em São José dos Campos – SP
em 1990, vive e trabalha em São Paulo. É bacharel em Artes Visuais pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP e possui Licenciatura em Artes Visuais pela Faculdade Santa Marcelina – FASM. Desde do ano de 2014 desenvolve trabalhos em pintura e instalações. Em 2016, realizou a exposição individual “Papéis de Parede e/ou Pinturas de Interiores” durante a 5ª Temporada de Exposições do Museu de Arte de Blumenau – MAB, Blumenau, SC. Ainda em 2016 participou das exposições coletivas: Elza – Laboratório 52, São Paulo, SP; Abertura – Laboratório 52, São Paulo, SP; 2ª Exposição do Programa Exposições 2016, Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi – MARP, Ribeirão Preto, SP. Em 2015, expôs junto a outros artistas emAgosto Em Oito Atos – Estação Satyros, São Paulo, SP e na 26ª Mostra de Arte da Juventude – SESC Ribeirão Preto, SP. No ano de 2013 participou do 4º Salão 259
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dos Artistas Sem Galeria, Zipper Galeria e Galeria Casa da Xiclet, São Paulo, SP. paulascavazzini@hotmail.com | paulascavazzini.com PAULO AURELIANO DA MATA (A.K.A. PÁLL JÓNSSON) nasceu em Inhumas – GO, Brasil, em 1987. É historiador da arte, membro fundador da Cia. Excessos e da eRevista Performatus, organizador e diretor da Mostra Performatus, e performer. Participou das coletivas nacionais e internacionais: A Ilha (Sput&Nik The Window, Porto, Portugal, 2016); XVIII Bienal Internacional de Arte de Cerveira: “Olhar o Passado para Construir o Futuro” (Vila Nova de Cerveira, Portugal, 2015); Maria de Todos Nós: 50 anos de Maria Bethânia (Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil, 2015); Múltiplas Perspectivas e não menos Contradições e Sonhos (I Bienal da Maia: “Lugares de Viagem”, Maia, Portugal, 2015); entre outras. paulodamata@me.com | ciaexcessos.com.br/ | performatus.net/ RAFAEL SCHULTZ MYCZKOWSKI é artista visual, doutorando em
Artes Visuais pela UDESC, Mestre em Artes Visuais pela mesma instituição. Bacharel em Pintura e licenciado em Desenho, especialista em História da Arte Moderna e Contemporânea pela Embap. É integrante do grupo Poéticas do Urbano e sua produção atual relaciona-se com a deficiência, corpo e estigma. rafael.s.myczkowski@gmail.com | rafael-schultz.wixsite.com/portfolio RICARDO ALVES nasceu em Rio Claro/SP em 1988. Vive e trabalha
em São Paulo - SP. É graduado em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo, tem pesquisa predominante em pintura. Nos últimos cinco anos participou de diversas mostras coletivas em São Paulo/SP, Rio de Janeiro/RJ, Belém/PA, Jataí/GO, entre outras. Através de prêmios aquisitivos teve obras incorporadas 260
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aos acervos públicos em Santo André, Guarulhos e Ribeirão Preto/SP. Nesta última cidade, realizou em 2016 a primeira exposição individual no Museu de Arte de Ribeirão Preto. ricardoescrito@gmail.com | alvesricardo.com RODRIGO ARRUDA é artista plástico e atualmente desenvolve
suas pesquisas no Departamento de Artes Plásticas da Universidade de São Paulo. Já participou de exposições no Museu de Arte Contemporânea de São de Paulo, Centro Cultural São Paulo, Museu Histórico do Pará, Museu de Arte de Ribeirão Preto, SESC de Ribeirão Preto, Ateliê 397, Fundação Museu do Futuro, entre outros. Também participou de residências no Centro Cultural São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo e na Ohio State University. Possui trabalho no acervo do Museu de Arte do Rio, no Museu de Arte de Ribeirão Preto e na coleção Artotake, em Berlim. rodrigo.arruda.gonzalez@gmail.com | rodrigoarruda.com RODRIGO D’ALCÂNTARA nasceu em Niterói – RJ, em 1992.
Trabalha e estuda entre Brasília e Rio de Janeiro. Possui bacharelado em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília e atualmente é mestrando em Teorias e Experimentações em Arte na linha de Poéticas Interdisciplinares pela UFRJ. Estuda relações do micro e do macro entre o corpo e a paisagem, passando por questões do corpo à beira, o queer, a espacialidade do ar e os aparatos aéreos por trás da queda. Já integrou diversas coletivas em espaços expositivos no Distrito Federal como o SESC, Casa da Cultura da América Latina, Alfinete Galeria, Elefante Centro Cultural, Espaço Piloto, DeCurators e também em galerias de outros estados. Destacam-se as exposições Amores, Domingos e Cortes no Centro de Arte UFF e Indisciplinas na Casa França-Brasil, 261
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ambas no Rio de Janeiro. Participou também da residência produtiva FUNARTE pelo Museu do Sexo Hilda Furacão (BH) em 2016. rodrigodalcantara@gmail.com rodrigodalcantara
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SANDRA LAPAGE é formada pela FAUUSP, e recebeu seu mestrado pelo Maine College of Art em 2013. Participou de exposições no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos, notadamente na Embaixada do Brasil (Bruxelas), no Museu de Arte de Ribeirão Preto pelo programa de exposições 2006 e no Centro Cultural São Paulo pelo programa de exposições 2012. Residiu em diversas instituições, como a Fondation Château Mercier (Suíça) e NARS Foundation (Nova York) em 2014, Elefante Centro Cultural (Brasília) em 2015, CAMAC (França) e Paul Artspace (Missouri) em 2016. info@sandralapage.com | sandralapage.com SERGIO BORGHI nasceu em 1994. É graduado em Design
Gráfico pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e pósgraduando em Gestão de Marketing e Propaganda, também pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atua na área de Comunicação e Design Gráfico há 4 anos, participando de projetos como Entre imagens: num lapso de tempo (PROMIC 2016 – Londrina). Desenvolve sua pesquisa na área de tradução intersemiótica entre linguagens visuais e verbais aplicadas ao campo editorial. borghi.sergiol@gmail.com | instagram.com/borghi.sergio SUELLEN ESTANISLAU é nascida em Londrina PR, em 1992.
Reside e trabalha em Londrina. É formada em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Londrina entre 2014 e 2015. Participou de exposições coletivas como “Quando vier, 262
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por favor me avise” e “Formandos e Ateliê Permanente” na DAP- Divisão de Artes Plásticas Casa de Cultura UEL, em 2014, Londrina- PR; “Aviões precisam de vento”, também na DaP, 2016. No mesmo ano ganhou o Prêmio de Incentivo da “Bienal Naïfs do Brasil 2016 – Todo Mundo é, exceto quem não é.”, no Sesc Piracicaba- SP; participou do “15º Salão de Arte Contemporânea de Guarulhos” Centro Permanente de Exposições de Arte e do “Festival Camelo de Arte Contemporânea” – Galpão Paraíso Belo Horizonte – MG. suellen.estanislau@hotmail.com | instagram.com/suellenestanislau SYLVANA LOBO vive e trabalha em Brasília/DF. É artista plástica graduada pela Universidade Federal de Goiás (2005). Desde 2002, participa de exposições individuais e coletivas com trabalhos nas linguagens de pintura, fotografia e objeto. Sua poética tem-se voltado a questões de gênero (com ênfase no feminino), infância e solidão. lobsylvana@gmail.com | sylvanalobo.com TALITA HOFFMANN nasceu em 1988. É artista plástica nascida
em Porto Alegre/RS, graduada em Design Visual. Já mostrou seu trabalho em exposições coletivas em São Paulo, Califórnia, Barcelona, Buenos Aires, Austrália, Colômbia, Taiwan, Londres e Helsinki. Em 2008 recebeu o 1º prêmio na exposição coletiva “A Novíssima geração”, no Museu do Trabalho de Porto Alegre, que deu origem a sua primeira exposição individual, “Campos e Antenas” no mesmo local, em 2009. Desde então, realizou outras três exposições individuais, em Belo Horizonte (“Combustível”, 2011) e São Paulo (“Cidade no Interior”, 2013; e “Areia Movediça”, 2015). Atualmente, vive e trabalha em São Paulo/SP, onde cursa graduação em Artes Visuais na USP. talita.hoffmann@gmail.com | talitahoffmann.com
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THIAGO R nasceu em 1981. Vive e trabalha em São Paulo. Formado em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Pesquisa diferentes modos de trabalhar com o som em diferentes contextos, realizando traquitanas, instalações, gravações de campo, caminhadas sonoras e outros meios. thiago.ruiz@gmail.com WAGNE CARVALHO nasceu em Oeiras - PI, em 1985. Vive e
trabalha em São Paulo. Bacharel em Arte Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, já participou de diversos cursos dentre eles: Imagem na Superfície com Carlos Fajardo e Clinica Geral com Thais Rivitti e Carlos Eduardo Riccioppo. Principais Exposições: 47º SAC, Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, Arte Londrina 4, Ponto Cego – Ateliê 397. wagne.m.carvalho@gmail.com | wagnecarvalho.com YASMIN KOZAK nasceu em Curitiba –PR, em 1992. É formada
em Bacharelado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e graduanda em Artes Visuais - Licenciatura, pela UFPR. Tem interesse nas possíveis interseções entre os registros verbais e visuais, tramitando por diferentes meios como instalações, ações urbanas e performances. Participou da I Edição do Circuito Universitário da Bienal Internacional de Curitiba (CUBIC), em 2013. yasmin.t.kozak@gmail.com | yasminkozak.wixsite.com/yasminkozak | ya.Tati.k@gmail.com
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EQUIPE DAP
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Este livro foi composto nas fontes da famĂlia Raleway, Opensans e Verdana e impresso em papel PĂłlen Bold 90 g/m2 pela Midiograf em novembro de 2017.