CGTEE_50_ANOS

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Centro da Mem贸ria da Eletricidade no Brasil

50

a n o s

de Eletricidade a Carv茫o

Porto Alegre, 2011


Conselho de Administração Valter Luiz Cardeal de Souza Presidente

Sereno Chaise Ricardo Spanier Homrich Mauro Henrique Moreira Sousa Sidney do Lago Júnior Cristian William de Sousa Cunha

Conselho Fiscal Celina Maria de Macedo Brinckmann Presidente

Ildo Wilson Grüdtner Bruno Fabrício Ferreira da Rocha

Diretoria Executiva Sereno Chaise

Diretor Presidente

Clovis Ilgenfritz da Silva

Diretor Financeiro e de Relações com o Mercado

Luiz Henrique de Freitas Schnor Diretor Técnico e de Meio Ambiente

Eduardo Antônio Peters Diretor Administrativo

*Posição em 31 de dezembro de 2010




Apresentação “Foi uma maravilha”. Não há dúvida na voz do paulista de Bragança, Joaquim Luiz Gregório, 81 anos: o isolamento no meio do Pampa, o deslocamento escasso e penoso, a ausência de atrativos, o inverno impiedoso, a cinza que caía copiosamente sobre o casario e a vida das pessoas atrapalhavam muito mas todas as dificuldades ficavam pequenas diante da convivência e da riqueza das amizades. “Estou há 50 anos em Candiota e só me dei bem”, depõe Gregório, que rodou muito Brasil, foi tipógrafo e operador de terraplenagem, antes de desembarcar no coração da Campanha gaúcha. Não é uma opinião isolada. Basta indagar a qualquer um dos pioneiros da termelétrica Candiota I. Erguida por um consórcio que incluía as francesas Alsthom, Stein e Roubaix, em meio ao denso verde pontilhado de rebanhos, que pertenciam às imensas estâncias a região da fronteira com o Uruguai, no extremo sudoeste do Rio Grande do Sul, a usina foi inaugurada em 1961, quando o hoje município era um distrito de Bagé, a 400 quilômetros de Porto Alegre. Quando os veteranos de Candiota I ouvem a pergunta a resposta vem pronta: “Aquilo era a minha vida”, testemunha o antigo colega de Gregório e também veterano, Alverino Alves, 70, que começou como servente e depois virou operador de caldeira. “Era bom. Tenho saudades dos companheiros”, reitera Telmo Monte, 78. “Pela CEEE (na época, a usina era administrada pela companhia estadual) eu dava a vida. Eu não tinha nada e fiz meu capital”, justifica. “Orgulho”, aliás, é outra palavra que reverbera nas confissões dos desbravadores. “Orgulho é o meu sentimento. O emprego que todo mundo quer”, concorda Toríbio Castro Filho, aos 69 anos, ele que chegou com 21, recém formado em mecânica na então Escola Técnica Federal (ETP), de Pelotas. “Já saí empregado da escola. Fui pra 4ª. Residência da CEEE em Pelotas. Quando eu disse que vinha pra cá, o próprio diretor me disse que eu tava louco, que era muito ruim, que não havia nada”, recorda.



Índice 1. Mensagem da Administração..........................................................................................6 2. Senhores Acionistas.........................................................................................................8 3.

Perfil

Empresarial............................................................................................................8

4. Conjuntura Econômica.....................................................................................................9 5. Estratégia da Companhia............................................................................................10 5.1

Missão...........................................................................................................10

5.2 Visão................................................................................................................10 5.3

Valores............................................................................................................10

5.4

Negocios........................................................................................................10

6. Expansão e Revitalização do Sistema de Geração......................................................11 6.1 Ute Candiota III (Fase C)...............................................................................11 6.2 Revitalização UPME......................................................................................12 7. Desempenho Operacional.............................................................................................12 8. Resultados Econômicos e Financeiros......................................................................13 8.1 Valor Adiocionado.........................................................................................13 8.2 Gestão Orcamentária.....................................................................................14 8.3 Gestão Financeira...........................................................................................14 9. Governança Corporativa.................................................................................................19 9.1 Assembleia Geral de Acionistas..................................................................19 9.2 Conselho de Administração.......................................................................19 9.3 Diretoria Executiva.........................................................................................20 9.4 Conselho Fiscal..............................................................................................20 9.5 Auditoria Interna...........................................................................................20



Capitulo I



“Orgulho é o meu sentimento”, diz o pioneiro


“Foi uma maravilha”. Não há dúvida na voz do paulista de Bragança, Joaquim Luiz Gregório, 81 anos: o isolamento no meio do Pampa, o deslocamento escasso e penoso, a ausência de atrativos, o inverno impiedoso, a cinza que caía copiosamente sobre o casario e a vida das pessoas atrapalhavam muito mas todas as dificuldades ficavam pequenas diante da convivência e da riqueza das amizades. “Estou há 50 anos em Candiota e só me dei bem”, depõe Gregório, que rodou muito Brasil, foi tipógrafo e operador de terraplenagem, antes de desembarcar no coração da Campanha gaúcha. Não é uma opinião isolada. Basta indagar a qualquer um dos pioneiros da termelétrica Candiota I. Erguida por um consórcio que incluía as francesas Alsthom, Stein e Roubaix, em meio ao denso verde pontilhado de rebanhos, que pertenciam às imensas estâncias a região da fronteira com o Uruguai, no extremo sudoeste do Rio Grande do Sul, a usina foi inaugurada em 1961, quando o hoje município era um distrito de Bagé, a 400 quilômetros de Porto Alegre. Quando os veteranos de Candiota I ouvem a pergunta a resposta vem pronta: “Aquilo era a minha vida”, testemunha o antigo colega de Gregório e também veterano, Alverino Alves, 70, que começou como servente e depois virou operador de caldeira. “Era bom. Tenho saudades dos companheiros”, reitera Telmo Monte, 78. “Pela CEEE (na época, a usina era administrada pela companhia estadual)

eu

dava

a

vida.

Eu

não

tinha

nada

e

fiz

meu

capital”,

justifica.

Anélio Rodrigues, 84 anos, quatro filhos e cinco netos, não se esquece do dia – 22 de dezembro – da inauguração oficial. “Eu estava presente quando presidente João Goulart chegou”. Antes, peão de estância, era analfabeto ao ser chamado ao serviço militar. No quartel, alfabetizou-se. Em Candiota, trabalhou na terraplenagem, na montagem e depois na própria usina. “ Senti que a minha vida tinha se valorizado”, testemunha. “Maravilha” é também o adjetivo usado por Godofredo Cápua, 74, quatro filhos e quatro netos, para descrever seu meio século de Candiota. “Criei os filhos em um lugar tranqüilo, onde todos formam uma só família”, acrescenta. E realça: “Tenho orgulho disso”. “Orgulho”, aliás, é outra palavra que reverbera nas confissões dos desbravadores. “Orgulho é o meu sentimento. O emprego que todo mundo quer”, concorda Toríbio Castro Filho, aos 69 anos, ele que chegou com 21, recém formado em mecânica na então Escola Técnica Federal (ETP), de Pelotas. “Já saí empregado da escola. Fui pra 4ª. Residência da CEEE em Pelotas. Quando eu disse que vinha pra cá, o próprio diretor me disse que eu tava louco, que era muito ruim, que não havia nada”, recorda.




Capitulo II


Trinta e dois bilh천es de toneladas de carv찾o


Durante séculos, o carvão foi esquecido no Brasil, apesar de suas imensas potencialidades. Escavações arqueológicas demonstraram que, nos séculos II e III, sob o Império Romano, o combustível já era empregado. No século XIV, as populações indígenas da América do Norte usavam carvão para cozinhar e para secar objetos de argila. Somente no início do século XVIII, com o uso cada vez maior do minério, iria-se constatar a possibilidade de transformá-lo num combustível que queimasse gerando menos sujeira e mais calor do que o carvão vegetal. Impulsionado pela Revolução Industrial em curso na Inglaterra do século XVII e o advento de equipamentos que exigiam novas fontes de energia, o carvão ganhou o status de combustível praticamente único. Tornou-se essencial para movimentar ferrovias, embarcações, teares e forjas. Em 1803, seu derivado, o gás de carvão, foi produzido pela primeira vez na França e passou a iluminar hotéis de Paris. Ao longo do século XIX, esta rocha escura, de toque áspero, conquistaria espaços cada vez maiores nas indústrias ao lado do seu crescente aproveitamento doméstico. O historiador Eric Hobsbawn notou que, em 1800, a Grã-Bretanha extraiu do seu solo dez milhões de toneladas do mineral - ou 90% da produção mundial. Filha das minas de carvão do Norte inglês, a ferrovia movida à base de energia produzida pelo carvão – uma inovação da Revolução Industrial – revelou, como nenhuma outra, o poder e a velocidade da nova era. Em solo brasileiro, estão 32 bilhões de toneladas de carvão mineral. As maiores jazidas situam-se no Sul, especificamente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Dos 32 milhões, o Rio Grande do Sul possui 89,25%, Santa Catarina 10,41%, Paraná 0,32% e São Paulo 0,02%. E, em solo gaúcho, Candiota é a grande protagonista.




Capitulo III



No comeรงo, pรก, picareta e carro de bois


Trinta e oito por cento de todo o carvão nacional estão no solo candiotense. São 17 camadas. Delas, a mais importante é Candiota, jazida a céu aberto, com seus, em média, 4,5 metros de espessura. Na região existem 12,3 bilhões de toneladas, das quais, 3,9 bilhões são mineráveis a céu aberto, segundo estimativa da Companhia Riograndense de Mineração (CRM). Um combustível barato e de fácil

acesso

com

estoque

suficiente

para

mais

de

um

século

de

consumo.

Esta riqueza foi, pelo que se sabe, descoberta por acaso. Aconteceu em 1828, quando um certo tenente Emílio Luis Mallet passou por ali. É o registro que fez o historiador Tarcísio Taborda em artigo publicado no jornal Correio do Sul, de Bagé (1). Mas o achado de Mallet não recebeu o reconhecimento merecido. Eram tempos de criação de gado – uma atividade quase exclusiva – e a novidade não despertou maior interesse. Fora do trabalho, os tropeiros se divertiam em bailes familiares, onde a mesa misturava bolos com lingüiça e café, ou na chamada polca de roda. Outra pesquisadora, Naiara Dal Molin, autora de Candiota, Origem e História (2), conta que todos se envolviam na brincadeira, cantando e dançando. Quando a música parava, alguém dedicava um verso a uma das pessoas presentes. “Eu fui na fonte tomar água/Debaixo da verde rama/Veio uma voz e me disse:/Muito padece quem ama.” Sem se fazer de rogado, o escolhido tratava logo de responder: “Muito padece quem ama/Pra quem sabe querer bem/Passa dia, passa noite/Outro pensamento não vem.” No universo ingênuo das grandes estâncias, a descoberta do carvão continuou passando em branco, pelo menos por algum tempo. E os estudos científicos do mineral só teriam início com a chegada de Guilherme Bouliech, um francês naturalizado brasileiro que, em 1858, iniciou a extração do mineral. Jorge Reis, autor de Apontamentos Históricos e Estatísticos de Bagé, publicado em 1911, registra, em sua obra, a concessão a Luiz Bouliech, por decreto de fevereiro de 1863, de uma permissão para lavrar as minas de carvão-de-pedra estudadas por seu pai Guilherme. Ele vai explorar as margens do arroio Candiota e outros afluentes do rio Jaguarão, por um período de trinta anos. De acordo com Reis, as jazidas do local eram ricas – algumas se encontravam à superfície e outras, a quase 20 metros de profundidade (3). Taborda comenta ainda um relatório do inglês Nathaniel Plant, de abril de 1862. Plant tratava das minas existentes entre os arroios do Tigre e Candiota e das experiências realizadas com o carvão do local, tanto na navegação como na fábrica de gás então existente no Rio de Janeiro. Elaborado a pedido do presidente da então Província do Rio Grande de São Pedro do Sul, Francisco Assis Pereira da Rocha, o relatório, porém, não encerraria a questão.


Logo depois, Plant solicitou a seu irmão, curador no museu de Bell Park, na Inglaterra, que levasse as amostras do carvão encontrado no Brasil a algumas instituições de Manchester. Queria saber se o carvão candiotense era realmente bom. Com tudo isso, a descoberta correu o país, atraindo empreendedores interessados em construir e explorar uma estrada de ferro que ligasse o município de Rio Grande à região carbonífera de Candiota. Plant continuou fazendo progressos: em agosto de 1867, a empresa Cunha, Plant e Cia. ganhou, por decreto do Império do Brasil, o direito de construir a linha férrea, entre os rios Jaguarão e Camaquã, para facilitar o emprego do carvão no abastecimento de navios a vapor e locomotivas. No ano seguinte, Plant recebeu novas e boas notícias. Os geólogos ingleses, Robert Hunt e W. Carruthers, enviaram-lhe mensagem em que afirmavam que “as plantas fósseis do carvão de Candiota são evidentemente paleozóicas e representam estocagem semelhante às existentes na Europa e na América do Norte”. A partir daí – e até a primeira metade do século passado – a exploração ficou a cargo das carvoeiras, que se multiplicaram, com o fim de abastecer as charqueadas da região – locais onde os bois eram abatidos e sua carne cortada e salgada, para transformar-se em charque (carne seca). No processo de lavra, as ferramentas básicas eram a picareta e a pá, que extraíam e empilhavam o minério, depois transportado

em

carrinhos

Ainda

no

transportaram

o

de

fim

carvão

mão do

da

ou

carros

século

jazida

de

de

XIX,

bois, os

Hulha

dependendo

carros Negra

de para

da

distância.

tração ser

animal

queimado,

numa única caldeira, na pequena termelétrica Emílio Guilayn & Cia. Ltda., que passou a iluminar Bagé em data imprecisa, provavelmente a partir de 1889. Quase três décadas mais tarde em 1917, foi criada a primeira empresa dedicada à mineração do carvão candiotense, não muito longe dali, na localidade

de

Dario

Lassance,

hoje

um

bairro

do

município

de

Candiota.

Na década de 1920, o consumo de carvão gaúcho pela então Viação Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS) cresceu muito, sobretudo a partir de 1928, com o início da operação de uma nova termelétrica – a Usina do Gasômetro ou Ponta de Cadeia –, situada à beira do Rio Guaíba, em Porto Alegre. Erguida pela Companhia de Energia Elétrica Riograndense (CEERG), a usina foi inaugurada com


10 MW e, em 1938, já com 13 MW, chegou a ser considerada a mais potente termelétrica do país. Nos anos 40, com mais dois grupos geradores, alcançou a potência instalada de 24 MW. Desativada em 1974, a usina do Gasômetro teve seu belo prédio – tipicamente industrial, com colunas em estilo alemão – tombado pelo patrimônio histórico e passou a abrigar um importante centro cultural. Na

bacia

carbonífera

de

Candiota,

entretanto,

os

trabalhos

de

sondagem só seriam realizados nos anos 1940, sob a responsabilidade da Diretoria de Produção Mineral da Secretaria da Agricultura/RS. Segundo o pesquisador Fortunato Pimentel, a intenção era demonstrar que o carvão poderia ter aproveitamento industrial, o que exigia a coleta de elementos para um futuro plano de exploração do produto.


Capitulo IV



Uma usina para eletrificar a estrada de ferro


Logo nos primeiros levantamentos, os pesquisadores ficaram sabendo que, na região de Candiota, havia uma camada de carvão mais próxima da superfície, com cerca de um metro de espessura. Além disso, constataram que o mineral já vinha sendo extraído rudimentarmente, para o consumo local e para a alimentação de locomotivas. Ainda assinalavam a excepcional posição geográfica da bacia, junto à ferrovia e situada em área totalmente desprovida de energia hidráulica. Como conseqüência disso, o governo federal, então comandado por Getúlio Vargas, voltou sua atenção para a longínqua fronteira gaúcha. Em 1943, por iniciativa do Departamento Nacional de Estradas de Ferro (DNEF), então ligado ao Ministério de Viação e Obras Públicas, começaram os estudos para a construção de uma usina termelétrica – que seria Candiota I - com a finalidade específica de eletrificar uma parte da estrada de ferro que fazia o percurso Rio Grande-Pelotas-BagéTorquato Severo. Até então, o tráfego ferroviário, a cargo de locomotivas a vapor, operava municiado pelo carvão extraído na mina de São Jerônimo, a quase 400 quilômetros dali, cujo transporte era considerado antieconômico. A decisão do DNEF era o primeiro passo para o desenvolvimento do pequeno distrito de Candiota, com 580 quilômetros quadrados. Antes, no entanto, era preciso erguer a termelétrica, com uma potência de 10 MW, ao lado da jazida de Candiota. O projeto não demorou a ser modificado, na verdade foi ampliado para dobrar sua capacidade. Em função da eletrificação da zona zul do estado – que envolvia, entre outras cidades, Bagé, Pelotas e Rio Grande –, a Comissão Estadual de Energia Elétrica (CEEE) propôs que a potência da usina fosse duplicada para 20 MW. Finalmente, em 1950, foi criada a Comissão Construtora de Candiota (CCC), que ficou responsável pelas obras da termelétrica. Porém, mal iniciara a construção, os objetivos voltaram a mudar. A Rede Ferroviária Federal, por exemplo, perdeu o interesse no projeto, de olho nas novas locomotivas a diesel, que exigiam baixo investimento e geravam grande economia de operação. O resultado do recuo foi que as obras de Candiota I passaram ao controle exclusivo da CEEE. Este, no entanto, era apenas um dos problemas. O isolamento da região, agravado pelas condições precárias das estradas, dificultavam o deslocamento de operários e engenheiros, que, recém-chegados a Candiota, desistiam da empreitada, preferindo voltar às cidades de origem. Além disso, as verbas não eram suficientes e, a partir de 1959, as obras ficaram paralisadas por 18 meses. Em 1961, porém, Candiota I entraria em operação



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