Introdução ao Mundo Codificado de Vilém Flusser - Parte I

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UnB - Universidade de Brasília Instituto de Artes PPG Arte e Tecnologia II

Introdução ao

Mundo Codificado de Vilém Flusser

Darley Cardoso

Brasília, 22 de outubro de 2013

@darleycardoso



Vilém Flusser Um dos maiores pensadores da segunda metade do século XX viveu durante mais de 30 anos no Brasil. Vilém Flusser nasceu em 1920 e faleceu em 1991 em Praga. Entre 1940 e 1972 realizou no Brasil parte importante de sua obra. Em 1950, naturalizou-se brasileiro e lecionou Filosofia da Ciência na Escola Politécnica da USP, e Filosofia da Comunicação na Escola Superior de Cinema e na Escola de Arte Dramática. Em 1970 quando a reforma universitária agregou todos os professores de filosofia da USP ao Departamento de Filosofia da FFLCH, Flusser, que era professor da Politécnica, não foi recontratado. Aparentemente, a não renovação do seu contrato com a Universidade deu-se à falta de comprovação de títulos acadêmicos.


Vilém Flusser Uma vez excluído da universidade, deixou o Brasil em 1972 para viver inicialmente na Itália e posteriormente na França e na Alemanha. Manteve-se bastante ativo até o final de sua vida, escrevendo e ministrando conferências na área de Teoria da Comunicação. Vilém Flusser morreu em um acidente de trânsito, ao visitar sua cidade natal para ministrar uma conferência.

Fonte: Wikipedia


O pensamento flusseriano As áreas de pensamento de Flusser partem de reflexões do existencialismo e da fenomenologia, concentraram-se na discussão do pensamento de Martin Heidegger. São pensamentos interdependentes e frutos de um processo de significação da experiência. O humanismo de usa filosofia aponta o indivíduo do presente como nódulo em uma rede de interações e possibilidades. Vivendo em simbiose com as máquinas que criou. Obrigando-o a abrir mão da possiblidade de controle da realidade, até mesmo porque a noção de “realidade” foi transformada por sua ação.


O pensamento flusseriano Há um convite constante à busca filosófica e críticas à condição humana, ao risco do totalitarismo programado, à manipulação da informação e o afastamento da natureza. Vilém Flusser dedicou sua reflexão à imagens e artefatos, elaborando as bases de uma legítima filosofia do design e da comunicação. Situando a imagem e o artefato no centro da existência contemporânea. Diferente de outros “pensadores de mídias”, Flusser é um pensador de causas, e não de comportamentos.


O Mundo Codificado


“Viver significa ir em direção à morte.” Viver então, significa resolver problemas para poder morrer. Homens e coisas são animados pelo desejo de provocar desordem, e ambos são levados pelo tempo e com o tempo rumo perecimento.


In-formar In + Formação = dar forma Fabricar é engendrar ideias (é informar) Informar também é fabricar Fabricar e informar são aspectos de um mesmo programa, são manifestações da ação humana na tentativa de impor sentido ao mundo por meio de códigos e técnicas.

“O artefato se faz modelo e informação.” Para Flusser, a base de toda cultura é a tentativa de enganar a natureza por meio da tecnologia, isto é, da maquinação.


In-formar A partir de nossos códigos construímos versões alternativas da realidade, mundos paralelos, múltiplas experiências do aqui e agora. As quais convencem, comovem e tornam-se reais na medida que acreditamos coletivamente em sua eficácia.

“Desde que o mundo começou a ser observado e não mais lido, passou a não ter mais significado.” O totalitarismo programador, se estiver algum dia consumado, nunca será identificado por aqueles que façam parte dele. Será invisível, e só pode ser visto agora em seu estado embrionário. Somos talvez a última geração que pode ver com clareza oque vem acontecendo.


In-formar “Todo projeto é ao mesmo tempo solução e obstáculo.” Para entender o passado, presente e futuro da cultura humana, deve-se dedicar ao entendimento das ferramentas, maquinações e principalmente as fábricas de cada período. O resultado final de toda nossa manipulação de palavras, imagens, artefatos é um imenso acúmulo de lixo, mesmo que eletrônico.


1ª Revolução Industrial • Constante = Homem-Ferramenta • Substituição da mão pela ferramenta • O homem é alienado do mundo, protegido e aprisionado pela cultura • Expulso da natureza


1ª Revolução Industrial • Constante = Homem-Ferramenta • Substituição da mão pela ferramenta • O homem é alienado do mundo, protegido e aprisionado pela cultura • Expulso da natureza

2ª Revolução Industrial • Constante = Máquina-Homem • Substituição da ferramenta pela máquina • O homem em função da máquina, a fábrica como espécie de manicômio • Expulso da Cultura


1ª Revolução Industrial • Constante = Homem-Ferramenta • Substituição da mão pela ferramenta • O homem é alienado do mundo, protegido e aprisionado pela cultura • Expulso da natureza

2ª Revolução Industrial • Constante = Máquina-Homem • Substituição da ferramenta pela máquina • O homem em função da máquina, a fábrica como espécie de manicômio • Expulso da Cultura

3ª Revolução Industrial • Ainda não podemos compreendê-la por estar em andamento • Substituição da máquina pelos aparelhos eletrônicos • Pode-se esperar uma louca alienação do homem em relação à natureza e à cultura • A fábrica do futuro será um lugar de potencialidades do “homo faber”


“O novo homem não é mais uma pessoa de ações concretas, mas sim um performer: Homo Ludens, e não Homo Faber. Para ele, a vida deixou de ser um drama e passou a ser um espetáculo. Não se trata mais de ações, e sim de sensações. O novo homem não quer ter ou fazer, ele quer vivenciar.”


A não-coisa “o aparelho só faz aquilo que o homem quiser, mas o homem só pode querer aquilo que o aparelho é capaz” O novo homem, o funcionário, aonde quer que vá, leva consigo os aparelhos (ou é levado por eles), e tudo o que faz ou sofre pode ser interpretado como uma função de um aparelho. O hardware se torna cada vez mais barato e o software mais caro. O entorno está se tornando impalpável, a base material desse novo tipo de informação é desprezível do ponto de vista existencial. Coisas perderão o valor e os valores serão transferidos para as informações. Um cenário nebuloso e imaterial.


Códigos O mundo tem para nós as formas que estão inscritas na informação genética desde o princípio da vida na terra.

“As pessoas deveriam de uma vez por todas aprender a contar.” O mundo é calculável, mas indescritível, letras induzem meras conversas vazias sobre o mundo. O mundo só aceita aquelas formas que correspondem ao nosso programa de vida. E o modo como o mundo está estruturado depende de nós próprios.


“Os códigos tornam-se uma espécie de segunda natureza, e o um mundo codificado cheio de significados em que vivemos nos faz esquecer o mundo da primeira natureza.”


Comunicação A comunicação humana é um processo artificial. Símbolos organizados em códigos. Ao aprendermos um código, tendemos, a esquecer sua artificialidade.

“Comunicamos não por sermos um animal social, mas por sermos um animal solitário, incapaz de viver na solidão.” A comunicação só pode dar siginificado a vida quando há equilíbrio entre discurso e diálogo. Nunca a comunicação foi tão boa, o que falta é diálogo efetivo. Enquanto que se tem excesso de discursos onipresentes.


Imagens As imagens dão significado ao mundo, podem encobrí-lo e substituí-lo. Criam um universo imaginário entre homem e mundo.

“As imagens são mediações sobre o homem e seu mundo.” O imaginário criado a partir de imagens técnicas não mais supera a alienação. A imaginação torna-se alienação, alienação dupla.


O pensamento pós-histórico Um novo tipo de pensamento está sendo formado. Poderá ser uma nova forma de barbárie, a imaginação confusa - ou, no melhor dos casos, um novo homem criador de modelos. A adequação do pensamento em linha • tempo histórico » premissa cartersiana Pensamento em Linha x Pensamento em Superfície • pensamento pós-histórico • imagem » texto » imagem técnica A humanidade programada por superfícies (imagens) pode parecer tratar-se de uma volta ao estado normal. No entanto, imagens prémodernas são produtos de artíficies, e as imagens pós-modernas são produtos de tecnologia.


“O idiota, o ser-homem imperfeito,

é falta de arte.”


Obrigado Vamos dialogar? Final da 1ÂŞ parte

Darley Cardoso darley.art.br n4f.blog.br @darleycardoso @darleycardos


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