Vestuário Unisexo como resposta aos estereótipos de Géneros

Page 1

MACROTENDÊNCIAS E INVESTIGAÇÃO David Pinto | M6276



UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

Design de Moda/2ºCiclo – 1º Ano | 2º Semestre

VESTUÁRIO UNISEXO COMO RESPOSTA AOS ESTEREÓTIPOS DE GÉNEROS MACROTENDÊNCIAS E INVESTIGAÇÃO David Pinto | M6276

Investigação e Análise


INTRODUÇÃO O objetivo do trabalho será entender como o vestuário e a moda se distinguiu entre o género feminino e masculino ao longo da história e como atualmente se cruza novamente como uma forma estética alternativa e de negócio em alguns nichos de mercado. Desde sempre o vestuário representou a identidade e a posição social, sendo um indiciador do género. Rad Hourani, Rick Owens são um dos grandes exemplos ao nível de design de autor que trabalham a forma e a estética com base no conceito de unissexo.



Roland Barthes no seu livro “Sistema da Moda” refere que uma peça de vestuário significa, ou porque é vestida por alguém, ou porque é falsa ou verdadeira. A identidade de uma peça de vestuário constrói o seu próprio sentido, criando e enviando códigos à sociedade como uma forma de individualização e distinção social. A moda e o vestuário são formas mais significativas em que são construídas as relações sociais entre as pessoas. “Moda é a imposição de um modo ou de forma predominante. É uma imposição arbitrária e em grande parte se opõe todos os outros modos ou formas, embora, é claro, são permitidas variações sobre o tema básico.” (McDowell 1984; 9) A história revela-nos que ao longo dos tempos o vestuário tem vindo a adquirir características relevantes para um individuo que está inserido num determinado grupo ou ambiente social. Esta evolução progride a um ritmo alucinante, levando a uma saturação da moda e do vestuário, existindo a necessidade constante da procura da novidade e alternativas. O vestuário unissexo surge como uma resposta a esta evolução e é também um reflexo das necessidades do nosso tempo. Ao longo da história o vestuário surge como uma forma de proteção ao mesmo tempo que evolui no sentido da separação dos géneros, sendo atualmente distinguível entre o vestuário masculino, feminino e unisexo. Segundo Malcolm Barnard, o vestuário serve para expressar mensagens e pode ser designado como cultura, uma expressão de significados/códigos e valores, sendo ao mesmo tempo uma das formas de diferenciação social e de comunicação em diversas sociedades. A moda e o vestuário são formas de comunicação não-verbal que traduz valores sociais e formas de vida, sendo ao mesmo tempo uma representação do indivíduo na sociedade. São códigos e abordagens ocultas que dão origem a diversas leituras.

1. RAD HOURANI; UNISEX HAUTE COUTURE

Vivemos numa sociedade excessivamente critica quando nos referimos à moda sendo ela um dos principais objetos de denuncias hipócritas. A alteração de determinados códigos no vestuário que se vão estabelecendo e tornando-se um hábito ao longo dos anos torna-se por vezes causa de indignação moral, levantando questões sociais sobre o que será politicamente correto e moralmente aceite. O vestuário andrógino é uma resposta coerente a uma sociedade que define e rotula indivíduos. Quando pensamos em vestuário, logo o associamos ao corpo. Ambos estão intimamente ligados com a identidade sexual e de género. Apreendemos que a moda é a única que é capaz de incomodar e destabilizar as normas do vestuário, dando origem a novas estéticas, novas visões do mundo e de consciências. Tornase indispensável entender como a moda e a concepção do vestuário, originam sinais sexuais e de género. Segundo Louise Wilson, professora britânica de design de moda "a moda esta obcecada com o género, define uma e outra vez as fronteiras de género". Assim, embora possa parecer que a moda atual é mais andrógino, até mesmo as roupas "unissex" demonstram uma obsessão exagerada com o sexo.


2. ROUPA INTERIOR CALVIN KLEIN E SAPATOS RAD HOURANI - A FRONTEIRA ENTRE OS GÉNEROS Foi através do vestuário que foram criadas as imagens associados aos masculino e ao feminino, sendo está distinção entre sexo/género por vezes útil, mas que em vários contextos cria problemas intrínsecos. Contudo a distinção dos géneros é um fenómeno natural, um conjunto de diferenças fisiológicas e biológicas, sendo um facto que os homens possuem equipamentos de reprodução diferentes do das mulheres. Através do livro “Fashion as Communication”, entendemos assim que a masculinidade e a feminina possuem características distintas, possuindo interpretações opostas em diferentes culturas. O principal problema que se coloca em relação às ideias de sexo/género, consiste em tentar definir quais os aspectos do comportamento masculino e feminino são naturais/biológicos e quais são os aspectos culturais.



Muitos argumentam que não está claro se ou até que ponto os homens são naturalmente diferentes das mulheres, pois a característica supostamente masculina de “competitividade”, ou a característica feminina de “indiferença”, são naturais ou biológicos, ou resultado de sobrecarga hormonal, ou são culturais? Outro exemplo que poderá ser dado é a de diversas culturas que apresentam características masculinas como femininas e o contrário em outras. Malcolm Barnard dá-nos o exemplo da maioria das culturas europeias ocidentais contemporâneas, considerar a preparação de alimentos para a família ser uma das tarefas obviamente feminina. Esta distinção entre sexo/género também é percebida no vestuário e na moda, distinguida pela presença ou ausência de certas características. Embora está distinção seja de certa forma praticamente universal, o masculino e o feminino têm variado de acordo com o tempo e o lugar. O vestuário/aspeto dito masculino do século XVII, na corte de Luís XIV de França possuía características completamente femininas, desde as perucas à maquilhagem, ao próprio sapato de salto-alto indicador na época de estatuto social e não de feminilidade. O mesmo acontece no século XX com o estilista Jean Paul Glautier quando promove e apresenta em desfile o uso de kilts em homens, e ao contrário quando constrói personagens femininas com um toque masculino, como o uso de gravatas. No entanto pode-se dizer que o kilt pode ser uma peça de vestuário aceitável pelo homem, na medida em que não é uma saia feminina, mas um tipo de traje nacional. Enquanto que uma cultura considera o uso de um vestido como masculino ou feminino, a distinção de sexo/género pode ser realizada por meio do uso ou não uso de uma determinada peça de roupa.

O mesmo acontece com o cromatismo que de igual forma tem sido utilizado para diferenciar o sexo. Presentemente, é normal que as pessoas no Ocidente associem o cor-de-rosa às meninas e o azul aos meninos. No entanto, como a diretora e chefe do museu Fashion Institute of Technology e fundadora do “Fashion Theory: The Journal of Dress, Bod¬y & Culture Valerie Steele” menciona, "no século XVIII, um fato de seda rosa foi considerado como uma indumentária adequada para um cavalheiro (Steele, 1989a: 6). Esta associação de cores foi criada no século XIX em França e apenas em 1920 que se tornou comum no Ocidente. Esta associação comum de cores é uma recente convenção histórica - no início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial, os meninos usavam rosa (a cor mais forte e determinada, de acordo com a literatura do tempo), enquanto que as meninas usavam azul (considerada mais "delicada" e "serena") "(Garber, 1992, p.1). No entanto no vestuário unissexo existe a preocupação em ultrapassar estas barreiras, sendo usado normalmente tons neutros como o preto e branco, sem associações de cor. Mas como anteriormente referido é completamente arbitrário que a cor considerada por determinada cultura defina o masculino e o feminino, mas torna-se a partir do momento que atribuída um conjunto paradigmático de significados que se irão aplicar futuramente.


4. DESIGN DE MODA JAPONÊS - ISSEY MIYAKE, YOHJI YAMAMOTO E REI KAWAKUBO


Desde 1970, o de¬¬sign de moda japonês de Issey Miyake, Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo teve um impacto inequívoco sobre a forma de vestir ocidental. Oferecendo uma nova e única criatividade expressão, eles têm desafiado as noções estabelecidas de status, exibição e sexualidade na moda contemporânea. Ignorando as tendências estilísticas, estes designers japoneses trabalham dentro de um quadro de artes visuais pós-modernista, apropriando-se aspectos de sua cultura tradicional e abraçam novos desenvolvimentos tecnológicos e metodologias em design têxtil. Entre estes destacam-se também Rick Owens e Rad Hourani mais contemporâneo, que se focam nesta “indistinção” através de novas estéticas, abraçando novos públicos e novas visões de moda.


Todos os dias a moda e o vestuário desempenham um papel importante na vida da maioria das pessoas. Estilos, convenções e códigos de vestuário podem ser identificados em todos os grupos, incluindo subculturas, grupos étnicos, estilos de vida alternativos, no local de trabalho e de lazer e em todos os lugares mundanos e instituições culturais do dia-a-dia. Conforme Joanne Entwistle, no livro “El Cuerpo y la moda”, as roupas evocam corpos sexuados, chamam a atenção para as diferenças entre homens e mulheres. O corpo é invocado muitas vezes através do vestuário, no entanto, o vestuário faz mais do que simplesmente atrair a atenção para o corpo e destacar os sinais corporais que os diferenciam. A sua função é infundir o sentido do corpo, adicionando camadas de significados culturais, que, devido a estar tão perto do corpo, confundem o natural. A moda é muitas vezes pensada como uma espécie de máscara de dissimular a verdadeira natureza do corpo ou pessoa. É considerado como um brilho superficial. O vestuário unissexo é uma máscara e uma ferramenta que vem disfarçar o que a moda veio construir ao longo dos tempos, afirmando assim o ciclo vicioso que se tem vivo constantemente.



BIBLIOGRAFIA & WEBGRAFIA

BARNARD, Malcolm - Fashion as Communication, Second Edition: Routledge, 2002. BARTHES, Roland,– Sistema da Moda: Edições 70, 1999. CRAIK, Jennifer – The face of Fashion: Routledge, 2004. ENGLISH, Bonnie – A cultural history of fashion in the twentieth century: Berg Publishers; English Ed edition (1 July 2007). ENTWISTLE, Joanne – El cuerpo y la moda. Una visión sociológica: Paidos, 2002.

“Woman, Men and Unisex: an apparel sizing guide”. Disponível em < http://www.asicentral.com/html/open/Education/pdfs/ApparelSizingG uide.pdf> Zoi Arvanitidou and Maria Gasouka ; First Fashion Colloquia – London – “Fashion, Gender and Identity” Disponível em < http://process.arts.ac.uk/sites/default/files/zoi-arvanitidou.pdf > Mary Ellen Snodgrass - “World Clothing and Fashion” Disponível em < http://www.mesharpe.com/extra/WorldClothing.pdf> Magister Thesis presented by Kristina Gligorovska, 26 May 2011 - “Exploration of the Gender Myth via fashion Media” Disponível em < http://www.diva-portal.org/smash/get/diva2:444598/FULLTEXT01.pdf> http://www.reamcnamara.com/wp-content/uploads/2014/02/ACanadian-in-Paris_-Rad-Houranis-Unisex-Couture-_-BLOUIN-ARTINFO.pdf




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.