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américa
y o h
Revista do Memorial da América Latina 01 2013
1º de maio, marco zero do trabalhismo Para quem centrais sindicais? Pagu nas trincheiras O que é Peleguismo?
Confira em América Latina em São Paulo: dicas do que se tem do México na cidade 1
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O NOVO
MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 São Paulo, SP, ao lado da estação Barra Funda do metrô
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Editorial
João Batista de Andrade
Chicago
Ana Maria Cicaccio
Pagu
Redação NAH
Greve de 1917 Di Cavalcanti
Eles não usam Black Tie Tânia Rabelo
La hora de los hornos Tânia Rabelo
Golpe de Estado Almino Affonso
Vargas e Perón José Luis Beired
CUT e Sindicalismo Eduardo Rascov
Contribuição negocial Daniel Pereira
Líderes Operárias Ana Maria Cicaccio
Continente do trabalho Reynaldo Damazio
O operariado hoje Leonor Amarante
Chefe, operariado e futebol 1º de maio na cultura Tânia Rabelo
México em São Paulo Simone Lozano
Programação do Memorial Imagem da edição Pedro Martinelli
05 06 11 14 16 18 20 24 33 36 38 42 48 53 55 62 65 66
GERALDO ALCKMIN SECRETÁRIO DA CULTURA
MARCELO ARAÚJO
FUNDAÇÃO MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA CONSELHO CURADOR
américa
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GOVERNADOR
DIRETOR
PRESIDENTE
JOÃO BATISTA DE ANDRADE
SECRETÁRIO DA CULTURA
EDITORA EXECUTIVA/DIREÇÃO DE ARTE
SECRETÁRIO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (em exercício)
ASSISTENTE DE REDAÇÃO
ALMINO MONTEIRO ÁLVARES AFFONSO MARCELO ARAÚJO
LUIZ CARLOS QUADRELLI REITOR DA USP
JOãO GRANDINO RODAS REITOR DA UNICAMP
FERNANDO FERREIRA COSTA REITOR DA UNESP
JULIO CEZAR DURIGAN PRESIDENTE DA FAPESP
CELSO LAFER
REITOR DA FACULDADE ZUMBI DOS PALMARES
JOSÉ VICENTE
PRESIDENTE DO CIEE
RUY ALTENFELDER SILVA DIRETORIA EXECUTIVA DIRETOR PRESIDENTE
JOÃO BATISTA DE ANDRADE DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DA AMÉRICA LATINA
ADOLPHO JOSÉ MELFI
DIRETOR DE ATIVIDADES CULTURAIS
LUIZ FELIPE BACELAR DE MACEDO
hoy
LEONOR AMARANTE MÁRCIA FERRAZ DIAGRAMAÇÃO
EVERTON SANTANA DAYANE DA SILVEIRA XISTO (ESTAGIÁRIA) REVISÃO
ELIAS CASTRO (ESTAGIÁRIO) COLABORARAM NESTE NÚMERO
Almino Affonso, Ana Candida Vespucci, Ana Maria Cicaccio, Daniel Pereira, Eduardo Rascov, José Luis Beired, Luís Avelima, Pedro Martinelli, Reynaldo Damazio, Ricardo Antunes, Ruy Braga, Simone Lozano, Tânia Rabello.
NOSSA AMÉRICA HOY é uma publicação bimestral da Fundação Memorial da América Latina. Redação: Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 664 CEP: 01156-001. São Paulo, Brasil. Tel.: (11) 3823-4669. Vendas: (11)3823-4618 Internet: www.memorial.sp.gov.br Email: publicacao@fmal.com.br
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JOSÉ ALEXANDRE PEREIRA DE ARAÚJO
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Capa:Take do filme Trabalhadores: Presente!, de João Batista de Andrade, 1979. foto de Wagner Carvalho, cedida pela Raiz Distribuidora
Editorial No leque das comemorações do seu 24º aniversário, em 18 de março, o Memorial da América Latina inaugurou dois projetos que vão agregar valor ao perfil de atividades que desempenha como polo de integração e irradiador da produção artística e cultural dos povos do continente. Um deles é o que já vem sendo chamado de Novo Memorial, que tem como objetivo transformar suas praças em ponto de encontro de lazer cultural da família paulistana. Além das atrações de todos os gostos e idades, construímos na Praça Cívica um parque infantil, pista de caminhada e circuito de ginástica. A outra novidade começa com estas linhas: a revista Nossa América Hoy, novo produto editorial, impressa em preto e branco, dedicada ao debate atualizado das questões plurais e comuns aos povos latino-americanos. Por isso, será uma publicação bi-
mestral, enquanto Nossa América, criada com a inauguração do Memorial em 1989, ligada à sua programação, passará a circular uma vez ao ano. A cada edição Nossa América Hoy vai abordar um tema relevante e temporal. Neste número de estreia, a pauta é inteiramente dedicada ao 1º de Maio e suas influências na vida dos trabalhadores. O episódio que deu origem à data – quando, em Chicago, um grupo de operários reivindicou a redução da jornada de trabalho - é lembrado no texto da jornalista Ana Maria Ciccacio. A comemoração do Dia do Trabalho no Brasil de Vargas e na Argentina de Perón, é o tema do historiador José Luis Beired. A editora Leonor Amarante entrevistou o cientista político Ruy Guerra e com ele colheu alentado e atualizado panorama do sindicalismo brasileiro e sua cumplicidade com os partidos políticos. Contribuição negocial, o
que é isso? O jornalista Daniel Pereira recupera e atualiza a história do projeto que surgiu para substituir o imposto sindical, mas ainda não saiu do papel. A mulher trabalhadora e suas reivindicações específicas e um texto histórico de Patrícia Galvão, nossa agitadora cultural Pagu, são outros destaques desta edição. Todas as xilogravuras contidas neste número são de autoria de Rubem Grilo. Na agenda cultural, oferecemos dicas de literatura, artes plásticas, cinema, teatro e música alusivas ao 1º de Maio. E inauguramos com o México o roteiro América Latina em São Paulo, que em cada número vai homenagear um país latino-americano. Encerra este número, Foto da Edição, espaço dedicado aos fotógrafos e, quem abre a série é Pedro Martinelli, profissional de São Paulo. João Batista de Andrade é Presidente da Fundação Memorial da América Latina.
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Chicago estopim
das reivindicações da classe operária oprimida durante décadas e que se alastram pelo mundo. Ana Maria Cicaccio
1° de maio 6
observou o historiador britânico Eric Hobsbawn (1917-2012), quando esteve no Brasil, há muita injustiça que precisa ser remediada. “Mesmo que jamais consigamos eliminá-la por completo, se não tentarmos, não seremos seres humanos, não nos daremos conta do nosso potencial”. A Revolução Industrial viria a ser o grande divisor de águas. No final do século XVIII, ao mesmo tempo em que a Revolução Francesa propagava-se em ondas por toda a Europa pregando liberdade e igualdade, outro tipo de revolução transformava completamente a vida dos britânicos. Relatos do historiador norte-americano Marvin Perry registram que após 1760 a Inglaterra vivenciou mudanças muito profundas nos
modos de produção. Novas formas de energia, particularmente a do vapor, substituíram a força animal e os músculos humanos. Maneiras melhores de obtenção e utilização de matérias-primas também foram descobertas. Surgiu a fábrica, forma inédita de organizar a produção e os trabalhadores, mas também de sugá-los. De 1850 a 1900, a Revolução Industrial difundiu-se pela Europa, Estados Unidos e Ásia. Escritores como Balzac (1799-1850), na França, e Dickens (1812-1870), na Inglaterra, documentaram realisticamente essa época selvagem da industrialização. A jornada de trabalho em meados do século XIX chegava a 12, 14, 16 horas diárias, com no máximo uma
Fotos: divulgação
O Dia do Trabalho continua sendo, 123 anos depois da Revolução Industrial, a data mais importante da Humanidade na constante busca por uma sociedade mais justa. Nem mesmo as incertezas da globalização e da precarização do trabalho parecem abalar o sentido político das comemorações no 1º de Maio. Neste dia, as motivações para lembrar a data tanto podem ter o caráter de luto (por rememorar a origem do evento), o de festa (para comemorar as conquistas obtidas) e também o de luta, quando os trabalhadores têm a oportunidade de expor aos holofotes da mídia suas atuais pautas de reivindicação. Afinal, como
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hora para refeições. Mulheres e crianças eram preferidas aos homens adultos por causa dos baixos salários, como denunciou Friedrich Engels em A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. Não havia descanso semanal nem feriados e férias. Salário mínimo, previdência social, aposentadoria, licença maternidade e 13º salário – direitos conquistados muito mais tarde – eram sequer cogitados. A filosofia liberal não admitia que se fizessem leis para os trabalhadores. Com salários insuficientes, estes moravam em habitações superlotadas e sujas, ou, sendo solteiros ou tendo deixado a família no campo, em barracões coletivos com outros do mesmo sexo, sem nenhuma privacidade. Quando perdiam o emprego, também perdiam
Adolph Fischer
o abrigo. Em alguns casos, pagavam multas por erros cometidos e acidentes provocados em fábricas onde eram aviltantes as condições de trabalho. Primeiro passo - Nesse insólito contexto, a primeira reivindicação dos trabalhadores foi a redução da jornada. “Exigia-se não morrer de tanto trabalhar. A origem do 1º de Maio acha-se diretamente ligada à luta pela redução da jornada de trabalho”, escreve Vito Giannotti, metalúrgico, autor de mais de 20 livros (entre eles História das Lutas dos Trabalhadores no Brasil). Foi um industrial, porém, e não um operário, que propôs a fixação da jornada de trabalho em 8 horas diárias, em 1817. Seu nome, Roberto Owen, um socialista utópico, inglês de nascimento, que sonhava com uma comunidade igualitária.
Michael Schwab
A luta pela jornada de 8 horas prosperou com o surgimento de organizações nacionais e internacionais de operários. A Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), fundada em Londres em 1864 por operários franceses e ingleses, manteve essa reivindicação sempre em pauta. Em seu 2º Congresso, em 1866, na cidade de Genebra, a Primeira Internacional discutiu em plenário a questão das 8 horas, considerada tão importante que era vista como “primeiro passo para a emancipação do trabalhador”. Em 1884, a Federação Americana do Trabalho (American Federation of Labor/AFL em inglês), fundada em 1881, promoveu um Congresso de Trabalhadores em Chicago, centro que congregava milhares de operários. Na ocasião, o secre-
Samuel Fieldem
Louiss Lingg
“Se com o nosso enforcamento vocês pensam em destruir o movimento operário - este movimento de milhões de seres humilhados, que sofrem na pobreza e na miséria, e esperam a redenção –, se esta é sua opinião, enforquem-nos. Aqui terão apagado uma faísca, mas lá
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tário da entidade, Frank K. Foster, propôs uma greve geral nacional pela jornada de 8 horas. O operário Gabriel Edmonston endossou a proposta e foi além, sugerindo que a partir de 1º de maio de 1886 os trabalhadores considerassem o dia de trabalho de 8 horas como jornada legal, paralisando suas atividades nas indústrias que não acolhessem a decisão daquele congresso. A assembleia votou favoravelmente e por unanimidade. No dia 1º de maio desse ano, milhares de trabalhadores saíram em manifestação pelas ruas das cidades industrializadas dos EUA, entre elas Chicago, atendendo à convocação da AFL de greve geral no país pela redução da jornada de 13 para 8 horas diárias. A convocação condizia com a diretriz da I Conferência
A.R. Parsons
George Engel
A filosofia liberal não admitia que se fizessem leis para os trabalhadores.
Oscar Neebe
August Spies
e acolá, atrás e na frente de vocês, em todas as partes, as chamas crescerão. É um fogo subterrâneo e vocês não poderão apagá-lo!” (trecho da fala de August Spies, um dos líderes do movimento operário de maio de 1886, em Chicago, antes de sua condenação).
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Internacional dos Trabalhadores, realizada em Londres 20 anos antes, recomendando à classe operária adotar essa reivindicação como foco de sua luta. Chicago estava em greve. Na tarde do dia 3 de maio, em um confronto entre grevistas e policiais, dois trabalhadores morreram e vários ativistas foram presos. Revoltados, os trabalhadores marcaram um comício (meeting) para a noite do dia seguinte, na praça Haymarket. Cerca de três mil pessoas compareceram, inclusive mulheres e crianças. Quando a chuva e o frio amainaram e os assistentes já eram menos de 200, surgiu um destacamento policial com um contingente de 140 homens, e logo explodiu entre eles uma bomba de origem indeterminada. Imedia-
tamente, os policiais abriram fogo contra a multidão. Saldo do conflito: 6 mortos, 50 feridos e mais de cem trabalhadores presos. Os acontecimentos de Haymarket desencadearam uma onda de repressão nunca vista em Chicago. Oito dirigentes sindicais – Albert Parsons, August Spies, Sam Fieldem, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Michel Shwab, Louis Lingg e Georg Engel – foram levados a julgamento, no que ficou conhecido como o processo dos “oito mártires de Chicago”, acusados do assassinato dos policiais. Cinco deles – Parsons, Spies, Fischer, Lingg e Engel – foram condenados à morte por enforcamento; Fieldem e Schwab, à prisão perpétua; e Neeb, a 15 anos de prisão. Em 11 de novembro, Spies, Engel, Fischer e Parsons
foram enforcados. Lingg se suicidou na véspera, deixando um bilhete no qual reafirmava suas ideias e dizia que se matava para não permitir que um carrasco a serviço da burguesia encostasse suas mãos imundas no seu corpo. A repercussão é intensa na imprensa, no imaginário da população norte-americana e entre os trabalhadores pelo mundo. Outras memórias, além da histórica proposta de Edmonston e de seu trágico desfecho em Chicago, estão presentes na escolha do dia e do mês para o Dia do Trabalho, ou como querem algumas correntes político-sociológicas, o Dia do Trabalhador. Ana Maria Ciccacio é jornalista na área de cultura e colabora com as revistas
Inovação e Brasileiros.
Os trabalhadores organizados não perdiam o foco na luta pelos seus direitos. 10
Fotos: divulgação
P A G U a eterna militante
“Podem aprisionar meu corpo, jamais terão minha alma” 11
Charmosa, inteligente, comunista, jornalista e escritora, quase nada escapou na vida agitada de Patrícia Galvão, que nasceu em 1910 e, muito antes de virar Pagu, já se impôs por atitudes revolucionárias para a época, na defesa de igualdade social. Foi a primeira presa política no Brasil. Em 1930 casou-se com o escritor modernista Oswald de Andrade. No ano seguinte, ingressou no então Partido Comunista do Brasil (PCB), e, com Oswald e Queirós Lima, passou a editar o jornal panfletário O Homem do Povo que, só teve oito números. Figura constante nas manifestações políticas, foi presa durante uma greve de estivadores em Santos. Em 1933, ao sair da prisão lança o livro Parque industrial - romance proletário, com pseudônimo de Mara Lobo, do qual publicamos
um trecho na página seguinte. No final daquele mesmo ano, iniciou longa viagem de volta ao mundo, e passou a colaborar para os jornais cariocas Correio da Manhã e para o Diário de Nóticias, e o Diário da Noite, de São Paulo. Pagu era uma mulher do mundo. Na China, entrevistou Sigmund Freud, que estava por lá como turista. Foi para a União Soviética, numa viagem de oito dias pela Transiberiana, onde fez vários contatos. Como todo intelectual da época, também sonhava com Paris, onde chegou em 1934, seguiu alguns cursos na Universidade Popular e ingressou no Partido Comunista Francês. Foi presa como militante comunista estrangeira e repatriada para o Brasil em 1935. Separou-se de Oswald de Andrade, e naquele mesmo ano, foi novamente detida, e conde-
nada a dois anos de prisão, sob acusação de envolvimento no levante armado promovido no Rio de Janeiro por setores da Aliança Nacional Libertadora (ANL), que agrupava comunistas, socialistas e outras correntes na luta contra o integralismo e o imperialismo. Três anos depois, outra vez vai para prisão ao ser detida e torturada pela polícia de Vargas, tendo permanecido, no total, quase cinco anos na detenção. Deixa o Partido Comunista do Brasil e segue a corrente Trotskista. Em companhia do novo marido, Geraldo Ferraz, integra a redação de A Vanguarda Socialista junto também com o crítico de arte Mário Pedrosa, Hilcar Leite e Edmundo Moniz. Seus últimos anos foram vividos em Santos de onde atuou na imprensa paulista, sobretudo como crítica literária.
Pagu e Oswald de Andrade, marido e companheiro nas lutas políticas, com o filho Rudá, em 1931.
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Pagu é detida em 23 de agosto de 1931, durante um comício comunista na cidade de Santos, quando o estivador Herculano de Souza morre em seus braços e ela passa a ser a primeira presa política do Brasil. Em 1938, novamente presa, é espancada e torturada, sendo libertada somente dois anos depois.
Trecho do livro Parque Industrial, de 1933 “O grito possante da chaminé envolve o bairro. Os retardatários voam, beirando a parede da fábrica, granulada, longa, coroada de bicos. Resfolegam como cães cansados para não perder o dia (...). O apito acaba num sopro. As máquinas se movimentam com desespero. A rua está triste e deserta (...). Na grande penitenciária social os teares se elevam e marcham esguelando (...). Saem para o almoço das onze e meia (...). Pão com carne e banana (...). Na grade ajardinada um grupo de homens e mulheres procura uma sombra. Discutem (...). Um rapazinho se espanta. Ninguém nunca lhe dissera que era um explorado. “Rosinha, você pode me dizer o que a gente deve fazer?” Rosinha Lituana explica o mecanismo de exploração capitalista. “O dono da fábrica rouba de cada
operação o maior pedaço do dia de trabalho. É assim que enriquece à nossa custa!” “Quem foi que te disse isso?” “Você não enxerga? Não vê os automóveis dos que não trabalham e a nossa miséria?” “Você quer que eu arrebente o automóvel dele?” “Se você fizer isso sozinho, irá para a cadeia e o patrão continuará passeando n’outro automóvel. Mas felizmente existe um partido, o partido dos trabalhadores, que é quem dirige a luta para fazer a revolução social.” “Os tenentes?” “Não. Os tenentes são fascistas.” “Então o que?” “O Partido Comunista”. Novamente as ruas se tingem de cores proletárias. É a saída da Fábrica (...). A limousine do gerente chispa espalhando o pessoal. Uma menina suja alisa o pára-lama com a mão chupada.” (Parque Industrial, 1933).
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e a greve de 1917 em SĂŁo Paulo
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Sem tĂtulo (grupo de trabalhadores), 1933, nanquim e grafite s/ papel.
Di Cavalcanti
“E a célebre greve de 1917? Os bairros de Brás e Mooca sitiados! Lembro-me da estupidez de meus colegas da Academia contra grevistas. Lembro-me de Oswald de Andrade com aquele reacionarismo católico que o dominava, querendo fazer incursões armadas pela madrugada para desalojar os grevistas. Lembro-
1° de maio, 1932, nanquim e grafite s/ papel
Trecho retirado do livro Desenho de Di Cavalcanti na Coleção do MAC (Museu de Arte Contemporânea de São Paulo). me de uma passeata operária até o centro da cidade que foi dissolvida a pata de cavalo pela polícia. Lembro-me do velho Júlio Mesquita telefonando para o palácio dos Campos Elísios, ao Dr. Altino Arantes, protestando contra o que se passava diante da redação do “Estado”. Telefonou para o Dr. Altino e saiu para a rua com Alfredo Pujol e Ricardo Figueiredo enfrentando os policiais. Rapidamente
surgiu um automóvel com o Dr. Oscar Rodrigues Alves. As coisas serenaram na Praça Antonio Prado. Das janelas do “O Estado de São Paulo” eu observava as janelas da redação do “Correio Paulistano”, baluarte do PRP, com curiosidade. Interditavam-me aquele sítio os meus amigos da esquerda”. Di Cavalcanti 15
pr o de gra m ma aio ç ão TÂNIA RABELLO
Gianfrancesco Guarnieri e Mirian Mehler na versão original da peça de 1958.
Eles não usam black tie é a primeira peça teatral de Gianfrancesco Guarnieri, escrita e apresentada em 1958 no Teatro de Arena, sob direção de José Renato. A peça, com forte temática social, marcou época porque se contrapôs ao teatro tradicional na época, o Teatro 16
Brasileiro de Comédia (TBC), voltado a superproduções e a textos estrangeiros. Eles não usam black tie – que originalmente se chamava “O cruzeiro lá no alto” e teve o nome modificado por sugestão de José Renato, como provocação às encenações luxuo-
sas do TBC e ao público deste gênero de teatro. À beira da falência, o Teatro de Arena – que surgiu em 1953 como contraposição ao TBC – reergueu-se com o texto de Guarnieri, que foi um sucesso de bilheteria e ficou mais de um ano em cartaz, fato inédito até
Fotos: divulgação
Na
Eles não usam black tie
Eles não usam Black Tie, peça que será apresentada em montagem especial no auditório Simón Bolívar do Memorial.
então para um texto brasileiro. Em um cenário despojado, que retratava o morro e seus moradores, os operários, Gianfrancesco Guarnieri trata de temas importantes, como o movimento grevista e operário da década de 1950 no Brasil e as difíceis condições de vida dos trabalhadores brasileiros, fazendo um retrato fiel das favelas dos grandes centros urbanos e apontando o abismo social entre classe dominante e classe dominada. É, por isso, considerada um marco no teatro de temática social. A partir daí, outros textos surgiriam na mesma linha, retratando as classes menos favorecidas, com ênfase para a representação dos trabalhadores.
A peça surgiu também num momento de larga efervescência cultural no País, concomitantemente ao movimento do Cinema Novo, que também convocava a arte ao neorrealismo. A peça é a história do choque entre pai e filho com posições ideológicas e morais opostas. O pai, Otávio, é operário, idealista, socialista e revolucionário. Foi preso várias vezes e é líder do movimento grevista no qual se situa a peça. Já seu filho, Tião, criado longe do morro, na cidade, por causa das constantes prisões do pai, não convive com este mundo de luta da classe operária e, de volta quando adulto, entra em constantes conflitos ideológicos com o pai e também com a pró-
pria namorada, que engravida. Na greve, com medo de perder o emprego, não adere ao movimento, gerando vários conflitos entre ele, seu pai e sua namorada, que por fim o abandona. O texto de Guarnieri também rendeu, em 1981, um filme do cineasta Leon Hirszman, protagonizado pelo próprio Guarnieri. Naquele mesmo ano, Hirszman recebeu o Grande Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza, na Itália; o prêmio Grand Coral, no Festival de Havana, Cuba, além do Troféu APCA 1982, da Associação Paulista de Críticos de Arte, do Brasil. Tânia Rabello é jornalista e colabora com a revista Brasileiros.
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pr o de gra m ma aio ç ão
Na
La hora de los hornos Filme do diretor argentino Fernando Solanas TÂNIA RABELLO
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La hora de los hornos, filme argentino dirigido por Fernando “Pino” Solanas e Octavio Getino, integrantes do Grupo de Cine Liberación, estreou em 1968, nos primeiros anos da ditadura militar na Argentina. Autoproclamado subversivo, o documentário foi concebido como um instrumento para estimular a revolução. Por isso, foi filmado e produzido de maneira furtiva. Pino Solanas, lembra, por exemplo, que 200 latas de filme tiveram de ser enviadas a Roma para que fossem editadas longe de terras argentinas. O filme foi lançado em 1968, na Itália, surpreendendo o regime do general argentino Juan Carlos Onganía (1966-1970). Logo de cara ganhou prêmios no circuito europeu de cinema, entre eles o Grande Prêmio da Crítica na Mostra Internacional de Cinema Novo, na Itália. No Reino Unido, foi classificado, em 1974, pelo British Film Institute, entre os dez melhores filmes dos anos 1970. Na Argentina, La hora de los hornos só pôde ser exibido oficialmente em 1973. Em 1989 teve uma reestreia e em 2008 reeditou-se uma versão estendida. O filme, com extremo espírito político e didático, tem quatro horas de duração e é dividido em três partes: Neocolonialismo e violência; Ato para a liberação (que se divide em Crônica do Peronismo e Crônica da resistência), e Violência e liberação. Solanas, que era cineasta publicitário, servindo até então ao
neocolonialismo, com este filme se “converte”, questionando o sistema e a cruel ditadura argentina. Solanas e Getino qualificam, ainda, La hora de los hornos como um ato de resistência contra a ditadura e uma ferramenta
imagem real de uma criança faminta e logo em seguida a de um arranha-céu deslumbrante em Buenos Aires. Além disso, cenas irônicas, como o hino nacional argentino cantado por uma cantora de ópera da tradição
O filme revolucionário foi lançado em 1968 na Itália, mas devido à censura, só pôde ser exibido oficialmente na Argentina em 1973. para discussão, debate e mobilização política contra a oligarquia portenha, que sempre usou da violência para impor seu projeto. No filme, imagens de diferentes contextos argentinos são conectadas a fim de revelar as contradições sociais não aparentes, quando percebidas de forma isolada. Por exemplo, a
clássica europeia, sobreposto a imagens de cenas de uma briga de faca entre homens famintos e jovens, além de um velho aleijado à espera de uma prostituta, expõem a contradição entre uma ordem política idealizada e as reais necessidades da maioria dos argentinos. Um filme revolucionário, enfim. 19
Emergência popular e
golpe de Estado No governo de João Goulart as greves seriam reconhecidas como recursos legais, desde que não descambassem para a anarquia.
Fotos: divulgação
Almino Affonso
João Goulart manteve contato direto com o povo durante seu breve governo.
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tara para 54,8%; e em fevereiro de 1963, precipitara-se para 60%! Justo quando, fazia um mês, João Goulart assumira a Presidência da República, uma vez restaurado o “presidencialismo”, conforme a decisão da Consulta Plebiscitária de 6 de janeiro de 1963. O Plano Trienal, dentre vários objetivos, propunha-se a duas metas principais interligadas: a manutenção da taxa de crescimento no período de 1957 a 1961, da ordem de 7% ao ano; e a contenção progressiva da inflação. Por um conjunto de fatores (sobretudo políticos), a espiral inflacionária prosseguira. E, em decorrência, o recurso às greves tornou-se inevitável. Como Ministro do
Trabalho, assisti de perto ao impasse: não havendo espaço para as negociações entre patrões e operários, as greves multiplicaram-se numa avalanche. A Constituição de 1946, em seu artigo 158, assegurava o direito de greve: “cujo exercício a lei regulará”. O Congresso Nacional, por omissão imperdoável, não cumprira a tarefa que lhe cabia. Por outro lado (por conta dessa inércia), os empresários acobertaram-se no Decreto 1.070/46, editado pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra que, a rigor, obstaculizava a prática de greve. O referido Decreto era inconstitucional; mas servia de escudo aos empresários, respaldados
O vidente (2011), xilogravura de Rubem Grilo.
A emergência popular, que teve grande significado político nos anos 60, projetou-se sobretudo no movimento sindical urbano. O País estava convulsionado desde a renúncia do presidente Jânio Quadros e que se desdobrara no veto militar à posse do Presidente João Goulart e na instituição do Parlamentarismo, verdadeiro Golpe Branco. Nesse contexto, o processo inflacionário ganhara dimensões de uma crise social e política, num crescendo incontornável. Os dados falam por si mesmos: a inflação chegara a 26,3% em 1960; subira para 33,3% em 1962; logo mais sal-
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catórios, tivera como resultante histórica a fundação do “Comando Geral dos Trabalhadores – o CGT”! Pode-se ponderar que o CGT formara-se em 1962, durante o IV Encontro Sindical Nacional, realizado em São Paulo, com a participação de 3.500 delegados, representando 586 sindicatos, associações e federações. É o que leio no excelente livro de Antonio Neto. Mas, pela ação – em confronto aberto com a Federação das Indústrias de São Paulo – considero que a greve dos 700 mil, envolvendo nada menos que 79 sindicatos foi que lhe dera corpo e alma. Com efeito, o CGT foi o embrião das Centrais Operárias que,
no – foi a greve dos aeronautas, deflagrada em protesto contra a demissão do comandante Paulo Mello Bastos, por ato ilegal do Presidente da Varig – Sr. Ruben Berta. Naquele então, com esse gesto autoritário, fora atingido o presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas e, como se não bastasse, presidente da Federação Nacional dos Transportes Aéreos, Fluviais e Terrestres. Cabe assinalar: Mello Bastos, por força da lei, tinha a “estabilidade sindical”. Portanto, não poderia ser demitido. Salvo se houvesse incorrido em “justa causa”, prevista na CLT e devidamente reconhecida pela justiça do trabalho. Era o que
àquela época distante, ainda não estavam organizadas em nosso país, num contraste chocante com o movimento sindical avançado no Uruguai, na Argentina e no Chile. Outro fato – da maior significação do sindicalismo urba-
estava expresso (e continua vigente) na Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo 541 e parágrafos. Essa prerrogativa, como é óbvio, é fundamental para o dirigente sindical. Sem ela, a qualquer pretexto, os empresá-
Tesoura de rosca (2003), xilogravura de Rubem Grilo.
pelos Tribunais do Trabalho. Para o Presidente João Goulart, diante desse quadro, a opção fora imediata: em seu governo as greves seriam reconhecidas como recursos legais, desde que não descambassem para a anarquia. O confronto estava assim incontrolável; e o conflito social ganhou dimensões políticas. O importante é que, nesse beco sem saída, os trabalhadores foram articulando os “Pactos Intersindicais”. Vale dizer: a ação conjugada de vários sindicatos (de categorias diferentes), dando assim redobrado impulso às reivindicações economicistas, numa pressão social incomparável. Cito alguns exemplos relevantes: “Pacto de Unidade e Ação – PUA”; “Fórum Sindical de Debates de Santos – PSD”, “Pacto de Unidade Intersindical – PUI”, que remontava a 1953, respaldando a greve dos 300 mil em São Paulo; e sobretudo o “Pacto de Ação Conjunta – PAC”, uma ação conjugada sem precedentes, articulando a greve dos 700 mil trabalhadores em São Paulo, integrando 14 categorias profissionais! Desta forma, o sindicalismo urbano passara a ter uma estrutura “dual”: a prevista na CLT (por categoria profissional) e a que se criara com os Pactos Intersindicais. É um momento, a meu ver, da maior importância na história do sindicalismo urbano. Sobretudo porque essa greve – dos 700 mil – além de ser vitoriosa em termos reivindi-
rios poderiam demitir o sindicalista, tão só porque ousasse liderar a luta reivindicatória e, sobretudo, se recorresse ao exercício do direito de greve. Em face dessa hipótese, os trabalhadores ficariam ao desamparo. Como Ministro do Trabalho, em declaração à imprensa, exigi que o Presidente da Varig anulasse a decisão arbitrária. Porém o Sr. Ruben Berta fez-se de surdo e de mudo. Ato contínuo, em legítimo protesto, os aeronautas declararam-se em greve. Vi-me na contingência de reconhecê-la legal, sem meiostermos: pois os trabalhadores a ela estavam recorrendo para que a lei fosse cumprida. A rigor, tendo em vista que os aeronautas defendiam a “estabilidade sindical”, a greve ia além de seus próprios interesses; e se tornara uma ação com causa própria: dos portuários, dos operários navais, dos ferroviários, dos petroleiros de Manguinhos, de Duque de Caxias, de Cubatão. No âmbito da aviação a greve alastrara-se: 100% dos voos da Vasp paralisados; 70% da Panair; 60% da Varig. Os céus ficaram livres para os pardais. Na verdade, tornara-se uma greve gigantesca! Registro essa greve – talvez única no gênero – pela sua importância histórica. Não tinha como objetivos: revisão salarial e norma regulamentar. Apenas, tão só, unicamente: a preservação da “estabilidade sindical”. Na verdade, aquela greve demonstrara a maturidade do
sindicalismo: pela tomada de consciência de suas prerrogativas, pela ação unitária, pela visão social que transcendia o economicismo. Fora instantânea a articulação da greve, de âmbito nacional. E as lideranças – tendo à frente o comandante Paulo Mello Bastos – souberam encontrar a vitória sem vanglórias. Por sua vez, o Presidente João Goulart, ao dar ordem expressa ao Sr. Ruben Berta para que reintegrasse Mello Bastos
nos quadros da Varig, iluminou o episódio nos seus devidos termos: em três dias o País soubera viver uma grande lição de prática democrática. Mas, a emergência popular, que os fatos evocados explicitavam, serviu de pretexto para a conspiração que desaguou no Golpe de Estado de 1964. Almino Affonso foi ministro do trabalho e da previdência social no governo do presidente João Goulart.
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Vargas e Perón
As presidências dos dois líderes representam uma inflexão no tratamento das questões trabalhistas ao alterar profundamente a concepção e realização da comemoração do 1º de Maio.
José Luis beired
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Fotos: divulgaçãorilo.
Getúlio Vargas e Benedito Valadares, governador de Minas Gerais, em Poços de Caldas em 1942.
Em 1890, o clube socialista alemão Vorwärts – Avante – localizado em Buenos Aires, conclamou os trabalhadores da Argentina a se reunirem em praça pública para a celebração do 1º de Maio como “festa universal dos trabalhadores”. No Brasil, os operários imigrantes da cidade de Santos também fizeram o mesmo pouco depois e juntamente com os trabalhadores do Rio da Prata deram início a uma duradoura tradição social. Nos anos seguintes a data foi comemorada massivamente pelo movimento operário para reforçar a união dos trabalhadores, recordar suas lutas e apresen-
tar reivindicações. A despeito dos pequenos avanços na área trabalhista, as empresas resistiam a reconhecer a legitimidade da organização sindical e os governos oligárquicos a tratar as relações entre capital e trabalho como um problema crucial da política contemporânea. As presidências de Getúlio Vargas e Juan Domingo Perón representam uma inflexão no tratamento das questões trabalhistas ao alterar profundamente a concepção e realização da comemoração do 1º de Maio. Os dois líderes chegaram ao poder questionando as estruturas liberal-oligárquicas e buscaram reconstruir os fundamentos do poder por meio de
alianças com setores mais amplos da sociedade. Tanto na Argentina quanto no Brasil, o Estado assumiu um novo papel de árbitro das diversas classes e segmentos sociais em nome da soberania nacional, do desenvolvimento econômico e da justiça social. Os trabalhadores urbanos foram reconhecidos como interlocutores privilegiados, pois eram um segmento essencial para o futuro, cujas reivindicações não podiam ser ignoradas por nenhum regime disposto a modernizar a economia e ampliar os fundamentos da sua legitimidade política. Entretanto, a conquista de apoio dos traba25
Partidários de Getúlio Vargas o seguiam em todas as manifestações políticas.
lhadores não dependeu apenas da extensão da cidadania social por meio da melhoria das condições materiais de vida, mas também da criação de um novo imaginário político centrado na glorificação dos seus lideres. O governo Vargas foi pautado pela crescente intervenção do Estado no campo da legislação trabalhista e da organização sindical. Com o golpe de 1937, a ditadura do Estado Novo criou instrumentos legais para aprofundar o controle burocrático e político dos sindicatos segundo uma concepção corporativista. A celebração do 1º de Maio, rebatizado como Dia do Trabalho, passou a 26
merecer atenção especial do regime, que o transformou em um ritual cuidadosamente organizado para promover a adesão das massas ao regime por meio do seu contato direto com Vargas. A data foi comemorada inicialmente de forma restrita no Palácio da Guanabara em 1938. Para o presidente, a celebração não deveria ficar limitada aos discursos: anunciou a regulamentação do salário mínimo e comprometeu-se a cada ano presentear os trabalhadores com uma nova realização social. Em 1939, um evento de maior por-
te foi organizado junto ao Palácio do Trabalho, reunindo uma multidão na Esplanada do Castelo, quando foram anunciadas a criação da justiça do trabalho, de escolas profissionalizantes e de refeitórios populares. Nos anos seguintes a comemoração foi realizada no Estádio do Vasco da Gama e no Estádio do Pacaembu (1944), ficando integrada a outros festejos oficiais tais como o aniversário do presidente e do Estado Novo. As atividades eram coordenadas pelo Departamento de Imprensa e Propaganda e pelo Ministério do Trabalho, cujo chefe, Alexandre Marcondes Filho,
A conquista de apoio dos trabalhadores não dependeu apenas da extensão da cidadania social por meio da melhoria das condições materiais de vida, mas também da criação de um novo imaginário político centrado na glorificação dos seus líderes. 27
conduziu um programa radiofônico intitulado “Trabalhadores do Brasil”, expressão forjada por Vargas para colocar-se como líder da massa operária. O foco do Dia do Trabalho não eram os sindicatos e nem a massa de trabalhadores, mas o próprio Vargas, como parte de uma estratégia de propaganda oficial que visava reforçar o seu papel de líder carismático, paternalista e demiúrgico. Os esforços históricos do movimento operário foram silenciados, enquanto o presidente era apresentado como o líder clarividente que havia outorgado a legislação trabalhista. A “ideologia da outorga” – pela qual benefícios e direitos são distribuídos como doações – foi um dos pilares da relação construída pelo Estado varguista com a sociedade, cujas implicações ainda não foram ainda de todo superadas. O seu objetivo principal, a conquista da lealdade dos trabalhadores em apoio à ditadura, supunha a adesão incondicional dos outorgados, uma vez que não retribuir a dádiva equiparava-se ao crime. De forma deliberada o 1° de Maio havia sido esvaziado dos significados construídos pelos trabalhadores e se transformado em um ritual de reforço da legitimidade de um regime político e do seu líder. Na Argentina, o 1º de Maio também foi um evento colocado a serviço de um regime político durante a presidência 28
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Fotos: divulgação
Comemoração do Dia do Trabalho no campo do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, em 1942.
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de Perón. Depois de participar de um governo constituído por um golpe militar, esse oficial do exército alcançou a presidência por meio de eleições, sustentado por uma heterogênea coalizão e com apoio de amplos setores da classe operária e do sindicalismo. Com um longo histórico de organização, autonomia e politização, o movimento operário argentino se destacava por ser o mais numeroso e mobilizado da América Latina. A tarefa da elite dirigente peronista foi complexa, pois implicou substituir uma tradição arraigada por outra inventada pelo novo regime. Ao longo dos anos, a celebração foi monopolizada pelo Estado, juntamente com outras cerimônias, transforma-
das em rituais de recriação das fontes de legitimidade política do regime peronista. Uma vez presidente, em 1946 ficou evidenciado que Perón era o principal protagonista dos festejos. No ano seguinte, os afiliados da Confederação Geral dos Trabalhadores partiram de vários bairros de Buenos Aires para formar uma só coluna encabeçada por Perón, Evita e demais autoridades em direção à Praça de Maio, espaço consagrado como lugar de fundação do peronismo e de ritualização do contato direto do líder com as massas. Novos protagonistas e atividades foram incluídos – escolares, militares, religiosos, funções teatrais, eleição da rainha do trabalho, além da participação de Evita na qualidade de intermediária entre Perón e o povo.
O esforço de monopolização do evento pelo regime foi crescente por intermédio de medidas autoritárias que foram desde a suspensão da circulação de jornais no 1º de Maio de 1947, até a proibição de celebrações alternativas em 1949 e sua transferência para o dia anterior à festividade patrocinada pelo Estado. De forma paradoxal, um movimento político que deveu seu nascimento ao apoio dos trabalhadores e que foi sustentado pelos seus líderes sindicais, uma vez no poder tratou de suprimir toda e qualquer manifestação autônoma dessa camada social. A data tradicional do movimento operário argentino perdeu totalmente seu sentido comemorativo – de relembrar lutas e conquistas – para se converter num
Evita com mineradores, na década de 1940.
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ram as mudanças optaram por vias autoritárias, estatizantes e personalistas. Os sindicalistas opositores foram perseguidos e afastados, enquanto os setores aliados ficaram relegados a um papel subordinado dentro do pacto populista. No Brasil, os trabalhadores rurais – maioria na época – nada tiveram que comemorar no 1º de Maio, uma vez que não foram contemplados com quaisquer direitos. Mesmo no âmbito urbano os benefícios chegaram a um número reduzido de trabalhadores formais e sindicalizados. As tradições de mobilização e protesto do movimento operário argentino foram domesticadas em nome do ideal da “comunidade organizada”, metáfora da nação reformulada nos moldes peronistas, ilustrada por um dos lemas com os quais
Perón cobrava a disciplina dos trabalhadores: “de casa para trabalho, do trabalho para casa”. Nos dois países os trabalhadores tiveram perdas e ganhos. Houve inquestionáveis avanços em termos de legislação trabalhista, criação de direitos e de valorização do trabalhador. Outro lado da moeda foi o peleguismo (explicação na página seguinte), a burocratização, a dependência do Estado e a construção do mito do poder demiúrgico do líder carismático. Esgotados os dois regimes, o 1º de Maio foi retomado pela classe trabalhadora e ganhou novos e inesperados significados.
José Luis Bendicho Beired é historiador da Unesp.
O casal Perón em comício na capital portenha.
Fotos: divulgação
ritual apropriado pelo Estado e controlado nos mínimos detalhes para produzir a devoção ao líder e assegurar a continuidade do regime peronista. Em síntese, a celebração do 1º de Maio durante o varguismo e o peronismo constituiu uma ruptura em relação à história construída pelas correntes do movimento operário. As práticas e mesmo a memória da comemoração foram substituídas por outras funcionais aos projetos políticos dos dois regimes. Muitas das medidas governamentais tomadas representaram a atualização das relações entre capital e trabalho em face do crescimento urbano e industrial. Em contraposição aos padrões liberal-oligárquicos, as elites políticas e militares que patrocina-
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O que é pelego? Em seu sentido original, a palavra pelego (oriunda do espanhol pellejo) significa a pele do carneiro com a lã, que é normalmente usada como montaria: posta entre a sela e o corpo do cavalo, a fim de tornar mais suave o contato entre o cavaleiro e o animal.
A visão de que o sindicalismo anterior a 1964 era pelego ou então populista, era desejável num momento de forte disputa pela hegemonia do movimento operário. As palavras de um militante sindical do pré-64 são bastante esclarecedoras sobre a questão. No dizer de Affonso Delellis, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo entre 1963 e 1964, em um debate entre velhos e novos militantes. As palavras de Delellis não devem ser desprezadas, pois ele é hegemônico nas análises atuais sobre o período que o movimento sindical era, de fato, forte, sendo justamente esse o motivo utilizado pelos setores de extrema direita para o golpe civil-militar de 1964. No entanto, após o golpe, a maioria dos dirigentes combativos foi retirada dos sindicatos, ficando esses nas mãos, em sua maioria, de “pelegos”. (Trecho do artigo Entre a vanguarda e o espontaneísmo: embates pela hegemonia do novo sindicalismo no Brasil de Stanley Plácido da Rosa Silva).
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Figura apoiada pelo punho (1983), xilogravura de Rubem Grilo.
E pelego politicamente?
CUT dá aula
para o sindicalismo dos
Estados Unidos Ao completar 30 anos em agosto de 2013, maior central sindical do país amplia sua atuação no continente americano eduardo rascov
Quem diria, a classe operária brasileira está exportando sua tecnologia social aos Estados Unidos! O Secretário Adjunto de Relações Internacionais para as Américas da Central Única dos Trabalhadores, Artur Henrique da Silva Santos, acaba de voltar do Tio Sam. É ele quem conta: “Estamos indo aos EUA organizar os bancários. Nunca teve sindicato de bancários por lá, é muito difícil criá-lo. Mas, a partir dos funcionários do Banco do Brasil nesse país, estamos criando condições de chamar os funcionários de outros bancos para fundar um sindicato”. O próprio
companheiro Artur se admira: “Há dez anos quem diria que isso ia acontecer”. Mas Artur Santos voltou indignado com o que viu e ouviu nos dois gigantes do norte: “Nos EUA e Canadá atualmente têm uma campanha contra os sindicatos chamada de ‘direito ao trabalho’. É uma inversão total de valores: Se você quiser trabalhar 14 horas por dia, se quiser trabalhar nas férias, se quiser trabalhar imediatamente após dar a luz, você têm o direito ao trabalho e o sindicato não deve se intrometer...”. Durante dez dias de março ele visitou cinco países - EUA, Canadá,
El Salvador, Nicarágua e Honduras. Artur cumpriu agenda cheia. No último congresso da CUT, em julho de 2012, decidiuse que a central sindical abriria um Instituto de Cooperação Internacional e lá se foi o sociólogo formado pela PUC de Campinas levar a experiência brasileira continente afora. Artur Santos presidiu a CUT de 2006 a 2012. Segundo ele, as dificuldades para os trabalhadores na América Central são imensas, pois os governos e os sindicatos são fracos e a dependência dos EUA é muito grande. El Salvador, por exemplo, tem a carga tribu33
com a central sindical nativa visando defender o atual governo de esquerda de Mauricio Funes, da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN). Como se vê, a CUT achase atualmente tão consolidada e poderosa que se dá ao luxo de ir brigar fora do país. “A classe
trabalhadora está muito bem no Brasil, mas tem muito ainda a melhorar. O Brasil e a classe trabalhadora têm que se organizar de forma internacional, porque principalmente nas Américas e na África as empresas estão se locomovendo e alterando suas bases segundo seus interes-
Fotos: divulgação
tária de apenas 12% do PIB (no Brasil, 35%, taxa semelhante ao dos países ricos). “Ora, um país não consegue fazer política pública e social sem imposto. Mas lá não se consegue cobrar imposto do empresário e do fazendeiro”, conta. Nesse país a CUT fez um acordo de cooperação
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ses. Os trabalhadores também têm que se articular”, diz Artur Santos. Nascido há 52 anos na Pompeia, em São Paulo, Artur é um líder de perfil discreto, como aliás seus antecessores Jair Meneguelli, Vicente Paulo da Silva (Vicentinho), João Felicio e Luiz Marinho, e seu sucessor Vagner Freitas de Moraes, atual presidente da CUT. Todos ainda parecem descansar sob a sombra do líder fundador, Luiz Inácio Lula da Silva. Fora do Brasil há uma curiosidade muito grande sobre o relacionamento do movimento sindical com o presidente sindicalista e sua sucessora. Artur costuma apresentar os números da economia brasileira, “40 milhões de pessoas saíram da miséria absoluta; 97% dos trabalhadores tiveram acréscimo real de renda; 16 milhões de empregos foram criados; ascensão da classe C; nível mínimo histórico de desemprego; fortalecimento do mercado interno; enfrentamento da crise de 2008...” Então costuma dizer que apesar disso tudo a CUT manteve uma posição de apoio crítico ao governo. “Nos primeiros seis meses do governo Lula ficamos confusos. Havia quem defendesse que a luta de classes tinha acabado com a conquista do poder por um presidente operário”, relembra Artur, “mas logo entendemos que aquele era um governo de aliança e, portanto, de disputa, afinal o vice-presidente era um grande empresário”. Era
e é um governo de disputa, com grupos de interesses contraditórios. “Cabe ao movimento sindical pressionar o governo para que ele cada vez mais atenda as revindicações da classe trabalhadora. Nós temos independência e autonomia em relação aos governos e partidos, não adianta querer cooptar ou influenciar as decisões da CUT. Essa independência não quer dizer que sejamos omissos em relação às instâncias políticas. Quando tem eleição para governador ou presidente, por exemplo, a CUT discute quem são os candidatos e orienta suas filiadas a apoiar ou não determinada candidatura.” Artur divide a história da maior central sindical brasileira em três fases bem distintas. Os anos 80 foi o período de afirmação em que, apesar do enfrentamento da ditadura, houve crescimento. Foram se formando chapas de oposições nos sindicatos, conquistando-os e promovendo reformas democratizantes e ampliação da base. Os anos 90 foram um “período de resistência aos ataques aos direitos dos trabalhadores pelas políticas neoliberais e pela lógica de privatizações e terceirizações”. A terceira onda é a atual, quando, “apesar de não se atender todas as reinvindicações dos trabalhadores, há um espaço de negociação por meio do qual foram incorporadas políticas sociais sugeridas por nós.” Mas nem tudo são flores. Maior central sindical brasileira, a CUT,
que está completando 30 anos, detém hoje 38 % de todos os trabalhadores filiados a sindicatos ligados a alguma central sindical. A Força Sindical tem 13%, a UGT, 7%. Depois vêm outras centrais sindicais menores. Essa pulverização de sindicatos e centrais só aumenta. A razão principal desse fenômeno de cissiparidade é a dinheirama do imposto sindical obrigatório, além das diferenças ideológicas. A CUT é contra o imposto sindical desde a sua fundação, em 1983. Mas o fato inegável é que após 12 anos muito próximos do Poder, ela não conseguiu articular apoio para aprovar a reforma sindical no Congresso. “Continuamos defendendo o fim do imposto sindical obrigatório”, diz Artur. “Houve um processo de reconhecimento das centrais sindicais e uma parte do dinheiro veio para elas. Nesse acordo um dos pontos era que iríamos acabar com o imposto sindical obrigatório e criar um imposto sobre a negociação coletiva, seria um imposto aprovado nas assembleias pelo próprio trabalhador.” Mas, segundo Artur, as outras centrais sindicais não fizeram nada para mudar isso. Por se tratar de matéria constitucional, são necessários os votos de dois terços dos deputados, mas parece que ninguém quer se comprometer. Pelo jeito, nem a CUT nem o Governo Dilma. Eduardo Rascov é jornalista e editor do site do Memorial da América Latina.
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Contribuição negocial, que bicho é esse? Projeto de lei do Ministério do Trabalho que substituiria demais contribuições sindicais está parado há cinco anos na Casa Civil.
Fotos: divulgação
Daniel Pereira
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Parece um jogo de palavras, mas, por enquanto, contribuição negocial continua sendo apenas um verbete sem (aparentemente) muita importância na atual pauta de reivindicações das centrais sindicais. O impasse criado tão logo o anteprojeto de lei foi apresentado pelo Ministério do Trabalho atende pelo nome de insegurança jurídica. É o que diz, e ainda prevalece, cinco anos depois, o parecer jurídico do advogado Hélio Ghirardi, do Diap. Ele é taxativo: Se fosse tributo também seria compulsória e, portanto, não poderia ser recusada. Se a contribuição negocial não está
na Constituição, não é tributo nem compulsória. Assim tem que ser determinada pelas categorias sindicais. E se cada categoria pode decidir em assembleia o percentual que quiser, até zero por cento, ela vai trazer exatamente essa questão, a insegurança jurídica. O anteprojeto do Ministério do Trabalho surgiu no mesmo ano em que as centrais foram reconhecidas como representantes legais das classes trabalhadoras do país. De lá para cá, o sindicalismo tupiniquim ganhou musculatura suficiente para promover manifestações de peso como a recente Marcha a
Brasília. Um “sucesso retumbante” na opinião do consultor sindical João Guilherme Vargas Neto. O comparecimento à Marcha, com 60 mil trabalhadores, foi uma demonstração de força, unidade e organização. Os dirigentes foram recebidos pelas maiores autoridades do Governo de maneira respeitosa e compreensiva. Quando menos é mais – O principal ponto de interrogação do projeto continua sendo a indefinição do teto para a cobrança do novo imposto, inicialmente estipulado em 1% do salário bruto anual de sindicalizados ou não. A nova fórmula parecia ser muito mais interessante, mas não resiste a uma prosaica operação aritmética. Tome-se como exemplo o caso do trabalhador que ganhe 2.000 reais/mês. Em março de cada ano, o holerite dele chega com desconto equivalente a um dia de trabalho, que, nesse caso, corresponde a 67 reais, ou 3,33% do seu salário. A nova mordida substituiria o pagamento das atuais contribuições – sindical, assistencial e confederativa -, e representaria 1% do salário bruto anual do trabalhador. Assim, se o salário anual do mesmo trabalhador é de 24 mil reais ele contribuirá com 240 reais.
Segundo Ghirardi, se a contribuição negocial for aprovada em assembleia vai criar controvérsias e “propiciar uma infinidade de ações no Ministério Público do Trabalho que, infelizmente, ajuíza ações civis públicas objetivando reduzir os valores arrecadados pelos sindicatos, dificultando o trabalho sindical e a própria representatividade efetiva da respectiva categoria”. Cenários e pegadinhas – “O Brasil é, hoje, a vanguarda do movimento sindical mundial. Não temos mais o que aprender
com a General Motors”. O majestoso cenário verde-amarelo assim descrito por Vargas Neto, é resultante da conjunção de alguns fatores que mudaram a cara das relações capital-trabalho no país. Ele destaca os dois principais. “A valorização do salário mínimo, graças à criação de uma política permanente aprovada no Congresso, foi a grande vitória do sindicalismo brasileiro nesse período. Hoje, o ganho real do salário mínimo é de duas ve-
zes e meia maior em relação ao crescimento do PIB. Outro: o desemprego sempre foi o maior adversário do sindicalismo. Hoje, temos superávit de empregos. E mais: fortalecido, o sindicalismo ajudou a manter aquecida a economia interna do país na crise mundial e esteve na linha de frente no combate aos juros altos”. Nesse cenário, o ruído produzido por uma informação “antijornalística”, na opinião do consultor sindical Vargas Neto, quase tirou da gaveta o projeto da contribuição negocial. Ao sancionar, no dia 15 de março, a lei que regulamenta a profissão de comerciário, a presidente Dilma Roussef vetou o artigo (ou seria uma pegadinha?) que previa a criação da nova contribuição, agora mais turbinada: se aprovada, tiraria do empregado 1% ao mês do seu salário “e não somente uma vez por ano”, como reza o projeto original. Quem (o Estadão) deu a notícia fez mau jornalismo ao generalizar um tema que dizia respeito apenas àquela categoria. Até porque, a questão (da contribuição negocial) ainda não está claramente colocada para as centrais – diz Vargas Neto. Daniel Pereira é jornalista e assessor de imprensa do Memorial da América Latina.
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Com a palavra,
as líderes operárias As presidentes das centrais sindicais CUTe Força Sindical comentam a atual situação das mulheres brasileiras operárias.
Sapato alto (1990), xilogravura de Rubem Grilo
Ana MARIA Cicaccio
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“A luta das mulheres por igualdade de direitos no mundo do trabalho vem de longa data, de bem antes de termos esse tamanho todo no mercado”, afirma Rosane Silva, Secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT. O problema é que o projeto já discutido pelas centrais sindicais, em Brasília, que criaria mecanismos de promoção da igualdade no local de trabalho, está difícil de entrar na pauta do Congresso Nacional. “O fato de prever algumas punições a empresas parece ser o grande empecilho, mas temos de vencer isso”, diz Maria Auxiliadora dos Santos, Secretária Nacional da Mulher da Força Sindical. As mulheres são as primeiras a perder o emprego em momentos de crise e o trabalho que realizam continua sendo socialmente desvalorizado.
No 1º de Maio, as mulheres brasileiras costumam ampliar seu leque de reivindicações para além do mundo do trabalho. “Se olharmos para trás vemos o quanto caminhamos: aumentou o espaço das trabalhadoras no mercado do trabalho, as mulheres estudam mais. Foram criadas a Secretaria de Políticas para Mulheres, a Delegacia da Mulher, a PEC das Domésticas e a Lei Maria da Penha”, enumera Maria Auxiliadora. “No entanto, ao examinarmos o presente verificamos que temos muito a realizar para desfrutarmos de um futuro melhor.” Acompanhemos o raciocínio da sindicalista: “O rendimento médio real por hora no mercado de trabalho da Região Metropolitana de São Paulo subiu mais para as mulheres do que para os homens na passagem de 2011 para 2012, conforme levantamento
Máquina de escrever (1990), xilogravura de Rubem Grilo
No 1º de Maio, as bandeiras defendidas pelos trabalhadores (homens e mulheres) em manifestações públicas pelo Brasil têm caráter geral, sem distinção de gênero. No entanto, as centrais sindicais do país – CUT e Força Sindical, entre elas – decidiram levar, no caso da mulher, a questão da igualdade no mundo do trabalho como uma de suas principais bandeiras, junto com a luta pelo fim da violência contra a mulher. Hoje, apesar de maioria na população brasileira (51,3%) e de responder por 43,9% do mercado de trabalho no país, a mulher ainda recebe 27,7% a menos do que o homem, mesmo estudando mais (61,2% delas têm ao menos o ensino médio completo, contra 53,2% dos homens) e trabalhando mais horas semanais (57,1% contra 34,8% dos trabalhadores), segundo dados do IBGE.
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tra a mulher no país”, acrescenta Rosane. Mais de 92 mil mulheres foram assassinadas no país entre 1980 e 2010, segundo o Mapa da Violência publicado em 2012 pelo Centro de Estudos Latino-Americanos (Cebela) e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), estando quase metade dessas mortes concentradas na última década. Em 2011, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, registrou 70.270 atendimentos a mulheres vítimas de violência. A maioria delas tinha entre 15 e 29 anos e foi agredida por maridos ou namorados. No ano passado, dez mulheres foram vítimas de maus tratos a cada hora, segundo dados da Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180). As mulheres trabalhadoras estão cansadas de serem depreciadas e querem muito mais. Lutam pela intensificação dos direitos sexuais e reprodutivos para as mulheres, pela legalização e
descriminalização do aborto, implantação de creches públicas de qualidade e em período integral por todas as cidades brasileiras, igualdade de responsabilidades familiares para homens e mulheres e ampliação da participação das mulheres na política brasileira. Embora tenhamos uma presidenta no comando da República, a mulher não tem ainda uma presença equitativa nos cargos de chefia no país, seja na iniciativa privada seja na administração pública, assim como na política de uma maneira geral. “Houve um avanço, mas ainda precisamos de muito mais”, confirma Maria Auxiliadora. “Na política foram estipulados 30% de participação feminina. Ok, os partidos estão abrindo para preencher esse percentual. No entanto, a mulher não tem, durante a campanha, o mesmo tempo de propaganda que é concedido ao homem na TV e no rádio. Falta
Óculos com perfuradores (2000), xilogravura de Rubem Grilo
realizado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Para as mulheres, o valor por hora ficou em R$ 8,24 em 2012, alta de 5,8% ao verificado em 2011. Já para os homens passou a equivaler a R$ 10,70, avanço de 5,2% na mesma base de comparação. No entanto, a pesquisa mostra que essa pequena diferenciação no ritmo de crescimento dos rendimentos do trabalho pouco impactou na aproximação entre os rendimentos feminino e masculino: em 2011, o rendimento médio por hora das mulheres correspondia a 76,6% do recebido pelos homens, proporção que passou para 77% em 2012”, recorda Maria Auxiliadora. “Na pauta do que a gente considera uma agenda feminista brasileira, além de igualdade salarial e de oportunidades no mundo do trabalho, temos outros temas, como o da violência con-
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Foto: Roberto Rosa
equidade nas próprias centrais sindicais. Existe a quota de 30% nas diretorias para as mulheres, que eu, como dirigente, sou contra, mas que é necessário manter até que aumente de fato o número de mulheres nesses cargos. Em muitos sindicatos, além disso, a mulher ocupa cargos na diretoria, mas não os de decisão. Isso também precisa mudar.” Paralelamente às questões trabalhistas, tanto Rosane como Maria Auxiliadora respondem às costumeiras críticas de homens e de algumas mulheres ao feminismo com a maior tranquilidade. “O modelo socialista feminista é um modelo de
igualdade entre homens e mulheres. As pessoas têm uma opinião errada sobre ele por estarem sob a influência do modelo capitalista patriarcal, que oprime as mulheres”, explica Rosane. “Somos mulheres feministas, não sexistas”, sintetiza Maria Auxiliadora. “Quando começou a luta das mulheres foi a forma de alguns segmentos levarem para o lado sexista, de mulheres contra homens. Mas a gente sabe que a luta das mulheres só vai avançar com a participação dos homens. A luta é pela igualdade de gênero, buscando o homem para que participe e engrosse essa luta, porque ela é de todos.”.
Mulheres pedreiras, em canteiros de obra, compõem uma cena recente na construção civil nas cidades brasileiras.
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Continente do trabalho
O sociólogo Ricardo Antunes, autor do livro O Continente do Labor, fala da retomada do movimento sindical da democratização da América Latina. REYNALDO DAMazIO
O sociológico Ricardo Antunes é um dos mais respeitados especialistas sobre questões do trabalho no Brasil e no exterior. Tem obras traduzidas na Itália, Espanha, Argentina, Colômbia e Venezuela. Estudou o movimento operário e sindical no ABC paulista nas greves históricas de 1978/80 e hoje pesquisa as transformações dos modos de produção no mundo globalizado e neoliberal, a partir da crítica marxista. Nesta entrevista para Nossa América Hoy, Antunes traça um panorama do papel dos 42
movimentos operários na América Latina, analisa as novas relações de trabalho e defende uma retomada do “sentido de pertencimento de classe”, temas de seu livro O Continente do Labor (editora Boitempo) Nossa América Hoy – Em linhas gerais, qual a contribuição histórica dos trabalhadores e do movimento sindical para a democratização da América Latina? Ricardo Antunes – Sua contribuição foi decisiva. Nosso Continente não teve, como nos países
clássicos, uma burguesia autônoma, nacional e progressista. Ela nasceu como apêndice do processo de acumulação capitalista no centro e foi sempre caudatária, dependente e, no melhor dos casos, associada na condição de parceira menor. Assim, todos os avanços sociais, de talhe reformista ou revolucionário, encontram impulsão e suporte nas forças sócias do trabalho que tipifica o que denominei de “O continente do labor”. São exemplos: a
NAH – O que mudou nos modos de produção e no papel social e político da classe trabalhadora de meados do século XX aos dias de hoje? RA – Ensaiamos um período de reformismo “pelo alto” com Vargas, Perón e Cardenas, por exemplo, nos anos 1930, pautados por um desenvolvimentismo nacionalista. Nestes exemplos, as classes populares alternaram suas ações entre a manipulação e a resistência; entre sujeição e revolta; dominação e rebelião. Depois da Revolução Cubana – e em reação a seu significado explosivo – vieram os golpes e o ciclo longo da “modernização capitalista” pela via das ditaduras militares: Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, a lista é infindável. A classe trabalhadora, em sentido amplo, por meio dos sindicatos, partidos comunistas e socialistas, dos movimentos estudantis
etc., abraçou a luta pela democratização. Mas, nem bem esses movimentos ganhavam densidade e veio a era da desertificação neoliberal. Chile, Argentina, México, Brasil; o que denominei como era da “desertificação neoliberal” desindustrializou nossos países, desorganizou as forças sociais e políticas do trabalho, privatizou acentuadamente as atividades públicas como educação, sanea-
mento, previdência e o tamanho do atoleiro latino-americano hoje é de grande monta. NAH – Em suas pesquisas, você sempre trabalha muito bem com a dimensão da consciência de classe diante da situação concreta dos modos de produção e dos embates políticos. Nesse sentido, como avalia a visão que os trabalhadores têm hoje das transformações mate-
Relações de trabalho (1980), xilogravura de Rubem Grilo
Revolução Antiescravista no Haiti, a Revolução Mexicana de 1910, a Revolução Cubana de 1959, dentre as experiências de ruptura, e os momentos reformistas como os governos João Goulart, que só ocorreram pela forte pressão popular, no caso brasileiro, pelas reformas de base presentes em vários países da nossa América Latina. Por conta disso, como tanto nos ensinou Florestan Fernandes, nossas classes dominantes, escravistas, senhoriais, foram sempre prevalentemente contrarrevolucionárias, das quais a sucessão quase infindável de golpes militares é exemplar.
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riais e simbólicas do trabalho no contexto da globalização e do neoliberalismo? RA – Claro que o sistema de classes ficou mais complexo, há por vezes mais opacidade, mas as classes sociais estão presentes tanto nos países capitalistas avançados como no Brasil e tantos outros do Sul. E a Europa é parte desse mundo polarizado (e complexo) das forças sociais do capital e do trabalho, hoje em estado avançado de convulsão (veja-se a Grécia, Espanha, Portugal, dentre outros, em que vão e vêm as rebeliões, rebeldias e descontentamentos). Tudo isso recoloca um complexo problema para os nossos dias, que é resgatar o “sentido de pertencimento de classe”, marcado pela opacidade e pela nublagem. Os partidos, por exemplo, estão bastante desgastados, para dizer o mínimo, embora não se tenha criado alternativas duradouras em outras direções. Os movimentos políticos e sociais extra-parlamentares e extrainstitucionais ganham força (indignados na Espanha, precari@s inflexíveis em Portugal, ocupe Wall Stret, nos EUA, dentre tantos outros), que encontram ancoragem na vida cotidiana, nas suas conexões com o mundo do trabalho e da vida, mas têm dificuldades em serem longevos e duradouros. Se a classe trabalhadora hoje é mais complexa e heterogênea do que aquela que vigorou durante o período de expansão do fordismo, o resgate do “sentido de pertencimento de clas44
se”, contra as inúmeras fraturas, objetivas e subjetivas, impostas pelo capital, é um dos seus desafios mais prementes, é hoje seu desafio mais decisivo. Com a expansão do capital em escala global e a nova forma assumida
pela divisão internacional do trabalho, as respostas do movimento dos trabalhadores latino-americanos assumem cada vez mais um sentido universalizante. A transnacionalização do capital e do seu sistema produtivo obriga
ada tornam o quadro ainda mais difícil e complexo. Mas, quem achava que as lutas haviam desaparecido, está espantado com a intensidade e amplitude das lutas sociais hoje, que acentuam as transversalidades existentes entre
Aumento da produção (1981), xilogravura de Rubem Grilo
ainda mais a classe trabalhadora a pensar nas formas internacionais da sua ação, solidariedade e de confrontação. E o neoliberalismo, com sua individualização exacerbada, sua manipulação desmesurada e sua repressão acentu-
classe, gênero, geração, etnia etc. Praticamente todos os países latino-americanos industrializados implementam processos de downsizing; flexibilização produtiva; desregulamentação da legislação social do trabalho, mesclando aos novos processos produtivos baseados na acumulação flexível, ou no toyotismo, que se desenvolveu no capitalismo ocidental a partir dos anos 1970 e, na América Latina, especialmente a partir dos anos 1980. E o processo de reestruturação articula a “superexploração da força de trabalho”, com ramos produtivos dotados de um significativo padrão tecnológico, intensificando as desregulamentações, flexibilizações, terceirizações, em suma, aumentando a precarização da força de trabalho. Essa combinação foi fortemente ampliada nas últimas três décadas, de que as maquiladoras no México e na América Central são exemplares. NAH – Qual a importância do Brasil ter elegido um operário e militante sindicalista para a presidência, na história recente da América Latina, e quais os desdobramentos políticos e sociais desta gestão? RA – No plano simbólico, é grande. Como digo no livro O Continente do Labor, a vitória eleitoral e política de Lula e do PT teve um significado real e simbólico muito expressivo, pois que se tratou, pela primeira vez na história do Brasil, de uma candidatura de origem operária. Mas sua política acabou tendo sentido avesso ao 45
NAH – Outros movimentos sociais vêm surgindo no Brasil e na América Latina, como o MST e a onda de ocupações públicas que trouxeram a debate questões estudantis e de gestão local. Como avalia a contribuição desses movimentos para a crítica do sistema capitalista no Continente? RA – As lutas das populações indígenas na América Latina contra a “mercadorização” de bens como a água e os recursos energéticos são exemplos importantes das lutas sociais e políticas do Continente hoje. Isso para não falarmos das lutas urbanas, dos novos proletários da indústria e serviços, dos trabalhadores imigrantes que migram não só no fluxo Sul-Norte, mas também no
fluxo Sul-Sul e mais recentemente Norte-Sul, vivenciando as agruras como padecem bolivianos na indústria têxtil de São Paulo, haitianos na agroindústria, entre outros. No Brasil, a ação do MST contra o agronegócio, os transgênicos e agrotóxicos, contra a propriedade fundiária, fez renascer os embates dos trabalhadores do campo, ampliando o seu significado. Por isso o MST tornou-se, nos anos 1990, o principal impulsionador das lutas sociais recentes no Brasil. Como disse no livro acima referido, ainda que o MST encontre sua gênese no movimento de trabalhadores rurais, o movimento incorporou trabalhadores urbanos que pretendiam retornar para o campo, motivados pelo desemprego industrial.
Canivete kit-refeição (2000), xilogravura de Rubem Grilo
que dele se poderia esperar: sua política econômica foi generosa para o capital financeiro; a concentração da terra se manteve inalterada e de fato fortaleceu o agronegócio; o sentido público e social do Estado está sendo, passo a passo, desmantelado pelas parcerias público/privadas, forma “branda” das privatizações. Esta nova realidade arrefeceu o “novo sindicalismo” e trouxe inúmeras dificuldades para as esquerdas. Basta ver o que se passou com o PT: do mais generoso partido de esquerda do Ocidente desde os anos 1980, converteu-se no que Marx denominou como “Partido da Ordem”. Gramsci, na mesma direção, caracterizou processos similares como “transformismo”.
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Trabalhadores de todos os segmentos procuram atualizar-se com as publicações sindicais.
NAH – Em seu livro O Continente do Labor (Editora Boitempo, 2011), há um breve panorama do sindicalismo na América Latina. O que há de inovador nesse quadro e o que ainda traz elementos das velhas estruturas sindicais que se consolidaram ao longo do século passado? RA – O primeiro é o esforço em superar alguns desafios cruciais, como romper a enorme barreira social que separa os trabalhadores “estáveis” dos terceirizados, precarizados, subproletarizados, em significativa expansão. Os sindicatos devem empenhar-se fortemente na organização sindical destes trabalhadores, como procurou fazer recentemente na Argentina, a Central dos Traba-
lhadores Argentinos (CTA). Procurar compreender essa nova morfologia do trabalho, o que implica em articular as dimensões de classe, gênero, geracional e étnica, como disse anteriormente. Como há um significativo processo de feminização da classe trabalhadora, isso obriga os sindicatos a ajudarem na auto-organização das mulheres trabalhadoras, frequentemente excluídas dos sindicatos pelos homens trabalhadores que prevaleciam na fábrica fordista. Os sindicatos devem procurar desvencilhar-se de todas as formas de corporativismo e neocorporativismo que privilegiam suas respectivas categorias profissionais,
diminuindo ou abandonando os seus conteúdos mais acentuadamente classistas, não só dos corporativismos de tipo estatal, tão forte no Brasil, no México, na Argentina, mas também de um neocorporativismo societal crescentemente assimilado pelo sindicalismo contemporâneo. Algumas experiências do sindicalismo de base são também exemplos importantes dessa imperiosa necessidade de retomar a base social dos sindicatos e romper com o burocratismo e o institucionalismo exacerbados.
Reynaldo Damazio é sociólogo e jornalista, autor de Horas perplexas, entre outros livros.
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E COMO ESTÁ O OPERARIADO HOJE? Ruy Braga, autor do livro A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista, comenta a estrutura sindical no Brasil. Leonor Amarante
Nossa América Hoy – O sindicalismo brasileiro tem sido mais um fator de mudança ou de imobilismo? Onde está a rebeldia e a agressividade sindical dos anos 70 e 80? Ruy Braga – Para interpretarmos a dinâmica sindical em um país com as características do Brasil, é necessário levar em consideração, ao menos, três fatores: • O modo de “reprodução do capitalismo tardo-periférico” que se desenvolveu de maneira as48
sociada e dependente de investimentos forâneos oriundos do mercado mundial e que por isso mesmo tende a bloquear concessões materiais aos trabalhadores, perpetuando as condições de produção do trabalho barato. • A “estrutura sindical corporativa” que, em termos práticos, transformou a maioria dos dirigentes sindicais em funcionários públicos de segunda categoria responsáveis por administrar e promover polí-
ticas assistencialistas. • A marcante presença de um amplo contingente de “trabalhadores informais, jovens, desqualificados - ou semi-qualificados -, sub-remunerados, inseridos em ocupações degradantes e submetidos a altas taxas de rotatividade do trabalho”. Na medida em que a reprodução desse capitalismo tardo-periférico promoveu a “inquietação social” ao invés do consentimento operário à exploração econômica, os tra-
Pé e sapato (2009), xilogravura de Rubem Grilo
balhadores mobilizaram-se politicamente a fim de alcançar e efetivar a promessa dos direitos da cidadania, a “utopia brasileira”, para usarmos uma expressão de Adalberto Cardoso, ocupando terras urbanas e rurais, participando de greves consideradas “ilegais” pelo Estado, enfrentando a polícia e, naturalmente, pressionando o movimento sindical oficial a incorporar suas demandas. Essa dinâmica que reproduz a tutela do Estado sobre os sindicatos em condições capitalistas tardias transformou o sindicalismo brasileiro em, para empregarmos uma conhecida expressão de José Albertino Rodrigues, um fator de mudança e de imobilismo. Em suma,
um movimento sindical pressionado por bases submetidas a baixíssimos salários, péssimas condições de trabalho e pouca proteção social, é obrigado a negociar com as empresas e com o governo pequenas concessões materiais a fim de responder à pressão social que vem “de baixo”. Ao mesmo tempo, ele é incapaz de ultrapassar os limites da estrutura sindical, pois, basicamente, depende dela para sobreviver e, assim, age permanentemente como um agente de moderação das demandas dos trabalhadores. O ciclo grevista de 1978-1980 no ABC paulista pareceu romper com esse padrão. Afinal, as lideranças políticas do “novo sindica-
lismo”, tendo Lula da Silva à frente, foram presas pela ditadura militar e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo passou por uma intervenção do regime. Em termos globais, podemos dizer que houve uma descontinuidade da relação da estrutura sindical com o movimento dos trabalhadores. No entanto, é preciso levar em consideração que essa descontinuidade foi efêmera e logo a burocracia sindical de São Bernardo reconciliou-se com a estrutura, isto é, com o aparelho de Estado brasileiro do qual é o produto. Olhando retrospectivamente, a rebeldia do final dos anos 1970, era menos da burocracia sindical – que, digamos claramente, nunca desejou promover 49
e liderar greves –, mas das bases metalúrgicas, sobretudo, aquele grupo formado pelos setores mais dominados e explorados das fábricas, isto é, os “peões”. Procuramos analisar a formação, a transformação e a precipitação da insatisfação operária com os salários e as condições de trabalho no ABC no livro A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista. E a conclusão é uma só: os peões do ABC explicam a liderança de Lula, mas Lula não explica a rebeldia e o ativismo dos peões do ABC. Guardadas as diferenças, e estas são realmente grandes, hoje em dia um movimento grevista mais agressivo, cujas características globais assemelham-se àquelas encontradas no ABC no final dos anos 1970, começa a se insinuar no recente ciclo grevista das grandes obras do PAC: Jirau, Santo Antônio, Belo Monte, Suape, Comperj etc. NAH – Como a classe operária brasileira consegue fazer um de seus representantes presidente da nação? RB – Durante muito tempo, Lula da Silva encarnou a pulsão plebeia reformista alimentada por um movimento social florescente que buscou institucionalizar direitos da cidadania e cuja origem social pode ser bem localizada naquilo que Antonio Gramsci chamou de “bom senso” popular. Ele alinhou-se a esse instinto de classe, orientando-se por essa pulsão plebeia que deita raízes profundas na forma como 50
as relações de produção capitalistas reproduzem-se no Brasil. É isso que eu chamo de “política do precariado”. Daí sua popularidade, como liderança sindical e como político profissional. Após a transformação do PT em uma máquina eleitoral, a vitória eleitoral de 2002 cristalizou essa imagem em um presidente que teve a fortuna de pilotar o Estado brasileiro durante um ciclo econômico expansivo muito favorável. O crescimento econômico e o fortalecimento de políticas públicas distributivistas somaram-se, finalmente, à fusão da alta burocracia sindical com o aparelho de Estado, consolidando aquilo que chamo de “hegemonia lulista”, isto é, uma relação social entre o consentimento passivo dos setores populares com o consentimento ativo das direções sindicais. Parece-me que o sucesso internacional dos governos de Lula da Silva deve-se, sobretudo, à combinação do momento econômico favorável com a consolidação de, para utilizarmos a expressão popularizada pelo cientista político André Singer, um “reformismo fraco”. Ou seja, a combinação de crescimento econômico com desconcentração de renda entre aqueles que vivem do trabalho tornou-se muito sedutora. Em especial, levando-se em consideração o atual contexto econômico internacional no qual predomina uma forte tendência de aumento das desigualdades.
NAH – Com a descentralização das indústrias e a migração constante de trabalhadores houve um esmorecimento do movimento sindical? RB – Evidentemente, os anos 1990 foram muito difíceis para o movimento sindical brasileiro, em especial, se pensarmos na
Foto: Folhapress/Reuters
Basta comparar a definição de salário mínimo presente na Constituição de 1988 com o valor do salário mínimo nacional para termos uma rápida noção da distância existente entre a intenção e a realidade. 51
Fotos: divulgação
conjuntura econômica marcada pelo desemprego de massas. As empresas promoveram um acelerado ciclo de reestruturação produtiva que terceirizou, flexibilizou e precarizou o trabalho. Dois efeitos sobre o movimento sindical são mais salientes: recuo nas taxas de sindicalização e desmanche do militantismo de base em favor de um pragmatismo de cúpulas sindicais. Progressivamente, o movimento sindical foi abandonando a organização de suas bases nos locais de trabalho em favor de um projeto político orientado pela eleição de seus dirigentes a cargos políticos. A eleição de Lula da Silva em 2002 coroou esse movimento que amadureceu nos anos 1990. A tese muito comentada, mas nunca totalmente explicitada pelos sindicalistas, foi a de que somente com a conquista do governo federal o movimento iria readquirir sua força para enfrentar as empresas em benefício dos trabalhadores. No entanto, esses dirigentes foram absorvidos pelo aparelho de Estado e pelos fundos de pensão, transformandose em verdadeiros administradores do investimento capitalista no país. Ou seja, eles não representam mais os interesses históricos dos trabalhadores, mas, sim, os interesses particulares de uma burocracia sindical que rapidamente transforma-se em uma burguesia de Estado. Leonor Amarante é curadora e editora da revista Nossa América Hoy.
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Chefe, operariado
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e futebol
Villa x Atlético, 1912
“Quem negará ao futebol esse condão da catarse circense com que os velhos sabidos de Roma lambuzavam o pão triste das massas? Não podendo xingar o patrão que o rouba, o operário xinga os juízes da partida e procura espancá-los, como se o bandeirinha mais próximo fosse o procurador da prepotência do árbitro”. Oswald de Andrade 53
O football foi introduzido no Brasil pelos ingleses, no final do século 19 e foi adotado pelas escolas americanas e inglesas no País, como o Mackenzie College, e no Clube Paulistano, ambos em São Paulo, e no Rio Cricket como disciplina de educação física. Até os anos 20 era praticado por uma elite que não permitia a entrada de jogadores negros e pobres. E o operariado estava longe dos estádios. 54
Fotos: divulgação
Ao lado, times do Botafogo de Futebol e Regatas em 1910, e do Sport Club Corinthians em 1914.
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de Maio refletiu na na cultura mundial Cinema, teatro, literatura, artes plásticas e música produziram obras memoráveis ao longo dos tempos. Pinçamos algumas delas. TÂNIA RABELLO
CINEMA A classe operária vai ao paraíso
O filme retrata a luta entre capital e trabalho por meio da vida de Lulu Massa, um operário vivido pelo ator Gian Maria Volonté. Lulu Massa trabalha duro para conseguir um bônus, garantido pelo sistema de cotas institucionalizado pela fábrica, que intensifica a produção e a exploração da mão de obra. A atitude de Lulu Massa, que se transforma num “operário-padrão”, desperta, porém, a antipatia dos colegas. No entanto, após perder um dedo num acidente de trabalho, Lulu Massa revê seus conceitos, adotando uma atitude crítica ao modelo de exploração e contestando o modelo de cotas, que inclui aí uma greve dos operários. 55
Fotos: divulgação
Diretor: Elio Petri País de origem: Itália Ano: 1971
A luta do povo
Fotos: divulgação
Diretor: Renato Tapajós País de origem: Brasil Ano: 1981
Partindo do enterro do operário Santo Dias, assassinado pela polícia num piquete de greve, um casal de moradores da periferia de São Paulo participa de diversos movimentos: luta contra a carestia, movimento de favelas, movimento da saúde. Documentário sobre as diversas lutas dos movimentos populares em São Paulo, no período 1978 - 1980, produzido pela Associação Popular de Saúde. Prêmio Glauber Rocha de Melhor Filme na Jornada Brasileira de Curta Metragem, Salvador, Bahia.
Norma Rae
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Diretor: Martin Ritt País de origem: Estados Unidos Ano: 1979 Em 1978, em uma cidade do Alabama, no Sul dos Estados Unidos, a maioria da população é ocupada em uma indústria têxtil, com péssimas condições de trabalho e sem sindicato formado para defender seus interesses. A história dos operários começa a mudar quando o sindicalista Reuben Warshowsky (Ron Leibman) chega à cidade, torna-se amigo de Norma Rae (Sally Field) e começa a influenciá-la para que se engaje na luta sindical, apesar de todos os riscos envolvidos. 56
Tempos modernos
O “Vagabundo”, famoso personagem de Charles Chaplin, tenta sobreviver em meio ao mundo moderno e industrializado. Trata-se uma forte crítica ao capitalismo e ao conservadorismo norte-americano. No filme, Chaplin tenta passar o momento histórico da máquina tomando o lugar do homem e a ascensão do consumismo.Tempos modernos retrata um trabalhador de fábrica que tem um colapso nervoso por trabalhar de forma repetitiva e quase escrava. O filme foi censurado na Alemanha e na Itália por suas críticas à social-democracia.
Fotos: divulgação
Diretor: Charles Chaplin País de origem: EUA Ano: 1936
ABC da Greve
Iniciado em 1979/1980 por Leon Hirszman e concluído em 1990 pela Cinemateca Brasileira, o diretor filmou no ABC paulista durante os anos de 1979 e 1980 as greves do Sindicato dos Metalúrgicos, comandado pelo então metalúrgico e agora ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva. ABC da Greve documenta a classe operária em confronto com os empresários e o regime militar que vigorava no Brasil na época.
Santo e Jesus, metalúrgicos
Diretores: Claudio Kahns e Antonio Paulo Ferraz País de origem: Brasil Ano: 1978-1983
Fotos: divulgação
Fotos: divulgação
Diretor: Leon Hirszman País de origem: Brasil Ano: 1990
“O assassinato de um operário, Nelson Pereira de Jesus, ocorrido em São Paulo em 1978, provoca uma investigação sobre os motivos e as condições de trabalho numa fábrica do bairro do Brás. Santo Dias, líder operário que tabalha no mesmo local narra os fatos que envolvem a morte de Nelson e dá sua visão política sobre a situação dos trabalhadores do Sindicato dos Metalúrgicos e outras questões. Em 1979 Santo Dias também é morto em um piquete por um soldado da Polícia Militar.” 57
Braços cruzados, máquinas paradas
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Diretor: Roberto Gerwitz e Sergio Toledo País de origem: Brasil Ano: 1978
Três chapas disputam a direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, o maior da América Latina, com 300.000 associados, e presidido por um “pelego”, desde o golpe militar de 1964. Em meio às eleições, eclodem as primeiras greves operárias que iriam mudar o país. “Braços Cruzados, Máquinas Paradas” revela, em narrativa envolvente, como funciona a estrutura sindical brasileira, de inspiração fascista. É também o primeiro documentário de longa-metragem sobre as chamadas “greves espontâneas”, ocorridas em São Paulo, 10 anos após a decretação do AI-5. Tais greves, que culminaram em um amplo movimento social que traria de volta a democracia ao país, estão na base dos acontecimentos que levaram à eleição do primeiro presidente operário da América Latina.
Greve!
Fotos: divulgação
Diretor: João Batista de Andrade País de origem: Brasil Ano: 1979 Documento histórico e crítico de João Batista de Andrade, narra os principais acontecimentos da greve dos metalúrgicos do ABC paulista, em março de 1979, contextualizando os acontecimentos com o momento político brasileiro. Naqueles dias o sindicato esteve sob intervenção, e Luiz Inácio Lula da Silva (que mais tarde viria a se tornar presidente do Brasil) e outros dirigentes haviam sido afastados. Entrevistas com o interventor do sindicato, com operários, cenas de seu cotidiano e das assembleias. 58
ARTES PLÁSTICAS Operários e Segunda Classe Tarsila do Amaral Ano: 1933
Tarsila do Amaral, de volta de uma viagem à União Soviética, após ser presa em consequência de seu interesse pelo socialismo, inicia uma fase de teor social, representado nesta obra de 1933. Além de ter estado na União Soviética, no Brasil, a pintora brasileira participava de reuniões do Partido Comunista Brasileiro. Assim, tanto a política quanto a temática do trabalho fizeram parte de ambas as obras. No início dos anos 1930, o Brasil passava por intensa industrialização, migração de trabalhadores e consolidação do capitalismo industrial, além de uma classe de trabalhadores marginalizada e explorada. É isso o que retrata o quadro – operários sérios, extenuados, sem um sorriso sequer. 59
O livro dos abraços
LITERATURA
Autor: Eduardo Galeano Editora: L&PM
Neste livro, que é resultado das andanças pelo mundo do autor uruguaio – célebre pelo livro As veias abertas da América Latina –e seu olhar sobre a vida e a construção das cidades, há um capítulo em que o autor está em Chicago, EUA. E questiona, no artigo intitulado “O 1º de Maio nos Estados Unidos”, a total indiferença dos norte-americanos em relação à data, justamente no país que motivou a comemoração. Escreve Galeano, após constatar que seus amigos norte-americanos não sabem mostrar o local onde foram enforcados, em 1886, os operários que o mundo inteiro saúda a cada Primeiro de Maio. “Não foi erguida nenhuma estátua em memória dos mártires de Chicago nem na cidade de Chicago. Nem estátua, nem monolito, nem placa de bronze, nem nada”, indigna-se Galeano, que continua: “O primeiro de maio é o único dia verdadeiramente universal da humanidade inteira, o único dia no qual coincidem todas as histórias e todas as geografias, todas as línguas e as religiões e as culturas do mundo; mas nos Estados Unidos o Primeiro de Maio é um dia como qualquer outro. Nesse dia, as pessoas trabalham normalmente, e ninguém, ou quase ninguém, recorda que os direitos da classe operária não brotaram do vento, ou da mão de Deus ou do amo.”
Primeiro de maio
Organizadora: Marisa Lajolo Editora: Imprensa Oficial do Estado Este livro reúne textos e poesias de vários autores sobre o Primeiro de Maio, incluindo aí um texto do modernista Mário de Andrade. Além dele, Lourenço Diaféria, Carlos Vogt, Monteiro Lobato – no qual a organizadora é especialista –, Nilza Amaral, Olavo Bilac e Oliveira Silveira. No site da Imprensa Oficial do Estado, a resenha do livro comenta: “Nada mais justo, portanto, do que celebrar o Dia do Trabalho, compartilhando o trabalho de alguns trabalhadores com outros trabalhadores: os que escreveram os textos deste livro, os que fizeram e cortaram o papel que compõe suas folhas, os que operaram as máquinas que o multiplicaram e muitos outros mais”.
Contos novos
Autor: Mário de Andrade Neste livro, um conto, “Primeiro de Maio”, conta a história de “35”, um operário se preparando para a data. Eis um trecho do conto: ” Uma indecisão indiscreta o tornou consciente de novo que era o Primeiro de Maio, ele estava celebrando e não tinha o que fazer. Bom, primeiro decidiu ir na cidade pra assuntar alguma coisa. Mas podia seguir por aquela direção mesmo, era uma volta, mas assim passava na Estação da Luz dar um bom-dia festivo aos companheiros trabalhadores. Chegou lá, gesticulou o bom-dia festivo, mas não gostou porque os outros riram dele, bestas. 60
Fotos: divulgação
MÚSICA
Gonzaguinha, João e Elis Regina no show em 1º de maio de 1979, em São Bernardo do Campo
Músicas inspiradas no 1º de maio Construção – Chico Buarque (1971)
Pedro Pedreiro – Chico Buarque (2000)
Fábrica – Renato Russo (1986)
Operário Vida Viola – Chico Rey e Paraná (1983)
Cidadão – Lucio Barbosa (1992) Admirável Gado Novo – Zé Ramalho (1979)
Primeiro de maio – Milton Nascimento e Chico Buarque (1977)
Linha De Montagem – Chico Buarque (1980)
A Vida De Operário – Teixeirinha (1991)
Classe Operária – Tom Zé (2003)
Subúrbio Operário – Mau (1997)
Vida De Operário – Bezerra Da Silva (1988)
Vida De Operário – Falcão e Ex (1990)
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América Latina em São Paulo
A cada edição a revista Nossa América Hoy foca um país da região. Abrimos a série com o México. simone Lozano
Coma México
Beba México
Monte seu roteiro para experimentar ou saborear a rica comida que vem do México, com dois dos mais conceituados restaurantes especializados da capital paulistana.
Existem diversas opções de bares para se saborear tequila e outras bebidas mexicanas, além de petiscos saborosos de sua culinária
Habañero
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Obá
Embora seja um restaurante de comida caseira dos quatro cantos do mundo, como seus donos se definem, a cozinha mexicana é o seu forte. O cardápio foi inspirado nas experiências dos sócios e do Chef Henrique Benedetti em diversos países. Surpreende ao harmonizar o tempero original de pratos clássicos do México, do Brasil, da Itália e da Tailândia. Serviço: Endereço: Rua Melo Alves nº 205 Jardins – Zona Sul Teléfone: 3086-4774
Fotos: divulgação
O nome do restaurante vem da pimenta Habañero, de origem cubana. Foi fundado em fevereiro de 2007, em Santana. Seu foco é a baixa gastronomia das Américas, com ênfase na culinária mexicana. Por ser temático se diferencia dos demais – atendimento descontraído, comida típica etc. Seu chef, Reginaldo Bernardino Lima, trabalhou por 22 Anos no Hotel Ca’d’Oro e tem conhecimentos em cozinhas internacionais. Entre os pratos principais, ele sugere fajitas e quesadillas. Serviço: Rua Alfredo Pujol, 1765 ( Esquina com Rua Maria Curupaiti) Fone: 2950-8219 / 3586-0973
Bar SíSeñor– Higienópolis
Visite México Vá ao Museu Nacional de Antropologia
Peppers Bar
Tem vários ambientes, inclusive área ao ar livre. As paredes são coloridas e decoradas com objetos trazidos de viagens ao México. Para petiscar, os tradicionais tacos acompanhados de molhos especiais. Além de cervejas mexicanas, também oferece drinks diferentes, como uma releitura de Margarita com licor de diversos sabores. Serviço: Rua Domingos de Moraes, 2330 Vila Mariana Tel: (11) 5573-4733
Um dos lugares mais fascinantes da capital mexicana, espaço emociona seus visitantes pelo modo como trata o passado das civilizações pré-colombianas Quem vai ao México precisa conhecer o Museu Nacional de Antropologia, um monumental espaço construído para resgatar objetos e a história das populações que ali viveram antes da chegada de Cristóvão Colombo. O museu é considerado o maior da América Latina e um dos mais visitados do planeta. São quatro edifícios instalados no Bosque de Chapultepec. Recomenda-se seguir o roteiro de acordo com a disposição dos prédios e das salas. Assim, aprende-se, nas primeiras salas, uma intensa e interessante viagem ao tempo. É tão detalhado que se vê, a princípio, os mamutes que
conviviam com os ancestrais latino-americanos. Seguem-se objetos de antigas civilizações e informações sobre a ocupação populacional da região, as primeiras cidades etc. Serviço: Avenida Paseo de la Reforma com rua Gandhi, s/nº, do Bosque de Chapultepec, De terça a domingo, das 9h às 19h. www.mna.inah.gob.mx.
Confira também o Museu Frida Kahlo
O Museu Frida Kahlo, também
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Fotos: divulgação
Destaques para os tacos, “quesadillas”, “burritos” e outros clássicos da culinária mexicana, além de lanches e porções com um toque “tex-mex”. A casa tem decoração rústica e clima de bar no jantar. As “fajitas” aparecem em quatro versões, como a de filé-mignon. Serviço: Endereço: Rua Armando Penteado, 18 - Higienópolis -São Paulo - SP Telefone: (11) 3476 2538 Site: http://www.sisenor.com.br/
conhecido como a Casa Azul, localiza-se na rua Londres, 247, bairro de Coyocán, Cidade do México. Trata-se da antiga residência da famosa pintora mexicana, sendo a casa onde ela nasceu, em 1907, viveu grande parte de sua vida e morreu, em 1954. A Casa Azul foi construída em 1904, três anos antes do nascimento da pintora e foi convertida em museu em 1958, quatro anos após a morte da artista e, naturalmente, em sua homenagem. O museu possui fotografias, antigos pertences, móveis etc. de Frida e de seu marido, Diego de Rivera (também pintor), com quem teve um conturbado casamento. Ademais, o Museu Frida Kahlo é decorado com arte popular mexicana e reúne algumas obras do casal de pintores, sobretudo quadros de Frida.
México na tela Três grandes filmes contam a história mexicana ou de seus ricos personagens e servem como forma divertida de aprender mais sobre aquele país.
Frida (2002)
Frida Kahlo (Salma Hayek) foi um dos principais nomes da história artística do México. Conceituada e aclamada como pintora, teve também um casamento aberto com Diego Rivera (Alfred Molina), seu compa64
nheiro também nas artes, e ainda um controverso caso com o político Leon Trostky (Geoffrey Rush) e com várias outras mulheres. Dirigido por Julie Taymor. Elenco: Salma Hayek, Alfred Molina, Diego Luna. Gênero: Drama. Nacionalidade: Canadá/México/ EUA
Pancho Vila (2003)
Janeiro, 1914, Forte Lee, Nova Jersey, capital mundial do cinema. O diretor D.W. Griffith (Colm Feore) fica sabendo que o revolucionário mexicano Pancho Villa (Antonio Banderas) está oferecendo os direitos exclusivos ao estúdio de cinema que tiver interesse em filmar seu exército revolucionário em ação contra as forças federais do despótico presidente do México, Victoriano Huerta (José Concepción Macías). Dirigido por Bruce Beresford. Com Antonio Banderas, Eion Bailey, Alan Arkin. Gênero: Aventura. Nacionalidade: EUA.
Leia México O búfalo da noite
De Guilhermo Arriaga Editora Griphus Conta a história de um triângulo amoroso, à beira da loucura, da morte, da destruição. Gregório, um adolescente extremamente sensível, para quem a realidade é algo insuportável, decide acabar com sua vida, e desencadeia o desespero e a angústia nas vidas de Tânia, sua ex-noiva e de Manuel, seu melhor amigo - marcados pelos sentimentos de culpa e traição. A Cidade do México é o cenário onde estes personagens buscam uns aos outros para sobreviver ao desespero que os invade. O fantasma de Gregório os empurra para o abismo, a desafiar todas as convenções sem temer pagar o preço por fazê-lo.
Amores brutos (2000)
Marco do cinema mexicano, o filme entrelaça, em um acidente de carro, várias histórias pessoais: Octavio, o dono de um cão de rinha, que sonha em fugir com a cunhada Susana; Daniel que abandona a esposa para viver com a modelo Valeria Maya e um mendigo, Chivo, que busca voltar à família. Direção de Alejandro González Inárritu. Com Gael García Bernal, Dagoberto Gama. Gênero: drama. País de origem: México.
Informações consulares Consulado Geral do México em São Paulo, SP Rua Holanda, 274, Jardim Europa. Cep: 01446-030 Telefone: (0xx11) 3576-5400 Fax: (0xx11) 3576-5408 consulmex-sp@gobmex-sp.com.br http://portal.sre.gob.mx/saopaulo/ Simone Lozano é publicitária e chefe da Divisão de Estratégias de Marketing do Memorial da América Latina.
Dia do Trabalho tema da programação do Memorial Cena do filme A Nós a Liberdade, de René Clair, 1931. Fotos: divulgação
Para comemorar o dia 1º de Maio e prestar sua homenagem à classe trabalhadora, o Memorial da América Latina elaborou uma programação especial para este mês. Cinema, teatro, artes plásticas, cada uma dessas linguagens artísticas abordarão o tema, que, no passado, despertou movimentos acalorados no mundo, particularmente na América Latina. Até 26 de maio, por exemplo, a Galeria Marta Traba apresentará uma exposição iconográfica da luta dos trabalhadores no Brasil, contando por meio de textos, poesias e fotos os fatos mais marcantes da história do dia 1º de Maio e das mobilizações operárias. Organizada em parceria com a Imãfotogaleria, paralelamente, a mostra expõe obras de fotógrafos como o carioca José Roberto Ripper, cujo olhar se notabilizou por captar cenas de desrespeito aos direitos humanos. Do cinema, entram em cartaz alguns expoentes da produção nacional e internacional, como o emblemático e premiado La Hora de los Hornos, dos argentinos Fernando Solanas e
Octavio Getino, de 1968, que estreou oficialmente em 1973 por conta do cenário político e documenta o neocolonialismo e a violência no país durante a ditadura militar do general Juan Carlos Onganía Carballo. Caso também de A Classe Operária Vai ao Paraíso, produção de 1971, de Elio Petri, Itália, em que um operário “padrão”, depois de um acidente na fábrica, passa a confrontar o rígido sistema de metas adotado pela corporação. E de outro importante título da cinematografia, o francês A Nós a Liberdade, de René Clair, 1931, sobre a história de dois amigos, presidiários, que conseguem fugir, um se torna dono
de uma linha de montagem, o outro operário, e ambos decidem-se pela liberdade absoluta num desfecho inusitado. Da área teatral, chega ao palco do Auditório Simón Bolívar, entre outras peças, um dos ícones da dramaturgia dos anos 1950 no Brasil, Eles Não Usam Black Tie, que Gianfrancesco Guarnieri escreveu em 1958 para o Teatro de Arena, uma reflexão sobre as difíceis condições da vida operária, e que traça um panorama acurado do abismo social que marcou a sociedade brasileira. (Para conferir a programação completa, dias e horários das sessões, consulte o folder e o site do Memorial ). 65
I m a g em d a e d i รง รฃ o Foto de Pedro Martinelli registrada em 1ยบ de maio de 1971, no jogo entre Palmeiras e Guarani, no campo do Palmeiras
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Nossa AmĂŠrica hoy
On Line a nova revista do novo Memorial
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www.memorial.org.br
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