Tempo Resgatado

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TEMPO RESGATADO

TGI I

CADERNO DE DAYANE VICHESI


INDICE

27 sobre o projeto


introdução 05 sobre o lazer 09 sobre a proposta 19

sobre o lugar 23



INTRODUÇÃO



As questões ligadas ao lazer e sua necessidade na vida cotidiana motivam esse trabalho de graduação. Formas de entretenimento e lazer sempre estiveram presentes em nossas vidas e ganham mais importância atualmente, uma vez que estão ligados a aparelhos e situações que se dissolvem ao longo do dia; isso é tratado como escape, como um mediador para o equilíbrio emocional e mental das pessoas que estão constantemente em situações de stress. Iniciativas ligadas a esses momentos de descontração se destacam em planos governamentais que visam a melhora da qualidade de vida e sobretudo na iniciativa privada que fornece uma infinidade de aparelhos e serviços com esse fim. É fato conhecido de todos que esse momento de ócio, esse momento íntimo, onde nos ocupamos em fazer os que nos faz felizes é extremamente necessário e comum a todas as culturas. Em contra partida há cada vez com menos tempo para isso, cada vez mais tarefas e menos tempo para reservar algumas horas na semana para dedicar a hobbys e interesses, o "perderem tempo" com atividades que a primeira vista não traz ganho algum. Esse trabalho se propõe a pensar como fazer para encontrar este tempo que falta, em melhorar a qualidade dos espaços setorizados e funcionais cada vez mais recorrentes, para unir o lazer a espaços onde ele parece improvável.



SOBRE LAZER



O lazer nem sempre foi encarado como uma necessidade. Primeiro como um privilégio das classes mais abastadas, depois uma ferramenta de controle das massas, esse conceito vêm sendo transformado de acordo com as mudanças sociais. No início a própria ideia de lazer era inexistente, pois havia o trabalho necessário para a sobrevivência de um indivíduo e sua família e havia o tempo de descanso entre uma jornada de trabalho e outra, o tempo ditado pela natureza e seus ciclos. O homem não trabalhava mais do que duração do dia, esse período sem luz natural era preenchido pelas necessidades básicas e distrações espontâneas, não era preciso separar um tempo para isso. Essa rotina ditada pelo trabalho apenas era interrompida após a colheita quando celebrava-se a mesma e agradecia-se aos deuses por ela. Com as novas relações de trabalho e população passando a ser essencialmente urbana surgem às primeiras formas de lazer e entretenimento formalizadas, sendo porém muito mais acessíveis às classes dominantes. O intuito do lazer para a classe assalariada era distrair o indivíduo da rotina intensa de trabalho, uma forma de renovar as forças para continuar a jornada e preencher o pouco tempo vago. Esse pensamento é defendido pelas teorias higienistas que levantam a importância do descanso para a população e para a cidade como um todo, fazendo com que a relação com o lazer seja



transformada. Com a segunda revolução industrial o operário sente as mazelas do trabalho incessante, ditado pela máquina, forçado pelas jornadas de trabalho mais longas, levando-o a exaustão e gerando grande descontentamento. Porém o problema ligado as fábricas, ao ambiente urbano e a exploração do proletariado não foi o bastante para conter o crescente êxodo rural piorando a já parca qualidade de vida nas cidades abarrotadas e insalubres. O adensamento urbano trouxe mudanças significativas e, atemorizados pela proporção que a força da população insatisfeita pudesse tomar, a burguesia e o poder público passa a conceder alguns diretos ligados à redução de jornadas de trabalho e férias, sem efetivamente modificar a estrutura vigente. Essas concessões além de agradar aos operários também aumentava a produtividade uma vez que os funcionários rendiam mais e brigavam menos devido ao maior período de descanso. Sendo assim as próprias indústrias começam a incentivar atividades, jogos, criar e manter clubes onde o trabalhador se diverte, brinca e gasta seu tempo livre sob o crivo do empregador. Foi dessa forma que a ideia de lazer como direito e necessidade se consolida. Aquilo que não passava de mais uma ferramenta de controle passa a configurar, junto a outros aspectos subjetivos, o que alguns sociólogos chamam de



necessidades radicais, aquelas ligadas a natureza e raiz do homem, que vão além da sua necessidade de posses e acumulação, lhe conferindo mais qualidade a vida. A contemporaneidade traz consigo outras discussões sobre o tema; vemos como uma ideia que lentamente subiu ao hall das importantes atividades humanas passar agora a ser negligenciada. Num primeiro momento, como colocado anteriormente o descanso acontecia no mesmo espaço em que o trabalho, ou em um determinado pelo empregador. Hoje existe a tendência de transformar o lazer num evento, com lugar, hora e duração definidos. Traz para o tempo de liberdade as mesmas regras e restrições que se enfrenta no trabalho; não é estranho o fato de que em uma sociedade ditada pelo capital e, por tanto pelas relações de trabalho, se tenha dificuldade em aproveitar o tempo livre, tanto por que nenhum tempo é livre, pois "tempo é dinheiro", logo não deve ser desperdiçado. Muitos contabilizam o tempo de descanso como moeda, trocando-o por "horas extras". Deixando o tempo destinado ao lazer reduzido ao período de sono, pois é mais rentável trabalhar por longos períodos que gastar tempo e recursos em atividades que não trazem retorno financeiro. Dentro desta cultura do trabalho que prega a segregação dos espaços pelo seu conteúdo programático, onde



o espaço de trabalho só tem esse fim, fadamos o lazer a ser visitado em raras ocasiões onde nada se mostra mais importante, tirando-o de vez da nossa rotina cotidiana, deixamos as atividades livres pra “quando der tempo”. Os novos meios de comunicação e ferramentas informatizadas, computadores e celulares, trazem formas de entretenimento de certa forma aceitáveis para o local de trabalho. O resultado é que atualmente contamos a checada do e-mail pessoal e as atualizações recentes do facebook como tempo de lazer e entretenimento. Ou seja, descansamos e trabalhamos no mesmo lugar e muitas vezes ao mesmo tempo e consideramos isso como algo positivo. Entretanto, essa é uma interpretação equivocada, pois esse tempo não se configura como um descanso real, sendo mais útil a indústria do entretenimento e consumo do que a nós mesmos.



SOBRE A PROPOSTA



O processo de refinamento da proposta passou por diversas pesquisas e investigações, tangenciando vários assuntos até encontrar seu foco. A ideia inicial era trazer o lúdico para o cotidiano das pessoas, expondo-as a situações inusitadas que a tirassem de sua rotina, convidando-as a explorar o que lhe novo e instigante. Partindo disso o trabalho passa pelas novas formas de interação e lazer trazidas pelas novas tecnologias; a ideia eram intervenções com objetos interativos em espaços funcionais, recorrendo novamente a surpresa do usuário ao se deparar com elementos que respondam diretamente a suas ações. A proposta final se afasta do lúdico e volta se para o lazer como cultura, descanso e interação, pensando em como reinseri-lo na vida das pessoas, por aproximação dos espaços funcionais aos espaços culturais para reverter a segregação espacial existente, buscando por momentos vazios das atividades rotineiras e assim potencializar esses momentos com uma proposta de lazer para preenche-los.



SOBRE O LUGAR



Durante o estudo da proposta, as diretrizes que foram estabelecidas para o espaço era trabalhar com áreas de passagem, onde as pessoas estivessem em constante fluxo e não estabelecessem vínculos com o edifício, não se apropriassem dele, um espaço que não se configurasse como um lugar, e que apesar do fluxo houvesse um tempo de espera, um tempo desperdiçado em suspensão onde nos limitamos a aguardar, um tempo com potencial não aproveitado. Pensando nessa linha e balizado pela acessibilidade para a maior numero e variedade de pessoas possíveis, descartou-se aeroportos, metros e estações de trem. Sendo assim, a opção que melhor contemplou a proposta foi a de pensar a interação do lazer com o espaço de uma rodoviária O lugar escolhido foi então a rodoviária de Americana, somando se as diretrizes a minha própria experiência do espaço



SOBRE O PROJETO




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implantação


Por estar em na encosta e voltada para outra, o projeto foi pensado por meio de sacadas e mirantes que permitem diferentes visuais da cidade. Também trabalha se com espaços abertos para que não haja barreiras no fluxo entre os edifícios da rodoviária, cinema, biblioteca e comércios.

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rodoviรกria


acesso comércio e estacionamento

embarque ônibus circular

embarque ônibus de viagem

A rodoviária é o maior mirante de todo o projeto. Atingindo 10m em seu ponto mais alto, a laje que se projeta da encosta, além de proteger o programa da rodoviária sob ela, também proporciona no nível superior um espaço para convívio, feiras, expansão do comércio, estar contemplativo, entre outros.

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centro de lazer


biblioteca

área de exposição/ mostra

cinema

Acesso comercio, térreo, estacionamento

laje verde

Passagem rua comercio rodoviária O Centro de lazer concentra duas salas de cinema (equipamento inexistente na cidade), uma pequena biblioteca para mídias e acervos digitais disponibilizados tanto para acesso a partir de eletrônicos pessoais como os concedidos para empréstimo pela própria biblioteca. Sob a laje que une esses dois forma se um pátio aberto pensado para mostras de arte, dança e afins. Há também uma tela de projeção externa para curtas e voltadas para o comércio e a rodoviária, permitindo que os usuários destes também possam manter contato com o que se desenvolve no centro.

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comĂŠrcio


Acesso comercio, cinema, estacionamento

comércios

Acesso comercio, rodoviária, estacionamento

Deixando apenas o essencial para o funcionamento da rodoviária, mas admitindo a necessidade de algum tipo de comercio próximo, além de sua utilidade para o próprio centro de lazer e para a vitalidade do espaço, cria se um centro comercial independente da estrutura dos demais prédios, mas que ao mesmo tempo serve-lhes de apoio.

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