UMA AUTOBIOGRAFIA (NÃO?) AUTORIZADA
Almada, Dezembro 2016
Debaixo do Bulcão: uma autobiografia (não?) autorizada escrita por António Vitorino no ano em que se comemora o vigésimo aniversário do lançamento deste projecto editorial alternativo. Os factos narrados correspondem à memória que deles guardou o autor pelo que se podem referir (não?) a casos e pessoas reais. Pedimos desculpa pelo incómodo. Estamos a trabalhar para o bem comum. Prometemos ser breves.
Debaixo do Bulcão: uma autobiografia (não?) autorizada Quando se quer começar a contar uma estória - ou história, como neste caso - aparece sempre a pergunta: por onde começar? Ou, numa versão mais rebuscada: que fazer? E há sempre um engraçadinho ou engraçadinha que responde: pelo começo. O problema é que há histórias que começam antes de começar. Como é o caso desta. E não, não estou a tentar ser engraçadinho. Debaixo do Bulcão nasceu em Dezembro de 1996, no Ponto de Encontro - Casa Municipal da Juventude de Cacilhas (Almada) e teve a sua primeira edição publicada na Feira Internacional do Fanzine desse ano. Publicação alternativa, ainda para mais de poesia, naquele momento pareceu aos olhos de muita gente uma grande novidade. Mas não era. Para entender a história que esteve na origem deste projecto, é necessário recuar pelo menos até meados da década de 1980. Vamos, pois, começar por aí. Recorrendo a algumas memórias pessoais, só porque não conheço qualquer trabalho mais sistematizado que possa consultar.
Fragas 1 e 2, 1986 (cortesia Paulo Buchinho)
Talvez escrever Fanzines havia muitos e de poesia alguns. Em Portugal, assim que me lembre, havia dois que se destacavam: o Ara Gris, publicado na Linhaceira (aldeia do concelho de Tomar) e o Fragas, feito aqui ao lado, no concelho do Seixal. Nenhum deles com a estética punk que sempre me agradou (e que conhecera em 1979 nas páginas do jornal Rock Week, efémera e pioneira publicação sobre música), mas suficientemente handycraft para que os achasse muito estimulantes. Ambos em formato A5, tiveram grande exposição mediática no DN-Jovem, dinâmico suplemento juvenil semanal do vetusto Diário de Notícias. Foi essa publicação, dirigida por Manuel Dias, que me permitiu conhecer os emergentes autores da época e as suas publicações, os e as quais me inspiraram mais adiante. Não me alongarei sobre o DN-Jovem pois a sua história está contada num livro da jornalista Helena de Sousa Freitas (e porque, embora tenha publicado ali entre 1984 e 1986, não tenho de facto grande coisa para contar, além de uns magníficos segundos prémios de fotografia e um ou outro poemazito que se dignaram aceitar sem me mandar ler bons autores). Em 1986 apareceu outra publicação alternativa que se tornou
rapidamente uma referência da almejada "movida" portuguesa (lisboeta, para ser mais exacto). Não era já um fanzine, mas sim uma revista, embora com estética bastante fanzineira. Chamava-se Contraste e era dirigida por Miguel Portas. Foi, se não me engano, precursora de publicações como a K e a Politika (esta publicada pela Juventude Comunista Portuguesa) e julgo que não andarei muito longe da verdade se a considerar o primeiro exemplo do que mais tarde se viria a chamar prozine. No auge desse movimento de publicação alternativa, Almada teve a sua primeira mostra de fanzines organizada durante a Semana da Juventude de 1986 por Pedro Morgado, o futuro responsável pela Feira Internacional do Fanzine realizada durante vários anos, a partir de 1993, no Ponto de Encontro – Casa Municipal da Juventude, em Cacilhas. A segunda mostra de fanzines de que tenho conhecimento nesta cidade foi organizada por mim em Janeiro de 1987 no âmbito da Semana do Livro realizada pelo Centro Cultural de Almada na antiga Oficina da Cultura (hoje Teatro Municipal António Assunção). Sem qualquer tipo de competição entre os dois eventos, até porque eu não tinha ido à mostra da Semana da Juventude nem conhecia ainda o Pedro Morgado. Em 1987 saí do Centro Cultural de Almada e ainda tive alguma actividade no âmbito das publicações (mais-oumenos-)alternativas num jornal feito por uma juventude partidária, com alguns números editados entre 1987 e 1988. Mas só regressei aos fanzines em 1995, no Ponto de Encontro, por causa de uma Feira Internacional do Fanzine e incentivado pelo responsável da dita. O que quer dizer que, de certa forma, o aparecimento do Debaixo do Bulcão é também culpa dele. Primeiro porque me convidou a escrever para um fanzine da Câmara Municipal de Almada chamado Big Bang e dirigido pelo próprio Pedro Morgado (sim, a Câmara Municipal de Almada
chegou a publicar os seus próprios fanzines – e antes do Big Bang publicara outro intitulado CoolTura). Aceitei e aproveitei para escrever uma short story intitulada Talvez Escrever (referência óbvia a uma famosa música de Pedro Abrunhosa). Depois, o Pedro Morgado incentivou-me a produzir o meu próprio zine para a Feira de 1995. Portanto, mais culpas no cartório. ;) O fanzine de 1995 era uma publicação de autor, com textos meus e ilustrações do Sturrefsit Adjukaatrix (Stu para os amigos, um bacano que conheci por volta de 1986 no atelier de artes gráficas do Centro Cultural de Almada). Tudo na base do corte e cola ou seja, lá me vou repetir com uma palavra de que gosto tanto, handycraft. Não me lembro do título que lhe dei, não sei quantos exemplares sairam (poucos, de certeza) e já não tenho nenhum comigo. Mas a experiência fez-me perceber que valia a pena tentar algo mais ambicioso. Almada era, nesse tempo, uma cidade cheia de bandas de rock e similares (ou de "música moderna", para usar o jargão da época) e de grupos de teatro. Desde 1994 havia um festival de teatro (Festival X, organizado pelo grupo OLHO), em 1995 começara a Mostra de Música Moderna de Almada e em 1996 a Mostra de Teatro de Almada. Recitais de poesia, que me lembre, só o António Boieiro os realizava, no Ponto de Encontro. E dizia, com razão, que todos se queixavam de falta de apoios mas para a poesia é que não havia mesmo apoio nenhum e que somos um país de poetas mas ninguém consegue editar poesia. Ora bem, era a minha deixa.
Se numa noite de inverno Com certeza, não é fácil encontrar a posição ideal para ler. Italo Calvino
Debaixo do Bulcão poezine número 1,5. Capa de Luisa Trindade
Então numa noite que se não era de inverno para lá caminhava, fui ter com o António Boieiro e o José João Mota que estavam sentados a uma mesa penso que redonda (porque até 1996 as mesas do Ponto de Encontro eram redondas, e porque dá jeito à narrativa que seja redonda) e perguntei-lhes: que tal fazermos um fanzine só de poesia, alinham? Eles alinharam e pronto, foi assim que comçou a saga do mais resiliente poezine de Almada e arredores. Easy as that. Só que, como dizia o outro, o difícil não é começar: é continuar. Eu estava devidamente avisado mas isso no momento não interessava nada. A vontade de começar era mais forte. Começámos, portanto. Para começar era preciso duas coisas: arranjar colaboradores e desenrascar um nome. Este parecia-me evidente: Poezine. Pois se era um fanzine de poesia!... Mas o chato do Tó, sempre com a
mania das cenas poéticas, insistiu comigo: epá, arranja um nome poético para isso. E eu pensei, pensei, pensei, bebi cerveja, bebi moscatel, voltei a pensar, a pensar, voltei a beber cerveja e moscatel (talvez não necessariamente por esta ordem ou nestas quantidades de pensamento cerveja e moscatel) até que, embriagado de álcool de poesia e de virtude, tudo junto, me saiu não sei porquê nem por onde essa do Debaixo do Bulcão. Mas, casmurro, tive que lhe juntar a palavra poezine. Ficou Debaixo do Bulcão, poezine. Durante anos estive convencido de que tinha inventado a palavra poezine. Não inventei nada: a palavra já existia, era até o nome de uma publicação brasileira. Mas a gente naquele tempo tinha menos acesso à informação e deviamos ser bastante mais burros porque estavamos em Cacilhas que é a terra dos ditos e performavamos pior nos testes de QI (se os fizessemos...) que os jovens da geração que ainda não tinha nascido. Não sei porque me lembrei de Debaixo do Bulcão. Ou sei? Há o livro de Malcom Lowry e o filme de John Houston (que ainda não tinha lido e visto). Mas penso que o determinante foi ter descoberto a palavra bulcão num conto das Lendas e Narrativas, de Alexandre Herculano: «as ondas de pó que se alevantavam debaixo dos pés dos ginetes, como se alevanta o bulcão de Deus, varrendo a face da campina ressequida, em tarde ardente de verão». Mais fácil que desenrascar um nome porreiro foi encontrar colaboradores fixes. Uma publicação alternativa e sem filtros num tempo em publicar poesia parecia quase impossível – e em que a internet ainda era uma entidade mitologica – foi coisa a que o pessoal, digamos assim, chamou um figo. Alguns amigos aderiram imediatamente, outros foram aderindo, outros trouxeram outros amigos e assim sucessivamente...
No núcleo de iniciadores do Debaixo do Bulcão estavam, além do Tó e do Mota, Luísa Trindade (desenhadora, autora de várias capas e algumas paginações e de pelo menos um poema visual), Pedro Morgado, Z.BTTA (José Fialho ou, mais recentemente, José F. de Folha), a que se juntaram como colaboradores a partir da primeira edição, Lino da Cunha (a.k.a. Lino Átila, vocalista da banda Noctivagus), Miguel Nuno, Paula Cristina, L. Miguel Marques F.V., Aarons Bia (vocalista da banda punk Jardins de Pedra), Aurélio Engerling Auffass, e Jorge Figueira (autor da capa e da paginação desse número um). A edição, de 28 páginas, teve o apoio da Câmara Municipal de Almada e foi profusamente distribuída primeiro durante a Feira do Fanzine e depois por todos os locais onde os colaboradores e amigos decidiram colocá-la. Esgotou rapidamente.
Saindo prá rua (e voltando a casa)
Notícia do quinzenário almadense Sul Expresso, em Janeiro de 1997. Imagens: capa, editorial e poema visual publicados na edição n.º1 do Debaixo do Bulcão
O sucesso da primeira edição não deixou margem para dúvidas: era mesmo para continuar. Pensei em edições bimestrais – o que chegou a concretizar-se durante 1997 – e depois trimestrais (Março para coincidir com a Quinzena da Juventude, Junho para coincidir com as Festas da Cidade de Almada, Setembro porque queria muito apresentar o Debaixo do Bulcão na Festa do Avante, e novamente Dezembro para coincidir com o aniversário). Nem sempre a coisa correu conforme previsto, mas lá iremos. O projecto Debaixo do Bulcão justificava-se em primeiro lugar pela edição do poezine, aberto a todos os jovens interessados
(nesse tempo ainda prefencialmente para jovens) e o mais massificado possível (sempre defendi que era preferível ter menos páginas e mais exemplares). Mas, desde o início, houve também a intenção de fazer actividades complementares à edição. Isso começou a concretizar-se logo a partir de Janeiro de 1997, em duas vertentes: poemas e slogans mais ou menos poéticos nas ruas (usando uma técnica a que hoje se chamaria marketing de guerrilha) e a encenação de uma "performance poética" com actores e marionetas, para apresentar na Quinzena da Juventude desse ano. Aproveitando a dinâmica cultural desse tempo e, particularmente, as sinergias que se criavam nesse ponto de grande confluência de linguagens e expressões artísticas que era a Casa da Juventude em Cacilhas, o projecto começou a desenvolver-se. Primeiro falei com Catarina Pé-Curto, que tinha manifestado a ideia de fazer um espectáculo com actores e animação de objectos, e propus-lhe adaptar um texto, Auto dos Pastores Brutos (texto de J.M. Sant'iago Prezado, publicado em 1926 – e, julgava eu nunca antes encenado). A partir dessa proposta reunimos um grupo de jovens actores que se organizaram num colectivo chamado Projecto 1, que faria o espectáculo em co-produção. Nesse projecto estavam Catarina PéCurto, Pedro Raposo, Jorge Feliciano, João Lizardo, Maria João
Costa, Cristina Gonçalves, entre outros. Terminada a colaboração com o Debaixo do Bulcão, alguns deles constituiram A Lente – Teatro de Aumentar, um dos grupos mais activos durante os anos seguntes em Almada. O Auto dos Pastores Brutos (que adquirira anos antes num alfarrabista em Lisboa) era originalmente uma história simples e algo naif sobre a viagem de 3 pastores guiados pela Estrela de Belém em busca do Menino Jesus. O Projecto 1 transformou-o numa metáfora em cuja acção os pastores, na sua demanda, acabavam por descobrir não o presépio mas sim "a poesia". Estreou no auditório do Ponto de Encontro, numa quinta-feira, 13 de Março de 1997. A estratégia para a divulgação do novo projecto (Projecto 1 – Debaixo do Bulcão) passava também por colocar nas paredes de Almada cartazes com poemas de autores que tinham participado na primeira edição e na segunda, aliás 1 e meio (já lá vamos). Fizemos cartazes em formato A3 (compostos em word e no velhinho Page Maker, programas disponíveis na redacção do jornal Sul Expresso, onde então trabalhava) e, munidos de cola e trinchas, saíamos do Ponto de Encontro ao princípio da noite e tratávamos de encher o mais possível as paredes, de Cacilhas ao Pragal e à Cova da Piedade. Tinha a esperança de que, num ambiente sobrecarregado de imagens publicitárias, aqueles cartazes pudessem surpreender pela "novidade", mas nunca consegui tirar nenhuma conclusão quanto a isso. Durante a Quinzena da Juventude colocámos também faixas ("ráfias") em pontos estratégicos da cidade, com slogans e frases mais ou menos poéticas. A ideia não era original – tinha visto algo semelhante em Lisboa, na Baixa, em 1994 – mas não passou despercebida, tendo em conta a dimensão e a localização das faixas.
Entretanto, tinhamos decidido fazer edições de 2 em 2 meses, mas alguns dos elementos do projecto, mais entusiastas, mais impacientes e com menos experiência na edição de fanzines, insistiram em fazer uma edição intermédia. Fez-se, então, essa icónica edição 1,5 ou um e meio. A capa, desenhada por Luisa Trindade a partir de uma ideia minha (Camões, Bocage e Pessoa à volta de uma mesa redonda enfrascando-se com uma garrafa de BUL CÃO) tornou-se a imagem de marca que, até hoje, mais se identifica com o poezine e que melhor o identifica. Essa edição teve 16 páginas e, salvo erro, quinhentos exemplares. Foi a primeira de muitas impressas ("policopiada" numa máquina de stencil) na Junta de Freguesia do Laranjeiro – a autarquia que mais regularmente apoiou este projecto durante os primeiros anos e que voltou a apoiar agora, neste ressurgimento. Depois, para a Quinzena da Juventude de 1997, fizemos uma edição com 36 páginas (a maior até hoje), que teve a colaboração de alguns autores que viriam a ser presença assídua nas edições seguintes. A capa era um desenho de Paulo Horta com arranjo gráfico de Luisa Trindade. E, no interior, paginado por Luisa Trindade, grafismo a fazer lembrar os fanzines punk da década de 1980. Desta edição foram impressos quinhentos exemplares na Junta de Freguesia do Laranjeiro e outros tantos, propostos à Câmara Municipal de Almada, ficaram por imprimir. A seguir, ainda no âmbito da parceria Debaixo do Bulcão Projecto 1, fizemos uma edição comemorativa do 25 de Abril. Paginada por Catarina Pé-Curto teve pela primeira vez a participação de João Gomes (então vocalista de uma banda chamada MADD – Mothers Against Drunk Drivers, e um manifesto entusiasta do Debaixo do Bulcão), que viria a ser um
dos mais assíduos colaboradores do poezine e é, em 2016, cocoordenador da publicação. A impressão desse número correu muito mal, por razões que não vale a pena estar agora a desenterrar. Isso levou a desavenças entre o criador do projecto Debaixo do Bulcão (que pretendia esclarecer o problema com a Junta) e o colectivo do Projecto 1. Consequentemente, a parceria terminou aí. Ficámos amigos como dantes. Num percurso de 20 anos necessariamente muita coisa corre bem e muita coisa corre mal. Tentarei valorizar o que correu bem e referir apenas brevemente (e porque tem mesmo que ser) o que deu para o torto. Durante 1997 publicámos edições em Janeiro, Março, Abril, Setembro e Dezenbro. No ano seguinte, em Janeiro, Março, Outubro e Dezembro. Em 1999 Debaixo do Bulcão saiu apenas uma vez, em Janeiro. E começou então o primeiro de vários longos intervalos. Mas, entretanto, tanta história que já tinhamos só durante os dois primeiros anos!...
Cartazes, performances e outras cenas
Cartaz do Projecto Um, colado nas paredes de Almada em Janeiro de 1997
Logo a partir do Auto dos Pastores Brutos ficou definido que Debaixo do Bulcão, sendo primordialmente e acima de tudo um poezine, iria tentar cruzar linguagens, convidando jovens criadores de várias áreas artísticas para trabalhar connosco. Como referi atrás, a primeira actividade "complementar" foi a colagem de cartazes com poemas nas paredes da cidade, seguindose a colocação de faixas com slogans e frases poéticas, ambas com o objectivo de chamar a atenção para o novo projecto e publicitar o espectáculo de teatro. Anos mais tarde, fizemos outra incursão pelas paredes da cidade, dessa vez com frases mais curtas, ao estilo sound byte, e imagens mais fortes. Mas também nesse caso com cartazes A3 impressos em fotocópia a preto e branco. Não só por opção estética mas,
algumas vezes, também por não termos outros recursos disponíveis. Decidimos igualmente assinalar cada nova edição do poezine com outras actividades, realizadas frequentemente no Ponto de Encontro. Não tenho registo pormenorizado, mas penso que não andarei longe da verdade se disser que a actividade complementar que mais vezes organizámos foi concertos com bandas do que então se chamava "música moderna". Porque estavam disponíveis (eramos amigos, frequentavamos o mesmo espaço...) e também porque organizar concertos e festivais de música era algo que eu aprendera a fazer no final da década anterior (mas isso é outra história). E não eramos esquisitos. Tanto convidámos bandas pop como os Glide como bandas de punk hardcore como os Last Hope. Claro que com as bandas de punk hardcore às vezes a coisa complicavase. Não porque promovessem violência (aliás, em 10 anos de cliente assíduo do Ponto de Encontro só me lembro de 3 cenas de violência naquele espaço, e sempre protagonizadas por pessoas que não o frequentavam), mas porque não se percebia nada do que eles diziam. A coisa era tão grave que uma hoje conceituada jornalista portuguesa foi lá fazer uma reportagem sobre a nossa actividade – para o já desaparecido Tal&Qual – numa noite em que estavamos a organizar um festival de punk hardcore... e ficou tão bem impressionada que nos meteu a fazer umas poses todas porreiraças, escreveu que os jovens que assistiam ao concerto eram "uns da pesada, outros ultraleves" (ok, admito que essa teve piada), legendou uma foto com o texto "Pixa! Pixa!, gritava o vocalista" (se não me engano, o que ele dizia era politicians, mas, lá está, o punk hardcore é muito polissémico e cada um e cada uma entende o que lhe dá mais jeito) e deu à peça o título "As Noites Loucas de Almada".
Escusado será dizer que a partir daí e durante uns tempos, o vocalista dessa banda ficou entre nós conhecido como o pixa pixa. E sim, é uma história real. Macacos infinitos me mordam se estou a inventar alguma coisa. O teatro também não podia faltar porque Almada já nesse tempo era a cidade do teatro, mesmo que – a avaliar pela narrativa dominante nos dias em que escrevo esta autobiografia (não?) autorizada – pudesse não ser ainda lá muito inteligente e educativa. Durante os primeiros anos os colectivos editoriais (que foram variando, mas sobre isso falarei mais à frente) organizaram algumas performances de rua e espectáculos de teatro nos espaços do Ponto de Encontro. Lembro-me particularmente de um realizado no Largo Alfredo Diniz (o Largo de Cacilhas), usando como palco o pedestal daquela estátua, ou o que é aquilo que lá está, e os espaços envolventes. Recordo também uma série de espectáculos que realizámos no Ponto de Encontro, ainda durante a década de '90. E o tremendo azar que tivemos quando uma peça encenada por Z.BTTA não se realizou porque, minutos antes de começar, entrou por ali dentro um bando vindo não se sabe de onde e à procura sei de quem mas não digo, que como não encoutrou quem procurava, descarregou a frustração à pancada em quem lá estava. Três vezes em dez anos vi cenas de violência naquele espaço e uma delas havia de nos calhar logo a nós, rapazes tão bem comportados e por motivos para os quais não foramos tidos nem achados. Foi o destino? Foi Karma? Foi Deus? Não: acho que foi Gallo. Organizavamos concertos e cenas, portanto. Mas também exposições de artes plásticas e até mesmo instalações artísticas (embora não lhes dessemos esse nome).
Uma das inciativas melhor conseguidas foi uma exposição de "poemas comentados visualmente", com a qual demos uso a espaços do Ponto de Encontro normalmente não utilizados. A ideia era relativamente simples: convidar pessoal das artes visuais para fazer em tamanho grande o que já se fazia nas páginas do Debaixo do Bulcão, ou seja, misturar texto e imagem, mas neste caso dando primazia à imagem. O texto era pretexto (desculpem o trocadilho). Havia pintura, colagens, desenho e não me lembro já o que mais, de vários autores (não me arrisco a enumerá-los porque não tenho registos dessa exposição e ia com certeza esquecer-me de muita gente). Havia uma instalação no cubículo envidraçado que naquele tempo era um pequeno jardim interior, onde de um lado Jorge Feliciano escreveu à mão numa grande folha de papel de cenário o seu poema O Cravo Discursa e, no lado oposto, pendurei um objecto feito por mim: uma cruz de madeira pintada de negro com um cravo crucificado, quer dizer, fixado à cruz pelo caule com um grande e ostensivo prego. A coisa correu melhor que o previsto pois a cada dia que passava o cravo ia murchando e ficando mais cabisbaixo. Se não me engano foi também durante esse evento que pela primeira vez aproveitei os parapeitos da escada "em caracol" (não exactamente) do Ponto de Encontro para pendurar edições do bulcão que, suspensas por fios brancos, "caiam" ficando a alturas diversas do chão, numa alusão a chuva mas também ao conceito de literatura de cordel. Claro que nesse tempo eu fazia as coisas sem as teorizar muito, porque considerava desnecessário apresentar justificações teóricas para coisas que me pareciam evidentes (e, pronto, admito: porque não tenho jeito nenhum para teorizar). Nota final sobre esta exposição. Também aqui não havia nenhuma tremenda originalidade. Ao propô-la estava a inspirar-me num
trabalho feito pelo Núcleo de Artes Plásticas do Laranjeiro em 1989, que utilizou vários espaços daquele equipamento, mas numa escala muito maior.
Essa famosa mochila "O Bulcão, o gigantesco trabalho do homem da mochila" (Alguém um dia destes no facebook)
Eu e aminha mochila, fotografado por Rui Tavares
Ok, ok, deixem-me lá explicar essa cena da mochila. A partir do início da década de 1990 comecei, por passar muito tempo fora de casa, a usar esse tão útil objecto, onde podia transportar uma camisolita para as noites de frio e uma garrafita de uma mistela caseira a que eu jocosamente chamava sangria (mas que não, não tinha álcool etílico, contrariamente ao que reza a lenda posta a circular por alguns amigalhaços). De tal forma me habituei que já não passava sem ela. "Sempre de mochila às costas", pois então. E foi de mochila às costas que, em 1997, carregava resmas de papel, da Cova da Piedade até ao Laranjeiro. Essa é a parte que vale a pena contar agora. Depois de algumas edições impressas pela Junta de Freguesia do Laranjeiro comecei a perceber que, se queria manter a coisa com
alguma periodicidade, o melhor mesmo era tentar diversificar a base de apoio. Fiz então contactos com as juntas da área urbana de Almada (nesse tempo eram as freguesias de Almada, Pragal, Cacilhas, Cova da Piedade, Laranjeiro e Feijó). Do Pragal nem tive resposta. Almada, Cacilhas e Feijó ajudaram, mas quem se mostrou mais disponível para dividir os males com o Laranjeiro foi a Cova da Piedade. Convém aqui explicar – para fazer justiça – que os apoios dados a este projecto tinham muito a ver com a sensibilidade que algumas pessoas dentro da Junta tinham para este tipo de actividades culturais mais alternativas ou mais ligadas à literatura. No Laranjeiro tive desde a primeira hora o apoio manifesto do presidente da Junta. Na Cova da Piedade (onde havia já alguma tradição de apoio à poesia e a iniciativas informais) do responsável pela cultura. O que ficou combinado: as juntas ofereciam resmas de papel (a partir de certa altura já só a da Piedade as oferecia) e eu transportava-as – às costas, na mochila, obviamente – para o Laranjeiro, onde o poezine continuava a ser impresso. E isso funcionou assim até 1998. Depois fui trabalhar e viver para Portalegre. Mas, porque a minha fanzinomania era mesmo grave, mesmo em Portalegre decidi que queria continuar com o Debaixo do Bulcão. Consegui ainda fazer uma edição, em Março de 2000, esta impressa integralmente na Cova da Piedade. Só que, depois desse número, a junta decidiu que não tinha capacidade de assegurar edições regulares, e pronto, o Bulcão parou aí. Ainda vim a Almada fazer o lançamento dessa edição. Mas, estando longe e sem apoios, e não havendo uma estrutura que
assegurasse por si só a continuidade (os colectivos editoriais do poezine sempre foram muito informais e pouco orgânicos), o caso parecia perdido. A edição anterior tinha saido em Janeiro de 1999, e já se pressentia algum esgotamento da fórmula. Em 2000 saiu apenas uma edição. Estavamos, portanto, a entrar no primeiro do que viriam a ser vários períodos de pousio.
Intervalos e recomeços
Bulcanização da Rua... (co-produção com A Anestesia), 2002
Mas este projecto mostrou uma resiliência notável ao longo dos anos. Com o passar dos anos, Debaixo do Bulcão começou mesmo a ser reconhecido como uma "marca" e um projecto no qual até autores já com obra publicada e reconhecida queriam participar. Não exagero: Artur Vaz, Alexandre Castanheira, Helena de Sousa Freitas, Luis Milheiro, Quim Gouveia, Maneta Alhinho, Affonso Gallo (na escrita), ou Paulo Buchinho, Rui Tavares, Marina Soares, Teresa Câmara Pestana, Helga Rodrigues, André Antunes (em imagem e composição gráfica) foram alguns dos autores e autoras que não precisavam do Debaixo do Bulcão para se dar a conhecer e, mesmo assim, tiveram a vontade ou a amabilidade de publicar aqui.
Começámos a estabelecer redes de contactos que chegaram aos países lusófonos. Do Brasil, particularmente, foram chegando muitas colaborações de escritores como Madalena Barranco, Sidnei Olívio, Tere Tavares, Edson Pielechovsky, Eloísa Menezes Pereira... E em Portugal, durante algum tempo, contámos com a colaboração de colectivos (e das pessoas que os constituiam) como Aranhiças & Elefantes, Margem d'Arte, entre outros. Entre 2001 e 2002 deu-se um primeiro ressurgimento do projecto, continuado em moldes diferentes, mas sem interrupção, em 2003 e 2004. Foi assim... Aproveitando uma aberta, o bulcão tinha reaparecido em Julho de 2001 para participar na primeira Festa Amarela do Centro Cultural Juvenil de Santo Amaro, no Laranjeiro. O convite foi feito por dois dos mais assíduos colaboradores (Jorge Feliciano e Miguel Nuno Vargas) que eram funcionários da Câmara de Almada e faziam parte da organização da festa. Como já era hábito, não nos ficámos pela edição (que foi a famosa "edição amarela", sem número) mas aproveitámos também para fazer intervenção artística – no caso aproveitando um "humanóide" feito com garrafas de plástico reutilizadas por Luisa Trindade para um trabalho universitário, que a própria reconverteu em expositor, e ao qual acrescentei uma banda sonora de fado... (Sempre tentado criar tensões artísticas e fugir ao óbvio: fado numa festa de juventude em 2001.) A coisa correu muito bem pelo que, tal como em 1996, decidimos continuar. Mas só conseguimos publicar novamente no ano seguinte (tal como em 1996, o apoio que a Câmara deu foi pontual, sem qualquer intenção de ajudar o projecto a consolidarse).
Depois de muita insistência (e aproveitando o facto de os referidos dois funcionários da Câmara serem amigos do bulcão) lá conseguimos que a edilidade apoiasse edições em Março, Junho, Julho (outra amarela) e Dezembro de 2002. E, na sequência, organizámos – eu, João Gomes e Jorge Feliciano, que constituiam o projecto A Anestesia e faziam parte do colectivo editorial dao poezine – um grande evento de aniversário a que chamámos Bulcão Master Festival, com actividades durante uma semana em vários locais da cidade, mas centrado em Cacilhas, no Ponto de Encontro. Só que o Ponto de Encontro já estava em decadência. A geração de frequentadores dos anos 90 deixara de aparecer por lá e não havia ainda (nem sei se houve depois) gente nova para dinamizar o espaço. Felizmente estava a nascer ali perto um novo projecto chamado Café com Letras (que, como o próprio nome indica, era um café onde se organizava actividade cultural). A "programadora" do espaço, Ermelinda Toscano, mostrou-se muito receptiva a acolher ali as maluquices do Debaixo do Bulcão, e assim aconteceu. Dadas as limitações do espaço (e talvez também devido ao envelhecimento deste vosso narrador e humílimo editor) o que ali fizemos foi sobretudo recitais de poesia para acompanhar as edições do Debaixo do Bulcão, além de participarmos – alguns de nós, individualmente – nas sessões mensais de "poesia vadia" organizadas pelo Café com Letras. Durante esse período, já sem o apoio da Câmara de Almada, o poezine foi impresso em locais e por meios que não posso revelar porque então teria que vos matar como se diz nos filmes. Mas o pior foi mesmo que as tiragens iam ficando cada vez mais reduzidas. Ora, tendo em conta que este projecto tinha nascido para "massificar" e chegar ao maior número possível de pessoas,
ter poucos exemplares a circular (em algumas edições não passaram de cinquenta) era muito frustrante. Essa fase durou até à participação de um colectivo deste projecto na Festa do Avante de 2004, quando fomos abrir a programação do Palco de Setúbal e demos uma barraca descomunal (mas eu prometi que não ia falar muito sobre as coisas que deram para o torto...). Ainda saiu mais um número, em Dezembro, a que se seguiu mais uma travessia do deserto. Debaixo do Bulcão só reapareceria em Dezembro de 2006 com uma edição especial para comemorar o 10.º aniversário. Depois, mais uma interrupção até Março de 2007. A partir daí o poezine foi saindo sem qualquer regularidade e cada vez com menos exemplares (aqui devo agradecer a Ermelinda Toscano e à nossa amiga Nuxa, pois sem a ajuda delas nem mesmo essas edições teriam sido possíveis). Paradoxalmente, foi a partir desse período e no meio dessas dificuldades que Debaixo do Bulcão se começou a "institucionalizar", tornando-se uma "marca" conhecida. Suponho que para tal terá contribuído a criação de um blog – debaixodobulcao.blogspot.com – em actividade desde 2006, que terá dado mais visibilidade ao projecto e possiblitado a comunicação em rede com outros projectos e editores independentes. Entretanto, os espaços que acolheram o projecto no princípio dessa década (Café com Letras e depois Sabor & Arte) tinham fechado portas. Assim, com maior visibilidade no mundo virtual mas sem edição regular, sem rede ou posto de distribuição, com tiragens cada vez mais pequenas, o Debaixo do Bulcão foi definhando, mais uma vez. E agora parecia irreversível. Eis senão quando...
Macacos infinitos
Capa da edição 43, especial 20 anos. Desenho de Luisa Trindade
Em Setembro de 2015 estava eu muito quietinho a pensar em cenas tais como regressar ao jornalismo, tentar promover a literacia crítica na cidade educadora e inteligente que somos e essas coisas, e fui desencaminhado pelo pessoal da Oficina Divagar para fazer uma exposição sobre o Debaixo do Bulcão, "já que tens esse material todo e nós temos o espaço". Epá, eu estava já muito longe (ou adiante, pensava eu) disso: para mim o Debaixo do Bulcão era uma coisa que ficara lá atrás no passado. Trazia-me recordações gratificantes, mas só isso. Enquanto projecto estava morto e enterrado. Estava a organizar uma exposição com o espólio do antigo Centro Cultural de Almada (longa história, que fica para contar noutros sítios), a Mariana e o Leonel fazem essa proposta e, pronto, aceitei. Só que eu tenho esta mania de complicar. Podia fazer uma exposição para o 19.º aniversário do poezine? Não, não podia! Seria demasiado fácil e eu detesto as coisas demasiado fáceis.
Então, porque não tentar fazer também uma edição comemorativa? E, já agora, porque não retomar o projecto durante mais um ano, comemorando até ao 20.º aniversário e, se fosse caso disso, acabar aí em grande? Não contava eu com a nostalgia (e ternura, sim) que esta "marca" gera nas pessoas que a conheceram. Assim que anunciei que iria sair um novo bulcão as reacções foram de agrado, muito mais do que eu imaginava que pudessem ser. Mas, mais importante, tal como nas primeiras edições, o projecto suscitou o interesse de pessoas que ainda não tinham colaborado. Ah, pois, esquecia-me de dizer: em quase todas as edições ao longo destes 20 anos apareceram autores novos, e sim, isso dá-me uma grande satisfação. Fez-se então a edição 42, com capa de Luisa Trindade e a designação Debaixo do Bulcão poezine poetry-a-porter. Pedi à Junta de Freguesia de Laranjeiro e Feijó (sim, em 2016 as duas freguesias estão aglutinadas graças às políticas neoliberais de um governo de má memória) que fizesse a impressão, e o pedido foi aceite. Era o retomar de uma colaboração antiga, que em 1997 possibilitara a existência deste projecto, como já vimos. Em 2016, por vicissitudes várias (que incluem uma cirurgia cardiovascular a que este vosso amigalhaço foi sujeito) não saiu mais nenhum número do poezine. Mas neste caso sabia que o projecto era para continuar pelo menos até à edição de Dezembro, que podia muito bem ser a última. Ou não. Ou não, porque o Debaixo do Bulcão foi tão bem acolhido neste novo renascimento que me sinto quase "obrigado" a continuá-lo. (Ou então tinha mesmo vontade e arranjei essa desculpa, sei lá!) A edição de Dezembro de 2016 aí está, mais uma vez impressa
pela Junta de Freguesia de Laranjeiro e Feijó, e mais uma vez com autores em estreia. Mas, porque se trata de um aniversário, fazemos uma festa. E, porque se trata do 20.º aniversário, fazemos uma !!! GRANDE FESTA !!! :) A partir daqui sabe-se lá o que vai acontecer. Estou a estrear um projecto individual: a instalação interactiva denominada Macacos Infinitos – Uma Sopa de Letras (uma brincadeira poética inspirada no teorema matemático do macaco infinito). Pareceu-me muito apropriado apresentá-la pela primeira vez num evento festivo do bulcão. E não menos apropriada é a colaboração com os Norma D'Alma, que está agora a começar (o vocalista, João Vasco Henriques, é também colaborador de longa data do Debaixo do Bulcão). E que, espero, esteja para durar. Time will tell, como dizem os compatriotas de Shakespeare. Ficava bem inserir agora aqui um excerto por exemplo do Hamlet. Mas não, este texto acaba mesmo assim.
Obrigado (e muito obrigado) a: Agradeço a todos e todas que participaram e de muitas formas apoiaram este projecto ao longo dos anos em periodos de crescimento e agradeço muito aos e às que apoiaram em tempos de vicissitude. Aos mais de 190 autores que quiseram publicar nas páginas do poezine. Aos músicos, artistas plásticos, actores, performers, encenadores, aderecistas e tantos outros que colaboraram nos eventos complementares que organizámos. Aos elementos que foram constituindo os sucessivos colectivos editoriais, muito particularmente a José Fialho, Ana Monteiro, António José Coutinho, João Gomes, Jorge Feliciano. A Ermelinda Toscano e à Nuxa, sem as quais este projecto nunca teria chegado tão longe. Ao António Boieiro e ao José João Mota por terem sido os inspiradores do (e conspiradores no) nascimento deste projecto. A Leonel Oliveira e a Mariana Alves por me terem provocado a reanimar a carcaça deste poezine em Dezembro de 2015 e a Rita Grácio pelo incentivo e importante ajuda no estabelecimento de contactos que foi dando ao longo de 2016. Agradeço à Junta de Freguesia de Laranjeiro (agora Laranjeiro e Feijó) e aos seus responsáveis políticos. Ao Luis Palma, em particular. E, para não dizerem que sou mal agradecido, agradeço também à Câmara Municipal de Almada o apoio que deu (quando o deu...) Obrigado. Muito obrigado. Obrigadinho.
(Nota de rodapé) Este texto foi escrito em meia dúzia de dias para estar pronto a tempo da comemoração do 20.º aniversário do Debaixo do Bulcão e é assim que deve ser entendido, com todas suas as imperfeições e, eventualmente, uma ou outra omissão. É o primeiro esboço de uma história que talvez venha a ser contada com mais rigor (não?) um destes dias.
Edição Debaixo do Bulcão. Almada, dezembro de dois mil e dezasseis.