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Bird Box e Pandemia pág

Bird Box e...

Com a pandemia da COVID-19: lemos ou vivemos uma distopia?

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Por Deborah Vieira

Nesta semana acabei de ler o livro “Malorie”, a continuação do bestseller “Bird Box”, quecer uma pessoa e gerar o caos. A personagem ainda desconfia de qualquer pessoa que não faça parde Josh Malerman, adaptado em formato de filme em 2018, lançado na Netflix. Confesso que fiquei assustada com as aproximações do romance com a nossa realidade atual em meio à Pandemia da COVID-19.

O livro foi publicado em 2014, quando nem imaginávamos passar por algo como o que vivenciamos agora, apesar de termos vivenciado a pandemia de “Gripe Suína” (H1N1), em 2009. Não que as criaturas descritas por Malerman sejam idênticas ao novo coronavírus, mas podemos estabelecer semelhanças entre o mundo pós-apocalíptico de Bird Box e o mundo atual.

A primeira aproximação seria o uso de um pano (máscara ou venda) para cobrir uma parte do rosto. No mundo distópico pensado por Malerman, a proteção vem do uso de vendas. Malorie, inclusive, ensina aos filhos que em hipótese alguma, eles devem tirar as vendas, mesmo em ambientes considerados seguros, como a Escola para Cegos. Nunca se sabe onde e quando uma criatura pode aparecer para enloute do seu círculo, afinal, não é possível diferenciar, muitas vezes, um louco de um são. No mundo real, usamos as máscaras sobre boca e nariz, uma forma de proteger as vias respiratórias da possibilidade de contágio. Mas os cuidados não param por aí: lavagem constante das mãos, uso de álcool 70, evitar aglomeração, entre outros. E, como alerta a Malorie da ficção, todo cuidado é pouco diante do que enfrentamos e da chance iminente de morte. Uma morte que não escolhe gênero, orientação sexual, religião, raça/etnia, classe social. Milhões de vidas levadas em tão pouco tempo. Outra aproximação seriam os loucos da ficção e os negacionistas da vida real. No mundo de Malorie, há quem não acredite no potencial maléfico da criatura. A própria personagem demorou para acreditar que algo havia começado e precisou ver e sentir os efeitos para levar à sério. Na distopia também existem aqueles que acreditam que a criatura é uma espécie de libertação, purificação, juízo final ou algo “lindo a ser

Bird Box e... Pandemia

Copyright Merrick Morton/Netflix

observado”. Esta última ideia pertence aos considerados loucos, os quais observam as criaturas, mas não sentem os mesmos efeitos de destruição. Elas não só veem as criaturas, como querem que todas as outras pessoas tenham a mesma experiência. Pode ser que você não concorde comigo, mas logo me veio à mente os negacionistas da pandemia. As pessoas que não acreditam, não respeitam as normas de saúde estabelecidas e muito menos o uso da máscara. Os loucos do mundo real invadem hospitais para comprovar se existe ou não doentes, abrem caixões para verificar se são mortos ou pedras. Simplesmente não acreditam e tentam tirar as vendas das outras pessoas, alegando que a pandemia não existe, que é algo criado pelo governo e lançam toda sorte de teorias conspiratórias para comprovar suas ideias descabidas.

Ao mesmo tempo, se em Bird Box as pessoas lutavam para sobreviver, corriam riscos para buscar suprimentos e se mantinham isolados em suas casas; aqui, a realidade não é muito diferente. Nos distanciamos de quem amamos sem ter a certeza de que os veremos de novo; vamos aos mercados e nos abastecemos para tempo maiores, para que não caiamos no risco de sermos contaminados. Quem não se lembra no início da pandemia no Brasil, as filas gigantes nos mercados, o desabastecimento de alguns itens nas prateleiras e a sensação de fim de mundo? Pessoas desesperadas por materiais essenciais ou supérfluos, indo às ruas e querendo que o comércio se abra (seja para comprar algo, seja para sobreviver).

Temos ainda a falta de segurança e, aqui, não falo sobre a falta de segurança para sair às ruas, mas sim, sobre a falta de segurança e perspectiva de futuro. Não sabemos quando irá acabar, se um dia voltaremos ao normal, nem mesmo se estaremos vivos até o próximo ano.

Como amante de distopias, nunca imaginei estar tão próxima de uma, apesar de acreditar que não temos tantas perspectivas diferentes. A pandemia veio como uma criatura e escancarou o pior da humanidade, mas também, o seu melhor e o que precisa ser mudado. Dessa vez, nossa criatura particular cansou de avisos e levou muitos consigo. Espero que não tenhamos que viver uma nova situação para que o mundo e as pessoas mudem, se preocupem com o meio ambiente e com todos à sua volta. Assim como em Bird Box, a sobrevivência vem da união e do cuidado.

Agora pergunto a você: lemos ou vivemos uma distopia?

Ficha Técnica Estreia: 2020 na Netflix Duração:1h 57min Gênero: Terror, Suspense Direção: Susanne Bier Roteiro Eric Heisserer Elenco: Sandra Bullock, Trevante Rhodes, Sarah Paulson

A Bandida

Quantas mulheres com trajetórias de vida incríveis você conhece? E quantas tem sua história contada em livros, filmes e séries?

Por Deborah Vieira

Pois bem, a história de vida de Graciela Olmos, figura feminina importante na história do México, é contada na série “La Bandida”, disponível no Prime Vídeo. Nela, é possível acompanhar toda a trajetória de luta, sofrimento, conquistas e transformações da protagonista. Como também, a firma que sua trajetória sempre foi permeada por outras mulheres fortes e pelo apoio e sororidade de uma com as outras.

Marina (nome de batismo) foi criada em uma fazenda por seu pai e madrasta. Desde muito cedo, teve de lidar com os maus tratos da madrasta e das filhas do patrão. Desde muito cedo, teve de trabalhar para ter o seu lugar. Mas, com a revolução, as coisas mudam. A fazenda onde morava é invadida e todos são mortos. Marina e o irmão conseguem esca-

par com a ajuda de “Bandido” (personagem que, no futuro, acaba por lhe conferir o apelido de “Bandida”). Morando nas ruas, roubando e trabalhando como podia, a garota luta pela sobrevivência e para chegar até sua tia, única parente viva. “A vida é um pouAí chegar no endereço, Marico injusta para na descobre estar sozinha com as mulheres. Mas o irmão novamente: a tia hatemos que nos le- via falecido. Eles vantar. Porque então são resgatados por uma não temos opção” freira e passam a viver em um (Graciela Olmos) convento. A série acompanha o crescimento de Marina e sua transformação em Graciela. Somos levados a torcer pela Bandida, odiar seus inimigos e amar seus amigos. Uma narrativa de emancipação feminina, sangue e lágrimas, a qual vale a pena assistir. Especialmente, sendo de uma protagonista que no início do século XX já se colocava muito a frente do seu tempo.

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