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O Gambito da Rainha pág
O Gambito da Rainha
Ser mulher não deveria definir tudo aquilo que somos capazes ou não de fazer.
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Por Deborah Vieira
Na série, Beth Harmon é enviada a um orfanato após perder a O xadrez abre possibilidades, mas “ser uma garota” sempre pesa mãe em um acidente de carro. Lá, a educação, com normas de etiqueta e como se portar, é totalmente voltada para o condicionamento e transformação das meninas em mulheres prontas para o casamento. Além disso, as crianças são medicadas com calmantes, um vício que a personagem leva para a vida adulta.
Entre uma aula e outra, Beth descobre que o zelador do orfanato tem um hobbie interessante: jogar xadrez. O senhor Shaibel, a princípio, não quer ensinar o jogo à garota por dizer que esta não é uma atividade “para garotas”. No entanto, a curiosidade de Beth e seu raciocínio extraordinário fazem com que a garota aprenda os primeiros passos, antes mesmo de ter a chance de jogar em um tabuleiro. Isso faz com que o zelador ensine a garota e se surpreenda cada vez mais com suas habilidades. Habilidades essas que a fazem ir longe, jogar xadrez em outras escolas.
Alguns anos depois, Beth é adotada por Alma Wheatley e seu marido. O pai adotivo de Beth deixa as duas e Beth passa a jogar profissionalmente para continuar ao lado da mãe. no julgamento antecipado dos personagens que Beth cruza ao longo da série. Ser uma garota que joga xadrez, parece, inclusive, se sobrepor ao fato dela ser uma incrível enxadrista. Beth Harmon: “O que importa pra eles é que eu sou uma garota.” Alma Wheatley: “Mas você é!” Beth Harmon: “Isso não devia ser importante! Não publicaram metade das coisas que eu disse!” Beth abre portas para outras mulheres e inspira ao provar que somos capazes de tudo, inclusive, de fazer aquilo que dizem que não podemos, a adentrar em áreas dominadas pelos homens.
Dica de Livro
Por Deborah Vieira
Ser um cidadão de bem (e defender isso a todo custo) é algo que tem se tornado comum nos últimos anos no país. No entanto, também está é a própria tragédia da família tradicional brasileira, tão atarefada em fiscalizar a vida alheia e disseminar preconceitos e discurso de ódio. A tragédia (e doença) de toda uma sociedade. Este é o enredo que sustenta o livro “Um cidadão de bem”, de Maurício Gomyde, publicado em 2020 pela editora Qualis. A história é contada por diferentes personagens de diversas perspectivas, não só possíveis, mas reais, intercaladas por trechos de um relatório de inquérito que traz ainda mais suspense para a trama. É uma narrativa envolvente, atual, brasileira.
Enquanto a leitura seguia, a crescente de uma tragédia se aproximava. A sensação era de que os números de uma realidade machista, racista e LGBTfóbia (apesar de acreditar que “medo” não deveria ser usado na terminação de crimes cometidos motivados pelo ódio), contudo, o livro demonstra que a maior tragédia é se deixar cegar por todos os preconceitos e vida de aparências que permeiam a sociedade brasileira (e tantas outras, infelizmente) e se faz tão presente nos discursos de ódio emergentes na atualidade. Preconceitos que nos impedem de viver plenamente, aproveitar o presente e abraçar o outro, olhando-o com amor e empatia.
Todos deviam ler!
Além de uma boa leitura é certeza de muita reflexão sobre temas pulsantes socialmente e politicamente.