Jóias de Nazaré by André de Loreto Melo

Ana Júlia de Vasconcelos Carepa Governadora do Estado do Pará Edilson Moura da Silva Secretário de Estado de Cultura Maurílio de Abreu Monteiro Secretário do Estado de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia Evaldo Raimundo Pinto da Silva Presidente do Instituto de Gemas e Jóias da Amazônia Rosa Helena Nascimento Neves Diretora Executiva do Instituto de Gemas e Jóias da Amazônia Renata de Fátima da Costa Maués Diretora do Sistema Integrado de Museus e Memoriais Anna Cristina Resque Meirelles Diretora do Museu de Gemas do Pará Equipe Técnica Rosa Helena Nascimento Neves Rosângela Quintela Alessandra Gomes Mei Loureiro Adélio Vieira Thiago Gama Consultoria e Análise de Peças Anna Cristina Resque Meirelles Tadeu Nunes Thiago Gama Paulo Tavares Alessandra Gomes Agência Double M Comunicação Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica Fotografia Leg

Foto 0007 - 91 - 1926 - Acervo Museu do Círio

Textos e Revisão Editorial Socorro Costa Normalização Shirley Sá Apoio Museu do Círio - cessão de fotos do acervo INSTITUTO DE GEMAS E JÓIAS DA AMAZÔNIA JÓIAS DE NAZARÉ-2008: A FÉ NO TEMPO.BELÉM:IGAMA, SEDECT,SECULT, 2008. 52p.:IL. 1-JÓIAS-CATÁLOGO DE JÓIAS DE NAZARÉ.JÓIAS DO PARÁ. I.TÍTULO. CDU 671.12

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“JÓIAS DE NAZARÉ”: O BRILHO DA CRIAÇÃO AMAZÔNICA Criada para comemorar o primeiro aniversário do Museu de Gemas do Pará, em 2003, a coleção Jóias de Nazaré – que dá forma a uma das mais belas exposições da época nazarena – é um retrato do potencial criativo dos profissionais atendidos pelo Programa de Gemas e Metais Preciosos, implementado pelo Governo do Pará. O programa, inserido na diretriz governamental de aproveitamento sustentável dos recursos que a natureza amazônica oferece fartamente, é um dos instrumentos de valorização da cultura popular e de geração de renda, ao fomentar no setor joalheiro paraense o apreço pela matéria-prima e pelas raízes regionais. Ao mostrar ao mundo a importância do Círio de Nazaré em forma de jóias, o Pará enfatiza sua capacidade de promover suas potencialidades sem agressões ao meio ambiente, sem violações aos direitos do homem, sem menosprezo à sua herança cultural. “Jóias de Nazaré 2008”, que este ano foi buscar na memória do povo a emoção que se repete, e se renova, ao passar do tempo, marca uma trajetória ascendente do trabalho realizado pelos profissionais do Pólo Joalheiro. Um trabalho que o Governo do Pará orgulha-se em incentivar, em estar ao lado, acompanhando seu desenvolvimento e acreditando no vasto e inesgotável potencial do povo paraense. Maurílio de Abreu Monteiro Secretário de Estado de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia

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A cultura da fé nas ruas de Belém Várias linguagens procuram traduzir a essência da devoção à Nossa Senhora de Nazaré. No campo religioso, cânticos, orações, penitências e louvores diversos exprimem a fé que acompanha o povo paraense há mais de dois séculos. No aspecto popular – profano é um termo que não reflete a essência da festa -, artistas dos mais diferentes segmentos criam e recriam obras, a partir de uma única fonte de inspiração: o Círio de Nazaré – patrimônio imaterial do povo brasileiro. Um evento que é sinônimo de festa, cores, sons e vibrações intensas. Nesse universo criativo, designers, ourives e demais artistas da joalheria, todos vinculados ao Pólo Joalheiro do Pará, unem-se para mostrar o brilho dessa festa ímpar. A coleção “Jóias de Nazaré 2008”, retratada neste catálogo na sua sexta edição, nasceu da parceria entre a Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e o Pólo Joalheiro, e consolidou-se, ao longo desses anos, como uma das homenagens mais significativas à padroeira dos paraenses. Além do viés religioso, a coleção reforça características marcantes da cultura amazônica. Uma cultura cuja raiz está na vontade popular de manter acesa a chama de uma fé, brotada do achado divino às margens de um igarapé amazônico. Cultura viva, que ganha as ruas de Belém, atravessa fronteiras, congrega povos de religiosidades distintas, e toma conta, por completo, da bela Belém do Grão-Pará. Edílson Moura da Silva Secretário de Estado de Cultura

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CAMINHOS DA DEVOÇÃO, PERCURSOS DA MEMÓRIA As manifestações do chamado catolicismo popular brasileiro têm no Círio de Nossa de Nazaré uma de suas mais antigas e sólidas manifestações. Aliás, a devoção nazarena, já reconhecida no Pará do século XVII, inscreve-se na condição de a mais antiga representação do culto mariano na Amazônia. Nesse sentido, a religiosidade é, a um só tempo, história e cultura, memória e patrimônio. Na forma como foi conhecida no Pará seiscentista, o culto à Senhora de Nazaré remonta à sua origem portuguesa. Era uma devoção de homens do mar, das grandes viagens oceânicas, das pescas em águas profundas, como as do mar de Nazaré, em Portugal. E como tal chegou ao mundo das águas salgadas do Pará, mais precisamente, em domínios do que seria a Vila de Nazaré da Vigia. É possível que marinheiros açorianos ou algarvios, criaturas do mar oceano, hajam trazido a devoção para a Amazônia. E aqui, num outro mar, o Mar Dulce, igualmente desafiador como o Mar Salgado, a devoção nazarena haja encontrado o cenário da sua realização e representação. Os caminhos da devoção seriam, como ainda são, os caminhos das águas, os lugares mágicos por onde peregrina a memória em seus percursos coletivos. Reencena-se, assim, em Belém e no Pará, os quadros fundadores da devoção nazarena e de suas legendas. Acredita-se que no início do século XVIII a devoção nazarena, oriunda da Vigia, chegou a Belém. A tradição aponta para a figura de Plácido, o caboclo que teria encontrado a imagem da Virgem de Nazaré às margens de um igarapé. A água, símbolo da purificação, indicava, também, a condição marítima da devoção nazarena. Seria o ponto de partida, tratando-se de Belém, de uma manifestação da religiosidade, do catolicismo popular paraense, nas formas como se estende aos dias de hoje. O primeiro círio de Belém ocorreu em 1793, organizado pelo Governador e Capitão General do Pará, D. Francisco de Souza Coutinho, ele mesmo homem do mar, posto que era Capitão de Fragata da Marinha Real. Souza Coutinho, também fidalgo, certamente conheceu a romaria, o círio que saía de Lisboa com destino ao santuário de Nazaré, à época do reinado de D. Maria I. Souza Coutinho acabaria instituindo em Belém a forma das muitas romarias que, em Portugal, sobretudo no século XVII, dirigiam-se a Nazaré, lugar da devoção à Virgem de Nazaré consagrado pela tradição. O círio, passados mais de dois séculos de sua instituição em Belém, recupera, assim, a memória da devoção nazarena chegada ao Pará, e afirma as legendas de Nossa Senhora de Nazaré nos quadros do catolicismo popular e devocional da Amazônia. A relação direta entre o devoto e a Virgem, sem a mediação institucionalizada do clero, imprime à devoção o caráter de festa. Como no arraial nazareno no Portugal seiscentista, trata-se, no Pará, de viver a festa da devoção no mundo da mesa farta e da transgressão, com os paraenses, reencenando cerimônias mantidas no universo da memória coletiva, seguindo os cenários da festa que, no Portugal de hoje, há muito já se perderam... Geraldo Mártires Coelho Professor Doutor Associado I da Faculdade de História da Universidade Federal do Pará.

12 Foto 0039 - 94 - 1994 - SIlvio Amorim / Acervo Museu do CĂrio