Living #17

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Living nº 17 junho de 2008

GENTE DESIGN ESTILO IDÉIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA

Leal Moreira

Distribuição gratuita

ano 5 número 17 junho 2008

Inclassificável Depois de emendar o atrapalhado Foguinho com o bem intencionado Evilásio, Lázaro Ramos esbanja versatilidade, diz que não aceita rótulos e se confirma como um dos destaques da tevê brasileira.


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Fernanda Takai evoca Nara Leão em seu primeiro disco solo, diz que o Pato Fu está mais firme do que nunca e mostra ao público sua faceta de escritora, em contos e crônicas recentemente reunidos em livro.

Quem gosta de frio, vai curtir nossa escolha desta edição. Petrópolis, no alto da serra fluminense, com seu ar ameno e herança de um Brasil com pompas imperiais, oferece toda a infra-estrutura turística e de lazer para você aproveitar bem a viagem.

vida saudável

Objetos e móveis com designs inusitados, móveis ecologicamente corretos, muitas cores, releituras de tendências das décadas de 60 e 70. Tudo isso em só lugar: Salão Internacional de Móveis de Milão. Confira.

destino

décor

Depois de emendar o atrapalhado Foguinho com o bem intencionado Evilásio, o ator Lázaro Ramos esbanja versatilidade, diz que não aceita rótulos e se confirma como um dos destaques da tevê brasileira.

entrevista

capa: Lázaro Ramos em ensaio especial para o livro Vestido de Noiva, do fotógrafo Jorge Bispo.

Conhecida como esporte competitivo, a equitação é uma atividade física sem contra-indicações, que pode servir tanto para fins terapêuticos, como para quem busca condicionamento físico.

portfólio Parceria entre Leal Moreira e Agra Incorporadora lança seu mais novo empreendimento, as Torres Ekoara, que traz para o mercado um novo conceito de morar ao oferecer dentro do condomínio todas as facilidades de um clube de lazer.

pets Sem saber o que fazer com o seu bichinho de estimação nas férias? Damos algumas sugestões para que seu animal também se divirta neste verão. Entre as opções, estão aventuras bem radicais como descer com botes de borracha em corredeiras.

living perfil confraria especial ócio intervalo horas vagas destino tech galeria gourmet lançamento entrega um quê a mais parceiros artigo cartas crônica

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carta ao leitor

André Moreira, diretor de marketing da Leal Moreira

Caro leitor, Julho está bem próximo e com a chegada do verão você já começa a fazer planos para viajar, descansar, tirar um tempo para você mesmo. Certo? Tem muita gente que não acha. Se você é daqueles que não conseguem ficar parados e que acreditam que o tempo serve para ser aproveitado ao máximo com atividades produtivas, pense que fazer absolutamente nada também pode ser importante. Por isso decidimos falar sobre o ócio em uma de nossas reportagens especiais. Reunimos histórias de vida de quem não sabe viver sem trabalho ou não o leva tanto a sério, conceitos e pensamentos para que você possa refletir sobre o que quer fazer do seu tempo. Também nesta edição, que comemora o quinto ano da revista Living, trouxemos entrevistas especiais com dois jovens talentos da nossa cultura, o ator Lázaro Ramos, um dos nomes atuais de destaque na tevê brasileira, e a cantora Fernanda Takai, que lançou seu primeiro disco solo, fortemente influenciada por Nara Leão. E como é tempo de fazer mais por nosso planeta, damos dicas na reportagem sobre consumidores responsáveis de como contribuir neste cenário de aquecimento global. Não deixe de passear por nossas já tradicionais seções de arte e gastronomia. Na Galeria, apresentamos as gravuras de Armando Sobral; e como é clima de férias, que tem a ver com água e frutos do mar, convidamos o chef Américo Barata para participar do Gourmet. Américo voltou às raízes familiares para apresentar uma mesa de inspiração lusitana, com direito a bacalhau, é claro. Você também vai conhecer o mais novo empreendimento da parceria Leal Moreira/Agra, as Torres Ekoara, que traz um novo conceito imobiliário ao levar para dentro do condomínio todas as facilidades de um verdadeiro clube de lazer. Aproveite para relaxar e boas férias. Um abraço.

expedie nte Idealização

Revista Living Leal Moreira

João Balbi, 167. Belém - Pará f: [91] 4005-6800 www.lealmoreira.com.br Construtora Leal Moreira Diretor Presidente: Carlos Moreira Diretor Financeiro: João Carlos Leal Moreira Diretor de Novos Negócios: Maurício Moreira Diretor de Marketing: André Leal Moreira Diretor Executivo: Paulo Fernando Machado Gerente Técnico: Maurício Rodrigues Gerente de Marketing: Lilian Almeida

Coordenação e realização: Publicarte Editora Diretor responsável: André Leal Moreira Diretor executivo: Juan Diego Correa Editor-chefe: Fabrício de Paula Conselho editorial: André Leal Moreira, Ana Paula Guedes, João Carlos Moreira, Paulo Fernando Machado, Juan Diego Correa, Maurício Moreira e Roberto Menezes Produção editorial: Aline Monteiro, Juliana Oliveira e Guilherme Guerreiro Neto Editor de arte: André Loreto Design: André Loreto e Leandro Bender

Comercial: Juan Diego Correa comercial@doublem.com.br e (91) 4005-6868 Reportagem: Aline Monteiro (repórter especial), Juliana Oliveira, Guilherme Guerreiro Neto e Marcelo Damaso Fotografia: Diana Figueroa Colunistas: Álvaro Jinkings, Albery Rodrigues, Angelo Cavalcante, Bob Menezes, Celso Eluan, Aloizio Neto, Nara D’Oliveira e Saulo Sisnando Revisão: José Rangel e Fabrício de Paula Gráfica: Santa Marta Tiragem: 15 mil exemplares

Fale conosco: (91) 4005-6868 / 4005-6878 redacao@editorapublicarte.com.br Living Leal Moreira é uma publicação trimestral da Publicarte Editora para a Construtora Leal Moreira. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem autorização.




L i ving

Pará

• da redação • fotos Diana Figueroa •

Entre vinhos O clima parisiense foi preparado desde a fachada até os móveis clássicos que decoram a vinheria, charutaria e cafeteria S’il Vous Plait. Lá a adega tem mais de 400 rótulos de vinhos do mundo todo, como Catena (Argentina), Errázuriz (Chile), Yalumba (Austrália) e Leroy (Borgonha). Os vinhos são os protagonistas, mas há espaço para a coadjuvante mesa de frios procurada entre uma e outra bebericada. À boca também são levados os charutos cubanos, dominicanos, jamaicanos e de qualquer outra nacionalidade disponível no lugar. Serve-se ainda um saboroso café feito na máquina italiana La Marzzoco, acompanhado por doces e confeitos de diversos tipos. S’il Vous Plait está localizada na travessa Boaventura da Silva, 414, entre Quintino Bocaiúva e Doca de Souza Franco. Funciona de terça a sexta a partir das 10h, sábados e domingos desde as 8h. Informações: 3230.5530.

Assados com estilo

foto Irene Almeida

As carnes servidas no restaurante Basílico Grill, especialidade da casa, têm corte selecionado e ficam mais de dezoito dias em maturação. No cardápio, por exemplo, está o Bife de Tira, o miolo da picanha retirado com um preciso corte argentino. Além dos assados de carne de boi, cordeiro e leitão, há opções de peixes e um buffet de saladas de dar inveja a qualquer restaurante natureba. As sobremesas trazem influências da cozinha internacional, sempre com uma pitada paraense. É assim com o Crème Brulê, receita francesa adaptada que ganhou sabor de muruci. Os cafés, preparados na máquina italiana La Cimbali, são outra atração. O Basílico Grill recebe até cem pessoas e está localizado no terceiro piso do Shopping Castanheira. Informações: 3250.4069 e www.basilicogrill.com.br.

Sutil A sensibilidade e entrega na interpretação do cantor Rafael Nolleto poderão ser conferidas no primeiro CD do artista, que entra em estúdio para gravá-lo a partir do segundo semestre. Quem já conhece as qualidades do cantor gostará da obra que traz, além de composições de músicos paraenses, como Marcelo Sirotheau, Zé Maria Siqueira e Waldemar Henrique, canções autorais de Rafael. Com formação clássica e uma carreira de sete anos, Rafael fez de sua mais recente temporada de apresentações no Café Imaginário, uma reunião de música brasileira e jazz, em que a improvisação vocal foi o grande atrativo. Informações: www.nolleto.com.


História em aquarelas Conhecer a história da arquitetura paraense em um passeio por aquarelas. Essa é a proposta do artista plástico George Venturieri na exposição: ‘’História e memória: aquarelas de Belém”. São 13 obras, no tamanho 32 x 58 cm, inspiradas em pesquisas de acervo fotográfico e materiais do início do século 19. A mostra contempla importantes monumentos de valor patrimonial incalculável para a história de Belém, como a Igreja de Sant’Anna, no Comércio, e a Praça Frei Caetano Brandão, ao centro do Complexo Feliz Lusitânia. Os trabalhos de George Venturieri estarão até o dia 11 de julho no Espaço Cultural do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (Praça Brasil, Umarizal) de segunda a sexta-feira, das 8h às 13h. Entrada franca.

Moda com arte A produção de peças únicas não é o único destaque da linha de camisetas estampadas pelo designer Leandro Bender em parceria com o estúdio de design Götazkaen. Seus traços sugerem urbanidade e influências da arte moderna e da grafitagem de rua e fazem das camisetas uma opção certa para quem curte boa arte e moda. Informações: 9116-4622/8197-9724.

Lixo é luxo Seguindo a tendência de criar produtos exclusivos e diferenciados, profissionais paraenses, entre estilistas, designers, publicitários, artesãos, entre outros, vêm apostando na criação de suas próprias marcas. Vinte e duas delas estarão presentes na quinta edição do Mercado de Moda Caixa de Criadores – Verão 2008, que ocorrerá no Pólo Joalheiro, de 28 de junho a 6 de julho, de 17h às 21h. Além de roupas, bijuterias e acessórios, os visitantes também poderão conferir a exposição “O lixo é um luxo”, desfiles de coleções e o espaço Lounge, animado por DJs que irão comandar a inseparável dobradinha entre música e moda. Informações: 3086.1669.


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Brasil

• da redação • fotos de divulgação •

Zazá Bistrô Na esquina da Rua Prudente de Moraes com a Rua Joana Angélica, em Ipanema, no Rio de Janeiro, é possível encontrar uma comidinha leve e deliciosa, num ambiente tropical com ares de refúgio: o Zazá Bistrô. Com visual assinado pelo artista plástico Zemog, o restaurante possui uma varanda com muito verde à espera dos comensais, com mesas em ferro e tampo de vidro. Saladas orgânicas e cardápio saudável são atrativos do bistrô, como o Cury de frango orgânico Korin ao leite de coco com legumes orientais, capim limão, gengibre e banana, acompanhado de arroz basmati com damasco e amêndoas. Esse e outros pratos são criações de Zazá Piereck e do chef Ricardo, que têm se inspirado nas combinações tropicais que são sucesso na nos restaurantes de NY, Londres e Paris. www.zazabistro.com.br

Paquera Reconhecido por ser um point para os corações avulsos, o Fafi Bar desponta como um dos bares mais badalados da capital cearense. Charmoso e com atrações musicais que já viraram pedidas indispensáveis na programação noturna, ele ainda possui deliciosos quitutes, como o arroz de camarão e bebidas de tirar o fôlego, que o diga a combinação de licor de cacau, licor de pêssego, curaçao e tequila, que dão vida ao orgasmo selvagem. Quadros de artistas plásticos ficam expostos no local, juntamente com fotos de grandes astros da música mundial e a iluminação amena com tons coloridos também ajudam a compor o clima de azaração. No cardápio de atrações musicais estão as quartas-feiras ideais para o público do indie-rock e as quintas para os adoradores do samba-rock. Sexta é o dia em que os amantes do rock’n’roll, blues e jazz se encontram. É bom saber que o local está sempre cheio e até as mesas da calçada ficam tomadas, o que só aumenta o clima de descontração e oba-oba.

FLIP A partir do dia 2 de julho a bucólica Paraty receberá amantes da Literatura de todo o mundo para a Festa Literária Internacional de Paraty. Em sua 5ª edição, a Flip já trouxe grandes nomes da literatura mundial e da literatura nacional. Nesta edição, um dos mais destacados intérpretes da obra de Machado de Assis – homenageado da Festa - Roberto, Schwarz é presença garantida. Além dele, Alessandro Baricco, Ana Maria Machado, Caco Barcellos e Vitor Ramil estarão presentes, assim como Neil Gaiman, Pierre Bayard e Pepetela. O cantor Luiz Melodia dará as boas-vindas no show de abertura aos visitantes. No site oficial do evento você confere a programação e informações úteis: www.flip.org.br.

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Um mundo para você VISITE APARTAMENTO DECORADO NO LOCAL. Living ampliado

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Piscina

30 OPÇÕES DE LAZER PARA VOCÊ E SUA FAMÍLIA

01 - Espelho d’água com jatos 02 - Praça de entrada 03 - Espelho d’água com palmeiras 04 - Painel de pedras naturais 05 - Praça de acesso ao hall social 06 - Praça contemplativa 07 - Playground para até 4 anos 08 - Praça das mamães 09 - Praça dos aromas

10 - Tabuleiro de xadrez 11 - Praça das flores 12 - Praça de apoio fitness 13 - Rampa de acesso def. físico 14 - Piscina adulto recreativa - raia 25m 15 - Piscina infantil 16 - Solarium 17 - Deck de madeira com palmeiras 18 - Deck molhado com palmeiras

19 - Área de descanso sobre pergolado 20 - Ciclovia 21 - Playground para 5 a 10 anos 22 - Praça das fruteiras sobre pergolado 23 - Arvorismo 24 - Tirolesa 25 - Estação de ginástica 26 - Praça apoio ginástica

27 - Churrasqueira com forno de pizza 28 - Quadra recreativa com 14x23m 29 - Praça do fogo 30 - Espiribol 31 - Pista de skate 32 - Redário 33 - Pomar


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privativos

9.240m² de área condominial

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Travessa Enéas Pinheiro 2328 - Marco entre Alm. Barroso e João Paulo II Realização e Incorporação: Planejamento e Incorporação:

Comercialização:

Fone: (91) 3221.4656 CIA Belém lançamentos imobiliários. Av. Gov. José Malcher nº 168 – sala 06 e 07 Nazaré/Belém – PA – CRECI J-300. Diariamente 08 ás 18:00h, inclusive sábados e domingos. Os materiais e os acabamentos integrantes estarão devidamente descritos nos documentos de formalização de compra e venda das unidades. Plantas ilustrativas como sugestão de decoração. Os móveis, assim como alguns materiais de acabamento representados nas plantas, não fazem parte integrante do contrato. As medidas são internas e de face a face das paredes. Memorial de incorporação registrado sob nº 163.071, livro 2-IV/4784-R.3, no Cartório de Registro de Imóveis 2º Ofício de Belém. Impresso JUN/2008.


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mundo

• da redação • fotos de divulgação •

Museu da Batata Um dos símbolos da vida moderna, há quem acredite que a batata frita tem tido uma saga inglória. Isso porque pouca gente sabe sua verdadeira história. Uma injustiça que a cidade medieval flamenga de Bruges, a 96 quilômetros ao nordeste de Bruxelas, na Bélgica, está disposta a reparar com a inauguração do primeiro Museu da Batata Frita. As peças expostas contam a história da batata desde sua origem, no Peru, até a sua popularização mundial depois que soldados americanos e britânicos da Primeira Guerra Mundial provaram as batatas fritas que eram vendidas nos portos belgas. Nele, o visitante conhece grandes esculturas de culto à batata frita, que tradicionalmente decoram os frietkot, quiosques dedicados ao produto que podem ser encontrados por todo o país. Também é possível aprender detalhes sobre a colheita das batatas e o método de preparação que garantem uma boa batata frita.

Fora do lugar Cansado de ir à escola todos os dias? Que tal se ela estivesse em um lugar diferente todo tempo e oferecesse os mais recentes aparatos de comunicação e tecnologia? Para alguns estudantes em Camden, cidade próxima de Londres, essa possibilidade já é real. Eles estudam em um protótipo batizado de Sala de Aula do Futuro, capaz de atender até 15 estudantes de uma só vez e ser transportado por um caminhão. A sala oferece todas as facilidades de comunicação e tecnologia que você pode imaginar, como internet de banda larga e tela de cinema para apresentações e performances.

Badehane

Psicodélico Dois mundos submersos que se unem bem diante dos olhos de pobres mortais, num espetáculo, no mínimo, grandioso. No cabo da Boa Esperança, o aquário Two Oceans, no V&A Waterfront apresenta em suas vitrines o encontro das águas frias do Atlântico, com o calor do Índico, onde 3.000 espécimes de peixes, tubarões, águas-vivas e caranguejos, entre outros, se exibem tomando horas do visitante. É indis-

pensável conhecer o carrossel formado pelo tanque de predadores, em que tubarões, raias e tartarugas nadam em círculos. No tanque Floresta Kelp, a mistura de cores de grandes peixes entre longas algas que se movimentam conforme as correntes d’água dando aos espectadores uma sensação quase que espiritual de meditação e até certo ponto psicodelia. www.aquarium.co.za

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A eclética Istambul, na Turquia, gosta de se apresentar aos turistas por meio de seus sons jovens e vibrantes. Para aproveitar essa miscelânia, basta seguir por uma rua estreita atrás da praça Tunel até encontrar o Badehane, um adorável café de esquina que é o local preferido dos boêmios nativos e visitantes. Localizado no distrito Beyoglu, conhecido por sua agitada vida noturna, o Badehane é parada obrigatória nas noites de quarta-feira, quando canções ciganas de uma lenda local são interpretadas com muita poesia e animação. Nas quintas a platéia se torna mais diversa, com artistas e tipos como empreendedores e executivos que dançam ao som de novas bandas, que misturam de música turca de raiz com percussão latina dançante a riffs de guitarra.


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p erfil • por Aline Monteiro • fotos Fabiana Figueiredo •

As várias

faces da mulherzinha

Fernanda Takai evoca Nara Leão em seu primeiro disco solo, diz que o Pato Fu está mais firme do que nunca e mostra ao público sua faceta de escritora, em contos e crônicas recentemente reunidos em livro.

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o início da década de 1990, quando Fernanda Takai surgiu nos vocais do Pato Fu, uma banda meio estranha-no-ninho de sua geração, ela parecia “um dos caras”. Cabelos curtos, jeito meio moleque, muitas vezes saltitante e empunhando uma guitarra, a mineira nascida na cidade amapaense de Serra do Navio, com ascendência nipônica – embora por algum tempo achassem que seu sobrenome era “artístico” -, decidiu mostrar sua versão solo. Escolheu, para tanto, outra musa da música brasileira, Nara Leão. Uma associação perspicaz de presenças doces e nada óbvias – sacada do produtor Nelson Motta que rendeu versões incomuns para antigos sucessos de Nara, que estão na turnê que

Fernanda estreou em março. Ponto para Fernanda, que concorreu no Prêmio Tim de Música como melhor cantora, pelo voto popular, e ainda teve seu disco de estréia, “Onde Brilhem os Olhos Seus”, entre os concorrentes a melhor disco na categoria pop-rock. Mesma categoria, diga-se de passagem, em que o Pato Fu que ela continua liderando ao lado do marido, o guitarrista John Ulhoa, também concorre, com o disco “Daqui pro Futuro”, primeiro da banda a ser comercializado com download pago. Aos 36 anos, mãe de Nina, Fernanda sabe muito bem onde está e do que é capaz. E manda o aviso no título de seu primeiro livro, lançado no finalzinho do ano passado: nunca subestime uma mulherzinha.

“Quando se tem um microfone e muitas câmeras apontadas pra você, existe uma falsa sensação de poder. Acho que somos é tradutores de sentimentos.”

Seu primeiro trabalho solo surge com releituras de músicas do repertório de Nara Leão, cuja delicadeza e suavidade combinam com o seu modo de cantar e de estar no palco. O próprio Nelson Motta, que sugeriu o projeto, fala de você em um texto como uma mulher “tão moderna, tímida e talentosa quanto Nara em 1959”. Que paralelos há entre você e Nara e como foi compor a sua leitura dos sucessos dela?

Acho que somos do mesmo time de cantoras: voz pequena, discretas e muito dispostas a ampliar o universo musical que nos cerca. Ano que vem serão 20 anos sem Nara e ela foi muito mais do que a musa da Bossa Nova. Nara apresentou tantos autores novos ao Brasil e ao mundo. Sempre seguiu seu instinto musical, mesmo quando todas as previsões iam contra. Nesse ponto também tenho feito minhas escolhas profissionais sem pensar em mercado, mas em como a música me deixa feliz. Também somos as duas muito ligadas à família e em determinado momento, abrimos mão da carreira para cuidar melhor dela.

Você já comentou em outras entrevistas que o repertório foi fechado considerando as músicas que foram importantes na carreira da Nara e também o que você e o Nelson acharam que ficaria bem na sua voz. Da lista que você fez a princípio, alguma coisa acabou ficando de fora? O que mais te emociona de cantar nesse disco?

Muitas coisas ficaram de fora, porque a lista do Nelson tinha umas 30 músicas, a minha mais umas 15... Gravamos 13 canções que contam bem a história da Nara e a minha também, pela pura empatia musical. Uma música muito emocionante é “Descansa Coração” e também “Canta Maria”. No show, a que mais toca as pessoas talvez seja “Insensatez”. Vejo muito gente chorando ao fim dela.

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p erfil

Nunca Subestime uma Mulherzinha Panda Books, 2007 Reúne contos e crônicas de Fernanda Takai publicados nos jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas nos últimos três anos. https://pandabooks.websiteseguro.com

O John fez a produção de “Onde Brilhem os Olhos Seus”, que foi gravado no estúdio que vocês têm em casa, onde também são realizados os trabalhos do Pato Fu. Como é deixar cada coisa no seu lugar, a convivência familiar, o trabalho com a banda, os projetos mais pessoais?

Eu e John estamos juntos há muito tempo e não sabemos como é trabalhar e conviver de outra forma. A gente sempre foi muito discreto em relação à nossa vida pessoal, mesmo para quem nos conhece de perto. Então, como temos os mesmos objetivos, as diferenças e afinidades funcionam muito bem para tentar realizá-los. Somos pessoas de sorte, tenho certeza. Mas qualquer cotidiano exige uma dose de bom humor, de flexibilidade e amor que sustenta tudo isso.

Você lançou no final do ano passado o livro “Nunca Subestime uma Mulherzinha” com uma seleção das suas crônicas publicadas em jornais. Também tem colaborado com revistas e mantém uma freqüência de escrita em seu blog na internet. Como é manter essa relação com o público por meio desse outro viés? Você pensa em escrever ficção?

No meu livro há alguns contos também. Eu nem sabia que conseguiria manter essa coluna nos jornais por três anos, que foram completados esta semana. Acho que só continuo porque o retorno das pessoas é muito bom, os leitores me incentivam a escrever sempre. Eu acho que às vezes comunico melhor uma idéia nos textos do que verbalmente... então é uma oportunidade de eu falar até sobre assuntos sobre os quais nem dou entrevistas. Os meus leitores passam a me conhecer muito mais pelo livro do que pela música...

Nas suas crônicas, há muito da vida comum, embora nada ordinária, coisa que fica clara desde o título escolhido para o livro

O artista é movido por sentimentos comuns a todos os humanos e a partir do nosso cotidiano e sensações construímos a nossa arte, seja qual for: quadros, livros, discos, espetáculos... Alguns sabem traduzir isso de uma forma tão incrível que parecem mesmo seres escolhidos, superiores, mas não são. Muito do que se produz em arte é resultado de esforço, polimento, trabalho em cima de uma idéia. Quando se tem um microfone e muitas câmeras apontadas para você, existe uma falsa sensação de poder. Acho que somos é tradutores de sentimentos. Eu levo a minha vida de um jeito muito normal. Quando estou em Belo Horizonte, levo e busco minha filha na escola, vou ao supermercado, lavo carro em casa nos fins de semana livres, alugo filmes para ver, visito os amigos, não há nada de especial. Mas na hora que estou no palco ou gravando um novo disco, quero que aquele momento seja especial para mim e para quem mais se identificar com o que eu canto e como eu canto.

que as reúne. Elas também deixam ver que você não assume uma postura de ídolo pop inatingível, o que a aproxima ainda mais de um público que não é feito de artistas, mas que trabalha, se apaixona, sonha, se emociona com música, com filme, com um dia bonito. Para você, qual a função do artista e como é lidar com a mitificação promovida pela mídia, pelo mercado e às vezes pelo próprio público?

Com o disco, não faltaram também questionamentos se haveria aí o caminho para uma carreira solo e sobre a possibilidade do fim do Pato Fu. Como você avalia o atual momento da banda, depois da escolha de trabalhar de forma independente?

Onde Brilhem os Olhos Seus Do Brasil Música Tratore (distribuição), 2008 Com direção artística de Nelson Motta e produção de John Ulhoa, Fernanda Takai interpreta treze canções resgatadas do repertório de Nara Leão, reunindo compositores como Chico Buarque, Zé Keti, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Nelson Cavaquinho e Roberto e Erasmo Carlos. www.tratore.com.br

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Quando as pessoas ficaram sabendo desse meu projeto solo, em todas as entrevistas que dei fiz questão de deixar claro que o Pato Fu não ia entrar em férias, parar suas atividades como banda. Estamos fazendo duas turnês simultâneas. Acho que somos uma banda com 15 anos de carreira que ainda gosta muito de tocar junto, gravar e tentar produzir coisas legais. Todos na banda têm outros projetos musicais e só eu não tinha. Desde que o meu disco saiu, é incrível a quantidade de gente que me diz que nunca tinha prestado atenção em mim como cantora... então é sempre importante a gente se lembrar de que há muito a ser feito sempre! O mercado fonográfico mudou muito nos últimos anos e a gente desde muito tempo tem se preparado para essa autonomia. Montamos nosso estúdio, organizamos nossa editora e produtora de shows, em tudo nós estamos presentes no que diz respeito à nossa carreira. Mesmo dentro de uma grande gravadora por dez anos, nunca esperamos os planos deles - a gente tinha as nossas propostas para mostrar, talvez por isso sempre fomos responsáveis por tudo que aconteceu com a nossa música.


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e ntrevista • por Aline Monteiro • foto de Jorge Bispo •

Inclassificável Depois de emendar o atrapalhado Foguinho com o bem intencionado Evilásio, o ator Lázaro Ramos esbanja versatilidade, diz que não aceita rótulos e se confirma como um dos nomes atuais de destaque na tevê brasileira.

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H

ora do almoço, trânsito caótico, uma confusão de lascar. A ligação vai com dez minutos de atraso em relação ao combinado. A expectativa é de encontrar um humor mais duro. Afinal, o entrevistado é uma das estrelas da novela das oito. Do outro lado da linha, o ator Lázaro Ramos, em meio às últimas gravações de “Duas Caras”, desfaz esse temor. Calmo, simpático, suave, mas sem titubeios, uma voz que inspira confiança, daquelas que você diria que pertencem a um cara legal. Talvez esteja nessa voz clara um pouco da explicação de como Lázaro

fornece verdade aos personagens mais diversos que tem encarnado entre a tevê e o cinema, da elogiada atuação como Madame Satã, em 2002, ao romântico Evilásio, seu mais recente trabalho na tevê. Ele sabe bem aonde quer ir. Quer alcançar as histórias que acha importante contar – e para isso vai além do ser ator e experimenta –, quer vencer desafios, quer melhorar a consciência que os negros têm de si mesmos, e quer manter intacto seu umbigo, porque é em Salvador onde ainda estão a família e boa parte dos grandes amigos. Por lá, ele é o Lazinho. Um cara legal.

Como Zico, em Saneamento Básico; o preto-velho João Camargo, em Cafundó; ou na pele do polêmico Madame Satã, Lázaro Ramos demonstra sua versatilidade.

Vamos começar falando de “Duas Caras”, na qual você fez um personagem descrito desde a sinopse como o grande herói romântico da novela, o Evilásio. Que avaliação você faz desse trabalho? Ah, fiquei muito feliz em fazer essa novela depois de exercitar o lado cômico com o Foguinho. Podia ser que apostassem no que já tinha dado certo para mim e me escalassem para viver outros papéis cômicos. Como ator, foi um exercício fenomenal não ficar no estereótipo, além do que contar essa história foi muito bom, porque ela tocou em assuntos que acho pertinentes, fala sobre preconceito racial e social, sobre amor e honestidade, dois valores dos quais tem que se falar sempre. E na relação com o Juvenal Antena, também se pôde discutir que tipo de líder queremos para o Brasil, se o tipo “paizão”, como o Juvenal, ou aquele com quem se divide a responsabilidade, como é o Evilásio. E como é esse momento de se despedir do personagem, desligar-se dele, e se preparar

para um novo trabalho? Eu já estou com muitas saudades. Esse foi um dos bastidores mais agradáveis, não só pelo elenco, mas por toda a equipe técnica. Surgiram papos muito gostosos nos intervalos, eu ria muito junto com eles, trabalhando e esperando para trabalhar. Espero continuar tendo contato com os amigos que reencontrei e com os novos amigos que fiz durante a novela. Já há um outro projeto para depois da novela, ou haverá um tempo de descanso? Sou obrigado! (risos). O filme que fiz no ano passado, “Ó Paí, Ó”, vai virar minissérie na Globo e será exibida no final do ano. Vamos começar a filmar em dez de junho até agosto em Salvador. Como é voltar a trabalhar em Salvador, sua cidade natal? Nossa, vai ser uma delícia! Vou poder reencontrar o meu grupo de amigos, os amigos do grupo de teatro. Agora vou fazer um personagem mais cômico, que se chama Roque e é um aspirante a cantor. Também

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é bom poder mostrar a Bahia. Para mim, como baiano, sempre é bom fazer isso. Você mantém uma relação com a cidade, volta com freqüência? Infelizmente eu tenho ido só rapidamente, voltei mais por conta de alguma atividade profissional ou em férias curtas. Mas mantenho contato por telefone semanalmente, porque toda a minha família continua morando lá e tem os amigos, então tento amenizar a saudade por telefone. O que mais o liga à cidade? Ah, as pessoas. Tenho amizades lá que são o grande referencial da minha vida. Sinto muita falta da forma com que o baiano se relaciona. É um calor humano impressionante. E cinema, algum novo projeto em curso? Por enquanto, não. Estou finalizando a edição do meu programa de entrevistas, que se chama Espelho e é transmitido pelo Canal Brasil. Eu apresento e também sou o diretor. Nas outras temporadas havia


foto Bel Pedrosa/Folhapress

“Na relação entre o Evilásio e o Juvenal Antena, pudemos discutir que tipo de líder queremos, se o paizão ou aquele que divide a responsabilidade.”

mais assumidamente essa abordagem de temas sociais. Nessas novas temporadas, há alguns programas que abordam questões como trabalho infantil ou então saúde, mas também tem Tom Zé, Elza Soares, Leny Andrade. Este ano, resolvemos fazer a cada programa uma temática diferente para que não ficasse muito engessado. O que queremos vender ao espectador é que ele vai ter acesso a um assunto ou a uma pessoa geralmente pouco visto na tevê. Como é estar atrás das câmeras? É diferente e muito difícil. Só faço isso para ter oportunidade de discutir assuntos que para mim são interessantes e que não tenho tanto a oportunidade de abordar. Fico como um curioso, tentando usar as armas que tenho e me cercar de pessoas que possam me dar segurança. Também estou aprendendo. Fico feliz por ter esse espaço. Você acredita que é importante ter essa

experiência além do ator? Tem que ter. Nós, como atores a gente fica refém de uma coisa. Alguém vai e propõe um sonho, a gente vai e sonha junto, mesmo que o sonho não seja nosso. Não é uma coisa planejada, mas uma necessidade esse envolvimento com a produção e a direção. Dirigi dois minidocumentários no Canal Brasil, um deles sobre o Zózimo Bubu, que foi o primeiro ator negro a protagonizar uma novela no Brasil. Mas por enquanto não tenho outros projetos. Depois das gravações da minissérie, a idéia é descansar. Você chamou atenção a princípio no cinema, já ganhando prêmios com o “Madame Satã”, e em seguida cativou o público da tela pequena, com a graça do personagem Foguinho, na novela Cobras e Lagartos, que também lhe rendeu prêmios. Em que meio você se sente mais à vontade? Gratificante é trabalhar, não importa o meio. É con-

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seguir fazer projetos em que você acredita e conseguir sobreviver da profissão, porque isso não é muito comum na profissão de ator. Estou com muita saudade de fazer teatro. No ano passado, fiz uma peça chamada “O Método”, em São Paulo, mas tive que abortar por causa da novela. Ano que vem quero viajar com alguma peça, que é uma coisa que faz tempo que não faço. Há um texto seu de teatro infantil que será encenado agora. Fale um pouco sobre essa experiência de autor. Como é escrever para crianças? Pois é! “Paparutas” foi montado pela Companhia de Teatro Tumulto e eles vão estrear aqui no Rio em outubro. Eu escrevi esse texto em 2000, quando eu era uma outra pessoa, estava praticamente saindo da minha adolescência. O público infantil é um público do qual eu gosto muito. Adoro conversar com criança. Bato altos papos com elas. Meus amigos que têm


Para ver Lázaro No cinema Saneamento Básico (2007). Dir.: Jorge Furtado. Os moradores de uma vila planejam a realização de um vídeo apenas para pegar a quantia oferecida pelo governo e usá-la na construção de uma fossa. Ó Pai, Ó (2007). Dir.: Monique Gardenberg. A vida dos moradores de um cortiço do Pelourinho no último dia de carnaval. Cafundó (2005). Dir.: Clovis Bueno e Paulo Betti O filme é inspirado em um personagem real saído das senzalas do século XIX. A Máquina (2005). Dir.: João Falcão. Jovem quer sair do sertão em busca do sonho de ser atriz e conta com a ajuda pouco ortodoxa do homem que a ama.

“Não permiti que me colocassem um rótulo. Isso me fez muito bem, porque fiquei aberto ao mundo e o mundo ficou aberto para mim também.” filhos ficam impressionados, porque elas me obedecem. Talvez eu goste de conversar com elas porque criança é livre, não tem limite ou preconceito. Quer dizer, às vezes até tem algo que herda dos pais. Mas ela sempre vai observar e fazer as coisas com o olhar da inocência e da sinceridade. Você demonstra ser uma pessoa bastante reservada em relação a sua vida pessoal, mas acaba enfrentando com muita constância o assédio da imprensa em situações que não dizem respeito ao trabalho. Como é chegar a uma banca de revistas e dar de cara com a sua vida exposta a cada semana? Como você lida com isso? Procuro não me preocupar muito, porque sei que isso não é um valor real. É muito passageiro. E também porque tenho coisas mais importantes para pensar e para fazer. Esse é um fenômeno de mídia, tem um tipo de público e um tipo de imprensa que se in-

teressa por isso, e você participa disso ou não. Não faço nada que me agrida. Você falou ainda pouco que o mais bacana era ter conseguido sempre fazer projetos em que acreditava, porque fazer isso e conseguir viver da profissão de ator era difícil. Que caminhos você tomou para chegar até aí? Como conseguiu fazer isso? Desde o princípio, eu nunca fiz nada que eu não quisesse. Nem quando eu fui técnico de laboratório de análises clínicas. Todas as minhas escolhas foram muito conscientes. Dentro dessas escolhas, uma coisa que foi muito importante para mim foi não permitir que me colocassem um rótulo. Não sou um ator cômico, ou um ator somente sério. Procurei experimentar de tudo: filmes de entretenimento, comédia rasgada, temas sociais. Isso me fez muito bem, porque fiquei aberto ao mundo e o mundo ficou aberto para mim também.

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Cidade Baixa (2005). Dir.: Sérgio Machado. Um triângulo entre dois homens que fazem transporte marítimo e uma prostituta. Quanto Vale ou é por Quilo? (2005). Dir.: Sérgio Bianchi. Um paralelo entre a escravidão e a sociedade brasileira atual. Meu Tio Matou um Cara (2004). Dir.: Jorge Furtado. Adolescente tenta provar a inocência do tio, preso depois de confessar um assassinato. Nina (2004). Dir.: Heitor Dhalia Inspirado em “Crime e Castigo”, retrata a vida de uma jovem pobre que procura sobreviver em São Paulo. O Homem que Copiava (2003). Dir.: Jorge Furtado. Operador de fotocopiadora busca uma forma de arranjar dinheiro e conquistar a garota que ama. Carandiru (2003). Dir.: Hector Babenco. Baseado em fatos reais, retrata o massacre de 111 presos ocorrido na Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru. O Homem do Ano (2003). Dir. José Henrique Fonseca. Aposta entre amigos transforma um homem em assassino e herói. Madame Satã (2002). Dir.: Karim Aïnouz Cinebiografia do capoeirista, criminoso, homossexual e conhecida personalidade da Lapa João Francisco dos Santos, o Madame Satã. Na TV Espelho. Às segundas, 21h30, no Canal Brasil (Globosat)


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• ilustração de Leandro Bender •

O verdadeiro BBB Celso Eluan empresário

Tan..., tan..., tan ran ran. Em Brasília, são 19h. A agência de classificação de risco Standard and Poor’s concedeu ao Brasil o patamar de grau de investimento BBB nesta quarta-feira (30/04). Aos olhos de qualquer político, economista ou homem de mercado, esta foi uma notícia auspiciosa. O país foi considerado bom pagador por uma espécie de SPC internacional e com isso deve atrair investimentos, já que o risco de calote diminuiu consideravelmente. Ponto. Não me furto a comemorar uma notícia como esta, no entanto esta é uma visão macro de uma política de longo prazo que uniu estabilidade com responsabilidade. Pragmatismo, sem ideologia. Após 14 anos, essa classificação não pode ser considerada vitória de qualquer governo, é uma vitória do país. Deixamos de acreditar (pelo menos por enquanto) em soluções messiânicas para os problemas econômicos para apostar no longo prazo. Os governos agem por instinto de sobrevivência e buscam atender os anseios da população. Nesse campo, portanto, deixamos de pedir truques para os mágicos de plantão em troca do enfadonho controle das contas. Então, passo a acreditar que mudaram as pessoas e não os governantes. Assim, num truque típico do Big Brother Brasil (olha o trocadilho infame), as câmeras se voltam para o cidadão comum das ruas e vamos ver o que acontece.

Câmera 1 – Alameda Santos, região da Avenida Paulista, coração financeiro do país. Cerca de 22h, 8 de maio. Um caminhão recolhe lixo corporativo de um prédio, tudo em sacos plásticos pretos de 100 litros. Ao arrancar da garagem, o solavanco derruba um dos volumes no meio da alameda. Há poucos carros nessa hora e o motorista do caminhão não nota. Imediatamente atrás dele, percebendo o ocorrido e num reflexo impressionante, um táxi pára, recolhe o saco e, mesmo de portas abertas, encosta no meiofio e deposita o volume perdido junto com outros que estavam empilhados para serem recolhidos. Não resisti. Imediatamente aplaudi o gesto do motorista, no que fui seguido pelo grupo de amigos que comigo caminhava. Aquele saco estava pronto pra ser estraçalhado por um motorista desavisado qualquer e espalhar seu conteúdo fétido por toda a bela alameda. O gesto do motorista evitou esse transtorno. Não era responsabilidade dele, mas sua consciência cidadã falou mais alto. Essa consciência muda países. Câmera 2 – Restaurante estrelado na mesma região acima, poucas horas depois. Jantar de relacionamento entre clientes e fabricante. Cerca de doze pessoas, representando parte do PIB desse país. Todos satisfeitos, mais de uma hora da madrugada, alguns alterados pelo álcool. Só restava nossa mesa. O maître apresenta a conta e as brincadeiras come-

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çam. Cada um puxa um cartão de visita e entrega para pagar a conta. O maître entende a brincadeira e aceita, mas quando o representante da empresa patrocinadora puxa realmente o cartão de crédito, gentilmente ele recusa e informa que não aceitam cartão de crédito, somente cartão de visitas. Ele falava sério, muito elegantemente, mas entendemos que era verdade. Nessa era de dinheiro de plástico ninguém carrega papel-moeda e cheque está em completo desuso. Todos se olham atônitos, e agora, quem vai lavar os pratos? Gentilmente, o maître apresentou uma ficha e pediu para preenchermos com alguns dados e os demais ele pegaria no cartão de visita. Seria emitida uma nota fiscal com a devida cobrança bancária e enviada para um dos presentes. Tomei a iniciativa e me apresentei para a inusitada tarefa. Queria literalmente pagar pra ver. Cumprimentamos e agradecemos ao maître e saímos de queixo caído do restaurante. Todos eram varejistas e comentavam essa nova/velha modalidade de crédito. Nem deixamos um fio de bigode. A surpresa era total. Dias depois a NF chega a minhas mãos e pago a conta. Paguei com orgulho, existe confiança no país, a agência de risco tinha razão, agora somos BBB. Só falta mostrar isso na televisão, o país está nas ruas.


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perfil • por Aline Monteiro • foto de Diana Figueroa •

Olhar passageiro Observador que procura captar as peculiariedades das cidades, o fotógrafo paraense Alberto Bitar recebe prêmio em São Paulo com vídeo sobre a metrópole que não pára.

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esde seus primeiros trabalhos autorais, um tema mostrou-se constante para as lentes do fotógrafo paraense Alberto Bitar. A cidade, seu movimento, suas trocas, seu tempo particular estavam contidos em suas imagens já na série “Passageiro”, registrada de dentro de carros enquanto ele transitava para o trabalho. E continua sendo abordada de uma nova forma no seu projeto mais recente, uma interseção entre o vídeo e a fotografia em que acompanha um dia inteiro de uma grande metrópole. Montado com mais de 12 mil imagens de 16 fotógrafos, o vídeo “Quase todos os dias...São Paulo” não passou despercebido. Foi considerado pelo júri técnico como o melhor filme do 3º Festival Cinema & Cidade 2008 e passou com destaque por outros festivais importantes, como o Guarnicê, no Maranhão. Montado a partir da técnica do time laps, criando lapsos de tempo entre uma imagem e outra para dar a sensação de aceleração, o vídeo retrata a cidade a partir de pontos representativos escolhidos por Bitar, registrados por cada fotógrafo participante em um intervalo determinado de horas. Além da concepção do vídeo, Bitar também orientou os enquadramentos, fez a edição, direção e desta vez também assina o desenho de som com o primo Léo Bitar, parceiro em seus vídeos anteriores. “Não deixa de ser uma obra coletiva, mas também é uma obra autoral.” O projeto de registro do movimento urbano em um tempo contínuo começou em 2005, numa primeira experiência piloto em Belém e, no ano seguinte, se estendeu a 15 horas na rotina de Fortaleza, com um vídeo realizado para a mostra “Devercidade” envolvendo imagens de nove fotógrafos, a partir do qual veio o convite do curador da Semana de Fotografia de São Paulo para que ele realizasse o mesmo tipo de projeto na capital paulista. Agora, pensa em realizar trabalho semelhante retratando Belém, “dessa vez valendo”. “Vivo aqui, vejo coisas daqui que me interessam documentar.” Assumidamente tímido, Alberto Bitar é o obser-

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vador que procura captar as peculiaridades das cidades, mas também se deixa refletir por elas em suas imagens. É assim tanto nos vídeos quando em séries como “Depois do Lugar”, onde Bitar trabalha com sobreposições de imagens de interiores e exteriores, sempre de lugares que estão em sua memória afetiva. Essa série teve imagens selecionadas no Prêmio Porto Seguro de Fotografia e premiadas com aquisição no Salão Arte Pará do ano passado. “O meu trabalho parte de mim, do que eu sou. Mas eu acho legal ter algo que seja aberto. Sei quem sou, mas as pessoas podem ver outras coisas e significados. Gosto muito de ouvir os outros. Às vezes até vêem imagens que eu não tinha percebido”.

Por tudo isso, diz que hoje não se preocupa em delimitar formatos. “Quando as pessoas me perguntam se o que estou fazendo agora é fotografia ou vídeo, não sei o que responder. Em São Paulo, mostrei o vídeo sem dizer que eram fotografias. Não sei se é bom ou não as pessoas não perceberem. Quando entrei no vídeo, fazia um trabalho em que usava diferentes velocidades de obturador até chegar ao movimento que eu queria. Então o (fotógrafo) Paulo Almeida me sugeriu fazer o movimento acontecer, e aí fizemos juntos o vídeo Dóris, em 2002, e depois o Enquanto Chove, a partir da bolsa de experimentação do IAP (Instituto de Artes do Pará). Mas nunca deixei de trabalhar com fotografia. Só agora estou começando a

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captar imagens com a câmera de vídeo.” Formado em administração, Alberto Bitar chegou a trabalhar em uma empresa de engenharia antes de seguir a fotografia profissionalmente. Foi lá que começou a aprondundar uma relação com a câmera que já vinha desde a infância. “Sempre fotografei, era o encarregado de fazer as fotos da família, embora fosse proibido de pegar na câmera que a gente tinha. No escritório de engenharia em que trabalhei em Manaus eu tinha acesso a equipamento e fazia algumas coisas. Quando voltei para Belém, o Léo me apresentou ao FotoAtiva e foi lá que me descobri fotógrafo. Quando você vê pela primeira vez a imagem aparecer no químico, é mágico”.


m úsica • por Juliana Oliveira • fotos Diana Figueroa • arte por Bender •

A Escola do Samba

Um dos mestres do gênero já profetizava: “Ninguém aprende samba no colégio”. Mas é na escola de Noel Rosa e dos grandes sambistas brasileiros que uma nova geração de músicos de todo país tem feito a lição de casa e redescoberto aquela que foi patenteada por Getúlio Vargas como a legítima música do Brasil.

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Apesar de nunca ter ficado perdido, na década de 1990 o samba perdeu muito espaço na mídia pela avalanche de grupos de axé baiano e do pagoderomântico, que acabaram formando ouvintes desses gêneros por todo o Brasil e soterraram o samba tradicional e suas variações mais bem elaboradas, como partido alto, samba de breque, pagode, entre outros (ver no box). E sem nenhuma conspiração midiática o samba foi voltando aos pouquinhos por méritos próprios à agenda dos veículos de comunicação e conquistando novos ouvintes, sobretudo entre o público jovem, com nomes como Marisa Monte, que gravou um álbum inteiro de samba tradicional, ou mesmo Maria Rita que veio pianinho, com o seu primeiro álbum, “Aprendendo o Samba”, para depois declarar no terceiro “Samba Meu”, com composições antigas, mas também obras de sambistas contemporâneos. Isso sem falar em grupos “não-mercadológicos”, que não abriram mão de cantar o samba do seu modo como Mundo Livre/SA, e, claro, não esquecendo de figuras como Zeca Pagodinho e Martinho da Vila que têm penetração em quase todas as classes sociais e vão marcando presença em todo bom folhetim televisivo, dando vida e cadência ao núcleo cômico da trama onde estão os personagens com que a grande maioria do público se identifica. Essa “explosão” do samba que encheu São Paulo e o Rio de Janeiro - mais ainda - de casas especializadas em samba, que a moçada vai curtir a noite

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em do morro, nem do asfalto carioca, mas de todos os lugares do Brasil. Desde fins de 1990, o samba vive uma verdadeira explosão de intérpretes que gravaram ou simplesmente flertaram com o gênero. A música, sinônimo do Brasil, voltou à linha de frente do mercado (alheia ao sem-número de grupos de pagode intitulados de “Jeito alguma coisa” que ainda se mantém), com as melhores promessas vocais e nomes já consolidados da música brasileira indo aprender dos bambas. Em Belém, que pode ser apontada como uma das principais capitais desse movimento, não é diferente e, para os amantes do samba, os motivos são muitos: ele é universal e é música de qualidade, o que lhe garante perenidade. Criada em meio a rodas de samba e choro e com sambistas na família, a cantora Juliana Sinimbú sabe muito bem o que é esse amor. Aos 22 anos e com pouco mais de dois anos de carreira, ela conta que apesar de ter um repertório variado e estar se descobrindo musicalmente é no samba que ela se sente mais à vontade. E o público parece compartilhar dessa afinidade. “O samba é o meu norte, é onde bebo da música”, se derrama, e confessa a imensa satisfação de ver os jovem ter tanto interesse pelo ritmo. “Antes de começar a cantar fui a um show de um amigo, o Arthur Nogueira em que ele cantava Cartola e fiquei maravilhada. Foi uma sensação de encantamento”, relembra.

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É no samba que a jovem cantora Juliana Sinimbú busca inspiração, a mesma fonte dos músicos Camila Cabral e Leandro Dias.

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hor rosas não falam’ é uma coisa impressionante, muito bem elaborada”, admira-se. Ainda hoje o experiente profissional. Opinião compartilhada por Felipe Pamplona, artista visual, que afirma ter um gosto musical bem eclético, mas não dispensa o samba em nenhuma de suas variações. “O que o Marcelo D2 faz, por exemplo, é samba, numa linguagem atual com os problemas e a realidade”, explica.

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Abraçando o Samba Há pelo menos dez anos a cantora paraense Andréa Pinheiro canta samba e choro. Em 2005, no projeto Pixinguinha, fez uma turnê pelo Brasil com o grupo carioca de samba Galo Preto. “Esse interesse pelo samba é uma coisa nacional, em todo lugar você vê as pessoas envolvidas. No Rio de Janeiro, mais particularmente na Lapa é uma febre, existem muito grupos de choro e samba, com meninos no-

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e, obviamente, dançar muito, fez com que alguns críticos criassem a alcunha de “samba cult” para as interpretações dessa nova geração. “Para mim, samba cult é o samba que está sendo redescoberto por essa moçada de agora, que tem feito boas coisas e conforme vai se aprofundando na música brasileira vai encontrando nomes como Pixinguinha, Noel Rosa, Cartola, Zé Keti e tanta gente”, analisa o radialista e produtor musical Luizão Costa, com quase três décadas trabalhando no meio musical. Um processo que ele avalia como natural e não como modismo. “O Chico Buarque, que é quase uma unanimidade, faz samba. Zeca Pagodinho é outro cara importante porque ele alcança todas as classes sociais e muito do que ele grava é de compositores de rua, do morro mesmo. E é samba”, explica o produtor, sem tirar o brilhantismo dos primeiros mestres. “Cartola e Ismael Silva eram analfabetos e conseguiam construir poesias invejáveis a acadêmicos. ‘As

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Para o produtor musical Luizão Costa, não dá para falar de música brasileira sem falar de samba.

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vos tocando. E Belém também tem isso muito forte. Aqui toca-se muito choro e samba e saindo daqui é possível ver que não ficamos aquém do que se produz fora. Acho que além do Rio de Janeiro, e outras cidades, Belém tem um dos movimentos mais fortes de samba do país”. Quanto às adaptações feitas por novos intérpretes, ela considera muito válidas, desde que a melodia do autor seja preservada. Para ela, assim como para Luizão, modificar os ritmos e usar outros instrumentos podem resultar em releituras muito boas. “Que bom que existem grupos como o Bossa Cuca Nova, que fazem com que a garotada escute bossa nova, que é uma derivação do samba. Esses grupos e essas regravações fazem com esse público tome conhecimento da nossa música”, argumenta Luizão. Para Leandro Dias, 23 anos, instrumentista e compositor, e para a amiga Camila Cabral, musicista e integrante do grupo Sapecando no Choro, o samba

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Andréa Pinheiro reconhece em Belém uma das principais capitais do samba

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Nas décadas seguintes, o samba foi ganhando variações, como: Partido alto: com o uso da batida de pandeiro é altamente percussivo. Utiliza também a palma da mão e estalos como instrumento. Samba de breque: estilo em que as músicas do samba são intercaladas com trechos falados, ou diálogos Samba-canção: estilo que recebeu grandes influências da melodia do Bolero e ballad americano. Samba enredo: é a música cantada pelas escolas de samba durante os desfiles de carnaval. Sua letra, normalmente, conta uma história que servirá de argumento para apresentação do tema da escola e o desenvolvimento da apresentação. Bossa nova: surgiu na década de 1960, com a fusão do jazz com o samba. Durante muitos anos foi o samba das praias e bares do Rio de Janeiro.

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Provavelmente o termo samba é de origem africana e tem seu significado ligado às danças típicas tribais do continente. Este gênero musical surgiu da mistura de diferentes ritmos dos africanos trazidos como escravos para o Brasil, que com o tempo foram sofrendo adaptações, tocados com instrumentos de percussão - tambores, surdos e timbau - e acompanhados por violão e cavaquinho. Os sambas clássicos contavam a vida e o cotidiano das populações pobres. Há registros do primeiro samba em 1917, chamado “Pelo Telefone”, de autoria de Donga e Mário Almeida. Muitos dos grandes mestres do samba são das décadas de 1930 e 1940, como Ismael Silva, Geraldo Pereira e Noel Rosa, assim como a criação das primeiras escolas de samba. Nesta mesma época, o presidente Getúlio Vargas em sua política nacionalista elevou o samba - que teria nascido nos morros cariocas, mas já havia chegado ao asfalto e a outras cidades – ao status de música oficial do Brasil.

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é um gênero que escolhe as pessoas e acaba envolvendo muito os brasileiros, porque é acima de tudo dançante, o que seria o grande atrativo para o público jovem. “Existe muita gente na nossa faixa de idade que gosta muito de samba, como se fosse uma coisa meio comum”, conta Leandro.

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Inspiração Para Eduardo Coutinho, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) formado em História e Ciências Sociais e um estudioso da música brasileira, a música popular brasileira praticamente perdeu a inspiração, e o interesse dos jovens por compositores como Noel Rosa e Zé Keti é uma tentativa de resgatar o talento de um período de maior qualidade musical. Ele avalia que, historicamente, até o auge da bossa nova existia uma sintonia muito bem estruturada entre produtores musicais e público. “Houve um momento em que essa recepção foi perfeita, na chamada música clássica brasileira, produzida até antes da bossa, em que o samba era consumido por quase todas as classes”. Com a bossa nova, houve uma elitização da músi-

ca, que em alguns momentos teve uma quase fresta para as massas com os festivais televisivos. “Mesmo assim, grande parte da produção daquela nova música eram adaptações de antigas músicas. O Geraldo Pereira, um sambista da década de 40, foi logo ambientado na bossa nova”, lembra Coutinho. “Essa música cult é um bom termo, é um dos momentos em que a música do passado vem sendo reciclada e os jovens têm procurado um nicho, tentando se ambientar com essa música popular, mas acho que está fadada ao insucesso, porque a recepção do público é o “x” da questão, porque ele está tão bombardeado de músicas de qualidade duvidosa, que a massa já não reconhece a boa produção”, sentencia o historiador. Quem está nessa fase de revisitação dos clássicos, como Juliana, concorda que a busca é uma fonte de inspiração, mas não aceita o fatalismo. “Samba cult?”, Juliana estranha a denominação, mas em seguida emenda: “Ok. Até pode ser. O importante é que o samba se mantenha sobre esse feixe de luz, porque assim as pessoas conhecem e ele tem milhões possibilidades de misturas que têm sido trabalhadas. Isso é ótimo”.

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v i da saudável • por Juliana Oliveira • fotos por Diana Figueroa •

Saúde em dose

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Conhecida como esporte competitivo, a equitação é uma atividade física sem contra-indicações, que pode servir tanto para fins terapêuticos, como para quem busca condicionamento físico.

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magine a cena: você toma café, deixa as crianças na escola e, antes de ir para o trabalho, vai praticar sua atividade física regular. Então, calça o par de tênis, pega na garagem o seu cavalo e vai trotar por uns trinta minutos na praça mais próxima, antes de dar seqüência ao seu dia. A cena é insólita, mas só por conta do cenário urbano. Isso porque, mesmo não sendo de senso comum, a equitação é uma atividade física que pode ser praticada com a mesma regularidade de uma caminhada ou sessões de musculação e com benefícios ainda maiores. “É um dos poucos esportes em que você consegue trabalhar o corpo inteiro. Você pode trabalhar o todo e as partes”, explica a fisioterapeuta Ana Luísa de Lara Uzun, 35, que pratica equitação há oito anos e trabalha como instrutora de equoterapia (modalidade terapêutica da equitação). Como o cavaleiro depende do cavalo, os reflexos melhoram, assim como o equilíbrio, coordenação motora e auto-confiança. “Montar proporciona um relaxamento, é terapêutico. Você está todo tempo ligado ao cavalo e não dá pra pensar em mais nada”, ressalta. Tais benefícios são conhecidos pelo médico Roberto Rezende, 51, que pratica equitação desde os 13. Ele conta que, na meninice, como a família possuía uma fazenda, ele montava nos fins de semana, chegando até a competir profissionalmente. O que começou

como lazer é hoje a principal atividade física de Roberto, que se sente recompensado com os exercícios. Tanto que até se arrisca a competir amadoramente com sua égua Orgulhosa, que o acompanha há 13 anos. “É um esporte saudável, em que é preciso ter disciplina, determinação e que reúne a família, que me incentiva e apóia”. Sensibilidade Um dos principais diferenciais da equitação é a presença do animal. Como o cavalo não é como um aparelho de academia, o ginete precisa se preocupar com a reação dele. Para Fábio de Cássio Teixeira Martins, instrutor há seis anos e ex-atleta, ao término de uma aula o aluno tem a responsabilidade de deixar o animal bem, criar um vínculo afetivo. Sobre os efeitos fisiológicos do esporte, ele também avalia como um dos exercícios mais completos. “Com o cavalo é possível trabalhar o condicionamento cardiorespiratório, porque na medida em que se passa para o andamento mais rápido do animal, você tem que ter uma respiração mais rápida, cadenciada. No trote elevado, você trabalha a musculatura da perna, os glúteos, principalmente os adutores da perna, que são os responsáveis pelo fechamento das pernas na cela”. Sem restrições etárias para o esporte, as aulas são

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feitas conforme os limites dos alunos e recomenda-se a prática pelo menos duas vezes na semana. “Não é preciso visar à competição, basta querer uma atividade física saudável. Ela mexe com o corpo, mas é mental e trabalha todos os sentidos”. Equoterapia Essa interação entre humanos e cavalos é tão benéfica que é usada como método terapêutico na recuperação de pessoas com seqüelas neurológicas, como Acidente Vascular Cerebral (AVC), autismo, estresse, depressão, hiperatividade, déficit de aprendizagem, síndromes diversas e deficiências, justamente por envolver todo o corpo e, ainda, possuir uma abordagem emocional. No tratamento, é possível ir do programa básico ao esportivo, que pode ser feito como uma prática permanente. “Dentro da equitação tem o passo, o trote e o galope; cada andamento dá um estímulo para o cavaleiro e os efeitos já podem ser sentidos na primeira sessão”, explica Fábio. O passo do cavalo estimula movimentos tridimensionais que impulsionam o corpo do cavaleiro, ajudando no treino do equilíbrio global e postura corporal, além do fortalecimento muscular, coordenação motora, lateralidade, noção do corpo no espaço, desenvolvimento da imagem corporal, auto-estima e confiança.


Para praticar Três Tambores Na Região Metropolitana de Belém, no distrito de Mosqueiro, o Hotel Fazenda Paraíso oferece aulas de equitação, com a modalidade Três Tambores, na qual os instrumentos são colocados numa pista e os participantes tem a tarefa de realizar o percurso contornando-os com precisão, numa seqüência estabelecida. As aulas podem ser feitas por pessoas de todas as idades e os horários podem ser combinados conforme o interesse dos alunos. Informações pelos telefones (91) 3204.4666/ 3618.2022. Equoterapia Informações: Centro Interdisciplinar de Equoterapia (CIEQ/Belém), localizado na Rodovia Transmangueirão. Informações: 3279.4430.

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c onfraria

Desejo Underwear básica, confortável e ainda por cima sexy. Será que existe? A Calvin Klein e o Clube da Lulu realizam o desejo da maioria das mulheres e homens com a calcinha, o sutiã e a cueca Trunk, que têm 92% de algodão, 8% de elastano/Lycra e 100% de satisfação! Tudo isso na melhor loja especializada em lingerie do Pará. Clube da Lulu Sutiã Calvin Klein*: R$ 95,00 Calcinha Calvin Klein*: R$ 55,00 Cueca Trunk Calvin Klein*: R$ 64,00 Endereço: Braz de Aguiar, esquina com Serzedelo Correa. Telefone: 3222.6796

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d écor • da redação • fotos de Ricardo Siqueira e divulgação •

Diversidade de conceitos Objetos e móveis com designs inusitados, móveis ecologicamente corretos, muitas cores, releituras de tendências das décadas de 60 e 70. O Salão Internacional de Móveis de Milão de 2008 apostou, como sempre, na diversidade de conceitos e consolidou, em definitivo, algumas novidades que prometem satisfazer arquitetos e clientes, que poderão desfrutar do universo da permissibilidade na arquitetura de interiores e decoração.

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squeça os tons pastéis e a harmonia em móveis e arquitetura de interiores. O Salão de Móveis de Milão – que aconteceu de 16 a 21 de abril –, evento que dá as cartas do consumo de móveis e tendências de decoração no mundo inteiro, já ditou as regras: muitas cores e as novas tecnologias a serviço do conforto e bemestar doméstico. Sofás, camas, pufs, luminárias, estantes, balcões de cozinha, pequenos objetos de decoração. Absolutamente nada escapou da invasão das cores. Uma ótima notícia, segundo o arquiteto Ricardo Siqueira, que foi conferir de perto o salão e se

surpreendeu com as novidades. “No ano passado tudo estava muito igual, dessa vez vi muitas coisas interessantes, muitas cores, o plástico em alta, além das linhas de produtos feitos com base nas pesquisas em materiais ecologicamente corretos”, enumera. Tantas novidades que, segundo ele, podem ser usadas sem medo mesmo nos climas tropicais, como o paraense. Apesar das releituras de estilos “retrô” ainda serem uma tendência estilosa e sólida, capaz de dar aquele ar intimista aos ambientes, a predominância do plástico brilhante, do acrílico e das cores fortes, fez dos móveis e objetos com designs futuristas

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a grande novidade. Os modulados, com suas linhas retas tão práticas e elegantes, agora dividem espaço com formas mais sinuosas, chamadas orgânicas. Os traços orgânicos são um novo conceito, coisa de dois anos pra cá, mais futuristas e ligados ao desenvolvimento de novos softwares que projetam móveis em três dimensões. Essa tendência tem reforçado o uso de materiais à base de compostos de polímeros (substância química que origina materiais como borracha e plástico) para confecção de móveis com técnicas que fazem do produto final um monobloco, como se tivesse sido esculpido no material. “Essa já era uma tendência da arquitetura, mas que agora

está sendo usada no design de móveis. O domínio de novas tecnologias permite o uso de polímeros, que são mais versáteis. É o material que dá idéia de liberdade para trabalhar, é resistente, é maleável e flexível”, explica Ricardo. Uma outra novidade da feira foi o formato dos nichos. Agora eles estão ainda mais práticos, com versões coloridas, em tamanhos inusitados e com divisórias móveis, dando mais liberdade de uso do espaço. Os revestimentos dos estofados vêm com uma nova proposta, nos quais se misturam tecidos lisos e estampados em uma mesma peça. As cozinhas, que seguiam uma tendência clean,

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apareceram cheias de novidades, ou melhor, em alguns casos, desapareceram. Com os novos mecanismos de escamoteamento de portas que deslizam, a cozinha aparece e desaparece como mágica. Solução ideal para disfarçar as cozinhas abertas aos livings dos lofts. Outra novidade nas cozinhas são os laminados, capazes de fazer você jurar que é mármore carrara; muita madeira desenhada ou lisa, com gloss (espécie de acabamento de alto brilho) ou natural, ou ainda revestimentos vibrantemente coloridos como laranjas, vermelhos, uvas ou mesmo tudo misturado em estampas impressas em laminados ou vidros. Cozinhas vivas e alegres.


Linha Green Mas não só de cores e materiais não-degradáveis se fez o Salão de Móveis de Milão. A mostra Green Energy Design, na Universidade Degli Studi di Milan, fez bonito durante os sete dias do evento, mostrando os “produtores do humor verde”, que exploram o design auto-sustentável com instalações experimentais. Philippe Starck, designer francês, propôs o conceito “ecologia democrática” com um gerador de energia renovável fotovoltaica e eólica que promove a geração de energia através do movimento. Já o designer Bodh Gaya criou um poste para iluminação pública inspirado na natureza, por meio de um sistema que armazena a energia solar durante o dia e carrega um conjunto de baterias que transforma em energia luminosa durante a noite. E o plástico, quem diria, também pode ser ecologicamente correto, segundo a coleção “Plastic can be green”, que propôs objetos com design de apelo ao natural e com o uso de material mais resistente a ambientes externos que cerâmica ou vidro, e, portanto, não descartáveis.


O Salão Cerca de dois mil expositores em uma área de mais de 500 mil metros quadrados ocuparam a cidade durante o Salão, que contou com quase meio milhão de visitantes. Antes mesmo da abertura oficial do evento, Milão já fervia com a realização de eventos simultâneos, com direito a vídeo-instalações. Durante os dias oficiais, o evento principal, onde as grandes marcas apresentaram suas novas coleções, aconteceu no Pavilhão de Exposições de RHO, que fica fora da área urbana de Milão e foi projetado pelo arquiteto italiano Massimiliano Fuksas. Festas e exibições paralelas irromperam na cidade, na chamada Fuorisalone, que, a cada ano, atrai mais a atenção dos visitantes e torna-se destaque durante o evento. A comemoração do aniversário de 40 anos da poltrona “Sacco”, aquele puff cheio de bolinhas brancas de isopor, com La Commedia del Sacco, foi uma das mais prestigiadas. Na região de Loggia dei Mercanti - uma construção de 1.316 metros quadrados e um dos ângulos mais bonitos do centro da cidade - a mostra Segno Arte Uffici trouxe uma visão alegórica dos ambientes de trabalho de design, com a instalação de oito escritórios decorados com móveis-esculturas modelados a partir de figuras humanas.


e special • por Guilherme Guerreiro Neto • fotos de Diana Figueroa • Ilustração por Bender •

Consumo consciente Desde o final do século 20, os debates e acordos de proteção ao meio ambiente se proliferaram pelo mundo. Mesmo com a Eco 92 e o Protocolo de Kyoto, os países não recuaram do ataque aos ecossistemas tanto quanto se pretendia e as conseqüências, gradativamente, ficam à mostra. Mas e os consumidores? Será que eles se preocupam realmente com o futuro – e, por que não, com o presente – do planeta e tomam atitudes ambientalmente responsáveis ou ficam esperando as decisões governamentais? Living foi atrás de bons exemplos para mostrar que, na contramão da maioria, alguns consumidores se esforçam para diminuir a agressão ao meio ambiente. Pequenas mudanças de hábito, se multiplicadas entre as pessoas, podem gerar resultados surpreendentes do ponto de vista ecológico e até econômico. A natureza agradece. A humanidade também. 44


Elba Magave, diretora pedagófica do Colégio Logos, onde a alimentação de professores, alunos e funcionários é feita a partir de ingredientes que antes seguiam para o lixo. Um dos objetivos é formar um consumidor consciente e sem preconceitos.

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eio-dia. O engarrafamento na estreita Travessa E, no bairro do Coqueiro, em Ananindeua, indica que é hora da saída para os alunos do Colégio Logos. Lá dentro, livres do calor e do trânsito, somos recebidos pela diretora pedagógica Elba Magave, 42 anos. A visita não é para conhecer as instalações da escola ou discutir o método de ensino adotado. Queremos ver como é preparada a alimentação dos professores, funcionários e poucos alunos que ficam no colégio para o almoço. Na mesa, carne com legumes, arroz de forno com talos de verduras e farofa com casca de batata-doce. De sobremesa, bolo de casca de banana e bolo de abobrinha. Parece estranho comer coisas que normalmente vão direto para o lixo, como talos e cascas de alimentos, mas não é sacrifício algum. O gosto é bom, aumenta o valor nutritivo da refeição e diminui a quantidade de comida descartada. “É só a questão da pessoa ter disciplina de separar o alimento, higienizar e aproveitar ele todo”, diz Elba. A idéia da alimentação de qualidade também é passada para as crianças na tentativa de formar um consumidor mais preocupado

e sem preconceitos. Só que, às vezes, a consciência não é reforçada pela família. “Você enfeita a mesa, faz a festa e elas comem tudo. Mas quando chegam em casa, muitas vezes, não comem. A dificuldade maior é formar o hábito”, conta. No ano passado, o colégio recebeu a unidade móvel do programa Cozinha Brasil, do Sesi, que promoveu cursos para a comunidade. Desde 2005, o programa de educação alimentar percorre o Pará ensinando como ter uma alimentação de qualidade, saborosa e sem desperdício. “A princípio se imaginava que apenas pessoas de nível sócioeconômico baixo se interessariam pelo curso. Mas nosso público é muito diverso. Tem inclusive alguns homens que participam”, revela a gerente de saúde do Sesi no Pará e coordenadora do Cozinha Brasil no estado, Suely Linhares. Pelos cálculos do IBGE, de 20% a 30% dos alimentos comprados para abastecer uma casa são desperdiçados. Em Belém, não se sabe ao certo a quantidade total de alimentos jogada fora, mas todo o lixo produzido aqui chega a 900 toneladas por dia. O que não é retirado para reciclagem vai para o aterro sanitário

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do Aurá, onde são despejados ainda os resíduos de Ananindeua e Marituba. A coleta seletiva só é feita em alguns condomínios, instituições e escolas do centro da capital. Na questão dos serviços, estudos indicam que o desperdício de energia no Brasil está em torno de 10%, o que significa um gasto de 10 bilhões de reais por ano. No caso da água, 40% do que é usado seguem direto para o ralo. Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o desperdício diário de um consumidor chega a 150 litros de água. Célio Matos Júnior conseguiu diminuir a perda de água na casa dos pais. Um sistema desenvolvido por ele ao final do curso de engenharia sanitária da Universidade Federal do Pará (UFPA) e implantado na casa faz armazenagem e aproveitamento de água da chuva para a descarga dos banheiros e para as torneiras do quintal. A captação ocorre no telhado e vai para os pontos de distribuição. “Com o sistema implantado, houve uma redução de 30% a 40% no consumo de água”, conta Célio, 26 anos. Mesmo assim, pelo que se gasta na implantação em uma residência já construída comparado com o tempo de retorno, o


O sistema de reaproveitamento de água da chuva implantado por Célio Matos Júnior na casa dos pais dele reduziu o consumo em mais de 30%.

projeto ainda é pouco vantajoso economicamente. “A região Norte tem potencial pluviométrico incrível. Então por que não aproveitar a água da chuva para fins não-potáveis?”, questiona o engenheiro. Mas nem precisa criar um sistema desses para começar a economizar. Pequenas atitudes conscientes fazem a diferença no aproveitamento de água. O mesmo vale para a diminuição do lixo produzido e para conter gastos com energia e alimentos (ver box). Fundamental é sair do estado de inércia que parece dominar as pessoas quando o assunto é sustentabilidade. Só que consciência e atitude não estão à venda, têm de ser criadas e estimuladas. Consciência A ação da sociedade não está limitada ao consumo dentro de casa. Ao escolher o que comprar em um supermercado, por exemplo, o consumidor deve saber a procedência do produto para optar por aquele de uma empresa com preocupação sócioambiental em detrimento de outro feito por empresa que agride a natureza ou desrespeita as leis trabalhistas. O retorno dado a partir dessa decisão indica se a população realmente se preocupa com a postura das empresas premiando-as ou punindo-

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as dependendo da postura corporativa. Além disso, é papel do consumidor pressionar o governo para fiscalizar essas empresas. O que atrapalha a participação das pessoas, principalmente na hora de identificar que grupos comerciais adotam um processo produtivo mais sustentável, é a falta de informação. O Instituto Akatu pelo consumo consciente surgiu em 2001 com a missão de conscientizar e mobilizar a sociedade para o papel que deve desempenhar nessa questão. O tripé da sustentabilidade, que envolve as preocupações ambiental, social e econômica, está entre as idéiaschave discutidas pela organização não-governamental que hoje tem parceria com mais de 80 empresas, além de escolas e outras ONGs. Um estudo divulgado este ano pelos institutos Akatu e Ethos sobre responsabilidade social empresarial mostra que 75% dos brasileiros sabem que têm poder de influenciar no comportamento das empresas, mas somente uma em cada três pessoas busca informações sobre essa postura das corporações. “A maioria dos valores é amplamente aceita pela sociedade. Mas quando chega na hora do comportamento, aparece o problema. A gente espera que esse déficit diminua, que se crie uma cultura sustentável”,


Um dos grandes vilões da natureza, o plástico pode ser reciclado e se tornar fonte de renda, gerando empregos.

comenta Raquel Diniz, coordenadora de capacitação comunitária do Akatu. Nem sempre, contudo, esse déficit diz respeito à população. Para Lisa Gunn, gerente de informação do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), há outras variáveis que devem ser consideradas. “Às vezes o consumidor pode ser consciente do problema e não da alternativa, pode haver uma restrição econômico-financeira à alternativa, ou você pode simplesmente não ter alternativa”, afirma.

produto ou serviço vou consumir. A terceira coisa é quando a gente se pergunta de quem eu vou comprar, da empresa que tem práticas voltadas à sustentabilidade ou de uma empresa qualquer? Outra coisa é como vou comprar. Tenho dinheiro, vou tomar crédito... Bom, já que comprei, agora vou utilizar. Será que sei usar o produto de modo que possa aumentar sua vida útil? Enfim, se tiver que gerar resíduo, como estou gerando esse lixo, como está sendo feito o descarte, onde descartar?”, explica.

Com ou sem alternativas, não dá para fugir da responsabilidade e culpar o outro pela própria nãoação. Além dos direitos, o consumidor tem deveres. Um novo comportamento na esfera individual e como consumidor-cidadão já representaria grande avanço. “A questão é o quanto o consumidor esta disposto a mudar”, pontua Gunn. Segundo ela, o problema não é mais para as futuras gerações, os impactos ao meio ambiente são reais e presentes. O planeta já está “cobrando a conta” e não dá para adiar o pagamento.

Se ninguém consegue viver sem consumir, ao menos é possível fazer escolhas sobre a qualidade e a quantidade desse consumo. Por aí é o caminho para usufruir com consciência. “Você tem que parar para pensar nas suas atitudes do cotidiano. Faça uma listinha do que você consume durante um dia. Será que tenho noção dos impactos que estou gerando com isso tudo? E será que eu poderia fazer diferente? Com certeza a gente vai achar coisas que dá para fazer diferente”, afirma a coordenadora de capacitação comunitária do Instituto Akatu.

Raquel Diniz deixa claro que o consumo vai muito além da compra: “Primeiro é importante que a gente se pergunte por que eu vou comprar. O segundo passo é saber o que eu vou comprar, que tipo de

Empresas Não precisa ser um frei franciscano com votos de pobreza para tornar uma empresa responsável do

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Práticas para o consumo responsável Água • Tente limitar seus banhos a aproximadamente cinco minutos. Feche a torneira enquanto se ensaboa. • Jamais escove os dentes ou faça a barba com a torneira aberta. • Para lavar o carro, use balde em vez de mangueira. • Ao limpar a calçada, use a vassoura, e não água para varrer a sujeira. Energia • O chuveiro elétrico é um dos aparelhos que mais consomem energia. O ideal é evitar seu uso em horários de pico: entre 18h e 19h30. • Habitue-se a juntar a maior quantidade possível de roupas para passá-las a ferro elétrico de uma só vez. • Na hora de comprar a geladeira e o condicionador de ar, leve em conta a eficiência energética certificada pelo selo Procel (Programa de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica). • Ao comprar lâmpadas, dê preferência às fluorescentes, compactas ou circulares. Além de consumir menos energia, essas lâmpadas duram mais do que as outras. Alimentação • Fique atento à origem dos alimentos, à sustentabilidade dos métodos empregados na produção e aos problemas na distribuição. • Procure consumir alimentos livres de agrotóxicos. Os agrotóxicos podem causar danos ao meio ambiente e à sua saúde. • Dê preferência a produtos orgânicos. • Prefira comprar alimentos regionais para evitar longos percursos de transporte e valorizar a produção local. • Aproveite integralmente os alimentos. Muitas vezes, talos, folhas, sementes e cascas têm grande valor nutritivo e possibilitam uma boa variação no seu cardápio. Lixo • Leve sacola própria para fazer suas compras, evitando pegar as sacolas plásticas fornecidas nos supermercados. • Procure comprar produtos reciclados - cadernos, blocos de anotação, envelopes, utilidades de alumínio, ferro, plástico ou vidro. • Não jogue lâmpadas, pilhas, baterias de celular, restos de tinta ou produtos químicos no lixo. As empresas que os produzem estão sendo obrigadas por lei a recolher muitos desses produtos. • Separe o lixo e encaminhe os produtos para reciclagem. Tente organizar em seu edifício, rua, bairro ou condomínio um sistema de coleta seletiva.

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Fontes: Ministério do Meio Ambiente e Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) Produtos regionais de cooperativas e pequenas empresas com responsabilidade sócio-ambiental apoiadas pela Bolsa Amazônia, da UFPA.

ponto de vista sócioambiental. O que interessa para os empresários é o lucro, e tê-lo agregado a uma produção engajada com a preservação do meio ambiente parece ser ótima saída. A empresa Sacotex, com sede na BR-316, em Ananindeua, recicla sucata plástica e transforma em sacos, sacolas e bobinas para madeireiras. E o rendimento, será que é bom? “Naturalmente. Se não fosse, não estaríamos aqui”, revela o proprietário Ludemir Campos, 56 anos. A Sacotex trabalha com o tipo de plástico polietileno, encontrado em garrafas de água sanitária, detergente e álcool. O primeiro passo é adquirir a sucata; são compradas cerca de 300 toneladas por mês. Em seguida, ela passa pelos processos de catação, moagem e lavagem. O plástico então é aglutinado para tirar a densidade e, por fim, é derretido para granular. O granulado de plástico é a matéria-prima da empresa para a produção de qualquer novo material.

“Nós somos muito pouco incentivados e fazemos um grande benefício para a natureza. Estamos utilizando produtos que levariam cerca de cem anos para se decompor. Nós tiramos do lixo e botamos novamente no mercado”, diz Campos, que há 30 anos trabalha no ramo e há 13 criou a Sacotex.

tre oferta e demanda de produtos naturais da região e incentivar pequenos produtores que prezam a responsabilidade social e ecológica. No Brasil, o consórcio virou uma organização não-governamental administrada pelo Programa Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia (Poema), da UFPA.

O filho dele, Flávio Cardoso Neto, 25 anos, ocupa o cargo de gerente administrativo na empresa. Segundo ele, hoje a Sacotex tem clientes fixos que compram em grande quantidade e mantêm a estabilidade do negócio.

Para o diretor-executivo da Bolsa Amazônia, Claudionor Dias, tornar as cooperativas competitivas é ponto fundamental na cooperação estabelecida. “O que você precisa é organizar essas cadeias produtivas e organizar o consumo urbano”, afirma.

Em pequenas cooperativas e associações, o problema maior não é criar práticas sustentáveis. Muitas vezes elas já os têm, mas fazer com que possam se organizar para concorrer com empresas já consolidadas. O consórcio Bolsa Amazônia, criado há dez anos, integra cinco países que fazem parte da Bacia Amazônica com o intuito de estabelecer contatos en-

Assim é feito com associações produtoras de papel, gêneros alimentícios, móveis e adereços. Com a responsabilidade dividida entre empresa, governo e consumidor, a prática de consumo sustentável fica mais próxima de ser alcançada. Só assim vai dar para respirar mais aliviado e saber que o planeta tem um caminho para o futuro.


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Trazer a natureza de uma forma aconchegante para ambientes, sejam eles públicos ou privados, garantindo um melhor convívio entre as pessoas. Esse é o resultado de um projeto paisagístico com a marca Márcia Lima.


e special • por Aline Monteiro • fotos de Diana Figueroa •

Todos os ócios Você é daqueles que não conseguem ficar parados e que acham que o tempo deve ser aproveitado ao máximo com atividades produtivas? Então se dê a chance de pensar que fazer absolutamente nada também pode ser indispensável.

A

promotora de eventos Ana Flávia Santos, 25, trabalha desde os 15. A última vez que lembra de ter tirado férias foi há três anos e não foi uma escolha, mas quase um ultimato. Isso porque a alternativa dada a ela pelo médico para desacelerar parecia menos promissora: uma internação hospitalar. Pegou um avião e foi visitar a família em João Pessoa. No mesmo dia da chegada, chorou e fez as malas para voltar. “Não agüentava a idéia de ficar sem fazer nada. Queria voltar ao trabalho.” Depois disso, nunca mais tirou férias. O máximo a que se permite parar é um ou outro raro final de semana em que não há eventos a acompanhar. Sua idéia do que seja isso? “Aproveito para organizar alguma coisa em casa, para cozinhar, que é algo como um hobby, ou fazer alguma coisa interna da empresa que não dá para fazer durante a semana. E para sair com meu marido e meu filho. Não gosto de ficar muito em casa. Acho um saco ficar parada. Fico estressada.” Nem precisa conhecê-la muito para perceber que é mesmo assim. Falante e sorridente, Ana Flávia

gesticula sem parar e dá a impressão de ser uma daquelas pessoas sempre a cem quilômetros por hora, acostumadas a fazer várias coisas simultaneamente. Quinze dias depois de dar à luz o primeiro filho, estava de volta ao trabalho em um evento. Sabiamente, o pequeno Hibrael, de apenas três meses, é um dos bebês mais calmos que já se viu. Ela se questiona algumas vezes sobre seu ritmo de vida e sobre prioridades. Mas diz que sua relação com o trabalho veio dos ensinamentos de família. “Acho um absurdo gente de vinte e tantos anos ainda morando na casa dos pais, sem assumir a própria vida, sem ter um emprego. Comecei a trabalhar aos 15 como recepcionista em eventos, mas desde os 13 fazia bicos como vendedora em lojas para poder fazer as viagens que eu queria, comprar as minhas coisas. Todo mundo aqui em casa é assim. Aos 18 anos, minha irmã mais velha sustentava a família. Meu pai ficava nervoso depois que se aposentou. Então eu e minha irmã o trouxemos para trabalhar na empresa de eventos, onde minha mãe também ajuda. Às vezes fico cansada e me pergunto se não

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poderia trabalhar menos, mas quando piso no local do evento, tudo muda. Adoro o que faço. E quando a gente vê o quanto a empresa cresceu em quatro anos, compensa o esforço.” Ana Flávia está longe de ser a única num mundo historicamente voltado para o trabalho. De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), hoje a média da população mundial trabalha 50 horas por dia. “Essa racionalização do tempo como forma de controle do cotidiano numa escala produtiva é uma idéia ocidental. Historicamente, o momento-chave em que isso se firma é a revolução industrial, quando as horas de trabalho passam a ser institucionalizadas. A proporção que isso tomou tem a ver com o próprio desenvolvimento da sociedade e das forças produtivas e com o processo de urbanização. A vida se modificou e os padrões também. Construímos a vida moderna com todas essas características: esse homem que tem o controle do trabalho é o perfil do homem adaptado à vida moderna”, analisa Aldrin Figueiredo, professor do curso de História da Universidade Federal do Pará (UFPA).


Workaholic assumida, a produtora de eventos Ana Flávia divide seu tempo entre as responsabilidades de casa e os compromissos do trabalho.

Seguindo essa lógica, não é de se estranhar que o ócio tenha se transformado em algo pouco elogiável nas sociedades modernas. “Muitos teóricos ocidentais, como Max Weber, discorreram sobre isso. Aquele que não se adequa a isso acaba passando por um processo de marginalização. É o louco, o desajustado, o pária, constrói-se a idéia do vagabundo, do vadio, que é sempre criticado”. No contraponto, a ocupação permanente é vista como um valor. “As pessoas às vezes reclamam que trabalham demais, mas quem mais reclama é, ao mesmo tempo, considerada vitoriosa”, atenta Figueiredo. É também uma das conclusões a que chegou o grupo de teóricos alemães organizados em torno da revista Krisis, que desde o final da década de 1970 vem publicando diversos ensaios sobre a temática do trabalho. Para o grupo, de onde surgiram textos como o “Manifesto contra o Trabalho” e “Pós-Marxismo e Fetiche do Trabalho”, há uma crise estabeleci-

da na esteira da revolução microeletrônica, que desvincula cada vez mais a força de trabalho humana da produção de riquezas. No entanto, a sociedade nunca foi tanto a sociedade do trabalho como atualmente, quando ele se tornou “irremediavelmente obsoleto”, levando a uma espécie de apartheid social dos que não têm emprego, que são vistos como fracassados. “Talvez Marx tenha razão e o próprio trabalho projete sua contradição, seu contra-discurso e sua crise”, diz Aldrin Figueiredo. Para a psicóloga Liège Almeida, não é só ao mercado que o sentido de produtividade está relacionado. Estendeu-se também para a vida privada, não sem ônus. “Vivemos a culminância de um sistema que supervaloriza a atividade, seja o trabalho, o lazer – vivido às últimas conseqüências, como nas festas rave movidas a ‘balas’, em que nos ‘divertimos’ à exaustão - ou até mesmo o sexo. É um ‘ativismo’ que nos leva a desenvolver um alto nível de estresse,

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provocando efeitos danosos em nossa saúde física, mental e emocional. Em vez de trabalharmos para viver, vivemos para trabalhar. O capitalismo moderno, além de bens de consumo, produziu novas necessidades às quais nos sentimos compelidos a atender. Assim, justificamos mais e mais horas dedicadas a ganhar dinheiro. Hoje vivendo a pós-modernidade, que alguns já sinalizam como pós-pós-modernidade, o feitiço virou contra o feiticeiro: o consumo virou um autoconsumo, uma consumação, desgastando nossas energias, e vamos ‘pifando’”, alerta a psicóloga. E “pifar” pode ir além da figura de linguagem em alguns casos. O estresse, já considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como doença (ocorrendo inclusive como doença ocupacional), é um dos males que mais crescem no século 21, junto à depressão e à obesidade – e vem sendo cada vez mais relacionado às exigências múltiplas da vida


Como De Masi, o fotógrafo Dirceu Maués acredita que parar faz parte do processo criativo.

contemporânea, ao acirramento da competitividade e às rápidas mudanças socioeconômicas no mundo produtivo a partir da globalização. Mas tudo isso tem gerado contra-movimentos nos mais diversos campos, surgidos das academias ou de grupos de pessoas interessadas no retorno a um ritmo menos acelerado, ao direito ao lazer e ao ócio. Foi essa busca que levou o designer gaúcho Marcelo Bohrer, o Marboh, a criar o Clube de Nadismo, um movimento que começou reunindo pessoas uma vez por mês em praças de Porto Alegre para não fazer absolutamente nada durante 45 minutos. Hoje, reúne aproximadamente mil sócios em seis Estados e no exterior e começa a criar “embaixadores” interessados em organizar atividades semelhantes em suas cidades. A idéia surgiu depois que Marboh teve um episódio de Síndrome de Burnout provocado pelo estresse excessivo e pela hiperatividade. “Fui até o ponto limite, o que me fez rever meu estilo de vida e levantar questionamentos sobre o não fazer nada. Acontece

que o ritmo acelerado que adotamos é em função do ritmo da sociedade e é difícil desacelerar sem ficar para trás. Só que chegamos no limite, os países gastam bilhões com problemas de saúde relacionados ao estresse. O paradoxo é que buscamos uma vida mais tranqüila e com mais qualidade, só que para alcançar isso fazemos mais e mais coisas e cada vez mais rápido. O resultado é que quanto mais corremos, mais longe ficamos desse objetivo”, avalia. Para Marboh, é possível mudar esse panorama sem afetar a produtividade. O problema é o condicionamento a que fomos expostos. “As empresas ainda têm receio de estarem pregando algo contra a produtividade dos funcionários, o que é um equívoco. Existem diversos exemplos em que a redução da jornada de trabalho repercutiu numa melhoria da qualidade e da rentabilidade dos negócios”, defende ele, que volta e meia cai na armadilha de correr para cumprir prazos e pautas, mas que faz da necessidade de parar um exercício de vontade. “Aprendi o truque da prática do nadismo. Nisto está a genialidade

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da idéia e o seu grande potencial de transformação da consciência do aproveitamento do tempo: é uma formalização do fazer nada. Então eu coloco na minha agenda: quinta-feira, das 16h30 até 17 horas, nadismo. E cumpro com esse ‘compromisso’.” Embora menos metódico na arte de não fazer nada, o fotógrafo Dirceu Maués também fez mudanças na rotina para ter tempo para ler, ficar deitado ou simplesmente observar ao seu redor em alguma hora do dia. A primeira delas foi abolir o sistema do emprego duplo. “Trabalhar durante oito horas por dia acho que não daria mais para mim. Foi uma opção que fiz, até pelo meu trabalho autoral, que também tem o tempo dele para surgir e que precisa que eu tenha tempo livre para poder ler, ver coisas, ir a uma exposição ou ao cinema, ou simplesmente caminhar sozinho pela cidade.” Ainda que os rendimentos tenham diminuído e que em algum momento o orçamento aperte, ele não se arrepende. “Aproveitar o tempo somente para trabalhar, para ganhar mais dinheiro, até que ponto isso


Para pensar, depois de não fazer nada: Manifesto Contra o Trabalho Grupo Krisis. Editora Conrad. Texto do grupo de teóricos alemães reunido em torno da revista Krisis, que desde a década de 1970 discute a moderna sociedade produtora de mercadorias e aponta o trabalho como um bem obsoleto e excludente. O Ócio Criativo Domenico De Masi. Editora Sextante. Em formato de uma longa entrevista, este livro publicado originalmente em 1995 tornou populares no mundo todo as teorias do sociólogo italiano Domenico De Masi, que critica o modelo social centrado na idolatria do trabalho e defende como novo caminho a capacidade de mesclar atividades a ponto de fazer o trabalho se confundir com o lazer e o estudo. O Elogio do Ócio Bertrand Russell. Editora Sextante. Em 15 ensaios, o matemático e filósofo britânico teoriza por que o trabalho não é o objetivo da vida e defende uma sociedade onde todos possam se dedicar a atividades agradáveis e compensadoras, usando o tempo livre para a diversão e também para a ampliação da capacidade de reflexão. A Arte de Não Fazer Nada Veronique Vienne. Editora Publifolha. Volume ilustrado com fotografias, mostra como combater o estresse a partir de atitudes simples, como um banho ou um movimento respiratório. Junte-se a eles e faça...nada. Que tal marcar um compromisso para não fazer nada? É isso que os integrantes do Clube de Nadismo vêm fazendo desde 2003. Criado pelo designer gaúcho Marcelo Bohrer depois de um estado extremo de exaustão promovido pelo estresse, o clube promove encontros mensais em parques e praças de Porto Alegre onde a proposta é passar 45 minutos sem fazer absolutamente nada. Não há muitas regras, pode-se ficar deitado ou sentado. Só não pode dormir. Radicalização de movimentos como o Slow, o Nadismo propõe parar pela qualidade de vida. Para saber mais, visite o site www.clubedenadismo.com.br ou escreva para clubedenadismo@marboh.com.br.

é válido? Você acaba não aproveitando as relações, ou usando o que ganha não para ter mais qualidade, mas para pagar uma estrutura de correria, pessoas para fazer as coisas que você não consegue fazer por falta de tempo, como cuidar da casa, comer em restaurantes todo dia porque não consegue almoçar em casa...entra-se numa lógica do consumo.” Trabalhando cinco horas por dia como repórter fotográfico em um jornal diário, Dirceu diz que às vezes se incomoda com as brincadeiras dos colegas sobre sua natureza mais contemplativa, mas que hoje “abstrai” os comentários. “Às vezes as pessoas fazem uma performance da rapidez, fazem barulho, mas não estão sendo eficientes, porque não se permitem pensar de fato no que estão fazendo. Às vezes você na sua calma resolve melhor as coisas, porque as planeja.” O que o fotógrafo realiza na prática está expresso nas teorias que deram notabilidade ao sociólogo italiano Domenico De Masi e transformaram seus livros em best-sellers mundiais. De Masi é um defensor do

ócio, mas, como faz questão de explicitar, não do “dolce far niente”, e sim no sentido que tinha para os gregos, que classificavam todas as atividades nãofísicas, como a política, o estudo e a filosofia, como “ociosas”. Para De Masi, o mundo caminha para uma sociedade fundada não mais no trabalho, mas no tempo vago. Isso porque são as atividades criativas, os trabalhos exercitados pelo cérebro e não os trabalhos repetitivos, que tomam o lugar de destaque na sociedade “pós-industrial” - e a principal característica dessas atividades seria não se distinguirem do jogo, do aprendizado e do lazer. É essa conjunção que ele classifica como “ócio criativo” e que determinaria uma mudança na forma de realizar as atividades produtivas e também no que consideramos como tal. “As atividades ditas produtivas, em geral, são aquelas que geram renda, riqueza ou bens. Se valorizarmos desmedidamente essas categorias, vamos viver a escravidão tácita ao mercado. Mas se pensarmos atividades produtivas como toda atividade útil,

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passamos a valorizar um dia na praia para nos recuperar e gozar, uma leitura de qualidade que nos engrandece, um bate-papo com amigos e/ou familiares que favorece vínculos e aquece nossos corações”, diz Liège Almeida, que lembra que o movimento – e com ele nossa necessidade de sermos produtivos faz parte da natureza humana, mas que podemos escolher que tipo de sociedade queremos criar: “O ‘penso, logo existo’ foi só uma parte da frase de Descarte. Nós pensamos, sentimos e agimos, não necessariamente nessa seqüência. Mas a capacidade de intervir no ambiente, de tornar realidade, é uma característica unicamente humana. Agora é claro que a qualidade desse movimento pode ser mais ou menos saudável, melhor ou pior para nós mesmos... e para o nosso planeta, não é? As organizações sociais, que são fruto da nossa ação, também acabam por fazer o efeito bumerangue, no que se refere à pressão sobre as nossas vidas. Nós construímos a sociedade e sofremos, ou usufruímos, as conseqüências disso.”


p ortfólio

• da redação • fotos de Diana Figueroa

Morando no clube D

epois de um longo dia de trabalho, o que você pensaria sobre a casa ideal à sua espera? Um lugar agradável, onde não precisasse enfrentar muito trânsito para chegar, com segurança, qualidade e beleza no ambiente e onde você pudesse relaxar quase como em um clube? Foi esse conceito que a construtora Leal Moreira e a incorporadora Agra trouxeram para o terceiro empreendimento dessa parceria, as Torres Ekoara Condomínio Club, lançado no dia 13 de junho. Com apartamentos de 138 metros quadrados e coberturas duplex de 237 e 273 metros quadrados, as duas torres de 30 pavimentos ganham lugar numa área nobre do bairro do Marco, na travessa Enéas Pinheiro, próximo ao Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves e cercado por infra-estrutura, com supermercados, bancos, farmácias, faculdades, hospital, clubes e outros serviços, além de estar a um passo da principal via de ligação da cidade, a avenida Almirante Barroso. Na área privativa dos apartamentos, tudo segue o padrão de qualidade de acabamento presente nas construções que levam o nome Leal Moreira/Agra,

com quatro opções de planta, de acordo com a necessidade de cada família. São três suítes, incluindo uma suíte master, e um gabinete, que também pode dar espaço para um living ampliado, além da cozinha, lavabo, área de serviço, dependência completa de empregada e sacada com churrasqueira. O condomínio – todo adequado para portadores de necessidades especiais - traz outros diferenciais, cercado de área verde e locais de convivência pensados para todas as idades, para quem quer calma ou atividade. O projeto de ambientação traz espelhos d’água e praças temáticas, como a Praça das Mães, a Praça dos Aromas e a Praça das Flores. As crianças ganharam playgrounds diferenciados, para aquelas com idade até 4 anos, com brinquedos educativos, e para as crianças maiores, com equipamentos para arvorismo e tirolesa, entre outros, além de uma brinquedoteca coberta. A área comum ainda tem estação de ginástica, churrasqueira, quadra recreativa, espiribol, pista de skate, redário, pomar, sala de música, salão de festas, salão de jogos, sala de repouso com ofurô, piscinas adulto e infantil, solarium, deck e ciclovia. A previsão de entrega é de 36 meses.

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Serviço Torres Ekoara. Trav. Enéas Pinheiro, 2328, entre Avenidas Almirante Barroso e João Paulo II. Estande de vendas no local, com apartamento decorado em tamanho real. Comercialização: CIA (91-3241.3366).

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Cinema

h oras vagas

Saulo Sisnando

DVD Filmes

Escritor saulo@adorocinema.com

Angelo Cavalcante Publicitário angelocavalcante@gmail.com

A Família March Dizem que o clássico livro americano Mulherzinhas (Little Women), de Louisa May Alcott, é uma bela porcaria. Bom, sendo porcaria ou não, a verdade é que esse é um dos romances mais adaptados para a sétima arte. São - no mínimo- 4 adaptações cinematográficas, sem contar as inúmeras montagens feitas para a TV. Entre as atrizes que fizeram parte da família March estão: Katherine Hepburn, Elizabeth Taylor, Janet Leigh, Susan Sarandon, Winona Ryder e June Allison. Nas locadoras brasileiras estão disponíveis três versões do romance clássico. São elas: As Quatro Irmãs (1933), Quatro Destinos (1949) e Adoráveis Mulheres (1994). Das três ótimas adaptações, a de 1933, apesar de ter Katherine Hepburn interpretando Jo e ser dirigida por George Cuckor - mestre dos filmes para chorar - é a mais chatinha de todas. Mas as outras duas adaptações são perfeitas. A versão de 1949 possui elenco estelar: June Allison, Liz Taylor e Janet Leigh (aquela que morreu no chuveiro em Psicose). Essa versão, embora não muito fiel ao livro, é a que mais conseguiu roubar o espírito familiar da obra e aquela na qual houve maior pre-

ocupação com todas as mensagens positivas da história: respeito aos pais, bondade, honra, companheirismo, amizade, fraternidade, etc. No entanto, se a prateleira de clássicos da sua locadora não é lá grande coisa, não precisa ficar arrasado, pois existe a versão de 1994, dirigida por Gillian Armstrong. Apesar de ser um filme de época, com valores meio desbotados, notamos que muita coisa na história é atual. As interpretações são contemporâneas e a direção é segura. A trama, de qualquer das três versões, gira em torno dos pequenos dramas de quatro irmãs, em tempos de guerra, e de como superar os obstáculos da vida com companheirismo e dignidade. Tudo contado do ponto de vista de Jo, sem dúvida a mais divertida das irmãs. Ela é escritora, atriz e militante feminista. Jo é extremamente atual e ainda será por muito tempo. Sua prioridade profissional em despeito ao casamento, sua força e ousadia, sua luta em busca de realizar seus objetivos fazem de Josephine March uma mulher do século 21. Sem qualquer sombra de dúvida uma história bonita, indolor, que deve ser vista, em família, diversas vezes.

Across The Universe – Musical, EUA, 2007 Movimentos de contra cultura e Beatles! Os protestos contra a Guerra do Vietnã são mais uma vez contados através de um musical. Em Across The Universe, a diretora Julie Taymor (de Frida) pegou nada menos que uma porção de músicas dos Beatles para contar uma história de amor entre um rapaz inglês (Jim Sturgees – Quebrando a Banca) e uma moça americana (Evan Rachel Wood

– Aos Treze) em meio ao movimento hippie e aos protestos contra a guerra. As músicas ganharam novas versões cantadas pelos próprios atores e contam com participações dos cantores Bono Vox do U2 e de Joe Coker. O filme ainda faz referência a dois personagens importantes da época, Janis Joplin e Jimi Hendrix.

A Fúria – He Was A Quiet Man, Suspense, EUA, 2007 Solidão e Loucura! Bob Maconel (Christian Slater) é um insignificante funcionário em um escritório. Sua vida é monótona. Como numa fábula, seu melhor amigo é um peixe de aquário que fica encorajando-o a matar todas as pessoas do escritório. No dia em que cria coragem, outro funcionário aparece atiran

do para todo lado e Bob consegue salvar uma de suas colegas de trabalho (Elisha Cuthbert – Show de Vizinha). A partir daí sua vida se modifica para sempre. A Fúria tem direção de Frank A. Cappello, mais conhecido como roteirista de filmes como Constantine.

Batismo de Sangue – Drama, Brasil/França, 2007 Religião e resistência! Durante a ditadura militar brasileira, os freis Tito, Betto, Oswaldo, Fernando e Ivo apóiam o grupo guerrilheiro Aliança Libertadora Nacional, comandado por Carlos Mariguela. Eles passam a ser vigiados e posteriormente são presos

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e torturados. Batismo de Sangue é baseado no livro homônimo de Frei Betto e traz no elenco Caio Blat, Daniel de Oliveira, Cássio Gabus Mendes e Ângelo Antônio. Com direção de Hevécio Ratton.


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Livros Álvaro Jinkings

“Evidências do real” não é apenas mais um livro sobre os Estados Unidos pós-11 de Setembro. Trata-se de um estudo das relações entre a história, a realidade norte-americana atual e a produção cultural que eclodiu tendo como objetivo conter a crise deflagrada pelos atentados terroristas. Os ensaios que compõem a obra tomam como ponto de partida eventos ou fenômenos que tenham sido tratados de modo trivial ou reducionista pela mídia. Abordam temas Evidências do real: como patriotismo de massa, canção popular, governo paos Estados Unidos ralelo, estatuto do risco e violência. pós-11 de Setembro Susan Willis, professora na Duke University (EUA), demonstra que, por mais banais e aleatórios que pareçam, Susan Willis esses elementos são evidências da realidade histórica norBoitempo Editorial te-americana. Nas palavras da autora, “o livro é uma cartilha sobre os modos de ler tais evidências como indicadores da nossa realidade”. A orelha é de Slavoj Žižek.

Albery Rodrigues Publicitário albery@tuntz.com

Smoke City Flying Away

Mark Ronson Versions

CD

Voz e silêncio Maria José Carepa Editora Amazônia

Ao aparecer num terreno baldio, “sombrio, úmido e pegajoso”, o gato, narrador deste romance, após passar por algumas adversidades, acaba parando numa casa onde é acolhido por Chinno Kushami, o professor mal-humorado e estagnado em sua completa falta de perspectiva. O gato ridiculariza a vida da intelectualidade do Japão da Era Meiji, mostrando a fragilidade do professor e daqueles que o cercam. Todos os personagens passam pelo crivo do feliEu sou um gato no, que chama o leitor para ser seu cúmplice na tarefa de Natsume Soseki desvendar o cinismo de cada personagem e seu mundo Editora Estação Liberrepleto de mesquinhez, vaidades e desolação. Lançado em dade 1905, “Eu sou um gato” foi a estréia literária de Natsume Soseki e uma das primeiras faturas da renovação modernista da literatura japonesa.

Flying Away completou recentemente dez anos. O primeiro álbum da banda, formada pela brasileira Nina Miranda com os gringos Mark Brown e Chris Franck, foi um dos precursores do movimento e-bossa (e-music + bossa nova). O disco serviu de referência pra dezenas de projetos de easy listening que vieram depois. Como Águas de Março, Undewater Love, que foi hit em propaganda da Levis, With You, todas as músicas do disco são especiais e gostosas de ouvir, mesmo com o experimentalismo de algumas faixas. O segundo disco da banda, Heroes of Nature, traz uma versão de Imagine, do John Lennon, fantástica. O trio não toca mais junto. Flying Away pode ser considerado um clássico e está disponível nas melhores web stores. Uma mistura da bossa de Bebel Gilberto com o rock rouco de Danni Carllo. De base, batidas sintetizadas de Massive Attack. Algo por aí. Trilha perfeita para um pôr do sol na praia, já que estamos no verão.

O dj e produtor Mark Ronsonédj é o novo hype no mundo da música. Com três Grammys na bagagem, ele ainda é o único artista a ganhar o prêmio BritAward (artista inglês do ano) sem “cantar” no seu álbum, deixando Timbaland, novo amigo da Madonna, literalmente pra trás. Mark tem uma pegada “black”diferente. Mais “coolband”, estilão Outkast e Gnarlsbarkley. O que vem pra misturar ainda mais seu som é a influência “UK”. Traduzindo: Rock and Roll. Sua mãe morava em NY, casada com um guitarrista. Seu pai, manager de bandas, em Londres. Nas duas cidades, ele vivia cercado de música, com acesso aos bastidores é claro. Como todo bom produtor, a carreira começou com discotecagens em clubinhos por $50. É assim que se aprende a sacar o que funciona e o que não funciona. Daí para tocar no casamento do Tom Cruise e Katie Holmes com uma “forcinha” dos pais e faturar 40 mil libras de cachê, não demorou muito. Seu primeiro álbum, produzido em N.Y. tinha uma pegada bem hip hop e contava com vários convidados. Versions, carregado de influências rock, soa como álbum debut.

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Música

Música

Empresário alvaroedamazonia@yahoo.com.brr

São soluços de amor, como diz a autora. Maria José se desnuda através do seu lirismo e da sua sensibilidade. Sua poesia chora com desamor e vibra com a esperança da vida. São versos inquietos, às vezes insatisfeitos; em outros revela o seu amor à natureza, à família e às coisas simples da vida. Este livro é um convite à boa poesia, que aliado a um belo projeto editorial o torna primoroso. É um livro que orgulha a nós paraenses por não deixar nada a desejar em relação a livros escritos e produzidos no centro-sul do Brasil.

DVD

Aloizio Neto DJ aloizio@gmail.com

Oasis – Lord Don’t Slow Me Down Em sua última turnê, a banda britânica Oasis foi acompanhada pelo documentarista Billie Walsh, que gravou um extenso material, incluindo entrevistas, bastidores de shows, viagens e festas. Daí surgiu o documentário “Lord Don’t Slow me Down”. O DVD é duplo e no segundo disco consta o maior show desta turnê, feito na cidade natal dos integrantes da banda, Manchester, Inglaterra. O show traz muitos sucessos da banda e canções de seu disco mais recente, “Don’t Believe the Truth”, de 2005. Preço médio: R$ 50.

Martin Scorcese - No direction home O consagrado diretor Martin Scorsese realizou um antigo desejo: fazer um documentário sobre Bob Dylan. O resultado é o primoroso “No Direction Home”. Scorsese mostra várias etapas da vida de Dylan. Para isso, usou imagens do arquivo pessoal do artista que mostram desde o jovem sendo vaiado pelos conservadores fãs de country e folk ao usar guitarra elétrica, até sua consagração em grandes shows, passando por várias polêmicas que rodearam o misterioso músico. Preço médio: R$ 70.


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d estino • texto e fotos por Marcelo Damaso

Um lugar para não

esquecer

Sem a agitação de Buenos Aires e preterido por turistas brasileiros, o Uruguai aparece discreto com seu povo educado, boas opções de lazer, restaurantes, muito história e paisagens para guardar bem na memória.

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foto Gustavo Uval

foto Gustavo Uval foto Gustavo Uval

Acima, à esquerda, o luxuoso prédio do Palácio do Legislativo uruguaio. O prédio da Casa de Governo é outra relíquia histórica da capital e a praia Ramirez oferece uma visão privilegiada da cidade.

1950, Maracanã. Decisão de Copa do Mundo entre Brasil e Uruguai. Antes da partida, a torcida brasileira já enchia o peito de ar para comemorar o título da seleção que tinha Zizinho, Barbosa e o artilheiro Ademir. Mas a celebração foi calada pelo fato que marcou para sempre o orgulho uruguaio. Giggia selou a vitória de virada no Rio de Janeiro. Frustração brasileira e o sucateado orgulho do povo uruguaio ganhando carícias no ego. Aquela comemoração, que posteriormente veio a ser algo corriqueiro para os brasileiros, foi um dos trunfos mais marcantes na história do país vizinho, sede do Mercosul. A vitória uruguaia representou o orgulho que sufocava o país que foi quase esquecido pelo mundo – já havia sido o primeiro campeão de uma Copa do Mundo, batendo a Argentina por 4 a 2, em 1930. Através do futebol, essas duas vitórias importantes marcaram a glória do Uruguai, um país que se tornou independente após pertencer aos vizinhos Brasil

e Argentina e hoje reflete no povo a importância de se exaltar o lugar em que se vive. A partir de então, o país lutou para sair da sombra dos gaúchos vizinhos e dos porteños glamourosos. E foi com paz, educação, segurança, elegância e exemplo de cidadania que ganhou sua importância na América Latina. Sem a agitação de Buenos Aires e preterido por turistas brasileiros, o Uruguai aparece discreto com seu povo educado, paciente e carente de atenção. Seja em um táxi, restaurante, lojas ou entre transeuntes, a primeira impressão que se tem é de que o uruguaio espera que o visitante mostre sua cara e, da feita que a simpatia e interesse pelo país se instala, a relação recebe ares de afeição e vontade de mostrar por que até a década de 1960 o Uruguai era chamado de “a Suíça sul-americana”. Na época, possuía as virtudes de um país desenvolvido, com altos índices sociais e estabilidade política. Na década seguinte, no entanto, houve uma escas-

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sez de recursos minerais e uma evasão muito grande causada pelo desemprego. Até hoje, nosso vizinho ainda sofre de uma certa carência de tecnologia, o que lhe confere um ar de passado, como se Montevidéu e cidades de outros departamentos (estados) estivessem entre as décadas de 1940 e 1970. Montevidéu Localizada no extremo sul do país, é o lugar ideal para quem procura um centro urbano misturado à simplicidade e à beleza de uma cidade européia, assim como a vizinha Buenos Aires. As características culturais de Montevidéu se assemelham à capital argentina. Tipicamente européias pelas ruas, esquinas, instituições culturais, públicas e privadas, que refletem a educação e os costumes do povo que goza de uma taxa de analfabetismo quase zero. Existem poucas faculdades particulares no país. No entanto, o ingresso no ensino superior não passa por proces-


foto Nicolas Ferraro

foto Gustavo Uval foto Nicolas Ferraro

O arco da Plaza Independenzia (à direita) representa o começo da cidade, dividindo o centro com a Ciudad Vieja. A cidade oferece muitas áreas abertas para o lazer e passeios.

sos seletivos e as turmas de quase todos os cursos comportam entre 400 e 500 pessoas em uma sala (auditório) de aula. O centro da cidade é cortado pela avenida 18 de Julio, que começa no bairro de Tres Cruces e termina na belíssima Ciudad Vieja, com seus museus, cafés, boates, mercado municipal e uma arquitetura única, sem prédios novos e repleta de casarões antigos. Quanto mais se aproxima da Ciudad Vieja, no centro, cercado pelo Mar Del Plata, ventos cortam de canto a canto soprando um frio que domina cerca de oito meses durante o ano. Poucas quadras separam o centro da orla da cidade, dividida entre a zona portuária e bairros nobres como Punta Carretas e Pocitos. Um passeio pelo bairro de Pocitos é um convite à tranqüilidade de uma classe média sem muita ambição e feliz em seus apartamentos amplos, próximos à orla: La Rambla de La República Argentina. Pocitos é considerado pelos jovens uruguaios um “bairro de

galera”, devido sua diversidade de bares e boates, além de ser um dos locais considerados nobres e de uma paz absoluta durante o dia. É comum andar quadras e quadras e não achar uma pessoa para pedir informações. O Hotel Ermitage, um quatro estrelas de frente para o mar e com mais de 40 anos de tradição, é uma ótima opção para quem quer desfrutar com elegância da paz que Montevidéu proporciona. As diárias – cobradas em dólares por quase todos os hotéis – custam cerca de 70 dólares o quarto duplo. No centro também é fácil encontrar boas hospedagens entre 35 e 40 dólares o quarto duplo. Além de Pocitos, a classe rica uruguaia também habita os casarões de Carrasco, o bairro nobre onde fica o Aeroporto Internacional de Montevidéu, o que torna a recepção na cidade ainda mais deslumbrante. Bosques, lagos e mansões imprimem uma sensação de felicidade rara nos bairros mais nobres das capitais brasileiras.

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As mansões, no entanto, não são exclusividade desses bairros, pois em Prado, antigo bairro nobre da cidade, existem poucos prédios modernos e casarões belíssimos. O presidente uruguaio reside em Prado, onde a violência é algo tão distante que ele optou pela total ausência de policiamento. A casa figura entre as mais bonitas do bairro, que hoje em dia concentra tanto ricos como a classe média. O charme de Prado não está apenas na tranqüilidade e na beleza arquitetônica, mas nas diversas praças e parques arborizados do lugar. Assim como em toda cidade grande, Montevidéu também tem sua zona pobre, o Cerro, onde existe um dos lugares mais belos para se contemplar de uma única vez toda a beleza da capital uruguaia vista de cima: a Fortaleza Del Cerro. O acesso é feito por ônibus ou automóvel. Ainda assim, há um percurso a pé para se chegar ao local. Um táxi ou a companhia de um uruguaio resolve qualquer problema para que um turista brasileiro conheça a antiga fortaleza, um


foto Nicolas Ferraro

foto Nicolas Ferraro

O Teatro Solis (acima), na Plaza Independenzia, é um dos pontos turísticos mais emblemáticos de Montevidéu. À direita, a vista paradisíaca da cidade de veraneio Piriápolis.

dos pontos turísticos mais emblemáticos da cidade. Os bons restaurantes estão em qualquer esquina do centro de Montevidéu, pela avenida 18 de Julio e na Ciudad Vieja, com preços sempre acessíveis e o cardápio que oferece a famosa parrilla, empanadas de queijo e presunto e as tortillas (uma espécie de empadão) com recheios de vários tipos, como a tradicional Pascualina, com espinafre, ovo cozido e palmito. Assim como em Buenos Aires, Montevidéu também oferece bons vinhos para o acompanhamento, além das cervejas Patrícia, Norteña, Pilsen e Zillertan, todas de um litro. Agito A noite de Montevidéu começa na quinta-feira, onde a Ciudad Vieja é sempre uma boa opção. O Pony Pisador é uma casa noturna que se divide entre dois estabelecimentos, um de frente para o outro, separados por uma ruela do bairro. Pop latino, tango e música brasileira dão o tom da noite. A parte antiga

da cidade também concentra o maior número de boates da capital, como Key, La City e Almodóvar. Entradas a preços acessíveis (entre 10 e 15 reais) e que geralmente dão direito a uma cerveja ou um whisky. Em Punta Carretas, jovens entre 20 e 25 anos lotam a W Lounge, que fica em um dos pontos do Parque Rodó, uma das maiores e mais belas praças de Montevidéu. A W Lounge tem quatro pistas de dança que tocam música eletrônica, pop latino, rock e black music. Em determinado momento da noite, dançarinas provocam os rapazes com danças sensuais em cima dos palcos espalhados pela boate. Depois do número, fica a deixa para que o público (geralmente garotas) suba e faça seus números. O que parece ser algo instigante se limita a dancinhas comportadas e divertidas. O bar La Ronda, atrás do belo Teatro Solis, localizado na Plaza Independenzia, reúne jovens de perfil mais alternativo, que gostam das músicas que não tocam nas FMs locais. O bar,

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no entanto, é o pit-stop para a continuação da La Ronda, que na mesma quadra se estende a La Outra Ronda, boate que traz DJs e apresentações ao vivo de bandas independentes. Não deixe de conhecer o Shopping Punta Carretas, uma antiga prisão no bairro nobre da cidade transformada em um belo centro de compras com cinemas, café e restaurantes de primeira categoria. Existem também o Montevideo Shopping, Portones e Shopping Três Cruces, que é também a rodoviária. Interior A população uruguaia tem pouco mais de três milhões de habitantes – menos do que o estado do Pará, o que credita a tranqüilidade a todas as pequenas cidades como La Paloma, San Gregório, La Perrera, Piriápolis e Punta del Leste. As duas últimas variam entre a efervescência do verão e a tranqüilidade - quase de cidades fantasmas - das outras estações do ano. Em 1973, um golpe militar promoveu uma luta ar-


HOTÉIS Sheraton Montevideo (Punta Carretas. Calle Victor Solino 349). Informações: www.starwoodhotels.com/sheraton Hotel Europa (Centro. Colônia, 1341). Diárias: Em média U$ 35 single. Informações: www.hoteleuropa.com.uy/ Hotel Três Cruces (Três Cruces. Miguelete 2356, esquina com Acevedo Diaz). Diárias: U$ 35 – single (com descontos para clientes brasileiros). Informações: www.hoteltrescruces.com.uy/ Hotel Ermitage (Pocitos. Juan Benito Blanco, 783). Diárias: U$ 65 – single – com vista para a praia. Informações: www.ermitagemontevideo.com Ibis Montevideo (Rambla sur). Diária: Média de $ 100. Informações: ibismontevideo@accor.com.uy Hotel Argentino (Piriápolis). Diária: U$ 70 – single. Informações: www.argentinohotel.com.uy RESTAURANTES Don Pepperoni (Ciudad Vieja). Média de $ 350 por refeição. Sexta e sábado os jantares são sempre acompanhados de uma atração musical. Roma Amor (Ciudad Vieja. Bacacay 1331 entre Peatonal Sarandí y Buenos Aires). Em média $ 400 pesos por alimentação. Chez Piñero (Pocitos. 21 de Setiembre, 2847, esquina com Ellauri). Almoço em média: $ 300 (incluindo bebida).

Piriápolis recebe turistas no verão e mantém um clima quase fantasma durante as outras estações do ano, dando à cidade uma tranqüilidade inimaginável.

La Esquina Del chivitos (Centro. Avenida 18 de Julio com). Almoço em média: $ 300 (incluindo bebida). La Pasiva (rede de lanchonete espalhada pela cidade). Preços em conta: média de $ 150 a $ 200 por refeição (incluindo bebida). Mercado del Puerto (Ciudad Vieja). Só funciona para o almoço, pois fecha depois das 18 horas. BOATES W Lounge Onde: Parque Rodó. La Rambla de La Republica Argentina. Entrada:De $ 120 a $ 150 (12 a 15 reais) a entrada. Porque: Garotada entre 20 e 25 anos que dança até de manhã, sobe no balcão e aplaude dançarinas sexys em performance no meio da noite. La City Onde: Ciudad Vieja (Rincón, 618) Quanto: $ 150 (que inclui uma cerveja ou whisky) Porque: Homens e mulheres entre 22 e 30 anos atrás de paquera. Dois ambientes, o de cima com pop latino e música eletrônica e o de baixo com cumbia.

mada que resultou em muitas mortes, devido à dura repressão por parte do governo e que favoreceu o surgimento de movimentos de oposição. O resultado ainda ecoa pelo país, principalmente em cidades interioranas onde o conservadorismo se confunde com o conformismo. A ditadura militar durou até o ano de 1984, mas que, ainda assim, não cessou os problemas econômicos. Foram esse declínio econômico e a instabilidade política que provocaram uma grande evasão de jovens para países vizinhos e a Europa e, conseqüentemente, o que instalou de uma vez por todas a paz pelas cidades uruguaias. No departamento de Colônia, o município de Colônia de Sacramento, ponto crucial para quem se-

gue para a Argentina, é um episódio à parte no Uruguai. Tombada pelo patrimônio histórico, a beleza está espalhada pela cidade, onde o silêncio e paz durante a noite chega a causar desconfiança, o que se constata logo como uma impressão equivocada, já que mesmo na capital, Montevidéu, o índice de latrocínios ficou em quatro casos em 2007. Bicicletas, motos e bugres são disponibilizados para o aluguel de turistas onde, em apenas uma tarde, se conhece toda a cidade. O turista em trânsito, seja para a Argentina ou Brasil, seguramente reflete sobre a opção de jamais deixar o Uruguai, um país que vive uma decadência com elegância e respira um ar puro e humanizado, tanto nas relações pessoais como na beleza e paz que inspira.

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La Ronda e La Outra Ronda Onde: Ciudad Vieja (atrás do Teatro Sólis) Quanto: cerca de $ 90 (nove reais) a entrada para a boate La Outra Ronda. O bar La Ronda é aberto ao público. Porque: O lugar mais alternativo da cidade, que reúne músicos, artistas, descolados e modernos. Se pode comer um burrito delicioso enqüanto se escuta a bar-woman tocando vinis. Bar Fun Fun Onde: Ciudad Vieja (atrás do Teatro Solis). Quanto: cardápio variado Porque: Bar histórico com 100 anos, famoso por ter sido freqüentado por Carlos Gardel. Pony Pisador Onde: Ciudad Vieja (Bartolomé Mitre 1325). Quanto: Aberto ao público. Porque: Um dos bares mais freqüentados para quem quer ver e ser visto, desde turistas a jovens e coroas uruguaios.


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d estino • da Redação • fotos de Márcio Pregal •

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Serra imperiosa No alto da Serra Fluminense, o ar ameno que se respira traz consigo a herança de um Brasil com pompas imperiais marcado na história deste imenso território que deixava de ser colônia portuguesa e ganhava status de pátria independente. A beleza que arrebatou Dom Pedro II ainda pode ser vista hoje em Petrópolis, com muito mais opções do que teve o imperador no século 19: além da natureza, a cidade tem uma culinária especialíssima, bons roteiros de ecoturismo e, claro, muita história espalhada em cada esquina.

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etrópolis fica a 65 km da cidade do Rio de Janeiro. O percurso, por via rodoviária, dura aproximadamente uma hora, com direito a paisagens que prendem a atenção do viajante. Ao chegar, a primeira parada obrigatória é no centro histórico. Lá está o imponente Museu Imperial, um dos mais visitados do Brasil. Toda em estilo neoclássico, a edificação foi construída entre 1845 e 1864 a mando de Dom Pedro II e serviu de Palácio Imperial. Hoje, verdadeiros tesouros da memória nacional estão preservados no museu, como a coroa de Dom Pedro II, a coroa e o cetro em ouro de Dom Pedro I e as mobílias de cada cômodo do casarão. Outra figura ilustre, o inventor e aviador Alberto Santos Dumont, tem a casa de verão aberta para visitas na cidade. “A Encantada”, como o chalé é conhecido por estar no antigo morro do Encanto, foi construída pelo próprio Santos Dumont. Entre os detalhes do lugar, há um mirante que servia de observatório astronômico e uma escada diferente em que cada degrau tem dimensões maiores de um lado e menores do outro. Em 2006, ano do centenário do vôo inaugural do 14-Bis, foi inaugurada outra homenagem ao aviador que morou em Petrópolis após temporada de estudos na França: a Praça

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14-Bis, onde há réplica do avião. O Palácio de Cristal, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), faz parte da arquitetura e da paisagem da Praça da Confluência. Criado pelo Conde D’Eu, marido da princesa Isabel, o lugar era usado para exposições e festas e atualmente recebe eventos culturais. Aberto apenas para visitação externa, o Palácio Rio Negro foi palco de momentos da vida privada de grandes estadistas brasileiros, só que durante o período republicano. Desde 1903, o palácio está incorporado ao Governo Federal e recebe os presidentes da República. Um dos mais assíduos era Getúlio Vargas, que ia para lá todos os anos. Duas praças localizadas ainda no centro da Cidade Imperial rememoram os tempos de Império. Uma delas é a Praça da Liberdade, que tem a maior área entre as praças, com mais de 21 mil m2. O nome foi dado em 1888, porque ali os ex-escravos se encontravam para comprar a liberdade dos companheiros que permaneciam nas senzalas. A outra é a Praça Dom Pedro II, onde fica a estátua do imperador criada pelo escultor francês Jean Magrou em granito e bronze. Também são pontos de importância histórica as casas da Princesa Isabel, de Joaquim Nabuco, de


A Catedral de São Pedro de Alcantâra, patrono do Império, é uma construção em estilo neogótico francês em alvenaria de pedra e um passeio imperdível.

Rui Barbosa, e do Barão de Mauá. As marcas religiosas fixadas na cidade que ainda hoje podem ser vislumbradas começam pela igreja de Confissão Luterana, o mais antigo templo do local. Do projeto original, só a nave principal é mantida. A igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus e a Catedral de São Pedro de Alcântara destacamse entre as edificações católicas. A Catedral é uma construção em estilo neogótico francês em alvenaria de pedra aparelhada com obras internas esculpidas em granito. São Pedro de Alcântara era o patrono do Império Brasileiro. Há espaços interessantes fora do centro da cidade. É o caso do Palácio Quitandinha, que funcionava como um dos maiores hotéis cassino da América do Sul, e do Castelo Barão de Itaipava, disponível apenas para visitação externa e famoso por ser uma reprodução de castelo renascentista. Petrópolis tem tanta história para contar e mostrar que é difícil sair da rota dos casarões, palácios e museus. Mas a serra tem ainda muitos encantos. Ecoturismo e Gastronomia Aproveitar Petrópolis também significa ficar junto à

natureza, de preferência interagindo com a exuberância da Mata Atlântica. As caminhadas e os esportes praticados nos arredores da cidade, em lugares como o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, levam para lá muitos turistas interessados em tranqüilidade. Os roteiros mais leves incluem arvorismo e caminhadas ecológicas em lugares como o caminho do Açu, onde fica a cachoeira Véu de Noiva. Há ainda locais para cavalgadas ecológicas e pescaria. Se o visitante for mais “radical”, pode optar pelo cabo aéreo, pela subida até a Pedra do Sino ou o canyoning, técnica de descer cachoeiras sobre a queda d’água. Nas corredeiras, dentro de botes infláveis, o rafting é garantia de aventura. Para quem não tem problemas com altura, há ótimas possibilidades de diversão em grupos disponíveis: de escalada e montanhismo a parapente e rapel. Exercícios feitos, é hora de comer sem culpa. Não é sacrifício algum se deliciar com a gastronomia da região serrana. Ao contrário, Petrópolis tem grandes restaurantes e chefs reconhecidamente competentes. O italiano Locanda Della Mimosa é dos melhores das Américas, faz parte do guia “Les Grandes Tables du Monde”. Sob os cuidados do chef Danio

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Braga, a cozinha torna-se um laboratório para a descoberta de novos pratos e sabores. A cada semana o cardápio e a carta de vinhos do restaurante são alterados, privilegiando os produtos da estação. Na região de Itaipava, a poucos quilômetros do centro da cidade, estão outros restaurantes de alta qualidade. Entre eles, o Parador Valência, do chef Vicente Más Gonzalez, o Paquito, que serve diversos tipos de paellas, e o português Parrô do Valentim, onde não faltam bacalhaus para todos os gostos. Alvorada e Alameda 914 são ótimas escolhas de restaurantes no distrito de Araras. A boa mesa por aqui é tão tradicional quanto as histórias imperiais. História Certa vez, de passagem pelo Caminho do Ouro, Dom Pedro I pernoitou na fazenda do padre Correa, na localidade onde hoje está Petrópolis, e se encantou com o lugar. Anos depois, o imperador comprou a fazenda do Córrego Seco, localizada na mesma região. Após sua morte, o terreno foi herdado por Dom Pedro II e, por iniciativa do engenheiro do exército, Major Júlio Frederico Köeler, e do mordomo da Casa Imperial, Paulo Barbosa, finalmente o Palácio


O Palácio de Cristal, idealizado pelo Conde D´Eu, marido da princesa Isabel, era usado para exposições e festas.

Imperial começou a ser construído naquela área em 1845 quando foi fundada a cidade de Petrópolis. Os colonos alemães foram os mais freqüentes na formação inicial do município. Depois vieram italianos, franceses e outros imigrantes europeus, em clara política de europeização. A temporada de Dom Pedro II e da Família Imperial em Petrópolis durava até seis meses. Ele só deixou de ir à cidade na época da Guerra do Paraguai. Quando houve a Proclamação da República, o imperador soube da notícia em Petrópolis e por lá ficou durante seu exílio. Com a República, a cidade manteve prestígio tornando-se inclusive capital do Estado durante nove anos. Atualmente, o desenvolvimento e as inovações tecnológicas são metas da região, por isso foi criado o projeto Petrópolis-Tecnópolis que atrai e incentiva empresas com foco nesta área. Petrópolis é história, mas não ficou no passado. O que impressiona até hoje na cidade é o poder imperioso de seduzir os visitantes que atravessam seu caminho, de Dom Pedro I até o próximo desavisado que passar pela serra.

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Um dos locais preferidos da antiga corte, a cidade é cheia de influências da arquitetura colonial européia, um verdadeiro passeio pela memória do país.

Serviço Museu Imperial Endereço: Rua da Imperatriz, 220 – Centro Telefone: (24) 2237.8000 Visitação: terça a domingo de 11h às 18h (bilheteria até 17h30) Ingresso: R$ 8 e R$ 4 p/ estudantes e professores. Site: www.museuimperial.gov.br Museu Casa de Santos Dumont - “A Encantada” Endereço: Rua do Encanto, 22 – Centro Telefone: (24) 2247.5222 Visitação: terça a domingo de 9h30 às 17h. Visita guiada. Ingresso: R$5,00 e R$2,50 p/ estudantes. Palácio de Cristal Endereço: Rua Alfredo Pachá, s/nº - Centro Telefone: (24) 2247.3721 Visitação: de terça a domingo de 9h às 18h30. Palácio Rio Negro Endereço: Av. Koeler, 255 – Centro Visitação: externa Praça da Liberdade Endereço: Situada no encontro da Av. Roberto Silveira, Av. Koeler, R. Dr. Nélson de Sá Earp e R. Barão de Amazonas – Centro

Igreja Evangélica de Confissão Luterana Brasileira Endereço: Av. Ipiranga, 346 - Centro Telefone: (24) 2242.1703 Visitação: No horário de culto, domingo às 9h. Matriz Sagrado Coração de Jesus Endereço: Rua Montecaseros, 95 - Centro Telefone: (24) 2242.6915 Visitação: Segunda a sábado, de 8h às 12h e de 14h às 19h. Domingo de 8h às 12h e das 14h às 20h30. Catedral de São Pedro de Alcântara Endereço: Rua São Pedro de Alcântara, 60 - Centro Telefone: (24) 2242.4300 Visitação: Segunda de 8h às 12h - Terça a sábado, de 8h às 12h e de 14h às 18h. - Domingo de 8h às 13h e de 15h às 18h. Parque Nacional da Serra dos Órgãos Endereço: Estrada do Bonfim – Correas Telefone: (24) 2236.0365 Visitação: Diariamente horário da guarita 8h às 17h Preço: R$ 3 (somente visita), R$12 (por pernoite) Locanda della Mimosa (restaurante) Endereço: Alameda das Mimosas, 30 - Vale Florido

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Capacidade: 70 pessoas Tel: (24) 2233.5405 Parador Valencia Endereço: Estrada União e Indústria, em frente ao nº 11.389 Servidão Celita de Oliveira Amaral, 18 Capacidade: 36 pessoas Tel: (24) 2222.1250 Parrô do Valentim Endereço: Estrada União e Indústria, 10.289 - Itaipava Capacidade: 64 pessoas Tel: (24) 2222.1281 Alvorada Endereço: Estrada Bernardo Coutinho, 1.655 Capacidade: 50 pessoas Tel: (24) 2225.1118 Alameda 914 Endereço: Alameda Paranhos de Oliveira, 914 Malta 9,5km entrada de Araras Capacidade: 30 pessoas Tel: (24) 2225.1637


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t e ch Os preços e disponibilidade dos produtos são de responsabilidade dos anunciantes

iPhone 3G Um ano depois do lançamento do iPhone, a Apple une ao aparelho as características da rede 3G e apresenta o iPhone 3G, duas vezes mais rápido que a primeira geração. O novo iPhone tem mapas com GPS e o software iPhone 2.0, que conta com Microsoft Exchange ActiveSync e roda muitas outras aplicações. Os usuários do iPhone 3G têm o mais rápido acesso à Internet na rede de telefonia celular e facilita a realização de multitarefas; é possível checar e-mails ou visualisar mapas enquanto se está em uma ligação.

Monitor AOC

www.apple.com/br

Quase uma central multimídia, o monitor AOC 2217Pwc vem com webcam de 1.3 Mega, microfone e alto-falantes integrados. A tela em LCD de 22’’ widescreen traz imagens em alta definição. Há ainda um USB Hub que permite conexão simultânea de até três acessórios. Além da funcionalidade, o monitor tem design elegante, com base ajustável em altura, rotação e inclinação. www.intersol.com.br (cod.55901)

Notebook HP Pavilion Tablet A tela giratória e com touch screen é o charme do notebook HP Pavilion TX2075BR Tablet. Este notebook tem 2 GB de memória, HD com 160 GB e tela LCD de 12,1’’. Também estão acoplados ao aparelho uma webcam com microfones integrados, modem, rede Wireless e gravador de CD e DVD. O sistema operacional do notebook HP Pavilion TX2075BR é o Windows Home Premium. www.intersol.com.br (cod.55975)

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p ets

Aventura radical

• por Juliana Oliveira • fotos de Diana Figueroa • arte por Bender •

Malas prontas, destino traçado, um monte de planos perfeitos e um grande dilema: o que fazer com o seu bichinho de estimação na hora de sair de férias? Living ouviu os mais amorosos proprietários de animais e trouxe soluções que vão de uma temporada num hotel especializado a passeios turísticos para animais em que a diversão do dono é apenas um detalhe.

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evisão no carro, bagagem em excesso, pequenas discussões entre as três filhas adolescentes. A rotina de férias da família Maneschy é praticamente a mesma de milhares de famílias que viajam no mês de julho. Tudo muito corriqueiro, exceto por um pequeno detalhe, na verdade um detalhe de seis quilos e 800 gramas que atende pelo nome de Zack: o gatinho de estimação das irmãs Amanda, 16 anos, Marina, de 14, e Beatriz, de 11. Há dois anos quando o bichano chegou ao lar, após uma campanha obstinada das meninas em convencer os pais da necessidade de um animal de estimação para o apartamento, o planejamento das férias não foi mais o mesmo. A paixão que o gato persa despertou nas proprietárias impôs à família a condição de jamais deixá-lo sozinho. “Se o Zack não for, elas também não vão”, explica a mãe, Aurora Maneschy. Sorte dela ter escolhido uma raça de gato de temperamento tão dócil, o que lhe poupa estresses num momento em que todos só pensam em lazer. “Ele é

muito bonzinho. Dorme a viagem inteira e não enjoa. A viagem mais longa que ele foi durou 12 horas de ida e volta e ele foi tranqüilo na caixinha e ainda se espreguiçou quando saiu”, conta, revelando que o destino preferido do gato é Mosqueiro, que juntamente com Salinas está, também, entre as preferências da família. Na hora de escolher a casa para passar férias, a primeira preocupação é ver se ela é segura, se não há brechas por onde Zack possa dar uma escapadela e sair para curtir por conta própria. “Não dá para viajar sem ele”, reitera Amanda, detalhando o rito antes das viagens: a caixinha de viagem - onde ele vai - e a mochila com todos os apetrechos do felino, que incluem comida, cobertor, remédios, escova de pelo e outras coisinhas. “O único cuidado especial é colocar a caixinha de frente para o ar condicionado do carro, porque ele gosta muito e evita o cansaço do calor”. Pacote de viagem Uma outra solução é planejar as férias do seu bi-

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chinho e se colocar na condição de acompanhante. É o que propõe um dos principais portais que tratam do assunto o “Turismo 4 Patas”. Com a missão de promover atividades de lazer para pets e seus donos, o portal oferece os contatos de agências e hotéis com pacotes destinados a esse público em todo o país, como a Agência Brotas Aventura, localizada na cidade de Brotas em São Paulo, que disponibiliza rafting para cães. O portal ainda realiza workshops, seminários, datas comemorativas e eventos voltados para os donos de animais como o Fim-de-semana Radicão. Nele, humanos e seus melhores amigos correm, nadam juntos, realizam provas lúdicas e ainda se aventuram em esportes radicais, como o floating (descidas em corredeiras usando botes de borracha). Cinco estrelas Para quem não tem a sorte de ter um bichinho tão sossegado ou considera estressante demais para o animal passar por uma rotina de viagens uma saída é usar o serviço de hotel disponibilizado por algumas


As irmãs Amanda, Marina e Beatriz, com o inseparável Zack, o gato acompanha a família em todas as viagens.

O que você precisa saber para viajar com o seu bichinho • Verifique se é permitido o trânsito de animais no meio de transporte a ser utilizado. • Tenha à mão os contatos de um veterinário no local de destino. • Antes de viajar certifique-se com um veterinário de que a carteira de vacinação do seu bichinho está em dia. • Durante o caminho da viagem, procure locais de parada em que animais são bem-vindos. • Identifique seu animal com uma etiqueta com nome e dados do proprietário para contato. • No caso de viagens internacionais verifique as normas vigentes exigidas pelo Serviço de Sanidade Animal que controla e orienta as atividades da importação e exportação de animais no Brasil. Mais informações podem ser obtidas no site do Serviço de Gestão da Vigilância Agropecuária http://www.dfasp.gov.br.

pet shops. É do que se vale o estudante Iago Pinto, de 15 anos, um amante de animais. Hoje com um cão e um pássaro em casa, ele acredita que seus animais já se habituaram às estadias nos hotéis quando ele precisa viajar. “Viagens mais longas são cansativas. Na hora de escolher o hotel levo em consideração a higiene, pego referências com outros clientes, vejo como são as instalações. Os meus animais são minhas companhias. Se pudesse os levaria sempre, só que a mão-de-obra é muito grande, até pelo estresse, infra-estrutura... prefiro o hotel”, explica. Para amenizar o impacto da mudança de ambiente, alguns veterinários aconselham que o dono deixe objetos familiares ao animal, como a “caminha”, comida e brinquedos. Além dos telefones de contato, no caso de alguma eventualidade.

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g aleria • por Guilherme Guerreiro Neto • fotos de Diana Figueroa •

Reflexões

gravadas A poética sem amarras de Armando Sobral deixa em suas gravuras sinais de que o olhar interior sobrepõe-se a qualquer tendência e permite ao artista recuperar a tradição para o hoje.

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m uma casa antiga com tábua corrida no piso e pé-direito alto, no centro de Belém, Armando Sobral leva a vida e faz arte. Ele não tem hora certa para produzir, mas prefere que seja antes de anoitecer. As placas de cobre, enfileiradas sobre a mesa de trabalho, parecem aguardar ansiosas para receber os rabiscos de Sobral. Nem por alto ele sabe quantas gravuras já produziu. As peças estão em galerias de São Paulo e Belém, algumas foram levadas recentemente para exposição em Tóquio, outras já passaram por países como Espanha, Canadá e Noruega. O que abarca toda a obra deste artista paraense é a conciliação entre a prática e o entendimento crítico da produção. Em pé, escorado no móvel do ateliê improvisado – onde deveria ser um dos ambientes da sala –, ele abstrai sobre o que faz: “No pensamento contempo-

râneo, às vezes, o conceitual nega o objeto artístico. No meu trabalho, não. Essas questões entram como reflexão e afirmação da própria tradição.” A atenção permanente de Sobral com a própria arte está relacionada à formação acadêmica em artes plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo, onde ele teve os primeiros contatos com a gravura. Desde 2001, quando voltou a Belém, Sobral busca incentivar e divulgar a produção de gravuras no estado. “Fiquei muito estimulado quando cheguei aqui porque a atividade que eu desenvolvia, que era a gravura, inexistia”, conta. Hoje, há exposições com este tipo de obra de arte no Museu Histórico do Estado do Pará, no Museu de Artes do CCBEU, na Galeria da Sol Informática e em outros espaços da cidade. Além disso, artistas como Pablo Mufarrej, Elaine Arruda, o

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marabaense Antônio Botelho e o cabo-verdiano Bento Oliveira, todos ligados à produção de gravuras no Pará, ganharam impulso nos últimos anos e conseguiram consolidar suas carreiras. Olhando para as gravuras em âmbito nacional, Sobral vislumbra um bom momento. “É um segmento da produção contemporânea brasileira de extrema projeção”, avalia. Voltando-se ao trabalho intimista de quem vive da arte, ele é mais crítico. O apego demasiado à obra, em sua opinião, é um obstáculo. Desfazer-se das coisas, às vezes, é necessário. Ele preza o que sente e o que pensa e envereda seu trabalho nesse rumo. “Tem artistas que olham mais para o seu interior, outros que olham mais para sua carreira. Eu faço o primeiro”, afirma. Parte-se de uma matriz, que pode ser metal, pedra, madeira ou diversos outros materiais, dependen-


do da técnica escolhida, para chegar à gravura. Sobral usa principalmente metal e madeira (xilogravura). “As características de cada técnica têm que ser compatíveis com o teu projeto. Na madeira, uso um estilo de desenho mais simplista e econômico. Na gravura em metal, a flexibilidade do desenho é maior”, compara. A série “Mantas”, inspirada nas peças de pirarucu penduradas na feira, é um dos principais trabalhos em madeira feitos por ele. Em metal, destacam-se as séries “Taturanas” – em andamento – e “Belém”. “Meu próximo projeto é um mergulho na pintura figurativa a óleo”, revela o artista de 44 anos ao mostrar um retrato que está pintando de seu pai para testar como anda sua desenvoltura com este tipo de produção. “E, claro, estou dando continuidade à série ‘Taturanas’, que gosto muito.” Mesmo partindo para novos desafios, é impensável ver Sobral longe de pontas secas,

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“As características de cada técnica têm que ser compatíveis com o teu projeto. Na madeira, uso um estilo de desenho mais simplista e econômico.”

goivas e formões. Ele próprio se identifica muito mais com a gravura do que com um estilo. Aprisionar-se a um só padrão estético não está em seus planos. “Minha poética é um processo contínuo”, diz. A cada nova obra de arte, Sobral procura trazer a tradição para seu tempo e renovar a poética. Em solo paulista Era noite em São Paulo e um copo de whisky jazia ao lado enquanto uma idéia súbita tomava conta de Armando Sobral: estava na hora de voltar a Belém. “Eu não tinha por que voltar. Tinha meu ateliê, meu espaço na cidade. Quando percebi que dali para frente só ia fazer a manutenção daquilo, me propus a um novo desafio”, lembra. No dia seguinte, ele anunciou a decisão para Ernesto Bonato, seu sócio no ateliê, que ficou, digamos, chateado – para ser sutil. O fato é que um mês depois Sobral desembarcava no aero-

porto de Val-de-Cans para recomeçar a vida após 16 anos em São Paulo. A formação da carreira de Sobral tem Sampa como cidade natal. Ainda na faculdade, o artista participava de algumas exposições, nada muito representativo. A consolidação veio quando ele passou a freqüentar os ateliês públicos. Em pouco tempo, Sobral se juntaria a outros artistas que tinham idéias parecidas com as dele para fundar o Ateliê Piratininga, que existe até hoje. “Foi quando tive meu primeiro ateliê de fato”, conta. Ele também trabalhou no Museu de Arte de São Paulo (MASP) e em galerias da capital paulista. Sobral sente falta da troca de experiências artísticas que São Paulo proporciona. Sem falar na efervescência produtiva que a demanda exige. “Lá você tem um mercado de arte. Você produz e escoa. As pessoas te procuram. Há um movimento cultural muito profissional”, afirma. Também em São Paulo,

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ele foi apresentado às obras e aos pensamentos de mestres como Evandro Carlos Jardim, Nelson Lerner e Mira Schendel, que influenciaram decisivamente a percepção e as escolhas artísticas do paraense. A ligação de Sobral com a arte, no entanto, tem origem antes mesmo dele sonhar ir para o Sudeste. Conhecimentos retirados da prateleira de livros da mãe, que era professora de história da arte, seriam fundamentais para que aquele garoto virasse artista. Começou interessando-se por desenho, despretensiosamente. Depois largou o curso de engenharia elétrica para viajar atrás do sonho de se formar em artes plásticas. Agora, com anos de “bagagem” na produção de gravuras, permanece inquieto e ansioso pelos próximos trabalhos. Mais do que cores e traços, deixa gravados em suas peças o sentimento e a reflexão de um artista desapegado à materialidade.


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g ourmet

• por Aline Monteiro • fotos de Diana Figueroa •

Portuguesa, com certeza

Américo Barata volta às raízes familiares e apresenta uma mesa de inspiração lusitana, antecipando o tom do cardápio de seu novo empreendimento, o restaurante Dom João.

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uitos anos depois, viajando por aí em busca de novas técnicas culinárias e conhecimentos sobre pratos e ingredientes, Américo Barata iria lembrar da fartura dos almoços dominicais em família. Afinal, foi com as receitas portuguesas do pai, trazidas da Vila de Poiares, que ele começou a se interessar pela arte da gastronomia. Sempre passeando pelas experiências da culinária fusion, o chef do Boulevard Café faz um retorno às origens e evoca a simplicidade e os sabores encorpados dos pratos lusitanos, num jantar pontuado pelos frutos-do-mar e pelo tradicional vinho do Porto. “A cozinha portuguesa é simples, no que diz respeito

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à elaboração e à apresentação, mas é muito saborosa. O segredo é que ela utiliza muita gordura na preparação dos pratos, como banha de porco, o que dá um sabor bem pronunciado. Mas também é uma cozinha muito calórica”, adianta Américo. O chef apresenta uma entrada com base de bacalhau, talvez o ingrediente mais identificado com a cozinha portuguesa. Ele explica por que: “Os portugueses costumavam chamar o bacalhau de ‘fiel amigo’, porque ele era muito utilizado. Para eles, era um ingrediente barato e popular. Para variar o sabor, acabaram surgindo várias receitas com a mesma base”. Américo apresenta uma união que equilibra com perfeição oram


Salada de salmão com bacalhau: mistura sutil de elementos que se complementam para revelar novos sabores.

o sabor forte do peixe dos mares do Atlântico Norte, ao servi-lo grelhado e desfiado, temperado com cebola, alho, pão, azeitonas pretas e cream cheese, numa salada fria que ganha os contornos suaves do salmão defumado. “Uma variação permitida nesse prato é substituir o bacalhau pelo salmão também no recheio”, diz Américo. Completando a apresentação, limões sicilianos, salsa francesa, azeite e ovas pretas aguçam o olfato e o paladar. Para comer dando graças a Nossa Senhora e a todos os santos. No prato principal, a estrela é o polvo. “Montei um menu seguindo os frutos-do-mar, o que sempre funciona bem, mas não é uma regra”. O grande trunfo aqui está na forma de preparo: numa panela de barro preto que vai ao forno, em altas temperaturas. “Essa panela eu trouxe de Portugal. Agüenta temperaturas de 300, 400 graus, sem problemas. A diferença de se preparar um alimento em uma panela de barro é que ela transfere o calor por completo para o alimento, como uma panela wok, e conserva esse calor, e vai mesmo até à mesa, onde funciona como um réchaud.” Todos os temperos básicos da cozinha portuguesa são usados em profusão neste prato – alho, cujos dentes vão inteiros e com casca, somente amas-

sados com a lateral da faca, ou “emborrachados”, como diz Américo; azeite; folhas de louro; e cebola echalote inteira, que, segundo o chef, tem um sabor mais pronunciado que outras variedades. O toque final fica por conta do vinho tinto, a gosto, usado para o cozimento. O primeiro passo é cozinhar na panela de barro o polvo cortado em pedaços, junto aos temperos já refogados no azeite. O vinho tinto deve ser adicionado aos poucos. “Depois, reserva-se a água desse cozimento para cozinhar o arroz”. Diferente de um risoto tradicional, o arroz não fica coberto por água. “Coloca-se pouca água na panela e o arroz vai cozinhando no vapor”, explica. Para acompanhar, Américo recomenda um bom vinho tinto verde. Para a sobremesa, o chef escolheu outros típicos sabores lusos: os irresistíveis pastéis de Belém – ou pastéis de nata, surgidos no século 19 nos mosteiros da cidade portuguesa de Belém, um doce de massa folhada recheado com creme feito a partir de nata e gemas. Seguindo o tom genuíno do cardápio, o toque final fica por conta do “tempero” com que é servido: uma mistura de vinho moscatel, aguardente, açúcar e azeite. “Vai bem acompanhado por vinho do Porto”. Não dá para resistir, ora, pois.

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Salada de salmão com bacalhau Ingredientes 400g de salmão defumado 100g de cream cheese 1 cebola 1 dente de alho 1 colher de azeite 200g de bacalhau dessalgado em cascas 100g de cubos de pão frito 50g de azeitonas pretas sem caroço Sal e pimenta a gosto Preparo Refogue a cebola e o alho no azeite. Acrescente o bacalhau, os cubos de pão fritos e as azeitonas e reserve. Unte uma forma pequena (de pudim) com azeite e forre com salmão defumado. Faça uma camada de cream cheese e adicione o bacalhau refogado. Leve à geladeira por uma hora. Desenforme e sirva com azeite, cebolinha picada, limão e salsa.

Arroz de polvo ao tinto Ingredientes (4 pessoas) 1 polvo médio (1,5kg) 500g de arroz branco (tipo agulha) 250ml de vinho tinto seco 4 cebolas inteiras 1 cabeça de alho 4 colheres de azeite Pimenta-malagueta a gosto 1 folha de louro Preparo Lave o polvo (retire a pele se quiser), corte os tentáculos em pedaços e reserve. Refogue a cebola e alho picado com azeite, adicione a folha de louro, tudo em panela de barro. Acrescente o polvo e deixe-o cozinhar até amolecer, adicionando vinho tinto aos poucos. Depois de cozinhá-lo, adicione o arroz e água fervendo (duas vezes o volume do arroz), leve ao forno preaquecido (180°C) até ficar ao dente (em torno de 20 minutos). Pastéis de nata Ingredientes 200g de massa folhada 275g de açúcar 0,5l de leite integral 35g de farinha de trigo Sal a gosto 1 colher de manteiga sem sal 5 gemas 1 ovo Raspas de um limão Calda 150ml de vinho moscatel 300g de açúcar 100ml de aguardente 2 colheres de azeite Preparo Misture os ingredientes secos (farinha de trigo, açúcar e o sal) e reserve. Coloque o leite para ferver, acrescente a manteiga e depois adicione aos poucos os ingredientes secos já misturados, até conseguir uma mistura homogênea. Retire do fogo e acrescente as gemas, o ovo cru e as raspas de limão. Abra a massa nas formas e acrescente o creme. Leve ao forno a 300°c por 8 minutos. Para a calda, misture todos os ingredientes e ferva até engrossar (até marcar as costas da colher). Sirva polvilhado com canela em pó e a calda do vinho do Porto ao redor.

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u m quê a mais

Leal Moreira e Agra lançam Torres Ekoara A parceria entre Leal Moreira e Agra Incorporadora vai gerar mais um empreendimento com requinte e comodidade: é o Torres Ekoara Condomínio Club. Este é o terceiro projeto de um trabalho conjunto já consolidado das duas empresas. Em 13 de junho, foi realizado um coquetel de lançamento com a presença de clientes e outros convidados. Mais do que um simples prédio, o Torres Ekoara é um mundo feito para você.

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01 - Aline Reis e Pedro Queiroz 02 - Paulo Machado, Luiz Barcellos, Ricardo Selton , Luis Sérgio 03 - Kilvia Castelo Branco, Edna Santos, Francys Vale, Paulo Monteiro 04 - Ariane Lima e Daniel Farias 05 - Marcos e Lilian Garcia 06 - Denis e Lia Kirmayer 07 - Leandro Rissolat, Juan Diego, Nilton Lobato 08 - Jenyse Fonteles, Paulo Fonteles 09 - Vânia Amanajás, Maurício Nogueira, Ana Perla Oliveira 4

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u m quê a mais

Festa para os clientes do Metropolitan Em noite especial no mês de maio passado, Leal Moreira fez a entrega do empreendimento. O Metropolitan é inspirado nas construções novaiorquinas e conta com diversos espaços, como salas comerciais, área para shopping, estacionamento para até 500 veículos e centro de convenções. 1

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01 - Guilherme Pinto e Rosa Cunha 02 - Orlando Frade recebendo suas passagens para NY das mãos do prefeito e Carlos Moreira 03 - Arcelino e Ângela Lobato, Alcimar e Ruth Lobato 04 - Alcidemar e Márcia Leal 05 - Elisa e Marcílio Brotherwoods e André Moreira 06 - Salvador, Débora e Rafael Nahmias 07 - Kozo Morya e esposa 08 - Luiz Sérgio e Jacialva Araújo 09 - João Carlos, kassy, Maurício, André, Cassilda e Carlos Moreira 5

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u m quê a mais Qualidade Investimento na otimização de serviços e processos sempre foi uma preocupação da Leal Moreira. Pensando nisso, implantou um novo modelo de gestão, com um software desenvolvido pela RM Sistemas. Com ele, poderá controlar desde as etapas das obras, compra de material até a contabilidade de maneira informatizada e integrada, podendo acessar informações do próprio canteiro de obras. O resultado é mais agilidade e eficiência, que refletem na qualidade e na diminuição de prazos de entrega ao cliente.

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A Leal Moreira vai mudar de endereço. Em outubro, passa a ocupar um andar inteiro do Metropolitan Tower, na rua dos Mundurucus, prédio comercial projetado pela própria construtora com o que há de mais moderno em infra-estrutura para escritórios. Com isso, os clientes ganharão ainda mais conforto no atendimento. A Editora Publicarte e a agência Double M também seguem para o mesmo endereço.

para sua casa

O desenvolvimento do tênis no Pará está no foco da Leal Moreira. A construtora, junto com a Agra Incorporadora, é um dos patrocinadores do projeto “Kirmayr na AP”, que trouxe um dos nomes que fizeram a história desse esporte no Brasil, Carlos Alberto Kirmayr, para prestar consultoria aos atletas da Assembléia Paraense durante dois anos. A cada ano, o ex-tenista que foi um dos melhores do mundo passará 40 dias em Belém, junto ao treinador e à preparadora física que fazem parte da sua equipe, para ajudar a elevar o nível técnico dos tenistas do clube e incentivar a prática de esportes a partir de atividades monitoradas.

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para seu lazer

Incentivo

Cartão Leal Moreira

Cantina Italiana Chocolate e Licores Hikari Kaluanã Le Massilia Manjar das Garças Salinas Up Grade Xícara da Silva

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• Amanco do Brasil • Atlas Schindler • Belmetal • Bordalo Gesso • Cecrisa • Cerâmica Atlas • Ciplan Concreto • Deca • Ebbel • Eliane • Endicon • Esteves • Eucatex • Gerdau • Gramapedras • Granite • Gyotoku • Imab • Imperador das Máquinas • Impersika • ITcom • Leo Haimer • MA Matos • Marglass • Nambei • Nassau • Norsicol • Pado • Painel • Poty • Pormade • Portal Cargas

Em agosto, a Leal Moreira lança um novo empreendimento residencial. Serão quatro torres localizadas na avenida Senador Lemos, com apartamentos de 107 metros quadrados e ampla área condominial. As novas torres estarão cercadas de ótima infra-estrutura no bairro da Sacramenta. Além de estarem na principal via de acesso do bairro, estarão próximas a supermercados, faculdades, bancos, farmácias, lojas diversas, entre outros serviços.

para você

Lançamento

Adriana Dahmer Auto Chek Clínica NIO Doctor Feet Elvira Matilde Fábio Jóias Kopenhagen Macedo Seguros Realce Sheila Calandrini Specialité - Saúde Oral S.O.S Pet Shop

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projeto

lançamento

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estrutura

alvenaria

revestimento acabamento

Check List das obras Leal Moreira

Torres Ekoara Torre Umari Torre Vert Torre de Farnese Sonata Residence Torre de Belvedere Torre de Bari Torre de Saverne Torre de Toledo

em andamento concluído 92



a r tigo • Ilustração de Leandro Bender •

Fazer o bem

Uma postura cristã de vida

Nara d´Oliveira Gestor Consultoria

Mundo esquisito. As pessoas complicam enormemente e extremos são vistos na tentativa de viver a religião e de colocar em prática os ensinamentos Dele. Historicamente foi assim e a leitura histórica aponta para um futuro igualmente radical e cheio de facetas. O interessante é observar a vivência da religiosidade de forma burocrática por muitos que se dizem bons cristãos. Afinal, o que é viver de forma cristã? Como será praticar os ensinamentos de Jesus? Eu não sei, mas talvez um bom caminho seja fazer o bem. Fazer o bem começa dentro de casa. Tratando seus empregados com respeito, aproveitando a oportunidade de ajudar estas pessoas que abrem mão de suas vidas em prol da família de seus patrões. É dividir o pouco ou muito que se tem com as pessoas ao seu redor que muito precisam: o porteiro, o menino que lava o carro, a moça com três filhos na rua, debaixo de chuva, quem vem te pedir de coração, pois não há outra pessoa a mais no mundo que possa dar. É ter amor no coração e perceber que rezar, ir ao culto (qualquer que seja ele) e não falar o nome Dele em vão é somente uma pequenina forma de viver sob as leis de Deus. Talvez o principal seja “Ajudar o Outro”. Contudo, esta ajuda não pode ser interesseira, para ser mostrada, ostentada. É para ser sentida, vivenciada como uma grande oportunidade de contribuir com alguém que precisa muito. A maioria das vezes, muito pouco que nós façamos, agrega muito a quem tem tão pouco e o sentimento resultante de poder realmente ajudar alguém que está em aflição é algo muito especial. Quantas vezes na vida você sentiu que alguma ação sua foi realmente importante? Que, sem o que você fez, algo muito sério ficaria comprometido. Hoje, um rapaz que guarda carros em frente a meu escritório – nos vemos todos os dias e sempre conversamos um pouco entre estacionar e andar – me pediu uma lata de leite. Rapidamente eu pensei: a regra é R$ 1,00 por dia, me toquei que não lembrava o valor da lata de leite, apesar de duas filhas pequenas. Esta lata é algo tão inserido no meu dia-a-dia que não é uma informação que valha a pena armazenar. Minha primeira reação foi achar atrevimento, logo depois veio um sentimento de culpa enorme, juntamente com uma vontade de me livrar da situação através da aquiescência. Foi então que, com muita vergonha, eu consenti. No meio da tarde ao sair novamente o procurei para ajudar na manobra e não o encontrei. Ao retornar, lá estava ele. Perguntei-lhe aonde estava, eu havia precisado dele. Foi até sua casa, levar a lata de leite; seu filho, doente, pequeno, não tinha o alimento há várias semanas.

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Metropolitan Tower


fale com a gente

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A Leal Moreira dispõe de atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às 19h, e no sábado, plantão das 8h às 12h. Ou então, fale diretamente com um dos nossos corretores: Benedito Pereira (9985.9379), Edilson Beckman (9942.0418), Gilberto Carneiro (9982.5381) e Marcelo Seixas (9114.0077).

Telefones: ++55 91 4005 6800 // 4005 6820 // 4005 6821

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Atendimento:

Conheça um pouco mais sobre a construtora acessando o site www.lealmoreira.com. br. Nele, você fica sabendo sobre todos os empreendimentos em andamento, novos projetos e ainda pode fazer simulações de compras.

Acesse: www.lealmoreira.com.br

Escreva para: mkt@lealmoreira.com.br Rua João Balbi, 167 • Nazaré • Belém/PA - Brasil cep: 66055-280

Atendimento: Para saber mais sobre as revistas da editora, dar sugestões de pauta, fazer comentários ou críticas, e conhecer nossas tabelas de anúncios, escreva para gente, ou telefone. A Publicarte funciona de 8 às 21 horas.

Telefones: ++55 91 4005 6878 // 4005 6868

Escreva para: redacao@editorapublicarte.com.br editorapublicarte@gmail.com ou Rua João Balbi, 167 • 3° andar • Nazaré Belém/PA - Brasil • cep: 66055-280



c r ônica

Se você inventar para o bem Devo confessar que ando meio triste, não comigo. Até porque ultimamente tenho andado em linha reta, bebido pouco, fumado só o necessário, sem nenhuma extravagância culinária, muito embora comendo só o que tem importância (nada de salada!) e dormido o suficiente. Além disso, amo e me sinto amado. O problema está do outro lado da rua. Onde não reconheço minha cidade, que não tem mais cheiro de terra molhada e nem de manga depois da chuva. Temos, agora, o caos urbano. O trânsito de sonâmbulos na direção, assalto para todos os lados, uma total desconsideração com os que mais precisam dela e a vitória de tudo aquilo que se acreditava desprezível à felicidade. Não achem, pelo amor de Deus, que virei um pessimista, quanto mais que estou aqui só comentando o que não dá mais pra esconder, ou alguém aí acha que

não existe um excesso de individualismo na atitude das pessoas? Nos permitimos não ter tempo. Não ter tempo para ir ao parque, não ter tempo para brincar com os filhos, não ter tempo para ouvir música... É um tal de não tenho tido tempo para ler, nem pra ouvir pássaros, muito menos de ver o rio. – Ah! Só não digo para minha mulher que a amo por exclusiva falta de tempo. Tempo mesmo as pessoas só arranjam para correr atrás de dinheiro e poder, enlouquecidamente, passando por cima de tudo e de todos, pra depois não saber o que fazer com eles. Até mesmo a maioria das gerações mais novas só arranja tempo para tomar bala se sacudindo nas raves a noite inteira e se empapuçando de água, troço meio besta, eu acho. Estão deixando de lado o tempo de se olhar a vida para assim aprender a gostar dela. Porque a vida é

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Bob Menezes - fotógrafo

como sempre foi e sempre será, muito boa pra quem dela aprendeu a gostar. É sempre bom lembrar que não existe possibilidade de plantar uvas e colher morangos. E como diz o poeta maranhense Ferreira Gular, a vida é uma invenção. Se você inventar o mal, a vida fica uma merda, mas se você inventar para o bem... O poeta já disse, companheiro, que a vida é uma só. E eu digo: o melhor da vida é gente. Só o que pode trazer realização, paz, harmonia e sabedoria é o convívio com gente. Portanto, arrume tempo para ler poesia, para ouvir boa música, para andar descalço, catar manga na chuva, e, principalmente, estar com amigos. Afinal, lembrem-se sempre de que nosso planeta é azul e isso é uma bênção de Deus, porque o que há de melhor do que é viver no azul.E enquanto esse negócio de ficar triste, não estou mais, acabei de lembrar um poema de Vinícius de Moraes.


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1º ANO


Living nº 17 junho de 2008

GENTE DESIGN ESTILO IDÉIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA

Leal Moreira

Distribuição gratuita

ano 5 número 17 junho 2008

Inclassificável Depois de emendar o atrapalhado Foguinho com o bem intencionado Evilásio, Lázaro Ramos esbanja versatilidade, diz que não aceita rótulos e se confirma como um dos destaques da tevê brasileira.


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