Living nº 22
Leal Moreira
Viva um Leal Moreira.
GENTE DESIGN ESTILO IDEIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA
Double M
Só tem uma coisa que levamos mais a sério que nossos projetos: os seus.
ano 6 número 22
R$ 12,00
Serginho Groissman Ele inventou um novo jeito de fazer Televisão e há duas décadas empresta inteligência ao horário nobre
Alex Atala Arthur Dapieve Bob Wolfenson Círio de Nazaré Edyr Augusto José Roberto Torero Mariana Belém Post Crossing
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UM CLIENTE LEAL MOREIRA. Vantagens do Cartão Leal Moreira Tornar o cliente especial, oferecendo tratamento diferenciado através da rede de parceiros da Leal Moreira;
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Só a Leal Moreira faz um Leal Moreira. www.lealmoreira.com.br João Balbi, 167
4005-6800
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Nenhum texto é tão forte quanto uma grande marca. Sofisticação, qualidade e confiança, assim é a Leal Moreira. 5
índice
entrevista
GENTE DESIGN ESTILO IDEIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA
R$ 12,00
Serginho Groissman Ele inventou um novo jeito de fazer Televisão e há duas décadas empresta inteligência ao horário nobre
Leal Moreira
Alex Atala Arthur Dapieve Bob Wolfenson Círio de Nazaré Edyr Augusto José Roberto Torero Mariana Belém Post Crossing
Desde os anos 70, Serginho Groissman participa da vida cultural do país. De produtor de eventos contra a Ditadura ao horário nobre da Televisão brasileira, já se vão mais de três décadas de boas ideias e inteligência a serviço do público brasileiro.
galeria
Descendente de irlandeses e palestinos, o paulista Alex Atala busca nos sabores tipicamente brasileiros os ingredientes para o sucesso. Em entrevista à Living, o chef falou sobre a relação especial que mantém com a culinária amazônica.
perfil
capa Serginho Groissman fotografado por Felipe Hellmeister
Em tempos de redes sociais desenvolvidas na internet, o projeto Postcrossing mostra que o bom e velho cartão-postal está longe de cair no esquecimento. Com cerca de 123 mil usuários espalhados pelos cinco continentes, o site, fundado em julho de 2005, cresce apoiado em uma simples ideia: “Se você envia um postal, receberá ao menos um de volta”.
Consagrado como fotógrafo de moda, publicidade e nus, Bob Wolfenson faz questão de escapar dos estereótipos reinventando-se a cada trabalho produzido. Clicando celebridades ou expondo em galerias, o paulistano flerta com todas as possibilidades oferecidas pela imagem.
comportamento
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Living nº 22 15/09/09 15:20
ano 6 número 22
perfil A voz, o corpo, o largo sorriso... Tudo em Mariana Belém lembra a mãe, a também cantora Fafá de Belém. Longe de se chatear com as inevitáveis comparações, ela investe na carreira artística com o objetivo de honrar as raízes familiares.
living dicas
pg 10
Edyr Augusto
pg 38
Celso Eluan
pg 50
especial
confraria
pg 60
Um dos maiores símbolos da devoção a Nossa Senhora de Nazaré, o manto que cobre a imagem da santinha durante as festividades do Círio leva meses da idealização à confecção, em um processo feito com o cuidado e carinho que a Padroeira dos paraenses merece.
José Roberto Torero
pg 68
horas vagas
pg 70
Arthur Dapieve
pg 74
gourmet
pg 82
decor
pg 86
tech
pg 90
intitucional
pg 95
sex & sábado
pg 106
destino Conhecido como o “Caribe brasileiro”, Fernando de Noronha é uma verdadeira ode à preservação ambiental. Um dos maiores santuários ecológicos do planeta, o arquipélago impressiona pelo respeito à Natureza, que contagia os que se aventuram por suas 21 ilhas. 6
editorial
Caro leitor, Simplicidade, inteligência e eficiência. Na arte de se comunicar, a reunião destes quesitos, apesar de fundamental, nem sempre é respeitada pelos que são encarregados de levar produtos de qualidade aos que buscam informação e conhecimento, uma realidade ainda mais fácil de perceber quando falamos dos meios de comunicação de massa, em que diluir e nivelar por baixo muitas vezes acabam virando a regra na disputa pelos índices de audiência. A personagem de capa desta edição, ainda bem, é um ótimo exemplo de que os três itens citados no começo do texto podem sim caminhar juntos - e em nome do respeitável público. Desde que era um agitador cultural nos anos 1970, o apresentador Serginho Groissman faz do ecletismo e da inteligência as suas marcas registradas. Há 20 anos nas telas, este corintiano roxo conversa de igual para igual com a juventude, e dando voz a este público sem subestimá-lo, criou um novo e revolucionário jeito de fazer Televisão no Brasil. Em conversa com o escritor Marcelo Rubens Paiva, convidado especialmente pela Living para entrevistar o amigo de longa data, Serginho Groissman passa a carreira de comunicador a limpo, não fugindo de nenhum assunto e falando com a clareza e educação que o tornaram famoso junto ao espectador brasileiro. Um bate-papo esclarecedor sobre a produção cultural brasileira nas últimas décadas que vale a pena ser conferido. A relação muito particular do chef Alex Atala com a culinária amazônica, a carreira em ascensão de Mariana Belém, o belo projeto Postcrossing, o trabalho de idealização e confecção do manto de Nossa Senhora de Nazaré, o respeito à natureza no arquipélago de Fernando de Noronha, além das seções de praxe e dos textos inéditos de nossos colaboradores, são os assuntos deste número 22 da Living, que você começa a degustar a partir de agora.
Boa leitura. Abraços. André Moreira
expediente Design e ilustrações Leandro Bender Fotografia Luiza Cavalcante Reportagem Ana Danin, Cléo Soares, Eder Chiodetto, Lucas Berredo, Marcelo Rubens Paiva, Mayara Luma e Tylon Maués. Colunistas Arthur Dapieve, Álvaro Jinkings, Celso Eluan, Edyr Proença, José Roberto Torero, Marcelo Viégas e Saulo Sisnando. Revisão José Rangel Gráfica Santa Marta Tiragem 20 mil exemplares
Revista Living Leal Moreira
João Balbi, 167. Belém - Pará f: [91] 4005-6800 www.lealmoreira.com.br Construtora Leal Moreira Diretor Presidente: Carlos Moreira Diretor Financeiro: João Carlos Leal Moreira Diretor de Novos Negócios: Maurício Moreira Diretor de Marketing: André Leal Moreira Diretor Executivo: Paulo Fernando Machado Diretor Técnico: José Antonio Rei Moreira Gerente de Marketing: Lilian Almeida Gerente de Clientividade: Murilo Nascimento
Coordenação e realização Publicarte Editora Diretor editorial André Leal Moreira Diretor executivo Hilbert Nascimento (Binho) Diretores comerciais Ana Paula Guedes Diego Correa Diretor de criação e projeto gráfico André Loreto Consultoria editorial Rogério Assis Editor-chefe Elvis Rocha Produção editorial Mayara Luma
Fale conosco: (91) 4005-6868 / 4005-6878 redacao@editorapublicarte.com.br Living Leal Moreira é uma publicação trimestral da Publicarte Editora para a Construtora Leal Moreira. Os textos
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assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem autorização.
Direção comercial
empresa castaño martorani
[11] 3078.5840 atendimento@lemidia.com São Paulo Leandro Castaño Martorani Carol Flóis Luis Fernando Marques Rio de Janeiro Brenda Roque Belém Ana Paula Guedes 91 4005-6868 anapaula@revistaliving.com.br
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Living Pará
Dom João
Uma típica casa portuguesa: aconchegante, intimista e receptiva. Assim é o restaurante Dom João, inaugurado recentemente com o objetivo de resgatar as raízes portuguesas escondidas aqui, em Belém, uma das maiores colônias lusas do Brasil. A casa que abriga o restaurante recebeu uma reforma toda especial para realçar seu estilo colonial português, com coloridos azulejos europeus, namoradeiras em estilo neoclássico e luxuosos lustres. Como em toda tradicional casa portuguesa, o carro-chefe do lugar é o bacalhau, mas o arroz de polvo e o de mariscos também são boas pedidas. Para a sobremesa, não deixe de provar os pastéis de nata. Aos domingos, o restaurante abre para almoço com um delicioso bufê.
Serviço endereço: Travessa Quintino Bocaiúva, 1696 telefone: [91] 3224.5281
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Beatnick Bar Café
Os tempos em que os amantes de jazz de Belém não tinham onde curtir sua paixão ficaram para trás. Recéminaugurado, o Beatnick Bar Café tem tudo para ganhar a preferência do público mais sofisticado e interessado em boa música. Tudo lá remete ao universo jazzístico. As luzes indiretas e o espaço pequeno e intimista lembram as famosas jam sessions. Já o cardápio, com wrapps, burritos e tacos, é influenciado pelo menu dos típicos restaurantes da Route 66, eternizada no livro “On The Road”, símbolo da geração de contracultura que dá nome ao pub. A banda Beatnick Jazz Band, exclusiva do bar, é o seu grande atrativo.
Serviço Endereço: Braz de Aguiar, entre Doutor Moraes e Serzedelo Corrêa. Telefone: (91) 8146.5134
A Forneria
Serviço Endereço: Rua Antônio Barreto, 948. Telefone: [91] 3223.1280
Atendimento de primeira e ingredientes de alta qualidade, além da decoração moderna e do ambiente agradável. Estes são os grandes atrativos do restaurante A Forneria, aberto recentemente em Belém. Com uma excelente cozinha, comandada pelo chef francês Olivier Deslovere, que cuida também de outros cinco restaurantes em Paris, a casa busca as origens dos pratos, ou seja, como eles eram feitos e servidos quando surgiram. Um exemplo é a lasanha à bolonhesa, um dos mais pedidos, cujo molho é feito com três tipos de carne desfiada e não moída, como a maioria dos restaurantes serve hoje. O restaurante também promove atrações culturais constantemente; a inauguração, por exemplo, foi feita ao som da voz da cantora Mariana Belém, que já fez outros shows na casa ao lado da mãe Fafá.
Living Brasil
Baretto-Londra
Localizado no coração de Ipanema, em meio a toda brasilidade típica do Rio de Janeiro, o Baretto-Londra, do hotel Fasano, é um autêntico pedaço da capital britânica em terras brasileiras. Decorado com bandeiras da Inglaterra, vinis de bandas inglesas escolhidos a dedo pelo próprio Rogério Fasano e confortáveis sofás e poltronas de couro, o pub é um refúgio contra a agitação carioca e o lugar ideal para matar as saudades de Londres. Os pratos leves e os drinques exclusivos da casa são o que há de melhor no menu. Avenida Vieira Souto, 80. RJ [021] 3202.4000 www.fasano.com.br
Sawasdee Bistrô
que fazem do restaurante o preferido entre os amantes da culinária típica da Tailândia; além de uma carta de vinho excepcional e dos drinques criativos. Para quem ainda não conhece a comida tailandesa e deseja experimentá-la, pode ir ao restaurante na hora do almoço, quando a pedida são os “combinados”, compostos por entrada, prato principal e sobremesa.
Pink Elephant Club
foto: Rodrigo Castro
Os fãs do restaurante Sawasdee Thai Food, tradicional na orla de Búzios, contam agora com mais um endereço na capital carioca para degustar as delícias tailandesas preparadas pelo chef Marcos Sodré. Além da filial do Leblon, o restaurante abriu recentemente um bistrô no shopping Fashion Mall, no bairro de São Conrado. No cardápio, todos os saborosos pratos
Desde a inauguração, em junho, da famosa boate novaiorquina Pink Elephant Club, as noites de São Paulo não são mais as mesmas. Com um conceito inovador, a boate trouxe para os paulistas toda a magia que fez da casa noturna o lugar preferido das celebridades em Nova York. Banheiros equipados com cabeleireiros e massagistas, decoração luxuosa, cardápio requintado e os melhores DJs de House Music do mundo são as atrações da casa. Shopping Fashion Mall, 1º piso (Estrada da Gávea, 899) [021] 3322.2150 http://www.sawasdee.com.br/
Rua Gumercindo Saraiva, 289. [011] 2769.2003 http://www.pinkelephantclub.com.br
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Double M
A natureza conta com toda essa tecnologia. Você conta com a Sol.
Doca, 1122 • Fone: (91)4006-4500 • Belém-Pará • Pátio Belém, 3º piso • www.intersol.com.br 13
Living mundo
Le Train Bleu Visitar o restaurante Le Train Bleu é como fazer uma viagem no tempo e voltar para a França do início do século passado. As clássicas luminárias e as delicadas pinturas que adornam as paredes e o teto revelam a idade do prédio, inaugurado em 1900, no coração da famosa gare de Lyon. O menu também foi preservado para oferecer o que há de melhor na culinária francesa tradicional, como os tartares preparados na mesa, escargots e foie gras. Tanto luxo e requinte fez com que o restaurante conquistasse frequentadores ilustres ao longo do tempo, como Brigtte Bardot e Coco Chanel.
Gare de Lyon, primeiro piso. +33 (0) 1 43430906 www.le-train-bleu.com/
Joël Robuchon Restaurant O chef francês Joël Robuchon, que comanda oito restaurantes pelo mundo, não tem vergonha de suas origens, muito pelo contrário, faz questão de imprimir um pouco de seus costumes em todos os empreendimentos que está à frente. Foi isso que o levou a procurar, em plena modernidade de Tóquio, um lugar tipicamente francês para abrigar seus espaços gastronômicos. O resultado foi a transformação de um clássico, amplo e luxuoso palácio em três restaurantes, que trabalham com a alta culinária francesa; um bar, cuja decoração é um atrativo à parte; e uma padaria de luxo. Apesar dos deliciosos pratos, são os pães artesanais, marca registrada do chef, que garantem a lotação da casa.
Mori Tower, Ropongi Hills. (81) 0357727500 www.joel-robuchon.com/
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perfil
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Mayara Luma
Filha de peixe Mariana Belém, herdeira de Fafá, solta a voz para honrar as raízes familiares 17
Luiza Cavalcante
As duas claves de fá simbolizam a ligação com a mãe, de quem herdou o talento para a música
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s comparações são inevitáveis. A voz, o corpo, os trejeitos, o largo sorriso no rosto... Tudo em Mariana Belém lembra a mãe, a também cantora Fafá de Belém. É só subir ao palco e soltar a voz que o burburinho entre a plateia de que “filha de peixe, peixinho é” vira coro. As comparações, no entanto, não incomodam nem um pouquinho. “Muito pelo contrário, adoro lembrar alguém tão talentoso como minha mamy”, como costuma chamar carinhosamente a mãe. “Fico toda convencida quando me dizem isso.” Mas se engana quem pensa que Mariana herdou só de Fafá o gene artístico. O que pouca gente sabe é que a jovem cantora vem de uma família de grandes artistas e que, sendo assim, seria difícil rumar por outros caminhos. Ela bem que tentou. Irritada com as constantes brincadeirinhas durante a infância de que também seria cantora, a então adolescente decidiu estudar jornalismo, o que, claro, jamais poderia dar certo. “Quando optei por ser cantora realmente, senti que aquele era o meu caminho. O caminho que estava esperando o dia que eu decidisse segui-lo finalmente”, conta. E com a família que tem, parece mesmo que o caminho de Mariana nos palcos já estava traçado desde muito antes de seu nascimento, quando, em meados do século passado, seus avós se conheceram, se apaixonaram, decidiram casar e ter filhos. Os avós em questão são o pianista Raul Mascarenhas e a cantora de rádio Carminha Mascarenhas, cujas carreiras contribuíram de forma imensurável para a história da música brasileira. Do casamento nasceu Raul Mascarenhas Junior, hoje um grande saxofonista radicado em Paris. Por ser um apaixonado incondicional pela música, Raul precisava encontrar alguém a quem o soar de seu saxofone não incomodasse, e, assim, suas notas encontraram uma voz que, de tão forte, conseguia acompanhá-las sem muito esforço era Fafá de Belém. Foi dessa união que veio, finalmente, Mariana. E depois de saber de todo esse histórico musical, quem insiste em achar que Mariana teria outro caminho a seguir? Carreira Aos 19 anos alguma coisa aconteceu na vida de Mariana. Alguma coisa que a fez perceber que não havia nascido para o jornalismo e precisava, urgentemente, encontrar o seu caminho. Largou a faculdade e foi mochilar pela Europa, onde percebeu a importância que a música tinha em sua vida e sentiu um alívio enorme quando conseguiu vislumbrar seu destino nos palcos. Como sabia que não seria nada fácil, que haveria muita cobrança e até certo preconceito, decidiu se cercar de toda a técnica possível: fez aulas de canto lírico na Itália e estudou música na North Seattle Community College, nos Estados Unidos. Depois de dois anos de estudo, sentiu que era hora de voltar para o Brasil. Por aqui chegando, assumiu os vocais da banda de country music Red Fox. Apesar de toda a técnica que àquela altura já dispunha, subir ao palco não foi nada fácil. “Existem coisas
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que só o palco ensina, não importando o quão talentosa você seja ou quantos cursos tenha feito. Foi na prática que aprendi a lidar com imprevistos, a ter postura, a saber conduzir o meu público, entre tantas outras coisas. O tempo que passei com o pessoal do Red Fox foi essencial para meu amadurecimento profissional”, afirma. Depois de participar do programa Fama, da Rede Globo, de se aventurar pelo teatro, com o musical “Os Produtores”, Mariana se dedica, hoje, a um projeto inovador e que tem o maior orgulho de dizer que é seu. O Projeto Árvore estreou em outubro passado, em São Paulo, e, fazendo alusão à árvore genealógica de Mariana, conta a história da música brasileira através da contribuição dada por sua família a ela. O show é uma verdadeira viagem musical, que vai desde Frank Sinatra, uma paixão do avô Raul, até Marisa Monte e Djavan, passando por Dolores Duran, Gilberto Gil e Belchior. Com roteiro escrito de próprio punho e mamy na direção geral do espetáculo, Mariana não consegue mensurar a importância dele em sua vida. “Minha família merecia esta homenagem e fico honrada em ser a voz responsável por ela. Cada show que faço desse projeto é uma emoção diferente. Esta é, com certeza, a coisa mais especial que já fiz na vida”, diz, emocionada. Por enquanto, o show só está em cartaz em São Paulo, mas Mariana pretende levá-lo para outros lugares e, é claro, Belém é destino certo. Além do Projeto Árvore, Mariana participa, ao lado da mãe, da turnê do show “Água”, no qual é apresentado o repertório do disco de mesmo nome, lançado em 1977. A filha representa Fafá quando jovem, quando o LP chegou ao mercado. O show é uma oportunidade única de ver as duas no palco, juntas, em duetos emocionantes. Família Se existe uma coisa que tem importância na vida de Mariana é a família. A cantora adora falar de suas origens, contar as histórias de vida e de amor dos avós paternos, de como foi bem criada pelos pais, do amor que sente por sua mamy e de como foi absurdamente feliz durante a infância ao lado dos avós maternos, que a proporcionavam tardes de diversão intensa por entre as mangueiras de Belém. “Família é tudo na vida de uma pessoa e eu tive a graça de nascer em uma maravilhosa. Agradeço a Deus todos os dias por isto”, diz. Para quem acha que conviver com o agitado cotidiano de artistas e com os incômodos que a fama traz não é nada fácil, Mariana retruca. “Tenho a consciência de que foi com o suor do trabalho dos meus pais que consegui frequentar as melhores escolas, viajar, ter uma casa confortável e viver muito bem durante toda a infância e adolescência.” Mas ela reconhece que nem tudo foram flores. “É claro que houve, sim, episódios em que fiquei aborrecida ou triste porque desejava muito que meus pais estivessem comigo, mas, hoje, olho para trás e entendo, vejo que tudo que eles fizeram foi certo e necessário.” »»»
Como seus pais se separaram quando tinha apenas um ano e logo o pai mudou de cidade, Mariana acabou fortalecendo seus laços com a mãe e fazendo dela seu grande referencial, “de vida e musicalmente”. As duas são hoje parceiras, amigas, confidentes, apoiam uma a outra, se ajudam e, como em toda relação de mãe e filha, às vezes, brigam. É que Mariana é pisciana e Fafá é leonina - e, segundo a filha, os signos são incompatíveis. Mas os desentendimentos elas relevam, deixam para lá e voltam a gargalhar juntas, do jeito que só as duas sabem fazer. A relação que elas têm hoje foi construída ao longo de 29 anos de convivência, em especial durante os anos da infância e adolescência, quando a mãe se desdobrava em mil para não perder nem um momento da filha e estar presente sempre que ela precisasse. Esta preocupação fez com que Mariana se tornasse acompanhante certa da mãe durante suas viagens a trabalho. Mas, quando não podia levá-la, Fafá se preocupava em cuidar de tudo para que a filha nunca se sentisse sozinha ou abandonada. “Minha mãe sempre me cercou de todo carinho de que necessitava, sempre me fez sentir protegida e amada. Tenho lembranças maravilhosas dos tempos em que ficava na casa dos meus avós, em Belém, na companhia dos meus tios e primos. Era quase impossível me sentir sozinha.” Do tempo em que passou em Belém, guarda suas melhores memórias. Mariana passou a infância por debaixo dos corredores de mangueiras da Praça da República, tomando sorvete de frutas regionais e comendo muita comida típica, como maniçoba, tucupi e jambu. Apesar de ter nascido em São Paulo, Mariana adotou o Pará como estado do coração e diz que seria impossível não levar Belém no nome, como faz a mãe. Diz que gostaria de visitar o Norte bem mais do que o faz, mas o tempo é apertado e a passagem, caríssima, por isso, quando vem não abre mão de certos prazeres. “Amo a comida do Pará, em uma de minhas visitas, cheguei a comer maniçoba por cinco dias consecutivos, isso sem contar a indispensável tapioquinha no café da manhã, o tacacá no final da tarde e um delicioso açaí.” Com referências tão sólidas do que é ter uma família de verdade, há cerca de um ano e meio, Mariana sentiu que estava na hora de começar a construir os pilares que a fariam ter a sua própria, por isso, decidiu mudar de apartamento para juntar os trapinhos com seu namorado, hoje, nas palavras de Mariana, “namorido”. Os dois ainda não pensam em filhos, mas, quando menos se esperar, Mariana vai estar cercada das mesmas preocupações que sua mãe tinha há 20 anos. E quem sabe dela não nasce mais um talentoso artista para a música brasileira?
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À frente do D.O.M, um dos mais disputados restaurantes da capital paulista, Alex Atala inova com o uso de ingredientes típicos da região amazônica e surpreende positivamente a clientela
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Leonardo Aquino
Rogério Assis
O Evangelho segundo
Alex Atala “Voltar ao Pará é como olhar a Bíblia de novo. Sempre se aprende alguma coisa diferente”
A
história de vida de Alex Atala é tão cosmopolita e heterogênea quanto a misteriosa definição de cozinha contemporânea. Descendente de irlandeses e palestinos, este paulistano de 41 anos pescou nos rios da Amazônia na infância, foi punk na adolescência e viajou como mochileiro pela Europa na juventude. No meio da aventura pelo Velho Continente, decidiu estudar gastronomia e estagiou ao lado de grandes chefs na Bélgica e na França. Não há dúvidas de que ele fez a escolha certa. O restaurante de Atala em São Paulo, o D.O.M., foi eleito o 24º melhor do mundo em 2008 pela revista inglesa Restaurant, na edição mais recente de uma das mais conceituadas premiações da gastronomia internacional. A receita do sucesso de Alex Atala não é segredo. Ele é um entusiasta dos ingredientes regionais brasileiros. Viaja pelos quatro cantos do país atrás de novidades. Faz todo tipo de experiência para quebrar paradigmas e tornar comestíveis produtos que antes eram impossíveis de se imaginar à mesa. A última surpresa descoberta por Atala é o uso culinário da priprioca, uma planta típica da Amazônia que até bem pouco tempo atrás era utilizada apenas na indústria de cosméticos. Antes, havia somente perfumes, sabonetes e óleos de priprioca. Nas mãos de Alex Atala, a raiz dá um sabor exótico ao chocolate, ao doce de leite e ao ravióli de limão.
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“A primeira vez que eu comi um pirarucu grelhado na beira do rio foi um momento incrível”
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Experimentar com os produtos da floresta amazônica não é novidade para o chef do D.O.M. Tucupi, jambu e pimenta de cheiro são ingredientes comuns nos pratos do premiado restaurante. Mas Atala chegou a ir muito além do óbvio. Num jantar amazônico servido durante um evento de gastronomia no ano passado, ele fez com que famosos chefs espanhóis (entre eles Ferran Adriá, do El Bulli, eleito o melhor do mundo pela Restaurant nos últimos quatro anos) experimentassem caldo de turu, uma espécie de verme que vive em troncos de árvores apodrecidos. A iguaria, muito consumida por ribeirinhos, não tem o glamour dos pratos dos grandes restaurantes. Mas isso não é motivo suficiente para censurar a paixão de Alex Atala pela culinária regional e a excitação na busca por novos ingredientes. O chef diz ter perdido a conta de quantas vezes veio ao Pará. E considera o estado uma referência grandiosa na gastronomia mundial. “Voltar ao Pará é como olhar a Bíblia de novo. Sempre se aprende alguma coisa diferente”, explica. Em entrevista exclusiva à Living, Alex Atala falou sobre a relação com a cozinha amazônica e a necessidade de valorização da culinária regional brasileira. Como começou a sua relação com a culinária paraense? Como eu sou de uma família que viaja muito e que adora pescar, conheci o Pará ainda garoto. Andamos a Amazônia toda pescando. Lembro de uma pescaria no rio Trombetas, quando eu tinha 7 ou 8 anos de idade. De lá para cá, vim mais de 30 vezes a Belém. Por isso, tenho muitas lembranças antigas. Cada produto te lembra um momento da vida. A primeira vez que eu comi um pirarucu grelhado na beira do rio, com as escamas, foi um momento incrível. Conhecer melhor as pimentas, andar no mato e comer uma fruta... São momentos simbólicos. E cada produto tem uma história. Depois que você voltou da Europa, o Paulo Martins (chef do restaurante Lá Em Casa, um dos mais famosos de Belém) se tornou seu fornecedor oficial de ingredientes paraenses. E você nem o conhecia... Como foi esse primeiro contato entre vocês? Isso foi em 1994. O Paulo estava entrando na Associação da Boa Lembrança (associação de restaurantes que fornecem pratos decorados como souvenirs) e eu ouvi falar que tinha um cara que cozinhava bem em Belém do Pará e era profissional. Aí liguei para ele e ele foi muito atencioso. Existe uma grande diferença entre você conhecer o produto e se familiarizar com ele. Pessoas como o Paulo Martins são fundamentais para
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As características singulares da culinária regional fazem com que o interesse por ela cresça cada vez mais, diz Atala
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vencer essa barreira que parece ser distante: que é preciso comer mais vezes um produto para compreendê-lo melhor. Daquele momento eu vou guardar isso: não conhecer, mas compreender melhor o produto.
com a natureza, essa sabedoria, esse empirismo que vem do extrativismo e da pequena produção. Por outro lado, também ter o auxílio dos profissionais de ponta e da tecnologia para ajudar. Um não vive sem o outro.
Que ingredientes amazônicos você usa com mais freqüência no seu restaurante? Jambu, chicória, alfavaca, tucupi, pimenta de cheiro, as farinhas, as frutas como taperebá, bacuri, cupuaçu, biribá... No D.O.M., a gente realmente usa muitos ingredientes brasileiros.
Você diz que falta uma “estandardização” das receitas na culinária regional. Isso seria importante em que sentido? Para ajudar a divulgar e para as pessoas entenderem melhor. Costumo citar o exemplo do pirarucu de casaca, que tem receitas diferentes no Pará e no Amazonas. Mas um simples pão de queijo também sofre do mesmo mal. É natural e importante que exista a diversidade, mas é fundamental que existam a iconização e a padronização da receita para que ela seja replicada e as pessoas entendam melhor.
E esses pratos são muito apreciados pelos clientes? 90% do cardápio são feitos em cima disso. Então é natural que saia bastante. São muitos ingredientes que não são fáceis de encontrar. Como funciona a rede de contatos para garantir o fornecimento? Algumas coisas a gente já produz lá, como é o caso do jambu. Outras ainda não. Aí a Tânia Martins (esposa do chef Paulo Martins) me fornece semanalmente com ingredientes. Toda vez que eu preciso, ligo correndo e ela generosamente me atende. É uma rede baseada na auto-ajuda e só quem lucra são as companhias aéreas (risos). Fora do circuito dos grandes chefs e restaurantes, a culinária amazônica recebe a valorização que merece? Acho que está num começo ainda. Cada vez mais ganhando notoriedade não só no Brasil como fora dele. O número de chefs internacionais e a quantidade de mídia em cima da Amazônia, especialmente do Pará, são muito grandes. O que é o diferencial da culinária amazônica para as outras culinárias regionais brasileiras? Esses sabores típicos que você não consegue explicar. Por exemplo, o que é cupuaçu? Se você não botar na boca, não dá para descrever. São características únicas que encantam. Você acha que a culinária regional está oprimida pela culinária internacional? Não, não acho que ela esteja oprimida. Ela passa por um processo semelhante ao dos ingredientes. Ela foi oprimida dez anos atrás, mas vem ganhando (espaço). É um passo muito grande para que a culinária regional deixe de ser algo muito restrito? Se a gente começa a usar os ingredientes, passa a criar uma demanda de mercado e a demanda gera a profissionalização do setor. Então o tempo vai responder isso para a gente. O que é mais importante para consolidar a culinária regional? A sabedoria empírica das velhas cozinheiras ou a introdução do conhecimento mais técnico? As duas coisas são importantes. Valorizar a natureza e, junto
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Você costuma dizer que uma visita ao Pará é como se fosse o ato de abrir uma Bíblia. Por quê? A Bíblia é um livro que você nunca para de ler. E em cada vez que você lê, você encontra uma compreensão diferente para o mesmo texto. E os textos na Bíblia são variados, falam de tudo. No Pará, existe isso: essa diversidade gigantesca. E cada vez que eu venho para cá, eu conheço, por exemplo, o cupuaçu de uma forma diferente. Fresco no mercado, trabalhado com chocolate, combinado com outros sabores... Outra compreensão do produto. Como foi a experiência gastronômica com a priprioca, que é um elemento que conhecemos mais como fragrância na indústria de cosméticos? Falar em comer priprioca aqui no Pará é quase um absurdo, né? Mas as indústrias cosmética e farmacêutica conhecem mais as propriedades da Amazônia do que nós. Nos últimos sete anos, eu tenho feito consultoria para a maior casa de aromas do mundo. Somos um grupo de nove chefs, cada um de um lugar do mundo, que trabalha em conjunto. Durante a pesquisa que nós fazemos a respeito de aromas, eu tive acesso à priprioca. Descobri que não havia nada proibido em relação a ela, apesar de a legislação para o uso tópico de um produto ser mais restrita que a para a ingestão. E eu sempre gostei muito do cheiro da priprioca. Daí, a passei por um cromatógrafo, para descobrir se existiam alcalóides ou qualquer outra substância que não pode ser ingerida. Também não tinha. O processo agora é esse: divulgar e fazer as pessoas entenderem a novidade. Primeiro os paraenses, depois os paulistas, os brasileiros... e, quem sabe, o restante do mundo. É preciso convencê-los de que é um produto com uma possibilidade de aplicação gigantesca. Em que pratos, por exemplo? Em tudo. A gente já faz chocolate com priprioca, doce de leite com priprioca, ravióli de limão com priprioca, peixe com priprioca... É um produto que não conhece doce ou salgado. Conhece cozinha.
RESTAURAÇÃO DA IGREJA DA SÉ. UMA OBRA DO GOVERNO DO ESTADO EM RESPEITO À FÉ E À CULTURA PARAENSE.
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A Igreja da Sé é um dos símbolos mais fortes da fé católica no Pará. E é também um dos mais importantes patrimônios culturais e históricos do nosso estado. Para que a Igreja da Sé fosse reaberta com toda a sua beleza revitalizada, o Governo do Estado investiu 14 milhões de reais. A obra, que tinha sido paralisada no governo anterior, foi retomada pelo Governo Popular em 2007, não mais sendo interrompida até a sua conclusão e entrega, no último dia 1º de setembro.
Agora, paraenses e visitantes de todo Brasil e do mundo podem voltar a apreciar a beleza de um dos mais importantes santuários católicos do Brasil. E este ano, ao nal do traslado do Círio, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré poderá voltar ao altar que sempre a acolheu, dentro da catedral que voltou a ser bela. Restauração da Igreja da Sé: um investimento que valoriza a fé, a cultura, a história e a beleza de um patrimônio de Belém e de todos os paraenses. 31
comportamento
o r m i i t n n e Ă? uv so
o as n iva d Ă t ru nst incen o c is ng ocia crossi neta s s de ost pla e re jeto P or do d ed pro pos em rtual, is ao r t ta Em do vi pos n u e d m oca r t a
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Lucas Berredo
P
Luiza Cavalcante
oucos resistem ao charme dos cartões-postais. Íntimo souvenir e, ao mesmo tempo, uma espécie de reflexo da memória coletiva – principalmente no início de século 20, quando eram consumidos como propaganda publicitária para um determinado país –, eles foram os exemplos mais práticos e econômicos de comunicação pessoal antes da popularização do e-mail. Os acadêmicos o definem como uma dupla representação do patrimônio/turismo cultural de um Estado, já que sua variedade temática é tão múltipla quanto suas opções de leitura – abordam-se desde enfoques humorísticos ou saudosistas até temas bélicos de cunho patriótico. No entanto, mais do que o conceito, a prática de enviar cartões-postais também pode ser uma forma lúdica de trocar ideias com pessoas de outros países. E, ainda na Era da Informação, eles despertam o interesse de colecionadores, viajantes, curiosos e cartófilos. O projeto/website Postcrossing (www.postcrossing.com), criado e desenvolvido pelo português Paulo Magalhães, demonstra que, mesmo com a internet – uma ferramenta de comunicação mais rápida e eficiente do que o correio convencional -, trocar postais não virou sinônimo de saudosismo. Com cerca de 123 mil usuários cadastrados (4.734 no Brasil), o site fundado em julho de 2005 está prestes a chegar aos três milhões de postais trocados por todo o mundo. Aproximadamente, a cada minuto, cinco a oito postais são entregues em alguma parte do planeta devido ao lançamento do projeto. A máxima do Postcrossing, com a frase “Se você envia um postal, você receberá ao menos um de volta”, explica seu simples funcionamento. Após se cadastrar, o usuário solicita um endereço – obtido de forma aleatória – que contém dados sobre os interesses de um destinatário desconhecido. Por e-mail, então, ele recebe uma morada e um ID (por exemplo: BR-72882), atribuídos unicamente a cada pessoa. Escreve-se, então, qualquer coisa sobre o tema do postal e depois se remete ao endereço do receptor no correio mais próximo. Quando o destinatário receber o postal, deve registrá-lo no website e, por sua vez, recebe um endereço, novamente aleatório, para enviar um novo cartão. Todos os postais podem ser visualizados no mapa da conta de cada usuário. Curiosamente, o site surgiu de uma mera brincadeira de Paulo Magalhães, então estudante de Engenharia de Sistemas e Informática na universidade de Braga. Apaixonado por postais, o »»»
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Um dos objetivos é resgatar e valorizar o método tradicional de comunicação pelo correio
luso frequentemente enviava e recebia postais para/de amigos distantes e sabia que existia um público ansioso para compartilhar o mesmo gosto. Faltava, no entanto, uma forma de unir estas pessoas. “Sempre gostei de ter algo mais na caixa do correio para além das contas e da publicidade”, explica Paulo Magalhães. “Mais que o próprio postal, gosto da ligação entre duas pessoas em lugares distantes por algo mais pessoal e íntimo do que os banais e-mails. Um postal tem muito mais significado e normalmente traz também informação sobre o local de onde veio. Então, nos tempos livres, comecei a desenvolver o conceito e o site para unir pessoas interessadas neste conceito de troca de postais. Para minha surpresa, a notícia começou a espalharse rapidamente e, em poucos dias, o site tinha já membros de vários países e começou a se revelar bem mais popular do que eu alguma vez esperei. O que inicialmente era apenas uma brincadeira, ganhou contornos diferentes em apenas algumas semanas”, diz o criador do projeto. Longe de menosprezar a rapidez e a facilidade do uso dos e-mails, Paulo explica que um dos principais objetivos do Postcrossing é resgatar e valorizar o método tradicional de comunicação pelo correio. Os postais, por serem mais reais, pessoais e íntimos, possuem um maior valor documental para qualquer pessoa. , justifica o português. “Alguém cola os e-mails no freezer de casa? Os postais têm muito mais valor.” Usuários Um fato curioso sobre o Postcrossing: a maior parte dos remetentes vem da Finlândia, um dos países com menor densidade demográfica no planeta. “Inicialmente, julgava isso devido ao seu clima com invernos longos e escuros, já que o Postcrossing seria um passatempo ajustado”, comenta Paulo Magalhães. “No entanto, depois veio o verão e continuou tudo igual! Acho que o gosto pela troca de postais está embebido na cultura deles, é a única explicação”, brinca o português. Até meados deste ano, os postcrossers finlandeses já haviam enviado 567.106 postais, seguidos pelos norte-americanos, com 415.317, e os alemães, com 362.267. O Brasil, com representantes de todas as regiões, vem na 11ª colocação do ranking dos que mais enviam postais, com 58.412. No Pará, são apenas 53
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usuários registrados. Entre eles, estão os belenenses Eduardo Moraes e Glenda Marinho, ambos com 21 anos. Estudante de letras, Glenda registrou-se no Postcrossing em 2007, por indicação de uma amiga, e já enviou, somente neste ano, 18 postais para 13 países diferentes. Em sua wishlist (lista de desejos ou preferências), ela prioriza cartões que contenham alusões a filmes em geral e Belle and Sebastian (uma de suas bandas favoritas) e/ou um quadro do pintor holandês Vermeer, View of the Deaf. “Me encanta o fator surpresa no Postcrossing”, explica. “Recebes o cartão, não sabes o que há ali... Tudo isso gera várias expectativas. É como na literatura: há pessoas que gostam de comprar ou receber um livro de presente, tocá-lo... varia de pessoa a pessoa.” No início, Glenda se empolgou com o fato de receber cartões vindos do Japão ou de Taiwan. Mas, aos poucos, o entusiasmo se tornou um hábito: “Depois de receber o décimo postal vindo da Finlândia, chegas a desanimar um pouco”, brinca a estudante, sobre o alto número de finlandeses no website. “Às vezes, ficas um tempo sem enviar, porque o postal demora algum tempo para chegar no destino.” A estudante costumava enviar correspondências contendo fotos de pontos turísticos de Belém, como o Mangal das Garças, o Ver-o-Peso e a Estação das Docas, mas ao constatar a pouca disponibilidade de postais sobre a capital paraense, largou de mão o critério e passou a colocar outras cidades brasileiras nas prioridades também. “É legal porque há algumas pessoas de fora que costumam produzir seus próprios cartões. Como também outras com um senso estranho: uma menina da Holanda, por exemplo, me enviou um cartão com a imagem de uma vaca. Alguns artistas também usam o website para divulgar seus trabalhos”, comenta a estudante de letras, que chegou a se corresponder, durante pouco tempo, com uma garota da França, por meio da internet e de cartas. “Nos falávamos pelo messenger, mas depois perdemos o contato.” Eduardo, estudante de publicidade, entrou no site há dois anos e já recebeu cerca de 30 postais, incluindo alguns da Lituânia, da Estônia e da Turquia. Limita-se a enviar cartões com pontos turísticos de Belém, como o Ver-o-Peso e a Estação das Docas, já que os poucos postais produzidos na capital paraense não fogem desse enfoque. »»»
Existem muitos pais e mesmo escolas que usam o Postcrossing como ferramenta educativa
Aliás, para o estudante, sua maior curiosidade no Postcrossing é receber fotos de prédios e paisagens de países desconhecidos aos brasileiros, como os exemplos supracitados, além de constatar, às vezes, que também os estrangeiros não conhecem muitos detalhes sobre nosso país. “Recebi uma vez um curioso cartão da Turquia”, comenta. “Uma garota me enviou uma foto do líder militar deles e, por aí, podemos ter uma ideia de como se comporta a cultura do local. Sobre o Brasil, alguns usuários nos respondem alguns e-mails e dizem que pretendem viajar ao país e conhecer nosso Carnaval. No geral, eles não conhecem muito sobre aqui.” O próprio Paulo Magalhães descobriu com o tempo que há um grande ganho educacional no Postcrossing em relação aos outros sites de relacionamento. Com 199 países cadastrados, o site não deixa de se tornar uma forma de aproximar culturas distintas. “Já aprendi muito sobre geografia e lugares que nem sabia que existiam”, explica. “Existem muitos pais e mesmo escolas que usam o Postcrossing como ferramenta educativa. Pode-se aprender bastante com os postais: geografia, cultura, até inglês. E para as crianças, é muito mais interessante descobrir o mundo desta forma.” O site dispõe também de um fórum oficial onde os usuários podem trocar informações e postais, sanar dúvidas, fazer amizades e propor trocas diversas. Há também uma secção off topic, onde se comentam temas fora do projeto. O propósito do fórum é dar suporte e discutir a ideia do postcrossing. Segurança Paulo Magalhães explica que os endereços guardados no sistema do Postcrossing apenas são mostrados à pessoa que terá que enviar o postal. Em mais nenhum caso, são mostrados os endereços no site. Adicionalmente, cada utilizador pode pedir no máximo cinco endereços. Só após os postais serem enviados, será possível pedir novos endereços. Ele também avalia, em breve, novas formas de proteger o conteúdo veiculado. “Há várias funcionalidades a serem desenvolvidas, mas nada que possa revelar já”, comenta. “No entanto, posso adiantar que está nos planos aumentar o suporte do Postcrossing como ferramenta educacional pois existe muito interesse por parte dos usuários nisso.” Em alguns lugares do Brasil, já são organizados, por meio do Orkut ou do fórum do site, pequenos encontros de postcrossers nas capitais brasileiras. Só em São Paulo, foram organizados dois neste ano. A comunidade brasileira do Postcrossing no Orkut possui atualmente 536 membros.
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DISNEY ZONA TREM FANTASMA MEUS AMIGOS SÃO BARATOS Edyr Augusto Escritor
Transito pela Presidente Vargas desde que me entendo. Moro no coração desta avenida hoje dilacerada, com veias abertas, apodrecendo, se degradando sem que ninguém de direito faça algo. Trabalho próximo, no Edifício Palácio do Rádio. Trabalho no Teatro Cuíra. Conheço quase todo mundo. Grandes personagens, que frequentam meus livros, meus escritos. Uns já se foram. Outros, permanecem. Tem o Baldo, que toma conta de carros somente à tardinha, na Praça da República, em frente à Banca do Alvino. O Imperador, com sua esposa Pantera. O gringo, uruguaio, conhecedor de vinhos, que um dia desses vi vagando pela João Alfredo. Realmente, com o Teatro Cuíra, minha coleção aumentou muito. Felizmente temos ótima convivência. Nos protegem. A Primeiro de Março é o quintal da Presidente Vargas e se esta é uma avenida em decomposição, imaginem seu quintal, onde todos os prédios jogam lixo, figuras absurdas transitam, vivem, comerciam, traficam, enfim. Procuremos pérolas no chiqueiro. Foi em uma noite quando Kiko, para nós T. Rex, estava descolando algum como “olhador” de carro, durante uma sessão de “Laquê”, no Teatro Cuíra, que tive a ideia. Parece cruel. É cruel e assim mesmo, não há como não usar humor. O Kiko é um rapaz que tem uma série de deficiências. Mental, certamente, embora não saiba dizer quanto, tampouco o quanto piorou com a ingestão contínua de cola de sapateiro e derivados. Física, porque é como ter os tendões dos braços e das pernas atrofiados, com os braços curtos demais e as pernas também, em comparação com os pés. Isso, mais o formato de sua cabeça, resultou no apelido de T. Rex. Vive entre as casas de prostituição da Primeiro de Março. Quando bebe ou cheira, dorme nas calçadas. Quando se aborrece, levanta a voz. Todos, ali, falam muito alto. Como vivem ao ar livre e mesmo as prostitutas ficam todas à porta, o mundo é sua casa. E assim, falam alto para todo esse mundo ouvir. Talvez estejam é gritando por socorro, sem parar. Acho que é isso. Pois é, o T. Rex estava fazendo sinais, com seus bracinhos, ajudando uma moça a manobrar seu carro. Noto que a manobra cessou, embora o carro ainda não esteja estacionado corretamente. Quando vejo, percebo a motorista, boca aberta, num misto de medo e curiosidade, encarando T. Rex e seus sinais. Fui até lá e com gestos, dei-lhe a segurança que precisava. É um pária. Vive do que consegue amealhar. Com sua deficiência, não consegue sequer assaltar, tomar o que precisa. Tem equilíbrio frágil. Precisa de ajuda. De quem? Grande figura. Temos a Muda. Prostituta muda? Sim. Não deve ter mais do que 30 anos, branca, bonita, sim senhor, bonita. É violentamente belo vêla oferecer seus préstimos, com gestos. Sexo oral, vaginal, anal e o preço. Uma vez estava fora de seu ponto. Na esquina da Assis de Vasconcelos com a Osvaldo Cruz. Passei de carro e ela chamou, sem me reconhecer. De volta, acenei apenas. Dois dias depois veio desculpar-se. Parece tão cuidadosa, boa pessoa. Quando se aproximam
cheirando cola, fumando maconha ou coisa pior, afasta-se revoltada. Imagino quando faz sexo, como é a comunicação. Bem, talvez nem haja comunicação, não é? Colega dela, Célia, conheço mais de vista. Tem amizade com a turma do Cuíra. Mora bem ao lado, pela Riachuelo. Quem visitou diz que sua casa, seu quarto, são um mimo de arrumação cafona, mas decente. As cortininhas, tapetinhos, fronhas de travesseiro. Ela própria, morena farta, gorda, digamos, anda cheia de dengo, lentamente, gordamente, com sua cabeleira de dreadlocks e clientes fixos, geralmente senhores de alguma idade. Temos a Pantera, já mencionada por conta de seu Imperador. Era prostituta da área, mas dizem, foi o excesso de drogas que a levou à insanidade. Mora na calçada, com o Imperador, mas sai circulando, falando sozinha, sempre se defendendo de alguma acusação, mancando de um ferimento na palma de um dos pés. De repente, tira a roupa. Anda nua, magricela, esfomeada, os seios duas muxibas, coitadinha, afrontando o mundo. Pede dinheiro e ameaça tirar a roupa se houver negativa. Ninguém faz nada. Devia ser retirada da rua. Ter um lugar para morar. Receber tratamento. Seu desfile quase que diário é mais uma das chagas da Presidente Vargas. E o Júnior? É um psicopata. A partir do que conta, vivia com a mãe até esta falecer. Sem ninguém no mundo, mora na rua. Fala sozinho. Autoflagela-se com murros fortes, no peito. Às vezes discute com outros e é severamente agredido. Come o que dão. Veste o que recebe e já troca por qualquer coisa, de pasta a cola. É de natureza boa. Parece incapaz de agressão, mas sua doença não recomenda tanta aproximação, além de lanches e peças de roupas. Anda sumido. Com um leve retardo, penso, temos Vitória, que está no elenco de “Laquê”. Prostituta, mente livre, sem hora nem lugar para nada, diz para quem quiser ouvir que é compositora e cantora de brega. Que tem repertório para um disco inteiro e que ainda fará sucesso. Uma noite, diante de Nilson Chaves, despejou umas quatro ou cinco de suas canções para que avaliasse. Há também uma família da pesada. A polícia estourou uma fábrica de drogas lá no meio da Riachuelo. Lacrou a casa. A família veio morar ao lado do Cuíra. Durante o dia, o “barão” acende cigarro e lê jornal, tranquilo. Após o almoço, rola um carteado. No começo da noite, banho tomado, calça branca, sapato branco, faz pose. A Polícia pegou. Traficavam, claro. Prendeu todos. Ufa, que alívio. Pena. O “barão” já voltou, cheio de marra. A turma é grande, mas fico por aqui. Esses personagens ficariam no antigo Trem Fantasma do Parque de Nazaré. Carrinhos toscos, em trilhos, o bastante para assustar as crianças. Lembrei do carrinho passando e cada personagem acenando. De alguma maneira eles são lindos, verdadeiros, profundamente humanos e amigos deste mundo, mundão largo, onde vivemos. Meus amigos são baratos!
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Felipe Hellmeister
entrevista
Fala,
Serginho! 40
HĂĄ quase 20 anos, Serginho Groissman leva a sĂŠrio a proposta que o fez famoso na televisĂŁo brasileira: vida inteligente no ar
Por Marcelo Rubens Paiva
O
sucesso de Serginho Groissman tem um nome: repertório. Viveu intensamente os períodos conturbados na nossa história. Durante a Ditadura, era um agitador cultural no Colégio Equipe, em São Paulo, enquanto o medo e o silêncio dominavam as ruas. Organizava sessões de filmes proibidos ou esquecidos. Junto, shows de resistência com o que havia de melhor na MPB, de Cartola a Gilberto Gil. E, por vezes, palestras para entendermos o que se passava com o mundo. Tudo dentro de um teatro ou no pátio da escola alternativa no centro de São Paulo. Sua opção era, quando “crescer”, virar advogado. Mas decidiu continuar a sua saga: entreter, se comunicar, desvendar, discutir. Foi para a rádio e, em anos, estava na TV, destoando do perfil de apresentador de programas de auditório. No programa “Matéria Prima”, da TV Cultura [1990], inventou
Tá gravando...
um outro jeito de fazer televisão. Deu voz ao público. Tornou-o protagonista do show. Não foi uma sacada de marketing. Apenas seguia os seus princípios, em um país que consolidava a sua democracia e em que a juventude não tinha voz. “Programa Livre” e “Altas Horas” continuaram com o mesmo ideal. Paralelamente, faz palestras, programas educacionais, apresenta sem cobrar cachê festivais de cinema. Ah, se todos fossem iguais a esse corintiano roxo, paulistano, homem antenado, que nunca envelhece e nunca trai os seus princípios. Somos amigos há mais de 20 anos. Nunca mudou o seu jeito transparente. Educado, paciente e didático, mantém-se no ar procurando, com a ajuda da sua audiência, melhorar o país. Nessa entrevista, dada na sala da produção do “Altas Horas”, na sede paulistana da Rede Globo, cercado por profissionais que estão com ele há 20 anos, ele revela o seu segredo: o de protagonizar a vida inteligente no ar.
Tem certeza?
Uma vez o Jorge Luís Borges (escritor argentino) estava jantando com poetas e escritores paulistas e consegui uma entrevista, só eu e ele. Me colocaram num canto com o Jorge Luís Borges, cego, né? Meu gravador ainda era de fita... Começo a entrevista e pergunto: “O que é o sonho pra você?” A fita começou a comer! (risos) Daí ele cego ali, sabe o que falei? “Vamos papear então”. Fiquei uma hora e tanto com ele... E você lembrou de alguma coisa depois? Nada! Era pra rádio... Ele fingia que tava sendo entrevistado, mas tava era batendo papo com você... Ele achou que ia pro ar (risos)... E qual o cara que você ficou mais nervoso pra entrevistar? Também foi uma entrevista furada. Eu tava na Gazeta e fui entrevistar o (Roman) Polanski. Cheguei lá e tava muito nervoso, tava começando a entrevistar as pessoas. Fiquei uma hora e meia conversando com ele... Quando cheguei (na rádio) a fita tava toda comida... Você já era conhecido nos anos 70 por promover shows no colégio Equipe, aquela coisa de resistência à ditadura... Lembra quem tocou por lá? Ah, lembra alguém dos anos 70... Todo mundo tocou. Cartola, Caetano, Gil... Cartola tocou lá? Tocou com o Nelson do Cavaquinho, Dona Zica e Clementina de Jesus... Não era só pra estudante, né? Todo mundo podia entrar... É, não era só pra estudantes. Raul Seixas tocou lá, Egsberto Gismonti, Hermeto.. os malditos da época, Luis Melodia, Jards Macalé, Walter Franco, Elba Ramalho, João Bosco...
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Tá gravando sim...
E como funcionava? Você estudou na escola? Eu estudei um ano no cursinho, antes de ter o colégio. No teatro tinha um projetor e sugeri projetar uns filmes, eles toparam e um dia tive a ideia de fazer um show naquele lugar. Dos filmes, como passou para os shows? Um dia, eu pensei: “Podiam fazer uma abertura pro filme”. Daí apareceu uma dupla caipira lá. Eles tocaram antes... aí apareceu um cara e disse: “Se você quiser, a Escola compra um show do Dori Caymmi, superbaratinho, e antes do filme abre pra todo mundo”. Mas a gente não tinha som. Apareceu uma banda de rock do cursinho que emprestou o equipamento... E a Ditadura nunca fechou lá? Pois é, nunca... Eles iam lá ver os shows... eu via agentes do Dops (Departamento de Ordem e Política Social) entrarem na secretaria, pediam a relação dos alunos, não interrompiam a aula, mas ficavam do lado de fora, pediam pra um funcionário chamar o cara. Levavam os caras, que passavam um mês fora e quando voltavam contavam como eram torturados. Uma vez levaram oito professores do Equipe de uma vez... Mas nos shows... Nunca. Quando levaram esses oito professores, o diretor do Equipe me chamou e disse: “Olha, é melhor você se preparar, porque eles foram levados mas não sabem por que, então é muito possível que você seja levado... Faz com uma trouxinha de roupa...” Eu passei a semana mais pirada da minha vida (risos). Eu morava com meus pais, e não queria que eles me vissem sendo preso. Saía sete da manhã e voltava onze da noite. Um dia tocou a campainha na casa da minha mãe. Ela abriu a porta. “Olha, a polícia tá aí”. Pensei: “É comigo”. Era um policial fardado. “Não, é que tamos pegando aí a denúncia de uma empregada que tá furtando...” Eu achava que tudo era comigo, que ia entrar na tortura... »»»
Felipe Hellmeister Desde os anos 70, Serginho Groissman faz parte da vida cultural do país. Na Televisão, deu voz à juventude e revolucionou os programas de auditório.
Dos shows, alguém te chamou pra rádio? O (Odayr) Batista tava na Band FM. Ele me ajudou pra ir lá... Como repórter ou apresentador? Não sei como é agora, mas antigamente tinha três pessoas (na rádio): uma de manhã, outra de tarde e outra à noite, que cuidavam de todo o jornalismo da FM. Quando o Figueiredo (João Batista Figueiredo, então presidente do Brasil) foi se operar do coração, as pessoas sabiam que ele ia, mas não sabiam quando. Daí foi: “Ó, o Figueiredo tá sendo operado, interrompe aí”. Depois que acabou a música: “Atenção! presidente Figueiredo está passando por uma cirurgia, agora vamos com (imitando um sotaque de locutor descolado) Supertramp!”... É engraçado como a rádio nunca decolou no Brasil. Na Europa a rádio é muito mais presente... Ouvido é muito. Mas é mal-remunerado, o investimento é pobre. (Retomando) Daí fui pra Rádio Cultura, apresentar o programa Matéria Prima, quatro horas todo dia. Ah, essa história eu tenho que contar! Entra o Jô Soares ao vivo... O Marcelo tava do meu lado... “Oi, Marcelinho, tudo bem...?” “Jô, você continua baixando as calças e mostrando a sua bunda pro pessoal do Copacabana Palace, já que você mora ali colado?” (risos). Ele ficou louco. “Eu nunca fiz isso, de onde você tirou essa história?” “Eu li isso, Jô”. “Mentira, eu nunca fiz isso, que absurdo você
me ligar pra perguntar essas coisas”. (risos) Você também veio paralelo a esse movimento de rock dos anos 80, 90... muita banda tocou pela primeira vez lá no Matéria Prima... Banda que nem tocava no Chacrinha tocava lá... Já desde o Equipe. Muita gente se apresentou primeiro em São Paulo no colégio. João Bosco, Elba Ramalho, os Novos Baianos, que chegavam de ônibus, era uma família, eles acampavam, muita gente, fumaça pra todo lado... Tem alguma coisa daquela época... Não sei se é porque a gente tá velho, mas não tem a impressão que, apesar da Ditadura, a gente era feliz? Eu era feliz, mas nessas épocas eu passei muito medo. Mas tinha uma coisa de: “Puxa, o mundo tá mudando, nós vamos mudar o mundo”... Mas era uma ilusão, né? Eu participei de grupos de estudos marxistas, depois me convidaram pra clandestinidade (risos). Isso no meio de uma passeata: um cara que estudou comigo no Renascença deu o número: “Você vai lá tal hora”. Cheguei lá, o cara me disse: “Olha, seu nome é Nelson” (risos). “Nelson? Tá bom”. “Nome de guerra, não quero saber seu nome verdadeiro...” Eu perguntei: “Que organização é essa?” “Ah, não posso falar” (risos). No dia seguinte fui lá. “Que organização é essa?”.
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Mas você não tinha a sensação de que naquele tempo tudo era novo, tudo era novidade? Tinha. Você viveu rodeado (do clima da época), sua família.. Eu era curioso, estudava num colégio conservador... o Renascença. Você imagina, eu era presidente do Grêmio e fiz uma feira de livros da Zahar, só tinha livro marxista, tudo proibido. Eu pegava os jornais e lia: amanhã vai ter passeata. Eu ia sozinho! Ninguém mais do colégio ia. Lembro que houve uma grande passeata antes do AI-5 em Sampa e eu fui. Os centros acadêmicos já estavam fechados. Quebraram os vidros do Banco Americano, jogaram molotov no Estadão, viraram o fusquinha da polícia. Lembro do Zé Dirceu (ex-presidente do Partido dos Trabalhadores) com uma capa branca dizendo: “Vamos tomarrr esse país” (risos). Lembro que peguei um ônibus e disse: “Esse ônibus tá encampado pela revolução, vamos lá pra PUC!”. Desviei o carro. Vivia numa adrenalina. Aí se achava que as coisas iam mudar, mas depois do AI-5 não comecei a achar mais... Era muita tortura... E o Equipe era o único lugar, até hoje não se sabe a razão, que as pessoas iam lá, falavam, cantavam... E como foi a transição do rádio pra televisão? Na Rádio Cultura, a Beth Carmona me colocou num programa chamado “Orientação”. Era um programa que ia ao ar às segundas-feiras e falava sobre Educação, metade orientação sobre como funciona, por exemplo, o curso de Enfermagem... Aí chamava uma enfermeira... Na segunda parte era esporte... “Como funciona um torneio de fórmula 1”... Programa ao vivo, meia hora... Mas não dava a mínima pelota. Eu fiz uns testes na TV Cultura, mas eles achavam que eu não parava quieto, que não ia rolar nunca TV pra mim. Daí me chamaram pra ser diretor da Rádio Cultura AM. Eu fui, fiquei seis meses. Talvez seja o trabalho que eu menos gostei de fazer... Superburocrata... Mas você tinha um programa também ou era só diretor? Tinha um programa ainda... era o que me salvava. A cada dois anos tinha uma grande reunião das TVs e Rádios Educativas e todo ano era um lugar maravilhoso. O meu caiu em Teresina, que é a única capital do Nordeste que não tem praia. Fui lá e numa dessas noites o Marcelo Machado foi dar uma palestra, chegou pra mim e disse: “Olha, a gente tá com uma ideia na TV Gazeta de fazer o TV Mix”... Ah, foi antes do Matéria Prima... Ele falou: “Você não gostaria de dirigir?” “Putz, eu vou, como é que faz? “Você tem que chegar lá às seis da manhã, começa às sete...” “Ah, não, não vou” (risos). O TV Mix era um programa de clipes e entrevistas... Não, o meu era mais jornalístico. Era o TV Mix 4, tinha o 1, o 2, de manhã... o 3 que eu dirigia e o 4, que eu apresentava. Mas tinha um problema. A Gazeta tinha pouco dinheiro, então eram as mesmas câmeras de manhã, de tarde e de noite. Quando chegava a noite, uma já tinha pifado, eu aparecia roxo na outra (risos) e só uma sobrevivia. »»»
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Felipe Hellmeister
“Ah, não posso falar”. “Pô, mas eu preciso saber onde eu tô, no MR-8? Em quê? Então vou embora” (risos).
Felipe Hellmeister
A ideia é fazer com que o espectador esteja no programa que assiste
O bordão “Fala, Garoto!” foi imortalizado pelo apresentador E era só São Paulo? Só São Paulo, e nem toda.
tinha uma mesa, todo mundo sentava. “Vamos pegar essa ideia e fazer um programa...”
Aí você já tava na frente das câmeras... Foi a primeira vez.
Mas quem deu essa ideia? Você ou o Muylaerte? Foi a Beth com o Celso Tavares. E eu aprimorei com essa ideia de fazer o que era o programa que fazíamos na rádio virar um programa de TV.
Isso durou quanto tempo? Dois anos. Quem ia? Pessoal de Teatro, banda? Ia todo mundo... Eu consegui fazer uma vez a reunião do Sepultura com o Ratos de Porão, em 88... Mas eles não tocavam ao vivo? Tocavam ao vivo. Era uma zona de confusão sonora, mas conseguia. Ninguém ouvia nada, nem o espectador... E tinha repercussão o programa? Tinha. Tanto que me chamaram de novo na TV Cultura e pra fazer TV, né? Mas você sentia que a TV era infinitamente mais popular que a Rádio? Foi aí que você percebeu? Você começou a ser parado na rua. “Ah, assisto seu programa”? A primeira vez que me pediram autógrafo eu dei risada. Tava até com um casal e eles começaram a rir. Era uma criança ainda por cima... uma coisa muito esquisita... foi numa pizzaria. Ficou dois anos no TV Mix, o (Roberto) Muylaerte (então presidente da Fundação Padre Anchieta) viu você e disse: “Quero fazer um programa com você, horário nobre, música ao vivo com plateia...” Isso. Eu tinha um programa de rádio chamado Matéria Prima,
Que é um pouco dar democraticamente voz às outras pessoas... Isso que foi a grande mudança na TV Brasileira... Finalmente, vamos ouvir: “Fala, garoto”. É. A ideia é fazer com que o espectador esteja no programa que ele assiste. Essa ideia foi sua? Foi minha. De fazer as pessoas terem uma importancia maior que o apresentador. Então você imagina: a primeira semana na TV Cultura, resolvemos fazer metade do pograma Lobão e metade Menudos (risos). A plateia também tava dividida. Aí quando entrou o Lobão, depois do Menudo, a primeira pergunta foi: “Lobão, você é homossexual?”. Daí ele respondeu assim: “Você quer saber se eu dou o c...?” (risos). Ao vivo? Ao vivo na TV Cultura. Eu pensei: “Bom, o que eu faço?”. Eu não sabia. Eu podia falar: “Ô, Lobão...”. Mas não falei porque tava naquela: “Ah, não vou censurar”. Naquela época tinha todos aqueles problemas éticos... da censura...
Até porque tava rolando a redemocratização do país... A gente tava querendo o fim da censura...
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TV Globo /Zé Paulo Cardeal José Celso Martinez e Camila Morgado nos bastidores do Altas Horas. Personalidades de diversas áreas já passaram pelo programa. Exatamente. E isso foi só o começo do programa... Chamavam o Jarbas Passarinho de Jarbas Passaralho... E eu lá suando... Daí no outro dia fui lá (vestido) de branco... Nunca fiz isso... Cheguei de branco na TV Cultura... Por que de branco? Porque achei que era... Sei lá, energia (risos)... Cheguei lá o porteiro já me falou: “Ontem o Lobão, detonando hein?” (risos). O porteiro falou! Dou dois passos: “Ó, convocado pra uma reunião urgente”. Cheguei lá tava uma mesa com aqueles senhores todos, o conselho da TV Cultura... Quem dirigia o programa? Eu. E sem edição, né? Você fazia tudo. Ao vivo. Sem edição. Durou um ano só, mas ficou tão marcado que as pessoas acham que foi mais... Daí o Silvio Santos... Um dia me dizem: “Olha, o Silvio Santos tá na linha”. Pensava que era trote, mas fui lá, atendi, ele tava na linha. Mas eu pensei: “Não vou sair da TV Cultura pra ir pro SBT”, achei que ia acabar minha vida na Cultura. Mas o Jô tava lá, né? Tinha programas bons... Ele tava chamando essas pessoas... Daí eu fui lá na Vila Guilherme. Fiquei olhando pra ele, olhando pro cabelo dele... (risos). Eu não conseguia prestar atenção no que ele falava! Daí ele falou: “Ah, você vai vir, vai ficar aqui...” Então eu falei: “Olha, nao vai ser assim, não”. Demorou, mas ele me convenceu. Disse: “Você vai ter tua equipe, liberdade, o Jô tá vindo pra cá, o Bóris (Casoy)...
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Mas vai ter também o ‘Aqui e Agora’ e eu preciso de você pra contrabalançar porque vão meter o pau em mim...” Ele é assim: claro. Eu tava na dúvida. Tinha amigo que trabalhava com o Bóris e me disse: “Sabe quando eu resolvi entrar? E fui fazer xixi, tava lá... e chegou o Bozo, (vestido) de Bozo! E começou a fazer xixi do meu lado. Aí eu pensei: ‘O Bozo tá mijando aqui comigo. É aqui que eu vou ficar’”. (risos). E a Cultura ficou chateada com você? Ficou chateada no começo. “Não, não vai pra lá, não sei o quê”. A Cultura já havia ficado chateada quando eu saí pra TV Gazeta. “Você vai deixar um cargo de direção pra ir pra um lugar que usa esparadrapo”. Fui. Voltei. Como é que você fazia TV sem saber fazer TV? Até hoje eu não sei. Você não tem o perfil de um cara... Pelo contrário, tenho até um perfil tímido. Você acha que isso faz a diferença? Não sei. Acho que não. Sei que quando tô com muita intimidade com as pessoas eu sou o que sou na TV. Fora da TV eu preciso ter a intimidade que tenho com o Marcelo pra falar bobagem, por exemplo... Alguém já ligou pra pedir pra você não colocar no ar a entrevista ou tirar tal frase, por exemplo? Já. Já pediram. E você tira? Eu tiro. Se não é algo contundente, se é muito pessoal, nao é »»»
TV Globo /Zé Paulo Cardeal Muitos ícones da cultura brasileira e mundial, como Paulo Coelho, estiveram frente a frente com Serginho nestas duas décadas no ar importante, aí a gente conversa. Se é algo importante, o cara falou, tá falado. Um cara que faz uma denúncia, coisa assim... Você já fez uma barrigada jornalística grande? Mais trapalhada. Eu troco muito nome, às vezes esqueço o nome da pessoa. Tava a Patrícia Pillar e a Elza Soares, eu chamei a Elza de Angela Maria (risos). Já chamei o Paulo Silvino de Paulo Gracindo... Eticamente você já fez alguma coisa de que se arrependeu? Eticamente não. Mas, por exemplo, já teve um cantor que não pisa mais aqui. A gente tem um telão, entra uma prostituta. E o cara cheio de medalhão, deu um esporro na menina por ela ser puta! “Você nao tem mais o que fazer, por que não vai trabalhar?”. Aí eu pensei: “Pô, não preciso desse tipo de cara”... Por outro lado, a vantagem é que você não tem preconceito. Você chama a Xuxa, faz um programa delicado, gentil com ela. Não tem preconceito musical... Não pode ter. Acho que o Colégio Equipe meu deu um pouco isso, dessa tolerância... Porque havia vários grupos. No Equipe tinha o pessoal que só fumava, tinha os que seriam os fundadores do futuro Partido dos Trabalhadores. Tinha muita gente. Pra eu fazer esses shows lá, já tinha que não atender a uma corrente só... Aprendi a gostar e a respeitar, sabe? A primeira vez que aconteceu isso eu tava na TV Cultura e um dia falei: “Vamos
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fazer um programa mais brega? Vamos chamar o Ovelha (cantor brega de muito sucesso nos anos 1980).” A gente recebia a audiência na Cultura, o programa era diário, mas a gente recebia por semana. O dia que veio (o índice de audiência), foi um absurdo! As pessoas viram o programa pela primeira vez. Comecei a pensar: “Tem tanta gente que gosta...” Eu já trabalhei em programa de televisão que o concorrente tinha mais audiência. A gente tava com uma banda toda conceitual e o concorrente com o Exaltasamba, coisa mais pop assim. E a própria apresentadora falava pra mim: “Ó, manda chamar gente mais...” Aí eu comecei a perceber que a audiência faz uma pressão. Não é o seu caso na Globo, porque você nao tem concorrente, mas no SBT você sentia isso? Tinha o Luciano Huck... Eu troquei de horário no SBT 45 vezes por conta disso. A gente estreou às cinco da tarde, antes do “Aqui e Agora”. Entao você tinha que entregar pro “Aqui e Agora” bem. No primeiro programa foi a Hebe. Eu não tinha noção do que era audiência, a importância. Na Cultura dava traço, um ponto, a gente não recebia comparativo. O que significava dois, cinco? Daí a gente fez o primeiro programa com a Hebe e o Ira! Deu dez pontos de média, que hoje é absurdo! O Silvio me ligou: “Parabéns!”. No outro dia caiu pra cinco. Aí você já ficou tenso... Não, tenso não... Eu nao sabia: “Ah, deu dez!”. “Bom, dez é
Se a juventude não lê, não adianta ver muita televisão
muito?”. Passou a primeira semana, ele me chamou: “Desculpa, você tá destruindo o ‘Aqui e Agora’ (risos). Você vai pras três da tarde”. Pô, foi uma depressão, mas uma depressão real! “Quero voltar pra TV Cultura”. Aí fui pras quatro, três e meia, no lugar da Hebe, sabado, domingo de manhã, a semana inteira mais terça de noite, a semana inteira mais... Você aguentaria fazer de novo um programa ao vivo todo dia? Aguentaria. Você não tá no hábito desse programa semanal? É, você cai um pouco no hábito, mas o programa semanal é mais difícil. Você acha? Eu acho, porque no programa diário você faz um programa: foi ruim? Tenho um hoje. Foi mais ou menos? Ah, tenho outro, outra chance. Aqui (no semanal), você só tem uma chance. O que faz um programa ser ruim? É tudo. Principalmente quando as perguntas são ruins... da plateia, quando o entrevistado é ruim. Um exemplo só. O cara é o ator da novela, o serial killer da novela. Vamos trazer ele. Ele vem, daí uma pergunta, duas, três da novela... Acabou. Agora é ele, não é mais a novela. Daí o cara não tem humor... não tem repertório, nao interage. O programa funciona bem quando um entrevistado conversa com os outros. E vem entrevistado que tenta pautar? Por exemplo, o Ronaldo no caso dos travestis. Ele chega e diz: “Olha só vou ao programa se não perguntar tal coisa”? O Ronaldo veio aqui, não pediu pra não falar sobre o assunto e ninguém perguntou pra ele. E você não perguntou? Não perguntei.
Quando a Globo te chamou, se o Silvio oferecesse o dobro do salário você ficaria ou queria mesmo vir pra Globo? É diferente vir pra Globo, a penetração, o prestígio, profissionalismo.... Deixa eu te contar a história bem rapidinho. Eu sempre renovava de dois em dois anos com o Silvio. Pessoalmente. Eu chegava lá e dizia: “Silvio, o programa muda muito de horário e não tem uma estrutura de jornalismo”, o que eu queria. Aí ele dizia: “Não tem jeito, vamos renovar por dois anos, daqui a um ano a gente fala.” Quando tava tudo certo, eu assinava. Na última vez foi a mesma conversa e ele falou: “Vamos assinar”, e eu disse: “Hoje, não”. “Por que não?” Marcelo, juro por tudo que possa existir: cheguei em casa e tinha um recado na secretária eletrônica: “Oi, aqui é o André, eu sou da Globo, queria falar com você.” Liguei pro cara e falei: “Eu ia assinar...”, e ele falou: “Não assina”. Enfim, tem um monte de histórias engraçadas aí... Conta as histórias engraçadas então... O cara disse: “Você precisa vir ao Rio, mas é secreto!” (risos). Fui sozinho. Quando cheguei no Aeroporto Santos Dumont veio um cara e falou: “Siga-me!” (risos). Aí entrei num carro, todo preto. Nem saiu do aeroporto ele cruzou e entrou no hangar, que eu acho que é do Roberto Marinho. A porta fechou. “Olha, a gente quer te contratar, não sei o quê.” Daí tive uns dois encontros secretos... Já era projeto de fazer um programa semanal? Não, não tinha nada. Só era: “Vem? Topa?” Daí eu: “Topa vir pra quê?” “Não, topa vir que aí a gente vê o que você vai fazer...” Foram quatro meses de conversa, sem dormir, um puxa daqui, puxa dali... O Silvio sabia? Um momento ele soube... Mas por terceiros? Por mim. Porque nas primeiras conversas ele dizia: “Bom, se você tem uma proposta, da Globo que não vai ser (risos)”.
Por quê? Por que ele já falou (sobre o assunto) pra todo mundo... Você sente que existe uma mudança de repertório de geração para geração, você acha que o repertório aumenta ou diminui de acordo com cada uma? Eu acho que a juventude que não lê... (pausa) A internet mudou muita coisa, a cabeça das pessoas. Mas ainda é insuficiente. Se nao lê, nao adianta ver muita TV.
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Por que ele achou? Pela cara: elitista, nao sei o quê... Daí eu tinha que resolver. Liguei pra Marluce e pro Sílvio: “Olha, vou tirar 15 dias de férias desse assunto!” (risos). E o programa no ar? Programa no ar no SBT... Teve um momento que eu tinha que falar com o cara do Rio. Era por telefone, mas uma reunião »»»
TV Globo /Zé Paulo Cardeal Nos planos para o futuro, um programa que fale de futebol. “Entendo mais de futebol do que qualquer coisa que já fiz até hoje.” importante. Daí antes disso eu leio no jornal que o Jô Soares foi contratado pela Globo... Que também tava no SBT... Também tava e a Globo não tinha me dito nada. Aí eu tentava falar com o cara e não conseguia. Tá ocupado. Eu tinha uma reunião com o Silvio. “Bom, os caras contrataram o Jô e desistiram de mim.” E o Silvio tava naquelas: “Perdi o Jô”. Ele chegou pra mim: “O que você quer pra ficar?” Eu falei: “Bom, eu quero ir pro horário do Jô, quero fazer o Programa Livre de segunda a quinta e na sexta quero fazer o que o Jô faz, um programa de entrevistas meu.” Ele falou: “Tá bom, vai assinar”. Eu falei: “Pode ser amanhã?” (risos). Isso sem discutir grana. Daí eu saio, toca essa porra de celular e era o cara do Rio. Falei: “Pô, vocês tão desistindo de mim”. “Não!”. Daí chegou um tempo que não dava mais. Cheguei pro Sílvio: “Silvio, eu vou pra Globo.” Ele falou: “Então tá: eu te ofereço tanto de grana.” Marcelo, uma grana que eu não vou ganhar nunca na minha vida. Então não é que a grana aqui é maior do que lá, não é isso, não tem comparação. Ele falou: “Vai lá e assina”. Aí eu falei: “Não, pera aí, me dá mais um tempo (risos)”, porque era muito dinheiro, eu não podia falar não de uma vez. Aí fiquei pensando: “Eu tô lá há oito anos, o Silvio nesse período todo não me deu um aumento, só na renovação de contrato e tal... por que ele tá fazendo isso?” Então cheguei à conclusão que ele não queria que eu ficasse: ele não queria que eu saísse. No dia seguinte, falei: “Tô indo embora”. E ele falou: “Te dou mais tanto!”.
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Aumentou ainda mais? Mais ainda. Aí eu falei: “Silvio, você tá brincando, eu vou ganhar mais que você (risos)...”. “Ah, então vai... mas eu vou manter o cenário porque você não vai dar certo lá”. E foi isso que o Muylaerte falou pra mim. Como é que você consegue, com quase 60 anos, ainda comandar um programa de garoto, falando de igual pra igual? Rola um complexo de Peter Pan aí? Não, os meus amigos são velhos como você (risos). Tem uma coisa que acho equivocada aí nesse ponto de vista. As pessoas acham que por eu falar muito com o público adolescente... (pausa) Pô, eu falo com adolescente desde que eu tinha 40 anos! Então não é desde que eu era adolescente... “Ah, você se comporta como você se comportava quando...” Não, o meu comportamento é igual, e não é um comportamento de um adolescente... Você se vê fazendo esse programa até se aposentar? Eu não sei nem se vou estar vivo (risos), vou saber se vou fazer programa? Ainda mais programa pra adolescente? Não tenho a mínima ideia. O que falta você fazer? Se falta alguma coisa é eu participar de alguma coisa ligada a futebol. Eu entendo mais de futebol do que de qualquer coisa que já fiz até hoje.
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A Indústria do
Concurso Público Em 2049, quem olhar pelo retrovisor da História, pode se deparar com este início de século e concluir que a bomba foi armada nestes anos. Os anos 1960 viram nascer a indústria do vestibular. Foi um processo natural de expansão do interesse da população pelo ensino superior, fruto do inchaço das zonas urbanas e da industrialização do país. Muita gente interessada, poucas vagas e o caldo estava pronto para ver nascer uma indústria importante na educação no Brasil. Os tempos são outros e com tantos cursos superiores o vestibular vem perdendo importância pela mesma razão que o fez surgir, a lei da oferta e procura. Hoje tem muitas universidades e faculdades particulares que não conseguem completar as vagas ofertadas. No entanto, outra indústria está surgindo com mais ímpeto e com o vigor natural de sua juventude: os concursos públicos. Nunca antes na história deste país se viu tanto concurso. Além da crença dos partidos de esquerda na força do Estado o Ministério Público está contribuindo para o fomento dessa indústria eliminando os cargos temporários e obrigando instituições como empresas mistas a também preencherem seus quadros apenas com concursados. Essa conjunção de fatores fez explodir a indústria do concurso público. São cursos preparatórios, hoje mais rentáveis que os cursinhos pré-vestibulares, professores especializados, imprensa dedicada, cadernos de concursos nos mais variados jornais e revistas, empresas focadas na realização de concursos, colunistas, enfim, uma indústria que faz circular bilhões para preencher cargos públicos. Não haveria nenhum mal nisso, afinal é a própria lei de mercado atuando novamente. Se há muita gente querendo e as vagas não são suficientes para todos, tem que haver seleção. Ontem foi para o vestibular, hoje para o concurso. As semelhanças param por aí. Se no passado o interesse pelo ensino superior ajudou a criar uma geração que, mais capacitada, pôde fazer mais pelo país, elevando seus indicadores sócioeconômicos, o que podemos esperar de uma geração cujo sonho é ser funcionário público para ter estabilidade e se aposentar em 30 anos?
Nada contra o funcionalismo, mas temos que olhar o futuro do país e aí voltamos para o início do texto, em 2049. Se o processo de seleção busca captar os melhores e mais capacitados e se esses cérebros privilegiados vão se esconder em repartições, amordaçados pela burocracia estatal, quem estará à frente das empresas, dos laboratórios de pesquisa, dos centros de inovação, de tudo que faz um país crescer? Se o sonho de um brasileiro deixa de ser ter o seu próprio negócio para se tornar um burocrata, quem vai produzir riquezas para gerar os impostos que vão custear essa máquina? Vamos retroceder no tempo e lembrar o país que éramos na primeira metade do século passado. O país era eminentemente rural e nos centros urbanos o sonho da classe média era ter filho militar ou funcionário público, melhor ainda se fosse do Banco do Brasil. A expansão que se viu a partir dos anos 1950, com a industrialização e o sonho dos 50 anos em 5 do JK, deu um impulso modernizante que alterou substancialmente o país do Jeca Tatu. Esse movimento de revalorizar o emprego público como o sonho, não só da classe média, mas de todo o país, pode atingir em cheio a alma da nação. Pode tirar o ímpeto com que vínhamos caminhando para um estado de acomodação letárgica. Além disso tem a bomba armada da Previdência. Com o aumento da expectativa de vida e, mantendo-se as regras atuais, é bem provável que a maioria da população, inclusive o funcionalismo, passe a trabalhar 30 anos contribuindo com 10% do salário e recebendo durante 30 anos 120% do salário. Como essa conta vai fechar? Quem vai pagar por isso? Quem paga impostos é quem produz, hoje quase 40% do PIB vai para os cofres públicos. Ora se tivermos mais e mais funcionários públicos, ativos e, principalmente, os inativos, com menos pessoas dedicadas à atividade produtiva, que é quem gera os impostos, como essa conta vai fechar? Certamente em 2049 vão descobrir que não fechou e será tarde demais para mudar alguma coisa. Nossos filhos e netos vão se lamentar: por que deixaram isso acontecer?
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Celso Eluan empresário
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galeria
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Eder Chiodetto
Os editoriais de moda fizeram Bob famoso, mas seu repertório vai muito além dos cliques para grifes famosas
Bob pop Derrubar barreiras entre universos suspostamente antagônicos: eis a especialidade de Bob Wolfenson
A
infância é o período em que o significado da realidade circundante ganha contornos oníricos em função da liberdade da imaginação. A história da arte é repleta de exemplos de artistas - Fellini à frente - que recorrem à memória do olhar infantil para ativar uma poética possível na vida adulta. O fotógrafo paulistano Bob Wolfenson, 55 anos, fez desse olhar em retrospectiva uma sólida ponte para atravessar a distância geralmente insuperável entre a fotografia publicitária e o mundo da arte. Celebrado fotógrafo de moda, publicidade e nus, que dos anos 1980 até hoje se manteve sempre como um dos dois nomes mais relevantes no mercado editorial brasileiro, Bob é dono de uma personalidade inquieta, curiosa, provocativa. Avesso à ideia de ser estigmatizado como fotógrafo disto ou daquilo, tão logo ele passa a ser reconhecido por uma vertente, como a de excelente retratista, como aconteceu após o lançamento do livro e da mostra “Jardim da Luz”, realizada em 1996, no MASP, em São Paulo, ele se reinventa flertando com outras possibilidades de abordagem na fotografia. Foi assim que em 2004 ele realizou a bem-sucedida mostra “Antifachada – Encadernação Dourada”, na FAAP, em São Paulo. Surpreendendo todos, o agora assumidamente artista fez uma exposição de forte caráter contemporâneo ao expor em conjunto imagens de prédios de São Paulo realizadas em alta definição e ampliadas em grandes proporções com imagens »»»
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da sua intimidade feitas com câmeras amadoras, sem qualquer pretensão que não fosse a de celebrar a vida familiar. Mas e o olhar da infância entra onde? A visão dos prédios antigos e deteriorados do centro da cidade resgatava justamente a visão estupefata do pequeno garoto judeu criado no tradicional bairro do Bom Retiro, em São Paulo, diante de uma muralha de concreto. Anos mais tarde, em 2007, as reminiscências infantis de novo se fizeram presentes no ensaio “A Caminho do Mar”, exibido na galeria Milan. Quando criança, Bob ia frequentemente com seus pais para o litoral. Sentado no banco de trás, os olhos grudados na janela, a paisagem fluindo como uma tela de cinema. De repente, a visão: um cenário de filme de ficção científica surgia. Era a cidade de Cubatão com suas chaminés fumegantes, seu cheiro ácido no ar, sua atmosfera lúgubre, assustadora. O retorno a essa memória da paisagem, ou antipaisagem, como ele próprio escreveu, rendeu imagens de grande densidade gerando uma exposição de belíssimo acabamento, auxiliado pela equipe de competentes profissionais que o cercam, como Renato Cury, que nos últimos anos viabiliza tecnicamente os sonhos mais delirantes do artista. Essas duas mostras colocaram Bob definitivamente sob os olhos de colecionadores e curadores de respeito, como o francês Pierre Devin, que acaba de editar um portfólio de novas imagens de Bob sob o título “Cinépolis” para a Schoeler Edi- »»»
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Imagem da mostra “Antifachada Encadernação Dourada”, exibida na FAAP: forte apelo contemporâneo
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A paisagem fluindo como uma tela de cinema: reminiscências de infância na composição das obras
tions. Com impressões de alta qualidade, “Cinépolis” ganhou mostra no Museu de Arte Moderna da Bahia, a convite da curadora Solange Farkas. As imagens, de novo, surpreendem: trata-se de delicadas composições realizadas no vácuo entre o trabalho e o lazer. Um olhar curioso que se detém em elementos que em comum carregam em si a transitoriedade, vestígios do tempo. O intervalo entre o ter sido e o vir a ser. Artista, publicitário, retratista... A verdade é que o Bob é pop! E ser pop, no caso dele, não é tarefa fácil. Afinal ele é caso único no Brasil de um fotógrafo que trafega, é bem aceito e respeitado profissionalmente em áreas distintas e quase excludentes como o mercado publicitário e os museus, entre diretores de arte e curadores, entre as top models mais badaladas da estação e fotógrafos concorrentes que muitas vezes se tornam seus amigos. No meio da fotografia é quase um clichê fotógrafos publicitários muito bem-sucedidos quererem, após conquistarem fama e dinheiro em sua área, ter o reconhecimento como artistas, integrando o staff de importantes galerias e com obras em acervos de museus representativos. Fora o preconceito que muitas vezes ronda a área, o fato é que o olhar por muito tempo empregado em função da fotografia de caráter mais utilitário, raramente consegue alçar vôo, depois, nos meandros da subjetividade artística. Na maior parte das vezes essa tentativa fica no meio do caminho e a frustração dos “quase artistas” é evidente. Bob, ainda que imune a isso, tem consciência desse proces- »»»
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Cenas do cotidiano familiar ganharam um olhar especial do fotógrafo e foram parar nas galerias de arte paulistanas
Maitê Proença é uma das muitas estrelas que já posaram para as lentes de Bob Wolfenson
so e, sabiamente, produz no seu ritmo sem se preocupar. “Nunca quis viver de arte, nunca ambicionei ser artista. Adoro tudo o que faço e da forma que faço. Nunca tive disposição para pagar o alto preço que deveria para viver de arte”, diz. Se diretores de arte modificam uma fotografia sua até o limite dele próprio não mais reconhecer o seu trabalho, tanto faz. “A publicidade é um jogo. Sou apenas parte da engrenagem, não um autor”, diz. Mas a moda, por exemplo, é uma válvula de escape: “Adoro! Sempre tem uma boa porção de acaso, de criação espontânea”, diz com brilho nos olhos. Sobre os nus, ele se diverte com a fantasia que esse trabalho desperta nas pessoas. O escritor Mario Prata, por exemplo, escreveu uma bem humorada crônica sob o título nada sutil “Quero matar o Bob Wolfenson”, ao saber que sua namorada, uma modelo, havia sido convidada por Bob a posar nua em seu estúdio. Cultivando o poder de imaginação e a capacidade de se surpreender com as coisas simples da vida, como aquele garoto que espiava avidamente o bairro do Bom Retiro pela janela de casa, Bob segue um caminho original e único dentro da fotografia brasileira. A ansiedade e a visão de si mesmo, muito bem trabalhadas após 12 anos de terapia, o fazem ser a personificação da máxima do poeta Paulo Leminsky: “Distraídos venceremos”!
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Os preços e disponibilidade dos produtos são de responsabilidade dos anunciantes
confraria
Decoração A versatilidade desta peça é seu grande atrativo. Fabricada em alumínio e revestida de fibra sintética, é perfeita tanto para ambientes internos ou externos e pode ainda funcionar como puff ou mesinha lateral. A peça é exclusividade da loja Naveta. Naveta Peça para decoração em fibra sintética: R$ 1.040,00 Endereço: Rua dos Pariquis, 2391 Telefone: 91 32414040
Puro luxo Com 694 diamantes, pulseira em couro de arraia e maquinário suíço, não é estranho que este relógio, modelo 352 WG, da marca Lancaster Italy, tenha se tornado a maior sensação da mais importante feira de relógios do mundo, a Baselword, deste ano. E o melhor é que o acessório já está disponível no mercado brasileiro. Relógio 352 WG: preço sob consulta Lancaster Italy - www.lancasteritaly.com.br Telefone: 11 31514862
Charme Organizar seus objetos pessoais pode ser um grande prazer com este conjunto de potes para banheiro, uma exclusividade da loja Spazzio del Bagno. Fabricado em resina e disponível em trinta cores, o kit, composto por três peças – um porta escova de dentes, uma saboneteira para sabonete líquido e um porta cotonetes -, também dá um charme a mais ao banheiro. Spazio Del Bagno Conjunto para banheiro: preço sob consulta Endereço: Avenida Conselheiro Furtado, 1347. Telefone: 91 32244500
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destino
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Cléo Soares
Antonio Melcop
Santuário da
beleza Exemplo de preservação e respeito ao Meio Ambiente, Fernando de Noronha é um roteiro inesquecível
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os 8 mil quilômetros de praias do litoral brasileiro, 187 estão no Estado de Pernambuco, mas nenhum pode ter sua beleza comparada à do arquipélago de Fernando de Noronha. Apelidado de “Caribe brasileiro”, o lugar é um dos mais importantes santuários ecológicos do Brasil. Sua beleza se distribui em 21 ilhas que compõem o Parque Nacional Marinho, e conhecê-lo pode ser a sua viagem inesquecível rumo a uma natureza que ainda tem cara de ser intocada pelo homem, tamanho é o cuidado com a preservação. Fernando de Noronha é, na realidade, o nome da principal ilha, a maior e a única habitada do arquipélago. As demais ilhas só podem ser visitadas com permissão do Ibama. Mas isso é o de menos. O de mais é que na ilha principal a natureza pode ser vista e sentida como se as belezas do fundo do mar fossem trazidas para muito próximo da superfície, graças à transparência das águas, que permitem visibilidade com alcance de até 50 metros de profundidade em alguns pontos da ilha, considerada um dos melhores lugares do mundo para a prática de mergulho, mesmo que você nem saiba nadar! Nesse caso, o primeiro passo é o “batismo” nas águas, um mergulho inicial ofertado pelas empresas locais aos que desejam conhecer as belezas do fundo do mar. Mas as opções de passeios são muitas e exigem do visitante pelo menos 5 dias para usufruir das atrações naturais da ilha e conhecer um pouco da história do lugar, que concentra uma extensa lista de praias, como a Baía dos Porcos, Praia do Leão e Praia da Conceição. Uma mais bonita que a outra. A sensação em Fernando de Noronha é de se chegar a uma parte do Brasil que deu certo em relação à sustentabilidade. A ilha tem apenas 17 quilômetros quadrados e uma população de 2,1 mil habitantes. O turismo é feito pelo encontro equilibrado do homem com a natureza, e para tudo isso há regras claras de preservação, que ninguém se importa em cumprir em nome da manutenção do paraíso, ainda que isso tenha um custo para o bolso, como a Taxa de Preservação Ambiental (TPA), uma obrigação de toda pessoa que desembarca na ilha. »»»
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A natureza intocada de Fernando de Noronha ĂŠ uma recompensa para os visitantes
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NORTE
Passeios / Natureza Natureza intocada e paisagens paradisíacas são a maior recompensa que você terá na viagem a Fernando de Noronha. Todas as praias do lado protegido da ilha principal são boas para mergulhos e banhos entre abril e novembro, com o mar calmo e convidativo. Nos outros meses as mudanças do mar favorecem o surf, principalmente em janeiro e fevereiro. E se pesca submarina é coisa proibida, os mergulhos do tipo autônomo (com cilindros) tem instrutores por toda a ilha, além dos serviços de três empresas locais que fazem os dois tipos básicos: o batismo submarino e os mergulhos para pessoas com alguma experiência. Passeios de barco também são uma boa opção. As embarcações com capacidade média de 20 passageiros fazem passeios diários pela manhã e no início da tarde, saindo do Porto de Santo Antônio para as ilhas secundárias como Ponta da Sapata, passando pela Baía dos Golfinhos e parada na Baía do Sancho para banhos e mergulhos. Com força no pé você chega à maioria das praias, mas para outras é bem provável que você precise alugar um bugre para andar pela ilha. Muitas locadoras deixam você mesmo dirigir. Para deslocamentos curtos, uma boa opção é o táxi. Também existe o serviço da Nortax, uma cooperativa de bugueiros. Se você está em forma e gosta de andar, há locais da ilha ótimos para quem não dispensa uma caminhada. São praias exóticas, espremidas entre rochas, cavernas e morros. Os melhores locais estão dentro da área do Parque Marinho, onde a companhia de um fiscal é obrigatória, e necessária também. É sempre bom ter por perto quem conheça o caminho. História Fernando de Noronha tem quase a idade do Brasil. Foi descoberta em 1504, e repassada como “presente” ao aristocrata lusitano Fernando de Noronha, que não deu muita bola para a ilha. Sequer chegou a conhecê-la. Os holandeses e franceses, mais espertos, fizeram invasões sucessivas para tomar a ilha, fora as invasões piratas. Nenhuma, porém, causou destruição ao local, o que levanta a suspeita nos estudiosos mais irreverentes de história de que os “invasores” e “piratas” iam mesmo era tirar férias em Noronha, mergulhar em suas águas cristalinas para descansar da árdua tarefa de conquistar riquezas mundo afora. Os pernambucanos só acordaram para Noronha em 1737. Aliados ao governo português, eles recuperaram a posse da ilha para o Brasil e construíram nada menos que 10 fortes para proteger o território. Durante a Segunda Guerra Mundial a ilha também serviu de base aos soldados americanos. Os que passaram por lá tiveram ao menos alguns dias longe do triste cenário dos campos de batalha. Por mais de três séculos a posse de Noronha foi dividida com os portugueses. A ilha só passou a ser território totalmente brasileiro em 1988, quando foi fundado o Parque Marinho de Fernando de Noronha e o Ibama passou a tomar conta da área.
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Na Baía dos Golfinhos, como o nome já remete, é possível observar a dança dos golfinhos bem de perto
Passeios • Air France
• Praia do Leão
O local tem esse nome porque na década de 30 foi usado pela empresa Aeropostale/
É outra paisagem deslumbrante do Arquipélago. É maior em extensão e o principal
Air France como base de apoio aos voos sobre o Atlântico. Hoje a base é um bom
local de desova das tartarugas marinhas, mas tem ainda piscinas e esguichos de água
local para contemplação e mergulhos. De lá você terá uma vista espetacular das ilhas
com efeito de gêiser. Eles são o resultado da entrada de água sob pressão da maré por
secundárias. Lá também funciona o Espaço Cultural, com cursos de iniciação artística
baixo dos corais. A pressão expulsa a água por pequenas aberturas. O melhor período
para crianças.
para ver o feito é de dezembro a março.
• Porto de Santo Antônio
• Conceição
Embarque e desembarque dos barcos que abastecem a ilha e dos passeios turísticos.
Uma das mais belas e extensas da ilha, e uma das mais frequentadas pelos turistas.
O melhor de lá é o pôr-do-sol, mas a paisagem é sempre movimentada pelo mergu-
Boa para o surf entre dezembro e fevereiro, e para mergulho de março a novembro.
lho dos pássaros marinhos em busca de alimento. Nos meses de dezembro, janeiro e
Para um simples banho ou para apreciar a paisagem o ano todo é bom. A praia tem
fevereiro o porto tem ondas fortes de até 4 metros, presentão para os amantes do surf.
alguns bares que abrem com regularidade.
Bem perto fica o “Buraco da Raquel”, um grande conjunto de piscinas interditadas para visitação, mas que podem ser vistas do mirante.
• Baía dos Golfinhos Área de preservação máxima, situada dentro do Parque Nacional Marinho. É ponto de
• Baía dos Porcos
observação da atividade dos golfinhos, principalmente em torno das 6 horas da ma-
Um dos cartões-postais de Fernando de Noronha, com acesso pela praia da Cacimba
nhã. O acesso por mar é proibido para proteger os golfinhos em seu habitat natural. O
do Padre, principalmente com maré seca. As paisagens são deslumbrantes, de frente
acesso permitido é uma trilha junto ao paredão que cerca a baía.
para o Morro dos Dois Irmãos (duas pequenas ilhas bem perto da praia). Também possui piscinas naturais e água de coloração variada.
Dicas • Como chegar
• Prepare o bolso
A companhia aérea Trip é a que tem mais voos diários e diretos para a ilha, com saídas
Se 5 a 10 dias são o ideal para conhecer a ilha, acima disso os custos disparam. É
de Recife e Natal, sendo dois de Recife e um de Natal. Os voos duram em média uma
que além de passagens e hospedagens, você tem que pagar a Taxa de Preservação
hora e o fuso horário em relação ao continente é de uma hora a mais. Na vigência do
Ambiental. Criada em 1989 por decreto estadual, obriga o turista a pagar 20 UFIRs
horário de verão os voos saem uma hora mais cedo. A companhia aérea Gol Varig já
(Unidade Fiscal de Referência) por cada dia que passa na ilha, sendo menor o custo do
tem voos diários direto de Belém e outras capitais. Já a Tam tem voos de Belém com
1º ao 5º dia. Na cotação deste bimestre (R$ 1,8345) a diária fica em R$ 36,69. Do 5º ao
escalas, e voos diretos de Recife. Os preços e horários dependem da temporada e
10º dia as diárias têm UFIRs adicionais, dependendo do tempo de permanência, mas a
podem ser consultados diretamente nos sites das companhias, nos endereços: www.
tabela pode ser consultada no site oficial (http://www.noronha.pe.gov.br/tpa/ctudo-taxa.
voetrip.com, www.voegol.com.br e www.tam.com.br
asp). É melhor pagar antecipadamente, pela internet, assim você foge da enorme fila que se forma no aeroporto da ilha.
• Onde ficar
Por falar em bolso, é recomendável levar dinheiro em espécie, pois a maior parte dos
A administração de Fernando de Noronha, em parceria com a Embratur e outros ór-
estabelecimentos da ilha não aceita cartão de crédito, e único banco 24 horas é o Real
gãos, criou uma classificação para as hospedarias domiciliares. Lá o símbolo da cate-
ABN. A ilha também não possui casas de câmbio.
goria é golfinho, em vez das estrelas dos hotéis tradicionais. O maior índice que uma pousada pode atingir é “Três Golfinhos”. A lista de pousadas já classificadas está dispo-
• Leve remédios
nível no site oficial de Fernando de Noronha (www.fernandodenoronha.pe.gov.br).
Se você faz uso de algum remédio é importante levá-lo, pois a farmácia local não tem grandes variedades.
• Onde comer O arquipélago tem uma boa rede de restaurantes, que ofertam desde a culinária re-
• Evite volumes
gional mais simples até pratos requintados, com destaque, claro, para os frutos do
Vá com roupas leves, como bermudas, camisetas, sandálias, tênis adequado, boné
mar. Os bares também são ótimas opções de refeição rápida, de dia ou à noite. A lista
ou chapéu, trajes de banho, chinelo, óculos escuros e equipamentos de mergulho, que
também está no site oficial.
também podem ser alugados na ilha.
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Cinco amores em
José Roberto Torero escritor
Fernando de Noronha (quatro inventados e um nem tanto) I
No barco, Rederson e Serena nem repararam um no outro. Porém, depois de pularem no mar, viram-se cara a cara, ou melhor, máscara a máscara, e foi uma paixão fulminante. Nos dias seguintes deram um mergulho atrás do outro, e, cada vez que entravam na água, seu amor crescia ainda mais. Rederson e Serena acabaram se casando. Mas a lua-de-mel foi um fracasso. E também os primeiros dias de casamento. Tanto que até pensaram em se separar. Porém, uma noite, no meio de uma briga em que atiravam coisas um no outro, colocaram as máscaras de mergulho para proteger seus rostos. A paixão renasceu como por milagre. Hoje eles passam horas e horas em sua enorme banheira. Sempre com máscaras.
II
Guilherme é um dos mais solicitados guias turísticos da ilha. Ele conhece as praias como ninguém, mas tem um defeito: seu coração é fraco. Não que ele possua algum problema cardíaco. É que Guilherme acaba se apaixonando por todas as turistas que atende. Isso é bom e péssimo. Bom porque Guilherme acaba sendo o mais atencioso, gentil e dedicado guia que pode existir. Péssimo porque a cada turista que parte, ele derrama sinceras lágrimas de saudade. Guilherme apaixonase uma vez por semana, mas é o mais solitário dos homens.
III
Josué e Cecília brigavam muito. Para tentar salvar seu casamento, decidiram tirar umas férias em Fernando de Noronha. Andaram de mãos juntas pela Praia do Atalaia, tomaram sol na Praia do Sancho, banharam-se na Praia da Biboca e até passaram uma noite inesquecível nas areias da Praia do Sueste. Porém, quando chegaram a São Paulo, voltaram a brigar. Foi aí que perceberam que não amavam um ao outro, mas sim as praias e o mar. Hoje, Josué vive em Búzios. Cecília, em Canoa Quebrada. E os dois são muito felizes.
IV
Pacífico, o jardineiro, achava um absurdo matar um ser vivo para comer. Por isso era um vegetariano convicto e fazia questão de que Rosália, sua mulher, também o fosse. Na casa deles não entrava carne de boi, de porco, de frango ou de peixe. Por isso ele se sentiu duplamente traído quando encontrou Rosália na cama com Dirceu, o pescador mais famoso da ilha. Pacífico não teve dúvidas de como solucionar o problema. Pegou a machadinha que usava para podar pequenos troncos, cortou os dois em finas fatias e colocou-os no freezer. O caso só foi descoberto porque ele teve que ser levado às pressas ao Pronto-Socorro, vítima de intoxicação alimentar.
V
Carlota foi expulsa aos pontapés da igreja de Areias, Paraíba, por um tal de Trajano Chacon. Entre um chute e outro, ele dizia que ela não podia pisar na igreja, pois vivia com um homem sem ser casada com ele. Carlota não engoliu o insulto e contratou dois capangas, Brabo e Beiju, para que matassem Trajano. Depois do assassinato, Carlota fugiu por todo o Nordeste, mas a poderosa família do morto não parou de persegui-la. Depois de um ano, em 1851, ela finalmente foi presa e mandada para o presídio de Fernando de Noronha. Essa foi a sua sorte. O diretor do presídio apaixonou-se por ela. Por trinta anos ficaram juntos na ilha, que, em vez de inferno, foi um paraíso.
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Debora McDowell
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Eunice Pinto/Agência Pará
Livros
horas vagas
Alvaro Jinkings Jornalista
Cidade de quartzo - Mike Davis - Boitempo Clássico da sociologia urbana, Cidade de Quartzo analisa a construção de Los Angeles e suas características de metrópole milionária e miserável simultaneamente – características que podem ser reconhecidas no Brasil, assim como em qualquer metrópole do Terceiro Mundo. A área metropolitana de Los Angeles, no final da década de 1980, pode ser compreendida como a metáfora de um desajuste estrutural do sistema, cuja orientação se dá na busca incessante e incondicional pelo lucro máximo, que “constrói espaços urbanos vazios de qualquer humanidade”, nas palavras de Ricardo Lísias, que assina a orelha da obra. Mike Davis – autor da consagrada obra Planeta Favela – discorre, desta vez, sobre as entremeadas e complexas características da cidade norte-americana, como a especulação imobiliária, a paranoia dos condomínios fechados, a corrupção das autoridades, a violência urbana e o transporte individual em automóveis nas estradas congestionadas. É um retrato do contraste entre políticas públicas mercadológicas e liberais, e a marginalização histórica de estratos sociais e migrantes – quadro que reverberou em eclosões violentas na década de 1990, como previu Mike Davis. A corrupção e a burocracia emergem como a expressão do fracasso da política enquanto possibilidade de acordo. A edição conta com a apresentação de Roberto Monte-Mór e um primoroso ensaio fotográfico de Robert Morrow.
*da redação
Brilho da noite, cidade grande (1984) - Jay McInerney
Enny e o Grande Bordel Brasileiro (2002) - Lucius de Mello
Quando fui outro (2006) - Fernando Pessoa
Watchmen (2009) Alan Moore - Dave Gibbons
Peça essencial da literatura underground dos Estados Unidos, “Brilho da noite, cidade grande” (Bright light big city, editora L&PM) é uma verdadeira ode ao “pósjunkismo” dos anos 1980. Afundado em vícios, atormentado por um emprego enfadonho e pelos trapos de um relacionamento falido que lhe persegue a mente, o protagonista da trama atravessa noites em bares e danceterias e vivencia o hedonismo pleno, numa tentativa vã de dar algum sentido à vidinha nova-iorquina. O livro é ainda um retrato real da vida nas grandes cidades no início da loucura pós-moderna, marcada pela liberdade desenfreada e por uma forte apatia. Apesar do tom policial nas linhas finais, este livro é um drama dos bons, que fere como nunca a alma dos trintões que ainda não venceram a puberdade.
“Enny e o Grande Bordel Brasileiro” (2002, Editora Objetiva) é uma obra-prima da literatura nacional contemporânea. Em sua estreia como escritor, o jornalista Lucius de Mello se dedica a trabalhar de forma leve e envolvente um enredo que a própria vida se encarregou de escrever. A protagonista é a imigrante italiana Enny Cezarino, que não suportou ver seus sonhos escorrerem pelo ralo depois de sua família perder tudo. Contrariando as tradicionais histórias que se costuma ouvir por aí sobre prostitutas, Enny construiu uma trajetória admirável e belíssima. Mais do que narrar a história da maior meretriz que o país já conheceu, Mello traça um panorama de um Brasil muito distante do atual, quando a economia prosperava e as prostitutas eram tidas como importantes figuras políticas.
Fernando Pessoa era inquieto, indeciso, indiscreto e infinito. Durante seus breves 47 anos escreveu, sob a máscara das inúmeras pessoas que assumia com seus heterônimos, mais de mil poemas, isto sem falar nas prosas, que também foram muitas. O livro “Quando fui outro” (editora Alfaguara) é uma boa oportunidade de conhecer mais e melhor o poeta. Em suas 224 páginas, o livro é uma reunião de alguns dos melhores trabalhos de Pessoa, desde a sua porção mais niilista até a mais romântica, passando pela urbana e também pela campestre. Entre as poesias que podem ser encontradas no livro estão “Lisbon Revisited” e “Opiário”, do famoso Álvaro de Campos; “Há metafísica bastante em não pensar em nada”, de Alberto Caeiro; além da prosa de Bernardo Soares.
Considerada um dos cem melhores romances na língua inglesa pela revista Time, a graphic novel Watchmen – Edição Definitiva – uma reunião da saga completa dos “super-herois” da vida real, escrita por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons em meados da década de 1980 e considerada a responsável por atrair, com a introdução de temas sérios e adultos, o público mais maduro para o gênero - já chegou ao Brasil. Com o selo da editora Panini, uma das mais tradicionais na publicação de quadrinhos, o livro é uma edição de luxo, composto por capa dura e quase 500 páginas recoloridas digitalmente por John Riggs, o colorista original. Isto sem falar nos extras, que trazem trechos do roteiro original, esboços de Gibbons e muito mais. Um verdadeiro mimo para os amantes da obra.
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Música Marcelo Viegas Músico
Wayne Shorter - Native Dancer (1974) Apesar de ter sido gravado sob a liderança de Wayne Shorter, podemos afirmar que esse disco jamais será só dele. Se por acaso o saxofonista tivesse entrado em estúdio para essa sessão, que veio a ser o seu décimo quinto disco, com outros músicos, independente de quais fossem eles, o resultado teria sido outro. A ideia de Native Dancer repousa na mistura. Um time genial de músicos americanos. Como diria Tim Maia: “Americanos do Norte e do Sul”. Estado unidenses e brasileiros. Eis a lista: Herbie Hancock e Wagner Tiso, teclados e piano; David Amaro e Jay Graydon, guitarras; David Mcdaniel, baixo; Airto Moreira, percussão; Robertinho Silva, bateria; Milton Nascimento, violão e voz; além do próprio Shorter alternando entre sax soprano e tenor. Wayne Shorter assina três composições, Herbie Hancock uma e Milton Nascimento cinco (todas bastante conhecidas e revisitadas). Mas logo na introdução da primeira faixa - Ponta de Areia, com um arranjo muito mais belo do que a do Clube da Esquina - sentimos o potencial e a unidade mágica que envolveu o disco. Tudo se completa, todos se
complementam e se unem para tocar canções que não poderiam ficar melhores do que estão. Não possuem um único dono. Não possuem as músicas também um único estilo. Ao longo das nove faixas, ouvimos jazz, funk, e vários elementos da música brasileira de Milton Nascimento (maravilhosamente arranjadas por Wagner Tiso). Todas recebendo o sempre melódico e belo sopro de Wayne Shorter. Sempre preciso, sempre jazzístico. Encantador sempre. Encantador também seria o adjetivo para a participação de Milton Nascimento nesse álbum. Além de possuir várias composições, todas cantadas impecavelmente, ainda podemos ouvi-lo fazendo vocalizações perfeitas (Lília, From the Lonely Afternoons) com o seu timbre cristalino. Algo que todo instrumentista de jazz - que tem o timbre da voz humana como principal influência para articular seus solos melódicos - muito admira. Admiração essa que fez Wayne Shorter declarar que se Deus um dia tivesse voz, seria a de Milton Nascimento. Concordo plenamente. E vocês?
*da redação
Cidadão Instigado Uhuuu! (2009)
Dead Rocks One Million Dollar Surf Band (2008)
Franz Ferdinand Tonight (2009)
Oasis Dig out your soul (2008)
“Uhuuu!” O nome antecipa a sensação de ouvir o 3° álbum da banda Cidadão Instigado. Músicas claras e ensolaradas, iluminadas pela sonoridade e criatividade incomum de Fernando Catatau (voz, guitarra e teclado), Regis Damasceno (guitarra, guitarra sintetizada, violão e vocal), Rian Batista (baixo e vocal), Clayton Martin (bateria) e Kalil Alaia (técnico de som e efeitos). Com certeza o melhor (ou único) álbum de brega-psicodélico do ano; nomes estranhíssimos (como “Doido”, “A radiação na terra” e “Deus é uma viagem”), letras e melodias mais estranhas ainda compõem essa bela experiência sonora, com 11 músicas gravadas em três meses e produzidas pela banda. Um disco bizarro na 1ª audição, mas que com um pouquinho de insistência não sairá nunca mais da sua lista de preferidos.
Ventures, Shadows, Dick Dale... Se você reconhece estes nomes à primeira olhada, então precisa conhecer o som que os paulistas do Dead Rocks fazem. Vindo de São Carlos, o trio formado por Johnny Crash (guitarras), Marky Wildstone (bateria) e Paul Punk (baixo) bebe na fonte da surf music mais tradicional e homenageia seus ídolos com riffs e timbres que soam como se a época em que as bandas de rock instrumental comandavam nunca tivesse chegado ao fim. Neste segundo disco, eles contam com a luxuosa colaboração de Jack Endino (Nirvana, Mudhoney, Screaming Tress, Titãs), que cuidou da mixagem das 15 faixas, entre elas duas versões, uma para “O Milionário”, imortalizado pelos Incríveis, e “País Tropical”, de Jorge Ben. Quarenta minutos de diversão e boa música.
Quem acompanha a trajetória dos escoceses do Franz Ferdinand sabe que a banda tem lutado para superar os ares de “bandinha do hype” desde o segundo disco, “You could have it so much better” (2005) – o problema é que o cuidado na produção deu a este um ar sério que em nada combina com o jeitão descolado do grupo. Com “Tonight”, dá-se um passo atrás e se retoma a barulheira de praxe. Dilemas existenciais à parte, o resultado acabou ficando acima da média: não dá para ouvir canções como “Turn it on”, “No you girls”, “Ulysses” e “Live alone” sem lembrar dos tempos áureos – e primários – de “Take me out”. Aos novidadeiros, no entanto, há uma surpresa: os sintetizadores e o ar oitentista estão em voga, como se vê na ótima “Lucid dreams” e “Can´t stop feeling”.
O cessar-fogo entre Liam e Noel Gallagher, ex-vocalistas, compositores e líderes do Oasis, está longe de terminar, assim como o hiato da banda – que cancelou uma turnê mundial após mais uma briga homérica dos irmãos. É uma pena, pois “Dig out your soul”, lançado ano passado, é a prova de que, ao contrário do que dizem, o egocentrismo e o jeitão instável da dupla ainda reservam surpresas. Entre riffs sujos, letras nonsense e uma ou outra melodia elaborada, o quinteto traz uma série de canções de peso como “The turning”, “The shock of the lightning” “Falling down” e “Soldier on”. E, para quem gosta das baladinhas à la “Wonderwall” e “Stand by me”, “I´m outta time” é a melhor, grudenta e emocionante na medida certa. Uma perfeita despedida, quem sabe?
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É show!
Arthur Dapieve jornalista
Não tenho muita ideia de como isso foi transplantado para a era dos computadores cada vez mais portáteis e dos megacelulares
também em matéria de política, pois vínhamos da Campanha das Diretas (na qual a música Inútil, do Ultraje a Rigor do verso “a gente
inteligentes, em rota de convergência. Sei que os blogs substituíram parcialmente os cadernos em que os adolescentes de até uma geração atrás, ao menos, anotavam pensamentos, trechos de livros e outras coisas que não queriam esquecer (embora às
não sabemos escolher presidente”, fora citada pelo doutor Ulysses Guimarães) e aguardávamos a posse do primeiro presidente civil depois de vinte e um anos de regime militar, Tancredo Neves (com a sua doença, que se revelaria fatal, assumiria o cargo em março o
vezes perdessem os cadernos). Eu, por exemplo, tive vários cadernos, nos quais tentava ordenar as coisas que vivia, lia, ouvia e assistia, inclusive shows. A princípio, para mim, shows eram praticamente sinônimos para shows de rock. Afinal, eu era ocidental, urbano, branco, jovem nascido na década de 60. Ou seja, estava a anos-luz de descobrir todas as delícias do soul ou todas as alturas da música clássica, sem falar no gênero que, na metade da década de 70, minha turma meio punk mais execrava: a música popular brasileira, que, por uma série de razões, do envelhecimento de seus astros ao amordaçamento deles pela Censura, havia perdido contato com gente da nossa idade. O que eu anotava num dos cadernos, então, eram os shows de rock que ia assistindo. Não havia muito para anotar, o que só tornava mais valiosos os nomes que aqui pintaram até o começo dos anos 80, como Kiss, Van Halen, Police ou Backstreet (nada a ver com os Backstreet Boys), uma obscura banda americana que se apresentara de graça nas pedras do Arpoador, aqui no Rio de
vice José Sarney). Acho que essa coincidência entre a minha maturidade, a do rock no Brasil e uma etapa importante do nosso processo de redemocratização turbinou o meu apreço pelos shows. Para mim, eles de fato viraram sinônimos de celebração, experiências únicas, profundas e irreproduzíveis, que nenhum DVD gravado ao vivo chega perto de sequer simular. Não me entenda mal. Depois de elogiar arcaicos livros em papel e pré-históricos discos de vinil aqui na Living, agora eu venho detratar o DVD, tábua de salvação da indústria fonográfica mundial e um dos fetiches da modernidade brasileira? Onde eu vivo? Numa caverna iluminada por uma fogueira acesa com pedras?! Nada disso. Só não acho que se possa comparar um show testemunhado de corpo presente, com duas orelhas e dois olhos, e o seu registro em som dolby 5.1, sei-lá-quantas câmeras, o escambau. O show é melhor, claro! Falta ao DVD o suor, a boa companhia, o alívio por ter conseguido ingresso. Falta ao DVD aquele baixão que sai das caixas
Janeiro. Antes dos anos 80, de Você não soube me amar e todo o resto, também não havia muito a se assistir - e anotar - na coluna
de som e te pega de jeito, no peito, e que nem o melhor home theater reproduz. Falta ao DVD, sobretudo, a consciência da presença
dos shows nacionais. Com a entrada em cena de Blitz, Lobão, Lulu Santos, Ritchie, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, RPM, Ti-
física do artista em carne e osso, ali no palco, diante desses olhos que um dia a terra há de comer. Sim, rola algo de mágico ou até de religioso numa ocasião dessas. Um show pode ser um troço muito
tãs, Ultraje a Rigor e Engenheiros do Hawaii, dentre uma verdadeira multidão de outros nomes e bandinhas, as linhas em branco do tal caderno enfim começaram a ser preenchidas numa velocidade re-
forte e poderoso. Um verdadeiro transe. Há uma historinha verídica, ocorrida com a trupe inglesa de humor Monty Python, que ilustra (de maneira cômica, claro) o que quero di-
gular. Contudo, foi praticamente preciso chegar ao final da faculdade de jornalismo, em meados da década de 80, para que crescesse também a listinha de nomes estrangeiros anotados.
zer. Certa vez, na esteira do sucesso de A vida de Brian e Em busca do cálice sagrado, eles foram fazer um show musical em Nova York. Afinal, seus filmes tinham, além das piadas, canções inesquecíveis,
Quando cresceu, porém, foi de maneira fulminante. Lembro-me de ter escrito, em apenas dez dias de janeiro de 1985, os nomes
como Always look on the bright side of life e Lumberjack song. A plateia urrou sem parar, como no tempo da beatlemania. Os humo-
de Whitesnake (duas vezes!), Iron Maiden, Queen, Ozzy Osbourne, Scorpions, AC/DC, Nina Hagen, B-52’s e Yes. Vivíamos a euforia do primeiro Rock in Rio, o festival que, vale o clichê, pôs o Brasil
ristas mal conseguiram se ouvir cantando e saíram do palco frustradíssimos. Até que alguém da produção explicou-lhes que o espetáculo tinha sido um sucesso: a plateia berrara tanto porque para ela
no mapa das excursões internacionais (e que hoje nem estão mais restritas a Rio e São Paulo). Tanto que o caderno logo foi aposentado, pela falta de sentido de se anotar tanta coisa que pintava, sendo
bastava estar na presença dos seus ídolos.
substituído pelo álbum no qual até hoje coleciono os canhotos dos ingressos. Para quem aí está acostumado a ver os novos ídolos será meio difícil aquilatar o nosso entusiasmo. Esse sentimento de que enfim éramos gente grande em matéria
na volta ao hotel, os caras do Monty Python pensaram: “Ah, é? quer dizer que nós agora somos astros pop?” e começaram a quebrar um quarto, comme il faut. No entanto, na hora de jogar a televisão de Michael Palin pela janela, eles se entreolharam, pigarrearam, pa-
de shows, todavia, não chegava desacompanhado. Estava colado num sentimento ainda maior, o de que enfim éramos gente grande
raram a arruaça e arrumaram o quarto da melhor maneira possível, pianinho pianinho.
P.S. Aos curiosos que quiserem saber o final dessa história:
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especial
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Nos detalhes, a beleza do manto que veste a imagem da Padroeira dos paraenses
Ana Danin
Luiza Cavalcante
Estilo
divino
Um dos símbolos da devoção à Nossa Senhora de Nazaré, o manto que reveste a Imagem é repleto de pequenas histórias de amor e fé
T
odos os anos, no segundo domingo de outubro, Belém é tomada por uma energia capaz de levar dois milhões de pessoas para as ruas, em meio ao calor intenso característico da capital do Pará, numa romaria que começa ao raiar do dia e só acaba no início da tarde. Nessa data, olhos, corações e sonhos se voltam a uma mesma direção: a berlinda que conduz a imagem de Nossa Senhora, no Círio de Nazaré. A Padroeira dos Paraenses, que tem honras de chefe de Estado e é carinhosamente chamada de “Santinha”, surge para os devotos envolta num manto, que é renovado anualmente, e cuja preparação começa com vários meses de antecedência, partindo da escolha da pessoa que fará o desenho até a definição de quem ficará responsável por transformar os traços do papel em bordado, seguido por um longo período de confecção, capaz de só terminar poucas semanas antes da grande procissão. Para quem nunca viveu o Círio de Nazaré, o manto pode parecer apenas um detalhe em meio a um evento tão grandioso. Mas, para a multidão que rende graças a Nossa Senhora, assim como tudo que envolve os preparativos para a festa religiosa, o manto é ícone, um símbolo do amor da Virgem de Nazaré por todos os seus filhos na Terra. “O manto possui a capacidade de acolher sob ele o peregrino. É como se o manto da Mãe fosse o símbolo protetor”, explica o presidente da diretoria da Festa de Nazaré, padre José Ramos. Em 2009, a apresentação oficial do manto está marcada para o dia 7 de outubro, apenas dois dias antes do traslado da imagem da padroeira para os municípios de Ananindeua e Marituba, um percurso de 48,5 quilômetros, que começa sempre por volta do meiodia e não termina antes das 20 horas, no dia 9. Essa longa jornada pela Grande Belém é apenas a primeira das grandes procissões »»»
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O manto usado no Círio do ano passado, desenhado por Enid Almeida
por terra e pelos rios que antecedem à procissão do domingo, a maior de todas as romarias. Até a procissão do Recírio, que marca o fim da festividade duas semanas depois, a imagem da padroeira é levada em 11 procissões oficiais, e vista por muito mais que os dois milhões de pessoas que se concentram no evento principal, que este ano ocorre em 11 de outubro. Por isso, a responsabilidade de vestir Nossa Senhora para abençoar tamanha multidão é grande, mesmo para quem está acostumada com o trabalho, como Mízar Bonna, 73 anos, que em 2009 desenhou seu o 11º manto oficial para o Círio de Nazaré. “Já nasci em berço de igreja”, brinca. “Fui batizada na época do Círio, em 17 de outubro de 1936”, completa. O primeiro manto desenhado por Mízar foi confeccionado pelo casal Paulo e Vanessa Oliveira, em 1995, tendo como tema a Ave Maria. Os desenhos de Mízar sempre beberam na mesma fonte. “Tudo eu me inspirava na Basílica, desde o primeiro manto. O do ano passado, com as rosas retorcidas, também é de lá. Às vezes me distraio no meio da missa observando um pormenor”, garante. E, de tanto se inspirar e se encantar observando a mesma fonte, quem melhor do que Mízar Bonna para fazer o desenho do manto 2009, que trará uma homenagem ao Centenário da Basílica Santuário de Nazaré? “Se tu sentares num daqueles bancos da Basílica tu vês tudo”, afirma, deixando escapar alguns detalhes do tão esperado manto 2009, que terá uma faixa do arco do abside da Basílica, com os emblemas de Santuário e dos Barnabitas nas laterais. Nas costas, a figura da porta do sacrário da Basílica e o Cordeiro de Deus - para lembrar o tema do Círio 2009: “Em Maria, a Palavra se fez carne.” A estilista que está tornando o manto deste ano uma realidade é Maria Hudmark, cuidadosamente protegida do assédio da imprensa até a data da apresentação oficial, em outubro. Afinal, o manto da “Rainha da Amazônia” jamais pode ser visto antes dessa data. Mas de onde surgiu a tradição do manto de Nossa Senhora de Nazaré? A resposta se confunde com a história do achado da imagem original da padroeira, no ano de 1.700, pelo caboclo Plácido, às margens do extinto igarapé Murutucu, local onde hoje se encontra a Basílica Santuário, como ressalta o presidente da diretoria da
Festa, padre Ramos. “É dito através do testemunho de um autor chamado cônego De Castro Nery que, quando Plácido encontrou a santinha, ela estava envolta em uma capinha (...), e dentro desta capinha estava a santa (...) e o manto com que ela é esculpida em escarlate e azul”, explica. Estudiosa da religião, Mízar Bonna também acredita que a imagem foi achada já usando uma capinha, num estilo comum em Portugal àquela época. O fato, segundo Mízar, é que muito antes do primeiro Círio oficial, em 1793, a padroeira já era protegida pelos devotos com o manto. “O manto sempre foi trocado todos os anos, desde a época da pobreza, o povo nunca deixou de colocar.” A amazonense Enid Almeida, 77 anos, mora desde os 2 anos em Belém. Ela foi escolhida para confeccionar o manto durante três anos, o último, no Círio 2008. Ao contrário do que é comum pensar de gente que participa ativamente das homenagens a Nossa Senhora de Nazaré, Enid nunca fez promessa para a Santinha, mas garante que foi abençoada com uma graça por ter dedicado três anos de sua vida à confecção dos mantos. “A prova disso é que eu tive uma trombose, um AVC, passei um mês internada num hospital, em novembro do ano passado, e estou aqui, conversando contigo”, diz, com um sorriso no rosto. O Círio que traz uma multidão a Belém em outubro é feito de histórias de fé, mas também de muita organização, responsabilidade da Diretoria da Festa de Nazaré, formada por um Conselho Consultivo, o diretor presidente, o ca-
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O manto significa proteção para a imagem e para os devotos de Nossa Senhora
sal coordenador, os diretores beneméritos, além da Diretoria Administrativo-Financeira, Diretorias do Arraial, de Decoração, Evangelização, Eventos, Marketing, Patrimônio e Procissões. Os componentes são dezenas de trabalhadores voluntários que passam o ano inteiro planejando o Círio de Nazaré. “A gente também vive a expectativa porque também é devoto”, afirma César Neves, que junto com a esposa Sandra, coordena o Círio 2009. César explica que o casal coordenador é quem escolhe as pessoas responsáveis pelo desenho e confecção do manto de Nossa Senhora. “Este ano, nós começamos a pensar no manto entre fevereiro e março”, diz. E o que pesa na hora da escolha? “Os critérios são chamar pessoas que já estão acostumadas. A Mízar (Bonna) tem uma experiência muito grande. É uma pessoa que é muito ligada à Igreja e também é diretora benemérita do Círio. Ela vive muito intensamente o Círio há muito anos. Tem larga experiência, boas ideias”, garante.
“E a (escolha da) estilista também segue o mesmo critério. Pessoa que tenha uma experiência muito conhecida na sociedade, como artista mesmo, porque precisa ser um artista pra confeccionar o manto”, acrescenta. Os recursos para a confecção do manto surgem a partir de doações de devotos mais abastados, que normalmente têm a identidade preservada pela Diretoria da Festa. Ao longo das festividades, já houve mantos avaliados em cerca de R$ 20 mil, mas César Neves diz que um manto à altura da padroeira dos paraenses não precisa ser tão caro. “A gente quer uma coisa rica porque eu acho que Nossa Senhora merece um manto que tenha um padrão de beleza condizente com a Padroeira da Amazônia. Não procuramos baratear muito o custo disso. É uma coisa normal, que não é exorbitante”, explica. Durante mais de dois séculos de Círio, poucas vezes a imagem que participa das 11 procissões oficiais recebeu mais de um manto para o mesmo ano. Segundo o diretor benemérito Oswaldo Mendes, apenas nos anos de 2001 e 2002 a imagem teve duas vestimentas, sendo o segundo usado na Trasladação, que ocorre sábado à noite, véspera do Círio. A diretoria também se recorda de uma vez em que tanta gente queria doar mantos que foi preciso dar um jeito para que a Santinha usasse quatro vestes ao longo da quinzena do Círio. Mas tanto os diretores atuais quanto o presidente da Festa são unânimes em se opor ao uso de mais de um manto no mesmo ano. “O manto acaba sendo um símbolo de unidade, daí haver um só”, conclui o padre Ramos. Quantidade de mantos à parte, o que diretoria e romeiros têm em comum, sem dúvida, é a paixão por Nossa Senhora de Nazaré, a crença de que ela, a cada ano, joga suas bênçãos sobre os milhões de filhos da padroeira e renova as esperanças de um mundo mais fraterno, com mais amor e menos violência. “Pra mim, como devoto, o manto significa uma proteção. A mesma proteção que ele traz sobre a imagem, ele traz para os devotos”, acredita César Neves. “Se é bonito, se é desse material ou daquele, isso não importa pras pessoas. Elas esperam sim algo bonito, algo até caro, bem feito, pelo valor que eles dão pra quem vai usá-lo. Porque aquilo que mais interessa pro povo é acompanhar Nossa Senhora na berlinda com um manto bonito”, sintetiza o padre Ramos.
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• A imagem usada nas 11 procissões oficiais não é a original, encontrada por Plácido, em 1700, e sim uma réplica. A original é uma escultura de madeira pequena, com 28 cm de altura, cabelos caídos sobre o ombro direito e carrega no colo o Menino Jesus despido com um globo nas mãos. Aos pés da Virgem, há a cabeça alada de um anjo, que é o símbolo iconográfico da glória celestial.
• O manto oficial, quando aberto, mede 90 cm x por 50 cm. O tecido, assim como o material que será bordado, dependem da escolha de cada estilista, mas em geral usa-se cetim (por conta do brilho), ou mesmo zibeline (de espessura fina, mas aparência firme e de alta qualidade).
• O desenho e o bordado do manto devem sempre estar em sintonia com o tema do Círio, anunciado geralmente na posse da Diretoria da Festa, que ocorre em dezembro. É o Arcebispo e o conselho da Arquidiocese de Belém que definem o tema, procurando dar um sentido maior, com vistas ao conteúdo da evangelização.
• A imagem usada nas romarias, popularmente chamada de “imagem peregrina”, é uma cópia alterada da encontrada por Plácido. Ela foi esculpida pelo italiano Giacomo Mussner e ganhou alguns traços da mulher da Amazônia, com um menino Jesus de características indígenas e caboclas.
• Na Basílica Santuário de Nazaré, a imagem autêntica fica a maior parte do tempo no Glória, uma redoma de cristal no altar-mor. De lá, ela só é retirada uma vez ao ano, numa cerimônia conhecida como a “Descida da Imagem” ou “Descida do Glória”, que ocorre na véspera do Círio, às 13h.
• Os primeiros mantos foram confeccionados pela irmã Alexandra, da Congregação das Filhas de Sant’Ana. Após sua morte, nos anos 70, Esther Paes França assumiu o trabalho, continuando também até a morte, em 1992. A partir daí, várias profissionais passaram a desenhar e confeccionar o manto.
• O Círio mais longo da história foi o de 2004, quando o trajeto foi cumprido em 9 horas e 15 minutos.
• O manto começa a ser confeccionado geralmente no primeiro trimestre do ano. O trabalho dos estilistas é acompanhado de perto pelo casal coordenador da Festa de Nazaré, assim como pelo presidente da Diretoria.
• Tradicionalmente, no domingo do Círio, a “imagem peregrina” é levada na berlinda, saindo da Catedral Metropolitana de Belém até a Basílica Santuário, num percurso de 3,6 quilômetros.
Fonte: www.basilicadenazare.com.br
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gourmet
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Tylon Maués
Luiza Cavalcante
Experimento com sabor caseiro Lombo de Pirarucu defumado ao molho de castanha do Pará: toque de experimentação para um prato genuinamente paraense
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ltima casa do Conjunto Celso Malcher, na Travessa Barão do Triunfo, o local sempre foi conhecido como a Peixaria da Dona Carmem. O boca a boca levou ao então acanhado restaurante uma clientela fixa e cada vez maior. Há quatro anos o local ganhou seu nome definitivo, Remanso do Peixe. Hoje, se não a maior, uma das referências em peixaria em Belém. Curiosamente, Carmem Castanho só põe os pés na cozinha para dar ordens. Francisco, o marido, e o filho, Thiago, dão as cartas nas panelas e na gerência dos demais cozinheiros. “Ela é a gerente de tudo”, entrega Thiago. Aos 21 anos, Thiago e seu irmão Felipe, dois anos mais novo, são os exemplos de como um negócio que começou improvisado prosperou para se tornar uma referência, um ponto de visita obrigatório para os turistas que vêm à capital paraense. O irmão trilha um caminho que ele já passou. Thiago estudou culinária durante dois anos no Senac de Campos do Jordão (SP) e depois passou seis meses em Lisboa, no Terreiro do Passo, restaurante do chef português Vitor Sobral. De volta, ele trouxe ao Remanso um ar renovado, de experimentação. “O Pará tem ingredientes riquíssimos e alguns nem a população conhece direito. Eu uso ervas do Ver-O-Peso nos pratos e tem muita gente que estranha, pergunta se vai dar certo”, conta Thiago. O cozinheiro - “Não sou chef, isso está
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mais para o meu pai” - ressalta que esse estranhamento faz com que episódios peculiares aconteçam. “Quando somos contratados para um evento de maior porte geralmente as pessoas não querem os temperos locais, nem os peixes. Querem salmão, bacalhau. Tento mostrar que sai muito mais em conta e é muito mais original usar os peixes locais, mesmo assim a maioria absoluta não aceita”, diz. Mas ele sempre encontra uma forma de colocar uma pitada regional. “Procuro usar alguns temperos, um leite de castanha-dopará, pimentas, essas coisas”. Thiago ressalta que todos os chefs e cozinheiros de fora quando vêm à cidade procuram experimentar o que ela tem a oferecer. Há cinco meses o Remanso do Peixe passou por uma ampliação. Se antes a casa da família tinha atendimento apenas no andar de cima, hoje o térreo também é usado. Foi um acréscimo de quase 50% no espaço. “No final de semana era sempre complicado. As pessoas ficavam esperando por uma mesa e isso não é agradável. Quem sai para comer fora não quer ficar em pé durante quase uma hora”, explica Francisco. Uma das experimentações de Thiago pode ser conferida no prato que preparou para essa edição (ver quadro). O lombo de pirarucu defumado foi preparado num molho de castanhado-pará, acompanhado de purê de jerimum e farofa molhada de feijão da colônia.
Lombo de pirarucu defumado, com purê de jerimum e farofa molhada de feijão da colônia Ingredientes Lombo de pirarucu defumado
Purê de jerimum
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Lombo de pirarucu - 400g Leite de coco - 200ml Banana da terra - 1 unid Cebola picada - 30g Alho picado - 10g Tomate picado - 30g Salsa picada - 30g Pimentinha verde picada - 10g Pimentão vermelho picado - 30g Manjericão - 5g Dill fresco - 5g Chicória - 2 folhas Azeite - 20g Aviú processado - 5g Castanha-do-pará em lasca - 20g Cenoura em lâminas - 50g
Jerimum - 200g Água - 100ml Sal – A gosto Manteiga - 50g Pimenta-do-reino – A gosto Água – A gosto
Farofa molhada • • • • • • • • •
Farinha d´água - 100g Feijão da colônia - 100g Pimentinha picada - 1 unid Tomate picado - 50g Azeite - 60 ml Cebola picada - 20g Limão - 1 unid Salsa - 1 ramo Manjericão – A gosto
Preparo • Sele os lombos de pirarucu e reserve. Refogue alho, cebola, pimentinha verde, tomate, pimentão em azeite, junte a cenoura, o leite de coco, a banana cortada em rodelas grossas, a salsa, o manjericão, a chicória, o dill. Cozinhe lentamente por 8 min. Junte o pirarucu e cozinhe por mais 6 min. Tempere com o aviú processado. • Decore com as lascas de castanha-do-pará. • Cozinhe o jerimum por 15 min. Retire a água e faça um purê juntando o restante dos ingredientes. Se precisar, junte água ou caldo. • Cozinhe o feijão da colônia até ficar al dente. Reserve. Junte a pimentinha, o tomate, a cebola, a salsa, o manjericão, o azeite, o limão, e farinha. Mexendo bem para não formar grumos. Deixe hidratar e sirva.
Thiago: experimentações com os sabores típicos da terra
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decor
A escolha do melhor modelo de sofĂĄs e poltronas ĂŠ tarefa difĂcil, mas recompensadora
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Mayara Luma
Luiza Cavalcante
Uma
dupla indispensável Em casas ou apartamentos, eles estão lá, oferecendo conforto e bem-estar. Nossos companheiros: sofás e poltronas.
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epois do conforto da nossa caminha, é sempre nele que a gente pensa. Para assistir a um filme ou ver tevê, é nele que a gente se esparrama. Ao final de um longo dia de trabalho, é nele que a gente descansa. E até vendo a novela de depois do almoço, é nele que a gente tira uma soneca.
plica o arquiteto e empresário do ramo Enewton Tavares. O arquiteto também atenta para a nova disposição dos apartamentos hoje, que, tendo salas de estar, jantar e home, demandam móveis específicos para cada ambiente. Por exemplo, no home, a pedida são sofás superconfortáveis, de preferência
Não existe casa em que ele não esteja e, dentro de casa, existe sempre um que é o xodó, o preferido de toda a família. Se você
com acentos expandidos, chaises e poltronas amplas. Já na sala de estar, o ideal são os móveis que favoreçam a ergonomia
ainda não entendeu sobre o que é esta matéria, a gente explica: sofás. O velho e bom sofazinho e sua eterna e inseparável companheira, a poltrona.
e que sejam bonitos, isto, claro, sem abrir mão do conforto. E para quem não tem espaço em casa e precisou unir home e estar em um ambiente só, pode ainda optar por sofás retráteis,
Como objetos indispensáveis em um lar, é preciso atenção especial na hora da escolha desses dois móveis. Conforto e beleza precisam estar sempre aliados para garantir a perfeita sin-
cujo acento pode ser expandido, que se adaptam facilmente às diferentes necessidades de cada momento. Outra grande novidade desses dois móveis é o design. Os
tonia entre os sofás e poltronas e a decoração dos ambientes. Hoje, as grandes lojas do ramo só vendem sob encomenda e, como existe uma variedade muito grande de modelos e tecidos,
modelos para lá de diferentes e supermodernos são os que imperam atualmente nas lojas do ramo. “As pessoas ainda procuram pelos modelos clássicos, principalmente de pol-
é importante contar com a ajuda de um profissional especializado. E ainda: não tenha pressa, experimente com calma os móveis do show room, lembre-se que sofás são extremamente úteis e precisam ter vida longa. Aliás, atentar para o que não se vê em um sofá ou poltro-
tronas, mas a grande pedida de hoje são os modelos mais modernos, do tipo que parecem verdadeiras obras de arte”, garante Enewton, que também diz, brincando, que ir a um show room de sofás e poltronas e a uma exposição de arte moderna pode ser quase a mesma coisa.
na é essencial para garantir sua durabilidade. “A estrutura que mantém esses móveis fica escondida por debaixo da beleza do tecido e do conforto da espuma, mas isso não significa que não
Não restam dúvidas de que escolher qual sofá levar para casa não é tarefa simples. Tantos detalhes e tamanha variedade demandam dedicação especial. Passar horas a fio em lojas de de-
precise de atenção. É preciso se certificar qual é a procedência da madeira e se é de boa qualidade, atentar para a espessura e densidade da espuma, entre várias outras coisas. Não adianta
coração, sentando e levantando dos móveis, perder dias e noites entre catálogos de tecidos e conseguir conciliar as vontades de todos os membros da família podem ser situações cansativas e
comprar um sofá barato mas que logo vai estar estragado”, ex-
trabalhosas, mas, sem dúvida, também muito prazerosas.
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Double M
Uma grande história começa aqui. A Leal Moreira é uma empresa comprometida em realizar sonhos. E agora lança a Elo Incorporadora, voltada para o segmento de imóveis econômicos e supereconômicos, para levar toda sua experiência e padrão de qualidade a mais pessoas. Uma iniciativa de quem gosta de novos desafios e valoriza o seu desejo de crescimento e realização.
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Conexão A Samsung lançou recentemente seu primeiro celular no modelo Scrapy, que tem como grande diferencial a facilidade e rapidez no envio de torpedos e acesso aos programas de bate-papo. Além do acesso à internet, o Scrapy tem câmera fotográfica, filmadora, Bluetooth e ainda é MP3 player. Tudo isso sem falar no seu visual: atrativo, com cores vibrantes e para lá de fashion. O aparelho já está sendo comercializado em todo o Brasil. www.samsung.com.br
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Responsabilidade
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Luiza Cavalcante
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inda no quesito responsabilidade social, a Leal Moreira e a Agra Incorporadora fecharam parceria com o Instituto Criança Vida para participar do Projeto Igarité, que
em objetos úteis. As oficinas tiveram início em agosto e terão a duração de quatro meses. “A ideia é que ao final do projeto as peças tenham qualidade a ponto de chegar ao
beneficia jovens de 14 a 24 anos ao instruir sobre o aproveitamento de resíduos industriais. O objetivo é gerar renda
mercado e possam gerar renda para as famílias”, explica Dina Oliveira, que também se diz muito satisfeita com o inte-
e garantir a disseminação do conhecimento entre os familiares e comunidade do entorno dos participantes.
resse dos alunos. “A maioria dos participantes nunca teve contato com esse tipo de trabalho, então eles estão muito
São 15 filhos de operários das Torres de Umari, Vert e Ekoara que estão sendo beneficiados com o projeto. Os jovens participam de oficinas semanais no atelier da artista plástica e coordenadora
empolgados, se empenhando bastante e se mostram superansiosos pelo produto final.” Além de garantir uma maior renda para as famílias dos operários, o projeto também garante a sustentabili-
técnica do projeto, Dina Oliveira, onde aprendem a tornar resíduos de obras, como madeira, tubos e revestimentos
dade ambiental, reciclando materiais e dando novos rumos para o que originalmente seria lixo.
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Luiza Cavalcante
Círio
Luiza Cavalcante
Para homenagear a maior festa religiosa do Brasil, a Construtora Leal Moreira vai entregar aos seus funcionários uma camisa do Círio de Nazaré. A ilustração que estampa a roupa foi criada pelo publicitário Rodrigo Cantalício, da equipe de publicidade da Double M, e traz imagens que remetem à tradicional festa.
Ver-o-Peso da Cozinha Paraense Os clientes do Torre de Toledo tiveram uma noite especial no dia 21 de julho, quando participaram como convidados especiais da Leal Moreira do jantar de encerramento da edição especial do Vero-Peso da Cozinha Paraense, ocorrido no Hotel Hilton. Os pratos servidos foram preparados pelos chefs Alex Atala, Claude Troisgros, Danio Braga e César Santos (no detalhe), considerados alguns dos maiores mestres da gastronomia brasileira.
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Luiza Cavalcante
Patrocínio
Com o patrocínio da Leal Moreira, Belém sediou, entre os dias 13 e 14 de agosto, no Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, o Congresso de Engenharia, Arquitetura, Urbanismo e Design. O evento mobilizou os profissionais das áreas de decoração e construção ao trazer arquitetos de renome, como Arthur Casas e Luis Eduardo Indio da Costa. Durante a programação, também foi apresentado um vídeo com um depoimento exclusivo de Oscar Niemeyer, que não pôde comparecer por problemas de saúde.
Elo Com o objetivo de expandir seu mercado de atuação, a Leal Moreira lança, em outubro, a Elo Incorporadora, cujo foco serão empreendimentos econômicos e supereconômicos. Os primeiros empreendimentos da nova incorporadora, que conta com a parceria da Asa Incorporadora, empresa atuante no mercado de Belo Horizonte, serão prédios no bairro do Tapanã e na rodovia Augusto Montenegro.
INCORPORADORA
Educação Cumprindo com seu compromisso voltado às questões de responsabilidade social, a Leal Moreira, em parceria com o Sesi, está oferecendo a seus funcionários a oportunidade de continuar os estudos. A primeira turma conta com 25 operários, que foram divididos de acordo com seu nível de educação em módulos, de alfabetização, ensino fundamental e médio, cada um com a duração de dois anos, cujas aulas acontecem em uma escola estadual.
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T O R R E S
E K OA R A C
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EU TE AMO
EM NORUEGUÊS Tenho uma reivindicação: precisamos de uma nova palavra para substituir “amor”. AMOR. Quatro letras: duas vogais perfeitamente cruzadas por duas consoantes. Não! Não! Não! Não sei quanto a vocês, mas eu não consigo amar em apenas quatro letras. É impossível, o amor nem é tão curto, nem tão simples assim. Por isso, a partir de hoje, eu só vou amar em norueguês: Kjærlighet. Sim! Desculpem-me os nacionalistas, mas parece que só mesmo os noruegueses sabem o quanto é complicado amar. Para a literatura, o amor é um fogo... Não um fogo qualquer, mas de um tipo que arde sem se ver. Para o cinema, ele é mais simples, é apenas “nunca ter de pedir perdão”. Para a vida real, nossa... Ele é puramente indefinível. Dizem que ele é único, ímpar, que só acontece uma vez e é para sempre. Mas o que seriam dos divorciados se o “para sempre” fosse duradouro? O amor pode até ser eterno, todavia, sem dúvida, ele é malandro, bandoleiro e muito bandido. Há homens que amam somente a esposa... Mas há aqueles (e são tantos!) que amam a mulher, a amante, a puta e a sobrinha. Mas tudo bem, porque como o amor é secreto, a própria mulher pode amar outro homem ou, quem sabe, até outra mulher. Pois o amor é sexual... Independente do prefixo que se queira: heterossexual, bissexual ou homossexual. Nem todo amor, no entanto, é sobre sexo. Existe amor casto, divino, puro, santificado, platônico. Há amor fraterno, paterno e materno. Há mães que amam com zelo e rigidez, “anda direito, fala direito, come direito”, e há aquelas, como a minha, que amam como Pilatos, lavando as mãos, “minha filha, na altura do campeonato, eu te aceito do jeito que você for”. O amor pode ser próprio, adolescente, maduro, na terceira idade e até podemos amar quem já morreu. Pode ser monogâmico, bígamo e múltiplo e em progressão geométrica... Posto que até em suruba pode haver amor. Para uns, o amor é possessivo: “você é meu e ponto final”. Para outros, é desprendido: “eu te amo in-
dependente do que você sente por mim”. O amor pode ser recíproco, quando se tem sorte; pode ser proibido (que delícia!), quando se tem mais sorte ainda! Entretanto pode ser solitário... Pode ser discreto ou escandaloso. Efêmero ou duradouro. Pode ser cauteloso, perigoso ou irresponsável. Pode ser em letras garrafais, gritado, chorado, lamuriado ou calado... Escondido em letras miúdas de um pequeno diário. O amor pode ser à primeira vista, surgindo belo e romântico no primeiro dia. Mas, ora!, ele pode surgir no segundo dia também... Ou no terceiro dia... Ou, se você tiver sorte no amor, ele vai é ressurgir todo dia e o dia todo. O amor é dado. É de graça e não paga imposto (pelo menos, não ainda). Ele é suor, ele é gemido, ele é corpo nu, ele é um líquido que sai como um escorregão. Afinal, ele é carnal. E ele é diplomático, posto que convive muito bem com todos os demais sentimentos, inclusive o ódio. Ocorre entre seres humanos. Embora não seja exclusividade! Posto que também amamos bichos, e plantas, e objetos. Amor é o que eu sinto agora, escrevendo. Porque tem gente que ama escrever e, graças a Deus, há outro grupo de loucos que ama ler. Amor é o que eu sinto quando brigo com minha mãe, porque ela ‘ainda’ se mete na minha vida. É o que sinto pelo meu pai, apesar de ele nunca acertar mexer no controle remoto da SKY. É o que eu sinto pelo meu melhor amigo, quando ele me pega em casa e me leva ao cinema. Amor são as borboletas no meu estômago, quando eu encontro “aquele” belo rapaz, à noite, e jogo olhares para ele... É o que eu sinto pelos meus irmãos, colegas de trabalho e de classe, é o que sinto pela minha professora e pela minha chefa. É o que eu sinto pelo teatro, pelos artistas, pelos meus escritores preferidos. Amor é o que eu sinto por todos eles. E, sobretudo, amor é o que espero, do fundo do coração, que eles sintam de volta por mim. como Maria Eduarda
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