Living 21

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GENTE DESIGN ESTILO IDEIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA

Living nº 21 ano 5 número 21 especial 5 anos

R$ 12,00

Mauricio de Sousa 50 anos de carreira e projetos mil na cabeça. O mito dos quadrinhos brasileiros só tem olhos para o futuro.

Leal Moreira



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Nenhum texto é tão forte quanto uma grande marca. Sofisticação, qualidade e confiança, assim é a Leal Moreira. 11


índice GENTE DESIGN ESTILO IDEIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA

Living nº 21

especial

Distribuição gratuita em Belém do Pará

ano 5 número 21

Mauricio de Sousa 50 anos de carreira e projetos mil na cabeça. O mito dos quadrinhos brasileiros só tem olhos para o futuro.

De volta à ordem do dia com o sucesso de Turma da Mônica Jovem, Mauricio de Sousa comemora 50 anos de carreira planejando um museu, inaugurando parques temáticos, criando desenhos animados, invadindo a China e, aos 73, já prepara os dez herdeiros para sucedê-lo nos negócios.

Leal Moreira

A curiosidade e inquietação do fotógrafo paraense Guy Veloso já o levaram aos mais diferentes rincões do planeta. Uma dessas viagens, no entanto, carrega um significado especial em sua galeria de memórias. O Caminho de Santiago de Compostela e seus 800 quilômetros de histórias, provações e muita fé são o tema do ensaio especial desta edição.

entrevista

Se você está disposto a cultivar hábitos saudáveis em seu dia-a-dia, talvez seja o momento de prestar um pouco mais de atenção no assunto que a cada ano ganha a simpatia de mais e mais pessoas ao redor do mundo. Os chamados alimentos orgânicos estão na ordem do dia, e a Living mostra o porquê.

ensaio

comportamento

Lyoto Machida chegou lá. Com um estilo inovador, o lutador paraense conquistou de forma invicta o título mundial dos meio pesados no Ultimate Fighting Championship (UFC) e deu início, em grande estilo, a uma nova era. Agora, o Dragão tem um objetivo bem definido: continuar no topo do planeta.

perfil

capa Mauricio de Sousa fotografado por Lailson dos Santos

Bruno Senna, sobrinho do tricampeão mundial Ayrton, abre mão das comparações e está disposto a escrever o próprio nome na história do automobilismo. Negociando sua entrada na Fórmula 1 em 2010, ele só espera uma chance para mostrar do que é capaz.

humor Esqueça maquiagem, figurino, cenário... O Stand-up Comedy dispensa adereços e, com a cara limpa, traz o humor de palco de volta aos braços do grande público. Entenda as raízes históricas do gênero e saiba de onde os grandes nomes do “humor em pé” foram buscar inspiração.

destino O mundo na palma da mão. É essa a sensação dos que têm a oportunidade de conhecer Londres, uma das capitais culturais do planeta. Com sua rica história, a terra do Big Ben, do Palácio de Buckingham e e impressionantes museus é certeza de fascinação. 12

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editorial

Caro leitor,

André Moreira, diretor de marketing da Leal Moreira

Ousadia talvez seja a palavra que melhor traduza, para nós, o significado da Revista Living. Chegando aos cinco anos de vida, a publicação que criamos segue na busca por novos ares, mantendo assim a coerência com tudo aquilo que sempre foi seu diferencial: a busca do novo, a superação constante de expectativas e um não sonoro à acomodação. É motivo de orgulho apresentarmos essa edição especial de aniversário constatando que a Living alcançou, com louvor, o seu objetivo inicial, aquele que fez a revista nascer no já distante ano de 2004: mostrar que, sim, seria possível ir além do que se convencionava como factível para a realidade do mercado editorial paraense. Não só provamos que era possível, como a cada dia temos buscado novas metas para superar. Para os que acompanham a nossa trajetória, só podemos adiantar que, longe de satisfeitos com o que conquistamos, estamos ainda mais ansiosos por horizontes desconhecidos, e os próximos anos prometem ser tão produtivos e desafiadores quanto estes cinco primeiros, que se completam nestas páginas. Dito isso, não poderia haver personagem mais adequado para ilustrar nossa capa do que o desenhista Mauricio de Sousa, que, de ex-repórter policial, transformou-se, com talento e perspicácia, numa espécie de Walt Disney brasileiro. Aos 73 anos, o Midas do quadrinho nacional lança uma Turma da Mônica repaginada, bate recordes de venda e, ao completar cinco décadas de carreira, sequer pensa em aposentadoria. Como estamos falando de vencedores, nesta edição você também vai acompanhar a trajetória de Lyoto Machida, o paraense que em pouco mais de cinco anos surpreendeu o mundo, tornando-se o melhor do planeta no Ultimate Fighting Championship (UFC) e trazendo para o país a glória de contar com mais um atleta de ponta. As ambições de Bruno Senna, os benefícios da alimentação orgânica, o talento do artista plástico PP Condurú, os gracejos do Stand-Up Comedy, as belezas de Tiradentes e Londres, os textos afiados de nossos colaboradores, além de centenas de outros assuntos, você pode acompanhar a partir deste momento, nesta Living Especial que chega às suas mãos.

Boa leitura. Abraços. André Moreira

expediente Reportagem Alan Bordallo, Ana Danin, Débora McDowell, Cléo Soares, Elvis Rocha, Lucas Berredo e Mayara Luma. Colunistas Arthur Dapieve, Álvaro Jinkings, Celso Eluan, Edyr Augusto, Guto Lobato, José Roberto Torero, Marcelo Viégas, Nara Oliveira e Saulo Sisnando. Revisão José Rangel Gráfica Santa Marta Tiragem 20 mil exemplares

Revista Living Leal Moreira

João Balbi, 167. Belém - Pará f: [91] 4005-6800 www.lealmoreira.com.br Construtora Leal Moreira Diretor Presidente: Carlos Moreira Diretor Financeiro: João Carlos Leal Moreira Diretor de Novos Negócios: Maurício Moreira Diretor de Marketing: André Leal Moreira Diretor Executivo: Paulo Fernando Machado Diretor Técnico: José Antonio Rei Moreira Gerente de Marketing: Lilian Almeida Gerente de Clientividade: Murilo Nascimento

Coordenação e realização Publicarte Editora Diretor editorial André Leal Moreira Diretor executivo Hilbert Nascimento (Binho) Diretor comercial Ana Paula Guedes Diretor de criação e projeto gráfico André Loreto Editor-chefe Elvis Rocha Produção editorial Mayara Luma Design e ilustrações Leandro Bender Fotografia Luiza Cavalcante

Fale conosco: (91) 4005-6868 / 4005-6878 redacao@editorapublicarte.com.br

Living Leal Moreira é uma publicação trimestral da Publicarte Editora para a Construtora Leal Moreira. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem autorização.

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Direção comercial

empresa castaño martorani

São Paulo Leandro Castaño Martorani 11 81118132 leandro@lemidia.com Carol Flóis 11 92259662 carolflois@revistaliving.com.br Luis Fernando Marques 11 99970300 luismarques@revistaliving.com.br Rio de Janeiro Brenda 21 91937770 brenda@revistaliving.com.br Belém Ana Paula Guedes 91 4005-6868 anapaula@revistaliving.com.br


colaboradores Arthur Dapieve Jornalista e escritor, é autor dos livros “De Cada Amor Tu Herdarás Só o Cinismo” (2004) e “Black Music” (2008).

Celso Eluan Empresário e cronista, é colaborador da revista Living desde as primeiras edições

Cristina Serra Jornalista, foi correspondente da Rede Globo em Nova Iorque e hoje trabalha na cobertura dos bastidores de Brasília.

Edyr Augusto Jornalista, radialista, escritor e teatrólogo. Lançou este ano “O Tempo do Cabelo Crescer”, coletânea com seus quatro primeiros livros de poesia.

José Roberto Torero Escritor e roteirista, ganhou o prêmio Jabuti em 1995 com seu livro de estreia, “Galantes Memórias e Admiráveis Aventuras do Virtuoso Conselheiro Gomes, o Chalaça”.

Ronaldo Bressane Colaborador de várias publicações nacionais, foi redator-chefe das revistas Trip e V. Está finalizando a graphic novel K.A.L.K.I., a ser lançada em 2010.

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Living dicas

Ristorante Piazza Navona

No Ristorante Piazza Navona qualquer um se sente na Itália. Com decoração inspirada nas tradicionais casas da região da Toscana, o espaço oferece vários ambientes, entre eles um disputado wine bar e a agradável área externa. O menu é italiano, com alguns pratos que mesclam massas e ingredientes regionais, como o ravióli de pato, além do petit gateau de açaí com tapioca. Com horário diferenciado – de meio-dia até o último cliente da noite -, o restaurante tem tudo para virar o lugar preferido entre os amantes dos lanchinhos leves do final da tarde.

Serviço Endereço: Travessa Benjamin Constant, nº1535. Telefone: (91) 3224.2310 / 3224.1445

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Ver-o-Peso da Cozinha Paraense Os mês de julho será especial para os apaixonados pela culinária do Pará. Entre os dias 19 e 21 acontece, no Hotel Hilton, uma edição especial do Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, desta vez organizado pelos famosos chefs Claude Troisgros, Dânio Braga, Alex Atala e Cesar Santos. O evento foi idealizado há nove anos pelo grande chef paraense Paulo Martins, que será o homenageado especial desta edição. A programação será composta por um workshop sobre culinária e um jantar beneficente, preparado pelos quatro chefs, em prol das instituições Criança Vida e Avao.

Serviço Ver-o-Peso da Cozinha Paraense - Edição Especial. Data: 19, 20 e 21 de julho. Local: Hilton Hotel.

l’óccitane

Belém já tem, agora, uma franquia da famosa rede francesa L’Occitane. Recéminaugurada, a loja traz para Belém todas a linhas de produtos de beleza e de casa consagradas mundo afora, como a premiada coleção de perfumes “Notre Flore”, composta de cinco fragrâncias, e os cosméticos faciais voltados ao rejuvenescimento e redução das linhas de expressão, uma das áreas em que a empresa mais se dedica atualmente. Como a beleza da decoração é marca registrada das lojas, em Belém não poderia ser diferente: o espaço é um belo mosaico colorido dos produtos à venda e que, de quebra, ainda exalam um aroma único.

Serviço Endereço: Avenida Braz de Aguiar, 41. Telefone: 32221282 Site: www.loccitane.com.br


Living dicas

Bourbon Street Music Club

O Bourbon Street Music Club traz para os paulistanos a magia dos típicos bares de jazz e soul de New Orleans. Ao longo de quinze anos de funcionamento, a casa conquistou um público fiel e conseguiu tornar a tranquila Rua dos Chanés, em Moema, no reduto brasileiro dos amantes e músicos de jazz. Além dos excelentes shows, inclusive com artistas estrangeiros, o grande atrativo do bar são os “detalhes” que compõem a decoração: uma gravata de John Pizzareli, um paletó de Ray Charles e até uma guitarra de B.B King autografada pelo próprio. Rua dos Chanés, 127, Moema. (011) 5095.6100 http://www.bourbonstreet.com.br

Hotel Ponto de Luz

A natureza exuberante das montanhas, com cachoeiras, árvores frondosas e coloridas flores compõe o cenário do Hotel Ponto de Luz, local ideal para os que procuram por dias calmos de descanso e paz. Localizado a quase mil metros de altitude, na Serra da Mantiqueira, em São Paulo, o que torna o hotel especial é o seu spa holístico, o primeiro do Brasil e que hoje está entre os mais conceituados do mundo. Para purificação do corpo e da mente, os hóspedes contam com mais de 15 serviços, entre eles: watsu, terapia das pedras quentes, banhos terapêuticos e meditação. Antes de fazer a reserva, vale dar uma olhada nos pacotes oferecidos no site do hotel.

Estrada Sertãozinho, s/n, Joanópolis. [011] 4539.3112 http://www.hotelpontodeluz.com.br

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Living dicas

El Viejo Almacén

Avenida Independencia esquina com Balcarce +54 11 4307668 http://www.viejo-almacen.com.ar/

Visitar Buenos Aires e não assistir a um show de tango é como ir a Nova York e não tirar sequer uma foto aos pés da Estátua da Liberdade. Mas, se ir a uma casa de tango é programa certo para os turistas, escolher em qual assistir ao show não é das tarefas mais fáceis. Entre os tantos excelentes espaços dedicados à dança da capital argentina, um merece destaque: El Viejo Almacén. Localizado no cultural, e outrora boêmio, bairro de San Telmo, a casa, com mais de dois séculos de história, mantém a mesma decoração de quando foi aberta, em 1969, e, de tão tradicional, já foi homenageada pelos correios com uma edição especial de selos. As especialidades do jantar, servido antes do show, é claro, são as famosas carnes argentinas e os pratos vegetarianos.

The Central Park Boathouse Engana-se quem pensa que tudo em Nova York é agitação e que é impossível encontrar um lugar calmo e reservado para comer. O restaurante The Central Park Boathouse é o lugar ideal para degustar saborosas refeições longe do caos novaiorquino. E não é preciso ir longe para encontrá-lo. Situado em pleno centro da cidade, às margens do lago que banha o famoso Central Park, o restaurante consegue se manter tranquilo, pois fica protegido pelas árvores que o cercam. Além dos quatro diferentes ambientes e dos variados tipos de menus, o restaurante oferece também passeios de gôndola e barcos e aluguel de bicicletas.

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East 72nd St. & Park Drive North. 212 517 2233 http://www.thecentralparkboathouse.com


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perfil

Bruno tem sua meta definida: chegar Ă F-1 e provar que o talento ĂŠ maior que o sobrenome

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Elvis Rocha

Meu nome é

Bruno

Bruno Senna, sobrinho do tricampeão mundial Ayrton, sonha com a Fórmula 1 e quer escrever a própria história

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oisa de mãe. Quando Bruno, o segundo dos três filhos, chegou à maioridade, Viviane Senna formulou a pergunta comum aos que se preocupam com o futuro dos seus. - Filho, o que você pretende fazer da vida? A resposta, guardada há quase dez anos, não só surpreenderia Viviane como daria início à trajetória mais comentada nos bastidores do automobilismo brasileiro nos últimos anos. - Quero ser piloto. Assim Bruno, sobrinho do tricampeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna, retomava seu destino nas pistas. Uma década antes, quando fazia as primeiras curvas no kart, ele assistia chocado ao acidente que vitimou o tio no Grande Prêmio de Ímola, na Itália, deixando o país mais pobre de ídolos e a família Senna sem clima nenhum para investir na carreira nascente de um de seus caçulas. Com a ajuda do ex-piloto Gerhard Berger, Bruno não demorou a se enturmar e conseguir oportunidades para testes na Europa. As cinco letras do sobrenome foram providenciais para que as chances florescessem e, em menos de quatro anos, entre estancadas e ultrapassagens, o Senna mais jovem mostrou que poderia competir em par de igualdade com pilotos que passaram, ao contrário dele, por to-

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das as etapas básicas do automobilismo. Em 2008, defendendo a iSport Internacional, Bruno conquistou o vice-campeonato mundial da GP2, uma das portas de entrada da F-1. Com isso, passou a ser um dos candidatos naturais ao grid de largada deste ano. Cotado para compor a dupla que representaria a Honda (atual Brawn GP, até o fechamento desta edição a líder do Mundial de Construtores), o brasileiro foi aprovado nos testes, mas, pouco antes da assinatura do contrato, acabou preterido por Rubens Barrichello. As razões? Pouca experiência aliada ao momento de indefinições que a escuderia passava no início de 2009. Aos 25 anos, Bruno tem consciência de que, a cada entrevista, terá que responder não só pelo futuro, mas também pelo passado. O legado do tio, desde o dia 1º de maio de 1994 um dos mitos intocáveis do esporte brasileiro, convive com o piloto como um camarada que o ajuda a abrir portas para sentenciar em seguida: “Daqui pra frente é contigo”. Até agora, ele tem aproveitado com inteligência as benesses de ser um Senna, mas sabe que, a partir do momento em que chegar à categoria mais cobiçada do automobilismo mundial, provavelmente em 2010, o nome Bruno terá que se impor, literalmente, ao sobrenome famoso. Ele parece disposto a encarar o desafio.

Divulgação/MF2


Em pouco tempo nas pistas, Bruno surpreendeu e conquistou resultados expressivos nas categorias que antecedem à Fórmula 1, chegando ao vice-campeonato na GP2

Após a morte do seu tio, em 94, você passou nove anos longe de qualquer atividade ligada ao automobilismo. O que o motivou, após tanto tempo, a investir na carreira dentro das pistas, mesmo tendo pulado várias etapas que fazem parte da formação da maioria dos pilotos? Na verdade, jamais deixei de pensar no automobilismo e no sonho de chegar à Fórmula 1. Eu já estava começando no kart quando o Ayrton morreu. Depois da tragédia, não havia clima em casa para se falar em corrida de automóvel. Minha vida acabou tomando um rumo, digamos, normal. Estudei, aproveitei a infância, adolescência e juventude, fiz dois anos de Administração de Empresas, trabalhei nos negócios da família, mas nunca desisti de virar piloto. Até que um belo dia minha mãe perguntou o que eu gostaria de fazer na vida. Quando respondi, ela ficou surpresa, porque nunca imaginou que eu ainda continuasse pensando em ser piloto. Logo em seguida a esse hiato, você correu poucas corridas na F-BMW Inglesa e já partiu para a F-3 Inglesa. Foi uma decisão ousada, não? Como foi a sua primeira temporada de fato, com tão pouca experiência? Quando fui para a Inglaterra no segundo semestre de 2004, depois de pouquíssimos treinos com um Fórmula Renault em Interlagos e um Fórmula 3 em Campo Grande, escolhemos

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a Fórmula BMW para saber se eu realmente levava jeito para a coisa. Mas fui melhor que o esperado. Fiz bons resultados quase imediatamente e a Fórmula 3 virou quase uma sequência natural. Não foi um ano fácil, o de 2005, porque minha experiência era ainda muito pequena. Eu tinha velocidade, mas não era consistente. Fazia uma volta rápida e na outra o tempo subia... Na segunda parte do calendário, no entanto, meu crescimento foi muito grande e os resultados começaram a aparecer, com poles e pódios. Você poderia falar um pouco da importância de Gerhard Berger, que é amigo da sua família, nesse processo? Berger sempre foi um grande amigo da família e desempenhou um papel muito importante no início de tudo. Era a pessoa que conhecia bem o meio e que fez o meio de campo com as equipes de Fórmula BMW e Fórmula 3. Aliás, a sugestão de começar pela Fórmula BMW partiu dele. Ao contrário dos outros pilotos, você precisou aprender as manhas do automobilismo sob os olhares e expectativa do mundo inteiro. Houve algum momento em que achou que a pressão de carregar o sobrenome Senna era maior do que você poderia aguentar? Mesmo sabendo que seria difícil, sempre procurei abrir meu próprio caminho. Ser um Senna é algo natural para mim.


A decisão de voltar a correr após tantos anos surpreendeu Viviane, a mãe, que, passado o susto, transformou-se em uma das maiores incentivadoras da carreira do filho

Nesse aspecto, nunca foi um problema. Mas é claro que ele acabaria chamando a atenção. Chegamos à Fórmula BMW da forma mais discreta possível, procurando não chamar a atenção. A categoria não tinha um único brasileiro. No dia da minha estreia, no entanto, lá estava uma equipe da TV Globo comandada pelo Caco Barcellos para a cobertura da minha primeira corrida. E essa questão do nome tem dois lados: se por um lado pode ser um fator de cobrança, de outro é inegável que ajuda a abrir portas com equipes e patrocinadores. Em 2009 você esteve muito próximo de ser um dos brasileiros alinhados no grid da F-1. Como estão as negociações para o próximo ano? Tem-se falado de conversas com a Force India e, mais recentemente, da possibilidade da iSport Internacional, que você já defendeu, ingressar na categoria e contratá-lo... Temos contatos tanto com equipes que já estão no grid quanto com várias daquelas que estão anunciando a disposição de entrar na Fórmula 1 em 2010. O problema é que não há nada a fazer neste momento a não ser aguardar pela definição da batalha política entre a FIA e a associação das equipes, envolvendo a questão do teto orçamentário. O dono da Force India fez uma declaração bastante simpática a meu respeito, mas não conversamos depois disso. A iSport quer entrar na Fórmula 1 e conta comigo, mas as coisas ainda estão bastante nebulosas. Tenho um carinho muito

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grande por todos da equipe, mas é preciso saber se eles terão os recursos, quem responderá pela parte técnica, qual o motor etc. Quero entrar na Fórmula 1 dentro de um projeto sólido e não vou vender a alma ao diabo só para chegar lá. A equipe precisará ser competitiva, essa é a condição básica. Após ter perdido a vaga para Rubens Barrichello na Brawn GP, você declarou que, para o ano que vem, “o importante é não estar no lugar certo na hora errada de novo”. Você poderia explicar melhor essa frase? Estive muito perto de assinar com a Brawn GP. Tão perto que sequer busquei opções. Tão perto que já havia até feito o molde do banco. Quando o Ross Brawn decidiu acertar com o Rubinho, não havia outra porta aberta. E grande parte das equipes ficou surpresa com o desfecho, porque quase todos imaginavam que eu seria o escolhido. A equipe era a certa, como os resultados da temporada estão mostrando, mas o momento não era o ideal. O futuro da Brawn GP era duvidoso, a equipe não tinha patrocínio e o Ross Brawn resolveu correr o mínimo de riscos e apostar naquele que considerava mais seguro. Deve ter pensado: se eu coloco um novato, a possibilidade de acidentes será bem maior, e a equipe não está em situação de bancar esse prejuízo. Não que isso fosse acontecer, mas o ponto de vista dele era defensável e contaria com a concordância de nove entre dez chefes de equipe.


Com o tio famoso, Bruno passou bons momentos na infância. Disputas de jet-ski e as férias com a família em Angra dos Reis são as melhores lembranças do campeão mundial

Vendo os resultados que a equipe vem obtendo na temporada, você lamenta de alguma forma não ter conseguido correr já este ano? É claro que eu gostaria de estar lá, mas não vou ficar aqui me remoendo pela oportunidade perdida. Se não foi, era porque não era para ser. E acho que fiz um bom trabalho nos dois dias de testes que realizei em Barcelona no ano passado. Tenho certeza que o Ross Brawn gostou do meu desempenho. A Brawn GP continua sendo uma possibilidade, por que não? Antes de ingressar na F-1, Nelsinho Piquet decidiu passar um ano apenas testando os carros da Renault. Você disse que, recentemente, Bernie Ecclestone o aconselhou a não assumir muitos compromissos em 2009 para se concentrar em sua entrada na F-1. Ficar um ano sem competição seria a melhor decisão para um piloto aspirante à principal categoria do automobilismo? Um dos problemas do regulamento atual é a drástica limitação de testes. Não há mais sentido em ser piloto de testes na Fórmula 1. A Fórmula GP2 só seria uma possibilidade a ser considerada se ainda houvesse uma equipe de ponta quando a Brawn GP anunciou seus pilotos, mas naquele momento as melhores já estavam fechadas. Para quem foi vice-campeão

em 2008, o único resultado aceitável nesta temporada seria o título. Para não ficar parado, e levando em conta que a Fórmula 1 continuaria sendo a prioridade máxima, examinamos as alternativas. Poderia ter sido a DTM, desde que estivesse acoplada a um compromisso com a Fórmula 1 em 2009. Como a Mercedes não tinha condições de nos dar essa garantia, a Le Mans Series foi o passo seguinte, com vantagens inegáveis. O calendário passa por várias pistas da Fórmula 1, a categoria é veloz, tem muita tecnologia e o piloto tem papel fundamental no desenvolvimento dos carros e da liderança da equipe. Está sendo uma ótima escola e não estou nem um pouco arrependido da escolha. Muitos pilotos chegaram à F-1 com sobrenomes tradicionais e força nos bastidores, mas acabaram não igualando as carreiras de seus respetivos antecessores nas pistas. Você tem consciência de que todos os seus passos serão comparados ao do seu tio, não? O que é preciso fazer para amenizar as comparações e criar uma marca própria em um universo tão concorrido como o da F-1? Não há nada a fazer senão trabalhar, fazer o melhor possível e conquistar os resultados necessários. Nesse sentido, os testes de Barcelona foram importantíssimos, porque todo o meio

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Os negócios de Bruno são geridos em família. A irmã Bianca é quem toma conta da carreira do piloto fora das pistas

ficou conhecendo meu potencial. E nome não garante vaga a ninguém. Pode ser Senna, Lauda, Prost ou qualquer outro: se não fizer por onde, dança. A F-1 tem passado por mudanças nos últimos anos e nessa temporada temos visto a ascensão de pilotos que não pertencem a nenhuma das escuderias tradicionais e consagradas. Você acha que esse novo tipo de configuração pode beneficiá-lo de alguma forma na próxima temporada, caso sua entrada na categoria seja confirmada? O ano de 2009 está sendo bastante atípico, não há dúvida. Equipes como a Brawn e a Red Bull surpreenderam positivamente, enquanto as antigas forças dominantes, como Ferrari e McLaren, decepcionaram nas primeiras provas. Mas o equilíbrio começou a ser restabelecido depois de cinco ou seus corridas e ninguém garante que a Brawn seguirá ganhando até o final do campeonato, embora a chance de fazer o campeão de pilotos e equipes seja gigantesca. É difícil, no entanto, fazer uma projeção para o ano que vem sem saber qual será o regulamento técnico e desportivo. Falando sobre seu tio, quando ele morreu você tinha apenas dez anos. Quais as principais recorda-

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ções que guarda dele? Sem contar as manhãs e noites diante da televisão para assistir às corridas, as férias de verão em Angra dos Reis são a melhor recordação que guardo do Ayrton. Brincávamos bastante, disputávamos corridas de jet-ski e ele não gostava de perder nem do sobrinho. Como eu levava vantagem por ser menor e mais leve, ele sempre arrumava um jeito de mexer no motor do jet-ski dele para tentar descontar. Acho que a pergunta é inevitável. Você consegue, objetivamente, reconhecer algum tipo de influência em sua maneira de pilotar que tenha herdado de Ayrton Senna? Qual seria? Inevitável e recorrente, devo dizer. É difícil dizer algo a esse respeito. Prefiro que as pessoas é que façam esse julgamento, pelo menos no que diz respeito às pistas. Fora delas, temos em comum alguns traços familiares, como a determinação para querer fazer as coisas sempre da melhor forma possível. Como você definiria o piloto Bruno Senna para os fãs brasileiros de automobilismo? Um cara que vai continuar perseguindo o sonho de chegar à Fórmula 1 e não vai desistir enquanto não realizá-lo.


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Alan Bordallo

Luiza Cavalcante

O ano do

dragão

Lyoto Machida, paraense por opção, curte a glória de estar no topo do mundo

“É

preciso um diferencial. E isso não é algo que se consegue de repente. É preciso toda uma vida.” Estas palavras, que encerraram a conversa com Lyoto Machida, novo campeão mundial e detentor do cinturão da categoria meio-pesado do Ultimate Fighting Championship (UFC), são as mais adequadas para explicar o sucesso do carateca que decidiu se aventurar no MMA (sigla em inglês para Artes Marciais Combinadas). Com os pés no chão, guarda alta e base quase inabalável, o faixa preta em caratê Shotokan Dô-Tradicional trata a fama adquirida após o nocaute imposto aos três minutos e quarenta segundos do 2º round sobre o norte-americano Rashad Evans com frieza semelhante à que pauta seus treinos, já iniciados, para manter o cinturão por bastante tempo. “Quero me estabilizar como campeão”, diz. Lyoto, que em japonês significa “Dragão” - daí o apelido “The Dragon” -, nasceu em Salvador, na Bahia, há 30 anos, mas mudou-se para Belém quando tinha apenas três meses. Foi na Cidade das Mangueiras que o campeão ensaiou os primeiros golpes de caratê, ensinados pelo pai Yoshizo Machida, um dos mais respeitados mestres da milenar arte marcial no mundo. Foi daqui que Lyoto assistiu pela primeira vez a uma luta de vale-tudo. O protagonista era Royce Gracie - membro do clã que difundiu o Jiu-Jitsu no Brasil e cujo patriarca, Hélio Gracie, também tem raízes paraenses - e o torneio, o UFC. “O que chamou a atenção era o fato de a luta ter poucas regras. Colocava em jogo todas as qualidades do lutador. Venceria quem tivesse a melhor estratégia, a melhor técnica, o mais preparado. Me encontrei naquele momento”, relembra.

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Para entrar no competitivo mundo do MMA, Lyoto estava ciente de que precisaria se preparar, então correu atrás. Iniciou os treinos de Jiu-Jitsu e, mais importante, adaptou golpes “esquecidos” do caratê, como a joelhada e a cotovelada, além de sequências de movimentos, para formatar aquele que hoje é o seu estilo, classificado pela produção do torneio como “nãoortodoxo”. A primeira oportunidade aconteceu no Japão, em 2003. O torneio ele já não lembra o nome. O mesmo não pode se dizer da plateia. “Tinha 50 mil pessoas no estádio. Uma responsabilidade muito grande para uma estreia. Mas consegui lutar bem. Não da forma como queria, mas venci”, recorda. O lutador percebia sensíveis melhoras a cada combate, mas seu estilo começou a causar desconfiança entre o público, e aí apareceram as primeiras críticas, que vieram principalmente em função do caráter defensivo do caratê, cuja filosofia apregoa o contra-ataque como princípio. “Muitas pessoas não entendem o caratê porque você quase não leva golpes, mas ataca com eficiência. Talvez naquela época eu não estivesse em um patamar físico suficiente também.” Quando identificou a carência, Lyoto conseguiu uma evolução substancial. Incorporou à sua equipe o preparador físico Eduardo Lisboa, que havia praticado caratê e é o responsável pelas técnicas que incrementaram potência aos seus golpes. “Antes disso as pessoas não viam o golpe, porque o caratê é muito rápido, e às vezes fica difícil ver a técnica. Quando passei a ser contundente nos meus golpes a eficiência dessa técnica ficou comprovada. O cara na plateia não viu o golpe, mas viu meu adversário caindo. Meu estilo se baseia nisso: potência e força o tempo inteiro.”


Lyoto escolheu Belém para se preparar e a fórmula deu certo. Com os irmãos e o amigo Laurel Filho (último à esquerda), o lutador criou um estilo próprio

Com isso, Lyoto deu adeus ao Japão e realizou o primeiro sonho: entrou no UFC, maior torneio de MMA do mundo. A visibilidade alcançada também aumentou. O lutador tornou-se popular principalmente no Oriente e nos EUA, já que os torneios em alto nível acontecem por lá. Mesmo assim, preferiu fugir dos holofotes e da jogadas de marketing, e traçou sua estratégia rumo à conquista do cinturão e o planejamento de treinamentos na academia da família, a Associação Paraense de Artes Marciais (APAM), algo impensável para as estrelas do milionário negócio das lutas, mas dentro de um conceito para Lyoto: o da performance. “Performance engloba vários fatores, não só a luta em si. É o treino, a alimentação, o descanso, o emocional, o social. Por isso escolho Belém para me preparar. É o lugar onde me sinto completo. Treino, mas no fim de semana tenho a recompensa: estou com meu filho, com a minha esposa, com meus pais, irmãos, amigos. Nos reunimos, almoçamos juntos. E ficando aqui elimino o período de adaptação que teria se viajasse para treinar. Tudo isto influencia na performance”, diz ele. A família, aliás, é onde o atleta busca forças. Além de ter sido ensinado pelo pai, Lyoto tem nos irmãos Chinzô e Takê a segurança quando está no ringue. Eles são os corners do paraense

dentro do octógono, e muitas vezes são os donos das palavras que equilibram a ansiedade do lutador antes dos combates. “Antes da luta contra o Rashad, o Chinzô pediu para eu me acalmar, respirar fundo e guardar a energia para o momento certo”, lembra. Na equipe, quem tem a missão mais inglória é o amigo Laurel Filho, o sparring. É ele quem, três vezes por semana, faz o treino específico de MMA, simulando as lutas reais na academia. “Somos poucas pessoas. A minha equipe é pequena, mas é grande. Somos muito fortes”, atesta. O desempenho de Lyoto na luta que valeu o cinturão, no último dia 23 de maio, foi quase perfeito. Ele afirma que passou por momentos de nervosismo quando percebeu seu objetivo maior se aproximando. “Fiquei no quarto do hotel muito ansioso, agitado. Pulava e dava socos no ar. Meu irmão pediu para eu parar de pensar na luta. Disse para eu esquecer tudo, e que na hora o golpe sairia, e eu sentiria isso. Aí transformei a ansiedade em concentração.” A luta, aliás, foi muito estudada. O primeiro golpe só aconteceu aos dois minutos do primeiro round. Lyoto esperou o primeiro vacilo e mostrou seu cartão de visitas com um chute de esquerda na cabeça de Rashad. Lyoto já agia como campeão. Fincou sua base no centro do ringue, enquanto o adversário

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O reconhecimento não veio de uma hora pra outra. São horas diárias de treinamento

parecia orbitar ao seu redor. Apenas dois golpes do oponente atingiram Lyoto. Curiosamente, em um contra-ataque. O momento decisivo, segundo ele, não foi previsto. Quando Rashad vacilou, o paraense aplicou um cruzado de esquerda, e aí começou a sequência que culminou no nocaute. “Eu nem pensei. Estava tão treinado que aquela reação foi normal. Lembrei do meu irmão falando e, quando senti, bati. ‘Pow!’ Ele caiu e tentou me agarrar, e continuei batendo. Levei ele para a grade e pensei ‘Tenho que terminar a luta agora’. Não queria dar chance para ele voltar. Foi aí que dei o sprint final”, recorda. “Quando vi ele dobrando o pé, pensei ‘Campeão!’. Saí gritando ‘Campeão!’, mas não tinha me tocado ainda. Foi muito rápido. Aos poucos a ficha foi caindo e me emocionei muito.” Lyoto concedeu esta entrevista apenas nove dias após a conquista do cinturão. Tempo suficiente para assimilar as primeiras mudanças que vieram com o título mundial. A que mais tem mexido com ele é o reconhecimento. “Tudo isso que aconteceu comigo foi um processo, tenho consciência disso. Não mudei minha personalidade, continuo o mesmo Lyoto. Mas do ponto de vista profissional percebo mudanças. O assédio aumentou muito. Cheguei a Belém depois de 18 horas de voo. Estava morto de cansado. Mas quando vi aquelas pessoas me esperando para homenagear, na hora reanimei. Isso me dá vontade de treinar mais para retribuir esse carinho, essa confiança. Mas também me preocupo com o meu treinamento, que não pode ser atrapalhado pelo assédio. Às vezes, quando dou um ‘não’ para a imprensa, já falam que estou com estrelismo, mas não é isso. Não atendo a imprensa todas as vezes, mas sempre que atendo me preocupo em fazer isso bem. Tenho um foco. Se cheguei até aqui, foi por muito esforço, e agora preciso me manter treinando e treinado”, explica. Um efeito colateral da conquista, e que Lyoto tenta se blindar, é a exposição excessiva. Já campeão, o lutador paraense foi convidado por um cineasta de Hollywood para participar de um filme sobre artes marciais. Recusou para não perder o foco. “Um filme não é algo rápido. Precisaria me dedicar e abdicar do treino para isso. Quero me concentrar nas lutas, é para isso que trabalho. Quero me estabilizar como campeão e curtir a carreira de lutador. Até porque no filme eu não seria o o ator principal, seria um figurante. Não vou botar meu trabalho em jogo por uma aparição. Não tenho essa vaidade.” É esta consciência que solidifica o trabalho de Lyoto. E é por isto que Dana White, o dono do UFC, ao término da luta do dia 23, anunciou aos espectadores: “Estamos entrando em uma nova era. A era Lyoto Machida.”

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Um campeão “indefinível” Desde que decidiu competir no MMA, Lyoto Machida já acumulou 15 lutas, com 15 vitórias, passando por seis torneios diferentes da modalidade. Os métodos usados para derrotar os oponentes justificam o fato de a produção do UFC considerá-lo um lutador indefinível: oito vitórias vieram por decisão unânime dos juízes, duas por finalizações e cinco por nocaute. Depois de derrotar Sam Hoger, o “Assassino do Alasca”, e finalizar Rameau Sokoudjou, o “Assassino da África”, Lyoto chamou a responsabilidade para si. Com o microfone do UFC na mão, perguntou quantos assassinos mais teria que derrubar para disputar o cinturão mundial. A cobrança surtiu efeito e três lutas - ou um ano e meio depois -, o paraense subiu ao ringue como desafiante e desceu como campeão. Segundo Dana White, Lyoto é o lutador menos golpeado da história do UFC, com a excelente média de um golpe sofrido a cada dois rounds e meio. Antes da luta, Rashad Evans enalteceu as qualidades de Lyoto, mas disse que pretendia encontrar a falha no estilo do lutador. Não conseguiu. A tarefa ficou para o brasileiro Maurício Shogun, que será o primeiro desafiante do novo campeão. O combate está marcado para 24 de outubro, em Los Angeles.

Resultado Vitória Vitória Vitória Vitória Vitória Vitória Vitória Vitória Vitória Vitória Vitória Vitória Vitória Vitória Vitória

Oponente Rashad Evans Thiago Silva Tito Ortiz Rameau Sokoudjou Kazuhiro Nakamura David Heath Sam Hoger Vernon White Dimitri Wanderley B.J Penn Sam Greco Michael McDonald Rich Franklin Stephan Bonnar Kengo Watanabe

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Data 23/05/09 31/01/09 24/05/08 29/12/07 22/09/07 21/04/07 03/02/07 22/07/06 29/04/06 26/03/05 22/05/04 14/03/04 31/12/03 13/09/03 02/05/03

Local Las Vegas, EUA Las Vegas, EUA Las Vegas, EUA Las Vegas, EUA Anaheim, EUA Manchester, Inglaterra Las Vegas, EUA Los Angeles, EUA Rio de Janeiro, Brasil Saitama, Japão Saitama, Japão Saitama, Japão Kobe, Japão Rio de Janeiro, Brasil Tóquio, Japão


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Cr么nica

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voar

Eu posso

Na noite passada, sonhei que podia voar. Sério. Não se tratou de algo na direção do absurdo, tipo Super Homem. Voar era possível, para mim. Uma questão de concentração. Uma certeza interior em que bastava lançar-me ao ar e comprovar aquilo. Talvez uma influência do seriado “Heroes”, que certa vez assisti e percebi, em um dos personagens, esse poder. Nada espetaculoso, com capas e uniformes esdrúxulos. Eu podia voar e ao fazê-lo, descobria o grande prazer dos pássaros, livres, sentindo o vento e usando dele para fazer manobras ou, simplesmente, ficar planando, contemplando o cenário. Depois de acordar e lembrar o sonho, passei o dia a meditar como isso seria possível. Ao ter a vontade ou necessidade de voar, que maravilhosa transformação se daria nas moléculas de meu corpo, que mudaria de peso, bastando um movimento de braços, como se em uma piscina, usando, a partir daí, o ar como quem nada, ou simples e discretos movimentos com as mãos, sei lá. E uma vez no ar, até que altura iria? E as correntes de vento me atirariam para longe, sem controle? Pensei que em um dia de vento, ousaria ir até a academia onde malho, voando. No caminho, uma nuvem de chuva me atiraria no meio da selva amazônica. Não pode funcionar assim. Imaginem em nossa cidade, onde passamos metade de um ano debaixo de água? Voaríamos, mesmo assim, com capas impermeáveis, como fazem os motociclistas? E a que velocidade? Como dosar isso? Os mais jovens, passando, chispando, para reclamação dos mais velhos... E se decidisse, em julho, ir até Salinas? Iria, quem sabe, na companhia de ultraleves, margeando a zona do Salgado, acenando para as multidões lá embaixo. Querem mais? Que tal ir até o Rio de Janeiro, Miami, cruzar o Atlântico, até Londres. Não, definitivamente, o sonho não tem condições. Cruzar o Atlântico, a que altura, com que temperatura, e a que velocidade? E se todos pudessem voar? O mundo seria diferente, meus amigos. A ideia de moradia, por exemplo. Nossos prédios seriam como

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Edyr Augusto Escritor

pombais? Qual seria o estilo? E as ruas? Para quê, ruas? Transportes coletivos? Como? Aviões, por exemplo. Bem, imagino que viajar entre cidades talvez necessitasse de algum serviço, alguma rota estabelecida, para o caso de chuva, neve, ou mesmo alimentação, necessidades fisiológicas. Iriam todos juntos, para maior segurança. Ih, não dá para deixar de falar nisso, não é? E a segurança? Assaltantes alados. Mudaria nos esportes? Haveria futebol, por exemplo? Corridas de fundo? Ou as corridas seriam aéreas? E o futebol seria como aquele jogo mostrado no Harry Potter? E já que todos voam, a moda seria também específica para isso. Afinal, não se pode sair voando por aí em um fim de tarde perfeito de julho, com aquele pôr-do-sol, em uma produção chinfrim. Jovens mais ousadas voam baixo e não se importam se a galera olha de baixo, para conseguir ver o que outras tentam esconder. Essas meninas! Em vez de galinhas, seriam chamadas como? Teremos a Flying Fashion Week, evidentemente. E no mês de junho, as quadrilhas dançarão no terreiro e nos ares, com evoluções em torno de belíssimos balões de São João. Enfim, seria outra coisa. E quando nos perguntassem algo que não sabemos, podemos dizer “estou voando sobre isso” e ficaria por isso mesmo. Querem saber? Preferia que voar fosse um segredo meu. Só meu. E, sabendo o que poderia provocar com isso, permanecesse assim. Para ser usado em momentos inusitados e claro, sem testemunhas. Algumas facilidades. Na falta de energia, subir os sete andares até meu apartamento, por exemplo. Chegar ao local desejado, tendo à frente um imenso engarrafamento. Para ser usado esporadicamente, a ponto de me deixar em dúvida. Como é mesmo que faço para voar? E tentar a concentração. E lançar-me ao ar, assim, direto do chão. Afinal, nada de correr o risco de brincar disso no último andar de um prédio de 50 andares... Parei em uma esquina. Olhei para os lados. Procurei me concentrar no que ia fazer. Parecia tão fácil, tão certo, perfeito. Aprumei o corpo, lancei os braços e fui.


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ensaio

Santiago Ancestral rota de peregrinação cristã, o Caminho de Santiago de Compostela é tema de um ensaio emocionante do fotógrafo Guy Veloso


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Lucas Berredo

A

curiosidade e a inquietação do fotógrafo paraense Guy Veloso por questões metafísicas e religiosas o levaram, nos últimos anos, a uma incansável jornada por diversos lugares sacros no planeta: da visita ao Vale do Amanhecer, santuário dos espiritualistas no Planalto Central, à caminhada do Maha Kumbh Mela, clássico festival do hinduísmo no norte da Índia. Com mais de 20 anos de carreira, o modesto fotógrafo costuma viajar sem coletes, com uma máquina fotográfica com lentes pequenas, sem intimidar o cenário em foco. Mas o aparente holismo religioso de Veloso não o impede de guardar uma jornada fotográfica com um carinho especial. Em 1993 e 1997, ele percorreu, a pé e sozinho, os aproximadamente 800 quilômetros do Caminho de Santiago de Compostela, a ancestral rota de peregrinação cristã que se estende por toda a Península Ibérica até a catedral homônima. Lá, supostamente estariam depositados os restos mortais de São Tiago, carregados de Jerusalém até a catedral, no primeiro século da Era Cristã. “Há diversas interpretações para o significado do Caminho”, explica Guy. “Pelo lado místico, o Caminho de Santiago é conhecido como caminho da morte, porque o percurso realizado vai de leste a oeste. Ou seja, como o sol se põe no Atlântico, a oeste, podemos definir o ponto central da caminhada [a catedral de São Tiago de Compostela] como o fim de um ciclo. Há outra tradição em que, após a chegada à catedral, as botas e as vestes usadas na caminhada precisam ser queimadas, como uma espécie de renascimento.” Embora o ponto de referência seja a catedral de Santiago de Compostela, o caminho não é definido claramente pelos viajantes. A maioria dos andarilhos escolhe um dos pontos próximos à fronteira francesa, como Saint-Jean-Pied de Port, Roncesvalles ou Somport, para o início da jornada. Em média, 20 mil pessoas por ano percorrem o caminho. “Há alguns peregrinos que permanecem por lá”, acrescenta Guy. “Abandonam seus empregos e montam albergues ou pontos de apoio no caminho. São os chamados refúgios. O sustento deles vem das doações de peregrinos.” Para o capricho fotográfico de Guy, o trajeto até a Catedral foi a parte mais rica da história. Além da riqueza natural dos Pirineus – o ponto de partida da caminhada –, dezenas de construções civis, militares e religiosas acrescentadas através dos séculos são apresentadas ao peregrino. São os casos das catedrais de León, Astorga e Burgos, exemplos clássicos da arquitetura românica – o estilo preferido de Guy –, as ruínas do povoado de Foncebadón, os palacetes e as paisagens de Puente la Reina, na Navarra – fronteira da Espanha com a França –, e o antigo monastério de San Juan de la Penha, em Aragão. “Depois de revelar os slides, percebi que, de modo geral, as fotografias revelam, além do espirito solitário do peregrino, o encantamento com os monumentos”, explica. “São catedrais de várias épocas da humanidade, constituídas por diversos estilos – românico, gótico, barroco, plateresco, entre outros –, e também ruínas de construções romanas e celtiberas.” Da experiência e do material fotográfico de Guy, nasceu um livro, A Via Láctea: Pelos Caminhos de Santiago de Compostela (Editora Sedna, 190 pg.), uma espécie de diário de bordo da jornada, um website (www.santiago.com.br) e um recente convite para uma exposição coletiva no Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro, ao lado de nomes como Vik Muniz e Eduardo Margareto. “Todos os dias, me perguntava o porquê de estar ali, caminhando por aquelas estradas. Mas, no final da jornada, nos tornamos pessoas melhores. Ao chegar em Santiago de Compostela, experimentei um intenso sentimento de plenitude”, conclui.

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Guy Veloso comeรงou a fotografar bem jovem, e por conta do interesse por diversas culturas jรก percorreu vรกrios cantos do planeta, sempre em busca de novos temas para seus ensaios

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cr么nica

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José Roberto Torero escritor

Tropeçando pelo

Caminho de São Tiago 1º. dia: Dei o meu primeiro passo a partir de Roncesvalles. Foi um belo e bucólico começo. Andei por um bosque de contos de fadas, ainda envolto numa fina neblina, e fui sentindo o cheiro do mato ainda úmido de orvalho. Quase fiz uma poesia. Mas aí começou a chover e fiquei encharcado. 2º. dia: Fui de Pamplona até Puenta la Reina. Há uma subida muito forte. Por pouco não tive um enfarte. Se tivesse dinheiro, instalaria um teleférico ali e ficaria rico. 3º. dia: Cheguei à cidade de Estella. No caminho passei por um povoado medieval chamado Ciruaque, onde havia um velho numa cadeira de balanço. Perguntei se ele estava ali para ver os peregrinos passarem. Ele respondeu que sim, porque se tem uma coisa que o deixa feliz, é saber que tem gente mais estúpida do que ele no mundo. 4º. dia: Parti de Estella. Ou melhor, tentei partir. É que na saída da cidade existe uma fonte que dá vinho grátis aos peregrinos. Acabei bêbado e fiquei ali pela fonte mesmo. 6º. dia: Um sol de lascar. Ah, que saudade da chuva... 7º. dia: Choveu. Ah, que saudade do sol. 8º. dia: Andei trinta quilômetros até Nágera. Não tinha uma viva alma e tive que conversar comigo mesmo. O pior é que eu e mim não entrarmos em acordo. Quase brigamos. 10º. dia: Andei trinta quilômetros. Trinta! Meus pés começam a ficar com bolhas e calos. Estranhamente, à noite tive um sonho quase erótico: meus pés estavam em chinelos felpudos e eu caminhava sobre montes de algodão. 13º. dia: Não lembro de nada deste dia. Não colocarei mais

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vinho no cantil em vez de água. 17º. dia: Realmente o caminho de São Tiago faz com que nos interroguemos sobre questões profundas. Por exemplo: Por que não fiz esta viagem de carro? 19º. dia: Na minha mochila levava sempre algumas frutas, cujas sementes eu jogava na beira da estrada. Imaginava que ali poderia crescer uma laranjeira ou uma macieira, que viriam a alimentar e dar sombra aos futuros peregrinos. Mas um guarda viu e me multou. 21º. dia: Vou de Astorga a Manjarin. No caminho passo pela Cruz de Ferro, um monte de pedras com uma cruz em cima. A tradição diz que você deve acrescentar uma pedra ao montículo. Coloco a menor que encontro. Tenho que economizar energia. 23º. dia: Depois de tantas subidas, um dia só de descidas. Penso que isso é bom, mas meu joelho diz que não.. 26º. dia: Chego a Melinde, uma cidade cheia de “pulperías”, onde se pode degustar polvos e vinhos. 28º. dia: Enjoos e vômitos por conta dos polvos e dos vinhos. Já posso dizer que deixei minhas marcas pelo Caminho de São Tiago. 30º. dia: Oitocentos quilômetros depois, chego a Santiago de Compostela. Fico emocionado ao ver as torres de pedra da imensa Catedral. E quase choro ao passar em frente a uma loja de colchões. Decido tirar o dia para refletir em tudo o que passei pelo Caminho e chego à conclusão de que aprendi uma importante lição, uma coisa que vai mudar a minha vida: Doravante, comprarei sapatos um número maior.


Comportamento

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Cléo Soares

Sirva-se Alimentos orgânicos não agridem o meio ambiente, tem mais valor nutricional e são uma ótima opção para aqueles que desejam uma vida mais saudável

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termo “geração saúde” ganhou ainda mais força na virada dos anos 80. Uma das consequências desses novos ares foi a consciência, por um número cada vez maior de pessoas, de que uma alimentaç­ão menos afetada pelos insumos da indústria resultaria em não só mais saúde, como também uma melhor qualidade de vida. Os alimentos orgânicos, que já eram cultivados de forma tímida desde a década de 60, voltaram à cena e passaram a ser estrelas na mesa de quem dá preferência a uma alimentação natural. Mas, afinal, qual é a diferença entre alimentos orgânicos e convencionais? Basicamente a forma de produção, que interfere no valor nutricional final dos produtos e no nível de segurança pela ausência de adubos químicos ou substâncias agrotóxicas, muito usadas no cultivo convencional para evitar pragas e doenças, e até mesmo para agilizar o ciclo da produção, como é o caso dos hormônios aplicados nos animais para que eles atinjam mais rápido o ponto de abate.

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Outro ponto positivo para os orgânicos é a boa relação com o meio ambiente. A agrônoma Ieda Rivera explica que as técnicas de produção orgânica incentivam a conservação do solo, da água, reduzem o desmatamento e a poluição atmosférica, além de incentivar a agricultura familiar. “Esse conjunto de coisas é bom para o planeta, para quem produz e para quem consome esses alimentos, porque certamente terá muito mais saúde, em especial quando eles são certificados”, garante, ao explicar que a produção certificada dá garantias ao consumidor de levar para casa produtos 100% orgânicos. Pelo menos 80% dos projetos certificados no Brasil são de pequenos agricultores familiares (cerca de 20 mil agricultores). As associações e cooperativas vêm crescendo e viabilizam a agricultura orgânica em muitas regiões, fixando o homem no campo. Muitas famílias consomem e vendem o que plantam. O sucesso dos orgânicos também pode ser medido pelo ritmo do mercado brasileiro, em franca expansão, com crescimento

Luiza Cavalcante


A advogada Marilena Piedade ensinou às filhas, desde muito cedo, os benefícios da alimentação orgânica, que faz parte do dia-a-dia da família

de 30% ao ano, segundo dados do Instituto Biodinâmico (IBD), um certificador brasileiro reconhecido internacionalmente. Pelo IBD, a produção brasileira ocupa hoje uma área de 6,5 milhões de hectares, colocando o país na segunda posição entre os maiores produtores mundiais de orgânicos, principalmente graças ao extrativismo sustentável de castanha, açaí, pupunha, látex, frutas e outras espécies das matas tropicais, em especial da Amazônia. Por outro lado, o brasileiro ainda está comendo pouco alimento orgânico. Cerca de 75% da produção nacional é exportada, principalmente para a Europa, Estados Unidos e Japão. A soja, o café e o açúcar lideram as exportações. No mercado interno, os produtos mais comuns são as hortaliças, seguidos de café, açúcar, sucos, mel, geleias, feijão, cereais, laticínios, doces, chás e ervas medicinais. Para quem tem dificuldades de reconhecer os orgânicos pela cara, Ieda diz que nos supermercados é mais fácil identificá-los,

em geral por um selo indicativo na embalagem. Além disso, os produtos vendidos nos supermercados e lojas especializadas são todos de produção certificada. Mas também é possível encontrar nas feiras e mercados produtores confiáveis de orgânicos, basta consultar as secretarias municipais de economia ou produção para obter informações seguras. Vivenda A Vida De Belém para São Paulo. O que poderia ser apenas uma viagem entre a capital paraense e a paulista representou a mudança radical na vida do publicitário Eduardo Ferreira. Com uma carreira de 20 anos no mercado paraense de propaganda, ele resolveu mudar de cidade, de atividade e de vida. Passou a trabalhar no comércio de alimentos. Mas ele faz questão de esclarecer: não são alimentos comuns. “Cultivados da forma mais natural possível, sem uso de agrotóxicos e pesticidas que prejudicam a saúde das pessoas –

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Serviços que prestamos

•Serviços de segurança com cães, adestramento com assintência veterinária integral; • Locação de cães com solução de segurança adquada para sua empresa; • Serviços gerais: conservação e limpeza de imóveis, agentes de portaria e outros.

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Produtos orgânicos não são contaminados por agrotóxicos e outros produtos químicos, presentes nos produtos convencionais, alguns considerados cancerígenos. Por exemplo, maçãs convencionais podem conter entre 20 e 30 produtos químicos sintéticos. Contêm maiores quantidades de vitaminas e nutrientes, devido ao crescimento mais lento e menor quantidade de água. São mais saborosos e de aroma mais intenso. Não provocam danos aos ecossistemas, pois são produzidos com práticas ecológicas. Não utilizam produtos geneticamente modificados. Não oferecem riscos da contaminação aos trabalhadores ou à população que vive ao redor das propriedades produtoras. Respeitam o bem estar dos animais, não utilizando, por exemplo, práticas de confinamento. Padrão de qualidade garantido por normas de produção e pela inspeção das agências certificadoras. Mesmo os produtos orgânicos manufaturados não contêm aditivos como corantes, estabilizantes ou conservantes, amplamente utilizados na indústria. E se você ainda não está convencido, saiba que ao comer os orgânicos você está pensando no futuro do planeta e respeitando a natureza.

os orgânicos, que a cada dia ganham mais adeptos.” A certeza de Eduardo talvez explique o sucesso da loja Vivenda A Vida, plantada no bairro do Brás, na zona cerealista da cidade de São Paulo, bem próximo ao Mercadão Municipal. O maior diferencial da loja é a venda fracionada no meio de tantos atacadistas. Nela foram implantados dispensadores de cereais exclusivos, importados dos Estados Unidos e desenvolvidos para eliminar qualquer possibilidade de contaminação por contato humano com os produtos. Uma filial para atender outra área da cidade já está sendo viabilizada, e deve funcionar a partir de agosto. Eduardo prepara junto com o sócio, Geraldo Guimarães Junior, a nova loja na região dos Jardins que, segundo a dupla, terá os mesmos serviços e, além das vendas, vai ofertar também, no Café da Vivenda, a degustação das receitas com orgânicos e as informações e orientações para a prática de uma alimentação saudável. Eles avaliam que a estratégia da Vivenda foi um caminho acertado, já que muitas pessoas querem alimentos mais saudáveis, mas nem sabem por onde começar.

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te que doenças e viroses comuns na infância sempre passaram longe de sua casa. Marilena reconhece que não é fácil ensinar as crianças a ter uma alimentação saudável, já que crianças são propensas naturalmente aos doces e guloseimas, mas a relação da advogada com os alimentos orgânicos começou há mais de 30 anos, quando ela morava em São Paulo, onde também teve a oportunidade de matricular as crianças em uma escola que incentivava o consumo desses alimentos, com lanches de frutas e sanduíches naturais. O resultado é que desde os filhos mais velhos de Marilena, os gêmeos Gabriela e Guilherme, às duas filhas mais novas, Carolina e Érica, todos na casa conservam sua receitinha orgânica favorita. Guilherme, que estava trabalhando na hora da sessão de fotos, é um expert em pão integral, uma unanimidade na família. Já as moças da casa não tiram os olhos – e as mãos – das novidades orgânicas que chegam às prateleiras dos supermercados, como açúcar, café e até achocolatados orgânicos. Elas asseguram que muitas marcas garantem um sabor agradável a esses alimentos. “Uma das preocupações das pessoas é com o gosto, mas alimentos orgânicos não têm gosto ruim, é apenas uma questão de disposição para mudar os hábitos alimentares”, diz Marilena.

Em família Alimentos orgânicos pesam no bolso? Depende, diz a advogada Marilena Piedade, que comanda uma família de “orgânicos”. Ela criou os quatro filhos com alimentação natural e garan-

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intervalo

Farra de Passagem Celso Eluan empresário

Não sei se me espanto mais com as revelações do uso indevido de verbas pelos nossos tão lembrados deputados ou pela reação da opinião pública. Aliás, sendo muito sincero e deixando de lado o politicamente correto, não me espanta nada disso. Só a Velhinha de Taubaté para imaginar que alguém vai gastar milhões numa campanha em troca de um salário, mesmo que seja um ótimo salário. Se multiplicar esse salário por 48 meses ainda assim não atinge uma fração do que se gasta normalmente para se eleger. É como se alguém fosse fazer concurso para Fiscal de Tributos e gastasse milhões em livros, cursinhos, treinamentos, agrados afins. A cada quatro anos. Se é assim, por que nos espantamos com salário de deputado, verba de gabinete, farra de passagens e outros mimos? Tudo isso junto ainda é pouco pro que se gasta na eleição. Portanto, não estamos discutindo o cerne da questão. Pra começar, um político não se elege só, há toda uma organização à sua volta que atua na campanha. É como se fosse uma pequena ou média, às vezes até grande empresa. Depois de eleito, o que fazer com todos esses asseclas? Agradecer e mandar de volta pra casa? A época de estudante vendendo brochinho pra ajudar na campanha do partido acabou e mesmo naquela época não era suficiente. Deixemos a ingenuidade de lado, quem está na campanha tem interesse associado ao candidato e com este atua, com nobres objetivos ou não. Os compromissos de campanha, pessoais, corporativos ou políticos virão cobrar sua fatura na forma de cargos, obras, investimentos, assessorias e tanto mais. Financiamento público de campanha, como se debate no Congresso e na sociedade, não vai resolver nada disso, é mais uma ilusão posta em jogo. Depois de eleito, esses compromissos e parcerias não podem ser descartados, quatro anos depois você precisará novamente deles. Li uma frase lapidar sobre esse processo. Um político alemão disse que eles sabem o que é correto e o que deve ser feito, só não sabem como ganhar a próxima eleição se o fizerem. Simples assim. Quero deixar uma proposta, absurda aos primeiros olhares, mas pelo menos é nova. Vamos tratar cada legislador como uma empresa. Eles se candidatam como se fosse um processo licitatório. Aos olhos da população, quem apresentar as melhores propostas ao menor custo será eleito. Fazemos um contrato de quatro anos com desembolsos mensais com o compromisso de realizar seu trabalho legislativo. Ele gasta como quiser este recurso: contrata parentes, viaja pro exterior, paga assessores, põe tudo no bolso, distribui com os eleitores, enfim, o recurso é seu. No entanto, como uma empresa, deve prestar contas ao fisco, pagar impostos e obter resultados visíveis aos seus eleitores. Ou seja, é tudo igual ao que acontece hoje, só não vamos ficar com essa cara de surpresos e ofendidos, o contrato fica claro, o jogo não precisa de regras escusas. Aliás, pra falar a verdade, daqui a pouco ninguém mais fala nisso e continua tudo como está. Foi mais uma farra de passagem. Literalmente.

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humor

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Ana Danin

Luiza Cavalcante

Stand-up o quê?

Humor de cara limpa feito pelos adeptos do Stand-Up Comedy conquista fãs e espaços nos bares, teatros, casas noturnas, internet...

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magine um tipo de humor feito sem maquiagem, figurino, cenário, piadas, música e, principalmente, sem personagens. Um show onde no palco só existe o humorista, ali, aos olhos de todo o público, de cara limpa e fazendo jus à tão conhecida expressão “dar a cara a tapa”. Assim é o stand-up comedy, uma forma de apresentação surgida nos Estados Unidos que se disseminou pelo mundo, dando origem a nomes consagrados, inclusive no Brasil, onde lá no final da década de 60 já era possível ver apresentações nesse estilo de nomes consagrados como Chico Anysio, Jô Soares e José Vasconcelos. O termo “stand-up comedy” é inglês e significa, literalmente, humor em pé. Os textos são sempre baseados em fatos do cotidiano, temas que criam uma identificação entre o profissional que está no palco e a plateia. O humorista entra e simplesmente começa a contar uma estória, torcendo para que quem a escute ache-a engraçada. E geralmente dá certo. Apesar de antigo, o estilo andou meio esquecido por aqui durante décadas. Até que, nos últimos quatro anos, grupos como o Clube da Comédia, em São Paulo, e o Comédia em Pé, no Rio de Janeiro, apostaram novamente no formato, lotando casas de shows e impulsionando o surgimento de outros grupos por todo o país.

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Marcelo Mansfield, um dos fundadores do Clube da Comédia, comenta sobre a origem da trupe. “Foi exatamente a falta de uma maior exposição desse estilo de humor (stand-up comedy) que nos levou a investir no formato. Muita gente faz show de personagem, tanto no teatro como na TV e em bares, mas essa fórmula está muito desgastada. Quando conheci o Rafinha Bastos e a Marcela Leal, que também estavam de olho no stand-up, resolvemos entrar de cabeça. Eu estava no elenco de um Show de Personagens, mas achava tudo velho, e precisava me reciclar. Então, não tive medo de abrir mão do sucesso garantido que tinha nesse famoso show, pra começar do zero com eles. E deu certo, é só você ver como o stand-up cresceu no Brasil”, recorda. Hoje o Clube da Comédia já não conta oficialmente com Rafinha Bastos. Mas, para tirar do porão o stand-up comedy, foi preciso limpá-lo de toda a poeira e fazer adaptações, como lembra Mansfield. “Os comediantes que nos inspiraram - Zé (Vasconcelos) e Chico (Anysio), mais o Jô (Soares), a Dercy (Gonçalves) - faziam de seus shows um espetáculo. A Dercy sempre estava com um figurino de luxo, o Chico de smoking... nós mudamos a coisa com nenhum figurino ou iluminação. Deixamos de lado o ‘solo’ e partimos pra coisa em grupo. Essa foi a grande diferença... e (também) a fórmula oficial de Set


Sérgio Cunha e Marcelo Mansfield são dois veteranos na arte de fazer rir. Humor de qualidade se alimenta de doses e mais doses de criatividade

Up (preparar) e Punch Line (atirar a piada) que eles faziam por intuição, e não pelo formato oficial, não seguindo uma regra”, explica. Apesar de lançarem grupos, cada humorista ou comediante sobe no palco sozinho, respeitando a fórmula original do stand-up comedy. A diferença é que, como são vários profissionais se alternando no palco, os shows ganham em versatilidade. O público aprovou o stand-up comedy tupiniquim, remodelado para o século XXI, e as apresentações ganharam representantes em vários Estados. Em Belém, o surgimento do Clube da Piada, um espaço específico para as apresentações de humor, há um ano, foi decisivo para o lançamento de talentos locais, inclusive os adeptos do humor em pé. O Clube da Piada foi lançado pelo ator e humorista paraense Sérgio Cunha que, mesmo já sendo reconhecido nacionalmente, fez questão de apostar numa casa de shows local e não se arrependeu. “Aqui em Belém está se fazendo humor com qualidade. Os humoristas podem ir para o Rio, ou São Paulo, sem fazer feio”, garante. Foi no espaço criado por Sérgio Bastos que os rapazes do Em Pé na Rede, o primeiro grupo de stand-up comedy do Pará, tiveram a oportunidade de mostrar seu trabalho pela primeira vez, caindo no gosto do público. “O jovem paraense era desprovido de um representante, de alguém que falasse o que você queria falar. Daí o

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sucesso do Em Pé na Rede”, avalia, Sérgio. O grupo paraense é formado por cinco jovens, todos universitários, com idades entre 19 e 23 anos: David Mansour, Rominho Braga, Osmar Julio, Murilo Couto e Victor Camejo. Desde a primeira apresentação, em 13 de junho de 2008, eles já deram vários passos de amadurecimento, tanto em grupo, quanto individual e hoje fazem apresentações semanais de stand-up comedy em um bar da cidade e praticamente mensais no teatro Maria Sylvia Nunes, na Estação das Docas, além de serem os criadores da personagem Tarcísio, quadro fixo na programação da Rádio Jovem Pan Belém. Osmar explica que a falta de recursos que ajudem a prender a atenção do público é o grande desafio para quem sobe ao palco em um show de stand-up comedy. “É uma arte muito pura. Pode ser o cara mais famoso, mas se ele não ganhar o público nos primeiros minutos, não ganha mais. Qualquer um pode criticar a gente. Se o público não rir, a gente sabe que não gostou. A resposta é na hora”, comenta. “Em Belém, a cobrança por novos textos é muito grande. E um texto leva semanas, até meses pra ficar pronto. A gente vai adaptando, testando o texto a cada apresentação”, completa. Sérgio Cunha também destaca a peculiaridade do público brasileiro, principalmente o de Belém, quanto à cobrança por novos tex-


www.clubedacomedia.com.br www.comediaempe.com.br www.empenarede.com.br O Clube da Piada fica na travessa Piedade, entre as ruas Tiradentes e Henrique Gurjão. Tel: (91) 3242-5243/9167-7525 O Em Pé na Rede se apresenta às quartasfeiras no Boteco São Matheus, na travessa Padre Eutíquio, próximo à praça da Bandeira.

Em pouco tempo de existência, o Em Pé na Rede já conseguiu espaço para apresentações em teatros, bares e rádios de Belém

tos. “Lá em São Paulo pelo menos tem uma rotatividade (de público) muito grande. Em Belém, o público ainda e muito restrito, aí começa a pressão. Às vezes, os americanos ficam um, dois, três anos com o mesmo texto. Aqui é diferente”, explica. E é justamente por conta do desafio de estar sempre com novos textos que o profissional do stand-up comedy pode cair numa armadilha mais comum do que muitos imaginam. “O brasileiro é infalível: ele dá uma repaginada na piada e transforma em estória. Vão ‘me matar’ por causa disso, mas é isso: de cada dez shows (que dizem ser de stand-up comedy), oito têm alguma coisa de piada adaptada”, garante o humorista, com a experiência de quem já passou 24 horas inteiras contando piadas. “O brasileiro foi criado com piada pronta. Como não cair nessa armadilha? É esse desafio que o stand-up propõe”, completa, destacando o Comédia em Pé e o Clube da Piada como que grupos fazem shows mais próximos da essência do estilo. Mas, o que pode parecer apenas uma crítica é, na verdade, um reconhecimento à criatividade do brasileiro. “Aos poucos, as pessoas estão colocando também alguns recursos, seja a música entre uma apresentação e outra, ou algo na iluminação. Eu não acho isso ruim, não. Eu acho que tem mesmo que modernizar - senão fica que nem a Igreja. O stand-up no Brasil, cada vez mais vai ganhando a cara

brasileira”, afirma Sérgio. “A discussão do que é ou não é stand-up é pouco relevante para a plateia. O que as pessoas querem mesmo é rir e o stand-up é muito positivo porque trouxe trabalho pra muita gente com talento, mas que não sabia contar piada, não tinha onde se apresentar”, ressalta. E fazer rir é a essência do trabalho de todos os grupos. Afinal, o brasileiro é um povo reconhecido mundialmente pela alegria. “A gente tenta criar textos com os quais todas as raças e credos se identifiquem. Às vezes faz sucesso num show, no outro nem tanto”, lembra Rominho, do grupo Em Pé na Rede. Murilo e Victor dizem que o grupo paraense já pensa em novos caminhos, apostando não só no stand-up, como nas apresentações de improviso. “Aos poucos também vão surgindo novos talentos (em Belém). É bacana, tem que movimentar a cena por aqui também”, destaca Murilo. Para quem quer começar a trabalhar com o humor, Marcelo Mansfield, do Clube da Comédia, dá um conselho. “Trabalhar muito, estudar muito... palco não é pra qualquer um. Tem que ter concentração - quem não tem um mínimo de estudo teatral, não segura a onda por muito tempo... é preciso ter técnica, saber fazer comédia mesmo quando saiu de um velório... precisa de alguma direção e muita disciplina”, garante. “Se estiver ‘no sangue’, é fácil. Se não, tem que estudar muito”, conclui Sérgio Cunha.

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entrevista

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Ronaldo Bressane

Poderoso

chefinho Mauricio de Sousa comemora 50 anos de carreira planejando um museu, inaugurando parques temáticos - um em Belém - e preparando, em família, a sucessão nos negócios

“V

ocê é um desenhista ou um empresário?” Silêncio. Mais silêncio. Silêncio que se arrasta por uns dez segundos. “Boa pergunta”, responde afinal Mauricio de Sousa, um pouco estupefato, como se em lugar disso o repórter tivesse perguntado ao Cebolinha: “Você é um homem ou um lato?”. Foi das raras vezes em que o vaidoso baixinho denunciou alguma insegurança em sua autoconfiante pose. “Boa pergunta...”, refletia. Antes de conversar com a Living, o pai da Turma da Mônica havia passado algumas horas com um grupo de estudantes – ele é tema de inúmeras teses de mestrado e doutorado – em seu amplo escritório sem janelas no edifício da Mauricio de Sousa Produções, onde outrora funcionava a editora Abril, na Lapa paulistana. Como não vai todo dia ao estúdio, o paulista da pequena Santa Isabel, um workaholic que dorme no máximo 5 horas por dia, maximiza o tempo com múltiplos afazeres. Sempre equipado de um sorriso infantil (e quando deixa de sorrir o desenhista dá lugar a um empresário de semblante quase mafioso), concede todas as entrevistas que consegue, revisa capas de suas revistas, confere esculturas de seus personagens que habitarão um

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futuro museu e dá bronca num funcionário que havia pendurado um quadro sem simetria (“Pode uma coisa dessas, no estúdio de um desenhista um quadro torto?”, brincava). Ora ou outra interrompia o papo para assinar contratos intermináveis – aliás, aviso aos falsários: sua rubrica não tem nada a ver com a assinatura imortalizada ao fim de tantas HQs criadas ao longo de 50 anos. Isso mesmo, meio século. Bidu, Cascão, Cebolinha e mais “300 ou 400 personagens”, como ele contabiliza, estão aí há tanto tempo que parecem acidentes geográficos na paisagem cultural brasileira – há até críticos que colocam a Mônica no mesmo patamar de Gabriela, Capitu e Iracema como nossos mitos fundadores. Em 2008, essa família apareceu de cara nova: o resultado estremeceu o mercado editorial e devolveu a marca Mauricio de Sousa à ordem do dia. Prevista para uma tiragem inicial de 50 mil exemplares, a Turma da Mônica Jovem, que “adolesceu” o universo de personagens em um ambiente visual de mangá, chegou à circulação de 405 mil. É a segunda revista mais vendida no país. Os puristas criticam o redesign da Turma (que continua a ser publicada exatamente como há 50

Divulgação


Mauricio de Sousa é dono de um verdadeiro império, construído ao longo de 50 anos de trabalho. Nos detalhes, com as filhas, que inspiraram algumas de suas personagens mais famosas

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anos, desenhada pelos mesmos artistas, vendendo em média 200 mil exemplares). Estranham que Cebolinha, agora Cebola, tenha passado por uma fonoaudióloga e não cometa os mesmos elos, ops, erros, que Cascão se transforme em skatista radical e até conceda tomar banho de vez em quando, que Magali seja adepta da malhação... Há ainda quem reclame que as belas meninas da Turma Jovem sejam sensuais, ou que as histórias abordem temas pouco infantis. “As meninas apenas têm um corpo bonito; eu nunca ia deixar que parecesse algo erótico. E hoje sexo, drogas e violência fazem parte de qualquer conversa familiar. É preciso parar de tratar as crianças como seres inferiores, sem senso crítico”, refuta Mauricio. Sobre o sucesso, diz que pode ter surpreendido o mercado; ele, não. “Podemos vender 700 mil e bater a Veja!”, desafia Mauricio, com as sobrancelhas eretas de sempre.

O fenômeno amparou as novas aventuras do maior estúdio de cartum infanto-juvenil do país – mundialmente, uma franquia só comparada aos universos Disney, Asterix ou os mangás japoneses. E duas novidades têm a ver com o Pará. Ao lado dos Parques da Mônica de Luanda e Lisboa, em plena construção, o desenhista irá lançar um Parque da Mônica em Belém em 2010. “A entrada da Amazônia é estratégica para nossos planos. Além disso, eu gosto demais da cidade...”, afirma Mauricio, que aproveita para contar uma passagem inusitada por Belém. “Uma vez teve um probleminha com a organização da sessão de autógrafos em uma Feira do Livro... Resultado: fiquei desenhando 7 horas seguidas para a criançada, sem me levantar da cadeira. Meu recorde. Só que, lá pelas tantas, de tão cansado eu comecei a trocar a cabeça da Mônica pelo corpo do Cebolinha... Aí o pessoal arranjou um negócio para eu levantar: um guaraná chamado Garoto. Dali a pouco não queria parar: o público vinha e eu já desenhava 3 personagens de uma vez. Saí, fui para o porto, me trouxeram um peixe delicioso, chamado filhote, um peixinho de uns 100 quilos... depois do jantar eu continuava tão aceso que passei a madrugada conhecendo a cidade!”, lembra. A outra aventura é uma história da Turma da Mônica Jovem a ser ambientada no Pará. “Vai ser a primeira edição internacional da nossa revista. Só não posso detalhar o projeto, se não cai o mundo...”, segreda. O sucesso do “mangá mestiço”, como Mauricio define a Turma Jovem, se tornou plataforma de lan-

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çamento para inúmeros projetos – como um centro cultural onde funcionará seu museu, séries de desenhos animados e uma parceria educacional com o governo chinês. Quando Mauricio começa a enumerar suas proezas à frente de uma linha de montagem que engrena 500 profissionais diretos e 30 mil indiretos, cujos produtos licenciados geram US$ 2 bilhões por ano, até nos esquecemos do artista de carne e osso que recentemente sofreu com o seqüestro da mulher e do filho caçula. Ou do senhor de 73 anos, pai de dez filhos com quatro mulheres, avô de onze netos e um bisneto, que se recusa a crescer e sequer se interessa por qualquer tipo de arte que não seja infanto-juvenil. “Como é que eu quero ser visto, desenhista ou empresário? Sabe, eu fui repórter, e o jornalismo tem uma face prática que me abriu a cabeça para sentir que a gente precisa criar e também saber fazer marketing, para não esconder na gaveta uma coisa maravilhosa. Sempre segui o conselho do meu pai: ‘Desenhe de manhã e à tarde gerencie o seu produto’. Então eu acho que sou apenas um desenhista que soube administrar o próprio trabalho”, responde, afinal. A seguir, o leitor tem acesso à conversa da Living com o criador dos personagens infantis brasileiros mais populares em todos os tempos.

“Recebo cerca de 300 e-mails por dia, não saio de casa sem o Blackberry, nem desgrudo do computador. Meu trabalho hoje é cada vez mais de consultor dos meus criadores. Leio roteiros, indico caminhos, peço mudanças nos desenhos, confiro se a filosofia do nosso trabalho está toda lá. Nunca criamos um código de ética: não existem ‘policies’ na Turma da Mônica. Mas a nossa filosofia é uma espécie de constituição não-escrita. [Nesse momento, entra na sala um desenhista para aprovar uma capa da Mônica Jovem – um tema que mistura futebol e ficção-científica. “E aí, mestre, tudo certo?” É o primeiro funcionário que percebo chamá-lo por “mestre”. Mauricio aprova e elogia o trabalho do arte-finalista, mas pede que um dos braços do robô não fique tão perto do logotipo da Mônica.] Antes eu pegava na mão do pessoal e ensinava: agora, você vê, eles já chegam sabendo. Todos os estúdios no mundo têm um código. Mas se eu fizer um manual aqui, vou engessar a criação do pessoal. Prefiro deixá-los soltos e aí vou corrigindo aqui e ali. Aliás, eles não vêm mais ao estúdio – trabalham em Porto Alegre, Ribeirão Preto, Florianópolis, uma vez por mês é que nos reunimos para conversar.”


Magali, Mônica, “Cebola” e Cascão: ícones remodelados para a nova geração renderam um estrondoso sucesso e a volta da marca Mauricio de Sousa aos holofotes

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“Desde o começo tive um planejamento estratégico para a Turma da Mônica. Eu gosto do que faço e quero continuar fazendo. Desde quando era repórter policial já fazia isso – e trabalhei como repórter por 6 anos. Em 1959, quando saiu a primeira tira, eu já pensava a distribuidora de tiras: no fim da década de 60, republicava minhas tiras em 300 jornais. Nos anos 70, lancei a primeira revista. Nos anos 80, comecei a fazer desenho animado, mas precisei parar por conta da crise. Nos anos 90, fiz os primeiros parques temáticos. Nos anos 00, iniciei os desenhos animados para TV – temos seis horas inéditas –, voltados à internacionalização: desenhos para Turma da Mônica, Penadinho, Astronauta, um longo-metragem da Turma da Mônica, Romeu & Julieta, e ainda o Horácio e o Chico Bento em computação gráfica. E também vamos fazer o Ronaldinho Gaúcho, que é republicado em 32 idiomas, enquanto a Turma sai em 20 idiomas pelo mundo. Já a década de 10 vai ser da educação. Os anos 20 provavelmente serão do boom tecnológico, vamos inventar umas coisas que não existem, estão na minha cabeça, tem uns protótipos... vão demorar um tempo pra sair, não posso falar. Nosso marketing é estilo escada, um degrau depois do outro. Nossa atividade tem possibilidades ilimitadas.”

“Nossa mensagem ligada a ética, comportamento e valores chamou a atenção do governo chinês, que nos convidou a participar de um projeto a atingir 180 milhões de crianças. É preciso investir mais em educação: se fizerem isso, o Brasil explode. Já tentei bastante entrar no governo para fazer um projeto grande como esse da China, mas parece que não tenho a chave certa [risos]... Na China não serão usados cadernos e livros, senão acabariam com uma floresta todo dia [risos]: é tudo via web. Alguns nomes eu tive de fazer adaptações: o Cebolinha, por exemplo, virou Cinco-Fios...”

“Há muito tempo queria fazer uma história com o pessoal adolescente. Foi durante o centenário da imigração japonesa que acabei percebendo como o mangá domina o mundo da HQ e da comunicação. E o meu leitor, aquele de uns 10, 11 anos, muito por conta do encolhimento da infância – não existe mais pré-adolescência, eles já migram direto! – olhava meu desenho e dizia: “Isso é coisa de criança”. Aí

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percebi que gostavam de mangá e resolvi juntar as duas coisas num desenho mestiço. Foi uma coisa planejada, não foi um insight. No gênero, é a revista mais vendida do mundo. A partir do ano que vem, vai ter uma segunda revista no mesmo gênero: o Chico Bento Jovem. Talvez nem seja do jeito mangá, e sim em um novo estilo, sempre falando mais de meio ambiente. Os chineses adoram ele...”

“Estou fazendo um livro com as páginas policiais que eu transformava em HQ na Folha de S.Paulo dos anos 50. Vamos buscar coisas inéditas. E tenho uma biblioteca com todos os originais de todos os tempos, tudo o que foi publicado eu guardo a sete chaves. O museu Mauricio de Sousa vai fazer parte de um complexo cultural com escola de artes, cinema, teatro, sala de espetáculos. Como estou com a corda toda, ainda trabalho bastante. Mas vai ter uma época que a gente vai deixar de trabalhar... já estou começando a delegar. Minha filha Marina vê roteiro comigo, o Mauro entrou para expandir a área de teatros, o Maurício vai mexer com produção de músicas, Vanda e Valéria trabalham na área de eventos internacionais e projetos especiais, a Mônica é diretora comercial, a Alice Takeda, minha mulher, é a diretora do estúdio, o meu irmão Márcio, o criador do Louco, que já compôs mais de mil canções, cuida da música, netos já estão começando... onde tiver um Sousa no expediente pode crer que é da família [risos]. E também há funcionários com mulheres, filhos, nepotismo não é proibido. Isso dá uma fidelização da turma. Temos funcionários com 40 anos de casa. Difícil é entrar...”

“O sequestro do Marcelinho, meu filho de 10 anos, foi uma coisa muito difícil. Nunca tinha sofrido nenhuma violência, assalto, furto, nada. Durante uns dois ou três dias fiquei meio solto no ar. Não sabia para que lado ia. Depois assentei a cabeça e o coração e resolvi seguir meu temperamento – que é de achar que tudo vai dar certo e vai terminar bem, vamos resolver e nada vai acontecer de mal. Me vesti com essa sensação de confiança e atravessei mais ou menos inteiro os 20 dias de sequestro. O sequestro foi em São José dos Campos, quando eles estavam visitando o avô dele. Foi tudo planejado. Alguns foram presos, outros sumiram. Nunca negociei com eles: desde o começo falei com a polícia. Tinha um negociador, um amigo advogado. Eram criminosos que não tinham trabalhado nisso antes. Felizmente o Marcelinho não ficou com nenhum trauma – até por ter ido com a mãe, se sentiu protegido. Hoje, tenho


O dinossauro Horácio na prancheta. Ninguém além do próprio Mauricio é autorizado a desenhar a personagem

mais dois seguranças. E quando as crianças vão para algum lugar desconhecido eu mando segurança também. É um dos crimes mais doloridos que existem: você fica no ar e não sabe o que fazer.”

“Tudo o que é best-seller eu leio. Agora vou ler o Crepúsculo, da Stephanie Meyer. Vou com o Marcelo a lançamentos de todos os filmes, vejo tudo, me interessa ver como ele reage. Mas nunca tive uma vontade de fazer um personagem emo. Não acredito nisso! O instinto de sobrevivência é o mais forte que existe. Aquele cara desanimado, o universo brigando para enterrá-lo, triste... só pode ser um momento de fraqueza; no interior, ninguém é assim. Essa tribo de emos é moda. Não acredito em ninguém normal que queira se destruir e não queira viver um momento feliz.”

“Nunca quis fazer literatura adulta porque não sei. Pra isso, você tem que entrar nos escaninhos meio danificados da mente humana. E eu não quero mexer nisso. Saí da reportagem policial porque para ser um bom jornalista teria que baixar a bola e entrar no submundo – ter contato com bandido, traficante, desordeiro. Não era isso o que eu queria. Prefiro falar para a criançada, que é onde existe esperança. O adulto já está danificado. Eu teria que falar de assuntos sór-

Ronaldinho Gaúcho: craque em tirinhas

didos e desagradáveis numa literatura adulta, fazer um Nelson Rodrigues... não é a minha. Prefiro ficar do lado de quem está escolhendo caminhos.”

“O universo nos criou com livre arbítrio para usar ou não. Fazer metas para alcançar a felicidade e espalhar alguma coisa de bom faz parte da natureza humana. Se eu fosse vendedor de livro de auto-ajuda, ganhava um dinheirinho [risos]... Nas histórias eu jogo um pouco disso: os personagens sempre resolvem seus problemas, não ficam preocupados. O ser humano deveria ser assim: tem um problema insolúvel? Deixa pro dia seguinte, que você vai observar de outro ângulo. Não acredito em sorte; acredito em oportunidade. Estar no lugar certo, na hora certa, passa algo e você aproveita, é um acidente feliz. Só não acredito em nada acidental. Acho que tem toda uma armação por trás... mas não é destino. Não creio em nada que vem do céu. Sou um católico brasileiro, porque na minha família tinha kardecista, budista, evangélico, tinha tudo, ia à sessão espírita, coral da igreja batista... Essa filosofia acabou passando para o Horácio, o dinossaurinho que quer ajudar o próximo e até tem compaixão pelo dinossauro que quer devorá-lo. É por isso que é o único personagem que até hoje só eu pode escrevê-lo. Aliás, estou devendo umas histórias dele...”

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cultura

Os famosos arrastões promovidos pelo Arraial do Pavulagem já viraram uma instituição da capital paraense

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Debora McDowell

Na maior

Eunice Pinto/Agência Pará

pavulagem Arraial do Pavulagem completa 22 anos de um trabalho que mescla cultura e conscientização na dose certa

T

udo começou com cerca de 20 pessoas. Artistas, músicos e compositores paraenses que se reuniam todo domingo do mês de junho, levando à Praça da República a música de raiz feita na Amazônia. Nada de grandes pretensões ou encargos. Mas essa história pertence ao ano de 1987, bem antes do Arraial do Pavulagem fazer com que 20 mil pessoas saíssem de suas casas para assistir a um espetáculo de sons e ritmos, que inunda de gente alguns espaços da cidade, três vezes ao ano. Tynoco Costa, Nego Nelson, Ney Conceição. Esses e outros nomes famosos da música paraense já passaram pela banda do Pavulagem. A musicalidade do grupo teve como fonte uma pesquisa sobre o Boi Bumbá, realizada por Ronaldo Silva, que junto com Júnior Soares, permanecem nessa história desde sua origem. O que realmente começou como uma “pavulagem” - neologismo originário de pavão, que na linguagem popular tem o significado de “o que gosta

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de aparecer” ou o fanfarrão –, com o passar dos anos foi tomando grandes proporções, ao ponto de surgirem outras necessidades e responsabilidades. A banda, que atualmente conta com sete músicos e mais uma imensidão de colaboradores, realiza três cortejos anuais. Desde 2003, é realizado, no mês de janeiro, o Cordão do Peixe-Boi. É a atividade que abre o calendário do Arraial do Pavulagem, antecedendo ao carnaval e transformando o bairro da Cidade Velha e o centro comercial em um grande mar de peixes fora d’água. Os tradicionais cordões de bichos levam à rua os elementos relacionados ao seu tema. Neste caso, máscaras que remetem a seres encantados da natureza, o boneco do Peixe-Boi, peixes e outros animais deste cenário. Alguns meses depois, no primeiro domingo de junho, acontece o já célebre Arrastão Junino. O mastro de São João é transportado via Baía de Guajará, da Praça Princesa Isabel à Escadinha da Estação das Docas, de onde parte até a Praça da República. Os


santos da época, os tradicionais “cabeções” e adereços relativos à festa junina fazem parte dos grupos do arrastão, que enchem a praça de cor e gente. Fechando as atividades do ano, é realizado em outubro o Arrastão do Círio, que já faz parte das várias etapas da festa religiosa. Ele percorre as ruas do centro histórico de Belém, após a chegada da imagem da Virgem de Nazaré pela romaria fluvial. Os milhares de brincantes mesclam-se às imagens e aos brinquedos de miriti que fazem parte do cortejo. Há ainda uma grande cobra feita do mesmo material, que faz alusão à corda dos promesseiros da procissão do Círio. O trajeto encerra com uma grande festa na Praça do Carmo, com apresentação da banda. Eis o lado profano do ritual religioso. Ao participar de qualquer uma destas festividades, é possível notar a grandiosidade da coisa. É um mundo de onde podemos extrair um olhar musical, plástico, social e até mesmo fashionista, visto que até a identidade visual do Pavulagem já foi tema inspirador no ramo da moda. Com todas essas proporções, foi preciso atentar para outras necessidades que não só a da preservação cultural. Em 2003 foi criado o Instituto Arraial do Pavulagem, que tem como consultores Walter Figueiredo, Ronaldo Silva e Júnior Soares. Organização sem fins lucrativos, que propõe leituras contemporâneas através destas diferentes linguagens artísticas, como a música, dança, literatura, plasticidade e visualidade cênica. A partir daí, começou a ser trabalhado também o lado social do negócio, associando os cuidados com o impacto cultural e ambiental ao trabalho por eles realizado. Atualmente, há toda uma preocupação com a questão ambiental dos espaços que servem de palco para as festividades. Em parceria com o governo municipal e a Associação dos Catadores de Lixo do Bairro da Pedreira, o serviço executado é semelhante ao que acontece no Círio, pelas ruas de Belém. Assim que o cortejo passa, os garis entram em ação logo em seguida, para recolher os detritos. Além dessa coleta, é preciso orientar também o público para que conservem estes locais. E

assim é feito. Durante o evento, a própria banda orienta tanto as crianças como adolescentes e idosos a conservarem estes espaços. Além disso, já está sendo implementada uma medida que substitui o uso do copo descartável pela cuia durante os arrastões. A partir do momento que é reutilizável, ela evita que quilos e quilos de lixo acabem nas ruas e calçadas. Outra necessidade atentada pela organização do Arraial do Pavulagem foi uma maior disciplina na comercialização de bebidas alcoólicas. Centenas de ambulantes disputam espaço com o próprio público, o que acaba causando certo desconforto. Com o apoio do governo estadual e do Juizado de Menores, já conseguiram algum avanço ao determinar um cinturão de proteção, que delimita o espaço em que estes ambulantes permaneceriam. O Instituto realiza também trabalhos culturais nas ruas. As oficinas que antecedem aos ensaios dos cortejos não têm como intuito somente ensinar os participantes a tocar algum instrumento. Elas pretendem desenvolver ações articuladas que proporcionem aos participantes uma visão mais completa de arte, que amplie o olhar para o canto, a dança ou para a percussão. O projeto “Ponto de Cultura Arraial do Saber” é patrocinado pelo Ministério da Cultura e já atendeu cerca de 150 pessoas. Além de todas as medidas administrativas, projetos e identidade visual que já são marca registrada do Arraial do Pavulagem, depois de 22 anos, todas as ações ainda são orientadas pela música, que é a essência do grupo. São sete álbuns lançados, que mostram como a fonte em que a banda bebe é sem dúvida o carimbó e outros ritmos amazônicos. Mas, ainda sim, já inseriu instrumentos contemporâneos, como a guitarra, que se destaca no trabalho atual. São anos e anos de uma iniciativa que só faz crescer. E podese falar no sentido material da palavra. A cada cortejo, são “arrastadas” cada vez mais e mais pessoas. De fato, não há melhor definição do que “pavulagem” para o ato de fazer milhares de sujeitos se espevitarem ao ouvir música regional de qualidade nesses tempos de hits descartáveis.

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Histórias de gente comum - ou não Tem gente que dá risada ao descobrir que meu filme predileto é “Forrest Gump – o contador de histórias”. Acham engraçado que, entre tantos clássicos da Sétima Arte e diretores geniais, tenha me apegado a um filme “pipoca” centrado na trajetória de um figurão de imaginação fértil (será?). Mas a verdade é que obras deste tipo não precisam de grandes floreios: o que faz muito marmanjo chorar ao acompanhar a vidinha do protagonista de Tom Hanks – e me incluo de antemão neste grupo – é justamente a simplicidade com que ela é contada. O conteúdo implícito, as lições de vida, os questionamentos pertinentes – tudo aparece aos poucos, sem que ninguém precise quebrar a cabeça para entender o que diabos fulano quis dizer com aquele take no minuto sei-lá-qual do filme. Está tudo ali, nas linhas gerais, sem heroísmos desnecessários. Deliciosamente simples – e emocionante. A mesma sensação pode ser experimentada em dois filmes que receberam os holofotes da crítica nesta primeira metade do ano. De um lado, “O curioso caso de Benjamin Button” e seu improvável protagonista que nasce velho e morre bebê. De outro, “Quem quer ser um milionário?” e seu também improvável garoto pobre da Índia que concorre a rios de dinheiro em um quiz televisivo sem saber quase nada da vida. Deixando de lado as diferenças de orçamento, contexto e ambientação geral – não vamos comparar os subúrbios gringos às favelas de Mumbai, por favor! –, cada qual tem uma pitada do cinema-pipoca dotado de qualidade artística que figura em “Forrest Gump”. Não é à toa que ambos saíram com estatuetas do último Oscar, sob o aplauso dos críticos mais caretões da Academia. Ao dar de cara com a sinopse de “O curioso caso de Benjamin Button”, qualquer um se assusta. É a adaptação mais colorida de um conto de Francis Scott Fitzgerald, expoente da literatura “maldita” norte-americana que, em plenos anos 1920, inventou a história de um homem que nascia enrugadinho – de velhice – e morria conforme chegava à juventude. Para a conversão à telona, um time de primeira foi convocado: o diretor David Fincher (“Seven”, “Clube da luta”), os astros Brad Pitt e Cate Blanchett, dois roteiristas-adaptadores de renome (coincidência ou não, um deles, Eric Roth, trabalhou em “Forrest Gump”). E claro, a mão firme dos empresários de Hollywood, que garantiram uns US$ 150 milhões em orçamento. Bem que tentaram, mas todo o clima de superprodução – a transformação impressionante dos atores com o tempo, as pai-

Guto Lobato jornalista

sagens, os efeitos – não supera a beleza do texto. E isso não é vergonha alguma. É nos pequenos detalhes do roteiro que a obra se sobressai. Da mesma forma que em “Forrest Gump”, o ar de realismo fantástico impera durante a narrativa, não só por conta do bizarro quadro clínico de Button, mas também pelas situações improváveis que vive. Não por acaso, o pano de fundo de um romance tardiamente concretizado, tal qual o de Gump e sua amada Jenny, ressurge aqui no casal Daisy-Benjamin. Os efeitos são parecidos: ao final, mesmo os mais durões tendem a chorar diante da telona. E a famosa lição do amor-que-tudosupera dá as caras, só que sem nenhum ar de pieguice. A diferença de “Quem quer ser um milionário?”, nesse sentido, é sua ambientação levemente – não essencialmente – politizada. O cenário sofrível das favelas da Índia em plena modernização contrasta com a história de Jamal (Dev Patel), garoto pobre e órfão que serve chá em uma empresa de telemarketing e, de repente, fica milionário ao chegar à final do quiz de um programa de TV popularíssimo na Índia – um “Show do milhão” mais glamorizado, por assim dizer. Com um orçamento pífio de US$ 15 milhões em mãos, o diretor Danny Boyle (é, aquele de “Trainspotting”) preferiu ir ao país, catar o elenco nas favelas de Mumbai e fazer as externas naquela ambientação suja, rústica, caótica. Ficou lindo, esteticamente. Mas a proposta de narrativizar a miséria, que em muito influenciou no sucesso do filme, não supera o climão lúdico e a simplicidade com que o argumento é construído. No final das contas, as desventuras de Jamal têm aquele pé na imaginação que tanto nos fascina: mesmo com tudo dando errado, ele chega lá. E chega da maneira mais bela possível: a partir de suas vivências, de seu conhecimento adquirido em uma vida sofrida e de perseverança. De 1994 a 2009, muita coisa já mudou, mas a essência fica. É bom ver que o tempo passa e as histórias de gente comum – nem tão comum assim, na verdade... – estão em destaque no cinema comercial sem aquele enfoque heroico e enfadonho de antigamente. Sinal de que o hábito que temos de nos emocionar com o simples, seja no conto ou na fábula, continua firme e forte, assim como a genialidade de alguns criadores do cinema recente. Já deixei o preconceito de lado e adicionei os dois “queridinhos do Oscar 2009” à minha lista de filmes intocáveis, logo ao lado de “Forrest Gump” (acima, jamais). Implicante é aquele que também não o fizer.

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Música

A Cor do Som – Ao Vivo em Montreux (1978) Eis aqui uma prova da maestria da música brasileira e seus vários ritmos. Aproveitando o sucesso de seu primeiro álbum, homônimo, lançado um ano antes dessa apresentação, A Cor do Som entrou no palco da 12ª edição do Festival de Jazz de Montreux para uma apresentação histórica em 1978. Saída do mesmo núcleo musical dos Novos Baianos, o grupo formado por Dadi, baixo; Armandinho, guitarra baiana; Mu, teclados; Gustavo Schroeter, bateria; Ary Dias, percussão; e contando com o reforço de Ari, também na guitarra baiana, o grupo nos apresenta um repertório com grande ênfase nos ritmos nordestinos – em roupagem elétrica e vigorosa - e com bastante espaço e liberdade para as melodias da guitarra baiana de Armandinho. Frevo, baião, afoxé, cabinda e samba podem ser percebidos no som do conjunto, que ainda faz uma contagiante versão, em ritmo de frevo alucinante, de Eleanor Rigby - canção composta por Lennon e McCartney. Somente pela audição do álbum podemos ter noção da recepção do público a essa gama de ritmos suingados e variados. As palmas e gritos são bastante frequentes ao longo do disco, evidenciando que a música brasileira é realmente de grande apreciação no mundo todo. Registro impecável de um show antológico. Confirmando mais uma vez que a música de nosso país é sublime.

Marcelo Viegas Músico

*da redação

U2 No line on the horizon

Editors An end has a start

Caetano Veloso Zii E Zie

O Teatro Mágico Segundo Ato

Ao contrário do que o nome pode sugerir, “No line on the horizon”, o novo CD da megabanda U2, não é um álbum melancólico, daqueles que têm cara de despedida somente para fãs. Pelo contrário: é um novo começo para o grupo irlandês, que já acumula 25 anos de carreira e uma penca de discos aclamados no cenário musical europeu. Os “coroas” Bono Vox (vocais), The Edge (guitarra e teclado),

Não soaria estranho e nem exagerado dizer que os ingleses da banda de pós-punk Editors, pouco conhecidos no Brasil, mas figurinhas carimbadas nos festivais europeus, são o Joy Division da atualidade. Em seu segundo álbum, “An end has a start”, o vocalista e guitarrista Tom Smith, com sua voz grave e agressiva, entoa canções que vão da tristeza profunda à banalidade com excelente apuro técnico e criatividade. Dentre as faixas depressivas, o grande destaque fica para “The weight of the world”, com trechos como “Keep a light on those you love/ They will be there when you die” e “There are tears in my eyes/ love replaces fear”. Além desta, não deixe de ouvir “Smokers outside the hospital doors”, “When anger shows” e “Escape to nest”, de qualidades inquestionáveis.

É difícil encontrar na MPB figura que ostente inquietude semelhante a de Caetano Veloso. De ano em ano, este baiano não tem medo de renovar o leque de influências, muitas vezes de forma surpreendente até mesmo para seus fãs mais cativos. Neste “Zii e Zie” (que significa “tios e tias” em italiano), lançado há pouco no mercado brasieiro, não é diferente. Acompanhado de um grupo de roqueiros trintões de ar meio Los Hermanos, Caetano investe em um samba-rock com pegada pop de primeira, como se vê em “Menina da ria”, “Sem cais”, “Diferentemente” e “A cor amarela”. A tentativa, é verdade, pode soar forçada às vezes – basta ouvir as pretensiosas “Base de Guantánamo” e “Falso Leblon” para entender –, mas nada com o que não se acostume após algum tempo.

Depois de fazer sucesso no meio virtual e ganhar espaço na grande mídia com melodias muito bem arranjadas e letras poéticas, a trupe de O Teatro Mágico revelou neste seu segundo álbum, intitulado “Segundo Ato” (2008), um tímido amadurecimento. A temática amorosa cede lugar às mazelas do mundo atual, que assumem a forma de doces poesias embaladas por um ritmo gostoso. As famosas declamações poéticas do vocalista e idealizador do grupo Fernando Anitelli ganham, agora, um tom mais sério, chegando à beira do niilismo, como em “A metamorfose ou os insetos interiores ou o processo”. “Segundo Ato”, com destaque para as músicas “Cidadão de Papelão”, “Pena”, “Abaçaiado” e “Mérito e o monstro”, é um convite a uma viagem sinestésica e envolvente.

Adam Clayton (baixo) e Larry Mullen Jr. (bateria) investem no bom e velho rock europeu com referências de música pop, só que com um pé a mais no “climão” épico já visto em álbuns como “The Joshua tree” e “War”. Algumas canções, como “Magnificent”, “Unknown caller”, “Fez-being born” e “White as snow” obedecem à proposta de retorno às raízes e devem entrar nos sets ao vivo do grupo.

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Livros

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Alvaro Jinkins jornalista

O Beijo da Chuva - Editora Amazônia A escritora paraense Wanda Monteiro, que mora no Rio de Janeiro há mais de 25 anos, retorna a Belém para lançar seu livro “O Beijo da Chuva”. Filha de Wanda Marques Monteiro e do saudoso escritor Benedicto Monteiro, a escritora concilia a sua produção literária com suas atividades como advogada nas Comarcas do Rio de Janeiro. Wanda Monteiro, após habilitar-se nos Cursos de Extensão de Linguagem e Pensamento e Jornalismo On Line pela UERJ, atuou como colaboradora e redatora em vários jornais e revistas de mídia segmentada, produzindo ensaios, resenhas e críticas para revistas literárias das cidades de Niterói e Rio de Janeiro. Wanda fala, com paixão, de sua produção literária, ressaltando que é fruto de uma verdadeira prospecção dos sentidos e percepções da natureza humana, que tenta, por meio de sua lavra, desvelar o verso e o inverso do ser humano, sua perplexidade e sua angústia diante da incompreensão da vida. O “Beijo da Chuva” é uma obra absolutamente humana. Com a inspiração da natureza, navega no rio da sensualidade com uma poesia real, emocionante e desassossegada. Como bem definiu o jornalista Carlos Correia Santos: “Livro menino, mas maduro desde nascido. Já vem dizendo muito do belo e do ofenso. E entre o que diz fala do humano, do delírio, da lavra, da mulher, do desejo, do pecado, das ausências, da natureza, do amor da própria criança que está no DNA da autora”. A angústia, o amor e a vida são os pontos centrais desta obra que a Editora Amazônia lança agora em junho, com o objetivo de apresentar Wandinha como escritora à sua terra natal. Libertária, incompreendida, sensual: eis aqui a Wandinha pra você descobrir muito mais.

*da redação

Nova York – A vida na grande cidade Will Eisner

The New Yorker cartoons- Cachorros Vários

Paixão Pagu Patrícia Galvão

A cidade e os cachorros Mario Vargas Llosa

Will Eisner é o tipo de autor que dispensa apresentações. Pai do herói Spirit, o escritor e cartunista é conhecido por ter revolucionado o mundo dos quadrinhos. No livro “Nova York – A vida na grande cidade” (2009, Quadrinhos na Cia), reunião de quatro graphic novels escrita entre os anos 80 e 90, Eisner mostra todos os atributos que fizeram com que conseguisse o título de mestre do gênero. Com aguçada sensibilidade e tom profundamente humano, o cartunista escolhe como protagonista de suas histórias o alguém invisível e esquecido que habita as metrópoles e, assim, acaba por fazer um retrato fiel de nossa loucura cotidiana. Um verdadeiro convite à reflexão quanto ao estilo de vida imposto pela atual condição pós-moderna. Das quatro histórias publicadas, o destaque fica para a sombria “Pessoas Invisíveis”.

O mais recente livro da série The New Yorker Cartoons, lançada pela editora Desiderata em seis volumes, é, sem dúvida, o mais divertido. “Cachorros” (2009) é uma coleção dos melhores quadrinhos já publicados pela famosa revista norte-americana The New Yorker, acompanhados de inteligentes legendas, traduzidas cuidadosamente para o português sem perder a graça e o sentido. Engana-se quem pensa que encontrará neste livro a figura batida do cachorro como melhor amigo do homem. Aqui, ele assume várias posições, tem personalidade, se arruma para sair, discute a relação, usa computador, internet e mantém até blog! As autorias dos quadrinhos são assumidas por cartunistas do mais alto quilate, como as feras Pat Byrnes, Bill Woodman, Leo Cullum, Charles Barsotti e James Stevenson. Sem dúvida, imperdível!

A história de vida da famosa ativista política Patrícia Galvão, ou Pagu, como ficou conhecida mundialmente, é decepcionante. Não, não há engano algum na afirmação. Escrita em forma de carta-confissão, em meados de 1940, para seu segundo marido, Geraldo Ferraz, e editada posteriormente por seus dois filhos, “Paixão Pagu: A autobiografia precoce de Patrícia Galvão” (2005, Agir) revela uma mulher fraca, insegura e insatisfeita. Desprotegida e nua, no livro, Pagu fala sobre as mais íntimas passagens de sua vida, como sua primeira relação sexual, aos 14 anos, o fracasso do casamento com Oswald de Andrade e os dias de luta no Partido Comunista Brasileiro. Pagu acabou por se tornar um mito, um símbolo de luta dos movimentos feministas mais recentes. Um mito cuja vida pode até ter sido intensa, mas que, definitivamente, não foi plena.

Mario Vargas Llosa é daqueles escritores que sabe como ninguém transferir ao texto a essência de sua época. Quase sempre revestida de certo ar autobiográfico, sua obra é um destaque à parte na vasta literatura latino-americana – e uma boa opção para conhecê-la é “A cidade e os cachorros” (1963, Alfaguara), segundo livro do autor que já foi traduzido para mais de trinta línguas. A ambientação é num colégio militar de Lima, Peru, em que a violência e as ambições juvenis servem como pano de fundo para uma narrativa atemporal, centrada em personagens que se encontram e relacionam em épocas distintas. A narração, às vezes, pode se mostrar agressiva, mas seu tom é profundamente real. Junto a “O paraíso na outra esquina” (2003) e “Travessuras da menina má” (2006), compõe uma sequência de obras fundamentais.

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Dicas e eventos O Cirque du Soleil volta ao Brasil em junho com mais um show de sucesso mundial: Quidam. O espetáculo, encenado por 51 artistas, busca na vida cotidiana a inspiração para a criação dos cenários grandiosos, do figurino rico e da história fantástica. A primeira cidade a receber o picadeiro de Quidam foi Fortaleza, dia 11 de junho. Depois será a vez dos recifenses curtirem a magia do circo – estreia em 9 de julho - e, antes de seguir para o sul e sudeste, o espetáculo passa por Salvador – estreia em 13 de agosto. Como as temporadas são curtas, é bom garantir logo os ingressos, que já estão à venda pelo site: www.ticketmaster.com.br.

Cirque du Soleil

A 23ª edição da maior mostra de arquitetura da América Latina, a Casa Cor, teve início no mês de maio, em Goiás, mas promete causar alvoroço entre junho e julho, quando chega a sua sede oficial: o Jockey Club de São Paulo. Até o dia 14 de julho, o evento mostra tudo o que há de mais moderno e atual em decoração e paisagismo. Neste ano, além da Casa Cor, acontecem também a Casa Kids e a Casa Hotel, que apresentam as tendências para estas duas áreas. Quer uma dica? Vá visitar as feiras sem pressa. Ingressos no site www.ticketmaster.com.br.

Casa Cor

No ano em que o país inteiro comemora a influência francesa em terras brasileiras, o Mercado de Moda Caixa de Criadores dedica a 7ª edição do evento, que acontece entre 27 de junho e 5 de julho, no Espaço São José Liberto, ao país que revolucionou a moda em todo o mundo. Com o tema “O Ano da França no Brasil – C’est Très Chic”, o evento reunirá 38 marcas de estilistas paraenses, sendo dez estreantes, que estão na vanguarda da criação de moda e design de Belém. Durante os oito dias de feira haverá também uma exposição sobre as principais invenções francesas que perduram até hoje, como o batom e a bicicleta.

Caixa de Criadores

Em um país conhecido pela animação do samba e do carnaval, todo festival de música clássica precisa lutar para sobreviver e se

40º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão

consolidar. Por isto, no ano de 2009, o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão não vai economizar nas comemorações. Completando quatro décadas de vida, o festival deste ano tem início no dia 4 de julho e até o dia 26 apresenta uma vasta programação. Os ingressos começam a ser vendidos a partir de 22 de junho pelo site: www.ingressorapido.com.br ou pelo telefone: (11) 2163-2000.

Amantes do bom e velho rock podem se preparar: vem aí a quarta edição do Festival Se Rasgum, que acontecerá entre os dias 18 e 20 de setembro, no African Bar. Considerado por revistas especializadas um dos cinco festivais mais influentes de todo o Brasil, o evento agita o cenário musical de Belém com as disputas entre bandas locais para participar do evento. Neste ano, os organizadores prometem manter a estrutura de dois palcos – onde se apresentarão mais de 30 bandas, inclusive internacionais - e o “Laboratório Se Rasgum”, um espaço dedicado ao som mais experimental. A venda de ingressos será feita a partir de setembro em vários pontos da cidade.

IV Festival Se Rasgum

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artigo

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Arthur Dapieve jornalista

Memórias de vinil Por mais fantasiosa que pareça, a cena a seguir acontecia com frequência na pré-história tecnológica, mais ou menos em torno dos anos 1976 d.C. ou 1977 d.C.. Alguém descobria – ou por ler num produto diário que trazia as principais notícias da véspera impressas em papel, chamado “jornal”, ou por ter passado pessoalmente num estabelecimento comercial que vendia registros de música, chamado “loja de discos” – que algum artista tinha acabado de gravar um trabalho prensado em dois lados de vinil preto, chamado “LP”. Apesar da precariedade dos meios de comunicação naquele tempo, a notícia circulava no boca a boca, nas salas de aula, nas turmas de praia, nos times de futebol. A partir desse ponto, em cada grupinho, alguém já estava tacitamente encarregado de comprar aquele novo LP. Como não era nem possível nem necessário possuir todos os LPs – a não ser os dos Beatles e a não ser que houvesse um crítico em embrião na tur-

voltava para casa e ouvia meus discos, tinha material não só para pensar como tinha aprimorado minha educação sentimental. A música tinha algo de ritual. Consigo enxergar uma linha involutiva que, da turminha de Copacabana para trás, para antes até do registro mecânico da música em cilindros, discos ou fitas, a filiava aos aristocratas parisienses reunidos nos salões para escutar Chopin tocar piano, aos monges medievais convocados a cantar durante a liturgia, aos guerreiros celtas aglomerados em torno do bardo, quiçá aos homens préhistóricos (mesmo) acocorados em torno da fogueira, cada um vocalizando as suas experiências de caçada. A música era uma experiência social. Depois vieram os fones de ouvido, cada vez menores. A música continuou a viver ali, claro. Porém, confinada a um ouvinte e carregada pra lá e pra cá, foi perdendo sua aura de estrela. De tanto se escutar música, pouco se ouve música, de verdade, de coração.

ma – cada artista tinha uma espécie de guardião. Daniel comprava Rolling Stones. Jorge, The Who. Maurício, Black Sabbath. O outro Maurício, Bowie e Zappa. Paulo Emílio, Rush e Supertramp. Arthur, Pink Floyd e, depois, The Clash. Vergonhoso vira-casaca estética. Comprado o LP, marcava-se uma reunião na casa do guardião. A

Ela virou parte da paisagem. Móveis e utensílios, como se diz. Uma dimensão importante dessa antiga arte correu o risco de se tornar tão obsoleta quanto os toca-discos. O que seria um triste paradoxo, posto que nunca a música foi tão compartilhada. Mas à distância. Usei “correu o risco”, pretérito perfeito?

turma acorria e ficava em torno de um aparelho mecânico com um prato giratório e um braço com uma agulha de diamante na ponta, chamado “toca-discos”. A despeito da animação geral, o silêncio

Sim. Como a vida vem em ondas, o velho LP foi revalorizado e ganhou novas edições. Neste ano de 2009 d.C., por exemplo, a gravadora Sony&BMG começou a lançar uma série chamada Meu

antes de a agulha tocar o vinil era daqueles dos quais se diz ser quase palpável. O braço percorria o primeiro lado do LP. Terminado o trajeto, virava-se o disco no prato e ouvia-se o segundo lado do

Primeiro Disco. Duplo sentido: chamar a atenção para o fato de que aqueles LPs foram os primeiros de Chico Science, Engenheiros do Hawaii, Vinícius Cantuária, Inimigos do Rei e João Bosco; e estimu-

LP. Apenas uma ou outra interjeição antes do clique final. Então é que se iniciava a discussão séria sobre o que acabara

lar a posse de um “primeiro disco” pela geração do MP3. Por via das dúvidas, o LP vem acompanhado do CD correspondente.

de ser ouvido. Nesta discussão, o guardião daquele determinado artista tinha um pouco de importância, mas não muito mais do que qualquer outro membro da turma. Reiniciava-se o processo

Lá fora, muita coisa tem saído – e, surpreendente, vendido bem – em vinil. Até os inglesinhos Arctic Monkeys, fenômeno da internet, na sua terra natal venderam mais em LP do que em CD quan-

de audição, dessa vez com este ou aquele garoto – embora tais cerimônias não fossem oficialmente vedadas às garotas, elas eram raríssimas, talvez para não distrair o grupo do seu propósito sagra-

do lançaram seu primeiro disco, Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, em 2006. Na época, um gerente da Virgin, loja que acabou na Grã-Bretanha, aliás, teorizou que o fenômeno se devia

do – chamando atenção para o solo de guitarra, a letra da canção ou a capa do LP. Todo o período crucial da adolescência no qual eu descobri a

a filhos querendo compor discotecas tão vistosas quanto a de seus pais. Quem sabe? E quem sabe a reboque dos bolachões de vinil não se recupere a experiência ancestral de ouvir música, de verda-

verdadeira dimensão da música na minha vida, dimensão que me levou a tocar um pouco de violão e um muito de bateria, antes

de, de coração, na companhia de alguém? Não se trata, não entenda mal, de saudosismo. Por mim, as pessoas podem se reunir para

de, menos imaturo, me arriscar no saxofone alto, se passou dessa maneira, nessas reuniões. Eu aprendi sobre a música juntamente, e não apenas simultaneamente, com os meus amigos. Quando

ouvir música amplificada a partir de iPods ou de qualquer mídia por inventar. Desde que se reúnam. Elas ainda se reúnem em show, decerto, mas show é outro papo.

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destino

A Matriz de Santo Antônio, no coração da cidade, é apenas uma das muitas relíquias históricas de Tiradentes

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Roberto Tuminelli

Cléo Soares

Mergulho na

História

Tiradentes, em Minas Gerais, convida o visitante a um passeio pelo passado do país

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pequena Tiradentes. Assim é mais conhecida a cidade mineira que possui mais leitos de hotel do que moradores. A explicação está não só na paisagem convidativa, um pedacinho da história do Brasil em todos os recantos, mas no fato da cidade misturar uma vez por ano o seu belo cenário histórico aos temperos, cores, cheiros e sabores da melhor culinária internacional, durante o Festival Internacional de Gastronomia, que chega este ano à XII edição, dos dias 21 a 30 de agosto. Mas, além das delícias do festival gastronômico, Tiradentes é atraente em qualquer época do ano, tanto pelo clima de montanha quanto pelo mergulho na sua história.

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Não importa a idade do visitante, a chegada a Tiradentes o remete ao passado. A entrada na cidade é feita pela antiga Rua do Areão, hoje Antonio Teixeira de Carvalho e Inconfidentes. Na praça formada no início da rua existe a estação da estrada de ferro Leopoldina, um bonito prédio construído entre 1880 e 1881, quase 180 anos após a fundação da cidade, ocorrida em 1702, por João de Siqueira Afonso, o descobridor de muitos filões de ouro na encosta da Serra de São José. O lugar foi batizado primeiro de Arraial de Santo Antonio do Rio das Mortes. O prédio da estação tem as mesmas características da arquitetura da própria estrada de ferro. Ainda


Fotos: Roberto Tuminelli

Uma cidade simpática para quem aprecia sossego e beleza O chafariz de São José, assim como as ruas cheias de referências ao passado, são atrações

funciona a locomotiva “Maria Fumaça” - a vapor, trazida para a cidade no início do século XX. A locomotiva hoje é usada somente nos roteiros turísticos e corre os trilhos entre Tiradentes e São João Del Rey nos fins de semana e feriados. A bela paisagem serrana é a recompensa desse passeio. No fim da Rua Areão, atravessa-se a Ponte das Forras, saindo no Largo arborizado de mesmo nome, que além de servir de cenário ao festival gastronômico da cidade, oferece o ano todo lojas com o melhor do artesanato mineiro. Bem perto do Largo encontra-se a Capela do Bom Jesus da Pobreza, e na outra esquina o prédio da Prefeitura, igualmente bonito e histórico. Subindo a Rua Resende Costa chega-se ao Largo do Sol, onde estão a casa do comendador Assis, a igreja de São João Evangelista e a casa do Padre Toledo. Na mesma rua o visitante passa ainda pela Casa da Cultura e pelo Museu da Cidade. Na confluência da Rua Padre Toledo com a Rua da Câmara está a Igreja Matriz, e atrás desta o Santuário da Santíssima Trindade, de onde se pode apreciar um belo pedaço da paisagem da serra e do vale do Rio das Mortes.

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O caminho de volta pode ser feito pela Rua da Câmara, onde está a casa do parlamento municipal e sobrados avarandados típicos da arquitetura da cidade. Em frente à Câmara Municipal há um pequeno largo, que já foi chamado Largo do Pelourinho, por ter existido no local um Pelourinho durante o período da escravidão no Brasil. Também merece uma visita o prédio da antiga cadeia, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, e o Largo das Mercês, onde está localizada a capela que dá nome ao espaço. Mas a melhor vista de toda a cidade é um presente reservado para o retorno do Largo das Mercês, se o visitante seguir pela direção da Rua São Francisco de Paula, onde está a capela do Santo e uma vista panorâmica de toda a cidade. Mesmo fora do período do festival gastronômico, a culinária tem um roteiro à parte que atende bem o ano inteiro em Tiradentes. A cidade não oferece apenas o cardápio de comidas típicas, mas oferta a boa convivência entre as diversas cozinhas brasileiras e internacionais. Depois de caminhar por todos os pontos históricos, é possível comer desde uma boa massa até um


Divulgação

A montagem de uma cidade cenográfica, inspirada no século XIX, foi uma das novidades criadas para incrementar a programação do Festival Gastronômico em Tiradentes

legítimo bacalhau norueguês para repor as energias e continuar os passeios. E o melhor de tudo isso é que tirando o passeio de locomotiva, o visitante pode conhecer tudo a pé ou com ajuda dos taxistas, treinados especialmente para receber os turistas. Gastronomia A vida e a história de Tiradentes estão plantadas em um pedaço de apenas 83 quilômetros quadrados de área. Mesmo sendo tão pequena, até o ano passado a cidade já tinha mais de 8 mil leitos de hospedagem, enquanto os habitantes somavam 6.500 pessoas. Esse número quadruplica durante o Festival Internacional de Gastronomia, que todo ano recebe entre 25 e 30 mil pessoas para assistir ao encontro dos renomados chefs da culinária mundial. Ralph Justino, organizador do evento, trabalhou com sua equipe durante os meses de abril e maio para fechar toda a programação. Ele garante que esta edição será uma grande soma de talentos, para fazer jus ao tema deste ano - “A estrela dos chefs” -, onde cada nome convidado vai apresentar sua criação, mas sem competição entre os pratos. Em lugar de competir, os mestres da culinária vão compartilhar conhecimentos com o público visitante,

que terá muitas opções de cursos para dominar a arte de lidar com os temperos. Quase todos os cantinhos de Tiradentes servirão de cenários para a XII edição do Festival. O Largo das Forras, um ponto tradicional da cidade, é a área mais popular do festival e vai receber um gigantesco botequim com os tira-gostos campeões de outro festival - o “Comida di Buteco” de Belo Horizonte, a capital mineira, também conhecida como a capital nacional dos barzinhos. Na rodoviária da cidade será instalado um grande mercado municipal, onde todos os produtos utilizados nas receitas da culinária-arte, dos mais simples aos mais complexos, estarão à venda. Além de comprar os ingredientes, o público poderá aprender ali mesmo como é feita a química entre temperos que resulta em pratos inigualáveis, pois o espaço da rodoviária será também o local da realização da maioria dos cursos ofertados pelos chefs participantes. No mesmo espaço acontece a maior parte da programação cultural do evento, com uma extensa lista de shows musicais, pocket shows, espetáculos de danças e apresentações de comediantes regionais e nacionais, entre outras atrações.

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Divulgação

O Festival Gastronômico reúne chefs do Brasil e do mundo e movimenta os melhores restaurantes

As principais criações da alta gastronomia são apresentadas durante o Festim, os jantares especiais com música ao vivo reservados para as sextas-feiras e sábados do festival, onde vão brilhar as estrelas dos chefs convidados. São jantares concorridos que custam de R$ 80 a 150 por pessoa - e mesmo assim não sobram lugares. Realizados em uma atmosfera requintada que inclui ambientes à luz de velas, com taças de cristal e pratos de porcelana, os jantares do Festim acontecem nas pousadas Pequena Tiradentes e Villa Paolucci, donas de restaurantes tradicionais que fazem parte do imenso roteiro gastronômico da cidade. O XII Festival Internacional de Gastronomia de Tiradentes também será promovido este ano em Paris, capital francesa e berço da culinária-arte, com uma amostra do Festim. Neste que é o ano da França no Brasil, Ralph Justino diz que a alta culinária fará o caminho inverso no mês de junho, com um jantar de apresentação do festival para a imprensa em Paris, ao estilo dos que acontecem no Festim de Tiradentes. “Nosso festival é pioneiro do gênero no Brasil. Quando todos os outros aconteciam somente nos ambientes fechados dos hotéis, nós

inovamos ao misturar a culinária com as ruas, com a cultura e com a história da cidade. Vamos mostrar isso em Paris e reforçar o convite para toda a Europa”, diz o organizador. Como chegar Tiradentes fica a 200 quilômetros de Belo Horizonte, a capital mineira. De lá há duas opções, praticamente com a mesma distância. A mais usada é pela BR-040 até Barbacena. De lá segue para São João Del’Rei pela BR-265. A outra é seguir pela BR-040 até o Trevo para Murtinho. Esse caminho passa entre Rios de Minas e Lagoa Dourada, e também chega a São João Del’Rei. De lá até Tiradentes são 12 quilômetros. Quem sai de São Paulo também pode pegar a estrada. O caminho mais prático é a BR-381 (Rodovia Fernão Dias) até a entrada para a cidade de Lavras (380 quilômetros). De lá, seguir pela BR-265 até a entrada para Tiradentes (110 quilômetros). Do Rio de Janeiro seguir pela BR-040, passando por Petrópolis e Juiz de Fora até Barbacena (270 quilômetros). De lá pegar a BR-265 até a entrada de Tiradentes (53 quilômetros). Mais sobre a cidade: www.tiradentes.net

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Double M

Restaurar a memória da cidade. A Leal Moreira também faz. A Leal Moreira compreende o valor do patrimônio histórico de Belém pois sabe que, ao conhecer o passado, entendemos a realidade em volta e valorizamos o caminho percorrido. Com os empreendimentos Torre de Saverne, Torre de Toledo e Torre Vert a Leal Moreira restaura três casarões históricos e contribui para que a memória de nosso povo permaneça viva por muito mais tempo.

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Só a Leal Moreira faz um Leal Moreira.

www.lealmoreira.com.br


destino

Uma vista panorâmica da cidade. Tãmisa, London Eye, Big Ben ao fundo... tudo que faz Londres ser inesquecível

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Harry Cheung

Ana Danin

O mundo

na palma

mão

da

Culturas, raças e sotaques se misturam em Londres, uma das capitais culturais do planeta

A

ndar nas ruas de Londres faz você sentir como se o mundo coubesse na palma da sua mão. Pode parecer exagero para quem nunca esteve lá, mas os que já passaram pela terra da rainha sabem que, seja nos tradicionais ônibus vermelhos, nas estações de metrô ou nas ruas sempre movimentadas da Oxford Street e Piccadilly Circus, a capital do Reino Unido é uma mistura de idiomas, sotaques e raças. São aproximadamente sete milhões de habitantes.

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Fotos: Sara Leal

O famoso Big Ben, um dos maiores símbolos da capital inglesa

Acima, a Tower Bridge. Abaixo, a Torre de Londres, palco vivo de grandes momentos históricos

A cidade é banhada pelo rio Tâmisa e fazer o passeio de barco por lá é um dos programas mais agradáveis e obrigatórios para qualquer turista que deseje se sentir mais próximo de Londres. Do barco é possível ver bem de perto a monumental Tower Bridge, obra do período vitoriano e um dos símbolos da cidade, com sua ponte que se ergue para a passagem de grandes embarcações e seus nada menos que 300 degraus até o topo das duas torres - que a diferenciam de qualquer outra ponte no planeta. Do rio também é possível ver o popular Big Ben, que – ao contrário do que muitos imaginam – não é o nome do grande relógio instalado na torre de mais de cem metros erguida sobre o Parlamento, mas sim do sino de 14 toneladas que anuncia as horas com suas badaladas famosas. Outra vista privilegiada para quem faz o passeio

de barco é a da Torre de Londres. No passado – e haja passado nisso, já que a torre tem mais de 900 anos –, o prédio foi uma grande prisão e ponto de tortura em suas celas escuras e sujas. Entre os mortos mais famosos da torre está a rainha Ana Bolena, decapitada junto com o irmão Jorge Bolena, sob a acusação de feitiçaria, traição ao rei Henrique VIII e incesto. Há quem diga, aliás, que o espírito da rainha nunca deixou a torre, assim como os espíritos dos jovens príncipes herdeiros de Eduardo IV, que foram aprisionados na torre pelo tio, Ricardo de Gloucester, logo após a morte do pai, e nunca mais vistos. As histórias de horror que cercam a Torre de Londres são muitas, mas descer do barco e pagar o ingresso para caminhar por ela hoje tem um ar bem menos pesado que no passado. O passeio é como uma viagem no tempo. 98


Jorge Maïssa

No British Museum, objetos pré-históricos e tesouros dos povos que construíram a história da civilização ocidental podem ser apreciados pelos visitantes

Lá, os visitantes são recebidos pelos guardas da torre, simpáticos com seus trajes históricos e sempre dispostos a posar para fotos com os turistas. A maior atração do local é a visita às jóias da coroa, um tesouro de valor incalculável com objetos representativos de várias gerações de reis e rainhas, incluindo as coroas em si, com seus milhares de diamantes, rubis e outras pedras preciosas. Ao visitante é possível ficar relativamente próximo ao tesouro real, sem, no entanto, filmar ou fotografar nada. Outra atração da Torre de Londres é a coleção de armas e armaduras, além das salas que reconstituem os principais instrumentos usados na tortura dos presos. Tudo ali faz valer cada centavo pago na entrada. Londres é assim: uma cidade que nos transforma em personagens da história, como certamente sente quem atravessa a faixa de pedestres mais 99

famosa do mundo, na Abbey Road, eternizada na capa do LP lançado pelos Beatles em 1969 e localizada quase em frente ao estúdio do mesmo nome. Aliás, quem vai pela primeira vez à cerimônia de troca da guarda do Palácio de Buckingham, residência oficial da rainha Elizabeth II, se surpreende ao ouvir os guardas se apresentarem algumas vezes ao som de músicas dos rapazes de Liverpool. Nos finais de semana, vale a pena uma caminhada pelas margens do Tâmisa, ou ainda na área do Covent Garden, onde a diversão é garantida por diversas apresentações de acrobatas, músicos e artistas em geral e o visitante também pode comer bem e ter acesso a boas lojas. Desde 2000 é possível ter uma visão panorâmica de Londres no passeio pela London Eye, uma roda-gigante de 135 metros, com 32 cápsulas que rodam sem pressa durante 30 minutos, mostrando


Ana Danin

Yazeed Al-faraj

Os ônibus de dois andares enfeitam as ruas de Londres e já mereceram citações até em canções dos Beatles. À direita, um flagra da passagem do cortejo real pelas ruas.

aos visitantes cada pedaço da capital britânica. O passeio é caro – bem mais caro que o de barco, por exemplo – mas a vista é única. Por isso, é importante escolher bem o dia de pagar o ingresso da London Eye. Dias claros e sem chuva – coisa rara na cinzenta Londres – são os mais indicados para aproveitar o passeio. Na verdade, ninguém pode se aventurar em uma viagem a Londres sem ter pelo menos uma ideia do clima local. Se há uma unanimidade entre os moradores é que o clima na cidade beira o caos. Mesmo no verão, é preciso sair sempre com um agasalho porque a qualquer momento o clima pode mudar. Às vezes, você acorda, olha pela janela, vê um sol lindo e pensa: “Dia ótimo para tirar da mala aquela camiseta, não é mesmo?”. Não, não é, pelo menos se você pretende passar o dia na rua. Isso porque, por mais que haja sol, há sempre um vento gelado e cortante na cidade. O clima é tão instável que às vezes pode, inclusive, estar chovendo e estar quente. Há períodos em que durante o dia inteiro há alternância entre sol e chuva – isso em pleno verão. Portanto, nunca subestime o clima londrino e, uma vez lá, tente não se estressar com isso e aproveitar o céu cinzento característico em todas as estações do ano. Para os moradores, os piores meses em Londres são janeiro e fevereiro, quando há pouquíssimas horas de sol e eles tendem a ficar deprimidos porque, basicamente, saem para trabalhar e voltam para casa no escuro (lá a jornada de trabalho diária

é das 9h às 17 horas, com apenas 30 minutos de intervalo para o almoço, em média). Fevereiro marca o fim do inverno e o frio é intenso, embora não seja tão comum nevar em Londres quanto em outras cidades do Reino Unido. A partir de março, com a chegada da Primavera, o clima começa a ficar mais agradável, embora nada confiável, mas o melhor mesmo é visitar a cidade durante o verão, entre junho e agosto, quando é possível ter luz do sol desde antes das 6h até por volta de 20h, 21 horas, e aproveitar cada segundo dos passeios. No verão, as atrações são muitas nos parques de Londres, onde os moradores também aproveitam para se refrescar nos dias de calor (pois é, eles existem). Alguns, como o Hampstead Heath, localizado mais ao norte da capital, foram cenários de filmes famosos, no caso, a comédia romântica “Um lugar chamado Notting Hill”, estrelada por Julia Roberts e Hugh Grant. Aliás, quem pretende ir a Londres em agosto tem a oportunidade de conferir de perto o tradicional carnaval de Notting Hill, que reúne pessoas de todas as idades, fantasiadas, desfilando pelas ruas. Vá sem esperar nada que lembre o carnaval do Rio. É algo infinitamente menor e mais simples, mas que leva uma multidão às ruas da área. Em qualquer período do ano, um tipo de passeio é fundamental em Londres: a visita aos museus. A maior parte deles tem entrada gratuita, exceto para algumas exposições específicas. Quem gosta de

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Fotos: Ana Danin

A frenética Londres também abre espaço para passeios em paisagens bucólicas

A passagem da guarda inclui temas tradicionais e até canções do pop mundial

história não pode deixar de visitar o British Museum, considerado o mais antigo museu do mundo (desde 1753) e que reúne objetos da pré-história e tesouros gregos, romanos, egípcios, africanos, orientais e americanos. A parte mais interessante é a das múmias, incluindo uma que seria da rainha do Egito, Cleópatra (embora muitos insistam em dizer que ela nunca foi encontrada). Outro passeio interessante é ir à National Gallery, localizada em um dos cartões postais de Londres: a Trafalgar Square, com seus chafarizes e leões esculpidos no coração da cidade. Na National estão obras de Velázquez, Renoir, Rembrandt e tantos outros nomes da arte internacional. Quem sonha em ver astros e estrelas de Hollywood de perto, vai se divertir como nunca no famoso museu de cera Madame Tussauds, um dos passeios mais caros de Londres, mas capaz de deixar qualquer visitante com ar de celebridade, como direito, inclusive, a “assédio de paparazzi”. Lá, é possível ser fotografada ao lado de bonecos dos Beatles, da família real britânica, das rivais Angelina Jolie e Jennifer Aniston, da exuberante Julia Roberts, dos belos Tom Cruise e Brad Pitt, entre muitos outros. Há ainda os bonecos do Homem Aranha e do Incrível Hulk, além de políticos, esportistas – incluindo Pelé e Ayrton Senna -, escritores e artistas. Há também a Tate Modern, carinhosamente chamada de Tate pelos moradores da cidade, localizada às margens do Tâmisa, de frente para a pon-

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te do Milênio, com sua premiada coleção de arte do século 20. A Tate fica em uma área encantadora de Londres: Southwark, onde também estão o teatro Shakespeare’s Globe, a movimentadíssima feira Borough Market e o London Dungeon (o museu dos horrores). Atravessando a ponte do Milênio, você chega à Catedral de St. Paul, onde ocorreu o casamento do príncipe Charles com a princesa Diana. Uma peculiaridade em Londres é que, ao contrário dos museus, onde você entra de graça, na maioria das igrejas famosas você tem que pagar caro para entrar. A dica, nesse caso, é descobrir o horário das missas, e em St. Paul o acesso é livre durante o dia inteiro no domingo. Só não dá para fotografar, filmar ou ter acesso a áreas como a Galeria dos Sussurros, privilégio de quem paga para ter uma visita orientada. Mas não dá para falar de Londres sem falar da noite de Londres. Lá, além dos pubs, sempre cheios e barulhentos, com muita cerveja servida em “pint” (copos grandes) ou “half pint’” (copos menores), há ainda os grandes espetáculos musicais e cinemas do West End. A noitada em Londres geralmente começa bem cedo e, nos pubs, também termina cedo. Às 23 horas, em geral, ele estão fechados, uma tradição difícil de entender para os turistas brasileiros. Mas, ao contrário do que ocorria no passado, hoje é possível encontrar diversão até bem mais tarde em clubes e danceterias londrinas.


tech

Semp Toshiba MC- 2251 Chega de perder espaço na casa com um sem-fim de aparelhos eletrônicos que possuem funções limitadas. Se você é adepto da convergência digital, este Semp Toshiba veio muito a calhar. Prepare-se para abandonar a televisão e ver seus programas favoritos na tela de LCD de 22’’ e excelente resolução deste micro, que tem também mouse e teclado sem fios, webcam e memória de 3 GB. www.intersol.com.br

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www.palm.com


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galeria

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Débora McDowell

Bonito, de bom gosto É assim que o artista plástico PP Condurú - para quem a arte não deve ter “frescuras” - define seu trabalho, de mais de três décadas

“O

i Débora! Tudo bom? Olha, conseguimos marcar a entrevista com o PP Condurú. Será na casa dele, na Rua Gurupá, lá na Cidade Velha.” Foi mais ou menos assim o e-mail que recebi da nossa produtora, avisando que caberia a mim esta matéria. A Cidade Velha, bairro da boemia e recanto de diversas manifestações culturais de Belém, é onde mora o artista plástico PP Condurú. Fato que, com certeza, não me surpreendeu. Ao chegar ao meu destino, esperava encontrar no interior do casarão de pé direito alto alguma espécie de atelier, cheio de telas e tintas, onde PP manipularia pincéis e ostentaria um avental velho e manchado. Para a minha surpresa, nos instalamos em uma sala-escritório. Em meio a pastas, envelopes e cd’s, ele estava sentado em frente a um computador. O máximo que manuseava era um cigarro - o primeiro de muitos, ao longo de quase duas horas. Pedro Paulo Góes Condurú veio ao mundo em 1958, na Santa Casa de Misericórdia do Pará. O hábito de desenhar e pintar, nato de toda criança, 105

recebeu o incentivo do pai, que segundo o próprio PP, “era um homem multi-talentoso”. Duas dessas aptidões eram o fato de ser músico e também um ótimo piadista. Assim, eram frequentes as rodas de violão que enchiam a casa de artistas. Por crescer nesse meio, deu no que deu. Foi em 1974 que o projeto de artista plástico decidiu de vez o seu rumo. Se é que há um rumo neste ramo. “Aqui em Belém, para ser artista plástico, o pessoal se formava em Arquitetura. Esse foi o caso do Simões, (Emmanuel) Nassar, Osmar Pinheiro. Foi em 77 que eu decidi ir embora. Fui parar no Rio de Janeiro.” A ditadura e a mentalidade provinciana da cidade também não facilitavam. Havia pouquíssimo espaço para o trabalho destes novos nomes em Belém. A Escola de Artes Visuais do Parque Lage, recém-fundada e situada no Jardim Botânico, foi a instituição que acolheu PP em terras cariocas. Reduto de futuros grandes nomes da música e artes em geral, a escola era palco para shows, palestras, performances e outras expressões artísticas. Seu diretor e fundador, Rubens Gerchman, abriga-

Luiza Cavalcante


• “Risco de Luz”

va artistas perseguidos pela censura da ditadura militar, que viriam a despontar nos anos seguintes. “Na época, a gente assistia a show do Cazuza ou via o Pedro Bial perambulando por lá. Ainda eram dois ‘zé ninguém’”, lembra. No meio de todo esse rebuliço de novos nomes fazendo modernices, era de se esperar que o rapaz lecionado por livros clássicos, que apresentaram a ele os girassóis de Van Gogh e a litografia de Toulouse-Lautrec, respirasse o tanto de vanguarda que embriagava estes novos ares. Após os anos no Rio, passou outros poucos em São Paulo, sem-

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pre produzindo. Já no início da década de 90, o artista itinerante resolveu voltar de vez ao local de onde arrancou suas raízes, e por aqui ficou. São mais de 30 anos de trabalho, em obras espalhadas por várias paredes. “Como sempre trabalhei demais, acabava não armazenando o que produzia.” Em 2001, surgiu a idéia da elaboração de um livro, que reuniria as três décadas de pinceladas de PP. Foram cinco anos de pesquisa em busca do material para o livro e, em seguida, exposição. “Esse trabalho foi todo coordenado pela Luciana Magno (fotógrafa). Foi engraçado ver como


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os casais formados na década de 80, quase todos se separaram nos anos 90. Quando íamos em busca de um quadro, lá tínhamos que encontrar o ex-marido ou a ex-mulher – dependia de como rolava a separação de bens”, ri PP, acendendo o terceiro ou quarto cigarro. O livro “PP Condurú – Mostra 30 anos” traz ainda um DVD com depoimentos de vários amigos e outros artistas paraenses. Xará do livro, a exposição desse material mostrou a transformação e a evolução do trabalho de PP ao longo desses anos. Sem dúvida, não é pouca coisa. “Lembro de ter tomado um porre no dia da inauguração dessa mostra, de tão nervoso. Chegando lá, foi impressionante. Tinha quadro que eu nem lembrava mais que tinha feito. E mesmo assim, por conta do que cada um deles expressava, eu lembrava exatamente qual o contexto em que o fiz, por qual situação eu passava.” Quando questionado sobre o que anda fazendo atualmente, o computador citado no início da matéria já responde meia pergunta. Ainda mais depois de ver que o desktop apresenta vários programas mais requintados. “Desde 2003, eu, Luiza Bastos e Wanderson Lobato estamos trabalhando juntos na PLW – Projetos e Linguagens. A gente ainda tá organizando a produtora. Tô mexendo mais diretamente com a parte de projeto gráfico, capas de livros e até trabalhos pra algumas marcas.” Definitivamente, PP não é do tipo xiita, que condena a tecnologia da computação gráfica e suas possibilidades. “Eu adoro trabalhar com isso. A questão da criação de ideias, conceitos. É mais uma opção pra quem tá na área de artes visuais. É o que diferencia do conceito de ‘artista plástico’: a mudança de comportamento. Hoje em dia eu pinto, filmo, edito... o meu trabalho reflete o que sou e as minhas observações. Não dá pra se fixar só na técnica, é importante diversificar.” Uma prova de todo esse liberalismo artístico é o www.ppconduru.blogspot.com. No ar há pouquíssimo tempo, o blog reúne várias obras e séries de PP. Analisando algumas delas e outras expostas nas paredes da casa do artista, pergunto a ele como é viver de arte por tanto tempo: “É difícil, cheio de altos e baixos. É preciso ter paciência. Já pus muito quadro debaixo do braço e saí pra vender de porta em porta. Outro fator que dificulta é que nesse meio existe muita picuinha, muita gente com o ego lá em cima. Pra fazer arte não tem frescura, não. É bater o olho e gostar, achar bonito.” - “E o teu trabalho, PP? Tem como definir?”. - “É bonito, de bom gosto”. “Para fazer arte não tem frescura. É bater o olho e gostar, achar bonito”, sentencia PP Condurú

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especial

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Lucas Berredo

Glória Caputo Ano 1 06/2004

Costa da África do sul, Cabo da Boa Esperança Ano 1 09/2004

Chico Buarque Ano 1 12/2004

Living, ano 5 Revista Living completa meia década com trajetória de sucesso no mercado editorial paraense e planejando voos ainda mais altos Um pequeno volume de arte e letras concebido com carinho para todos que vivem ou ainda vão viver o conceito Leal Moreira. A descrição poética do diretor editorial André Leal Moreira talvez sintetize, de forma mais consistente, a história e a evolução da Living, cujo sucesso repentino na metrópole paraense motivou uma série de transformações positivas no mercado de revistas em Belém ao longo deste cinco anos. Desde a impressão em papel couchê, considerada inovadora à época do lançamento, à inclusão de entrevistas exclusivas com importantes personagens da cultura brasileira – e tão distintos – como Washington Olivetto, Fernando Meirelles, Galvão Bueno e Mauricio de Sousa, poder-se-iam buscar milhões de argumentos racionais para explicar o contínuo sucesso da publicação, ainda que se caia no erro de esquecer, inevitavelmente, um fator editorial ali ou um comercial acolá. Mas talvez a analogia do diretor entre a publicação e um volume de arte e letras explique a constante necessidade de renovação de conceitos na revista, e consequentemente a prerrogativa para que nenhuma edição se repita, tanto em formato quanto assunto. O simples fato de tornar uma leitura prazerosa “Sempre folheio com prazer a revista, aliás, sua proposta

é exatamente esta”, argumenta o empresário e colaborador Celso Eluan. “Não é uma revista perecível, os textos não são datados e podem ser folheados a qualquer tempo. Ideal para consultórios, salas de espera e para aquelas horas em que não queremos nada muito profundo. A editoria gráfica é maravilhosa, o acabamento de primeira, é de encher os olhos.” Pelo lado econômico, a longevidade de um produto caro – ainda mais com a escolha por uma primorosa excelência gráfica– poderia ter sido arriscada, se os profissionais reunidos não tivessem a mesma visão, como argumenta André Leal Moreira. “Como diria um bom filósofo popular, é tão impossível uma goiabeira dar manga como uma revista da qualidade da Living ser concebida por profissionais desqualificados”, brinca o diretor. “Escolhemos os melhores do mercado, aqueles que não se acomodam e não estão presos a conceitos ultrapassados, estudando continuamente uma melhor forma de fazer o que já fazem muito bem. Em minha opinião, este é um dos principais segredos do sucesso.” Editor-chefe da publicação desde agosto de 2008, após ter colaborado como revisor e repórter por três anos, o jornalista


4° Maria Rita Ano 1 03/2005

5° Washington Olivetto Ano 2 06/2005

6° Nando Reis Ano 2 09/2005

Elvis Rocha faz um contraponto pessoal à questão profissional. “A Living acabou sendo um resultado do trabalho de todos os profissionais que já passaram por ela. Ela foi sofrendo mudanças com o tempo, e cada um que passou por ela contribuiu pra que ela se tornasse o que é hoje, uma revista bem conceituada não só na região, mas fora dela.” Nascimento Criada em junho de 2004, a Living foi concebida pela agência Double M – braço publicitário da Leal Moreira – como um canal de relacionamento contínuo e sofisticado com os clientes da construtora. O lançamento da publicação ocorreu por ocasião do Living Leal Moreira, happening organizado por ocasião da inauguração do prédio Torre de Saverne. Na época, o evento reuniu mais de 50 empresas de decoração e entretenimento da capital paraense. “A Living, quando nasceu, já era um desejo antigo da Leal Moreira e estava apenas esperando uma oportunidade para ser lançada. A aposta inicial era criar um link entre a construtora e seus clientes capaz de proporcionar aos mesmos, na forma de revista, o prazer que é viver em um Leal Moreira”, argumenta André Moreira. “A partir desta premissa, tivemos que criar um produto editorial diferenciado e de alta qualidade artística e edi-

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torial. A união destes conceitos transformou definitivamente o mercado editorial de revistas em Belém e, até hoje, dita as tendências em nossa capital, suplantando todas as expectativas e se reinventando todos os dias, ao longo destes cinco anos.” No início, o foco da publicação era o prazer e o estilo de vida do perfil dos clientes da construtora. A primeira edição – junho de 2004 -, com apenas 50 páginas, apresentava, por exemplo, na capa, um perfil da musicista paraense Glória Caputo, cliente Leal Moreira do Metropolitan Tower. Um simples detalhe, segundo André, fez a revista mudar o direcionamento. “Após a primeira pesquisa de conteúdo, percebemos que devíamos mudar o foco”, diz. “A Living deixou de ser ‘a revista de quem vive um Leal Moreira’ para se tornar ‘a revista para quem vive um Leal Moreira’. Claro que as mudanças ocorreram sutilmente ao longo das edições e somente os leitores mais atentos perceberam. No entanto, pesquisas posteriores demonstraram a total aceitação.” A capa foi uma das primeiras mudanças na linha editorial. Logo a partir da terceira edição, optou-se por ampliar o espaço a personalidades nacionais. No volume em questão, o assunto em destaque eram os 60 anos do músico e compositor Chico Buarque, com a primeira breve passagem do cantor por Belém, em meados dos anos 60, junto a depoimentos de fãs e idealiza-


7° Tomie Ohtake Ano 2 12/2005

8° Portugal Ano 2 06/2006

9° Copa do Mundo Ano 3 06/2006

A qualidade gráfica é uma das marcas registradas da revista nestes cinco anos

dores da visita, contextualizados como uma abordagem local à reportagem. Também foram abertas, pouco a pouco, novas seções dentro da publicação trimestral, destinadas a turismo, música, moda, opinião, artes plásticas e arquitetura, assim como colaboradores das áreas respectivas. Evolução Nos anos seguintes, outros ajustes surgiram no projeto gráfico da capa e no direcionamento das reportagens produzidas. A partir da edição nº 12 (março de 2007), as tiras negras em horizontal foram retiradas da capa para valorizar melhor as obras ou fotos em destaque. Outra mudança foi a redução no tamanho da revista, para que uma maior quantidade de papel fosse aproveitada na gráfica Santa Marta – que, aliás, produz a publicação desde a primeira edição –, e o aumento do número de páginas – de 50, na primeira edição, para 134, na última. “Não fiz a Living sozinho, claro, mas, desde o início, quisemos passar a impressão de um produto de qualidade, limpo”, explica o diretor de criação André Loreto, idealizador do projeto gráfico da revista, ao lado do publicitário Bina Jares. “Inspirei-me em revistas para os públicos A e B, como a Mitsubishi e a Audi, e algumas outras publicações, mais alternativas, como a Cool Magazine. Ao lado do Leandro [Bender, designer e ilustrador da

revista], sempre primamos pelo branco, pela qualidade de tratamento nas fotos. Além disso, sempre estamos pesquisando e estudando novas tendências no design até para modernizar a revista e não ficarmos ultrapassados.” A qualidade gráfica, tão elogiada pelo público, não pode ser apenas creditada ao trabalho de diagramação. A parceria com a gráfica Santa Marta, desde a primeira edição, possibilitou a Loreto ter total confiança sobre a pós-impressão – que, rotineiramente, principalmente em jornais, sofre problemas de acabamento, encadernação, colagens e efeitos. Atualmente, a tiragem da Living é de 20 mil exemplares. “Fui para a gráfica, conversei com o pessoal da pré-impressão e eles me deram as dicas de como tratar a imagem para a Santa Marta”, explica Loreto. “Ou seja, todas as configurações programadas no arquivo produzido pelo Adobe InDesign [programa de editoração eletrônica] são direcionadas ao modo de trabalho da Santa Marta - quer dizer, a calibragem das máquinas, entre outras coisas. Essa padronização acabou dando um tratamento editorial diferenciado para a Living.” Processo Desde 2006, a Publicarte, braço editorial da Leal Moreira, é responsável pela coordenação e realização da Living. Dirigida pelo próprio André e o executivo Juan Diego Corrêa, a editora


10° Holanda Ano 3 09/2006

11° Oscar Niemeyer Ano 3 12/2006

12° Os gêmeos do grafite Ano 3 03/2007

A ideia é que a publicação seja ao mesmo tempo madura e aberta a novidades

foi criada especificamente para acelerar o processo de edição da publicação. Antes, ela era administrada pelos diretores da Double M Comunicação e da própria construtora. “Antigamente, partíamos do zero para definir as pautas para as seções”, explica André. “Com a Publicarte, passamos a receber sugestões de pauta da equipe para avaliação e aprovação. Desta forma, acredito que o processo ficou mais ágil e profissional, ocasionando melhorias na revista.” A convite de Fabrício de Paula, antigo editor-chefe da publicação, o jornalista Elvis Rocha colaborou em seis edições da Living, entre junho de 2005 e dezembro de 2007, como revisor, repórter e editor-assistente. No final do ano passado, quando Fabrício decidiu estudar fora do Brasil, Rocha recebeu o convite para assumir o cargo de editor-chefe na publicação. “A ideia da Living é fazer uma revista madura, mas aberta para novidades”, explica Elvis. “A intenção é ter um equilíbrio nos assuntos abordados. As reportagens principais geralmente falam sobre temas em voga, como o ressurgimento de vinis ou a febre de stand-up comedy, além de abrir espaços para personalidades locais ou nacionais que se destaquem de alguma forma em suas atividades.” Assim que uma revista é lançada, uma semana depois já se começa o processo de discussão da próxima. O processo de produção de reportagens para a publicação dura cerca de um mês e meio, explica Elvis. A equipe da revista é formada, na maioria, por jovens profissionais. “Os jornalistas e os profissio-

nais são jovens mesmo”, argumenta. “Nosso critério é ter qualidade de texto e curiosidade. Ou seja, a maioria tem um perfil de quem acompanha novidades nas áreas culturais, é ligado em música, tem uma boa cultura geral e vontade de oferecer um trabalho diferenciado, que seja visto como de qualidade seja aqui ou lá fora. A ideia da Living é essa. Ser uma revista produzida aqui mas que seja bem aceita em qualquer parte. Como ela tem sido.” A presença de novos colunistas renomados no Brasil, como José Roberto Torero e Arthur Dapieve, a partir da última edição, também pode ser sublinhada como um diferencial jornalístico na publicação. “Acho que a Living sempre teve colaboradores de categoria, o Celso Eluan, que tem um texto ótimo, e outros que passaram por ela”, comenta. “Desde a última edição, decidiu-se que iria rolar um upgrade nesse aspecto também. Aí entraram o Dapieve, o Torero, o Edyr Proença e a Cristina Serra, colaboradora nos primórdios da revista, voltou. Acho que eles acrescentaram bastante pra quem lê a publicação. A ideia é que outras figuras de expressão daqui e de fora escrevam para ela também. Vai haver uma espécie de espaço rotativo para a participação de outras figuras participarem, além desses que já vem escrevendo.” Colunistas Em cinco anos de história, colaboradores de áreas distintas escreveram para Living. Nenhum nome remanesce da primei-

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13° Catalunha

Living nº 14 setembro de 2007

Living nº 13 junho de 2007

GENTE COMPORTAMENTO DESIGN ESTILO IDÉIAS TECNOLOGIA CULTURA ARQUITETURA GENTE COMPORTAMENTO DESIGN ESTILO IDÉIAS TECNOLOGIA CULTURA ARQUITETURA

Ano 4

ano 4 número 14 setembro 2007

ano 4 número 13 junho 2007

06/2007

14°

Distribuição gratuita

Ano4

Leal Moreira

15° Ziraldo

Bem-vindo à Catalunha Cenários medievais e góticos, natureza estonteante e efervescência cultural fazem dessa região espanhola um roteiro imperdível

Ano 4

Luana Piovani

Leal Moreira

09/2007

capa_living1.indd 1

Distribuição gratuita

Luana Piovani

“Não estou preocupada com a forma” Aos 31 anos de idade, atriz inaugura novo ciclo em sua vida pessoal e na carreira

21/6/2007 17:10:25

12/2007 GENTE COMPORTAMENTO DESIGN ESTILO IDÉIAS CULTURA TECNOLOGIA ARQUITETURA

Living nº 15 dezembro de 2007

Living nº 16 março de 2008

16°

GENTE COMPORTAMENTO DESIGN ESTILO IDÉIAS TECNOLOGIA CULTURA ARQUITETURA

ano 4 número 16 março 2008

ano 4 número 15 dezembro 2007

Amyr Klink

ra edição, mas todos eles acrescentaram material diferenciado à publicação, em suas respectivas áreas – casos do fotógrafo Bob Menezes (presente nos dois primeiros anos da revista) e do crítico de cinema Ismaelino Pinto. Atualmente, o grupo de colunistas é formado por Álvaro Jinkings, Celso Eluan, Edyr Augusto, Guto Lobato, Marcelo Viegas, Nara Oliveira e Saulo Sisnando. Na última edição, a revista foi reforçada por uma dupla de primeira linha de cronistas: o jornalista e crítico musical carioca Arthur Dapieve, de O Globo, e o escritor, cineasta, roteirista e também jornalista paulista José Roberto Torero, do Portal UOL. Colaborador de grandes publicações nacionais e professor de jornalismo na PUC-Rio, Arthur Dapieve contém, no currículo, entre diversos trabalhos de destaque, a conceituada biografia “Renato Russo: O Trovador Solitário” e o romance “De Cada Amor, Tu Herdarás Só O Cinismo”. Ele é conhecido pela escrita precisa, sem ornamentos estéticos, e por abordar, em suas colunas, temas que abrangem desde o funk carioca, a Bob’s, indo até o cenário político. Tudo isso, há de se sublinhar, sem nenhum tipo de “academicismo”. Convidado por Elvis Rocha, junto a Torero, para integrar o time de colaboradores da Living, Dapieve diz que não foi preciso pensar muito para escrever para a publicação. “Passei a ler a partir do momento do convite”, afirma. “Primeiro, a edição eletrônica. Depois, a impressa. Como leitor, foi uma grata surpresa descobri-la. Não conhecia esta revista muito bonita visu-

Distribuição gratuita

Amyr Klink Dispensando a imagem de herói solitário, o navegador diz, em entrevista exclusiva, que seu interesse é conhecer as pessoas.

Leal Moreira

Leal Moreira

Distribuição gratuita

ano 4

Ziraldo Aos 75 anos, o pai do Menino Maluquinho apresenta com uma nova personagem: A Menina das Estrelas

almente, com temas interessantes e textos refinados. Gosto da abrangência da cobertura dentro da proposta.” Para Dapieve, um jornalista do eixo Rio-São Paulo, a Living não deve rigorosamente nada às revistas do Sudeste. Ele, aliás, indica que não há uma publicação com as mesmas características na região. Por questões contratuais com o jornal O Globo e a revista Bravo!, Dapieve só envia textos inéditos à publicação. “A Living tem também características toda especiais, que pedem um texto inédito e pensado diretamente para ela”, afirma. “Dispus-me a falar de cultura, no sentido mais estrito. E, dentro disso, quis falar de assuntos que sobrevivam aos três meses de vida ativa de cada edição da revista. Não me prendo a acontecimentos, mas posso usar um acontecimento [como lançamentos de livros e discos] para tratar de questões mais gerais”, acrescenta o colunista. Entre os nomes locais, destaca-se o do empresário Celso Eluan, colunista mais antigo da publicação. Avesso, a princípio, a colaborações, pois nunca havia escrito crônicas, Eluan somente foi persuadido por André Moreira para escrever sobre paternalismo. “Como falava com prazer da minha experiência de ser pai, por que não falar disso?”, questiona. O artigo, intitulado “A Arte de Ser Pai”, foi editado em setembro de 2005. “É um dos textos que mais gosto. Relutei a escrever no início porque, embora tenha certo domínio da escrita, sempre fiz isso em textos utilitários, tanto comerciais como para incentivo e treinamento do nosso grupo. Fiz, no máximo, alguns poemas na


GENTE DESIGN ESTILO IDÉIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA

GENTE DESIGN ESTILO IDÉIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA

Lázaro Ramos

Living nº 18 setembro de 2008

Living nº 17 junho de 2008

17°

ano 5 número 17 junho 2008

Ano 5

ano 5 número 18 setembro 2008

06/2008 18° Distribuição gratuita

Distribuição gratuita

Pitty Ano5 09/2008 Menina baiana

Com três discos e sucesso no Brasil inteiro, a baiana Pitty viaja pelo país num ritmo alucinante e planeja o futuro regado a jazz e literatura

Depois de emendar o atrapalhado Foguinho com o bem intencionado Evilásio, Lázaro Ramos esbanja versatilidade, diz que não aceita rótulos e se confirma como um dos destaques da tevê brasileira.

19°

Requinte

Leal Moreira

Leal Moreira

Inclassificável

Ana Botafogo

O chef francês Claude Troisgros foi a estrela do jantar oferecido pela Construtora Leal Moreira e pela Agra aos clientes do Torres Ekoara

Ano 5 Untitled-1 1

3/9/2008 18:19:42

12/2008 GENTE DESIGN ESTILO IDÉIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA

Living nº 19 dezembro de 2008

GENTE DESIGN ESTILO IDÉIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA

2009

20° ano 5 número 19 dezembro 2008

Adriane Galisteu

ano 5 número 20 março 2009

Double M

03/2009

Distribuição gratuita

Distribuição gratuita

o Ano

Ana Botafogo Leal Moreira

Primeira dama do balé brasileiro estuda uma nova carreira nos palcos, agora como atriz

5/12/2008 D052 21:34:50

Adriane Galisteu Emissora nova, cinema, teatro, uma língua aada e ótimas histórias para contar

Untitled-1 1

23/4/2009 D044 10:27:37

juventude”, conta. A escolha dos temas, para Eluan, é a parte mais extenuante no processo. Embora agradeça a liberdade criativa concedida pela direção editorial, ele admite que o ato de encarar a folha em branco e desenvolver algo atrativo, muitas vezes, demora dias para amadurecer. “Esta é a dor e a delícia”, argumenta o colunista. “Como escolher entre tantas opções? Por que este assunto e não aquele? Todos se acham importantes e fazem seu lobby na minha cabeça. Os dias se tornam aflitos. Depois, naturalmente, sento à frente do computador e já sei o que vou fazer e sai quase numa única tacada”, acrescenta. O que o inspira é desconstruir temas em voga por meio de sua visão de mundo “à margem”. “Não gosto de seguir a boiada”, diz o empresário, que nega, contudo, uma visão fechada para outros pontos de vista. “Vejo isso como a extensão de um fazer poético que um dia pratiquei. O objetivo não é cravar a verdade, mas fazer com que se reflita sobre as várias verdades. A poesia deve ser como um oráculo, onde as respostas não estão explícitas, mas cada um pode buscá-la dentro de si. Instigar é a alma da poesia.” Futuro O último passo na evolução da Living foi um segundo upgrade no projeto gráfico – os títulos ganharam fontes padronizadas na edição de março – e o aumento do número de páginas para 134. Essa constante renovação pode ser explicada tanto pelo natural desejo de oferecer um produto cada vez melhor, quanto o surgimento de uma concorrência mais organizada. “Há um ano mais ou menos, ouvíamos alguns comentários

de que a Living continuava legal, ‘mas’... Quer dizer, antes não havia esse ‘mas’. Isso começou a nos incomodar. A partir daí [na última edição], resolvemos chamar alguns fotógrafos e colaboradores para fornecerem material inédito para a revista. Acho que isso foi o marco inicial desta nova fase”, explica o diretor de criação André Loreto. Além da reforma gráfica, André Moreira adianta também o lançamento de projetos para a internet e o rádio. “O que posso adiantar é que estará no ar antes da próxima edição ser lançada”, explica. “Aguardem e terão boas surpresas.” Moreira vislumbra também outros mercados para a Living. O primeiro passo nesse sentido foi a parceria com a empresa Le Midia, que apostou no potencial de vendas da publicação e organizou uma estratégia de comercialização do produto para as principais bancas de Rio e São Paulo. “Fomos convencidos pelo nosso parceiro que temos um grande produto para estar nas bancas”, explica André Moreira. “Vale ressaltar que, em Belém, a distribuição continuará gratuita pois, para nós, a Living continua sendo uma bela ferramenta de prazer e relacionamento da Leal Moreira com seus clientes.” A confiança de André pode ser explicada pela própria reação dos paulistas, por exemplo, à qualidade gráfica e textual apresentada na Living. “Gosto de contar histórias de quando vou a São Paulo e apresento a Living como uma revista feita no Pará. A reação das pessoas é sempre a mesma. Precisam de alguns segundos para processar e perguntar novamente, ainda incrédulas: ‘É no Pará mesmo?...’. Ou seja, a Revista Living é isso mesmo, foi criada com a atenção e o olhar crítico que um artista tem com as suas obras.”



artigo

Tesouro nacional Poucos brasileiros conhecem um tesouro do nosso patrimônio natural, o Parque Nacional das Emas, no sudoeste de Goiás, quase divisa com o Mato Grosso do Sul. Até dez anos atrás, o parque costumava chamar a atenção da mídia pelas queimadas na estação seca do Centro-Oeste, no meio do ano. A direção do parque conseguiu montar um sistema eficiente de controle do fogo, por meio de aceiros - felizmente -, mas o parque deveria continuar sendo alvo da atenção - não só da mídia - como de todos os brasileiros. Motivos não faltam. A começar pela beleza do lugar, de tirar o fôlego, e de sua importância para a manutenção da biodiversidade do Cerrado, o segundo maior ecossistema brasileiro e um dos mais ameaçados do planeta. O parque - criado em 1961 por decreto do então presidente Juscelino Kubitschek - é a única unidade de conservação do país a preservar todos os tipos de vegetação de cerrado. Afinal, o cerrado não é um só, são muitos... Tem veredas de buritis, matas verdejantes, cheias de árvores frutíferas, e o chamado campo limpo, só de capim e pontilhado de cupinzeiros, alguns tão grandes, com mais de dois metros de altura, que parecem gigantescas esculturas. Os cupinzeiros são mais do que um cartão postal do parque. São um banquete para animais, como tamanduás e tatus. Ver os bichos em liberdade, no seu habitat, é a maior recompensa para quem se aventura nas trilhas empoeiradas. Há várias delas, que podem ser percorridas a pé ou de carro e cobrem boa parte dos 132 mil hectares de Emas. Recomendo o passeio a pé. Leva mais tempo, mas é que o barulho do carro afasta os bichos. É claro que, mesmo a pé, é preciso discrição para vê-los, nada de movimentos bruscos e gritos, que podem assustá-los. Eles percebem nossa presença pelo cheiro, antes até de os vermos. Mas como estão protegidos ali dentro, livres de caçadores, a relação é - digamos - amistosa. É claro que alguns são mais desconfiados. Tentei fotografar uma mamãe tamanduá com o filhote às costas. Mas, arisca que só ela, desapareceu no mato antes que a câmera ajustasse o foco. Em compensação, veados campeiros são vistos com facilidade e dá até para chegar perto. Uma beleza também é ver uma manada de queixadas (porco do mato) atravessando a trilha quase que em fila indiana, capivaras e antas pastando por ali. Outro simpático morador do parque é o tatu, aliás, os tatus. Tem o peba, menorzinho, e o canastra, bem maior. E a jaratataca, ninguém menos que o gambá, figurinha fácil que dá as caras até na sede do parque, onde vivem os funcionários do Instituto Chico Mendes, responsável por Emas. Não tive a sorte, porém, de avistar um lobo guará sequer. E olha que não foi por falta de esforço. Aprendi com os funcionários do parque algumas pistas: ficar de olho em frutos da lobeira no chão, reconhecer seu uivo ou latido. Esperei nas margens do rio Formoso esperando que ele aparecesse para beber água... até cocô de lobo - acredite, leitor - eu aprendi a identificar. Fui atrás dele numa trilha à noite, acordei às seis da manhã e nada

Cristina Serra jornalista

do danado dar as caras. Como recompensa, nunca vi - nem ouvi - tantos pássaros quanto lá. O Mirante do Avoador, é um excelente ponto de observação. É um mais lindo que o outro, de todas as cores e tamanhos, voando em bandos, autores da mais perfeita trilha sonora daquele paraíso. O guloso mutum (inadvertidamente deixei um saco com biscoitos de polvilho num banco enquanto fazia uma foto, na volta, cadê?), araras azuis - majestosas no alto dos buritis -, gaviões, canarinhos, curicacas, bacuraus e claro, a ema, a maior ave das Américas. As emas podem ser vistas mais nos arredores do parque do que dentro dele. Elas visitam com frequência as plantações de soja e milho que circundam a reserva em busca de alimento. Isso é um risco, não só porque, eventualmente, podem consumir resíduos de agrotóxicos, como pela possibilidade de serem atropeladas ao cruzar a estrada. A fauna é só uma parte do espetáculo. A vegetação também faz a sua parte. A imagem mais conhecida do Cerrado é a das árvores de troncos e galhos retorcidos. Mas tem muito mais para quem sabe apreciar detalhes. É uma delícia conversar com os nativos da região e ouvi-los discorrer sobre a variedade de sabores e propriedades medicinais das espécies nativas. Tive o prazer de conhecer um senhor, o seu Clóvis, nascido e criado no cerrado que faz picolés e sorvetes de frutas. Quer uma amostra? Tem de pequi, gabiroba, cagaita, mangaba, murici, cajuzinho, cajá manga, araticum, saputá, araçá, mutamba.. Acredite, leitor, é páreo de respeito para a variedade dos nossos sabores amazônicos. Seu Clóvis parece personagem de Guimarães Rosa, a prosa com ele rende um dia inteiro. Estudou só até o quarto ano primário, mas tem tanta sabedoria sobre o cerrado que é chamado para dar palestras Brasil afora sobre a necessidade de preservação. Com a invasão do agronegócio, a partir da década de 70, estima-se que pelo menos dois terços do Cerrado já tenham sido destruídos. Ambientalistas acreditam que se o ritmo de devastação atual prosseguir, o Cerrado estará extinto até 2030 e poderá ser visto e estudado apenas em unidades de conservação, como Emas, que foi reconhecido como Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco. O Brasil precisa dar mais atenção e proteção a esse ecossistema tão precioso. O Cerrado e a Caatinga são os dois únicos biomas não protegidos pela Constituição. Faço um convite a você, leitor. Programe-se para uma visita ao parque e apaixone-se pelo Cerrado. A gente só protege aquilo que conhece e ama. Além de tudo isso que eu contei pra você, tem mais o seguinte: o céu do Cerrado nessa época do ano é de um azul inacreditável de belo. E então, se animou? A dica é a seguinte: o parque tem duas entradas, pelos municípios de Mineiros e de Chapadão do Céu. Partindo de Brasília, são 680 km até Chapadão; saindo de Goiânia, 480 km. E de Chapadão até a entrada do parque, mais 25 km. Boa viagem!

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Belém

Parque da

Residência

“A gente se encontra lá no parque, então...” A frase, facilmente reconhecível por quem mora em Belém, não poderia ser dita há pouco mais de 11 anos, quando o atual Parque da Residência não passava da antiga moradia oficial dos governadores do Estado. Submetido a um minucioso trabalho de restauração, o novo espaço foi aberto ao público em 1998 e virou, de imediato, um ponto de encontro de artistas, empresários, estudantes e para público em geral. Nas próximas páginas, a fotógrafa Luiza Cavalcante mostra um pouco da beleza que se esconde nos detalhes do lugar. Confira.

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Uma homenagem das mais justas. O poeta Ruy Barata foi eternizado no espaço com a inclusão de uma estátua em tamanho natural. Obra do artista plástico e arquiteto Luiz Fernando Pessoa, a obra ocupa o espaço denominado “Canto do Paranatinga”, uma referência a Ruy.

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Na Praça do Trem, o visitante tem acesso a um vagão pertencente à extinta Estrada de Ferro Belém-Bragança. Restaurado, ele foi transformado na Sorveteria Vagão. É nela que o visitante se delicia com sabores que fazem os sorvetes paraenses estarem entre os mais apreciados por turistas do mundo todo.

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Algumas peças que compõem a paisagem do Parque da Residência passaram por minuciosas restaurações. Antes da recuperação do espaço, muitas delas se encontravam largadas no depósito do palacete que servia de moradia dos governadores, como ferro velho.

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Logo na entrada do Parque, está localizado o coreto Pavilhão Frederico Rhossard, uma homenagem ao poeta e fundador da Academia Paraense de Letras. O local é utilizado também para o lançamento de livros, apresentação de bandas de música e outros eventos.

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No projeto que levou adiante a recuperação do espaço, no final dos anos 90, tomou-se o cuidado de apresentar um pouco da flora paraense. São encontrados ao longo do Parque da Residência várias espécies diferentes de árvores típicas da região amazônica.

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O bonito orquidário, localizado logo na entrada do Parque, foi idealizado junto com a Associação dos Orquidófilos e a antiga Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (Fcap), atual Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA).

fonte: Paratur

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Praticidade éa

palavra

Armários bem projetados podem não só reorganizar o espaço de uma casa, como também emprestar mais leveza ao ambiente

Saber aproveitar todos os espaços de um armário é essencial. Este, por exemplo, acabou virando uma minibiblioteca

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Mayara Luma

A

pesar de toda a comodidade e segurança trazidas pelos apartamentos atuais, ainda há quem sinta saudade dos tempos dos casarões antigos. Estranho? Talvez não. Nostálgicos assim afirmam que a saudade que sentem é fruto de um motivo muito simples: o espaço, que, mesmo nos amplos apartamentos, não é mais encontrado como nas residências de antigamente. Como a cultura moderna de moradia não vai mudar, até por conta da violência que não parece dar sinais de trégua, saber valorizar o que os apartamentos têm de melhor é essencial para viver bem. E entre os pontos positivos dos prédios, a praticidade tem lugar de destaque. Nas casas antigas, o espaço demasiadamente amplo acabava, muitas vezes, tornando-se a maior dificuldade no que dizia respeito à organização do ambiente. Com tantas salas, móveis e quartos excessivamente grandes, organizar os objetos pessoais de forma prática era quase impossível. A valorização dos apartamentos e consequente substituição das casas obrigou as famílias a se adaptar a um novo tipo de moradia e encontrar meios de guardar seus objetos pessoais, que, em um espaço menor, não poderiam mais ficar espalhados. Somando estes fatores à intensificação da jornada de trabalho é que surgem os armários ultrapráticos e bem divididos. Aparentemente de pouca importância e tidos, não raro, como apenas um detalhe, os armários, dependendo de sua colocação na casa e de seu estilo, podem mudar por completo o cotidiano de uma família, como foi o caso de Cynthia Chady, casada e mãe de duas crianças. Quando a família se mudou para o novo endereço, Cynthia contou com a ajuda da arquiteta Larissa Chady para projetar armários sob medida que trouxessem maior comodidade em seu cotidiano e ajudassem na organização da casa, em especial dos quartos dos filhos. Foi então que surgiu um projeto inovador de armários, sem os quais, hoje, Cynthia

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Luiza Cavalcante

não consegue se imaginar vivendo. “Nossos armários nos ajudam muito na correria do dia-a-dia. As divisórias permitem uma visão geral de tudo, assim, não perdemos tempo procurando as coisas, conseguimos ver facilmente o que buscamos. E as estratégias pensadas para os quartos das crianças, então, nem se fala. As gavetas cheias de pequenos compartimentos são essenciais para meus filhos aprenderem a organizar seus objetos e não sair por aí deixando tudo pelo meio da casa”, explica Cynthia. Larissa explica que os armários projetados sob medida e de forma inteligente são uma forte tendência da arquitetura atual, que prioriza as individualidades e sabe aproveitar cada pequeno cantinho de uma casa. “Hoje as revistas falam muito desta questão da praticidade, por isto, clientes, geralmente, já me procuram com uma ideia do que querem para seus armários. Mas isto não dispensa a grande atenção necessária na hora de projetar. O arquiteto tem que pensar em todos os espaços que podem ser utilizados, nos armários que melhor se adaptem à rotina do morador e, claro, que estejam em sintonia com a decoração do ambiente”, analisa. Mas a solução para a organização de uma casa não está somente nos armários. Seu maior atrativo, as divisórias altamente práticas, pode, em alguns casos, tornar-se um grande problema. Antes de tudo, é preciso saber arrumar o armário para conseguir utilizá-lo de forma eficiente. Por isto, Larissa diz que o cliente não pode hesitar em pedir ajuda ao arquiteto caso encontre dificuldade na hora da arrumação. “Nós, arquitetos, podemos dar boas dicas, mas, na maioria dos casos, nem é preciso. As pessoas passam muito tempo pensando na organização de sua nova casa e encontram um enorme prazer ao se aventurar entre suas prateleiras e gavetas, o que é muito importante para que conheçam realmente o lugar onde vivem”, finaliza.


O que seria somente o apoio de sustentação da prateleira virou um espaçoso compartimento com portas de correr e gavetas profundas. Ideal para guardar cds, dvds e livros.

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Um dos lugares mais difíceis de organizar é a cozinha. Os armários repletos de divisórias ajudam na hora de guardar a louça, além de facilitar seu manuseio, que é constante ao longo do dia. O compartimento de baixo é ideal para guardar objetos muito pesados ou frágeis, como as garrafas de espumante.

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As colmeias de acrílico são uma ótima solução para gavetas destinadas a peças pequenas, como roupas íntimas e bijuterias, e para o quarto das crianças.

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Uma árvore só não faz jardim

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gourmet

Viagens ao redor do mundo ofereceram ao chef Leonardo Mory os elementos necessários para a criação do “Salmon Drink”

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Mayara Luma

Excêntrico e

inesquecível Mistura de elementos ocidentais e orientais faz do “Salmon Drink” uma experiência única e deliciosa

S

ó mesmo um sushi absurdamente delicioso e apaixonante faria a empresária Ana Carolina Almeida carregar um chef do Nordeste para Belém meses antes de finalizar as obras de seu restaurante. O tempero único e a cuidadosa decoração dos pratos preparados pelo chef Leonardo Mory conquistaram Ana de cara. Com medo de perder aquele talento, que se revela tímido e acanhado, a empresária se empenhou para trazer Léo, como é conhecido, o mais rápido para Belém. E não deu outra: em pouco tempo o chef estava perfeitamente acomodado em terras paraoaras e fazendo o maior sucesso. Como Léo chegou a Belém em março do ano passado e o restaurante onde trabalha com mais dois chefs só abriu em dezembro, aproveitou os oito meses em que passou na preparação do cardápio do sushi bar, cozinha pela qual é o responsável, para também conhecer a exótica culinária regional. A exploração de inusitadas combinações entre os ingredientes paraenses e os japoneses resultou na criação de pratos excêntricos e únicos, que acabaram por virar sensação entre os belenenses. Aliás, conhecer e explorar gastronomias sempre foi uma paixão do chef, cuja trajetória na culinária começou da forma mais improvável: para pagar a faculdade de engenharia civil, Léo, proveniente de uma tradicional família japonesa, conseguiu um emprego de auxiliar de sushiman em um restaurante de São Paulo. Não precisou de muito tempo para que percebesse que sua paixão, na verdade, não era o perfeito planejamento da

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construção civil, mas sim a aventura audaciosa entre os ingredientes e a arquitetura singular de pratos magníficos. Escolhida, então, a gastronomia como área profissional, Léo ganhou o mundo. Aproveitou sua origem japonesa para morar algum tempo na terra do sol nascente, onde aprendeu muito sobre a culinária oriental e adquiriu vasta experiência de vida. Do Japão, recebeu uma proposta de trabalho na Tailândia. De lá, foi para a Indonésia e depois para a Inglaterra. Por todos os lugares por onde passou aproveitou para incorporar um pouco dos sabores peculiares de cada região e para aperfeiçoar o conhecimento profissional em cursos. Quando voltou ao Brasil, de onde sentia muita falta, Léo só poderia optar por seguir a vertente fusion da culinária moderna, que, como o próprio nome diz, consiste na fusão de elementos orientais e ocidentais. E foi seguindo esta tendência que o chef montou o prato “Salmon Drink”. Apesar do gostinho agridoce ser velho conhecido dos japoneses, a combinação à francesa de maçã-verde com salmão, polvo e redução balsâmica oferece uma experiência única. Da França também veio a inspiração para a cuidadosa montagem do prato, etapa principal da preparação. “Como quase tudo é cru, com exceção do polvo, que passa por um rápido cozimento, o segredo do prato está na colocação dos ingredientes na taça e a finalização com os molhos coloridos. Ao chegar à mesa de jantar, o Salmon Drink precisa impressionar e dar muita água na boca”, explica Léo.

Luiza Cavalcante


Salmon Drink Ingredientes • 200 gramas de tartar de salmão; • 40 gramas de polvo; • 40 gramas de maçã verde; • Uma colher de sopa de redução balsâmica; • Molho teriaki; • Molho de tangerina; • Mistura de azeite e ovas.

Preparo Modo de preparo: Corte a maçã e o salmão em cubos e o polvo em pedaços pequenos. Depois, cozinhe o polvo por sete minutos em uma panela com saquê, shoyu e gengibre. A segunda e principal etapa é a da montagem: no fundo da taça, que deve ser como a da foto, ponha a redução balsâmica. Em seguida, coloque o polvo e a maçã. Por último, acrescente o salmão. Para decorar o prato, aplique os molhos com uma bisnaga de forma a desenhar uma espécie de rede, que deve ser preenchida em alguns pontos com a mistura de azeite e ovas. Acrescente elementos coloridos que dão charme ao prato, como salsinha e frutas. Por fim, vire a taça com cuidado e sirva imediatamente.

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Institucional 139


um quê a mais

Parceria solidária A Casa do Menino Jesus III, abrigo que atende crianças carentes, em tratamento de câncer e vindas do interior do Estado, abriu suas portas no último dia 6 de maio para um Café da Manhã. O objetivo do encontro era lançar o projeto Parceria Solidária, que congrega a instituição, a Construtora Leal Moreira, Agra Incorporadora e Banpará, que irá reformar e criar novos espaços no abrigo. A obra, que beneficiará a Casa com a duplicação dos leitos e melhoria de acesso aos cômodos, entre outras mudanças, está orçada em R$ 192 mil, e poderá ficar pronta a tempo das festividades natalinas. Dotada de dois prédios, pode-se dizer que hoje a Casa do Menino Jesus III funciona com metade de seu potencial. O primeiro prédio há muito tempo está desativado e serve como depósito. Nos fundos do terreno, existe uma outra casa, com dois andares e comportando 37 leitos. Um dos problemas é que os leitos ficam no segundo pavimento, o que dificulta o acesso das crianças mais debilitadas. Este é um dos pontos que a reforma pretende mudar. “Quando comecei este trabalho aqui não tinha dinheiro nem para comprar uma saca de cimento. A obra não tinha como crescer. De onde veio tudo isso? Das graças de Deus. Tudo apareceu. Enchi a pasta de documentos e ofícios. Entrava em qualquer canto para pedir. Agradeço a todos que se envolveram neste Projeto, como o Paulo Machado, da Leal Moreira, e o dr. Edílson Rodrigues, do Banpará, e aos novos amigos da Agra Norte”, disse a Irmã Silvanísia Barbosa, que coordena o abrigo. Segundo o diretor executivo da Leal Moreira, Paulo Machado, a reforma da casa terá dois momentos. “A obra foi pensada com a ajuda do arquiteto Marcos Nascimento e custará R$ 192 mil. Estamos buscando parceiros para que, quando a obra estiver finalizada, consigamos ‘padrinhos’ para cada espaço. Cada um se responsabilizaria em mobiliar os quartos e os novos ambientes que serão criados”, disse ele, ressaltando que a responsabilidade social é uma prática da Leal Moreira, que também participou de projetos como o Obra Humana e apoiou reformas na escola Pinto Marques, entre outros. O então presidente do Banpará, Edílson Rodrigues, já conhecia o trabalho da Casa do Menino Jesus III, bem como suas carências. O Banpará, aliás, ajuda a casa também efetuando o pagamento mensal de despesas como energia elétrica e alimentação. Edilson chama a atenção dos paraense e pede que nos solidarizemos com a causa. “O Banpará abriu uma conta para que o povo possa ajudar depositando qualquer quantia para a reforma. A ajuda também pode ser dada com doação de materiais de construção ou serviços. Todas as contribuições serão bem-vindas e as crianças serão as principais beneficiárias”, disse. Os interessados em ajudar poderão depositar suas quantias na Conta Corrente de número 310.502-4, da Agência 011 do Banpará. Quem quiser doar materiais de construção poderá fazê-lo na própria casa, que fica na travessa Castelo Branco, 1403, em São Brás.

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1- Os representantes da Leal Moreira, Agra e Banpará, irmã Silvanisia , algumas das crianças atendidas e convidados , no Café da Manhã. 2 - O então presidente do Banpará , Dr. Edilson Rodrigues de Sousa, apresentando o projeto de reforma. 3 - Sra. Vera Athias , que já é parceira voluntária da Casa, presente no lançamento.

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Tecnologia de ponta A Leal Moreira inova mais uma vez com a utilização de tecnologia de ponta em seus empreendimentos. As Torres de Farnese e Belvedere serão os primeiros prédios das regiões Norte e Nordeste a utilizar a linha Silentium PVC, da Amanco. Recém-lançado no mercado, o sistema Silentium, composto de tubos e conexões em PVC mineralizado de alta densidade, é o que há de mais moderno na área, pois garante uma redução significativa dos ruídos nas instalações hidráulicas.

Próximos lançamentos Mais dois empreendimentos da Leal Moreira, em parceria com a Agra Incorporadora, serão lançados no mês de setembro. Um deles está localizado na 25 de Setembro, área em processo de revitalização, e será composto por duas torres com apartamentos de 133 e 107 m², divididos em 20 andares. Já o segundo, localizado em uma área estratégica da Avenida Senador Lemos, ao lado de um centro comercial, será composto de três torres com apartamentos de 65 e 82 m². Ambos serão equipados com excelentes áreas de lazer.

Congresso Com o patrocínio da Leal Moreira, acontece, entre os dias 13 e 14 de agosto, em Belém, o Congresso de Engenharia, Arquitetura, Urbanismo e Design. O evento, sediado no Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, traz profissionais reconhecidos internacionalmente, como o famoso Oscar Niemeyer e o italiano Renzo Piano, além do badalado Marcelo Rosenbaum.

Projeto Kirmayr A Leal Moreira e a Agra Incorporadora renovaram a parceria com a Assembleia Paraense no patrocínio ao projeto Kirmayr. Iniciada ano passado, a parceria, coordenada pelo tenista Carlos Alberto Kirmayr (foto abaixo), incentiva a prática do tênis e tenta melhorar o nível técnico dos associados, já rendeu bons frutos aos inscritos: Brenda Rique já é a décima no ranking nacional e Vinícius Fialho figura entre os oito melhores do país. Ambos têm 14 anos. Brenda Moreira, que também participa do projeto, foi a única tenista paraense convidada a participar do I TV Liberal/ITF Challenger, torneio internacional de tênis realizado na AP. O torneio, válido para o ranking mundial, trouxe atletas do mundo inteiro e objetivou buscar talentos para as Olimpíadas de 2016. Brenda foi convidada pelo seu desempenho recente em competições nacionais.

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um quê a mais

T O R R E S

E K OA R A C

projeto

lançamento

fundação

estrutura

alvenaria

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revestimento acabamento

Check List das obras Leal Moreira

Torre Résidence Torres Ekoara Torre Umari Torre Vert Torre de Farnese Sonata Residence Torre de Belvedere Torre de Bari Torre de Toledo Torre de Saverne* *entregue no dia 12/05/2009

em andamento concluído 142


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saverne

Uma noite

inesquecível

A construtora Leal Moreira ofereceu um jantar, na noite de 12 de maio, para comemorar a entrega de mais um empreendimento, o Torre de Saverne. O prédio, que fica em uma das mais nobres áreas de Belém, situado na avenida Magalhães Barata, é multifacetado. Mescla a modernidade, presente em sua estrutura e demonstrada na inovadora fachada do edifício, ao clássico, com a restauração de um casarão de origem do século XIX, que foi recuperado e agora faz parte do condomínio. Segundo o diretor-geral da empresa, Carlos Moreira, a possibilidade de restaurar o casarão em todos os seus detalhes foi um dos objetivos pensados pela empresa para comprar o terreno, além de todo conforto que tanto o condomínio quanto os apartamentos oferecem aos moradores. “Este casarão é uma edificação da qual temos documentos que datam de 1882, portanto final do século XIX. Estes documentos serão entregues, todos encadernados, ao condomínio. São os próprios condôminos que decidirão qual será a sua utilização. Pode ser usado como um outro salão de festas, já que o edifício conta com um salão moderno. Temos dois outros empreendimentos previstos que também terão os casarões que fazem parte do terreno, restaurados”, disse. Para o diretor executivo da Leal Moreira Paulo Machado, o novo empreendimento traz uma combinação de benefícios que sintetizam um autêntico Leal Moreira. “Diria que o ponto forte deste empreendimento é o fato de ter uma localização central, entre duas das principais avenidas de Belém, e preservar, no centro, a tranquilidade, por estar em um terreno amplo e ser recuado em relação à rua. Também tem uma área de lazer muito grande, com duas piscinas, adulto e infantil, e quadra poliesportiva e de tênis. O adicional é a casa antiga, que é um patrimônio histórico preservado, e será também um presente para a cidade”, explicou. Paulo falou também sobre a disposição dos cômodos no apartamento e chamou atenção para a fachada do edifício, considerando-a a mais bonita da cidade. “Os apartamentos tem 205 m². São quatro suítes, um gabinete, sala de estar e sala de estar íntimo. O edifício tem 25 andares de apartamentos e uma fachada com um traço arquitetônico muito bonito, diferente”, concluiu. A ideia de mesclar o “novo” e o “velho” também se fez presente na decoração dos ambientes do edifício, assinados pelos arquitetos José Junior e Ana Perlla.

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fale com a g ente

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artigo

A velha e nova economia Alguém se lembra quando íamos lá “em baixo” tomar uma banana split na 4 e 4? No tempo que supermercado era pequeno e fechava às 19h e funcionava só até sexta? Ao meio-dia de sábado fechava juntamente com todos os postos de gasolina. Naquele tempo os meninos usavam kichute, as meninas conga e todos íamos para Mosqueiro de balsa. Absolutamente tudo dormia a sesta depois do almoço e para falar com alguém se voltava para casa com o intuito de ligar ou usava-se o orelhão. Lanchote era o Boss e o Well´s, loja de departamentos era a Mesbla e A Província do Pará ainda existia. Diversão de criança era assistir “Os Trapalhões” domingo à noite e a anos-luz do Cirque du Soleil esperava-se o ano inteiro para ver o Orlando Orfei. TV demorou 10 anos para virar colorida e o máximo de inovação que se tinha acesso era apresentado por Cid Moreira no Fantástico. Parque de diversões vinha junto com a santa em outubro, quando o Círio ainda chegava as 11h e era uma festa familiar somente de paraenses. Brinquedo era Estrela e na Doca se caçava passarinho, isso tudo quando o Bairro de Fátima se chamava Matinha algum tempo depois da Tito Franco virar Almirante Barroso. Vendedora era aquela que te mostrava, fazendo favor e comprava-se o que tinha e não o que se queria. Carro era um bem caro e para comprar dava trabalho. O Estado estava tão presente na economia que possuía fábrica até de calcinha e o sonho de todo brasileiro era... trabalhar no Banco do Brasil. Quase não existia empresa privada e o negócio eram os grandes cargos do governo. Você poderia prestar vestibular na Ficom (quando se escolhia CH) ou na UFPa – para quem escolhia CB - e a UFRA era Faculdade de Ciências Agrárias. Bebia-se refrigerante Garoto e mingau de banana no Ver-o-Peso, que era ao lado dos galpões das Docas. Ah! a velha Belém que hoje convive lado a lado com os serviços do varejo tecnológico, com suas lojas claras e iluminadas, seus programas de fidelidade e atendimento personalizado, aberto 24h, sete dias por semana. Quando lembro que corria-se para comprar pão e queijo antes das 19h, quando a padaria fechava. O Walter Bandeira era magro e cantava com o Gema quando o Nego Nelson tinha cabelo, e delivery ninguém conhecia. Enquanto alguns preocupam-se com um mix diferenciado de produtos outros ainda os mantêm jogados em bancas sem ordem de exposição. Programas agressivos de atendimento ao cliente dividem mercado com dúvidas se “este negócio de treinar dá certo” – duas mentalidades de empresário no mesmo bairro de comércio nobre. Esta velha Belém ainda existe e coexiste com um embrião de mercado pujante que busca inovação como forma de manter-se competitivo. Como todo processo evolutivo não é delimitado por um marco e sim por um ciclo de mudanças com inúmeros contornos, estas duas economias ainda habitarão a mesma região por alguns períodos. O fato é que este excitante, estressante, enfadonho e calhorda mundo real, o mundo dos negócios, vai nos alcançar e brevemente não haverá mais escolhas a não ser responder às demandas de um ambiente econômico que não suporta erros e não concede outra chance. O ciclo do erro pela falta de planejamento e controle eliminará os adeptos do gerenciamento por felling e aqueles que não perceberam que o exigente consumidor hoje elimina quem não o satisfaz pelo fácil acesso a outros produtos e mercados. Acordai-vos, ó homens de mercado! Transformai seus negócios em brands fortes capazes de sobreviverem às gerações futuras. Analisai como as transformações da sociedade definiram necessidades que impactam nos seus mercados/produtos. Implantai modelos gerenciais capazes de suportar o desenho da empresa que surgirá para atender às demandas da nova economia.

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Nara d´Oliveira Gestor Consultoria


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sex & sábado

Saulo Sisnando Escritor

Mulher pode! Tenho amigas que batem no peito e dizem: “Eu adoraria ter nascido homem”. O quê? Como assim? Deus me livre e guarde! Eu adoro ser fêmea, ser mulher, ser mapô. Porque mulher é um bicho que pode! Mulher pode usar vestido, calça comprida, bermuda, pantalona, corpete, bustiê, tubinho, bota, turbante, brinco, fivela. Pode usar paetê, lamê, miçanga. Pode ser perua, romântica, executiva, fashion. Tem pra todo gosto! Agora, imaginem se, do dia pra noite, eu virasse homem e me proibissem de usar pulseiras, argolas e colares. Sim! Porque os homens estão redondamente enganados se pensam que usamos isso para encantá-los. Tolos! Usamos para nós mesmas. Eu adoro ser do mesmo gênero da Carmen Miranda. Pois nós, as mulheres, podemos “até” ser feinhas. É pra isso que existe maquiagem. A gente pode usar blush, sombra, lente azul, cílio postiço. Pode pintar cabelo, usar aplique, travessa e até flor na cabeça. Pode ser loira de manhã e morena de noite. E homem... Pode? Se mulher não tiver pescoço... Abusa no decote! Se for magra, usa tudo que for justo, brilhante e claro. Se for gorda: cores escuras! Muito peito: gola V. Pouco peito: sutiã de arame. Muito quadril... Ah! Usa um vestido tipo trapézio. Mulher pode crescer com sapato alto, pode fazer charme com cabelo.

Mas e os homens? Coitados, não podem nada! Mulher pode ser delicada ou rigorosa. Pode ser romântica e receber rosas. Pode ser mais ousada e mandá-las. Pode não saber dirigir, pode inclusive exigir que abram a porta do carro e puxem a cadeira para sentar à mesa. Metidas, não? Pode ser presidente, desembargadora, física, consultora de uma multinacional e pode, se assim o desejar, ficar em casa e ser Amélia. Afinal quem disse que é proibido? Homem tem muito mais regras para seguir. É muito mais cobrado. Não pode faltar trabalho por causa de cólicas terríveis, não pode justificar os dois quilinhos por causa da retenção de líquido. Não pode dizer para todo mundo que não é estresse: na verdade, é TPM. Homem não muda, não pode, não tem clímax. Não tem transformação. Quantos filmes você já viu com homens feios que ficam bonitos? Um ou dois? Mas achar um filme onde uma mulher bonitinha fica divina, eu cito uns três milhões. Eles não podem surtar, não podem dançar sem se preocupar com o fato dos outros o chamarem de viado. Mulher não envelhece nunca, já dizia sabiamente minha mãe. Que, por sinal, é novíssima! Nem pintar cabelo os homens podem. Se eles têm mais de quarenta anos e pintam as madeixas: ou é boiola, ou é o sósia do Silvio Santos. É bom demais ser mulher e poder escolher, a cada dia, que mulher a gente quer ser. É bom pra fazer homem de besta. Porque isso a gente também pode fazer... E, cá entre nós, é o que fazemos melhor. como Maria Eduarda

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Living nº 21 ano 5 número 21 especial 5 anos

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Mauricio de Sousa 50 anos de carreira e projetos mil na cabeça. O mito dos quadrinhos brasileiros só tem olhos para o futuro.

Leal Moreira


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