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RLM nº 39 GENTE DESIGN ESTILO IDEIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA

ano 9 número 39

Juliano Cazarré Amante de filosofia, o ator fala sobre felicidade e da única constância na vida: a mudança

Leal Moreira

Beth Goulart vive Clarice Massimo Bottura A Espanha de Dalí

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A Revista Leal Moreira 39 traz conteúdo exclusivo nas matérias sinalizadas com QR code.

índice ano 9 número 39

MASSIMO BOTTURA A lista dos melhores de 2013 é um deleite aos sentidos. Passamos um dia na Osteria Francescana, do chef Massimo Bottura. Eleito o terceiro melhor restaurante do mundo de 2013, a Francescana resgata receitas antigas com o uso de técnicas avançadas.

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ADENAUER GÓES O Secretário de Estado de Turismo fala sobre os investimentos para fazer de Belém uma cidade turística para quem a visita e para quem vive nela. Leia a 5ª entrevista da série especial “Belém - 400 anos”.

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capa

114 08/08/2013 09:10:50

capa Juliano Cazarré Foto de Daryan Dornelles

especial

Beth Goulart Massimo Bottura A Espanha de Dalí

gourmet

Amante de ¿loso¿a, o ator fala sobre felicidade e da única constância na vida: a mudança

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JULIANO CAZARRÉ O intérprete de Niño, de “Viver a Vida”, fala de sua leveza, da paixão pela escrita, pela filosofia e de paternidade.

perfil Beth Goulart - a atriz se debruçou sobre a vida e a obra de Clarice Lispector por quase dois anos e o resultado é um espetáculo romântico e uma semelhança assombrosa com a escritora.

especial A invenção da cozinha foi determinante para a evolução do ser humano. Essa é a conclusão de uma pesquisa revolucionária de duas cientistas brasileiras.

comportamento Pais tardios. Homens falam sobre a feliz descoberta da paternidade depois dos 40 anos. E desfazem mitos.

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ALTA FIDELIDADE O mercado fonográfico (re)vive a volta dos discos de vinil. O movimento, que não é recente, ganha cada vez mais adeptos e incentivos.

Belém| 400 anos

Juliano Cazarré

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dicas Anderson Araújo Celso Eluan especial Samba galeria tech horas vagas Felipe Cordeiro destino enquanto isso Gabriel Vidolin vinhos decor falando nisso institucional Nara Oliveira

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piscina Faz uma a no meu h de bolin o todo? t r a u q

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Camisa vermelha combina com bermuda verde?

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editorial

Caro leitor, “Escolha um trabalho que ames e não terás que trabalhar um único dia”. Peço licença poética ao parafrasear Confúcio neste espaço, porque, talvez, não exista um pensamento que sintetize melhor a rotina de todos que fazem a Revista Leal Moreira. São pessoas que amam seus ofícios e, portanto, compromissadas com nossos leitores e com o desafio constante de inovar. Nesta edição 39, a última do ano 9, não poderia ser diferente: Juliano Cazarré, o Niño da novela Viver a Vida, reserva uma surpresa aos nossos leitores: a paixão por filosofia, pela dramaturgia e fala ainda sobre os desafios da paternidade. Agosto, claro, é o mês dedicado às homenagens aos pais e a RLM traz uma bela matéria com os pais “tardios” que descobriram em seus filhos razões para uma vida melhor e plena. Beth Goulart - aposto - vai surpreender você também. Apaixonada por Clarice Lispector, a atriz mergulhou no universo da escritora e nos brinda com uma transformação... Vá em frente, veja por si! Também fomos à Itália, onde passamos um agradável dia na companhia do chef Massimo Bottura, eleito pela The Restaurant o terceiro melhor do mundo. O segredo? Ele revelará nas páginas a seguir. Encante-se ainda com uma matéria sobre como a cozinha foi determinante para a evolução humana ou sobre com os vinis voltaram à moda. Um abraço e boa leitura! André Moreira

expediente Tiragem auditada por

Atendimento: João Balbi, 167. Belém - Pará f: 91 4005.6800 • www.lealmoreira.com.br Construtora Leal Moreira Diretor Presidente: Carlos Moreira Diretor de Auditoria: João Carlos Leal Moreira Diretor de Novos Negócios: Maurício Moreira Diretor de Marketing: André Leal Moreira Diretor Executivo: Paulo Fernando Machado Diretor Técnico: José Antonio Rei Moreira Diretor de Incorporação: Thomaz Ávila Diretor Financeiro: Drauz Reis Gerente Financeiro: Dayse Ana Batista Santos Gerente de Controladoria: Ana Vitória de Oliveira Gerente de Planejamento: Carlos Eduardo Costa Gerente de Relacionamento com Clientes: Alethea Assis Gerente de Marketing: Mateus Simões Leal Moreira Engenharia Diretor: William Chamas Juniyor

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Revista Leal Moreira Criação Madre Comunicadores Associados Coordenação Door Comunicação, Produção e Eventos Realização Publicarte Editora Diretor editorial André Leal Moreira Diretor de criação e projeto gráfico André Loreto Editora-chefe Lorena Filgueiras Editora assistente e produção Camila Barbalho Fotografia Dudu Maroja Reportagem: Anderson Araújo, Augusto Pinheiro, Bianca Borges, Camila Barbalho, Karina Jucá, Leila Loureiro, Leonardo Aquino, Leonardo Santos, Lucas Ohana e Sara Magnani. Colunistas Anderson Araújo, Celso Eluan, Felipe Cordeiro, Gabriel Vidolin, Nara Oliveira e Raul Parizotto. Assessoria de imprensa Lucas Ohana Conteúdo multimídia: Max Andreone e Bruna Valle Versão Digital: Brenda Araújo, Guto Cavalleiro, Fabrício Bezerra Revisão Marília Moraes e André Melo Gráfica Delta Tiragem 12 mil exemplares

A Leal Moreira dispõe de atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18:30h

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On-line: Conheça um pouco mais sobre a construtora acessando o site www.lealmoreira.com.br. Nele, você fica sabendo de todos os empreendimentos em andamento, novos projetos e ainda pode fazer simulações de compras.

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Comercial Gerente comercial Danielle Levy • (91) 8128.6837 daniellelevy@revistalealmoreira.com.br Contato comercial Thiago Vieira • (91) 8148.9671 contato@revistalealmoreira.com.br Ana Carolina Valente • (91) 4005.6874 anacarolina@revistalealmoreira.com.br Financeiro Contato @door.net.br Fale conosco: (91) 4005.6874 revista@door.net.br revista@lealmoreira.com.br www.revistalealmoreira.com.br facebook.com/revistalealmoreira Revista Leal Moreira é uma publicação bimestral da Publicarte Editora para a Construtora Leal Moreira. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem autorização.



Belém

Favela Chic Reinaugurado no primeiro semestre, o já famoso bar Favela ganhou um sobrenome que diz a que veio sua volta: chic. Muito bem redecorado, o lugar manteve o aspecto lúdico e inventivo que lhe era tão peculiar. Os tons quentes das cores e lustres convidam às festas que são realizadas todo fim de semana. A cozinha é sofisticada e versátil, oferecendo desde os habituais petiscos de barzinho até elegantes pratos para dois. Também merece destaque a carta de drinques da casa. Programa perfeito para quem gosta de dançar.

Av. Conselheiro Furtado, nº 2553 – entre Rua Nove de Janeiro e Av. Alcindo Cacela • 91 3223.1040

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Rua Bernal do Couto, nº 580 - esquina com Trav. Dom Romualdo Coelho • 91 3352.5362

Baviera Bar Seguindo as tendências mundiais de apreciação de cervejas, o Baviera Bar é um lugar especializado no assunto. A carta de cervejas compreende 109 rótulos, com bebidas vindas da Dinamarca, Holanda, Espanha e Bélgica – além dos títulos nacionais. Inaugurado em junho, o espaço é bonito, elegante e intimista. Ideal para os que apreciam degustar sabores refinados e conhecer mais da cultura mundial no que diz respeito ao assunto. Indicamos experimentar a trapista Rochefort, feita na abadia de Notre-Dame de Sait-Remy, na Bélgica. Para comer, as salsichas alemãs com os molhos picante e de mostarda são imperdíveis.


Brasil

Le Manjue Organique Uma cozinha que combina bem estar e sabor: essa é a proposta do elegante “Le Manjue Organique”, restaurante gourmet de cozinha orgânica. Segundo o chef e proprietário, Renato Caleffi, “o que faz o cardápio autêntico é o cuidado: os ingredientes são adquiridos somente de pessoas que entendem e respeitam a pureza do crescimento natural dos alimentos”. A casa é elegante e aconchegante, com uma atmosfera acolhedora. Abrace o lema da casa: tudo é uma questão de boa companhia. Delicie-se com o couvert do dia (sempre surpreendente), o Gratinado de Brie, a moqueca de shitake com palmito e, claro, para sobremesa, a pera com ganache 70% sem açúcar.

Rua Domingos Fernandes, 608 - Vila Nova Conceição - São Paulo - SP • 11 3034.0631 ou 3031.2896 • www.lemanjuebistro.com.br

Casa Mathilde Aberta recentemente em São Paulo, a doçaria portuguesa Casa Mathilde produz todos os produtos vendidos na loja, que funciona no centro de cidade. Um dos idealizadores do negócio, Rui Mendes, antecipa que mais duas novas unidades serão inauguradas até o final deste ano, também na capital paulistana. A doçaria, como os portugueses fazem questão de chamar as “delicatessen”, oferece mais de 30 tipos de doces e bolos, assinados por três mestres confeiteiros vindos de Portugal e que trabalham com receitas tradicionais. A marca, que hoje é dessa empresa, tem tradição e foi, por muitos anos, fornecedora oficial de doces da Casa Real Portuguesa. Destaques para os pastéis de nata (a cozinha chega a assar 600 unidades por dia), a “queijada da Mathilde” e a empada de frango. Peça, se possível, um expresso Segafredo. Praça Antônio Prado, nº 76. São Paulo - SP. • 11 3104.7955 • www.casamathilde.com.br www.revistalealmoreira.com.br

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mundo

Lavanderia Vecchia - Berlim Escondido em uma ruela de Neukölln, nos arredores de Berlim, um restaurante chama a atenção tanto pelo seu inusitado tema quanto pelo fato de ser extremamente concorrido: é o Lavanderia Vecchia, “lavanderia velha” em italiano. O ambiente é pequeno, mas teatral: máquinas de lavar e tábuas de passar espalhadas, panos engomados pendendo do teto e uma iluminação com tons de roxo e verde neon sugerem uma atmosfera totalmente inesperada. No cardápio, pratos rústicos, azeites e vinhos típicos da Itália. Aconselhamos começar com a sopa fria de melancia. Destaque também para a equipe de funcionários predominantemente italiana. O atendimento excelente é marca registrada do local e uma das razões para uma mesa ser tão disputada na casa.

Flughafenstr, 46, 2. Hof Fabrikgebäude EG. D-12053, Berlim • 030-62722152 • www.lavanderiavecchia.de

Loch Fyne – Bristol

Originário da costa oeste da Escócia, o Loch Fyne caiu nas graças do Reino Unido e se espalhou em 42 pontos. Mesmo assim, seria muito injusto chamar a marca de “rede de restaurantes”: cada unidade possui personalidade própria, com decoração refinada em ambientes intimistas e charmosos. A unidade de Bristol não poderia ser diferente: com salão amplo e arejado, o lugar é a opção perfeita para experimentar o que há de melhor em frutos do mar, seja com a família ou em um jantar a dois. Grande parte dos mariscos e peixes vem direto do lago – o frescor dos alimentos, portanto, torna o sabor ainda mais especial. A dica é pedir ao chef a sugestão de um prato sazonal. The Old Granary Queen Charlotte Street , Bristol - BS1 4HQ • 0117 9307160 www.revistalealmoreira.com.br

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perfil

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Leila Loureiro

Na

correnteza de

Cazarré

“Aceitar que as coisas mudam o tempo todo” é uma das premissas de Juliano Cazarré. O ator, que está no ar em “Amor à vida”, fala sobre sua participação no filme “Serra Pelada”, sobre filosofia e a constante vontade de mudar.

J

uliano Cazarré, o ator que cativou o país na pele do ingênuo Adauto na novela “Avenida Brasil”, aos 32 anos já tem um currículo invejável também no cinema. Atualmente, o ator está no ar interpretando o personagem Niño em “Amor à Vida” e, a partir do dia 18 de outubro, também estará em cartaz com o filme “Serra Pelada”. Sim, Juliano é um respeitado ator de cinema, com uma irretocável atuação em trabalhos sob a batuta de feras da direção como Fernando Meirelles, Claudio Assis e Heitor Dhalia. Nascido em Pelotas – mas criado em Brasília – é perfeitamente compreensível que ele seja inicialmente julgado como árido e estranho tal qual o Cerrado. Forte engano. Juliano tem vida, calçadas e esquinas, muitas esquinas; e assim como a capital federal, é incompreendido num primeiro momento. “Olha pra mim. Eu sou um cara muito diferente do que meus papéis retratam”, ressalta o ator, vestido de forma sofisticada, com uma bolsa a tiracolo de causar inveja a qualquer fashionista. Vivendo no Rio com a mulher Letícia e seus dois filhos Vicente e Inácio, o “brasiliense”, como se intitula, curte a vida diurna da cidade: vai à praia e pedala nas ciclovias da Barra da Tijuca, longe da vida boêmia que surge ao cair da noite carioca. Não esperem que as próximas linhas descrevam um homem rude, galanteador ou aventureiro, pois Juliano é um homem sensível, de olhar polido, fala macia e bastante sereno. Bem distante dos seus personagens, o ator, que também já dirigiu um longa, busca na atuação uma linguagem mais virtuosa. É bom que fique claro: Juliano Cazarré é um

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homem profundo, que pensa, reflete e constrói uma bela trajetória profissional ainda que, em alguns momentos, uma fenda temporal o leve para outros caminhos. Juliano se deixa conduzir, sabendo que o rio muda ao longo de sua corrente. Sentados à beira de um palco, na zona oeste do Rio de Janeiro, deixamos a nossa conversa encenar um papo filosófico, que fluiu por meio do conceito de felicidade e transformação. E já que a filosofia nada mais é do que “pensar melhor para viver melhor”, filosofar com Juliano Cazarré certamente é melhorar em dobro. Afinal, quem não gosta de admirar o belo? Você cresceu fora do eixo Rio-SP e, aos 32 anos, já tem um currículo invejável no cinema. Como foi essa trajetória? Estudei artes cênicas na UNB e sempre quis ter uma companhia de teatro, de pesquisa, pra perceber a linguagem teatral, trabalhar o virtuosismo do corpo, da voz... No teatro, você pode fazer qualquer coisa, você pode ser um tigre, uma árvore, um Deus; essa é a beleza do teatro. Mais tarde, eu encontrei isso no cinema e me afastei da busca inicial de um teatro mais virtuoso, mais físico. Em 2004, rodei meu primeiro longa – “A Concepção” - e a vida foi se abrindo pro cinema. Fiz “Nome Próprio”, do Murilo Salles, em 2006; “Magnata”; “Tropa de Elite”; “Menina Morta”;“360” e me vi dentro da turma do cinema. Você já entrou pela porta do cinema e depois migrou para a TV? Quando eu me deparei, eu já estava no universo do cinema, o que eu amo fazer e em »»»

Daryan Dornelles


No cinema

2002 - Suicídio Cidadão (curta-metragem/Direção: Iberê Carvalho) 2003 - Momento trágico (curta-metragem/Direção: Cibele Amaral) 2005 - A Concepção (longa-metragem/Direção: José Eduardo Belmonte) 2007 - Meu Mundo em Perigo (longa-metragem/Direção: José Eduardo Belmonte) 2007 - Tropa de Elite (longa-metragem/Direção: José Padilha) 2007 - O Magnata (longa-metragem/Direção: Johnny Araújo) 2007 - Nome Próprio (longa-metragem/Direção: Murilo Salles) 2008 - A Festa da Menina Morta (longa-metragem/Direção: Matheus Nachtergaele) 2009 - Salve Geral (longa-metragem/Direção: Sérgio Rezende) 2010 - Véi (média-metragem/Direção: Juliano e Érico Cazarré) 2011 - Bruna Surfistinha (longa-metragem/Direção: Marcus Baldini) 2011 - Vips (longa-metragem/Direção: Toniko Melo) 2011 - Assalto ao Banco Central (longa-metragem/ Direção: Marcos Paulo) 2011 - Febre do Rato (longa-metragem/Direção: Cláudio Assis) 2011 - 360 (longa-metragem/Direção: Fernando Meirelles) 2012 - Augustas - O Filme (longa-metragem/Direção: Francisco Cesar Filho) - Em período de produção.

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2007 eu mudei pra São Paulo. Não estava programado pra ir pra TV, só pra ir pra São Paulo. Lá, já tinha feito muita coisa, fiz muito coadjuvante no cinema e então conheci a Leticia (sua mulher) e mudei pro Rio – aí sim, visando mostrar a cara na TV, ampliar os horizontes, buscar personagens maiores... nada contra os coadjuvantes, eu adoro fazê-los, porque não te fazem carregar o filme nas costas e você consegue brincar com eles. E então veio o Adauto, de Avenida Brasil. Veio o Adauto, o meu primeiro protagonista, e agora um protagonista no cinema também, o Juliano, de “Serra Pelada”, do Heitor Dhalia. Como foi conduzir esse personagem tão marcante? Tivemos a sorte de trabalhar com liberdade, com uma direção e um autor que confiam no ator, aceitam colaboração... Isso foi muito prazeroso, além de bons colegas de elenco, todos talentosos e tranquilos, ninguém queria se sobressair. Se eu tivesse uma piada boa para o Caruso (Marcos Caruso, ator), ele incorporava e vice-versa. Foi o clima de muita criatividade, dentre outros fatores, que ajudou “Avenida Brasil” a ser um belo trabalho. E como foi se livrar de um personagem tão marcante? Entre o Adauto e o Niño eu já fiz Serra Pelada – ali eu saí do Adauto. Foi rápido, pois terminei de gravar a novela num dia e no outro eu já estava ensaiando Serra Pelada, em São Paulo. Quando a gente acerta, é importante não se apegar ao acerto. Não se vangloriar ao longo do tempo. “Ok, o Adauto deu certo, mas vamos para o próximo. Já deu”. Vocês gravaram Serra Pelada no Pará? Sim, passamos 10 dias no Pará no final do filme. E também gravamos em outras cidades como Paulínia, São Paulo. Trocar um personagem lúdico como o Adauto, por uma história mais densa, não deve ter sido fácil... Foi muito rico o processo, os ensaios... Desenvolvi uma amizade muito grande com Sophie Charlotte e Júlio Andrade, atores com quem mais contraceno ao longo do filme, sem contar outros grandes amigos, de longa data, como Wagner Moura e Matheus Nachtergaele. Um elenco recheado de pessoas talentosas facilita a construção de um trabalho intenso, pe-

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sado... Foram dois meses de trabalho árduo, com muitos deslocamentos. Que lição ficou desse processo? Afinal, a Serra Pelada foi palco de um movimento histórico... O ouro é meio maldito. Todos ganhavam e perdiam o dinheiro que vinha dele. É o Brasil, né? Tudo bagunçado, ninguém sabe o que foi feito exatamente desse ouro todo... Mas o que é legal da história retratada no filme é a amizade entre dois grandes amigos, mais do que uma aula sobre o que, de fato, aconteceu na Serra Pelada. A história se passa lá, mas a Serra é o pano de fundo da ganância. As brigas, a corrupção, a violência ocorrem na Serra Pelada, mas o foco é a ficção, é ver o ouro desfazer a amizade entre dois homens. São sempre homens fortes, densos, quase primitivos, né, Juliano? Até a sua aparência carrega a rudeza dos seus personagens, divinamente retratada no filme “Febre do Rato”, do Cláudio Assis. Eu acho que o cinema soube se aproveitar disso bem. É uma característica minha que eu sei fazer, mas não quero passar o resto da minha vida fazendo o que eu sei fazer. Quero tentar também o que eu não sei fazer. Eu quero muito pegar um personagem que destoe disso, porque eu não sou assim, né?! Você tá me vendo (Juliano está bem vestido e livre dos dreadlocks que caracterizam a sua personagem em ‘Amor à Vida’). Eu quero fazer um personagem que se vista bem, que fale bem; mas, às vezes, aparecem bons projetos que carregam esse homem mais primitivo, natural e que são irrecusáveis. É uma galeria de personagens fortes e brutos que destoam do mundo no qual você cresceu, que era mais poético... Seu pai ganhou um prêmio Jabuti, você escreveu um livro chamado “Pelas Janelas”... Eu tenho muita vontade de escrever mais. Tenho refletido sobre isso. Me sobra pouco tempo pra escrever, me sinto um pouco afastado do cara que eu queria ser no começo, um cara que pesquisa... Quais as suas influências literárias? Eu saio muito pouco dos clássicos da Grécia, releio livros inesgotáveis como “A Ilíada”, “Odisseia”, Epicuro... gosto muito de livros que traçam painéis históricos. “A História da Feiúra”, do Umberto Eco, enfim, livros que traçam um histórico sobre a busca da felicidade ao longo das civilizações, entre outros. »»»


Sobre a felicidade, o Luiz Felipe Pondé diz que vivemos uma sociedade do conforto que “exige o direito de ser feliz”, mas os Deuses não estão preocupados em realizar essa felicidade tão desejada como garantia. Você acredita nessa ditadura da felicidade? Eu sinto que existe a obrigação da felicidade e acho isso nocivo. Essa felicidade do camarote do carnaval, de pessoas com um microfone na mão dizendo que estão muito felizes, ou postando fotos no Instagram, fotos de comida, de lugares lindos em que estão, como se não bastasse ser feliz... É obrigatório fazer uma apologia à felicidade quando, na verdade, essa questão é bem mais profunda, nem mesmo os filósofos entram num consenso. Confundimos a felicidade com alegria. Quando eu como algo que me agrada, eu acho que estou alegre e não feliz. E acho até que a felicidade é feita de pequenos momentos de alegria ao longo da vida. Ou seja, não existe uma felicidade constante, mas fragmentos de felicidade... Eu cito muito Epicuro, um filósofo grego do qual eu gosto muito e que diz que os deuses existem, uma vez que nos ocupamos deles, mas eles não se ocupam da gente, eles realmente têm mais o que fazer. Eles não se vingam da gente. A felicidade pra Epicuro não é uma coisa positiva no sentido de acumular coisas, mas sim a ausência de coisas; não é a presença do dinheiro, saúde, mulheres, mas sim a ausência de dor no corpo e sofrimento no espírito. E eu concordo com isso. Uma ideia que foi amadurecida por Schopenhauer mais à frente diz que a vida não nos é dada para ser usufruída, mas para ser suportada, ou seja, passar a vida sem dores físicas ou psíquicas é o critério de medida da felicidade. Isso! O cara que já é feliz com o que tem é mais realizado com aquele que deseja sempre ter algo que lhe falta. Tem uma frase do Epicuro que diz “se você quer enriquecer alguém, não aumente suas riquezas, diminua os seus desejos”. Eu concordo com isso. E acredito também que a felicidade é fugidia, ela nos escapa. Quando você acha que está feliz, você vê que aquilo já passou e já busca algo novo. Nesse sentido, acho que estacionar em Nietzsche é consolador. A ideia de amar o seu próprio destino, seja ele qual for, é bem reconfortante nessa ditadura do ser feliz. O bom e velho “torna-te quem tu és”. É por aí... Se ocorre algo na sua vida que você pode mudar, então mude. Se não, não lamentar o fato é fundamental. Aceitar o seu destino é uma atitude mais soberana em relação à vida

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e à morte. Eu vivo querendo fixar as coisas, mas vejo que só existe a mudança. Nesse sentido, eu sou mais Heráclito do que Parmênedes. “O homem não se banha duas vezes no mesmo rio” é uma célebre frase de Heráclito... E é uma frase perfeita porque dá direito não só ao homem mudar, mas à natureza também. Eu adoro essa frase. A gente quer sempre fixar algo. “Agora eu acordo sempre mais cedo”, “agora eu só como tal coisa”, tudo falha. Eu estabeleço várias regras e todas elas falham. É importante estabelecer uma rotina, mas aceitar que as coisas mudam o tempo inteiro. E mudando do Juliano ator para o escritor, o que podemos esperar do seu livro “Pelas Janelas”, lançado em 2012? Escrever é um exercício. Se você escreve todos os dias, fica mais fácil. Eu tenho pouco tempo para escrever, mas quero escrever mais e melhor. O livro une minhas poesias, algumas mais escatológicas, outras mais leves. Outro dia, escrevi um artigo sobre paternidade que me deixou bem feliz tanto quanto à estética do texto, quanto ao conteúdo. Você vai aperfeiçoando.

Qual a sua visão da paternidade? A paternidade está totalmente ligada ao afeto, colocando o DNA numa posição mais primitiva, ou seja, pai é o cara que está lá do lado e não o dono do espermatozoide. Eu acordo e primeiro penso qual a fruta que tem pra preparar o suco dos meus filhos e depois penso no que eu vou comer. Ser Pai é se sacrificar. Você já escreveu um livro e teve filhos. Já plantou uma árvore? Eu acho que já plantei algumas árvores sim... E quais os projetos futuros? Eu sinto que preciso escrever mais. Me dedicar a isso. Todos os dias eu falo pra minha mulher “vamos largar tudo e voltar pra Brasília! Vou escrever, vai ser difícil, mas depois eu vendo um roteiro, uma história. Vamos ficar perto das pessoas que amamos!”. Ela ri e ressalta que, logo depois, eu digo que quero virar carioca, viver a rotina do Rio (risos). Cada dia uma correnteza do rio...

Agradecimentos Livraria da Travessa - Barra Shopping - RJ


Anderson Araújo, jornalista

O corpo perfeito sempre me fugiu. Não que eu tenha ido atrás dele em algum momento da vida. Não é isso. Porém, olhando os semin seminus espalhados por aí, nas fotos pós-férias escolares, escolare olho para a barriga, agora bancada para o notebo notebook, e constato que minha carcaça nunca acompanhou acompanh os padrões estipulados por idade, moda e estilo, em tempo algum, independente de minhas vontades, vont alheio a qualquer esforço que eu poderia ter feito para assim, digamos, me encaixar no (des)figurino (des)f desses tempos em que o verbo sarar deixou de sobrepujar a doença para recair como luva nos supersaudáveis s adeptos das academias - não as de le letras, evidente. Naquele já esquecido esqu sábado gordo d de carnaval de 1979, nasci n um fiapo esm esmirrado, quando a expectattiva era a de que entrasse em casa um bebezinho balo lofo. Pesando um quase nada, me acomodaram ac no berçário ao lado dos nenês fofinhos. Sete dias d depois, na minha camisinha de pagão vermelha, saia à rua todo prosa para enfrenta enfrentar o disse-me-di d sse. Mamãe, nem aí, apertava minhas raras di -disse. bochechas e seguíamos quebrando quebr padrões por aí. Passados os ap apertos iniciais, minha fome primitiva primitiv (minha amiga inseparável até a hoje) logo transformou aqu aquele filhote de camundongo em e uma criança forte, embor embora um tanto retraída. Talvez minha m demora a andar e minha min timidez tenham provocado provoca um acúmulo na regiã região equatorial e virei, literalmente, literalme um meni-

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no do buchão, com aquele abdômen saliente escapando por baixo da camisa, condição só dirimida na adolescência. Com alguma natação e muitas noites em claro sonhando com as primeiras musas, a forma “redondolínea” deu lugar um crescimento veloz em que os ossos foram mais audazes que toda a banha acumulada na área central. Aos 13 anos, era eu um varapau medonho, ainda aprendendo a me equilibrar naquele quase um metro e oitenta, que já chegava como minha altura final. Voltava eu ao estágio de finura do princípio em má hora, porque a época pedia um pouco mais de recheio para aplacar o acanhamento e não fazer feio com as meninas. Nossos heróis da época eram todos exageradamente musculosos. Stallone e Schwarzenegger que o digam. E eu ali nadando e espichando e criando espinhas cada vez mais longe do que diziam ser bonito na época, com meu corpo dando forma ao estranho adolescente que fui. Nem tentei me enquadrar e, quando percebi, uma moça, das bonitas que eu olhava de longe, disse que eu estava “diferente”. Já eram os 20 e poucos anos trazendo os lipídios de volta com minha nova rotina, agora de universitário. Talvez tenham se passado uns dois ou três anos, no máximo, em que não fui nem muito magro, nem muito gordo, nem estomagudo, nem torto como um açaizeiro, nem parecido com um E.T. e, de lambuja, tenha testemunhado a surpresa das moçoilas ao dizerem “você até que deu uma melhorada, ganhando esses dez quilos”. Logo a correria do trabalho, o sedentarismo e a ingestão de muito tira-gosto e algumas garrafas de cerveja foram moldando a forma atual, novamente redondo, meio cadeirudo e com a barriga multiuso (mesa para computador portátil e suporte de bloquinho de notas). A história fisiológica de meu corpo é uma eterna oposição ao status quo do nascimento até hoje, quando me convidam para treinar e minha barriga comunista, com personalidade própria, fala por mim: “soy contra!”. E seguimos aos acepipes e bebericagens, que não estamos para brincadeira. E a luta continua.


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Bianca Borges

Fabian Albertini

Presença de

Clarice No espetáculo em que interpreta personagens do mundo “clariceano” e a própria Clarice Lispector, Beth Goulart chama a atenção pela delicadeza da montagem e a assombrosa semelhança física com a escritora.

B

eth Goulart teve uma epifania. Havia trabalhado com diretores renomados e fora convidada para construir personagens que lhe exigiram diferentes estudos de técnica teatral e exercícios de preparação como intérprete. Percebeu que aquilo tudo lhe acrescentava, mas sentia cada vez mais a necessidade de mergulhar no processo de criação que antecede o trabalho do ator. Queria encenar um espetáculo concebido a partir de suas necessidades artísticas mais íntimas, tendo como base uma pesquisa própria e que abrisse espaço às suas escolhas como autora. Ao se deparar com Cartas perto do coração, livro que reúne correspondências trocadas entre Clarice Lispector e o escritor Fernando Sabino, Beth se perguntou por que não montar um espetáculo baseado naquela obra. “Terminei o livro e pensei: esse lindo texto renderia uma bela peça para falar a respeito de literatura, da vida, de amizade, de processo de criação...”. Mas, sem a autorização da família de Sabino para montar o diálogo, a atriz se viu diante da impossibilidade executar sua ideia nos palcos. Só que Beth não se contentaria em ter que deixar para lá. Ela, então, estava sozinha com a personagem que restava e que lhe era tão familiar: Clarice Lispector. A descoberta do mundo “clariceano” se deu quando Beth tinha treze anos de idade, no encontro com a personagem Joana, do romance Perto do Coração Selvagem. A experiência foi tão marcante, naquele momento em que predominavam as questões típicas da adolescência na vida da jovem atriz, que, não por acaso, essa foi uma das personagens escolhidas por Beth para integrar o texto de Simplesmente Eu, Clarice Lispector. As ou-

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tras personagens são Ana, do conto Amor; Lóri, do romance Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres e uma personagem cujo nome não é revelado, do conto Perdoando Deus. São personagens que aludem à própria escritora e revelam sua intimidade por meio da narrativa e dos momentos de introspecção. Versões de uma Clarice Lispector criadora, leitora, mãe, esposa, humana, mulher. Escrito e dirigido pela protagonista, o monólogo tem supervisão de Amir Haddad e conferiu à Beth a versão carioca do prêmio Shell de Teatro, considerado o mais relevante do meio. Desde sua estreia, em 2008, o espetáculo vem colecionando elogios da crítica especializada e emocionando público, estimado em mais de 700 mil espectadores. A temporada no Rio de Janeiro foi prorrogada até dezembro de 2013. O processo criativo exigiu dois anos de pesquisa, nos quais Beth se debruçou entre páginas de livros da autora, estudos teóricos sobre sua produção literária, correspondências e arquivos de áudio e vídeo, como a última entrevista concedida por Clarice à TV Cultura em 1977, pouquíssimo tempo antes de sua morte e o depoimento gravado para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, no ano anterior. À certa altura da peça, a atriz remete a essa mesma entrevista, reproduzindo algumas das respostas da escritora e acrescentando falas extraídas de entrevistas anteriores, em que Clarice explica de onde vem seu impulso de escrever e outros mistérios de sua natureza. Estes últimos materiais foram indispensáveis para Beth – já convencida de que não se contentaria apenas em encenar personagens “clari- »»»


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ceanos”, pois precisava viver a própria escritora – compor sua personagem principal e absorver seus gestos, sua entonação e sutilezas de fala. Até mesmo o peculiar sotaque de Clarice, marcado por um estranho acento, frequentemente atribuído à nacionalidade russa (ela cresceu no Brasil, em Pernambuco, até a família mudar-se para o Rio de Janeiro quando tinha 15 anos), mas que não passava de um efeito provocado por sua língua presa. Foi aí que entrou outro elemento que possui, na figura de Clarice Lispector, praticamente o mesmo peso que suas palavras: o silêncio. Beth se preocupou não apenas em reconstituir o universo de Clarice e de suas criações literárias, como também em absorver o falar pausado da escritora, que reflete uma característica do seu próprio fluxo de pensamento e de criação. “Quando me perguntam se fui eu quem escolheu fazer Clarice ou se foi ela quem me escolheu, digo que não sei, que talvez até tenham sido as duas coisas: escolhi quando a elegi como uma de minhas autoras. Mas também fui escolhida quando fui levada a aprofundar minha pesquisa sobre sua obra”, contrapõe Beth antes de findar nossa conversa, como uma forma de não dar o assunto por encerrado e deixar a dúvida no ar. Mas a voz suave, o rosto anguloso que, entre as curvas, revela seu olhar penetrante e sereno, deixam claro que, provavelmente, não existiria outra atriz capaz de interpretar Clarice com a mesma intensidade, o mesmo arroubo e entrega com que Beth mergulhou na pesquisa e construção de seu personagem. A entrevista termina e ela se despede cordialmente com um sorriso, pede licença e deixa o local. Na volta pra casa, já no carro, encosto a cabeça na janela e tomo um pouco de ar. As palavras de Clarice – ou de Beth, já não conseguimos decifrar. Seria uma epifania? Você, leitor, decidirá. O privilégio é todo seu. Como surgiu sua relação com a obra de Clarice Lispector? Aos treze anos, quando li Perto do coração Selvagem. Clarice sempre foi uma das minhas autoras de cabeceira, assim como Nelson Rodrigues e Fernando Pessoa, mas além dessa admiração por sua escrita, eu tinha também uma relação íntima com ela, porque a Clarice estabelece uma relação afetiva com seus leitores, tenho certeza de que não sou a única. Curioso que, em alguns momentos, parece que ela está conversando muito próximo de você. É como se dissesse: “estou um pouco cansada agora, vamos tomar um café?”. E, às vezes, é preciso que você interrompa a leitura, efetivamente, faça uma pausa para absorver o texto, depois voltar, ler de novo... Faz parte da leitura e do entendimento da obra de Clarice fazer essas pausas.

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Que critérios você usou para escolher os personagens que seriam encenados na peça? Escolhi personagens que tinham a ver com ela, com seu processo de vida e a ver também comigo, com minha relação pessoal com a Clarice. Por isso, eu tinha de incluir a Joana, de Perto do coração Selvagem, que foi o primeiro livro dela que li e que, coincidentemente, é o primeiro que ela escreveu. Houve uma coincidência de vivências, que julguei importante acrescentar ao trabalho. Esses personagens contam, de alguma forma, momentos da vida da Clarice, falam de temas que são importantíssimos pra ela e também pra mim. Escolhi o sentimento do amor para conduzir o trabalho: o amor à vida, à literatura, aos filhos, à natureza, a Deus, à arte, ao teatro, aos outros. E ao mesmo tempo em que ela fala de amor, eu também falo, só que do meu jeito. Por isso, eu também me revelo neste espetáculo, porque nas minhas escolhas pelas falas e personagens estão também os meus valores, as minhas opiniões... Em que momento você percebeu que estava pronta para criar um espetáculo assumindo a pesquisa, dramaturgia e direção? O processo de começar a escrever e dar espaço às minhas próprias ideias foi gradativo. Comecei no teatro muito cedo e trabalhei com vários diretores maravilhosos. Estudei e fiz diversos exercícios de corpo e voz. Ter participado de vários espetáculos foi importante. Isso tudo foi me dando uma bagagem cênica, um domínio da interpretação e do processo teatral como um todo... Até que chega uma hora em que você se dá conta de que já sabe fazer, em que você aprende o “fazer teatral”. Aprende pela observação e vai absorvendo as informações. Aos poucos, você começa a desenvolver uma estética, um gosto particular e uma linguagem cênica. A cada novo espetáculo, ia me aproximando mais da direção, criação do texto e pesquisa, até chegar a “Simplesmente eu...”, em que assino o texto, crio a dramaturgia e faço a direção sob a supervisão de Amir Haddad. Mas também “meti o dedo” em tudo! Da iluminação ao figurino, busquei profissionais que pudessem traduzir meus conceitos teatrais da forma como eu queria: música, cenário, luz... E os conceitos “clariceanos” estão presentes nesses elementos, não somente no texto. Essa circunstância parece refletir seu momento de maturidade profissional e a evolução da sua trajetória como atriz e diretora. O que podemos esperar daqui em diante? Exatamente! Mas quando se fala em maturidade, parece que é uma fase que chegou quase no final e, na verdade, não vejo assim... Pra mim, agora é que está começando! [Risos]. Primeiro, a gente »»»


tem que aprender a fazer [dramaturgia]. Agora, eu já sei fazer e vou continuar desenvolvendo novos projetos, como já tenho outros em andamento. “Simplesmente Eu...” é o primeiro de uma série de perfis femininos que você pretende fazer. Quais são os outros? Independentemente dos perfis e se eu vou estar em cena ou não, são as mulheres que me interessam. Mulheres que fazem parte da história do Brasil e da identidade brasileira e que contribuíram com sua história de vida para a sociedade onde a gente vive hoje. São mulheres fortes que pegaram o controle de suas vidas e deram um rumo à nossa história, como Maria Quitéria, Princesa Isabel, Tia Ciata, Nair de Teffé, Tarsila do Amaral e Dulcina de Moraes. Além de Clarice, que outros autores que contribuíram para sua formação? Ler faz parte do meu trabalho. Por isso, leio desde cedo e há vários autores maravilhosos que foram importantes na minha formação, desde os filósofos, como Nietzsche, a grandes pensadores, nomes importantes do teatro, romancistas e poetas como Fernando Pessoa, Machado de Assis, Constantin Stanislavski, Jerzy Grotowski,Peter Brook, Ítalo Calvino, Inês Pedrosa, Adélia Prado, Cecília Meireles... É difícil separar apenas alguns

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nomes. Cada personagem é um universo novo que se abre e parte do processo de criação da personagem é o ator se cercar de informações. Uma delas é que tipo de livro aquele personagem lê, qual leitura tem mais a ver com seu universo. Isso também faz parte do exercício de humanização da personagem. Os temas e as referências de seu universo de trabalho estão muito ligados à espiritualidade. Como você lida com essatemática? As autoras das quais gosto, como Clarice Lispector, Lya Luft e Adélia Prado, conseguem trazer esse lado transcendente da vida, tocar um pouquinho no mistério da existência. Isso transcende a dimensão do cotidiano: a vida é mais do que isso. Todas elas sabem que Deus é imanente: está dentro da gente, não fora. Essa divindade que todos nós temos é que nos torna excepcionais em vários momentos do cotidiano. Isso é o que Clarice traduz tão bem nas personagens que vivem as epifanias, os momentos de profundo conhecimento esotérico, que transformam o cotidiano de forma definitiva. Há uma pergunta praticamente inevitável quando se entrevistam artistas privilegiados como você: qual a influência dos seus pais, dois atores consagrados, na sua vida profissional e pessoal?


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Beth debruçou-se, por dois anos, sobre as obras e entrevistas de Clarice Lispector e o resultado é uma semelhança assombrosa. O espetáculo em que ela esmiuça a vida da escritora coleciona elogios da crítica especializada.

A maior influência que se pode ter dos pais é o exemplo de vida. Mas quando o que você escolheu para fazer na vida tem a ver com o que os seus pais fazem, então você tem um universo inteiro de seu interesse à disposição. Eu pude conviver com teatro desde pequena, mamei numa coxia e pude vivenciar o teatro desde pequena. Mas nada disso adianta se não houver vocação. O talento não é hereditário, vem da alma, não do corpo. Você tem que seguir aquilo que nasce com você. A Clarice fala disso: a diferença entre vocação e talento. A vocação nasce com você, mas, se você não burila isso, não vai adiantar nada. E esse aprendizado se estende a sua compreensão sobre o “fazer teatral”... O teatro é uma escolha que pede muita dedicação, muita devoção e isso eu aprendi com meus pais e observo desde criança. Aprendi com eles que o sucesso e o fracasso andam sempre juntos, que a gente tem de aprender a suportar o sucesso da mesma forma que o fracasso, que o fracasso é que te dá o “estofo” para poder aguentar um sucesso, saber que tanto um como o outro são efêmeros. Você não é o sucesso. Ele passa como o fracasso também passa. Muita gente relaciona nossa profissão com o orgulho e a vaidade, mas esses são os piores conselheiros. Teatro é uma arte coletiva, não se faz teatro sozinho.

Você defende sempre que o teatro possui um poder transformador, assim como a literatura, e que essa é uma das “causas” dessa peça, que se propõe também a estimular a leitura de Clarice e o hábito de ir ao teatro... Sim! Um dos objetivos do espetáculo é estimular a leitura da obra dela [ao final de cada sessão, são sorteados livros de Clarice] e o contato com a literatura em geral. Assim como faço um convite às pessoas para irem mais ao teatro, que é uma arte efêmera, em que um ser humano vai ao encontro de outro ser humano, um no palco e o outro na plateia. Acredito que a literatura e o teatro são artes irmãs, que se complementam; o teatro precisa da palavra. Essa peça já percorreu diferentes pontos do país, encenamos em teatros grandes e pequenos. Vou sempre com a mesma disposição porque acredito que este é um trabalho de semeadura. Acredito que podemos estimular o hábito cultural nas pessoas, de quebrar aquela ideia de que não é todo mundo que pode “entender arte”. Arte não é para ser entendida, é para provocar um estado d’alma. Tenho depoimentos de pessoas que disseram ter buscado livros de Clarice após assistir ao espetáculo. Acredito sinceramente que a Clarice ficaria muito feliz com isso, porque ela gostaria de ser lida pelo maior número de pessoas possível.

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especial

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Leonardo Aquino

Dudu Maroja

Alta fidelidade Vendas crescentes, fábrica reativada no Brasil e relançamentos aumentam o fetiche pelos discos de vinil

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uando se fala da tecnologia do entretenimento, a história recente enumera fatos que comprovam que o caminho natural é o do “quanto menor, melhor”. Portabilidade, leveza e praticidade se tornaram atributos tão importantes quanto a qualidade do produto. Assim foi com o DVD e o Blu-Ray, com o iPod e com os e-books, por exemplo. Mas, assim como os avanços tecnológicos são surpreendentes, o resgate de velhos hábitos de consumo não fica atrás. Provavelmente, nem os amantes mais fervorosos da cultura vintage poderiam adivinhar que o mercado de discos de vinil pudesse ser reaquecido como nos últimos anos. Os números do último relatório da Federação Internacional da Indústria Fonográfica chegam a impressionar. Segundo o documento, 12 milhões de discos de vinil foram vendidos em 2012, em todo o mundo. O número quadruplicou desde 2006 e fez com que os LPs tivessem tido o melhor desempenho de vendas desde 1997, ano do lançamento de clássicos recentes do rock, como “OK Computer”, da banda inglesa Radiohead; e de estouros pop, como o dos irmãos Hanson. Ainda de acordo com o relatório, o valor arrecadado com a venda de vinis atingiu 171 milhões de dólares. Ao contrário do que se pode imaginar logo de cara, o perfil dos consumidores que contribuíram para essa retomada do fôlego comercial de LPs não se resume a saudosistas profissionais. DJs puristas e colecionadores compulsivos ganharam a companhia de jovens que provavelmente só consumiram discos infantis antes da proclamada “morte” do vinil. Os aficionados por novidades já podem encontrar lançamentos de bandas nascidas na era digital. E assim, as prateleiras dedicadas aos “bolachões” ganham frequentadores de

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diversas idades e gostos musicais. Mas, numa época em que existe a facilidade dos downloads (legais e ilegais), o que seria determinante para o ressurgimento de um formato dado como morto há pouco menos de 20 anos? “Além do fetiche das capas, das cores do vinil e dos picture discs, acho que talvez houve um incentivo lá fora por parte dos selos independentes. Também tem o Record Store Day, um data criada para comemorar o dia do vinil na Europa e nos Estados Unidos. Isso tudo incentivou o consumo, uma vez que os CDs quase desapareceram com o download”, opina Kid Vinil, radialista, músico e dono de uma coleção de mais de 20 mil títulos, entre LPs e CDs. “Passo todo o tempo quando estou em casa ouvindo e pesquisando discos. O vinil é considerado por muitos um formato eterno, pois o rock começou com o vinil na década de 50”, conta. No Brasil, a febre do consumo de discos de vinil teve um capítulo importante em 2010. Nesse ano, a Polysom, antiga fábrica de LPs, foi reativada depois de ser comprada por sócios da gravadora Deckdisc. O que seria uma negociação conveniente para lançar os álbuns do próprio selo, acabou impulsionando o mercado inteiro. Hoje, a Polysom é a única fábrica de discos de vinil em atividade na América do Sul e tem como cliente não apenas as principais gravadoras brasileiras (sejam elas grandes ou independentes), como também as de países vizinhos, como Argentina e Chile. A investida, que hoje parece heroica, demandou energia, suor e dinheiro. “Quando compramos a fábrica, ela estava desativada e os equipamentos em processo acelerado de sucateamento. Além disso, havia dívidas com órgãos públicos e com fornecedores de energia. O que fizemos foi regularizar toda a situação, manter a antiga equi- »»»


Onde comprar Se tem uma coisa que a febre do vinil não conseguiu mudar foi o preço dos discos. Colecioná-los continua sendo um hábito caro, pelo menos para quem quer comprar LPs novos. Numa megastore, é difícil encontrar um bolachão importado por menos de 70 reais. Já os importados não costumam custar menos de 100 reais. Segundo João Augusto, um dos proprietários da Polysom, dois terços do preço final de um LP correspondem a impostos. “O que faz o vinil brasileiro ser tão caro é uma das mais selvagens malhas de impostos do mundo. É uma cadeia tributária absurda que começa na aquisição das matérias primas. Os impostos incidentes pelo caminho são Pis-Cofins, ICMS (substitiuição tributária inclusive) e IPI”, explica. Assim, comprar no exterior (seja numa viagem ou pela internet) acaba se tornando um bom negócio para colecionadores e aficionados. A Revista Leal Moreira pediu a Kid Vinil, uma autoridade no assunto, para indicar sites com bons acervos e ofertas. • Ebay (www.ebay.com) “Compro muito lá, tanto no site americano quanto no inglês. Lá, você encontra tudo o que imaginar, basta digitar o nome do disco ou do grupo que você encontra as mais diversas ofertas”. • lojas inglesas especializadas em bandas independentes e alternativas. Rough Trade Records (www.roughtrade.com) Norman Records (www.normanrecords.com) Piccadilly Records (www.piccadillyrecords.com) Banquet Records (www.banquetrecords.com) • Lojas brasileiras com discos nacionais e importados, novos e usados. Locomotiva Discos (www.locomotivadiscos.com.br) Baratos Afins (www.baratosafins.com.br).

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pe, fazer uma ampla obra civil para melhoras as instalações e investir na recuperação dos equipamentos”, explica João Augusto, um dos atuais proprietários da Polysom. A persistência deu certo. Em 2012, a produção de discos na fábrica mais do que dobrou e chegou a 24.120 LPs e 12.000 compactos. Como a Polysom não tem concorrentes, esses números dão noção da situação do mercado brasileiro. A quantidade de discos prensados está crescendo, mas a qualidade não é deixada de lado. Os discos produzidos na Polysom são de 180 gramas, mais pesados e robustos do que os LPs levinhos que eram fabricados no Brasil, no final dos anos 80. Além disso, álbuns clássicos de várias épocas da música brasileira têm tido relançamentos caprichados em vinil: de Secos e Molhados a Titãs, de Jorge Ben a Planet Hemp, de Jards Macalé a Ultraje a Rigor. A última fornada de redescobertas traz os três discos da fase psicodélica de Ronnie Von, da virada dos anos 60 para os 70: Ronnie Von (1968), A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nuncamais (1969) e A Máquina Voadora (1970). Até bem pouco tempo atrás, esses álbuns eram inéditos, até mesmo em CD. Agora, podem ser apreciados como na época em que foram lançados. O renascimento do vinil como formato não se limita apenas às prateleiras e aos consumidores domésticos. Os DJs, que têm a música como matéria-prima, têm agregado os bolachões ao

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trabalho não apenas como itens retrô, mas também numa relação próxima entre tradição e tecnologia. Patrick Torquato, idealizador do projeto Baile Tropical, explica que já existem softwares que conectam o toca-discos a uma placa de áudio no computador e transformam a passagem da agulha pelos sulcos do vinil num sinal digital. Assim, a possibilidade de sequenciar os sons dos LPs se amplia exponencialmente. “É como se fosse o conjunto de canetas e pads que os designers gráficos usam. É praticamente um simulador de realidade. Essa técnica dá mais domínio ao malabarismo que o DJ faz e também deixa a passagem entre as músicas mais suave. Além disso, a performance com o vinil fica mais bonita”, conta. Para DJs como Patrick, trazer de volta os LPs para o dia a dia implica em um peso extra na mochila a cada apresentação, mas faz com que o consumo da música redescubra velhos hábitos. “Colocar um disco de vinil para tocar tem uma aura sedutora. É uma sensação diferente reunir as pessoas para escutar juntas um LP”, opina. Para João Augusto, da Polysom, a volta dos bolachões não é positiva apenas por uma questão de negócios. “Para mim, o vinil nunca deixou de ser importante. Continuei comprando LPs e mantive meu toca-discos. Quando topamos entrar nessa verdadeira cruzada que foi a reativação da Polysom, não tínhamos muita ideia do quanto o vinil ainda era cultuado. Agora, a sensação é que o formato acordou de repente. Todo mundo fala em vinil e, ao que tudo indica, todo mundo quer vinil”.


XII Festival de

pera

do Theatro da Paz

De 08 de agosto a 28 de setembro de 2013-Belém-Pará

Gaetano Donizetti: L’Elisir D’ Amore 08, 10 e 12/08 Giuseppe Verdi: II Trovatore 28 e 30/08 e 01/09 Richard Wagner: O Navio Fantasma 21, 23 e 25/09 Concerto de encerramento ao ar livre 28/09

Wagner Pela 1a vez em Belém.

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especial

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Da redação

Do sonho à

realidade

Na quinta entrevista da Série “Belém – 400 anos”, nosso entrevistado é Adenauer Góes, atualmente Secretário de Estado de Turismo. À frente da recém-nascida SETUR, ele pode dizer que empreendeu muito, mas admite que há um caminho longo pela frente e que a distância não é problema algum.

P

lanejamento. Essa, talvez, tenha sido a palavra mais repetida pelo Secretário de Estado de Turismo, Adenauer Góes, ao longo de uma hora de entrevista à Revista Leal Moreira. Nenhum outro verbete traduziria melhor o modus operandi do médico belenense que, há quase duas décadas, dedica-se ao exercício da gestão pública e que, atualmente, se encontra à frente da recém-consolidada Secretaria de Estado de Turismo. Após uma análise minuciosa do cenário paraense e, posteriormente, através de um planejamento realista e ousado o turismo paraense, aos poucos, vai ganhando um novo contorno: o de atividade econômica. Para tanto, Góes confessa que precisa de mais adesão, especialmente do empresariado e que o cinturão de pobreza, que tanto faz destoar a paisagem no entorno da cidade, será vencido à medida que questões como cidadania, desenvolvimento econômico e social, além da própria consciência do poder público se estabeleçam em definitivo. E que a Belém dos 400 anos, a dos seus sonhos, será – certamente – o lugar que os turistas vão querer visitar e que igualmente será o melhor lugar para os belenenses viverem. Confira a 5ª entrevista da série sobre os caminhos que levam a capital paraense a celebrar seu quarto centenário. Secretário, como devolver a Belém a condição de metrópole da Amazônia? Não é uma resposta fácil. Eu diria que devemos perseguir diversos caminhos. Um desses cabe,

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sem dúvida, ao poder público constituído, quer estadual, quer municipal e eu diria até mesmo ao federal, porque, no meu entendimento, é da sintonia e do sinergismo dos poderes públicos, por meio de um planejamento que possa ser efetivamente exequível, que será possível recuperar alguns investimentos que Belém precisa para, de fato e de direito, recuperar o título ou a condição de “metrópole da Amazônia”. A outra direção é a empresarial: é preciso compreender, de forma efetiva e concreta, que a economia tem tudo a ver com o processo de desenvolvimento. Quanto mais possamos ter uma economia forte, mais poderemos ter geração de empregos, multiplicação de renda e esses fatores também estão intimamente ligados à qualidade de vida da população de Belém e aos próprios investimentos necessários à Belém atual. Uma terceira vertente, não menos fundamental, é a compreensão social como um todo, da importância desse papel, de Belém, como metrópole da Amazônia. A importância que a população precisa ter, de forma consciente, do papel que lhe cabe no que diz respeito, por exemplo, à preservação da cidade, a não sujar nossas ruas... Eu sou simplesmente fissurado pela questão da limpeza urbana. E a limpeza urbana passa também por um compromisso do cidadão ao não sujar a cidade, porque, por melhor que possa ser o serviço de coleta de lixo e limpeza prestado pela prefeitura, se o cidadão não for consciente disso, ele suja muito mais do que qualquer prefeitura pode ser capaz de limpar. E há a necessidade desse compromisso com a urbanidade, com a limpeza, »»»

Dudu Maroja


foto Jean Barbosa/Paratur

com a preservação, com a manutenção... Belém precisa ser um pouco mais amada. Por todos nós: gestores públicos, iniciativa privada, empresários e sociedade. Há um cinturão de pobreza, cuja paisagem, para não entrar nem em outros tocantes, destoa muito da Belém sobre a qual discutimos. E fica a sensação de que, quando falamos de Belém, estamos restritos a essa área central. Logo, eu queria perguntar a sua opinião, embora não seja sua área – mas por entender que isso mexe com a paisagem e pode, pois, influenciar na decisão de ter Belém como destino de férias, por exemplo – em como levar saneamento básico a essas áreas? Em quanto tempo isso seria possível de ser feito? Em suma, como garantir qualidade de vida a todos de Belém – do centro e da periferia? Muito interessante que tenhas perguntado isso porque questionas a um profissional de medicina que tem uma função pública na área do Turismo.

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A Medicina me deu a sensibilidade de entender a importância do Turismo para essa qualidade de vida referida, necessária à população de Belém. Como você disse, Belém está cercada por um cinturão de dificuldades e essas dificuldades, logicamente, influenciam no dia a dia da cidade. Recuperar isso é tornar Belém um sonho que eu sonho e que sei que muitos outros belenenses também sonham: ver a nossa cidade referenciada como uma cidade turística. O que significa ter uma cidade turística? Em síntese, significa que esta cidade, antes de ser boa para aqueles que nos visitam, ela precisa ser boa para aqueles que aqui vivem permanentemente. Então, logicamente, nós não vamos ter uma Belém, com esta condição, num universo de tempo de uma geração ou que possa, neste exato momento, definir quantas gerações serão necessárias. O que eu acho é que é fundamental que tenhamos um rumo em busca desse objetivo. E eu não tenho dúvidas de que este rumo passa pela questão do poder público,

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Segundo Adenauer Goes, Belém será uma cidade melhor quando for reconhecida, não somente por aqueles que nos visitam, como uma cidade turística, mas por nós mesmos, que aqui vivemos. foto Jean Barbosa/Paratur

porque este é o perfil do desenvolvimento brasileiro – extremamente dependente do poder público. Eu, particularmente, não gostaria que assim fosse, porque todas às vezes em que o poder público é tão importante, isso significa que o empresariado é fragilizado e que a sociedade ainda não tem um comprometimento em um nível necessário para se contrapor a esse Estado. Então, eu vejo com muita expectativa positiva a sintonia política entre governo do estado e governo municipal – independente do partido político que esteja de “plantão” no exercício do poder. É claro que isso traz um sinergismo pautado no planejamento, que é outra palavra na qual eu sou fissurado. Planejamento é a base de tudo. Então, eu vejo no planejamento sinérgico, entre o governo do estado e o governo municipal, uma rara oportunidade de podermos ter ações concretas que possam permitir passos mais rápidos, na direção desse objetivo: de resgatar Belém, de torná-la, novamente, a metrópole da Amazônia. Se o senhor não fosse paraense, visitaria Belém? Visitaria. O que mais o encanta nesta cidade? O jeito de “ser” de Belém não encontra comparação com nenhuma outra cidade brasileira. É a chuva, são as mangueiras – infelizmente cada vez menos -, é o jeito de ser do paraense, é a cultura gastronômica do paraense, do belenense... É a relação de alguns pontos da cidade com as águas, é o clima... Viver em Belém é um estado de graça. Eu tive oportunidade de deixar Belém... O senhor o fez? Eu fui convidado a morar em alguns lugares, mas eu nunca me consegui ver morando em outro lugar que não fosse Belém do Pará. O Pará vive um momento de “alta” na mídia nacional. A que o senhor atribui esse reconhecimento? Houve um trabalho do Governo do Estado ou isso aconteceria cedo ou tarde? Houve uma confluência de fatores? Onde o Turismo se insere aí? Acredito que houve uma confluência de fatores e de momentos. Quando iniciei minha experiência, na Gestão Pública do Turismo, foi nos idos de 1999, quando o Almir Gabriel me convidou a assumir a PARATUR e, naquela época, na realidade até um pouquinho antes, vivia-se um momento sensivelmente decadente da cidade: os hotéis fechados, sem investimentos do poder público e da iniciativa privada que permitissem uma retomada do crescimento e do desenvolvimento. Pra ser mais exato, me refiro a meados da década de 90. »»»

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Adenauer Góes mostra o “Ver-O-Pará - Plano Estratégico de Turismo”, ferramenta de trabalho que norteia todas as ações da SETUR.

Todo um trabalho passou a ser feito, visando uma recuperação. Por isso, eu digo que a gestão pública é tão importante: porque ela é mobilizadora; ela é indutora; ela pode pautar um processo positivo ou um processo negativo, de fragilização. Eu costumo fazer uma referência muito especial ao momento em que o Governo do Estado, como indutor desse movimento, referenciou, de forma muito clara em seu planejamento, três eixos de desenvolvimento para o estado do Pará, e que influenciaram também Belém: agroindústria, verticalização do minério e turismo. Então, tem havido uma mudança significativa na base econômica do mundo e esse processo de evolução econômica natural é baseado na comunicação, na tecnologia... Observou-se uma diminuição nas distâncias. As fronteiras que antigamente separavam, hoje unem, ligam. Ou você se adequa a um processo de competitividade de mercado, ou você fica muito para trás rapidamente, porque a dinâmica é muito maior hoje do que foi ontem. Não é apenas o Pará onde se fala de Turismo. É o Brasil, é o mundo. Essa é a base da nova economia de mercado. Nenhuma outra atividade econômica necessita de tão pouco como a atividade turística como atividade econômica – que é uma questão em que o Brasil está aprendendo como fazer e que não é diferente para nós, paraenses. Porém, hoje, nós podemos festejar um planejamento para esse segmento neste estado.

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Como estamos, então, nos planejando para tornar o Turismo uma atividade lucrativa e que dê visibilidade ao Pará? O primeiro planejamento de turismo do estado do Pará foi entregue à sociedade pelo então Secretário Especial de Produção, Simão Jatene, em 2001. Na sequencia desse processo de aprimoramento, este é o segundo planejamento (ele mostra o relatório executivo “Ver-O-Pará – Plano Estratégico de Turismo”) da história do Turismo do Estado, entregue pelo Governador Jatene, em seu segundo mandato. Entregue, inclusive, numa data que eu considero cabalística, no dia 11/11/11. Esta é a síntese desse planejamento. Aqui está uma ferramenta de trabalho de gestão, do estado. Foi feita com centenas de mãos, por uma empresa espanhola e os espanhóis são reconhecidamente mestres nessa atividade e fomos buscar esse know how. “Tropicalizamos” esse conhecimento. Este estado, hoje, tem rumo, um rumo que passou, inicialmente, pelo fortalecimento da gestão pública do Turismo, já que esse é o perfil brasileiro: o poder público como mobilizador. Antes, nos tínhamos a Paratur como órgão oficial. Hoje, nós temos duas instituições públicas no estado trabalhando o turismo: uma da administração direta, a Secretaria de Estado de Turismo, que acaba de completar um ano de criada e que ainda está em sua fase de implantação e a outra, a Paratur. Ambas, com papéis diferentes e muito bem definidos. O que eu gostaria de deixar bem claro porque, em

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foto Jean Barbosa/Paratur

alguns momentos, pode parecer que o poder público está criando mais cabide de empregos e não é verdade, é que existe, na realidade, um reconhecimento, ao que me parece, unânime de que o turismo neste estado tem um potencial muito grande. E eu não aguento mais falar de “potencial” – por um motivo muito simples: potencial não se vende; potencial não se compra. Em uma economia de mercado o que se vende é produto. O que se compra é produto. Esse potencial, efetivamente, é fantástico. O planejamento mostra que as principais matérias-primas são a cultura e a natureza. Mas, para “embalar” isso, são necessários vários fatores: infraestrutura, tanto de acessibilidade, quanto de estrutura para receber eventos. O Hangar, por exemplo, é um marco disso, pois o segmento de eventos era e é importantíssimo para Belém. Eu posso citar outros exemplos: a Estação das Docas, a recuperação do patrimônio histórico, o Mangal das Garças, o Parque da Residência, os museus, entre tantos outros pontos que agregam tanto. Em suma, por isso eu insisto tanto no planejamento: ele nos mostra como deveremos perseguir nossos objetivos, seja pela questão infraestrutural, o que cabe à iniciativa privada nessa estrutura, mas fundamentalmente, eu diria, por um processo de organização empresarial, de rede de prestação de serviço. Como tornar o empresariado partícipe por livre e espontânea vontade nesse processo?

Esse é um processo que acontecerá por etapas. Assim como existe a necessidade da conscientização do poder público, existe a necessidade da conscientização empresarial. Além da própria conscientização social. É um sinergismo que cresce na medida em que vemos os resultados e que, por sua vez, trazem geração de emprego, melhor distribuição de renda e uma situação que é objetivo de todo governo, de todo cidadão: qualidade de vida – esse é o sonho ao qual me referia anteriormente: um dia não apenas Belém ser reconhecida por aqueles que nos visitam como uma cidade turística, mas de nós mesmos, que aqui vivemos, reconhecermos Belém com essa qualificação. Neste um ano em que a SETUR foi criada, mas que está ainda em instalação, quanto foi conquistado? Olha, na minha análise crítica, tendo os pés no chão e controlando a minha ansiedade, eu te diria que o título de “cidade turística” nós já gostaríamos de ter, mas já temos muito a festejar. Nós temos de festejar, por exemplo, o fortalecimento da gestão pública. Temos de comemorar a ferramenta de planejamento que temos (mais uma vez ele faz referência ao “Plano Estratégico de Turismo”) e, dentro dessa questão, temos de planejar a própria estrutura do governo do estado, pensando muito mais o turismo como atividade econômica. A Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico – que tem à frente o Secretário Especial Sidney Rosa, junta- »»»

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foto Rogério Santana/Ascom do Governo do RJ

Durante a Jornada Mundial da Juventude, em julho, no Rio de Janeiro, Adenauer Góes presenteou o Papa Francisco com uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré. mente com nossos colegas de equipe, sob a liderança do nosso governador – dá demonstrações da importância do Turismo como uma atividade econômica para o estado. Nós temos também de comemorar o sinergismo positivo entre o poder público e a iniciativa privada. Existem, ainda, projetos estruturantes, além da criação da própria SETUR, que demonstram que o Turismo é prioridade para o estado. Você referenciava em uma de suas perguntas que o Pará vive um momento muito positivo na mídia nacional. A diversidade está dentro de nossa originalidade e nossa autenticidade. Nós somos literalmente cantados lá fora. A questão da cultura do artesanato também atingiu níveis significativos. O que dizer da cultura gastronômica? Essa foi uma das atividades econômicas, intimamente ligada ao Turismo, que mais cresceu, que mais se desenvolveu sob essa ótica da organização empresarial e da rede de prestação de serviços. As nossas referências principais de natureza, como por exemplo, o Marajó ou o entorno de Belém. Aumentaram muito as opções dentro do que podemos chamar de “turismo náutico”, turismo fluvial, no entorno de Belém: há marinas, restaurantes, em uma sintonia harmônica com o entorno da cidade. Belém é uma cidade tipicamente de prestação de serviços e aí se insere o Turismo. Se pudéssemos fazer um comparativo da Belém de 1995 com a Belém atual, eu diria que melhoramos muito! O senhor mencionou a questão da Gastronomia e Belém é a nova “Meca” dos chefs que buscam conhecimento na fonte. Eu diria, por uma questão de justi-

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ça, que a cozinha mundial está descobrindo a cozinha amazônica... Mas há alguns entraves que precisam ser solucionados para que o produto regional possa chegar do outro lado do Brasil – de maneira legal – com o gosto que ele tem aqui. É preciso investir na qualificação do pequeno produtor, enfim, trabalhar para que a culinária paraense e seus ingredientes tenham seus reconhecimentos... Nós também avançamos muito nesse sentido. Há uma parceria muito grande entre a SETUR, SAGRI e EMATER, além de com o próprio Ministério da Agricultura, que já permitiu alguns avanços, com referências específicas, inclusive, por exemplo, quanto ao queijo do Marajó. O tucupi, o jambu e a pimenta de cheiro são outros itens que já estão sendo tratados nessa parceria. A farinha bragantina também. Nós, da SETUR, juntamente com a EMATER e a SAGRI, estamos trabalhando um “projeto de indicação geográfica” para a cultura da mandioca, para permitir que essa cultura secular da mandioca possa ter um protocolo definido de fabricação – isso já está em andamento. Com relação à pimenta-de-cheiro e o jambu, alguns chefs de cozinha me trazem algumas preocupações com a perda de algumas características desses produtos: a pimenta-de-cheiro já não cheira tanto, o jambu já não “arde” tanto. A EMBRAPA já está em campo, estudando esses casos para preservá-los. Mas deixa eu te dar uma boa notícia, um exemplo da nessa direção: o protocolo e a qualificação que hoje são significativamente melhores do nosso açaí. O açaí é uma das referências de nosso turismo. Para você ter uma ideia, a nossa marca (“Pará, a obra-prima da Amazônia”) é

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foto Benigna Soares/Paratur

foto Jean Barbosa/Paratur

da cor do açaí e chegamos a ela depois de uma pesquisa cuidadosa. Eu diria que nós temos muito a festejar em conquistas efetivas e concretas: em um ano de implantação, o planejamento estratégico de turismo já contabiliza 35% de suas ações em andamento, em condução. Veja bem, não estou dizendo que estão concluídas, mas elas estão em condução. Isso atesta que o estado tem rumo e só se cresce, só se desenvolve, se houver planejamento. Secretário, mudando rapidamente de assunto, sem perder o foco no Turismo, o senhor recentemente esteve no Rio de Janeiro, durante o período da Jornada Mundial da Juventude, e entregou ao Papa Francisco uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré. O Círio de Nazaré atrai milhões de pessoas todos os anos e, ainda assim, é comum ouvir que ele não tem o destaque merecido fora do estado. Nossa Senhora de Nazaré é fantástica! Nós temos uma parceria com Ela (ele ri). Nós temos levado a imagem de Nossa Senhora de Nazaré em inúmeros eventos de turismo – até internacionais. Em 2011, nós levamos, pela primeira vez, a imagem peregrina, na berlinda, à Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) e nessa primeira viagem da Santinha, ela se “relacionou” com o Santuário de Nazaré, com a própria feira de turismo, com a Torre de Belém, de onde saíam as naus portuguesas que se lançavam rumo ao desconhecido. Então, Nossa Senhora de Nazaré é o nosso principal “evento”. O Turismo Religioso é um cartão de apresentação nosso. A Peregrina nos acompanhou em tantas outras feiras e eventos... Naquela ocasião, com o Papa Francisco, quando tive a oportunidade de lhe proferir algumas palavras, de dizer que aquela imagem representava a energia e a fé do povo paraense e amazônida, no cumprimento da missão que ele tinha e que Ela, a Virgem de Nazaré, estava para nós como a Virgem Desatadora de Nós para ele. E eu disse isso porque sei que o Papa Francisco é devoto da Desatadora.

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Que privilégio, Secretário. Foi uma emoção, mas foi natural. O Papa Francisco é esse fenômeno fundamentalmente porque ele é gente como a gente e passa isso na missão de papa. O que podemos esperar de boas novas para o turismo e para Belém em seus 400 anos? Eu diria que vamos continuar perseguindo, de forma decidida e comprometida, a missão de implantar o planejamento estratégico do Turismo deste estado. Isso passa pelo papel específico da SETUR, que é o de mobilizar, fomentar e liderar as políticas públicas para o turismo no estado, em busca do desenvolvimento do chamado produto turístico. E eu quero frisar: o empresário é fundamental! Vamos fortalecer cada vez mais o papel que cabe à Paratur, que tem sua administração própria, que tem seu planejamento próprio – dentro do plano estratégico – e à qual cabe divulgar e promover esse produto turístico, em sintonia com o empresariado, para fora do estado do Pará e para fora do Brasil. Quanto mais a Paratur exercer esse seu papel, mais ela acrescenta um item que é igualmente importante, que é divulgar e promover o nosso estado, os produtos turísticos de nosso estado, ajudando o empresariado. E o cidadão Adenauer Góes? Do que ele sente saudade em Belém? Eu sinto saudade da tranquilidade de Belém. Incluindo aí a segurança. Eu sinto saudade desse tempo. De poder sair à rua sem me preocupar com segurança. Eu sinto saudade de ter uma Belém mais limpa já que Belém vem sofrendo há muito tempo. Qual seu lugar favorito na cidade? A Praça Batista Campos. Sem dúvida. Fica próximo à minha casa e eu a considero o jardim do meu apartamento. Gosto de ir lá, tomar uma água de coco, olhar as samaumeiras e as garças.


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PARÁ


O Quarto Em passagem por Porto Seguro não resistimos e visitamos uma caravela, daquelas que Cabral por lá aportou em 1500. O guia era um garoto nativo que, dentre muitas curiosidades, nos falou que a palavra quarto, que hoje usamos pra designar um dormitório, era usada para determinar o tempo que os marujos tinham pra descansar, um quarto do dia, ou seja, seis horas. Assim, cada um ia pro seu quarto de descanso, daí, alguns séculos depois, estamos nós em quartos de dormir. Num estudo que li há algum tempo, uma psicóloga afirmava que a influência dos pais na formação da personalidade dos filhos durante a adolescência girava em torno de 25%, novamente um quarto aqui aparece. O restante seria resultado do meio em que vive: escola, amigos, vizinhança, parentes, namorados, etc. Portanto, a pressão social corresponderia a três vezes a importância que nós, míseros pais, teríamos. Sou pai de duas adolescentes, aliás, uma ainda pré-adolescente, e como tantos outros pais e mães (para evitar a repetição sistemática e cansativa de ambos substantivos vou usar daqui pra frente a denominação genérica masculina que tanto afeta os politicamente corretos) tentamos, eu e minha esposa, salvar nosso quarto de influência. Afinal, se são apenas 25% de participação, que o façamos da melhor maneira. Mas, como todos sabem, não é tarefa das mais fáceis. A necessidade de ser reconhecida pelos pares, como forma de elevar a auto-estima, aliada ao bombardeio hormonal próprio da idade provocam um ambiente hostil para o relacionamento, mais conhecido como conflito de gerações. Afinal, fomos jovens um dia e também descarregamos em nossos pais

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Celso Eluan empresário celsoeluan@ig.com.br

essa mistura combustível. Tentando nos lembrar de como fomos e como nossos pais reagiram, bem como adotando uma postura mais antenada (pra ficar num termo modernoso) aos novos tempos, buscamos uma forma de diálogo que nos aproxime e nos tire da insignificância que representamos, pois mesmo se formos 100% bem-sucedidos, nossa participação, como já citado, não passaria dos 25%. Maldito limite de um quarto! Não bastasse isso, temos que ficar assistindo aquele bebê, aquela criança crescida ir embora e dar lugar a alguém que emite opiniões, tem TPM, faz planos para o futuro, não quer mais sair com você, tem sempre um programa com a turma. Como somos incoerentes: quando são crianças torcemos pra que cresçam logo e nos dêem menos trabalho, quando crescem ansiamos para que fiquem mais com a gente. O certo é que a natureza, sábia como sempre, nos dá o tempo necessário para nos acomodarmos a cada nova situação. Cada fase ultrapassada é um amontoado de boas memórias que dão lugar a um novo momento de descobertas e necessidades de adaptação para que também saibamos usufruir e não apenas ficar preso ao passado. Afinal, elas crescem e se tornam pessoas independentes e quanto mais possibilitarmos que elas absorvam o melhor de cada fase, criando seu próprio repertório de experiências, em contato com o mundo e dele sofrendo a influência dos outros 75%, mais possibilidades terão de se tornarem adultos plenos. Pensando bem, acho que 25% está de bom tamanho, vou pro meu quarto arrumá-lo o melhor possível pra elas.


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especial

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Camila Barbalho

Dudu Maroja

Os novos

bambas

De mãos dadas com a tradição, jovens músicos abraçam com talento e disposição a missão de não deixar o samba morrer. Conheça-os.

“V

ou cobrar cem por clique”, brincou Gilson – o proprietário da celebrada casa de samba que leva seu nome no bairro da Condor, em Belém –, com o trio de jovens empunhando instrumentos típicos do mais brasileiro dos gêneros musicais. O senhor, festejado por todos os “das antigas”, cedia o palco e as instalações do refúgio da tradição aos meninos para a sessão de fotos dessa reportagem. Meninos, evidentemente, é o que se diz pelo que dá para ver nos seus rostos: nenhum deles chegou aos trinta ainda. O que as caras não entregam é a trajetória consistente que Larissa Leite, Arthur Espíndola e Camila Alves estão construindo passo a passo dentro do universo da música popular, cada um a seu modo. De diferente entre eles, os timbres, as condutas, os perfis, as histórias. De similar, a paixão pelo samba trazida da infância e o poder (e a responsabilidade) de ser o sopro de renovação dentro do que há de mais basal na cultura do país – sem a necessidade de modernizar com o auxílio do universo digital. Se são novos os compositores, o jeito de fazer música é à moda antiga: pandeiro, violão, banjo, cavaquinho. “Seu” Gilson estava muito satisfeito com a rapaziada sobre o palco, rindo e tocando as canções uns dos outros. Sua piada, naquele momento, era mais que uma brincadeira: era a benção ancestral ao novo, capaz de dar sobrevida ao samba, que sua geração tanto ama. Como dizem aqueles versos incontestáveis numa batucada, o anel de bamba é repassado a quem merece usar. Dos três, Larissa Leite é a primeira com quem converso. A mais nova entre os presentes, a cantora e compositora tem 18 anos e o instinto

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de descobrir o mundo. O contato com a música – e com o samba – veio das reuniões familiares de fim de semana. “A família do meu pai se reúne todo domingo pra tocar desde que eu me entendo por gente. O samba era o condutor principal da brincadeira, mais até que a jovem guarda e o jazz, que também eram tocados”, ela lembra. “Eu cantava desde os oito anos. Aos onze, ganhei de uma tia um disco da Nara Leão, por ela achar que nossos timbres eram parecidos. Eu me apaixonei”. Apesar da familiaridade, não foi de cara que Larissa ouviu o chamado do gênero que hoje incorpora. “Eu sempre buscava bandas de rock nas quais pudesse cantar. Não imaginava que cantaria samba um dia” – embora, curiosamente, suas primeiras composições já transitassem por esse território. Parte do que a levou a se assumir como intérprete e compositora da batucada teve a ver com as transformações pessoais que Larissa vivenciou nos últimos anos. Quem vê a mulher poderosa de dreadlocks vermelhos e atitude libertária no palco, jamais diria que há pouquíssimos anos ela era uma garota tímida, de voz aguda e suave, que compunha apenas pra si. Ela brinca: “O samba me corrompeu. E isso é bom”. Foi em 2011 que Leite assumiu os vocais de um grupo de samba, com pessoas jovens como ela. “Um amigo, louco por samba, me apresentou para outros amigos que também gostavam do estilo. Eles foram à minha casa e começaram a tocar músicas do Chico Buarque, alguns sambas antigos... E, para minha surpresa, eu sabia todos. Foi um entrosamento muito interessante. Decidimos ficar juntos, metemos a cara”, conta. »»»


A nova geração do samba faz um som original e descobriu raízes que se misturam com sons locais Hoje, bem mais íntima da sonoridade que acolheu para si, ela enumera sem titubear aqueles que a inspiram a fazer o que faz diariamente: “Clara Nunes, Adoniran Barbosa, João Nogueira, Originais do Samba... Hoje eu me identifico, me atento para a energia da música. Eu imagino o processo de criação, me imagino no meio desses nomes”. A carreira curta e a intensidade com que Larissa abraça seus projetos já oferecem frutos maduros: a cantora participou recentemente das primeiras seleções para o programa The Voice, da TV Globo. “Fui convidada para a pré-seleção, cantei em Salvador e foi muito especial. Estou aguardando o resultado”. Longe do deslumbre, é com maturidade que ela lida com a velocidade dos acontecimentos. “Sei que sou muito nova. Não vou desistir, independente do resultado. Se não for dessa vez, vou continuar tentando - seja lá ou em qualquer lugar, qualquer oportunidade. Eu quero é samba”, sorri. Também é com disposição e um sorriso largo no rosto que Arthur Espíndola senta à minha frente e me conta sua história. Convicto, empenhado e um

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entusiasta do que faz acima de tudo, o cantor, compositor e multi-instrumentista não poderia prever para si qualquer outro destino que não a música. Filho de uma coralista do Madrigal de Belém, ele cresceu nas coxias de teatro. Começou a estudar percussão no conservatório Carlos Gomes ainda na infância. Aos 12 anos, subiu ao palco pela primeira vez. “Toquei na sede da Bole-Bole, a escola de samba, em uma banda de baile da qual fiz parte”, relembra.Tempos depois, Arthur conheceu o pessoal de um grupo de samba, no qual havia vários ritmistas da célebre escola Rancho Não Posso me Amofiná. O contato constante não foi suficiente para levá-lo de vez ao mundo que hoje habita. Ele ainda acompanhou como baterista diversos músicos daqui e de fora, tocou e compôs em uma banda de reggae e seguiu os anos dentro da música, embora sem lugar definido. Enquanto isso, descobria o que nunca tinha ouvido antes (“Chico Buarque, Maria Bethânia, a Tropicália... Não sabia que havia muito mais do que eu conhecia”) e escrevia as primeiras cadências de samba. E engavetava.

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Aos 20 anos veio a primeira grande guinada. Mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar e lá conheceu Sandra de Sá, por meio de um amigo produtor. “Mostrei minhas músicas pra ela na esperança de ela querer gravar. Para minha surpresa, ela me propôs produzir meu disco. Nunca tinha cantado antes, eu era bem cru e, de repente, tinha um monte de gente me assessorando, me dando atenção”, conta. Seu primeiro álbum era um disco de música pop. Embora essencial para seu crescimento, ainda não era aquilo. “Eu gostava do que fazia, mas não fazia o que gostava”. Naturalmente, Arthur voltou do Rio ainda mais convicto de que a música era seu caminho. Mas ainda não sabia onde fincar pé. Passou um ano e meio refletindo sobre tudo isso. “Lembrando minha vida no Rio, eu percebi o seguinte: eu andava com as pessoas da música pop, fazia música pop... Mas segunda eu estava no Samba do Trabalhador, terça no Samba do Semente, quarta no Samba da Guanabara, quinta no Bom

Sujeito, sexta no Santa Luzia... Deu o estalo. A minha vida era o samba”. Bem mais perto de se tornar o que queria, foi num dos fortuitos encontros da vida que Arthur se deparou com o que motivaria sua total dedicação desde então: ele conheceu a cantora Luê, filha de Junior Soares, do Arraial do Pavulagem. “Frequentando a casa dela, descobri outro universo que também não conhecia, que era a música regional. No aniversário dela, tinha uma galera reunida tocando... Vi um curimbó no canto e peguei pra fazer de tantã”. Segundo Espíndola, foi outro momento de estalo. Ele explica:“as células rítmicas do carimbó e do samba são primas. Eu sabia que tinha muita gente boa fazendo samba, mas fazendo igual. Os nomes importantes do samba são os mesmos há vinte anos e os nomes novos que surgiram se estabeleceram regravando o que esses caras fizeram na sua época. Decidi compor mais, meter a cara. Comecei a compor, inclusive com a linha melódica »»»


do carimbó, e me apaixonei por isso”. Hoje, aos 29 anos recém-completados, Arthur está em todas e exatamente onde queria estar: selecionado pela Mostra Terruá para fazer show no sudeste do país, com disco pronto e aguardando o momento de ganhar as ruas, acumulando participações estreladas e inusitadas, como Gaby Amarantos, Felipe Cordeiro e a Velha Guarda da Mangueira. Essa participação especificamente deixa Arthur muito tocado. “Eles me adotaram como afilhado. As pessoas às vezes não sabem o que é a Velha Guarda de uma escola. É simplesmente quem começou tudo”. Sua atual música de trabalho, chamada “Tô Fora de Moda”, fala justamente desse jeito peculiar e nada tecnológico de fazer música. Espíndola revela que ela é totalmente autobiográfica. “Nem no Facebook eu sei mexer direito”, ele ri. “Não estou conectado às modernidades. Simplesmente faço o que eu sei e amo fazer. E eu não faço questão de ser famoso, só quero ter gente disposta a me ouvir e a sustentar a minha arte. Tendo isso, quem pode dizer que está errado?”. Além de toda a correria, Arthur ainda se dedica ao Amazônia Samba – um projeto de pesquisa que resultou num programa de webtv. “A ideia é resgatar grandes compositores de samba da Amazônia que escreveram músicas famosas no mundo todo. É o caso de Toninho Nascimento, um mosqueirense autor de ‘Conto de Areia’, famosa na voz de Clara Nunes, e de Edmundo Souto, de Santarém, autor de ‘Andanças’, um hino da Beth Carvalho”. Apesar das fortes ambições, Arthur não é nada pretensioso. É sim-

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plesmente uma pessoa dedicada, que aproveita oportunidades, pensa positivo e faz por onde. “Quando as portas se fecham, eu mesmo busco abrir. Além do que, vivemos um momento muito positivo. Dizer lá fora que você é um artista paraense hoje deve ser muito melhor do que era dizer a mesma coisa há dez anos”. Camila Alves é minha terceira entrevistada e dona de uma das vozes mais doces que já ouvi. No grupo de jovens que dividiram o palco naquela tarde para cantar suas canções, ela era a representante de um lado muito particular de toda essa brasilidade. Camila é frente de um grupo só de mulheres, chamado Charme do Choro. De formação erudita, a compositora e instrumentista entrou em contato com a música graças a um pianinho de madeira que ganhou do pai, aos dois anos de idade e que se tornou seu brinquedo favorito quase que instantaneamente. A mãe bem que tentou incentivá-la a aprender balé, mas a atividade estava longe dos planos da então menina. “Não deu nada certo... Eu chorava pra não ficar na aula”, diz entre risos. Aos 11 anos, a mãe compreendeu a vocação da filha e a inscreveu para fazer o teste no conservatório Carlos Gomes. “Só saí de lá formada. No conservatório, vivi música todos esses anos. Era incrivelmente mágico andar pelos corredores ouvindo tantos sons, timbres, descobrindo instrumentos diferentes, gente cantando engraçado, cantando bonito, gente tocando como eu nunca pensei em tocar, ou insistindo em um mesmo trecho por horas... me encantava muito toda aquela atmosfera e eu só queria saber de »»»


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ficar ali”, revela. Seu professor de violão foi o responsável por fazer a apresentação formal entre a musicista e o choro. “Ele tem um grupo de choro e eu ficava para assistir ao ensaio deles depois da minha aula. Nunca pensei que um dia eu tocaria choro. Era distante e difícil... Muitos anos depois, fiz uma oficina de violão popular ministrada pelo Paulinho Moura, setecordista de referência no Pará. Dessa oficina, ele já me convidou a participar da oficina Choro do Pará no IAP, em 2006, idealizada pelo próprio Paulinho e pelo Jaime Bibas. Com sua enorme generosidade, Paulinho me fez acreditar e fazer ser possível”. Também foi durante essa oficina, ao lado de Paulinho Moura, que Camila se descobriu compositora. No contato com as músicas do professor, criou coragem para mostrar alguns de seus textos, frutos de outra paixão: a escrita. “Na sua imensa generosidade, Paulinho musicou minha letra. Estava feita nossa primeira parceria. Daí a notícia correu: ‘tem uma menina escrevendo e compondo que nem sambista das antigas’ (risos). E foi tudo muito natural. Fui conhecendo outros grandes compositores, que se tornaram para minha honra – parceiros”. Quando questionada sobre a disparidade entre sua pouca idade e a escolha por um gênero tão tradicional, é com simplicidade e doçura compatível com seu timbre que Alves responde: “existe uma frase muito bonita, de autoria do mestre Adamor do Bandolim:‘a gente não escolhe o choro, o choro é quem escolhe a gente’. O fato de eu ser nova é apenas um detalhe nisso tudo”, ela defende. “O choro foi o caminho que melhor me serviu para fazer música e me expressar artisticamente. Se você ama algo, não importa a idade que você tenha ou o estilo em que você está inserido. O importante é alimentar a sua alma e a dos outros, fazendo aquilo com amor e sinceridade. Assim, tudo é muito simples, e vale muito a pena”. Tanto vale que a paixão pelos sons é uma das poucas certezas de perenidade na sua própria vida. “A música sempre estará comigo. Não tem como ser diferente. Se fazendo choro ou algum outro gênero, só o tempo dirá. Mas música sim, sempre”. Larissa, Arthur e Camila são pessoas totalmente distintas. Larissa é forte como um refrão de samba-enredo. Arthur é entusiasmado e cheio de vida como um samba exaltação. Camila me lembra da flauta ou o clarinete que desenha as doces melodias do chorinho. Suas histórias não coincidem, mas se entrelaçam em um mesmo fio condutor. Algo entre talento, vontade e a missão de manter o samba vivo, pulsante. Basta ver o entusiasmo da roda de som improvisada pelos três para ter a certeza de que ele assim permanecerá. Ainda bem.

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galeria

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Karina Jucá*

Divulgação

Geografias

imaginárias A

grande maioria dos que assistiram à televisão no final dos anos 80, especialmente os que foram crianças na época, lembram-se com carinho dos documentários expedicionários na Amazônia do marinheiro francês Jacques-Yves Cousteau. O fascínio das imagens da fauna e da flora amazônica marcaram gerações. No entanto, aquelas paisagens incríveis e capazes de deixar imagens na memória de várias gerações quase prescindiam de homens nativos. Corroborando com esse fato, mais tarde Jacques Cousteau declarara que as expedições não tinham preocupações ecológicas. Não há sustentabilidade sem cultura e cultura sem homens. Uma paisagem sem homens, pois é essa a imagem estereotipada da Amazônia impressa pelo cinema e a literatura, nacional e estrangeira, bem como pelas campanhas turísticas de governos e grande imprensa. Ao longo da história, a Amazônia foi vista e mostrada fundamentalmente pelo ponto de vista do colonizador, com os seus habitantes em segundo plano. O belo filme de contornos épicos do alemão Werner Herzog, “Fitzcarraldo”, é um bom exemplo dessa visão, contando a história de um desbravador europeu que sonha em construir a primeira casa de óperas no meio da floresta, na remota Iquitos, Amazônia peruana, alto Amazonas. Enfim, no imaginário do estrangeiro, e mesmo do brasileiro de outras regiões, a Amazônia ainda é muito semelhante àquela que também viu e narrou o escritor e pesquisador Euclides

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da Cunha, em 1905, no alto Rio Purus, Estado do Acre: como a natureza flagrada logo depois do Gênesis, idílica e silenciosa, como o paraíso ou a morte. O cenário da Amazônia Euclidiana é uma espécie de deserto pluvial, ou de “inferno verde”, conforme a expressão do escritor que se tornou notória. De acordo com o escritor Daniel Piza, que refez o trajeto do alto Purus, Euclides sonhava ir para lá “conhecer profundamente o Brasil e desvendar em sua mente aquela terra sem história...”. “Terra sem história”. Mesmo durante a ocupação militar do território, nos anos 70, permaneceu o entendimento de “ocupação do vazio” amplamente divulgado por campanhas publicitárias. Até mesmo um escritor contemporâneo, o consagrado amazonense Milton Hatoum, reforça a visão mítica que envolve a região ao tratar da compreensão da imigração árabe na Amazônia, a partir da lenda do Eretz, a Terra Prometida. Essa mentalidade, de algum modo, restringe a Amazônia a uma esfera mágica, mítica, a-histórica, e ainda é tão atual que diversas tribos indígenas permanecem ignoradas pelas políticas de Estado, incapazes de reconhecer o índio como agente cultural, morador original e, por isso, pleno de direitos sobre o seu território. Os índios e descendentes deles ainda são considerados para uma boa parcela da elite brasileira como os “estrangeiros nativos”. A explicação para o fenômeno são interesses alheios aos interesses da região. Nas palavras da jornalista »»»


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Eliane Brum: “Para que os de dentro continuem fora, é preciso mantê-los fora no discurso”. “Ser índio seria, quando não desaparecer, ao menos silenciar”. Não surpreende que, devido a essa “xenofobia invertida”, somente de 15 anos para cá a cultura produzida na Amazônia esteja sendo descoberta na sua pluralidade no resto do país. É, aliás, um fato no mínimo curioso e irônico que um dos grupos musicais de maior vendagem no Brasil no momento, a paraense Banda “Calypso”, tenha sido batizada com o mesmo nome do navio expedicionário de Jacques Cousteau. O projeto de série audiovisual “Geografias Imaginárias” surgiu da necessidade ambiciosa de documentar a Amazônia e montar este quebra-cabeça, puzzle amazônico, tendo o Pará como um ponto de partida. A série Geografias Imaginárias iniciou duas expedições por cidades-chave dentro do “plano de desenvolvimento” traçado para a região, passando por trechos da Rodovia Transamazônica - BR-230, estrada tão histórica quanto simbólica para o Brasil. Em vez de rios e botos cor de rosa, da exuberância colorida da fauna e da flora, do cartão postal, a paleta de cores do ponto de partida do projeto fica entre o verde e o laranja da mata, das queimadas, da estrada barrenta por onde passaram e se estabeleceram, por exemplo, muitos nordestinos em busca de oportunidades vendidas pelo governo militar em amplas campanhas. O rasgo da Transamazônica, que nunca chegou a ser uma estrada acabada, é como a faixa de Ordem e Progresso no verde da bandeira brasileira, um projeto de desenvolvimento de nação em moldes arcaicos, predatórios. A Amazônia profunda ainda está fora do al-

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cance e do discurso, ainda silenciosa e subjugada? Sim, se olharmos pelos óculos da História dos conquistadores, ou no profundo simbólico, ou no plano aberto da câmera, ou nas definições geográficas padrão (a Amazônia Legal, a PanAmazônia), mas, se olharmos e ouvirmos os seus habitantes, sejam eles os índios nativos, os caboclos e mamelucos ribeirinhos, ou mesmo os homens das numerosas metrópoles em seu amplo território, o quebra-cabeça da região, ainda que lenta e trabalhosamente, pode se formar... A Amazônia, enquanto realidade extra-mito, só é possível por meio de um novo olhar, uma nova apropriação, do recorte, dos recortes particulares, da criação de uma cartografia da região. Ou, como resume poeticamente o escritor paraense Vicente Cecim a respeito da Amazônia: “Nossa história só terá realidade quando o nosso imaginário a refizer, ao nosso favor”. “Geografias Imaginárias” é uma série audiovisual que prevê oito documentários-expedições de média metragem na Amazônia brasileira e cujas primeiras três expedições foram gravadas em municípios como Altamira, Santarém, Marabá, Itaituba, Novo Repartimento e Belém. Cada um dos oito documentários será gravado com um diretor brasileiro diferente. A série inicia no Pará, mas pretende mostrar, além dos clichês e do cartão postal, personagens de vários pontos da PanAmazônia, as características que nos aproximam e distinguem para além de um exotismo fácil. Com isso, construir uma cartografia contemporânea e subjetiva do Pará e Amazônia, em forma de livro ilustrado com fotos e descrições das expedições, mapas e textos críticos sobre região de Vicente Franz Cecim, Paulo »»»


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Cal, Lúcio Flávio Pinto, entre outros. Livia Conduru, produtora executiva do projeto, comenta a respeito da construção dessa cartografia: “cartografia é a arte de fazer/constituir mapas. O projeto “Geografias imaginárias” tenta revelar, a partir dos percursos traçados, imagens e histórias capturadas, desenhar a Amazônia real que muitos brasileiros, inclusive nós, amazônidas, desconhecemos. As distâncias são grandes, mas os discursos e as linguagens muitas vezes se aproximam. A internet, mesmo que, em muitos lugares (a grande maioria deles), seja precária e comercializada a preço de ouro, ouro que é moeda de troca nos garimpos, aproxima fazeres, gostos e comportamentos. O grande barato do projeto é entender a subjetividade, o imaginário que nos permeia, perceber que aquilo que criamos é real, ou que as nossas fantasias já habitam um passado distante. Somo muitos. Várias identidades e culturas em uma região que também gera muitas paisagens, mas somos os mesmos povos quando relatamos os problemas que enfrentamos. Não queremos maquiar a realidade e nem abandonar a criticidade na construção dessa cartografia. Queremos talhar a realidade a ponto de gerar reflexão e admiração além de, claro, identidade e aproximação”. A série também prevê um box de DVDs, um CD com a trilha original, exibições na televisão a cabo no Canal Brasil e em festivais independentes. A expedição #1 da série é dirigida por Vladimir Cunha, jornalista e idealizador do documentário “Brega S.A.”. O filme passa por Santarém (pela Santarém – Cuiabá), Itaituba e outras cidades do sudoeste do Pará, para encontrar tipos curiosos, como a ex-prostituta e atual fundadora de uma

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igreja no entorno da Transamazônica, ou jovens góticos em Altamira, uma banda de rock de garotos do interior, e personagens mais típicos, mas nem por isso menos interessantes, como o cacique , imigrantes nordestinos, o garimpeiro ou o seringueiro de uma reserva florestal. Vladimir Cunha comenta sobre a experiência em entrevista anterior a um jornal local: “A grande questão dessa região ao sudoeste do Estado é que nunca houve um plano de desenvolvimento claro. Tanto o ciclo da borracha, a construção da Transamazônica, como a soja e o garimpo levaram diversas pessoas de outros estados para lá, cheias de sonhos e nem tudo deu certo, pelo contrário, é um espaço esquecido, no qual pouco se vê a intervenção estatal. Um lugar de muitos sonhos e poucas realizações. São essas histórias que mostrarei no documentário”. A expedição #2, capitaneada pelo paulista João Wainer (TV Folha), inicia as filmagens em Marabá e segue por Anapu em direção a Altamira pela Transamazônica. O doc é construído a partir das histórias em torno da estrada. “Pode-se dizer que o fio condutor é a estrada mesmo e as pessoas nela”, conta Brunno Regis, assistente de fotografia da expedição. Entre os personagens, o cacique da tribo e uma imagem impressionante de Belo Monte, do contraste entre os municípios dos arredores da barragem e o megaprojeto. A expedição #3, dirigida por Fernanda Brito, busca mostrar os bastidores das produções cinematográficas na Amazônia e no Pará, através de doze depoimentos e entrevistas com os críticos, historiadores e realizadores de audiovisual na região, desde o pioneiro Líbero Luxardo, na »»»


década de 60, passando por Vicente Cecim e as suas experimentações em câmera Super8, na década de 80, até a série de animação de Cássio Tavernard, a contemporânea - mas já clássica - A Turma da Pororoca. A expedição #3 pretende mostrar como a região foi e está sendo retratada desde o seu surgimento até hoje, como os realizadores interagem com a nossa geografia, quais os entraves e as descobertas dos produtores de audiovisual. A princípio, o projeto está sendo disponibilizado no formato de pílulas com duração de dois a três minutos disponibilizado na internet. Os entrevistados da expedição #3 são: Adriano Barroso, Vladimir Cunha, Roger Elarrat, Fernando Segtowick, Luiz Arnaldo Campos, Jorane Castro, Priscilla Brasil, Afonso Galindo, Cássio Tavernard, Téo Mesquita, Marco Antonio Moreira e Vicente Cecim.

informações (*) texto cedido pela produção do documentário. Os próximos documentários estão em fase de captação, pesquisa e articulação. Para saber mais a respeito do projeto, viste a fanpage no facebook: https://www.facebook.com/geoimaginaria

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Prepare-se para dar o pr贸ximo passo.

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AMIGOS INSEPARÁVEIS DICA

Val (Al Pacino) acaba de cumprir 28 anos de cadeia e, no dia de sua saída, foi recepcionado por Doc (Christopher Walken), seu antigo parceiro do crime. Daquele momento em diante, a amizade dos dois será colocada em xeque, uma vez que um líder criminoso planeja para eles um futuro fora do comum, com o único objetivo de vingar a morte do filho. Diante desse cenário, as horas seguintes da dupla serão regadas a drogas, mulheres, perseguições, roubos, pancadaria e tiros. Ignorando a idade avançada, eles partem para uma espécie de tudo ou nada, sem qualquer certeza de como tudo isso acabará, mas certos de que a lealdade entre eles pode ser a melhor arma que já tiveram nas mãos.

CAMILLE CLAUDEL, 1915 O sétimo longa de Bruno Dumont marca sua “estreia” com a primeira parceria com a estrela Juliette Binoche, que se adapta muito bem ao estilo austero do diretor. Como o título indica, o filme mostra um ano na vida da escultora, após sua internação num hospício. Binoche é fundamental para que sintamos o drama de Camille Claudel num período nebuloso de sua vida. E não precisamos mais do que uma cena -a do diálogo entre Camille e o médico- para percebemos como sua presença é luminosa e essencial. Como Binoche não abre mão de atores inexperientes, Jean-Luc Vincent interpreta (e bem) o poeta Paul Claudel, irmão de Camille. Sua aparição provoca um deslocamento inusitado da narração, aumentando ainda mais sua força.

DESTAQUE

INTERNET

SIN CITY 2: A DAMA FATAL Aos que esperaram ansiosamente, enfim, nada foi em vão. Sin City 2: A dama fatal chega ao Brasil até o final do ano. Voltam também muitas personagens do primeiro filme (as que morreram inclusive, já que a história não tem compromisso algum com a linearidade. Dessa forma, são quase certas as presenças de Dwight, Manute e Gail). Ava Lord, a Dama fatal do título (papel originalmente pensado para Angelina Jolie) será interpretada por Eva Green. Sin City 2 foi rodado a partir de um roteiro original de William Monahan (“Os Infiltrados”, “Rede Mentiras”) e Frank Miller, que também trabalhará na direção ao lado de Robert Rodriguez. O veterano Mickey Rourke retorna como o durão Marv.

CLÁSSICOS

CINEMACLASSICO.COM Portal reúne curiosidades sobre artistas, períodos e produções de clássicos do cinema.

O ÚLTIMO IMPERADOR Uma das grandes “vedetes” de Cannes deste ano foi a mostra “Cannes Classics”, que reuniu e exibiu cópias restauradas de clássicos e obras-primas, entre eles “O último Imperador”. A saga de Pu Yi (John Lone), o último imperador da China, que foi declarado imperador com apenas três anos e viveu preso na Cidade Proibida até ser deposto pelo governo revolucionário. Foi nessa ocasião, aos 24 anos, que viu o mundo pela primeira vez: tornou-se playboy, mas www.revistalealmoreira.com.br

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logo teria um papel político quando se tornou um “pseudo-imperador” da Manchúria, quando esta foi invadida pelo Japão. Aprisionado pelos soviéticos, foi devolvido à China como prisioneiro político em 1950. É exatamente nesse período que o filme começa, mas logo retorna a 1908, o ano em que se tornou imperador. A fotografia do filme é de uma beleza única, realçada por interpretações únicas, sob a direção de Bernardo Bertolucci.


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VÍDEO O SAMBA QUE MORA EM MIM – DOCUMENTÁRIO Dirigido por Georgia Guerra-Peixe, o documentário foi ganhador de alguns prêmios (todos merecidíssimos) porque se dedicou a fazer um retrato intimista das pessoas que ficam por trás dos holofotes da grande avenida do samba – a Marquês de Sapucaí, Rio de Janeiro. Esses “anônimos” respiram o ano inteiro o samba e são os grandes responsáveis pelo brilho das celebridades na avenida. A documentarista, filha de um historiador do assunto e sobrinha-neta do maestro César Guerra-Peixe, cresceu ouvindo sambas-enredo da Mangueira, sem nunca ter subido o morro e o filme acompanha, em paralelo, essa primeira experiência. Em seu debut pela Mangueira, Georgia encontra seus protagonistas anônimos. Há uma troca e ela mesma conta as suas.

DICA STING The Last Ship CONFIRA

Após um hiato de quase uma década, Sting volta melhor do que nunca, tal qual o vinho, cujo tempo certo ajuda a maturar. O novo álbum de originais de Sting será lançado no próximo mês, mas, por meio das redes sociais, o cantor já soltou algumas faixas como aperitivo para seus fãs. O disco foi inspirado na próxima peça de Sting, com o mesmo nome, que tem como ponto central o imaginário regresso à sua casa e da auto-descoberta, partindo de suas próprias memórias de infância e crescimento, à sombra do estaleiro de SwanHunters, em Wallsend. A peça, na qual Sting esteve mergulhado nos últimos três anos, vai estrear na Broadway em 2014. Já o álbum foi produzido por Rob Mathes (Sting, Eric Clapton, Elton John, Lou Reed, Carly Simon) e mixado por DonalHodgson. Para os saudosistas e colecionadores, The LastShip será lançado em dois formados: em cd e em vinil (além de uma versão deluxe, com dois discos e cinco canções extras).

LOUD LIKE LOVE PLACEBO

CLÁSSICO

INTERNET

Depois do último trabalho de estúdio em 2009, quando o Placebo lançou “Battle For The Sun”, o grupo agora se prepara para lançar seu novo disco “LoudLike Love”, agora em setembro, pela Universal Music. O álbum é produzido por Adam Noble, o mesmo que participou do último EP B3 em 2012. O novo trabalho terá dez faixas: Too many friends, Loud like love, Scene of the crime, Hold on to me, Rob the bank, A million little pieces, Exit wounds, Purify, Begin the end e Bosco.

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DOMINGO MENINO DOMINGUINHOS DOMINGUINHOS (1976) Considerado o herdeiro musical de Gonzaga, Dominguinhos juntou-se às estrelas de um céu ainda mais iluminado, como o do mês de julho. Sua obra, felizmente, fica entre nós. Marcante, Dominguinhos foi e sempre será sinônimo da alegria (e talvez também da melancolia) nordestina. Domingo Menino Dominguinhos é uma raridade da década de 70 e merece tempo para ser “degustada”. Destaques para “Gracioso”, do flautista Altamiro Carrilho, “Cheguei pra Ficar” e “Forró do Sertão”, ambas de Anastácia e Dominguinhos.



horas vagas • literatura

DESTAQUE

DICA

LUZ ANTIGA John Banville

MORRER DE PRAZER: CRÔNICAS DA VIDA POR UM FIO - Ruy Castro Em Morrer de Prazer, livro que reúne seus textos mais pessoais, Ruy evoca a juventude excitante dos anos 60, a paixão pelo cinema e por suas deusas, pelas cidades fervilhantes e as possibilidades de encontro que oferecem. Também reconstitui batalhas mais duras (e não foram poucas): as lutas contra o alcoolismo, o câncer e outras mazelas que ameaçaram o seu projeto de viver; as vitórias por um fio, a bravura, o seguir adiante. Morrer, só se for de prazer. Fonte: Livraria da Travessa

Vencedor do “Man BookerPrize” e nome cotado para o Prêmio Nobel de Literatura, o escritor irlandês John Banville é comparado, pela crítica moderna, a autores renomados, como os também irlandeses Samuel Beckett e James Joyce, e o russo Vladimir Nabokov. Seu mais recente título, Luz antiga, publicado no Brasil pela Biblioteca Azul, conta a história do ator Alexander Cleave, cuja carreira parece seguir para o fim – assim como sua própria vida. Diante desse processo de decadência, Alex passa a viver de suas recordações, das memórias de seu primeiro amor – um relacionamento delicado com uma mulher bem mais velha do que ele, mãe de seu melhor amigo – e de sua filha, que tirou a própria vida após sofrer por anos de um mal muito próximo à esquizofrenia. Alex mostra ser um homem dilacerado por medos, ansiedades, rancores, embora seja também capaz de tiradas brilhantes e ainda dotado de um olho sensível à beleza do mundo (ou à sua ausência). O romance é marcado pelos traços característicos do texto de Banville, cheios de jogos de linguagem e enredos complexos. Segundo o escritor argentino Rodrigo Frésan, amigo de Banville e motivador da obra (Frésan chega mesmo a aparecer de modo cifrado como personagem do romance), “Lemos Banville para lembrar o que é ler, afinal: ler Banville é descobrir que podemos falar o melhor dos idiomas”. Fonte: Livraria da Travessa

CLÁSSICO O GENERAL EM SEU LABIRINTO Gabriel García Márquez

GILBERTO BEM PERTO Regina Zappa

CONFIRA

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Simón Bolívar é o personagem central do romance de Gabriel García Márquez. “O General em Seu Labirinto” é o relato dos últimos dias da vida do Libertador. Sem amigos, consumido pela tuberculose, Bolívar delira. Sua mente febril é como um labirinto no qual se misturam visões e lembranças e, a partir desse emaranhado de ideias, García Márquez reconstrói o passado de um continente. Fonte: Livraria Cultura

Provavelmente não existe um brasileiro que não saiba quem é Gilberto Gil ou não lembre instantaneamente algum dos seus refrões mais famosos. Mas, além de saber que Gil é um cantor e compositor baiano, foi um dos pais da Tropicália e chegou a ser ministro da Cultura, o que o grande público conhece da sua vida. Além disso, a obra traz as suas origens, como se consagrou como um dos músicos mais importantes e premiados do mundo, as barras-pesadas que enfrentou, os grandes amores que viveu, os dilemas existenciais e as grandes causas que o movem... Tudo aquilo de que é feito o bordado da vida é alinhavado nessa biografia assinada por Gil e pela jornalista Regina Zappa. Escrita quando o músico já ultrapassa sete décadas de estrada, ela é fruto do desejo de Gil de expor, pela primeira vez, a sua história em detalhes. Fonte: Livraria da Travessa www.revistalealmoreira.com.br

1889 – COMO UM IMPERADOR CANSADO, UM MARECHAL VAIDOSO E UM PROFESSOR INJUSTIÇADO CONTRIBUÍRAM PARA O FIM DA MONARQUIA E A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA NO BRASIL. Laurentino Gomes Nas últimas semanas de 1889, a tripulação de um navio de guerra brasileiro ancorado no porto de Colombo, capital do Ceilão (atual Sri Lanka), foi surpreendida pelas notícias alarmantes que chegavam do outro lado do mundo. O Brasil havia se tornado uma república. O império brasileiro, até então tido como a mais sólida, estável e duradoura experiência de governo na América Latina, com 67 anos de história, desabara na manhã de Quinze de Novembro. O austero e admirado imperador Pedro II, um dos homens mais cultos da época, que ocupara o trono por quase meio século, fora obrigado a sair do país junto com toda a família imperial. Vivia agora exilado na Europa, banido para sempre do solo em que nascera. Enquanto isso, os destinos do novo regime estavam nas mãos de um marechal já idoso e bastante doente, o alagoano Manoel Deodoro da Fonseca, considerado, até então, um monarquista convicto e amigo do imperador deposto. Essas e outras histórias surpreendentes estão em 1889, o novo livro do premiado escritor Laurentino Gomes. A obra, que trata da Proclamação da República, fecha uma trilogia iniciada com 1808, sobre a fuga da corte portuguesa de Dom João para Rio de Janeiro, e continua com 1822, sobre a Independência do Brasil. Fonte: Livraria Saraiva

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NEY MATOGROSSO Atento aos sinais

O show tem uma roupagem pop, com a interpretação singular de Ney Matogrosso para compositores novos e consagrados, como Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Itamar Assumpção, Criolo e Vitor Ramil, entre outros. Mesclando canções clássicas e contemporâneas em uma criteriosa seleção, o repertório inclui músicas como “Vida Louca” (Lobão), “Roendo as Unhas” (Paulinho da Viola), “Fico Louco” (Itamar Assumpção) e “Oração” (Dani Black), música que inspirou o título da turnê. O novo show tem sonoridade pop/rock, figurino exuberante e cenário moderno. Com direção musical de Sacha Amback, “Atento aos Sinais” contará com cenário criado por Luis Stein e Milton Cunha. Ocimar Versolato (parceiro de Ney desde 1994) assinará mais uma vez o figurino junto com Milton Cunha e Marta Reis. No palco, Ney Matogrosso estará acompanhado de Sacha Amback (direção musical e teclado), Marcos Suzano e Felipe Roseno (percussão), Dunga (baixo), Maurício Almeida e Maurício Negão (guitarra), Aquiles Moraes (trompete) e Everson Moraes (trombone). Nos dias 20 e 21 de setembro, no Vivo Rio. Informações: www.vivorio.com.br

BEYONCÉ The Mrs. Carter Show World Tour Uma das maiores divas da música mundial está de volta ao Brasil. Após sucesso com a turnê “I Am... Tour”, em 2010, a cantora norte-americana Beyoncé volta ao Brasil para quatro apresentações com “The Mrs Carter Show World Tour”, além do show no Rock in Rio. Ela se apresenta no dia 15 de setembro, em São Paulo, no Estádio do Morumbi (vendas a partir do dia 28 de julho). Os ingressos serão vendidos pela Livepass. Para quem não sabe, “The Mrs Carter Show World Tour” é a maior turnê mundial de 2013. Com mais de 118 milhões de discos vendidos e 17 prêmios Grammy no currículo, Beyoncé apresenta canções como: “Runthe Worlds (Girls)”, “Endof Time”, “If I Were a Boy”, “Diva”, “Naughty Girl”, “Love on Top”, “Irreplaceable”, “Crazy in Love”, “Singles Ladies” e “Halo”, no setlist dos shows. A partir das 19h30. Ingressos custarão entre R$90 e R$630. Informações: www.livepass.com.br

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TIM MAIA Vale Tudo, o musical Sucesso de público em todas as cidades por onde passou, o musical volta a ser encenado em São Paulo e fica em cartaz até 25 de agosto no Teatro Sérgio Cardoso, tendo Danilo Moura no papel de Tim Maia. As sessões acontecem às sextas (21h30), aos sábados (17h e 21h) e aos domingos (18h). Os ingressos custam de R$ 50 a R$ 120. As entradas podem ser adquiridas no site Ingresso Rápido, pelo telefone (4003-1212) e na bilheteria da própria casa. Com direção de João Fonseca, o musical conta com um grande elenco com nomes como Danilo de Moura (intérprete de Tim Maia), Izabella Bicalho, Lilian Valeska, Pedro Lima, Andreh Viéri, Bernardo La Rocque, Reiner Tenente, Evelyn Castro, Pablo Ascoli, Aline Wirley e Leticia Pedroza. Informações: www.ingressorapido.com.br


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THE ART OF THE BRICK Na Discovery Times Square, em Nova York, uma exposição, no mínimo surpreendente, vai encantar você. O nova-iorquino Nathan Sawaya elevou o conceito de obra de arte a novos patamares com o uso de uma matéria-prima inusitada: blocos de lego. Sim, aquele brinquedinho cujo encaixe sempre desafiou a coordenação motora de muitos de nós. Imagine, por exemplo, montar “A Monalisa”, de Da Vinci, com legos? Ou esculturas enormes com o mesmo material? Discovery Times Square Museum 226 West 44th Street (Between 7th and 8th Avenues) Tickets: US$18.50 – US$23.50 Informações: www.discoverytsx.com

AN EVENING WITH PINK MARTINI Em 1994, em sua cidade natal Portland (Oregon), Thomas Lauderdale estava trabalhando na política, pensando que um dia ele se candidataria a prefeito. Na esperança de conquistar a simpatia dos eleitores, ele buscou inspiração em músicas de todo o mundo – cruzando gêneros do clássico, jazz e old - fashioned pop – e, na tentativa de conquistar tanto conservadores quanto liberais, ele fundou a “pequena orquestra” Pink Martini. O objetivo, então, não era muito nobre: fornecer as mais bonitas e exclusivas trilhas sonoras para captação de recursos políticos para diversas causas, tais como os direitos civis, preços acessíveis, habitação, meio ambiente, bibliotecas, radiodifusão pública, educação e parques. Um ano mais tarde, Lauderdale chamou China Forbes, um colega de Harvard que estava morando em Nova York e pediu-lhe para se juntar à orquestra Pink Martini. Em janeiro de 2012, o maestro Thomas Lauderdale começou a trabalhar no sétimo álbum de estúdio do Pink Martini, foi quando gravou a música de Charlie Chaplin “Smile” com o lendário Phyllis Diller. Já agora, em setembro de 2013, será lançado o novo álbum, intitulado “Get Happy”, com a participação de China Forbes e Storm Large, além de convidados especiais, como Rufus Wainwright, os Von Trapp e Ari Shapiro. Beacon Theatre 2124 Broadway, 74th St Data: 22 de Setembro Tickets: US$45 – US$120 Informações: www.beacontheatre.com/events

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Poltrona Wave Inspirada na famosa peça de design La Chaise, desenhada por Charles e Ray Eames, em 1948, e concorrente no Concurso Internacional do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, a poltrona Wave se destaca pelas linhas modernas e sofisticadas. Ícone indiscutivelmente cult no mobiliário, a famosa cadeira branca é feita de fibra de vidro, aço inox e madeira, adicionando estilo e personalidade em qualquer ambiente onde esteja inserida. Ideal para os adeptos do visual clean e arrojado dos anos 50. Onde: westwing.com.br Preço sugerido: R$ 1849,90

SUMMONER WARS A febre dos card-games permanece em alta no mercado de brinquedos para adultos, como também permanecem as instigantes temáticas como regra para o público exigente desse nicho. O Summoner Wars mantém essa linha, e surpreende pela agilidade. O jogo é de ação e, a princípio, compreende apenas dois jogadores – quatro, se jogado com as expansões vendidas separadamente. No enredo, os participantes assumem o papel de invocadores (“summoners”, em inglês), que usam de magia em campos de batalha para liderar a conquista do devastado planeta de Itharia. O jogo contém três facções completas, representadas cada uma por uma civilização em particular com seus objetivos secretos. A brincadeira envolve magia, estratégia e raciocínio rápido. O set inicial inclui tabuleiro de batalha em papel, “marcadores de ferimento”, dados e um livro de regras. Onde: galapagosjogos.com.br Preço sugerido: R$ 74,90

Block Notes

PENDENTE HOLOGRAMA

O Tetris ainda é um joguinho vivo na memória dos aficionados por cultura retrô e games antigos. E não há como negar que o post-it, o papel adesivo de lembretes, é uma das invenções mais úteis do cotidiano no trabalho. Designers ingleses decidiram unir as duas coisas e criar os divertidos Block Notes: uma homenagem à geração 80 e um de seus símbolos mais queridos. O bloquinho não difere em nada daqueles que estão em qualquer escritório, a não ser pelo charme a mais que o saudosismo oferece e pela possibilidade de exercitar a criatividade ao longo do dia. O Block Notes é um colorido agrado aos adeptos da cultura geek.

Holografia é a apresentação de uma imagem em três dimensões e nome desta bela luminária. Registro “integral” com relevo e profundidade. Os pendentes Holograma criam essa sensação de relevo com profundidade, por meio da sobreposição das duas cúpulas externas de algodão com estampa de xadrez recortada a laser. Estão disponíveis também com uma única cúpula externa. Preço sugerido: Sob consulta Onde: www.designdaluz.com.br

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All Budget Ter todas as contas na ponta do lápis nem sempre é uma tarefa fácil, mas com a ajuda de um aplicativo criado especialmente para facilitar os orçamentos domésticos, a sua vida pode ser simplificada. Com o All Budget, você tem o controle total de todo o dinheiro que entra ou sai da sua conta. Há ainda opções gráficas para que qualquer pessoa consiga saber em que está gastando mais.

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Meu Malvado Favorito: Minion Rush Os minions estão disputando o troféu de melhor funcionário do ano, mas somente um vai conseguir essa conquista. E no game “Meu Malvado Favorito: Minion Rush”, você terá de ajudar um dos mais simpáticos e desastrados minions a conseguir realizar todos os objetivos para que ele chegue aonde mais deseja: o pódio de melhor funcionário. Custo: Free

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Where’s My Mickey Mais um game da Disney chega ao mercado com muita qualidade. “Where’sMy Mickey?” obedece à mesma dinâmica de outros jogos similares, como “Where’s my Water?” e “Where’s my Perry?”, fazendo com que os jogadores tenham de ajudar a personagem principal a conseguir água. O nível de desafio é bem interessante e aumenta gradativamente. Diversão garantida.

O aplicativo de informações sobre o tempo mais popular do mundo acaba de ganhar uma nova versão e agora está muito mais completo. Com diferentes formas de demonstrar os dados, o app traz fotografias belíssimas sobre temperaturas, possibilidade de chuvas e vários outros detalhes. Nessa nova versão, há até medições de vento e fases lunares. Custo: Free

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Felipe Cordeiro Músico

DAFT PUNK AS MÁQUINAS CHORAM. O duo fra francês Daft Punk, ao que parece, parece não fez o novo álbum para ser vanguarda de música eletrônica. ele Quem estava na expectativa de uma nova expe e surpreendente experiência surpree na e-music, e-music após os oito anos que o separam se do “Human After All” (2005), ficou certamente um tanto frustrado com o orgânico, orgânic pop e épico “Random Access Acc Memories”, lançado of oficialmente no último mês de maio. Em tom to de homenagens a referências referên da dance e do disco – co como na faixa “Giorgio by Moroder”, Morod em que a dulpa presta tributo tr ao mestre da disco music, musi o produtor Giorgio Moroder – o “RAM” (como o disco do Daft Punk é carinhosamente chamado) c parece estabelecer ttab ta abelecer um ab uma jornada em que um espírito saudosista/robótico emerge, ressaltando ress o “humano” por trás dos homens de capacetes. É como se s os músicos-robôs com seus tradicionais tradici vocoders (timbre que é marca do Daft Punk e faz a voz ficar com textura robótica) e synths (oitentistas) se rendessem à melancolia humana, hu expondo, tal-

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vez, algo como uma crise existencial. O projeto megalomaníaco – em parceria com Sony Music e com status de lançamento mais importante do ano, envolvendo muitos colaboradores e participações, entre elas Pharrell Williams e Nile Rodgers – ameaçou, mas não comprometeu a personalidade audaciosa de Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo, que trouxeram, além do synth-pop na faixa “Instant Crush, com Julio Casablancas no vocal (faixa que podia estar no último álbum do projeto solo do frontman do Strokes), rock progressivo na arrastada “Touch” (com participação de Paul Williams) e uma assumida reverência disco em “Lose Yourself to Dance”. A irresistível “Get Lucky” foi lançada num single, numa poderosa, estudada e competente campanha publicitária junto ao clipe, já assumindo o posto de um dos maiores hits do ano em todo mundo. Muitos disseram que o RAM pretende ser o “Thriller” deste começo de século. Apesar das notáveis semelhanças (até na tipologia da capa e contracapa), os homens dos capacetes brilhantes nos dão um trabalho cheio de força subjetiva e personalidade, um disco pop, dançante e com muitos momentos levemente tristes. O experimentalismo das máquinas cede aos labirintos da alma. Homem e máquina se fundem nesse épico que acaba de nascer. Homens não choram, mas já as máquinas.... Chico Science teria uma citação improvável, mas necessária: “computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro”.


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comportamento

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Anderson Araújo

Antes

tardedo que

nunca

Pais que demoraram descobrir a dor e a delícia da paternidade depois dos 40 comemoram a sabedoria... e o tempo.

A

paternidade não é dádiva da fisiologia. Ao contrário do que acontece com as mães, o pai não muda o corpo. Não diretamente (no máximo, uns cabelos brancos e um acúmulo maior de gordura devido ao estresse da espera e suas conseqüências). A naturalização de não ser mais ele o filho e agora estar na posição de vidraça/provedor demora, vem devagar: em nove meses de inflação do ventre da mulher. As 40 semanas com a mãe no centro das atenções reservam ao homem o papel de “coadjuvante quase sempre apavorado” para os marinheiros de primeira viagem. É muita aflição, mas a idade traz alguma calma necessária para os que esperam a estreia primorosa da carne de sua carne no mundo. O publicitário Carlos Leal, hoje com 48 anos, sempre quis ser pai. Estava escrito em seus planos guardados na última gaveta do escritório, abaixo das centenas de projetos de criação, das planilhas, das primeiras férias longas, das segundas também, da necessidade de abraçar a carreira e domá-la nesse competitivo e exigente mercado da propaganda e do marketing. A ideia de cuidar e dar amor a uma criança foi ficando para depois e, somente com 40 anos, Carlos pode vê-la realizada. Nascia, em 2004, Carlos Júnior, o primogênito que

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viria mudar a vida do publicitário. “Mudou tudo completamente. Eu passei a acreditar no que antes me diziam, naqueles clichês de amor incondicional, o que eu achava um exagero. Hoje, eu sei que é tudo verdade e minha vida é toda voltada para o meu filho”, conta Leal, que assumiu completamente a criação do filho desde que ele fez dois anos. Sobre ser pai depois dos 40 anos, Carlos conta que é mais confortável, há mais tempo e a experiência e a compreensão do mundo do pai somada à visão nova e sedenta de novidades do filho podem resultar em uma relação rica de companheirismo e de cumplicidade. “Hoje, somos grandes companheiros. Fazemos tudo juntos, conversamos, trocamos impressões. É uma experiência formidável”, diz ele, que está agora cuidando da segunda filha, Carla, de sete meses de vida, seu novo presente e agradável exercício de paternidade em idade mais madura ainda. O representante comercial Armando Chady, 55 anos, também está todo “babão” com o pequeno Matheus, de 1 ano e sete meses. Fazia 22 anos que ele não vivia a sensação de ter um bebê entre as mãos. O último filho nasceu quando ele tinha 32 anos e o primeiro, aos 27. “O tempo traz mais paciência. Ficamos mais atentos aos erros de criação que co- »»»

Dudu Maroja


metemos e procuramos consertar. Fora que a gente fica mais tolerante. Não é mentira aquela ideia do “pai-avô”, que é muito mais carinhoso com o filho”, argumenta. Mais participativo, Chady diz que hoje a tecnologia ajuda a trabalhar mais em casa. “Sou representante comercial de uma indústria de papel. Antigamente, eu precisava sair de casa para reunir e acertar detalhes em outros lugares. Hoje, o smartphone, o computador, tudo facilita muito. Boa parte do meu trabalho é em casa. Dá para ficar mais perto da família e participar melhor da criação, acompanhar mais o crescimento e todas as fases do bebê”, defende ele. “A experiência quando se tem 26 anos é muito diferente de quando se tem mais idade. Em relação a tudo. Depois dos 40 anos, você tem uma relação muito mais complacente com o filho, quase como um avô, é quase como o carinho a um neto”, diz o bancário de 53 anos, José Ventura. Ele reforça a o conceito da figura mais velha, mais tolerante e amiga do filho. Hoje, com o filho Diogo de 13 anos, ele olha

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e vê diferenças marcantes na criação que deu ao primeiro filho, Diego. A rotina e o acompanhamento na vida do filho têm sido pautados pela amizade. “Gostamos do bom e velho futebol. E aqui em casa todo mundo já nasce Paysandu. Quando tem jogo, vamos juntos. Ele mesmo é bom de bola e joga no sub-13 do clube. Viajamos juntos sempre, nossas últimas férias foram em Recife. Sou o típico pai coruja, muito companheiro. Acho que a idade influencia muito na visão que temos do mundo. Ter um filho depois dos 40 anos de idade, pelo menos para mim, foi muito diferente”, pontua. Pai aos 50 Já o professor do curso de Geologia da Universidade Federal do Pará, Raimundo Netuno Villas, não concorda com a ideia do “pai-avô”. Hoje, ele tem 69 anos e recebeu a filha Luanda quando tinha 49 anos, quase chegando à casa dos 50. “Discordo da ideia do pai-avô, porque fui pai mesmo, impondo limites, »»»

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Armandoo Chady com o pequeno Matheus (acima) são inseparáveis. O pubilicário Carlos Leal (ao lado) foi pai novamente, depois dos 40 e descobriu uma experiência completamente diferente.

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Raimundo Netuno Villas recebeu a filha, Luanda, quase chegando aos 50 anos. “Pai-avô”? Não. Amigos e confidentes.

mostrando como deve ser o certo e o errado, sem também reprimir as vontades da minha filha. O que acredito é que a idade realmente traga mais sabedoria e tolerância em todos os níveis da vida. É uma compreensão mais madura e sensata das coisas, inclusive sobre a paternidade”, comenta. Quando a filha mais nova nasceu, ele já havia passado pela experiência de ser pai, no entanto a convivência com o primeiro rebento foi pouca. Já com Luanda, Raimundo estreou a paternidade com direito a chorinho de madrugada, a segurar nas mãos durante o primeiro passo, a levar à escola e toda a rotina a que um pai está submetido de maneira incontornável depois que assume o título para si mesmo. De uma geração cuja relação entre pais e filhos era mais rígida e menos aberta ao diálogo, Raimundo diz que a proximidade com a filha é baseada na troca de conhecimento e experiências. “Eu não tive muito esse diálogo aberto com meu pai. Falava muito mais sobre as minhas experiências pessoais com minha mãe. Era uma relação de muito respeito, mas baseada também no medo. Entendo que não é bom que seja assim. Hoje, eu e minha filha conversamos. Ela tem toda a liberdade para falar se não concorda com uma ideia ou um atitude minha. Isso antes era impensável na relação pai e filho”, comenta. “Não houve diferença entre a criação da minha primeira filha e a segunda, porque, para mim, era tudo novidade. Mas acredito que, pela minha idade, nossa relação é muito mais próxima. Ela é extremamente apegada a mim e à mãe, embora seja hoje uma pessoa independente, dona de suas próprias ideias, sem interferência alguma nossa sobre as decisões dela”, enfatiza Raimundo, que exercitou a paternidade com prazer e dedicação, mesmo com a rotina pesada das aulas na universidade. “O trabalho sempre me tomou muito tempo por causa de minha dedicação exclusiva à Universidade, mas não me impediu do papel de pai presente e amigo”, conclui o professor.

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destino

Pátio do Teatro-Museu Dalí, em Figueres, ambiente com o Cadillac Plujós.

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Augusto Pinheiro

O

universo

Dalí de

A Catalunha de Salvador Dali tem cenários e roteiros especiais – convites à revisitação dos lugares que inspiraram as criações do mestre surrealista.

C

omplexo, intenso, inventivo. Salvador Dalí (1904-1989) era demais para quaisquer adjetivos que o ladeassem. Uma das mentes mais inquietas do século XX, o artista plástico tornou-se mundialmente conhecido e influente devido tanto ao seu célebre trabalho surrealista quanto à sua personalidade extravagante – o que incluía uma grande paixão por roupas orientais e por objetos excêntricos. Seu indefectível bigode foi inspirado no do pintor espanhol Diego Velázquez (1599-1660). Além de pintor, Dalí foi escultor, desenhista, escritor, ilustrador, pintor, fotógrafo, designer de joias e cineasta. No início dos anos 1930, Dalí deixou para trás as influências impressionistas, cubistas e futuristas e se integrou definitivamente ao surrealismo. Ele encontrou seu próprio estilo, sua linguagem particular e sua forma de expressão – uma mistura de vanguarda e tradição. Sua obra mais famosa, o quadro “A Persistência da Memória” (1931), com seus relógios derretidos em uma paisagem estranha, é constante e imperecível fonte de referência e reconhecimento no que diz respeito à arte, em seu sentido mais amplo. O surrealismo, condutor principal do seu vasto trabalho, apresentou-se em símbolos recorrentes nas pinturas: além dos já citados relógios, hou-

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ve elefantes com patas compridas, gafanhotos, formigas e ovos, por exemplo. Seu método de criação, batizado de “pananoico-crítico”, consistia na recriação dos processos ativos da mente que suscitam imagens de objetos não existentes na realidade. Mergulhar no universo surrealista, onírico e excêntrico do catalão parece ser tarefa – para além de pretensiosa – impossível. O imaginativo mundo por ele criado é propriedade restrita, particular, do qual só é permitido observar o belo exterior. Mesmo assim, é possível vislumbrar o processo de contrução desse universo visitando três cidades próximas a Barcelona - Figueres, Cadaqués e Púbol -, intrinsecamente vinculadas ao pintor. Em cada um desses lugares, uma parada obrigatória: em Figueres, está o Teatro-Museu, que abriga o maior conjunto de obras do artista e um edifício anexo, com uma exposição de joias criadas por ele. Em Cadaqués, um charmoso balneário na Costa Brava, encontra-se a casa onde morou com a mulher, Gala. Já em Púbol, pode-se visitar o castelo que Dalí deu de presente à Gala e que também serviu de residência para o artista. A Revista Leal Moreira leva você a fazer esse passeio. Figueres – cidade onde ele nasceu em 1904, da união de um notário e de uma dona de casa »»»

Fundació Gala-Salvador Dalí


Museu Dalí Joias “Elefant”, Castell Gala Dalí de Púbol.

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Casa de DalĂ­, em CadaquĂŠs

– ĂŠ o lugar com o qual o artista possuĂ­a o maior (e inevitĂĄvel) vĂ­nculo emocional. Era para onde ele sempre voltava. Foi o que aconteceu quando DalĂ­ foi expulso da Real Academia de Belas Artes de San Fernando, em Madri, onde morou na residĂŞncia de estudantes e acabou conhecendo outros jovens que tambĂŠm se tornariam personalidades artĂ­sticas, como o diretor de cinema Luis BuĂąuel e o escritor Federico GarcĂ­a Lorca. JĂĄ mostrando seu espĂ­rito revolucionĂĄrio, DalĂ­ foi expulso ao liderar um protesto contra escolha do novo diretor do departamento de pintura. O artista voltou a morar em Figueres atĂŠ retornar Ă academia em 1924. O perĂ­odo foi frutĂ­fero: ele realizou sua primeira exposição individual em Barcelona, numa ĂŠpoca quando seu trabalho ainda era voltado para a tradição pictĂłrica italiana. Foi a Paris dois anos depois, conheceu Picasso e o Louvre, voltou a Madri e foi expulso novamente da Escola de belas Artes. Foi em Figueres, novamente, que Salvador encontrou seu refĂşgio e raiz para dedicar-se Ă pintura. E foi em Figueres que DalĂ­ ergueu o seu Teatro-Museu – que pode ser considerado o mais importante dos trĂŞs espaços, com um amplo leque de obras que descrevem sua trajetĂłria artĂ­stica, desde as primeiras experiĂŞncias (impressionismo, futurismo, cubismo) atĂŠ as Ăşltimas criaçþes da sua vida, passando pelo estilo que lhe proporcionou

fama e reconhecimento artĂ­stico, o surrealismo. O museu em si pode ser considerado uma obra de arte. Foi construĂ­do a partir de um minucioso e audacioso projeto do prĂłprio DalĂ­ sobre as ruĂ­nas do antigo teatro da cidade e incendiado durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Entre o inĂ­cio de sua elaboração e a inauguração em 1974, foram 13 anos de dedicação. O edifĂ­cio, onde tambĂŠm se encontra a cripta do artista, tem uma estrutura labirĂ­ntica e a exposição das obras nĂŁo obedece a uma ordem cronolĂłgica. AliĂĄs, muitas pinturas aparecem sem tĂ­tulo e data, como era desejo do prĂłprio DalĂ­. Entre as principais obras expostas estĂŁo “O Espectro do Sex-Appealâ€? (1932), “Galarinaâ€? (1944), “Leda AtĂ´micaâ€? (1949) e “GalatĂŠia das Esferasâ€? (1952). O artista, que cuidou dos mĂ­nimos detalhes do museu, tambĂŠm realizou obras exclusivamente para a instituição. Um exemplo ĂŠ a famosa sala Mae West, na qual DalĂ­ reproduz o rosto da atriz norte-americana utilizando um sofĂĄ como boca, uma lareira como nariz, dois quadros como olhos e uma cortina como cabelo. O visitante tem de subir uma escada, no fundo da sala e, atravĂŠs de uma lente, pode visualizar a sala-rosto. Outra obra que estĂĄ no museu e merece atenção especial ĂŠ o Cadillac Chuvoso, que fica na ĂĄrea onde antes era a plateia do teatro. Ela foi apresentada em 

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Castelo de Púbol

1938, na Exposição Internacional do Surrealismo, organizada em Paris por André Breton e Paul Éluard. Em tempo: Paul era ex-marido de Gala, com quem Dalí havia se casado apenas quatro anos antes, apesar de ter conhecido o grande amor de sua vida em 1929, quando ela ainda era casada com o poeta francês. Em um edifício anexo ao Teatro-Museu, apresenta-se a exposição permanente com as 37 joias da coleção Owen Cheatham. Utilizando ouro e pedras preciosas, entre outros materiais, o artista criou peças que provocam estranheza e fascinação, representando plantas, animais, objetos, símbolos religiosos e mitológicos e partes do corpo humano. Já a casa do povoado de Portlligat, em Cadaqués, mostra o gosto do artista por objetos extravagantes e revela aspectos de sua vida pessoal. Já na entrada, há um urso polar empalhado que servia para pendurar casacos e chapéus, além de um sofá-boca. A residência é o resultado da junção de várias casas de pescadores, compradas a partir de 1930, o que explica a estrutura labiríntica. Há os espaços íntimos do casal Gala e Dalí (que

dormiam em camas separadas), a biblioteca, o estúdio e as áreas externas – como o jardim, com vasos em forma de xícaras gigantes, e a piscina, com bonecos Michelin e uma cabine telefônica. As janelas que dão para a baía de Portlligat parecem verdadeiras pinturas. A luz e a beleza do lugar onde Dalí costumava veranear com a família foram grandes fontes de inspiração para o artista. Sobre o local, o artista declarou: “Portlligat é o lugar das realizações. É o lugar perfeito para o meu trabalho. Tudo conspira para que seja assim. O tempo passa lentamente e cada hora tem a sua dimensão exata. Há uma tranquilidade geológica: é um caso planetário único”. Recentemente, um novo espaço foi incorporado à visita à casa de Dalí: a Torre de les Olles, uma construção circular que era usada pelo artista como estúdio adicional, principalmente para criar esculturas e realizar performances. No espaço, está o piano que o catalão usou em algumas ações artísticas e há projeções de reportagens dos anos 1960 e 1970 sobre Dalí e a residência de Portlligat. A última parada do passeio pelo mundo de Dalí »»» Casa de Dalí, em Cadaqués

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Teatro-Museu Salvador Dalí.

Fachada do Teatro-Museu Salvador Dalí, em Figueres, Catalunha Onde e quando Teatro-Museu Salvador Dalí. Endereço: PlaçaGala-Salvador Dalí, 5, Figueres. Tel. 00-34-972 677 500 Horário: de 1° de outubro a 30 de junho, das 9h30 às 18h (acesso até as 17h15); de 1° de julho a 30 de setembro, das 9h às 20h (acesso até as 17h15). Fechado às segundas-feiras entre 1° de outubro e 31 de maio. Abertura noturna: de 28 de julho a 1° de setembro, das 22h à 1h (último acesso as 0h30) Preço da entrada: 12 euros. Casa-Museu Salvador Dalí Endereço: Portlligat, Cadaqués. Tel. 00-34-972 251 015. Horário: de 11 de fevereiro a 14 de junho, das 10h30 às 18h (acesso até as 17h10); de 15 de junho a 15 de setembro, das 9h30 às 21h (acesso até as 20h10); de 16 de setembro a 6 de janeiro, das 10h30 às 18h (acesso até as 17h10); de 7 de janeiro a 10 de fevereiro, fechado. Fechado às segundas-feiras, exceto de 15 de junho a 15 de setembro. Preço da entrada: 11 euros

Castelo de Púbol Endereço: Plaça Gala Dalí, Púbol-la Pera. tTel. 00-34-972 488 655. Horário: de 15 de março a 14 de junho, das 10h às 18h (acesso até as 17h15); de 15 de junho a 15 de setembro, das 10h às 20h (acesso até as 19h15); de 16 de setembro a 1° de novembro, das 10h às 18h (acesso até as 17h15); de 2 de novembro a 31 de dezembro, das 10h às 17h (acesso até as 16h15); de 1° de janeiro a 14 de março, fechado. Fechado às segundas-feiras, exceto de 15 de junho a 15 de setembro. Preço da entrada: 8 euros. Mais informações: www.salvador-dali.org


Salão Nobre do Teatro-Museu Salvador Dalí

Castelo de Púbol

Castelo de Púbol

Teatro-Museu Salvador Dalí.

é o Castelo de Púbol, construção do século XIV, que Dalí comprou e decorou para Gala em 1969. Gala utilizava o local como refúgio e a presença da mulher era tão evidente lá que, quando Gala faleceu em Cadaqués no ano de 1982, o artista entrou em depressão e se mudou para o castelo – de onde só saiu após um incêndio no local. Depois de lá, Dalí voltou para Figueres e ficou na Torre Galatea até a sua morte, em 1989, devido a uma parada cardíaca. A decoração do Castelo de Púbol inclui pinturas nas paredes, antiguidades e peças barrocas. Destaque para a beleza da antiga cozinha, transformada em quarto, e o Salão do Piano. É lá também onde se encontra a cripta de Gala. O espaço recebe exposições temporais: atualmente, há uma mostra com 42 fotografias dos estúdios utilizados por Dalí para criar suas obras, em cidades como Figueres, Paris e Nova York, além de livros e revistas de época. O castelo também presta uma homenagem ao bicentenário do compositor alemão Richard Wagner – que inspirou a decoração de algumas partes do local – com fragmentos de um texto de Dalí sobre o balé “Venusberg”. Para visitar os quatro espaços, o visitante necessita um mínimo de dois dias. De Barcelona a Figueres são 136 km (aproximadamente uma hora e meia de trem). De Figueres a Cadaqués são 40 km, a mesma distância da cidade para o Castelo de Púbol (há ônibus para os dois lugares).



enquanto enquantoisso isso

Luciana Silva Estudante

Cracóvia Quando eu digo que moro na Cracóvia, algumas pessoas reagem de maneira muito engraçada ,dizendo: “Ah, Krakozhia...aquela cidade do filme “Terminal”, com o Tom Hanks.” É bem verdade que a Polônia é um país distante e até mesmo exótico, mas não completamente alheio a nós, brasileiros, pois muitas pessoas a relacionam com o Papa João Paulo II, que é orgulho do povo polonês e, principalmente, dos cracovienses. Karol Wojtyła, antes de se tornar Papa, estudou na universidade e foi bispo da Cracóvia. Já que falamos de universidade, não poderia deixar de dizer que a Cracóvia é o berço de uma das mais antigas universidades da Europa, a Jagielonica, que foi fundada no ano de 1364. Até mesmo Nicolau Copérnico sentou em suas carteiras. A Cracóvia também é conhecida como a cidade dos jovens, pois atrai estudantes de todas as regiões do pais, devido à sua grande quantidade de instituições de ensino superior. Graças a isso, seus cafés, bares, cinemas, teatros e casas no-

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turnas (que se encontram na cidade velha, Rynek, em Polonês) estão sempre cheios. Uma coisa que eu aprendi depois de um certo tempo morando lá, é que mesmo a cidade tendo aproximadamente 800 mil habitantes, é quase impossível ir ate o Rynek (praça central da cidade velha) e não esbarrar com algum conhecido e depois ir juntos tomar um café ou mesmo uma cervejinha. Quando cheguei à Polônia, em 2010, eu já estava matriculada no curso de polonês para estrangeiros da Universidade Jagielonica. No começo foi bem difícil, pois eu não sabia o quão diferente dos outros idiomas o polonês poderia ser, já que o mesmo tem origem eslava (grupo do qual faz parte o russo, o tcheco, o ucraniano e outros) e pouca influência do latim. Falar polonês e conhecer a história e a literatura da Polônia me fizeram sentir parte desta cidade, e consequentemente do país - além de descobrir que os poloneses não são tão diferentes de nós. Ser estrangeiro não é fácil, mas ouso dizer que ser brasileira na Polônia abre muitas portas. Nós

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somos muito bem vistos por lá (e raros), e a distância entre o país e o Brasil só faz com que a curiosidade dos poloneses sobre nós se aguce. Além dos desafios com o idioma, também tive que enfrentar temperaturas muito baixas e dias muito curtos durante o inverno (de dezembro até março). Porém, tudo tem seu lado positivo... No primeiro inverno, após ganhar um tour de snowmobile dos salva-vidas montanheses e chegar de maca na emergência do hospital da estação de esqui nas montanhas Tatra, aprendi a esquiar. Encontrei recentemente o livro “A Lista de Schindler”, que havia lido há muitos anos. Comecei a ler algumas partes e lembrei que, na época em que o li, não fazia ideia que um dia iria viver na cidade na qual se ambienta o livro e até mesmo (re)conhecer prédios e ruas que são mencionados durante a narrativa - por algumas dessas ruas, aliás, eu passo quase todos os dias. Morar na Cracóvia tem dessas surpresas. Então convido a todos para que venham conhecer esta cidade e fazer as mesmas descobertas que eu fiz e que ainda continuo fazendo.


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especial

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Leonardo Santos

Evolução é o

dia

prato do

Pesquisa de brasileiras aponta que o desenvolvimento humano só foi possível graças à invenção da cozinha

H

á um milhão e meio de anos, o cérebro de nossos antepassados começou a sofrer um crescimento rápido e espantoso, que intriga os cientistas até hoje. O desenvolvimento possibilitou o aumento de neurônios e levou os humanos à soberania cognitiva no planeta. A chave da evolução, que permaneceu um mistério por séculos de pesquisas no campo da biologia, ganhou uma contribuição de uma teoria desenvolvida por duas pesquisadoras brasileiras. A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Suzana Herculano-Houzel, e sua aluna de iniciação científica, Karina Fonseca-Azevedo, desenvolveram um estudo que indica que os humanos só conseguiram evoluir até o que somos hoje graças à invenção da cozinha. Segundo a teoria, o início do crescimento do cérebro humano em acentuada curva ascendente (veja gráfico) coincide com o período em que os antepassados do Homo sapiens começaram a dominar as técnicas

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do uso do fogo para o cozimento de alimentos. A quantidade de energia que o cérebro consome é equivalente ao número de neurônios. A proporção se repete em outros animais como roedores e primatas. Por isso, segundo a pesquisa, para ter um cérebro maior, os humanos precisariam de mais calorias, o que segundo a teoria só foi possível com o advento da cozinha. “A gente não deveria estar aqui, nós seriamos matematicamente impossíveis, metabolicamente inviáveis se alguma coisa não tivesse mudado na maneira como a gente consegue calorias”, diz Suzana Herculano-Houzel. A pesquisa foi publicada na PNAS (Proceedings of National Academy of the United States of America),revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, uma das mais prestigiosas da área científica no mundo, em 2012. As pesquisadoras desenvolveram a teoria utilizando conhecimento das áreas de nutrição, biologia, »»»


neurociência, modelos matemáticos e concluíram que a evolução do cérebro humano não se deu por acaso. As evidências são fósseis encontrados na África, datados de 1 milhão e meio de anos. O chão queimado, restos de comida e sinais de grupos organizados apontam que o homo erectus foi o primeiro a usar o fogo para ajudar a superar um difícil desafio enfrentado por nossos antepassados: a ingestão de carne crua, que tornava o processo de alimentação mais lento e menos eficiente na absorção de calorias. “Conseguir mais energia da mesma comida que você come: é isso que a cozinha faz, que o cozimento faz. Quando o alimento é cozido, ele é pré-digerido fora do seu corpo, quer dizer quando ele chega na sua boca ele está muito mais macio, fácil de mastigar. Então você leva menos tempo para mastigar o suficiente pra você conseguir engolir. E o mais importante ainda: o alimento cozido você consegue transformar completamente em uma pasta, então, quando ele chega no seu estômago, todas as moléculas estão livres. Então a digestão é completa, a absorção é completa”, afirmou Suzana. Com o advento da cozinha, os humanos conse-

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guiram superar a limitação enfrentada, por exemplo, por primatas – como gorilas e orangotangos – que não tiveram desenvolvimento do tamanho cerebral significativo no mesmo período comparado com a evolução alcançada pelos humanos. Para suprir as necessidades calóricas, esses animais precisam ainda hoje se alimentar por até oito horas por dia, assim como há 1 milhão de anos. E segundo a teoria, para ter um cérebro maior, os primatas precisariam de ainda mais calorias. “A suspeita era a de que os primatas tinham chegado naquele ponto quase limite do metabolismo em que eles não têm mais, não conseguem energia suficiente para sustentar, ao mesmo tempo um corpo enorme e um cérebro enorme, comendo só comida crua, que é só o que os outros primatas e todos os outros animais fazem. Eles chegaram numa parede”, explicou a pesquisadora. Com o uso das técnicas de cozimento de alimentos, os humanos conseguiram inverter as regras de uma equação biológica que predominava até então. Ter um cérebro um maior era um risco muito grande por causa da dificuldade de conseguir mais alimentos, o que poderia simplesmente levar as espécies à extinção. “Com a invenção da

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Crescimento do cérebro durante a evolução humana

nós

Milhões de anos passados

cozinha esse cérebro grande deixa de ser um risco e passa a ser uma vantagem porque você tendo um número maior de neurônios possivelmente tem vantagens cognitivas e, além disso, você tem tempo livre para fazer algo mais interessante com o seu cérebro do que simplesmente passar o dia todo pensando em comida e comendo”, concluiu a pesquisadora. Mas a evolução que levou a espécie humana ao ritmo de vida acelerado nos dias atuais foi acompanhada por uma contradição apontada pela pesquisadora: “Antes, conseguir 2 mil calorias por dia era tão difícil, que chegava a ser um problema. Hoje o problema é você se limitar só às 2 mil calorias por dia. Você consegue comer tudo isso em apenas 15 minutos por causa da comida cozida, por causa da industrialização, por causa de todas as facilidades. E a ironia é que a gente tenta resolver isso voltando pra comida crua, que é a saladinha. A gente hoje tem que aprender a lidar com isso, o que é perfeitamente possível. A gente conhece estratégias para isso, você prestar atenção no que você come.”

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Gabriel Vidolin Chef de cozinha

O tempo e as ameixas Sempre olhei com desprezo para as ameixas secas que minha avó guardava em uma lata velha de panetone. Eu nunca sabia quem exatamente as comprava, mas a lata era mantida sempre cheia. Sempre. Eu nunca vi minha avó comprar ameixas secas, mas sempre vi a panela velha de açúcar queimar as tais ameixas e fazer a calda para o manjar de coco. O manjar é uma sobremesa simples, que a vovó preparava nos tempos de dificuldades. Leva poucos ingredientes, rende bastante e adoça a boca depois dos almoços difíceis – que normalmente terminavam em uma grande discussão sobre as finanças da família, junto com o tradicional café. Depois que o creme de coco, o amido de milho e o leite esfriavam em uma assadeira de forma redonda com um buraco no meio já caramelada com as ameixas, ela o desenformava no mesmo velho prato de cristal, já lascado nos lados pelo tempo, e que sua própria mão havia trazido da Itália. Depois, descansava o manjar na geladeira até a hora do almoço. Em separado, ela embebedava al-

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gumas ameixas em cachaça.Quando era tempo de festa, vovó tirava os caroços e recheava com creme de baunilha. Há tempos em minha família não é servida essa receita. Sabe-se lá desde quando se deixou de comemorar os aniversários. A casa da vovó – quando outrora vivia cheia, com os quartos e camas bem arrumadas e macias – tornou-se só o lugar onde as brigas de domingo aconteciam. As ameixas recheadas, hoje, não são mais servidas. Mas o manjar continua por lá... e também o pote de ameixas. Era tarde da noite quando pensei que, um dia, as brigas iriam terminar e resolvi verificar as lata de ameixas outra vez. Como sempre, estava cheia. Foi quando minha avó apareceu pela porta da cozinha, com um velho pijama escocês e de pantufas. Quando ela disse: “um dia tudo acaba, até mesmo as ameixas”. E a única coisa em que eu consegui pensar foi até quando minha avó faria o manjar de domingo... E em quem compraria as ameixas quando ela partisse.

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gourmet

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Sara Magnani Tradução: Lívia Mendes

Acerbi Moretti Photography

Uma

cozinhade

memória antiga Da Osteria Francescana, que resgata sabores há muito esquecidos, nascem os conceitos inovadores do chef Massimo Bottura.

U

ma vaidosa enguia recorta o tranquilo vale do rio Pó, porque quer conhecer o mundo e suas origens. Deita-se entre as cebolas e o milho doce para encontrar seu habitat natural e, então, se derrete sob o sol, coberta de saba, concentrado de maçã e cebolas queimadas. Essa é a história contada no vídeo “Ritorno”, apresentado no “Identitá Golose 2011” (festival gastronômico italiano), por Massimo Bottura. Em primeiro lugar, é a mente que tem de ser saciada e satisfeita, ela é que evoca lembranças distantes e, depois, o corpo. O chef da Osteria Franciscana, conhecido mundialmente como um dos principais representantes da gastronomia italiana e recentemente eleito, pela revista especializada “The Restaurant”, como o “terceiro melhor do mundo”, acredita no silêncio, no leite puro, na névoa e na umidade, em “muitos feitos, poucas palavras”, em produtos que, para serem saboreados ao máximo, devem repousar, descansar ao máximo. Ele acredita na espera, essa que trazem na pele os pequenos produtores locais, os artesãos, os pescadores, os açougueiros que, pacientemente, esperam o crescimento das uvas, a cura do produto, a matéria se transformar em substância. Em Via Stella, no centro histórico de Módena, pequena cidade da Emilia - Romagna, terra de pequenas e grandes excelências, de produtos únicos no mundo, de artesanato e gastronomia, a Francescana recebeu o cobiçado prêmio do Expresso 2011, o Grande Prêmio da Academia Internacional de Gastronomia e foi premiada com o terceiro melhor restaurante do mundo, de acordo com a revista Restaurant, em 2013. Explosão de arte nos pratos A aranha de luzes, assinada pelo criativo Philippe

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Starck, se levanta em todo o seu esplendor com uma fina suntuosidade ao entrar no restaurante, recém-aberto depois de uma mudança de imagem. “Na Osteria Francescana, não há vista para o mar, para as montanhas ou para os campanários. Melhor: há uma estreita ruela medieval. As pinturas e as fotografias se transformam em nossas janelas, não somente para os hóspedes, como também para os cozinheiros e para qualquer pessoa que entre em nosso mundo. São paisagens de ideais, que ampliam os horizontes e abrem possibilidades”. A forma, o instrumento que transmite uma mensagem num desenho conceitual impregna a atmosfera. As esculturas de Sandro Chia, figura destacada da vanguarda italiana, te observam enquanto os olhos, incapazes de parar, captam o sentido da arte; as pinturas de cores de Chifano; a Luz de Campari, de Ingo Maurer... Na sala de jantar principal com teto artesanal, aparece a obra silenciosa de Vezzoli sobre Edith Piaf, “La Vie en Rose”, que media citações históricas e arte figurativa, tal qual o chef em seus pratos. “Todos os dias, vejo meus chefs construírem seu futuro, comprimindo tanta vida de uma vez só: um contínuo jogo de cores com matizes. Nos pratos, se descrevem instantes perfeitos”, diz Bottura. Inspirado pelo prato quebrado de Limoges (também fez um que simula uma gota de água caindo e formando ondas concêntricas) aparece “Oops”, o bolo caído. Mostarda, polpa e casca de limão salgada, alcaparras salgadas e alcaparras doces, gotas de azeite aromatizado com pimenta e orégano. O Mediterrâneo inteiro em um só prato. E torta de limão com sorvete de lemongrass, que cai e se quebra. As alcaparras se combinam com uma doçura que não parece pertencer ali. »»»


O café da manhã dos viajantes “Os trabalhos conceituais que penduramos em nossas paredes não são decorações, são a chave para ler nossa cozinha, nossos métodos e, inclusive, nossa loucura”, revela Massimo. Los trenes salen al amanecer (Os trens saem ao amanhecer) é o novo prato que a Osteria Francescana oferece. “O filho do dia que está por vir”, diz Massino, “que nunca nasceria se o Alberto (um dos chefs) não tivesse contado como, sendo ele um viajante, era duro encontrar – enquanto corria para pegar sua namorada no trem – um cappuccino decente àquelas horas.” Os trens vão para diferentes direções, atravessando a península, entre paisagens que ainda estão se formando, “assim como nossa mente está trabalhando desde às cinco da manhã”, afirma. E pensa em dedicar uma placa aos viajantes – a todos – um reconhecimento ao sacrifício dos comensais que cobrem longas distâncias para se deleitar na Osteria Francescana. Uma espécie de paisagem abstrata de cappuccino e croissant com merengue no café, ou de chocolate com biscoito crocante, “que combina o rigor e a dureza dos trens que saem ao amanhecer, sob um sabor terno e familiar”. É um café da manhã abstrato. Um prato dedicado a essa hora do dia. “No meu futuro, há mais futuro”, diz o chef.

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A abordagem Disciplina e rigor, junto com competências e muito trabalho, são respirados continuamente no serviço do restaurante italiano – hoje o mais popular no mundo. Uma brigada de vinte jovens que experimentam, correm, lavam e cortam, entre as panelas fumaçantes de carne e as obras na sala. Alguém corta o culatello (carne de porco salgada): primeiro o nariz o cheira para depois vê-lo os olhos. É vermelho, 48 meses, das terras Polenise, um pequeno povoado às margens do rio Pó, no território de Parma. Derrete na boca. Outra pessoa pica lemongrass e explica que, em seguida, vai acrescentar outros ingredientes e deixará repousar durante uma noite inteira para que os sabores tenham tempo de chegar “a um acordo”. Apesar do frescor e da alegria dos trabalhadores, é um trabalho duro ficar sob o calor da cozinha: ou o fazem por paixão, ou acordam às seis da manhã para terminar, guardando as facas à uma da madrugada. Chega, então, a costela de porco, tipicamente negra, vindo da Romagna, que se alimenta de raízes, bagas e farinha de milho. Refogada em um molho de vinagre e em seu próprio caldo, acompanhado de purê de batatas e alho, beterrabas e trufas. Basta a ponta do garfo para sentir o sabor concentrado,


enchendo o paladar e a boca de sentidos e emoções. Como nossos avós, que para degustar melhor se deleitavam de noite com a metade de um bombom de chocolate, deixando a outra para o dia seguinte. Então, das mãos rápidas de um chef, surge o Globo, deliciosamente galante: uma fusão de leite com menta, um mundo entre os pedaços de merengue perfumado com flores de camomila. A consistência se dá com apenas um toque, o paladar se derrete e libera um ligeiro sabor ácido, que imediatamente te leva à outra colherada. Que sabor é esse? Perguntamo-nos, imaginando. Limão, puro limão. Um sorvete de cerveja com destilado de pêssego e biscoito de café e vignola. Outra sobremesa que inspira a torta Barozzi (um bolo típico de Módena), onde se colocam café, pinhões, chocolate soffiatto e cerejas. Uma pequenina Madeleine com sabor de chá. A pimenta de Sichuan, do sudeste da China, com aroma de bergamota. Um krpafen em miniatura com creme e aroma de café. Um bombom de chocolate de avelã e outro de frutas do bosque, que lembram aquelas gelatinas coloridas de trinta anos atrás. Exatamente essas. Dê-me bebida! Conversamos com Beppe Palmieri, sommelier e maitre da Francescana, mas imediatamente somos corrigidos

e ele deixa claro que não gosta de nenhuma das duas nomenclaturas. Ele está na sala e na bodega. Ponto. “Acho que, no futuro dos grandes restaurantes, está surgindo uma nova figura, um híbrido, porque servem diferentes habilidades enquanto há uma grande cumplicidade com os outros colegas da cozinha para que se crie um ambiente adequado de trabalho”. Apesar de a cultura girar em torno de temas eno-gastronômicos, cresceu muito nos últimos anos uma elite de apaixonados. “Frequentemente, utilizamos uma linguagem incompreensível, mas meu trabalho é aproximar o conhecimento que tenho sobre um vinho e colocá-lo ao alcance de todos”, confessa. Seu cliente preferido? O tímido. O que não levanta os olhos, mas demonstra algo. “Encontro clientes russos de Moscou, do Alaska, japoneses de Hokkaido, californianos, italianos. Com cada um deles tenho de ter um enfoque diferente”. A bodega da Francescana oferece um sistema notável de vinhos naturais, biológicos e biodinâmicos, assim como os grandes vinhos da Itália e da Califórnia. O ponto de referencia é ainda a França. “Longa vida à Itália, mas temos de ser capazes de reconhecer que na França é onde se desenvolveu uma cultura de vinhos de qualidade!”. Combinado ao prato de talharins com rangu de língua, tripas e rabo de boi, Palmieri nos oferece cerveja »»»

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Veja mais de castanha, produzida por uma comunidade de jovens deficientes de Granaglione, terra de fronteira celta. E ainda nos mostra um segredo: um destilado de genciana, com aromas de musgo, folhas molhadas vermelhas e amarelas, bagas de zimbro e cogumelos. O olfato se transforma em lembrança, a lembrança de um passeio pelo bosque. Vanguarda do Mediterrâneo Uma cozinha de território e de tradição, mas de forma alguma estática. Uma tradição vista a 10 km de distância, dinâmica, resultado de experiências em constante evolução e investigação. Essa é a definição da cozinha de Massino Bottura. Chamativa, mediterrânea, flagrante, une-se ao território e o faz seu para ir além. Suas lembranças de infância se transformam em pratos. Nunca se cansa de provar e experimentar, num casamento entre tradição e experimentação, dando visibilidade aos pequenos produtores e artesãos locais. Massimo começou a trabalhar com produtos petrolíferos na empresa da família, depois começou a gestão de um restaurante em Nonantola e se fez reconhecer imediatamente na área, com tudo o que aprendeu de sua tia Lídia. Então, decidiu se dedicar aos conceitos básicos da cozinha francesa feitos por George Cogny e, a partir daí, a um encontro em Montecarlo com Ducasse, líder indiscutível no mundo da alta cozinha, com quem aprendeu uma imensidão de visões e essa absoluta dedicação e qualidade que o acompanham ao longo da vida. Em 1995, começou com o negócio da Osteria Francescana e, em 2000, teve um visitante inesperado: Ferran Adriá. Massino diz que foi ali que começou a entender como o grande mestre re-

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volucionava a gastronomia, com seus petiscos e seu espírito irreverente “misturando doce e salgado, quente e frio, suave e crocante”. “Um gênio, uma mente em constante movimento em busca de uma perspectiva, uma ideia, um princípio”, recorda Massimo. Costurar o fio entre o artesanato e as instituições. Visibilidade à la italiana Metade dos eventos gastronômicos neste período está vinculada ao território da Emilia para reconstruir e ajudar as vítimas do terremoto que assolou o Vale do Pó e a região da Emília Romagna no fim de maio de 2012. Massimo diz que na Itália é difícil: existem milhões de críticos, em família, em casa, entre amigos e no mundo gastronômico. “Temos um paladar afinado”, acrescenta. Também nos explica que serviria a um sistema gastronômico que ligue a cadeia entre o artesanato e a entidade, entre o turismo e a agricultura, que abrisse um diálogo e fizesse descobrir os tesouros da infinita dispensa de comida italiana, atraindo grandes comunicadores do mundo. “Um sistema que lute sério contra o Italian Sound, aqueles produtos que remetem à “italianada” (massa e pizza), mas que se produzem em outros lugares do mundo com pouca qualidade, porém com competitividade de preços”. “Gosto de sonhar”, admite o mestre, “mas se penso que brigamos pela paternidade do tortellini, volto a colocar os pés no chão”. Esse era um ditado popular de Módena: “A la gogna la rusgon”- quem pegar é o dono. Tal qual a maçã, que antes se comia até a medula e o núcleo era jogado fora e ficava coberto de poeira. Aí, vinham crianças, sopravam o pó e comiam o resto.


receita

foto Paolo Terzi, Modena

Uma enguia ao longo do rio Pó INGREDIENTES Enguia • 1 enguia de dois kg; • 50 ml de Amarone (vinho típico do Vêneto) • 50 ml de Aceto Balsâmico Villa Manodori • 50 g. de Salsa Kabayaki preparada com pedacinhos da enguia Creme de Polenta • 100 g. de farinha de Polenta Mulino Marino • 300 g. de leite “bianca modenese” • 200 ml de água mineral • 40 g.de azeite de oliva extra virgem Villa Manodori Cinzas de Cebola • 500 g. de cebola • 300 g. de pinoli • 100 g. de tinta de lula • 50 g.de salsa kobayaki MODO DE FAZER Enguia Limpe e corte a enguia em pedaços, feche-a em um saco de vácuo e cozinhe em banho-maria a 50°C por 30 minutos. Abra o saco e retire a enguia. Prepare o molho com a Salsa Kabayaki, o Amarone e o vinagre. Regue bem a enguia com esse molho e leve ao forno a 180°C. Quando o molho começar a engrossar, repita três vezes. Creme de Polenta Misture o leite e a água e deixe ferver. Com a ajuda de uma peneira despeje a farinha. Sempre mexendo, cozinhe (40 minutos) e tempere com sal a gosto. Retire do fogo, coloque a polenta em um Termomix e misture bem a 45°C, durante 20 minutos, emulsionando com o azeite. Cinzas de Cebola Frite a cebola bem picadinha, até ficar ligeiramente queimada. Misture com os outros ingredientes até obter uma pasta cremosa e preta. Estenda em um silpat e leve ao forno a 160°C por 8 minutos. Após esse período, colocar em um desidratador durante 48 horas. Moer em um pilão até obter a consistência desejada. Para o concentrado de maçã Campanina: Passe pela centrífuga 500g de maçã Campanina. Coloque o suco em um Rotovapor e deixe reduzir 50%.

MONTAGEM DO PRATO/APRESENTAÇÃO: Coloque a enguia bem envernizada (o molho dará essa aparência) e quente (melhor servir na hora em que ficar pronta). No prato, ao seu lado, um pouco do concentrado de maçã Campanina e um pouco de polenta cremosa. Coloque uma colher de chá das “cinzas de cebola” em duas extremidades opostas da fatia da enguia. Sirva em seguida.

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PRODUTOR: De Martino REGIÃO: Vale del Maipo - Maipo Bajo - Isla de Maipo COMPOSIÇÃO DE CASTAS: 100% Merlot GRADUAÇÃO ALCOÓLICA: 13,5° GL ELABORAÇÃO: Colheita manual no ponto, ótimo de maturidade, seleção criteriosa. Desengace completo e esmagamento com posterior início da maceração a 8ºC por 6 dias, visando melhor extração de cor e aromas. Fermentação em tanques de aço inoxidável com estrito controle de temperatura a 28ºC por 28 dias, seguida da malolática. Terminado esse processo, o vinho inicia seu amadurecimento em barricas. AMADURECIMENTO: 12 meses em carvalho francês. ESTIMATIVA DE GUARDA: 8 anos CARACTERÍSTICAS ORGANOLÉPTICAS:Coloração rubi de média intensidade. O frescor de frutas vermelhas é a marca desse tinto, que ainda revela ervas, tabaco e húmus. Todo o equilíbrio em boca, com taninos polidos, muito finos, contagiante frescor e ótima persistência. CARTA DE VINHO SINTÉTICA: Emana frutas vermelhas no olfato, seguido de ervas, tabaco e húmus. Equilibrado com taninos polidos, frescos e com ótima persistência. TEMPERATURA DE SERVIÇO: 16°C PREMIAÇÕES: Considerado pelo guia Descorchados 2012 como o melhor Merlot do Chile ONDE COMPRAR: Decanter

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PRODUTOR: Craggy Range REGIÃO: Martinborough – Vinhedo específico, Te Muna Road, localizado no sul da Ilha Norte neozelandesa. COMPOSIÇÃO DE CASTAS: 100% Pinot Noir GRADUAÇÃO ALCOÓLICA: 13,5° GL ACIDEZ TOTAL: 5,5 g/L ELABORAÇÃO: A colheita das uvas é realizada de forma manual, com desengace parcial para 95% das uvas, com baixíssimos rendimentos de 25 hl/ha. Fermentação espontânea em grandes tanques de carvalho. Após esse processo, trasfega-se o vinho para seu amadurecimento em barricas francesas. Filtração e engarrafamento. AMADURECIMENTO: 10 meses em barricas de carvalho francês, 1/3 novas. ESTIMATIVA DE GUARDA: 8 anos. CARACTERÍSTICAS ORGANOLÉPTICAS: Rubi intenso e límpido. Típicos aromas de framboesas maduras enobrecidas por notas minerais e de alcaçuz. Textura envolvente em boca, suculento e com excelente persistência. CARTA DE VINHO SINTÉTICA: Típicos aromas de framboesas maduras, enobrecidas por notas minerais e de alcaçuz. Sápido, muito equilibrado e persistente. TEMPERATURA DE SERVIÇO: 16°C. PREMIAÇÕES: WINE SPECTATOR TOP 100 2010: 93 Pontos (42° Lugar) WINE & SPIRITS: 93 Pontos ONDE COMPRAR: Decanter

REGIÃO: Monferrato - Piemonte Itália COMPOSIÇÃO DE CASTAS: 100% Pinot Nero GRADUAÇÃO ALCOOLICA: 14° GL Pinot Noir, Blauburgunder, Pinot Nero.... em qualquer uma das suas muitas versões, a nobilíssima Pinot Noir é sempre muito especial. A decisão do produtor Paolo Saracco de cultivar a uva Pinot Nero em terras piemonteses, onde grandes tintos elaborados com a casta Nebbiolo são o orgulho da enologia italiana, foi motivada, em primeiro lugar, por sua paixão por vinhos à base de Pinot Noir e pela uva em si. O segundo motivo foi quase um desafio: procurar adaptar essa delicadíssima casta ao tipo de solo disponível, nesse caso, terrenos de estrutura calcária, em colinas com incursões térmicas, que são particularmente perfeitas para a nobre Pinot Noir. Muito difícil de ser bem interpretada, a Pinot Noir encanta e amedronta por sua sensível personalidade e seus muitos caprichos. Mas quando bem interpretada, o resultado é surpreendente, como no caso do Saracco Pinot Nero, que é vinificado em tanques de inox. Possui o tradicional bouquet de frutas vermelhas e o gosto aveludado com boa acidez peculiar bem integrada. Corpo redondo, estrutura complexa e ótima persistência. Doze meses em tonéis de carvalho completam esse maravilhoso pinot nero com forte personalidade italiana. ONDE COMPRAR: Grand Cru (Indicação da Sommelière Ana Luna Lopes)

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PULENTA ESTATE PINOT GRIS 2012

PAOLO SARACCO PINOT NERO 2010 D.O.P.

TE MUNA ROAD PINOT NOIR 2008

MERLOT GRAN LEGADO 2010

vinho

REGIÃO: Agrelo - Mendoza Argentina COMPOSIÇÃO DE CASTAS: 100% Pinot Gris GRADUAÇÃO ALCOOLICA: Álcool 13° GL A Pinot Gris, apesar de ser pouco conhecida, tem parentesco importante,pois é uma mutação da uva Pinot Noir, que pertence ao restrito grupo ¨das Pinot¨, as mais velhas variedades vinícolas da história humana. Como todas, as Pinot, é extremamente delicada e é, sem dúvida, uma casta muito interessante do ponto de vista enológico, pois dela nascem vinhos secos ou doces incríveis, como os feitos na Alsace (França,) onde há o clima ideal para essa uva. Por muito tempo ficou esquecida, mas hoje é cultivada nas principais regiões vitivinícolas do mundo e os seus ótimos resultados transformaram essa casta numa verdadeira estrela da enologia moderna. Vinhos interessantes e leves, com a característica da cor amarelo-dourado, perfeitos com a gastronomia oriental, tanto que o Japão e a China são os maiores consumidores de vinhos a base de Pinot Gris. No caso do Pulenta Estate Pinot Gris 2012, as uvas são colhidas manualmente no momento exato, para que seja mantido o equilíbrio da acidez, que é fundamental e importantíssimo nos brancos. A maceração é feita a frio, em atmosfera inerte para manter inalteradas todas as características da personalidade aromática da uva. O Pulenta Estate Pinot Gris 2012 tem cor amarelo brilhante com leves tons dourados, aromas de flores brancas e jasmim. Frescor e acidez balanceada com final longo e agradável. ONDE COMPRAR: Grand Cru (Indicação da Sommelière Ana Luna Lopes)


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decor

Identificação em cada A boa relação entre o arquiteto e os proprietários de um imóvel é essencial para que o resultado final do projeto seja satisfatório, pleno. E é isso que se percebe nesse belo apartamento de 200 m², no Torre de Farnese, da Leal Moreira. Os proprietários, um jovem casal com dois filhos, confiaram o projeto de seu lar às arquitetas Rosângela Martins e Zelinda Gouveia. Cada ambiente foi pensado exclusivamente de acordo com o perfil e com as necessidades dos donos. Confira:

detalhe

Espaço gourmet Como o casal gosta de receber amigos e familiares, a sacada foi integrada à sala e tornou-se um espaço gourmet climatizado, dando mais conforto e comodidade aos convidados. As poltronas e a mesa de apoio, contornadas por cortinas leves, colaboram para o clima descontraído. www.revistalealmoreira.com.br

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Lucas Ohana

Dudu Maroja

Sala de jantar Após uma viagem a Milão, Rosângela percebeu que a tendência do pendente descentralizado poderia ser aplicada perfeitamente à sala de jantar. E acertou. A mesa ganhou um charme a mais com o detalhe. Na porta de correr, que leva à cozinha, a opção foi revertê-la com espelhos (veja atrás da mesa).

Sala A sala é um ambiente prático – devido aos filhos novos – e aconchegante. Os itens que a compõem convergem em cores neutras: estofados com tecidos crus, móveis laqueados em branco, cortinas em tons cinzas, parede de pedras... A estante preta ao lado abriga várias lembranças de viagens da família, que estão presentes em quase todos os cômodos do apartamento.

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Quarto do jovem Colorido, alegre e divertido. Esse é o espírito do quarto do filho mais velho, de onze anos. Com duas camas extras à disposição (um beliche e uma bicama), o espaço foi idealizado para receber amigos da melhor maneira possível. Não à toa, tudo gira em torno de videogames, esportes e jogos. O layout ainda possibilita uma área livre no centro, que pode ser utilizada em diversas situações lúdicas.

Quarto do casal O grande desafio no quarto do casal foi conseguir acomodar os objetos pessoais sem exagerar nos móveis. A solução foi criar vários nichos com portas, mantendoos no tom da parede. Outro detalhe interessante é a banheira, que marca a transição entre o quarto e o banheiro. Como não há portas para separá-los, a pastilha metalizada da parede facilita a distinção entre um e outro.

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Quarto infantil O destaque do quarto do filho mais novo é a iluminação “céu de estrelas”, que, juntamente com a decoração de floresta, colabora para estimular a imaginação da criança. A cama, ao lado, é fundamental para que o filho possa dormir acompanhado – quando necessário – e para que ele se sinta à vontade para deixar o berço.

Cozinha Na cozinha, a bancada em nanoglass, que acomoda o fogão cooktop, é espaçosa e possibilita a realização de diversas atividades simultaneamente, atendendo a situações em que haja excesso de demandas, como em caso de festas ou gandes recepções. A porta é revestida com um painel - feito de chapa de aço e adesivo metálico - de ímãs de viagens.

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falando nisso

Rosângela Martins • Arquiteta Zelinda Gouvea • Designer

1 - A primeira dica é que a casa seja a cara do dono. Então, sinta-se à vontade para conversar com o arquiteto e lhe dizer suas vontades; 2 - Utilizar espelhos em ambientes pequenos é uma ótima opção para dar sensação de amplitude; 3 - Cores neutras no piso e parede dão mais liberdade à decoração, permitindo que a cor apareça em peças que possam ser facilmente substituídas conforme a tendência. 4 - Portas de correr são excelente solução para ganhar espaço deixando os ambientes mais integrados. Inclusive nos armários, as portas de correr são bem mais funcionais permitindo um uso mais confortável em ambientes pequenos. 5 - A iluminação merece uma atenção especial. Responsável pelo clima de aconchego a luz pode valorizar o ambiente pois, se não for adequada pode deixar o espaço frio e sem brilho. 6 - Um layout bem resolvido possibilita que o espaço ganhe mais flexibilidade e pareça maior.

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SEMANA ESPECIAL Com o tema “Vista a camisa da nossa seleção: saúde, segurança e prevenção”, a Leal Moreira realizou, no período de 22 a 26 de julho, a 6ª Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho. Iniciada no dia 22, a SIPAT levou informações e ações de conscientização sobre prevenção de acidentes e estresse no trabalho - fatores essenciais para manter o ambiente saudável e tranquilo - aos colaboradores que trabalham nas obras da construtora. William Chamas Juniyor, diretor da Leal Moreira Engenharia, conta que o evento é aguardado com ansiedade pelos funcionários já que une entretenimento, informações úteis para a rotina de trabalho e ainda sorteio de brindes. “Como ocorre uma vez ao ano, a SIPAT causa expectativa em todos os colaboradores”. Ele destacou, ainda, como foi organizada a programação deste ano: “Dividimos a semana por cinco grandes obras - Parnaso, Dumont, Floratta, Trivento e Ekoara –, uma pequena confraternização, porém de cunho profissional. Ou seja, além do entretenimento, há conteúdo que envolve a importância sobre a segurança diária do trabalhador no canteiro de obras. Anualmente, promovemos também um concurso para a escolha da frase símbolo da SIPAT, que este ano foi: ‘Vista a camisa da nossa seleção: saúde, segurança e prevenção’. A frase foi criada por um funcionário da obra do Torres Dumont, que foi premiado com um hometheater. Por fim, foi servido um pequeno lanche a todos e, como não podia deixar de ser, aconteceu o momento pelo qual todos esperavam: o sorteio de diversos brindes”. O técnico de segurança do trabalho, Diego Mendes, ressaltou que “o objetivo é conscientizar os trabalhadores a se prevenir, mostrar a melhor forma de prevenção por meio de uma abordagem cômica, engraçada – para fixar melhor o aprendizado – em forma de peças teatrais, palestras etc.” O colaborador Rodrigo Santos disse que muitas de suas dúvidas foram esclarecidas com as palestras. “Foi interativo, deu para aprender bastante”, falou.

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Chuva combina com Belém, que combina com tacacá, que combina com fim de

tarde, que combina com happy hour, que combina com

sexta-feira, que combina com sábado, que combina com cinema, que combina com

pipoca, que combina com manteiga, que combina com

pão, que combina com hambúrguer, que combina com maionese, que combina com

salada, que combina com molho, que combina com

macarrão, que combina com Itália, que combina com história, que combina com tradição, que combina com excelência, que combina com

Leal Moreira, que combina com ELO.

Para combinar com mais pessoas, a Leal Moreira lançou a ELO, uma Incorporadora que já nasceu com a qualidade e experiência de 27 anos de mercado. Voltada para o segmento de imóveis econômicos, a ELO traz a possibilidade de realizar sonhos. Uma missão desafiadora que combina com desenvolvimento e combina com você.

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ATENDIMENTO DIFERENCIADO A Galeria Leal Moreira é a central de vendas da construtora no 4º Piso do Boulevard Shopping. Além de todo conforto e praticidade, o espaço possui atendimento diferenciado para lhe auxiliar a escolher o imóvel que você precisa. Venha conferir. Nós temos opções de apartamentos que variam de 57m² a 335m².

LEAL MOREIRA CONTRIBUI PARA PROJETO SOCIAL A Leal Moreira está apoiando a reforma da nova sede do Curso Técnico em Rádio e Televisão da Missão Friuli Amazônia, criado pelo padre Cláudio Pighin. A construtora busca assim incentivar a formação dos jovens de baixa renda que fazem parte do projeto. Como a implantação de equipamentos dessa área tem alto custo, o padre ressaltou que a colaboração está sendo essencial. “A casa precisa de reformas e adaptações para fazer os laboratórios. Nós não tínhamos o dinheiro e a Leal Moreira nos ajudou. Se não tivéssemos essa ajuda, nós não iríamos para frente.” Fundado há quase dez anos, o curso recebe aproximadamente 35 alunos por ano e os capacita para o mercado de trabalho com aulas gratuitas. A sede será localizada na Passagem São Francisco - que fica na Trav. Lomas Valentina, entre as avenidas Rômulo Maiorana e Duque de Caxias. Na ocasião do fechamento da parceria, o padre esteve na sede da construtora e abençoou os funcionários da empresa.

ESPAÇO INOVADOR Confirmada como patrocinadora da Casa Cor Pará pelo terceiro ano consecutivo, a Leal Moreira promete inovar esse ano com um espaço totalmente interativo, elaborado pelos renomados arquitetos José Jr e Ana Perlla. “Vamos mergulhar no universo da música negra americana, evidenciando quem faz jazz em Belém (...). Teremos obras de arte de grandes artistas contemporâneos e reinterpretações diversas da marca Leal Moreira, além de ilustrações da revista que serão usadas na criação de painéis decorativos”, ressaltou José Jr. A Casa Cor Pará 2013 será realizada de 17 de outubro a 1º de dezembro. Aguardem!


O Regente prepara o café da manhã para você, arruma seu quarto com carinho, pensa no seu bem-estar e não mede esforços para fazer você feliz. Tudo para que sua noite seja excelente, e seu dia melhor ainda.

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BELÉM: AV. GOV. JOSÉ MALCHER, 485, NAZARÉ - TEL.: (91) 3181-5000 - CEP: 66.035-065 - E-MAIL: RESERVA@HREGENTE.COM.BR PARAGOMINAS: AV. JAIME LONGO, 450, PROMISSÃO I - TEL.: (91) 3521-5000 - CEP: 68.628-010 - E-MAIL: RESERVAS@REGENTEPARAGOMINAS.COM.BR 133


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LEAL MOREIRA COMEMORA SUCESSO NO 9º FEIRÃO DA CAIXA A Leal Moreira e a ELO Incorporadora aproveitaram a nona edição do “Feirão Caixa da Casa Própria” para oferecer aos seus clientes condições especiais de pagamento. E o resultado foi excelente! Em três dias de evento – de 14 a 16 de junho – foram negociados mais de 40 apartamentos de empreendimentos em pré-venda e de outros já lançados. A Leal Moreira, por exemplo, superou todas as metas previamente estabelecidas, em vendas de unidades do “Torres Devant” – que possui opções de 68m² e 92m² e ótima localização na Tv. Pirajá, próximo à Marquês de Herval. O diretor comercial da construtora, Fernando Nicolau, ressaltou que o resultado foi acima do esperado. “O evento foi muito além de nossas expectativas e os grandes responsáveis por isso foram os profissionais da nossa equipe de corretores.” A ELO Incorporadora – empresa do segmento econômico da Leal Moreira – também comemorou o sucesso de vendas no Feirão. O diretor comercial da incorporadora, Fábio Paiva, explicou um dos motivos para o bom desempenho: “O Terra Fiori foi muito bem aceito pelo público por ser um empreendimento da Elo, empresa do Grupo Leal Moreira, e traz toda a garantia dessas duas marcas”.

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TORRES DEVANT: SUCESSO DE VENDAS Antes mesmo de ser lançado, o Torres Devant da Leal Moreira já alcançou 35% de seus apartamentos vendidos até o fechamento desta edição. Nós gostaríamos de agradecer a todos que colaboraram para mais um sucesso da Leal Moreira, principalmente às empresas Finger Modulados e Design da Luz, que foram grandes parceiras na elaboração dos apartamentos decorados. O lançamento do empreendimento será nos dias 24 e 25 de agosto no estande de vendas da Tv. Pirajá, próximo à Marquês de Herval. Se você quiser saber mais informações, visite-o ou ligue para 3351.5011.

APARTAMENTO VIRTUAL Se você não conheceu o sofisticado apartamento decorado do Torre Unitá – empreendimento que já tem mais de 70% de seus apartamentos vendidos em seis meses de lançado -, acesse o site da Leal Moreira e faça uma visita virtual de 360º graus pelos seus ambientes. Você vai se encantar com a sacada gourmet, a sala, os quartos, a cozinha... E o melhor: sem sair do conforto de sua casa. Confira em www.lealmoreira.com.br

CASANDO 2013 A Leal Moreira é patrocinadora do Casando 2013, que será realizado nos dias 19, 20 e 21 de agosto na Estação das Docas. O evento tem a proposta de apresentar novidades, dicas e tendências de festas de casamentos e é uma ótima oportunidade para orientar e esclarecer dúvidas de noivos e profissionais da área.

ESPAÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE Com as reformas do prédio sede da Leal Moreira, o departamento de Relacionamento com Cliente ganhou mais praticidade e comodidade após a mudança para o primeiro andar. Se você é cliente Leal Moreira e precisar de qualquer informação, nós estamos à disposição para atendê-los.

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INVESTIMENTO EM TECNOLOGIA A Leal Moreira adquiriu recentemente equipamentos que movimentam cargas com facilidade, as minigruas, e que dão praticidade e rapidez à executação de fachadas, as plataformas cremelheiras. Além disso, foram adquiridas cabines adicionais aos elevadores cremalheiros pré-instalados, aumentanto e facilitando o fluxo de materiais nas torres.

TERRA FIORI O grande destaque da ELO Incorporadora – braço econômico da Leal Moreira – de 2013 é o “Terra Fiori”. Com unidades de 44m² a 49 m², está localizado em uma das áreas que mais crescem em Ananindeua, próximo a shoppings e universidades. Informações: 3223.0023

FINANCIAMENTO BANCÁRIO Pensando na comodidade de seus clientes, a Leal Moreira criou o Setor de Financiamento, para que no momento da entrega do empreendimento, os clientes possam fazer o desligamento, análise de crédito e financiamento pela própria construtora - agora correspondente bancária da Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, sem precisar ir às agências dos respectivos bancos. Tudo para o seu conforto. Para mais informações, ligue: 4005.6868.

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Check List das obras Leal Moreira projeto

lançamento

fundação

estrutura

alvenaria

revestimento

fachada

acabamento

Torres Devant 2 ou 3 dorm. (1 suíte) • 68m2 e 92m2 • Travessa Pirajá, 520 (entre Av. Marques de Herval e Av. Visconde de Inhaúma) Torre Unitá 3 suítes • 143m2 • Rua Antônio Barreto, 1240 (entre Travessa 9 de janeiro e Av. Alcindo Cacela). .

Torre Parnaso 2 ou 3 dorm. (1 suíte) • 58m² e 79m² • Av. Generalíssimo Deodoro, 2037 (com a Rua dos Pariquis). Torres Dumont 2 e 3 dorm. (1 suíte) • 64m² e 86m² • Av. Doutor Freitas, 1228 (entre Av. Pedro Miranda e Av. Marquês de Herval). Torre Vitta Office Salas comerciais (32m2 a 42m²) • 5 lojas (61m2 a 254m²) • Av. Rômulo Maiorana, 2115 (entre Travessa do Chaco e Travessa Humaitá). Torre Vitta Home 2 e 3 dorm. (1 suíte) • 58m² e 78m2 • Travessa Humaitá, 2115 (entre Av. Rômulo Maiorana e Av. Almirante Barroso). Torre Triunfo 3 e 4 suítes (170m²) • cobertura 4 suítes (335m²) • Trav. Barão do Triunfo, 3183 (entre Av. Rômulo Maiorana e Av. Almirante Barroso). Torres Floratta 3 e 4 dorm. (1 ou 2 suítes)• 112m² e 141m² • Av. Rômulo Maiorana, 1670 (entre Travessa Barão do Triunfo e Travessa Angustura). Torres Trivento 2 e 3 dorm. (1 suíte)• 65m² e 79m² • Av. Senador Lemos, 3253. (entre Travessa Lomas Valentinas e Av. Dr. Freitas). Torre Résidence 3 suítes (174m²) • cobertura 4 dorm. (3 suítes - 361m²) • TV. 3 de Maio, 1514 (entre Av. Magalhães Barata e Av. Gentil Bittencourt). Torres Ekoara 3 suítes (138m²) • cobertura 3 suítes (267m2 ou 273m²) • Tv. Enéas Pinheiro, 2328 (entre Av. Almirante Barroso e Av. João Paulo II).

Veja fotos do andamento das obras no site: www.lealmoreira.com.br

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em andamento

concluído



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EBITDA é um indicador financeiro que significa “Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização”. Assim, a pergunta correta é: qual o EBITDA de sua loja, processo ou área de negócio? Esse índice representa quanto uma empresa gera de recursos por meio de suas atividades operacionais, sem contar O indicador é muito importante para empresários e administradores, pois oferece a possibilidade de analisar o desempenho das organizações. Ele mede produtividade e eficiência nas mesmas, pontos essenciais para quem deseja investir. Em um mundo corporativo, onde as empresas divulgam seus resultados, ter um índice que represente o quanto as empresas geram de recursos apenas com suas atividades operacionais é um alento, pois, aos olhos comuns, analisar demonstrativos di-

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EBITDA impostos e outros efeitos financeiros.

vulgados comparados com projeções de analistas oferece uma tarefa difícil: entender se o resultado é bom ou ruim. É preciso ressaltar que esse é um indicador longevo e mais recentemente as empresas de capital aberto passaram a destacá-lo em seus balanços, em função de ser um indicador da saúde do negócio, portanto, os investidores o olham com interesse. Culturalmente, observam-se administradores pensando em resultado como “receita menos despesa”, imobilizando o lucro

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Nara Oliveira Consultora empresarial

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em imóvel e conhecendo poucas formas de conseguir capital – apenas as mais conservadoras, como linhas de crédito em banco. As organizações que medem sua eficiência com indicadores como o EBITDA e possuem balanços auditados, habilitam-se a obter investimentos de fundos e demais investidores com custos mais atraentes. Costuma-se dizer que “dinheiro é um bicho arredio” – ele não chega até sua empresa se seus números forem nebulosos e avaliados por indicadores sem crédito. Ainda: quanto mais transparentes forem seus números, mais “barato” será o dinheiro. A avaliação de sua empresa, por meio do EBITDA, oferece a possibilidade de atrair os melhores investimentos disponíveis. Apesar da mudança da economia nos últimos dois anos, ainda há sobra de dinheiro no mundo e os BRIC, quarteto do qual o Brasil faz parte, ainda atrai os olhares de investidores por todo o mundo. O Pará recebe a “xepa” dessa enorme liquidez. Assim, fica um convite e uma dica aos empresários: avalie o valor de sua empresa por meio de EBITDA.


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