RLM nº 45
VIVA O SEU LEAL MOREIRA
GENTE DESIGN ESTILO IDEIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA
ano 10 número 45
Maria Bethânia A maior intérprete da música brasileira fala à Revista Leal Moreira sobre sua infância, Dona Canô e seu trabalho
Leal Moreira
Tiago Splitter Waly Salomão Aceto Balsâmico
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Clรกssico MODERNO
CASUAL
O PRÓXIMO LEAL MOREIRA
TEM O SEU
ESTILO Breve lançamento na Av. Gov. José Malcher.
A Revista Leal Moreira 45 traz conteúdo exclusivo nas matérias sinalizadas com QR code.
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ACETO BALSÂMICO A Revista Leal Moreira teve o privilégio de mergulhar no universo da produção de um produto centenário e de processo rigoroso: o vinagre balsâmico de Modena.
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WALY SALOMÃO Transgressor, inquieto, criativo. Muitos são os adjetivos que pontuam a personalidade de Waly Salomão, um dos poetas mais produtivos de sua geração.
Tiago Splitter Um brasileiro brilha na maior e mais respeitada liga de basquete do mundo.
especial pais Eles assumiram sozinhos a criação de seus filhos e comprovaram que não basta só trazer ao mundo.
destino A Costa Rica é destino para quem deseja paisagens exuberantes e sensações únicas.
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NO QUINTAL DA ABELHA RAINHA A maior intérprete da música brasileira fala sobre sua infância, a mãe e o novo trabalho em entrevista exclusiva.
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SUA MAJESTADE, REI SOLANO! O músico paraense revela algumas histórias curiosas da carreira e do elogioso título de BB King da Amazônia.
gourmet
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capa Maria Bethânia Daryan Dornelles
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índice
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dicas confraria comportamento Anderson Araújo especial 400 anos especial artes tech Celso Eluan especial café horas vagas Ricardo Gluck Paul galeria enquanto isso Gabriel Vidolin vinhos decor institucional Nara D’Oliveira
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editorial
Amigos, Depois de um belo mundial, com jogos [e jogadas] inesquecíveis, uns é melhor nem lembrar, começamos “oficialmente” o segundo semestre de 2014. Um segundo semestre promissor, afinal ele é uma “folha em branco”: cheio de possibilidades. Nós, que fazemos a Leal Moreira, estamos particularmente felizes porque iniciamos o segundo semestre com o “pé direito”, característica, aliás, de Maria Bethânia - a grande dama da música brasileira - quando sobe ao palco. A “abelha rainha”, como Bethânia é conhecida, concedeu uma rara entrevista para divulgar seu novo trabalho e a Revista Leal Moreira estava lá, sob seu encantamento. Maria Bethânia fala sobre sua infância, sobre Dona Canô e seu novo trabalho. Emocione-se conosco. Falando ainda sobre exclusivas, o brasileiro Tiago Splitter, único representante brasileiro campeão na história da NBA, também nos recebeu, durante suas curtas férias no Brasil, para contar os desafios e a emoção de fazer parte da mais respeitada liga de basquete do mundo! E ainda revela suas atividades, fora das quadras, para mudar a vida de muitas crianças brasileiras. Que venha o mundial... Conduziremos você a um mergulho na vida intensa do poeta Waly Salomão e na produção musical de Mestre Solano. E não para aí: ouvimos pais que assumiram a criação de seus filhos; mostramos como está o mercado de Arte em Belém e os segredos de um bom café. E tem mais, muito mais! Agosto chegou, afinal! Também “devassamos” algumas das curiosidades que cercam o oitavo mês do ano. Supersticioso? A vida é um palco - assegure-se de pisar nele com seu pé direito! Um excelente segundo semestre para você e uma leitura melhor ainda! André Moreira
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expediente
Tiragem da edição 45 da Revista Leal Moreira auditada por
PwC Revista Leal Moreira
Criação Madre Comunicadores Associados Coordenação Door Comunicação, Produção e Eventos Realização Publicarte Editora Diretor editorial André Leal Moreira Diretor de criação e projeto gráfico André Loreto Editora-Chefe Lorena Filgueiras Editora assistente e produção Camila Barbalho Fotografia Dudu Maroja Reportagem Ana Carolina Valente, Arthur Nogueira, Bruna Valle, Camila Barbalho, Carolina Menezes, Cintia Magno, Fábio Nóvoa, Gil Sóter, João Neves Leivas, Lorena Filgueiras, Tammy Assunção Colunistas Anderson Araújo, Celso Eluan, Ricardo Gluck Paul, Gabriel Vidolin, Nara Oliveira e Raul Parizotto. Assessoria de imprensa Lucas Ohana Conteúdo multimídia Max Andreone Versão Digital Brenda Araújo, Guto Cavalleiro Revisão Marília Moraes e André Melo Gráfica Halley Tiragem 12 mil exemplares
Errata Jardim de Luxemburgo - capa da RLM42
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Fundador / Presidente Carlos Moreira Conselho de Administração Maurício Leal Moreira [Presidente] André Leal Moreira João Carlos Leal Moreira Luis Augusto Lobão Mendes Rubens Gaspar Serra Diretoria Executiva Diretor Executivo / CEO Drauz Reis Filho Diretor de Engenharia José Antônio Rei Moreira Diretor Administrativo e Financeiro Thomaz Ávila Neto
Comercial Gerente comercial Danielle Levy • (91) 8128.6837 daniellelevy@revistalealmoreira.com.br
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Belém
Black Dog Idealizado por Gabriel Parente – sommelier de cerveja formado em Chicago – e o apaixonado pela cultura cervejeira Iuri Fernandes, o Black Dog é um legítimo pub inglês especializado na bebida. De decoração descontraída e estilosa, o lugar já virou reduto de gente descolada e interessante. A carta de cervejas importadas é uma atração à parte, bem como as torneiras de chope – que oferecem as renomadas marcas Amazon Beer, Guinness e Fuller’s. No som, clássicos do rock criam o clima. No cardápio, petiscos exclusivos. Experimente o pernil caramelizado, que é imperdível. Dica: é bom chegar cedo. O pub é disputadíssimo e lota muito rápido.
Rua Bernal do Couto, 791 - Umarizal • 91 3038.9542
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Anderson Araújo Ilustrações: Rodrigo Cantalício
Elf Galeria A Elf Galeria foi o primeiro espaço projetado em Belém para apoiar ações artísticas. Funcionando desde 1981, o espaço já mudou de endereço algumas vezes, e hoje se encontra na Passagem Bolonha – lugar que por si só remete à arte, graças ao visual da Belle Époque. Depois de breve recesso no mês de julho, a galeria volta a receber exposições (e visitas) em agosto. Além das novidades, há ainda belo acervo de pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, aquarelas e fotografias. Ponto obrigatório para fãs das artes visuais.
Gov. José Malcher, Passagem Bolonha, 60 - Nazaré • 91 3224.0854
Brasil
Pipo Apresentado como “boteco de vanguarda”, o Pipo é o irmão mais novo do restaurante Oro – ambos filhos do chef Felipe Bronze. Localizada no Leblon desde 2013, a lanchonete moderninha tem ambiente descontraído e inspiração low profile. A sofisticação fica por conta dos snacks cheios de personalidade, todos frutos da criatividade de Felipe. Sugerimos começar a noite pelo famoso caldinho de feijão com espuma de couve. Em seguida, experimente o Ostrix – um curioso sanduíche de ostras crocantes. Se ainda tiver fome, vá de Polvo à Galega. Não tem erro.
Rua Ferreira Dias, 64 – Leblon – Rio de Janeiro, RJ • 21 2239.9322
Sainte Marie Gastronomia Stephan Kawijian – que veio para o Brasil nos anos 90, com o sonho de ser jogador de futebol – é o idealizador do Sainte Marie Gastronomia. O lugar é fruto do amor e da habilidade em cozinhar as iguarias típicas dos países de seus ascendentes. Por isso, comer no restaurante é experimentar um pouco da Síria, da Armênia, do Líbano e arredores. Stephan é parte da atração do local, acolhedor e carismático como o proprietário. O chef recebe a todos com muita simpatia e com seu tradicional “mercizão” como agradecimento. Além de bater um papo com ele, é uma ótima ideia provar a esfirra de cordeiro com raspas de limão. Não deixe de conhecer as kaftas, shawarma, michuis e outras especialidades. Para encerrar bem, doce de semolina com mel, amêndoas e limão confitado.
Rua Dom João Batista da Costa, 70, Vila Sônia – São Paulo, SP • 11 3501.7552 www.revistalealmoreira.com.br
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mundo
Peggy Guggenheim Café Os mais apaixonados por arte já ouviram falar, nem que apenas de passagem, na coleção Peggy Guggenheim. O museu, que leva o nome da ex-esposa do artista Max Ernst, fica em Veneza e funciona no antigo (e inacabado) palácio Venier dei Leoni, onde a própria morou por décadas. O local abriga uma pequena coleção cheia de personalidade – com obras de Picasso, Dalí e Magritte, por exemplo –, que por si já valeria a visita. Porém, dentro da casa também há um café. Adaptado por um famoso estúdio de design, o espaço é um oásis de modernidade em meio ao refinado prédio. A atmosfera clean e a ênfase no preto e branco exercem duplo papel: dar sofisticação ao ambiente e fazer uma transição respeitosa ao legado histórico do museu. Vale sentar lá e tomar um cappuccino italiano, para admirar com tranquilidade o átrio do palácio.
Palazzo Venier dei Leoni, Dorsoduro 701, I-30123 • +39.041.2405.411 • guggenheim-venice.it
Momo at the Souks Definido pela crítica especializada como “deliciosamente esquizofrênico”, o Momo at the Souks – irmão libanês do Momo londrino – contradiz a regra de que menos é mais: cada área ou superfície do restaurante possui uma textura, estampa ou estilo diferente. Localizado em Beirute, o lugar reúne atmosferas diversas – um móvel de inspiração cubista convive, por exemplo, com uma sala que remete aos anos 70 e outro ambiente indiano; e no andar acima, um loft urbano minimalista serve de área de descanso. Lúdico, criativo e de extremo bom gosto. O cardápio mescla a gastronomia francesa com influências locais e do norte africano. Recomendamos escolher o Confit de lagosta com manteiga Espelette, que vem com cubos de manga caramelizada, uvas e molho especial.
Beirut Souks Jewelery n°7 • + 961 76 700 407 • momo-at-the-souk.com www.revistalealmoreira.com.br
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Arthur Nogueira
Waly está
aqui
Por ocasião do lançamento do livro “Poesia Total”, amigos e parceiros do poeta Waly Salomão, entre os quais Adriana Calcanhotto, João Bosco e Antonio Cicero, relembram episódios marcantes daquele cuja “marca sobre a terra resplandece nítida e real”
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inguém passava ileso à “presença viva” de Waly Salomão (1943-2003). Todas as pessoas que conviveram minimamente com o poeta e compositor baiano guardam histórias maravilhosas de situações marcadas por seu humor sedutor e anárquico. Do alto de sua inteligência e personalidade, ele reinou contra as convenções, sempre alheio às “bulas e posologias prévias”, das quais escapava “escorregadio que nem baba de quiabo”. Poeta polifônico, Waly trabalhou com música, teatro e cinema e ergueu o castelo de uma obra e imprescindível para a cultura brasileira há mais de quatro décadas. O livro “Poesia Total”, que acaba de ser lançado pela Companhia das Letras, reúne, pela primeira vez, a poesia completa do autor de “Gigolô de Bibelôs” (1983), “Algaravias: Câmara de Ecos” (1996), “Lábia” (1998), “Tarifa de Embarque” (2000), entre outros títulos, além de letras de canções jamais gravadas e textos assinados por nomes como Paulo Leminski, Antonio Cicero, Armando Freitas Filho e Francisco Alvim. Tenho fome de me tornar em tudo que não sou Waly Salomão nasceu, “com o auxílio das mãos da parteira Mãe Jove”, em Jequié, interior da Bahia, no dia 3 de setembro de 1943. Filho de um imigrante sírio com uma sertaneja, ele esteve em contato com a literatura desde menino. Em uma entrevista concedida a Heloísa Buarque de Hollanda logo que assumiu a Secretaria Nacional do Livro, em 2003, Waly contou que a rotina de sua casa incluía discussões, entre sua mãe e seus irmãos mais velhos, so-
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bre clássicos como “Guerra e Paz”, de Tólstoi. “Aquelas páginas faziam com que eu transcendesse a coisa tacanha, acanhada, da vida de cidade do interior”, revelou. Por seu “imaginário inchado de filho de imigrante”, ele temia ficar limitado a um só lugar e, mais ainda, aprisionado em si mesmo. Estava “sempre voraz atrás de novas camadas de leituras, de interpretações do mundo, inconclusivas e inconcludentes”. Em “Novíssimo Proteu”, o poeta lançou a pedra de toque: “a chama da metamorfose me captura”. De fato, por toda a vida, Waly Salomão encarou o mundo como um grande teatro e, com sua falange de máscaras, desempenhou os mais diferentes papéis. Quando necessitava fugir do “cotidiano estéril / de horrível fixidez”, a poesia era a saída de emergência. Em uma seção do livro “Gigolô de Bibelôs” (1983) intitulada “Teste Sonoro”, Waly afirma que foi “um pequeno qualquer duma cidade pequena” e depois nasceu “de novo numa cidade maior”. No caso, a “cidade maior” foi Salvador, onde concluiu o segundo grau e formou-se em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Em seguida, sem jamais ter exercido a profissão, passou temporadas em São Paulo e nasceu de novo no Rio de Janeiro, “dum modo completamente diverso do nascimento anterior”. O autor de “Pescados Vivos” permaneceu na Cidade Maravilhosa até a sua morte, em 5 de maio de 2003, vítima de um tumor no intestino. “Conheço o Rio de Janeiro como a palma da minha mão cujos traços desconheço”, escreveu. Sobre a relação do poeta com a cidade, An- »»»
Marta Braga
Irreverente e ácido, Waly Salomão é lembrado pela inteligência exuberante e pelo senso de humor irreverente.
tonio Cicero lembra que, quando estavam procurando apartamento para comprar, a única exigência de Waly para sua mulher, Marta Braga, era que o imóvel tivesse vista para o Cristo Redentor. “Marta diz que poderiam encontrar o melhor apartamento, mas, se não tivesse vista para o Corcovado, Waly não aceitava!”, divertiu-se o amigo, acrescentando. Esse episódio pode ser interpretado como “uma declaração de amor ao Rio”. Para onde a poesia em pane me chamusca Com voz de trovão e gestos de furacão, Waly Salomão trabalhou com teatro e música antes de estrear como poeta, em 1972. O primeiro livro de poemas, “Me Segura Qu’Eu Vou Dar Um Troço”, foi escrito durante um período de reclusão no Carandiru, em São Paulo. “Na época da Ditadura, o mero porte de uma bagana de fumo dava cana. E eu acabei no Carandiru, por uma bobeira”, declarou em 1996, em uma entrevista ao “Jornal da Tarde”. A prisão, no entanto, foi necessária para libertar o poeta. “Teve um texto que escrevi no Carandiru, chamado “Apontamentos do Pav Dois”, que parece um hip hop avant la lettre. Ali, representou um momento de deflagração da aventura de escrever. Foi ali que eu me concentrei e me liberei como escritor. Mostrei esse texto para diferentes pessoas, mas ninguém dava retorno”, contou, em
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outro trecho da entrevista concedida a Heloísa Buarque de Hollanda em 2003. Foi o artista plástico Hélio Oiticica, figura central para o começo da carreira literária de Waly Salomão, quem reconheceu a qualidade daquele texto. Hélio realizou um trabalho de diagramação em “Apontamentos do Pav Dois”, mas o material acabou nas mãos da censura militar. Em 1996, Waly publicou o livro “Hélio Oiticica: Qual é o Parangolé?” (relançado pela Editora Rocco, em 2003), que discorre sobre a arte e sobre as experiências poéticas e artísticas trocadas com o amigo nos anos 1970. “O convívio com Hélio Oiticica foi o estímulo mais determinante para o surto de minha produção poética”, afirmou à Folha de São Paulo, em 2001. Sobre o seu primeiro livro de poemas, “Me Segura Qu’Eu Vou Dar Um Troço”, Waly advertiu que não deveria ser lido com “olho-fóssil” e sim com “olho-míssil”. Antonio Cicero discorre, no ensaio “A falange de máscaras de Waly Salomão”, sobre como essa dica é valiosa para a fruição de toda a obra do poeta baiano. Em “Me Segura” e nos trabalhos posteriores, Waly “reafirma sua concepção da poesia como libertação do confinamento no mundo convencional da identidade”, escreveu o filósofo. A relação de amizade entre Antonio Cicero e
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Waly Salomão começou em 1975. “Fiquei inteiramente fascinado. Além de sua exuberante inteligência e sensibilidade, encantou-me a sua reação a qualquer situação em que farejasse caretice, quadradice, tartufice”, disse o amigo, por e-mail. “Embora eu tivesse tanto horror quanto ele a tais situações, normalmente minha timidez me fechava em copas. Já Waly, com seu espetacular senso de humor, imediatamente conseguia tornar evidente o caráter ridiculamente farsesco e isso sempre foi imensamente liberador”, assegurou Cicero. Nada me prende a nada Antes da publicação de “Me Segura Qu’Eu Vou Dar Um Troço”, Waly Salomão realizou o projeto editorial mais importante do período pós-tropicalista (1969-1972): a revista “Navilouca – Almanaque dos Aqualoucos”. Concebida em parceria com o poeta Torquato Neto, a revista reuniu textos de expoentes das artes plásticas, da poesia e do cinema de vanguarda, como Hélio Oiticica, Lygia Clark, Décio Pignatari, Stephen Berg, Augusto de Campos e Haroldo de Campos. Luciano Figueiredo foi quem idealizou, em conjunto com Óscar Ramos, o projeto gráfico da revista “Navilouca”. Artista plástico, designer e curador, natural de Fortaleza, ele está por trás de inúmeras
Meu grande amigo desconf ado e estridente eu sempre tive comigo que eras na verdade delicado e inocente indaste o teu desenho e a tua marca sobre a terra resplandece resplandece nítida e real entre livros e os tambores do Vigário Geral e o brilho não é pequeno eu sigo aqui e sempre em frente deixando minha errática marca de serpente sem asas e sem veneno sem plumas e sem raiva suficiente Canção de Caetano Veloso, do álbum „Cê‰ (2006). O poeta é considerado um dos mais brilhantes, intensos e prolíficos de sua geração.
capas de discos e cenografias de espetáculos e filmes daquela época, entre os quais “Gal a Todo Vapor”, de Gal Costa, e “O Gigante da América”, de Júlio Bressane. Por e-mail, Luciano contou que a “Navilouca” surgiu em um contexto de grande frustração editorial com várias publicações que não passavam do segundo número, fosse por proibição da Ditadura Militar ou por falta de recursos. “A “Navilouca” veio graças ao editor Lucio Abreu, dono da Editora Gernasa. Ele era amigo de Torquato e apostou no projeto, que agrupava músicos, poetas, cineastas, fotógrafos, artistas plásticos”, escreveu. O título “Navilouca” foi dado por Waly Salomão, baseado em um texto medieval de Sebastian Brant, intitulado “Stultifera Navis” (1494). “É um texto que versa sobre prática da época de confinar em navios aqueles considerados loucos, dementes, insanos, profanos, degredando-os ao mar”, explicou o artista plástico. Impressa em um formato grande, de 27 x 36 cm, a “Navilouca” nunca foi reeditada. Esse fato contribuiu para que a revista se tornasse um dos mais cobiçados produtos do efervescente período da contracultura no Brasil. Em um texto escrito para a publicação, intitulado “Planteamiento de cuestiones”, Waly exalta “novas formas de armação” e “novas formas de alargamento não fictional da es-
critura”, em oposição ao “temor do olho do outro”. A intenção era rechaçar o “bom gosto” e as categorias obedientes aos valores oficiais do circuito de arte da época. Apesar de ter sido planejada desde 1971, a revista “Navilouca” só foi lançada em 1974. O hiato ocorreu devido à morte prematura do poeta Torquato Neto, em 1972. Eu não preciso de muito dinheiro “Quando estava duro, Waly sempre reclamava: onde eu estava com a cabeça quando escrevi que não preciso de muito dinheiro? Era como se, por causa desse verso, ele tivesse rogado uma praga a si próprio”, conta Antonio Cicero, aos risos, referindo-se à canção “Vapor Barato”. Composta no início dos anos 1970 e considerada um hino da contracultura no Brasil, essa foi a primeira letra escrita pelo poeta baiano em sua frutífera parceria com Jards Macalé. A balada marcou o histórico show “Gal a Todo Vapor” e ganhou registro no LP ao vivo “–FA–TAL– Gal a Todo Vapor” (1971), ambos dirigidos por Waly Salomão. “Na primeira vez que eu vi a cidade de Salvador, eu estava em cima de um navio que se chamava “Vapor”. Eu via a cidade como um presépio iluminado”, contou o letrista no programa “Todos sons todas letras”, exibido em 2002 pelo canal “Mul-
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tishow”. Apesar de ser muito ligada a um período específico, “Vapor Barato” atravessa os anos incólume. Em meados da década de 1990, a canção marcou a trilha sonora do filme “Terra Estrangeira”, de Walter Salles, e ganhou regravação do grupo O Rappa. Em 2012, voltou à tona em um dos momentos mais vigorosos do show “Recanto”, de Gal Costa, dirigido por Caetano Veloso. Depois do “–FA–TAL–”, a parceria bem-sucedida entre Gal e Waly Salomão continuou no show “Índia” (1973) e nos álbuns “Bem Bom” (1985) e “Plural” (1989). No último, aliás, o poeta foi o responsável pela aproximação da cantora com a percussão do grupo Olodum. Além de Gal, a carreira de Waly Salomão como diretor artístico também incluiu parcerias com Gilberto Gil, Marina Lima e Cássia Eller. O contato com Marina se deu devido à amizade de Waly com Antonio Cicero, irmão e principal parceiro da cantora carioca. “Eu o admirava muito, mas nunca tivemos uma relação tão direta. Na maioria das vezes em que eu estive com Waly, o Cicero estava também”, disse Marina, por e-mail. “Waly trabalhou comigo em 1980 no show “Olhos Felizes”, mas foi uma troca rápida e tivemos apenas dois dias de preparação”, contou, referindo-se ao segundo álbum de sua carreira fonográfica. A parceria com Cássia Eller, por outro lado, foi »»»
Na voz de Gal Costa, a canção “Vapor Barato” virou hino da contracultura brasileira
bem mais intensa. Waly foi o mentor do álbum “Veneno Antimonotonia”, de 1997, no qual a cantora emprestou sua voz de fogo à obra de Cazuza. O poeta também idealizou o espetáculo homônimo, que rodou o Brasil e resultou no álbum “Veneno Vivo” (1998). “Eu botei um figurinista, Marcelo Pies, e um maquiador profissional, André, e, a princípio, ela resistiu demais. Era quase uma invasão porque ela sempre gostou de chutar o balde”, disse Waly, no programa “Por Trás da Fama”, do canal Multishow. Como compositor, o poeta possui uma obra admirável. Seus versos foram musicados por artistas como Caetano Veloso (“Mel”, “A Voz de Uma Pessoa Vitoriosa”, “Cobra Coral”, “Alteza”, entre outras), Moraes Moreira (“Odalisca em Flor”, “A Cabeleira de Berenice” e “Lenda de São João”), Adriana Calcanhotto (“A Fábrica do Poema”, “Pista de Dança”, “Teu Nome Mais Secreto”, entre outras), Lulu Santos (“Assaltaram a Gramática”), Roberto Frejat (“Balada de Um Vagabundo”), Gilberto Gil (“Musa Cabocla”, “Zumbi”, “Ganga Zumba” e
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“O Cometa”) e Itamar Assumpção (“Zé Pelintra”). A respeito das letras que fez sob encomenda de Maria Bethânia, cujos títulos foram atribuídos a álbuns como “Talismã” (1980), “Memória da Pele” (1989) e “Olho D’Água” (1992), Waly frisou, em entrevista a Adolfo Montejo Navas para a revista “Cult”, que foram escritas antes das músicas que sobre elas incidiram. “Sabe por que fazia isso? Porque sou metido a besta e por um princípio de que o poeta, pelo menos nisso, é o senhor da linguagem. O músico que trabalhe, que batuque!”, provocou. Quem fala de mim tem paixão “É muito difícil escolher um só”, disse Adriana Calcanhotto, ao ser indagada sobre um episódio marcante vivido com Waly Salomão. “Põe aí que foi o dia em que ele me vendeu para um motorista de táxi em New York!”, relatou a cantora, por e-mail. Adriana contou que Waly não perdoava a sua timidez e estava sempre em busca de situações que pudessem tirá-la de sua zona de conforto. “O
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argumento para o taxista foi que eu era descendente da aristocracia napolitana”, revelou. E o preço da oferta? Ela não soube dizer ao certo, mas garantiu que custava uma mixaria. “Isso foi o mais duro pra mim!”, divertiu-se. Outro parceiro de Waly, João Bosco, não esquece um episódio envolvendo o LP “Zona de Fronteira”. Lançado em 1991, o álbum traz doze faixas, resultantes de um processo no qual as melodias de João ganharam letras de Antonio Cicero e Waly Salomão. “Foi um entrosamento inédito na música brasileira”, disse o cantor e compositor, referindo-se às diferenças entre os três envolvidos no projeto. “A gente se reunia na minha casa. Na hora de mostrar as letras, era o Cicero quem cantava. Ele virou o intérprete oficial do trio!”, contou João, por telefone. Quando o álbum saiu, os três foram convidados pelo Sesc Pompeia, em São Paulo, para falar sobre a parceria e comentar faixa a faixa. “Acertamos entre nós tudo o que seria dito, mas o Cicero teve um imprevisto às vésperas da viagem e acabamos indo só eu e Waly”, lembrou. Quan-
Para os amigos e estudiosos de sua obra, a poesia de Salomão não pode ser reduzida a rótulos - “uma simplificação que não pode ser aplicada a uma obra tão culta e elaborada”, segundo Antonio Cícero.
do chegaram, o palco já estava montado com três cadeiras e Waly pediu para que essa configuração fosse mantida. “Na hora em que o Cicero deveria falar, Waly corria para a cadeira vazia e o imitava. Foi muito engraçado, porque ele mudava a voz! Só mesmo Waly poderia ter desempenhado esse papel, digno de Oscar!”, brincou. Em meados da década de 1990, também em São Paulo, o jornalista Marcus Preto conheceu pessoalmente Waly Salomão. Fã do poeta desde a década de 80, Marcus contou que, naquele período, trabalhava como garçom no restaurante Spot, parada obrigatória de Waly quando estava na cidade. “São muitas as histórias dele ali, mas uma delas explica bem a relação de amor (e eterna provocação) que ele tinha com Caetano Veloso”, disse. “Lembro de uma noite em que ele estava jantando com a Maria Helena Guimarães, dona do restaurante e, se não me engano, com o colunista José Simão. Eu estava passando por perto da mesa no momento em que começou a tocar no som ambiente alguma canção do álbum “Livro”, do Caetano, que tinha acabado de sair. Por coincidência,
uns clientes se levantaram ao mesmo tempo para ir embora e Waly começou a gritar: “Estão vendo? As pessoas vão embora por causa dessa música! Maria Helena vai falir por causa da música dela!””, escreveu Marcus, explicando que o barato foi Waly ter se referido ao parceiro no feminino. “Ele dizia para o casal, apontando para mim: “Voltem, ele já vai tirar essa música, voltem!”, lembrou o jornalista. A respeito da “irreverência” atribuída a episódios como esse, Antonio Cicero adverte, no já citado “A falange de máscaras de Waly Salomão”, que é preciso fazer uma distinção. “Às vezes, afirma-se ‘irreverente’ quem não tem respeito por nada nem ninguém. Essa é a atitude de pessoas, na verdade, amargas ou azedas, ou mesmo superficiais, incapazes de fazer distinções de valor. Ora, Waly, como todo poeta, fazia, o tempo inteiro, distinções de valor”, garantiu o filósofo, acrescentando que o amigo “manifestava respeito e admiração por muita coisa e muita gente, por exemplo, pelos poetas que considerava grandes”. Com a mesma veemência, Cicero rechaça o ró-
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tulo ao qual a poesia de Waly Salomão foi muitas vezes reduzida: “marginal”. Para ele, trata-se de uma simplificação que não pode ser aplicada a uma obra tão “culta e elaborada”. “Através de procedimentos de deslocamento, distorção, estranhamento, estilização etc., nos quais é capaz de empregar todos os recursos retóricos e paronomásticos que lhe convenha, ele frequentemente obtém um resultado de uma artificiosidade brilhante, que talvez se possa qualificar de barroca”, escreveu Cicero. De fato, a poesia de Waly Salomão, inseparável do modo extremamente pessoal com que o escritor apreendia o mundo, dialoga menos com a espontaneidade do título de “marginal” e mais com o rigor de João Cabral de Melo Neto, quando este afirma, por exemplo, que o “obstáculo diante do ser o obriga a muito mais esforço e faz com que ele atinja o seu extremo”. Em um poema chamado “Lausperene”, Waly expõe toda a sua admiração pelo autor de “Morte e Vida Severina” e lança a máxima que pode ser atribuída à sua própria vida e obra: “belo é quando o seco, / rígido, severo / esplende em flor.”
SUPER 8 Apaixonados praticantes de cinema merecem ter um item desses em casa. Mantendo seu visual histórico. este aparelho transforma filmes analógicos em digitais, convertendo o que está em Super 8 para AVI. A cor e som do original são preservados. O equipamento funciona como um projetor - coloca-se o rolo do filme, e ele ilumina cada frame com uma luz de LED branca. No processo, é feita a captura em alta definição de cada quadro (1920x1080 dpi). O conversor faz parte da coleção DesignLovers da Forma Fina, e está disponível nas cores preta e prata. Onde: formafina.com.br Preço sugerido: R$ 11.379
PANONO BALL CAMERA Uma experiência totalmente inédita na hora de fotografar. É o que propõe a Panono Ball Camera. O conceito é bem inusitado – uma bola coberta por 36 lentes, para captar qualquer ângulo possível em 108 megapixels de resolução. As imagens são, então, somadas e formam uma única fotografia de 360°, de aspecto levemente esférico. O resultado é enviado para o smartphone (que deve ter o aplicativo do produto previamente instalado), para então ser compartilhado. A maneira de operar é, além de tudo, muito divertida: joga-se a bola para cima e a tecnologia faz o resto. Por isso mesmo, a bola é leve e pequena – 300g em 11 cm de diâmetro. Ideal para eternizar momentos espontâneos em fotos únicas. Onde: panono.com Preço sugerido: US$549
iFETCH Fácil de usar e extremamente fofo, o iFetch é feito para cães que adoram brincar de ir buscar a bolinha. O equipamento funciona como um lançador de bolas de tênis, no qual o próprio animal comanda a brincadeira, reinserindo a bola no produto para que ela seja jogada novamente. Seu amigo não é adestrado? Não tem problema: o site do projeto dá dicas simples para treinar o cachorrinho a se divertir sozinho. Funciona tanto com bateria quanto ligando na tomada. Bom para apartamentos e para “pais” muito ocupados. Onde: goifetch.com Preço sugerido: US$99,95
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MINI JUKEBOX Para reviver a magia de tempos musicais mais românticos, nada como ter seu próprio jukebox. Em tamanho reduzido e de design retrô, o mini player conecta com iPods, mp3 players e USB, além de ter rádio e tocador de CD incluso – tudo administrado por controle remoto. As luzes de LED imitam o visual neon de antigamente, e dão um ótimo clima saudosista. A qualidade de som, diferente de outros itens do gênero, também é excelente – e possui entrada para subwoofers, caso o ouvinte seja mais criterioso. Onde: wotever.co.uk Preço sugerido: £145
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Cintia Magno
Agosto, mês do desgosto?
Estando na rua em dias de agosto, o retorno pra casa antes do anoitecer era inquestionável. Assim que avistada a encruzilhada, o andar desacompanhado tinha de ser interrompido. Antes de cruzada a porta de saída, o pedido de proteção também não podia ser esquecido. Iniciado o oitavo mês do ano, já dizia a avó, o cuidado deveria ser companheiro diário. Se você já ouviu falar de tudo isso, saiba: você não está só!Aliás, é melhor nem caminhar assim nos dias de agosto.
“V
ovó costumava falar que agosto era o mês de desgosto. Não era auspicioso ficar na rua até tarde. Passar em encruzilhada sozinho no “mês do desgosto”, então, era fora de cogitação!”. Durante a infância, as explicações sobre os motivos que exigiam determinado comportamento nem sempre eram oferecidas,mas descumpri-las também não fazia parte dos planos. Já aos 22 anos de idade, os mistérios que envolvem o mês já não ditam tanto as atitudes do designer gráfico Lucas Melo ainda que alguns rituais façam parte do cotidiano. “Um galho de arruda nunca falta. Evito passar por baixo de escada e sempre procuro ter semente de romã na carteira pra atrair dinheiro”, não esconde. “Sempre me benzo ao sair de casa ou qualquer lugar. Acredito que esse gesto atrai proteção de Deus e dos anjos e me sinto mal quando esqueço esse ritual.” Das lembranças, Lucas interpreta o que antes era seguido pelas crianças da família mais como uma tradição, porém sem deixar de lado o misticismo que já esteve impregnado nos conselhos dos mais experientes. Para ele, sendo mês de agosto ou não, as más energias podem ser afastadas com simples gestos. “Eu prefiro afastar as energias negativas com muita
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oração e os banhos de sais grossos e ervas lá do Ver-O-Peso. Afinal, proteção nunca é demais”, sorri. “Em todos os meses, devemos ter cuidados. Qualquer mês tem a probabilidade de ser um mês de desgosto, isso vai depender unicamente de como você se porta”. História Não apenas dos conselhos das gerações mais antigas alimenta-se a fama de agosto. A história também ajuda a cercar de crendices o que poderia ser apenas mais um mês. Ao longo de vários anos, a coincidência de fatos que ocorreram exatamente no mês de agosto reforça, para alguns, a aura de mistério que cerca os trinta e um dias do oitavo mês. Agosto, 1914. Há exatos cem anos, nos primeiros dias do mês, tem-se o reconhecimento do início da guerra que, após algumas semanas, já resultava na morte de mais homens em um único dia do que em guerras inteiras travadas durante o século XIX. Envolvendo quase todas as grandes potências, a Primeira Guerra Mundial marcou o mês de agosto com o início de sucessivas batalhas que resultaram sempre em perdas. No Brasil, ano de 1954, um dos fatos mais lembrados pelos brasileiros também ocorreu »»»
no mês de agosto. Ainda de pijamas em seu quarto, no Palácio do Catete, Rio de Janeiro, o ex-presidente Getúlio Vargas tirou a própria vida. O dia? 24 de agosto. Por mais que outros fatos sombrios sejam acumulados no mês de agosto em anos e épocas diferentes, – como o Massacre de São Bartolomeu, em 1572, na França; a Revolta de Varsóvia, em 1944, na Polônia e a destruição das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki por bombas atômicas em 1945, para a historiadora Stela Pojuci, historicamente não existe ligação entre acontecimentos trágicos e o mês. “Historicamente, são fatos que poderiam ter ocorrido em qualquer mês. A Primeira Guerra, que esse ano completa cem anos, ocorreu em agosto, assim como a destruição de Hiroshima e Nagasaki pelas bombas atômicas – também aconteceu em agosto, mas não há justificativa histórica para a questão de que agosto é o mês do desgosto”, aponta. “Criou-se uma mística em torno do mês de agosto, mas, em cômputo geral, não há uma concentração maior desses acontecimentos no mês de agosto”. Marcada por batalhas, guerras e disputas de poder, a história da humanidade acumula diversos acontecimentos tão ou mais sangrentos e que ocorreram em outros meses do ano, como aponta a professora. “Durante a Cabanagem, no Pará, 30 mil pessoas morreram e ela teve início em sete de janeiro. A escravidão negra durou 300 anos e também não teve ligação com o mês de agosto. Vários massacres não aconteceram
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em agosto. Há referências históricas de batalhas que aconteceram em agosto, mas nem tudo está concentrado nesse mês”. Certo de que não há explicação racional para a atribuição de “mês do azar”, o cientista das religiões, José Antônio Mangoni, sinaliza o que pode ter dado início à superstição. “Na Bíblia, não há nenhuma associação ao mês de agosto, até porque seguiam um calendário lunar, com nomenclaturas bem diversas. Agosto é um nome latino que serviu para homenagear César Augusto”, ressalta. “O que pode trazer algum elemento é que, antigamente, em Portugal não casavam em agosto, pois era o mês que os navios zarpavam em busca de novas terras, logo casar era arriscar ficar viúva muito cedo dado que muitos navios naufragavam. Como fomos colonizados pelos portugueses, essa tradição veio junto aos navios e aqui foi ganhando novos significados”. Escolhida a data do casamento justamente para o mês de agosto, a contadora Roberta Pinho Malcher está longe de acreditar em qualquer mau agouro ocasionado pelo mês. Desde a infância, inclusive, agosto é tempo de coisas boas. “A gente poderia até ter casado em outros meses, mas escolhemos agosto. Minha mãe nasceu em agosto. Pra mim, é um mês bom, uma espécie de recomeço e é mais ou menos isso que a gente quis retratar no nosso casamento porque já morávamos juntos”, recorda a cerimônia realizada na ilha de Mosqueiro. “Não tenho nenhuma superstição com relação a mês. Não tenho o que falar de agosto”.
especial
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João Neves Leivas
Umnobrasileiro
Olimpo
Tiago Splitter é o primeiro brasileiro a ser campeão na NBA, a concorrida liga profissional americana de basquete
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uando o apito final foi ouvido naquele domingo, 15 de junho, o coração do brasileiro Tiago Splitter foi a mil, talvez 100 mil. Foi a um milhão. Naquele momento, Splitter, jogador do San Antonio Spurs, se tornava o primeiro brasileiro a sagrar-se campeão da NBA, a Liga Nacional de Basquete dos Estados Unidos, não só a maior do mundo, como também a mais competitiva, a mais disputada e mais cobiçada. Uma vitória sobre o Miami Heat garantiu a conquista histórica. Naquele momento, envolto em uma emoção única, Tiago se enrolou na bandeira do Brasil e partiu para a comemoração com os companheiros. Tiago Splitter, que foi campeão na maior liga de basquete do mundo, jogando em “casa” pelo Spurs, é cria da quadra do Ipiranga e do Galegão, em Blumenau [Santa Catarina]. “No ano passado, tínhamos perdido, porém vencer este ano, dessa forma, dominando os play offs foi bom demais”, disse o atleta, emocionado, durante as partidas das finais. “Fiquei muito feliz por representar os “basqueteiros” do Brasil na NBA. Às vezes, não encontro palavras pra descrever o que eu sinto”, afirmou. Perguntado pela Revista Leal Moreira sobre a pressão em ser o único representante brasileiro, Tiago comenta que “existe todo tipo de
pressão nesse momento”. “Pressão da imprensa, pressão dos técnicos, da torcida e a pressão que você mesmo coloca. Mas é normal, todos os atletas sentem, a gente convive com isso”. A conquista do nosso pivô foi obtida depois de muita emoção e muita disputa. O San Antonio Spurs disputou uma melhor de sete partidas com o Miami Heat e venceu quatro contra uma do Miami, revanche do resultado obtido em 2013, quando o adversário tinha ficado com a taça. O gigante Tiago [2,11m] recebeu o anel de vencedor vestindo a camisa 22 do Spurs. Com o AT&T Center lotado, o time do brasileiro foi muito superior, arrancando elogio até dos rivais. “Foi o melhor time que vi jogar. O melhor time que enfrentei”, disse Chris Bosh, astro do Miami Heat, após o confronto. Se para os fãs do San Antonio Spurs o título foi mais um para a coleção – esse foi o quinto já conquistado pela equipe na NBA –, para Tiago foi uma grande conquista pessoal, de uma carreira brilhante e de extrema dedicação. Há 15 anos, Splitter deixou o Brasil para jogar na Espanha, liga de basquete considerada como uma das mais fortes fora dos EUA. Ficou nove anos entre os espanhóis, foi ídolo, ganhou títulos e atraiu os olhares dos observadores da »»»
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divulgação
NBA. Em 2010, começou a jogar na liga americana. Agora, depois de mais de 300 jogos, Tiago prova que é um vencedor e entra para a história do esporte brasileiro. Titular de uma história que todo garoto jogador de basquete gostaria de viver, Tiago coloca na balança os prós e contras de jogar na NBA. “Com certeza, são mais benefícios do que desvantagens. Temos uma estrutura muito boa, na melhor liga do mundo. As desvantagens ficam por conta de estar longe da família, as muitas horas de avião e a solidão. Mas sou muito agradecido pela profissão que tenho”, explica o jogador. Depois da conquista, aproveitando um pequeno intervalo para a visita à família que mora em Blumenau, Tiago Splitter veio ao Brasil, em junho, para dar seu exemplo a uma nova geração que o admira. Entre os compromissos profissionais e pessoais, conseguimos uma conversa com ele. Tiago nasceu em Joinville, mas cresceu e foi criado em Blumenau, onde mantém um projeto cuja proposta é levar o basquete para as crianças. O Blumenau Basketball Team (BBTeam) é uma evolução dos projetos que eram mantidos pela Associação de Pais e Amigos do Basquete de Blumenau (APAB), trabalho realizado há mais de 10 anos. A fórmula é unir a experiência esportiva dos atletas que já rodaram o mundo e a gestão empresarial bem sucedida para organizar, estruturar e profissionalizar o basquete na região. “O objetivo do projeto é trazer lazer e esporte para a comunidade do Vale do Itajaí e expan- »»»
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Campeonato Mundial de Basquete Os amantes do basquete têm um encontro marcado, de 30 de agosto a 14 de setembro, período do Campeonato Mundial de Basquete 2014. O evento, que terá a Espanha como anfitriã, chega à sua 17ª edição. A seleção brasileira de basquete masculino [bi-campeã mundial em 1959 e 1963], que tem em Tiago Splitter um de seus principais expoentes, inicia a sua jornada no mundial no dia 30 de agosto, contra a França [pelo Grupo A da competição]. GRUPO A Ficará sediado na cidade de Granada: Brasil, França, Irã, Egito, Sérvia e a anfitriã Espanha. GRUPO B Ficará na cidade de Sevilha e é composto por Argentina, Croácia, Grécia, Filipinas, Porto Rico e Senegal. GRUPO C Ficará em Bilbao, onde jogarão ainda Ucrânia, Turquia, Finlândia, Nova Zelândia, República Dominicana e o atual campeão olímpico e mundial, Estados Unidos. JÁ O GRUPO D Ficará sediado em Gran Canária e é composto pelas seleções de Angola, Austrália, Eslovênia, México, Lituânia e Coréia do Sul. A fase classificatória será disputada entre os dias 30 de agosto e 4 de setembro. A fase decisiva será de 6 a 14 de setembro.
dir o basquete o máximo possível”, explica o irmão de Tiago, Marcelo Splitter, responsável pelo projeto. Atualmente, o BBTeam/APAB atende aproximadamente 150 crianças e adolescentes e, até meados de 2015, o objetivo é triplicar este número, principalmente por meio de pólos espalhados nos colégios e principais clubes da cidade. “Os atletas que forem se destacando, já estarão treinando no ginásio Galegão, que é a casa do basquete de Blumenau. No Galegão treinam as equipes de competição”, afirma Marcelo. A expectativa é que o projeto se torne uma referência na formação de atletas no sul do Brasil e, em quatro anos, seus atletas participem da Liga Nacional de Basquete (NBB). “O projeto está no começo. Eu acompanho de longe e, nas minhas férias, aproveito para conferir como vão as coisas. Estamos buscando parcerias para melhorar e fazer um projeto maior ainda”, diz Tiago. Longe temporariamente das quadras, durante esse período em que esteve no Brasil, os planos de Tiago Splitter não incluem cestas, nem rebotes, nem assistências. O objetivo é descansar, celebrar e se preparar para o Campeonato Mundial de Basquete Masculino, em agosto, na Espanha.
Revisão de conteúdo esportivo Marcelo Mello
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perfil
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foto Brunno Régis
Gil Sóter
Sua majestade, Rei
Solano
Considerado o “BB King da Amazônia”, Mestre Solano celebra 60 anos de carreira a todo vapor: com novo disco, o primeiro clipe da carreira e reconhecimento da crítica e do público. Conheça um pouco da história cheia de altos e baixos de um dos maiores nomes da música do Pará.
O
chão da cozinha é de cimento cru. Há crianças brincando e o cheiro de pão quentinho toma conta do ar. José Solano, em sua simplicidade, é só sorriso. Queimado de sol após dias de descanso à beira mar de Salvador, ele voltou para a casa no bairro do Condor, periferia de Belém, onde mora com a esposa, filhos e netos, e arrumou um tempo em sua agenda para nos conceder uma entrevista. “Só posso hoje porque amanhã viajo de novo”, conta. Em uma pequena sala, ele guarda alguns instrumentos e pastas repletas de recortes de jornal com notícias do seu trabalho. As manchetes dão conta da importância do artista: “O rei da guitarrada”, “O BB King da Amazônia”. Destaque de premiados projetos musicais, Mestre Solano foi arrebatado pelo ritmo quente que vinha do Caribe ainda criança. Num misto de lambada, brega, cúmbia e calipso, nasce a guitarrada. De lá para cá, 17 discos lançados e o título de um dos maiores representantes da cultura paraense: ‘Americana’, seu grande sucesso, foi regravada por artistas como Aviões do Forró, Cavaleiros do Forró e Arnaldo Antunes – prova de que um bom hit é capaz de atravessar gerações e cair no gosto dos mais distintos públicos. Aos 72 anos, o destino de Solano ainda é a estrada. Na nova turnê do álbum “O Som da Amazônia”, patrocinado pelo projeto Natura
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Musical, o músico passou por Abaetetuba, sua cidade natal - onde, curiosamente, nunca havia feito show - São Paulo e Fortaleza. São seis décadas de palco, vários altos e baixos, muita história para contar e uma certeza inabalável de que tudo valeu a pena. “Nunca me arrependi de ter escolhido a música. E acho que esse dia de lamentação nunca vai chegar”, declara. Com vocês, Rei Solano. Filho mais velho de uma família de nove Josés, ribeirinho do interior do Pará, aprendeste a tocar instrumentos sozinho e te tornaste um dos mais inventivos músicos do estado. Conta um pouco sobre o começo de tudo isso. Papai era músico. Ele tocava banjo e violão no Jazz Abaeté, o melhor das redondezas, mas nunca quis me ensinar. A mamãe queria, mas ele dizia que música não dava futuro. Então eu fui aprendendo só de ver. Eu brincava de pião, de peteca, mas, quando eu ouvia o som do banjo, corria para perto dele e disfarçava... Aí, quando papai largava o banjo para ir trabalhar, eu pegava e tentava tirar as notas. Isso é um dom que Deus me deu. Todo instrumento que eu toco, bateria, teclado, banjo, violão, guitarra, tudo eu aprendi só. Quando completei 13 anos de idade, fiz a primeira apresentação do Jazz Tupi - hoje em dia, o nome que se dá é banda, mas, antes da banda, era conjunto e antes de conjunto era jazz. Lembro bem: foi em 12 de »»»
foto José de Holanda
A primeira guitarra de Mestre Solano foi confeccionada sob encomenda por um interno do extinto presídio São José.
maio de 1954. A banda tinha sax, pistão, trombone, bateria, rabecão, banjo e pandeiro. Naquela época, eu dormia demais porque a gente tocava de seis da tarde às seis da manhã. Eram doze horas seguidas. Minha mão ficava inchada. E não tinha nada elétrico naquela época, era tudo acústico. O único intervalo era na hora da ladainha. Quando o pessoal rezava, a gente ia jantar, tomar uma água, ia ao banheiro... e voltava a tocar. As pontes na beira do rio ficavam cheias de gente. Era muito bonito. A gente tocava bolero, samba, marcha e o brega chacundú, que era o brega antigo. Depois da meia noite, tinha que tocar a valsa. O mambo entrava para animar. Depois eu fui para o Jazz Margalho. Até que, novinho, eu fui para o jazz do meu pai, que era o melhor da região porque só participava o pessoal experiente. O baterista deles saiu e o dono do jazz, seu Miguel Loureiro, viu meu potencial e me chamou. Eu nunca tinha tocado bateria, mas resolvi arriscar. Então era o papai no banjo e eu na bateria. Eu sempre fui um cara versátil e acabou que deu certo. Na juventude, vieste para Belém para ser sargento. Mas mantiveste uma vida dupla: passavas a madrugada na festa e de manhã cedo, o figurino do show dava vez à farda de oficial. Como foi essa rotina insone? Aos 22 anos, vim para Belém estudar para ser sargento no Corpo de Bombeiros. Passei
no curso e fiquei morando no quartel. Nessa época, eu tocava a madrugada toda, até 4h30 da manhã, seis vezes por semana. Eu andava com uma sacola com a minha farda de bombeiro militar. No fim da festa, pegava o meu carro e ia para quartel. Tomava banho, trocava de roupa, descia para tomar café e começava o turno de trabalho quando tocava a alvorada. Muito exercício físico, apoio, pulo, eu ficava zonzo. Chegava em casa duas da tarde, almoçava, tomava banho e dormia até seis e meia da tarde porque oito horas começava a festa no São Jorge. Fiquei nessa rotina por 15 anos. Agora tem uma coisa: eu nunca bebi e nunca fumei, mas também nunca fui evangélico. Nessa época, já ganhavas fama por causa da guitarrada. Como foi que o ritmo tomou forma e virou teu carro-chefe? Quando moleque, eu ouvia muito rádio. Mas, no interior, só pegava o sinal de rádio de fora. As rádios do estado e do Brasil eram uma chiadeira só! Então, a gente escutava muito cúmbia, bolero, calipso, músicas que vinham da Colômbia, Honduras, República Dominicana, Caribe. Tudo isso virou lambada aqui, depois guitarrada. Foi assim que começamos esse estilo aqui no Pará. E digam o que quiserem: assim como o axé é da Bahia, a guitarrada é 100% paraense. Tem uma história curiosa sobre como conse-
Veja mais
foto Leo Aversa/Muamba Estúdio
guiste a primeira guitarra... Sim. Quando eu vim para a capital, eu quis realizar uma vontade: em Abaeté, vi a apresentação de um conjunto de Belém que tinha ido até lá fazer um show. Vi na mão do músico um instrumento lindo. Nunca tinha visto aquilo e nem sabia o que era. Perguntei e me disseram que era uma guitarra. Então eu fiquei com muita vontade de tocar guitarra. Já aqui Belém, eu fui tocar no Presídio São José, a convite do diretor, o Coronel José Anastácio, por conta da comemoração do dia de São José, padroeiro do presídio. Eu já tinha um jazz, o Top 5, e fui para lá. Ai apareceu o Denizard, um camarada lá de Abaeté [como a cidade de Abaetetuba é carinhosamente tratada pelos paraenses]. Ele foi preso em Abaeté e veio transferido para prisão, em Belém. Ele era muito bom com qualquer tipo de móvel. Era carpinteiro e marceneiro. Eu usava um violão velho. Ele me chamou e disse: eu faço uma guitarra para ti. Eu duvidei um pouco, mas ele me garantiu que faria. Então, comprei o material. E era difícil porque, para ter uma guitarra, naquela época, só se mandasse trazer de São Paulo... e levava meses, além de ser cara. Disse para ele como eu queria a guitarra... e não foi que um tempo depois eu voltei ao presídio e ele me entregou uma guitarra linda, do jeito que eu queria: de cedro, cor de vinho, com a máscara preta, três captadores. Todo mundo achava bonita. Toquei com ela por um bom tempo; uns dois, três anos, mas acabei vendendo nem lembro para quem. Como eu ia adivinhar que eu ia fazer sucesso, né? Me arrependo até hoje de ter vendido. Foram anos tocando em bares e clubes de bairro até a sorte bater à porta e a Continental perceber o teu talento. Como foi que uma multinacional descobriu a guitarrada do Solano? Gravei o primeiro disco em 1974, com o meu grupo Top 5 – um compacto, duas músicas de cada lado: um samba, um brega, um bolero e uma guitarrada, que, na época, era chamada de lambada. Gravamos num estúdio de Belém que era uma porcaria. Só um microfone para captar toda a banda. Era um barulho danado o disco. Aí, anos depois eu assinei o contrato com a Continental. Eu estava tocando aqui na Condor [bairro de Belém], numa madrugada, em um bar chamado São Jorge, que era uma zona! Vendia quase duzentas grades de cerveja por noite. Aí, chegam dois caras, que dava para ver que não eram daqui e sentam numa mesa perto do palco. Eram dois diretores da Continental, a maior gravadora do Brasil. Eles saiam procurando conjuntos que fossem bons para gravar disco. Eu já estava com outro grupo que eu formei, o “Solano e Seu Conjunto”. O garçom chegou e me deu o recado que os »»»
“Digam o que quiserem: assim como o Axé é da Bahia, a Guitarrada é 100% paraense”.
Redescoberto pelas novas gerações, Mestre Solano é considerado uma inspiração e já foi chamado de “BB King da Amazônia”. www.revistalealmoreira.com.br
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foto José de Holanda
foto Leo Aversa/Muamba Estúdio
empresários queriam falar comigo. Na hora do intervalo, eu desci do palco e fui até eles. No outro dia de manhã, fui encontrá-los no hotel onde estavam hospedados e eles queriam que eu assinasse contrato de seis anos, mas eu insisti que queria menos tempo e fechamos em três anos. Naquela época, eles davam um bom dinheiro para gente e mais 10, 12% em cima da venda dos discos. Com três dias, o dinheiro já estava na minha conta. O primeiro disco não vendeu muito, mas o segundo foi um sucesso, por causa de ‘Americana’. Fez tanto sucesso que eles não davam nem conta de repor os discos na prateleira das lojas. Só no Ceará, foram 57 mil cópias. Em todo Brasil, diz que foram 136 mil cópias, mas quando eles falam 136, foram mais de 200 mil. Ninguém tem controle sobre essa saída das gravadoras. ‘Americana’ foi a música que te deu uma projeção enorme, até mesmo fora do Brasil. Recentemente, ela foi regravada por vários artistas. Qual o tempero dessa canção que agrada tanta gente, mesmo décadas depois de ter sido lançada? Foi com ela, no segundo disco, que lançamos em 1985, que eu comecei a fazer shows por todo o Brasil. Com o primeiro, a gente ia para o Maranhão, lugares aqui por perto. Mas com ‘Americana’, a gente foi até para fora do país: Argentina, Guiana Francesa, Suriname, Venezuela, Panamá... rodamos a América Latina inteira. Isso porque a guitarrada tem um suingue que não deixa ninguém parado, é impressionante.
Nessa época, fiz show com o Dominguinhos, Roberta Miranda, Peninha, Ritchie. Passou um mês entre as mais tocadas nas rádios de Fortaleza. Teve dono de casa de show que ficou rico em cima disso. Fiz mais de 60 shows em uma boate no Ceará e o dono, que antes andava num fusca velho, comprou carrão. Isso me deixa triste porque a música é minha e de um amigo meu, o Frank Carlos, que já faleceu. Essa letra é minha com ele. Mas há não sei quantos anos que eu não recebo o direito autoral dessa música. Um bocado de gente já regravou e eu não recebi nada. Eu já fui atrás, mas é um problema danado! Já fui ao Rio de Janeiro porque, na época em que eu assinei esse contrato, era a editora Latina, da Continental. Mas quando a gravadora acabou, veio outra. Fui lá e disseram que a música não constava no meu nome, que a música não era minha. Fui a São Paulo e a parte onde eu tinha assinado estava rasurada. Disseram que a música não era minha e tinha outras pessoas recebendo o dinheiro. Já chorei de raiva disso porque levei os meus discos originais para mostrar que a música era minha. Não era para eu ter feito isso, era para eu ter levado a um advogado. Tinham umas sete, oito música minhas no nome de outras pessoas. O cara disse que tinha dinheiro de algumas músicas lá sem poder sair. Algumas só estavam no nome do Frank, que era analfabeto, e que deve ter sido enganado. Frank morreu pobre, sem receber nada. E os direitos artísticos, os direitos autorais? »»»
foto José de Holanda
Embora “Americana” seja o maior sucesso de sua autoria e de seu parceiro [já falecido] Frank Carlos, Solano luta para obter os direitos sobre a composição.
Apesar de todas as pedras no caminho, hoje és reconhecido como o Rei da Guitarrada. Já li crítico de música te chamando pelo pomposo título de ‘BB King da Amazônia’. Tens tocado para públicos de diversos estados do país, gravou clipe, lançou disco. Aos 72 anos, como encaras tudo isso? Esse título de Rei da Guitarrada começou de uns dez anos para cá, quando eu voltei a fazer show em outros estados. Teve o jornalista Júlio
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Maria, do Estadão, que disse que adorava o meu trabalho e me chamou de BB King. Ele me explicou que o BB King toca muito, mas só toca dois estilos, o blues e o jazz... mas que eu tocava de tudo – e tudo muito bem. Eu falei para ele: rapaz, eu nem mereço tudo isso. Mas ele disse que eu merecia muito mais. Dia desses, eu fui fazer show em São Paulo, na turnê do ‘O Som da Amazônia’, meu novo disco, e o Miranda [crítico musical] foi assistir: “cê toca muito, véio! Cê toca demais esse negócio aí!”. Ele me apresentou a uma amiga dele, também guitarrista, que disse que nunca conseguiria tocar do meu jeito. Então, é legal ter esse reconhecimento. E eu sempre digo que o maior cachê, para mim, para o músico, é ver o povo dançando, o aplauso, é saber que tem quem gosta e admira o seu trabalho. Falando em admiração e reconhecimento, tem uma nova geração de artistas que têm se aproximado dos mestres. Viraste não só referência para eles mas também parceiro. Como analisas esse diálogo entre as gerações? Os artistas que se aproximam dos mestres, esses é que estão certos. Ele têm é que chegar perto da gente para pegar as dicas, não só de trabalho, mas da vida, do mercado. Fico muito satisfeito com a Aíla e a Roberta [Carvalho], que estiveram comigo nesse novo disco, esse traba-
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lho que me deu alegria, e ainda o Brunno [Regis], que fez o meu clipe. Eu gostei. Os [jovens artistas] que não querem saber, que acham que são os donos da “cocada preta” não vão muito longe. Sebastião Tapajós, Esdras, Pardal... esses caras tocam demais. Eles dizem que tiram o chapéu para mim, mas eu é que tiro o meu para eles. Eles merecem reconhecimento pelo valor, pelo talento que têm. Somos da velha guarda, mas temos muito chão pela frente. Eu vou demorar para partir. Já falei com o Grande lá de cima e Ele me disse que eu vou durar bastante, porque estou fazendo muito sucesso e ainda tem muita guitarra para tocar. foto Brunno Régis
Essa situação de não receber os direitos pelas músicas gerou um problema financeiro para ti, sobretudo na época na crise da indústria fonográfica, na década de 1990? O que pretendes fazer para tentar resolver essa questão do direito autoral? Com a indústria em crise, os shows deram uma caída e ficou muito difícil gravar disco. Fiz alguns independentes. Mas nunca me faltou trabalho. Eu sempre tinha onde tocar, em casas de show. Onde eu tocava, o pessoal ia atrás para ver a gente nos clubes. Quanto à questão dos direitos autorais, agora a minha esperança é bater lá em Santarém, onde ainda mora uma irmã do Frank, para gente tentar resolver esse caso. Mas, mesmo com essas rasteiras, nunca me arrependi de ter seguido o caminho da música. Ela é um dom e sempre me deu muita alegria. Esse dia de lamentação eu acho que nunca vai chegar para mim.
Olho da
rua
Anderson Araújo jornalista
Contemplou o teto do quarto. Havia uma fresta
extraordinário. Os carros encalhados na moro-
vê-lo como um defunto de filme. Beijou em longa
que traçava uma reta em luz em tudo obsoleta.
sidade dos ingurgitamentos. As donas de casa
pausa as costas da mão dela, finalmente, num
Reergueu-se e começou a se vestir. As meias e
desgrenhadas de sacolas nas mãos. O sex appe-
cumprimento que planejara desde a primeira vez
as roupas de baixo por primeiro. Fechou a cami-
al forçoso das transeuntes nas calças jeans. Um
que a viu havia muitos anos. Cruzou a porta à
sa até o último botão. A calça vincada. A gravata
grito distante devido a um assalto. Vendedores
esquerda da funcionária e encontrou o chefe. Ao
em nó simples. Os sapatos com brilho sinistro.
rotos nas portas de loja. Pedintes. Gente falando
contrário dele, estava mais moço que a véspera.
O paletó enlutado. Olhou-se no espelho partido.
sozinha. Gente muda, catatônica, defronte às far-
Não fosse a preocupação costumeira, seria con-
Estava bonito. Estava lindo, na verdade, como ja-
mácias. Aflitos, à espera do ônibus, à espera de
fundido com um colegial. O superior estancou na
mais esteve. Aproximou e viu as rugas. A marca
qualquer coisa. Calor, calor. O movimento contí-
aparência do subalterno e passou a observá-lo
funda na testa, os pés de galinha – uma granja
nuo, irritantemente contínuo, em nada sufocava o
com interesse genuíno. O empregado retirou o
inteira – ao redor dos olhos com bolsas cheias
frescor da descoberta de se perceber confortá-
documento do bolso e pôs sobre a mesa sem
de micro linhas dependuradas nos cílios inferio-
vel nas roupas que foram do pai e em uma cara
dizer palavra. Virou as costas e saiu. Antes de ir
res. As sobrancelhas espessas como as de um
idêntica a do velho. Entretanto, nem a semelhan-
embora, virou-se para olhar a recepcionista com
mascate. Em torno da boca, a dobra da pele tê-
ça genética ou o conforto do terno eram os moti-
os mesmos olhos de raio-x de todos os dias.
nue, sinal de pouco riso. Arreganhou os dentões.
vos reais de tamanha placidez. Tampouco era a
Ganhou a rua de novo para encontrar a cidade
Encardidos de café, quase todos lá. Apreciou a
veleidade dos vetustos. O passo firme, um sorriso
e os infinitos figurantes anônimos. Entregou o pa-
cabeleira, rebelde. Estava incrivelmente velho.
tênue, confundido com um esgar da gastrite não
letó a um mendigo, que se engalanou de imedia-
Uns 30, 40 anos a mais do que tinha. E se sen-
curada, tudo discreto, quase invisível.
to e iniciou um discurso para os céus. Sentou em
tia à vontade, como nunca havia se sentido, nem com 30, nem 20, muito menos aos 15. Virou as costas e saiu. A rua agressiva. Não combinava com o ânimo
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Chegou ao destino.
um banco e percebeu que estava sem meias. O
Cumprimentou o porteiro. Entrou no elevador. O
olho da rua corria noutros ritmo e rotação, agora
ascensorista não o reconheceu. Desceu no andar
a buscá-lo na tentativa de sincronia. Tudo come-
de sempre. A recepcionista arregalou os olhos ao
çava, enfim, a fazer algum sentido.
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entrevista
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João Neves Leivas
Ada voz
alma
brasileira
De timbre único e interpretação visceral, Maria Bethânia é bem mais que uma cantora: é o som de um país. Seu novo disco, Meus Quintais, reforça essa paixão pela brasilidade – e, de quebra, entrega memórias da infância em Santo Amaro da Purificação, na Bahia.
A
lgumas vozes são eternas. Tornam-se maiores que quem as emite, transcendem os limites da individualidade e passam a traduzir bem mais – o povo, a consciência coletiva, a cultura de um país. A voz vira a própria bandeira pátria. No Brasil, muitos timbres marcaram, mas poucos de maneira tão completa e legítima a ponto de transformar o artista em significado. Maria Bethânia está entre os raros que detêm esse poder. E, apesar da responsabilidade que tal capacidade carrega, o som que a baiana produz vibra na frequência da liberdade. Insubmissa ao peso de si mesma, como sugeriria Chico César em uma das canções gravadas pela diva em seu mais novo trabalho, intitulado Meus Quintais. No disco novo, Bethânia – completa e consagrada – conseguiu, mais uma vez, transparecer sua solidez. A obra é resultado de uma busca pessoal, em que a intérprete voltou às suas raízes, ao seu tempo de infância para fazer o que sabe melhor: amar o Brasil. Ao retornar ao seu quintal, em Santo Amaro, a então menina, caçula de Zezinho e Canô, simplifica e amplia os sentimentos. É inocente como a criança que foi – tocada pelos sons, cores, aromas e sensações de sua idade mais tenra. Estão lá todos os símbolos brasileiros apresentados a ela quando pequena: a sabedoria dos índios, as florestas, a Iara, a onça. A voz se
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identifica com todos. Chama a si própria de onça, de índia velha. Está em casa com todos os nossos mais nobres patrimônios culturais. É ao transformar todo esse amor em música, como mulher e cantora, que Maria cria uma obra de muito valor, tanto técnico quanto artístico. É perceptível o cuidado extremo com quais canções foram escolhidas e com a maneira pela qual elas se apresentam. Logo na primeira faixa, Alguma voz – peça linda de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro – o ouvinte já é arrebatado. O piano de André Mehmari é suave, convidativo. Ela sabe bem porque o trouxe ao projeto. “O André se apoia no clássico para criar as composições dele, é lindo como ele brinca”, diz. A voz de Bethânia não mudou – permeia com sua qualidade o restante das canções. Elas resgatam o Brasil inteiro, de todas as infâncias, aquele que cabe no quintal de Santo Amaro da Purificação, onde a pequena se divertia com seu irmão Caetano. Para “brincar” com ela em seu disco, vieram amigos queridos e compositores consagrados: Dori, Paulo César Pinheiro, Chico César, Adriana Calcanhoto e muitos mais. Há também bons nomes novos, como o de Leandro Fregonesi, autor de Povos do Brasil. Desse imaginário, poderiam emergir cantigas de rodas, cantilenas de jardim, cirandas. Inspirada por tudo isso e mais nossas violas e cancioneiros, »»»
Daryan Dornelles
“Eu acho o quintal o melhor lugar do mundo. E onde se aprende muito. Tinha a casa, que ĂŠ a sede da segurança - onde tem o alimento, a roupa, o agasalho, a cobertura, o amor, o ensino. Mas o quintal era a liberdade! www.revistalealmoreira.com.br
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[sobre os anos de carreira] “Eu nunca fiquei acostumada a nada. Aliás, tudo pra mim é tão novo, inesperado. Tudo pra mim é quente, é vivo”.
Bethânia prossegue. Canta os índios em Xavante, Arco da Velha Índia; a beleza interiorana em Casa de Caboclo, Lua Bonita. Termina com o clássico Dindi, pela primeira vez em sua voz, com o belo piano de Wagner Tiso. Este é o 51º CD da carreira, que completa 50 anos em 13 de fevereiro de 2015, cinco décadas depois daquele inesquecível começo no show Opinião. Na entrevista a seguir, Maria Bethânia conta sobre o desenvolvimento do conceito de Meus Quintais, divide memórias e revela o respeito que tem pelos músicos que dão base à voz que simboliza a alma brasileira. Confira: Nesse novo trabalho, você gravou duas músicas de Chico César. Como é a relação entre vocês? Desde quando o Chico apareceu na minha vida, ele está sempre presente em shows e em discos. É meu querido amigo, um iluminado. Eu acho que a volta dele à Paraíba, para trabalhar na sua terra, na sua região, favoreceu muito a criatividade dele. Ele se renovou de maneira muito bonita, muito nobre. Chico é inspirado e corajoso, é livre. Eu joguei uma pequena semente nele e ele me mandou duas canções. Uma é Arco da Velha Índia, que ele fez para mim - o que é uma grande honra. É um dos poemas mais bonitos que eu já recebi em canção. E depois ele fez Xavante, na qual está o pensamento dele como autor, lindo, e que tinha a ver com o meu projeto.
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Meus Quintais lembra em alguma coisa o Brasileirinho? Não. O quintal é meu, uma coisa pequenininha, uma situação íntima. Brasileirinho era o povo, o sentimento brasileiro. É bem diferente. Aqui é uma coisa individual, pessoal. O que a imagem do quintal sugere a você? Eu acho o quintal o melhor lugar do mundo. É onde se aprende muito. Tinha a casa, que é a sede da segurança – onde tem o alimento, a roupa, o agasalho, a cobertura, o amor, o ensino... Mas o quintal era a liberdade. Era o inverso, era onde você podia imaginar. Eu acho “quintal” os primeiros passos. É aprendiz. É isso o que eu acho bonito no quintal. Pelo menos pra mim, na minha história, foi assim, e foi isso que eu quis falar. Tive a sorte de ter um irmão perto de mim. Eu sou a caçula e, acima de mim, vem Caetano. Então, ter um irmão como Caetano para brincar no quintal é um privilégio. A gente se entendia muito bem. Gostávamos das brincadeiras loucas que inventávamos, ou então do silêncio, da observação. Quintal é onde aprendi a água, aprendi a folha, aprendi o vento, aprendi a cantar, a errar, a acertar, a namorar. É família, é agasalho, é sexo. Tudo começa ali. E o meu quintal não fica restrito ao quintal que eu vivi não. Acho que o quintal é de ninguém. Quintal é liberdade, e liberdade tem bons perfumes, boas essências, é delas que eu gosto. »»»
Veja mais
Discografia 1965 - Maria Bethânia 1967 - Edu e Bethânia 1968 - Recital na Boite Barroco (ao vivo) 1969 - Maria Bethânia
1970 - Maria Bethânia (ao vivo) 1971 - A Tua Presença... 1971 - Vinicius + Bethânia + Toquinho - en La Fusa (ao vivo) 1971 - Rosa dos ventos (ao vivo) 1972 - Drama 1973 - Drama, 3º ato (ao vivo) 1974 - Cena muda (ao vivo) 1975 - Chico Buarque & Maria Bethânia ao vivo 1976 - Pássaro proibido 1976 - Doces bárbaros (ao vivo) 1977 - Pássaro da Manhã 1978 - Álibi 1978 - Maria Bethânia e Caetano Veloso (ao vivo) 1979 - Mel Os arranjos de piano foram um destaque neste trabalho. A música de Dori (Alguma voz), que abre o disco, ficou muito bonita. Como foi feita essa opção pela valorização do instrumento? Os pianos de André Mehmari e do Wagner Tiso são diferentes e extraordinários. É um privilégio poder contar com esses dois artistas hoje pra poder cantar junto com essa sonoridade. Felizmente, eles têm um entendimento do meu jeito de interpretar, de cantar. O piano do André é um espetáculo. Mas foi o Paulinho [Paulo César Pinheiro], o autor do poema, quem me telefonou, há um ano, me leu essa letra e disse: “essa é sua”. E eu escolhi essa canção para abrir o disco porque, de algum modo, é uma memória minha e dos meus irmãos todos. Esse disco, no fundo, é para os meus, os da minha casa. No meu sentimento, cantar essa canção era como uma oração por todos nós – porque Deus está sempre ali, na janela do horizonte, cantando, rezando e cuidando de nós. Outro ponto muito marcante musicalmente falando é o requinte... Bethânia – Mas quintal é muito requintado. Quintal não é qualquer lugar não. É a nobreza do piano, que já é um instrumento nobre. O André Mehmari se apoia no clássico para criar as composições dele, é lindo como ele brinca. É um piano do tamanho do mar. E o Wagner tem Minas, que é outro piano. São aqueles horizontes todos, aqueles
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serras e montes, aquelas luzes, aqueles silêncios, aquelas alterosas. Wagner é muito grandioso. Foi uma honra ele vir fazer Carta de Amor e aceitar fazer Dindi. Eu desejo fazer um disco só com piano, e gostaria de fazer com o André. Como foi a decisão de gravar uma inédita de Adriana Calcanhoto? Já gravei tantas! Adriana é outra compositora que faz canções especialmente para a minha voz, para a minha interpretação, o que muito me alegra, me comove. Eu declarei que estava começando a pensar em fazer um novo trabalho com o Chico César, começando a pedir algumas canções, a sugerir alguns motivos para o Chico escrever para mim. E ela, delicadamente, mandou um e-mail muito simpático... O assunto era “Ciúmes do Chico César” (risos). Aí eu liguei pra ela – eu acho lindo isso! – e disse: “Adriana, a gente tá na roça, no mato, você é do sul, tão urbana e sofisticada... mas acho uma delícia, acho que você devia vir”. Ela me mandou canções lindas de amor, como sempre muito bem feitas, com aquele estilo nítido da Adriana... mas não era o caso de cantar amor aqui. Então, eu voltei a procurá-la e disse que, se ela quisesse mesmo entrar na nossa conversa, “por que não compor alguma coisa para aquela morena linda que fica dormindo na Vitória Régia, a Iara?”. Um silêncio. Alguns dias depois, recebi outro e-mail escrito: “Uma Iara. Comecei a trabalhar nisso”. E foi exatamente o que eu gravei »»»
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1980 - Talismã 1981 - Alteza 1982 - Nossos Momentos (ao vivo) 1983 - Ciclo 1984 - A beira e o mar 1987 - Dezembros 1988 - Maria 1989 - Memória da Pele
1990 - 25 anos 1992 - Olho d’água 1993 - As canções que você fez pra mim 1993 - Las canciones que hiciste para mí 1995 - Maria Bethânia: Ao vivo 1996 - Âmbar 1997 - Imitação da Vida (ao vivo) 1998 - Diamante Verdadeiro (ao vivo) 1999 - A força que nunca seca
porque já estava pronta pra mim... e linda. Acho uma das coisas mais bonitas da Adriana. É lindo que uma menina do Rio Grande do Sul olhe a Amazônia, misture com Grécia, tragédia, tudo ligado a um mito nosso. A Iara me fascina. É a nossa sereia, a morena de olhos negros. Diferente da europeia, que é loira, de olhos azuis... E que é linda também. Mas a Iara é nossa. Você gravou duas canções que já possuem registros anteriores e muito famosos. Lua Bonita, de Zé do Norte, na voz de Raul Seixas. E Moda da Onça, por Inezita Barroso. Você se lembra dessas gravações? Lua Bonita eu conheço desde que nasci. Minha mãe a cantava lindamente. Caetano já cantou um trecho da música com ela no DVD Pedrinha de Aruanda. A gravação do Raul é extraordinária; eu a estudei para fazer a minha versão. Chamei o Tira Poeira - um grupo que tem uma sonoridade diferente de tudo, meninos encantados que eu adoro - e entreguei na mão deles. A outra canção, Moda da Onça, eu conheci agora. Quem me apresentou foi um grupo de professores e estudantes de História da Universidade Federal de Minas Gerais. Eles me mandaram um disco e eu fiquei apaixonada. Adoro onça. E o Vanzolini (Paulo Vanzolini), que fez Ronda, fazer também a Moda da Onça... É uma coisa demais de bonita. Acho que só no Brasil pra ter um milagre desses. Depois que eu conheci a música, eu fui procurar saber quem ti-
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nha gravado e da dona Inezita eu sou fã. Até hoje eu assisto aos seus programas, minha mãe nunca perdeu um. Essa mulher é extraordinária. Uma grande intérprete, uma grande cantora brasileira. E sua versão certamente tem autoridade. Por que usar fotos de entalhes em madeira no encarte? E qual a intenção de chamar a atenção para os povos indígenas? O índio não sai da minha cabeça. Eu o tenho no meu sangue. Sabemos que temos, na nossa família, uma hereditariedade com os pataxós. Por isso, falar neles, pensar neles, me interessa sim. O índio é o dono da terra. Eu sou parda, sou misturada, mas eles estão aqui, inteirinhos. Eles são o chão, eles são o Brasil. Eu sou intérprete deles. Justo quando a gente vê a Amazônia se acabando, quando a gente vê a pouca importância dada à tão bonita e real vida brasileira, é que os índios preservam. Eles sabem lidar com essa vida. É a casa deles, é o quintal deles, é útil e comovente pra mim. Quanto aos meus entalhes, eu sempre gostei de mexer com qualquer coisa. Eu estudei no Convento dos Humildes, em Santo Amaro, e você podia escolher o que fazer com as mãos. Eu aprendi a bordar, mas bordado você tem que continuar. E tinha um senhor que fazia umas peças bonitas, trabalhando, cortando madeira. Eu ficava observando. Nunca fui boa aluna, mas tudo o que sou obrigada a aprender, eu aprendo mais rápido e melhor. Essa coisa minha de entalhe é traba- »»»
www.revistalealmoreira.com.br foto Tomas Rangel
foto Tomas Rangel
foto Tomas Rangel
foto Tomas Rangel
2001 2002 2003 2003 2005 2006 2006 2007 2007 2009 2009 2010 2012 2012 2013 2013 2014
- Maricotinha - Maricotinha: Ao Vivo - Cânticos, preces, súplicas à Senhora dos jardins do céu na voz de Maria Bethânia - Brasileirinho - Que falta você me faz - Músicas de Vinicius de Moraes - Pirata - Mar de Sophia - Omara Portuondo e Maria Bethânia - Dentro Do Mar Tem Rio (ao vivo) - Encanteria - Tua - Amor, Festa, Devoção (ao vivo) - Oásis de Bethânia - Noite Luzidia (ao vivo) - Carta de Amor Ato 1 (ao vivo) - Carta de Amor Ato 2 (ao vivo) – Meus Quintais
lho manual. Eu deixei o Gringo [Cardia] usar no encarte porque achei bem o jeito desse disco. Tem uma inocência e fica ali meio misturado às letras, não dá pra saber direito o que é o entalhe. O disco também valoriza muito as lendas indígenas. Numa das letras, Chico César cita a índia velha. O que te inspira na figura do índio? Posso detalhar: gosto do corpo nu, gosto de ele ter pouco pêlo, gosto de eles serem estranhos, bichos do mato, de não gostarem de muita conversa, de saberem se esconder. Acho bonito isso. O Chico César fez a música O Arco da Velha Índia pra mim e ela tem um dos versos mais bonitos que alguém já me dedicou: “a corda vocal insubmissa”. Isso é muito grande. Quando o Chico me deu, eu fiquei muito contente, muito feliz e logo em seguida eu perguntei pra ele se eu podia dedicar à Rita Lee. Ele respondeu: “eu fiz pra você, é sua, agora você faz o que você quiser”. Falei: então está dedicada à Rita (risos). Acho que a Rita tem a sabedoria da velha índia. Acho lindo ela ter o cabelo vermelho. Pela primeira vez você gravou uma canção de Leandro Fragonesi (Povos do Brasil). Como você conheceu o trabalho dele? Ele me mandou um disco com inúmeras boas canções. Coincidiu de, no meio dessas canções, ter Povos do Brasil, que estava dentro do meu assunto. O Leandro é um compositor ca-
rioca, novo, já começando a despontar. Ele é muito criativo, trabalhador, compõe muito e isso é bom de ver. Mas antes de eu gravar o Leandro, a Beth (Carvalho) gravou. Ele é sambista, a especialidade dele é samba. E a Beth tendo gravado, claro que eu passo a palavra a ela, mestra em samba. Você sente saudade da sua infância? Eu não sinto saudade de nada da infância porque eu carrego ela comigo. O disco tem um pouco de melancolia sim, é normal. Portanto, se eu consigo fazer um disco assim, é porque isso está em mim. Não me sinto saudosa. Eu vou para Santo Amaro e é igual ao que era. Sinto falta dos meus que já partiram, mas também estão vivos em mim. A menina está aqui, é ela quem faz tudo. A caçula de Zezinho e Canozinha. É ela que fica aprendendo tudo. Este CD tem uma sonoridade camerística. Isso foi uma opção para valorizar a poesia? Ninguém pensou em fazer isso desse jeito, foi-se fazendo ali, todo mundo junto, os mesmos músicos. Um tocava, chegava mais cedo, fazia de um jeito, me mostrava. Às vezes discordavam antes de me mostrar (risos)... Foi um recreio maravilhoso, um trabalho bem coletivo, sem nenhuma pretensão mesmo. Foi bem solto, com todo mundo querendo e gostando de fazer aquilo. »»»
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Haverá turnê desse novo disco? No ano que vem, eu faço 50 anos de carreira e tenho vontade de fazer uma comemoração, por tudo o que tenho vivido. Minha ideia é usar esse disco no ano que vem, como contraponto dos momentos grandiosos que eu vivi nesses 50 anos – desde Opinião, quando eu estreei como cantora profissional, até hoje. Mas, pra mim, o Meus Quintais é um contraponto para a vida em cena, para a necessidade de viver em centros urbanos grandes, sofisticados, então, eu acho que ele vai me dar um jogo de cintura neste momento. Por que você escolheu um poema de Clarice Lispector para falar sobre a Iara? Primeiro porque Clarice é uma das minhas grandes paixões. E mais porque o jeito que ela escreve é para as crianças. Eu queria que as lendas, como a Moda da Onça e a Iara, trouxessem o Brasil, as lendas brasileiras – mas também com uma coisa meio criança, por isso eu falei que o disco tinha essa cara. Ao mesmo tempo, tem a Mãe Maria, que sou eu mesma. Por isso eu pedi para as crianças cantarem, desenharem. Sinto que está tudo misturado. Uma das fotos mais lindas usadas para ilustrar o disco é uma que retrata sua mãe deitada em seu ombro. Qual a história daquela foto? Aquela foto foi tirada quando minha mãe completou 100 anos. O Santuário de Aparecida fez a homenagem mais bonita a ela, a homenagem que ela mais esperou e festejou: a visita de Nossa Senhora Aparecida a Santo Amaro, no centenário dela. Naquele momento, tivemos uma procissão, na hora em que a santa chegou. A cidade inteira acompanhou. Depois teve a entrada na Igreja da
Purificação, a missa, a benção, eu cantei para a chegada dela... Minha mãe estava profundamente comovida. A cidade inteira chorava de emoção. Foi uma coisa muito bonita, inesquecível. Não temos como agradecer aquele milagre, aquela visita deslumbrante. Estávamos extenuados de tanta emoção. Eu estava sentada porque também já tinha chorado muito, assim ela veio e recostou assim em mim... É bonita essa foto... nós estamos de costas, mas parece que todo mundo consegue ver que a gente tá feliz ali, sorrindo. Cansadas, mas felizes. A foto é do Alan, um amigo da família que mora em São Paulo. E o Gringo fez esta homenagem a mim e a ela, usando a imagem no encarte do disco e usando as palavras do Aloisio de Oliveira, de Dindi: “Histórias que são minhas, e de você também...”. Apesar de tantos anos e com um domínio tão completo, você ainda se encanta e parece deslumbrada com o seu cantar. Qual o segredo? Eu nunca fiquei acostumada a nada. Aliás, tudo pra mim é tão novo, inesperado. Tudo pra mim é quente, é vivo. Para você, qual a importância da infância para a formação do ser? Você gosta de crianças? Eu gosto muito de crianças, e elas gostam muito de mim. Acho que a infância é o broto de tudo. Eu tive a felicidade de ter uma família linda, numa cidade linda, numa região linda, com uma música linda, com uma padroeira deslumbrante. Tive uma educação boa, escola pública rigorosa. Meus pais sempre se amaram muito, sempre tive muito amor. Isso era nítido, o tempo todo. E muitos irmãos, primos, sobrinhos, afilhados. Acho que a infância ajuda a construir a pessoa.
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Carolina Menezes
Dudu Maroja
“Aquime sinto filho daterra” C
onhecido em todo o Brasil como um jurista extremamente talentoso, o advogado Zeno Veloso, ao falar da cidade onde nasceu, sai de trás de todos os seus títulos, reconhecimentos e honrarias e se desmancha de amores pela cidade que admite, como um filho fiel, nunca ter querido trocar por outra. Feliz por estar às vésperas de celebrar o quarto centenário de Belém, ele não nega que, mais do que festejar, deseja ver a comemoração da data fechada como sendo um ponto de partida para um projeto, um trabalho que preze pela melhoria de condições de vida daqueles que vivem nas periferias e só de longe observam o lado bom da capital paraense. Admirador confesso de qualquer gestor que se ofereça a assumir a árdua missão de ser prefeito de Belém, Veloso atenta que o trabalho necessário para que a cidade caminhe para dias e condições melhores para todos, e não só para uma ou outra camada social mais privilegiada, independe de uma única gestão ou mesmo de uma única esfera de poder. “Se esse centenário já pudesse representar uma decisão rumo a um planejamento estratégico nesse sentido, de manter e melhorar o que já existe de bom e partir para a melhoria das condições de vida em termos de educação, cultura, segurança para quem mais precisa, esse seria o grande efeito dos 400 anos”, aposta ele, que garante ser até hoje um apaixonado por onde mora. “Sou daqui e me sinto feliz por isso... e mais feliz ainda ser filho de uma cidade que está pres-
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tes a receber o júbilo e felicidade desse momento tão importante”. Confira a entrevista: Belém chega aos 400 anos em 2016. O que você espera dessa ocasião? Fico muito alegre em saber que alguém acha que eu posso dar opinião sobre esse assunto...! Para começar, acho que quem tem de esperar não somos nós, é Belém. Nós somos os que devemos homenagear e tudo fazer para melhorar a vida de nossa cidade, que talvez seja a mais importante de toda a Linha do Equador - conheço muitas nessa faixa e Belém é uma das primeiras, se não “A” primeira. Sinto, no entanto, que falta muito para a Belém desses 400 anos o espírito de amor à cidade. Nós somos, até pelo nome, conterrâneos de Jesus Cristo [segundo o Evangelho de Lucas, terceiro dos quatro evangelhos canônicos que compõem o Novo Testamento, coleção de livros que formam a segunda parte da Bíblia cristã, Belém era uma pequena cidade do sul da Judeia e foi lá que Maria e José encontraram abrigo num estábulo para o nascimento de seu filho Jesus]. Assim eu me apresento, às vezes, em outros estados, quando faço palestras e todo mundo entende e aplaude e gosta quando alguém se apresenta assim. De um modo geral, a nossa cidade carece de sentimentos positivos por ela e por causa dela. Então, além de parabenizar, festejar, afinal, é uma data fechada, outra data dessas só em cem anos, quando Belém fizer o seu 500 o »»»
Em sentido horário: acima, a Praça do Relógio, no Ver-O-Peso. O Forte do Presépio, onde nasceu Belém. Ao lado, o jurista Zeno Veloso, confessadamente apaixonado pela cidade onde vive.
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aniversário - quando esses todos que estão aqui falando sobre os 400 anos não estarão mais vivos, salvo algum matusalém, ou alguma exceção excepcionalíssima... Independente de ser a aniversariante do momento, o que merece parabéns em Belém, em qualquer época? Não há, no Planeta Terra, e eu conheço um número grande de cidades, nenhum lugar que receba tão bem quem é de fora quanto o povo de Belém. Se alguma crítica eu pudesse fazer, eu diria que gostaria de ver o povo de Belém tratar tão bem o seu vizinho como ele trata o “estrangeiro”, o que chega de fora. Quem chega de fora se torna dono, se torna rei, rainha, pelo espírito do povo. E não é por diminuição ou complexo, é o espírito de amizade mesmo, do prazer de receber quem vem de fora, por isso Belém e o povo de Belém são, no mundo inteiro, enaltecidos e eu acho que deve continuar assim. Por que a gente também não faz isso com os nossos? Com aqueles que já conhecemos desde que nascemos? O sentimento deveria ser o mesmo, o regozijo, a felicidade, a ação, o prazer, o espírito de solidariedade devia ser também para quem convive com a gente desde o nascimento. Mas não. O tratamento de rei cabe a quem é de fora. Essa é a verdade e todos acham e dizem isso. Nesses 400 anos devemos, em primeiro lugar, estar felizes, agradecermos por estar numa cidade em meio a essa data fechada e tão marcante, de significado extraordinário. Seria esse centenário mais importante que os anteriores? Afinal, é o centenário do século 21... Até por causa das comunicações, das transformações. Eu, por exemplo, nas minhas leituras, não conheço grandes festejos ou significados nos 300 anos, não ficou muito para os pósteros, para as gerações consequentes. Pode ter acontecido, mas eu não tenho conhecimento, talvez até mesmo por ignorância da minha parte... Nós devemos marcar esses 400 anos de maneira muito positiva porque eles trazem consigo um significado muito mais especial. É a época da globalização e facilidade de comunicações, o mundo precisa saber que, no Norte do Brasil, nessa Amazônia, nesse país das águas, nessa nação dos grandes rios, uma determinada cidade está completando 400 anos [a entrevista é rapidamente interrompida pelo celular do entrevistado, que ecoa em alto e bom som o refrão de “All You Need Is Love”, dos Beatles, como se fosse um reforço ao que ele próprio falaria durante a entrevista...]... Além do mais, é o nosso centenário, se a gente estiver vivo, afinal, ainda faltam dois anos para chegarmos lá! Serão outras ge-
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rações no próximo centenário! Não é festa só para quem é de Belém, mas para quem está aqui. Quem tem de ser parabenizada é a população de Belém, claro. Devemos tratar com amor, carinho, respeito, admiração, gratidão e tudo o mais que a nossa cidade merece que sintamos por ela. Belém é fantástica, maravilhosa... (agora em um tom levemente irônico) Fico até com pena desses turistas que entram em ônibus às vezes com umas cem pessoas para sair visitando um monte de cidades, por dois, três dias cada lugar e voltam fazendo relatórios da vida de outros países, do modo de viver das pessoas, como se desse pra passar três dias em Frankfurt, Paris, pra não falar na China, e dizer como é ou não é e voltar enaltecendo esses lugares estrangeiros, geralmente em detrimento da sua cidade...! E esses comentários desses turistas “de última hora” vêm carregados geralmente de grande alegria pela realização das viagens, ao mesmo tempo em que geram pareceres negativos à cidade onde vivem. Só quem nunca saiu ou pouco saiu de Belém é que não vê a beleza que tem a nossa cidade, a alegria que é, a beleza do clima, a solidariedade do povo. Estou falando da parte positiva, mas vou falar depois de alguns aspectos negativos... Então falta um apreço maior à cidade vindo de quem mora nela? Não é uma crítica tão generalizada, mas dou falta desse sentimento, assim como também acontece em outros lugares. Já houve esse apreço maior, essa “fase”, digamos assim? Não, acho que nunca houve. O orgulho era de uma minoria. Acho que, na época do auge da borracha, quando tínhamos aqui uma das principais cidades, do ponto de vista econômico, até do mundo inteiro... A história conta que aqui havia grupos empresariais, peças de teatro, música, grupos internacionais que se dirigiam para cá antes de se dirigir ao resto do país porque aqui existia um núcleo cultural, resultado de uma fase de opulência. Isso, naturalmente, acabou, passou, mas não nos impede de representar esse tempo por termos recebido efeitos e obras desse tempo e que perduram até hoje. Mas eu nunca notei, como vivente, esse orgulho, essa alegria autêntica de ser nascido em Belém. Ao contrário. A gente vê muita crítica, muitos comentários desairosos. Não sei se é assim por um complexo de inferioridade... E sempre tem a turma que não vê a hora de sair de Belém, né? Isso é conversa. A gente vê é muita gente voltando. “Olha, o fulano voltou”, “Quem foi? Ah, mas fulano queria tanto ir embora, »»»
O cenário da Estação das Docas é um dos mais emblemáticos na capital paraense
fica pra lá!” Cadê o seu sucesso? Você é um dos maiores médicos de São Paulo, ou dos maiores advogados do Rio de Janeiro, ou grande industrial ou comerciante de grande valor no Rio Grande do Sul ou no Paraná? Não, o que se vê é muita gente voltando... mas tudo bem. Isso é da vida, um vai ou outra volta. Mas eu queria muito fixar nesse ponto, de que Belém merece mais amor dos seus filhos. Belém justifica que seus filhos sintam mais orgulho dessa cidade. Talvez eu pense assim por eu ter morado muitos anos da minha vida fora... Onde o senhor morou e por que voltou? Fui estudante, inclusive interno, em Nova Friburgo (RJ), na Fundação Getúlio Vargas, onde havia um Colégio Modelo, era um dos melhores naquele tempo, e, com isso, sempre estava no Rio. Sou uma pessoa que se criou praticamente na serra, em Friburgo, e em Copacabana, e foi o período mais importante da nossa vida, que seria a fase de adolescência, juventude, que eu passei lá. Talvez, por isso, eu tenha o sentimento do que é “coisa fora”. Depois como professor, viajando sempre, antes não passava uma semana sem estar em algum lugar que não Belém, hoje eu estou diminuindo isso, mas não passo uma quinzena em qualquer lugar. E o que eu noto em muitos lugares, nas cidades aqui do Nordeste, por exemplo, é o orgulho que as pessoas têm em mostrar a cidade, e vão mostrando o lado positivo, enaltecendo o que é bom e etc. Esse sentimento é
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que eu não sinto em Belém. Pode ser que eu esteja enganado, que exista isso e eu não perceba, mas acho que não. Participo de muitas conversas e logo como primeira observação, ou como uma das primeiras observações, que gostaria de fazer sobre os 400 anos é a gente se sentir agraciado com isso. Não se trata de uma coisa só formal. Vamos parabenizar a cidade de Belém fundada por [Francisco Caldeira] Castelo Branco, ah, muito bem, parabéns para você, e tem aquele bolo enorme, que aliás, eu acho de um extremo mau gosto. Se eu fosse prefeito, eu cancelava (risos)! Mas é gosto, né, ninguém vai discutir gosto! E faz sucesso! Ah, sim, muito sucesso! Tradição é tradição, né. Sou contra, absolutamente contra as touradas, mas reconheço que o povo de Madrid [capital da Espanha] acha que aquilo faz parte da vida deles, mal comparando ou bem comparando. Belém receberá parabéns, mas é o povo quem está de parabéns, por ter o privilégio, a alegria, a vantagem, o benefício de ter nascido ou de viver nessa cidade - o que é a mesmíssima coisa. Eu comparo esse apreço que tem Belém e o povo de Belém com os que chegam e aqui se instalam e passam a viver como a questão que hoje está se discutindo em Direito: a filiação biológica e a filiação sócio-afetiva. O Direito tende hoje a igualar essas situações, é meu filho porque eu fiz, do ponto de vista biológico, é filho das minhas entranhas, e o
Ingreja de Santo Alexandre, localizada no Complexo Feliz Lusitânia, coração de Belém.
outro é filho o que eu criei, o que eu amei, o que eu encaminhei, o que eu corrigi, é filho do meu coração, do meu sentimento, esses dois filhos, a tendência hoje, irreversível, do Direito Brasileiro, é que esses dois sejam filhos no mesmo sentido, mesma dignidade, mesma altura e isso faz Belém, já comparando com os que aqui chegam. Ela os adota. Belém é uma grande mãe adotiva, que recebe, acaricia, até alguns que nem mereciam tanto apreço, mas ela a todos, como filhos em geral, os adota e recebe e dá benefícios etc. É o seu caso a filiação biológica ou adotiva? Nasci filho biológico, mas ela me adotou também. A verdadeira maternidade é uma adoção. O verdadeiro pai não é só dono do espermatozoide, é o que adotou aquele filho no melhor sentido do amor, do apreço, da consideração. O verdadeiro pai é o pai adotivo, digamos assim, ainda que seja biológico também. Mas é mais pai porque adotou, aceitou, encaminhou, ama, respeita. A palavra chave é afeto. O afeto, no Direito de Família, é o assunto do dia. Mas voltando, Belém é uma cidade importante, grande, em população, grande como potencial econômico, o que precisa mais é a gente trazer para nós mesmos essa riqueza, mas aí já é um problema nacional. O grande imperialismo aqui hoje, no Pará e na Amazônia, não é o imperialismo do chinês, do português, do americano, estou apenas citando, é o imperialismo dos brasileiros - e essa é uma crítica que se faz já não de hoje, espero que isso mude. Nesses 400
anos, ao homenagear Belém, devemos nos sentir homenageados. Uma crítica que faço é esse sentimento do paraense, que é de Belém e que aqui está, em não sentir, pelo menos eu noto isso, tanto prazer, orgulho, satisfação, alegria em ser daqui e, em alguns momentos, de se dar ao direito de falar mal da sua terra, da sua cidade. Isso me lembra muito algum marido que fala mal da sua própria mulher. A gente está numa roda e o cara começa a falar mal da mulher dele mesmo. E você olha ‘praquele’ calhorda e pensa “mas meu Deus, o que esse cara tem na cabeça? Não dava para ele guardar essa maledicência pra ele mesmo, ou se divorciar?” Porque se ele acha que ela, a esposa, a cidade, é tão ruim, deve ter gente de olho nela. E aí quando aparece alguém que dá o apreço merecido, ele fica zangado, quer tirar, quer matar... Bom, eu tenho muito medo dessas pessoas. Como o cara que vai embora de Belém e quando chega o Círio de Nazaré vem falar, já com sotaque ‘estrangeiro’, dos outros, que está com saudade. Mas há o lado positivo também. Estou falando de algumas pessoas que são assim, mas há muitas pessoas que também não são. O senhor destacaria alguém que, em algum momento da história, ajudou, de alguma forma, a reforçar esse sentimento de amor pela cidade? Quero destacar, nesse período da minha vida, o governo de uma pessoa, que se não fosse viva, eu não citaria, porque tenho horror de puxar saco ou de depender de Governo, graças a Deus, eu não tenho
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esse tipo de sentimento, graças a Deus. Mas queria destacar a figura do Dr. Almir Gabriel [ex-governador do Estado do Pará, falecido em 2013], do médico. É só a gente lembrar algumas coisas que ele fez aqui [enquanto governador]: a Estação das Docas. As Onze Janelas, Forte do Castelo. A reforma inteira do Museu de Arte Sacra, aquilo é uma obra de arte. A Casa do Governador, são seis ou sete obras das mais importantes. Uma vez eu comentei isso e alguém disse “ah, mas ele não fez nenhuma”, e eu disse “Mentira”. Uma ou duas ele mesmo fez, não fez como obra física, porque a obra natural já existia, e nas outras houve reforma substancial, mas não dá para comparar o que era Estação das Docas antes e depois, nem havia, era só uma coisa abandonada, fechada, uma ratoeira pode-se dizer. Então, eu faço a seguinte comparação. Imagine se no próximo Círio de Nazaré, santo Círio, que tivermos, e virão muitos amigos, parentes. Imagine pra onde você levaria esse amigo e esse parente se não tivesse esses lugares... Estação das Docas é quase sempre o primeiro lugar a levar quem vem de fora... É porque é inusitado, é uma maravilha! Pôr-do-sol ali... É um lugar que, quando se está almoçando, hora em que a vista é mais aberta para as águas, onde é que você almoça com esse entorno maravilhoso e tipicamente amazônico? Então, até essa fase que estou falando, eu tenho grande orgulho em ter nascido aqui e ser filho daqui. Orgulho em ser inte- »»»
O pôr-do-Sol é uma atração a parte aos que decidem visitar Belém.
grante de uma sociedade, de uma comunidade que recebe com tanto apreço e amizade, carinho, os que vêm aqui tentar a vida. Não recebe com carinho só o que é de fora, o rico é recebido bem em todo o canto pelo poder do dinheiro. Eu me refiro à solidariedade de Belém àqueles que chegam com uma mão na frente e outra atrás. E muitos tiveram grandes vitórias. Sem citar nomes, na minha cabeça, eu sei de quatro, cinco, seis que são empresários hoje, mas que vieram sem nada. Sem absolutamente nada e que, se fizeram aqui, que são vitoriosos e que até respeitam a cidade nesse sentido. Não são ingratos, esses que eu conheço, amigos que tenho. Volto a lembrar que, de certa forma, Belém é uma cidade que está esquecendo de fazer homenagens aos seus grandes benfeitores. Um deles chama-se Juscelino Kubitschek [1902-1976, ex-presidente da República]. Foi ele quem uniu Belém ao mundo com a [rodovia] Belém-Brasília. Foi uma revolução tamanha na época, não viam necessidade, já que Belém era ligada ao resto do planeta pelos mares ou por avião. Jânio Quadros [1917-1992, ex-presidente da República] chegou a dizer que a BB era uma estrada para onças, que só as onças andariam ali. Pois está aí a estrada, sem contar a civilização que existe em volta, sem contar com a própria Brasília ao final. O Pará e Belém devem muito a Kubitschek e nunca daqui ele teve uma homenagem, logo aqui, uma terra que dá tanta homenagem, pendura no peito de tanta gente tanta medalha...
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A Prefeitura de Belém possui um plano de ações denominado justamente de “Belém 400 Anos” que pretende preparar a capital paraense para mais um centenário. O senhor teria sugestões a fazer a essa preparação? Soube que o prefeito, ou que a prefeitura, para ser impessoal, nomeou uma comissão, acho que mereciam mais divulgação os trabalhos e as reuniões desse grupo, o que decidiram até agora, o que há de planejado até agora... ou é ignorância da minha parte, pode ser que eu esteja desinformado, mas eu não tenho conhecimento sobre isso, não vejo muita publicidade disso. Onde reúne, quem reúne, se recebe opiniões de todo mundo. Porque hoje, com a integração proporcionada pela internet, acabou essa história de reunião aqui ou ali que não se sabe onde ou o que acontece. Põe nas redes sociais e muitos vão comentar. Diga o que está acontecendo lá dentro e o que querem que o povo diga ou ache disso. Vão receber muita coisa, talvez nem tudo seja de grande interesse, mas haverá boas sugestões pelo meio. Belém é uma grande cidade e, por isso, claro, apresenta grandes problemas, em especial nas zonas periféricas. Parece que só aquela Belém da Belle Époque, daquele tempo, mantém o nível de desenvolvimento e de beleza. Falo isso ainda me referindo às grandes avenidas, Nazaré, Governador José Malcher, etc. Mas quando você passa daí para as baixadas e para o subúrbio o retrato é de tristeza, de pobreza extrema, de dificuldade e eu acho que uma das pessoas que mais eu ad-
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19 miro na minha vida, e pela posição que ocupa, é de um prefeito de Belém. Essa pessoa deve, ser for responsável, se for séria, se for honesta, passar por grandes e extremas dificuldades em ter e manter o bom e bonito que já existe, e cuidar de uma zona que contrasta com isso tudo de forma terrível e assustadora com palafitas, ruas mal arrumadas, falta de acostamento, falta de limpeza. Eu ando muito pelo subúrbio por conta das minhas atividades profissionais e passo por zonas não tão centrais. Um dos meus destinos é a Universidade Federal do Pará (UFPA), passando por ali pela Avenida Bernardo Sayão, vários bairros. Uma coisa terrível. A população, de um modo geral, no seu entendimento, compreende a necessidade de combate a essa diferenciação da Belém boa e da Belém ruim? A população culta e mais preparada que lê, estuda, talvez sinta melhor esse problema. Só que nós temos um núcleo populacional, que é o que vive nessa pobreza, pobreza essa que significa não só um atraso econômico, mas um atraso cultural, de acesso muito limitado à leitura, a jornais e revistas apenas... Dali são poucos os que conseguem colocar o nariz para fora desse marasmo social. E Belém é, eu tinha que apontar, depois de falar o que há de bom e magnífico, uma cidade com uma das periferias mais pobres do Brasil. Por necessidade de atender profissionalmente em alguns municípios, e também da época em que me envolvi com política, ou pela necessidade de ministrar aulas e palestras, de vez em quando
pego esses ‘aviõezinhos’ que saem do Aeroclube de Belém. Começou a voar, a primeira avenida que se vê é a Almirante Barroso, em seguida, a João Paulo II. Dois minutos depois, a gente se espanta: tudo é estreito, casas mínimas, pobres, muitas áreas alagadas... Talvez a grande mensagem desses 400 anos seja essa de levar a grande Belém também para a periferia, estender esses grandes benefícios da nossa cidade para toda a população, inclusive a mais carente. Isso é difícil, claro, não é um ato para um ano. Mas se esse centenário já pudesse representar uma decisão rumo a um planejamento estratégico nesse sentido, de manter e melhorar o que já existe de bom e partir para a melhoria das condições de vida em termos de educação, cultura, segurança para quem mais precisa... esse seria o grande efeito dos 400 anos. O senhor disse que tem admiração por quem ocupa o cargo de prefeito... Tenho mais que isso: tenho respeito e até mesmo solidariedade pelas dificuldades, que eu bem conheço, enfrentadas devido à falta de recursos diante de tantas demandas. ... Então, pergunto: será que a palavra-chave aqui não seria união? O senhor tem, no seu escritório, uma foto do presidente americano John Kennedy, e ele teve imortalizado aquele discurso do “não pergunte o que o país pode fazer por você, e sim o que você pode fazer pelo seu país”, será que o encaminhamento não seria nesse sentido por aqui? »»»
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Zeno Veloso diz que gostaria de ver, como parte da campanha pelos 400 anos da cidade, uma proposta voltada para o futuro e para a integração dessas populações marginalizadas na Grande Belém.
É mais ou menos o que eu quase estou propondo, sem que eu queira ir para o lado do muito romantismo e de sonhos e ilusões, porque não é isso que se espera de uma pessoa como eu, com a idade e experiência de vida que eu tenho, embora isso possa ser relativo: dentro dessa campanha dos 400 anos, uma proposta voltada para o futuro e para a integração dessas populações marginalizadas na Grande Belém, algo que não se faz só com política municipal, mas também com estadual e federal. Um grande jurisconsulto paraense, e de Belém, chamado Orlando Bitar, que tenho a honra de ter no meu gabinete em uma foto, falava do federalismo tridimensional, que é o brasileiro, com a União, o Estado e os municípios, sendo que soberano é só o primeiro, os demais são autônomos! Soube que a Fifa, que realizou um campeonato mundial muito bem feito aqui no Brasil há poucos dias, teve o maior trabalho por causa disso: para qualquer ato, era preciso lidar com três entidades político-administrativas! É exaustivo, e será mais ainda cuidar de Belém. Deverá equivaler à realização de 20 Copas do Mundo integrar a Belém bonita, tradicional e desenvolvida às zonas mais abandonadas, trabalho que exigirá muito de todas as frentes, e não só de uma administração municipal. E por falar no seu quadro de fotos do seu gabinete, são muitas de pessoas daqui e de outros
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lugares, de cidades e países visitados... O senhor mesmo disse que viaja muito e já viajou bem mais por causa do trabalho, sempre. O que lhe fez sempre voltar para Belém? Morar fora eu só morei no RJ mesmo. Eu sou daqui, aqui estão as minhas raízes e âncoras. Saí muito jovem e queria muito estudar Direito, então voltei e fiz vestibular, cursei a faculdade e nunca pensei em sair daqui. Sempre achei que deveria dedicar a essa cidade a minha vida, meu esforço, a minha luta, meu trabalho. Hoje, eu sou muito convidado a ministrar aulas em faculdade de fora não apenas eventualmente, como já faço, ou integrar escritórios de advocacia, mas nunca tive essa vontade. Eu me sinto aqui um homem da terra. Com meu açaízinho, meu tacacá, meus amigos. Sou daqui e me sinto feliz por isso, e mais feliz ainda ser filho de uma cidade que está prestes a receber o júbilo e felicidade desse momento tão importante. Controvérsias à parte, se o senhor tivesse a chance de soprar uma vela do bolo dos 400 anos, ao fechar os olhos, o que desejaria? Que Jesus ajudasse os administradores a cuidar um pouco melhor, com uma mais efetiva atuação da terra dele. Porque, como eu disse, nós somos, e eu espero que eu seja bem compreendido com o que quero dizer, conterrâneos de Jesus Cristo. Qual outro lugar proporciona dizer
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“ele nasceu em Belém e eu também”? Então, no momento de soprar a velinha e comer um pedaço daquele bolo enorme e quilométrico, que me disseram que é gostoso, e eu acredito, eu gostaria de pedir a Jesus Cristo que ajudasse o povo de Belém globalmente, não apenas as camadas especiais e mais favorecidas, a ter um caminho rápido e célere para o desenvolvimento, para o progresso, para a felicidade. Uma oração no lugar de um pedido.
especial artes
O artista plĂĄstico Jorge Eiro e o consultor de mercado Marcelo MagalhĂŁes deciditam investir no potencial do segmento em BelĂŠm e, juntos, conduzem a Boaventura.
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Tammy Assunção
Dudu Maroja
Arte bom negócio é
O aquecido mercado de Belém é alternativa promissora para quem deseja investir em obras de Arte
A
rte e negócios se misturam? Há quem diga que sim, por ser a arte uma forma diferenciada e genuína de “ganhar a vida”. Outros, por alguma crença ou até mesmo certo preconceito, ainda se resguardam num distanciamento entre os dois termos. Após um período de grande movimentação e produção cultural nos anos 80, Belém viveu um certo ostracismo que carregava consigo a fragmentação e a pouca articulação do mercado da Arte. Mesmo com uma intensa e contínua produção [além do sucesso dos artistas país afora], a divulgação das obras ficava restrita a espaços nem sempre tão acessíveis e atraentes à população em geral. Há pelo menos 10 anos, felizmente, o mercado da arte na cidade passa por mudanças significativas: novas oportunidades; novos artistas, que dividem espaço com nomes consagrados; novos espaços são criados, contribuindo fundamentalmente para a democratização e acesso, além de expandir possibilidades de investimentos. O resultado é refletido em novas galerias, na inovação de jovens artistas que ganham repercussão nacional [e até internacional] e, principalmente, no público
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que se reaproxima, aos poucos, da arte genuinamente paraense. Quem entende do assunto e investe na área afirma que a capital paraense tem potencial para ser um dos melhores mercados de arte do país. O advogado e filósofo Otávio Avertano Rocha é um desses exemplos de investidores. Estudioso das artes. Despertou aos 18 anos para esse universo, estudou e teve em sua coleção mais de 250 obras de artistas paraenses, como Dina Oliveira. Para o advogado, esse é um mercado que precisa ter, antes de qualquer visão empresarial, uma função educacional. Só assim ganhará força e se constituirá, de maneira sólida, a médio e longo prazo. “É interessante que se faça um resgate histórico da vida artística da cidade. O conhecimento artístico, estético, precisa sair das academias e ser levado para as ruas, para as escolas. É uma pena que muitos não se deem conta da importância da arte feita no Pará. E se você conseguir juntar o artista ao povo, suas possibilidades de negócios certamente serão excelentes”, enfatiza. Mesmo com mais de 100 obras de artistas plásticos e fotógrafos como P.P Condurú, Antar Rohit e Miguel Chikaoka espalhadas pela casa, Celso Elu- »»»
Acima, à esquerda, o advogado Otávio Avertano Rocha, que já chegou a ter 250 obras. Ao lado, Jorge Eiró e Marcelo Magalhães. Abaixo, o empresário Celso Eluan que, embora contabilize mais de 100 obras em casa, não se define como colecionar.
an não se intitula colecionador. E nem gosta que o façam como tal. Há 25 anos lidando com vendas, o empresário, que se diz apenas um “admirador” de inúmeros artistas paraenses, começou a investir em arte ainda na década de 80. Adquirindo obras para o acervo pessoal ou para presentear familiares, Celso fez amigos e sempre esteve próximo dos meios de grande efervescência cultural de Belém. A proximidade e as amizades o ajudaram a enxergar na arte uma boa oportunidade de negócios. Tanto que, hoje, para ele, arte e mercado são itens indissociáveis. Incentivador de projetos e ações culturais na cidade, Eluan acredita que é importante colocar o mercado em debate para que surjam boas oportunidades de investimento. “Provocar a discussão é necessário. Fazer pesquisas, levantamentos... Há que se criar novos projetos. A arte tem que ser interessante para que possa atrair investimentos.”, afirma. A saída para que se consiga estabelecer um mercado, de acordo com Celso, é popularizar as obras e, para isso, será necessário modificar hábitos da população, principalmente no que diz respeito a “consumir Arte”. “A busca pela obra, o interesse pela Arte, pode ser despertado por meio da multiplicação dela. E, para que isso aconteça, tem de se criar mecanismos que a tornem acessível e atraente ao público. Cultivar um bom hábito de consumir a Arte, tornando-a mais próxima da
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população e aproveitando o momento do mercado requer muitas ações coordenadas e, acima de tudo, paciência e persistência”, lembra. Negociar com a arte Foi do pensamento de criar oportunidades, fomentar a circulação e o consumo da Arte na capital e aproveitando um momento de franca expansão do mercado, que nasceu a Boaventura Cultura & Negócios. Concebida a partir da experiência de mais de 30 anos de carreira do artista plástico Jorge Eiró e do conhecimento de mais de 10 anos do consultor e pesquisador de mercado, Marcelo Magalhães, a Boaventura se constrói como um espaço de articulação e debate para traçar os rumos da movimentação artística e como os “frutos” dessa produção de arte podem se transformar em produtos, cultural e financeiramente rentáveis. A ideia, que nasceu durante a SP Arte no ano de 2012, começou com um bate-papo despretensioso. Entre um café e outro, o desafio foi lançado: como planejar e expandir um mercado de arte de destaque na capital paraense? Com caminhos diferentes e pensamentos afinados, de volta à Belém, era a hora dos amigos transformarem a curiosidade e a “provocação” em trabalho. Não sendo apenas uma galeria de arte ou uma promotora de eventos na área, Eiró e Magalhães decidiram, no começo deste ano, reunir alguns dos mais importantes artistas, galeristas, colecio-
nadores, empresários, gestores culturais e interessados em investir nesse segmento para conhecer as trajetórias, as necessidades e ouvir propostas de mudanças para esse cenário. Na sala aconchegante e cheia de histórias – muitas delas retratadas em quadros -, oito encontros foram realizados. Das “Conversas na Boa”, feitas naquele clima de happy hour entre amigos, surgiram informações e possibilidades estratégicas que foram determinantes na construção de um mapeamento do mercado. Esse levantamento ajudou a compreender melhor as “engrenagens” do mercado e foi determinante para pensar as próximas ações de incentivo à arte. O chamado “mapa do mercado da arte em Belém” foi apresentado ao público paraense neste mês. Segundo Jorge Eiró, esse é o momento certo para a arte levar conhecimento à população, realinhando a criatividade ao empreendedorismo. “A principal vontade da Boaventura é aproximar
a aventura do ser artista com uma ideia de negócio e de mercado. O artista também pode ter um olhar empreendedor. Mas tudo começa com o despertar da formação cultural nas pessoas e Belém tem esse potencial, por toda sua história e seu patrimônio histórico”, afirma. Formar um público consumidor de arte e tornar mais atrativos os espaços artísticos da cidade são algumas das metas da Boaventura ainda para este ano. Museus, galerias e outros locais expositivos podem ser ambientes agradáveis para compreender e consumir arte. Para Marcelo Magalhães, esse tipo de investimento pode ter bom retorno e um papel social bem definido. “A Arte é o que transcende a condição humana. A obra, em si, não tem ligação com a idade do consumidor de arte. O que determina o consumo é o acesso à informação, à cultura. E acredito que existe um acervo que pode e merece ser visitado, consumido e valorizado em Belém”, enfatiza.
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Mesmo com pouco tempo de existência, a Boaventura já desenha novos passos para o futuro da arte paraense. “Investir em arte é um tipo de investimento que deve acontecer naturalmente, uma vez que a pessoa se aproxima do artista e vice-versa. E esse é o objetivo da Boaventura: aproximar e mostrar que esse é um movimento natural, que só se sustenta se for feito assim, com conhecimento e de maneira conjunta. O espaço estará de portas abertas para todos que se interessarem em movimentar esse mercado”, conclui Marcelo. Arte na essência Que a Leal Moreira sempre foi uma empresa à frente de seu tempo, não há dúvidas. Considerada pelo público uma referência em seu segmento, a Leal Moreira tem uma história de intimidade e cumplicidade com a Arte. Com quase 30 anos de mercado, a empresa inovou quando, em 2005, inaugurou o 1º Living »»»
As fotografias de JoĂŁo Carlos Moreira embelezam os halls de entrada dos inĂşmeros empreendimentos da Leal Moreira em BelĂŠm.
Escultura do artista Francisco Del-tetto, que compôe o jardim de entrada do Torre de Molina.
Leal Moreira, “uma mostra de Arquitetura e Arte, que tinha, como um de seus objetivos principais ser uma fomentadora do universo artístico, aproximando admiradores e potenciais consumidores da produção artística local”, afirma André Moreira, diretor de Marketing da Leal Moreira. “À época, no período do encerramento do Living, realizamos um grande bazar; uma disputa artística. Ainda de forma tímida, mas com o pensamento de que fosse um evento beneficente, reunimos um bom número de obras, que foram colocadas à venda. O [artista plástico e ator] Antar Rohit conduziu o processo de oferta das obras e parte do valor angariado foi revertido para o Instituto Criança Vida. Todas foram vendidas”, relembra Moreira. Entre 2005 e 2007, a Leal Moreira, quando da inauguração de seus edifícios, entregou aos moradores a escultura do artista Francisco Del-tetto, que compôs os jardins de entrada. Quando do lançamento do Torre de Toledo, o artista plástico Jorge Eiró foi convidado a “interferir” artisticamente nas linhas arquitetônicas do edifício. O resultado não poderia ser outro: um empreendimento luxuoso e de design único. Uma bela obra que pode ser contemplada no hall de entrada do edifício”. Sempre há arte em um Leal Moreira. Nos halls de entrada de diversos edifícios, há fotografias de João Carlos Moreira e outros expoentes desta arte. Por ocasião do 2º Living Leal Moreira, em 2007, o público ganhou uma galeria de arte maior e os
artistas convidados receberam o delicioso desafio de intervir, colocar seus traços em peças de decoração como: portas, luminárias”. Nem só de galerias vive a Arte Os canteiros de obras da Leal Moreira são espaços de exercício da cidadania. Além do projeto que leva educação aos colaboradores da empresa, um outro programa de educação artística, em 2006, “O Obra Humana” ensinou lições de Arte para os colaboradores e seus filhos. Aos sábados, enquanto os pais trabalhavam, as crianças coloriam o cenário sob os olhares carinhosos a atentos dos artistas plásticos [e instrutores] Elieni Tenório e Alexandre Sequeira. Em 2011, após uma oficina de fotografia, os operários empunharam câmeras fotográficas digitais e produziram belas imagens. O projeto, chamado “Olhar da Obra”, ganhou destaque no espaço da construtora, dentro da primeira edição da Casa Cor Pará. Considerada a maior mostra de Arquitetura, Design e Paisagismo das Américas, em sua versão local, também contou ininterruptamente com o apoio e a participação da Leal Moreira. “Sempre acreditamos no potencial da Casa Cor Pará e, por essa razão, desde o começo nos empenhamos muito para transformar cenários, integrando arte e funcionalidade. É uma filosofia nossa: de que a beleza pode transformar o mundo para melhor”, conta André Moreira. Serviço Boaventura Cultura & Negócios Endereço: Trav. Boaventura da Silva, 1492 www.boaventura.art.br
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Carolina Menezes
Pai
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Há um dito controverso que afirma tão logo uma criança é biologicamente gerada no útero da mãe, está finalizada a maior parte do trabalho do pai. Felizmente, há belas histórias de vida e de união – que renascem quase sempre de uma situação de desunião, de separação – provando que ser pai pode ir bem além do simples “tem que participar”.
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ão é preciso ter um filho para saber que a criação, a formação de uma nova pessoa que chega ao mundo é das maiores responsabilidades que alguém pode chamar para si em toda uma vida. Não à toa, tenta-se, na medida do possível, desempenhar a dois a agridoce missão de ter e criar um descendente. Mas é aquela história: na medida do possível. Então, nem sempre às vezes dá para contar com alguém para essa missão, de modo que não é nada incomum ter um vizinho, um amigo ou um colega de trabalho que, por um motivo ou outro, foi criado por um dos pais apenas, ou que morou a maior parte do tempo só com a mãe. Ou, em menor frequência, é verdade, só com o pai. “São muito aprendizados, muitas lições e, quem sabe perceber isso, cresce muito como ser humano”, garante o publicitário e comunicólogo, Glauco Lima, de 51 anos, pai de Clarisse, 24 anos e produtora de Moda, e da Camila, 21 anos e estudante de Direito. A história desse trio não envolve exatamente a divisão de um mesmo teto, mas de uma companhia constante, mesmo após a separação dele e da mãe das duas jovens. “Foram 12 anos solteiro depois disso, então elas se tornaram o meu ‘par’ constante. Todas as minhas viagens mais longas e para os lugares mais distantes eu fiz com elas. Isso nos aproximou muito e me fez viver bem diretamente o universo de duas meninas virando mulheres”, relata. Glauco admite que a mãe de Clarisse e Camila esteve por perto o tempo todo, ajudando em momentos importantes, participando, principalmente, “naquelas” questões femininas, como médicos, roupas e assuntos de estética. “As situações mais
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estranhas são aquelas ligadas aos cuidados femininos, como salão de beleza, manicure, cabelos, depilação, esses assuntos que um homem com duas filhas e sem a presença mais intensa da mãe acaba aprendendo. Mesmo sem nunca saber direito os termos certos ou as expressões, mas sempre se assustando com os preços desse tipo de serviço!”, diverte-se. Outro detalhe curioso na relação entre o pai e as filhas é que o relacionamento entre eles se fortaleceu ainda mais quando as duas se mudaram para São Paulo e Glauco ficou em Belém. “Como eu cuidei mais da instalação delas na capital paulista, comprando apartamento, dando todo o apoio logístico e financeiro, acabei convivendo mais com elas, indo até com mais frequência para São Paulo”, detalha ele, que hoje mora na capital paulista – mas na companhia apenas da segunda esposa, enquanto as irmãs moram juntas “na casa delas”. “Vendo-as hoje, adultas, me permite fazer uma avaliação dos meus erros e acertos como pai. A gente olha para trás e lamenta não ter tido sensibilidade, maturidade e experiência em certas ocasiões para ter feito melhor, mesmo quando o melhor fosse dizer um ‘não’ ou contrariar uma vontade”, analisa. “O homem tem que saber unir a preocupação entre correr atrás de grana para dar o melhor para os filhos e a sabedoria para se desligar de tudo e ficar abraçado com eles sem fazer nada, ou fazendo faxina, arrumando bagulhos, passeando num parque numa tarde fria, esses são tijolos tão valiosos nessa construção humana, que podem ser comparados aos tesouros mais perseguidos pela humanidade”, recomenda. “O mais bacana da relação com as filhas é que as »»»
coisas não são transmitidas em falas, discursos ou pregações. Os legados são frutos dos exemplos, das práticas, do exercício diário, quando você, sem perceber, acaba passando elementos que são absorvidos por elas. Um exemplo bem básico disso é o gosto musical. Por mais que suas filhas não pareçam curtir as músicas que você ouve, depois que crescem, aquelas canções ficam na alma delas, e volta e meia surgem nas mais diversas situações de vida. É um microexemplo, mas dá uma dimensão da sinergia cósmica que existe entre pai e filhas”, afirma Glauco. Na casa do funcionário público, Alex Barros, de 36 anos, as coisas são um pouquinho mais “esquematizadas”, digamos assim. Uma série de fatores fez com que ele e a mãe do casal Maria Eduarda e Lucas, de onze e dez anos, respectivamente, acordassem de as crianças passarem a semana com ele e o final de semana com ela. Tudo muito “numa boa”. “Desde muito pequenos, meus filhos passaram a ter essa rotina, então eles se habituaram. Evidentemente que, na condição de filhos de pais separados, atribulações foram e são vividas por conta dessa situação, mas tentamos minimizá-las com diálogo franco, carinho e amor, muito amor, como deve ser a base de toda relação, independente de qual seja”, explica. Ser pai “integralmente” e sozinho por cinco dias todas as semanas nunca assustou Alex, ou mesmo foi encarado como problema. Ainda que
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com todos os percalços do dia a dia. “Jamais! Sempre sonhei em ser pai e nutro pelos meus filhos um amor incondicional. Eu seria leviano em dizer que é um ‘mar de rosas’ vivenciar essa situação diariamente. Criar filhos requer imensa dedicação e responsabilidade e, ao adquiri-las, faz-se necessário abdicar de muitas coisas pessoais”, confirma. “Fácil, realmente não é, mas é recompensador”. Alex diz que já está acostumado a ser alvo de arguição toda vez que alguém fica sabendo da rotina que leva com os filhos. “Posso citar como ocorrência memorável todas as vezes em que fui felicitado e homenageado por meus familiares e amigos nos dias das mães, chamando-me de ‘pãe’, em reconhecimento ao meu esforço e dedicação como pai!”, recorda. “A experiência da paternidade foi, sem dúvida, o momento mais importante e emocionante de minha vida e, por si só, já provoca (ou deveria provocar) em qualquer homem uma mudança de direcionamento em sua vida. “Foi vital para meu amadurecimento como ser humano. Tornei-me mais tolerante, sensível e, principalmente, mais responsável. Na verdade, a paternidade fez com que eu me reinventasse, me reciclasse, como se eu literalmente renascesse, não somente como homem, mas por ver, naqueles pequenos seres que eu ajudei a gerar, um pedaço de mim ganhando vida. Como diz a canção do Hyldon, ‘de duas vidas, uma se fez, e eu me senti nascendo outra vez’”, declara-se.
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O futebol do
país Senhor, muito obrigado, estou livre! Eu posso seguir em frente, eu sou capaz e não ficarei preso a essa vergonha. Tenho um futuro brilhante, possso sentir: verei minhas filhas crescer, nadarei em águas tranquilas, envelhecerei ao lado da mullher que amo, não pensarei em nada que possa me turvar a mente. Serei forte, superarei todos os traumas do passado, seguirei os 12 passos do TA (Torcedores Anônimos) e, enfim, serei outra pessoa. Quando encontrar um argentino, nem vou me importar se ele rir, apontar pra mim e ficar gritando:
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Celso Eluan empresário celsoeluan@ig.com.br
macaquito, macaquito, macaquito! Sou outro homem, capaz de superar provocações de espíritos inferiores. Afinal, foi só um apagão, nada que vá mudar minha vida. Tenho em conta, Senhor, que sete menos um é seis, o número da Besta, então isso foi coisa do Demômio, do Inominável. Não vou cair em tentação, não deixarei que ele me provoque. Isso é só um esporte, um jogo, alguém sempre vai perder pra que outros ganhem. O país continuará o mesmo, vamos seguir nosso destino de Gigante Adormecido, de País do Futuro (até por isso não podia ser agora). Penso em quanto eu estava entorpecido. Cheguei a consultar o cardiologista pra saber como colocar o coração na chuteira. Eu achava que bastava isso, treinar, estudar, trabalhar, nada disso importava se o coração falava mais forte. Cheguei a perder a paciência com minha mulher quando no meio do jogo reclamava do Fred e ela replicava: - Por que tanta raiva? Ele não fez nada. Hoje, peço desculpas a ela, vejo que tinha total razão e me puno pela minha insensibilidade. Percebi também que fui muito intolerante com o Felipão, até o pessoal do funk sabia que ele tinha um esquema tático bem definido: bola pro Neymar é gol! Então, não foi culpa dele se aquele colombiano insensível e insensato detonou a coluna do nosso Camisa 10. Ah, cantar o hino à capela, quanta emoção! Nós que inventamos isso em Belém e o Brasil inteiro copiou, um produto genuinamente Made in Pará. Agora vejo que isso foi apenas euforia provocada pelo vício, eu estava viciado senhor. Estou curado, tenho certeza que o caminho agora é fazer como a Alemanha, ressurgir do fundo do poço, trabalhar, treinar, preparar, mudar esquemas viciados, acabar com a corrupção, cuidar dos nossos clubes, mudar a mentalidade dos dirigentes, preparar o futuro. Claro, também trocar de técnico. Sai Felipão, entra... Dunga. Acho que vou ter uma recaída.
especial cafĂŠ
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Fábio Nóvoa
Dudu Maroja
Vai café? um
Doce, amargo, com leite, espresso, misturado com outras bebidas. Não é a toa que o Café é a segunda bebida mais consumida no mundo, só perdendo para a água. Afinal, o produto faz parte do cotidiano de todos e é praticamente impossível pensar em passar um dia sem saborear um bom cafezinho.
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advogado e servidor público Breno Peck Mello, 31 anos, por exemplo, transformou o hábito diário de tomar café em um pequeno ritual. “É como minha cerimônia do chá. O fazer café é um momento só meu, pra botar as ideias em ordem, preparar a cabeça pro dia, pra relaxar após o trabalho ou pra simplesmente não pensar em nada”, afirma. Ele cita ainda como funciona essa “cerimônia”. “É o ato de moer o café, aquecer a xícara com vapor, cheirar o aroma, prensar o pó; ou de vigiar a água pra não ferver além de pequenas bolhas, misturar com garfo e apertar o êmbolo da prensa francesa; ou, ainda, de lavar o filtro de papel com água quente pra deixar o café menos amargo e despejar a água lentamente e em círculos”. Breno diz que, em casa, apesar de a família já
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gostar da bebida, ele mesmo consumia apenas corriqueiramente. “Eu tomava mais por força do hábito. Por outro lado, minha mãe é do tipo que só dorme se tomar café e meu padrasto, sangue italiano, sempre foi fã de café espresso muito antes da febre das cápsulas”, lembra. A paixão mesmo surgiu quando ele começou a estagiar e depois no primeiro emprego. “Os cafés desses trabalhos eram, pra ser bonzinho, tóxicos. Velhos, azedos, fervidos, com gosto de alumínio porque eram mexidos com colher de metal raspando na panela de água fervente”, critica, com a mesma acidez que cita o gosto do que consumia. “Mas, aquilo funcionava em me deixar alerta. Porém, a minha primeira crise de gastrite devo, em parte, a esses cafés horrorosos”. Porém, ele já tinha em casa uma cafeteira es- »»»
Tipos de Preparo A adição de água quente ao café torrado e moído, produzindo então a bebida café, é um processo chamado de infusão e pode ocorrer por filtragem, percolação, prensagem ou pressão, sendo que cada um destes produz tipos de bebidas distintas. Filtragem O pó é acondicionado em um filtro, de papel ou de pano, com adição de água quente não fervente por cima. Esse método é muito utilizado na cultura brasileira de preparo, através de coadores caseiros e cafeteiras elétricas, dando origem ao tradicional cafezinho. Percolação Método no qual se coloca o pó de café no centro de um equipamento moka, que posicionado em um fogão faz a água entrar em ebulição e pressionar café líquido para um recipiente. É a forma mais utilizada para consumo de café na Europa. Prensagem em um recipiente de vidro se coloca o pó de café misturado com água quente não fervente e, em seguida, introduz-se um filtro que é pressionado por um êmbolo que separa o pó do café já pronto para consumo. O método, que virou moda entre os norte-americanos, é conhecido como Prensa Francesa. Pressão conhecido como café espresso, no preparo o café é moído na hora e acondicionado em um filtro que sofre uma pressão de água a 90ºC e 9Kg de pressão durante 30 segundos em média, gerando uma bebida cremosa e aromática. Criado pelos franceses, o café expresso é considerado o método mais apropriado para apreciação de todas as nuances dessa bebida.
O funcionário público Breno Peck é um apaixonado por café e de tão devotado chega a levar uma “prensa francesa” para o trabalho.
presso (“falsa, porque não dava pressão suficiente”, reitera) e uma moka, aquela cafeteira chamada italiana que é uma jarra que vai pro fogão. “O carapanã do café já havia me picado. A essa altura, a minha avó – e vó, todo mundo sabe, ama café – já me pedia um café bem forte quando nos visitava”, relembra. Então, veio a febre das cápsulas e a família, rapidinho, comprou duas máquinas diferentes. “Comecei a ler manuais e as sugestões de consumo, notas aromáticas e de paladar e todos os etceteras”, garante. “Foi aí que engatamos mesmo um namoro sério: compreendi o café, passei a aceitá-lo sem açúcar; em troca, ele nunca mais me deu gastrite”. Hoje, ele guarda em casa nada menos que seis cafeteiras. “Compro pacotes de grãos e moo na hora. O cheiro toma conta da casa, é fantástico! Normalmente, faço espresso numa DeLonghi simples e, aos sábados, faço cappuccino pra minha esposa. Também tenho duas prensas francesas, uma delas portátil pra levar para o trabalho, um cone daqueles de supermercado (melhor que cafeteira elétrica) e duas cafeteiras espresso de cápsulas”, orgulha-se. O funcionário público diz que, além do diferencial do efeito estimulante, a bebida tem um cheiro único. “É maravilhoso, como o de nenhuma outra bebida no universo. Café é bom de tomar, mas simplesmente bom demais de cheirar”. O advogado opina sobre como tomar o produto. “Tomo
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café preto, puro, sem açúcar. Um café de excelente qualidade desce fácil e, mesmo sem açúcar, chega até a ser naturalmente adocicado. Mas qualidade e preço alto não andam necessariamente juntos. Há excelentes marcas no supermercado e cafés de grife em boutiques que não são lá isso tudo”, ensina. “Aliás, dica: café é pra ser tomado sem açúcar. Se for muito amargo, morda um doce antes, engula e em seguida fome um gole. O café estará automaticamente adoçado. Te pago um café se isso não funcionar”, brinca. “Café é minha cachaça. Não que o álcool não tenha sua vez, mas a paixão mesmo é pelo café, com a vantagem de ser algo socialmente aceito a qualquer hora e em qualquer lugar e não dar cadeia em blitz de trânsito”. O segredo de uma boa cafeteria Apesar de não ser um consumidor assíduo de Café, o chef de cozinha e sommelier Fabio Sicilia, sabe como aproveitar a bebida. “O que despertou meu interesse pelo café é a sua origem, que significava vinho. Eu estudava muito a bebida”, diz. Fábio afirma que, quando morou na Itália, consumia mais a bebida porque lá era mais fácil encontrar produtos que tenham os grãos misturados. “Um dos segredos está na mistura dos grãos, pra achar o ponto de equilíbrio é preciso misturá-los”. A harmonização dos grãos é chamada de Blends. Fabio afirma que um dos problemas das cafe- »»»
Dicas para obter um bom Café • Quanto melhor o café, maior é a extração e melhor o sabor da bebida. • Veja a data de fabricação do café. Café recém-torrado tem mais sabor. • O café moído se deteriora facilmente em função do ar, da umidade, do calor, do tempo e do contato com odores estranhos. Por isso ele deve ficar acondicionado sempre distante desses riscos. Guarde o café não utilizado em um recipiente com boa vedação, na geladeira. • A água utilizada deve ser pura e limpa. Utilize sempre água filtrada ou mineral na preparação do café. • Prepare somente a quantidade de bebida que vai ser consumida imediatamente ou, no máximo, durante a hora seguinte. • Use a medida correta. Utilize de 80 a 100 gramas de pó (aproximadamente 5 a 6 colheres de sopa) para 1 litro de água. Se a bebida resultar sem sabor, aumente a quantidade de café. Se ela ficar amarga, áspera ou desagradável, diminua o tempo de contato da água com o café, diminuindo a quantidade do pó. • A água utilizada deve ser apenas aquecida - não pode ferver, pois a perda de oxigênio altera a acidez do café. A temperatura ideal de preparo é próxima dos 90ºC.
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O Consumo Nacional • O Brasil é o segundo maior mercado consumidor de café do mundo. Em 2013, de acordo com a ABIC, o consumo interno ficou em 20,08 milhões de sacas. • Os maiores consumidores mundiais são os Estados Unidos, com uma média anual entre 21-23 milhões de sacas/ano. • Na avaliação da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), as vendas do setor em 2013 devem ter atingido R$ 7,3 bilhões. • O consumo per capita em 2013 foi de 4,87 kg café torrado/habitante-ano (6,09 kg de café verde/ habitante-ano) • O número de máquinas de café expresso domésticas ultrapassam 850 mil unidades, conforme levantado pela Kantar Worldpanel em final de 2012. E os novos tipos de equipamentos para preparação de cafés filtrados, em sachês, por exemplo, ultrapassam as 300.000 unidades. • O consumo de café se dá majoritariamente na classe C (53%), embora todas as classes sociais consumam o produto. • O tipo de café mais consumido é o coado, servido no lar durante o desjejum, em 35% dos casos, enquanto o café expresso é a preferência nas demais ocasiões. • O café ganha cada vez mais espaço nos canais de distribuição fora do lar, como as cafeterias, os restaurantes, hotéis e lojas de conveniência, além das panificadoras, que são em mais de 60.000 no país. • O segmento de cafés finos e diferenciados, embora represente a menor parte do consumo, continua apresentando taxas de crescimento de 15% a 20% ao ano.
Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Café
terias de Belém é guardar o produto exposto por muito tempo, devido à umidade relativa do ar. “O café delicioso é moído na hora, esse é o segredo”. Ele diz que o cliente pode observar a qualidade do produto nas próprias máquinas de café espresso. “Quando o líquido cai, deve fazer uma forma de S. Os bicos das cafeteiras de qualidade é ‘tortinho’, por isso, quando ele cai, a cremosidade permite que ele faça a curvinha de S. A consistência é importante também se o aroma está integro. Muitas vezes, se não sentimos o cheiro, o grão não é de qualidade, teve uma torrefação ruim, tem alguma falha no processo”, ensina. O chef considera que um bom café deve ter mistura de 50% arábica e 50% robusta. “O mais importante: tome café no lugar onde você sinta o cheiro de café saindo do lugar”, complementa. Uma bebida apoiada em lendas Não há evidências reais sobre a descoberta do café, por isso, o produto é cercado de lendas. Uma das mais aceitas e divulgadas é a do pastor Kaldi, que viveu na Absínia [hoje Etiópia], há cerca de mil anos. Ela conta que Kaldi, observando suas cabras, notou que elas ficavam mais saltitantes ao comer um fruto de coloração amarelo-avermelhada dos arbustos existentes em alguns campos de pastoreio. O pastor contou a um monge da região sobre a cena e ele decidiu experimentar o poder dos frutos. O monge apanhou um pouco das frutas e levou consigo até o monastério e percebeu que este, após ferver, ajudava-o a resistir ao sono enquanto orava e a notícia se espalhou rapidamente. Da Etiópia, o fruto foi propagado pela Arábia. O nome café veio da palavra arábica “qahwa”, que significa “Vinho”. Por esse motivo, o café era conhecido como “vinho da Arábia” quando chegou à »»»
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O chef e sommelier Fabio Sicilia é um estudioso do café e afirma que consistência e aroma devem permanecer íntegros.
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O primeiro registro que se tem do plantio de café no Brasil, curiosamente, foi no Pará, em 1727.
O Café pelo Mundo Europa no século XIV. Somente no século XVI, na Pérsia, os primeiros grãos de café foram torrados para se transformar na bebida que hoje conhecemos. A partir do século 17, o café começou a ser consumido na Europa. Os holandeses foram os primeiros a criar uma produção maior do fruto no continente. Pelas mãos dos colonizadores europeus, o café chegou ao Suriname, São Domingos, Cuba, Porto Rico e Guianas. Foi por meio das Guianas que chegou ao Norte do Brasil. O Pará foi pioneiro Curiosamente, o primeiro registro do plantio no país, foi em Belém, em 1727, trazido da Guiana Francesa para o Brasil pelo Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta a pedido do governador do Maranhão e Grão-Pará, que o enviara às Guianas com essa missão. Já naquela época, o café possuía grande valor comercial. No século XIX, o café foi a grande riqueza brasileira, acelerando o desenvolvimento do Brasil e o inserindo nas relações internacionais de comércio, expandindo-se para o Estado de São
Paulo, sul de Minas Gerais e Norte do Paraná. Atualmente, o Brasil é o maior produtor mundial de café, sendo responsável por 30% do mercado internacional. De acordo com dados estatísticos elaborados pela OIC – Organização Internacional do Café, a produção mundial na safra 2013 foi de 145,717 milhões de sacas de 60 kg. Já o consumo mundial, no ano de 2013, é estimado em 145,800 milhões de sacas. Desse total, o Brasil produziu 49,15 milhões de sacas. É a maior produção do mundo. O segundo lugar é do Vietnã, com 27,50 milhões de sacas. A segunda estimativa para a produção da safra cafeeira (espécies arábica e conilon), divulgada em maio, indica que o país deverá colher em 2014 um volume de 44,57 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado. O café arábica representa 72,4% da produção total (arábica e robusta) de café do país. A produção do robusta, estimada em 12,33 milhões de sacas, representa um crescimento de 13,49%. O Pará é o nono produtor da bebida no país, com 121 mil sacas em 2013. O maior produtor nacional é Minas Gerais, com 22 milhões de sacas.
França o produto, muitas vezes, é bebido juntamente com chicória; Áustria pode-se beber o produto juntamente com figos secos, sendo que em Viena, a capital do país, é uma tradição o oferecimento de bolos e doces para acompanhar o café com chantilly; África e Oriente Médio é comum acentuar o sabor do café com algumas especiarias, tais como canela e cardomomo, alho ou gengibre; Bélgica o produto é servido com um pequeno pedaço de chocolate, colocado no interior da xícara, que se derrete quando entra em contato com o café; Itália a preferência é pelo café expresso servido em xícaras pequenas; Grécia o café é acompanhado por um copo de água gelada; Cuba o café é consumido forte e adoçado, e em um só gole; Sul da Índia o café é misturado com açúcar e leite e servido com doces; Alemanha em algumas regiões é servido com leite condensado ou chantilly; Suíça adiciona-se ao café um licor, o “kirsch”; México em muitos lugares, o café é oferecido gratuitamente e pode ser consumido em grandes quantidades. O chamado café americano, como é conhecido no México, é o mais consumido e é uma cópia do que se bebia até poucos anos nos Estados Unidos: aguado e com pouco sabor.
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Após os últimos acontecimentos em Nova York (filme “Os Vingadores”), Steve Rogers (Chris Evans) continua trabalhando com a S.H.I.E.L.D., ao mesmo tempo em que tenta se ajustar aos novos tempos, depois de seu descongelamento. Juntamente com Natasha Romanoff (Scarlett Johansson), também conhecida como Viúva Negra, ele enfrenta um poderoso e misterioso inimigo chamado Soldado Invernal, que visita Washington e abala o dia a dia da S.H.I.E.L.D., ainda liderada por Nick Fury (Samuel L. Jackson).
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O longa sobre a Arca de Noé traz Russell Crowe como o protagonista da história bíblica, que recebe uma missão divina antes de uma enchente apocalíptica para destruir o mundo. Juntamente com a esposa Naameh (Jennifer Connelly) e os filhos Sem (Douglas Booth), Cam (Logan Lerman) e Jafé (Leo McHugh Carroll, ele deverá construir uma gigantesca arca para abrigar os animais durante um dilúvio que acabará com a vida na Terra, de forma a que a visão do Criador possa ser, enfim, resgatada.
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CLÁSSICOS
É uma selva lá fora para Blu, Jade e seus três filhos! Em RIO 2 eles deixam a cidade maravilhosa para se aventurar em uma viagem pelo Brasil até chegar à Amazônia para uma reunião de família. Fora de casa, em um lugar desconhecido, Blu terá de enfrentar seu maior medo -- seu sogro -- enquanto procura escapar do plano de vingança de Nigel. Todos os personagens preferidos de RIO estão de volta, e, agora, novas vozes e novos artistas integram o elenco.
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RIO 2
O HOMEM ERRADO
Baseado em uma história real, esta obra do mestre do suspense Alfred Hitchcock constrói a história de um músico de NY falsamente acusado de uma série de assaltos. Em Nova York, em janeiro de 1943, o músico Christopher Emmanuel Balestrero (Henry Fonda) tem a vida remexida quando sua mulher (Vera Miles) precisa de 300 dólares para um tratamento dentário e ele vai a um escritório de seguros para saber quanto pode conseguir de empréstimo. Porém, ele é identificado erroneamente por uma funcionária como sendo o assaltante que havia roubado o local algum tempo antes. Sem provas que possam inocentá-lo ou um álibi forte o suficiente, Balestrero vai enfrentar os dias mais difíceis de sua vida até conseguir provar que a justiça condenou o homem errado.
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horas vagas • literatura Títulos disponíveis na Livraria FOX. livrariafox.com.br
DESTAQUE GABO - MEMÓRIAS DE UMA VIDA MÁGICA (Ed. Veneta, Vários autores)
LANÇAMENTO
A impressionante trajetória do escritor colombiano, prêmio Nobel de literatura, chega ao público brasileiro em um belo registro em quadrinhos. “Gabo, memórias de uma vida mágica” narra os principais acontecimentos da vida do autor: a infância em Aracataca, a vida de estudante em meio aos tumultos políticos da Colômbia do fim da década de 40, o envolvimento com a Revolução Cubana, a criação do clássico Cem Anos de Solidão, o Prêmio Nobel de 1982 e a consagração como um dos mais importantes escritores do século XX.
DICA TRILOGIA DIVERGENTE (Ed. Rocco, Veronica Roth) Numa Chicago futurista, a sociedade se divide em cinco facções – Abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição – e não pertencer a uma delas é como ser invisível. Beatrice cresceu na Abnegação, mas o teste de aptidão por que passam todos os jovens aos 16 anos, numa grande cerimônia de iniciação que determina a que grupo querem se unir para passar o resto de suas vidas, revela que ela é, na verdade, uma divergente, não respondendo às simulações conforme o previsto. A jovem deve então decidir entre ficar com sua família ou ser quem ela realmente é. E acaba fazendo uma escolha que surpreende a todos, inclusive a ela mesma, e que terá desdobramentos sobre sua vida, seu coração e até mesmo sobre a sociedade supostamente ideal em que vive. Sucesso editorial nos Estados Unidos, a obra já ganhou adaptação para o cinema.
CINQUENTA ANOS ESTA NOITE (Ed. Record, José Serra) Refletindo criticamente sobre as origens e os desdobramentos do golpe militar de 1964, o ex-governador de São Paulo José Serra emprega toda sua experiência para conceber este que poderia ser considerado um livro de memórias, não se tratasse também de uma análise destinada a trazer, situar e dissecar questões que, 50 anos depois, ainda permanecem na ordem do dia no Brasil.
CONFIRA
MUSSUM FORÉVIS (Ed. Leya, Juliano Barreto) Antonio Carlos de Bernardes Gomes, mais conhecido como Mussum, é um dos mais amados humoristas brasileiros. Pela primeira vez a trajetória do homem por trás do personagem é contada com rigor histórico, da origem humilde no morro até a consagração como artista milionário. Antes da fama na televisão, Mussum fez parcerias com astros como Elis Regina, Jair Rodrigues, Jorge Ben e Martinho da Vila. Como trapalhão, bateu recordes de bilheteria com 28 filmes e conquistou uma audiência que chegou a 80% dos televisores ligados no país. No meio de tudo isso, ainda teve tempo de fazer sucesso no México, ser campeão do carnaval com a Mangueira e tomar suco de cevadis com Garrincha, Baden Powell, Cartola e Zeca Pagodinho, entre outros grandes embaixadores. Duas décadas após a sua morte, a popularidade do estilo de Mussum, baseado em muito samba, mé e bom-humor, segue em alta, descoberta com entusiasmo pelas novas gerações e recordada com carinho por aqueles que eram hipnotizados pelos Trapalhões nas noites de domingo. O que nem os vídeos da internet nem as lembranças da infância alcançam estão nesta biografia. www.revistalealmoreira.com.br
CLÁSSICO Á MRS. DALLOWAY (Ed. Autêntica, Virginia Woolf) Toda a história do romance se passa num único dia, em junho de 1923, em que Clarissa Dalloway resolve ela mesma comprar flores para a festa que vai oferecer logo mais, à noite, em sua casa. A partir desta cena inicial, o romance segue a protagonista pelas ruas de Londres num ritmo cinematográfico, registrando suas ações, sensações e pensamentos. Em torno de Clarissa, gravitam vários personagens: o marido Richard Dalloway, a filha Elizabeth, um amigo de juventude que acaba de voltar da Índia, Peter Walsh, com quem ela tem grande conexão afetiva. Até mendigos que ela encontra na rua e o próprio Primeiro-Ministro vão entrar na história. Certos personagens atravessam o caminho de Clarissa, sem que ela se dê conta, e passamos a segui-los. É o caso de Septimus Warren Smith, um ex-combatente da Primeira Guerra Mundial arruinado pela doença mental.
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horas vagas • música
VÍDEO
DAVID BOWIE Sound and Vision David Bowie construiu sua carreira meteórica de maneira pouco ortodoxa. Protagonizou polêmicas, mudou de visual sempre que quis, foi símbolo da sexualidade e da androginia, desafiou as fronteiras do que pode ser chamado de rock... Não à toa ganhou o apelido de Camaleão já que nunca temeu se reinventar. Quatro décadas depois, Bowie ainda é uma figura que desperta curiosidade e interesse. O documentário Sound and Vision, de 2003, tenta desvendar os mistérios do astro. Com depoimentos dele mesmo e de nomes como Moby e Iggy Pop, o filme mostra um apanhado das revoluções artísticas propostas por David, bem como as conturbações de sua vida pessoal fora dos holofotes. Uma aula sobre um dos maiores vanguardistas da música pop.
DICA JOHN FRUSCIANTE Enclosure Ex-membro do Red Hot Chilli Peppers, John Frusciante vem deixando claro nos seus discos solo que música é algo que ele faz sobre ele mesmo. No trabalho mais recente, Enclosure, o guitarrista faz tudo: grava guitarras, baixos, programa as bases, assina a mixagem e a produção. O resultado é uma viagem extremamente íntima e experimental em torno de suas próprias possibilidades como artista. Pelo caráter eletrônico, o álbum é associado mais facilmente ao trip-hop – e é provável que decepcione quem chegar a ele por identificar-se com o RHCP. Porém, vai chamar a atenção dos interessados em ver até onde a criatividade de alguém comercialmente desobrigado pode chegar. E, apesar de estar no décimo CD, Frusciante parece estar só começando a se soltar.
CONFIRA VANESSA DA MATA Segue o Som Vanessa da Mata teria lançado seu sexto disco de estúdio ainda em 2012, não tivesse recebido o feliz convite para homenagear Tom Jobim em um tributo. Só no fim de 2013 a cantora tirou o projeto da gaveta, regravou o que já havia adiantado, adicionou faixas novas – incluindo sua primeira composição em inglês, “My Grandmother Told Me” – e pronto: Segue o Som ganhou as ruas e prateleiras em abril desse ano, carregando as características que fizeram de Vanessa um ícone da música brasileira. O timbre suave, as referências ao reggae e a despretensão são pontos altos e imediatamente reconhecíveis. Destaque para a faixa título, que é deliciosa; e para a bonita versão de Sunshine on my Shoulders, de John Denver.
INTERNET
CLÁSSICO
SARAH VAUGHAN Songs of the Beatles
VISUAL ACOUSTICS De objetivo estritamente sensorial, o Visual Acoustics permite a não-músicos uma experiência interessante. Interativo, o site apresenta uma tela onde é possível escolher instrumentos – que podem ser “tocados” isoladamente ou combinados – para explorar. Então, é só passear o mouse pelo espaço e permitir que o acaso gere as melodias. Além disso, o projeto exibe uma espécie de quadro – daí o caráter visual – da música em criação, em que cada instrumento utilizado vira um “pincel” diferente. Ótimo para relaxar. http://www.ampledesign.co.uk/va/index.htm
Uma das vozes mais importantes do século XX, Sarah Vaughan foi daquelas intérpretes capazes de ressignificar as obras que cantaram. Em 1981, a “Sassy” ousou abusar desse poder para desconstruir canções da maior banda de rock da história: nascia o Songs of the Beatles. São 13 faixas do quarteto de Liverpool, arranjadas com o requinte do R&B americano. Get Back, Eleanor Rigby e Here, There and Everywhere merecem menção especial, tanto pelos acertos na produção quanto pelo canto imponente da diva. Por se tratar de músicas icônicas, o domínio da melodia e a capacidade de criação de Vaughan ficam ainda mais evidentes. Vale a audição atenta.
horas vagas • Rio & Sampa
BIENAL DE SÃO PAULO Em sua 31ª edição, a Bienal de São Paulo será aberta ao público no dia 06 de setembro. Em 2014, a mostra ganhou o nome “Como Falar de Coisas que não Existem” – o que já antecipa seu caráter de ampliar interpretações – e cartaz que mostra uma torre movida à força humana, desenvolvido pelo indiano Prabhakar Pachpute. Segundo o curador britânico Charles Esche, a bienal traz as palavras-chave “coletividade”, “conflito”, “imaginação” e “transformação”. Das obras apresentadas no evento, metade é inédita e um quarto é produção brasileira. A Bienal será realizada no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, sede da Fundação Bienal de São Paulo, no Ibirapuera.
JOÃO DONATO
FESTIVAL DE FADO Pelo segundo ano consecutivo, o Festival de Fado vem ao Brasil fortalecer o intercâmbio cultural com Portugal. O evento – que ocorrerá em São Paulo e no Rio de Janeiro – vai trazer apresentações de importantes artistas contemporâneos que abraçaram a missão de manter viva a tradição do fado. Carminho, Raquel Tavares e Camané serão as estrelas do festival, além de uma bela homenagem a Amália Rodrigues. Além da música, debates entre poetas e pensadores portugueses e workshops sobre a história do fado também são atrações. No Rio de Janeiro, o Festival de Fado se realiza na Cidade das Artes, nos dias 16 e 17 de agosto. Já em São Paulo, será no HSBC Brasil, nos dias 18 e 19.
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As programações a seguir foram cedidas e podem ser modificadas, sem qualquer aviso prévio.
Para comemorar o lançamento dos dois volumes do trabalho “Live Jazz in Rio” (e também seu aniversário de 80 anos), João Donato fará, no Circo Voador, um show que tem tudo para ser histórico. A apresentação será no dia 20 de agosto e tem participação de nomes como Caetano Veloso e Luiz Melodia. No repertório, tanto músicas inéditas quanto clássicos de sua autoria – como “Bananeira” e “Nasci para Bailar”. João Donato vai dividir o palco com seu trio, formado por Robertinho Silva (bateria), Luiz Alves (contrabaixo) e Ricardo Pontes (sax e flauta) – o suporte perfeito para enfatizar sua habilidade no piano. Imperdível.
foto Diva Nassar
horas vagas • New York
MOTOWN: THE MUSICAL Marvin Gaye, Michael Jackson, Diana Ross, The Temptations, Stevie Wonder, Smokey Robinson… O que há de comum entre todos esses nomes é precisamente a Motown Records – a gravadora que ajudou a reinventar a trilha sonora americana. O musical, que leva o nome do selo, conta a história da criação da empresa, passando pela vida de seu fundador Berry Gordy Jr e pela trajetória dos astros representados pela Motown. Nem é preciso dizer que a trilha sonora é uma atração por si só. Recheado de soul, o espetáculo traz orquestra ao vivo e mais de 40 artistas no palco. Uma experiência única para apaixonados por música. Fica em cartaz até fevereiro de 2015, no Lunt-Fontanne Theatre. 205 W. 46th Street (entre 8th Ave & Broadway)
FLEETWOOD MAC Uma das bandas mais importantes da década de 70, o Fleetwood Mac já era respeitado pela sua história com o blues. Com o lançamento – e sucesso mundial – do disco Rumours (1977), o grupo virou referência absoluta do período. São 45 anos de história na música, 17 álbuns gravados, 69 singles e sete indicações ao Grammy (dois conquistados) de lá para cá. Toda essa bagagem estará no palco do Madison Square Garden, nos dias 06 e 07 de outubro, com a turnê “On With the Show”. E com um bônus especial: Christine McVie, depois de 16 anos de afastamento, volta a se reunir com Mick Fleetwood, John McVie (seu ex-marido) e Stevie Nicks para relembrar os bons tempos. Um show com grande potencial para ser inesquecível. 4 Pennsylvania Plaza, New York, NY 10001
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horas vagas • iPad
Documents 5 Instagram O mais popular app de edição de imagens ganhou uma atualização bem interessante, principalmente para quem preferia alguma alternativa mais completa. Agora, é possível ajustar brilho, saturação, nitidez e muitos outros parâmetros das fotos diretamente no app — algo bem parecido com o que VSCO Cam e Snapseed, entre muitos outros, fazem há tempos. Custo: Free
Um visualizador de documentos e reprodutor de mídia, Documents abre e visualiza qualquer tipo de documento, incluindo iWork, MS Office, música e PDFs estejam eles no seu computador, iPhone, iCloud, Dropbox (ou qualquer serviço de armazenamento online) ou site web. web Para trabalhar profissionalmente com PDFs você vai precisar do PDF Expert, Em português. Custo: US$ 9,99
Raul Parizotto empresário parizotto@me.com
SoundCloud O SoundCloud, serviço usado por várias bandas, artistas e DJs para compartilhar músicas, playlists playlists, mixtapes e afins, ganhou um app completamente remodelado para o iPhone, que busca oferecer o que os outros serviços de streaming já fazem. Agora, ficou muito mais fácil ouvir e descobrir novos sons, já que a navegação foi melhorada. Custo: Free
Carrot Fit Você não precisa comer só alface para emagrecer. O segredo está mesmo em como você gasta as calorias ingeridas e um ótimo estímulo para atingir seus objetivos fitness está em apps especializados. Um ótimo exemplo é CARROT Fit, que trabalha com sessões de ginástica rápidas e bem humoradas — e puxadas. O software também mostra uma série de prêmios para cada atividade. Custo: US$ 2,99
Dragon Finga Dragon Finga é um beat up em que você comanda um lutador de kung fu que tem que bater em um monte de inimigos. Você comanda seu herói deslizando os dedos pela tela. O jogo é grátis, mas prepare-se para gastar muito, pois vários itens para evoluir seu personagem estão purchases ( Compras feitas disponíveis apenas por meio de in-app purchases. dentro do app). Custo: Free revistalealmoreira.com.br
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REVOLUÇÃO
CERVEJEIRA Ricardo Gluck Paul micro-cervejeiro
Nos anos 70, um espectro rondava os EUA - o espectro da Revolução. Depois de anos vendo sua tradição cervejeira sucumbir diante de gigantes indústrias que substituíam ingredientes nobres, como malte de cevada, por arroz e milho para obter melhores margens financeiras, um grupo de cervejeiros da Califórnia iniciou um fantástico movimento que mais tarde seria conhecido como “Microbrewery Revolution” (Revolução das Micro-cervejarias). Tinha como missão construir uma nova cultura cervejeira perdida ao longo dos anos. Enfrentou uma série de dificuldades até conseguir contaminar o país inteiro com seus ideais. Hoje, temos, apenas nos EUA, mais de duas mil micro-cervejarias unidas fabricando, com extrema qualidade, todos os estilos de cerveja possíveis e transformando a terra do Tio Sam em um verdadeiro paraíso na terra. Na Europa um outro grande movimento redesenhava o modelo de consumo no velho continente, o “Craft Beer Renaissance” (Renascimento das Cervejas Artesanais). Vários consumidores defendiam o resgate de pequenas cervejarias que estavam desaparecendo em função do avanço das grandes indústrias. Mais uma vez o espírito revolucionário impulsionou uma legião de cervejeiros a exigir identidade nos produtos que consumiam. Mais do que isso: exigiam produtos locais dos quais pudessem se orgulhar. Pequenas atividades que formam hoje uma das mais fascinantes culturas cervejeiras do mundo. O Brasil é a “bola da vez”. Aos poucos, vamos acordando de um sono profundo que nos deixou paralisados por anos. Enquanto havia no mundo mais de cento e vinte estilos de cerveja com milhões de rótulos fantásticos nós ainda estávamos presos à meia dúzia de variações da mesma cerveja industrial. Não tenho nada contra as cervejas mainstream que dominam 99% do mercado bra-
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sileiro, terceiro maior produtor do mundo. São chamadas assim por serem bebidas padronizadas, desprovidas de aroma, sabor e amargor e sem qualquer diferencial entre si além das brilhantes campanhas publicitárias. Defendo apenas, como os revolucionários, que precisamos agir para criar nossa própria identidade. Com cerca de duzentas micro-cervejarias brasileiras desenvolvendo milhares de produtos fantásticos podemos dizer que estamos em plena revolução. Não à toa nossas cervejas tem conquistado importantes premiações mundo afora, como a cervejaria mineira Walls que venceu este ano a World Beer Cup nos EUA com sua maravilhosa Dubbel, uma cerveja do estilo Belgian Strong Ale Dubbel com forte aroma de frutas secas, notas de especiarias e maltes especiais. A World Beer Cup, como o próprio nome sugere, é uma espécie de copa do mundo das cervejas e uma das premiações mais importantes do setor. Em paralelo surgem os milhares de cervejeiros caseiros espalhados pelo Brasil com suas produções cada vez mais criativas. Organizados em associações trocam receitas e compartilham criações, contribuindo fortemente com a revolução. Com toda essa atividade aquecida não demorou para que surgissem vários bares e empórios especializados em cervejas artesanais e importadas. Locais temáticos que harmonizam gastronomia com milhares de opções desta que é a bebida mais consumida no mundo e, sem dúvidas, a mais democrática. E no topo de toda esta pirâmide revolucionária está você, que tem papel decisivo no movimento. “Beba menos, Beba melhor” defendem os revolucionários, pois agora temos produtos frescos com aroma, sabor e amargor dignos de serem degustados com calma e atenção. Viva a Revolução!
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Arthur Nogueira
Valério Silveira
Jogo de sensações
A artista visual Elaine Arruda lança um novo olhar sobre a gravura em metal, em um processo de trabalho em que a música e a dança são peças fundamentais
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u poderia escrever um texto falando sobre a minha sensação diante do rio, da solidão, do desamparo, da dobra do Deleuze, mas o que eu faço é isso”, declarou Elaine Arruda, depois de uma visita, à convite da revista Leal Moreira, à sua exposição no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Intitulada “Cheio de Vazio”, a mostra pôs em destaque, de abril a maio de 2014, as gravuras em metal produzidas pela artista em oficinas próximas ao Porto do Sal, em Belém. “Rever os trabalhos em uma exposição é sempre uma surpresa, porque, de repente, aquele tempo todo de produção, ansiedade e tensão se transforma em algo concreto, alheio a você mesmo”, descreveu. Realizada em parceria com a gravurista Marcia de Moraes, sob a curadoria de Paulo Miyada e Julia Lima, a exposição “Cheio de Vazio” foi o ápice da pesquisa de Elaine Arruda sobre a calcografia. A mostra reuniu, pela primeira vez, os trabalhos resultantes de dois processos de bolsas de pesquisa,
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com os quais a artista foi premiada em 2010 e 2013. “Uma parte desses trabalhos fez parte da exposição “Imensidão Íntima”, realizada com a Bolsa de Pesquisa e Experimentação Artística do Instituto de Artes do Pará, e a outra parte, da exposição “Paisagem Suspensa”, resultado da Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais”, detalhou. Aos 29 anos, Elaine Arruda é mestranda em poéticas visuais pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e guarda no currículo exposições individuais e coletivas realizadas em Belém, São Paulo e França, além de uma residência artística que a levou a Québec, no Canadá, em 2009. No entanto, psicóloga por formação, ela garante que nada foi planejado. “Foi tudo por acaso, esse tipo de coisa que acontece na nossa vida e muda os rumos”, disse, referindo-se à sua carreira como artista visual. “Quando eu vi, foi, já tinha acontecido e eu acho que não consigo mais viver de outra maneira. Não me vejo fazendo outra coisa”, admitiu. »»»
Filha de um arquiteto, Elaine gostava, quando criança, de ver o pai desenhar. “Eu olhava para ele com encantamento. Eu era uma criança que não convivia com outras crianças da minha idade, então eu ficava em casa sozinha, desenhando”, contou. O interesse pelas gravuras em metal despontou anos depois, em 2002, na Fundação Curro Velho, em Belém. “Eu fiz um curso com o Armando Sobral e me apaixonei pela técnica, não parei mais de fazer. Depois, comecei a dar aulas de gravura, a estudar e a pesquisar”, disse, citando o amigo e artista plástico com quem concebeu e pôs em prática, ao lado de Véronique Isabelle, Pablo Mufarrej e Starllone Souza, o projeto do Atelier do Porto, em 2011. Localizado no Porto do Sal, um patrimônio histórico da cidade, o Atelier do Porto nasceu do desejo comum de movimentar o mercado de arte independente em Belém. Montado primeiro no bairro da Campina, e por isso denominado originalmente Atelier da Campina, o espaço começou como um local de produção particular, pertencente a Armando e a Elaine. Porém, não tardou a ter suas portas abertas ao público. “Sentimos vontade de torná-lo um espaço ativo para fazer gestão de projetos, expor os trabalhos, convidar artistas”, contou Arruda. Frequentado, sobretudo, por pessoas oriundas de regiões ribeirinhas, o Porto do Sal abriga embarcações tipicamente regionais e indústrias de beneficia-
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mento de Castanha do Pará e outros produtos do extrativismo vegetal da região norte. É um pólo cultural complexo, cuja rotina inspira e motiva a todos os artistas do Atelier. No caso específico de Elaine, foi o lugar onde ela obteve a estrutura necessária para produzir suas gravuras, a partir da parceria firmada com a Oficina Santa Terezinha, situada nas imediações. “O Porto do Sal faz parte do meu projeto poético”, declarou, ressaltando que “o artista contemporâneo é aquele que compreende e opera com o seu contexto”. Na metalúrgica Santa Terezinha, Elaine Arruda pôde trabalhar com placas de zinco em grande escala. “A possibilidade de colocar isso em prática desdobrou muito mais a minha pesquisa”, garantiu. Ao ser indagada sobre a relação com os profissionais da oficina, ela contou que foi um processo lento. “Eu era um ser estranho ali dentro. Eu, mulher, no meio de um monte de operários, no Porto do Sal... Imagina, foi uma construção!”, disse. Entre os anos de 2009 e 2013, a artista traçou uma relação de confiança com os funcionários da metalúrgica. “Eles me apoiaram e eu conquistei um lugar ali dentro. Uma rede foi construída”, afirmou, enfatizando que a sua experiência ressignificou o ambiente profissional dos operários. “Agora, eles veem o meu trabalho como uma coisa séria. Antes, achavam que era uma loucura”, brincou. “O Rubens, um »»»
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dos funcionários da Santa Terezinha, sempre me dizia: “tu ficas aí batendo nesse metal, isso parece paixão pelo Paysandu!””, ri a artista, fazendo referência ao time de futebol paraense. O fato é que, se no começo os metalúrgicos não conseguiram ver nada de especial na atividade desempenhada por Elaine Arruda, depois da primeira exposição esse panorama mudou. “O trabalho se potencializa quando eles vão à minha exposição e dizem: “olha, eu acho que tu gravaste demais naquele lado”. Eles começam a se implicar no trabalho e isso, para mim, é muito interessante porque a arte também tem essa função de tornar o olhar mais sensível”, avaliou. “Por que antes eles olhavam desconfiados para mim e agora conseguem enxergar alguma coisa e, mais ainda, conseguem enxergar o que eles fazem de uma outra maneira?” A pergunta ficou no ar, mas o olhar seguro confirmou que ela estava certa da resposta. Traços de música e dança Elaine Arruda garantiu que conhecer o processo de produção é um fator importante para a compreensão do trabalho com as gravuras em metal. “Durante o processo, eu construo camadas de ritmo. Primeiro, faço uma sequência de linhas, depois sobreponho com outra e assim vou tensionando a imagem, até que se torne uma coisa impenetrável, como uma floresta”, comparou, ressaltando que o mais importante não é a figuração, mas a vibração, a tensão implícita em cada peça. “A gravura é uma »»»
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linguagem cega, muito mais sensorial que visual”, definiu. Resumidamente, o processo de trabalho inclui três etapas: gravação, entintagem e impressão. Na primeira, a matriz de metal é gravada com ferramentas da metalúrgica, entre as quais machados, pontas de vídea e maçaricos. “É uma etapa muito processual, que requer força e persistência”, explicou a artista. Durante o procedimento de construção da imagem, ela se baseia apenas em suposições do resultado final. “Eu sei que em determinada área, dependendo da linha ou do corte no metal, eu posso ter um cinza, e que onde eu desenhei mais intensamente, eu posso ter um negro intenso”, detalhou. “A composição visual das minhas gravuras acontece nesse jogo de tons: o leve e o pesado, o suave e o grave, o claro e o escuro, que obviamente se misturam, se sobrepõem, construindo muito mais uma sensação visual do que uma representação ou narrativa”, disse. Influenciada pela música, Elaine comparou as linhas no metal a uma melodia, “ritmada pela atmosfera que a imagem evoca”. O efeito obtido com a gravação nas matrizes vem à tona na etapa seguinte, a entintagem. Nessa fase, a artista contou com o apoio de uma equipe. “Eu trabalhei com quatro assistentes. Pegamos matriz por matriz, passamos tinta preta em todas elas e depois limpamos com a tarlatana, um tecido que parece uma fralda engomada”, descreveu, esclarecendo que a imagem não termina de ser construída ao final do processo de gravação. “Durante a entintagem, cada gesto que eu faça, que seja limpar uma linha, por exemplo, ainda pode trazer uma sensação diferente”, assegurou. O trabalho em frente a uma matriz grande e pesada, por exigir esforços de todo o corpo, pode ser comparado, segundo Elaine Arruda, aos de uma dança. Para lá da criatividade e do vigor físico, o êxito da última etapa do processo, a impressão, depende também do horário de realização. “Tivemos que passar a tinta à noite, deixar a matriz descansando e começar a limpá-la pela manhã, para poder realizar a impressão por volta do meio-dia. Nessa última fase, é importante que tenha sol, porque a tinta é à base de óleo, então, no sol, ela fica mais líquida”, explicou. Enquanto a gravação e a entintagem foram realizadas na Santa Terezinha, a impressão das gravuras foi feita em outra metalúrgica, “A Reconstrutora”, no bairro do Reduto. »»»
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“Não é imagem, é um jogo de sensações” “O Armando Sobral diz que cada gravura é como uma palavra em um texto e hoje eu entendo o que isso significa. Eu construí uma narrativa”, disse a artista, que define o seu trabalho como “uma experiência subjetiva aberta”. Com a bagagem de cinco anos de testes em diferentes escalas, Elaine reconhece, em sua pesquisa, um diálogo “muito intenso com a paisagem amazônica”. E esse dado está relacionado, muito mais do que à sua história de vida, à experiência no Porto do Sal. No convívio com as pessoas do lugar, ela testemunhou um enfrentamento diário “com a dureza da realidade”, marcada por problemas sociais como falta de saneamento básico, miséria e prostituição. “Eu não sei dizer se pesa mais o que a gente realiza por lá ou o que aquele entorno tão rico nos traz de potência”, admitiu.
Por seu esforço cego, isto é, por não poder determinar, durante o processo de gravação no metal, qual será o resultado exato das gravuras, Arruda empregou a expressão “jogo de sensações”. “Quando eu cito a paisagem amazônica ou o cotidiano no Porto, não quer dizer que busque representar isso ou aquilo em imagens. O que eu proponho é uma imersão em algo que pode nos levar a um outro tipo de relação com a vida, que não é mais prática, lógica ou objetiva”, disse, em depoimento que se assemelha às palavras do poeta Paul Valéry sobre a necessidade do ócio interno no mundo moderno: “o nosso ócio interno, algo muito distinto do lazer cronometrado, está desaparecendo. Estamos perdendo aquela paz essencial nas profundezas do nosso ser, aquela ausência sem preço na qual os elementos mais delicados da vida se renovam e se confortam, ao passo que o ser interior é, de algum modo, liberado de
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passado e futuro, de um estado de alerta presente, de obrigações pendentes e expectativas à espreita.” Entrar no jogo de sensações de Elaine Arruda, portanto, é como lançar-se em um espaço desconhecido, de recolhimento. “No ano passado, eu fui a Macchu Picchu, no Peru, e a experiência de entrar naquela paisagem, que não é a minha, de percorrer o caminho até o cume, foi muito forte”, disse a artista, que também esteve, em 2013, no Salar de Uyuni, deserto de sal localizado no sudoeste da Bolívia, em busca de uma “religação necessária com a natureza”.
Agradecimentos Metalúrgicas Oficina Santa Terezinha e A Reconstrutora
AGUARDE!
VOCÊ VAI SE ENCANTAR
COM OS ESPAÇOS DA LEAL MOREIRA NA
CASA COR PARÁ 2014.
destino
O Parque Nacional Corcovado é o refúgio das baleias e foi considerado pela National Geographic “o lugar mais intenso de biodiversidade na Terra”.
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Bruna Valle / Camila Barbalho
Internet
Pura
natureza
A riqueza natural, a tradição e a paz de espírito são algumas das maravilhas que a Costa Rica oferece. Entenda por que o lema acima – traduzido livremente para o português como “a vida é boa” – é repetido como um mantra pelos habitantes do país.
C
omo uma esmeralda incrustada no peito da América Central, logo ali entre a Nicarágua e o Panamá, a Costa Rica é algo além de um país: é um convite. Um lugar que acena ao convívio com a natureza, e também ao encontro com a história de seus museus. É a aventura de vulcões em atividade e a paz de um povo sem pressa. Oferta tanto o maior número de orquídeas do planeta quanto a democracia mais consolidada da América Latina. Não importa muito sob qual prisma se olhe – a Costa Rica tem algo de impressionante (ou, ao menos, curioso) para oferecer. Um país que reserva uma mistura harmônica entre o tradicional e o moderno. É possível voltar no tempo e no espaço, se quiser. Pode-se mergulhar na história de um povo antigo que conserva muito de sua cultura ancestral, mas também experimentar outra ideia de modernidade: uma versão mais amena e alegre, de um povo que vive harmonicamente entre o novo e o velho, como muito pouco se viu. “Sem ingredientes artificiais”. É assim que a população gosta de se auto intitular. Faz bastante sentido: metade do território do país é coberta por
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florestas e um quarto é protegido por leis ambientais – o que faz do ecoturismo uma das principais forças da economia local. Recuperando-se exponencialmente de uma recessão ocorrida em 1997, foi graças à habilidade em receber pessoas e ao seu tesouro natural que a Costa Rica se reergueu. A cultura em torno dos redutos ecológicos é tão presente que ganhou um dia para celebrar: 24 de agosto, o “Dia dos Parques Nacionais”. Neles, é possível encontrar árvores centenárias e gigantescas, espécies animais raras e exóticas de vida selvagem – e ainda praticar esportes radicais como Sky Walk (trilhas por pontes acima da copa das árvores) e tirolesa. O Parque Nacional Corcovado é o primeiro nome a se destacar dentre as diversas áreas de conservação. Considerado pela National Geographic “o lugar mais intenso da Terra em termos de biodiversidade”, ele chama a atenção de ecólogos e turistas interessados em se aproximar da vida natural em sua versão mais genuína. Para estes, o Tortuguero também é ponto inesquecível: além da flora surpreendente, o sítio ecológico é tradicional ponto de desova das tartarugas marinhas. Um verdadeiro espetáculo. »»»
Em sentido horário, começando pela foto acima que mostra a cratera do Vulcão Poás. Ao lado, a Basílica de Nuestra Señora de Los Angeles. Abaixo, a famosa La Fortuna, queda d’água com 75 metros de altura. Fechando, a praia de Puerto Viejo.
Entre as paisagens ofertadas pelas reservas, outro destino comum dos turistas é o Parque Manuel Antonio, localizado a 157 km ao sul da capital, San José. Um dos lugares mais belos da Costa Rica, a região combina montanhas, folhagens verdes, areia branca e o belo mar caribenho. Não à toa, a praia Manuel Antonio é uma das mais populares no país. Para os amantes de sol, sombra e água fresca, também vale à pena visitar a praia de Puerto Viejo, em Talamanca, e a província de Puntarenas. Praia, aliás, é um privilégio que Costa Rica possui de maneira muito peculiar: o território usufrui de dois litorais, o atlântico e o pacífico – ambos com praias que podem ser visitadas na maior parte do ano. São 212 km de faixa litorânea na costa caribenha, e outros 1016 km na costa pacífica. Nem é preciso ressaltar que surfistas adoram viajar até o litoral do país. Para quem prefere mergulhar em águas doces, a província da Alajuela é o ponto de partida. Lá, é encontrada a famosa La Fortuna: são 75 metros de queda d’água, proveniente do Rio Tenorio. O acesso à cachoeira custa apenas 10 dólares – e uma curta, porém árdua trilha. Na mesma província, se encontra o Rio Celeste, dentro do Parque Nacional Vulcão Tenorio. A fonte de água naturalmente tingida de azul pela atividade do vulcão
atrai turistas durante o ano todo. Piscinas térmicas naturais se formam ao redor do rio, graças a rachaduras na encosta do Tenorio. Lá, é possível banhar-se e relaxar. Os vulcões de Alajuela, aliás, são parada obrigatória para os mais aventureiros. As montanhas que abrigam essas belas feras da natureza também estão em Parques Nacionais (que inclusive levam sempre o nome do vulcão lá localizado), o que oferece maior segurança e comodidade. Os mais famosos são o Vulcão Poás e o Vulcão Arenal. A província de Cartago também guarda montanhas famosas, como o vulcão Irazú e o Cerro Chirripó – este, já na fronteira. O Chirripó é a montanha mais alta de Costa Rica, e fica na Cordilheira de Talamanca. A paisagem visualizada do alto de seus quase quatro mil metros de altura é algo impressionante: em dias claros, se vê tanto o Oceano Pacífico quanto o Atlântico. O maior bem religioso da Costa Rica também está em Cartago: a Basílica de Nuestra Señora de Los Ángeles. A igreja católica de arquitetura bizantina recebe, no mês de agosto, mais de 2,5 milhões de fiéis do mundo inteiro. A maior parte desses segue em uma romaria similar ao Círio de Nazaré, porém mais extensa (22 km, ao todo), em homenagem a sua padroeira. O investimento em preservação ambiental e na »»»
Ao lado, a Mascarada, uma folia tradicional. No meio, uma das tradicionais barracas do Mercado Central. A terceira imagem é do Museu Nacional da Costa Rica.
criação de diversos sítios de conservação ajudou a Costa Rica a organizar seu fluxo turístico, além de render bons frutos para a qualidade de vida da população. Tais políticas renderam reconhecimento internacional e excelentes colocações em rankings internacionais – por exemplo, o país é o primeiro da América Latina em Competitividade Turística e em Desempenho Ambiental; além de ser o segundo na América Central com o maior IDH. Os esforços por uma vida mais próxima da natureza não pararão por aí porque aparentemente o governo anunciou um planejamento para se tornar a primeira nação do mundo neutral em carbono até 2021 – quando completa seu bicentenário de país independente. Mas nem só de natureza sobrevive a Costa Rica. O lugar é riquíssimo em cultura e reconhece seu valor justamente na diversidade. Prova disso é a quantidade enorme de centros que carregam aspectos importantes de sua história. A capital San José é emblemática nesse sentido. É como uma porta que se abre entre o passado e o presente cultural da América Central. Seus museus guardam os mais preciosos artefatos históricos indígenas, sua forma de vida, costumes e arte. O Museu Nacional da Costa Rica é o mais famoso da cidade e é o responsável por salvaguardar a história natural e arqueológica do país, além de importantes estudos antropológicos lá realizados. A organização possui uma notável coleção de artefatos da era pré-colombiana e da história religiosa de seu povo. Lá também há um belo jardim de borboletas chamado “Plaza de la Democracia” – outra fonte de orgulho local. Explicamos: a democracia costarriquenha é a mais consolidada da América Latina e uma das vinte mais antigas do mundo. A paz é um bem tão precioso para a população que o país se absteve de qualquer poder de guerra, tendo extinguido seu exército há mais de 60 anos. Também merecem visita o “Museo de Los Niños”, que é voltado para crianças e possui ati-
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Gallo Pinto, iguaria que mistura arroz ao feijão. Abaixo, os turistas não resistem aos passeios de raft.
vidades educativas sobre astronomia e ecologia; e o “Museo de Formas, Espacios e Sonidos”, que abriga esculturas, modelos de antigas construções e instrumentos musicais. Fora dos prédios oficiais, a expressão artística mais chamativa de Costa Rica é a pintura das rodas de carro de boi – o artesanato mais famoso do local, declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco. A tradição data do início do século XX, quando famílias inteiras transportavam café nesse tipo de veículo. As diferentes pinturas permitiam identificar desde a classe social até a origem dos grupos. O clima do país varia bastante, embora seja geralmente denominado como tropical. As estações do ano não são bem definidas. Há sol o tempo todo – que nasce cedo, às 5h da manhã, e se põe por volta das 18h. Contudo, a diferença na geografia ao longo da Costa Rica faz com que as condições climáticas sejam bem divergentes. As cidades situadas em terras baixas têm clima mais seco e árido, enquanto as que ficam mais para o alto, nas montanhas, possuem atmosfera mais cinza e enevoada, com temperatura média de 13 °C. Na capital, a sensação térmica é amena, em torno de 22 °C, e conta com uma brisa bem-vinda de seu litoral costeiro. As chuvas são
constantes do mês de maio até novembro. Já de dezembro a abril, elas aparecem pouco ou nem dão sinal. Embora o país não conte com inverno ou verão, é preciso estar atento para os tempos de calor intenso. De março a maio, período onde o calor predomina, a proteção solar é essencial para o dia a dia. No geral, o clima quente e úmido prevalece. Para um brasileiro, a gastronomia da Costa Rica é até bem acolhedora. Entre as iguarias mais populares estão o arroz e o feijão – ingredientes principais do chamado “gallo pinto”. A comida típica pode ser encontrada em todos os cardápios do país – inclusive em redes de fast food internacionais, como o McDonald’s. A surpresa: a mistura é servida no café da manhã. Sim – o desjejum é caprichado e um tanto quanto pesado. A origem do prato é motivo de disputa entre Costa Rica e Nicarágua, mas é parte essencial da culinária local. Dizem que a receita foi trazida para a América Central por africanos que juntaram o que estava disponível – ou seja, apenas os grãos. É comum que o arroz e o feijão preto sejam a base das três principais refeições do dia nos lares locais, assim como a tradicional “água dulce” – bebida a base de açúcar amarelo. Por outro lado, os “ticos” gostam de estar em sintonia com a culinária mundial, »»»
por isso é normal encontrar comidas de diversas origens na capital do país. A cidade de San José, importa dizer, é culturalmente efervescente. Seus habitantes são muito orgulhosos de sua música, poesia, teatro e manifestações culturais. Uma das festas mais importantes do país ocorre no fim de outubro: a Mascarada. Originada na cultura ameríndia, o evento ganhou novos contornos na época colonial, tornando-se uma festividade sincrética e multicultural. Até hoje, a população enche as ruas de San José com o rosto coberto por máscaras e cabeças gigantes – que lembram as do carnaval de Olinda, em Pernambuco – que dançam ao som de músicas folclóricas e fogos de artifício. A variedade musical do país é outra atração à parte: tambito, parrandera, valsa, bolero, cuadrilla, calypso, chiquichiqui e mento são alguns dos gêneros encontrados na Costa Rica. Não dá para explicar a sonoridade. É preciso sentir os timbres únicos e dançar com os moradores. Os costarriquenhos são, de longe, o melhor do país – além de considerados as pessoas mais felizes do mundo pelo índice “Happy Planet”, da fundação inglesa New Economics. A avaliação combina longevidade, felicidade e baixa degradação ambiental. Pelo lema “pura vida”- “a vida é boa”, em tradução livre -, dá para compreender as razões para o título. O costarriquenho possui uma maneira simples e serena de ver o mundo. Talvez por isso seja um dos povos mais longevos, com expectativa de vida de quase 80 anos. Em cidades como Nicoya, as chances de chegar aos cem anos é sete vezes maior que no Japão, outra referência no assunto. O motivo disso? Os “ticos”como costumam chamar uns aos outros - ficam longe de atividades estressantes e não tem pressa de viver. A maioria de seus costumes se harmoniza com o meio ambiente. É um povo mestre na arte de empatia e generosidade, e muito caloroso com os visitantes de suas cidades. Eles adoram ver gente nova chegando para conhecê-los.
Como chegar Os voos mais frequentes partem de Lima (Peru) ou Quito (Equador), pela TACA; e pela Copa Airlines, via Panamá. Partindo de São Paulo ou Rio de Janeiro, oito companhias aéreas oferecem voos para San José: Lacsa, Avianca, Taca, United Airlines, US Airways, American Airlines, Gol e Copa. Os brasileiros não precisam de visto de turista para entrar na Costa Rica. Porém, devem apresentar no momento da chegada ao país o passaporte válido por pelo menos seis meses, passagem de saída do país e certificado internacional de vacinação contra a febre amarela. Dentro do país, a forma mais barata de viajar é de ônibus – o Tica Bus. Porém, para viagens mais longas, é mais confortável alugar um carro ou contratar um táxi. Se decidir pela segunda opção, atente ao símbolo dos táxis cadastrados no país: eles possuem triângulos amarelos nas portas.
Curiosidades • A Costa Rica se divide em sete províncias: Guanacaste, Alajuela, Heredia, Cartago, São José, Limão e Puntarenas. Elas se subdividem em 81 cantões e estes em 463 distritos. • As ruas costarriquenhas não têm nomes e a casas não tem número. • A moeda local se chama Cólon, embora o dólar seja bastante aceito em hotéis, restaurantes e comércio em geral. • A Organização Repórteres Sem Fronteiras premiou a Costa Rica como o país n° 1 na América Latina em liberdade de imprensa • É o país com maior quantidade de orquídeas do planeta, com mais de 1.000 espécies. A orquí dea é a flor-símbolo da Costa Rica. • O país não possui exército desde 1948 • A Isla del Coco, território costarriquenho, é a maior ilha desabitada do mundo e foi cenário do filme “Jurassic Park”.
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enquanto isso
Estocolmo
Moro em Estocolmo, na Suécia. Vim parar aqui graças ao meu namorado, que é sueco. A primeira vez que vim aqui ainda foi apenas para conhecer, mas depois ele me convidou para vir morar de vez com ele – e cá estou. Fiquei encantada com a limpeza e organização da cidade, e pela maneira como a natureza está presente em todo lugar. Eles conseguiram aliar o desenvolvimento da cidade com as belezas naturais... Uma verdadeira obra de arte. Os suecos são muito educados, receptivos e agradecem por tudo. A economia e a política também me impressionaram. O governo é monárquico, então a cidade toda tem aquele ar de realeza. O que eu mais gostei de conhecer foi a Gamla Stan, ou “cidade velha”, que é a parte mais antiga da capital. Lá, a gente encontra muitas lojas, restaurantes e alguns dos pontos turísticos mais belos de Estocolmo: o Palácio Real Slottsbacken, o Vasa Museum, o Stadshuset (prédio do Conselho Municipal) e o Schantzska Huset (casa da família Von Schantz), por exemplo. Aqui em Estocolmo também é cheio de praças. Na primavera, o visual fica encantador – cheio de flores e verde que não acaba mais. O clima é, em geral, frio. Congelante no inverno. No verão, é meio alternado: há dias em que faz frio
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Juliana Thalês empresária
com sol, e em outros faz calor (embora o frio seja mais frequente). Quando resolve ficar quente, fica com um clima parecido com Belém, só que com muito mais vento. Eu indico às pessoas que vierem visitar a cidade no inverno que tragam um bom casaco de frio, jaqueta, blusas de manga, luvas, touca... No verão, shorts e camisa são indispensáveis. Eu gostaria de listar todas as curiosidades que aprendi sobre a Suécia... São tantas! Mas umas se destacam dentre as outras. Uma delas é sobre a rainha Silvia, uma das figuras mais notáveis de Estocolmo. Ela é filha de brasileira, morou no Brasil e fala fluentemente o português. Aqui, aliás, todos falam uma segunda língua – inglês principalmente. Por isso, não é preciso se preocupar em ter que aprender sueco para vir aqui. Outras curiosidades: a Suécia é o país menos religioso do mundo; em uma cidade do país, existe o sol da meia-noite – onde o sol não se põe nos meses de verão, que são junho, julho e agosto; a palavra “tack”, que significa “obrigado”, é utilizada constantemente – aqui se termina toda frase com “tack”, inclusive se você estiver oferecendo alguma coisa. O que eu achei mais estranho – e chega a ser até engraçado – é que as pessoas aqui gostam muito
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de sol. Muito mesmo. Tanto que quando há “sol” (nem precisa esquentar), todas as mulheres andam de microssaia ou short curtíssimo, combinando com uma bata quase transparente de tão fina. Quando não, estão de biquíni pegando sol em alguma praça. O engraçado é que normalmente não há sol o suficiente ou nem está quente o bastante para tal coisa. Não são só os pontos turísticos que são imperdíveis. Quem vem a Estocolmo precisa conhecer a Gamla Stan (cidade velha), kungsträdgården (“Jardim do Rei”), Museus de Malmö, Parque Kungliga Djurgarden, Monteliusvagen (mirante)... E, se você for fã, ainda tem o Museu do ABBA. Pela rua, é legal observar a arquitetura, que é clássica e com um ar medieval, muito bem planejada e projetada. Destaco também as festas e casas noturnas, que são animadas e interessantes. Mas, para entrar em qualquer boate, você precisa ter mais de 21 anos. Essa é outra coisa curiosa: para beber, você só precisa ser maior de 18 anos; mas para comprar bebida, tem que ter mais de 21. Estocolmo é uma cidade especial, tanto para uma visita quanto para morar. Vale a pena passar por aqui!
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SOBRE CRIATIVIDADE
Gabriel Vidolin Chef de cozinha
Quando me perguntam como eu crio meus pratos, eu sinto um borbulhar no estômago, igual quando fazemos cozido. Essa é a pergunta que eu mais tenho escutado depois de - Por que o que você faz é arte ? E é ai que eu começo me embananar e tentar explicar o que é simples para mim. Se eu caminho, seja na minha cozinha, seja no meu jardim, ou fora do meu mundo, cada passo é o combustível para os órgãos que eu sou. Cada vez que eu fecho os olhos, eu vejo o prato que vai nascer e, na lingua, eu sinto as notas que devem estar. Cada vez que eu fecho os olhos, eu vejo o porquê. Essa cozinha é visceral. É o que eu sou e o que eu serei. Ela muda dia a dia, como eu mudo, ela cresce e regride, sem medos, da mesma maneira que eu o faço. Essa persona que é digerida pelo espectador é a minha maior realização. O conforto de um abraço. A cada hora em que eu penso em simplesmente desistir. Dentro no meu museu particular, eu gravo e copio, tudo o que eu vi, vivi e senti. Eu penduro nas paredes as vistas mais impressionantes, os caminhos mais tortuoso, os momentos mais inebriantes. Eu guardo em uma gaveta o suspense, o terror... e a agonia, esta vai bem guardada em uma pasta que leva um cadeado. Dessas lembranças, eu só preciso a titulo de registro. Nesse museu particular, eu caminho livremente e confortável pelo chão de grama. Com um martelo na mão, obras no braço e pregos nos lábios.
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Sara Magnani • Tradução e versão de Lorena Filgueiras
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Vinagre Balsâmico:
uma relíquia de familia Atravessando a parte mais antiga da casa, entramos no mundo mágico dos barris, que estão em toda parte; são grandes, pequenos, em acácia, zimbro e madeira de amoreira. Existem tambores revestidos, novos, antigos e danificados.
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odos eles têm um pequeno buraco localizado na parte de cima, que fica coberto por uma toalha branca de algodão, cuja “função” é cuidar do precioso conteúdo do barril, protegendo-o do pó eoutras impurezas. Todos os barris estão lá, em repouso, arrumados em fila, respirando oxigênio puro. Em um dos barris, há um coração e duas iniciais - testemunhos de uma fascinante e antiga história de amor entre dois jovens. “Este barril está em nossa família há pelo menos cem anos, mas certamente é muito mais antigo que isso”, diz Daniele Bonfatti, produtor desta verdadeira [e deliciosa] joia. O ambiente onde o vinagre é produzido é o oposto de onde um vinho é produzido. É no sótão, sob o telhado, porque é fundamental que a temperatura não seja constante e sim dependendo do ambiente e das mudanças de temperatura externa. Não importa se a temperatura for de zero grau [durante o inverno] para 35 graus [no verão escaldante] – os barris estão sempre abertos, a fim de facilitar o processo natural. “Eles têm que respirar oxigênio ou não conseguimos produzir vinagre algum”, adverte Daniele. O aroma que impregna a “Acetaia” é muito forte. E cada barril tem o seu próprio perfume característico.
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Cada barril tem sua própria história Daniele Bonfatti é um dos três sócios da “Acetaia de Cristo”, uma das “acetaias” mais antigas no universo do vinagre balsâmico tradicional. A Cristo fica localizada na Sorbara, região perto de Modena, na Emilia Romagna, e é uma terra de uvas e árvores frutíferas, cuja vocação contabiliza ainda séculos de tradição culinária. Em 2000, a marca conquistou a Denominação de Origem Protegida: hoje em dia, a produção de vinagre, típica de áreas da Modena e Reggio Emilia, é controlada pelos Consórcios, que desde o final dos anos setenta certificam a transparência da produção. Sobre o vinagre balsâmico já falavam Cícero, Plínio e Virgílio… mesmo nos tempos dos antigos romanos. Eles cozinhavam mostos de uvas [o resultado do esmagamento da uva com seu suco, cascas e bagas], que “solet acescere”: eram deixados nas barricas, talvez por esquecimento, que se convertiam em vinagre. Conta-se que o imperador do Sacro Império Romano, Henrique III, no início do ano 1000, parou no castelo de Matilda de Canossa e foi-lhe servido o vinagre “aveva uditofarsi colà perfettissimo” [que ele ouvira dizer que era perfeito! Nota da tradutora]. »»»
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O primeiro escrito em que o vinagre balsâmico é citado data de 1508: um documento do Duque Alfonso d’Este, marido de Lucrécia Borgia; a partir do Renascimento, o vinagre balsámico, da zona do ducado, tornou-se conhecido e popular. Transmitido de geração em geração, oferecido como dote de casamento ou no nascimento de um filho, levou alguns séculos para que o vinagre balsámico transcendesse os segredos da nobreza e pudesse se apresentar ao mundo. Quando a madeira envelhece, torna-se uma esponja, absorvendo muita acidez e se corrói, perdendo os cristais de açúcar. Daniele nos mostra um outro barril velho que era colocado sobre os cavalos e utilizado para transportar água ou vinho [provavelmente para dar de beber aos soldados romanos]. Há também barris que datam de 1884. “Temos alguns barris muito, muito velhos”. Os chamamos de “tambores da vovó”. “Dentro de cada ‘acetaia’ há muitas dessas histórias e contos intimistas. Portanto, quando nos referimos ao nosso vinagre, é como falar com um membro da família”. Os barris contam histórias, levando-nos a outros tempos, tempos mais antigos ... Do vinhedo ao mosto cozido O vinagre balsâmico tradicional é como uma fortuna, uma herança, que deve ser cuidada e levada a cabo com grande dedicação. As uvas utilizadas se concentram em três hectares de vinhedo – absolutamente orgânicos – cultivados com uvas tintas e brancas [Trebbiano e Lambrusco, espumantes típicos da região de Modena]. “Coletamos as uvas mais maduras com carro, trator e mesmo à mão, a partir de meados de setembro até meados de outubro. Começamos logo que a manhã nasce para, em seguida, ao meio-dia, voltar a pisar uvas para extrair o ‘mosto’”, o produto graças ao qual o vinagre balsâmico tradicional é produzido. Um dos passos mais importantes é o cozimento, que deve ser rápido porque, com o calor do verão, ele imediatamente começa a fermentar e perder o precioso açúcar. Por isso é deixado na geladeira, à espera da cocção. »»»
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OVELHANEGRA
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A sala de cocção contém grandes potes, nos quais é cozido o mosto. De manhã cedo, o mosto retirado do frigorífico é aquecido a 95 graus. Em poucas horas, você começa a ver na superfície os sedimentos, chamados de “cappello”, que são retirados para dar ao mosto uma aparência mais limpa. A história da produção de vinagre balsâmico não está ligada a disciplinas específicas. “O balsâmico não foi um produto ‘pensado’. Ele era feito porque era comum fazê-lo. Em casa. Era uma tradição”. As bactérias do vinagre e o desejo pelo álcool Para fazer o vinagre balsâmico tradicional é utilizada a “bateria” – um conjunto de barricas, que consiste em barris de diferentes tamanhos e madeiras, organizados do maior para o menor. A madeira pode ser de sete variedades diferentes e cada uma lega um sabor diferente ao produto. “Aproveitamos ao máximo essas variedades de madeira. Queremos que os vinagres fiquem ainda melhores, por exemplo, com o uso de um tipo de madeira, a da amoreira, ou obter uma mistura de todas”. A denominação de ‘origem protegida’ pressupõe o rastreamento do produto, desde a vinha até
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a garrafa, além da característica marca [idêntica à dos barris] e a data de início da produção. Assim, cada barril tem um cartão de identidade com seus próprios detalhes e características. Em resumo, a feitura do vinagre balsâmico é um processo totalmente artesanal e natural, em que conta o trabalho do homem e da natureza. Balsâmico sem idade Hoje, há no mercado os chamados “produtos balsâmicos”, que tendem a confundir o consumidor. É o caso das especiarias balsâmicas, muitas vezes feitas com saborosos vinagres. Pode até parecer que tudo o que é “denso e escuro”, é antigo e tradicional, mas são produtos que não têm nada de vinagre balsâmico. De modo que agora o vinagre balsâmico tradicional pode ser reconhecido por características muito específicas. Em primeiro lugar, ele deve ter mais de 12 anos de idade; não pode ter a data de produção e deve ser armazenado em uma garrafa especialmente desenhada pela Giugiaro Design. Foi uma escolha do Consórcio adotar uma única garrafa como garantia do produto. É por isso que se encontrarmos essas garrafas em lo- »»»
jas de Paris, Nova York ou Roma, podemos ter a certeza de que é vinagre balsâmico tradicional de Modena. Você, leitor, deve estar se perguntando: por que não pode constar a data na embalagem? “Depois de 12 anos, retira-se apenas 10% do conteúdo/volume do barril. Essa quantidade [10%] não é apenas o resultado de doze anos, mas de todos os anos que “entraram” no barril”. E é por isso que a garantia de Origem Controlada foi aprovada e o Ministério reconheceu que os fabricantes não podem colocar uma data em seu vinagre. O vinagre pode ter 12 anos [mínimo] ou mais de 25 anos – o que eles chamam de “extra velho” ou “centenário”. Gotas de Vinagre O vinagre balsâmico tradicional é agridoce, por conta da harmoniosa convivência entra a acidez e os açúcares: quando as partes se juntam, se casam e juram amor eterno, unificam-se em uma mescla de sabor único. E é por isso que produtos extras velhos têm uma harmonia e equilíbrio semcomparação. Parte importante de uma visita a uma “acetaia” é a degustação. O vinagre é colocado em um frasco de vidro, que é movimentado delicadamente, de modo que seja possível ver a densidade e a clareza, iluminado pela chama de uma vela. Duas ou três gotas de vinagre pousam em uma colher de cerâmica branca [que não deixa gosto] e cheiros, de modo que seja possível saborear os aromas que emanam da acidez. Uma vez colocado na boca, deve-se apreciá-lo calmamente, deslizando a língua antes de engolir, enchendo de aroma as papilas gustativas. A degustação oferece diferentes tipos de vinagres, até que chegamos ao vinagre envelhecido em madeira de cerejeira, com doze anos de ida- »»»
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de. Imediatamente percebemos o sabor aveludado, doce e generoso, perfeito com morangos. “Um sorvete com algumas gotas de vinagre com gosto de cereja é algo sublime”. Há ainda o vinagre conservado em zimbro, uma madeira resinosa e famosa por seus frutos, e fica perfeito com carne de caça. Já o vinagre de amoreira é muito apreciado com peixes. Não importa sua escolha: apreciar um desses vinagres é um privilégio. Até que, finalmente, chegamos ao “extra velho”. O balsâmico que tem mais de 25 anos e é chamado de Black Diamond, ganhou um prêmio em 2010 de “melhor balsâmico tradicional”. Ele é espetacular. Perdeu a “agressividade” de um produto jovem e possui uma intensidade muito forte; é complexo e penetrante. Se retido na boca durante um tempo, leva a sabores e emoções que mudam continuamente. É para ficar sem palavras, em um silêncio obsequioso. O legado Por doze anos, Daniele trabalhou como técnico em prótese dentária. “Somos a primeira geração que vive desse trabalho, que se dedica exclusivamente à produção de vinagre. Nossos pais e avós o faziam em seu tempo livre”, explica ele, que se sente um privilegiado e é consciente de que é guardião de um verdadeiro tesouro. Desde que começaram a crescer como uma empresa, organizam noites temáticas em restaurantes, trabalhando com chefs como Massimo Bottura da Osteria Francescana e têm se expandido com o sucesso conquistado no mercado. “Hoje, exportamos 60% de vinagre para o exterior. O mercado mais rentável é os EUA. É importante frisar que é um produto cujos custos são muito elevados e que exige um grande sacrifício”, continua. “Não há feriados, nem pausas. Não há domingos ou feriados. Trabalhamos de forma contínua e estamos sempre aqui porque,se a produção para por um único dia, podemos perder o trabalho de gerações. É um trabalho exigente, que congrega o amor à terra, os produtos, o conhecimento do solo e ainda cuidar do meio ambiente. Apesar das inovaçõestecnológicas [conhecimento técnico, geladeiras etc.], mantém-se o sabor do velho, do trabalho de um tempo que você tem que fazer bem. E feito em família. É uma forma de ser imortal, de deixar uma marca no futuro, por pelo menos centenas de anos. Também espero que as gerações futuras possam desfrutar desse tesouro e manter sua produção, para a felicidade de todos os paladares. É um desafio, uma tradição; uma história que continua a ser escrita. O passado se torna o futuro graças aos avós e às gerações mais jovens”.
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r O que são Competências Gerenciais; r O que se espera de um Líder de Sucesso; r Importância de dar e receber feedback; r Aprimorar a responsabilidade de delegar; r Como endender características pessoais; r Como gerenciar conflitos; r Como proporcionar alternativas de soluções; r Maturidade Equipe X Maturidade Líder;
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r Como identificar pessoas talentosas; r Existe fórmula para o Sucesso?
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Região: Provença – Bassin du Beausset Classificação legal: Côtes de Provence A.O.C. Composição de Castas: 40% Grenache, 15% Cinsault, 15% Mourvèdre, 10% Syrah, 10% Carignan, 5% Rolle, 5% Ugni Blanc. Graduação Alcoólica: 12,5° GL Características organolépticas: Coloração salmonada delicada e brilhante. Traz cítricos, pêssego maduro e flor de laranjeira no olfato. Texturado, mas sem perder o frescor vívido. Conjunto bem conseguido. Amadurecimento: 6 meses em cubas de aço inox. Estimativa de guarda: 2 anos Premiações mais relevantes: Wine Enthusiast: 90 pontos Wine Enthusiast Magazine: Best buy 2013 Onde comprar: Decanter www.revistalealmoreira.com.br
Região: Minho - Vinho Verde - Subregião de Monção e Melgaço. Vinhas com 14 anos de idade. Classificação legal: Vinho Verde D.O.C. Composição de castas: 100% Alvarinho Graduação alcoólica: 13,5° GL Características organolépticas: Palha cristalino com nuanças verdeais. Cheio de caráter mineral no olfato, num contexto muito sóbrio, que ainda revela limão e ervas frescas. O ataque gustativo é dotado de incrível maturidade aliada ao pulsante frescor mineral. Um magnífico Alvarinho de território! Elaboração: Este vinho foi concebido após 10 anos com estudos sobre 20 parcelas, em que uma e somente uma se destacou ao longo desse tempo. Desengace e maceração pelicular a 15°C por 24 horas. Prensagem. Decantação por 48 horas a 12°C. Fermentação em barricas de carvalho usadas com periódicas bâtonnages. Permanência de 6 meses em garrafa antes de sair ao mercado. Amadurecimento: 9 meses em barricas usadas, com levantamento semanal das borras (bâtonnage). Temperatura de serviço: 12°C Premiações mais relevantes: REVISTA DE VINHOS: Prêmio de Excelência 2010 REVISTA DE VINHOS: 18,5 em 20 REVISTA DE VINHOS: Produtor do Ano 2010 PARKER: 90 Pontos Onde comprar: Decanter
Produtor: House Casa del Vino – Grupo Belen Composição de castas: 100% Pinot Noir Graduação alcoólica: 12, 5° GL Região: Vale de Casablanca Chile Premiações mais relevantes: 92 Robert Parker São somente 1200 garrafas para a primeira safra de um vinho muito especial “hecho a mano”, como gosta de defini-lo a jovem enóloga Daniela Salinas, que esteve à sua frente, cuidando com carinho e profissionalismo, nos mínimos detalhes, da elaboração do segundo vinho da vinícola House Casa del vino. Elaborado com o método da maceração carbônica e fermentado por dez dias em tanques ou “ovos de concreto” [cada vez mais utilizados pelos winemakers, na fermentação de seus vinhos já que, comprovadamente, o concreto consegue oxigenar melhor os vinhos sem deixar o gosto, muitas vezes estranho de madeira e, principalmente, sem os excessivos e persistentes aromas de carvalho]. O Despechado Pinot Noir “Vino hecho a mano” 2013 é leve e com pouco álcool. Essa maravilha de vinho tem origem em um pequeno vinhedo de 3 hectares. Nasceu, cresceu e foi engarrafado na Vinícola House Casa del Vino, através de um projeto do Grupo Belén (Morandé, Zorzal, Mancura) que teve início em 2012. Nesse projeto, os enólogos responsáveis de cada linha do grupo têm total liberdade para experimentar e criar vinhos novos e diferentes, fora das regras do mercado. São vinhos experimentais que estão tendo uma ótima aceitação de um público mais exigente e que ama os vinhos bio. Considerado um vinho “feminino” por sua enóloga, o Despechado, por não ter sido filtrado e clarificado nos olhos apresenta um vermelho leve quase opaco; o Nariz é rico de frutas vermelhas. Na boca, é leve com sabores finos e envolventes, especiarias, couro e frutas vermelhas em abundância. Onde comprar: Grand Cru Belém Indicação da Sommelière Ana Luna Lopes
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TERRA AMATAROSÉ 2012 - DOMAINESORIN
vinho
Composição de Castas: 100% Pinot Grigio Região: Delle Venezie IGT Veneto Itália Graduação alcoólica: 12, 5° GL Os vinhos para o verão são geralmente alegres, leves, sedutores, sápidos, minerais e brancos com ou sem borbulhas. Quase sempre são vinhos simples e muito diretos, que esperamos que nos refresquem e nos abram o apetite depois de um lindo dia de sol, ou num jantar com amigos. Uma das uvas perfeitas para os vinhos de estio é, sem duvidas, a Pinot Grigio. Muito na moda, ultimamente nos mercados asiáticos, aqui no Brasil, é bem conhecida e apreciada,portanto essa casta produz vinhos gastronômicos e agradáveis. Uva fértil e delicada, tem origem francesa, pois possui parentesco com a nobre casta tinta da Borgonha - a Pinot Noir. Seu nome deriva da cor da casca da uva que possui essa característica. Pinot Grigio é como ficou conhecida na Itália e “grigio” quer dizer cinza. Atualmente, é o branco italiano mais vendido no mundo, produzidos principalmente nas regiões Veneto, Friuli e Lombardia (Itália do Norte) são um verdadeiro fenômeno de vendas. Quase 80% da produção italiana é vendida no exterior. Em território francês, chama-se Pinot Gris (cinza) e é uma das uvas mais importantes da Alsácia onde foi implantada no século XVII. Lá, além de produzirem vinhos secos, são produzidos vinhos licorosos com o método de “Sélection de Grains Nobles” ou, em poucas palavras, uvas vindimadas super maduras com o fungo “Botrytis Cinerea”, nesse caso com altíssima concentração de componentes aromáticos e açúcar nas uvas. Corte Giara é uma das quatro marcas do Grupo italiano Allegrini. O projeto nasceu em 1989 para ampliar uma gama de vinhos mais fáceis e mais acessíveis voltados para um público jovem. Onde comprar: Grand Cru Belém Indicação da Sommelière Ana Luna Lopes
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www.eloincorporadora.com.br Artes e fotos meramente ilustrativas que poderão ser alteradas sem prévio aviso, conforme exigências legais e de aprovação. Os materiais e os acabamentos integrantes estarão devidamente descritos nos documentos de formalização de compra e venda das unidades. Plantas e perspectivas ilustrativas com sugestões de decoração. Medidas internas de face a face das paredes. Os móveis, assim como alguns materiais de acabamento representados nas plantas, não fazem parte do contrato. A incorporação encontra-se registrada no Cartório de Registro de Imóveis, Faria Neto, Único Ofício da Comarca de Ananindeua-PA, no Livro Nº2(RG), matrícula 16911, sob o NºR-5-Matrícula 16911, Protocolo Interno Nº81936, Protocolo Definitivo Nº52465, em 07/06/2013.
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Planejamento, Incorporação e Construção:
decor
POLTRONA CHADE. Tem o tipo de design que oferece conforto e leveza. Apesar das medidas grandes que ela possui, esse estilo de poltrona funciona em uma disposição tradicional com um belo sofá, compondo um ambiente de tamanho médio ou funciona em ambiente maior com três peças em disposição linear. www.revistalealmoreira.com.br
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Ana Carolina Valente consultoria: Arquiteto Caíque Lobo e Designer Bertrand Tenório
Dudu Maroja
“Espere sentado, ou
vocêse
cansa”.
Parafraseando Chico Buarque de Holanda - da música “Bom Conselho” - neste décor ressaltamos a importante presença das poltronas, que são mais que simples objetos integrados à decoração. Elas refletem preferências e estilos, servindo como narrativas de períodos, movimentos e sociedades; e podem nos contar histórias, como a hierarquia social. Desde os primórdios da humanidade até os dias de hoje, seja em casa, no trabalho, no consultório ou em qualquer espera, elas estão juntinhas a todos nós.
C
hegar ao seu lar depois de um estafante dia e poder relaxar esticando as pernas, fazendo uma boa leitura, assistindo ao seu programa favorito ou, ainda, contar como foi a correria diária é o desejo de muitos. Sendo realizado em uma confortável e aconchegante poltrona pode ser ainda melhor. Tal mobília chega a fazer nos sentirmos como verdadeiros reis e rainhas e eis que a comparação tem seu fundamento: no Egito Antigo – antes de Cristo – as poltronas eram tidas como um símbolo de nobreza e poder. Naquele tempo, somente os faraós podiam aproveitar de toda a imponência dessas peças, que eram revestidas de ouro e pedras preciosas. Se pararmos para observar, as poltronas são muito semelhantes aos tronos. Já na sociedade romana, as poltronas também eram símbolo de superioridade e eram usadas para grandes refeições. Somente homens utilizavam dessa mobília, aproveitando para descansar enquanto comiam. Eram considerados objetos exclusivos de seu dono (era proibido sentar-se na cadeira de outro, pois funcionava como extensão de cada um), não podendo ser replicada. E, por diversas outras culturas, a mobília tinha seu utilitário diversificado desde modelos de honra até o credo de usá-los pós-morte. Só que, de lá pra cá, o mundo mudou muito e a evolução das poltronas acompanhou a da humanidade. Com a industrialização, o assento tornou-se parte da vida de muitas pessoas. Homens e mulheres, deixando o antigo e falido machismo de lado. Estando presente em diversos ambientes, ainda funciona com seu objetivo inicial: como um trono.
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Alguns quesitos importantes estão sendo aprimorados ao longo dos tempos: o conforto e a praticidade.Porém, não é só o bem-estar trazido que contam pontos a favor, pois se tornaram peças coringas na decoração. Uma simples mudança de tecido pode renovar todo o ambiente. Hoje em dia, existe uma infinidade de estampas para auxiliar nessa tarefa. Eles podem até ser impermeabilizados, boa pedida para quem tem crianças e animais em casa. Para desmembrar todos esses mistérios, dúvidas e versatilidade, contamos com a consultoria de Caíque Lobo, arquiteto e Bertrand Tenório, designer. Separamos alguns itens onde mais podemos usá-las e eles nos ajudam como fazer de maneira simples sua aplicabilidade. Gentilmente pedimos que se sentem, caros leitores, e aproveitem! Em casa Segundo Bertrand, em um projeto bem planejado, as poltronas têm funções diferentes de acordo com as nuances e necessidades da decoração. É um complemento excelente, que confere estilo e personalidade a um cômodo. O designer dá sugestões - e as exemplifica com vários modelos – sobre o uso em domicílio. Por serem indispensáveis nas salas de estar, elas integralizam os sofás, quebrando o padrão do ambiente e trazendo mais charme. E, para os que têm dúvidas...sim, aspoltronas são tão versáteis e têm espaço até nos quartos e são ótimas para relaxar, funcionando como um mini sofá (podendo ser em couro pelo conforto), tornando-se uma companheira muito agradável na hora de uma boa leitura. »»»
POLTRONA SOHO Tem um traçado mais em curvas com base giratória. Os descolados e apreciadores de design adoram, por compor bem com tudo na sala. Seu tamanho também é ideal para salas menores que não abrem mão de qualidade.
POLTRONA TEMES Algumas poltronas funcionam com uma peça diferenciada num projeto e este é o caso da Temes. É uma escultura que tem de ser bem pensada para enriquecer o espaço seja uma sala ou um canto despojado. É, sem dúvidas, uma peça mais décor.
POLTRONA MABELLE Se houver uma condensação de todas as poltronas referidas, essa poltrona é a Mabelle. É uma peça coringa em qualquer projeto, pois, além de ser extremamente confortável com seu puff, tem material nobre como couro e o aço carbono compondo sua beleza. Muito funcional no home theater ou quarto.
POLTRONA ISA Para os clientes que exigem conforto, qualidade e,além de tudo, uma assinatura estrelada, esse é o caso da poltrona Isa. Desenhada na prancheta do badalado Jader Almeida, é uma peça sofisticada em couro. Vai bem a qualquer lugar que peça uma linda poltrona, como uma sacada gourmet.
CADEIRAS TECHNICOLOR Para a criançada, essas divertidas cadeiras da Tidelli funcionam nos quartos, área recreativa, jardins e brinquedotecas. Além da cartela de cores vibrantes, essas cadeirinhas de alumínio são do tamanho exato para os pequeninos e tem a leveza como vantagem predominante.
POLTRONA MASTER A Linha de cadeiras Master reúne o conforto e o estilo indispensável para ambientes executivos exigentes, onde consistência é indispensável. São poltronas fixas e giratórias, sempre revestidas em couro ecológico ou natural de alta qualidade, combinado com superfícies cromadas e duas opções de costuras do estofado.
POLTRONA SLIM O design segue o conceito slim (do inglês fino, esbelto), tendência largamente difundida na Europa e Estados Unidos, de contornos anatômicos inspirados na curvatura natural do corpo. A ergonomia é completada pelo uso de espumas de alto desempenho. Conforto e sofisticação lado a lado.
POLTRONA PRIME A poltrona Prime é a tradução do sentimento para desfrutar do máximo conforto através dos acabamentos requintados e atenção aos detalhes de elegância e sofisticação em toda a construção. POLTRONA EGG OU EGG CHAIR Um dos ícones do design clássico de Bauhaus, dispensa qualquer apresentação. Criada pelo designer Jacobson, a Poltrona Egg recebeu este nome devido a sua geometria, que claramente lembra um ovo e é conhecida mundialmente pelo seu conforto e praticidade.
POLTRONA START Apresenta modernas tecnologias e acabamentos, acompanhando a evolução dos ambientes de trabalho.Propícia para uso contínuo para qualquer setor em escritórios e sala de reuniões.
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POLTRONA NEWNET Essa poltrona oferece a experiência única proporcionada pelo encosto em tela de dupla membrana. Desenvolvido para de adaptar continuamente à curvatura da coluna e oferecer maior apoio, esse sistema permite melhor aeração do corpo durante o uso.
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No trabalho Para o arquiteto Caíque, para escolhermos cadeiras para escritório é necessário um cuidado especial, por serem utilizadas para passar a maior parte do dia no ambiente de trabalho. Para ele, esse tipo de cadeira tem em primeiro lugar que se ajustar ao usuário, tanto na regulagem de altura quanto inclinação de encosto, de forma que quem esteja sentado sempre forme uma angulação de 90° nas pernas. Existem inúmeras variações da mesma cadeira, podendo ser fixas, giratórias e com rodizio, tudo para facilitar a mobilidade. Justamente pelo seu design diferenciado, a poltrona se enquadra em várias facetas do nosso dia. Em algumas empresas, ainda notamos o uso de modelos diferentes por setores conforme a influência da hierarquia dentro da empresa. Há de se optar para prevalecerem o conforto, mas, quando conseguimos unir o ao design, é perfeito. Decora e rende charme e sofisticação ao ambiente.
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Arte em cada parte.
Harmonia
no todo.
3 linhas exclusivas proporcionam a combinação ideal entre beleza e sofisticação. A partir de matérias-primas de alto padrão, são produzidas obras perfeitas para o seu espaço. Escolha a de sua preferência e se encante com as pastilhas de vidro que têm tudo a ver com o seu ambiente.
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LEAL MOREIRA COMEMORA A ENTREGA DO SEU 29º EMPREENDIMENTO, O TORRE RÉSIDENCE Em comemoração à entrega do Torre Résidence, a Leal Moreira e PDG realizaram no dia 6 de agosto um evento especial para os futuros moradores, que foram recebidos em grande estilo com música ao vivo e coquetel exclusivo. O evento foi realizado nas áreas sociais do empreendimento. A localização privilegiada na Trav. 3 de maio, entre Av. Nazaré e Av. Gentil Bittencourt, e os apartamentos de 174m² e coberturas de 361m² são alguns dos destaques. Além disso, a área de lazer é ampla, com itens como piscina, salão de festas, churrasqueira, walk dog e brinquedoteca.
ALMOÇO JUNINO Em comemoração aos colaboradores que fazem aniversário no mês de junho, a Leal Moreira realizou no dia 27 um almoço temático de festa junina, com direito a comidas típicas, brincadeiras de São João e muita animação. www.revistalealmoreira.com.br
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PRIMEIRA REUNIÃO OPERACIONAL DA CASA COR PARÁ A Leal Moreira participou no dia 27/06 da primeira reunião operacional da Casa Cor Pará 2014. Os diretores da mostra, André Leal Moreira e Ana Paula Guedes, explicaram detalhes do projeto aos profissionais presentes – como arquitetos, paisagistas e designers - e apresentaram algumas novidades, em almoço no Restaurante Famiglia Sicilia. Considerada a maior mostra de arquitetura, design e paisagismo das Américas, a Casa Cor Pará terá, pelo quarto ano consecutivo, o patrocínio estrutural da Leal Moreira e será realizada no período de 30 de setembro a 23 de novembro no Boulevard Shopping.
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Nos 36 anos da Lotus, quem fala é o cliente. Sr. Sadraque Lima, síndico do Ed. João Rocha. Cliente há 31 anos.
“A Lotus vem nos auxiliando na administração de uma forma positiva e tem se mostrado idônea. E o resultado dessa parceria de confiança são esses 31 anos. É sinal que deu certo!”
Sra. Eliana Zacca, síndica do Ed. Bandeira Coelho. Cliente há 30 anos.
“Com o acesso a relatórios gerencias de despesas e receitas do condomínio, via internet, os condôminos podem acompanhar a movimentação financeira. Essa transparência é um dos segredos.”
Sra. Maria do Socorro Costi, síndica do Ed. Paola. Cliente há 25 anos.
“É a qualidade do serviço que faz com que estejamos há tanto tempo com a Lotus. Dou nota 10!”
Sr. Francisco de Assis, síndico do Ed. Pres. Pernambuco. Cliente há 20 anos.
“Uma empresa séria e, com ela, o trabalho do síndico se torna mais fácil. Assim, ganha-se tempo para investir em outros assuntos. Um serviço de excelente qualidade”.
Sr. Domingos Silva, síndico do Ed. Málaga. Cliente há 13 anos.
“Gosto do trabalho da Lotus porque é um trabalho sério, profissional e de resultado. No ramo em que ela trabalha, é a melhor do mercado”.
Sr. Mário Elísio, síndico do Ed. Aphrodite’s Garden. Cliente há 3 anos.
“A importância de ter uma administradora como a Lotus é que você já traz o suporte da experiência de profissionais de todas as áreas. É esse apoio que faz com que o trabalho não seja difícil até para quem nunca foi síndico”.
Lotus, há 36 anos, a maior administradora de condomínios da Amazônia. Av. Mag. Barata, 1005 • (91) 3344-4420 • www.lotusonline.com.br /grupolotus
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LEAL MOREIRA PATROCINA CASANDO 2014 Pelo segundo ano consecutivo, a Leal Moreira é patrocinadora do Casando 2014, evento promovido pela Revista Mulher, de O Liberal, que será realizado nos dias 26, 27 e 28/08, na Estação das Docas. A programação deste ano está repleta de atrações especiais e terá expositores de diversos segmentos para apresentar as últimas tendências e novidades de festas de casamentos. Imperdível!
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LEAL MOREIRACONTRIBUI PARA INICIATIVA SOCIAL O movimento social Amigos de Belém lançou no dia 13/06 seu primeiro projeto e a Leal Moreira apoiou a iniciativa. “O projeto, intitulado ‘CatAmor’, tem como objetivo erradicar em cinco anos o trabalho infantil e a miséria associados ao lixo na Região Metropolitana de Belém. A primeira etapa, que será até agosto, é convidar as pessoas que tiverem interesse no tema para participar com suas sugestões”, explicou Paulo Pinho, um dos fundadores e coordenadores do Amigos de Belém. A ideia do movimento surgiu em 2012 quando um grupo de amigos se reuniu para fazer algo em prol de Belém. Com o tempo, eles perceberam que juntos poderiam contribuir bastante para a cidade e assim nasceu o Amigos de Belém. “O movimento é apartidário, sem fins lucrativos e a intenção é intervir de maneira positiva com projetos e ações. Nós queremos fazer a diferença nas vidas das pessoas porque acreditamos que a realidade é mudada a partir da mudança de postura de cada um.” Quer conhecer mais sobre o Amigos de Belém? Acesse a página deles no Facebook ou envie um email para paulopinho@ aretecd.com.br
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LEAL MOREIRA REALIZA VII SEMANA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES NO TRABALHO A Leal Moreira realizou, de 24/06 a 27/06, a VII Semana Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho para seus colaboradores de obras. Com o tema “Seja nosso artilheiro, use EPI no canteiro”, a SIPAT teve palestras sobre equipamentos de proteção individual (EPI), oficinas de rapel, testes de bioimpedância, verificação de pressão arterial, distribuição de preservativos, orientações sobre higiene bucal, cortes de cabelo, massagens relaxantes e consultorias nutricionais. Ao todo, a construtora alcançou aproximadamente 3000 colaboradores e prestadores de serviços. O pedreiro Carlos Augusto, 46, que trabalha no Torres Floratta, marcou presença no evento. “Essa é a terceira vez que eu participo da SIPAT e é sempre uma animação. Fiz o teste de bioimpedância e desfrutei de várias outras atividades, como as oficinas e a palestra. Foi muito proveitoso.” A servente Karla Gonçalves, 22, do Torres Dumont, também aproveitou a programação. “Todos os anos que participo eu gosto da SIPAT. A gente aprende a se prevenir dos acidentes em nosso ambiente de trabalho e ainda tem as atividades de lazer. Desci de rapel e foi muito bom.” O engenheiro de segurança do trabalho da Leal Moreira, Jorge Machado, destacou que “a SIPAT acontece durante uma semana, mas a nossa preocupação com a qualidade no ambiente de trabalho deve ser todos os dias do ano. A prevenção é a chave para a segurança do trabalhador e das outras pessoas que estão nas obras.” Os parceiros da Leal Moreira no evento foram o Laboratório Sabin, Centro de Referência em Segurança do Trabalho (CEREST), Secretaria Municipal de Saúde (SESMA), Instituto Embelleze, Escola de Cursos Profissionalizantes DNA, SESI e a Hapvida.
CRESCIMENTO No primeiro semestre de 2014, as contratações de colaboradores na Leal Moreira superaram mais de 60% em relação ao mesmo período do ano passado. As oportunidades na construtora continuam a aumentar - o que representa o crescimento da empresa - e os cargos com mais possibilidades de emprego são de pedreiro e servente.
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Check List das obras Leal Moreira projeto
lançamento
fundação
estrutura
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revestimento
fachada
acabamento
Torres Devant 2 ou 3 dorm. (1 suíte) • 68m2 e 92m2 • Travessa Pirajá, 520 (entre Av. Marquês de Herval e Av. Visconde de Inhaúma) Torre Unitá 3 suítes • 143m2 • Rua Antônio Barreto, 1240 (entre Travessa 9 de janeiro e Av. Alcindo Cacela). .
Torre Parnaso 2 ou 3 dorm. (1 suíte) • 58m² e 79m² • Av. Generalíssimo Deodoro, 2037 (com a Rua dos Pariquis). Torres Dumont 2 e 3 dorm. (1 suíte) • 64m² e 86m² • Av. Doutor Freitas, 1228 (entre Av. Pedro Miranda e Av. Marquês de Herval). Torre Vitta Office Salas comerciais (32m2 a 42m²) • 5 lojas (61m2 a 254m²) • Av. Rômulo Maiorana, 2115 (entre Travessa do Chaco e Travessa Humaitá). Torre Vitta Home 2 e 3 dorm. (1 suíte) • 58m² e 78m2 • Travessa Humaitá, 2115 (entre Av. Rômulo Maiorana e Av. Almirante Barroso). Torre Triunfo 3 e 4 suítes (170m²) • cobertura 4 suítes (335m²) • Trav. Barão do Triunfo, 3183 (entre Av. Rômulo Maiorana e Av. Almirante Barroso). Torres Floratta 3 e 4 dorm. (1 ou 2 suítes)• 112m² e 141m² • Av. Rômulo Maiorana, 1670 (entre Travessa Barão do Triunfo e Travessa Angustura). Torres Trivento 2 e 3 dorm. (1 suíte)• 65m² e 79m² • Av. Senador Lemos, 3253. (entre Travessa Lomas Valentinas e Av. Dr. Freitas). Torres Ekoara 3 suítes (138m²) • cobertura 3 suítes (267m2 ou 273m²) • Tv. Enéas Pinheiro, 2328 (entre Av. Almirante Barroso e Av. João Paulo II). mês de referência: julho de 2014
Veja fotos do andamento das obras no site: www.lealmoreira.com.br
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em andamento
concluído
Check List das obras ELO projeto
lançamento
fundação
estrutura
alvenaria
revestimento
fachada
acabamento
Terra Fiori 2 quartos • 44,05 a 49,90 m2 • Tv. São Pedro, 01. Ananindeua. mês de referência: julho de 2014
Portaria
Área de lazer do Terra Fiori
Suíte do casal
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Piscinas
Piscinas
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Fachadas
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Você quer empreender no varejo? Nara D’Oliveira Consultora empresarial
Foi em outra era e em outra galáxia que abrir uma lojinha configurava-se em um passatempo, um preencher de lacunas durante uma transição ou até mesmo uma forma de investir sem precisar dispensar energia e tempo. No ano de nosso senhor de 2014, o empreendedor precisa de muito conhecimento desse mercado e muito foco para que a empreitada se torne rentável. Em um mundo global, sua loja “com raiz” concorrerá com inúmeros outros equipamentos, mas, sobretudo, a compra deixou de ser no bairro ou até mesmo na mesma cidade. As pessoas deslocam-se muito e a internet oferece mais opções do que os concorrentes gostariam. Por sua vez, os equipamentos são muito elaborados. Vão-se muitos anos luz desde os tempos da mercearia do Seu Joaquim, pois a ambiência de lojas no varejo possui todo um estudo à parte: iluminação, aromaterapia, cor, altura do teto, som ambiente, enfim, tudo que possa levar à valorização do produto com foco em um dado segmento para um dado tipo de público. E as pessoas? Na era do bom servir encantando o cliente, encontrar pessoas com o perfil para a lojinha, atraí-la, treiná-la, retê-la, motivá-la e por aí em diante, precisa de toda inteligência com pessoas que possuem esse foco na organização e mais um esforço considerável do gerente de linha. Eu diria que gerenciar pessoas no varejo é um job que ocupa 24 horas do dia da maioria dos gestores de loja. Como se não bastasse, as margens são apertadíssimas. Não dá nem para pensar devagar, analisar com mais calma porque corre-se o risco de perder o bonde e, com ele, a tal margem que já era pequena. Depois disso tudo, se você ainda quiser empreender no varejo, é porque você foi mordido e a cachaça do segmento está irremediavelente em suas veias, farás parte do imenso bloco dos varejistas apaixonados e então precisarás de muito foco, intimidade com teu segmento, produtos e o principal: ter claro que neste mundo e nesta galáxia o jogo nunca está ganho. Os produtos se modificam muito rapidamente acompanhando e criando hábitos nas pessoas, então,para o varejista, seu barco sempre está virado para onde o vento sopra. Comprar e vender é uma das atividades mais antigas, só que hoje possui muita tecnologia.
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RLM nº 45
VIVA O SEU LEAL MOREIRA
GENTE DESIGN ESTILO IDEIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA
ano 10 número 45
Maria Bethânia A maior intérprete da música brasileira fala à Revista Leal Moreira sobre sua infância, Dona Canô e seu trabalho
Leal Moreira
Tiago Splitter Waly Salomão Aceto Balsâmico
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