Criação & Design Classroom Por Denise Ouriques*
“A Muralha da China” feito para a revista Aventuras na História. Créditos: Luiz Iria, Eber Evangelista, Lívia Lombardo, Tiago Cordeiro e Fábio Otubo
Infográficos
O visual da informação – Parte 3 Conheça um pouco sobre os profissionais e como é o mercado de infografia
É
interessante perceber como as pessoas que sabem fazer bem o seu trabalho e são apaixonadas por ele (provavelmente porque uma coisa seja prerrogativa para a outra) também são éticas e acessíveis. Se você conhecer algum bam-bam-bam que seja arrogante e inacessível, pode estar certo de que ele não é tão bom assim. Para nossa sorte, todos os contatados e citados nessa terceira parte da nossa conversa sobre infografia são realmente muito bons no que fazem! Neste mundo conectado, as pessoas estão mais atentas a isso e, apercebendo-se mais umas das outras, podem comunicarse, trocar experiências, interagir. Se a informação é a grande vedete destes últimos tempos, a forma como ela é apresentada tem se mostrado como grande aliada no 58
momento da escolha do veículo que vai lhe manter a par das novidades. Conhecer um pouco das pessoas que atuam nesta área é mais um passo para acompanharmos a evolução desta profissão. Estes são alguns dos profissionais que são referência na infografia no Brasil e no mundo. Infelizmente não conseguimos contemplar outros profissionais, porque o nosso espaço é restrito, mas gente competente é o que não falta! Confira. Luiz Iria Formado em publicidade e trabalhando há 15 anos com infografia, este pioneiro tem enorme paixão pelo que faz, desde seus primeiros desenhos na infância, e inspira muitos novatos a embrenharem-se na profissão. Premiado inúmeras vezes por seu trabalho, inclusive
com prêmios Abril, Esso e Malofiej (principal prêmio mundial de infografia), onde também foi jurado. Além dos cursos e workshops para os quais é convidado (ESPM, PUC-SP e USP), foi palestrante nos encontros mundiais da Society for News Design (SND), fez estágio no El Mundo e curso na Universidade de Navarra, na Espanha, e abriu as portas, na Editora Abril, para a inovação nesse setor. Precursor do Núcleo de Infografia em uma das maiores editoras brasileiras (para levar este trabalho a outras revistas, além da Superinteressante e Mundo Estranho), ele vislumbra um grande crescimento para o setor, especialmente na educação, com a mudança de linguagem dos livros didáticos. Outro setor que lucraria com essa abertura para a visualização de dados seria a publicidade, edição 113 • 2011 • www.publish.com.br
MĂĄrio Kanno Editor adjunto de arte da Folha de SĂŁo Paulo, onde atua desde 1988, coordena a equipe ao lado de FĂĄbio Marra. Seu trabalho de jornalismo visual, antes rotulado como arte final, sempre foi traduzir informaçþes com diagramas, grĂĄficos e mapas. Segundo ele, no final de 1980 praticamente sĂł a Folha e a Veja trabalhavam com infogrĂĄficos. A equipe de arte da Folha (com Silas Botelho e Renato BrandĂŁo no comando) foi pioneira e fonte de inspiração para outros jornais e revistas. Os infogrĂĄficos ganharam espaço principalmente por serem coloridos, quando as fotos ainda nĂŁo eram. O cenĂĄrio atual mostra que a infografia estĂĄ consagrada como uma ferramenta da narrativa jornalĂstica. AlĂŠm disso, a mĂdia precisa desesperadamente de imagens. Publicaçþes onde o texto domina o espaço sĂŁo cada vez mais raras.
trazendo mais esclarecimentos aos consumidores â&#x20AC;&#x201C; a indĂşstria farmacĂŞutica, por exemplo, poderia mostrar visualmente todo o processo de funcionamento de um determinado remĂŠdio. Apesar do futuro das mĂdias ainda ser uma incĂłgnita, provavelmente a infografia estarĂĄ incorporada Ă s novas tecnologias, seja a que mĂdia for. Ele observa a tendĂŞncia atual para a coleta e visualização de muitos dados, como faz o The New York Times, num estilo abstrato, em oposição ao seu, e cita bons nomes como John Grimwade, Juan Velasquez e Jaime Serra. Para ele, sĂŁo trĂŞs as caracterĂsticas imprescindĂveis a um bom infogrĂĄfico: rĂĄpida transmissĂŁo da informação, impacto visual e impacto emocional. O cuidado sempre deve ser com a apuração dos fatos, checando as informaçþes essenciais e garantindo a qualidade do trabalho. [BROESP10: ESTADO-CIDADES-P`GINAS <C03> [BR] ... 23/05/10]
Author:MARIOTTO
Date:24/05/10
TRANSPORTES. Tecnologia
Time:14:21
Segundo Kanno, o infografista hoje tem grandes desafios. O primeiro ĂŠ ser mais jornalista, entendendo que a imagem tem antes que ser informativa, nĂŁo apenas decorativa. O segundo ĂŠ estar ligado em todas as novas tecnologias e seus recursos: o mesmo infogrĂĄfico tem hoje versĂľes em papel, internet e vĂdeo (Kanno brinca, dizendo que ainda vai fazer um infogrĂĄfico para rĂĄdio). Por Ăşltimo, saber editar: a quantidade de informação acessĂvel ĂŠ tĂŁo grande que as pessoas tentam contar vĂĄrias histĂłrias em um Ăşnico infogrĂĄfico. Ă&#x2030; melhor abrir mĂŁo de algumas informaçþes e focar na histĂłria que se quer mostrar. O problema ĂŠ que ainda nĂŁo existe no Brasil uma formação especĂfica para a profissĂŁo. Quem forma os melhores, hoje em dia, sĂŁo o curso Abril e o programa de trainees da Folha. Graças a estes programas, as
Arquitetura do MetrĂ´ foi mudando com o passar das dĂŠcadas, na pĂĄg. C4}
Trens sem condutores, controle a distância e esteira entre as estaçþes Linha 4 reĂşne uma sĂŠrie de inovaçþes tecnolĂłgicas e de design, que vĂŁo desde as plataformas atĂŠ a configuração interna das composiçþes Â&#x201A;Â? Â&#x20AC;Â&#x192; Â? Â&#x201E; Â? Â? ÂÂ?  Â&#x2030;
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O ataque de NapoleĂŁo Ă RĂşssia teve estatĂsticas projetadas em infogrĂĄficos
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InfogrĂĄfico feito por William Matiotto, uma das referĂŞncias na ĂĄrea
www.publish.com.br â&#x20AC;˘ 2011 â&#x20AC;˘ edição 113
Busca pelas caixas-pretas do voo 447. CrĂŠditos: Glauco Lara, Rubens Paiva, William Mariotto e Eduardo Asta
59
redações ganham com equipes jovens e preparadas. Marcelo Pliger Trabalhando na Folha de São Paulo, Pliger reflete que o ser humano desenha mapas desde, pelo menos, oito mil anos, o que é bem anterior à invenção da escrita. Mesmo assim, a maior parte do nosso desenvolvimento cultural está baseada na escrita. Mas
atualmente, por conta da proliferação de mídias, especialmente digitais, ninguém dá conta de organizar o tsunami de informações. O jornalismo foi uma das primeiras áreas a perceber as vantagens que poderia conseguir com a infografia e, hoje, isso começa a ser percebido e usado por empresas de outras áreas. Segundo ele, o The New York Times e a revista National Geographic continuam liderando os parâmetros de qualidade e inovação dentro da
Fluxo da informação na Folha de São Paulo. Crédito: Marcelo Pliger ab
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DOMINGO, 24 DE ABRIL DE 2011
ciência C9 Kyle Krabill/Nasa
O POLO REVELADO
Como o avião da Nasa mapeia mudanças na Groenlândia A MÁQUINA
Lockheed P-
Motores: �, turboélice Altitude de voo: . m Autonomia: �� h
OS INSTRUMENTOS Radar de neve É usado sobretudo para medir a espessura da camada de neve sobre o gelo marinho. Quanto mais espessa, menor a probabilidade de derretimento desse gelo no verão
O diâmetro da varredura do laser corresponde a metade da altitude do avião
Sensores flagram ‘dieta’ forçada da Groenlândia
GPS e navegador inercial Como é impossível manter o avião a uma altitude constante, o GPS informa a posição do P-� para que o computador do ATM possa descontar as diferenças
ATM (Mapeador Topográfico Aerotransportado) É um laser giratório na barriga do avião que, disparado em direção ao solo, faz uma varredura do terreno. A luz é rebatida de volta e, de acordo com a sua intensidade, é possível medir diferenças de altura no solo com uma margem de erro de apenas � cm. A Operação Ice Bridge usa dois ATMs
Gravímetro Detecta variações na massa de gelo e a presença de água salgada sob o gelo, que causa alterações na força gravitacional exercida pelo manto
MUDANÇAS VERIFICADAS Pela Operação Ice Bridge entre ���� e ����
64% de todas as geleiras analisadas entre 2009 e 2010 sofreram rebaixamento
GROENLÂNDIA
Magnetômetro Ajuda a tornar mais precisas as medições do gravímetro, detectando variações no sinal magnético
DMS (Sistema de Mapeamento Digital) É uma câmera fotográfica digital acoplada à barriga do avião. Em um voo de oito horas, pode bater até � mil fotografias
Radar de penetração de solo Permite "enxergar" embaixo do manto de gelo e observar o formato das rochas abaixo. Esta informação é crucial para saber se uma geleira tende a acelerar seu deslizamento ou não
Ben Panzer/Cresis/Universidade do Kansas
Neste ano, Radar de neve do P-3 detectou pela pimeira vez o que parecem ser lagoas de degelo 10 m abaixo da superfície
DO ENVIADO À GROENLÂNDIA
Hoje, o manto de gelo groenlandês já é o principal fator isolado de elevação do nível do mar na Terra. Ele está sob uma espécie de “dieta” forçada, emagrecendo nas margens devido à aceleração das geleiras e ao derretimento em sua superfície, que tem se estendido cada vez mais para o interior. É possível flagrar o degelo usando ATMs (altímetros a laser), GPS e sensores de gravidade em satélites. O ATM permitiu a pesquisadores da Operação Ice Bridge detectarem rebaixamento em 64% as geleiras estudadas nos últimos dois anos. Também permitiu flagrar o desligamento de uma parte da geleira Midgard, sudeste groenlandês. Sozinha, a Midgard hoje responde por 5% da perda de gelo da Groenlândia, algo de que os cientistas nem desconfiavam. As medições feitas por avião têm a vantagem da precisão, mas não conseguem cobrir uma área tão ampla quanto os satélites. ‘Nenhum instrumento isolado é perfeito. O que tentamos fazer é juntar as vantagens de cada um‘, diz John Sonntag, da Nasa. (CA)
NOROESTE
�� geleiras
milhões de km
de gelo. É a segunda maior reserva de água doce do planeta (depois da Antártida)
Infográfico mostra como vivem as pessoas que trabalham em uma plataforma da Petrobras. Crédito: Simon Ducroquet. Foto: Rafael Andrade
60
John Sonntag/Nasa
SUDESTE
�� geleiras A maioria das geleiras mapeadas está afinando e recuando. Algumas, porém, estão aumentando, no sudeste da ilha
Geleira Tracy Heilpirin Sidebrskfjord Edvard Rink Norte Kong Oscar Alison Tasiusaq Upernavik Norte Upernavik Sul Ingia Umiamako Rink
Situação Afinamento Afinamento Afinamento Afinamento Afinamento Afinamento Afinamento Afinamento Afinamento Sem mudanças Afinamento Sem mudanças Sem mudanças
O MANTO DE GELO DA GROENLÂNDIA E SEU DERRETIMENTO A massa de gelo que cobre a maior ilha do mundo tem cerca de
EUROPA
AMÉRICA DO NORTE
Neve
As cores nas imagens de satélite representam altura do manto de gelo, com as áreas mais baixas em azul
Perfil da geleira Rink feito com o altímetro a laser da Nasa
manto de gelo está em � Oconstante movimento. O gelo se acumula em forma de neve nas suas partes mais altas e é drenado para o mar
aquecimento da Terra, � Oporém, tem causado mais degelo na superfície. Hoje ele acontece em áreas acima de . metros de altitude
Situação Sem mudanças Afinamento dramático Ligeiro afinamento Ligeiro afinamento Grande afinamento Espessamento Ligeiro afinamento Espessamento Espessamento Espessamento
O manto de gelo está "emagrecendo" (perdendo gelo) a uma taxa de cerca de bilhões de toneladas por ano. Isso causa uma elevação média anual do nível global dos oceanos de , mm
Zona de degelo ampliada
Manto de gelo
Icebergs
Moulin Se derretesse inteiro, o manto da Groenlândia elevaria o nível do mar em � metros no globo
Geleira Kangerdlussuaq Midgardgletscher Hellheim Ikertivaq Pikiutldeq Grydenlove Bernstorff Skinfaxe Guldfaxe Heimdal
Leito rochoso
água escoa e aumenta a velocidade das geleiras
Zona de degelo original
Trabalho recente para a Folha, em 2011. Crédito: Mário Kanno
área, mas trabalham em condições impensáveis para outras publicações. Um designer da National, por exemplo, pode dispor de até três meses para desenvolver um trabalho que um designer brasileiro precisa fazer em poucos dias ou, às vezes, horas. Um pôster encartado na National chega a consumir nove meses para ser desenvolvido, segundo informações do profissional. Como expoentes na história da infografia, ele cita Anaximandro, grego que desenhou o primeiro mapa mundi em 530 a.C.; Charles Minard, que inovou o uso de mapas e gráficos no século XIX; e pesquisadores recentes, como Richard Saul Wurman, Edward Tufte e Lev Manovich. Na infografia mais recente, ele destaca: - Nigel Holmes: inglês responsável pelas infografias da Time entre os anos de 1980 e 1990, desenvolveu clássicos da informação de maneira inteligente e bem humorada; - Jaime Serra: espanhol que foi editor de infografia do jornal argentino Clarín nas décadas de 1990 e 2000, e que inseriu um aspecto artístico na infografia, que influenciou publicações no mundo todo; - Alberto Cairo: espanhol, abriu as portas da infografia on-line para a precisão e a qualidade jornalística; - Aaron Koblin e Ben Fry: americanos desenvolvedores de programas de visualização de dados que tiveram, ambos, trabalhos incluídos no acervo de design do Museu de Arte Moderna de Nova York (MOMA). Ele pensa que a infografia vem se tornando cada vez mais popular – e começando a ser ensinada nas escolas de design e de jornalismo. Apesar de ainda sermos muito presos aos parâmetros culturais do hemisfério norte, ele acredita que empresas privadas não jornalísticas se interessarão cada vez mais por usar as técnicas da infografia para fornecer informações claras aos seus clientes. Alberto Cairo Vivendo no Brasil, este espanhol atua na revista Época, da Editora Globo, e também tem como referências atuais o The New York Times e a revista National Geographic. Nas suas equipes incluem-se designers, cartógrafos, estatísticos, jornalistas, artistas gráficos e programadores. É esta multiplicidade e diferença de perfis uma das chaves para a qualidade dos trabalhos. Outras boas referências são o Jornal Público, da Espanha; o Boston Globe e o Washington Post, dos EUA; o Clarín, da Argentina; e El Comercio, do Peru. Segundo ele, durante a crise dos mineiros, no Chile, os jornais, La Tercera e El Mercurio, deram excelentes coberturas. Aqui no Brasil, O Estado de São Paulo, apesar da pouca estrutura, mostrou ter uma equipe talentosa. Segundo ele, o futuro é promissor, pois a edição 113 • 2011 • www.publish.com.br
infografia é uma área em crescimento. Há novos blogs e sites sobre o assunto e mais pesquisadores e gente interessada. Ainda falta uma maior troca no meio acadêmico e a junção dos conhecimentos das diferentes áreas, e mais especialmente a valorização dos estudos perceptivos, como os de psicologia cognitiva. Apesar dos sintetizadores do assunto, como Stephen Few e Edward Tufte, Cairo considera que ainda não existe uma linha definida nas universidades sobre o assunto, especialmente nos cursos de comunicação social. De acordo com ele, há um caso embrionário na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com a professora Tattiana Teixeira. De qualquer forma, assim como em outras áreas, o jornalismo, em sua maioria, ainda segue a mesma grade curricular de dez anos ou 30 anos atrás. Há outros pontos com início de pesquisas acadêmicas interessantes: universidades da Carolina do Norte, Northwest e Stanford, nos EUA; e Navarra e Santiago de Compostela, na Espanha. Nos cursos ligados à informática, a visualização de dados já está entrando como disciplina. No geral, a formação do infografista é autodidata. O ideal é que todos tenham conhecimento básico no assunto e se especializem em alguma parte. Quase todos os infográficos são interdisciplinares e assinados por equipes de pessoas. Cairo sugere muita cautela com o uso de storyboards (infográficos ilustrados em quadros sequenciais), porque é raro ter todos os dados para refazer uma história. Corre-se o risco de fazer ficção. Outro aspecto importante nisso é o respeito às vítimas, a fidelidades aos fatos. A precisão nas informações é fundamental.
Simon Ducroquet Outro ganhador de Malofiej, o infografista da Folha esteve este ano na Espanha para receber o prêmio. Ele acredita que a infografia está num momento importante no Brasil, atingindo sua maturidade e se firmando como um ramo jornalístico independente e autônomo, que pensa e produz o seu conteúdo ao invés de apenas executar aquilo que lhe é proposto. Também observa que ainda há um caminho longo a se percorrer, pois, apesar dos excelentes trabalhos, ainda é preciso que os infografistas dominem e tenham autonomia para produzir textos e editar, inclusive apurar, o conteúdo de suas infografias. Eduardo Asta Tendo migrado da Folha para O Estado de São Paulo, para Asta a regra é simples: você tem um bom infográfico quando você tem uma boa pauta. As boas infografias são aquelas que a pessoa tem interesse de ler e consegue fazer isso facilmente. E infografia não é ilustração! Se você está falando do Hugo Chávez, peça a um ilustrador para desenhar algo que retrate o momento político daquele personagem. Se você precisar avaliar a situação econômica da Venezuela, forneça os números e análises necessárias para sustentar o seu lead e aí sim podemos fazer um infográfico. Mas se você ainda precisar de algo para “sustentar” a página, não misture os dois. Considere a hipótese de ter a ilustração e o infográfico na mesma página, mas não misturados, aconselha Astra. Ele considera que esse boom da infografia é um problema, pois não existem ainda profissionais suficientes para pautar, apurar e executar um infográfico. O resultado é terrível. De
um lado temos grandes ilustrações misturadas a informações rasas. Do outro, grande quantidade de dados representados por diagramas que precisam de manual para ser lidos. No meio disso, temos infográficos mais equilibrados, mas que carecem da representação correta ou organização e clareza. Asta cita, como referências contemporâneas, William Mariotto, Rubens Paiva, Glauco Lara, Rodrigo Cunha e Fábio Abreu.
Marcelo Pliger
Mário Kanno
especial tragédia
Em menos de 12 minutos, Wellington feriu ao menos 25 crianças. Baleado por um policial, matou-se com um tiro na cabeça por volta das 8h15, Wellington Menezes de Oliveira passou pelos portões e se apresentou como ex-aluno. Disse que ia buscar seu histórico escolar a um funcionário, que o deixou entrar.
1
Avenida Pontalina
O lOcal
Avenida Marechal Fontineli
a escola fica em realengo, Zona Oeste do rio de Janeiro
Escola Municipal Tasso da Silveira
(rua General Bernardino de Matos) Baía d e
Hospital albert schweitzer
Praça Bom Conselho
Luva preta meio dedo
rua piraquara
Local onde os policiais foram avisados
centro
Cemitério Jardim da Saudade
copacabana
5 km
Mochila
dois revólveres e 1 canivete com lâmina retrátil
Gu
Galeão
realengo
Escola Municipal Tasso da Silveira
as arMas
O atiradOr Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos
ipanema
1 km
Cinto de tecido preto com 13 compartimentos para colocar os carregadores
Calibre 32
Calibre 38
a esCola muniCipal tasso da silveira
Atende 999 alunos do 4o ao 9o ano. No período da manhã, são 14 turmas e 400 alunos No térreo ficam os banheiros da escola
o 1o andar tem cinco salas. a da frente do prédio é a biblioteca
o 2o andar tem seis salas, três de cada lado do corredor
No 3o andar, uma das salas é um auditório, onde alunos e professores se refugiaram durante o tiroteio, depois de bloquear a porta com uma barricada de mesas e cadeiras
No 1o andar, na biblioteca, ele encontrou uma ex-professora, para quem pediu seu histórico. Ela pediu que Wellington esperasse.
2
Quando ela saiu, o atirador se dirigiu à sala 4, logo em frente, onde uma professora dava aula. Disse estar lá para uma palestra. A professora estranhou, mas, antes que pudesse perguntar qualquer coisa, ele começou a atirar contra as crianças. A professora fugiu com alguns alunos.
3
a MuniçãO
Fotos: Demetrio Koch Jr.
Como foi o ataque à esCola muniCipal
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na escada da escola, cenário de todos os seus beu as vítimas. Mas o centro cirúrgico era dias. “As paredes estavam sujas de sangue. Eu insuficiente para tantos baleados. Pelo mesó queria fechar os olhos e chorar”, diz. Isa- nos metade foi transferida para outras cinbela chorou ainda mais ao saber que Milena cos unidades. Foram usados helicópteros estava morta. As duas famílias eram amigas no transporte. Parentes chegavam a todo momento e protagonizavam cenas dramáe elas haviam crescido juntas. Se Vitória e Isabela não tiveram o mesmo ticas. À tarde, o desespero foi transferido destino de Milena, isso se deve à coragem e para o Instituto Médico-Legal, no centro à rapidez do sargento Alves. Na Rua Pira- da cidade, para onde foram recolhidos os quara, a dois quarteirões, ele apoiava uma corpos dos que morreram. Alguns parentes blitz da Polícia Rodoviária quando viu dois chegavam para o reconhecimento e saíam meninos feridos, um deles no rosto, usando destroçados. Outros vinham em busca de uniforme. Avisado do que estava acontecen- notícias, mas saíam aliviados. Seus filhos do, correu para a escola, acompanhado de não estavam lá. dois colegas. Na entrada, cruzou com proA comoção tomou conta da cidade e do fessoras e funcionários em pânico. Ouviu país. Médicos e enfermeiros trabalharam tiros, subiu do térreo para o 2o pavimento e chorando, segundo relato do secretário deu de cara com o assassino saindo de uma estadual de Saúde, Sergio Cortes, que dusala no fundo do corredor. “Ele estava carre- rante todo o dia fez a ronda nos hospitais. gando a arma”, diz o sargento. “Eu gritei ‘lar- O comandante do 14o Batalhão, em Bangu, ga a arma, é a polícia’. Ele disparou contra área que cobre o bairro de Realengo, Djalma mim e eu fiz dois disparos.” Um tiro atingiu Beltrame, disse que foi a maior tragédia que o abdome, e Wellington caiu na escada. “Aí ele já presenciou na cidade. A chefe de políele se deu um tiro na cabeça”, diz o sargento. cia, Martha Rocha, chorou depois de chegar “Só lamento não ter cheà escola e ver o cenário gado uns cinco minutos de horror. A presidente antes à escola. Poderia Dilma Rousseff também ter evitado tantas mortes foi às lágrimas ao falar “Só lamento não ter de crianças...” O policial chegado à escola cinco do crime, discursando conta que, em 15 anos num evento no Palácio minutos antes”, do Planalto para pequede carreira, nunca viu diz o sargento Alves nos empresários. O gotamanho horror. “Chorei”, afirma. Foi apresenvernador Sérgio Cabral, tado como herói pelo governador do Rio de abalado na coletiva, concedida na quadra Janeiro, Sérgio Cabral Filho. E abraçado por poliesportiva da escola, chamou o assassino alunos, agradecidos. Graças a ele, a tragédia de “psicopata” e “animal”. Até o papa Bento não foi maior. XVI enviou mensagem de solidariedade às Mesmo com o assassino morto, muitos famílias das vítimas, por meio da Arquidioestudantes ainda ficaram em suas próprias cese do Rio de Janeiro. salas, em estado de choque. Alguns mortos, Nas horas seguintes ao crime, muitos se outros feridos, uns com o uniforme sujo de perguntavam por que as autoridades pasangue. Vários deles, anestesiados pela adre- recem incapazes de impedir que desequinalina, não sabiam se estavam feridos de ras- librados como Wellington promovam esse pão ou apenas haviam esbarrado em algum tipo de carnificina. As razões são várias. No colega baleado. Na casa em frente à escola, Brasil, esse tipo de crime é facilitado pelo o carteiro Hercilei Antunes, de 44 anos, au- livre acesso às armas. Aos 23 anos, o assasxiliava cerca de 20 adolescentes, que haviam sino não tinha sequer idade para pedir porte batido a sua porta em busca de socorro. O de arma – a idade mínima legal é 25 anos. medo era tão grande que alguns se escon- Mesmo assim, conseguiu dois revólveres e, deram embaixo da cama do casal. Hercilei quando foi morto, tinha na mochila pelo carregou seis crianças feridas. “Não vou es- menos 22 balas intactas e 12 speed loaders. Segundo cálculos da polícia, esse arsenal quecer essa cena enquanto eu viver”, diz. Na porta da escola, uma multidão de custa em torno de R$ 700 no mercado nepais e familiares desesperados começou gro. O revólver calibre 38 tinha a numeração a se aglomerar em busca de notícias e de raspada, o que dificulta a investigação de suas crianças. O colégio foi fechado e os sua origem. A arma calibre 32 foi registrada corpos saíram aos poucos – para alívio de por um homem que já morreu. Seu filho uns e desespero de outros. O hospital mais disse que o revólver foi roubado há 18 anos. próximo, o estadual Albert Schveitzer, rece- Segundo o Ministério da Justiça, circulam s
Wellington disparou cerca de 60 vezes e ainda tinha 66 balas. ele pôde disparar rápido graças ao uso de carregadores especiais Com o carregamento convencional os projéteis são inseridos no tambor da arma individualmente, levando tempo
Wellington teria entrado em quatro salas do 1o andar. A ordem e o número de salas, porém, só devem ser esclarecidos com o resultado da perícia.
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Os alunos do 7o ano, que estavam no térreo pela falta de um professor, também fugiram ao reconhecer o som de tiros. Duas crianças correram para uma blitz policial a uma quadra da escola, na Rua Piraquara (leia o mapa) para pedir ajuda aos policiais.
Sala 4
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O sargento Márcio alves se dirigiu para a escola. Quando subia o primeiro lance de escadas, cruzou com Wellington, que subia para o 2o andar. Ele tentou fugir, mas foi alvejado no abdome pelo sargento. Wellington se suicidou com um tiro no lado direito da cabeça
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Biblioteca
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Quadra
Com o carregador rápido, os projéteis são inseridos todos de uma vez na arma. Foram encontrados oito carregadores rápidos (Jet Loader e Speed Loader), cada um com capacidade para seis balas
Luiz Iria
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Fontes: Polícia Civil do Rio de Janeiro e testemunhas Gráfico: Marco Vergotti, Gerson Mora, Maurício Meireles, Alberto Cairo, Rodrigo Cunha e Letícia Sorg
Reconstrução da planta interna do prédio baseada em informações de testemunhas
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*Denise Ouriques Medeiros é jornalista, arquiteta e docente da área de design.
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Tiroteio no Rio, revista Época – Créditos: Alberto Cairo, Marco Vergotti, Gerson Mora, Maurício Meireles, Rodrigo Cunha e Letícia Sorg 98 > época , 11 de abril de 2011
www.publish.com.br • 2011 • edição 113
11 de abril de 2011, época > 99
Para falar com a autora, escreva para: deniseouriques@yahoo.com.br
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