Territórios Negros Nov22 - Centro de SP/Parte 1

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CEMITÉRIO DOS AFLITOS O lugar para o Largo da Forca foi escolhido pela proximidade com o Cemitério dos Aflitos, construído entre 1774 e 1789 para evitar que os pobres – pessoas condenadas, indigentes, indígenas, negras, não católicas - fossem enterrados dentro de igrejas, um costume no século 18. O cemitério, o primeiro a céu aberto da capital, fica sob a atual Rua da Glória. Ele foi desativado em 1858 com a construção do Cemitério da Consolação, que ainda existe na rua de mesmo nome. O espaço do Cemitério dos Aflitos foi, então, loteado e vendido para a construção de casas. As ossadas não foram retiradas antes da construção das moradias em um claro movimento de apagamento e invisibilização da história do centro de SP. De acordo com a professora Maria Ângela Vilhena (PUC-SP), “o nome de algumas ruas de hoje vem a ser o contrário do que se vivia. É para esquecer o que não quer se lembrar”. Em setembro de 2022, a Justiça determinou a desapropriação de um lote entre as ruas Galvão Bueno e dos Aflitos, local onde está o cemitério. Com a conclusão do processo, a Prefeitura pode lançar edital para seleção de um projeto do chamado “Memorial dos Aflitos”, conforme lei sancionada pelo então prefeito Bruno Covas.

ONDE FICA?

Soterrado por prédios comerciais e residenciais no entorno da Capela dos Aflitos

LARGO DO PELOURINHO Pouco abaixo do antigo Largo da Forca, existia o Largo do Pelourinho onde, até a metade do século XIX, os negros fugitivos eram açoitados. Um dos marcos da escravidão em São Paulo[2], o espaço era destinado ao castigo de escravos e ficava junto a Casa da Câmara e Cadeia, seguindo o modelo das construções da época, na região antigamente conhecida como Largo São Gonçalo, atual Praça João Mendes. O "Largo do Pelourinho" foi renomeado em 1865[4], como "Largo Sete de Setembro" em homenagem à Proclamação da Independência em 1822.

ONDE FICA?

Largo Sete de Setembro - Centro, São Paulo – SP – a poucos metros da estação Japão-Liberdade sentido Sé.

Em junho de 2018 um grupo de devotos constituiu o coletivo UNAMCA, União dos Amigos da Capela de N. Sra. dos Aflitos, tendo como foco a restauração, manutenção e proteção da Capela. No mesmo ano, em outubro, surgiu o Grupo de Reza do Glorioso Chaguinhas para a promoção e Propagação à sua devoção, através da reza específica de seu terço, ladainha e novena, além de outras devoções da piedade popular, como Dia da Padroeira da Capela, Dia das Almas, de Santo Antônio de Categeró, Folia de reis e outras expressões fundamentais a piedade popular e a espiritualidade libertadora.

VOCÊ TAMBÉM PODE AJUDAR NA LUTA PELA CRIAÇÃO DO MEMORIAL DOS AFLITOS!

Quem visitar a Capela vai poder contribuir com o abaixo-assinado que reivindica o reconhecimento do Culto a Chaguinhas como Patrimônio Cultural Imaterial da cidade de São Paulo, que está tramitando na ALESP por meio do Projeto de Lei 118 de 2020 de autoria da deputada Leci Brandão. Com este mesmo documento, a UNAMCA fortalece a conclusão do processo 2317277/2019 junto ao CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), órgão ligado à Secretaria Municipal de Cultura, que tem o poder de tombar bens históricos e culturais. O abaixo assinado também está na internet. Aponte a câmera para o QR Code e assine!


SÃO PAULO NEGRA:

SOBRE REPARAÇÃO, JUSTIÇA E RESPEITO Muitos lugares do centro da cidade de São Paulo são reflexos diretos da presença negra e indígena. Por séculos, eles foram levados a ocupar esses territórios, constituindo parte importantíssima da história do Brasil. Sim, os povos originários viviam no centro de SP. E, logo depois, com a vinda dos negros africanos escravizados, a cidade passou a ter não somente nomes negros, mas um novo desenho, uma nova energia e mais histórias de resistência. São bairros, prédios históricos e até mesmo solos que pisamos sem saber que ali a memória da nossa gente pulsa. Igrejas, como a da Sé, foram levantadas por braços negros e indígenas, razão pela qual encontramos vestígios desses fatos na arquitetura, no design, nos desenhos, em cada tijolo colocado nas construções. Por isso, vamos apontar alguns lugares históricos para que você conheça e, se já conhece, revisite, divulgue e reverencie sua ancestralidade.

LARGO DA FORCA Antes de se chamar "Praça da Liberdade", o espaço de características predominantemente japonesas, que fica no famoso bairro da Liberdade, chamava-se “Largo ou Paço da Forca”, local em que condenados à morte eram enforcados até meados do século 19. A maioria era de escravos fugitivos ou rebelados, sendo que a forca servia para “amedrontar” e evitar que outros negros se rebelassem. A forca foi colocada em um ponto alto em 1821 para garantir maior visibilidade para a população. Era exatamente neste local que, no período da Coroa Portuguesa e do Império Brasileiro, até 1876, os condenados à pena de morte como Chaguinhas eram enforcados por diversos crimes, entre estes, rebeldia.

ONDE FICA?

CAPELA SANTA CRUZ DAS ALMAS DOS ENFORCADOS

Tornar o centro de SP um espaço de memória, cultura e de moradia digna para as chamadas minorias é uma questão de reparação, justiça e respeito. Confira e aproveite!

O GRITO DE “LIBERDADE” PARA CHAGUINHAS, O SANTO NEGRO DOS AFLITOS! Foi um grande impacto social na pacata cidade de São Paulo digno de registro histórico e que, ainda hoje, permanece no imaginário popular. Nos referimos à condenação e morte do saldado rebelde Francisco José das Chagas, conhecido como Chaguinhas, no dia 20 de setembro de 1821. Chaguinhas havia participado, como um dos líderes, do movimento político do 1º Batalhão dos Caçadores em Santos que reivindicara pagamentos atrasados e equiparação salarial entre soldados brasileiros e portugueses. Sufocado o movimento, os líderes foram condenados à morte. Chaguinhas e Cotindiba, ambos negros e sendo paulistanos, foram transferidos para a capital da província para serem enforcados. Cotindiba foi o primeiro a ser morto. Quando foi a vez de Chaguinhas, a corda se rompeu na primeira e na segunda tentativas. Em cada rompimento, o povo clamou por liberdade, mas as autoridades foram inclementes. Pela terceira vez, para garantir o êxito do enforcamento, colocaram no pescoço de Chaguinhas uma corda de couro. Mas, temerosos de que também essa se rompesse, os carrascos deixaram o corpo cair no fosso do patíbulo. Chaguinhas foi morto a pauladas, conforme relato do padre Diogo Antônio Feijó que, posteriormente, seria regente do Brasil. Por causa dos clamores por Chaguinhas, este bairro do centro de SP passou a se chamar Liberdade. Representações de Chaguinhas: na primeira foto, desenho do artista José Marques Neto, quadro em exposição na Capela. Na segunda foto, desenho da quadrinista Marília Marz. Expediente: O informativo “Territórios Negros” é uma publicação do gabinete da deputada estadual Leci Brandão. Jornalista responsável: Carla Nascimento Mtb: 064/AM – Redação: Ninna Franco Mtb: 74039/SP. Diagramação: Movimento MKT / Tiragem: 7 mil. Fale conosco: Palácio 9 de Julho - Av. Pedro Álvares Cabral, 201, sala 308, Ibirapuera, São Paulo-SP. Tel.: (11) 3886-6790 – Secretaria e agenda: lecibrandao@al.sp.gov.br – Assessoria de Comunicação e Imprensa: deputadalecibrandao@gmail.com

Praça da Liberdade, 133, São Paulo-SP – saída da estação de Metrô Japão-Liberdade

Desde a madrugada que se seguiu àquela crueldade contra Chaguinhas e seu amigo, as mulheres negras e, por fim, todo o povo humilde da cidade passaram a acender velas em memória de Chaguinhas no lugar onde havia a forca. Por 200 anos, a devoção ao santo popular tem se mantido viva. Muitas graças têm sido alcançadas e atribuídas a ele. A forca foi removida de local após a pena de morte ser extinta no Brasil. Os paulistanos continuaram a acender velas em cima de uma mesa, no exato ponto em que os sentenciados eram enforcados. A ideia era iluminar o caminho dos mortos. A poucos passos dali, foi construída a Igreja de Santa Cruz dos Enforcados, a partir de 1887, onde se preserva esta tradição e os fiéis, até hoje, acendem velas às pessoas que tiveram uma morte violenta.

ONDE FICA?

Praça da Liberdade, 238 - Liberdade, São Paulo – SP saída da estação de Metrô Japão-Liberdade

CAPELA DOS AFLITOS É tradição rezar na Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, junto à porta do Chaguinhas. Dizem que é preciso dar três batidas para que ele atenda aos pedidos que são escritos e depositados nos vãos de uma grande porta de madeira. Segundo a tradição oral, Chaguinhas teria ficado preso na noite que antecedeu seu martírio onde hoje é o velário, local em que se acendem as velas para ele e para as almas. O velário dava acesso à Capela por meio da porta de madeira. A Capela de N. Sra. dos Aflitos foi fundada em 27 de junho de 1779. É o último resquício do primeiro cemitério público de São Paulo criado entre 1774.

ONDE FICA?

Rua dos Aflitos, 70 – Travessa da Rua dos Estudantes alt. do nº 52, Liberdade, São Paulo-SP


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