Cuiabá 300 anos: Evolução Histórica - Temas Críticos - Vultos Notáveis

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UBIRATÃ NASCENTES ALVES

CUIABÁ

300 ANOS

EVOLUÇÃO HISTÓRICA TEMAS CRÍTICOS VULTOS NOTÁVEIS 2ª Edição Revisada e Ampliada

Memória Brasileira



UBIRATÃ NASCENTES ALVES

CUIABÁ

300 ANOS

EVOLUÇÃO HISTÓRICA TEMAS CRÍTICOS VULTOS NOTÁVEIS 2ª Edição Revisada e Ampliada

CUIABÁ/MT 2020


EDITOR João Carlos Vicente Ferreira PROJETO GRÁFICO/DIAGRAMAÇÃO Roseli Mendes Carnaíba FOTO DA CAPA Antiga Catedral do Senhor Bom Jesus de Cuiabá na década de 1940 FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

F382m

Alves, Ubiratã Nascentes

CUIABÁ 300 ANOS • Evolução Histórica - Temas Críticos - Vultos

Notáveis/Ubiratã Nascentes Alves - 2ª Edição Revisada e Ampliada. - Cuiabá: Memória Brasileira, 2020. 200p.: Il.

ISBN: 978-85-92870-00-3

1. História, 2. História de Mato Grosso

CDU 94(417.2)


MEU ILUSTRE CONFRADE UBIRATÃ Poesia de Tertuliano Amarilha

-I-

- III -

Já faz tempo que desejo

No seu jeito de pensar

homenageá-lo, meu confrade,

isso eleva seu conceito,

eu digo isto de verdade,

a Justiça e o Direito

não é expressão sem nexo.

conduzem seu pensamento.

Você demonstra ser amigo,

Você merece elogio,

isso já está comprovado

faz jus a essa honraria

e em mim está gravado

da fraternal companhia

com puríssimo reflexo.

presente neste momento.

- II -

- IV -

Vejo em sua amizade

Além de ser um confrade

um valor extraordinário,

é também excelente amigo,

tenho sido um visionário,

ao conhecimento antigo

porém percebo o que é bom,

é ilimitado o valor.

Nitidamente eu enxergo

Amigo quando é amigo

suas belas qualidades

ouro é do melhor quilate,

que tem muitas variedades

diante do mal não se abate

sem jamais mudar de tom.

e sempre presta favor.


-V-

- VII -

Creio, amigo Ubiratã,

Quem persiste em investidas

você agora mora em Paris,

o bem-estar sempre alcança,

agradecê-lo hoje quis

agora, você na França

pela atenção dispensada.

exibirá o seu talento.

Hoje em dia é bem difícil

De lá poderá trazer-nos

quem proceda gentilmente,

temas bons e interessantes,

a expressão “boa gente”

nem o ouro, nem diamantes,

pra muitos não é indicada.

porém, mais conhecimento.

- VI -

- VIII -

Sou muito grato a você

Meus Confrades e Confreiras

por ter sido prestativo,

que não precisam de amparo,

guardarei no meu “arquivo”

eu geralmente os comparo

esse seu procedimento.

aos enormes elefantes,

Se eu puder retribuir

enquanto eu me considero

esse gesto de amizade

um modesto jabuti

fá-lo-ei, caro confrade,

nesta convivência, aqui

em oportuno momento.

em devaneios constantes !


NOTA DO AUTOR

A

credito oportuno tecer algumas considerações a esta modesta publicação, não me sentiria bem como membro de uma Academia, deixar fruir solenemente in albis uma data tão marcante da nossa capital, ainda mais como seu filho nato... 300 anos!!! Imperioso cultuar os autênticos valores, preservando os fatos e monumentos históricos, fomentando a cultura como critério imprescindível para uma sociedade ávida, pensante. Calcado sobretudo na lavra, não do passageiro ouro e diamante, mas em valorosos e zelosos mestres, Mato Grosso no séc. XIX - diria Mesquita "de antanho", gerou uma profusão de valores que saiam destas plagas, ainda mais isoladas e venciam. Basta lembrar de Joaquim Murtinho, que empreende dura viagem até o Rio de Janeiro, em lombo de animais e alguns trechos a pé, ingressando na concorrida Politénica e depois torna-se seu lente; interpelado pelo Imperador, aconselha-O a fazer mais leitura ! Assim foi o Sen. Azeredo, Rondon, Dom Aquino brilhando até no Vaticano, Virgí-


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lio, Mesquita, Prof. Lenine e tantos outros enquanto hoje o Estado fica a dever esses heróis. Naturalmente um povo com parca formação, não sabe nem pensar, torna-se presa fácil a ser conduzida, ludibriada, surrupiada grotescamente e ... seguimos aguardando o VLT. Professores ganhando ninharias e sem incentivo, não vem produzindo melhor resultado, percebam que existem crianças no 3º ano e outros do E.E. que ainda, nem ler sabem !!! Verificando no geral pouco interesse por longas leituras, frente aos seus concorrentes, como celulares e outros, os artigos apresentados neste trabalho publicado na imprensa de grande circulação no Estado, visam facilitar a leitura e o senso crítico. Encontra-se dividido em 3 partes silenciosas, 1ª Histórica – da fundação, rua e praças ..., 2ª Crítica - desde os primeiros artigos onde suscita-se uma avalição do status quo atual, 3ª Vultos - para servirem como exemplo aos desafios desta vida, em especial aos jovens. Apresento meus agradecimentos, primeiro a Deus ao me conceder vida, após ter na malha deste peito a bagatela de 7 stents, mesmo que entre os pobres de Paris. Não posso esquecer do amigo Dep. Oswaldo Sobrinho, mentor do "Jornal do Pioneiro", circulava no Nortão, onde publiquei os 2 primeiros artigos, ainda estudante de direito. Posteriormente, com livros lançados e na Academia, galgo a grande mídia, através do sempre cordial editor-chefe, jornalista Ailton José Segura, muitos nessa via publicou-se. Nos últimos dias, agradeço ao Brigadeiro, Eduardo Gomes, líder do Diário de Cuiabá, onde foco em temas regionais e valoriza-se a prata da casa, as marcantes celebridades. Permitam registrar o apoio prestado pelo Eng. Iberê Alves, restaurando esse caco velho do meu PC que logrou recuperar, após alongadas batalhas toda matéria que se perdera. Decisiva a colaboração do confrade João Carlos Vicente Ferreira, que abriu mão dos honorários como editor, acompanhando meu gesto, em total desprendimento aos metais.

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Finalmente, meu registro para a urbe que me viu nascer exatamente na Heróica 13 de Junho - lembra a retomada de Corumbá do lúgubre jugo guarani, no Campo D`Ourique empinando uma pandorga ou jogando bola e pescando no rio Cuiabá. Cidade dos meus sonhos e amores, nem tempo perdi buscando os poderes público para publicar este livro, é um presente que doarei para te ver sorrir, brilhando hoje e sempre ! Salve Cuiabá em Festa, sugestão musical dos 300 Anos !!! O arraial em polvorosa, garimpeiros suspendem a lavra. Taquara e a Bela do Juiz, pedem lenha p’ro bolo. Sutil que manda na praça, Rolin devolve ouro de graça. Leverger ergue logo uma trincheira, Murtinho abriu o Banco e lá vem mate Laranjeira, Celestino gera o Palácio da Instrução, enquanto Azeredo se prepara, traça só peixe frito, enquanto Ponce retorma vitorioso da guerra, pai Rondon traz toda bugrada do Xingu. Totó grande empresário energiza Itaicy na tomada, até Dutra com Santinha acabam a jogatina e vira campo de peladas, D. Aquino celebra a missa na Catedral, Virgílio safo registra em ata, Mesquita sábio produz 40 anos sem parar, Júlio Müller fez quartel e até ponte, seu Bro Filinto bota ordem na gestão, mas não foi bom o avião, Póvoas de constituição a teacher ganha louvores com nota 10, contudo, foi Garcia que encontrou o Estado Solução, por fim chega o Taques no VLT sideral, dizendo "não fui eu tchurma". Está feito a platéia nessa festa encantada dos 300 anos de histórias e bravura dos heróis. Rasqueado do mameluco loico, era tanto sol de ratchar coco nas gélidas tardes de 40º!!! E lá vem D. Eulália trazendo bolinhos de arroz e queijo dessa festa...

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APRESENTAÇÃO

“As palavras têm o poder de curar ou destruir. Quando as palavras são verdadeiras e generosas, elas podem mudar nosso mundo. ” Buddha

O

conjunto de reflexões aqui reunidas sob o título CUIABÁ 300 ANOS - EVOLUÇÃO HISTÓRICA - TEMAS CRÍTICOS - VULTOS NOTÁVEIS trata Cuiabá como protagonista de diferentes histórias nos últimos séculos. Este livro escrito pelo acadêmico Ubiratã Nascentes Alves para celebrar os trezentos anos de Cuiabá não foi produzido com o intuito acima descrito pelo Buddha, o de curar ou destruir. Nas dezenas de artigos que selecionou para compor esse compêndio, quarenta e seis ao todo, o autor elogia, elucida, critica e dá sabão em muita gente. Ainda sobre as palavras de Buddha; verdadeiras e generosas, por analogia, digo que o literato Alves Nascentes é verdadeiro, não é fictício nem imaginário ou enganoso, generoso o é por ser de boa linhagem cuiabana e dotado de caráter e sentimento nobres. Conheço-o o suficiente para saber que cada escrito contido nesta obra foi motivo de bastante reflexão e desejo de mudar não o mundo, mas, o de disseminar conhecimento sobre fatos e pessoas


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gradas à nossa historiografia ao longo dos tempos na nossa eterna cidade verde. Ao discorrer sobre figuras emblemáticas como o Barão de Melgaço, Filinto e Júlio Müller, Senador Azeredo, Presidente Dutra, Marechal Rondon, Presidente Totó Paes, Desembargador José de Mesquita, Arcebispo Dom Aquino Corrêa, Governador Garcia Neto e tantos outros ícones da nossa história política, econômica, expansionista e social, o autor nos permite aprender e escrutinar questões de nosso passado histórico. Esse é um livro para ser lido por todos os filhos dessa terra e, também, pelos neo-cuiabanos, para que relembrem, reverenciem e conheçam nossos ídolos e heróis venerandos; também o é para relembrarmos fatos que dizem respeito ao nosso dia-a-dia, notadamente o social e econômico, a exemplo dos artigos sobre o desemprego histórico dos últimos anos, das surpresas advindas com multas e pardais obscuros, do imposto sobre grandes fortunas e política contemporânea: reeleição e urna eletrônica. Nesses trezentos anos de Cuiabá, quando vemos, infelizmente, seu patrimônio arquitetônico setecentista e do século XIX sendo tragado pela ação das chuvas, do vento e pelo menosprezo à nossa história, tanto por parte de autoridades constituídas, quanto pelos proprietários de imóveis tradicionais, essa obra é um alento à alma cuiabana. Assim, os artigos aqui reunidos informam, em recortes de nossa história, que aconteceram fatos que mexeram com nossas vidas e, por vezes, não demos conta disso. Essa dinâmica relação entre o texto e o contexto descrito por Nascentes Alves nesta obra nos convida a pensar. João Carlos Vicente Ferreira

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ÍNDICE

POESIA – TERTULIANO AMARÍLIA, 3 NOTA DO AUTOR, 5 APRESENTAÇÃO, 8 1. CUIABÁ E SUA HISTÓRIA, 13 2. A CAPITANIA DE MATO GROSSO, 17 3. A PROVÍNCIA DE MATO GROSSO, 22 4. O DESCOBRIMENTO EM RETROSPECTIVA, 30 5. PRAÇA ALENCASTRO, A PIONEIRA, 32 6. A HISTÓRICA PRAÇA IPIRANGA, 36 7. O PORTO, UMA PORTA PARA O MUNDO, 40 8. A HERÓICA RUA 13 DE JUNHO, 44 9. A TRAJETÓRIA DOS COMBUSTÍVEIS, 48


10. OCASO DO BNH, 52 11. FMI, 56 12. DESEMPREGO, 69 13. FAIXA AZUL PARDAIS MULTAS, 62 14. IMPOSTO SOBRE AS GRANDES FORTUNAS, 65 15. QUEM SERÁ A BOLA DA VEZ?, 68 16. REELEIÇÃO, 71 17. DESMORALIZAÇÃO, 74 18. A VERGONHA LEGISLATIVA, 77 19. MULTAS E PARDAIS, 80 20. AS URNAS ELETRÔNICAS, 83 21. ACADEMIA EM SEUS 80 ANOS, 86 22. IN MEMORIAN DE VICENTE EMÍLIO VUOLO, 90 23. ACADEMIAS – CADEIRA Nº 1, 96 24. É NATAL, NASCEU O MENINO DEUS, 100 25. BARÃO DE MELGAÇO, 104 26. BARÃO DE MELGAÇO, FINAL, 107 27. JOAQUIM MURTINHO, 112 28. JOAQUIM MURTINHO - II, 116 29. ANTONIO PAES DE BARROS – TOTÓ PAES, 120 30. GENEROSO PONCE, 123


31. PEDRO CELESTINO, 127 32. SENADOR AZEREDO, ANTÔNIO FRANCISCO, 132 33. O MARECHAL E SERTANISTA RONDON, 136 34. O MARECHAL E SERTANISTA RONDON - II, 140 35. EURICO GASPAR, DUTRA, 144 36. EURICO GASPAR, DUTRA - II, 148 37. DOM FRANCISCO DE AQUINO CORRÊA, 152 38. VIRGÍLIO ALVES CORRÊA FILHO – 130 ANOS, 156 39. JOSÉ DE MESQUITA, 160 40. JÚLIO STRUBING MÜLLER, 164 41. A CENTENÁRIA PROFESSORA MARIA MÜLLER, 168 421. FILINTO MÜLLER, 176 43. LUIS-PHILIPPE, ORÁCULO CUIABANO, 181 44. LUIS-PHILIPPE, ORÁCULO CUIABANO - II, 185 45. PROF. LENINE PÓVOAS, 189 46. GARCIA NETO – ESTADO SOLUÇÃO, 193 47. O GOVERNO DE PEDRO, 197


CUIABÁ E SUA HISTÓRIA

A

s bandeiras voltadas para a caça – prear, índios vinham para o oeste vasculhar as terras deste sertão. Pascoal Moreira Cabral um dos pioneiros, sabendo da existência de índios rumou para a região do rio Coxipó. Recuperando-se da ferrenha oposição encontrada, acampou nas margens do rio Coxipó-Mirim. Conforme os registros, ao lavarem os pratos na beira desse rio, encontraram casualmente ouro, e assim, abandonaram o aprisionamento pelo garimpo. Neste local se fixaram, construiram casas, erigindo até uma capelinha, o povoado inicial foi chamado São Gonçalo Velho. O marco de criação da cidade, sua Ata de Fundação, registra a data, 8 de Abril 1.719. Neste dia fundou-se o arraial embrionário, sendo escolhido através do voto, seu chefe o Guarda-Mor, Pascoal Moreira Cabral. Esgotando-se rapidamente a fácil extração do ouro, mudaram-se para outro local também no rio Coxipó-Mirim, que chamou-se Forquilha, onde nova capela foi soerguida sob invocação de N. Sra.


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da Penha de França – um dos nomes de Maria, mãe de Jesus. Seguiu auspiciosa, até que maior descoberta, pudesse causar mudanças. Correndo mundo as notícias do ouro, inicia intenso fluxo migratório, e aumentam as imposições de subsistência para atender este novo contingente. Visando mais o plantio que minerar, alcança a estes rincões em 1.722 o bandeirante sorocabano Miguel Sutil. Este envia dois índios, à cata de mel, todavia, tardaram em regressar ao rancho, onde o patrão os aguardava um tanto impaciente. Indangando-lhes a razão da prolongada demora recebeu a seguinte resposta: “Vós viestes a buscar ouro, ou mel?” Entregaram-lhe o que traziam, embrulhados em folhas. Eram grânulos de ouro, que pesavam 120 oitavas – oitava parte da onça aprox. 3,6 g = 432 gramas. Não haveria argumento mais decisivo para desarmar a zanga de Sutil, que se apressou em confirmar o fato. Mesmo na madrugada seguiram a trilha apontada pelos dois guias, atingindo em breve o sítio por ele procurado. Maravilhou-se com a fartura aurífera, e só depois à tarde, voltando ao seu abrigo, pode avaliar a colheita alucinante. Sutil apanhara meia arroba de ouro - equivalente a 7,5 quilos, e o camarada João Francisco; por não ter quem ajudasse, só 200 oitavas – 720 g! Para legalizar a posse, regressaram no dia seguinte ao Arraial de Forquilha, onde suas notícias incentivaram os parceiros a seguirem o exemplo. Incrementou-se assim o povoamento, em pouco tempo, apenas raros moradores permaneceram no Arraial do Coxipó-Mirim, enquanto avultava progressivamente o número dos que se mudavam para as “Lavras do Sutil”, considerada a maior mancha de ouro que jamais achou-se em todo o Brasil. O cronista José Barbosa de Sá na obra “Relação das Povoações de Cuyabá e Mato Grosso de seus primeiros até os presentes tempos”, que é o patrono da cadeira nº 1 da Academia

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IGREJA NOSSA SENHORA DO BOM DESPACHO

Mato-Grossense de Letras, por nós ocupada, assim qualificou a descoberta: “pela quadra abaixo até o córrego, e coisa de vinte braças para cada lado, avaliou-se tirar deste lugar o melhor de quatrocentas arrobas de ouro”. braça = 2,2 m. Principiou o povoamento nos arredores onde hoje se acha, a igreja Nossa Sra. do Rosário, São Benedito. Margeava o córrego que tomaria o nome de Prainha, no seu cascalho repleto de ouro, encontravam-se em pepitas e granitos de vários tamanhos. Neste sentido, cresceu livre sem obdecer rígidos projetos de arruamentos, seguia o contorno do rio onde a sorte bafejasse. Amiudaram-se as monções que transportavam negociantes, mineradores e todos que se deixavam seduzir pelo enriquecimento fácil das minas. A viagem constituía prova de resistência a que só os fortes suportavam. Saiam de Porto Feliz no rio Tietê, seriam 55 cachoeiras e varadouros. Nem atingindo o Paraguai poderiam considerar vitoriosa a longa jornada. Um perigo maior se avultava, vez que a monção de Diogo de Souza foi destroçada em 1.725 pelos índios Paiaguás,

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hábeis canoeiros, quando pereceram mais de 600 pessoas nos ataques. Chegando D. Rodrigo César de Menezes, truculento capitão-general de São Paulo, fez inaugurar em 1º de Janeiro de 1.727 a “Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá”. Esta monção contribuiu com cerca de 3.000 homens pretendentes a garimpar o solo aluvionário. Nesta época teríamos sido a 3ª ou 4ª urbe em população do país. Ao fim de sua permanência na vila em 1.728, ordenou ao “Provedor dos Quintos Reais” – Imposto Real, igual a quinta parte; que lhe restituíssem 4.990 oitavas de ouro, para saldar os gastos de sua viagem. Foi brilhante o primeiro governador da Capitania Independente de Mato Grosso, criada por ordem D. João V, Rei de Portugal em 9 de maio 1.748. Um grande fidalgo, D. Antônio Rolim de Moura Tavares, veio a tomar posse no dia 14 de janeiro 1.751. Cuidou seriamente de preservar a fronteira, iniciando-se a era dos engenhos de açúcar, a lavoura ficava limitada pela barreira dos transportes, enquanto o gado sobejava. Após a Independência, Cuiabá se torna de fato a Capital da Província de Mato Grosso em 10 de setembro 1.825, com a posse do Dr. José Saturnino da Costa Pereira. A pobreza espalhava-se no imposto de 40%!!!, e taxas da Junta da Fazendária. Oficializa-se a mudança definitiva da Capital em 1834, através sanção no Palácio do Governo Provincial da Lei nº 19, assinou-a o Presidente Antonio Pedro de Alencastro, o “primeiro dos Alencastros”, instala ainda nesse mesmo ano a Assembléia Provincial. Avançando mais no tempo, chegando em Cuiabá a notícia da Proclamação da República, no dia 09 de dezembro 1.889, o povo aclama como governador o general Antônio Maria Coelho. Deste período em diante, a história contemporânea, viveram nossos avós, tornando-se o futuro um encargo para esta geração e sua descendência …

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A CAPITANIA DE MATO GROSSO

D.

João V, rei de Portugal, criou a Capitania Independente de Mato Grosso, por Ato de 09 de maio de 1.748, sendo ela desmembrada de São Paulo. Vale salientar que menos de 3 décadas após a fundação de Cuiabá, nomeando seu governador, um primo, D. Antônio Rolim de Moura Tavares, que tomou posse a 17.01 de 1.751. Não completara ainda 40 anos, ao aceitar administrar a Capitania nascente. Era capitão do 2º Batalhão de Infantaria e Guarnição de Lisboa, que iria deixar, para assumir o mais alto posto no Continente Americano. Tomou posse em Cuiabá onde revelou as “Instruções” que lhe deveriam definir as diretrizes do Governo. Recomendava-lhe o § 1º - “Suposto entre os distritos de que se compõe aquela Capitania Geral, seja o de Cuiabá o que se ache mais povoado, contudo, atendendo a que Mato Grosso se requer maior vigilância por causa da vizinhança que tem, houve por bem determinar que a cabeça do governo se pusesse no mesmo distrito de Mato Grosso, no qual fareis a vossa mais costumeira residência”.


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Seguindo as Instruções Reais, omitiu a Vila de Cuiabá como sede do governo, por outra que deveria fundar, para vigilância do território. Ficou o necessário às providências administrativas e seguiu para o Oeste. O governador Rolim de Moura ocupou-se seriamente na defesa ocidental de Mato Grosso, graças à sua tenacidade os espanhóis não ocuparam a margem direita do rio Guaporé. A escolha de um lugar adequado fê-lo visitar diversos provoados, como São Rafael dos Chiquitos, Pouso Alegre, São Francisco Xavier e Sant’Ana de Chapada. Todavia, estes arraiais não completavam as necessidades para o soerguimento da Vila. Impelido pela força das chuvas, atingiu a beira de um rio. Encontrava-se no vale do Guaporé, decidiu ali implantar a Vila. Fundou-a em 19 de março de 1.752, soerguendo o Pelourinho, símbolo da hierarquia vilarenga, sendo chamada, “Vila Bela da Santíssima Trindade”. Buscando assinalar a existência no lugar em que fez praça, armou uma casa de toldos e realizou o ato de criação da Vila, onde tomaram posse as autoridades municipais. Houve o planejamento dos arruamentos, com preocupações de urbanismo, na primeira vila mato-grossense, previamente projetada, a exemplo de Cuiabá, as demais não obdeceram plano algum. Simultaneamente desenvolveram-se as duas Vilas. Uma de objetivos políticos ao calor da presença do capitão-general, atacada por doenças; outra, ao sabor da lavoura e pecuária. Neste período a Capitania prosperava, cuidou-se de ampliar a região ocupada por meio dos engenhos de açúcar; a mineração do diamante iniciava-se promissora no Alto Paraguai. A produção açucareira, bem como a das roças, limitou-se ao consumo da vizinhança, retida pela inexistência de transporte para localidades distantes, além das dificuldades impostas pelo ataque dos índios. A criação de gado sobejava, de tal sorte que o próprio capitão-general afirmaria mais tarde em

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PLANO DA CAPITAL DE VILA BELA DO MATO GROSSO

1.761: “No Cuiabá é já o gado tanto que não chega a matar-se todos os anos metade do número de resses que nascem naquele distrito”. Dom Rolim de Moura rechaçou em 1.763 a investida castelhana comandada por Itomanas. Afastada relativamente das pressões fronteiriças, não deixou Cuiabá de participar das lutas, enviando provisões e homens armados para ajudar o capitão-general, que chegou a ser Vice-Rei do Brasil. O segundo capitão-general, João Pedro Câmara, permaneceu no poder durante quatro anos, e suas ações resumiram-se na defesa do território. Rechaçou os espanhóis na tentativa de 10.10.76, chefiando pessoalmente a resistância do Forte da Conceição. Mais acentuadamente manifestar-se-iam os anseios culturais, na acolhida ao terceiro capitão-general Luiz Pinto de Souza Coutinho, que em 1.769 visitou Cuiabá. Reunida sua gente, não somente participaram das solenidades religiosas, como ainda lhe dedicaram festejos. Foram três tardes de cavalhadas para onde onde acorreu a primeira nobreza da terra. Apresentaram-se artistas e constou de cinco comédias e duas óperas, tudo representado em um tablado na rua, danças e folguedos que levaram dias.

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Dentre os capitães-generais, merece atenção Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, que tomou posse a 13.12.72, que além de outros serviços de inconstestável valor, tratou com esmero do povoamento da fronteira, estendendo arraiais de Oeste para Sul, para evitar as invasões. Fundou Vila Maria - depois Cáceres, construiu o Presídio Nova Coimbra - Forte de Coimbra, edificou o presídio de Albuquerque - hoje Corumbá, fundou São Pedro de El Rei - depois Poconé, a povoação de Casalvasco, e construiu o Forte Príncipe da Beira. Mais do que exercícios guerreiros, aprazia-lhe as ocupações pacíficas. Assim enviou à Portugal em 1.785, o mapa da capitania, desenho do oficial Ricardo Franco de Almeida Serra, mais uma tela com o busto da Rainha. Ficando doente, indica ao sucessor do Marquês de Pombal, Ministro Martins Melo, o irmão João de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres. Não tinha as qualidades do irmão, assume em 20.11.90, morrendo de malária na capital política em 29.02.96. Assume uma junta governativa, transmitindo o poder para Caetano Pinto de Miranda Montenegro, um doutor em direito, logo após em 06.11. O episódio marcante do sexto capitão-general, foi a investida hispana sobre o Forte de Coimbra - 17 de setembro de 1.801. Napoleão aliado da Espanha, em luta contra Portugal. Chefiava a Praça de Guerra do Forte, o valoroso Capitão Ricardo Franco de Almeida Serra, que não se amedronta. Dom Lázaro de Rivera, governador de Assunção, comandava a expedição. Essa força fluvial tinha a bordo cerca de 800 homens, e após realizar disparos, receber uns tantos, seu arrogante comandante envia-lhes um ultimatum. Havia grande discrepância de forças, somavam na defesa cerca de apenas 110 bravos praças, dispostos a lutar. Após realizar nove vãs tentativas, amargando consideráveis perdas, o galhofeiro governador volta para casa.

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Ricardo Franco chega por bravura a Coronel, agraciado com o hábito de S. Bento de Aviz, e recebe uma tença. Manoel Carlos de Abreu Menezes, o sétimo capitão-general, recebe o governo de uma junta, fica pouco mais de um ano na administração, falece de malária em 08.11 de 1.805. Outra junta vem assumir esta lacuna. Merece destaque, João Carlos Augusto D’Oeynhausen Gravem-berg, penúltimo desses governantes, assume a 18.11.07, o cargo em Vila Bela. Entretanto, as doenças locais haviam feito sucumbir dois capitães-generais, além de outros nobres funcionários, resultou no paulatino escoamento da gestão para Cuiabá, onde fez obras. Fundou a Santa Casa da Misericórdia, Hospital de São José dos Lázaros, e o Real Hospital Militar. Realizou a fundação de uma Companhia de Mineração de Cuiabá, uma Escola de Marinheiros e Construções Navais. Assim, contribuiu para o progresso da instrução popular, até o embrião de um curso de medicina para Vila Bela. Decepcionado com o estado de penúria da capitania, após cumprir 11 anos de gestão, em 06.01.19, vai governar a Capitania de S. Paulo, então, recebendo o título de Marquês de Aracati. Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho, o nono dos capitães-generais, assumiu em 06.01.19. Tanto lhe agradou o convívio que preferiu residir em Cuiabá, desanimado pelas notícias dos muitos falecimentos de funcionários em Vila Bela. Seguindo conselhos, prefere instalar-se em Cuiabá, apenas visitando Vila Bela uma vez, em agosto de 1.820. Durante este governo, Cuiabá foi elevada à categoria de cidade através Carta de Lei de 17.09.18. Postulou ao Rei D. João VI, a transferência por razões de insalubridade, da capital em definitivo para a cidade de Cuiabá. Realizou um governo austero, granjeando muita antipatia, desperdícios e corrupção. Foi considerado prepotente. Deposto em 20.08.21, assumem juntas, até a independência quando Mato Grosso torna-se Província do Império.

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A PROVÍNCIA DE MATO GROSSO Extraído do Livro : “Mato Grosso em História” Ubiratã Nascentes Alves, ocupa a cadeira nº 1

O

primeiro governador da Província de Mato Grosso foi o Dr. José Saturnino da Costa Pereira, que tomou posse a 10 de setembro de 1.825, para substituir a junta provisória que sucedeu a Francisco de Paula, Magessi. Manuel Veloso Rabelo de Vasconcelos, comandante das armas, ainda esboçou a pretensão de impedir a posse em Cuiabá prenúncio de mudança definitiva da sede do Governo, do Dr. José Saturnino da Costa Pereira, contra os rumores que lhe chegaram aos ouvidos, ainda em viagem José Saturnino não encontrou maiores obstáculos para iniciar; em Cuiabá a Vila Bandeirante, transfigurada em cidade graças a Carta Régia de 17 de setembro de 1.818, a série de presidentes da Província de Mato Grosso. Neste período não decorria em afeição e sucessos, em que refletiam as inquietações da Corte, com a mesma penúria de recursos financeiros e agitações partidárias. A pobreza oficial espalhava-se no imposto de 40% e mais as taxas a que estavam submetidas as cédulas da Junta da Fazenda.


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No que tange à vida política, assinalou o presidente Antonio Correa da Costa, em carta de 05 de janeiro de 1.832, que a província “desde 1.821 está em anarquia moderada, mal que só com o tempo se pode vencer”. Em vez de atenuação, o mal exarcebou-se em 1.834, quando rompeu a revolta denominada “RUSGA”, provocada pelos nativistas exaltados contra os adotivos - portugueses, muitos dos quais pereceram na sinistra noite de 30 de maio. Bem angustiosa para a população, pois no seio de suas principais famílias haviam elementos portugueses. Dominado o acesso de radicalismo, analogamente ao que se verificou em várias outras províncias, do Pará ao Rio Grande do Sul, continuou a evolução de Mato Grosso em ritmo compassado. Para apressá-lo, esforçou-se por obter mais fácil ligação com o litoral distante. CENTRO DA CIDADE DE CUIABÁ ANO DE 1780 - ACERVO CASA DA ÍNSUA/PORTUGAL

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Francia, Governador do Paraguai, vedava a passagem de embarcações estrangeiras pelos seus domínios. Logo que em Cuiabá constou o seu falecimento, o Governador da Província de Mato Grosso, Estevão Ribeiro Rezende, incumbiu o capitão-tenente A. Leverger de ir a Assunção em Missão Diplomática. Frustrou essa tentativa de 1.839, como igualmente a de 1.841, que evidenciavam a urgência, sentida pelos dirigentes, de empreender a navegação fluvial até o oceano Atlântico. Apesar do apoio conferido pelo Governo Imperial, em prol da permanente aspiração provincial, somente em 1.856 conseguiu Silva Paranhos negociar o Tratado de 06 de abril que franqueou o rio Paraguai a navios brasileiros. A instalação em Corumbá, da Mesa de Rendas, acelerou-se a intensificação do movimento comercial, do qual se tornou entreposto. Fase de auspicioso progresso descerrou-se sobre Mato Grosso, que sentiu o desafogo em que permanecia por falta de transporte e comunicações com paragens mais distantes. Não lhe tardou entretanto a depressão, quando Solano Lopes, Chefe da Nação Paraguaia, lançou a agressão contra o Brasil. Aprisionando a 12 de outubro de 1.864, antes de qualquer declaração de guerra, o vapor brasileiro Marquês de Olinda, que transitava entre Montevidéu e Corumbá, dando início a guerra cruel. Ocupava o Governo, o General Alexandre Manoel Albino de Carvalho, sendo então Mato Grosso a primeira província invadida por situar-se na fronteira do invasor, o Paraguai. Dentre os principais acontecimentos dessa guerra, ocorridos em território mato-grossense, salienta-se: A tomada do Forte de Coimbra, da Colônia de Dourados, pelos paraguaios, a retomada de Corumbá dos invasores pela força mato-grossense comanda por Antonio Maria Coelho; o combate do Alegre e a Retirada de Laguna.

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Estava no governo o Dr. José Vieira Couto de Magalhães, quando partiu de Cuiabá, tão alarmantes eram as notícias das atrocidades em Corumbá, a força para recuperá-la do jugo paraguaio, sob o qual permaneceu três amargos anos e finalizado em 13 de junho. Como se não bastasse o tão lúgubre flagelo da Guerra, veio a transcorrer ainda nesse ano uma peste, a varíola completou a devastação, ao dizimar a população cuiabana, que relembraria apavorada por longo tempo a epidemia da “Bexiga” em 1.867. Afinal cessados os males da invasão e do seu cortejo sinistro, Mato Grosso registrou novo período de esforços para progredir, no âmbito de ensino, fundou-se, em Cuiabá, a Escola Normal inaugurada a 03 de fevereiro de 1.875 e o Liceu Cuiabano. A Escola Normal formaria professores que espalhariam a cultura e educação a estes rincões tão deles necessitados. No Governo do Coronel Ernesto da Cunha Mattos, atingia Mato Grosso, a fase final da província, em 1.879, quando Pimenta Bueno estimulou a população em 65.321 pessoas dos quais 6.110 escravos. Nos domínios da economia, as relações comerciais que se estabeleceram com as praças de Montevidéu, de Buenos Aires, e com algumas européias, permitiram a importação de tecidos e mercadorias várias, entre as quais se incluía a cerveja inglesa, manteiga da França, queijo da Holanda, em troca de couro seco de boi, ipecacuanha , carne-seca, solas, sal e outros produtos, juntar-se-iam em breve, dois produtos destinados a contínuo aumento, a erva-mate e a borracha. Atingindo mais tarde, aliados a pecuária as bases da economia do novo Estado de Mato Grosso, surgido com a proclamação da República em 15 novembro de 1.889, por ato do Marechal Deodoro da Fonseca.

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O DESCOBRIMENTO EM RETROSPECTIVA

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Península Ibérica, formada pela Espanha e Portugal, sofreu uma invasão dos árabes e beberes em 711. Esta circunstância provocou uma desestrutura na corte, e diferenciações regionais, expressões manifestas até hoje na Espanha Basca. Rei de Leão e Castela, D. Afonso VI, criou entre os rios Douro e Tejo, o Condado Portucalense, região da antiga colônia romana Portus Calle, recuperada dos mouros, entregue em 1.097 ao genro Henrique de Borgonha. Com sua morte, o filho Afonso Henriques, assume o governo e derrotando os árabes remanescentes, promove a unificação, depois fortalecido, desafia o próprio Rei de Espanha. Vencida a Batalha de Ourique - 1.139, Portugal se torna independente. Todavia seguiram, constantes lutas, até a consagração definitiva obtida com a vitória na Batalha de Aljubarrota em 14 de agosto de 1.385, aclamado D. João. Assumia a dinastia de Avis, que permaneceria no trono, por mais dois séculos. D. João I, esposou Filipa de Lancaster, neta de Eduardo III, rei da Inglaterra,


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que lhe deu cinco filhos, o terceiro nascido em março de 1.394, foi Henrique. Promovendo o Rei, torneio para dar aos filhos homens o título de cavalheiros, devido à conjugações místicas e religiosas, terminou por organizar um cruzada que apoiada pelos ricos mercadores e burguesia, voltou-se para atacar Ceuta. A Cidade das Sete Colinas, entreposto mouro localizado ao norte da África, tombou ante a impressionante frota composta por mais de 200 embarcações. Foram os lusos beneficiados com a mudança dos ventos, que fizeram os árabes supor tivessem abandonado a invasão, pegando a cidade desguarnecida em 14 de agosto de 1.415 ao entardecer. Possuía cerca de 24 mil lojas, onde ouro, prata, cobre, latão, especiarias e sedas eram banais, granjeando a empreitada retorno financeiro e ante a igreja. Purificaram a mesquita, onde rezaram a primeira missa na África em séculos. Estava aberto o caminho sem volta para os descobrimentos, tocados pela ardente febre de glórias e fortuna. D. Henrique tinha na época apenas 19 anos, ao retornar abandona as tolas futilidades palacianas, instala-se definitivameente em Sagres, tornando-se administrador da Ordem dos Cavalheiros de Cristo, originária dos Templários, a mais opulenta, enigmática das ordens militares do período medienaval na Europa. Tinha na Cruz de Copta, seu símbolo, utilizada nas velas dos navios lusos. Prosseguindo a saga aventureira, lançam-se em 1.425 às Ilhas Canárias. O próximo desafio era terrificante, pois levou a fenecer 15 expedições, sendo conhecido pelo Cabo do Medo, originando o marcante lema: “navegar é preciso, viver não é preciso”. Mesmo falecendo D. João I em 1.433, D. Henrique envia seu fiel escudeiro, Gil Eanes que em 1434, transpõe o Cabo Bojador, manobrando para Ocidente, tornando-se pela conquista, um Cavaleiro da Ordem de Cristo. Inicia-se o Périplo Africano, amiudando as explorações além

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mar. Por turno, Sagres cumpre fielmente seu papel, fomenta os avanços aproveitando as tabelas e instrumentos de navegação, como a balestrilha, astrolábio, quadrante, agulha de marear, e o nortulábio. Equipagem de suma importância pois os lusitanos, que se baseavam na altura da Estrela Polar, que iria naufragar, assim que as naves chegassem ao Hemisfério Sul. Nuno Tristão logra, seguindo os predecessores, em abril de 1.441 ao Cabo Branco, hoje Mauritânia. Depois na viagem de 1.444 atinge o Senegal, onde localizava-se o “Rio do Ouro”, pelas informações de Ceuta. Na falta deste, capturou 200 escravos negros. Dinis Dias, um escudeiro de D. João I, chega, fazendo particular empreitada em 1.445, ao Cabo Verde. A morte de D. Henrique em 13 de novembro de 1.460, provoca interrupção do Périplo Africano, o sobrinho D. Afonso V, era interessado apenas pela África Árabe. Mesmo sem o interesse real, as navegações seguiam, em 1.469 Fernão Gomes, rico mercador lisboeta, cruzou o Equador, sem que suas naus explodissem em chamas da ira divina, derrubando assim a tese de Ptolomeu. Entregou Afonso V o trono ao filho D. João II em 1.481, este segue a trilha do tio-avô D. Henrique, agora com mais ímpeto. Funda de início as primeiras colônias da Europa na África Equatorial: São Tomé, Príncipe e Fernado Pó. Envia Diogo Cão que chega em 1.482 na foz do rio Congo, atual Zaire, e finca marcos. Cristóvão Colombo chegou a fazer proposta a D. João II, que prefere enviar Bartolomeu Dias na expedição em busca do extremo sul da África, partiu de Lisboa em agosto de 1.487. Era composta por duas caravelas e ainda uma nau repleta de suprimentos. Atingiu-o uma violenta tormenta impondo castigo por duas semanas, terminado a tempestade navegou para leste sem achar terra, depois 800 KM para o norte, avistando montanhas, então percebeu haver feito o contorno. Esta vitória de Portugal, decepcionou Colombo que se

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muda para a Espanha. Ante a eminência dos fatos as nações firmam em 07.06.94 o “Tordesilhas”. Faltando apenas a consagração final, falece D. João II, sem ver a realização. Sucede-o D. Manoel I, que segue na expansão ultramarinha, criando a frota dirigida pelo fidalgo Vasco da Gama. Partiu para o golpe final, em 08.07.97, eram ao todo 4 navios e 170 marujos. Seguindo as orientações evita o golfo da Guiné, inicando a “volta do mar”, passando em 22.08. próximo à costa brasileira, quando avistou aves que supunham estam “indo para a terra”. Situação que não mudava suas ordens, prosseguindo, cruzou o Cabo das Tormentas, agora batizado sob a nova ótica, da Boa Esperança em 18.11. Finalmente chega à Calicute na Índia, em 22.05 do ano seguinte em 1.498. Vasco da Gama, ensinou a rota da extraordinária façanha que realizou para outro nobre escolhido pelo Rei. Anotou o patrício historiador, Jaime Cortesão, Pedro Álvares Cabral: “Tão avantajada estatura havia, que o cognominaram o gigante da Beira..”, “... activo, desembaraçado, poderoso, iguala sempre com a estatura física a moral, saindo ileso dos ataques”. A partida de Cabral de Lisboa, de um porto na praia do Restelo, ocorreu no domingo, 08.03 de 1.500. Recebera do próprio Rei, D. Manoel I, “O Venturoso”, após o sermão realizado na capela da Ermida de São Jerônimo, a bandeira da Ordem de Cristo, benzida pelo bispo de Ceuta. Era uma grandiosa festa, a Igreja fora toda decorada com ouro e veludo. Fervilhava o Restelo de tanta gente, havia interesse de mostrar aos espiões espanhóis e genoveses a suntuosidade dessa poderosa esquadra comercial e militar, coroando o êxito de Portugal. Descreveu João de Barros, o grande cronista real: “... e bandeiras de cores diversas, que não parecia mar, mas um campo de flores, com a frol (conjunto) daquela mancebia juvenil que embarcava.” Muitos se perderam. A poderosa esquadra, a maior jamais formada, era composta

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por 10 naus – uma evolução da caravela que chegaram a ter 600 toneladas, também 3 caravelas, e cerca de 1.350 homens. A nau capitânia, onde seguia Cabral, tinha capacidade para 250 tonéis, 80 marinheiros, 70 soldados mais 33 passageiros. A sota-capitânia, 200 tonéis, levava a bordo 160 homens, comandados por Sancho de Tovar. Alimentação de bordo era basicamente um biscoito duro e salgado, cada um tinha direito a 400 gramas diários. Bebida era fornecida para os embarcados, uma canada, cerca de 1,4 litro, por dia de vinho, também água. A vida de bordo era monótona, praticamente todas as opções de lazer eram defesas. Até mesmo o carteado, quando um sacerdote os pegavam jogando, os naipes iam parar no mar. Mesmo os romances de cavalaria soavam como armadilha do demônio que poderiam causar danos às almas. Permitido apenas o teatro, entretanto, peças sempre de cunho religioso, eram missas, ladainhas, penitência, e jejum, semeando o temor reverencial, envolvidos no misticismo religioso. A esquadra cruzou o Equador em 9 de abril, evitando as calmarias e conforme determinação, segue rumo sudoeste, iniciando a “volta do mar”. Culminando o aspecto da fé religiosa, o descobrimento ocorre logo após a semana Santa, em 19.04 estavam em frente de Salvador, 250 KM da costa. Em 21 depararam com sargaços flutuantes: botelhos e rabos de asno. Amanhecendo o dia 22 de abril, o vôo dos fura-buchos não deixa dúvidas, repicaram os sinos, e os homens ansiosos se apinham nos tombadilhos. O Almirante, sentindo o bafejar do descobrimento, atira-se de joelhos aos pés da Imagem de N.S. da Esperança. Ao entardecer, completados 44 dias de viagem, puderam enfim soltar o grito por tanto tempo abafado - terra à vista. Estavam frente ao cume de “um grande monte mui alto e redondo”, era o Monte Pascoal, no sul da Bahia. Estava finalmente descoberto o Brasil. Encontrado no estado de inocência total, os habitantes anda-

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vam nus, como Adão e Eva, no paraíso. Hoje ficamos assolados pelas grandes incompetências e farjutas autoridades, protegidas no cínico corporativismo, que levou Rui Barbosa a escrever sobre as nulidades. Alguns culpam a idéia da colonização inicial por degredados e prostitutas, não procede, pois a Austrália teve mesmo começo. A latinidade, parece foi decisiva, afinal não foram os saxônicos que imolaram o Filho de Deus, enquanto aclamavam Barabás, este um ladrão. Vejam os Salvatores Cacciolas, outros seguem o caminho fácil da política, Luiz Estevão ainda vai virar mártir, assistindo a nação boquiaberta, os Barbalhos da SUDAM e o Malvadeza no Senado, gozando total impunidade, instituições que foram totalmente dissociadas dos seus verdadeiros fins. Enquanto as raposas felpudas dizem ser normal do “sistema democrático”. Apesar de multas, processos afogam o cidadão honesto, solene contribuinte. Pindorama merecia ter algo melhor, parece que não valeu a pena todo os sacrifícios dos intrépidos navegadores. Quando iremos conseguir mudar isto?

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PRAÇA ALENCASTRO A PIONEIRA

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singular, hoje denominada Praça Alencastro, possui uma longa e bela história, foi palco de um prazeiroso cotidiano, testemunhou memoráveis decisões e célebres comemorações tanto da cidade como do Estado. Inicialmente Largo do Palácio, sediou desde o limiar do século XIX, no ano de 1805 as primeiras touradas, uma das poucas opções de lazer tal como a Festa do Divino, outras de cunho religioso casamentos e batizados. Era empregado o nome "Largo" muito apropriadamente, pois nesse período era apenas um espaço sem outras benfeitorias. A situação começa a evoluir quando o Tenente General Francisco de Paula Magessi de Carvalho, último governante do período colonial, depois 1º Barão de Vila Bela, no primeiro centenário de Cuiabá, já então cidade - 1819, adquiriu por 1:440 $000 – um conto quatrocentos e quarenta mil réis o imóvel do Palácio do Governo. Tornou-se o centro nervoso das ações políticas da então Capitania de Mato Grosso, polarizando uma destacada vizi-


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nhança formada a seu entorno. Gerou algo como um primeiro Pelo lado lado direito ficava a DeCPA, ao estilo da época época colonial colonial...... Pelo legacia Fiscal do Tesouro Nacional, e no esquerdo o Quartel do 7º Distrito Militar, onde posteriormente funcionou o telégrafo Nacional. Em frente, n’outro lado – hoje rua Pedro Celestino, ficavam as instalações da Intendência Municipal, depois Prefeitura Municipal em imóvel construído em 1810. Tratava-se de um modesto sobrado que atravessou duas reformas e ampliações, a primeira antes da Guerra do Paraguai a segunda em 1897. Os Alencastros Alencastros foram foram três trêsGovernadores Governadoresda daProvíncia Provínciasendo seninteressante discriminá-los O primeiro Antônio PedroPedro de Alendo interessante discriminá-los O primeiro: Antônio de castro, foi presidente de setembro 18341834 atéaté janeiro dede 1836; o Alencastro, foi presidente de setembro janeiro 1836; segundo Tenente-Coronel Antônio o segundo:Tenente-Coronel AntônioPedro Pedro de de Alencastro Alencastro inicia em outubro de 1859 se afastou em fevereiro de 1862. Finalmen-

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te o terceiro ... Coronel José Maria Alencastro de maio de 1881 até março de 1883, este o realizador da obra que leva seu nome, Jardim Alencastro. Oportuno registrar que o governador sofreu uma grande resistência por realizar a obra, sendo aproveitado o metal das espingardas utilizadas na guerra do Paraguai na construção do guardil que cercava o novo logradouro. Lembra o príncipe dos nossos historiadores, Estevão de Mendonça: "Evoco um acontecimento que teve grande projeção na nossa vida social: a inauguração, em 28 de setembro de 1882, do primeiro jardim público que se construiu em Cuiabá. Alcancei ainda o imenso ‘fedegosal’ que tomava conta do largo do Palácio, cortado apenas por dois caminhos transversais." Durante a gestão dos Alencastros em decisões provindas das circundantes hostes palacianas, em 1834 transferiram em definitivo a capital de Vila Bela da Santíssima Trindade para Cuiabá e também instalaram a Assembléia Legislativa Provincial. Depois em 1835 foi criado a célula mater da Polícia Militar - Homens do Mato, em 1882 implantaram o primeiro serviço de fornecimento de água, ainda construiram o Quartel da Força Pública – 1º Batalhão Queiroz. Durante a gestão do Intendente Municipal – Prefeito, Coronel Avelino Antônio de Siqueira em 1903, o Jardim recebeu um chafariz e coreto, vindos de Hamburgo - Alemanha, atrações que propiciaram enorme salto. Pouco mais tarde, no ano de 1909 foi inaugurado nova iluminação à base de gás acetileno que representou avanço considerável, substituindo o método anterior que utilizava óleo de lambari. Ainda, para abastecimento erigiram na praça um gasômetro, próximo da Joaquim Murtinho com Getúlio Vargas. Este sistema operou até o ano de 1926. Nessa mesma esquina mais tarde em 1939 iniciaram as obras para a construção da Agência do Banco do Brasil.

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Os aspectos botânicos bem o caracterizavam como um jardim, ... recebeu ainda um caramanchão coberto por uma trepadeira denominada "pingos de amor", além de possuir flores de inúmeras e coloridas espécies enfeitavando seus canteiros. As palmeiras imperiais criteriosamente distribuídas, foram plantadas pelo Barão de Diamantino, depois contempladas nos versos do poeta Dom Aquino Corrêa, e a grama muito bem tratada !!! As retretas iniciaram com a posse do Coronel Antônio Paes de Barros – Totó Paes, em 15 de agosto de 1903. Inicialmente executadas pela Banda da Polícia, tornando-se depois rotineira as execuções todas quintas-feiras e domingos. A este hábito incorporaram as tocatas do Mestre Inácio e a Banda do 16º Batalhão de Caçadores. Neste momento o Alencastro já desfruta de vida própria e ao redor florescia também o comércio, ao lado da Prefeitura em 1894 surgira o Hotel Pinho, o Café Sargentini, e a Confeitaria Progresso. Surge ainda, em 29 de junho de 1920 o emblemático Bar Moderno, do Sr. Olinto Neves, o popular "Bar do Bugre", freqüentado por eruditos e populares onde bebiam a bem dgelaaada cerveja preta, O transporte também colaborou, ao surgirem as Jardineiras fazendo uma linha regular até o Porto. O Prefeito Vicente Emílio Vuolo em 11 de julho de 1965 inaugura uma nova Fonte Luminosa e Sonora, o coreto na posse do Governador Pedro Pedrossian em 31 de janeiro de 1966, com o passar do tempo o bucólico Jardim d’outrora se perdeu, sendo mais próprio o termo Praça. Ainda, em 8 de abril de 1969 inauguram o primeiro prédio de Cuiabá, o Edifício Maria Joaquina, onde residiram 2 de meus grandes amores, um de cada vez, e a Imortal Prof.ª Dunga Rodrigues. Por último, o homem do paletó furado, imagura uma obra inacabada e depena as últimas árvores !

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A HISTÓRICA PRAÇA IPIRANGA

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ace a todo arrepio que esta praça sofreu no decorrer do tempo e agora com a reforma em curso, necessário destacar seu relevante, histórico papel de coadjuvante na evolução da cidade. Ainda menino recordo das vêzes em que por ali passei, vindo da antiga rua Formosa – hoje Joaquim Murtinho. Seguia pela atual Travessa Des. Lobo – irmão de minha avó Amelinha, onde situava-se a vizinha rádio “A Voz do Oeste”, e atravessava a balançante pinguela indo buscar a marmita do outro lado do córrego da Prainha. Estas minhas reminicências, de um passado maior! Mergulhando no tempo ainda no período do Brasil Colônia, é uma das mais antigas, era o local onde se faziam o enforcamento dos condenados, uma Bastilha Tupiniquim, que lhe valeu o primeiro nome... “Largo da Cruz das Almas”. Os julgamentos eram realizados por um magistrado que vinha de fora e aplicava a sentença para forca ou prisão, inexistindo tribunais de apelação... Havia até a crença dizendo que as pessoas ali enforcadas,


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continuavam assombrando moradores. Sendo a Prainha navegável neste período, pescadores vinham em suas canoas até o largo oferecer seus pescados, célula que incrementou a formação de um dos primeiros mercados da capital com a chegada de mais vendedores trazendo verduras frescas e outros alimentos. O Grande Rubens de Mendonça, que tive o prazer de conhecer em vida, nos ensina que a inicialmente Praça Marquês de Aracati – João Carlos Augusto de Oeynahansen de Gravenburg, foi um baluarte memorável nas gestões da Capitania de Mato Grosso e seu 8º Capitão General. Dedicou no período de seu governo especial atenção com a saúde, levantou hospitais como o Nossa Senhora da Conceição – atual Santa Casa da Misericórdia, São José dos Lázaros, ainda uma sala de cirurgia e anatomia na intenção de fundar uma escola de medicina. Mais, implantou um Horto Botânico, além de uma Escola de Marinheiros e de construções navais. Finalmente procurou solucionar o abastecimento de água da capital, seria encanada e captada no ribeirão da Mutuca. Durante seu governo, findo em 27 de janeiro de 1819, Cuiabá galgou a categoria de cidade, registra o Visconde de Beaurepaire... “dele se fala com veneração e saudade”. Merece registro é o fato que na frente da Praça, na atual rua 13 de Junho – antiga Cruz das Almas, ficava o casarão do Cel. João Poupino Caldas, caudilho de grande influência política, um dos líderes da matança de portugueses conhecida como “Rusga”, na noite de 30 de maio 1834. Morto em 1837 por uma bala de prata, em razão de prováveis perseguições efetuadas no passado. Durante a presidência de Augusto Leverger, Barão de Melgaço, em 1852 foi construído um grande casarão onde colocaram todos os comerciantes da feira que existia ao redor da praça. Com o advento da Guerra do Paraguai o grande prédio foi ocupado pela Guarda Nacional e ao findar, abrigou os soldados e

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pessoas infectados com a devastadora peste de varíola 1867/69, que ceifou metade da população de Cuiabá, depois sediou a Imprensa Oficial, hoje o “Poupa Tempo”. Nesta Praça Ipiranga também foram realizadas as primeiras touradas havidas na cidade, sendo então transferidas em 1876 para a Praça do Alegre, depois denominada Campo D’Ourique. Nesse período, o governo da província através de uma lei propiciou a construção de um chafariz, sendo a água oriunda da Caixa D’Água Velha - 1882, cujo reservatório já colhia-a do rio Cuiabá, que aproveitando o declive, descia pela gravidade até chegar nessa prodigiosa fonte, objetivando ser distribuída nas residências da elite cuiabana. Até então, as águas consumidas pela população no geral eram oriundas de nascentes nas suas propriedades ou de poços, inoportunamente salobas. Neste período foram igualmente plantado palmeiras imperiais, tornando-se

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um local propício para encontros amistosos e distração das mais populares, destacando-se a pitoresa, única Gogó da Ema, que na atualida veio a ser tombada através da Lei 3.733/1999. Ganhando nova vida, depois da reforma na Praça Alencastro iniciada durante o governo Mário Correia da Costa, o coreto lá existente foi então transferido em 1930 para a Praça Ipiranga, transformando-a em palco de inúmeras manifestações de cunho artístico-cultural, alegria do povo. Oportuno informar que este coreto foi construído na cidade de Hamburgo da Alemanha, adquirido pelo itendente municipal Avelino de Siqueira, e infelizmente após a remoção, as “bacias de cobre” que existiam no seu interior sumiram, como também os postes com “cabeças de leões”, ingleses. Uma curiosidade merece registro, pois nesta calorosa cidade, o primeiro comércio de gelo era localizado em estabelecimento na frente desta praça, propriedade do Sr. Oriente Tenuta. Restanos apenas clamar ao prefeito desta tranqüila e pacata Cidade Verde, conhecido pelo alcunha de “paletó furado”, que deverá estar as voltas na lâmina de um porreta impeachment, que zele como a um filho único de viúva honesta, da Praça, sofrido chafariz e do Gogó da Ema. Evitando-se assim, os surrupios e destruição, dos que jogaram no lixo a bela história de Cuiabá!!!

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O PORTO, UMA PORTA PARA O MUNDO...

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propícia malha fluvial que viabilizou a chegada das monções a estas terras, tinha primitivos senhores, que dominavam o rio Paraguai desde a região de Assunção até Mato Grosso. Eram os índios Paiaguás, excelentes caçadores nômades, pescadores, ainda: exímios nadadores, hábeis cavaleiros e peritos canoeiros! Mais, tinham um código de honra que os impedia de recuar na luta, apenas não voavam... mas aniquilaram Juan Ayolas em terras paraguaias no ano de 1538. Pascoal Moreira Cabral ao lavrar a Ata da Fundação de Cuiabá em 08 de abril de 1719, isto era no São Gonçalo Velho, portanto sua localização nas imediações da barra do rio Coxipó. Entretanto, o grande impulso para o surgimento do Porto aconteceu por conta da descoberta das Lavras do Sutil, próximo da Igreja do Rosário e São Benedito nas margens do regato da Prainha. Assim, com o incremento populacional devido ao fascínio das notícias do ouro, os decorrentes suprimentos necessários, definiram o local estratégico para instalação portuária nestas cerca-


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nias. Inicialmente tão simples quanto o desmate do local e uma rampa de pedras até as águas do rio Cuiabá, porém funcionava a contento para os fins desejados. O primeiro visitante ilustre a chegar, e com pompas, foi o capitão-general de S. Paulo, Rodrigo Cesar de Menezes e comitiva em 1726. O local onde hoje encontra-se a Avenida 15 de Novembro, se transformou originalmente em ponto de escambo e comércio de mercadorias vindas sobretudo da Europa, e morada de uma elite. Neste diapasão permaneceu o Porto até 1830, quando um jovem tenente da Armada Imperial, Augusto Leverger fundou o Arsenal de Marinha promovendo uma auspiciosa evolução. Sobre o assunto, escreveu um neutro italiano, Bartolomé Bossi em seu livro “Viaje Pintoresco”, publicado em espanhol no ano de 1863, que nos relata: “Sobre a barranca está situado o arsenal da Marinha a cargo do Sr. Capitão Cláudio Soído, oficial de marinha muito inteligente e ativo..”. Informa ainda existir um estaleiro para a reparação de vapores, começando a operar uma fundição para produzir peças de toda natureza requeridas. Registra também nossa minguada flotilha, de 4 ou 5 pequenos vapores no serviço em distintos pontos militares. Vale observar que o MD. Almirante Antônio Cláudio Soído, vem a ser hoje o patrono da Cadeira nº 12 da Academia Mato-Grossense de Letras. Destaca-se neste momento a relevância desse porto inclusive por razões militares para salvaguardar o Estado. Augusto Leverger havia atuado em lutas na bacia do Prata, conhecia das intenções paraguaias, e conforme Visconde Taunay informou ao Imperador Pedro II. Anotou Herculano Ferreira Pena no seu Relatório apresentado à Assembléia Provincial em 1863, que a frota estadual era composta pelo vapores Amambai, Paraná – em fabrico no Arsenal, Jauru, Corumbá e do Patacho Iguaçu, além do Lanchão Constituição, mais outras pequenas embarcações.

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Teve um papel fundamental e merece registro na ausência de uma ponte a cotidiana atuação da Barca Pêndulo fazendo o transporte de passageiros, cargas e mesmo veículos entre Cuiabá e Várzea Grande, que iniciou operação em 1874 e veio a ser destivada no ano de 1942. Sendo demolido o prédio onde funcionou o Arsenal da Marinha, a praça erguida em seu lugar pelo Vice-Intendente Amarildo Alves de Almeida em 31 de março de 1909 recebeu o nome do Capitão-General Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. O qual foi nomeado em 3 de julho de 1771, fez um destacado trabalho durante sua longa gestão de 16 anos 11 meses e 7 dias. Neste logradouro foi encravado um obelisco comemorativo do bicentenário de Cuiabá, presente da municipalidade de Corumbá inaugurado em abril de 1920, onde se encontra até os dias atuais. Neste cais tudo e todos chegavam e também partiam, os viajantes seguiam em alto estilo ostentando ternos de linho, tipo

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Palm Beach e as senhouras de bolsas, chapéus e sapatos da moda, havia muito glamour nestes celebrados acontecimentos sociais. Fundada por irmãos em 1925 a Empresa de Navegação Miguéis, veio a fazer o transporte de cargas e passageiros para Cuiabá, Cáceres, Corumbá até Porto Murtinho, dentre outras localidades. Meu saudoso avô Alencastro Maria Alves era gerente na capital, essa firma chegou a possuir 40 embarcações e chatas que tinham capacidade para transportar 200, 300 e 500 toneladas! Elas traziam infinitos artigos desde ricas alfaias, manteiga, porcelanas, mobiliário, fios, sedas, ferro, licores, incluso pianos alemães!!! Surge uma nova era, que indica o declínio do nosso querido, festejado, e decano Porto, quando chega a esta cidade o primeiro hidroavião em 1929, passando para horas trajeto de 9 dias. Depois em 1930, outro hidro chega no Porto, velho amigo que sempre acolheu por terra, água e ar, tratava-se do Iguassu, depois em 1940 iniciam as linha regulares com os trimotores Junkers da “Viação Condor”, secundada pela “Panair Serviços Aéreos”, e nunca deixou de crescer vivamente. Depois inauguram 1942, dia 20 de janeiro a Ponte Júlio Müller construída durante sua auspiciosa intervenção, com vão central de 40 metros e 224 de comprimento, aproximando as cidades irmães. Finalmente veio a ligação rodoviária com a malha rodoviária através Campo Grande e Brasília, sepultando o esquecido Porto, e só a “Figueira do Adeus”, a bela poesia de Dom Aquino, chorou!

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A HERÓICA RUA 13 DE JUNHO

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uitos conhecem esta popularíssima rua da Capital, caminharam por suas calçadas e até fizeram compras nas lojas, sem contudo, atinar para o significado das encantadoras histórias. Vamos mergulhar primeiro no significado do nome, uma data marcante de bravias e solitárias lutas desta gente na defesa e recuperação do solo pátrio, contra o caudilho invasor Solano Lopez. Realizando estudos em Paris, ele terminou influenciado pelas campanhas de Napoleão Bonaparte. Comandava as tropas paraguaias da invasão o Coronel Vicente Barrios, cunhado de Lopez, trazia um contigente de 3.200 homens - 4 batalhões, em 3 de janeiro de 1865 Corumbá estava dominada. Essa mácula nunca foi aceita pelos mato-grossenses, na época Presidente da Província José Vieira Couto Magalhães – fundador de Várzea Grande, faz os preparativos para a reconquista. Designa o meritoso Tenente Coronel Antônio Maria Coelho, futuro Barão de Amambaí e primeiro Governador do Estado na República; coman-


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dante das Forças Expedicionárias para a dura missão. Partiram de Cuiabá em 15 de maio de 1867, a tropa compunha-se de 400 homens, 1ª, 5ª e 6ª Companhias, em canoas que foram rebocadas por vapores Alfa, Antônio João, Jauru e Corumbá. Importante, a estratégia adotada que surpreendeu o inimigo, havendo desembarcado sem chamar atenção no local de nome Alegre, depois em difícil marcha e utilizando os batéis nos alagados, logram surpreender o invasor que os aguardava na vertente do Rio Paraguai. Travaram intensa fuzilaria e luta de trincheiras na baioneta, consagraram marcante vitória em 13 de junho de 1867. Visando cultuar a memória, o feito e heróis, o nome vem caracterizar a "Retomada de Corumbá". Por outro lado, esta via no percurso até o Rio Cuiabá, em cada trecho recebeu um nome. A parte inicial da Praça da República até a antigamente denominada Avenida Generoso Ponce – hoje Isaac Póvoas, chamava-se "Rua Bela Do Juíz" em razão do romance que marcou o primeiro escândalo amoroso na cidade. O local onde está a Sede dos Correios, ali havia a Casa da Câmara, depois foi a residência dos Ouvidores – juízes, desde o Doutor José Burgos Vila-Lobos em 1730. Tudo inícia em 1753, a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, tinha na época apenas 34 anos. Uma mulher envolta num manto, altas horas da noite saía da velha cadeia, indo para a casa do Exmo. Ouvidor João Antônio de Vaz Morilas, sendo a entrada principal nessa famosa rua. A porta do casarão ficava apenas encostada havendo uma única tênue luz de lamparina que vinha dos aposentos de dormir, onde o Senhorio, já aguardava a visita de sua presa com ansiedade. Morilas, homem da lei, culto, elegante, a mais alta autoridade, mandava e desmandava nesta vila, vez por outra carregava nas custas, gostava de dinheiro e mulheres, as "Crônicas de Cuiabá" anotam que o mesmo inquietou sua vizinha, mulher casada. Chegou a esta cidade no ano de 1749.

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O romance corria às mil maravilhas, mas eram notados no viO romance corria às mil maravilhas, mas eram notados larejo os passeios noturnos. Até que chega em Cuiabá em 7 no de vijalarejo os passeios noturnos.da Aténoviça que chega em Cuiabá em Grosso, 7 de janeiro de 1752 o Governador Capitania de Mato neiro de 1752 oRolim Governador da noviça Capitania MatoprotagoGrosso, Dom Antônio de Moura Tavares. Estando de ambos Dom Rolim de Moura Tavares. Estando nistasAntônio distantes de suas esposas, por destino ouambos ante a protagoescassez nistas distantes deasuas esposas, por Dona destino ou ante a escassez reinante, amaram mesma beldade, Benta Cardoso ! Após reinante, amaram mesma beldade, Dona Benta Cardoso! Após acirrada luta entreaas duas autoridades máximas, o Governador acirrada luta entre duas autoridades máximas, o Governador em 1762 acusa esse as Ouvidor de exercer comércio clandestino, deem acusa essepara Ouvidor dedo exercer comércio clandestino, pois1762 envia-o preso Belém Pará, encerrrando a história. depois envia-o preso para Belém do Pará, encerrrando a história. Nesta trecho inicial, para vislumbrarmos a relevância desta trecho inicial,foi para vislumbrarmos relevânciachefe desrua,Nesta a Casa da Câmara, vendido em 1848 ao aimportante ta rua, aCapitão Casa daManoel Câmara, foi Ribeiro, vendidoonde em 1848 ao funcionou importante político Alves depois o chefe político Capitão Manoel onde depois funLiceu Cuiabano. No local da hojeAlves IgrejaRibeiro, Presbiteriana, funcionou cionou Cuiabano. NoNesse localmesmo da hojelado Igreja em 1910ooLiceu primeiro cinema. daPresbiteriana, quadra, havia funcionou 1910 janelas, o primeiro Nesse mesmo lado da uma casa deem muitas era acinema. residência do Barão de Aguapeí

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- João Batista de Oliveira, Presidente da Província em 1868. Neste casarão durante um suntuoso baile do Partido Liberal, oferecido ao seu Presidente Generoso Ponce, em 8 de dezembro 1889, após a meia noite, chegou a festejada notícia da proclamação da República ! Posteriormente, o imóvel foi adquirido pela Irmãos Haddad & Cia. Ltda, na frente havia o Asilo de Santa Catarina de Sena e o Consulado da Alemanha, onde em 1930 opera a primeira agência aérea, Sindicato Condor. Descendo pelo lado direito, encontrava-se o Palácio Arquiepiscopal de Dom Carlos Luis d’Amour e mais adiante o local onde instalaram a primeira Empresa Telefônica. O trecho seguinte da via ... entre a Generoso Ponce até o Asilo Santa Rita, chamava-se "Cruz das Almas", em referência às execuções efetuados no local que veio a ser a Praça Ipiranga. Neste intervalo ficava a chácara do Comendador Manoel Nunes Ribeiro, ao seu lado a ARL dos Bodes - Acácia Cuiabana, no lado direito esquina com Dom Bosco, inaugurada em abril de 1891, a estação de Bondes da Cia. Progresso Cuiabano, que ia do Porto até a atual Praça da Mandioca. O segmento posterior da rua, denominava-se "Lavra Pau", do já citado Asilo até a Praça Benjamim Constant, em frente ao Arsenal de Guerra - SESC, criado por Dom João VI em 1818. Depois o curto percurso até o Grupo Escolar Senador Azeredo, atual Casa do Artesão, era chamado "Capim Branco", ganhava ainda o nome de "Limoeiro" e mais adiante era "Curtume". Este trecho também chamavam de "Taquaral" e "Chacrinha", e desta finalizando a via na granja do Dr. Fenelon Müller – Intendente Geral, onde funcionou as instalações da Cervejaria Cuiabana. Falta só agora o prefeito do Paletó iniciar as obras do Metro na Ipiranga ou ali encontrar petróleo !

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A TRAJETÓRIA DOS COMBUSTÍVEIS

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uitos assuntos podem e devem ser trazidos à discussão com finalidade de provocar a reflexão nossa de cada dia. Em verdade os combustíveis merecem destaque especial. A primeira vista, parece que não nos damos conta do problema ou ficamos submetidos à crônica escalada dos preços. Como se não bastasse o próprio aumento da gasolina, demais derivados do petróleo e álcool hidratado, refletem sobremaneira em um sem número de produtos, transportes, etc. Nos finalmentes a retórica é sempre a mesma. A elevação do custo de vida já tão desgastado dessa gente. Vale lembrar um fato no mínimo lamentável, as variações nos preços não são computadas no cálculo do ICV. Índice do custo de vida. Contudo a FGV, Fundação Getúlio Vargas, desperta para incluí-los nos cálculos de julho, um reconhecimento de que a situação desacompanha a realidade dos fatos. Surpreendentemente, para junho temos a inflação em torno de 9%. O que parece ainda modesto, apenas outro índice de encomenda como precisava ou deveria ser. Para recordar vamos acompanhar a evolução dos fatos. A gasoli-


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na iniciou o ano no preço de CR$ 445,00, e o que se manteve por 25 dias. Ultimamente vinha na casa dos CR$ 672,00 e saltamos agora para CR$ 890,00 em relação ao início do ano sofreu um acréscimo de 100%. Ao preço anterior 32,4%. Para o mesmo período o óleo diesel apresentou os seguintes números CR$ 300,00 – CR$ 469,00 CR$ 610,00. Haja caminhoneiro que resista! Janeiro/Junho escalou 103,33%, do preço anterior 30,06%. O álcool hidratado passou de CR$ 267,00 para CR$ 570,00. Um acréscimo total de 113,48% , e 43,9% ao preço anterior. O maior contemplado de todos. Agora vamos fazer uma pequena análise referente aos derivados de petróleo e álcool, sem maiores considerações e entruncada justificativa que se nos apresentou. O aumento médio dos derivados de petróleo teve como justificativa oficial a variação cambial. O aumento de 10% de IOF Imposto Sobre Operações Financeiras incidentes sobre a taxa de câmbio, específicas para a importação de petróleo. E outras ainda como a correção salarial do pessoal do refino e distribuição e completando para embaralhar ainda mais, a correção no custo das embalagens. Deu para entender? Passemos então à contraditória. A correção nos preços dos derivados foi em média superior a casa dos 100%. Contudo, a alegada justificativa da correção cambial, para o mesmo período, não tem fundamento porque este foi de “apenas” 72,72%. Quanto ao aumento do IOF o próprio governo concorreu para sua majoração. Em relação aos salários dos petroquímicos causou espanto e denota falta de equidade, melhor não alegá-lo. Pode surtir efeito em pobres donas de casa que, acostumadas ao constante aumento dos gêneros, aceitam simploriamente. Em termos de planejamento e dotação orçamentária, o pagamento dos salários, para atividades é calculada ano a ano por qualquer empresa pública, deveriam ter seus custos previstos desde o exercício anterior. Lei 4.320, de 17 de março de 1964. Depois, por último o aumento na embalagem em 30% sugere

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e está aí, uma coisa, que dificilmente poderá ser provada. O cidadão ao final não sabe se está comprando óleo ou embalagem. Deveríamos solicitar da Bolívia, país pobre que não atravessou nenhum “Milagre Econômico”, não possuí Carajás ou sequer uma Serra Pelada para colaborar nesse assunto. Justiça seja feita aos seus empresários públicos pelo sucesso, cotando uma gasolina ainda mais barata que a nossa. Para o álcool, segundo os critérios da teoria econômica, a produção marginal (unidade produzida a mais) tem seus custos decrescentes, porque dilui o investimento inicial e os custos fixos. Ora o que vemos aqui representa no mínimo uma inovação, ou então na prática a teoria é outra. Quanto mais álcool é produzido produzido, maior é o seu preço. Além de que o seu preço de venda não deveria estar vinculado ao do petróleo, vindo de distantes países debaixo de bombardeio, fretes e seguros elevados. O álcool é coisa nossa, bem brasileira. De acordo com portaria da Comissão Nacional de Energia, o álcool hidratado não poderá atingir índice superior a 65% do preço da gasolina. O valor até 22 de junho 58,9% desta passou agora para 54%. Projetando o terreno a SEPLAN do Delfin fala em elevá-lo até 70% com a retirada do subsídio ainda existente, transferindo este montante para cobrir o rombo da previdência. Fica claro que já não é necessário, o estímulo para o consumo do combustível alternativo. Mas que conversa! Me pergunto se o que está ocorrendo não será exatamente o inverso, o álcool é que deve estar subsidiando outras fontes. Como nos poderão provar a efetiva contribuição...? Fica o dito pelo não dito e não se pode provar o contrário. Ainda com relação ao subsídio, consta que este persiste no valor de CR$ 50,00. Vejamos então em se avaliando puramente os dados, se poderão haver condições do álcool hidratado custar CR$ 570,00 , mais caro que o pró-prio leite, embalado de saquinho em saquinho.

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OCASO DO BNH

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instável Sistema Financeiro Habitacional – SFH, na atual conjuntura concretiza os fins a que se propoz. Deu uma virtual guinada, contra a classe média. Deveria, inicialmente desempenhar um papel social, dissociando-se destes passou agora a representar os interesses de agentes financeiros, os dos empressários da construção civil. A escolha óbvia entre o Rico e o Pobre. A elite maquiavélicos mandarins, na suntuosa sede no Rio de Janeiro, procuram, através entruncadas formuletas um meio de justificar o absurdo. Por último vêem demonstrando um recuo sensível, na tentativa de amenizar a situação. Recuo nº 1: O abandono do juros de mora para os que colocassem em dia todas as prestações; Recuo nº 2: A mesma vantagem, sendo desnecessário a atualização total; Recuo nº 3: Melhor ainda, em transferência dos contratos, haveria a simples substituição do malfadado mutuário, sem remanejamento da dívida, contemplando ainda com redução na taxa de transferência.


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Alarmou-me adeclaração do ilustríssimo presidente do Banco Central, Celso Pastore, que por muitos será sempre lembrado. Aconselhou ao mutuário de certa faixa salarial "que desse um tiro na cabeça". Falhou por duas vezes. Primeiro, porque plagiou a frase; segundo, porque faltou com o devido respeito à base da pirâmide. Na certa teria maior cuidado se, em eleições diretas o seu Ministro estivesse se expondo ao voto popular. O tiro poderia, pela culatra, atingir seu próprio coco. A partir de 1983 os salários perderam a corrida contra as prestações da casa própria, atingindo níveis sufocantes. Remediando esta situação foram lançados as opções A, B e C. Trio este que me faz lembrar uma figura da Mitologa Grega. O Cérbero, cão de 3 cabeças que guardava a porta do inferno. Se ficar o bicho pega se correr o bicho come. Na verdade a coisa é a mesma pois, no decurso, estas alternativas igualam-se no 74º, e depois vão buscar tudo direitinho em nosso bolso. Como se já não o fosse bastante nós estarmos pagando a eterna dívida com os bancos estrangeiros. Vide arrocho salarial. Aumento de impostos, economia voltada ao mercado externo. Por último, instalou-se o rebu. É mutuário boicotando prestações, retrucando, o BNH promete milhões para combater as cáries dentárias - Fluoretação da água, o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária ( CONAR) aponta como propaganda enganosa a Cartilha do BNH; mais ações, é o BNH perdendo na justiça. Isto sem contarmos o "Leasing" habitacionalcom opção de compra após 5 anos, conhecido também como "Plano de Opção de Compra e Moradia" o P.O.C., salvação para os imóveis vazios ou devolvidos. Tem até o "João de Barro", projeto semelhante ao mutirão encetado pelo nosso ex-prefeito de Cáceres, Finalmente, o presidente do banco desabafa: - o BNH virou um saco de pancada.

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Encontra-se o homem em situação melindrosa, pisando em ovos eom a cabeça na guilhotina, grande candidato a bode espiatório. A resposta começa a surgir, espocam reações em Campinas, através entidade que congrega as Associações de Mutuários. Os ... por sua vez avançam com a Federação das Associações, recebendo em média 150 procurações e recorrendo com mandados de segurança contra o 191,5 % ... No Rio, um total de 4 milhões entraram na justiça contra o reajuste do ano anterior de 130, 4 %, imaginem agora. O que tornou o Departameto Jurídico do Banco, um dos setores que mais trabalham no órgão. Aqui em mato Grosso, os moradores do Parque Cuiabá, procuram superar o problema com a colaboração dos deputados, Oswaldo Sobrinho e Luiz Soares que vêem esclarecendo o caminho jurídico a perseguir. Cabe a esta gente se conscientizar de que o descalabro do Ajuste foi longe demais. Chegou 191,5 %. Pergunto: quem dentre nós teve com o salário tal correção ? Não será suficiente ameaça para provocar a acirrada união contra esta situação. Os meios estão a espera de nossa iniciativa. Recursos coletivos ou individuais impetrados na justiça. Ou vamos ficar como nossos irmãos Nordestinos; esperando, que se Deus ajudar ... Ocaso do BNH, ou acaba ele, ou acabamos nós.

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FMI

s novos termos do acordo a ser realizado entre o Brasil e o Fundo Monetário Internacional - FMI, deve ser firmado até sexta-feira em Brasília. Eis um tema tão delicado quanto à paralela Reunião dos Governadores, caminhando para união só no infinito. Estas vão requisitar superior maestria diplomática, que a empedernida e afônica pessoa do porta-voz, acostumado em lançar pacotes de informações, vai dar mais uma reboladinha. Na pauta não apenas decisão, porém o futuro de milhões de eleitores que preferiram não mudar o timoneiro. Um dos temas centrais, sem dúvida, versará sobre a adesão do governo brasileiro ao Artigo 8º do Estatuto do FMI, resultando na eliminação de todas restrições no comércio externo e na conta de transferências unilaterais. Eliminando-se assim as restrições na entrada e saída de capital, do ítem que integra a balança de pagamentos. Neste acerto há uma comprometedora abertura para espaços em questões indisponíveis, que nenhum organismo por melhor intencionado que estivesse pode receber. Significa renunciar nossa autonomia e autodeterminação, algo como ser dono da casa, mas ficando a chave na mão de um outro. Elevação da taxa de juros em patamares estratoféricos, a manutenção da recessiva política adotada pelo governo, cujos estragos nos toca profundo. Veja que este e outros pontos a serem “impostos” ou decididos


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não gozam da menor simpatia de graúdos, assim manifestando José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e professor da UNICAMP; Juarez Rizizieri, diretor-presidente da FIPE; também do ex-ministro de planejamento Delfim Neto; todos economistas de escol. Dentro das próprias fileiras de tradicionais aliados governistas, claro no discurso realizado pelo Presidente do Senado Antonio Carlos Magalhães, no trabalho de abertura da 51ª Sessão Legislativa ao se insurgir contra a intromissão nos problemas nacionais : “sobretudo para criar dificuldades às camadas mais pobres do Brasil ... O Ministério da Fazenda tem defendido posições soberanas para o País, mas tem que saber que esse órgão teima em se intrometer na vida das nações, nem sempre para resolver seus problemas”. Sem perder de vista que ACM também acalenta sonhos palacianos, sabe que FHC está sentado num barril de pólvora, não sendo o amigo paulista, poderá ser o baiano. Veja lá que o FMI, não representa os anseios nacionais e também não se presta a fazer filantropia e caridades. Portanto, intrinsicamente sua existência tem eco junto aos propósitos de países desenvolvidos e seus parceiros. No campo da economia internacional, um interesse não se entrega, defende-se. Igual fenômeno ocorre na relação pessoal, como visto entre AC e FH. Os países mais fortes ao conseguirem a hegemonia, jamais estarão dispostos abrir mão desta posição vantajosa. Estão muito conscientes do que representa ter galgado uma posição dessa natureza e não irão ceder fácilmente às tentavias de outras nações. É uma guerra diferente que surge, entre amigos, sem tiros ou bombas, mas que atinge a expectativa de vida. Não adianta pensar em termos provincianos, acolhendo todos os estrangeiros como verdadeiros irmãozinhos, pois esta recíproca não é verdadeira. Nada adiante ser o país do futebol, termos até o Rei – Atleta do Século, pois isto não foi respeitado na França que igual outros países montou esque-

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ma para aplacar as suas tensões, ganhando em Casa a Copa do Mundo. Já o Patropi, caiu em pleno Maraca! Demonstrado esta peculiaridade, veja que as nações maduras, sabem as dificuldades que atravessaram para atingir o nível em que se encontram. De forma alguma, desejam suportar um desemprego ou perder mercado para quaisquer produtos estrangeiros, quando financeiramente possível e interessante produzí-los internamente. Não interessa ao Canadá produzir açúcar de beterraba, melhor importar em preços atrativos e aproveitar sua preciosa e cara mão-de-obra em ramo bem mais rentável como o tecnológico. Nesses países, os governos se voltam efetivamente para defender os interesses da comunidade que representa. Que parâmetro poder haver entre a baixa num posto de trabalho lá e cá ? Por esta razão o FMI, pretende abrir nossas fronteiras, apesar de imporem entraves aos nossos produtos. Lançar os juros num patamar irreal, influir no câmbio, arrendar este país. Realmente estamos indefesos com governos voltados aos projetos pessoais, eles deveriam valorizar o povo, fornecendo educação de primeira, promovendo a saúde pública, e o fomento agrícola neste país Continental e para moralizar, respeitando as leis. A solução não é tão difícil, atinge-se com o empenho nos setores clássicos. Esta vontade não se tem percebido, por exemplo na taxa dos juros que apenas privilegia os bancos, ganho fácil dos que trabalham duramente. Promove vantagens líquidas e rápidas que não aparecem em canto algum, apenas nos paraísos fiscais ou Suíça. Veja a peça literária do FHC, a cabeça Maior: “O FMI exigiu. Não exigiu nada. Falamos no ajuste há quatro anos. Precisamos é fazer o que é preciso.” Agora é seguir construindo nesses 177 anos uma grande nação, carregando os valores que para sempre serão lembrados na história da pátria, como Tiradentes e Silvério dos Reis. Atenção, pois a paciência está no FIM.

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DESEMPREGO

ste um das maiores preocupações que hoje toca nossa população. Atinge sem dó ou compaixão a todos indiscrinadamente não importando o a idade, sexo, raça, ou necessidades. Contudo, serve também como fator para se avaliar, em termos concretos e inquestionáveis o desempenho das políticas adotada pelos governantes. Veja-se alguns dados acerca da conjuntura nacional, que refletem os resultados obtidos pela última gestão. O desemprego aumentou consideravelmente nos primeiros quatro anos do anos do governo, cerca de 38 % ! Isto significou nada menos que um salto de 6,5 % para 9 % da População Economicamente Ativa – PEA, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitica - IBGE. Isto representou no ano passado a um exército de 6,6 milhões de postos de trabalhos desaparecidos. Conforme Celso Furtado, ex-ministro de planejamento, economista reconhecido internacionalmente, a fixação da taxa de juros em 39 % era preocupante. Imagine-se agora, após acordo firmado com o Fundo Monetário Internacional, definida no teto de 45 %. Assim, infelizmente a economia caminha para o desaquecimento. Obter recursos e financiamentos para fomentar as atividades produtivas que geram riquezas, ficou bem mais caro, pois aumentaram o custo do dinheiro.


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É necessário muita coragem para em momentos difíceis como este, aumentar-se o volume de investimentos exatamente quando decai o consumo e a palavra de ordem é economizar, diminuir despesas e custos. Nos grandes centros fala-se até se fazer de morto para não ser lembrado. Contudo, temos que nos levantar e sair da letargia, consertar os erros e construir definitivamente uma nova economia, trazendo de volta a estabilidade, é a grande vontade coletiva. Sendo conjuntural as deficiências existentes, isto será trabalho para mais de uma geração. Atingir o desenvolvimento, é tarefa que passa antes pela condição básica, a educação. Não se pode atingir a competitividade na economia globalizada com milhões de analfabetos. Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê. Paralelamente esforços devem ser encetados, esquecendo o modelo tradicional de país primário exportador, como observa outro grande economista Paul Singer. Que agrega pequenos valores ao produto, sofre constantes riscos, mais explora o homem do campo, e pouco dá em troca. Mato Grosso ainda continua sendo uma ilha onde muito se pode buscar. Índícios da prospecção, pode-se notar com o aumento de comarcas, número de juízes de direito, promotores de justiça, mais os defensores públicos. Isto sem dúvidas, foi muito positivo. Por outro lado, a iniciativa privada tem buscado novos caminhos e não cedendo ao desânimo. A Federação das Indústrias de Mato Grosso – FIEMT, visando fomentar o intercâmbio comercial recebeu na pretérita semana, uma delegação da Ásia. Nesta anuncia em sua programação rodas de negócios a serem realizadas nas cidades de Lima e Tacna, no Peru. Entretanto, no cenário nacional a política tem se demonstrado inoportuna pois as previsões, frente ao quadro que impõe um modelo recessivo. Indubitavelmente, a saída acha-se mais fácil no outro lado, a produção. Aqui reside o inconformismo, em aceitar a ingestão do Fundo Internacional. Um especialista em economia

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de trabalho da Universidade de Campinas – Márcio Pochaman, observa que isto faz parte das metas ajustadas com esse organismo. Resultando assim, a estimativa de redução em 5 % do nosso Produto Nacional Bruto, justamente quando se precisa crescer, para absorver a parcela excluída, e ainda a que se incorpora a cada dia. Os índices impostos pelo FMI, a par de não serem eles donos da verdade, causou sérios prejuízos e acabou implodindo a Rússia, esta justamente, um tradicional rival de seu maior cotista, os Estados Unidos da América ! Melhor sorte não toca os gatos asiáticos, Indonésia e Koréia, encarando grave turbulência política, social. Multidões procuram trabalho, sem obter resultado positivo, alguns desesperados até tentaram, passivos o suicídio, pois viver nestas circuntâncias, qual a diferença entre a morte ? Outros perigosamente batem à porta do palácio, clamando um lugar ao sol. Alguns resignados, apenas querem fugir da miséria, espantar a fome, passando o serviço militar, antes abominado pelos jovens, a ser uma perspectiva de vida neste hora difícil. Ivestiram em projetos individuais de reeleição, esquecendo a bandeira que ostenta seu próprio partido, o social. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, lançou a na Campanha da Fraternidade, um apelo favorável ao equilíbrio fiscal, lembrando alternativas não adotadas pelo governo, como a taxação maior das grandes fortunas. Este, um imposto de previsão constitucional no Art. 153 - VII, cujo projeto é autoria do então Senador, Fernando Henrique Cardoso, lamentavelmente esquecido. Veio direto da boca do povo : “O mal do Brasil é a corrupção. Os políticos não se interessam pelos problemas sociais. Só querem resolver os seus problemas. Depois da corrupção, acredito que o problema mais sério, que assusta a sociedade, é o desemprego.” Edmar Antonio Gonçalves, Motorista.

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FAIXA AZUL, PARDAIS E MULTAS

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stas questões atualmente interferem sobremaneira e a cada instante na vida do pacato e desguarnecido cidadão, posto a engolir sapos, sorrindo. Seguindo o tema, veja-se que a tal Faixa Azul representa um utilização arbitrária e descabida, segundo o Código Civil, qualquer um pode ler ... “Artigo 66 – Os bens públicos são : I – de uso comum do povo, tais como os mares, rios, estradas, ruas e praças ; ” Nesta questão não cabe recurso, podem até sonhar, mas não há como mudar as cores do arco-íris, ou nos impor enganações, pois a lei é clara. Inobstante uma prodigiosa destinação que pretendam dar na utilização desta receita, ela sem dúvida, já se encontra atrelada a um outro tributo já pago. Não pode o cidadão ser chamado à baila como responsável pelo furos orçamentários de qualquer administração, uma vez que temos contribuído sempre com todos e mais impostos, do outro lado uma contínua retração. Resta o cidadão ficar indagando como desaparece o dinheiro público ? Esta revolta se amplia quando voce já saturado de tanto pagar e ao fazer uma rápida comprinha na cidade, leva beliscões no bolso por estacionar na rua, na praça, ambas públicas. Caetano registrou, que na Bahia, a Praça Castro Alves é do povo, como céu do avião. Para ilustrar trago uma experiência sofrida na pele com essa tal faixa. No dia 03 de novembro de 1.999 às 10:30 h, cheguei de


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carro próximo ao calçadão para comprar um artigo esportivo para meu filho, parando depois da Igreja em frente a um barbeiro na rua 27 de dezembro. Desse mesmo fígaro adquiri um papelucho para estacionar e abrandar a figura feminina que já me abordava, a “dona da rua”. Rapidamente fui para uma loja, ainda encontrei um lídimo magistrado na Campo Grande, esperando a esposa que fora dar uma volta no quarteirão, enquanto ele de afogadilho comprava. Minha tarefa não levou mais que 10 minutos, mas valeu solene prejuízo. Voltando haviam levado o espelho retrovisor do carro, com tudo o mais. Perguntei ao barbeiro se havia visto quem fizera aquilo, não deu resposta. Chamando a tal proprietária do bem público, encontrou-se igual negativa. Frente a estas novas circunstâncias, os que antes vierem me receber apenas para chuçar a carteira, agora bem indiferentes, me davam as costas. Em razão desse total desprezo cogitei de intentar uma ação de indenizatória. Afinal tinha feito um desembolso e deveria haver uma contrapartida pelo que pagou-se indevidamente pelo natural uso da via pública, do povo. Apenas apontou no verso a exclusão de toda e qualquer responsabilização. Apesar de ainda impor rigores de multa e reboques em certas circunstâncias para os incautos motoristas. Tudo ilegal e absurdo, eis que funda-se em bem público, enquanto o cidadão sofre / morre na porta do pronto-socorro em greve e nenhum administrador sofre a menor penalidade ! Este reflexo deve afetar o próprio comércio local, curiosamente no tíquete há o logotipo da Câmara de Dirigentes Logistas de Cuiabá –CDL. Sinceramente fica-se muito mais à vontade fazendo compras no vizinho município na Cidade Industrial, todas as vagas da rua, sem uma outra amolação ou prejuízo de pequenos furtos. Os alunos da UNIC conhecem bem as dificuldades para estacionar, ficando à mercê de questionáveis agentes do SMTU

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– não sendo nem guardas de trânsito; tudo na prepotência e avesa unilateralidade da multa. Inclusive a pintura do canteiro central nem se pode perceber, uma armadilha. Com este tratamento a fritura antecipada da prefeitura, provavelmente acabará se confirmando na vontade da urna, nada adiantando os tostões paulatinamente amealhados das ruas. Outro desafortunado é o Colégio São Gonçalo, local onde aportam sem exagero, milhares de crianças e bons pagadores de todos os impostos. Contudo ali, no cruzamento da Dom Bosco e Dom Aquino, hoje, não mais existe um guarda para efeito de colaborar ou prevenir uma eventualidade. Enquanto isso, um pouco antes na esquina da Santa Casa, onde só existe um ponto de taxi, ficam 2 guardas ! Merecendo salientar que ante seus olhares, uma brutal afronta a uma das bandeiras do Ministério da Justiça. Exploração do trabalho infantil, onde se pode ver um menino, com talvez 6 anos, vendendo um tipo de caneta. Outra questão que vem sendo muito explorada é a dos lacres de péssima qualidade que enfeitam a placa dos carros. O cidadão vem sendo constantemente importunado, provocando multas, devido ao estado precário ou então é arrancado mesmo. O pardal eletrônico, é uma traição, dos que tudo podem contra voce, colocados indistintamente em vias onde se pode questionar pois cobram nela mesmo, diferentes velocidades ! Coitada da minha tia, uma vovó multada na estrada da Chapada, mais parecendo um Airton Senna, na vertiginosa velocidade de 72 Km por hora. Este aparelho é impróprio, conforme Mando de Segurança nº 57.034 / 96 do Tribunal do Distrito Federal, pois: “Esse novo sistema de fiscalização, tal como instalado, tem muito de espionagem e pouco do exercício do poder de polícia. À fiscalização deve ser executada sem subterfúgios. Quem procede na forma da lei não precisa agir às escondidas.”

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IMPOSTO SOBRE AS GRANDES FORTUNAS

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ecionando em 1.990 direito Tributário percebeu-se a inexistência da norma instituidora de um imposto inserido na competência restrita da União, assim como indica a Constituição Federal no artigo 153 - VII , Imposto sobre as Grandes Fortunas. Mais tarde ingressamos com a ação, era momento oportuno, pois a omissão seguia tranqüila e silente, enquanto a classe menos favorecida já vinha arcada sob os custos de uma pesada carga tributária, enquanto os afortunados, continuam não tocados por um tributo regularmente previsto. Face às dificuldades que a Nação atravessa/va, impingindo-se extremado volume de impostos, surge muito oportuna a lembrança daqueles beneficiados através da estabilidade imposta pelos sacrifícios de terceiros, para nestas condições, desenvolverem seus negócios e manter suas riquezas. Desde a época os assalariados não suportavam tanta imposição tributária “sobre os ombros”, no dizer do grande mestre fiscalista Osires Lopes Silva, que afastou-se do cenário na auspiciosa festa do Tetra-Romário, “a injustiça fiscal é acentuada." O Legislativo de aumenta / cria novos tributos, tal como o exógeno, Imposto Provisório sobre Movimentações Financeiras


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- IPMF. Entretanto, omite a necessária lei para regular o imposto das grandes fortunas. Portanto, frente à crise que atinge de frente os cofres, pretendendo-se tocar até mesmo na previdência social, neste momento em que cuidam de efetivar retoques financeiros na Constituição, melhor simplesmente implementar os meios hoje existentes e disponíveis. Frente à inércia inconteste do Legislativo, bate-se às portas do Supremo na esperança de acolher esta amparada e justa reivindicação. Observa Hely L. Meirelles: “Mandado de injunção é o meio constitucional posto à disposição de quem se considerar prejudicado pela falta de norma regulamentadora, que torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.” Constituição 1.988 - Art. 5º . . . LXXI - Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania ; Quanto ao Imposto de Renda, o legislador foi hábil desde a criação, quando na verdade exorbita de sua esfera atingindo os trabalhadores, vez que salário, conforme Ives Gandra da Silva Martins Filho é... “A contraprestação devida ao empregado, pela prestação dos serviços, em decorrência do contrato de trabalho.” Com peculiar categoria discorre o notável Hugo de Brito Machado:“Quando afirmamos que o conceito de renda envolve acréscimo patrimonial, como o conceito de proventos também envolve acréscimo patrimonial, não queremos dizer que escape à tributação a renda consumida. O que não se admite é a tributação de algo que na verdade em momento algum ingressou no patrimônio, implicando incremento do valor líquido deste.” Portanto, se o legislador foi tão cuidadoso ao inserir no Imposto de Renda - Art. 153 - III da CF, o decisivo e fatal apêndice

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“e proventos de qualquer natureza”, que atinge a massa dos eleitores, deve igualmente cuidar da implementação da norma legal até hoje omissa, referente ao Imposto sobre Grandes Fortunas, razão da mais pura eqüidade. O PEDIDO Nítido o cunho fiscal, provoca o desequilíbrio da balança social, levando a União à cata de recursos para suprir suas necessidades de custeio, tocar outros. É sabido que nas mãos de no máximo 10 (dez) % da população brasileira, converge 90 (noventa) % da riqueza existente no país. O complemento mostra que 90 (noventa) % da população fica restrita a uns minguados 10 (dez) % , isto repartido, são como migalhas caídas das privilegiadas mesas dos abastados. Sejam estes os empresários que persistem em não abrir mão dos lucros exorbitantes, transferindo sem maior zelo a volúpia financeira ao custo final dos produtos, sejam os grandes proprietários, detentores das grandes fortunas intocadas. Resultado, tem-se num país sabidamente rico, a pobreza crescente atingindo níveis insuportáveis nas grandes cidades, revoluções semanais em prisões, a falência do sistema de saúde pública e no futuro, dias de maior incerteza. Enquanto pulula a corrupção, constantes escândalos sequer apurados, informações que vazam, promovendo súbito enriquecimento dos que possuem a máquina estatal em suas mãos (vejam que nada mudou) . É para isto que estamos nos sacrificando? Afinal o Brasil não é para nós, ou o sangue e as lágrimas desta gente é para manter esse Brasil? Observou Hugo de Brito: “Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei, de autoria do então Senador Fernando Henrique Cardoso...” Chegou de propor o IGF. Legou-se aos íntegros Ministros da Corte Suprema de Justiça, a coerência e virtude que haverá de imbuir a correta decisão, para encerrar de vez a lacuna, impondo ao Congresso Nacional, expedir a necessária Norma Complementar.

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QUEM SERÁ A BOLA DA VEZ?

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tualmente o cenário político nacional se mostra cada vez menos favorável ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Refletindo a insatisfação com o governo, é nítido na pesquisa realizada pela CNT – Vox Populi, divulgada há poucos dias atrás. O resultado geral indicou que dentre os entrevistados; 3 % apenas têm o governo no ótimo, 14 % bom, 35 % regular, 15 % ruim e ... 31 % péssimo. Constatou a prática o que não poderia ser diferente, escândalos, desemprego e violência, até na Meca, S. Paulo, galga índices nunca antes atingindos. A visão analítica indica que de um só golpe, foram atingidos as bases externando a insatisfação popular com: 1. Estabilidade Econômica ; 2. Competência Técnica ; 3. Moralidade Pública . Esta última iniciou o desgaste com o episódio do grampo do BNDES, detonando sobre o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, uma escuta telefônica deixando vulnerável a lisura ética, comprometida na privatização da Telebras. Evitando maiores desgastes, ele caiu. Nada mais lógico, pois as fitas deixavam claro o envolvimento superior. Nesta melindro-


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sa situação existem dois caminhos, ou se livra dos reflexos da conivência exonerando o foco, ou mantém na índole protetiva o responsável, denotando anuência branca. Veja-se a postura adotada pelo ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes, calou-se em definitivo, desafiando a CPI, mantendo seguro outros envolvidos, que naturalmente habilitavam seus atos, e desta maneira ficaram todos preservados. Esta a lei do silêncio, mesmo comportamento teve o Sérgio Bragança, sócio da mulher de Lopes na Macrométrica, calando sobre a conta existente no exterior, negou nove vezes! Quedou-se mudo para evitar um mal maior, acreditando que tudo ainda poderá resultar em pastelão, os descobertos que tratem de minimizar, os efeitos negativos de algum erro que a eles tocam, sem contaminar os outros. Esta rede é muito grande e nós pequenos mortais, reduzidos neste micro universo de casa ao trabalho, quando muito, um samba ou futebol, jamais poderemos supor tudo que há de podre no reino da Dinamarca. Como se houvessem dois mundos um visível de todos com regras rígidas num cenário de realidade fícta, outro onde os atores tiram suas máscaras e jogam duro o papel, e se locupletam indiscriminadamente, sem princípios. As CPI’s entretanto, vieram em momento inoportuno, quando a base de sustentação governista, deverá ruir sem a batuta do maestro da reeleição, mais as eleições próximas, quando os partidos jogarão suas próprias cartas. Salvatore Alberto Cacciola, parece ter usufruído uma posição privilegiada, aproveitou o quanto pode, agora deverá entrar no inferno astral. Abandonou a Itália, terra das Ferraris, nação de primeiro mundo, para vir a este tórrido país das carroças tupiniquins, é porque deveria valer a pena. Agora sente que poderá se tornar boi de piranha, tem caminhos a seguir : abre o bico para não ir sozinho, cala-se e resignando-se ao que já lucrou, restando ainda sumir deste planeta. Possui neste caso, um grande aliado, o cidadão responde a dois outros processos, sonegação fiscal/emprésti-

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mo fraudulento, as colheita de provas. Circunstância que ante às benesses legais, encorraja, facilita a rapinagem. Percebam que verificar vazamento de informações é caso difícil de se apurar, pois bastaria um telefonema para a consumação do mesmo, ou contado verbal em um local público qualquer. Palavras não deixam rastros, são abstratas, intangíveis, no caso promove a lei penal um triste acobertamento. Veja-se que os índicios, segundo a regra da legislação ordinária, não bastam para aplicar uma condenação, acredito que para inviabilizar o favorecimento ao crime, esta circunstâncias específica, deveria ser regulada através lei criminal especial, sob pena de se ficar vendo eternamente o cínico riso desses ladrões que sobejam. Enquanto isto não acontece, tenha-se estes fortes indícios como o bastante. Afinal o julgador pode formar sua convicção própria, depois quem desejar que apresente os seus recursos. Mas uma coisa é certa, este descalabro deve acabar, pois dessa forma todos os arguídos, após cometerem o lesa pátria, escorrados em bons advogados vão chegar lá e para sair ilesos basta ficar calado, pois uma confissão ninguém é tão otário de prestar ! Depois, a quebra do sigilo bancário, pode não ter o menor efeito, pelo contrário referendar a falsa inocência, basta que tenha aplicado em ouro, dólares, ou até mesmo em contas secretas no exterior, que só eventualmente se descobre como a do Lopes. Aqui os índícios despem a mentira, veja que os investidores pessoa física alteraram radicalmente a postura na véspera da mudança cambial, não por mero acaso ou intuição, pois apresentava respectivamente no quadro desvalorização / manutenção, R$ 106 : Em 08.01 > 105,5/159; Em 11.01 > 110,5/149; Em 12.01 > 323,5/Zero Julgue voce mesmo, vazou ou não ? ! A CPI dos bancos pretende investigar a Link uma corretorta dos filhos do ex-ministro Mendonça de Barros, que rapidamente assumiu o quinto lugar entre as corretoras da capital paulista. Falta apertar a próspera Icatu, dono... filho de certo cabisbaixo presidente.

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REELEIÇÃO

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iver um país democrático, nos leva muitas vezes a engolir decisões políticas. Em contrapartida temos o direito de expressar livremente, Constituição art. 5º - IX , o repúdio e desagrado que tais medidas trazem para o cidadão comum. Guardar para mim toda a insatisfação, seria um protesto mudo, efeito singular. Dentre os temas atuais, a maior relevância naturalmente assenta na Reeleição. Estou penhoradamente grato ao Itamar, pois o seu governo criou o plano Real, nova moeda acompanhado por uma estabilização da economia, já havia até perdido as esperanças de encontrar neste país profissionais hábeis no assunto. Muita gente ganhando dinheiro com a inflação principalmente os banqueiros, espiral sufocante impelida pela vontade desta classe que na verdade conduz a economia e as posturas políticas externadas diuturnamente no governo central. Este embate teve um herói, seu Ministro, que agora deseja ser um D. Pedro III, vitalício, prorrogado ou reeleito, mas gostou do poder, Salvador da Pátria. A vitória obtida, merece nossos aplausos


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ao verdadeiro dono, enfrentador das resistências o Sr. Itamar, e a toda sua equipe, até aos que não tiraram proveito. Ser competente e honesto é apenas uma obrigação para o funcionário público ou agente político, não se poderá amedalhar alguém pela razão de não afanar. Esta já deve ser uma caracterísitica intrínsica de todo servidor, assim como sua competência não deve guindá-lo eternamente, nem mesmo para a Presidência. Começou o desfilando de exilado político, professor, educador, um novo Sasá. Poderíamos compor fileira na “tchurma” reeleitiva, mas afinal há que se avaliar uma gestão, além dos efeitos genéricos decorrentes dessa nova medida. Concordo que o Ministro teve seus méritos, mas nem por isso vamos ficar lhe devendo a vida, seguir em perdidas homenagens, ao craque de um só gol. Lembrando o grande verdadeiro herói reconhecido sem dúvidas por todos, quando terminava um grande prêmio, logo partia para outro mantendo acessa a chama que ainda fazia aquecer no coração do povo o sentimento de esperança. Viajando Henrique Cardoso, ficou bem de turista, quase supera o Collorido, e nas tropeçantes entrevistas, falava com freqüência lá fora da política interna ! A bandeira eleita da educação, teve no marketing palaciano até aula prática, uma nota médiana, apenas um sete na auto-análise. Depois nada melhorou, quando viu-se uma humilde professora mostrar os vencimentos que nem sequer atingem um sexto do salário mínimo, afinal o que o Sr. fez neste tema ? Recordo que utilizou o substantivo guerreiro, comentando questões bélicas, mais recentemente na Itália, "desejava incrementar mais", uma aproximação dos povos irmãos, findando por superar como disse o Ministro da caravana até mesmo o pobrezinho Portugal de nossos antepassados descobridores, do fado. Depois se não resolveu o GP, cada vez mais grave o setor edu-

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cacional, parece que um país quanto mais pobre e ignorante, mais fácil de se controlar e conduzir sem dificuldades para onde quizer, atual tipo de auto-colonialismo. Irá sempre haver uma casta de políticos acima do bem e do mal, sabedores únicos do verdadeiros interesses nacionais, e toma pressão e cadeia no povão. Afinal na Revisão Constitucional prevista na Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT art. 3º, nada previa ou na época foi feito, contudo, surgiu de pára-quedas esta casuística reeleição para agraciar D. P. III. Ainda, sob alegação de que esta era a vontade do povo segundo certa pesquisa. Falou-se em plebiscito e referendo, apenas como pano de fundo, nada foi feito. Publicou jornal de outra capital que circulou em Brasília lista com nome de políticos juntos à uma cifra de quatrocentos mil Dólares, pouco para o Brasil, muito para a Educação, ou Saúde - oportunamente outro tema a ser abordado. Tanto empenho em atender os interesses dos falidos banqueiros, leva a crer, independente das questões familiares, não haver falta para a imprescindível previdência dos nossos últimos dias, hospitais, ainda o coquetel dos aidéticos. Sem desencompatibilização, o remendo contempla perigosas ambições em oito mil municípios, fica a máquina disponível, ante a impunidade e falsos princípios de muitos inescrupulosos.

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DESMORALIZAÇÃO

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stas linhas externam toda a indignação com a falta de postura que tristemente se verifica nas ações governistas, e a imensa pizza que virou a antes moralista, CPI dos Bancos. A resposta sem dúvida virá nas urnas, basta aguardar. O infantil teatrinho não tem como prosperar, quando nos empurram versões as mais imbecis. Acontece que a população intencionalmente desaculturada, permanece alheia e nem percebe o que se passa. Trata-se de um impatriótico auto-colonialismo, ficando o país submetido à vontade da casta governamental. Nossas instituições, como se verifica, estão todas viciadas e cumprindo não a superior finalidade pública original, que apenas a ganância de algumas ratazanas que ficam se locupletando. Para que ninguém diga que estamos inventado vai-se indicar exemplos concretos, conhecidos do mundo amplamente divulgados por toda mídia. O ilustre ACM apesar de propor a CPI do Judiciário, agora tenta abafar o andamento da irmão gêmea dos Bancos, até parece que andaram propiciando algum benefício que o tenha levado a sair da postura moralizadora. Percebam que procura imiscuir-se na ampla apuração, que deveria ser objetivo dos trabalhos, se empenhando contrário a presença do ministro Pedro Malan, chefe do desastrado Francisco Lopes, entreguista cambial. Primeiro, ele não deveria ter nada a perder, com a ida do


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ministro à CPI, mas pode haver obtido no mínimo a simpatia governamental, emperrando essa necessária convocação. ACM fazendo corro, com o Jáder Barbalho, abrem mão da testemunha, batem pé e não é preciso, tudo certo ! Isto em função de uma entrevista do ministro no jornal “Bom Dia Brasil”, de uma comprometida rede global. Neste ele desmente informações que teria participado da reunião na qual foi decidido o inescrupuloso socorro. Antonio Carlos Magalhães – ACM, agora totalmente satisfeito disse que chamá-lo agora “seria não acreditar nas palavras do ministro Malan, fato que seria extremamente negativo”, isto não se discute, mas para quem ? Contudo, o mesmo ACM há duas semanas queria a presença dele na CPI. Depois ainda arremata : “O ministro Pedro Malan mostrou a indignação dos homens de bem. Ele não pode ser contestado em sua palavra, na medida que é um homem digno e sério, merecendo o respeito de todos brasileiros”. Desde quando o cenário com dócil jornalista, se iguala ao foro da CPI ? Outro detalhe importante na apuração de qualquer fato, também no direito, se impõe o princípio do contraditório. Sob pena de promover condenações à luz de uma perigosa unilateralidade. Mais, ACM não falou em meu nome. Impossível, por mais que pretendam empurrar a escusa negociata, aceitar esse generoso favorecimento. De qualquer forma, Malan pecou, na omissão, não poderia deixar de saber, afinal era o ministro, ou então, como mais provável não apenas deveria saber, como também deve ter anuído. Assim, fica-se submetido aos conchavos políticos armados, inobstante os prejuízos havidos no cofre central. Segundo o deputado Mercadante, como se 54 milhões de brasileiros lhes entregassem um salário mínimo. Construindo uma outra figura, daria para fazer chover dinheiro em todas as capitais do país, por bom tempo. Não sem razão, falta dinheiro para comprar remédios para a população que padece e morre à mingua. Enquanto um

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Cacciola, na mesma CPI, reconhece haver transferido 17 milhões de dólares para liquidar operações do Marka Bank nas Bahamas, conforme ele declarou ... “Isso tudo foi feito com o conhecimento do Banco Central”. Agiu com amparo. Mesmo com todos esses fortes “indícios”, querem apagar dos nossos olhos essas maracutaias e seguir impunes essas falcatruas, não nos restando que submeter à essa armação. Mais uma parece que eles vão levar, comprometendo a esperança da ética. Enquanto isto, ainda tem gente que nem ao menos tem feijão no prato, esperando com paciência a providência divina, que para eles é muito bom. Inobstante siglas partidárias, deve-se cultuar o direito, este o verdadeiro amparo do cidadão que precisa obter respaldo legal para viver, conclamando-se todos para essa cruzada. Enquanto os efeitos não lhe atinge diretamente, voce pode ficar até alheio, mas se algum um dia for a vítima, poderá ser tarde e consumar-se a injustiça, saindo impotente e vencido. Estes exemplos que vêm de cima acabam por demonstrar a impunidade, estimulam a prática de outros crimes, muitos pensam que para eles também poderá resultar em nada. Veja o caso do enfermeiro serial killer matando pessoas indiscriminadamente só para receber mísera comissão da funerária. Até aeronaves oficiais se viram envolvidas com o tráfico de cocaína ! Outras servem para amainar os ânimos acusatórios, se prestando a fazer viagens de lazer à Fernando Noronha. Os ministros Raul Jungman - Reforma Agrária, Paulo Renato – Educação, Eliseu Padilha – Transportes, e José Serra – Saúde, lá estiveram todos com suas famílias, na mordomia. Finalizando, indagaram em Nova Iorque sobre a ajuda aos Bancos Marka e Fonte-Cidam, o presidente FHC respondeu com esta frase: “I’m not Pedro Malan.” Eu não sou Pedro Malan. Pobre do Xico Lopes, foi esquecido !

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A VERGONHA LEGISLATIVA

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noticiciário nacional se incumbe de trazer diuturnamente fatos que expõe ao descrédito nossas casas de leis, no Japão eles fariam o harakiri, na China seriam executados e as famílias pagariam até as balas das execuções !!! Desde o nível federal, é incrível o abuso, após serem eleitos alçam vôo próprio e votam conforme os escusos acertos no interesse único de suas locupletações, como é o exemplo de um já condenado, apenas o ex-presidente da Câmara, que os representa, pois escolhido por seus pares. Ostentando uma pena de 15 anos e 4 meses, pelo crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas; responde mais 2 ações e 5 inquéritos. No contexto do trabalho, temos dentre outras aberrações, haver a Câmara aprovado o fundo eleitoral no valor de 2 bilhões, com recursos públicos para campanhas em 2018, em sorrateira votação simbólica sem registro nominal dos votos, uma covardia ! A estes valores somam R$ 1 bilhão do atual Fundo Partidário. Enquanto isso nos hospitais as filas aumentam, sendo o povão menos esclarecido o que mais sofre, exatamente os que votam nesses políticos que os traem. Percebam ainda, que simultaneamente, faltou para as


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crianças barbaramente queimadas na creche de MG, médicos até materiais básicos. Acabaram livrando o Temer da segunda denúncia, em parecer alinhado com a defesa do presidente, lavra do Bonifácio de Andrada – PSDB / MG, que defendeu "a impossibilidade de autorizar o seguimento da denúncia". Tudo em negociatas através de emendas parlamentares, do combalido Tesouro Nacional, e para o equilíbrio causará a anunciada oneração do COFINS e IR. E ... após decisão do STF, o senado já reverteu a saída de A. Neves. Neste diapasão, como alguns, não sigo siglas partidárias, votarei nos novos, desde que éticos e assim afastar a súcia travestida de políticos; na atual legislatura 299 deputados foram condenados ou respondem processos ! Por aqui 11 deputados são filmados recebendo propina e até o agora seguem sorrindo em seus cargos, desejam que o povo esqueça esse episódio, ou acreditemos que as imagens não falam por si, ao estilo do já condenado Lularápio - corrupção passiva e lavagem de dinheiro, pegando 9 anos e meio. Melhor ainda que Brasília um ex-presidente surge campeão, pois objeto das Operações: Ararath: Justiça Federal - ½ Bilhão, solto por decisão do STF, Ventríloquo: 10 milhões, Metástase: 2 milhões, Imperador: 62,2 milhões, Dríades: 104,2 milhões; e mais 100 ações na Justiça, entre cíveis e criminais. O jornal Circuito Mato Grosso ano XI edição 620, indica que a Assembléia Dobra Gastos em 2 Anos, "Subiu de R$ 412,3 milhões em 2015 para R$ 821,444 milhões em 2017." Ainda nesse Poder Legislativo, o Ministro Luiz Fux, afastou acusados de integrar esquema de corrupção passiva, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e organização criminosa, 5 dos 6 membros do Tribunal de Contas do Estado, autorizando busca e apreensão na casa destes. Então cabe a reflexão, de que vale este Poder sustentado com nossos tributos, onde deputados caem na esparrela, pondo dinheiro nos paletós, pastas ou

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mochilas de couro; TCE com 5 de seus integrantes afastados, que nenhuma irregularidade apontaram nos descarados desvios na farra da Copa do Mundo. Por todos assaques já perpetrados, desnecessário aumentar os gastos do poder, bastaram as gorjetas dos mensalinhos, vez que bem pouco fazem pelo povo. Contabilizando entre filmados e processados, representam a bagatela de 66 %. Caberia em nova Constituição a extinção do TCE, oneroso reduto de marajás, que tal papel se realize de outra forma, através Auditoria do Estado ou MPE. Que se altere a estrutura do poder, realizando concurso público, para escolha de legisladores, foco na meritocracia ! Pois se cobram formação dos garis, como é possível colocarem leigos para elaborarem as leis que nos regem ?!? Com a decorrente economia, haveriam recursos para outras sérias realidades, como saúde pública, carente educação, até aumentar salários dos professores, quitar a pendente URV de agentes do executivo, no princípio de igual Justiça. Na esfera municipal, a regra geral se repete ... ex-presidente preso, tem 2 condenações: 18 anos por fraude em licitação e desvio de dinheiro, mais 8 anos de prisão por desvio de verba da Instituição, lavagem e peculato. Cogitavam um repasse da prefeitura de 6,7 milhões, artifício inicial que apesar do filme-prova, poderia abafar o impeachment do prefeito da Capital, suspenso através ação popular proposta pelo nobre Vereador Felipe Wellaton. Não havendo suplementação foram demitidos 460 servidores comissionados, portanto sem concurso público, aliviando os cofres da Câmara de tanta gente, bem mais que cerca de 270 funcionários que operam o Parlamento da Suécia ! Finalmente, urge uma rotunda mudança nesse corpo de políticos, sob pena de seguirem espoliando o erário, criando penas e onerando tributos, até que o povo acorde e faça a revolta democrática nos votos, outra qualquer ...

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MULTAS E PARDAIS

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recisamos despertar, para o crescnte avanço da intervenção e controle do ente público sobre o particular. Esta situação torna-se mais facilitada em função da educação tradicionalmete repassada de pais aos filhos, apresentando como resultado a resignada aceitação com poucos reclamos. Vejamos se por acaso não é o que vem acontecendo com os radares e pardais, cuja sanha de crescimento e intervenção na bolso dos cidadãos vem aumentando silenciosamente em níveis já comprometedores. Esta mansidão não é ignorada pelos políticos, a classe como até os surdo-mudos podem perceber acolhe o maior número de raposas que põe a máquina administrativa e cofres públicos a operarem em seu favor se valendo da solene passividade. Este controle e ingerência tende a seguir uma escalada paulatina até que um dia o povo revoltado ameace as muralhas do Palácio ou desperte e possa inverter o resultado de uma eleição. Um dos últimos incrementos teve início com a vigilância das faixas exclusivas aos coletivos, que apesar de no princípio se apresentar como educativo, doravante e ad infinito, irá multar todos incautos que por ventura, distraidamente ingressem nessa pista. Recentemente foram incorporadas 32 câmeras, as quais irão acresentar outras que operavam na observação das vias. Isto soa como uma grande injustiça !!! Eis que ninguém ignora que o


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grande mal da nação é a corrupção e que sangra profundamente todas as atividades da rede pública, então que encetem os melhores esforços neste crucial sentido. Vejam o VLT, houve multa ? Devolveram o dinheiro ? Quantos estão presos ? Focam ações no cidadão possuidor de um veículo, presa fácil e que ostenta a capacidade intrínsica a esse pequeno patrimônio, comprado com grandes dificuldades para ir até o trabalho, servindo as vezes até para o lazer familiar. Interessante salientar que no trânsito os riscos são meramente potenciais, diferente do risco iminente, real, imediato, quando o paciente chega nas policlínicas e após sem opção ter recolhido seus tributos encontra-a fechada ! Recentemente o periódico registrou que a uma delas, a Policlínica Dr. Silvio Curvo, que atendia cerca de 90 mil moradores da região do grande Pascoal Ramos encontra-se fechada, um crime, sendo agora alvo de vândalos. Quem será responsabilizado pela ausência deste serviço essencial, pela falta de um pediatra, ginecologista para gestantes, ortopedistas e outros; além dos conseqüentes prejuízos e danos efetivos na saúde dos cidadãos prejudicados ? Enquanto isso você é invariavelmente, penalizado com multas e sente-se até mal, por ter incorrido em infração grave, vez que ultrapassou em 20%, o pífio limite dos pardais ou sinais, que também multam por velocidade. Aliás nesse sentido há uma pegadinha, o cidadão condicionado nos 60 km/h supõe ser este um limite padrão, mas existem semáforos na Isaac Póvoas e Getúlio Vargas que multam nos 50 km/h, ainda lombadas aplicando 40 km/h. O sistema é dispare, essa cilada colherá os distraídos e exige seguida atenção, ainda inversamente proporcional ao avanço tecnológico, quando os carros usufruem de motores mais possantes, freios modernos e vias pavimentadas, as limitações se colocam no sentido contrário. Outra contradição notória merece registro, pois na falta de cinto o motorista é multado, quando eventualmente provocaria apenas uma autolesão, impunível no plano do direito. Assim, me digam onde estão os cintos dos ônibus onde as passa-

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geiros viajam até em pé ? A questão do politicamente correto fica difícil de sustentar, paira a hipocresia. A situação fica resumida em uma fonte de renda substancial para a prefeitura, onde sem nenhuma contraprestação, unilateralmente apenas emite um boleto para voce pagar, submisso ao rigor das regras criadas por políticos. Enquanto eles se julgam, absolvem, aumentam impostos e ganham milhões em propinas, mensalão, Pasadena, viagens, sítios, emendas, triplex, nióbio. Caso ingresse com um recurso, o órgão julgador inicial é a própria SEMOB, depois o JARI ligado à mesma - comprometendo a imparcialidade do direito, por fim em segunda instância, se dispuser de paciência e tempo o CETRAN. Foram multados na capital em 2014 - apenas nos meses de agôsto a dezembro 5/12=79.413 multas, 2015 - ano todo 12/12=396.545, 2016 - janeiro até julho 7/12=241.711, as interrupções foram por ordem judicial ou suspensão da atividade. Realizando uma projeção anual 12/12, dos períodos atuantes seria 2014 ... 190.591, mais que dobrou em 2015=396.545 e 2016 ... 413.436, crescimento até reduzido; que talvez tenha provocado a instalação das novas câmeras e de outras que só monitoravam, tornando difícil a previsão de 2017. Nesta crescente seqüência o somatório atinge 717.669 multas aplicadas numa frota de 402.411, perfazendo quase 2 multas por veículo. Não se iluda que onde houver espaço o poder público vai aproveitar e majorar para custearem as regalias de certa minoria, em detrimento da maioria, assim a previdência especial de políticos e a sua, IR, IPTU 2018, combustíveis, energia elétrica. Fazendo um cálculo aproximado do total arrecadado, estimando um valor médio baixo para a multa em R140,00 x 717.669 = R$ 100.477.860,00. Realmente deixou de ser um caça-níqueis, se converteu em uma fonte de receita considerável, expoliando seu pobre bolso que já anda nas últimas, ao que alguns denominam uma escravidão republicana, tudo legal e amoral. Em continuação, ... dizem agora que os amarelinhos já pensam em multar por excesso de velocidade, até os aviões que sobrevoem a cidade !!!


AS URNAS ELETRÔNICAS

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uma questão grave e decisiva que vem perpetuando resultados manipulados, ludibriando eleitores, burlando as eleições, e se indefinidamente mantidas podem nos impingir a escravatura de um regime como na Albânia, Venezuela ou Cuba. Não se trata de apresentar uma inquietação pessoal, atentemos para uma criteriosa avaliação realizada por exímios profissionais e respaldo ainda em uma das mais lídimas instituições, como o Ministério Público Federal. Vejamos o Relatório Oficial : "O sistema atual de votação eletrônica é falho e não pode garantir o sigilo do voto e a integridade dos resultados das eleições". A conclusão é do MPF/SP com base em relatório apresentado à Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão por pesquisadores da Universidade de Brasília – UnB. O documento aponta a vulnerabilidade no programa utilizado nas urnas eletrônicas, seu efetivo potencial para violar a contagem dos votos. Consta de investigação, preliminar do Procurador Pedro Antônio Machado que urnas submetidas a teste de segurança apresentaram fragilidade principalmente para garantir o caráter secreto do voto. Mais, ... seríssima debilidade registrada é que urna pode ser pro-


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gramada com data e hora. Significa que poderá em determinado horário ao final do pleito redirecionar os votos para um candidato, e nada posteriormente será detectado. Que barbada !!! Outro momento de caráter oficial, onde foram apresentados a fácil manipulação, foi apresentado pela Fiscal e Auditora de Processo Eletrônico de Votação - Dra. Maria Aparecida Cortiz, na CPI dos Crimes Cibernéticos. Começa enumerando as debilidades do sistema: 1. Arcaico, 2. Muito caro 3. Impossível de ser fiscalizado 4. Extremamente concentrado em um único poder. Descendo em maiores detalhes, é vulnerável, pois encontrou outro programa rodando sem a devida assinatura. Ainda, verifica-se a presença da Smartmatic International Corporation sem participar do processo de licitação !?! Esta firma foi criada na Venezuela, onde atuou na eleição de 2006; cujas atividades encontram-se suspensas por prática de irregularidades, o mesmo acontecendo nas Filipinas. Jurisprudência do próprio TSE, observa que os sistemas e programas utilizados nas urnas, não podem ter seu acesso franqueado a pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras. Tal situação implicaria ofensa à soberania nacional um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Ver ... https://youtu.be/XcOe5Mn9ZKA. Diria W. Sheakespeare, na tragédia Hamlet ... "Há algo de podre no reino da Dinamarca". No seminário realizado pela Sociedade de Engenheiros e Arquitetos do Rio de Janeiro – SEARJ, um jovem racker de apenas 19 anos revelou como fraudou as eleições naqele Estado. "interceptou dados alimentadores do sistema de totalização e, após o retardo do envio desses dados ao destino, alterou resultados, beneficiando alguns candidatos em detrimento de outros." Conforme relatou Amilcar Brunazo, engenheiro especialista do tema, nenhuma atividade foi detectada pelo sistema oficial. Por falar em rackers, vejamos que de longe o incauto Lularápio vem posando com Marcelo Branco desde 1985, militante petista, ex-

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periente ativista do Software Livre que reúne universidades, empresários, poder público grupos de usuários, hackers, ONG’s e ativistas. Detalhe, o TSE em 2008 trocou o programa das urnas que era Windows pelo Software de Marcelo, seria uma indelicadeza supor que o Molusco houvesse exercido qualquer influência. Em 2009 Marcelo apresentou ao Lulafraude o americano Richard Staliman, ativista fundador do movimento Software Livre, um aclamado programador e hacker. Depois dedicou-se à coordenar a campanha de Dilma nas redes sociais eleições no ano de 2010, sendo assim eleita !!! Vejamos a presidência TSE durante o pleito de 2010 – Min. Ricardo Lewandowski que no impeachment de D. Rousseff, contrariando a própria Constituição Federal (!!!), junto do Renan Calheiros, deixaram de caçar-lhe os direitos políticos. Nas eleições de 2014, foi presidente o Min. Dias Toffoli, ex-advogado do PT em disputas anteriores, sempre reprovado nos exames para magistrado do Tribunal de Justiça de São Paulo. Agora em 2018 teremos como presidente do TSE o Min. Gilmar Mendes e Vice o Min. Luiz Fux. A única notícia boa é que este último, "não escondeu seu descontentamento com a tentativa de um criminoso condenado concorrer à Presidência da República." Por outro lado, existe uma forte resistência dos ministros contra o já aprovado foto imprenso, como a urna argentina, sob alegação do elevado custo (!!!). A manobra levaria esta situação para apenas 10 % das urnas, e poderão seguir manipulando resultados, elegendo novas antas, Cacarecos ou o Ladrão de Bagdá ... Preparem-se, virá muita propaganda sobre a segurança destas famigeradas urnas, que nenhum país do primeiro mundo acolheu. Para encerrar, conforme o Professor de Segurança da Informação da UNICAMP, Diogo Aranha: "as urnas eletrônicas são tão confiáveis, quanto os políticos que ela elege." Joseph Stalin ... "Quem vota e como vota não conta nada; quem conta os votos é que realmente importa."

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ACADEMIA EM SEUS 80 ANOS

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academia Mato-grossense de Letras comemora, neste ano, seu octagésimo aniversário – tantas décadas na combativa existência, por um finalidade maior fomentar as letras e manifestações de cunho artísticas em geral. Inicialmente a célula-mater foi o Centro Mato-grossense de Letras, organismo criado em 1921 e transformado em Academia onze anos depois, esta Instituição cultural , representa a ancestralidade das Letras em Mato Grosso. Formada de início por um grupo de 24 intelectuais, esta Instituição estimulou a Cultura e a Literatura em nosso Estado, abarcando em seu quadro, personalidades de expressão regional e nacional, como D. Francisco de Aquino Corrêa, José Raul Vilá, Virgílio Corrêa Filho, Estêvão de Mendonça, José de Mesquita, Leovegildo Martins de Melo, Ana Luiza da Silva Prado, João Cunha, Carlos Borralho, Augusto Cavalcanti de Melo, Joaquim Gaudie de A. Corrêa, Manoel Paes de Oliveira, Lamar-


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tine Ferreira Mendes, Philogonio de P. Corrêa, D. Francisco de Aquino Corrêa, Manuel X. P. Barreto, Ulysses Cuyabano, Antônio Fernandes de Souza, Otávio da Cunha, José M. da S. Pereira, Franklin Cassiano da Silva, Miguel Carmo de Oliveira Melo, Palmiro Pimenta, Cesário Prado e João Barbosa de Faria. Portanto, esta plêiade de beletristas foi responsável pelas primeiras discussões intelectuais, que contribuiu para a evolução e dinamização do jornalismo regional, além de ter colaborado vigorosamente nos campos jurídico e educacional, verdadeiro catalizador cultural. Nestes 80 anos vieram a presidir a Academia, José de Mesquita (de 1921 a 1961), Antônio de Arruda (de 1962 a 1967), Antônio Cesário de Figueiredo Neto (de 1967 a 1969), Padre Vanir Delfino César (de 1974 a 1981), Lenine de Campos Póvoas (de 1981 a 1991), Clóvis de Mello (de 1991-1993) e João Alberto Novis Gomes Monteiro (de 1994 até o presente). O inigualável D. Francisco de Aquino Corrêa, arcebispo de Cuiabá, e na época Governador de Mato Grosso, foi o Presidente de Honra da entidade nascente em 1921, tendo ocupado a Cadeira de número 4, Patrocinada pelo Padre Manuel de Siqueira. Na sessão inaugural, ocorrida a 07 de setembro, D. Aquino proferiu um discurso monumental, no qual forneceu à Instituição a frase retirada das Santas Escrituras e que se tornou o lema identificativo do Centro da Academia Mato-grossense de Letras: “E pondo-vos, desde logo, sob os olhos, como em síntese gráfica, este pensamento, dir-vos-ei que, o escudo de armas ou antes o ex-libris do novo instituto acadêmico, dar-lhe-ia por único brasão um dos símbolos heráldicos de beleza, uma rosa, por exemplo, inscrevendo-lhe em torno esta legenda sagrada: Pulchritudinis studium habentes: Os estudiosos da beleza.

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Tal é o mimoso verseto, que entoado há 22 séculos, na harpa solitária de um daqueles vates de Sião, pensadores e moralistas, lá naquele rincão pequenino da terra prometida, Canãa dos rios de leite e mel e das rosas que não morrem, vem ecoando, de geração em geração, nas páginas da Bíblia, como um dos mais altos elogios aos varões gloriosos que ilustraram as primeiras idades do mundo! Preocupavam-se, diz o livro santo, com o estudo da beleza em toda a sua irradiação moral e artística: Laudemus viros gloriosos... pulchritudinis studium habentes.” Adiante outro trecho do memorável discurso, D. Aquino elenca os múltiplos recursos de inspiração poética existentes na região, com destaque à exuberância na natureza mato-grossense: “Contemplai a sua natureza, esta natureza que nos sorri ainda na eclosão virginal de beleza tão encantadora que nem o cientista mais frio pode estudá-la, sem arrebatar-se insensivelmente da atmosfera serena da observação para ess’outra onde revoam sonoramente as fantasias e os sonhos do poeta.” Com o fito de preservar a trajetória intelectual a Academia Mato-grossense de Letras – que de 24 Cadeiras iniciais conta hoje com 40 – participou de grande parcela da história das literatura de Mato Grosso, levando-se em conta que durante mais de 50 anos fora esta Instituição, ao lado do Instituto Histórica e Geográfico de Mato Grosso, o principal locus de produção intelectual e literária de nosso Estado. Nestes 80 anos de existência, a Academia deixou-nos signifi-

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cativo legado literário divulgando através de sua Revista periódica, publicada sempre com muito esforço, acompanhando a vida da Instituição, oferecendo aos nossos pósteres um retrato vivo de sua atuação no espaço intelectual de Mato Grosso. Provando esta acertiva, o Grande Mestre António de Arruda, que presidiu este Areópago, comemorando mais uma década de existência, nos brinda com mais uma publicação, este ganhando em 10 da Academia “No Limiar dos 90 Anos.” Ficam todos de parabéns a Academia, IHGMT, Estado, e Sociedade solidária.

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IN MEMORIAN DE VICENTE EMÍLIO VUOLO

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etornando após a formatura para Cuiabá, trazia na bagagem sonhos e uma pesquisa, cujo efeito produzirá um inenarrável avanço progressista. Tratava-se do acesso Ferroviário à Cuiabá, com análise das 9 altenativas, obtido junto ao GEIPOT - Grupo de Estudo para Implantação da Política de Transportes, por intermédio dos incentivadores mestres da FGV/RJ. Discutindo o assunto com parentes, fui chamado por um nome ... Vuolo. Durante toda trajetória estudantil vivendo fora, desconhecia por completo o precursor, fato que externou a exata dimensão, afinal estava seguindo os passos de um Senador da República. Fiquei criando a imagem do gigante, logo descobri, era uma pessoa normal, de carne e osso, porém movido por uma inquebrantável determinação, traço marcante de sua personalidade. Tornei-me um admirador do mestre, juntando-me ao séqüito dos admiradores, como os engenheiros Igléias e Hildeu, este último também do Gabinete de Planejamento e Coordenação.


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Passado alguns anos, não resisti ao colossal desafio, e guardei a pesquisa, enquanto o pioneiro seguia abnegado na postura, qual firme rocha. Analisando o amálgama deste legítimo filho do Coxipó, vemos que brotou do amor entre o casal Francisco Plamieri Vuolo e Adalgiza Rosa Vuolo, italiano e nativa, em 03 de outubro 1929. Realizou seus estudo iniciais no Liceu Cuiabano, concluindo o segundo grau, mantendo a helênica vocação, no Ateneu Paulista - Campinas. Coroando esta formidável mescla, cola grau em Direito pela Faculdade do Catete, Rio de Janeiro, no idos 1.956. Em seguida, foi aprovado em concurso público para ser advogado do Banco do Brasil, ficando até aposentar-se. Despertando o reconhecimento de um outro baluarte da história regional, Governador João Ponce de Arruda, foi designado Chefe de Polícia, o equivalente ao cargo de Secretário de Segurança Pública. Nestas funções destacou-se o espírito humanitário, fazendo instalar sanitário no Presídio do Porto, além de outros relevantes feitos sociais que o tornaram popular. Agregando novas funções, formando a base do futuro parlamentar, merece destacar ter sido o primeiro Promotor de Justiça de Cuiabá, exercendo duplo encargo, respondendo pela Procuradoria Regional da República, ainda pela Procuradoria Regional Eleitoral do Estado, com decisórios resultados. Filiado ao PSD, obteve votação apenas de Cuiabá, na disputa para uma vaga na Assembléia Legislativa, contudo, foi o bastante para eleger-se. Bateu-se ardorosamente contra a transferência da Capital para o Sul, havendo por sua coragem pessoal dissuadido, os adeptos dessa tal mudança. Obtendo ingresso na vida política, um novo desafio lhe toma conta, conquistar a Prefeitura de sua Capital. A julgar pelo volume dos obstáculos, apenas um Homem de tama-

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nha envergadura, igual ao de uma Ferrovia. Teria que bater na convenção nada menos que o Senador Filinto Muller, um ícone nacional, que tinha escolhido candidato próprio no seio famíliar. Sentindo o profundo drama a superar, embrenha-se nos bairros, e cria vários subdiretórios da sua legenda o PSD. O resultado deste meticuloso trabalho nascido na fibra de um verdadeiro campeão da fé, não lhe surpreendeu. Entretanto, o mesmo não se pode dizer do respeitável Senador, que viu a pretendida homologação pulverizada, com a avitória esmagadora de Vuolo ! Mas isto seria apenas o começo, pois outra considerável barreira ainda estava por vir, agora seria preciso desbancar a UDN, encasteladíssima no poder há 14 anos. Vai nosso Herói ao bom combate, Davi e a imensa Máquina Trituradora. Desta feita necessário reforço extra, entra em cena a incansável aliada de todos os momentos, que hoje pranteia sua falta a Sra. Leyde da Costa Vuolo. Não podemos esquecer o relevante papel do estrategista, confrade Lenine de Campos Póvoas, em romaria de porta em porta, na época em que o eleitor não vendia seu voto nem o daria por meras conveniências pessoais, obtiveram a chamada “Vitória Memorável”. Realizou na gestão trabalho profícuo. Não fosse isto verdade, como se poderia explicar a retumbante vitória, alcançada nas urnas para um segundo mandato da Assembléia Legislativa ? Neste período, o Dep. Vicente Vuolo inicia os primeiros discursos que irão consagrá-lo, em definitivo na história do Estado, como o “Pai da Ferrovia”. Seguindo a coerência, elege-se em 1.974 para a Câmara Federal, até mesmo negando-se a receber votos do Sul, por ser contrário à divisão territorial, pretendida pela gente daquela região. Seguindo a vitoriosa jornada, obtém respaldo do povo para em 1.978 ocupar uma cadeira no Senado Nacional. Neste

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período intensificou a luta inicialmente abraçada em pról da ligação ferroviária, ao atingir a Presidência da Comissão de Transportes do Senado. Superou depois, o maior entrave da época a ponte rodo-ferroviária sobre o rio Paraná em Santa Fé do Sul / SP, conforme o “Manifesto de Cuiabá”. A dificuldade não era restrito apenas à questão financeira, a concorrência interna sabia das potencialidades estaduais, confirmado na exportação do algodão soja, arroz e criação. Essa obstinação lhe valeu alcunha desprestigiosa, visando enfraquecê-lo; o próprio Ulisses Guimarães, cognominou-o de ... “O Homem da Ponte”, tamanha sua obstinada determinação. Contudo, o seu maior legado para a sociedade, está gravado na palavra símbolo que o representa, UTOPIA, exemplo de vida voltada aos desafios. Dedicou-se com total abnegação em uma luta logo de plano inglória, sonhava com dias melhores, o progresso dos trilhos chegando para todos, a visão de um grande estadista. Enquanto hoje, verificamos atônitos, armações de ACM e Arruda, manchando com lama fética a imagem de uma Casa que tanto soubestes honrar. Sua ilibada conduta difere muito dos corruptos de hoje em dia que fazem da vida pública, verdadeiro trampolim para o rápido enriquecimento pessoal. A límpida imagem é consenso geral e por isto fostes prestigado, no momento do Adeus final, com as mais altas honras fúnebres, acompanhado na partida pelas maiores autoridades, Executivo, Judiciário e Legislativo. Seus feitos e valores morais levam a compará-lo ao Príncipe da Honradez e Letras, Luis-Philippe Pereira Leite, e também ao Grande Rondon, que nunca se abateram frente a imensidão das tarefas que levaram a bom termo. Vuolo foi um vencedor, e misericordioso o Senhor Deus, pois mesmo Moisés só chegou a contemplar a Terra Prometida, cabendo a Josué,

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filho de Num, finalizar a longa empreitada. A benevolência superior, ao contrário, lhe deu o regozijo de ainda em vida, ver a esperada concretização da obra. Afinal fez-se a inauguração do terminal de Alto Taquari já em solo mato-grossense em 06.99, presenciando o “Pai do Utópico Sonho Ferroviário”, a muito esperada, chegada dos trilhos. Imagino a satisfação de estar naquela locomotiva, sentindo o vento no rosto, e a terra tremendo aos seus pés. Eras um Júlio César : vini, vidi, vinci; no doce sabor dessa grandiosa vitória. Brilhava mais que os demais astros e nem o Presidente poderia roubar-lhe esta infinda satisfação, apesar de alguns poderem viabilizar a materialidade, curiosamente nada fariam sem que fossem tocados pela grande idéia. Por outro lado, a continuidade há de perpetuar-se na prole de real valor, Vuolo, Francisco Antônio, Gleyde e mais os netos dessa prodigiosa forja. Estes haverão de seguir semeando o maior legado para as demais gerações, que temos muito a sonhar, independente da histeria dos fracos invejosos, que nada constróem ou chegam a propor, vivendo na penumbra cinzenta, onde se juntam os covardes fugidios. O exemplo de sua vida é a maior herança que nos lega, num momento crucial, onde a incompetência e falta de visão podem nos deixar às escuras. Enquanto nosso “utópico sonhador”, profeticamente perceberia a carência, com muitas décadas de antecedência. Para sempre serás lembrado na essência das palavras que lhe saudaram ao descer para a sua morada definitiva, expressão sincera de amigos e filhos. Fique na paz dos palácios de cristal, sua carga foi por demais pesada, restará apenas o triste silvo do trem que eternizará a sua lembrança.

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ACADEMIAS CADEIRA Nº 1

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Desta feita uma variação, interessante para esclarecer os místicos, mas nem tanto, meandros de academias, a imortalidade, composição e fundamentos destas Instituições Culturais. Tudo iniciou ainda no Império – fim do século XIX, quando Afonso Celso Júnior : professor, poeta, historiador, e político – depois ocupou a cadeira 36, manifesta-se a favor da criação de uma academia literária nacional. Seguiria os padrões da francesa, criada em 22 de fevereiro 1635, por obra do Cardeal de Richelieu no reinado de Luís XIII, sendo composta por 40 membros vitalícios. Propiciou a iniciativa inicial, o êxito social e cultural da "Revista Brasileira", de José Veríssimo : escritor, educador, jornalista, estudiosos da literatura nacional – titular da cadeira 18; gerando a coesão de um grupo de escritores e intelectuais, fato que possibilitou a idéia por eles acalentada. Realizaram a sessão inaugural no dia 20 de julho 1897, no museu Pedagogium, sendo eleito Presidente por aclamação Machado de


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Assis, que exerceu durante os iniciais 10 anos do Silogeu. Surge assim a Academia Brasileira de Letras - ABL, mãe de todas as Estaduais, tem por objeto o cultivo do idioma pátrio e nossa literatura, é também conhecida por "Casa de Machado de Assis". Apenas em 1923, a França doa o prédio atual, após a Exposição do Centenário da Independência, o "Petit Trianon" uma réplica de Versalhes.FR, por iniciativa de seu embaixador Raymond Conty e do Presidente da ABL no período, Afrânio Peixoto: médico, ensaísta, romancista ... – cadeira 7. Mutatis mutandis, a nossa estadual segue os parâmetros, 40 cadeiras e respectivos patronos, fundada em 22 de maio 1921, então Centro Mattogrossense de Letras, sendo instalado em 7 de setembro desse ano, operando no salão nobre do Palácio da Instrução ao lado da Catedral. Logo adiante em 1930, transfere-se para o prédio atual, condomínio que abriga o Instituto Histórico e Geográfico, mais Academia Mato-Grossense de Letras, a "Casa Barão de Melgaço". Os seus membros são titulares das cadeiras e regidos por um Estatuto, chamados de "imortais", entretanto, a imortalidade acadêmica reside no fato de que ele sempre será lembrado, pois o noviço deverá no seu discurso de posse ... citar o Patrono e todos anteriores ocupantes da cadeira ! Nessa trilha, tratarei de reverenciar o Patrono da Cadeira nº 1 : José Barbosa de Sá. Nasceu em em Portugal, onde formou-se em direito, chegando nas minas do Cuyabá quando o povoamento ganhava impulso, aprofundou-se em colher minudentes registros históricos do local. Sobressai a sua preciosa obra crônica: "Relação das Povoações do Cuyabá e Mato Grosso de seus Princípios até os Presentes Tempos", cujo valor é fundamental no estudo da nossa historiografia. Crônica vem a ser uma narração minuciosa, seguindo a ordem cronológica de fatos importantes ...

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Posteriormente em 1745, elaborou um relatório sobre as missões espanholas no vale do rio Guaporé, atento aos interesses de vigilância da fronteira Oeste, região onde depois fundaram a nova capital - Vila Bela da Santíssima Trindade, no provável alerta dos seus escritos. Brotou de sua hábil pena os registros sobre "Os Anais do Senado da Câmara" – até o ano de 1765, por fim produziu os ... "Diálogos Geográficos, Cronológicos, Políticos e Naturais", estes em 1769. Acredito que por seu pioneirismo e fonte confiável, mereceu ser o Patrono logo da cadeira nº 1 !!! O inicial ocupante foi Manuel Paes de Oliveira, filho do Coronel José Sabo Alves de Oliveira e Sra. Francelina Paes de Oliveira, nasceu na brejeira Cáceres em 11 de julho 1885. Concluindo estudos iniciais, foi para o Rio de Janeiro, graduou em Direito na Faculdade Federal. Fora do Estado exerceu várias funções públicas: administrador da Mesa de Rendas de Macaé, oficial de gabinete do Ministro da Fazenda, Delegado Fiscal no Paraná. Por aqui, foi Secretário do Interior, Justiça e ainda Deputado Estadual. Dentre outras publicações, foi Redator e Colaborador dos seguintes periódicos: Aspiração – Colégio Militar do Rio de Janeiro, A Épocha – UFRJ, A Nova Épocha – Cuiabá, Jornal do Comércio, O Paiz, Jornal do Brasil, O Mato Grosso, e A Cruz ... O segundo ocupante, Leônidas Antero de Matos, nasceu em Cuiabá a 28 de fevereiro de 1894, filho do General Antero Aprígio Gualberto de Matos e da Sra. Francisca de Figueiredo Matos. Terminou o secundário no Liceu Salesiano de Cuiabá, formou-se em Direito na Faculdade de Porto Alegre. Era poeta, cantor, musicista e competente profissional, foi Secretário-Geral do Estado/MT, depois em 1932 nomeado para a suprema curul, Chefe do Governo Estadual. Cerrou definitivamente os olhos em 8 de abril de 1936, aniversário da Cidade que o viu nascer !!! Benjamim Duarte Monteiro, o nobre terceiro ocupante da

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cadeira, veio ao mundo em 31 de agosto de 1908, filho do Sr. João do Lago Monteiro e Sra. Antonina Duarte Monteiro. Diplomado em Direito pela UFRJ em 1932, exerceu inúmeros e destacados cargos: Promotor e Procurador-Geral de Justiça, Professor, Diretor da Imprensa Oficial, Deputado, Constituinte Estadual e Relator, Presidente Conselho da OAB/MT, Chefe da SPI – a pedido Rondon, Juiz Efetivo do T.R.E., Presidente do Tribunal de Contas ... Trabalhos Jurídicos: foram Memoriais, Pareceres, inseridos nos Anais Forenses, articulista de revistas, jornais como "O Jornal" – RJ, etc. Faleceu em 19 de julho 1996, deixando viúva a Sra. Ana Augusta de Oliveira Monteiro, legando insigne descendência, Des. Leônidas Duarte Monteiro-Pres.TJ e premiado arquiteto Paulo Molina. Meu histórico deixo ao sucessor, não tenho pressa alguma de o Piedade enfeitar #!

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É NATAL, NASCEU O MENINO DEUS

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xiste diametral diferença de significados entre o real cristão e o comercial, que ganha forte espaço através do imponente apelo econômico e o cordeiro esmagado na ignomia galopante. Segue a disputa entre o Bom Velhinho e o Menino Jesus, sendo o Estado laico, ambos abordarei. Buscando na fonte bíblica, percebe-se nos evangelhos canônicos, Mateus, Marcos, Lucas e João, são inspirados por Deus e autoritativos, consta que Jesus nasceu em Belém na época uma província romana da Judéia. Segundo relato no evangelho de Lucas, o carpinteiro José e Maria viajaram de Nazaré até Belém para atenderem um censo do Império Romano do Oriente. Como símbolo de humildade, o Menino filho do Pai, teve por berço uma manjedoura, do francês manger ... receptáculo onde os animais comiam feno. Conforme registra o Livro de Mateus, anjos o proclamaram como o Salvador de todas as pessoas, pastores e todos vieram adorá-lo, até mesmo os astrônomos, Melquior ou Belchior, Baltasar e Gaspar,


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traziam presentes: ouro, incenso e mirra. Aclamado "Rei dos Judeus", isto provoca receio do rei Herodes que manda executar os meninos menores de 2 anos, a família de Jesus escapa para o Egito, volta para Nazaré só após morte do rei. Peritos do assunto entendem que a imagem do Bom Velhinho, teve sua inspiração no bispo de nome Nicolau, nascido na Turquia em 280. Sendo homem caridoso, costumava deixar saquinhos de moedas próximo das chaminés de casas modestas, depois canonizado – São Nicolau, pois lhe foram atribuídos deversos milagres. Uma pioneira assossociação de S. Nicolau ao Natal aconteceu na Alemanha, logo espalhando-se pelo planeta, nos Estados Unidos ganhou o nome de Santa Claus, em Portugal Pai Natal e no Brasil o conhecido Papai Noel. O inglês Clement Moore em 1823, escreveu o poema "Uma Visita de São Nicolau", imaginando que ele cruzaria os céus num trenó puxado por 9 renas a saber: Rudolph, Dasher, DanA DEVOÇÃO DA HUMILDE ARTISTA

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cer, Prancer, Vixen, Comet, Cupd, Donner e Blitzen, distribuindo presentes pelo mundo todo. O Bom Velhinho, até a primeira metade do século XIX era apresentado com roupa de frio nas cores marrom ou ainda verde escura. Somente no ano de 1886, foi criada essa nova estampa pelo cartunista alemão Thomas Nast, nas cores vermelha e branca, com o cinto preto e que predomina. Esta imagem consolidou-se após um comercial da Coca-Cola em 1931, eram as cores do refresco. Atualmente Papai Noel e Sra. Noel vivem no Pólo Norte, auxiliados por um grupo de duendes que fabricam os brinquedos para crianças do mundo todo, distribuídos em 24 de dezembro, na virada. Independente do apelo comercial e amparo da mídia, produzir o fomento da economia, existe vivo o lado cristão, sem o menor retorno pecuniário calcado na fé gratuita, simples devoção. Neste perspectiva surgiram outras formas de adoração como os presépios de interessante história. Durante o inverno de 1223, o manto alvo da neve cobria a cidade de Greccio localizada no centro-sul da Itália, anunciando a noite de Natal todos sinos sem parar festivamente repicavam. Os habitantes, em sua maioria campesinos estavam reunidos com São Francisco de Assis, que procurava explicar-lhes o mistério do nascimento de Jesus. Estavam muito atentos, ouviam com respeito, entretanto não demonstravam haverem compreendido a narrativa. São Francisco então, procurou uma maneira mais prática para explicar aos simplórios aldeões como ocorrera o Natal. Pediu para lhe trazerem uma imagem do menino Jesus, uma mangedoura, feno, um boi e jerico. Atendido prontamente, o Santo montou o cenáculo, manjedoura forrada de palhas ficou no centro, os animais no fundo. Faltando apenas o menino Jesus, com grande devoção toma-o nos braços para levá-lo até o cocho, quando dá-se um fenomenal prodígio. Perante os olhos estupefatos dos campo-

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neses a imagem ganha vida e sorri para S. Francisco, que abraça-a ternamente e a dispõe sobre as palhas da manjedoura, enquanto os presentes se ajoelham em postura de alta adoração, mais uma vez o Menino-Deus sorri e abençoa todos aí prostrados a seus pés. Desta data em frente os cidadãos de Greccio erguem o presépio de São Francisco, na esperança de reverem o milagre. Este tradição foi irradiada para todo o planeta, uma forma de arte cristã que atingiu nosso país, não sendo diferente em Cuiabá e gerou uma saudável disputa entre dedicados artesãos. Um dos mais antigos e que logrei encontrar foi o do "Seu Freitas", muito original com monjolo girando, patinhos flutuando, janelas tinham luz; confeccionado de barro e papel machê, pelo trio de mulheres dedicadas D. Nhanhá, D. Nenê e D. Nhazinha. Existia até um roteiro de presépios !!! Conforme o Professor Benedicto Pinheiro de Campos, na recente obra: "Cuiabá ... quem te viu", outros trabalhos merecem registro, o da Senhora Margarida Pinto de Figueiredo, Margarida Moreira Ribeiro, tinham convites para expor em igrejas, prêmios da Fundação Cultural. Vamos destacar ainda o dedicado labor da Sra. Zenaide Martins de Araújo, com uma considerável experiência em mais de 40 anos neste mister, que relizou grandiosa obra franqueada ao público, galgando o primeiro lugar do Estado no concorrido certame, além de obter convites até de Igrejas. Finalmente, fica por aqui minha comemoração de um dia mágico, que faz renascer na pessoa do Menino-Jesus a esperança em cada ano, aglutinando irmãos e nos faz acreditar no futuro da vida !

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BARÃO DE MELGAÇO

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no novo vida nova, doravante enfocarei o lado humano, iniciando por um grande vulto que cede o nome à uma rua da Capital, o Barão de Melgaço e cuja antiga morada abriga hoje duas Instituições Culturais, o Instituto Histórico e Geográfico, e nossa Vetusta Academia de Letras !!! Nasceu em 30 de janeiro de 1802, na pia Batismal recebeu o nome Auguste Jean Emmanuel Leverger, filho de Mathurin Leverger e da Senhora Reine Corbes, na cidade de Sain- Malo, litoral da Mancha, Capital de Ille-et-Vilaine da Bretanha, https://youtube.be/YzXjKLwieck O bretão, Malouin é gente marcada pela forte personalidade, perseverança, e mesmo orgulho, onde brotaram corsários destemidos, como Jacques Cartier o descobridor Canadá, ou com Porec que atingiu até as ilhas Malvinas-Falkland, com Duguay-Trouin apoderaram-se do Rio de Janeiro. Entre o ano de 1590 e 1594 chegaram mesmo a constituir uma república indepedente da França! A cidade era uma fortaleza rodeada por muros altos, porém poucas opções ofereciam aos Levergers, assim partiu ainda jo-


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vem aos 17 anos com seu pai em viagem para América do Sul, para avaliar nesta longa travessia os pendores para a faina dos oceanos, em 1º de maio de 1819. Desde criança demonstrara incrível vivacidade, havia concluído seus estudos secundários, obteve louvores dos mestres, e possuía destacada propensão para as matemáticas, a esperança da família. Augusto teve irmão nascido em 1810 que cedo faleceu, e uma irmã em 1811 que tornou-se freira, a genitora, esposa com marido, e filho ausentes nos mares, faleceu doente, triste em 1821 abril 30.

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Fazendo rápida parada no Rio de Janeiro e Sta. Catarina, tomam passagem em um navio para Buenos Aires, mas em 21 de agosto de 1819, naufragaram perto de Santa Marta, no Prata. Salvos da fúria das ondas, seu pai segue para aquela cidade e Augusto, aguarda-o em Montevidéu. Demorando-se o genitor, em 1º de janeiro de 1820, inicia trabalhos na escuna francesa Angélica, em razão de sua postura resoluta foi aceito como 2º Comandante, começando a venturosa carreira. Em julho, assume mesmo posto na Galera General Lecór, aprofundou estudos hidrográficos do estuário do Prata, e além de realizar diversas viagens, fez travessia oceânica até Lisboa em 1822. Voltando recebe em 8 de dezembro, a triste nota do falecimento do seu genitor em Buenos Aires. Passo decisivo ocorreu em 1822, ao começar a guerra de Independência do Brasil sendo a Galera Lecór armada em corveta pelos portugueses, abandona esta nave e fica em Buenos Aires buscando seus direitos hereditários e da irmã, enfrenta privações e as supera através estudos. Culminando a vitória retoma sua posição na Lecór, e ingressa como 2º Tenente na Marinha de Guerra do Brasil em 11 de novembro de 1824, tinha na época o jovem Leverger apenas 22 anos ! Embarcou logo em seguida na fragata Nitheroy, comandada pelo destemido capitão James Norton, que passou a admirar o noviço Tenente por sua bravura nos combates apesar das pátrias inimigas, assim nas lutas separatistas do Uruguai, em 1826 de11 abril, 3 de maio 23 e 25; 11 e 30 de junho. Augusto dedica-se a estudar e domina com fluência o inglês, e galga a promoção para 1º Tenente em 12 de outubro de 1827, ficando agora ao seu comando a bombardeira Dezenove de Outubro, obtem realce no combate da "Ponte de Lara" em 16 de junho de 1828, registrado por Rio Branco. Por seu valorosa coragem na luta, recebe a dignataria da Imperial Ordem do Cruzeiro, um Herói ! Chegando ao Rio de Janeiro em 15 de outibro de 1829, recebe

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ordens para organizar uma esquadrilha de chalupas canhoneiras, destinadas a fazer a defesa da fronteira no rio Paraguai. Perpetou longa viagem desde Porto Feliz, fazendo registros hidrográficos, desenhos topográficos. Devido a falta de recursos, fez estudos projetos, explorou rios e lecionou, voltou ao Rio em 1834. Vivenciava o país dias bem tormentosos, já no 4º Gabinete da Regência Tríplice, quando assume o padre Diogo Antonio Feijó, Leverger pede licença de 1 ano, sendo arbitrariamente reformado sem soldo em 1836. Foi depois readmitido por intervenção de José Saturnino da Costa Pereira, 1º Presidente da Província de Mato Grosso, seguindo os planos para defesa de Pedro I. Promovido como Capitão-Tenente em 7 de setembro de 1837, retorna Leverger para sua Cuiabá, assenta o arsenal da marinha, constrói o cais, realiza explorações de rios, e presta conta da gestão. Nomeado Consul Geral em 14 de junho de 1841, recebe em 18 de julho a distinção da Comenda da Rosa, enceta depois 2 viagens ao Paraguai, sendo que na primeira não foi admitido nesse país. Leverger é promovido por decreto em julho 23 de 1842 ao posto de Capitão de Fragata, e chega na 1ª classe dos oficiais da armada. Um acontecimento liga-o definitivamente a esta terra, o casamento com a Sra. Ignez de Almeida Leite, em 25 de outubro de 1843. Recebe em seguida, do Presidente da Província - Zeferino Pimentel Moreira Leite, incumbência de levar ao Presidente perpétuo Carlos Antonio Lopez, pai de Francisco Solano Lopez, uma carta de felicitações, sendo desta vez bem recebido e cumpriu a espinhosa missão. Adiante em fevereiro de 1844, segue para a Capital do Império, demonstrando sua ligaçõe com o país em 13 de novembro naturaliza-se, depois foi recebido e condecorado, tudo na maior benevolência pelo próprio Imperador Pedro II. Mais adiante em 1858, por decreto de 7 de outubro foi nomeado Presidente da Província. Segue...

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BARÃO DE MELGAÇO, FINAL...

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ssumindo a Presidência da Província, Leverger tratou de organizar a Guarda Nacional, devido necessidade de proteção do território, em razão das freqüentes fustigações do Paraguai. Fazendo-o de forma imparcial para evitar as disputas políticas já existentes desde aqueles tempos, a exemplo do 1º Batalhão da Capital – composto por 8 Companhias, dispondo por igual os oficiais entre os grupos políticos, dos quais 13 Conservadores e 13 Liberais. Hábil postura do Presidente, primando o interesse da defesa, apaziagua contendas políticas, tinha leve tendência conservadora. Leverger por decreto de 26 de janeiro 1852, passa a responder também pelo Comando das Armas da Província, em 03 de março foi promovido ao posto de Capitão de Mar e Guerra. Acirram-se as relações quando Carlos Antonio Lopez entrega o passaporte do Ministro brasileiro em Assunção ... "por dedicar-se à intriga e impostura em ódio à pessoa do chefe supremo da nação paraguaia". Isto era na verdade um pretexto para adiar a abertura da


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navegação do rio Paraguai, em decorrëncia, enfraquecer e distanciar Mato Grosso da Metrópole, e mais tarde a nossa invasão. Seguindo sua ascensão na carreira militar em 2 de dezembro de 1854 Leverger foi promovido ao posto de Chefe de Divisão – hoje Contra-Almirante. O império inquietara-se com a evolução das beligerâncias, e ordenou ao Presidente que fizesse seguir para a fronteira do rio Apa e Forte de Coimbra, toda força disponível em Cuiabá e outros pontos, designando para tal tarefa oficial de sua total confiança. Justamente esse o local da fronteira litigiosa, posterior dos conflitos terrestres, como a Retirada de Laguna e houve atuação do guia Lopes. O presidente chamou a si a tarefa e parte em 1º de fevereiro de 1855 para o Forte de Coimbra, ali instalou a sede do governo com o fito de ficar claro a intenção, enquanto fosse necessário aos magnos interesses nacionais. Sendo o valor de Leverger reconhecido pelo próprio presidente paraguaio, impunha respeito e supunham estar fortemente preparados, quando na verdade havia "falta quase absoluta de recursos de guerra", pois nenhuma ajuda providenciara nosso Império. Pernaceu na vigilância em Coimbra até 15 de novembro de 1856 – 22 meses, sendo uma das fases mais atribuladas de sua existência. Parecia que no ano de 1856 reinaria a paz, e retornando Leverger para Cuiabá, reitera pedido de sua demissão do cargo de Presidente, quando em 1º de abril de 1857 assume Joaquim Raimundo Delamare. Fazendo-se em 28 de fevereiro de 1858, o "Bretão Cuiabano", 1º Vice-Presidente da Província e substituto obrigatório; na ordem de Aviz foi promovido a Comendador. Já não dispondo das forças de outrora, com 56 anos, recolhe-se em sua casa do Coxipó, obtendo a reforma em 6 de junho de 1859 no posto de Chefe de Esquadra – hoje Vice-Almirante. Extinto o armistício negociado pelo Chanceler Silva Para-

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nhos em 6 de abril de 1862, arregimentam-se forças na fronteira e Francisco Solano Lopez, já empolga o governo do Paraguai. Volta Leverger ao trabalho, pois era afeito aos estudos cartográficos e da hidrografia, para coordenar e complementar a carta de Mato Grosso, partindo em 8 de abril de 1864 para Corumbá e Miranda !!! A comitiva, composta pelo Cap. Antonio Maria Coelho, 2 marinheiros, um serviçal e mais tarde se juntou o famoso guia Lopes, realiza levantamentos ainda em Nioac, colônias militares de Miranda e Dourados, Porto de Sete Voltas e rio Brilhante. Retornando por razões adversas do tempo para Cuiabá em 20 de novembro de 1864, e se afasta do que seria o epicentro da guerra que logo inicia em 13 de dezembro, com o tropel mortal da cavalaria lopesina. Coimbra cai em mãos paraguaias em 28 de dezembro 1864, em 3 de janeiro de 1865 com a retirada, apesar de abrigar o comandante das armas, Corumbá estava dominada. Chegando em Cuiabá estas notícias em 7 de janeiro instaura-se o pânico geral, e fuga desordenada ao sertão. Resolve então o Presidente arregimentar forças e fazer a defesa em Melgaço, chegando as tropas em 16 de janeiro, e recebendo um falso alarde que as tropas paraguaias estavam na foz do Cuiabá, ao amanhecer o dia 18, haviam todos abandonados, e se entricheiram em Cuiabá. Leverger sendo informado da situação, ofereceu ajuda ao Presidente, logo nomeado Chefe da Esquadra, ainda Cmte. Superior da Guarda Nacional, reestimula a tropa, faz voltar para Melgaço, acalma a capital. Em 21 de janeiro, ele desembarca a tropa e o material trazidos de Cuiabá ... "6 peças calibre 6", com os mesmos expedicionários que timoratos, haviam deixados a posição, e voltam a defendê-la. Terminando o períodos das águas, ficou afastada a hipótese dos vapores subirem o rio, assim reconhece o Império a coragem de Leverger, decide conceder-lhe as honras de Barão de Melgaço. Seu brasão de armas confecionado pelo

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patrício Boulanger, possuí um rio de prata carregado de uma âncora acolhendo a divisa : "Sempre Prompto", bem ressumia a história de vida e trabalhos. Conforme Visconde de Taunay em sua biografia – p. 146, foi Presidente da Província por 4 vezes. Dentre inúmeras produções notáveis de A. Leverger, exsurge por ocasião do Tratado de Petrópolis – 1903, onde Joaquim Murtinho e o Barão de Rio Branco, impugnaram a sessão de terras às pretensões bolivianas, sem compensação alguma, foi prestado por uma carta de Melgaço. O Almirante A. Leverger foi o antemural de Cuiabá e todo Brasil, que hoje sente a falta de vultos como o "Bretão Cuiabano", expirou em 14 de janeiro de 1880, e descansa no Piedade !!!

CASAL FRANCÊS VISITANDO O BUSTO DE LEVERGER EM BARÃO DE MELGAÇO

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JOAQUIM MURTINHO

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stamos abordando um consagrado vulto da história nacional e do nosso Estado, autodidata tanto na medicina quanto na macroeconomia nacional, cujo fundamento preliminar brotou na docência desse inveterado estudioso solitário, uma singular genialidade servindo o bem. Começou num berço diferenciado, seu pai José Antônio Murtinho era médico, chegou a Presidente da Província em 1868/9. A genitora, Rosa Joaquina Murtinho teve 3 filhos: Manuel Murtinho foi Presidente de MT em 1891/5 e Ministro do que seria hoje o Supremo de 1897/917; José Antônio Murtinho elegeu-se Dep. Federal em 1897/99 e 1907/08 pelo DF-RJ, senador por 18 anos de MT - 1912/30; Joaquim Duarte Murtinho, o caçula em 7 dezembro 1848. O pequeno percebe-se tinha uma estrela, seu padrinho foi ningém menos que Augusto Leverger - Barão de Melgaço, na época Tenente-coronel, exercia o cargo de Diretor do Arsenal de Marinha. Concluíu os estudos no Seminário Episcopal de Cuiabá, educandário fundado pelo Bispo José Antonio dos Reis, que na época era


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a única escola de ensino secundário da Província ! Com apenas 13 anos Murtinho, empreende uma longa e tortuosa viagem para o Rio de Janeiro - capital do Império, junto com os irmãos e matricula-se em 1861 no Colégio Kopke de Petrópolis, depois ingressa no Colégio Episcopal S. Pedro de Alcântara - "Colégio dos Padres Paiva" no Rio. Faz exames para a Escola Central – RJ, aprovado em 1865, aos 17 anos inicia engenharia civil. Perdendo a genitora para a peste da varíola – bexiga, a tristeza provocou um forte abalo na saúde, recolhendo-se na fazenda de um tio em Mendes - RJ buscando recobro da moléstia que o atingira, leu "Organon e Matéria Médica Pura" de S. Hahnemann, e conheceu a terapêutica homeopática. Entusiasmado com o sucesso da homeopatia, matricula-se na Faculdade de Medicina do RJ, mesmo estando na terceira série do curso de engenharia, no qual veio a formar-se no ano 1870. Inicia a carreira do magistério em 1872, e quando a Escola Central foi transformada na Escola Politécnica - 1874, torna-se o lente da cadeira de zoologia no curso de ciências físicas e naturais. Conclui medicina quando lecionava, em 1873, doutorarando-se com a tese "Do Estado Patológico em Geral: Acústica, Acupressura, Respiração", onde abre destaque para a orientação homeopática. A genialidade manifesta-se na sua cultura científica, pois indo além das ciências físicas e naturais, matemáticas, medicina, engenharia e direito; lecionou inúmeras disciplinas, a saber: geometria, álgebra, cálculo diferencial e integral, física experimental, mecânica racional e aplicada, química inorgânica e noções de mineralogia, meteorologia, botânica e zoologia, para encerrar … desenho ! Gerou proficientes estudos para a agricultura brasileira, ainda leciona biologia industrial até 1879. Assumiu a direção dos Anais da Medicina Homeopática entre os anos 1882/87, lastreado na vida academica, veio a ser um dos fundadores do Instituto Hahnemaniano do Brasil, na

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sua clínica formou prestígio, obteve dentre os ilustres clientes o Marechal Deodoro da Fonseca. O sucesso inicial consolidou-se através da medicina, em seu consultório no Bairro de Sta. Tereza, atendia pobres e ricos independente de metais / pagas, receitava até por carta, torna-se consenso ! A sua postura política externa-se mais efetivamente no último decênio do Império, sendo republicano e abolicionista, inovava soluções, pois gerou e apresentou um programa de reformas sociais visando fazer o aproveitamento da mão-de-obra, criando novas feições ao Brasil. Impregnavam quando fizera os seus estudos superiores, as filo-

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sofias cientificistas, "Positivismo" - teoria de Augusto Comte, raízes no "… pensamento livre como a respiração, convergindo todos para o Amor, o Bem Comum …", influenciaram as idéias do jovem Murtinho. "Evolucionismo" de Charles Darwin - "Evolução Biológica por Seleção Natural"; em definitivo o "Darwinismo Social", Herbert Spencer - aderindo à concepção da “Sobrevivência dos mais aptos”. Surgiu o autodidata ao aplicar esta base teórica, marcante na trajetória de sua vida. Assim, combinou os novos pressupostos com os da economia política clássica, que igualmente teve a oportunidade de conhecer como disciplina na Escola Central, assentando as bases do seu pensamento econômico, esta simbiose formou seu, original Liberalismo Econômico - desde 1870. Este o escopo das idéias básicas que o acompanhariam pelo resto da vida, como a não intervenção estatal direta na economia, apenas no aparelhamento da infraestrutura : na construção de ferrovias, no incremento dos meios de comunicação, e a ortodoxa posição no tocante à circulação monetária. Seus pensamentos foram expostos em 1878, ao diretor da Politécnica, o Visconde do Rio Branco. Com o advento da República em 1899, Murtinho ganha um considerável impulso com sua ascensão política, sendo em 1890 eleito para representar Mato Grosso no Senado Federal, oportunidade necessária para colocar em efetiva prática, os fundamentso liberais que fomentava. Nesta perspectiva mostra resultados de monta ao criar a primeira instituição bancária do Estado, explicitando seu apego, o Banco Rio e Mato Grosso, sede no Rio, agências em Cuiabá e Corumbá. Durante a gestão de Prudente J. de Morais, empossado em 15 de novembro 1894, Murtinho assume o Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, em 20 de novembro 1896. Estavam abertas as portas para a definitiva ascenção no cenário global que o imortalizou. – segue.

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JOAQUIM MURTINHO II

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política do Encilhamento, eleita no limiar da República por Deodoro da Fonseca, implantou-a o respeitável Ministro da Fazenda, ninguém menos que Rui Barbosa, Águia de Haia. Esta postura do proeminente jurista maior, consistia na descentralização das emissões monetárias resultando três regiões bancárias, acarretando outros bancos emissores, e mais ainda a substituição do lastro-ouro por títulos da dívida federal, seguindo a experiência financeira dos Estado Unidos. A expansão do sistema bancário atingiu até a nova lei sobre Sociedades Anônimas, através do Decreto 164 / 1890, através do qual as empresas com apenas 10 % do valor depositado, poderiam constituir uma S.A. - empresa de capital aberto, lançar suas Ações na Bolsa de Valores. Infelizmente, um dos resultados dessa política econômica foi a escalada da inflação e também gerou grandes vagas de especulações na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro no período 1890/91, e muitas empresas de fachada - "laranja", foram criadas apenas para ter os seus títulos negociados.


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Apenas o café face o cenário internacional, ainda gerava lucro ao setor interno agrário-exportador. Inúmeros foram opositores ao Encilhamento, destacou-se nesse contexto o Dr. Joaquim Murtinho, seguindo as idéias de Spencer – o Darwinismo Social, contra a interferência estatal na economia. A vitoriosa trajetória de Murtinho também se destacou como homem de negócios, com atividades bancárias ligadas à agroindústria da erva mate em MT, além da liderança política. Através sua interveniência a família torna-se proprietária da primeira instituição creditícia de MT. Sob a gestão do Titular, lançando mão de sua influência política no Estado, esse Banco adquire em 1892 as ações da vantajosa indústria ervateira do Comendador Thomás Laranjeiras, veterano da Guerra do Paraguai, pioneiro no ramo e possuidor do quase monopólio na produção do Estado. Visando controlar o negócio, foi criada a Companhia Matte Laranjeira, parcelando seu capital em 15 mil ações, as quais valiam $100 mil réis cada, sendo 14.540 pertencentes ao banco da família. Os vastos ervais nativos assentavam-se nas bacias dos rios Iguatemi e Amambai, a Cia. Laranjeira foi decisiva na fundação de Porto Murtinho e Guaíra - PR, para ter idéia do seu poder econômico, no auge, tinha um lucro seis vezes superior à completa arrecadação dos tributos de Mato Grosso ! Neste período exercia a inaugural senatoria da República, era ainda constituinte, quando escreveu um reconhecidamente e valoroso Parecer para a Comissão de Obras Públicas e Empresas Privadas, desta forma veio a impressionar Manuel Vitorino, o Presidente em exercício. Substituía Prudente de Morais, que havia se afastado devido grave enfermidade, este convida-o para o Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, assume em 20 novembro 1896, ficou até 1º de outubro 1897, enfrentou desde 1896 os efeitos da primeira crise de super produção cafeeira.

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Murtinho escreveu um Relatório sobre a participação na pasta, contrário à politica praticada, cujos efeitos batiam na porta, pugnava arrendar-se as estradas de ferro que eram pertencentes à União, aplicando os recursos provenientes dessas operações no resgate do papelmoeda de curso-forçado. Algumas dívidas eram originárias do Império, consistiam nos juros e amortizações de empréstimos, aos proprietários de ferrovias, a grande maioria estrangeiros, franceses e ingleses. Segundo os acordos celebrados, os reembolsos seriam em ouro, ou através divisas conversíveis. Os superávits comerciais crescentes haviam permitido que desde meados de 1850, o país honrasse seus encargos, contudo após 1894 iniciou-se um novo período quande houve declínio na Balança, e a jovem República não mais conseguiu cobrir os gastos do serviço, decorrente da dívida externa. Morais negocia com a Casa Rotschild, a suspensão, mas a London & River Plate Bank precedeu-a e veio ao Rio propor um plano cujo resultado era o Funding Loan - financiamento do empréstimo, visava o saneamento com resgate do papel moeda, reduzir despesas públicas e reforma tributária. Possuía aliados voláteis em MT, como Sen. Azeredo e Generoso Ponce, atuaram na deposição de Antônio Maria Coelho, afastado no dia 15 de fevereiro 1891, pelo Pres. Deodoro. A posse no Ministério da Fazenda, ampliou profundamente o raio para sua atuação no Estado, durante a Primeira República apenas rivalizou seu prestígio político com o Sen. Antônio Azeredo. Em 1899 afasta-se do clássico aliado Generoso Ponce, e juntamente com Antônio Paes de Barros - Totó Paes, lança feroz oposição, vencendo-o no confronto que findou com o cerco da Assembléia. Nas reviravoltas da política, face ao reatamento de relações com Ponce em 1906, Murtinho apoiou os embates contra o Presidente Totó Paes, terminando com o seu assassinato na região do Coxipó.

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Assumindo Manuel Ferraz ... Campos Sales em 15 de novembro 1898, J. Murtinho foi nomeado titular do Ministério da Fazenda, encarregado de solucionar uma delicada empreita. A missão seria administrar nossas finanças públicas e os desequilíbrios das políticas ineficazes de Rui Barbosa, e inação dos ministros-juristas precedentes que abrigaram o viés do Encilhamento. Seguiu à risca os termos do acordo, com arrimo nas suas idéias ortodoxos de equilíbrio monetário. Colho a isenta avaliação do Instituto Histórico e Geográfico ... "O Brasil estava em penosa situação financeira; o dr. Murtinho, apesar das muitas críticas, reergueu-lhe a economia, e deixou recursos ao dr. Rodrigues Alves, sucessor de Campos Sales, para obras de modernização do País." Em setembro 1902 deixa a Pasta para concorrer ao Senado por MT, sendo consagrado nas urnas, foi vice-presidênte da Casa 1905/06, renunciou ao cargo por discordar da política cambial do café, sendo reeleito Senador em 1907, permaneceu até 18 novembro 1911 no RJ, o final dos seus dias. Este grande filho da Pátria, médico, marcou a História como "O Saneador das Finanças do Brasil". ANTIGA SEDE DA EMPRESA ERVA MATE LARANJEIRA

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ANTONIO PAES DE BARROS - TOTÓ PAES

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rata-se inegavelmente de um realizador, dinâmico, era empresário de longa visão, sua Usina Itaicy, possuía energia elétrica antes mesmo de Cuiabá, não seria demais compará-lo ao Barão de Mauá, somado ao viés de um corajoso e bem sucedido político, razão da precoce morte. Nasceu em Cuiabá, em 15 de dezembro 1851, originário de família com estirpe, seu pai era o Comendador Joaquim Paes de Barros, mãe a Sra. Maria da Glória Vieira de Barros. O casal era proprietário de áreas rurais e além da Usina da Conceição, possuíam um comércio. Totó Paes desde tenra idade, junto aos seus irmãos colaboraram nos trabalhos da indústria supra, vindo a falecer seus genitores, com seu quinhão da herança, comprou as terras da sesmaria Itaicy. Atingido sua fase adulta, estava pronto para alçar a jornada da grande trajetória, afinal este lendário sonhador perscrutava altos vôos, que por sua determinada obstinação realizou, como erguer sua própria unidade fabril, não sendo suficiente os valores disponíveis, foi buscá-los. Neste encalço desloca-e para Buenos Aires, onde encontra o forte empresário alemão


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Otto Frank, que sendo cativado pelas suas idéias progressistas, concede-lhe os créditos necessários à empreita. Nesta viagem agregou outras enriquecedoras técnicas e sistemas de elevada produção ao constatar in loco a operação de usinas similares em Jujuí, acerca dos Andes e Tucumã, ambas na Argentina. Retornando para Mato Grosso, inicia em 11 de junho de 1896, a construção da imponente Itaicy, tornando realidade suas aspirações de soerguer uma usina modelo que chegou a ser a 4ª maior do país, estima-se que algo em torno de 1.000 homens participaram desse trabalho. A indústria era bem equipada, todo o seu potente maquinário veio da Alemanha, subiu o Paraguai, até chegar ao local, a 40 km do núcleo de Sto. Antônio do Leverger, na margem direita do Cuiabá. Foi construída no tempo recorde de apenas 14 meses, sendo inaugurada em 1º de setembro 1897. Possuía infraestrutura invejável até para os dias atuais, tinha capela, escola, armazém, farmácia, aulas de música para as crianças, logrando até realizar durante os fins de semana retretas no local. Chegou a ser uma cidade e abrigar algo em torno de 5.000 pessoas, foi o primeiro lugar no Estado a possuir energia elétrica, inovou mais, emitindo até moeda aceita na região a "Tarefa", 1/2, 1 e 2. Produzia açúcar de 1ª – refinado, 2ª - cristal, álcool e chachaça, moía 300 T de cana em 24 horas, Itaicy representou considerável

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parcela da economia estadual na transposição para o século XX, isto fruto da mente de Antonio Paes de Barros, "o precursor da industrialização em Mato Grosso." Apesar de inicialmente ser aliado ao Coronel da Guarda Nacional Generoso Ponce, a disputa pelo governo em 1899 caracterizou o ingresso de Antonio Paes de Barros nos confrontos oligárquicos de Mato Grosso, neste período Itaicy lhe emprestava a imagem de poderoso Coronel. O Partido Republicano cinde-se, os Correa da Costa e Sen. Azeredo apoiam o candidato de Ponce, João Félix Peixoto de Azevedo do Republicano Conservador; enquanto os Murtinho indicam para esse pleito, José Maria Metelo, pelo Republicano Constitucional, este apoiado por Antonio Paes. Apesar de Ponce obter vitória com a “Legião Floriano Peixoto” em 1892, a história não se repetiu. Antonio P. Barros, discordou da apuração na eleição havida em 1º de março 1899, devido a grande influência de Ponce, dando vitória para seu candidato João Félix P. de Azevedo. Em 10 de abril 1899 a Assembléia Legislativa deveria referendar as eleições e G. Ponce como Senador e Presidente da Casa, Antonio Paes ao comando de sua tropa a “Legião Campos Salles”, chegam dispostos na cidade, o grupo de Ponce não se armou, culminando no cerco da Assembléia. O governador eleito e Ponce redigem carta apelando ao patriotismo, que aceitariam os termos, Joaquim Murtinho responde que deviam anular a eleição ou as forças de Paes de Barros o fariam. Com a intermediação de Pedro Celestino, em 16 de abril assinam um acordo, anulando a eleição. Feitas novas eleições, Ponce retirou-se da capital, Totó Paes é que agora detinha o poder político. Antes de A. Paes chegar ao governo ocorreu um episódio de relevo ao desfecho. Em 1901 João Paes reunia em sua usina Conceição, 140 asilados políticos contrários ao governo, do qual seu

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irmão era aliado, sendo 16 presos recolhidos, estes foram mortos na Bacia do Garcez. Fato ocorrido em 04 de novembro, ficou conhecido como o Massacre do Garcez, imputado a Totó. Com supedâneo na Revolta de 1899, Antonio Paes chega a Deputado Estadual no triênio 1900/02, a carreira foi rápida, em fevereiro de 1903 elege-se para governo de MT até 1906. Em 1902 foi eleito Presidente Rodrigues Alves, em 1903 Antonio Paes o governo, sua gestão teve características progressistas para a época, cercado no primeiro escalão do governo por pessoas ligados ao meio cultural, escritores, jornalistas, advogados e diferenciados intelectais. Além de praticar a moralidade tanto econômica quanto política, financiou expedições científicas, criou a revista "O Archivo", ainda publicou a obra de Augusto Leverger, "Vias de Comunicação". Durante o governo envolve-se em 2 questões de fronteira, com o Amazonas, outra com a Bolívia, apoiando o Presidente contra os Murtinhos arruina sua aliança e sofreu intenso ataque dos jornais. Os Murtinhos agora unem-se a Ponce e aos Correa da Costa contra o governador, Antonio Paes está isolado, a população insuflada acompanha e ainda sente o Massacre do Garcez, inícia a Revolução de 1906, as tropas federais não chegam a tempo, as de Cuiabá ficam "neutras". Ponce reunira 1.800 homens, em 2 julho Totó abandona o governo e o vice assume, foi se refugiar no Coxipó do Ouro, na fábrica de pólvora, encontrava-se bem adoentado e não conseguia andar. A localização foi delatada por Damasceno Silva, em 06 julho 1906 APB foi morto com dois tiros. Antonio P. de Barros deixa viúva, a Sra. Úrsula Ângela de Oliveira com 5 filhos: Alice, Ana Clara, Aida, Miguel Ângelo e Sebastião de Barros, após sua morte Itaicy foi saqueada.

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GENEROSO PONCE

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rata-se inegavelmente de um realizador, dinâmico, era empresário de longa visão, sua Usina Itaicy, possuía energia elétrica antes mesmo de Cuiabá, não seria demais compará-lo ao Barão de Mauá, somado ao viés de um corajoso e bem sucedido político, razão da precoce morte. Era homem de extraordinária pujança e desde cedo aos 13 anos defende a Pátria, ao enganjar-se na Guerra do Paraguai, mostrando a coragem de um bravo militar, liderou tropas, o destino político do Estado, foi memorável jornalista, um incomparável carisma no século XIX. Um legítimo cuiabano de "chapa e cruz", filho do alferes José Ponce Martins e da Sra. Corsina Romana de Sousa, nascido no dia 10 de julho 1852, vive os primeiros anos no Forte Príncipe – da Beira, no rio Guaporé bacia Amazônica hoje Rondônia, seu pai era o comandante. Estudou no Seminário de Cuiabá, porém iniciada a invasão, em 1865 demonstrando muita atitude, alista-se como "Voluntário da Pátria" e segue para o cenário, retornando primeiro-sargento cadete. Após a Guerra do Paraguai - 1864/70, passou a se dedicar


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inicialmente à lavoura, logo após em 1870 ao comércio, trabalhando para Firmo José de Matos, o Barão de Casalvasco. Convulou no ano seguinte com Maria de Almeida de Sousa Ponce, gerando Palmiro e Adelina. Havendo enviuvado, Generoso voltou a casar-se em 1878 com a Sra. Mariana Vaz Guimarães. Esta segunda união acabou gerando uma extensa prole de 8 filhos, a saber: Josefina, Alice, Julieta, Leogilda, Carlinda, Nadir, Altamiro e finalmente Generoso Ponce Filho. A militância política inicia cedo impulsionando a carreira, veja-se que no Império, estava filiado ao Partido Liberal, chegando mesmo a ser deputado provincial de 1882 até 1889. Proclamada a República pelo Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, em 15 de novembro 1889, Ponce enganja-se no regime, funda o Partido Republicano em janeiro 1890, sendo logo eleito Deputado Estadual Constituinte. Promulgado a Constituição em agosto 1891, o partido fundado elege Manuel José Murtinho como 1º Presidente do Estado e 1º Vice-Presidente Generoso Ponce, parece que ciente da ebulição naqueles idos tempo, tinham 3 Vices, o último era Pedro Celestino ! Marechal Deodoro promove um golpe fechando o Congresso Nacional em 3 de novembro 1891, aliam 19 presidentes estaduais, devido fortes reações 20 dias após ele renuncia. Assumido o Vice-Presidente da República, Marechal Floriano Peixoto, seu primeiro ato foi afastar todos os governantes que haviam aderido a esse malfadado golpe, incluíndo-se o de Mato Grosso. Sendo tímido o apoio de Murtinho, permanece no cargo, todavia, inicia uma reação liderada pelo Gal. Antônio Maria Coelho e Major Antônio da Mota comandante do 21º Batalhão em Corumbá, culminando em 1º de fevereiro 1892, com a deposição do Presidente eleito Manuel José Murtinho. Na ocasião chegam a proclamar o Estado Livre de Mato Grosso,

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assume uma junta governativa permanecendo apenas por 2 dias no comando do Estado, logo assumindo o Coronel Pereira Leite. Consolidava-se a oposição a Murtinho em Cuiabá, alastrando-se ainda ao interior, por outro lado, nestes dias conturbados e de muita agitação, entra em cena outro vetor importante. A Câmara Municipal de Cuiabá, envia postulação ao Presidente Floriano Peixoto em que solicita, que abra mão de impor um nome e contrariar a vontade popular para evitar o derrame de sangue. Ante esse quadro, Generoso Pais Leme de Sousa Ponce resolveu como um grande líder que era, iniciar sua reação empenhada em defender a legalidade, mobiliza um exército de três mil homens, a que denominou “Legião Floriano Peixoto”, dividindo-o em unidades regulares sob sua chefia. Dessa forma, qual Napoleão, em 7 de maio 1892, à fren-

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te das tropas entra aclamado em Cuiabá, sendo o 1º Vice-Presidente, assume a chefia do governo, que em 20 de julho devolve a Murtinho. Assim volta-se a legalidade, recebe do Pres. Floriano o título honorário de "Coronel do Exército". Ponce em seguida retorna para Assembléia, muito ativo, inicia intenso trabalho na imprensa nesse mesmo ano de 1892, chegando a ser redator principal do jornal "O Mato Grosso". Cumpre até o fim seu mandato estadual em 1894, e dá outra salto na carreira elegendo-se Senador. Nesta sucessão de avanços em 1895 fundou o jornal "O Republicano", do qual veio a ser diretor. A senadoria exerceu no Rio de Janeiro - Distrito Federal, durante 3 oportunidades até o ano 1902. Muito ativo em 1905 voltou a eleger-se Deputado Estadual de MT, mandato suspenso em 1907. Em 1906 lidera revolta que finda com a morte do Presidente Antônio Pais de Barros - Totó Pais. Depois, substitui Pedro Leite Osório em 15 de agosto de 1907, e galga a Presidência do Estado, gestão que encerra em 12 de outubro 1908, em razão de haver adoecido, assume Pedro Celestino. Volta em 1909 eleito Deputado Federal, em maio assumiu uma cadeira na Câmara, onde sustenta forte campanha contra a administração do Lóide Brasileiro, empresa de navegação. Contudo, o gigante já vinha combalido apresentando saúde debilitada, mas exerceu este mandato até seus últimos dias, quando expirou no dia 7 de novembro 1911, ainda jovem aos 59 anos no RJ. O filho caçula seguiu seus passos, foi deputado constituinte em 1934, federal por MT em 2 vêzes. Verdade seja dita, em Mato Grosso houveram duas personalidades que dominaram o poder de forma inconteste durante as primeiras décadas em nossa República, Joaquim Murtinho e Generoso Ponce...

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PEDRO CELESTINO CORRÊA DA COSTA

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oi um homem pragmático de tradicional família de políticos, atingiu ao posto de Coronel do Exército, governou o Estado mais de uma vez, em momentos de graves conturbações políticas e da economia local, havendo deixado um marcante legado, nosso Palácio da Instrução ! Veio a este mundo em 5 de julho 1860, Pedro Celestino Corrêa da Costa, nascido no sítio Bom Jardim, localizado no município de Chapada dos Guimarães, sendo este o fruto da união civil entre o capitão Antônio Corrêa da Costa, com a Sra. Inês Maria Luísa da Silva Prado. Curiosamente, seu pai era homônimo do avô, A. C. C., sendo que este governara Mato Grosso, nos tempos da Província, décadas de 1830 e 40, tradição originada ainda no período da Regência. Começou os estudos no Seminário da Conceição em Cuiabá, mas ainda jovem aos 15 anos seguiu para o Rio de Janeiro, realizando o curso de farmácia na Faculdade de Medicina, forma em 1881. Retornando para Cuiabá, demonstrando seus pendores, em pouco tempo galga a presidência da Câmara Municipal da capital, em seguida duas vezes deputado estadual, prenúncio das vitórias. Desde seu primeiro mandato iniciado em 1891, cerrou fileiras


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com um outro baluarte da nossa história o Generoso Pais Leme de Sousa Ponce, companheiros desde o Império, que em 1890 fundara em Mato Grosso o Partido Republicano - PR. Sendo deputados constituintes, elaboram a Constituição que elegeu Presidente Manuel José Murtinho, membro de um outro poderoso clã. Esposou a Sra. Corina Novis Corrêa da Costa, gerando Ítrio e Fernando, ambos Corrêa da Costa, seu irmão mais velho Antônio, foi deputado federal em 1893, e Presidente entre 1895 até 1898 ! Seguindo Murtinho elegem 1º Vice-Presidente Generoso Ponce, 2º Vice José da Silva Rondon, e 3º Vice Pedro Celestino, índício do que estaria por vir. No final dessa década, manteve-se firme apoiando G. Ponce, até quando ele rompeu com a prestigiosa família Murtinho. A querela entre os velhos partidários culmina em 1899 com o cerco da Assembleia Legislativa pela “Legião Campos Sales”, liderada por Antônio Paes de Barros - Totó Pais, assegurando a eleição, posse do

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aspirante à Presidência apoiado pelos Murtinho, Antônio Pedro Alves de Barros. Em 1906 sempre como aliado de Ponce, lutou pela deposição do então Presidente Totó Paes, proprietario da usina de Itaici, que sucumbiu assassinado perto da fábrica de pólvora no Coxipó. Assume o segundo mandato na Assembléia de MT em 1908, mas logo em 12 de outubro galga a Presidência pela primeira vez, com a renúncia de Ponce, rivalizando com o grande Sen. Azeredo. Na esfera admistrativa encontrou dificuldades, estando o tesouro bem combalido, foi obrigado a duras medidas, como demitir servidores, cortar gastos, e rever incentivos inerentes à indústria da borracha, por entender que não havia retorno, ou atender os “interesses do Estado”. Sua gestão caracterizou-se por equilibrar as finanças do Estado e a obra do Palácio da Instrução, imaginou, iniciou um prédio à altura da Cuiabá moderna que sonhara, preparando os 200 anos !!! Celestino Corrêa na vida política, refuta com veemência as investidas do poderoso Sen. Francisco Azeredo que insistia em ocupar o espaço aberto com a saída de Generoso Ponce. Contudo, seu adversário demonstrou possuir mais prestígio e influência junto ao poder central. Insatisfeito com declínio do PR gerado por Ponce na alvorada da República, P. Celestino criou o Partido Republicano Mato-Grossense – PRMG, encerrando a presidência em 15 de agosto 1911. Logo após em 7 de novembro desse ano, falece o grande mentor, correligionário Generoso Ponce. Celestino fez seu sucessor, Joaquim A. Costa Marques, que presidiu MT até 1915. Sucedeu-o Caetano Manuel de Faria e Albuquerque, em uma notável vitória apoiado por Azeredo. Acirra a crise devido aproximação de Caetano ao PRMG e distribuir cargos a estes, atinge o ápice na Intervenção Federal em 9 de fevereiro 1917, do Pres. Venceslau Brás, um pleito do

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Senador. Depois do Interventor Camilo Soares de Moura, entra em cena o apaziguador D. Aquino Corrêa. Pedro Celestino elege-se senador em 1918, renunciando, assume pela segunda vez, a Presidência do Estado no dia 22 de janeiro 1922, sucedendo Dom Francisco de Aquino Corrêa. Esta eleição selou um ajuste político celebrado entre o PRMG e PRC, do poderoso Sen. Azeredo. Novamente enfrenta um caótico cenário financeiro, através de semelhantes contentoras medidas, suprime os gastos, pessoal e atestando a sua faceta de hábil administrador recupera a estabilidade. Apesar de assumir passivo de 5.320:000$000 - cinco bilhões e trezentos e vinte mil contos de réis, colheu 4.140:075$343 no exercício anterior, em razão de haver um declínio no ciclo da borracha, ainda meou esforços na luta armada, contra o Eng. Morbeck e garimpeiros em terras do Araguaia. Deteriorando-se a saúde, cedeu a cadeira ao Vice Estevão Alves Correa em 1º de novembro 1924. Recuperado, volta a eleger-se pela segunda vez Senador da Repúlica em 1927… e apesar de apoiar G. Vargas na eleição, perde o mandato com a Revolução de 24 de outubro 1930. Assim, retorna para vida particular, exercendo o papel de procurador da Empresa Mate Laranjeira. O sobrinho Mário Corrêa da Costa foi Presidente de MT, de 1926/30, e governador de 1935 a 37. Seu filho Ítrio elegeu-se Deputado Federal entre 1935 e 37, depois de 1955 até 67, Fernando foi Senador em 2 gestões 1959/61 e 1967/75, ainda Governador, também 2 vezes 1951/56 e 1961/66 ! Esta poderosa família viu-se desfalcar do grande líder, em 22 de janeiro 1932 no Rio de Janeiro. Seu nome cobre a vetusta Rua de Cima, onde havia o cine Bandeirantes, e do Jardim à Mandioca. A bisneta Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, Dep. Federal imortaliza ad eternum seus passos…

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SEN. AZEREDO, ANTÔNIO FRANCISCO

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m respeitável nome de político ético como existem pouquíssimos em nossos dias, saiu da esquecida Cuiabá vindo a se destacar no Rio de Janeiro - Capital Federal, antes mesmo de proclamarem a República, tinha amigos como Rui Barbosa: "de tanto ver triunfar as nulidades ..." Valor que ab initio transpôs o limite estadual, depois o nacional, reconhecido até na Europa onde granjeou o inconteste título de Comendador da Legião de Honra da França, olvidado na sua terra ! Filho de Ozéias Francisco de Azeredo e de Blandina de Figueiredo Azeredo, Antônio Francisco de Azeredo nasceu em Cuiabá no dia 22 de agosto 1861, ainda antes da guerra. Provinha de família simples, inicia estudos no Liceu Cuiabano, depois foi para o Rio de Janeiro, ingressando na Escola Militar onde pouco tempo permanece, entra depois na Escola Politécnica, mais tarde finda a formação, ao bacharelar-se na Faculdade de Direito no Rio de Janeiro em 1895. Contudo, a sua vocação nata era o jornalismo, desde antes de partir e até precoce, colaborava em jornais de Cuiabá, porém já nos tempos da Politécnica vinculara-se ao jornalismo. No Rio de Janeiro aproxima-se de ninguém menos que o baiano


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Rui Barbosa, seu mestre e amigo, que o leva para o 1º jornal republicano carioca, o “Tribuna Rosada” onde foi redator-secretário. Trabalhou na “Gazeta da Tarde”, de um outro baluarte José do Patrocínio, agora redator-principal. Seguindo trajetória fulminante, Azeredo em 1889 adquiriu o “Diário de Notícias”, entregando a redação à responsabilidade do parceiro, o maior expoente do jornalismo brasileiro, Rui Barbosa ! "Dize-me com quem andas, dir-te-ei quem és …" com estas amizades sua aguçada postura republicana era até natural, ainda abolicionista, notem que Patrocínio era filho de escrava. O jornal, era de se esperar, em pouco tempo seria um dos maiores e influentes no final do Império, exerceu papel relevante na proclamação da República, e promove o início de sua carreira política. Foi eleito deputado constituinte em 15 de setembro 1890 pelo Partido Republicano, que em Mato Grosso fora criado por Generoso Ponce, sendo empossado na instalação do Congresso Nacional. Assim, participou ativamente na elaboração da primeira Constituição Republicana em 1891, nesta exordial legislatura chega a ocupar o destacado cargo de 1º Secretário, finda o mandato em 1893. Sendo eleito senador em 1897, inicia a mais longa permanência no Senado Federal, ficando por mais de três décadas, enfrentou e venceu as crises políticas mais graves no Estado, usava da tribuna no intuito de apoiar partidários, dentre eles Generoso Pais Leme de Souza Ponce. Como é normal na política a luta pelo poder e interesses, utilizava seu prestígio das relações com a Presidência, e dos jornais que tinha influencia para garantir a hegemonia em MT. Com o amigo, líder político gaúcho Pinheiro Machado, fundou em 1910 o Partido Republicano Conservador – PRC, torna-se membro da comissão executiva deste, e persona das mais coroadas. O partido veio a ser criado no Estado em 1911, neste ano o Sen. Azeredo

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UBIRATÃ NASCENTES ALVES

teve decisiva influência na eleição do governador Joaquim Costa Marques, correligionário apoiado também por G. Ponce. Falecendo em 1911 Joaquim Murtinho, Antônio Azeredo ficou soberano em se falar de conexões do Poder Executivo Federal e Mato Grosso, não raro as escolhas das chapas decidiam-se no RJ. Assassinado em 1915 o "Condestável da República", Sen. Pinheiro Machado, com este mantinha forte elo político, o nosso Sen. Azeredo assume a vice-presidência do Senado, de 1915 até 1930 ! Nesse mesmo ano sustenta a candidatura do general Caetano de Albuquerque ao governo estadual, apoiado pelo PRC do Sen. Azeredo, sua oposição amealhou profunda derrota. As relações entre Caetano e o PRC começaram a se desgastar em razão de cargos distribuidos aos oposicionistas do Partido Republicano Mato-Grossense – PRMG, chefiado por Pedro Celestino. Participando

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incisivamente na questão, Sen. Antônio Azeredo logra obter do Pres. Venceslau Brás a Intervenção Federal no Estado em 1917, assumindo em 9 de fevereiro Camilo Soares de Moura. Permanece até 22 de janeiro 1918, ao ser escolhido por sufrágio o apaziguador D. Aquino Correa, fundador e Presidente Perpétuo do Instituto Histórico, da Academia de Letras seu Pres. de Honra. Azeredo foi ainda proprietário dos jornais "O Malho", e "A Tribuna", desta era o redator-chefe. Perde o mandato com a Revolução havida em 24 de outubro 1930, que fecha o Congresso do país, após este severo golpe apenas restou que seguir ao exílio na Europa, retornando anos mais tarde. Perseguido, a Rua que o contemplava, foi renomeada com o dia da Revolução … 24 de Outubro. Glória maior há na Escola Senador Azeredo, que orgulhosa enverga-lhe o nome, fundada em 1910 onde é hoje a Casa do Artesão, reunia ricos e os pobres do Porto cuja merenda era o "peixe frito", ficando este epiteto, ali estudou Eurico Gaspar Dutra, foi Diretora Maria Müller, outros famosos ! Teve ainda uma faceta como escritor, publicando : Voto divergente da Comissão de Constituição e Diplomacia sobre o Tratado de Petrópolis - 1904, A situação de Mato Grosso -1916, Discursos Parlamentares – 1925, Resposta ao senador Epitácio Pessoa sobre a sucessão presidencial e nomeação de juiz seccional de Mato Grosso – 1926, e a Invasão Paraguaia em MT. Finalmente, obteve por seus méritos, áureo reconhecimento até mesmo fora do país, sendo-lhe outorgado o grau de comendador na seleta Legião de Honra da França, outras condecorações em alguns países. Descansou em 8 de Março 1936 no Rio de Janeiro, bem cumprindo a longa missão.

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O MARECHAL E SERTANISTA RONDON

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história de sua vida poderia ser um grande fracasso, eis a prova de que através de uma força interna inabalável e determinação, apesar da humílima origem, tudo supera, conquistando honrarias singulares em nível nacional, internacional, e sacrado no Panteão dos Heróis da Pátria ! Nascido em Mimoso no dia 5 de maio de 1865 – início da Guerra do Paraguai, possuía predominante origem indígena, sendo os seus bisavós : paterno Guará / maternos Boróro e Terena. Filho de Cândido Mariano e Claudina Lucas Evangelista, seu pai faleceu sem conhecer o filho, logo mais tarde perderia também sua genitora !!! Em 1873 Cândido Mariano da Silva, foi levado por seu tio Manuel Rodrigues da Silva Rondon, que era Capitão da Guarda Nacional, para Cuiabá. Por gratidão, ele acrescentou o sobrenome Rondon, em homenagem ao seu bom tio que o educou. Inicialmente ingressou na Escola Mestre Cruz, no ano posterior na escola pública Prof. João B. de Albuquerque, em 1879 entrou para o Liceu Cuiabano, formando-se professor em 1881. Neste mesmo ano foi para a Escola Militar no Rio de Janeiro, alistando-se no 2º Regimento de Artilharia a Cavalo, pois além


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dos estudos serem gratuitos, os alunos assentando praça, recebiam o soldo de sargento. Nessa escalada em 1884 é matriculado na Escola Militar da Praia Vermelha, faz o primeiro curso de matemática, e foi apresentado ao positivismo através Benjamin Constant. É promovido em 1888 a alferes aluno, e matricula-se na recém criada Escola Superior de Guerra, realizando estudos de Ciências Físicas e Naturais. Juntamente com B. Constant, surge como abolicionista e participam de articulações que resultaram na proclamação da República Brasileira, Forma-se em 1890 Bel. em Ciências Físicas e Naturais na Escola Superior de Guerra, alçado a 2º Ten. de artilharia, professor de Astronomia, Mecânica Racional, Matemática Supe-

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UBIRATÃ NASCENTES ALVES

rior. Sendo designado para a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas de Cuiabá ao Araguaia, uma semana após, é promovido a 1º Tenente pelos serviços durante a proclamação da República. Agora já oficial reconhecido, estava apto a iniciar a venturosa carreira que o futuro lhe propiciou. Entre 1892 e 1898 ajudou a construir as linhas telegráficas de Mato Grosso a Goiás, entre Cuiabá e o Araguaia, ainda uma estrada ligando Cuiabá até Goiás. Veio a casar-se em 1º de fevereiro de 1892, e a 6 de março segue para Cuiabá com a esposa visando atender estas ordens. Celebrou núpcias com a Sra. Francisca Xavier, da união vieram 6 filhas em 1 único filho homem. O governo republicano preocupado com a região Centro-Oeste, isolada dos grandes centros, com extensa fronteira, decidiu melhorar as comunicações construindo linhas telegráficas. C.M.S.R. cumpriu a missão abrindo caminhos, desbravando sertões, lançando linhas telegráficas, realizou mapeamentos do terreno e particularmente estabelecendo cordiais relações com os índios. Fez aproximação com muitas tribos, entre elas os Boróros, Nhambiquara, Urupá, Jaru, Karipuna, Ariqueme, Boca Negra, Pacaás Novo, Macuporé, Guaraya, Macurapé; despontando o indigenista ! Chefiava na época 20 soldados, findo a missão volta ao Rio e assume docência na Escola Militar. Sendo nomeado Chefe do Distrito Telegráfico de Mato Grosso, agora constrói entre 1900 e 1906 as ligações telegráficas até Corumbá, alcançando as fronteiras do Paraguai e Bolívia. Nesse mesmo ano, encontrou as ruínas do Forte Príncipe da Beira, uma relíquia d’atual Rondônia. Em 1907, estando no posto de Major do Corpo de Engenheiros Militares, recebe tarefa penosa, construir nova linha, ligando Cuiabá até Santo Antônio do Madeira ... a primeira da Amazônia !!! Os trabalhos desenrolaram-se até 1915, a missão foi nominada "Comissão Rondon", neste período cons-

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truíam a E.F. Madeira Mamoré – Ferrovia do Diabo, por força do Tratado de Petrópolis 1903. Realizou ainda, expedições com foco de explorar a amazônica, obtendo repercussão internacional. O Presidente Nilo Peçanha em 2 de março 1910, convida Rondon para assumir a chefia do Serviço de Proteção ao índio que estava sendo criado. Foi atingido por uma flecha envenenada dos índios Nhambiquaras em setembro de 1913, salvo pela bandoleira de couro de sua espingarda. Fazendo valer seu lema, "Morrer se preciso for, matar um índio nunca", não houve revide algum. Recebeu em outubro, telegrama convocando-o sua ida ao Rio visando deliberar junto aos ministros da Viação, Guerra e do Exterior, a cerca de uma expedição conjunta à Amazônia, parceiro de Theodore Roosevelt, presidente americano ! Ele sugere explorarem o rio da Dúvida. Ainda em 1913, já coronel, acompanha a expedição com o antigo presidente dos Estados Unidos. Partiram em 21 de janeiro de Cáceres - MT, era a Expedição Científica Rondon-Roosevelt. Coletaram e registraram espécies da avifauna, outros animais - 481, mais a botânica; a incursão finda em 26 de abril de 1914 no encontro dos rios Aripuanã e Dúvida, agora rebatizado Roosevelt. Publicado no livro ... "Through the Brazilian Wilderness", algo tipo: Nas Selvas do Brasil, rsrsrs. O inquebrantável Rondon agora começa a colher os louros, também em 1913 veio a receber uma Medalha de Ouro por haver prestado 30 anos de bons serviços ao Exército Brasilero ! A Medalha Centenário de David Livingstone da Sociedade Geográfica Ameriana – 1918, no ano seguinte a Medalha do Explorers Club, e teve o nome inscrito em letras de ouro no Livro da SGA. Por fim, em 1919 promovido a Gal. de Brigada, agora diretor de Engenharia do Exército. Segue ...

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O MARECHAL E SERTANISTA RONDON II

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ememorando, ... galgando em 1919 ao posto de General de Brigada, assume a Diretoria de Engenharia do Exército, cargo em que permance até 1924 legando exaustiva obra, para melhor idéia, elaborou suas primeiras cartas geográficas cobrindo cerca de 500.000 km2 !!! Dedicou-se à construção de linhas telegráficas pelas vastidões isoladas do interior brasileiro, durante sua vida percorreu mais de 100 mil quilômetros entre rios e florestas, para ilustrar, inspecionou toda fronteira das Guianas até à Argentina, … fazendo-o pela terceira vez em 1930 ! Criou a expressão "Do Oiapoque ao Chuí", quando construiu linha que se estendia nacionalmente. Nascendo a filha Maria de Molina, estava levantando o rio Juruena, conheceu-a só 18 meses após. Rondon sem dúvidas foi o maior catalogador de etnias indígenas do Brasil, pacificando: os Parintintim - rio Madeira, Urubu - vale do rio Gurupi entre o Pará / Maranhão, Boróros – MT, Pareci – MT, Nhambiquara – MT estes 2 tidos como antropófagos; Botocudo – rio Doce entre MG / ES, Kaingáng – SP, Umotina – rios Sepotuba e Paraguai, Xavantes – rio das Mortes / MT.


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Foi o desbravador do interior do país, teve a visão para criar o Serviço de Proteção ao Índio – SPI, o seu primeiro encontro com os índios, alguns hostis outros escravos dos fazendeiros, ocorreram na construção das linhas que ligaram Mato Grosso a Goiás. Facilitando sua aproximação com os índios, utilizava de presentes que eram entregues a eles nos primeiros encontros. Ele falava várias línguas indígenas, os contatos eram objeto de relatórios, registrando as novas etnias identificadas. Sucedendo a Revolução de 1930, que afastou Washington Luís levando Getúlio Vargas ao poder, Rondon que não havia prestado apoio, para evitar qualquer retaliação, demite-se do SPI. Terminando a terceira e última inspeção das fronteiras internacionais, ao retornar dessa empreita, recusando-se em apoiar a Revolução de 30, foi preso em Porto Alegre pelo Cap. Góis Monteiro. Rondon requerendo sua reforma é liberto da prisão, depois autorizado a retomar os trabalhos com os mapas e relatório da Comissão de Inspeção de Fronteiras. Pronuncia em 1942 discurso em apoio de Getúlio "por este conduzir a bandeira política e administrativa da Marcha para o Oeste, visando ao alargamento do povoamento do sertão e de seu aproveitamento agropecuário com fundamentos econômicos mais sólidos e eficientes. Homenagem pela sua expressão de simpatia para com os indígenas e disposição de ocupar o vazio do território que permanecia despovoado." Algumas de outras atividades desenvolvidas ou homenagens recebidas por Rondon : - Em 1918, a povoação de Rio Vermelho veio a ser renomeado Rondonópolis em sua homenagem. - Promoveu em 1938 a paz entre a Colômbia e Peru que disputavam o mesmo território de Letícia. - Apresentou em 1952 ao Presidente, e aprovou projeto para criarem o Parque Indígena do Xingu. - Sob a inspiração direta

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de Rondom, Darcy Ribeiro fundou o Museu Nacional do Índio em 1953. - O Congresso Nacional visando homenagear o General Cândido Rondon, na data de seu aniversário de 90 anos, em 5 de maio de 1955, promove-o a posto de Marechal do nosso Exército. – O Território Federal do Guaporé, através da Lei Ordinária nº 2731/56, em fevereiro 17 de 1956, teve seu nome alterado para Território Federal de Rondônia, depois em 1981 Estado de Rondônia. - Em maio de 1956, Juarez Távora Ministro da Agricultura na era Getúlio Vargas escreveu : "Esclareço que o fato de haver oposto restrição quanto à oportunidade do empreendimento do Marechal Rondon, não significava desapreço

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pelo conjunto de sua obra sertanista - e aí incluo o nobre esforço de catequese leiga de nossos índios - Rondon foi sem dúvida grande, um pioneiro." – Foi indicado para receber o prêmio Nobel da Paz em 1957, pelo Explores Club de Nova Yorque. Após tantas andanças, malarias, exaurido em 19 de janeiro de 1958, faleceu o Marechal Cândido Rondon, aos 92 anos. Foi sepultado no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro. Oportuno evidenciar que era membro na teoria e prática positivista, fazendo seu credo : " … deixando o pensamento livre como a respiração, promover a Liga Religiosa, convergindo todos para o Amor, o Bem Comum, postas de lado as divergências que ficarão em cada um como questões de foro íntimo, sem perturbar a esplêndida unidade – que é a verdadeira felicidade. " Rondon recebeu, até hoje amealha reconhecimentos, louros de sua imorredoura obra … Empresta o seu nome ao Município criado em 1960 no Paraná, Mun. Marechal Cândido Rondon. Igualmente o projeto que levava estudantes ao interior do Brasil e prestavam trabalho voluntário. Também cede o nome a bairros, escolas, logradouros, Aeroportos e Rodovia Marechal Rondon. Homenageado em 1963, com o título de "Patrono da Arma de Comunicações do nosso Exército". O dia de sua nascença 5 de maio, torna-se Dia Nacional das Comunicações e Dia do Mal. Rondon. Seu rosto veio a estampar a nota de 1.000 cruzeiros, fato que merece ser lembrado e denota valor. O Meridiano 52 também é referência geográfica muito singular, pois apenas 2 homens no planeta, Greenwich e Rondon receberam a homenagem de ter um meridiano com seu nome, do AP até RS. Finalmente em 1º de julho de 2015, o Governo Federal determinou gravarem o nome do Marechal e Sertanista Rondon no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no respectivo Panteão em Brasília.

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EURICO GASPAR, DUTRA

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entre os vultos da nossa história vinha omitindo um personagem de imenso valor, como disse o reitor Gabrie Novis, um injustiçado, pois em casa perdeu a eleição para Presidente, os registros denotam o amor por sua terra natal, humildade de poucos, e destreza militar / política. Foi o 16º Presidente do Brasil, entre 1946 e 1951, entretanto, único oriundo do atual Mato Grosso. Veio ao mundo em 18 de maio 1883, filho da Sra. Maria Justina Dutra e Sr. José Florêncio Dutra, um modesto comerciante em Cuiabá, que fora veterano da Guerra do Paraguai. Cursou o primário em escola municipal dirigida pela Profª. Bernardina Riche, o secundários no Externato São Sebastião e no Liceu Cuiabano. Em 1901, com a idade de 18 anos, tentou alistar-se no Exército, disposto a seguir a carreira militar, mas a junta de saúde incapacitou-o, era franzino. Seu pai adulterou seu registro para 1885, e mais tarde apresentou-se na junta de Corumbá, sendo então aceito, pois o físico era compatível. Em março de 1902, deixou Cuiabá para se engajar na Escola Preparatória e de Tática do RS, em Rio Pardo; transferido-se a escola


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para Porto Alegre em 1903, onde após de ter sido sargenteante de sua companhia, findou os estudos no ano seguinte. Em abril de 1904, matricula-se na antiga Escola Militar do Brasil – EMB / Praia Vermelha, no RJ. Aderindo ao "Levante da Vacina", que fora imposta obrigatoramente; pegam em armas, mas são logo derrotados, fecham a EMB e são todos expulsos !!! Assim, volta acabrunhado para Cuiabá, após longos meses, foi anistiado em 6 de setembro 1905, reincluído no 24º Batalhão de Infantaria, em novembro já estava de novo na Escola Militar, agora situada em Realengo, suburbúbio do Rio. Em março de 1906, prestou os exames devidos, sendo aprovado, foi para o RS, agora já cadete da Escola de Guerra de Porto Alegre, colega de Pedro Aurélio de Góis Monteiro, seu futuro colega na alta cúpula militar. Neste período ombrearam com Getúlio Vargas, ex-aluno da Escola Preparatória e de Tática de Rio Pardo, uma vitoriosa campanha para o governo estadual. Foi declarado Aspirante-a-Oficial em fevereiro de 1908, servindo no 17º Regimento de Cavalaria, logo seguiu para a Escola de Artilharia e Engenharia, estudando mecânica, balística e metalurgia ! Era instrutor da Escola de Artilharia e Cavalaria em 1912, e até 1915, também de cavalaria na Escola Militar do Realengo, Escola Preparatória do Exército e Escola de Aplicação de Artilharia e Engenharia, tudo condensou nos livros "Exercícios de Quadros" e "Duas Táticas em Confronto", respectivamente em 1915/16, fazia comparativo do emprego da cavalaria por franceses e alemães. As promoções sucediam-se 2º Tenente em abril 1910, 1º Tenente em julho 1916. Após seleção, ingressa Escola e Estado-Maior do Exército - EME em 1917, que fechada em 1918, o faz voltar ao 1º Regimento de Cavalaria, reaberto o Curso por conta da vinda da Missão Militar Francesa – Gal. Maurice Gustave em 1920, segue os estudos, agora Capitão desde junho de 1921.

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UBIRATÃ NASCENTES ALVES

A eleição do Presidente Arthur Bernardes em 1º de março 1922, gerou forte reação popular, eclodindo em 5 de julho 1922, a conhecida revolta "Os 18 do Forte" – Copacabana / RJ. Dutra um legalista, no dia seguinte, ajudou a vencer os revoltosos, era o encarregado da artilharia. Ainda em 1922, fecha obtendo 1º Lugar, o curso do Estado Maior e com a rara menção très bien. Foi servir no 2º RCI em S. Borja - RS, mas retorna ao Rio em 1923, agora como adjunto do EME. O país vivenciava uma instabilidade política, nova insurreição tenentista "O Segundo 5 de Julho", os rebeldes tomaram a cidade de S. Paulo, é decretado estado de sítio e bairros são bombardeados. Dutra, sendo hábil oficial participou como agente de

EURICO GASPAR DUTRA ASSINANDO TERMO DE POSSE - 31 DE JANEIRO DE 1946

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ligação do EME com as tropas governistas, derrotando o baixo clero militar, que abandonou capital fugindo para o interior do estado, depois unidos aos revoltosos sulistas, formam a Coluna Prestes - 1925, peregrinos aliciantes d´esquerda. O Cap. Dutra em fevereiro 1925, foi designado a servir no estado-maior do Gal. Otávio Azeredo, chefe das forças que combatiam os rebeldes paulistas no Paraná, em Catanduva e Foz do Iguaçu. Foi promovido a Major em maio de 1927, sendo transferido para São Gabriel – RS, exercendo o comando do 9º RCI até 1928, retornando ao EME no Rio, em novembro desse ano. Em maio 1929, ascende a Tenente-Coronel, comandando o 15º RCI e a Escola de Cavalaria – RJ. Dutra não participou da Revolução de 1930, a qual levou Getúlio ao poder mantendo-se legalista, a penalização foi a sua transferência para comandar o longíncuo 11º RCI, sediado em Ponta Porã. Em dezembro de 1931, ele veio a ser elevado ao posto de Coronel, assumindo logo em seguida o comando do 4º Regimento de Cavalaria Divisionária - 4º RDC, sediado em Três Corações - MG. Nesse posto, colhe decisivas vitórias contra a "Revolução Constitucionalista" de 9 de julho 1832, ganhando admiração de Benjamim e Lutero - Vargas, irmão e filho do Presidente Getúlio Vargas. Dutra chegou a General-de-Brigada em 4 de outubro 1932, quando o designaram para comandar a 2ª Brigada de Infantaria - RJ, gozando moral elevada, ainda o elegem Presidente do Clube Militar. Nomeado General-de-Divisão em maio 1935, maior posto na época, assume o comando da 1º RM. Sufocou rapidamente à "Intentona Comunista" = intento de loucos, 23 de novembro 1935 no Rio, Natal e Recife, ocasião em que atuou junto ao conterrâneo Filinto Müller, e Gal. Góis Monteiro. Enfim, Vargas designa Eurico Gaspar Dutra em 5 de dezembro 1936, Ministro da Guerra !!! segue

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EURICO GASPAR, DUTRA II

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erfazendo uma longa e vitoriosa carreira, Dutra em 1936 chegara ao Ministério da Guerra, tornando-se comandante do Exército Brasileiro, este o cargo máximo que poderia almejar. Na sua gestão adotou medidas concretas, provendo as fileiras de armamento moderno e munições, depois incrementadas, ampliou o efetivo que era 38.000 homens em 1927, para 93.000 até 1940. Foi o ministro que mais tempo permaneceu nessa pasta, desde sua criação em 1808 por D. João VI. Dutra cumpriu papel decisivo no Ministério, com o Gal. Góis Monteiro apoiaram Getúlio Vargas, nos atos de conspiração e instauração do Estado Novo, em 10 de novembro 1937, calcado na repressão ao comunismo que provocou a grande fome de 1921, ainda a de 1932/34. Havendo neste ato culminado também, a implantação de uma nova constituição que legitimava os poderes absolutos de Vargas, e por ser inspirada na Carta da Polônia, foi apelidada de a "Polaca". Conteve ainda os levantes integralistas de março e maio 1938, liderados por Plínio Salgado que ao voltar da Itália, chegara influenciado pelas idéias facistas, e derrotado foi exilado para Portugal,


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onde conviveu junto aos intelectuais portugueses, próximos ao Estado Novo, de António Salazar ! E … Dutra a 29 de janeiro 1940, veio a receber a Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis de Portugal. Espocando Pearl Harbor, os Estado Unidos no dia seguinte, 8 de dezembro 1941, declara Guerra ao Japão, assim os demais países do Eixo - Alemanha e Itália, logo no próximo dia 11, declaram Guerra aos Americanos. Vargas reune o seu ministério e declara solidariedade aos USA, o Brasil rompeu suas relações diplomáticas com aqueles 3 países, apenas em 28 de janeiro 1942. Sendo logo após esta ruptura atendido o pleito de Vargas e Dutra, ambos de postura nacionalista perante F. Roosevelt, um na luta para implantar a siderurgia pesada ainda ausente no país - CSN, o segundo para o reforço do poder militar, revertendo a simpatia inicial do alinhamento germânico.

DUTRA COM DONA SANTINHA

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Em resposta, os navios: Baependi - 270, Araraqara - 131, Aníbal Benévolo - 150, Itagiba/Arará/Barcaça Jacira - 56, entre 15 e 19 de agosto 1942, são torpedeados e postos a pique pelo submarino U-507, ceifando 607 vidas, superando as mortes dos pracinhas na II Guerra - 443. A povo revoltado foi à rua, em grandes manifestações por várias capitais, no dia 22 o Governo decidiu pela guerra contra o Eixo, formalizada em 31 de agosto 1942, pelo Decreto-Lei nº 10.358. Dutra foi o responsável por organizar a Força Expedicionária Brasileira – FEB, após seu necessário treinamento, a primeira leva chegou a Nápoles – Itália, em 16 de junho 1944. Após a rendição da Alemanha em 8 de maio 1945, o prestígio do Ministro da Guerra ascendeu. Em agosto, ele abandona o cargo para disputar as eleições presidenciais, sendo substituído por Gal. Góis Monteiro, este depõe Vargas que cobiçava perenizar-se ao lançar ... "Queremos Vargas." Dutra pelo Partido Social Democrático – PSD, disputa o pleito com o Brigadeiro Eduardo Gomes - UDN, vencendo com 55% dos votos, assume a Presidência da Repúlica em 31 de janeiro 1946 ! Promulgou a nova Constituição em 18 de setembro 1946, bastante avançada para a época, um marco da democracia e liberdades individuais do cidadão, ampliou o voto para todas mulheres, ... Na Presidência até janeiro 1951, realizou antiga aspiração para o desenvolvimento indústrial do país, inaugurando a Cia. Siderúrgica Nacional – CSN, de Volta Redonda em 1946. Cuidou da instalação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco, beneficiando aquela região. Criou a Escola Superior de Guerra – ESG, voltada ao superior escalão de governo, militar e civil. Exinguiu o Partido Comunista Brasileiro e cassou os mandatos dos parlamentares deste partido; fechou os sindicatos e prendeu os sindicalistas que faziam oposição daninha ao governo federal. Rompeu nossas relações com a União Soviética, alinhando-se com os Estados Unidos da América.

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Ofereceu incentivos que favoreceram a instalação no país das grandes empresas estrangeiras. Criou por decreto o Serviço Social da Indústria – SESI, e do Serviço Social do Comércio – SESC. Veio a instalar o Plano SALTE, focado nas áreas de Saúde, Alimentação, Transportes e Energia, entretanto, com a falta de recursos para investimentos, poucas ações do plano viraram realidade. Construiu a rodovia BR – 2, a nova São Paulo ao Rio de Janeiro - atual Rodovia Presidente Dutra, pavimentada e com parte em pista dupla, igualmente a rodovia ligando a Bahia ao Rio de Janeiro. Durante seu governo foi criado o Estatuto do Petróleo, voltado para a instalação de refinarias nacionais e aquisição de navios petroleiros, embrião do que seria em 1953, a Petrobras Petróleo ! O Maracanã senhores torcedores, inaugurado para a Copa de 1950, também foi obra do Cuiabano. O então 2º Tenente Dutra, casou-se em 19 de fevereiro 1946, com a Sra. Carmela Teles Leite Dutra, nascida no Rio de Janeiro, advindo desta união 2 filhos Emília e Antônio. Lecionou nas escolas Ferreira Viana e Orsina da Fonseca. Seu epíteto "Santinha", católica devota, influiu no embargo aos jogos de azar, fundou Escola Normal no Rio e Hospital em Florianópolis. Vale destacar que nos idos de 1933, Dutra foi pioneiro diretor da Aviação Militar, iniciou unidades aéreas no Rio, S. Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, ensino da arma, e oficinas. Nasceu na antiga Rua Formosa, hoje Joaquim Murtinho, havia na casa da família de minha tia Oacy Pedroso, atrás do Palácio da Instrução, uma placa registrando o fato, que vi ainda menino. Faleceu pobre, no Rio de Janeiro, aos 91 anos, em 11 de junho 1974, jaz no São João Batista. Enquanto o governador gaba-se de na rua 24 de Outubro haverem nascido 3 chefes do Executivo, lembro que na minha, nasceu o nosso único Presidente, lamentavelmente por muitos esquecidos ...

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DOM FRANCISCO DE AQUINO CORRÊA

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ranscorria mansamente o ano de 1885, e nova fase auspiciosa surge para Mato Grosso, com a chegada ao mundo de outro menino, na chácara Bela Vista à beira do Cuiabá em 2 de abril. Ele não mudou o planeta, mas contribuiu para catapultar seu Estado Natal, um exemplo nacional ! Como sói acontecer em casos desta natureza, era filho caçula de um simplório casal : Antônio Tomás de Aquino Corrêa e Maria d’Aleluia Guadie Ley, sentiu logo cedo a perda do amor materno aos 7 anos. Possuía 2 irmães, Eulália e Regina que também escolheram a vida religiosa, enquanto o seu irmão Manuel ingressou na carreira militar, galgando até ao generalato. Mudando-se a família para a rua Nova, hoje avenida Dom Aquino, ficou na vizinhança do Colégio São Gonçalo, que veio a freqüentar, desde cedo manifestando seus incomuns valores sendo um aluno expoente, muito admirado pelos mestres e colegas. Findo os estudos preliminares, aos 17 anos ele chega ao Noviciado Salesiano, localizado no Patronato Santo Antônio do Coxipó. Mais adiante, aos 19 anos segue o caminho a "Cidade Eterna", onde durante 5 anos dedica-se ao estudo na consagrada


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Universidade Gregoriana de Roma. Não sendo aí diferente, doutorando-se em Filosofia e Teologia, recebe a nota máxima magna cum laude e conquista admiração da banca. Recebe a ordenação aos 24 anos - em 17 de janeiro de 1909, retornando para sua terra é recebido com glórias e pompas, a cidade muito orgulhosa do valoroso filho que finalmente volta. Exerce de início as funções de professor do Liceu São Gonçalo, decorridos apenas 2 anos diretor ! Nessa notável escalada em 12 de maio de 1912, lança a pedra fundamental do Santuário Nossa Sra. Auxiliadora. Depois através do Papa Pio X, aos 29 anos em 2 de abril 1914 – seu aniversário, obteve elevação ao episcopado, tornando-se o 1º Bispo Salesiano, ainda o mais novo do mundo !!! D. Aquino, ecoava até em Roma, tanto que o Papa Bento XV, confere o título de Conde Palatino.

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Estando Mato Grosso atravessando séria e profunda crise política, acalma os ânimos no célebre discurso onde pregava a Paz e o Perdão, surgindo como o apaziguador por todos acatado. Neste momento ascende a estrela do político, e com apenas 32 anos, em 11 de outubro de 1917, veio a ser proclamado Presidente do Estado, consolidando-se por ser qualificado um conciliador. Durante sua gestão no governo, foi criado o Brasão de Armas de MT , inaugurou modernidades na Capital como iluminação elétrica, assim como introduziu os primeiros automóveis nestas plagas, conduziu litígios de fronteira com outros estados, e promoveu as festas do bicentenário de Cuiabá. Nesta oportunidade foi pela primeira vez apresentado um poema seu ... "Canção Mato-grossense", musicado pelo maestro e Ten. PM Emílio Heine, que mais tarde em 1983 será o belo Hino de MT. Dom Aquino foi alçado ao Arcebispado de Cuiabá aos 16 de abril de 1922, tinha apenas 37 anos. Fluindo paralelamente às atividades clericais e políticas, atuou intensamente em instituições de caráter culturais, sendo um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de MT em 1919, depois em 1921 do Centro Matogrossense de Letras – futura Academia de Letras. Foi recebido como sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB, em 1926. Logo após em 9 de dezembro de 1926, elege-se membro da Academia Brasileira de Letras - ABL, concorrendo até com Pontes de Miranda na cadeira nº 34 antes de Lauro Müller, cuja posse foi deveras concorrida, presença até do Presidente da República Washington Luis e vários Ministros. Foi o 1º mato-grossense na ABL, esta solenidade ocorreu em dezembro 30 de 1927, tinha 42 anos. Possuía aguçada capacidade de articulação política, sua qualidade de orador habilidoso e as posições conservadoras no interior da Igreja Católica abriram a partir de 1930 as portas da aproxima-

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ção com o governo de Getúlio Vargas. O bom relacionamento do campo religioso e o regime varguista tornou a pessoa Arcebispo Dom Aquino Corrêa muito conhecida nacionalmente. Até mesmo sendo escolhido, como por exemplo em 1940, para celebrar a missa campal alusiva aos 10 anos do governo de Dornelles, decorrendo o estreitando das relações entre o Estado, Igreja. Esta empatia parece que produziu efeitos acima da casualidade, como a visita do primeiro Presidente da República à Cuiabá em 7 de agosto de 1941, no exato dia em que Vargas foi eleito para a cadeira nº 37 da Academia Brasileira de Letras, sendo Dom Aquino um dos seus anfitriões. Nesta oportunidade é recepcionado pelo interventor Júlio Strubring Müller, após restruturar a via central, recebe o nome atual ... Presidente Getúlio Vargas. Foi entregue ainda um pacote de obras : Palácio da Justiça, quartel do 16º Batalhão de Caçadores, energia, projeto da 1ª ponte do Cuiabá ! Dom Aquino era poeta plural, em 4 idiomas, intelectual, inteligente e muito inspirado. Deixou inúmeras peças literárias escritas: Odes, Terra Natal, A Flor d'Aleluia, Discursos, O Brasil Novo, Castro Alves e os Moços, Oração aos Soldados, Nova et Vetera, Cartas Pastorais, outros ... O poema “Véu de Noiva”, inspirado na beleza de Chapada originou o nome da famosa cachoeira ! Ainda em 1952, obtém uma dupla celebração as Bodas de Prata da Academia Brasileira, Bodas de Ouro da Vida Religiosa Salesiana, sendo lema de seu episcopado Sanctifica in Veritate. Faleceu em São Paulo no dia 22 de março de 1956, uma quinta-feira Santa, estando fraco dos rins. Por fim, sepultado com honras de chefe de Estado e Igreja, na Catedral Metropolitana de Cuiabá.

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VIRGÍLIO ALVES CORRÊA FILHO – 130 ANOS

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ealizou-se no dia no dia 21 de março o lançamento da Revista nº 79 do IHGMT, comemorativa dos 130 anos do nascimento de Virgílio Alves Corrêa Filho, merecedor de registro. Em uma rápida digressão histórica, vejamos igualmente as origens do nome desde a Roma antiga. Virgílio, poeta romano clássico, autor de obras vultuosas da literatura latina: Éclogas – Bucólicas, Geórgicas e ... Eneida, a mais famosa. Na Divina Comédia, guiou Dante pelo inferno e purgatório. Nestas plagas, nasceu também um gigante com tais valores, em 8 de janeiro 1887, filho de Virgílio Alves Corrêa e Inês Augusta Alves Corrêa. Iniciou sua jornada estudantil no Ateneu Cuiabano e no Liceu Cuiabano, o superior na Escola Politécnica do RJ, a capital Federal. Oportuno enfatizar sua extensa obra, de reconhecido valor tanto em nível nacional e internacional. Iniciando sua apresentação, verificamos ter sido sócio-fundador tanto do IHGMT como da AML, tal como o romano na poesia épica, pautou-se na forja da nossa identidade transcedendo o tempo; como a "bravura arrojada", herança dos bandeirantes rompendo as inóspitas selvas, feras


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e índios. Escreveu mais de … duzentas biografias, publicadas por ele mesmo, abordando personagens desta terra, nacionais e também do exterior, explicitando a faceta dos institutos históricos que pugna a elaborar-se biografias de homens e mulheres, para servirem como modelo de virtude aos pósteros. Neste prisma, no primeiro mundo a França, hábil em promover seus valores, tanto na literatura, quanto nas artes em geral, cria sua identidade nacional, tradição e cultura autóctone. Assim, grafado sua inicial produção ao estilo biográfico intitulado "Os Predecessores de Rondon" – 1928, enfatizando Silva Pontes - astrônomo, Lacerda e Almeida – matemático

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UBIRATÃ NASCENTES ALVES

e astrônomo, Ricardo Franco – engenheiro, militar, fundou o Forte de Coimbra; e Luis d’Alincourt – topógrafo. Foram eles demarcadores das fronteiras mato-grossenses no século XVIII, os primeiros colegas formados em Coimbra, receberam homenagem da cidade Pontes e Lacerda, o seguinte em grande inferioridade rechaçou ataque espanhol ao Forte, o último - demarcou fronteiras e fez estatísticas ! Muitos notáveis informes destes exploradores dos rios, de outra forma não haveriam como romper o tempo e chegar até nossos dias, negligenciando esforços heróicos, esse trabalho ficaria anônimo. Necessário valorizar a prata da casa, estimular esses atos de bravura, a determinação de Homens singulares que serviram de exemplo e ajudaram a criar uma personalidade de um povo altaneiro, talvez sem o registro destes feitos, até os passeios de 100.000 Km de Rondon, seriam mais curtos. Enquanto hoje, o prefeito é flagrado pondo $dindim$ no paletó em cena vexatória, e talvez ainda abafe essa maracutaia na câmara dos Horrores, pelos que deveriam nos representar. O nosso povo deve esmerar-se nos bons exemplos, seguir retilíneo, não como o supremo barraco, testemunhado pela Nação no embate ministerial, onde tentam soltar bandidos ao arrepio da Lei !!! Após uma década Virgílio volta ao cenáculo e publica "Galeria Mato-Grossense, composta de biografias distintas de quatro valorosos nomes, … exemplos éticos de elevada moral: Luis de Albuquerque M. P. Cáceres, Pedro Celestino, Joaquim Murtinho, e Augusto Leverger. Nesta ordem, segundo o enfoque certeiro de sua pena, o fronteiro que assegurou o domínio luso, governador e guia deste povo, o restaurador das finanças do Brasil, por fim o bretão cuiabanizado. Necessário observar, fato determinante para IHGMT e AML, quando o interventor Antonino Nena Gonçalves doou a Casa

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Barão de Melgaço para as Instituições Culturais supra, Virgílio Alves Corrêa Filho, Secretário Geral do Estado, proferiu o discurso no ato da entrega. Fato ocorrido no dia 23 de novembro 1930: "A memória da humanidade, volúvel e loureira …" Fez residência definitiva no Rio de Janeiro, recebendo convite, ingressou no Olimpo da historiografia em 22 de agosto 1931, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, criado por D. Pedro II, foi Secretário Geral longos anos e grande-benemérito em 16 de maio 1958. Sobejou ao participar de inúmeros Institutos, como IHG de São Paulo, Instituto Histórico do Ceará, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, IHG de Sergipe, e ao Instituto Paraguaio de Investigações Científicas. Era correspondente ainda de organismos internacionais de cultura tanto do México quanto Portugal. Escreveu uma infinidade de obras, dentre as quais registro : À Sombra dos Ervais Mato-Grossenses, Aspectos da Formação e Evolução do Brasil, Questões de Ensino, À Cata de Ouro e Diamantes, A Propósito do Boi Pantaneiro, Indústrias Mato-grossenses, e História do MT. Sua bibliografia completa, elaborou Pedro Tórtima, foi publicada no v. 148, nº 357, da R. IHGB. Orlando Valverde, discursando no IHGB assevera: "para estudar seriamente a História e a Geografia de Mato Grosso, não se pode ignorar a obra monumental Virgílio Alves Corrêa Filho, pois este legou ao Brasil um herança inestimável para a sua cultura e sua afirmação como povo." Provavelmente sua peça mais pungente seja o artigo "Ela", dedicado ao seu amor, casado com Edith Corrêa da Costa desde 19 de março 1912, que faleceu em 17 de setembro 1953. Expiriou nosso Plutarco das biografias, no Rio de Janeiro em 11 de setembro 1973.

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JOSÉ DE MESQUITA

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onsiderado a maior herança intelectual de Mato Grosso, era escritor, poeta, advogado, magistrado e historiador, tornou-se em razão de sua imensa obra um ícone singular, durante sua carreira ocupou cargos da maior relevância, ainda participou de instituições culturais. Natural de Diamantino nasceu em 10 de março 1892 sendo seus pais José Barnabé de Mesquita – Sênior, era advogado provisionado, escritor, abolicionista, e a Sra. Maria Cerqueira de Mesquita. Atravessou desde logo sérias agruras, seu genitor faleceu quando tinha apenas 5 meses de vida, provação esta que respondeu na mesma força que impeliu mais tarde sua pena, desde cedo labutou no comércio ajudando a sustentar o lar de sua genitora viúva, nem por issso descuidou do estudo ! Buscando futuro promissor, a família muda-se para Cuiabá, assim pode seguir o aprendizado no Liceu Salesiano São Gonçalo, completando o curso de Ciências e Letras em 1907. Determinado a formar-se em Direito, seguiu para São Paulo, logrando ingressar em uma das mais conceituadas escolas do país, em razão do forte ensino ministrado por uma plêiade de


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excelentes mestres que se dedicavam a poduzir uma sólida formação, na Faculdade de Direito de São Paulo. Obtendo com méritos o bacharelado em 1913, retorna para a terra natal, e inicia atuação como advogado e ministra aulas de português na Escola Normal de Cuiabá nos anos de 1914 e seguinte. Neste momento manifestam-se os primeiros escritos de uma produtiva veia literária, com artigos no Jornal do Comércio, na coluna Notas Paulistas, direção de Estevão de Mendonça ! Paralelamente, em outubro de 1915 foi nomeado Procurador-Geral do Estato, exercido até 1922, intercalando aquelas funções com a Diretoria da Secretaria de Governo nos anos de 1916 e 1918. Novos caminhos descortinam-se ao ingressar na magistratura em 1920, designado Juiz de Direito do Araguia, sendo promovido por merecimento em 1921 ao cargo de Desembargador do Tribunal.

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Concomitante, foi membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico de MT em 1919, sendo eleito seu Orador Perpétuo, somando suas forças com D. Aquino, seu meio irmão. Participou também na esfera de sócio-fundador, na criação do Centro Mattogrossense de Letras ocorrida em 22 maio, sendo instalada em 7 de setembro 1921, embrião que veio a ser mais tarde, em 15 de agosto 1932 a Academia Mato-Grossense de Letras nos moldes da Francesa e Brasileira. Vale ressaltar ter o acadêmico José de Mesquita, ocupante da cadeira nº 19, haver exercido o incrível mandato de 40 anos na Presidência da Academia da sua gênese até falecer em 22 de junho 1961 ! Retornando ao Desembargador, ascendeu ao posto máximo do Tribunal de Justiça, hoje exercido pelo MD Dr. Rui Ramos Ribeiro, vindo a presidí-lo de 1930 até 1940, uma década ! Sua participação ativa também se fez sentir extramuros, bem representando o nosso Judiciário nos anteprojetos de Constituição e Reforma Judiciária de 1927/28, nas Comissões Legislativas de 31, na Conferência Brasileira de Criminologia em 36, de relevante significância para o novo Código. Foi condecorado por Sua Santidade o Papa Pio XI com a ordem de São Silvestre em razão dos serviços prestados à Ação Católica em 1933, e mais adiante em 1960 pelo Ministro da Guerra Henrique Teixeira Lott com a Medalha do Pacificador, em razão dos serviços prestados à Pátria. Aposentou-se mais adiante em 1945, ainda exerceu o cargo de Secretário Geral do Território do Guaporé – Rondônia, convite do Governador dessa unidade federativa, Joaquim Vicente Rondon. Eleito membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 12 de maio 1937, alcança os píncaros da historiografia nacional, e publica oportunamente o seu discurso de posse " O sentido de brasilidade na história de Mato Grosso", obra que defende nossas lutas e os heróis.

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Deixou uma vastíssima obra literária, dentre contos, poesias, discursos e livros, excedendo ao número de 100 títulos !!! Entre os quais, os contos “A Cavalhada”, de 1928, “Espelho das Almas”, de 1932, e os poemas “Terra do Berço”, “Epopéia Mato-Grossense”, “Três Poemas da Saudade”, estes todos de 1945, depois no ano de 1949 escreveu “Poemas de Guaporé”. Ainda … "Elogio Histórico do Dr. Antônio Corrêa" – 1921, "Elogio Fúnebre do Gen. Dr. Caetano Manuel de Faria e Albuquerque" - 1926, "Um Paladino do Nacionalismo" - 1929, "O Taumaturgo do Sertão: Frei José Maria de Macerata" - Niterói em 1931, e Pela Boa Causa" – conferências … Foi ainda diretor do jornal "A Cruz", onde manteve durante muitos anos a seção de estudos históricos intitulada “Gente e Coisas de Antanho”, com inúmeros trabalhos publicados, produziu uma série “Genealogia Cuiabana”, com títulos de linhagem de famílias mato-grossenses. Pertenceu ao Grêmio Olavo Bilac, à Sociedade Literária Rui Barbosa e ao Grêmio Castro Alves todos de Cuiabá, à Academia Mineira de Letras, ao Centro de Cultura Intelectual de Campinas - SP, ao Instituto Riograndense de Letras, à Acad. de Ciências e Letras de São Paulo, à Acad. Carioca de Letras, ao IHG de SP, ao Instituto de Estudos Genealógicos e outros centros culturais. Este artigo foi palestra apresentada em 28.03.18 na E.E. José de Mesquita para + de 200 alunos …

O PRESIDENTE JOSÉ DE MESQUITA CONDUZINDO REUNIÃO DA ACADEMIA

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JÚLIO STRUBING MÜLLER

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udo iníciou com a vinda para Brasil do jovem médico Augusto Frederico Müller, nascido na Alemanha provavelmente em 1818, que entrando por Belém, subiu o rio Arinos até chegar em Diamatino. Este gerou Júlio Frederico Müller, que foi pai de uma seleta casta a saber : Frederica, Fenelon, Rita, Filinto e Júlio S. Müller – o único a incorporar o sobrenome Strubing. Hoje o clã espargiu, engenheiros, economistas, médico, até os campeões de judô Fenelon e David. Muitos poderiam merecer um artigo por seus marcantes feitos, desta feita abordarei o Homem da Ponte, pioneira ligação entre Cuiabá e Várzea Grande, tão próximas, e tão distantes ! Nasceu na fazenda Bom Jardim – Chapada, dia 6 de janeiro 1895, filho de Júlio Frederico Müller e Sra. Rita Teófila Corrêa da Costa Müller. Estudou no Colégio Salesiano de Cuiabá e formou-se em direito, sempre destacando-se como bom aluno, agora poderia enfrentar os desafios. A competência profissional manifestou-se cedo, exerceu várias funções públicas, sendo professor primário na Escola Modelo, foi ainda diretor do grupo escolar Barão de Poconé, naquela cidade e sendo versátil … lecionou alemão no Liceu Cuiaba-


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no, francês na Escola Normal Pedro Celestino. Casou aos 24 anos com a professora e poetisa Maria de Arruda Müller em 1919, gerando ditosa prole: Augusto Frederico, Hugo Filinto, Helena Júlia, Adelina Rita, Teresinha Mª, Júlio Federico. A primeira aparição em destaque na vida política ocorreu em função da Revolução de 1930, galgando desta feita a prefeitura da Capital, permanecendo no posto de alcaide até o ano de 1932. Seu irmão Filinto Müller, chefiou a polícia do Distrito Federal-RJ, na gestão Pres. Getúlio Vargas de 1933 a 42, Senador de 1947 a 51 e 1954 até 73, ao falecer na queda do avião em Orly-França; ainda seu outro irmão Fenelon Müller, Prefeito de Cuiabá e Interventor de Mato Grosso em 1935. No ano de 1933, ficou definido convocarem eleições para uma Assembleia Nacional Constituinte, formaram em todos estados partidos representando os objetivos doutrinários da Revolução de 30, aqui criaram o Partido Liberal Mato-Grossense, liderado pelo interventor Leônidas A. de Matos. Participando desde a fundação da sigla, Júlio Müller elege-se Deputado da Constituinte Estadual, que além da Constituição, iria escolher o Governador e também os 2 membros do Senado Federal. Angariando experiência, veio a ser Secretário-Geral do Estado nos governos dos Interventores, César de Mesquita Serva – outubro 1934 / março 35; e Fenelon Müller – março 1935 / agosto 35. Foi eleito pela Assembleia em 7 de setembro 1935, Mário Correia da Costa ... Governador de MT. Correia da Costa vindo a falecer em 13 de setembro 1937, o Legislativo estadual elegeu Júlio Strubing Müller para substituí-lo na chefia do Executivo estadual até 15 de agosto de 1939. Assumiu o cargo em 4 de outubro, permaneceu Governador constitucional por cerca de um mês, instaurado o Estado Novo em 10 de novembro, foram suspensos todos mandatos eletivos do país. Contudo, logo a 24 de novembro foi reconduzido, desta feita como Interventor Federal no Estado.

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Durante a sua auspiciosa gestão, a postura separatista no sul do Estado vinha acirrando-se, por certeira influência do irmão Filinto Müller, aquiesceu o Pres. Getúlio Vargas em promover um surto progressista através inúmeras obras públicas, para compensar o desequilíbrio e isolamento. Seguia a máxima do Estado Novo, "projeto nacional desenvolvimentista", abrangendo expansão populacional para o Centro-Oeste e Norte, intitulada como “Marcha para o Oeste", lucrou Cuiabá. Um pacote de obras para a Capital, foram entregues na gestão de Júlio Müller na visita entre 6 a 8 de agosto 1941 do Pres. Getúlio Vargas ao regressar da incursão realizada ao Paraguai. Vários prédios públicos em estilo art déco, foram inaugurados pelo Presidente

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... o Grande Hotel, Residência Oficial dos Governadores, Palácio da Justiça, Hotel Águas Quentes, Cine Teatro Cuiabá, Centro de Saúde do Estado, e a maior obra educacional até hoje feita no Estado o "Liceu Cuiabano." Não esquecendo o prédio do 16º Batalhão de Caçadores, e concretagem da avenida Getúlio Vargas. D. Aquino, orador sacro de Vargas, aqui informa-o da eleição para a Academia Brasileira de Letras. As realizações na gestão Júlio Müller não pararam, fundou o Departamento Estadual de Estatística, o Departamento de Saúde Pública e realizou a completa reforma da Imprensa Oficial do Estado. Contudo, a pérola de suas concretizações, gravada com seu próprio nome foi a 1ª Ligação Cuiabá – Várzea Gde, a ponte em concreto "Bel. Júlio Müller", com 224 m x 6 m de pista e 40 m de vão para navegação, inaugurada no dia 20 de janeiro 1942 como reportado em "O Estado de Mato Grosso”. Construiu ainda a Estação de Tratamento de Água, Campo de Aviação onde é hoje a Vila Militar, executou o levantamento da Planta Cadastral e o Plano de Expansão e Urbanização da Cidade !!! Por outro lado, sua esposa, a confreira Maria de Arruda Müller – cadeira nº 7 da Academia Estadual de Letras, fundou o Abrigo dos Velhos e das Crianças de Cuiabá, ainda a Sociedade de Proteção à Maternidade e Infância, além de ter ampla atuação no Conselho Estadual da LBA/MT. Este ciclo foi marcado através efetivo progresso econômico, em administração pautada na tranqüilidade política e nas várias obras, benefícios e serviços que prestou à Cuiabá e a todo MT. Restaurou as finanças estaduais, isso apenas se tornou possível, pela força política que tinha junto ao Governo Federal, como sua dignidade e seriedade do seu caráter, facultando-lhe real prestígio ! Deposto Vargas em 9 de outubro 1945, após 5 dias, Júlio S. Müller deixa sua interventoria. Dedica-se ao empreendedorismo e pecuária na região de Várzea Gde, falece em 4 de março 1977.

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A CENTENÁRIA PROFESSORA, MARIA MÜLLER

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esta memória popular que se apaga conforme o soprar dos mornos ventos, de bom alvitre reverenciar a brilhante existência, digna de ser a rainha das professoras que travou uma secular, pacífica luta em favor da educação e letras, escreveu desde poesias a livros, levou uma vida exemplar. Teve por ascendentes nobres estirpes como de seu avô Generoso Ponce, que mesmo aos 13 anos lutou na Guerra do Paraguai, depois foi governador; seu pai era proprietário da Usina das Flexas no rio Cuiabá Abaixo, o Cel. João Pedro de Arruda e sendo genitora a Sra. Adelina Ponce de Arruda. Viu a luz nesta urbe em dezembro 9 de 1898, sendo o nome inicial Maria Ponce de Arruda. Havendo como prioridade os estudos, recebe educação desde cedo no próprio ambiente familiar, desta forma precoce, já aos 5 anos estava alfabetizada e a seguir inicia-se na boa prática da leitura. Os resultados surgiram prontamente, logo aos 16 anos exerceu a cátedra na condição de "adjunta" na Escola Normal “D. Ester Zoron”, adiante veio a concluir seu magistério na “Pedro Celestino”. A estréia no mundo literário inicia efetivamente em 1916, aos 17


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anos ao publicar no jornal “O Povo” um artigo intitulado “Baia de Chacororé” e jamais deixou de escrever, fruto do preparo desde o alvorecer ao receber de seu avô Generoso, livros para habitual leitura da pequena Maria. Publicou artigos em vários jornais, "A Folha da Serra" - Campo Grande, "O Cruzeiro" e "A Cruz". Adquirindo experiência em 26 de novembro 1916 na companhia de outras mulheres ativas nas letras, fundaram o pioneiro Grêmio Literário “Júlia Lopes”, ... a literata idealizora da atual Academia Brasileira de Letras, reunindo a intelectualidade feminina e que operou até o ano 1950. Inicialmente foi a Presidente Leonor Borralho, Vice Maria Luíza Pimenta; 1ª Secretária Maria Ponce de Arruda sendo a Tesoureira Maria Dimpina de Arruda Lobo. As primeiras redatoras da Violeta foram Thereza de Arruda Lobo, Regina da Silva Prado, Mariana Póvoas e Bartira de Mendonça. Portanto, ainda aos 18 anos incompletos, fez parte de seleta plêiade na associação que depois presidiu e manteve a circulação da revista “A Violeta”, durante 34 anos produzindo 309 edições ! Logo após Cuiabá completar 200 anos, em 26 de abril 1919 celebra núpcias com o futuro deputado estadual Dr. Júlio Strubing Müller, que viria a ser Interventor, equivalente a governador. Gerou um clã de primeira grandeza, que se espairou em todos escalões obtendo firmes resultados. A sua atuação como professora foi emblemática, iniciando adolescente e depois graduada, lecionou em inúmeros estabelecimentos, assim como na sua própria Escola Normal Pedro Celestino, no colégio de Poconé onde o esposo foi mestre e diretor, indo na lua de mel até lá em carro de boi. Ainda no famoso Grupo Senador Azeredo, conhecido por "Peixe Frito" em razão da merenda, neste prédio funcionou a Casa do Artesão, onde ela posteriormente veio a se tornar também diretora. Entretanto, o amor pela educação foi a mais importante lição ensinada

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pela rainha Maria Müller, dedicou 76 anos da vida aos alunos, deixou as salas de aulas aos 96 anos e por questões de saúde ! Transcorrendo o ápice da sua pena, diversificou em estilos diferenciados desde ... poesias, crônicas, contos, discursos, trovas e ainda ficcionais, assinados com alônimos vários tipo: Sara, Lucrécia, Ofélia, Mary, Chloé, Vampira, Consuelo e Vespertina, além do usar seu próprio nome. No fértil período de letras realiza conquista singular, a primeira mulher a ingressar na Academia Mato-Grossense de Letras, a segunda em todo país, cadeira nº 7 e posse em 26 de janeiro 1931. Igualmente nesse interregno, desponta como líder feminina ao erguer uma pioneira bandeira em prol do voto das mulheres, outra vitória que foi reconhecida através da Constituição Federal de 1934, ainda conclamou todas mulheres mato-grossesnses reticentes para se inscreverem como eleitoras. Ascendendo o esposo Júlio Müller, ao cargo de Interventor Estadual entre os anos 1937-45, trabalhos de maior relevância pode realizar em benefício da simplória sociedade, apesar de como 1ª Dama ser discreta, entretanto deveras participativa, através idéias, planejamento e de realizações. Ela fundou em 1940 o "Abrigo Bom Jesus", para crianças carentes e mais o "Abrigo dos Velhos". Depois no ano de 1942, Maria Müller presidiu a Legião Brasileira de Assistência - MT, havendo nesse período prestado apoio para as famílias dos pracinhas em luta durante a 2ª Guerra Mundial. Foi também uma das fundadoras da Federação Mato-grossense pelo Progresso Feminino e ... Sociedade de Proteção a Maternidade e a Infância de Cuiabá, mais conhecido por Hospital Geral. Um longo pacote de obras, foi entregue na visita de Getúlio Vargas em 6 a 8 de agosto 1941. O Palácio da Justiça, Grande Hotel, a Residência Oficial dos Governadores, Hotel Águas Quentes, Cine Teatro, Centro de Saúde, outros e a maior realização educacional até a data, o “Liceu Cuiabano”. Ainda mais, por intercessão fundamental

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desta 1ª Dama, o 16º Batalhão de Caçadores do Exército, veio a ser instalado em Cuiabá, havia uma forte corrente que ansiava levá-lo para Campo Grande. Finalmente seu esposo entregou a 1ª ponte de concreto sobre o Rio Cuiabá em 20 de janeiro 1942. O reconhecimento dos trabalhos ultrapassaram nossas fronteiras, pois veio a receber em 1952, o Diploma de “Miembro de Honor” pela Associazione Internazionale-Pro-Pace de Salerno - Itália. Logo em 1953, o Diploma de “Miembro Corriespondiente” pelo centro filosófico “Arca Del Sur” da República Oriental del Uruguai e “Diploma de Honor” do Conselho superior de Cultura do “Instituto Y Biblioteca Panamericana” da Argentina, dentre mais honrarias que lhe conferiram. Amealhou todas condecorações do Poder Executivo estadual, por igual as do Poder Legislativo, mais diversas Moções de Congratulações e sua maior honra, receber a comenda “Filinto Müller”. A presença literata nos brindou de início em 1972, com uma obra sobre a "Família Arruda". Alguns tempo depois, em 1994, aos 96 anos em parceria com a musicista e poetisa Dunga Rodrigues nos oferece outro livro "Cuiabá ao longo de 100 anos", apresentação do imortal Lenine Póvoas. Logo após em 1998, para celebrar o centenário de existência em alto estilo, veio a publicar uma agradável obra "Sons Longínquos", poemas selecionados de quando rompiam-se os preconceitos. A sua vida e lavra, guindaram-na a membro honorário do Instituto Histórico e Geográfico de MT. Entre outras homenagens esparsas, somamam-se da magistratura que prestou deferências ao reconhecer as lutas pioneiras por direitos, assim em 1992 o TRE na gestão do Des. Odiles Souza, por ser das primeiras mulheres a possuir título de eleitor, por votar e a mobilização nesse sentido. Sua atuação lhe propiciou outra significativa homenagem, um das escolas mais tradicionais de Cuiabá, o Colégio Estadual de Mato Grosso, de-

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pois Liceu Cuiabano, veio a ser rebatizado como Liceu Cuiabano “Maria de Arruda Müller”. Tem o retrato na galeria da saudade, organizado pela Presidente Eunice Weaver, na sede - RJ, por haver fundado a Sociedade dos Lázaros em Cuiabá. A obstinação pela cátedra levou-a a dar mostras inquestionáveis da imensa força de vontade, mesmo aos 95 anos de vida, apresentou-se como voluntária no bairro Bela Vista para alfabetização de adultos ao obter notável resultado, pois ensinou a ler e grafar uma de suas alunas com 80 anos ! A professora Maria Müller, no centenário de sua existência oferece uma profícua lição para todas as faixas etárias de nossa coletividade, celebrou com a seguinte frase os festejos do seu aniversário: “Ser plenamente realizada é poder junto a vocês, reviver meus 100 anos em um dia”. Quando ela veio a prestar declarações para a revista “Acontece”, Ano 4 - nº 11 em janeiro de 1999, revelou um dos segredos da longa vida ... “Estar em Comunhão com a paz espiritual do Universo”. O maior galardão por tantas décadas na incansável labuta professoral, ocorreu em 2002, quando o próprio Ministro da Educação - Paulo Renato de Souza, veio até sua casa entregar-lhe a medalha da Ordem Nacional do Mérito Educativo, criada em 1955 pelo presidente Café Filho. Comenda outorgada a marcantes personalidades que realizaram serviços excepcionais à educação, e a Imortal Maria de A. Müller tornou-se não Rainha, mas a "Professora do Brasil" aos 103 anos, esse fato teve imensa repercussão nacional e diversos jornalistas do país vieram para entrevistá-la. Aproveito aqui para deixar também o meu depoimento, ... nessa época era secretário-geral da academia e certa vez recebi um bilhete de sua cuidadora, de início pensei tratar-se só de um trote, mas comecei a entender ao ver no alvo envelope a remetente, ficando de pronto em mais sentido. Letra trêmula, mas ao melhor estilo ca-

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lígrafo, pedia ao Sr. Secretário indicar eventual pendência na tesouraria, curioso o inabalável senso de responsabilidade, pessoalmente levei a vazia resposta. Havendo ressuscitado o chá acadêmico, guarnecido com bolo de queijo, arroz e salgadinhos finos, levo uma mostra dos tira-gostos e por essa atenção, foi tratado como fidalgo o "escriba das atas", mais outras indagações recebi, respondia com notícias das reuniões e quitutes, até findar a gestão. Maria Müller foi esposa, mãe, avó, bisavó e tataravó, gerou 7 filhos: Elen Maria, Augusto Frederico, Hugo Filinto, Helena Julia, Adelina Rita, Terezinha, Julio Frederico Neto, que lhe deram 23 netos, foram 57 bisnetos e 5 tataranetos, totalizando uma extensa descendência de 92 pessoas ! Cerrou definitivamente os olhos em dezembro 4 de 2003 bem próximo de fechar 105 anos, no Hospital Sta. Rosa de infarto às 9:30 horas, deixando órfãos os alunos, filhos do seu intelecto. Entrando agora na história, nos delega um formidável exemplo de vida para as gerações pósteras. Sensibilizada a governadora interina Sra. Iraci França decretou luto oficial no Estado durante 3 dias, seu corpo enfim descansa no Cemitério da Piedade, vizinho ao casarão onde, por último morava ...

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ASPIRAÇÃO . Bojando a vela sobre o mar sem alma, Vai, asa branca, ao ritmo do vento. Circunfletindo, oscila e corta a espalma Imensidão que espelha o firmamento. . No ar rarefeito treme a leve palma... Se a tempestade vier, o oceano é cruento... E ela não sente quando a tarde é calma, Insídias de borrasca em céu sedento. . Quisera ver minha alma - neste instante Como a vela boiar, e se sumindo No horizonte, indo além, bem mais distante... . E indo a vogar meu pensamento com ela, Livre da ronda das paixões (que lindo!) Como a alvura que aclara a branca vela. Em “Sons Longínquos” 1998

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FILINTO MÜLLER

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oi um político destemido abnegado que teve papel marcante no cenário nacional, proeminente contestador da Repúlica Velha - até 1930, grande admirador do Pres. Getúlio Vargas, atacado pelos contrários, estimado pelos que o conheceram de perto, defensor dos conterrâneos. Nascido em Cuiabá no dia 11 de julho 1900, seu pai era o comerciante Júlio Frederico Müller e mãe a Sra. Rita Teófila Correia da Costa Müller, iniciou-se nos estudos com professor particular, depois ingressa no Grupo Escolar de Cuiabá, onde concluí o curso primário. No período da República Velha, seu genitor ocupou diversas vezes a intendência municipal - Prefeito, posto ocupado por seu irmão Fenelon Müller, que em 1935 foi Interventor Federal - governador, também o irmão Júlio Muller, esse mesmo cargo no tempo do Estado Novo 1937-45. Realizou os estudos secundários nos Liceus Salesiano São Gonçalo e Cuiabano, entrando noviço, aos 17 anos na vida laboral, atuou como auxiliar de revisor na Imprensa Oficial do Estado / MT.


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Em 1917 participou de treinamento bélico junto ao Exército Brasileiro, seguindo em 1919 para o Rio de Janeiro - DF, ingressou em 1º lugar na Artilharia da Escola Militar para oficiais de Realengo.

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Neste local veio a conhecer jovens cadetes muito ligados à vida política nacional, contra a já existente corrupção, fim do voto aberto de cabresto e por reforma na educação pública. Declarado aspirante-a-oficial da arma de artilharia em janeiro de 1922, obteve o 1º lugar da turma. Filinto classificado para servir no 1º Regimento de Artilharia Montada - 1º RAM, sediado no Rio, logo após foi acusado de haver atuado nos preparativos atos insurrecionais, contra o fechamento do Clube Militar e a prisão do Mal. Hermes, decretados por Epitácio Pessoa, ficou preso 5 mêses. Depois servindo em Quitaúna - SP, volta a participar em 1924 das lutas tenentistas, desta feita exerce papel ativo na ocupação da capital São Paulo pelos rebeldes, durou 3 semanas. Verificando ser impossível resistir ao incisivo cerco das forças legalistas, juntou-se à retirada em direção ao Paraná, exilando-se na Argentina. Entretanto, a grande parte desses rebeldes paulistas, junta-se aos militares gaúchos que haviam também se revoltado, criando assim a Coluna Prestes. Müller retorna depois ao Brasil em 1927, desta feita amarga o cárcere por cerca de 2 anos e meio. Teve leve atuação na Revolução de 30 que encerrou a República Velha e conduz Vargas ao poder. Instalado o novo regime, torna-se oficial-de-gabinete do Ministro da Guerra, Gal. Leite de Castro. Chega ao posto de Ch. de Polícia do Distrito Federal em abril 1932 e fica por quase uma década. O avanço da Aliança Nacional Libertadora – ANL, formada por várias tendências políticas, acelerou a 1ª Lei de Segurança Nacional promulgada em abril 1935, que levou-a para ilegalidade, pois os comunistas preparavam uma insurreição armada com vistas a tomar o poder. A "Intentona Comunista", o termo significa plano insensato, na seqüência a 23 de novembro 1935 em Natal pelos sargentos, cabos e soldados, dia 24 em Recife, sendo 27 no Rio de Janeiro na Escola de Aviação Militar no Campo dos Afonsos e 3º Regimento

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de Infantaria - Praia Vermelha. Haviam infiltrados no PCB, assim Filinto informou os comandos militares e rapidamente sufocam a revolta, no relatório apresenta um decálogo de medidas constitucionais para coibir, bem atuais ! Transpoz intensa agitação nacional ... a promulgação da Constituição de 1934, Revolta Comunista - supra, a decretação do Estado Novo de 1937, a Revolta Integralista em 1938. Seguramente não deixou saudades para a esquerda, que arcou prejuízos e no choro livre o deplora. Era estudioso, bacharelou em Direito pela Universidade Federal Fluminense em Niterói em 1938. Ressoou o caso da judia alemã Olga Benário, espiã comunista, mulher de Prestes, que por uma ordem de Vargas veio a ser deportada para Alemanha nazista, executada em 1942. Encontraram-se na Rússia, por decisão do Komintern, organização internacional criada por Lenin, tinham a missão de fomentar a Revolução Comunista no Brasil, impor a ditadura do proletariado, ingressam no Brasil com nomes falsos Antônio Vilar e Maria Bergner em 15 de abril 1936 pelo RJ. Ele transformado em paladino, mas no livro "O Avesso da Lenda" - Artes e Ofícios, sua autora Eliane Brum que refez o trajeto percorrido nos relata os assassinatos, estupros, saques, roubos, praticados pela tropa que se arvorou em defender interesse, que nem eles mesmo sabiam qual era. Olga Benário, foi quem autorizou a morte da menor Elvira Cupello Colônio, por suspeita de traí-los após ser condenada pelo tribunal vermelho, afinal superior ao marido; Elvira objeto da lascívia de "Miranda", Secretário-Geral do PCB, conheceu-a em reuniões na própria casa da adolescente. Acontece que a esquerda aparelhou a mídia, constrói heróis com pés de barro, repetindo a mentira. Em julho 1942, aberta uma crise estudantil, Filinto pede exoneração, tecendo elogiososa gratidão acolhida por Vargas, torna-se oficial-de-Gabinete do Min. da Guerra E. G. Dutra. No

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mês seguinte o Brasil declara Guerra aos países do Eixo, dias agitados de profundas disputas. A política reformista encetadas por Vargas, não logrou afastar a crise do Estado Novo, nem sua queda em outubro de 1945 por uma revolta militar liderada pelos generais Dutra e Góis Monteiro. Filinto Müller foi para a reserva no posto de tenente-coronel em setembro de 1946. Surge o político ... iniciado o processo de redemocratização do país, foi um dos fundadores PSD. Elegeu-se 4 vezes Senador por Mato Grosso, primeiramente em 1947 e retorna ao cargo em 1955. Destacou-se após na terceira eleição em 1962, exercendo a liderança do PSD e do governo de JK. Reeleito em 1970, ocupou a liderança da Arena e do governo no Senado, bem como a presidência nacional do partido, em 1973 assumiu a presidência do Senado, culminando sua vitoriosa carreira. Há no Senado Federal uma ala em sua homenagem, recebeu mais de 16 condecorações oficiais, em 1941 foi agraciado com a Ordem Militar de Avis, no grau de Comendador; em 1961 foi elevado a Grã-Cruz dessa Ordem de Portugal, extrapolando as fronteiras o seu reconhecimento. Esposou a Sra. Consuelo Müller, foram filhas : Maria Luiza Müller de Almeida, Rita Júlia Lastra Müller e teve como adotiva, Maria Luísa Beatriz del Rio Lastra, uma sobrinha. Faleceu no dia 11 de julho de 1973 - seu aniversário, vítima de um desastre aéreo em Orly – Paris, também perderam a vida sua esposa Consuelo e seu neto caçula, Antônio Pedro Müller S. Braga. Seus restos mortais foram trasladados a Brasília, onde recebeu as honras como chefe de Estado, havendo o governo decretado luto oficial durante 3 dias, foi velado no Salão Negro do Congresso, saudaram-no o Pres. da República, Ministros, parlamentares da oposição, um contingente popular.

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LUIS-PHILIPPE, ORÁCULO CUIABANO

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s pessoas incomuns merecem ser lembradas, por tal razão merece este registro. Possuía ancestrais memoráveis, seu pai representava as famílias dos Pereira Leite, a genitora os Figueredo, Valadares e os Hugueney, que no decorrer de séculos vieram a se destacar neste solo como administradores, militares, estudiosos e políticos. Interessante registrar sua origem remota, Leonardo Soares de Souza, lusitano de Setúbal o primeiro ancestral, chegou em Cuiabá em 1769. Logo no ano 1772 assenhora-se de área na serra das Araras, requerendo Carta de Sesmaria para ordenar o domínio das promissoras terras ao Cap. General Luis de Albuquerque M. P. e Cáceres. Neste local surgiu a grandiosa fazenda Jacobina, dedicando-se na administração da mesma e dividindo tempo com a povoação de Vila Maria – Cáceres, no leito da estrada para Vila Bela !!! Passava o tempo nesta morna, pacata urbe das minas faiscantes e brotou desta feita uma jóia de pessoa em 12 de dezembro 1916, era Luis-Philippe Pereira Leite. Seus pais João Pereira Leite e Jovi-


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ta Valladares Pereira Leite eram pessoas simples ele era tipógrafo, moravam em uma casa na esquina da Barão de Melgaço com a travessa 12 de Outubro. Quanto ao nome esclareceu ... "O meu nome, Luis-Philippe, era uma consideração de meu pai por Luis-Philippe Saldanha da Gama, almirante, que morreu numa revolução em 1893. Não tem nada a ver com o meu tio-avô Luiz Benedito ou com o Rei da França. ( PEREIRA LEITE. in SILVA, 1999, p. 54 e ss. ) Eu fui muito doentio e estava quase à morte quando, em 25 de fevereiro de 1917, Hermínia e eu fomos levados à pia batismal, cerimônia oficiada por um santo sacerdote franciscano francês, frei Carlos Valetti, um estudioso das plantas medicinais. Depois de nascido, José Venâncio ficava mais tempo deitado, para que minha mãe pudesse atender minha enfermidade, que consegui vencer depois dos seis anos, à força do leite de cabra. As minhas professoras foram, Tereza Lobo no 1º. ano; no 2º. ano era para ser a professora Hercília Baraúna, mas em março de 1925 ela se casou com João da Costa Marques e foi embora para o Rio de Janeiro; no 3º. ano foi a professora Maria Luzia Pimenta, irmã do desembargador Palmiro Pimenta, e no 4º. ano foi novamente a professora Tereza Lobo." Embarcou em 4 de julho de 1934, seguindo em companhia de Mário Motta e família, amigo de seu pai desde tempo da infância em Cáceres. Após a longa viagem, um combinado de embarcações e trens, chegou ao Rio de Janeiro a 12 de julho de 1934. Prestou exames para a Academia Militar de Realengo em 1935,

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obtendo aprovação em todas matérias, entretanto, foi reprovado nos exames físicos realizados na Escola de Educação Física do Exército, localizada no bairro da Urca. Desistindo da carreira militar, presta vestibular em 1936 para a Faculdade de Direito de Niterói, onde estuda e dedicou-se durante cinco anos. Visando ajudar nas despesas, com auxílio de Filinto Müller, então chefe de Polícia no Distrito Federal, ingressa no Ministério da Justiça, sem afetar a sua faculdade, recebia 350 mil réis / mês. Estando Dom Aquino no Rio de Janeiro, Luis-Philippe que já era seu admirador, foi visitá-lo, decorrendo a sua apresentação aos célebres padres jesuítas do Colégio Santo Inácio. Este ambiente de profunda inspiração cristã, começa a operar mudança e Luiz-Philippe a 12 de setembro 1935, faz a 1ª comunhão no próprio Santo Inácio, foi crismado por D. Aquino Corrêa ! Estendeu sua freqüêcia do colégio jesuíta para o Instituto Católico de Estudos Superiores, esta uma organização cultural mantida pelos jesuítas, dominicanos, beneditinos e o Centro Dom Vital. Nestas entidades assistia seguidamente aulas e conferências, de acentuado conteúdo moral, religiosos e católicos, ministradas em francês por Alceu de Amoroso Lima, Hamilton Nogueira, e o Padre Sebastião Tauzin. O primeiro foi Conde Romano, pela Santa Sé e adotou o pseudônimo de Tristão de Ataíde, em 1965, sua obra foi considerada para receber o Nobel de Literatura. Neste período valendo-se do que aprendera nos ensinos particulares em Cuiabá, com o professor Jean Joseph Marie Quyl, realizou a tradução da obra "La Societé et L'État". Neste momento consolida-se a figura do "Oráculo Cuiabano", expressão de muitas definições, na faceta religiosa reportando aos tempos da Grécia antiga, como a expressão de Deus através da elocução de seus profetas, ou ainda a pessoa cuja palavra representa muito peso, inspira plena confiança. Esta a imagem de Luis-Philippe, imparcial, filósofo, religioso, ético e moral.

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Concomitantemente, despertava nele a sanha do historiador, participava no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, toda semana das aulas e conferências, onde complementa a formação e o espírito historiógrafo. Concluída a faculdade, gradua-se em bacharel de Ciências Jurídicas e Sociais a 17 de Dezembro de 1940. Permanece no Rio até março de 1941, e acompanha a instalação no Colégio Santo Inácio das faculdades de Direito e Filosofia da PUC. Ele agora pronto e preparado, apesar das opções, preferiu voltar para a terra natal, chegou em 21 de março de 1941, nos legando esta mente iluminada, sua Prodigiosa Obra. Segue ...

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LUIS-PHILIPPE, ORÁCULO CUIABANO - II

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ogo após sua chegada em 21 de março e 1941, ainda no dia 27 desse mês, Luis-Philippe veio a ser nomeado para o cargo de Oficial de Gabinete do Secretário-Geral do Governo de Mato Grosso, João Ponce de Arruda. Em agosto, junto ao Secretário-Geral organiza a visita do Presidente Getúlio Vargas à Cuiabá, durante uma missa, ele recebeu a notícia de sua eleição para a Academia Brasileira de Letras, graças a uma intervenção de Dom Aquino. Ingressa na Academia Mato-grossense de Letras por indicação de Dom Aquino Corrêa e José Barnabé de Mesquita sendo a posse ocorrida em 8 de abril de 1946, o aniversário do xará almirante, recepcionou-o seu padrinho Arcebispo imortal. O ingresso no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso também não teve obstáculos, foi indicado pelo desembargador José de Mesquita. Durante 30 anos foi tesoureiro conjunto da Academia e do Instituto afastando-se dos cargos em 1976, quando assumiu a presidência do Instituto Histórico.


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Novamente o nome de Luis-Philippe volta ao quadro de uma Constituinte convocada apenas para este fim, agora eleito no pleito em 19 de janeiro de 1947. Ilustre nomes formaram a bancada constituinte, merecendo destacar: Italivio Coelho, José Manoel Fontanillas Fragelli, Lenine de Campos Póvoas, Penn de Moraes Gomes, Sebastião de Oliveira - pai de Dante, e Valdir dos Santos Pereira, aprovada a Constituição, ele afasta-se da vida política. Neste ano ainda, veio a se casar com Neuza da Silva Pereira, filha de Humberto da Silva Pereira e Mariana Viegas Pereira, desta união não advieram filhos. Foi nomeado para o destacado cargo de Procurador-Geral do Estado, durante o governo de Arnaldo Estevão de Figueiredo e assim veio a ter presença no Tribunal de Justiça, hoje seria a Procuradoria-Geral de Justiça. Nesta condição produziu notáveis pareceres, como o relativo ao assassinato do Capitão Titi, e da disputada eleição para Presidente do Tribunal ... Vindo o Presidente Eurico Gaspar Dutra para Cuiabá em 1948, foi nomeado Assessor para Assuntos da Casa Civil do Presidente da República, visando atendê-lo irrestritamente no período. Momento mais tocante foi a visita do Presidente ao sepulcro de sua genitora, a cidade recebe obras federais, a canalização da Prainha e as casas da Popular. Nos anos 50 a doença da visão de Luis-Philippe avança, era polioretinite grave. Acreditava que agravou em razão do sol forte a que ficou exposta sua cabeça no curso de NPOR. No governo de João Ponce, este sempre solicitava que fosse visitar em seu nome, Rondon que ficava hospedado na casa do velho amigo Odorico Tocantins, onde o militar recebia aos que o procuravam. Sobre o General, registrou ser o visitante oficial uma pessoa interessante, estatura baixa, forte, moreno e apesar de octagenário, estava firme e lúcido. Quando faleceu Rondon em 1958, nosso oráculo enviou carta ao Ministro da Guerra

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Teixeira Lott, solicitando que a cidade recebesse seu busto, a resposta veio em janeiro de 1959, está na Praça Alencastro. Transformando-se a Procuradoria-Geral do Estado em Procuradoria-Geral de Justiça, o então Governador Fernando Corrêa da Costa, incumbe uma comissão para apresentar uma proposta política a Luis-Philippe. Aposentando-se seu pai do Cartório do 2º Ofício, permanecia o cargo vago, por outro lado, infelizmente o quadro da visão agravava-se, a cada dia. Foi composto ajuste, pediu a exoneração da Procuradoria e assumiu o cartório, agora oficialmente o Tabelião do 2º Ofício em 18 de julho de 1951. A introspecção, produz outros resultado, dedica-se a escrever e historiografar personagens aproveitando dos ensinamentos colhidos de sua experiência no Rio de Janeiro, culminando a sua obra em 82 publicações e infindos Títulos ! Seu pai veio a falecer em 1959, fato que decorreu em profunda depressão e ficou realmente abalado, aliando-se neste momento a falta já definitiva de sua visão. Durante os anos 60, participa de Comissão definida pela arquidiocese que estuda a situação da Catedral que sofria rachaduras profundas, afundamentos e não poderia ser tombada em razão das alterações feitas na torre. Esta Comissão de reconstrução entrega após árduo trabalho de 5 anos, a nova Catedral ! Sendo para a cripta remanejados os despojos de Pascoal Moreira Cabral, e ilustres membros do clero estadual. Luis-Philipe teve ainda influência de trazer os restos mortais de Miguel Sutil de Oliveira, trasladados da matriz de Sorocaba para a de Cuiabá. A total falta da visão, limitou-o profundamente saía de casa apenas em raras ocasições, para as reuniões do Instituto Histórico ou receber alguma homenagem como a Ordem do Mérito de Mato Grosso, a Ordem do Mérito do Judiciário e o centenário da chegada da Missão Salesiana em MT. Mas o re-

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colhimento seguiu produzindo outros resultados, pois entre 80 até 90, foi o período em que mais trabalhos literários realizou, passando lento seu tempo. Assim o nosso Oráculo seguiu envelhecendo, até ser foi acometido por um grave, crônico problema respiratório. Finalmente faleceuu o historiógrafo, mecenas do Instituto e Academia, em 4 de fevereiro de 1999. Havendo colecionado em vida entre medalhas, homenagens e títulos, a expressiva marca de 40 !!!

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PROF. LENINE PÓVOAS

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estes dias o governo estadual faz o justo reconhecimento de uma personalidade emblemática dentre os propagadores da história estadual, confirmados na sua tão extensa quanto valorosa obra, além da impecável atuação como homem público participativo em diversas esferas. Podemos registrar dentre suas principais características, uma cultura invulgar, ética e a humildade, este era o Mestre Lenine Póvoas, que tive o regozijo de conhecer em nossas reuniões acadêmicas. Viu a luz em 4 de julho 1921, gerado em berço onde a tradição na docência advinha dos eméritos Professores, Sra. Rosa de Campos Póvoas e Sr. Nilo Póvoas. Nesta veia de valores e bravura existia até um veterano herói da Guerra do Paraguai, o Major Pedro Fernandes Póvoas, atuante no cenário de Corumbá, por tais préstimos foi designado Comandante do Arsenal de Guerra - Cuiabá, e recebeu a mais alta Comenda do Império, Cavaleiro da Ordem da Rosa, igual Barão de Melgaço. Iniciou a carreira de estudante no conceituado Liceu Cuia-


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bano, que tantos jovens preparou para brilhar nos grandes centros, após concluir a formação partiu para novos horizontes. Estando devidamente preparado, logrou ingressar em concorrida seleção na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil - Rio de Janeiro. Superando as dificuldade financeiras para custear este período de estudante, fez estréia na cátedra ainda nestes tempos, lecioando geografia nos Colégios : Paula Freitas, Rui Barbosa, Anglo-Americano e Andrews, naquela Capital Federal. Coroou de êxito seus esforços, bacharelando-se em Ciências Jurídicas e Sociais na turma de 1945. Nova etapa principia na vida do jovem formado e com muitas aspirações no peito, agora em sua terra natal, segue a destacada carreira docente, inicia na Escola Técnica de Comércio; lecionou ainda na Universidade Federal de MT, sendo o professor titular na cadeira Direito Penal. Convolou núpcias em 20 de Outubro 1946 com a Sra. Arlete Gargaglione Póvoas resultando uma ilustre prole a saber: Eduardo Gargaglione Póvoas, Aloísio Gargaglione Póvoas e a Dra. Maria Helena Gargaglione Póvoas, destacada advogada, hoje Desembargadora no TJ / MT. Seguindo sua trajetória de conquistas vitoriosas, ingressou no Instituto Histórico e Geográfico de MT em 07 março de 1950; depois na Academia Mato-Grossense de Letras em 1953 na Cadeira 33, Pres. José de Mesquita e recepcionado por outro gigante, Rubens de Men-

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donça ! Mais tarde veio a presidir a Casa das Letras por 10 anos, deixando o Estado de fazer os repasses, não poupou esforços, arcou sozinho e silenciosamente, típico de sua humildade, com as despesas. Nesta seara, torna-se logo membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Academia Paulistana da História, Academia Maranhense de Letras, Academia Espírito-Santense de Letras, e Academia de Letras de Brasília, tal o alcance de sua obra, e a representação nacional. A sua verve literária manifesta-se precocemente aos 23 anos de idade, ao publicar "Introdução ao Estudo da Geografia Humana". Antes mesmo, já havia fundado o órgão estudantil "A Centelha", e o jornal semanário "A Batalha" e depois passou a colaborar com vários periódicos do Estado e Mato Grosso do Sul. Mais experiente, trouxe a lume trabalhos de reconhecido valor : "Síntese Geográfica dos Estados Unidos" – 1955, "Radiografia de Mato Grosso" – 1967, "Mato Grosso, um convite à Fortuna" – 1977, "Sobrados e Casa

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Senhoriais de Cuiabá" – 1980. Pelo lado historiógrafo : "História da Cultura Mato-Grossense" – 1982, "Influência do Rio da Prata em MT" – mesmo ano, "Cuiabá de Outrora" – 1984, "Sintese de História de Mato Grosso" – 1985, "História de Cuiabá" – 1987, "Os Italianos em Mato Grosso" – 1989, "História Geral de MT" , elaborada em 2 volumes, esta obra agraciada com o "Prêmio de Clio de História" no de 1995 !!! O Nobre Mestre redigiu cerca de 30 títulos, estes os mais procurados, para não nos alongar muito. Exerceu diversos postos, tais como Deputado Estadual em 2 legislaturas 1947 – Dep. Constituinte, ainda 1951 até 1954. Atuou igualmente no cargo Ministro - hoje Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, foi eleito pelo voto direto Vice-Governador de MT – sem gópi, em 3 de outubro 1965; Secretário de Administração do Estado durante o governo de José Fragelli – sendo o pioneiro nessa função. Foi ainda, Presidente da Fundação Cultural de Mato Grosso – gestão do ilustre Garcia Neto, iniciando também a pasta, depois Secretaria de Estado de Cultura. Posteriormente, atuou como Chefe da Casa Civil do Estado em 1990, por fim exerceu o cargo de Diretor Superintendente da Cia. Mato-Grossense de Mineração, a METAMAT. O reconhecimento de sua vida e obra, também não foi pequeno, foi agraciado com "Ordem do Mérito de Mato Grosso" – Grau de Grande Oficial, "Comenda Filinto Muller" – da A.L. de MT, Medalha do Tribunal de Justiça de MT, Medalha da Câmara Municipal de Cuiabá, e a Medalha da Federação das Academias de Letras do Brasil, além de vários diplomas outorgados. Recebeu ainda, o Prêmio internacional "Pero Vaz de Caminha", concedido pelo Ministério do Interior de Portugal; por 2 vezes o "Prêmio Clio de História", da Academia Paulista de História. Cedeu o nome para a rodovia ligando Porto Espiridião a Vila Bela, mais a trincheira do Sta. Rosa. Veio a falecer em 29 de janeiro 2003, deixando insuprível lacuna no Estado e na querida Família !

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GARCIA NETO

MT ESTADO SOLUÇÃO

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ato Grosso possuiu inúmeros governadores, desde os capitães-generais nos idos tempos de colônia, entretanto, é justo reconhecer as vitórias deste solitário sergipano, que vindo a este longíncuo rincão, lançou o Colosso no patamar do progresso, através suas realizadoras ações. Muitos foram os embates, mas levantou sempre com lealdade o pendão do Estado que o acolhera, onde criou filhos, seus netos, perpetuou aspirações e conquistas que se estendem até o presente ! Nasceu o menino em 1º de junho 1922, na pequenina Rosário do Catete – Sergipe, filho do Sr. Antônio Garcia Sobrinho e Sra. Antônia Menezes Garcia, família de tradição política. Através do esforço cooperativista familiar, formaram todos os 9 irmãos, sendo que José Garcia Neto cursando o ginásio, ainda aos 15 anos, veio a ser eleito membro da União Democrática Estudantil. O berço tinha DNA, o irmão Luis Garcia, foi imortal da Academia, e governou Sergipe em 1959. Fluindo a vida, atendendo os proclamos da Pátria, forma-se


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oficial do Exército – CPOR em 1943, até comandou um Pelotão de Vigilância de Costa, onde submarinos alemães afundaram 3 navios. Havendo deixado o torrão natal para um centro maior onde reunissem maiores opções de estudos, na reconhecida Escola Politécnica da Bahia, em 15 de dezembro 1944 formou-se engenheiro civil. Agora engenheiro, aos 22 anos incia trabalhos na empresa de construção civil Coimbra Bueno, no Rio de Janeiro a Capital Federal, implantando a nova estrada para Petrópolis. Havendo se destacado, no final de abril 1945, foi designado para dirigir o longínquo Escritório de Cadastro e Urbanismo de Cuiabá, tornando-se desta forma responsável por um coletivo de obras que se mostram solenes e firmes até os dias atuais, durante o governo do Interventor Júlio Müller. Dentre estes relevantes feitos, destaca-se a primeira ponte de concreto armado sobre o rio Cuiabá, a pioneira Estação de Tratamento de Água da Capital, a edificação do Palácio da Justiça, o prédio da Secretaria-Geral do Estado, o pomposo Grande Hotel, o Cine Teatro Cuiabá e o Colégio Estadual – Liceu Cuiabano, esta vem

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a ser até os dias atuais, a maior obra educacional do Estado ! Depois gerindo o Escritório de Construção Civil, finda os trabalhos do Balneário Águas Quentes. Finalizadas todas obras oficiais de Cuiabá, estava preparando-se para retornar ao Rio de Janeiro, já era casado com a Sra. Maria Lígia, que esperava o nascimento do seu primeiro filho, quando recebe um convite do Secretário de Agricultura, e Obras Públicas ... Sr. Arquimedes Pereira Lima. Neste momento um divisor de águas na carreira do engenheiro, inicia os passos da inescusável e vitoriosa jornada do político, quando o jovem casal do sergipano e da amazonense, aceita trocar as belezas do Rio pelo calor cuiabano, ele assume o Dep. de Obras Públicas de MT. Rejubilando-se mais tarde por ter conhecido Rondon e Dom Aquino, "como foi bom ter ficado !" Inclusive o Arcebispo havia feito questão de celebrar suas bodas, contudo numa missa, que eram naqueles idos, pela manhã e assim foi ... às 8 horas no dia 12 de setembro 1946 na antiga Catedral. Ascendendo agora o político, candidatou-se à prefeitura de Cuiabá pela UDN, tornou-se o primeiro prefeito eleito da Capital, empossado em 15 de março 1955. Estando em lado oposto ao do governador, teve recursos vetados, mesmo assim iniciou o serviço médico rural, o Mercado Municipal, outra obra em realce, foi o bairro Bandeirantes o primeiro a ser projetado. Em seguida em 1960, Garcia Neto foi eleito vice-governador pela mesma UDN, sendo Fernando Corrêa da Costa governador, dentre suas principais preocupações a energia elétrica e o transporte, oportunidade em que percorreu todos os municípios do Estado, reconhecendo sua potencialidade. A Câmara Federal para Garcia foi um passo fácil, elegeu-se em 2 oportunidades, sendo sempre o mais votado, primeiro no período 1967 até 1970, depois 1971 findando em 1974. Neste momento eclode o resultado de todo o seu conhecimento assimilado

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nas viagens realizadas, e face os desequilíbrios do país, como a seca, geadas, minifúndios; surge o MT Estado-Solução ! Assim foi o histórico discurso na Câmara em 4 de abril 1967, destacando o valor de Mato Grosso, as obras federais exigidas para a região, e salvaguardar a Amazônia contra a cobiça internacional. Os pronunciamentos enfatizavam sobretudo a liberdadede de imprensa e o repúdio à violência. Através seu empenho logrou-se incluir MT no Plano Prioritário Nacional, resultando a BR – 364. Marcante para a Cuiabá, rivalizando com o Sul do Estado, a implantação da Universidade Federal, foi sua a proposta inicial da UFMT de 1967 e concretizou o antigo sonho, pois aprovado em 1970. Indicado pela Arena, foi eleito por via indireta, Governador no ano de 1974, sendo empossado em 1975, conduziu-O sob o lema marcante da gestão, - Mato Grosso Estado Solução. A profecia hoje se efetiva, MT campeão da Agricultura e responsável pelo superávit da Balança !!! Mesmo posicionando-se contra a divisão do território uno original, ouviu do Presidente E. Geisel, a justificativa ... "há um ponto que eu quero realçar para sua compreensão. Quando Mato Grosso atingir o desenvolvimento de um S. Paulo, isso poderá afetar o equilíbrio da federação brasileira." Por fim, cerrou os olhos em 19 de novembro 2009, deixou viúva, 5 filhos, 13 netos, e 18 bisnetos.

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O GOVERNO DE PEDRO

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críticos de plantão manejam pedras com muita facilidade, cômoda postura, lembra o dito popular : "Os cães ladram e a caravana passa". Melhor comungar de uma postura solidária e otimista que pode nos levar ao crescimento, que embrejar-se nas areias movediças de um contexto depreciativo pessoal ou genérico. Seja um incentivador de pessoas, afinal o mundo já tem críticos demais ! Nasceu na antiga e simplória rua Senador Azeredo, notável político e jornalista, hoje denominada 24 de Outubro, que ainda nos brindou com dois outros governantes. Lembro desde o jovem Procurador da Repúlica, dos mais difíceis concursos públicos, onde apenas os realmente probos, logram ser admitidos nesta fina malha, além do amplo e imprescindível saber jurídico. Neste período por sua iniciativa singular, conseguiu erradicar a mafiola que nem mesmo os poderes ousavam enfrentar, o primeiro motivo para admirá-lo. Posteriormente, pude acompanhar mesmo fora de casa, agora como senador quase incógnito entre tantas feras no pardieiro federal, seu embate corajoso do "bom combate" ao enfrentar


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as velhas oligarquias que ali se perpetuam, assacando traiçoeiras a nação. Algo da semelhança do pequeno Davi e o gigante Golias. Mesmo perdendo a luta da Presidência para um grotesco corrupto alagoano, foi o campeão moral. Pedrão 2 x 0. Por fim no Palácio Paiaguás, apenas posso exultar. Falando sério, é um privilégio termos no governo, um homem honesto, quando outros muitos estados como o Rio de Janeiro amargam duramente o resultado da súcia, que arrombou os cofres públicos, apesar do carnaval financeiro da "Copa - 7 x 1". Poderíamos estar engalfinhados com um detento no poder, ou segundo as novas delações, de outro quase, e seguindo no cabresto a cleptocracia Federal. Esfera onde tudo pode acontecer, como no estapafúrdio julgamento da Dilma, casuísticas PEC´s, descrimilização do caixa 2, a liberdade para condenados na obtusa interpretação do STF, tudo rolando graças a mansidão bovina do povo. Apesar dos tempos bicudos, temos os salários dos servidores pagos em dia, assim como o pesado fardo dos demais poderes, em contrapartida de outros estados que só agora pagam o mês de março, com atrasos desde 2016. Com satisfação, não há como ignorar a implementação de obras em locais dantes relegados como a lagoa do CPA, onde surgiu o Parque das Águas, emergindo como um novo point, para prática de atividades físicas, dotado de ampla infraestrura e constante segurança da PM / MT. Semelhante atenção receberam as barrancas do Cuiabá, antes condenadas aos efeitos DEVOLVENDO PRÉDIO DO IHG E DA ACADEMIA DE LETRAS

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da erosão, estando hoje por igual reestruturadas qual uma Fenix, a nova Orla do Porto ! Foram realizadas no campo das artes, através da Secretaria de Cultura, variadas exposições que brindou artistas locais como C. Irigaray e sete outros, igualmente Moacyr de Freitas e Humberto Espíndola, recentemente a 32ª Bienal de São Paulo – Itinerância, apresentações musicais, concertos e outros. Vale ainda realçar a seguida presença na Academia de Letras, e apoio cedido. Mesmo com dificuldades financeiras, realizou concurso da Polícia Civil, ampliando os quadros da segurança, efetivou um certame para os Procuradores do Estado e deu posse aos 26 aprovados, por último a seleção para preenchimento de 5.748 vagas na SEDUC, outros eventuais não citados. Enfrenta outra duríssima batalha para corrigir a farra dos desvios havidos no governo anterior, que ainda levou pouca gente para a cadeia. Busca concluir o famoso VLT, que além de aproveitar as obras já relizadas, seguramente trará nova imagem da Cuiabá moderna, a moiçola dos 300 anos. Por outro lado, Mato Grosso se mantém campeoníssimo em grãos, segue este ano para uma super safra e a melhor da história em produtividade ! Situação semelhante na pecuária, ainda no algodão e mais produtos primários. Este bom resultado vem inclusive beneficiando a balança comercial brasileira, e graças a este setor, a economia galgou uma situação positiva, superavitária. O timoneiro, acredito leva a contento a nau por mares revoltos, apesar da grave crise financeira, política, ética, e como visto, nos conduz a porto seguro. Bom se lembrar uma fábula de Esopo na qual as rãs pediram a Zeus um rei. Assim, lhes foi enviado um tronco onde elas subiam e pulavam, cansadas reclamaram sua troca. Atendendo esta súplica, Zeus transforma o lenho em serpente, que finda devorando uma por uma, as rãs. Pura filosofia ...

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Ubiratã Nascentes Alves iniciou alfabetização no colo da sua avó a Profª. Amélia de Arruda Alves/Lobo, depois escolas públicas no RJ, SC e RS. Cursou o ginásio no Imperial Colégio Militar do RJ, concluiu o 2º grau pelo Colégio Pedro II, é graduado, pós-graduado pela Escola Brasileira de Adm. Pública da FGV/RJ, venceu concurso público sobre história de MT pela SEC/MT, atuou na SEPLAN/MT, CODEMAT, fez Direito na FUFMT, pós-graduado, Procurador do Estado concursado, publicou livros, ingressou na Academia Mato-Grossense de Letras, ocupando os cargos de Secretário-Geral e Presidente, membro fundador de Conselhos Estaduais, professor universitário, foi agraciado com a Medalha Tiradentes/RJ, Ordem do Mérito de MT – Comendador, Medalha do Mérito do Ensino Militar, obra no prelo, em Paris/França. "FECI QUOD POTUI, FACIANT MELIORA POTENTES”.


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UBIRATÃ NASCENTES ALVES

O conjunto de reflexões reunidas nesta obra trata Cuiabá como protagonista de diferentes histórias nos últimos séculos. Esse é um livro para ser lido por todos os filhos dessa terra e, também, pelos neo-cuiabanos, para que relembrem, reverenciem e conheçam nossos ídolos e heróis venerandos; também o é para relembrarmos fatos que dizem respeito ao nosso dia-a-dia, notadamente o social e econômico, a exemplo dos artigos sobre o desemprego histórico dos últimos anos, das surpresas advindas com multas e pardais obscuros, do imposto sobre grandes fortunas e política contemporânea: reeleição e urna eletrônica. Assim, os artigos aqui reunidos informam, em recortes de nossa história, que aconteceram fatos que mexeram com nossas vidas e, por vezes, não demos conta disso. Essa dinâmica relação entre o texto e o contexto descrito por Ubiratã Nascentes Alves nesta obra nos convida a pensar.

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