lume Mato Grosso
Jaciara
Terra encantada. Pag. 30
ISSN 2447-6838
Revista nº. 52 • Ano 7 • Outubro/2021
................. R$13,00
CASA DI ROSE MOVIMENTA CENA CULTURAL EM CHAPADA 14 42 OS ESCRAVOS AÇORIANOS NO BRASIL RETRATO EM PRETO E BRANCO: EURICO GASPAR DUTRA 52 55 AMERICANIDADE: FACUNDO CABRAL 62 ÚLTIMA PÁGINA: FERNANDO PESSOA
DOM AQUINO VISITA O PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS, EM 1943
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C A RTA D O E D I TO R
JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral
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frase “não existe almoço grátis” tem sua autoria frequente e erroneamente atribuída ao prêmio Nobel de Economia Milton Friedman. De fato, ele popularizou a frase, mas frisou que não a inventou. Sua origem remonta, provavelmente, ao século 19, nos Estados Unidos. Diz-se que a expressão faz referência ao fato de os saloons da época servirem “almoço grátis”, desde que o cliente comprasse bebidas. Ou seja, grátis coisa nenhuma! A frase acabou se tornando um dito popular quando se quer dizer que tudo na vida tem um preço, ainda que oculto e pouco óbvio. Faço alusão à frase “não existe almoço grátis”, tão utilizada nos últimos tempos, na política atual, o que a torna, para o povo brasileiro, ludibriado e comprado nas urnas, bem verdadeira. Tornou-se um indicativo, nos últimos tempos, de que não há ações políticas desinteressadas, mesmo as mais prosaicas. O que dizermos, então, quando nos deparávamos, até poucos anos atrás, com doações milionárias de empresas privadas em campanhas eleitorais? Os custos das campanhas subiam ano a ano, bem mais do que a inflação oficial e, grande parte desses recursos, obtidos através de doações de empresas eram utilizados para aliciar eleitores, comprometendo de forma efetiva a independência dos
eleitos. São muitos os fatos na política local e nacional que dão aval à essa frase. Em 11 de fevereiro de 2015, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, se referiu a esse dito para mostrar como funcionam as indicações políticas para cargos de governo. No funcionalismo público mato-grossense o que mais se vê são indicações políticas de pessoas inabilitadas e descompromissadas com a vida pública e seus objetivos finais, que é o de atender a sociedade, que é a mantenedora do Estado, pois é quem paga os impostos. Por conta de contínua insatisfação com os serviços prestados pelo funcionalismo público, de forma geral, em todos os setores de prefeituras, Estado e União, avança a passos largos a proposta que acaba com a estabilidade no serviço público para servidores com baixo desempenho nas atividades desenvolvidas. Com as novas regras eleitorais esperamos pela diminuição da fatídica compra de votos, hábito ancestral em Mato Grosso, tanto de políticos quanto de eleitores. Alguns se salvam, mas são poucos. Esperamos que nas eleições deste ano o comportamento dos cidadãos seja mais cívico, elegendo candidatos que não estejam ligados à corrupção, o verdadeiro câncer da nação. E o tal do “almoço grátis”, nem pensar! Boa leitura a todos!
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EXPEDIENTE
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PESCUMA MORAIS Diretor de Expansão e de Projetos Especiais ELEONOR CRISTINA FERREIRA Diretora Comercial JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral MARIA RITA UEMURA Jornalista Responsável JOÃO GUILHERME O. V. FERREIRA Revisão ANDRÉIA KRUGER, ANNA MARIA RIBEIRO, BENEDITO PEDRO DORILEO, CARLOS FERREIRA, CARLOS GOMES DE CARVALHO, CECÍLIA KAWALL, DIEGO DA SILVA BARROS, EDUARDO MAHON, ELIETH GRIPP, ENIEL GOCHETTE, EVELYN RIBEIRO, FELIPE DE ALBUQUERQUE, HENRIQUE SANTIAN, JOSANE SALES, JUDI OLLI, JULIANA RODRIGUES, JÚNIOR CÉSAR GOMES GUIMÃES, KALLITA DOS ANJOS MORAES, KEILA GUIMARÃES, LUCIENE CARVALHO, MILTON PEREIRA DE PINHO - GUAPO, RAFAEL LIRA, ROSARIO CASALENUOVO, ROSE DOMINGUES, THAYS OLIVEIRA SILVA, VALÉRIA CARVALHO, WLADIMIR TADEU BAPTISTA SOARES, YAN CARLOS NOGUEIRA Colaboradores ANDREY ROMEU, ANTÔNIO CARLOS FERREIRA (BANAVITA), CECÍLIA KAWALL, CHICO VALDINEI, EDUARDO ANDRADE, HEITOR MAGNO, HENRIQUE SANTIAN, JOSÉ MEDEIROS,
JOYCE CORRÊA, JÚLIO ROCHA, LAÉRCIO MIRANDA, LUIS ALVES, LUIS GOMES, RAI REIS, MAIKE BUENO, MARCOS BERGAMASCO, MARCOS LOPES, MÁRIO FRIEDLANDER, MOISÉS INÁCIO DE SOUZA, SAMUEL MELIN Fotos OS ARTIGOS ASSINADOS NÃO SÃO DE RESPONSABILIDADE DE LUME MATO GROSSO, E SIM DE SEUS AUTORES. LUME - MATO GROSSO é uma publicação mensal da EDITORA MEMÓRIA BRASILEIRA Distribuição Exclusiva no Brasil RUA PROFESSORA AMÉLIA MUNIZ, 107, CIDADE ALTA, CUIABÁ, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 36371774 99284-0228 | 9925-8248 Contato WWW.FACEBOOK.COM/REVISTALUMEMT Lume-line REVISTALUMEMT@GMAIL.COM Cartas, matérias e sugestões de pauta MEMORIABRASILEIRA13@GMAIL.COM Para anunciar ROSELI MENDES CARNAÍBA Projeto Gráfico/Diagramação BALONISMO EM JACIARA FOTO: ASCOM JACIARA Capa
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SUMÁRIO
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PERSONALIDADE
10. MEIO AMBIENTE
20. 24. EDUCAÇÃO
PARA QUANDO VOCÊ FOR
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26. 38. TURISMO
MEMÓRIA
48. MITOLOGIA
50. 58. CRÔNICA
MEMÓRIA
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PERSONALIDADE
Vital Siqueira O ator, produtor e jornalista Vital Siqueira é o criador de uma das personagens mais queridas da TV regional mato-grossense, a Comadre Pitu
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POR JOÃO BOSQUO* FOTO JÚLIO ROCHA
Comadre Pitu não é uma invenção, não. Comadre Pitu é concretização da cultura popular, num momento em que a cultura popular está em baixa, quando perdeu todos os referenciais de bom-gosto, do bom-senso e, sim, perda da sua ligação com as raízes de uma sociedade. Comadre Pitu é a afirmação da mais legítima cultura popular da Baixada Cuiabana. Pronto, falei. Agora vamos falar do criador da Comadre Pitu essa mítica senhora que não tem papas na língua e que, duas vezes por semana, pelo menos, entra nos lares dos mato-grossenses que se ligam no programa regional de maior audiência, que é o jornalista, ator, produtor Vital Siqueira, cuiabano de Várzea Grande – como eu gosto de dizer – e com “parentes espalhados por essa Baixada Cuiabana inteira”. Várzea Grande, porém dos 46 anos, desde os 6 anos mora em Cuiabá e ainda na primeira infância, quando estudava no Centro Educacional Nilo Póvoas, começou nas ar-
tes cênicas, participando das peças teatrais mais efetivamente entre os 13 pra 14 anos, até que Maria Leonor o chama para participar de um trabalho e aos 14 estreia nos palcos da Teatro Universitário e não parou mais. Integra-se ao Grupo Andanças de Amauri Tangará, aos 17 anos, e o teatro passa ser mais efetivo na vida de Vital Siqueira que viaja com o grupo que encenava o espetáculo “A Dança dos Tangarás”, participando de festivais pelo Brasil com patrocínio do Ministério da Cultura. Só para se ter uma ideia, o espetáculo “A Dança dos Tangarás” recebeu mais de 20 prêmios. Paralelamente Vital Siqueira fazia trabalhos com a trupe do Gambiarra, criado por Ivan Belém e mais tarde vai contar também com Mara Ferraz (por onde andará Mara Ferraz?), Claudete Jaudy, Augusto Prócoro, Wagton Douglas, Maria Tereza Prá, Meire Pedroso e Liu Arruda e, nos anos 1980, sob o patrocínio da Casa da Cultura de Therezinha Arruda, vai fazer uma pequena revolução cênica com o teatro de rua.
com suas reportagens veiculadas no programa de TV Resumo do Dia, comandado por Roberto França. Por falar a linguagem e com a cuiabanidade, Vital diz que Comadre Pitú sempre, sempre é bem recebida e as pessoas aceitam esse diálogo para divulgar as coisas de nossa cultura. Olha, só pra esclarecer. Vital Siqueira faz TV desde os tempos da mítica produtora MBC: M de Malik Didier, B de Bosquinho e C de Chacon, Celson Chacon, que foi professor de meio mundo que hoje anda atuando na telinha. Além da TV trabalhou, em 2017, em parceria com a Comadre Creonice e Totó Bodega, “A Virgindade Contestada”, adaptação de um conto de Tereza Albuês feita por Luiz Carlos Ribeiro. Nesse espetáculo contou a história de Flor de Liz, uma porca de propriedade de Creonice que supostamente foi emprenhada pelo porco capado de Totó Bodega, o Pau de Sebo. Com Ivan Belém teve um outro espetáculo, “Coisas de Comadre”, mais de improviso, pelo tempo de atuação juntos. “A gente combinava o roteiro”. Como espetáculo solo, Vital afirma que tem um repertório para 3, isso mesmo, três horas de show, ou seja, três espetáculos, cada um com uma hora, sem repetir uma piada. Vital conta que está estudando a possibilidade de ainda este ano realizar um espetáculo baseado nas histórias que seu avô Antônio Gomes contava e tem o título provisório de “Memórias de minha infância”. A ideia é reunir Comadre Creonice, Totó Bodega e Comadre Pitú, no palco, para narrar essas histórias que tem variações de tempo e espaço e estão meio que perdidas na memória. Ah!, teve também a atualização do “Paixão Prisioneira” que o incansável Luiz Carlos Ribeiro preparou. Como se vê, Comadre Pitu não dá sossego (*) João Bosquo (in memoriam), poeta, jornalista e licenciado em Letras pela UFMT. Publicou livro em parceria com Luiz Edson Fachin.
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É o teatro de rua, que tem como expoente no Brasil o diretor de teatro Amir Haddad, que vem a Cuiabá e ministra cursos, dos quais a comunidade teatral participa, pois é desse teatro de rua que Vital é apaixonado e Comadre Pitú é filha direta, embora não tenha abandonado o teatro – digamos – mais convencional. “A rua sempre foi o meu palco maior”, afirma. Essa paixão pelo teatro de rua, Vital Siqueira não sabe explicar muito bem, mas acredita que vem desde os tempos de infância. Ele lembra que o avô Antônio Gomes era pescador e plantava horta na beira do rio e nas noites de lua, fazia uma fogueira e sob uma lona estendida, o velho avô contava histórias para a criançada. “Acho que esse amor pelo teatro de rua, já vem daí”, analisa. A curiosidade de nosso assíduo leitor, assim como deste modesto repórter, é saber da gênese da Comadre Pitú, que está na mesma linhagem (?) da Comadre Nhára, de Liu Arruda, Comadre Creonice, de Ivan Belém. Vital Siqueira diz que a personagem começa de uma brincadeira de adolescente. Ele morava no bairro Boa Esperança, na mesma rua que morava a mãe de uns amigos dele, que tinha o apelido de Dona Pindú e a variação foi para não ferir a suscetibilidade... Mas assim que Dona Pindú conheceu a Comadre Pitú ela amou a personagem, segundo o próprio Vital Siqueira. Dona Pindú era uma pessoa simpática, mas cheia de manias, coisa de cuiabano econômico. “Ela era capaz de cortar o cabelo duas vezes no mesmo dia pra aproveitar a promoção”. Ou outra melhor ainda, pegar dois ônibus para ir a Várzea Grande para aproveitar a promoção de costela... Ou entrar numa loja e perguntar o preço de uma blusa. O vendedor diz o preço e ela criticava “Vôte, tá mais caro que roupa no garimpo”. Aos poucos a personagem foi ganhando forma e, no início da década de 80, assumiu e subiu nos palcos e praças e ruas. Atualmente Comadre Pitú é conhecida por meio mundo da cultura e da sociedade,
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Nascentes de Rios Pantaneiros Podem Secar POR VILHENA SOARES FOTOS MARCOS BERGAMASCO
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ma das maiores áreas úmidas do planeta, região de extrema importância para o ecossistema global, o Pantanal, é ameaçado pela atividade humana, como a expansão da agricultura e da pecuária e o uso de pesticidas. Símbolo da região, o tuiuiú está entre as espécies em risco de extinção, condição que tem levado organizações de proteção ambiental, como a World Wildlife Fund (WWF), a mapear com mais detalhes os perigos e a reforçar a necessidade de implementação de medidas que protejam a região. Ambas as medidas nortearam, um dos painéis do Fórum Mundial da Água, ocorrido em março/2018, em Brasília, com participação de representantes dos governos brasileiro, boliviano e paraguaio, países cobertos pela imensa planície.
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Reconhecido como Reserva da Biosfera pela Unesco em 2000, o Pantanal é um santuário com rica fauna selvagem e extensão superior a 170.500 quilômetros quadrados. De acordo com a WWF, a região abriga 656 espécies de aves, 159 de mamíferos, 325 espécies de peixes, 98 de répteis, 53 de anfíbios e mais de 3.500 plantas. A região conserva mais de 85% de sua cobertura vegetal nativa, constituída principalmente por uma savana, mas a maior área úmida do planeta corre o risco de morrer se as nascentes dos rios não forem protegidas, alertam biólogos, ecologistas e ativistas. Essa região está em risco e, se nada for feito para mudar isso, nos próximos anos, poderemos ver o Pantanal entrar em colapso - afirmou Júlio César Sampaio, coordenador do programa Cerrado-Pantanal da WWF, em comunicado. Apesar de ser o bioma brasileiro melhor
preservado, a região adjacente, onde nascem muitos dos rios que transportam água para o Pantanal, foi desmatada em 55%, denuncia a WWF. De acordo com os dados da organização internacional, 391 mil hectares da região das chamadas cabeceiras do Rio Paraguai ainda não têm proteção legal necessária. O desmatamento e a erosão do solo, devido ao avanço das monoculturas de soja, cana-de-açúcar, eucalipto, entre outros plantios, além de dezenas de usinas hidrelétricas, constituem uma séria ameaça à região. Há ainda os impactos para além da imensa área pantaneira: ela tem extrema importância em relação às mudanças climática mundiais. Segundo especialistas, essa área úmida funciona como uma espécie de espelho de água, refletindo o calor e deixando o ambiente mais agradável, além de contribuir para a ocorrência de chuva em outras regiões.
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» Os três países assumiram esse compro-
misso durante a 12ª Conferência das Partes da Convenção de Ramsar, ocorrida no Uruguai em 2015. Medidas foram tomadas ao longo desses três anos e, na reunião ocorrida em março, em Brasília, essa união foi oficializada com a assinatura da Declaração de Interesse para o Pantanal. A construção de um corredor ecológico entre os três países é um dos projetos em conjunto a serem implementados. Conhecidos também como corredores de biodiversidade, essas áreas unem as unidades de conservação, separadas por interferência humana, como a construção de estradas e as atividades madeireiras. A intenção é permitir o livre deslocamento de animais, a dispersão de sementes e o aumento da cobertura vegetal. Segundo especialistas, a medida reduz os efeitos de fragmentação dos ecos-
sistemas ao promover a ligação entre áreas distintas e permitir um fluxo entre as espécies da flora e da fauna. O ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Didier César Olmedo Adorno, ressaltou a importância de buscar esse tipo de equilíbrio na região pantaneira, respeitando também os moradores da região. Eles fazem parte dos sistemas que regem o local - justificou. A WWF foi uma das responsáveis pelo acordo firmado. Maurício Voivodic, diretor executivo da organização, ressaltou a importância da parceria firmada: Esse compromisso é importante porque é um ponto de partida de uma agenda de ações integradas entre os três países. Temos vários temas no Pantanal que não podem ser cuidados por um país sozinho. A infraestrutura, a pesca, tudo isso precisa de um olhar compartilhado. Acho que o compromisso é o ponto de partida para isso acontecer - frisou.
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Casa di Rose Movimenta Cena Cultural em Chapada dos Guimarães FOTOS ACERVO CASA DI ROSE
Casa di Rose iniciou suas atividades em 2015 hospedando turistas do mundo inteiro e ao mesmo tempo, com a parceria de artistas regionais, foram realizadas apresentações de música, cinema, teatro, poesia e dança Na inauguração da Casa di Rose estiveram presentes os artistas: Dani Tamara (artes plásticas), Anderson Moura (escultura), Henrique Santian (fotografia), Aruã Callil (fotografia), Cris Chaves e Marina (música), Cecília Kawall (dança), Nina Casarin (poesia), Micheli Sierra e Lótus Reuben (teatro). Em 2016, a fotógrafa de Florianópolis, Lilian Barbon, ministrou workshop de light painting. Também foi comemorado o primeiro aniversário da Casa di Rose com apresentações de teatro com Micheli Sierra, cinema com João Manteufel e exposição de artes visuais com Henrique Santian (Fotografia), Anderson Moura (escultura), Lilian Barbon (Fotografia), Aruã Callil (fotografia), e Dani Tamara (artes plásticas), além de apresentação musical com Karola Nunes. No ano seguinte, Babu78 realizou oficina de estêncil com jovens da cidade. E em 2018 foi realizado o Concurso Literário “Linhas do Amanhã” para os alunos da rede pública de ensino de Chapada dos Guimarães. Em 2019, a proprietária Roseli Carnaíba, com a vinda do seu primeiro filho, fez uma pausa nas atividades. E em 2021, com
a retomada das atividades, foi contemplada com projeto pela Lei Aldir Blanc para realização da exposição de artes visuais “Artistas do Cerrado”, com obras dos artistas: Alena Maggi, Anderson Moura, Angela Godinho, Dani Tamara, Fabrícia Campello, Henrique Santian, Keila Silveira, Lucileicka David, Mário Friedlander, Rai Reis, Renato Campello, Ruth Albernaz e Sandra Vissoto. Depois recebeu a exposição “Entrelaços”, de Angela Godinho e Fabrícia Campello e a exposição “Eu Frida, Todas Frida”, de Meg Marinho. E ainda realizou o “1º Festival Primavera Cultural” com apresentações de Paulo Monarco (música), Palhaço Domenique (espetáculo circence), Lucas Silva (música), Grupo Anônymous com direção de Fernanda Marimon (Teatro), João Manteufel (audiovisual), MT Queer (audiovisual), além da prática de yôga com Kamilla Braz e a oficina de papel artesanal com Ramon Rodrigo e Tarsila Rubira. A programação segue com as exposições “Gratidão”, de Renato Campello e “Despertar de Pat Violin. Além dos cursos de teatro e dança, prática de yôga e quiropraxia. O centro cultural possui uma galeria de arte fixa com trabalhos de vários artistas mato-grossenses. Abre de quarta a domingo, das 15h00 às 19h00. Também é possível fazer tour virtual através do site www.casadirose.com.br.
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EXPOSIÇÃO GRATIDÃO, DE RENATO CAMPELLO Morador da deliciosa Chapada dos Guimarães (70 Km de Cuiabá, capital de Mato Grosso) há 23 anos, o gaúcho Renato Campello transformou o sentimento de gratidão em 18 obras de arte. Dessa forma, o artista demonstra todo seu agradecimento por estar com tantas pessoas que lhe fazem bem e por habitar um dos mais belos cenários vivos da criação! As belezas naturais de Chapada são reproduzidas pelo artista em suas obras hiperrealistas, ao ar livre, em contato direto com o campo. Além das luzes e cores, suas obras retratam o misticismo da Chapada, seus guardiões, sua força, e a vida que transborda através da natureza. “A verdadeira arte da paisagem não deve ser vista como mais um quadro na parede, mas como uma oração silenciosa de agradecimento a vida. Agradeço às pessoas que guardam minha obra há muito tempo adicionando às suas coleções
e ajudando-me a deixar um testemunho destes tempos de tantas manifestações na arte”. (Renato Campello) Renato Campello começou a pintar aos seis anos de idade. Na época pintava nos casarões da região onde nasceu no Rio Grande do Sul. Foi aprimorando a técnica da pintura na adolescência ao mesmo tempo em que se dedicava a música, inspirado pela mãe que era cantora. Na década de 1970 foi chefe de arte das revistas em quadrinhos da Editora Abril em São Paulo, cidade onde cursou jornalismo. Além de trabalhos cenográficos para televisão, shows e murais, atuou, também, como carnavalesco da Escola Nenê de Vila Matilde. No início dos anos 1980 foi contratado como editor de arte pela Editora Globo, no Rio de Janeiro. Em 1984 decidiu dedicar-se exclusivamente a pintura de campo, vendendo seus quadros em feiras. Anos depois mudou-se para Tiradentes, Ouro Preto, São Tomé das Letras e litoral paulista. E, em 1998, para Chapada dos Guimarães,
lumeMatoGrosso onde abriu ateliê com a esposa Ângela Godinho e a filha Fabrícia Campello, suas grandes parceiras desde sempre, e não se mudou mais. Suas obras já foram comercializadas em diversos países, como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Israel, Argentina, Chile, dentre outros. E, claro, em todos os estados brasileiros. A abertura da exposição ‘Gratidão’ aconteceu no dia 10 de setembro no centro cultural Casa di Rose, em Chapada dos Guimarães. As visitas são realizadas em grupos de no máximo seis pessoas, com todas as medidas de biossegurança. Não será necessário agendamento, mas todos deverão usar máscara. Também será disponibilizado álcool em gel e aferição de temperatura corporal com termômetro infravermelho. Renato é um artista inspirador, uma lindeza de pessoa e merecedor desta exposição. Se você está em Chapada dos Guimarães ou pretende ir, faça uma visita ao centro cultural Casa Di Rose e prestigie a exposição do artista que segue aberta até o dia 10 de outubro.
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O DESPERTAR NAS MANDALAS DE PAT VIOLIN Patrícia Violin Junqueira, nascida no interior de São Paulo, conhece Mato Grosso desde os 11 anos, quando vinha passar as férias, próximo a Serra do Roncador, na fazenda da família. A paixão pela natureza fazia de suas férias as melhores pois, Mato Grosso com seu encanto proporcionou belas lembranças e emoções. O clima, a fauna, a flora sempre marcantes e a oportunidade e liberdade de estar em contato íntimo com a natureza fez com que a artista aceitasse as oportunidades de trabalho em Mato Grosso e se estabelecesse em Cuiabá.
CURSO LIVRE DE TEATRO Aulas de teatro para os adolescentes com interpretação, expressão corporal, jogos e experimentos cênicos, improvisação e montagem de cenas/espetáculos. » Docência: Trupe Malacriada de Artes » Aulas semanais: quartas-feiras das 18h30 às 19h30 » Valor mensal: R$100,00
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Em São Paulo-SP, teve o contato com a arte de forma abrangente, considerada um polo cultural de brasileiros de todo território nacional e estrangeiros, pôde conhecer trabalhos de artistas e culturas diferentes inspirando o desejo de desenvolver sua forma própria de expressão artística. A Arte com as Mandalas surge da busca de uma identidade artística, onde desde a infância as habilidades já existiam. Em 2017, quando o trabalho com as mandalas tomou forma, deu-se o início, reconhecimento e a expansão da arte como expressão. A técnica própria, utilizada e desenvolvida, vem sendo aperfeiçoada com o passar dos anos. Formada em odontologia, com títulos de pós-graduação, não tem curso superior em arte, apenas o amor em se expressar através dela. A primeira exposição em 2019, foi uma pequena mostra de seu trabalho, no Café Bar Alto do Céu em Chapada dos Guimarães-MT. A segunda mostra será uma exposição no Centro Cultural Casa di Rose em Chapada dos Guimarães, de 06/11/21 a 05/12/21, com o tema DESPERTAR, inspirado no período de pandemia onde foi exigido mundialmente o exercício do autoconhecimento, reflexão sobre os valores praticados pela humanidade e o que realmente importa após dois anos de estarmos vivendo tempos jamais imaginados! O processo de criação é intuitivo, com bases na observação da natureza, minha maior inspiração; também utilizo a música, navegando entre clássica, celta, indiana, new age, música popular brasileira, canto gregoriano, mantras e orações! A técnica de colagem peça a peça criada e desenvolvida, exige tempo, paciência e precisão da designer para alcançar os efeitos desejados em cada parte do trabalho, o que torna o processo demorado e as peças únicas. Uma mandala de 20 cm, leva em média 10 dias até ser finalizada e uma mandala de 80 cm leva em média 60 dias ou mais dependendo dos detalhes e do design.
POÉTICAS DO MOVIMENTO
Curso livre com foco no processo de auto percepção e organização corporal, proporcionando ferramentas para pesquisas e processos criativos em dança contemporânea. » Docência: Oz Ferreira » Aulas semanais: quintas-feiras das 18h30 às 19h30 » Valor mensal: R$150,00 NEW SEITAI Quiropraxia japonesa: alívio imediato da dor crônica e aguda. » Profissional: Eriseu Trindade » Sessões: de terças à domingo das 8h00 às 18h00 » Valor por sessão: R$100,00 PRÁTICAS DE YÔGA Exercícios que trazem benefícios para o corpo e para a mente. » Docência: Kamilla Braz » Aulas semanais: terças e sextas-feiras das 8h00 às 9h00 » Valor mensal: R$200,00
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JANAINA SOARES DA COSTA BUCCIOLI É estudante de Literatura e Literatura Comparada na Université Sorbonne Nouvelle em Paris e graduada em Ciências Econômicas pela HEC de Genebra - Suiça
Literatura, os jovens e a modernidade
“A organização da palavra comunica-se ao nosso espírito e o leva, primeiro a se organizar; em seguida, a organizar o mundo” (Cândido, 2004, p.177) POR JANAINA SOARES DA COSTA BUCCIOLI
A LITERATURA COMO INSTRUMENTO DE APRENDIZADO DE SI E DO MUNDO » A vida é uma fera a ser decifrada. Na busca da compreensão do desconhecido, dentro e fora de si, o ser humano mistura cores, inventa notas musicais e dá outro papel aos símbolos usados em sua comunicação. A literatura pode ser descrita como o fruto do casamento entre o precisar existir além
do real, com a evolução de um sistema simbólico e dinâmico que é a linguagem verbal, seja ela oral ou escrita. O texto literário é inseparável do mundo e da sociedade. Ele permite, independente de formas, correntes e períodos, um mergulho no outro. Há na sua vivência um encontro com sentimentos diversos – dores, alegrias, esperanças (ECO, Umberto. Sobre as funções da literatura. Rio de Janeiro: Record,
2003) - e uma inserção destes mesmos sentimentos em contextos que corroboram, questionam ou criticam dilemas morais, políticos e culturais. A literatura revela a multiplicidade da vida, permite passeios históricos e nos presenteia com seu encantamento ao proporcionar uma opção diversa à nossa própria realidade - ela nos dá o escapismo do microcosmo, permitindo-nos buscar algum tipo de grandiosidade.
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A LITERATURA NA FORMAÇÃO DO JOVEM CONTEMPORÂNEO » O contato com realidades diversas, expostas em livros, desperta uma maior compreensão de si e do outro. Através de um pacto ficcional com o autor, o leitor se permite interiorizar o que não foi por ele vivido, trabalhando tanto em um esfera cognitiva, por sua razão e tentativa de compreensão, quanto em uma esfera afetiva, por suas emoções e preferencias estéticas. É nesse sentido de ferramenta de autoconhecimento e de apreensão do outro que a literatura se coloca como elemento fundamental no desenvolvimento dos jovens em formação. As gerações contemporâneas presenciam uma formatação social inédita para a humanidade: o jovem desenvolve-se dentro de uma realidade de pós-verdades, de excesso de informações e vendo-se como parte de uma sociedade com identidades múltiplas, geradas por imigrações/migrações ou por segmentações oriundas de questões diversas como, por exemplo, ideologias ou distanciamentos de origem econômica. Nunca estivemos tão expostos ao outro, o que acarreta sintomas paralelos e opostos: empatia e conscientização de um lado e ondas de conflitos pelo não entendimento ou aceitação do diferente, de outro. É nesse caldeirão efervescen-
te que a literatura favorece e colabora com o desenvolvimento pessoal. Viver o diferente, através de aventuras literárias (de forma cognitivas e emotivas), exige um exercício de tomada de ponto de vista do outro, o que auxilia no aumento da empatia e ajuda na construção de habilidades para resoluções pacíficas de conflito. (CLAES, Michel. L’univers social des adolescents, Montréal: PUM, 2005). Se a literatura serve ao jovem no seu entendimento de uma sociedade diversa e conectada, ela também pode ajuda-lo no entendimento do seu estar no mundo, seja no que ele tenha de mais específico, como as questões existenciais - muito trabalhadas pela linguagem poética - seja com questões que são parte da construção de identidades coletivas, como pertencer a um certo tempo, região, grupo. Através do exercício de leitura o jovem acessa uma ponte que o leva a analisar seus próprios medos, angústias, verdades e a se alimentar da seiva que corre nas raízes que formaram e formam seu pertencimento à uma nação, a um grupo, etc. DO DIREITO À LITERATURA anteriormente colocado, o texto literário é um lugar onde, a cada encontro com um obra, o leitor estabelece uma dinâmica que o coloca como participante ativo na reflexão e na busca do entendimen-
» Como
to do eu, do outro e do nós. Esse processo é transformador para todos os grupos sociais. Nos grupos minoritários ou expostos às mazelas sociais e econômicas, a literatura pode representar um verdadeiro alento para as dores. Seja como peça no processo de entendimento e crítica da dinâmica mundial (quase sempre injusta), seja por puro escapismo e encontro com o belo. “Para uma população marginalizada, uma biblioteca, uma coleção de livros, cumpre um papel essencial... para aqueles aos quais foram negados os direitos fundamentais ou que vivem em condições subumanas, talvez seja a única porta que lhe permitiria ultrapassar o limiar e saltar do outro lado”. (PETIT, M. A leitura em espaço em crise. Rev. Bras Psicanal. 2006). É dentro dessa ótica funcional que nosso falecido Antônio Cândido nos traz a ideia de um Direto à literatura. Para ele a literatura seria uma necessidade humana e o seu exercício revelaria, de alguma maneira, a vida ao seu leitor. Considera a privação ou a falta de oportunidade de um viver literário um crime contra o desenvolvimento humano. Cândido defende o acesso a todos os tipos de literatura, por todos os grupos sociais . A literatura, para ele, é um direito que desagua nas águas da justiça social.
O JOVEM AUTOR DA SUA VIDA » A exposição do leitor em formação deve ser constante e incentivada de forma que ele possa navegar nessa dimensão simbólica. A capacidade de ler um texto não se limita ao seu entendimento gramatical. É preciso buscar que nossos jovens saibam e tenham prazer em dar sentido ao texto. É assim que irão ampliar a capacidade de dar sentido ao mundo. O texto literário, além de estar disponível como prática de recepção (leitura), também está disponível pelo processo criativo. A necessidade de fabulação é inerente à humanidade. Seja na elaboração de uma conto de tradição oral ou nos quadrinhos infantis a elucubração simbólica se encontra presente. Permitir e incentivar o jovem à escrita é uma maneira de fazê-lo trabalhar suas observações sobre o mundo e, ao mesmo tempo, colocar-se de maneira ativa na construção desse próprio mundo, ampliando o seu próprio sentido de existência.
A LITERATURA, O JOVEM E A MODERNIDADE » Algumas pesquisas revelam que o advento da internet como ferramenta principal de comunicação, pesquisa e troca entre os jovens pode contribuir para a criatividade, porém afetaria a escrita e a leitura de textos mais complexos e longos. Ao nosso ver, a capacidade de elaborar ou entender textos que ultrapassem 140 caracteres é fundamental para a construção de uma identidade estruturada. O desenvolvimento de ideias completas em um texto de forma lógica, seja ele de natureza literária ou não, é essencial ao raciocínio coerente. A velocidade com a qual consumimos objetos, pessoas e ideias não se adequa à uma tentativa de compreensão mais intrínseca e profunda de si ou do mundo. A reflexão exige tempo. O processo mental de abstrações é o que nos permite reviver o passado, imaginar futuros ou, ainda, criar sistemas matemáticos para universos desconhecidos. A exposição constante dos nossos jovens à informações e criações aceleradas deve ser complementada por uma exposição constante ao pensamento lógico que se distribui ao longo de várias páginas. A humanidade e seus sentimentos são grandiosos e labirínticos - sua investigação, provavelmente infinita, não se esgota, sequer, na última página de uma obra como a Divina Comédia.
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Diversas experiências demonstram que muitos jovens em situação de marginalidade, ao serem expostos à um certo tipo de literatura, encontram uma identificação e cumplicidade na dor do outro, e, muitas vezes, por essa identificação, encontram maneiras de trabalhar e diminuir sua raiva e culpabilidade.
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PA R A Q UA N D O VOCE FOR
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CECÍLIA KAWALL Mora em Chapada dos Guimarães, é guia de ecoturismo e de aventura, empresária, fotógrafa e escreve para Lume MT.
Fotos da vida!
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TEXTO E FOTOS CECÍLIA KAWALL
O fim do verão chega com seu aguadeiro desabando o céu sobre nossas cabeças. Quando o mar está pleno, os rios estão fortes, transbordando. As matas estão encharcadas e radiantes. E quando vem o sol fica tudo brilhando. Acredito que não há melhor imagem da vida em si! O alimento é abundante e os animais estão satisfeitos. No mundo dos homens neste nosso Mato Grosso é hora de começar a alta temporada do turismo, começar a receber os visitantes para mostrar a exuberância da vida! A água é um elemento feminino, a vida é um atributo feminino assim como a abundância, fartura, excelência, a generosidade...
A água não tem cheiro, não tem forma, tem adaptabilidade, tem resiliência, tem força e mansidão. Junto com a escuridão faz brotar a semente no solo. É preciso tão pouco para iniciar a vida! Um ventre fértil, uma semente e água! Para acalmar, para despertar, para cozinhar, para limpar, para hidratar, água! Quando você for tomar um banho de mar, rio ou cachoeira ou até mesmo tomar um copo de água, não se esqueça de agradecer. Sempre que tiver uma chance de preservar não perca a oportunidade, não desperdice jamais o poder que cada gota pode ter. Assim como a vida que a gente não tem como restaurar, PRESERVE! A falta dela... faz falta à Vida!
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TURISMO
Museu Casanova A cidade italiana de Veneza não esquece Casanova, seu libertino universal e inaugura o primeiro museu do mundo dedicado ao escritor e aventureiro
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POR ÁLEX VICENTE
uando Carlo Parodi se mudou para Veneza, há alguns anos, se pôs a seguir o rastro de seu herói da infância, Giacomo Casanova, que nasceu na cidade italiana em 1725. O empresário lombardo descobriu que havia um único local para recordar sua memória. E que não estava necessariamente à altura de tão lendário personagem: uma simples placa comemorativa instalada na rua Mali-
piero, discreta travessa ao lado do Grande Canal, onde Casanova nasceu e cresceu. Toda vez que passava por ali, descobria turistas amontoados em frente à inscrição, imortalizando o momento com uma selfie. “Pensei comigo que não era possível que essa fosse sua única marca em toda Veneza. Precisava fazer algo para resolver isso”, explica Parodi, que se dedica à importação de prosecco no Reino Unido. FOTOS DIVULGAÇÃO
lumeMatoGrosso Decidiu criar um museu, o primeiro dedicado ao escritor e aventureiro em todo o planeta, que abriu as portas em 02 de abril de 2018. Situado em um palacete dos anos 1400 no bairro de Cannaregio, o chamado Casanova Museum and Experience é mais experiência que museu. Parodi fez uma aposta diferente de um museu tradicional. Para começar, sua coleção se limita a alguns livros e objetos. Que ninguém espere uma rigorosa orientação científica, ainda que os textos sejam abundantes e bem documentados. Mas seu per-
fil é sem dúvida lúdico. Ao cruzar a porta, o visitante coloca óculos de realidade virtual e com isso consegue transformar-se em Casanova e viver as mesmas andanças que o personagem protagonizou na cidade de onde teve de escapar três vezes, ao ver-se perseguido por seus costumes libertinos. “Não é um artista que pintou quadros que agora possamos contemplar. Na verdade, creio que é sua vida que é uma obra de arte”, afirma Parodi. “Por isso era conveniente encarnar o personagem e assim entender quem foi.” O designer Roberto
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TURISMO
Frasca, encarregado dos aspectos tecnológicos, completa: “Este é um museu da experiência, onde o visitante deve ser o protagonista e não um ser passivo que observa atrás de uma vitrine”. Ao longo de seis salas, o museu explora todas as facetas de sua biografia. Diferentes hologramas e vídeos evocam sua vida e sua obra, entre vestidos de época e projeções de quadros do Canaletto, e até um quarto onde o visitante é testemunha de seus rituais de acasalamento. Apesar de tudo, a principal obsessão de Parodi foi a de destacar-se do mito do qual Casanova acabou sendo vítima. “Foi um grande sedutor, mas também um grande literato, músico, cientista, diplomata e agente secreto”, afirma o fundador do museu. “Casanova é como um iceberg: só conhecemos uma parte minúscula dele. Quis lhe devolver sua complexidade e ecletismo.” O novo museu recorda que conviveu com personagens como Rousseau, Voltaire e Mozart. Um aplicativo para celular completa a visita e permite percorrer vários pontos da cidade vinculados a Casanova, como o Sottoportego dei Do Mori ou o Caffé Florian, onde Casanova encontrava suas conquis-
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tas. “É uma ideia importante recuperar esse personagem histórico e voltar a situá-lo neste belo lugar. Se Casanova é um veneziano por excelência, é porque esta não é a cidade de quem nasce aqui, mas de quem decide retornar a ela”, explicou o prefeito de Veneza, Luigi Brugnaro, durante a inauguração. Este é o primeiro museu Casanova, mas não será o último. No fim de 2018, Parodi abrirá outro centro idêntico em Praga, recordando que o aventureiro faleceu na Boêmia, onde trabalhou como bibliotecário a serviço do conde de Waldstein, depois de cair no esquecimento e na miséria. Também está finalizando uma versão itinerante da exposição que passará por algumas das cidades onde viveu: São Petersburgo, Paris, Londres e “uma cidade espanhola”, ainda a ser determinada. Em seu tempo, Casanova passou por Madri, Barcelona, Valência e Zaragoza entre 1767 e 1768, depois de expulso de Paris por seus indecorosos costumes. Fugiu depois de ser perseguido pela Inquisição e expulso da capital catalã, onde passou seis semanas em sua Ciudadela. Mais de dois séculos depois de sua morte, Casanova voltará a percorrer a geografia europeia.
lumeMatoGrosso FASCÍNIO PERMANENTE que suas exaustivas memórias de 3.500 páginas, História de minha vida, foram reeditadas nos anos 1960, depois de terem sobrevivido a um bombardeio dos aliados em Leipzig, Casanova voltou a se tornar objeto de fascínio. No fim do percurso, o museu veneziano passa em revista os filmes que se inspiraram em sua vida, dirigidos por todo tipo de cineastas, de Federico Fellini a Albert Serra. Numerosas biografias tentaram decifrar a chave de sua existência. Uma delas, assinada pela psicanalista Lydia Flem, nos
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anos 1990, considerou-o um personagem pré-feminista e abrangeu sua sexualidade fluida e suas experiências com homens e mulheres. Outra mais recente, publicada em 2016, por Laurence Bergreen, destaca as carências afetivas que teriam sido provocadas pelo abandono de sua mãe, atriz que o deixou a cargo de sua avó e nunca lhe deu o amor de que necessitava. A Biblioteca Nacional da França adquiriu o manuscrito de História de minha vida, em 2010, por 7 milhões de euros (cerca de 21 milhões de reais), o que o transformou na peça mais cara de sua coleção.
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Jaciara, Terra Encantada! TEXTO JOELMA PONTES E KIZI KROTH FOTOS ASCON/JACIARA E DRONEJACIARA
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istante a 140 quilômetros da Capital, a cidade de Jaciara, conhecida por suas riquezas naturais e referência no esporte radical, completa 63 anos neste mês de outubro. Com uma extensão territorial de 1.676,972 KM², Jaciara hoje possui um pouco mais de 27 mil habitantes e tem como carro chefe da economia o comércio e a lavoura. A cidade tem como cartão postal a Cachoeira da Fumaça com seus 30 metros de queda, um dos principais pontos visitados pelos turistas. Conta ainda, com o Complexo da Mulata, formado pelo encontro de águas do Córrego da Mulata e o Rio Tenente Amaral. Além de outros atrativos em áreas particulares, como o Vale do Chico, Cânion das Índias, Balneário Rocha e Vale do Aguaçú, que fomentam o turismo rural jaciarense!
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“Assim, o lugar
TERRA DOS ESPORTES DE AVENTURA!
» A cidade que já foi distrito de Cuiabá,
Capital mato-grossense, é pólo do turismo do Vale do São Lourenço com diversos rios, cânions, cavernas, inscrições rupestres, dentre outros. E para os amantes dos esportes radicais, muitas opções de diversão. Em Jaciara você encontra o rafting, que é o principal produto turístico, além do rapel que são as modalidades realizadas diariamente pelas empresas de esportes de aventura do município. E não é só isso! O balonismo, JeepCross, MotoCross, Rali de Regularidade, Canoagem, Quadriatlo Eco Radical também são modalidades realizadas na cidade no evento da Temporada de Esportes Radicais.
recebeu o nome de Jaciara, nome de origem tupiguarani. Se fragmentada, Jaci - de origem Tupi (Lua), ara de origem latim (altar/pedra).”
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POR QUÊ JACIARA? cidade não tinha nome específico, embora fosse conhecida como CIPA que significa Colonizadora Industrial, Pastoril e Agrícola Ltda,nome chamado pelos patriarcas, a família Ferreira e os sócios da empresa. Observando o seu crescimento populacional, os sócios da CIPA decidiram realizar um concurso e após muitas sugestões e estudos, o nome sugerido por Coreolano de Assunção, um dos sócios da colonizadora, que lendo as obras de Humberto Campos, encontra a lenda da Índia Jaciara, que significa “Senhora da Lua”, no texto de Vitória Régia. Assim, o lugar recebeu o nome de Jaciara, nome de origem tupi-guarani. Se fragmentada, Jaci - de origem Tupi (Lua), ara - de origem latim (altar/pedra). Resumindo, Jaciara remete à Altar da Lua ou Senhora da Lua. Legal né? Inclusive, no centro da cidade, na Praça Tamoios, foi instalado o monumento de uma índia em homenagem a cidade. Os primeiros habitantes, conhecidos, da região, foram os índios boróros, embo-
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ra inscrições rupestres tenham sido descobertas em grutas. Em 1950 foi elaborado o projeto de urbanização da futura cidade de Jaciara, em 1.953 oficializou-se distrito de Cuiabá, Capital mato-grossense e, somente em 1.958 foi transformado em município. TERRA TROPICAL
» As temperaturas em Jaciara, em média
são altas, não perde em nada para a Capital onde os termômetros já bateram 48 graus em setembro deste ano. Jaciara, no Mês passado, quase empatou, registrando 46,5 graus. Acreditem! No entanto, a cidade que é cercada por vegetação e muita água, consegue trazer um pouco de frescor quando o sol vai embora, dando passagem à irmã-lua. Já às temperaturas mínimas, ficam na casa dos 5º C, devido as entradas de ar frio pelas calhas dos rios Paraguai-Uruguai. Os meses mais quentes são os compreendidos entre agosto e novembro. E a umidade relativa do ar, de novembro a abril, ultrapassa 80%, com forte declínio na estiagem para menos de 60%.
lumeMatoGrosso À ESQUERDA A PREFEITA ANDRÉIA WAGNER E À DIREITA A VICE-PREFEITA ZILÁ BRUSCHETTA
CIDADE ADMINISTRADA POR MULHERES!
» Jaciara, pela primeira vez em sua histó-
ria, dá lugar a duas mulheres à frente da administração pública municipal. Ex-secretária de Assistência Social, por pelo menos uma década na cidade, a contadora e empresária, Andréia Wagner (PSB) foi eleita prefeita nas eleições de 2020. Ao seu lado, a empresária Zilá Bruschetta. Ambas, foram aprovadas nas urnas, com 47,97% dos votos válidos, totalizando 6.754 votos, deixando para traz o então gestor que tentava a reeleição. Focadas no social, a du-
pla faz jus ao slogan de campanha “Jaciara mais humana de A a Z, quando o assunto é administrar para todos, especialmente a população de baixa renda! ECONOMIA economia de Jaciara gira em torno do comércio e da lavoura, esta última que não parou nem mesmo em meio à pandemia. No município é cultivado o plantio de grãos como soja e milho, hortaliças, produção de algodão, apicultura, além da suinocultura e gado de corte.
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MEMÓRIA
Nos Tempos de Lampião
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POR BRUNO HENRIQUE BRITO LOPES
ssa é uma parte do país que por séculos se manteve oculta, um Brasil quase mitológico de tamanha particularidade. À própria sorte desde que se tem notícia, onde o Estado só comparece para cobrar tributos e a escassez está sempre por perto. Cidades e minúsculos distritos são controlados por figuras que muito bem se assemelhariam a senhores feudais, os coronéis, como eram conhecidos, eram autoridade máxima. Foi nesse contexto que surgiu o Cangaço. Um banditismo digno dos clássicos filmes de faroes-
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te, onde criminosos itinerantes driblavam a lei atravessando fronteiras estaduais. Mas o Cangaço não possuía apenas inimigos, entre fazendeiros estrategicamente aliados e outros pobres sertanejos, a opinião pública se manteve dividida. Se os miseráveis insatisfeitos com os abusos dos coronéis se sentiam representados na contestação desaforada daqueles homens e mulheres fora da lei, os frequentes requintes de crueldade e frieza garantiam o medo e a tensão permanente nas cidades por onde passavam os bandos de cangaceiros.
de terras, castigar e executar inimigos de seus chefes. Foi a truculência desses jagunços que deu origem à jornada de diversos cangaceiros motivados pelo desejo de vingança. A VIDA CRIMINOSA COMO ALTERNATIVA À MISÉRIA E SUBMISSÃO » As condições naturais do Sertão são especialmente desfavoráveis à vida humana. Os longos períodos de estiagem castigam seus habitantes através dos efeitos consecutivos que a falta d’água produz. O gado morre e as plantações ficam comprometidas, assim, famílias inteiras tentam se equilibrar num contexto de subsistência precária. Quando havia oferta de emprego, ou melhor, de trabalho, ela era ligada ao co-
ronel da região, figura nem sempre louvável. Pensar nas autoridades da região como figuras de violência e senso de justiça similar aos dos temidos cangaceiros faz com que se compreenda melhor como tantos sertanejos optaram por esse caminho. A vida criminosa não era nada cordial, mas entre fugas e investidas, oferecia o poder de ter tudo aquilo que passava longe da realidade da maioria: ouro, respeito e mulheres.
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O PODER ABSOLUTO DOS CORONÉIS DO SERTÃO » Desde os tempos do Império, a falta de interesse do Estado pelo Sertão obteve efeitos sangrentos na região. Em meio a uma vasta extensão territorial de pouco interesse público, o Império instituiu a titulação de Coronéis da Guarda Nacional para grandes latifundiários Brasil a dentro. Na prática, o governo passou a legitimar uma relação de domínio que já se fazia efetiva desde os tempos coloniais. Os coronéis eram homens acima da lei. Além da tradicionais forças policias, também submetidas aos seus interesses, eles tinham sua própria “polícia”, eram capangas conhecidos como jagunços: figuras armadas que tratavam de fazer a guarda
O SANGRENTO PREÇO DA VIDA ENTRE OS CANGACEIROS » O vermelho é uma cor muito compatível com o trajeto do Cangaço, não apenas pelo coro de luta ou coragem, mas principalmente pelo sangue. Se entre os coronéis, repre
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MEMÓRIA
» sentantes da lei no Sertão, a violência já era evidente, no Cangaço ela era uma assinatura. O traço hediondo da tradicional execução por sangramento era regido pelo punhal, introduzido em pontos vitais de suas vítimas. Ao passo que se comandava torturas e execuções, as histórias também falam dos cangaceiros como figuras musicais e risonhas. Como se a vida e a morte fosse (e era mesmo) parte do dia-a-dia daquelas pessoas. Já dizia o mítico Rei do Cangaço, Virgulino F. da Silva, o Lampião: “Três coisas eu trago de Pernambuco: dinheiro, coragem e bala.” A OPINIÃO PÚBLICA DIVIDIDA ENTRE O AMOR EO ÓDIO » Lampião já era uma lenda viva antes mesmo de sua vida ser documentado pelo corajoso jornalista sírio-li-
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banês, Benjamin Abrahão. Tratado pela polícia dos estados como uma verdadeira praga a ser exterminada, temido por onde passava, ainda assim ganhou a simpatia de muita gente. A situação de considerável apoio da sociedade pode se amparar no senso de justiça em crítica à força oficial vigente. O respeitado historiador britânico, Eric Hobsbawn, em uma de suas obras (Bandidos/1969), apontou o Cangaço brasileiro como um exemplo claro do fenômeno do banditismo social, que se alinhava ao princípio de contestação, como um sentido primitivo de revolta. VOLANTES: POLÍCIA TREINADA COM PRÁTICAS DOS CANGACEIROS » Por décadas a República simplesmente amargou a inferioridade de suas forças diante do preparo e conhecimento preciso dos
bandos cangaceiros. Equipados com cangas de madeira e utensílios metálicos (daí o nome cangaço: cangaaço), esses grupos eram compostos por homens (e também, muito raramente, mulheres) de invejável experiência de combate, sempre furtivos e ágeis. Nas cidadelas invadidas, a polícia costumava ser ínfima e sem a menor condição para impedir investidas tão bem articuladas. Quando chegava algum reforço capaz de enfrentá-los, os cangaceiros simplesmente desapareciam em rotas de fuga que os levavam para outros estados, onde somente as forças policiais correspondentes poderiam atuar. A reação dos estados foi precisa: responder na mesma moeda. Foram constituídas as chamadas forças volantes, o braço cangaceiro da polícia, for-
O JORNALISTA QUE DOCUMENTOU A VIDA DOS CANGACEIROS » Figura responsável pelos mais preciosos registros iconográficos do Cangaço, o sírio-libanês Benjamin Abrahão Botto conheceu de perto, por vários meses, a rotina de diversos bandos cangaceiros, inclusive os dos notáveis Corisco e Lampião. Ele foi por muitos anos secretário de Padre Cícero em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, até que com a morte do sacerdote em 1934, colocou em prática seu projeto mais ambicioso: filmar e fotografar Lampião e seu bando. Se aproveitando da ligação de Lampião com Padre Cícero, Abrahão facilmente se aproximou do cangaceiro. Lampião era uma figura extremamente vaidosa, característica que o consolidava como Rei do Cangaço, se deixando acompanhar pelo jornalista. O material coletado ao longo de cerca de 2 anos (1936 e 1937) era de extrema preciosidade e foi recebido nas grandes metrópoles como um verdadeiro escândalo. O Cangaço era uma ofensa ao Estado Novo de Getúlio
Vargas, que tratou de censurar e confiscar o registro de Benjamin. O sírio-libanês Benjamin Abrahão trouxe a público relatos detalhados sobre a rotina e características dos bandos cangaceiros, o que pode ter sido nocivo à estratégia dos bandos, cada vez mais combatidos em esfera interestadual. Em menos de três anos a maior parte dos principais bandos foi desmantelada, inclusive com a execução de Lampião (1938) e Corisco (1940). O próprio Benjamin também teve seu fim em 1938 (dois meses antes da morte de Lampião e seu bando), vítima de nada menos que 42 facadas em um assassinato até hoje não esclarecido. Segundo o historiador Frederico Pernambucano de Mello, a mesma força que matou Lampião, matou Benjamin: o desmoralizado Estado Novo.
A FALÊNCIA DOS BANDOS E O COMBATE AO CANGAÇO » Com o passar dos anos, a forma que o Estado tratava o Cangaço era cada vez mais madura. A segunda metade dos anos 1930 foi especialmente difícil para os bandos cangaceiros. Um a um, os criminosos iam sucumbindo ou se entregando em troca da anistia. O marco do fim dos tempos do Cangaço foi a emboscada que executou Lampião, Maria Bonita e diversos membros de seu bando. Suas cabeças foram expostas ao público em muitas cidades do Sertão nordestino. O fim do Cangaço foi causa direta da insatisfação com tamanha desmoralização do Estado Novo causada pelas imagens de Abrahão. E, sistematicamente, pagou o preço da visibilidade que adquiriu.
GROTA DE ANGICOS POÇO REDONDO/SE, ONDE LAMPIÃO E SEU BANDO MORREU, EM EMBOSCADA
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madas por homens (alguns deles até ex-cangaceiros) de preparo e práticas de combate idênticas às dos bandos criminosos. Assim, rotas de fuga, abrigos e investidas furtivas estavam mais sujeitas a falhas.
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HISTÓRIA
Os Escravos Açorianos No Brasil: História Quase Desconhecida
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O desejo de encontrar um futuro melhor nem sempre corria como se esperava e muitos emigrantes açorianos acabaram por ser escravos no Brasil POR VXMAG
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VISTA DO PORTO DE PONTA DELGADA
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HISTÓRIA
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AÇORIANOS EM VIAGEM PARA O BRASIL
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m Portugal, o fenômeno da emigração organizada dirigida para a colonização foi predominante nos séculos XVII e XVIII, impondo-se à emigração espontânea. Isto acontecia especialmente para o Brasil, que era visto como um destino cheio de novas oportunidades e de melhores condições de vida para os portugueses que para lá fossem. Mas nem tudo eram rosas… Ao longo destes séculos, a emigração de portugueses, especialmente de açorianos, aumentou e, a partir da década de 30 do século XIX, o fluxo aumentou de tal forma que autoridades e a opinião pública se aperceberam do fenómeno da chamada
“escravatura branca” ou “escravatura açoriana”, com relação à emigração clandestina, e que afetava todo o território nacional. Assim, num tempo em que se procurava abolir a escravatura, o foco da emigração eram mulheres açorianas que chegavam ao Rio de Janeiro e eram forçadas a trabalhar em prostíbulos, vítimas de contratos ilegais e abusivos. O governo estabeleceu uma lei que instituía cotas de migração para o Brasil, numa tentativa de conter a chegada de pessoas vindas de outras regiões, ajudando assim no combate ao fenômeno. No entanto, ainda era perceptível o fluxo de açorianos no Brasil em inícios do século XX.
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HISTÓRIA
CIDADE DE ANGRA DO HEROISMO CAPITAL DOS AÇORES
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ria Capelo, referindo-se ao tráfico de migrantes, vindos especialmente dos Açores, Madeira e norte de Portugal. Em inícios de 1839, o deputado Almeida Garrett denunciava igualmente o fenómeno, dando particular relevo aos Açores, pela sua população estar sujeita a uma manifesta desigualdade em relação ao continente. Em 1840, o deputado Sá Nogueira alertava para a necessidade de manter uma comissão que propusesse meios de travar este fenómeno nocivo. Em 1842, por intervenção do Ministério da Marinha e do Ultramar, o governo procurou restringir o tráfico da escravatura açoriana, o que se revelou difícil, já que nenhuma lei proibia a mudança de domicílio. Mesmo assim, publicou-se uma portaria pelo Major General da Armada, os seus intendentes e outras autoridades que, entre outras medidas, obrigava à apresentação de passaporte, e ao transporte de passageiros em conformidade com as regras definidas (o que incluía um abastecimento de comestíveis e de água). De pouco resultaram estas medidas, porque em 1859, os índices de emigração clandestina nos Açores chegaram a tal nível que o Primeiro-Tenente da Armada, Aires Pacheco Lamare, foi destacado para ir à ilha de S. Miguel, de forma a propor os meios adequados para pôr travão ao fenómeno. Em 1863, o Regulamento Geral de Polícia voltava a incluir medidas relativas ao policiamento das embarcações, chegando a estipular as tipologias de navios destinados ao transporte de emigrantes. A questão ressurgiu em 1876, graças à falta de meios ou à inércia das autoridades. Mas a verdade é que o aliciamento de emigrantes era um problema de difícil extinção, já que os agentes iam de aldeia em aldeia a anunciar ilusões de fortuna a quem os quisesse ouvir, levando a que os locais vendessem tudo o que tinham e assinassem uma escritura, pagando a passagem com o seu trabalho e, muitas vezes, com a sua vida.
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Estas transações foram denunciadas por várias vozes, mas a verdade é que em alturas de crise e de escassez, o único contorno para a falta de empregos e de meios de subsistência era a emigração, mesmo que ilegal. Como os açorianos tinham a fama de bons trabalhadores e se encaixavam no perfil de pessoas que as Companhias de Colonização queriam fazer chegar ao Brasil, as atividades nesta ilha foram muito marcantes e prolongadas, à revelia da lei. Na maior parte das vezes, este tipo de escravatura dizia respeito a contratos de trabalho desvantajosos, ou mesmo à própria venda da mão-de-obra no Brasil. Para além das condições de trabalho desumanas no país de destino, o transporte destas pessoas era feito em navios sobrelotados e sem condições, o que levava a que muitos não chegassem ao seu destino, e que os sobreviventes ficassem em condições precárias de saúde. Os emigrantes, na impressão de que iam para um destino melhor, empenhavam tudo o que tinham na partida. O seu contrato, no entanto, obrigava-os a descontar do futuro salário o pagamento da passagem, acabando estes por ficarem abertos a todo o tipo de situações abusivas. Como não sabiam contar e desconheciam a moeda, tornavam-se presas fáceis para os empregadores estrangeiros, dos quais se tornavam dependentes. Como forma de desmistificar a ideia da terra de oportunidades que o Brasil poderia representar, os jornais dedicaram-se à consciencialização das autoridades locais, regionais e nacionais, publicando testemunhos de pessoas que tinham sido vítimas do fenómeno e lançando-se contra o negócio do aliciamento. Tornaram-se frequentes as listas de portugueses mortos no Brasil, e apelava-se até aos padres para que persuadissem os crentes a não embarcarem na viagem. Na década de 30, surgiu a expressão “escravatura branca”, usada pela primeira vez pelo secretário de Estado José Ma-
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MITOLOGIA
Funeral Bororo FOTO VALDECI QUEIROZ
A cerimônia de funeral realizada pelo povo bororo tem ritualística ancestral e demora dias, semanas, meses, para se consumar, envolvendo toda a sociedade tribal
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povo bororo que contribui para a gene matogrossense, tem visão da morte de forma diferenciada, para eles a passagem para outro plano é uma questão de continuidade e não de interrupção. Quando alguém morre numa aldeia bororo toda a comunidade se movimen-
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ta em função do funeral daquela pessoa, cujos ritos irão permitir que sua lembrança não seja esquecida, sendo sempre cultuado em seus rituais e na vida cotidiana de amigos e parentes. Pela tradição, na hora de sua morte o indivíduo se transforma num animal que possa ser comido por uma onça. Pela ritualística o mor-
to passa a ter um pai e uma mãe rituais que cuidarão dele e de sua alma, que terá um substituto social, a sua metade oposta. Trata-se de um índio devidamente preparado para os ritos do funeral e que tem por obrigação caçar uma onça. Antes da partida do substituto social para a caça ocorrem cantos, festas e rituais,
lumeMatoGrosso FOTOS MUSEU DO ÍNDIO
no entanto, ele só poderá voltar após o êxito da empreitada. Essa é uma passagem extremamente importante, pois, com a morte da onça, ocorre a recuperação espiritual do falecido, já que a onça devorou o animal em que o morto havia se transformado. A mitologia bororo entende esse rito como uma compensação pela perda do indivíduo, e que, mesmo não trazendo-o à vida, crêem em sua transformação numa onça, um dos animais mais ferozes da terra. Após ser abatida, a onça é carneada e distribuída aos presentes, sendo que o couro do animal é entregue ao parente mais velho do morto que o repassa a um mais jovem, para que durma com o couro da onça, ato seguido por todos os parentes. Depois de todos terem dormido com o couro da onça o mesmo volta ao mais velho, de forma definitiva.
Em forma de agradecimento ao substituto social do morto, a família estabelece vínculo permanente e procede ritualísticas de presentes como flecha, adornos e tranças de cabelos de mulheres, por elas arrancados durante o funeral. Por conta de toda essa ritualística compreende-se que existe no funeral uma força simbólica que impele o morto para dentro de si mesmo, pois seu espírito vai para o distante mundo das almas, no qual o bororo acredita ser igual ao mundo dos vivos. Essa situação se reflete nos parentes do falecido que se fecham em copas e suspendem suas vidas sociais. Para isso é necessário que o funeral cumpra sua ritualística e dure o tempo suficiente para que a alma do falecido não permaneça conturbada com sua passagem da vida para a morte.
No período do funeral bororo os rituais têm que ser seguidos à risca, inclusive as pescarias, caçadas e encontros. Fato curioso é que as crianças que venham a nascer nesse período só receberão seus nomes após a conclusão do funeral com seus rituais de transformação que elevam o falecido à categoria de Aroe. Nomina-se Aroe-maiwu o substituto legal, que no período do funeral adquire capacidade de comunicação com o mundo das almas. É relevante o papel adquirido pela mulher no funeral bororo, que na qualidade de mãe ritual do indivíduo morto adquire um caráter mítico, pois além de cozinhar para o substituto social, cabe à ela a preparação do cesto que receberá os ossos do falecido, não sem antes terem chorado muito, arrancado cabelos e cortado partes de seus corpos.
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CRÔNICA
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Toalhas POR ANA CAROLINA HALIUC BRAGANÇA
ez uma sereia de bruços, rabo para o alto, queixo entre as mãos, olhos faceiros não fossem adesivos. Aprendera a arte num curso profissionalizante de hotelaria. Uma dúzia de diferentes espécimes: a sereia fora a primeira, depois duas variações de cachorros, pinguim, urso, menina, pato, o tradicional gato. Os ornamentos enfeitavam as camas king size de todos os quartos do resort em que trabalhava, os quarenta quartos que todos os dias limpava. Quarenta quartos, quarenta sereias feitas habilmente, já nem pensava mais, não dava tempo, mas era certo que vinham gorjetas mais gordas quanto mais afetuosos os ornamentos. Assim, seguia torcendo as toalhas, colando olhinhos amendoados de cartelas de adesivos que comprava ela mesma na loja de 1,99 na frente do pon-
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to de ônibus, ao retornar do dia de trabalho – na ida, às seis e meia da manhã, a rua estava deserta e a loja estava fechada. Nos últimos tempos, chegara a um nível de desenvolvimento sem precedentes dentre a categoria das camareiras. Estava desenvolvendo seu próprio cisne. Não um modelo que viesse no curso, pois esses todas as camareiras sabiam, o curso era obrigatório para todas que trabalhavam no resort. Um modelo só seu, um exclusivo, fruto de sua própria destreza com o tecido. Estava meio torto, é verdade, mas Amália lhe dizia que a cada semana melhorava. Era uma questão de aprimorar as dobras. Ou quiçá de descobrir onde estava a dobra que faltava para que o pescoço fosse inteiramente ereto, e as asas majestosas como os cisnes de verdade, que já vira em um filme na sessão da tarde.
Amália era bondosa, mas não mentia. Todos os dias, ganhava o primeiro ornamento, que lhe saudava de cima quando a menina abria os olhos, sorrindo-lhe do alto banquinho usado como criado-mudo. O horário da escola lhe permitia acordar às sete horas. A mãe trançava as toalhas puídas ao nascer do sol conforme a inspiração que lhe vinha, uma dúzia de opções, mais o cisne, em desenvolvimento. O insight que tivesse no dia repetia-se para os quarenta quartos. Se fosse o cisne, fazia o pato – ainda não tinha segurança para lançar seu modelo exclusivo, e morria de medo que lhe fosse roubada e aprimorada a ideia. Ao ver um modelo ainda não conhecido de outros resorts, os turistas davam-se à generosidade. Não podia deixar que seu cisne virasse carne de vaca: era rebento seu, para ganhar o mundo quando a gestação estivesse finda e rompesse sua bolsa. Amália acordava e achava as toalhas trançadas à beira dos lençóis, mas ia-lhe o dia para maturar sua opinião, já que a mãe só à noite veria. Rigorosa como boa virginiana, apreciava bem as torções, perfeitas a criar vida nos bichanos, à exceção do cisne. O progresso era evidente, e não deixava de notá-lo, mas havia um quê, qualquer coisa que fosse, um ar, um alento que lhe faltava. Incentivava a mãe, “Faça o cisne, mãe”, à noitinha repetia, pois que a toda vez acreditava ver melhora. Mas já iam dois anos com a mãe embalando a criatura, e o pescoço ainda meio torto, e as asas não tão majestosas, e os olhinhos amendoados como que sem vida.
E iam, assim, quarenta patinhos nas camas king size do hotel, e mais e mais toalhas viradas, toalhas equilibradas em bolinhos umas sobre as outras, toalhas cruzadas em nós, toalhas aqui e ali, acá e acolá. A arte, porém, atinge seu ápice, inevitavelmente. De patinho em patinho, o cisne ganhou corpo, elegância, presença. Atingiu seu clímax numa manhã de dezembro, a manhã em que Amália soube que ia partir: orgulho da mãe, que a criara solteira e sozinha no mundo, fora admitida em uma universidade pública. Naquela manhã, não eram nem seis horas, mas já havia para a camareira um sopro de inspiração no ar. A menina, já não tão menina, estava angelical em sua cama. O banquinho ao seu lado. Um friozinho de começo de dia, a terra ainda não aquecida pelos raios de sol. A mãe puxou o ar e expirou uma bela ave negra (era a cor de sua toalha), encontrando nos seus dedos três dobras adicionais que andavam perdidas pelo universo, tendo caído justo ali. Vislumbrou-a, e deixou de lado a cartela de adesivos. A onipresença do cisne já o fazia tudo ver, não carecia de olhos colantes que o tornassem mais humano. Era pura majestade, o cisne negro em cima do banco. Amália não precisou exercer seu juízo de valor. Naquele dia, cisnes brancos inundaram os quartos do resort, encantando turistas desavisados que retornavam aos seus cômodos após um dia de praia. Gorjetas gordas garantidas pra sempre, pois não houve depois disso, em parte alguma inspiração igual.
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ANA CAROLINA HALIUC BRAGANÇA É Procuradora da República. Atuou no Ministério Público Federal em Mato Grosso, Roraima e, atualmente, é titular do 13º Ofício da Procuradoria da República no Amazonas, especializado em matéria ambiental. Formada em Direito pela USP, não esconde sua paixão pelo meio ambiente e pelas comunidades tradicionais.
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R E T R ATO E M PRETO E BRANCO
Eurico Gaspar Dutra
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asceu em Cuiabá, em 18 de maio de 1883, era filho de José Florêncio Dutra, modesto comerciante da área central da capital de Mato Grosso e ex-combatente na Guerra do Paraguai. O fato de seu pai ter sido um herói de guerra sempre o motivou à entrada no Exército brasileiro.
coesão na conduta política dos militares através do expurgo sistemático dos elementos dissidentes, ao mesmo tempo em que promovia a modernização e a ampliação do poderio das Forças Armadas, consolidando o papel decisivo exercido pela instituição no jogo político do país. Sua demora em promover o combate ao levante integralista deflagrado em maio de 1938, no qual a residência de Vargas foi atacada pelos rebeldes, gerou suposições, jamais confirmadas, sobre sua conivência com a insurreição. Também durante sua gestão teve lugar o processo de envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial. A princípio, Dutra e Góis Monteiro constituíam a base principal do setor governista que defendia a aproximação do Brasil às potências do Eixo, enquanto outra facção, capitaneada pelo ministro da Fazenda Osvaldo Aranha, defendia a aproximação com os Aliados, mais especificamente com os Estados Unidos. A opção do governo brasileiro pelo alinhamento com os EUA, finalmente definida em 1942, foi aceito com relutância por Dutra. Mesmo em 1943, quando as relações diplomáticas do Brasil com os países do Eixo já haviam sido rompidas, Dutra ainda deixava transparecer suas inclinações políticas ao colocar obstáculos ao funcionamento da Sociedade Amigos da América, entidade estimulada por setores liberais e presidida pelo general Manoel Rabelo. Seus atritos com a facção liberal do regime resultaram, inclusive, no afastamento de Osvaldo Aranha do Ministério da Fazenda, após a interdição de uma solenidade em sua homenagem pela Sociedade Amigos da América. Em que pese tais posicionamentos, porém, coube a Dutra comandar o processo efetivo de aproximação entre Brasil e Estados Unidos no que dizia respeito às questões militares, tendo sido o responsável pela organização da Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviada para combater na Itália. Ainda durante o Estado Novo, Dutra foi sondado por setores oposicionistas que
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Em 1904, ingressou na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Nesse ano, participou, junto com companheiros de corporação, da Revolta da Vacina, deflagrada na capital federal contra o governo do presidente Rodrigues Alves. Por conta disso, foi expulso da Escola Militar, só retomando seus estudos no ano seguinte, quando foi anistiado. Em 1906, ingressou na Escola de Guerra de Porto Alegre; em seguida, cursou a Escola de Artilharia e Engenharia. Durante a década de 1910, foi freqüente colaborador da revista Defesa Nacional destinada ao meio militar. Em 1922, concluiu o curso da Escola do Estado-Maior. Durante a década de 1920, por várias vezes esteve envolvido na repressão aos levantes tenentistas então deflagrados contra o governo federal, como em 1922, no Rio de Janeiro, e em 1924, em São Paulo. Convidado a participar da Revolução de 1930, preferiu manter-se ao lado das forças legalistas. Aproximou-se do governo Vargas a partir de 1932, quando teve importante participação no combate ao movimento constitucionalista desencadeado contra o governo federal, em São Paulo. Pouco tempo depois, atingiu o generalato e, entre 1933 e 1934, presidiu o Clube Militar. Em 1935, comandava a 1ª Região Militar, sediada na capital federal, quando chefiou a repressão ao levante armado deflagrado na cidade por setores vinculados à Aliança Nacional Libertadora (ANL), frente anti-imperialista e anti-fascista, integrada por comunistas, socialistas e “tenentes” de esquerda. Em dezembro de 1936, foi nomeado ministro da Guerra. Nesse posto, cumpriu papel decisivo, junto com Vargas e com o general Góis Monteiro, no fechamento do regime, que levou à instauração da ditadura do Estado Novo, em novembro de 1937. Nesse processo, colaborou ativamente na divulgação de uma suposta ameaça comunista e no afastamento do governador gaúcho Flores da Cunha, último obstáculo à concretização do golpe. Durante o Estado Novo, Dutra impôs a
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R E T R ATO E M PRETO E BRANCO lhe propuseram liderar um golpe que afastasse Vargas e reestabelecesse a democracia no país. Em 1945, quando o regime mostrava claros sinais de esgotamento, seu nome foi lançado por setores governistas articulados no Partido Social Democráticos (PSD) para concorrer à presidência da República no pleito previsto para dezembro daquele ano. A oposição, aglutinada na União Democrática Nacional (UDN), apresentara o nome de outro militar que gozava de grande prestígio dentro e fora das Forças Armadas, o brigadeiro Eduardo Gomes. Em agosto, Dutra afastou-se do Ministério da Guerra, cumprindo a exigência de desincompatibilização para concorrer no pleito. Antes que a eleição se realizasse, porém, Vargas foi afastado do governo por um golpe militar que contou com a participação decisiva do próprio Dutra, temeroso que Vargas se aproveitasse do sucesso da campanha
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queremista para se perpetuar no poder. A presidência foi então ocupada por José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal. Foi o próprio Vargas, porém, que acabou desempenhando o papel decisivo na vitória de Dutra nas eleições de dezembro, ao recomendar aos seus seguidores o voto em seu ex-ministro da Guerra. Empossado em janeiro de 1946, Dutra aproximou-se dos setores conservadores, incluindo aqueles representados pela UDN, através do chamado Acordo Interpartidário, o que acarretou a marginalização de Vargas e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que acabaram por romper com o presidente. Os comunistas, que haviam obtido resultados eleitorais expressivos nas eleições de 1945 e 1947, foram vítimas de uma ferrenha perseguição por parte do governo, que assim se integrava no contexto internacional da Guerra Fria, e tiveram sua atuação política legal novamente proibida. O governo Dutra foi marcado, ainda, por uma política econômica conduzida a partir de postulados liberais, pelo rápido esgotamento das reservas cambiais acumuladas durante a guerra e por uma severa política de arrocho salarial. Em 1950, Dutra apoiou o candidato do PSD à sua sucessão, o mineiro Cristiano Machado. O eleito nesse pleito, porém, foi Getúlio Vargas, ficando Machado apenas com a terceira colocação. Em janeiro de 1951, Dutra transmitiu o cargo a Vargas. Mesmo após sua saída da presidência, manteve grande influência junto à cúpula militar e lideranças civis. Em 1954, deu apoio discreto às articulações para afastar Vargas da presidência. Voltou a conspirar dez anos depois, dessa vez contra o presidente João Goulart. Com o estabelecimento do regime militar, em 1964, seu nome chegou a ser cogitado para ocupar novamente a presidência. Prestigiado pelos militares, fez parte do diretório nacional da Aliança Renovadora Nacional, partido de sustentação do regime. Morreu no Rio de Janeiro, em 16 de junho de 1974. FOTOS DIVULGAÇÃO
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A MLEI TR EI CR A N T UI DRAAD E
A Busca Pelo Intercâmbio Cultural Entre Os Povos Da América Do Sul:
Facundo Cabral POR MARIA CLARA BINGEMER
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AMERICANIDADE
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Não sou daqui nem de lá, cantava o cantor e compositor Facundo Cabral, argentino de La Plata, província de Buenos Aires, nascido em 1937 e assassinado na Guatemala, dia 9 de julho de 2011, data nacional de seu país. Calou-se a voz do trovador, que depois de uma difícil trajetória por uma infância e juventude pobres, uma viuvez trágica acontecida aos 40 anos, conquistou os corações de milhares e milhares de admiradores que hoje choram sua perda. Facundo nasceu e morreu migrante e errante, nem daqui nem de lá, como cantava em seu maior sucesso musical “No soy de aqui, ni soy de allá”. Um dia antes de seu
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nascimento, o pai de Facundo abandonou a casa, esposa e sete filhos. O oitavo - Facundo - nasceu nas ruas de La Plata, pois, após a partida do filho, o avô paterno expulsou nora e netos de sua propriedade. De La Plata mãe e filhos emigraram para a Terra do Fogo, extremo sul da Argentina. A infância pobre e desprotegida levou Facundo à marginalidade e ao reformatório quando ainda jovem. O álcool onde afogava suas mágoas e dores o fez ser violento e considerado perigoso para a liberdade. Na prisão, um jesuíta o ensinou a ler e escrever, e o jovem inteligente e inquieto tomou contato com a literatura universal, terminando o curso primário e secundário em tempo recorde.
mala nos dias 5 e 7, aplaudido por centenas de fãs. Partia para a Nicarágua quando foi brutalmente assassinado por um grupo de homens armados de metralhadoras. Apenas a morte imobilizou o inquieto peregrino e viajante que não era daqui nem de lá. A violência assassina das pobres cidades latino-americanas dirigiu-se contra ele e interrompeu seu canto. O mundo que amava sua música contempla estarrecido essa morte brutal, que há muito vitima e fustiga os pobres, e que parece agora lançar-se também contra os artistas. Facundo, que não era daqui nem de lá, agora é totalmente de Deus, do Deus que buscou sem cessar, desde a infância desprotegida e pobre até a errância solitária e nostálgica da companheira e da filha que se foram antes da hora. Calou-se o cantor, mas não o canto. Este ficará para inspirar e mobilizar aqueles que como ele ainda acreditam que o sonho de Deus pode realizar-se neste mundo se não formos tão distraídos que sejamos incapazes de escutá-lo.
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Foi um vagabundo errante e errático como ele, companheiro da rua, que o fez conhecer a religião, despertando sua espiritualidade sem pertença institucional alguma. Segundo ele mesmo, “comecei a cantar com a gente simples... E no dia 24 de fevereiro de 1954, um vagabundo me recitou o Sermão da Montanha, e descobri que estava nascendo. Corri para escrever uma canção de ninar”. Assim começou o amor pela música e a carreira musical, em um hotel de Mar del Plata. Mas foi em 1970 que gravou seu maior sucesso, “No soy de aqui ni soy de allá”, que o projetou internacionalmente e o fez ser traduzido em nove idiomas. Juntamente com o talento artístico, Facundo Cabral era alguém profundamente espiritualizado. Citava entre suas maiores influências Jesus de Nazaré, Mahatma Gandhi e Madre Teresa de Calcutá. E literariamente reconhecia paternidade em Borges e Walt Whitman. Suas letras e canções são marcadas por uma observação comprometida e militante, inconformada e crítica. Tudo isso o fez ser persona non grata por parte da cruel ditadura argentina, que perdurou de 1976 a 1983. O talentoso cantor errante teve que exilar-se no México, continuando ali sua carreira musical, sempre itinerante, percorrendo lugares e países, levando sua música. Regressou a Buenos Aires em 1984, dando shows multitudinários com enorme sucesso. No peito de Facundo, uma ferida sangrou até sua morte, que foi ter perdido tragicamente a mulher e a filha em um acidente de avião. Novamente sem lar como quando nascera Facundo passa a residir em quartos de hotel, enfatizando ainda mais a errância que o caracterizava. Assim se descrevia quando completou 70 anos: “Foi mudo até os nove anos, analfabeto até os 14, enviuvou tragicamente aos 40 e conheceu seu pai aos 46. O mais pagão dos pregadores completa 70 anos e repassa sua vida em um quarto de hotel que escolheu como última morada”. Facundo Cabral tinha 74 anos ao morrer, assassinado, no dia 9 de julho, enquanto seu país celebrava a festa nacional. Havia dado grandes recitais na capital da Guate-
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Frida Kahlo A
POR LIANE CARVALHO OLEQUES
lém de uma das mais importantes figuras da arte no século XX, ela foi umas das personagens mais significativas no âmbito político e cultural no México. Frida Kahlo como ficou conhecida, Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, foi uma mulher guerreira, lutado-
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ra tanto na vida privada a qual teve que superar grandes traumas, quanto na vida social. Toda sua obra reflete esta realidade, além da pintura, também deixou um diário onde registrou suas alegrias e frustrações como seu conturbado casamento, sua saúde frágil e a impossibilidade de gerar filhos.
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MEMÓRIA
NA FOTO ACIMA FRIDA COM DIEGO RIVERA EM 1940 E ABAIXO EM 1932
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Frida sempre foi apaixonada pela cultura e tradição de seu país e não hesitava em mostrar isso por meio de seus trajes, adereços e cores vibrantes, além, obviamente, da sua pintura. Frida Kahlo nasceu em 06 de julho de 1907, na cidade de Coyoacan, no México. Seu pai, Guilhermo Kahlo, era fotógrafo e passou para filha sua paixão. A vida de Frida Kahlo é repleta de acontecimentos que irão repercutir na sua obra. Alguns críticos de arte sugeriram que ela era uma pintora surrealista, no entanto, Frida rebateu dizendo que nunca pintou sonhos, mas sua própria realidade, pois ela própria era o assunto que mais conhecia. Com apenas seis anos, Frida teve que superar a poliomielite, doença que a deixou com sequelas, como uma perna mais fina que a outra e um pé atrofiado. Na juventude matriculou-se na Escola Preparatória Nacional, onde começou a estudar medicina. Aos dezoito anos, na volta para casa, Frida sofre um grave acidente que a marcaria para o resto da vida. O bonde onde estavam ela e o namorado chocou-se com um trem e um pára-choque de um dos veículos atravessou-lhe as costas, causando uma fratura pélvica, além de várias outras lesões pelo corpo. Frida Kahlo ficou vários meses recuperando-se e passou por 35 cirurgias. Frida ainda teria que encarar uma série de complicações o resto de sua vida, decorrentes desse acidente. No entanto, foi nesse período que Frida descobriu a pintura. Impossibilitada de levantar da cama, seu pai adaptou um cava-
lete a sua cama e espelho no teto para que a filha pudesse pintar. Aí começou uma série de autorretratos. O primeiro foi “Autorretrato com vestido de veludo“, dedicado ao namorado que a abandonou nesse período. Três anos após o acidente Frida aproximou-se do artista Diego Rivera ao levar alguns de seus trabalhos para que o pintor os analisasse. Esse encontro despertou uma grande paixão que resultou num relacionamento conflituoso, repleto de traições de ambas as partes e separações, além de três abortos espontâneos, que levaram Frida a mais traumas psicológicos. Em um momento conturbado desse relacionamento, Rivera chegou a envolver-se com a irmã de Frida. As aflições de Frida não pararam por aí, durante sua vida sofreu com cirurgias e dores no corpo que a levaram quase a dependência de morfina, além de amputações dos dedos dos pés e uma perna. Frida fez sua primeira exposição individual em 1939, em Nova Iorque. A partir daí ganhou fama internacional o que lhe rendeu exposições em Paris, onde conheceu grandes artistas da época, como Pablo Picasso e Marcel Duchamp. Frida foi a primeira artista mexicana a ter suas obras expostas no Museu do Louvre. Frida morreu em 13 de julho de 1954. “Espero a partida com alegria... e espero nunca mais voltar”, foram as últimas palavras encontradas em seu diário. Liane Carvalho Olques é mestre em Artes Visuais e graduada em Licenciatura em Desenho e Plástica.
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Ú LT I M A P Á G I N A
“
O homem é do tamanho do seu sonho” FERNANDO PESSOA
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ILUSTRAÇÃO KACIO PACHECO
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