lume Mato Grosso
Revista nº. 36 • Ano 5 • Setembro/2019
Rastros do Nazismo A suástica em ladrilhos hidráulicos cuiabanos Pag. 34
PERSONALIDADE - LUIS CLAUDIO DE CASTRO SODRÉ O PAVILHÃO LE CORBUSIER CRISE MIGRATÓRIA RETRATO EM PRETO E BRANCO - BOLINHA RELIGIOSIDADE: UMBANDA E CANDOMBLÉ COVÃO DOS CONCHOS AMERICANIDADE - JULIO CORTÁZAR
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C A RTA D O E D I TO R
JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral
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corrupção assola o nosso país há 5 séculos. Impressionante não é mesmo? É só virarmos as páginas dos jornais diários, zapearmos nos sites noticiosos ou vermos edições intermináveis de jornalismo na TV e já nos deparamos com esse tema: corrupção. É uma febre nacional, porém, Mato Grosso se destaca em casos relevantes de corrupção e se equipara aos grandes centros do Brasil. Vamos tratar desse assunto na próxima edição. Neste setembro de 2019 estive por vários dias diante de uma mulher espetacular: Maria Luiza Müller de Almeida, filha mais velha de Filinto Müller. Com ela aprendi muito da história do Brasil nos períodos 1920/1970, notadamente quando Filinto Müller estava no protagonismo da vida pública e militar nacional. É sabido que correntes da esquerda nunca perdoaram Filinto por ter
sido ele o principal opositor do comunismo no Brasil e, de ter, com mãos de ferro, desmontado o aparelho que estava sendo construído, na década de 1930, sob os auspícios dos soviéticos em nossa terra. Posteriormente ele foi vítima de certos desvarios da mídia comprada e se tornou, aos olhos de muitos, um torturador de comunistas no primeiro governo de Getúlio Vargas. Nessa conversa com Maria Luiza, muito esclarecedora sobre esses fatos, minha visão histórica sobre Filinto foi esclarecida. Hoje vejo-o como injustiçado por ter sido vítima de bem orquestrada campanha difamatória, com vistas a lhe manchar o currículo. Sempre me intrigou a sua história e, por conta disso, estou disposto a contribuir para compor uma revisão histórica de Filinto Müller. Seus descendentes, assim como a história de nosso país pedem por isso. Em edições futuras apresentaremos
um trabalho sobre pesquisa realizada sobre Filinto Müller. Nesta edição recheada de bons temas se destaca a matéria sobre os ladrilhos hidráulicos cuiabanos com estampas da suástica nazista. Fabricadas a partir da década de 1930, ainda existem várias casas (antigas) em Cuiabá que conservam esse tipo de piso. Alguns não tem a menor ideia de seu significado. Entendemos que isso não traduz nenhum tipo de admiração ao nazismo e suas armas. Explicamos isso na matéria. Vale a pena ler sobre Júlio Cortázar, em Americanidade e ver também os textos produzidos sobre questões antropológicas. Na editoria Retrato em P&B homenageamos o saxofonista Bolinha, recentemente falecido. Bolinha era muito querido da sociedade cuiabana e sua ausência está sendo sentida por admiradores, familiares e amigos. Tenham uma boa leitura
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EXPEDIENTE
lume Mato Grosso
PESCUMA MORAIS Diretor de Expansão e de Projetos Especiais ELEONOR CRISTINA FERREIRA Diretora Comercial JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral MARIA RITA UEMURA Jornalista Responsável JOÃO GUILHERME O. V. FERREIRA Revisão AMÉRICO CORRÊA, ANA CAROLINA H. BRAGANÇA, ANNA MARIA RIBEIRO, ANTÔNIO P. PACHECO, BENEDITO PEDRO DORILEO, BETH MADUREIRA, CARLOS FERREIRA, CECÍLIA KAWALL, DANIELLE TAVARES, DIEGO DA SILVA BARROS, DILVA FRAZÃO, EDUARDO MAHON, ELIETH GRIPP, ENIEL GOCHETTE, EVELYN RIBEIRO, FELIPE CHAVES, JOSANE SALLES, JOSÉ EDUCARDO RIBEIRO, JULIANA RODRIGUES, LUCIENE CARVALHO, MARCO POLO DANTAS, MILTON PEREIRA DE PINHO - GUAPO, NIGEL BUCKMASTER, PAULO PITALUGA COSTA E SILVA, RAFAEL LIRA, , ROSE DOMINGUES, VALÉRIA CARVALHO, WLADIMIR TADEU BAPTISTA SOARES, YAN CARLOS NOGUEIRA, WELLER MARCOS DA SILVA, UBIRATÃ NASCENTES ALVES Colaboradores ANDREY ROMEU, ANTÔNIO CARLOS FERREIRA (BANAVITA), CECÍLIA KAWALL, CHICO VALDINEI, EDUARDO ANDRADE,
HEITOR MAGNO, HENRIQUE SANTIAN, JOSÉ MEDEIROS, JOYCE CORRÊA, JÚLIO ROCHA, LUIS ALVES, LUIS GOMES, MAIKE BUENO, MARCELA BONFIM, MARCOS BERGAMASCO, MARCOS LOPES, MÁRIO FRIEDLANDER, RAI REIS Fotos OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES. LUME - MATO GROSSO é uma publicação mensal da EDITORA MEMÓRIA BRASILEIRA Distribuição Exclusiva no Brasil RUA PROFESSORA AMÉLIA MUNIZ, 107, CIDADE ALTA, CUIABÁ, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 36371774 99284-0228 | 9925-8248 Contato WWW.FACEBOOK.COM/REVISTALUMEMT Lume-line REVISTALUMEMT@GMAIL.COM Cartas, matérias e sugestões de pauta MEMORIABRASILEIRA13@GMAIL.COM Para anunciar ROSELI MENDES CARNAÍBA Projeto Gráfico/Diagramação LADRILHOS HIDRÁULICOS EM CASA CUIABANA FOTO: JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Capa
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SUMÁRIO
14. EDUCAÇÃO
15. ECONOMIA
16. HUMANIDADE
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18. SUSTENTABILIDADE
SAÚDE
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28. 30. COMPORTAMENTO
42. ARTIGO
50. 52. HISTÓRIA
MITOLOGIA
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PERSONALIDADE
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Filho de Marinheiro, Político É! Uma vida engajada em prol da sociedade, do humanitário, em dar condições para que se tenha autonomia
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POR BEATRIZ SATURNINO
uem espera que a vida seja feita de ilusão, pode até ficar maluco ou morrer na solidão, é preciso ter cuidado pra mais tarde não sofrer é preciso saber viver. Toda pedra do caminho você pode retirar, numa flor que tem espinho você pode se arranhar. Se o bem e o mal existem, você pode escolher, é preciso saber viver!”. O refrão desta música, composta por Eras-
mo Carlos, além de ser uma de suas preferidas, traz muito sentido ao aprendizado ensinado por seu saudoso marinheiro pai: que não se deve passar por esta vida sem estender a mão a quem precisa. E isto ficou gravado na mente e intrínseco na personalidade do músico, nas horas vagas, servidor de carreira do Tribunal de Justiça e vereador por Cuiabá, Luis Claudio de Castro Sodré.
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PERSONALIDADE
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Sendo assim, desde criança participa de ações sociais, desde o tempo da Seleta Sociedade Caritativa e Humanitária de Cuiabá, que na pré adolescência ia ajudar na cozinha, também ajudava na limpeza do banheiro e do salão, e no final ia tocar no almoço. Funções estas que ele auxiliava para arrecadar dinheiro para as crianças carentes, do bairro Bela Vista, onde morou na época. “Meu pai sempre foi um líder, tanto que fundou a Seleta Sociedade Caritativa e Humanitária de Cuiabá, por isso, desde novo, quando ainda era membro da Sociedade, me espelhei neste exemplo e decidi exercer essa liderança para poder trabalhar com a gestão de pessoas. Então, faço isso como vereador, mas também extensivo a outras ações. Eu gosto muito de assistir a comunidade de uma forma que viabilize ela se auto desenvolver, a partir da nossa ajuda”, diz o parlamentar. O vereador Luis Claudio tem vários exemplos que podem ser citados, como o Instituto Casarão, de Arte, Música e Cultura do Re-
sidencial São Paulo, na região do Pedra 90, onde foi reformado para se desenvolverem as atividades. Tem também o Clube Renascer, do bairro Morada do Ouro, onde foi construído um salão para as atividades dos idosos; a reforma do Clube de Mães Raio de Sol, do CPA 1, que também utiliza os recursos arrecadados ali para a Creche Tia Antonina, localizada nos fundos do terreno. “O que a gente fez? A nossa ajuda foi arrumar o espaço para que eles tenham auto estima naquele lugar e possam desenvolver melhor as suas atividades. Ou seja, a essência do nosso projeto não é só o puro dar, mas dar condições para. E assim ter autonomia”, diz o parlamentar. Seu forte também é a área da Educação, em que procura visitar as escolas e creches a fim de promover melhorias, com reformas. Uma de suas maiores conquistas foi a implantação da escola em tempo integral, sonhada por ele e que a prefeitura implantou na escola Caic Eldorado, e deve ser lançada oficialmente neste mês de setembro.
tura, Esporte e Turismo e outros R$ 100 mil para a Secretaria Municipal de Trabalho e Desenvolvimento Econômico, ambos de emenda impositiva, que totaliza R$ 400 mil para cada vereador por Cuiabá. Luis Claudio literalmente não para, pois quando não está no gabinete ou nas sessões plenárias vai com a sua equipe para os bairros de Cuiabá fazer ações em prol do meio ambiente, com o plantio de mudas de árvores e coleta de lixo das ruas e calçadas. Momento que aproveita para falar com os moradores sobre os problemas e necessidades local, cuja segurança pública sempre está em pauta. E por falar em Segurança Pública, outra conquista alcançada pelo vereador é quanto ao Projeto de Lei para travessas e ruas sem saída, idealizado por ele, que logo os moradores poderão solicitar o fechamento dessas vias junto à Prefeitura de Cuiabá. Quando lhe é questionado o que o trouxe para a vida pública, a resposta não podia ser diferente: “Eu acho que foi culpa do meu pai, porque, vamos dar um exemplo: ele era da marinha e foi presidente do clube dos marinheiros. Virou sargento, foi presidente do clube dos sargentos. Depois foi presidente da Seleta Sociedade Caritativa e Humanitária. Então esta é a história, de
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A escola já está funcionando com contraturno, onde oferece reforço escolar, artes plásticas, música, dança, teatro, horta e atividades esportivas. Neste momento o parlamentar está viabilizando a reforma da creche no bairro Jardim Imperial e está engajado em ofertar o curso preparatório, gratuito, para os concursos das Secretarias Municipal de Educação e Assistência Social, e o Projeto Primeiros Passos de combate à depressão, com palestras e atendimento profissional nas escolas da rede municipal. Vale lembrar que o vereador é presidente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Câmara Municipal de Cuiabá. O parlamentar também tem focado em Saúde pública, colaborando com hospitais e Programas da Saúde da Família (PSF). Foi membro da CPI da Santa Casa, recentemente requisitou, junto com a base aliada do governo municipal, R$ 5 milhões de emenda parlamentar federal ao novo Hospital Municipal de Cuiabá (HMC), por meio do deputado federal Emanuel Pinheiro Neto, e também doará parte de sua emenda parlamentar impositiva, no valor de R$ 200 mil, ao Hospital do Câncer. Em prol da Cultura local destinará R$ 100 mil para a Secretaria Municipal de Cul-
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PERSONALIDADE
estar na frente liderando movimentos, nem que fossem sociais”, se recorda Luis. Assim como o seu pai Lisaldo Farias Sodré, Luis Claudio também sempre liderou movimentos, gosta de estar com pessoas, debatendo ideais. Religioso, Luis Claudio e sua esposa Leonora Tonon Sodré, foram rei e rainha da festa de São Gonçalo 2019, da Paróquia de São Gonçalo do Porto, que completou 125 anos. Com iniciativa do vereador, Cuiabá terá no calendário oficial a Expogospel, um evento que reúne milhares de pessoas, realizado anualmente, na terceira semana do mês de setembro, e consiste em apresentações musicais de renomados cantores da música gospel, atos de adoração, louvor e celebração da fé cristã. FAMÍLIA
»»Luis Claudio é filho de Aurenice de Cas-
tro Sodré, pai de três filhos, avô do bebê Antônio, e é casado há 25 anos com a Leonora. Nasceu no Rio de Janeiro, em 29 de abril de 1966, e aos 4 anos de ida-
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de foi para Corumbá, Mato Grosso do Sul, porque seu pai era marinheiro e iria servir o 6º Distrito Naval de Ladário. Em 1978 mudaram-se para Cuiabá, para seu pai trabalhar na Capitania dos Portos. Porém, em 1982 o marinheiro ganhou o prêmio de melhor suboficial do Brasil e a família com os cinco filhos foram morar em Buenos Aires, na Argentina, aonde ele trabalhou na embaixada por dois anos. Posteriormente retornaram para o Brasil direto para Cuiabá, onde Luis reside, desde então. TRAJETÓRIA
»»Foi no ano de 1987 que Luis Claudio ini-
ciou os seus trabalhos na casa judiciária de Mato Grosso, mas somente em 1990 que se efetivou, passando em um concurso no Tribunal de Justiça. Dentro do judiciário ele já mostrava sua veia política, onde venceu todas as eleições internas que participou sendo eleito presidente da Associação dos Servidores e presidente da Seguridade Social. “Me candidatei ao cargo de vereador de
lumeMatoGrosso Cuiabá pela primeira vez em 2012 e recebi, com alegria, 1691 votos. Em 2016 me candidatei pela segunda vez e obtive 2496 votos e, graças ao apoio da comunidade cuiabana, hoje exerço, com muita honra, a função de vereador e funcionário do poder judiciário de Cuiabá”, se alegra ao contar. “No meu atual mandato como vereador quero ser considerado um amigo pela população cuiabana, pois é possível obter mais êxito no desenvolvimento de nossa cidade quando a gestão abre espaço para ouvir as necessidades dos habitantes. Estou no lugar de líder graças a confiança dos meus eleitores, dessa forma, me disponho a servir ao povo e fazer o que estiver ao meu alcance para dar mais qualidade de vida e prosperidade para todos”, finaliza. Dentre as várias conquistas pessoais, Luis Claudio é o primeiro vereador suplente a assumir a liderança do governo municipal, o primeiro vereador, já como titular, a fazer um discurso na Câmara Alta do Senado Federal do Brasil, e o primeiro vereador por Cuiabá que vai para a Antártida. Em agosto, o vereador Luis Claudio embarcou para a Antártida, a convite da Mari-
nha do Brasil, no “9º Voo de Apoio à Operação Antártica XXXVII”, do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), onde representou a Câmara Municipal de Cuiabá. Momento este que prestou homenagem a seu pai, que deixa saudades desde 2010, levou consigo uma foto dele, além da bandeira de Cuiabá. Ele fez um alerta para as questões ambientais mundial, a partir das informações do degelo, que influenciam na flora, fauna, nos rios, no clima em si, e trazer políticas públicas para Cuiabá. O objetivo foi ajudar a minimizar os impactos ambientais para as futuras gerações, preservando os bens imateriais como legislador.
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EDUCAÇÃO
Unemat em Rondonópolis
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onho antigo da população de Rondonópolis, o projeto de construção da sede própria da Unemat foi apresentado na última semana ao governador Mauro Mendes (DEM), em agenda coordenada pelo deputado estadual Thiago Silva (MDB), que representou a ALMT, e o reitor Rodrigo Zanin. A reunião ocorreu no Palácio Paiaguás, em Cuiabá. O governador disse estar disposto a trabalhar pela realização do projeto. “Estamos resgatando o estado e equilibrando as contas para trabalhar com eficiência os serviços públicos essenciais e sei que Rondonópolis merece esta
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importante obra”, disse Mauro Mendes. O deputado Thiago Silva propôs uma parceria, por meio de emendas estaduais e federais, para auxiliar o governo na construção do espaço físico, que irá atender centenas de estudantes da região sudeste de Mato Grosso.“Já temos garantido o apoio de dois deputados federais que se colocaram à disposição para incrementar o orçamento estadual por meio de emendas, no valor de R$ 5 milhões, pois pensamos que, de forma colaborativa, podemos realizar obras e investimentos que facilitem a construção da sede própria da universidade. Essa sempre foi mi-
nha luta, mesmo antes de ser vereador e deputado e iremos batalhar para que esse sonho se concretize”, comentou o deputado. Segundo o reitor da Unemat, Rodrigo Zanin, o município de Rondonópolis necessita do fortalecimento da universidade e juntos irão somar esforços para que os alunos e professores da região sudeste possam em breve ter a sede própria da instituição. Participaram da reunião o secretário-chefe da Casa Civil, Mauro Carvalho, o pró-reitor financeiro, Ricardo Keichi, o diretor pedagógico da Unemat na região sul, Sérgio Santos, e o ex-secretário de Ciência e Tecnologia de MT, Rafael Bastos
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ECONOMIA
Política de Incentivo às Feiras Livres de Produtos Orgânicos
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DA REDAÇÃO
deputado estadual Wilson Santos (PSDB) é o autor do projeto de lei (PL 945/2019), que institui a política estadual de incentivo e fomento às feiras livres de produtos orgânicos em Mato Grosso. A proposta principal do projeto de lei é estimular a legalidade dos profissionais que atuam nas feiras livres comercializando produtos orgânicos, emitindo certificados que atestem a plena capacidade. Ao mesmo tempo, estimular o crescimento da economia mato-grossense. “O presente projeto de lei incentivará as feiras livres no estado de Mato Grosso. Isso contribuirá para fortalecer os circuitos curtos de comercialização e o apoio à produção local. Consequente-
mente, aquecerá a economia local, fazendo com que os recursos financeiros circulem nos diversos setores dessas microeconomias”, diz um dos trechos. De acordo com a primeira pesquisa brasileira sobre consumo de orgânicos realizada em 2017, pelo menos 15% da população já consome esse tipo de produto, sendo que a maioria os consomem pensando na melhoria da saúde e na proteção ambiental. A proposta da lei considera como sistema orgânico de produção agropecuária “todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica”.
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HUMANIDADE
Deputado Propõe Ajuda Humanitária aos Venezuelanos Refugiados em Cuiabá Muitas famílias venezuelanas que se mudaram para capital vivem em situação de vulnerabilidade social
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DA REDAÇÃO
ato Grosso vivencia um grande fluxo migratório. De 2012 para cá, chegaram à capital Cuiabá haitianos sobreviventes de catástrofes naturais que devastaram o país. Nos últimos anos, a imigração espontânea tem sido de famílias venezuelanas afeta-
das pela depressão econômica e crise política e social vivenciada no país de origem. Para fortalecer e estruturar melhor a rede de acolhimento, o deputado estadual Doutor João (MDB) apresentou o Projeto de Lei nº 714/2019 que institui a Política Estadual para a População Migrante.
aumentou consideravelmente a partir de 2012. À época, chegaram mais de 3.5 mil haitianos, e atualmente existem mais de 700 venezuelanos na capital, sendo que nem todos foram acolhidos e orientados sobre seus direitos e deveres, por falta de uma política pública adequada. Filho de uma família de imigrantes portugueses e naturalizado brasileiro, o deputado Doutor João disse que conhece bem a realidade vivenciada pelas pessoas que escolhem o Brasil na busca de um futuro melhor. “O Brasil me deu tudo que eu tenho na vida. Em São Paulo, me formei médico. Em Cuiabá e Tangará da Serra, aprendi a fazer medicina na prática, criei meus filhos e dediquei toda minha vida aos pacientes. Agora estou deputado, e vejo neste projeto de lei uma oportunidade para ajudar aos imigrantes de origem humilde, que assim como a minha família, escolheram o Brasil para viver”, afirmou o deputado. O deputado destacou, ainda, que migrar é um direito de todos os cidadãos, e que diante do grande fluxo migratório é preciso que se estabeleça no Estado de Mato Grosso um marco regulatório, que possa assegurar ajuda humanitária efetiva aos imigrantes, e também a garantia dos seus direitos humanos fundamentais. Legislação - A temática
migratória tem sido amplamente abordada na legislação brasileira. No cenário federal, a Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017 trouxe importantes avanços, dentre eles a liberdade de acesso a direitos sociais básicos, tais como saúde, educação, moradia, trabalho digno, entre outros. No plano municipal, a cidade de São Paulo desponta com a Lei nº 16.478, de 08 de julho de 2016, que institui a Política Municipal para a População Imigrante, regulamentada pelo Decreto nº 57.533 de 15 de dezembro de 2016, e que promove, com a devida especificidade da esfera sobre a qual legisla, avanços importantes em termos de políticas públicas. “Esses dois exemplos mostram a importância da pauta de migrações, já que essas populações, cada vez mais representam um contingente expressivo em nossas sociedades e merecem ser observadas algumas questões específicas em seu tratamento. Nosso projeto caminha nesse sentido de promover políticas públicas de qualidade de atendimento a essas famílias de imigrantes”, disse. O Projeto de Lei nº 714/2019 já recebeu parecer favorável da Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Amparo à Criança, ao Adolescente e ao Idoso da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT).
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Na atualidade, muitas famílias venezuelanas vivem em situação de rua em Cuiabá, pedindo auxílio em semáforos, inclusive carregando bebês de colo em visível situação de vulnerabilidade social. São pais e mães que foram afetados pela crise econômica da Venezuela e vieram ao Brasil em busca de oportunidade de emprego. Diante deste cenário, o projeto de lei buscará assegurar as famílias o acesso a direitos sociais e aos serviços públicos, além de promover ações afirmativas de respeito à diversidade e à interculturalidade, prevenir violações de direitos e fomentar a participação social e desenvolver ações coordenadas com a sociedade civil. “A situação dos venezuelanos é grave e precisa receber maior atenção do poder público. Chama atenção o fato de constatarmos muitas crianças e bebês em situação de risco e de vulnerabilidade social. Por isso, propomos da criação desta política estadual que vai dar um tratamento mais humano a estas famílias que vieram a Cuiabá em busca de uma vida melhor”, afirmou o deputado estadual Doutor João. De acordo com dados divulgados pelo Ministério Público Estadual, o Centro de Pastoral para Migrantes de Cuiabá (conhecida como Casa do Migrante) já atendeu mais de 211 mil pessoas desde a sua fundação em 1980, e o fluxo
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S U S T E N TA B I L I DA D E
Bicho da Farinha Favorece Reciclagem de Lixo O besouro conhecido como bicho da farinha, existente em várias partes do mundo, pode ser a solução futura para problema do lixo, pois descobriu-se que microorganismos presentes no sistema digestivo das larvas são capazes de biodegradar o plástico em seu processo digestivo
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POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA
tas perguntas sobre a destinação das milhões de toneladas de lixo produzidas diariamente em todo o mundo. Os cientistas trabalham para isolar a enzima existente no estômago no bicho da farinha, buscando fórmulas de se criar um processo de baixo custo para reciclar plástico. É positivo imaginarmos que essa é uma maneira inovadora de se enfrentar tal problema, além da clara mudança de percepção do que fazer com tantos isopores e detritos plásticos, tão úteis em nossas vidas, mas que são despejados em aterros sanitários e espalhados em nossos rios, terrenos baldios e fundos de quintais, com baixíssimos índices de reciclagem. Estudos científicos dão conta de que o poliestireno leva mais de 150 anos para se decompor na natureza e, ao mesmo tempo que o bicho da farinha é um alento, também preocupa não sabermos, ainda, através de pesquisas, os efeitos nas cadeias alimentares de outros animais que venham a consumir essas larvas. É lícito termos esperança na larva bicho da farinha, cujo intestino nos revela destinos inusitados para os resíduos plásticos que permeiam o meio ambiente.
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mportante estudo científico realizado pelo engenheiro Wei-Min Wu do departamento de engenharia civil e ambiental da Universidade de Stanford, nos EUA, em conjunto com Jun Yang e outros pesquisadores da Universidade de Beihang, na China e publicado pela Environmental Science and Technology, indica que a larva do pequeno besouro Tenebrio molitor, popularmente conhecido como bicho da farinha, se alimenta de isopor ou poliestireno expandido, uma espécie de plástico não biodegradável. Isso deve-se a uma enzima existente no estômago do bicho-da-farinha que converte o plástico em dióxido de carbono, permitindo que os excrementos do Tenebrio se transformem em resíduos biodegradáveis, podendo até ser utilizados em forma de adubo para plantas. A descoberta foi recebida com surpresa e entusiasmo. “Nossas descobertas abriram uma nova porta para resolver o problema global com a poluição de plásticos”, afirmou o engenheiro Wei-Min Wu, para o Stanford News Service, órgão de imprensa da Universidade de Stanford. As pesquisas estão em permanente evolução, buscando respostas para tan-
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PAUL CLEMENCE É fotógrafo e flimmaker, cujo trabalho explora a conexão entre o mundo da arte e arquitetura.
O Pavilhão Le Corbusier POR PAUL CLEMENCE
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oi reaberto em Zurique recentemente o Pavilhão Le Corbusier, último projeto completado pelo famoso arquiteto suíço Le Corbusier. Considerado uma das grandes forças do movimento Moderno do século 20, a influência de Le Corbusier se fez sentir por todo o mundo, da India ao Brasil, tendo sido uma grande influência no desenvolvimento do ícone brasileiro Oscar Niemeyer.
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lumeMatoGrosso O “Pavillon Le Corbusier” (como é chamado na Suíça ) foi um projeto encomendado pela colecionadora, empresária de arte e designer Heidi Weber para ser uma galeria e centro cultural onde ela pudesse receber para eventos e mostrar os artistas e designers com quem trabalhava. O projeto consolida varias idéias importantes no trabalho do arquiteto, como planta aberta, com amplas aberturas para o exterior, e cuidadosa elaboração do percurso espacial dentro e fora da edificação (uma caracterítica presentes desde seu projetos iniciais e com certeza uma que teria uma profunda influencia na arquitetura de Niemeyer). É também seu único projeto em que o concreto armado não é o principal elemento construtivo, sendo composto por elementos pré-fabrica-
dos, desde a estrutura de metal aos painéis de aço e vidro usados como parede. Inaugurado em 1967 (quase dois anos após a morte do arquiteto) como “Centre Le Cornsuier” o local foi administrado pela senhora Heidi Weber por 50 anos. Agora após uma minuciosa restauração o pavilhão será administrado pelo museu de design de Zurique (“Museum für Gestaltung”). Comemorando a reabertura, está sendo mostrada a exposição “Mon univers” (Meu universo) com objetos colecionados por Corbusier durante sua vida (sendo muitos oriundos de suas viagens), objetos de arte, antiguidades, e até fotografias e filmes feito pelo arquiteto, dando uma abrangente visão das ecléticas fontes de inspiração do revolucionário arquiteto.
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HISTÓRIA
Somos Cidadãos do Mundo, Mas Nem Todo Mundo nos Aceita!
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POR RAFAEL ALEXANDRE LIRA
stamos vivendo dias de extrema crise migratória, nos quais governos, tais como o estadunidense, transparecem, sem moderação, sua posição categórica contra a imigração humanitária. Não se leva em conta qualquer solidariedade, empatia, ou sequer a própria humanidade. O que se vê é o descaso cruel com o ser, sua história e as causas que o levam a migrar, não por mero prazer, mas, por uma questão de sobrevivência. Pais e filhos são separados, como bichos, sem chance alguma de diálogo ou direito. O que vemos na Europa, se reproduz na América. O atual
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governo chileno, por exemplo, fretou aviões para retirar do território nacional os “intrusos” haitianos. Sim, é essa a impressão que se tem diante de tal ato. Como se a presença massiva dos imigrantes caribenhos que ali estão não fosse bem vinda àquela terra; portanto, se prepara uma rede de apoio, incluindo a mobilização do próprio exército, para escoltar, de forma fria e calculista, inúmeros imigrantes do Haiti de volta ao seu país, em aviões da própria força aérea inclusive. Além da ameaça de expulsão de milhares de haitianos que se encontram com a documentação de permanência expirada. FOTOS DIVULGAÇÃO
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RAFAEL ALEXANDRE LIRA É professor, tradutor de crioulo, ex-missionário religioso e viveu, por quase um ano, no Haiti
Eu gosto do conceito que afirma que somos cidadãos do mundo, o que nos dá a concepção de que temos uma pátria, porém temos a liberdade de transitar por outros povos nessa grande cadeia globalizada, em que se comunica sem barreiras, a contar pela internet que conecta o mundo, sem limites. Portanto, entende-se que esse fenômeno da globalização faz cair por terra os limites fronteiriços que inibem a livre migração entre os países. Claro que isso não deve se dar de forma desenfreada e desorientada, porém não se pode impedir a liberdade de ir e vir de um cidadão, especialmente quando se trata de uma migração forçada por inúmeras causas que possam por em risco a vida (e a qualidade de vida) daquele ser humano. O conceito de fraternidade deve permear essas discussões, levando-se em conta os direitos humanos. É triste se deparar com a estatística de que nos primeiros sete meses de 2018, mais de 1,5 mil migrantes e refugiados morreram no Mediterrâneo tentando chegar à Europa. Somente em junho e julho,
850 indivíduos faleceram durante a travessia. Os números foram divulgados no mês de agosto do ano passado, pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), que alerta para aumento no número de óbitos na comparação com 2017. Ainda, segundo a entidade, uma criança imigrante morre por dia no mundo. Em relatório divulgado em janeiro deste ano, foi citado que, por dia, seis indivíduos perderam a vida no ano passado tentando chegar ao continente europeu. Para onde foi a nossa humanidade? Essa pergunta permeia meus pensamentos diariamente, a cada notícia que leio sobre essa crise migratória mundial. Não obstante, o Brasil em agosto do ano passado foi palco para uma atitude grotesca por parte de moradores de Pacaraima, município de Roraima, os quais expulsaram do nosso país milhares de imigrantes venezuelanos à pauladas e gritos, inclusive haviam muitas crianças nesse grupo. Nem consigo imaginar a cena, tamanho enojo que isso gera em mim. Nos falta empatia! Nos falta uma simples reflexão de se colocar no lugar
do outro, ou se perguntar “como eu gostaria de ser tratado se estivesse em outra nação?”. Esta postura deve estar acima das demais ponderações, sejam elas com relação à falta de emprego, a crise econômica, ou qualquer outra coisa que possa servir de argumento para se posicionar contra a imigração. Enfim, caro leitor, a mensagem que eu gostaria de deixar para todos vocês nessa edição é: faça ao outro, especialmente àquele que veio de fora, exatamente aquilo que você gostaria que fizessem a você, se estivesse em outro país. Como você gostaria de ser recepcionado se fosse forçado a deixar teu país por alguma questão que ameaçasse a tua vida e dos teus? Qual tipo de acolhida você mereceria receber por parte dos nativos? Portanto, seja a resposta destes questionamentos. Te convido a encarar este desafio, exercendo generosidade e gentileza com aqueles imigrantes que cruzarem o teu caminho. Lembre-se, somos cidadãos do mundo, um dia pode ser você o imigrante em solo estrangeiro.
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ARTIGO
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EMANUELLE CALGARO É Psicoterapeuta Reencarnacionista formada pela ABPR- Associação Brasileira de Psicoterapia Reencarnacionista e Terapeuta Quântica. www.emanuellecalgaro.com.br
Terapia
É preciso um motivo especial para fazer?
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POR EMANUELLE CALGARO
o mundo acelerado em que vivemos, a tendência é nos distanciarmos da nossa verdadeira essência, do que é realmente significativo para nós enquanto seres eternos. O objetivo é nos distrair, nos manter próximos de nossa versão “persona”, estruturados no ego que se alimenta de ilusões e prazeres temporários. Muitos de nós passamos a vida lutando com dores, difíceis de entender. Pensamentos e sentimentos que ficam martelando em nossas cabeças, fraquezas, frustrações, faltas com as quais não conseguimos lidar. Frases que não conseguimos dizer, que acabam por adoecer nosso corpo físico, provocando fobias, pânico, ansiedade, depressão ou vícios. Feridas que não cicatrizam, definindo como “somos” e não como “estamos”, assim, nos distanciamos cada vez mais da nossa capacidade e ou da nossa necessidade de pedir ajuda. Vi pela televisão uma entrevista com o
ator e diretor Selton Mello, falando sobre a Série “Sessão de Terapia” que entre outra questões, aborda a necessidade pontual de se fazer terapia. A vivência em consultório mostra que as pessoas vêm procurando se ressignificar enquanto “Ser”, buscam processos de cura para as enfermidades do corpo e da alma que podem ser proporcionados pela reforma íntima. Não são necessárias questões pontuais, urgentes ou motivos especiais para se fazer terapia. Como é dito no trailer da Série: “... todo mundo deveria ter a chance de fazer terapia”. Ao contrário do que muitos dizem, que “terapia é coisa de maluco”, terapia é coisa de gente, principalmente de gente corajosa, que não tem medo de falar sobre suas fraquezas, perdas, dores ou alegrias. A terapia é um recurso eficiente para quem busca se melhorar e libertar-se do que lhe faz mal, para assim viver na plenitude de seu potencial humano.
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O Alcool e as Drogas Para Dar o Presente
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POR ROSARIO CASALENUOVO
egundo o Osho, um espiritualista indiano, porém, ocidentalizado, “nós possuímos o Ser, o Coração e a Mente”. Sendo que o ser é a entidade, não é o conhecimento, nem são os títulos, nem a profissão. Uma pessoa que possui Alzheimer mesmo esquecendo “tudo” continua sendo ela, continua sendo um ser. Então o ser é isto aí, você é um ser e pronto. O coração é o sentimento é a emoção, é o estado exato do presente. Não se pode ter sentimento sem estar no presente. Ao dizer, eu te amo, só pode estar no presente, no agora, não se pode dizer que vou te amar, estará dizendo que sentirá amor não agora mais depois. O futuro não é amor e sim uma previsão. Se você estiver assistin-
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do um filme que te faz chorar, a única coisa real é o seu choro, o seu sentimento, já o filme é virtual, nada nele existe, tudo fantasia. Assim é a nossa mente que fica tagarelando o tempo todo no nosso ouvido, a mente não para de falar, cria situações mais incríveis, e para as pessoas que possuem hábitos negativos ela inventa tanta história macabra, onde a vítima passa a desconfiar de tudo e de todos principalmente as que ama onde gera o ciúme irreal, cria situações de perda antes de que aconteça. Dizem que o universo obedece ao que se pensa, então acabando por realizar as imaginações de auto crueldade, o indivíduo diz: “ta vendo? Eu disse!!! Sabia que ia acontecer, eu pressenti. ”
pos, que é olhar para dentro se si, se olhar no espelho e se encarar sem desviar os olhos. É muito conflito interno. E AGORA COMO SILENCIAR A MENTE QUE FICA NA NOSSA CABEÇA GRITANDO DESESPERADA E CRIANDO HISTÓRIAS LOUCAS COMO FUGA? Somente poderemos sentir a vida se desligarmos a mente, aí poderemos ouvir os sons mais inaudíveis como os pássaros que vivem o agora na maior alegria. O Osho diz que a mente serve apenas para planejar, estratejar, mas depois temos que desligá-la e dar um on no coração, na emoção, como os pássaros que pousa na sua sacada e canta lindo, voa sem esperar algum aplauso. Ele se curte, ele se ama. Mas e nós que precisamos sermos amados e valorizados, se não o mundo desaba? Carros lindos, bolsas caríssimas, joias, cargos, diplomas, corpo perfeito e depilado, dentes com lente de contato, esperando chegar SEXTA- FEIRA A NOITE. Huhuuuuu!!! Hoje é sexta feira, que delicia falar isto. Mas para curtirmos, temos que desligar a mente se não passaremos o FDS (fim de semana), sem sentir nada de alegria. A meditação é o desligar da mente, se se meditar pensando, não é meditar. Se a mente continua ativa, não há nenhuma meditação. Meditar
é se livrar da mente, conseguir este momento único, aí se encontra o coração a alma em Deus. O mesmo autor ditou um livro com título: “A flauta nos lábios de Deus”. Ele diz que somos um bambu oco e com o sopro de Deus nos tornamos uma flauta e emanamos uma música. Ou seja, para preencher nosso vazio somente com as coisas da alma, do coração, de Deus e não com bolça, sapato caro, carro “último tipo”. A mente é útil para definir por onde vamos de carro e qual o caminho, mas durante o trajeto seguimos ouvindo uma música sem pensar em nada, cantando, percebendo os instrumentos tocando, isto só é possível se fechar a caixinha da mente. Com isto se chega ao prazer. Mas diante das nossas neuras, os recursos de tomar uma (cerveja, gim tônica, aperole, espumante), é uma forma de desacelerar e conseguir sentir a vida sem a mente, somente se sente se a mente é dominada e emudecida, aí somos donos de si, ganhamos o mundo, a alegria aparece na hora. Continuando estes caminhos de se entorpecer para que a mente pare de reclamar e lembrar das contas negativas do banco, das cobranças do trabalho e das pressões da autopunição, se busca o uso de drogas cada vez mais fortes para passear no céu, pisar nas
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AS LEIS DIVINAS SÃO MUITO BOAS, REALIZA O QUE PEDIMOS. O mundo está estressado? Esta!!! O mundo está puro estresse, todos se sentem pressionados é uma auto cobrança, sentimento de culpa. A humanidade se movimenta culturalmente em pêndulo e seus hábitos, conceitos, crenças. Vendo a história dos Beatles que começaram suas carreiras de terno, gravata e cabelo de militar. A humanidade estava no extremo e logo teve o movimento hippie mundial, onde a regra era desregrar, bagunçar tudo, cabelos, roupas. O pêndulo foi deslizando no tempo e chegou hoje no extremo oposto. A humanidade grita, “queremos regra”, abaixo o “tudo pode”, o proibido proibir. A regra acalma, “disciplina é liberdade “, assim como um jogo de futebol onde todos sabem bem as regras, o jogo flui sem muito questionamento. Imagine se não tivesse regra? Pais que não determinam regra para os filhos, os deixam confusos e acabam se perdendo. Sei que haverá critica nestas afirmações, mas digo que o “proibido proibir” está fora de moda, é passado. Porém, nos tempos de agora, com tecnologia que traz uma aceleração da mente humana, que agora está em guerra terrível, um conflito sangrento, o maior de todos os tem-
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OSHO
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gria, viver um pouco no coração sendo assim dono do pensamento e não submisso a ele. Vivendo o presente se possível aprendermos a desligar a mente um pouco para ter um prezar sem entorpecimento, pois nosso corpo produz as melhores drogas quando fazermos exercícios físicos, transamos, cantamos, damos rizada. Drogas alucinógenas do bem, como é bom ter o corpo cansado de pós treino. Um prazer que não nos arrependemos de fazer. O sexo é uma outra fuga da mente, pois se o pensamento nefasto aparece se broxa e aí acaba tudo, por isto durante o ato sexual, a mente fica desligada e o sexo passa ser o grande momento. O mesmo Osho disse uma coisa que achei incrível. Sexo é a busca de voltar ao útero de onde saímos, do amor do corpo da nossa mãe, por isto nos sentimos tão bem nos braços de quem amamos. E a bebida alcoólica? Ressaca física e se houver alguma lembrança, ressaca moral que é a pior de-
las. Aí vem a frase dita por todos, “nunca mais vou beber”. Será? A fuga da mente e seus pensamentos paranoicos é constante, pior ainda aquelas que acreditam nas invenções sacana e acaba por ser conduzido e vivendo neste filme louco. Convido você a refletir sobre este tema, pois todos nós somos vítimas e prisioneiros das convicções e cresças impostas pelas pessoas que nos cercaram desde o nascimento. Nossos valores e o que acreditamos não são nossos, foram colocados na gente, precisamos ter uma clareza para escolher o que realmente queremos e o que somos. Quando eu descobri esta classificação do Osho, entendi que meus pensamentos que me levavam a depressão eram descontrole, pois nascemos para sermos felizes, viver em paz, e isto a mente não nos dá, aliás, ela tira. Para ter a felicidade real temos que viver no coração, mesmo que ele seja safenado ou partido.
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nuvens, se sentir amado e dar amor a todos, para os agressivos, brigar quando é contrariado. O Boby Dilam brasileiro (Belquior) disse na sua letra “viver é melhor que sonhar”, estamos tão ligados no mundo digital que podemos nos confundir o que é real com o imaginário. O que significa viver? É estar no presente, no agora. Mas para que isto se consiga temos que sair do sonho. Sentir os prazeres do corpo, está valendo, melhor que ficar na TV como um boi olhando uma paisagem, sem pensar nada, aí a mente se desliga e isto é também um alivio. Todos correndo da importuna mente. Até a música onde escrevi em outro artigo com título: “A arte e o artesanato”, disse que há músicas para o corpo e para a alma. As do corpo são para baladas, que combina com balas, estas músicas criadas para durar uma temporada e sumir, estas eu considero artesanato e não arte, mas está valendo, serve para divertir. Já as da alma, são feitas para tocar o sentimento, para explorar o intelecto, sons inusitados que surpreendem. Mas tudo tem seu momento e respeito cada um deles. Sem hipocrisia, não estou escrevendo para criticar ninguém e nem as escolhas das pessoas, mas somente para entender o que buscamos e porquê. Queremos apenas a ale-
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Rastros do Nazismo A suástica em ladrilhos hidráulicos cuiabanos
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POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA
ladrilhos fabricados em Cuiabá na década de 1930, e assentados em algumas residências, na área central da capital de Mato Grosso, seriam traços de simpatia ao nazismo ou simples objetos decorativos? Cuiabá, no período do Estado Novo, que coincidiu com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, tendo os germânicos como protagonistas, ocorreram fatos correlatos com os feitos bélicos do Eixo, formado pela Alemanha de Hitler, pelo Japão de Hiroito e pela Itália de Mussolini, que tinham contra si todos os exércitos do mundo, na época. Como o ocorrido com a Guerra do Paraguai, ocasião em que Mato Grosso se destacou por atos de heroísmo e patriotismo notabilizados pelos Voluntários da Pátria, não foi diferente o chamamento havido para compor o quadro de Pracinhas Brasileiros em campos de guerra na Itália, na década de 1940. Porém, numa demonstração de simpatia aos propósitos políticos do nazismo e pela liderança exercida por Adolf Hitler, pessoas encomendaram a fabricação de ladrilhos hidráulicos, com desenhos que caracterizavam, de forma disfarçada, a suástica, símbolo maior do nazismo, que sempre esteve associada às questões de racismo e propósitos de supremacia da raça alemã, a ariana, sobre outras. A encomenda dos ladrilhos foi feita à uma indústria cuiabana de cerâmica, naqueles conturbados anos 1930, sendo imediatamente assentados os ladrilhos em muitas casas, notadamente no hoje chamado de centro histórico de Cuiabá. Não se tem o número exato de casas em que foram assentados os ladrilhos hidráulicos com motivos da suástica, no entanto, atesto que existem, ainda em 2015, algumas residências ou casas de comércio que não esconderam ou retiraram tais pisos nazistas.
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O LIVRE ARBÍTRIO Não se deve julgar com a realidade de hoje fatos ocorridos há tempos atrás. Isso vale para muitas situações, inclusive para tratarmos desse tema. Os ladrilhos nazistas são apenas testemunha de uma fase da história mundial e servem para induzir à reflexão sobre os fatos que envergonham e repugnam a humanidade em vista dos resultados apresentados em
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números, pela destruição e matança indiscriminada de pessoas. No entanto, naquele período, ainda no começo da intensa propaganda política promovida por Goebells, o Ministro da Propaganda de Hitler, o nazismo se apresentava como a forma de redenção do povo alemão, com propósitos de soerguimento de sua economia e honra, especialmente pela derrota sofrida na Pri-
meira Guerra Mundial (19141918) e os efeitos humilhantes obtidos com o Tratado de Versalhes, em 1919. A euforia que tomou conta de alemães e simpatizantes do nazismo, cuja ascensão ocorreu em 1933, após acontecimentos catastróficos mundo afora, a exemplo da crise da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, tinha motivação ideológica, de esperança de melhor fu-
lumeMatoGrosso turo. Nesse período não somente alemães admiravam a auspiciosa recuperação alemã. No Brasil ocorreram movimentos organizados em apoio ao nazi-facismo, como a Ação Integralista Brasileira, que vicejou entre os anos de 1932 e 1937, tendo em Plínio Salgado seu mais importante nome. Não deve-se, portanto, condenar absolutamente ninguém por admirar regi-
mes exitosos. O que ocorreu posteriormente, com o regime nazista e os desvarios de Hitler é imperdoável, como a morte de milhões de judeus em fornos crematórios e outras barbaridades, visto que tais propostas não estavam descritas nos panfletos e cartazes distribuídos à sociedade e imprensa mundiais. Pode-se concluir que ocorreu o que hoje chama-
mos de propaganda enganosa com a maioria das pessoas, inclusive com o povo alemão, pois parte dos germânicos reprovaram os excessos do Füherer. Portanto, as famílias cuiabanas que admiravam o nazismo e seu símbolo maior, a suástica, não devem ser julgados na contemporaneidade. Devemos apenas analisar a situação e tirarmos nossas próprias conclusões.
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Está lá, para quem quiser ver e experimentar sentir o que pensavam os homens que os fabricaram e os assentaram em corredores e com eles decoraram salas, quartos e cozinhas de suas casas
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A MESMA PRÁTICA, EM OUTRAS PLAGAS Há que se registrar que em outras cidades, em outros estados Brasileiros, ocorreram fatos semelhantes, a exemplo de Paulínia, município paulista, onde o italiano Amadeu Galmacci, nascido em 1897 e falecido no Brasil em 1982, protagonizou histórico fato relacionado a esse tema. Galmacci exerceu importantes cargos públicos em Paulínia, tendo sido vereador e presidente da Sociedade Italiana. Por questões de interesses empresariais fundou uma indústria de fabricação de artefatos de cimento e, por sua grande admiração ao nazismo deu início à produção de ladrilhos hidráulicos com desenho da suástica, inclusive assentando-os em sua residência. Ainda no estado de São Paulo, de espírito arraigado, naqueles tempos, pelo Integralismo de Plínio Salgado, foram assentados ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica na sede da Fazenda Cruzeiro do Sul, em Paranapanema, sudoeste paulista. A constatação da existência dos ladrilhos com motivação nazista foi descoberta em 1990, de forma acidental, pelo novo dono do lugar, José Ricardo Rosa, conhecido por Tatão. Da mesma maneira com os fatos ocorridos em Cuiabá em Mato Grosso, Paulínia e Paranapanema em São Paulo e em vários outros pontos do país, vamos citar apenas
mais um ponto de assentamento de ladrilhos hidráulicos, desta feita no histórico bairro da Lapa, no Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de prédio construído em arquitetura art décor e que abrigou, por anos, um hotel localizado na Rua do Riachuelo, nas imediações dos Arcos da Lapa. Nesse prédio, que atualmente é de caráter residencial, foram assentados em seus corredores ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica. Está lá, para quem quiser ver e experimentar sentir o que pensavam os homens que os fabricaram e os assentaram em corredores e com eles decoraram salas, quartos e cozinhas de suas casas. CAMPO MINADO DE GERVANE DE PAULA Importante contextualizar ações desenvolvidas pela sociedade cuiabana no caso dos ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica encontrados em várias casas na capital. No ano de 2005, o genial artista plástico Gervane de Paula, promoveu mostra individual de seu trabalho, em Cuiabá, à qual chamou de “Campo Minado - Reflexões de um Artista”. Sempre generoso, contou com a participação de colegas artistas e buscou, com suas idéias, questionamentos e angústias, fazer o público encontrar sentimentos de estranheza, surpresa, conexão e sintonia. Certamente Gervane conseguiu seu intento com a
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bre o seu “Campo Minado’ de 2005, exatamente há dez anos atrás, Gervane disse que esse tema ainda é um tabu e que pouca gente, ou quase ninguém, ousa entrar nessa seara e pesquisar, bem a fundo, o porque dos ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica proliferam em Cuiabá na década de 1930. Quem estava por detrás de tudo isso? - se pergunta o artista. A resposta não é tão difícil assim, mas certamente o campo é bastante minado. A SUÁSTICA Em 1920, foi criado o Partido Nacional-Socialista alemão e, por indicação do poeta Guido von List, o emblema do partido passou a ser a suástica solar. Com a ascensão do nazismo ao poder a suástica tornou-se o símbolo máximo daqueles que defendiam identidade ariana ou a raça pura. Tomados por conhecimentos e pesquisas em busca de poderes cósmicos, os nazistas alteraram a posição original do símbolo, fazendo com uma das pontas se direcionasse para baixo, e que, em termos de magia negra, poderiam obter êxito em qualquer empreitada. Tais conhecimentos, ou falta deles, promoveram intensas movimentações de alemães em várias partes do mundo, em busca de poderes subjetivos. Por conta disso tudo os nazistas puseram-se, na-
queles tempos de guerra, também em busca do Santo Graal e da Arca da Aliança, em diversos pontos da Europa, Ásia, África e América do Sul. O cientista alemão Ludwig Müller afirmava que a suástica representava a suprema divindade durante o período da Idade do Ferro. Na Idade Média, a interpretação mais geral de sua simbologia estava relacionada com o movimento e com o poder do Sol. A trajetória da suástica merecia melhor sorte, visto que não foi criada pelos nazistas, que mancharam sua história, que vem de tempos remotos e encontrada em culturas do período neolítico e considerada símbolo religioso. Registra-se que a suástica foi encontrada em túmulos cristãos no Oriente Médio e em regiões da Bretanha, Irlanda, Micenas e Gasgonha. Também entre os etruscos, hindus, celtas, gregos e germânicos. Ainda na Ásia Central e entre os povos americanos mais desenvolvidos, a exemplo dos astecas, maias, incas e toltecas. Com o fim da Segunda Guerra, em 1945, o símbolo foi oficialmente aposentado, mas continua sendo usado por grupos neo-nazistas. Contemporaneamente o nazismo ou neo-nazismo está vivo no coração de muita gente e cheio de simpatizantes mundo afora, notadamente na Europa.
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contextualização das peças produzidas e apresentadas. Com imensa dedicação ao projeto, que gestou a partir do ano 2000, Gervane induziu o visitante a um campo minado, com 100 bombas distribuídas por seis metros. Deu estocadas na obra de Picasso e Matisse, com as figuras de pênis enormes e fez referências críticas à violência urbana, desmatamento e ao uso indiscriminado de drogas. Define-se a mostra toda como impactante. Porém, causou choque na mostra, a obra de Gervane intitulada “Ladrilho Nazista”, onde o artista, com a parceria do fotógrafo José Maurício, desnuda uma série de ladrilhos hidráulicos cuiabanos, produzidos por admiradores do nazismo, com desenho disfarçado e assentados em antiga residência do centro histórico da capital, deixando-os à mostra com contornos em cores verde e amarelo. Nesse trabalho Gervane se lança ao chão para exercer seu papel de artista e depois passeia pelas lentes de José Maurício pisoteando a suástica, em protesto à disseminação do nazismo em terras cuiabanas. Nesse período Gervane de Paula levou a sociedade contemporânea à reflexão sobre os horrores que o nazismo implantou em muitos países e seus catastróficos resultados, sob a égide de intolerância religiosa, de raça e de gênero. Tecendo comentários so-
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PAUL CLEMENCE É fotógrafo e flimmaker, cujo trabalho explora a conexão entre o mundo da arte e arquitetura.
Cristiana Mascarenhas
Arquiteta brasileira faz sucesso mundo afora
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POR PAUL CLEMENCE
e destacar em Nova Iorque, capital cultural americana, não é tarefa fácil, mas mesmo com tanta concorrência a arquiteta carioca Cristiana Mascarenhas conseguiu lá se estabelecer como profissional de ponta e de quebra ainda promover a arte e design brasileiro.
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Formada pelo Universidade Federal do Rio de Janeiro, Cristiana abriu seu escritório (In Plus) em Manhattan há 25 anos, especializando-se em criar interiores para brasileiros com residência na cidade. Ao longo dos anos Cristiana estabeleceu reputação por abordar cada projeto de uma maneira muito pessoal - desenvolvendo um relacionamento duradouro com seus clientes, muitas vezes fazendo projetos para várias gerações da mesma família. Uma característica marcante dos seus pro-
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jetos é a inclusão de peças de arte. Apaixonada pelas artes, Cristiana desenvolveu um talento especial de incorporar arte em seus designs residenciais, e logo trazer arte ao dia a dia de seus clientes. “Arte da vida ao projeto, da vida a casa”, afirma a arquiteta. Em seus projetos ela já incluiu artistas conhecidos brasileiros como Daniel Senise, Waldir Cruz, Mariana Mascarenhas, Márcia Grostein, Franz Weissman, Maria Neponucemo.“Eu acho que arte é algo que quanto mais você se envolve, mais viciante é”, afirma a designer.
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Para os que acham que colecionar arte é algo inacessível financeiramente, ela tem uma resposta pronta: “Pelo mesmo preço de uma peça comercial de decoração para parede, feita em massa, pode-se achar algo original, com individualidade artística e expressão, mesmo que não seja de um artista ainda em começo de carreira”, explica ela. Falando sobre o processo de seleção das obras de arte, ela comenta: “Faço uma seleção inicial, filtrada pelo meu gosto, mas precisa se alinhar aos desejos e sensibilidades dos clientes. Eles [clientes] são todos diferentes: alguns mais inclinados à abstração, outros ao figurativo. Seleciono o trabalho a par-
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tir das informações recebidas e, em seguida, proponho algo que sintonizaria com isso e com o esquema que projetei”. Sobre a diferença entre novatos e colecionadores mais veteranos, ela diz: “Se eles são novos neste mundo da arte, geralmente confiam na minha orientação - assim como confiam nos meus projetos. Quando o cliente é um colecionador com experiência, o relacionamento é um pouco diferente, pois ele já tem uma noção do que o atrai e do que está interessado.” O design brasileiro também é uma constante nos projetos internacionais de Cristiana, trabalhando com companhias brasileiras presentes no mercado nova-iorquino, como a Espasso, Ornare, e Florense. Em quase todos seus projetos podem-se achar peças de designers como Arthur Casas, Claudia Moreira Sallles, e do badalado designer mato-grossense Sérgo Matos. Outra constante presença são os clássicos do design mobiliário brasileiro como Jorge Zalzupin, Ricardo Fasanello, Joaquin Tenreiro e Sérgio Rodrigues produzindo pela companhia paulista Etel. E, claro, também, muitas peças desenhadas pela própria arquiteta. Além de Nova Iorque a clientela cosmopolita de Cristiana se espalha por Paris, Londres, Lisboa, Miami , e claro, no Brasil: São Paulo, Buzios, Angra dos Reis, Petrópolis, Maceió e Rio de Janeiro, onde também tem um escritório. Um dos últimos projetos de Cristiana foi uma sala de sinuca projetado para a mostra de design Casa Cor Rio, em Agosto. Mas uma sala de sinuca com um toque feminino. “Não é uma questão feminista e nem de empoderamento feminino. Ao contrario. É um convite a comunhão de todos, ao convívio de todos em harmonia, apenas quebrando o paradigma de que um ambiente de jogo tem que ter uma atmosfera masculina”, esclarece Cristiana. Destaques do projeto são a mesa de sinuca da AD Studio da Paloma Danemberg, o carrinho/bar dos Irmãos Mascarenhas Design, banquetas de madeira e latão do Gustavo Bittencourt; e uma criativa cadeira suspensa de corda concebida pelo designer Sergio Matos.
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João Batista Jesus da Silva
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O Bolinha
ossa homenagem na editoria Retrato em Preto e Branco, quando publicamos sobre personalidades já falecidas, nesta edição, vai para o músico João Batista Jesus da Silva, o Bolinha, exímio saxofonista, muito requisitado na sociedade mato-grossense pela qualidade de seu trabalho artístico. Nascido em Cuiabá a 23 de junho de 1940, Bolinha era unanimidade entre os músicos e toda a sociedade cuiabana, marcada por sua alegria permanente e sorriso postado até quando estava de mau humor. Bolinha faleceu no começo da tarde de 5 de agosto de 2019, em Cuiabá. Ele estava internado na UTI do Complexo Hospitalar de Cuiabá dois dias antes de sua morte, quando sofreu um Acidente Vascular Cerebral. Bolinha já vinha lutando desde 2018 contra um problema imunológico que acarreta queda na produção de plaquetas, segundo os médicos esse quadro pode ter causado o AVC. No dia em que ele faleceu seria submetido a uma cirurgia, mas nem chegou a ser operado devido ao agravamento do quadro. A partir da década de 1980 o músico, que tinha na veia o gosto pela música, pois era filho de dona Enedina Fernandes da Silva e Mestre Albertino, um dos baluartes do rasqueado mato-grossense, e que muito contribuiu com a cultura cuiabana, se tornou um dos mais importantes propulsores do ritmo rasqueado em Cuiabá. Acontece que nesse período a cidade de Cuiabá e arredores estava sofrendo arrebatadora influência de cultura advindas dos estados do sul e sudeste do país, isso devido à intenso fluxo migratório registrado em Mato Grosso, por conta da ocupação de áreas para agricultura e pecuária em várias regiões do estado. Cuiabá era a base de negócios desses grupos migratórios e
os resquícios culturais destes se tornaram tão importantes que, de certa forma, incomodava, daí a necessidade do resgate e popularização da cultura regional, dentre as quais, o rasqueado. Esse trabalho o Mestre Bolinha desempenhou de forma brilhante ao lado de outros ícones, a exemplo de Henrique e Claudinho, Roberto Lucialdo, Guapo, Vera e Zuleica e Pescuma, com quem formara a famosa banda Ventrecha de Pacu, de muito sucesso. A história de Bolinha é muito rica, vindo desde o seu tempo de saxofonista da banda Jacildo e Seus Rapazes, na década de 1960/70, de imenso sucesso em solo cuiabano, notadamente na boate Sayonara, onde tocou com artistas de renome nacional, a exemplo de Nélson Gonçalves, Altemar Dutra, Roberto Carlos, Wanderléa e tantos outros nomes importantes. A casa noturna Panacéia também marcou a trajetória musical de Bolinha, pois, aquele lugar contribuiu para a popularização do rasqueado. Não há de ser esquecido o período dos clubes Náutico e Grêmio Antônio João (dos Sargentos), onde atuava o Los Bambinos, de grande sucesso. Bolinha afirmou em entrevista que o rasqueado não fazia sucesso e só era popular entre as classes mais pobres da sociedade, além do que: “quase não tinham pessoas que se dedicavam a isso”. Devido à riqueza musical em que foi criado, com muito maxixe, rasqueado, baião, tangos e boleros, Bolinha lamentava a preferência (quase unânime) ao sertanejo e dizia que não queria morrer sem ver a música mato-grossense alçada a um lugar de destaque. Um dos orgulhos do Mestre Bolinha foram os mais de 35 anos dedicados à regência da banda de música da antiga Escola Técnica Federal de Mato Grosso (atual IFMT).
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De Silvícolas a Indígenas Os índios na Constituição Federal de 1988 POR LOYUÁ RIBEIRO FERNANDES MOREIRA DA COSTA
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Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, apelidada de Carta Cidadã, sem dúvida, trouxe um considerável avanço na garantia de direitos dos povos indígenas. Quando se faz um percurso pelas Constituições Federais do Brasil, inclusa a de 1824, a Constituição Política do Império do Brasil, e as de 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988, as republicanas, verificam-se posicionamento ao reconhecimento dos povos indígenas como integrantes da sociedade nacional. Nas duas primeiras, 1824 e 1891, diante ao poder público, os índios permaneceram na invisibilidade. A de 1934, a de menor duração, clamou pela incorporação dos silvícolas à comunhão nacional e respeitou a posse de suas terras.
bre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. Pela primeira vez na história das Constituições Federais, a União não determina incorporação dos índios à comunhão nacional. Não há dúvida de que a Constituição de 1988 está à frente das cartas constitucionais anteriores tanto em artigos reservados aos indígenas quanto em número de vezes que as palavras “índios” e “indígenas” inscrevem-se no referido instrumento normativo. Mais do que isso, percebe-se que, ao contrário aos objetivos do Serviço de Proteção ao Índio e da Fundação Nacional do Índio que determinaram integração do índio à sociedade Brasileira, reconhece os índios como integrantes na nação, respeitando sua autodeterminação. Outro ponto a ser destacado: a palavra “silvícola”, presente nas Constituições de 1934, 1937, 1946 e 1967foi substituída por “índios” e “indígenas”. No dicionário da língua portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, no verbete “silvícola”, lê-se: “que nasce ou vive nas selvas, selvagem, selvático”. Muito a refletir... É certo que a Constituição Federal de 1988 proporcionou significativo avanço aos direitos dos povos indígenas. Contudo, ainda existe um longo caminho a ser percorrido. Torna-se necessário fazer valer o respeito
aos direitos conquistados pelos indígenas, uma tarefa de todos os cidadãos. Não se pode esquecer que interesses econômicos, antagônicos às práticas socioculturais indígenas, atingem territórios, aldeias e comunidades, quando desconsideram a existência do diferente. Não se pode esquecer das PEC (Proposta de Emenda Constitucional) e das PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A exemplo, da PEC 215 que pode paralisar a regularização de territórios indígenas e quilombolas ao dar a palavra ao Congresso Nacional. Como desabafou um indígena da etnia Xerente, de Tocantins: “É PAC para um lado e PEC para outro, tá difícil para os povos indígenas”. Sem dúvida, a Constituição Cidadã trouxe um novo paradigma na relação do Estado, sociedades indígenas e sociedade não indígena. Por força do texto constitucional, os índios nascidos no Brasil são considerados cidadãos Brasileiros como todos os demais; são titulares de direitos e deveres inerentes à cidadania. Portanto, de “silvícola” a “índios” e “indígenas”, um reconhecimento que deve ser levado em consideração. Mas, todo cuidado é pouco porque Constituições Federais podem ser “emendadas”.
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Em 1937, chegou uma nova Carta Magna, apelidada de “polaca”, inspirada no ideário fascista. Nela, determinou-se respeito aos “silvícolas”e a posse permanente de suas terras. Na Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946, a União continuou com o propósito de incorporar os “silvícolas” à comunhão nacional, respeitando a posse das terras onde se achavam permanentemente localizados, sem que tivessem direito à transferência a outros. De caráter ditatorial, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, deu aos “silvícolas” três artigos que não trouxeram avanços, se comparada às anteriores. Já a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, é a que mais reserva artigos aos indígenas. São, ao todo, 16 vezes que as palavras “índios” e “indígenas” aparecem na Carta Magna. Como as anteriores, a União, que deve legislar sobre as populações indígenas, reconhece “as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios” e tem o Congresso Nacional competência para autorizar a “exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais”. Em termos de reconhecimento de um país pluriétnico, são os Artigos 231e 232 e respectivos parágrafos que reconhecem “aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários so-
Loyuá Ribeiro Fernandes Moreira da Costa é graduada em Direito pelo Univag Centro Universitário
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MITOLOGIA
Munduruku Quando mandavam as mulheres
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UNDURUKÚ Tronco linguístico tupi. Terra Indígena Apiaká-Kayabí. Cada povo vive uma cultura própria, com especificação de língua, costumes, organização militar, estrutura política, cosmovisão, religião. Em tempos que vão longe, as mulheres habitavam a Casa-dos-Homens, e os homens estavam alojados em vasta casa coletiva. Os homens tinham de fazer todo o trabalho para as mulheres: caçar, plantar, buscar lenha, desenterrar a mandioca, espremer e fornear a farinha. Essas eram suas tarefas. E, como se isso não bastasse, também iam buscar água no rio. Foi nessas priscas eras que três mulheres - Ianiubêri, cacique do povo munduruku, Taiumburu e Parauerê, acharam três flautas chamadas caduqué. Encontraram-nas num riacho e três peixinhos as tiraram da água. As mulheres as experimentaram. — Que som bonito! disseram elas.
Então passaram a tocá-las na mata, todos os dias. E para isso saíam de casa, às escondidas. Os homens começaram a desconfiar. — Aonde irão sempre as mulheres? Acabaram por esconder-se a fim de melhor espreitá-las. E as encontraram tocando as suas flautas. — Que devemos fazer? - perguntaram-se. Mas os irmãos mais novos de Ianiubêri, que se chamavam Marimaberê e Mariburubê, propuseram: — Tiremo-lhes as flautas! Elas nem sequer vão à caça e nós temos de fazer todos os serviços! Aceita a proposta, furtaram-lhe as flautas. E também as experimentaram. — Que som bonito! disseram eles. E passaram a tocá-las. As mulheres ficaram muito tristes porque já não dispunham de suas flautas. Soluçando, entraram na grande casa. Assim, os homes se apossaram da casa coletiva, que ficou sendo a Casa-dos-Homens.
Texto recolhido pelo historiador, militar e político Couto de Magalhães, publicado no livro “O Selvagem”, reeditado pela Companhia Editora Nacional, Coleção Brasiliana.
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RAĂ?ZES
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Religião
A Brasilidade em questão: uma visão do candomblé e a umbanda na sociedade POR MAURÍCIO VIEIRA
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FOTOS MARIA CAROL
rande parte das pessoas no Brasil simpatiza com o samba, carnaval, feijoada, acarajé, roda de capoeira e tantas outras expressões que contribuem com os traços que compõem a identidade do povo Brasileiro. Essas expressões demonstram a riqueza e a beleza, presentes em nossa diversidade cultural, que se originam das práticas ancestrais dos africanos que chegaram ao Brasil na condição de escravos. Hoje, estes traços culturais são conservados pelos Sagrados Terreiros de Candomblé e Umbanda que, em sua maioria, são formados por pessoas de variadas classes sociais; tanto homens quanto mulheres são os guardiões das expressões que compõem a pujança da cultura Brasileira.
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RAÍZES Vários Terreiros têm sido alvo de depredação e violência por pessoas que anonimamente invadem o espaço sagrado onde se pratica o culto e se cultiva a memória da nossa ancestralidade. O que leva tais pessoas a agirem desta forma? Uma resposta é possível: a falta de informação tem levado muitos ao erro. Outra pergunta pode ser feita sobre estas questões: o que representa um terreiro de Candomblé e/ou Umbanda e as manifestações das sagradas matrizes africanas? Já se passaram mais de dez anos da implementação da Lei Federal nº 10.639/03 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, obrigando a escola a inserir os conteúdos referentes à história e cultura africana e afro Brasileira. Ainda assim com o advento da Lei nº 10639/03, ao tratar questões referentes às religiões de matriz africana, imediatamente se constrói no imaginário coletivo situações diversas e inusitadas, que provocam a negação da possibilidade de aproximação destas religiões. Candomblé e Umbanda são religiões que trazem consigo sinais de ancestralidade e herança africana que reforçam o caráter religioso, e por esta herança africana são discriminadas da mesma maneira que ocorre no plano do preconceito racial. É necessário olhar o Terreiro como espaço educativo, considerando o conjunto de indivíduos, autônomos e independentes, que por uma série de ideais partilhados, por vontade própria obrigam-
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-se a aprender e trabalhar juntos, comprometendo-se e influenciando-se uns aos outros dentro de um processo de troca de conhecimento, sendo tudo conduzido de forma simples e dinâmica, porém através de uma beleza transcendental. As sagradas matrizes africanas são incompreendidas na sua forma litúrgica, que inclui a dança, comidas e suas vestes sagradas. O sagrado nas religiões de matriz africana se manifesta em espaços ecológicos que dão a dimensão da força da natureza presente no rito, sendo aquela representada pelos orixás: Iemanjá, Ogum, Exú, Oxum, Oxossi, Ossaim, Iansã, Xangô, Oxalá Oxumaré, Omulu entre outros. Tanto o sagrado feminino como também o sagrado masculino são representados e utilizam como campo energético mares, cachoeiras, matas e rios. O que temos acompanhado nas redes sociais e nos meios de imprensa sobre questões de “intolerância”, que prefiro denominar como violência contra Candomblé e Umbanda, é fruto de muitos anos de indiferença e invisibilidade. Hoje pessoas são impulsionadas a agirem de forma agressiva contra adeptos de religião de matriz africana, pelo simples fato de estarem na rua usando suas guias e sua roupa branca. Atitudes como estas revelam o perigo que há por trás de discursos ultraconservadores que pregam a existência de uma única verdade, violando a dignidade
da pessoa humana cujo direito à liberdade como princípio deveria ser garantido por um estado laico. É importante compreender que as diferenças, longe de serem motivos para discriminação e exclusão, devem ser motivos de riqueza, de aprendizagem de novos saberes, de troca de experiência que conduzem cada vez mais para a abertura e o acolhimento do ‘desconhecido’, do diferente, eliminando assim as barreiras que nos tornam intolerantes, que nos levam a ver no diferente um (a) inimigo (a) contra o (a) qual se deve lutar e manter distância. A lei nº 10.639/03 vem com a função de introduzir as reflexões em torno da história da cultura africana e afro Brasileira, tem como principal objetivo combater práticas racistas e discriminatórias também em relação às religiões de matriz africana, e este processo começa na escola, pois é ali que se começa a conhecer as noções de mundo e a partir daí compreender e respeitar a diversidade presente na sociedade. O encontro de religiões e de culturas é na verdade o encontro de pessoas religiosas que possuem saberes e culturas diferentes. Permitir o acolhimento do outro e da outra na sua alteridade, na sua diferença, faz acontecer um mundo onde os preconceitos e a discriminação sejam erradicados, na certeza de que ‘um outro mundo é possível’.
lumeMatoGrosso Imagens retiradas da Exposição “Oralidade, a História entre os lábios da Diáspora Afro-Brasileira no Cerrado.”
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PA R A Q UA N D O VOCÊ FOR
Covão dos Conchos Tornou-se viral graças a um vídeo e agora atrai milhares de turistas. Descubra o local mais misterioso da Serra da Estrela
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POR VXMAG
pesar da sua aparência, esta abertura surreal numa lagoa da Serra da Estrela, na área central de Portugal, na verdade não é um portal para qualquer outra época ou lugar, mas sim um funil artificial que conduz água a um longo túnel. Embora pareça um buraco natural alinhado com cascatas, o Covão dos Conchos é, de fato, uma maravilha da engenharia. FOTOS DIVULGAÇÃO
km de comprimento e, teve seu início, em 1912, a partir de antigo glaciar com um 1 km de extensão. Depois da “descoberta” do funil dos Conchos com a publicação de um vídeo apresentando imagens de grande beleza daquele buraco a sugar a água da lagoa, como se tratasse de algo novo e que não estivesse ali já há seis décadas. Como a curiosidade atrai multidões, o percurso que vai da Lagoa Comprida até à barragem é percorrido por muitas pessoas que pretendem ver de perto aquela que quase parece ser a nona maravilha do mundo. E a verdade é que aquele local é bonito e merece bem a pena visitá-lo, mas não é o único. Toda a serra é maravilhosa e para apreciar toda a sua beleza nada como abandonar as estradas principais, deixar o conforto do automóvel e embrenhar-se serra adentro a pé pelos trilhos e caminhos existentes na serra. O acesso ao Covão dos Conchos faz-se a pé por uma estrada que parte da Lagoa Comprida e que alterna entre o razoável e o difícil, com muitas pedras soltas que atrapalham o caminhar. São cerca de 5 km, mas ar puro e motivos de interesse não faltam por ali…
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Este lago nas montanhas da Serra da Estrela, situado em vasta área de interesse natural e cultural, foi criado artificialmente em 1955 durante a construção de barragem hidrelétrica nas proximidades. Em vez de construir um canal para transportar a água entre a Ribeira das Naves e a Lagoa Comprida, os engenheiros do projeto decidiram perfurar um túnel através da montanha para conectar os dois lagos. O vertedouro foi projetado para fornecer água doce às comunidades próximas, mas o fato de não haver outras construções próximas faz com que o funil pareça mais uma parte do lago do que uma parte de um projeto de infraestrutura. Além disso, existem plantas que crescem nas bordas do tubo de concreto e de granito, tornando o buraco gigante ainda mais natural. Este funil com aparência de ficção científica era um segredo pouco conhecido em Portugal até que as fotos do buraco se tornaram virais há pouco tempo. O funil não é mais do que um túnel construído na década de 1950 e que leva as águas recolhidas da Ribeira das Naves e as encaminha para a Lagoa Comprida, bem mais abaixo. Esse túnel tem 48 m de coroamento, 1,519
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Americanidade
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A busca pelo intercâmbio cultural entre os povos da América do Sul
esta edição de LUME MATO GROSSO, dentro do propósito de aumentar conhecimentos sobre a literatura e cultura sul americana, apresenta um recorte da extensa biografia do escritor e poeta argentino Julio Florencio Cortázar, filho de argentinos e nascido na Embaixada da Argentina, em Ixelles, distrito de Bruxelas, na Bélgica, a 26 de agosto de 1914. Cortázar regressa à sua terra natal aos quatro anos de idade. Seus pais se separaram posteriormente e passou a ser criado pela mãe, uma tia e uma avó. Passou a maior parte de sua infância em Banfield, na Argentina, e não era uma criança totalmente feliz, apresentando uma tristeza frequente. Cortázar era uma criança bastante enferma e passava muito tempo na cama, len-
do livros que sua mãe selecionava. Muitos de seus contos são autobiográficos, como Bestiario, Final del juego, Los venenos e La Señorita Cora, entre outros. Formou-se professor em Letras, em 1935, na “Escuela Normal de Profesores Mariano Acosta”, e naquela época começou a frequentar lutas de boxe. Em 1938, com uma tiragem de 250 exemplares, editou Presencia, livro de poemas, sob o pseudônimo “Julio Denis”. Lecionou em algumas cidades do interior do país, foi professor de literatura na “Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad Nacional de Cuyo”, mas renunciou ao cargo quando Perón assumiu a presidência da Argentina. Empregou-se na Câmara do Livro em Buenos Aires e realizou alguns trabalhos de tradução.
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JULIO CORTÁZAR
Em 1951, aos 37 anos, Cortázar, por não concordar com a ditadura na Argentina, partiu para Paris (França), pois havia recebido uma bolsa do governo francês para ali estudar por dez meses, e acabou se instalando definitivamente. Trabalhou durante muitos anos como tradutor da Unesco e viveria em Paris até a sua morte. Teve uma relação de amizade com os artistas argentinos Julio Silva e Luis Tomasello, com os quais realizaria vários projetos conjuntos. Politicamente, o autor também foi um mistério, devido à fragilidade dos rótulos da época, pois, para a CIA, tra-
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tava-se de um perigoso esquerdista a soldo da KGB, enquanto esta considerava-o um notório agente do imperialismo a soldo da CIA e perigoso agitador anti-soviético, já que denunciava as prisões em Moscou dos chamados dissidentes. Cortázar casou-se em 1953, com Aurora Bernárdez, uma tradutora argentina. Viviam em Paris, sob condições econômicas difíceis e surgiu a oportunidade de traduzir a obra completa, em prosa, de Edgar Allan Poe, para a Universidad de Puerto Rico. Esse trabalho foi considerado pelos críticos como a melhor tradução da obra do escritor.
Em 1963, visitou Cuba enviado pela Casa de las Américas, para ser jurado em um concurso. Foi a época de intensificação do seu fascínio pela política. No mesmo ano teve um livro traduzido para o inglês. Em 1962, lança Historias de Cronopios y Famas. O ano de 1963, marcou o lançamento de Rayuela, que foi seu grande sucesso e teve cinco mil cópias vendidas no mesmo ano. Em 1959, saiu o volume Final del Juego. Seu artigo Para Llegar a Lezama Lima foi publicado na revista “Union”, em Havana. Depois desses anos, Cortázar se envolveu politicamente na libertação da
América Latina sob regimes ditatoriais. Em novembro de 1970 viaja ao Chile, onde se solidarizou com o governo de Salvador Allende. Em 1971, foi “excomungado” por Fidel Castro, assim como outros escritores, por pedir informações sobre o desaparecimento do poeta Heberto Padilla. Apesar de sua desilusão com a atitude de Castro, continuou acompanhando a situação política da América Latina. Em 1973, recebeu o Prêmio Médicis, por seu Libro de Manuel e destinou seus direitos à ajuda dos presos políticos na Argentina. Em 1974, foi membro do Tribu-
nal Bertrand Russell II, reunido em Roma para examinar a situação política na América Latina, em particular às violações dos Direitos Humanos. Em 1976, viajou para Costa Rica, onde se encontrou com Sergio Ramírez e Ernesto Cardenal. Em seguida fez uma viagem clandestina até Solentiname, na Nicarágua. Esta viagem o marcaria para sempre e seria o começo de uma série de visitas a este país. Em agosto de 1981 sofreu uma hemorragia gástrica. Em 1983, volta a democracia na Argentina, e Cortázar fez uma última viagem à sua pátria, onde foi recebi-
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do calorosamente por seus admiradores, que o paravam na rua e lhe pediam autógrafos, em contraste com a indiferença das autoridades nacionais. Depois de visitar vários amigos, regressou a Paris. Pouco depois lhe foi outorgada a nacionalidade francesa. Carol Dunlop, sua última esposa, faleceu em 2 de novembro de 1982, e Cortázar teve uma profunda depressão. Morreu de leucemia em 12 de fevereiro de 1984, sendo enterrado no Cemitério do Montparnasse, na mesma tumba de Carol. Em sua tumba se ergue a imagem de um “cronópio”, personagem criado pelo escritor. É considerado um dos autores mais inovadores e originais de seu tempo, mestre do conto curto e da prosa poética, comparável a Jorge Luis Borges e Edgar Allan Poe. Foi o criador de novelas que inauguraram uma nova forma de fazer literatura na América Latina, rompendo os moldes clássicos mediante narrações que escapam da linearidade temporal e onde os personagens adquirem autonomia e profundidade psicológica inéditas. Seu livro mais conhecido é Rayuela (O Jogo da Amarelinha), de 1963, que permite várias leituras orientadas pelo próprio autor. A seguir brindamos nossos leitores com a poesia Os Amantes, de Cortázar, nos idiomas espanhol e português.
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OS AMANTES
¿Quién los ve andar por la ciudad si todos están ciegos ? Ellos se toman de la mano: algo habla entre sus dedos, lenguas dulces lamen la húmeda palma, corren por las falanges, y arriba está la noche llena de ojos.
Quem os vê andar pela cidade se todos estão cegos? Eles se tomam as mãos: algo fala entre seus dedos, línguas doces lambem a úmida palma, correm pelas falanges, acima a noite está cheia de olhos.
Son los amantes, su isla flota a la deriva hacia muertes de césped, hacia puertos que se abren entre sábanas. Todo se desordena a través de ellos, todo encuentra su cifra escamoteada; pero ellos ni siquiera saben que mientras ruedan en su amarga arena hay una pausa en la obra de la nada, el tigre es un jardín que juega.
São os amantes, sua ilha flutua à deriva rumo às mortes na relva, rumo a portos que se abrem nos lençóis. Tudo se desordena por entre eles, tudo encontra seu signo escamoteado; porém eles nem mesmo sabem que enquanto rodam em sua amarga arena há uma pausa na criação do nada, o tigre é um jardim que brinca.
Amanece en los carros de basura, empiezan a salir los ciegos, el ministerio abre sus puertas. Los amantes rendidos se miran y se tocan una vez más antes de oler el día. Ya están vestidos, ya se van por la calle. Y es sólo entonces cuando están muertos, cuando están vestidos, que la ciudad los recupera hipócrita y les impone los deberes cotidianos.
Amanhece nos caminhões de lixo, começam a sair os cegos, o ministério abre suas portas. Os amantes cansados se fitam e se tocam uma vez mais antes de haurir o dia. Já estão vestidos, já se vão pela rua. E só então, quando estão mortos, quando estão vestidos, é que a cidade os recupera hipócrita e lhes impõe os seus deveres quotidianos.
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VOCÊ NÃO PARA UM SEGUNDO. O TCE TAMBÉM NÃO.
@tcematogrosso
/TCEMatoGrosso
@TCEmatogrosso
/tcematogrosso
O TCE fiscaliza o tempo todo. E julga todos os dias.
Plenário virtual:
PROCESSOS JULGADOS
Os dias de hoje exigem que nossas vidas sejam uma verdadeira corrida contra o tempo. Fazer mais otimizando o tempo é essencial em todos os lugares. Também é assim no Tribunal de Contas de Mato Grosso, que criou o Plenário Virtual. Com sessões plenárias de segunda a sexta-feira, o TCE não para. Resultado: já foram julgados mais de 23 mil processos apenas nesse ambiente tecnológico.
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www.tce.mt.gov.br