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lume Mato Grosso

Revista nº. 39 • Ano 5 • Dezembro/2019

2019

Ano de muitas realizações em Cuiabá Pag. 14

PERSONALIDADE: DR. VINÍCIUS BIGNARDI EFICIÊNCIA, CELERIDADE E ACESSIBILIDADE NO JUDICIÁRIO O UNIVERSAL AMAURI TANGARÁ MULHERES DE CONFORTO RETRATO EM PRETO E BRANCO: PROFESSOR DORILEO BERNARDINA RICH, UMA MULHER DE ENFRENTAMENTOS A IMORTAL NEILA BARRETO

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TONS DE MATO GROSSO FLOR DO MANDACARU NO CERRADO MATOGROSSENSE DE SANTO ANTONIO DE LEVERGER


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C A RTA D O E D I TO R

JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral

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esde o surgimento da revista impressa no Brasil em 1812, essa mídia tradicional sofreu diversas transformações ao longo do tempo. Com o advento da internet, as mudanças foram ainda mais drásticas: surgiu uma necessidade de se acessar as notícias de forma imediata, fazendo com que as revistas que permaneciam somente no meio impresso ficassem para trás. Para se adaptar aos moldes dos dias atuais, os veículos procuraram se reinventar ao criar setores para publicar conteúdo na internet, assim expandindo a marca para atingir mais pessoas. Questionados, alguns jornalistas se pronunciaram sobre esse assunto. Marcos Coronato, editor executivo da revista Época, relatou a preocupação do veículo em fazer com que as matérias do site tenham o maior “ciclo de vida” possível, exaltando a figura do editor que proporciona um olhar mais experien-

te e pode tornar a publicação mais interessante para dessa forma atrair mais leitores. Na Veja a situação é bem parecida. Daniel Bergamasco, editor online, revelou que há alguns anos o veículo investiu na plataforma online, e isso permitiu algumas mudanças na redação: intercâmbio entre editores e união dos jornalistas, deixaram de existir papéis definidos. Daniel acredita que a versão online ainda não conseguiu se igualar a edição impressa quando se trata de impacto, na medida em que as revistas causam um efeito nostálgico e forte ao se abrir, por exemplo, uma foto que ocupa uma página inteira. É algo que captura a atenção do leitor de uma maneira que os sites não conseguem fazer. A revista impressa é desenvolvida considerando que o leitor terá um tempo maior dedicado ao texto, desta forma a produção de conteúdo é mais aprofundada. Entretanto, as chamadas “pau-

tas quentes” podem não resistir até o final de semana (quando a revista é veiculada), valorizando a necessidade do site. Giovana Romani, editora sênior da revista Glamour, acredita na exclusividade da revista impressa, já que existe uma curadoria limitada para a veiculação. A principal diferença apontada por Giovana está na questão do título, o online exige “sujeito, predicado, ação e informação relevante”, em contrapartida a revista é mais fluida. Para mim não ocorrerá o fim da revista impressa, mas sim uma depuração daquilo que temos em nosso mercado, tanto no Estado, quanto no país afora. Os editores e jornalistas migrarão, em sua maioria, para sites. Ficarão os que tem proposta editorial que atinja os objetivos do leitor, especialmente daquele mais exigente e que busca qualidade. Estamos buscando encontrar o caminho certo para nossa LUME MATO GROSSO


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EXPEDIENTE

lume Mato Grosso

PESCUMA MORAIS Diretor de Expansão e de Projetos Especiais ELEONOR CRISTINA FERREIRA Diretora Comercial JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral MARIA RITA UEMURA Jornalista Responsável JOÃO GUILHERME O. V. FERREIRA Revisão AMÉRICO CORRÊA, ANA CAROLINA H. BRAGANÇA, ANNA MARIA RIBEIRO, ANTÔNIO P. PACHECO, BENEDITO PEDRO DORILEO, BETH MADUREIRA, CARLOS FERREIRA, CECÍLIA KAWALL, DANIELLE TAVARES, DIEGO DA SILVA BARROS, DILVA FRAZÃO, EDUARDO MAHON, ELIETH GRIPP, ENIEL GOCHETTE, EVELYN RIBEIRO, FELIPE CHAVES, JOSANE SALLES, JOSÉ EDUCARDO RIBEIRO, JULIANA RODRIGUES, LUCIENE CARVALHO, MARCO POLO DANTAS, MILTON PEREIRA DE PINHO - GUAPO, NIGEL BUCKMASTER, PAULO PITALUGA COSTA E SILVA, RAFAEL LIRA,, ROSE DOMINGUES, VALÉRIA CARVALHO, WLADIMIR TADEU BAPTISTA SOARES, YAN CARLOS NOGUEIRA, WELLER MARCOS DA SILVA, UBIRATÃ NASCENTES ALVES Colaboradores ANDREY ROMEU, ANTÔNIO CARLOS FERREIRA (BANAVITA), CECÍLIA KAWALL, CHICO VALDINEI, EDUARDO ANDRADE,

HEITOR MAGNO, HENRIQUE SANTIAN, JOSÉ MEDEIROS, JOYCE CORRÊA, JÚLIO ROCHA, LUIS ALVES, LUIS GOMES, MAIKE BUENO, MARCELA BONFIM, MARCOS BERGAMASCO, MARCOS LOPES, MÁRIO FRIEDLANDER, RAI REIS Fotos OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES. LUME - MATO GROSSO é uma publicação mensal da EDITORA MEMÓRIA BRASILEIRA Distribuição Exclusiva no Brasil RUA PROFESSORA AMÉLIA MUNIZ, 107, CIDADE ALTA, CUIABÁ, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 36371774 99284-0228 | 9925-8248 Contato WWW.FACEBOOK.COM/REVISTALUMEMT Lume-line REVISTALUMEMT@GMAIL.COM Cartas, matérias e sugestões de pauta MEMORIABRASILEIRA13@GMAIL.COM Para anunciar ROSELI MENDES CARNAÍBA Projeto Gráfico/Diagramação IGREJA DO ROSÁRIO FOTO: MARCO BERGAMASCO Capa


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SUMÁRIO

12. NOTAS

36. COMPORTAMENTO

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DEZEMBROS DE NOSSA HISTÓRIA


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62. 64. CULTURA

66.

LITERATURA

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PERSONALIDADE

Vinicius Bignardi

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revista LUME MT oferece aos seus leitores o perfil de um dos mais importantes advogados do paĂ­s, o Dr. Vinicius Bignardi, paulista cuiabanizado que desenvolve importante papel na ĂĄrea do Direito em Mato Grosso, no Brasil e no exterior.

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PERSONALIDADE

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COM O PAI, DR. REINALDO CELSO BIGNARDI


dica se especializou em direito empresarial na medida que a indústria brasileira foi se desenvolvendo, a economia se sofisticando, e a carteira de clientes nacionais foi se expandindo, crescendo de maneira orgânica e desenvolvendo uma cultura própria e integrada. O escritório representa clientes nacionais e estrangeiros atuantes numa ampla gama de setores, incluindo automotivo, máquinas e equipamentos, serviços bancários e financeiros, construção e materiais de construção, energia e recursos naturais, meio ambiente, gestão de resíduos, saúde, petróleo e gás, usinas de álcool e biodiesel, imobiliário e tecnologia, instituições de ensino, agronegócio, indústrias, DTVM’S Faculdades e comércio internacional. O escritório tem correspondentes em todo o Brasil e mantém relacionamento estreito com escritórios de advocacia de renome, e também em diversos países. Em decorrência de sua atuação diversificada e da excelência de seus profissionais, o escritório é capaz de prestar assistência a clientes de qualquer setor econômico em todas as áreas do Direito, o que lhe permite desenvolver relacionamentos de confiança mútua, tanto no dia-a-dia como em decisões estratégicas, envolvendo questões legais sofisticadas, complexas ou tecnicamente desafiadoras. Para o Dr. Vinicius Bignardi a sociedade só tem a ganhar com o Direito bem aplicado, é dele a frase: “Nós acreditamos no aperfeiçoamento da sociedade pelo Direito, assim como numa advocacia compromissada com a ética, responsabilidade, excelência das soluções legais, satisfação de nossos clientes e realização pessoal de nossos integrantes”. Continuando em sua definição sobre a importância dessa área acadêmica conclui: “A missão de nosso escritório é atender nossos clientes em todas as áreas do Direito, no alcance de seus objetivos, com criatividade, segurança e eficiência; atrair e desenvolver os melhores talentos, para oferecer serviços de vanguarda; aprimorar e compartilhar constantemente o conhecimento e praticar e transmitir valores éticos.

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Dr. Vinicius nasceu em São Carlos, Estado de São Paulo, no ano de 1987, mudou-se para Cuiabá aos 8 anos de idade. Quando cursava o ensino médio passou a trabalhar no escritório de advocacia do seu pai, Dr. Reinaldo Celso Bignardi. A partir dessa época teve certeza da profissão que queria exercer. Fez o vestibular e entrou para a Universidade. Algum tempo depois, já na metade do curso de Direito o então estudante Vinicius Bignardi mudou-se para o Estado de São Paulo concluindo ali o curso de Direito. Nessa época passa a trabalhar como estagiário do departamento jurídico de um grande Banco, da qual o seu pai Dr. Reinaldo Celso Bignardi, já o representava no Centro-Oeste. Sempre aliando estudos ao trabalho, Dr. Vinicius retorna a Mato Grosso no último semestre do seu curso de Direito. Desta feita a motivação para a mudança foi proposta profissional de empresa de telefonia, de uma agência de viagens e Bancos em Liquidação Extrajudicial, atrelado ao fato do apelo familiar, e assim concluiu o curso de Direito no ano de 2008. No mesmo ano da conclusão do curso obteve êxito na prova da OAB/MT, tornando-se oficialmente advogado sob a inscrição nº 12.901. Desde então, sempre muito atuante, defendendo os interesses de seus clientes, em diversas áreas do direito, ganhou grande notoriedade em âmbito Nacional, passando a advogar para empresas e instituições de diversos segmentos. A notoriedade foi tamanha que no ano de 2013 foi convidado para assessorar uma empresa no Estado da Flórida – USA, passando a residir durante dois anos no Brasil e EUA. Quando retornou definitivamente ao Brasil, casou-se e se tornou pai de dois filhos. Constituiu a Bignardi Advocacia & Assessoria Jurídica, que é um escritório independente, de atuação diversificada (full service), especializado em operações multidisciplinares e capaz de traduzir o ambiente legal brasileiro em benefício de seus clientes nacionais e internacionais. A Bignardi Advocacia & Assessoria Jurí-

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N OTA S

OBITUÁRIO

»»O deputado estadual Eduardo Botelho TRANSFORMAÇÃO »»Mauro Zaque aciona ex-secretários de Saúde e Casa Civil por rombo de R$ 13 milhões na Caravana da Transformação, referência do governo Pedro Taques.

(DEM) lamentou o falecimento do professor fundador da UFMT, Benedito Pedro Dorileo. Aos 85 anos, o advogado, político, professor e especialista em Direito Educacional faleceu no início da tarde de quinta-feira do dia 12/12, em Cuiabá.

SOCIAL

»»ALMT entregou em dezembro 2,5 tone-

ladas de alimentos, divididos para 9 entidades filantrópicas. Donativos foram frutos de ingresso social ao Teatro Zulmira Canavarros e compuseram ações natalinas voltadas para pessoas carentes.

SELMA CASSADA TSE – Tribunal Superior Eleitoral cassou o mandato da senadora Selma Arruda (Podemos), em 11/12, por seis votos a favor e um contra. Selma foi candidata ao Senado Federal e eleita com mais de 678 mil votos.

»»O

GRAMPOLÂNDIA »»O coronel da PM, e ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos, Airton Siqueira Junior, preso na operação que investigou o esquema de interceptações ilegais na PM, afirmou em depoimento à PJC que o coronel PM Zaqueu Barbosa o teria ameaçado, através de seus advogados, enquanto estava preso.

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PEDIDO ACATADO »»O ministro Alexandre de Moraes, membro do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu medida cautelar pleiteada pelo governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), suspendendo trechos da Constituição de Mato Grosso que determinam a aplicação de no mínimo 35% da receita de impostos na Educação.


ADIADO »»A Corte Especial Superior Tribunal de Justiça adiou pela segunda vez, em dezembro/2019, o julgamento dos cinco conselheiros afastados do Tribunal de Contas de Mato Grosso. Previsto para o próximo dia 18, o julgamento foi transferido pelo ministro Raul Araújo para o dia 5 de fevereiro de 2020.

OAB »»Última sessão do Pleno da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Mato Grosso, presidida pelo Dr Leonardo Pio da Silva Campos (ao centro da imagem)

“CONTRARIOU PODEROSOS”

»»Comentário em rede social do vice-

prefeito de Cuiabá, Niuan Ribeiro, em apoio a senadora cassada, Selma Arruda (Podemos).

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FRASES

“COM CARINHO” »»Em entrevista à Radio Capital FM, de Cuiabá, o presidente da AL, Eduardo Botelho (DEM), pediu que a cúpula de seu partido analise com carinho o nome do ex prefeito de Cuiabá, Roberto França, às eleições de 2020, à prefeitura da capital. “DE VOLTA AO JOGO” »»A revista Cruzoé publicou que o ex-senador Blairo Maggi (PP) está de volta ao jogo político. Segundo a publicação, ele compareceu, ao lado do primo Eraí Maggi e de Cidinho Santos, à sessão do TSE que começou a definir o destino da senadora Selma Arruda (Podemos).

“DURANTE 2 BILHÕES DE ANOS A TERRA “VIVEU” SEM OS SERES HUMANOS, NÃO ACHO QUE ELA PRECISE DE NÓS”. »»Charles Darwin NOVA CASA DE AMPARO »»A primeira-dama de Cuiabá, Márcia Pinheiro, recebeu no dia 13/12 as primeiras acolhidas da Nova Casa de Amparo. A intenção foi demonstrar a característica de humanização da atual administração qual tem o foque no cuidado das pessoas. Nessa fase serão seis abrigadas, em companhia de 12 crianças, algumas provenientes da sede antiga e outras encaminhadas após a entrega da nova unidade.

“SEI MUITO BEM QUE SE CONQUISTAM ADEPTOS MENOS PELA PALAVRA ESCRITA DO QUE PELA PALAVRA FALADA E QUE, NESTE MUNDO, AS GRANDES CAUSAS DEVEM SEU DESENVOLVIMENTO NÃO AOS GRANDES ESCRITORES, MAS AOS GRANDES ORADORES”. »»Adolf Hitler

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R E P O RTAG E M ESPECIAL

2019,

Ano de Realizações em Cuiabá

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R E P O RTAG E M ESPECIAL

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aúde, educação, infraestrutura, assistência social e transporte público. Os quatro eixos que norteiam as promessas de campanha do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, avançaram ao longo do terceiro ano de seu mandato. Em um rápido balanço, a entrega do Hospital Municipal de Cuiabá (HMC) Dr. Leony Palma de Carvalho, se destaca como marco nos investimentos para o setor no estado. Neste contexto, há que se destacar ainda a entrega de outras unidades de saúde, escolas, construção de viadutos e reforço no atendimento à população carente. Sobre o HMC, Pinheiro reafirma a grandiosidade da obra, posicionada como o maior complexo hospitalar do Centro-Oeste e entre os três maiores hospitais públicos do país. O

sucesso tornou-se inspiração para outros estados e, de acordo com o Ministério da Saúde, proporcionou um avanço de 20 anos ao SUS de Mato Grosso. São 21 mil m², parque tecnológico com equipamentos de última geração, heliponto e equipe multiprofissional capaz de ofertar até 50 mil procedimentos por mês. “Este ano foi a prova de que o cuiabano pode e está indo mais longe. O que oferecemos aqui é atendimento digno, equivalente ao das melhores entidades particulares do Brasil. Tudo o que realizamos, não apenas na saúde, prova que não é porque é público, que tem que ser ruim. As pessoas que buscarem atendimento em Cuiabá merecem e encontrarão o hospital que está entre os três melhores e mais modernos empreendimentos pú-


com bermudas, camisetas, mochilas e tênis. A proposta será reforçada em 2020, com material escolar incluso no combo, devendo se tornar política pública. “Nesses três anos foram entregues para a população mais de 40 obras da Educação. Esses foram compromissos assumidos, que estão sendo cumpridos. Isso tudo, sem deixar de investir nas áreas pedagógica e de formação dos profissionais”, avalia Pinheiro. Feito parecido se repete na Assistência Social. Os acolhimentos na rede, formada por 60 unidades de atendimento, passaram de 100 mil. Os serviços que contemplam atividades individuais e coletivas se estenderam a visitas domiciliares, oficinas, palestras, abordagens sociais, participações em ações de cidadania aos sábados, entre outros. O cenário fica completo com a realização do Qualifica Cuiabá 300, que tem como foco a educação profissionalizante às comunidades carentes, resultando em inclusão social e mão de obra qualificada para o mercado. Realizado em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o projeto já entregou 1.171 certificados, a 469 participantes da 1ª e 702 da 2ª etapa. Ao todo serão mais de 100 turmas dentre os cursos ofertados. A 3ª etapa inicia no mês de fevereiro. “Um fato que merece destaque são as vagas destinadas aos imigrantes presentes que chegaram à Capital nos últimos anos. Mais de 30 pessoas, entre venezuelanos, haitianos, japoneses, entre outros já foram capacitados e muitos desses já estão no mercado de trabalho”, ressalta Emanuel. A Prefeitura também completou a reforma da Casa de Amparo - Vilma Benedita Rodrigues. O espaço, que acolhe mulheres e crianças vítimas de violência doméstica agora tem capacidade para 22 pessoas, acompanhas ou não de seus filhos. São 29 espaços, com nova mobília e estrutura reformulada com salas de coordenação, administrativo, psicossocial, brinquedoteca, refeitório, cozinha, dispensa, lavanderia, salão multiuso, refeitório, cozinha, almoxarifado, quartos, banheiros, horta, parque infantil e academia ao ar livre.

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blicos de Saúde do país”, afirma o prefeito. Ele lembra que, além do HMC, a gestão intensificou os trabalhos de construção, reforma e ampliação na Atenção Básica e entregou 30 unidades equipadas com nova mobília, climatização equipes odontológicas disponível. Deste total, constam duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) que foram construídas nos bairros Jockey Clube e Itapajé/Santa Terezinha, onde não havia estruturas do tipo. “Até 2020, mais 37 unidades serão entregues à população nos mesmos moldes. Assim concluiremos o pacote das 67 frentes de trabalho paralisadas em gestões anteriores.” A partir do próximo ano, a readequação do fluxo de atendimento entre as Atenções Básica, Secundária e Terciária incluirá a Unidade de Pronto Atendimento 24 horas (UPA) do bairro Verdão, que estava paralisada desde 2015. Aliada às outras duas já existentes (UPA Morada do Ouro e UPA Pascoal Ramos), além da UPA do Leblon, que será finalizada em abril, a entrega deverá transformar Cuiabá em referência na cobertura de urgência e emergência. Na Educação, o prefeito destaca a conclusão do novo Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Edgar Santana de Amorim, no bairro Recanto do Sol, o quinto entregue à população e o sétimo a entrar em funcionamento em três anos. Já a Escola Municipal de Educação Básica (EMEB) Floriano Bocheneki, no bairro Parque Atalaia, recebeu este ano, a primeira grande reforma desde que foi inaugurada em 2017. Entre as principais obras de 2019 estão a reconstrução total da EMEB Profª Elza Luiza Esteves feita no prazo recorde de seis meses graças à utilização de tecnologia de ponta, três quadras poliesportivas nas EMEBs Moacyr Gratidiano, Tereza Benguela e Zeferino Leite de Oliveira além das EMEBCs Herbert de Souza, no Cinturarão Verde e Nossa Senhora Penha de França, no histórico distrito do Coxipó do Ouro, além do CMEI Profª. Joana Mont Serrat Síndola Silva, no CPA III. Os investimentos, contudo, não se restringem à estrutura física. Este ano foram distribuídos kits de uniformes completos,

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R E P O RTAG E M ESPECIAL

INFRAESTRURA E MOBILIDADE URBANA

»»Congestionamentos, excesso de veículos

e poucas opções de escoamento. Embora comuns à maior parte das grandes cidades brasileiras, os problemas começam a ser solucionados por ações estruturantes. Só a construção de viaduto na Avenida Manoel José de Arruda (Avenida Beira Rio) vai beneficiar diretamente 9 mil pessoas por hora/ pico e indiretamente, 145 mil habitantes do entorno. O viaduto levará o nome do ex-prefeito de Várzea Grande e ex-deputado federal por Mato Grosso, Murilo Domingos, falecido em abril deste ano, aos 78 anos. “O trânsito caótico, que causa atraso e atrapalha a vida de milhares de cuiabanos, está com os dias contados”. É assim que ele anuncia também a construção do Contorno Leste e do viaduto na Avenida Profª Edna Maria Albuquerque Affi (Avenida das Torres). No primeiro caso, a obra, de 17 km, cruzará a cidade integrando as regiões mais periféricas ao centro, beneficiando 60% da

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população mais carente que reside em 20 bairros do entorno. O complexo viário ainda contará com viadutos e trincheiras para dar fluidez ao tráfego. O Contor-no Leste trará trafegabilidade avançada encurtando as distâncias e proporcionando crescimento não apenas para a população que mora no entorno, mas para toda Cuiabá, que ganhará mais uma via de acesso aos seus principais polos turísticos. Já no caso do viaduto José Maria Barbosa (Juca do Guaraná - Pai), ele explica que foi investido um total de R$ 16.340.726,63 no levantamento da estrutura com 200 metros de comprimento e 18 metros de largura, no entroncamento com a Avenida Érico Preza (Av. Itália). A obra é execu-tada pelo Consórcio LR, em um prazo estabelecido em contrato de 360 dias, e a expectativa é de que cerca de 10 mil pessoas sejam beneficiadas diariamente. Em consonância com esta proposta, é importante mencionar ações para a melhoria do transpor-


lumeMatoGrosso te coletivo. No início de dezembro foi entregue a Estação Bispo Dom José, em março, a Estação Ipiranga e a revitalização da Praça Maria Taquara, com um novo ponto de ônibus. “Isso vai ao encontro da proposta de humanização da gestão e dos serviços. Os reflexos também podem ser observados nas trocas de pontos de ônibus, realizadas gradual-mente pela cidade.” Ele explica que as inaugurações irão otimizar o fluxo das linhas, especialmente se consideradas outras melhorias no transporte da Capital. Em pouco mais de dois anos houve importantes alterações como a implantação de linhas expressas, ônibus articulados e duas novas estações. Outras melhorias estruturais serão observadas com a assinatura do contrato para a concessão do transporte coletivo, que aconteceu no dia 23 deste mês, após quase 20 anos de prestação de ser-viço sem nova licitação. “Este é um feito inédito e histórico para a Cuiabá. Lançada depois de quase 20 anos,

esta licitação um dos meus compromissos mais emblemáticos e que tenho alegria enorme em honrar, priorizando a humanização e o respeito às pessoas. Tendo isso em vista, pedi às empresas que já entrassem com 50% da frota com idade reduzida e ar-condicionado. Nossa meta é de que em até três anos 70% dos coletivos em circulação sejam climatizados, e que, no máximo em cinco anos, estejamos operando com a totalidade da frota climatizada”, adianta. Os esforços têm dado resultado e a cidade mostra cara nova a cuiabanos e visitantes. Por todas as regiões há obras, reformas, revitalizações, investimentos em praças, parques e no bem-estar social. Para Pinheiro, tudo converge com a palavra que mais se repete da campanha até aqui: hu-manização. “Me sinto honrado em cumprir aquilo que me propus a fazer como prefeito da minha cidade, que é cuidar da sua população, especialmente aquela que mais precisa, a mais carente”, finaliza.

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CIDADANIA

Eficiência, Celeridade e Acessibilidade Traduzem Trabalhos Realizados Pelo Judiciário em 2019 TEXTO DA REDAÇÃO FOTOS TJMT

PRESIDENTE DO TJMT, DESEMBARGADOR CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, ABRE DIÁLOGO COM SERVIDORES

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CIDADANIA

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estão de pessoas, tecnologia, infraestrutura, orçamento, alinhamento e integração, melhoria da eficiência operacional e jurisdicional, atuação institucional, ampliação do acesso ao sistema de Justiça e responsabilidade socioambiental. Esses são os pilares que dão sustentação e direcionamento à administração do desembargador Carlos Alberto Alves da Rocha à frente do Poder Judiciário de Mato Grosso. No primeiro ano da gestão 2019/2020 foi realizado um leque de ações em todos os setores da Justiça estadual, tendo como direção e planejamento a melhoria dos serviços oferecidos à sociedade, de forma especial aos jurisdicionados. No Tribunal de Justiça eficiência, celeridade e acessibilidade não são apenas palavras de ordem, mas metas estabelecidas pelo presidente para serem seguidas e cumpridas.

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lumeMatoGrosso PRESIDENTE SE REÚNE COM EQUIPE PARA AVALIAR RESULTADOS

Para que a administração funcione dentro de um contexto de uniformidade e unidade, o presidente do TJMT proporcionou a integração de todos os setores para que o Plano de Gestão sempre tenha resultados positivos. Logo na primeira Reunião de Análise Estratégica (RAE), no início da gestão, ficou claro, com o apoio do conjunto de desembargadores e magistrados, o entrosamento de todas as áreas administrativas com a missão de fazer funcionar de forma eficaz e coerente a engrenagem de todo o Judiciário, que, além da sede - o Palácio da Justiça, em Cuiabá - é composto por várias unidades judiciais em 79 comarcas instaladas no Estado. Nesses 12 meses de trabalho, completados em dezembro, o desembargador Carlos Alberto Alves

da Rocha tem reafirmado a necessidade e importância de empreender em todos os atos uma gestão com transparência, redução de custos e equilíbrio nas contas. Essa posição, além de produzir efeitos esperados, tem conquistado elogios até dos tribunais superiores e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Como a determinação é melhorar o serviço judicial, a administração, só em 2019, nomeou 118 técnicos e analistas judiciários que foram lotados em 48 comarcas. Nesse mesmo período, foi implantado o Projeto Modernize, uma nova ferramenta de gestão de pessoas. No passado também foi iniciado mais um concurso para magistrados que trará mais juízes de Direito para reforçar a prestação jurisdicional. Também foram feitos outros atos

de remoções por permuta e promoções de magistrados, como também o acesso ao cargo de desembargador, de um juiz lotado na Comarca da Capital. Para os servidores que concluíram o tempo de serviço, e como forma de reconhecimento aos serviços prestados, foi criada pela Coordenadoria de Recursos Humanos (CRH) a Aposentadoria Humanizada. O ano de 2019 também foi um período de muito aperfeiçoamento e capacitação de servidores. Foram mais de 97 cursos, presenciais e na modalidade de educação à distância (EaD), além de programa de mestrado, preparação de 74 novos gestores e Escola Itinerante nas comarcas durante o Judiciário em Movimento, projeto lançado pela Presidência no começo da administração.

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CIDADANIA

PJMT SERVIÇOS TRAZ FACILIDADES PARA USUÁRIOS DA JUSTIÇA

Na área de tecnologia foram muitos avanços que estão revolucionando e proporcionando mais qualidade e aperfeiçoamento nas práticas desenvolvidas no dia a dia processual e nos serviços de apoio e de execução de todas as demandas que levam à rapidez do trabalho. A lista de benefícios é grande, entre os quais estão o aplicativo Click Jud; os sistemas de consultas às jurisprudências administrativa e judicial; de digitalização dos processos físicos (PDF), e de pagamento de precatórios, que facilitou os cálculos, distribuição dos valores arrecadados e assegurou a ordem de recebimento. Tem ainda, como inovação da administração do desembargador Carlos Alberto

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Alves da Rocha, a clusterização do banco de dados do Processo Judicial Eletrônico (PJe). Essa iniciativa de sucesso já está registrada no Portal da Governança do CNJ, e deve servir de modelo para outros tribunais do país. Em infraestrutura, as conquistas também foram determinantes e prioritárias para a melhoria da prestação jurisdicional e atendimento ao público. No interior e na Capital foram inauguradas obras, como a ampliação do Fórum de Tangará da Serra, o novo prédio da Coordenadoria de Tecnologia da Informação (CTI) e do edifício garagem, ambos na sede do TJ. Outras construções estão em andamento, incluindo reformas e ampliações na Primeira

e Segunda Instâncias e o novo Fórum da cidade de Várzea Grande. A gestão vem investindo também em segurança. No ano passado, a Coordenadoria Militar atuou nas melhorias do controle de acesso aos fóruns e nos prédios do TJ. Magistrados e servidores foram capacitados em segurança institucional. No orçamento, a Coordenadoria Financeira atuou diretamente na elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA), no Plano Plurianual (PPA) e no Plano de Trabalho Anual (PTA), e colocou em prática o Projeto de Gestão Matricial de Despesas (GMD), para promover a racionalização das despesas do Judiciário. Essas são algumas das dezenas de ações desen-


ção da taxa de congestionamento de processos na Justiça de Mato Grosso. São os investimentos, principalmente em tecnologia, que contribuem, entre outros fatores, para o aprimoramento e posicionamento do Judiciário estadual. Os bons índices garantiram ao TJMT a conquista do Prêmio CNJ de Qualidade – Categoria Prata 2019, como um dos melhores tribunais do Brasil. As movimentações promovidas e as que estão pla-

nejadas pela gestão do desembargador Carlos Alberto Alves da Rocha são na direção de uma Justiça acessível a todos. O aperfeiçoamento e expansão do Processo Judicial Eletrônico (PJe) nas unidades judiciárias de Cuiabá e interior é uma prova do comprometimento da Alta Administração com a lida judicial. Hoje, o Poder Judiciário contabiliza 448 mil processos físicos e 544 mil pelo PJe. Logo, atingirá a totalidade no universo virtual.

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volvidas em 2019, que estão registradas no Mapa Estratégico da Gestão e na Pirâmide de Governança, ferramentas de extrema importância para o monitoramento de todos os projetos e para o alinhamento e integração da administração. Atualmente, estão sendo executados 45 projetos, entre estratégicos e táticos, e 42 iniciativas implementadas. Tudo com foco na melhoria da eficiência jurisdicional, que tem permitido a reduAPLICATIVO WEB

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CINEMA

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O Universal Amauri Tangará

019 está terminando e muitos já anseiam por 2020, dada a grande batalha que foi atravessar este ano em diversos aspectos, mas não para o cineasta, diretor teatral e ator Amauri Tangará. Sua carreira vem se desenrolando há algumas décadas e 2019, ao fim ao cabo, tem sido um ano de muitas comemorações. A primeira comemoração foi a dos 30 anos de parceria pessoal e profissional com a produtora Tati Mendes. A companheira ajudou a fundar a Cia D’Artes do Brasil, a produtora de teatro e cinema que abriga um guardachuva de bem sucedidos projetos nas duas áreas. Em seguida, Amauri estreou a série O Pantanal e Outros Bichos em rede nacional, coroando um trabalho de quatro anos onde as lendas e causos que conta em seu espe-

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táculo Cafundó – Onde o Vento Faz a Curva (que também fez 30 anos este ano) tomaram vida e transformaram-se na série para o público infanto-juvenil. Cafundó, conta Amauri, tem sido meu cavalo, meu coelho da cartola, a casa de onde vim e onde encontro com minhas raízes, adoro fazê-lo e nunca vou parar de apresentá-lo, porque continua atual e me enche de vigor e ainda alimenta a minha utopia de que um dia “homens e bichos de fato consigam viver para o que nasceram: livres e senhores de seus próprios destinos”. De Cafundó já saíram, uma companheira para a vida, o intercâmbio com uma companhia portuguesa (O Teatro O Bando), o primeiro filme, o média Pobre é Quem Não Tem Jipe, o conhecimento de quatro continentes, muitos amigos e agora a série O Pantanal e Outros Bichos.


drigues) como consultora do projeto. Ainda em 2019, a Cia D’Artes finalizou seu primeiro trabalho audiovisual de direção (na verdade uma co-direção com Amauri), o telefilme Mata Grossa, onde Tati e Tangará recolheram histórias de nada menos que treze mulheres de fundamental importância para o desenvolvimento do Estado e que mereciam ter tanto ou mais destaque na memória e no imaginário popular quanto a legião de homens homenageados em Mato Grosso. Foi uma experiência incrível, relata a agora cineasta Tati Mendes, e busquei alinhavar com todo o carinho estas histórias, com uma trilha musical divina, composta por Luck P. Mamute e Ana Rafaela, interpretada pela última e que me fizeram aprender a amar e respeitar ainda mais Mato Grosso. Mata Grossa será lançado na Cinebrasil TV, um canal pago, especializado em documentários brasileiros, que licenciou o filme como a sua primeira janela, assim como outro projeto de co-direção entre Tati e Amauri, o documentário Nós, que vai buscar uma reflexão sobre a visão do feminino no olhar de comunidades consideradas “à margem”, como indígenas, quilombolas e sem-terra em Mato Grosso. Nosso olhar se volta para aí, relata Tati, por termos observado algo de diferente na forma como essas comunidades lidam com o ser feminino, desde a infância até a velhice, como encaram a liderança feminina, como conseguem (ao contrário do que se pensa), uma convivência harmônica e bem sucedida, na perspectiva de que todos são igualmente importantes para a comunidade. É uma proposta de reflexão para as próprias comunidades que farão parte do filme e ainda para todos que o assistirem, afirma a cineasta. Dessa maneira e com uma mão cheia de ideias e projetos em diversas fazes da realização, Amauri Tangará, Tati Mendes e a Cia D’Artes comemoram 2019 e aguardam ansiosos por 2020, para verem os frutos de tanto trabalho, com uma antena na cabeça e os pés afundados em sua aldeia.

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Amauri também conseguiu em 2019 finalizar dois projetos que estavam guardados e que ele confessa, sentia como se fossem filhos abandonados ao léo, o longa Nenhures – Onde os sonhos são reais e a vida não e Um Rosto em Praga. Ambos acabam de ser lançados em Lisboa, onde o primeiro se realizou através de parceria com o Teatro O Bando, no âmbito dos 40 anos da Companhia portuguesa em 2014 e que só agora (5 anos depois) inicia seu caminho comercial, já o segundo foi fruto de um projeto experimental que surgiu nas ruas de Praga – República Tcheca em 2011, enquanto Amauri filmava um documentário encomendado pelo governo português. Ambos, segundo Amauri, amadureceram bastante nesses anos em que ficaram guardados e finalmente farão oficialmente parte de sua filmografia, mas isso não é tudo, Amauri, Tati e a Cia D’Artes acabam de voltar de uma longa viagem pela Europa, onde foram realizar alguns velhos sonhos e trouxeram na mala boas perspectivas para o próximo ano. Como relata Tati, quem trabalha com imagens nunca relaxa, porque tudo pode ser ensejo para um novo trabalho. Com o pretexto de tirar férias, foram visitar 12 países, alguns que ainda não conheciam como a Rússia, a Polônia, a Letônia e Turquia e não deu outra, trazem na mala muitas imagens e uma nova ideia para um longa que provisoriamente se chamará Em Busca da Utopia. Trazem ainda um acordo de co-produção Brasil e Portugal para realização do longa-metragem De Amor e Liberdade, cujo desenvolvimento do roteiro ganharam no edital da Secretaria do Audiovisual - SAV/MINC 2018 para, através de um enredo shakespereano contar a história da Rusga, o trágico episódio de 31 de março de 1834 que levou à morte centenas de portugueses em Cuiabá, para que a independência do Brasil fosse finalmente reconhecida. Com orgulho, apresentam a renomada roteirista Sonia Rodrigues (filha do jornalista e dramaturgo Nelson Ro-

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CINEMA

O PANTANAL E OUTROS BICHOS a ideia do argumento e da preparação do roteiro da série, em 2015, quando abriu o edital nacional para séries a serem vinculadas primeiramente nas TVs Públicas (segunda edição), com recursos da Ancine, através do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual) e coordenado pelo BRDE e EBC, já se passaram 4 anos. Essa peculiaridade do certame, específico para séries e/ou telefilmes de ficção ou documentários brasileiros, serem exibidos primeiro e com exclusividade inicial de seis meses nas TVs Públicas, Comunitárias e Universitárias, carregam consigo uma importante ideia de formação de público, onde o produto brasileiro sempre foi pouco admirado (exatamente porque era pouco visto) afirma Tati Mendes, mas a proposta não apenas mudou a visão de quem assiste as TVs públicas, como colocou a TV Brasil em sétimo lugar em audiência entre as TVs brasileiras de sinal aberto. A prova de que as histórias, nomeadamente aquelas que acontecem com a gente e em nossas comunidades, com a chamada “cor local”, entraram em definitivo na moda, é o fato

»»Desde

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de que aquilo que você conta diariamente para o “seu” próprio público no instagram se chama “story”. Afinal, todo mundo adora uma boa história. Nessa onda favorável, quem sabe contar boas histórias e ainda por cima as liga a questões que nos cercam ou preocupam ou alegram ou assustam ou impressionam, aí pode estar no caminho de um caso de sucesso e poderíamos apontar aqui alguns exemplos que podem estar na sua própria lista de favoritos. A série concorreu com mais de 700 projetos e sua aprovação representou um dos maiores desafios para a Cia D’Artes, pois trata-se de uma quantidade de conteúdo pronto, correspondente a quase 5 longa metragens – 338 minutos de material finalizado, ou seja, 26 episódios de 13 min, que foram totalmente produzidos, filmados, editados, sonorizados, animados em 2 e 3D, musicados, traduzidos em libras e audiodescritos por mão de obra MATOGROSSENSE, provando a importância do audiovisual para girar a roda da economia e reafirmando a qualidade dos profissionais do Estado na realização de excelentes trabalhos, mesmo com as poucas oportunidades de formação que lhes tem sido ofere-


intenção de ilustrar a ficção, sem deixar de ser fiel à realidade cultural da cidade, integram a série a misteriosa e colorida Dança dos Mascarados de Poconé, o Grupo de Siriri Bate Forte e o Grupo Cururueiros do Pantanal, engrandecendo e eternizando em imagens estas manifestações ímpares em beleza e genuinidade. Movimentamos a economia local e injetamos na cidade de Poconé, meio milhão de reais e utilizamos cerca de uma centena de empresas de prestação de serviços, entre transportes, hotéis, restaurantes, artesãos, costureiras, maquiadores, cabeleireiros, cozinheiras, carpinteiros, pescadores, assistentes de produção e os demais serviços necessários para se pôr de pé uma produção dessa monta, relata Amauri. O impacto econômico que cada projeto destes pode trazer, reverbera positivamente e conforme estudos, cada real investido, pode gerar três em ações de retorno para a própria comunidade. Contamos também com parceiros importantes como a Água Clássica, a própria Prefeitura de Poconé que apoiou com diversos serviços e através de várias de suas secretarias e ainda o SESC Poconé e o SESC PANTANAL, parcerias fundamentais pela respeitabilidade

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cidas. Sempre foi uma opção deliberada da Cia D’Artes que toda a mão de obra de seus trabalhos fosse feita por trabalhadores locais, trazendo de “fora” apenas aquelas funções extremamente técnicas para as quais não encontremos profissionais disponíveis aqui ou, caso estejamos falando de questões de concepção artística, como foi o caso do diretor de arte Raimundo Rodriguez e do fotógrafo boliviano Guillermo Medrano. O orgulho com que os produtores Tati e Amauri exibem estas estatísticas está atrelado ao fato de terem investido fortemente na cidade e cidadãos onde a série foi realizada – a cidade de Poconé, a cerca de 120 km de distância da capital Cuiabá – portal de um dos biomas mais cobiçados do mundo, O Pantanal, que não por acaso, dá nome a série. A cidade abrigou e abraçou a série desde o início, conta Amauri Tangará, que conseguiu a participação de poconeanos respeitados como a do Sr. Donato, pantaneiro genuíno, forjado na lida com o gado, que atuou como o peão Luis, ou ainda do Sr. Chicão, dono de uma grande horta orgânica da cidade, que além de ceder a locação, ainda atuou com empenho em alguns dos episódios. Na

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que emprestam, quando apoiam um projeto. A estreia NACIONAL, na TV Brasil se deu no dia 19/08/2019 e desde então, a TV Brasil já reprisou a série outras quatro vezes, afirmando em e-mails o espantoso acolhimento do público pela série. Ainda segundo a EBC, para a faixa etária a que a série se destina (infanto-juvenil) o horário das 18 horas (em Mato Grosso, 19 horas de Brasília) é considerado o horário nobre das produções de classificação etária Livre para TVs abertas. Foram sempre exibidos dois episódios diários, de forma consecutiva, ou seja, em dias seguidos de segunda a sexta-feira. TALENTOS LOCAIS revelados diversos talentos locais que trabalharam neste projeto de grande complexidade, a começar pelo co-roteirista Luck P. Mamute, que juntamente com Amauri roteirizou todos os episódios e ainda criou letra e melodia de toda a trilha original da série; o diretor de fotografia da segunda câmera e colorista Duflair Barradas; o diretor de som direto Yuri Kopcak; a maquiadora de efeitos especiais Andrea Okamura; o criador de efeitos 3D – Deivs Wilson, o fotógrafo (still) Ahmad Jarrah, o editor de imagens e coordenador de animação Dener Gonçalves; o editor de som Evilásio Junior; o intérprete de libras Tulio Gontijo; a roteirista e narradora de audiodescrição Thayana Bruno e, tantos mais, provando a capacidade que temos de realizar trabalhos com extrema seriedade e qualidade com a prata da casa. De forma a envolver os universitários, foi viabilizada uma parceria com o Departamento de Comunicação da UNIVAG e nesse con-

»»Foram

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texto, foi feito um desafio aos alunos de Publicidade e Propaganda para que criassem a identidade visual da série, o que resultou nas primeiras imagens da série. Uma das ideias vencedoras foi a da aluna Bruna Boom, com o desenho da “selfie” entre as crianças e o Currupira, o que traduz bastante bem a forma bem-humorada e atual com que todos encaram a tecnologia, que provou-se contagiante até para outros seres. Outros 5 alunos participaram da criação final da identidade visual: Jonatan Gabriel, Heryck Gaby, Pedro Henrick Lopes, Gabriel Legramanti e Reginaldo Pinto, orientados pelos professores Carol Araújo e Carlos Henrique Loureiro Granja. A empolgação foi tamanha, que passaram a desenvolver juntos a ideia de um game sobre a série, o OPYOB (O Pantanal Y Outros Bichos). Entre os talentos nacionais, para ajudar no glamour, contamos com o ator global Roberto Bonfim, que atua como o simpático avô Ramiro, o “chef” Ademir Gudrin que encarnou o papel de Tio Berê, um chef que faz pesquisas para um livro e experiências gastronômicas com os frutos e plantas da região do Pantanal, o diretor de fotografia boliviano Guillermo Medrano, os produtores executivos Solange Lima e Geraldo Moraes e o Diretor de Arte, o renomado artista plástico Raimundo Rodriguez. Rodriguez foi o responsável pelos cenários das minisséries e novelas globais como Velho Chico, Meu Pedacinho de Chão, A Pedra do Reino, Hoje é Dia de Maria e Capitu. Além da criação dos figurinos dos “outros bichos”, Rodriguez trouxe do Rio um cavalo mecânico que galopa de verdade, construído por ele utilizando materiais como latas de leite ninho, pedaços de cabos e motores elétricos movidos a baterias de carro, com rodas à guisa dos cascos e perfeitamente dirigível. A obra de arte foi controlada por fios que faziam as vezes de crina e foi utilizada numa cena onde o avô Ramiro sonha que é São Jorge e luta contra o dragão. A contratação de Raimundo Rodriguez representa bem a ideía a mensagem de preservação do meio ambiente e reciclagem de materiais que a série quer passar, já que toda a sua produção artística é feita com material reciclado.


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SÉRIE DE 26 EPISÓDIOS DIREÇÃO AMAURI TANGARÁ COM JOÃO PEDRO SOUZA, ÍSIS SAMUEL, ROBERTO BONFIM, ANA MARIA LOPES, ADEMIR GUDRIM, THAISA SOARES, JEFERSON JARCEM, SENHOR DONATO, VINI HOFFMANN, ALICCE OLIVEIRA, PÉRICLES ANARKOS, IVAN BELÉM, ILSON OLIVEIRA, TUKA CALGARO, RAFAELA SALOMÃO, YURI LIMA, DENISVAN SOUZA, KARINA FIGUEREDO, WANDERSON LANA, VANDERLEI MENDES JUNIOR, JÚLIO CARCARÁ, DANIELA LEITE, LARISSA MINEYAH, FERNANDA MARIMON, JOYCE CORREA BELÉM, SEU CHICÃO, ANABELLA MIKARYE, SOPHIA DE LIMA, JOÃO MARIMON, CAROL PALHIELO, TONY VITOR, EVERTON BRITTO, ANGÉLICA MARQUES, MARCIONEI SANTOS, DARCI SOUZA JUNIOR, ANDRÉ FRANCISCO SONTAK, DIONATHAN FELIPE SILVEIRA. PRODUÇÃO GERAL TATI MENDES, PRODUÇÃO EXECUTIVA SOLANGE LIMA MORAES E GERALDO MORAES, DIREÇÃO DE ARTE RAIMUNDO RODRIGUEZ, DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA GUILLERMO MEDRANO E DUFLAIR BARRADAS, SOM YURY KOPCAK, TRILHA SONORA LUCK P. MAMUTE. ARGUMENTO E ROTEIRO: LUCK P. MAMUTE E AMAURI TANGARÁ

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meira temporada do projeto “Outros Bichos”, que pretende se desdobrar nas temporadas O Cerrado e Outros Bichos, A Amazônia e Outros Bichos e A Cidade e Outros Bichos, pois há muito a contar e a preservar nesses biomas brasileiros. E por falar em desdobrar, a série tem projeto de desdobramento transmídia, pois o potencial para alcançar outros públicos em outras telas e até outros produtos a serem licenciados é enorme. Bichos de pelúcia, material escolar, livros de gastronomia pantaneira com as receitas do tio Berê, livros de colorir e outro ex-libris que será o “game”, onde as crianças estarão jogando no mundo virtual, mas para passar de fase precisarão fazer ações no mundo real, como plantar árvores, estimular ações de coleta seletiva de lixo, de reciclagem ou incentivar ações de limpeza de barrancas de rios. #SIGAOCURUPIRA »»Um trabalho paralelo tem sido desenvolvido nas redes sociais, visando fortalecer a exibição, informando um pouco sobre a série e os personagens que o público conhecerá nos 26 episódios. É importante seguir o Curupira, pois muitas informações, fotos, histórias, trailers, entrevistas, “making ofs” e até sorteios de miniaturas dos “bichos” vão acontecer pelas redes sociais. FESTA DA EQUIPE »»A equipe técnica e de atores, que integram diversos grupos teatrais do Estado, como Tibanaré, Fúria, Faces, In Próprio Coletivo, Circo Escola Leite de Pedras, Cia Theatro em Cena, Solta Cia de Teatro, entre diversos outros atores independentes, vai se reuniu no dia da estreia, para uma vez mais comemorar a produção e assistir aos dois primeiros episódios. Uma festa necessária, que trouxe alegria a quem trabalhou e um enorme orgulho a quem vive aqui. O FUTURO »»Após ser exibida em rede nacional pela TV Brasil, a série segue seu caminho de exi-

bição na expectativa de conquistar o público e outras telas, enquanto aguardamos a próxima temporada. #sigaocurupira

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PROJETO TRANSMÍDIA

»»A série O Pantanal e Outros Bichos é a pri-

SERVIÇO: Série: O Pantanal e Outros Bichos Episódios: 26 de 13 min cada Estréia Nacional: TV Brasil – canais da TV Aberta e paga Uma produção: ANCINE/BRDE/FSA/ EBC/CIA D’ARTES DO BRASIL Apoio: SESC Pantanal Roteiro: Luck P. Mamute e Amauri Tangará Direção: Amauri Tangará Produção Geral: Tati Mendes #sigaocurupira NENHURES – ONDE OS SONHOS SÃO REAIS E A VIDA NÃO »»A realidade é cruel e desinteressante e a opção corajosa de tomar o personagem e chegar, permanecer ou tornar a ir embora daquele lugar ou (não lugar), simboliza a opção que todos temos de escolher os diversos possíveis caminhos que surgem à nossa frente. Não há quase texto, pois já não a muito de interessante a dizer. Cada um vive a condição autista de sua escolha ou pouco se afasta dela. Da realidade, apenas um velho, sentado pacientemente à beira da estrada, vendo a estrafega de gente a ir e vir, chegar ou partir. Um “voayer” interessado naquele movimento, que marca as ações, mas não interfere em seus destinos. O que é aquele lugar, o que representa? Será um sonho, ou......apenas....... UTOPIA? UM ROSTO EM PRAGA

»»No dia 13 de novembro estreou em Lis-

boa, Portugal, o longametragem Um Rosto Em Praga, trabalho experimental que levou 8 anos para chegar às telas. O início dessa história remonta ao período em que o diretor passou praticamente um mês na capital da República Tcheca registrando cenas de forma incomum em suas ruas. Um Rosto Em Praga foi lançado em sessão especial na Casa da Achada, que é a sede do Centro Mário Dionísio, dedicado a abrigar o espó-

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lio literário e artístico do escritor e pintor que viveu entre 1916 e 1993. Foi a conclusão de um processo iniciado em 2011 e só foi finalizado agora e que conta com a luxuosa participação do maestro brasileiro Maicon Saatti e da atriz Paula Só. Ela faz parte do teatro O Bando, com quem A Cia D’Artes do Brasil, de Amauri Tangará e da produtora Tati Mendes, realiza um intercâmbio cultural há 25 anos. O diretor conta que, em 2011, foi a Praga a convite do comissariado português para a 12ª Quadrienal de Cenografia e Arquitetura, o maior evento internacional dedicado ao espaço e desenho da performance que inclui: cenografia, figurino, iluminação, sonoplastia, visagismo, outras mídias e arquitetura teatral. Sua missão era produzir um documentário sobre a participação portuguesa no evento. Foram, segundo ele, 26 dias na cidade, em que pôde, andando bastante principalmente no centro histórico de Praga, perceber que a cidade era um verdadeiro “formigueiro humano”, com turistas do mundo inteiro, rostos de todas as partes do planeta. Então, começou a pensar na possibilidade de fazer um filme ali, no meio daquela multidão, aproveitando um pouco o próprio tema do comissariado na quadrienal, que era “Do Outro Lado”, onde pudesse mostrar um pouco o outro lado das pessoas. O desafio, neste

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caso, era tentar filmar uma cidade que era repleta de gente sem que aparecesse um rosto sequer de frente, pelo menos que pudesse ser identificado. Aproveitando a presença da atriz portuguesa Paula Só, que estava na cidade, a convidou para participar dessa aventura. Ela então andou por Praga e lançou seu olhar para aquelas imagens identificadas por Amauri, sem nenhuma palavra escrita. A inspiração veio de uma foto de guerra encontrada num brechó na cidade de Praga, onde um rosto tinha sido arrancado. Um Rosto Em Praga nasceu com essa perspectiva, de um filme feito de uma ideia só, sem nada previamente estabelecido e que virou um mosaico de cenas em que o espectador acompanha uma mulher, uma música, uma foto antiga e a procura incessante pelas ruas de Praga pelo rosto que havia sido rasgado da foto. Ela volta à cidade para tentar encontrar um homem que amou no passado, mas não se lembra em detalhes do rosto dele, tendo como referência apenas a imagem desfigurada em papel. Outra referência é som de uma gaita que nunca saiu de sua lembrança. DE AMOR E LIBERDADE

»»“...Desde os primeiros tempos da Inde-

pendência, os portugueses, bastante numerosos em Mato Grosso e sobretudo con-


numa história de amor, particularmente trágica e não menos interessante, envolvendo o jovem comerciante português João Pedro Vieira e sua noiva Angelina Joana de Jesus, filha da tradicional elite nativa. De amor e liberdade conta pela ótica de dois apaixonados, pertencentes a famílias política e socialmente antagônicas, a trágica passagem que permitiu que a Província de Cuiabá finalmente integrasse o Brasil Independente.

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centrados na cidade de Cuiabá, se haviam tornado alvo de inveja e malquerença, já pela indisputável preponderância comercial, já pela vexatória influência política, confirmada e ampliada pela Constituição de 25 de março de l824, que lhes dera a feição de brasileiros adotivos com todas as regalias de cidadãos natos. A prosperidade de alguns deles excitava a cobiça e o rancor de muitos filhos do país também negociantes, sendo o sentimento de odiosidade aumentado pela imprudência e arrogância dos adotivos. Habituados aos mandos dos tempos coloniais, duro e áspero, sobretudo nas capitanias mais distantes como a de Mato Grosso. Congregados na “Sociedade dos Zelosos da Independência”, os Liberais exaltados, dentre eles, comerciantes, militares, políticos e gente comum, empreenderam, na fatídica “Noite de Santa Joana D’Arc”, uma verdadeira carnificina, matando e trucidando portugueses desarmados, ao invés de prendê-los e expulsá-los de Cuiabá e da Província, como era a intenção inicial. Ás onze horas da noite de 30 de maio de l834, o silêncio foi interrompido pelo toque das cornetas e o rufar dos tambores, pelos altos brados dos revoltosos, pela pólvora e balas. Que terríveis instantes! Que tremendo alvorecer do dia 31 de maio! Cadáveres mutilados, casas incendiadas, lojas saqueadas, paredes crivadas de balas. Quanta riqueza, quantos símbolos do trabalho e da economia atirados pelas calçadas, destroçados, picados a machado, a rolarem pelo pó e pelo lodo!... Segundo uns 200 ou trezentos mortos. Segundo outros, mais de quatrocentos portugueses trucidados pelo ódio e pela intolerância...” Análise que Visconde de Taunay dedicou sobre a “Rusga”, baseando-se nos textos deixados por Joaquim Ferreira Moutinho, português, morador de Cuiabá por dezoito anos, historiador. Tanto Moutinho quanto Taunay e outros historiadores que se debruçaram sobre os trágicos acontecimentos da “Noite de São Bartolomeu Cuiabana”, ou seja da “Rusga”, não puderam ou não tiveram tempo de se deter

MATA GROSSA

»»Mata Grossa não pretende ser um docu-

mentário feminista, mas será certamente um relato da história de Mato Grosso pela ótica feminina. A delicadeza, a sedução, a força, a inteligência, a capacidade de se reinventar quantas vezes for preciso dão o tom desse documentário. MATA GROSSA é um telefilme documental de 80 (oitenta) minutos. A proposta tem por objetivo resgatar parte da memória “feminina” do Estado de Mato Grosso, cuja história sempre foi contada pelo viés e pela cultura machista. 13 mulheres que fizeram e fazem parte da história de Mato Grosso com Tereza de Benguela, Doninha do Tanque Novo, Maria Taquara e muitas outras que com sua coragem e perspicácia ajudaram a construir a verdadeira história de Mato Grosso. Numa Santa Ceia iconoclásta formada pelas 13 mulheres e pintada por Panmela Castro num grande painel a céu aberto, Mata Grossa é a oportunidade de reconhecimento e gratidão a estas mulheres maravilhosas. NÓS

»»O diretor Amauri Tangará é roteirista, ci-

neasta e diretor teatral e tem vários outros longas no currículo, como A Oitava Cor do ArcoIris, Ao Sul de Setembro, e Nenhures, além de médias como Pobre é Quem Não Tem Jipe. No teatro é diretor dos espetáculos Viver é Raso e Salário dos Poetas e também atua ator em Cafundó, Onde o Vento faz a Curva. Além disso tem uma séria de trabalhos em colaboração com o Teatro O Bando, de Portugal.

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C O M P O RTA M E N TO

Violência Doméstica

Estaria o homem desamparado quando vítima de agressões de sua companheira? Esclarecimentos acerca da Lei Maria da Penha

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POR LOYUÁ RIBEIRO FERNANDES MOREIRA DA COSTA


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Lei Maria da Penha, Lei nº 11.340, em vigor desde 2006, estabelece mecanismos para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. O termo violência, em seu contexto legal, trata-se de qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico. Incluem-se também possíveis danos patrimoniais

no âmbito doméstico, familiar ou de relação afetiva que caracterize a discriminação do gênero feminino.Portanto, pode tratar-se de violência direcionada à mãe, filha, irmã, namorada, noiva, esposa, companheira, amante, neta, sogra, avó, empregadas domésticas, tutelada, curatelada, etc. Também poderão ser vítimas da violência doméstica: lésbicas e transexuais, já que estes tipos de relações também

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configuram entidade familiar. O cerne comum consiste na violência praticada em âmbito doméstico, independentemente de coabitação, quer a união exista ou não à época da violência, advindo de vínculo afetivo ou familiar. Diante desse panorama, especialistas e leigos no assunto frequentemente criticam a Lei Maria da Penha, apontando-a como uma desproporcionalidade adotada pelo poder legislativo e aplicada pelo judiciário e executivo. Afirmam, ainda, que o tratamento especial dado à mulher, conferindo-lhe lei específica, a coloca em patamar de desigualdade com relação ao homem. Afinal, seriam estas afirmações substanciais? Qual a relevância social em se criar uma lei voltada exclusivamente ao amparo da mulher quando vítima de violência doméstica? Isso faz com que o homem fique desamparado ou em situação de desigualdade quando vítima de violência doméstica?Seria a Lei Maria da Penha “injusta” ou primordial ao progresso de nossa sociedade? Foram vários os fatores que levaram o judiciário, em 2006, a sancionar uma lei de maior amparo à mulher violentada. A necessidade de submissão da mulher ao homem, em razão de uma suposta vulnerabilidade do sexo feminino,por séculos foi usada como respaldo para opressões psicológicas, violências físicas, sexuais, para afastá-la do meio

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C O M P O RTA M E N TO

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social, político, profissional e privá-la de condições igualitárias. Apesar de ser uma prática antiga, ainda é recorrente na sociedade contemporânea, inclusive, possuindo em alguns países, respaldo legal e religioso. Portanto, a Lei Maria da Penha veio para combater não apenas casos de violência à mulher, mas um paradigma por anos enraizado, expressado de formas diretas ou sutis. A violência contra a mulher é uma problemática patriarcal presente na cultura de diversos países. Um país reconhece a necessidade de lidar com isso ao aderir a tratados internacionais referente ao tema. Os tratados trazem um novo paradigma, orientando e exigindo posturas do país que o assina. São exemplos de tratado referente ao tema da violência contra a mulher: a Convenção de Viena, importante tratado que reconheceu a violência de gênero como violação dos direitos humanos;a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Doméstica, também chamada de Convenção Belém do Pará. O índice alarmante de casos brasileiros de violência contra a mulher mostra-se desproporcional com relação aos homens. Isso porque o sexo masculino não carrega o preconceito histórico de desigualdade de gênero como o perpe-


Lei Maria da Penha, o que implica no aumento da pena em 1/3 (um terço). Outro mecanismo normativo é a Lei nº 10.455, de 2002, que alterou o parágrafo único do artigo 69 da Lei nº 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais), que passou a dispor que:“[...] Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.”. Portanto, o juiz, quando diante de um caso de violência doméstica, poderá determinar mecanismos de proteção, a fim de proteger a vítima. Esse artigo assegura proteção a homens e mulheres. Lembrando que a criação da lei específica de combate à violência doméstica praticada contra a mulher, a Lei Maria da Penha, objetiva melhor eficácia de inibição do crime a e traz a mudança de um pensamento abissal de cultura social patriarcal. Daí a aplicação correta do princí-

pio da igualdade pelo legislador, ao proporcionar proteção aos homens e mulheres vítimas da violência doméstica, na medida da desigualdade em que se encontram. Com o advento da Lei Maria da Penha, houve discrepante redução nos índices de agressão às mulheres. Assim sendo, a lei atingiu sua finalidade como mecanismo eficaz à sociedade e foi reconhecida sua constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal. Diante disso, indaga-se: Por que existem críticos, incluindo renomados doutrinadores, que insistem na suposta necessidade de retirá-la do ordenamento jurídico brasileiro? O legislador conseguiu atingir seu objetivo quando da elaboração da lei, corroborando para uma sociedade mais justa e igualitária e a inserção de um novo paradigma a ser aceito por todos, até pelos que assim não o entendem ou o acham desnecessário. A sociedade está em progresso!

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tuado contra a mulher. Essa é a razão primordial à necessidade de maior proteção à mulher e a emergência de uma nova consciência social, a fim de que se contenham ações violentas direcionadas à mulher, sejam elas físicas ou psicológicas. Diante da maior vulnerabilidade à violência, criou-se uma lei específica de proteção à mulher.A lei traz mecanismos de proteção e a criação de varas especializadas na mulher pelo judiciário, a fim de dar celeridade à resolução de casos de violência. Dessa forma, contribui à diminuição do número de homicídios, de reincidência da violência e, por fazer-se exemplo de lei rigorosa e de efetividade jurídico-penal, inibe casos. O fato da Lei Maria da Penha ter como sujeito passivo necessariamente o sexo feminino, não significa dizer que os homens estão legalmente desprotegidos quando vítimas de violência doméstica. Isso porque são amparados pelo artigo 129 do Código Penal. O referido artigo dispõe sobre lesão corporal ou à saúde e se aplica tanto aos homens quanto às mulheres. Isso porque a violência trazida pelo artigo independe de relação familiar ou afetiva, podendo, portanto, tratar-se de lesão direcionada a qualquer pessoa. No entanto, quando a lesão ocorre em razão de desigualdade de gênero direcionada contra a mulher, aplica-se a

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MEMÓRIA

Mulheres de Conforto

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TEXTO REDAÇÃO

questão das escravas sexuais ocorrida entre Japão e Coreia do Sul, na Segunda Guerra Mundial tem sido fonte de uma dolorosa disputa entre os dois países. Segundo a agência de notícias nipónica Kyodo News, após pesquisas em 23 documentos históricos, devidamente comprovados, o exército do Japão, durante o armis-

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FOTOS ARQUIVO

tício, pediu ao seu governo que fornecesse uma escrava sexual para cada 70 soldados. Esses 23 documentos foram reunidos pela Secretaria do Gabinete do Japão entre abril de 2017 e março de 2019, incluindo 13 despachos secretos dos consulados japoneses na China para o Ministério das Relações Exteriores em Tóquio, datados de 1938, segundo a Kyodo.


Qingdao, na província de Shandong, na China, diz que o Exército Imperial pediu uma mulher para cada 70 soldados, enquanto a marinha solicitou mais 150 mulheres e gueixas para “conforto”, noticiou a Kyodo. O número de escravas sexuais não é certo, mas os historiadores dizem que eram dezenas de milhares ou mais, e seu objetivo era impedir a propagação de doenças e reduzir as violações entre soldados.

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A questão das escravas sexuais tem sido fonte de uma dolorosa disputa entre a Coreia do Sul e o Japão. As mulheres eram da Coreia do Sul, Taiwan, Austrália, Filipinas e Japão e os documentos agora divulgados sublinham o papel do Estado no chamado sistema de “mulheres de conforto”. Em 1993, o então secretário-chefe do Gabinete Yohei Kono, o porta-voz do Governo, pediu desculpas pelo sistema de “mulheres de conforto” e reconheceu o envolvimento dos militares japoneses no transporte das mulheres contra a sua vontade. A Kyodo deu conta de um despacho do cônsul-geral de Jinan (China) ao ministro dos Negócios Estrangeiros no qual se indica que a invasão japonesa causou um aumento na prostituição na área, com 101 gueixas do Japão, 110 mulheres de conforto também do Japão e 228 “mulheres de conforto” da Coreia do Sul. No despacho assinala-se que “pelo menos 500 ‘mulheres de conforto’ devem estar concentradas aqui até o final de abril” para os soldados japoneses. Os registros sugerem que as mulheres referidas como gueixas podem ter surgido por conta própria, em oposição às escravas sexuais, que foram coagidas. Outro despacho do cônsul-geral de

RELAÇÕES DIFÍCEIS COM OS VIZINHOS »»A colonização e os registos de guerra do Japão continuam a prejudicar as relações com os vizinhos asiáticos. O Governo japonês diz que as reparações de guerra estão resolvidas, mas criou fundos para apoiar as vítimas. Isso teve resultados mistos, com exigências contínuas de um pedido de desculpas mais completo. E existem processos em tribunal que prosseguem na Coreia do Sul. Mais recentemente, as relações entre Japão e Coreia do Sul deterioraram-se e afetaram o comércio e o turismo e desencadearam outras controvérsias, incluindo uma neste 2019, sobre a exibição de uma estátua representando uma jovem “mulher de conforto”.

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DEZEMBROS DE NOSSA HISTÓRIA DIA 02/1903

»» Nasce em Bragança

Paulista o contabilista, garimpeiro, revolucionário, seringalista, empresário, pecuarista, político e poeta Mário Spinelli. Foi deputado estadual e presidiu a ALMT.

Cáceres em 1948, atuou junto a Carlos Marighella e teve intensa militância, tanto no Brasil quanto no exterior.

DIA 07/1848

DIA 02/1945

DIA 10/1970 Criada a UFMT, através da Lei Federal nº 5.647.

DIA 12/1913 Início da Expedição Roosevelt-Rondon, feito histórico e científico memorável, encabeçada por Theodore Roosevelt, ex-presidente do USA (1904-1908) e o Marechal Cândido Rondon.

DIA 12/1916

»» Eurico Gaspar Dutra é eleito por voto popular presidente do Brasil. DIA 4/1943 A Expedição RoncadorXingu, chefiada pelo coronel Vanique, partiu de Barra do Garças em direção à região do Xingu, com propósitos de reconhecimento e ocupação da região nordeste de MT.

DIA 06/1868 Ocorre a Batalha de Itororó, na Guerra do Paraguai.

DIA 06/1951 Getúlio Vargas envia ao Congresso o projeto que cria a Petrobras.

DIA 06/1974 Morre no Chile a cientista social e militante política, Jane Vanini. Nascida em

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Nasce em Cuiabá, Joaquim Duarte Murtinho, médico homeopata, engenheiro civil, professor, financista, político e estadista.

Nasce em Cuiabá LuisPhilippe Pereira Leite, advogado, político, cartorário, historiador e escritor. Presidiu o IHGMT por 20 anos.

DIA 12/1998

DIA 08/1912 Morre na cidade do Rio de Janeiro a cuiabana Ludovina de Albuquerque Portocarrero, heroína nacional da Guerra do Paraguai, por seus feitos no Forte de Coimbra, na invasão paraguaia.

DIA 08/1913 O literato e acadêmico padre Raimundo Pombo Moreira da Cruz nasce em Cuiabá. Em 1982 disputou e perdeu eleição para o governo de MT. Faleceu em 1989.

DIA 9/1882 Através do D. I. n.º 81.799, o industrial Thomás Laranjeira conseguiu licença para explorar extensas áreas de terras com ervais nativos (ilex paraguariensis).

Homologação da Terra Indígena Marãiwatsede, de índios xavánte, com área de 230 mil ha, localizada nos municípios de Alto Boa Vista e São Félix do Araguaia, nordeste de MT.

DIA 13/1920 Nasce em Madalena/RJ, Nilza Pipino, esposa do colonizador Ênio Pipino, morre em acidente aéreo, em Maringá/PR, em 1984.

DIA 14/1968 O presidente Costa e Silva assina o AI-5, que deu a ele poderes absolutos


posteriormente, mortos e com sinais de tortura.

DIA 15/1851

DIA 20/1886

Nasce em Cuiabá, Antônio Paes de Barros - Totó Paes. Ao fundar a usina do Itayci tornou-se “Pai da Indústria de MT”. Faleceu em 1906, vítima de emboscada na fábrica de pólvora, no Coxipó.

Nasce em Cuiabá Philogônio de Paula Corrêa, professor, jornalista, historiador, literato e político. Foi chamado por Barnabé de Mesquita de “Cavaleiro da Instrução e Paladino da Cultura”.

DIA 15/1953

DIA 20/1979

Criado o município de Chapada dos Guimarães, fundado em 1751.

É criado o município de São José do Rio Claro, fundado pelo colonizador Domingos Briante.

DIA 17/1869 Nasce o jornalista, militar e político Avelino Antonio de Siqueira, que foi prefeito de Cuiabá e escreveu em inúmeros jornais da capital.

DIA 21/1912

DIA 17/1980

DIA 24/1926

Nasce em Livramento o jornalista, empresário e agitador cultural Cilo Torres Seixas.

É morto em combate contra a Coluna Prestes, em Córrego Seco, região do Sangradouro, o tenente Nestelau Brachtel Dewullsky.

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e suspendeu garantias constitucionais.

retomada em 13 de junho de 1867, sob liderança de Antônio Maria Coelho.

DIA 26/1979 Criado o município de Água Boa, nordeste MT, margens da BR-158.

DIA 28/1977 Morre César Albisetti, missionário salesiano e pesquisador da etnia do bororo, região leste MT. Recebeu o título Boe Imigera, distintivo plumário de cabeça.

DIA 30/1938 Morre Feliciano Galdino de Barros, nascido em Barranco Branco, em N S do Livramento. Escreveu Sombra, Lendas Matogrossenses e Perigo Yankee. Foi ferrenho defensor dos direitos humanos e negros do quilombo de Mata Cavalos.

DIA 31/1925

DIA 25/336 A primeira celebração de Natal no dia 25 de dezembro ocorre em Roma.

DIA 25/1883 O presidente João Figueiredo sanciona a lei que considera crime a reprodução ilegal de obras literárias, artísticas, científicas e fonográficas.

DIA 17/1986 Embates entre posseiros e o dono da Fazenda Mirassol, em Jauru, oeste de MT. Vários posseiros desapareceram e alguns foram encontrados,

Criada a Sociedade Abolicionista de MT, com o objetivo de defender os direitos dos negros escravos e incentivar a abolição da escravatura na Província.

É realizada em São Paulo a primeira corrida de São Silvestre.

DIA 26/1864

DIA 31/1943

Invasão paraguaia em Corumbá e Forte de Coimbra, liderada por Vicente Barrios. A cidade foi

Criado o município de Aripuanã, noroeste de MT, com sua sede a 200 km de distância da atual.

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R E T R ATO E M PRETO E BRANCO

Benedito Pedro Dorileo

POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA E ELIZABETH MADUREIRA

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esse final de 2019 a sociedade mato-grossense perde um de seus mais importantes membros, Benedito Pedro Dorileo, que foi advogado, político, professor, reitor da UMT Conselheiro do TCEMT, historiador e escritor, dentre outras coisas e atividades desempenhadas. O prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) decretou luto oficial de três dias no município de Cuiabá.


fundador da Associação Mato-Grossense do Ministério Público como o seu primeiro Secretário. A sede da AMMP, também, funcionou, inicialmente, no escritório particular, que mantinha com colegas. Foi patrono e paraninfo de diversas turmas de formandos (Colégios) e de graduandos. Recebeu concessões e títulos honoríficos universitários e outros. Foi presidente de honra da Associação Mato-Grossense de Professores do Estado, em 1970. Filho de Pedro Gratidiano Dorileo e Joaquina Maria de Almeida, nasceu em 10 de dezembro de 1934, em Cuiabá. É casado com Marlene Garcia Dorileo. Editou livros nas áreas de Literatura, História e Direito Educacional, como Miçanga, Egéria Cuiabana, Cholo, Universidade – O Fazejamento, Pensar para Fazer, Centenário da Egéria, Nomeação de Reitor e Ensino Superior em Mato Grosso. Publicou trabalhos sobre a Língua Portuguesa, História e Direito, em jornais e revistas, inclusive para a revista Universidade, que fundou. Membro da Academia Mato-Grossense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, da Academia Paulistana da História e da Ordem Nacional dos Bandeirantes - São Paulo. Foi membro do Conselho Deliberativo da Fundação Cultural de Mato Grosso. Exerceu atividades jornalísticas, como redator do jornal Tribuna Acadêmica, diretor-secretário do jornal O Social Democrata. Colaborou com os periódicos: A Cruz, Mato Grosso em Revista, Folha Mato-Grossense e O Estado de Mato Grosso. Integrou grupos para programas acadêmicos nas rádios Cultura, Bom Jesus e A Voz d’Oeste. E, no início da TV Centro América, no programa: Nossa Gente, nossos Valores, atuando em equipe. Nas atividades universitárias, como especialista em direito educacional, organizou cursos e dirigiu simpósios e seminários, proferiu palestras, incluindo a Universidade de Campo Grande, hoje, federal de Mato Grosso do Sul, onde foi membro do Conselho Universitário.

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Nascido em 10 de dezembro de 1934, exatamente o dia em que se comemora a data de fundação da UFMT, sempre foi chamado carinhosamente de Professor Dorileo. Foi sempre do magistério. Ainda adolescente, reunia crianças e adultos para aulas de alfabetização, à noite, com luz elétrica ou de lampião. Moço, torna-se professor do Centro de Instrução, no curso de formação de Oficiais da Polícia Militar. Conquistando aprovação perante a CADES-MEC, com professores do Colégio Dom Pedro II, RJ, lecionou Língua Portuguesa no Colégio Salesiano São Gonçalo e no Ginásio Dom Aquino. Admitido na Escola Técnica Federal – MT, mediante concurso público. Em 1968, torna-se professor fundador do Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá, em nível superior, onde foi Chefe do Departamento de Letras e, após, eleito pelo Conselho Administrativo, o seu Presidente. Antes, em 1962, já bacharel em Direito, foi eleito vereador da Câmara Municipal de Cuiabá, por estímulo de estudantes e de professores. Foi secretário, vice-presidente e presidente, na vacância da presidenta. Bastou-lhe a experiência de um mandato. Exercendo a advocacia, ingressa no Ministério Público por meio de dois concursos públicos, para defensor público e promotor de justiça, sendo em ambos aprovados. Prefere a Defensoria Pública, órgão, também, do MP, na época, instalando-a em seu escritório particular, arcando com custeio de aluguel, servidor e material de expediente – sem nenhum ressarcimento, como era para todos os seus membros. Foi membro do Conselho Superior do Membro titular do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras – CRUB –, depois honorário. Reitor honorário do Fórum Nacional de ex-reitores. Realizou o curso de Escola Superior de Guerra, através da Associação dos Diplomados, ADESG, no qual foi dirigente e relator de grupo de trabalho. Na justiça Desportiva foi, em 1968, membro do Tribunal, junto à Federação Mato-Grossense de Desportos. Membro

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NAILZA DA COSTA BARBOSA GOMES É Mestre em Educação e Doutora em História pela UFMT. Pesquisadora sobre a vida da professora Bernardina Rich desde 2007. E-mail: nailzacbarbo-sa@gmail.com

Bernardina Rich

A voz do oeste presente no enfrentamento ao preconceito de gênero, classe e raça

B

POR NAILZA DA COSTA BARBOSA GOMES

ernardina Maria Elvira Rich nasceu em Cuiabá no dia 10 de março de 1872, filha de Constança Jarcem, quitandeira e pai não declarado. Foi professora e jornalista. Sua vida esteve marcada por estereótipos os quais, foram por ela superados, à medida que conquis-

tou lugares, não ocupados por mulheres, especialmente por mulheres negras. Viveu numa sociedade de transição do séc. XIX para o XX e por mais difícil que pudesse ter sido mulher, negra e de poucas posses, não permitiu que isso fosse motivo para deixá-la no anonimato.

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Em 1888 ano da abolição da escravatura no Brasil ela já pleiteava uma vaga de professora primária em concurso, uma vez que, mesmo ainda muito jovem com apenas dezesseis anos, já possuía o diploma de normalista. Neste concurso, concorria com apenas uma candidata branca de família tradicional da capital mato-grossense. No decorrer do processo, indícios de preconceito racial demonstraram o tratamento ofensivamente diferenciado entre as candidatas. Por exemplo, cada uma deveria apresentar declaração de conduta moral assinada por uma pessoa de prestígio na sociedade. No caso de Bernardina, coube ao delegado de polícia atender à solicitação, enquanto que o pedido para a candidata branca ficou a cargo do padre. O atestado médico também demonstrou a diferenciação depreciativa entre as duas candidatas: para Bernardina, o médico atestou que ela era bem desenvolvida e havia sido vacinada, ao passo que o documento da outra candidata teve o atesto apenas que gozava de boa saúde, sem mencionar a necessidade da vacinação. Além disso, Bernardina apresentou o comprovante de pagamento da inscrição, no valor de três mil réis, com data anterior a prova, enquanto que sua concorrente realizou o pagamento alguns dias depois de ocorrido o certame. Ao final do processo, ambas foram consideradas aptas para o cargo, mas a candidata branca foi indicada para assumir a vaga. O impedimento de ocupar a vaga a que concorrera em 1888 não a fez desistir, continuou trilhando seu caminho rumo a aspiração da carreira docente. Ela conseguiu se efetivar no cargo de professora primária do estado de Mato Grosso em 1890, aos 18 anos, solicitando que seu direito de 2ª colocada no concurso de 1888 fosse garantido, uma vez que não teria passado dois anos e, que sua vaga deveria ser assegurada antes da abertura de um novo concurso. No magistério pôde desempenhar uma de suas maiores virtudes – o amor pela educação. Quanto à “invisibilidade” do racismo,

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no caso da professora Bernardina Rich parece ter ocorrido algo dessa natureza, ou seja, nada a impossibilitou de pleitear a vaga, visto que, igualmente a sua concorrente, possuía todas as condições necessárias para tal. No entanto, testada a sua capacidade intelectual, concluise que causara certa “estranheza” ver que uma pessoa de “cor” tinha um preparo além das expectativas, principalmente em se tratando daquele período em que a população negra acabava de sair oficialmente do processo de escravidão e, portanto, precisava aprender qual era o seu “lugar”. Sua trajetória de vida foi marcada por entraves advindos do patriarcado, do machismo, do racismo e tantos outros elementos que persistem em aniquilar sonhos. Nove anos após sua posse, foi determinado que ela fosse removida para uma escola na Vila de Nioac, praticamente na fronteira com o Paraguai, (atual) estado de Mato Grosso do Sul. Bernardina Rich se recusou a acatar tal decisão, de modo que foi convocado um Conselho Disciplinar para analisar o caso. Em 1913, seu nome consta como diretora de uma escola particular chamada “8 de Dezembro”, que naquele ano contava com 112 (cento e doze) alunos matriculados e aprovava muitos deles para a Escola de Aprendizes Artífices, atual Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT). Fez de seu lar, lugar de instrução, também espaço artístico e cultural promovendo saraus dançantes e literários. Ela tocava piano, violão e violino. No recenseamento do ano de 1890, residia em uma grande casa, proveniente de herança, situada à Rua Voluntários da Pátria, nº 79. Moravam nela, 19 (dezenove) pessoas, entre elas estavam a sua mãe, um irmão chamado Joaquim Rich e os demais eram todos agregados, variando em idades que iam de seis meses a sessenta anos. Praticou a filantropia e muitas atividades ligadas a Igreja Católica, segundo depoimento de pessoas que a conheceram, em sua casa existia um quarto somente com donativos, ali estavam: ali-


Com seu prestígio e dedicação conseguia fazer muito pelos seus. Sempre esteve preocupada com os problemas sociais, políticos e culturais, principalmente ligados às condições das mulheres, tanto que em 1916, juntamente com outras moças criou o Grêmio Literário “Julia Lopes de Almeida”, do qual foi tesoureira e na gestão seguinte vice-presidente. Foi o primeiro órgão criado no estado de Mato Grosso, cujos objetivos previstos em seu Estatuto era a emancipação das mulheres mato-grossenses. A partir desta agremiação fundaram no mesmo ano uma revista de longo período de circulação (19161950) chamada A Violeta, espaço conquistado para que pudessem por meio das letras ex-pressarem suas ideias. Desta revista foi redatora por treze anos. Intelectual incansável na luta pelos direitos das mulheres, também foi uma das fundadoras do Clube Feminino espaço de entretenimento, mas, principalmente de manifestações culturais dirigido por mulheres e representado por elas em Cuiabá. Em 1934 solicitou a Bertha Lutz, fundadora da “Federação Brasileira pelo Progresso Feminino”, sediada no Rio de Janeiro, que instalasse em Cuiabá uma filial. Atendendo ao seu pedido, Bertha Lutz no mesmo ano fundou em Cuiabá a “Federação Mattogrossense pelo Progresso Feminino” – objeto de minha investigação de doutorado defendido em julho de 2018. A Federação Brasileira batalhou muito em prol dos direitos das mulheres e conseguiram importantíssimas vitórias como, por exemplo, o direito ao voto. Aqui em Mato Grosso foi Bernardina Rich a primeira Presidente da filial desta

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mentos, vestimentas, brinquedos, cobertores e sempre que havia uma pessoa precisando de apoio sabia que lá certamente receberia ajuda. Todos os recursos advindos do seu trabalho eram destinados às despesas desta casa de amparo que mantinha e, para as obras de caridade que se dispunha em tomar à dianteira. Por muitos anos esteve à frente da Liga de Assistência aos Lázaros, uma Instituição criada com o objetivo de ajudar aos hansenianos na época chamados de leprosos, pessoas condenadas à morte para a medicina uma vez que, tratava-se de doença altamente contagiosa e incurável. Encaminhava os doentes ao Hospital São João dos Lázaros em Cuiabá e lá prestava assistência até mesmo como “enfermeira” zelando pela higiene, fazendo curativos, e alimentando os enfermos. O objetivo da Liga também era de dar assistência às famílias órfãs. Foi diretora geral da Liga Pró-Lázaros por muitos anos e, desta forma, organizava eventos envolvendo toda a cuiabania e requerendo das autoridades melhorias para o tratamento dos doentes e das condições de vida das suas respectivas famílias. Com o passar dos anos teve acesso livre em toda alta sociedade cuiabana, inclusive foi madrinha de casamento de Maria Ponce de Arruda e Júlio Strübing Müller. Foi Membro da Comissão da organização do Bicentenário de Cuiabá nomeada por Dom Aquino Correia e vanguardista na área da Comunicação. Como jornalista tornou-se a primeira mulher a fazer parte da primeira diretoria da Associação da Imprensa Mato-grossense, num total de 56 (cinquenta e seis) membros, todos homens, ela ocupou o cargo de 2ª. Secretária.

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[...] Com effeito, há muitos poucos annos, a nossa instrução estava muito aquém da que temos hoje, e sendo a instrução um dos mais sólidos alicerces sobre que repousa o progresso de um povo, nesse ponto já temos progredido muito. Mas, a instrução deve estar sempre alliada à educação, bem o sabeis e sobre isto, resta-nos muito ainda por fazer. E a nós exclusivamente a nós, que cabe a resolução desse problema. Às mães cumpre formar o coração e o caráter de vossos filhos e às mestras burilar essa obra. (A VIOLETA, n. 41,1918). Quando do seu falecimento ocorrido no dia 19 de julho de 1942 a imprensa mato-grossense dedicou-lhes muitas ho-

menagens, todos sentiram consternados com tamanha perda. Como neste artigo escrito por Ulisses Cuiabano, intitulado: “Apagou-se uma vida”.

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Federação. Como Presidente, representava o interesse das mulheres de Cuiabá e de todo Estado junto à Federação Nacional. Esteve à frente deste trabalho por oito anos até a sua morte. Durante esta empreitada foi responsável pelo alistamento eleitoral das primeiras mulheres a votarem no estado de Mato Grosso, atendia aos pedidos de muitas mulheres que moravam no interior e precisavam de auxílio dos mais diversos tipos. Estabeleceu relação direta com os grandes centros do país e procurava manter-se informada solicitando que os boletins da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino não tardassem para chegar e que fossem enviados do Rio de Janeiro para Mato Grosso de avião. Assim que os recebia, reunia-se com as associadas e, juntas deliberavam as ações, inclusive a maioria delas registradas na revista A Violeta para que a população tomasse conhecimento. Promoviam cursos e palestras para sensibilizar as mulheres de que seus direitos deveriam ser conquistados e respeitados principalmente os voltados para a instrução. Em um de seus escritos, ela registrou:

Acabei de ouvir, com estupefação, a dolorosa notícia do falecimento de Bernardina Rich. Foi a vós do Oeste que transmitiu a população cuiabana, ao povo matogrossense, a infausta novidade. E creio que não houve um só filho destas plagas, um só habitante destes rincões que tivesse deplorado o desaparecimento de volha professora, de “sua mestra” a maior amiga da pobreza, a mais dedicada protetora dos desvalidos, dos sem conforto, dos infelizes. [...] E assim se apagou uma vida preciosa e útil, uma existência consagrada à prática do bem, ao amor ao próximo, à renúncia aos seus próprios interesses pessoais. Uma vida assim constituiu muito um valioso paradigma. (A VIOLETA, n. 288, 1942. Grifos da autora). Outro artigo escrito pela jornalista e poeta Benilde Moura, sua grande amiga, também retrata a irreparável perda. [...] Muitas vezes vi de seus olhos compassivos rolarem lágrimas de piedade, que me comoviam de tal modo que eu jurava em nome de todos os Santos jamais descarregar em seu bondoso coração meus tristes queixumes [...] Aquela frase tão suave que sempre teve com palavras lentas e pausadas quando me envolvia em um abraço bem apertado cumprimindo-me ao peito. Partiu! Nunca mais verei a minha boa D. Bernardina! Em quem confiar agora? (A CRUZ, 1942, p. 2).

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lumeMatoGrosso Até o ano de 2007 seu nome repousava numa das caixas do Arquivo Público de Mato Grosso, até ser encontrado e se tornar objeto de pesquisa da dissertação de mestrado por mim defendida em 2009. No livro Educação e Fronteira: a questão do negro em Mato Grosso tem um capítulo destinado à sua História. Publicações de artigos em seminários, congressos e um artigo publicado na Revista Territórios & Fronteiras, com a participação da professora Dra. Ana Maria Marques da UFMT – (referência em estudos de Gênero). Teve seu nome homenageado em uma escola de Cuiabá, o Grupo Escolar “Bernardina Rich” e em 1983 esse Grupo Escolar mudou de endereço indo para o prédio do Abrigo “Bom Jesus” e passou a se chamar E.E de Iº Grau “Bernardina Ricci” (houve erro de grafia no seu sobrenome). Mas o prédio foi demolido e a escola extinta pelo Decreto nº. 556 de 28/07/2011, ficando o nome da digna professora sem esta justa homenagem. Há uma reinvindi-

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cação que nova escola seja criada e que seu nome seja por meio dela, homenageado. Ganhou os Prêmios “Ruth Marques Correa da Costa” e uma monção honrosa do Prêmio “Padre Tem Cate” de Direitos Humanos (ambos in memoriam). Em outubro deste ano, seu nome foi colocado na biblioteca da Penitenciária Feminina “Ana Maria do Couto May”, em Cuiabá. Este artigo torna-se mais uma oportunidade de registrar nos anais da História de Mato Grosso a vida desta mulher, que dividiu com seus semelhantes tudo o que tinha, lutou pelos direitos das crianças, dos jovens, das mulheres, dos homens, dos doentes e dos idosos. Viveu setenta anos e, a maioria deles, voltados para o bem estar das pessoas. Optou por não se casar, não deixou descendentes consanguíneos, no entanto, adotou uma menina chamada Maria de Lourdes Rich e que após sua morte ela teve que entrar na justiça, recorrendo até o Supremo Tribunal Federal, para que seus direitos como filha adotiva,


É merecedora de reconhecimento como ilustre personalidade cuiabana que foi e, seu legado deve ser perpetuado.

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de mãe solteira, fossem resguardados. Só depois de muita luta, ela conseguiu ser reconhecida como sua herdeira. Bernardina Rich viveu a passagem do séc. XIX para o XX, e presenciou os processos de emancipação feminina, a luta pelo voto feminino, a escolarização das mulheres, a recémsaída dos negros da escravidão, bem como sua desigual inserção na sociedade de classes. Ao viver e presenciar tais mudanças históricas não silenciou, pelo contrário, lutou, encarou as dificuldades de frente para que a cada dia as mulheres, negras ou não negras, alcançassem autonomia diante da sociedade. Por meio da educação, do magistério e dos engajamentos políticos, encontrou possibilidades de avançar rumo a promoção da tão almejada equidade social. Bernardina Rich foi uma mulher à frente do seu tempo, sabia de seu preparo e da sua capacidade, por isso, não se vitimou pela ação aniquiladora dos preconceitos de toda ordem. A memória de pessoas como Bernardina Rich, que dedicaram suas vidas à luta pela igualdade de direitos e oportunidades entre negros e brancos, homens e mulheres, ricos e pobres no contexto obscuro do patriarcado, do racismo, da segregação social e racial não pode jamais ser esquecida. Ela foi uma expoente da educação e da cultura de Mato Grosso.

REFERÊNCIAS GOMES, Nailza da Costa Barbosa. Uma professora negra em Cuiabá na Primeira República: limites e possibilidades. Dissertação de Mestrado. Instituto de Educação. UFMT, 2009. 131 fls. __________. “Federação Matogrossense pelo Progresso Feminino”: mulheres e emancipação nas três primeiras décadas do século XX em Cuiabá-MT. Tese de Doutorado. Programa de Pós Graduação em História. UFMT, 2018, 212 fls. JORNAL A CRUZ, 1942. APMT. MARQUES, Ana Maria. GOMES, Nailza da Costa Barbosa. Bernardina Rich (1872-1942): uma mulher negra no enfrentamento do racismo em Mato Grosso. In. Revista Territórios & Fronteiras Cuiabá, vol.10, n.2, ago-dez, 2017, p. 110-132. REVISTA A VIOLETA. Cuiabá, n. 41, 1918. APMT. _________, Cuiabá, n. 286, 1942. Acervo Particular de Yasmin Nadaf. _________, Cuiabá, n. 288, 1942. APMT.

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A Imortal Neila Barreto

revista Lume Mato Grosso publica na íntegra o discurso pronunciado por Neila Maria de Souza Barreto, por ocasião de sua posse na Academia Mato-Grossense de Letras, como membro efetivo, aos 29 de no-

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vembro de 2019. Neila é uma referenciada memorialista, escritora, pesquisadora e historiadora de livros que abordam a historicidade mato-grossense. Sua ida à Academia de Letras engrandece sobremaneira aquele sodalício.


uma família humilde, composta de vários irmãos. Minha mãe, Alayde Francisca de Souza, e o meu Pai, Hélio S. Rondon, residem hoje na morada do Pai. Tive como guardiã uma madrinha, Jacyra Francisca de Souza, que delineou meus passos, iniciados na Escola Modelo Barão de Melgaço, aos 7 anos, e que também já partiram. Tornei-me, portanto, cuiabana com esta idade e mais tarde recebi oficialmente o título de Cidadã Cuiabana, já na juventude. Foi com eles que aprendi, dentre outras lições, a importância da humildade. Também recebi as primeiras noções de ambientalismo: como não desperdiçar água e alimentos e tirar da natureza somente o necessário. Pertenço a uma geração que cresceu embalada pelos valores perenes que marcam as letras e a alma, além de ser uma guardiã de memórias, graças ao meu ofício de historiadora, quando produzi a biografia do Padre Ernesto Camillo Barreto, Patrono da Cadeira 14 desta Academia, hoje honradamente ocupada por Nilza Queiroz Freire, a primeira mulher a presidir esta Casa de Letras, mas também da inolvidável Sarita Baracat e de inúmeras Famílias cuiabanas. Esse exercício me proporcionou conhecer mais a fundo a realidade de Mato Grosso e de Cuiabá, levando-me a também exercer

meu ofício de jornalista, atividade que desenvolvo até hoje. Por estas paredes endurecidas pela história, recebemos o ânimo do brio e o estímulo do civismo, principalmente das mulheres que por aqui passaram e por aquelas que hoje estão, como deixando o seu legado. Vejamos a relação completa de 1921 a 2019: 3 3 Data de admissão Ana Luiza Prado Bastos 07/09/1921 1ª mulher; Maria de Arruda Müller 26.01. 1931 2ª mulher; Vera Iolanda Randazzo 10/03/1982 3ª mulher; Maria Benedita Deschamps Rodrigues (Dunga Rodrigues 19/09/1984 4ª mulher; Nilza Queiroz Freire 25/11/1993 5ª mulher; Yasmin Jamil Nadaf 27/10/1995 6ª; mulher Elizabeth Madureira Siqueira 22/11/1995 7ª mulher; Amini Haddad Campos 01/09/2006 8ª mulher; Marília Beatriz de Figueiredo Leite 10/09/2013 9ª mulher; Lucinda Nogueira Persona 30/09/2014 10ª mulher; Marta Helena Cocco 31/10/2014 11ª mulher; Sueli Batista 18/11/2014 12ª mulher; Maria Cristina de Aguiar Campos 02/05/2015 13ª mulher; Luciene Carvalho (14/08/2015 14ª mulher; Olga Maria Castrillon Mendes 29.05.2015 15ª mulher; Lindinalva Correia Rodrigues 12/11/2019 16ª mulher; Neila Maria de Souza Barreto 29/11/2019 17ª mulher. Aqui compareço, Senhores Acadêmicos, carente de ideias, mas rica de ideais. Com profundo respeito, possuída de intensa emo-

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O DISCURSO

»»Sou uma rosariense-cuiabana. Venho de

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ção e grande responsabilidade, ingresso na Academia Mato-Grossense de Letras, em cuja sede residiu Augusto João Manoel Leverger, figura importante na História de Mato Grosso, para tomar assento na Cadeira 19, cujo patrono é Dr. José Vieira Couto de Magalhães, e que teve como primeiro ocupante o jurista, literato e historiador José Barnabé de Mesquita e, como a minha predecessora imediata, a documentalista, poetisa e historiadora Vera Iolanda Randazzo. Ao tomar posse da Cadeira n° 19 declaro estar consciente das atribuições estatutárias e tenho a honrosa e a oportunidade de adentrala na qualidade de aprendiz, para sorver sabedoria de uma instituição, que desde sua criação, tem primado pela beleza das letras, sob o formato de poesia ou prosa, honrando o dístico criado por D. Francisco de Aquino Corrêa – Os estudiosos da Beleza. Nesse caminhar de 98 anos, a Academia MatoGrossense de Letras deixou um importante legado na área literária e também histórica, visto ter sido a protagonista da literatura de Mato Grosso. Esse legado está depositado em sua Revista, desde 1921 até 2019, repositório da produção de cada acadêmico. Entendo que ocupar uma Cadeira nesta nobre instituição é gozar de específica honra intelectual e coloco desde já meus conhecimentos nas áreas das Letras, da História e do Jornalismo a serviço da Instituição. Então, agora movida por esse desejo, quero somar valores e trocar experiências com as confreiras e os confrades desta conceituada Casa de Letras. Agradeço a generosidade dos meus ilustres pares pela honra da escolha do meu nome para a consagração acadêmica e revelar-lhes minha gratidão, extensiva à minha Família e aos amigos diletos que incentivaram meu ingresso neste Templo de Cultura, para minha satisfação e alegria. Tenho a satisfação em ser recepcionada pelo ocupante da Cadeira n. 24, Dr. Odoni Grohs, médico, poeta e escritor, com quem pude partilhar o convívio de sua família, filha e filho, e com a querida Dra. Ana Grohs. Suas palavras a mim dirigidas foram recebidas com muita emoção e eterna gratidão.

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O PATRONO Patrono da Cadeira 19 desta Academia de Letras é o Dr. José Vieira Couto de Magalhães, nascido a 1º de novembro de 1837. No olhar de José de Mesquita, ocupante inaugural da Cadeira, Couto de Magalhães descendeu de Fernão Magalhães, o heroico, navegador lusitano, de quem disse Camões haver sido “no feito, com verdade Português”. Veio Couto de Magalhães da velha Diamantina, coração de Minas Gerais, berço dos movimentos nativistas e das jazidas auríferas e com quem Mato Grosso, em seus primórdios, estabeleceu e ainda mantém fortes vínculos. Estudante de Direito na velha Faculdade paulista, Couto de Magalhães já revelava, nas primeiras manifestações da sua inteligência, o que seria sua fulgente carreira pública. Seus primeiros ensaios versam temas nacionalistas, com assuntos históricos colhidos entre interessantes episódios da vida brasileira. Tinha vinte e três anos quando publicou “Os Guayanazes” — conto que se prende à fundação de São Paulo. Depois, vieram a lume: “Destino das Letras no Brasil”, “Traços biográficos dos poetas acadêmicos” e “O estudante e os monges”, esta última, novela em estilo quinhentista, com que pôs de manifesto os recursos do seu maleável talento literário. Se a primeira é uma novela de intensa emocionalidade, a segunda já entremostra o pensador, o liberal, o homem de governo, pois, em meio à narrativa avultam conceitos felizes e oportunos acerca da arte de governar, do espírito crítico, das misérias do servilismo, dentre outros. Um dos mais lindos tópicos desse ensaio é, por sem dúvida, aquele que descreve o viver dos bandeirantes, vejamos um trecho: “Andavam ordinariamente a pé, em magotes de dez e vinte pessoas, a viagem era traçada pelo sol, o caminho era o trilho das feras; os rios caudalosos eram transpostos a nado, as serranias eram assoberbadas, quando cortadas a pique, por escadas de cipós”. Com a “Viagem ao Araguaia”, publicada em Goyaz nos idos de 1863, abre-se o ciclo das obras da virilidade, os trabalhos científicos e técnicos de fei-

»»O


lumeMatoGrosso ção acentuadamente prática. 6 6 No jornalismo, que também perlustrou, norteava-lhe a escrita o mesmo ideal nacionalista, bússola de sua vida imantada sempre pelo amor às coisas do Brasil. Monarquista por convicção, Couto de Magalhães deixou a política como nela entrara: puro e ilibado. Ainda não completara vinte e nove anos, quando a Carta Imperial de 22 de setembro de 1866 o investiu na presidência da Província de Mato Grosso. Não foi apenas um grande espírito de inteligência privilegiada, um caráter de velha têmpera, mas, sobretudo, possuidor de um imenso coração, um desses corações hipertrofiados pela bondade, um maniroto do bem, pois que nele as qualidades sensitivas superaram as intelectivas. Couto de Magalhães, no dizer de José de Mesquita: “Si soubessem os maus que é ideal o bem que a gente sente em fazer bem, não havia no mundo mais ninguém que, mesmo sendo mau, fizesse o mal! ” Couto de Magalhães foi, sem dúvida, um paladino extrema-

do do mais profundo Nacionalismo. Aprendamos com ele a lição fecunda do trabalho que não esmorece, da coragem que não trepida, das convicções que se formam acima das conveniências pessoais e pairam além dos acontecimentos subalternos. Aprendamos o amor impertérrito da Pátria, o culto sereno da Verdade e da Justiça, únicos propelidores seguros do Progresso. Seu nome se liga à fundação de Várzea Grande, por ocasião da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, ao antigo Acampamento que mandou edificar para defesa da Capital e que mais tarde lhe deu o nome. Era admirado por Sarita Baracat, uma das mais gradas personalidades várzea-grandenses, mulher de grande conceito, hábil na política e com quem tive o privilégio de conviver e de biografar recentemente, Couto de Magalhães faleceu a 14 de setembro de 1898, no Rio de Janeiro, aos 61 anos. Seus restos mortais estão sepultados no Cemitério da Consolação, em São Paulo.

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O ANTECESSOR Barnabé de Mesquita foi poeta parnasiano, romancista, contista, ensaísta, historiador, jornalista, genealogista e jurista, formado pela tradicional Faculdade de Direito de São Paulo, em 1913. Homônimo de seu pai, assinava somente José de Mesquita, e foi como se tornou mais conhecido e imortal. Nasceu aos 10 de março de 1892, em Cuiabá, Capital do estado de Mato Grosso, filho de José Barnabé de Mesquita (Sênior) e Maria Cerqueira de Mesquita. São inúmeras as atividades realizadas ao longo de sua vida (1892-1961): Um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (1919) e do Centro Mato-grossense de Letras (1921), hoje Academia Mato-Grossense de Letras, instituição que presidiu de 1921 até 1961, ano de sua morte, ou seja, pelos primeiros

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40 anos da Instituição onde hoje tenho a honra de tomar posse e ocupar a Cadeira 19, onde ele inaugurou. Desde muito jovem, foi um grande admirador das artes literárias. Pessoalmente levou ao prelo, na tipografia de seu amigo J. Pereira Leite, a coletânea “Poesias”, com o subtítulo “Do Amor, da Natureza, do Sonho, da Arte”. Para Mato Grosso dedicou, por ocasião de seus 200 anos de fundação, um poema, do qual destacamos um breve trecho: “A Mato Grosso, minha querida terra natal, na data festiva do seu Bicentenário, dedico as primícias de um espírito que se formou na visão do seu passado tradicional e no sonho do seu futuro luminoso”. O amor à vida rompia-lhe das estrofes consagradoras do esse culto, raramente perpassadas de desânimo: “O poeta é como o alquimista Da legenda medieval. . .. E a tortura que o contrista É, no seu sonho


polida jamais descambou para intencionais deslizes de pensamento ou de expressão. Foi também precursor dos estudos genealógicos, ao publicar “Genealogia cuiabana”, onde tratou minuciosamente de diversos ramos das Famílias Cuiabanas, um clássico que embasou os trabalhos genealógicos posteriores. Em breves textos, fez fulgurar personagens interessantíssimas para a trajetória de Mato Grosso, como “Um homem e uma época - Monsenhor Bento Severiano da Luz”, que o Instituto Histórico admitiu na classe de sócio correspondente, em 1892, de João Poupino Caldas e Manuel Alves Ribeiro, dois caudilhos de inquieta liderança regional, do Taumaturgo do Sertão, Frei José Maria Macerata, que logrou fama de santidade, propagada pelo povo. Além dos temas individuais, também se verificam outros de ordem histórica e geográfica, como “Grandeza e Decadência da Serra Acima”, “As Acrópoles Cuiabanas”, “Os Jesuítas em Mato Grosso”, “A Chapada Cuiabana - Ensaio de Geografia humana e econômica”, oferecido ao IX Congresso Brasileiro de Geografia”, e a clássica “Gente e cousas de antanho”, série de encantadoras crônicas inseridas na literatura histórica, sob o olhar de quem viu e viveu. José de Mesquita descreveu a Cuiabá de 1925, comparando à Cuiabá de cem anos atrás com um tom de realidade pouco visto à época. Na clássica Gente e Coisas de Antanho ele desvendou os valores que considerava mais caros “Cuiabá de cem anos atrás — relevem-me tão dura verdade — é quase a Cuiabá de hoje. Não vejo uma rua que figure no atual cadastro municipal que, bem ou mal, com este ou aquele nome, não existisse naquela época. Um bairro sequer apareceu de novo — a disposição urbana se conservou invariavelmente a mesma. Está claro que me refiro à cidade materialmente considerada como esse amontoado de ruas e casas e chácaras que formam o vasto tabuleiro que se estende do Porto Geral à Mandio-

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de artista, Nunca encontrar o ideal”. Mais tarde, com análogas inspirações, publicaria “Terra do Berço’“ (1927), “Da Epopeia Mato-grossense” (1930), “Os Poemas de Guaporé” (1949) além de poesias de encantador lirismo, em “Três Poemas da Saudade” (1943), “Escada de Jacó” (1945), “Roteiro da Felicidade” (1946) e outros. José de Mesquita não tardava ao acolhimento estimulador, tornando-se o protetor espontâneo dos jovens, por bem compreender as vantagens do intercâmbio entre os intelectuais, que ele próprio desenvolvia em mais restrito âmbito, ou fossem afamados homens de letras que aportassem a Cuiabá, ou estreantes que manifestassem aptidões aproveitáveis. Tanto assim, que nas páginas da Revista do Centro Mato-Grossense de Letras pode se observar uma seção especial – Página dos Novos, uma forma de melhor conhecer os jovens talentos e absorve-los posteriormente na arcada acadêmica. Mas, não só os jovens, pois José de Mesquita fazia questão, naquele periódico, de não deixar olvidado os literatos pouco lembrados, criando uma seção intitulada Páginas Esquecidas. Esse último movimento colaborou para fortalecer a imortalidade acadêmica. José de Mesquita se inspirou nos versos de sabor parnasiano, a que sucedeu, mais tarde, o feitio modernista, como igualmente a harmonia da prosa castiça. Crônicas, romances, contos, em que mais de um crítico lobrigaria influência machadiana, firmaramlhe o prestígio de escritor de grande fôlego. Vejamos algumas de suas produções posteriores: “A Cavalhada”, “Contos Mato-grossenses” (1928), “Espelho d’ Almas”, (prêmio da Academia Brasileira de Letras, (1932), “Piedade”, (romance - 1937), “De Lívia a Dona Carmo”, ensaio em que evocou as “Mulheres na obra de Machado de Assis”, (1939), e “No Tempo da Cadeirinha” (1946), comprovando a variedade de gêneros literários, os quais serviram para comprovar sua agilidade mental, cuja linguagem esmerada e

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ca e das fraldas da Prainha ao Lava-pés. Não me venham para ahi dizer, pois, que Cuiabá hoje tem automóveis, luz elétrica, melindrosas e almofadinhas, que tudo não faz ao nosso propósito e é argumento estranho à discussão”. E, mais adiante, recupera as principais artérias urbanas de Cuiabá, trabalho histórico pioneiro. Essa descrição minuciosa dos logradouros da Capital representou também a primeira tentativa de se recuperar historicamente as ruas, praças e largos da eterna Cidade Verde, no dizer de D. Francisco de Aquino Corrêa, Não morrerá jamais um poeta como José de Mesquita que tanto dedicou versos às mulheres. Assim disse em Minha Musa (século XIX): “Tu realizas o ideal do meu passado, /A alegria feliz do meu presente, /O sonho do futuro desejado, /E eu só vivo por ti, unicamente. À família de José de Mesquita, aqui presente dedico o Soneto para minha mulher, composto por ocasião das Bodas de Prata do casal, escrita em 10 de abril de 1940 e dedicado à sua esposa D. Anna Jacintha Pereira Leite: Juntos viemos pela vida afora. Juntos gozamos; juntos padecemos, Vimos raiar muita radiosa aurora E muito pôr de sol triste tivemos. A mesma angústia que em teus olhos rora Dos meus fez irrorar prantos extremos, E o mesmo eflúvio de prazer, outrora, Nos fez chegar aos êxtases supremos. Vinte e cinco anos . . .. Lembraste? Parece Que foi ontem! Assim, também mansinha, Vem a noite. Paisagem escurece. E, ao ver que envelhecemos juntamente, A dor me faz mais teu, e te faz mais minha, Pois ele é o ímã que une mais a gente! A ANTECESSORA

»»A segunda ocupante da cadeira 19 foi

VERA IOLANDA RANDAZZO, de quem sinto orgulho de suceder. Foi a terceira mulher a integrar a Academia Mato-Grossense de Letras pois, aqui já se encontravam Ana Luiza Prado Bastos (1919) que ocupou, na diretoria, o cargo de Tesoureira e era conhecida, na intimidade, como Pro-

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fessora Galega. A segunda mulher a ingressar na Instituição foi Maria de Arruda Müller, e a terceira Vera Iolanda Randazzo, nascida em Caxias do Sul-RS, aos 21 de setembro de 1927, descendendo de Roberto Edmundo Randazzo e Cecília Compagnoni Randazzo. Veio para Mato Grosso em 1955, Estado que adotou como seu e onde prestou relevantes serviços. Implantou o atual Arquivo Público do Estado, organismo idealizado pelo Acadêmico Lenine de Campos Póvoas, que era Secretário de Administração do Estado, nomeando-a como sua primeira Diretora. Técnica e arquivista na Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso; Organizadora do acervo documental do Instituto Memória do Poder Legislativo, em seus primórdios; Membro da Comissão de Estudos de Fronteira, para exame de questões de limites entre os estados de Mato Grosso e Goiás; Publicou artigos nos jornais O Estado de Mato Grosso, A Tribuna Liberal, O Social Democrata, Diário de Cuiabá, Correio da Imprensa, e nas Revistas do IHGMT e da AML. Escreveu os seguintes livros: Pajemeira, pajemeira!; As cartas do grande chefe à sua esposa; Quando morreu Pascoal Moreira Cabral?; Catálogo de Documento Históricos de Mato Grosso; Contribuição à história do Arquivo Público de Mato Grosso: Catálogo da exposição de documentos mato-grossenses da Proclamação da República: 91º aniversário; Catálogo da exposição de documentos históricos em homenagem a Poconé – bicentenário; Integridade territorial de Mato Grosso e o acordo com Goiás, dentre outros. Em reconhecimento ao seu trabalho e produção intelectual, foi sócia fundadora da Sociedade Amigos de Rondon, sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, sócia correspondente da Academia Paulistana de História, membro da Ordem dos Bandeirantes de São Paulo. 14 14 Sucedeu, com muita honra, ao fundador e primeiro presidente da Instituição, José de Mesquita, ingressando na Academia Ma-


amigos são os parentes que damos a nós mesmos. Que este momento também me seja propício para evocar, com imperecível saudade, a memória da minha Mãe, Alayde Francisca de Souza, que, juntamente com os meus sogros, Áurea Maria e Cláudio Coelho Barreto, legaram a seus filhos e netos exemplos de dignidade, sacrifício e amor. Agradeço as palavras sumamente generosas, proferidas pelo coração amigo do Acadêmico Dr. Odoni Grohs, cuja veste branca foi sempre cerzida pela poesia. Aos meus neto e netas, Bento José, Malu e Maria Júlia, sonhos da minha vida. Alegram-me e confortam-me as presenças dos colegas, das autoridades, dos parentes, dos amigos, dos convidados e dos ex-alunos. Agradeço aos que vieram de longe num gesto de amizade. O que é ser um acadêmico senão um aprendiz, e é esta, pois, a condição em que me encontro e na qual permanecerei. Que assim seja! Muito obrigada.

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to-Grossense de Letras aos 10 de março de 1982, e durante toda permanência na instituição demonstrou muito talento, cordialidade em meio a muita alegria, fortes emblemas de seu caráter. A apresentação da acadêmica VERA IOLANDA RANDAZZO ao Pai Celestial, se deu a 14 de fevereiro de 2019, após sua longa vida terrena de mais de 91 anos, como filha, esposa, mãe, avó, bisavó e trisavó, devia ser tranquila com as palavras do Mestre: “Entra, minha filha, sua vida foi um livro aberto; você fez o bom combate por onde passou e, esta Casa do Senhor, a espera; entra, repito, esta é a Casa de Muitas Moradas e a sua está reservada; tome as minhas mãos, não tenha medo, pois a você é prometida a eternidade”. Encerrando, quero destacar que: Os parentes são os amigos que Deus nós dá. Agradeço à minha família, em nome do meu esposo Luiz Ernesto da Silva Barreto, as minhas filhas, genros, neto e netas, pelo respeito e carinho. Os

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S ECGUULT RU AR NA ÇA

Guapo Lança Livro

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cantor, compositor e multimídia Milton Guapo, dedicou o final do ano de 2019 para lançar o seu novo livro “No Limiar”, nas cidades de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro Sobre a mais recente obra escrita por Guapo, assim escreveu a jornalista Vanessa Moreno: “Após prometer obra polêmica, Guapo lançou o livro intitulado ‘No Limiar’, uma novela pós-moderna que conta a realidade vivida entre indígenas que estão prestes a ter a vida transformada pelas novas tendências do futuro. O primeiro lançamento foi no dia 04 de dezembro, em São Paulo. A mais nova obra de Milton Pereira de Pinho, o Guapo, é futurista. A história acontece em vários lugares, mas a

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sua principal fundamentação é no Brasil, mais precisamente na região do Araguaia e do Xingu. Seus personagens são indígenas, que na era pós-moderna, entram em conflito com o agronegócio. Eles estão enfrentando as mudanças causadas pela ferrovia transoceânica, pelos drones tripulados que virão num futuro próximo alterando as novas tendências agroecológicas e antropológicas na região, bem como distintos modos de vida que aparecerão até o ano de 2028. Os índios Obajara e Kunhahendy são os protagonistas da trama. Agentes federais de inteligência infiltrados, que entram em confronto com o crime organizado que migrou para a região no começo do século XXI, também fazem parte do elenco.


dões paradoxais: – “o mistério insistente do querer estar vivo” e “os inimigos da vida aqui na Terra”. No Rio de Janeiro o escritor Guapo também fará apresentações musicais e o local escolhido foi no espaço cultural Varanda, na Universidade Federal Fluminense, ocorrido no dia 17/12. Ali o expressivo músico e escritor mostrou todo o seu talento desfiando canções nativistas de sua lavra e de outros músicos importantes do continente sul americano.

GUAPO É ESCRITOR, PESQUISADOR, CANTOR, COMPOSITOR, PRODUTOR, DIRETOR MUSICAL E CONSULTOR TÉCNICO CULTURAL. ENTRE SUAS OBRAS ESTÃO OS LIVROS ‘REMEDEIA CO QUE TEM’, UM MAPEAMENTO HISTÓRICO MUSICAL DA MÚSICA MATO-GROSSENSE E ‘UM PÉ DE VERSO… OUTRO DE CANTIGA’, QUE SE TRATA DE UM PEQUENO RESUMO DOS DITOS POPULARES EM FORMA DE CRÔNICA, COM ALGUMAS MEMÓRIAS E CONTOS PANTANEIROS E CUIABANOS. O LANÇAMENTO DE ‘NO LIMIAR’ SERÁ NA LIVRARIA CULTURA, NO SHOPPING VILAS LOBOS, EM SÃO PAULO, ÀS 19 HORAS. O LIVRO TERÁ LANÇAMENTO TAMBÉM EM BELO HORIZONTE E RIO DE JANEIRO NOS DIAS 05 E 17 DE DEZEMBRO, RESPECTIVAMENTE, E EM CUIABÁ, COM LOCAL E DATA A CONFIRMAR.

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A modernidade vivida em No Limiar também mostra uma nova forma de relacionamentos eróticos e social, propondo um novo pacto de prazer e de convívio, rompendo com o ranço da monogamia tradicional. A obra questiona também os absurdos da existência pré-moldada no colonialismo euro-centrista antrópico, bem como a moral religiosa ultrapassada a partir de um ponto de vista filosófico-metafísico-científico-futurista, que se resume em dois bor-

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SL IETGEURRAAT N UÇ RA

A Metapoesia Pantaneira de João Bosquo

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POR EDUARDO MAHON

jornalista que fica nos bastidores é, também, escritor. Ou, quem sabe, é o escritor que fica nos bastidores, deixando solto o simpático jornalista que circula especialmente pelo próprio métier – as letras. Em Imitações de Soneto, João Bosquo mostra-se metapoeta, tentando decifrar o que deve ter visto de bom e de mau na produção alheia e no próprio labor lírico: Falar alguma coisa ou poema Não falar coisa alguma - fonema Faz o mesmo sentido ao tema? Essa questão abre o livro. É a reflexão provocativa que dá fundamento a tudo que vem pela frente. O metapoeta (o jornalista desaparece a essa altura) mostra-se sabedor/conhecedor de vários estilos literários e se ri de todos para “falar Pantanal”: Não importa o estilo, porém a essência poética Nas entrelinhas que correm, perfeito um lambari Dourado, nas águas do rio rumo ao mar Pantanal.

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Prossegue Bosquo falando de poesia com poesia. Sente-se pequeno. É muito natural. Sente-se perseguido. Nada mais comum. Sente-se agoniado. É a sensação da antevéspera de rebentar a palavra com a sintaxe essencialmente poética: A poesia, como um estorvo, porém Se nega a deixar a tela em branco Mesmo que sejam versos menores De última classe e categoria nenhuma. Diante do que já leu, o metapoeta desespera-se em busca da originalidade. Ora, ora... quem escreve a sério nunca sentiu esse peso no peito? Daí que João Bosquo prenuncia uma nova fórmula: Em remotas estilísticas e simples sabedoria De difícil competição... Há sobras de vagas Inspirações sentidas ao vagar urbano Cuiabá. Falar em Cuiabá, muitos já falaram. Dizem o Pantanal, outros tantos já o disseram. Mas como João Bosquo? Já saberemos que a inspiração do metapoeta não será nada além dele mesmo, das suas memórias de rapadura. Bosquo sabe que não há saída


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EDUARDO MAHON É escritor romancista, contista e poeta, autor dos livros “O Cambista”, romance; “Doutor Funéreo e outros contos de morte”, “Meia Palavra Vasta” (poesia), entre outros; é membro da Academia Mato-grossense de Letras.

para a originalidade além de si mesmo. Passa, então, a se confessar: A minha língua, até aonde eu saiba, É a mesma língua falada por minha mãe...

Sou Poliéster, fui Durango Kid Sai ileso ao caminhar de Far-West Pelas antigas ruas cuiabanas

(...)

Calcei Conga, matei aulas, Furtei mangas e cajus de quintais Que nunca foram de minha casa...

Depois, mais tarde, outras línguas Dos guris da Rua da Fé, Travessa Dão Bosco Campo D’ourique das peladas e soltar pandorgas

Pescar em rios que atravessam A Cuiabá tricentenária é vício Que escapa por desobrigação Do progresso urbano permanente

É, então, que o Imitação de Sonetos ganha corpo, porque expõe o autor. É aí que nada mais é sinônimo. Começa a se mostrar o João Bosquo – por ele mesmo:

Nadar? Jamais, nem em sonho O algodão doce das roupas Desmaterializaram-se e sobra apenas Uma certeza simples: sou poliéster.

Quando peço um café com leite, Não peço apenas um café com leite, Está incluso uma xícara de lembranças

Desmistifica-se, enfim, o autor. Ele vem de calça jeans e camisa de manga curta, com os olhos assustados e questionadores por detrás dos óculos de lentes grossas, com o cabelo meio desarrumado, munido de uma curiosidade genuína. Eu só não sabia que encontraria a essência de Bosquo – que sempre me pareceu bastante ambientado no meio urbano – nas águas do Pantanal.

(...) Ao pedir uma xícara de lembranças Peço um pouco de mim mesmo. O livro Imitações de Soneto tem romantismo, política, jornalismo, tudo o que é próprio do metapoeta João Bosquo. Pode-se conhece-lo – como a todos os demais escritores – pelo tema, pela forma, pelo desejo implícito que oscila entre a tradição e a modernidade. Vejamos a simbiose entre dois poemas:

As perguntas caminham e levam O meu refletir e jeito de estar Mas, sei agora, não estou aqui Estou lá, repara, caminhando...

- Gostar do gosto - Que Cuiabá supera.

Vou me levar também o corpo Juntar as partes - ser e estar E seguir sereno até o Pantanal.

E, de outro lado, o excepcional vanguardismo da poesia em poliéster, particularmente a preferida deste inabilitado comentarista:

Eis o Imitações de Soneto. Espero que o tenha apresentado como merece, deixando-o falar por si mesmo.

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Ú LT I M A P Á G I N A

Demolições POR WELLER MARCOS, POETA BRASILEIRO

Ainda sois criança colunas de minha existência e já as sinto ruindo esfacelados ossos escorrendo líquidos chão pisado, passado pés descalços humanamente decadentes essas demolições pessoais me amedrontam.

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