Lume 41

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lume Mato Grosso

Revista nº. 41 • Ano 6 • Abril/2020

Dona Francisca Missão da Fé. Pag. 20

AS AVENTURAS DE BILLY GANCHO A ARQUITETURA DA FACE JAZZ E RASQUEADO - UM PRINCÍPIO SIMÉTRICO O PIONEIRISMO DE ALICE GUY NO CINEMA PERCY HARRISON FAWCETT A ESQUERDA FEMININA NA ERA VARGAS JANE VANINI - RETRATO PRETO E BRANCO

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C A RTA D O E D I TO R

JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral

O

Mudou o Foco

presidente da República, Jair Messias, demonstra falta de bom senso ao não priorizar ações de combate à pandemia causada pelo coronavírus em todas as unidades da federação brasileira. Ególatra, atua dessa forma por não se submeter à ascensão de assessores, como foi o caso do ex-Ministro da Saúde, deputado federal Mandetta, por ele demitido recentemente. O bom senso também não está presente nas articulações políticas com os poderes no entorno do Alvorada. Interessa-lhe apenas os números 01, 02 e 03, seus filhos. Isso foi claro na demissão do Ministro Sérgio Moro, no último dia 24, provocado pela troca do comando da Polícia Federal, sob o delegado Maurício Valeixo, braço direito do principal nome da Operação Lava Jato, que desmantelou a corrupção na política brasileira. O fato é que Moro acusou Bolsonaro de interferir politicamente na PF, tendo como

resposta do presidente que era isso mesmo que estava acontecendo. Oras, brincadeira isso. O pano de fundo de toda essa artimanha política é acobertar situações de perigo que vivem os filhos de Bolsonaro, às voltas com processos encaminhados pela PF. Lamentável. Isso tudo ficou bem claro com a coletiva de imprensa no final da tarde do mesmo 24 do mês. Ao se dedicar mais à defesa de interesses próprios, o presidente minimiza a pandemia dizendo aos seus fiéis evangélicos, segundo o jornal Correio Braziliense, que ficam gritando “mito, mito”, na portaria da residência oficial da Presidência, que “...o vírus é uma coisa que 60% vão ter, ou 70%. Não vai fugir disso. A tentativa é de atrasar a infecção para os hospitais poderem atender. Eu desconheço qualquer hospital que esteja lotado. Desconheço. Muito pelo contrário. Tem um hospital no Rio de Janeiro, um tal de Gazolla [Hospital Municipal Ronaldo Gazol-

la], que, se não me engano, tem 200 leitos e só tem 12 ocupados até agora. Então, não é isso tudo que estão pintando, até porque, no Brasil, a temperatura é diferente (da Europa e outros países), tem muita coisa diferente aqui”. É mais que necessário pensarmos no abalo que sofre a economia nacional, no entanto, com planejamento e bons encaminhamentos. Afinal de contas, todos os governos: federal, estaduais e municipais, possuem técnicos e pessoal especializado em áreas de economia e saúde. Mais do que nunca devem colocar suas sabedorias à serviço da nação brasileira para descobrirmos os caminhos certos. O que não pode é o presidente perder o foco do principal problema a ser resolvido, que é a Covid-19, disseminada nacionalmente. Deve sim deixar de politicagem barata e compreender que a pandemia não é uma gripezinha qualquer. A fatura será cobrada mais tarde.


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EXPEDIENTE

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PESCUMA MORAIS Diretor de Expansão e de Projetos Especiais ELEONOR CRISTINA FERREIRA Diretora Comercial JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral MARIA RITA UEMURA Jornalista Responsável JOÃO GUILHERME O. V. FERREIRA Revisão AMÉRICO CORRÊA, ANA CAROLINA H. BRAGANÇA, ANNA MARIA RIBEIRO, ANTÔNIO P. PACHECO, BENEDITO PEDRO DORILEO, CARLOS FERREIRA, CECÍLIA KAWALL, DIEGO DA SILVA BARROS, DILVA FRAZÃO, EDUARDO MAHON, ELIETH GRIPP, ENIEL GOCHETTE, EVELYN RIBEIRO, HENRIQUE SANTIAN, JOSANE SALLES, JULIANA RODRIGUES, LUCIENE CARVALHO, MARCO POLO DANTAS, MILTON PEREIRA DE PINHO - GUAPO, NIGEL BUCKMASTER, PAULO PITALUGA COSTA E SILVA, RAFAEL LIRA, REGINA DELIBERAI, ROSE DOMINGUES, THAYS OLIVEIRA SILVA, VALÉRIA CARVALHO, WLADIMIR TADEU BAPTISTA SOARES, YAN CARLOS NOGUEIRA Colaboradores AFRANIO ESTEVÃO CORRÊA, ANDREY ROMEU, ANTÔNIO CARLOS FERREIRA (BANAVITA), CECÍLIA KAWALL, CHICO VALDINEI, EDUARDO ANDRADE, HEITOR MAGNO, HENRIQUE

SANTIAN, JOSÉ MEDEIROS, JOYCE CORRÊA, JÚLIO ROCHA, LUIS ALVES, LUIS GOMES, MAIKE BUENO, MARCELA BONFIM, MARCOS BERGAMASCO, MARCOS LOPES, MÁRIO FRIEDLANDER, RAI REIS, UPKLYAK Fotos OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES. LUME - MATO GROSSO é uma publicação mensal da EDITORA MEMÓRIA BRASILEIRA Distribuição Exclusiva no Brasil RUA PROFESSORA AMÉLIA MUNIZ, 107, CIDADE ALTA, CUIABÁ, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 36371774 99284-0228 | 9925-8248 Contato WWW.FACEBOOK.COM/REVISTALUMEMT Lume-line REVISTALUMEMT@GMAIL.COM Cartas, matérias e sugestões de pauta MEMORIABRASILEIRA13@GMAIL.COM Para anunciar ROSELI MENDES CARNAÍBA Projeto Gráfico/Diagramação DONA FRANCISCA, DE CHAPADA DOS GUIMARÃES - FOTO: BRUNA OBADOWSKI capa


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SUMÁRIO

8. 32.

ARTIGO

30. VOCÊ CONHECE MATO GROSSO?

PARA QUANDO VOCÊ FOR

42. 44. ANTROPOLOGIA

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ABRIL DE NOSSA HISTÓRIA


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54. 56. SEGREDOS DA FLORESTA

LITERATURA

58. LITERATURA

60. LITERATURA

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ARTIGO

Vacine-se com

Sonhos

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A

ssim como a engrenagem do relรณgio que marca a hora certa, nossos sonhos marcam o movimento da vida.


Não pare de sonhar. Nossa mente morre sem um propósito, sem um alicerce, simplesmente paralisa! O tique-taque do nosso reloginho interno está nos mostrando que daqui há alguns dias, semanas e meses, tudo será diferente. De repente neste momento você esteja se sentindo paralisado, sem norte, como se os sonhos não fizessem mais sentido ou então que o caminho que estavas seguindo não é mais tão significativo. Mas lembre-se que os sonhos são a base para a perseverança, para que depois tudo se torne realidade. Isso vai passar! Nossa alegria de viver um novo dia, a vontade de acordar e saber que vale a pena abrir os olhos e enche-los de esperança e ânimo para apreciar a dádiva de estar e se sentir vivo! Sem tédio. Sem medos. Sem angústia. Sem o vazio que tantas vezes tenta reinar em nosso templo. Os sonhos nos nutrem a cada momento. Cada pequeno passo que avançamos no dia-a-dia faz nosso coração vibrar de alegria e satisfação ao viver a experiência da recompensa através da direção certa. Ver nossos sonhos se materializando e sendo construídos, tijolinho por tijolinho, nos movem para continuar realizando mais e mais, e o nosso corpo corresponde com sorrisos soltos e plenitude no viver. Não pare de sonhar. Quando termos claro, na grande tela, todas as formas e cores do que deseja-

mos para nossas vidas, nada pode abalar nossa estrutura, nenhum revés. A consciência está dentro de mim, blindada! O externo não terá ferramentas suficientes para perfurar esta casca. Pode ser que por motivos que fogem ao nosso controle tenhamos que dar uma nova forma, mudar a rota e realinhar o tempo, mas não pare de sonhar. Desde relacionamentos, objetivos profissionais, bens que desejamos adquirir, comportamentos que queremos incorporar e tudo aquilo que classificamos como sendo significativo para dar o brilho que desejas e o sabor que escolheres para teu sonho. Sonhe um sonho ecológico, que impacte positivamente sua vida e a das pessoas que te cercam, assim melhoramos o mundo, de pouquinho em pouquinho, fazendo a nossa parte, plantando sementes. Os sonhos lapidam as nossas vidas. As crises, as lutas e as dificuldades não são nossas inimigas, elas servem para afirmar o que temos no coração, firmar nossos valores e caráter. Através dos momentos de crise solidificamos nossos sonhos. Conta pra mim, qual sonho é o mais gostoso, aquele feito em casa com a goiabada da vovó, ou o comprado no mercado? Vai dar trabalho, será desafiador, mas valerá cada minuto vivido. Aproveite agora, pegue um papel e uma caneta e faça sua lista do que desejas realizar. Vacine-se com seus sonhos!

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ANA CAROL FERRER Educadora cultural e empresária no ramo. Amante da psicologia positiva, programação neurolinguística e neurociência. Fundadora do Projeto ACORDA! Co-autora do Livro Life Design - Como assumir o controle e criar a vida dos seus sonhos. Contatos: Whatsapp - (47) 98477 1976 / Instagram - @anacarol.ferrer

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E N T R E V I S TA ESPECIAL

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Billy Gancho As Aventuras De Um Garimpeiro Garimpeiro desde menino, Florentino Antônio Magalhães, que deu a si mesmo o apelido de Billy Gancho, nasceu em 1939, em Rio das Éguas, na Bahia. Viveu a vida de forma intensa, em um dos pontos mais emblemáticos da garimpagem mato-grossense, o garimpo do gatinho. Conversamos com Billy Gancho na sombra de uma casa naquilo que resta da parte antiga da cidade de Alto Paraguai. Enquanto Billy descascava alho para o seu solitário almoço, respondia às perguntas de Lume Mato Grosso POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA

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E N T R E V I S TA ESPECIAL COMO O GOSTO PELA GARIMPAGEM DE DIAMANTES ENTROU EM SUA VIDA? »»“Foi quando eu tinha quase treze anos, em 1952, ocasião em que estabeleci sociedade com meu pai, num garimpo em Nortelândia, na barra do Rio Areias. Esse garimpo era de um tio meu. Meu pai quebrava o cascalho e eu ajudava ele a carregar para a parte seca do lugar. Depois ele ia para o monchão para continuar a quebrar, enquanto que eu me dedicava a lavar cascalho na peneira.” O SENHOR FOI UM ESPECIALISTA NO SISTEMA DE MERGULHAR COM ESCAFANDRO? COMO ISSO COMEÇOU? »»“No ano de 1954, eu vim para Alto Paraguai, sempre na garimpagem. Em seguida fui para o Rio Ari-

nos, acompanhando o finado “Seo”Nabor, que era um fazendeiro e morava no Estivado, adiante do Posto Gil pouco mais de 1,5 km, sendo que ainda resta da antiga sede de sua fazenda umas estacas e alguns pés de mangueira. “Seo” Nabor tocava um pequeno comércio e possuía umas cabeças de gado, mas daí resolveu “tocar” uma máquina, com escafandro, no Rio Arinos, em busca de diamantes, lá na região do “5 Bocas”, defronte de onde é hoje a cidade de Juara. Foi ali que aprendi a mergulhar. Eu era um rapaz de 14 anos e meu pai não queria de jeito nenhum que eu mergulhasse, pois dizia que eu era muito “franzininho”, que eu não tinha idade, no entanto quando eu tinha 15 anos já era mergulhador profissional, com muita atividade por sinal.”

EXPLIQUE PARA NOSSOS LEITORES COMO ERA ESSE SEU TRABALHO? »»“Eu usava um escafandro fluvial, que era uma armadura de borracha e uma cabeçona de bronze, com um duto que me permitia respirar e resistir à pressão da água. Quando eu descia para o fundo do rio levava comigo sacos vazios e uma enxadinha. Cavava bastante, enchia o saco com cascalho e dava um puxão na corda, que era a senha para o saco ser recolhido na balsa. “ ESSE SISTEMA ERA COMPLEXO. SEMPRE FOI ASSIM, DIFÍCIL? »»“No começo era assim, dentro da cabeçona eu respirava pela boca, pelo nariz e o resumo do cascalho era retirado na enxada e na mão. Depois de tempos, em 1984, eu trabalhei com equipamento mais moderno,

A PACATA CIDADE DE ALTO PARAGUAI

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O SENHOR GANHOU DINHEIRO NESSE PERÍODO? »»“Então... Nesse garimpo do Rio Arinos, mesmo trabalhando com “Seo” Nabor, eu tinha sociedade com meu pai. Nós “peguemo” muito diamante. Mas muito mesmo. Quando “cheguemo”, papai desceu prá Alto Paraguai, com “Seo” Nabor e eu fiquei no Estivado. Eles venderam o diamante e papai me deu 50 mil cruzeiros e me disse o seguinte: “Olha aqui, toma esse dinheiro, você vai mesmo jogar fora, vai gastar à toa, o resto do que é seu, fica comigo (...) Hora que você precisar é só me pedir (...) Vou guardar”. “ E O QUE O SENHOR FEZ COM ESSE 50 MIL CRUZEIROS? »»“Eu vim prá aqui, olha... (Melancólico e pensativo Billy Gancho aponta o dedo para uma enorme casa de esquina, abandonada, no antigo centro histórico de Alto Paraguai, onde funcio-

nou por anos a fio o Mercadinho do Povo, em formato de cabaré). Continuando, afirmou: A primeira cachaça, a primeira cerveja, a primeira mulher eu apanhei aqui.” MERCADINHO DO POVO? mesmo. Mercadinho do povo. Era só o bar. Ali se vendia cachaça, uísque, cerveja e algum enlatadozinho, prá “tira gosto”. Tinha música ao vivo, muita dança e mulher bonita.”

»»“Isso

E A MÚSICA NO LOCAL, COMO ERA? »»“Sempre tinha música boa. O primo Antônio tocava uma sanfona de 120 baixos, o outro menino tocava o banjo, e o João Tambor tocava aquele bombo, o tambor. Nessa época a maior força da música tocada aqui nos garimpos era o rasqueado e a polca paraguaia. Era assim, o Antônio rasquea -va a sanfona, as meninas caíam aqui dentro e eu varria o chão com os cabelos delas... (Nesse momento Billy Gancho não se contém e solta um riso bem alegre, franco e longo). Tempo bom, bom mesmo. Valeu a pena.” ENTÃO ESSE ERA UM LUGAR MUITO PROCURADO POR GARIMPEIROS? »»“Hum... E muito. Tinha garimpeiro que pegava diamante e vinha direto prá cá, gastar com cachaça e mulherada. O senhor tá vendo aquele menino ali? Perto daquela porta? (Resoluto, Billy Gancho aponta para outra

face da esquina do Mercadinho do Povo). Então, ali tinha um toco de aroeira que já arrancaram. Pois bem ali, o Baianinho Farrista amarrava a sua mula prá dar banho de cerveja e perfume no bicho. Ele costumava chamar alguém que estava por perto e dizia: “Toma aqui esse dinheiro, a melhor loção que tiver por aí você compra prá mim”. Mas o Baianinho Farrista tinha uma preferência, e que era o mais caro: Madeira do Oriente. E assim que era, trazia o perfume e dava banho na besta, isso eu vi, ali ó... (Neste momento Billy Gancho aponta para o ponto onde Baianinho amarrava o seu animal e o banhava com perfume).” QUANTO TEMPO DUROU A SORTE DO BAIANINHO FARRISTA E QUAL FOI SEU DESTINO? »»“Baianinho Farrista foi um dos mais famosos garimpeiros de Alto Paraguai. Trabalhei com ele, ajudei ele arrancar muito diamante do cascalho. Lá no garimpo da Melgueira, ele pegou duas pedras de 7 quilates cada numa peneirada grossa. Ele bateu a peneira grossa e tava lá os dois diamantes. Nesse dia eu peguei 8 carumbés de cascalho e peguei 16 diamantes, sendo que 3 eram de média. Naquele tempo cada um desses diamantes, de tamanho médio, que eu peguei, valia 200 cruzeiros. Depois eu saí prá outros cantos e Baianinho fi-

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que tinha a chupeta. Respirava direto e dava mais conforto, pois tinha os galões de ar. Também o sistema de coleta do cascalho era outro, pois era uma mangueira de sucção que fazia o trabalho de sugar e transportar o cascalho do fundo do rio para cima da balsa, que era depois lavado e peneirado. Ainda é assim. Mas tem gente que não tem equipamento e ainda mergulha e retira cascalho do fundo do rio na raça mesmo.”

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E N T R E V I S TA ESPECIAL cou por aqui, indo de um garimpo ao outro. Já estava fraco de situação, pegando uns “diamantinhos”, lá prá beira do Rio Claro. Depois juntou um dinheiro e tocou uma pensão lá pro lado dos índios, em Parecis. Mas ele se acabou. Separou da mulher e acabou da pior forma possível. Sempre bêbado, adoeceu e fraco que estava, não suportou a pressão e faleceu. Morreu na sarjeta em Novo Diamantino.” QUANDO O SENHOR DECIDIU DEIXAR ALTO PARAGUAI E PARA ONDE FOI? »»“Depois de trabalhar com o mestre Pobo, que tinha uma casa grande, nessa rua, lá na frente, bem adiante da padaria (Billy Gancho aponta para a mesma rua do Mercadinho do Povo), fiz outras atividades garimpeiras, mas sempre sendo um mergulhador. Em 1966, com 27 anos, fui para Goiás, Minas Gerais, para trabalhar com garimpo. Mais tarde fui para São Paulo, onde trabalhei como motorista de caminhão, dirigindo um Chevrolet Brasil, fazendo entrega de mercadorias em várias partes do país.”

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SER MOTORISTA ERA UMA PROFISSÃO ALTERNATIVA? »»“Foi por um certo tempo. Hoje não posso dizer que sou motorista porque não tenho mais a carteira. A perdi num dia de trabalho, quando mergulhava e havia deixado a minha calça dependurada

num gancho, com a boca do bolso prá baixo. Acho que caiu em alguma fresta, levando a carteira, com documento e tudo.” SER MERGULHADOR LHE AJUDOU A ARRUMAR BASTANTE TRABALHO NO GARIMPO? »»“Sim, sempre fui um bom mergulhador e entendo de água. Isso significa entender a força da água, de virar ela prá lá e prá cá (Neste momento Billy Gancho gesticula bastante com as duas mãos em paralelo, como se estivesse dominando um turbilhão de água). Achar diamante sempre achei, e muito. Mas segurar dinheiro, não segurei, gastei tudo com cachaça, mulherada e festa.” SOBRE O VALOR PECUNIÁRIO DO DIAMANTE. O SENHOR TINHA NOÇÃO EXATA DO QUE ISSO REPRESENTAVA? »»“O quilate do diamante, naqueles tempos eu que garimpava no escafandro, valia C$200,00. O quilate é cem pontos. Ele é pouquinha coisa maior que esse carocinho aqui (Nesse momento Billy Gancho segura um pequeno cascalho, do tamanho de meio grão de arroz). Mas sabe de uma coisa, se um diamante de 1 quilate valia R$200,00, uma pedra de 2 quilates, já valia R$600,00 e assim sucessivamente.” O QUE O SENHOR ME DIZ SOBRE OS COMPRADORES

DE DIAMANTES EM ALTO PARAGUAI? »»“Tinha muito e todos eles tinham moradia por aqui. Eu me lembro do Lozinho da Ponte, da Fazenda Velha, Firmo Arraes, Joãozinho, Toninho e outros que não me lembro mais o nome. Tem um outro que toca máquina lá em Juína.” QUAL SUA OPINIÃO SOBRE O DIAMANTE DE JUÍNA? »»“É ruim. É feio, todo quebrado, mas é bom porque dá bastante. O daqui, de Alto Paraguai é bom. É extra.” O SENHOR ALÉM DE MERGULHAR TAMBÉM SEMPRE GARIMPOU NA PENEIRA. COMO É A SENSAÇÃO DE ENCONTRAR UM DIAMANTE? »»“É bom demais. Chacoalho a peneira, ele tá bem ali. Daí eu “panhava” ele, embrulhava num pedaço de pano e punha no picuá. Sabe, isso é uma sensação meio maluca viu? Conforme sendo ele grande, já dá palpite de vir prá cidade. Encontrar com o patrão, se trabalhar de meia praça, ou sócio. O negócio é ir prá cidade e encontrar o comprador.” COMO É A RELAÇÃO ENTRE O PATRÃO, O DONO DO GARIMPO E O GARIMPEIRO? EXISTE MESMO FIDELIDADE? »»“É boa porque existe a sinceridade e honestidade, mas tem muito quinta coluna, o que quer só para ele. O malandro do garimpo. Não res-


O GARIMPEIRO NÃO COSTUMA GUARDAR DINHEIRO. POR QUE? É SEMPRE ASSIM? »»“Lá um por outro guarda. É, lá um por outro. A maioria gasta tudo o que ganha. É um prazer na vida do garimpeiro: beber, farrear e gastar com mulher. É o serviço. Eu mesmo, hoje moro de aluguel. Além de tudo isso, eu gostava do leque e ainda bebia. Eu sempre trouxe dinheiro. Mas também sempre gastei bem. Aqui tinha sempre jogo de baralho, tá vendo aquela casa amarela ali, onde tem aquela menininha brincando? (Billy Gancho aponta para uma casa onde desenvolvia-se a jogatina de forma desabalada) Bem ali era um tunguete, ali na frente tinha outro.”

O SENHOR AINDA GARIMPA DIAMANTE POR AQUI? »»“Aqui ainda dá muita pedra, mas o sistema tá difícil e não se consegue mais autorização para a extração. Se alguém quiser garimpar escondido pode, mas a hora que acha tem que vender e o garimpeiro não aguenta, tem que contar que achou a pedra. Esse que é o gostoso da coisa, ver a pedra, tocar nela e mostrar. Vender e gastar o dinheiro. Mas nem isso “tamu” podendo fazer. “ COMO ASSIM, NÃO EXISTE SEGREDO NESSE NEGÓCIO? »»“Não. É o seguinte, o cara pega uma pedra e logo ele vem vender. O próprio comprador já conta prá outro. Aí diz, fulano pegou um diamante, assim, assim. E depois, ele mesmo, vem prá qui, pro cabaré e... sabe como é né... (Nesse momento pergunto se ainda tem cabaré naquelas imediações, e ele

diz que não) Acabou tudo. Nessa casa aqui... (diz sobre uma casa não distante do ribeirão do Gatinho) sempre vem uma mulher que vende cerveja e aparece uma menina. Mas ela não tem mais quarto para alugar. Essa fase de cabaré acabou. Acabou, acabou, acabou prá todo lado. Em Nortelândia ainda tem um bar, do Odairto, que junta muita mulher. Lá é lugar delas fazer sala.”

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ta a menor dúvida que mais cedo ou mais tarde é descoberto. Por aqui já rendeu muita morte de garimpeiro que escondeu, rendeu só prá ele, prá ter lucro só prá ele. O patrão chegou, descobriu e mandou apagar o cara. “

O SENHOR FARIA DE NOVO, TUDO O QUE FEZ NA SUA VIDA GARIMPEIRA? »»“Não. Hoje eu penso diferente. Se eu pegar um trocado vou caçar jeito de arrumar um rancho prá mim morar. Eu moro sozinho, mas fui casado 19 anos. Minha mulher achou que eu não prestava, porque eu fui corrigir meu filho que estava usando “porcaria”. Em vez dela me ajudar, ela foi contra mim, foi a favor do guri. Aí andamos discutindo, e ela acabou me jogando prá fora.”

INTERIOR DECADENTE DO “MERCADINHO DO POVO”. NOS TEMPOS ÁUREOS DO DIAMANTE FÁCIL MOVIMENTAVA A VIDA NOTURNA DA CIDADE DE ALTO PARAGUAI

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PA R A Q UA N D O VOCÊ FOR

Museu da Cachaça

Museu na cidade de Salinas, norte de Minas Gerais, retrata todo ciclo de produção da aguardente, desde o cultivo de cana de açúcar, a produção artesanal da cachaça de alambique até sua comercialização

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DA REDAÇÃO

prédio do Museu da Cachaça, em Salinas, revela uma característica marcante da arquitetura vernacular dessa região: o uso de cores fortes nas residências singelas e na paisagem urbana. A monocromia azul-anil é eloquente quan-

do aplicada ao conjunto edificado, composto pelo agrupamento de volumes sólidos e predominantemente opacos, com notáveis variações de largura, comprimento e altura. Localmente apelidado de “trem”, pela linearidade descontínua dos quase 200 metros entre suas duas extremidades. A forFOTOS DIVULGAÇÃO


lumeMatoGrosso ma construída vista externamente se fundamenta no percurso museológico. Ao dedicar-se à cachaça, cuja produção artesanal local é reconhecida pela qualidade, o museu torna-se o espaço de proteção e apresentação de algo que a comunidade reconhece como parte especial de sua cultura específica. Uma narrativa da história da bebida e seu processo de produção estrutura o trajeto interno por oito salas, especialmente dimensionadas e ambientadas de acordo com as características de cada parte do relato expositivo. Nesse conjunto, destaca-se a Sala das Garrafas, onde se exibem as cachaças antigas e atuais de toda a região. Um ambiente alto, paredes e tetos es-

pelhados, prateleiras transparentes sobre as quais se expõem as botelhas - esses recursos criam uma ilusão de que se está diante de uma biblioteca composta por garrafas de aguardente. O percurso da exposição termina no bar de degustação, junto ao qual, na metade sul da edificação, estão os espaços educativos, administrativos e a loja, conectados por um grande corredor caracterizado pela longa parede curva de tijolos de cobogó. Certos aspectos construtivos indicam o cuidado ambiental, já que o clima excessivamente quente da região poderia atrapalhar a fruição dos ambientes internos. Para minimizar a irradiação do calor para o interior do edifício, ergueram-

-se paredes espessas de alvenaria cerâmica e lajes duplas que criam colchões de ar, por onde também passam as instalações técnicas do museu. Com uma implantação que ocupa parte considerável do longilíneo terreno, a interface entre o museu e a cidade - nos largos de acesso ao edifício, nas praças, nas calçadas e no paisagismo - é feita através de espaços totalmente públicos (sem o controle necessário ao interior da instituição cultural), abertos para o uso recreativo cotidiano. A entrada é gratuita e o horário de funcionamento do Museu é de quarta-feira a domingo, das 10 às 19h.

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ECONOMIA

A Arquitetura da Face

O seu rosto com o máximo de beleza e saúde

U

POR ROSÁRIO CASALENUOVO JR.

m incrível conceito está sendo utilizado nos tratamentos da saúde e estética do rosto. Unindo a medicina através das especialidades de otorrinolaringologia, oftalmologia, cirurgia plástica e estética, e a odontologia com os conceitos de ortodontia funcional e estética dental. Este conceito é chamado Arquitetura da Face. Um rosto bonito precisa ter harmonia na forma das estruturas (nariz, boca, lábios, dentes, olhos, contorno mandibular, maçã do rosto, sulcos e etc.). A Arquitetura da Face é um procedimento que busca este equilíbrio de forma biológica, sem grandes intervenções cirúrgicas, fazendo com que o rosto se molde de forma correta e natural.

TRATAMENTOS

SEM PREENCHIMENTO PÁLPEBRAS

RINOPLASTIA ELEVAÇÃO DA MARCAÇÃO DO ROSTO EFEITO BLUSH DEFINIÇÃO DE MANDÍBULA

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DEFINIÇÃO DOS VOLUMES DOS LÁBIOS

REDUÇÃO DE SUCOS DEFINIÇÃO DO QUEIXO


Arquitetura da Face é que o seu rosto pode ter sua definição desenhada naturalmente. Os estudos são profundos em todos os ossos do crânio, dentes e tecido mole, assim como as funções de mastigação e respiração, para se ter um diagnóstico estético-funcional. A partir daí, definimos o tratamento correto, onde muitas vezes, se resume a apenas um procedimento que promove todas as correções ao mesmo tempo. O rosto ganha beleza e saúde em um procedimento rápido e mais barato. A arquitetura da face não é contra nenhum procedimento estético, funcional ou de reabilitação realizados pela medicina e odontologia, mas ajuda a estabelecer padrões, critérios e normas para se escolher os tratamentos, deixando claro o que deve ser feito e o que desarmoniza o rosto.

MAIS HARMONIA ENTRE AS ESTRUTURAS DA FACE Sem a Arquitetura da Face, os procedimentos passam a ser apenas uma escultura e não um trabalho no organismo. Esculturas em um corpo sem vida, apenas anatômico. Nada contra os preenchimentos da face comoo lifting, fios de sustentação e cirurgiasplásticas, mas isto dentro do conceito da Arquitetura da Face, deve acontecer depois do rosto ganhar saúde dada pelo equilíbrio funcional. A grande novidade da

APONTA E CORRIGE AS DISFUNÇÕES MUSCULARES QUE DEIXAM A EXPRESSÃO FACIAL CARREGADA O Conceito define os profissionais que podem fazer o melhor em cada parte, assim, o rosto passa a ser tratado por uma equipe de profissionais levando em consideração a saúde de toda face, tratando das doenças funcionais para depois definir a estética. Este processo é de fácil compreensão pelo paciente, e, com isso, ocorre um grande vinculo de confiança

e participação nos procedimentos. Depois de realizado repara-se uma mudança na autoestima e no relacionamento social pois o sorriso fica harmônico com o rosto, a boca e os lábios, sempre com uma expressão de simpatia e leveza.

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Na odontologia, a Arquitetura da Face estuda o rosto e os lábios para proporcionar um apoio nos músculos da boca e deixar um contorno bem definido. Nos lábios em repouso, o volume da boca é dado pelos dentes e, portanto, não devem ser preenchidos com material. O preenchimento é bem-vindo quando os lábios são finos. A falta de volume dos lábios é causado pelos dentes (uso do aparelho ortodôntico pode derrubar os lábios). A definição dos contornos musculares da face é, por muitas vezes, buscada através detécnicas de preenchimento com materiais biocompatíveis, que simulam uma forma saudável de estética. Mas, este procedimento não deixa o rosto e suas formas com aparência saudável, ficando claro que se trata de um procedimento cirúrgico.

SUGESTÃO:

»»Sempre que estiver insa-

tisfeito com algo e queira fazer algum procedimento na face ou dentes, faça antes um projeto de Arquitetura da Face, ele irá orientar corretamente onde está o elemento que desarmoniza o rosto e como proceder corretamente sem grandes intervenções cirúrgicas.

“Dr. Rosário Casalenuovo Jr. é cirurgião dentista e diretor clínico do Instituto Machado. Ortopedista funcional, ortodontista e especialista em dor orofacial e disfunção de ATM. Formou mais de 2.000 alunos entre graduação, pósgraduação e mestrado. Idealizador do conceito Arquitetura da Face e Ortodontia Funcional.”

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Missão de Fé POR BRUNA OBADOWSKI/ALENTE FOTOS BRUNA OBADOWSKI E HENRIQUE SANTIAN

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E

ra manhã, quando a pequena Francisca notou a chegada da comadre de sua mãe, dona Constantina, em sua casa. Ela ouvia por entre a porta a comadre receber a autorização para levá-la ao “centro”, de modo a fazer-lhe companhia. Ao ser aprontada por sua mãe naquele início de tarde, a questionou “mãe, porque a senhora me deu pra comadre? ”. Para a retórica pergunta, a resposta foi o silêncio. Andaram por duas léguas, até chegar a uma casa simples, mas que recebia muita gente. Permaneceu sentada no quarto durante a tarde toda, quando, já perto de ir embora, a “bacura” foi chamada pelo caboclo para a “gira” e viu imediatamente aquele altar, cheio de luz e cores. “Eu não falava nada, mas sabia timtim por timtim o que estava acontecendo”. “Riscou”, sem saber riscar, girou sem saber girar e foi ali, ainda criança, que entendeu seu dom.

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Francisca Correa da Costa, conhecida carinhosamente como “Vó Chica”, ao longo de seus 103 anos, sempre se dispôs a cuidar das pessoas, senão com um passe, o partejar estava presente desde seus 10 anos de idade, recebendo em seus braços muitos bebês. Segundo ela, ter saúde para cuidar de si é o que a faz também cuidar dos outros com amor e carinho. Chica, dona de uma sensibilidade sem igual, narra com sua fala tranquila e consciente, histórias e simpatias a perder a noção do tempo calmo de Chapada dos Guimarães a passar.. Uma vez por semana, dona Francisca, antes do sol nascer, passa seu café e oferece junto com um cigarro e uma xícara de pinga, ao santo. Hoje, trata-se de um rito natural, ao qual já está habituada ao longo dos anos. Sua religiosidade, desde a revelação quando criança, é presentificada em imagens, flores, velas, água de cheiro, e, principalmente em forma de benzeção, que se faz presente numa casa de cores diversas e de fluxo constante. Sua casa é nitidamente a expressão de sua intimidade religiosa. As cores vibrantes nas paredes, a deixam com um tom alegre e receptivo. Não há qualquer ambiente que falte devoção. São quadros, fotografias, rezas e muitas imagens.

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Não é preciso ir além da área de sua casa para conhecer o altar, onde Francisca certamente passa boa parte de seu dia benzendo. “Antes, ele ficava no quarto” conta a neta referindo-se ao altar de quase 15 anos, cujo espaço dedicado hoje, fica logo na entrada de sua casa, numa reverência à livre passagem para atender a quem precisar de seus cuidados. Cantando e rezando, procura a imagem de Santo Antônio para nos mostrar o primeiro santo daquele espaço que seria aberto, a quem precisasse de uma oração. Antes de começar a benzer, ela logo trata de dar longas voltas em sua corda desatadora de nós. A corda é mais um dos vários presentes que compõe seu espaço, fruto de lembranças de pessoas que passaram por ali. Solícita, sempre que procurada, Vó Chica não determina qualquer tipo de contrapartida pela sua benção, tampouco pelas garrafadas e banho. Apesar disso, há uma organização impressionante construída de forma natural e espontânea na hora de receber os visitantes. Tirando dia de velório e quaresma, não há regras, tampouco objeções para ela benzer. Em relação às pessoas, é notório que o visitante seja sensível e nada ríspido e direto. Nunca é pelo dinheiro. Existem muitos visitantes que contribuem com mantimentos ou agrados, de forma a ajudá-la.

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ESPECIAL

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Café é um dos vícios que deixou há muito tempo, porém em sua cozinha nunca falta. Na garrafa térmica, ela deixa pronto forte e doce para oferecer a quem sentir desejo. No fogão, ela se faz presente sempre no almoço, cozinhando e proseando sentada com os pé no chão, com quem estiver a visitá-la. Passeia pela casa em passos calmos com movimentos suaves a arrastar seu chinelo no chão, pronunciando sua chegada a quem estiver à espera, às vezes mães com crianças, adolescentes, idosos, não há classe social, religião, tampouco idade, e é assim o dia todo. Não precisa de motivos para arrumar-se. Sua vaidade é graciosa, com anéis de Nossa Senhora e brincos na cor branca. Francisca, passa boa parte do tempo em casa, sai algumas vezes para ir à igreja. O cemitério, lugar que dedicava algum tempo para acender velas, já não frequenta mais, desde que perdeu alguns netos, filho e marido. A morte, é um evento tratado com singularidade por ela. Há de se respeitar este momento, pois segundo ela, não há intervenção que se possa fazer. Trata quando há cura, mas a morte não é doença e sim, uma passagem. Sua consciência espiritual é admirável. Com toda sua delicadeza, parece entender a fluidez do corpo, suas fraquezas e sua cura. O que Francisca busca, é muito maior do que imaginou, é o seu destino.

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VOCÊ CONHECE M ATO G R O S S O ?

BOM JARDIM, NO MUNICÍPIO DE NOBRES

PAREDÕES EM JARUDORE, NO MUNICÍPIO DE POXORÉO

SALTO MACIEL, NO RIO SEPOTUBA

CAHOEIRA DA FUMAÇA, MUNICÍPIO DE JACIARA

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CORREDEIRA DO RIO SACRE, CHAPADA DOS PARECIS


lumeMatoGrosso CACHOEIRA COUTO MAGALHÃES, NO RIO ARAGUAIA

Você Conhece Mato Grosso? Neste espaço mostramos imagens de Mato Grosso pouco conhecidas e divulgadas. Nesta edição contamos com o apoio do fotógrafo Mário Friedlander, que registra há décadas, belezas naturais e culturais mato-grossenses

(*) Mario Friedlander é fotógrafo profissional e dedica-se, desde 1985, a conhecer e documentar a natureza e seus elementos, as populações e seus costumes. Friedlander realiza produções e fornece fotos através de seu Banco de Imagens “Mario Friedlander Imagens”. Pode ser contatado através do email mariofriedlander@gmail.com

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PA R A Q UA N D O VOCE FOR

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Vale do Rio Claro TEXTO E FOTOS CECÍLIA KAWALL

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epois de tanto rodar pela América do Sul, volto meus olhos para Chapada dos Guimarães e, com muita vontade de me demorar um pouco mais em cada lugar por aqui. Desta feita destaco o Vale do Rio Claro, com suas águas cristalinas que brotam dos pés dos paredões de arenito. Água pura e filtradíssima, cheia de lambaris que vem mordiscar a gente. Isso ocorre por estarmos próximos das nascentes e, por conta disso, a água é transparente e apresenta temperatura, sempre permanente, mesmo em tempos de chuvas, na casa dos 26°. Por ser área de difícil acesso e localizada em área próxima ao Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, para a sua visitação é necessário o acompanhamento de guia especializado e cadastrado no sistema. É recomendado o uso de carro 4x4, mas também é possível fazer o per-

curso de 14 km, numa travessia a pé pelo cerrado, conhecendo de perto a rica fauna e flora local. Reserve um dia inteiro para esta visita, pois são três poços diferentes para banhos em águas incríveis. Aventura imperdível é a subida no morro Crista do Galo, de onde se tem uma das mais impressionantes vistas dos paredões de Chapada dos Guimarães. Nessa aventura é importante levar câmera fotográfica, pois os cenários são fantásticos! Quem puder e quiser levar binóculos, também serão muito úteis.

Cecília Kawall mora em Chapada dos Guimarães, é guia de ecoturismo e de aventura, empresária, fotógrafa e escreve para Lume MT.

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MÚSICA

Jazz/Rasqueado

Um princípio simétrico e um final desconcertante

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POR MILTON PEREIRA DE PINHO - GUAPO


lumeMatoGrosso ORIGINAL CREOLE JAZZ BAND

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MÚSICA

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té parece que a formação inicial dessas duas correntes musicai foi combinada na sequência do tempo histórico, isto é, quando terminou o conflito bélico da Guerra de Secessão americana (18601865) nos Estados Unidos na América do Norte, aqui na América do Sul começava a Guerra do Paraguai (1865-1870). Após o final desses dois conflitos, o Jazz começa a desenvolver na beira do Rio Mississipi, o Rasqueado a beira do Rio Cuiabá. O Jazz em seu começo foi uma mistura de Blues, WorkSongs, Hollers africanos e música branca. Foi um advento e também um novo alento de liberdade para os negros na volta a vida. O Rasqueado inicialmente teve a mistura de Siriri e Cururu e Polca Paraguaia e também foi

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um novo advento e alento da volta a vida depois do grande conflito. Os instrumentos que começaram a compor o Jazz foram o violino, o banjo e o violão. O Rasqueado também começa com esses mesmos instrumentos, salvo o Rasqueado de Fronteira que se desenvolveu no acordeão, assim como a gaita de boca que também desenvolveu o Jazz e o Blues de Louisiana. O Rasqueado ficou discriminado no inicio de sua trajetória, notadamente pela elite cuiabana, vendo-se confinado à sua execução somente em zonas de prostituição e em casas particulares. Em New Orleans, o Jazz, com a lei da segregação racial decretada, em 1894, teve o mesmo destino. A primeira banda de Jazz a ser reconhecida pela comunidade artística, em New

Orleans, foi a Original Creole Jazz, criada pelos músicos negros Joe “King” Oliver e Louis Armstrong, já no começo do século XX, porém, quem gravou e lançou o primeiro disco de Jazz foi uma banda de brancos, denominada Original Dixieland Jazz Band do músico Papa Jack. A primeira banda de Rasqueado reconhecida em Cuiabá foi a Banda Lira Operária criada pelos músicos negros Mestre Ignácio e Antônio dos Santos também no começo do século XX, e já arrastava multidões nas festas de santo e em comícios. Mas quem gravou e lançou o primeiro disco de Rasqueado foi o Conjunto Serenata, do violinista Tote Garcia, um grupo musical composto somente de brancos. As musicistas Mary Lou Williams e Lilian “Lili” Hardin, foram responsáveis pela entrada e desenvolvimento do


lumeMatoGrosso LPS CONJUNTO SERENATA 1 E 2

piano no Jazz, contemporaneamente é instrumento indispensável nesse ritmo musical. Assim como nos Estados Unidos, o mesmo ocorre em Cuiabá, com as musicistas Zulmira Canavarro e Dunga Rodrigues, que levaram o piano para o Rasqueado, desenvolvendo novos arranjos e, com isso, também contribuíram para a apreciação dessa modalidade musical pela elite cuiabana. Depois de tudo isso vem

a grande dissociação das duas correntes musicais e o fim dessa simétrica histórica. Enquanto o Rasqueado praticamente não teve um acervo discográfico histórico como o Jazz, devido a falta de consciência cultural da política local (e que hoje continua do mesmo jeito), ficou confinado somente nas partituras guardadas e hoje já deterioradas em casernas militares. Os descendentes dos grandes mestres

compositores, que definiram a música no século passado, seguem tocando com suas bandas o Rasqueado e, agora, também o Lambadão nas cidades pantaneiras e Baixada Cuiabana. Nos Estados Unidos a consciência cultural e o pragmatismo americano reconhecem logo no começo o valor riquíssimo do Jazz, como uma verdadeira música da América. Observaram que aquele ritmo trazia um novo veio musical, que poderia influenciar significativa parte do mundo que via a decadência da música europeia. Visionários, os americanos tiram o Jazz de Louisiana e de New Orleans e os promovem para o mundo, criando fantástico acervo de gravações, o maior que existe. Dessa forma o Jazz, na década de 1950, vem influenciar o Samba-Canção brasileiro para dar origem a Bossa Nova e, que hoje, é uma das correntes musicais, tal como o Jazz, mais executadas no mundo.

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CINEMA

O Pioneirismo de

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DIRETORA Como a maior parte dos diretores de estúdio, Alice também começou sua carreira em outra área da industria cinematográfica. Primeiramente secretária até vir a ser chefe de estúdio. Blache é creditada como a primeira diretora mulher e também uma das estudiosas de linguagens e técnicas de cinema.

Entre 1896 e 1920 dirigiu mais de quatrocentos filmes, produzindo outros mais, que incluíam efeitos sonoros sincronizados e uma infinidade de outros recursos. Também foi a primeira, até agora única, mulher a dirigir o próprio estúdio, o Estúdio Solax (Fort Lee, Nova Jersey) entre 1910 a 1914. Blache começou como secretária de Leon Gaumont, que trabalhava para um fabricante de máquinas fotográficas. Quando a empresa para qual trabalhavam ameaçou falir, Gaumont comprou junto com outros o inventário e formou em 1895 a Gaumont Film Company uma das mais importantes empresas de cinema do mundo. Como responsável pela produção, Alice mostrou um trabalho inovador na utilização de cor, som e efeitos especiais que veio a criar o considerado o primeiro filme narrativo da história do cinema: “La Fée Aux Choux” (1896). Depois veio “La Vie Du Christ”, seu primeiro longa metragem e um dos maiores blockbuster do cinema mudo e “La Fée Printemps”. Nos Estados Unidos, dirigindo e escrevendo, Alice assinou grande parte das produções do Estúdio Solax. Em 1922, lança “Tarnished Reputations”, seu último filme. Em seguida separa-se de seu marido. Herbert vai para Hollywood com uma de suas atrizes. Com o declínio da Costa Leste como lar do cinema em favor do clima mais propicio de Hollywood, a parceria cinematográfica também acaba. De volta a França em 1922, embora nunca mais dirigindo nenhum trabalho, concede palestras sobre cinema e escreve romances baseados em roteiros. Em 1953 o governo francês lhe gratificou com a maior honra para um civil: a Legião da Honra. Nunca mais se casou e, em 1964, retornou aos EUA para ficar com uma de suas filhas, morrendo apenas quatro anos depois, aos 94 anos de idade, em um lar de idosos.

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ssim como em vários setores da sociedade, a mulher como diretora dentro do cinema, também sofre descrédito e preconceito. No entanto, a profissão vem crescendo nos últimos anos, e temos várias talentosas diretoras, a exemplo de Sofia Coppola e Jane Champion a nos brindar com excelentes produções. Mas a pioneira, a que enfrentou as leis vigentes da época e abriu espaços para que a profissão crescesse ao longo dos anos foi Alice Guy Blache. Nascida na França em 1 de julho de 1873, Alice foi criada pelos avós até os quatro anos de idade. Em 1877, a mãe de Alice a tira de seus avós e a leva ao Chile, onde a menina conhece o pai. De volta à França, em 1877, a livraria de seu pai entra em falência e algum tempo depois este falece. Treinada como datilógrafa, Alice começa sua carreira como secretária na Gaumont Film Company. Em 1907, se casa com Herbert Blache, dai vem o sobrenome, que ao ser nomeado gerente de produção da Gaumont nos Estados Unidos imigra com a família para esse país. Em 1910, Alice e o marido, em parceria com George A. Magie, lançam o Estúdio Solax, o maior estúdio pré-Hollywood da América. Enquanto Herbert trabalha como gerente de produção e cineasta, Alice é a diretora artística. O estúdio foi tão bem sucedido que, dentro de dois anos, foram capazes de investir cerca de cem mil dólares em novas instalações de produção tecnológicas avançadas em Fort Lee, Nova Jersey.

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R E T R ATO E M PRETO E BRANCO

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FOTO: DIVULGAÇÃO


amoso arqueólogo e explorador britânico nascido em Torquay, em 1867, que desapareceu ao organizar uma expedição para procurar por uma civilização perdida, em 1925, em Mato Grosso, na Serra do Roncador. Em 1886 entrou para a Royal Artillery e acabou escalado para trabalhar no Ceilão, onde conheceu sua esposa. Depois trabalhou como agente secreto britânico na África Meridional e aprendeu técnicas de sobrevivência na selva. Fawcett era também um agente do serviço secreto inglês, o MI6 e estava como agente duplo servindo a organização secreta The Seven Circle, recrutado pelo controvertido Spymaster, o mágico MaskMelin, desde que esteve no Ceilão e tomou contato com os sábios que decodificaram a estatueta que lhe fora presenteada pelo escritor H. Rider Haggard. Era também amigo do escritor Arthur Conan Doyle, que mais tarde utilizaram suas histórias como base para escreverem a obra “Lost World”. Suas histórias também serviram de inspiração supostamente para a criação de aventuras envolvendo o personagem Indiana Jones. A primeira expedição de Fawcett na América do Sul ocorreu em 1906 quando ele viajou ao Brasil para mapear a amazônia em um trabalho organizado pela Royal Geographical Society. Ele atravessou a selva, chegando em La Paz, na Bolívia em junho desse mesmo ano. Ele tinha a habilidade de conquistar os povos que habitavam os locais explorados dando-lhes presentes. Ele retornou a Inglaterra para servir ao exército britânico durante a Primei-

ra Guerra Mundial, mas logo após o fim da guerra retornou ao Brasil para estudar a fauna e arqueologia local. Depois de passar para a reserva militar, em 1910, empreendeu viagens de descobertas. Em 1925, convidou seu filho mais velho, Jack Fawcett, para acompanhá-lo em uma missão em busca de uma cidade perdida, a qual ele tinha chamado de “Z”. Após tomar conhecimentos de lendas antigas e estudar registros históricos, Fawcett estava convencido que essa cidade realmente existia e se situava em algum lugar de Mato Grosso, mais precisamente na Serra do Roncador. Há quem diga que pretendia encontrar um elo de ligação com os povos incas. Curiosamente antes de partir ele deixou uma nota dizendo que, caso não retornasse, nenhuma expedição deveria ser organizada para resgatá-lo. O seu último registro se deu em 29 de maio de 1925, quando Fawcett telegrafou uma mensagem a sua esposa dizendo que estava prestes a entrar em um território inexplorado acompanhado somente de seu filho e um amigo de Jack, chamado Raleigh Rimmell. Eles então partiram para atravessar a região do Alto Xingu, e nunca mais voltaram. Muitos presumiram que eles foram mortos pelos índios selvagens locais. Porém não se sabe o que aconteceu. Os índios Kalapalos foram os últimos a relatar terem visto o trio. Não se sabe se foram realmente assassinados, se sucumbiram a alguma doença ou se foram atacados por algum animal selvagem.

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Percy Harrison Fawcett F

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SEGURANÇA ANTROPOLOGIA

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O Lugar de Onde Falamos e a Música Indígena “Melodias são como orações de uma língua” Andrew Finn Magil, músico POR PAULO ROBERTO BAHIENSE E PRISCILA SAMPAIO

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Ecology Brasil constitui uma empresa especializada na elaboração de estudos técnicos relacionados ao licenciamento ambiental, com destaque para os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e Projetos Básicos Ambientais (PBA). Nessa empresa, estamos vinculados à equipe técnica do Setor da Socioeconomia, com atuação junto aos chamados povos tradicionais - indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco, comunidades das reservas extrativistas, comunidades ribeirinhas, etc. Destacam-se entre as nossas atividades a realização de Estudos de Componente Indígena, assim como a formulação e/ou execução de

Programas de atendimento às medidas mitigadoras e compensatórias relacionadas aos impactos socioambientais e culturais. O presente texto tem como foco principal o breve registro de uma experiência vinculada à realização do Programa de Valorização Cultural que integrou o Programa Básico Ambiental do Estudo de Componente Indígena das Linhas de Transmissão em 600 kV CC – Subestação Coletora Porto Velho / Subestação Araraquara 2 – Lotes D e F (IE Madeira) e C e G (Norte Brasil e Estação Transmissora). O público alvo do referido Programa abrangeu povos indígenas que se encontram localizados em sua grande

maioria no estado de Mato Grosso e, em menor proporção, no estado de Rondônia: Aikanã, Kwazá, Latundê, Sabanê, Mamaindê, Negarotê, Alantesu, Waikisu, Wasusu, Katitãulhu, Umutina e Bororo. Face à complexidade cultural da base territorial do mencionado Programa, construímos uma parceria com o Centro Cultural Ikuiapá/Museu do Índio/Funai, na época sob a coordenação da historiadora Anna Maria Moreira da Costa, e com a Coordenação Regional da Funai/Cuiabá, representada pelo geógrafo José Eduardo Fernandes Moreira da Costa. A partir das conversações interinstitucionais, foi realizado o Seminário de Articulação

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ABRIL DE NOSSA HISTÓRIA DIA 04

»»1900. O Capitão-de-Mar-e-

-Guerra e presidente do Estado, Antônio Pedro Alves de Barros, é afastado do governo de MT. Na mesma data é empossado Presidente o industrial João Paes de Barros. DIA 05 »»1873. Nasce em Nazaré/ PE, Eufrásio da Cunha Cavalcanti, advogado, articulista e empreendedor. Foi o primeiro fabricante de botões do Brasil. Em MT, foi sócio efetivo do IHGMT. Fundou e dirigiu o extinto Museu Dom José (em Cuiabá), incorporado ao Museu Paulista. DIA 06

»»1987.

É assassinado por pistoleiros, na região noroeste de MT, o jesuíta espanhol Vicente Costa Cañas. Seu crime foi a defesa à causa indígena.

»»1947. O agrônomo Arnaldo Estevão de Figueiredo toma posse como governador de MT. »»1956. Nasce em Marialva/ PR, Eleonor Cristina Ferreira, pedagoga, gestora cultural e coordenadora da Literamérica, que ocorreu em Cuiabá/MT, em 2005 e 2006. DIA 09 »»1994. Morre em Belo Horizonte/MG, o padre João Evangelista Dornstauder. Atuou em MT a partir de 1946, na Pastoral Indígena. DIA 11 »»1987. Morre em Cuiabá o advogado, jornalista e escritor João Moreira de Barros, da AML.

presidente da Província de MT (1883/1884). Morreu fuzilado no episódio “A Chacina de Anhatomirim”, em 1894. DIA 16

»»1846.

Nasce o cuiabano Antônio Cesário de Figueiredo, militar, pecuarista e político. Participou da defesa heróica das Colinas de Melgaço, em tempos de Guerra do Paraguai. DIA 17 »»1917. Nasce em Cuiabá Roberto de Oliveira Campos. Intelectual, diplomata, economista, político e escritor, da AML e ABL.

DIA 12 »»1989. Criado o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães.

DIA 19 »»1920. Nasce em Couto de Magalhães/TO, João Antônio Neto, professor, desembargador, escritor e poeta, membro efetivo da AML e do IHGMT.

DIA 13

DIA 21

»»1868. Deixa o governo de »»1905.

MT, no período da Guerra do Paraguai, o militar e homem de letras José Vieira Couto de Magalhães.

DIA 08

»»1719. É fundada por Pas-

choal Moreira Cabral a cidade Cuiabá, às margens dos rios Cuiabá e Coxipó. »»1919. Instalação do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.

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DIA 14 »»1944. É criado, pela Expedição Roncador-Xingu, sob ordens do coronel Matos Vanique, na margem do Rio das Mortes, em MT, o Centro de Atividades Ministro João Alberto - Xavantina. DIA 15 »»1828. Nasce em Desterro/ SC, o brigadeiro Manoel de Almeida Gama Lobo D´Eça,

Nasce em Cuiabá o médico e político Sílvio Curvo. DIA 22 »»1888. Nasce em Cuiabá, o médico e político Caio Corrêa, que dentre inúmeras atividades foi médico particular de Dom Aquino Corrêa. DIA 26

»»1914.

Final de viagem para Theodor Roosevelt, ex-presidente dos USA, atra-


DIA 27 »»1756. Nasce o naturalista e cientista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira, autor de Viagem Filosófica, que relata MT em fins do séc. XVIII. DIA 28 »»1827. A Expedição Langsdorff divide-se em dois corpos, em MT. A primeira, com Adrien Taunay e Riedel vai para o Vale do Guaporé. A segunda, com Langsdorff e os demais, para Diamantino.

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vés da épica Expedição Roosevelt-Rondon, na confluência de dois galhos do Rio Aripuanã. »»1924. Nasce em Campanário/MS, Tertuliano Amarilha, membro da AML, contabilista, jornalista, escritor, dicionarista, contista, poeta e compositor.

O PERSONAGEM QUARENTA E NOVE ANOS SEM OS SONHOS DO LÍDER NEGRO MARTIN LUTHER KING

»»04-04-1968. “Eu tenho um sonho.

O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, e não pela cor da pele.” Este é um trecho do famoso discurso de Martin Luther King, em Washington, proferido em 28/09/1963, numa manifestação que reuniu milhares de pessoas pelo fim do preconceito e da discriminação racial. Luther King era filho e neto de pastores protestantes batistas. Em 1964, Luther King recebeu o Nobel da Paz. No início de 1967, King uniu-se aos movimentos contra a Guerra do Vietnã. Em abril de 1968, foi assassinado a tiros por um opositor, num hotel na cidade de Memphis, onde estava em apoio a uma greve de coletores de lixo.

O ACONTECIMENTO DUZENTOS E NOVENTA E OITO ANOS DA FUNDAÇÃO DE CUIABÁ CUIABÁ

»»08-04-1719. Fundada pelo sorocabano Paschoal Mo-

DIA 29

»»1905. Morre o general An-

tônio José da Costa, herói da Guerra do Paraguai. DIA 30 »»1916. Nasce em Corumbá/MS, José Manoel Fontanilhas Fragelli, advogado, literato, historiador e governador de MT (1970-1974).

reira Cabral. Município criado e instalado em 6 de julho de 1726, pelo capitão-general da capitania de São Paulo, Rodrigo Cesar de Menezes. É a capital de MT. O primeiro homem de origem européia a pisar terras cuiabanas, a quem a história registrou, foi o bandeirante paulista Manoel de Campos Bicudo, no período de 1673 a 1680. Chegou à confluência do Rio Cuiabá com o Coxipó, batizando-o de São Gonçalo. Em 1718, seu filho, Antônio Pires de Campos, acampou no mesmo local, que rebatizou como São Gonçalo Velho. Em 2017, às vésperas dos 300 anos, Cuiabá anseia por projetos sociais e políticos sérios, consistentes e perenes.

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MEMÓRIA

Nise da Silveira

Esquerda Feminina Na Era Vargas

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POR ANNA MARIA RIBEIRO F. M. COSTA

médica Nise da Silveira, nascida em 1905, no Alagoas, era apaixonada por Carl Gustav Jung. Nada mais sei sobre o psiquiatra e psicoterapeuta suíço a não ser que utilizou mandalas e suas simbologias para entender o inconsciente do

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indivíduo e que fora discípulo de Freud por algum tempo para, depois, seguir seu próprio caminho. Enquanto cursava graduação em História no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, minhas leituras não se basta-

vam com a bibliografia das disciplinas de Brasil, América, Europa e África. Em fins da década de 1970, ler Marx, por exemplo, era seguro somente fora do campus universitário, em grupos de estudos realizados em casas de pais de colegas avessos à ditadura militar.


NISE DA SILVEIRA

sei a estudar Antropologia Indígena para tentar entender o comportamento de um povo tão ímpar quanto o Nambiquara; Alda, de Reich prosseguiu sua carreira médica ao lado de Samuel Hahnemann. E, depois, os dois seguiram lado a lado, por longos anos,até se juntarem a Jung. Não sei como ficou Hahnemann nesse triângulo. Como Nise, ela se tornou uma apaixonada por Jung... Se no período da ditadura militar ter em nossas estantes livros de Marx poderiam nos deixar em maus lençóis, quando mais de 200 livros foram censurados pelas mãos do AI-5 (1968-1978), a época da ditadura Vargas não foi diferente. Na estante de Nise, entre os livros de medicina psiquiátrica, lá estava Marx... A polícia política de Getúlio Vargas foi levada a conhecer suas leituras, após denúncia de uma enfermeira feita à administração do hospital que caracte-

rizou os livros escritos pelo alemão como “subversivos”. Sobre esse fato, escreveu Nise anos mais tarde: “Uma enfermeira, que fazia a limpeza de meu quarto, viu sobre minha mesa uns livros socialistas e me denunciou à administração. E assim aprendi outra lição, que desmentia o que afirmavam os livros de psiquiatria sobre os doentes mentais. Esses livros diziam que os esquizofrênicos eram indiferentes, sem afeto. Mas a doente que me levava o café toda manhã em meu quarto, quando soube de minha prisão, não ficou indiferente. Eu não entendia nada do que ela falava, mas ela estava entendendo o que se passava. Pegou de murros a enfermeira que me havia denunciado. Fui levada para a Casa de Detenção, na rua Frei Caneca.” Nos anos de 1930, Nise da Silveira, militante do Partido Comunista Brasileiro, juntamente com Patrícia Rehder Galvão, mais conhecida por Pagu, assinou o “Manifesto dos Trabalhadores Intelectuais ao Povo Brasileiro”. Aqueles que assinaram o documento, se colocaram ao lado da luta dos trabalhadores, em geral, e contra a opressão e a miséria. Esse documento serviu de prova para comprovar seu envolvimento com o “credo vermelho”. O manifesto, dentre outras declarações, também anunciou a União Soviética apta a extinguir o desemprego, aumentar o nível de vida dos trabalha-

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Jung estava fora do interesse dos graduandos de História. Mas, naquela época, na universidade, ler Wilhelm Reich tornou-se quase que tão obrigatório quanto Jacob Gorender, Celso Furtado, Nelson Werneck Sodré, Paul Singer, Ciro Flamarion Cardoso, Maria Yeda Linhares, Emília Viotti da Costa, Otávio Ianni, Manuel Maurício de Albuquerque, dentre outros. Mesmo assim, diante ao conjunto da obra de Reich,não fui além de A revolução sexual, A função do orgasmo e Escute, Zé ninguém! Não tenho mais esses livros. Acho que dois deles – antes de viajar para o Planalto Central e passar a viver entre o povo Nambiquara do Cerrado no início da década de 1980 – deixei para Alda Lúcia Santos Madalena, à época, estudante de Medicina. O tempo foi andando, a desenhar formas jamais imaginadas: eu deixei de lado Reich e pas-

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MEMÓRIA

dores e a subtrair a oposição entre cidade e campo. Aqui, a designação de marxista, trotskista ou stalinista, não vem ao caso. Com seus quase 40 anos, acusada de “comunista perigosa” e de possuir “farta documentação vermelha apreendida dentro do próprio hospital onde clinicava”, Nise foi presa pelo Estado Novo (1937-1945) que perseguiu militantes da esquerda sem dó nem piedade. Por violação “à ordem política e social”, em outro tablóide, com letras garrafais, foi anunciado na primeira página do Correio de São Paulo, em 14 de maio de 1936: “Presa no Rio uma médica comunista! A Dra. Nise Magalhães da Silveira acusada de manter correspondência com Moscou – o que a polícia apurou a seu respeito”. Os livros com teor “subversivo” foram para a polícia uma prova concreta de suas atividades políticas. O Estado Novo, anunciado em cadeia de estações rádio-difusoras, instituiu um período de despotismo que perduraria até 1945. A Aliança Nacional Libertadora uniu-se à União Feminina, fundada em 1934, com a participação de socialistas, comunistas e de pessoas anti-imperialistas. Com a cassação da entidade e do esmagamento da levante aliancista, as principais dirigentes foram presas. Dentre elas, na cela 4, esteve Nise da Silveira que encontrou Olga Benário, entregue à Gestapo de Hitler pelo gover-

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no brasileiro, Beatriz Bandeira, da Aliança Libertadora Nacional, e com as jornalistas Maria Werneck de Castro, Eneida de Morais e Eugênia Álvaro Moreyra. Ao fim de seu governo, Getúlio Vargas, com vistas a permanecer no poder, concedeu anistia aos presos políticos e permitiu a reorganização de partidos políticos e a legalização do Partido Comunista Brasileiro. Esse é um fragmento do contexto da história de Nise da Silveira quando bateu à porta do Hospital Pedro II, anteriormente chamado Centro Psiquiátrico Nacional, no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, após o enclausuramento no presídio do Frei Caneca e de um longo tempo na clandestinidade junto ao seu marido, o médico sanitarista Mário Magalhães da Silveira, seu colega de turma NISE DA SILVEIRA E CARL JUNG

na faculdade. Nesse último tempo, em circunstâncias sigilosas, entre seus interesses acadêmicos, estudou a filosofia de Spinoza, quando, anos mais tarde, vai brincar com o tempo e escrever “Cartas a Spinoza” (1995). Tempos depois, a pequenina Nise escreverá cartas a Jung, que atribuirão um caráter de legitimação científica ao seu trabalho, quando se dará o início dos estudos da psicologia analítica no Brasil. Nise foi biografada no cinema em “Nise: o coração da loucura” (2016), também exibido na França durante o 18º Festival de Cinema Brasileiro de Paris, no documentário “Olhar de Nise” (2015), na filatelia em “Nise da Silveira” (2005), no teatro “N.I.S.E” (2000), na telenovela “Kananga do Japão” (1989-1990) e, em tantas vezes mais, inclusos livros e


ARTE DE ALMIR MAVIGNER

artigos. Sua história no universo da Medicina começou na Bahia, na Universidade Federal da Bahia. Quando se graduou, apresentou o estudo “Ensaio sobre a criminalidade da mulher no Brasil”. Ela era a única mulher entre os 157 alunos. Pode-se dizer que o percurso biográfico de Nise da Silveira é constituído por um mosaico de vivências e emoções que, unidos com fios dourados, desenhou uma brilhante atuação médica, fruto da perpetuação de seus ideais em tempos presentes. Talvez esse desenho seja construído em forma de uma grande mandala, palavra da língua sânscrita falada na Índia antiga, que significa círculo, “o que contém a essência” ou “o círculo da essência”. Para Jung, mandalas, no âmbito da religião

e da Psicologia, indicam uma representação simbólica da psique, cuja essência é para nós ignorada. E, por esse caminho, seguiu a médica alagoana, quando passou a se interessar pelas “imagens da psicose” de seus loucos clientes. Ao entrar no Hospital Pedro II, Nise colaborou com o psiquiatra Fábio Sodré na introdução da Terapia Ocupacional naquela instituição. Em 1946, o então do diretor desse hospital, Paulo Elejalle, entusiasta dessa forma de reabilitação psiquiátrica, pediu a ela para criar a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação do Centro Psiquiátrico Pedro II. Anos mais tarde, essa seção foi regulamentada e oficializada por decreto presidencial. Nise da Silveira esteve em sua dire-

ção desde a sua fundação até se aposentar, em 1974. Dentre as ações criadas e desenvolvidas por Nise na Seção Terapêutica Ocupacional e Reabilitação destacou-se o atelier de pintura que deu visibilidade nacional e internacional à instituição. Nise e Almir Mavignier, estagiário do hospital, impingiram outro movimento à instituição quando os clientes passaram a produzir materiais sobre as “imagens da psicose”. Os lápis de cor, tintas, papéis e barro passaram a ser, nas palavras de Nise, “a expressão de vivências não verbalizáveis que no psicótico estão fora do alcance das elaborações da razão e da palavra”. E as “imagens da psicose” transpuseram as paredes do atelier de pintura para ganhar maior visibilidade em

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NISE DA SILVEIRA

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cartas aproximou Nise de Jung. Não era uma abstração de Nise, como fora seu encontro com o filósofo holandês Spinoza. O assunto central foram as formas e cores das mandalas desenhadas pelos psicóticos acompanhados pela médica. Se por um lado as cores da loucura do Museu de Imagens do Inconsciente impressionaram Jung, por outro, a arte dos clientes de Nise encontraram explicações em Jung. Essa aproximação desencadeou na criação do Grupo de Estudos C. G Jung, em 1955, que objetivou a difusão do pensamento junguiano, presidido por Nise até a sua morte. Nise e Jung se encontraram em Zurique, em 1957, no II Congresso Internacional de Psiquiatria. Na ocasião, ao lado de Nise, Jung inaugurou a exposição “Esquizofrenia em Imagens”, material oriundo do Museu de Imagens do Inconsciente, momento em que seu trabalho foi reconhecido em âmbito mundial. A produção artística do Museu de Imagens do Inconsciente demonstrou como os doentes psicóticos preservavam suas afetividades, ainda que cuidadosamente guardadas em seu íntimo, em área protegida, como sempre acreditou Nise da Silveira, a “senhora das imagens”. Para os dias de hoje, nada parece mais atual do que o pensamento da médica alagoana, apaixonada por gato

se que sempre acreditou que “é necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade”. Em 2015, Nise da Silveira, que não se deixou abater pelas agruras da ditadura Vargas, que revolucionou o tratamento da loucura, que trouxe a psicologia junguiana para o manicômio brasileiro foi incluída na lista das grandes mulheres que marcaram a história do Rio de Janeiro. Mas, o alerta é dela: “Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata”. Depois de tantos anos, começo muito timidamente a me enveredar pelos caminhos de Jung, paixão de Nise e Alda. Não sei o que dirão de mim Benjamin, Dosse, Burke, Certeau, Le Goff e tantos outros historiadores...

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outros espaços. Em 1947, o Ministério da Educação e Cultura organizou uma exposição com a produção dos clientes de Nise da Silveira; em 1949, foi a vez do Museu de Arte Moderna de São Paulo, exposição que teve o título “Nove Artistas de Engenho de Dentro”, com obras selecionadas pelo historiador da Arte e especialista em Artes Plásticas Leon Degand. No mesmo ano, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro organizou em seu espaço mais uma exposição. O jovem Almir Mavignier – que mais tarde se tornaria um dos primeiros pintores abstratos do Brasil e professor de pintura da Escola Superior de Artes Plásticas de Hamburgo – organizou em Paris, em 1950, a “Exposição de Arte Psicopatológica” no I Congresso Internacional de Psiquiatria. Com uma quantidade de pinturas cuidadosamente assinadas, datadas e armazenadas, Nise criou, em 1952, o Museu de Imagens do Inconsciente, que ganhou visibilidade internacional e, graças à fundação da Sociedade dos Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente, foi possível preservar e pesquisar 350 mil obras. A sociedade, local de estudos e visitação, ainda possibilitou exposições na Fundação Cultural do Distrito Federal, Brasília, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, na Fundação Palácio das Artes, em Belo Horizonte e na Universidade do Paraná. Em 1954, uma troca de

(*) Anna Maria Ribeiro F. M. Costa é Doutora em História, Vice-Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e Professora do Univag Centro Universitário.

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R E T R ATO E M PRETO E BRANCO

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J

ane Vanini nasceu em Cáceres, em 8 de setembro de 1945 e teve uma vida dedicada à causa que sempre acreditou, a de um Brasil diferente daquele que conheceu e conviveu, conturbado na política, educação e com futuro incerto. Jane era uma mulher que confiava que o mundo poderia ser bem melhor do que era e, por conta desse ideal, nunca economizou esforços para fazer a sua parte nesse propósito de vida. Vanini viveu em Cáceres até 1967, quando se mudou para São Paulo e começou a estudar Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP), onde iniciou sua militância, no movimento estudantil. Nesse período, conheceu o jornalista Sérgio Capozzi, também militante e que viria a ser seu companheiro. Em 1968, ingressou na Ação Libertadora Nacional (ALN). Junto com Capozzi, entraram para a clandestinidade, em 1970, e viajaram para Cuba. Para sair do Brasil, o casal embarcou em um navio italiano, no porto de Santos, se valendo de nomes falsos: Eram Mário e Adélia. A embarcação os le-

vou ao Uruguai, Buenos Aires, Roma, Praga e, finalmente Cuba. No país caribenho, participaram da fundação do Movimento de Libertação Popular (Molipo). Voltaram ao Brasil em 1971, quando aderiram à guerrilha na cidade de Araguaína (GO). Com a prisão de um dos líderes da Molipo, Ruy Carlos Berbet, iniciou-se a perseguição aos militantes da organização. Jane e Capozzi se exilaram no Chile, país que, naquele momento, vivia o governo da Unidade Popular, com Salvador Allende. No país sul-americano, Jane entrou para o Movimento da Esquerda Revolucionária (MIR, pela sigla em espanhol). Sua união com Copozzi durou até 1973. Com o fim do casamento, Jane seguiu na luta e se transformou em “Ana”, casando-se com o jornalista José Tapia Carrasco, o “Pepe”. Após o golpe militar de Augusto Pinochet, em 1973, Jane voltou à clandestinidade, já com o novo companheiro. O casal decidiu então sair de Santiago e se refugiar em Concepción. Na noite de 6 de dezembro de 1974, Jane foi assassinada pelas forças repressoras em sua casa.

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Jane Vanini

Segundo o livro “Luta: substantivo feminino”, Jane resistiu por quatro horas. Os policiais da Direção de Inteligência Nacional (Dina) chegaram a pensar que havia vários militantes dentro da casa. Ali, deixou um bilhete a Pepe: “Perdão, meu amor, foi a última tentativa de te salvar”. Sua família soube de seu desfecho após ser contatada por Pepe, que estava preso. Posteriormente, ele foi libertado e assassinado em 1986 pela ditadura. O Estado chileno reconheceu que Jane havia sido vítima de violações de direitos humanos no Chile apenas em 1993. Em 2005, as autoridades chilenas localizaram os restos mortais de Jane num cemitério clandestino. Em sua homenagem teve seu nome dado a uma rua na cidade do Rio de Janeiro, no bairro de Bangu. O Chile a reverência com o seu nome dado a uma praça, na cidade de Concepción, não muito distante da casa em que morava e foi assassinada. Também teve seu nome dado ao campus da Unemat - Universidade Estadual de Mato Grosso, na cidade Cáceres, sua terra natal.

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SEGREDOS DA F LO R E S TA

Povos Indígenas Os isolados e os ressurgidos POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA

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entro das reservas, áreas ou terras indígenas, demarcadas ou não, mas que estão sendo ocupadas pelas mais diferentes etnias, dos mais variados troncos linguísticos, temos um fenômeno que é denominado de índio isolado e o ressurgido.


FOTO: DIVULGAÇÃO

São frações de povos indígenas que ainda hoje resistem ao avanço predatório e desordenado do grande capital sobre as últimas áreas virgens da Amazônia mato-grossense, e que se separaram em função de cisões internas ou dispersões inesperadas causadas pelas constantes fugas e guerras. Habitantes de territórios ambicionados pelo grande capital, ou vítimas de invasões contínuas das grandes levas de incautos sem-terra, empurrados pelo

grande latifúndio para as regiões mais inóspitas, estes grupos indígenas sobrevivem hoje em situações críticas, a cada dia agravadas pelo recrudescimento contínuo das tensões e conflitos fundiários que se alastram pelas últimas áreas verdes do Estado. Refere-se à raça, cultura, língua, mentalidade e visão de mundo. Se falarmos de cultura, por exemplo, e aplicamos o parâmetro da origem pré-colombiana, quer dizer que permane-

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ceu ou que teve origem antes da chegada dos invasores? Esse critério não se sustenta nem após pouco tempo de contato. Acontece que as culturas (crenças, costumes, organização do trabalho) já não são as mesmas que eram desde a chegada dos europeus. Muitas comunidades indígenas adotaram a religião, as roupas, as ferramentas, a língua do branco. O mesmo vale para o aspecto biológico. Temos hoje índios de cor negra, índios com sangue de outras etnias. As raízes ficaram e o tronco está brotando de novo. Como vai ser essa árvore? Pode ser que para sobreviver precise de enxerto. Não vai ser a árvore de seus antepassados e nem a árvore da sociedade externa. É sim um nascimento, é sim um emergir do que estava escondido, é sim o brotar novo da semente que ficou escondida, desconhecida por anos ou por séculos. É uma planta que procura espaço, que procura chuva e sol, para dar seus frutos para si e para a humanidade. Os povos ressurgidos são espelhos dos povos indígenas do futuro, povos que a partir do passado e da realidade que enfrentam reconstroem e reafirmam seu projeto de vida negando-se a serem reduzidos e assimilados a uma sociedade que os negou. Nesse sentido não vão construir o seu sonho sozinhos, porque no mundo que eles sonham há espaço para todos os povos.

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As Desculpas POR JOSÉ C. CARRARA*

-Sabe Placídio, nesta vida o bom e o certo mesmo é amar, perdoar, esquecer, pedir desculpas e tocar pra frente. Pedir desculpas, faz parte das regras da boa convivência, do bom viver. - Até agora, não sei onde você quer chegar Percílio? Você cometeu algum desatino, cometeu algum erro, mentiu pra alguém? Que história de desculpas é essa? Placídio, você conhece o Beethoven Ilus-

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tre Balaustre? Ele todas as noites fica arranhando um violão, um cavaquinho lá no Bar do Furúnculo. Anda dizendo que é melhor pedir desculpas do que correr atrás de borboletas... e que sozinhos somos estrelas que brilham, cintilam. Diz também que Pradinho, é o azeitador do eixo entre a terra e a lua e que essa profissão ou esse negócio ele conseguiu depois que deixou de ser ensacador de fumaça e de vento. Ele acredi-


tou naquela mulher que foi presidente, que disse que os brasileiros precisavam ensacar vento. Você sabe, o Beethoven tem um currículo sem qualquer saliência, principal-mente depois de deixou de ser cachacista. Na verdade, o Beethoven deu uma virada de mesa, ou melhor deu uma virada de vaso sanitário, cheio e entupido. E está pedindo desculpas pelas coisas erradas que fez. Isso é bom. Também diz que não assinou aquele manifesto dos 400 intelectuais, que pedem coisas que não quer nem comentar. Pra ele, coletar assinaturas dos estudantes que não estudam e dos trabalhadores que não trabalham é uma sacanagem, é uma febre amarela. - Falando em pedir desculpas Percílio, lembro que o amigo Caciporé Calça Larga, diz que ao chegar aos 69 anos de idade, começa a pedir desculpas aos filhos, aos amigos, aos inimigos, aos

credores e devedores, porque sentiu que está morrendo devagarzinho. Disse que neste tempo todo foi um grande “espancador” da razão. Só ele era o certo e só ele era o dono da razão. Agora, anda dizendo que gostaria de ter passado a vida como um invisível. Mas entende que foi castigado por ter tido a capacidade de ver e sentir o lado melhor das pessoas e de ter se preocupado pouco, muito pouco em valorizar o sentimento de amizade com inúmeros amigos, com muitas pessoas. Mas mesmo morrendo devagarzinho, continua tomando groselha preta com baunilha e com isso se sente fresco e equilibrado. Sente que os cabelos estão caindo, as rugas aparecendo, mas com um novo dente postiço que lhe garante boas mordidas na carne que ainda não foi condenada. Reclamou na semana passada, que em matéria de amor, ele sempre repetiu o ano, e

que pra recuperar a saúde, fez uma dieta de 21 dias, e, o que ele perdeu mesmo, foram três semanas de deliciosos encontros e churrascadas e peixadas com os amigos...peso mesmo, nada. Na sexta-feira, o Caciporé Calça Larga, reuniu no fundo do quintal da sua casa, os melhores amigos, os filhos, a mulher, os netos e chamou o Beethoven Ilustre Balaústre, para anunciar durante um churrasco, com carne da operação “carne fresca”, que está chegando ao fim, mas “devo dizer que me dei bem na vida, como vocês podem ver. Não estou mais tomando cerveja, água ou whisky em copo de requeijão, como antes. Isso é a glória de quem se deu bem na vida. “JUSTO MESMO É O SUTIÃ. ELE OPRIME OS GRANDES E LAVANTA OS CAÍDOS”. José C. Carrara é jornalista, advogado, professor e membro da AML

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Estamos Bem V POR LUCIENE CARVALHO

ida de bipolar tem seus percalços, na tentativa de superar uma depressão prolongada, minha psiquiatra me receitou um antidepressivo que acabou por desencadear o que tecnicamente é chamado de “virada maníaca”. É como se estando num ponto, ao invés de girar 90 graus, o giro fosse de 180 graus. Era nesse ponto em que eu me encontrava naquela noite em março de 2013, quando lá pelas 1h30min da manhã, resolvi descer a Rua Feliciano Galdino até o posto 24 horas da XV de Novembro para adquirir uma recarga para meu celular. Troquei de roupa - pela centésima vez naquele dia - atravessei o quintal , sai pelo portão e quando comecei descer

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minha rua, uma chuva pequena começou a cair, quando cheguei na Rua Barão de Melgaço , já era uma chuva de molhar... Resolvi me abrigar no ponto de ônibus que fica na esquina da Travessa Santa Maria. Para minha surpresa, percebi que tinha gente no banco do ponto de ônibus... Tremi! Mas a chuva... Me abriguei e constatei que lá estavam duas pessoa: uma mulher magra e uma menininha. Começamos a conversar e ela me disse que estava vivendo nas ruas desde que sua filha maior tinha morrido. Ela carregava tudo que tinha em umas poucas sacolas. Tinha tanta dor e dignidade naquela mulher que, com fome e molhada de chuva, afirmava que iria passar a noite ali mes-


lumeMatoGrosso mo, no banco do ponto de ônibus. Algo tocou minha alma e chamei a desconhecida para dormir na varanda da minha casa. Ela se espantou, mas ao final aceitou. Improvisei uma cama para ela e para menina, já completamente esquecida da recarga para o celular. Aquelas duas vidas vulneráveis deram um sentido lógico para meu momento de desnorte. Enquanto eu arrumava alguma coisa para elas comerem, a mulher falava continuamente da filha morta. Contei para ela que era poeta, dei um livro para ela, deixei- as instaladas o melhor possível, fechei a casa e fui dormir. Passados poucas horas a mulher bateu em minha janela e disse que precisava ir... Lastimei, me despedi, eu entendia que ela precisava procurar alento para dor da filha morta. Consegui equacionar meu psiquismo, o tempo fez sua travessia, minha vida percorreu caminhos que eu nunca imaginara. Certo fim de tarde fui ao supermercado próximo da mi-

nha casa, estava na fila de frios- 04 anos haviam se passado era março de 2017- eu a vi: com a aparência saudável, alguns produtos ajuntado nos braços (leite, pão, macarrão), o cabelo limpo, as roupas simples, e bem composta , sandália. Não compreendi porque ela estava parada próxima a um pilar... Caminhei em direção a ela que de pronto me reconheceu. Sentadinha num apoio de metal a meninazinha comia, satisfeita, um pão recém-assado, a mãe estava esperando a filha acabar de comer. Perguntei se estava tudo bem, ela disse que sim. Olhou nos meus olhos e perguntou: “você ainda está escrevendo?” quando respondi que sim ela sorriu com os olhos felizes e uma boca com uma falha de dente. Despedimo-nos. Meu coração cantava de felicidade... Por ela, por mim... Nós duas sobreviveremos à noite escura. Estamos Bem. PS: Talvez ela nunca leia esse texto, porém a mensagem está na garrafa.

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Americanidade

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A busca pelo intercâmbio cultural entre os povos da América do Sul

esta edição de LUME MATO GROSSO, dentro do propósito de aumentar conhecimentos sobre a literatura e cultura sul americana, apresenta um recorte da extensa biografia do escritor e poeta argentino Julio Florencio Cortázar, filho de argentinos e nascido na Embaixada da Argentina, em Ixelles, distrito de Bruxelas, na Bélgica, a 26 de agosto de 1914. Cortázar regressa à sua terra natal aos quatro anos de idade. Seus pais se separaram posteriormente e passou a ser criado pela mãe, uma tia e uma avó. Passou a maior parte de sua infância em Banfield, na Argentina, e não era uma criança totalmente feliz, apresentando uma tristeza frequente. Cortázar era uma criança bastante enferma e passava muito tempo na cama, len-

do livros que sua mãe selecionava. Muitos de seus contos são autobiográficos, como Bestiario, Final del juego, Los venenos e La Señorita Cora, entre outros. Formou-se professor em Letras, em 1935, na “Escuela Normal de Profesores Mariano Acosta”, e naquela época começou a frequentar lutas de boxe. Em 1938, com uma tiragem de 250 exemplares, editou Presencia, livro de poemas, sob o pseudônimo “Julio Denis”. Lecionou em algumas cidades do interior do país, foi professor de literatura na “Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad Nacional de Cuyo”, mas renunciou ao cargo quando Perón assumiu a presidência da Argentina. Empregou-se na Câmara do Livro em Buenos Aires e realizou alguns trabalhos de tradução.

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JULIO CORTÁZAR

Em 1951, aos 37 anos, Cortázar, por não concordar com a ditadura na Argentina, partiu para Paris (França), pois havia recebido uma bolsa do governo francês para ali estudar por dez meses, e acabou se instalando definitivamente. Trabalhou durante muitos anos como tradutor da Unesco e viveria em Paris até a sua morte. Teve uma relação de amizade com os artistas argentinos Julio Silva e Luis Tomasello, com os quais realizaria vários projetos conjuntos. Politicamente, o autor também foi um mistério, devido à fragilidade dos rótulos da época, pois, para a CIA, tra-

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tava-se de um perigoso esquerdista a soldo da KGB, enquanto esta considerava-o um notório agente do imperialismo a soldo da CIA e perigoso agitador anti-soviético, já que denunciava as prisões em Moscou dos chamados dissidentes. Cortázar casou-se em 1953, com Aurora Bernárdez, uma tradutora argentina. Viviam em Paris, sob condições econômicas difíceis e surgiu a oportunidade de traduzir a obra completa, em prosa, de Edgar Allan Poe, para a Universidad de Puerto Rico. Esse trabalho foi considerado pelos críticos como a melhor tradução da obra do escritor.

Em 1963, visitou Cuba enviado pela Casa de las Américas, para ser jurado em um concurso. Foi a época de intensificação do seu fascínio pela política. No mesmo ano teve um livro traduzido para o inglês. Em 1962, lança Historias de Cronopios y Famas. O ano de 1963, marcou o lançamento de Rayuela, que foi seu grande sucesso e teve cinco mil cópias vendidas no mesmo ano. Em 1959, saiu o volume Final del Juego. Seu artigo Para Llegar a Lezama Lima foi publicado na revista “Union”, em Havana. Depois desses anos, Cortázar se envolveu politicamente na libertação da


América Latina sob regimes ditatoriais. Em novembro de 1970 viaja ao Chile, onde se solidarizou com o governo de Salvador Allende. Em 1971, foi “excomungado” por Fidel Castro, assim como outros escritores, por pedir informações sobre o desaparecimento do poeta Heberto Padilla. Apesar de sua desilusão com a atitude de Castro, continuou acompanhando a situação política da América Latina. Em 1973, recebeu o Prêmio Médicis, por seu Libro de Manuel e destinou seus direitos à ajuda dos presos políticos na Argentina. Em 1974, foi membro do Tribu-

nal Bertrand Russell II, reunido em Roma para examinar a situação política na América Latina, em particular às violações dos Direitos Humanos. Em 1976, viajou para Costa Rica, onde se encontrou com Sergio Ramírez e Ernesto Cardenal. Em seguida fez uma viagem clandestina até Solentiname, na Nicarágua. Esta viagem o marcaria para sempre e seria o começo de uma série de visitas a este país. Em agosto de 1981 sofreu uma hemorragia gástrica. Em 1983, volta a democracia na Argentina, e Cortázar fez uma última viagem à sua pátria, onde foi recebi-

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do calorosamente por seus admiradores, que o paravam na rua e lhe pediam autógrafos, em contraste com a indiferença das autoridades nacionais. Depois de visitar vários amigos, regressou a Paris. Pouco depois lhe foi outorgada a nacionalidade francesa. Carol Dunlop, sua última esposa, faleceu em 2 de novembro de 1982, e Cortázar teve uma profunda depressão. Morreu de leucemia em 12 de fevereiro de 1984, sendo enterrado no Cemitério do Montparnasse, na mesma tumba de Carol. Em sua tumba se ergue a imagem de um “cronópio”, personagem criado pelo escritor. É considerado um dos autores mais inovadores e originais de seu tempo, mestre do conto curto e da prosa poética, comparável a Jorge Luis Borges e Edgar Allan Poe. Foi o criador de novelas que inauguraram uma nova forma de fazer literatura na América Latina, rompendo os moldes clássicos mediante narrações que escapam da linearidade temporal e onde os personagens adquirem autonomia e profundidade psicológica inéditas. Seu livro mais conhecido é Rayuela (O Jogo da Amarelinha), de 1963, que permite várias leituras orientadas pelo próprio autor. A seguir brindamos nossos leitores com a poesia Os Amantes, de Cortázar, nos idiomas espanhol e português.

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lumeMatoGrosso LOS AMANTES

OS AMANTES

¿Quién los ve andar por la ciudad si todos están ciegos ? Ellos se toman de la mano: algo habla entre sus dedos, lenguas dulces lamen la húmeda palma, corren por las falanges, y arriba está la noche llena de ojos.

Quem os vê andar pela cidade se todos estão cegos? Eles se tomam as mãos: algo fala entre seus dedos, línguas doces lambem a úmida palma, correm pelas falanges, acima a noite está cheia de olhos.

Son los amantes, su isla flota a la deriva hacia muertes de césped, hacia puertos que se abren entre sábanas. Todo se desordena a través de ellos, todo encuentra su cifra escamoteada; pero ellos ni siquiera saben que mientras ruedan en su amarga arena hay una pausa en la obra de la nada, el tigre es un jardín que juega.

São os amantes, sua ilha flutua à deriva rumo às mortes na relva, rumo a portos que se abrem nos lençóis. Tudo se desordena por entre eles, tudo encontra seu signo escamoteado; porém eles nem mesmo sabem que enquanto rodam em sua amarga arena há uma pausa na criação do nada, o tigre é um jardim que brinca.

Amanece en los carros de basura, empiezan a salir los ciegos, el ministerio abre sus puertas. Los amantes rendidos se miran y se tocan una vez más antes de oler el día. Ya están vestidos, ya se van por la calle. Y es sólo entonces cuando están muertos, cuando están vestidos, que la ciudad los recupera hipócrita y les impone los deberes cotidianos.

Amanhece nos caminhões de lixo, começam a sair os cegos, o ministério abre suas portas. Os amantes cansados se fitam e se tocam uma vez mais antes de haurir o dia. Já estão vestidos, já se vão pela rua. E só então, quando estão mortos, quando estão vestidos, é que a cidade os recupera hipócrita e lhes impõe os seus deveres quotidianos.

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