lume Mato Grosso
Revista nº. 46 • Ano 7 • Março/2021
Memória Cuiabana
Patrimônio Histórico Tombado Pag. 20
ARTIGO: RAFAEL LIRA PERSONALIDADE:DR. ALISSON CARVALHO DE ALENCAR RETRATO EM PPRETO E BRANCO: JANE VANINI MEMÒRIA: MARIA BONITA AMERICANIDADE: GABRIELA MISTRAL LITERATURA: QUID PRO QUO
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IGREJA DO ROSÁRIO E SÃO BENEDITO, FOTO: JÚLIO ROCHA
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C A RTA D O E D I TO R
JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral
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esde o surgimento da revista impressa no Brasil em 1812, essa mídia tradicional sofreu diversas transformações ao longo do tempo. Com o advento da internet, as mudanças foram ainda mais drásticas: surgiu uma necessidade de se acessar as notícias de forma imediata, fazendo com que as revistas que permaneciam somente no meio impresso ficassem para trás. Para se adaptar aos moldes dos dias atuais, os veículos procuraram se reinventar ao criar setores para publicar conteúdo na internet, assim expandindo a marca para atingir mais pessoas. Questionados, alguns jornalistas se pronunciaram sobre esse assunto. Marcos Coronato, editor executivo da revista Época, relatou a preocupação do veículo em fazer com que as matérias do site tenham o maior “ciclo de vida” possível, exaltando a figura do editor que proporciona um olhar mais experiente e pode tornar a publicação mais interessante para dessa forma atrair mais leitores. Na revista Veja a situação é bem parecida. Daniel Bergamasco, editor online, revelou que há alguns anos o veículo investiu na plataforma online, e isso permitiu algumas mudanças na redação: intercâmbio entre editores e união dos jornalistas, deixaram de existir papéis definidos. Daniel acredita que a versão online ainda não conseguiu se igualar a edição impres-
sa quando se trata de impacto, na medida em que as revistas causam um efeito nostálgico e forte ao se abrir, por exemplo, uma foto que ocupa uma página inteira. É algo que captura a atenção do leitor de uma maneira que os sites não conseguem fazer. A revista impressa é desenvolvida considerando que o leitor terá um tempo maior dedicado ao texto, desta forma a produção de conteúdo é mais aprofundada. Entretanto, as chamadas “pautas quentes” podem não resistir até o final de semana (quando a revista é veiculada), valorizando a necessidade do site. Giovana Romani, editora sênior da revista Glamour, acredita na exclusividade da revista impressa, já que existe uma curadoria limitada para a veiculação. A principal diferença apontada por Giovana está na questão do título, o online exige “sujeito, predicado, ação e informação relevante”, em contrapartida a revista é mais fluida. Para mim não ocorrerá o fim da revista impressa, mas sim uma depuração daquilo que temos em nosso mercado, tanto no Estado, quanto no país afora. Os editores e jornalistas migrarão, em sua maioria, para sites. Ficarão os que tem proposta editorial que atinja os objetivos do leitor, especialmente daquele mais exigente e que busca qualidade. Estamos buscando encontrar o caminho certo para nossa LUME MATO GROSSO
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EXPEDIENTE
lume Mato Grosso
PESCUMA MORAIS Diretor de Expansão e de Projetos Especiais ELEONOR CRISTINA FERREIRA Diretora Comercial JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral MARIA RITA UEMURA Jornalista Responsável JOÃO GUILHERME O. V. FERREIRA Revisão ÁLEX VICENTE, AMÉRICO CORRÊA, ANA CAROLINA H. BRAGANÇA, ANDRÉIA KRUGER, ANNA MARIA RIBEIRO, BENEDITO PEDRO DORILEO, BRUNO HENRIQUE BRITO LOPES, CARLOS FERREIRA, CECÍLIA KAWALL, DIEGO DA SILVA BARROS, EDUARDO MAHON, ELIETH GRIPP, ENIEL GOCHETTE, EVELYN RIBEIRO, FELIPE DE ALBUQUERQUE, FRANCISCO E. DE BRITO JR., JOSANE SALLES, JUDI OLLI, JULIANA RODRIGUES, LIANE CARVALHO OLEQUES, LUCIENE CARVALHO, LUIZ CARLOS NEMETZ, MARIA CLARA BENGEMER, MILTON PEREIRA DE PINHO - GUAPO, RAFAEL LIRA, RAFAEL M. ALMEIDA, ROSE DOMINGUES, RUTH ALBERNAZ, THAYS OLIVEIRA SILVA, VALÉRIA CARVALHO, WLADIMIR TADEU BAPTISTA SOARES, YAN CARLOS NOGUEIRA Colaboradores ANDREY ROMEU, ANTÔNIO CARLOS FERREIRA (BANAVITA), CECÍLIA KAWALL,
CHICO VALDINEI, EDUARDO ANDRADE, HEITOR MAGNO, HENRIQUE SANTIAN, JOSÉ MEDEIROS, CORRÊA, JÚLIO ROCHA, LAÉRCIO MIRANDA, LUIS ALVES, LUIS GOMES, RAI REIS, MAIKE BUENO, MARCOS BERGAMASCO, MARCOS LOPES, MÁRIO FRIEDLANDER, MOISÉS INÁCIO DE SOUZA, SAMUEL MELIN Fotos OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES. LUME - MATO GROSSO é uma publicação mensal da EDITORA MEMÓRIA BRASILEIRA Distribuição Exclusiva no Brasil RUA PROFESSORA AMÉLIA MUNIZ, 107, CIDADE ALTA, CUIABÁ, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 36371774 99284-0228 | 9925-8248 Contato WWW.FACEBOOK.COM/REVISTALUMEMT Lume-line REVISTALUMEMT@GMAIL.COM Cartas, matérias e sugestões de pauta MEMORIABRASILEIRA13@GMAIL.COM Para anunciar ROSELI MENDES CARNAÍBA Projeto Gráfico/Diagramação ARSENAL DE GUERRA DE CUIABÁ FOTO: JÚLIO ROCHA Capa
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SUMÁRIO
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MEMÓRIA HISTÓRICA
30. MEMÓRIA
34. 38. CULTURA POPULAR
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SOCIEDADE
MARÇOS DE NOSSA HISTÓRIA
48.
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42.
MÚSICA
54. LITERATURA
58. 66. LITERATURA
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ARTIGO
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RAFAEL LIRA É professor, tradutor de crioulo, ex-missionário religioso e viveu, por quase um ano, no Haiti
Chorai Com Os Que Choram
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POR RAFAEL ALEXANDRE LIRA FOTOS DIVULGAÇÃO
á praticamente um ano temos vivido um tempo como nenhum outro em nossa geração. São dias de luto, de dor, de perdas, de choros e lamentos. São dias cinzas e nublados, como aqueles em que desejamos ver o raio do Sol, mas ele não aparece. Ficamos esperançosos, na expectativa do céu se abrir e contemplarmos a beleza da luz solar. Mas, as nuvens densas não nos permitem vê-Lo. Talvez, deste período, estamos hoje nos piores dias, com números recordes de mortes, altas taxas de contaminação, hospitais abarrotados de pessoas infectadas, falta oxigênio, faltam equipamentos, faltam leitos, faltam vacinas, falta empatia, falta bom senso, falta humanidade, falta alegria e vida! É tempo de revermos o modo como temos vivido até aqui, é o momento exato para olharmos para trás a fim de avaliar a caminhada, e ajustar o passo. Tivemos
períodos de guerras, de catástrofes naturais, de escravização... Estamos, agora, diante de uma era em que enfrentamos um pequeno inimigo invisível, sorrateiro e potente. Um vírus que evolui e se transforma numa velocidade absurda. Deveríamos tomar isso como um desafio para que evoluamos também, e nos transformemos enquanto sociedade. Chegou a hora de pararmos de olhar pra o nosso mundo pessoal do ego, e da realização pessoal à todo custo. Penso que estamos no momento perfeito para começarmos a olhar para o lado e assumirmos pautas que sejam coletivas, encararmos a luta que pensávamos ser apenas do outro. É tempo de compreendermos que a dor do outro também é nossa, o sofrimento do próximo é também meu. Afinal, somos uma só raça, a humana. Somos só um povo, o povo da Terra!
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PERSONALIDADE
Dr. Alisson Carvalho de Alencar Atuando em defesa do patrimônio público e da moralidade administrativa DA REDAÇÃO/ASSESSORIA
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PERSONALIDADE
À
frente da Procuradoria-Geral do Ministério Público de Contas de Mato Grosso pela terceira vez em mais de 10 anos de atuação na instituição, Alisson Carvalho de Alencar tem histórico de condução de sua pasta com ética, eficiência e integridade. A ética e a integridade do serviço público fortalecem a confiança pública e a boa governança, sustentando a responsabilidade dos funcionários públicos de exercer a administração e de usar e desenvolver todos os recursos da maneira mais econômica, eficiente e eficaz. Nada denuncia mais o grau de civilidade de um país e de um povo do que o modo de tratar a coisa pública e a coletividade com decência e isso, o Dr. Alisson, faz muito bem. Com o fito de contribuir para que a sociedade cuiabana, mato-grossense e nacional venha a conhecer um pouco mais sobre a trajetória de vida e profissional do Dr. Alisson, a Revista Lume-MT publica, na edição de marco de 2021, em sua editoria de Personalidade, um resumo das atividades desse notável brasileiro.
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lumeMatoGrosso O QUE É O MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS? »»Trata-se de uma instituição constitucional com a missão de atuar junto aos Tribunais de Contas dos Estados. O de Mato Grosso foi implantado em janeiro de 2009. Sua composição maestra é de quatro procuradores de Contas aprovados em concurso público de provas e títulos, sob a chefia do procurador-geral de Contas. O cidadão comum pergunta, muito bem, e daí que é que isso tem a vem com a nossa vida? A mais objetiva e concisa resposta vem de um artigo feito pela advogada Caline Costa, servidora pública do MPC-MT, e publicado no site JUS. com.br, em março de 2018: “Bem, em resumo, tudo! Apesar de sua atuação se dar apenas extrajudicialmente, o MPC tem a importante missão de atuar na fiscalização orçamentária e no controle externo. Em termos mais simples, significa dizer que este órgão tem a missão de auxiliar os Tribunais de Contas a controlar e fiscali-
zar a execução do orçamento e os atos de gestão dos recursos públicos. Para melhor entender do que se trata tudo isso, é preciso compreender o que é controle externo. De acordo com ampla doutrina sobre o tema, controle externo pode ser resumidamente conceituado como o controle realizado por um órgão estranho ao que está sendo controlado, ou seja, é um controle feito por um órgão de fora. E o que pretende esse controle externo? Simplificando, podese dizer que ele objetiva fiscalizar a Administração Pública. E por que ele é tão importante? Simplesmente por ser o instrumento que possibilita que o povo, verdadeiro titular do poder, saiba como seus representantes gerenciam a riqueza do país”. Em resumo o Ministério Público de Contas do Estado é um órgão incumbido da defesa, fiscalização e controle externo contábil, financeiro, orçamentário, operacional e patrimonial, essencial às funções da administração pública do Estado e dos 141 Municípios de Mato Grosso.
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PERSONALIDADE
O DR. ALISSON CARVALHO DE ALENCAR galgar o posto que ocupa o Dr. Alisson estudou muito e sempre se destacou nas instituições de ensino em que esteve, desde seus tempos de juventude na Universidade de Teresina, sua terra natal. É Doutor em Direito pela Universidade de Salamanca, em convênio com a Faculdade Autônoma de Direito (2020); Mestre em Administração Pública pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (2015). Possui graduação em Direito pela Faculdade de Ciências Humanas, Saúde, Exatas e Jurídicas de Teresina (2005); especialização em Direito Público e Privado pela Universidade Federal do Piauí (2005). Foi Advogado da União de 2006 a 2009. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Público e Controle Externo. Professor de Cursos de Graduação e Especialização na área de Direito Administrativo e Controle Externo. Em tempos de desafios na pandemia do coronavirus, o Dr. Alisson Carvalho de Alencar é o Procurador-Geral de Contas para o biênio 2021/2022, tendo assumido tão importante missão pela terceira vez. Nascido na cidade Teresina, capital do Piauí, em 19 de novembro de 1983, ascendeu ainda jovem à carreira jurídica de forma eficiente e brilhante. Dr. Alisson não mediu esforços pessoais para se tornar advogado com habilidades de comunicação, tanto com fluência oral quanto escrita. Habilidade que lhe
»»Para
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é peculiar é sua capacidade de pesquisar de forma rápida, perseverar e possuir traços de criatividade que lhe permitem chegar aos melhores desfechos possíveis. Também lhe é atribuída a qualidade e habilidade de ‘ouvir’ com paciência e atenção, o que resulta, sempre, em poder tirar suas conclusões de forma correta, sem sobressaltos ou arrependimentos. Suas tomadas de decisões sempre espelham o desejo de melhorar o desempenho da máquina pública e o bom aproveitamento dos impostos pagos pelos contribuintes. Por conta disso são muitas as Notificações Recomendatórias, os Termos de Cooperação Técnica, os Procedimentos Apuratórios Preliminares, orientações e atos expedidos semana após semana. Apesar do ritmo frenético dos trabalhos desenvolvidos pelo enorme fluxo apresentado à instituição, Dr. Alisson Alencar, sempre que possível, encontra tempo para escrever artigos e textos para compor livros. Sabemos que pessoas que não tem foco, também não tem resultados, visto que resultados favoráveis são diretamente determinados por quão específico você pode tornar seu foco. Outra área na qual Dr. Alisson tem atuado com bastante vigor é nas ‘lives’, a exemplo da qual focou na atuação do Ministério Público de Contas na pandemia do coronavirus. Outra atuação necessária foi a abordagem, em live, do tema ‘Exercício no Direito de Defesa perante o TCE-MT’.
de controle da gestão pública: instrumento constitucional de efetividade da governança pública. In: As redes de controle da gestão pública: instrumento constitucional de efetividade da governançapública.1 ed. Belo Horizonte: D’Plácido, 2019, p. 355-. »»2. ALENCAR, A. C. Controle pelos tribunais de contas do cumprimento dos direitos humanos nos presídios brasileiros: uma proposta de atuação In: Controle pelos tribunais de contas do cumprimento dos direitos humanos nos presídios brasileiros: uma proposta de atuação.1 ed. Belo Horizonte: D’Plácido, 2019, p. 511. »»3. ALENCAR, A. C.; MACIEL, M. O acesso à informação pelos órgãos de controle face ao direito à privacidade In: O acesso à informação pelos órgãos de controle face ao direito à privacidade.1 ed. Belo Horizonte: D’Plácido, 2019, p. 477-.
»»4. ALENCAR, A. C. O. Olhar dos Tribunais de Contas sob os concursos públicos. In: Aspectos polêmicos sobre ConcursoPúblico.1 ed. Curitiba: Connect, 2016, v.1, p. 21-34. ARTIGOS PUBLICADOS: ALENCAR, A. C. Requisição direta de dados bancários sigilosos. Da sua conta, p.7 - 7, 2009.Artigos em revistas (Magazine)1. ALENCAR, A. C.; ISHIKAWA, L ALENCAR, A. C. Parecer. JAM Jurídica (Salvador), v.12, p.133 - 142, 2012. ISHIKAWA, Lauro; ALENCAR, Alisson Carvalho de. Compliance inteligente: o uso da inteligência artificial na integridade das contratações públicas. Revista de Informação Legislativa: RIL, Brasília, DF, v. 57, n. 225, p. 83-98, jan./mar. 2020. Disponível em: https://www12.senado. leg.br/ril/edicoes/57/225/ril_v57_n225_p8
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CAPÍTULOS DE LIVROS PUBLICADOS:
»»1. ALENCAR, A. C.; MACIEL, M. As redes
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MEMÓRIA HISTÓRICA
O Brasil É Sempre O Primeiro A Discursar Na Assembleia Geral Da ONU. Porque? FOTO DIVULGAÇÃO
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uve-se muito falar que é o representante brasileiro quem “sempre faz o primeiro discurso” na Assembleia Geral das Nações Unidas, que se reúne em Nova York no mês de setembro, mas isso não é exatamente verdade: o que hoje é a ordem tradicional dos discursos – Brasil primeiro, Estados Unidos em segundo, e depois os demais países, de acordo com um sistema que leva em conta, entre outros critérios, o nível de representação (se é o chefe de Estado quem vai falar, ou um ministro, ou um em-
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baixador) só começou, de fato, em 1955, na Décima Assembleia. Antes disso, México, Estados Unidos, Canadá, Cuba e Filipinas também já haviam feito a abertura. Ainda assim, o Brasil foi o país que mais abriu sessões, mesmo no período anterior a 1955. Entre 1946 a 1954, um brasileiro abriu a Assembleia Geral três vezes. Representantes do México, duas, e EUA, Filipinas, Canadá e Cuba, uma vez cada. A primeira Assembleia Geral aberta pelo Brasil foi a quarta, de 1949. Mesmo depois do estabelecimento da tradição, a partir de 1955, no entanto, o Brasil não falou primeiro em duas oportunidades: nos anos de 1983 e 1984, o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, discursou antes do representante do Brasil, o então ministro das Relações Exteriores do governo João Figueiredo, Ramiro Saraiva Guerreiro. Figueiredo, aliás, foi o primeiro presidente brasileiro a fazer um discurso de abertura da Assembleia da ONU, em 1982. Antes dele, a tarefa sempre ficara a cargo do chanceler ou de um embaixador. Desde então, todo novo presidente do Brasil faz o discurso inaugural da Assembleia pelo menos uma vez, ao longo de seu mandato. A única exceção foi Itamar Franco. OSWALDO ARANHA E A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL »»A página oficial da ONU sobre o protocolo da Assembleia Geral diz apenas que certas tradições emergiram ao longo do tempo, incluindo a ordem dos dois primeiros países a falar, Brasil e Estados Unidos. A explicação usual é que os EUA falam em segundo lugar por serem o anfitrião da Assembleia, e o Brasil, em primeiro, em reconhecimento ao papel desempenhado pelo brasileiro Oswaldo Aranha (1894-1960) nos primórdios da Organização das Nações Unidas. Oswaldo Aranha presidiu a Primeira Assembleia Geral Especial das Nações Unidas, realizada em 1947, e a Segunda Assembleia Geral Ordinária, no mesmo ano.
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MEMÓRIA HISTÓRICA Essas duas reuniões tiveram o papel histórico de determinar – por meio da resolução 181 da Assembleia Geral – a partição da Palestina entre árabes e judeus, abrindo caminho para a criação do Estado de Israel. A votação final da resolução, em 29 de novembro de 1947, foi dramática: todos os seis países árabes que faziam parte da ONU na época retiraram-se da Assembleia em protesto contra a aprovação, sendo que quatro deles – Arábia Saudita, Iraque, Síria e Iêmen – anunciaram que não se sentiriam obrigados a respeitar a decisão, tomada por 33 votos, apenas dois além do mínimo necessário. Durante os trabalhos, Aranha rejeitou propostas, de autoria de países árabes e também da Colômbia, que devolveriam o plano para a Palestina ao estágio de debate em comitê, retirando-o da pauta de votação. No Brasil, na década de 1930, Aranha havia sido um dos principais articuladores da Aliança Liberal, o movimento que levaria à Revolução de 30 e à chegada de Getúlio Vargas ao poder. Foi Ministro da Justi-
À ESQUERDA OSWALDO ARANHA, AO CENTRO SOUZA DANTAS E À DIREITA GETÚLIO VARGAS
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ça e, depois, da Fazenda de Vargas. Participou da Assembleia Nacional Constituinte convocada após a revolução de 1932 em São Paulo, e foi nomeado embaixador brasileiro em Washington depois da promulgação da carta. Buscava viabilizar-se candidato à Presidência da República para o pleito previsto para 1938 quando Vargas deu o golpe do Estado Novo, em 1937. Sua primeira reação foi de ruptura com a ditadura que se instalava, mas em 1938 voltava ao governo, agora como ministro das Relações Exteriores. A nomeação foi saudada em editorial, pelo New York Times, como sinal de que “o regime [de Getúlio Vargas] não seguirá pelo caminho das ditaduras fascistas europeias”. ARANHA ARTICULA COM OS ALIADOS
»»Oswaldo Aranha foi instrumental para o
alinhamento do Brasil com as potências aliadas na Segunda Guerra Mundial, enfrentado a oposição de figuras do governo Vargas e, em alguns momentos, até mesmo do próprio presidente-ditador. Em
lumeMatoGrosso BOMBARDEIO JAPONÊS EM PEARL HARBOR
1940, quando a Marinha britânica deteve um navio brasileiro, o Siqueira Campos, que transportava carga vinda da Alemanha, Aranha teve de atuar para impedir o rompimento das relações diplomáticas do Brasil com o Reino Unido. Durante a Conferência do Rio de 1942, uma reunião de chanceleres das Américas convocada pelos Estados Unidos após o ataque de Pearl Harbor, e sua participação no encontro ajudou a cimentar a decisão coletiva das repúblicas das Américas de cortar relações diplomáticas com os países do Eixo, aprovada sob as ressalvas de Chile e Argentina. Três anos antes de sua morte, em 1957, durante o governo de Juscelino Kubitschek, Aranha, como embaixador, faria o discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em nome do Brasil. O livro “O Brasil nas Nações Unidas:1946-2006”, publicado pelo Itamaraty, resume assim sua intervenção: “Oswaldo Aranha, um dos líderes brasileiros que mais
havia se distinguido na formulação da política de aliança com os EUA, critica a falta de cooperação norte-americana ao desenvolvimento da América Latina. Suas palavras revelam frustração diante do rumo tomado pela relação estratégica global e do papel secundário destinado à América Latina”. Então, fazer a abertura da Assembleia Geral, falando antes até dos Estados Unidos, é uma honra para o Brasil? Talvez. Mas, em 2012, o colunista do New York Times, Michael Pollack, ofereceu uma interpretação alternativa para a ordem dos discursos e que, segundo ele, é bem conhecida dos fãs de shows de rock: “O astro geralmente tem um show de abertura. A Assembleia Geral é um lugar lotado, com delegados de 193 Estados-membros ainda chegando e procurando seus lugares durante os pronunciamentos iniciais. O discurso do Brasil oferece um modo diplomático de todo mundo se ajeitar para o que costuma ser a atração principal: o presidente dos Estados Unidos”.
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Memória Cuiabana
Catálogo do patrimônio histórico tombado POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA
FOTOS JÚLIO ROCHA
JANELAS DO MUSEU HISTÓRICO
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INTERIOR DA IGREJA DO BOM DESPACHO
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lumeMatoGrosso FACHADA DO SEMINÁRIO DA CONCEIÇÃO
A
Editora Memória Brasileira editou o livro “Catálogo do Patrimônio Histórico Tombado”. O propósito é promover o seu lançamento em abril deste ano. A produção dessa obra, organizada pelo historiador João Carlos Vicente Ferreira tem caráter educativo e de conhecimento da importância de se preservar os nossos bens históricos tombados pelos organismos responsáveis por sua guarda e conservação. Foram selecionamos apenas 27 sítios históricos para esta publicação. No entanto, Cuiabá possui muitos outros pontos e monumentos históricos, alguns tombados e outros ainda não.
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Quando os bens são tombados pelo órgão responsável, isso significa que possuem estimado valor histórico e cultural. Essa intervenção tem como objetivo preservar o patrimônio, uma vez que depois do tombamento eles não podem ser demolidos ou reformados. Entretanto, os bens tombados podem estar sujeitos a um processo de restauração ou manutenção sem que as características originais desapareçam. É importante preservar o patrimônio histórico cuiabano porque ele representa
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toda a nossa história e o desenvolvimento de nosso povo, de nossa cultura e arquitetura, sendo uma forma de manter viva a nossa tradição cultural. Esses bens foram ao longo do tempo construídos ou desenvolvidos pela sociedade cuiabana e estão intimamente relacionados com a sua identidade, representando importante fonte de pesquisa atual. Através do patrimônio histórico podemos, portanto, conhecer parte de nossa história e tudo que a envolve.
lumeMatoGrosso MERCADO DO PEIXE MUSEU DO RIO
O centro histórico de Cuiabá reúne os primeiros monumentos e o casario construído nas vias urbanas abertas a partir da descoberta de ouro, em 1721, que compõem o conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico de tombado pelo Iphan, na década de 1970. A arquitetura da área urbana inicial, como em outras cidades históricas brasileiras, é tipicamente colonial, mas com o tempo sofreu modificações e adaptações a outros estilos (neoclássico e eclético, entre outros). O centro relaciona-se com a configuração urbana construída
até o final do período colonial e corresponde à área central da capital de Mato Grosso. Nessa área, estão as ruas mais antigas e equipamentos que documentam momentos marcantes da história da cidade, tanto no que se refere aos materiais e técnicas de construção quanto aos estilos. As antigas ruas de Baixo, do Meio e de Cima (atuais ruas Galdino Pimentel, Ricardo Franco e Pedro Celestino, respectivamente) e suas travessas ainda mantêm bem preservadas as características arquitetônicas das casas e sobrados.
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Em 1727, o Arraial do Cuiabá, recebeu o título de Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, instalando-se ali a administração pública. Nos anos seguintes, o espaço de poder foi consolidado no quadrilátero do Largo da Matriz, com a implantação do pelourinho, das casas de câmara e cadeia, da residência dos ouvidores e juízes-de-fora. A capital de Mato Grosso foi fundada em decorrência da mineração de ouro no início do século XVIII que, apesar de intensa, só durou de 1722 a 1730. A fase de mine-
ração deu-se apenas nessa década, mas definiu os eixos de ocupação do povoado, logo elevado a vila e, por fim, a capital. Com a descoberta de ouro na região do Guaporé (1730-1734), a Vila de Cuiabá assumiu uma função de “metrópole” e apresentou, durante toda a segunda metade do século XVIII, desempenho econômico e população superiores aos de outras vilas da região. A mineração deu destaque à cidade, que se firmou como centro de garimpeiros e núcleo administrativo das novas frentes vizinhas de
ESCADARIA DA ENTRADA DO AUDITÓRIO DO LICEU CUIABANO
categoria de cidade e, em 1835, passou a Capital da Província. Após a Guerra da Tríplice Aliança (1864 - 1870) com a abertura do rio Paraguai à navegação, a cidade ganhou novo dinamismo, recebeu melhorias urbanas, como jardins com chafarizes e coretos. A chegada de capitais e mercadorias europeias foi acompanhada de mão de obra qualificada: engenheiros e mestres de obras dotaram Cuiabá de edificações, fachadas, desenhos de praças, calçamentos que rompiam definitivamente com os modelos coloniais. O processo de expansão, interrompido no final do século XIX e início do século XX, foi retomado durante o Estado Novo (1930 - 1945) com a criação da Fundação Brasil Central e, posteriormente, com a fundação de Brasília e o incremento de sua urbanização ocorreu uma descaracterização parcial do núcleo histórico. A cidade de Cuiabá sofre influência arquitetônica da arquitetura moderna brasileira entre as décadas de 1930 e 1950. Esta era a consequência das grandes inovações tecnológicas surgidas no mundo com a explosão da Revolução Industrial, como o concreto armado. Isso só foi possível depois de uma mudança de postura e atitude ética comportamental adotada pelos artistas após a Semana de Arte de 1922. Foi o momento de afirmar a identidade nacional e de fazer mudanças nos hábitos da sociedade. E isso também foi levado para as propostas de outras ciências. Havia uma efervescência cultural, um ufanismo, que levou a busca de uma arte diferente. No início, a arquitetura adotou uma postura baseada nos preceitos acadêmicos e políticos. Aliás, o Estado teve papel importante no processo de afirmação do modernismo brasileiro, pois patrocinou muitas obras como símbolo de modernidade e progresso, a exemplo das construções de prédios como a Residência dos Governadores, Cine Teatro Cuiabá, Liceu Cuiabano, Secretaria Geral e o próprio Palácio Alencastro. Os profissionais dessa época imaginavam que o país seria mais bem valorizado se fossem descartadas as tradições que até então eram seguidas.
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exploração aurífera. Outro fator importante para o desenvolvimento da vila - sua localização geográfica no Centro-Oeste, em uma área de fronteira - fez com que a Coroa Portuguesa promovesse a colonização do lugar e evitasse o avanço da Coroa Espanhola. De 1807 a 1821, ao espaço urbano foram acrescentadas novas construções, como a Santa Casa de Misericórdia, um espaço para exercícios militares, o Campo d’Ourique, em torno do qual residências foram construídas. Em 1818, Cuiabá foi elevada à
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ALTAR DA IGREJA DA BOA MORTE
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lumeMatoGrosso LADRILHO HIDRÁULICO DA CASA BARÃO
Infelizmente, para que fossem erguidos novos e modernos prédios, muitos outros, antigos e históricos foram postos abaixo, derrubados mesmo, pois representavam o antigo. O retrógrado. A exemplo do que ocorreu com o antigo Palácio Alencastro, demolido de forma desnecessária, pois estava em ótimo estado, para ser erguido o prédio atual, um edifício de 7 andares totalmente desconexo com a historiografia tricentenária que pulsa no coração das ruas de Cima, de Baixo e do Meio. E o que dizer da antiga catedral? Portanto, vamos salvar os imóveis históricos que ainda temos em mãos, tanto os de propriedade dos governos federal, estadual e municipal, quanto os particulares. Devemos louvar o trabalho feito pelos governos nos últimos 20 anos, nunca se fez tanta restauração e recuperação do patrimônio arquitetônico como nesse período de começo de Terceiro Milênio. É digno de nota, também, a preocupação e investimento de algumas famílias e comerciantes que possuem imóveis na área do centro histórico de Cuiabá. Muitas obras de recuperação e de manutenção desses casarões e prédios estão sendo feitos com recursos pró-
prios. Podemos imaginar que ocorreu uma reviravolta no modus operandi dos moradores dessa parte da cidade. Há cerca de 30 anos atrás era comum o destelhamento indiscriminado dessas casas para que ocorressem avarias e comprometimento na estrutura física desses imóveis. Muitos deles viraram estacionamentos. Acreditamos que com um pouco mais de esforço por parte das autoridades constituídas na área cultural poderemos ter sim, um centro histórico em ordem, apresentável. Um lugar onde as famílias cuiabanas se orgulharão de levarem parentes e amigos para uma visita. Afinal de contas, as famílias mais antigas, antes moradoras dessa região, hoje habitam condomínios e edifícios esparramados pela vibrante metrópole de Cuiabá. Este livro foi produzido com recursos advindos da Lei Aldir Blanc, sob coordenação da Secretaria municipal de Cuiabá. As fotografias são de Júlio Rocha, a programação visual e diagramação da Casa di Rose. A bibliografia sobre esse tema é diversa, com destaque para trabalhos de pesquisa do arquiteto Robinson de Carvalho Araújo, da Secretaria estadual de Cultura.
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A Novena de Nossa Senhora do Bom Despacho POR SÔNIA REGINA ROMANCINI
Senhora do Bom Despacho, desta cidade, Excelsa Padroeira. Abri vosso doce manto, sobre nós todos, Desta cidade inteira. Aqui estão vossos devotos, cheios de fé incendida, de conforto e de esperança. Oh Senhora do Bom Despacho... (Domínio público)
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s igrejas de Cuiabá se destacam como patrimônio cultural, estando algumas delas situadas em privilegiadas colinas que permitem aos transeuntes vislumbrá-las, no centro principal da cidade. A origem das igrejas se confunde com a da própria cidade. No Plano da Vila do Cuyabá na Capitania de Mato Grosso, 1770/1780, são destacados como formadores da então vila de Cuiabá a matriz, a capela de Nossa Senhora do Bom Despacho e a capela do Rosário. Segundo registros históricos, quando foi construído o Seminário da Conceição, em 1858, por Dom José Antônio dos Reis, primeiro Bispo Diocesano de Cuiabá, já existia no Morro do Bom Despacho a pequena capela do Bom Despacho, que foi substituída por um novo templo. A Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, com estilo neogótico, foi idealizada pelo francês Frei Ambrósio Daydé, sendo o seu construtor o engenheiro francês Léon Joseph Louis Mousnier, que edificou vários templos na América do Sul. A pedra fundamental foi lançada em 8 de setembro de 1918, pelo Arcebispo Dom Carlos Luís D’Amour. A obra teve alguns períodos de interrupção. Em 1923 chegaram a Cuiabá, provenientes da Bélgica, as telhas para a cobertura e zin-
co para as calhas e canaletes. Em setembro de 1924 o templo foi tijolado e coberto, com a capelamor e as duas capelas laterais terminadas. Entre 1955 e 1956, Dom Antônio Campelo de Aragão, Bispo Auxiliar de Dom Aquino Corrêa, deu continuidade ao projeto para concluir a obra. No ano de 1977, a Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho e o Seminário da Conceição foram tombados como patrimônio público estadual. Posteriormente, pela Lei n. 3265 de 11 de janeiro de 1994, a Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho foi declarada como “Símbolo Cuiabano de Tradição e Cultura” do Município de Cuiabá. Com o apoio do Governo de Mato Grosso, através da Secretaria de Estado de Cultura, a Igreja do Bom Despacho foi restaurada, com recursos doados por uma empresa do sistema financeiro, e reaberta em 30 de agosto de 2004. Na contemporaneidade, a igreja foi elevada à categoria de Santuário Eucarístico, recebendo os fiéis todos os dias para os ofícios sagrados pertinentes a um santuário. Como destaque para o templo como espaço sagrado, em 2010, o Santuário Eucarístico Nossa Senhora do Bom Despacho foi agraciado, pelo Papa Bento XVI, com a Indulgência Plenária, por um período de sete anos. Nossa Senhora do Bom
Despacho é co-padroeira de Cuiabá, juntamente com o Senhor Bom Jesus de Cuiabá. No período de 30 de agosto a 8 de setembro, no Santuário Eucarístico Nossa Senhora do Bom Despacho, acontece a Festa e Novena de Nossa Senhora do Bom Despacho, em homenagem à padroeira do templo, pois no dia oito se comemora o aniversário natalício de Nossa Senhora, uma vez que bom despacho significa bom nascimento. Velai por nossas famílias, Pela infância desvalida, Pelo povo cuiabano. Oh Senhora do Bom Despacho... (Domínio público) O livreto da Novena de Nossa Senhora do Bom Despacho de 2013, apresenta um texto elaborado por Dom Bonifácio Piccinini – SDB, Arcebispo Emérito de Cuiabá: “A devoção a Nossa Senhora do Bom Despacho faz parte da história do povo católico de Cuiabá [...] Nos anos 60 do século passado, os fiéis católicos, ajudados pelas irmãs Salesianas que trabalhavam no DASA (atual CEMA) e com o entusiasmo de Dom Orlando Chaves e do Padre Pedro Cometti, iniciaram a novena da penitência em preparação da festa da Natividade de Nossa Senhora – festa de Nos-
toando o cântico à Nossa Senhora do Bom Despacho e meditando sobre os mistérios do rosário. A procissão é precedida por um acólito que leva nas mãos um pequeno crucifixo, seguido pelo Arcebispo Emérito de Cuiabá, Dom Bonifácio Piccinini, pelo Reitor do Santuário, Pe. Kleberson Paes e por outros sacerdotes. Muitos homens e mulheres que têm devoção em Nossa Senhora do Bom Despacho acompanham a procissão, que retorna ao Santuário onde é celebrada a Santa Missa e há atendimento de confissões. Após a missa, é rezada a oração de Nossa Senhora do Bom Despacho. Em anos recentes, no pátio da igreja, uma barraca oferece o café da manhã a preços módicos. Nos últimos anos, tem sido organizado um pequeno livro com as orações, liturgia e cânticos que contemplam todos os dias da novena. Há também um folder com as principais informações sobre a novena e, no verso, as especificações sobre o trajeto de cada dia. No dia 7 de setembro, nono dia da novena, a imagem de Nossa Senhora do Bom Despacho é levada, em procissão para a Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. No dia 8 de setembro os fiéis acompanham a procissão com velas acesas para reconduzir a imagem
de Nossa Senhora ao Santuário, onde acontece a Celebração Eucarística solene em honra à padroeira. O Santuário Eucarístico Nossa Senhora do Bom Despacho constitui importante referencial na paisagem urbana, um lugar de memória, onde o novo e o moderno convivem com formas e práticas sociais e religiosas antigas, herdadas de outras gerações. Um lugar onde as cerimônias religiosas são renovadas e ganham novos significados. A novena de Nossa Senhora do Bom Despacho propicia um período de penitência e de oração, levando à reconciliação do homem consigo mesmo e com Deus Pai, tendo Nossa Senhora como uma poderosa intercessora. A festividade denominada Natividade de Nossa Senhora, comemorada no dia 8 de setembro, caracteriza-se pela celebração solene, mantendo o espírito de oração cultivado durante a novena.
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sa Senhora do Bom Despacho no dia 8 de setembro.” Todas as manhãs, às 5h00 sai a procissão percorrendo as ruas próximas ao Santuário, rezando e cantando os louvores de Nossa Senhora do Bom Despacho. Quando cheguei a Cuiabá, logo em 1976, continuei a belíssima tradição que com a graça de Deus, continua sendo uma grande benção para o povo católico de Cuiabá. A novena e a festa do dia 8 de setembro sempre se caracterizaram pela penitência, pelas confissões, pela Santa Missa e pelas orações em pleno recolhimento, com muita simplicidade (NOVENA, 2013, p. 6). Em entrevista concedida, Dom Bonifácio Piccinini falou com entusiasmo sobre a jornada de realizar a novena por quatro décadas, uma novena que se caracteriza pelo despojamento. Entre as poucas modificações que aconteceram nos últimos anos destacou que, anteriormente, quem levava o crucifixo à frente da procissão eram senhoras representantes das comunidades da paróquia. Atualmente, quem realiza esta função é um acólito. A novena começa no interior do Santuário, quando Dom Bonifácio Piccinini faz a oração inicial, de autoria de Dom Bosco, que foi introduzida por ele nesta cerimônia. Em seguida, a procissão percorre as ruas do entorno do Santuário, en-
Oh Mãe terna e estremecida, Protegei a nossa Pátria. Oh Senhora do Bom Despacho... (Domínio público) SÔNIA REGINA ROMANCINI
é Professora Associada IV da UFMT e membro titular do IHGMT Contato: romancini.ufmt@gmail.com
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C U LT U R A P O P U L A R
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O Boià-Serra em Santo Antônio de Leverger Ritmos, linguagens e representações culturais
O
POR MAISA FRANÇA TEIXEIRA
estado de Mato Grosso denota uma variedade de manifestações, festas e rituais. Nele, vários exemplos de festas e danças revelam a influência do período colonial e da mineração nas práticas culturais do estado. Grando (2002), em Cultura e dança em Mato Grosso, ressalta como exemplo a Folia de Reis, São Gonçalo e as festas em geral.
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O Boi-à-Serra¹, em Mato Grosso, especialmente em Santo Antônio de Leverger, é uma festividade cujo folguedo é variante de outros estados brasileiros. Os grupos fomentam apresentações únicas, como desfiles na época do Carnaval, e/ou conjuntamente com outras manifestações da cultura local, como o siriri. Consoante Loureiro (2006), há relatos de ocorrência do Boi-à-Serra em 1900, em Rosário Oeste, nos escritos de Max Schmidt, e em outras cidades do Vale do Rio Cuiabá, como Santo Antônio de Leverger, Engenho Velho, Bom Sucesso, Varginha, entre outros. Assis (1982) complementa que o Boi-à-Serra foi um folguedo bastante difundido no Mato Grosso, mormente na região do Rio-Abaixo, onde os engenhos eram a atividade econômica predominante. Loureiro (2006) acrescenta que “a dança do Boi-à-Serra consegue, ainda hoje, manter suas características originais no município de Santo Antônio de Leverger”. O boi, principal personagem da festa, é montado por uma estrutura de madeira (taquara) flexível e leve, coberto normalmente por um pano de chita estampada ou por um cobertor tipo “seca-poço”. A seda também é utilizada, raras vezes, para enfeitar o animal construído. A cabeça é feita da caveira do boi. Ela é pintada com tons
semelhantes às cores dos animais e dos panos escolhidos, formando a estrutura do corpo do brinquedo. A estrutura recebe arranjos nos olhos e o rabo do animal também é enfeitado. Atualmente, devido à constante presença de crianças no folguedo, faz-se a cabeça de isopor, por ser um material leve e flexível para ser transportado. A festa inicia-se quando todos os brincantes “vestem-se” da estrutura e saem brincando. Logo, ao carregá-la, dá-se vida ao boi — que brinca com os visitantes/turistas ou com os próprios colegas. A brincadeira ocorre quando o boi avança, como se fosse chifrar os que observam, além de amedrontar as crianças pequenas, etapa que também faz parte da brincadeira. Afora os personagens que integram o grupo ou bloco, como o bico-de-brasa, a mãe-do-morro, o mascarado, a ema, o toureiro e a cabeça-de-apá, há outros animais, como aranhas, borboletas e outros que serão retratados posteriormente. Essas figuras lendárias variam de acordo com o grupo do Boi-à-Serra. Loureiro (2006) enuncia que essas figuras estão “todas ligadas aos costumes, mitos e lendas regionais e ao ambiente rural”, o que se aplica ao Boi-à-Serra, folguedo composto por diversas territorialidades decorrentes de processos que garantem suas dimensões
simbólicas e culturais inseridas no território mato-grossense. As figuras lendárias e o boi inserem-se na cidade de Santo Antônio desde o período canavieiro (séc. XIX). Posteriormente aos anos de 1980, conforme relato do morador V. S. (47 anos), ocorre uma revitalização do Boi-à-Serra em Santo Antônio de Leverger: “O boi sempre existiu, mas estava fraquinho, ninguém dava atenção. Então essa galerinha que era tudo criançada pequena hoje já estão casados, tem filhos e eles já estão aqui. Eu conheci o boi quando eu era muito pequeno ainda em Bom Sucesso em Várzea Grande. E, quando eu vim curtir o carnaval aqui em Santo Antônio com meus parentes, ouvia falar da história do boi, acabei me interessando. E também tem que o Sr. Mamedi chegou a ser meu vizinho. Ele era responsável pelo Boi-à-Serra aqui na cidade, porém depois de um tempo, parou, estava cansado, com muita idade. O boi de antes com o de agora é muito diferente, e com diferenças radicais, porque antes o boi era feito de uma forma mais sem compromisso, de brincadeira mesmo. As crianças iam e cortavam lá o mel de pomba, as madeirinhas e montavam a carcaça do boi, pegava a carcaça da cabeça do boi e cobria com um cobertor e saía pelas ruas. Sabe, uma coisa simples assim. Não se tinha nem o
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cuidado de forrar a carcaça da cabeça do boi, cobria assim, com um lençol. E a outra diferença é que os adultos faziam a história, as letras das músicas conforme a história da vida do dia a dia deles para o boi. Então a relação deles com o boi era uma coisa bem real, sabe? Era uma relação de trabalho, de vida. A gente analisando por esse prisma, a gente via que o boi tem uma importância muito grande, pois eram através do boi que eles contavam as mágoas, as coisas, as dificuldades deles. Nossa cultura é dinâmica, não tem como querermos uma coisa fixa, ela não é assim. A arte que é cíclica, que movimenta por si só, é a vida deles, então eles crescem e movimentam como a vida deles. Isso é o que garante a permanência do Boi-à-Serra em Santo Antônio de Leverger e dá sentido para a cidade, uma cultura específica, única desse lugar (13/3/2014).” De acordo com o morador V.S. (47 anos), o nome Boi-à-Serra justifica-se pela permanência dos bois nos pastos, caracterizados como serras, por isso o boi vai à serra, tornando-se Boi-à-Serra. Maisa França Teixeira é doutora em Geografia pela UFPR. Professora da FACEG (Faculdade Evangelica de Goianésia) e UEG (Universidade Estadual de Goiás).
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Porque nós Financiamos a Escravidão? O trabalho análogo ao escravo e o que temos a ver com isso POR LOYUÁ RIBEIRO F. M. DA COSTA
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escravidão sempre foi um instrumento globalmente utilizado pelo interesse econômico de muitos. Primeiramente, era fortemente marcada pela cor de pele negra. Os escravos eram procedentes de guerras e incursões que objetivavam o cultivo de terras dos chamados senhores feudais e a busca por matéria prima em alguns países quando eram colônias. Mesmo após sua abolição e instituição de diversos direitos humanos abordados por Convenções In-
de como o interesse econômico permeia as relações sociais, refletindo, inclusive, no âmbito laboral. Quando da ocorrência do trabalho análogo ao escravo, há a coisificação do homem pelo homem, tornando-o uma espécie de propriedade. Instrumentos normativos internacionais o consideram crime comparável aos maiores genocídios da história mundial. Isso porque a pessoa submetida ao trabalho análogo ao escravo não perde somente o controle sobre o seu labor, mas a autonomia sobre sua personalidade e dignidade. Não apenas sua força de trabalho é vista como uma mercadoria, mas também o seu ser. De uma forma geral, as vítimas do trabalho análogo ao escravo se encontram nas indústrias relacionadas à agricultura, pesca, construção, confecção têxtil, mineração, serviços e trabalho doméstico. É comum a escravidão por descendência, servidão por dívida, trabalho doméstico forçado, tráfico de pessoas, confinamento, prisão ou cárcere privado, coação psicológica ou física, não pagamento de salários, retenção de documentos ou pertences do trabalhador. O 50 freedom, movimento global liderado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), em seu site oficial (http://50forfreedom.org/pt/um-tratado-para-mudar-21-milhoes-de-vidas/)aponta que, na atuali-
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ternacionais que servem de parâmetro à elaboração de leis pelos países, o trabalho escravo contemporâneo é demasiadamente presente, conforme se mostrará. O trabalho escravo contemporâneo não distingue cor e apropria-se de pessoas mundialmente vulneráveis. Fortalece-se no mercado orientado pelo lucro e, como se verá, nossas ações também contribuem à sua existência. O desemprego, a desarticulação entre os países, as migrações, a má distribuição de renda em si, são estratégias políticas e econômicas para sujeitar pessoas aos interesses do mercado que propiciam o desenvolvimento econômico dos países. Portanto, a escravidão contemporânea veio somar à antiga, pois tratam-se da exploração de mão de obra com fins político-econômicos, agora mascarada para atender às novas facetas globais. Os países raramente assumem o aumento da desigualdade para além de um problema de ordem financeira. Adotam como indicador de progresso social a renda média de seus membros e não o nível de desigualdade dos salários ou a distribuição da riqueza.As pessoas que decidem pelas ações que resultam em efeitos prejudiciais, como o trabalho análogo ao escravo, não são as mesmas que os sofrem. Nesse sentido, há uma evidente percepção
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dade, há mais pessoas em situação de escravidão do que em qualquer outro momento da história do mundo. Em âmbito global, a estimativa é de 21.000.000 de pessoas. Isso significa que a cada 1.000 pessoas no mundo, três encontram-se em condições análogas à escravidão. Se reunissem todas em uma única cidade, esta seria uma das mais populosas das Américas. O número de pessoas em condições análogas à de escravo nas maiores capitais dispõe da seguinte ordem: Tóquio (aproximadamente 40.000.000); Xangai, Cidade do México, São Paulo e Mumbai (acima de 20.000.000); Nova Iorque e Cairo (aproximadamente 20.000.000); Lagos e Paris (acima de 10.000.000); Londres (cerca de 10.000.000). Como se vê, a prática não existe somente nos países em desenvolvimento. Aliás, o lucro anual por vítima é maior nos países desenvolvidos e na União Europeia do que aos demais países do globo. Os dados estimam em 1.500.000 pessoas sob es-
US$ 150 bilhões. Esse valor equivale à soma dos lucros das quatro mais rentáveis empresas mundiais. Os dados alarmantes aqui trazidos demonstram que o trabalho análogo ao escravo está presente em países desenvolvidos e subdesenvolvidos, tratando-se de um instrumento político e econômico utilizado por países que possuem sociedades orientadas ao lucro desordenado. Diante disso, uma pergunta mostra-se pertinente: O que nós, cidadãos,temos a ver com isso? Todos sabemos que existem produtos mais baratos por terem sido confeccionados por países com leis FOTO: DIVULGAÇÃO trabalhistas fracas, que utilizam-se de trabalho de8,5 bilhões). O trabalho análogo ao sumano.Em âmbito global, escravo garante não só ele- são comuns roupas de lojas vados lucros, em razão da de varejo, empresas de choextensiva carga horária de colate, carvão, pornografia, trabalho, mas também em bolsas falsificadas, produtos razão dos baixos, por vezes com óleo de palma e borrainexistentes, custos e salá- cha, terem sido produzidas rios. Estima-se em US$ 32 por mão de obra análoga à bilhões de dólares anuais escravidão e, não raras as os lucros obtidos por tra- vezes, são produtos presenbalhos forçados. Em 2014, tes em nossos guarda-rouo número aumentou para pas, quarto, casa, trabalho. sas condições na Europa, América do Norte, Japão e Austrália. Os maiores lucros encontram-se, respectivamente, na Ásia-Pacífico (US$ 51,8 bilhões), países desenvolvidos e União Europeia (US$ 46,9 bilhões), Europa Central e do Sudeste e Comunidade dos Estados Independentes (US$ 18 bilhões), América Latina (US$ 13,1 bilhões), África (US$ 12 bilhões) e Oriente Médio (US$
lumeMatoGrosso Diante dessas explanações, resta claro que existe uma esperança em nós, cidadãos, pois embora habitemos o Brasil, nossas ações mostram ter reflexos globais.Nossa conscientização e postura crítica, como verdadeiros praticantes da cidadania, além de contribuir para uma governança voltada a critérios consumeiristas éticos, poderá resultar em maior amparo aos invisibilizados dentro e fora de nosso país. Isso porque, dessa forma, além do Brasil não financiar indiretamente trabalhos análogo ao escravo, é possível o aumento de empregos por meio do desenvolvimento de mi-
cro e pequenas empresas dentro de nosso país. Nossa vida não se resume em assistirmos aos índices, dados, análises acerca do trabalho análogo ao escravo, como se não fizéssemos parte do mundo em que ocorre. Não podemos usufruir do mercado e confiar que o Brasil está a adotar uma postura ética ao permitir que empresas em nosso território vendam produtos confeccionados em outros países que utilizam-se de trabalho desumano. De que adianta o Brasil possuir normativas de proteção ao trabalhador,para a erradicação do trabalho análogo ao escravo, se corrobora à sua
existência em outros países, como na China e outros países da Ásia? Estamos falando de políticas governamentais mundialmente adotadas e de países dominados pelos interesses do mercado. Estamos falando de interesses que nos usam para invisibilizar pessoas que precisam de nossa conscientização e atitude. A escravidão ainda não acabou. Ela se manifesta em todos os países de diversas formas. Já pensamos sobre isso? Pensamos na dimensão de nossos atos? E então... pretendemos continuar financiando indiretamente o trabalho escravo? “Fique esperto!”
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MARÇOS DE NOSSA HISTÓRIA DIA 01 »»1444. Nasce pintor italiano.
Botticelli,
mato-grossense, de projeção nacional. Foi colega de Rui Barbosa, Quintino Bocaiuva, Benjamin Constant e Euclides da Cunha. »»1917. Morre Ferdinand von Zeppelin, inventor do dirigível que leva seu nome. DIA 09
»»1959.
»»1810.
Nasce Frederic Chopin, músico polonês. »»1923. Morre Rui Barbosa, jurista, jornalista e político brasileiro. DIA 02
»»1983.
Ruth e Elliot Handler (fundadores da empresa Mattel) apresentam ao mundo o brinquedo que revolucionará a indústria e gerará inúmeras polêmicas. Eles são os “pais” de Barbie, uma boneca adulta de corpo perfeito, simboliza sucesso, beleza e juventude.
Os Compact Discs (CDs) são lançados pela primeira vez nos USA e em outros mercados.
Nasce Antônio Conselheiro, líder espiritual de Canudos. DIA 14
»»1883. Morre Karl Marx, fi-
lósofo e economista alemão. »»1847. Nasce Castro Alves, poeta baiano. DIA 15
»»1985. O primeiro domínio da Internet é registrado. DIA 17
»»2001. Nasce a bezerra Vi-
tória, o primeiro animal clonado brasileiro. DIA 20
»»1899.
Martha M. Place se torna a primeira mulher a ser executada na cadeira elétrica nos EUA. »»1941. O escritor Monteiro Lobato foi preso por criticar as torturas praticadas pelo Estado Novo.
DIA 04
»»1877.
Estréia Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky. »»1910. Nasce Tancredo Neves, político brasileiro. DIA 05 »»1953. Morre Joseph Stalin, ditador russo.
DIA 10 »»1862. A primeira nota em papel-moeda é emitida pelo governo dos EUA.
DIA 06
DIA 11
»»2001. Morre Mário Covas, »»2011.
»»1969. O beatle John Lennon casa-se com a artista plástica japonesa Yoko Ono.
DIA 07
DIA 22 »»1895. Os irmãos Lumière fazem a primeira apresentação pública do cinematógrafo. »»1994. Morre W. Lantz, desenhista criador do personagem Pica-Pau. »»2001. Morre William Han-
político brasileiro nascido em São Paulo.
»»2000.
Californianos rejeitam o casamento gay em um plebiscito. DIA 08 »»1861. Nasce Antônio Francisco de Azeredo, advogado, jornalista e político
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DIA 13
»»1830.
Ocorre sismo e a Tsunami de Sendai, no Japão, de 2011 DIA 12
»»1572.
Publicação de Os Lusíadas, poema épico do português Luís de Camões. »»1894. Inicia-se a venda de Coca-Cola em garrafas.
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DIA 23 »»1919. Benito Mussolini funda o movimento fascista na Itália. DIA 24
»»1949.
Pela primeira vez, um filme estrangeiro recebe um Oscar. Foi o britânico Hamlet, interpretado por Laurence Olivier. DIA 25
»»1901.
O primeiro carro Mercedes aparece em um evento automobilístico em Nice, na França.
DIA 26 »»1991. Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai assinam o Tratado de Assunção, estabelecendo assim o MERCOSUL. DIA 27
»»1910. Nasce Manoel José
de Arruda, dentista e político. Foi prefeito de Cuiabá, deputado estadual em 3 mandatos e presidiu o TCE/MT. DIA 30
»»1842.
A primeira cirurgia usando anestesia é realizada pelo Dr. Crawford Long, na Georgia, USA.
O PERSONAGEM OITO ANOS DE ELEIÇÃO DE JORGE MARIO BERGOGLIO, O 266º DA IGREJA CATÓLICA »»13-03-2013. Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, eleito papa em 13 de março de 2013, nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, a 17 de dezembro de 1936. Filho de emigrantes italianos, trabalhou como técnico químico antes de se decidir pelo sacerdócio. Sucedeu ao Papa Bento XVI, que abdicou ao papado, em 28 de fevereiro de 2013. É o primeiro papa latino-americano, em mais de 1200 anos. É também o primeiro papa jesuíta da história. Em fevereiro de 1998, Francisco tornou-se arcebispo de Buenos Aires, sendo elevado ao cardinalato três anos depois, com o título de Cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino, por João Paulo II.
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na, da dupla de criadores de desenhos animados Hanna-Barbera.
O ACONTECIMENTO SETENTA E SETE ANOS DA CHEGADA DA EXPEDIÇÃO XINGU AO RIO DAS MORTES »»04-03-1944. Em 1943, formara-se no Rio de Janeiro a Expedição Xingu, destinada a estudar local adequado para sediar o governo federal, caso a segunda guerra mundial, em curso, exigisse essa estratégia política. Em dezembro daquele ano a Expedição partia de Barra do Garças dividida em duas frentes: a primeira em busca da barra do Rio das Mortes, descendo o Araguaia; e a outra deveria abrir uma picada em direção onde hoje está a sede do município de Nova Xavantina. Em 4 de março de 1944, o chefe da expedição, coronel Vanique, expedia informações ao ministro João Alberto anunciando a chegada da expedição ao Rio das Mortes, na altura da atual Nova Xavantina.
DIA 31
»»1931. Jogos de azar são legalizados em Nevada.
»»1964. Um golpe de Esta-
do no Brasil dá início a uma ditadura militar liderada por Castelo Branco.
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R E T R ATO E M PRETO E BRANCO
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ane Vanini nasceu em Cáceres, em 8 de setembro de 1945 e teve uma vida dedicada à causa que sempre acreditou, a de um Brasil diferente daquele que conheceu e conviveu, conturbado na política, educação e com futuro incerto. Jane era uma mulher que confiava que o mundo poderia ser bem melhor do que era e, por conta desse ideal, nunca economizou esforços para fazer a sua parte nesse propósito de vida. Vanini viveu em Cáceres até 1967, quando se mudou para São Paulo e começou a estudar Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP), onde iniciou sua militância, no movimento estudantil. Nesse período, conheceu o jornalista Sérgio Capozzi, também militante e que viria a ser seu companheiro. Em 1968, ingressou na Ação Libertadora Nacional (ALN). Junto com Capozzi, entraram para a clandestinidade, em 1970, e viajaram para Cuba. Para sair do Brasil, o casal embarcou em um navio italiano, no porto de Santos, se valendo de nomes falsos: Eram Mário e Adélia. A embarcação os le-
vou ao Uruguai, Buenos Aires, Roma, Praga e, finalmente Cuba. No país caribenho, participaram da fundação do Movimento de Libertação Popular (Molipo). Voltaram ao Brasil em 1971, quando aderiram à guerrilha na cidade de Araguaína (GO). Com a prisão de um dos líderes da Molipo, Ruy Carlos Berbet, iniciou-se a perseguição aos militantes da organização. Jane e Capozzi se exilaram no Chile, país que, naquele momento, vivia o governo da Unidade Popular, com Salvador Allende. No país sul-americano, Jane entrou para o Movimento da Esquerda Revolucionária (MIR, pela sigla em espanhol). Sua união com Copozzi durou até 1973. Com o fim do casamento, Jane seguiu na luta e se transformou em “Ana”, casando-se com o jornalista José Tapia Carrasco, o “Pepe”. Após o golpe militar de Augusto Pinochet, em 1973, Jane voltou à clandestinidade, já com o novo companheiro. O casal decidiu então sair de Santiago e se refugiar em Concepción. Na noite de 6 de dezembro de 1974, Jane foi assassinada pelas forças repressoras em sua casa.
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Jane Vanini
Segundo o livro “Luta: substantivo feminino”, Jane resistiu por quatro horas. Os policiais da Direção de Inteligência Nacional (Dina) chegaram a pensar que havia vários militantes dentro da casa. Ali, deixou um bilhete a Pepe: “Perdão, meu amor, foi a última tentativa de te salvar”. Sua família soube de seu desfecho após ser contatada por Pepe, que estava preso. Posteriormente, ele foi libertado e assassinado em 1986 pela ditadura. O Estado chileno reconheceu que Jane havia sido vítima de violações de direitos humanos no Chile apenas em 1993. Em 2005, as autoridades chilenas localizaram os restos mortais de Jane num cemitério clandestino. Em sua homenagem teve seu nome dado a uma rua na cidade do Rio de Janeiro, no bairro de Bangu. O Chile a reverência com o seu nome dado a uma praça, na cidade de Concepción, não muito distante da casa em que morava e foi assassinada. Também teve seu nome dado ao campus da Unemat - Universidade Estadual de Mato Grosso, na cidade Cáceres, sua terra natal.
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MEMÓRIA
Maria Bonita A Rainha do Cangaço
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POR DAYANE BORGES
onhecida como a ‘Joana d´Arc da Caatinga’, Maria bonita era vista como uma heroína do cangaço. Era destemida, empoderada e bem-humorada. Companheira do cangaceiro Lampião, foi responsável por lutar contra a ação de coronéis e o governo. O nome Maria Bonita só veio a se popularizar depois de sua morte, em 28 de julho de 1938, aos 28 anos de idade. Antes disso, a rainha do cangaço era chamada por familiares de Maria de Déa. Desta forma, Maria Bonita era uma mulher que estava à frente do seu tempo. Assim, vista como guerreira por não se calar, por lutar ao lado de lampião, Maria Bonita começou a fazer parte do bando dos cangaceiros por livre espontânea vontade O nome completo era Maria Gomes de Oliveira, nascida no dia 8 de março de 1911. Assim, seu lar era a fazenda Malha-
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da do Caiçara, próximo à localidade Santa Brígida, na Bahia. Todavia, Maria Bonita se casou logo cedo, aos 15 anos. Porém, seu marido, o sapateiro José Miguel da Silva, era estéril e o casal não podia ter filhos. Por conta disso, as brigas eram constantes e logo Maria Déa se separa e volta a morar perto de seus pais. Por coincidência, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, passou pelas redondezas e Maria o viu. De fato, alguns dizem que antes mesmo de conhecê-lo Maria Déa já sentia algo pelo Lampião. O que era pra ser só alguns dias de Lampião na fazenda Malhada do Caiçara, se tornaram dez. Assim, os dias com Maria Bonita foram de grande proveito. Logo, a cangaceira via em Lampião uma forma de se livrar da vida rotineira e do marido que não a satisfazia na vida.
Porém, pelas condições extremas em que vivia, perdeu o feto. Assim, vários foram os abortos espontâneos, até que, em 1932, conseguiu dar à luz. Dessa maneira, foi à sombra de um umbuzeiro em Porto de Folha, no Estado de Sergipe, que Expedita, a única filha do casal, nasceu. Porém, as leis do cangaço determinavam que as crianças não podiam faziam parte do bando. Assim, logo que nasciam, eram entregues à parentes ou à pessoas próximas como padres, coronéis, juízes, militares, ou fazendeiros. Desta forma, Expedita não pôde ser criada pelos pais, pois a vida no cangaço já estava traçada. Lampião era visto como um homem de muitas qualidades. Assim, no meio da caatinga conseguia ser guerrilheiro, médico, farmacêutico, dentista, vaqueiro, poeta, estrategista e artesão. Desta forma, era prestativo, confeccionava suas próprias vestimentas e ajudava no parto das mulheres do cangaço. Em 27 de junho de 1938, em Angicos, no sertão de Sergipe, o bando é atacado e eliminado. Suas cabeças foram cortadas e expostas em praça pública, inclusive a de Maria Bonita, que entrou para a história por sua valentia e destemor.
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O CANGAÇO FEMINISTA »»Maria Déa partiu com Lampião para a caatinga, depois de se despedir dos familiares. Assim, deixou a vida de casada e foi a primeira mulher a fazer parte do bando de cangaceiros. Logo passaram a chamá-la de Dona Maria, Maria de Lampião ou Maria do Capitão, como forma de respeito. Em síntese, a rainha do cangaço tinha 20 anos e o ano era 1931. Por consequência, outras mulheres se viram inspiradas a seguir o mesmo caminho e também entraram para o bando. Dessa forma, começa ali no cangaço uma revolução feminista por respeito e mais espaço. Dessa forma, as mulheres tinham armas, eram fortes aliadas em negociações e reuniões. Porém, não era sempre que podiam participar dos combates, mas estavam sempre com armas para defesa pessoal. Além disso, eram parte das brigadas, cuidavam dos feridos e eram companheiras dos cangaceiros. Além de Maria e Lampião, outros casais também se formaram no cangaço. Assim, Corisco e Dadá; Gato e Inacinha; Moita Brava e Sebastiana; José Sereno e Cila; Labareda e Maria; José Baiano e Lídia; e Luís Pedro e Neném foram alguns deles. Logo após ingressar no bando de cangaceiros, Maria ficou grávida de Lampião.
Fontes: Basilio Fundaj, BBC, Isto É.
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MÚSICA
Jazz/Rasqueado
Um princípio simétrico e um final desconcertante POR MILTON PEREIRA DE PINHO - GUAPO
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MÚSICA
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té parece que a formação inicial dessas duas correntes musicai foi combinada na sequência do tempo histórico, isto é, quando terminou o conflito bélico da Guerra de Secessão americana (18601865) nos Estados Unidos na América do Norte, aqui na América do Sul começava a Guerra do Paraguai (1865-1870). Após o final desses dois conflitos, o Jazz começa a desenvolver na beira do Rio Mississipi, o Rasqueado a beira do Rio Cuiabá. O Jazz em seu começo foi uma mistura de Blues, WorkSongs, Hollers africanos e música branca. Foi um advento e também um novo alento de liberdade para os negros na volta a vida. O Rasqueado inicialmente teve a mistura de Siriri e Cururu e Polca Paraguaia e também foi
um novo advento e alento da volta a vida depois do grande conflito. Os instrumentos que começaram a compor o Jazz foram o violino, o banjo e o violão. O Rasqueado também começa com esses mesmos instrumentos, salvo o Rasqueado de Fronteira que se desenvolveu no acordeão, assim como a gaita de boca que também desenvolveu o Jazz e o Blues de Louisiana. O Rasqueado ficou discriminado no inicio de sua trajetória, notadamente pela elite cuiabana, vendo-se confinado à sua execução somente em zonas de prostituição e em casas particulares. Em New Orleans, o Jazz, com a lei da segregação racial decretada, em 1894, teve o mesmo destino. A primeira banda de Jazz a ser reconhecida pela comunidade artística, em New
Orleans, foi a Original Creole Jazz, criada pelos músicos negros Joe “King” Oliver e Louis Armstrong, já no começo do século XX, porém, quem gravou e lançou o primeiro disco de Jazz foi uma banda de brancos, denominada Original Dixieland Jazz Band do músico Papa Jack. A primeira banda de Rasqueado reconhecida em Cuiabá foi a Banda Lira Operária criada pelos músicos negros Mestre Ignácio e Antônio dos Santos também no começo do século XX, e já arrastava multidões nas festas de santo e em comícios. Mas quem gravou e lançou o primeiro disco de Rasqueado foi o Conjunto Serenata, do violinista Tote Garcia, um grupo musical composto somente de brancos. As musicistas Mary Lou Williams e Lilian “Lili” Hardin, foram responsáveis pela entrada e desenvolvimento do
lumeMatoGrosso LPS CONJUNTO SERENATA 1 E 2
piano no Jazz, contemporaneamente é instrumento indispensável nesse ritmo musical. Assim como nos Estados Unidos, o mesmo ocorre em Cuiabá, com as musicistas Zulmira Canavarro e Dunga Rodrigues, que levaram o piano para o Rasqueado, desenvolvendo novos arranjos e, com isso, também contribuíram para a apreciação dessa modalidade musical pela elite cuiabana. Depois de tudo isso vem
a grande dissociação das duas correntes musicais e o fim dessa simétrica histórica. Enquanto o Rasqueado praticamente não teve um acervo discográfico histórico como o Jazz, devido a falta de consciência cultural da política local (e que hoje continua do mesmo jeito), ficou confinado somente nas partituras guardadas e hoje já deterioradas em casernas militares. Os descendentes dos grandes mestres
compositores, que definiram a música no século passado, seguem tocando com suas bandas o Rasqueado e, agora, também o Lambadão nas cidades pantaneiras e Baixada Cuiabana. Nos Estados Unidos a consciência cultural e o pragmatismo americano reconhecem logo no começo o valor riquíssimo do Jazz, como uma verdadeira música da América. Observaram que aquele ritmo trazia um novo veio musical, que poderia influenciar significativa parte do mundo que via a decadência da música europeia. Visionários, os americanos tiram o Jazz de Louisiana e de New Orleans e os promovem para o mundo, criando fantástico acervo de gravações, o maior que existe. Dessa forma o Jazz, na década de 1950, vem influenciar o Samba-Canção brasileiro para dar origem a Bossa Nova e, que hoje, é uma das correntes musicais, tal como o Jazz, mais executadas no mundo.
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Americanidade
A Busca Pelo Intercâmbio Cultural Entre Os Povos Da América Do Sul:
Gabriela Mistral
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Quando falamos em literatura chilena, geralmente, o primeiro nome que vem à mente é Pablo Neruda. No entanto, para os chilenos, Gabriela Mistral é um dos destaques do país, sendo a primeira pessoa a receber um Prêmio Nobel na América do Sul, em 1945
FOTOS DIVULGAÇÃO
para o Jornal do Brasil. Nos anos 1930 e 40, ela era considerada um ícone da literatura latino-americana, mas em 1945, se tornou o primeiro nome da América Latina a vencer o Prêmio Nobel de Literatura – na época em que recebeu a notícia estava em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Sua poesia é única, mística e repleta de imagens singulares e de lirismo. Seus temas centrais são o amor pelos humildes, memórias pessoais dolorosas, as mágoas e um interesse mais amplo por toda a humanidade. Entre seus poemas destacam-se: “Gotas de Fel”, “Eu Não Sinto a Solidão” e “Dá-me Tua Mão”. Após a premiação, Gabriela começou a ficar conhecida em toda a América Latina. Gabriela Mistral faleceu em Nova Iorque, Estados Unidos, no dia 10 de janeiro de 1957. A história da poetisa tem tanto significado na cultura chilena que em 1972, o espaço que sediou a terceira conferência da UNCTAD foi nomeado como Centro Cultural Metropolitano Gabriela Mistral. O espaço se tornou um ponto de encontro social, artístico e cultural no coração de Santiago e permaneceu assim até 1973. O edifício foi restaurado e em 2010 passou a chamar-se Centro Cultural Gabriela Mistral, ou mais popularmente conhecido como GAM.
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ucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga nasceu em Vicuña, em 7 de abril de 1889, mas ficou conhecida mundialmente sob o pseudônimo de Gabriela Mistral. Ela atuou como poeta, educadora, diplomata e feminista. Em 1904, Lucila começou a trabalhar como professora em uma escola primária e secundária. Dez anos mais tarde, ganhou os Juegos Florales de Santiago como Gabriela Mistral e seus Sonetos de La muerte. Seu nome foi escolhido como forma de homenagem a Gabriele D’Annunzio e Frédéric Mistral, seus poetas prediletos. Seu poemas tinham foco no amor, tanto romântico, quanto materno e pelo próximo. Seu estilo e poesia foram muito influenciados pelo suicídio de seu noivo, em 1907. Em 1922, publicou seu primeiro livro de poesias, “Desolación”, onde incluiu o poema “Dolor”, no qual fala da perda de seu amado. Ainda em 1922, foi convidada para trabalhar no Ministério da Educação do México, e logo se tornaria uma referência na pedagogia – elaborou as bases do sistema educacional do México, fundou escolas e organizou várias bibliotecas públicas. Terminada sua estada no México, Gabriela viajou pela Europa, Estados Unidos e América Latina. Em 1926 foi nomeada secretária do Instituto de Coperación Intelectual de la Sociedade de Naciones. Paralelamente foi redatora da revista de Bogotá “El Tiempo”. Representou o Chile em um Congresso universitário em Madri e pronunciou uma série de conferências sobre o desenvolvimento cultural norte-americano, nos Estados Unidos. Gabriela Mistral foi nomeada Consulesa do Chile e representou seu país em Nápoles, Madri, Lisboa e no Rio de Janeiro. Logo que chegou ao Brasil, fez amizade com Cecília Meireles – lançaram um livro de poemas juntas. Fez amizades literárias com Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Assis Chateaubriand e seu predileto, Vinícius de Moraes. Conheceu Mário de Andrade através de Cecília. Nessa época, escreveu
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Consciência Negra, Lima Barreto, Policarpo Quaresma e o Tupi-Guarani
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POR POR ANNA MARIA RIBEIRO (*)
m homenagem a Zumbi de Palmares, quando é celebrado o Dia da Consciência Negra, em todo 20 de Novembro, foi instituído em âmbito nacional pela Lei Nº 12.519, de 10.11.2011. A atenção de todos deve-se voltar às reflexões acerca da inserção dos afro-descendentes na sociedade brasileira, arraigada pelo preconceito e injustiça social, ainda
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que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já tenham demonstrado no último censo populacional que pardos e pretos são predominantes na população brasileira. Pesquisas de diversos órgãos governamentais e não governamentais indicam que pardos e pretos são os que têm menor renda, maior desemprego, menor escolaridade e mais vulnerabilidade à violência. O mapa, a seguir, demonstra o Brasil em Estados, de acordo com porcentagem de pessoas pardas no ano de 2010.
LIMA BARRETO Um dos mais expressivos representantes da raça negra é Afonso Henriques de Lima Barreto, mais conhecido por Lima Barreto, um ícone da literatura brasileira. Falar de Lima Barreto é sempre importante, pois foi um escritor que combateu o preconceito e as desigualdades sociais. Filho de pais pobres e afro-descendentes, foi vítima do preconceito racial durante toda sua vida. Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 1881. Em 1903, iniciou sua carreira na Secretaria de Guerra, no setor burocrático. Ano que também se dá sua colaboração com a imprensa do Rio
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Publicado em 2004, um estudo de Sérgio Pena e Maria Cátira Bortolini concluiu que 86% da população brasileira, taxa que corresponde a 146 milhões de pessoas são possuidoras de mais de 10% de genes africanos. Os números estão assim distribuídos: 45% ou 77 milhões de brasileiros possuem 90% ou mais de genes africanos subsaarianos. Mais de 75% dos brancos do Norte, Nordeste ou Sudeste apresentam ancestralidade africana superior a 10%. Mesmo no Sul, com seu marcante histórico de imigração europeia, este valor é na ordem de 49%. Em comparação, nos Estados Unidos apenas 5% dos brancos apresentam genes africanos ou indígenas.
de Janeiro, publicando artigos e crônicas no Correio da Manhã e o Jornal do Commercio. Em 1907, passou a fazer parte do grupo de escritores e ilustradores colaboradores da Fon-fon, uma revista semanal que circulou na cidade do Rio de Janeiro entre 1907 a 1958. Junto aos seus amigos, fundou e dirigiu a revista Floreal, veículo por onde iniciou a publicação do folhetim “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, mais tarde publicado em livro. Na revista ABC, passou a ser colaborador, publicando textos com tendência socialista. Lima Barreto acreditava que o ato de escrever consistia em um caminho para censurar o mundo à sua volta, com vontade de provocar novas escolhas de práticas e costumes que privilegiavam certas classes sociais, grupos ou pessoas. Seu temperamento inquieto e inconfor-
mismo diante à mediocridade de seu tempo levaram-no ao alcoolismo; seu estado depressivo ao hospício. Lima Barreto produziu um significativo número de textos publicados em periódicos, romances, sátiras, contos, crônicas que ocupam um lugar especial na estante da literatura nacional. Seus ro-mances, principalmente “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, “Triste fim de Policarpo Quaresma” e “Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá” são escritos que apresentam fortes traços autobiográficos. Dentre estes, destaco “Triste fim de Policarpo Quaresma”, que tem como personagem central Policarpo Quaresma, um funcionário público que trabalha no Arsenal de Guerra e que sofre de “febre patriótica”, um exacerbado orgulho nacionalista. Dentre os desejos da persona
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entre elas. É também falada na Argentina, Bolívia, Colômbia, Guiana Francesa, Paraguai, Peru e Venezuela. No romance, um estudioso do Tupi-guarani e entendedor da importância da língua para o Brasil e os brasileiros, Quaresma leva à Câmara sua petição: Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestadaao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escre-ver em geral, sobretudo no campo dasletras, se veem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperasdos proprietários da língua; sabendo além que, dentro do nosso país, os autores e escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma – usando do direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro. O requerimento do bom e modesto “major” Quaresma foi “duramente dias de assunto de todas as palestras. Publicado nos jornais da cidade, com comentários facetos, não havia quem não fizesse uma pilhéria sobre ele, quem não ensaiasse um espírito à cus-
ta da lembrança de Quaresma”. No tumultuado início da República, Quaresma foi voluntário na Revolta da Armada por discordar das injustiças sofridas pelos prisioneiros. Condenado ao fuzilamento, não viu consolidado seu projeto de nação. Quaresma e Barreto acreditaram na construção de um Brasil melhor e combateram, cada qual ao seu modo, o preconceito racial e a discriminação social. Em 1917, Lima Barreto foi internado em um sanatório. Mas, como proclamou o “Cordel para Lima Barreto”, de Gustavo Dourado, professor, escritor, poeta e cordelista de Itibitá, Bahia, “não se cura a loucura de um gênio inspirado”. No Dia da Consciência Negra, a produção ficcional de Lima Barreto,que dá ouvidos as vozes das margens e dos desvalidos, pode ser um caminho para uma reflexão crítica sobre a trajetória histórica dos negros na sociedade brasileira. É também uma data importante para valorizar personagens negros e afro-descendentes. A experiência sofrida por Lima Barreto diante ao preconceito social e a discriminação racial e seu personagem Policarpo Quaresma, que pretendia lutar pela salvação do Brasil, faz com que nossos olhos se voltem para os dias de hoje. É preciso acreditar na construção de um Brasil melhor para todos. “Tupi, or not Tupi that is the question”.
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gem está o de resolver os problemas sociais do Brasil e o de eleger o Tupi-Guarani como língua oficial. Proferiu Quaresma: Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani, língua originalíssima, aglutinante, é verdade, mas a que o polissintetismo dá múltiplas feições de riqueza, é a única capaz de traduzir as nossas belezas, de pôr-nos em relação com a nossa natureza e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos vocais e cerebrais, por sua criação de povos que aqui viveram e ainda vivem, portanto possuidores da organização fisiológica e psicológica para que tendemos, evitando-se dessa forma as estéreis controvérsias gramaticais, oriundas de uma difícil adaptação de uma língua de outra região à nossa organização cerebral e ao nosso aparelho vocal – controvérsias que tanto impedem o progresso da nossa cultura literária, científica e filosófica. O Tupi-guarani é uma das línguas mais importantes da América do Sul. Isso porque aglutina diversas idiomas indígenas, sendo o Guarani uma das mais representativas em termos numéricos. A língua portuguesa falada no Brasil possui um grande número de palavras Tupi-guarani. Com grande distribuição no território brasileiro, estende-se por 13 estados,com cerca de 20 línguas faladas e com pequena diferenciação
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A busca pelo intercâmbio cultural entre os povos da América do Sul
esta edição de LUME MATO GROSSO, dentro do propósito de aumentar conhecimentos sobre a literatura e cultura sul americana, apresenta um recorte da extensa biografia do escritor e poeta argentino Julio Florencio Cortázar, filho de argentinos e nascido na Embaixada da Argentina, em Ixelles, distrito de Bruxelas, na Bélgica, a 26 de agosto de 1914. Cortázar regressa à sua terra natal aos quatro anos de idade. Seus pais se separaram posteriormente e passou a ser criado pela mãe, uma tia e uma avó. Passou a maior parte de sua infância em Banfield, na Argentina, e não era uma criança totalmente feliz, apresentando uma tristeza frequente. Cortázar era uma criança bastante enferma e passava muito tempo na cama, len-
do livros que sua mãe selecionava. Muitos de seus contos são autobiográficos, como Bestiario, Final del juego, Los venenos e La Señorita Cora, entre outros. Formou-se professor em Letras, em 1935, na “Escuela Normal de Profesores Mariano Acosta”, e naquela época começou a frequentar lutas de boxe. Em 1938, com uma tiragem de 250 exemplares, editou Presencia, livro de poemas, sob o pseudônimo “Julio Denis”. Lecionou em algumas cidades do interior do país, foi professor de literatura na “Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad Nacional de Cuyo”, mas renunciou ao cargo quando Perón assumiu a presidência da Argentina. Empregou-se na Câmara do Livro em Buenos Aires e realizou alguns trabalhos de tradução.
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JULIO CORTÁZAR
Em 1951, aos 37 anos, Cortázar, por não concordar com a ditadura na Argentina, partiu para Paris (França), pois havia recebido uma bolsa do governo francês para ali estudar por dez meses, e acabou se instalando definitivamente. Trabalhou durante muitos anos como tradutor da Unesco e viveria em Paris até a sua morte. Teve uma relação de amizade com os artistas argentinos Julio Silva e Luis Tomasello, com os quais realizaria vários projetos conjuntos. Politicamente, o autor também foi um mistério, devido à fragilidade dos rótulos da época, pois, para a CIA, tra-
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tava-se de um perigoso esquerdista a soldo da KGB, enquanto esta considerava-o um notório agente do imperialismo a soldo da CIA e perigoso agitador anti-soviético, já que denunciava as prisões em Moscou dos chamados dissidentes. Cortázar casou-se em 1953, com Aurora Bernárdez, uma tradutora argentina. Viviam em Paris, sob condições econômicas difíceis e surgiu a oportunidade de traduzir a obra completa, em prosa, de Edgar Allan Poe, para a Universidad de Puerto Rico. Esse trabalho foi considerado pelos críticos como a melhor tradução da obra do escritor.
Em 1963, visitou Cuba enviado pela Casa de las Américas, para ser jurado em um concurso. Foi a época de intensificação do seu fascínio pela política. No mesmo ano teve um livro traduzido para o inglês. Em 1962, lança Historias de Cronopios y Famas. O ano de 1963, marcou o lançamento de Rayuela, que foi seu grande sucesso e teve cinco mil cópias vendidas no mesmo ano. Em 1959, saiu o volume Final del Juego. Seu artigo Para Llegar a Lezama Lima foi publicado na revista “Union”, em Havana. Depois desses anos, Cortázar se envolveu politicamente na libertação da
América Latina sob regimes ditatoriais. Em novembro de 1970 viaja ao Chile, onde se solidarizou com o governo de Salvador Allende. Em 1971, foi “excomungado” por Fidel Castro, assim como outros escritores, por pedir informações sobre o desaparecimento do poeta Heberto Padilla. Apesar de sua desilusão com a atitude de Castro, continuou acompanhando a situação política da América Latina. Em 1973, recebeu o Prêmio Médicis, por seu Libro de Manuel e destinou seus direitos à ajuda dos presos políticos na Argentina. Em 1974, foi membro do Tribu-
nal Bertrand Russell II, reunido em Roma para examinar a situação política na América Latina, em particular às violações dos Direitos Humanos. Em 1976, viajou para Costa Rica, onde se encontrou com Sergio Ramírez e Ernesto Cardenal. Em seguida fez uma viagem clandestina até Solentiname, na Nicarágua. Esta viagem o marcaria para sempre e seria o começo de uma série de visitas a este país. Em agosto de 1981 sofreu uma hemorragia gástrica. Em 1983, volta a democracia na Argentina, e Cortázar fez uma última viagem à sua pátria, onde foi recebi-
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do calorosamente por seus admiradores, que o paravam na rua e lhe pediam autógrafos, em contraste com a indiferença das autoridades nacionais. Depois de visitar vários amigos, regressou a Paris. Pouco depois lhe foi outorgada a nacionalidade francesa. Carol Dunlop, sua última esposa, faleceu em 2 de novembro de 1982, e Cortázar teve uma profunda depressão. Morreu de leucemia em 12 de fevereiro de 1984, sendo enterrado no Cemitério do Montparnasse, na mesma tumba de Carol. Em sua tumba se ergue a imagem de um “cronópio”, personagem criado pelo escritor. É considerado um dos autores mais inovadores e originais de seu tempo, mestre do conto curto e da prosa poética, comparável a Jorge Luis Borges e Edgar Allan Poe. Foi o criador de novelas que inauguraram uma nova forma de fazer literatura na América Latina, rompendo os moldes clássicos mediante narrações que escapam da linearidade temporal e onde os personagens adquirem autonomia e profundidade psicológica inéditas. Seu livro mais conhecido é Rayuela (O Jogo da Amarelinha), de 1963, que permite várias leituras orientadas pelo próprio autor. A seguir brindamos nossos leitores com a poesia Os Amantes, de Cortázar, nos idiomas espanhol e português.
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OS AMANTES
¿Quién los ve andar por la ciudad si todos están ciegos ? Ellos se toman de la mano: algo habla entre sus dedos, lenguas dulces lamen la húmeda palma, corren por las falanges, y arriba está la noche llena de ojos.
Quem os vê andar pela cidade se todos estão cegos? Eles se tomam as mãos: algo fala entre seus dedos, línguas doces lambem a úmida palma, correm pelas falanges, acima a noite está cheia de olhos.
Son los amantes, su isla flota a la deriva hacia muertes de césped, hacia puertos que se abren entre sábanas. Todo se desordena a través de ellos, todo encuentra su cifra escamoteada; pero ellos ni siquiera saben que mientras ruedan en su amarga arena hay una pausa en la obra de la nada, el tigre es un jardín que juega.
São os amantes, sua ilha flutua à deriva rumo às mortes na relva, rumo a portos que se abrem nos lençóis. Tudo se desordena por entre eles, tudo encontra seu signo escamoteado; porém eles nem mesmo sabem que enquanto rodam em sua amarga arena há uma pausa na criação do nada, o tigre é um jardim que brinca.
Amanece en los carros de basura, empiezan a salir los ciegos, el ministerio abre sus puertas. Los amantes rendidos se miran y se tocan una vez más antes de oler el día. Ya están vestidos, ya se van por la calle. Y es sólo entonces cuando están muertos, cuando están vestidos, que la ciudad los recupera hipócrita y les impone los deberes cotidianos.
Amanhece nos caminhões de lixo, começam a sair os cegos, o ministério abre suas portas. Os amantes cansados se fitam e se tocam uma vez mais antes de haurir o dia. Já estão vestidos, já se vão pela rua. E só então, quando estão mortos, quando estão vestidos, é que a cidade os recupera hipócrita e lhes impõe os seus deveres quotidianos.
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História da Corrupção no Brasil
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DA REDAÇÃO
escritor João Carlos Vicente Ferreira está com um novo livro na praça: “Quid Pro Quo – Dois dedos de história do Brasil com a corrupção e o jeitinho brasileiro como base”, a ser publicado em abril de 2021, graças a recursos advindos da Lei Aldir Blanc, via Secretaria de Cultura do Estado e Conselho Estadual de Cultura.
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envolvendo autoridades com prerrogativa de foro – como parlamentares, ministros e governadores – estavam relacionadas à corrupção. Naquele período haviam 95 ações penais e 439 inquéritos no STF; e 72 ações penais, 101 inquéritos e 54 sindicâncias no STJ – onde a Corte Especial era a responsável por analisar casos de governadores e conselheiros de Tribunais de Contas, por exemplo. A quase totalidade de ações, inquéritos e sindicâncias, muito provavelmente, resultam em nada e acabam arquivados. As eventuais punições, prisões, etc., sempre se limitam a políticos que eventualmente tenham “caído em desgraça” diante da mídia e serão usados emblematicamente. Ou, a opositores, que precisam ser retirados do caminho. E, isso, não é um fato isolado, e, nem ao menos, um momento da história. Isso acontece porque ser político no Brasil, salvo exceções, logicamente, é ser corrupto, infelizmente. Não há como, com o sistema político brasileiro, montado ao longo dos séculos, atuar-se completamente isento, honesto, limpo e transparente. Infelizmente, isso não é possível. Portanto, é disso que trata esta obra: corrupção. Nela buscamos atuar como espécie de despertador algazarrento, ou de um remédio que se toma para controlar, de forma sistemática, alguma doença que possuímos. A ideia é não esquecermos que somos um país de corruptos e, mesmo que seja através de uma cortina de fumaça, imaginarmos que o escritor Ivan Lessa estava errado ao imortalizar a frase: “A cada quinze anos, o Brasil esquece os últimos quinze anos”, dita porque os brasileiros esquecem de quase tudo que aconteceu por aqui nos últimos tempos.
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A obra é um relato sobre a corrupção e o jeitinho brasileiro ao longo dos últimos 5 séculos, tendo como pano de fundo a política e suas formas de se levar vantagem em tudo. O termo quid pro quo, que ilustra a capa desta obra vem do latim arcaico e significa, segundo o Dicionário de Cambridge, “isso por aquilo”, ou, ainda, “algo dado a uma pessoa em troca de outra coisa”. Em outras palavras, um favor esperado em troca de você fazer algo. Se eu fizer algo por você, posso esperar com razão que você retribuirá o favor por mim. A corrupção não é um desenvolvimento novo para a humanidade, desde que existem relatos antigos registrados, há histórias de negociação enganosa, traição por ganho pessoal, e corrupção em formas variadas: sim, o quid pro quo sempre esteve presente na vida do homem. Os romanos, que estão no centro desse contexto histórico, atuavam, soberbamente, nos campos da política e do quid pro quo. Roma se deixou levar à corrupção de forma aviltante com Júlio César (100 – 44 a. C.), que se valeu de todos os meios e formas para atingir seus objetivos de ser o fundador de uma nova Roma. A história do Império Romano nos leva à inúmeros exemplos de corrupção, suborno, desonestidade política e alianças descartadas. Essa civilização que contribuiu para estabelecer planos para governos democráticos modernos também criou modelos para incontáveis esquemas de corrupção. E a corrupção é, de certa forma, a base de nosso sistema político-administrativo. No começo de 2019, mais de 70% das ações que tramitavam no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ)
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Cuiabá dos Meus Amores POR BENEDICTO PINHEIRO DE CAMPOS
Cuiabá de meus amores, De Dom Aquino Corrêa, Do Carmindo de Campos, E de outros poetas sonhadores. Viver nesta cidade linda É sentir a vida, Comungando com a cuiabania, Os momentos de graça e alegria. Oh! Cuiabá bendita! Berço de heróis e boa comida Bendita seja a sua história No altar de nossas vidas. Longe, sinto muitas saudades Do cantar dos bem-te-vis Do luar e das lufadas No dançar dos siriris. Benedicto Pinheiro de Campos, Cuiabano, filho de Carmindo de Campos e Maria Pinheiro de Campos, professor titular da Universidade Federal de Mato Grosso UFMT, poeta, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.
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