lume Mato Grosso
Burle Marx
Revista nº. 33 • Ano 5 • Junho/2019
Paisagismo. Pag. 36
PERSONALIDADE - AMARO DIAS CIDADES GÊMEAS: CÁCERES E SAN MATIAS TOROARI O MORRO DO GAVIÃO MARIA DE ARRUDA MÜLLER BENEDITO PEDRO DORILEO LANÇA LIVRO FALTAM-NOS MUSEUS A CAIXA DA HONESTIDADE
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C A RTA D O E D I TO R
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uscamos sempre levar novidades aos nossos leitores, por conta disso viajamos pelo interland matogrossense em busca de informações que justifiquem nosso propósito editorial. Nesta edição vamos mostrar algumas reportagens sobre o oeste, notadamente Cáceres, e o trecho que leva à cidade boliviana de San Matias. Recentemente essas duas cidades se tornaram “Cidades Gêmeas”, por conta de um projeto proposto pelo governo brasileiro, como forma de melhorar relacionamentos institucionais, sociais e econômicos de cidades fronteiriças no país, de norte a sul. Contemporaneamente San Matias passa por certa crise financeira em seu comércio, é comum ver placas de “vende-se” espalhadas pela cidade. O motivo, dizem, é a alta do dólar e o sumiço do turista brasileiro, que apesar da pouca oferta de mercadorias, insiste em comprar produtos importados sem taxação de impostos. Nessa andança verificamos que o patrimônio histó-
JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral
rico arquitetônico cacerense vive um mal período. Essa afirmativa se dá em visita feita nas ruínas da Fazenda Facão, localizada às margens da BR070, e sempre um motivo de satisfação aos viajantes e transeuntes que circulavam por ali e verem aquele belo exemplar arquitetônico do século XIX. Lamentável. Espera-se que o Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres, com diretoria renovada, contribua com seu influente corpo de trabalho em prol desse crime com a história de Mato Grosso. A capa desse mês homenageia o paisagista e artista plástico Roberto Burle Marx, renomado internacionalmente. Suas obras podem ser encontradas ao redor de todo o mundo. Marx faleceu em 1994, no Rio de Janeiro e, de junho até setembro de 2019 está sendo homenageado com exposição na cidade de Nova Iorque. Essa reportagem foi feita pelo escritor, fotógrafo e arquiteto Paul Clemence, que é nosso colaborador em Nova Iorque. Outro artigo escrito em terras norte-americanas foi o do acadêmico Ubiratã Nas-
centes Alves, da AML e que reside no exterior. Nascentes escreveu sobre Maria Müller, uma das mais emblemáticas figuras da sociedade e cultura mato-grossense. Muito bom o texto e homenagem mais que justificada. Dentre as diversas editorias desta edição destaco, também, o recorte do artigo produzido pelo indigenista José Eduardo F. M. da Costa, que escreve sobre o Morro Toroari, sagrado para o povo indígena Bororo. Esse morro é mítico e sob a escrita de Costa ganha contornos ainda mais estupendos. O Toroari está sendo estudado pelo indigenista que credita intrínseca e ancestral ligação desse monte com o povo andino: são os caminhos e portais que nos levam a lugares por nós sempre buscados. Por fim não deixamos de publicar sobre a cultura sul-americana e, muito menos sobre a literatura mato-grossense, que nesse mês de junho ganhou novas obras, dentre as quais as de Lucinda Persona e de Benedito Pedro Dorileo. Tenham todos uma ótima leitura.
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EXPEDIENTE
lume Mato Grosso
PESCUMA MORAIS Diretor de Expansão e de Projetos Especiais ELEONOR CRISTINA FERREIRA Diretora Comercial JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral MARIA RITA UEMURA Jornalista Responsável JOÃO GUILHERME O. V. FERREIRA Revisão AMÉRICO CORRÊA, ANA CAROLINA H. BRAGANÇA, ANNA MARIA RIBEIRO, ANTÔNIO P. PACHECO, BENEDITO PEDRO DORILEO, BETH MADUREIRA, CARLOS FERREIRA, CECÍLIA KAWALL, DANIELLE TAVARES, DIEGO DA SILVA BARROS, DILVA FRAZÃO, EDUARDO MAHON, ELIETH GRIPP, ENIEL GOCHETTE, EVELYN RIBEIRO, FELIPE CHAVES, JOSANE SALLES, JOSÉ EDUCARDO RIBEIRO, JULIANA RODRIGUES, LUCIENE CARVALHO, MARCO POLO DANTAS, MILTON PEREIRA DE PINHO - GUAPO, NIGEL BUCKMASTER, PAULO PITALUGA COSTA E SILVA, RAFAEL LIRA, , ROSE DOMINGUES, VALÉRIA CARVALHO, WLADIMIR TADEU BAPTISTA SOARES, YAN CARLOS NOGUEIRA, WELLER MARCOS DA SILVA, UBIRATÃ NASCENTES ALVES Colaboradores ANDREY ROMEU, ANTÔNIO CARLOS FERREIRA (BANAVITA), CECÍLIA KAWALL, CHICO VALDINEI, EDUARDO ANDRADE,
HEITOR MAGNO, HENRIQUE SANTIAN, JOSÉ MEDEIROS, JOYCE CORRÊA, JÚLIO ROCHA, LUIS ALVES, LUIS GOMES, MAIKE BUENO, MARCELA BONFIM, MARCOS BERGAMASCO, MARCOS LOPES, MÁRIO FRIEDLANDER, RAI REIS Fotos OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES. LUME - MATO GROSSO é uma publicação mensal da EDITORA MEMÓRIA BRASILEIRA Distribuição Exclusiva no Brasil RUA PROFESSORA AMÉLIA MUNIZ, 107, CIDADE ALTA, CUIABÁ, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 36371774 99284-0228 | 9925-8248 Contato WWW.FACEBOOK.COM/REVISTALUMEMT Lume-line REVISTALUMEMT@GMAIL.COM Cartas, matérias e sugestões de pauta MEMORIABRASILEIRA13@GMAIL.COM Para anunciar ROSELI MENDES CARNAÍBA Projeto Gráfico/Diagramação EXPOSIÇÃO SOBRE BURLE MARX/NOVA IORQUE - FOTO: PAUL CLEMENCE Capa
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SUMÁRIO
12. NOTAS
14.
PLANTAS MEDICINAIS
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24. MEMÓRIA
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34. PAISAGISMO
48. 48. 66. 60. JUNHOS DE NOSSA HISTÓRIA
RETRATO EM PRETO E BRANCO
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AMERICANIDADE
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PERSONALIDADE
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Benedito Amaro Dias
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POR POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA
artista plástico e professor de artes Benedito Amaro Dias nasceu em Cuiabá em 1964, no bairro do Araés, no entanto, é radicado em Cáceres desde 1995. O talento para as artes plásticas é nato, assim como a sua timidez. Amaro se relaciona maravilho-
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samente bem com os pincéis e, com as tintas e telas nuas e cruas. Porém, com pessoas, é muito seletivo. É fechado, mas autoconfiante, pois sabe que é capaz e acredita em si mesmo e no seu potencial. Além disso, é uma pessoa que escuta muito e observa tudo. Ele sabe que para ser uma pessoa de sucesso o
caminho mais rápido é exatamente o de escutar muito ao invés de falar. Amaro às vezes se vale da frase de Clarice Lispector, que era intimista e introspectiva: “Desculpem eu ser eu. Quero ficar só! grita a alma do tímido que só se liberta na solidão. Contraditoriamente quer o quente aconchego das pessoas”.
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PERSONALIDADE
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Há mais de vinte em Cáceres já se arraigou na sociedade daquela cidade oestina, onde passou a ensinar arte na Universidade Estadual de Mato Grosso. Por longos anos, nos primeiros tempos de sua longeva carreira como artista plástico, foi professor de artes na Fundação Júlio Campos, em Várzea Grande, sendo que de suas mãos muitos alunos se lançaram no mundo das artes plásticas. Dessa época, sua fase mais importante foi a “melancia-cultura”, em que o vermelho da melancia predominava e realçava elementos típicos da cultura mato-grossense, a exemplo da viola-de-cocho e pássaros pantaneiros como o tuiuiú e arara. Participou de várias edições coletivas em Cuiabá e também de individuais. Por ser artista de renome a sua arte é apreciada e comercializada em vários estados e países. Em novembro de 2003 Amaro Dias recebeu homenagem da Câmara Municipal de Cuiabá pelo conjunto da obra produzida até então. Ele recebeu a medalha “Mestre Inácio” (Inácio Constantino Cerqueira) maestro e tocador de lira falecido em 1979. Para Amaro a homenagem foi importante e incentivou ações de divulgação e resgate dos valores culturais de Mato Grosso, além de servir como estímulo à continuidade dos projetos: “Procuro retra-
tar o Estado em minhas obras, dando ênfase a aspectos regionais da nossa cultura”, disse à imprensa ao receber a honraria. Nessa época Amaro Dias exercia o cargo de consultor de projetos culturais da Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proec), da UNEMAT - Universidade Estadual de Mato Grosso. Dentre as várias exposições que fez em Cáceres, teve destaque a individual “35 ANOS DE ÁRTES PLÁSTICAS 1980-2013”, na qual o artista dava o ano de 1980 como o seu surgimento para o mundo das artes. Essa mostra de artes ficou
exposta no Museu da Unemat, na Cidade Universitária, de 11 a 31 de outubro daquele ano. O artista trabalhou para essa exposição com o seu tradicional “MELANCIA-CULTURA”, no entanto, apresentou a fase “RUPESTRE”, que o acompanha há tempos. Amaro Dias é o artista com o maior número de trabalhos junto ao acervo da Universidade do Estado de Mato Grosso com obras principalmente da sua fase rupestre. A Unemat ainda possui um considerável acervo de obras produzidas pelos alunos de Amaro Dias.
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N OTA S
IMORTAL
»»Lucinda Persona, da AML, lançou seu sétimo livro de poesia - O PASSO DO INS-
TANTE, no Sesc Arsenal (14/06).
TRABALHADOR »»Através de redes sociais, o deputado Valdir Barranco (PT) comemorou os resultados de seu trabalho na Assembleia Legislativa de MT. O deputado afirma “Sou autor de 66 projetos de lei e de resolução, total que representa 40% das 162 proposituras apresentadas em 2019 na Assembleia Legislativa de Mato Grosso”. Conforme dados do portal da ALMT, Valdir Barranco é o deputado que mais apresentou projetos de lei nestes primeiros 5 meses. Foram 66, que representam 40% das 162 proposituras apresentadas em 2019.
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“QUEM MANDA SOU EU” o presidente Bolsonaro sobre criação de novas terras indígenas (19/06). “Quem demarca terra indígena sou eu! Não é ministro. Quem manda sou eu. Nessa questão, entre tantas outras. Eu sou um presidente que assume ônus e bônus.
»»Disse
ARRASANDO COM MORO E BOLSONARO »»Desde o dia 19 no streaming da Netflix, Democracia em Vertigem, de Petra Costa e com música de Rodrigo Leão, é um relato da ascensão de Bolsonaro e Moro e da queda de Dilma e Lula. A crise de um Brasil dividido em duas horas de cinema de denúncia pura e dura.
PROFESSOR GANHA PRÊMIO professor de Língua Portuguesa, Felipe Holloway, ganhou o Prêmio Sesc de Literatura 2019, na categoria romance. O anúncio foi feito pelo Sesc no dia 12/06. A obra denominada “O legado de nossa miséria” vai ser publicada pela editora Record.
»»O
BALSA ECOLÓGICA
»»A prefeitura de Cuiabá quer a preserva-
ção ecológica do Rio Cuiabá, para isso colocou em ação plano de coleta fluvial de lixo do rio. O trabalho feito por 3 funcionários será diário (1 operador e 2 ajudantes). FOTOS DIVULGAÇÃO
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FRASES
“NÃO SUPORTO SER USADO COMO INSTRUMENTO POLÍTICO” »»Frase de João Arcanjo Ribeiro, em 14/06, que alega que é usado como “instrumento político” do delegado da PC, Flávio Stringueta. O ex-comendador também cita que Pedro Taques, Julier Sebastião e Selma Arruda se projetaram politicamente com sua imagem. “MM É MAIS FIRME QUE TAQUES”
»»Afirmou a deputada Janaína Riva (MDB), em meados de junho/19, em alerta aos servidores da Educação, em greve, ao verificar o enfraquecimento do movimento. “DEMORA PARA SAIR DA CRISE” »»Frase do presidente da ALMT, Eduardo Botelho, representando diversos deputados, em reuniões sobre o final da greve da Educação, lembrando que a questão é da dificuldade econômica do Estado, que deverá perdurar no segundo semestre. “Ainda vai levar um tempo para o estado sair da crise financeira que está que é gastar mais do que arrecada”.
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P L A N TA S MEDICINAIS
Dezoito Ervas Comuns E seus inacreditáveis poderes de cura
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POR FELIPE CHAVES
uso das ervas para fins medicinais (prática atualmente conhecida como fitoterapia), tem sua histórica mesclada com as origens da sociedade. Muitos são os benefícios
que a correta aplicação das ervas pode trazer ao nosso corpo e mente, sendo capaz de tratar variadas mazelas como a indigestão, úlceras, psoríase e insônia. Veremos aqui 18 ervas que podem curar. FOTOS DIVULGAÇÃO
6. GINKGO
mais poderosos que existem. Pode ser utilizado para proteger o estômago contra úlcera ou mesmo na prevenção de náuseas e enjoos. Pode também aliviar a dor, pois é um analgésico natural.
é amplamente conhecido no Brasil. Graças aos glicosídeos aos e flavonoides em geral que estão presentes em sua composição, o ginko melhora a circulação e também o fluxo sanguíneo. Além disso, comprovadamente pode ajudar a melhorar a memória.
2. ERVA-DE-SÃO-JOÃO
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1. GENGIBRE
»»O gengibre é um dos remédios naturais »»O ginkgo biloba tem origem na China e
7. ECHINACEA »»Um tipo de margarida roxa que pode melhorar a qualidade do sistema imunológico do corpo. Além disso, pode ser utilizada para tratar úlceras, gripes, amigdalite e também herpes zoster, cujo surgimento é recorrente quando a imunidade está baixa.
»»A
erva-de-são-joão é utilizada há muito tempo para tratar depressão com muita eficácia. Também traz efeitos benéficos no tratamento de dores nervais e ansiedade. O uso desta erva em comunhão com outros medicamentos é desaconselhado, dada à força de interação da erva no organismo.
8. ALOE VERA Além de ser capaz de aliviar queimaduras na pele, a aloe vera é uma excelente planta antibacteriana e antifúngica. Pode ser utilizada como antisséptico bucal para prevenir problemas relacionados a mazelas dentárias. 9. YLANG YLANG
3. CAMOMILA »»O chá de camomila é amplamente conhecido por ser capaz de acalmar. Além disso, pode aliviar os sintomas de insônia e trazer benefícios ao sistema nervoso. 4. ARNICA »»A arnica é utilizada pela medicina homeopática há muito tempo. É capaz de aliviar traumas físicos, apaziguando a dor. Normalmente, a arnica é aplicada através de pomada sobre o local que se deseja impulsionar a cura. 5. ALHO »»O alho é um antisséptico natural. Fortalece o sistema imunológico e é capaz de prevenir gripes e resfriados. Tem papel fundamental na prevenção de diversos tipos de câncer, como o de estômago. É aconselhado ao menos dois dentes de alho por dia no preparo das refeições.
»»Além de ser popularmente conhecido por ajudar a tratar problemas relacionados à impotência sexual nos homens, o ylang ylang possui propriedades capazes de evitar palpitações e hiperventilação no organismo. 10. HORTELÃ
»»Encontradas aos montes em quase todo
quintal de casa, as folhas de hortelã são capazes de aliviar cólicas, indigestão e dor menstrual. Seu chá é feito de forma simples, bastando ferver uma xícara de água com um punhado de folhas de hortelã bem lavadas.
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P L A N TA S MEDICINAIS
LAVANDA
11. LAVANDA
»»A lavanda pode trazer benefícios físicos e
mentais. Seu extrato ou pomada pode ser aplicado diretamente sobre queimaduras, feridas, picadas e mordidas. Além disso, se sua essência for aplicada na fronha e no travesseiro a noite de sono será tranquila. 12. ÁRVORE-DO-CHÁ »»Natural da Austrália, a árvore do chá tem propriedades antissépticas poderosíssimas. Seu creme ou extrato pode ser aplicado para limpar ferimentos e machucados. Além disso, suas propriedades antivirais e antibacterianas garantem proteção contra parasitas.
13. YAM MEXICANO »»O Yam Mexicano pode ser encontrado no Brasil como “inhame selvagem” ou mesmo “inhame mexicano”. É um poderoso medicamento natural para aliviar dores da menopausa, diminuindo as dores sentidas nesse período. 14. FLORES DE CALÊNDULA
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»»As flores de calêndula são utilizadas para tratar problemas dos olhos e pele. Também é capaz de reduzir a dor de varizes no corpo. Seu chá é facilmente preparado com a infusão da flor e serve especialmente para aliviar dores menstruais, além dos benefícios citados acima. 15. HAMAMÉLIS
»»Hamamélis é fruto da extração da casca de uma árvore nativa americana. Pode ser utilizada para tratamentos tópicos relacionados a pele, como espinhas, contusões e hemorroidas. Aplica-se normalmente através de compilado, creme ou pomada. 16. OLÍBANO »»Encontrada especialmente na África do Norte, a extração da resina da árvore de incenso, olíbano, é capaz de aliviar a ten-
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são e ansiedade, além de possuir propriedades antienvelhecimento. Pode também tratar feridas e úlceras. 17. MATRICÁRIA
»»A matricária é capaz de aliviar dores de
cabeça e enxaqueca. Pode também reduzir dores menstruais e de artrite. Como seu efeito é muito poderoso, recomenda-se que não seja utilizada por gestantes. 18. ÓLEO DE PRÍMULA »»O óleo de prímula pode reduzir a rigidez
muscular graças às altas quantidades de ácidos graxos em sua composição, como o ômega 6. É recomendado também para melhorar os níveis de concentração. RECOMENDAÇÃO: É importante procurar a orientação de um médico ou profissional de saúde antes de optar por iniciar tratamento com uma erva ou outra. Somente o médico poderá confirmar se o uso de determinadas ervas é permitido para o seu organismo.
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CIDADES
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TORRE DE MADEIRA DA IGREJA MATRIZ DE SAN MATIAS
lumeMatoGrosso A LAGOA ENCANTADA, PONTO DE VISITAÇÃO TURÍSTICA EM CÁCERES
Cidades Gêmeas
Cáceres e San Matias Cáceres foi reconhecida oficialmente pelo Governo Federal como cidade gêmea da boliviana e fronteiriça San Matias
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COM INFORMAÇÕES DE DANIELLE TAVARES | UNEMAT
reconhecimento foi o primeiro passo para a formulação de políticas públicas conjuntas entre Brasil e Bolívia, que enfrentam problemas similares por estarem em região de fronteira. Docentes do Departamento de História, da Universidade do Estado de
Mato Grosso (Unemat), campus Jane Vanini, desenvolveram o Plano de Reconhecimento de Cidades Gêmeas para o município de Cáceres, documento que subsidiou a inclusão do município na lista oficial de cidades-gêmeas. A Portaria do Governo Federal foi publicada no dia 24 de abril de 2019.
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CIDADES O estudo denominado “Cáceres e San Matias na perspectiva de cidades-gêmeas: um estudo de possibilidades”, de autoria dos professores doutores Maria do Socorro Araújo e João Ivo Puhl, integrantes do Grupo de Pesquisa “Fronteira Oeste: poder, economia e sociedade”, foi elaborado de acordo com as orientações do Ministério da Integração Nacional. Com mais de 130 páginas, a pesquisa amplamente documentada e embasada descreve as similaridades e proximidades entre as duas cidades, separadas por apenas 80 km de fronteira seca. O estudo apresenta as principais características da região: constituição histórica, povoamento, localização, como as duas cidades se articulam, dinâmicas político-econômicas e socioculturais de ambos os lados, instituições dedicadas ao controle fronteiriço, além de apresentar registro fotográfico dos prin-
SAN MATIAS
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cipais meios de acesso e interação entre o município de Cáceres e a cidade vizinha estrangeira. A pesquisa destaca que as relações humanas existentes entre as populações ocorrem desde o Século 18. “Existe uma mescla entre os povos dos dois lados, inclusive relações comerciais e familiares, que dão uma vida muito grande ao cotidiano dessa fronteira. Uma fronteira que funciona mais por conta dessas relações”, explicou Maria do Socorro. Outro ponto levantado é que, a partir dessa constante proximidade e facilidade de movimentação das populações, a cidade brasileira acabaria por nutrir alguns estereótipos em relação ao boliviano. Um desses, é que eles usufruiriam de serviços públicos, como saúde e educação, sem pagar impostos: “Quando nós fizemos esse levantamento, vimos exatamente o inverso. Por exemplo, tem mercado em Cáceres que vende aproximadamente 1,5 milhão por mês para San Matias. E, quando passa na
barreira, todos os impostos estão pagos, pois a Aduana Brasileira funciona junto com a Boliviana, no mesmo prédio. Então vai tudo com nota fiscal”, continuou a professora. Também diziam que existe boliviano contemplado com Bolsa Família. “Fomos verificar, e isso é verdade. Existem bolivianos com Bolsa Família. Entretanto, eles têm direito porque os filhos são brasileiros, são nascidos no Brasil e estudam aqui” explicou Socorro. O reconhecimento dessas cidades-gêmeas é o primeiro passo para a formulação de políticas públicas conjuntas, que tratem de problemas e oportunidades comuns aos dois lados da fronteira. “O reconhecimento como cidade-gêmea minimiza a burocracia em relação às populações que transitam na fronteira e potencializa a integração econômica, social e cultural entre os dois países”, concluiu Socorro. A Prefeitura Municipal, por exemplo, já sinaliza a intenção de abertura de uma loja franca em Cáceres.
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O MARCO DO JAURU, MONUMENTO HISTÓRICO INSTALADO NO CENTRO HISTÓRICO DE CÁCERES
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CIDADES
UNANIMIDADE NACIONAL BOLIVIANA: BATATAS DESIDRATADAS VENDIDAS NO COMÉRCIO LOCAL, EM SAN MATIAS
IGREJA MATRIZ, CÁCERES
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EMBARCAÇÕES FLUVIAIS PARA PASSEIOS TURÍSTICOS NO RIO PARAGUAI E PANTANAL, EM CÁCERES
CIDADES-GÊMEAS O conceito de cidades-gêmeas, definido pelo Ministério de Integração Nacional em 2014, reconhece municípios situados na linha da fronteira, seca ou fluvial, integrada ou não por obras de infraestrutura, que representem grande potencial de integração econômica e cultural. De acordo com ofício encaminhado pela Secretaria de Desenvolvimento Regional, com o intuito de avaliar tecnica-
mente o pleito pelo reconhecimento oficial Cáceres como cidade-gêmea, seria necessária a realização de estudo por instituição de ensino Superior reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC). O estudo foi desenvolvido ao longo de dois anos. Para sua realização, os pesquisadores da Unemat também promoveram reuniões com várias instituições que trabalham com a fronteira, dentre elas, Sindi-
cato Rural, Receita Federal, Polícia Federal, Grupo Especial de Segurança de Fronteira (Gefron), Exército Brasileiro (2º Befron), Secretaria de Agricultura, Secretaria de Saúde, Prefeitura, além de instituições de ensino, como Instituto Federal de Cáceres (IFMT) e Faculdade do Pantanal (Fapan). O Plano de Reconhecimento de Cidades Gêmeas fora entregue à prefeitura de Cáceres, ainda em agosto de 2016.
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MEMÓRIA
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300 Anos em 100 Minutos DA REDAÇÃO
FOYER DO CINE TEATRO CUIABÁ, EM 14/06/19, COM EXPECTADORES DO FILME DOCUMENTÁRIO “300 ANOS EM 100 MINUTOS
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MEMÓRIA
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oi lançado no dia 14 de junho o filme documentário 300 ANOS EM 100 MINUTOS, idealizado e dirigido por Dario Scherner, que declarou: “Convocamos 18 facilitadores num total de 90 testemunhais em um filme documentário de 100 minutos pelos 300 anos de Cuiabá!”. Quanta matemática! Mas tantos números jamais poderão calcular o valor cultural, social e humano de uma história de 3 séculos de existência! Este filme documentário valoriza a história de cada segmento representativo de nossa cidade. Um longa-metragem que prova nesta obra, o amor de um filho da terra pelas pessoas, culturas, lugares e histórias deste maravilhoso pedaço de chão do Brasil. A Cuiabá em que vivemos é hoje, uma gigante, graças à dedicação de milhares de cuiabanos de alma e coração, que dedicaram o seu trabalho e a sua vida para que Cuiabá chegasse aos seus 300 anos. Intitulamos Painéis dos 300 Anos, segmentos e profissões, que juntos formam este documentário histórico “300 Anos em 100 Minutos”. Para que este pré-lançamento a ser realizado no próximo dia 14, as 19h no Cine
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Teatro Cuiabá fosse possível, Dario Scherner recebeu o apoio e parceria da Prefeitura Municipal de Cuiabá e da Secretaria Municipal Extraordinária Cuiabá 300 Anos. “ Cuiabá é uma cidade feita por pessoas, sentimentos, por muito trabalho e dedicação, por isso decidi registrar em um material audiovisual com testemunhais de personalidades, as histórias das mais emblemáticas profissões e seus universos. Sem o apoio do prefeito Emanuel Pinheiro, da Primeira Dama de Cuiabá, Márcia Pinheiro e da Secretária dos 300 Anos, Cely Almeida, não estaríamos às vésperas do pré-lançamento com tanto entusiasmo, pois são pessoas como eu, apaixonadas por Cuiabá! “ Neste pré-lançamento, os convites serão direcionados aos facilitadores e seus familiares, colaboradores depoentes do filme e seus familiares, autoridades e imprensa. Dario Scherner é Pianista, Publicitário, Especialista em Semiótica pela UFMT com Curso de Vídeo Documentário pela UFMT, Curso de Roteirista em Documentário pelo SESC, e Produtor Cultural.
O DIRETOR DO FILME 300 ANOS EM 100 MINUTOS, DARIO SCHERNER (À ESQUERDA), ENTREGA CÓPIA DO FILME AO SECRETÁRIO DE CULTURA DE CUIABÁ, FRANCISCO VUOLO
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O PREFEITO DE CUIABÁ, EMANUEL PINHEIRO (À ESQUERDA), ENTREGA CERTIFICADO DE PARTICIPAÇÃO NO FILME AO ESCRITOR IVENS SCAFF
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ANTROPOLOGIA
FOTO JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA
Toroari O Ninho do Gavião
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POR JOSÉ EDUARDO F. M. DA COSTA
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historiadora Anna Maria Ribeiro F. M. da Costa, o indigenista José Eduardo F. M. da Costa e o literato Rosemar Eurico Coenga, produziram o artigo acadêmico “Um olhar decolonial para o céu Bororo”, compondo a Revista Eletrônica do NDIHR, da UFMT, volume 25, edição nº 01, para o mês de abril de 2019, em referência aos 300 anos de Cuiabá. O artigo se desenvolve em três partes, distribuídas por 17 páginas muito bem pesquisadas e escritas. Segundo os autores esse trabalho tem como base “os estudos de viajantes, missionários, militares, antropólogos e historiado-
res que dedicaram, anos de suas vidas, a estudar a etnia Boe - oriental e ocidental do início do século XVIII, por ocasião da fundação de Cuiabá, avançando até os dias atuais”. A Revista Lume MT fez um recorte desse brilhante trabalho e apresenta uma parte escrita por José Eduardo F. M. da Costa que se refere ao Morro Toroari. Esse morro é, dentro das lides históricas, o mais importante acidente geográfico mato-grossense. É também conhecido por Morrinho ou Morro de Santo Antônio e se localiza nas proximidades de divisas dos municípios de Cuiabá e Santo Antônio de Leverger.
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ANTROPOLOGIA
TOROARI A Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá ou Ikuiapá, lugar de pesca com arpão, no dizer Bororo, ganhou vida e contornos, seguindo o córrego da Prainha, ou Ikuiebo, “as águas das estrelas”, como o percebiam os donos da terra. A partir da barra do Ikuiebo, o curso superior do rio Cuiabá não permite a navegação de embarcações maiores, face às pedras que despontam no meio das águas. Logo rio acima, depois do Porto, fica a barra do rio Pari em Tupi-guarani, nome dado a uma cerca feita de uma margem a outra do rio para pesca. Por capricho da natureza, no local existe um afloramento de rochas que emerge como um colar de contas, de um lado a outro do rio Cuiabá. Ao reter suas águas e forçá-las nos vãos das pedras, produz um canto que pode ser ouvido de longe. Um lugar bom para a pesca com arpão. Próximo a Cuiabá, às margens do rio e logo no início de uma imensa área inundável, o Pantanal, está o Morro de Santo Antônio ou Toroari, “ninho do gavião”, em Bororo. Para o Bororo, Toroari, é a representação do baito, casa dos homens, de um território de vivências cujo esteio central é simbolizado pelo jatobá, árvore que os heróis míticos Méri: Sol e Ári: Lua, aparecem, é a passagem que interliga o mundo subterrâneo e subaquático ao terrestre e aos celestiais. O eixo Leste-
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-Oeste divide a aldeia Bororo e o baito ao meio, estruturando duas metades exogâmicas: Ecerae, donos dos cantos, ao Norte, e Tugarege, donos das flechas ou dos cantadores, ao Sul. O caminho solar compõe um continuum, da vida e da morte, o eixo da ancestralidade e dos progenitores míticos. Este caminho é interseccionado pelo eixo dos espíritos, cujos mais significativos se apresentam como felídeos, sendo os do Zênite luminosos, humanizados e benéficos. Já os do Nadir são sombrios, perigosos e animalizados. Na espiral do pátio central encontram-se, em um espaço-temporal simbólico, os pajés das almas e dos espíritos, guiando o Bororo através dos cantos e serviços cerimoniais. Cada metade é constituída por quatro clãs e estes se dividem em subclãs que determinam os nomes, pinturas corporais, cantos, adornos, conduta e inserção no mundo. As casas são agrupadas em unidades clânicas e se encontram dispostas em anéis concêntricos no entorno do baito e do pátio central, denominado bororo. A localização de cada clã orienta-se pelos pontos cardeais e vincula-se às diferentes linhagens maternas que definem o legado material e simbólico dos membros da sociedade Bororo. É o aspecto feminino que impulsiona a circularidade, que faz a espiral do cosmo gi-
rar em busca do equilíbrio na reciprocidade. Com uma estrutura social marcada pelos ritos cerimoniais e hierarquização entre os clãs, que reflete uma cosmovisão perceptível em sua territorialidade nos espaços da aldeia, nas relações entre os seres humanos e não humanos, nos cantos e nos gestos mais simples. Os poderes em uma aldeia são compartilhados pelo Boe E-Imejéra: chefe da aldeia e da guerra, com o Bari: pajé dos espíritos, e Aróe Et-Awára Áre: pajé das almas. O chefe da aldeia é escolhido por sua linhagem materna, visto sua generosidade, oratória e seu conhecimento das tradições, além de outros predicados. O morro Toroari está vinculado à inundação universal. Narra o mito que, ao provocar o dilúvio em decorrência de um acesso de cólera, o herói da face resplandecente, Merire Póro, em Bororo “Porta do Sol”, sustentou o fogo de um tição em suas mãos e do alto do Toroari fez a fúria das águas recuar. Não sobreviveu ninguém ao cataclismo, e assim se uniu a uma cervídea ou guaçuetê e repovoou a terra, restabelecendo a cultura Bororo. Num segundo aspecto do mito, foi o herói Jerígi Otójiwu quem se salvou da inundação no alto do Toroari e, igualmente, com um tição na mão, fez as águas abaixarem. Entretanto, foi pelo seu assobio persis-
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ANTROPOLOGIA
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lumeMatoGrosso tente nas auroras que fez aparecer outro índio portando, também, um tição para, em seguida, emergirem todos os demais índios da casa central, baito. Conta a tradição que Jerigi está associado à constelação de Orion e à caça, aspecto masculino. E, ainda, que a Guacuetê é vinculada às constelações de Centauro: Pobógo Imédu, a Alfa: Pobógo Arédu, à Beta, as quais integram a constelação Cruzeiro do Sul denominada Pári Búreapelo, significando Pegada de Ema,
pelo Bororo. A Guacuetê expressa o aspecto feminino e o cultivo da terra. Como ensinam Guattari e Rolnik (1996), os territórios são articulados aos fluxos cósmicos, aos espaços-tempos sociais, estéticos, culturais e cognitivos e estão sempre em processos de apropriação e de desterritorialização. É bem provável que o colonizador conhecia o valor simbólico e a importância do Toroari para o Bororo, raiz da população cuiabana. Na mitologia grego-romana, a
Alfa e Beta de Centauro são conhecidas também como guardiãs do Cruzeiro do Sul e de Sírius, o caçador. Conhecida como estrela flamejante, Sírius é a mais brilhantes do céu e o símbolo por incidência de Mato Grosso no pavilhão nacional. Aparentemente, ao ver o Brasão de Mato Grosso percebe-se a semelhança com Toroari, cujo o topo está aninhada uma Fênix, pássaro mítico, símbolo universal do sol, do fogo e do renascimento: o Meriri Póro.
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FOTOS VALDECI QUEIROZ
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PA I SAG I S M O
Prêmio Casa e Jardim
Conheça os vencedores do Prêmio Casa e Jardim 2019 Confira os projetos que levaram a melhor nas categorias de design de interiores, arquitetura e paisagismo
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A partir de uma seleção de peso, os jurados do Prêmio Casa e Jardim 2019 chegaram aos vencedores das categorias que abordam design de interiores, arquitetura e paisagismo. O evento, que aconteceu no dia 18/06, reuniu profissionais da área, a arte da Pinacoteca do Estado de São Paulo e a cenografia de Marko Brajovic para celebrá-los. O Prêmio Casa e Jardim tem apresentação de Samsung, apoio de Suvinil, participação de Ornare e Tidelli, e realização da Editora Globo. Confira a seguir a lista de vencedores, com link para mais detalhes dos projetos premiados!
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PAISAGISMO Apenas um ano e meio após a implantação, o jardim criado pelo engenheiro-agrônomo e paisagista Rodrigo Oliveira já havia ganho o aspecto de floresta que lhe rendeu o troféu da categoria. Com o centro do jardim livre, três pontos verdejantes foram mais que suficientes para criar um oásis no terreno de 1300 m². “Superlegal ter o trabalho reconhecido e espero que a cidade tenha muitos oásis ainda”, afirma Rodrigo.
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CATEGORIA OÁSIS: RODRIGO OLIVEIRA FACHADA | Dos fundos do terreno, olhando para a casa, vê-se o capim-barba-de-bode plantado em caixas de aço galvanizado no alto, à dir. Um recorte na laje deixa passar a copa do ipê-branco. Em sua base, maciços de guaimbê e de samambaia renda-portuguesa.
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R E P O RTAG E M ESPECIAL
JARDIM DESENHADO POR RAYMOND JUNGLES HOMENAGEANDO BURLE MARX DETALHES DO JARDIM DE RAYMOND JUNGLES HOMENAGEANDO BURLE MARX
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PAUL CLEMENCE É fotógrafo e flimmaker, cujo trabalho explora a conexão entre o mundo da arte e arquitetura.
Burle Marx
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POR PAUL CLEMENCE
oberto Burle Marx era conhecido principalmente por suas inovadoras criações paisagísticas modernas, mas sua pratica creativa ia muito além dos jardins - ele era de fato um verdadeiro homem renascentista: artista, pintor, escultor, ceramicista, impressor, muralista, soprador de vidro , músico, designer de jóias e tecidos, cenógrafo e figurinista, ecologista e até mesmo um habilido-
so chef, tão cuidadoso com o esquema de cores de saladas quanto com a paleta de suas pinturas e jardins. No dia 8 de junho, uma nova exposição no Jardim Botânico de Nova York, “Brazilian Modern: The Living Art of Roberto Burle Marx”( “Moderno Brasileiro: A Arte Viva de Roberto Burle Marx”) foi inaugurada para celebrar a vida e obra deste artista prolífico e personalidade de destaque no modernismo brasileiro.
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R E P O RTAG E M ESPECIAL
DETALHES DO JARDIM DE RAYMOND JUNGLES HOMENAGEANDO BURLE MARX ESPELHO D’ÁGUA COM VÁRIAS ESPÉCIES FAVORITAS DE BURLE MARX
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lumeMatoGrosso FONTE VERTICAL DESENHADA POR RAYMOND JUNGLES INSPIRADO EM MURAL DE BURLE MARX EDIFICIO PRINCIPAL DO NEW YORK BOTANICAL GARDEN
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R E P O RTAG E M ESPECIAL Nascido em São Paulo, filho de um pai alemão com interesse em botânica e mãe pianista de herança francesa, Burle Marx teve uma educação muito cultural. Curiosamente, foi quando morava na Alemanha enquanto jovem que ele se descobriu a exuberancia da flora brasilieira: em uma visita ao Jardim Botânico de Berlim, uma seleção de plantas exóticas chamou sua atenção e, ao examiná-las mais de perto descobriu que estas eram oriundas do Brasil. Esse encontro inicial levou a uma paixão por toda a vida de explorar a abundante variedade de plantas que o Brasil tem a oferecer, realizando incontáveis expedições por todo o Brasil em busca de novas e raras espécies de plantas. O também legendário arquiteto Ruy Ohtake, amigo e colaborador, tendo trabalhado em 12 projetos juntos, fala de acompanhar Burle Marx em uma dessas viagens, viajando pela Amazônia em um pequeno barco no Rio Negro, no meio da selva, sob as densas copas das árvores: “Ele olhava para tudo com muito cuidado, examinando cada planta em detalhes minuciosos, maravilhando-se com a maneira como a Natureza se organiza, com a permanente curiosidade que um artista tem”. Dessa expedição, Ohtake diz que Burle Marx retornou com 2 caminhões carregados de plantas para serem estudadas mais profundamente e cultivadas em seu complexo no Rio de Janeiro. “Foi fascinante ver sua familiaridade com o mundo botânico e sua alegria quando descobria algo que o surpreendia!”, Diz Ohtake. O tempo em Berlim também expôs Burle Marx a algo que se tornaria uma parte importante de sua vida e obra: a pintura. Foi lá que ele descobriu pela primeira vez o trabalho de Picasso e Van Gogh e decidiu que ele iria experimentar com essa forma de expressão. Seu primeiro passo nesse sentido, as aulas de arte no ateliê de Elise Degner Klemm, parece ter aberto o caminho para combinar suas duas áreas de interesse, já que Degner Klemm era conhecida por suas pinturas tendo
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paisagens e natureza como tema. Ao retornar ao Brasil, continuou sua formação na Escola Nacional de Belas Artes, onde estudou com o renomado pintor brasileiro Candido Portinari, que já se estabelecia como pintor neo-realista com um estilo moderno de linhas fluidas e orgânicas ( formas não muito diferentes do vocabulário visual que veríamos nos desenhos e obras de arte de Burle Marx mais tarde). Seu primeiro projeto de jardim foi para um projeto residencial de Lucio Costa, que por acaso era seu vizinho de sua família no Leme. Isso levou a uma série de importantes colaborações arquitetônicas, como sua contribuição para o iconico projeto do Ministério da Educação e Cultura no Rio de Janeiro. Esse projeto, com seu desenho paisagístico abstrato , atraiu atenção e elogios de um público mais amplo. A partir daí , Burle Marx começa a trabalhar com os arquitetos mais importantes do movimento modernista brasileiro, particularmente com Oscar Niemeyer, com quem colaborou em projetos importantes como o Complexo da Pampulha em Belo Horizonte e o Palácio Itamaraty de Brasília. Mas mesmo com a notoriedade de seu trabalho paisagístico e seu interesse no mundo da botanica, Burle Marx nunca se limitou e continuou explorando várias disciplinas artísticas. A exposição no Jardim Botânico de Nova York conta com uma área verde ( nesse caso multicor) , um jardim, dedicada ao seu trabalho de paisagismo , uma galeria com pinturas, gravuras, desenhos e tecidos, e uma extensa apresentação sobre seu trabalho de botanico, horticultor através de suas muitas expedições ecológicas e estabelecendo a relação entre sua prática artística e sua dedicação à conservação do meio ambiente, algo que foi uma parte essencial de sua obra e filosofia de vida. As instalações de jardim foram projetadas pelo paisagista americano Raymond Jungles (que foi um aprendiz e protegée de Burle Marx) e estão divididas em três seções diferentes que juntas darão FOTOS DIVULGAÇÃO
lumeMatoGrosso ESPAÇO DE ATIVIDADES DA EXPOSIÇÃO INSPIRADO NO SITIO DE BURLE MARX
uma visão abrangente da obra de Burle Marx: Um Jardim Modernista, homenageando vários de seus aclamados projetos paisagísticos ao longo de sua carreira, O Jardim do Explorador, destacando o lado botânico de sua prática, mostrando algumas das espécies descobertas por ele em suas expedições de pesquisa e seus esforços para preservar a rica biodiversidade do Brasil, e o Jardim Aquático, que contará com uma seleção de plantas tropicais do Brasil e de outros países flutuando num espelho d’água com nenúfares parte da coleção NYBG e outras variedades de lírios usadas com frequência por Burle Marx em seus projetos. Para Raymond, que tanto conviveu e aprendeu com o mestre Burle Marx, foi uma oportunidade unica de homenagear o artista que tanto lhe inspirou no seu caminho usando
da mesma linguagem que os unia: o paisagismo e o amor as plantas. Para dar uma idéia do mundo pessoal de Burle Marx foi montada no edifício da biblioteca do Jardim Botanico uma série de murais fotográficos mostrando seções do Sítio Roberto Burle Marx, propriedade onde o artista viveu e trabalhou de 1949 até sua morte. em 1994. Localizado nos arredores do Rio de Janeiro, o complexo era onde ele experimentava com plantas, estudava, trabalhava, criava, vivia e se divertia (algo que fazia com frequência). A propriedade de 90 acres abriga uma coleção de mais de 3500 espécies de plantas e hoje é aberta ao público e um testemunho vivo do próspero legado do artista brasileiro. A exposição no Jardim Botanico de Nova Iorque ficará aberta até dia 29 de Setembro e depois irá para outras cidades americanas.
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R E P O RTAG E M ESPECIAL
JARDINS DO PALACIO ITAMARATY, UMA DAS COLABORAÇÕES MAIS FAMOSAS DE BURLE MARX E OSCAR NIEMEYER GALERIA APRESENTANDO AS MUITAS EXPEDIÇÕES DE BURLE MARX
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Imagens de arquitetura são muito abertas à interpretação. Há espaço para criar sua própria história. PAUL CLEMENCE
PAUL CLEMENCE
»»O artista Paul Clemence é um premiado
fotógrafo e flimmaker, cujo trabalho explora a conexão entre o mundo da arte e arquitetura. Com seu forma abstrata de expressar a arquitetura, ele exibe seu trabalho regularmente no circuito internacional de artes plásticas, com fotos em formatos tradicionais em preto e branco ou intervenções arquitetônicas e murais fotográfico de grande escala, participando em eventos culturais importantes, como a Bienal de Arquitetura de Veneza, ArtBasel / Design Miami e Fuorisalone de Milão. Seu trabalho faz parte de coleções públicas e privadas ao redor do mundo. Seu livro “Mies van der Rohe’s Farnsworth House” permanece até hoje a foto documentação mais completa desse projeto icônico do mestre
alemão da arquitetura moderna e uma seleção dessas fotos é parte dos Mies van der Rohe Arquivos alojados pelo MoMa-NY. Quer sejam suas fotos ou seus textos, ele é publicado com frequência por revistas e sites de arte, arquitetura, viagem e lifestyles, como Archdaily, Architizer, Metropolis, Modern Magazine e Casa Vogue Brasil. Seu photo-blog no Facebook, “ARCHI-PHOTO”, rapidamente se tornou um grande sucesso e hoje é uma plataforma e comunidade global com perto de um milhão seguidores aficionados por fotografia, arquitetura, design e arte. Nascido nos EUA, mas criado em Niterói, ele hoje vive e trabalha em Nova Iorque. www.nybg.org/event/the-living-art-of-robertoburle-marx-2/
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MEMÓRIA
À Centenária Professora,
Maria Müller
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POR UBIRATÃ NASCENTES ALVES
esta memória popular que se apaga conforme o soprar dos mornos ventos, de bom alvitre reverenciar a brilhante existência, digna de ser a rainha das professoras que travou pacífica luta, secular em favor da educação e das letras, escreveu desde poesias a livros, uma vida exemplar. Teve por ascendentes nobres estirpes como de seu avô Generoso Ponce, que mesmo aos 13 anos lutou na Guerra do Paraguai depois governador, seu pai era proprietário da Usina das Flexas no rio Cuiabá Abaixo, o Cel. João Pedro de Arruda e sendo genitora a Sra. Adelina Ponce de Arruda.
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Viu a luz nesta urbe em dezembro 9 de 1898, sendo o nome inicial Maria Ponce de Arruda. Havendo como prioridade os estudos, recebe educação desde cedo no próprio ambiente familiar, desta forma precoce, já aos 5 anos estava alfabetizada e a seguir inicia-se na boa prática da leitura. Os resultados surgiram prontamente, logo aos 16 anos exerceu a cátedra na condição de “adjunta” na Escola Normal “D. Ester Zoron”, adiante veio a concluir seu magistério na “Pedro Celestino”. A estréia no mundo literário inicia efetivamente em 1916, aos 17 anos ao publicar no jornal “O Povo” um artigo intitulado “Baía de
Transcorrendo o ápice da sua pena, diversificou em estilos diferenciados desde ... poesias, crônicas, contos, discursos, trovas e até ficcionais, assinados com alônimos vários tipo Sara, Lucrécia, Ofélia, Mary, Chloé, Vampira, Consuelo e Vespertina, além do usar seu próprio nome. No fértil período de letras realiza conquista singular, a primeira mulher a ingressar na Academia Mato-Grossense de Letras, a segunda em todo país, cadeira nº 7 e posse em 26 de janeiro 1931. Igualmente nesse interregno, desponta como líder feminina ao erguer uma firme bandeira em prol do voto das mulheres, outra vitória que foi reconhecida através da Constituição Federal de 1934, ainda conclamou todas mulheres mato-grossesnses reticentes para se inscreverem como eleitoras. Ascendendo o esposo Júlio Müller, ao cargo de Interventor Estadual entre os anos 1937-45, trabalhos de maior relevância pode realizar em benefício da simplória sociedade, apesar de como 1ª Dama ser discreta, entretanto deveras participativa, através idéias, planejamentos e realizações. Ela fundou em 1940 o “Abrigo Bom Jesus”, para crianças carentes e mais o “Abrigo dos Velhos”. Depois no ano de 1942, Maria Müller presidiu a Legião Brasileira de Assistência - MT, havendo nesse período prestado apoio para as famílias dos pracinhas em luta durante a 2ª Guerra Mundial. Foi também uma das fundadoras da Federação Mato-grossense pelo Progresso Feminino e ... Sociedade de Proteção a Maternidade e a Infância de Cuiabá, mais conhecido por Hospital Geral. Um longo pacote de obras, foi entregue na visita de Getúlio Vargas - 6 a 8 de agosto 1941, o Palácio da Justiça, Grande Hotel, Residência Oficial dos Governadores, Hotel Águas Quentes, Cine Teatro, Centro de Saúde, outros, e a maior obra educacional até estes dias o “Liceu Cuiabano”. Ainda mais, por intercessão fundamental da 1ª Dama, o 16º Batalhão de Caçadores do Exército, veio a ser instalado em Cuiabá,
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Chacororé”, jamais deixou de escrever, fruto do preparo desde o alvorecer ao receber de seu avô Generoso, livros para habitual leitura da pequena Maria. Publicou artigos em vários jornais, “A Folha da Serra” - Campo Grande, “O Cruzeiro” e “A Cruz”. Adquirindo experiência em 26 de novembro 1916 na companhia de outras mulheres ativas nas letras, fundaram o pioneiro Grêmio Literário “Júlia Lopes”, ... a literata idealizora da atual Academia Brasileira de Letras, reunindo a intelectualidade feminina e que operou até o ano 1950. Inicialmente foi Presidente Leonor Borralho, Vice Maria Luíza Pimenta; 1ª Secretária Maria Ponce de Arruda e Tesoureira Maria Dimpina de Arruda Lobo. As primeiras redatoras da Violeta foram Thereza de Arruda Lobo, Regina da Silva Prado, Mariana Póvoas e Bartira de Mendonça. Portanto, ainda aos 18 anos incompletos, fez parte de seleta plêiade na associação que depois presidiu e manteve a circulação da revista “A Violeta”, durante 34 anos produzindo 309 edições ! Logo após Cuiabá completar 200 anos, em 26 de abril 1919, celebra núpcias com o futuro deputado estadual Dr. Júlio Strubing Müller, que viria a ser Interventor, equivalente a governador. Gerou um clã de primeira grandeza, que se espairou em todos escalões obtendo belos resultados. A sua atuação como professora foi emblemática, iniciando adolescente e depois graduada, lecionou em inúmeros estabelecimentos, assim como na própria Escola Normal Pedro Celestino, no colégio de Poconé onde o esposo foi mestre e diretor, indo na lua de mel até lá em carro de boi. Ainda no famoso Grupo Senador Azeredo, conhecido por “Peixe Frito” em razão da merenda, neste local funcionou a Casa do Artesão, onde ela posteriormente veio a se tornar a sua diretora. Entretanto, o amor pela educação foi a mais importante lição ensinada pela rainha Maria Müller, dedicou 76 anos da vida aos alunos, deixou as salas de aulas aos 96 anos e por questões de saúde !
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havia uma forte corrente que ansiava levá-lo para Campo Grande. Finalmente seu esposo entregou a 1ª ponte de concreto sobre o Rio Cuiabá em 20 de janeiro 1942. O reconhecimento dos trabalhos ultrapassaram as fronteiras, assim veio a receber em 1952, o Diploma de “Miembro de Honor” pela Associazione Internazionale-Pro-Pace de Salerno - Itália. Logo em 1953, o Diploma de “Miembro Corriespondiente” pelo centro filosófico “Arca Del Sur” da República Oriental del Uruguai e “Diploma de Honor” do Conselho superior de Cultura do “Instituto Y Biblioteca Panamericana” da Argentina, dentre outras honrarias que lhe conferiram. Amealhou todas condecorações do Poder Executivo estadual, por igual as do Poder Legislativo, mais diversas Moções de Congratulações e sua maior honra, receber a comenda “Filinto Müller”. A presença literata nos brindou de início em 1972, com uma obra sobre a “Família Arruda”. Alguns tempo depois, em 1994, aos 96 anos em parceria com a musicista e poetisa Dunga Rodrigues nos oferece outro livro “Cuiabá ao longo de 100 anos”, apresentação de Lenine Póvoas. Logo após em 1998, para celebrar o centenário de existência em alto estilo, veio a publicar uma agradável obra “Sons Longínquos”, poemas selecionados de quando rompiam-se os preconceitos. A sua vida e lavra, guindaram-na a membro honorário do Instituto Histórico e Geográfico de MT. Entre outras homenagens esparsas, somamam-se da magistratura que prestou deferências ao reconhecer as lutas pioneiras por direitos, assim em 1992 o TRE na gestão do Des. Odiles Souza, por ser das primeiras mulheres a possuir título de eleitor, por votar e a mobilização nesse sentido. Sua atuação lhe propiciou outra significativa homenagem, um das escolas mais tradicionais de Cuiabá, o Colégio Estadual de Mato Grosso, depois Liceu Cuiabano, veio a ser rebatizado como Liceu Cuiabano “Maria de Arruda Müller”. Tem o retrato na galeria da saudade, organizado pela Presidente Eunice Weaver,
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na sede - RJ, por haver fundado a Sociedade dos Lázaros em Cuiabá. A obstinação pela cátedra levou-a a dar mostras inquestionáveis de sua força de vontade, pois aos 95 anos de vida, apresentou-se como voluntária no bairro Bela Vista para alfabetização de adultos, obtendo resultado notável ao ensinar a ler e grafar uma de suas alunas com 80 anos ! A professora Maria Müller, no centenário de sua existência oferece uma profícua lição para todas as faixas etárias de nossa coletividade, celebrou com a seguinte frase os festejos do seu centenário: “Ser plenamente realizada é poder junto a vocês, reviver meus 100 anos em um dia”. Quando ela concedeu entrevista para a revista “Acontece”, Ano 4 - nº 11 em janeiro de 1999, revela um dos segredos da longa vida ... “Estar em Comunhão com a paz espiritual do Universo”. O maior galardão por tantas décadas na incansável labuta professoral, ocorreu em 2002, quando o próprio Ministro da Educação Paulo Renato de Souza, veio até sua casa entregarlhe a medalha da Ordem Nacional do Mérito Educativo, criada em 1955 pelo presidente Café Filho. Comenda outorgada a marcantes personalidades que prestaram serviços excepcionais à educação, e a Imortal Maria de A. Müller tornou-se não Rainha, mas a “Professora do Brasil” aos 103 anos, o evento teve imensa repercussão nacional e diversos jornalistas do país vieram para entrevistála. Aproveito aqui para deixar também o meu depoimento, ... nessa época era secretário-geral da academia e certa vez recebi um bilhete de sua cuidadora, de início pensei tratar-se de um trote, mas comecei a entender ao ver no alvo envelope a remetente, ficando de pronto em mais sentido. Letra trêmula, mas ao melhor estilo calígrafo, pedia ao Sr. Secretário indicar eventual pendência na tesouraria, curioso o inabalável senso de responsabilidade, pessoalmente levei a vazia resposta. Havendo ressucitado o chá acadêmico, guarnecido com bolo de queijo, arroz e salgadi-
lumeMatoGrosso MARIA MÜLLER EM SOLENIDADE, NA D. CADA DE 1980.
nhos finos, levo uma mostra dos tira-gostos e por essa atenção, foi tratado como fidalgo o “escriba das atas”, mais outras indagações recebi, respondia com notícias das reuniões e quitutes, até findar a gestão. Maria Müller foi esposa, mãe, avó, bisavó e tataravó, gerou 7 filhos: Elen Maria, Augusto Frederico, Hugo Filinto, Helena Julia, Adelina Rita, Terezinha, Julio Frederico Neto, que lhe deram 23 netos, foram 57 bisnetos e 5 tataranetos, totalizando extensa descendência 92 pessoas ! Cerrou definitivamente os olhos em dezembro 4 de 2003 bem próximo de fechar 105 anos, no Hospital Sta. Rosa de infarto às 9h30, deixando órfãos os alunos, filhos do seu intelecto. Entrando agora na história, nos delega um formidável exemplo de vida para as gerações pósteras. Sensibilizada a governadora interina Iraci França decretou luto oficial no Estado durante 3 dias, seu corpo enfim descansa no Cemitério da Piedade, vizinho ao casarão onde, por último morava.
ASPIRAÇÃO Bojando a vela sobre o mar sem alma, Vai, asa branca, ao ritmo do vento. Circunfletindo, oscila e corta a espalma Imensidão que espelha o firmamento. . No ar rarefeito treme a leve palma... Se a tempestade vier, o oceano é cruento... E ela não sente quando a tarde é calma, Insídias de borrasca em céu sedento. . Quisera ver minha alma - neste instante Como a vela boiar, e se sumindo No horizonte, indo além, bem mais distante... . E indo a vogar meu pensamento com ela, Livre da ronda das paixões (que lindo!) Como a alvura que aclara a branca vela. Publicada em 12/04/2008 Etiquetas: Brasil, Maria de Arruda Müller - Poetisa
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JUNHOS DE NOSSA HISTÓRIA DIA 01
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»»1553. Ana Bolena foi Co- »»1948.
roada Rainha da Inglaterra.
DIA 02 »»1882. Morre na Itália o revolucionário Giuseppe Garibaldi, o “Herói de dois mundos”. DIA 03 »»1989. Morre o Aiatolá Khomeini, líder político e espiritual iraniano. DIA 04 »»1898. Nasce em Serra Talhada/PE, Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”.
Cientistas brasileiros fundaram a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC.
DIA 09 »»1884. Nasce em Cuiabá o escritor e professor Feliciano Galdino de Barros. Membro do IHGMT e publicou Lendas Mato-Grossenses e o Perigo Yankee. DIA 10 »»1926. Morre Antoni Gaudi i Cornet, arquiteto espanhol.
DIA 11 »»1910. Nasce em Paris o oceanógrafo Jacques-Yves Cousteau, inventor do equipamento de mergulho que substituiu os escafandros.
DIA 06 »»1961. Morre Carl Gustav Jung, pai da Psicologia Analítica.
DIA 07 »»1951. Nesse dia foram executados os últimos criminosos de guerra nazistas que foram condenados pelo Tribunal de Nuremberg.
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DIA 12 »»1975. Ocorre a Independência de São Tomé e Príncipe, uma das primeiras colônias do Império Português, com uma trágica história, resultado do tráfico de escravos. DIA 13 »»1195. Nasce em Lisboa o religioso que se torna Santo Antônio de Pádua. É homenageado como o “Santo casamenteiro”. DIA 14 »»1928. Nasce na Argentina Ernesto Guevara de la Ser-
na, revolucionário e líder político latino-americano. DIA 17 »»1885. Doado pelo governo francês, a Estátua da Liberdade chega a cidade de Nova York. DIA 18 »»1888. Nasce César Albissetti, missionário salesiano e pesquisador. É co-autor de Enciclopédia Bororo e outros livros indispensáveis à compreensão da antropologia de MT. DIA 19 »»1984. Tancredo Neves é indicado pela oposição para concorrer à Presidência da República. DIA 20 »»1991. Berlim volta a ser a capital da Alemanha, que havia sido reunificada no ano anterior. DIA 21 »»1839. Nasce no Rio de Janeiro, Machado de Assis, a maior expressão literária brasileira do séc. XIX.
DIA 23 »»1865. Foi Lançado ao mar, na Baía de Guanabara, o encouraçado Tamandaré, primeira embarcação do tipo construída no Brasil, que teve importante papel na Guerra do Paraguai.
Morre em Los Angeles o cantor pop Michael Jackson. DIA 26 »»1904. Nasce em Corumbá o literato e político Carlos Vandoni de Barros. Escreveu diversos livros, dentre os quais Nhecolândia, em 1934 e Paraná - em defesa do rio esquecido, em 1950. DIA 27
»»1908.
Nasce em Minas Gerais o escritor João Guimarães Rosa. DIA 28 »»1945. Nasce em Salvador/BA, Raul Seixas. Um dos mentores da “Sociedade Alternativa”. DIA 29 »»1900. Nasce na França, Antoine de Saint Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe. DIA 30 »»2004. Saddam Hussein foi capturado e posteriormente enforcado.
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O PERSONAGEM NOVENTA E UM ANOS DO NASCIMENTO DE ERNESTO RAFAEL CHEVARA DE LA SERNA »»014/06/1928. Che Guevara nasceu na cidade de Rosário, na Argentina. Foi famoso revolucionário socialista do século XX. Argentino, nasceu na cidade de Rosário a 14/06/1928. Faleceu a 9/10/1967, na aldeia de La Higuera (Bolívia). Ainda na adolescência entrou em contato com a literatura socialista (Marx, Engels e Lênin). Em 1946 muda-se com a família para a Colômbia e estuda medicina. Em 1951 empreende viagem de motocicleta pela América Latina e vê péssimas condições de vida das camadas pobres da sociedade. Em 1954, conheceu, no México, Raúl e Fidel Castro. Entrou para o grupo revolucionário de Castro, em 1957, derrubando o governo e instalando o socialismo na ilha.
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DIA 25
»»2009.
O ACONTECIMENTO CENTO E CINQUENTA ANOS DA RETOMADA DE CORUMBÁ - ATO HERÓICO »»13-06-1867. Por ocasião da Guerra do Paraguai, em dezembro de 1864, Corumbá foi tomada por tropas paraguaias. Muitas vidas foram ceifadas, além do que, ocorre fuga em massa da cidade e região. O presidente Couto Magalhães determinou a Retomada de Corumbá e a estratégia das operações ficou sob o comando do tenente-coronel Antônio Maria Coelho. A 13 de junho, pela madrugada, a tropa toma rumo norte, caminhando pelas margens do Rio Paraguai com destino a Corumbá. Às 14 horas, iniciam-se os ataques em vários fronts distintos, que duraram até às 18 horas, com êxito total. Com a retomada, além do resgate moral do povo mato-grossense, iniciou-se o processo de expulsão de tropas paraguaias de Mato Grosso
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R E T R ATO E M PRETO E BRANCO
Luiz Carlos Ribeiro
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Ator, Diretor, Arte Educador, Videasta e Escritor Brasileiro
uiz Carlos Ribeiro nasceu em Santo Antônio de Leverger, filho de tradicional família do Rio Abaixo, em 1943, faleceu em Cuiabá, no dia 12 de janeiro de 2018. Luiz Carlos era bacharel em ciências jurídicas e sociais, ator, diretor, arte educador, videasta, escritor. Não mais apreciava discutir política, muito embora tenha sido vereador eleito em sua cidade natal, tendo chegado à presidência da Câmara Municipal, no entanto, desencantara-se com tratativas políticas: “Não é prá mim, não coaduno”, dissera. Segundo a Revista Biografia, Luíz Carlos era auto-didata na área social do teatro. Estudou teatro com Nie-
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te de Lima, (RJ) Jesus Chediak (RJ), Amir Hadaad (RJ), Fany Abramovich (SP), Rubens Correa (RJ), Ivan de Albuquerque (RJ), João das Neves (RJ), Luiz Carlos Vasconcelos (PA), Tácito Freire Borralho (MA), Fernando Augusto (PE) - Mamulengo Só Riso, Carlos Alberto Sofredini (SP), Ilo Crugle (SP) Caca Carvalho (SP), Luiz da Rocha (RJ) João Brites - grupo O Bando, de Portugal . Em meados da década de 1970, militou para (re) organização do movimento teatral nacional e mato-grossense. É fundador da Federação Mato-Grossense de Teatro - FEMATA - e da Confederação Nacional de Teatro - CONFENATA, tendo
sido um dos seus diretores. Em meados da década de 1970, participou como ator e diretor da peça Arena Conta Zumbi, e coordenou dois circuitos estudantis de teatro no Estado de Mato Grosso, promovendo a interiorização da cultura no Estado de Mato Grosso - in anuário do teatro brasileiro, 1977, p.83. Luiz Carlos era ativo na profissão e tinha planos para futuros espetáculos quando a doença lhe combaliu as forças. Dentre os muitos trabalhos produzidos e realizados destacamos aqui, apenas alguns, dos muitos de sua lavra, sem contar alguns dos mais recentes: »»Entre os anos de 1981/83 FOTO DIVULGAÇÃO
»» Em 1993 interrompeu seu curso de mestrado devido falecimento prematuro de seu orientador Professor Doutor Alcides Lott. Na ocasião era o único docente com curso de doutoramento em teatro; »»Entre os anos de 1994/1995 escreveu e dirigiu a trilogia do teatro do absurdo: Pelos Cotovelos, A Virgindade Contestada e Vespa Sete.1995: participa em rede nacional, do episódio: “Incrível, Fantástico, Extraordinário”, ao lado do ator e diretor Luiz Fernando Queiroz, produzido pela Rede Manchete, sob a direção de Marcos Sechechtman; »»Em 1998: de 25 a 29 de julho proferiu a conferencia “Anchieta em Mato Grosso”Autos da Pregação Universal - 450 anos”; »»Entre os anos de 1998/2000 assume o cargo de Conselheiro de Cultura do Estado de Mato Grosso; »»No ano 2000 participou com a Cia D!Arte do Brasil, a convite do diretor e dramaturgo português João Brites, diretor do Grupo: O Bando, do FIAR - Festival Internacional de Teatro de Palmela, como ator e co-autor do texto Marco Zero, escrito em parceria com Amauri Tangará. »»No período 2005/2006 participa do Projeto: Circulo dos Saberes, como oficineiro de teatro, ministrado para jovens e adolescentes indígenas de diferentes etnias; »»Em 2006 participa como docente do curso para formação de técnicos e atores, promovido pela Secretaria
de Estado de Cultura em parecia com o SESC/SENAI e, também, lança seu primeiro livro de contos: A Mala de Fugir e Outras Histórias; »»De 04 a 11 de novembro de 2007 participa do “II Seminário de Jovens e Adolescentes Indígenas”, em terras Umutina , Barra do Bugres/MT, cujos contato vem mantendo desde o ano de 2005 com as etnias: Umutina Bakairi e Paresi. »»No ano de 2008 participa como ator da peça: A Mala de fugir e Outras Histórias, de sua autoria, sob a direção de Júlio de Camargo. Participa do Projeto de Dramaturgia Mato-grossense/ SESC/MT - leitura dramática do texto de sua autoria O Grito do Esquecido; »»No ano seguinte, em 2009, a Companhia Cena Onze encena a peça FICA, PEDRO, de sua autoria, que faz abordagens á vida de Dom Pedro Casaldáliga, Bispo Emérito da Prelazia de São Felix do Araguaia/MT; »»Em 2010 (28 de julho a 1º de agosto) participa, a convite da atriz e produtora cultual Benita Pietro do “9º Simpósio Internacional de Contadores de Histórias”; como facilitar da oficina: Tamoin, um Contador de História, com abordagem da importância dos contadores de história nas sociedades ágrafas indígenas; »»No ano de 2011 participa da Semana de LiteraturaSESC ARSENAL - como palestrante e mediador da escritora Fany Abramovich.
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co-organizou, junto a Federação Mato-grossense de Teatro: Circuito Xavante de Teatro; Circuito Araguaia de Teatro do Centro Oeste; »»Foi eleito presidente da Federação de Teatro de Mato Grosso- FEMATA, para o período 1978/80. Em 1980 participa do Projeto Mambembão/80, como ator e assistente de direção da peça Rio Abaixo - Rio Acima, Ou Ergue o Mocho e Vamos Palestrar, de autoria e direção Maria da Gloria Albues - indicado pelo crítico Yan Michaski para receber dois prêmios mambembes; »»No período 1982/84, coordenou o projeto de arte educação Terra: Uma Proposta de Interação Escola - Comunidade, tendo como proponente o Grupo Terra de Teatro de Cuiabá; »»Entre 1983/85 escreveu e dirigiu: a peça Gudibai Meu Boizinho tendo apresentado essa peça em comunidades rurais, pequenas cidades e comunidades; encenou em praça pública três autos natalinos, com abordagens culturais ameríndios. 1986/1998 trabalha na administração do Teatro Universitário, ora exercendo a função de diretor de programação, ora de supervisor do referido teatro; »»De 1990 até 1992 frequentou o curso de mestrado em educação pública, pela Universidade Federal de Mato Grosso, cujo foco de pesquisa era a experiência do Grupo Terra de Teatro vivenciada na comunidade rural de Sucuri, Município de Cuiabá;
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L I T E R AT U R A
Folhas Evocativas Novo livro de Benedito Pedro Dorileo é uma homenagem a Cuiabá pelos seus 300 anos de fundação
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TEXTO ENTRELINHAS EDITORA
décimo livro do escritor, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, da Academia Mato-Grossense de Letras, primeiro reitor eleito da Universidade Federal de Mato Grosso, “Folhas Evocativas” é uma obra de amplo fôlego. Com 528 páginas, publicado pela Entrelinhas Editora, apresenta 160 textos sobre Cuiabá e temas como educação, história e literatura, direito e justiça, língua portuguesa e civismo, poluição sonora, política, religião e crônicas. A capa do livro é ilustrada pelo arquiteto Moacyr Freitas, com um desenho do Cais do Porto de Cuiabá, soterrado em 1948. Freitas, como artista, está entre os que mais registraram a história, os casarões e paisagens urbanas de Cuiabá, além de ter grande contribuição como arquiteto urbanista para a fisionomia de Cuiabá, hoje.
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Sobre o seu novo livro, o autor registra: “Esta obra não é uma grinalda de flores escolhidas, coexistem crônicas e artigos variegados. Pode, entretanto, trazer liame de abordagem para assuntos referentes à eterna Capital mato-grossense, a Cidade Verde de Dom Aquino Corrêa - a Cuiabá dos 300 anos, em 2019, minha terra natal. O incentivo de pessoas amigas e de leitores novos resultou em compendiar uns textos editados nos últimos tempos, não acolhidos outros anteriores e os da minha iniciação. É mais coletânea do que florilégio, mais seleta do que antologia - de maneira muito simples. Assim, em ligeiro esforço, tentando afivelar resultados complexos de combinações, sobressai esta oferta despretensiosa para leitura crítica de quantos tolerarem prender a atenção a assuntos havidos.”
1974. É associado do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso desde 1976 e da Academia Mato-Grossense de Letras desde 1987. Exerceu atividades jornalísticas como redator do jornal Tribuna Acadêmica, diretor-secretário do jornal Social Democrata. Colaborou com os periódicos: A Cruz, Mato Grosso em Revista, Folha Mato-Grossense, O Estado de Mato Grosso, Folha do Estado, Tribuna Liberal, Diário de Cuiabá, A Gazeta. Na atividade política, foi secretário do Partido Social Democrata, na Capital. Publicou os livros: Miçanga (1971), Egéria Cuiabana (1976), Universidade, o fazejamento (1978), Pensar para fazer (1984), Centenário da Egéria cuiabana (1995), Nomeação de reitor (1996), Cholo (2003), Ensino Superior em Mato Grosso (2006), Zulmira Canavarros, a Egéria cuiabana (2016). Todo o valor da venda do livro Folhas Evocativas, que foi lançado em 14 de junho de 2019, será destinado às ações sociais do Hospital de Câncer, em Cuiabá.
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SOBRE O AUTOR: Benedito Pedro Dorileo é advogado, político, professor, especialista em Direito Educacional, reitor da UFMT (o segundo, sendo o primeiro eleito diretamente pela comunidade universitária, em 1982, no país), historiador e escritor. Nasceu em Cuiabá, no dia 10 de dezembro de 1934. Foi sempre do magistério; ainda adolescente reunia crianças e adultos para aulas de alfabetização à noite com luz elétrica ou de lamparina. No antigo bairro Várzea Ana Poupino (hoje, compondo o bairro Dom Aquino) participou da alfabetização voluntária de remanescentes escravos libertados e de seus filhos. Moço, após o Curso de Formação de Oficiais, como Tenente torna-se instrutor/professor do CFO da Polícia Militar do Estado. Em 1960 foi admitido como professor do Colégio Salesiano São Gonçalo como professor de Língua Portuguesa, bem como no Ginásio Dom Aquino Corrêa. Mediante concurso público, foi admitido como professor da Escola Técnica Federal de Mato Grosso. Em 1968 torna-se professor fundador do Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá, em nível superior, onde foi Chefe do Departamento de Letras. Antes, em 1962, já bacharel em Direito, foi eleito vereador da Câmara Municipal de Cuiabá, por estímulo de estudantes e colegas do magistério, onde chegou à presidência. Exerceu a advocacia e, após, ingressou no Ministério Público, aprovado em dois concursos públicos: em primeiro lugar como Defensor Público e em segundo lugar para Promotor de Justiça. Em 1970 foi eleito presidente de honra da Associação Mato-grossense de Professores do Estado. Filho de Pedro Gratidiano Dorileo e de Joaquina Maria de Almeida, é casado com Marlene Garcia Dorileo, desde 10 de dezembro de 1957. Foi declarado, juntamente com outros docentes, professor fundador e titular, constante do primeiro Estatuto da UFMT. Implantou, além da Orquestra Sinfônica e o Coral Universitário (os primeiros do Estado), a Editora Universitária, em
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HISTÓRIA
Nova Diretoria
Professores da Unemat, assumem Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres DA REDAÇÃO/CÂMARA MUNICIPAL DE CÁCERES
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vas políticas que possam incentivar a cultura e valorizar a história, a memória e a identidade de Cáceres. Em seu discurso, Olga Maria destacou a iniciativa do escritor e ex-presidente do Instituto Histórico de Mato Grosso, João Carlos Vicente Ferreira, idealizador das criações dos institutos nas cidades do interior de Mato Grosso, e Cáceres foi o primeiro município a ter o Instituto implantado. Outra integrante do IHGC, Maria do Socorro Araújo, representando a Unemat, acha importante o envolvimento de outras instituições, como o IFMT, Faculdades, os quartéis e demais entidades para produzir uma Agenda Cultural para a cidade. “Cáceres é um lugar hospitaleiro e muito afetivo. Estou aqui faz 38 anos, pensava que não passaria de um. O afeto das pessoas e as condições da cidade possibilitam ficar e se estabelecer. Cáceres tem memória, tem os povos que aqui estão e que vieram e faz a cidade funcionar”, concluiu na tribuna. Cáceres foi a primeira cidade a criar seu Instituto Histórico e Geográfico, em 2003, e a presença da presidente do ano do centenário do IHGMT, professora Elizabeth Madureira Siqueira, e de outros integrantes, abrilhantou a solenidade. Ela reconheceu a atuação do Instituto de Cáceres, atendendo e cumprindo com a sua finalida-
de e, por isso, acredita que o IHGC possa se tornar um Ponto de Cultura: “Deixo essa proposta para Cáceres se tornar um Ponto de Cultura dentro do Estado e outra proposta é fazer um encontro entre o instituto do interior mais antigo com o mais novo, sendo Cáceres e Poxoréu. A experiência dos dois municípios poderá colher frutos para novos projetos e ações”. Nova diretoria 20192021- Presidente: Agnaldo Rodrigues da Silva; Vice-presidente: Olga Maria Castrillon Mendes; Primeira Secretária: Vanilda Castrillon Mendes Dantas; Segundo Secretário: Emilson Pires de Souza; Tesoureira: Neuza Benedita Zattar; e Conselheiros Fiscais: Pedro Paulo Pinto de Arruda e Maria do Socorro de Souza Araújo. O novo presidente deu posse a cinco novos membros efetivos do instituto de Cáceres: Taisir Karim, Linnet Dantas, Elizabeth Dutra, Wilson Kishi e José Carlos de Carvalho, além da professora Elizabeth Madureira Siqueira, como sócia correspondente. Também estiveram presentes o prefeito Francis Maris Cruz, o presidente da Câmara Municipal de Cáceres, vereador Rubens Macedo, as professoras Nancy Lopes e Zulema Figueiredo, representando a Unemat e os membros do IHGMT Neila Barreto e João Carlos Vicente Ferreira.
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s professores do curso de Letras da Unemat, Agnaldo Rodrigues da Silva e Olga Maria Castrillon Mendes, imortais da Academia Mato-grossense de Letras, tomaram posse como presidente e vice-presidente, respectivamente, do Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres (IHGC), pelo período de 2019-2021. A sessão solene aconteceu no dia 14 de junho de 2019, na Câmara Municipal de Cáceres. No momento da transferência do cargo, o então presidente Adilson Reis, entregou uma chave de ferro, com dimensões aproximadas de 35 cm e 2 kg, nas mãos do novo presidente, simbolizando o ato oficial de passagem de comando. “Desejo ao Agnaldo e Olga, ambos imortais da AML, que a luz do criador esteja sempre com vocês. Esta chave é para ser perpetuada em todas as solenidades de posse de nova diretoria”, finalizou Adilson Reis. Com a chave da presidência, Agnaldo Rodrigues revelou a sua satisfação em presidir o IHGC depois de 12 anos e 5 meses de seu ingresso na entidade. Disse se sentir honrado de estar ao lado de pessoas de inquestionável cultura e amor pela cidade e seu patrimônio histórico. Aproveitou o momento para reafirmar seu compromisso de trabalhar pelo fortalecimento da instituição, onde pretende implementar no-
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MEMÓRIA
CASA EM QUE MORREU GENERAL CARNEIRO (AZUL À ESQUERDA)
Faltam-nos Museus
Na cidade da Lapa, no estado do Paraná, o General Ernesto Gomes Carneiro é reverenciado como herói nacional e abarca maior parte dos espaços do Museu Histórico da Cidade, enquanto isso, em Mato Grosso, poucos sabem quem foi esse homem, tão importante para nossa história, apesar de termos antiga cidade mato-grossense que o homenageia
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POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA
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revista Lume Mato Grosso visitou o Museu da Lapa, no Paraná, para constatar o valor que a cidade de menos de 50 mil habitantes dá à memória de Ernesto Gomes Carneiro (1846-1894), considerado herói na Revolução Federalista (1893-95). Gomes Carneiro, que é nascido na antiga cidade do Serro Frio, hoje apenas Serro, em Minas Gerais, em 1846, é filho de um farmacêutico que desejava que ele seguisse a sua profissão, e de uma mãe muito religiosa que o queria padre. Carneiro acabou estudando humanidades. Voluntarioso, alistou-se como soldado do corpo de Voluntários da Pátria, a 2 de janeiro de 1865, por conta da Guerra do Paraguai: Foi o primeiro soldado do corpo de Voluntários da Pátria em todo o Brasil, e começou ali a sua carreira militar. Gomes Carneiro morreu defendendo a cidade da Lapa e a nação brasileira. Morreu em 9 de fevereiro, aos 48 anos e está enterrado no Panteão dos Heróis, junto com outros combatentes, em Lapa. Um dia antes de morrer, ele foi promovido a general, mas não recebeu a notícia a tempo. Antes de ir defender as tropas fiéis ao governo brasileiro do Marechal Floriano Peixoto, Gomes Carneiro estava em Mato Grosso, dando início a um dos mais importantes e épicos projetos de desenvolvimento desse Estado: a implan-
tação de linhas telegráficas estratégicas em vasta região oeste e norte do Brasil. Foi dele o primeiro comando. Rondon iniciou seus trabalhos nas linhas telegráficas e se tornou o grande herói nacional sob o mando de Gomes Carneiro, de quem era ajudante. Se não tivesse morrido em batalha, teria voltado para terminar o seu trabalho de campo nos cerrados e florestas de Mato Grosso. Rondon sempre reverenciou seu chefe, Gomes Carneiro, a quem muito respeitava e lembrava, especialmente por ter herdado dele o gosto pela preservação e respeito aos povos indígenas.
Na cidade de General Carneiro, em Mato Grosso, destaca-se há certo tempo o trabalho de Valdeli Forte, na questão da preservação da memória local, incluindose aí a memória de Gomes Carneiro. Porém, tudo é muito difícil de se realizar e os resultados não são, obviamente, os esperados, geralmente por falta de recursos. O governo estadual não pode ser cobrado sobre museus, ainda. Mas pode trabalhar essa questão. Mato Grosso deve isso à sua sociedade. Pequenos museus distribuídos aos quatro cantos de Mato Grosso para reverenciarmos nossos ídolos, heróis e heroínas.
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lumeMatoGrosso O MUSEU DA LAPA. museu histórico da Lapa está localizado ao lado do Theatro São João, no centro histórico. Seu interior guarda gravuras e objetos que relembram a guerra travada durante 26 dias na Lapa e reconstitui leito de morte do herói daqueles combates. Durante o Cerco da Lapa, o local foi usado como casa pelo médico Dr. João Cândido Ferreira e também como enfer-
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maria. Na primeira sala do prédio há o cenário real da morte do General Carneiro, com a marquesa ocupada por ele, que foi ferido no dia 07 de fevereiro e veio a falecer no dia 09 de fevereiro de 1894. O cobertor usado pelo General, ainda sobre a marquesa, e, ao lado, a valise do Dr. João Cândido passam a sensação de que tudo acabou de acontecer. Na parede, o quadro “A Morte do General Carneiro”, do conceituado pintor Theodoro de Bonna, retrata este momento. O museu guarda objetos pessoais do General Carneiro, como a carabina, a espada, o diário, as medalhas, selos em sua homenagem e o lenço manchado com seu sangue. Há também roupas usadas pelos republicanos, fotos dos comandantes de ambos os lados: figuras como Gumer-
cindo Saraiva, conhecido como o Napoleão dos Pampas, seu irmão Aparício Saraiva, Juca Tigre (degolador), dentre outros Maragatos com seus lenços vermelhos no pescoço e suas bombachas largas. Do lado dos Pica-Paus, há imagens do General Carneiro, Coronel Lacerda, Coronel Dulcídio, José Aminthas da Costa Barros, entre outros, com seus quepes no formato do bico da ave pica-pau. Em uma das salas encontramse objetos que fazem parte da história da cidade, como o vestido de noiva de 1774, usado no casamento de Gertrudes Maria dos Santos, que se casou aos 13 anos com Francisco Teixeira Coelho, 1º Capitão Mor (prefeito) da cidade. O celebrante do casamento foi o vigário João da Silva Reys, tio da noiva
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Americanidade A Busca Pelo Intercâmbio Cultural Entre Os Povos Da América Do Sul:
Susana Baca
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pontada pela crítica como a grande embaixadora das tradições mestiças afro-peruanas, Susana Baca apresenta em concerto o mais recente trabalho “Travesias”, que surge quatro anos depois do álbum “Lamento Negro” (2002) que lhe valeu um Grammy. Na bagagem, a cantora peruana traz canções em castelhano, francês, inglês, italiano e até uma em português: Estrela, que no disco se ouve interpretada em dueto com Gilberto Gil, seu autor. Susana Baca é frequentemente comparada a Cesária Évora, ou às cubanas Célia Cruz ou Omara Portuondo, pelo trabalho que tem desenvolvido a partir da vertente mais africana das tradições populares do seu país, onde são também muito fortes as raízes indígenas e a influência europeia. Susana Baca nasceu em Lima, no Peru, a 24 de maio de 1944, e cresceu numa pequena cidade costeira chamada Chorrillos, nos arredores da capital. O seu pai era motorista de uma família rica, a sua mãe cozinheira. O pai era cantor e guitarrista amador, tocava músicas tradicionais peruanas
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que escutava dos povos dos Andes que vinham junta à costa na época da colheita do algodão. Embora sempre quisesse ser cantora, estudou para professora, para satisfazer a sua mãe. Farta de bater a portas para pedir apoio - porque, como explica numa entrevista, é negra e canta música negra - com o seu marido, Ricardo Pereira, criou a sua própria editora para gravar o primeiro disco. Em 1995 recebeu um telefonema de David Byrne que lhe disse querer encontra-se com ela. Foi o primeiro encontro no que se veio a revelar uma parceria artística frutuosa. O reconhecimento internacional surgiu em 1996 com “Maria Lando”, um tema retirado do álbum “The Soul of Black Peru”, produzido por David Byrne e lançado pela editora do músico, Luaka Bop. Desde então, mantém-se a parceria artística entre Susana Baca e o ex-Talking Heads que contribuiu para a divulgação da música da cantora peruana nos EUA e na Europa. Atualmente, Susana Baca tem um lugar garantido em qualquer catálogo de world music que se preze e é um dos nomes maiores da canção sul-americana.
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COTIDIANO
Caixa da Honestidade
Sem funcionário/caixa em comércio de beira de estrada, clientes calculam e pagam conta POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA
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ivemos as voltas com noticiários sobre corrupção, violência e desatinos. Acredito que tudo é por conta de não conseguirmos nos lembrar de quanto os tempos não eram difíceis e o dinheiro não era tão escasso. Quando nos deparamos com a possibilidade de estarmos num lugar onde compramos o que quisermos e o pagamento deve ser feito numa pequena caixa, sem ninguém para nos dar troco e nos dizer: “grato, volte sempre”, é, no mínimo, um fato inusitado. FOTOS DIVULGAÇÃO
lumeMatoGrosso Em meados junho de 2019, em viagem de Cuiabá até Cáceres, nos deparamos no km 592, quase na divisa territorial entre os municípios de Nossa Senhora do Livramento e Poconé, com algo inusitado: um comércio de beira de estrada, defronte à casa e placa da Fazenda Nascentes do Pantanal, onde não haviam vendedores e nem cobradores de suas mercadorias. Para nós, eu e Cristina, minha esposa, era o inusitado. Olhamos em volta e circulamos por debaixo das frondosas mangueiras em flor que sombreavam legumes, potes de mel, vasos de flores e queijos frescos higienicamente guardados numa caixa de isopor. Não vimos ninguém, porém, sentimo-nos observados. Ficamos ali cerca de 20 minutos, não compramos nada, mas nos divertimos muito e
as perguntas vieram à cabeça. Aquela caixa da honestidade nos clamando por reflexões e compras. Vimos também o desejo dos proprietários do lugar em deixar as pessoas à vontade para sentarem-se e observarem, inclusive, peças artesanalmente produzidas a partir de troncos de madeira e muita criatividade, como o jacaré pronto a provocar-lhe pequeno susto. De repente você levanta os olhos e se depara com um painel de tabuinhas dispostas uma sobre a outra com frases de efeito que os leva às reflexões da vida. O lugar é incrível, assim como os seus componentes. Será isso uma tendência em Mato Grosso? A ideia de vender produtos produzidos na roça sem um vendedor e cobrador? Pode ser. As caixas de honestidade
podem se proliferar, porque não? Os nossos observadores podem estar com boa dose nostálgica dos “velhos tempos”, aqueles da caderneta de compra, certamente lhe vem à mente as caixas registradoras antigas e seu barulhinho típico: plim-plim. Nesse negócio os próprios compradores pegam a mercadoria, calculam o quanto gastaram e pagam a conta sozinhos, sem ajuda de funcionários. A dinâmica é simples: o cliente vai até o espaço, escolhe o que deseja, faz a conta e deixa o valor cobrado pelos produtos em uma caixinha. Quer experimentar e saborear essa experiência? Vá até o endereço citado; escolha, pague você mesmo de acordo com as orientações e saiba que o nosso desempenho é o reflexo de nossas atitudes
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Ú LT I M A P Á G I N A
Presságio DE FERNANDO PESSOA
O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p’ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente... Cala: parece esquecer... Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse P’ra saber que a estão a amar! Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente!
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Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar... FOTO DIVULGAÇÃO
CONHEÇA A CHAPADA DOS GUIMARÃES
E VIVA EXPERIÊNCIAS
INESQUECÍVEIS!!
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