Revista Pixé - Edição Nº 24

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REVISTA PIXÉ

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Aclyse Mattos É escritor, poeta e professor da Faculdade de Comunicação e Artes da UFMT. Livros publicados: Motosblim: a incrível enfermaria de bicicletas (infantil – 2019) O sexofonista (contos 2018), Sabiapoca – Canção do Exílio sem Sair de Casa (infantil – 2018), Festa (poesia – 2012), Quem muito olha a lua fica louco (poesia – 2000).

O “Assalto à Mão Amada” não deixa de se filiar ao experimentalismo estético resultante do intensivismo e do concretismo brasileiro. Os “poemas industriais” lidam com a expressão gráfica e com a distribuição espacial diferenciada do texto. A partir de “Quem muito olha a Lua fica louco”, você abriu mão dessas experiências, muito embora ainda conserve o haicai, por exemplo. O que aconteceu dos anos 80 pra cá? Podemos dizer com Tomás Antônio Gonzaga “São estes os sítios?\ são estes, mas eu\ o mesmo não sou”. Ou então “Mudam-se os tempos, mudamse as vontades” (Camões). Mudança permanente é estar vivo. Penso que poesia é experiência sempre. Gostaria que cada poema engendrasse sua própria forma. Claro que o Intensivismo e o Concretismo foram uma grande atração para mim. Prezo até hoje as invenções desses movimentos. Mas o caminho da mudança é a potência se atualizar em novas formas. Nada da obrigação do engajamento. Enquadrar e rotular é limitante. No “Assalto à Mão Amada” já tinha feito meu manifesto: O Excessionismo (Excesso ou Exceção?). Como ainda vivíamos um regime de exceção, meus amigos engajados viram uma resistência ao regime; meus amigos românticos viram um transbordamento pelo excesso. O símbolo poético é múltiplo. Citei aqui dois poetas antigos (Camões e Gonzaga) só para mostrar que o símbolo poético não se entrega nunca à ditadura do significado. Quanto mais a do proletariado. Poesia é Liberdade. Só quem não tem medo da

beleza, da emoção e da paixão encontra a poesia. As diferenças entre meus livros é uma busca que jamais termina. Assim como cada poema deve se engendrar, cada livro é uma constelação de poemas formando um macrossigno poético. Em AMA experimentei um mosaico de várias partes-facetas (como os 11 poemas industriais, o Parque de Diversinhos, Achados no Espaço) formando um grande caleidoscópio que é um mosaico móvel (graças aos olhos de quem lê). Todas as páginas dialogam com os desenhos de meu irmão Gabriel Francisco de Matos que fez as ilustrações e o design. Em QMOLFL é tudo ao contrário: quis desenhar sem desenhos, o livro é um fluxo só sem seções, o encadeamento é fluido como os rios correndo para o Pantanal. AMA é cosmopolita, citadino, polifônico, reflete muito meu choque de ir estudar em São Paulo e depois no Rio de Janeiro. O Festa é modulado pelas sonoridades. O Com por, que está indo para a gráfica agora, é modulado pelas experiências mágicas de ler e escrever. Cada livro tem que ser uma constelação nova. O haicai está sempre comigo pela sua filosofia (primeiro verso uma contemplação do fora-mundo-exterior\segundo verso perceber uma transformação nesse fora\ terceiro verso perceber como essa mudança nos muda interiormente) Isso é lindo demais. Uma verdadeira ópera em 3 atos microscópicos. Veja só esse haicai de Bashô quando ele não colhe as flores para o túmulo da mãe para que elas permaneçam vivas:


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