REVISTA PIXÉ
19
Stéfanie Sande É escritora e doutoranda em escrita criativa na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e autora dos romances “O último verso” (2016) e “Virgínia” (2020).
Há 5 anos, na entrevista que você concedeu juntamente com Matheus Barreto, uma das suas respostas chamou atenção. Perguntada sobre a relação entre sua idade e a inovação estética, você respondeu que queria apenas aprender a escrever bem. Ou seja: a questão da experiência nova não era o foco central do seu trabalho naquele momento. Perguntamos hoje: o que significa escrever bem? O que é essencial em uma narrativa contemporânea? É difícil dizer de forma categórica o que significa escrever bem e, mais ainda, o que é essencial em uma narrativa contemporânea. Há uma infinidade de escritores e cada um tem uma resposta diferente. O essencial depende do objetivo. No meu caso, a resposta de cinco anos atrás não mudou muito: meu foco central não é ― e acho difícil que algum dia venha a ser ― a inovação estética. O que eu quero ao escrever é contar uma boa história, no sentido de ser uma narrativa que envolva o leitor no universo ficcional em questão. Muitas vezes, usei o termo “prosa invisível” para descrever o que eu almejo, porque meu maior desejo é que o leitor, ao pegar um livro meu, tenha a impressão de vivenciar a trama. Ou seja, meu empenho é em desenvolver uma prosa que não chame atenção para si mesma. Isso não significa que eu não experimente com a forma, até porque o interessante do fazer literário é também a descoberta das possibilidades narrativas. Por exemplo: em “Virgínia”, meu romance mais recente, não tive dúvidas sobre a meta da “prosa invisível”, mas mesmo assim, é uma narrativa não-linear com um momento onde há troca de narradores. Isso é um experimento estético. De qualquer forma,
o meu essencial é entreter. Aqui, cito Donna Tartt, uma das autoras que mais me influenciaram nos últimos dois anos (autora de “A história secreta” e o vencedor do Pulitzer de 2014, “O pintassilgo”). Em uma entrevista de 2002, ela disse: “O primeiro dever do romancista é entreter. É um dever moral. As pessoas que leem seus livros estão doentes, tristes, viajando, em salas de espera do hospital enquanto alguém morre. Livros são escritos pelos solitários para os solitários”. Acho que isso resume o que penso sobre o assunto. Seu segundo romance nos traz o intrincado relacionamento lésbico, com base num fato real. No anterior, a vida de Manoel de Barros estava em cena. A estilização do biográfico é uma tendência da sua escrita? A base fática demanda uma nova forma de lidar com a memória, num tempo futuro. Como você lida com a verossimilhança? É uma exigência? É apenas um marcador? Acho muito curioso considerarem a história baseada num fato real ― ou até mesmo que eu, Stéfanie, seja a narradora ― quando, na verdade, é uma história de ficção que apenas é ambientada no nosso tempo ― especificamente, no começo da pandemia em 2020. Acho natural ― ou até inevitável ― usar da experiência pessoal para construir narrativas de ficção. Mas, no final do dia, elas são justamente isso: ficção. No meu primeiro romance (“O último verso”), a mesma dinâmica ocorreu com a vida de um poeta que eu gosto e admiro, mas Edmundo não é Manoel de Barros. É apenas o Edmundo. Assim como eu, Stéfanie, não sou a Ariel, a verdadeira narradora de