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Marli Walker
santo negro
perdoai-me, Benedito, bem sei que sou negligente (está difícil ser gente) sei que tens muito a olhar sei que tens tanto a entender sei que és capaz de me ouvir no alto da escadaria dividindo com Maria o átrio deste Rosário
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desculpai-me, Benedito, se me distraio da prece mas observar vocês dois me entristece por demais (o mundo cão faz de conta que um negro e uma branca em toda parte são iguais)
é difícil compreender a insensatez dos humanos juntam o negro e a branca (religião botando banca) na entrada da igreja mas na hora da defesa de alguma cota que seja dizem ser protecionismo (não há dívida alguma – vociferam e esbravejam)
acendo a minha vela peço-Te que entenda peço a Ela que interceda eu só desejo o mesmo do que tive do que tenho a este, àquela, (a quem quer que seja)
pequena e envergonhada me desmancho aos Teus pés (toco da vela queimada)
Marli Walker
É doutora em Literatura (UnB). Leciona no IFMT e integra o Coletivo Literário Maria Taquara/Mulherio das Letras - MT. Publicou os livros de poesia “Pó de serra” (2006/2017), “Águas de encantação” (2009), “Apesar do amor” (2016) e o romance “Coração Madeira” (2020).