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Divanize Carbonieri
from Revista Pixé 20
AMOR BANDIDO
vou tentar fazer poesia mais livre e não truncada do jeito que faço estrangulada essa poesia retorcida e dificultada
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vou tentar fazer poesia mais alada não ao rés do chão de pés acorrentados agrilhoada essa poesia suja e enjaulada
vou tentar amar mais a poesia que não me pica com presas de peçonha gangrenando cada parte antes boa de mim
mas ela cospe em meus lábios é amante que não se deixa amar a poesia que me ama é aquela que me amarra e mata devagar
Divanize Carbonieri
é doutora em letras e professora de literaturas de língua inglesa na UFMT. É autora dos livros de poemas Entraves (2017), Grande depósito de bugigangas (2018), A ossatura do rinoceronte (no prelo) e Furagem (no prelo), além da coletânea de contos Passagem estreita (2019).
Edson Flávio
Edson Flávio é cacerense, doutor em Estudos Literários pela Universidade do Estado de Mato Grosso (PPGEL/UNEMAT) e pesquisador na área de Literatura. É autor de Aldrava (2020) e escreve desde quando descobriu seu amor pela poesia.
VÓ NENA
Era sábado. Acordei cedo como de costume. A rotina de trabalho impingiu em mim o péssimo hábito de acordar cedo quando se pode dormir até mais tarde. Vovó jamais aceitava que me espraiasse pela cama para além das oito da matina. Vagabundo! Vociferava ela sempre que sabia que um de seus netos cometera tamanho sacrilégio. E eu, na inocência dada aos pequenos, nunca compreendi o motivo de todos nós passarmos as férias, justamente, na casa dela. Casa de vó tem seus encantos. Seus cheiros, sabores, e infindáveis possibilidades de diversão. Naquelas férias forçadas, confinados no casarão amarelo da esquina da praça, podíamos relembrar cada um dos vasos quebrados durante nossas brincadeiras.