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Everton Barbosa
from Revista Pixé 20
CARTA AO CAPITAL
Caro amigo,
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Andando-se três léguas sete dias por semana assim que saem das butiques
com dez litros na cabeça, a água fica mais cara
Arando-se três alqueires sete dias por semana com dois bois levando relho, o milho fica mais caro Caro amigo,
Catando-se três arrobas A dor é a medida do que se faz com a alma
sete dias por semana com dois sacos na cintura o pano fica mais caro
Caro amigo,
Que mistério há nas torneiras que não secam nos garrafões de vinte litros cheios e lindos como balões azuis meu caro, a caridade
de festas de aniversário?
Que mistério há em tantos frutos sem época nas prateleiras dos mercados limpos, lustrosos como maçãs sutis Que mistério enfim nessas roupas que se gastam chiques, fugazes como uma pele gris trocada por estar morta?
Não há falta de limites sem carência e crédito sem lastro é doce ilusão O suor é a medida do que se faz com o corpo A dor sua, a minha, a dor alheia
Deixo-te um abraço, um carinho Deixo-te o que não tem preço Dou-te tudo o que é de graça pra te saciar e vestir
E, por favor, não agradeça de polpas envenenadas?
Everton Almeida Barbosa
É filho de nordestinos vindos da região rural da cidade de Pombal, no sertão da Paraíba, para Cuiabá na década de 70. Vive em Tangará da Serra/MT. Nasceu em Cuiabá e se especializou em Literatura, desde a graduação e mestrado na Universidade Federal de Mato Grosso, até o doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais, sendo professor de Literatura na Universidade do Estado de Mato Grosso desde 2006. É também músico. Foi instrumentista e diretor musical da Cia. de Teatro Mosaico (Cuiabá) e membro do grupo vocal Candimba (Cuiabá). Hoje coordena o projeto Corpo & Cordas, de música, poesia e contação de histórias, na UNEMAT em Tangará da Serra.
Marcos Guinoza
Artista Convidado
BIOGRAFIA
Profissional da área de comunicação, formado em Jornalismo, Marcos Guinoza trabalhou como subdiretor de redação da ZIPNET, um dos primeiros portais de internet do Brasil. Na sequência, foi editor-assistente da revista FFW-Mag!, publicada durante sete anos pela São Paulo Fashion Week (SPFW). Em seguida, editou revistas de arte, cultura, moda, decoração, life style. Em 2010, decidiu mudar de atuação profissional, abandonou o jornalismo e passou a trabalhar como designer gráfico, desenvolvendo layouts para revistas. Cinco anos depois, em 2015, começou a criar colagens digitais, inspirado por movimentos como o surrealismo e artistas como René Magritte, Edward Hopper, David Hockney, entre outros. O resultado visual de sua obra apresenta uma mistura de colagem digital e design gráfico, com temas existencialistas. Sua visão artística tem como foco os sentimentos e as vivências humanas: solidão, melancolia, distúrbios emocionais, desorientação e confusão diante de um mundo aparentemente sem sentido e cada vez mais absurdo. Suas colagens agora despontam em capas de discos e livros, editoriais de revistas, websites, cartazes de teatro, pôsteres etc. Atualmente, mora e direciona seus trabalhos a partir de Santos, cidade no litoral de São Paulo. Instagram: @marcosguinoza