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ciano ISSN 2237-3683
entrevistamos Gui Bonsiepe
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ciano ISSN 2237-3683 designsimples.com.br/revista ciano@designsimples.com.br
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revista digital colaborativa
corpo editorial
edição atual v.1, n.6, 2011
editor-chefe Eduardo Camillo
edições anteriores v.1, n.5, 2011 v.1, n.4, 2011 v.1, n.3, 2011 v.1, n.2, 2011 v.1, n.1, 2011
idealização/ coordenação Rafael Gatti
colaboradores Ana Goyeneche Felipe Massami Leonardo Barreiro Lucas Colebrusco Marcos Beccari fotografia da capa Pedro Ungaretti projeto gráfico Design Simples
2237 - 3683 5
Agora temos ISSN* Com ele nossa revista digital passará a ser identificada internacionalmente, independente do idioma, atendendo critérios de indexação em bases de dados dentro e fora do país. *international standard serial number
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Gabriel Manussakis designer e organizador do projeto
“Vivemos em um país onde, sobram desigualdades e são poucos aqueles que se encorajam a tomar atitudes que ajudam a melhorar a vida de outras pessoas. Encontrei na minha profissão uma maneira de oferecer minha contribuição na busca por um país melhor de se viver. O projeto Cartaz Aberto oferece um caminho para que designers gráficos, através de seus cartazes, possam ser uma ferramenta de transformação da nossa sociedade.” apoio:
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nesta edição
editorial
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Uma resposta, cinco réplicas
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Gui Bonsiepe
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vlog
Video da entrevista
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debutando
Design não é piada
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Políticas públicas + design Ana Clara Goyeneche
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Regulamentação, ensino e ação Leonardo Barreiro
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entrevista
colunas
O sentido dialético do design Eduardo Camillo
próxima edição
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Design social e outros ressentimentos Marcos Beccari
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Contraconspirando Lucas Colebrusco
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Entre a cruz e a espada Felipe Massami
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Participe da Ciano
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Uma resposta, cinco réplicas
editorial
editor-chefe
Depois do lançamento de sua edição zero, chega ao monitor de nossos leitores uma revista totalmente inédita e, verdade seja dita, de muito peso. E este peso não está apenas nas muitas realizações do Design Simples, que investiu seu tempo em mais essa frente de trabalho e divulgação do verdadeiro design, mas também no corpo de colaboradores, na profundidade de seus textos e, uma cerejinha dessas nunca é demais, no grande entrevistado desse número, Gui Bonsiepe.
Eduardo Camillo fotos
Pedro Ungaretti
Por ocasião do lançamento de seu livro Design, Cultura e Sociedade pela Editora Blucher, conseguimos (com uma ajudinha da própria
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editorial
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Blucher, do prof. Marcos da Costa Braga e prof. Itiro Iida) fazer a entrevista com Bonsiepe. E, tendo o resultado em mãos, vimos que tínhamos um material extraordinário: respostas muito profundas e abrangentes a perguntas despretensiosas, imagens inéditas de projetos do designer, uma revisão feita pelo próprio, e mais que uma revisão, configurando-se quase um ensaio inédito do mesmo. Enfim, tantas qualidades que a equipe editorial tomou uma decisão: o texto seria a espinha dorsal da revista. Viu-se que a amplitude das respostas e dos assuntos abordados era tal que possibilitaria que cada colaborador abordasse um ponto, aquele ponto que mais lhe chamava à atenção, e foi o que aconteceu. Temos para esta edição cinco textos comentando e desenvolvendo a entrevista nos mais variados pontos, e com ideias que apenas servem a aprofundar e melhor entender assuntos bastante complexos sobre nosso campo, o design.
Repassando na ordem dos textos na revista, temos Ana Clara Goyeneche abordando algumas formas de desenvolvimento do design por meio de políticas públicas, trazendo ao conhecimento do leitor o caso da cidade de Buenos Aires (Argentina), com alguns resultados do Plan Nacional de Diseño, focando o olhar no Centro Metropolitano de Diseño, fazendo a seguir paralelos com modelos efetuados no Brasil. Seguindo no assunto das relações do design com o poder público e a sociedade, o texto Regulamentação, ensino e ação, de Leonardo Barreiro, questiona a maturidade do ensino de design em relação aos resultados que a tão requerida regulamentação da profissão irá gerar, lembrando que qualquer regulamentação trará um aumento substancial da responsabilidade do designer para com sua profissão e resultados projetuais.
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No texto seguinte, após os questionamentos de projeto e metodologia de Barreiro, faço uma análise sobre a necessidade da teoria à prática e da prática à teoria, como uma maneira de entender o design, o designer e a prática projetual de uma maneira auto-consciente fundamentada em toda sua amplitude. Ainda mantendo um olhar sobre a teoria, mas partindo para uma análise da prática do design, Marcos Beccari, em seu artigo Design social e outros ressentimentos, relativiza o conceito normalmente associado ao Design Social e aponta para uma auto-consciência do designer, como incluído num circuito de relações, e que seu papel social é estar nesse círculo. Na esteira de tal texto, Lucas Colebrusco analisa o sentimento de culpa freudiano na sua relação ao ambiente e modo de atuação social, e como isso pode ser trabalhado dentro de um projeto maior do design dentro de seu meio social, como “ferramenta político social”.
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Como uma maneira de rever e mudar o plano de projeto e atuação, Felipe Massami apresenta o Mottainai, termo japonês que, segundo Massami, pode ser compreendido como “faltar com dignidade com os objetos”, e relaciona tal termo ao consumo colaborativo, tema introduzido por ele na edição anterior da revista Ciano.
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Com tal conjunto de textos, passamos por tantas áreas do design quantos colunistas, desde políticas públicas ao design até ações políticas do designer, sempre sob uma perspectiva aprofundada e inovadora, já conhecidas do leitor de nosso blog e revista anterior. Esperamos, nós da equipe editorial da Ciano, e do Design Simples como um todo, que tais textos sejam úteis e gerem tantos frutos a nossos leitores como têm gerado a nós, que organizamos e escrevemos os mesmos.
Adiantamos que, aqueles que tiverem interesse em contribuir com nossa revista, tanto enviando textos independentes, quanto como colunista e contribuidor permanente, entrem em contato conosco. Lembramos apenas que qualidade e inovação são pré-requisitos imprescindíveis para se juntar a este pessoal daqui. Àqueles que se interessarem, todo nosso incentivo! Boa leitura! 17
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blog-laborat贸rio-revista
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Nossa profissão não é mais vanguarda
entrevista
A Ciano entrevistou o professor Gui Bonsiepe na ocasião do lançamento de seu livro Design, Cultura e Sociedade, pela editora Blucher. 21
por
Eduardo Camillo Gabriela Aquino Rafael Gatti
Gui Bonsiepe é um renomado designer industrial, ex-aluno e ex-professor na Escola de Ulm, que desenvolveu extenso trabalho tanto intelectual quanto prático na América Latina, em especial Chile, Argentina e Brasil.
tradução
Ana Goyeneche fotos
Pedro Ungaretti
Nesta entrevista, comenta sobre assuntos como campo de atuação do designer, necessidades sociais e políticas públicas. Acompanhe esta nossa conversa a seguir.
entrevista
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Em seu livro “Design, Cultura e Sociedade”, o senhor comenta sobre a atividade projetual como atividade que atende “certos interesses primários - podemos dizer até interesses básicos”. O desenho do supérfluo, assim, pode ser ainda entendido como design? (considerando como supérfluo não apenas o que vem do styling, mas também os objetos de luxo e aqueles em que não há necessidade de se desenhar mais do mesmo) 24
Com interesses primários e/ou básicos refirome a prática cotidiana dos integrantes de uma sociedade, nos diferentes campos: trabalho, moradia, transporte, saúde, educação, esporte até lazer. Em outras palavras: design no sentido de projeto de artefatos operativos e artefatos comunicativos. O design do supérfluo, bem ou mal, faz parte do design. É uma das manifestações da atividade projetual. Um telefone celular dotado de brilhantes é também resultado de design.
Talvez não seja particularmente relevante, depende do sistema de valores. O que é considerado supérfluo depende por um lado do contexto e, por outro, do marco de referência que um designer aceita para o trabalho. Recentemente escutei no ponto de ônibus uma conversa entre dois jovens estudantes de arquitetura. Uma das alunas queixou-se do conteúdo dos exercícios no curso de projeto dizendo: “Eu venho para a universidade para aprender a projetar hotéis Hilton e casas elegantes em bairros fechados. O projeto de moradias para pobres não me interessa. Eles que se virem.” Pois é. Uma considerável parte do design é variação do idêntico. Não coloca em dúvida a taxonomia dos produtos, o parque dos produtos. Hoje precisamos re-enfocar o design em novas coordenadas relacionadas com o ambiente, a energia e, sobretudo, no abismo existente entre um punhado de pessoas extremamente ricas e uma maioria extremamente pobre.
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O senhor fala no livro que ao designer é fundamental o elemento utópico, como anterior ao projeto, e coloca ao profissional a importância do projeto emancipatório e voltado aos excluídos. Há alguma relação com o pensamento de Argan sobre “a crise do design” e a necessidade de recriar e re-apontar a profissão do designer às questões eminentemente públicas? (ARGAN, G. C. História da Arte como História da Cidade. 1993) 27
Não faço referencia explicita ao livro de Argan. Concordo completamente com a necessidade de uma re-invenção do design. Após o tsunami de privatizações que tem atingido quase mortalmente o espaço público e o espaço dos interesses da maioria na América Latina, registramos sintomas de uma reação. E não somente na América Latina, mas também nos países centrais. Vejamos somente o que acontece na Espanha. Ou mais perto: Chile, que para os economistas dos think tanks
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do status quo era festejado como modelo bem sucedido de uma economia do século XXI na America Latina. Hoje os estudantes são protagonistas – com apoio da maioria da população – na recuperação dos interesses públicos legítimos, como o ensino. O mercado revelou-se um mecanismo completamente inapropriado como solução para os problemas que hoje atingem a humanidade. Observamos a inviabilidade de um modelo econômico que dominou durante duas ou três décadas. Recentemente um jovem historiador de arte britânico me entrevistou, e terminei a entrevista com uma frase que ele gostou. Disse que “a resignação não é uma atitude do design”. Se resignamos, deixamos o design de lado. Não somos mais designers.
“A resignação não é uma atitude do design”
Há momentos em que se comenta sobre aspectos simbólicos e de uso, pendendo mais ao uso, como observa Jerko Fezer. Qual seria o lugar da simplicidade no projeto da forma e na solução de uso nessa relação? Por trás dessa pergunta está o debate sobre a interação do binômio forma/função – um tema que tem provocado debates acalorados e polêmicas na história da arquitetura e do design. Nos velhos termos o debate se acalmou. Porém continua vigente, como podemos ver na irritação que a simples menção do termo “função” provoca em determinadas posturas. Uma simplicidade da forma não necessariamente implica uma simplicidade no uso. Tampouco a complexidade da forma de um artefato significa uma maior dificuldade no uso. Não existe uma relação unidimensional entre forma e função.
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Em termos gerais, formularia como uma das tarefas do designer a redução de complexidade de uso de artefatos materiais ou semióticos. É isso que eu defino com o termo “design de interfaces”. Um bom exemplo é a web, cuja hipercomplexidade pode ser reduzida por meio do trabalho do designer de comunicação ou do designer de informação. Uma forma simples pode sugerir um uso simples, mas não necessariamente. Uma bola tem uma forma simples, mas lidar com a bola é tudo, menos simples. Caso contrário não precisaríamos de craques de futebol.
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Caixa metálica empilhável para industria metalúrgica, LBDI, 1986. créditos
Gui Bonsiepe
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Há mais de quatro décadas o senhor tem lutado pela integração do design na política de desenvolvimento industrial de diversos países latino-americanos. Na sua avaliação, como está sendo conduzida esta integração do design dentro da atual política brasileira de desenvolvimento? Que novas oportunidades surgem (ou poderiam surgir) hoje como conseqüência direta desta política?
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Uma política industrial e uma política de desenvolvimento que não usam o design industrial como ferramenta são políticas amputadas. Há um tempo existiram equipes em escritórios públicos de projeto. Porém, boa parte destas equipes tem sido desmanteladas, de acordo como uma postura ideológica que quer debilitar ao máximo o poder público em favor dos interesses privados. As bem-intencionadas iniciativas de fomentar as atividades de grupos de projeto às vezes corriam o perigo de uma burocratização. As estruturas de gestão em geral se revelaram pouco propícias a essas iniciativas.
Para poder fomentar atividades de inovação são necessárias estruturas dinâmicas e flexíveis de gestão, o que é difícil de se conseguir em estruturas tradicionais de administração. Isso, por exemplo, facilitou o trabalho do LBDI em Florianópolis, que contava com um espaço próprio de ação sem o peso de estruturas acadêmicas que dificultam - e até atrapalham o trabalho inovador. Pequeno como era, inicialmente com cinco ou seis pessoas, poucas máquinas para modelagem e uma infra-estrutura administrativa simples, o LBDI tinha flexibilidade de ação. Não fomos cativados a estruturas acadêmicas vigentes. Isto nos deu liberdade, podíamos atuar rapidamente, sem depender de comitês, relatórios, cadastros… Hoje o apoio do Estado dado ao design industrial se limita em boa parte – talvez predominantemente – a uma função mediadora entre profissionais e industrias. Além disso, se dirige a promoção, sobretudo para a internacionalização do design brasileiro, arcando com os custos de participação em
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Instalações do laboratório (acima) e projeto de uma chanfradeira (ao lado), LBDI, 1986. créditos
Gui Bonsiepe
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concursos/prêmios internacionais. O Brasil é um dos poucos países, e talvez o único país latinoamericano, que financia com recursos públicos a participação de escritórios brasileiros de design em feiras e competições internacionais. Mandar um produto custa dinheiro, e um pequeno escritório não tem recursos para isso. Acho esta uma boa iniciativa, e bem sucedida: o design brasileiro hoje é o mais conhecido fora, se for comparado com outros países que também fazem design, mas sem essa política sistemática de promoção. Outros exemplos de fomento ao design são mais voltados para o setor artesanal. Isso pode ser socialmente e culturalmente valioso, porém a incidência econômica é limitadíssima. Não estou desvalorizando estas iniciativas, tenho o maior respeito, mas não devemos confundir design industrial – produção em série – com design artesanal. Isto é outra coisa. Pode-se fazer design artesanal, que encontra ressonância nos países industrializados – e na mídia – que gostam muito do colorido, do nativo…
Mas vejo com cautela. Não aí onde está o futuro para o design. A respeito dos eventos internacionais, por exemplo a copa e as olimpíadas, lamentavelmente as tarefas de design gráfico da comunicação visual estão sendo encaminhadas para empresas de marketing e publicidade, com resultados em geral pouco convincentes, pois não atingem os padrões de um design de programação visual profissional. E isso não acontece somente na América Latina: Inglaterra e Alemanha passaram pela mesma situação. Eu não entendo como e porquê a classe dos designers gráficos não conseguiu se fazer escutar como grêmio profissional para ter mais peso nas assinaturas destes contratos.
“Uma política de desenvolvimento que não leva em conta o design é uma política truncada. Amputada. Não presta.”
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Sala de projetos (acima) e cadeira odontologica Olsen (ao lado), LBDI, 1986. crĂŠditos
Gui Bonsiepe
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Nos últimos anos a economia brasileira tem permitido uma considerável ascensão da classe C, graças a um relativo avanço na distribuição da renda e fácil acesso ao crédito. No entanto, esta aparente emancipação poderá significar um retrocesso caso haja uma repetição do padrão de consumo norte-americano, principalmente no que se refere à concentração da renda e a conservação do meio ambiente. O senhor acha que isto pode acontecer neste momento no Brasil? Como o designer conseguirá contornar a pressão do mercado em promover sistematicamente obsolescência, descarte e substituição? Hoje está em crise todo um modelo de estilo de vida baseado no individualismo e na concorrência. Cada vez menos se pode negar a inviabilidade ambiental e social deste estilo de vida. Seria hipócrita querer negar as aspirações de classes sociais que, devido a uma redistribuição da renda, hoje tem acesso a produtos que anteriormente estavam fora
de alcance. Os padrões de consumo são fortemente condicionados pelos meios de comunicação de massa e no fundo estão viabilizados por meio de uma política financeira de créditos. Não se pode camuflar o fato que esse processo alenta menos a formação de consumidores que a formação de devedores que estão amarrados ao sistema financeiro com as cadeias de crédito. A obsolescência programada pelo design cumpre a função de manter em circulação permanente as mercadorias. Sabe-se que essa política tem efeitos colaterais negativos. Sabemos também que é difícil corrigir esse processo, e nem falo de mudar a situação... O debate sobre a mudança climática provocada por ações humanas fornece um exemplo das enormes resistências para uma mudança de paradigma. Em vez de fomentar unilateralmente o consumo individualista, seria mais recomendável pensar na oferta de soluções comunitárias. Como conseqüência desta ênfase no consumo individualista temos o design de autor.
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É um fenômeno estranho que no campo da literatura se fale, já há tempos, do desaparecimento do autor, e no design somos tão atrasados que hoje inventamos o design de autor. Nossa profissão não é mais vanguarda, culturalmente ficamos na retaguarda, comparando com outras manifestações artísticas e científicas. Lamentavelmente é assim.
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“Ao invés de fomentar este extremo individualismo de consumo, devemos fomentar mais soluções comunitárias”
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Quais caminhos estão disponíveis aos jovens designers que almejam promover significativas mudanças sociais através do design de forma profissionalizada, fora dos muros das universidades e instituições assistenciais? Quais seriam os principais obstáculos? Quais casos de sucesso o senhor conhece?
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Temos famosos exemplos de recomendações aos jovens escritores, poetas e cientistas. Menciono, o poeta Rainer Maria Rilke com a carta a um jovem poeta e, no campo das ciências, o biólogo inglês Peter Medawar (nascido no Brasil) com o livro Advice to a Young Scientist. Eu sou muito cauteloso com conselhos, pois facilmente quem dá conselhos se expõe ao perigo de assumir uma postura de pregador. Apesar de minhas reservas, daria algumas dicas. Primeiro: fazer da leitura um costume Precisamos cultivar uma leitura analítica e não uma leitura do tipo zapping.
Segundo: cultivar uma atitude crítica (hoje não se ganha muitos amigos com isso; critica não tem boa prensa). Deve-se perguntar-se sobre a relação da sua atuação profissional e a política social. Este tema foi intensamente discutido no século passado, era parte intrínseca do projeto da modernidade. Um caso exemplar no campo da arte foi Picasso, com sua pintura Guernica. Vocês sabem, Picasso foi membro do partido comunista, como muitos outros intelectuais, e este quadro foi a coincidência entre uma atuação artística e profissional, e sua postura política decididamente antifascista.
“Faço um projeto que aumenta a autonomia? Isso é uma pergunta política”
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Este alinhamento aconteceu também anteriormente, no início dos anos 20 quando, na primeira fase da revolução na União Soviética, os artistas construtivistas queriam buscar a passagem para a indústria, liberar a arte da sua conotação de elemento burguês fechado no museu. Queriam atender a maioria da população, e isso seria possível através do design. Em 68 esse debate reviveu intensamente. Hoje já não se fala de revolução, isso é visto como um assunto ultrapassado, contra o bom-gosto. Não se fala desta temática que é incômoda. Não se faz muitos amigos com isso, sem dúvidas. Não é politicamente correto, pra ser honesto.
“O design não-político não existe”
Terceiro: perguntar para que serve o projeto? Quais serão os benefícios para o usuário e a comunidade? Ou em outras palavras, “faço um design que contribui para reduzir a heteronomia?” Ou, em termos positivos, se “faço um projeto que aumenta a autonomia?” Isso é uma pergunta política, embora a maioria dos designers provavelmente não vá admitir que qualquer trabalho intelectual tem um componente político. Não se pode esquivar disto: o design não-político não existe. 49
Quarto: perguntar se um design serve para fortalecer a autonomia cultural e industrial, indo contra os interesses que estão freando o processo de auto-afirmação latino-americana. É bem sabido que na divisão internacional de trabalho se quer limitar os países latinoamericanos ao rol de exportadores de commodities, recursos sem componente projetual. Isso não acontece somente no Brasil, todos os países latino-americanos se confrontam com esta constelação internacional
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de interesses que quer manter a América Latina no papel de países não-design. Ir contra esse processo pode ser uma das tarefas dos designers na periferia. E qualquer coisa que se faz, por menor que seja, está se dirigindo contra estes interesses. E por isso é política. Simples assim.
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para ler
Livro Design, Cultura e Sociedade Ed. Blucher. agradecimentos
Editora Blucher Prof. Marcos Braga < Retornar ao índice
Video da entrevista
vlog
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Não paramos por aqui. Disponibilizamos em nosso canal de vídeos no You Tube, um compacto clipe contendo alguns trechos de nossa entrevista com o professor Bonsiepe. Confira abaixo: youtube.com/cianovlog
< Retornar ao índice
Atendendo aos pedidos dos leitores, a Blucher preparou um catรกlogo com as linhas editoriais de design e ergonomia.
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Gostaria de receber o catálogo em sua casa? Então cadastre-se no site: www.blucher.com.br 54
Nele, você terá mais informações sobre os últimos lançamentos na área e também sobre os livros que se tornaram referência para os que se interessam pelo assunto.
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Design não é piada
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Rafael Gatti imagens
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Jogo de xadrez para deficientes visuais, sistema visual para ensino à distância, equipamento para transporte de compras a pé, mobiliário para espaços reduzidos, embalagens para produtos saudáveis, bebedouro para garrafões retornáveis. Estes foram alguns dos trabalhos de conclusão de curso que fizeram parte da primeira mostra Fau Forma: Designers. A exposição que aconteceu no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, com a proposta de apresentar a produção destes doze primeiros graduandos formados pelo curso e a sua linha pedagógica, trouxe o design da Fau-Usp visível à sociedade que o financia.
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para acessar
Site Fau Forma: Designers para curtir
Página da mostra no Facebook < Retornar ao índice
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divulgação
Os resultados atingidos por estes doze bacharéis têm o mérito de apresentar uma alternativa às imediatistas demandas por “designers de estilos”, que têm marcado nosso tempo. Resta saber se a vocação funcionalista do design conseguirá, ao longo dos anos, efetivamente penetrar na tradição de uma escola de arquitetura notadamente formalista. Esta é uma responsabilidade que recai, desde o início, sobre o corpo docente. Orientar a formação destes profissionais em prol dos interesses básicos da sociedade e do meio ambiente, será um desafio constante, a cada nova turma de formandos, onde, parafraseando Gui Bonsiepe, nosso entrevistado nesta edição, não se cabe resignação.
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Políticas públicas + Design observando
“Uma política de desenvolvimento que não leva em conta o design é uma política truncada. Amputada. Não presta”. (BONSIEPE, 2011) 65
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Centro Metropolitano de Design - Argentina créditos
Divulgação
Frases fortes e afirmativas tem propensão a ficar ecoando na mente daqueles que as escutam. Dias depois da privilegiada conversa com Bonsiepe, não foi diferente, a pergunta ainda continuava: como poderia ser uma política pública adequada à nossa realidade? Seria isso possível? Algum outro lugar já teria passado por esta situação? ... Em julho deste ano, tive a possibilidade de ir ao Encontro Latinoamericano de Diseño,
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em Buenos Aires; quando organizava a viagem, fiz uma breve busca “design + buenos aires”, e acabei encontrando o Centro Metropolitano de Diseño. Minha experiência no lugar foi bastante interessante, e então lembrei-me de que aquele era um espaço público, criado pela prefeitura da cidade. Foi aí que encontrei algumas respostas às minhas perguntas... Política nacional 66
Não é de hoje que os argentinos contam com apoio governamental para o desenvolvimento do design: em 2003 foi criada uma resolução do governo, o Plan Nacional de Diseño (Plano Nacional de Design), com o objetivo de estimular em toda a nação o uso do design como forma de diferencial econômico. É como uma “carta de intenções”, na qual o governo define algumas metas, e estratégias para alcançá-las, tratando especificamente da área do design. As metas definidas originalmente foram reformuladas e ampliadas
ao longo dos anos, e atualmente o plano tem como objetivos principais a divulgação do valor do design às empresas de todos os portes, o suporte em todos os sentidos àquelas empresas que estejam dispostas a implantar o design em suas práticas, o estímulo à criação de produtos regionais, o mapeamento de tendências de consumo nacionais e internacionais, e a promoção do intercâmbio de informações entre todos os envolvidos na cadeia do design. Esse plano deu origem à algumas iniciativas, dentre as quais destaco as seguintes: Primeiramente, o INTI - Centro de Investigación y Desarrollo en Diseño Industrial (INTI - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Industrial), instituição cuja função é fazer a ponte entre as empresas argentinas e os designers. Têm âmbito nacional, e oferece cursos de capacitação voltados a empresários, cursos para designers, disponibiliza material técnico on-line, realiza
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assessorias e diagnósticos em empresas, além de fornecer um banco de profissionais em design. Em outras palavras, tentam atuar em dois momentos cruciais da relação designempresa: ajudando o empresário a entender o que é o design e quais são as necessidades da empresa dele; e acompanhando a implantação do design neste mesmo negócio.
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A segunda iniciativa é a Red de Diseño (rede de design). Como o Brasil, a Argentina é um país grande, e é bastante complicado promover qualquer política pública de maneira homogênea. Dessa forma, criou-se a rede para pôr em prática a troca de informações e estimular o desenvolvimento de instituições locais, responsáveis pela implantação de alguns pontos do plano em suas regiões. Participam da rede não apenas associações de design e indústrias, mas também prefeituras, universidades e escritórios de design.
Em escala municipal, o Centro Metropolitano de Diseño Independentemente do plano nacional, há mais de dez anos o governo municipal de Buenos Aires esboçou a criação do já comentado CMD - um centro de design, com objetivos similares aos do Plano Nacional: impulsionar a incorporação do design nas empresas da cidade. Aliado a isso, a prefeitura buscou revitalizar uma área em decadência: o bairro de Barracas. Barracas já foi um bairro de classe alta, mas devido à uma epidemia viu seus moradores mudando-se para regiões melhores da cidade. Tornou-se então um bairro residencial de classe baixa e posteriormente, um bairro fabril. Por volta dos anos 80 as fábricas começaram a fechar, esvaziando a região. Atualmente é um local deserto: às onze da manhã de uma sexta-feira não havia ninguém na rua, nenhum comércio, nenhum carro. É bastante afastado
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do centro, e destoa do restante da cidade. A prefeitura então aposta na criação do Distrito de Diseño (Distrito de Design), um bairro inteiro voltado para as atividades relacionadas ao design. Ainda não foi determinado de que maneira será estimulado o desenvolvimento na região - se por meio do incentivo fiscal, de estratégias de comunicação e imprensa valorizando as empresas da região, de subsídios e empréstimos para financiamento de imóveis por empresas relacionadas a design - mas com esta idéia, aliada às contribuições do CMD, a cidade recebeu o título de “Cidade do Design” pela Unesco em 2005. O CMD, diferentemente do Centro de Investigación e Desarrollo en Diseño Industrial, tem foco no designer empreendedor, investindo na estruturação das empresas de design. Por volta de 2001 iniciaram-se as atividades do projeto-piloto, uma incubadora voltada para o design, em um edifício ao lado do Mercado de Pescado - local que atualmente sedia o
CMD. A estrutura inicial contava com pequenas salas para as empresas encubadas, um escritório para os funcionários-suporte, uma sala de reuniões de uso compartilhado, e um pátio para trabalhos e exposições. A proposta vingou, e a prefeitura decidiu investir na ampliação. Foi feito um concurso para o desenvolvimento do projeto do edifício, e a reforma/construção realizada em etapas, ao longo dos anos; em 2011 termina a última delas. 73
O prédio possui 14 mil metros quadrados, com 70 salas para incubação. As empresas incubadas podem usufruir, além das salas, do auditório, de uma biblioteca especializada (que está em finalização), e de cerca de 3 espaços para exposições e mostras de produtos. Há também uma pequena cozinha a cada 6 ou 7 salas. O prédio abriga ainda uma escola de costura para formação de mão-de-obra capacitada (que tem alto índice de sucesso), instalações da faculdade de
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engenharia (com equipamentos para prototipagem em metal, prototipagem rápida e equipamentos de medição de alta precisão), um escritório regional da prefeitura da cidade e o Observatório de Empresas Criativas do governo. As empresas de design ficam incubadas por no máximo 2 anos, a maioria em sala própria. Todo o suporte físico, técnico, e administrativo é oferecido pelo CMD. É uma mega-estrutura que, como informou o funcionário que me acompanhou na visita, está sub-utilizada. Pouco mais da metade das salas estavam ocupados por empresas; muitas estavam vazias, e outras em finalização. O espaço foi pensado para abrigar cerca de 500 pessoas fixas, e 3 mil circulantes - pessoas em reuniões, mostras, palestras, etc. Pode se notar que esta frequência não alcança dez porcento da sua capacidade. Assim como o bairro em que se instala, o CMD estava deserto em um dia útil.
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Quanto às empresas incubadas, a esmagadora maioria é voltada para o desenvolvimento de vestimentas, calçados e acessórios de pequena seriação; contabilizei cerca de sete que desenvolvem objetos, sendo três voltadas para mobiliário. Foi impossível sair de lá e não me colocar no lugar de um incubado, pensando em todas as possibilidades que um suporte deste porte traz - e quantas coisas poderiam ser feitas... 76
A realidade brasileira Pensando no Brasil, será que temos algo semelhante? A verdade é que sim, nós temos. Aqui também existe uma espécie de “plan nacional”, o Programa Brasileiro de Design, criado em 95. Ele deu origem à Rede Design Brasil, que também produz conteúdo voltado tanto aos designers quanto aos empresários. Também temos centros regionais de design, como o Centro de Design do Paraná, de Minas e de vários outros estados. E incubadoras
voltadas para design? Também existem - talvez sem a imponência do CMD - mas podem ser citadas o Design Inn, em São Carlos, e a InDesign, em Juiz de Fora. Exemplos de políticas públicas existem, e agora a dúvida é outra: qual o real impacto que estas iniciativas tiveram em seus contextos? Que resultados podem ser apresentados? É certo que política alguma tem resultado a curto prazo, mas, tratando-se do nosso país, será que podemos contar com uma melhora nas perspectivas do design por meio das iniciativas já existentes? Ou elas ainda são pouco para as potencialidades do Brasil?
autora
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Ana Clara Goyeneche é graduanda no curso de Design da USP - Universidade de São Paulo.
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Regulamentação, ensino e ação
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Leonardo Barreiro imagem
Tesoura Juicy Paper créditos
Leonardo Barreiro 2011
Tanto se discute sobre a regulamentação da profissão e, no momento da publicação deste texto, inclusive, tramita na câmara dos deputados um projeto de lei sobre esse assunto. Os defensores atuantes (aqui incluo os participantes de debates e discussões sobre o tema, os envolvidos com organizações de profissionais, entre outros) ainda andam em pequeno número se compararmos aos milhares de graduados e graduandos espalhados pelo país. Entre os estudantes da área (obviamente não falando por todos, apenas citando um exemplo entre vários), um discurso pseudointelectual é propagado clamando pela “tão sonhada regulamentação”.
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Como em muitas discussões (não só em design, mas em diversas temáticas complexas do cotidiano), muitos carecem de embasamento para fundamentar suas afirmações, apenas afirmam sem aprofundadas preocupações. A esses, cabe ressaltar que o regulamento deve ser acompanhado pela responsabilidade, assim como um jornalista tem ao redigir um texto que será publicado em um jornal de grande, média ou pequena circulação. Eu pergunto ao leitor, só falta isso? Uma regulamentação? Já existe tal grau de responsabilidade por parte dos envolvidos? Ou o ensino deve sofrer uma atualização também? Aí está outro tema que merece ganhar espaço nas discussões, a forma como se dá o ensino nos cursos superiores de Design. Abordando uma pequena parcela das ações e processos do sistema Design, foi realizada (pelo autor deste artigo) uma pesquisa online (uma pequena coleta de informações) junto
à cinquenta alunos e ex-alunos de cursos superiores de Design do Rio Grande do Sul. A seguir algumas considerações sobre os resultados obtidos: A maior parte dos consultados afirmou que acredita nunca ter exercido a ação de desenvolver uma nova metodologia (58% dos consultados). Com relação ao estímulo dado pelos professores para a realização dessa prática, 56% indicaram que o grau de estímulo é baixo, 24% indicaram que o grau é médio e apenas 20% afirmaram que o estímulo é satisfatório. Ao serem visualizadas as respostas de um questionamento similar a esse último, 64% dos consultados afirmaram que, no decorrer das disciplinas projetuais do curso, não se sentiram encorajados a desenvolver metodologias próprias. A questão aqui não é supervalorizar a importância da ação de desenvolvimento
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investigando
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de uma metodologia, mas sim de reafirmar a importância da análise crítica e reflexiva do modo de fazer. A baixa valoração do papel da pesquisa nos projetos de Design influencia a propagação da baixa qualidade do discurso projetual. Sobre as causas disso, Bonsiepe expõe que “talvez estejam relacionadas com as consequências da educação orientada à formação de habilidades, que fomenta uma postura anti-intelectual” (2011, p.183). É preciso questionar o tipo de profissional que se deseja para atuar na sociedade.
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Tomada créditos
Leonardo Barreiro 2011
A questão do ensino pela prática, aquela que segrega a um segundo plano a teoria, merece uma crítica des/construtiva. A prática projetual, em alguma instância, trata-se da teoria aplicada. Porém, cabe ressaltar que a mesma prática pode gerar expansões dessa teoria. Segundo Freitas, “considerar o Design como sendo essencialmente prático é admitir como irrelevante a compreensão e o uso dos conhecimentos da ciência e aceitar o seu
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ensino como espontaneísta” (1999, p.21). Aqui nos deparamos, então, com dois lados da balança no ensino de design: tecnicismo e expontaneísmo. Se por um lado negar a existência do antigo enfraquece o novo, por outro a supervalorização do saber fazer tradicional limita as possibilidades. Embora se fale do equilíbrio entre as duas correntes, a tão comentada ‘neutralidade’, se observada profundamente, não é neutra. 86
Então o que deve guiar o projeto? Os problemas de interesse do designer ou os problemas de interesse do usuário? Eis nestas perguntas outra dicotomia forçada. O papel do designer é perceber os problemas do usuário e torná-los a problemática de seus projetos. Porém, observando um pouco além, envolto na dependência da economia de consumo acelerado, nota-se também o designer como fomentador dessa aceleração. A regra normalmente é formulada ou imposta por quem possui o poder e, na chamada
economia ‘globalizada’, os valores baseados no mercado são propagados pelas grandes corporações. Para que esse ciclo tenha continuidade, os submissos devem manter-se submissos. Dentro da ideia de submissão podem ser citados diversos exemplos, tais como a relação entre países ricos e pobres, a relação entre as sociedades e o meio em que vivem, ou até mesmo a relação entre um grupo de pessoas e a falta de meios para acesso aos serviços públicos. Por que não estimular o estudante de design a enfrentar esses desafios? Ou somente a regulamentação já basta? Em seu ‘Design, Cultura e Sociedade’, Bonsiepe ressalta a importância do conceito de humanismo projetual, que se guia pela intenção de “formar uma consciência crítica frente ao enorme desequilíbrio entre os centros de poder e os que são submetidos a eles” (2011, p.21). Um grande passo seria a regulamentação, porém que venha
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acompanhada pelo aprimoramento do ensino e pela valorização do desenvolvimento da capacidade reflexiva dos aprendizes. E que essa capacidade não se estenda apenas a questionar a forma como são realizados os projetos, mas toda a estrutura em que se dão as interações na sociedade. Regulamentação, ensino e ação: não necessariamente nessa ordem.
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referências BONSIEPE, Gui. Design, cultura e sociedade. São Paulo: Blucher, 2011. FREITAS, Sydney Fernandes de. A influência de tradições acríticas no processo de estruturação do ensino/ pesquisa de Design. Tese de doutorado em Ciências em Engenharia e Produção. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999.
autor Leonardo Barreiro é bacharel em Design pela ULBRA/RS, especialista em Docência do Ensino Superior pelo AVM/RJ, atualmente atua no desenvolvimento de interfaces para sistemas web e desenvolve pesquisas sobre metodologia e design. Participa de projetos relacionados ao surf (desenvolvimento de pranchas e acessórios compostos por materiais alternativos) e mantém o blog designpensante.com.
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O Interdesigners já passou, mas isso não significa que acabou!
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A Comissão Organizadora do Interdesigners incentiva a próxima comissão para organizar um evento excelente no próximo ano. Que venha 2012!
Obrigado a todos os Palestrantes e Oficineiros, cada atividade valeu a pena. Agradecemos a vocĂŞs participantes, o evento existe por causa de vocĂŞs!
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O sentido dialético do design
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por
Eduardo Camillo foto
Gilderic
No momento de escrever o meu texto para a atual edição da Revista Ciano, vi que estava mais ou menos claro para mim, depois da entrevista com o Prof. Gui Bonsiepe, algo que vem a tempos martelando em minha cabeça: a teoria e a prática do design. Bonsiepe é um professor e também projetista. É autor de 7 livros até onde pude apurar, e trabalhou em diversos projetos, assim como também foi professor titular das cadeiras de Desenho Industrial e Programação Visual da HfG Ulm. Assim, o que desejo chamar à atenção levantando esses dados é que estamos falando de um designer extremamente
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ligado tanto à teoria do design, quanto à sua prática. E talvez não pudesse mesmo ser diferente. Em seu livro Design, Cultura e Sociedade, Bonsiepe chama à atenção, a meu ver negativamente, aqueles que são simplesmente teóricos do design:
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“O design demorou para avançar como temática para a reflexão na filosofia e nas ciências. (...) No processo de expansão, o design separou-se da competência projetual específica. Outros profissionais como qualificação meramente acadêmica, mas sem habilidades para o projeto, ganharam relevância, respaldados por categorias e critérios tradicionais. O design transformou-se em campo de ação para qualificações acadêmicas não ligadas ao domínio do projeto, despertando ambições hegemônicas próprias e interesses canônicos próprios” (Bonsiepe, 2011) O também professor Claudio Portugal lança um olhar sobre tal apropriação e novos intelectuais
em seu texto A multidisciplinaridade no ensino de design. No entanto, queremos aqui chamar à atenção apenas para um segmento dessas idéias: Bonsiepe aparentemente coloca como fundamental à teoria do design a prática do projeto. E eu gostaria de dizer que o recíproco é verdadeiro: não existe prática projetual de design sem teoria. Tal fenomenologia do design que aqui iniciamos visa continuar alguns pontos levantados no blog Filosofia do Design, e dar um passo adiante no entendimento essencial/funcional do design. Antes, uma olhada no dicionário (Michaelis): Teoria sf (gr theoría) 1.
Princípios básicos e elementares de uma arte ou ciência.
2.
Sistema ou doutrina que trata desses princípios.
3.
Conhecimento especulativo considerado independente de qualquer aplicação.
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4.
Conhecimento que se limita à exposição, sem passar à ação, sendo, portanto, o contrário da prática.
5.
Conjetura, hipótese.
6.
Utopia.
7.
Noções gerais, generalidades.
8.
Opiniões sistematizadas.
9.
Relação entre um fato geral e os fatos particulares que dependem dele.
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Primeiramente, observamos que a quantidade de sentidos do termo teoria é razoavelmente grande, alguns até mesmos contraditórios, como o número 1 e o número 3, já que como que princípios básicos de uma ciência podem não possuir aplicação em tal ciência?
Defendo a hipótese de que, sim, para o design, a teoria implica em prática, e a prática necessita da teoria, e chego ao ponto de sugerir que o design só existe de uma espécie de síntese entre ambos. A questão de teoria e pratica, e tal síntese, é, possivelmente, a única forma de tomá-lo como transformador da sociedade. Num diálogo muito interessante apresentado na 7ª edição da revista Serrote, temos Theodor Adorno e Max Horkheimer tagarelando sobre diversos assuntos, e, num deles, tocam na questão da teoria e da práxis. Citam que, para Marx, só há dialética na ação (materialismo dialético), no entanto, mesmo Adorno reconhece que a teoria é necessária à dialética da ação (talvez muito mais para tentar salvar a própria pele de sua absoluta ausência prática, característica essa que ele mesmo se aponta quando diz de si: “Frequentemente me vejo na situação de ser inquirido sobre o que faria caso fosse diretor de uma rádio ou ministro
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da educação. Sempre tenho que admitir para mim mesmo que numa situação assim, não saberia absolutamente o que fazer” - pg. 186).
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Dessa forma, o design demanda e só resulta design quando na clara adequação entre teoria e práxis, é de sua natureza funcionar ontologicamente dessa maneira. Dentro dessa relação, está também o envolvimento do design com outras disciplinas, que, nalguns casos, determinam sua teoria. Entender o design na sua relação com as demais disciplinas, ou seja, o que de fato significa ser interdisciplinar, fornecerá também maior clareza no momento de visualizar o real papel da teoria no design, que provavelmente tem menos um caráter de epistemologia e mais de aplicabilidade, andando paralelamente à pratica. Vale observar que, quando afirmamos sobre essências, referi-mo-nos à essência em seu sentido fenomenológico. Isso implica em tratarse de essências de intelecções, de objetos
intuídos de uma realidade externa. Não há, assim, qualquer sentido metafísico de ente imaterial e atemporal. Pelo contrario, afirmar a essencialidade de qualquer característica no design (ou onde quer que seja) sob um sentido fenomenológico significa simplesmente reduzir o fenômeno (aquilo que se mostra à nossa consciência, a maneira como o mundo se apresenta a nós) até seu elemento invariável de situações específicas. Ou seja, afirmar a essência do design é perceber seu aspecto ou constructo último, que o determina e diferencia dos demais campos, sem com isso retirar as especificidades de situações particulares. Afirmar a essencialidade do design é afirmar o ponto onde suas características o diferenciam dos demais, lembrando sempre que trata-se de uma construção social. Daí que afirmar ao design como essencialmente dialético quanto ao binômio teoria/pratica é dizer que, independentemente do caso,
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há necessidade de uma teoria posta em prática, e de uma prática espelhando-se numa teoria.
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Naquele outro texto, levanto a ideia de que “o termo Design se define pela clarificação do Designer, que por sua vez se revela pelo exame do conjunto de ações que possibilitam criar um campo comum entre aqueles que o praticam” (Ferreira, 2010). Ou seja: design só existe porque existem pessoas que se chamam designers. E esses recebem esse nome porque efetuam uma quantidade tal de tarefas de alguma maneira semelhantes e logicamente ordenadas de forma a possibilitar uma identificação entre os mesmos. E o termo design se presta justamente a identificar esse conjunto de ações. Dessa forma, o design passa a poder ser encarado como uma disciplina. Daí decorre o apontamento de Bürdek a respeito da necessidade de existir uma disciplina formada para que exista qualquer interdisciplinaridade,
uma vez que esta faz-se da contribuição de diversas disciplinas, e não da sobreposição teórica de outras por sobre uma. Ainda, interessa observar um ponto quanto à tal interdisciplinaridade de nossa profissão: no livro Conhecimento e Transdisciplinaridade, Ivan Domingues nos difere a multidisciplinaridade da interdisciplinaridade, e então ambas da transdisciplinaridade. Vejo que podemos definir o design como sendo interdisciplinar na medida em que a interdisciplinaridade, segundo o autor, implica em: “a) aproximação de campos disciplinares diferentes para a solução de problemas específicos; b) compartilhamento de metodologia; c) após a cooperação, os campos disciplinares se fundem e geram uma disciplina nova” (Domingues, 2005). Por que vejo que o design se encaixa aqui nesse âmbito? Porque, historicamente, o profissional de design nasceu da separação entre a concepção do objeto e sua execução. Disciplinarmente forma-se a partir do momento
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que uma escola de design decide sistematizar tal atuação: a Bauhaus, da sua união entre mestre artesão, artistas e profissionais da forma, gerando assim um novo profissional capaz de atuar na intersecção de todas as áreas, e, portanto, uma nova disciplina profissional.
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Entre a Teoria e a Prática do projeto, existe a crítica, pois a crítica fundamenta-se necessariamente sobre uma teoria do design (tanto epistemologicamente quanto pragmaticamente) para que possa debruçar-se sobre o projeto. Assim, temos uma pista de como acontece afinal a interferência, ou melhor, a dialética no design: qualquer projeto, como afirmou Bonsiepe em sua entrevista, é politico, possui uma base conceitual que o suporta, e, assim, é impregnado pela crítica no próprio momento de ação projetual. Decisões de projeto são tomadas perante críticas instantâneas: optar pelo design autoral ou pelo design social
é efeito da crítica, e, assim, de uma teoria anterior (mesmo que a teoria seja resumida a um posicionamento egocêntrico de autorealização). O desenvolvimento, portanto, teórico, o investimento de horas de estudo na teoria serve justamente a que tal crítica e, consequentemente, projeto, tenham sentido e harmonia entre si, e uma consequência justificável e coerente. 103
O conteúdo desse conjunto, no momento, pouco importa, já que apenas estamos pensando o fenômeno puro, sem, ainda, julgamentos éticos ou similares. Ao final, a legitimação do projeto faz-se pela teoria e crítica que o sustentam. Mais ainda se tomarmos projeto como um lançar-se à frente como entende Argan (Argan, 2005). Dessa forma, tanto uma teoria política e crítica fazem-se como legitimadoras de um projeto.
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A importância de tentar não entrar em méritos éticos nesse momento está em perceber que a teoria deve mostrar-se como essa parte essencial do design, independente do direcionamento posterior que tal teoria fornecerá a este. Livrar, assim, tal análise de claros posicionamentos políticos faz-se fundamental à concretização de tal esforço (ressalto que livrar-nos de um posicionamento político não implica em contradição ao dizermos com Bonsiepe que o design é necessariamente político. O primeiro significa não tomar uma posição política, seja o capitalismo ou socialismo ou comunismo ou anarquismo etc, como base do design, e o segundo significa dizer que o design constrói-se necessariamente sempre atrelado a qualquer deles, de acordo com o designer que o pratica). Dessa maneira, temos que desvincular-nos até mesmo do conceito de projeto conforme Argan propõe. Projeto, aqui, resume-se assim na configuração metódica de artefatos ou sistemas
de interface. Qualquer projeto, segundo tal entendimento, faz-se sob um arcabouço teórico e crítico que o suporta como tal. Observar, assim, que o projeto ao final das contas, constitui-se apenas segundo critérios críticos e teóricos faz-nos afirmar que o designer é aquele que, segundo uma consciência teórica e um atuar critico, exerce atividades projetuais, portanto metódicas (conforme apontei quando deduzi a origem interdisciplinar do design), de artefatos ou sistemas de interface. Após todos esses pontos levantados, tentando finalizar num resumo, o que quero dizer é: 1. o designer sempre atua pautado numa teoria que justifica a ele que tal projeto é legítimo; 2. que características políticas são inerentes ao design e a sua teoria; 3. que a crítica no design está sempre presente quando há prática (e pode também existir posterior a ela); 4. há sempre necessariamente uma
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teoria justificando tal crítica (julgamentos de bom ou ruim, e de adequado ou inadequado, constróem-se sobre tal teoria, e determinam o resultado projetual prático).
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Finalizo, assim, meu texto, tentando trazer a importância de um desenvolvimento teórico no design. Que cada designer deve procurar, incessantemente, as justificativas para aquilo que projetam, e que investiguem criticamente tanto tais bases quanto os resultados que geram-se a partir das mesmas. E, finalmente, nunca caírem na tolice de desvincular a prática projetual de uma teoria e crítica que o constituem: isso, além de impossível, é o que torna o design efetivamente design.
autor Eduardo Camillo é graduando no curso de Design da USP, sócio fundador da Mínimo Design, e idealizador do Design em Artigos.
referências ARGAN, Giulio Carlo. História da Arte como História da Cidade. Martins Fontes, São Paulo: 2005 BONSIEPE, Gui. Design, Cultura e Sociedade. Editora Blucher, São Paulo: 2011 BURDEK, Bernard. Design: História, teoria e prática do design e produto. Editora Blucher, São Paulo: 2006 DOMINGUES, Ivan, Conhecimento e Trandisciplinaridade II, UFMG, Belo Horizonte: 2005 FERREIRA, Eduardo C. K. Um olhar sobre o designer, publicado no blog Filosofia do Design, em 29/12/2010, e acessado em 20/10/2011, às 14h50. < Retornar ao índice
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Design social e outros ressentimentos
relativizando
por
Marcos Beccari
Não raro, muitos me questionam: por que você nunca menciona Gui Bonsiepe, Tomas Maldonado, Bernd Löbach (entre outros) quando você fala de Filosofia do Design? Pois bem, eu já li alguma coisa até e, pelo que lembro, não achei nada ruim. A questão é que estes veteranos do Design estão muito preocupados com um tal de “papel social”, tipo Paulo Freire, considerando o design como um elemento constitutivo e instaurador na sociedade, cabendo ao homem (ao designer) transformá-la.
ilustrações
Janaina Tazoniero aka Sooz Lillend
Sinceramente, não tenho nada contra esse discurso. Se você gosta, bom pra você.
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Eu simplesmente não me importo e, sempre que possível, tento fugir da conversa. Algo como Raduan Nassar (1997, p. 61) escreve em seu conto “O ventre seco”:
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“E já que falo em proselitismo, devo te dizer também que não tenho nada contra esse feixe de reivindicações que você carrega, a tua questão feminista, essa outra do divórcio, e mais aquela do aborto, essas questões todas que estão varrendo as bestas do caminho. E quando digo que não tenho nada contra, entenda bem, Paula, quero dizer simplesmente que não tenho nada a ver com tudo isso. Quer saber mais? Acho graça no ruído de jovens como você. Que tanto falam em liberdade? É preciso saber ouvir os gemidos da juventude: em geral, vocês reclamam é pela ausência de uma autoridade forte, mas eu, que nada tenho a impor, entenda isso, Paula, decididamente não quero te governar”.
Feita esta defesa preliminar, vamos ao assunto do dia: o Design Social. Em geral, este nome é atribuído a iniciativas de intervenção assistencial (consultoria/serviço) que geralmente recebem apoio financeiro do governo ou de entidades filantrópicas, o que muitas vezes significa benefícios ou deduções fiscais. Não vou falar deste tipo de bigodagem. Em parte, porque isso sempre me pareceu algo socialmente oportunista, conforme demonstra Frederico Duarte (2011) em seu texto “O fator favela”. Em parte, porque estou mais interessado no pano de fundo, isto é, na ideologia que atua por detrás dessa história. É muito bonito e inspirador quando Bonsiepe denuncia aquela atitude primária que faz muitos designers fingirem que sua prática é independente de um conjunto de ideias e valores. Não devemos esquecer, porém, que este discurso de Bonsiepe também está subordinado a uma ideologia. Esta ideologia é precisamente exposta por Argan, no
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prólogo da edição castelhana do livro “Design Reconsiderado” (MALDONADO, 1977, p. 8): “o projeto do design industrial fracassou [pois] não foi explicitamente político e anticapitalista, (…) renunciou a inspiração e a substituiu pelo método, renunciou à escola e a substituiu pelo mercado”.
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A diferença é que Argan é mais contundente (pra não dizer apocalíptico), conforme ele conclui: “posto que o design industrial é inconcebível fora do contexto político, parece provável que seu problema tenha que se considerar como acabado” (idem, p. 9). Em todo caso, o discurso anticapitalista é o mesmo, seja com esperança ou resignação. E como o design ainda é visto, popularmente, como uma atividade feita por uma elite e para uma elite, este discurso de 40 anos atrás permanece atraente aos estudantes e acadêmicos em geral.
De fato, os teóricos de Ulm formavam uma vanguarda expressiva, mostrando que os designers também podiam ter cultura e opinião própria. E sabemos que no Brasil o modelo de ensino ainda predominante em Design é herdado dessa tradição. Não por acaso, os departamentos de ciências humanas promovem, a cada dia, mais palestras e grupos de estudos sobre Marx ou Trotsky e menos sobre Emil Cioran ou Max Stirner, por exemplo. O filósofo Luiz Felipe Pondé (2011) nos conta que quando uma aluna de classe média perguntou à professora se Che Guevara havia matado muita gente, a resposta foi: o teu pai também mata muita gente de fome. Tal grosseria, pois, é facilmente justificável em uma “educação socialmente crítica e instauradora”. E o que isso tem a ver com Design? Depois de pagar mensalmente 2.000 reais num cursinho, o indivíduo entra numa universidade
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pública e, apesar de fazer Design (ele tem vergonha disso), passa a repudiar o sistema capitalista. Daí ele começa a participar voluntariamente de uma ONG ou centro acadêmico, discutindo sobre consciência social e como podemos ajudar comunidades carentes. Os Estados Unidos é o inferno, mas Steve Jobs é deus. E você só será perdoado de ter um Mac se você reciclar o lixo e andar de bicicleta.
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Logo, a tua “consciência social” desvia toda e qualquer culpa que você poderia ter e joga essa culpa na elite, nas indústrias, nos mecanismos de poder, no mercado. E por mais que você (pense que) não tenha culpa, você se preocupa com a sociedade, bancando uma de herói. Não há contradição alguma nisso, é um discurso perfeito. A imperfeição está sempre nos outros, nos porcos capitalistas. Cabe a você, em toda sua perfeição, redimir os oprimidos – que além dos operários, hoje incluem os índios, os homossexuais, as mulheres, etc.
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O discurso contrário à consciência social, no entanto, também se isenta da culpa – o mundo real é assim ou assado, o mercado exige isso ou aquilo, “é assim que as coisas são”. Do mesmo modo, eu posso estar impondo, neste texto, meus próprios medos e preconceitos sobre o mundo, utilizando-me desta violência sutil que é “convencer alguém”. Atenção: eu assumo a culpa. E não me vanglorio disso, caso contrário não seria mais culpa. Aliás, alguém sabe como evitar o “convencer alguém”? Se sim, terá que me explicar sem tentar me convencer. Por isso eu acho que a nossa capacidade de negociar princípios – uma forma mais sofisticada de convencer – é mais importante socialmente do que um princípio em si, até porque qualquer princípio está fadado à imperfeição. Podemos negociar até nossos sonhos e ideais – e acho que é exatamente isso o que nos torna propriamente sociais.
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O paradoxo é que esta negociação dificilmente acontece diretamente a nível social/coletivo, mas sim indiretamente a nível individual/ subjetivo. Diálogos, textos, livros e debates são apenas o começo ou o resultado da negociação, ou seja, uma máscara. O processo de negociação acontece em nossas experiências pessoais, quando negociamos com nós mesmos (através dos outros). A culpa é propícia para isso. A culpa, portanto, é uma consciência social. 118
Por quê? Em primeiro lugar, porque as pessoas não sabem o que querem. Elas sequer percebem que a maior parte das coisas que elas (acham que) querem não batem umas com as outras. Não percebem que suas reclamações (sobre o governo, cultura, sexo oposto, trabalho, etc.) na verdade vêm exatamente da forma que elas mesmas agem. Em segundo lugar, porque somos julgados pela crença como fanáticos idiotas, ou pela
descrença, como idiotas fanáticos. A armadilha é ter que escolher um lado, ou seja, continuar julgando. Neste sentido, a negociação é um truque. Se você for analisar e comparar o que eu disse até agora, por exemplo, perceberá que há muitas ideias incoerentes entre si. Essa contradição é tão inevitável quanto o julgamento, igualmente contraditório, de quem lê. Mas sob uma perspectiva mais ampla, este improviso, esta gambiarra, este truque é o que torna possível, socialmente, uma negociação – se ela fosse perfeita e coerente em si mesma, não se permitiria negociar. Não dá pra negociar que 1+1=2, por exemplo, mas dá pra negociar que 2 nem sempre é a soma de 1+1. Não dá pra negociar a verdade, mas dá pra negociar o erro. Não dá pra negociar a morte, mas dá pra negociar a vida. A partir disso, muitas analogias sociais são possíveis (mas desta culpa eu me abstenho).
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O fato é que a importância social do Design, sua negociação, reside em não se levar tão a sério. Tanto o designer egoísta quanto o designer altruísta-filantrópico me parecem excessivamente confiantes em si mesmos, em suas competências, em sua isenção de culpa. No mínimo, acho isso perigoso. Responsabilidade social é, antes de tudo, compreender-se socialmente, como parte de uma grande negociação. 120
Dito de outra forma, não me interessa como o design contribui com a sociedade, mas sim o quê a sociedade tem a ganhar com o design. Parece redundante, mas não é. O designer não simplesmente convence as pessoas, mas também negocia com elas, e sempre dentro de uma negociação que não parte do Design. Um filme ou um videogame, por exemplo, não é apenas entretenimento ou passa-tempo, mas também não é somente uma função utilitária, com um fundo ideológico e uma finalidade social preestabelecida.
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É antes uma mediação entre o indivíduo e a sociedade. Grosso modo, aquilo que eu chamo de articulação simbólica. Outro exemplo: não é simples substituir a chave do carro por botões ou chips eletrônicos. Ainda que a chave esteja no chaveiro, ou os botões estejam na chave, a chave continua existindo. Em partes, por uma questão de uso (funcional), mas em partes por certa “segurança” ou “sensação de segurança”. A chave é uma chave. Mas é também símbolo de algo – segurança, segredo, acesso, etc. 123
Este símbolo não foi criado pelo designer, mas já existe na sociedade. Deste modo, a articulação simbólica revela-se tão sutil quanto decisiva: somos diretamente responsáveis pelo modo que o indivíduo interage com o mundo. Podemos pensar no IPad: não há nenhuma tecnologia nova, mas uma combinação totalmente nova das tecnologias existentes, revolucionando a maneira como interagimos com o digital.
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Os símbolos nele envolvidos não são novidade, mas sim o modo como eles nos colocam frente ao mundo.
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Consequentemente, as configurações simbólicas influenciam diretamente em nossas crenças. Contudo, os símbolos estão distante da “verdade”. A verdade, se existe, existe solitária. Ao indivíduo e à sociedade, a verdade é inútil, pois são as crenças que balizam as disputas entre interesses e opiniões. Nossos gostos e desgostos, negociações e convencimentos, se moderam pela ideologia – um sistema violento de crenças que nos mede e com o qual medimos os outros, nos constituindo e sendo por ele constituídos. Creio nisso, independente da verdade disso. Mas a configuração simbólica disso está o tempo todo negociando com minhas crenças. E nós, designers, estamos articulando símbolos, não de maneira ativa e nem passiva, mas como parte de um único fluxo simbólico-
social. Estamos traduzindo o mundo, mas sendo também por ele traduzido, o que nos impõe grande responsabilidade social e, ao mesmo tempo, nos subordina à sociedade. Acho que se partirmos deste pressuposto, poderíamos ousar com mais liberdade em nossas negociações (truques, gambiarras), sem nos prendermos a debates ingênuos sobre forma-função, teoria-prática, esquerdadireita. Preocupar-se com tais dicotomias é isentar-se da culpa, apoiando-se numa verdade qualquer ao invés de assumir o desafio de negociar e articular inverdades. É limitar, enfim, a potencialidade da interlocução entre design e a sociedade – ou melhor, entre a sociedade e o design.
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autor
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Nascido em São Paulo, Marcos Beccari é graduado em Design Gráfico e (quase) mestre em Design, ambos pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Interessa-se por Filosofia, Psicologia, Ficção Científica, Tarot e outras conspirações, o que o levou a pesquisar sobre Filosofia do Design e a encarar o designer como um “articulador simbólico”. Atualmente coordena o blog Filosofia do Design, além de participar do projeto AntiCast e colaborar com os blogs Design Simples, Formas do Consumo e Universo Humanus.
referências DUARTE, F. O fator favela. Publicada originalmente em Projeto Design, n. 376, jun. 2011. Disponível em: http://www.arcoweb.com. br/artigos/fator-favela-frederico-duarte-analisarumos-design-brasileiro-08-08-2011.html. Acesso em 06 set. 2011. MALDONADO, T. El diseño industrial reconsiderado. Barcelona: Gustavo Gili, 1977. 127
NASSAR, R. Menina a caminho. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. PONDÉ, L. F. Santos entre taças de vinho. Entrevista concedida à Jerônimo Teixeira, revista Veja. São Paulo: Abril, 13 jul. 2011. Disponível em: http://luizfelipeponde.wordpress. com/2011/07/28/entrevista-de-ponde-para-aveja-13-07-2011/. Acesso em 06 set. 2011. < Retornar ao índice
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Contraconspirando
relacionando
por
Lucas Colebrusco imagem
Poster “I Want You for the US Army”
“O design não-político não existe” (BONSIEPE, 2011) Existem diversos motivos para tomar o fragmento acima como ponto de partida. O mais contraditório deles é o fato de eu particularmente não ser uma pessoa politizada quando falamos da prática política tradicional - ou seja - governo, partidos, eleições, campanhas… enfim. Por outro lado, a política vai muito além daquilo que nos vem à cabeça quando o assunto é colocado em pauta. O próprio governo de um país, e consequentemente as figuras políticas e decisões por eles tomadas, é reflexo da
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cultura. E é nesse ponto que pretendo discutir aqui o papel político do design. Acredito que trabalhando o que Freud chama de “sentimento de culpa” das pessoas, é possível alterar o comportamento, a política e tudo mais.
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Não existe mesmo o design não-político, assim como acontece com qualquer outra profissão. Quando Sartre nos informa que “ao escolher por si, cada homem escolhe por todos os homens.” (SARTRE, 1946), ele faz o mesmo que Bonsiepe: coloca em primeiro plano um fato que alguns ainda não perceberam e outros tentam esquecer por motivos variados. Além disso, a questão é que o design pode influenciar diretamente no comportamento de muitas pessoas, o que não acontece com todas as profissões. “Com efeito, não existe um de nossos sequer que, criando o homem que queremos ser, não crie ao mesmo tempo uma imagem do homem conforme julgamos que ele deva ser. (…)
Assim, nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, pois ela envolve a humanidade como um todo.” (SARTRE, 1946) Em “O mal-estar na civilização” Freud coloca o sentimento de culpa como protagonista da evolução cultural. O homem busca ser feliz, e consequentemente tem medo da infelicidade. Essa espécie de angústia controlada pelo Super-Eu é a consciência que temos de nossas atitudes. Freud acredita também na existência de um Super-Eu de uma época cultural, “sob cuja influência procede a evolução cultural” (FREUD, 1930). Então aparentemente as pessoas estão com o sentimento de culpa deturpado, ou muito longe do que deveria ser para se alcançar a sociedade que idealizamos. Somos fruto de educação (ou falta dela) e é isso que precisa ser trabalhado em busca de melhorias culturais.
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O design é uma das ferramentas para educar e construir uma sociedade, e é importante se ter consciência disso - o que nem sempre acontece, infelizmente. Por isso que “a resignação não é uma atitude do design” (BONSIEPE, 2011), e nem pode ser. Se as pessoas compram carros, é porque se pensa mais nisso do que no transporte público, e a situação caótica do trânsito e poluição não são fatores suficientes para que a maioria delas repensem o que estão fazendo. 135
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“You are not stuck in traffic. You are traffic” créditos
Carltonreid
Algumas cidades Europeias, como Munique, estão criando ambientes hostis aos carros visando encarecer e dificultar o uso dos mesmos e pressionar os motoristas a optar por tipos mais ecológicos de transporte. Isso é uma decisão política, envolve design e, por fim, é uma forma de moldar o sentimento de culpa das pessoas e se criar uma nova cultura. A decisão acima pressupões que o transporte coletivo esteja adequado para receber todas
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as pessoas que realmente vão deixar de utilizar o carro. É assim que o transporte coletivo pode passar a ser encarado de outra forma pela população. E é também assim que a demanda por trabalho e investimentos no transporte público crescem. Por outro lado, os mesmos países Europeus que apresentam políticas ambientais invejáveis, são sedes de grandes empresas automobilísticas que, de alguma forma, sustentam estas custosas decisões do governo através de enormes lucros vindos da venda de carros em outros países. imagem
Registro feito por um usuário no Metrô de São Paulo Estação Sé. créditos
Diego Silva e Paulinho
Após um cansativo dia de trabalho, é hora de voltar para a casa e descansar em paz. Apesar de haver motivos para os usuários do metrô de São Paulo perderem a paciência e sair quebrando tudo, o mesmo está sempre limpo e bem cuidado. Isso não passa de mais um caso no qual o sentimento de culpa é utilizado como ferramenta.
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Vandalizar um ambiente que se encontra em perfeitas condições é muito mais culposo que ser apenas mais um na multidão. E é por isso que o comportamento das pessoas no metrô é tão adequado. Existem lixeiras ao alcance de todos e tudo está no lugar que deveria estar. Isso pressupõe um projeto de design que considere resistência, durabilidade e fácil manutenção e que manifeste visualmente essa limpidez. 138
Se vamos ou não promover significativas mudanças sociais através do design, não se sabe. Mas o potencial do design em trabalhar o sentimento de culpa da humanidade é considerável, e todos precisam ter consciência e não fugir deste fato nas mais comuns decisões profissionais, mesmo que a responsabilidade pareça pesada demais quando vem carregada deste sentimento. Contraconspirar então é tomar consciência do potencial do design como ferramenta politica-cultural e, no exercer da profissão,
planejar o comportamento das pessoas para se buscar a sociedade considerada ideal. Por isso a importância da pergunta feita por Papanek: “Qual o contributo que cada um de nós pode dar em função da sua atividade da sociedade”?
autor Lucas Colebrusco é graduando no curso de Design da USP, participou do Projeto Revale, atualmente trabalha com mobiliário e tem interesse por design de produto, inovação e tecnologias.
referências Nossa profissão não é mais vanguarda Entrevista na revista Ciano vol.1, no.6, 2011. Sartre, Jean-Paul, 1905-1980. O existencialismo é um humanismo / Jean-
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Paul Sartre; apresentação e notas, Arlete Elkaïm-Sartre; tradução de João Batista Kreuch. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2010. – (Coleção Textos Filosóficos) Freud, Sigmund, 1856-1939. O mal estar na Civilização, novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos (1930-1936) / Sigmund Freud; tradução Paulo César de Souza – São Paulo : Companhia das Letras, 2010. 140
Papanek, Victor Arquitetura e Design - Ecologia e Ética Edições 70 Brasil, 2007. “Irritar motoristas faz parte da política urbana em boa parte da Europa” Elisabeth Rosenthal Reportagem Folha.com - 27/06/2011 Link: http://folha.com/mu935607 < Retornar ao índice
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Service Envy Toolkit um kit de ferramentas para serviços de fazer inveja
sketching, para ilustrar uma ideia para o grupo e incentivar a colaboração • safári de serviços análogos, não relacionados ao serviço em questão, visando inovar • etimologia do serviço, para mapear a origem dos significados e as razões de uso do serviço • ecologia do serviço, para mapear todos os stakeholders e seu ecossistema • painel semântico, com imagens e textos, para transmitir conceitos que alinhem as pessoas • e mais.
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Entre a cruz e a espada
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Felipe Massami ilustrações
Felipe Massami
“O consumo é um processo contínuo - um conjunto de ações empreendidas ao longo de um período prolongado - para resolver um problema. Envolve busca, obtenção, instalação, manutenção, reparos, atualizações e, finalmente, o descarte de bens e serviços” (WOMACK, JONES, 2006). Consumir, aparentemente, está estritamente ligado as questões básicas do ser humano. Todavia, por detrás desta simplicidade, existem diversos artifícios que fomentam o descarte em prol da manutenção do sistema (vide o livro “Estratégia do Desperdício” de Vance Packard), onde um sistema burro,
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valendo-se do descarte contínuo de matériaprima e isenção de responsabilidades como medidor de crescimento e sucesso.
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Para esta edição, trago um conceito simples, ou, quer dizer, uma filosofia, mas carregado de complexidade e de aplicação num mundo como o nosso. Como vocês poderão notar, existirá grande semelhança com idéias por detrás de publicações como Cradle to Cradle, de Willian McDonought & Michael Braungart, e Soluções Enxutas, de James P. Womack e Daniel T. Jones. Quem me conhece, sabe que tenho descendência japonesa, e me orgulho muito disso. Uma cultura secular onde para cada gesto existe um significado e para cada significado existe uma razão. E nesta premissa, apresento-lhes um conceito chamado mottainai. Como Hideaki Iijima (empresário do Soho Hair International) diz: “Certas palavras japonesas não têm tradução em português. Por mais que nos esforcemos, o máximo que conseguimos
é fazer comparações, dando um sentido a elas. Mottainai é uma dessas palavras sem tradução, mas com profundo significado. Tudo o que poderia ser poupado ou preservado - e por qualquer razão deixa de ser - é mottainai. Embora se pareça com “desperdício”, mottainai é, na verdade, um modo de vida, uma atitude consciente de cuidado com tudo que nos cerca.” (mottainai.org.br) Numa tentativa livre, pode-se dizer que o termo mottainai é a junção de duas idéias: mottai, originária do budismo, que se refere ao sagrado das entidade materiais, além de sugerir a complementaridade de um objeto com outro (nada existe isoladamente); e nai, uma forma negativa da japonesa. Literalmente, mottainai pode ser compreendido como “faltar com dignidade com os objetos”, ou seja, parte do princípio que uma pessoa, para ter algo, precisa aproveitá-lo ao máximo, caso contrário, ela não deve ter o direito ético sobre o mesmo.
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Este conceito tornou-se um representante da forma como devemos tratar o mundo. O termo ganhou força quando a ambientalista vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2004, Profª. Wangari Maathai, que interpreta o conceito de mottainai como o mesmo significado dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar), defende a ideia de que estamos apenas emprestando os recursos das gerações futuras. Portanto, é responsabilidade das gerações presentes assegurar às que virão o direito de aproveitá-los igualmente. O enraizamento de uma idéia como essa é de fundamental importância na forma como lidaremos com o mundo posteriormente. Tomando-as como base para qualquer tipo de projeto (e negócio), será garantido, no mínimo, soluções reais de problemas. Como o próprio Gui Bonsiepe dissera “é muito difícil corrigir este processo (obsolescência e descarte de produtos), sem falar em mudança
da situação...”, entretanto, se nada fizermos, tudo se manterá. A Reflexão sobre a atual lógica e a expansão da crítica, são ferramentas que devem ser utilizadas para ferir a forma como as coisas estão sendo encaminhadas. Adotar uma postura a partir de valores como esses, são o cerne de potenciais mudanças. Felizmente, umas séries de situações modificaram a forma de pensar nas últimas duas décadas. Uma delas vem acontecendo ao longo dos últimos 3 anos. Nos moldes de revolução silenciosa, mas muito poderosa, de colaboração dentro do ciclo consumista. Estamos reaprendendo a criar valor a partir de recursos compartilhados e abertos de maneira que equilibrem nossos interesses próprios com o bem da comunidade maior. Rompendo-se conceitos tão difundidos no século XX como descartabilidade, hiperconsumo, propriedade privada e individualidade, por cooperação, divisão, confiança e compartilhamento.
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Percebe-se que a máxima de Theodore Levitt “As pessoas não compram produtos. Elas compram soluções para problemas” (ROGERS, R ; BOTSMAN, R, 2010) irá traduzir essa mudança de paradigmas. Obviamente, essa tendência não abocanha todas as áreas já que existe uma relação entre o valor agregado de um determinado produto com o quantidade de tempo que o mesmo fica ocioso. Mas junto com outras idéias, ela torna-se invariavelmente necessária. 150
O consumo colaborativo promove uma série de oportunidades já que choca com o sistema industrial pautado na obsolescência e no descarte. Todas estas transformações exigirão uma integração de diferentes disciplinas a fim de criarem um ecossistema que consiga suprir tantas necessidades de uma única vez. O designer possui diversas qualidades que podem ser fundamentais neste contexto. Infelizmente, no Brasil existe uma série de barreiras (como modelo educacional atrasado
pautado na indústria e no tecnicismo; visão rudimentar dos conceitos de design mesclado pela ausência de debates e reflexões; percepção popular equivocada sobre design) que acabam limitando o campo de atuação deste profissional. Numa afirmação particular, digo que o designer, caso seja vista como um agente inovador pensante e atuante, será uma das profissões que farão diferença na sociedade devido à seu claro foco nas pessoas. Rever alguns conceitos sobre atuação é necessário, haja visto o momento crucial que estamos vivendo. O relógio do holocausto está prestes a dar meia noite, não é a hora de nos isentarmos de responsabilidades. Como o próprio Gui Bonsiepe disse: “nossa profissão não é mais vanguarda, culturalmente ficamos na retaguarda, comparando com outras manifestações artísticas e científicas”; e justamente por isso devemos estar atentos as diversas transformações que podem nos influenciar direta e indiretamente.
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Outros conceitos, como servicificação do modelo de produção industrial e ciclo fechado do produto, são algumas das idéias que os designers tem total capacidade para assumir. Adotar a filosofia Mottainai,é um jeito de conseguir alcançar a harmonia dentre todas questões ao se falar em sustentabilidade em seu mais amplo significado.
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O designer, no seguinte contexto, não pode se dar ao luxo de ficar à espera de reconhecimento. Talvez o tempo para isso já tenha passado. Utilizar esta proatividade para focar em situações que envolvam o mesmo comprometimento e adotar uma postura menos segregacionista em relação a outras áreas, seja a chave para grandes realizações.
autor Felipe Massami é designer por paixão, empreendedor por vocação e artista por hobby.
referências McDONOUGH, W; BRAUNGART, M; Cradle to Cradle North Point Press ROGERS, R ; BOTSMAN, R. O que é meu é seu: Como o Consumo Colaborativo Vai Mudar o Nosso Mundo, Editora Bookman HAWKEN, P; LOVINS, A.; LOVINS L. H Capitalismo Natural: Criando a Próxima Revolução Industrial, Cultrix Amana Key MAKOVER, J. Economia Verde: Descubra as Oportunidades e os Desafios de uma Nova era dos Negócios, Editora Gente http://www.ideiasustentavel.com.br http://www.mottainai.org.br/ http://en.wikipedia.org http://colunas.cbn.globoradio.globo.com http://www.ecodesenvolvimento.org.br/ < Retornar ao índice
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foto: Danilo Hideki
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Em breve, mais um grande entrevistado!
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Steve Jobs 1955 - 2011
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Chris Thornley 161
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