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O gordo vai à baliza!
Quantas vezes não ouvimos nós esta expressão, e até mesmo a vivenciámos?! Diversas vezes diria eu, e arrisco dizer que provavelmente terá sido assim que surgiu o “futebol de rua”, que se viveu imensas vezes nos recreios da escola ou nas ruas e bairros de Portugal e no mundo, onde as balizas eram delimitadas por pedras da calçada com os famosos 3 passos que representavam os 3 metros de largura e a altura eram mais ou menos 2 metros que criava discussões entre quem atacava e defendia. Quem atacava os 2 metros iriam até 2 metros e meio e pra quem defendia, 1 metro e meio chegava para a bola sair por cima da “barra”. Muita coisa mudou, e ainda bem que mudou. Apesar de sentir muitas saudades de ver os “jogos de rua” onde se encontraram jogadores inigualáveis, e os torneios/maratonas de verão terem quase desaparecido, penso que o Futsal em Portugal está no caminho certo. Os clubes têm feito autênticos milagres para o desenvolvimento da modalidade, atletas e treinadores. Também a Federação Portuguesa de Futebol tem tido um papel fundamental para atingirmos o patamar onde o futsal português se encontra atualmente. Até há bem pouco tempo seria impensável ser-se bicampeão Europeu, Campeão do Mundo e campeão da Finalíssima, e todas estas conquistas deram ainda mais visibilidade ao excelente trabalho que tem sido feito por todos, federação e clubes. Se tudo é perfeito? Claro que não, existe ainda um longo caminho e muita coisa pra melhorar, mas acredito que estão todos, conscientes disso mesmo.
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A celebre expressão com que iniciei este texto – “O gordo vai á baliza!” – é algo que atualmente já não se enquadra à realidade em que estamos. O “gordo” já não tem espaço no futsal de hoje, todo o treinador elege o guarda-redes como um jogador fundamental na sua equipa. Hoje é unânime, que o mesmo é no mínimo 50% da equipa.
Um bom guarda-redes decide jogos e campeonatos, dá vitórias importantes. Considero importantíssimo ter pelo menos dois bons guarda-redes num plantel, e um terceiro para dar o equilíbrio, e que é tão ou mais importante que os outros dois.
Com esta importância que se dá à posição, mudaram-se mentalidades e isso reflete-se com a procura do treinador de guarda-redes, e por consequente a importância do treino específico. Hoje o treinador de guarda-redes ganhou o seu espaço, e existem estruturas que abdicam de ter um jogador a mais para ter o Treinador de guarda-redes. A este nível Já não chega “a pessoa que se encarregava de aquecer os guarda-redes com uns remates dos 6 metros”, muitos deles até, mais interessados em marcar os seus golos ao ângulo superior do que propriamente na evolução dos atletas.
As pessoas evoluíram, e as plataformas digitais tornaram-se mais ou menos valias, dependente de quem e de como são usadas. O YouTube veio “ajudar” a preparar treinos, mas é importante ter-se a noção do contexto para o qual se está inserido, pois de que serve ter um exercício idealizado para uma equipa do campeonato nacional ou uma seleção, se o formos aplicar por exemplo em juvenis de uma equipa de distrital? Serve para uma mão cheia de nada, diria eu, serve em muitos casos para frustrar os guarda-redes, para mostrar ao treinador principal que sabe fazer treinos magníficos, e para alimentar egos, mas no final serve muito pouco, e isso refletir-se-á no final de semana de trabalho, quando não temos os resultados que desejamos.
Cada vez mais temos de pensar no treino com o que queremos dos guarda-redes, adequando o mesmo às características dos nossos guarda-redes e com o que queremos dos mesmos, no modelo de jogo do clube/treinador. É importante pensar e executar exercícios conforme as características dos adversários que iremos defrontar no próximo jogo. São inúmeros os fatores que temos de ter em conta para um melhor desempenho dos nossos no fim de semana seguinte, e que fazem do treinador de guarda-redes uma peça fundamental para que os atletas consigam chegar ao patamar onde “os guarda-redes são pelo menos 50% da equipa”.
Infelizmente só há bem pouco tempo se começou a dar algum valor ao treinador de guarda-redes, e embora Portugal tenha valores muito interessantes, e um futuro a meu ver promissor, durante anos tivemos bons guardaredes que, ou por qualidade natural, ou por terem passado pelo Futebol, apresentavam desempenhos de elevada qualidade, mas que tecnicamente não estavam tão preparados, como atletas que tiveram formação mais capaz na área, oriundos de outros países, e era nas decisões que tal se refletia, pois cometiam mais erros que os outros. Felizmente estamos numa mudança constante, e os fundamentos técnicos estão a ser passados cada vez mais cedo, e afirmo que, com todo este desenvolvimento, o futuro nas balizas nacionais está assegurado por muitos anos. Para concluir, deixar a mensagem que o papel do treinador de guarda-redes de Futsal, na minha opinião, é trabalhar cinco ferramentas: Técnica, Tática, Física, Psicológica e Comunicação; durante a semana, para que o guarda-redes no jogo tenha a melhor tomada de decisão possível! Se o guarda-redes no jogo falhar, a responsabilidade é do trabalho semanal do Treinador de guarda-redes.
Gostaria ainda de terminar, deixando um apelo aos treinadores principais, dirigentes e clubes, sobre a importância do treino específico, e do papel do mesmo, 10/20 minutos de treino específico de treino de guarda-redes por unidade de treino, NÃO CHEGA, para se obter bons resultados no final de cada semana de trabalho. Mudem mentalidades e sejam ambiciosos, contratem treinadores de guarda-redes de qualidade e deixem-nos trabalhar para poder exigir evolução aos vossos atletas.
Como digo sempre, nunca serão os PORMENORES que definem um bom guarda-redes, mas sim os PORMAIORES.
Prof. Carlos Martins
Personal Trainer