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DESIGN AUTORAL
DESTAQUE DÉCOR autoral D E S I G N
Esse é o espaço de valorização do traço autoral determinante para a criação de produtos autênticos e repletos de significados. Reunimos nessa edição peças de designers talentosos do mundo.
O formato de folha e design curvo inspirado na natureza transformam a cadeira Ottawa criada por Karim Rashid numa peça exclusiva de design em mobiliário que permite descobertas. As pernas que remetem aos galhos das árvores, trazendo anatomia, e assento em linhas finas e sem estofo, reforçam o estilo minimalista dessa peça. Versátil a Ottawa pode ser usada como cadeira de jantar, de escritório ou até mesmo como elemento decorativo. Rashid é um dos designers mais criativos da geração, desenvolvendo mobiliário e acessórios do segmento de luxo e, entre as características principais alia movimento, conforto e minimalismo. O designer denomina as peças como ‘minimalismo sensual’. A linha Ottawa, composta por um conjunto completo de jantar, já conquistou um Red Dot Award.
Analíticos da realidade e do ambiente. Observadores, Pablo D´Angelo, Nicolás Nobila, Santiago Romero e Sebastián Granotich pensam no cotidiano como um universo inexplorado cheio de oportunidades, resgatando conceitos do cotidiano que dão personalidade aos produtos e despertam emoções. O quarteto do Estúdio Elemento do Uruguai revela uma poesia oculta nos objetos. Uma possibilidade criativa que determinou o processo de desenvolvimento da cadeira Spot para a Muma. Pablo, Nicolás, Santiago e Sebastián Granotich criaram uma cadeira com estrutura em aço carbono e mais de 50 possbilidades para revestimento do estofado, entre linhos, eco leather, veludo e algodão. A cadeira Spot é composta por madeira proveniente de reflorestamento, para evitar o desperdício de recursos, matéria-prima e produzir menos lixo. Uma peça simples na fabricação, mas com um apelo estético complexo.
Patrick Afornali apresenta nas peças um convite para a reflexão. Biólogo por formação e designer de produtos por convicção, o artesão tem um processo de criação baseado em linhas, contornos e movimentos da natureza. As criações contam histórias sobre coexistência saudável entre homem e o ambiente. O estúdio é uma referência de design tátil e biomimética, ciência que observa fenômenos e processos da natureza para buscar soluções para o cotidiano das pessoas. Desde 2015, atua como designer de mobiliário e desenvolvedor de produtos com ênfase em funcionalidade. A colaboração do Estúdio Patrick Afornali com a Muma inclui sete peças, como o Bancos Tuiuiú, Centros de Mesa Pradaria, Vasos Carbono e Carboneto e o Vaso Quebra-Nozes. “São aspas em meio a um poema. Acreditamos na construção de itens que contam histórias e que traduzem o que vemos nas interações entre as pessoas e o meio”, diz Patrick Afornali. O designer é um exemplo da interação entre homem e meio. Filho de um marceneiro, cresceu entre produtos de madeira e aprendeu a admirar a personalidade das peças.
DESTAQUE DÉCOR Uma misteriosa aventura
A TRAJETÓRIA PESSOAL E ARTÍSTICA DE VAN PAZ É CONEXÃO NUMA ROTA REPLETA DE ENIGMAS E HISTÓRIAS. TODOS OS DIAS A ARTISTA PLÁSTICA CATARINENSE FAZ DESCOBERTAS SOBRE A PRÓPRIA ESSÊNCIA, A ARTE E A VIDA.
O sentido da vida e um curioso olhar para todos os sinais despertam as paixões e revelam os caminhos a trilhar. A força e a coragem dos pais são a base de Vanessa Paz que define arte como corpo, mente e espírito em cores e formas. A inspiração em Frida Kahlo, Van Gohg e Baskiat traduz essa essência do processo criativo da artista plástica de Guabiruba que conquistou o mundo com obras com personalidade. Um percurso marcado por histórias que trazem fascínio e referências que são expressas em traços.
A representação além da arte, a verdade na dor e no amor conduzem a maneira de criar de Van. “Frida para mim representa o corpo, ela pintou a dor a luta e a cura. Duas obras me trazem muito pro corpo, para a carne. Já Van Gogh representa o espírito, a loucura, o divino, as frequências. Ele pintava Deus de uma forma informal, ele sabia como elevar seus quadros a um olhar divino. Baskiat é a mente, a criança, a expressão do presente pelos olhos e inocência de uma criança”, explica a artista. O traço incomum e a identidade no processo criativo traduzem o sentido da arte e conduzem Van para transformar o talento em obras de elementos lúdicos e místicos.
A paixão pela arte surgiu a partir do designer, profissão de Van. Aos 19 anos esse começo na área já trazia indícios de que nada seria por acaso na vida da artista plástica. “Há 10 aos eu trabalhava em uma loja na minha cidade Guabiruba, mas amava desenhar. Era meu hobby e desenhava rostos, animais, artistas, croquis de roupa. Um dia uma amiga que trabalhava comigo, a Simone viu meus desenhos e mostrou para o marido, o Robson, que dava curso de Photoshop”, conta Van. Uma coincidência que mudaria os rumos da artista plástica que fez o curso e amava as colagens dos desenhos com coisas aleatórias. Van considerava uma brincadeira e sem nenhuma experiência recebeu uma indicação do Robson para ser diretora de arte numa marca de roupas e fazer as estampas. A artista plástica substituiu uma diretora de arte que estava há 12 anos na empresa e até hoje mantém a surpresa por ter conseguido este emprego. Na sequência entrou na faculdade com apoio da empresa de moda e logo depois migrou para publicidade. “O Robson que fez esse intermédio foi uma das pessoas que acreditavam no meu potencial. Ele me abriu os olhos para que era possível trabalhar com o que se ama e foi por isso que fiz designer gráfico”, conta Van. É assim que começa a carreira da artista plástica reconhecida pela sensibilidade em expressar histórias, vivências e sentimentos.
A transição de carreira aconteceu num momento improvável em que o mundo parou e ressignificou o sentido da existência. Em 2020 a arte, hobby de criança, tomou uma proporção para transformar o talento em carreira. O ponto decisor estava na Galeria Cosmos em Balneário Camboriú. “Virou uma chave que a arte na minha vida merecia mais atenção e dedicação, não poderia perder as oportunidades que estavam se abrindo nesse caminho. E decidi viver a minha arte”, revela Van. Neste momento surgia a artista plástica na essência e começaram os experimentos para entender até que ponto a mente poderia criar a partir dela mesma. No ano marcado por uma pandemia, Van iniciou a pintura com óleo. Uma técnica que exige paciência porque a tinta demora muito mais a secar e as obras podem durar meses. É neste começo de carreira que Van também alcançou expressividade Internacional. A artista vai expor no Salão Internacional de Arte Contemporânea Le Carrousel du Louvre, no Museu do Louvre, em Paris, em abril de 2022. “Tem um significado genuíno de que tudo é possível, alimentado por uma criança sonhadora. É uma parte da minha história que com certeza foi uma virada de chave para mim como artista. Em abril nos dias 8, 9 e 10 eu vou poder dar o check no “expor em Paris” da lista de sonhos clássicos de artista (risos)”, declara a artista que gosta de ir descobrindo a vida e criando memórias um dia de cada vez.
A jornada internacional faz parte dos planos do futuro desde criança, independente da carreira. Os sonhos são um processo que integram a ideia de uma direção, mas não necessariamente o planejamento do futuro. A artista gosta de viver intensamente as oportunidades que considera que nunca são por acaso, mas reflexos de uma trajetória. A identificação com o movimento do neoxpressionismo alemão com telas que contam um enredo, personagens, histórias reais talvez explica essa mente inquieta. “Traumas e a própria mente ganham uma vida diferente nesse tipo de expressão, e depois surgiu o Bad painting em NY com esse mesmo propósito e as pinturas viraram como se uma impressão codificada da mente do artista”, destaca Van. É a transformação que a tela passa durante o processo que reflete na alma da Van que vai se transformando junto com aquela pintura.
vanpaz.art colab55.com/@vanpazrt
Flores para encantar o mundo Ju Hames transcende o decorativo. Sabe da força de cura da natureza e aplica todo esse sentimento, beleza e devoção no seu fazer (Crédito: Acervo JH)
A ARTISTA FLORAL JULIANA HAMES CRIA EM CONEXÃO COM A NATUREZA, DE PEQUENOS JARDINS PARA SEGURAR NAS MÃOS A CENOGRAFIAS SIMULACROS PARA VIVER DE CORPO E ALMA
Das expedições na Mata Atlântica ainda pequena, Juliana Hames aprendeu com a mãe Miriam a admirar a natureza. Até que um certo dia, uma cobra atravessou o caminho da família. De ali em diante o pai Leo, conhecido em Floripa por comandar o ponto do Cachorro Quente do Afonso, incentivou a esposa a não correr mais riscos e investir numa floricultura para suprir a alegria de estar cercada pela beleza das flores. E assim começou a história.
“Minha mãe sempre gostou muito de planta, era integrante da associação de orquidário catarinense, colecionava orquídeas e bromélias. A gente vivia nesse mundo. Quando eu tinha 12 anos a floricultura foi inaugurada, depois de dois o endereço mudou para a Praça da Avenida Hercílio Luz, onde funciona até hoje. Minha mãe começou a participar de feiras em São Paulo, cursos, entender a área. Quando percebi já estava vivendo tudo isso com encanto”, recorda a artista.
De uma carona com o distribuidor de flores a cursos para fazer arranjos. Juliana iniciou cedo a jornada profissional. Antes de alcançar a maioridade, estudou com uma professora holandesa residente da capital paulista que tinha acabado de desembarcar no Brasil em 1990. Foi com ela que aprendeu a diferença entre ser florista e uma artista floral. “A arte floral está ligada à linha artística, arquitetônica e histórica. O desenhador é considerado um artista, ele trabalha com os conceitos de arte, de harmonia de cores, proporções, textura, estudo de estilos. No Brasil o trabalho começou a ser compreendido recentemente. A pandemia ajudou a intensificar a relação das pessoas com a natureza, que passaram a curtir os ciclos de florescimento, a
Na arte floral cada trabalho é único, é criação fora da escala industrial. (Crédito: Acervo JH)
se dedicar a algo que sempre quiseram: cuidar das plantas. O consumo no segmento aumentou 30% nesse período”, comenta. O setor de eventos, especialmente de casamento, sentiu o impacto durante o confinamento, mas conseguiu se adaptar pulando para o varejo.
Com Juliana não foi diferente. Mesmo com um currículo impressionante, com mais de três décadas de conhecimento e experiência rodados. Temporadas de estudo na Europa, prêmios conquistados, inclusive em 2016 representando o Brasil na Copa das Américas, realizada no Canadá, na qual levou ouro. A etapa mundial está nos planos ainda, ela não descartou.
Aos 23 anos deu à luz a Sara, entre uma mamada e outra, tocou a carreira em ascensão. Não demorou para colocar o “pé na estrada” de Norte a Sul promovendo cursos, consultorias e decorando celebrações de vida. Assumiu as rédeas dos dias, se libertou para amadurecer, o que implicou na saída da floricultura. A mala vivia pronta e eram raros os dias que ficava em Floripa. Até a pandemia (re)aproximar mãe e filha, nos afetos e negócios.
“Voei! Fiz cursos, decoração de festas. Montei minha empresa, contratei equipe. A maioria das festas eu fazia com os melhores decoradores da cidade. Percebi uma oportunidade de negócio, me joguei. Adquiri conhecimento que ninguém na época tinha, acabei sendo de certa forma precursora da arte floral por aqui “, conta.
ATELIÊ PRÓPRIO
Ano 2020. Tudo fechado na cidade. As incertezas pairavam sobre todos. Que tempo difícil, ainda é. Só que hoje o impacto amorteceu um pouco a perspectiva de realidade, abalada de novo com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Juliana lembra da cena do insight. No volante do carro, levava uma encomenda ao cliente. Precisava se movimentar financeiramente. No trajeto percorrendo a Avenida Hercílio Luz avistou a floricultura Ponto Verde, pertencente à mãe, fechada. Não pensou duas vezes. Propôs: vamos abrir? A partir daí a parceria reativou.
Nesta atual configuração, Miriam Hames cuida e hidrata as plantas diariamente e atende clientes. A artista administra a nova fase, marcada pela mudança do nome para Ateliê Juliana Hames, e se mantém na lida criativa. Disso não abre mão! Divide-se entre os pontos da praça e do Armazém Rita Maria, recém-aberto na capital catarinense.”A arte está ligada ao ateliê, que é um lugar de experimentação, de criação. A arte floral não está fechada numa caixa, num protótipo, tem que estar o tempo todo em movimento para a ideia evoluir. Quando eu faço uma composição de flores imagino um quadro em branco, e ali eu vou colocando as minhas cores que são as flores. É como se fosse um quadro em 3D, aplicamos a parte técnica, as experiências vividas”, defende.
Semanalmente chegam aos dois endereços de 10 a 15 espécies de flores naturais, verdes e flores secas. Nessa fartura, Juliana se esbalda. Ama fazer ramalhetes autorais, um diferente do outro. As andanças pela mata despertaram um apreço especial por tudo que é vivo. Então, ela não desperdiça cascas, folhas, galhos caídos e colhidos pelo atalho. Pelo contrário, faz disso bandeira permanente para defender a natureza e sua rica diversidade ainda pouco conhecida.
De caixas ornamentais, velas autorais, sabonetes medicinais, buquês/esculturas a cenografias emocionantes. Tudo passa pelas mãos, pela ponta dos dedos e pelo calor do coração. O artesanato local está presente e tem tudo a ver com a essência do ateliê, onde a artista se expressa, emociona, cria e partilha um mundo de beleza, natureza e cura.
O Ateliê Juliana Hames fica no novo ARmazém Rita Maria e também na Praça Hercílio Luz(Crédito: Acervo JH)
O QUE A ARTE SIGNIFICA PARA VOCÊ?
O QUE NASCEU COMO “VAMOS COMPRAR TELAS PARA A NOSSA CASA”, VIROU UMA PAIXÃO. A ADMIRAÇÃO PELAS OBRAS DE ARTE É TRANSFORMADA EM NEGÓCIO E É ASSIM QUE SURGE A GALERIA CATARINENSE.
Ele, ama os nus do brilhante Martinho de Haro e as araucárias de Maliverni Filho. Ela, tem paixão pelas pinceladas divertidas do mestre Juarez Machado, e da perfeição dos traços de Walmor Corrêa e Sônia Menna Barreto. Uma paixão que transformou o acervo em negócio. Até parece enredo de história literária, mas este é o conceito que define o anseio de dividir obras raras com o público.
O encanto do casal Cinthia Canziani e Luis Felipe por obras raras originou uma coleção de mais de trezentas telas pesquisadas em incontáveis noites e viagens. As paredes de casa pequenas para tantos tesouros trouxeram uma indagação: Por que não dividir com as pessoas obras raras e fazer disso um negócio?
A resposta dá origem ao surgimento da Galeria Catarinense, que ocupa um espaço que estava vazio, no mundo das artes em Blumenau. A cidade ficou conhecida na década de 1970 pela inovação e irreverência das movimentações artísticas da famosa Galeria Açu-Açu , dos artistas Elke Hering e Lindolf Bell, primeira do estado de
Santa Catarina. O fechamento da galeria no ano de 1998 criou uma lacuna com intervalos preenchidos por iniciativas que operaram por tempos específicos. Neste contexto a vontade de levar arte às pessoas e servir como um ponto de referência para profissionais da arquitetura e clientes finais, a Galeria Catarinense abriu as portas no fim de novembro de 2021, com uma curadoria minuciosa dos proprietários e com a consultoria do Marchand Antônio Fasanaro.
Os artistas do estado e de renome nacional preenchem as paredes do espaço, que tem projeto assinado pelo escritório Osa arquitetos. A dificuldade de definir as obras que seriam comercializas e aquelas que ficariam no acervo particular, guardadas a sete chaves, trouxe um desafio. “Sim, apaixonados por arte tem disso: apego e amor por uma determinada tela. A obra que nos escolhe. E não o contrário”, contam Cinthia e Felipe. Por isso, obras especiais continuam nas paredes de casa do casal e não estão à venda na Galeria.
A relação de amor com as obras ultrapassa as barreiras do acervo particular e também na galeria estão telas que despertam a paixão do casal. “Tenho a sensação que vender alguma obra, às vezes, é como romper com alguém com que convivemos. É doloroso”, brinca Cinthia. “Os amantes de arte, viajam horas para ver uma obra e pagam o quanto valem. Não discutem preço, porque sabem o valor. Há quem esteja começando nesta caminhada, e prefira investir menos , mas não abre mão de ter um quadro de determinado artista. É um mercado diferente, específico e por isso, tão fascinante “, ressalta Luis Felipe. É um sentimento que traduz essa conexão com a arte e traz momentos memoráveis como a sensação de Cinthia entre a alegria e o aperto no coração ao ver uma obra catalogada e premiado de Eli Heil indo embora para colorir o lar de um colecionador.
Biofilia
CULTIVAR PLANTAS TRANSFORMA A ROTINA E CONTRIBUI PARA UMA VIDA MAIS SAUDÁVEL. A NATUREZA RESSIGNIFICA O USO DE ESPÉCIES VERSÁTEIS E AUTÊNTICAS NUMA COMBINAÇÃO PERFEITA COM O BEM-ESTAR.
Estudos e pesquisas mostram que o contato com as plantas e a natureza aumenta o bem-estar, diminui o estresse, pode acelerar a recuperação de doentes, além de outros inúmeros benefícios. Na Suécia e nos Estados Unidos, estudos indicam que doentes que enxergam das suas janelas a rua com vegetação, tomam menos remédios para dor e tem melhor noção do tempo. Há uma necessidade biológica do ser humano de ter a vegetação por perto, está no DNA, porque o ser humano desde antes de ser Homo sapiens vive no meio da natureza e depende dela para sobreviver.
A engenheira agrônoma e paisagista Helena Wachsmann Schanzer – Mestre em Conforto Ambiental - NORIE/ Núcleo Orientado para Inovação na Edificação/ UFRGS – Porto Alegre e parceira da Tramontina destaca que o contato do ser humano com a natureza e as plantas têm a capacidade de aliviar o estresse, aumentar o poder de concentração e humanizar as cidades. Além destes aspectos de bem-estar mental, a presença das plantas influencia nos aspectos de conforto ambiental tais como temperatura, oxigenação do ar, ventos, umidade, retenção da poeira.
O verde e a natureza fazem parte da essência do ser humano? Qual a importância dessa relação para a qualidade de vida?
O ser humano vive no complexo ambiente natural desde dois a três milhões de anos atrás e apenas uma pequena fração deste tempo vivendo nas cidades. Assim sendo, geneticamente estamos mais adaptados à natureza do que ao ambiente construído, como as cidades. O ser humano precisa se conectar com a natureza e as plantas para aliviar o estresse, relaxar e sentir bem-estar mental.
A vida urbana determinou perder um pouco o contato com a natureza. Como reagir e levar verde para dentro de casa?
Para restabelecermos o contato com a natureza e as plantas, é importante frequentarmos áreas verdes como parques e jardins. Desta forma nos beneficiamos do bem-estar mental que a vegetação proporciona, além do ar oxigenado e do frescor que as árvores emanam. Estudos demonstraram que pessoas que moram perto de parques, praticam mais exercícios do que aquelas que moram em locais com poucas áreas verdes. Ter plantas em casa é muito saudável. Além do aspecto estético das plantas, elas purificam o ar, são excelentes condicionadores térmicos naturais e humanizam o ambiente proporcionando bem-estar psicológico.
Estudos indicam que interagir com plantas e vegetais também tem efeito terapêutico, e pode ajudar a lidar com a ansiedade. Quais são as espécies de plantas mais recomendadas para cada espaço e situação?
Plantas, assim como gente, nascem, crescem, morrem. Lidar com um ser vivo em evolução, regando e , produz bem-estar e aumenta a percepção da realidade. Esta relação também está ligada ao contato com a luz do dia, que influencia na produção de hormônios no organismo e absorção de vitaminas. A conexão com a natureza e as plantas proporcionam sensação de relaxamento e aumentam o poder de concentração, influindo desta forma no controle da ansiedade. Se você quer se conectar com as plantas em casa, avalie o espaço disponível com sol direto ou com boa luminosidade natural. As espécies de plantas a serem escolhidas dependerão destas condições. Se o espaço disponível for grande e ensolarado, é possível cultivar árvores, frutíferas, palmeiras, temperos, flores. Se o ambiente tiver boa luminosidade natural, mas não pegar sol direto, existem espécies adequadas conhecidas como plantas de meia-sombra ou de interior. Por exemplo: Costela-de-adão, filodendros, samambaias, avencas, begônias e outras espécies.
Qual o papel das plantas na construção e desenvolvimento de uma residência?
As árvores são o melhor condicionador térmico que existe. Elas têm a capacidade de melhorar muito a temperatura ao seu redor. Por exemplo, em um dia com temperatura na rua de 31 graus, estudos mostram que embaixo da copa de uma árvore, a medição indicou 32 graus, enquanto junto ao asfalto, a temperatura foi 50 graus. São 20 graus Celsius de diferença. Isto demonstra como as árvores influenciam na temperatura de uma residência, podendo contribuir para a melhoria do conforto térmico a fim de otimizar o uso do ar-condicionado. As plantas influenciam diretamente na humanização da obra e no bem-estar mental dos usuários da residência. Outro aspecto refere-se à permeabilidade do solo, pois quando temos áreas verdes, contribuímos para o escoamento da água da chuva e absorção no solo. O planejamento paisagístico no que se refere à vegetação é fundamental para preservar as plantas existentes no local e posicionar corretamente as espécies vegetais propostas, atrair a avifauna e explorar o potencial de cada planta e dos recantos do jardim.
Quais as plantas e elementos são mais indicados para cultivar em casa? Quais são as diferenças de cuidados em cada estação do ano?
São inúmeras as opções de plantas existentes para cultivar em casa. A escolha das plantas dependerá da condição de luz natural e do espaço disponível. Existem plantas que adoram o sol forte e outras que apreciam a luminosidade natural, mas não o sol direto nas folhas. Em pequenos espaços se pode cultivar temperos, hortaliças, orquídeas e, se a pessoa tiver espaço, árvores e palmeiras. Cada estação do ano exige cuidados específicos que variam conforme a espécie de planta.
Plantas melhoram na retenção da memória e na concentração. Qual a importância da natureza no bemestar da população?
Estudos demonstram que o contato com as plantas e a natureza aumentam o poder de concentração e melhoram a sensação de fadiga mental causada pelo estresse. A natureza é fundamental no bem-estar da população porque quando as pessoas frequentam parques e áreas verdes, tendem a ser mais saudáveis e praticar mais exercícios ao ar livre. A pandemia trouxe uma nova percepção da importância das áreas verdes e arejadas para a saúde e qualidade de vida.
Além de uma boa distração, ter plantas é uma ótima forma de decoração. Quais são os desafios de incluir as plantas nos ambientes internos?
Não gosto de tratar as plantas com esta abordagem de decoração porque são seres vivos e precisam de cuidado diário, da mesma forma que os animais domésticos. Lidar com as plantas é uma ótima terapia, nos conecta com a natureza, seus ciclos e sua sabedoria. O desafio de incluir plantas no ambiente interno está na luminosidade e na ventilação natural do local. Sempre se deve escolher locais próximos de aberturas e janelas com luz natural, desta forma garantimos que a planta consiga se desenvolver. Considero também outro desafio: a facilidade de fornecer água para as plantas. Deve-se planejar a rega das plantas porque é uma atividade diária, então deve ser prático (automatizar ou ser próximo de torneira).
A natureza tem a capacidade de fortalecer e renovar a energia vital. Quais os efeitos terapêuticos das plantas?
As plantas têm efeitos terapêuticos de diversos modos: ao cuidar das plantas diariamente observando-as e acompanhando seus ciclos vitais, nos conectamos com outra dimensão da realidade e com os ciclos naturais, como se fosse uma forma de meditação. As plantas podem ser usadas na forma de chás e infusões, sendo que cada espécie tem seu princípio ativo específico, ativando sensações de relaxamento, ânimo, analgesia, entre outros. Outro efeito terapêutico das plantas refere-se aos perfumes e aromas, a aromaterapia.