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Branca de Medo

Branca de MedoBranca de Medo Felipe CamarAzevedo

Acaveira correu até o fim da rua. Não passava de 3 horas da manhã e ela já tinha os ossos moídos. Deixou-se cair ao lado do latão de lixo, onde ratazanas faziam barulhos terríveis. Estariam acasalando, pensou ela. Lembrou-se quase instantâneamente, com toda saudade que lhe cabia, do membro que já não mais carregava. Após uma breve pausa pôs-se de pé — não era bom ficar parada, dando sopa. O vento reverberou em seu crânio cheio de pavor, tentava escapar desde o pôr do sol. Olhou entre as frestas do muro antes de atravessar o beco, olhou para os lados antes de atravessar a rua e deslizou tão silenciosamente quanto podia seu esqueleto seco pela cidade. Faltavam ainda duas quadras. Ouviu passos rápidos e não pode conter os nervos que não tinha: teria soltado um grito se lhe sobrasse algum vestígio que fosse de cordas vocais. Saiu correndo, nem olhou para o mendigo bêbado que, do outro lado da avenida, prometia aos céus nunca mais ingerir uma única gota de álcool que fosse. Quando parecia seguro acalmou-se. Mais uma quadra agora, pensou. Enxergou as cruzes mais altas do cemitério, do túmulo das famílias mais abastadas. Pensou na besteira daquilo, pensou no frio do mármore, pensou na vida e na morte.

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Distraída não percebeu atrás de si o rotweiller do qual estava fugindo.

Felipe CamarAzevedo: é um escritor medíocre, que não sabe diferir muito bem terror de humor. Nascido no Amapá, mora atualmente em Curitiba, onde passa o tempo se misturando aos homens, e se revoltando com eles. Contato com o autor: camarazevedo@gmail.com.

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