Boletim Água Quente - Número 6

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boletim

Informativo do Projeto Água Quente Número 6 São Carlos, fevereiro de 2008

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Água Quente

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Editorial

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Comunicados

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HIP HOP

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Centro de Cultura Afro-Brasileiro Odette dos Santos

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Aquecedor solar de baixo custo

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Baobá

8e9

Plantios

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Sexualidade na adolescência

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Centro da Juventude

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Encontro de Grupos

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Seção Deriggi

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Rádios comunitárias

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Divirta-se!

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Fala-povo!

Mutirão para o plantio de 2 mil mudas

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O Projeto Água Quente em parceria com o Projeto Brotar reuniu em novembro de 2007, aproximadamente 150 pessoas, entre moradoMutirantes trabalham no plantio res e convidados, em um mutirão para o plantio de duas mil mudas na antiga área do motocross. Em 2008, os projetos continuarão em parceria para novas ações na área. (Pág. 08)

Encontro de Grupos fortalece Projeto! O primeiro Encontro de Grupos da Região do Córrego Água Quente, realizado após a reedição Participantes discutem idéias e propostas do projeto, teve como principais objetivos ampliar e fortalecer os canais de diálogo com os grupos já integrados ao projeto, trabalhando uma série de questões relacionadas com a situação atual da Bacia e estimulando a discussão coletiva sobre questões sócio-ambientais. As atividades propostas integraram os participantes, deixando com que cada um contribuísse com suas experiências como morador da Bacia. Com este encontro, fortaleceram-se idéias e propostas para serem discutidas no próximo, que pretende reunir ainda mais grupos e parceiros. (Pág. 12)


Boletim Água Quente no 6

Editorial

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ste é o sexto Boletim Comunitário Água Quente. Devido a alguns imprevistos, ele saiu com um mês de atraso em relação ao programado. No período entre a última edição, em setembro de 2007 e essa, houve uma reestruturação na equipe de trabalho que é responsável pela realização e acompanhamento do conteúdo do boletim. A equipe conta atualmente com a jornalista Audrey Fernandes,

e com a estudante de imagem e som Anna Kuhl. Elas assumiram as funções junto ao boletim a menos de duas semanas, o que significa o intervalo de um mês e meio sem equipe, já que, no início de dezembro passado, a jornalista ­Milena Esther que estava trabalhando conosco, voltou para sua terra natal, o Recife. A reestruturação da equipe procurou manter a estrutura do Eixo de Comunicação do Projeto Água Quente, com uma profissional na área de jornalismo e uma estagi-

PROJETO ÁGUA QUENTE

Equipe Executora Coordenadores Daniel Marostegan e Carneiro Renata Bovo Peres Estagiários Anna Theresa Kuhl Paola Maia Lo Sardo Parceiros Projeto Brotar Projeto CESCAR Contatos Site do Projeto: http://aguaquente.teia.org.br e-mail do Projeto: aguaquente@teia.org.br

Educadores Audrey Fernandes Magaly Marques Sara Monise de Oliveira Taísa Moretti Thais Troncon Rosa Apoio Acquavit COMDEMA São Carlos Prefeitura Municipal de São Carlos TEIA - Casa de Criação www.teia.org.br Fone/fax: (16) 3376-3110 Rua Rui Barbosa, 1950, Cep 13560-330 Vila Elizabete - São Carlos/SP

Organizações Participantes Catequese Madre Cabrini, Coopercook, Cooperlimp, Coral Rosa Mística, EMEI Otávio de Moura, Grupo de Coroinhas da Igreja São Francisco de Assis, Grupo Sagrado Coração de Jesus, Aprendiz Grupo de Mães, Catequese da Igreja São José Operário, Grupo de Oração da Capela Santa Luzia, Pastoral da Sobriedade, Poetas Anônimos, Projeto Meninos do Aracy, Projeto Social Dona Marízia, Resgate Social.

Boletim Água Quente Elaboração/textos Anna Theresa Kuhl, Audrey Fernandes, Clara Gomes, Daniel Marostegan e Carneiro, Eduardo Araújo Silva, Gabriel de Santis Feltran, Magaly Marques, Maria Helena R. da Silva, Milena Esther, Renata Bovo Peres, Rogério Ushiro, Sara Monise de Oliveira, Sidney Acyr Bonometto, Taísa Moretti e Prof. José Luís Andriani e alunos das 7as. séries A, B e C da Escola Artur Natalino Deriggi. Edição Anna Theresa Kuhl, Audrey Fernandes, Daniel Marostegan e Carneiro Diagramação Beto & Guto Sguissardi olivreirope@gmail.com

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ária na área de imagem e som. A nova equipe mantém as intenções de readequar este veículo, tornando-o mais participativo e relacionado com a realidade da Bacia Hidrográfica do Água Quente. Neste número trazemos a estréia do formato de colunas, com Reality Show, de Gabriel Feltran, que irá figurar o conteúdo do boletim daqui para a frente. Nos próximos números pretendemos trazer outras estréias neste mesmo formato. Temos ainda: a contribuição de B.Boy Ney, com um

texto sobre a cultura Hip Hop; a estréia da seção da Escola Artur Natalino Deriggi; além de diversas outras matérias realizadas pela equipe em conjunto com os agentes comunitários.

Caso você, ou seu grupo, tenha interesse em indicar um ponto de distribuição do boletim, ou queira contribuir para a produção dos próximos conteúdos, entre em contato com a gente.

Reality show

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u já estava desesperado por uma moradia. Eu cheguei a ir numa favela para conseguir um local para morar. E um dia, eu cheguei lá um dia, no finalzinho de tarde, e conversei com um senhor, falei com seo Paulo, conversei com ele minha situação, se ali por perto eu não conseguia um lugarzinho pra fazer pelo menos um cômodo para mim, e ele me mostrou um lugar que eu poderia fazer sim. Fazer um cômodo até eu sair do aluguel, e aí eu poder fazer alguma coisa pela frente. E aí quando foi no próximo final de semana, eu lembro muito bem, eu comprei uma enxada e botei uma roupinha na sacola e a enxada fora do cabo, comprei um cabo, pra chegar no local, encabar pra limpar o local. E chegando fiz isso, de bermuda, de chinelo. Comecei a carpir, no local. De repente, chegaram dois rapazes e perguntaram: ‘que você vai fazer aí, moço? Vai plantar alguma coisa?’ ‘Tô querendo fazer um barraquinho aqui pra mim, que está difícil a situação. E eles falaram assim: ‘tá bom’. Saíram, daqui a pouco voltaram, com mais pessoas. E disseram que eu não ia fazer aquele barraco ali. Até no momento eu achei que era brincadeira deles. Que eu não iria fazer aquilo ali não, que seo Paulo não mandava em nada lá não. Aí eu parei de carpir e achei que era brin-

cadeira deles, e: ‘Não! Vou fazer, que eu estou precisando, vocês já moram aqui também’. E eles partiram pra ignorância. Aí eu me senti... [pausa]. Me ameaçaram, que se fizesse eles iam derrubar, iam acabar com tudo. Eu até larguei a sacola com o refrigerante que tava dentro. Eu tinha levado, para tomar refrigerante, copo descartável, uma camiseta. Eu me aborreci, larguei enxada, larguei tudo lá. Vim de chinelo, vim de perna... e vim pensando na minha vida... como é que eu vou fazer agora? ◉ [Daniel, São Paulo, 2002] Esta coluna traz, a cada número do Boletim Água Quente, um trecho de narrativas contemporâneas das periferias das cidades obtidas por Gabriel de Santis Feltran, pesquisador em ciências sociais. Contato: gabrielfeltran@ gmail.com.br


Fevereiro de 2008

Venha ser amigo do NICC!

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Núcleo de Incentivo à Cultura e ao Conhecimento (NICC) é um espaço de acesso à cultura, fundamentada em projetos de apoio e incentivo à leitura com olhos para o desenvolvimento social e cultural. Entre as atividades, O NICC disponibiliza à comunidade uma biblioteca com clássicos da literatura, títulos atuais e de interesse da sociedade. Conta também com uma Gibiteca preparada para proporcionar a iniciação ao hábito da leitura. Além dos livros e gibis, estão disponíveis jornais e revistas e um terminal de consultas à enciclopédias digitais e a Barsa planetária para pesquisas escolares. O espaço está aberto para sugestão de atividades. Endereço: Av. Nelson Orlandi, 767, Cidade Aracy. Telefone: 3375-6824 www.niccsaocarlos.org

Confiram inscrições para os cursos de dança

Comunicado

Inscrições abertas para cursos de dança

Programação dos Centros Comunitários A partir de março os Centros Comunitários estarão divulgando a programação das atividades culturais, cursos de qualificação profissional e atendimento social. Procure o centro mais próximo de sua casa e informe-se! Os contatos dos centros da região estão logo abaixo: Centro Cidade Aracy R. Vinte e Dois,180-A Cidade Aracy Responsável: Rosimeire Macedo Telefone 3375-8685

Estação Comunitária Jardim Gonzaga (ECO) Av. Maranhão, 35, Jd. Gonzaga Responsável: Maria Maia Telefone: 3375.3845

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Centro Comunitário Maria Bernadette Rossi R. Paraná, 720, Pacaembu Responsável: Lúcia Patracon Telefone: 3375-7505

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Centro Constantino Amistaldem R. Sete, 1562, Antenor Garcia Responsável: Rogério Telefone 3375-1918

Até o dia 29 de fevereiro, estarão sendo realizadas as inscrições para crianças, adolescentes e jovens nos cursos de dança de rua, ballet, jazz e outras modalidades oferecidos pelo Projeto Dançar, coordenado pelo Departamento de Artes e Cultura da Prefeitura. Os interessados devem entrar em contato com o Centro Municipal de Cultura Afro-Brasileira “Odette dos Santos”, a Casa Afro, de terça a sexta, das 14h às 18h. O Centro fica na Rua Dona Alexandrina, 844 - Centro. Outras informações podem ser obtidas pelos telefones 3371-8886 e 3371-8936.

nte e u

.teia.org.

br

Site projeto água quente A partir do mês de março, o site do Projeto Água Quente estará passando por atualizações em seu conteúdo, deixando todos os visitantes informados sobre o Projeto, seus objetivos, grupos, equipes, parceiros, notícias e muito mais. O endereço do site é http://aguaquente.teia.org.br Visite e saiba mais! 3


Boletim Água Quente no 6

Hip-Hop

uma cultura em movimento Sidney A. Bonometto

O grupo Resgate Social durante o 1o Sanca Hip hop

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á muito tempo, culturas que se expressam com ritmos, canções, artes plásticas, técnicas corporais e filosofias de vida são usadas como forma de transmitir idéias e pensamentos de diferentes povos. Muitas das manifestações culturais brasileiras estão identificadas com a população negra, como o samba, caboclinho, maracatu, movimento Mangue Beat, capoeira e muitas outras, lembradas como parte da grande contribuição dos negros para a cultura nacional. Dentro dessa diversidade, a cultura Hip Hop tem ganhado cada vez mais destaque no Brasil e no mundo atraindo jovens, especialmente aqueles que moram nas periferias. A cultura Hip Hop considera 04 elementos: o MC (Mestre de Cerimônia, RAP), o DJ (Disc-Jockey), o Grafite (Artes Plásticas) e o Breaking (B.Boy e B.Girl cujo o significado é garoto ou garota que dança no Break, “Quebra ou Batida” da música). Alguns adicionam o ativismo político, a gíria e a moda hip-hop como outros elementos importantes. O Hip Hop surgiu nas comunidades afro-americanas das regiões do Bronx, Queens e Brooklin de Nova Iorque no início dos anos 70. Parte desta cultura tornou-se bastante difundida durante as décadas de 1980 e 1990 pelo mundo. Geralmente, considera-se que o criador do movimento foi o jamaicano Clive Campbel, conhecido como DJ Kool Herc. Porém, é creditado ao DJ Afrika Bambaataa o termo Hip Hop, que descreve a cultura. Desde o seu nascimento nas ruas do bairro do Bronx (NY), em 1974, tendo como padrinhos os DJ’s Afrika Bambaataa, Grand “Master” Flash e o jamaicano Kool Herc, o Hip Hop saiu da sua guetificação e fez morada em todos os lugares do planeta. Mostra sua afirmação social através de sua proposta de vida: da música à dança, do vestuá4

rio ao comportamento e da linguagem à indústria, formando artistas, adeptos e empresários. Enquanto o Hip Hop ganha o mundo, muitos parecem não entender a natureza de sua cultura que há muito tem influenciado direta e indiretamente nosso modo de vida. Devido à falta de conhecimento a respeito da cultura, muitos de nossos jovens cometem o erro de pensar que atitudes como o uso de drogas, o consumo de álcool, o porte de armas e até a prostituição fazem parte dela. Em tristes momentos, o movimento tem sido retratado negativamente, às custas da moralidade. Na realidade, o autêntico Hip Hop é um movimento voltado para a celebração da vida e para preservá-la de maneira saudável, independente de fatores como raça ou condição social. É uma influência positiva na formação de milhares de jovens, pois busca melhorar o lugar em que vivemos, celebra através da arte, da cultura e da educação, a paz, a união, a consciência, a atitude e a diversão. Se mantém viva em todos os seus elementos presentes na consciência de seus membros, como os pioneiros do Hip-Hop brasileiro, o pernambucano Nelson Triunfo, MC’ Thaíde, Dj’ Hum, MC Jack, Pepeu, MV Bill, Racionais Mc’s, Marcelinho da Back Spin Crew e diversos outros que se encontravam na galeria 24 de maio em São Paulo, para ali fazerem suas rimas, coreografias, sons e trocas de informações que anos mais tarde se tornariam uma extraordinária força na luta pelos direitos de igualdade. Não esquecendo de lembrar do autêntico historiador King Nino Brow que, junto aos demais membros da cultura, ajudou na fundação da Casa do Hip-Hop de Diadema, em São Paulo. Membros e adeptos da cultura Hip-Hop estão em São Carlos. Aproveitamos para mandar um abraço para a galera de atitude das comunidades do Jd. Gonzaga, Cidade Aracy, Antenor Garcia, Santa Felícia, Paulistano, e também para os que freqüentam a Casa Afro-Brasileira de São Carlos, os Centros Comunitários, a Teia - casa de criação, as Escolas Péricles Soares, Orlando Perez e Deriggi, Academias de Dança e os projetos que contribuem com a valorização e o crescimento da nossa cultura Hip-Hop.

B.Boy no 1o Sanca Hip Hop


Fevereiro de 2008

Peças de madeira expostas na sala de africanidades

Objetos expostos no Centro de Cultura Afro

Centro de Cultura Afro-Brasileira Odette dos Santos

Um pouco sobre Odette dos Santos

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á um pouco mais de um ano, a cidade de São Carlos, seus moradores e visitantes contam com mais um espaço de cultura, lazer e aprendizado na cidade. Trata-se do Centro de Cultura Afro-Brasileira Odette dos Santos. Inaugurado em novembro de 2006 através de uma parceria da Prefeitura de São Carlos com o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR, o Centro passou a ser local de referência das ações da comunidade negra da cidade por meio do Departamento de Artes e Cultura da Secretaria Municipal de Educação e Cultura e da Divisão de Combate ao Racismo da Secretaria Municipal de Cidadania e Assistência Social. Atividades como oficinas, exposições, cursos, entre outros, são oferecidos todos os meses. O Centro Cultural realiza no local oficinas de DJ, MC, grafite,

trança africana, teatro, produção musical, dança de rua, entre outras. O Centro tem grande destaque para a Sala de Hip Hop, onde também são realizadas oficinas, e o Projeto Dançar, que acontece o ano inteiro. Conta ainda com exposição fixa de peças relativas à cultura africana como roupas, carrancas, máscaras, colares e esculturas vindos de locais como Angola. O local disponibiliza também em sua infra-estrutura um auditório e sala áudio-visual que podem ser reservadas para eventos. Os cursos oferecidos pelo Centro de Cultura Afro-Brasileira Odette dos Santos são sempre gratuitos. Até o dia 29 de fevereiro estarão abertas as inscrições para o Projeto Dançar, que oferece aulas de balé para crianças à partir de 03 anos e adultos, jazz iniciante e dança de rua. Mais informações sobre as inscrições e os cursos podem ser obtidas no local ou por telefone. ◉

m 27 de agosto de 1929, nascia em São Carlos Odette dos Santos, filha de um casal preocupado com as famílias negras de São Carlos, que queriam manter um espaço de convivência e lazer. Diante deste desejo, fundaram o Grêmio Recreativo Familiar Flor de Maio. De uma família de cinco filhos,Odette foi quem mais se sobressaiu. Com apenas 12 anos, após o falecimento de seu pai, a menina tornou-se o apoio da família, colocando a mãe e os irmãos sempre em primeiro plano. Com o que ganhava em seu trabalho, ajudava nos estudos dos irmãos e na manutenção da casa. Sua vocação para a música era nítida desde criança, graças ao ambiente em que vivia. Com quatro anos de idade já participava dos cordões de carnaval. A primeira escola de dança de salão da cidade de São Carlos foi criada por Odette no Grêmio Flor de Maio. Nesta escola, vários moços e moças procuravam por Odette para aprender a dançar nos bailes de formatura. Odette fundou a primeira escola de samba em São Carlos, que levava o nome de “Odette e sua Escola de Samba”. Por muito tempo, ela foi referência para o carnaval, sendo considerada a principal carnavalesca de São Carlos. Recebeu títulos de “Dama do Samba”, “Madrinha dos sambistas e das Escolas de Samba de São Carlos”, entre outros. Odette dos Santos faleceu com 61 anos, em março de 1991. Ainda hoje, as lembranças são muitas para quem viveu o samba de Odette. ◉

O Centro de Cultura Afro-Brasileira Odette dos Santos fica na Rua Dona Alexandrina, 844, funciona de terça a sexta das 13h às 20h, aos sábados das 13h às 18h e aos domingos e feriados das 10h às 17h. Mais informações pelo telefone 3371-8886. 5


Boletim Água Quente no 6

Aquecedor solar de baixo custo como alternativa mais sustentável

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ontinuando a série iniciada na edição passada com o texto “Sustentabilidade e Cidade”, onde procuramos apresentar alguns possíveis caminhos a serem percorridos em busca de uma vida urbana mais saudável, apresentamos nesta edição o Aquecedor Solar de Baixo Custo, um interessante sistema de aquecimento de água desenvolvido para combater um grande vilão: o desperdício de energia elétrica. Dentro de nossas casas, os maiores consumidores de energia são os eletrodomésticos com alta potência, como máquina de lavar roupas, ferro de passar roupas, forno de micro-ondas, congelador, dentre outros. Entretanto, o chuveiro pode ser considerado o principal consumidor, pois habitualmente o brasileiro toma ao menos um banho por dia, e pode utilizar os outros eletrodomésticos com menor frequência. O ‘nosso banho de cada dia’ no Brasil está muito baseado no aquecimento da água através do chuveiro elétrico, talvez por ser um dos sistemas mais práticos oferecidos pelo mercado: é fácil de ser instalado, é eficiente e tem fácil manutenção. Mas, por outro lado, consome muita energia elétrica em sua tarefa, e ao passo que a família cresce... a conta também cresce. Se observarmos outras formas de se aquecer o nosso banho, veremos que o que estamos desperdiçando mesmo é o aproveitamento de uma grande aliada nossa: a energia solar! O Brasil, por estar em posição privilegiada em relação ao Sol, tem uma capacidade imensa de aproveitar melhor a sua energia, fornecida como uma bênção dia após dia, salvo raros dias cinzas e frios. Em alguns países gelados, onde isso não é pos6

Modelo do aquecedor solar de baixo custo realizado pela Sociedade do Sol

Esquema de um aquecedor: 1. reservatório de água quente 3. misturador de água quente 2. placas de aquecimento 4. entrada de água fria

sível, se aquece a água através de gás ou energia elétrica, algo difícil de ser mudado devido às próprias condições naturais. Mas, se o Brasil tem tanto Sol, por que sempre utilizou o chuveiro? A explicação para isto é puramente financeira, pois o sistema de aquecimento solar tradicional sempre foi muito caro, fora do alcance da grande maioria dos brasileiros, por utilizar materiais muito nobres em sua fabricação: cobre, estanho, alumínio e vidro.

Isto, somado ao processo de industrialização, torna-o tão caro que acaba sendo mais acessível pagarmos a conta de energia no fim de cada mês. Foi neste sentido que a Sociedade do Sol, uma Organização NãoGovernamental sediada em São Paulo, desenvolveu um sistema de aquecimento muito interessante, com o objetivo de proporcionar a todas as classes sociais o banho quente e barato. O princípio do funcionamento do aquecedor so-

lar de baixo custo é o mesmo que o dos sistemas tradicionais: aquece ao longo de todo o dia, enquanto houver luminosidade do Sol. Porém, sua grande inovação está no fato de utilizar na sua composição materiais baratos e comuns do mercado da construção civil, viabilizando a autoconstrução e reduzindo o seu custo a aproximadamente 10% do valor dos modelos encontrados no mercado. Isto aumenta significativamente a parcela da população que pode ter acesso à utilização da energia solar, gerando uma economia de 20% a 40% no consumo de energia elétrica de uma família de quatro pessoas. Este aquecedor já foi desenvolvido em São Carlos, em forma de rápidos cursos ministrados pela Teia – casa de criação e organizados pela PROHAB-SA. Os alunos aprendiam sobre o seu funcionamento, ao mesmo tempo em que iam fabricando o sistema, e ao final o levavam para instalar em suas casas com o conhecimento necessário para continuar dando a manutenção. No momento este curso não é mais oferecido, mas pode-se acessar uma apostila grátis no site da Sociedade do Sol: www.sociedadedosol.org.br. Ou se quiserem saber mais informações sobre o sistema de aquecedor solar de baixo custo, entrem em contato com a Teia. O aquecedor solar de baixo custo é uma excelente alternativa não apenas econômica, mas que vem ao encontro das atuais preocupações em relação ao aquecimento global. Qualquer medida de maior economia e aproveitamento de energia e recursos naturais, evitando desperdícios, é mais do que uma atitude individual. Portanto, busque informações e contribua com a nossa qualidade de vida! ◉


Fevereiro de 2008

Baobá: a árvore da vida I

magine uma árvore capaz viver mais de mil anos, com o caule medindo cerca de 20 metros de diâmetro, uma das maiores do mundo, possível de armazenar até 120 mil litros de água. Sem falar na altura da planta, 30 metros, equivalente a um prédio de nove andares. Assim é o baobá, árvore de origem africana, que chegou ao Brasil através das mãos de sacerdotes africanos. O baobá carrega consigo, não apenas a importância de ser conhecida como a árvore da vida, mas também por estar impregnada de valor histórico-cultural. “Ela é a árvore da vida, pois os africanos aproveitam de tudo nela. Alimentam-se das folhas e dos frutos, fabricam remédios, tigelas, sacos, cordas, doces, cabanas e outras coisas de sua matéria”, comenta um dos pesquisadores do baobá, Fernando Batista. Em algumas regiões de Moçambique, o tronco é escavado para servir de cisterna comunitária. (Cisternas são reservatórios que servem para aproveitamento da água no consumo e irrigação). Existem oito espécies diferentes de baobá. A maior concentração de espécies está na região de Madagascar, onde convivem seis delas.Além destas, em outras regiões da África existe mais uma espécie. A oitava, é nativa da Austrália. Chegada ao Brasil - No Brasil, foram constatados alguns baobás, principalmente na zona do Nordeste açucareiro. Há cerca de cinco anos, o antropólogo jamaicano, John Rashford, iniciou uma pesquisa a respeito da árvore. Quando esteve no Brasil, esperava encontrar cerca de 25 baobás, porém, registrou mais de 100. A maioria foi encontrada em Pernambuco, pois os escravos que vinham da África para trabalhar nos engenhos, traziam as sementes. Em Recife há 11

plantas tombadas, algumas com mais de três séculos. Antes de 1500 a árvore não existia na flora de nosso país. Há vária versões para sua chegada no Brasil. Uma afirma que no século XVII, durante a invasão holandesa em Pernambuco, o conde Maurício de Nassau trouxe sementes para ornamentarem seu Jardim Botânico particular, onde atualmente está um baobá . Alguns estudiosos, como Câmara Cascudo, consideram que as sementes foram carregadas da África, e plantadas no Brasil, pelos escravos africanos. Símbolo de uma cultura - Para os povos africanos, o baobá é considerado a árvore mãe e uma planta sagrada. No candomblé, existe um orixá (orixás são divindades que representam todos os domínios da terra, como água e fogo) denominado Irôko. Ele habita principalmente árvores como a gameleira branca, mas também o baobá. Para os povos yorubas, a árvore Irôko é morada dos espíritos infantis. Quando as crianças sentem-se assombradas, realizam oferendas aos pés do Irôko. Esse orixá também está ligado à longevidade, durabilidade das coisas e passar do tempo. Alguns mortos na África eram sepultados no tronco da planta e acreditava-se que sua alma iria viver enquanto o baobá existisse. Em Pernambuco, a mais antiga casa de culto Nagô, denominada Sítio de Pai Adão, foi fundada em 1875 pela aficana Ifá Tinuké. Quando veio da África, trouxe consigo várias divindades em forma de símbolos, inclusive sementes de gameleira e baobá. Até hoje as árvore servem para os cultos. A Casa de Cultura Tainã, em Campinas, a qual trabalha para desenvolver uma rede de Quilombos, recebeu sementes vindas do baobá do terreiro de Pai Adão. Houve

o plantio dessa sementes na Casa de Cultura, e atualmente a planta está com três anos. Em vários países da África, o baobá está representado em mo-

edas, selos e outros símbolos nacionais. Também comentam que os escravos eram obrigados a fazer voltas ao redor do baobá para desligarem-se de suas raízes. ◉

Curiosidades do baobá • O nome científico do baobá é Adansonia digitata. O primeiro nome em homenagem ao cientista francês que classificou o vegetal, Michel Andanson. O digitata quer dizer folhas, lembrando os dedos da mão. • Na África, o fruto, denominado malombe, que tem uma polpa branca, é referido na cura da malária, sarampo e catapora. As folhas são utilizadas como anti-diarréico e para combater febre e inflamações. Também no combate a anemia, raquitismo, desinteria, reumatismo e asma. • O baobá floresce uma única noite ao ano, entre maio e agosto. • O baobá pertence à família dos Bombáceas, em latim, o termo bombax significa ato de admirição, espanto. • Comentam que o autor do livro O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint Exupéry, inspirou-se num baobá que viu no Nordeste brasileiro durante uma viagem, para escrever a seguinte passagem no livro: “E o baobá, quando a gente vê, nunca mais esquece”. • O baobá é emblema nacional do Senegal. • O baobá costuma viver entre um e seis mil anos.

Imagem de um baobá africano

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Boletim Água Quente no 6

Projeto Água Quente e Projeto Brotar plantam 2 mil mudas

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o final do mês de novembro de 2007, foi realizado na antiga área do motocross, próximo ao córrego Água Quente, o Mutirão de Plantio pelo Projeto Brotar em parceria com o Projeto Água Quente. O evento que contou com a participação de aproximadamente 150 pessoas, mobilizou moradores da comunidade e outros convidados como escoteiros, alunos de escolas do município e estudantes universitários. Em 2005, visando a recuperação ambiental desta área, o Projeto Água Quente, em seu início, já havia realizado um mutirão de plantio de 5 mil mudas e de um módulo agroflorestal. Agora, em 2007, com esta nova parceria foi realizado o plantio de mais 2 mil mudas. O Mutirão começou de manhã cedo e com três horas de atividades as mudas de árvores nativas já haviam sido plantadas, o que superou as expectativas das equipes e agentes comunitários. “O pessoal participou, eu plantei junto com crianças e com o pessoal mais velho da

comunidade. Foi ótimo”, diz a estudante universitária argentina Carolina Isabel Minõ que participou da atividade. O mutirão foi uma oportunidade para que as pessoas presentes que não conheciam a região pudessem saber um pouco mais sobre a história do local e sobre as atividades que estão sendo realizadas pelo Projeto Água Quente e Brotar. Um dos objetivos do evento foi a recuperação da vegetação nativa do local, bastante judiada e degradada por ter sido uma pista de motocross e por ser utilizada para pastagem. “São espécies de cerrado mesmo, 25 espécies diferentes, vai enriquecer mais os outros plantios”, relata o universitário Alessandro Wagner Coelho Ferreira, que também participou do plantio. Mesmo com o empenho das equipes, agentes comunitários e participantes nos mutirões, a recuperação da vegetação na área escolhida para os plantios é bastante delicada. Do primeiro mutirão realizado pelo Projeto Água Quente em 2005, sobrevi-

Equipe e agentes comunitários do projeto reunidos

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Convidamos todos que estiverem interessados em participar dos mutirões de Plantio e Manejo a entrar em contato com o Projeto Água Quente pelo telefone 16 3376-3110. Todos são bem vindos! veram poucas mudas, principalmente por causa da pastagem, do ataque de formigas cortadeiras e das queimadas. Deste segundo mutirão, já se sabe que devido ao ataque das formigas, de uma estiagem de 15 dias após o plantio e do uso incorreto do adubo durante o mutirão que por ser adubo químico não é fácil ser lidado, o prejuízo é grande. Segundo a Bióloga Carol Neri, do Projeto Brotar, cerca de 95% das mudas estão prejudicadas, o que deixou as equipes dos dois projetos preocupadas. Para a bióloga, ainda há a possibilidade de rebrota, mas a ação intensiva das formigas e a queima das raízes das plantas pelo mau uso do adubo, podem matar as mudas. “Agora temos que unir forças para manter o plantio”, diz a bióloga.

Já na área da agrofloresta, o desenvolvimento das mudas plantadas em 2005 permanece, e como nesse ano foram plantadas apenas sementes em conjunto com adubos verdes, que protegem as espécies arbóreas, o ataque das formigas foi menor e a estiagem apenas fez com as sementes demorassem a germinar. Em função dos resultados mais positivos da área de agrofloresta, o Projeto Água Quente e o Projeto Brotar vão investir no ano de 2008 na expansão do módulo agroflorestal, na manutenção das mudas sobreviventes e na reposição de parte das mudas. “A idéia é que a gente continue plantando, fazendo as atividades aqui na área”, diz a bióloga Carol Neri aos participantes do Mutirão. ◉

Participantes preparam-se para o plantio


Fevereiro de 2008

Vamos juntos arborizar as ruas da Bacia! Benefícios da árvore em sua vida: • propiciar sombra; • purificar o ar; • é abrigo à fauna, propiciando uma variedade maior de espécies; • diminuir a poluição sonora; • constituir fator estético e paisagístico; • diminuir o impacto das chuvas favorecendo infiltração da água no solo; • valorizar a qualidade de vida local, bem como economicamente as propriedades ao entorno. Fonte: Revista de Biologia Pró Ciência – Universidade de São Paulo

Agentes conversam com moradores sobre o plantio urbano

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Plantio Urbano vem como uma nova frente de ação do Projeto Água Quente para a região da Bacia do Córrego Água Quente. Foi pensado junto com os agentes comunitários como uma proposta para melhorar a arborização das ruas da região e assim, a qualidade de vida dos moradores. No dia 16 de fevereiro, acontecerá na Rua Paulo VI, Jardim Cruzeiro do Sul, o primeiro plantio urbano realizado pelo projeto, que conta com a participação de pessoas da comunidade para garantir a continuidade do trabalho e a manutenção das mudas. “Pensamos esse plantio como forma de atingir outras pessoas que possam participar. Afinal, aqueles moradores que quiserem receberão as mudas

em sua casas e terão orientações no manejo”, comenta a bióloga e educadora ambiental do Projeto, Sara Oliveira.

Alternativa O plantio urbano também foi uma opção encontrada para envolver os moradores com o Projeto, pois a arborização das ruas facilita o acompanhamento do desenvolvimento das plantas pelos moradores. Já os moradores que não tiverem espaços nas suas calçadas e quiserem mudas para plantar nos quintais também poderão recebê-las. A escolha da primeira rua a ser arborizada foi feita em conjunto com os agentes do Projeto. Os agentes observaram e fizeram um esquema das ruas em que moram e em grupo escolheram as ruas me-

nos arborizadas e que também possuem bastante movimento. A rua escolhida para essa ação de arborização foi a Paulo VI, no Jardim Cruzeiro do Sul, em que reside a agente comunitária Leonilda Squarzini, e também na qual está alocada a Catequese da Igreja Santa Madre Cabrini, grupo participante do Projeto e representado pela agente Sônia de Paula. Nos meses de dezembro de 2007 e janeiro de 2008, equipe e agentes comunitários do Projeto fizeram uma visita aos moradores da rua, na qual foram levantados os interessados em plantar as mudas nas calçadas ou nos quintais de suas casas. Na semana de 13 a 15 de fevereiro foi realizada a abertura das covas e preparação com substrato orgânico e terra vegetal.

Os interessados receberão instruções de como plantar, cuidar das mudas e dessa forma, tornar não só sua moradia, mas a vida das pessoas que usam a rua mais agradável. Toda a comunidade está convidada a participar. Além disso, em muitas ocasiões, a árvore na frente da residência confere a esta uma identidade particular e propicia o contato direto dos moradores com um elemento natural significativo, considerando todos os seus benefícios. ◉

Dúvidas sobre os cuidados com a muda, entrar em contato com a Organização Teia - casa de criação. Telefone: 3376-3110. http://aguaquente.teia.org.br 9


Boletim Água Quente no 6

O pouco com sabedoria é muito! Na rua Paulo VI, temos um dos muitos exemplos, na Bacia do Córrego Água Quente, de como é possível utilizar pequenas áreas nos quintais para plantar. O pouco espaço para se plantar é uma das maiores dificuldades encontradas para o plantio em calçadas ou em quintais, pelo fato de muitas casas serem de meio lote. Nem por isso a moradora da rua e participante do projeto Sonia Miassi deixou de ter plantas no seu quintal. Utilizando seu conhecimento e experiências vivenciadas junto com o projeto, ela utilizou um pequeno espaço no seu quintal, para plantar diferentes espécies utilizando o princípio de Agrofloresta, uma experiência que está dando certo! Moradora Sonia em seu quintal

Sexualidade na Adolescência

A

vida sexual dos adolescentes vem começando cada dia mais cedo, bem antes do que há alguns anos atrás. Muitas meninas passam pela primeira experiência sexual sem nem ter tido a primeira consulta com um ginecologista, e muitas delas engravidam antes de ter ido também! Os pais não se sentem à vontade para terem conversas

sobre sexualidade com os filhos, muitos nunca o tiveram e possuem grande dificuldade. Mas tem se tornado crescente o número de pais interessados em saber como lidar com o assunto. Esta situação é mais recorrente entre mães que sentem necessidade em saber o que falar e como agir com suas filhas. Mesmo se os pais não estiverem preparados para orientá-los, devem estar

O diálogo é uma das melhores estratégias para se evitar a gravidez precoce

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para indicar ao filho ou filha ajuda de profissionais qualificados. Por outro lado, os próprios filhos também sentem desconforto em conversar com os pais sobre o assunto, mesmo sabendo que precisam preparar-se para lidar com o sexo de maneira responsável e consciente. O diálogo com os pais, a ida ao ginecologista logo após a primeira menstruação, o uso de métodos preventivos, as explicações sobre como se prevenir, o tempo certo em que o corpo está pronto para ter relações e gerar um filho, são questões que devem ter sua discussão estimulada nos grupos sociais e instituições como escolas e centros comunitários. Vale lembrar que os meninos também precisam ser incluídos na discussão sobre o sexo responsável e a prevenção, pois muitas vezes, por falta de maturidade, não tem condições de assumir a paternidade

e constituir uma família. As conseqüências da falta de informações sobre a vida sexual de uma adolescente e de um adolescente são o despreparo para lidar com situações como a gravidez precoce e o alto risco de contaminação por doenças sexualmente transmissíveis (DST). A gravidez na adolescência envolve fatores emocionais, sociais e até mesmo físicos. Uma adolescente não está preparada nem física e nem emocionalmente para cuidar de um bebê e nem para constituir uma família. Estes fatores acabam contribuindo também para o aumento dos casos de mães solteiras. É importantíssimo que, no caso de uma gravidez precoce diagnosticada, a adolescente faça o acompanhamento prénatal e receba o apoio da família. Isto é o essencial para ter uma gravidez tranqüila e ter perspectivas mais positivas em relação a ser uma jovem mãe ou um jovem pai. ◉


Fevereiro de 2008

Centros da Juventude: Cidade Aracy e Monte Carlo, estão em obras

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m outubro de 2007 deuse início às obras em dois Centros da Juventude na Bacia do Córrego da Água Quente. Um deles, o Centro da Juventude “Elaine Viviane”, está localizado no Jardim Monte Carlo e é um centro já existente que passa por obras de reforma. O outro, o Centro da Juventude “Lauriberto José Reyes”, localiza-se na Cidade Aracy II e suas obras foram iniciadas recentemente. Seu nome homenageia o jovem morto aos 26 anos em 1972 pela ditadura militar. Em dezembro de 2007, esteve presente no lançamento da placa que marcou o início das obras a Doutora em antropologia social, consultora do Instituto Brasileiro de Análises Socioeconômicas (IBASE) e pesquisadora do CNPq, especialista na área da infância e juventude, Regina Novaes, irmã de Lauriberto. Segundo Regina Novaes, o Centro é um espaço muito simbólico porque acontece num momento em que o país percebe que a juventude, como um sujeito de direito, precisa de mais oportunidades, que passam pelo preparo para entrar no mercado de trabalho. Além de se expressar culturalmente e de fazer parte, de pertencer a um espaço, e o Centro pode ser um símbolo disso, uma integração. “É uma geração que tem o que dar para o Brasil, e a gente tem que saber receber o que vem

de novo para construir as lutas do povo brasileiro”. Ambas as obras estão sendo financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDES, através da Prefeitura de São Carlos. O Centro da Juventude no Jardim Monte Carlo deu início às obras de reforma em outubro de 2007, com a demolição de parte do imóvel antigo, instalação de alambrado na parte da frente e construção de calçadas. A segunda etapa já está sendo feita com o levantamento de um prédio novo,

escavação para construção de uma nova piscina, definição do paisagismo e de quadras. O objetivo é atender aos jovens da região com atividades esportivas, educacionais, culturais, de apoio escolar e com oficinas profissionalizantes. A previsão de entrega é para o final de março de 2008. A construção do Centro da Juventude Cidade Aracy II será na Rua Arnold Almeida Pires, próximo a EMEB Arthur Natalino Deriggi, e já recebeu uma verba do BNDES para a compra de equipamen-

tos e materiais. O espaço vai seguir os padrões do Centro da Juventude do Jardim Monte Carlo, oferecendo oficinas profissionalizantes e as mesmas áreas. O centro irá atender jovens na faixa etária de 14 a 24 anos e a capacidade de atendimento vai ser em torno de 500 jovens por mês. Segundo a Secretária de Infância e Juventude, Rosilene Mendes dos Santos, estas são obras esperadas pelos moradores dos bairros que não possuem um espaço adequado para a prática dessas atividades. ◉

Obras do Centro da Juventude da Cidade Aracy II, em estado inicial

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Boletim Água Quente no 6

Projeto Água Quente realiza Encontro de Grupos da Bacia

N

o dia 08 de dezembro de 2007, sábado, aconteceu na EMEI Vitorio Rebucci, no Jardim Pacaembu, a partir das 8h30, o Encontro de Grupos da Região do Córrego Água Quente, promovido pelo Projeto Água Quente. Este foi o primeiro encontro realizado pelo Projeto nesta segunda edição e um de seus principais objetivos foi ampliar e fortalecer os canais de diálogo com os grupos de origem dos Agentes Comunitários que fazem parte do Projeto, visando o seu maior envolvimento, incentivando-os a participar mais ativamente das ações e atividades que desenvolvemos e apoiando o fortalecimento de sua atuação na Bacia. Como forma de integrar os participantes e estimular a troca de experiências, o Encontro procurou trabalhar uma série de questões relacionadas com a situação atual da Bacia, como a história da ocupação dos bairros, as condições de moradia, de transporte, de saúde, o problema da poluição do córrego, do lixo, do desmatamento das áreas verdes, da falta de praças e do Parque Florestal Urbano que ainda não saiu do papel. Além disso, não se deixou de ressaltar também a questão do preconceito em relação aos moradores da Bacia, que, como lembrou o rapper Alexandre Pereira, do grupo Poetas Anônimos, são trabalhadores e cidadãos como quaisquer outros, mas que sofrem na pele a discriminação por viverem em bairros considerados “pobres” e “violentos”. Toda esta importante discussão contou com cerca de 60 participantes que, após assistir ao vídeo-documentário “Na Margem”, lançado em novembro de 2006, dividiram-se em três subgrupos de trabalho, mediados respectivamente por Osvaldo Luciano dos 12

Santos, diretor da EMEB Arthur Natalino Deriggi, Regina Granja, associada da Teia e funcionária da Secretaria Especial da Infância e Juventude, e Daniel Marostegan e Carneiro, coordenador do Projeto Água Quente. A divisão nesses pequenos subgrupos surgiu como uma forma de integrar mais os participantes, para que cada um pudesse contribuir ao debate, relatando a sua experiência como morador da Bacia e como cidadão são-carlense. Depois desse momento, todos voltaram ao salão principal para finalizar a discussão coletivamente, fortalecendo idéias e propostas para um novo encontro que possa reunir mais grupos e também outros atores sociais, como os empresários e os gestores públicos.

Além disso, o Encontro serviu também como um momento de “oficializar” a entrada dos novos Agentes Comunitários (e seus respectivos grupos) no Projeto Água Quente, promovendo a integração entre Agentes antigos, novos, grupos e equipe do Projeto. Esta integração certamente foi favorecida durante o almoço que o Projeto ofereceu aos participantes, ao final do debate, encerrado numa grande confraternização. Vale registrar que este foi apenas o primeiro de outros encontros que o projeto pretende realizar até 2009 e que esta iniciativa pretendeu estimular a discussão coletiva sobre as questões sócioambientais da Bacia com o intuito não apenas de potencializar as ações voltadas para aquela região,

mas também de contribuir para que sejam estabelecidas articulações e parcerias futuras no sentido de que se amplie a participação de toda a população no processo de transformação das condições sociais e ambientais da Bacia.

“Pré-Encontro” foi realizado com Agentes Para que o Encontro de Grupos pudesse acontecer, foi montado, entre os Agentes do Projeto Água Quente, um subgrupo de preparação desse evento. O subgrupo foi formado pelas Agentes Cleide (Grupo de Coroinhas), Luzia (Cooperlimp), Sônia (Catequese Madre Cabrini) e Maria Helena (Grupo Sagrado Coração) e tinha como objetivo planejar e conceber a estrutura do Encontro, cons-

Discussão inicial do encontro, com todos os grupos presentes


Fevereiro de 2008

truindo e propondo discussões para serem desenvolvidas no dia de sua realização. Nesse sentido, o subgrupo sugeriu desenvolver uma atividade com o Grupo de Agentes em que fossem discutidos os pontos mais importantes sobre a Bacia que deveriam ser lembrados no dia do Encontro. Por essa razão, esta atividade, que aconteceu no dia 10 de novembro de 2007, na Teia, ficou conhecida como “Pré-Encontro”, já que a intenção era a de que ela funcionasse como uma espécie de “modelo” em escala menor para o evento que estava sendo organizado. A proposta da atividade foi, então, debater coletivamente o tema “Questões Atuais sobre a Bacia do Água Quente”, a partir da leitura do texto “Histórias do Água Quente: um olhar sobre a ocupação urbana da Bacia” e da exibição do vídeo-documentário “Na Margem”. Para tanto, o texto foi distribuído previamente aos Agentes, com a solicitação de que fosse lido de forma atenta e reflexiva, ou seja, levantando questões e pontos que fossem considerados importantes. O documentário foi exibido logo

no início da atividade, antes que fosse aberta a discussão. O debate, envolvendo nove Agentes, aconteceu sob a mediação de Gabriel Feltran, ex-integrante da equipe do Projeto na 1ª. edição e autor do referido texto e de Marcelo Montaño, o Mindu, também ex-integrante da equipe. Os dois foram convidados para conduzir a atividade por se serem figuras que já passaram pelo Projeto e que conhecem bem a problemática colocada e os objetivos que o Projeto quer atingir. Além disso, Gabriel e Mindu possuem grande capacidade de articulação de idéias e conduziram de forma bastante interessante e satisfatória uma discussão realmente importante sobre os aspectos ambientais, sociais, políticos e culturais dos bairros da região. Os Agentes, por sua vez, tiveram uma participação muito importante neste “Pré-Encontro”, já que foram muito ativos no debate, colocando idéias e opiniões, fornecendo depoimentos pessoais e propondo várias iniciativas futuras em relação à melhoria da atual situação da Bacia. ◉

Ecologia e tecnologia

P

ara conhecer melhor a formação do solo, suas diferenças e semelhanças, as áreas drenadas por córregos, a vegetação e os animais é preciso observar o ambiente. Os alunos da EMEB Artur Natalino Deriggi (7ª séries A, B e C), acompanhados pelo professor de Geografia José Luis, realizaram um trabalho de campo ao redor da escola até o córrego Água Quente com o objetivo de observar e explorar o ambiente – aproveitando-se da curiosidade e do conhecimento dos alunos sobre a região. Formaram grupos e levaram vários materiais: termômetro, higrômetro, coletor de água (para análise e discussão dos resultados em sala de aula), saquinhos plásticos para comprovar a transpiração dos vegetais e para a coleta de folhas e plantas medicinais. Levaram também caneta e papel para anotar as observações. Viram barrancos, observaram o tipo de solo e o tipo de rocha que lhe deu origem, ruas de terra, várias espécies de árvores como: Cedro, Faveiro, Angico, um verdadeiro mosaico de plantas de pequeno e médio porte. Encontraram também plantas medicinais como: Barbatimão, Cordão de Frade, Sucupira, Jurubeba, Anileira e Assa Peixe.

Houve uma interação significativa com os moradores da vizinhança dos espaços visitados, trocando-se informações sobre as plantas medicinais encontradas na região. Durante o trajeto foi observada uma área muito grande de queimada, próxima às margens do rio. A mata ciliar está sendo agredida por queimadas, o que causa o assoreamento do rio (acúmulo de areia, solo desprendido de erosões e outros materiais levados até rios e lagos pela chuva ou pelo vento). Observaram animais por perto ou vestígios deles (formigueiros, cupinzeiros, etc). Conclusão do Trabalho: Área Pesquisada: Córrego Água Quente. Parte Agredida: Nascente e margens do córrego. Agentes causadores: Queimadas, lixo e esgoto. Providências a serem tomadas: • Conscientizar a população do bairro a não fazer queimadas; • Reflorestamento da área agredida; • Parar de lançar o esgoto no rio, sem o devido tratamento, canalizar até a estação de tratamento de esgoto.

Seção Deriggi

Projeto Horta na Escola

Goda, Alexandre e Sueli durante o encontro

Os alunos participaram ativamente do Projeto Horta na Escola – do planejamento (escolha de sementes e desenhos dos canteiros na área a ser utilizada) até o plantio e irrigação diária. Em parceria com grupo de extensão da UFSCar os professores de diversas disciplinas envolveram-se na realização do projeto, que em 2007 foi concluído com uma belíssima colheita – incluída e saboreada na merenda escolar. 13


Boletim Água Quente no 6

Rádios comunitárias: ferramentas para o fortalecimento comunitário ou pirataria? Nos últimos cinco anos, cerca de cinco mil rádios foram condenadas por trabalharem com comunicação comunitária. Existem aproximadamente 14.000 pedidos de autorização de funcionamento de rádios comunitárias cadastrados no Ministério das Comunicações, sendo que 824 receberam autorizações provisórias e 578 definitivas. Atualmente um processo para conseguir autorização leva em média de oito a dez anos de espera. Devido à dificuldade em atender tais demandas, atos de repressão vêm sendo praticados pela Polícia Federal contra as rádios comunitárias, que vêm sendo perseguidas. Desta forma, a liberdade de expressão

que é garantida pela Constituição, deixa de ser respeitada. O Art.5º ressalta: “É livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença”. A Lei 9.612 de 19 de fevereiro de 1998 institui o serviço de radiodifusão comunitária. Segundo ela, a radiodifusão livre não é crime, mas uma infração administrativa. Logo, os cidadãos atuantes nas difusões de rádio sem concessão não podem ser presos ou penalizados. Porém, o governo brasileiro vem seguindo uma linha repressora prevista em uma lei de 1962, a qual proíbe a instalação ou utilização de telecomunicações sem autorização.

Entrevista com Lair Conceição, integrante da Rádio Comunitária Aracy (RCA), fechada por ordem judicial Quais os principais problemas enfrentados pelas rádios comunitárias brasileiras? Lair Conceição: A dificuldade de licença para poder funcionar sem perseguição. O processo é muito lento. Nossos equipamentos ficaram cinco anos apreendidos e estamos há mais de sete anos pleiteando a legalização e nada. As rádios comerciais influenciam negativamente, nos chamando de piratas e outras coisas. Criticam porque perdem uma fatia do mercado para nós, que estamos mais próximos da comunidades e tendemos à regionalização da programação. Qual o papel da rádio comunitária no fortalecimento do cidadão e das comunidades? Lair Conceição: As rádios comunitárias estão bem mais perto da população, mais presentes, deixando o espaço aberto para quem quiser participar, contribuindo para a liberdade de expressão. As campanhas sociais, as festas de bairro, as atividades culturais da região têm maior alcance devido a essa aproximação. Por que decidiu participar da fundação de uma rádio comunitária? Lair Conceição: Sempre gostei de mexer com som e sentia a região carente de comunicação e divulgação de suas idéias. Ai veio a idéia da rádio. Como ela funcionava, quem mantinha? Lair Conceição: Tínhamos bastante audiência e uma programação bem variada que ía das cinco horas da manhã até à meia noite, desde programas sertanejos a evangélicos. Procurávamos seguir as leis de comunicação. Os patrocinadores que a mantinham davam um valor como apoio cultural. Qual a diferença entre rádio comunitária e comercial? Lair Conceição: Nas rádios comerciais as pessoas pedem as músicas e se não estiver na programação, não toca. É o conhecido jabá (ou seja, um acordo comercial entre rádios e as gravadoras para tocar determinadas músicas). As pessoas não participam ativamente, não expõem suas idéias, é algo extremamente comercial. Na rádio comunitária as pessoas se identificam, as portas estão abertas para todos, ou seja, valorizam-se a cultura e os artistas da região. O que vocês estão fazendo depois do fechamento da RCA? Lair Conceição: A RCA não está funcionando, mas estamos lutando para colocá-la de volta ao ar o mais rápido possível. Os processos estão na justiça e estamos aguardando, por isso formamos a Associação de Rádio Difusão Comunitária.

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! E S A DIVIRT Bichinhos de Jardim

Clara Gomes

www.bichinhosdejardim.blogspot.com

PINTE O DESENHO!

CAÇA-PALAVRAS Encontre os nomes das mudas do Plantio Urbano! Pitanga Caliandra Resedá Goiabeira Uvaia

Ipê Chorão Falsa dama da noite Alfeneiro

IMSAGIBANLOSMLIAJOHUIPLHJLJUHIAVACOI OLHIAFAGFALSADAMADANOITEFLAGIAOBLP VINTHJLOIRABRIGOIABEIRAOICADIRNHASIE N AV U Z V T R E S E DA A B A J I R AT R B TATO L AC E I G C CHORAOHAJIBUCAVIRTNATARUBEPITANGAF OBACRITAPIRBAUVAIALAMBRLIJNANQUINOI J A M B R A LO C A B T R E Q UATA L A L F E N E I R O J AC S T CALIANDRABRUDIGUMBSOILORICALISJOPIJ 15


Boletim Água Quente no 6

Beatriz Rodrigues Estudante A maioria das praças aqui da região não está em condições de receber ninguém. De dia não dá pra freqüentar por causa do calor e à noite, não tem luz. Estão faltando locais para as pessoas se reunirem. William Luiz Estudante Depois que foi inaugurada a praça Ronald Golias, na Cidade Aracy II, os moleques não ficaram mais pelas ruas, podendo ser atropelados. Agora eles têm um lugar para brincar. Mas de manhã é duro, faltam árvores para fazer sombra. Jussara Fernanda Bueno Estudante Aqui tem pouca opção para as pessoas se distraírem. A praça é um local bom para conversar, encontrar as pessoas, praticar um esporte e ter contatos culturais e aqui isso não existe. As praças deveriam ser melhor estruturadas. Noberto Tadeu Puck Bojador As praças aqui não têm bancos, mesas e grande parte dos espaços sem utilização. Em várias áreas poderiam ser construídos espaços de lazer, como pistas de ciclismo e quadras esportivas. A praça Ronald Golias foi uma opção boa para as crianças, mas desde que inaugurou não teve mais eventos. As árvores estão sem manutenção e morrendo, os vizinhos é que se esforçam para mantê-las. Patrocínio:

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F ala povo Praças Públicas

A

praça que todos nós sonhamos tem o canto dos passarinhos, a sombra das árvores, as flores brotando, o banco para o encontro de amigos, lazer aos domingos, iluminação ideal para um passeio em uma noite quente... Tem que ser um local seguro para brincar, para andar de bicicleta, para um simples passeio de fim de tarde... Tem que ser agradável para adultos e crianças. São coisas simples, mas que são mais gostosas se feitas em uma praça. Segundo o dicionário, praça é um lugar público e espaçoso, e a Constituição Federal, ao tratar do Meio Ambiente, proclama em seu art. 225 que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. A cada dia fica mais difícil encontrarmos áreas verdes nas grandes cidades – não é mais “a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores e o mesmo jardim” que nossos avôs conheceram. Porém, se é direito e dever de todos, não devemos deixar de lutar e buscar o que é nosso por direito.

Cremilda Maria de Jesus Vendedora ambulante As praças aqui são o único espaço de lazer da população. Faltam banheiros públicos, bebedouros, arborização e iluminação. Deveriam ter outras áreas de lazer, como quadras de futebol, pistas de ciclismo e skate para as crianças e adolescentes não ficarem pelas ruas. Adriano Ap. Pereira Mecânico Aqui na região, somente a praça que foi inaugurada presta para freqüentar, ela caiu do céu. O resto está muito abandonado, sem luz e recreação para as crianças. Teria de haver um trabalho de paisagismo nas praças para melhorar a arborização e utilização dos espaços de lazer. Silvana Maiara Sampaio Estudante Antes de ter inaugurado a praça eu ficava trancada em casa, agora tenho um lugar onde brincar. É muito bom para as crianças poderem ter um lugar para correr, encontrar os amigos e se distrair. Todas as praças daqui deveriam ter brinquedos e árvores. Lair Conceição Júnior Estudante Em muitas praças faltam atrações culturais, as pessoas aqui ficam sem ter o que fazer. Poderia ter apresentações de bandas locais, teatros abertos, pista de skate e atividades para movimentar as praças. A maioria delas está sem iluminação, faltando árvores e sem bancos para sentar.


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