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obre Veneza quase tudo já foi dito. Para os

românticos, é um local único. Poetas cantaram a beleza do pôr-dosol no Grande Canal, onde as águas do Adriático surgem como um espelho cujos reflexos caleidoscópios cintilam na alvura dos palácios renascentistas. Outros vibram com a bruma mística que se costuma abater sobre a cidade, envolvendo-a sob um manto de mistério que serve de cenário ao mais famoso Carnaval da Europa e onde os encapuzados vagueiam pelas ruas labirínticas entrecortadas pelas inúmeras pontes que surgem em cada esquina. Para os mais racionalistas, Veneza pode ser apenas uma cidade que nasceu e cresceu no meio da laguna. Uma cidade formada por 117 ilhas; 150 canais e 400 pontes. Pode parecer redutor para a cidade que os venezianos construíram sobre o fundo lodoso e embelezaram graças às riquezas acumuladas de uma profícua actividade comercial que remonta aos tempos da Idade Média, mas também não deixa de ser uma definição. Por isso, tanto os românticos como os racionalistas têm razão. Veneza é um pouco das duas observações, mas também é verdade que quem um dia visita a laguna não deixa de pensar no regresso a uma cidade cujas origens remontam aos tempos da queda do Império Romano, quando no século V os povos bárbaros do Norte invadiram as fronteiras romanas.


Povoamento da laguna Para escapar às hordas invasoras, as populações fugiram para a laguna, ocupando as suas pequenas ilhas onde estabeleceram os acampamentos. Pouco a pouco, foram surgindo as primeiras casas construídas sob estacaria que eram enterradas no fundo do lodo da laguna, um sistema que veio a demonstrar ser tão sólido como resistente, tanto mais que perdurou até ao século XVII, altura em que a igreja de La Salute foi ainda construída desta forma arcaica.

Quando se iniciou o povoamento da laguna, cada ilha era independente das suas vizinhas, mas tal como os marinheiros de uma grande armada, cedo perceberam que a sua força estava na união dos esforços necessários para resistir não só aos inimigos comuns, mas também às ofensivas do mar. Foi assim que as lhas se foram aproximando. Foram construídas pontes e assoreados alguns canais de molde a dilatar a área de terra firme, um bem que cedo se tornou precioso para os venezianos, que na mesma altura assumiram um dos grandes traços do seu carácter de cidadãos: todos os homens são iguais, mas subordinados a um bem comum.


É difícil dizer com exactidão quando é que o destino de todos os refugiados que se abrigaram na laguna foi assumido como uma cidade, mas a tradição afirma que tal foi proclamado – evidentemente com solenidade – a 25 de Março de 421 ao meiodia... Tanta exactidão no ano, no mês, no dia, e até na hora, leva muitos historiadores a duvidar, tanto mais que na época o continente vivia tempos conturbados com as ricas cidades romanas a caírem nas mãos dos invasores oriundos do Norte, embora tantas riquezas disponíveis tivessem "pago" a independência dos refugiados. Os bárbaros esqueceram-se dos pobres pescadores que se tinham refugiado na laguna, o que lhes permitiu começar a negociar com a venda do peixe, mas também do sal, ou esse cristal retirado da água do mar não fosse um valioso bem de troca na época. Basta recordar que os próprios legionários de Roma eram pagos com sal, o que veio a dar origem ao vocábulo salário.


A cidade dos Dodges Mas se há dúvidas quanto ao momento da fundação da cidade, parece haver um entendimento sobre o início da utilização da denominação Dux para a entidade que assumiu o governo dos povos da laguna. Dux chegou a ser traduzido como "duque" embora na época tivesse uma conotação mais próxima de "dirigente". No dialecto local a palavra dux evoluiu para dodge, tendo surgido uma função que perdurou durante mais de 1100 anos, pelo que Veneza é hoje muitas vezes apelidada como a cidade dos dodges. Apesar de ser a personalidade que ocupou o vértice da pirâmide social na cidade Estado, podendo influenciar a sua vida quotidiana e a sua história, este dirigente estava simultaneamente manietado pela vigilância constante para evitar que pudesse ultrapassar as suas prerrogativas, abusando da autoridade.


Deste modo, Veneza logrou evitar a conquista do poder por um homem ou por uma família, como aconteceu em muitas outras cidades Estado que ao longo dos séculos salpicaram a península italiana. Os dodges eram eleitos de acordo com um complicado processo de nomes tirados à sorte e diversas nomeações intermediárias, onde uma criança era chamada a retirar de uma urna de ouro os nomes que formavam o colégio eleitoral que acabava por nomear o novo dirigente. Os eleitores eram os nobres da cidade, cujo nome figurava no Livro de Ouro. Eram à volta de dois mil, dos cerca de 120 mil habitantes da laguna, formando o que se chamava o Grande Conselho. A nobreza era controlada pelo Conselho dos Dez e por três inquisidores, mais conhecidos como Conselho dos Três. Estes inquisidores detinham o poder de vida ou morte sobre qualquer veneziano. Foram eles que condenaram Casanova à prisão sob a acusação de aliciamento de três jovens da nobreza para a maçonaria. O poder dos conselhos era tal que à mínima suspeita de abuso de poder de um dodge poderia implicar a sua condenação à morte. Só no século XV sete dodges foram assassinados, outro foi decapitado e uma dúzia de outros foi obrigada a abdicar.

República Sereníssima


Para além de cidade dos dodges, Veneza também ficou conhecida como República Sereníssima, uma denominação algo contrastante com a pompa dos apelidos que muitas outras cidades Estado italianas reivindicaram. A razão da escolha não é muito clara, apesar de ser conhecida desde o século XIV. No entanto, a opção pode passar perfeitamente pela serenidade de uma cidade onde a estabilidade política contrastava com revoluções sangrentas, repressões ferozes e conflitos constantes com inimigos interiores e exteriores ao espaço geográfico que hoje é a Itália moderna. Veneza escapou aos períodos mais conturbados da política regional, mantendo-se livre de grandes problemas militares até ser conquistada por Napoleão. Foi a estabilidade da Republica Sereníssima, protegida do exterior pelas águas do Adriático, que lhe permitiu a grande expansão comercial que criou o seu apogeu no século XV. Os primeiros habitantes chegaram à laguna para escapar das invasões bárbaras e rapidamente se tornaram pescadores e comerciantes de sal. O mar era a única riqueza da cidade, e foi pelo mar que partiram em busca das grandes rotas comerciais. Veneza tornou-se na porta de entrada da Europa das grandes rotas comerciais que atravessavam a Ásia, sendo o ponto de chegada da Rota da Seda, essa artéria onde pulsou o comércio medieval entre o longínquo Catai (China) e a Europa, onde se cruzavam cristãos, muçulmanos, judeus, chineses, mongóis, indianos, caravanas de camelos, cavalos e elefantes, transportando seda, especiarias e pedras preciosas, para além da cultura de todas as gentes e credos. Entre os mercadores de Veneza, Marco Polo é o mais conhecido. Partiu da cidade dos dodges em 1292 e viveu no Catai, na corte mongol, que então governava o maior império jamais edificado pelo homem, tendo regressado 25 anos depois com um carregamento de rubis, pérolas e esmeraldas, que impressionou Veneza, uma cidade que na época já vivia no fausto do comércio de luxo.


As ligações com o Oriente estão bem patentes em símbolos arquitectónicos da cidade. A Igreja de São Marcos não esconde as grandes influências bizantinas que testemunham os contactos próximos entre a cidade dos dodges e a capital do Império Romano do Oriente (actualmente Istambul). Depois da queda de Bizâncio, o conquistador turco tornouse num dos grandes rivais da actividade comercial de Veneza. O apogeu da cidade surgiu no século XV, após a derrota dos turcos em Gallipoli (1416) que lhe abriu as portas do Mediterrâneo e o controlo das ilhas de Creta e Chipre. Na mesma altura, para se defender da cobiça dos senhores de Milão, os venezianos voltaram ao continente, onde asseguraram o controlo de cidades como Verona, Dine, Bréscia e Bergamo, assegurando desta forma o domínio do Adriático. As galeras venezianas (todas propriedade do Estado) dominaram o Mediterrâneo durante cerca de 80 anos, mas a conquista de Constantinopla pelos turcos (1453) e a chegada de Vasco da Gama à Índia, criando uma alternativa mais rápida e lucrativa para o comércio com o Oriente, marcou o início do declínio de Veneza, que sofreu uma importante derrota naval contra os turcos em Chipre (1500). Mais tarde, na batalha de Lepanto – que salvou a Europa de uma invasão turca – as galeras venezianas foram fortemente castigadas, o que reduziu o poderio naval da cidade.


O golpe final verificou-se em 1797, quando Napoleão conquistou a República Sereníssima abolindo uma constituição com dez séculos de existência. Foi o fim dos dodges. O imperador francês veio depois a ceder a cidade aos austríacos, que reinaram até a cidade ser agrupada no território de Itália, após a unificação da península nos finais do século XIX.

Veneza – Arquitectura – Ambiente Oriental

Quem chega a Veneza por essa grande porta de entrada que é a piazzeta, anexa à grande praça de São Marcos, não pode deixar de ficar surpreendido pelas grandes cúpulas arredondadas e pequenos minaretes que contrastam com a arquitectura típica das cidades do continente. É um ambiente que nos remete para o imaginário da arquitectura oriental. Esta é uma das imagens de Veneza desde as suas origens. Quando as populações se instalaram na laguna para escapar às invasões bárbaras, os imperadores romanos trocaram Roma por Constantinopla (Bizâncio), deixando uma feitoria em Ravena. Os laços entre a emergente Veneza e Ravena foram tão lógicos como naturais, e não é por acaso que a Igreja de Santa Maria Assunta, na ilha de Torcello, a mais antiga edificação da cidade dos dodges, tem traços tão semelhantes com as igrejas de Ravena.


O eixo Constantinopla Ravena Veneza foi-se fortificando ao mesmo tempo que os venezianos iniciavam a actividade comercial que os levou a rumar para Oriente. Surgiu assim uma forte influência bizantina na arquitectura da nova cidade. O melhor exemplo é a imponente catedral de São Marcos, na grande sala de visitas da cidade. As cúpulas cobertas de talha dourada, os mosaicos policromos recordam-nos a cada olhar o diálogo que a cidade manteve com o Oriente durante séculos.

Todavia, com a chegada ao século XIV, quando Veneza caminhava para o seu apogeu, sendo uma cidade do Norte, não poderia escapar às influências do estilo gótico que irradiava de França. O casamento entre o gosto educado ao estilo oriental, alterado ao sabor dos ventos das novidades arquitectónicas, deu origem ao que alguns classificam como gótico florido, uma variante estilística verdadeiramente única, que tem o seu melhor exemplo nas obras de ampliação do Palácio dos Dodges (1340/1360). Ao mesmo tempo que o palácio de onde emanava o poder político da cidade foi conquistado por esta forma arquitectónica, os grandes mercadores seguiram o mesmo caminho para a construção dos palácios que foram crescendo nas margens do Grande Canal. A elegante assimetria da Ca´d´Oro é um dos melhores exemplos desta moda que conquistou os venezianos, ao mesmo tempo que no continente as cidades italianas começavam a sofrer as influências da arquitectura renascentista.


Sem nunca ter aderido aos cânones da arquitectura da Renascença, Veneza seguiu o seu caminho, que manteve mais tarde noutros palácios como os de Foscari e Justiniano, erigidos à imagem da Ca´d´Oro, apesar de terem surgido cerca de um século depois.

O coração da cidade Durante séculos, as grandes viagens dos mercadores venezianos terminavam na piazzetta adjacente à Praça de São Marcos. As suas escadarias, que descem para o mar, e o longo cais, que hoje é partilhado pelas gôndolas e pelos vaporettos que asseguram as ligações entre as ilhas e o continente, são a porta de acesso à cidade ladeado pela imponência do Palácio dos Dodges, as autoridades políticas da cidade durante mais de dez séculos.


Palácio dos Dodges

A sede política da cidade Estado é um palácio que representa dignamente o poder e a glória de Veneza. Protegida pelos labirínticos canais da laguna, foi a sede do Grande Conselho, a quem cabia a eleição do dodge que governava a cidade. Se hoje este grande palácio é visto como um dos grandes exemplos da forma como o estilo gótico foi interpretado pelos venezianos, ele é apenas o último de três palácios que ocuparam a piazzetta. No início, nos tempos conturbados de século XIV, a defesa da sede política da cidade necessitava mais que o obstáculo natural criado pela laguna. Cresceu assim um castelo defendido por um fosso e uma tradicional ponte levadiça do qual não restam hoje quaisquer traços. Em 1345 começou a ser construído o segundo palácio, que visava não só albergar a sede política de Veneza, mas também testemunhar o seu poder marítimo e comercial emergente. Para além de ser a residência dos dodges, este novo palácio, que foi crescendo ao longo dos anos, albergava ainda a sede do Conselho dos Dez e do Conselho dos Três, para além de ser a sede do poder judicial e até prisão. A história refere dois grandes incêndios (1574 e 1577), pelo que se pode concluir que a sua rica decoração interior data do século XVI.


O Palácio dos Dodges tem duas fachadas: uma orientada para o Grande Canal e outra virada para a piazzetta. É aí que surge a Porta della Carta, um brilhante frontal gótico, onde o dodge afixava os seus decretos. Sobre a porta que hoje dá acesso aos visitantes do palácio surge uma cópia do alto-relevo que representa um dodge frente ao leão de São Marcos – o símbolo da cidade –, cujo original foi destruído pelas tropas napoleónicas após a invasão.

No interior, encontram-se as grandes escadarias – Scala dei Gianti – cujo nome advém da presença de duas enormes estátuas de Marte (Deus da guerra) e Neptuno (Deus dos mares), obras de Sansovino. O palácio segue a arquitectura clássica italiana: o rés-do-chão funcionava para as actividades quotidianas; no primeiro andar era a residência do dodge e no último andar, os venezianos colocaram as salas nobres.


A Sala del Collegio é, talvez, a mais bela, com as suas pinturas de Veronese, onde o governo recebia os embaixadores estrangeiros ou os cidadãos no regresso das suas viagens. Quem esperava para ser recebido, aguardava na Sala del Anticollegio da autoria de Palladio. No mesmo andar surgem as salas ocupadas pelo Consiglio dei Dieci, que surgia como um comité de segurança onde os cidadãos suspeitos eram levados após uma espera na Sala della Bussolla, cujo nome advém do facto de a passagem contar com uma porta circulante escondida por uma enorme estante. A Sala Maggiore del Consiglio, sobranceira à laguna – como não poderia deixar de ser –, onde tinham assento os nobres de Veneza que ditavam as leis e apontavam os candidatos ao cargo de dodge, chegou a ter, segundo se fala, uma obra de arte da pintura renascentista. Foi destruída pelo fogo, retomando a sua dignidade graças à arte de Tintoreto, Veronese e Palma. Estes são apenas alguns dos locais que não se devem perder numa visita ao Palácio dos Dodges, embora nem sempre seja fácil conhecer, à primeira, toda a sua riqueza. As sucessivas obras de restauro fazem com que ciclicamente muitas salas sejam vedadas ao público, num monumento onde há tantas curiosidades para conhecer que será fastidioso enumerar. Até a cela onde esteve preso e de onde se evadiu Casanova é um local de romagem para muitos. No início do século XVII, foram acrescentadas as chamadas Prigioni Nuove (Prisões Novas), na outra margem do rio, por obra do arquitecto Antonio Contin. Este novo corpo, sede dos Signori della Notte (Senhores da Noite), magistrados encarregues de prevenir e reprimir crimes penais, foi ligado ao palácio através da Ponte dei Sospiri (Ponte dos Suspiros), percurso dos condenados trazidos do palácio, sede dos tribunais, para as prisões.


Praça de São Marcos

Quem deixa para trás a piazzetta e o Palácio dos Dodges, entra na magnífica Praça de São Marcos. Talvez tenha sido o caminho seguido por Napoleão após a conquista da cidade Estado, e talvez seja por isso que o Corso afirmou que se trata "da mais bela sala de visitas da Europa". Se a praça é o grande coração da cidade, nunca esquecida em qualquer passegiatta ao fim da tarde, desde sempre foi local de encontro para os cidadãos venezianos que ali acorreram com a mesma frequência com que hoje os turistas procuram o refúgio das arcadas por onde se estendem as mais variadas lojas e onde é importante não falhar uma visita aos cafés Florian ou Quadri, que se espalham em grandes esplanadas e onde à noite não falta a música de várias orquestras, que rivalizam entre si na conquista de ouvintes. Um expresso ou um capuccino, acompanhado com um tramezzino (sandes em pão cortado triangular) ou uma schiacciata (folhado), para não falar nos gelados, têm outro sabor em plena piazza.


Campanile As altas torres sineiras fazem parte do cenário da maioria das cidades italianas, sendo na maioria dos casos vistas como uma imagem cívica. Este símbolo não poderia faltar em Veneza onde a Campanile é a mais antiga e simultaneamente uma das mais modernas edificações da cidade. A antiguidade advém-lhe das suas fundações utilizarem os alicerces romanos quando a torre começou a crescer no século IX. A construção foi muito demorada, só tendo terminado no início do século XVI, da mesma forma que a juventude tem a ver com o facto de a torre se ter abatido aparatosamente no dia 14 de Julho de 1902. Após o acidente, que miraculosamente não causou vítimas, o Conselho Municipal decidiu voltar a erigi-la. A reconstrução foi mais rápida, e a torre, com os seus 99 metros de altura, ficou concluída em 1912, sendo uma cópia exacta da original, incluindo mesmo os quatro sinos que anunciavam quatro actividades diárias, que voltaram a ser fundidos. Renasceu assim a velha torre que surge em frente da Torre dell´Orologio, uma das atracções da cidade, já que se trata de um relógio astronómico construído no final do século XV, encimado pelas estátuas de dois mouros vestidos com peles de carneiro, que, hora a hora bate pesados maços de ferro sobre um relógio que marca a cadência da vida na cidade.


Basílica de São Marcos

Construída entre 1063 e 1094, a Basílica de São Marcos é o símbolo de Veneza, para não dizer o espelho da cidade e do seu esplendor, já que a sua história está intimamente ligada à cidade. No início foi construída para ser a capela dos dodges, testemunhando o poder e a riqueza da cidade, tendo por isso sofrido obras de ampliação em três épocas distintas. Para cimentar a afirmação de que a basílica é o espelho do poder de Veneza, bastará dizer que o ex-líbris do monumento foi durante anos os quatro cavalos de bronze que os guerreiros venezianos trouxeram de Constantinopla como troféu de guerra em 1204. Estas estátuas, cuja origem divide os historiadores, que lhe dão uma origem grega (séc. IV ou III a.C.) ou latina (séc. IV d.C.), transformaram-se num símbolo tão forte da cidade que Napoleão Bonaparte, após a conquista da cidade, deu ordens para as deslocar para Paris como troféu de guerra, a exemplo do obelisco pilhado no Egipto que hoje surge na Place Vendôme, no coração de Paris.


Hoje, os cavalos que surgem na balaustrada sobranceira à entrada da basílica são cópias. Contudo, os venezianos tiveram sorte. Se Napoleão foi o ladrão que roubou ladrão, os cavalos que haviam feito parte do saque de Constantinopla acabaram por ser devolvidos a Veneza, podendo ser hoje apreciados no Museu Marciano. Mas os cavalos são apenas mais um dos exemplos da ligação entre Veneza e Constantinopla, entre Veneza e o Império Romano do Oriente. No entanto, há muitos outros: num dos recantos da catedral surge um interessante grupo do século IV d.C. de origem cretense, Trata-se dos Tetrarcas, representando os imperadores Diocleciano, Maximino, Valério e Constantino. Para os historiadores, a ligação de Veneza com o Oriente é identificada pela arquitectura da basílica, que assume a cruz grega coroada por cinco cúpulas (uma ao centro e outras em cada uma dos braços).


No átrio, os mosaicos mostram imagens do Antigo Testamento. Uma escadaria conduz ao Museu Marciano (merece uma visita), onde estão expostos as verdadeiras esculturas que encantaram Napoleão.

Mas entre pequenas e grandes histórias que estão ligadas a cada recanto da basílica, para quem é capaz de vibrar com a beleza da arquitectura, o verdadeiro clímax passa por pisar os mosaicos multicores que atapetam o chão numa variedade de cores que só algumas tapeçarias são capazes de igualar, resistindo à tentação dourada das cúpulas cobertas de ouro ou dos mais requintados mármores. São estes contrastes que fazem aquilo a que podemos chamar cultura: testemunhar o resultado do cruzamento de culturas, procurando compreender o que o Oriente deu ao Ocidente e, talvez, tentar imaginar até onde se poderia ter chegado sem os radicalismos religiosos de parte a parte. Só que a religião esteve sempre presente nos mundos que confluíram em Veneza. Talvez, por isso, o grande inimigo da cidade dos dodges tenha sido os turcos...


A própria identidade da cidade está encerrada na Basílica de São Marcos. São as relíquias do Apóstolo que pregou o nome de Cristo no Egipto, tendo morrido em Alexandria, onde foi sepultado. Por volta do ano 800, mercadores venezianos resgataram o corpo. Entre a lenda e a história pode haver grandes diferenças, mas o que restou aponta para que o corpo tenha sido escondido no meio de carne de porco, de molde a evitar a inspecção dos muçulmanos. A relíquia chegou a Veneza em 829. Foi uma excelente manobra política, numa época em que a religião controlava os movimentos da Europa. Graças a São Marcos, Veneza logrou rivalizar com Roma, que se orgulhava de ser guardiã das relíquias de São Pedro.


Veneza – Grande Canal – Passeio público

A relíquia chegou a Veneza em 829. Foi uma excelente manobra política, numa época em que a religião controlava os movimentos da Europa. Graças a São Marcos, Veneza logrou rivalizar com Roma, que se orgulhava de ser guardiã das relíquias de São Pedro Da mesma forma que os britânicos discursavam no Hyde Park Corner, os diletantes franceses passeavam no início do século XX pelos Campos Elísio, sendo copiados pelos portugueses, que criaram o Passeio Público que saia do Rossio na direcção dos "arrabaldes" onde hoje está o Marquês de Pombal. Toda a Europa tinha, ou tem, ou seus ex-líbris. Veneza não passou ao lado desta moda, embora os passeios pela cidade que flutua na laguna do Adriático apresentassem uma alternativa diferente. Não tinha carruagens ou os "americanos" (eléctricos) que cativavam a Europa. Todas as deslocações eram feitas de barco.


O tempo passou, mas em Veneza nada se alterou. É certo que os grandes veleiros deram lugar a modernos barcos de cruzeiro, mas na cidade que flutua, os passeios são feitos de gôndolas, os táxis são barcos a motor e os autocarros chamam-se vaporetto. Em Veneza não há automóveis nem há estradas. Os polícias fazem as patrulhas nos seus barcos; os bombeiros circulam de barco; os alimentos chegam de barco e os detritos são devolvidos nos barcos que criam o tráfego nas vias feitas de água de uma cidade que vive sobre a água. Por isso, o Grande Canal, que atravessa a cidade na forma de um S invertido, surge nos seus cerca de quatro quilómetros como uma das artérias mais famosas do mundo. Todas as ricas famílias com o seu nome ligado à história da cidade tiveram um palácio com o nome da sua família virado para o Canal. Contrariamente às residências fortificas que na mesma altura foram construídas no continente, nenhum dos palácios venezianos é fortificado. Qualquer deles conta, pelo menos, com duas portas: uma virada para o canal, prevendo amarrações para os diversos barcos que por ali circulam, e outra orientada para terra firme. O primeiro andar é sempre considerado um andar de serviços, já que é no andar superior – o piano nobile – que surgem os espaços residenciais.


O grande canal A zona oeste do Canal chama-se Dorsoduro (dorso duro), porque o solo é relativamente firme. A zona Este, talvez a mais sofisticada e elegante, é conhecida como Rialto (costa alta), sendo aí que surge a zona monumental da cidade. Conhecer Veneza passa por ir de Dorsoduro até Rialto, o que pode ser feito num vaporetto ou num dos táxis que surgem acostados à porta de todos os hotéis. Para muitos, aqueles que chegam a Veneza de comboio, este é o caminho de chegada, já que ligam a gare e a Praça de São Marcos, numa viagem de cerca de 40 minutos. Mas se o Grande Canal permite conhecer o ambiente de Veneza, para visitar as duas margens do Canal o melhor é andar a pé, utilizando as pontes que o cruzam.


A Punta Della Dogana

Numa cidade mercantil, a fronteira – dogana – é um local fundamental. Este vértice da ilha da Giudecca, que aponta na direcção da Praça de São Marcos, pode ser visto como a entrada do Grande Canal. Foi durante anos o ponto onde os navios atracavam para descarregar as suas mercadorias sobre o olhar dos oficiais que atribuíam as taxas. No cimo de uma torre erigida em 1677 surge um cata-vento, onde uma figura móvel que simboliza a fortuna dos mercadores se orienta ao sabor do vento sobre um globo terrestre sustentado por dois atlantes.


Santa Maria Della Salute Paralelamente ao campanile que se ergue na Praça de São Marcos, o posicionamento da Igreja de Santa Maria della Salute é, pela sua situação geográfica, um dos monumentos mais fotografados de Veneza. Construída em acção de Graças pelo final da peste que devastou a cidade em 1630, dizimando um terço da sua população, continua a ser um local de festa a 21 de Novembro, o Dia da Madonna della Salute. A nave octogonal foi desenhada por Baldassare Longhena, que seguiu a orientação de outras igrejas dedicadas ao culto mariano.

Ponte de Rialto A circulação em Veneza foi feita durante séculos através de pontes de madeira. Uma das primeiras grandes pontes de pedra a ser construída foi decidida em 1524, tendo o projecto sido pedido a vários especialistas. Diz-se que entre os projectos apresentados à cidade surgiu um assinado por um certo Miguel Ângelo. No entanto, a obra foi entregue a António da Ponte, numa época em que vários conflitos arrasavam a península italiana, o que obrigou a diversos atrasos. A obra apenas se iniciou em 1588, tendo sido concluída quatro anos depois. Surgiu assim a ponte de Rialto com o seu arco único com 28 metros sobre o Grande Canal, elevando-se a 7,5 metros de altura.


CA'D'ORO Se ao longo do Canal se multiplicam diversos palácios, alguns dos quais transformados em hotéis, outros adaptados a colégios e universidades, existem ainda alguns que continuam a servir de residências. A descoberta de todos os palácios faz parte do desafio que representa viajar ao longo do Grande Canal, seja de vaporetto seja de gôndola. No entanto, há um edifício que merece uma visita especial, pois a sua arquitectura marcou muito do futuro das edificações que se lhe seguiram ao longo dos anos. Falamos da Ca´D´Oro. Ninguém tem uma ideia exacta sobre a origem do nome – Palácio de Ouro. Há quem diga que no século XV partes da fachada estavam cobertas com o precioso metal. Outros referem que o edifício terá sido mandado erigir pela família Doro. Mas se do passado pouco ou nada se sabe, no presente este palácio continua a ser admirado pela sua grande elegância, feita de uma assimetria pouco comum ao estilo gótico que lhe deu origem. É um dos melhores exemplos do chamado gótico florido que nasceu em Veneza e que influenciou a arquitectura da cidade que flutua sobre o Adriático.


A festa das máscaras

O Carnaval é talvez uma das mais conhecidas manifestações tradicionais de Veneza. Os mascarados que vogam pelas ruas labirínticas da cidade escondidos sob a sua bauta (uma pequena capa negra com um capuz) ou o tabarro (uma grande capa) com as caras veladas com as mais originais máscaras onde alguns vêem uma evolução das protecções utilizadas pelos médicos que lutaram contra a peste negra, são hoje um outro ex-líbris da cidade. Se o objectivo das máscaras era esconder a identidade do seu utilizador ou utilizadora, as regras de cortesia ditavam que os mascarados ao cruzarem-se no meio da cidade se saudassem com deferência: "bom dia, senhora máscara", diziam. As máscaras procuravam surpreender ou assustar. Eram essas as regras do Carnaval em Veneza, embora o requinte e o cuidado colocados no vestuário fossem os mesmos que eram exigidos para as grandes recepções nos mais requintados salões. Fazia parte das regras do jogo nunca demonstrar que se havia reconhecido uma máscara. A identidade de quem se escondia atrás da máscara era sagrada durante todo o Carnaval. O apogeu destas festividades verificou-se no século XVIII. Nessa época era festejado de uma forma alucinante entre 15 e 25 de Dezembro.


Depois havia uma pausa, mas tudo recomeçava com o mesmo vigor até à quarta-feira que inicia a Quaresma, contrastando com os escassos três dias de diversão com que a tradição ocidental ocupa os três dias anteriores à Quarta-Feira de Cinzas.

O frenesim e a loucura que envolvia o Carnaval cresceram na proporção directa da queda do prestígio e da importância de Veneza. Curiosamente, seria a queda da cidade Estado face às tropas napoleónicas em 1797 que veio interromper estas celebrações. No entanto, as memórias do Carnaval não morreram, e quase dois séculos depois foram recriadas. Foi em 1980 que os venezianos recuperaram esta antiga tradição, reafirmando o seu gosto pelas festas e divertimentos. Desde então, a tradição foi retomada, e anualmente as faustosas máscaras voltam a descer à rua na cidade que flutua sobre a laguna, invadindo a Praça de São Marcos. A grande sala de visitas da cidade outrora governada pelos dodges torna-se demasiado pequena para acolher os foliões que ali acorrem, oriundos de paragens longínquas. Tal como no passado, as bautas e os tabarros tomam conta das ruas e becos, surgem nas esquinas das pequenas pontes e ouve-se a saudação: "olá, senhora máscara". O objectivo dos mascarados de hoje é exactamente o mesmo dos do passado: assustar ou, pelo menos, surpreender aqueles com quem se cruzam.


Veneza – Gôndolas – Vogando pelos Canais

Se hoje as gôndolas são um dos grandes ex-líbris de Veneza e o gondoleiro remando ao pôr-do-sol, empoleirado na ré do longo barco, entoando "O sole mio" fazem parte do imaginário de muitos que sonham com a cidade que flutua sobre o Adriático, estes barcos fazem parte da história da cidade. Sendo longos, permitiam dilatar a capacidade de carga e ao mesmo tempo progredir nos mais estreitos canais que asseguram as comunicações no centro da cidade, da mesma forma que o seu remo posterior evita as dificuldades de progressão no meio da "rede viária" de Veneza. Pouco se sabe da origem do design destes barcos, tradicionalmente de um negro brilhante, que cruzam os canais. Diz-se que a sua forma se inspira na cornucópia, símbolo de fortuna e abundância. A cornucópia dos dodges que governaram Veneza é também um dos símbolos da cidade. De simbolismo em simbolismo, os seis dentes que surgem na proa de cada gôndola referem-se aos bairros em que está dividida a cidade, da mesma forma que o dente que aponta em direcção da popa representa a ilha de Giudecca, a mais próxima do coração de Veneza.


Passeios turísticos Utilizados como meio de transporte ao longo de séculos, hoje estão ao serviço dos turistas, sendo um meio de transporte tão agradável como dispendioso, o que exige que antes de qualquer viagem pelos canais seja mais do que aconselhável discutir antecipadamente o tempo da viagem e o preço – sempre negociável – a pagar. Em face disto, torna-se difícil apontar um preço médio. Tudo depende da lei da oferta e da procura e da capacidade de negociação do cliente com o gondoleiro. Talvez por isso os turistas americanos e japoneses sejam os preferidos dos homens do remo...Um passeio de gôndola pode ser uma experiência romântica. Ninguém dúvida, mas também tem o seu (alto) preço, sobretudo se acontecer ao cair da noite, quando os custos estão mais inflacionados pela procura. Uma gôndola pode transportar seis pessoas, o que ajuda a dividir o seu preço. Esquecendo as questões ligadas ao dinheiro, uma viagem ao pôr-do-sol num dia de calmaria será sempre uma recordação inolvidável, sobretudo nos canais recônditos da cidade onde não chega o ruído dos barcos a motor.


Passear sem Destino Qualquer passeio por Veneza começa quase sempre pela Praça de São Marcos, essa grande sala de visitas da cidade onde as esplanadas se estendem em frente do café Florian ou do Quadri. Um capuccino ou um gelado saboreados em companhia do som melodioso de peças clássicas executadas por vários músicos são tónicos revitalizantes antes de qualquer passegiata. De acordo com os venezianos, para conhecer a Praça de São Marcos é necessário um dia, pelo que para visitar um pouco mais da cidade é melhor reservar dois ou três dias. Só assim é possível ter tempo para atravessar a ponte de Rialto na direcção da Academia, a Igreja de Santa Maria de la Salute e a Dogana, um local de vista privilegiado da entrada do Grande Canal e da piazzetta. O melhor caminho para chegar à ponte de Rialto – talvez a mais famosa das 446 – segue pela Mercerie, uma rua cujo nome advém do seu incontável número de lojas (mércer significa mercadoria) mas também de pequenos mercados a céu aberto onde quase tudo se vende – desde os postais ilustrados a antiguidades mais ou menos autênticas. As lojas são tantas que ocuparam mesmo a própria ponte que atravessa o Grande Canal, sendo a principal ligação entre as duas margens. Rialto cresceu com Veneza: começou por ser em madeira (no século XII), mas a sua utilização exigiu que em 1591 fosse construída em pedra a primeira das seis versões que já assumiu. A ponte é um miradouro ideal sobre a azáfama do tráfego da cidade, onde um sem-número de gôndolas se cruza com os vaporetti (transportes públicos) e os mais diversos barcos de carga que abastecem a cidade. Veneza pode não ter automóveis, mas nem por isso está livre de engarrafamentos...


Mas a azáfama não se confina ao mais saturado canal da Cidade. Atravessar a ponte de Rialto pode ser uma experiência única, tantas são as pessoas que por ali se cruzam. Mas este é também o único caminho para quem pretenda visitar a Academia em cuja galeria estão expostas as mais requintadas obras de arte venezianas: quadros de Giovanni Bellini, Marco Basaiti, Andrea Mantegna, Giorgione, Lorenzo Lotto, Veronese e tantos outros.

O classicismo das obras expostas na Academia contrasta com as obras de arte do século XX da colecção de Peggy Guggenheim, que surgem na casa onde ela viveu desde o fim da guerra até à morte. Percorrendo as labirínticas ruas da margem direita do Grande Canal não se pode permanecer impassível à beleza de todos os palácios que se estendem ao longo desta. A originalidade da sua arquitectura gótica é deslumbrante, fazendonos esquecer os passos que conduzem até à Igreja de santa Maria della Salute, construída em 1630 em acção de graças pelo fim da peste negra que vitimou a cidade. Um pouco mais à frente surge o edifício da Dogana (alfândega), onde os barcos dos mercadores venezianos se detinham para pagar as taxas sobre as ricas mercadorias que fizeram o fausto da cidade.


Vale a pena parar à sombra do imponente cata-vento dourado que surge no pináculo do edifício e observar a magnificência da entrada na piazzetta e o Palácio dos Dodges. De regresso à margem esquerda, deixando-nos perder no verdadeiro labirinto que é Veneza, subindo escadas, atravessando pontes, descobrindo ruas estreitas e sombrias, é de não perder uma visita às mais famosas igrejas da cidade: São Zanipolo, São Zacarias, São Sebastião e São Giorgio Maggiore, onde do alto da torre do relógio de pode desfrutar de uma das mais belas vistas da cidade.

As compras Ao longo de qualquer passeio somos perseguidos pela repetição dos ícones italianos: Gucci, Armani, Valentino, Benetton... Os grandes costureiros e os estilistas italianos há muito que se instalaram em Veneza, mas as lojas mais frequentes dedicam-se ao comércio de originais peças de vidro e cristal oriundas de Murano, uma pequena ilha próxima do coração da cidade. Se comprar pelo menos uma peça de Murano é quase obrigatório para quem visite Veneza, caso o tempo permita, o melhor é visitar a pequena ilha de Murano. Aí é possível assistir ao trabalho dos mestres vidreiros que dão forma e cor a peças que primam pela originalidade. Outras das recordações mais procuradas por quem passa por Veneza são as réplicas das originais máscaras de Carnaval que se tornaram num ex-líbris da cidade. Esta tradição que remonta ao século XVII tornou-se tão popular que hoje essas máscaras são produzidas em série, sendo muito difícil encontrar aquelas que ainda são produzidas artesanalmente. O mesmo se pode dizer das famosas rendas venezianas, a maioria das quais são hoje confeccionadas mecanicamente, sendo quase impossível para um leigo reconhecer entre as que são produzidas manualmente e as industriais.


Prazer da mesa Tal como as lojas, também os restaurantes se espalham pela cidade, surgindo em cada recanto e nas várias praças. Numa cidade que nasceu sobre as águas do Adriático, os mariscos e o peixe são há séculos os pratos mais habituais de Veneza. Vale a pena provar um risotto al mar (arroz de marisco) ou um risotto al negro (arroz de chocos com tinta), para já não falar nos diversos pratos à base de enguias, ou o bacalhau desfiado acompanhado com farinha de milho. A cozinha é muito condimentada, como acontece com a panada veneziana (açorda com azeite, alho, louro e queijo parmesão) ou a patissada (legumes com enchidos e queijo). Hoje em dia a cozinha italiana e internacional está bem representada numa cidade onde não há uma grande tradição na confecção de pratos de carne, apesar de os venezianos se orgulharem da sua figà a la veneziana (fígado de vitela com cogumelos) ou a castradina, um prato confeccionado com carne de porco castrado acompanhado com legumes. No campo dos doces, os mais gulosos podem deliciar-se com os baicoli (biscoitos) que os venezianos molham em vinhos doces como os Ramandalo e Recioto, os bussolai (biscoitos barrados com ovo) ou a veneziana (massa folhada coberta com amêndoas e açúcar caramelizado).


Informações Úteis Diferença horária: mais uma hora do que em Portugal continental Documentos necessários: o bilhete de identidade é suficiente para cidadãos da União Europeia para estadas inferiores a três meses. A carta de condução portuguesa é aceite. Electricidade: 220 volts. As tomadas são iguais às portuguesas. Indicativos telefónicos: o indicativo de Itália é o 39 e o de Veneza o 41. Os telemóveis portugueses funcionam em Itália. Idioma: Italiano. Habituados a receber turistas de todo o mundo, os venezianos são hábeis em avançar com frases feitas. Cuidado, raramente vão além de umas quantas palavras. Se quiser pagar na mesma moeda, pode começar por memorizar: buon giorno (bom dia); buona sera (boa tarde); per favore (por favor); grazie (obrigado); mi scusi (desculpe); arrivederci (adeus); la strada per (o caminho para); dov´è (onde é); si (sim); no (não); mattina (manhã); sera (tarde); pomeriggio (parte da tarde); domani (amanhã); tropo caro (muito caro); meno (menos); poco (pouco); molto (muito).

Dicas Úteis • Gorjetas. É habitual deixar uma gorjeta, embora seja conveniente verificar se a sua conta não inclui já uma taxa pelo serviço nos restaurantes e cafés. Nos teatros ou no cinema, este hábito é seguido, o mesmo acontecendo com os bagageiros dos hotéis, dos aeroportos, pilotos dos barcos-táxi e guias turísticos. • Em Veneza as ruas são calli, as praças chamam-se campi – à excepção da Piazza de San Marco – e os seis bairros chamam-se sestieri (San Marco, Castello; Cannaregio, Santa Croce, San Polo e Dorsoduro). Em nenhum dos casos a sequência peca por alguma falta de lógica: não se espere encontrar uma sequência lógica de norte para sul nem sequer que os números ímpares e pares surjam em lados opostos. • Refeição. Em Itália uma refeição tradicional é composta por um antipasto (entrada), um primo (geralmente pastas), um secondo (peixe ou carne) acompanhado por um contorno (legumes ou


salada). Depois é a vez do fromaggio (queijo), frutta (fruta) e dolce (doce) ou gelatto (gelado). Os chamados "menus turísticos" são muito mais frugais e as bebidas nunca estão incluídas. • Água. A água é servida engarrafada (acqua minerale). É melhor referir logo a preferência, porque em Itália é servida imediatamente água gaseificada (gassata) em vez da natural (non gassata). • Café. Tal como os portugueses, os italianos também têm o culto do café. O espresso pode ser cheio (lungo) ou curto (piccolo), para além de macchiato (com leite) ou capuccino. • Vaporetti. Tal como as cidades tradicionais têm os seus autocarros, Veneza tem os vaporetti. Estes barcos-autocarro têm as mais diversas carreiras, sendo necessário informar-se sobre o ritmo de paragens e percursos. Os preços oscilam entre as 4000 liras para uma viagem normal e as 7200 liras para uma viagem de ida e volta. Há ainda preços especiais para 24 horas, para 72 horas e para uma semana. • Barcos-táxi. Tal como os táxis de qualquer cidade, há um preço médio para uma chamada, para a deslocação e também um preço por tempo de espera. Nenhum deles é barato.


Bastam seis bairros para fazer uma cidade com mapa em forma de peixe. Todos filhos do mesmo “Império”, mas com personalidade própria. E forte 1 - Cannaregio – O autêntico – Pequenas ruelas desertas, roupa a secar à janela e gatos a preguiçar nas margens dos canais é o que encontrará se penetrar no coração do bairro. À medida que se desloca para o centro aumenta o movimento, mas é também aí que encontrará três das melhores sugestões gastronómicas de Veneza: a La Cantina, a Enoteca do Colonne e a Cantina Vecia Carbonera. Viste também a Scuola Levantina, (no Gueto Vecchio) uma imponente sinagoga construída em 1538 pela comunidade sefardita. 2 - Santa Croce – O pequenino – É o mais pequeno de todos, mas com alma de gigante e pura essência veneziana. Quem tiver saudades de ver automóveis, ou chegar de automóvel, é aqui que o poderá fazer, bairro onde “desagua” a Ponte Della Libertà, que liga o continente à grande laguna. O restaurante La Zucca (abóbora) é obrigatório para os apaixonados de, é claro, abóbora. 3 - Dorsoduro – O calmeirão – Considerado o mais sossegado de todos os sestieri, aqui encontrará o melhor miradouro marítimo da cidade, em Zattere, lugar onde se situam os antigos cais, com vista para as ilhas de Giudecca e San Giorgio Maggiore. Procure também a Squero di San Trovaso e encontrará os artesãos a reparar as gôndolas, ao passo que na osteria Al Bottegon poderá beber um copo de vinho e comer um panini (experimente o de queijo, presunto de Parma, eruca, pressaola e mortadela). 4 - San Polo – O dissimulado – Para comprar o presente da praxe, beber um copo até um pouco mais tarde, tirar uma fotografia ao pôrdo-sol, almoçar ou jantar num restaurante mais barato, parece ser aqui que se concentra o lado mais turístico da cidade (o Rialto é e sua zona central). Mas mesmo aqui há que saber olhar com atenção, pois é igualmente nesta zona que ficam alguns dos mais belos palácios (Ca’d’Oro) e onde todas as manhãs se desenrola a magia do mercado.


5 - San Marco – O embaixador – É o bairro que mais gente recebe, que tem a mais imponente praça (Piazza San Marco) e a mais entusiasmante obra arquitectónica da cidade (Basílica de San Marco). Tudo é turístico, tudo é sumptuoso, mas sem este bairro Veneza perderia muita da sua aura. O Café Florian, instalado sob as arcadas desde 1720 e onde o café é servido em bandejas de prata, é um dos expoentes máximos. 6- Castello – O gigante – É a cauda do peixe, o maior dos bairros, onde se concentram os espaços verdes mais assinaláveis e onde se situam as lojas de muitos criadores de referência. Quem quer comprar bem, se não encontrar no Castelo dificilmente encontrará no resto de Veneza. Aqui poderá desfrutar daquela que muitos consideram a melhor pastelaria da cidade (Rosa Salva).


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