Sandra bown um sonho em acapulco (sabrina 1567)

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Um Sonho em Acapulco A Whole New Light Sandra Brown

Sol, areia, mar... e uma ardente paixão! Cynthia McCall sabe que sempre poderá contar com o melhor amigo de seu exmarido. Ele a faz rir e se esquecer de seus problemas. Desde que ficou viúva, Worth Lansing, tem lhe dado apoio e amizade incondicionais. Worth é um solteirão charmoso e namorador, e Cynthia jamais imaginou se ver apaixonada por um homem que não tem intenção de assumir um compromisso sério... Quando Worth a convidou para passar um fim de semana em Acapulco, ele não esperava que seriam obrigados a compartilhar o mesmo quarto. Tampouco esperava sentir-se atraído por Cynthia. O cenário inspirador e a proximidade começam a despertar alguma coisa em Cynthia e em Worth. E logo eles descobrem que terão de decidir entre os laços de amizade que os une, a possibilidade de encontrar juntos a verdadeira felicidade. Digitalização e Revisão: Crysty

Querida leitora, Quando o sócio do falecido marido de Cynthia, Worth Lansing — que para ela nunca passou de um grande amigo — a convida para passar um fim de semana com ele em Acapulco, Cynthia se vê obrigada a escolher entre uma vida mergulhada no luto e um novo começo para amar... Um romance que a deixará emocionada. Leonice Pomponio Editora


Copyright © 1989 by Sandra Brown Originalmente publicado em 2008 pela Bantam Dell. PUBLICADO SOB ACORDO COM BANTAM DELL. NY.NY-USA Todos os direitos reservados. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. TÍTULO ORIGINAL: A WHOLE NEW LIGHT EDITORA Leonice Pomponio ASSISTENTES EDITORIAIS Patrícia Chaves Paula Rotta Vânia Canto Buchala EDIÇÃO/TEXTO Tradução: Elizabeth Arantes Bueno Revisão: Paula Rotta ARTE Mônica Maldonado MARKETING/COMERCIAL Andréa Riccelli PRODUÇÃO GRÁFICA Sônia Sassi PAGINAÇÃO Andréa Carmassi © 2008 Editora Nova Cultural Ltda. Rua Paes Leme, 524 — 10 andar — CEP 05424-010 —São Paulo - SP www.novacultural.com.br Premedia, impressão e acabamento: RR Donnelley


CAPÍTULO I

Passas eram, definitivamente, coisas desagradáveis de se olhar, pensou Cynthia McCall. — Brandon, por favor. — Gosto de deixar as passas para o fim, mamãe! Cynthia sacudiu a cabeça e suspirou, resignada. Sua mãe ouviu o suspiro no momento em que entrou na cozinha banhada de sol. — O que está acontecendo? Do que está reclamando agora, Cynthia? — Ladonia foi direto ao bule do café e encheu uma xícara. — Seu neto está pegando as passas do cereal e colocando, uma a uma, em volta do prato. — Que criativo! Cynthia olhou primeiro para a mãe, depois para as gotas de leite que caíam na toalha, à medida que o filho alinhava as passas. — Estou tentando corrigi-lo, mamãe, e não elogiando sua criatividade. — Acordou do lado errado da cama?... De novo? A pausa entre as duas perguntas não foi acidental. Foi o modo sutil de Ladonia Patterson comentar sobre os ataques de mau humor que vinham se repetindo com desagradável freqüência na vida da filha. Cynthia fingiu não perceber a crítica e secou as gotas de leite com um guardanapo. — Coma a torrada, Brandon. — Posso comer a torrada na frente da TV, assistindo à Vila Sésamo? — Sim. — Não! As respostas divergentes foram dadas em uníssono. — Mamãe, você sabe o que eu disse a ele sobre... — Quero conversar com você, Cynthia. A sós. — Ladonia ajudou Brandon, o neto de quatro anos, a descer de sua cadeira, e a embrulhar em um guardanapo a fatia de torrada com canela. — Não derrube migalhas no sofá — alertou. Então ajeitou a calça de pijama do menino e lhe deu um empurrão carinhoso em direção à porta para, em seguida, se voltar e confrontar a filha. No entanto, Cynthia contra-atacou:


— Essa sua interferência constante, quando estou tentando disciplinar Brandon, tem de parar, mamãe. — Não é sobre isso que quero conversar. Magra, atraente e com um refrescante ar de quem acabou de tomar o seu banho matinal, Ladonia sentou-se à frente da filha. Cynthia, nada inclinada a ouvir um sermão maternal, consultou seu relógio de pulso. — Tenho de ir embora ou chegarei tarde ao trabalho. — Sente-se, Cynthia. — Não quero começar o dia ouvindo um sermão, mamãe. — Sente-se, vamos — Ladonia repetiu calmamente. Cynthia obedeceu com um suspiro. — Mais café? — Não, obrigada. — Estou estranhando você, filha — começou Ladonia, assim que se sentou diante dela com uma caneca de café fumegante. — Anda crítica, tensa, nervosa, impaciente com Brandon... Se eu não a conhecesse bem, diria que está grávida. Cynthia revirou os olhos. — Pode deixar essa idéia totalmente de lado. — Que fim levou seu senso de humor? O que anda acontecendo de errado ultimamente? — Nada. — Está bem. Então eu mesma lhe direi o que há de errado com você. — Tinha certeza de que faria isso. — Não banque a engraçadinha comigo, moça — Ladonia retrucou, sacudindo o dedo para a filha. — Mamãe, não vamos repetir esta conversa. Já sei muito bem o que vai dizer. — E o que é que vou dizer? — Que não estou vivendo como devia. Que Tim já morreu há dois anos, mas que eu ainda estou viva, e que tenho muitos e muitos anos à minha frente. Que tenho um emprego maravilhoso, desempenho o meu trabalho muito bem, mas que trabalho não é tudo. Que eu preciso cultivar outros interesses e arranjar novos amigos. Que preciso passear, misturar-me com pessoas de minha própria idade, filiar-me a um clube de pais solteiros... — Cynthia sorriu para a mãe. — Viu? Já sei de cor o seu sermão. — Então, por que não começa a fazer algumas dessas coisas, pelo menos?


— Porque elas são o que você quer que eu faça. Não as que eu quero fazer. Ladonia apoiou os cotovelos na mesa e olhou diretamente para a filha. — E o que é que você quer fazer? — Eu não sei, quero... — Ela deu de ombros, confusa. O que ela queria? Cynthia buscou uma explicação para a sua falta de ânimo. O elemento que lhe faltava na vida não era, assim, tão fácil de definir. Se ela soubesse o que era, já teria ido atrás, fosse o que fosse. Por meses vinha se sentindo como se estivesse vivendo um vazio. Brandon não era mais uma criancinha que dependia dela para tudo. E não acreditava que seu trabalho fosse, de fato, significativo. Desde que se mudara para lá, após a morte do pai dela, sua mãe havia assumido a maioria das tarefas da casa. Ela, Cynthia, era oficialmente a chefe da família, mas o título não tinha peso algum. Nada em sua vida produzia um senso de realização ou satisfação. Sua juventude e vitalidade estavam sendo drenadas pela monotonia. — Quero que alguma coisa aconteça — falou finalmente. — Alguma coisa que me deixe animada, que vire minha vida do avesso. — Tome cuidado com o que está querendo. — Ladonia a aconselhou suavemente. — O que quer dizer com isso? — A morte acidental de Tim fez exatamente isso. Cynthia se levantou da cadeira, exasperada. — Por que está dizendo essa coisa horrível? — Pegou a bolsa, a maleta, as chaves, e se dirigiu imediatamente para a porta. — Eu não quis parecer insensível, filha. Mas, se quer que as coisas mudem para melhor, não pode ficar sentada, esperando que o destino bata à sua porta. Tem de fazer pessoalmente as mudanças. Cynthia nem se atreveu a responder. — O trânsito na North Central vai estar um pesadelo, já que estou saindo mais tarde para o trabalho. Diga a Brandon que vou telefonar no meu intervalo de almoço, por favor — pediu e, controlando a própria irritação, seguiu para o hospital.

— Sei o que está dizendo, George, mas isso foi ontem. Quem teria imaginado que as ações iriam a público antes de... Worth Lansing fez um sinal para que sua assistente colocasse mais café na xícara. As tarefas da sra. Hardiman iam além das tradicionais: ela era sua secretária, assistente, mãe, colega... Enfim, o que a ocasião pedisse. E era excelente em todas elas.


— Sei que esse é o meu trabalho, George, mas você não perdeu... Enquanto o cliente reclamava, Worth segurou o bocal do telefone contra o peito e se voltou para a mulher. — Alguma outra chamada? — Apenas a de seu dentista — respondeu a sra. Hardiman, aguando as plantas que decoravam o escritório do décimo segundo andar. — O que ele queria? Tive uma consulta na semana passada. — Ele examinou o raio-X que tirou de sua boca e viu que está com cárie em dois dentes. — Ótimo. — Worth respirou fundo. — Alguma notícia boa? Tem certeza de que Greta não ligou? — Absoluta. — Ela guardou o regador no armarinho debaixo do bar. — Bem, quando ela ligar, interrompa-me. — Worth piscou sugestivamente. — Não importa o que eu estiver fazendo. A assistente lhe dirigiu um olhar compreensivo e deixou a sala. Worth recolocou o telefone no ouvido. Seu cliente ainda amaldiçoava a imprevisibilidade do mercado de ações. — George, acalme-se. Não era a ação certa para você, só isso. Deixe-me pensar e eu lhe retorno a ligação antes que o mercado encerre suas atividades, hoje. Tenho um punhado de coelhos dentro da cartola, fique tranqüilo. Tão logo pôs um fim na conversa, Worth deixou a cadeira de couro vermelho, consultou o monitor, constantemente ligado no canal do mercado de ações, e arremessou na cesta a bolinha de basquetebol. Errou. Não foi surpresa alguma, já que perdera a prática. Não passava na academia de ginástica havia uma semana, coisa que fazia religiosamente todos os dias. Naquela tarde, prometeu a si mesmo que antes de se encontrar com Greta, daria um trato no corpo. Precisava estar em excelente forma para o fim de semana. As informações que surgiram na tela do monitor de TV eram desanimadoras. Worth suspirou, tentando decidir qual coelho tiraria da cartola, como prometera a George. Nesse momento, a sra. Hardiman falou ao interfone: — Greta? — ele perguntou, esperançoso. — Não. O seu encontro para o almoço acabou de ser cancelado. Diabos. Ele contava com aquele encontro para realizar um negócio da China. — Eu o remarquei para a próxima sexta-feira. Está bem assim?


— Claro, mas eu estava contando com essa carteira de ações para ter uma boa verba no fim de semana. — Quer que eu ligue para a lanchonete, lá embaixo, e peça alguma coisa para você comer? — Bife malpassado em pão integral. Com muita mostarda alemã. Worth fez algumas chamadas, porém se viu incapaz de encontrar um bom investimento para George. Assim, ligou para o cliente, prometendo que arranjaria alguma coisa na segunda-feira. Quando o interfone tocou novamente, ele o apanhou, cheio de esperança. — Sim? — O bife acabou — informou a sra. Hardiman. — Quantas horas faltam para terminar o dia? — quis saber, antes de olhar as paredes laqueadas de preto com um longo suspiro. — Olá... Por onde andou escondida? Cynthia sentiu seu estado de espírito afundar ainda mais quando o médico entrou no elevador. Ela o vinha evitando havia semanas. A maioria das mulheres, não importava se solteira ou casada, consideraria aquilo uma insanidade de sua parte. O dr. Josh Masters era bonito, charmoso, e tinha um dos consultórios de obstetrícia e ginecologia mais lucrativos de Dallas. Mais atraente do que seus outros atributos, contudo, era o fato de Josh Masters ser solteiro. — Olá, Josh. — Cynthia conseguiu sorrir, no entanto deu um passo para trás por precaução. Estavam próximos demais. — Está me evitando? — ele perguntou, indo ao âmago da questão. — Tenho estado terrivelmente ocupada. — Ocupada demais para retornar minhas ligações? Ela disfarçou um suspiro. Nunca tinha despedaçado o coração de alguém. Não que esse fosse o caso do dr. Masters... Ele sofria apenas de ego ferido. E o atraente doutor não era de se deixar abater. — Que tal jantarmos esta noite? Cynthia tentou mudar de assunto: — Josh, examinou aquele caso que lhe enviei? O de Darlene Dawson? — Eu a examinei ontem. — Ah, obrigada. Eu pensei em encaminhá-la ao serviço público, mas receei que pudesse haver alguma complicação em sua gravidez. — De acordo com a ficha, Darlene já passou por dois abortos.


— É verdade. — Cynthia concordou, pensando na garota de dezessete anos, pesarosa. — Diz ela que quer ter este bebê e entregá-lo à adoção. — E você ainda deseja para ela os melhores cuidados. — Josh deu um passo para o lado, bloqueando a saída dela. — Não sei se sabe, mas ajudar mulheres a terem seus filhos não é a única coisa que faço bem, Cynthia. Ela comprimiu os lábios. Definitivamente, Josh Masters não era nada modesto. — Bem, chegamos ao nosso andar. Quando as portas se abriram, conseguiu uma brecha e desceu do elevador. — Espere um segundo. — Ele a segurou pelo braço, afastando-a do corredor, onde o movimento era grande. Com um suspiro, Cynthia lançou um olhar na direção da infinidade de mulheres que esperava por ela à procura de opções para suas gravidezes indesejáveis. Começara a trabalhar como psicóloga apenas depois de ficar viúva. Havia se casado logo após a formatura, e Brandon não demorara a nascer. Poucos meses depois da morte de Tim, todos a haviam aconselhado a aceitar o emprego na clínica. E ela o fizera, embora pouco confiante em suas qualificações. Agora a equipe do serviço social, que lhe encaminhava as pacientes, estava mais do que satisfeita com seu trabalho. Ela é que não se sentia contente com os resultados que obtinha. A maioria dos casos terminava por deixá-la deprimida, já que nem tudo saía como esperava. — Não respondeu à minha pergunta — lembrou Josh, voltando ao assunto que mais lhe interessava. — Que pergunta? — Que tal jantarmos esta noite? — Ele abriu o seu melhor sorriso, exibindo os dentes que um dentista especializado em estética devia ter moldado à perfeição. — Esta noite? Ah, não posso, Josh. Deixei minha casa às pressas, esta manhã, sem dar qualquer atenção a Brandon. Prometi brincar com ele. — Então, que tal amanhã à noite? — Amanhã é sexta? Não sei, eu... — O que está acontecendo, Cynthia? — Ele colocou as mãos na cintura e a olhou, exasperado. — Por quê? — Saímos duas vezes. Tudo estava indo muito bem e, de repente, você começou a me evitar. — Não, eu...


— Vamos sair de novo, então. — Eu já disse que não sei, Josh. — Teve semanas para pensar no assunto. — Mas ainda não tomei nenhuma decisão — Cynthia retrucou, começando a se irritar. O médico não se intimidou e começou a acariciar sua mão, mudando de tática. — Cynthia, Cynthia... Somos adultos, não somos? É de se esperar que busquemos nos divertir na companhia um do outro. — Dormir na companhia um do outro, você quer dizer? 0 olhar de Josh se tornou mais intimista. — Parece bom para mim. — Ele tornou a usar aquele tom sedutor que mantinha todo o corpo de enfermagem do hospital sob o seu domínio, além de muitas das pacientes. Cynthia livrou a mão que ele segurava. — Boa noite, Josh. — Então é isso — ele concluiu, ainda caminhando lado a lado com ela. — O sexo. — Que sexo? — No seu caso, nenhum sexo. Você tem medo. — Não é nada disso! — Nem consegue falar sobre o assunto. — Converso ò dia inteiro sobre sexo, Josh. Mantendo a voz baixa enquanto falava, ele a seguiu até o estacionamento. — Consegue falar sobre sexo quando se refere a outras pessoas, mas não consegue lidar com ele quando se trata de sua vida pessoal. — Boa noite, Josh. — Cynthia... — Ele estendeu a mão e segurou seu braço, porém ela o puxou imediatamente. — Viu? Até fica tensa quando um homem põe a mão em você — acusou, irritado, quando a viu rumar em direção ao carro. — Se a mercadoria não está à venda, pare de fazer propaganda! Somente quando ela deixou o estacionamento, sentiu as mãos pararem de tremer. Entretanto, continuava profundamente irritada. O ego daquele médico era assombroso. Como ele ousava dizer aquelas coisas simplesmente porque ela não havia deixado que seus poucos encontros terminassem na cama?


Parando no farol, em um cruzamento congestionado, Cynthia inclinou a cabeça sobre a direção. Talvez Josh tivesse razão. Talvez ela ficasse, mesmo, tensa só de pensar em voltar a fazer sexo. Seus hormônios não tinham sido eliminados com a morte de Tim, mas não se sentia predisposta a fazer sexo com qualquer outro homem. O que uma viúva e mãe respeitável, ainda em idade de ter uma vida sexual sadia, fazia com sua sexualidade, quando o objeto de seu desejo não estava mais disponível? Pergunta difícil de responder. Difícil demais, principalmente depois de uma tarde como a que ela havia tido. O dia começara ruim, já no café da manhã, e depois despencara ladeira abaixo. O que ela precisava, desesperadamente, era falar com alguém que a ouvisse e compreendesse. Para desespero dos outros motoristas, quando a luz do farol finalmente mudou, ela trocou de pista e, em vez de seguir reto, fez uma curva à esquerda. — Boa noite. E aproveite o seu longo fim de semana — disse a sra. Hardiman quando saíam do escritório. — Pretendo fazer exatamente isso. E você saia mais cedo amanhã. Não precisa ficar aqui até as cinco. — Worth sorriu. — Prepare um programa interessante para a sua sexta-feira. — Obrigada. É o que eu farei. No elevador, até o subsolo, Worth trocou cumprimentos com outros profissionais que deixavam o prédio. Entre eles, a advogada com pernas estonteantes e olhos de gata. Eles vinham se observando havia meses. Iria abordá-la assim que tivesse uma chance. Certo de seu eventual sucesso com a moça, deixou o elevador, assobiando, e se aproximou de seu carro esporte. Seu sorriso sumiu gradualmente quando notou o envelope preso ao párabrisa. Antes mesmo de abri-lo, e ler o bilhete que havia dentro, sabia do que se tratava. — Que maravilha... — resmungou, sentando-se atrás da direção para dar a partida, depois que as paredes de concreto da garagem ecoaram um sonoro palavrão.

***


Era quase fim de tarde quando Worth finalmente chegou ao apartamento, em Turtle Creek. Como prometera a si mesmo, havia parado na academia e aliviado o corpo da tensão do dia na quadra de basquetebol. Entregou a chave do carro ao manobrista uniformizado e, só então, notou a mulher atraente, parada ao lado de um carro estacionado à beira da calçada. Quando ela o viu, acenou e sorriu. Ele acenou de volta, tirou a mochila da academia do banco do passageiro, deu uma gorjeta ao rapaz e seguiu ao encontro dela. — Meu Deus, você é um colírio para os meus olhos — Ele a puxou e lhe deu um forte abraço. Cynthia descansou a cabeça no ombro do amigo. — O mesmo digo de você. Worth passou o braço em torno dos ombros dela e, juntos, caminharam em direção à luxuosa entrada do prédio. Cynthia sorriu para o porteiro enquanto Worth a levava pelo hall ornamentado com uma bela fonte. — Quase desisti de esperar por você — confessou. — Estou feliz que não tenha ido embora. Esperou muito tempo? — Cerca de uma hora. Parou para beber em algum lugar? — Não, fui jogar basquete na academia depois que deixei o escritório. — Academia, é? — No elevador, ela se recostou à parede oposta à dele e sorriu. — Não duvido que esteja indo trabalhar nesses trajes, na Lansing e McCall. Se estiver, serei obrigada a tomar providências. — Se veio aqui para me criticar, pode ir embora — ele ralhou, divertido. — Não acredita como meu dia foi horrível. — Não pode ter sido pior que o meu. Por isso mesmo vim aqui, tomar um copo de vinho. — Não foi má idéia, eu garanto. No vigésimo andar, deixaram o elevador e seguiram em direção ao apartamento no fim do corredor. À porta, Cynthia se voltou para ele: — Tem certeza de que não há uma garota lá dentro, coberta de espuma e óleos de banho até o pescoço? — Acha que sou algum depravado? — Ele se fingiu ofendido, enquanto destrancava a porta e a abria. — Muito bem, garotas, podem sair — gritou para os cômodos vazios. — Minha consciência está aqui!


— Deus me livre! Ser sua consciência seria um trabalho muito estafante. — Cynthia jogou a bolsa sobre a mesa de entrada. — Quase tão ingrato como meu atual emprego. — E impressão minha ou ouvi uma nota de decepção? — Foi mais autopiedade e desespero. Worth franziu a testa. — Isso pede dois copos de vinho. — Não brinque... Tenho de dirigir para casa. — Combinado. Alguns minutos depois, Worth se reuniu à Cynthia, no terraço. Ela se encontrava apoiada na murada, olhando a linha do horizonte a quilômetros de distância. O pôr-do-sol, à direita, refletia-se nos edifícios envidraçados tal qual um tributo à arquitetura moderna e impressionante de Dallas. Estavam no começo do outono e havia uma certa friagem no ar. O céu reluzia, claro como cristal: um tom violeta a leste e outro, vermelho, a oeste. A vista espetacular fora uma das razões que levara Cynthia a encorajar Worth a comprar o apartamento, muitos anos atrás. Tim havia dito ao amigo que seria um investimento sem risco, porém ela estivera pensando mais na estética do que nas finanças. Worth estendeu-lhe uma taça de vinho tinto. — Sempre que venho a este terraço penso em Tim — ela falou, aceitando a bebida. — Por quê? — Ele se sentou em uma das cadeiras e se livrou dos tênis e das meias. — Creio que seja porque ele fez um brinde exatamente aqui, quando você comprou o apartamento. Abriu uma garrafa de champanhe, lembra-se? — Champanhe quente. — E fez um brinde à sua saúde e ao seu novo lar. — E você comentou que seria um antro do pecado e não um lar.— Worth lembrou, tomando um gole da cerveja que apanhara para si. — Não bastasse isso, foram embora logo depois, deixando-me com um apartamento repleto de caixotes de embalagem e aparas de madeira. Rindo, Cynthia deixou o vinho sobre a pequena mesa, despiu a jaqueta, tirou a blusa para fora da saia e chutou longe os sapatos. — Por que se lembra justamente dos detalhes mais sórdidos? — Está brincando? Fiquei sozinho no meio daquela bagunça e até me lembro da desculpa esfarrapada que deram. — E qual foi?


— Que você estava amamentando Brandon, e era hora de voltar para casa. — Chama isso de desculpa esfarrapada? — Conveniente — ele corrigiu. — E que não deixava lugar para argumentos. Mencionou até que o leite estava vazando, o que me deixou bastante impressionado. Temi que pudesse haver graves conseqüências. — Tais como? — Como é que vou saber? Sou solteiro, Cynthia. Quando penso em seios, é em um contexto totalmente diferente. Rindo, Cynthia tomou um gole do vinho. — Como vai o mercado de ações? — Um horror. Em baixa nas três últimas semanas. E, lamento dizer, isso vai se refletir em seus rendimentos. — Confio em você. Os termos do testamento de Tim haviam garantido a ela uma porcentagem da renda do escritório. Assim, recebia relatórios mensais e depositava a sua parte dos lucros em uma conta de poupança para Brandon. — Hoje mesmo eu deveria ter almoçado com uma cliente, cuja carteira de investimentos era no mínimo interessante. — Uma cliente, hein? — Uma cliente idosa, Cynthia. — Assim, de uns trinta e cinco anos? — ela perguntou docemente. — Não, de uns oitenta e cinco anos. Tínhamos marcado um almoço em Highland Park, mas ela telefonou para adiar. — Lamento. — Mas chega de falarmos dos meus problemas. O que me diz dos seus? — Worth apoiou os cotovelos sobre os joelhos e inclinou-se para escutá-la com atenção. — O que há de errado? — Meu vinho acabou. Resmungando, ele desapareceu apartamento adentro. Através da porta envidraçada da sala de visitas, Cynthia pôde vê-lo enchendo a taça de vinho. Não era uma marca barata, muito pelo contrário. Worth valorizava a qualidade, pois, como filho único de pais ricos, sempre tivera tudo do bom e do melhor. Com a morte dos dois, recebera uma considerável herança. Por isso, para ele, a Lansing e McCall representava um desafio, não um meio de ganhar a vida. O apartamento decorado com móveis finos e modernos era cuidado com primor. Tanto que, certa vez, Worth tinha deixado de sair com uma mulher apenas


porque ela largara papéis de bala sobre a mesa de centro... Era apegado demais a qualquer detalhe que se referisse à sua casa, às suas roupas e, em especial, às suas mulheres. Por sinal, sempre acabava achando alguma coisa de errado naquelas que namorava. Uma era alta demais, a outra, muito baixa. Fulana era magérrima, sicrana, muito exibida. Tim havia chamado sua atenção quanto ao exagero, mas do jeito afetuoso que somente um melhor amigo podia fazer. — Eis o seu vinho... e a minha segunda cerveja — Worth anunciou, estendendo a taça a Cynthia. — E então, o que anda acontecendo com você? Por que essa cara? — Não sei, Worth. — Ora, vamos lá. — É verdade! Não sei mesmo. — Meu afilhado anda aprontando? — Tirando seus estranhos hábitos alimentares, não. — Que hábitos alimentares? — Brandon tira as passas do... — Ela passou as mãos pelos cabelos que o pôr-do-sol tingira de dourado. — Ah, não importa. Brandon não é o problema. Na realidade, é a única coisa que me dá alegria. — Problemas com Ladonia, então? Não é possível. Eu me casaria com a sua mãe no minuto que ela me quisesse. — Worth Lansing, você é um mentiroso! Não tem absolutamente nenhum interesse por qualquer mulher cuja idade ou inteligência exceda o tamanho do busto! — Essa é a segunda cutucada que você me dá esta noite. — Pode reclamar quanto quiser — Cynthia disse, rindo. — Está bem, mas lembre-se de que foi você quem começou... Se não estiver se dando bem com sua mãe, eu diria que a culpa é exclusivamente sua. Aquela mulher é uma santa. — Reconheço que a maior parte da culpa é minha — ela admitiu com um suspiro. — Foi idéia minha que mamãe viesse morar comigo e com Brandon quando meu pai morreu, e não me arrependo. Prefiro que Brandon fique em casa em vez de em uma escolinha, por enquanto. No fundo, somos duas viúvas tentando afastar a solidão... Mas gosto de pensar que a tenha consolado pela perda de papai, assim como ela me consolou quando perdi Tim. — Sem dúvida, vocês se ajudaram. — Mas ela vive me alfinetando, Worth. — Por quê?


— Querendo que eu me envolva em alguma coisa além do trabalho. — É exatamente isso o que você deve fazer. — Não comece, você também. Worth colocou a lata de cerveja sobre mesa e pegou a mão dela, fazendo-a afastar-se do encosto para massagear suas costas. — Alguém está precisando de uma massagem. — Ah, obrigada. — Cynthia gemeu, enquanto os dedos fortes de Worth aliviavam a tensão de seus músculos. — Mas, Cynthia... — Ah, lá vem bomba. — Só vou falar porque sei que Tim gostaria que eu o fizesse. — Bem que eu desconfiei da massagem. — Fique quieta e me escute. É o seu melhor amigo quem está falando. Veio aqui em busca de um conselho e não vai sair sem um. — Respirou fundo antes de continuar: — Ladonia está certa. Você precisa ter outros interesses além de Brandon e do trabalho. Sei o quanto amava Tim. Eu o amava, também. Ele era o meu melhor amigo e o sócio que todo mundo pediu a Deus. — Trabalhou nos ombros dela por alguns momentos. — Ninguém poderia imaginar que, um dia, ele iria morrer em um acidente de carro voltando para casa. Foi um choque para todo mundo, e principalmente para você. Mas, Cynthia... — Ele abaixou o rosto para falar diretamente em seu ouvido: — Isso foi há dois anos. Você nem fez trinta, ainda. Precisa retomar sua vida. — Sei disso, Worth. Mas é difícil evitar a mágoa quando penso no que era a minha vida, e no que se ela transformou. Já me conformei com o que aconteceu com Tim, mas, quanto à mim... não tenho certeza de nada. Não me satisfaço com nada. — Pensei que gostasse de seu trabalho. Tim a deixou financeiramente muito bem, e você nem precisaria trabalhar. Mas, não me disse, um dia, que gostava de exercer a psicologia porque via o serviço como um ato de amor? — Verdade. Mas ele tem me parecido tão inútil. — Como pode dizer uma coisa dessas? Tem idéia do quanto é importante para todas aquelas moças que a procuram buscando orientação? — Será mesmo? Ontem conversei com uma delas. Está grávida pela terceira vez e só tem dezessete anos. — Cynthia suspirou, desanimada. — Ela não ouviu nenhum dos meus conselhos até agora. Tem orientação e contraceptivos de graça, mas não tira qualquer vantagem disso. E como aconselhar uma parede de tijolos. — Não pode se culpar pelas atitudes de uma só pessoa. Seu conselho é sempre válido, quer as pessoas o aceitem ou não.


— Racionalmente eu sei disso, mas me sinto desencorajada. Outra menina, de quinze anos, recentemente optou por dar o filho em adoção, mas não quer ir à escola enquanto estiver grávida, porque é líder de torcida. Prefere largar os estudos a deixar de ser popular, acredita? Outra chorou por quase uma hora, hoje, porque tem medo de que o pai a ponha para fora de casa quando descobrir que ela está grávida, mas quer ficar com o bebê... Estes são apenas alguns dos casos que me vêm à mente. Poderia enumerá-los a noite inteira. E o que faço por elas?— Cynthia prosseguiu, desgostosa. — Sento-me atrás de minha escrivaninha, oferecendo lencinhos de papel e palavras de conforto, dizendo que entendo os problemas delas, quando, no fundo, nem sequer consigo concebê-los, pois tive sorte suficiente para não passar por nada disso. Sinto-me tão hipócrita. — Você se sente assim justamente porque não é hipócrita. Cynthia voltou-se e encarou o amigo. — Isso devia fazer sentido? — Isso faz sentido, Cynthia. Se não se abalasse ao ouvir o drama dessas moças, sim, seria como uma dessas ciganas que olha a bola de cristal e diz a sorte em troca de dinheiro. — Acha isso, mesmo? — Claro que acho. — Ele se inclinou e a beijou levemente na nuca, enquanto continuava a lhe massagear a coluna. — O trabalho pode ser a desculpa que dá ao momento ruim que está vivendo agora, mas, eu me aventuro a dizer, não é o "x" do problema. — Estamos voltando àquele seu conselho de que devo sair e me misturar com as pessoas? — Estamos. — Então é hora de eu voltar para casa. — De jeito nenhum. — Ele a puxou pelos ombros para junto do peito. — Como vai sua vida amorosa? — Quentíssima. — Isso é ótimo. Cynthia riu, descansando a cabeça no peito do amigo. — Acredite ou não, tenho um admirador — ela confessou, rindo. — Quem é o esperto? — Eu o conheci no hospital. É ginecologista. — Sério? É o que quero ser quando crescer. Cynthia o socou de leve no peito. — Pervertido! Worth exagerou o grunhido de dor.


— Fale-me sobre esse felizardo. Ela balançou a cabeça, rindo. — Ele é bonitão, charmoso e rico. Um conquistador nato. — Hum. Estou impressionado — ele elaborou com um muxoxo. — E há quanto tempo vêm se encontrando? — Saímos umas poucas vezes. Mas não ultimamente. — Por quê? — Porque ele é bonitão, charmoso e rico. — Agora quem é que não está fazendo sentido? Cynthia o olhou por cima do ombro. — O que um ginecologista bonitão, charmoso e rico iria querer comigo? — Não sei... Talvez esteja cansado de tantas mulheres correndo atrás dele. — Você é horrível! — Ela deslizou na cadeira para encará-lo, indignada. — Eu apenas disse em voz alta o que você estava pensando. — Worth fitou-a com seu olhar mais inocente, porém exibia um sorriso no canto da boca. — Está certo — ela reconheceu, amarga. — Era exatamente o que eu estava pensando. Ele só tem me procurado porque sou uma das poucas mulheres que não andam atrás dele. — Se gosta dele, por que não ficam juntos? — Worth se acomodou na própria cadeira e colocou os braços atrás da cabeça, relaxado. — Está querendo dizer... — Isso mesmo. Tenha um caso com ele. — Não posso, Worth. — Cynthia voltou a olhar a linha do horizonte, agora já sem sinal algum de sol. — Parece tão... calculado ir para a cama com um homem que é praticamente um estranho, somente para fazer sexo. O único homem com quem fiz amor foi Tim. — Eu sei. Cynthia se voltou para ele com um olhar inquisidor. — Como sabe disso? — Quando todos estavam em pânico por causa da AIDS, você me fez um sermão, uma noite. Sugeriu que eu encontrasse uma boa moça e parasse com minha vida libertina. Meu argumento foi que não havia nenhuma boa moça sobrando, lembra-se? Foi então que me contou que se casou virgem. E presumo, aliás, tenho certeza, de que não teve nada com homem algum depois que Tim morreu. Cynthia olhou para os pés, meio sem jeito. — Josh me disse que tenho medo de sexo.


— Josh? — O médico. Falou que eu podia falar de sexo com as garotas que eu aconselhava, mas que não estava segura de minha própria sexualidade. — Que sujeito mais sem tato. —Acha que ele está certo? — Havia um traço de desafio em seus olhos. — Sou tão sexuada quanto qualquer outra mulher. — Por isso mesmo. Se eu fosse você, diria a esse Josh que ele está enganado. Melhor ainda, provaria que ele está errado. — Não posso, Worth — ela repetiu, desanimada. — Talvez haja alguma verdade no que ele disse. Não me sinto bem em um encontro, sabendo que meu companheiro espera ir para a cama comigo ao fim da noite. — Mas, e como ficam as suas necessidades? — Não está prestando atenção ao que estou dizendo? Meu problema não tem nada a ver com privação sexual. Esta depressão não vai terminar quando eu for para a cama com alguém. E mais do que isso. É... — O quê? — Não sei — ela confessou, agoniada. — Talvez seja o dia-a-dia. Quando Tim morreu, aconselharam-me a adotar uma nova rotina. Quem sabe não chegou a hora? Preciso de uma mudança, uma distração, alguma coisa espontânea na vida. Falei à mamãe, hoje de manhã, que queria que acontecesse algo de diferente, alguma coisa que... — Cynthia parou de falar. — Worth? Aonde está indo? — Acabo de ter uma idéia brilhante! — ele exclamou, entrando na casa. Curiosa, ela o seguiu, os pés descalços afundando no tapete de pele de carneiro. Worth abriu o zíper da mochila da academia e retirou dela uma jaqueta, da qual passou a revirar os bolsos. Voltou-se, então, para Cynthia, exibindo um envelope. — O remédio que vai curar todos os seus males está aqui. Ela fitou o papel, suspeitando que o amigo tivesse atravessado a linha entre a sanidade e a loucura, mas pegou o envelope no qual estava anexada uma folha dobrada de papel rosa. — Querido Worth — leu em voz alta. — Lamento não poder seguir com nossos planos. Surgiram alguns conflitos de interesse. Eu lhe explicarei tudo na semana que vem. Beijos, Greta. PS: A semana passada foi fabulosa. Fico arrepiada todas as vezes que penso no modo como... Worth arrancou a folha de papel das mãos de Cynthia e a amassou. — Essa parte foi censurada. — Mas era a melhor — ela protestou, rindo.


— Quer, por favor, examinar o que há dentro do envelope? — ele exigiu, impaciente. O envelope trazia o logotipo de uma agência de viagens. Dentro dele havia duas passagens para Acapulco, México. Cynthia levantou os olhos sem entender o que Worth pretendia. — O que isso tem a ver comigo? — Veja a data... — As passagens são para hoje!? — Exatamente. Dez da noite. — Ele abriu um enorme sorriso. — E você e eu estaremos nesse vôo.

CAPÍTULO II

— Como assim, "estaremos nesse vôo"? — Nós dois. Juntos. Você e eu em um fim de semana de que ambos precisamos. — Perdeu totalmente a cabeça? — Quase. Por isso mesmo preciso desta viagem. — Mas, e a tal de Gretchen? — Greta. Como o bilhete diz bem, apareceu alguma coisa no último minuto, e ela não vai poder ir. Eu não sabia disso até deixar o escritório, esta tarde. Fiquei furioso, pensando que meu fim de semana seria um total desastre. — Um enorme sorriso iluminou o rosto de Worth. — Então você veio e o salvou. Ele a fez atravessar a sala e pegar o telefone. — Ligue para Ladonia e peça para ela lhe preparar uma mala — pediu, consultando o relógio. — Passamos na sua casa a caminho do aeroporto. Já temos as passagens, portanto não precisaremos ficar na fila: podemos ir direto para o portão de embarque. — Worth parou para respirar. — Vamos, ligue! Cynthia continuou segurando o telefone, mas, em vez de discar, ainda o fitava com ar de espanto. — Worth, você ficou louco? Não podemos ir para Acapulco neste fim de semana! — Por que não? — Por milhares de razões! — Diga uma. — Meu trabalho, por exemplo.


— Eles podem sobreviver sem você por um dia. Ladonia pode ligar, dizer que está doente e que só voltará na segunda-feira. — E o que digo a ela? — A quem? A sua mãe? — Worth deu de ombros, sem entender o ar patético de Cynthia. — Diga que vai para Acapulco comigo, ora. — Não posso fazer isso! — Por que não? Aborrecida, Cynthia recolocou o telefone no gancho. — Ela é minha mãe, Worth. Vai pensar... — O quê? Cynthia estalou a língua. — Você pode estar acostumado a voar para lugares exóticos em um fim de semana, sem planejamento anterior algum, mas eu não faço essas coisas. Nem minha mãe está acostumada a me ver agindo de forma tão irresponsável! — Veja por outro lado, então: estará me fazendo um favor. — Que favor? — O olhar dela foi cético. — As passagens foram um presente de Greta. Um pacote promocional de uma agência de viagens. Não posso ter o dinheiro estornado. Os bilhetes servem somente para hoje, e a volta está marcada para domingo à noite. Não quero perdêlos, seria um desperdício. Quer ter esse peso na consciência? Cynthia estreitou os olhos claros. — Quando você sorri desse jeito, Worth Lansing, é porque está tramando alguma coisa. — Se não acredita em mim, veja por si mesma. — Ele lhe estendeu as passagens. Desconfiada, ela leu o parágrafo que informava sobre as restrições da viagem, e constatou o que Worth acabara de dizer. Suspirou longamente. — Você deve ter uma lista de namoradas que adorariam receber um convite para um fim de semana em Acapulco. — Claro que tenho — ele respondeu candidamente. — Mas não se tiverem apenas duas horas para se preparar. O fato de usarem a passagem de uma outra mulher me criaria problemas, sem dúvida. Além do mais, Cynthia, fico feliz se me acompanhar, assim não vou precisar desempenhar meu papel de costume. — Que papel? — O de príncipe encantado. — Reprimiu um sorriso, sem sucesso. — O de Don Juan, melhor dizendo;


— Que seja. Ao seu lado, posso ser eu mesmo. Sem artifícios. Posso relaxar e simplesmente desfrutar o fim de semana. — Mas, por que quer me levar na bagagem, Worth? Use a sua passagem e esqueça a outra. Ele a acariciou nos braços. — Não tem graça ir à praia sozinho, Cynthia — ele reclamou. — Quem vai jogar frisbee comigo? Quem vai passar protetor solar nas minhas costas? — Ah, tenho certeza de que poderia encontrar alguém rapidinho para fazer essas coisas... — ela observou, seca. Worth pegou o telefone novamente e, desta vez, ele mesmo discou o número. — Precisa fazer alguma coisa por impulso ao menos uma vez na vida, moça. — Levou o aparelho ao ouvido e esperou ser atendido. — Ladonia, rainha do meu coração! Como está você?... Bem, eu também senti a sua falta, mas andei com trabalho até o pescoço. Como vão os seus crisântemos? Estavam florindo na última vez que nos falamos... Bom, bom. Quero ver todos quando for visitá-la. Espere um minuto, querida, Cynthia está aqui e precisa falar com você. Ela sacudiu a cabeça e pronunciou um "não" por entre os dentes, mas Worth a ignorou e lhe entregou o aparelho. Cynthia tampou o bocal com a palma da mão. — Worth, isso é loucura! — É exatamente por isso que precisa ir comigo. Espontaneidade, lembra-se? Ela encheu os pulmões e soltou o ar pesadamente. — Olá, mamãe. Recebeu a mensagem que deixei na secretária eletrônica? Que bom, eu não queria deixá-la me esperando para o jantar... Não, não há nada errado. Apenas dei uma paradinha no apartamento de Worth para lhe dizer um olá e, bem, ele teve uma idéia maluca. Quer que eu o acompanhe até Acapulco neste final de semana... — Fechou os olhos com uma careta, preparando-se para a reação da mãe. Então ergueu as sobrancelhas, surpresa. — Acha mesmo? — Ladonia é mais inteligente que você — Worth provocou. Cynthia mostroulhe a língua. — Mas, e quanto ao meu trabalho? Vai telefonar para a clínica e dizer que estou doente e não posso ir... Ela comprimiu os lábios, vencida. Não importava quantas objeções pudesse colocar. Sua mãe parecia pronta a descartar uma a uma, e ter mil e um motivos para incentivá-la a viajar. Com um sorriso de triunfo, Worth fez sinal de que ia para o quarto preparar a mala. Quando Cynthia finalmente desligou o telefone, ele já havia voltado, usando roupas casuais, bem adequadas para uma viagem a um lugar de clima tropical, e carregava apenas uma pequena mala.


— Sua mãe achou ótima a idéia, não foi? Aborrecida, ela se virou para encará-lo. — Worth, eu ainda não me decidi. Não parece ser a coisa certa a fazer. O que as pessoas vão pensar? — Que pessoas? — As conhecidas que souberem de nossa viagem, ora! Ele sorriu de lado e a olhou dos pés à cabeça, devagar. — Está dizendo isso só porque é uma viúva atraente e eu tenho reputação de conquistador? — Claro! Pelo menos no que se refere à sua reputação... Mas eu também não deveria deixar a cidade acompanhada de um homem solteiro. — Para você eu não sou um "homem solteiro", Cynthia, apenas o velho e bom Worth. — Acontece que ninguém sabe dessa particularidade. — E daí? Quem vai ligar para isso? — Eu. Ele suspirou, cheio de impaciência. — Quem vai falar alguma coisa, Cynthia? Se alguém perguntar, basta dizer que foi a Acapulco com seu melhor amigo, o que vem a ser a indiscutível verdade. Não nos vemos como pessoas sexualmente atraentes um para o outro... Aposto que não estaria reclamando tanto se fosse viajar com outra mulher. — Claro que não. — Então. É a mesma coisa! Cynthia observou o amigo por alguns instantes. — Não exatamente. Ao contrário do que Worth acabara de dizer, mesmo ele sendo seu melhor amigo, ela sempre o considerara muito sexy e extremamente bonito. Nem mesmo uma viúva de setenta e cinco anos acharia prudente viajar com ele para um paraíso tropical. Para sua sorte, Worth não pareceu reparar na resposta dúbia. Em questão de segundos, fechou todas as janelas e ligou o alarme do apartamento. — Precisamos nos apressar. Já passou das oito. Cynthia o segurou pelo braço quando ele passou por ela. — É tarde demais, Worth. Vá sozinho, por favor. Não terei tempo de fazer as malas. — Não há muito que levar — ele insistiu, apontando a própria mochila. — Sem dizer que metade da diversão será irmos às compras por lá. Chega de


argumentos, Cynthia. Vámonos! — ordenou, rindo, enquanto a empurrava delicadamente para a porta. Depois de uma rápida passagem pela casa de Cynthia, para pegarem uma mala com os objetos essenciais que Ladonia havia preparado para ela, os dois seguiram para o aeroporto. Cynthia mal teve tempo de tirar a roupa de trabalho e trocá-la por calças compridas de seda e uma blusa combinando. Para que eles não precisassem perder tempo estacionando, Ladonia foi quem os conduziu até o terminal de embarque. Enquanto esperavam pela chamada do vôo, prometeu apanhá-los no domingo à noite, quando estivessem de volta. — Brandon, está se sentindo bem? — Cynthia colocou a mão na testa do filho. — Está com o rosto vermelho. Espero que não seja febre. — Ele não tem febre alguma! — Worth exclamou. — Está excitado com sua pistola de água nova, isso sim. Não é mesmo, amigão? — Passou a mão na cabeça do menino. — Ela é demais, Worth! Obrigado. — Cara demais, você quer dizer — Cynthia reclamou. — Devia saber que não se compra nada nessas lojas de aeroporto. — Ora, deixe Worth comprar o que quiser para o afilhado. O dinheiro é dele — ralhou Ladonia. Worth abraçou a boa senhora e a beijou no rosto. — Amo esta mulher! Ela sorriu, satisfeita. — Ao menos esse brinquedo novo vai manter Brandon ocupado enquanto eu estiver fora. Ladonia se voltou imediatamente para a filha. — Não se preocupe com Brandon. Vou mantê-lo tão ocupado, que ele nem vai perceber que você viajou. Preocupe-se apenas em se divertir. — Nunca estive longe dele uma noite sequer, desde que Tim morreu. — O olhar de Cynthia era uma mistura de culpa e preocupação. — Uma pequena separação fará bem a vocês dois. — Mas, e se ele começar a pensar que eu não vou voltar mais? Worth colocou os braços em torno dos ombros pequenos. — Quer se animar um pouco? Olhe para ele... Brandon parece preocupado? Ela fez um muxoxo. O menino ria, assustando todos que passavam pela área de espera do aeroporto com a pistola de água vazia. — Melhor entrarem no avião antes que ela desista — Ladonia sugeriu a Worth, quando a atendente anunciou que o avião estava pronto para o embarque. — Eu estava pensando a mesma coisa...


Com os olhos cheios de lágrimas, Cynthia abraçou o filho. Brandon não gostava de ser abraçado em público, e esperneou até que ela se viu obrigada a largá-lo. Seus olhos ainda estavam úmidos quando Worth lhe indicou o assento, depois de colocar a bagagem dos dois no compartimento acima das cadeiras. — Choro não é permitido aqui — falou, fingindo-se sério. — Prometo que não vou dar mais vexame. — Ela se esforçou para abrir um sorriso. — Apertou o cinto? — Sim, mas ainda não entendo como me deixei convencer a participar desta loucura. Enquanto o avião levantava vôo, Worth arqueou uma sobrancelha ao melhor estilo Clark Gable. — Você nunca passou um fim de semana comigo, boneca. — Também nunca passei um fim de semana longe do meu filho — lamentou Cynthia, os olhos se enchendo de lágrimas mais uma vez. Em resposta, ele começou a cutucá-la de leve na lateral da cintura. — Oh, pare com isso, Worth! — Cynthia não conseguiu resistir e começou a rir. Worth passou um braço pelos ombros tensos e a abraçou bem forte. — Vai me agradecer por isto na segunda-feira. Espere e verá. — Recém-casados? Ambos olharam, surpresos, para a aeromoça. Worth, contudo, manteve o braço sobre os ombros de Cynthia. — Tivemos muitos no vôo anterior — a moça explicou, sorridente. — Não, não. — Worth sorriu de volta. Ela olhou a aliança no dedo de Cynthia e sorriu outra vez. — Casados há bastante tempo e ainda apaixonados, então... — Nós... — Cynthia hesitou. — Não somos casados. — Ela é a esposa do meu melhor amigo. — Ah. — A aeromoça arregalou os olhos de leve. — Entendo. Quando ela se afastou, embaraçada, os dois caíram na gargalhada. — Eles não gostam de qualquer desperdício de luz por aqui, não é? Cynthia viu-se praticamente em cima de Worth quando o motorista de táxi fez uma curva em alta velocidade, o que faria até um não-católico querer um terço nas mãos. Pelo que podia dizer da paisagem, vista pela janela embaçada do veículo,


a estrada era ladeada por uma parede de rocha de um lado... e um enorme vazio do outro. — Pense no lado positivo da coisa. Se estivesse enxergando melhor, ficaria ainda mais apavorada — Worth observou, tentando ignorar a agradável sensação de ter alojado um cotovelo entre os seios dela. O carro deu um solavanco, e Cynthia temeu pela própria vida. — Já esteve aqui antes? — Uma vez. Muito tempo atrás. Com Tim, inclusive. — Ele nunca me contou que tinha vindo ao México com você. — Eu o fiz jurar que nunca mencionaria isso. — Por quê?! — O sorriso de Cynthia foi cheio de suspeitas. — O que andaram aprontando? — Nada, nada... —Worth se fingiu apavorado. No táxi, ou melhor, no furgão, havia ainda outros seis passageiros, todos amontoados em meio às bagagens. O rádio tocava música mexicana, e qualquer pedido para que o motorista abaixasse o volume foi sumariamente ignorado. Ao que tudo indicava, depois que as tarifas tinham sido negociadas e pagas, o homem se esquecera de que sabia falar inglês. — Algo me diz que fomos tapeados — comentou Worth. A moça sentada à frente deles caiu na risada. Vinha lançando diversos olhares na direção de Worth desde que eles tinham entrado no avião. O mesmo acontecia com uma outra jovem, acomodada, agora, no banco de trás. Não havia escapado à atenção de Cynthia que ambas tinham ido várias vezes à toalete do avião, tendo, obrigatoriamente, que passar ao lado de Worth. Quando estavam para entrar no veículo, uma delas chegara a empurrar a outra para passar à frente. — Estou me sentindo em uma lata de sardinhas — falou para Worth em voz baixa. — Unidos venceremos — volveu ele, fazendo troça mais uma vez. Felizmente, chegaram à primeira parada no circuito de hotéis. Ao ver as duas mulheres se preparando para descer, Worth cochichou ao ouvido dela: — Parece que seremos os últimos. — Não vai ser tão ruim agora que elas saltaram. Eu podia até sentir as facas da inveja enfiadas nas minhas costas! — Como assim?


— Não se faça de desentendido, Worth! As duas estavam se derretendo para o seu lado. Aliás, se preferir me deixar no hotel e voltar aqui... — Não seja boba. — Estou falando sério. Não quero que se sinta preso a mim. — Não estou atrás de romance neste fim de semana. Além disso, elas não eram o meu tipo. — Tem certeza? — Absoluta. — Ele suspirou, aliviado, quando o táxi parou diante do hotel. — Chegamos. Foram escoltados para dentro de um lobby cor-de-rosa, e servidos com bebidas da mesma cor, enquanto esperavam para ser registrados. Cynthia riu ao ver os funcionários usando uniformes pink, e tirou do copo o hibisco, também rosa, antes de beber. Worth tomou a bebida em um só gole. — Não percebi que estava com tanta sede. Quantos destes você acha que iriam satisfazer um homem do meu tamanho? — Dei um gole e já estou com os olhos pesados. Pelo jeito, eles querem que a gente se divirta bastante enquanto estiver por aqui. — Senor Landing? — Um funcionário surgiu ao lado deles. — Por aqui, por favor. Atravessaram o saguão refrigerado por ar-condicionado em direção a uma área externa, onde um jipe cor-de-rosa e branco os aguardava com sua bagagem já toda acondicionada. Worth ajudou Cynthia a sentar-se no banco da frente e se acomodou no de trás. O motorista engatou a marcha e, logo depois, o veículo começou a subir uma colina bem íngreme. Em uma mistura divertida de espanhol e inglês, o homem explicou que os jipes serviam como elevadores no resort, transportando de tudo. A estrada cheia de curvas margeava a montanha, em meio a uma vegetação luxuriante que dava vista para a fantástica baía de Acapulco, para as colinas das vizinhanças e para a cidade, lá embaixo. — Que coisa linda! — Cynthia exclamou, deliciando-se com as minúsculas luzes cintilando em meio à escuridão. —Amei este lugar. A vista é de tirar o fôlego e nem é de dia! Estou feliz que tenha me convencido a vir, Worth. Ele sorriu, satisfeito. Assim que chegaram ao pico, o motorista estacionou o jipe em uma ladeira íngreme, saltou para pegar as malas e fez um gesto com a cabeça para que eles o seguissem em direção a um chalé branco, rodeado de uma paisagem exuberante. O caminho era ladeado por lampiões acesos.


Com um sorriso conspiratório para Worth, um criado os escoltou através de um portão de ferro, destrancou uma porta e acenou para os hóspedes, convidandoos a entrar. — Bienvenidos! A suíte era enorme e bem arejada. Tinha refeições rápidas de um lado e um banheiro do um terraço com uma vista espetacular da baía terraço, uma pequena piscina brilhava como boiando na superfície.

uma geladeira, uma mesinha para outro. A área do quarto dava para enluarada e do cais. No centro do uma jóia, com hibiscos enormes

Enquanto o criado falava sobre as acomodações, e explicava sobre o compartimento onde o café da manhã era deixado todas as manhãs, Worth e Cynthia continuaram parados feito estátuas no meio do quarto, olhando para a enorme cama king size. Finalmente, Worth voltou-se para ela balançando a cabeça. — Como você bem disse, eles querem, mesmo, que a gente se divirta bastante enquanto estiver aqui. Cynthia jogou a bolsa em cima da cama e colocou as mãos na cintura. — Acha, mesmo, que é hora de fazer piadinha, Worth? Ele deu de ombros. — O que quer que eu faça? — Que peça outro quarto, ora! Worth se voltou para o criado, que se mostrava incomodado com o que lhe parecia uma discordância entre o casal. O que teria provocado a reação irritada da moça? Worth tentou encontrar, dentro de seu limitado vocabulário espanhol, uma forma de se fazer entender pelo mexicano. — Senor, por favor... — Si? — O rapaz deu um passo à frente, ansioso por atender aos novos hóspedes. — Tiene un... una... — Força, Worth!... Até agora está se saindo bem — ironizou Cynthia. — Fale você com o homem, então! — ele reclamou. — Fiz curso de francês, não de espanhol. — Ótimo. Lembre-me de, na próxima vez, carregá-la para a França. — Worth voltou-se novamente para o criado, cuja ansiedade aumentava a cada segundo. — Preciso de outro quarto... — Desistiu de seu limitado espanhol, desenhando um quadrado invisível no ar.


— Las ventanas? — O criado apontou, esperançoso, na direção das janelas fechadas. — Não, não! As janelas estão ótimas. Precisamos de outro quarto. Você sabe... quarto? Com duas camas. — Como todo turista não familiarizado com a língua nativa, Worth adotou o método de falar devagar e em voz alta, como se isso ajudasse em alguma coisa. — Dos — disse, mostrando dois dedos. — Dos? — Si, dos camas! — Bateu na enorme cama de casal seguidas vezes. — Camas. Duas. O criado reagiu com óbvia incredulidade. — Quiere un cuarto con dos camas? — Penso que sim — Worth respondeu, hesitante. — Si. O mexicano abriu os braços e se pôs a fazer uma série de gestos e dar uma enorme explicação... em espanhol, claro. — O que ele está dizendo? — Cynthia quis saber. — Que estamos perdidos. — O quê? Worth passou as mãos pelos cabelos claros. — Pelo que entendi, não há quarto com duas camas no resort — falou com um suspiro para, em seguida, retirar alguns dólares do bolso das calças para dar ao criado. — Obrigado, senor. Foi de grande ajuda. Muchas gradas. — Levou o homem até a porta, depois se voltou para enfrentar Cynthia... e o que viesse pela frente. Ela estava de braços cruzados e batia um pé no chão. Worth acenou com as mãos em sinal de inocência. — Juro que eu não sabia. — Por que tenho dificuldade em acreditar em você? — Eu juro, Cynthia! Nunca me ocorreu checar. A maioria dos hotéis oferece quartos com duas camas, a não ser que você peça antes por uma cama de casal. Como eu ia saber que este lugar é o paraíso dos recém-casados? O paraíso dos amantes, isso sim, pensou Cynthia, exasperada, observando a decoração insinuante do bangalô, com espelhos fixados em lugares estratégicos. Sentou-se pesadamente na cama que fora previamente coberta com pétalas de flores. — Bem que achei estranho o lobby só ter casais. — Não viu nenhuma família com crianças? Ela estreitou os olhos para fitá-lo, e Worth disfarçou seu constrangimento, olhando pela janela.


— Tem razão. Não há, mesmo, muito movimento por aqui. — Não fora dos quartos, pelo menos — ela pontuou, sarcástica. — E tem em um aviso de "Não perturbe" pendurado no portão do chalé. — Não viu o criado explicando como nos chega o café da manhã? Ninguém nem sequer bate à porta. — E o terraço é particular, assim como a piscina. — O chuveiro também é para dois. — Cynthia fez um gesto com o queixo em direção à porta aberta do banheiro. Seus olhares se cruzaram, então, e ambos caíram na gargalhada. Worth riu tanto que acabou desabando ao lado dela, no colchão. — Devia ter visto a sua cara quando entrou e viu a cama, Cynthia. — Pois não me pareceu assim, tão surpreso, sr. Lansing... — Ela secou os olhos. — Um começo nada auspicioso deste nosso fim de semana. — Não vai dizer que está entediante, vai? — Cheio de surpresas, eu diria. — Ela respirou fundo, e procurou se recompor. —Antes que fique muito tarde, que tal ligarmos para outros hotéis e ver se arranjamos um quarto para mim? — Ora, Cynthia... —Worth sentou-se na cama e segurou as mãos dela. — Lá vem você de novo. — Ouça-me antes que termine fazendo uma bobagem. — Se estiver sugerindo que fiquemos aqui juntos, pode economizar seu charme e esforço. Vou arranjar um outro quarto agora mesmo. — Por quê? — Porquê? — Já dividimos uma cama king size antes, lembra-se? Ela arregalou os olhos, surpresa. — Ora, não me diga que não se lembra do fim de semana que nós três passamos juntos? Depois de vasculhar a memória, Cynthia soltou um gemido. — Aquilo foi diferente — argumentou. — Tim estava junto, e nós éramos muito crianças. Uns imbecis, melhor dizendo. — Mas fomos a Houston para ver um jogo de futebol. Ninguém podia imaginar que, depois de comprarmos o combustível e a comida, só teríamos dinheiro para um quarto de motel. — Worth tornou a cair na risada. — Ainda me lembro de nós três nos jogando na mesma cama, exaustos. E foi casto como se estivéssemos em uma igreja!


— Sei disso, mas... — Agora vai ser assim de novo — ele declarou, convencido do que falava. — Não está pensando em convidar outro casal para cá, espero... Worth meneou a cabeça, armando-se de todos os possíveis argumentos. — Dormiremos vestidos. E eu, sobre as cobertas. — Não — descartou Cynthia, decidida. Ele grunhiu o nome dela em frustração. — Por que vamos revirar Acapulco a essa hora da noite, em busca de um quarto que vai custar uma fortuna e, sabe Deus, a que distância daqui? Já tentou dirigir no trânsito desta cidade? Dificilmente vamos conseguir ficar perto um do outro para nos divertirmos, o que foi a razão principal desta viagem. Além do mais, não me sentiria bem largando você sozinha em um país estranho. Esses resorts estão cheios de conquistadores baratos, que vivem atrás de mulheres sozinhas e desprotegidas... Prometi a Ladonia que tomaria conta de você, Cynthia. Ela nunca me perdoaria se eu a abandonasse. Os argumentos faziam sentido, o que a deixou tremendamente preocupada. — Não sei, Worth. E se alguém... — Descobrir que dormimos na mesma cama? Já conversamos sobre isso. Está se esquecendo de que é uma mulher adulta, Cynthia. — Agora está jogando sujo. — Somos ambos adultos. — Está começando a falar como Josh. Worth torceu o nariz. — Precisamos lidar com esta situação de maneira inteligente. Pelo amor de Deus, não vou me engraçar com a viúva do meu melhor amigo! — Não estou com medo disso. — Do que está com medo, então? — E se você quiser a companhia de outra pessoa? — O quê? — E se você conhecer uma mulher e quiser trazê-la para o seu quarto? Vou ter de esperar do lado de fora? — E eu poderia trazer uma mulher para cá se o quarto tivesse duas camas? — Isso é verdade — ela concedeu. — Fique tranqüila, Cynthia. Jurei ficar sem sexo neste fim de semana. Só quero desfrutar de bons momentos com uma amiga. Ela olhou a bela paisagem visível da porta do terraço. A piscina era uma tentação, a lua maravilhosa, a brisa agradável, a vista de tirar o fôlego.


— O lugar é incrível. Muito mais do que eu esperava. — Ufa! — ele disse jovialmente, saindo da cama. — Você fica com esse lado da cama, e eu, com este aqui. Que gavetas do armário vai querer? — Começou a desfazer a mala, como se já tivessem chegado a um acordo. Cynthia suspirou. Era mesmo absurdo sair de noite em uma cidade estranha, em busca de outro hotel, que poderia nem ser tão maravilhoso como aquele ali, e sem falar uma só palavra do idioma local. Era tolice ficar se atormentando porque o quarto tinha apenas uma cama. Como Worth bem dissera, eles eram adultos e se comportariam de acordo. — Por que não vê o que há de bom na geladeira enquanto me troco? — ele sugeriu, apanhando um par de sungas de lycra e seguindo para o banheiro. Cynthia pegou uma lata de refrigerante no frigobar e se sentou na varanda para admirar a vista, lembrando-se do conselho que a mãe lhe dera sobre ter cuidado com o que queria da vida. Havia desejado alguma coisa que transformasse sua rotina e, ao que tudo indicava, tinha conseguido. — Uma delícia. — Quinze minutos depois, Cynthia lambia o sal das batatas que ficara em seus dedos. — Que tal esses biscoitos de amendoim? — Passáveis para quem está morrendo de fome. Fico imaginando a que horas o café da manhã será colocado naquela coisa. — Worth apontou o mecanismo giratório. Estavam dentro da piscina, só com as cabeças para fora da água. Haviam acabado com todo o estoque de salgadinhos e tomado duas garrafas de soda. Cynthia suspirou, satisfeita, encostando a cabeça na borda. Batendo os pés lentamente, olhou para o céu. — Por que não estou com sono? — Excitação demais. — Imagino que seja isso mesmo... O que é isso? — perguntou de repente. — Isso o quê? — Esse som estranho. Escute... Serão pássaros? — Pássaros? Criando uma onda na pequena piscina, Worth saiu. Foi até o parapeito do balcão e ficou parado, ouvindo. Ela se reuniu a ele pouco depois, tremendo com a brisa fria que vinha do oceano. Enrolou-se em uma toalha, apressada. — Lá está! — exclamou baixinho, apontando na direção das criaturas com asas que pareciam estar caçando insetos perto das luzes.


— Pássaros. — Worth balançou a cabeça. — Você estava certa. Acho melhor entrarmos, agora. — Colocou os braços em torno dos ombros dela, rindo. — Está rindo do quê? — De nada. — Está mentindo, Worth Lansing. Qual é a graça? Ele a fitou sério por um instante, depois caiu na gargalhada. — São morcegos, Cynthia. Ela levou um segundo para assimilar a palavra, então entrou em pânico. Soltou um gritinho de pavor e girou nos calcanhares, pronta para desaparecer chalé adentro. Worth a abraçou com força, ainda rindo, enquanto ela lutava para alcançar a segurança da suíte, esquecida da toalha que foi ao chão. — Não são morcegos vampiros, Cynthia! — Como pode saber?! Que, diabos, entende de morcegos?! — exigiu com uma careta de horror. — Esses aí são grandes, mas inofensivos. Apenas saíram para jantar... Logo que começar a clarear, voltarão para casa. — Exatamente como Drácula! — Ela estremeceu outra vez, e Worth a apertou mais nos braços. — Eles só atacam humanos em filmes de terror. Preferem muito mais um inseto bem gordo do que o seu delicioso sangue, minha querida. — Tem certeza? — Ela espiou por cima da balaustrada, temerosa. — Claro que tenho. — Worth, então, arregalou os olhos, arreganhou os dentes e fez cara de vampiro. — Eu, por outro lado, estou louco por um pescoço — disse com uma voz gutural, atacando a pele macia sob a orelha de Cynthia para mordê-la de leve. Ela soltou um grito e caiu na gargalhada. Mas a risada morreu no instante em que a língua de Worth tocou sua pele. Era uma brincadeira, porém o efeito nela foi o de uma descarga elétrica. Tornaram-se subitamente conscientes de seus corpos. Os seios dela tocando o peito largo e nu, os pêlos dele em contato com a pele macia do ventre delicado, as pernas perfeitamente alinhadas umas com as outras. O momento passou, mas ficou registrado na mente de ambos. Deixaram cair os braços ao longo dos corpos e se separaram, constrangidos. Cynthia embrulhou-se novamente na toalha, meio confusa e quase perdendo o equilíbrio. — Faz muito calor nesta cidade. — Muito — concordou Worth com uma voz meio rouca.


— Vamos, então? — Aonde? — Para dentro? Ele engoliu em seco ao vê-la fazer um gesto em direção à suíte. — Ah, sim, claro. Mas pode ir à frente... É sua vez de usar o banheiro. — Não vou me demorar. Apenas preciso, você sabe, escovar os dentes e... outras coisas. Sentindo-se uma tola, e sem mesmo saber a razão, ela desapareceu suíte adentro. A primeira coisa que fez foi fechar a porta e examinar o pescoço no espelho do lavatório, notando a leve marca vermelha perto da orelha. Voltou a estremecer. — Não seja idiota — disse a si mesma, colocando pasta na escova de dente. Enquanto escovava os dentes quase com fúria, amaldiçoou Josh Masters por ter chamado a atenção dela para sua sexualidade adormecida, sem nenhum problema, noventa segundos atrás. Usou o secador de cabelos, repreendendo a si mesma por ter reagido como uma imbecil diante de uma simples mordida no pescoço. Uma mordida quente, úmida, maravilhosa, indescritível. — Era Worth, Cynthia, pelo amor de Deus — resmungou para a imagem no espelho. O reflexo lhe devolveu os cabelos castanho-dourados que caíam até o ombro, o rosto triangular, agora um pouco ruborizado, os olhos verdes... Se fossem os olhos de Brandon que estivesse vendo naquele momento, checaria se ele estava com febre tal o brilho que apresentavam. Irritada, vestiu a camisola e o roupão, e saiu do banheiro antes de se deixar envolver por mais fantasias. O olhar de Worth foi direto ao pescoço de Cynthia quando ela voltou ao quarto, mas a gola do roupão cobria o ponto onde ele a mordera. Estava deitado na cama com as mãos atrás da cabeça. A sunga molhada havia sido trocada por um confortável short de algodão. — Minha vez? — perguntou. Ela concordou com um sorriso tímido, e ele desceu da cama Cynthia subiu no colchão e, livrando-se do robe, entrou debaixo das cobertas rapidamente, cobrindo-se até a altura do peito Para se distrair, pegou alguns folhetos que havia em cima da mesinha-de-cabeceira. — Alguma coisa interessante? — Worth perguntou ao sair do banheiro, vários minutos depois.


Até ele subir na cama, ela não tinha percebido como sentira falta do cheiro da pele masculina. — Estou lendo sobre esportes radicais. Parasailing, para ser mais exata. — Tenho medo de altura, desculpe — descartou Worth, rindo. Ela colocou o folheto de lado e pegou outro. — Há um cruzeiro pela baía com parada em uma ilha para o almoço. — Turístico demais. — Uma trilha a cavalo? — Esqueça. Gostaria, mesmo de fazer esse tipo de passeio? Não sei se gosto dessas coisas... — Nem eu. — Ela riu. — Fazer nada é o que parece melhor para mim. Nada planejado, pelo menos... O que eu mais quero é poder relaxar ao sol, só isso. — Pois, para mim, está perfeito. — Ele esticou o braço para apagar a luz do abajur e a cama gemeu. Em seguida, arrumou os travesseiros. — Talvez um cruzeiro pela baía ao pôr-do-sol fosse interessante — sugeriu, assim que se acomodou na cama. — Pode ser. — Podemos dar uma passada em alguma casa noturna, amanhã, que tal? — Parece divertido também. — Talvez dançar um pouco. — Dançar — ela murmurou sonhadora. — Não faço isso há anos. — O que preferir. Worth ficou em silêncio por algum tempo. — Cynthia? — O que foi? — Quando começamos a ser educados um com o outro? Ela se mexeu na cama, meio sem jeito. — E o que estamos fazendo? — É. Estamos agindo como estranhos desde que eu beijei o seu pescoço. — Worth rolou na cama e se voltou para ela. — Foi um acidente, um movimento natural da minha boca, eu juro. — Sei disso, seu tolo. — Acho que, algumas vezes, os instintos primitivos afloram involuntáriamente. Quero dizer, um homem está com uma mulher nos braços e então age sem pensar. Depois nem acredita que tenha feito isso. — Nem perdi tempo pensando nisso — Cynthia mentiu.


— Não mesmo? — Não. — Ela engoliu em seco. — Ótimo. Ele não pareceu convencido, tampouco satisfeito, e tornou a se deitar de barriga para cima. Cynthia suspirou silenciosamente, aliviando a tensão. — Cynthia? — Hum? — Está com sono? Se estiver, pode me mandar calar a boca. — Não, pode falar. — E que... Bem, eu estava apenas pensando se você sente falta de... — Do quê? — De dormir com alguém? — Worth percebeu que ela se retesara, e se apressou em se explicar: — O que quero saber é se sente falta de ter alguém com você quando vai para a cama, ou saber que ele estará lá na manhã seguinte, quando acordar. Desta vez, foi Cynthia quem se virou no colchão para fitá-lo. — Estou detectando um certo arrependimento pelo seu estilo de vida? — Não. — Depois de uns instantes, ele terminou admitindo: — Talvez. Devo estar ficando velho. Ou cansado de ficar trocando de mulher, não sei. Mas venho pensando, ultimamente, que seu relacionamento com Tim devia ser muito bom. — É realmente muito bom ter o amor de alguém. — Imagino. Deve haver algo de bom a ser dito sobre a monogamia. E também quanto a se ter filhos. — Worth deu as costas para ela. — Como é ter um bebê? — Dolorido! Ele riu. — Não me referi ao parto. Claro que deve doer... — Fingiu um arrepio. — Nem posso imaginar o quanto. Como é carregar uma outra vida dentro de si? — Você devia saber! Todas as vezes que me via, enquanto eu estava grávida, implorava para que o deixasse sentir o chute do bebê. — É porque fui filho único. Não tive o prazer de antecipar um irmãozinho ou irmãzinha. Cynthia começou a rir. — Lembra-se de quando fomos ao cinema e Brandon começou a dar chutes sem parar? Eu passei o filme inteiro com ele jogando futebol contra minhas costelas e você com a mão na minha barriga. — Não confiava em Tim para contar todos os chutes do artilheiro.


— Tem razão. Apostou o número de chutes que Brandon daria antes de o filme terminar! — Ganhei dez dólares. — Vocês eram uns bobos. — Ela caiu na risada. — Eu ali, toda dolorida, e os dois fazendo apostas à minha custa. — É verdade. Nesse ponto, nós homens levamos a melhor. — Ficaram com a parte mais fácil! — É justo. As mulheres parecem se beneficiar muito mais do que os homens do processo reprodutivo... Ao perceber que a conversar adentrava um terreno perigoso, Cynthia se acomodou melhor sobre os travesseiros. — Boa noite, Worth! — Boa noite — ele respondeu, agradecido pela penumbra que lhe escondia o sorriso.

CAPÍTULO III

— Tem certeza de que não está escandaloso? — Cynthia perguntou pela enésima vez, enquanto Worth a ajudava a subir no jipe que havia alugado. — Vai ou não curtir o vestido novo? — Uma viúva não devia usar estas coisas. Este vestido só é adequado para essas menininhas que ainda não passaram pela provação de uma gravidez. — Escute aqui. — Ele a segurou pelos ombros. — Já vi seu corpo ontem à noite e posso afirmar que não leva desvantagem alguma em relação às meninas a que se refere... Quanto a esse vestido, não pode negar que se apaixonou por ele à primeira vista e com razão: ele fica fantástico em você. Agora pare de ficar vendo problema onde não existe, Cynthia McCall. Disfarçando o estranho calor que lhe subiu ao rosto com o inesperado elogio, ela tentou sorrir. — Sem dizer que, se estivesse vestida como uma viúva, prejudicaria a minha reputação — Worth prosseguiu em tom de brincadeira, querendo amenizar a quase rispidez com que respondera à pergunta dela. — Não costumo levar qualquer mulher para dançar. — É sempre assim, tão delicado, com as suas acompanhantes? — Não. Só com aquelas que me dão trabalho.


E agora que a viúva de seu melhor amigo começava a deixá-lo com água na boca, pensou, perturbado, enquanto a guiava pelas costas nuas em direção à entrada de uma das mais famosas boates de Acapulco. — Ganhou um belo bronzeado nas costas — comentou, incapaz de resistir. — Se quer saber, minha pele está ardendo um pouco. Culpa sua... Deve ter falhado quando pedi para que passasse o protetor solar em mim. Ele não duvidava que isso tivesse acontecido. Vinha se portando de forma ridícula o dia inteiro. Tudo começara inocentemente naquela manhã. Haviam dormido até bem tarde, e tomado o café da manhã no terraço com pãezinhos, frutas frescas e suco. Sentindo-se totalmente à vontade, Cynthia acomodara as pernas longas e bem torneadas em uma das cadeiras, e ele tivera dificuldade em manter os olhos afastados delas. E, desde quando uma camisola de algodão larga se tornara a peça mais sexy que uma mulher podia usar? — Deixe-me pagar a minha parte — ela falou de repente, quando um garçom se aproximou. — De jeito nenhum. A viagem é toda por minha conta. — Worth observou a mesa com uma careta. — Já comi pizzas maiores do que esta mesa — resmungou, insatisfeito. Assim que o rapaz se afastou com o pedido, Cynthia inclinou o corpo para poder falar com ele sem ter de berrar. O volume da música era ensurdecedor. — Está de mau humor? Não se sinta obrigado a me distrair. Podemos ir embora. Ficarei mais do que feliz simplesmente relaxando no nosso terraço, olhando os morcegos comerem os insetos. Seus rostos estavam próximos a ponto de Worth poder contar cada uma das pestanas de Cynthia. O olhar dele desceu um pouco, chegou ao pescoço longo, depois passeou rapidamente pelo decote em "V" do vestido. Sentiu-se imediatamente culpado por ter visto de relance parte dos seios. — Estou de ótimo humor. — Forçou um sorriso. Não teve certeza de que Cynthia se convencera disso, mas ela não teve tempo de retrucar, pois o garçom voltava com as bebidas. Mexendo com o canudo a mistura exótica de ponche de frutas com rum, ele recordou o que haviam feito juntos naquele dia. Depois do café, tinham enfiado uma parafernália dentro do jipe alugado e seguido para uma praia deserta, reservada aos hóspedes do resort. Sem qualquer sinal de timidez, Cynthia tinha tirado a canga, ficando apenas de biquíni, e correra para o mar. Incomodado, ele a seguira com os olhos, lembrando a si mesmo que aquela mulher de quadris perfeitos e busto provocante era uma amiga de muitos e muitos


anos. Tanto tinha atormentado seu colega de quarto, Tim McCall, instigando-o a se declarar... Quando, finalmente, Tim se armara de coragem para falar com Cynthia, depois de uma aula de psicologia, não havia mais parado de falar dela. Depois de conhecê-la, Worth pudera entender a razão. E cumprimentara o amigo pelo bom gosto em relação às mulheres. Havia congratulado Tim quando eles tinham ficado noivos, e fora o padrinho de casamento dos dois. Enquanto Cynthia sofria as dores do parto, havia andado de um lado para o outro da sala de espera e, levado pela empolgação e orgulho, da mesma forma que o pai da criança, chegara mesmo a observar o afilhado mamando. Ao vê-la deixar as ondas naquela manhã, a água do mar envolvendo o corpo ainda escultural, e os mamilos se insinuando por debaixo do biquíni, no entanto, ele não tinha sido tocado pela beleza casta daqueles seios capazes de amamentar um bebê... Fora tomado por um desejo carnal. Sem demora, se entretivera com fantasias que poderiam ser classificadas mais como pornográficas do que qualquer outra coisa. Devia ter uma mente doente, imaginou com um longo suspiro. Comportarase mal o dia todo, incapaz de ignorar o fato de a viúva de seu amigo ser uma mulher linda e desejável. Quando Cynthia tinha lhe pedido que passasse o protetor solar nas costas dela, seu coração havia disparado, e o sangue parecera bombardeá-lo nas partes mais escusas. A pele dela era incrivelmente macia e lisa, as coxas, perfeitas, e ele não conseguira manter os olhos distantes das nádegas bem delineadas. Devia estar doente, refletiu. Tim voltaria do além e o mataria se soubesse dos pensamentos que ele vinha tendo em relação à sua esposa. Especialmente como naquele momento em que ela lhe dera as costas praticamente nuas, e fizera perguntas sobre o seu vestido curto e ousado... Ela tinha se apaixonado pelo vestido, mas hesitara em comprá-lo. Só havia se decidido, depois de ele deixar claro que o aprovava. Não tinha sido para menos. O vestido lhe dera a chance de enxergar a pele nua das costas, os seios fartos modelando-se, apetitosos, sob o tecido leve... Doente. Agora ela se encontrava sentada ao lado dele, o rosto cheio de incertezas. E isso porque seu grande amigo e companheiro de viagem vinha agindo como um idiota, sem que ela soubesse a razão. Seu coque estava se desfazendo, algo de que ela já reclamara antes. Se soubesse como ficava linda com aqueles fios soltos caindo em volta do rosto... Se tivesse idéia de como seu perfume era embriagador, de como era delicioso seu sorriso... Cynthia se levantaria naquele exato momento e fugiria dali. E ele não poderia culpá-la.


— Quer dançar? — perguntou de súbito. — Você quer? — Fui eu quem convidou. Um idiota, rude, com uma mente doente. Era exatamente assim que ele estava se portando. Disfarçando um suspiro, Worth estendeu o braço acima da minúscula mesa, e a ajudou a se levantar, conduzindo-a pela mão até a pista de dança lotada de casais. — Devo estar enferrujada — ela se desculpou, sorrindo. — Ninguém está olhando. Ninguém a não ser ele. Os movimentos sensuais dos quadris, o balançar gentil dos seios... Worth engoliu em seco. Eles já haviam dançado juntos antes, muitas vezes por sinal. Mas sempre quando Tim e ele haviam trocado de par por pura diversão. Até agora, nunca notara realmente que boa dançarina Cynthia era. Longe de estar enferrujada, ela dançava com uma sensualidade e uma leveza de tirar o fôlego. A música levou tanta gente à pista de dança, que terminaram se sentindo como sardinhas em lata: pernas roçando, braços esbarrando em seios... Comparado à familiaridade sexual que ele experimentava com a maioria das mulheres com quem saía, o contato de agora deveria ser algo sem qualquer conseqüência. Em vez disso, qualquer roçar acidental no corpo de Cynthia tinha o poder de descarregar sobre ele pesadas doses de desejo, causando-lhe prazer e ao mesmo tempo dor. Bon Jovi cedeu a uma balada romântica de Whitney Houston e, agindo por puro impulso, Worth puxou Cynthia para si. Suspirou. Na tarde anterior, ele lhe massageara as costas por vários minutos, na varanda do apartamento, em Dallas. Nem mesmo pensara em tocá-la assim... Manteve as mãos comportadamente à altura da cintura delgada, até que viu um outro homem, na pista de dança, dirigindo a Cynthia um olhar de interesse. Em um gesto possessivo, colou as mãos às costas dela. Automaticamente, ela o enlaçou pelo pescoço, e Worth tentou não pensar nos seios pressionados contra seu peito. Um gemido traiçoeiro escapou de seus lábios, contudo. Ela imediatamente levou a cabeça para trás e o olhou, cheia de preocupação. — Está doente, não é? Muito, ele pensou. — Não. Por que a pergunta?


— Não parece estar se divertindo. Tenho remédio para o estômago na bolsa, quer? — Meu estômago está muito bem, obrigado. — O problema é um pouco mais para baixo, completou em pensamento. — Estou me divertindo, pode ficar tranqüila. — Tem certeza? — Claro. Sorrindo, ele a puxou para perto outra vez. Mais para assegurar a si mesmo que podia agir sem parecer um adolescente excitado. E foi uma bobagem. Tão logo seus corpos se tocaram, ajustaram-se deliciosamente bem. Também Cynthia notou isso, pois procurou se afastar um pouco. — O que aconteceu? — A voz dele soou estranha aos próprios ouvidos. Provavelmente porque seus rostos estavam a centímetros de distância. Ele podia ver, inclusive, a marca da mordida de brincadeira que dera na noite anterior. Encheu os pulmões e soltou o ar devagar. A respiração de Cynthia estava muito, muito perto. Podia sentir os seios macios pressionando o peito e aqueles lábios eram tão convidativos... — Eu... acho que tomei muito sol — ela falou de repente. — Ou talvez a bebida tenha subido à minha cabeça: estou com tontura. Worth concordou em silêncio, porém demorou a soltá-la. Afastou-se com relutância, com um suspiro, e a levou de volta à mesa. — Quer uma água? Cynthia abanou-se com o guardanapo enquanto se acomodava. — Boa idéia. Uma garrafa, mas sem gás. — Voltarei em um instante. — Mas, Worth, o garçom pode tr... — Vai levar muito tempo — ele a interrompeu. Ele varou a multidão em direção ao bar, satisfeito por ter arranjado uma desculpa que lhe permitisse ficar sozinho por alguns minutos. Talvez com alguma distância entre os dois, pudesse entender o que estava acontecendo. — Uma garrafa de água, por favor — pediu ao barman. — Olá.... Worth voltou a cabeça. Sentadas nos banquinhos junto ao bar, com os brincos mais compridos do que suas mini-saias, estavam as duas jovens que ele tinha visto no avião, e que haviam compartilhado com eles o furgão a caminho dos hotéis. — Olá.


— Lembra-se de nós? Ele suspirou. Não estava nem um pouco disposto a jogar conversa fora. — Claro que lembro — respondeu bruscamente. Elas se entreolharam, sorrindo. — Nós o vimos hoje, na praia... — Verdade? — Worth olhou em volta, à procura do garçom a quem pedira a água. O rapaz estava no fim do balcão, preparando outros drinques. — Deve malhar muito, não? — comentou uma das jovens, olhando-o sem acanhamento. — Tem um corpo e tanto. — Obrigado. Garçom! E a minha água? — Onde está a sua esposa? — perguntou a outra. — Minha o quê? Ah, ela não é minha esposa. As duas tornaram a trocar um olhar malicioso. — Verdade? — Somos apenas amigos. — Onde ela está? — Sentada ali adiante. Não está muito bem. — Exasperado, Worth jogou ao garçom uma nota de cinco dólares. — Uma garrafa de água, por favor! — Adivinhe aonde vamos mais tarde? — Aonde? — ele perguntou educadamente, muito mais interessado em pegar a água do que nos planos das duas para aquela noite. — Vamos fazer aquela excursão pelas casas noturnas mais... adultas de Acapulco. Worth arqueou uma sobrancelha. — Verdade? Divirtam-se, então. — Já que sua acompanhante não está se sentindo bem, por que não vem conosco? — uma delas convidou. — Já fiz essa excursão. — E é tudo aquilo que dizem? — Ela abaixou o tom de voz. — É verdade que eles realmente fazem aquilo em cima do palco? — Vão ficar muito à vontade lá, eu garanto. As duas fingiram não captar seu tom de voz maldoso. — Oh, por favor, venha conosco. — Como eu já disse, já vi tudo isso antes... — Worth apanhou a garrafa de água das mãos do atendente, que ficou com a nota de cinco dólares sem oferecer troco algum.


— Mas não seria muito mais divertido se estivéssemos nós três? — A mais atrevida segurou Worth pelo braço. — Sem dúvida seria. Mas não contem comigo. — Ele se desvencilhou de pronto e, sacudindo a cabeça, deixou-as para trás. Quando chegou à mesa, estacou. Cynthia não estava mais lá. Confuso, observou o casal de turistas que trocava olhares melosos entre duas garrafas de cerveja mexicana. Worth olhou em volta para se certificar de que estava mesmo na mesa certa. — Desculpem-me, mas sabem para onde foi a moça que estava sentada aqui? O rapaz o fulminou com o olhar. — Quer dar licença? — Vocês devem tê-la visto. Ela estava aqui há instantes. Vestido branco, cabelos cor de mel. — A mesa estava vazia quando chegamos — a moça o informou, mais educada. — Mas... — Olhe, se não sabe onde está a sua parceira, azar seu! — o rapaz exclamou. — Vou ter de chamar o segurança para me livrar de você? Para não ser obrigado a ensinar bons modos ao sujeito, Worth contou até dez e fez meia-volta, indo na direção da pista de dança. Sem sucesso, seguiu para a saída da boate, praticamente carregado pela multidão. Seguiu direto para o estacionamento, onde havia deixado o jipe. Mas quando passou pelo ponto de táxi, ele a viu. — Cynthia! Ela se voltou, obviamente surpresa em vê-lo. — Olá. — Olá? E isso o que tem a me dizer? — Worth não escondeu a raiva, chamando a atenção de todos na fila do táxi. Puxou-a pela cintura sem muita delicadeza. — Que, diabos, aconteceu para sumir desse jeito? Aonde estava indo? — Voltando ao resort. — Sem me dizer nada? — Você estava ocupado. — Pegando uma água para você! — Eu o vi conversando com aquelas garotas, Worth. — Encontrei-as ao acaso, Cynthia!


— Bem, eu... Pensei... — Que eu havia combinado alguma coisa com elas? — Não seria a primeira vez, seria? — Nunca duas ao mesmo tempo — ele redargüiu, perplexo. — Se você e sua esposa vão discutir, melhor irem para um lugar mais reservado. Ninguém aqui quer saber da sua vida — murmurou um jovem conterrâneo ao lado deles. Worth praguejou baixinho. Tinha se esquecido de como os americanos lotavam Acapulco naquela época do ano. Empurrou Cynthia em direção ao jipe. — Droga, nunca me dê um susto desses outra vez — falou, ajudando-a a subir no jipe. — Para sua informação — ela começou, irritada —, sou uma mulher perfeitamente capaz de tomar um táxi sem a ajuda de ninguém. — E inocente demais, Cynthia — ele resmungou, ligando o jipe. — Não viu como aqueles homens a despiam com os olhos? Uma mulher atraente como você, sozinha em um ponto de táxi, é uma presa fácil para os tubarões em um lugar como este. Sem dizer o modo como dançou na pista. Provavelmente nem percebeu como estava chamando a atenção. Cynthia o olhou boquiaberta, lembrando-se do que Josh havia dito sobre não expor a mercadoria se ela não estivesse à venda. — Não fiz nada de propósito. — E exatamente esse o motivo de todos ficarem de olho em você — retrucou ele, aborrecido. — Nunca mais saia de perto de mim sem me avisar aonde está indo, por favor. Fiquei em pânico, se quer saber. O tráfico na avenida principal de Acapulco estava lento, e ficaram presos irremediavelmente. Enquanto esperavam que um sinal ficasse verde, garotos apareceram de todos os lados e começaram a lavar o vidro do jipe. — Não pensei que fosse ficar preocupado, desculpe — ela se justificou. — Pensei que estivesse lhe fazendo um favor sumindo de seu caminho. — Um favor? Gracias, gracias — ele falou aos meninos, jogando-lhes uma moeda. Engrenou a marcha, mas não conseguiu ir muito à frente, porque um caminhão quebrado fechava o caminho. — Eu lhe disse, antes de deixarmos Dallas, que não queria atrapalhar o seu fim de semana. — Voltou-se para Worth. — Passou o dia inteiro fazendo somente coisas de que eu gosto... Fomos à praia, fizemos compras, até assistimos a um pôrdo-sol nos penhascos. — Eu também queria fazer essas coisas.


— Pensei que, se lhe desse uma folga, você poderia se divertir à sua moda, e fazer com aquelas duas o que tivesse em mente. Worth dirigiu a Cynthia um olhar tão aborrecido que ela sentiu uma pontada no estômago. — Não sabia que tinha a mim em tão baixo conceito, Cynthia. Já fiz coisas malucas, mas o mais perto que estive de um ménage à trois foi naquela noite em Houston, com você e Tim. Diabos! Ele não queria pensar em Tim. A culpa já o corroera por dentro o dia inteiro. Quando Cynthia havia desaparecido, sua primeira reação não tinha sido de insegurança e sim de ciúmes. Pensar que qualquer outro sujeito pudesse estar dançando com ela, tocando sua pele, desfrutando de sua fragrância, o fizera sair do sério. Mas, que direito ele tinha de sentir ciúmes? O caminhão foi empurrado para um lado, por fim, e os carros voltaram a se mover. De repente, Cynthia colocou a mão sobre sua perna, e ele quase gemeu alto com o choque. — Minhas intenções foram boas, Worth — ela se desculpou com voz doce. — Tive a impressão de que não estava se divertindo como deveria, já que se manteve preso a mim o tempo todo. Pensei que se lhe desse a chance de... — Ir para a cama com uma mulher? Seus olhares se cruzaram. Ela fez um leve movimento com os ombros, como se concordasse, e tirou a mão da perna dele. — Cynthia, se eu quiser ir para a cama com alguém, vou lhe comunicar antes, está bem? Assim, até que me ouça dizendo isso, conclua que estou muito satisfeito com o que estou fazendo. — Feito. Tendo deixado a cidade para trás, eles seguiram pela linha da costa. Worth respirou fundo. Aquilo era o mais perto que haviam chegado de uma briga séria, em todos os anos que se conheciam. Era óbvio que nenhum dos dois estava satisfeito com aquele silêncio. Mesmo assim, ele preferiu que ela fosse a primeira a se manifestar: — O que aquelas duas tinham em mente? — Uma excursão pelas "casas noturnas" de Acapulco. — Ele se voltou para ver reação de Cynthia, e sorriu ao notar a mistura de choque e curiosidade. — Quer ir também? Ela piscou antes de responder. — Podemos ir? Surpreso, ele caiu na risada.


— Está brincando, não é? E o risco de ter de enfrentar a ira de Ladonia depois? — Ela não precisa ficar sabendo. — Mas, se descobrir, vai me arrancar a pele! Não quero ser responsável por corromper você. — Mas, Worth, eles realmente... — Sim! — Eles fazem... De verdade? — De verdade. E isso é tudo o que vou dizer a respeito. A última coisa que ele queria pensar era em gente fazendo sexo. No entanto, parecia ser a única coisa que tinha em mente enquanto jogava cartas com Cynthia no terraço, logo depois. Eles riam e se provocavam, mas ele não conseguia se livrar da sensação de culpa por estar pensando se ela estaria ou não usando sutiã, agora que tirara aquele vestido pecaminoso e o trocara por uma camiseta e um short... A suave brisa vinda do oceano deu-lhe a resposta pela qual ele ansiava: Cynthia não estava usando nada por baixo, reparou, sentindo uma pontada no baixo-ventre ao notar os mamilos intumescidos por baixo do tecido. Quando finalmente foram para a cama, ficou de costas para ela, sentindo-se um verme. Somente um homem sem caráter poderia sentir desejo por sua melhor amiga; especialmente uma que parecia totalmente alheia a isso. Graças a Deus, ela não notara nada. Graças a Deus, não sabia que, com muito esforço, ele não lhe acariciara um seio por cima da mesa de jogo, apesar de que, depois, certamente cortaria a mão fora por tê-la ofendido. Graças a Deus, ela não sabia que, cada vez que ele via a marca rosada sob sua orelha, o resultado de sua mordida, voltava a sentir na boca o gosto de sua pele. Não importava o quanto tentasse diminuir a importância daquele toque: queria, com certeza, repeti-lo. Não estava mais conseguindo conter as próprias fantasias, constatou, chocado. Nem a reação física que vinha com elas. Quando imaginou que não fosse mais conseguir segurar os próprios instintos pela mulher deitada ao seu lado, deixou a cama de um salto e, rumando para o terraço, praticamente pulou na água fria da pequena piscina.

*** O som da água da piscina acordou Cynthia. Intrigada, ela deixou a cama e chegou até a porta aberta do terraço. — Worth?


Ele estava na extremidade oposta. — Ah, eu a acordei. Desculpe-me. — O que está fazendo? — Percebendo a estupidez da pergunta, ela a reformulou: — Por que está nadando a esta hora da noite? — Não conseguia dormir. — Alguma coisa errada? — Ela se aproximou, colocando o pé descalço na água fria. Worth afundou o corpo inteiro na água, e deixou para fora apenas a cabeça. — Não há nada de errado. Eu estava sem sono. Volte para cama... Eu não vou demorar. Ela hesitou, desejando que Worth a convidasse para entrar na piscina. No entanto, era evidente que ele preferia a solidão à companhia dela, então começou a voltar para o quarto. — Vejo você pela manhã. — Isso. Durma bem. Quando pisou em algo macio, abaixou os olhos e viu que era o short que ele usava para dormir. Percebeu logo as implicações. Worth estava nu. Apressou-se a voltar à suíte e fechou a porta ao entrar. Durante toda a manhã, Cynthia não conseguiu parar de pensar no episódio da noite anterior. Por mais que quisesse afastar a lembrança, o destino parecia estar lhe pregando peças. Enquanto tomavam o café no terraço, viram um casal em outra suíte, em um ponto mais baixo da montanha. Estavam nus na piscina. Worth e ela fingiram não notar nada, mas seus olhares insistiam em voltar ao casal. Contudo, nenhum dos dois criou coragem para comentar sobre o que estava vendo, tampouco fazer alguma piadinha. Ridículo. Nem pareciam dois adultos. O casal se divertiu na água, terminando o ato sexual com um longo beijo. Depois, ambos desapareceram dentro do quarto, embrulhados em toalhas. Worth abruptamente levantou-se da mesa. Largou o guardanapo sobre a toalha e saiu do terraço. Perturbada, Cynthia o seguiu para dentro da suíte alguns minutos depois. Ele já vestira seu calção de banho, e agora pegava as toalhas e loções que precisariam levar para a praia. A caminho da praia deserta, ela mal conseguiu desviar o olhar dele. Como uma adolescente, viu-se atraída pelo movimento das pernas musculosas enquanto Worth pisava no acelerador, breque e embreagem do jipe, reparando nos pêlos dourados cobrindo suas pernas bastante bronzeadas pelo sol do dia anterior.


Tentou se concentrar na belíssima paisagem, mas, durante o trajeto, seus olhos e pensamentos venciam sua vontade e bom senso, e preferiam o charme e a beleza física do homem ao seu lado. Worth deixou o jipe em um estacionamento reservado, e juntos seguiram para a praia. — O que acha deste lugar? — ele perguntou, rompendo o silêncio. Ela checou o ângulo do sol, a distância entre a orla e as ondas que quebravam, e o espaço entre eles e os outros turistas, ao longe. — Parece perfeito. Worth estendeu as toalhas na areia, e ela se sentou em uma delas. — Quer que eu passe o protetor nas suas costas? — Não, obrigada. Hoje vou bronzear a parte da frente. O olhar dele a mediu de alto a baixo. — Já está com um belo bronzeado — comentou, apenas para ter o que dizer. — Foi bom nadar de madrugada? — Estranhamente, Cynthia também não sabia o que falar. — Lamento ter perturbado você. Sim, ela se perturbara; mas não por ter acordado com o barulho. Quando Worth se estendeu de costas, ela estremeceu. Ele era sexy demais. Como nunca havia notado isso? Que diabos! Worth era seu amigo! — Não vi você voltar para a cama. Era mentira. Ela ficara acordada, com os olhos bem fechados, por um bom tempo depois que ele voltara a se deitar. Não tinha ousado nem piscar, ficando imóvel e tensa. — Nadar me relaxou. Dormi quase instantaneamente. — Os óculos escuros que lhe cobriam os olhos também escondiam sua mentira. Cynthia se sentiu confusa com a mudança de comportamento entre os dois. Eles haviam começado a agir um com o outro de forma muito educada... e desonesta também. Quando tinham deixado sua camaradagem de costume e começado a se portar como dois estranhos? Sabia dizer exatamente quando. Seu relacionamento havia mudado quando começara a notar que Worth era muito sexy; quando os músculos de suas costas se contraíam no momento em que vestia ou despia uma camisa; quando deixava à mostra o peito largo, coberto de pêlos dourados; quando seus olhos azuis brilhavam toda vez que ele sorria. Ah, claro. E quando começara a sentir ciúmes de cada mulher que o olhava com interesse.


Por essa razão, ela praticamente fugira da boate, na noite anterior. Verdade que não queria se tornar um peso para ele, mas também tivera ímpetos de esbofeteá-lo e, então, partir para a jugular daquelas duas assanhadas. De onde vinham aqueles ciúmes quase doentios?, espantou-se. Sem dúvida, Worth havia interceptado os olhares prolongados que ela lhe dera. Percebera todas as suas reações enquanto dançavam juntos. Pois, não ficara tenso e quisera voltar para a mesa? Lealdade e cavalheirismo o haviam levado a ser assim, tão discreto. Uma viúva que tenta chamar a atenção de um homem era patético demais. Ele havia optado pela tolerância, enquanto ela fora, no mínimo, uma tola. Worth devia estar desgostoso com isso, mas não soubera que atitude tomar. Cynthia mordeu o lábio. Preferia morrer a se tornar objeto de indulgência. Ainda assim, não conseguia desviar os olhos dele. Se os ciúmes não a matassem, a culpa daria conta disso, pois já começava a se voltar para Tim a fim de lhe pedir desculpas por se sentir atraída fisicamente por Worth. Quanta tolice, pensou, aborrecida. A despeito de suas melhores intenções, seus olhos continuaram buscando o corpo de Worth. Quando se detiveram em seu sexo, ela sentiu um calor brotar forte no ventre e gemeu baixinho. Mortificada, levantou-se de um salto. Worth tirou os óculos com uma interrogação no olhar. — Parece haver um centro comercial, ali adiante. — Ela fez um gesto nervoso em direção à ponta da praia. — Quero comprar umas lembranças para Brandon e minha mãe. Ele começou a se levantar também, porém Cynthia o deteve. — Não precisa ir junto. Fique aí se bronzeando. — Não quer que eu a acompanhe? — Claro que não, nem é preciso. Vai continuar no meu campo de visão, e não vou demorar. Depois de vestir a canga, seguiu pela praia sob um sol forte demais. Delicadamente, recusou comprar marijuana, bolsas de palha, tigelas de cerâmica e sandálias de couro oferecidas pelos vendedores, que abordavam os turistas ali mesmo, na praia. Quando chegou à área comercial, sentiu um alívio por poder escapar do calor lá fora. As lojas estavam cheias de bugigangas. Nada tão fino como nas lojas do centro da cidade, o que foi muito mais divertido, pois os turistas podiam pechinchar. Passou uma hora inteira fazendo compras e se distraindo. O sol ficou ainda mais forte, e o vento do Pacífico prometia uma tempestade para logo. Ela sentiu sede, e caminhar não foi nada fácil. Antes de chegar onde


Worth estava, parou em um quiosque e pediu que um garoto levasse duas bebidas geladas para eles. Sentindo-se exausta por ter andado descalça sobre a areia quente, carregando a bolsa e as compras, caiu de joelhos ao lado de Worth, com um suspiro de satisfação. — Estou acabada, mas valeu o sacrifício. Comprei para mamãe um bracelete de prata que ela vai adorar! Não consegui resistir e comprei um para mim também. Para Brandon comprei um chicote. Acha que vou me arrep... Worth? Ele não se moveu. Cynthia observou o abdômen reto que levantava e abaixava. Ele estava dormindo!, percebeu, rindo. O vento fazia os fios dos cabelos se agitarem, e havia suor escorrendo por seu pescoço. Seus lábios bem-feitos se curvavam em uma espécie de sorriso e, ao olhar mais para baixo, ela soube por quê. — Worth — chamou, preocupada com as pessoas ao redor. — Hum? — Ele respirou fundo, mas, ainda meio adormecido, levantou a mão e a colocou na coxa dela, acariciando-a. — Worth — ela repetiu, estremecendo. Sua voz soou fina, e o vento a levou para longe. — Olá — ele falou, sonolento. — Olá. Percebendo que tinha a mão na perna dela, Worth a retirou e se sentou rapidamente. — Eu estava sonhando... acho. Já voltou? Que horas são? — Tirou os óculos, passou a mão pelo rosto e, tão casualmente quanto possível, cobriu o corpo excitado com uma toalha. — Quanto tempo ficou longe daqui? — Pouco mais de uma hora. — Por cima do ombro, Cynthia viu o rapaz se aproximando com as bebidas e ficou feliz com a interrupção. Sua boca estivera seca antes, mas nada como agora. — Está com sede? — Sim, claro. Ah, obrigado. — Ele deu uma gorjeta ao rapaz e tomou um grande gole da bebida. — Comprou o que queria? — Apontou o pacote. Cynthia repetiu todos os itens, e Worth riu quando ela mencionou o chicote. — Esse menino vai virar um terror com um chicote e uma pistola de água. Ela mordeu o lábio, preocupada. — Não me lembrei da pistola!


— Também vou dar uma passada nesse centro para comprar uma lembrança para Brandon, Ladonia e a sra. Hardiman. — Vou com você. Já sei quais são as melhores lojas, agora. — Pechinchou, não é? — Claro. — Cynthia hesitou em tirar a canga e ficar novamente de biquíni. Por alguma razão, sentia-se vulnerável e tímida. Para disfarçar, começou a mostrar um entusiasmo que não sentia. — Sabe, eles alugam cavalos por hora. Pode ser divertido cavalgar na praia, o que acha? — Parece bom. Vamos dar uma olhada nisso mais tarde. Mas não foram andar a cavalo. Tampouco fizeram compras. O sol, as bebidas, e o estado peculiar que compartilhavam, acabaram mergulhando ambos em um delicioso torpor. E a tempestade não viera para abaixar a temperatura. Ficaram na praia até o fim da tarde, deitados lado a lado, tentando, sem grande sucesso, que seus olhares não se encontrassem. — O que quiser está bom para mim. — Você escolhe. — Não, prefiro que você escolha. — Mas já deve ter uma preferência! Desde que haviam deixado a praia, tentavam decidir como passar a noite. Várias opções tinham sido discutidas, mas não pareciam nem perto de uma decisão. Haviam tomado banho, e tirado do corpo a areia e a água do mar. No momento, encontravam-se sentados no terraço, tomando um drinque que Worth preparara, e observando o horizonte do Pacífico engolir um gigantesco sol vermelho. Ele usava short. Cynthia ainda se encontrava com o roupão de banho, e uma toalha formando um turbante sobre os cabelos molhados. Seus pés descalços descansavam sobre uma mesinha. — Se dermos a eles uma hora, a cozinha pode nos servir, aqui no terraço, um jantar à luz de velas. Desse modo não precisaríamos nos vestir e... — Não. — A sugestão fez Cynthia praticamente entrar em pânico. — Podemos sair, então — ele emendou, percebendo sua agitação. — Temos aqui um excelente guia de restaurantes... — Pegou um livreto. — Que tipo de comida prefere: nativa ou internacional? Peixe ou o quê? — E quanto ao restaurante aqui do hotel? Worth consultou o folheto. — Comida internacional, quatro estrelas, tem uma magnífica vista para a baía, música ao vivo — leu em voz alta. — O que acha?


— Parece muito bom. Assim, ao menos, nos livramos daquele trânsito infernal. Ela não estava disposta a ir a um restaurante barulhento e cheio de gente. Mas ter um jantar íntimo naquele terraço, e ainda à luz de velas, seria uma tortura. Desejara tanto que algo de diferente lhe acontecesse na vida e nem sequer imaginara que o tsunami capaz de virá-la de ponta cabeça tinha um nome: Worth Lansing. Cynthia suspirou longamente. Até o momento, ela não tinha ainda se mostrado uma completa idiota. Mas ficar sozinha com ele naquele lugar exótico e sedutor, certamente propiciaria alguma indiscrição da qual se arrependeria mais tarde. A amizade entre os dois era preciosa demais, concluiu. Não poderia se arriscar a perdê-la. Aparentemente, o amigo também não queria ficar sozinho com ela. — Boa idéia. — Jogou o folheto de volta à mesa. — Mas vou ter de usar o mesmo vestido de ontem à noite. — Ótimo. — Ele deu de ombros como se o assunto não o interessasse. — Outro drinque? — Não, mas pode ir bebendo enquanto me visto. Vai levar um bom tempo. — Por que as mulheres levam tanto tempo para se vestir? — resmungou ele, voltando ao seu velho jeito brincalhão. — Porque os homens esperam que estejamos sempre lindas o tempo todo — ela respondeu, adotando o mesmo ar descontraído. — Isso exige horas de preparação. — Pois saiba que estava linda, agora há pouco, com o corpo bronzeado e cheio de areia. Seus olhares se cruzaram por um longo minuto, tempo suficiente para deixálos mais uma vez sem jeito. — Obrigada — ela agradeceu, por fim. Deixou o terraço bem depressa e sumiu quarto adentro. Levou uma Contrastando com parecia ainda mais de seda rosa pálido

hora para que ambos se arrumassem para o passeio. o tom bronzeado de sua pele, o vestido branco de Cynthia espetacular do que na noite anterior. Worth usava uma camisa combinando com as calças escuras.

O restaurante ficava no meio do resort, mas era uma distância curta, e eles decidiram ir a pé. Não haviam ido muito longe quando Cynthia parou. — Tenho de tirar esses sapatos de salto. — Quer que eu volte e pegue o jipe?


— Não. A noite está ótima para se caminhar, mas não pretendo quebrar o pescoço. Ainda bem que não estou de meias. — Usando Worth como apoio, ela descalçou os sapatos. Ele sorriu. — A maioria das mulheres não seria assim tão prática. Gosto de você, Cynthia. Ela não conseguiu deixar de rir. — Quer dizer que descobriu isso somente agora? — Não. Gostei de você logo que Tim nos apresentou. Claro que não sabia que você usava fio dental todas as noites. — Novas descobertas? Eu também não sabia que seu travesseiro começa a noite debaixo de sua cabeça e termina aos pés da cama. — Ora, ora. Se vai começar a menosprezar os meus hábitos, vou citar algumas coisas que você faz. — Tais como? — Usar silicone para manter o cabelo assentado — ele provocou, balançando o rabo-de-cavalo que ela usava no momento. — Agora pensa saber todos os meus segredos de beleza? Diante do muxoxo, Cynthia o abraçou, rindo. — Também gosto de você, Worth Lansing. Ele a abraçou de volta com um brilho estranho nos olhos. Quando se separaram, pegou a mão dela e caminharam em direção ao restaurante. Na entrada, ela voltou a calçar os sapatos. Foram levados a uma mesa com vista para a baía e para a cidade, a qual se estendia como um leque. A luz da lanterna sobre a mesa dançava a cada brisa vinda do oceano. Raios riscaram o céu por detrás das montanhas, mas o garçom assegurou que não choveria por horas. O trovão era amigável, não ameaçador, informara. Uma música leve, tocada por um harpista e um flautista, garantiu um clima perfeito entre os dois enquanto o jantar não era servido. Sua conversa era interrompida somente quando seus olhares se cruzavam. — Pode me empurrar, que eu rolo colina abaixo! — Cynthia exclamou ao saírem do restaurante. — A comida estava boa demais para deixar uma simples migalha no prato. Worth a segurou enquanto ela tirava novamente os sapatos. Pegando-os, enfiou um em cada bolso da jaqueta. — Não há pressa em voltarmos — disse, quando começaram a caminhar. — Podemos aproveitar o passeio.


E foi o que fizeram. Passearam em silêncio, parando aqui e ali para apreciar as variadas paisagens oferecidas pela estrada cheia de curvas. Uma das vistas era particularmente fabulosa, pois exibia a baía inteira e a cidade, e eles se sentaram em um muro de pedra para desfrutar do panorama. O vento os acariciava, colando o vestido de Cynthia em seu corpo. Sentir o tecido roçando a pele foi uma delícia que ela decidiu coibir, cruzando os braços sobre os seios. — É lindo aqui. — Suspirou. — Obrigada por ter insistido que eu viesse, Worth. — O prazer tem sido todo meu. — A voz dele soou rouca. Cynthia voltou o rosto e o flagrou olhando seus seios, que o vestido mal conseguia esconder. Worth desviou o olhar, perturbado. — Tenho adorado cada minuto que venho passando aqui — ela confessou, tímida. — Mesmo? — Verdade. — Isso é bom. Foi para isso que viemos. — Os problemas esperando por mim em Dallas parecem tão distantes... Sinto-me afastada da realidade aqui em cima. — Não me lembre disso. Tenho pavor de altura, você sabe. Cynthia afastou dos olhos os fios de cabelo rebeldes, rindo. O rabo-de-cavalo não estava mais arrumado. — Se tem medo de altura, como pode morar em um andar tão alto? — Nunca fico muito perto da murada, como você ficou, noites atrás. Olho só à frente, então tudo bem. A sensação de olhar para baixo e ver a distância até o chão é que me aterroriza. — Mas não me pareceu preocupado quando nosso táxi percorreu aquela estrada à beira do penhasco. — Eu tinha outras preocupações na cabeça. — Quais? — Estava preocupado com você. Mas feliz porque concordou em vir. — Ele a fitou nos olhos. — Muito feliz, aliás. Ela olhou para a frente, nervosa. — Você está linda esta noite. — Obrigada. — Sua voz soou trêmula. — Mas olhe só para o meu cabelo! Está todo desmanchado. Não consigo mantê-lo preso. Eu uso grampos, mas são tão fin...


Worth inclinou a cabeça e a beijou na nuca. Depois levou os lábios ao canto da boca macia e apenas roçou nela, como se a testasse. Cynthia segurou o ar, desejando que ele a beijasse. Uma suave explosão de desejo a deixou quente e pronta para a carícia. Mesmo assim, abaixou a cabeça. — Melhor voltarmos para a suíte. Um silêncio pesado desceu sobre ambos. — Está bem — ele murmurou. Caminharam lado a lado, sem se tocarem. Embora ela pudesse sentir os olhos de Worth vez ou outra, não ousou se voltar para encará-lo. A subida era íngreme, porém seu coração não batia mais rápido por causa do exercício, e ela bem sabia disso. Respirava agitada quando passaram pelo portão que os levava à suíte. Worth se adiantou e abriu a porta. Ela entrou na frente e jogou a bolsa em uma cadeira. Voltou-se para dizer alguma coisa, mas esqueceu o quê quando as mãos dele subiram até seus cabelos e retiraram os grampos, permitindo que caíssem sobre seus ombros tal qual uma cascata. Worth mergulhou os dedos nos fios macios, os olhos fixos em seus lábios, ao mesmo tempo que lhe acariciava o rosto com a ponta dos dedos. Então a beijou. Cynthia sentiu a língua quente invadir sua boca e, gemendo baixinho, levantou os braços com a intenção de afastá-lo, mas se viu segurando o pescoço forte e puxando-o ainda mais para perto. Seus seios pressionavam o peito largo; suas pernas se encostaram, e ela percebeu o quanto ele estava excitado. Daí em diante, tudo transcorreu de modo rápido, quase selvagem. Worth aprofundou o beijo em meio a um gemido, e ela se entregou, também faminta. Com a mente obliterada para qualquer coisa além do prazer, sentiu as mãos dele se movendo por suas costas com ânsia, pressionando-a contra o corpo rijo. Perdeu qualquer acanhamento e correspondeu às carícias ousadas com igual intensidade. Sua língua procurava a dele, mordiscava-a. Não parou nem mesmo quando Worth se afastou um pouco para tirar a camisa das calças e começar a abri-la. Beijando-a como um louco, ele se desfez do cinto e chutou as calças, para depois tornar a prendê-la junto ao corpo. Acariciou os seios por cima do tecido leve do vestido com um suspiro. Não satisfeito, procurou pelas alças e as abaixou. Cynthia soltou um gemido quando seus seios nus encostaram-se no peito largo e quente. Ele gemeu de volta e, sem nunca terminar o beijo, foi tirando a camisa. Os dedos ágeis trabalharam o vestido de malha, puxando-o para baixo, passando-o pelos quadris redondos até fazê-lo ir ao chão. Ele expirou pesadamente ao notar que ela não usava calcinha. Ela sentiu o sangue subir ao rosto por um instante, mas logo esqueceu o pudor quando, passando os braços sob suas pernas, Worth a ergueu e levou para a


cama. Depositou-a com cuidado sobre o colchão, os olhos claros enevoados de prazer, enquanto se livrava da última peça que os separava. Parou para fitá-la por inteiro, exibindo a força de seu desejo. Então se acomodou sobre seu corpo, passando a beijá-la freneticamente. Os seios de Cynthia se destacavam, brancos, em meio ao bronzeado. Com um suspiro de prazer, Worth os envolveu com as mãos e então, inclinando a cabeça, cobriu-os de pequenos beijos, até tomar cada mamilo na boca com gula. Ela arqueou o corpo quando os lábios dele foram descendo cada vez mais, até alcançarem o pequeno tufo de pêlos entre suas coxas para levá-la à loucura. Pouco depois, Worth estava dentro dela. A passagem foi estreita e resistente, porém logo seu corpo moldou-se ao dele. De repente, ele se ajoelhou e a puxou para o colo. — Quero que diga o que lhe dá mais prazer — murmurou, enquanto tornava a sugar seus mamilos. Cynthia envolveu-o pelo pescoço pressionava os quadris contra os dele, mergulhado em sua intimidade. Quando de seus seios, ela se viu sacudida por um

e o trouxe para mais perto enquanto sentindo o membro rijo completamente Worth circundou com a língua as pontas súbito orgasmo.

Sua respiração vinha com dificuldade quando ele a colocou de volta na cama, os lábios curvados em um sorriso cheio de ternura enquanto brincava com os fios de cabelo espalhados pelo travesseiro. Em questão de segundos, no entanto, sua expressão mudou. Passou a mover-se dentro dela, avançando e recuando com uma habilidade que tornou a despertar em Cynthia toda a paixão que ela acreditava ter perdido. Ao vê-la chegar ao ápice pela segunda vez, Worth deixou escapar uma exclamação rouca e, finalmente, tombou sobre ela.

CAPÍTULO IV

Cynthia já estava vestida e com a mala arrumada quando Worth acordou na manhã seguinte. Sentada em uma cadeira, tensa, observou-o estender os braços e as mãos que, horas antes, haviam estado sobre seus seios. Worth agitou-se entre as cobertas antes de despertar por completo e perceber que ela já não estava deitada no círculo de seus braços. Piscando para se acostumar com a claridade, sentou-se, e olhou para a mala que Cynthia tinha aos pés. Soube imediatamente do que se tratava. Mesmo assim fez a pergunta: — O que está fazendo?


— Indo embora. — Esta noite, certo? — Errado. No próximo vôo para Dallas. — Mas, Cynthia... — Não vai me fazer mudar de idéia, por isso nem tente. Ela se levantou da cadeira e deu as costas para Worth. Ele parecia tão sexy com as cobertas em torno dos quadris, tão atraente, assim, sem fazer a barba e ainda sonolento... — As passagens não servem para um vôo antecipado. — Logo que acordei, liguei para a companhia aérea e concordei em pagar a diferença de preço, se eles mudassem o meu vôo. — O seu vôo? — Exatamente. Não precisa mudar o seu. Fique e aproveite o resto do fim de semana. — De jeito nenhum. — Jogando as cobertas de lado, Worth deixou a cama. Segurou-a pelos braços e a fez olhar para ele. — Somos parceiros neste crime, Cynthia... Se vai voltar antes, também vou. Incomodada com a nudez dele, ela conseguiu livrar o braço e deu um passo para trás. — Está bem. Faça o que quiser. Ele respirou fundo, depois seguiu para o banheiro e bateu a porta com força. Cynthia ouviu o barulho do café da manhã sendo colocado do lado de fora da suíte. Só de pensar em comida já sentia o estômago revirar, mas, assim mesmo, forçou-se a tomar uma xícara de café em silêncio, enquanto Worth tomava banho, vestia-se e arrumava a mala. Escutou-o falar com a companhia aérea, fazendo a troca do bilhete, e sentiu que não demoraria a cair no choro. — Pronta? — Ele parou junto à porta do terraço. — Temos de sair agora, se não quisermos perder o vôo. Resistindo à vontade de dar uma última olhada para a fantástica vista, ou um adeus à suíte confortável, ela o seguiu até o jipe. Worth encarregou-se de ir até a portaria do resort e fechar a conta. Cynthia o deixou pagar por tudo, lembrando a si mesma que, quando estivesse em Dallas, teria de lhe dar a sua parte. Não sabia quando seria isso, já que se tornara difícil demais simplesmente encarar o amigo. A perua que os levou até o aeroporto estava cheia de poeira, fazia muito barulho e levava outros passageiros, porém, menos do que no dia de sua chegada.


Pagaram a taxa de embarque e esperaram no saguão do aeroporto a chamada para o vôo. Ao lado deles havia turistas queimados de sol, e com um ar cansado, agora que o final de semana estava para se encerrar. Pareceu transcorrer uma eternidade até que, finalmente, o alto-falante anunciou que o avião estava para partir. Cynthia esperava que, por terem de mudar o vôo, eles não precisassem viajar um ao lado do outro. Mas, obviamente, Worth tinha feito o possível para que isso acontecesse. Sentando-se no banco junto à janela, ficou olhando para fora sem ver nada, até que alcançaram uma boa altitude. Diferente do vôo para Acapulco, que tivera uma atmosfera festiva, agora os passageiros pareciam quietos e soturnos. A maioria acabou dormindo logo depois que o café da manhã foi servido. Worth apoiou o braço no descanso entre os bancos com um suspiro. — Não vamos nos falar mais? — Claro que vamos — ela respondeu, olhando as nuvens pela janelinha. — E algum dia vai voltar a olhar para mim? Cynthia o fez, imediatamente se irritando com o sorriso dele e sua tentativa de desanuviar o clima entre eles. — Posso olhar para você... Mas, provavelmente, jamais serei capaz de me olhar no espelho outra vez. — Porque foi para a cama comigo? — Shh! Por que não pede emprestado o microfone do capitão e anuncia isso a todos os passageiros? — Ela olhou em volta, sem jeito, mas, pelo visto, ninguém prestava atenção ao que os dois falavam. Respirou fundo. — Não quero falar sobre o que aconteceu na noite passada, Worth. — Mas eu quero. — Então fique falando sozinho, porque não vou escutar. — Ela se virou e, mais uma vez, concentrou-se no panorama das nuvens. Vários minutos se passaram. Cynthia pensou, esperou até, que ele atenderia ao seu pedido... Mas Worth se inclinou e sua voz soou dentro do ouvido dela. — Você queria que acontecesse tanto quanto eu. Com um enorme esforço, ela voltou a encará-lo. — Com quem está zangada, afinal? Comigo, por tê-la incitado a desfrutar daqueles momentos, ou consigo mesma, por ter se entregado a essa paixão? — Eu não desfrutei de nada. A resposta o deixou maluco.


— Mentira! — Worth aproximou mais o rosto. — Não estava fingindo, Cynthia, e eu muito menos! Minta para si mesma, se isso a faz se sentir melhor, mas está se iludindo e sabe disso. Quase me sugou toda a energia, duas vezes, assim não finja que não estava aproveitando. O rosto dela ficou vermelho. — O que eu quis dizer é que estou arrependida. — Ah, entendo. — A voz de Worth soou cheia de sarcasmo. — Ninguém gosta, mesmo, de fazer amor e de ficar abraçado a noite inteira... Ela levou as mãos geladas ao rosto ardente. As lembranças ainda eram muito vividas. Houve um momento, durante a noite, em que sentira os dedos quentes de Worth acariciando-a por todo o corpo e contorcera-se como uma gata, enlaçando-o com a perna e aconchegando o sexo junto ao dele antes de voltar a dormir. Ele era um cafajeste por fazê-la se lembrar dessas intimidades. — À luz do dia — ela recomeçou, seca —, percebi como havia me comportado mal. Não estou colocando a culpa em você, embora tenha muito mais experiência ness... — Nesses prazeres? Prazeres não era a palavra certa a usar no caso, já que nem chegava perto de descrever as reações que ele despertara nela. Fechou os olhos por um instante, tentando afastar toda e qualquer lembrança daqueles momentos. — Fomos vítimas das circunstâncias, do clima, do ambiente romântico em que estávamos, Worth. Isso foi tudo. Quero esquecer o que aconteceu. — Ah... Claro. — Vamos esquecer tudo, por favor. — Está bem! Ela abriu uma revista que havia comprado no aeroporto antes de partirem. Para seu alívio, Worth descansou a cabeça no encosto do banco e fechou os olhos. Vários minutos se passaram, enquanto ela fingia estar absorvida nas palavras impressas nas páginas, até que ele voltou a quebrar o silêncio: — Cynthia... — O que foi? — Não vou conseguir esquecer o que aconteceu entre nós dois. Ela colocou as mãos na cabeça miseravelmente. Worth a tocou no joelho. — Será que não percebe? Foi bom demais! — Foi mesmo?


Antes que percebesse, ela havia feito a pergunta. Se fosse honesta consigo mesma, admitiria que muita da raiva que sentia se originava de sua insegurança. Tinha medo de que ele fizesse alguma comparação. Worth dormira com muitas mulheres. Um número sem fim de mulheres mais jovens, mais bonitas e mais sensuais do que ela. — Foi mais do que bom, Cynthia, foi fantástico. Pelo menos foi o que achei... — Ele deu de ombros. — E quanto a você? Incapaz de olhar nos olhos dele, ela apenas confirmou com um gesto de cabeça. Se não estivesse tão mortificada, teria notado um traço de insegurança também na voz de Worth. — Claro que pode ter achado bom — ele murmurou consigo. — Tim foi o único homem com quem fez sexo. Não tem experiência suficiente para poder fazer uma avaliação. Ela mordeu o lábio inferior. — Não mencione Tim, por favor. — Sei como se sente, Cynthia — ele se desculpou, suspirando profundamente. — Pensa que sou tão insensível a ponto de não me sentir culpado por ter dormido com a esposa de meu melhor amigo? — Viúva de seu melhor amigo. — Exato! Viúva dele... E há dois anos. De qualquer forma, preciso que saiba: durante todo o tempo em que esteve casada com Tim, nunca tive um simples pensamento licencioso sobre você. Eu juro. — Sei disso, Worth. Também nunca me senti assim a seu respeito. — Então por que se sente tão culpada pelo que aconteceu na noite passada? Eu não estava pensando em Tim quando jantávamos no restaurante, enquanto eu observava a expressão de seu rosto mudar com a luz das velas, desejava sentir os seus cabelos em minha pele, queria beijar a sua boca enquanto você devorava aquela sobremesa de creme... — Pare com isso, por favor. Sem se importar com a reação dela, Worth se inclinou e continuou falando em seu ouvido. — Cynthia, quando eu a beijei, quando toquei os seus seios, eu só tinha você em minha mente. Você foi tão quente, tão doce, tão... — Pare com isso, Worth! — Eu não conseguiria deixar de amá-la, nem mesmo se Tim aparecesse no quarto naquele momento. Ela cobriu os ouvidos com as mãos, e ele as puxou para baixo. — Não temos de nos sentir culpados por nada, está ouvindo?


— Por nada? — ela repetiu, encarando-o, por fim. — Worth, nunca me entreguei assim antes! — Eu sei. — Eu estava totalmente fora de cont... Finalmente as palavras que ele acabara de dizer a fizeram parar de expor seu pensamento. — O que você disse? — Quando? — Há instantes. Você disse, "eu sei", quando falei que nunca tinha me comportado desse jeito antes. — Ah. — Worth moveu-se no banco e pigarreou de leve. — Eu só quis dizer que sabia que você... que você não tem dormido com outros homens. Ela continuou a encará-lo, não aceitando a resposta. — Tim lhe confidenciou alguma coisa sobre a nossa vida pessoal? — Não. Diga-me, quer beber alguma coisa? Posso chamar a aeromoça e... Cynthia apertou os dedos em torno do braço dele. — Tim falou alguma coisa a você sobre nossa vida íntima, Worth? — Éramos grandes amigos, Cynthia — ele começou. — Sabe como os homens falam. Quando estamos juntos, tomamos algumas cervejas, e acabamos dizendo coisas que jamais diríamos se estivéssemos sóbrios. Lágrimas surgiram nos olhos claros. De raiva, não de tristeza. — Tim não estava satisfeito comigo na cama? Ele lhe disse isso? — Não. — Worth! Ele encheu os pulmões, sem saber o que dizer. — Bem, talvez ele tenha feito algum comentário... Que marido, pelo menos uma vez na vida, não deseja que a esposa seja mais criativa na cama? Ela engoliu com dificuldade, tentando desfazer o nó na garganta. Seu coração parecia ter partido ao meio. — Tim estava desapontado com nossa vida sexual? Worth começou a praguejar sem parar. — Eu não falei nada disso. Tudo o que eu disse foi que Tim... — Franziu o cenho, confuso. — Acho que foi logo depois que Brandon nasceu... Tim comentou que sua vida sexual não estava tão excitante como havia sido antes. Que você não parecia estar muito disposta a fazer sexo. — Ele disse que eu era fria?


— Claro que não! — ele corrigiu, irritado. — Não coloque palavras em minha boca, Cynthia. Tim estava estranhando que a vida de vocês entrara em uma rotina. Foi essa a palavra que ele usou. Lembro-me de ter dito que a culpa era em parte dele mesmo — prosseguiu, constrangido. — Depois que as mulheres têm filhos, alguns homens começam a vê-las mais como criaturas maternais em vez de sexuais. Eu o aconselhei a tratá-la como amante, pois estava certo de que você começaria a reagir como uma. Cynthia comprimiu os lábios. — Tem todas as respostas quando elas se referem a mulheres, não é, Worth? — O que quer dizer com isso? — Quis ver por si mesmo se eu era ou não uma "criatura sexual" na cama. Quis checar pessoalmente se minha atuação era mesmo decepcionante. Worth soltou uma série de palavrões e tombou a cabeça contra o encosto. — Sabe que o que está dizendo é uma besteira, Cynthia. Droga, sabe muito bem que eu não sou o que acaba de descrever! — Com licença, eu vou ao banheiro. Ela se levantou e saiu para o corredor. No banheiro, em meio as lágrimas, terminou vomitando. Ficou no cubículo ainda um bom tempo depois de esvaziar o estômago. Enquanto lavava o rosto com água fria, desejou poder ver Tim por uns cinco minutos, para que lhe dissesse umas poucas e boas. Como ele ousara discutir sua vida sexual com Worth? Justamente com Worth! Aquele mulherengo, playboy, aventureiro!... Que tipo de conselho havia esperado ouvir de um amigo solteiro sobre o casamento? Se estava decepcionado, por que não discutira o assunto com ela? E pensar que ela havia estado muito satisfeita com sua vida sexual, na ocasião. Não se sentiria mais traída se tivesse descoberto alguma infidelidade de Tim. Entretanto, a transgressão de Tim não era nada se comparada à de Worth. Ele se aproveitara da informação que ouvira do falecido amigo, sem dúvida. Ela não conhecia nenhum homem, nenhum homem, que já houvesse agido assim, de forma tão baixa. A única coisa que não podia entender era por que Worth demorara tanto tempo para tentar satisfazer sua curiosidade. Quando regressou ao banco, recusou-se a encará-lo. O vôo para Dallas pareceu levar três vezes mais do que o vôo para Acapulco, mas, finalmente, o avião aterrissou e os passageiros começaram a desembarcar. Passou à frente dos outros turistas, cheios de sombreros e garrafas de bebidas. Já que não tinha bagagem para pegar na esteira, foi a primeira da fila na alfândega.


Infelizmente, Worth era o segundo e se posicionou bem atrás dela. — Tirou conclusões erradas, Cynthia. Tim mencionou esse assunto apenas uma vez, eu juro. Talvez tivessem tido uma briga ou algo assim. Nada de importante. Eu nem me lembrava dessa conversa até você levantar a questão. — Claro — ela respondeu, ainda de costas. — Mas é verdade! E juro que, ontem à noite, nem sequer pensei nisso. Por que pensaria? Nem mesmo dei importância quando Tim fez o comentário. Cynthia voltou-se para ele. — Você me induziu a ir a Acapulco, não é? — Não induzi você a nada. — Fez isso porque eu era uma das poucas mulheres que ainda não tinha levado para a cama. — Errado. — Tirou vantagem da minha depressão e me convenceu a ir com você porque tinha de checar se a esposa de Tim era uma mulher fria e nada criativa na cama, como você bem disse. Worth apertou os lábios, profundamente irritado. — Pois, pelo que pude concluir, Tim não tinha do que reclamar... Você não transava com ele como fez comigo. Cynthia sentiu o ar faltar. — Se conseguiu me levar a participar ativamente do... — Participar ativamente? Você fez muito mais do que isso! — Então deve estar se vangloriando de ter vencido o seu amigo na única disputa entre homens que realmente conta — concluiu ela, amarga. — Próximo! — o funcionário da alfândega chamou. Cynthia aproximou-se do balcão. — Cynthia, espere... — Worth deu um passo à frente da linha amarela e um funcionário o deteve. — Ainda não chegou a sua vez, senhor. — Estou com a moça. — Ela é sua esposa? — Não. — Então espere a sua vez. — Droga. O funcionário carimbou o cartão de entrada de Cynthia. Ela pegou seus pertences e seguiu para o elevador. Worth adiantou-se para o balcão, apressado.


— Fui ao México em férias e não comprei nada — foi dizendo, nervoso. O funcionário examinou seu passaporte, desconfiado. — Vamos dar uma olhada em sua mala. — Mas... — Worth olhou adiante. O elevador já levava Cynthia para longe de sua vista. — Abra a sua mala, por favor, sr. Lansing. Desgostoso, ele obedeceu. Cynthia pagou o motorista de táxi e desceu na frente de casa. Os jornais de domingo estavam no hall de entrada, o que era incomum, já que Ladonia sempre os lia no café da manhã. Curiosa, abaixou-se para pegá-los e seguiu até os fundos da casa. A porta da cozinha estava trancada, porém ela pôde ver a mãe parada junto ao fogão, fritando bacon. Bateu na janela. Ladonia levantou os olhos e, quando viu que era a filha, não conseguiu esconder a surpresa, Tirou o bacon da frigideira e se apressou em abrir a porta. — Cynthia, o que está fazendo... — É uma longa história, mamãe. — Ela jogou as coisas em uma das cadeiras da cozinha. — Não pensei que estivesse de volta antes desta noite. — Era o que havíamos combinado antes, mas decidi adiantar a minha volta. — Onde está Worth? Como veio para casa? Por que encurtou sua viagem? Ela levou as mãos à cabeça que latejava e massageou as têmporas. — Por que está tomando café da manhã na sala? Tinha notado a mesa enfeitada com um vaso de flores, os guardanapos, as porcelanas. Aromas deliciosos vinham do fogão, mas, só de pensar em comida, sentia enjôo. — Cynthia, você está doente? Foi por isso que voltou antes? — Não, foi uma decisão de momento. — Não gostou do passeio? Suas acomodações não eram boas? — O resort ultrapassou as minhas expectativas. — Tomou sol demais, então? — Usei protetor solar. — Então não entendo! — Apenas me cansei, foi isso — ela disse secamente. — Onde está Worth, Cynthia? O ritmo da conversa estava fugindo ao seu controle.


— Worth e eu nos separamos no aeroporto e tomei um táxi. — Ela caminhou para a porta que levava ao resto da casa. — Vou dar uma olhada em Brandon, depois tomar um banho e descansar. Tive de levantar cedo para pegar o avião... Mais tarde explico tudo. — Cynthia, querid... Ela já estava chegando à porta quando um homem apareceu à sua frente, bloqueando o caminho. Sorria alegremente e usava um roupão de banho. Foi difícil dizer qual dos dois ficou mais chocado. — Querida — Ladonia falou com voz agradável e tranqüila —, creio que já conheça o nosso vizinho, o sr. Tanton. Naturalmente que ela conhecia o sr. Tanton. Ele morava duas casas abaixo, desde que Tim e ela haviam se mudado para o bairro. Seu jardim era o mais invejado da vizinhança. Sendo aposentado, Charlie Tanton passava horas cultivando suas flores e conservando o gramado, as árvores e arbustos de maneira primorosa. Ele era amigável, sempre prestativo, e muito procurado pela garotada que vendia rifas para a escola. Falava sempre em um tom suave, e era um homem muito conservador... A última pessoa que ela esperaria encontrar de roupão, em sua cozinha, quase no fim da manhã de domingo. — Charlie, está pronto para o café? — Ladonia, a única que continuava calma, serviu a bebida quente em uma xícara e surpreendeu a filha, estendendo-a a ele. Bateu-lhe no braço de forma amigável. — O lanche está quase pronto. Não vai se importar se minha filha comer conosco, vai? Ela acabou de voltar. — Com licença. — Cynthia interrompeu a mãe e passou pelo vizinho, que parecia tão desconcertado quanto ela. Correu para o quarto de Brandon. A cama se encontrava feita e seu filho não estava à vista. Ladonia a encontrou no quarto que ela compartilhara com Tim, mas que redecorara logo após sua morte, seguindo os conselhos dos amigos. Logo que a mãe fechou a porta, Cynthia a confrontou. — Onde está Brandon? — Foi convidado a dormir na casa do amiguinho, Shane Lattimore. Vão ao zoológico, hoje. — Então se sentiu livre para convidar o seu namorado para passar a noite aqui... — Exatamente — Ladonia respondeu com admirável tranqüilidade. Aos cinqüenta e um anos de idade, Ladonia Patterson era uma mulher ainda muito bonita. Tinha os cabelos do mesmo tom caramelo da filha e um corpo esguio


e bem proporcionado. Na realidade, aparentava ser dez anos mais jovem do que dizia sua certidão de nascimento. — Charlie e eu esperamos meses por uma oportunidade de passarmos a noite juntos. A noite passada foi a nossa primeira. Os joelhos de Cynthia começaram a ceder. Ela se sentou na beirada da cama, sem acreditar que a mãe admitisse tudo sem se perturbar. — Não entendo a razão de estar tão aborrecida, querida! Meu parceiro era quem deveria estar assim com sua inesperada chegada. — Há quanto tempo tudo isso vem acontecendo? — Desde a última primavera, quando Charlie me trouxe um lindo buquê de tulipas de seu jardim. Eu o convidei para um café e ele ficou cerca de uma hora. Ladonia tocou o rosto onde se espalhara um rubor. — Fizemos uma série de coisas tolas, como inventarmos razões para passarmos na frente da casa um do outro. Saíamos para recolher a correspondência na mesma hora todos os dias, o que nos dava uma desculpa para conversarmos. Ele já me pediu emprestadas tantas xícaras de açúcar, que eu o acusei de estar montando um alambique... No dia em que trouxe as tulipas, convidou-me para um almoço. Foi nosso primeiro encontro oficial. — E onde eu estava? — Estava no trabalho, e Brandon foi conosco. Ladonia estranhou a expressão incrédula da filha. — Pelo amor de Deus, Cynthia, foi só um almoço! Não seja assim tão intolerante. Não fizemos amor até a noite passada, portanto Brandon nunca correu nenhum risco de nos ver! — Está tendo um caso com Charlie Tanton? — Não é a palavra certa para descrever o nosso relacionamento. Também não posso dizer que aprovo essa sua expressão de censura ou seu tom de voz. Sou solteira, Cynthia. Charlie também. A esposa dele morreu sete anos atrás. Compartilhamos de interesses mútuos e desfrutamos da companhia um do outro. — Os olhos de Ladonia brilharam. — Ele é muito sexy, você não acha? Cynthia estava sem palavras. — A noite passada confirmou que somos compatíveis em tudo... Assim, decidimos oficializar o nosso romance. — Vai morar com ele? — Claro que não. — Ladonia pareceu ofendida. — Vamos nos casar. — Casar? — Sim! Não é maravilhoso?


— Quando? — Tão logo fizermos os arranjos. Cynthia se levantou da cama e foi até a janela. Afastou as cortinas e olhou para fora, mas sem ver nada em particular. — Assim, de repente? — perguntou, voltando-se para encarar a mãe. — Oh, querida... Charlie estava preocupado com sua reação quando soubesse das novidades, mas eu lhe disse que era bobagem. Estou desapontada com você. Não pensei que fosse uma dessas filhas que têm dificuldade em aceitar um padrasto. — Não seja ridícula. — Então o que há com você? Por que não está feliz por mim? Cynthia abriu os braços em um gesto de desamparo. — É que foi tão... Tão inesperado, mamãe! — Estamos namorando há meses, minha filha. — As escondidas, quando estou no trabalho. Por acaso subornou Brandon para ele não me falar nada a respeito? Por que nunca me contou que estava gostando de alguém? Por que manteve tudo em segredo? — Riu com amargura. — Esperava que eu agisse com naturalidade quando o vi em nossa cozinha, como se isso acontecesse todos os dias? — Vejo que não está em condições de discutir isto agora. Além do mais, não vou querer que estrague o seu dia por minha causa — Ladonia se virou para sair do quarto. — Mamãe! Por que fui a última a saber? Ladonia voltou para perto da filha, o queixo erguido em sinal de desafio. — Está bem, querida, já que está me perguntando, eu vou confessar: mantive o meu romance em segredo porque me sentia mal por estar recomeçando uma nova vida e você não. — O quê? — Vive enfiada em uma concha, Cynthia. Fiquei viúva seis meses depois de você, mas, aparentemente, me recuperei mais depressa. Eu a aconselhei a seguir com sua vida, e Worth fez o mesmo. No entanto, você nunca tomou nenhuma iniciativa. Tudo o que faz é resmungar e reclamar o tempo todo de como sua vida é monótona. Parece que nada lhe traz satisfação. Parece determinada a sentir pena de si mesma. Pois, eu não — continuou a mãe com firmeza. — Charlie entrou em minha vida como um sopro de ar fresco, embora eu amasse seu pai de todo o coração. Você sempre soube disse e Charlie também, assim como eu sei que ele amava a sua Kate. E porque nossos casamentos foram tão bons, podemos agora dar mais amor e felicidade um ao outro. Há muitas mulheres da minha idade, e outras, mais novas, que adorariam se casar com ele... — Os olhos de Ladonia brilharam,


cheios de amor e alegria, e Cynthia se abismou por não ter notado como a mãe havia mudado. — Charlie me acha divertida, e também ótima na cama, agora que dormimos juntos. Tanto que me pediu em casamento esta madrugada e eu disse "sim". Olhou a filha com um súbito ar de tristeza. — Se não está satisfeita com meu novo casamento, querida, não posso fazer nada — falou, e, saindo, fechou a porta do quarto. Cynthia ficou olhando a porta fechada até sentir a cabeça doer tanto que precisou correr para o banheiro. Após vomitar mais uma vez, tomou duas aspirinas e encheu a banheira com água quente. Ficou imersa lá por meia hora, tempo suficiente para que o remédio fizesse efeito, depois se vestiu. Optando por trabalharem juntos, em vez de usar a lavadora de pratos, Ladonia e Charlie encontravam-se entretidos com a pia cheia quando ela entrou na cozinha. — Mamãe, sr. Tanton... Surpresos, os dois se voltaram. Cynthia torceu as mãos nervosamente. — Eu... quero que vocês... Parabéns! — falou, por fim, com os olhos rasos d'água. — Obrigada, querida! — Ladonia sorriu como se a conversa que haviam tido nunca tivesse acontecido. — Junto com minhas congratulações, quero que aceitem o meu pedido de desculpas pelo modo como me portei agora há pouco. — Ela se esforçou para sorrir. — É que fiquei muito surpresa. — Desculpas aceitas — disse a mãe, notando as lágrimas que escorriam pelos olhos da filha. — Gostaria de uma xícara de café? Ainda está quente. Ou talvez chá seja melhor... Parece pálida apesar do bronzeado. — Chá, por favor. Charlie largou o pano de prato e se aproximou dela. Mesmo estando vestido agora, não conseguiu olhá-la de frente. — Deve ter tido uma péssima impressão e não posso culpá-la. — Ele finalmente a encarou, apesar de visivelmente embaraçado. — Quero que saiba que amo e respeito sua mãe, sra. McCall. Não teria feito, nem pretendo fazer, qualquer coisa que venha a lhe trazer infelicidade ou que possa magoá-la de alguma maneira. Cynthia colocou a mão no braço dele. — Agi sem pensar, o que parece ser uma particularidade minha... Agora que tive tempo de me ajustar às novidades, estou satisfeita. Minha mãe merece ser feliz e acredito, sinceramente, que o senhor possa fazer isso por ela. O sorriso dele veio cheio de alívio.


— Isso é bom, muito bom. Por favor, não me chame de "senhor" e sim de Charlie, a partir de agora. — E eu sou Cynthia e não "sra. McCall"! Dando-se as mãos, eles sorriram um para o outro calorosamente. Para selar seu acordo de paz, Cynthia presenteou a mãe com o bracelete de prata mexicano. Ladonia vibrou, como ela já sabia que ia acontecer. Enquanto tomava uma xícara de café e mordiscava um bolinho, Ladonia e Charlie contaram sobre seus planos de casamento. O casal planejava uma cerimônia simples, ali naquela casa mesmo, com apenas alguns parentes mais próximos e um ministro, conhecido deles. Os futuros noivos logo saíram juntos, dizendo que iriam assistir a um jogo de futebol na casa de Charlie. Observando-os caminharem de braços dados pela calçada, um olhando para o outro com evidente amor, Cynthia ficou se perguntado se iam mesmo assistir ao tal jogo... Sentiu uma pontinha de inveja. Gostava de vê-los felizes, mas quase não compreendia como podiam se completar com tanta facilidade. Brandon foi trazido para casa pelos pais de seu coleguinha no meio da tarde. Ficou radiante ao ver a mãe e contou, excitado, sobre seu passeio ao zoológico. O pequeno chicote de couro que ela lhe trouxera de presente fez um enorme sucesso. — Gostei dele quase tanto quanto da pistola que Worth me deu! — exclamou, estalando o chicote já em direção ao quintal. Bastou ouvir o nome de Worth para que Cynthia voltasse a se sentir em pedaços. Ladonia voltou para casa a tempo para o jantar. Comeram em bandejas diante da TV, assistindo a um filme da Disney junto a Brandon. O telefone tocou durante o filme, e ela levantou-se para atender. — Deve ser Charlie. Ele disse que ia ligar depois de contar aos filhos sobre nosso casamento. Ladonia ficou fora da sala por vários minutos, e Cynthia pôde ouvi-la rir. Então reapareceu. — E para você. — Para mim? Quem é? — Worth. Juro que o homem é um louco! Quando eu lhe contei que ia me casar, ele fingiu estar arrasado e chorando. — Não quero falar com ele. A risada de Ladonia acabou. — Por que não?


— Ainda estou com dor de cabeça e nem um pouco disposta a conversar. — Tentou se mostrar indiferente, mas sabia que não conseguiria enganar a mãe. — Não é uma atitude muito delicada. — Lamento. Não quero falar agora. Prefiro ficar com Brandon, que não vejo há dias. Brandon não pareceu se importar se a mãe ficaria ou não. Estava totalmente absorvido no filme de aventura. Ladonia cruzou os braços, assumindo a posição típica de uma mãe interrogando seu rebento. — O que aconteceu entre você e Worth lá em Acapulco? — Nada! — Cynthia exclamou. — O que digo a ele? — Diga que não estou me sentindo bem. Não, espere. Diga que estou cansada porque não dormi quase nada à noite passada. Não! — Estalou a língua. — Diga a ele que saí. — Qual das respostas devo escolher?! — Diga que saí — ela repetiu com um suspiro. — Não vou mentir por você. — Então diga que estou ocupada e que não posso atender ao telefone. Se ele for educado, não vai insistir nem pedir qualquer explicação. Cynthia percebeu o olhar de reprovação da mãe, contudo Ladonia fez exatamente o que ela pedira. Charlie ligou logo depois. Ladonia ficou ao telefone com o noivo por horas, aparentemente compensando o tempo em que haviam mantido o namoro em segredo. Depois que Brandon foi para a cama, disse suas preces e trocou com ela um abraço apertado e um beijo, Cynthia foi para seu próprio quarto. Ainda precisava desfazer a mala. Cada peça que tirava, contudo, a fazia lembrar alguma coisa referente a Worth e ao fim de semana que haviam passado juntos. Ele tinha feito um elogio àquela blusa, dizendo que a cor destacava seus olhos. Também brincara, dizendo que suas pernas ficavam incríveis naquele short... Bufou, desgostosa. — E pensar que ele acabou conseguindo o que queria... — resmungou, levando a mão à têmpora que recomeçara a latejar. Mais forte que a dor de cabeça, no entanto, era seu ressentimento. Seus olhos se encheram de lágrimas quando pegou o vestido que ele insistira para que


comprasse, e sobre o qual dissera maravilhas, antes de tirá-lo de seu corpo com uma paixão avassaladora. Uma vez deitada na cama que lhe era tão familiar, tentou encontrar consolo, lembrando-se de ter feito sexo com Tim exatamente ali. Claro, concedeu, houvera vezes em que poderia ter sido mais participativa, tomado a iniciativa... Assim como em outras, ele poderia ter sido mais ardente. Tim não atingira a perfeição como amante e, mesmo assim, jamais a ouvira se queixar disso. Até porque ela sempre tinha ficado satisfeita. Nem sempre a Terra parecera tremer quando faziam sexo. Tampouco vira estrelas diante dos olhos... Como na noite anterior. Tão depressa como sua mente invocou o pensamento desleal, ela o justificou. Sua extraordinária paixão era fácil de explicar. Fazia muito tempo desde a última vez que ela fizera sexo, só isso. Afinal, quanto desejo uma mulher jovem e sadia podia estocar em dois anos? Não era de surpreender, pois, que houvesse reagido a Worth daquela maneira, como se ele fosse o primeiro homem a tocá-la na vida. No fundo, duvidava que essa linha de pensamento fizesse qualquer sentido. Desde a morte de Tim, outros homens haviam tentado despertar sua sexualidade: Josh Masters, por exemplo. E ela não havia se desfeito nos braços dele. — Maldito seja, Worth Lansing — gemeu contra o travesseiro, depois rolou para o lado e levou os joelhos ao peito. Fechou os olhos com força. Mesmo que o amaldiçoasse, queria sentir os braços fortes de Worth envolvendo seu corpo, as mãos quentes acariciando seus quadris, segurando-os enquanto a penetrava... As lembranças dos beijos eram tão vividas, tão reais... Quase podia sentir novamente a pressão dos lábios de Worth em seus seios, a língua ardente contra sua pele. Nunca mais experimentaria um ato sexual assim, tão selvagem. Worth não apenas despertara nela uma sexualidade que desconhecia, como arruinara suas chances de se satisfazer com outros homens. Mesmo seu relacionamento com Tim, sempre tão terno e apaixonado, empalidecia em comparação com o que tivera com Worth. Ele a atingira de três formas. Primeiro, fazendo com que seu próprio corpo a traísse. Depois, deixando-a se enfurecer com seu falecido marido, que não tinha nem mesmo como se defender, e, finalmente fazendo ruir uma amizade de anos. Suspirou, trêmula. Sentia essa perda quase tanto quanto se revoltava por ter sido usada. No canto mais obscuro de sua alma, desejou que Worth se sentisse tão miserável como ela se sentia agora, mas sabia que não. Ele devia estar celebrando. Afinal, havia obtido a resposta pela qual ansiava.


*** — Pedi um refrigerante diet. — Worth franziu a testa quando a sra. Hardiman lhe serviu uma soda. — Foi exatamente isso que eu trouxe! Era quinta-feira, e a paciência da mulher estava por um fio com os resmungos ouvidos do patrão desde a segunda. — Não tem gosto de soda diet! — Mas é o que está escrito no rótulo. O que há de errado com você, afinal? Nada o deixa satisfeito! Worth revirou com a ponta do dedo o gelo que flutuava no copo. — Pensei que estivesse feliz com a bela comissão que ganhou esta semana. Até conseguiu a carteira de ações que queria — insistiu a sra. Hardiman, preocupada. Ele deu de ombros. — Tive de cortejar aquela velha por tempo demais — resmungou. — Pois ela acha você uma pessoa simplesmente adorável — ralhou a mulher, chocada. — Disse-me isso quando passou por aqui, ontem à tarde. Mas isso porque ela não precisou agüentar esse humor nos outros dias da semana! Alguma coisa está acontecendo. É sua vida amorosa? — Diabos, não! — Worth exclamou, ajeitando-se na cadeira. — Minha vida amorosa vai bem, obrigado. Ela estreitou os olhos, incrédula. — Pensei que a viagem ao México lhe faria bem. — E fez. — Greta tem telefonado duas vezes ao dia. Nem acredita mais em mim quando digo que você não está no escritório ou está atendendo em outra linha. Minhas desculpas estão se esgotando. — Parte de seu salário se paga exatamente pela sua criatividade em inventar desculpas para mim. A sra. Hardiman balançou a cabeça. — Greta está magoada, Worth. Ele bufou, sarcástico. Ainda não estava pronto a perdoá-la por tê-lo deixado na mão no último fim de semana... Sem dizer que, por causa dela, ele perdera sua melhor amiga. Por que tinha de ser o único na cidade a não ser atendido em seus telefonemas?, pensou de modo infantil. Desde domingo tinha telefonado uma dúzia de vezes para Cynthia, que não retornara nem sequer uma das ligações.


— Escute, moço, ou muda esse seu humor ou me despeça — intimou a sra. Hardiman, enquanto pegava de volta os papéis que havia trazido para ele assinar. — Se não está satisfeita com as condições de trabalho neste escritório, por que simplesmente não se demite? Já perto da porta, a mulher se voltou e lhe dirigiu o olhar condescendente que reservava a clientes malcriados. — Não seria capaz de fazer isso. Jamais chuto um homem quando ele está no chão. — Mulheres! — Worth exclamou quando a sra. Hardiman já tinha saído. Elas eram capazes de levar um homem ao inferno. Largou o trabalho e pegou a bolinha de basquete. Errou três de seus arremessos. Pegou algumas bolas de golfe e usou o taco para arremessá-las em um alvo imaginário. Voltou a errar. Chutou a bola para longe, então. Nenhum de seus brinquedos estava conseguindo distraí-lo naquela semana. Por diversas vezes, considerara a idéia de sair com alguém, mas não tinha conseguido pensar em nenhuma mulher que o interessasse. Pensou em convidar a advogada que tinha escritório no prédio, mas, só de imaginar que teria de cortejá-la, já se sentia desanimado. Além do mais, desde que voltara do México, tinha visto a moça diversas vezes, na garagem, e concluíra que suas pernas não eram assim tão espetaculares. O nariz era muito comprido e os lábios, finos demais. Ela não era Cynthia, concluiu. Cynthia era a única mulher que ele queria ver. E ela nem atendia seus telefonemas. Como podia ser tão teimosa, a ponto de continuar acreditando que ele a levara para a cama apenas para descobrir se ela teria mais prazer com ele do que tivera com Tim? Era uma conclusão idiota e infantil. Enfim, coisa de mulher! E se era assim, por que continuava a se preocupar com isso? O pensamento feminino não tinha lógica. Desde o evento de Adão e Eva. E ele que sempre pensara que Cynthia estivesse acima dessa bobagem toda. Suspirou. Com o tempo, eles voltariam a se relacionar, claro. Enquanto isso, tinha mais era que parar de se torturar. Pegou o paletó da cadeira e saiu como um furacão da sala. — Saindo mais cedo? — a sra. Hardiman perguntou docemente. — Vou à academia. Ah, se Greta ligar, amanhã, pode transferir a ligação.

Cynthia sentiu uma pena imensa da garota à sua frente. Ela não seguia o perfil das pacientes que procuravam o hospital de mulheres em busca de um


aconselhamento. Em geral, elas eram de classe média para baixa. A maioria tinha pouca ou nenhuma supervisão dos pais, e começara a vida sexual na puberdade. Sheryl Davenport era a terceira filha de um empresário riquíssimo do norte de Dallas, e de sua esposa da alta sociedade. A irmã mais velha de Sheryl era uma advogada famosa; a outra, casada com um membro da realeza inglesa, um colega de pólo do Príncipe de Gales. As circunstâncias do estado de Sheryl não eram mais trágicas do que das outras garotas solteiras, contudo. O escândalo, quando a notícia se espalhasse, poderia ser catastrófico. — Simplesmente não posso matar o bebê. — Os cabelos loiros da jovem adornavam seu rosto enquanto ela soluçava em um lenço bordado. — Se eu disser aos meus pais que estou grávida, sei o que eles exigiriam que eu fizesse. Uma de minhas irmãs fez um aborto... Mas ela era mais velha, já estava na faculdade quando aconteceu. Ninguém, a não ser nossa família, ficou sabendo. Papai conseguir manter tudo em segredo. Sheryl era uma dessas alunas nota "A" em uma escola exclusivamente para meninas. Era inteligente, bonita e enfrentava um problema terrível para sua pouca idade. — Falou com algum orientador em sua escola? — Cynthia perguntou gentilmente. — Não! Oh, Deus, não! Eles me expulsariam de lá, e papai teria uma síncope. Minha mãe e minhas duas irmãs também se formaram lá. — E quanto ao pai da criança, Sheryl? Ele sabe? — Não. Ele não liga para essas coisas. — Nenhuma possibilidade de casamento? Sheryl riu e balançou a cabeça. — Não. Eu não iria querer me casar com ele. Não éramos amantes. Quero dizer, eu não o amava. — Então não havia um relacionamento de longa data? — Cynthia perguntou. Sherryl negou com um gesto de cabeça. — Foi por isso que não tomou nenhuma precaução? — Exato. Nem precisa me fazer um sermão, dizendo como fui estúpida... Já sei disso. Eu me deixei levar pelo momento. Tenho certeza de que ele pensou que eu tomava pílula. Usou camisinha, mas... Bem, não funcionou. — Tentou sorrir, tristonha. — Ele é assistente do treinador do nosso clube. Um mulherengo. Longe de ser um candidato a casamento. Tampouco seria um bom pai. — Os adoráveis olhos azuis da jovem se encheram de lágrimas. — O que vou fazer? Cynthia colocou as mãos sobre a escrivaninha. — Se pudesse escolher, sem levar nada em consideração a não ser o seu próprio desejo, o que faria, Sheryl?


— Teria o bebê — ela disse sem rodeios. — E ficaria com ele? Sheryl fez que sim com a cabeça. — Por quê? — Porque o bebê me amaria. Quero dizer, os bebês amam suas mães, não importa como elas sejam, certo? Cynthia voltou a se condoer da jovem. Sheryl só precisava ser amada, já que não devia receber nenhum amor da família. — Talvez, então, seja isso o que deve fazer. — Não posso! E impossível. Para Cynthia, encorajar Sheryl a ficar com o bebê seria ir além dos limites de seu cargo. Sua função era unicamente explorar opções com suas pacientes. — Se o casamento está fora de questão, você não quer acabar com sua gravidez, e não se sente capaz de criar a criança sozinha, então poderia tê-la e entregá-la à adoção. — Eu até gostaria de fazer isso — Sheryl disse, levantando-se de sua cadeira. Ficou andando de um lado para o outro, perdida. — Se eu soubesse que meu bebê ficaria com um casal que se amasse, e que o amaria da mesma forma, sim, eu o daria para adoção. Mas meus pais nunca me permitiriam levar esta gravidez até o fim. Isso arruinaria os planos que eles têm para mim. — E quanto aos planos que você tem para você? Sheryl parou de andar de um lado para o outro, perplexa. — Não tenho plano algum. — Pois deveria ter. Sua vida não pode mais ser conduzida pela vontade de seus pais. — Cynthia se levantou e colocou a mão no ombro de Sheryl. — De qualquer forma, não tem de decidir isso hoje. Julgando pela expressão no rosto da jovem, ela teve uma breve noção do pavor que os Davenport haviam instilado na filha mais nova. — Há ainda tempo, Sheryl. Acabou de descobrir que está grávida. Dê a si mesma uma semana ou duas para se ajustar à idéia e considerar suas opções. — Pegou um cartão e o colocou na mão dela. — Nesse meio tempo, ligue-me se quiser me perguntar alguma coisa, ou simplesmente conversar. Está bem? — Está bem. — Sheryl concordou com um suspiro. — Obrigada por me ouvir. — Vai dar tudo certo. Você vai ver. Sheryl não parecia estar assim tão segura quando se despediu e deixou o escritório.


Cynthia voltou à cadeira atrás da escrivaninha e colocou a cabeça nas mãos. Era a pior quinta-feira que ela havia tido desde a morte de Tim. Todos os casos daquela semana haviam sido particularmente difíceis. Ou talvez fosse o seu péssimo humor a razão de estar encontrando dificuldade em lidar com eles. Se era possível, os conselhos que vinha dando às jovens soavam ainda mais banais do que antes... e verdadeiramente hipócritas. Como podia aconselhar outras mulheres a serem cautelosas e usarem o bom senso nos assuntos de sexo, quando ela própria não tinha sido nem cautelosa nem sensata ao ir para a cama com Worth? Tinha acontecido exatamente como Sheryl definira seu caso: ela se deixara levar pelo momento. E isso era indesculpável. — Sra. McCall? Cynthia apertou o botão do interfone. — Sim? — respondeu com estranheza. Pensara que Sheryl fosse a última paciente do dia. — O dr. Masters está aqui e quer vê-la. Ela gemeu, mas não podia se recusar a falar com o médico. — Mande-o entrar. — Como vai? — Ele entrou, parecendo mais bonito do que nunca em seu uniforme branco. — Olá, Josh. Tudo bem? — Tudo ótimo. — Ele se sentou no canto da escrivaninha, praticamente encurralando Cynthia. — Mas você não me parece em sua melhor forma. — Tem sido uma daquelas semanas... — Pensei que a semana passada é que tivesse sido ruim. — A semana passada também foi ruim. — Eu liguei para a sua casa no sábado. Sua mãe me disse que tinha viajado. — Viajei, mas não foi muito divertido. — Não retornou minhas ligações. Ela odiava ficar na defensiva, algo a que Josh sempre a levava. — Da última vez em que o vi, tivemos uma discussão, lembra-se? — Lembro, claro. Foi sobre a sua vida sexual. Ou melhor, sobre o fato de você não ter uma vida sexual. — Como pode ter tanta certeza disso? — ela rebateu, sarcástica. E adorou ver o sorriso de Josh desaparecer. — Estava para sair — disse, apanhando a bolsa e abrindo a porta, do escritório.


O médico a seguiu pela sala de espera e pelo corredor, já recuperado em sua auto-estima. Estendeu a mão e tocou-a no braço. — Já me perdoou a ponto de aceitar jantar comigo? Ela teria preferido que lhe espetassem alfinetes embaixo das unhas a passar a noite com aqueles dois: Josh e seu ego colossal. — Eu adoraria — viu-se respondendo. — Quando?

CAPÍTULO V

Worth estava na casa dela quando Cynthia chegou do trabalho. Ela reconheceu o carro esporte a distância, e soltou um sonoro palavrão, coisa que não lhe era habitual. O que acontecia com aqueles homens, afinal? Primeiro Josh, no escritório, agora Worth. Será que ele ainda se julgava bem-vindo lá? Se ela quisesse conversar, teria atendido aos seus telefonemas! Jogou a bolsa e a maleta de trabalho em uma cadeira e, sem sorrir, observou a cena doméstica: Worth se divertindo com Brandon no chão da sala. — Olá, mamãe, Worth está aqui! — Estou vendo. Ele se encontrava de bruços sobre o carpete. Brandon montava em suas costas e batia na cabeça e nos ombros do padrinho com um martelo de plástico barulhento. — Espero que tenha vindo me salvar — ele disse, tentando erguer a cabeça. Conseguiu se virar, segurou o garoto pela cintura e o levantou, fazendo-o montar em seus ombros. Brandon gritou de alegria, embora o rosto de Worth ficasse vermelho com o esforço. — Deus meu, está ficando pesado demais! Quando era bebê, eu podia segurar você assim por horas. Abaixou o menino até o chão e, para a alegria de Brandon, fez uma encenação de que não estava conseguindo se levantar nem respirar. — Faça de novo, Worth! Ou me segure pelos calcanhares e me coloque de cabeça para baixo. — Deixe Worth em paz, Brandon! Ele está cansado.


Cynthia quase se arrependeu quando tanto o filho como Worth perderam o entusiasmo. Brandon olhou a mãe, magoado, e ela detestou ser uma estraga prazeres. — Vamos fazer isso mais tarde — Worth declarou, passando a mão nos cabelos do afilhado. — Agora me ajude a levantar... Olá — disse para Cynthia, enfiando a camisa dentro das calças, já que ela havia se desarrumado durante a brincadeira. — Olá — ela respondeu, a voz na temperatura do gelo. — Tudo bem? — Tudo. E com você? — Tudo ótimo. — Onde está minha mãe? — Deu um pulo até a casa de Charlie. Quer que sejamos apresentados formalmente. — Verdade? Cynthia examinou Worth brevemente com o olhar. Ele devia estar voltando da academia, pois vestia jeans velhos, camisa pólo desabotoada e sapatos do tipo dockside sem meias. Os cabelos claros estavam despenteados, como se tivesse dirigido o carro com as janelas abertas. Parecia imperativo que seus olhares não se cruzassem, mas ela se sentiu sem forças para tanto e o encarou. O longo olhar foi interrompido pela chegada da mãe dela, que puxava seu noivo pela mão orgulhosamente. Quando as apresentações foram feitas, os dois homens se cumprimentaram sorrindo. — Charlie, precisa saber que esse seu noivado partiu meu coração — Worth falou, teatral, — Estive atrás desta mulher por anos! Ladonia passou a mão pelo rosto dele afetuosamente. — Oh, lamento, Worth. Mas Charlie é sexy demais e não resisti. A observação fez com que Charlie enrubescesse e Worth caísse na risada. Cynthia desejou rir também, mas o melhor que fez foi esboçar um breve sorriso. — Charlie me convidou para jantarmos fora, e assim me pagar por todas as noites que tem jantado nesta casa — Ladonia brincou. Voltou-se então para a filha. — Agora que Worth está aqui, você e Brandon não vão comer sozinhos. — Tenho certeza de que Worth tem outros planos, mamãe. — Na verdade, vim aqui para ver se poderia pagar a todos um hambúrguer. O que acha disso, Ladonia? Charlie?


— O que Ladonia quiser está bem para mim — ele respondeu, carinhoso. Ladonia enfiou o braço no do noivo. — Prefiro jantar sozinha com meu noivo, se você não se importar, Worth. Ele lhe dirigiu um olhar lascivo. — Oh, mulher insaciável... Eu gostaria de ter agarrado você quando tive a chance. — Deu-lhe então um abraço de urso. Minutos depois, os pombinhos saíram. Cynthia se voltou imediatamente para Worth. — Não se sinta obrigado a sair conosco. — Mas eu quero fazer isto. Vim aqui com esta idéia. — Mas, diante das circunstâncias... — Que circunstâncias? — Ele fez o ar mais inocente do mundo. — Brandon, o que acha de irmos ao McDonald's? — Truque sujo... — bufou Cynthia com o canto da boca, enquanto Brandon já corria para a porta da frente em direção ao carro. — Mas funciona — ele disse, com seu mais fascinante sorriso. — Posso ir agora ao playground? — Pode, Brandon, mas deixe-me limpar o seu rosto primeiro. — Cynthia passou o guardanapo de papel na boca do filho. — Tome cuidado com o escorregador! — Quer café? — Worth tirou as tampinhas de plástico de dois copos. — Obrigada. Por vários minutos, tomaram o café enquanto observavam Brandon brincar. Ele e uma menininha, aparentemente da mesma idade, chegaram ao pé do escorregador ao mesmo tempo. Brandon gentilmente deixou-a passar na frente. — Um conquistador em formação — Worth comentou, rindo. — Espero que não. Ele se voltou para ela e contemplou o seu rosto sério demais por um momento. Então sentiu raiva. — Sabe, Cynthia, dormir junto geralmente aproxima um casal, não o separa. — Depende da razão que levou o casal a fazer isso. E nós sabemos a razão que o levou a querer dormir comigo, não é mesmo? — Está bem, eu admito. Sou um canalha. A forma de vida mais baixa de todo o planeta. E então, está feliz agora? — Não satisfeito, continuou, claramente nervoso. — Eu a forcei a me acompanhar ao México apenas para ter a resposta para uma pergunta que vinha me atormentando havia anos: se a esposa de meu melhor


amigo era boa de cama — completou, inspirando com dificuldade. — Agora que está clara a razão que me levou a me deitar com você, chegou a sua hora de me dizer qual foi o motivo que a levou a ir para a cama comigo. — O quê? — Quero ouvir, vamos... O que a impulsionou a fazer sexo comigo? — Eu... — Alguém poderia especular que estava curiosa sobre a minha atuação sexual também. — Eu nunca... — Vai me dizer que nunca escutou Tim contar sobre as minhas aventuras sexuais e ficou imaginando se eu seria assim tão bom quanto parecia? Não queria testar a minha atuação pessoalmente? — Você me enoja, Worth. — Ela estendeu a mão para pegar a bolsa e colocou a alça no ombro. Antes que pudesse se levantar da cadeira, porém, ele a segurou pelo braço. — Viu como uma acusação dessas machuca? — Seu tom de voz era gentil, e Cynthia desistiu de bater em retirada. Por alguns minutos, seus olhares se cruzaram. — Ficou magoado comigo. — Muito — ele concordou. Ela tornou a se sentar, colocou os cotovelos sobre a mesa e pôs a cabeça nas mãos. — Eu sinto muito. Não sei o que deu em mim — confessou com voz trêmula. — Não deveria ter jogado toda a culpa em você. Estava procurando um bode expiatório... Culpá-lo aliviou a minha própria consciência. — O que fizemos foi, assim, tão terrível? — Eu me senti culpada. — Por quê? — Por causa de Tim, naturalmente. — Tim morreu, Cynthia. Um longo período de luto já se passou. — Ele abaixou a voz. — Não se sentiu culpada por ter ido para a cama com um homem. O que a fez se sentir assim foi o fato de ter gostado do que aconteceu entre nós. Cynthia mordeu o lábio inferior. — Não é verdade? — ele insistiu, os olhos fixos nos dela. Ela terminou concordando. — Tinha vinte e sete anos quando Tim morreu. O que acha que ele diria, se pudesse? Que deveria usar um cinto de castidade pelo resto da vida?


— Não, mas eu não esperava que minha retomada à vida sexual fosse com... fosse assim, tão perturbadora. Nunca soube que era desinibida, Worth. — O campo estava fértil, e eu, o enorme lobo mau, tirei vantagem da situação, foi isso? — Não. — Ela sacudiu a cabeça. — Não tirou vantagem de nada nem de ninguém. Eu poderia ter me recusado a ir para a cama com você, se quisesse. Worth sorriu, cheio de carinho. — Tenho me sentindo muito infeliz ultimamente, você sabe. Quando tive a chance de mudar alguma coisa, agarrei-a sem pensar nas conseqüências. — Cynthia suspirou. — Eu queria que alguma coisa acontecesse, mas nem me passou pela cabeça que poderia ser um programa de uma noite com você. Worth fez uma careta. — Poderia dar outro nome ao que aconteceu conosco. — Como chamaria, então? — Não sei bem. Mas não um programa de uma noite. Acredite em mim, Cynthia, o que compartilhamos não começou aqui... — Apontou para o meio das pernas. — Começou aqui — apontou a cabeça —, e ganhou espaço aqui. — Tocou o lado esquerdo do peito. Cynthia respirou profundamente. — Comigo aconteceu a mesma coisa. — Então pare de falar bobagens. Não sabe que significa muito mais para mim do que uma aventura com alguma garota de bar? As emoções que ela vinha reprimindo por dias estavam para se manifestar em lágrimas. Antes que desabasse no meio da lanchonete, tentou pensar em alguma coisa, algo que a distraísse. — Como se não bastasse isso tudo, minha mãe anuncia que vai se casar. — Não quer que ela se case? — Claro que quero, mas foi uma surpresa grande demais. Será outro período de ajuste. — Franziu a testa e enfrentou o olhar de Worth. — Parece muito egoísmo da minha parte, não é? — Um pouco. — Estou me odiando por isso. — Você é apenas humana, Cynthia. Ela tentou sorrir. — Pelo que fiz sábado à noite, não tenho mais dúvida disso. Brandon veio tomar água, depois acenou para eles e sumiu novamente de vista. — Ele se parece muito com Tim — comentou Worth.


— Sim, é verdade — ela concordou, sorrindo. Worth acariciou-lhe a mão. — Você sabe que eu nem estava me lembrando do que ele disse naquela noite, não é? — quis saber, ainda inseguro. — Se tivesse me lembrado, não seria capaz de tocá-la. Estaria pensando em você como esposa dele, não como a mulher que estava me deixando louco. — Worth! — Mas é verdade. Pode argumentar o quanto quiser. Uma coisa absolutamente indiscutível é o fato de eu desejá-la da forma mais primitiva. E há a física evidência de que você também me deseja bastante. Concorda? — Concordo — ela admitiu. — Quando eu a abracei naquela noite, toquei em sua pele, cheirei o seu cabelo, beijei a sua boca... a única coisa que passava pela minha cabeça era fazer amor com você. Ninguém mais estava envolvido. Só você e eu. Não pode aceitar isso? Nada poderia tê-la tirado do transe em que as palavras de Worth a haviam colocado. A não ser Brandon aparecendo com as duas mãos arranhadas e sangrando porque tinha caído do escorregador. Ladonia ainda não estava em casa quando eles voltaram. Worth se ofereceu para ajudar a dar banho em Brandon, e depois para carregá-lo até a cama. Diante dele, o menino fez cara de corajoso quando Cynthia lhe passou remédio nos arranhões nas mãos. — Isso foi culpa sua — ela acusou Worth, sorrindo, enquanto fechava a porta do quarto de Brandon com cuidado. — Se não tivesse inventado essa ida ao McDonald's, ele não teria caído e... Worth pressionou a boca contra a dela, silenciando-a. O beijo foi suave e nada exigente, dando a ela a oportunidade de aceitá-lo ou se afastar. Embora com o corpo já amolecido pelo desejo, ela o empurrou de leve. — Não, Worth. — O que é um beijo entre amigos? — ele murmurou contra a sua nuca, enquanto seu dedos buscavam os seios por cima da blusa. — Normalmente, nada. — Ela se afastou para um lugar mais claro e seguro do corredor. — Então somos extraordinários? Entraram na sala, e ela acendeu a luz. — A noite de sábado passado alterou a nossa amizade, Worth.


— Está sendo cabeça-dura outra vez. Por que, agora que fizemos sexo, não podemos continuar amigos? — Não podemos! — Por quê? Ela jogou a cabeça para trás com frustração. —As coisas não acontecem assim. Agora tudo ficou diferente. Tudo mudou. Lamento dizer isso. Lamento perder o meu maior amigo, mas é irreversível. Nós sacrificamos a nossa amizade por... — Pelo melhor ato sexual que tivemos na vida. Então qual é o problema? Cynthia deu as costas para ele e fingiu arrumar o tabuleiro de xadrez que Brandon e Ladonia haviam deixado na mesinha. — Você é um homem e eu sou uma mulher. — Isso eu sei bem — ele fez graça. — Por causa disso reagimos de forma diferente a situações como esta — ela rebateu, exasperada. Worth colocou as mãos sobre os ombros dela e a forçou a se voltar. — Até parece que não me conhece bem. Fiquei ruminando tudo isto por quatro dias, Cynthia. Não consegue acreditar que podemos retomar a nossa amizade do ponto em que a deixamos? — Está certo — ela disse com vontade chorar. — Eu não consigo, mesmo, acreditar que seremos amigos daqui por diante. — Pois está errada. Podemos, sim. Podemos fazer tudo que decidirmos fazer. Cynthia sacudiu a cabeça. — Não penso assim, Worth. — Escute... — ele falou com um suspiro, aproximando-se para acariciá-la de leve nos cabelos. — Eu prometo nunca mais pensar no que aconteceu, se você prometer também. — Mas não consigo evitar! — Isso também não é pecado. A não ser que alimente esse pensamento. Assim, todas as vezes que eu começar a me lembrar de como a sua pele é sedosa, de como foi bom tê-la em meus braços... Eu simplesmente vou fazer outra coisa. — elaborou Worth, tentando acreditar nas próprias palavras. Cynthia também não se deixou convencer pelos argumentos, mas queria desesperadamente contornar a situação. — Eu estava arrasada, pensando que tinha perdido o meu melhor amigo.


— Fiquei do mesmo jeito — ele admitiu. — Por várias vezes, nesta semana, quis pegar o telefone e ligar para você. — Mas não ligou, muito pelo contrário. Não respondeu a nenhuma das minhas chamadas. — Ainda não acredito que isso vá funcionar, Worth, não importa quão boas sejam as nossas intenções. — Vai, sim, se preparar sua mente para isso. Como esta noite, quando me vi olhando para os seus seios e todo tipo de coisa me passou pela cabeça. Eu as ignorei e me concentrei no meu Big Mac. Depois, nem mesmo me lembrava de como reagia quando eu os beijava... E também me esqueci daqueles seus gemidos quando estava perto do clímax — falou com voz rouca. — Nem consigo lembrar deles! Cynthia converteu um gemido em tosse, o coração batendo, agitado. — Já chega, Worth. — Por quê? Tenho de aprender a lidar com os meus pensamentos — ele continuou, tocando no ponto do pescoço dela onde o pulsar de seu coração era visível. — É tudo uma questão de autocontrole. — Tenho tentado me esquecer do que desfrutamos na cama — ela admitiu em um murmúrio. — Que bom. Cynthia tentou protestar quando o dedo de Worth começou a descer em direção ao decote. — Lembra-se de como se sentia quando estávamos abraçados deste jeito? De como nossos corpos se encaixavam? — ele sussurrou. — Ah, Cynthia. Eu me lembro tão bem! — É justamente disso que quero esquecer. — Ela o afastou de leve com um suspiro. Worth não insistiu mais e, depois de um momento, a respiração de ambos voltou ao normal. — Escute — ele rompeu o silêncio, por fim. — Temos anos de amizade pela frente. Não podemos sacrificar um relacionamento como o que tínhamos por uma fantástica noite na cama, podemos? Cynthia balançou a cabeça, depois pousou a testa no peito largo. — Por que fizemos isso? — O lugar, o clima romântico — ele parafraseou as palavras dela, sorrindo, depois a massageou nas costas. — Os trópicos são assim mesmo. Terrivelmente sedutores. E aquelas bebidas coloridas, aparentemente tão inofensivas... Antes que percebêssemos, você se deixou levar. — Envolveu-a nos braços e juntos, seus


corpos se moveram como se eles escutassem uma música. — O mar e o sol nos enfeitiçaram, além de estarmos compartilhando do mesmo quarto. Essa combinação sabotou nossos sentidos e nos levou a ficar nus, fazendo sexo na cama. — Acha que foi isso? — Ela ergueu a cabeça. Worth reprimiu um sorriso. — Deve ter sido. Nunca nos sentimos atraídos um pelo outro antes desse fim de semana. — Então não vai acontecer de novo. Ele pareceu menos inclinado a concordar e se limitou a mover a cabeça em silêncio. — Sofreremos outras conseqüências apenas se deixarmos que nossa amizade seja afetada. Não somos dois estranhos levando riscos potenciais à nossa saúde e você não vai engravidar... Ou vai? — Ele a empurrou um pouco, os olhos muito abertos. — Existe algum risco de ter ficado grávida? — Não — Cynthia demorou a responder. Pelo menos esperava não ter engravidado. Worth soltou um suspiro. — Viu? As coisas podem voltar a ser como antes — disse alegremente. A atitude cavalheiresca pretendia aliviar a ansiedade dela. Em vez disso, só a deixou pior. Tendo restaurado sua auto-imagem com umas poucas palavras, e aliviado a sua consciência culpada com uma racionalização plausível do comportamento dela, Worth havia descartado todo o episódio, seguro de que haviam preservado sua amizade. Ela comprimiu os lábios. — Estou tão aliviada que você se sinta assim, Worth. — Ela conseguiu sorrir. — Agora me sinto capaz de lhe contar as novidades. — Boas novidades? — Sim. Lembra-se de Josh, o ginecologista bonitão e rico de quem lhe falei? Bem, ele não desistiu de mim. Foi me procurar esta tarde e me convidou para jantarmos amanhã à noite. O sorriso dele assumiu a consistência do cimento. — Ah. Então ele é mesmo do tipo que não aceita um "não" como resposta. — Felizmente não — Cynthia admitiu com um jeito coquete. Worth encheu os pulmões. — Minha vida amorosa também está melhorando... Decidi perdoar Greta. O sorriso dela diminuiu e morreu. — Greta é aquela que...


— Que me deu um furo na semana passada. Passou a semana toda implorando pelo meu perdão. — Oh. — O melhor de uma briga é fazer as pazes — ele comentou, sorrindo. — Nem me diga. — Ela levantou o braço e consultou o relógio — Deus, como é tarde! Espero que Charlie traga mamãe para casa em segurança... — Tentou fazer graça. — Não vou esperar por ela. Estou exausta e preciso descansar. Worth se dirigiu à porta da frente, resmungando. — O que foi? Não escutei... — Disse que meu dia também vai ser longo, amanhã, e também preciso ir para a cama. — Está irritado com alguma coisa? Cynthia o seguia até a porta quando ele estacou de repente, fazendo-a trombar contra as costas largas. — Claro que não. — Worth se voltou para encará-la. — Por que estaria? — Não sei. — Estou com pressa para chegar em casa, só isso. Obrigado por ter me lembrando como era tarde. Preciso ligar para Greta e combinar com ela o que faremos amanhã à noite. — Ele se inclinou para sussurrar-lhe ao ouvido. — Não que a ordem dos fatores altere o produto... Cynthia captou o sentido das palavras e apertou os lábios em um sorriso falso. — Divirta-se, então — falou, sentindo que o ar lhe faltava. — Ah, é exatamente isso que pretendo fazer. — Ele estalou os dedos. — O que me fez lembrar uma coisa importante... Preciso dar uma paradinha na farmácia, a caminho de casa. O fato de ter sido imprudente na semana passada não significa que eu seja sexualmente irresponsável. Quando se tem tantas mulheres como eu... Bem, você sabe... Um sujeito precisa ser cuidadoso. Cynthia sorriu, os olhos estreitados. Worth não seria tão bonito, pensou, se lhe arrancasse todos os cabelos da cabeça, tirando-os com raiz e tudo. — Estou contente que tenha vindo aqui esta noite, Worth, assim pudemos comentar sobre aquele outro assunto. — Que outro assunto? Ah, refere-se ao que aconteceu no México? Diabos, eu até já havia me esquecido — elaborou ele, estalando a língua. — Eu também! — Estou muito perto de você, Cynthia. Não precisa berrar. — Desculpe... É que estou entusiasmada por ainda sermos amigos.


— Pode apostar. Até o amargo fim. Será preciso muito mais do que uma noite de sexo selvagem para acabar com a nossa amizade. Ela forçou um sorriso trêmulo. — Não poderia ter se expressado melhor! Ele ergueu as sobrancelhas, fingindo-se ressabiado: — Não se esqueça de que foi você quem chamou nosso encontro de aventura de uma só noite... — O que define exatamente o que nos aconteceu, não é mesmo? — Corretíssimo. — Boa noite, Worth. — Opa, quase me esqueci... — Ele enfiou a mão no bolso, e lançou ao ar vários pedacinhos de papel, que caíram em volta dos dois como se fosse neve. — O que é isso? — ela perguntou, franzindo o cenho. — O cheque que você me enviou pelo correio para pagar a sua parte das despesas da viagem... — Eu queria pagar a minha metade! A expressão do rosto de Worth foi horrível. — Já pagou, Cynthia. Ela fechou a porta na cara dele com ódio. Seguiu para o quarto, então, tentando pensar em uma boa razão para não cair em mais uma choradeira, Seu filho continuava feliz e bem ajustado... Porém não tinha um pai e essa lacuna provavelmente o afetaria mais tarde. Sua mãe estava para se casar com um homem bom e isso era ótimo. Mas quando Ladonia fosse morar com Charlie, deixaria um vazio terrível naquela casa. E o dia seguinte, sexta-feira, o fim de uma semana terrível, seria o dia antes daquele em que teria de jantar com Josh Masters. Cynthia encheu os pulmões... e caiu no choro.

Os olhos de Ladonia brilhavam de felicidade, enquanto ela esperava, em seu quarto, a cerimônia de casamento começar. — Está linda, mamãe — Cynthia falou com honestidade e orgulho. — Seu vestido ficou perfeito. Parece saído direto de um desses romances clássicos. O vestido era de um tom bege dourado, bordado com delicadas pedras nas mangas. A saia terminava em um enorme laço, o que seria um verdadeiro desastre em outra pessoa... Mas Ladonia era magra o suficiente para poder exibi-lo em seu traje.


— Obrigada, querida. Está linda também. Cynthia escolhera um modelo bem romântico e feminino, e que contrastava com o uniforme que era obrigada a usar todos os dias no hospital. Assim que ouviram a música começar na sala de visitas, deram-se as mãos, ansiosas. — Oh, Deus — Ladonia disse, respirando fundo. — Nervosa? — Um pouco. Oh, sim, estou muito nervosa. Estes brincos ficaram bons com o vestido? — Estão perfeitos. — Cynthia sorriu. Ouviram uma batida à porta. Imaginando que se tratava do pastor, ela deu um passo para trás para abri-la e se viu cara a cara com Worth, espetacular em seu terno de três peças escuro e camisa azul-clara. — O que está fazendo aqui? — Vim buscar a noiva. — Seus olhos se dirigiram a Ladonia, e ele soltou um assobio. — Que bobagem eu fiz, deixando você escapar... Sem nem mesmo olhar na direção dela, que ainda não se recuperara do choque de vê-lo depois de duas semanas sem nenhuma palavra de ambas as partes, estendeu um buquê de flores à sua mãe. Cynthia engoliu com dificuldade. Antes, eles se telefonavam semanalmente, mesmo que não tivessem nada de especial a dizer. — Cortesia do noivo que, de um ponto de vista puramente objetivo, me pareceu extremamente bonitão, apesar de, não sei por que, estar com as pernas tremendo. — Worth estendeu a Ladonia um lindo buquê de rosas amarelas, orquídeas brancas, entremeadas por minúsculas flores desta mesma cor: as chamadas "véu de noiva". — Deu-lhe um forte abraço. — Pronta? Ladonia se posicionou ao lado dele com um suspiro e se voltou para a filha. — Melhor não manter o noivo esperando por tempo demais, Cynthia, ou Charlie vai acabar pensando que tive uma crise de ansiedade e desisti do casamento! Worth vai me escoltar até meu noivo. — Bateu no braço de seu acompanhante afetuosamente e sorriu para ele. — Eu não estaria mais satisfeita se um filho levasse ao altar... Agora, vamos, queridos. Não devemos nos demorar mais e deixar nossos convidados impacientes. Cynthia virou-se subitamente e seguiu pelo corredor, caminhando de modo quase militar enquanto seguia o som da marcha nupcial. Parou na entrada da sala de visitas, até que Ladonia e Worth se posicionassem atrás dela. Então caminhou para o lado onde o pastor e Charlie aguardavam, em frente à lareira. Tivera um bom trabalho com a decoração, mas estava satisfeita, pois tudo parecia lindamente romântico com o sol da tarde infiltrando-se pelas cortinas.


Vasos com flores tinham sido espalhados por toda a sala. O maior, de cristal, fora decorado com folhagens e lírios do campo, e o caminho percorrido pela noiva, permeado por orquídeas brancas e amarelas iguais às do buquê, além de velas perfumadas. Os dois filhos de Charlie, suas esposas, e seus netos encontravam-se sentados em sofás e cadeiras. Uma das meninas mais velhas ficara encarregada de cuidar de Brandon. Cynthia esboçou um sorriso forçado ao passar por Josh Masters. Ela o havia convidado para tentar abrandar os sentimentos da mãe, que confessara sem rodeios estar constrangida por estar se casando enquanto a filha continuava sozinha. Quando se voltou para olhar o pastor, avistou uma linda mulher sentada no braço de um dos sofás. Pouco antes, ela a vira conversando com a família de Charlie, mas não imaginou quem fosse até que a viu dar uma piscada para Worth, enquanto ele escoltava Ladonia até o noivo. Worth não somente estava participando de um assunto de família sem que ninguém a tivesse avisado, como tivera a cara-de-pau de trazer uma namorada! Cynthia lhe dirigiu um olhar fulminante ao vê-lo tirar a mão de Ladonia do braço, beijá-la na testa, e concedê-la a Charlie. Tendo desempenhado sua parte na cerimônia, reuniu-se à sua acompanhante com um sorriso. O pastor iniciou as leituras, contudo, Cynthia já não conseguia ver beleza no momento. Tentou se concentrar nos sorrisos amorosos trocados pelos noivos, mas sempre terminava com os olhos voltados para o casal sentado no sofá. Em uma das vezes, quando Worth a flagrou olhando para ele, virou o rosto para o pastor, constrangida. Brandon começou a ficar impaciente durante a cerimônia. Cynthia percebeu a agitação do menino e o trabalho que a neta de Charlie estava tendo. A um sinal de Worth, entretanto, o menino se pôs ao lado do padrinho, recostando-se ao corpo forte. Seu filho também adorava aquele... aquele... — Com a autoridade a mim investida por Deus e pelas leis do Estado, eu agora os declaro marido e mulher. — As palavras do pastor interromperam seus pensamentos. — Charlie, pode beijar a noiva. Ouviram-se aplausos pela sala inteira. Todos congratularam os noivos e se abraçaram uns aos outros. De alguma maneira, Cynthia acabou nos braços de Josh. Ele se inclinou como se fosse beijá-la nos lábios, mas terminou beijando seu rosto, pois ela rapidamente inclinou a cabeça para o lado. — Venha, Josh. Quero lhe apresentar Charlie... — Dr. Masters, é um prazer conhecê-lo. — A expressão do noivo era de pura felicidade e ele aceitou os cumprimentos do médico, comovido.


— O prazer é todo meu. Mas, tendo conhecido sua noiva, não é mais mistério algum para mim onde Cynthia conseguiu tanta beleza. — Virando-se para Ladonia, ele a beijou na mão. — Muitas felicidades, sra. Tanton. Josh era muito bonito. Seus modos, sem falha alguma. Não era à toa que fazia o terror das enfermeiras do hospital. Entretanto, Cynthia não conseguia nem sequer ficar perto dele. — Josh, dê-me licença por um minuto. Preciso falar com o pessoal do bufê. Depois de se certificar de que Brandon era supervisionado por duas de suas novas primas, ela seguiu para a cozinha para ver se tudo se encaminhava como devia. Os pratos, constatou, estavam prontos para ser servidos. Enquanto dava os toques finais à mesa de jantar, Worth se aproximou com sua acompanhante. — Cynthia... Esta é Greta. Greta, Cynthia. — Muito prazer em conhecê-la, Cynthia! — O prazer é todo meu. Greta era alta, loira, linda, e tinha os seios de uma diva de cinema. Parecia uma modelo internacional, ou melhor, uma dessas garotas de revista masculina sueca. Mas a verdade era que tinha um ar genuinamente agradável. Cynthia a odiou à primeira vista. — Estou feliz que tenha podido acompanhar Worth ao México — falou a moça com voz melodiosa. — Seria uma pena perder as passagens. — Ele contou que fui junto? — Cynthia lançou um olhar ressabiado na direção de Worth, que pegava azeitonas de uma bandeja. Ele enfiou uma na boca, dirigindo a ela um sorriso ingênuo enquanto mastigava com força. — Claro. Sempre falou de sua velha amiga... Disse que a tem como uma irmã. — Ah, que gracinha. — As palavras "velha" e "irmã" a fizeram sentir-se como uma tia solteirona. — Aí está você. — A voz de Josh mal precedeu suas mãos, que se moveram para enlaçá-la pela cintura. — Hoje não estou conseguindo ficar ao seu lado tanto como desejaria — ele reclamou com voz rouca. — Ah, desculpe, Josh. Preciso cuidar da cerimônia... infelizmente — Cynthia acrescentou de propósito, notando que Worth parará de mastigar ao ver as mãos de Josh descansando, insinuantes, sobre seus quadris. — Josh, quero que conheça os amigos de meu falecido marido: Worth Lansing e sua namorada, Greta. Os dois homens trocaram cumprimentos, estudando-se mutuamente.


— Dr. Masters? Li um artigo sobre o senhor na revista D Magazine, se não me engano. — Greta tentou chamar a atenção, já que nenhum dos dois prestava atenção a ela. Josh voltou sua atenção para a loira imediatamente, e Cynthia aproveitou a oportunidade para escapar dali, murmurando uma desculpa qualquer. Worth, por sua vez, parecia extremamente contrariado. Taças de champanhe foram levantadas para os noivos em um brinde. A comida foi consumida. O bolo de casamento foi cortado e servido. Fotografias foram tiradas. O clima da festa era de total alegria e descontração. E Cynthia se sentia miseravelmente mal. Dividia seu tempo entre se portar como anfitriã, tentar evitar as mãos atrevidas de Josh, e ainda ignorar a atenção que Worth dava a Greta. Quando ela pensava que não agüentaria muito mais, chegou até a mãe, que conversava com uma das noras de Charlie. — Mamãe, ainda tem que colocar umas coisas na mala, não é? — Sim, querida, por quê? — Vou até seu quarto e farei isso por você. Por que não continua conversando com os convidados? — Oh, que gentileza a sua, minha filha. Estou me divertindo muito. A família de Charlie não é maravilhosa? Eles me aceitaram sem qualquer hesitação. — Fico feliz com isso, mas não estou nem um pouco surpresa. Por que não lhe dariam as boas-vindas? Você é maravilhosa. Elas se abraçaram, comovidas, e se beijaram no rosto. Cynthia percebeu, naquele momento, o quanto sentiria falta da mãe naquela casa. Ambas estavam com os olhos marejados quando o abraço finalmente acabou. — Quando chegar a hora de você se trocar, eu já estarei com as malas prontas para colocá-las no carro. — Obrigada, minha querida. Escapando ao olhar afiado de Josh, que tinha os instintos de caça semelhantes aos de uma pantera, Cynthia deixou a festa e seguiu para o quarto da mãe. Por sorte, Ladonia era uma mulher organizada. Tudo o que levaria na viagem de lua-de-mel, duas semanas no Havaí, já estava dobrado em cima da cama. Pouco antes da festa, Cynthia havia arrumado uma mala e estava terminando a segunda quando Worth entrou no quarto depois de bater à porta. — Se estiver procurando pelo banheiro dos meninos... — Ladonia achou que talvez precisasse de alguma ajuda — ele explicou, fechando a porta. — Para fazer o quê? Acomodar as lingeries na mala? — Cynthia lhe dirigiu um olhar gelado. — Pensando bem, provavelmente você é um especialista nisso.


— De jeito nenhum — Worth respondeu prontamente. — Sou especialista em tirá-las. Cynthia pegou um maio de cima da cama, enrolou-o como se fosse uma bola e, segurando-se para não atirá-lo no rosto dele, o acomodou na mala com um suspiro. — Posso dar conta de tudo sozinha. Mas obrigada pela oferta. Melhor voltar para Gretel antes que ela suma. — É Greta — ele corrigiu. — E por que ela sumiria? — Porque parece tão burra que, provavelmente, não conseguiria encontrar o próprio traseiro. — Ela não precisa fazer isso... — Ah, entendi. Você é que se encarrega disso. — Com ambas as mãos. — Incrível... — Cynthia tentou dominar o próprio ódio. — É um traseiro considerável o dela — resmungou, maldosa, enquanto jogava um par de sandálias de praia dentro da mala sem muito cuidado. — Combina com o resto de seu corpo. Só por curiosidade, quanto ela tem? De largura, quero dizer... Worth fechou o paletó e enfiou as mãos nos bolsos das calças. Pelo modo como a olhava, Cynthia percebeu que se esforçava para não rir. Maldito. E ele estava maravilhoso naquele terno. — Então esse é o famoso dr. Masters — ele mudou de assunto. — Isso mesmo. — Estão juntos? — quis saber, meio a contragosto. — Se estava tão curioso, por que não me telefonou? — Você também não me telefonou. — As duas últimas semanas foram uma loucura — ela elaborou com um suspiro. — Os planos para o casamento, as compras com minha mãe... — Engraçado. Ladonia encontrou tempo para me telefonar. — Bem, obviamente ela devia ter alguma coisa para dizer a você. — E você não tem. É isso? Cynthia fechou a mala com força. — Agora que mencionou isso... Não, não tenho. — E o que mais? Ela levou as mãos à cintura delgada, evidenciando o corpo esguio, porém cheio de curvas.


— Deixe-me ver... — Ergueu os olhos, fingindo pensar. — Acho patético um homem da sua classe salivando sobre uma garota como Greta, só porque ela é... bem nutrida. Como sua amiga, sinto-me no dever de lhe dizer, Worth: está fazendo um papel ridículo. Ele se aproximou dela perigosamente. — Enquanto formos assim tão amigos um do outro — falou em tom casual — também me sinto no dever, como amigo de Tim, de alertá-la sobre sujeitos como o dr. Masters. — Já sou bem crescidinha, fique tranqüilo... Posso cuidar de mim mesma. — Aposto que no primeiro encontro, Masters a levou a um restaurante bem romântico. — O Old Warsaw, para ser mais exata. — Perfeito! Até com violinos tocando ao fundo. E o segundo encontro foi em um lugar mais animado, chique e divertido, aposto. — No Sfoozi. Acertou outra vez — ela admitiu, citando os ambientes caros com satisfação. — Hum. Um lugar para ver e ser visto, sem dúvida. Ótimo para impressionar as mulheres. Fazendo um ar de entediada, Cynthia olhou o próprio reflexo no espelho e ajeitou os cabelos. — Essa sua análise sobre o dr. Masters vai levar a alguma coisa? — Pode apostar que sim. Na próxima vez em que ele a convidar para sair, será para ir à casa dele, ou algum lugar bem íntimo. Ele vai sugerir um jantarzinho para dois e começar a pôr seu plano em ação quando você estiver relaxada, depois de tomar um bom vinho e ouvir música suave... Se ele conseguir enfiá-la na banheira, bingo! — Falando por experiência própria? — Anos de experiência. Cynthia ergueu o queixo de leve. — Só está se esquecendo de um detalhe, Worth Lansing, não sou uma de suas loiras burras. — E aí que quero chegar, Cynthia. Você é nova no jogo. Praticamente uma chapeuzinho vermelho perdida na floresta... E as regras mudaram desde que namorava Tim, lá na universidade. Temo que vá terminar magoada. — Acha, mesmo, que sou tão estúpida? — Ingênua.


— Obrigada pelo conselho, Worth, mas sei as regras do jogo melhor do que você pensa. Antes que ela pudesse se afastar, ele a segurou pelos ombros. — Meu conselho chegou tarde demais? — Não foi você quem me aconselhou a ir em frente com o dr. Masters? Worth a fitou, sério. — Bem, creio que isso não me surpreende. Cynthia apertou os olhos e o encarou. — Por que diz isso? Ele se inclinou e aproximou a boca de seu ouvido. — Porque sei que não é preciso muito esforço para fazê-la sentir prazer. A palma da mão de Cynthia estalou na face dele. Ladonia escolheu justo esse momento para entrar no quarto. — O que está acontecendo aqui?! Vagarosamente, Worth deu um passo para trás, afastando-se de Cynthia, embora seus olhares ainda estivessem presos um ao outro. — Sua filha não precisa de ajuda, Ladonia. Ela está se saindo muito bem sozinha. — Dizendo isso, ele esboçou um breve sorriso e deixou o quarto. Estudando o rosto pálido da filha, Ladonia fechou a porta, mortificada. — Muito bem, Cynthia. Isto já foi longe demais. O que aconteceu entre você e Worth? Cynthia abaixou a cabeça por um instante, depois finalmente conseguiu se armar de coragem para olhar a mãe. — Nada — respondeu. — O que poderia ter acontecido? — Eu perguntei primeiro. Ela tornou a se voltar para o espelho e fingiu ajeitar o vestido bordado. — Achei que não foi de bom gosto ele trazer aquela moça aqui, foi isso. — Acontece que fui eu quem sugeri que ele o fizesse. — Ah. Neste caso, então, está tudo bem. — Estendeu o braço e apontou para a mala. — Vou ajudá-la a mudar de roupa, mamãe. — Forçando um sorriso, tentou brincar. — Não vá deixar o noivo esperando. A casa estava finalmente vazia, a não ser por Brandon, que dormia em seu quarto, e Cynthia, que se encontrava sentada na sala, olhando para a lareira e as velas apagadas.


Logo depois que Charlie e Ladonia tinham corrido para o carro estacionado à frente da casa, levando um banho de arroz em meio a votos de felicidades, os convidados haviam começado a se retirar. Josh foi o último a sair, e somente porque Cynthia insistiu muito para isso. Mesmo depois que o pessoal do bufê deu conta da parte deles, a casa continuava desarrumada. Brandon havia reclamado de fome, embora houvesse comido mais do que suficiente durante a festa. Assim, ela ainda lhe preparara um prato com cereais. Enquanto juntava louças e cristais, o menino brincara em meio às fitas dos arranjos, até que havia dormido no sofá... e a obrigara a levá-lo no colo para a cama. Agora, vestida com um agasalho esportivo e meias, ela se deixou afundar na poltrona em frente à lareira, desfrutando a falta de qualquer ruído a não ser o crepitar da madeira. Quando a campainha tocou, soltou um gemido, desgostosa. — Não acredito! Decidiu não atender. Quem quer que fosse, terminaria desistindo e indo embora. Ao ouvi-la tocar pela terceira vez, temendo que acordasse Brandon, ela se levantou resmungando e seguiu para a porta. Era Worth. — O que está fazendo? — ele perguntou, assim que ela abriu. — Pensando seriamente em bater a porta na sua cara! — Já me bateu hoje. Bem aqui — disse, apontando um vergão no rosto já meio barbado. Cynthia balançou a cabeça, aborrecida. — Nunca tinha feito algo assim em toda a minha vida. — Então, devo me sentir lisonjeado. — Desculpe. — Não precisa pedir desculpas. Eu mereci o tapa. Também não me lembro de ter dito algo assim, tão desagradável, para uma mulher em toda a minha vida. Seus olhares se cruzaram por um breve segundo. — Posso entrar? — Ele percebeu a hesitação de Cynthia. — É impressão minha ou a lareira está acesa? Não me diga que está acompanhada daquele... — Vestida desse jeito? — Ela apontou o velho agasalho e as meias. — Escute, Worth, não posso prometer que serei uma boa companhia a essa hora. Estou cansada demais. — Uma taça de champanhe e então eu vou embora.


Ela ergueu as sobrancelhas, hesitante. — Certamente sobrou alguma garrafa de champanhe... — Várias, na verdade. — Começaremos com uma só. — Ele sorriu. — Você pega a garrafa e as taças, enquanto isso, coloco mais lenha na lareira. Ela abriu caminho para ele com um suspiro, depois fechou a porta e seguiu pela casa escura em direção ao único castiçal ainda aceso sobre a mesa de jantar. — Ainda há o que comer, também. Canapés, nozes, coisas do tipo. — Apenas champanhe — reforçou Worth, enquanto ela se dirigia para a cozinha. Quando Cynthia voltou com duas taças de cristal e uma garrafa, as chamas consumiam duas novas toras de madeira. — Onde está Brandon? — ele perguntou enquanto tentava abrir o champanhe. Ela estendeu as taças, virando o rosto de leve. — Na cama, e dormindo profundamente, graças a Deus. Acho que toda a atenção que recebeu hoje lhe subiu à cabeça. Ele agiu como um verdadeiro monstrinho durante toda a festa. A champanhe espocou, e ele serviu as duas taças. Ergueu a sua em silêncio, então. — A que estamos brindando? — A amizade. Cynthia arqueou uma sobrancelha. — Que sobreviveu a um belo tapa — completou Worth, esboçando um sorriso. — Eu só esbofeteio os meus melhores amigos — ela volveu, rindo, batendo a taça na dele. Os dois se sentaram no sofá e ficaram olhando o fogo com as cabeças recostadas às almofadas. Cynthia estendeu as pernas e colocou os pés sobre a mesinha de centro. — Agi como um cafajeste hoje à tarde, não foi? — E eu, como uma idiota. — Ela virou a cabeça para olhá-lo. — E nem sei ao certo por quê. Seus olhares se encontraram. — Não sabe mesmo? — Não.


— Estava com ciúmes, Cynthia. — Ciúmes? Daquela loira oxigenada, que nem era burra como eu a acusei, mas muito articulada? Ciúmes de seus cabelos loiros de Barbie, de seus olhos azuis enormes, e de seus outros grandes atributos? Não seja ridículo. — Ela se levantou, colocou a taça de champanhe sobre a mesa, caminhou até a lareira, e pegou o ferro de mexer as brasas. — Espero que não esteja pensando em usar isso contra mim. — Worth fitou o objeto, preocupado. Ela acabou rindo. — Na verdade eu ia revirar as brasas, mas agora que me deu a idéia... — Levantou o ferro, ameaçadora, e fingiu avançar na direção dele. Depois o colocou de volta em seu lugar. — Está bem, eu confesso. Fiquei doente quando o vi com Greta. — O que há de errado com ela? — Nada. Por isso mesmo — ela completou com amargura. Então voltou ao sofá e sentou-se novamente. — Pensei que estivesse com ela na cama, agora. Worth deu de ombros e, estendendo o braço, começou a mexer nos cabelos dela. — Falta de iniciativa. E quanto ao seu médico? Ela moveu a cabeça, livrandose do contato. — Eu o mandei para casa. — Ele não pediu para ficar? — Claro. Depois que não aceitei ir ao seu apartamento e deixar que ele me preparasse o jantar. — Ela levantou os braços em um gesto de rendição. — Eu sei, eu sei... Não precisa dizer: "Eu avisei". Josh não podia ser mais previsível se você lhe entregasse um roteiro. Para crédito de Worth, ele não insistiu no assunto. — O que está cheirando tão bem? — As velas. — Ah, pensei que estivesse usando algum novo sal de banho. — Não. — Não que o seu perfume precise ser melhorado. Não consigo entrar debaixo de um chuveiro sem sentir falta do cheiro que aspirava lá no banheiro do hotel de Acapulco. Seus olhares se encontraram mais uma vez. Cynthia sentiu o corpo mais quente e, ao mesmo tempo, muito leve. Depois de um longo momento, afastou o


olhar. Worth estava bonito demais com aquele cabelo caindo na testa. Os fios castanhos brilhavam, quase dourados, à luz do fogo. — Penso que os recém-casados já estão em Los Angeles a essa hora — disse, apenas para falar alguma coisa. — Já chegaram lá com certeza. — Vão passar a noite em um hotel è voar para o Havaí, já pensou? — Será uma viagem incrível. — Mamãe sempre quis ir ao Havaí. — Charlie parece o homem perfeito para ela, sabia? — Graças a Deus. Minha mãe estava linda, hoje, não estava? — Ela sorriu com a lembrança. — Muito. E a cerimônia foi bastante agradável. — Muito romântica. — O pastor também foi muito feliz no discurso. — Concordo. — Cynthia... — Worth a fitou, os olhos claros fixos nos lábios rosados. — Sim? — Para o inferno com a nossa amizade — declarou, e a puxou para seus braços.

CAPÍTULO VI

Cynthia não resistiu. Suas bocas se encontram rapidamente, e os dois mergulharam nas almofadas com os corpos unidos. — Droga — ele murmurou, parando o beijo de súbito. — Diga-me que não deixou aquele imbecil tocá-la nem com o estetoscópio! Mergulhando os dedos nos cabelos claros, ela forçou os lábios de Worth a tomarem novamente os seus, eliminando qualquer necessidade de resposta. O beijo apaixonado foi mais uma vez interrompido. Desta vez por ela. — E quanto a Greta? — Não a toquei mais. Eu lhe disse que estava passando por uma impotência temporária. Cynthia o encarou com incredulidade, e Worth sorriu.


— Inventei isso, claro... — Provou seu ponto, então, ajustando o corpo rijo ao dela. Os olhos de Cynthia brilharam quando ele recomeçou as carícias. Pequenos gemidos de desejo escaparam de sua garganta, unindo-se ao alegre estalar da lenha que ardia na lareira. Ela também se sentia queimando, pensou, talvez pela roupa quente, ou pela sala aquecida. Porém, mais provavelmente pelo que provocava cada toque de Worth em seu corpo. As mãos dele estavam por toda parte: na cintura, debaixo do agasalho, sobre suas nádegas. — Cynthia, o que eu disse hoje à tarde... — começou, ofegante. — Foi imperdoável. — Concordo. — Mas era o que eu estava pensando. — Suas mãos haviam encontrado a suavidade dos seios e, gentilmente, ele lhe manipulou os mamilos. — Não consigo tirar da cabeça a sua imagem fazendo sexo comigo no espelho daquele quarto... Deus sabe que tentei. Mas não posso me esquecer de como estava linda, nua, na primeira vez em que a toquei. Ela gemeu baixinho, e se moveu sob Worth, acomodando as partes íntimas às dele. — Você é tão... quente — ele falou, rouco. — Eu me sinto tão bem dentro de você! Worth lhe tirou a blusa e a beijou nos ombros. Depois deslizou os lábios para seus seios, sugando os mamilos, percorrendo em seguida as curvas de seus quadris. — Worth... — Cynthia suspirou, arqueando o corpo. Ele deslizava os lábios por todas as reentrâncias, todos os caminhos, descendo cada vez mais. Mordeu-a levemente, fazendo latejar seu ponto de maior prazer. As carícias eram arrebatadoras. Cynthia aspirou profundamente o perfume das velas, sentindo-se mais embriagada com os carinhos do que com o champanhe que havia tomado. As palavras ditas pelo pastor ao celebrar o casamento de Ladonia e Charlie lhe voltaram à mente: Nada é mais importante do que compartilhar. Guardem um ao outro como a uma jóia rara. Subitamente sua visão clareou e, com ela, seu pensamento. — Worth, não podemos! — Tentou afastá-lo e sentar-se. Ele lutou para recuperar o foco e a olhou, surpreso.


— Não se preocupe, querida, desta vez tenho preservativos no bolso e... — Não é isso! — Então o que é? — Ele inspirou com dificuldade. Cynthia correu as mãos pelo rosto. — Não podemos ser amantes. — Tampouco podemos ser amigos — ele afirmou. — Isso ficou mais do que provado hoje. Quando vi as mãos de Masters em você, pensei seriamente em arrancar a cabeça dele! — E eu fui deliberadamente rude com Greta. — Ou seja, estivemos ambos agindo como loucos. Vamos prometer não repetir essas besteiras. Mas, por favor, vamos continuar o que começamos aqui! — Será que não entende? — Ela gemeu, desgostosa. — Estamos nos deixando levar como da outra vez. Se nos rendermos a isso, mais tarde estaremos nos sentindo piores do que agora! — Impossível — Worth grunhiu, levantando-se. — Vou precisar de mais champanhe — declarou, e foi buscar outra garrafa. Quando voltou, Cynthia sentiu-se aliviada ao ver que ele adotara uma nova postura. Parecia melhor, muito mais relaxado... ainda que tomasse champanhe direto da garrafa. — Por que acha que estamos fazendo isso? — indagou, intrigado. — Por causa dessa atmosfera romântica. Os casamentos criam um clima sentimental que mexe com as pessoas. — Nunca pensei nisso. — Casamentos combinam o espiritual com o físico, o romance com a religião. Fazem todo mundo pensar, não importa se o indivíduo acredita ou não em amor verdadeiro. Worth bebeu da garrafa novamente e depois secou os lábios com as costas das mãos. — Tem razão. Meus olhos ficaram úmidos quando Charlie e Ladonia trocaram votos. Agora que falou isso, eu me lembrei: meus encontros, depois das festas de casamento, sempre foram mais animados. — Parou de falar e fitou Cynthia, confuso. — Não que este nosso encontro seja apenas... Ah, esqueça. — Os casamentos inspiram, mesmo, muito romance. Champanhe, velas, uma lareira acesa, você... — Ela deu de ombros. — Foi como se estivéssemos novamente em Acapulco. De novo, fomos vítimas desse clima. — Talvez. — Tem alguma dúvida?


— Venha aqui, Cynthia — ele falou, sorrindo. — Não vou mordê-la. — Já fez isso uma vez. Mesmo assim, ela voltou a se sentar ao lado dele. Worth tocou seus lábios com o dedo indicador. — Foi preciso mais do que o perfume das velas e o calor da lareira para me deixar como estou agora — murmurou. Cynthia sentiu um calor nos seios e entre as coxas. Deixou imediatamente o sofá e foi até a lareira sobre a qual havia algumas molduras com fotos de Brandon. Ajeitou-as, então. — Você disse que não... — Iria mordê-la. E isso foi tudo. — Ele se recusou a dizer mais, até que ela se voltou para olhá-lo, relutante. — Sentimos desejo um pelo outro, admita. — Está se referindo apenas a sexo. — Eu podia estar fazendo sexo com Greta. E você, com Masters. — Mas eu nunca quis fazer... — Exatamente! E eu não quis nada com Greta, pois quero você. Cynthia abaixou-se diante do fogo e, usando o ferro, começou a remexer com mão trêmula as cinzas da lareira. — Não há como negar que estamos sexualmente atraídos, não é? — Isso seria estupidez — pontuou Worth. — E nenhum de nós é estúpido. Esta é a razão que me trouxe de volta aqui, esta noite. Pensei que poderíamos conversar sobre esse nosso dilema como adultos, e não como um casal de adolescentes ciumentos. — Colocou a garrafa de champanhe sobre a mesinha e entrelaçou as mãos, apoiando os cotovelos sobre os joelhos em um gesto desanimado. — Mas, confesso que, se eu chegasse aqui e a encontrasse nos braços daquele ginecologista, todas as minhas boas intenções de me comportar como um adulto racional iriam por água abaixo. — Também foi uma tortura imaginar você com Greta. — Cynthia o encarou, angustiada. — O que vamos fazer, Worth? Não podemos continuar assim! — Concordo plenamente. Depois de um longo silêncio, ela expôs sua opinião mais óbvia; mas também a mais perturbadora. — Podíamos parar de nos ver por uns tempos. — Cynthia, as duas últimas semanas quase me levaram à loucura! — Eu digo o mesmo — ela admitiu. — Além do mais, isso magoaria Brandon. Você é o único homem com quem ele se relaciona. Tenho de concordar com o que


minha mãe falou. Aliás, ela já sentiu que alguma coisa, no México, alterou o nosso relacionamento. — Mulher inteligente. — Worth ficou um momento em silêncio. — Fazer amor alterou o nosso relacionamento, Cynthia. Agora ele nunca mais será o mesmo. — Então temos de parar de nos ver. Não há outra solução. — Não. Temos de fazer amor de novo. O olhar dela era de total confusão, até que passou a refletir raiva. — Está propondo uma aventura? Uma dessas em que nem o homem nem a mulher se comprometem? De jeito nenhum, sr. Lansing. — Quer fazer o favor de me ouvir, antes de ficar lançando pedras contra mim? Ele deixou o sofá e se aproximou de Cynthia, ficando de pé junto à cadeira em que ela se sentara. Para não ficar em desvantagem, Cynthia se levantou imediatamente. — Eu, honestamente, não sei o que resultará se formos novamente para a cama. Mas devemos isso um ao outro, pelo menos mais uma vez — Worth declarou com firmeza. — Não podemos resolver esta situação enquanto não o fizermos. Ela soltou uma risada seca. — Não contava com essa sua linha de pensamento! — Você disse que nossa noite, no México, foi apenas produto do ambiente, que fomos vítimas da beleza e do romantismo do lugar. Sem saber bem onde ele queria chegar, Cynthia concordou. — Muito bem, precisamos descobrir se foi por isso mesmo. — Mas foi! — Então não precisa se preocupar com nada. Não haverá dano algum se tentarmos repetir a dose. — Correu as mãos pelos cabelos. — Admita que foi incrível, Cynthia. Ela percebeu o quanto ele estava ansioso e concordou, em silêncio. — Ótimo. — Ele soltou um suspiro. — Agora, admita que não precisamos nos sentir culpados em relação a Tim porque, antes de irmos para Acapulco, não havia nada além de amizade entre nós dois. — Concordo. Inconscientemente, ela passou a mão sobre o dedo anular da mão esquerda, onde sempre estivera sua aliança de casamento. Havia tirado a aliança depois de voltar do México, sentindo que tinha traído Tim. Mas sabia que os argumentos de Worth eram válidos.


— Muito bom. Já concordou com dois pontos do meu raciocínio. — Worth reuniu seus pensamentos. — Vamos, agora para o terceiro. Se somente a lua fosse a responsável pela noite maravilhosa que tivemos, descobriríamos isso logo depois. Por que, então, não conseguimos levar uma vida normal depois disso e continuamos nesse estado? — Andou ensaiando esse discurso? — Por seis dias. — Seis dias? — ela repetiu, incrédula. — Se estava pensando sobre isso por tanto tempo, por que veio acompanhado de Greta ao casamento de minha mãe? — Por pura maldade. O que nos leva a outro ponto crucial: nunca tentamos manobrar o outro. Odeio fazer isso com você. — Eu também. Se você não estivesse por perto, eu jamais teria permitido que Josh colocasse as mãos em mim. Eu me deixei acariciar, hoje, porque sabia que isso o estava deixando maluco. E tudo o que você disse faz sentido, Worth, não importa como tenha expressado seu pensamento. Estou apenas indo trabalhar porque preciso ir, mas sem me envolver em nada. Não consigo me concentrar. Foi difícil até mesmo planejar o casamento de mamãe. — E então, o que me diz? Ela mudou o peso do corpo de um pé para o outro. Não queria que a atração que sentia por Worth interferisse em sua decisão. Assim, tentou não levar isso em conta e basear sua decisão estritamente nos argumentos pragmáticos que ele expusera. — Seria uma espécie de experiência científica, não seria? — Exatamente. Tentaríamos, somente para ver o resultado. Se não for bom, saberemos que o que aconteceu no México foi acidental, e retomaremos nossa amizade. — E se for? Ele a abraçou com um suspiro, porém Cynthia o empurrou imediatamente. — Isso não vai acontecer esta noite. O breve sorriso de Worth sumiu, e seus braços caíram ao longo do corpo. — Ainda estamos envolvidos nesse clima pós-casamento, lembra-se? Praguejando baixinho, ele olhou as velas, as garrafas de champanhe, o fogo da lareira, os olhos cintilantes de Cynthia. — Acho que tem razão — concedeu, resignado. — Mas quando? Depois de discutirem as opções, acabaram por decidir que se encontrariam na semana seguinte. Worth não ficou satisfeito.


— Isso será só daqui a sete dias — reclamou. — O que nos dará bastante tempo para clarearmos a cabeça e abordarmos tudo o que está nos acontecendo com pragmatismo. Caso contrário, a experiência não provaria nada, e poderíamos terminar sem saber o que fazer, como agora. Receando que ela voltasse atrás, Worth acabou concordando, mas insistiu em lhe dar um beijo de boa noite antes de sair. Cynthia aceitou de boa vontade quando ele pressionou o corpo no dela, mas quando Worth tentou ir além, acariciando-a nos seios, ela o deteve. — Ainda não — ela conseguiu dizer, apesar de que não ter sido fácil resistir à tentação. Cynthia passou todo o domingo com Brandon, pois, no dia seguinte, ele começaria a freqüentar uma escolinha, já que Ladonia estaria indisponível dali por diante. Ao contrário do que ela imaginara, o menino pareceu não se importar com isso, mostrando-se ansioso por brincar com outras crianças. Sua agenda de trabalho estava repleta, o que ordinariamente fazia a semana voar. Em vez disso, ela se sentia rastejando em direção à sexta-feira. Na quarta, deixou Brandon convidar Shane Lattimore para dormir em casa, já que ele passaria a noite de sexta na casa do amiguinho. Sentiu-se corar quando perguntou à sra. Lattimore se podiam trocar favores. Afinal, precisava ter a noite de sexta-feira livre. Felizmente, a mãe de Shane não pôde enxergar seu rosto vermelho de vergonha ao telefone, e achou a idéia formidável. Apesar de contrariado, Worth terminara por concordar quando ela havia insistido que não veriam um ao outro até a data oficial. Mesmo assim, telefonava todas as noites, e algumas vezes durante o dia. — Onde faremos aquilo? Devido a uma consulta longa e pesada que dera naquele dia, Cynthia almoçava no próprio escritório. Segurando o telefone entre o queixo e o ombro, descascou uma banana. — Em uma cama, suponho. — Não me diga! — Em um hotel? — Nada disso. Que tal no meu apartamento? Jantaremos primeiro. — Não sei, Worth. — Já até planejei o cardápio! Além do mais, o meu apartamento é o lugar mais lógico.


— O palácio dos prazeres, claro. — Admita. Ele tem lá seus confortos. Cynthia pensou no grosso tapete de pele de carneiro da sala de visitas, depois na banheira de mármore do banheiro. Acabou achando boa a idéia. — Pode ser — concedeu, meio hesitante, meio excitada. — Ótimo. Eu a pegarei às... — Não! Vou com o meu carro. — Assim terá meios de escapar, claro. — Minha sopa está esfriando, Worth. — Covarde! — ele gritou, enquanto Cynthia desligava o telefone. Mal teve tempo de terminar seu precário almoço, a secretária anunciou a consulta das treze horas. Era Sheryl Davenport. — Entre — Cynthia levantou-se para cumprimentar a moça. — Como conseguiu dispensa da escola? — Eu disse a eles que tinha uma consulta com o dentista. — Sente-se. Como está se sentindo? — Cynthia voltou à cadeira atrás da escrivaninha. — Enjoando todas as manhãs. — Parece que perdeu peso. — Notou as olheiras da jovem. Um bom remédio poderia aliviar seu enjôo, mas esse era o menor dos problemas de Sheryl. — Como estão as coisas? — Não muito bem. Meu pai vem me pressionando para que eu me inscreva em um curso preparatório para as universidades. Está pensando no meu futuro e eu, no que fazer com a minha gravidez! — Então ainda não contou nada aos seus pais? — Não. Estaria morta se tivesse feito isso. — Não fale bobagens, Sheryl. Isso não é verdade. — É, sim! — a jovem exclamou arrasada. — Sra. McCall, não sei o que vou fazer. — Leu os folhetos que lhe dei? — Li. — Mas, nem assim chegou perto de uma decisão? Sheryl sacudiu a cabeça. — Acho que quero entregar o bebê para adoção, sabe, do tipo onde se pode ver a criança periodicamente.


— Adoção aberta. — Isso. Gostaria que meu bebê me conhecesse, soubesse que eu vou amá-lo sempre, que o entreguei a outra família não porque não gostasse dele. Mas quando me imagino contando aos meus pais sobre esta criança, eu... acho que não vou conseguir contar. — Sheryl começou a chorar. Pelo resto da consulta, Cynthia tentou aliviar o medo e desespero da moça. Não foi fácil. Quando o tempo de consulta terminou, ela mesma estava exausta. Tanto que nem se divertiu muito com o cartão bem-humorado que Worth lhe enviara pelo correio. Quando entrou em seu escritório, na quinta-feira de manhã, encontrou um buquê de rosas vermelhas enfeitando a escrivaninha. — São do sr. Master? — a secretária perguntou, curiosa, enquanto Cynthia abria o cartão. — Não — ela respondeu, sorrindo. — São de outra pessoa. — Deve ser bom ter tantos admiradores! Depois que a moça voltou ao seu posto, Cynthia leu o cartão novamente: Que as rosas mais bonitas são as vermelhas E os olhares sob as velas, mais profundos Isso tudo eu sei de cor. Por isso já não tenho dúvidas: Se entre estranhos é tão bom... Entre amigos será muito melhor! Ela estava rindo quando Josh entrou na sala emanando charme e um aroma de sabonete anti-séptico. Seu bom humor sumiu, contudo, quando ele notou o rico buquê. — Rosas vermelhas... Cynthia guardou o cartão dentro do bolso do avental, os lábios curvados em um sorriso. — Aniversário? — Josh quis saber. — Nenhuma data especial. — De alguém que eu deva saber? Ela ficou olhando para o homem à sua frente por um momento, depois soltou um suspiro. — Talvez. As flores foram enviadas por alguém de quem gosto muito. — Um homem, por acaso? — Isso mesmo. Gostamos um do outro, por sinal. Mas, mesmo que não houvesse essa pessoa especial em minha vida, isso não faria a menor diferença. — Diferença no quê?


— No nosso relacionamento. O médico exibiu um sorriso que aumentou ainda mais a beleza de seu rosto. — Entendo. — Não, Josh, não entende. O que estou dizendo é que você e eu já fomos além do que deveríamos... Espero que compreenda. Josh continuou a fitá-la, confuso, como se achasse impossível aceitar que uma mulher preferisse outro homem. Aquilo devia ferir demais o seu ego. Cynthia não se sentiu acanhada em pedir friamente que ele saísse do escritório. Indignado, o médico sacudiu a cabeça, como se estivesse lidando com uma desequilibrada, e deixou a sala. Depois disso, o resto do dia foi ameno. Antes de ir para casa, naquela tarde, Cynthia aspirou o perfume de uma das rosas e decidiu levá-la consigo. Meia hora mais tarde, usava sua chave para destrancar a porta de um dos escritórios da Lansing & McCall. Worth havia se recusado a aceitar a chave de volta quando Tim morrera. Já que ela contava com uma participação nos negócios, ele insistira para que ela se sentisse livre para vir e ir a qualquer momento. Esta era a primeira vez, contudo, que ela exercia essa liberdade. Como esperara, o escritório se encontrava vazio. A antiga máquina de escrever da sra. Hardiman estava coberta, e a luminária de sua escrivaninha, apagada. Cynthia passou pela ante-sala e encontrou a porta do escritório de Worth. Sentindo-se como uma ladra, pisou de leve sobre o carpete e colocou a rosa em cima da mesa, ao lado de um bilhete de agradecimento, que havia escrito em papel especial. — Parada! Assustada, ela se voltou. Worth estava à porta do banheiro, fazendo cara de policial e apontando um dedo como se fosse um revólver. — Você quase me mata de susto! — Por que está espionando meu escritório? — Onde está a sra. Hardiman? — Saiu mais cedo. Eu estava me preparando para sair, também. Seus sorrisos indicavam o quanto estavam felizes por terem se encontrando. Ele abaixou a arma e, por diversos momentos, ficaram apenas rindo um para o outro. — Eu vim lhe agradecer as rosas. Eram lindas e precisavam ser compartilhadas.


Worth caminhou até a escrivaninha, pegou a rosa e leu o bilhete de agradecimento em voz alta: — "Sua veia poética precisa ser estimulada". — Caiu na risada. — Bem ruinzinhos os meus versos, não? — Não importa. O que vale é a criatividade... E a intenção. Mais uma vez, ficaram sorrindo um para o outro. Cynthia foi a primeira a se recuperar daquele transe e começar a deixar a sala. — Bem, foi por isso que vim. Agora estou indo embora. Não quero me atrasar para pegar Brandon na escola. — Espere um segundo... Desço com você. Worth acionou o alarme e os dois saíram juntos. No corredor, conversaram sobre amenidades: o tempo, seus respectivos empregos, a semana escolar de Brandon, porém, todo o tempo, cientes da mão dele nas costas dela. Cynthia reparou no modo como ele carregava o paletó sobre o ombro, usando um dedo como gancho. Ele gostou do modo como o cabelo dela caía de lado sobre os ombros. Ele parecia mais bonito do que nunca. Os quadris dela ficavam incríveis debaixo daquela saia... Cynthia entrou no elevador e se recostou a uma das paredes. Worth se posicionou no lado oposto, uma das mãos ainda segurando o paletó, a outra no suporte que havia no interior do cubículo. Enquanto desciam, seus olhos permaneceram presos. Nenhum outro passageiro entrou. Um pouco antes de chegarem ao piso da garagem, Worth jogou o paletó no chão e apertou o botão vermelho de emergência. A súbita parada pegou Cynthia desprevenida e ela se agarrou ao corrimão de metal. No momento em que recuperava o equilíbrio, Worth a tinha encurralado em um canto. Seus braços estavam em volta de sua cintura, puxando-a para junto do corpo, a boca buscando os lábios dela. A sensação de estar flutuando não tinha nada a ver com a descida do elevador, mas com o desejo que a levara a um ponto sem volta. Era uma sensação maravilhosa que, ao mesmo tempo, a desorientava. Cada beijo era mais ardente que o anterior. O desejo de um se equiparava ao do outro. Worth enfiou a mão por baixo da jaqueta que ela usava e abriu os botões da blusa. Soltou um gemido ao ver os seios redondos arfando sob o decote do sutiã ousado. — Estou vivendo uma fantasia — confessou, respirando com dificuldade enquanto deslizava o dedo pela pele de Cynthia, depois massageava o mamilo por baixo do sutiã.


Ela segurou o rosto dele com as mãos e, em um gesto ousado, puxou-o mais para baixo, querendo senti-lo em seu corpo. Também tinha seus desejos, pensou, com um suspiro. — Quero sentir mais o gosto de sua pele — Worth gemeu, a língua varrendo os mamilos túrgidos. — O que está esperando... — Cynthia ofegou, entontecida. As carícias faziam sua pele arder, o corpo ser tomado pelo desejo, a cabeça zunir enlouquecedoramente. Vários segundos se passaram antes que ela percebesse que o zunido era do dispositivo disparado por alguém querendo tomar o elevador em algum dos andares acima. Worth deu um passo para trás e, meio confuso, começou a abotoar sua blusa, atabalhoadamente. Tinha o rosto vermelho, o peito ofegante. Ela sabia que devia estar igual, pois podia sentir o sangue correr pelas veias. — Pronta? — ele a consultou. Ela fez sinal que sim, e arrumou os cabelos com mãos trêmulas. Com um suspiro, Worth colocou o elevador novamente em movimento. Felizmente, não havia ninguém esperando pelo elevador na garagem. Saíram e caminharam, distraídos, em direção ao carro de Cynthia. Com um sorriso, ele pegou as chaves das mãos dela e abriu a porta do motorista cavalheirescamente. Cynthia entrou e colocou o cinto de segurança. Worth lhe passou as chaves, então, e inclinou-se para beijá-la nos lábios. — Vejo você amanhã à noite. Ela respondeu com um sorriso, depois deu a partida. Worth abriu a porta com o coração aos saltos. — Olá. Ele sorriu, os olhos percorrendo-a dos pés à cabeça. — Está maravilhosa. — Obrigada. Ele estendeu a mão e, entrelaçando os dedos nos de Cynthia, a fez entrar. Afastou-se um pouco, olhando-a com mais atenção. — Realmente fantástica. Acanhada, ela abaixou os olhos, embora soubesse que se esforçara para estar assim tão bem, depois de deixar Brandon na casa do amiguinho. Fizera as unhas das mãos e dos pés no salão de beleza, onde também passara por uma depilação. O banho com sais perfumados havia sido longo e luxuriante. Tinha levado um tempo enorme se maquiando, até se sentir satisfeita com o resultado. O vestido novo também fora outra extravagância, mas se obrigara a relevar o preço


ultrajante, lembrando a si mesma que não comprava uma peça daquelas havia muito tempo. O jersey negro modelava o seu corpo deliciosamente, e o decote em "V" era ousado. Um colar de pérolas, contudo, o tornava um pouco mais respeitável. — Está quase perfeita demais para ser tocada — decidiu Worth. — Quase. — Avançou um passo, pedindo um beijo. Cynthia moveu a cabeça, ansiosa, e em vez de se beijarem, bateram com os narizes. — Você vai para a sua direita e eu vou para a minha esquerda, está bem? — ele instruiu, rindo. — Está bem. O beijo foi terno e doce. — Pronta para uma bebida exótica? — murmurou Worth, roçando os lábios nos dela. — Reminiscências de Acapulco? — Estou dando o melhor de mim. Ele a levou para a sala de visitas, fez com que se sentasse no sofá de couro branco, e seguiu para a cozinha. Tinha preparado o ambiente para seduzi-la: ouvia-se uma música romântica vinda do aparelho de som, lâmpadas indiretas formavam pequenas piscinas douradas em meio à penumbra que reinava no apartamento. A mesa de jantar fora arrumada com uma bela toalha e, sobre ela, havia peças de porcelana com desenhos exóticos de pássaros do paraíso. No centro, um vaso com lírios do campo. — Droga. — O que foi? — Cynthia franziu a testa. — Já estou indo. Curiosa com a demora e evidente exasperação dele, ela deixou o sofá e se reuniu a Worth na cozinha, onde ele amaldiçoava um eletrodoméstico. Parecia um instrumento de tortura desenhado por um malvado dentista ou, possivelmente, um vibrador esquisito. — O que é isso? — Comprei alguns dias atrás. É um mixer, mas não sei exatamente como funciona. — Enquanto falava, Worth tentava ligar o aparelho. — Já leu as instruções? — Não. Mas não pode ser difícil. Ela revirou os olhos. — Onde está o manual? — Joguei fora com a caixa. Cynthia mordeu o lábio para não fazer nenhum comentário.


— Por que não usa um misturador comum, então? — Levei o meu antigo para o escritório quando comprei este. — Gosto de bebidas com gelo — ela comentou, sorrindo. — E mesmo? — Verdade. Ele suspirou, aliviado. Entregou o aperitivo para Cynthia, e se decidiu por um uísque. Começou a servir o prato principal, então. — Paguei quarenta dólares por estes filés... Não que eu me importe com a despesa. Apenas espero que estejam macios, mas, depois do fracasso do meu misturador, não garanto nada. — Tem certeza de que bastava aquecê-los? — Ela riu. Worth havia contado a ela, naquela tarde, que adquirira seu jantar em um dos restaurantes mais luxuosos da cidade. Agora, Cynthia engolira um pedaço que havia mastigado por tanto tempo, que seu maxilar doía. A carne estava dura como sola de sapato e ainda tinha um gosto amargo. — Isso porque recebi as instruções diretas do chef, e ele me garantiu que a carne estaria magnifique... — Worth beijou os dedos, imitando com raiva o cozinheiro francês que lhe tinha vendido não somente os filés, mas também outros petiscos. — Não estou com muita fome, mesmo — ela mentiu. Tinha marcado uma consulta durante a hora do almoço, para não sentir peso na consciência por sair mais cedo, já que queria passar pelo cabeleireiro, e não havia almoçado. Tampouco comera um pedaço da pizza que dera a Brandon antes de levá-lo para a casa do amigo. Se Worth não estivesse tão bravo por não ter conseguido preparar as bebidas como desejara, e oferecer um jantar decente, ela iria sugerir que fossem à geladeira e preparassem sanduíches. — Lamento pelos filés — ele se desculpou, jogando o guardanapo de lado com um suspiro. — Esqueça. Vamos tomar apenas o nosso vinho... Oh, Deus! — Ao se levantar, o salto do sapato enroscou no carpete oriental que havia debaixo da mesa e Cynthia perdeu o equilíbrio, virando a taça. O copo não quebrou, mas o vinho se espalhou pelas fibras do tapete. Cynthia caiu de joelhos no chão. — Worth! Não acredito que fiz isso. Dê-me um guardanapo, depressa — pediu e, abaixando-se, aflita, esfregou a mancha freneticamente. — O que é bom com vinho? — indagou, sem graça.


— Queijo — ele respondeu tristemente. — Eu me refiro a tirar manchas de vinho. Club soda? Vinagre? Talvez se colocarmos uma toalha com água fria e... — Deixe isso para lá, Cynthia. — Ele a ajudou a se levantar. — Tenho certeza de que a faxineira pode tirar essa mancha. Ou um tintureiro, talvez. — Worth, que horror... — Ela quase chorou. Ele tinha dispensado uma namorada por causa de um papel de bala e agora ela acabara de arruinar um tapete caríssimo. — Lembro-me quando você comprou este tapete... Estava tão orgulhoso dele! Cynthia abriu os braços em desespero. Worth aproveitou para puxá-la para si e beijá-la no pescoço. — Esqueça esse maldito tapete, Cynthia. O que importa 6 que está aqui e vamos fazer amor. Ela o fitou por alguns instantes, acariciando-o nos cabelos. — Jura que não ficou aborrecido? Ele lhe deu um longo beijo. — Juro. Puxando-a pela mão, ele a levou para o quarto. Cynthia aproximou-se do aposento com certa cautela. Mais de uma vez provocara-o, dizendo que o quarto era sexy demais. Os lençóis, por exemplo, eram de seda. E as laterais da cama tinham espelhos até o teto. Seu coração disparou. Este quarto, ela sabia, havia sido palco de muitas seduções. E ela queria ser diferente das outras mulheres que haviam estado ali. Queria que aquela noite ficasse na memória de Worth pelo resto de sua vida... Voltou-se para ele. Depois de alguns beijos castos, passaram a se beijar lascivamente até que ela se agarrou aos ombros largos e arqueou o corpo tomado pelo prazer. — Por que não tira a roupa? — Worth sugeriu com um sorriso de lado. Ela umedeceu os lábios, nervosa, depois fez que sim com a cabeça. Ele se ajoelhou à sua frente e a ajudou a tirar os sapatos, um gesto que lhe pareceu excepcionalmente doce, porém intensamente sensual. Levantando-se, Worth a abraçou e procurou ajudá-la com o zíper do vestido. Encontrou-o, mas não conseguiu descê-lo. — Espere... — ela sugeriu, movendo as mãos para o lado. Ou pelo menos tentou movê-las para o lado, pois o relógio de pulso que ele usava enroscou no tecido do vestido. — Estou preso! — exclamou Worth.


— Não se mexa — instruiu Cynthia, aflita. Passou por baixo do braço dele, que conseguiu finalmente livrar o relógio e abrir o zíper. O vestido deslizou para o chão, mas o clima tinha sido prejudicado pelo incidente e a sensualidade entre eles diluiu. — Tomara não tenha estragado demais o vestido. — Ele suspirou, mas era evidente que havia corrido um fio. — Não muito. — Desculpe. — Esqueça. Worth tirou a jaqueta com um suspiro e a colocou sobre o braço de uma cadeira. Cynthia, lutando para restaurar o clima romântico, ajudou-o a tirar a camisa. Com o peito nu, ele a fitou, levando a mão dela aos lábios, para em seguida colocá-la sobre o coração. — Você é tão bonita. Ela sorriu, tímida. — Você também. — Quero você agora. Ela fechou os olhos e pendeu a cabeça para trás em um convite. — Onde quer que eu a toque?... Aqui? — Roçou um seio, que se encontrava tentadoramente escondido debaixo de um sutiã preto de renda. — Ou aqui?... — Deslizou os dedos por sob o decote, encontrando o mamilo. Sua outra mão começou a deslizar sobre o ventre reto e chegou ao seu ponto mais feminino. — Que tal aqui?... Acariciou-a leve, porém firmemente, e ela soltou um gemido. — Por que isso me deixa tão fraca? — indagou incoerentemente, enquanto ele a tomava nos braços e a carregava para a cama. Depois de deitá-la gentilmente sobre os travesseiros de cetim, levantou-se apenas o suficiente para terminar de se despir. Cynthia suspirou. Worth era lindo. Tinha o corpo perfeito e bronzeado. Nu e visivelmente excitado, ele se estendeu ao seu lado feito um gato. Tornaram a se beijar, então, e de uma forma tão intensa e sensual, que terminaram gemendo. Ajoelhando-se, Worth começou a despi-la devagar, reparando com olhos semicerrados nas meias rendadas, no sutiã de taça, nas calcinhas minúsculas e transparentes. Sentiu o ar lhe faltar. — Preciso que me toque, Cynthia...


Timidamente, ela deslizou a mão pelo peito largo e coberto de pelos sedosos. Worth gemeu de prazer quando ela começou a lhe massagear os mamilos. — Mais abaixo... Por favor... Parecendo frágil contra o corpo masculino, sua mão delicada seguiu o caminho do abdômen reto, chegou aos quadris estreitos e se deteve no membro rijo. Envolveu-o timidamente, depois com mais força, e Worth deixou escapar um gemido. Foi então que o telefone tocou e ele fez uma careta de dor, tombando para o lado. — Oh, Deus... — Cynthia gemeu, pensando tê-lo machucado com o susto. — O que foi que eu fiz? Worth! Ele se contorceu todo sobre os travesseiros, rolando de um lado para o outro. — Minha perna... Diabos, como isso dói! Condoendo-se por vê-lo assim, ela mordeu o lábio inferior, sem saber o que fazer. O telefone tocava pela quarta vez. Aliviada em saber que não tinha sido ela a causa da dor que ele sentia, pegou o fone e o levou ao ouvido. — Alô! Residência do sr. Lansing... — É a sra. McCall? — Sim? — Ela franziu a testa. Quem poderia estar ligando para ela ali? — Aqui é do serviço de recados. A senhora nos deixou esse número em caso de uma emergência. — É verdade! O que aconteceu? — Está melhorando agora — Worth disse ao seu lado, rangendo os dentes, enquanto tentava flexionar o músculo para se livrar da cãibra. — A polícia ligou e... — Polícia?! — Cynthia quase gritou. — Aconteceu alguma coisa com Brandon ou com minha mãe? — Não, senhora...O major Burton não disse nada a esse respeito. — Major Burton? — Sim. Ele deixou um número e pediu que a senhora ligasse imediatamente. Cynthia rolou na cama e abriu a gaveta do criado-mudo em busca de caneta e papel. — Está bem, pode falar. — Anotou o número que a operadora lhe dava na primeira página de um pequeno livro de endereços de Worth. — Obrigada. Encerrou a conexão e começou a discar os números anotados.


— Quem era? O que aconteceu? — Worth estava agora massageando o calcanhar, embora olhasse preocupado para Cynthia. — Meu serviço de recados. Um policial está tentando falar comigo. — Um policial? Por quê? — Não sei. Alô?! — O chamado foi atendido ao primeiro toque. — Major Burton? Aqui é Cynthia McCall. — Sra. McCall — o homem gritou acima de um barulho forte ao fundo. — Obrigado por retornar minha ligação. Estou na casa dos Davenport, aqui em Bent Tree. A filha deles, Sheryl, está trancada em seu quarto há horas e se recusa a abrir a porta. Cynthia passou as mãos pelos cabelos, profundamente aliviada por não haver nada errado com o filho ou com a mãe. — Sheryl está bem? — quis saber, preocupada. — Pelo que sei, até agora está, mas parece perturbada. Encontrei o seu cartão na bolsa da garota e pensei que a senhora poderia nos ajudar. — O senhor disse que ela está trancada em seu quarto? — Isso mesmo. Seus pais estão tentando convencê-la a sair de lá, mas Sheryl se recusa a abrir a porta. — Ele abaixou o tom de voz. — Temo que ela vá fazer algo drástico... Está me entendendo? Cynthia sentiu o estômago doer. — Sim, entendi. Qual o endereço? E como chego aí saindo de Turtle Creek? Depois de anotar o caminho, ela desligou e começou a correr pelo quarto para se vestir. Percebendo a urgência da ligação, Worth já tinha vestido as calças e sapatos, e estava em busca do suéter. — Uma das meninas que me procurou no hospital está com problemas — Cynthia contou, ligeiramente ofegante. — Tenho de ir até a casa dela. — Eu dirijo. Cynthia parou de se vestir e olhou para Worth, sabendo, naquele instante, que o amava. Ele não havia feito qualquer pergunta. Não a pressionara por uma explicação. Simplesmente se predispusera a ajudar, sem se mostrar aborrecido diante do problema que atrapalhara seus planos. Como no dia em que Tim havia sido declarado morto, ainda na cena terrível do acidente, Worth estava ali agora, oferecendo a ela sua ajuda incondicional. Desejou ter tempo de dizer a ele o que lhe passava pela cabeça, mas, nas circunstâncias, limitou-se a encher os pulmões de ar. — Obrigada — disse apenas.


CAPÍTULO VII

Chegaram à casa de Cynthia bem depois da meia-noite. Worth não perguntou se podia entrar. Simplesmente desceu com ela do carro. Ela, por sua vez, também nem pensou em impedi-lo. Foi ele quem abriu a porta dos fundos e acendeu as luzes da cozinha. — Sua fome é tão grande quanto a minha? — ela perguntou, rindo. — Estou quase desmaiando, para falar a verdade. O que tem aí? — Deixe-me ver... Sanduíches de queijo. — Perfeito. Melhor do que os meus filés de quarenta dólares, pelo menos — ele resmungou, enquanto passava manteiga no pão. Cynthia reprimiu um sorriso. — Como já imaginávamos, esta noite vai ficar na história... Eles se olharam através da mesa, então desataram a rir. — Foi um desastre! — exclamou Worth, abrindo os braços em um gesto indignado. — Arruinei o seu tapete! — E eu, o seu vestido! — O tapete custa mil vezes mais, Worth... Mas aquele foi o menor dos danos. Não imagina como fiquei quando pensei ter feito alguma coisa errada com seu... — Ela explodiu em uma gargalhada e precisou enxugar as lágrimas. — Quando você começou a rolar na cama daquele jeito, quase tive um ataque cardíaco. Pensei que tinha castrado você de algum modo. Worth se apoiou na mesa para rir. — Na hora, não me ocorreu o que você poderia estar pensando. Pensou que... — Ele parou de falar, pois foi sacudido por outro ataque de riso. — Pobre Cynthia... Eu deveria tê-la avisado. Algumas vezes tenho cãibras durante a noite, principalmente se exagero no esporte durante a semana... — Eu podia ter ficado sem essa — ela observou, inconformada. Quando as risadas finalmente cederam, Worth pegou a mão dela por cima da mesa. Suas palmas se uniram e os dedos se entrelaçaram. — Você foi fabulosa, Cynthia. Realmente um espanto. Como ela o olhasse sem entender ao que ele se referia, Worth explicou: — O modo como lidou com a situação na casa dos Davenport. Quero que saiba que agora, mais do que nunca, tem todo o meu respeito e admiração.


Ela suspirou profundamente. As gargalhadas de um momento antes tinham sido uma espécie de catarse para aliviar a tensão causada pelo problema com os Davenport. — Estou feliz que pense assim, Worth, mas não creio que mereça elogios. — Estivera tremendo o tempo todo, com medo de tornar a situação de Sheryl ainda pior. — Não — ele disse, sacudindo a cabeça. — Você foi incrível indo até lá para ajudar a garota. — E tenho de agradecer a você por isso — ela o lembrou. Quando haviam chegado à mansão dos Davenport, a cena era pior do que Cynthia tinha imaginado. Vizinhos curiosos alinhavam-se na avenida onde cada casa valia uma fortuna. Vários carros de polícia tinham escutado o alarme de segurança e demoraram a descobrir que a comoção se devia ao fato de a menina haver se trancado aos gritos em seu quarto. Desesperada, como a própria Sheryl contara mais tarde, e sem saber mais o que fazer, ela perdera totalmente o controle e tinha começado a gritar, quebrando o que via ao redor. O sr. e a sra. Davenport, por sua vez, pareciam mais preocupados com a atenção dos vizinhos do que com o bem-estar da filha. Quando Cynthia subira as escadas e se apresentara ao major Burton, o pai de Sheryl havia exigido saber quem ela era, e com que direito invadira a privacidade da família. — Fui eu quem ligou para a moça, sr. Davenport — o policial viera em sua defesa. — Por quê? — Tenho procurado ajudar sua filha a resolver um problema — ela tentara explicar com voz calma, apesar de apavorada com o que pudesse estar acontecendo dentro do quarto trancado. A voz de Davenport soara cheia de autoridade. — Se minha filha tem algum problema, deveria ter procurado a mãe ou a mim! — Não necessariamente. — Ora, escute aqui, mocinha... — Escute aqui o senhor. — Worth havia segurado o homem pelo braço, e lhe dito, cara a cara, que Cynthia iria tentar convencer Sheryl a abrir a porta, gostando ele ou não. — Foi para isso que ela veio, e é exatamente isso o que vai fazer! Assim, saia do caminho e a deixe fazer seu trabalho. Vários oficiais, incluindo o major Burton, pareceram satisfeitos que Worth tivesse sido duro com o cretino que, até o momento, só tentara intimidá-los.


— Desculpe se me intrometi, mas não gostei do jeito que aquele imbecil falou com você — Worth resmungava agora, deixando a mesa e indo até a geladeira pegar leite. — Pensei que fosse cuspir fogo pelas ventas... — ela comentou, rindo. — Eu gostaria de ter dado um murro nele. — Fico feliz que não tenha feito isso... Mas obrigada por me defender. — Na realidade, se alguém tinha de ser defendido era Davenport — Worth disse, rindo. — Seus olhos faiscaram tanto para o homem quando ele a contradisse, que pensei que fosse atacá-lo com unhas e dentes. — Encheu dois copos de leite e estendeu um para Cynthia. — Não espero que discuta o dilema de Sheryl comigo, mas seja o que for que disse a ela, levou a um milagre. Mal acreditei quando ela desceu e anunciou àqueles dois cretinos, com a maior calma do mundo, que estava grávida de dois meses. Cynthia tomou um gole de leite. — Quando Sheryl me deixou entrar, a primeira coisa que notei foi um frasco de pílulas para dormir sobre a mesa-de-cabeceira. Ela não tinha tomado nenhum comprimido, mas me confessou que pensou em engolir tudo para não ter de contar aos pais sobre o bebê. — Então evitou uma tragédia. — Sheryl fez isso por si mesma. — Ela podia ter feito uma besteira se você não tivesse ido até lá. Cynthia sacudiu a cabeça devagar. — A pobrezinha me disse que não se importava mais em viver ou morrer... Apenas não queria matar a criança. — Cynthia sentiu os olhos se encherem de lágrimas. — Concordei que a gravidez era uma razão nobre para que ela não cometesse suicídio, mas que a vida dela também tinha importância e devia ser salva. Worth estendeu a mão e a puxou da cadeira, fazendo com que ela se sentasse em seu colo. Cynthia encostou a cabeça no ombro largo, e ele a envolveu nos braços. — Nunca mais vai dizer que seu trabalho não é importante, escutou? — Sua voz soou severa, mas, ao mesmo tempo, Worth lhe acariciava os cabelos e a beijava com carinho. — Não sou assim tão fabulosa, Worth — ela retrucou. — Os problemas de Sheryl são reais, capazes de mudar a sua vida. Os meus, em comparação, não são nada e, no entanto, semanas atrás eu estava reclamando da vida, desejando que algo drástico acontecesse... Depois do vi esta noite, sinto-me envergonhada. Não me surpreende que minha mãe tenha se irritado tanto comigo na época. Estava sendo egoísta demais.


— Não seja tão dura consigo. Somos todos egoístas no que se refere ao amor, Cynthia. — E era tudo o que Sheryl realmente queria, não é? Amor. Ele concordou em silêncio. — E tudo o que eu sempre quis, também — ela murmurou, introspectiva. O que estivera lhe faltando na vida, e a deixara tão inquieta e insatisfeita, fora um modo de extravasar todo o potencial erótico e romântico que havia reservado ao marido e ainda tinha guardado dentro de si. Ao se ver sem Tim, ficara perdida. — Ainda bem que tenho recebido muito amor ultimamente — ela disse, sorrindo. — Amor de minha mãe, de Brandon. — Endireitou o corpo e sorriu para Worth. — E tenho o melhor amigo que poderia desejar. — Josh Masters, claro. E não se esqueça de que tem a mim também. — Seu bobo... Worth se levantou, levando-a consigo. — Ande estamos indo? — Para a cama. Você me parece quente. — E mesmo? — Ela ensaiou um sorriso. — Se seu melhor amigo não cuidar de você, quem o fará? — Estou exausta — Cynthia confessou. — Pois vai ter seu descanso esta noite — ele garantiu, entrando no quarto dela. — Vá se trocar, eu preparo sua cama. Ela deixou as roupas em um cesto no banheiro e vestiu uma camiseta comprida. Descalça, voltou para o quarto. — Já para baixo dos lençóis. — Ele levantou a roupa da cama com um ar severo, e Cynthia obedeceu prontamente. Worth apagou a luz, deixando o quarto no escuro. Segundos depois, o colchão rangeu sob o seu peso. — Worth... — Sim? — Ele a puxou para junto do peito, acariciando-lhe o rosto, os ombros, as costas. — Eu estava com tanto medo — ela murmurou. — Shh... Eu sei. Mas se saiu como uma verdadeira profissional, e todos estão a salvo. Cynthia soltou um longo suspiro e depois sorriu, satisfeita. — Eu te amo, sabia?


— Eu também. Ela suspirou. Não estava falando sobre amizade e Worth precisava entender isso. Mas estar em seus braços era tão relaxante, tão delicioso, que fechou os olhos e adormeceu sem começar qualquer discussão. Quando acordou na manhã seguinte, Worth lhe acariciava a orelha. — Worth? — É melhor que seja eu mesmo. Mantendo os olhos fechados, Cynthia sorriu. O som da voz dele, tão baixa, tão próxima, e tão preciosa para ela, deixaram-na cheia de felicidade. — Que horas são? — Isso importa? — Acho que não. — Então vire-se. Já acariciei demais este lado. Ela fez o que ele pedia. Quando abriu os olhos, o rosto sorridente de Worth estava inclinado sobre o dela. Estava barbudo, despenteado, e incrivelmente bonito. — Adoro acordar a lado de uma mulher linda — disse, com ar de malandro. Cynthia riu. — Então, o que está fazendo aqui? Rindo, ele levantou a camiseta que ela usava e, mais uma vez, deslumbrouse com a beleza de sua nudez. — Ahá! Exatamente como pensei: linda e sexy! — Você é maluco. — Há uma razão para isso. — Qual? Genes defeituosos? — Estou excitado há horas. Ela o olhou, travessa. — Ah, então era isso... Pensei que havia me deitado sobre um martelo. Divertindo-se com o bom humor de Cynthia, ele se espreguiçou. — Bom dia. — Bom dia para você também. Ela gemeu suavemente quando ele envolveu o seio dela com uma das mãos, depois sugou o mamilo rosado. Passou a acariciá-lo com a língua, até que ela não conseguiu agüentar mais e o agarrou pelos cabelos. O rosto barbado roçou sua pele enquanto ele abaixava a cabeça. Cynthia se moveu como uma felina quando ele lhe beijou a área sensível entre as coxas e o delta de suaves pêlos castanhos.


— Worth... — murmurou, acanhada, e tentou fechar as coxas inutilmente. Ele sorriu de leve e as segurou com firmeza. Queria que Cynthia vencesse cada inibição. Continuou a beijá-la, gentil e persistentemente, tentando mostrar que aquilo era mais uma demonstração de amor. Cynthia não demorou a chegar ao orgasmo, porém Worth não se deu por satisfeito e voltou a usar a língua. — Worth, eu não posso mais... — Pode, sim. — Continuou sua exploração até que ela voltou a explodir, tremendo violentamente. Com um suspiro, ele deslizou pelo corpo quente, para acariciar os cabelos soltos que agora cobriam seu rosto. — Sempre gostei de você, Cynthia — confessou com voz rouca. — Desde o momento que nos conhecemos, achei você linda, divertida e doce. Quando nossa amizade aumentou e a conheci melhor, passei a amá-la... Com respeito, como deveria ser com a esposa fiel e adorável do meu melhor amigo. Não me lembro de ter visto uma cena mais bonita do que no dia em que amamentou Brandon, depois o trouxe nos braços do hospital para casa. Admirei-a pela coragem que demonstrou quando Tim foi morto. Agradeci aos céus que nossa amizade tenha continuado mesmo depois de ele não estar mais conosco. Alguma coisa nos mantinha juntos, mas nunca parei para perguntar o que era. — Começou a lhe massagear os ombros e as costas. — Então fomos ao México. — As mãos dele deslizaram pelas curvas de seu corpo, pelos quadris, chegando aos seios macios. — Juro, Cynthia, nunca senti tanto desejo por uma mulher... nem me senti tão culpado por causa disso. Passei a vê-la sob uma nova luz, de uma forma como nunca antes tinha visto. — As mãos não paravam um só instante. — Você se tomou subitamente a mulher mais desejável que conheci na vida... Parei de vê-la como a viúva de meu bom amigo, e passei a enxergá-la como uma mulher com quem eu queria fazer amor desesperadamente. Você é divertida, inteligente, sensível, carinhosa... E sexy ao extremo. Eu me apaixonei — concluiu simplesmente. Ao ver as lágrimas correndo por seu rosto, ele se alarmou. — Cynthia? — Eu estava errada — ela disse com a voz trêmula pela emoção. —Você é um poeta. Worth a cobriu de beijos, depois enterrou o rosto no colo perfumado. — Ah, Deus, eu te amo. — Como amiga? Ele ergueu a cabeça sorrindo, depois deslizou o corpo para dentro dela com um suspiro. — Como a mulher da minha vida.


A cozinha estava uma bagunça. Saída do chuveiro e vestida com um roupão, Cynthia lavava um prato na pia quando ouviu o barulho da porta dos fundos. Virou-se e viu Ladonia entrar, seguida de Charlie. Deixou cair o prato, que se espatifou no chão. — O que estão fazendo aqui?! Pensei que ainda estavam em Maui. — Mudamos nossos planos — Charlie anunciou, colocando a mala no chão e fechando rapidamente a porta contra o ar frio de outono. — Por quê? — Para ver qual era o problema — Ladonia respondeu. — Cynthia, o que está acontecendo? — Por que pergunta isso? — Tentei ligar para você no trabalho, ontem, e eles disseram que você tinha saído mais cedo. — Mas vocês estavam em lua-de-mel! Por que me telefonou? — Porque decidimos passar alguns dias em Las Vegas e queríamos avisar. — Mesmo sem conseguirmos falar com você, tomamos o avião para Los Angeles na noite passada — Charlie contou. — Telefonei novamente quando chegamos ao nosso hotel, já tarde da noite e, mais uma vez, não consegui encontrá-la. Deixei diversas mensagens em sua secretária eletrônica. — Eu me esqueci de olhar — Cynthia admitiu timidamente. — Onde esteve na noite passada? Tentei ligar para Worth, e perguntar se sabia de alguma coisa, mas ele também não estava em casa. Esta manhã, tentei ligar para cá e ninguém atendeu. Ou melhor, o telefone esteve ocupado pelo menos por umas duas horas! — Bem, eu... queria dormir até mais tarde. Worth tirara o telefone do gancho para não serem interrompidos enquanto faziam amor. E haviam feito isso muitas e muitas vezes. — Foi então que decidi ligar para o seu serviço de recados — Ladonia continuou — e a operadora contou que você tinha recebido uma ligação de um policial na noite passada. Charlie tomou a palavra. — Ladonia quase teve uma síncope quando ouviu isso. Por isso decidimos tomar o avião para Dallas em vez de para Las Vegas. — Mas vocês não deviam ter feito isso! Está tudo bem. A chamada do policial se referia a uma paciente minha do hospital.


— Onde está Brandon? — Dormindo na casa dos Lattimore. — Graças a Deus. — Ladonia se apoiou no marido, profundamente aliviada. — Eu estava morta de preocupação. Não podia imaginar... Cynthia seguiu os olhares surpresos dos recém-casados em direção à porta. O cabelo de Worth ainda estava molhado do banho e ele usava apenas uma toalha em volta dos quadris. — Bom dia para todos — saudou alegremente. — O que os dois pombinhos estão fazendo aqui? Por que a lua-de-mel acabou tão cedo? Cynthia abriu e fechou a boca diversas vezes. — Worth tinha de ficar... Chegamos aqui muito tarde e eu... Eu estava começando a preparar o café — conseguiu dizer, por fim. — O que vai ser? Café da manhã ou almoço? Serviram comida para vocês no avião? Não sei bem o que temos em casa, pois não passei pelo supermercado. — Cynthia! — Ladonia chamou com firmeza, interrompendo a filha. — Eu provavelmente deveria repetir o sermão que você me fez, quando encontrou Charlie aqui em casa, mas estou feliz demais para isso... — Voltou-se para o marido, exultante. — Eu ganhei! — Ganhou o quê? — Cynthia fitou a mãe, confusa. — Devo a ela cem dólares — Charlie explicou, mal-humorado. — Apostei com ele que você e Worth estavam loucos um pelo outro, e apenas não tinham percebido isso. Eu estava certa! — Os olhos de Ladonia brilharam. — Mamãe! — Ela abriu a boca, chocada. — Você nos manipulou desse jeito? — Bem, vocês não estavam conseguindo se entender, estavam? — Obrigado, sogrinha. — Worth caminhou até ela e lhe deu um beijo estalado no rosto, para depois enlaçar Cynthia pela cintura. — Não estou pedindo desculpas por ter passado a noite com sua filha, mas quero que você e Charlie saibam: minhas intenções são as melhores possíveis. Vamos nos casar. — Vamos? — Cynthia perguntou, surpresa. — Desde quando? — Eu me esqueci de fazer o pedido? — Ele a abraçou, rindo, depois a virou para ele, fitando-a nos olhos. — Então aí vai: quer se casar comigo, ser minha melhor amiga e o único amor da minha vida? Com os olhos marejados, ela pulou no colo de Worth e o beijou apaixonadamente, quase derrubando a toalha no chão da cozinha. E, como sempre acontecia quando se beijavam, o corpo de ambos reagiu imediatamente.


Worth a empurrou de leve, depois tornou a puxá-la para si, enquanto segurava a toalha atabalhoadamente. — Se nos dão licença... — Olhou para Ladonia e Charlie, mostrando-se constrangido pela primeira vez na vida.

— Papai, quando mamãe vai sair? — Não deve demorar muito mais — Worth respondeu, desmanchando o cabelo de Brandon. Ainda se emocionava cada vez que o menino o chamava de pai. A primeira vez tinha sido logo depois que ele e Cynthia haviam se casado. — Sabe, Brandon — dissera ao menino, falando gentilmente. — Seu pai de verdade era Tim McCall. — Ah, eu sei, mas ele morreu. — Brandon dera de ombros, entristecendo-se por alguns segundos, depois voltara a sorrir para Worth. — Tenho dois pais, então. Tim foi meu pai enquanto eu era um bebê. Agora que sou grande, meu pai é você. Ele havia ficado sem palavras e abraçado Brandon por um longo tempo. Cynthia, que escutara a conversa, ficara com lágrimas nos olhos. Em três meses de casamento, contudo, Worth soube que iria se tornar pai de verdade. Agora, aguardava ansiosamente na sala de espera de um consultório, enquanto Cynthia passava por um exame médico que confirmaria as suas auspiciosas suspeitas. O médico, certamente, não era o dr. Josh Masters. Worth sorriu consigo. Tinha reagido como um bobo ao saber da novidade. Levara Cynthia para jantar fora, depois fizera amor com ela murmurando juras de amor eterno. Agora mal podia esperar para ver um bebê rechonchudo ocupando um quarto na nova casa em que moravam, e que haviam comprado depois de vender a de Cynthia e o "palácio dos prazeres". Para todos aqueles que se dispusessem a ouvir, discursava eloqüentemente sobre os talentos de Cynthia como mãe. Tornarase um especialista em vida pré-natal, e aborrecia todo mundo quando atuava como uma espécie de enciclopédia ambulante, citando tudo que memorizara sobre gravidez, parto, mães e bebês. Ladonia havia dito que ele era o futuro pai mais obsessivo que ela já conhecera. Mas ele a abraçara, e a acusara de ser uma avó igualmente doente pelos netos, o que era verdade. Suspirou. No fundo, apesar de parecer tão confiante, ele, como todos os pais de primeira viagem, estava intimidado. Apavorado, melhor dizendo, com as implicações que rodeavam a gravidez e o nascimento. Mas não podia demonstrar sua intranqüilidade e assustar Brandon. Remexeu-se na cadeira. Olhou ansiosamente para o relógio de pulso e se alarmou ao perceber que Cynthia estava por tempo demais dentro do consultório.


Aquele deveria ser apenas outro exame de rotina. Tanto que ele e Brandon haviam planejado assistir a um filme logo depois do exame. Por que ela estava demorando tanto? Havia alguma coisa errada? — Estou com sede — Brandon reclamou. — Agüente um pouco. Sua mãe não deve demorar. — Mas mamãe está lá há muito tempo. — Está mesmo. Eles já haviam olhado todos os livros e revistas da sala de espera. Worth revirou a pilha de novo e encontrou uma Bíblia para crianças. Abriu-a em uma página e a mostrou para Brandon. — Vai gostar desta história. É sobre um sujeito que foi engolido por uma baleia. — Jonas! — Como é que sabe? — Mamãe já me contou. Mesmo assim, ele começou a ler alto. Antes que o desobediente profeta entrasse na barriga da baleia, Cynthia deixou a sala de exames e se aproximou do marido e do filho. Worth a olhou, meio assustado. Para sua irritação, ela evitou seu olhar. — Pronto para o cinema? — perguntou a Brandon. O menino largou a Bíblia, pulou da cadeira e correu para a porta. Eles o seguiram. — Está tudo bem? — Worth perguntou, preocupado. — Tudo. Ele segurou aberta a porta do carro para que Brandon subisse no banco de trás, mas bloqueou a entrada de Cynthia. — Alguma coisa está errada. — Não, não está — ela insistiu, sacudindo a cabeça. — Cynthia, você não sabe mentir. O que aconteceu? — Não há absolutamente nada de errado — ela falou, enfatizando a palavra. — Então por que não conta como foi o exame? — Estava apenas esperando pelo momento certo. — Este é o momento certo. Ela respirou bem fundo. — Bem, você sabe como eu queria um bebê... o nosso bebê — falou carinhosamente, passando a mão pelo rosto de Worth.


— Por isso que me obrigou a fazer sexo duas vezes ao dia, e três vezes aos domingos? Cynthia tentou permanecer séria, mas não conseguiu e caiu na risada. — Sabe como mamãe vive me alertando a tomar cuidado com o que desejo? — Porque sempre consegue muito mais do que desejou? — Isso mesmo. Ele a observou por alguns segundos, depois seu rosto se iluminou com uma idéia absurda. — Gêmeos?... — Trigêmeos.


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