Uma voz na escuridão Sandra brown Nota da contra-capa: Austin poderia ser o lugar ideal para paris gibson esquecer seu trágico passado. Apresentadora de um programa de rádio, seus conselhos e as canções que põe no ar harmonizam conflitos e enternecem as madrugadas de seus ouvintes. De quase todos. Nota da orelha do livro: Paris gibson tem um programa radiofônico, na madrugada, que funciona como uma válvula de escape, além de ser seu único verdadeiro contato com o mundo externo. Desde a mudança para austin, onde tenta aliviar o sofrimento provocado por trágicos erros do passado, ela leva uma vida praticamente solitária, e só se anima durante A apresentação do programa. Para seus fiéis ouvintes, é uma amiga, sensata e confiável, que, além de atender aos pedidos de canções, ouve seus problemas com atenção E, eventualmente, lhes dá conselhos. O mundo de isolamento de paris é brutalmente ameaçado quando um ouvinte — que se
identifica apenas como "valentino" — diz que o conselho que paris deu no ar à garota Que ele ama fez com que ela o deixasse. Para vingar-se, valentino planeja matar a namorada que seqüestrou, em setenta e duas horas, e, em seguida, promete matar Paris. Junto com a polícia de austin, paris mergulha numa corrida contra o tempo para encontrar valentino antes que ele cumpra sua ameaça. Fica consternada ao descobrir Que uma das pessoas com quem tem de trabalhar é o psicólogo criminal dean malloy, com quem teve um caso no passado. A presença dele desperta antigas paixões e obriga Paris a encarar lembranças dolorosas. Tenso e estimulante até o clímax, uma voz na escuridão é o melhor do suspense dessa magistral contadora de histórias. Sandra brown escreveu numerosos bestsellers do new york times, incluindo, mais recentemente, obsessão, inveja e a troca, todos publicados pela rocco. Ela vive com o marido em fort worth, texas.
Uma voz na escuridão Sandra brown Tradução de alyda christina sauer #título original hello, darkness Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, localidades E incidentes são produtos da imaginação do autor ou foram usados De forma ficcional. Qualquer semelhança com acontecimentos E locais reais, pessoas vivas ou não, é mera coincidência. Copyright © 2004 by sandra brown management ltd. Todos os direitos reservados, incluindo os de reprodução No todo ou em parte sob qualquer forma. Edição brasileira publicada mediante acordo com mana carvamis agency. Primeira publicação nos eua pela simon &c schuster, nova york Direitos para a língua portuguesa reservados com exclusividade para o brasil à Editora rocco ltda. Avenida presidente wilson, 231 - s- andar 20030-021 - rio de janeiro - rj Tel.- (21) 3525-2000 - fax- (21) 3525-2001 Rocco@rocco.com.br Www.rocco.com.br Printed in brazil/impresso no brasil Preparação de originais mônica martins figueiredo Cip-brasil. Catalogação-na-fonte. Sindicato nacional dos editores de livros, rj. B897v brown, sandra, 1948Uma voz na escuridão / sandra brown; tradução de alyda chnstma sauer. - rio de janeiro: rocco, 2006. Tradução de: hélio, darkness. Isbn 85-325-2030-8 1. Jovens mulheres - crime contra - ficção. 2. Ficção americana. I. Sauer, alyda chnstma. Ii. Título. 06-0635 Cdd-813 cdu-821.111(73)-3 Prólogo Até seis minutos antes do término da transmissão, o expediente foi rotineiro. - está muito calor na região das colinas. Obrigada por me ouvirem aqui na 101.3. Adorei a sua companhia esta noite, assim como em todas as outras da semana. Sua Apresentadora de músicas românticas clássicas, paris gibson. "hoje vou me despedir com um trio das minhas preferidas. Espero que estejam
ouvindo ao lado de alguém que amem. Fiquem bem juntinhos." Paris apertou o botão no painel de controle para desligar o seu microfone. A série de músicas tocaria sem interrupção até uma hora, cinqüenta e nove minutos e trinta Segundos. Nos últimos trinta segundos do programa, ia agradecer mais uma vez à audiência, desejar boa noite e encerrar a transmissão. Enquanto tocava "yesterday", fechou os olhos e girou a cabeça sobre os ombros tensos. Comparado com um dia de trabalho de oito ou nove horas, um programa de rádio De quatro devia passar de estalo. Mas não era assim. Quando acabava, estava fisicamente cansada. Paris operava a mesa sozinha, pondo para tocar as músicas que havia selecionado e separado antes do programa. Os pedidos dos ouvintes exigiam ajustes na lista e Muita atenção no cronometro de contagem decrescente. Também monitorava sozinha as linhas telefônicas abertas ao público. A mecânica daquelas tarefas era automática para ela, mas não suas reações e respostas. Nunca deixava o programa cair na rotina, nem fazia concessões ao desleixo. Paris gibson tinha se empenhado pessoalmente com fonólogos e sozinha, para aperfeiçoar o "tom" paris gibson, ao qual devia grande parte da sua fama. Esforçava-se mais do que seria capaz de avaliar pessoalmente para manter a inflexão e o diapasão perfeitos, porque depois de 240 minutos no ar, os músculos do pescoço e dos ombros queimavam de cansaço. Aquela ardência muscular era prova da excelência do seu desempenho. Na metade do clássico dos beatles, a luz vermelha piscou numa das linhas telefônicas, indicando uma ligação. Ficou tentada a não atender mas, oficialmente, ainda Restavam quase seis minutos do programa e ela prometia aos ouvintes receber ligações até as duas da madrugada. Era tarde demais para pôr aquele ouvinte no ar, mas Pelo menos ia atender à chamada dele. Apertou o botão que piscava. - aqui é paris. - alô, paris. Aqui é valentino. Já o conhecia de nome. Ele telefonava periodicamente, e o nome incomum era fácil de lembrar. A voz também era marcante, pouco mais que um sussurro, que devia usar Para provocar impacto, ou como disfarce. Paris falava ao microfone suspenso sobre a mesa de controle, que servia de fone quando não era usado para transmissão. Assim ficava com as mãos livres para cuidar Do seu trabalho, mesmo quando conversava com algum ouvinte. - como vai você esta noite, valentino? - nada bem. - sinto saber disso. - é. Você vai sentir. Os beatles deram lugar a "broken hearted me", de anne murray. Paris olhou para o monitor das músicas e registrou automaticamente que a segunda música das últimas três tinha começado. Não sabia se ouvira bem o que valentino Tinha dito. - perdão, o que disse? - você vai sentir muito. O tom dramático era típico de valentino. Sempre que ligava, estava muito animado, ou muito deprimido, raramente num nível emocional intermediário. Paris nunca sabia O que esperar dele, e por isso mesmo era um ouvinte interessante. Aquela noite, porém, ele parecia sinistro, pela primeira vez. - não entendi o que quis dizer. - eu fiz tudo que você me aconselhou a fazer, paris.
- eu aconselhei você? Quando? - todas as vezes em que liguei. Você sempre diz, não só para mim, mas para todo mundo que telefona, que devemos respeitar a pessoa que amamos. - isso mesmo. Eu penso que... - ora, respeito não leva a lugar nenhum, e não me importo mais com o que você pensa. Paris não era psicóloga, nem conselheira formada, apenas uma personalidade do rádio. Fora isso, não tinha nenhuma credencial. Mesmo assim, levava a sério seu papel De amiga da madrugada. Quando um ouvinte não tinha ninguém com quem conversar, paris funcionava como uma caixa de ressonância anônima. Sua audiência a conhecia apenas pela voz, mas confiava Nela. Servia de confidente, conselheira e confessora. Os ouvintes partilhavam suas alegrias, faziam suas queixas e eventualmente desnudavam suas almas. As ligações que paris considerava interessante pôr no ar atraíam A simpatia de outros ouvintes, inspiravam congratulações e às vezes geravam controvérsias acaloradas. Em geral, quem telefonava queria apenas desabafar. Paris agia como pára-choque. Era uma válvula de escape conveniente para quem estava furioso com o mundo. Raramente Era alvo da raiva do ouvinte, mas obviamente enfrentava um desses casos, e era bem perturbador. Se valentino estava à beira de uma crise emocional, paris não podia resolver o que tinha provocado aquilo, mas talvez pudesse afastá-lo da borda do poço com uma Boa conversa e depois insistir para ele procurar ajuda profissional. - vamos conversar sobre isso, valentino. O que está acontecendo? - eu respeito as meninas. Quando tenho um relacionamento, ponho a menina num pedestal e a trato como uma princesa. Mas isso nunca é suficiente. Elas nunca são fiéis. Todas elas me traem. E depois, quando me deixam, eu ligo para você e você diz que não foi culpa minha. - valentino, eu... - você diz que eu não fiz nada de errado, que não tive culpa de ser abandonado. E sabe de uma coisa? Você tem toda razão. A culpa não é minha, paris. A culpa é sua. Dessa vez, a culpa é sua. Paris olhou para trás, para a porta com isolamento acústico do estúdio. Estava fechada, é claro. O corredor atrás da parede de vidro nunca pareceu tão escuro, apesar Do prédio estar sempre às escuras durante seu programa da madrugada. Desejou que stan aparecesse por lá. Até marvin seria uma visão bem-vinda. Queria que alguém, qualquer pessoa, ouvisse aquela ligação e ajudasse a conduzi-la. Pensou em desligar. Ninguém sabia onde ela morava, não conheciam seu rosto. Estava estipulado no contrato com a estação de rádio que paris não apareceria publicamente. E nenhuma fotografia seria usada em material promocional, incluindo, mas não se limitando, a todo e qualquer anúncio impresso, de televisão ou cartaz. Paris gibson Era apenas um nome e uma voz, não um rosto. Mas, em sã consciência, não podia desligar o telefone na cara daquele homem. Se tinha levado a sério algo que ela disse no ar e as coisas acabaram dando errado, A raiva dele era compreensível. Por outro lado, se fosse uma pessoa mais racional, discordando de algo que paris tinha dito, simplesmente teria extravasado. Valentino havia atribuído a ela uma Influência sobre a vida dele, muito maior do que ela merecia ou desejava. - explique de que modo foi culpa minha, valentino.
- você disse para ela terminar comigo. - eu nunca... - eu ouvi você! Ela telefonou para você anteontem. Eu estava ouvindo o seu programa. Ela não deu o nome, mas reconheci a voz. Contou a nossa história. Depois disse Que eu tinha me tornado ciumento e possessivo. "você disse que se ela achava que o nosso relacionamento estava ficando opressivo, devia fazer alguma coisa. Ou seja, você a aconselhou a dar o fora", ele parou Um pouco, e então continuou: "e vou fazer você se arrepender de ter dado esse conselho para ela." A cabeça de paris estava patinando. Em todos aqueles anos na rádio, nunca tinha visto nada parecido. - valentino, vamos nos acalmar e conversar sobre isso, está bem? - eu estou calmo, paris. Muito calmo. E não temos nada que conversar. Eu a pus onde ninguém vai encontrá-la. Ela não pode fugir de mim. Com essa afirmação, o que era sinistro ficou definitivamente assustador. Certamente o que ele acabava de dizer não era literal. Mas antes de paris poder dizer isso, Ele continuou. - ela vai morrer em três dias, paris. Eu vou matá-la, e a morte dela ficará na sua consciência. A última música da série já estava tocando. O relógio no monitor do computador se aproximava da hora de encerrar a transmissão. Paris deu uma olhada rápida no vox Pró para certificar-se de que um gremlin eletrônico não tinha provocado um mau funcionamento. Mas não, a máquina sofisticada funcionava como devia. A ligação estava Sendo gravada. Paris umedeceu os lábios e suspirou nervosa. - valentino, isso não tem graça nenhuma. - e não é para ter. - eu sei que você não pretende realmente... - eu pretendo fazer exatamente o que eu disse. Eu merecia pelo menos setenta e duas horas com ela, você não acha? Por ter sido tão bonzinho? Três dias do tempo e Da atenção dela não são o mínimo que eu mereço? - valentino, por favor, ouça... - estou farto de ouvir você. Você só diz merda. Dá conselhos de merda. Eu trato uma menina com respeito, aí ela vai e abre as pernas para outros homens. E você diz Para ela terminar comigo, como se eu tivesse estragado o relacionamento, como se eu fosse o traidor. Justiça seja feita. Vou trepar com ela, até ela sangrar, depois Vou matá-la. Daqui a setenta e duas horas, paris. Tenha uma boa noite.
Capítulo um Dean malloy levantou da cama. Tateando no escuro, localizou a cueca no chão e levou para o banheiro. Fechou a porta com o mínimo barulho possível, e só depois acendeu A luz. Liz acordou mesmo assim. - dean? Apoiou os braços na beirada da pia e olhou para seu reflexo no espelho. - já vou sair. A imagem olhou de volta para ele, com desespero ou desgosto, não sabia bem. No mínimo, reprovação. Continuou olhando para o reflexo mais alguns segundos, abriu a torneira e jogou
água fria no rosto. Usou a privada, vestiu a cueca samba-canção e abriu a porta. Liz tinha acendido a lâmpada de cabeceira e estava apoiada num cotovelo. O cabelo louro todo despenteado. Havia uma mancha de rímel embaixo de um olho. De algum Modo, porém, conseguia fazer a aparência desarrumada parecer encantadora. - vai tomar banho? Ele balançou a cabeça. - agora não. - lavo as suas costas. - obrigado, mas... - a parte da frente? Dean sorriu para ela. - aceito um vale. A calça estava dobrada sobre a poltrona. Foi pegá-la, e liz deitou de novo sobre a pilha de travesseiros. - você vai sair. - eu preferia ficar, liz. - você não fica uma noite inteira há semanas. - eu não gosto disso mais que você, mas por enquanto é assim que tem de ser. - caramba, dean. Ele tem dezesseis anos. - certo. Dezesseis. Se fosse um bebê, eu saberia onde está o tempo todo. Saberia o que está fazendo, e com quem. Mas gavin tem dezesseis anos e carteira de motorista. Para um pai, isso é um pesadelo, ativo vinte e quatro horas por dia. - provavelmente ele nem vai estar lá quando você chegar Em casa. - é bom que esteja - resmungou dean, pondo a camisa para dentro da calça. - ele chegou depois da hora ontem à noite, por isso o deixei de castigo esta manhã. Proibi De sair de casa. - por quanto tempo? - até ele se redimir. - e se isso não acontecer? - o quê, ele ficar em casa? - se redimir. Aquela era uma pergunta muito mais complexa. Exigia uma resposta mais complicada, e ele não tinha tempo para isso aquela noite. Enfiou os pés nos sapatos, sentou Na beira da cama e segurou a mão dela. - é injusto o comportamento de gavin determinar o seu futuro. - o nosso futuro. - o nosso futuro - corrigiu dean, baixinho. - é muito injusto. Por causa dele, os nossos planos foram adiados indefinidamente, e isso é uma merda. Liz beijou-lhe as costas da mão. - não consigo nem convencê-lo a passar a noite comigo, e tinha esperança de estarmos casados no natal, imagina. - pode acontecer. A situação pode melhorar mais cedo do que imaginamos. Liz não concordava com aquele otimismo todo, e a testa franzida confirmava isso. - tenho sido paciente, dean. Não tenho? - tem. - nesses dois anos que estamos juntos, acho que cedi até demais. Mudei para cá sem reclamar. E, mesmo sendo mais sensato morar com você, concordei em alugar esse Apartamento. A memória de liz era seletiva e equivocada. Morar junto nunca foi uma opção. Dean nem teria pensado nisso enquanto gavin morasse com ele. E também não havia motivo Algum para reclamar da mudança para austin. Nunca sugeriu que ela fizesse isso. Na verdade, até preferiria que tivesse continuado em houston. Por conta própria, liz tomou a decisão de mudar também, quando dean se mudou. Jogou aquela surpresa em cima dele, e dean teve de fingir felicidade, esconder
uma Vaga irritação. Ela impunha sua presença, quando a última coisa que dean precisava era de mais uma imposição. Mas em vez de mexer no gigantesco vespeiro que seria aquela discussão naquele momento, concordou que liz tinha sido excepcionalmente paciente com ele e com sua situação Atual. - sei muito bem que a minha situação mudou muito desde que começamos o namoro. Você não merecia se envolver com um pai solteiro de um adolescente. Tem tido mais Paciência do que tenho o direito de esperar. - obrigada — disse ela, mais tranqüila. - mas meu corpo não conhece paciência, dean. Cada mês que passa significa menos Um ovo no cesto. Ele sorriu com a sutil referência ao relógio biológico dela. - reconheço os sacrifícios que fez por mim. E continua fazendo. - e estou disposta a fazer mais ainda. - ela acariciou-lhe o rosto. - porque o problema, dean malloy, é que você vale esses sacrifícios. Dean sabia que ela estava sendo sincera, mas aquela sinceridade não contribuía em nada para elevar seu estado de espírito, ao contrário, só aumentava o seu abatimento. - tenha mais um pouco de paciência, liz. Faz esse favor? Gavin tem sido impossível, mas há motivos para esse mau comportamento. Vamos dar mais um tempo. Vamos torcer para ele logo encontrar um meio-termo e chegarmos a um entendimento, nós três. Ela fez uma careta. - meio-termo? Continue usando expressões como essa e logo, logo terá um programa só seu na televisão. Ele deu um sorriso largo, contente de poder concluir aquela conversa séria num tom mais leve. - ainda vai para chicago amanhã? - passar três dias lá. Reuniões de portas fechadas com o pessoal de copenhagen. Só homens. Tipos robustos, verdadeiros vikings. Está com ciúme? - verde-ervilha. - vai sentir a minha falta? - o que você acha? - que tal se eu der uma coisa para você lembrar de mim? Ela empurrou o lençol. Nua e praticamente ronronando, deitada na cama desarrumada onde já tinham feito amor, elizabeth douglas parecia mais uma cortesã mimada do Que a vice-presidente de marketing de uma cadeia internacional de hotéis de luxo. Seu corpo era voluptuoso, e ela gostava dele. Diferente da maioria das mulheres contemporâneas, não tinha obsessão com cada caloria. Considerava malhação ter de Carregar a própria bagagem, e nunca deixava de comer sobremesa. Tinha belas curvas. Na verdade, eram sensacionais. - tentador - suspirou ele. - demais. Mas teremos de nos contentar com um beijo. O beijo de liz foi profundo. Ela sugou a língua de dean de um jeito que talvez fizesse os tipos viking rosnarem de inveja. Mas, ele interrompeu o beijo. - eu tenho de ir mesmo, liz - sussurrou dean com a boca encostada na dela, antes de se afastar. - faça uma boa viagem. Ela puxou o lençol para cobrir sua nudez e deu um sorriso amarelo para esconder a decepção. - telefono quando chegar lá. - acho bom. Dean saiu e procurou não dar a impressão de que estava fugindo. O ar lá de fora foi como um cobertor molhado em cima dele. Quando respirou, parecia até ter a textura De lã molhada. A camisa grudou nas costas depois da curta caminhada até o carro.
Ligou o motor e o ar-condicionado no máximo. O rádio Começou a funcionar automaticamente. Elvis cantava "are you lonesome tonight?". Aquela hora não havia praticamente trânsito nenhum nas ruas. Dean diminuiu a marcha com o sinal amarelo e parou quando a música terminou. - está muito calor na região das colinas. Obrigada por me ouvir aqui na 101.3. A voz esfumaçada de mulher reverberou no interior do carro. As ondas sonoras pressionaram o peito e a barriga de dean. A voz era perfeitamente modulada por oito Alto-falantes estrategicamente instalados por engenheiros alemães. O ambiente com som da mais alta qualidade fazia a apresentadora do programa parecer mais próxima Do que se estivesse sentada no banco do carro, ao lado dele. - vou me despedir com um trio das minhas preferidas. Espero que estejam ouvindo ao lado de alguém que amem. Fiquem bem juntinhos. Dean apertou os dedos no volante e encostou a testa nas mãos enquanto o quarteto fabuloso relembrava o passado. Assim que o juiz baird kemp pegou seu carro com o valete do hotel four seasons e sentou, ele afrouxou a gravata-borboleta e tirou o paletó. - meu deus, ainda bem que acabou. - foi você que insistiu em vir. - marian kemp tirou os sapatos bruno magli sem calcanhar e os brincos de diamante, e fez uma careta quando a circulação retornou Dolorosamente aos lóbulos das orelhas. - mas tinha de nos incluir nesse fim de festa? - bem, foi um bom sinal estar entre os últimos a sair. Havia gente muito influente naquele grupo. Jantar típico de premiação, o evento tinha sido insuportavelmente demorado. Em seguida, deram uma festa numa suíte do hotel e o juiz nunca perdia uma oportunidade De fazer campanha pela sua reeleição, até informalmente. No resto do caminho para casa, os kemp falaram das outras pessoas presentes, ou, como o juiz, zombeteiro, Se referia a eles, "os bons, os maus e os feios". Ao chegar em casa, ele foi direto para seu gabinete, onde marian mantinha o bar bem provido com suas marcas preferidas. - vou tomar uma saideira. Posso servir duas? - não, obrigada, querido. Vou subir. - esfrie o quarto. Esse calor está insuportável. Marian subiu a escada em curva que tinha aparecido recentemente numa revista de decoração. Para a foto, tinha usado um vestido de gala de grife e o colar de brilhantes Amarelo-canário. O retrato ficou muito bom. O juiz ficou satisfeito com o artigo que acompanhava a foto, que elogiava marian por ter transformado a casa deles naquele Espetáculo. O corredor no segundo andar estava às escuras, mas ela ficou aliviada de ver luz por baixo da porta do quarto de janey. Apesar das férias de verão, o juiz impunha Horários para a filha de dezessete anos. Na véspera, havia desobedecido as regras e chegado em casa quase ao amanhecer. Era óbvio que tinha bebido e, a menos que Marian estivesse enganada, o fedor da roupa dela era de maconha. O pior de tudo é que tinha voltado para casa dirigindo sozinha, naquele estado. - paguei sua fiança pela última vez - o juiz havia berrado. Se for pega outra vez dirigindo sob efeito de drogas, vai ter de se virar sozinha, senhorita. Não vou Mexer nenhum pauzinho. Vou deixar ir direto para a sua ficha. - e daí, porra? - janey tinha respondido, entediada. A cena foi tão escandalosa e vituperiosa que marian teve medo dos vizinhos
poderem ouvir, apesar do acre de cinturão verde de topiaria entre a propriedade deles E a vizinha. A briga terminou quando janey saiu marchando, bateu e trancou a porta do quarto por dentro. E não falou mais com nenhum dos dois. Aparentemente, porém, a ameaça mais recente do juiz tinha provocado algum impacto. Janey estava em casa e, pelos seus padrões, ainda era cedo. Marian parou na frente Da porta do quarto da filha e levantou o braço para bater. Através da porta, entretanto, dava para ouvir a voz daquela mulher dj do rádio que janey ouvia quando Estava deprimida. Era uma mudança bem-vinda dos djs irritantes das estações que tocavam rock ácido e rap. Janey costumava ter um ataque toda vez que sentia que sua privacidade era violada. E a mãe dela não estava disposta a perturbar aquela paz tão tênue, por isso, sem Bater, abaixou o braço e continuou pelo corredor até a suíte principal. Toni armstrong acordou assustada. Ficou imóvel, tentando decifrar o barulho que a fez despertar. Uma das crianças tinha chamado? Brad estava roncando? Não, a casa estava silenciosa, exceto pelo ruído suave das saídas do arcondicionado central no teto. Não tinha acordado com barulho nenhum. Nem mesmo com a respiração Ruidosa do marido. Porque o travesseiro ao lado do dela estava vazio. Toni levantou da cama e vestiu um robe leve. Olhou para o relógio. Uma e quarenta e dois. E brad ainda não tinha voltado para casa. Antes de descer, verificou os quartos das crianças. Apesar das meninas irem cada uma para sua cama à noite, invariavelmente acabavam dormindo juntas em uma única Delas. Com apenas um ano e quatro meses de diferença de idade, muitas vezes eram confundidas com gêmeas. Agora estavam praticamente idênticas mesmo, seus corpinhos Firmes aninhados juntos, as cabeças despenteadas dividindo o mesmo travesseiro. Toni puxou o lençol sobre as duas, depois ficou algum tempo admirando a beleza inocente Das filhas antes de sair do quarto na ponta dos pés. Naves espaciais de brinquedo e bonecos de super-heróis coalhavam o chão do quarto do filho. Toni evitou com todo o cuidado pisar neles quando se aproximou da cama. O menino dormia de barriga para baixo, as pernas abertas, um braço pendurado ao lado da cama. Aproveitou a oportunidade para acariciar seu rosto. Estava na idade em que as demonstrações de afeto da mãe provocavam caretas e rejeição. Ele era o primogênito E achava que tinha de agir como homenzinho. Mas pensar na transformação do menino em homem enchia toni de desespero, quase pânico. Ao descer a escada, algumas tábuas rangeram, mas toni gostava das peculiaridades e imperfeições que davam personalidade à Casa. Tiveram sorte de comprá-la. Ficava num bairro ótimo, e havia uma escola bem perto. Os antigos donos reduziram o preço, ansiosos para vender. Partes dela precisaram De atenção maior, mas toni se ofereceu para cuidar pessoalmente da reforma, de modo que a compra coubesse no orçamento deles. Ficou ocupada com o trabalho na casa enquanto brad se firmava na nova prática. Aproveitou o tempo e a disposição para fazer os reparos necessários antes de terminar O trabalho estético. A paciência e a diligência valeram a pena. A casa, além de mais bonita, ficou muito sólida, de dentro para fora. Os defeitos não foram apenas Cobertos com uma nova camada de tinta, mas previamente consertados.
Infelizmente, nem tudo era fácil de consertar como casas. Como toni já temia, os cômodos do primeiro andar estavam escuros e vazios. Na cozinha, ligou o rádio para afastar a pressão agourenta do silêncio. Serviu-se de um Copo de leite que não queria e se obrigou a beber calmamente. Talvez estivesse fazendo um desserviço ao marido. Ele podia muito bem estar assistindo a um seminário sobre impostos e planejamento financeiro. Tinha anunciado no Jantar que ficaria fora a maior parte da noite. - lembre, querida - disse ele quando ela manifestou surpresa -, que expliquei para você no início da semana. - não explicou não. - desculpe. Pensei que tinha comentado. Era o que eu pretendia. Quer passar a salada de batata, por favor? Aliás, está ótima. O que tem no tempero? - é endro. Esta é a primeira vez que ouço falar desse seminário, brad. - os sócios recomendaram. O que eles aprenderam no último representou uma economia gigantesca em impostos. - então talvez eu deva ir também. Eu podia aprender mais sobre isso tudo. - boa idéia. Vamos ficar de olho no próximo. Você tem de se inscrever com antecedência. Brad disse a hora e o lugar onde seria o seminário, disse para ela não esperar por ele acordada porque teriam uma sessão informal de debates depois da apresentação, E que não sabia quanto tempo ia demorar. Deu um beijo nela e nas crianças antes de sair. Foi até o carro com um jeito de andar lépido demais para alguém que ia para um seminário de impostos E planejamento financeiro. Toni acabou de beber o leite. Telefonou para o celular do marido pela terceira vez e sua ligação caiu na caixa de mensagens como nas outras vezes. Não deixou recado. Pensou em ligar para o auditório Onde tinham feito o seminário, mas seria perda de tempo. Não teria mais ninguém lá a essa hora. Depois de se despedir de brad, toni lavou os pratos do jantar e deu banho nas crianças. Os três já estavam na cama quando tentou entrar no escritório dele, mas descobriu Que a porta estava trancada. Saiu pela casa como doida, à procura de um grampo, uma lixa de unha, alguma coisa com que pudesse destrancar a porta. Acabou recorrendo a uma chave de fenda e provavelmente danificou irremediavelmente a fechadura, mas nem se importou. Humilhação maior foi ver que não havia nada No escritório que justificasse sua histeria ou suspeita. Havia um jornal com o anúncio do seminário em cima da mesa. Brad tinha anotado o seminário na agenda. Era Óbvio que planejava assistir. Mas ele também era muito bom em criar cortinas de fumaça bem plausíveis. Toni sentou à mesa e ficou olhando para a tela do computador desligado. Chegou a passar o dedo no botão que ligava a torre, tentada a pôr para funcionar e iniciar Uma investigação que apenas ladrões, espiões e esposas desconfiadas fariam. Não tocava no computador dele desde que brad comprara um só para ela. Ao ver as caixas com etiquetas que ele carregou e pôs sobre a mesa da cozinha, ela exclamou. - você comprou outro computador? - já era hora de você ter o seu. Feliz natal! - estamos em junho. - então estou adiantado. Ou atrasado. - brad deu de ombros com aquele seu jeito sedutor. - agora que tem o seu, quando quiser trocar e-mails com o seu pessoal, ou
Fazer compras pela internet, ou qualquer coisa, não terá de pegar carona no meu. - uso o seu computador durante o dia, quando você está na clínica. - é isso que estou querendo dizer. Agora você pode entrar na internet a qualquer hora. E você também. Foi como se brad tivesse lido os pensamentos dela. - não é o que você está pensando, toni - disse ele, pôs as mãos na cintura e fez cara de injustiçado. - eu estava navegando na loja de computadores esta manhã. Vi Essa máquina cor-de-rosa pequena, compacta, que faz praticamente tudo, e pensei, feminino e eficiente. Exatamente como a minha querida mulher. Por isso comprei, obedecendo A um impulso. Pensei que ia gostar. É óbvio que me enganei. - eu gostei - disse ela, imediatamente contrita. - foi um gesto muito atencioso, brad. Obrigada - ela olhou meio desconfiada para as caixas. - você disse cor-derosa! E os dois riram. Brad deu um abraço de urso em toni. Ele cheirava a sol, sabonete e saúde. Seu corpo era aconchegante, familiar e gostoso, encostado no dela. Os Temores de toni foram aplacados. Mas só por um tempo. Recentemente tinham aflorado de novo. Não ligou o computador dele aquela noite. Tinha muito medo do que poderia encontrar. Se precisasse de uma senha de acesso, suas suspeitas seriam confirmadas, e não Queria isso. Meu deus, não, não queria mesmo. Por isso fez o melhor que pôde para consertar a maçaneta da porta, foi para a cama e depois de algum tempo acabou dormindo, com a esperança de que brad a acordasse Logo, transbordando de conhecimentos sobre estratagemas financeiros para famílias com o nível de renda deles. Uma esperança desesperada. - adorei a companhia de vocês esta noite - dizia a voz sexy no rádio. - aqui é a sua apresentadora de músicas românticas clássicas, paris gibson. Nenhum seminário acabava às duas horas da madrugada. E nenhuma reunião de terapia de grupo ia até essa hora tampouco. Fora esta a desculpa de brad na semana anterior Para ficar fora quase a noite inteira. A explicação que ele deu foi que um dos homens no seu grupo estava tendo dificuldades. - depois da reunião, ele me pediu para tomar uma cerveja com ele, disse que precisava de um ombro compreensivo. Esse cara era realmente um problema, toni. Caramba! Você não ia acreditar em certas coisas que ele contou. Estou falando de um cara doente. De qualquer modo, sabia que ia entender. Você sabe como são essas coisas. Ela sabia bem demais. As mentiras. As negações. O tempo passado fora, sem dar satisfação nenhuma. Portas trancadas. Ela sabia muito bem como era. Era assim. Capítulo dois Já estava ficando nervosa. Isto é, realmente nervosa. Ele tinha saído havia algum tempo, e ela não sabia quando ia voltar. Não estava gostando daquela novidade, e queria ir embora. Porém estava de mãos atadas. Literalmente. E de pés também. Mas o pior de tudo era a fita adesiva com gosto metálico que ele grudara em sua boca. Quatro, talvez cinco vezes nas últimas semanas, tinha ido para aquele lugar com ele. Naquelas ocasiões, saíram dali esgotados, sem energia e com uma sensação maravilhosa. A expressão "se matar de tanto foder" veio à cabeça dela. Mas ele nunca sugeriu amarrá-la, nem qualquer outra tara. Bem... Nenhuma tara
tão esquisita. Aquela era a primeira vez e, francamente, podia passar sem essa. Uma das primeiras coisas que chamaram sua atenção foi que ele parecia sofisticado. Realmente se sobressaía na multidão migratória que em geral era composta de alunos Do segundo grau e universitários à procura de bebida, drogas e sexo casual. É claro que de vez em quando havia aquele babaca patético espreitando atrás dos arbustos, Mostrando o pinto para qualquer infeliz que reparasse nele. Mas aquele cara não era nada disso. Era muito na dele. E parecia que também tinha achado que ela se sobressaía. Ela e a amiga melissa perceberam que as observava com muito interesse. - ele pode ser da polícia - especulou melissa. - você sabe, trabalhando à paisana. Melissa estava muito deprimida aquela noite porque tinha de viajar para a europa no dia seguinte com os pais, e não conseguia imaginar sofrimento maior. Fazia uma Força danada para ficar completamente chapada, de olho vidrado, mas nada tinha funcionado ainda. A sua visão do mundo era amarga. - um policial dirigindo aquele carro? Acho que não. Além do mais, os sapatos dele são bons demais para um tira. Não é que ele tivesse simplesmente olhado para ela. Os caras sempre olhavam. Era o jeito de olhar que a excitava. Estava encostado no capô do carro, com as pernas Cruzadas nos tornozelos, os braços também cruzados, casualmente, perfeitamente imóvel e, apesar da intensidade do olhar, parecia muito tranqüilo. Não olhava boquiaberto para os seios, ou para as pernas dela, definitivamente objetos de olhares boquiabertos, mas diretamente para os seus olhos. Como se a reconhecesse Naquele instante. Não só como se a reconhecesse, ou soubesse o nome dela, mas como se a conhecesse realmente, soubesse tudo que havia de importante para saber sobre Ela. - você acha ele bonito? - acho que sim - respondeu melissa, indiferente, concentrada no seu complexo de vítima. - bem, eu acho. Ela terminou de beber seu cuba-libre, chupando o canudo do jeito provocante que havia aperfeiçoado praticando horas diante do espelho. O ato sugestivo deixava os Caras malucos e ela sabia, por isso sempre fazia aquilo. - eu vou nessa. Estendeu o braço para trás para deixar o copo de plástico na mesa de piquenique onde melissa e ela estavam sentadas, e partiu com a graça sinuosa de uma serpente Deslizando sobre uma pedra. Jogou o cabelo para trás e deu uma puxadinha na bainha do top, enquanto respirava bem fundo e inflava os seios. Como uma atleta olímpica, Passava por uma rotina preparatória antes de cada grande evento. E assim, foi ela que deu o primeiro passo. Deixou melissa e aproximou-se lentamente do cara. Quando chegou perto do carro, parou ao lado dele e encostou no capô Também. - você tem um mau hábito. Ele virou apenas a cabeça lentamente e sorriu. - só um? - que eu saiba. O sorriso dele ficou mais largo. - então precisa me conhecer melhor. Sem necessidade de nenhum convite mais elaborado, porque, afinal, era para isso
que estavam lá, ele segurou o braço dela e a fez dar a volta no carro até o lado Do carona. Apesar do calor, a mão dele estava fria e seca. Ele abriu a porta educadamente e ajudou-a a sentar no banco estofado de couro. Na saída, deu um sorriso Triunfante para melissa, mas a amiga vasculhava sua pochete de "estimulantes de humor" e não viu. Ele dirigia com cuidado, as duas mãos no volante e olhando para a frente. Não olhava faminto para ela, nem ficava tentando apalpá-la, o que certamente era uma mudança. Normalmente, no minuto em que ela entrava no carro de um cara, ele começava a agarrá-la, como se não acreditasse na sorte que tivera, como se ela fosse se desintegrar Se não a pegasse, ou então mudar de idéia se ele não se apressasse e fizesse tudo logo. Aquele cara, porém, parecia um pouco distante, e ela achou aquilo legal. Era maduro e seguro. Não precisava agarrar e apalpar para se certificar de que ia levá-la Para a cama. Perguntou o nome dele. Quando parou num sinal fechado, ele virou para ela. - é importante? Ela deu de ombros com um gesto exagerado, já ensaiado, que levantava os seios e os apertava no meio, melhor do que qualquer sutiã especial. - acho que não. Ele ficou olhando para os seus seios alguns segundos, o sinal abriu e ele tornou a concentrar-se na direção. - qual é o meu mau hábito? - você olha fixo. Ele deu risada. - se você considera isso um mau hábito, então realmente tem de me conhecer melhor. Ela estava com a mão na coxa dele e disse, num tom apaixonado: - mal posso esperar. O lugar onde ele morava foi uma enorme decepção. Era um apartamento numa pensão. Uma faixa vermelha esfarrapada pendurada na frente do prédio de dois andares anunciava Preços especiais por mês. Ficava num bairro decadente que não combinava com o carro nem com as roupas dele. Ele notou o desapontamento dela. - é um pardieiro - disse ele -, mas foi o que consegui encontrar, assim que me mudei para cá. Estou procurando outro lugar - e acrescentou calmamente: - vou compreender se quiser que a leve de volta. - não — não ia deixar que ele pensasse que era uma menina fresca e burra, sem espírito de aventura. — brega chique está na moda. O principal cómodo do apartamento servia como sala de estar e quarto ao mesmo tempo. A quitinete mal acomodava uma pessoa. O banheiro era ainda menor. Na sala principal, havia uma cama e uma mesa-de-cabeceira, uma cómoda com quatro gavetas, uma poltrona com um abajur de pé ao lado e uma mesa dobrável com área suficiente Para acomodar os componentes de um elaborado computador. A mobília tinha qualidade de "venda por motivo de viagem", mas estava tudo limpo. Ela foi até a mesa. O computador já estava ligado. Com alguns cliques do mouse, encontrou o que já sabia que ia encontrar. Olhou para trás e sorriu para ele. — então você não estava lá esta noite por acaso - comentou ela. - eu estava lá à sua procura. - especificamente? Ele fez que sim com a cabeça. Ela gostou disso. Muito. O bar de fórmica que separava a cozinha da sala de estar era usado para guardar equipamento fotográfico. Ele tinha uma câmera 35mm, diversas lentes e vários acessórios,
Inclusive um tripé portátil. Tudo parecia complicado e caro, meio deslocado no apartamento vagabundo. Ela pegou a câmera e olhou para ele pelo visor. - você é fotógrafo profissional? - é apenas um hobby. Quer beber alguma coisa? - claro. Ele foi até a quitinete e voltou com dois copos de vinho tinto. A bebida revelava que ele tinha um gosto refinado e classe. Também não combinava com o apartamento, Mas ela achava que a explicação que ele dera era uma mentira. Não devia morar ali, era apenas seu parque de diversões. Longe da mulher. Bebericando o vinho, ela olhou em volta. - onde estão as suas fotos? - eu não exponho nenhuma. - por quê? - são da minha coleção particular. - coleção particular? - ela deu um sorriso malicioso e enrolou uma mecha de cabelo num dedo. - parece interessante. QueRo ver. - acho que não devo mostrar. - por que não? - elas são... Artísticas. Ele olhava para ela daquele modo direto de novo, como se avaliasse sua reação. Aquele olhar fixo fez seus dedos dos pés formigarem, o coração acelerar, e isso não Acontecia havia muito tempo na companhia de um cara. Em geral, era ela que provocava formigamento e corações acelerados. Era raro e maravilhoso ser a parte insegura Do que estava para acontecer. Excitante à beça. - quero ver a sua coleção particular - ela disse, atrevida. Ele hesitou alguns segundos, depois ajoelhou e tirou uma Caixa de baixo da cama. Removeu a tampa e pegou um álbum de fotografias comum, encadernado em couro sintético preto. Ficou de pé e abraçou o álbum contra o peito. - quantos anos você tem? A pergunta era uma afronta, porque ela se orgulhava de parecer muito mais velha do que realmente era. Não pediam seus documentos havia anos, mas uma espiada na tatuagem De borboleta no seio direito em geral deixava os fiscais apatetados demais para pedir qualquer documento. - que diferença isso faz? Eu quero ver as fotos. E de qualquer maneira, tenho vinte e dois anos. Ele obviamente não acreditou. Até tentou, sem sucesso, disfarçar o sorriso. Mesmo assim, pôs o álbum na mesa e se afastou. Procurando parecer despreocupada, ela Foi até lá e abriu a capa. A primeira foto era bem descritiva e espantosa. Pelo ângulo com que tinha sido feito o close-up, ela presumiu, e mais tarde descobriu ter razão, que era um auto-retrato. - ficou ofendida? - perguntou ele. - claro que não. Você pensa que nunca vi uma ereção antes? A reação dela não foi tão blasé como seu tom de voz indicava. Ficou imaginando se ele podia ouvir seu coração aos pulos. Virou a página para a próxima foto, depois outra, e outra, até folhear o álbum inteiro. Estudou cada fotografia, fingindo ser analítica como uma crítica de arte. Algumas eram coloridas, outras preto-e-branco, mas todas, exceto a primeira, eram de mulheres jovens e nuas em poses provocantes. Qualquer pessoa poderia considerá-las Obscenas, mas ela era sofisticada demais para ficar chocada com genitálias
expostas. Porém, de jeito nenhum eram estudos de nus "artísticos". Eram imagens pornográficas. - gostou delas? Ele estava tão perto que dava para sentir sua respiração no ar. - não são ruins. Ele estendeu o braço por trás dela e virou algumas páginas até chegar a uma foto específica. - esta é a minha preferida. Ela não viu nada de especial na menina retratada. Os mamilos pareciam picadas de mosquito no peito achatado e ossudo. Podia-se contar cada costela, e o cabelo tinha Pontas bifurcadas. Havia perebas nos ombros. Um véu escondia-lhe o rosto, provavelmente por um bom motivo. Ela fechou o álbum, depois virou para ele e deu seu sorriso mais sedutor. Ele puxou-lhe o top lentamente pela cabeça e deixou-o cair no chão. - você quer dizer que era a sua preferida, até agora. Ele prendeu a respiração, depois soltou, meio desconcertado. Movendo-se bem devagar, segurou a mão dele e pôs sob um seio, modelando-o com a palma, como se oferecesse Para ele. Ele deu o sorriso mais doce e mais terno que ela havia visto. - você é perfeito. Eu sabia que seria. O ego dele alçou vôo. - estamos perdendo tempo. Ela abriu o zíper do short e já ia tirá-lo quando ele a fez parar. - não. Fique assim, com o short bem baixo. Assim. Ele pegou a câmera rapidamente. Devia estar com filme e pronta para disparar, porque ele só olhou pelo visor. - essa vai ficar ótima - ele chegou mais perto do abajur de pé ao lado da poltrona e arrumou a cúpula encardida, depois se afastou e espiou de novo através da câmera. - abaixe o short mais um pouco. Pronto. Assim mesmo. Ele tirou várias fotos numa rápida sucessão. - ah, moça, você me mata - ele abaixou a câmera e olhou para ela com o mais puro prazer. - você nasceu para isso. Deve ter feito isso antes. - nunca posei profissionalmente. - incrível - disse ele. - agora senta na beira da cama. Ele ajoelhou no chão na frente dela e arrumou a pose que queria. Pernas. Mãos. Cabeça. Antes de pegar a máquina de novo, beijou a parte de dentro de uma das coxas, Chupou a pele contra os dentes e deixou uma marca. A sessão de fotos durou mais uma hora, junto com as preliminares. Quando finalmente transaram, ela já estava para lá de pronta. Depois, ele serviu mais vinho e ficou Deitado ao lado dela, acariciando suavemente todo o seu corpo e dizendo que ela era linda. E ela pensou, ora, esse é um cara que sabe como tratar uma mulher. Acabaram de beber o vinho e ele perguntou se podia tirar mais fotos. - quero capturar as cores quentes do depois. - para ter o antes e o depois? Ele riu e deu-lhe um beijo breve e cheio de afeto. - mais ou menos isso. Ele a vestiu... Sim, ele a vestiu pessoalmente, como ela costumava vestir suas bonecas quando era pequena. Levou-a de volta até a beira do lago no parque onde se Encontraram, e, em segurança, até o carro dela. Ao fechar a porta, beijou os lábios dela suavemente. - eu te amo. Caramba! Aquilo a pegou de surpresa. Uma centena de caras tinham dito que a
amavam, mas em geral quando se empenhavam em pôr uma camisinha. O mais comum era que Aquelas declarações de amor acontecessem no interior calorento dos seus carros ou picapes. O amor, entretanto, nunca tinha sido declarado daquele jeito suave, terno e significativo. Ele até beijou as costas da mão dela antes de soltá-la. Ela achou tremendamente Doce e cavalheiresco. Estiveram juntos algumas vezes desde aquela primeira noite, e foi sempre bom. Mas em pouco tempo, como já era de esperar, ele começou a choramingar. Onde esteve A noite passada? Com quem estava? Fiquei esperando horas, mas você não apareceu. Quando posso vê-la de novo? A possessividade acabou com a graça de ficar com ele. Além do mais, as surpresas e a novidade já estavam desgastadas. A fotografia dele não parecia mais exótica, Só esquisita, e muitas vezes deprimente. Era hora de acabar com aquilo. Talvez ele tivesse percebido que ela ia terminar aquela noite, porque tudo tinha começado mal. Discutiram imediatamente depois que ela entrou no carro. E a partir Dali as coisas só foram piorando. Ele ficou esquisito e assustador com aquela merda de querer amarrá-la. Deixou-a lá, presa há horas. E se aquele buraco pegasse fogo? E se aparecesse um tornado ou Qualquer coisa assim? Ela não estava gostando. Queria sair dali. Quanto mais cedo melhor. Pelo menos, antes de sair ele ligou o rádio e sintonizou no programa de paris gibson. Um pouco de companhia para ela. Não se sentia tão abandonada como aconteceria No silêncio total que acompanhava a completa escuridão. E ficou lá ouvindo a voz de paris gibson, imaginando quando ele ia voltar e que brincadeira teria em mente. Capítulo três A luz vermelha na mesa de controle apagou. Valentino tinha desligado o telefone. Paris levou alguns segundos para perceber que o único som que ouvia era o das batidas do seu coração. A música tinha acabado. No monitor da programação, ela viu Uma série de zeros onde números decrescentes deviam estar marcando os segundos que restavam da canção. Quanto tempo será que tinha ficado transmitindo nada? Faltavam ainda vinte e três segundos para o fim do programa. Ela apertou o botão do microfone. Tentou falar. Não conseguiu. Tentou de novo. - espero que tenham gostado dessa noite de clássicos de músicas românticas. Espero vocês de novo amanhã à noite. Até lá, paris gibson, fm 101.3. Boa-noite. Apertou dois botões da mesa e saiu do ar. Então, pulou rapidamente do banco giratório, abriu bem a pesada porta do estúdio, saiu correndo pelo corredor escuro e Entrou esbaforida na sala de engenharia de som. Exceto por uma quentinha de frango frito na mesa de stan, a sala estava vazia. Ela continuou correndo pelo corredor, virou à direita na primeira interseção de corredores E colidiu literalmente com marvin, que passava um pano sujo numa janela interna. - você viu o stan? - disse ela, sem fôlego. - não. Uma coisa se podia dizer de marvin: era um homem de poucas palavras. Geralmente, falava em monossílabos. - ele já foi embora? Dessa vez, ele nem sequer deu uma resposta, apenas deu de ombros.
Ela desistiu do faxineiro, correu até o banheiro dos homens e abriu a porta. Stan estava no mictório. - stan, venha cá. Atónito com a interrupção, ele virou a cabeça para trás de estalo. - o que... Eu estou ocupado aqui, paris. - ande logo. É importante. Ela voltou correndo para o estúdio e rodou o banco até vox pró. O aparelho gravava todas as ligações externas para serei ouvidas de novo, se quisessem. Havia também Uma gravação obrigatória de tudo que ia ao ar. Mas isso era outra máquina outra história. Naquele momento, paris só estava interessada no telefonema. - o que está acontecendo? - stan chegou calmamente, olhando para o seu relógio. - tenho planos para esta noite. - ouça só isso. - lembre que meu turno termina quando você encerra sua transmissão. - cale a boca, stan, e preste atenção. Ele se apoiou na beirada da mesa de controle. - tudo bem, mas realmente preciso ir embora logo. - psiu. - valentino acabava de se identificar. - esse cara ligou antes. Stan parecia mais interessado no vinco da sua calça de linho mas, quando valentino disse que ela sentiria muito, as sobrancelhas do colega de trabalho subiram. - o que é isso? - ouça. Ele ficou calado durante o resto da gravação. Quando terminou, paris olhou para ele, aflita. Stan ergueu um pouco os ombros estreitos. - ele é um maluco. - só isso? Essa é a sua conclusão? Que ele é um maluco? Ele fungou. - o que é? Acha que ele estava falando sério? - eu não sei. Paris deu meia-volta, apertou um botão na mesa de controli era a linha telefônica para uso pessoal dos djs. - vai ligar para quem? - perguntou stan. - para a polícia? - acho que devo. - por quê? Essa gente doida liga para você o tempo todo. Não teve um na semana passada que queria que você segurasse o caixão no enterro da mãe dele? - mas isso é diferente. Converso com um monte de gente todas as noites. Esse cara... Eu não sei - disse ela, ressabiada. Quando atenderam no 911, ela se identificou e deu à operadora uma breve descrição do que tinha acontecido. - não deve ser nada. Mas achei que alguém deveria ouvir Essa conversa. - eu ouço o seu programa nas minhas noites de folga, srta. Gibson - disse a operadora. - não me parece do tipo que entra em pânico com qualquer coisa. Vamos enviar Uma viatura para aí. Paris agradeceu e desligou. - eles estão vindo para cá. Stan fez uma careta. - eu preciso ficar? - não, pode ir. Ficarei bem. Marvin ainda está aqui. - não está mais. Acabou de ir. Eu o vi quando vinha do banheiro para cá, depois de ser grosseiramente interrompido na metade do jato. Um susto como esse e o cara Pode se machucar, você sabe. Paris não estava disposta a ouvir as gracinhas de stan aquela noite. - duvido que venha a sofrer qualquer dano - ela acenou para ele ir embora. pode ir. Tranque a porta depois. Eu abro para a polícia. O nervosismo dela deve ter ficado muito claro e fez stan sentir-se como um desertor.
- não, eu espero com você - disse ele, taciturno. - vá fazer um chá ou qualquer coisa. Parece muito abalada. Estava mesmo abalada. Chá pareceu uma boa idéia. Foi para a cozinha dos funcionários, mas não chegou lá. Uma campainha irritante soou no prédio todo, avisando que Tinha alguém na entrada principal. Ela correu para o outro lado, para a frente do prédio, e ficou aliviada ao ver dois policiais uniformizados do outro lado da porta de vidro. Não fazia mal que parecessem Recém-saídos da academia. Um deles parecia jovem demais para ter de se barbear. Mas foram muito competentes e se apresentaram, lacônicos, muito sérios. - obrigada por virem tão depressa. - estávamos aqui perto e já íamos voltar quando recebemos seu chamado - um deles explicou. Os dois olhavam para ela com estranheza, como quase todo mundo quando a via pela primeira vez. Os óculos escuros provocavam uma curiosidade imediata. Sem mencionar seus óculos ou a curiosidade deles, paris levou os policiais griggs e carson através do labirinto de corredores escuros. - temos uma gravação da ligação no estúdio. A discreta parte externa do prédio não havia preparado os policiais para a sofisticação eletrônica do estúdio. Ficaram olhando em volta, curiosos e maravilhados. Paris os trouxe de volta à realidade, apresentando-lhes stan. Os cumprimentos foram breves. Ninguém apertou mão de ninguém. Paris usou o mouse do computador vox Pró para reproduzir a gravação do telefonema de valentino. Ninguém disse nada enquanto ouviam a conversa. O policial griggs ficou olhando para o teto, carson para o chão. Quando terminou, griggs pigarreou e parecia constrangido Com a linguagem grosseira de valentino. - recebe muitas ligações como essa, srta. Gibson? - estranhas e doidas, às vezes. Caras ofegantes e que fazem propostas indecentes, mas nada como o que acabaram de ouvir. Nunca ameaçadoras. Valentino já telefonou Para cá antes. Sempre falando de alguma namorada nova maravilhosa, ou de um caso que acabou e ele ficou de coração partido. Mas nunca disse nada assim. Nem parecido. - acha que é o mesmo cara? Todos viraram para stan, que fez a pergunta. - outra pessoa pode ter usado o nome valentino - continuou ele - porque ouviu no seu programa e sabe que ele costuma ligar. - acho que é possível - disse paris, devagar. - tenho quase certeza de que a voz de valentino é disfarçada. Nunca parece natural. - e esse nome também não é comum - disse griggs. - acha que é verdadeiro? - não tenho como saber. Às vezes quem telefona não quer dar nem o primeiro nome, e prefere permanecer completamente anônimo. - tem algum jeito de rastrear as ligações? - com um identificador comum. Um dos nossos engenheiros acrescentou o programa no nosso vox pró para nos dar o número, se estivesse disponível. Cada chamada também Tem a data e a hora marcadas. Paris puxou a informação na tela do computador. Não havia nome, apenas um número de telefone local, que carson anotou. - esse é um bom começo - disse ele. - talvez - disse griggs. - se ele ligou para dizer essas coisas, por que usaria um número rastreável? Paris leu nas entrelinhas. - acha que foi um trote? Nenhum dos policiais respondeu diretamente.
- vou ligar para esse número e ver se alguém atende - disse carson. Usou o celular dele e, depois de ficar ouvindo o telefone tocar muitas vezes, concluiu que ninguém ia atender. - também não tem caixa postal. É melhor investigar. - ele apertou os números e, enquanto dava o número de valentino para alguém do outro lado da linha, griggs disse Para paris e para stan que iam rastrear a ligação. - mas aposto que foi só um cara usando um nome que ouviu no seu programa, querendo apenas assustá-la. - como os doentes que passam trotes obscenos - disse stan. Griggs balançou a cabeça raspada. - exatamente. Aposto que vamos descobrir um bêbado solitário, ou um grupo de adolescentes entediados querendo se divertir falando obscenidades, qualquer coisa Assim. - espero que tenha razão. - paris esfregou os braços para se aquecer. - não consigo acreditar que alguém faria isso como uma brincadeira, mas certamente prefiro A brincadeira à alternativa. Carson desligou o celular. - já estão rastreando. Não deve demorar. - podem me contar o que descobrirem? - claro que sim, srta. Gibson. Stan ofereceu-se para acompanhá-la até em casa, mas foi uma oferta meio desanimada, e pareceu aliviado quando paris recusou. Deu boa-noite para todos e foi embora. - como podemos entrar em contato se descobrirmos alguma coisa? - perguntou griggs enquanto percorriam os corredores, indo para a entrada. Paris deu seu telefone de casa, enfatizando que não estava na lista. - é claro, srta. Gibson. Os dois policiais se surpreenderam ao ver que era ela quem trancava o prédio à noite. - fica sozinha aqui todas as noites? - perguntou carson quando a acompanhavam até o carro. — só o stan fica comigo. - o que ele faz, e há quanto tempo trabalha aqui? Ele não faz grande coisa, pensou. Mas respondeu que era engenheiro. - ele fica de prontidão, caso aconteça algo de errado com o equipamento. Está aqui há uns dois anos. - ninguém mais trabalha no turno da noite? - bem, tem o marvin. Ele faz a faxina há alguns meses. - sobrenome? - eu não sei. Por quê? - nunca se sabe - disse griggs. - a senhorita se dá bem com esses dois? Ela deu risada. - ninguém se dá bem com marvin, mas ele não é do tipo que passa trotes ameaçadores. Ele só fala quando falam com ele, e são quase grunhidos. - e o stan? Paris sentiu que seria uma deslealdade falar dele pelas costas. Se fosse sincera, não seria uma descrição lisonjeira, por isso só contou o que era relevante. - nós nos damos bem. Tenho certeza que nenhum dos dois teve nada a ver com aquela ligação. Griggs sorriu e fechou seu pequeno bloco de notas com um movimento decisivo. - não custa nada investigar. O telefone estava tocando quando paris entrou em casa. Correu para atender. alô? - srta. Gibson, aqui é o policial griggs. -sim?
- chegou bem em casa? - cheguei. Acabei de desligar o meu alarme. Já soube de alguma coisa? - aquele número é de um telefone público perto do campus da universidade do texas. Um carro da polícia foi lá verificar mas não havia ninguém por perto. O telefone Fica do lado de fora de uma farmácia que fecha às dez. O lugar e o estacionamento estavam desertos. E assim, estavam de volta ao ponto de partida. Paris esperava que associassem o número a algum indivíduo triste e solitário como griggs havia descrito, uma alma Penada ameaçando paris e uma prisioneira imaginária, querendo chamar atenção. A apreensão inicial voltou. - e agora? - bem, na verdade não há nada a fazer, a não ser que ele ligue de novo. Mas acho que não vai ligar. Deve ter sido alguém que só queria perturbá-la. Amanhã à noite Teremos carros patrulhando a área em torno daquele telefone público, para ver se encontramos alguém escondido por lá. Isso não bastava, mas era tudo que teria. Paris agradeceu. O policial e seu parceiro tinham feito tudo que se podia esperar que fizessem, mas paris não estava pronta Para aceitar que a ligação de valentino tinha sido um trote e que não tinha nada com que se preocupar. Até a origem do telefonema era preocupante. Uma pessoa que Queria chamar atenção não deixaria pistas óbvias para poder ser rastreada e identificada, repreendida pela polícia, talvez até citada nos jornais? Valentino havia usado um telefone público para não ser rastreado. Não queria ser identificado. Aquela idéia perturbadora não saía da cabeça de paris enquanto ela atravessava a sala da sua casa, passava pelo corredor e entrava no quarto. Como sempre acontecia Quando voltava para casa do trabalho, os cômodos estavam todos às escuras e silenciosos. As casas vizinhas também tinham as luzes apagadas àquela hora, também estavam silenciosas, mas havia uma diferença. Naquelas casas, as orações das crianças tinham Sido ouvidas antes de serem postas na cama. Maridos e mulheres tinham dado beijos de boa-noite. Alguns fizeram amor antes de se acomodar sob o cobertor. Eles compartilhavam Uma cama, calor físico, sonhos. Compartilhavam suas vidas. A escuridão era compensada pelas luzes noturnas, pequenos faróis de conforto que brilhavam em quartos Cheios de brinquedos e sapatos, e todas as coisas que faziam parte de uma vida familiar ativa. As luzes noturnas na casa de paris só enfatizavam a ordem estéril dos cômodos. Seus movimentos eram a única fonte de sons. Dormia sozinha. Não era sua primeira opção, Mas a realidade era essa, e teve de acabar aceitando. Naquela noite, porém, a solidão era enervante. E o motivo era a ligação de valentino. Tinha anos de experiência ouvindo vozes, captando nuances da fala, dando recados subliminares, separando a verdade das mentiras, e ouvindo mais do que era dito em Voz alta. Era capaz de tirar algumas conclusões a respeito de uma pessoa, com base unicamente nas inflexões da fala. Os telefonemas transmitiam alegria, tristeza, Deixavam paris pensativa, aborrecida e, de vez em quando, muito zangada. Nenhum tinha provocado medo. Até aquela noite. Capítulo quatro
Estava começando a sentir câimbra nas pernas por ficar tanto tempo na mesma posição, e enlouquecendo com uma coceira na sola do pé. O rosto doía e sentia o inchaço. O corpo todo doía. Aquele filho-da-puta, pensou, sem poder xingá-lo em voz alta por causa da fita adesiva na boca. Por que tinha inventado de achar que ele era tão especial? Não a levava a lugares fabulosos, nem gastava dinheiro com ela. Nunca estiveram juntos em lugar nenhum, A não ser aquele, e era uma espelunca. Não sabia nada dele, onde trabalhava, nem mesmo seu nome. Nunca soube o nome dele, nem por acaso. Não aparecia impresso em lugar nenhum no apartamento, nem na assinatura De revistas, nem na correspondência, nada. Ele continuava anônimo, e essa devia ter sido a primeira pista de que não tinha classe nem era intrigante, mas apenas Completa e bizarramente esquisito. A segunda vez em que se encontraram, ele definiu a natureza do relacionamento deles. Estabeleceu as regras básicas, por assim dizer. Iniciou a conversa enquanto Espalhava óleo de bebé nela, para obter um efeito especial numa série de fotografias. - a sua amiga... Aquela com quem você estava na noite em que nos conhecemos. - você quer dizer a melissa? - perguntou ela, sentindo uma pontada de ciúme. Será que queria convidar melissa para um ménage à trois com eles? - o que tem ela? - contou para ela sobre nós? - não tive oportunidade. Os pais dela a levaram para passar as férias na frança. Não vi nem falei com ela desde aquela noite em que o conheci. - comentou com alguém sobre mim e sobre o que fazemos aqui? - ah, claro. Anunciei para os meus pais no café da manhã a expressão furiosa dele a fez rir baixinho. -não, seu bobo! Não contei para ninguém. - ainda bem. Porque isso é tão especial que gosto de pensar que você e eu somos o maior segredo um do outro. - nós somos o segredo um do outro. Eu nem sei o seu nome. - mas você me conhece. Ele olhou intensamente para os olhos dela e ela lembrou da primeira impressão que teve, de poder ver bem fundo a alma dele. Achava que ele devia ter sentido aquela Sua ligação instantânea. Afinal, na primeira noite, disse que a amava. < O segredo devia ser necessário por causa de uma esposa que não sabia do seu "hobby". Ela imaginou a mulher dele, uma puritana que só fazia papai-e-mamãe, que jamais Ia entender, menos ainda consentir, com aquela necessidade de variedade e paixão. Imagens da sra. Sem nome se masturbando? Caia na real. Nunca, em um milhão de anos. Provavelmente nem uma foto de seios nus. Aquela noite o sexo que eles fizeram foi especialmente ardente. Ele focalizou, pode-se dizer, não só a sua câmera. Ela perdeu a conta do número de vezes que transaram, Mas era sempre diferente, por isso nunca entediante. Ele queria sempre mais, e disse isso para ela. Foi uma experiência muito excitante, ser praticamente venerada Por um homem com tanta classe, que devia conseguir qualquer mulher. Ela pensou que não queria que aquilo terminasse nunca. Mas isso foi naquele dia. Toda vez que o via, o ciúme dele aumentava, até começar a irritá-la e a privá-la do prazer de estar com ele. Por melhor que fosse o sexo, não valia as cobranças Que ele fazia em relação aos outros homens. Tinha pensado em dar um bolo nele aquela noite, mas depois mudou de idéia. Ele
nunca reagiria bem se ela dissesse que não queria mais vê-lo. Tinha medo da cena que Ele faria, mas era melhor acabar com o sofrimento dele mais cedo do que mais tarde. Ele estava à espera dela no lugar combinado. E, diferente da noite em que se conheceram, não parecia nada tranqüilo e relaxado. Estava agitado e irritado. Assim que ela entrou no carro, ele começou. - você esteve com outro cara, não esteve? Ela achou que devia gostar daquela demonstração de ciúme, mas estava com dor de cabeça e nada a fim de um interrogatório. - tem um baseado aí? Ele sabia que ela gostava de fumar maconha, e sempre tinha um baseado para ela. - no porta-luvas. Havia três num saco plástico. Ela acendeu um e inalou profundamente. - é a melhor coisa para dor de cabeça. Ela deu um suspiro, encostou a cabeça no banco e fechou os olhos. - quem era ele? - quem era quem? - não brinque comigo. O tom de voz dele fez com que ela levantasse a cabeça. - você já esteve com alguém esta noite, não esteve? - os dedos dele apertavam o volante. - nem precisa se dar ao trabalho de mentir. Eu sei que acabou de fazer sexo Com outro cara. Sinto o cheiro em você. Primeiro, ela ficou surpresa e um pouco irritada com o fato de ele ter descoberto. Será que a vigiava? Mas a apreensão logo deu lugar à raiva. Não era da conta dele Com quem, e quando, ela transava. - olha aqui, acho que talvez não seja uma boa idéia a gente sair hoje - disse ela. - estou com tpm e não preciso de ninguém enchendo meu saco. Está bem? A raiva dele se dissolveu imediatamente. - desculpe eu ter levantado a voz. É só que... Eu pensei... - o quê? - que nós tínhamos uma ligação especial. Nesse momento, ela devia ter dito que não queria vê-lo mais. Ele lhe dera uma oportunidade naquela hora, mas, que merda, ela não aproveitou. Em vez disso, disse: - não gosto que você fique cobrando aonde eu vou, o que eu faço, e com quem eu faço. Já tenho tudo isso em casa. - ela Recostou no banco e deu uma longa tragada no baseado. - esfrie a cabeça ou leveme de volta para o meu carro. Ele se acalmou. Ficou amuado, até meio mal-humorado, quando chegaram ao apartamento. - quer vinho? - e não quero sempre? Ela já estava doidona com a erva. Podia muito bem ir até o fim e ficar completamente chapada. Uma trepada de misericórdia, e diria para ele que tinham de dar um Tempo - leia-se para sempre - e então daria o fora dali para nunca mais voltar. O monitor do computador dele era a única fonte de luz naquele conjugado onde as cortinas estavam sempre fechadas. Uma das fotos mais escandalosas dela estava no Descanso de tela. Quando viu, ela disse, estalando a língua: - tsk, tsk. Esta é certamente uma das "cores quentes do depois", não é? Eu sou muito safadinha. Safadinha mas legal, certo? Ela piscou para ele e pegou o copo de vinho que ele trouxera da quitinete. Bebeu o vinho como água, deu um arroto sonoro e molhado, depois ofereceu o copo para ele num gesto impenitente de quem quer mais. - você está agindo como uma vadia.
Pegou o copo calmamente da mão dela e pôs na mesa-de-cabeceira. E, então, deulhe um tapa. Um tapa tão forte que as lágrimas saltaram dos seus olhos antes mesmo Da dor do rosto atingir o cérebro. Ela gritou, mas ficou chocada demais para dizer qualquer coisa. Ele a empurrou para a cama. Ela caiu com força. O quarto parecia girar; estava mais chapada do que pensava. Fez força para levantar. - ei! Eu não quero... - ah, quer sim. Ele pôs a mão sobre o peito dela para imobilizá-la deitada, enquanto tentava tirar o cinto e abrir a braguilha. E começou a rasgar-lhe a roupa. Ela estapeava as Mãos dele, chutava e xingava-o de todos os nomes que conhecia, mas ele não parava. Penetrou nela com tanta força que ela gritou. Cobriu-lhe a boca com uma das mãos. - cale a boca - sibilou ele, tão perto do seu rosto que ela sentiu uma chuva de perdigotos. Ela mordeu a carne logo abaixo do polegar dele. Ele gemeu e tirou a mão. - seu filho-da-mãe - berrou ela. - saia de cima de mim. E ficou atônita quando ele começou a rir baixinho. - você acreditou. Pensou que eu falava sério. Ela parou de lutar. - hein? - eu estava só realizando sua fantasia de estupro. - você é maluco. - ah, sou? - ele lhe deu uma estocada violenta. - é capaz de dizer sinceramente que não gosta? - sou sim. Eu detesto isso. Detesto você, seu filho-da-puta. E ele sorriu, porque, apesar do que ela havia dito, estava correspondendo. Quando acabou, ambos estavam exaustos e brilhando de suor. Ele se recuperou primeiro e foi pegar a câmera. - fique exatamente como está - disse ele, e tirou a primeira Foto. O flash parecia excepcionalmente brilhante. Ela estava completamente chapada mesmo. - não se mexa - disse ele. - tive uma idéia. Mexer? Estava letárgica demais para se mexer. Todo o seu corpo latejava, a começar pela maçã do rosto - como é que ia explicar a mancha roxa? - até as coxas abertas. Meu deus, ainda estava de sandálias. Que graça tinha aquilo? Mas estava cansada demais para tirá-las. Além do mais, ele tinha dito para ela não se mexer. Talvez tivesse cochilado um ou dois minutos. Quando se deu conta, ele estava de volta, inclinado sobre ela, juntando seus pulsos. - o que é isso? - ela ergueu o corpo e viu que ele usava uma gravata para amarrar seus pulsos. - uma montagem para uma fotografia. Você foi uma menina má. Precisa ser castigada. Ele desceu da cama, pegou a máquina fotográfica e ajustou o foco. Foi aí que a história começou a ficar assustadora e ela sentiu os primeiros sinais de apreensão. Fez força para sentar, - eu não disse que não faço esse negócio de sadomasoquismo? - isso não é sadomasoquismo, isso é castigo - disse ele, distraído, indo até o abajur de pé. Ele arrumou a cúpula, inclinou para um lado, depois para outro, fazendo a sombra mudar no corpo dela. Tudo bem. Então chega. Ela não agüentava mais. Depois daquela noite, nunca mais queria vê-lo. Posar tinha sido divertido. Era algo diferente, e tinha de admitir Que depois era muito legal ver suas fotos. Mas ele estava ficando possessivo demais e... Doido demais também.
- olha - ela lembrou de ter dito muito séria -, eu realmente quero que você desamarre minhas mãos agora. Finalmente satisfeito com a iluminação, ele começou a montar o tripé. Ela adotou outra tática e suavizou o tom: - faço qualquer coisa que você quiser. Você sabe que eu faço. Só precisa pedir. Qualquer coisa. Ele ainda parecia não ouvir nada. Enquanto estava distraído, ela deslizara para a beira da cama, calculando a distância até a porta. Mas quando olhou para lá, notou Algo estranho e uma gélida onda de medo percorreu-lhe o corpo quando percebeu que do lado interno da porta não tinha maçaneta, e, em seu lugar havia apenas um disco De metal. Foi quando ele parou de mexer com a câmera. Sem dúvida, percebeu o susto dela e sorriu. - aonde você pensa que vai? - quero que você me desamarre. - você se mexeu e estragou a iluminação - ele a repreendeu suavemente. - iluminação é o caralho, eu vou me mandar. Seus dias de líder de torcida serviram para alguma coisa. Ela pulou da cama com força e agilidade surpreendentes. Porém, não foi muito longe. Ele a segurou pelo Cabelo, puxou-a de volta e a jogou na cama. - você não pode me prender aqui - gritou ela. - você tinha de estragar tudo, não é? - estragar o quê? - nós. - não existe nenhum "nós", seu tarado, doente. - você tinha de me trair. Como as outras. Achou que eu não ia descobrir? Eu também escuto o programa da paris gibson, sabe? Ela pôs o seu telefonema no ar. Milhares De pessoas ouviram você dizer que eu a sufocava com a minha possessividade. Você ia seguir o conselho dela e me deixar, não ia? - oh, meu deus! De pé bem junto dela, com os punhos cerrados ao lado do corpo, parecia que ele se esforçava para controlar a raiva. - não pode tratar as pessoas como papel higiênico e sair impune, sabe? E como ele estava assustador demais, ela resolveu calar a boca. Ele tirou mais algumas fotos, depois achou que também tinha de amarrar os pés dela. Ela lutou como se sua vida dependesse disso, mas ele acabou dando-lhe um tapa Tão forte que seus ouvidos zuniram. Foi a última coisa que ela ouviu. Quando voltou a si, estava de pernas abertas, mãos e pés amarrados na cama, por baixo do colchão de molas, a boca tampada com fita adesiva. O apartamento estava Vazio. Ele tinha saído. Estava sozinha e ninguém sabia onde ela estava. Com o passar das horas, ela imaginou uma dúzia de fugas, mas descartou as idéias quase na mesma hora que as teve. Nenhuma ia funcionar. Não podia fazer nada, a não Ser esperar que ele voltasse para recomeçar seus jogos sexuais doentios. Meu deus, ela pensou, no que foi que eu me meti? - espero que tenham gostado dessa noite de clássicos de músicas românticas. Espero vocês de novo amanhã à noite. Até lá, paris gibson, fm 101.3. Boa-noite. Que ótimo. Agora não tinha nem a companhia de paris gibson. Capítulo cinco Gavin malloy estava completamente bêbado. O zumbido agradável da tequila barata não era mais tão agradável. Fazia calor demais para beber tequila. Devia ter ficado
Só na cerveja. Mas precisava de alguma coisa mais forte e amarga para afogar sua depressão. O pior é que continuava deprimido. A noite tinha se deteriorado para ele mais cedo. A bebedeira não levou a nada, só o deixou zonzo, suarento e nauseado. Com a visão embaçada, olhou para um grupo De cedros mal-cuidados e imaginou se conseguiria cobrir aquela distância no terreno pedregoso, antes de vomitar. Provavelmente não. Além do mais, tinha visto um casal desaparecer atrás das árvores um tempo antes. Se ainda estivessem fazendo o que tinham ido fazer lá, não iam gostar se ele aparecesse Com um acesso de vômito. Por falar em coitus interruptus... Ele riu da idéia. - do que está rindo? - perguntou o novo amigo, dando-lhe uma cutucada na barriga, que fez a tequila chacoalhar. O nome do cara era craig qualquer coisa. Se é que ouvira o sobrenome dele alguma vez, já tinha esquecido. Craig dirigia uma picape dodge ram, a maior que existia. Negra como breu. Totalmente equipada. Muito incrementada. Gavin, craig e alguns outros tinham se reunido nas caçambas das picapes e ficaram assim horas, esperando alguma coisa acontecer. Um grupo de meninas apareceu mais Cedo, bebeu um pouco da tequila deles, mostrou bastante pele para deixá-los excitados, depois foi embora, prometendo voltar. E até aquela hora não tinham voltado. - qual é a graça? - perguntou craig de novo. - nada. Estava só pensando. - pensando o quê? No que ele estava pensando? Não conseguia lembrar. Não devia ser muito importante. - no meu velho - ele disse, arrotando. É, o seu velho esteve no fundo dos seus pensamentos a noite toda, incomodando como uma coceira que não se consegue alcançar. - o que tem ele? - vai ficar puto porque saí hoje. Ele me deixou de castigo. - que merda. - está de castigo? - zombou outro cara. - quantos anos você tem, doze? Gavin não sabia o nome dele, só que era um babaca com a pele ruim e o hálito pior ainda, que pensava que era muito mais legal do que realmente era. Gavin tinha se mudado de houston para austin uma semana depois do semestre da primavera terminar. Formar um novo grupo nas férias de verão não foi fácil, mas tinha Se juntado àquele, que o aceitou depois que souberam que era um cara que gostava tanto de sair quanto eles. - ai, o gavin está com medo do papai - debochou o chato. - não estou com medo dele. Só dele encher o meu saco de Novo. - poupe-se do aborrecimento - isso partiu do otimista que mostrou mais cedo sua coleção de camisinhas. - espere até ele ir para a cama para sair de casa. - já experimentei isso. Ele é um maldito morcego. Tem um radar embutido ou alguma coisa parecida. Aquela conversa estava tornando ainda pior a noitada que já era ruim. Nada ia animá-lo aquela noite, nem mais tequila, nem mesmo o retorno das meninas, e era muito Provável que não voltassem, conforme tinham prometido. Por que desperdiçariam tempo com aquele bando de bundões como ele? Gavin ficou de pé e cambaleou perigosamente. - é melhor eu me mandar. Se tiver sorte, ele ainda vai estar na rua. Saiu com a namorada.
Abriu caminho no meio dos outros e pulou da carroceria. Mas calculou mal a distância até o chão e a fraqueza das pernas, e acabou de cara na terra. Seus novos amigos zoaram. Fraco de tanto rir também, gavin levantou com certa dificuldade. A camiseta estava tão molhada de suor que, quando tentou espanar a terra, Deixou marcas de lama na parte da frente. - até amanhã à noite - disse ele para os amigos, cambaleando. Onde é que tinha deixado o carro? - não esqueça que amanhã é a sua vez de trazer a bebida avisou craig. - estou duro. - roube do seu velho. - não posso. Ele verifica as garrafas. - meu deus, ele é policial nas horas vagas? - vou ver o que posso fazer - resmungou gavin, indo na direção do lugar onde achava que tinha estacionado o carro. - e se a srta. Tesão vier te procurar? - era o babaca, gritando para ele com voz melodiosa. O sorriso era feio e provocador. O que dizemos para ela? Que você teve De voltar para casa, para o seu papai? - vai se foder. O garoto antipático assobiou. - bom, você certamente não vai. Pelo menos não esta noite. Um dos outros reclamou: - cale a boca, babaca. - é, dá um tempo - disse o cara das camisinhas. - qual é? O que foi que eu fiz? Craig falou baixinho: - ela terminou com ele. - ah, é? Quando? Gavin não podia mais ouvir as vozes deles, o que até foi bom. Não queria ouvir mais nada. Localizou seu carro. Não era tão difícil avistá-lo entre os outros, porque era todo ferrado. Não era nenhuma picape incrementada, nenhum carro esporte. Ah, não, Nada disso para gavin malloy. E podia esquecer a motocicleta. Não ia acontecer enquanto seu velho estivesse no comando, e provavelmente nunca, enquanto ainda respirasse. O carro dele era uma bosta. Um meio de transporte sensato, resistente, que estragaria a imagem veloz de uma mãe mórmon. E esperavam que ele agradecesse. Teve de escutar um sermão quando emitiu críticas ao carro. - um carro não é brinquedo, gavin. Nem símbolo de status. Esse é um carro confiável. O seu primeiro. Quando provar que é suficientemente responsável para tomar conta Dele e usá-lo com segurança, vou pensar num melhor. Até lá... Blá, blá, blá. O troço era uma vergonha. Quando começasse o semestre da primavera na nova escola, provavelmente seria motivo de chacota no campus por causa daquela merda. O mais Idiota dos idiotas não ia querer ser visto com ele. No seu estado atual, não devia dirigir coisa nenhuma, e tinha um pingo de sobriedade para saber disso. Concentrou-se muito em manter a linha central em foco. Mas Isso só fazia aumentar a tontura. Ainda faltavam alguns quarteirões para chegar em casa e ele teve de parar e sair do carro para vomitar. Despejou um rio de tequila no canteiro de flores que formava Um perfeito círculo de cor em volta da caixa do correio de algum pobre coitado. Alguém ia ter uma surpresa nojenta quando saísse para pegar a correspondência de Manhã. Sem falar do carteiro. Sem coordenação, gavin entrou no carro e dirigiu o resto do caminho para a nova
casa que o pai tinha comprado para eles. Não era nada má. Na verdade, gavin gostava Dela. Especialmente da piscina. Mas não queria que o pai soubesse que gostava da casa. Ficou aliviado ao ver que o carro do pai não estava na entrada. Mas gavin sabia que o pai era capaz de montar uma armadilha para ele, por isso entrou sorrateiramente Pela porta dos fundos, parou e ficou escutando. O pai ia adorar pegá-lo se esgueirando, para poder deixá-lo de castigo mais tempo, tirar seu celular, seu computador, Seu carro, e tornar sua vida ainda pior do que já era. Aquela era a principal missão da vida dos pais dele. Tornar a sua vida miserável. Certo de que não tinha ninguém em casa, gavin foi para o quarto. O velho ainda devia estar com liz. Trepando que nem Coelhos, sem dúvida. Nunca transavam na cama dele, em casa. Será que pensavam que ele era burro, que não sabia que faziam sexo quando ele passava a noite na casa Dela? Era fácil imaginar liz na cama. Tinha um corpo tesudo. Mas o seu velho? No cio? De jeito nenhum. Gavin não conseguia imaginar nada mais abjeto. Ligou o computador no quarto antes mesmo de acender o abajur da mesa. Não entendia a vida sem um computador. Como é que as pessoas sobreviviam antes dele? Se seu Pai realmente quisesse puni-lo, era esse o privilégio que devia revogar. Verificou seus e-mails. Havia um da mãe, que apagou sem ler. Qualquer coisa que ela tivesse a dizer seria para aplacar a própria consciência, e gavin não queria Saber. Você vai entender que isso é o melhor para todos. Você e o seu futuro são a nossa maior preocupação, gavin. Depois que você se adaptar à mudança... Claro, mãe. Tem razão, mãe. Que besteira, mãe. Sentou diante do computador e começou a compor uma carta no e-mail. Mas não para a mãe. A raiva que sentia dela era pequena, comparada com o ódio que sentia de quem Ia receber aquela carta. Não que planejasse enviá-la. E justamente por não pretender enviar, desabafou toda a fúria que se acumulava dentro dele há dias. - por que você se acha tão maravilhosa? - escreveu. - já vi melhores. Já tive melhores. - gavin? A luz do teto acendeu e ele quase caiu da cadeira de susto. Saiu rapidamente do e-mail, antes que o pai pudesse ler o que havia na tela. Virou para trás, torcendo Para não parecer culpado. - o que é? - cheguei. - e daí? - você está bem? - e por que não estaria? Não sou criança. - você jantou? - ah, sim - disse ele, estalando os lábios. - sobra de pizza no microondas. - você foi convidado a jantar comigo e com liz. Não foi porque não quis. - aposto que isso partiu seu coração. Com a voz suave e tranqüila que gavin odiava, o pai disse: - se não quisesse que você fosse, eu não teria convidado. Ele entrou no quarto. E gavin pensou, oh, que maravilha. - o que esteve fazendo a noite toda? - nada. Surfando na net. - o que é isso na sua camiseta?
Perfeito. Tinha esquecido da terra na camiseta. E devia ter vômito também. Ignorou a pergunta e virou de frente para o computador de novo. - estou ocupado. O pai segurou gavin pelos ombros e o fez virar para ele. - você saiu. O seu carro não está no mesmo lugar que estava quando saí, e o capô está quente. Gavin deu risada. - está verificando a temperatura do motor do meu carro? Vai cuidar da sua vida. - e você tem de cuidar de me obedecer - disse o pai, elevando o tom de voz, coisa rara. - você está fedendo a vômito e está bêbado. Dirigindo embriagado, podia ter Matado alguém. - bem, não matei. Por isso, relaxe e me deixe em paz. Dean estendeu a mão, com a palma para cima. - dê-me as chaves do seu carro. Gavin olhou furioso para ele. - se pensa que tirando as chaves vai me prender aqui, está muito enganado. Dean não disse nada, só continuou com a mão estendida. Gavin pescou as chaves do bolso da calça jeans e deixou cair na palma da mão do pai. - eu odeio a merda do carro mesmo, por isso não é grande perda. O pai embolsou as chaves mas não saiu do lugar. Sentou na beira da cama desarrumada. - e agora, o que é? - gemeu gavin. - um dos seus famosos sermões sobre como estou desperdiçando a minha vida? - você acha que gosto de castigá-lo, gavin? - é, acho que gosta. Acho que tem o maior prazer de ser o pai grande e mau, mandando em mim o tempo todo. Você gosta de dizer tudo que faço de errado. - isso é ridículo. Por que diz isso? - porque você nunca fez nada de errado em toda a sua maldita vida. Você é o sr. Perfeito. Deve ser chato pra caramba estar certo o tempo todo. Ficou surpreso ao ver o sorriso triste do pai. - longe de mim estar certo o tempo todo e não sou nada perfeito. Pergunte para a sua mãe. Ela pode dizer. Mas sei que estou certo em uma coisa. Dean parou e olhou sério para gavin, provavelmente esperando que ele perguntasse que coisa era essa. Podia esperar até o inferno congelar. Finalmente, ele disse: - o que é certo é que você está morando comigo agora. E estou feliz com isso. Eu quero que você fique aqui. — certo. Tenho certeza que você está animadíssimo com esse novo esquema de coisas. Você adora ter a mim por perto, perturbando, atrapalhando você. - atrapalhando? O quê? - tudo - a exclamação fez a voz de gavin falhar. Esperava que o pai não confundisse com emoção, que certamente não era. - estou atrapalhando a sua vida. Seu novo emprego. Liz. - você não atrapalha nada, gavin. Você é minha família, meu filho. Liz e eu queríamos a sua companhia esta noite. Ele bufou em tom de deboche. - para um jantarzinho íntimo? Só nós três. A sua nova família. E depois, o quê? O que eu ia fazer quando você a levasse para casa? Esperar no carro enquanto você Entrava para uma chupadinha rápida? Na mesma hora, gavin percebeu que tinha ido longe demais. O pai não era do tipo que perdia a cabeça quando ficava zangado. Não ficava violento, não vociferava nem Xingava, não saía batendo os pés, não berrava nem quebrava coisas. Em vez disso, o sr. Autocontrole ficava perfeitamente imóvel. Seus lábios se afinavam e uma coisa Engraçada acontecia com os olhos, pois eles pareciam endurecer e enxergar melhor, e atravessavam você como alfinetes de aço. Mas parecia que havia um limite para o controle do pai, e gavin tinha acabado de atingi-lo.
Antes mesmo de processar tudo isso, o pai dele já estava de pé, e gavin do lado de quem recebe um tapa com as costas da mão que pegou sua boca com toda força e abriu Um corte no lábio. - você não quer ser tratado como criança? Ótimo. Vou tratálo como adulto. Era isso que eu teria feito com qualquer homem adulto que dissesse uma coisa dessas para Mim. Gavin lutou para controlar as lágrimas. - eu te odeio. - bem, isso é uma pena. Você tem de ficar comigo. Dean saiu e fechou a porta. Gavin caiu na cadeira. Ficou no meio do quarto desarrumado, fervendo de raiva e de frustração. Mas vendo que não tinha para onde fugir, e que não tinha meios para Fugir se tivesse para onde, jogou-se na cama. Passou a mão para secar o ranho, as lágrimas e o sangue que se misturavam no rosto. Teve vontade de chorar. Queria se encolher na posição fetal e chorar como um Bebê. Porque sua vida era uma bosta. Tudo nela. Odiava tudo e todos. Seu pai. Sua mãe. A cidade de austin. Mulheres. Seus amigos burros. Seu carro horrendo. E, acima de tudo, odiava a si mesmo. Capítulo seis Sem parecer óbvio demais, o sargento robert curtis tentava ver através das lentes escuras dos óculos de paris. Percebeu que estava olhando fixo para ela, e rapidamente Ofereceu uma cadeira. - perdoe minha falta de modos, srta. Gibson. Admito que fiquei meio deslumbrado de ver uma estrela. Sente-se. Quer um café? - eu estou bem, obrigada. E não sou uma estrela. - tenho de discordar. Curtis era detetive do bureau central de investigações do departamento de polícia de austin. Tinha uns cinqüenta e poucos anos, corpo compacto e todo produzido, Até o par de botas de vaqueiro bem engraxadas, cujos saltos acrescentavam uns quatro centímetros à sua estatura. Apesar de nem assim ficar mais alto que ela, transmitia Um ar de autoridade e segurança. Havia um paletó esporte pendurado num cabide de pé, mas o nó da gravata estava muito bem dado sob o colarinho engomado. Nos punhos, Um monograma com as iniciais do nome dele. Nas paredes da pequena sala, havia um mapa detalhado do estado, um outro do município de travis e um diploma emoldurado. A mesa embutida estava quase completamente Coberta de papéis e de componentes de um computador, mas não parecia desarrumada. Curtis sentou à mesa e sorriu para ela. - não é todo dia da semana que recebo a visita de uma personalidade do rádio. O que posso fazer pela senhorita? - não sei se pode fazer alguma coisa. Agora que estava ali, escondida com um detetive no seu cubículo compacto, onde ele provavelmente trabalhava muito, servindo ao público capturando criminosos, paris Repensava a idéia de procurá-lo. Coisas que aconteciam às duas horas da madrugada adquiriam uma aparência diferente à luz do dia. De repente ir até lá pareceu uma reação melodramática e um pouco Egocêntrica ao que provavelmente seria apenas um trote.
- eu liguei para o 911 ontem à noite - ela começou a dizer. - na verdade, foi nesta madrugada. Dois policiais, griggs e carson, atenderam ao meu chamado. Tenho um número de protocolo para sua referência. Deu para ele o número que griggs tinha deixado. - que tipo de 911, srta. Gibson? Paris contou o que tinha acontecido. Ele ouviu atentamente. Com a expressão aberta e preocupada. Não ficou inquieto como se ela estivesse desperdiçando seu tempo Com uma coisa sem importância. Se estava fingindo interesse, o fazia muito bem. Ela terminou o relato, tirou da bolsa uma fita cassete e entregou ao detetive. - fui até a estação bem cedo esta manhã e fiz uma cópia da Ligação. Paris lutou contra a insónia até o amanhecer, quando finalmente rendeu-se a ela. Levantou da cama, tomou um banho, vestiu-se e já estava de volta na estação de rádio Quando charlie e chad, os djs dos programas matinais para quem ouvia rádio no carro, a caminho do trabalho, liam as manchetes do noticiário das sete. - terei prazer em ouvir a sua fita, srta. Gibson - disse curtis. - mas esse departamento investiga homicídios, estupros, assaltos, roubos. Telefonemas ameaçadores... - ele abriu bem as mãos. Por que veio me procurar? - li seu nome no jornal de ontem - admitiu ela, mortificada, - sobre o seu testemunho num julgamento. Pensei que obteria uma atenção mais pessoal se pedisse para falar com um detetive específico, em vez de simplesmente aparecer Aqui sem hora marcada. Agora era ele que parecia mortificado. - e deve ter razão. - e se a pessoa que ligou para mim fizer o que ameaçou fazer, caberá a este departamento investigar, não é? Recuperando imediatamente a seriedade, curtis levantou da cadeira e saiu do cubículo. Dirigiu-se ao salão como um todo, perguntando se alguém tinha um gravador à Mão. Segundos depois, apareceu um detetive à paisana com um. - aqui está. Ele olhou para paris com curiosidade evidente quando entregou a máquina para curtis. - obrigado, joe - disse curtis bruscamente, numa clara atitude de dispensa. O outro homem se retirou. O sargento curtis tinha sido uma escolha casual, mas paris estava achando bom ter ido procurá-lo. Era óbvio que tinha algum poder, e que não relutava em usar. Ele retornou para a sua cadeira, pôs a fita no toca-fitas e disse à meia-voz: - já vi que andaram espalhando por aí quem a senhorita é. Pode ser, pensou paris. Ou então o outro detetive podia estar apenas imaginando por que ela não tirava os óculos escuros. Aquela sala não era um lugar especialmente Iluminado. Na verdade, era uma cela sem janelas. Curtis e o outro detetive deviam ter concluído que paris usava óculos escuros, como fazem as celebridades, para esconder a identidade em público, ou para alimentar O mistério de personalidade da mídia que usava os óculos para excluir as outras pessoas. Jamais podiam imaginar que paris usava os óculos escuros para se fechar. - vejamos o que o senhor... Como era mesmo? Valentino?... Tem a dizer. Curtis apertou o botão play. Aqui é paris. Olá, paris. Aqui é valentino. Quando a fita terminou, curtis cutucou o lábio inferior, pensativo, depois perguntou. - importa-se se eu puser para tocar de novo? Sem esperar o consentimento dela, ele rebobinou a fita e reiniciou. Enquanto ouvia, curtis franzia a testa concentrado e rodava o anel da universidade do
texas no Dedo curto e grosso. No fim da fita, paris perguntou: - o que o senhor pensa, sargento? Estou levando a sério demais o trote de um maluco? E ele também fez uma pergunta: - você tentou ligar para o número dele? - eu estava tão atordoada que nem pensei em ligar imediatamente, mas acho que devia ter feito isso. Ele afastou a preocupação dela com um gesto. - de qualquer maneira, ele provavelmente não ia atender. - ele não atendeu quando carson telefonou mais tarde. Também não tinha caixa de mensagens. Ficou só tocando. - o número do identificador de chamadas, a senhorita disse que foi rastreado para um telefone público? - tenho certeza que os detalhes estão no relatório, mas griggs me disse que enviou uma viatura àquela área para verificar a cabine telefônica. Mas naquela hora Pelo menos meia hora depois, talvez mais - quem tinha feito a ligação já não estava mais por Perto. - alguém deve ter visto quando ele usou a cabine telefônica. Os policiais perguntaram por lá? - não havia ninguém para perguntar. De acordo com griggs, o lugar estava deserto quando a viatura chegou - as perguntas de curtis estavam validando a preocupação Dela, mas isso só fazia aumentar a angústia. - o senhor acha que valentino estava dizendo a verdade? Que ele realmente seqüestrou a menina que Planeja matar? Curtis encheu as bochechas de ar antes de expelir lentamente. - eu não sei, srta. Gibson. Mas se estava, e se cumprir o prazo que deu de três dias, não temos tempo para ficar aqui sentados conversando a respeito. Não quero Outro caso de seqüestro-estupro-assassinato na minha mesa, se puder evitar. Curtis se levantou e pegou o paletó. - o que nós podemos fazer? - vamos começar procurando determinar se ele fala sério ou se é apenas um maluco querendo atrair a atenção da sua celebridade favorita. A essa altura, curtis já conduzia paris pelo labirinto de cubículos similares ao dele, indo para as portas duplas pelas quais ela havia entrado no bureau central De investigações. - e como é que se determina isso? - procuramos a autoridade no assunto. Bem na hora que dean ia sair, liz telefonou do aeroporto de houston. - você já está em houston? - o meu vôo partiu de austin às seis e meia. - horror. - nem me fale - depois de uma breve pausa, ela perguntou: - o que aconteceu com gavin quando você chegou em casa ontem à noite? - uma guerra franca básica, os dois lados marcando pontos e sofrendo baixas. Ele equilibrou o telefone sem fio entre o queixo e o ombro e serviu um copo de suco de laranja. Tinha ficado horas acordado na cama na noite anterior, e quando finalmente Caiu no sono, foi como entrar em coma. O despertador ficou tocando meia hora até ele acordar. Não tinha mais tempo de fazer café aquela manhã. - bem, pelo menos ele estava em casa quando você chegou - disse liz. - não desobedeceu sua ordem. Sem querer comentar a discussão que teve com gavin, dean concordou com um grunhido não verbal. - a que horas é a sua primeira reunião em chicago? - assim que eu chegar no hotel. Espero que o o'hare não esteja muito movimentado
para eu poder sair depressa de lá. O que você tem na agenda hoje? Ele descreveu seu dia. Liz disse que tinha de correr, que só queria dizer oi antes do vôo para chicago. Dean disse, ainda bem que me pegou em casa, e desejou-lhe Uma boa viagem. - eu te amo - disse ela. - também te amo - respondeu ele. Depois de desligar, dean abaixou a cabeça, fechou os olhos e bateu o telefone com força na testa, como se pagasse algum tipo de penitência heterodoxa de autoflagelação. Em vez de significar o bom começo de dia que liz certamente pretendia, a ligação deixou dean irritado. Acrescentando a isso o calor insuportável e o trânsito matinal De austin, ele estava Com um humor péssimo quando chegou na sua sala alguns minutos atrasado. - bom-dia, srta. Lester. Algum recado? Dean dividia a secretária com outras pessoas. Ela era competente. E simpática. No primeiro dia dele no emprego, a srta. Lester havia informado que era mãe divorciada De duas meninas, e que ele podia chamá-la pelo primeiro nome. A não ser que estivesse enxergando mal, e não achava que estava, desde a sua chegada, os decotes tinham ficado progressivamente mais profundos, e as bainhas mais Curtas. Essa redução gradual de tecido podia estar associada à temperatura crescente do verão, mas duvidava disso. Só para se garantir, ele continuou chamando-a De srta. Lester. - os recados estão na sua mesa. Estou fazendo café. Assim que estiver pronto, levo uma xícara para a sua sala. Servir café não estava incluído na descrição das funções dela, mas naquela manhã dean ficou feliz com a oferta. - ótimo, obrigado. Entrou na sala e fechou a porta, desencorajando qualquer conversa. Pendurou o paletó no cabide de parede, afrouxou a gravata e desabotoou o colarinho. Sentou à mesa E folheou os recados, feliz de ver que não havia nada de urgente. Precisava de alguns minutos para descomprimir. Rodou na cadeira e arrumou a persiana para poder ver pela janela. A luz do sol era ofuscante, mas não foi por isso que enfiou os dedos nas órbitas e depois passou As mãos no rosto. O que ia fazer com gavin? Quantas vezes podia deixá-lo de castigo? Quantas outras mordomias poderia tirar? Quantas cenas iguais à da noite anterior eles iam suportar? Discussões como aquela provocavam danos que muitas vezes eram irreparáveis. Será que algum relacionamento sobreviveria a ataques constantes Como aquele? Lamentava profundamente ter dado o tapa nele. Não que gavin não merecesse, pelo insulto que havia proferido. Mas mesmo assim não devia ter batido no filho. Ele era Adulto e devia ter se comportado como tal. Perder o controle daquele jeito era infantilidade. E perigoso. A perda de controle podia provocar uma destruição muito Grande, e sabia disso melhor do que ninguém. Além do mais, tinha decidido ser um exemplo positivo para gavin. Não queria fazer sermões, queria ser um modelo de comportamento. Na véspera, dera um recado equivocado De como lidar com a raiva e estava arrependido. Passou os dedos no cabelo e se perguntou por que o café estava demorando tanto.
Será que devia mandar gavin de volta para a mãe dele? - não é uma opção - dean resmungou em voz alta. De jeito nenhum. Por uma longa lista de motivos que incluía descumprir o acordo que pat e ele tinham feito a respeito do filho, mas o principal era que dean malloy Detestava o fracasso. Em qualquer coisa. Só jogava a toalha quando era absolutamente forçado a fazê-lo. Gavin tinha dito, aliás, tinha praticamente acusado o pai, de ter sempre razão. Disse que devia ser chato à beça estar certo o tempo todo. Não era nada disso, gavin, Ele pensou cinicamente. Não achava que tinha razão em nada. E obviamente não estava agindo corretamente com o filho. Ou com liz. Nem de longe estava agindo bem com liz. Quanto tempo mais podia adiar a providência que tinha de tomar? - dr. Malloy? Pensando que a srta. Lester estava chegando com o tão esperado café de alta octanagem, continuou de costas para a porta. - ponha na mesa, por favor. - tem uma pessoa aqui que quer falar com o senhor. - dean rodou na cadeira. - o sargento curtis, do bureau central de investigações, pediu um minuto do seu tempo - disse a secretária. - ele pode entrar? - certamente. Dean tinha encontrado o detetive apenas uma vez, mas parecia o tipo de cara direito. Sabia que era trabalhador e muito respeitado na polícia de austin. Ficou de Pé quando curtis entrou na sala. - bom-dia, sargento curtis. - apenas curtis. É assim que todos me chamam. O senhor prefere doutor ou tenente? - que tal dean? Os dois se encontraram no meio da sala e apertaram-se as Mãos. - cheguei em má hora? - perguntou curtis. - perdão por invadir assim sua sala sem ser anunciado, mas isso pode ser importante. - não tem problema. O café está a caminho. - então peça para três. Não estou sozinho. Curtis recuou até a porta e fez sinal para alguém se aproximar. Apesar dos óculos escuros, paris teve medo da cara que fez não ser menos reveladora que a de dean. Ele parecia tão aturdido como paris tinha ficado alguns minutos antes, ao ler o nome dele na porta da sala em que ia entrar, desavisada, despreparada, desprotegida E sem poder impedir o Inevitável. Dean olhou para ela boquiaberto alguns segundos antes de Conseguir articular em tom de espanto. - paris? Curtis olhou para um e para outro, surpreso. - devo trazer mais xícaras, dr. Malloy? - quis saber a secretária. Dean continuou olhando fixo para paris quando respondeu: - por favor, srta. Lester. A secretária saiu e deixou paris, dean e o detetive de pé, paralisados, formando uma cena estranha, como atores que esqueceram suas falas. Finalmente, curtis pôs A mão sob o cotovelo de paris e a fez chegar para a frente. Contra a sua vontade, paris entrou mais na sala, no território de dean. E como qualquer território que dean já havia ocupado, ele o dominava. Não apenas fisicamente, com sua estatura acima da média e ombros largos, mas com a força da
Sua personalidade. Num instante dava para sentir que aquele era um homem de princípios, de convicções inabaláveis e determinação muito firme. Podia ser seu aliado Incondicional ou seu mais temido adversário. Paris conhecia os dois. Sua garganta se contraiu, como se todos os vasos sangüíneos que saíam do coração convergissem para lá. O oxigênio na sala parecia insuficiente. Respirava com dificuldade E ao mesmo tempo lutava para parecer perfeitamente calma. Dean também não estava se saindo muito bem. Quando ficou óbvio que o choque havia privado o homem de suas boas maneiras, curtis fez paris sentar na cadeira mais Próxima. Isso fez dean despertar do transe. - oh, sim, por favor, sentem-se. Os dois. Enquanto ocupavam seus lugares, curtis disse: - não sou detetive por acaso. Percebi que vocês dois se conhecem. Paris contava com a voz para ganhar a vida, mas estava sem ela. Deixou dean explicar. - de houston - disse ele. - anos atrás. Eu trabalhava na polícia e paris... Ele olhou para ela aflito, sem deixar escolha, senão de continuar a explicação. - eu era repórter de uma estação de televisão. Curtis ergueu as sobrancelhas claras, surpreso. - televisão? Pensei que sempre tivesse trabalhado no rádio. Ela olhou para dean e balançou a cabeça. - passei da televisão para o rádio. Curtis murmurou alguma coisa, indicando que compreendia a transição, mas obviamente não estava entendendo nada. - com licença-a srta. Lester entrou carregando uma bandeja. Pôs na mesa de dean e perguntou: - creme e açúcar, alguém? Todos recusaram. Ela serviu três canecas com café de uma garrafa térmica de aço inoxidável, depois perguntou para dean se ele queria mais alguma coisa. Ele balançou A cabeça indicando que não e agradeceu. Curtis ficou observando a secretária sair da sala. Virou para a frente de novo e disse: - estou impressionado. Eles não são partidários de assistentes pessoais no bureau. - o quê? - dean olhou para ele confuso, depois para a porta. - ah, a srta. Lester. Ela não é minha assistente pessoal. É só... Ela é muito eficiente, só isso. Trata todo mundo por aqui desse jeito. "por aqui" era o anexo vizinho ao prédio principal do quartel general da polícia. Era bem acessível através de uma garagem para os dois, que tinha sido o caminho Tomado por paris e curtis. O detetive não parecia ter engolido a explicação dada por dean para a atenção da secretária, e paris também não, mas não tocou Mais no assunto. Paris pôs as duas mãos em volta da caneca de café fumegante, grata pelo calor que emanava dela. Dean deu um gole no seu e provavelmente queimou a língua. - não tinha idéia de que estaria reunindo amigos de longa data - comentou curtis. - paris não sabia que eu tinha sido transferido para cá - disse dean, observando paris com muita atenção. - se soube... - eu não sabia. Imaginei que ainda estivesse em houston. - não. - humm. Curtis preencheu a lacuna na conversa: - até o dr. Malloy vir trabalhar conosco, usávamos civis e pagávamos honorários pela consulta. Mas já fazia muito tempo que estávamos querendo e precisando de um
Psicólogo na equipe, um membro do departamento, alguém com experiência e com treinamento da polícia, além de psicólogo. No início deste ano, finalmente aprovaram A verba e tiramos a sorte grande de conseguir atrair o dr. Malloy para cá. - que bom - paris incluiu os dois no sorriso formal. Depois de mais um breve silêncio, dean pigarreou de novo E virou para o detetive. - você mencionou um assunto que podia ser importante. Curtis procurou uma posição mais confortável na cadeira. - você conhece o programa da srta. Gibson no rádio? - escuto todas as noites. Paris levantou a cabeça rapidamente e olhou surpresa para dean. Ficaram se entreolhando alguns segundos, e depois dean virou para curtis outra vez. - então sabe que ela recebe pedidos de música pelo telefone e outras ligações também - disse o detetive. Dean meneou a cabeça. - na noite passada ela recebeu uma Ligação que a deixou assustada. E com motivo. - curtis explicou a natureza da ligação de valentino e concluiu dizendo: -achei que talvez você pudesse ouvir a fita e dar sua opinião profissional. - será um prazer. Vamos ouvir a fita. Curtis tinha levado o toca-fita. Pôs em cima da mesa, voltou a fita e depois de alguns começos falsos, pelos quais pediu desculpas, a voz de paris preencheu o silêncio Tenso: aqui é paris. Naquela altura, paris já conhecia o diálogo, palavra por palavra. Enquanto era reproduzido, ela ficou olhando para a caneca de café, mas com a visão periférica observava Dean. Partes separadas dele. Ele todo. Disfarçadamente, olhou para as mãos, apoiadas na beirada da mesa, com os dedos cruzados. Dean esfregava os polegares lentamente, E isso, apenas isso, provocou um tremor no fundo do seu ventre. Só uma vez se permitiu olhar para o rosto dele. Dean olhava para o vazio, mas deve ter sentido o olhar de paris, porque focalizou nela rapidamente. Os olhos dele Ainda eram capazes de fazer paris se sentir como uma borboleta espetada num quadro de cortiça. Um dia, anos atrás, já tinha sido excitante ser observada com aquela intensidade. Agora, contudo, só fazia paris lembrar-se de coisas que devia ter esquecido há Muito tempo. Fazia renascer sensações e emoções que tinha tentado abafar e que, até poucos minutos atrás, pensava ter enterrado. Olhou de novo para a caneca de café. Quando a fita terminou, dean perguntou se podia fazer uma cópia. - claro que sim - respondeu curtis. Dean ejetou a fita e saiu da sala tempo suficiente para despachar a srta. Lester com aquela incumbência. Quando voltou, curtis perguntou: - então, não acha que esse cara está inventando tudo isso? - quero ouvir a gravação mais algumas vezes, mas a primeira impressão que tive é que é, no mínimo, preocupante. Já recebeu algum outro telefonema como esse antes, Paris? Ela balançou a cabeça. - os ouvintes já falaram de ovnis, infiltração terrorista, asbesto no sótão. Certa noite, uma mulher telefonou para contar que tinha uma cobra na banheira e perguntou Se eu sabia dizer Se era venenosa. Recebo pelo menos uma proposta de casamento por semana. Tive uma oferta de um doador de esperma. Centenas de propostas obscenas. Mas nada igual
A isso. Esse... Eu sinto que esse é diferente. - apesar de ter ligado antes para você. - um homem que se identifica como valentino telefona de vez em quando. Creio que é o mesmo homem, mas não posso jurar. - acha que é alguém que você conhece? Paris hesitou antes de responder. - sinceramente? Não consegui dormir a noite passada pensando nisso. Mas não reconheço essa voz, e acho que reconheceria. - você deve ter um ouvido ótimo para vozes - disse dean, pensativo. - mas parece que ele está disfarçando a dele. - também acho isso. - então pode ser alguém que você conhece. - acho que pode. Mas não consigo pensar em ninguém que faria uma brincadeira horrível dessas. - recentemente você pisou no calo de alguém? - não que eu saiba. - discutiu? - não me lembro de nenhum incidente assim. - você disse alguma coisa que podia ser considerada uma afronta? Para um colega de trabalho. Caixa do banco. Garçom. Empacotador do supermercado. Para o cara que Seca seus vidros no lava a jato. - não - respondeu ela, irritada. - não tenho o hábito de provocar as pessoas. Dean ignorou a irritação de paris e continuou. - brigou com seu namorado? Terminou um relacionamento? Partiu o coração de alguém? Ela olhou furiosa para ele durante segundos poderosos, depois balançou a cabeça. Funcionando como árbitro diplomático num conflito que não entendia, curtis pôs a mão na boca e tossiu. - dois novatos, griggs e carson, cuidaram disso à noite passada - disse ele para dean. - iam checar o pessoal da estação do Rádio hoje cedo. Vou falar com eles agora mesmo, para ver se descobriram alguma coisa. Com licença. Antes de paris protestar - e como poderia? - curtis tirou o celular da capa presa ao cinto e saiu da sala. Em vez de esquentar as mãos, a caneca de café tinha esfriado em contato com elas. Paris chegou para frente e pôs na ponta da mesa de dean, prestando mais atenção Na caneca e na mesa do que era necessário. Sem ter mais como evitar, olhou para ele. - eu não planejei isso, dean. Quando cheguei aqui esta manhã, não tinha idéia... Eu não sabia que você estava em austin agora. - eu podia ter dito para você no enterro do jack. Você não quis falar comigo. - e, não quis. - por que não? - não seria direito. Dean aproximou-se dela e disse, em voz baixa mas zangado: - depois de sete anos? Jack tinha sido o primeiro a dizer que ninguém atingia dean como paris. Parecia que ela era a única pessoa no planeta capaz de tirar uma lasca do seu rígido autocontrole. Ainda zangado, dean disse: - pensei que os óculos escuros fossem só para o enterro. Você ainda tem... - não vou falar sobre isso, dean. Iria embora se pudesse. Se eu soubesse quem o sargento curtis vinha procurar... - você teria dado meia-volta e fugido. Esse é o seu modus operandi, não é? Paris nem sequer pôde formular uma resposta e curtis já estava de volta. - estão investigando o faxineiro, marvin patterson. Nada de concreto até agora. Parece haver uma certa confusão que estão tentando resolver. Devo receber informações
Logo. Stan crenshaw... - ele fez uma pausa e olhou para paris. - ele é parente do dono da emissora? - é sobrinho de wilkins crenshaw. - nepotismo? - certamente - disse ela sinceramente. - stan faz o mínimo possível e não é muito bom no pouco que faz. A preguiça dele é irritante, e em geral inconveniente para Quem trabalha com ele, mas pessoalmente nos damos bem. Além do mais, não poderia ter sido nem ele, nem marvin, mesmo que qualquer um fosse capaz de fazer isso. Os Dois estavam no prédio quando recebi a Ligação. - já que os telefones são equipamentos de alta tecnologia hoje em dia, pedi para o gênio da eletrônica do departamento investigar isso. Os policiais também estão Conversando com as pessoas que trabalham na farmácia, para ver se conseguem alguma coisa. Um funcionário ou freguês obcecado pela senhorita. Mas... - ele parou de falar e puxou o lóbulo da orelha. - na verdade, não temos um crime consumado aqui. Só a ameaça de um. - é uma ameaça séria. - certo - o detetive admitiu, pensativo. - valentino disse que ouviu a mulher falando sobre ele no seu programa. Lembra-se de uma ligação como a que ele descreveu? - assim de pronto, não. Mas deve ter sido bem recente, e foi uma ligação que botei no ar. Isso reduz a busca consideravelmente. Mas eu nunca diria para alguém "dar O fora" no namorado. - ele podia estar mentindo quanto a isso - disse dean. Curtis e paris olharam para ele sem entender. - a ligação da namorada podia ser uma invenção para justificar, até para ele mesmo, o que planeja fazer com ela. Era uma suposição desagradável. Enquanto os três refletiam em silêncio, a srta. Lester voltou com a fita original e a cópia pedida. Dean pôs a fita para rodar de Novo. - tem uma coisa que me preocupa - disse ele quando terminou. - ele se refere a "meninas", não a mulheres. - reduz o status da mulher - observou curtis. - na avaliação dele, sim. Isso dá uma pista do que se passa na cabeça desse cara. O fato de não gostar e de desconfiar das mulheres fica muito claro. Se eu tivesse De fazer um perfil dele baseado apenas nessa conversa, diria que ele é um estuprador raivoso com desejo de retaliação. Aparentemente, curtis conhecia o termo. - ele tem raiva das mulheres em geral, devido a injustiças concretas ou imaginadas. - é. Possivelmente resultado de abuso sexual, até incesto. Uma motivação muito perigosa - disse dean. - sexo é seu método de punição. E isso normalmente se traduz Em estupro violento. Se ele quer fazer a vítima sangrar, como disse para paris, não terá nenhum escrúpulo em matá-la - formou uma linha fina com os lábios, manifestando A apreensão que todos sentiam. - e outra coisa, o único valentino de quem já ouvi falar foi o rodolfo. - o astro dos filmes mudos - disse paris. - isso mesmo. E o filme mais famoso dele foi o sheik. - no qual ele seqüestra e seduz, de certa forma forçada, uma jovem - paris conhecia o filme. Jack e ela tinham assistido num festival de clássicos. - você acha que É por isso que ele usa esse nome?
- podia ser uma coincidência, mas não posso descartar essa hipótese - dean pensou uns dois segundos. - na verdade, curtis, não posso descartar nada disso. Recomendo Que levem esse cara a sério. O detetive concordou meneando a cabeça, preocupado. - infelizmente eu concordo. - gostaria de trabalhar com vocês nesse caso. - agradeceria a sua ajuda. Vamos levar a sério a ameaça de valentino até provar que não passa de um trote. - ou provar que é real - paris disse baixinho. Capítulo sete O juiz kemp atendeu ao pedido do advogado de defesa, de um recesso de meia hora para consultar seu cliente, com a esperança de convencê-lo a aceitar o acordo para Reconhecer a culpa que encerraria o julgamento e liberaria a sua tarde. Aproveitou aquela meia hora para se retirar para os seus aposentos e cortar os pêlos do nariz com uma minúscula tesourinha de prata. Usou um espelho que ampliava Cinco vezes o tamanho normal. Mesmo assim, era um procedimento delicado. O toque súbito do telefone celular quase provocou uma espetada No septo. Meio irritado, atendeu o telefonema da mulher dele. - janey não está no quarto - declarou ela sem preâmbulo. Não esteve em casa a noite toda. - você me disse que ela estava aí quando chegamos em casa. - pensei que estivesse, porque ouvi o rádio ligado. E continuava tocando esta manhã. Achei estranho, porque você sabe que ela costuma acordar muito tarde, mas pensei Que tinha dormido Com ele ligado. "bati na porta mais ou menos às dez horas. Queria levá-la para almoçar naquela nova casa de chá. Era uma coisa que podíamos fazer juntas. E é realmente um lugar Muito agradável. Bea e eu fomos lá na semana passada, e eles têm um gazpacho excelente." - marian, estou num recesso. Ela deu uma parada e continuou. - janey não atendeu quando bati. Às quinze para as onze, resolvi entrar e acordá-la. O quarto estava vazio e a cama não fora desfeita. O carro dela não está na garagem E nenhum dos empregados a viu. - talvez tenha acordado cedo, arrumado a cama e saído. - e talvez o céu desabe hoje à tarde. Marian tinha razão. Era uma suposição absurda. Janey nunca arrumou uma cama em toda a sua vida. Justamente por se recusar a fazer isso, tinha sido enviada de volta Do acampamento de verão, na única vez em que os pais ignoraram seus protestos e insistiram para ela ir. - quando foi a última vez que a viu? - ontem à tarde - respondeu marian. - ficou deitada horas ao lado da piscina. Eu a convenci a entrar. Ela vai estragar a pele toda. Ela se recusa a usar protetor Solar. Tentei explicar isso, mas é claro que ela não escutou. Diz que protetor solar é a coisa mais idiota que já viu, porque frustra o propósito da coisa. "e baird, eu realmente acho que você devia conversar com ela sobre tomar sol sem o sutiã do biquini. Sei que é o quintal dela, mas tem sempre homens trabalhando Por aqui numa obra ou outra, e eu me recuso terminantemente a dar-lhes um espetáculo de voyeur gratuito. Já basta ela usar aquele fio-dental que, se quer saber,
Além de feio e sem classe nenhuma, deve ser terrivelmente desconfortável." Dessa vez ela parou sozinha, antes de desembestar pela tangente: - de qualquer modo, ontem eu a convenci a entrar, na hora mais quente do dia. Lembrei que íamos ao jantar da premiação e que ela estava de castigo, não podia sair. Janey subiu correndo sem falar comigo, bateu e trancou a porta do quarto. Deve ter saído depois de nós ontem à noite, e não voltou para casa até agora. Baird não tinha notado que o carro de janey não estava na garagem porque tinha deixado o carro dele na rua. Na próxima vez que deixasse janey de castigo, tinha de Lembrar-se de confiscar as chaves do carro dela. Não que isso fosse impedir que ela saísse para se encontrar com aqueles seus amigos estranhos, cuja influência, Sem dúvida, era a causa do mau comportamento. - ligou para o celular dela? - só cai na caixa postal. Deixei inúmeros recados. - já tentou falar com os amigos dela? - alguns, mas ninguém a viu a noite passada. É claro que podem estar mentindo para protegê-la. - e aquela vadia, melissa, com quem ela sempre está? - foi para a europa com os pais. A secretária do juiz bateu de leve na porta, pôs a cabeça pela abertura e disse que todos já tinham voltado para a sala do tribunal. - ouça, marian, tenho certeza que ela só está nos punindo por tê-la posto de castigo. Ela quer assustar você, e está conseguindo. Vai aparecer. Não é a primeira Vez que passa a noite Fora. A última vez que janey não voltou para casa, quase foi parar na cadeia do município de travis por atentado ao pudor em público. Ela e um grupo de amigos tinham usado Uma piscina de água quente externa de um hotel. Os hóspedes reclamaram do barulho. Quando os seguranças do hotel verificaram o que estava acontecendo, descobriram Um caldeirão borbulhante de jovens em vários estágios de embriaguez e nudez, empenhados em todo tipo de atividades sexuais. A filha deles era a das mais bêbadas. E definitivamente a mais despida, segundo o policial de austin que a pescou pessoalmente da água e a separou do rapaz com quem Estava agarrada. Cobriu-a com um cobertor antes de transportá-la para casa, e não para a cadeia. Fez isso como um favor ao juiz, não por bondade com a menina que lhe disse impropérios Quando a deixou na porta da casa dos pais. O policial recebeu uma nota de cem dólares como agradecimento, que tacitamente comprou a promessa de excluir o nome de janey do relatório do incidente. - graças a deus a mídia não ficou sabendo daquela história - disse marian, lendo os pensamentos do juiz. - dá para imaginar o prejuízo que seria para a sua reputação? - ela fungou delicadamente e perguntou: - o que você Vai fazer, baird? - e assim jogou concretamente o problema no colo dele. - ficarei o dia inteiro no tribunal. Não tenho tempo para Cuidar da janey. - bem, não pode esperar que eu saia procurando por ela por toda austin. Ia me sentir uma coletora de cachorros sem dono. Além disso, é você que tem seus contatos. E as notas de cem dólares também, o juiz pensou com amargura. Naqueles últimos anos, tinha espalhado liberalmente notas De cem dólares para garantir que as travessuras da filha ficassem no anonimato. - vou ver o que posso fazer - resmungou ele. - mas quando ela aparecer - e tenho certeza de que vai aparecer -, não se esqueça de me avisar. Vou deixar meu
celular No vibrador enquanto estiver no tribunal. Digite três três. Para eu saber que ela está em casa e não desperdiçar meu tempo procurando. - obrigada, querido. Sabia que podia contar com você para cuidar disso. Curtis convidou dean para almoçar e ele aceitou, mas não ingenuamente. Percebeu que o detetive queria obter informações sobre a vida de paris. Não podia culpar curtis Por estar curioso, especialmente depois da atmosfera carregada que os dois tinham criado na sala dele aquela manhã. Não ia revelar nada, nada que curtis não pudesse saber por conta própria, lendo alguma biografia publicada, mas seria interessante observar o detetive em ação. Já estavam descendo os degraus na frente do prédio quando alguém atrás deles chamou curtis. O jovem policial uniformizado que gritou o nome de curtis tinha acabado De sair pela porta de vidro. Pediu desculpas, ofegante. - não queria incomodá-lo, sargento curtis. - nós só vamos almoçar. Conhece o dr. Malloy? - só de nome. Demorei mais do que devia para dar-lhe as boas-vindas do departamento de polícia de austin. Eddie griggs - ele estendeu a mão. - é um prazer, senhor. - obrigado - disse dean quando apertaram as mãos. - vocês dois não precisam se apressar. Eu espero aqui na sombra. - acho que o sargento curtis não vai se importar se o senhor ouvir isso, já que está trabalhando com ele naquela ligação para paris gibson. É sobre isso que vou Falar. Bem, mais ou menos. Indiretamente. - então vamos todos para a sombra - sugeriu curtis. Chegaram mais perto do prédio para aproveitar a faixa de Sombra que se projetava na calçada ensolarada. Os carros passavam ruidosos pela interestadual 35 ali perto, mas o novato se fez ouvir. - o senhor distribuiu um memorando de alerta? - perguntou ele a curtis. - sobre pessoas desaparecidas? - isso mesmo. - bem, senhor... Sabe o juiz baird kemp? - o que tem ele? - ele tem uma filha. Adolescente, no segundo grau. Rebelde como poucos. De vez em quando, ela exagera na rebeldia e passa dos limites. Os policiais que fazem a ronda Depois da meia-noite a conhecem muito bem. Ele olhou em volta, para ver se alguém, entrando ou saindo do prédio, podia ouvir o que dizia. - o juiz é muito generoso com qualquer policial que a leva para casa, que evita que ela vá para a cadeia e que exclui o nome dela dos boletins de ocorrência. - já entendi - disse o detetive. - e hoje - continuou griggs -, o juiz telefonou e fez um pedido especial para seus amigos da polícia. Parece que janey esse é o nome dela - não voltou para casa Esta noite. Pediu para todo mundo ficar de sobreaviso, e, se a virem, agradeceria muito ao policial que a levasse para casa. Dean ainda não tinha sido apresentado ao juiz, mas o conhecia de nome. Uma das suas primeiras missões em austin tinha sido tentar convencer um prisioneiro a ajudar A polícia a prender seu parceiro de crime que, em comparação, era o mais perverso dos dois e continuava foragido. O preso não quis cooperar. - não vou dizer merda nenhuma para eles, cara. "eles" e não "você", porque dean havia ficado do lado do preso, tornou-se amigo dele, simpatizante e confidente. O bom Policial. - o meu julgamento foi armado! Armado, porra - esbravejou o preso. - ouviu o que
eu disse, cara? O juiz influenciou o júri. Aquele filho-da-puta convencido. A visão que tinha do juiz não diferia da maioria dos criminosos condenados. Raramente falavam bem do indivíduo togado que, com uma batida final do martelo, selava Seus futuros sem esperança. Depois de um tempo, o preso deu informações para dean que resultaram na prisão do cúmplice, mas o homem manteve a opinião negativa sobre o juiz kemp e, baseado no Que griggs tinha acabado de contar, dean achava que talvez tivesse razão. - só nesse município - disse curtis - talvez haja uma centena de adolescentes que não voltou para casa esta noite, cujo paradeiro é um mistério para os pais. E essa Pode ser uma estimativa conservadora. Dean pensava no seu adolescente, que tinha assustado a mãe mais de uma vez não voltando para casa até a metade do dia seguinte. - eu concordo. É cedo demais para tirar conclusões sobre a menina, especialmente se ela costuma passar a noite fora. - o juiz kemp vai cuspir fogo se seu "pedido especial" ficar no boletim geral de ocorrências - observou curtis, demonstrando sua antipatia. - mesmo assim, obrigado Por vir nos contar, griggs. Trabalhou rápido e com eficiência. Por que chegou tão cedo hoje? - estou fazendo hora extra, senhor. Além disso, esperava poder, o senhor sabe, ajudar paris gibson. Ela estava muito abalada ontem à noite. - tenho certeza que ela vai agradecer a sua diligência. Curtis fez essa afirmação com ironia. Tinha notado a mesma Coisa que dean. O rapaz tinha se encantado com paris. - vamos dar à srta. Janey kemp mais algumas horas para recuperar o juízo e encontrar o caminho de casa, antes de associála ao cara que ligou para a srta. Gibson - disse curtis. - sim, senhor - a atitude do jovem policial era tão correta que dean chegou a pensar que ia fazer continência. - bom almoço, senhor. Dr. Malloy. Curtis foi andando pela calçada, mas dean ficou para trás, sentindo que griggs ainda queria dizer alguma coisa. Se fosse sobre paris, queria saber o que era. - com licença, griggs? Se está preocupado com alguma coisa, gostaríamos de saber. Era óbvio que o novato não queria pisar no calo de um detetive graduado, nem de um oficial com uma sopa de letrinhas de credenciais atrás do nome e um dr. Na frente. Mesmo assim, ficou aliviado quando dean pediu para dizer o que estava pensando. - é só que essa menina está sempre procurando encrenca, senhor - ele baixou a voz, num tom confidencial. - sabe um dos nossos da narcóticos que trabalha à paisana No colégio? Ele diz que ela é um avião, e que sabe disso. Uma... Uma verdadeira boneca. Diz que tentou seduzi-lo e que ele quase esqueceu que usava um distintivo. As orelhas de griggs ficaram vermelhas. Até seu couro cabeludo estava ruborizado, por baixo do corte de máquina quatro. Querendo tranqüilizar o rapaz, dean brincou: - detesto quando isso acontece. É um dos motivos de eu nunca ter querido trabalhar à paisana. Griggs deu um sorriso largo como se ficasse contente de saber que, afinal de contas, dean era apenas um cara. - é, bem, o que estou querendo dizer é que ela pode ter se exposto de tal forma que algo de ruim poderia acontecer. - flertado com o perigo e obtido mais do que pretendia? Perguntou curtis. - mais ou menos isso, senhor. Pelo que sei dela, ela faz o que quer, quando quer, e não dá satisfação para ninguém. Nem mesmo para os pais. A candidata
perfeita A vítima de rohypnol. Se cruzou o caminho desse valentino, e ele fez o que diz que fez, ninguém saberá por um bom tempo. E isso pode ser muito ruim. Curtis perguntou se alguém tinha procurado janey kemp nos lugares que ela costumava freqüentar. - já, senhor. Era isso que o juiz queria. Discretamente, é claro. Dois policiais da inteligência estão cuidando do caso, além dos patrulheiros habituais. Mas é verão, Por isso o clube do sexo costuma se reunir mais ao ar livre, e os locais dessas reuniões noturnas mudam sempre para o pessoal da narcóticos, e os pais... - clube do sexo? - dean olhou para curtis pedindo explicação, mas o detetive deu de ombros. Ambos olharam de novo para griggs. Nervoso outra vez, o jovem policial trocou o peso do corpo de um sapato bem engraxado para outro. - o senhor nunca ouviu falar do clube do sexo? Paris chegou em casa exausta. Aquela era a hora que normalmente levantava da cama. Costumava tomar café da manhã quando todo mundo estava almoçando. Tinha saído Da rotina aquele dia. Se não dormisse algumas horas à tarde, ficaria um zumbi quando encerrasse a transmissão aquela noite. Mas depois do encontro inesperado com dean, era improvável que conseguisse dormir. Fez um sanduíche de pasta de amendoim que nem queria comer e sentou à mesa da cozinha, guardanapo no colo, fingindo que era uma refeição de verdade. Enquanto comia, Verificou a correspondência. Quando chegou ao envelope pequeno, azul-claro, com o logotipo conhecido no canto superior esquerdo, parou de mastigar. Engoliu um pedaço do sanduíche com um copo Inteiro de leite, como se quisesse ganhar força para enfrentar o conteúdo do envelope. A carta de três parágrafos era do diretor do hospital meadowview. Educadamente, mas com firmeza, com uma linguagem que não dava margem a uma interpretação errada, Ele pedia para ela retirar os pertences do antigo paciente, falecido, sr. Jack donner. "como não respondeu aos meus inúmeros telefonemas", dizia a carta, "tenho de supor que não recebeu os recados. Portanto, esta carta se presta a notificar que os Pertences do sr. Donner serão retirados do hospital, caso não venha pegá-los." O prazo para pegar as coisas era até o dia seguinte. Amanhã. E ele falava sério. A data estava sublinhada. Enquanto jack era paciente do meadowview, paris tratava todo o pessoal de lá pelo primeiro nome, desde o diretor até o zelador. Aquilo parecia uma carta para uma Pessoa estranha. A paciência dele tinha se esgotado com ela, sem dúvida por ter ignorado suas mensagens telefônicas. Paris não tinha voltado mais à clínica particular desde o dia em que jack morreu no quarto 203. Nos seis meses seguintes, não teve mais forças para ir até lá, nem Para pegar as coisas dele. Com pouquíssimas exceções, ia ao hospital todos os dias, durante sete anos, mas depois de sair de lá naquele último dia, não conseguiu Mais retornar. A relutância dela não era só egoísmo. Não queria desrespeitar jack lembrando dele deitado naquele leito de hospital, braços e pernas definhando, apesar dos exercícios Diários com a eficiente equipe de fisioterapeutas de meadowview. Não era mais auto-suficiente do que um bebê, não conseguia falar, só balbuciava, não se alimentava
Sozinho, não podia fazer nada, a não ser ocupar espaço e contar com a dedicação dos profissionais de saúde para cuidar das suas necessidades mais pessoais. E foi nessas condições em que ele viveu - existiu - nos últimos sete anos da vida. Merecia mais do que ser lembrado daquele jeito. Paris cruzou os braços sobre a mesa e apoiou a cabeça neles. Fechou os olhos e visualizou jack donner como era quando o conheceu. O jack forte, bonito, cheio de Vida e seguro de si... - então você é a novata que está causando toda essa sensação. Quando disse isso, ele estava atrás dela. A primeira impressão que teve ao olhar para ele foi a arrogância Do seu sorriso. O cubículo que ela ocupava na sala do noticiário mal dava para um giro completo. Estava entulhado de caixas que ainda tinha de esvaziar. Jack fingiu Não notar que contribuía para a falta de espaço. - a novata - repetiu ela com frieza. - você está sendo falada por aqui. Não me force a repetir o que ouvi para não me arriscar a ser processado por assédio sexual. - acabei de entrar para a equipe de jornalismo, se é isso que quer dizer. - para a equipe de jornalismo "premiada" - corrigiu ele, e o sorriso ficou ainda maior. - você não presta atenção nas promoções da nossa emissora? - você trabalha no departamento de promoções? - não, sou o responsável pelo comitê de recepção. Na verdade, eu sou o comitê de recepção oficial. A minha função é dar boas-vindas a todos os recém-chegados. - obrigada. Já me considero bem recebida. Agora, se me der... - na verdade, sou do departamento de vendas. Jack donner. Ele estendeu a mão, e ela o cumprimentou. - paris gibson. - bom nome. É artístico ou verdadeiro? - verdadeiro. - quer almoçar comigo? A audácia de jack não era ofensiva. Ao contrário, fez paris rir. - não. Estou ocupada - ela ergueu os braços, indicando as caixas em volta. - vou levar a tarde toda para organizar essa tralha. Além do mais, acabamos de nos conhecer. -ah, é. Ele ficou pensando naquele dilema e mordeu o lábio inferior de um jeito que devia saber que parecia simpático e afetuoso. Então, sorriu de novo. - jantar? Paris não jantou com ele aquela noite. Nem nas três vezes seguintes em que ele a convidou. Trabalhou muito, semanas a fio, cobrindo o maior número possível de histórias Que o editor tinha para ela. Era sempre candidata a todo tempo no ar que conseguisse, sabendo que a exposição era o único modo de criar o reconhecimento do seu nome, Da sua voz e do seu rosto para o público. Visava o cargo de âncora do noticiário da noite. Podia levar um ou dois anos para chegar lá. Tinha muito que aprender e muita coisa para provar, mas não via motivo Para ambicionar qualquer coisa a não ser o máximo. Por isso, estava sempre ocupada demais se estabelecendo no mercado televisivo de houston para aceitar convites. E jack donner estava seguro demais de que ela acabaria sucumbindo ao seu charme. Ele tinha a beleza típica do garoto americano. Personalidade cativante, humor contagiante. Todas as mulheres do prédio, desde as estagiárias até a avó, que administrava o departamento de contabilidade, eram apaixonadas por ele. O mais surpreendente era Que os homens também gostavam dele. Jack mantinha o recorde de vendas há vários
anos consecutivos, e não era segredo para ninguém que estava sendo preparado para A diretoria. - diretoria do primeiro escalão - confidenciou ele para paris. - eu quero ser diretor geral, e depois, quem sabe? Um dia posso até ter a minha estação. Jack certamente possuía ambição e carisma para conquistar o que quisesse, e conseguir sair com ela era seu principal objetivo a curto prazo. Finalmente, paris acabou Cansando, e aceitou. Na primeira vez que saíram, ele a levou para um restaurante chinês. A comida era horrorosa e o serviço ainda pior, mas jack fez paris rir o tempo todo, criando histórias Para cada um dos infelizes garçons. Quanto mais bebia o saque, mais engraçadas ficavam as histórias. Quando abriu seu biscoito da sorte, ele assobiou. - caramba, escuta só isso - ele fingiu ler. - parabéns. Depois de meses tentando seduzir uma certa dama, esta noite você terá sorte. Paris quebrou o biscoito dela e tirou a sorte. - o meu diz, "desconsidere a sorte anterior". - você não vai dormir comigo? Ela riu da expressão desanimada dele. - não, jack, não vou dormir com você. - tem certeza? - tenho. Mas, depois de quatro meses saindo juntos, ela dormiu. Depois de seis, todos na emissora de televisão já os tratavam como namorados. No natal, jack pediu paris em Casamento, e no anonovo ela aceitou. Em fevereiro, nevou. Houston, onde a neve era rara como o cometa hale-bopp, parou, e por isso as equipes de reportagem passaram a trabalhar tempo dobrado para cobrir Todas as histórias relacionadas ao clima, desde o fechamento das escolas aos abrigos para os sem-teto, aos inúmeros acidentes nas estradas geladas. Paris trabalhou Dezesseis horas seguidas, ficou muito tempo à mercê das intempéries numa van da reportagem que não a protegia do vento, tomando café morno, cumprindo prazos apertados. Quando finalmente voltou para casa, jack estava na cozinha, mexendo uma panela de sopa caseira. - se eu nunca amei você antes - disse ela, levantando a tampa e respirando fundo -, agora eu amo. - eu cozinharia para você todas as noites se viesse morar comigo. - não. - por que não? - nós já falamos disso um milhão de vezes, jack - disse ela, desanimada, enquanto tirava as botas encharcadas. Ele se abaixou para massagear-lhe os dedos congelados. - vamos recapitular. Eu sempre esqueço suas desculpas esfarrapadas. Você sabe que meu pau é maior do que a minha capacidade de concentração. E você não fica contente Com isso? Paris tirou o pé das suas mãos quentes. A massagem estava boa demais para ter, ao mesmo tempo, aquela discussão tão repetida. - antes do casamento eu quero manter a minha independência. - vendo que ele já ia impor seu argumento, ela acrescentou: - e se você continuar a insistir nisso, vou adiar o casamento por mais seis meses. - você é uma mulher durona, paris gibson, em breve donner. Tomaram a sopa e
acabaram com a garrafa de vinho que Jack tinha aberto antes de paris chegar. Ele nem sugeriu passar a noite com ela, e paris agradeceu-lhe a sensibilidade de perceber sua exaustão. Quando foi até a porta para se despedir, paris notou que os três centímetros de neve que imobilizaram a cidade já começavam a derreter. Toda aquela ralação da cobertura Do noticiário ia virar história por causa de alguns graus no termômetro. - graças a deus que amanhã é sábado - disse ela, suspirando, encostada no batente da porta. - vou dormir o dia inteiro. - trate de acordar a tempo para amanhã à noite. - o que tem amanhã à noite? - você vai conhecer o meu padrinho de casamento. Recentemente, jack tinha dito que seu melhor amigo do colégio estava se mudando de volta para houston depois de formarse em alguma coisa, numa universidade em outro Estado, que naquele momento ela não conseguia lembrar qual era. Só sabia que jack estava muito animado com o retorno do amigo e mal podia esperar para apresentá-los. - o que ele está achando da polícia de houston? - perguntou ela, bocejando. - ele disse que ainda é cedo para saber, mas acha que vai gostar. Vamos tentar organizar um jogo de basquete no ginásio Enquanto você estiver dormindo. Passamos para pegá-la por volta das sete da noite. - estarei pronta. - paris já ia fechar a porta, e então chamou jack. - desculpe, jack, mas como é mesmo o nome dele? - dean. Dean malloy. Paris levantou a cabeça, sem ar. Estava na cozinha da casa dela, mas levou algum tempo para se orientar. O devaneio dera lugar ao sonho. Estava dormindo profundamente. O ângulo da luz do sol que Entrava pela janela tinha mudado. Seus braços formigavam porque tinha deitado sobre eles e impedido a circulação do sangue. Sacudi-los só piorou a sensação desagradável. Estendeu a mão insensível para atender o telefone. Por causa dele tinha despertado de repente. - aqui é paris - disse ela, por força do hábito. Capítulo oito - quando foi a última vez que foi ao dentista, amy? - não lembro. Talvez alguns anos. O dr. Brad armstrong franziu a testa muito sério. - tempo demais entre uma revisão e outra. - tenho medo de dentista. - então não consultou o dentista certo - ele piscou para ela. - até agora. Ela deu uma risadinha. - tem sorte de eu ter encontrado apenas uma cárie. É pequena, mas precisa de uma restauração. - vai doer? - doer? Devo informar que, neste consultório, dor é palavra proibida - ele deu um tapinha no ombro dela. - o meu trabalho é consertar seu dente. O seu é deitar e Relaxar enquanto faço isso. - o valium ajuda muito. Já estou ficando sonolenta. - não vai demorar. A assistente havia pedido permissão da mãe de amy para dar uma pequena dose de calmante a fim de deixá-la menos aflita e tornar o trabalho menos estressante para
A paciente e o dentista. A mãe ia voltar para levá-la para casa. Assim, ele podia cuidar da restauração enquanto ela flutuava nas nuvens. De acordo com a ficha, amy tinha quinze anos, mas era bem desenvolvida. Tinha pernas ótimas. A saia curta revelava coxas macias e bronzeadas, e batata da perna musculosa. Ele adorava o verão. Verão significava pele. Já temia a chegada do outono e do inverno, quando as mulheres abdicavam das sandálias e passavam a usar botas, e trocavam As pernas nuas por meias opacas. As saias ficavam mais compridas e os ombros, expostos no verão por frentes-únicas e alças finas, ficavam escondidos sob suéteres. A única coisa boa dos suéteres era que às vezes Eram bem justos, e a sugestão do que havia por baixo podia ser maravilhosamente inspiradora. A paciente respirou fundo e o babador de papel deslizou para um lado. Ele ficou tentado a levantá-lo para dar uma espiada nos seios dela. Se amy reclamasse, podia Dizer que estava pondo o babador de volta no lugar, só isso. Mas ele se conteve. A assistente podia entrar na sala e, diferente da paciente, não estava dopada com valium. Examinou novamente as pernas da menina. Relaxadas, tinham rolado para fora, deixando vários centímetros de espaço entre os joelhos. O tecido elástico da saia funcionava Como uma segunda pele. Moldava a depressão entre as coxas e delineava a vulva. Estava de calcinha? Ele imaginou. A possibilidade de não estar deixou o dentista excitado. Também ficou imaginando se amy era virgem. Depois dos catorze, poucas eram. De acordo com as estatísticas, a probabilidade era grande da menina já ter estado com Um homem. Ela saberia o que esperar de um homem com tesão. Não ficaria muito chocada se... - dr. Armstrong? - a assistente apareceu, interrompendo o sonho acordado. - ela está pronta para a anestesia? Ele jamais deixava os pacientes sequer ouvir a palavra "injeção". Desceu do banquinho, fingindo estudar as radiografias da paciente. - está. Pode dar. Vamos fazer para dez minutos. - já estou com tudo pronto. O dr. Brad armstrong tirou as luvas de látex, foi para a sua sala particular e fechou a porta. Sua pele ardia. O coração batia acelerado. Se não fosse pelo jaleco Que usava, a assistente teria visto sua ereção. E se não fosse a interrupção dela, bem na hora, talvez tivesse cometido um erro terrível. E não podia cometer mais Um. Mas aquela outra vez... Ora, não tinha sido culpa dele. A menina esteve na cadeira dele três vezes em dois meses, e mais simpática a cada consulta. Simpática uma ova, flertava com ele abertamente. Sabia exatamente o que Estava fazendo. Seu jeito provocante de sorrir toda vez que deitava na cadeira... Aquilo não tinha sido praticamente um convite para passar a mão nela? E então, quando ele fez isso, ela armou um escândalo tão grande que os sócios, todos os higienistas e a maioria dos pacientes se desabalaram pelo corredor e entraram No consultório, onde a encontraram berrando acusações contra ele. Se tivesse os vinte e cinco anos que aparentava ter, e não fosse menor de idade, as acusações seriam desconsideradas. Mas acontece que acreditaram nela, e ele foi Convidado a largar a prática. Na manhã seguinte, quando chegou no consultório, os sócios o esperavam na porta com a ruptura do contrato que incluía um cheque
de Aviso prévio de três meses de rendimentos. Naquelas circunstâncias, consideravam isso justo. Adeus e boa sorte. Babacas puritanos. Mas as repercussões não pararam por aí. Os pais da menina, enfurecidos porque um macho heterossexual e normal havia reagido aos sinais convidativos transmitidos Pela filha tesuda, moveram um processo contra ele, por atos libidinosos com uma menor. Como se ela fosse uma criança. E como se não tivesse pedido aquilo. E como Se não tivesse gostado da mão dele deslizando entre suas coxas. Ele foi arrastado para o tribunal como criminoso e, seguindo o conselho do seu advogado incompetente, forçado a pedir desculpas para a vadia conivente. Ele se declarou Culpado das alegações humilhantes para receber uma "sentença leve" de aconselhamento obrigatório e sursis. Mas a decisão do juiz foi muito mais branda do que a de toni. - essa é a última vez, brad - avisou ela. Já que tinha conseguido escapar da prisão, não era lógico que deviam comemorar? Mas não. A mulher dele tinha outros planos, que incluíam bater naquela tecla do "vício" Dele até a morte. - não agüento passar por outra provação como essa - disse toni. E passou horas resmungando sobre o seu "comportamento destrutivo". Tudo bem, tinham havido outros incidentes, como o da clínica onde começou a praticar odontologia. Tinha mostrado algumas fotografias para uma higienista. Era uma Brincadeira, pelo Amor de deus! Como é que ia saber que ela era fanática pela bíblia e que provavelmente pensava que os bebês deviam nascer com enormes folhas de parreira pregadas No umbigo? A mulher espalhou uma fofoca tão maldosa a respeito dele que brad acabou saindo da clínica por livre e espontânea vontade. Mas toni continuava achando Que a responsabilidade era dele. E ela finalmente concluiu, dizendo: - vou deixar isso ainda mais claro para você, brad. Eu me recuso a passar por outra provação como essa. E não vou permitir que nossos filhos sofram com isso. Eu Te amo - ela declarou com lágrimas nos olhos. - não quero me divorciar de você. Não quero destruir o nosso lar e a nossa família. Mas vou deixá-lo se não procurar Ajuda e controlar o seu vício. Vício. E daí se tinha um impulso sexual muito forte? Isso era um vício} ela dava a entender que ele era um depravado. Só que não era idiota. Sabia que tinha de se adaptar ao mundo em que vivia. Se a sociedade ia ser puritana, tinha de se ajustar às regras consensuais. Precisava Andar na trilha estreita e reta definida pela igreja e pelo governo, e os dois caminhavam juntos naquela questão. Um passo em falso, fora dos seus limites idiotas, Da chamada decência, e, além de pecador, você se transformava num criminoso também. Até uma simples paquera com outra paciente poderia custar sua carreira. Tinha levado oito meses para conseguir aquele trabalho em austin, bem depois do dinheiro Do aviso prévio ter sido gasto e a conta da poupança raspada. Aquela clínica não era tão próspera quanto a anterior. Seus sócios atuais não eram tão especializados, nem tão renomados, como eram os antigos parceiros. Mas o trabalho Pagava o financiamento da casa. E sua família gostava de austin, onde ninguém
conhecia o motivo da mudança deles para lá. Nas semanas que se seguiram ao pesadelo no tribunal, toni fazia careta cada vez que brad encostava nela. Continuava a dividir a cama com ele, só que brad achava Que era apenas um disfarce, pelo bem das crianças. Depois de um tempo, toni permitiu que a segurasse e beijasse, e então, quando o responsável pela terapia de grupo deu a ele uma estrela dourada pelo progresso que Tinha feito no caminho Da "cura", recomeçou a fazer sexo com ele. Parecia razoavelmente satisfeita, até algumas noites atrás, quando brad se descuidou e passou a noite inteira fora de Casa. Inventou uma história plausível, e ela talvez continuasse acreditando, se não tivesse chegado tão tarde na véspera. A história sobre o seminário de impostos não Colou. Ele foi até lá e assinou a folha de presença para haver um registro do seu comparecimento. Mas jamais pretendeu ficar, e saiu logo depois da primeira hora Entediante. E se viu num inferno aquela manhã por causa disso. Toni espantou as crianças da mesa do café e mandou que fossem lá para cima, incumbidos de diversas tarefas. Depois, Sem aviso, perguntou: - onde você esteve a noite passada, brad? Nenhuma introdução, apenas aquele ataque surpresa raivoso, que o deixou imediatamente irritado. - você sabe onde estive. - fiquei acordada até depois das duas da madrugada e você não tinha voltado. Nenhum seminário sobre impostos dura esse tempo todo. - e não durou. Terminou por volta das onze. Conheci uns caras lá. Saímos para beber uma cerveja. Descobrimos que estávamos com fome. Pedimos comida. - que caras? - eu não sei. Uns caras. Só trocamos o primeiro nome. Joe, acho que era esse o nome dele, um executivo da motorola. Grant ou greg, algo parecido, é dono de três Lojas de tintas e materiais de construção. O outro... - você está mentindo - exclamou ela. - bom, obrigado por me dar o benefício da dúvida. - você não fez por merecer, brad. Tentei entrar no seu escritório ontem à noite. A porta estava trancada. Ele ficou de pé e empurrou a cadeira com tanta fúria que arranhou o chão ruidosamente. - grande coisa. A porta estar trancada. Não fui eu que tranquei. Uma das crianças deve ter trancado. Mas o que você ia fazer lá? Ver se podia encontrar alguma coisa Contra mim? Bisbilhotar? Espionar? -é. - pelo menos você admite. - ele soltou o ar demoradamente, como se precisasse de tempo para se recuperar. - toni, o que há de errado com você ultimamente? Toda vez Que saio de casa, você me põe para assar em fogo lento. - porque você anda saindo de casa com mais freqüência, e fica fora tempo demais, um tempo do qual não quer, ou não pode, dar satisfação. - dar satisfação? O que é isso? Não sou adulto? Não posso ir e vir aonde quero? Tenho de avisar a você se resolver parar para tomar uma cerveja? Quando tiver de Mijar, devo telefonar primeiro para você e pedir permissão? - isso não vai funcionar, brad - disse toni, numa compostura de enlouquecer. não vou deixar você virar a mesa e fazer com que eu me sinta culpada de perguntar Por que você ficou fora de casa até de madrugada. Vá para o trabalho. Senão vai
se atrasar. E essa foi a última coisa que toni disse. Saiu da cozinha pisando firme, com a coluna reta como se tivesse uma viga mestra enfiada no rabo. Brad deixou toni ir. Ele a conhecia. Quando chegava naquele ponto de indignação virtuosa, ele podia ficar rastejando horas, que nada que dissesse ou fizesse iria Satisfazê-la. Ficaria uma pedra de gelo vários dias. Com o tempo, acabaria derretendo, mas enquanto isso... Meu deus! Era de admirar que ele não sentisse vontade de ir para casa aquela noite? Quem ia querer se enroscar com um picolé? Se saísse da linha aquela noite, a Culpa seria de toni, não dele. Estava feliz pois tinha encontrado uma nova válvula de escape para o seu "vício". Era sexo, em todas as variantes possíveis, para ele escolher quando bem quisesse. Pensando no que estava à sua disposição, ele sorriu. Enfiou a mão por baixo do jaleco e esfregou o pênis. Gostava de ficar com uma semi-ereção, por isso passava o dia todo dando espiadinhas esporádicas e furtivas nas Fotos que mantinha trancadas na gaveta da escrivaninha, ou então, se tivesse certeza de que não ia ser flagrado, visitava seus sites preferidos. Um ou dois minutos Bastavam. Algumas pessoas bebiam café para bater uma Punheta rápida. Ele descobriu uma coisa muito mais estimulante do que cafeína. A tarde ia ser longa, mas mesmo a simples idéia do que ia fazer já era deliciosa. Apresse-se, noite. Capítulo nove Quando paris entrou na sala onde já a esperavam, dean e os outros dois homens se levantaram. Tinham se reunido numa pequena sala dentro do bureau central de investigações Que normalmente era usada para entrevistar testemunhas ou interrogar suspeitos. Era apertada, mas garantia o sigilo. Curtis puxou uma cadeira de baixo da mesa para paris. Ela agradeceu meneando a cabeça e sentou. Ainda usava óculos escuros. Dean mal podia ver os olhos dela atrás Das lentes escuras. Odiava imaginar por que jamais os tirava. - espero que não tenha sido inconveniente demais voltar para o centro - comentou curtis. - vim o mais depressa que pude - disse paris. Todos olharam juntos para o relógio de parede. Eram quase duas horas da tarde. Ninguém precisava ser avisado que doze horas do prazo de valentino já tinham passado. O detetive apontou para o terceiro homem na sala. - este é john rondeau. John, paris gibson. Paris chegou para a frente e estendeu a mão por cima da mesa. - sr. Rondeau. - é um prazer, srta. Gibson. Sou seu fã - disse ele quando Apertou a mão dela. - é bom ouvir isso. - escuto sempre o seu programa. É uma honra conhecê-la. Dean resolveu se concentrar no policial, a quem tinha sido Apresentado minutos antes de paris chegar. Rondeau era jovem, em boa forma e bonito. Halterofilista, pela aparência dos bíceps. O rosto dele brilhava como uma árvore De natal quando olhava para paris. Era óbvio que rondeau tinha se apaixonado à primeira vista por paris, como o novato griggs.
E dean suspeitava que o mesmo tivesse acontecido com o sargento curtis. Tinham ido almoçar no stubb's. O restaurante Mais famoso de austin, conhecido pelo churrasco, pela cerveja e pela música, ficava a poucos quarteirões do quartel-general da polícia. Foram a pé. No horário do almoço, não havia nenhuma banda tocando no anfiteatro sob os carvalhos nos fundos, mas funcionários famintos da assembléia legislativa estadual e dos Escritórios do centro faziam fila às dúzias para pedir carne defumada com molho picante. Preferindo não esperar por uma mesa, curtis e ele pediram sanduíches de filé que levaram para a varanda, onde comeram à sombra. Dean esperava que curtis fizesse perguntas sobre paris, mas achava que a abordagem do detetive seria sutil. Em vez disso, curtis deu uma dentada no sanduíche e depois Perguntou diretamente: - o que há entre você e paris? Chamas antigas? Talvez fosse a candura de curtis o motivo dele ser um investigador tão bemsucedido. Pegava os suspeitos de surpresa, com a guarda abaixada. Esforçando-se para parecer Despreocupado, dean deu uma mordida no sanduíche antes de responder. - é mais como água por baixo da ponte. - e imagino que seja muita água. Dean continuou a mastigar. - você não quer falar sobre isso? - insistiu o detetive. Dean limpou a boca com um guardanapo de papel. - eu não quero falar sobre isso. Curtis meneou a cabeça como se dissesse, é justo. - você é casado? - não. Você é? - divorciado. Vai fazer quatro anos. - filhos? - um menino e uma menina. Moram com a mãe. - a sua mulher casou de novo? Curtis bebeu um gole de chá gelado. - eu não quero falar sobre isso. Deixaram o assunto morrer e voltaram a conversar sobre o caso, que na verdade ainda não era um caso, mas temiam que viesse a se tornar um. Mas agora dean sabia que Curtis estava Solteiro, e o detetive nunca perdia a oportunidade de dar a paris uma exibição de cavalheirismo. Paris atraía esse tipo de atenção dos homens. Naquele tempo todo que a conhecia, nunca tinha visto paris fazer papel de sedutora. Ela não tinha afetação, não ficava Sorrindo o tempo todo. Não flertava, nem chamava atenção deliberadamente, tampouco usava roupas provocantes. Não era nada que ela fazia. Era o que Ela era. Bastava olhar para ela uma vez para desejar ter muito tempo para estudá-la. O corpo não era voluptuoso como o de liz. Na verdade, o corpo de paris era meio anguloso E de menino, e ela era mais alta do que a média. O cabelo, castanho-claro com mechas em diversos tons de louro, sempre parecia meio despenteado, o que certamente Era sexy, pensava dean. Mas só isso não bastaria para atrair a atenção dos machos. Talvez fosse a boca. As mulheres se sujeitavam a injeções dolorosas de colágeno para conseguir aquele bico. Paris recebera o dela geneticamente. Ou será que eram Os olhos? Eram simplesmente espetaculares. Azuis e abissais, convidavam para um mergulho, uma nadada neles, para ver se algum dia você poderia chegar ao fundo. Não
Que alguém pudesse ver qualquer coisa nos olhos dela agora, pois estavam escondidos atrás dos óculos escuros. O jovem john rondeau, no entanto, parecia não se importar. Estava praticamente petrificado. - descobriram mais alguma coisa desde hoje de manhã? Perguntou ela. - descobrimos, mas não sabemos se é importante. Paris tinha feito a pergunta para curtis mas, ao responder, dean forçou-a a olhar para ele, coisa que ela evitava sistematicamente desde que ele entrara na sala. - estamos aqui para discutir a validade dessa informação. Curtis fez coro. - rondeau trabalha na nossa unidade de crimes de informática. - eu não estou entendendo - disse paris. - o que crimes de Informática têm a ver com o que vocês me pediram? - vamos chegar lá - respondeu o detetive. - eu sei que parece não ter relevância nenhuma, e talvez não tenha mesmo. - por outro lado - disse dean -, tudo podia estar ligado. É isso que estamos tentando determinar. Essas são as fitas? - ele apontou para a sacola de lona que paris Tinha levado junto com a bolsa. - são. O vox pró armazena mil minutos de material gravado. - de modo que quando ligam para lá ele grava automaticamente? - perguntou curtis. - é assim que vocês selecionam as ligações e evitam que as pessoas gritem obscenidades Para os seus ouvintes? Ela sorriu. - algumas já tentaram. Por isso cada chamada é gravada. Depois, eu posso escolher guardá-la e pôr no ar, ou apagá-la. - como faz para passar as gravações para as fitas cassete? Perguntou dean. - não é fácil. Um dos engenheiros me fez o favor de descobrir um meio. Periodicamente, ele descarrega - o termo é dele, não meu - as gravações do computador vox Pró em fitas cassete para mim. - por quê? Ela deu de ombros, meio constrangida. - nostalgia, talvez. As conversas mais interessantes também podem ser úteis se um dia eu resolver fazer uma fita de demonstração. - bem, sejam quais forem os seus motivos para guardá-las, agora estou contente que tenha feito isso - disse curtis. - espero que entendam que se perde qualidade nesse processo de duplicação disse ela. - as fitas não são tão claras quanto a original. - não tem importância - retrucou dean. - a qualidade só pode adquirir importância mais tarde, se for necessário fazer uma impressão de voz. Mas, no momento, tudo Que queremos saber é se a ligação à qual valentino se referiu é verdadeira ou invenção. "por isso pedimos para ouvir as fitas que você recebeu nessa última semana. Se realmente houve tal ligação, e se ouvi-la no seu programa foi estímulo para valentino, Então temos de rastrear essa chamada até a mulher que a fez." - se não for tarde demais - murmurou paris. A julgar pelas expressões em volta da mesa, todos na sala concordavam com a preocupação dela. - você se lembra de algum telefonema como o que valentino descreveu? - perguntou curtis. - pode ser. Andei pensando nisso desde a nossa conversa esta manhã. Recebi uma ligação três noites atrás. Quando estava vindo para cá, ouvi essa conversa no toca-fitas
Do meu carro. Marquei a fita e deixei no ponto. Dean encontrou a fita marcada entre as outras na sacola, enfiou no toca-fitas e apertou play. Aqui é paris. Oi, paris. No que está pensando esta noite, ouvinte? Bem, sabe, conheci um cara poucas semanas atrás. E nós nos demos muito bem. Quero dizer, uma paixão muito louca. (uma risadinha.) Meio exótico. Nós não precisamos de mais detalhes num programa familiar. (outra risadinha da ouvinte.) Mas gosto de sair com outros caras também. Por isso agora ele inventou de Ter ciúme o tempo todo. Ficou possessivo, sabe? Você quer levar o relacionamento para um outro nível? Você quer dizer sentir amor por ele? Não, de jeito nenhum. A coisa toda é só divertimento. Só isso. Talvez Não seja para ele. Então isso é problema dele. Eu apenas não sei o que fazer Com ele. Se você acha que o relacionamento está opressivo, deve fazer alguma coisa. O meu conselho é terminar da forma mais rápida e indolor possível. Seria cruel ficar dando Corda para ele quando o seu coração não está mais nisso. Está bem, obrigada. - é só isso - disse paris. - ela desligou. Dean desligou o toca-fitas. Fez-se um silêncio pesado alguns segundos, depois todos começaram a falar ao mesmo tempo. Curtis indicou paris, dando a palavra a ela. - eu só ia dizer que essa ligação pode não ter absolutamente nenhuma conexão com valentino. Foi uma conversa bem boba. Eu só pus no ar porque ela estava muito animada. Pela voz, percebi que era muito jovem. A minha audiência é composta principalmente de pessoal um pouquinho mais Velho. Eu quis ampliar para incluir a galera mais jovem, por isso, quando aparece uma chamada de alguém jovem, costumo usar. - você pegou o número do telefone? - verifiquei no vox pró. O identificador de chamadas dizia "indisponível". - os outros ouvintes reagiram à sua conversa com ela? - vocês podem ouvir alguns comentários na fita. Algumas pessoas deram conselhos interessantes, de como ela devia terminar com ele. A outras, eu agradeci terem ligado Mas não pus no ar e apaguei no vox pró. "não lembro de ter atendido mais ninguém essa semana falando sobre o fim de um namoro, nem fora do ar. Mas converso com dezenas de pessoas todas as noites. A minha Memória não é cem por cento." - importa-se de deixar essas fitas conosco um tempo? - perguntou curtis. - essas são suas. Mandei fazer cópias. - acho que vou pedir para alguém ouvir todas... Quantas horas de gravação tem aí? - algumas, eu acho. Peguei três semanas. São quinze noites no ar, mas é claro que apago mais do que gravo. - vou pedir para alguém ouvir e ver se há alguma ligação parecida que escapou da sua lembrança. - valentino respondeu a essa? - dean perguntou. - aquela noite, você quer dizer? Não. Ele sempre se identifica pelo nome. A noite passada foi a primeira vez que falei com ele depois de muito tempo. Tenho certeza Disso. Curtis ficou de pé. - obrigado, paris. Agradecemos a sua ajuda. Espero que não tenha sido inconveniente tê-la chamado para cá mais uma vez. - estou tão preocupada quanto vocês.
Parecia que ele queria acompanhá-la na saída, mas paris continuou sentada. Curtis hesitou. - tem mais alguma coisa? Dean sabia por que paris relutava em partir. A intuição de repórter dava sinais de vida. Ela queria a história completa, e não ia parar até conseguir. - imagino que ela queira saber o que está acontecendo - disse ele. - é, quero sim - ela confirmou, balançando a cabeça. Curtis se esquivou. - mas é assunto da polícia. - para você, é. Mas para mim é assunto pessoal, sargento. Especialmente se descobrirem que valentino é alguém que eu conheço. Eu me sinto responsável. - mas não é - retorquiu dean, falando com mais rispidez do que pretendia. Todos olharam para ele. - se ele for o que diz, é um psicopata. Podia fazer uma coisa dessas Conversando ou não com você no rádio. Curtis concordou. - ele tem razão, paris. Se esse cara é perturbado como parece, vai acabar fazendo uma loucura, mais cedo ou mais tarde, de qualquer jeito. - só está fornecendo um púlpito para ele, srta. Gibson - disse rondeau. - e por causa disso, é o nosso único elo com ele - dean olhou para curtis, ainda de pé ao lado da cadeira de paris. - é por isso que ela acha que tem o direito de Saber que pistas estamos investigando. Curtis franziu a testa, mas sentou de novo. Então olhou bem para paris e, com sua franqueza característica, declarou: - talvez tenhamos uma menina desaparecida. - talvez? Dean observou paris enquanto curtis resumia o que griggs tinha dito para eles sobre a filha do juiz baird kemp. Já conhecia os fatos, por isso pôde se concentrar Unicamente em paris, que se agarrava a cada palavra. Era óbvio que paris tinha cultivado uma audiência considerável na rádio, mas ele ficou pensando se ela sentia falta dos noticiários na televisão. Como maquiagem Especial para teatro, aquilo não ficava no sangue da pessoa? Paris tinha o dom para isso, conquistava a confiança dos Espectadores com suas reportagens firmes e imparciais. Era suficientemente inteligente para saber que se agisse com cortesia ou charme demais, iam considerá-la uma Cabeça-de-vento que provavelmente tinha chegado à função pulando de cama em cama. Levado para o extremo oposto, iam pensar que ela era uma mulher chata e pernóstica, Com inveja do pênis. Paris conseguiu o equilíbrio perfeito. Era uma repórter agressiva, como qualquer um dos seus colegas homens, mas sem sacrificar em nada a sua feminilidade. Podia Ter levado sua carreira até onde quisesse. Se. A exclamação suave fez dean voltar para o presente. - não se teve notícia nenhuma dessa menina por quase vinte e quatro horas, e só agora os pais dela começaram a se preocupar? - é difícil de acreditar, não é? - disse dean. - eles não notificaram formalmente a polícia, por isso o desaparecimento de janey não é oficial. Mas não tivemos queixa De ninguém mais desaparecido. É uma probabilidade em mil, mas uma coincidência que curtis e eu achamos que devemos investigar. Paris rapidamente associou as coisas. - e se a pessoa que fez a ligação for a filha do juiz... - foi por isso que pedimos as fitas - disse dean. - ela deu o nome? - infelizmente, não. Vocês ouviram a gravação. E não me lembro desse nome. Se tivesse ouvido falar em janey recentemente, ou kemp, que é mais incomum ainda,
acho Que me lembraria. Além do mais, isso não é um certo exagero? É coincidência demais para servir de base para uma investigação. - achamos isso também. Até saber desse clube na internet. O clube do sexo. - o quê? Rondeau se animou. - é aí que eu entro - ele olhou para curtis como se pedisse permissão para continuar. Curtis deu de ombros. - vá em frente. Ela poderia descobrir isso sozinha. Rondeau contou sua história. - o site está na internet há uns dois anos. Janey kemp foi uma das... Fundadoras, digamos assim. Começou como um quadro de recados onde os adolescentes podiam se Comunicar, mais ou menos anonimamente. Usando apenas seus apelidos de usuários e endereços de e-mail. "com o tempo, as mensagens foram ficando mais explícitas, o assunto mais picante, até o objetivo evoluir e virar o que é hoje, basicamente uma coluna de recados Pessoais via internet. Eles paqueram no ciberespaço." - paqueram? - zombou dean. - as mensagens que eles trocam são mais como preliminares. O policial mais jovem disse: - eu não queria ofender a srta. Gibson. - ela é adulta, e não estamos na escola dominical. - dean olhou para paris diretamente. - o único objetivo do clube do sexo é anunciar sexo. Os garotos põem mensagens Divulgando o que fizeram e o que querem fazer com o parceiro certo. Se querem mais privacidade com alguém, entram em salas de bate-papo e dizem sacanagens uns para Os outros. Eis um exemplo - ele abriu uma pasta e tirou a folha que tinham impresso no computador de curtis. Paris deu uma lida rápida com ar de desânimo. - mas são crianças - disse ela, levantando a cabeça. - a maioria do segundo grau - explicou rondeau. - eles se reúnem num lugar determinado toda noite. É um imenso mercado de troca. - parece que parte da diversão - disse curtis - é tentar juntar os indivíduos com seus apelidos da rede, ver se conseguem descobrir quem é quem. - e se um casal que já conversou na internet se encontra, Eles fazem sexo - disse dean. - ou não - disse rondeau, corrigindo dean. - as vezes não gostam do que vêem. A outra pessoa não corresponde às expectativas. Ou alguém melhor aparece nesse meio-tempo. Ninguém é obrigado a ser fiel. - os caras dos crimes no computador descobriram o site disse curtis - e, como a maioria dos usuários é menor de idade, chamaram a atenção da unidade de atentados Contra menores, Que investiga crimes sexuais contra crianças e pornografia infantil, que estão sob os auspícios do bureau central de investigações. - ele cruzou os braços sobre o torso atarracado. - é uma investigação com muitas ramificações, de modo que podemos pôr muita gente trabalhando nela. - essa é a boa notícia - disse rondeau. - a má é que impedir isso é praticamente impossível. Paris balançava a cabeça, incrédula. - vamos ver se entendi direito. Meninas como janey kemp vão a um lugar determinado para encontrar estranhos que provocaram pela internet, insinuando que fariam sexo Com eles. - certo - disse rondeau. - será que são loucas? Será que não percebem o risco que estão correndo? Se
encontram o parceiro da sala de bate-papo, e ele é menos do que um brad pitt, elas dizem "não, obrigada" e ficam à mercê de um homem que deixaram excitado e que fica... Decepcionado, para dizer o mínimo. - elas raramente ficam à mercê de qualquer um, srta. Gibson - disse o jovem policial em voz baixa. - não estamos falando de freiras. São meninas de programa. Em geral, cobram por seus serviços. - elas pedem dinheiro? - não pedem. Exigem - explicou rondeau. - e conseguem. Muito dinheiro. Essa informação provocou um silêncio atônito generalizado. Depois de um tempo, curtis disse: - o que nos preocupa, paris, fora o óbvio, é que qualquer um que queira entrar para esse suposto clube é aceito. Para conseguir uma senha e acesso a esse site, você Só precisa dar alguns cliques no mouse. O que significa que qualquer predador sexual, qualquer depravado, saberia aonde ir procurar a próxima vítima. - o que é pior - disse dean - é que a vítima provavelmente iria com ele por livre e espontânea vontade. Ele teria de empenhar pouquíssimo esforço. - isso é alarmante, tendo ou não ligação com valentino disse paris. - e é uma batalha perdida - comentou rondeau. - nós acabamos com o picadeiro de pornografia infantil. Mas para cada Um que estouramos, outras dúzias aparecem e prosperam. Trabalhamos com os federais, com a operação trovão blue ridge, uma rede de informação no país todo que lida Especificamente com crimes contra crianças via internet. Não temos como cuidar de tudo. A troca consensual de e-mails pornográficos feita pelos adolescentes não É prioritária. - é como distribuir multas por atravessar a rua fora da faixa, enquanto do outro lado da cidade membros de gangues trocam Tiros. - e quanto aos pais de janey? - perguntou paris. - eles já Sabem disso? - eles tiveram problemas com ela - respondeu curtis. - ela tem um histórico de mau comportamento, mas eles provavelmente não sabem de tudo que ela faz. Nós não quisemos Alertá-los dessa possível conexão entre o seu desaparecimento e o telefonema de valentino até termos mais dados. Esperávamos que as suas fitas esclarecessem alguma Coisa. - não ajudaram muito, não é? - disse paris. - sinto muito. Depois de uma batida discreta, a porta se abriu e outro detetive apareceu. - desculpe interromper, curtis. Tenho um recado para você. Curtis pediu licença e saiu da sala. Paris consultou o relógio. - se não precisam mais da minha ajuda, tenho de ir. Rondeau quase quebrou o pescoço levantando da cadeira Para puxar a dela. - a que horas tem de estar na rádio, srta. Gibson? - por volta das sete e meia. E, por favor, chame-me de paris. - tem de preparar muita coisa antes da hora? - eu seleciono as músicas e preparo a programação diária a ordem em que as músicas são tocadas. Um outro departamento, chamado de "trânsito", põe os anúncios antes. "apesar disso, grande parte da programação é espontânea. Eu nunca sei a música que algum ouvinte pode pedir. Mas posso inserir essa música na programação na mesma Hora, porque temos uma discoteca computadorizada." - nunca fica nervosa quando vai ao ar?
Ela deu risada e balançou a cabeça, ficou mais despenteada e mais atraente. - faço isso há tempo demais para sentir aquele nó no estômago. - você opera o equipamento todo sozinha? - se está se referindo à mesa de controle, sim. E opero as minhas linhas telefônicas também. Eu não quis ter um produtor. Gosto de ter um programa do eusozinha. - quando começou, teve de aprender muita coisa técnica? - um pouco, mas, sinceramente, você deve saber muito mais sobre o funcionamento de um computador do que eu sei sobre a física das ondas de rádio. O cumprimento implícito produziu um sorriso apatetado em rondeau. - trabalhar sozinha é chato, às vezes? - não. Eu gosto de música. Todas as pessoas que telefonam me mantêm ligada. Cada transmissão é diferente da outra. - não se sente sozinha trabalhando lá toda noite? - na verdade, eu gosto. Antes que rondeau pedisse para ser o pai dos filhos dela, dean intercedeu. - acompanho você até lá fora, paris. Enquanto dean a conduzia até a porta, paris disse: - gostaria que me mantivessem informada. Faça o favor de pedir para o sargento curtis telefonar para mim quando souberem de alguma coisa. O sargento curtis. Não ele. A afronta não podia ser mais direta, e dean ficou tremendamente irritado. Ele era da polícia, assim como o sargento robert curtis. E Mais graduado. Dean passou a mão pelas costas de paris para segurar a maçaneta. Mas a porta se abriu sem a ajuda dele, e curtis estava do outro lado. Sua pele estava bem mais vermelha Do que de costume. O que restava do cabelo claro parecia estar todo em pé. - bem, a merda já está no ventilador - anunciou ele. - de alguma maneira, um repórter do tribunal ficou sabendo que a polícia estava procurando janey kemp. Ele perguntou Diretamente ao juiz quando voltava do recesso do almoço. O meritíssimo não está contente. - a vida da filha dele pode estar em risco e ele se preocupa com exposição na mídia? - exclamou paris. - exatamente o que eu acho - disse dean. - não estou nem aí se ele está contente ou não. - ótimo. Você terá a oportunidade de dizer isso na cara dele. O chefe mandou procurar kemp e tentar amansar o bicho. Agora. Capítulo dez Paris subiu com o carro na entrada circular da casa dos kemp logo atrás do taurus comum do sargento curtis. Desceu do carro dela ao mesmo tempo que ele. E, antes De curtis ter a chance de dizer qualquer coisa, paris disse: - eu vou também. - isso é trabalho para a polícia, srta. Gibson. Se tinha resolvido voltar a usar o tratamento formal era porque estava aborrecido. Mas paris não recuou. - fui eu que comecei essa história toda quando fui procurálo esta manhã. Se nunca mais souber do valentino e descobrir que o telefonema de ontem à noite foi um trote, Terei de me desculpar com você, com a polícia de austin e especialmente com essa família. E se não for trote, estou envolvida diretamente, e eles também, o que me Dá o direito de falar com eles. O detetive olhou para dean como se quisesse conselhos para lidar com paris
quando ela adotava aquela postura insistente. - é você que decide, curtis - disse dean. - mas paris é muito boa para conversar com as pessoas. É o que ela faz. Partindo de um negociador treinado, aquilo era um elogio e tanto. Curtis pensou um pouco e disse, a contragosto: - está bem, mas não sei por que quer se envolver mais ainda nisso. - não foi escolha minha. O valentino me pôs nisso. Dean e paris seguiram o detetive até a porta. - obrigado por me apoiar - disse paris só para dean. - não me agradeça ainda - ele inclinou a cabeça para a larga porta da frente que se abria enquanto subiam os degraus da varanda. - parece que ele estava à espreita. O juiz baird kemp era alto, tinha aparência distinta e era um homem bonito, quando não fazia aquela cara feia, olhando para curtis, que obviamente conhecia bem. - estou tentando abafar isso, curtis, e o que é que a polícia de austin faz? Manda mais policiais para a minha casa. Que merda está acontecendo com vocês? E quem São eles? O mérito de curtis devia ser reconhecido, pois ele manteve a calma, apesar do rosto e do pescoço ficarem mais vermelhos Ainda. - juiz kemp, dr. Dean malloy. Ele é o psicólogo da polícia. - psicólogo? Dean nem se incomodou de estender a mão para o juiz, sabendo que seria ignorado. - e esta é paris gibson - disse curtis, apontando para ela. Se o nome de paris significava alguma coisa para o juiz, ele Não deu sinal. Depois de examiná-la rapidamente, olhou furioso Para curtis. - foi você que inventou esse boato falso, que a minha filha Está desaparecida? - não, juiz, não fui eu. Foi o senhor. Quando telefonou para um dos seus amigos policiais e disse para ele começar a procurá-la. Uma veia saltou na testa de kemp. - eu disse para o delegado que exigia saber quem tinha espalhado essa história, que foi um exagero muito grande. E ele manda você, um analista e uma... - ele olhou De lado para paris. Não importa. Que diabos vocês vieram fazer aqui? - baird, pelo amor de deus. Uma mulher apareceu na porta e o repreendeu com um olhar Sério. - será que podem fazer a gentileza de vir ter essa conversa aqui dentro, onde menos pessoas terão a oportunidade de ouvir Por acaso? Ela passou uma rápida vista de olhos em todos eles, que por muito pouco não foi hostil, e depois disse, irritada: - querem entrar, por favor? Mais uma vez, paris e dean seguiram atrás de curtis. Foram levados para uma sala de estar elaboradamente decorada, que poderia ser um salão em versalhes. O decorador Tinha superfaturado o orçamento com uma sobrecarga de brocados, dourados, molduras e borlas. O juiz marchou para um requintado carrinho de bebidas, serviu um drinque para ele de uma jarra de cristal e bebeu tudo de uma vez só, como se fosse remédio. A sra. Kemp sentou no braço delicado de um sofá como se não pretendesse ficar muito tempo. Curtis permaneceu de pé, parecendo deslocado como um hidrante naquela sala cheia de frufrus.
- sra. Kemp, teve notícia de janey? Ela olhou para o marido antes de responder. - não. Mas quando ela chegar em casa vai enfrentar um problema muito sério. Paris não pôde deixar de pensar que a menina já podia estar enfrentando um problema muito mais sério naquele momento. - ela é uma adolescente, pelo amor de deus. - o juiz também estava de pé, olhando com raiva para eles como se fosse sentenciá-los a vinte anos de trabalhos forçados. - adolescentes inventam essas encrencas o tempo todo. Só que quando é a minha filha que faz isso, sai em todos os jornais. - vocês não percebem que essa publicidade negativa só piora as coisas? Para quem? Paris ficou impressionada de ver que a principal preocupação da sra. Kemp era a publicidade. Não devia estar mais preocupada com a ausência da menina Do que com o que diriam a respeito? Curtis ainda tentava usar diplomacia. - senhor juiz, eu não sei quem, dentro da polícia de austin, falou com aquele repórter. E provavelmente nunca saberemos. O culpado não vai se apresentar e admitir Isso, e o repórter vai proteger a fonte. Sugiro que deixemos esse assunto e passemos para... - para você, é fácil falar. - não é nada fácil - falou dean pela primeira vez, e o seu tom de voz foi tão imperativo que todos os olhares viraram para ele. - gostaria muito que nós três tivéssemos Vindo até aqui, de chapéu na mão, para implorar o seu perdão por um erro de julgamento, uma brecha de sigilo, um alarme falso. Infelizmente estamos aqui porque sua Filha pode estar correndo um perigo muito sério. A sra. Kemp passou do braço do sofá para a almofada. O juiz foi pego de surpresa. - o que quer dizer? Como sabe? - talvez seja melhor eu dizer por que estou aqui - disse paris baixinho. O juiz semicerrou os olhos. - qual é seu nome mesmo? Você é aquela caça-gazeteiros que ficava nos assediando no ano passado? - não - paris apresentou-se novamente. - eu tenho um programa de rádio. Todas as noites de segunda a sexta, das dez até às duas da madrugada. - rádio? - ah! - exclamou a sra. Kemp - paris gibson. É claro. Janey Escuta o seu programa. Paris trocou olhares com dean e curtis antes de virar de novo para o juiz, que aparentemente não a conhecia, nem o seu Programa. - os ouvintes telefonam e às vezes ponho a conversa no ar. - programa de entrevistas no rádio? Um bando de esquerdistas radicais falando disso e daquilo. O juiz devia ser o indivíduo mais desagradável que paris tinha Visto na vida. - não - disse ela calmamente -, o meu programa não é de Entrevistas. Paris já ia descrever o formato do que fazia no rádio quando Ele interrompeu. - já entendi. E daí? - às vezes o ouvinte telefona para desabafar algum problema pessoal. - com uma perfeita estranha? - eu não sou uma estranha para os meus ouvintes. O juiz ergueu uma sobrancelha que começava a ficar grisalha. Aparentemente não estava acostumado a ser contrariado ou corrigido. Mas paris não se intimidava com
Alguém de quem já tivesse formado uma opinião tão depreciativa. Flagrantemente rude, o juiz descartou paris e virou de novo Para curtis. - eu ainda não entendi o que uma dj de rádio tem a ver Com tudo isso. - acho que isso pode explicar - o detetive pôs o toca-fitas portátil sobre a mesa de centro. - posso? - o que é isso? - sente-se, baird - disse a mulher dele, secamente. Paris notou sinais de apreensão nos olhos da outra mulher. Finalmente estava começando a compreender a seriedade da situação. - o que tem no gravador? - perguntou a sra. Kemp para curtis. - queremos que vocês ouçam para ver se reconhecem a voz da sua filha. O juiz olhou para paris. - ela telefonou para você? Para quê? Paris, assim como os outros, ignorou o juiz quando a fita começou a rodar. Bem, sabe, eu conheci um cara poucas semanas atrás. Paris viu que dean observava atentamente a sra. Kemp. A reação dela foi imediata, mas será que por ter reconhecido a voz, ou por causa da descrição que a menina Fazia do caso breve mas quente, quente, quentíssimo que teve? Quando a fita acabou, dean perguntou à sra. Kemp: - essa é a voz de janey? - parece que é. Mas ela raramente fala conosco com essa animação toda, por isso é difícil dizer. - senhor juiz? - perguntou curtis. - eu também não tenho certeza absoluta. Mas que diferença faz se for ela? Nós sabemos que ela tem namorados. Pula de um para outro com tanta rapidez que não conseguimos Acompanhar. Ela é uma menina muito popular. O que isso tem a ver com essa história toda? - esperamos que nada - respondeu curtis. - mas pode estar relacionado com uma outra ligação que paris recebeu de um ouvinte. Enquanto falava, curtis trocou uma fita por outra. Antes de ligar a segunda, ele disse para a sra. Kemp: - peço o seu perdão, senhora. Algumas coisas que ele diz são bem grosseiras. Ouviram em silêncio. Quando valentino desejou boa-noite a paris, o juiz estava de costas para todos, espiando pela janela da frente. A sra. Kemp apertava o punho Cerrado e branco contra os lábios. O juiz deu meia-volta bem devagar e olhou para paris. - quando foi que recebeu essa ligação? - logo antes de encerrar o programa, na noite passada. Liguei imediatamente para o 911. Curtis começou a explicar a partir dali e pôs os dois a par de Tudo. - janey é a única pessoa desaparecida da qual temos notícia. Se foi ela que conversou com paris no início da semana, pode Ter relação. - se ouvisse uma evidência tão furada como essa no meu Tribunal, ia ignorá-la. - talvez ignorasse, senhor juiz, mas eu não - declarou curtis. - depois que o repórter lhe fez aquela pergunta direta, eu soube que o senhor ordenou que cancelassem a busca da sua filha. Bem, o senhor deve saber que enquanto Conversamos aqui, os nossos homens estão intensificando a busca e policiais da inteligência estão usando todos os recursos. O juiz parecia prestes a implodir. - com autoridade de quem?
- a minha - disse dean. - eu fiz essa recomendação, e o sargento curtis agiu de acordo. A sra. Kemp olhou para dean. - desculpe, nós não fomos formalmente apresentados. Eu Não sei quem... Dean apresentou-se de novo e explicou o motivo do seu envolvimento. - É muito possível que isso acabe sendo um trote, sra. Kemp. Mas até termos certeza, precisamos levar a sério essas ameaças. Ela se levantou subitamente. - alguém quer café? Antes de qualquer um responder, a sra. Kemp saiu apressada da sala. O juiz resmungou uma ladainha de impropérios. - isso era necessário? - perguntou para dean. Dean já estava tendo dificuldade para se conter. Paris reconheceu a tensão na postura e a rigidez do maxilar quando ele se levantou e encarou o juiz. - eu estou torcendo para o senhor poder abrir um processo contra mim. Espero que janey entre aqui dançando e faça com que eu pareça um completo idiota. O senhor, Então, terá o prazer de dizer isso na minha cara, e talvez até de conseguir que me demitam. "mas, enquanto isso não acontece, a sua grosseria é imperdoável e sua obstinação, estupidez. Recebemos um prazo de setenta e duas horas, e até agora o senhor já Desperdiçou vinte minutos desse tempo agindo como um tolo. Sugiro que deixemos de lado os nossos egos para nos concentrar em encontrar a sua filha." O juiz e dean mediram forças com o olhar. Nenhum cedia ao outro, numa silenciosa disputa de temperamentos. Finalmente, curtis pigarreou. - e... Quando foi a última vez que viu janey, juiz? Kemp ficou aliviado de ter uma desculpa para interromper o contato visual com dean. - ontem - respondeu rapidamente. - pelo menos marian a viu ontem. À tarde. Chegamos em casa tarde, ontem à noite. Pensamos que ela estava no quarto. Só descobrimos Esta manhã que não tinha dormido em casa. - ele sentou, cruzou as pernas compridas, mas a despreocupação parecia afetação. - tenho certeza que deve estar com as Amigas. - tenho um filho mais ou menos da idade de janey - disse dean. - é terrível às vezes. Há momentos em que qualquer um poderia pensar que nos odiamos. Descontando Os altos e baixos da convivência com um adolescente, o senhor diria que em geral tem um bom relacionamento com janey? O juiz parecia pronto para responder a dean que a relação com a filha não era da conta dele. Mas controlou-se e disse, tenso: - às vezes, ela é bem difícil. - foge do castigo? Toma porres? Sai com uma turma que o senhor não considera boa companhia? Digo isso por experiência própria, o senhor entende. Pondo os dois no mesmo plano, dean estava desfazendo aos poucos as barreiras do juiz, e curtis parecia satisfeito, deixando Que ele falasse. - tudo isso que você disse - o juiz admitiu antes de se virar para paris. - o sargento curtis disse que esse degenerado já telefonou para você antes. - um homem que usou esse nome, sim. - sabe alguma coisa sobre ele? - não. - não tem idéia de quem ele é? - infelizmente, não. - você provoca esse tipo de lascívia nos seus ouvintes de Propósito? A pergunta incriminadora surpreendeu paris. Antes de poder elaborar uma
resposta, dean se adiantou: - paris não pode ser considerada responsável pelos atos dos ouvintes do seu programa. - obrigada, dean, mas posso responder sozinha. - ela encarou o olhar de censura do juiz. - não me importo com o que o senhor pensa de mim, ou do meu programa, juiz Kemp. Não preciso, nem quero, a sua aprovação. Só estou aqui porque fui a primeira a ouvir o recado de valentino e estou tão preocupada quanto dean... O dr. Malloy. Respeito a opinião dele, como psicólogo e também como criminalista. A capacidade investigativa do sargento curtis é insuperável. É mais sensato o senhor levar seriamente Em consideração o que eles estão dizendo. "quanto à minha opinião, ela se baseia em muitos anos de experiência. Escuto pessoas em todas as situações possíveis. Elas conversam comigo, rindo e chorando. Dividem Suas alegrias, tristezas, sofrimentos, corações partidos, euforias. Às vezes, mentem. Em geral, sei quando estão mentindo, quando fingem alguma emoção, querendo Me impressionar. Às vezes fazem isso, pensando que aumentará suas chances de serem postas no ar." Paris apontou para o gravador. - ele nem sequer insinuou ser posto no ar. Não foi por isso que telefonou. Ele telefonou para me dar um recado e não achei que estivesse mentindo ou fingindo nada. Não acho que foi um trote. Acho que ele fez, e vai fazer, o que disse. "insulte-me se isso fizer com que se sinta melhor mas, independentemente de qualquer coisa que diga, vou fazer tudo que estiver ao meu alcance para ajudar a polícia A trazer sua filha sã e salva de volta." O silêncio tenso que se seguiu ao discurso de paris foi abrandado pela chegada de marian kemp. Parecia ter esperado justamente aquele momento para reaparecer. - resolvi que chá gelado era melhor. Ela foi seguida por uma empregada uniformizada que carregava uma bandeja de prata. Nela havia longos copos de chá gelado enfeitados com rodelas de limão e folhinhas De hortelã. Cada copo sobre um porta-copos de linho bordado. Um pote de prata com cubos de açúcar e pegadores também de prata. Depois que todos se serviram e a empregada se retirou, curtis pôs o copo de chá meio sem jeito sobre a mesa de centro. - tem um outro elemento nisso que os senhores deviam saber - disse ele para os kemp. - a sua filha tem um computador? - fica o tempo todo navegando nele - respondeu marian. O juiz e marian kemp ouviram em silêncio pétreo o que curtis contou sobre o clube do sexo. Ao fim do relato, o juiz exigiu saber por que tinham sujeitado a mulher Dele a ouvir tanta imundície. - porque precisamos ter acesso ao computador de janey. O juiz explodiu em protestos veementes. Curtis e ele mergulharam numa discussão acalorada sobre procedimentos investigativos, privacidade e justificativa putativa. Finalmente, dean se meteu na briga. - a segurança dessa menina não tem prioridade sobre essas questões legais? - o grito dele fez calar os dois e dean tirou proveito disso. - precisamos de uma cópia De tudo que há no disco rígido de janey. - não vou permitir - retrucou o juiz. - se essa coisa de clube do sexo existe, a minha filha não tem nada a ver com isso. - oferecendo-se para fazer sexo com estranhos - fungou marian kemp. - é
revoltante. - e falando como pai é aterrador - disse dean para ela. Mas eu preferia saber do que ficar no escuro, a senhora não? Aparentemente não, dean pensou, quando nem o juiz nem a mulher responderam. - nós não queremos invadir a privacidade de janey, nem a sua. Mas o computador dela poderia nos dar pistas de onde ela pode estar. - por exemplo? - perguntou o juiz. - amigos e conhecidos que os senhores não conhecem. Pessoas que enviam e-mails para ela. - se vocês descobrissem qualquer coisa incriminadora, jamais seria admitida num tribunal, porque foi obtida ilegalmente. - então por que se preocupar? O juiz tinha criado a própria armadilha, e sabia disso. Dean continuou: - se janey tiver uma pasta de endereços de e-mails, e tenho certeza que tem, poderíamos mandar uma mensagem para todos, perguntando se a viram, e para entrar em Contato com vocês. - e anunciar para o mundo que a mãe dela e eu não somos capazes de cuidar da própria filha. Dean não gostava daquela gente, mas não teve coragem de afirmar o que era o óbvio ululante: que eles não estariam ali se os kemp tivessem cuidado melhor da filha. - os amigos dela vão reconhecer o e-mail e abrir a carta disse ele. - vamos assinar a mensagem como se fossem vocês, não a polícia, e prometer que qualquer um que Queira dar informações poderá permanecer anónimo. - sra. Kemp - disse paris gentilmente -, um e-mail atingiria muita gente, com mais eficiência do que uma investigação policial dos lugares que janey costuma freqüentar. Além do mais, os jovens ficam nervosos quando a polícia está por perto, mesmo quando não estão fazendo nada de errado. Os amigos de janey não iam querer falar sobre Ela para um policial. Responderiam com muito mais naturalidade a um e-mail. Era um argumento persuasivo que ganhava mais força com a voz suave de paris. A sra. Kemp olhou para o marido e de novo para paris. - vou mostrar o quarto dela. O convite parecia ser apenas para paris, que se levantou ao mesmo tempo que a sra. Kemp e saiu com ela da sala. Sem dizer palavra, o juiz girou nos calcanhares e foi para a sala ao lado. Pelo que dean pôde ver, olhando para a porta aberta antes do juiz fechá-la com estrondo, Parecia ser uma biblioteca ou escritório. Curtis bateu de leve com as mãos nas coxas ao se levantar. - isso foi um sucesso, não acha? Dean sorriu com a observação irónica, mas certamente não sentia vontade nenhuma de sorrir. - acho que o meritíssimo está se isentando de toda essa história suja. - aposto meu culhão esquerdo que ele está lá no telefone descascando o delegado por causa do novo psicólogo da polícia. - eu não dou a mínima. Não me arrependo de nada que disse, e diria tudo de novo. - é, bem, de vez em quando eu tenho de testemunhar nos julgamentos dele. Tenho de ficar pulando de um lado para outro, fazendo média com os dois. Mas acho que da Próxima vez que estiver no banco das testemunhas, o meu depoimento será desacreditado - ele passou a mão pelo cabelo ralo. - vou até lá fora fazer umas ligações Para ver se há alguma novidade para poder dormir mais tranqüilo esta noite. Dean seguiu curtis até a escadaria. - ficarei aqui esperando a paris.
- achei que faria isso. Dean não tinha uma resposta adequada para a frase de despedida do detetive, por isso deixou passar. Enfiou as mãos nos bolsos da calça e analisou o hall de entrada Formal. O piso era de placas de mármore. No teto, havia um luxuoso lustre de cristal que se refletia nas superfícies de madeira polida de dois consoles idênticos, Um de frente para o outro no vestíbulo espaçoso. Em cima de uma das mesas, pendurado na parede, havia um retrato pintado a óleo de marian kemp. E na parede oposta, sobre a mesa igual à outra, um quadro do mesmo Artista, de uma menina que devia ter uns sete anos. Usava um vestido de verão, de um tecido branco bem leve. Estava descalça. O artista havia capturado a luz do Sol brilhando nos cachos do cabelo louro-claro. Ela parecia angelical e completamente inocente. O telefone celular de dean vibrou dentro do bolso do paletó. Verificou o visor e reconheceu o número do celular de liz. Não atendeu, convencendo-se de que aquela Não era uma boa hora. Liz tinha ligado duas vezes antes. E em horas que também não eram boas. Dean ouviu passos no espesso tapete da escada e viu paris e marian kemp descendo. Paris inclinou a cabeça sutilmente para ele. Tinha nas mãos um disquete que lhe Foi entregue assim que chegou ao seu lado. Dean guardou no bolso. - obrigado, sra. Kemp. Apesar de ter cooperado, marian não tinha simpatizado com eles. - acompanho vocês até a porta. Ela abriu a porta da frente e, quando viu a jovem parada na entrada com o sargento curtis, exclamou: - melissa! Eu pensei que você estivesse na europa. Ao ouvir seu nome, a menina virou para os três. Era alta e magra, e provavelmente atraente por baixo da maquiagem aplicada com a delicadeza de um guerreiro se preparando Para a batalha. - ei, sra. K. Acabei de voltar. - ela é amiga da janey? - perguntou dean para marian kemp. - é a melhor amiga dela. Melissa hatcher. Atrás do carro de paris, havia um bmw conversível último tipo, moderno e vistoso, mas não dava para adivinhar, pelas roupas que usava, que aquela menina era de família Rica. Ela usava uma calça jeans cortada, com fiapos desiguais pendurados nas coxas. O cós também tinha sido cortado fora, sobrando apenas uma franja para segurar O short nos quadris. Duas safiras piscavam do piercing no umbigo. A gola e as mangas da camiseta, grandes demais, revelavam que não usava nada por baixo. As meias três quartos listradas pareciam muito pesadas, e as botas pretas amarradas nos tornozelos seriam mais apropriadas para um lenhador ou um mercenário em atividade. Contrastando, a enorme bolsa pendurada no ombro era gucci. - falou com janey depois que voltou? - perguntou marian kemp. - não - respondeu melissa, como se estivesse aborrecida com a pergunta. - esse cara aqui estava fazendo um monte de perguntas. O que está havendo? - janey não voltou para casa a noite passada. - e daí? Ela deve ter ficado na casa de alguém. A senhora sabe - ela deu de ombros, e com isso a gola da camiseta deslizou até o meio de um dos braços. Deu uma olhada Para dean que era obviamente um flerte. - pode nos dar alguns nomes? Ela virou novamente para curtis e examinou-o de alto a baixo.
- nomes? - das pessoas com quem janey poderia estar? - você é tira? O detetive abriu o paletó esporte e mostrou o distintivo preso ao cinto. - que merda. O que foi que ela fez? - nada, até onde sabemos. - ela pode estar em perigo, melissa - paris desceu os degraus para juntar-se a eles. A menina olhou curiosa para paris. - perigo? Que tipo de perigo? Você é tira também? - não, eu trabalho numa estação de rádio. Sou paris gibson. Melissa hatcher tinha pintado os lábios com um batom que Parecia preto, de tão escuro que era o vermelho. Eles se entreabriram, atônitos. - ah, qual é, porra? Você está brincando, certo? - não. - oh, meu deus - o prazer era provavelmente a reação mais sincera que a menina demonstrava havia meses. - que barato! Eu escuto o seu programa. Quando não estou Ouvindo cds. Mas às vezes simplesmente não estou a fim de ouvir cds. E então ligo no seu programa. Às vezes a música que você toca é uma bosta, mas você é maneiríssima. - obrigada. - e gostei do seu cabelo. Isso são luzes? - melissa, você sabe se a janey já telefonou para mim alguma vez, quando eu estava no ar? - ah, já. Umas duas vezes. Mas já faz algum tempo. Nós ligamos para você no celular da janey e conversamos com você, mas não demos nossos nomes, e você não pôs A nossa conversa no rádio. E isso foi legal, porque estávamos chapadas e talvez desse para perceber. Paris sorriu para ela. - quem sabe na próxima vez. - janey telefonou para paris recentemente? - perguntou dean. Olhos escuros, delineados num tom ainda mais escuro, viraram para ele. Paris apresentou-o para a menina como dr. Malloy. Ele estendeu a mão. Melissa ficou meio espantada com o gesto educado, mas apertou a mão dele. - que tipo de médico você é? - psicólogo. - psicólogo? Meu deus, o que foi que a janey fez? Passou um cheque sem fundos ou o quê? - nós não sabemos. Ninguém tem notícias dela há mais de vinte e quatro horas. Os pais dela estão preocupados, e nós também. - nós? Você é tira também? - sou. Trabalho para a polícia. - humm. Melissa olhou desconfiada para os três, e dean sentiu que ela se recolheu, temerosa. Eles a estavam perdendo. Apesar de fã de paris gibson, seria leal à amiga primeiro. E não daria muitas informações sobre janey. - como eu disse, não tenho idéia de onde janey está, nem para quem ela telefonou, porque acabei de voltar da frança. Estou acordada há umas trinta horas direto, Por isso agora vou para casa, dormir. Quando janey aparecer, diga que já voltei, está bem sra. K.? A bolsa gucci formou um arco no ar quando melissa deu meia-volta e saiu despreocupada para o carro dela. Mas logo antes de chegar ao carro, ela virou subitamente Para trás e bateu na testa com a mão cheia de pulseiras brilhantes e inúmeros anéis.
- porra, agora entendi! - disse ela apontando para dean. Não admira que seja tão marrento! Você é o pai do gavin. Capítulo onze - acorda, dorminhoca. Janey abriu os olhos. Ele estava inclinado sobre ela, o rosto perto do dela, a respiração formava uma nuvem entre os dois. Ele beijou sua testa. Ela gemeu de modo Deplorável. - sentiu a minha falta? Janey fez que sim com a cabeça e ele riu. Não acreditou nela, e não seria bom mesmo. Porque a primeira chance que tivesse, mataria aquele filho-da-puta. Procurou evitar que o ódio que sentia transparecesse no olhar, concluiu que o melhor que tinha a fazer era parecer submissa. O psicopata queria brincar, queria que Ela implorasse, queria dominá-la. Então tudo bem. Seria seu brinquedinho contrito... Até ele dar as costas para ela, e aí arrebentaria a cabeça dele. - o que é isso? - ele notou o lençol manchado e estalou a língua. A menina tinha urinado na cama. O que é que ele esperava? Deixou-a abandonada ali por deus sabe quanto tempo. Ela segurou a vontade o máximo que pôde, mas finalmente Não teve escolha, teve de molhar a cama. - você terá de trocar a roupa de cama - ele disse. Tudo bem, eu faço a cama. Desamarre-me, dê-me um lençol limpo, que estrangulo você com ele. Ele afastou uma mecha do cabelo despenteado da garota. - você está cheirando a mijo e suor, janey. Andou fazendo algum esforço? O quê? Gostaria de saber - ele olhou em volta e parou na parede atrás da cama. - humm. Marcas Na pintura. Você andou balançando a cama para a cabeceira bater na parede, não foi? Droga! Ela queria incomodar algum vizinho, que com raiva das batidas monótonas iria até lá mandar parar. Então, ao ser Ignorado, reclamaria até o gerente resolver verificar a origem do barulho. Ela seria encontrada, seu pai avisado e ele providenciaria para aquele babaca nunca mais ver a luz do sol. Iam prendê-lo numa cela no porão do presídio e conceder Visitas a todos os viados sarados do lugar. O sonho de vingança de janey e de ser resgatada morreu quando ele puxou a cama para longe da parede. - isso não pode, janey - ele abaixou e beijou novamente a testa dela. - desculpe estragar seu plano esperto, querida. Janey olhou para ele com um desespero que não era totalmente fingido. E gemeu, implorando. - precisa ir ao banheiro? Ela fez que sim com a cabeça. - está bem. Mas tem de prometer que não vai tentar fugir. Senão vai acabar se machucando, e eu não quero machucar você. Eu prometo, disse ela por baixo da horrível fita adesiva. Ele desamarrou os pés primeiro. Janey achava que assim que estivessem livres ia começar a chutar e a lutar contra ele, mas levou um susto, pois suas pernas pareciam De borracha. Não se mexiam, e quando faziam qualquer movimento, era lento demais. Ele desamarrou suas mãos, pegou-a nos braços e levou-a para o banheiro. Pôs janey de pé perto da privada, levantou a tampa e gentilmente a fez sentar. Ela levantou a mão para tirar a fita adesiva da boca.
- pode tirar - disse ele suavemente. - mas, se gritar, vai se arrepender. Janey acreditou nele. Doeu arrancar a fita, mas depois de tirá-la engoliu uma grande quantidade de ar pela boca. - eu queria um pouco de água, por favor - disse ela, sua voz Um coaxar. - faça o que tem de fazer aqui primeiro. Ele não fez menção de sair. Janey ficou mortificada, pois as lágrimas encheram seus olhos. - saia e feche a porta. Ele franziu a testa para ela, impaciente. - ah, o que é isso? Essa súbita modéstia é absurda. Ande logo antes que eu mude de idéia e deixe você molhar a cama de novo. Quando terminou, janey pediu novamente um pouco de água. - é claro, janey. Assim que você trocar a roupa da cama. Você deixou tudo muito sujo. Horrivelmente sujo. Ela morria de sede, por isso, submissa, trocou os lençóis molhados por lençóis limpos. Quando completou a tarefa e ele ficou satisfeito, janey estava exausta e tinha Começado a suar frio. Ele a fez sentar na poltrona, onde podia vigiá-la enquanto entrava na quitinete e abria uma garrafa plástica de água. Ela esperava um copo. Podia quebrá-lo e enfiar Um caco na garganta dele. Se tivesse força para isso. Estava anormalmente fraca, até para alguém que tinha ficado deitada horas na cama. Será que ele a tinha drogado Na véspera? E será que estava fazendo isso de novo naquele momento? Será que tinha posto alguma coisa na água? Na verdade, ela não se importava com isso. Estava com tanta sede que bebeu a água com sofreguidão. - está com fome? - estou. Ele fez um sanduíche de queijo com pimentão e deu para janey, pegando um pedaço pequeno de cada vez com a ponta dos dedos e pondo na boca da menina. Ela pensou em Morder os dedos dele, mas isso ainda deixaria uma de suas mãos livre. Não tinha esquecido do tapa que fez sua visão escurecer e os ouvidos zunirem. Não queria levar Outro. Provocar dor nele, mesmo que momentânea, seria um prazer enorme para ela. Adoraria enfiar os dentes na carne dele, tirar sangue. Mas no seu estado seria impossível Dar continuidade ao esforço de superá-lo. A satisfação que teria seria breve demais e custaria muito caro. Até poder fazer mais que apenas deixá-lo furioso e com Ganas de vingar-se, era melhor guardar suas forças e procurar arquitetar um plano seguro de fuga. Ela comeu todo o sanduíche, e ele disse: - gosto de você assim, janey - ele acariciou a cabeça dela, e com os dedos tirou os nós do cabelo. - essa submissão é muito excitante - ele tocou de leve nos mamilos Dela. - você fica muito desejável. Afastou-se apenas tempo suficiente para pegar a máquina fotográfica. A câmera nojenta. A câmera que a deixou intrigada e a fez pensar que ele era especial. Um tarado Especial, talvez. Agora janey odiava aquela máquina e gostaria muito de esfregála na cara dele até os ossos e a câmera ficarem em pedaços. Mas estava muito amedrontada para resistir quando ele a preparou em poses para diversas fotos obscenas.
- deite na cama. Janey pensou em implorar, suplicar, prometer dinheiro para ele, jurar que jamais contaria para ninguém o que tinha acontecido, se ele a deixasse ir. Mas talvez tivesse Mais poder para barganhar se o satisfizesse mais uma vez. Por isso deitou na cama e fez exatamente o que ele mandou fazer. Quando ele terminou, janey nem tinha mais energia para levantar a cabeça. Ele a tinha drogado. Tinha Certeza disso agora. Observou apavorada quando ele abriu a gaveta da mesa-decabeceira e tirou um rolo de fita adesiva. - não - choramingou ela. - por favor. - detesto ter de fazer isso, janey, mas você é uma puta. O seu amor não é puro. Você é desonesta. Não se pode confiar em você, nem para ficar de boca fechada. - eu fico. Eu juro. Foi só isso que ela foi capaz de dizer, pois ele grudou um pedaço de fita na sua boca. Dessa vez, ele também usou a fita adesiva para prender seus pulsos e tornozelos Na cama, tão apertado que não deixava nenhuma folga. Ele tomou uma chuveirada e depois se vestiu. Parado ao lado da cama, enfiou calmamente o cinto pelos passadores da calça. - está chorando, janey? Por quê? Você costumava ser a menina mais animada de todas. Jogou os lençóis sujos num saco da lavanderia e pegou suas chaves. Já estava quase na porta quando estalou os dedos e voltou. - quase ia esquecendo. Tenho uma surpresa para você. Tirou uma fita cassete do bolso da jaqueta e pôs no gravador Do seu som. - gravei isso a noite passada. Vai achar interessante. Ele apertou o botão para tocar, soprou um beijo para ela e saiu. Trancou a porta pelo lado de fora. Janey ouviu trinta segundos de silêncio na fita e depois um telefone tocando. Tocou algumas vezes, e então ela ouviu uma voz conhecida dizer: - aqui é paris. - alô, paris. Aqui é valentino. O nome dele é valentino? Foi a primeira coisa que pensou, porque reconheceu imediatamente a voz dele. Não era a voz com que falava normalmente, mas outra, a que às vezes usava quando estavam Na cama. Janey tinha achado divertido ele conseguir baixar o tom da voz natural daquele jeito, torná-la sussurrante, fazer com que parecesse que estava fazendo algo Proibido... Que em geral estava mesmo. E agora, ouvir aquela voz em estéreo só provocava arrepios. Ficou ouvindo enquanto ele contava a paris a história dos dois do ponto de vista dele, e respirava rápido pelo nariz, observando o gravador fascinada, escutando A gravação com uma angústia que logo se transformou em terror. Quando ele disse a paris gibson quais eram seus planos para ela, janey começou a berrar na câmara Oca da sua boca selada. Mas é claro que ninguém podia ouvi-la. Toni chegou ao consultório dentário do marido logo antes de fechar. Um dos outros dentistas da clínica parou para conversar com ela. Pediu desculpas por ainda não Ter convidado brad e ela para jantar. Trocaram promessas de marcar uma data logo. Parecia que brad não tinha dificuldade para manter as aparências. Ela faria a mesma coisa pelo tempo que pudesse. Toni entrou na sala e a recepcionista ficou surpresa de vê-la. - arrumei uma babá e pensei em fazer uma surpresa e jantar fora com brad explicou ela.
- ah, que pena, sra. Armstrong. O dr. Armstrong saiu daqui há umas duas horas. Pelo menos para a outra mulher a consternação ia parecer decepção. - oh, bem, a minha noite surpresa foi para o brejo. Ele disse para onde ia? - não, mas tenho certeza de que está com o celular. - vou ligar para ele. Vai te atrapalhar se eu usar a sala dele? - de jeito nenhum. E não se apresse. Tenho de arquivar umas coisas antes de ir embora. Como brad era o sócio mais novo, a sala dele era a menor, mas toni tinha feito o máximo para torná-la agradável. Certificados e diplomas com molduras combinando Formavam um arranjo bonito na parede. Fotografias da família intercaladas com os livros nas estantes atrás da mesa dele, que estava arrumada. Toni esperava que tudo estivesse limpo como parecia estar. Sentou na cadeira dele e iniciou a busca. Todas as gavetas estavam trancadas, mas, prevendo isso, toni Tinha ido preparada. Um grampo de cabelo torto abriu todas elas com o mínimo de esforço. Era verdade que tinha arrumado uma babá para aquela noite. Tinha cuidado do cabelo e da maquiagem, e escolhido a roupa com a esperança de surpreender brad com uma Noite livre, para compensar aquela manhã. A briga deles perseguiu toni o dia inteiro. Brad saíra de casa zangado. Ela estava magoada, além de zangada. Arrumação da casa, planejamento do cardápio e uma miríade De outras tarefas domésticas que povoavam seus dias a mantiveram ocupada. Mas nada a distraía da briga e da possibilidade, por menor que fosse, de talvez ter se Enganado. E se brad não estivesse mentindo quando contou onde estivera a noite passada? Talvez ela tivesse procurado problema onde não existia. Se ele tivesse dito a verdade, devia ser muito frustrante aquele esforço todo para merecer crédito, sabendo Que ela ia pensar no pior. As probabilidades eram mínimas de brad ter realmente assistido ao seminário e saído para tomar uma cerveja depois, mas, para manter a Família unida, toni estava suficientemente desesperada para contar com essa chance ínfima. Por isso, aquela tarde esperava encontrá-lo no consultório e fazer uma surpresa agradável, um ramo de oliveira com uma reserva num restaurante italiano que ela queria Conhecer. Passando a noite sozinha com ele, longe de casa e das crianças, com uma garrafa de vinho e fazendo amor depois, toni esperava merecer o seu perdão por Tê-lo julgado mal e poder deixar aquele episódio para trás. Brad, porém, não estava onde devia estar. Tinha saído mais cedo do trabalho sem dar explicação e sem informar para qualQuer pessoa o seu destino. Era um comportamento comum, um sinal bem conhecido, que deixava toni angustiada e dava motivo para arrombar as trancas das gavetas da Mesa do marido. Alguns segundos depois, sua suspeita se confirmou. Dentro da última gaveta da escrivaninha havia um tesouro de pornografia escondido. O material impresso variava de relativamente leve a extremamente descritivo. Algumas fotos mais obscenas, tanto em relação ao assunto quanto à composição, certamente Tinham sido tiradas por fotógrafos amadores. Brad era viciado. Como todos os viciados, suscetível a compulsões. E, quando cedia à compulsão, o viciado era capaz de fazer algo que normalmente não faria, como Assediar sexualmente um colega de trabalho ou acariciar uma paciente menor de idade.
E deus sabe o que mais. Capítulo doze Havia um calção de banho molhado no chão do quarto dos fundos quando dean passou por lá, ao entrar em casa. Encontrou gavin semi-reclinado no sofá da sala de estar. Apertava os botões do controle remoto da televisão aleatoriamente, mudando de canal a cada dez segundos. Estava só com uma toalha amarrada na cintura e o cabelo Molhado. - oi, gavin. -oi. - esteve na piscina? Sem tirar os olhos da televisão, ele respondeu: - não. Eu apenas gosto de ficar de bobeira enrolado numa toalha. - quando levar a toalha molhada para o quartinho dos fundos, pode aproveitar para pegar o calção que você deixou no chão. Gavin apertou mais botões. - vá tomar banho e depois vamos sair para comer - disse dean. - não estou com fome. - vá tomar banho e depois vamos sair para comer - repetiu dean. - e se eu não for, você vai me bater de novo? O olhar que dean deu para ele deve ter demonstrado que sua paciência estava acabando. Gavin largou o controle remoto e saiu indiferente da sala. Logo antes de passar Pela porta, ele tirou a toalha e mostrou o traseiro nu para dean. Mesmo a contragosto, dean deu dois pontos para gavin pelo gesto simbólico. Sem perguntar para gavin aonde ele queria ir, dean foi para um restaurante de uma rede que freqüentavam sempre. Gavin ficou de mau humor e respondia com monossílabos As tentativas de dean de puxar conversa. Os pedidos chegaram e dean perguntou se o hambúrguer de gavin estava do jeito que ele gostava. - está ótimo. - quero me desculpar por não ter mais jantares em casa. - não tem importância. Você cozinha muito mal. Dean sorriu. - não posso contestar isso. Você deve estar sentindo falta do molho de macarrão feito em casa e do rosbife da sua mãe. - é, acho que sim. - mas, de qualquer modo, você sempre quer hambúrguer ou pizza. - algum problema? - disse gavin, ficando imediatamente na defensiva. - não. A minha dieta era igualzinha quando tinha a sua idade. Gavin bufou como se insinuasse que não sabia que existia Hambúrguer e pizza naquela época tão antiga. Dean tentou de novo. - encontrei uma velha amiga ontem. Lembra de paris gibson? Gavin olhou para ele com ar de deboche. - você pensa que sou retardado? - foi há muito tempo, e você era muito pequeno. Não tinha certeza se você se lembraria dela. - claro que me lembro. Dela e do jack. Eles iam se casar mas ele se matou. - não se matou. Ele sobreviveu ao acidente. Só morreu alguns meses atrás. - ha. Ela está na rádio daqui agora. Dean ficou surpreso. - então você sabia? - todo mundo sabe. Ela é muito popular. - é, eu soube que ela tem muitos admiradores. Ela me disse hoje que está querendo atrair uma audiência mais jovem. Você escuta o programa dela? - escuto. Não toda noite. Às vezes. - gavin molhou uma batata frita numa porção de ketchup. - você telefonou para ela ou o quê? - não. Ela recebeu uma ligação estranha de um ouvinte ontem à noite.
- é mesmo? - humm - disse dean, mastigando o frango grelhado. - ela deu parte na polícia. Foram me consultar. O detetive e ela queriam saber a minha opinião. - detetive? Foi tão sério assim? - bastante sério. Dean fez sinal para a garçonete e pediu para trazer outra coca para gavin. Para alguém que estava sem fome, gavin devorou seu hambúrguer em tempo recorde. - e traga uma porção de queijo e batata frita também, por Favor. Gavin jamais pediria mais, mas dean sabia que ainda devia Estar com fome. - também encontrei uma amiga sua hoje - observou ele casualmente. - eu não tenho amigos aqui. Todos os meus amigos estão em houston. Onde eu morava. Na minha própria casa. Até minha mãe se casar com aquele idiota. Lá vamos nós, pensou dean. - ela estava há muito tempo solteira, gavin. - é, porque você se divorciou dela. - engraçado. Na noite passada você disse que ela se divorciou de mim. Na verdade, você estava certo as duas vezes. Nós concordamos em nos separar porque sabíamos Que seria melhor. - não importa - disse Gavin, com um suspiro entediado, virando a cabeça para espiar pela janela. - você não acha que a sua mãe tem o direito de ser feliz? - quem pode ser feliz com ele? Dean também não tinha ficado muito bem impressionado com a escolha de pat. O marido dela era bem sem graça, tão sem brilho que dava um trabalho enorme conversar Com ele. Mas parecia encantado com pat e ela com ele. - e daí se ele não tem uma personalidade dinâmica, você não pode simplesmente ficar contente da sua mãe ter encontrado alguém de quem ela gosta, e que gosta dela? - eu estou contente. Estou contente. Estou eufórico, está bem? Será que podemos parar de falar nisso agora? Dean poderia ter lembrado que tinha sido gavin quem puxou o assunto, mas deixou passar. A garçonete chegou com o pedido adicional deles. - mais alguma coisa? Ela se dirigiu a gavin, não a ele, e pela primeira vez dean procurou ver o filho através dos olhos de uma mulher jovem. Fora a corujice dos pais, gavin era um belo Garoto. O cabelo castanho possuía a textura ondulada do cabelo da mãe, e ele devia gostar, porque... Graças a deus, não tinha feito uma escultura, seguindo alguma Moda bizarra, nem tingiu de alguma cor que brilhava no escuro. Os olhos eram cor de uísque, e pareciam pensativos. Não dava para ver naquele momento, pois gavin estava sentado com as costas curvadas, mas já tinha mais de um Metro e oitenta, o físico forte e sem gordura nenhuma, e a elegância flexível de um atleta. Dean sorriu para a garçonete. - no momento não, obrigado. Quando ela se afastou, ele disse: - ela é bonitinha. Gavin olhou para a garçonete com indiferença. - não é feia. - mais bonita que a menina que conheci hoje. - olhando gavin bem de perto, dean disse: - melissa hatcher. Sem dúvida, gavin reconheceu o nome. Dean teve certeza disso. Mas o menino fingiu que não sabia quem era. - quem?
- ela disse que conhecia você. - não conhece. - então por que diria que conhece? - como é que vou saber? Ela entendeu o nome errado, ou me confundiu com outra pessoa. Gavin mexia no canudo dentro do copo de coca-cola, evitando olhar nos olhos do pai. - eu me apresentei para ela e depois de conversar algum tempo ela disse: "você é o pai do gavin." ela conhecia você. - talvez tivessem dito para ela se afastar de mim porque você é da polícia. - você quer dizer, quem vai querer ser amigo de um filho de policial? Ele olhou ressentido para dean. - mais ou menos por aí. - janey kemp? Dessa vez gavin não teve tanta facilidade para esconder sua reação. A expressão ficou de guarda imediatamente. - quem? - janey kemp. Pelo que ouvi dizer dela, não é do tipo que ficaria amiga do filho de um policial. Você a conhece? - ouvi falar dela. - o que foi que você ouviu? Gavin pegou um pedaço de queijo e disse, com a boca cheia: - você sabe, coisas. - como o quê? Que ela é doidinha? Fácil? - dizem. - você esteve com ela? - devo ter esbarrado com ela umas duas vezes. - onde? - caramba, o que é isso? A inquisição espanhola? - não, estou guardando o equipamento de tortura para mais tarde. Neste momento só estou curioso para saber em que lugar você esbarrou com janey kemp e a amiga dela, Melissa. Deve ter sido algumas vezes, para o meu nome significar alguma coisa para ela. Mesmo antes ela me reconheceu, porque você e eu somos parecidos. Gavin se ajeitou no banco e deu de ombros. - elas saem com aquele pessoal rico e esnobe. Eu as vi por aí, é só isso. No cinema. No shopping. Você sabe. - no lago? - qual deles? Da cidade ou de travis? - diga você. - eu as vi algumas vezes, está bem? Não lembro onde. Dean deu risada. - gavin, não me venha com essa conversa fiada. Se tivesse a sua idade, e tivesse encontrado melissa hatcher, e ela estivesse usando qualquer roupa parecida com a Que eu vi hoje, teria lembrado nos mínimos detalhes - ele empurrou o prato para o lado E inclinou o corpo sobre a mesa. - conte-me o que sabe sobre o clube do sexo. Gavin continuou com a mesma expressão vazia, mas seus olhos o traíram. - o quê? - ontem à noite, quando você me desobedeceu e saiu, você foi para o lago travis? - talvez tenha ido. E daí? - eu sei que a garotada se reúne em lugares específicos em torno do lago. Você viu janey kemp no meio da galera ontem à noite? E antes de me dar alguma resposta Idiota, fique sabendo que ela está desaparecida há mais de vinte e quatro horas. - desaparecida? - ela não voltou para casa depois de sair ontem à noite. Ninguém soube dela. No fim desta tarde, logo antes de eu sair da polícia, policiais encontraram o carro Dela. Estava estacionado perto de uma área de piquenique no lago, num bosque de cedros. Nenhum sinal da janey. Parece que ela encontrou alguém ontem à noite e
saiu Com essa pessoa. Você a viu? Ela estava com alguém? Gavin olhou para o prato vazio e ficou assim alguns segundos. - eu não a vi. - gavin - disse dean, baixando a voz -, eu sei que há essa regra rígida de não entregar seus amigos. A mesma regra funcionava quando eu era menino. Mas isso não É mais uma questão de lealdade ou de traição. É muito mais sério. "por favor, não queira proteger janey ou qualquer outra pessoa omitindo informações. Bebida, drogas, qualquer outra coisa que ela estivesse fazendo ontem à noite, Nada disso me interessa neste momento. Se janey saiu com o cara errado, sua vida pode estar em perigo. Sabendo disso, você tem certeza absoluta de que não a viu?" - tenho! Meu deus! - ele olhou em volta, percebendo que tinha chamado a atenção das pessoas nas mesas mais próximas. Afundou no assento e resmungou, com a cabeça Baixa: - por que está me provocando? - não estou provocando. - está sendo um tira. Dean respirou bem fundo. - tudo bem, pode até ser. Estou insistindo porque você é uma fonte de informação. Conte-me o que sabe sobre o clube do sexo. - eu não sei do que você está falando. Tenho de mijar. Ele deslizou pelo banco e já ia levantar, mas dean mandou Ficar onde estava. - você aprendeu a se controlar desde os três anos. Dá para segurar alguns minutos. O que sabe sobre o clube do sexo? Gavin balançou para a frente e para trás, olhando furioso para a janela, com a expressão hostil. Dean achou que ia se recusar a responder, mas depois de algum tempo Ele disse: - está bem, eu ouvi uns caras falando desse site na internet onde trocam e-mails com as meninas. Só isso. - não é só isso, gavin. - bem, isso é tudo que eu sei. Não estudei na mesma escola dessa galera, lembra? Fui arrancado pela raiz e transplantado para cá, por isso eles não... - você tem saído com um grupo desde praticamente o dia em que se mudou para cá. Esse seu refrão ah, coitado de mim, tive de deixar meus amigos, já está ficando meio Cansativo. Você precisa inventar outra coisa para reclamar. "e enquanto isso essa menina pode estar lutando pela própria vida, e não estou exagerando. Por isso, pare de resmungar e de sentir pena de si mesmo, e responda direito. O que você sabe sobre esse clube da internet e da participação de janey kemp nele?" Gavin ficou calado algum tempo e depois, como se tivesse se resignado, encostou a cabeça no encosto do cubículo. - janey se encontra com os caras que conhece na internet e eles fazem sexo. Ela faz qualquer coisa. Ela e aquela melissa. - então você as conhece. - eu sei quem elas são. Tem muitas outras no clube. Não sei o nome de todas. Elas vêm de colégios de toda a cidade. Há um fórum, e os membros comentam o que fizeram. - você se filiou a esse clube, gavin? Ele se endireitou no banco. 128 - não! Você tem de saber como entrar, e eu não perguntei porque ia me sentir um retardado por não saber ainda. - não é tão secreto assim. A unidade de crimes de computador da polícia já entrou nele.
O menino deu risada. - ah, é? E o que eles vão fazer? Não podem impedir, e todo mundo sabe disso. - oferecer sexo é crime. - você deve saber - resmungou ele ressentido. - você é da polícia. Ele estacionou num bosque de carvalhos onde outros já tinham deixado seus carros. Na mala, havia uma caixa de isopor com cerveja e recipientes para gelar vinho. Pegou uma cerveja e foi caminhando devagar para a beira do lago e para o píer de madeira que se estendia trinta metros sobre a água. Era o ponto de encontro daquela noite. Ele tinha ido verificar. Estava vestido para se misturar ao grupo. O short largo e a camiseta eram da gap, exatamente o que os jovens usavam. Mesmo assim, mantinha a aba do boné puxada bem Para baixo para disfarçar o rosto. Algumas pessoas ali aquela noite eram conhecidas. Ele as tinha visto antes em reuniões similares, ou nos clubes da rua seis e em torno do campus da universidade. Outras eram novidade. Havia sempre caras novas. Era só escolher o seu prazer... Bebida, drogas, sexo... Havia de tudo. E aquela noite podiam até ter o prazer do jogo. Na praia, uma menina só com a parte de baixo Do biquíni e um chapéu de vaqueiro fazia um boquete num rapaz, ajoelhada no chão. Estavam apostando quanto tempo o cara levaria para gozar. Ele se juntou ao círculo de espectadores que tinha se formado em volta do casal e apostou cinco dólares. Tinha de se admirar o autocontrole dele, porque a menina Conhecia bem o ofício. Ele perdeu a aposta. Sem pressa, foi caminhando pelo píer. Não chamava atenção, mas normalmente não teria mesmo de fazer isso, e aquela noite Não era diferente. Logo foi abordado por duas meninas que se jogavam tanto em cima dele que dava para perceber que tinham tomado ecstasy. Elas o abraçavam, acariciavam, beijavam na boca, diziam que ele era maravilhoso, que a lua estava incrível, o ar da noite divino e que a vida era bela. Pediram para ele segurar suas roupas enquanto iam nadar nuas. Observou-as do píer enquanto brincavam como ninfas aquáticas, parando de vez em quando para acenar E mandar beijinhos para ele. Quando saíram da água e se vestiram... Bem, parcialmente... Ele as levou até o carro e deu uma cerveja para cada uma. Uma delas fixou os olhos vidrados nele. - você gosta de se divertir em grupo? - eu estou aqui, não estou? - resposta inteligente. Sem se comprometer. A afirmação estava apenas implícita. Ela passou a mão no short dele e deu uma risadinha. - acho que gosta. - nós adoramos nos divertir em grupo - disse a outra, com a fala arrastada. E gostavam mesmo. Na hora seguinte, no banco de trás do carro, as duas mostraram até onde gostavam de se divertir em grupo. Quando ele finalmente disse que precisava Ir, elas não queriam se despedir. Beijaram, fizeram carinhos e imploraram para ele ficar e se divertir mais. Ele finalmente se desvencilhou e se despediu. Quando estava saindo com o carro do estacionamento improvisado para a estrada principal, notou dois caras olhando para Ele com indiscutível inveja. Deviam tê-lo visto saindo do banco de trás com as duas garotas, procurando se soltar dos braços e pernas e dos carinhos acentuados pelas Drogas.
Será que aqueles panacas queriam ter a sorte que ele tinha no amor? Podia apostar que sim. Mas ele também viu o cara que reconheceu como um policial da narcóticos à paisana. Tinha trinta anos, mas não aparentava mais de dezoito. Estava negociando com um Traficante conhecido pela janela de um carro. Qual é a diferença entre o cara da narcóticos comprar drogas e o que estou fazendot, pensou john rondeau com seus botões. Nenhuma. Para combater um crime de modo eficiente, era preciso entender a natureza e a dinâmica dele. Desde que a sua unidade tinha descoberto o clube do sexo, ele Se oferecera para pesquisar. Fora do expediente e in loco, é claro. A ambição dele era ser promovido para o bureau central de investigações, o coração do departamento. Era lá que todo trabalho excitante da polícia era feito, e era Lá que ele queria estar. No caminho dessa promoção, ele podia se destacar bastante com aquele caso kemp. Tinha elementos que mereciam atenção, isto é, uma celebridade, sexo e menores de Idade. Ponha isso junto e terá uma investigação que é o máximo. Para a unidade de crimes no computador, o clube do sexo não era novidade alguma. Já o conheciam havia meses e, percebendo a futilidade que seria fechá-lo, meio que Tinham se esquecido daquilo. Mas as mensagens deixadas no fórum continuaram a mexer com a cabeça de rondeau. Resolveu que ia verificar a situação, conferir se os membros realmente faziam o que Alardeavam ou se simplesmente trocavam suas fantasias mais loucas via e-mail. E descobriu que a maioria das afirmações não era exagero. E ainda bem que tinha feito a pesquisa. Se não tivesse aprendido com a mão na massa, não teria podido responder de modo inteligente e completo a todas as perguntas Que curtis, malloy e paris gibson lhe tinham feito aquela manhã. Então era realmente em benefício do departamento de polícia que trabalhava aquelas horas extras Sem remuneração, não era? Só que havia necessidade de fazer mais trabalho investigativo. Tudo para conseguir a promoção para o bci. Era o trabalho dele, dever que jurara cumprir. Estava trabalhando À paisana, só isso. Não foi surpresa nenhuma o fato de brad armstrong não estar em casa quando toni voltou do consultório. Ela explicou para a atônita babá que não se sentia bem e que O dr. Armstrong e ela tinham cancelado seus planos de sair aquela noite. Pagou cinco horas para a menina. Tinha ligado três vezes para o celular de brad. E três vezes deixou recados que ele não respondeu. Preparou cachorro-quente para o jantar das crianças. Depois de Comerem, jogou um jogo de tabuleiro com as meninas enquanto o menino assistiu a uma reprise de jornada nas estrelas. Subiam a escada para tomar banho quando brad chegou com barras de chocolate e abraços de urso. Para toni, havia um buquê de rosas amarelas, que ele entregou encabulado. - será que podemos fazer as pazes? Por favor? Incapaz de olhar para o pedido insincero de desculpas nos olhos do marido, toni abaixou a cabeça. Ele considerou aquilo como aquiescência e deu-lhe um beijo rápido No rosto. - você já jantou? - estava à sua espera.
- perfeito. Vou pôr as crianças na cama. Ponha um lanche na mesa para nós. Estou morrendo de fome. O que toni pôs na mesa quando ele desceu para a cozinha não era o que brad esperava. As coisas nada apetitosas expostas fizeram brad parar de repente. - onde conseguiu tudo isso? - perguntou zangado. - nem precisa dizer. Eu sei onde foi. - isso mesmo. Descobri isso esta tarde, quando estive no seu consultório. De onde você estava conspicuamente ausente, brad. Você não disse para ninguém aonde ia E ficou horas sem atender o celular. Por isso, não me ponha na defensiva. Eu me recuso a me desculpar por ter invadido a sua privacidade, se é isso que a sua privacidade Está protegendo. Assim que foi confrontado com as provas da sua doença, brad desistiu de lutar. Foi uma redução física, um encolhimento do espírito e do corpo. Ele puxou uma cadeira E sentou à mesa, os ombros curvados, as mãos inertes no colo. Toni pegou um saco de lixo na despensa e jogou a coleção de fotografias e revistas sórdidas dentro dele. Depois fechou com um fio e levou para a garagem. - vou levar para o depósito de lixo amanhã de manhã - disse ela quando voltou para a cozinha. - seria terrível se o saco se abrisse acidentalmente e os vizinhos, Até mesmo os lixeiros, vissem o que tem dentro. - toni, eu... Realmente não há como me defender, não é? - dessa vez, não. - você vai me deixar? - ele pegou a mão dela e apertou, transpirando. - por favor, não faça isso. Eu te amo. Eu amo as crianças. Por favor, não destrua a nossa família. - eu não estou destruindo nada, brad - disse ela, puxando a mão. - é você que está. - eu não consigo controlar. - o que é mais um motivo para eu ir embora e levar as crianças. E se uma delas tivesse encontrado essas fotos? - eu sempre tomo cuidado. - você toma cuidado para esconder isso, do mesmo modo que o viciado em drogas esconde seu vício, e o alcoólatra esconde uma garrafa para o caso de uma emergência. - ora, não é nada disso - reclamou ele. A contrição estava se desfazendo aos poucos. Uma autodefesa hostil começava a se formar. Em seguida, viria o ar de superioridade. Já tinham encenado aquilo inúmeras Vezes. A transição de penitente para mártir era praticamente decorada e toni podia prever cada fase. - comparar um passatempo inofensivo com um vício é ridículo e você sabe disso disse ele. - inofensivo? Algumas daquelas fotos são de meninas menores de idade. Que são exploradas por pessoas corruptas e depravadas para você se divertir. E como pode dizer Que é inofensivo se afeta a sua carreira, sua família, o nosso casamento? - casamento? - ele riu zombeteiro. - eu não tenho mais uma esposa, tenho uma carcereira. - se continuar com isso, pode muito bem acabar preso, brad. É isso que você quer? Ele rolou os olhos nas órbitas, debochado. - eu não vou para a prisão. - poderia ir, a menos que admita, para você mesmo e para os outros, que é viciado em sexo e procure a ajuda de que precisa. - viciado em sexo - ele abafou uma risada. - está percebendo como isso parece absurdo, toni?
- o dr. Morgan não acha nada absurdo. - meu deus. Você falou com ele? - não, ele ligou para mim. Você não aparece na terapia de grupo há três semanas. - porque é uma perda de tempo. Todos aqueles caras só falam de tocar punheta. Agora eu pergunto, essa é uma forma produtiva de passar a noite? - é uma imposição judicial você freqüentar as reuniões. - imagino que vai me dedurar para o meu fiscal da condicional. Diga que tenho sido um mau menino. Que não freqüento a terapia com os outros pervertidos. - não vou precisar dizer nada. O dr. Morgan já disse. - o dr. Morgan é o mais doente do grupo! - exclamou brad. - ele é um viciado em recuperação. Você sabia? Toni continuou, inabalável: - o dr. Morgan é obrigado a informar mais de duas ausências consecutivas para o seu fiscal da condicional. Você tem uma hora marcada com ele amanhã, às dez horas. É obrigado a ir. - acho que não tem importância se eu cancelar consultas marcadas com clientes e deixar meus sócios furiosos comigo. - essa é uma conseqüência com a qual terá de arcar. - além de dormir no sofá, imagino. - é, prefiro que faça isso. Ele semicerrou os olhos com fúria. - aposto que prefere. Já que obviamente não gosta de nada que fazemos na cama. - isso não é justo. - justo? Vou te dizer o que não é justo, é ter uma mulher que prefere bisbilhotar a foder. Quando foi a última vez que transamos? Você consegue lembrar? Não, duvido Que lembre. Como pode pensar em sexo se fica tão ocupada espionando? Brad ficou de pé e avançou para ela. Curvou a mão na parte de trás do pescoço de toni e apertou, forte demais para ser confundido com carinho. - talvez, se você trepasse mais, eu não teria de recorrer às minhas fotos pornográficas. Ele a puxou para a frente. Toni virou a cabeça para evitar o beijo e tentou empurrá-lo para longe. Mas brad a encurralou contra a bancada da pia e imobilizou-a. - pare com isso, brad - gritou toni chocada. - não tem graça nenhuma. A raiva dela parecia excitá-lo. O rosto dele ficou vermelho quando esfregou o quadril contra o dela. - está sentindo isso, toni? É gostoso? - deixe-me em paz! Toni empurrou com tanta força que ele foi tropeçando para trás até bater na mesa. Ela cobriu a boca com a mão e tentou abafar os soluços. Estava ofendida e amedrontada Em doses iguais. Jamais vira brad daquele jeito. O marido tinha se transformado num estranho. Brad recuperou o equilíbrio e se recompôs, depois pegou o paletó e as chaves. A casa tremeu quando ele bateu a porta. Toni cambaleou até a cadeira mais próxima e Despencou nela. Chorou baixinho algum tempo, sem querer que os filhos ouvissem. Sua vida estava desmoronando, e ela era incapaz de fazer qualquer coisa. Mesmo naquele momento amava brad. Ele se recusava a procurar ajuda para livrar-se daquela Doença. Por que ele se esforçava tanto para destruir o amor que tiveram um dia? Por que preferia aquele seu passatempo "inofensivo" a ela, aos filhos? Será que eles Não valiam mais para ele do que... Num segundo, ela correu para a porta da garagem. O saco plástico onde tinha posto as fotografias pornográficas tinha sumido. Brad tinha levado seu primeiro amor com ele.
Capítulo treze Paris tinha uma sala na estação de rádio, onde trabalhava quando não estava no ar. Apesar de "sala" ser uma palavra que supervalorizava o pequeno cômodo. Não tinha Nada que o redimisse, nem mesmo uma janela. Décadas atrás, as paredes de gesso tinham sido pintadas com uma cor feia, pardacenta. As placas acústicas do teto estavam Curvadas e tinham antigas manchas de infiltração. A mesa era de fórmica cinza, horrorosa, faltando pedaços, provavelmente arrancados pelo ocupante anterior, profundamente Deprimido com aquele ambiente. Nada na sala pertencia a ela. Não havia diplomas emoldurados nas paredes, nem cartazes de turismo que provocavam lembranças agradáveis, nenhuma foto espontânea de Amigos sorrindo, nem retratos posados de família. O cubículo era estéril, sem nada pessoal, e isso era proposital. Imagens e retratos geravam perguntas. Quem é aquele? É jack. Quem é jack? Seu marido? Não, nós estávamos noivos, mas não nos casamos. Por quê? Onde está o jack agora? É por causa dele que você usa óculos escuros o tempo todo? É por causa dele que você trabalha sozinha? Vive sozinha? É sozinha? Mesmo os colegas de trabalho simpáticos podiam provocar sofrimento sério, por isso paris tentava evitar isso, mantendo os relacionamentos numa base estritamente Profissional e o local de trabalho desprovido de quaisquer pistas sobre a sua vida. Mas a sala não era um deserto de coisas. A superfície feia da mesa estava coberta de correspondência. Sacos cheios eram despejados nela diariamente, cartas de fãs, Gráficos de índice de audiência, memorandos internos e infinitas resmas de material que as gravadoras de disco mandavam para ela, promovendo seus lançamentos recentes. Como não havia espaço para nenhum armário De arquivo na sala, paris separava e jogava fora o que não precisava com a maior eficiência possível, mas mesmo assim era uma tarefa que não acabava nunca. Tinha atacado a pilha de correspondência depois de fazer sua seleção de músicas para o programa daquela noite e incluilas na programação. Já trabalhava havia uma Hora quando stan se materializou na porta aberta. Com uma expressão petulante. - muito obrigado, paris. - por quê? Ele entrou e fechou a porta. - adivinha quem veio me procurar hoje? - detesto adivinhações. - dois dos melhores de austin. "ela largou o abridor de cartas e olhou para ele. - polícia? - e agradeço isso a você. - eles foram à sua casa? Paris achava que carson, ou o animado griggs, ia procurar stan apenas para fazer perguntas habituais. Ele afastou uma pilha de envelopes e sentou numa ponta da mesa. - eles me interrogaram e escreveram as respostas que dei em pequenos caderninhos pretos. Bem gestapo. - pare de fazer drama, stan. Graças ao fato de ter voltado à delegacia de polícia e depois ter ido fazer
aquela visita perturbadora aos kemp, paris não teve tempo de dormir. Antes de poder descansar, Tinha de fazer um programa na rádio de quatro horas, e fazê-lo como se não estivesse acontecendo nada. Era uma perspectiva desanimadora. Lidar com o orgulho ferido de stan não era a melhor forma de aproveitar a energia limitada ou o que sobrava de tempo até o dj da noite passar o estúdio de transmissão Para ela. - esta manhã apresentei a ligação de valentino para um detetive - explicou paris. - e acontece que uma jovem daqui está desaparecida. A polícia está investigando Para ver se há alguma conexão entre este desaparecimento e o telefonema de valentino. Estão fazendo verificações de rotina da história de todas as pessoas envolvidas, Mesmo remotamente. Por isso, não se ofenda. Eles Não escolheram você. Marvin também está na lista das pessoas com quem eles querem conversar. - ah, que ótimo. Estou no mesmo nível de um faxineiro. Agora me sinto muito melhor. Para variar, paris achou que o sarcasmo dele era válido. - sinto muito. De verdade. A polícia está sendo minuciosa porque estão tão convencidos quanto eu que essa ligação não foi um trote. Espero que seja exagero de todos Nós e que acabe não sendo nada. Mas, se nossas intuições estiverem certas, a vida de uma menina está em jogo. Mesmo assim, lamento você ter sido envolvido nisso Por acaso. Ele ficou mais calmo, mas só um pouco. A primeira preocupação de stan era sempre stan. - a polícia também conversou com o nosso gerente-geral. É claro que ele ligou imediatamente para o tio wilkins que, por sua vez, ligou para o delegado e, pelo que Eu soube, fez o ouvido dele de penico. - então, tenho certeza que não tem suspeita nenhuma contra você. - então eles suspeitavam de mim? - exclamou stan. - maneira de dizer. Esqueça. Saia e compre um aparelhinho novo. Deve haver algum no mercado que você ainda não tenha. Mime-se. Vai se sentir melhor. - não é tão fácil assim, paris. Titio ficou ainda mais aborrecido do que eu. Ficou ligando a tarde toda para o gerente-geral, querendo saber "que porra está acontecendo". Estou repetindo o que ele disse, é claro. Pode contar que você será chamada para se apresentar no santuário interno. - já fui. O gerente-geral da rádio tinha ligado para o celular dela quando saía da propriedade dos kemp. Queria marcar uma reunião, mas soou como uma imposição, e não um pedido. Ela ouviu uma descompostura por não ter informado a ele sobre a ligação de valentino, antes de chamar a polícia. A principal preocupação dele era com a reputação Da emissora. - pus a gravação do telefonema para ele ouvir - disse paris para stan. - ele ficou aflito, como todos que a ouviram. Falou com o sargento curtis, o detetive encarregado Da investigação. O gerente-geral conversou com curtis pelo viva-voz para paris poder escutar tudo. Concordou que paris e todos da 101.3 deviam cooperar ao máximo com a polícia, mas Estipulou que se o desaparecimento de janey kemp se tornasse uma grande notícia, queria que o envolvimento da rádio fosse minimizado.
- francamente, senhor, estou mais preocupado com a vida dessa menina do que com o prefixo da sua estação de rádio aparecendo na imprensa - foi a resposta de curtis. Antes de paris sair da sala do gerente geral, ele impertinentemente lembrou que seu precioso anonimato podia acabar em breve. Paris já tinha pensado nisso e esperava Que não acontecesse. Durante anos tinha guardado sua privacidade com o fanatismo de um sovina que protege suas barras de ouro. Nunca mais queria ser o pivô de uma Notícia sensacionalista. Porém, concordava com curtis. Salvar a vítima de valentino era mais importante do que todo o resto. Se fosse comparar, o impacto que provocaria na vida dela seria Trivial. Para tranqüilizar stan ainda mais, ela disse: - pode ter certeza de que recebi uma bronca danada por não obedecer à hierarquia de comando. Você não foi o único a receber palmadas hoje. Agora, será que posso Voltar para o meu trabalho, por favor? - foi um relógio de pulso com um gps embutido. - o quê? - o aparelhinho que comprei para mim hoje. Ela deu risada, stan soprou um beijo e foi para a porta. Ainda de costas, ele disse: - ah, a propósito, marvin telefonou dizendo que estava doente. - doente? - a mesa telefônica deixou um recado na minha caixa de mensagens - respondeu ele. - só dizia isso. Que ela soubesse, marvin nunca faltara ao trabalho por motivo de doença antes, e ficou curiosa quanto à natureza daquela doença súbita. Largou mais uma vez a seleção Da correspondência e foi até a pequena cozinha dos empregados nos fundos do prédio. Naquela hora da noite, tudo estava silencioso e pouco iluminado. O resto do pessoal da rádio já tinha ido embora havia muito Tempo, as salas estavam todas vazias. Paris estava acostumada com o silêncio, a escuridão e os penetrantes odores de poeira tostada pelo equipamento eletrônico, Café queimado, e um carpete que absorvera décadas de fumaça de cigarro antes do fumo ser proibido por lei nos locais de trabalho. A fm 101.3 era propriedade e operada pelo conglomerado de mídia wilkins, que incluía cinco jornais, três emissoras afiliadas de televisão, uma firma de tv a cabo E sete estações de rádio. Os escritórios da corporação ocupavam os últimos três andares de um arranha-céu luxuoso e luzidio em atlanta, com elevadores em tubos de Vidro e uma queda d'água de dois andares no estéril saguão de granito. O prédio de austin, salvo de um proprietário anterior falido, era tão luxuoso e luzidio quanto um mamute peludo. Não tinha cachoeira no saguão, apenas um bebedor De água gelada que gargarejava e às vezes vazava. O prédio feio de tijolos aparentes, de um andar só, ficava numa colina na periferia de austin, a alguns quilômetros da sede da assembléia legislativa estadual. Tinha Sido construído no início dos anos cinqüenta, e aparentava a idade. Tinha passado pelas mãos de vinte e dois donos pão-duros. Decadente e dilapidado, era praticamente ignorado pelo alto escalão da empresa, exceto quando eles verificavam os gráficos de audiência. Aparentemente, a fm 101.3 Era uma verruga horrorosa na imagem brilhante da firma. Mas estava bem saudável no azul, produtora confiável de renda.
Apesar dos problemas no prédio, paris gostava dele. Tinha alma. E resistia bem, apesar das cicatrizes. Depois da escuridão dos corredores, a lâmpada fluorescente que piscava na cozinha parecia forte demais. Paris levou alguns segundos para se acostumar ao brilho da Luz, mesmo com seus óculos escuros. Pegou no armário um saquinho de chá do seu estoque pessoal e pôs numa caneca com água que aqueceu no antigo microondas. A água Estava só começando a ganhar cor quando paris ouviu vozes. Espiou o corredor e ficou atónita de ver dean chegando, alguns passos atrás de stan, que dizia para ele: - ela não me disse que estava esperando visita. - ela não está à minha espera. Stan viu paris e disse: - ele estava batendo na porta da frente. Só deixei entrar quando mostrou o distintivo da polícia. Procurando esconder a consternação do colega de trabalho, paris disse: - o dr. Malloy trabalha para o departamento de polícia de austin. Ele foi consultado para fazer uma avaliação psicológica da fita de valentino. - foi o que ele disse - stan examinou dean de alto a baixo. - dois pelo preço de um. Policial e psicólogo. - mais ou menos isso - respondeu dean, com um sorriso tenso. Stan olhou para um e depois para outro, e, como nenhum dos dois disse nada, deve ter percebido que a sua companhia não era mais bem-vinda. - se precisar de mim - disse ele para paris -, estarei na sala da engenharia. Dean ficou observando stan se afastar pelo corredor. Quando não podia mais ouvir o que diziam, virou para paris. - aquele é o crenshaw? O sobrinho do dono? Ele é gay? - não tenho a menor idéia. O que está fazendo aqui, dean? Ele entrou na cozinha e reduziu imediatamente o já limitado Espaço para manobras. - alguém devia ficar aqui com você no seu turno. - stan está comigo. - confiaria sua vida a ele? Ela deu um sorriso fraco. - é, tem razão. - até sabermos mais sobre esse tipo que se diz chamar valentino, você devia ter proteção da polícia. - curtis se ofereceu para mandar griggs e carson. Eu recusei. - conheci o griggs. Parece estar bem alerta, e é um verdadeiro escoteiro, mas nem ele nem... - carson. - ... Tem treinamento de negociador para o caso de seqüestro com refém. Eu devia estar aqui se valentino telefonar de novo. Se eu sentir que ele está quase pirando, Posso conversar com ele E torcer para conseguir persuadi-lo a identificar sua prisioneira e nos dizer onde ela está. Sendo essa a especialidade dele, aquela era uma desculpa bem plausível para dean estar na emissora. Mesmo assim, paris questionou seus motivos: - ele pode não ligar. E você terá desperdiçado a noite inteira. - não seria desperdiçada, paris. Também estou aqui porque queria ver você. - já me viu. - sozinha. Ela pôs a caneca de chá na bancada e deu as costas para ele. - dean, por favor, não faça isso. Ele se aproximou dela por trás e paris prendeu a respiração, com medo que encostasse nela. Não sabia ao certo qual seria a sua reação se ele fizesse isso, portanto Não queria ser posta à prova. - nada mudou, paris. Ela deu uma risada triste.
- tudo mudou. - quando você entrou na minha sala esta manhã, aquilo voltou. Tudo voltou. Fiquei abobalhado exatamente como na primeira vez que a vi. Você lembra? Foi na noite Seguinte ao espetáculo. A neve que caía em houston ficou reduzida a uma chuva fria que foi soprada para dentro de casa quando ela abriu a porta para jack e dean. Acenou para os dois entrarem depressa e poder fechar a porta. A apresentação de jack se perdeu no alvoroço de tirar os sobretudos molhados e tentar fechar os guarda-chuvas Teimosos que escorriam água no assoalho da casa. Ela pendurou os casacos no cabide de pé e encostou os guarda-chuvas num canto, depois virou e sorriu para o melhor amigo do noivo. - vamos recomeçar. Olá, dean. Sou paris. É um prazer conhecê-lo. - o mesmo digo eu. O aperto de mão dele era firme, o sorriso carinhoso e simpático. Era uns quatro centímetros mais alto do que jack, paris observou. O cabelo castanho mostrava sinais De um grisalho precoce nas têmporas. Ele não era classicamente bonito como jack, e sim mais rude. Jack tinha dito que dean tinha de afastar as mulheres com um pedaço De pau. E paris estava vendo por quê. As feições assimétricas eram arrebatadoras. E contrabalançadas pelos olhos, de um cinza-claro emoldurado por cílios negros E compridos. Uma combinação muito atraente. - pensei que jack estivesse mentindo - disse ele. - jack, mentindo? Nunca! - quando perguntei como você era, ele disse que eu ia ficar embasbacado. Pensei que estava exagerando. - é, ele tende a fazer isso. - mas dessa vez não fez. Do outro lado do cômodo, jack deu um sorriso largo para eles. - enquanto vocês dois discutem meus defeitos, vou preparar uma rodada de drinques. Tiveram um jantar festivo na steak house favorita de jack. Depois do jantar, migraram para o bar adjacente, onde sentaram diante da lareira e tomaram café. Os homens Regalaram paris com histórias do tempo do colégio. É claro que jack dominou a conversa, mas dean parecia disposto a ceder-lhe o centro do palco. Jack era um contador De histórias inteligente e talentoso. Dean era um excelente ouvinte. Perguntou sobre o trabalho de paris, e, enquanto ela descrevia um dia normal, ele manteve os olhos fixos nos dela. Dean dava a ela A atenção que daria para um oráculo divulgando o futuro da humanidade. Concentrava-se em cada palavra e fazia perguntas pertinentes. Esse era o dom especial de dean. Fazer a outra pessoa sentir que havia se tornado o centro do seu universo. O prazer que jack estava tendo aquela noite incluía beber conhaque demais. Estava dormindo no banco de trás quando dean parou o carro na frente da casa de paris. - acho que o perdemos - dean observou. Ela olhou para o noivo que roncava baixinho, de boca aberta. - acho que tem razão. Quer por favor levá-lo em segurança até a casa dele e pôlo na cama? - desde que não tenha de dar um beijinho de boa-noite. Ela deu risada. - ouvi jack falar tanto de você, que já o considero amigo meu também. Prometa que vai sair conosco de novo em breve. - está prometido.
- ótimo. - paris segurou a maçaneta da porta do carro. - espere. Vou levá-la até a porta. Apesar dos protestos de paris, dean desceu do carro e deu a volta com o guardachuva quando ela pisou na calçada. Foi com . Ela até a porta da frente. Tirou a chave Da mão de paris, destrancou a porta com a mão livre e esperou até ela desligar o alarme. - obrigada por me trazer até aqui. - de nada. Que dia vai ser? - perguntou ele. -dia? - o casamento. Preciso pôr na minha agenda. O padrinho tem de estar lá, você sabe. - ainda não marquei a data. Deve ser em setembro ou outubro. - tanto tempo assim? Jack me deu a impressão de que seria mais cedo. - seria, se dependesse dele, mas eu quero usar cores do outono. - é, isso é legal. Casamento na igreja? - presbiteriana. - e a recepção? - provavelmente num clube de campo. - muita coisa para planejar. - é, demais. - humm. Dean parecia não notar que a água da chuva escorria pelas pontas metálicas do guarda-chuva e molhava seus sapatos. Paris não notou que a chuva estava sendo soprada Para dentro da casa, molhando o chão. Mesmo naquela primeira noite, o olhar que os dois trocaram foi talvez alguns segundos mais longo do que devia. Foi dean que acabou desfazendo o contato, dizendo com a Voz rouca: - boa-noite, paris. - boa-noite. Muitas vezes, quando noivos são apresentados aos melhores amigos do outro, desprezam-nos à primeira vista e criam uma situação complicada para quem está no meio E adora os dois. Paris gostou de dean desde o início. Não sabia que não devia considerar isso um bom presságio. Dean segurou sua mão e a fez virar de frente para ele. Olhou para ela do mesmo jeito penetrante e perturbador daquela noite em que se conheceram, e produziu o mesmo Efeito magnético. Paris sentiu sua força de vontade dissolvendo e sabia que se não combatesse aquilo imediatamente estaria perdida. - dean, eu imploro. Pare com isso. Paris tentou passar por ele, mas dean bloqueou seu caminho. - nossa situação pode ter mudado, paris, mas o que vale, não. - o que vale é o que sempre valeu. Jack. - ele enfrentou um inferno - disse dean. - eu sei disso. - você nem pode imaginar que inferno foi a vida dele depois daquela noite. Dean abaixou o rosto para ficar mais perto do rosto de paris. - está certo, não posso. Porque você deixou bem claro que eu não devia ir visitá-lo. Nunca. - porque ele não queria que você... Especialmente você, o visse daquele jeito disse ela, com a voz entrecortada. - mas pode acreditar em mim, ele viveu a morte Durante sete anos antes do coração torná-la oficial, parando de bater. - lamento tanto quanto você o que aconteceu com ele - ele sussurrou aflito. você não sabe disso? Pensa que eu poderia esquecer tranqüilamente? Meu deus, paris, Você pensa que sou tão insensível? Eu tive de viver com o que aconteceu, como você. Dean deu um suspiro e passou a mão no cabelo. Ficou olhando para um ponto logo
acima da cabeça de paris algum tempo, e então olhou para ela de novo. - mas tenho de dizer uma coisa, mesmo correndo o risco de deixá-la zangada. O que aconteceu com jack foi culpa dele mesmo. Não sua, nem minha. Dele. - o acidente não teria acontecido se... - mas aconteceu. E não podemos voltar no tempo e desfazê-lo. - administração do sentimento de culpa, conselho 101, dr. Malloy? - tudo bem. É. Simplificando, não vou deixar o remorso me comer vivo. Eu superei isso. - que bom para você. - então o seu método de administrar o sentimento de culpa é melhor? Mais saudável emocionalmente? Você acha preferível cavar um buraco e se esconder nele? - dean Olhou com desprezo para a cozinha desarrumada. - olhe só para esse lugar. É escuro, sujo, um buraco deprimente. - eu gosto. - porque é exatamente o que pensa que merece. Ele avançou um passo e a reação de paris foi apertar mais os cotovelos com os braços cruzados, uma atitude de defesa contra a proximidade dele. Era também uma defesa Contra a verdade do que dean estava dizendo. Sabia que ele estava certo, o que reforçava sua determinação de não escutar. - paris, deus sabe que você é boa no que faz aqui. Os ouvintes adoram você. Mas você poderia ter tido um programa só seu na televisão. - o que você sabe a respeito disso? - eu sei que tenho razão. Além disso, você também sabe que tenho razão. Sem poder olhar para os olhos persuasivos de dean, paris abaixou a cabeça e ficou olhando para a lasca de linóleo entre os pés dos dois. Controlou o impulso de agarrá-lo Pelas lapelas do paletó e implorar para mudar de assunto ou convencê-la de que sua penitência estava paga. - eu fiz o que tinha de fazer - disse ela baixinho. - porque achava que era seu dever? - era. - era - repetiu ele enfatizando a palavra suavemente. - o que mais você deve ao jack, agora que ele está morto? Dean segurou paris pelos ombros. Era a primeira vez em sete anos que encostavam um no outro. Uma onda de calor percorreu O corpo de paris e ela lutou contra a vontade de encostar seu corpo no dele. - dean, por favor, não faça isso - disse ela. - tive de fazer uma série de escolhas difíceis, mas fiz. Como você disse, o que está feito, está feito. Em todo caso, Não vou discutir com você Esse assunto. - eu também não quero discutir. - nem falar disso - acrescentou ela. - então não vamos. - eu nem quero pensar nisso. - nunca vou deixar de pensar nisso. O timbre da voz dele ficou mais grave. Os dedos apertaram mais os ombros dela. Dean chegou um pouco mais perto, o bastante para as roupas encostarem e paris sentir A respiração dele no cabelo. O assunto tinha mudado da morte de jack para um tema que era ainda mais perturbador e que achava melhor evitar. Paris ousou levantar a cabeça e encarar dean. - por que fica se escondendo no escuro, paris? - não faço isso. - não faz? Eu mal conseguia enxergar qualquer coisa naquele corredor. - você acaba se acostumando.
- olá, escuridão, minha velha amiga. - você está citando simon e garfunkel? - essa tem sido sua música tema ultimamente? - você poderia ter sido o dj. Paris sorriu, esperando tornar mais leve a conversa, mas dean não se deixou afetar. Ele olhou para o rosto dela. - você é linda, mas ninguém da sua audiência sabe disso. - não é necessário. O rádio é um meio auditivo. - mas as personalidades do rádio costumam se promover. Você não tem identidade, só a voz. - e é toda a identidade de que preciso. Não quero chamar atenção. - é mesmo? Então talvez pudesse deixar de usar os óculos escuros. - ela não pode. Seus olhos são sensíveis à luz. Gavin chegou para o lado, bloqueou a visão dos amigos e obrigou melissa a olhar para ele. - a janey está mesmo desaparecida? - acho que sim. Quer dizer, foi isso que seu pai me disse. Aliás, ele é um gato. Ele tem namorada? A droga sozinha não podia levar a culpa de melissa ser um zero à esquerda de cabeça. Já tinha nascido sem massa cinzenta suficiente para se gabar. - melissa, o que você sabe sobre a janey? - nada. - você é a melhor amiga dela - argumentou ele. - eu estive fora da merda desse país - disse ela, zangada. Não vejo sua majestade há semanas. Entendeu? - ela deu mais uma tragada no baseado. - olha, tem uma galera À minha espera. Fica frio, tá? Melissa se afastou para juntar-se a um grupo que tinha enfiado uma mangueira de jardim num barrilete de cerveja e fazia fila para beber. Muito se perdia pelo chão, Mas ninguém parecia notar ou se importar. Havia sempre mais do lugar de onde tinha vindo aquela. Gavin reuniu-se aos amigos que mais uma vez estavam em volta da picape de craig. Rendeu-se à garrafa fechada de maker's mark que tinha roubado do armário de bebidas Do pai. Ocupado como estava o velho, procurando janey kemp, talvez levasse dias para notar que faltava uma garrafa de uísque. Craig atacou o lacre de cera vermelha com seu canivete. - levou uma bronca ontem à noite? - várias. Gavin encostou no pára-choque e ficou examinando a multidão à procura de um rosto ou uma forma familiar. - você estava no maior porre. - vomitei indo para casa. - caramba, cara. - não estou brincando - ele contou o incidente na caixa de correspondência. estou falando de vômito tipo projétil. A risada dos dois foi interrompida quando um dos outros meninos mencionou o nome de janey. - vocês souberam do desaparecimento dela? - apareceu no noticiário local - disse outro. - minha mãe perguntou se eu a conhecia. - aposto que não contou até onde a conhece. - e, aposto que não contou para a sua mãe que conhece janey no sentido bíblico. - o que você entende de qualquer coisa bíblica? - meu primo é pregador. - e o que aconteceu com você? - ele tentou me salvar. Não funcionou. Passe a garrafa. Os outros continuaram a trocar insultos e goles de uísque. Craig desceu da
picape e parou ao lado de gavin. - o que há com você esta noite? - nada. - só bolado, hein? Craig deu a gavin oportunidade de explicar por que estava amuado, mas desistiu com um dar de ombros e passou a examinar a turma junto com ele. Subitamente, sussurrou, Animado: - ei, está vendo aquele cara ali? Gavin olhou na direção que craig indicava e viu um homem descendo do banco de trás de um carro, arrumando a roupa e puxando para a frente um boné de beisebol. Duas Meninas saíram atrás dele. Eram gatas. Do tipo bonecas barbie, louras e peitudas, apesar dos colos ossudos sugerirem implantes. - os peitos são falsos - observou gavin. - e daí? Craig obviamente não se importava com isso, pois continuou a comê-las com os olhos. - será que as meninas sabem que ele é tira? Gavin levou um susto. - tira? De jeito nenhum. - ouvi dizer. Enquanto os dois observavam, o trio se atracou num abraço grupal. Então o homem afastou as duas, não sem antes dar um tapinha afetuoso no traseiro e prometer que Iam se ver logo, As meninas saíram andando, infelizmente na direção oposta de gavin e craig. O homem voltou para o carro, sentou dessa vez no banco do motorista e enquanto manobrava Por trás da ram de craig, gavin e ele se olharam nos olhos. - filho-da-puta convencido - resmungou craig. - você tem certeza que ele é da polícia? - noventa e nove por cento. - então o que é que ele está fazendo aqui? - a mesma coisa que a gente, e esta noite ele marcou um pontão. - é, vezes dois. - babaca sortudo. - ficaram olhando até a luz das lanternas traseiras desaparecer, então craig disse: - vi você falando com a melissa. - é só isso que ela sabe fazer. Falar. - gavin contou para craig o encontro casual do pai com ela na casa dos kemp. - ele sabe do clube do sexo. - não se preocupe com isso - disse craig, fungando com desprezo. - o que é que eles vão fazer? Confiscar todos os computadores? - exatamente o que perguntei para o meu velho. Eles estão mijando contra o vento. Gavin aparentava mais tranqüilidade do que sentia. A preocupação queimava por dentro como a dor da fome. Por isso tinha desafiado o pai mais uma vez, saindo de casa Aquela noite. Ia ficar encrencado de qualquer maneira mesmo. Era uma questão de intensidade. Semanas antes, planejando justamente para uma emergência como aquela, tinha mandado fazer uma cópia da chave do carro. Assim que o pai o deixou em casa e foi para A rádio, ele também saiu. Mas não se sentia à vontade como indicava a atitude desafiadora. Estava apreensivo demais em relação ao que podia acontecer nos próximos Dias. - onde você acha que ela está? A pergunta de craig entrou nos pensamentos de gavin como se o menino pudesse lêlos. - quem, janey? E como é que eu vou saber?
- ah, pensei que talvez soubesse. - por quê? Craig olhou para ele irritado. - você estava com ela ontem à noite. Quando os últimos compassos de "i'll never love this way again" deram lugar ao silêncio, paris falou ao microfone. - essa foi dionne warwick. Espero que tenham alguém na sua vida que entenda suas fantasias e que faça cada uma delas se tornar realidade. O estúdio parecia claustrofóbico aquela noite e dean era o motivo. Tinha ficado as últimas três horas e dezesseis minutos sentado num banco giratório bem alto, idêntico Ao dela, a uma certa distância, para dar a paris liberdade de movimentos e acesso a todos os controles, mas suficientemente perto para que ela tivesse consciência O tempo todo da sua presença. A maior parte do tempo, ele ficou imóvel e em silêncio, mas seus olhos seguiam todos os movimentos dela. E paris sentiu aquele olhar especialmente naquele momento em que mencionou a realização de fantasias. - faz um calor de vinte e oito graus à uma hora e dezesseis minutos, mas vou tocar para vocês clássicos tranqüilos até às duas, aqui na 101.3. Quero saber o que Estão pensando esta noite. Telefonem para mim. "recebi um pedido de marge e jim, que estão comemorando o trigésimo aniversário de casamento. Essa foi a música que tocou no casamento deles. É dos carpenters. Feliz Aniversário, marge e jim." Quando "close to you" começou a tocar, paris apertou o botão para desligar seu microfone e olhou para dean quando pressionou um dos botões luminosos de uma linha Telefônica. - aqui é paris. - oi, paris. Meu nome é roger. Durante todo o programa, cada vez que paris atendia uma das linhas telefônicas, dean e ela ficavam com medo e ao mesmo tempo torciam para ser valentino. Dean tinha Levado um gravador portátil. Estava carregado e pronto para gravar. Os ombros dele relaxaram junto com os dela quando paris disse: - oi, roger. - você pode fazer o favor de tocar uma música para mim? - você está comemorando o quê? - nada. É só uma música que eu gosto. - isso também é para comemorar. Que música você quer Ouvir? Com facilidade, paris inseriu a música pedida na programação, substituindo por outra que já estava selecionada. Ela apertou a parte inferior da coluna, levantou E se esticou. - cansada? - perguntou dean. - praticamente não dormi a noite passada e não consegui nem tirar um cochilo hoje. Você também deve estar cansado. Não está acostumado com esse horário. - mais acostumado do que você pensa. Eu raramente durmo a noite inteira. Fico cochilando e atento para ouvir quando gavin volta para casa. - ele está passando as férias com você? - não, é mais ou menos permanente. Paris manifestou surpresa. - não aconteceu nada com a pat, não é? - não, não, ela está bem - disse ele logo, em resposta à preocupação de paris. na verdade, está ótima. Ela finalmente se casou de novo. Ele é um cara simpático Na opinião de todo mundo, menos do gavin. Paris tinha conhecido a ex-mulher de dean num dos jogos de beisebol infantil de
gavin, e jack e ela uma vez foram convidados para o jantar de aniversário de gavin Na casa dela. Lembrava de pat como uma mulher miúda e bonita, mas muito séria e organizada. Sem que paris perguntasse, jack havia confidenciado que dean tinha se casado assim que se formou. A união durou menos de Um ano. - na verdade, apenas o suficiente para levarem gavin da maternidade para casa. Os dois não combinavam, sabiam disso, e concordaram que seria melhor, mesmo para o Menino, se evitassem mais prejuízos e se separassem em bons termos naquele momento. Apesar de gavin ter ficado com pat, dean o via várias vezes por semana e se envolveu ativamente em todas as fases da vida do menino. Ia junto com pat às reuniões De pais e mestres, treinava times de futebol e de t-ball, participava e contribuía em tudo no Desenvolvimento de gavin. Depois de um divórcio, a criação do filho costumava ser deixada inteiramente a cargo do responsável pela custódia. Paris admirava dean Por ter levado tão a sério suas responsabilidades de pai. - o padrasto e ele não estão se dando bem? - perguntou paris. - culpa do gavin. Ele passou de mau comportamento para simplesmente impossível. Pat e eu concordamos que ele devia vir morar comigo por um tempo. - dean descreveu A coexistência frágil dos dois. - o pior, paris, é que eu queria muito que ele viesse ficar comigo. Quero que esse esquema funcione. - tenho certeza que vai funcionar, é só dar um tempo. Gavin é um bom menino. Ele riu. - ultimamente, peço licença para discordar. Mas espero que aquele bom menino que você lembra ainda esteja lá em algum lugar, por trás de toda a hostilidade e o mau Humor. À uma e meia, paris leu algumas manchetes de notícias no monitor de informações. Seguiram-se alguns minutos de anúncios, enquanto ela atendia aos telefonemas. Um Ouvinte a convidou para sair com ele. Paris recusou educadamente. - você podia ter aceitado - provocou dean. - ele parecia desesperado. - desesperadamente bêbado - disse ela, retribuindo o sorriso de dean enquanto apagava a ligação no vox pró. A próxima chamada foi de um casal meio alto que acabava de ficar noivo: - ele pediu para eu abrir a garrafa de champanhe e me deu uma taça com a aliança dentro - nem o grito de alegria podia disfarçar um charmoso sotaque britânico. As minhas amigas em londres não vão acreditar! Nós assistíamos ao seriado dalas religiosamente quando éramos meninas e sonhávamos algum dia em conhecer um texano Charmoso. Rindo com a óbvia felicidade da mulher, paris perguntou que música eles queriam ouvir. - "she's got a way." ele diz que billy joel podia ter escrito essa música para mim. - e tenho certeza que ele está certo. Vocês se importam se eu puser essa nossa conversa no ar? - fantástico! Paris anotou os nomes dos dois e atendeu mais algumas ligações. Depois da seqüência de comerciais, pôs a gravação da conversa com o casal de noivos no ar e em seguida A música que eles pediram, depois "precious & few" e "the rose". Operar a mesa de controle fazia parte da segunda natureza de paris, por isso conseguiu fazer tudo isso e continuar conversando com dean sobre gavin ao mesmo
tempo. - o que ele disse quando você contou do encontro que teve com melissa hatcher? - ele fingiu que não a conhecia. Paris olhou para ele com a testa franzida e ele entendeu. - é, isso me preocupa também. Por que ele não quis admitir que a conhecia? E também não admitiu que conhecia janey kemp, até eu dar um aperto nele. - até que ponto ele a conhece? - não muito. Pelo menos foi isso que ele me disse, mas hoje em dia ele nem sempre diz a verdade. - não é como daquela vez que ele entortou o aro da bicicleta. - você se lembra disso? - jack e eu tínhamos ido a um churrasco na sua casa. Gavin estava passando o fim de semana com você. E tinha ido andar de bicicleta com os garotos da vizinhança, Mas voltou para casa empurrando a dele. Os raios da roda da frente estavam dobrados quase ao meio. Você perguntou se ele tinha brincado de empinar a bicicleta e, Quando gavin confessou, mandou-o para o quarto, de castigo o resto da noite. - e deve ter sido um castigo bem duro, porque ele adorava estar com você e com o jack. Mas também mandei fazer tarefas extras em casa para ganhar dinheiro suficiente Para trocar a roda. - disciplina rígida, mas boa, dean. - você acha? - acho. Você deixou bem claro a questão do valor da propriedade, mas que não foi o estrago na bicicleta que o incomodou. Ele deu um sorriso triste. - eu tinha dito mil vezes para ele não brincar de empinar nem ficar pulando no meio-fio porque era perigoso. Não queria que ele virasse um doador de órgãos. - certo. Ele podia muito bem arrebentar a cabeça ou quebrar o pescoço. Você se aborreceu com o que podia ter acontecido e por isso ficou zangado. - acho que devia-ter explicado isso para ele. - ele sabia - disse ela suavemente. Dean olhou para ela e a conexão foi mais do que apenas visual. Durou todo o resto da música de bette midler. Quando terminou, paris virou de novo para a mesa de Controle e ligou seu microfone. - não esqueçam de ouvir charlie e chad amanhã de manhã. Eles farão companhia para vocês quando estiverem dirigindo para o trabalho. Por enquanto, aqui é paris gibson Com uma série romântica de canções românticas clássicas. As linhas telefônicas estarão abertas até às duas horas. Telefonem para mim. Quando começou a próxima série de músicas, paris olhou para o monitor com a programação. - só mais nove minutos de programa. - não foi mais ou menos a essa hora que ele telefonou ontem? Logo antes de encerrar? - paris concordou com a cabeça, e dean disse: - você vai poder conversar com Ele sem ser interrompida, se ele ligar? Ela apontou para o cronómetro na tela. - esse é o tempo que falta para tudo que está programado para tocar. Há mais duas seleções depois dessa. Ele fez as contas. - então depois da última música, você mal terá tempo para dizer boa-noite e desligar. - certo. Dean olhou para as linhas telefônicas na mesa de controle. Três estavam piscando. - se não for o valentino, não fique conversando longamente com o ouvinte. Deixe as linhas abertas. E se for ele, lembre-se de pedir para falar com janey.
Paris respirou fundo, deu uma espiada para ver se o dedo de dean estava no botão do gravador portátil, depois atendeu uma das ligações. Rachel queria pedir uma música Para o marido dela, pete, "it might be you". - ah, stephen bishop. - foi a primeira música que nós dançamos na recepção do Nosso casamento. - é uma ótima escolha e merece lugar de destaque. Paris prometeu tocar na primeira meia hora do programa na noite seguinte. - maravilha. Obrigada. Paris olhou de novo para dean antes de apertar outro botão Que piscava. - aqui é paris. - olá, paris. Seu sangue gelou ao ouvir a voz dele. Olhou freneticamente para dean, que apertou o botão para o gravador portátil começar a gravar. A tela do vox pró registrou Um número de telefone, que dean anotou. Ele ficou olhando fixo para a tela como se quisesse que ela desse não só o número do telefone, mas também uma imagem e identificação De quem estava ligando. - oi, valentino. - como foi seu dia? Muito ocupada? - deu para levar. - ora, vamos, paris. Conte para mim. O que você fez hoje para se manter ocupada? Pensou em mim alguma vez? Ou me desprezou como um trote? Você contou para a polícia? - e por que eu faria isso? Se você não me deixar falar com a menina, não tenho por que acreditar que ela existe e que tudo que você me disse ontem à noite é verdade. - pare com esses joguinhos idiotas, paris. É claro que ela existe. Por que eu afirmaria tal coisa se não fosse verdade? - para chamar a minha atenção. Ele deu risada. - bem, e chamei? Dessa vez você vai prestar atenção? - dessa vez? - você me ignorou quando dei o aviso antes, e olha só o que Aconteceu. Paris olhou para dean e balançou a cabeça, entendendo errado o que valentino dizia. - do que é que você está falando, valentino? - você gostaria mesmo de saber, não é? - atiçou ele. - pergunte com delicadeza e talvez lhe dê algumas pistas. Mas tem de Perguntar com muita delicadeza. Ora, essa é uma idéia excitante. - ele respirou profundamente, ruidosamente, para paris poder ouvir. - basta a sua voz para eu ficar excitado. Penso em nós dois juntos, você sabe. Muito em breve, Paris. Ela estremeceu de nojo, mas continuou num tom ousado: - eu não acredito que a menina esteja aí com você. É tudo conversa fiada e isso é um trote. Dean meneou a cabeça, aprovando. - mais joguinhos, paris. Aconselho que pare com isso. Você já desperdiçou vinte e quatro de setenta e duas horas. As próximas quarenta e oito serão muito mais divertidas Para mim do que para você. Quanto à minha prisioneira, ela está um pouco cansada, e toda a choradeira e as súplicas já estão começando a me irritar. Mas ela ainda É uma trepada gostosa e está me esperando. O telefone ficou mudo.
- não é o mesmo número de onde ele ligou a noite passada - disse dean, pegando o celular. - notou alguma coisa diferente hoje, paris? Alguma mudança na inflexão ou no tom de voz de ontem à noite? Dean era um policial, e ela não. Enojada com a ligação, paris estava achando muito mais difícil ligar o comando de solucionadora de crimes. — não — respondeu ela com a voz rouca. - parecia a mesma coisa. - para mim também, mas achei que talvez você pudesse ter captado... Ei, curtis, ele acabou de ligar. - dean falou no celular. - outro número. Está preparado? Dean informou o número ao detetive e stan abriu a porta com isolamento acústico do estúdio. - paris, a rádio está morta. Paris não tinha se dado conta de que a música tinha parado de tocar. Rapidamente fez sinal para ninguém fazer barulho e ligou o microfone. - cuidem-se, sejam felizes, amem alguém. Aqui é paris gibson desejando uma boa noite. Apertou mais alguns botões e então anunciou: - transmissão encerrada. - o monstro ligou de novo? - perguntou stan. Dean estava de costas para os dois e continuava a conversar ao telefone com curtis. - deixe um bilhete para os engenheiros amanhã de manhã disse paris para stan. peça para eles passarem a última ligação do vox pró para uma fita cassete e fazer Algumas cópias. Serão melhores do que as gravações do toca-fitas portátil do dean. Stan pareceu ofendido. - eu sei como transferir para fita cassete, paris. posso fazer isso agora mesmo. Paris hesitou um pouco, duvidando da habilidade dele. Mas stan parecia muito frustrado. - obrigada, stan, seria uma grande ajuda - ela acabou dizendo. Dean desligou o celular, deu meia-volta, pegou o paletó nas costas do banco e o gravador portátil, tudo num único movimento fluido. - o número é de outro telefone público. As unidades já estão a caminho. - eu também vou - disse paris. - é claro que vai. Não vou deixá-la sozinha de jeito nenhum agora. Dean abriu a porta. Os dois partiram apressados e paris gritou para stan: - quer fazer o favor de deixar as fitas na minha casa? Dean a empurrou pela porta antes de stan ter tempo de responder. Capítulo quinze Melissa hatcher tinha inveja de janey kemp por todos os motivos que normalmente inspiram inveja. Janey era mais rica, mais bonita, mais inteligente, mais popular E mais desejada. No entanto, havia um atributo que melissa tinha, e janey não: astúcia. Se melissa fizesse de janey sua rival, cairia automaticamente para um distante segundo lugar numa disputa de duas mulheres. Em vez disso, tinha sido suficientemente Esperta para tornar janey sua melhor amiga. Porém, na primeira noite, assim que voltou da frança, quando devia ser o centro das atenções, tudo que todo mundo queria comentar era janey e seu misterioso desaparecimento. Melissa ficou zangada. Tinha histórias para contar sobre as praias de nudismo da cote d'azur, sobre o vinho que tinha bebido e as drogas que havia usado. A história De como acabou pondo uma argola num mamilo em saint tropez manteria a audiência cativa por meia hora.
Mas ninguém estava interessado nas suas recentes aventuras no exterior. Janey era o nome em todos os lábios, tópico de todas as conversas. Melissa não acreditava em nenhuma das loucas especulações que circulavam sobre o paradeiro da amiga. Iam desde uma fuga com o zagueiro novato do dalas cowboys que Tinha conhecido numa boate na rua seis, até o seqüestro para obtenção de resgate que o pai dela se recusava a pagar, ou que tinha sido raptada por um tarado e transformada Em escrava sexual. Aqui, ó, pensou melissa, ressentida. Se janey estivesse em lua-de-mel com algum dos dalas cowboys, faria de tudo para que todos soubessem. Melissa sabia que o juiz era capaz de não querer mesmo pagar Um resgate para seqüestradores, mas faria isso diante das luzes e das câmeras, e usaria na campanha para sua reeleição. E se alguém estava sendo transformado em Escravo sexual, devia ser o cara que estava com janey. Janey estava chapada. Estava trepando. Fim da história. Quando sentisse vontade, ia aparecer e se vangloriar da confusão que tinha arrumado. Tiraria todo o proveito Possível. Essa era a janey. Adorava chocar e agitar as pessoas. Era tão típico da sua suposta melhor amiga, pensou melissa, roubar os holofotes na sua primeira noite de volta da europa. E a noite virou uma verdadeira chatice, E estava de mau humor. Depois de ouvir falar em janey até não poder mais, melissa resolveu ir para casa e render-se aos fusos horários. Mas ao ver o cara mais velho, mudou de idéia. Tinha visto o homem antes. Sua memória não era cem por cento confiável, mas tinha quase certeza de que janey tinha ficado com ele pelo menos uma vez. Por mais irritante Que fosse admitir isso, ele provavelmente escolheria janey em vez dela, se janey estivesse presente. Só que não estava. Por isso melissa foi caminhando para onde ele estava, encostado na porta do carro, observando. - você está indo ou vindo? Ele a examinou de cima a baixo, depois sorriu devagar. - neste exato momento, nenhum dos dois. Melissa deu um tapinha amigável no braço dele. - acho que você entendeu errado. - não pretendia dar duplo sentido? Melissa não entendeu bem o que ele queria dizer, por isso sacudiu os ombros e deu o seu sorriso mais malicioso. - talvez. Ele era bonito. Uns trinta e cinco anos, melissa imaginou. Um pouco velho e estranho, mas e daí? Pelo menos ficaria impressionado com suas viagens. - acabei de voltar da frança. - e como foi? - afrancesada. Ele sorriu, apreciando a inteligência dela. - foi um barato total. Eu não sabia que porra estavam dizendo, mas gostei de ouvir o pessoal de lá falar. Vi um cara bebendo vinho no café da manhã. Os pais dão Para os filhos, você acredita? E as pessoas tomam banho de sol nuas, nas praias. - e você? Melissa deu um sorriso tímido. - o que você acha? Ele estendeu a mão e alisou o braço dela. - mosquito. - eles estão terríveis esta noite. Acho que é melhor entrar No seu carro.
Ele foi com ela até a porta do carona, abriu para ela, depois deu a volta e entrou no lado do motorista. Ligou o motor e o arcondicionado. - humm, isso é muito melhor - disse ela, esfregando o corpo no estofamento de couro frio. - carro legal - disse ela, observando o interior. Melissa olhou para o banco de trás e perguntou. - o que é aquilo? - um saco plástico de lixo. - da! Isso eu sei. O que tem nele? - quer ver? Ele esticou o braço entre os bancos da frente, pegou o saco e pôs no colo dela. - não é roupa suja, é? - perguntou melissa, e ele deu risada. Melissa desamarrou o fio de arame e espiou dentro do saco, Depois tirou uma revista. O nome e a capa não poderiam ser mais explícitos, mas melissa fingiu estar acostumada. - na frança, qualquer um pode comprar revistas de fetiche como essa em todas as esquinas. Ninguém se importa. Posso dar uma olhada? - à vontade. Quando melissa terminou de folhear a revista toda, ele já dedilhava as coxas dela. Abaixou a cabeça e enfiou o rosto nos seios de melissa. - o que é isso? - minha lembrança da frança - ela levantou o top e mostrou orgulhosa a argola no mamilo. - conheci um cara na praia que conhecia um dentista que fazia piercing também. Ele começou a rir. - qual é a graça? Ele mexeu na argola de prata com a ponta do dedo. - uma piada particular. Havia sete ligações de liz na secretária eletrônica da casa de dean. Ele ouviu os sete recados. - não consigo entender por que você não ligou para mim dizia o último recado. já passei da fase de ficar zangada, dean. Estou assustada. Alguma coisa aconteceu Com você ou com o gavin? Se receber esse recado, por favor, ligue para mim. Se não tiver notícia sua daqui a uma hora, vou começar a ligar para os hospitais de austin. Liz tinha deixado aquele recado às três e vinte da madrugada. Havia um parecido na caixa de mensagens do celular de dean. A última coisa que ele queria era falar Com liz. Não, a última coisa que queria era que ela começasse a telefonar para os hospitais. Discou o número do celular dela e liz atendeu ao primeiro toque. - eu estou bem - dean foi logo dizendo. - ninguém está no hospital e você tem todo o direito de ficar furiosa. Pode falar. - dean, o que está acontecendo? Ele despencou numa cadeira à mesa da cozinha e passou os dedos no cabelo. - trabalho. Temos uma situação de crise. - não ouvi nenhuma notícia sobre... - não é uma crise nacional. Nenhum acidente de avião, nenhuma greve, assassinato em massa, nada disso. Mas é um caso complicado. Eu me envolvi logo cedo esta manhã... Na verdade, ontem de manhã. Fui consultado assim que cheguei na minha sala, e estive trabalhando nisso o dia inteiro. Acabei de chegar em casa e estou morto. Mas Nada disso é desculpa para não ter telefonado para você. - que tipo de caso? - uma menina desaparecida. O suspeito é egocêntrico. Ele telefonou e disse o que planeja fazer com ela, a menos que seja localizada antes do prazo marcado. Dean não tinha energia para contar mais do que isso para liz. Além do mais, os detalhes teriam de incluir paris. Liz não sabia quem era paris, e aquela não era
hora De tentar explicar uma situação tão complexa. - sinto muito seu dia ter sido tão horrível. - meu deus, liz, sou eu que devo sentir muito. E dean tinha muito que sentir mesmo. Sentir por fingir retribuir o amor dela, e fingir tão bem que ela acreditava. Sentir por não ter dito para ela ficar em houston, Como devia. Sentir por desejar que a viagem dela para chicago demorasse mais do que alguns poucos dias. - como foram as reuniões com os suecos? - perguntou ele sem interesse algum. - dinamarqueses. Eles aceitaram a minha proposta. - ótimo. Mas não me surpreende. - como está o gavin? - ele está bem. - não discutiram mais? - temos evitado derramamento de sangue. - você parece exausto. Por isso vou desligar e deixar você descansar. - olha, o que aconteceu hoje... - não tem importância, dean. - claro que tem. Por minha causa você ficou preocupada, sem necessidade. Tem importância sim. Dean estava aborrecido com liz porque ela não estava mais aborrecida ainda com ele. Teria aliviado sua consciência se ela ficasse furiosa. Dean não queria que liz Fosse compreensiva. Não queria sair impune gentilmente. Queria que liz ficasse louca de raiva. Mas uma briga aberta ia exigir energia que dean não tinha, por isso deixou passar e disse, desanimado: - bem, de qualquer maneira, peço desculpas. - aceito. Agora vá para a cama. Conversamos amanhã. - prometo. Boa-noite. - boa-noite. Dean bebeu um grande gole direto da garrafa de água da geladeira, depois andou pela casa às escuras, indo para o quarto. Não havia luz por baixo da porta de gavin, Nem o brilho do monitor do computador. Ele parou para espiar. Gavin estava dormindo. Só de cueca, deitado de costas, pernas e braços compridos bem abertos, cobertas chutadas para longe. Era quase do tamanho da cama. Respirava pela boca, como fazia desde bebê. Parecia muito jovem e inocente. Aos dezesseis anos, estava na fronteira entre menino e Homem. Dormindo, no entanto, parecia muito mais criança do que adulto. Dean descobriu, ali parado, olhando para o filho, que a pontada dolorida que sentia bem no fundo do peito era amor. Não havia amado de verdade a mãe de gavin, nem Ela a ele. Mas ambos amavam gavin. Desde o dia em que souberam que gavin tinha sido concebido, os dois canalizaram o amor que deviam ter sentido um pelo outro para A pessoa que haviam criado. Era óbvio que falharam em comunicar a profundidade daquele amor a gavin. Ele ainda não acreditava que o castigo era para protegê-lo, e que a disciplina não era um Passatempo agradável para eles, e sim uma demonstração da importância que ele tinha para os pais. Droga, dean queria ser um bom pai. Queria fazer tudo direito. Não queria que o filho duvidasse, nem por um segundo na vida, que era amado. Mas em algum ponto do Caminho devia ter dado algum passo em falso, cometido algum erro, deixado de fazer alguma coisa que devia ter feito. Agora o filho o desprezava e não fazia
segredo Nenhum disso. Sentindo o peso do seu fracasso, dean se afastou da cama de gavin, saiu do quarto e fechou a porta sem fazer barulho. O quarto principal era um cômodo grande, com teto emoldurado bem alto, janelas amplas e uma lareira. Merecia uma decoração melhor do que a que dean tinha feito, Que não passava de mobília básica e uma colcha na cama. Quando se mudou para aquela casa, disse para liz que deixaria que ela se incumbisse da decoração quando se Casassem. Mas estava mentindo para ela e para ele mesmo também. Jamais tinha sequer convidado liz para passar a noite na cama dele. Ligou o carregador de bateria do telefone celular numa tomada na parede do banheiro para ficar à mão, caso alguém ligasse, depois se despiu, entrou no chuveiro e Deixou a água quente cobri-lo enquanto relembrava tudo que tinha acontecido depois do telefonema de valentino. A corrida para o telefone público tinha sido um esforço inútil para todos os envolvidos. Para os policiais nos três carros de patrulha que tinham ido para lá, para o sargento robert curtis, que chegou bem vestido como estava durante o dia, e para paris e ele. Os dois chegaram assim que ficou Claro que valentino não estava mais nas proximidades do telefone público de onde tinha feito a ligação. A loja wal-mart estava fechada havia horas. O estacionamento Era um imenso deserto de concreto. Não havia testemunhas, exceto um gato vadio que comia os restos de um cachorro-quente que alguém tinha jogado na direção de uma Lata de lixo, e errado. - e o gato não quer falar - disse curtis quando resumiu a situação para eles. Dean e paris estavam no carro do detetive para fazer a autópsia do esforço abortado para pegar valentino. Paris, sentada no banco de trás. Dean no banco da frente. - eu gravei numa fita quando ele fez a ligação - disse dean para curtis. - vamos ouvir. Dean tocou a fita uma vez, depois voltou e ouviram a conversa uma segunda vez. Quando terminou, curtis observou: - parece que ele não desconfia que estamos atrás dele. - e isso pode funcionar a nosso favor - disse dean. - só até amanhã, quando aparecer no jornal. - curtis virou para paris. - o que ele quis dizer quando falou que você não o levou a sério da última vez? - exatamente como eu disse para ele, não tenho a menor idéia. - você não se lembra de nenhum aviso anterior? - se eu tivesse recebido uma ligação como essa, teria dado queixa na polícia. - e foi isso que ela fez a noite passada. - dean não estava gostando do jeito que o detetive olhava para paris. - onde você está querendo chegar? - lugar nenhum. Estava só pensando. - então faça a cortesia de pensar em voz alta. Curtis olhou para dean, e parecia pronto para reclamar do seu tom de voz, então deve ter lembrado que dean era seu superior. - estava só pensando na paris. - especificamente? - que ela faz um esforço danado para permanecer anônima. E isso, sinceramente, eu não entendo - disse ele, virando para paris de novo. - as outras pessoas da sua Área são extrovertidas. Vivem caçando publicidade. As fotos delas estão em todos os cartazes. Estão sempre aparecendo em público, coisas assim. - eu não sou como os djs amalucados que cuidam da programação nas horas de rush. O meu programa não é excitante e chamativo como o deles. A música é diferente, e Eu também. Sou a voz sem corpo, no escuro. Sou a câmera de eco quando não há
ninguém mais para ouvir. Se meus ouvintes soubessem como eu sou, as conversas confidenciais Ficariam comprometidas. Muitas vezes as pessoas acham mais fácil conversar com uma pessoa desconhecida do que com um amigo fiel. - certamente é mais fácil para o valentino - observou ele. Se é que ele é desconhecido para você. - agora ele pode ser, mas não quer continuar assim - comentou dean. Paris e curtis eram suficientemente inteligentes para saber que dean se referia à sugestão de valentino de que paris e ele em breve seriam amantes. Mas curtis continuava seguindo sua seqüência original de pensamentos. - vocês sabem - disse ele -, algumas dessas pessoas que fazem sexo pelo telefone são bem comuns. Gordas, feias, nada parecido com o que as vozes sugerem. Dean sabia que aquela observação não era casual. - tudo bem, você jogou a isca. Eu mordi. - em vez de estarem deitadas numa cama com lençóis de cetim, com camisolas ínfimas, como querem que o cara que ligou imagine, na verdade usam calça de moletom e Tênis, e falam de suas cozinhas desarrumadas. É tudo questão de imaginação - ele se dirigiu para paris. - o pessoal ouve a sua voz e faz uma imagem mental de você. Até eu fiz. - e daí? - nem cheguei perto. Visualizei você de cabelo e olhos pretos. Do tipo cigana que lê a sorte. - sinto muito desapontá-lo. - eu não disse que você me desapontou. Só não tem uma aparência tão exótica como faz supor a sua voz. Curtis se ajeitou mais confortavelmente no banco para não ter de entortar o pescoço para falar com paris. - tudo isso é para dizer que algumas pessoas podem ter formado uma imagem deturpada de você. Valentino parece ser uma dessas pessoas. - paris não pode ser responsável pela imaginação de um ouvinte - disse dean. especialmente se ele sofre de problemas mentais, emocionais ou sexuais. - é, você já disse isso antes. Mais ou menos dando a entender que o comentário de dean era irrelevante, o detetive continuou a falar com paris: - existe algum motivo pessoal para você querer continuar anônima? - é lógico que sim. Para proteger a minha privacidade. Quando se é uma personalidade da televisão, estamos sempre expostos aos olhos do público, mesmo quando não Estamos no ar. Eu não gostei dessa característica do meu trabalho. A minha vida era um livro aberto. Tudo que eu dizia ou fazia era sujeito a críticas, ou especulações, Ou ao julgamento de pessoas que não sabiam nada sobre mim. "no rádio eu posso permanecer no ramo, mas longe dos holofotes. Permite que eu vá a qualquer lugar sem ser reconhecida e examinada, posso manter minha vida privada Exatamente assim." Curtis pigarreou e deu a entender que não estava ouvindo a história toda, mas que ia deixar passar por enquanto. - quanto tempo você disse que guarda as gravações dos seus telefonemas? - indefinidamente. Ele fez uma careta. - são muitos telefonemas. - mas lembre que só gravo os que acho que vale a pena gravar. - mesmo assim, estamos falando do quê? Centenas? - assentiu ela, e ele disse: nós usaríamos grande parte das quarenta e oito horas que nos restam para ouvir todas Essas ligações, Tentando encontrar aquela à qual valentino se referiu hoje. Mas se entrarmos
pela porta dos fundos... - dando uma olhada nos casos não resolvidos - disse dean, vendo subitamente onde curtis queria chegar. - certo. Telefonei para um amigo de lá - a unidade de casos sem solução trabalhava num outro prédio, a alguns quilômetros do quartel-general. - ele prometeu verificar, Ver se algum dos casos deles tem alguma semelhança com o de janey kemp. - e se encontrarem algum, podemos verificar se paris recebeu algum telefonema de valentino na mesma época. - não se animem muito - avisou paris. - posso não ter gravado essa ligação. Além do mais, como é que eu podia ter ignorado uma ameaça de assassinato? - duvido que ele tivesse sido tão direto na primeira vez disse dean para paris. - é sintomático os estupradores em série ficarem cada vez mais ousados. Eles começam Muito cuidadosos e vão ficando mais temerosos com cada crime, até praticamente pedirem para ser capturados. Curtis concordou. - foi essa a experiência que eu tive também. - alguns querem mesmo ser capturados - disse dean. - eles imploram para que os encontremos. - não sei por quê, mas acho que valentino não se encaixa nessa categoria - disse paris. - ele parece muito seguro. Arrogante. Dean olhou para curtis e percebeu que o detetive concordava com ela. E infelizmente dean também. - por outro lado - disse ele -, valentino podia estar nos manipulando. Talvez você não se lembre de nenhum telefonema assim porque realmente não houve nenhum. Valentino Podia estar tentando despistar. - pode ser - disse curtis. - eu tenho a nítida sensação de que ele está rindo de nós - ele perguntou para paris. - o que você sabe sobre marvin patterson? - até ontem, apenas o primeiro nome dele. - por quê? - perguntou dean para o detetive. - ele desapareceu - disse curtis. - os policiais telefonaram para ver se ele estava em casa, disseram que iam até lá para conversar com ele. Quando chegaram, marvin patterson tinha sumido. Saiu correndo. Pratos do café da manhã sujos na pia, e o bule de café ainda quente. Foi com essa Pressa toda que ele se escafedeu. - o que ele tem para esconder? - perguntou paris. - estamos investigando isso agora - respondeu curtis. O número do seguro social que ele pôs na ficha de emprego da estação de rádio é de uma mulher negra de noventa Anos que morreu num asilo alguns meses atrás. - marvin patterson é um nome falso? - perguntou dean. - aviso quando descobrir. - marvin, ou seja lá qual for o nome dele - disse paris -, pode ter alguma coisa a esconder, mas não acredito que ele seja valentino. Valentino usa aquele sussurro Assustador, mas é bem articulado. Se marvin fala, é um resmungo. Dean perguntou como marvin era. - quantos anos ele tem? - uns trinta. Nunca prestei muita atenção, mas dava para perceber que tinha boa aparência. - vamos ver o que descobrimos - disse curtis. - encontraram alguma coisa útil no computador de janey? - perguntou dean. - sacanagem. Um monte. Escrita por outros garotos e garotas. - ou predadores. Curtis concordou com dean. - de onde quer que tenha vindo, é coisa pesada, especialmente se partir de
adolescentes. Rondeau imprimiu a lista de endereços de e-mail dela e está rastreando os Usuários. Depois disso eles se separaram. Os protestos de paris contra a proteção da polícia foram ignorados. Curtis já havia despachado griggs e carson para a casa dela. - ambos estão deslumbrados. Se estivessem protegendo o presidente, não iam levar mais a sério. Ficarão plantados na calçada na frente da casa dela a noite inteira. Dean levou paris para casa. - e o meu carro? - perguntou paris quando dean se recusou a deixá-la na estação de rádio para pegá-lo. - peça para um dos seus admiradores ir pegá-lo de manhã. Paris mostrou o caminho para a casa dela. Ficava num bairro periférico cheio de árvores e ladeiras. A casa de calcário ficava dentro de um bosque de carvalhos espalhados E era rodeada por uma paisagem de jardins bem cuidados. O caminho da entrada fazia uma curva e era decorado com tinhorões brancos, e subia até uma varanda bem larga. Luminárias idênticas de latão brilhavam hospitaleiras dos dois lados da porta da frente pintada de preto lustroso. Incoerente com o aconchego da propriedade era a viatura policial estacionada na porta. Os dois jovens policiais praticamente pularam de dentro dela quando dean e Paris estacionaram atrás. Dean fez sinal para o prestativo griggs não se abalar. - eu vou acompanhá-la. Dean tinha insistido em entrar na casa com paris, e, apesar do painel de controle do alarme não ter registrado nenhuma perturbação desde a hora em que tinha sido Ligado, ele fez questão de examinar cada cómodo da casa, olhar dentro de cada armário, atrás da porta do box do chuveiro, e até embaixo da cama. - valentino não me parece o tipo que se esconderia embaixo da cama - disse paris. - um estuprador muitas vezes se esconde na casa da vítima, esperando que ela volte para casa. Faz parte da emoção. - você está querendo me assustar? - definitivamente. Eu quero você bem assustada, paris. Esse cara quer punir as mulheres, lembra? Ele está zangado com a janey, pelo menos ainda achamos que é a janey, Por tê-lo enganado. E está zangado com você por ficar do lado dela. - eu nem sabia que havia opção de lados. - bem, essa é a percepção deturpada que ele tem, e percepção é... - a verdade. Eu sei. - sugerir que você e ele logo estarão juntos como amantes na verdade significa que você será sua próxima vítima. Ele não diferencia as duas coisas. Paris mordeu o lábio inferior. - quando ele terminar com janey, virá atrás de mim. - não se eu puder evitar. - dean chegou perto de paris e pôs as mãos nos ombros dela. — mas enquanto ele não estiver sob a custódia da polícia, tenha medo dele. Paris deu um sorriso abatido. - não estou com medo. Mas também não sou burra. Vou tomar cuidado. Ela tentou se afastar e dean não deixou. - essa é a primeira vez em todo o tempo da nossa amizade que estamos num quarto juntos. - amizade? - nós não somos amigos? Paris hesitou alguns segundos antes de dizer baixinho: - sim. Nós somos amigos.
- bons amigos. Então dean tirou os óculos escuros de paris, jogou-os numa cadeira próxima, depois examinou ansioso seus olhos. Eram lindos como lembrava. Profundamente azuis, inteligentes, Expressivos. Olharam para ele com firmeza e clareza. Dean deu um suspiro profundo de alívio. - tive medo de ver que talvez tivesse perdido a visão de um olho, ou algum ferimento sério, e que por isso usava óculos escuros. - não houve nenhum dano permanente - disse ela com a voz rouca de emoção. - nem fiquei com cicatrizes visíveis. Mas meus olhos continuam muito sensíveis à luz forte. Sem interromper o contato visual, dean chegou para a frente para alcançar o interruptor na parede, atrás de paris. Apertou para baixo e o quarto ficou escuro. Ele Continuou inclinado para frente, de modo que seus corpos se tocavam do peito até os joelhos, e, quando paris não se afastou, ele deslizou as mãos pelo seu pescoço, Por dentro do cabelo. Virou a cabeça dela para cima e abaixou a dele. - dean, não. Mas as palavras foram apenas um suspiro irregular contra os lábios dele, quando encostou nos dela. Abriram a boca ao mesmo tempo e, quando as línguas se encontraram, O gemido de paris ecoou a sede de dean. Ele a fez encostar na parede, desejando senti-la, prová-la. Desejando. Curvou o braço por trás da cintura de paris e puxou a parte de baixo do corpo dela mais para junto dele, aumentando a pressão onde já era intensa. Ela interrompeu O beijo e gemeu o nome dele. Dean passou os lábios nos olhos de paris, no rosto, sussurrando. - nós esperamos muito por isso, paris. Não esperamos? Então ele beijou paris na boca com mais paixão do que antes. Enfiou a mão entre os corpos dos dois e cobriu o seio dela. O mamilo estava ereto antes mesmo de encontrá-lo com o polegar. Dean sentiu as mãos de paris apertando Seus músculos das costas, sentiu o movimento para cima e para a frente dos quadris dela. Lembrou ter balbuciado algo ininteligível, até para ele mesmo, quando abaixou A cabeça, procurando cegamente o seio dela com a boca. - srta. Gibson? Dr. Malloy? Dean deu um pulo como se tivesse levado um tiro. Paris ficou paralisada, depois se esgueirou entre dean e a parede. Dean ficou possesso. - aquele maldito novato. Vou matá-lo. E naquele momento falava sério. Teria sido capaz de sair correndo pelo corredor e estrangular griggs com as próprias mãos - era o que mais queria - se paris não Agarrasse seu braço e o segurasse. Ela deu a volta, ficou na frente dele, endireitou o cabelo e a roupa e foi andando pela casa, até a sala de estar. Griggs estava parado na porta da frente. - vocês deixaram a porta aberta - disse ele para dean, que estava a meio passo de paris. - está tudo em ordem? - está tudo ótimo - disse paris para ele. - o dr. Malloy fez a gentileza de examinar a casa toda. Griggs olhava para paris de um jeito estranho. Devia ter notado que havia mais cor no seu rosto, ou que os lábios estavam inchados, ou então se surpreendeu porque Ela estava ofegante, ou ficou chocado de vê-la sem os óculos escuros, ou uma combinação de tudo isso. Naquele momento, dean não tinha condição nenhuma de ser diplomático e disse rispidamente: - pode sair agora.
Dean jamais gostou de policiais que se impunham pela superioridade hierárquica, mas naquele momento ele fez exatamente isso e não se sentiu nada mal. Paris foi mais educada. - o dr. Malloy vai sair daqui a pouco. Nós dois agradecemos a sua eficiência. - ha... Um cara... Stan? Deixou isso para a senhorita. - ele entregou diversas fitas cassete. - ah, certo. Obrigada. - deixe ali na mesa. Griggs fez o que dean mandou. Deu mais uma olhada apreensiva na direção dele, depois saiu bem depressa, fechando a porta. Dean segurou paris de novo, mas ela evitou Encostar nele. - aquilo não devia ter acontecido. - a interrupção? Ou o beijo? Paris olhou zangada para ele. - foi mais do que um simples beijo, dean. - foi você que disse, não eu. Ela cruzou os braços. - não queira interpretar nada. Não vai se repetir. Dean ficou olhando para ela alguns segundos, observando a expressão tensa, a postura rígida, e disse baixinho: - não faça isso, paris. - o quê? Recuperar o juízo? - não se distancie. Não se feche. Não me deixe de fora. Não me castigue. Não se castigue. - você precisa ir embora. Estão esperando você sair. - não dou a mínima. Eu esperei sete anos. - esperou o quê? - perguntou ela zangada. - o que você estava esperando, dean? O jack morrer? As palavras doeram, e paris sabia que doeriam mesmo. Disse isso de propósito para feri-lo e provocá-lo, mas dean não lhe daria essa satisfação de jeito nenhum. Ele Abafou a raiva e manteve a calma. - esperei por uma chance de ficar assim perto de você disse dean. - e depois, o que esperava que acontecesse? Esperava que eu caísse nos seus braços? Esquecesse tudo que tinha acontecido e... Ela parou de falar e dean ergueu as sobrancelhas, inquisitivo. - e o que, paris? E me amasse? Era isso que você ia dizer? É disso que você tem tanto medo? Que podemos realmente ter nos amado e que ainda nos amamos? Paris recusou-se a responder. Em vez disso, foi marchando e abriu a porta da frente. Com os cães de guarda na calçada, dean não teve escolha senão sair. A essa altura, a água do chuveiro já estava fria, mas seu corpo ainda febril com o desejo ardente de saber - se tivesse conseguido arrancar dela - qual seria a resposta Para essa pergunta. Capítulo dezesseis Janey tinha abandonado seus planos de vingança e se concentrava unicamente em sobreviver. As tentativas de fuga daquele quarto pareciam remotas como suas lembranças das festas de aniversário da infância. Tinha visto fotografias tiradas nessas festas, Mas não sentia ligação nenhuma com a menininha com a tiara de papel-alumínio, soprando velas num bolo de confeitaria. Da mesma forma, as lembranças das tentativas De fuga do seu captor, os planos de puni-lo por isso, pareciam reminiscências vagas de outra pessoa. Tais estratégias corajosas eram inimagináveis para janey agora. Estava tão fraca que, mesmo se os braços e as pernas não estivessem amarrados,
não conseguiria se mexer. Ele não tinha lhe dado comida nem água nas últimas duas Vezes que esteve lá. Janey podia viver com a fome, mas a garganta já estava seca de sede. Tinha implorado com os olhos para ele, mas as súplicas silenciosas não Foram atendidas. Ele estava animado e falante, até meio blasé. Inclinou a cabeça para um lado e olhou para ela com interesse renovado. - fico imaginando se estão sentindo a sua falta, janey. Você tratou tanta gente mal, sabe? Especialmente os homens. O seu talento especial, certamente seu passatempo, Era fazer os homens sentirem desejo e depois humilhá-los com uma rejeição em público. "eu já observava você fazia muito tempo antes daquela noite em que veio falar comigo. Você não sabia? Mas é verdade. Eu descobri o seu nome de e-mail: gata de botas. Certo? Muito esperta. Principalmente porque você gostava de usar botas de vaqueiro. As suas preferidas são as vermelhas, não são? Até usouas uma noite. Ah! Espere Um pouco." Ele vasculhou o quarto até achar o álbum de fotografias que queria. - é, aqui está você com as suas botas. Na verdade, só as botas - acrescentou ele, com um sorriso malicioso. Virou a foto para ela e janey virou o rosto e fechou os olhos. Ele ficou zangado. - falando sério, você pensa que alguém está realmente triste com o seu desaparecimento? E saiu logo depois. Janey ficou aliviada ao vê-lo partir, mas apavorada, pensando que podia nunca mais voltar. Apesar da fita adesiva na boca, ela soluçou ruidosamente. Ou talvez o choro só parecesse ruidoso para os seus ouvidos. Engasgou e entrou em pânico, imaginando se alguém poderia se afogar com as próprias lágrimas. Cai na real, janey! Isso ela podia fazer. Podia sobreviver a ele. Podia se agüentar até o socorro chegar, e chegaria logo. Os pais dela deviam estar virando austin de cabeça para baixo À sua procura. Seu pai era rico. Contrataria investigadores particulares, traria o fbi, o exército, o que precisasse para encontrá-la. Odiava alguns policiais mais durões da força policial de austin, aqueles que a acusavam de dirigir embriagada, de má conduta e de portar as substâncias ilegais que Costumava carregar com ela. Se não fosse filha do juiz kemp, os tiras que seguiam as regras a teriam posto na prisão mais vezes do que poderia contar. Só que também tinha trepado com a elite da polícia de austin, os mais jovens e mais bonitos, que tinham uma visão mais liberal do que os veteranos, como o investigador Da narcóticos que trabalhava à paisana na escola dela. Tinha sido um desafio seduzi-lo, e quando ele finalmente se rendeu, uma decepção. Mesmo assim, tinha alguns amigos no departamento de polícia. E eles iam procurála também. E o seu carrasco tinha telefonado para paris gibson. Janey nem imaginava por quê, e não se importava. Era óbvio que ele sentia muito orgulho de tudo aquilo, porque Tinha gravado a ligação só para ela poder ouvir. Será que queria que janey soubesse que tratava uma personalidade do rádio pelo primeiro nome? O idiota egocêntrico. Será que não sabia que paris tratava qualquer pessoa que ligava para ela pelo primeiro nome? Não fazia diferença. O que realmente importava era que ele tinha envolvido paris. Ela mexeria os pauzinhos. Ninguém ia ignorar paris gibson.
Mas a onda de otimismo de janey logo se evaporou. O tempo estava acabando. Seu captor tinha dito para paris que ia matá-la em setenta e duas horas. Mas quando é Que tinha dado aquele telefonema? Quanto desse tempo já havia passado? Janey tinha perdido completamente a noção das horas, e raramente sabia quando era noite ou Dia. E se aquela fosse a septuagésima primeira hora das setenta e duas? Mesmo que ele não a matasse, ela podia morrer abandonada ali. E se ele simplesmente nunca mais voltasse? Quanto tempo poderia sobreviver sem comida e sem água? E Se... E esse era seu maior medo... E se ele tivesse razão e ninguém desse a mínima para o seu desaparecimento? O dr. Brad armstrong não tinha usufruído do conforto da própria cama aquela noite, mas estava muito animado quando chegou à clínica odontológica meia hora antes Da primeira consulta marcada. A noite tinha sido bem movimentada e ele não dormira mais de duas horas. Mas o sono não era a única maneira de ficar acelerado. Uma menina com uma argola de prata No mamilo... Ora, isso recarregava mesmo as baterias de um homem. Ria sozinho quando entrou no prédio e saudou a recepcionista. - bom-dia, doutor. A sra. Armstrong deve ter encontrado o senhor na noite passada. Ela ficou muito decepcionada de não ter podido fazer seu programa surpresa. - nós jantamos sossegados depois que as crianças foram para a cama, de modo que acabou dando certo. Algum recado para mim? - um tal sr. Hathaway ligou duas vezes, mas não deixou recado. Só pediu para o senhor ligar para ele. Quer que eu o ponha na linha? O sr. Hathaway era o oficial da condicional. No seu melhor dia, o sr. Hathaway era um babaca sem senso de humor, que adorava espiar as pessoas por cima dos seus Óculos da vovó. Era a idéia que ele fazia de intimidação, brad imaginava. - não, obrigado. Ligo para ele mais tarde. Nenhum outro recado? - só esse. Toni devia estar realmente aborrecida dessa vez. Normalmente já teria tentado falar com ele, mesmo que só para verificar se ele não tinha batido de frente com uma Jamanta, sofrido um ataque do coração ou sido assaltado e assassinado. Era sempre ela que dava o passo inicial para fazer as pazes. Não era isso que uma esposa amorosa E dedicada devia fazer quando o marido saía furioso de casa depois de uma briga? Então ele não podia ser acusado de nada que tivesse feito a noite passada, não é? Tinha quebrado seus votos, mas essa pulada de cerca era mais culpa de toni do que Dele. Ela nem tentou ter compaixão, ser compreensiva. Ao contrário, só o repreendeu. Brad tinha uma coleção de revistas e de fotos eróticas. Grande coisa. Algumas pessoas podiam considerar aquele material pornográfico, mas e daí? E talvez a sua coleção Fosse maior do que a dos outros caras. Isso era motivo para fazer um escândalo federal? Depois daquela noite, a próxima acusação de toni seria que ele tinha sido agressivo demais. Já podia ouvir toni falando. De onde veio essa agressividade toda, brad? Eu não o conheço mais. Toni tinha muitas qualidades, mas não tinha espírito de aventura. Ela se assustava com qualquer novidade, ou qualquer experiência nova. Tinha Visto o medo em seus olhos na véspera. Toni devia ter umas aulas com a menina que brad conhecera no lago. Melissa, era
o nome dela. Pelo menos foi o que ela disse. Ele certamente não tinha dito o dele, Mas nem lembrava de melissa ter perguntado. Para uma menina aventureira como aquela, nomes não tinham importância. Brad tinha visto a menina muitas vezes, com muitos parceiros diferentes, por isso não se surpreendeu dela não ter ficado chocada com suas fotos tão vividas. Na verdade, Até manifestou gostar sinceramente delas. E realmente serviram para incendiá-la. Ela se jogou em cima dele. Aquela menina era uma coisa, ela e sua argola no mamilo. Toni provavelmente o mandaria para um hospício se sugerisse que ela fizesse um piercing. Mas, porra, era um tesão. Instalou-se à mesa e ligou o computador. As outras pessoas no consultório ficaram curiosas para saber por que brad tinha Posto o monitor de costas para a sala, e não para a parede, de modo que os fios não ficassem à mostra. Ele inventou uma explicação, mas o verdadeiro motivo era que O que aparecia no monitor não era da conta de ninguém. Visitou seus sites prediletos, mas ficou desapontado porque o material não tinha sido renovado desde a manhã do dia anterior. Mesmo assim escaneou todos, procurando Especialmente mulheres com argolas nos mamilos. Não encontrou nenhuma. Faria alguma pesquisa mais tarde, ia surfar na internet até localizar alguns sites novos e exóticos. Talvez um membro do clube do sexo tivesse descoberto alguns Novos interessantes que ele ainda não conhecia. Era bem da garotada estar na dianteira das descobertas. Digitou sua senha e entrou no site. Foi direto para o quadro de avisos e já ia digitar uma pergunta quando alguém bateu à porta da sala dele e imediatamente a abriu. - dr. Armstrong? - o que é? -- disse ele asperamente. - desculpe - disse uma assistente. - não queria incomodálo, o seu primeiro paciente já está preparado. Ele se esforçou para sorrir. - obrigado. Vou assim que terminar esse e-mail para a minha mãe. Ela saiu da sala. Brad olhou para o relógio. Estava no consultório havia mais de meia hora, mas parecia apenas cinco minutos. - o tempo voa... - disse ele, e deu uma risadinha. Alguns homens liam as cotações do mercado de ações quando tomavam o café da manhã, outros o caderno de esportes. Ele tinha um interesse diferente. Isso era crime? Voltou para sua home page e, só para se prevenir, acionou o serviço que apagava o histórico das suas conexões na internet para ninguém poder rastreá-lo. Já tinha tratado três pacientes antes de poder fazer um intervalo. Tinham deixado um jornal no bar do café. Brad pegou o jornal, um sonho e um café e foi para a Sala dele. Bebeu o café, deu uma mordida no sonho, abriu a primeira página do jornal... E quase engasgou quando viu a foto. Era um retrato sério, devia ser a foto do álbum do colégio do ano anterior. Irônico, engraçado, ela parecia recatada. Parecia olhar direto para ele, de um jeito Que dava vontade de desviar o olhar. Mas não conseguia. Junto com a foto havia a história dela: filha do juiz municipal... Meu deus; terceiro ano do segundo grau; infrações anteriores; suspensão de três dias no colégio No último semestre; seu misterioso desaparecimento. O repórter dava mais detalhes sobre a participação dela num clube na internet, cujo objetivo era buscar parceiros sexuais. Estava tudo lá, preto no branco. O
artigo Descrevia como funcionava, as salas de bate-papo, os recados explicitamente sexuais deixados no site, as reuniões secretas... Que não eram segredo nenhum para os Membros... E os atos licenciosos que aconteciam nesses locais de reunião. Qualquer pessoa que tivesse entrado em contato com janey estava sendo procurada e interrogada Pela polícia. Havia uma referência que sugeria uma possível conexão com o programa de rádio de paris gibson. Brad apoiou os cotovelos na mesa e segurou a cabeça com as duas mãos. O sargento robert curtis, que organizou uma equipe de investigadores, não quis comentar a suposta conexão da srta. Kemp com o clube do sexo, mas o policial john Rondeau, da divisão de crimes no computador, disse que tal conexão ainda não tinha sido descartada. "ainda estamos explorando isso", disse rondeau. Os policiais se recusaram a comentar quando perguntados sobre a possibilidade de crime. A reportagem também dizia que o pessoal da polícia de austin não quis comentar quando perguntaram por que um detetive da homicídios estava supervisionando um caso De pessoa desaparecida. Rondeau, mais loquaz, disse para o repórter: "até este momento não tivemos absolutamente nenhuma indicação de crime e estamos supondo que A srta. Kemp apenas tenha fugido de casa." boa resposta, mas não esclarecia o que tinham perguntado. Havia mais uma citação, do juiz kemp: "como todos os adolescentes, janey não tem consideração e é irresponsável quando se trata de avisar quais são seus planos. A sra. Kemp e eu estamos Confiantes de que ela vai voltar logo. É cedo demais para qualquer especulação alarmante." Brad pulou quando o telefone tocou. Com a mão trêmula, ele apertou o botão do interfone. -sim? - a sra. Armstrong está na linha dois, dr. Armstrong. E seu próximo paciente já chegou. - obrigado. Dê-me cinco minutos. Brad secou o suor do bigode e respirou fundo algumas vezes antes de pegar o fone. Era hora de bancar o humilde. - oi, querida. Olha, antes de dizer qualquer coisa, quero que saiba que sinto muito por ontem à noite. Eu te amo. E me odeio por dizer as coisas que eu disse. Aquele Saco de lixo com as fotos? É história. Eu joguei fora. Tudo. E quanto a... Aquela outra coisa... Não sei o que deu em mim. Eu... - você faltou ao seu compromisso. - heim? - seu encontro às dez horas com o sr. Hathaway. Ele ligou para cá porque não conseguiu encontrar você no consultório. - cristo. Eu esqueci completamente. Era verdade. Tinha ido para a clínica, ficado meia hora na internet, atendido a três pacientes e lido a história da primeira página do jornal. - como é que pôde esquecer uma coisa tão importante assim, brad? - eu tive pacientes para atender - respondeu ele, irritado. E eles também são muito importantes. Lembra da nossa hipoteca? Do pagamento do carro? Das contas do supermercado? Eu preciso trabalhar. - nada disso importa se você for para a prisão. Ele, olhou para a foto de janey kemp. - eu não vou para a prisão só por perder um compromisso com o oficial da
condicional. - ele está sendo leniente. Marcou uma nova reunião para esta tarde, à uma e meia. Toni estava de novo no alto dos tamancos, falando com ele como se tivesse a idade do filho deles. Ele era adulto, caramba. - parece que você não está entendendo, toni. Eu tenho trabalho. - e um vício - ela retrucou. Meu deus, ela não estava dando mole para ele. - eu já disse que me livrei das revistas. Joguei tudo num depósito de lixo. Está bem? Está feliz agora? Em vez de parecer feliz, a risada de toni soou terrivelmente triste. - está bem, brad, deixa pra lá. Mas você não engana ninguém. Nem hathaway, e certamente a mim também não. Se não for a esse encontro com ele, hathaway terá de dar Queixa e você terá de enfrentar as conseqüências. Toni desligou o telefone na cara dele. - e esses tamancos que estava usando, querida? - berrou ele para o telefone quando bateu o fone no aparelho. A cadeira saiu rodando para trás quando ele se levantou. Pôs uma mão na cintura, esfregou a nuca com a outra e começou a andar de um lado para outro. Se o momento fosse qualquer outro, ficaria realmente irritado com toni por falar com aquele tom de superioridade com ele. E estava irritado. Na verdade, estava furioso. Mas toni ia ter de esperar. Agora ele precisava se concentrar num problema muito mais sério. Quando postas uma ao lado da outra, as coisas não pareciam nada boas para ele. Era um delinqüente sexual condenado. A acusação tinha sido totalmente falsa e o julgamento, Uma farsa. Mesmo assim, estava lá, registrado na sua ficha pessoal. Na noite anterior, tinha feito sexo com uma jovem. Ia se ferrar se ela tivesse menos de dezessete anos. Não importava se era mais experiente do que uma puta de dez Dólares... Dez dólares porra nenhuma. Pela segunda rodada, ele deu uma "gratificação" de cinqüenta dólares. Apesar da experiência toda, se fosse menor de idade, Ele teria cometido um crime. E a mulher dele, que era respeitada pelo terapeuta de grupo dele, e pelo oficial da condicional, já devia estar dedurando para eles Suas recentes tendências violentas. Mas o que preocupava realmente brad, o que provocava espasmos nas suas entranhas, era que não conseguia lembrar se já tinha visto melissa na companhia de janey kemp. Capítulo dezessete O sargento curtis telefonou para paris quando ela passava manteiga de amendoim numa torrada. - ontem à noite eu mencionei o departamento de casos não resolvidos? - tem algum parecido? - maddie robinson. O corpo foi descoberto três semanas depois que a colega de quarto registrou seu desaparecimento. Um vaqueiro a encontrou numa cova rasa num dos Pastos dele. No meio de lugar nenhum. Causa da morte: estrangulamento com algum tipo de faixa. Em avançado estado de decomposição. Animais tinham danificado bastante O corpo. Paris desistiu do café da manhã. Curtis continuou. - mas o médico-legista conseguiu determinar que o corpo tinha sido lavado com algum agente adstringente - ele fez uma pausa significativa antes de acrescentar: -
Por fora e por dentro. - então mesmo que tivessem encontrado antes... - o criminoso garantiu que qualquer prova de dna estaria tão comprometida que seria praticamente ilegível. Também não havia sinal de pegadas, nem marcas de pneus. Provavelmente destruídos pela erosão. Sem pistas nas roupas porque não havia roupa nenhuma. Paris sentiu pena da vítima de morte tão horrível e ignominiosa. Perguntou o que curtis sabia sobre ela. - tinha dezenove anos. Era atraente, mas não de uma beleza estonteante. Era estudante. A colega de quarto admitiu que não eram exatamente freiras. Saíam muito. Quase Todas as noites. E é aí que a coisa fica realmente interessante. Segundo essa colega, maddie estava saindo com alguém a quem se referia como "especial". - especial como? - ela não sabia. Maddie era vaga quando tinha de explicar o que havia de diferente nesse cara. As meninas eram amigas desde o primário. Em geral, contavam tudo Uma para a outra. Mas maddie não dizia nada sobre esse cara misterioso, a não ser que ele era legal, e maravilhoso, e especial. - a colega o viu alguma vez? - ele não ia ao apartamento delas. Maddie ia ao encontro dele. A colega não sabia onde se encontravam. Ele nem telefonava para o telefone fixo do apartamento das Duas, só para o celular de maddie. A teoria da colega de quarto era que o cara devia ser casado, por isso aquele mistério todo. De todas as experiências que tinham, Maddie e ela traçaram uma linha divisória quanto a ir para a cama com homens casados. Não por motivos morais, mas porque não havia futuro nisso, ela disse. "um dia maddie estava apaixonada, no dia seguinte anunciou que ia terminar o namoro. Disse para a amiga que ele estava ficando possessivo demais e que isso a irritava, Pois nunca tinham saído para fazer um programa de verdade. O único lugar para onde iam era para o apartamento dele - que ela descreveu como um lugar horrível - onde Faziam sexo. Ela deu a entender que a coisa começou a ficar bizarra, até para ela, que gostava de novidade. A colega pediu detalhes, mas maddie se recusou a falar Sobre isso. Tudo que dizia era que o namoro tinha terminado. "para animá-la, a colega receitou .ir para a cama com outro. Maddie seguiu seu conselho. Saíram, beberam muito e maddie levou um cara para casa com ela. Mais tarde, Verificaram que ele não era suspeito. "maddie robinson foi vista pela última vez às margens do lago travis, onde um grande grupo de jovens comemorava o início das férias de verão. Ela e a amiga se separaram. A amiga foi para casa sozinha, imaginando que maddie tinha encontrado um parceiro para aquela noite. Aquilo era bem comum. Mas quando maddie não apareceu vinte e Quatro horas depois, ela avisou à polícia. "o caso não ficou comigo, por isso não me lembrei dele logo. As pistas esfriaram para os detetives do bci que estavam investigando e o caso passou para outra unidade." Terminando o resumo, curtis respirou fundo. - então isso aconteceu mais ou menos no fim do semestre da primavera? - no fim de maio último. O corpo foi encontrado no dia 20 de junho. Você tem telefonemas gravados desde essa época? - nos meus arquivos. Quer que eu leve cópias? - o mais depressa possível. Por favor.
- stan? Stan deu um pulo quando paris entrou na sala dela e o pegou sentado à sua mesa. Recobrou-se rapidamente e saudou-a de mau humor. -ei. Paris jogou a bolsa na pilha de material impresso sobre a mesa. - você está na minha cadeira. Antes de ir para a sala, paris tinha passado pelo almoxarifado para pegar diversos cds contendo telefonemas gravados que havia transferido do vox pró. Deixou-os Com um engenheiro e pediu para ele duplicar o conteúdo em fitas cassete. - cassete? Isso é retroceder no tempo, não é? - resmungou ele. Sem querer explicar que o bci ainda trabalhava com fitas cassete, paris disse simplesmente "valeu", e saiu antes do engenheiro ter a oportunidade de recusar aquele Pedido estranho. - o que você está fazendo na minha sala? - perguntou para stan enquanto o substituía na cadeira. Como havia feito na noite anterior, stan abriu espaço num canto da mesa e encostou nela, sem ser convidado. - como não tenho o direito de ter uma sala, achei que esse era o lugar mais discreto para esperar. - esperar o quê? - o meu tio wilkins. Ele está numa reunião com o gerente geral. - a reunião é sobre o quê? -eu. - por quê? O que foi que você fez? Stan se ofendeu. - por que todo mundo sempre supõe automaticamente que eu fiz alguma merda? - e você fez? -não! - então por que o seu tio wilkins está tendo uma reunião com o gerente-geral sobre você? - por causa daquele maldito telefonema. - a ligação do valentino? - é, revolveu umas coisas. Meu tio veio bem cedo para cá no jatinho da firma, telefonou e me acordou, ordenou que eu viesse para cá encontrar com ele, imediatamente. Por isso me desabafei feito louco para cá, e ele já estava de portas fechadas. Nem o vi ainda. - que coisas? Em vez de responder à pergunta, stan fez outra: - eu faço um bom trabalho por aqui, paris? Ela balançou a cabeça, achando graça e consternada ao mesmo tempo. - stan, você não faz nada por aqui. - eu fico aqui toda noite até as duas da porra da madrugada. - você fica aqui fisicamente. Ocupa espaço. Mas não faz trabalho nenhum. - porque nada dá errado com nenhuma máquina. - e se desse, você saberia consertar? - talvez. Sou bom com aparelhos - disse ele com petulância. - "aparelhos" não é exatamente a palavra que eu usaria para descrever eletrônicos que valem milhões de dólares. Você pelo menos entende de tecnologia de rádio, stan? - e você, entende? - eu não possuo o título de engenheira. Ele era um chato mimado, dado a choramingar. Praticamente todas as noites paris tinha vontade de estrangulá-lo por sua incompetência e irresponsabilidade em relação Ao trabalho. Inépcia era perdoável, mas indiferença não. Pelo menos não no manual dela. Toda vez que falava no seu microfone, paris tinha consciência de que centenas de milhares de pessoas ouviam. Chegava até eles com sua voz, no rádio do carro e onde
Essas pessoas moravam. Era companheira do que quer que estivessem fazendo naquele momento. Para paris, a audiência não era apenas um número de seis algarismos sobre o qual baseavam o preço dos anúncios. Cada número representava um indivíduo que dedicava Seu tempo a ela, e para quem ela devia a melhor programação que pudesse fazer. Stan jamais considerava o fator humano da audiência da rádio. Se considerava, não traduzia isso em trabalho. Nunca demonstrava nenhuma iniciativa. Empenhava seu Tempo, contando os minutos até a hora de sair, depois corria para fazer o que costumava fazer, fosse lá o que fosse. Apesar de tudo isso, porém, paris não conseguia deixar de sentir pena dele. Ele não estava lá porque queria. O futuro de stan tinha sido determinado no segundo em Que ele nasceu na família crenshaw. O tio dele era um solteirão sem filhos. Stan era filho único. Quando o pai morreu, stan tornou-se o herdeiro direto do império Da mídia, querendo ou não. Ninguém da empresa parecia disposto a aceitar ou admitir que ele era desinteressado e incompetente para assumir o controle quando o tio wilkins se aposentasse, o Que provavelmente não aconteceria até ser declarado morto. - estou aprendendo de baixo para cima - disse stan para paris, de mau humor. preciso aprender um pouco de cada aspecto da emissora até estar preparado para quando Chegar a hora de assumir. Pelo menos é assim que o tio wilkins pensa. - que coisas o telefonema de valentino revolveu? A boca de stan se contorceu numa careta de desprezo. - não é nada. - mas suficiente para seu tio wilkins vir para cá na mesma hora. Stan deu um enorme suspiro. - antes de eu ser mandado - leia-se "banido" - para essa maravilhosa estação de rádio, eu trabalhava na nossa emissora de televisão em jacksonville, na flórida. Comparado com esse lixo, lá era um paraíso. Eu tive um caso com uma das funcionárias. - então você não é gay? Stan reagiu como se tivesse levado uma punhalada na espinha com um atiçador em brasa. - gay? Quem disse que sou gay? - algumas pessoas andaram especulando. - gay? Meu deus! Eu odeio esses caipiras burros daqui. Se você não tem uma picape com tração dupla, não bebe bud no gargalo e não se veste como sundance kid, você É bicha. - e o que aconteceu com a mulher na flórida? Stan pegou um clipe de papel e começou a entortá-lo. - nós exageramos no escritório. E quando dei por mim, ela berrava assédio sexual aos quatro ventos. - e não era verdade? - é, paris, não era verdade - disse ele, pronunciando lentamente cada sílaba. a acusação era tão falsa quanto o sutiã tamanho quarenta e dois dela. Não a forcei A fazer sexo comigo. Na verdade, ela ficou por cima. - isso é mais informação do que eu precisava, stan. - de qualquer modo, ela registrou queixa. Tio wilkins fez um acordo para não ir a julgamento, mas custou-lhe uma bolada. Ele ficou p da vida comigo, não com ela. Dá para acreditar? Ele disse, "que burrice a sua pôr seu pau pra fora no trabalho." perguntei se ele nunca tinha ouvido falar de bill clinton. Ele não
gostou dessa Observação, especialmente porque todos os nossos jornais tinham apoiado clinton para a presidência. "mas foi por isso que vim parar aqui, cumprindo a minha sentença." Stan jogou o clipe todo torto no cesto de papel. Fez um ruído suave quando bateu no fundo de metal. - foi por isso também que ele pulou no jatinho da empresa e veio para cá esta manhã. Paris adivinhou o resto. - depois que você contou para ele que tinha sido interrogado pela polícia, wilkins achou que devia vir para austin, para garantir que esse episódio infeliz na flórida Não mostrasse sua cara feia. - ele chamou de controle de danos. - falou como um verdadeiro chefão empresarial. Paris agora entendia tudo. Stan tinha sido enxertado na 101.3 como castigo por ter misturado negócios com prazer. Tio wilkins tinha omitido aquele incidente com A funcionária da empresa para o gerente-geral, mas achava que devia explicar tudo agora, Antes que a polícia de austin descobrisse e passasse a suspeitar do sobrinho. - esse foi o único incidente, stan? Ele semicerrou os olhos para paris, olhando-a do alto. - o que você quer dizer? - a pergunta é bem simples. Sim ou não? Ele perdeu a pose. - aquela foi a única vez e pode acreditar em mim, aprendi essa lição. Jamais encostei em outra funcionária. - como proprietário, isso pode torná-lo vulnerável a um processo judicial. - gostaria que alguém tivesse me avisado isso antes de eu ir para jacksonville. Paris rejeitou essa idéia dizendo que ele já devia saber. Que era uma política que stan devia ter adotado sem precisar de aviso nenhum. Ela também evitou chamá-lo De imbecil por fazer aquilo em qualquer circunstância. Stan olhou de lado para ela com expressão magoada. - todo mundo pensa que sou gay? Era bem típico de stan dar prioridade ao ponto menos importante. - você se veste bem demais. O eletricista que tinha copiado as gravações entrou na sala e disse a paris que as fitas cassete estavam prontas e que as tinha deixado na mesa da recepção. - mais fitas? - perguntou stan. - essa pode não ter sido a primeira vez que valentino anunciou um assassinato telefonando para mim. - o que aconteceu na noite passada depois que malloy e você saíram correndo daqui? Estou vendo que não pegaram valentino. - não, infelizmente. - paris contou a história do telefone público da loja walmart. - as viaturas chegaram lá em poucos minutos, mas não havia ninguém. - eu soube da menina desaparecida pelo noticiário esta manhã. E também apareceu na primeira página do jornal. Paris fez que sim com a cabeça, lembrando da citação do juiz kemp. Os pais de janey estavam se agarrando à crença de que a ausência dela era voluntária, o que, para paris, era um erro monumental. Por outro lado, esperava que tivessem razão. Paris levantou, pegou sua bolsa e se preparou para sair. - vejo você à noite, stan. - quem é dean malloy? A pergunta apareceu do nada e pegou paris desprevenida. - eu já disse. Psicólogo da polícia de austin. - que faz bico de guarda-costas? - stan olhou para paris com ar irônico. quando deixei aquelas fitas cassete na sua casa ontem à noite, o policial me
disse que Malloy estava com você lá dentro. - não estou entendendo onde quer chegar. - porque não quer, eu acho. Quem é malloy para você, paris? Se não dissesse nada, stan poderia investigar por conta própria e descobrir mais do que paris gostaria Que soubesse. - nós nos conhecemos em houston anos atrás. - hã-hã. Imagino que se conheceram muito bem. - não muito bem, stan. Bem demais. Ele era o melhor amigo do jack. Encerrando a conversa com isso, paris deu a volta em stan e foi para a porta. Mas, chegando na soleira, parou e virou para trás. - o que você sabe sobre o marvin? - só que ele é esquisito. - ele mexe com computador, com a internet? Stan fungou. - e eu lá sei? Não troquei mais do que um ou dois grunhidos com ele. Por que esse interesse repentino? Paris hesitou um pouco, sem saber se a aparente fuga de marvin era informação que curtis preferia não revelar. - por nada. Vejo você à noite. Paris e o sargento curtis se esconderam numa pequena sala de interrogatório e sentaram de frente um para o outro, a uma mesa cheia de marcas. Sobre ela estavam o Gravador portátil que o detetive havia usado na véspera e as fitas cassete que paris tinha levado da rádio. Começaram a procurar os telefonemas de valentino, ouvindo as fitas gravadas até uma semana antes do desaparecimento de maddie robinson. No dia anterior, dean e ela Tinham concordado que valentino estava alterando a voz. O disfarce era marcante e ficava reconhecível instantaneamente, portanto eles podiam acelerar as fitas com As vozes que obviamente não eram a dele. Curtis saiu rapidamente da sala para pegar café. Ao voltar, paris disse, animada: - acho que encontrei. Não temos a etiqueta com data e hora como teríamos no vox pró, mas está numa fita com as gravações feitas mais ou menos naquela época. Ele Estava especialmente mal-humorado aquela noite, mas pus a ligação no ar, de qualquer maneira. As coisas que ele disse provocaram ligações de outros ouvintes que Mantiveram minhas linhas ocupadas por horas. Curtis sentou. - você o transformou numa celebridade aquela noite. - sem querer, posso garantir. Está pronto? - paris ligou a fita. As mulheres são falsas, paris. Por que será? Você é mulher. Quando você tem um homem praticamente comendo na sua mão, por que há de querer outro? Qualidade não é Melhor do que quantidade? Sinto muito você estar infeliz esta noite, valentino. Não estou infeliz. Estou zangado. Nem toda mulher é infiel. Essa tem sido a minha experiência. Você simplesmente não encontrou a mulher certa ainda. Gostaria de ouvir uma música especial esta noite? Qual? Barbra streisand numa interpretação maravilhosa de "cry me a river". É clichê, mas tudo que vai, volta. Ponha a música, paris. Mas, mesmo se ela for jogada fora como eu fui, não será a retaliação que ela merece. Paris parou a fita e olhou para curtis, que estava pensativo, rodando o anel no
dedo de novo. - penso que a retaliação que ele achava que ela merecia era ser estrangulada até morrer e enterrada na bosta do pasto das vacas. Desculpe o meu francês - disse ele. Paris abaixou a cabeça e massageou as têmporas. - eu nunca teria imaginado, ouvindo o que ele disse, que planejava matá-la. - ei, não se incrimine por isso. Você não lê pensamentos. - eu não detectei uma ameaça concreta no que ele disse. - e ninguém poderia. Aliás, nós ainda estamos adivinhando. Valentino pode não ter ligação nenhuma com maddie robinson. Paris abaixou as mãos e olhou para curtis. - mas você acha que há ligação, não acha? Antes de curtis responder, john rondeau abriu a porta. E deu um enorme sorriso para paris. - bom-dia. - oi, john. Pareceu satisfeito de paris lembrar seu nome. - algum progresso? - achamos que sim. - eu também. - ele olhou para curtis. - podemos conversar lá fora um instante? Curtis levantou da cadeira. - volto num segundo. - vou ver se consigo encontrar outras ligações de valentino. O detetive saiu com o jovem policial e ficou fora muito mais Tempo do que um segundo. Quando retornou à sala, paris havia marcado mais um ponto. - essa ligação está na mesma fita, o que significa que deve ter uma diferença de apenas alguns dias da outra. "é um valentino completamente diferente. Muito entusiasmado. Ele afirma que a amante infiel está 'fora da vida dele' e enfatiza as palavras 'para sempre'. Você vai Ouvir na fita a diferença do humor dele." Paris sentiu que curtis não prestava muita atenção e parecia distraído, então perguntou: - alguma coisa errada? - pode ser. Odeio pensar que isso pode ser muito sério, mas... - ele passou a mão na parte de trás do pescoço grosso como se começasse a doer repentinamente. - imagino que saiba que malloy tem um filho. - gavin. - você o conhece? - conheci quando ele era pequeno. Não o vejo desde quando tinha dez anos - a ansiedade de curtis era evidente. Paris sentiu uma pontada de medo por dean. por quê, Sargento? O que houve com gavin? O que aconteceu? Capítulo dezoito - gavin? -oi? Dean abriu a porta do quarto do filho e entrou. - ligue o seu computador. - hein? - você ouviu. Gavin estava deitado na cama, assistindo à espn. Devia ter algo mais construtivo para fazer do que ficar assistindo ao replay de um jogo de futebol entre dois times Europeus. Por que não estava de pé e vestido, fazendo alguma coisa, em vez de deitado, sem fazer nada, na cama? Porque eu não mandei, pensou dean. Tinha um filho preguiçoso porque era um pai preguiçoso. Tentar fazer gavin levantar o rabo da cama não valia as discussões que invariavelmente resultavam
disso. Ultimamente, para evitar brigas, dean andava deixando muita coisa passar. E não devia. Não estava querendo vencer uma disputa de popularidade com gavin. Não era Coleguinha dele, nem pastor, nem terapeuta. Era pai. Já passava da hora de começar a exercer a autoridade paterna com mais rigidez. Dean tirou o controle remoto da mão de gavin e desligou a televisão. - ligue o seu computador - repetiu. Gavin sentou na cama. - para quê? - acho que você sabe. - não, eu não sei. O tom desrespeitoso e a expressão insolente atiçaram o génio de dean. Sentiu que queimava, como uma brasa, dentro do peito. Mas não ia ceder. De jeito nenhum. - podemos ir direto para a polícia - disse dean, muito tenso -, onde estão esperando para interrogá-lo sobre o desaparecimento de janey kemp, ou então você pode Ligar a merda do seu computador para eu pelo menos saber o que vamos ter de enfrentar quando levá-lo para lá. De qualquer modo, os seus dias de enrolação comigo Acabaram. Dean tinha ficado em casa aquela manhã para organizar e digitar suas anotações sobre um suspeito que havia entrevistado alguns dias antes. O detetive que cuidava Desse caso já estava impaciente com a demora. Sabia que se fosse trabalhar na sua sala não teria condição de se concentrar em nada além de paris e do caso no qual ela estava envolvida. Não ia conseguir sair Do bci, onde sabia que paris e curtis estariam escutando as fitas. Por isso, telefonou para a srta. Lester, disse que ia trabalhar em casa e esforçou-se para fazer o relatório atrasado. Mal terminara essa tarefa quando robert curtis Ligou e deu a notícia que podia modificar toda a sua vida. - a polícia quer me interrogar? - perguntou gavin. - por quê? Dean estava se agarrando a um fiapo de esperança, de que John rondeau tivesse cometido um erro grave, mas a expressão preocupada de gavin não deixava a menor dúvida de que a informação estava correta. - você mentiu para mim, gavin. Você é um membro ativo do clube do sexo. Você trocou inúmeros e-mails com janey kemp e, com base no que vocês dois escreveram um para O outro, você a conhece muito melhor do que me fez acreditar. Vai negar isso? Gavin agora estava sentado na beira da cama, e a cabeça pendia entre os ombros curvados. - não. - quando foi a última vez que a viu? - na noite em que ela desapareceu. - que hora? - cedo. Oito e pouco. Ainda estava claro. - onde? - no lago. Ela está sempre lá. - você combinou de encontrá-la lá aquela noite? - não. Ela estava me tratando como um leproso nas últimas semanas. - por quê? - ela é assim. Faz você gostar dela, e aí, você sabe, você vira passado. Ouvi dizer que ela estava saindo com um outro cara. - qual é o nome dele? - não sei. Ninguém sabe. Dizem que é mais velho. - que idade? - não sei - gemeu gavin, já impaciente com todas aquelas perguntas. - trinta e alguma coisa, talvez. - e o que aconteceu naquela noite? - eu me aproximei dela e começamos a conversar.
- você estava furioso com ela - gavin olhou para o pai, perguntando com o olhar como é que ele sabia. - no seu último email, você a chamou de vadia. E coisa pior. Gavin engoliu em seco e abaixou a cabeça de novo. - não estava falando sério. - bem, não é assim que a polícia vai encarar isso. Especialmente porque ela está desaparecida desde aquela noite. - eu não sei o que aconteceu com ela. Juro por deus que não sei. Você não acredita em mim? Dean queria, desesperadamente, mas resistiu ao impulso de facilitar as coisas para gavin. Não era hora de pegar leve. Gavin precisava de uma atitude firme do pai, Não do cara bonzinho. - vamos tratar do que eu acredito mais tarde. Ligue o seu computador. Preciso ver até onde vai a gravidade da coisa. Gavin sentou à mesa do computador com relutância. Dean observou que ele digitava o nome de usuário e uma senha junto para entrar, e não precisaria disso se não tivesse Nada para esconder. A home page do clube do sexo tinha sido criada por amadores. Era a versão da era do ciberespaço do grafite de banheiro. Dean afastou gavin, sentou na cadeira dele E pôs a mão no mouse. - pai - gemeu gavin. Mas dean ignorou o apelo do filho e foi direto para o quadro de recados. Curtis tinha dado os nomes que gavin e janey usavam: lâmina e gata de botas, respectivamente. Durante dez minutos ficou rolando as mensagens, parando para ler as escritas pelo filho e pela filha do juiz. Era uma leitura difícil. 198 A última mensagem que gavin mandou para ela era grossa, insultante, e, agora, incriminadora. Arrasado, dean fechou o site e desligou o computador. Ficou olhando Alguns segundos para a tela branca do monitor, procurando associar quem tinha escrito o que acabava de ler com o menininho a quem tinha ensinado a usar a luva de Beisebol, o garoto com o sorriso desdentado e sardas no nariz, o menino cujo maior problema costumava ser o chulé. Dean não podia desperdiçar tempo nenhum curtindo seu desespero pessoal naquele momento. Devia deixar isso para depois. O que era urgente era livrar o filho de qualquer Suspeita. - essa é a hora que é melhor você jogar limpo comigo, gavin. Quero ajudá-lo, e vou ajudar. Mas se mentir para mim, vai me incapacitar e não poderei mais ajudar em Nada. Por isso, por pior que seja, tem mais alguma coisa que eu deva saber? - como o quê? - qualquer coisa sobre janey e você. Você fez sexo com ela realmente? - ele indicou o computador com um movimento de cabeça. - ou foi só conversa? Gavin olhou para o outro lado. - fizemos uma vez. - quando? - um mês, seis semanas atrás - disse ele, levantando os ombros. - pouco depois de conhecê-la. Mas já tínhamos trocado e-mails. Eu era o garoto novo na cidade. Acho Que foi só por isso que ela se interessou por mim. - onde foi que isso aconteceu? - uma galera enorme se encontrou num parque. Não me lembro do nome. Ela e eu nos afastamos do grupo, fomos para o meu carro. - ressentido, gavin acrescentou: -
você Alguma vez já fez no banco de trás do carro? Ele estava querendo provocar uma briga. A transferência de culpa era uma tática clássica para distrair, que dean reconheceu e se recusou a aceitar. - você usou camisinha? - é claro. - tem certeza? - tenho, caramba. - e esteve com ela só essa vez? Gavin mexeu os ombros, afastou uma mecha de cabelo da testa e olhou para todos os cantos, menos para dean. - gavin? Ele deu um suspiro teatral. - está bem, teve mais uma vez. Ela me deu um boquete. - as mesmas perguntas. - onde aconteceu? Nos fundos de uma boate na rua seis. - em público? - é, mais ou menos, eu acho. Quero dizer, estávamos na rua, mas não havia ninguém por perto. Dean viu uma imagem-relâmpago dele mesmo telefonando para pat para dizer que o bebê dela estava na cadeia por atentado ao pudor em público. Onde é que você estava, Dean?, ela perguntava. Onde é que ele estava mesmo enquanto o filho compunha cartas pornográficas e recebia boquetes em becos? Essa auto-acusação também tinha de ficar para depois. - essas duas vezes? Só isso? - é, ela esfriou, me descartou. - mas você não estava preparado para ser descartado. Gavin olhou para dean como se o pai fosse louco. - claro que não. Ela é quente. - para dizer o mínimo - disse dean a meia-voz. - se há mais alguma coisa, é melhor me contar. Não quero mais nenhuma surpresa cabeluda, algo que a polícia descobriu E que você não me disse. Gavin ficou lutando contra a indecisão pelo menos meio minuto, e só respondeu depois: - ela, é... - gavin abriu uma gaveta da mesa, tirou um exemplar do senhor dos anéis e pegou uma fotografia que tinha escondido entre as páginas do livro. ela me Deu isso naquela noite. Dean pegou a fotografia. Não sabia o que era mais espantoso, a pose obscena da menina ou o sorriso sem-vergonha. Guardou a foto no bolso da camisa. - vá tomar uma chuveirada e vista-se. - pai... - ande logo. Disseram para levá-lo para a polícia ao meiodia. Um advogado vai nos encontrar lá. Finalmente, a gravidade da situação parecia estar penetrando todas as camadas da insolência adolescente. - eu não preciso de advogado. - infelizmente precisa sim, gavin. - eu não fiz nada com a janey. Não acredita em mim, pai? O mau humor havia desaparecido. Gavin parecia muito jovem E assustado, e dean sentiu o mesmo aperto no coração que sentira na noite anterior, ao observá-lo dormindo. Queria abraçá-lo e assegurar que tudo ia dar certo. Mas não podia prometer isso, porque não sabia se era verdade. Queria dizer que acreditava nele sem restrições, Mas, infelizmente, não acreditava. Gavin tinha traído sua confiança muitas vezes.
Queria dizer que o amava, mas também não disse. Teve medo de que gavin o rejeitasse por ser tão pouco, e tão tarde. Paris já estava andando de um lado para outro no corredor havia mais de uma hora, esperando. Mesmo assim, reagiu assustada quando dean emergiu pela porta dupla do Bci, onde ele, gavin e um advogado tinham se reunido com curtis e rondeau numa sala de interrogatório. Dean pareceu surpreso ao vê-la. - eu não sabia que você estava aqui. - não podia ir embora até saber que estava tudo bem com gavin. - então você sabe? - eu estava com curtis ouvindo as fitas quando... - ela parou sem saber o que dizer. - quando meu filho virou suspeito? - até onde nós sabemos, nenhum crime foi cometido, e janey deve estar com uma amiga. - claro. É por isso que curtis está passando gavin no rolo compressor. Paris empurrou dean até um banco e o fez sentar. Era um banco feio e deprimente, uma estrutura vagabunda de metal segurando uma almofada de vinil azul com o enchimento Saindo por inúmeros rasgões. Talvez tivesse sido rasgado pelas mãos inquietas de testemunhas, suspeitos e vítimas que ocupavam aquele mesmo Banco enquanto se desesperavam com seu destino ou com o de alguém que amavam. Não estariam naquele lugar se suas vidas não estivessem de cabeça para baixo, talvez Permanentemente. - como o gavin está reagindo? - perguntou paris, baixinho. - ele está se controlando. Sem nenhuma atitude agressiva, graças a deus. Acho que finalmente entendeu que está numa grande merda. - só porque trocou e-mails sexualmente explícitos com janey. Mas muitos outros também fizeram isso. - é, mas gavin demonstrou um talento realmente criativo disse dean, com uma risada amarga. - mostraram para você alguma coisa que ele escreveu? - não. Mas mesmo se eu tivesse lido, não teria modificado a opinião que tenho dele. Ele era um menino maravilhoso, e será um jovem de bem. - dois dias atrás, eu pensava que fugir do castigo era uma grande ofensa. Agora... Isso. Meu deus. Dean deu um suspiro, apoiou os cotovelos nos joelhos e cobriu o rosto com as mãos. Paris pôs a mão no ombro dele. Foi instintivo. Ele precisava ser tocado, e ela precisava tocar nele. - você falou com a pat? - não. Para que incomodá-la se não for nada além de alguns e-mails pornográficos? - tenho certeza de que será só isso mesmo. - eu espero. Ele contou duas vezes o que fez aquela noite para nós. As histórias não mudaram. - então ele deve estar dizendo a verdade. - ou a mentira foi muito bem ensaiada. Olhando bem para a frente, para a escada do outro lado do corredor, dean encostou os dedos cruzados na boca. - converso com mentirosos todos os dias, paris. A maioria das pessoas mente, umas mais, outras menos. Algumas nem percebem que estão mentindo. Elas dizem a mesma Coisa, ou acreditam em alguma coisa por tanto tempo que isso se transforma na verdade delas. O meu trabalho é filtrar tudo que não vale nada e chegar à verdade dos Fatos. Quando dean parou de falar, paris permaneceu em silêncio, dando-lhe uma
oportunidade para organizar seus pensamentos. O calor da pele dele se irradiava para o ombro, E para a palma da mão dela. - gavin admite ter voltado para casa de carro sozinho, bêbado - disse ele. admite ter parado no caminho para vomitar no jardim de alguém e ter me desobedecido Saindo de casa. "reconhece que gosta de janey, ou pelo menos do que eles fizeram. Diz que conversou com ela aquela noite e tentou persuadi-la a ir para algum outro lugar com ele. Ela recusou na lata. "ele se enfureceu, disse coisas, e algumas dessas coisas nem consigo acreditar que saíram da boca do meu filho. Ele confessou ter ficado furioso quando a deixou, Mas insiste que se afastou dela. Disse que juntou-se a um grupo de rapazes e ficou com eles, bebendo tequila, até resolver voltar para casa. Não viu mais a janey." Dean virou a cabeça e olhou bem nos olhos de paris. - eu acredito nele, paris. - ótimo. - estou sendo ingénuo? Será que estou vendo apenas o que desejo ver? - não. Acho que acredita nele porque ele está dizendo a verdade. - paris apertou de leve o ombro de dean para tranqüilizálo. - eu posso fazer alguma coisa? - jante conosco hoje. Comigo e com gavin. Sem esperar o convite, paris tirou rapidamente a mão do ombro dele e desviou o olhar. - eu trabalho à noite, esqueceu? - temos muito tempo para jantar antes de você ir para a estação. Podemos ir cedo. Ela balançou a cabeça. - tenho um compromisso esta tarde que não pode ser adiado. Além do mais, não acho que seja uma boa idéia. - pelo que aconteceu ontem à noite? -não. - sim. Irritada com a sensibilidade dele, paris reconheceu: - está bem, é sim. - porque você sabe que se estivermos juntos vai acontecer de novo. - não vai não. - vai sim, paris. Você sabe que vai. Além do mais, você deseja isso tanto quanto eu. - eu... - dean? Ao ouvir o nome dele, os dois se afastaram rapidamente. Uma mulher acabava de sair de um dos elevadores e ia na direção deles. Havia uma única palavra para descrevê-la: Estonteante. O tailleur feito sob medida enfatizava suas curvas, em vez de suavizá-las. Pernas exuberantes ficavam à mostra com uma saia curta e saltos altos. Brilho labial e Rímel compunham a única maquiagem que usava, e não precisava de mais nada. Não usava jóias tampouco, apenas brincos simples, uma corrente fina no pescoço e um relógio De pulso. O cabelo louro, até os ombros, estava repartido no meio, solto, clássico e sem complicações. Uma californiana com roupa de executiva poderosa. Dean ficou de pé. - liz. Ela presenteou dean com um sorriso deslumbrante. - correu tudo bem em chicago e fechei o negócio um dia mais cedo. Troquei as conexões de vôo e pensei em surpreendêlo chegando para almoçar. A srta. Lester
disse Que podia encontrá-lo aqui, e tudo indica que consegui fazer uma surpresa e tanto. Liz abraçou dean, deu-lhe um beijo na boca, depois um sorriso simpático e aberto para paris. -olá. Dean apresentou as duas laconicamente: - liz douglas, paris gibson. Paris não se lembrava de ter se levantado, mas surpreendeu-se cara a cara com liz douglas, que tinha um aperto de mão firme, como uma mulher acostumada a fazer negócios, Principalmente com homens. - como vai? - paris a cumprimentou, sem graça. - é um prazer conhecê-la. Você é da polícia? Trabalha com dean? Liz procurava ver através das lentes escuras dos óculos de paris, e provavelmente concluiu que era da polícia secreta. - não, eu trabalho numa rádio. - é mesmo? Tem um programa? - tarde da noite. - desculpe, eu não... - nem precisa se desculpar - disse paris. - o meu programa começa quando a maioria das pessoas já está dormindo. Depois de um breve e constrangedor lapso na conversa, dean disse: - paris e eu nos conhecemos em houston. Anos atrás. - ah - disse liz douglas, como se essa explicação esclarecesse tudo. - vocês têm de me dar licença. Estou atrasada para um compromisso. - paris virou para dean. - tudo vai acabar bem. Eu sei que vai. Por favor, diga oi para o gavin Por mim. Srta. Douglas, foi um prazer conhecê-la. Paris saiu apressada e foi para o elevador. Dean gritou o nome dela, mas paris fingiu não ouvir e continuou andando. Desapareceu de vista e ouviu liz douglas dizer: - estou com a nítida impressão de que interrompi alguma coisa. Ela está com algum problema? - na verdade, sou eu que estou - respondeu ele. - gavin e eu. - meu deus, o que aconteceu? Nesse momento, o elevador chegou. Paris entrou e deu graças de ser a única passageira. Encostou na parede do fundo quando as portas se fecharam. Não ouviu mais a Conversa de liz com dean. Mas nem precisava. A familiaridade com que se beijaram já dizia muito. Ele não ia mais precisar da mão dela no ombro. Agora tinha liz para consolá-lo. Gavin sabia que mesmo que vivesse cem anos, aquele seria o pior dia da sua vida. Para ir à polícia, tinha posto suas melhores roupas e não precisou sequer seu pai recomendar. Deviam estar perdidas agora, Porque fazia uma hora que suava por todos os poros. O bodum nunca mais ia sair. Na televisão e no cinema, os suspeitos interrogados pareciam culpados com sua linguagem corporal. Por isso, gavin procurou não ficar se mexendo na cadeira desconfortável. Sentou com as costas bem retas. Não deixou os olhos vagarem pela saleta, olhou diretamente para o sargento curtis. Quando o sargento fazia uma pergunta, não ficava Elaborando, dizia a verdade de forma concisa, apesar do assunto ser constrangedor. Seguiu o conselho do pai, que agora não era mais hora de omitir informações. Não que estivesse tentando encobrir algo. Eles já sabiam dos e-mails, do clube do sexo, Tudo isso. Ele não sabia do paradeiro de janey kemp, nem o que tinha acontecido com ela. Como a polícia, não tinha pista nenhuma do destino dela. Sim, tinha feito sexo com ela. Mas todos os caras que conheceu desde a chegada em austin também, exceto seu pai e os homens naquela sala.
Todos menos um. E, mais do que as insistentes perguntas de curtis, era exatamente aquele que fazia gavin transpirar. Tinha sido apresentado como john rondeau. No minuto em que rondeau entrou na sala, gavin o reconheceu. Afinal, tinha visto o homem na véspera com duas gatas peitudas saindo do banco de trás de um carro. E com a mais absoluta certeza, não era um grupo de oração. E sem dúvida o jovem policial também o reconheceu. Ao ver gavin, os olhos dele se arregalaram um pouco, mas voltaram ao normal num milésimo de segundo. Depois ele Adotou um olhar fixo de alerta que fez os testículos de gavin encolherem, e emudecer qualquer comentário que pudesse fazer sobre ter visto aquele cara antes. Os outros, inclusive o pai dele, provavelmente acharam que o olhar de rondeau era uma reprovação séria dos e-mails que gavin tinha trocado com janey. Mas gavin sabia. Gavin sabia que rondeau o ameaçava com conseqüências graves se traísse suas atividades extracurriculares para seus superiores. Gavin ficou com mais medo ainda quando curtis pediu para o pai dele sair da sala. Recentemente, o pai estava sendo muito Chato, reclamando de tudo. Tinha chegado a um ponto em que gavin não suportava nem vê-lo, sabendo que já ia fazer um sermão sobre alguma coisa. Hoje, porém, estava Contente de ter o pai ao seu lado. E, por pior que a situação pudesse ficar, gavin sabia que o pai não ia abandoná-lo. Lembrou-se de uma vez que foram para a costa do golfo, passar um fim de semana prolongado. O pai tinha avisado para gavin não nadar muito para longe da praia. - as ondas são mais fortes e maiores do que parecem da praia. Há também uma forte correnteza. Tome cuidado. Mas ele quis impressionar o pai mostrando que era bom nadador e que pegava onda muito bem. E de repente perdeu o pé e as ondas não davam trégua. Entrou em pânico E afundou. As ondas quebravam em cima dele, e gavin sabia que estava condenado a morrer afogado. Então um braço forte o agarrou pelo peito e o puxou para a superfície. - tudo bem, filho, eu te peguei. Gavin cuspia água e se debatia, ainda tentando tomar pé. - relaxe e encoste em mim, gavin. Não vou soltá-lo. Prometo. O pai rebocou-o até a praia. E não lhe deu nenhuma bronca quando chegaram lá. Ele não disse: "garoto burro, eu não avisei? Quando é que vai aprender a ouvir o que Eu digo?" Só ficou muito preocupado enquanto batia nas costas dele, até gavin tossir e cuspir toda a água do mar que tinha engolido. Depois enrolou-o numa toalha de praia E o abraçou com força, apertando-o de lado por bastante tempo. Sem dizer nada. Só olhando fixo para o mar, segurando o filho. Quando o fim de semana terminou e a mãe perguntou se tinha corrido tudo bem, o pai piscou para ele e disse que tinha sido tudo ótimo. - nós nos divertimos muito. Ele nunca disse para ela que gavin teria morrido se não o salvasse. Gavin confiava que o pai também estaria lá hoje para agarrálo se ele afundasse. O pai dele era assim. Uma boa pessoa para ter por perto numa crise. Por isso, ficou estressado quando o detetive pediu para dean esperar lá fora enquanto conversava com gavin sozinho. - eu saio, mas só se o advogado ficar - estipulou o pai dele. Curtis concordou. Antes de sair, o pai olhou para ele e disse: - estou aqui fora, filho. E gavin teve certeza de que estaria mesmo. Depois que dean saiu, curtis olhou para ele tão sério que gavin começou a se
encolher, apesar de ter resolvido que não ia se mexer. Já estava imaginando se o detetive Tinha ficado mudo quando ele disse: - sei que é difícil falar sobre certas coisas na frente do seu pai. Garotas e sexo. Coisas assim. - sim, senhor. - agora que seu pai não está mais aqui, gostaria de fazer umas perguntas mais pessoais. Mais pessoais do que as outras? Devem estar brincando comigo. Foi isso que gavin pensou, mas disse: - está bem. Porém, as perguntas foram basicamente as mesmas que o pai tinha feito antes de sair de casa. Gavin respondeu para curtis com a mesma naturalidade. Contou as vezes Que janey e ele fizeram sexo. - você não teve nenhuma atividade sexual com ela naquela última noite que a viu? - não, senhor. - você a viu fazendo sexo com mais alguém? O quê? Eles achavam que ele ia ficar espiando? Será que pensavam que ele era doente? - eu não chegaria perto dela e começaria a conversar se ela estivesse com outro cara. - você encostou nela? - não, senhor. Uma vez tentei segurar a mão dela, mas ela não deixou. Disse que eu era carente e que a minha carência era uma chatice. - foi aí que a chamou de puta e o resto? - sim, senhor. - que roupa ela estava usando? Roupa? Gavin não conseguia lembrar. Quando se lembrava da imagem dela, só via o rosto, os olhos ardentes, o sorriso que era sedutor e cruel ao mesmo tempo. - não lembro. Curtis olhou para rondeau. - lembra-se de qualquer outra coisa? - onde conseguiu a foto dela? Gavin morria de medo de olhar diretamente para ele, mas olhou. - foi ela que me deu. - quando? - naquela noite. Ela disse: "sai dessa, gavin." então me deu a foto. Chamou de "suvenir". Disse que quando sentisse saudade dela, podia usá-la, sabe como é, para Me masturbar. - ela disse quem tirou a foto? - um cara com quem ela estava saindo. - ela disse o nome dele? - não. - você perguntou? - não. Curtis esperou para ver se rondeau ia perguntar mais alguma coisa, mas quando o policial recostou na cadeira, satisfeito, curtis se levantou. - por enquanto é só, gavin. A não ser que você se lembre de mais alguma coisa. - não, senhor. - se lembrar, avise-me ou conte ao seu pai imediatamente. - pode deixar, senhor. Espero que a encontrem logo. - nós também. Obrigado pela sua colaboração. Como prometeu, seu pai o esperava fora do bci, mas gavin ficou surpreso ao ver que liz estava com ele. Ela correu imediatamente em sua direção. Perguntou se estava Bem e o sufocou com um abraço. - eu preciso ir ao banheiro - murmurou gavin e se afastou antes que alguém
pudesse detê-lo. Não havia ninguém no mictório. Gavin entrou num dos cubículos e verificou se havia pés nos outros. Certo de que estava sozinho, inclinou-se sobre a privada e vomitou. Não tinha comido Muito aquele dia, só tomado o café da manhã, por isso cuspiu mais bile e depois teve espasmos secos, até os vasos sanguíneos no pescoço ficarem a ponto de explodir. Os espasmos de náusea foram tão violentos que deixaram toda a parte de cima do corpo dolorida. Só vomitara de medo uma vez antes dessa. Quando tinha catorze anos, saiu escondido com o carro da mãe. Ela saíra com o homem com quem acabou se casando. Como havia Abandonado o filho para jantar com um bundão, gavin achou que era bem feito para ela sair com seu carro, desobedecendo a lei. Só foi até o McDonald’s mais próximo, onde devorou um big mac. Voltando para casa, quando faltava apenas um quarteirão, um filhote de golden retriever de um vizinho Apareceu bem na frente do carro. O cachorrinho era o assunto da vizinhança. Era bonitinho e carinhoso, e quando gavin foi conhecê-lo alguns dias antes, o bichinho Lambeu animadíssimo o seu rosto. Gavin freou a tempo de evitar uma tragédia, mas quase matou o filhote, de modo que ao chegar em casa vomitou o lanche obtido ilegalmente. Sua mãe nunca soube que Ele pegou o carro, e o filhote cresceu e virou um cachorro que ainda se desenvolvia. Fora a consciência culpada, gavin não teve de enfrentar nenhuma conseqüência. Mas dessa vez não teve tanta sorte. Apertou a descarga duas vezes antes de sair do cubículo. Foi até a pia, jogou água no rosto com as duas mãos em concha, lavou a boca diversas vezes, depois jogou Mais água no rosto antes de fechar a torneira e endireitar o corpo. Nem tinha registrado direito que rondeau estava lá e o policial já punha uma das mãos na sua nuca, segurava com força seu pulso com a outra, e empurrava a mão de Gavin para cima, entre as omoplatas. Capítulo dezenove Rondeau bateu o rosto de gavin no espelho. O impacto foi tão grande que o garoto se surpreendeu do vidro não ter rachado. Não tinha tanta certeza, no entanto, quanto À maçã do seu rosto. A dor trouxe-lhe lágrimas pouco másculas aos olhos. Parecia que o braço estava sendo arrancado do ombro. - me solta, babaca - disse gavin, ofegante. Rondeau sibilou diretamente na orelha dele: - você e eu temos um segredo, não temos? - eu conheço o seu segredo, policial rondeau - os lábios de gavin estavam amassados contra o espelho, mas ele conseguia se fazer entender. - quando está de folga Da polícia, você fode as garotinhas. Rondeau empurrou a mão de gavin mais para cima ainda, e, apesar da determinação do rapaz de não demonstrar medo, ele gritou. - agora eu vou dizer qual é o seu segredo, gavin - sussurrou rondeau. - eu não tenho segredo nenhum. - claro que tem. Você se cansou dos jogos daquela putinha. Achou que já era hora de dar uma lição nela. Por isso marcou um encontro. Ela ficou violenta e você perdeu A cabeça.
- você está maluco. - estava com tanta raiva, tão humilhado, que acabou surtando, gavin. Com a cabeça daquele jeito, nem posso imaginar o que fez com ela. - eu não fiz nada. - claro que fez, gavin - disse rondeau com a voz suave. Você tinha o motivo perfeito. Ela dá o fora em você, depois o transforma em motivo de chacota. Ridiculariza Você no quadro de recados, para todo mundo ler. Um "imprestável na cama". Não foi assim que ela se referiu a você? Você não podia aturar isso. Tinha de fazê-la calar a boca. Para sempre. A lábia de vendedor de rondeau fez aquele cenário parecer plausível. Gavin entrou em pânico só de pensar quantos outros policiais, inclusive o sargento curtis, rondeau Poderia convencer. - tudo bem, ela debochou de mim e fiquei furioso com ela. Mas o resto é besteira. Estava com amigos aquela noite. Eles podem confirmar isso. - um bando de caipiras e garotos sarados, doidões de tequila e fumo? - zombou rondeau. - pensa que o testemunho deles vai colar no tribunal? - tribunal? - espero que tenha um outro álibi preparado, gavin. Algo mais forte do que o testemunho daqueles bundões com quem você costuma sair. - não preciso de álibi nenhum porque não fiz nada com a janey, a não ser conversar com ela. - você não bateu na cabeça dela com uma chave de pneu e rolou o corpo dela para o lago? - meu deus! Não! - você não está se cagando de medo só de pensar quando vão encontrar o corpo dela? Aposto que arrumo alguém para testemunhar que viu você e janey brigando. - seria mentira. Eu não fiz nada. Rondeau chegou mais perto ainda e amassou as coxas de gavin na pia. - se você fez ou não fez, eu não dou a mínima, gavin. Eles podem te soltar, ou podem mandá-lo para a prisão pelo resto da vida, para mim não faz diferença nenhuma. Mas se você me dedurar, vou cuidar para que pareça muito culpado. Vou fazer todo mundo acreditar que... - que porra está acontecendo aqui? Gavin sentiu o movimento do ar logo depois de ouvir a exclamação retumbante do pai na porta do banheiro. Dean arrancou rondeau de cima do filho e o imprensou contra A parede de azulejos, depois usou a mão como um grampo no pescoço do policial para imobilizá-lo. - que porra você pensa que está fazendo? - a voz de dean reverberou em cada superfície concreta do banheiro. - gavin, você está bem? A maçã do rosto latejava e o ombro doía à beça, mas gavin não ia se queixar na frente de rondeau. - eu estou bem. O pai o examinou bem, como se quisesse certificar-se de que o filho não estava gravemente ferido, depois virou para rondeau. - é melhor explicar isso direitinho. - sinto muito, dr. Malloy. Eu estava lendo aquelas coisas que seu filho escreveu. São simplesmente... Uma parte é nojenta. Eu tenho mãe, tenho uma irmã. Ninguém Devia falar das mulheres desse jeito. Quando entrei aqui para mijar, eu o vi, e acho que perdi a cabeça. Gavin não queria estar no lugar de rondeau. Seu pai estava praticamente soprando fogo na cara dele e não tinha relaxado a pressão no pescoço. A cara de rondeau estava Ficando vermelha, mas ele permaneceu completamente imóvel, como se tivesse medo de fazer qualquer movimento e deflagrar uma erupção de ira que não seria capaz
de Combater. Finalmente, dean abaixou a mão, mas seus olhos foram tão eficientes quanto a pegada para manter rondeau grudado na parede. A voz de dean era baixa e controlada, Mas ameaçadora: - se encostar um dedo no meu filho de novo, eu torço a porra do seu pescoço. Está entendendo? - senhor, eu... - está entendendo? Rondeau engoliu em seco, fez que sim com a cabeça e depois disse: - sim, senhor. Apesar da docilidade de rondeau, dean ainda demorou alguns segundos para livrálo do seu olhar e chegar para trás. Estendeu o braço para gavin. - vamos, filho. Gavin olhou para rondeau quando passou por ele. O jovem policial podia ter convencido seu pai de que tinha sentido uma onda incontrolável de indignação pela qual Estava sinceramente arrependido. Mas gavin não era bobo. Em vez de criar mais problemas para ele mesmo, guardaria o segredinho sujo de rondeau. E daí se o policial levava uma vida dupla que incluía Foder com menores de idade? As meninas pareciam não se importar. Depois de sair do banheiro, gavin olhou de soslaio para o pai. Com os maxilares rígidos, ele parecia pronto para concretizar a ameaça de torcer o pescoço de rondeau. Ficou aliviado de não ser o alvo daquela fúria fervente. Descobriu que a maçã do rosto logo ficaria roxa, e provavelmente já estava começando a perder a cor, porque no instante em que liz viu os dois, ela soube que alguma Coisa tinha acontecido. - o que houve? - nada, liz - disse dean. - está tudo bem, mas não vou poder almoçar. O sargento curtis está me procurando. Parecia que enquanto estava no banheiro, vomitando as tripas, o pai havia contado para liz o que estava acontecendo. - ele quer que eu fale com alguém. Sinto muito por você ter encurtado a sua viagem para voltar mais depressa para essa confusão toda. - se a confusão é sua, é minha também - disse ela. - obrigado. Eu ligo para falar com você em casa, à noite. - posso esperar até você sair. Dean balançou a cabeça. - não tenho idéia do tempo que vou levar. Isso pode demorar o resto da tarde. - ah, entendo. Bem... - liz parecia tão decepcionada que gavin sentiu pena dela. - você é valioso demais por aqui e acaba sobrecarregado. Quer que eu dê uma carona Para o gavin até em casa? Gavin gemeu em pensamento: não, por favor. Liz era legal. Era certamente uma visão maravilhosa. Mas fazia força demais para conquistar a simpatia dele. Muitas vezes Seus esforços eram tão transparentes que chegavam a irritar. Ele não era uma criancinha que podia ser seduzida por uma conversa interessante e por alguém que demonstrasse Interesse demais por ele. - agradeço a oferta, liz, mas vou mandar gavin para casa No meu carro. Gavin virou de estalo para o pai, achando que não devia ter ouvido direito. Mas não, dean estava entregando as chaves do carro para ele. Dois dias antes, tinha feito Gavin entregar as chaves da sua lata velha. Agora confiava a ele seu carro
importado e caro. Essa demonstração de confiança significava mais do que a ameaça de morte contra rondeau. Proteger o filho era o que todos faziam, mas confiar nele era uma opção, E seu pai tinha resolvido confiar, mesmo sem gavin ter dado nenhum motivo para isso. Na verdade, tinha dado todos os motivos para não confiar. Era uma coisa que precisava pensar e analisar. Porém, mais tarde, quando estivesse sozinho. - eu telefono quando for sair, gavin. Você pode voltar para me pegar. Está bem assim para você? A garganta de gavin estava apertada demais, mas ele conseguiu guinchar. - claro, pai. Vou esperar você ligar. Apesar da situação atual estar caótica, paris não usou isso como mais uma desculpa para adiar a viagem necessária para meadowview. E talvez depois de beijar dean na véspera, a sensação de culpa também a tivesse motivado a telefonar para o diretor da clínica e dizer que estaria lá às três horas. Paris chegou pontualmente às três, e o diretor já estava no átrio da entrada para recebê-la. Apertaram-se as mãos, e ele, parecendo envergonhado, pediu desculpas Pelo tom agressivo da carta que paris tinha recebido no dia anterior. - pensando melhor, eu queria que o meu palavreado não tivesse sido tão... - não precisa se desculpar - disse paris. - a sua carta me obrigou a fazer uma coisa que já devia ter feito há meses. - espero que não pense que não tenho consideração pela sua dor - disse ele, conduzindo paris pelo corredor silencioso. - de jeito nenhum. Os pertences de jack tinham sido postos no almoxarifado. Depois de destrancar a porta, o diretor apontou para três caixas Seladas e empilhadas numa estante de metal. Não eram grandes e não continham grande coisa. Paris poderia facilmente carregar tudo sozinha até o carro, mas ele insistiu Em ajudar. - desculpe qualquer transtorno que o meu atraso possa ter causado para o senhor e a sua equipe - disse paris enquanto punha as caixas na mala do carro. - eu compreendo que preferisse ficar longe daqui. O hospital não podia ter boas lembranças para a senhorita. - não, mas eu nunca tive de me preocupar com o tratamento que jack recebeu aqui. Obrigada. - a sua generosa doação já foi agradecimento suficiente. Depois de acertar as contas elevadas do tratamento médico De jack, paris doou o restante do patrimônio dele para a clínica, inclusive o seguro de vida que ele fez quando ficaram noivos. Ela era a beneficiária, mas jamais Poderia ficar com o dinheiro. Paris e o diretor se despediram no estacionamento de meadowview sob um sol escaldante, sabendo que seria muito difícil voltarem a se encontrar. Agora as três caixas estavam na mesa da cozinha da casa de paris. Jamais chegaria a hora melhor para abri-las, e paris preferia acabar logo com aquilo do que continuar A fugir. Usou uma faca de trinchar e abriu a fita adesiva das três caixas. Na primeira havia pijamas. Quatro conjuntos, bem dobrados. Paris comprou aqueles pijamas para ele assim que foi para meadowview. Estavam bem macios depois de lavados Tantas vezes, mas continuavam saturados do cheiro anti-séptico que paris associava aos corredores do hospital. Fechou a caixa. A segunda tinha quase só papéis, aqueles documentos autenticados com três cópias das companhias de seguro, dos tribunais municipais, hospitais, conselhos médicos E de advogados que reduziam jack donner a um número do seguro social, a uma
estatística, um cliente, um valor para um contador tabular. Como testamenteira dele, paris teve de lidar com todas as questões legais inerentes à morte de alguém. Todos os "pelo qual" e "anexo" eram pretéritos agora, os documentos Obsoletos. Paris não precisava, nem queria, lê-los de novo. Só faltava a terceira caixa. Era a menor das três. Mesmo antes de abrir, paris já sabia que o conteúdo seria o mais perturbador, porque o que havia dentro daquela caixa eram os objetos pessoais de jack. O relógio de pulso. A carteira. Alguns livros preferidos, que paris lia para ele Em voz alta nas visitas diárias a meadowview. Uma fotografia num porta-retratos dos pais dele, que já tinham morrido quando paris o conheceu. Achava que era uma Bênção não terem vivido para ver o único filho naquele estado. Logo depois de levá-lo para meadowview, paris tinha desmontado a casa dele. Doou as roupas para caridade. Depois, enchendo-se de coragem, vendeu a mobília, o carro, Os esquis de neve, o barco para pesca de perca, as raquetes de tênis, o violão, e mais tarde a própria casa, para pagar as despesas médicas astronômicas que o seguro não cobria. Então aquilo era tudo que jack donner possuía quando morreu. Ficou reduzido a nada, nem mesmo sua dignidade. A carteira estava macia de tanto uso. Os cartões de crédito, há muito cancelados, continuavam no porta-cartões. Atrás de uma proteção de plástico, o rosto dela sorrindo. Paris notou que havia um pedaço de papel atrás da foto e puxou. Era um artigo de jornal que jack tinha dobrado inúmeras vezes, até caber atrás da foto dela. Paris desdobrou e viu outra foto dela. Só que essa não era um retrato lisonjeiro de estúdio. Tinha sido tirada por um fotógrafo de jornal. Ele a capturou com ar De cansaço, desarrumada e desiludida, olhando para longe, com o microfone esquecido na mão abaixada. O título dizia "cobertura da carreira". Com lágrimas queimando os olhos, paris esfregou as pontas do pedaço de jornal com os dedos. Jack tinha ficado muito orgulhoso com o trabalho que paris tinha feito, Tão orgulhoso que resolveu guardar o artigo do jornal. Será que em algum momento depois disso ele se deu conta da cruel ironia de sentir orgulho pelo trabalho dela, Especificamente naquela história? Era curioso que uma pessoa completamente desconhecida, alguém que os dois nunca tinham visto, tivesse provocado um impacto tão catalítico em suas vidas. O nome dele Era albert dorrie. Ele mudou o destino de jack e de paris naquele dia que resolveu tornar refém a própria família. A manhã de terça-feira tinha sido tranqüila até a história estourar, logo antes do almoço. Quando o pessoal na sala de redação ouviu dizer que uma mulher e os três Filhos estavam sob a mira de uma arma dentro da própria casa, entrou logo em atividade. Designaram um câmera para ir ao local. Enquanto ele juntava apressado o seu Equipamento, o editor fazia um rápido inventário dos repórteres disponíveis. - quem está livre? - rosnou ele. - eu. - paris lembrava de ter levantado a mão como aluna de colégio que sabia a resposta certa. - você tem de gravar a voz em off para aquela história da prevenção do câncer de cólon. - já gravei e já está com o editor. O jornalista veterano rolou o cigarro, que não acendia nunca dentro do prédio, de um lado para outro nos lábios manchados de nicotina, enquanto examinava paris com A testa franzida. - tudo bem, gibson, você vai. Vou mandar o marshall substituir você quando ele
terminar o trabalho no tribunal. Nesse meiotempo, tente não fazer muita merda. Vá! Paris se aboletou na van da reportagem com o câmera. Estava excitada, ansiosa, animada para cobrir sua primeira história atual. O fotógrafo navegava com facilidade Pelo trânsito das avenidas de houston e cantarolava springsteen. - como pode estar tão calmo? - é que amanhã haverá outro maluco fazendo outra coisa igualmente psicótica. As histórias são sempre as mesmas. Só mudam os nomes. Ele tinha razão, até certo ponto, mas paris concluiu que aquela calma toda devia muito ao baseado que ele estava fumando. Tinham posto barricadas no fim de uma rua num bairro de classe média. Paris saltou da van e correu para perto dos outros repórteres que se acotovelavam em torno Do agente da swat que desempenhava o papel de porta-voz da polícia de houston. - a idade das crianças vai de quatro a sete - paris ouviu o homem dizer enquanto se esgueirava pelo meio da massa de gente. - o sr. E a sra. Dorrie estão divorciados Há alguns meses. Ela recentemente venceu uma disputa pela custódia dos filhos. É tudo que sabemos até o momento. - o sr. Dorrie se aborreceu com a decisão sobre a custódia? — berrou um repórter. - pode ser, mas isso é apenas especulação. - o senhor conversou com o sr. Dorrie? - ele não respondeu quando tentamos falar com ele. O câmera de paris conseguiu alcançá-la. Estendeu o braço no meio da multidão e entregou-lhe o microfone ligado na câmera dele. - então como sabe que ele está lá dentro, mantendo a família sob a mira da arma? - perguntou outro repórter. -a sra. Dorrie ligou para 911 e conseguiu explicar isso antes do telefone ser desligado, acredito que pelo sr. Dorrie. - ela disse que tipo de arma ele tem? - não. - o senhor sabe o que o sr. Dorrie pretende ganhar com isso? - perguntou paris. - neste momento - disse o oficial da swat -, a única coisa que sei com certeza é que temos uma situação muito grave nas mãos. Obrigado. Com isso, ele concluiu o informe. Paris virou para o câmera. - você pegou a minha pergunta na fita? - peguei. E a resposta dele também. - e que resposta. - ligaram da redação. Eles vão pôr você ao vivo em três minutos. Consegue inventar alguma coisa para dizer? - você focaliza a câmera que eu penso no que vou dizer. Paris arrumou um lugar privilegiado para fazer suas entradas Ao vivo. A casa dos dorrie podia ser vista ao fundo, no fim de uma rua estreita, com árvores dos dois lados, que em qualquer outra tarde provavelmente seria tranqüila. Agora estava cheia de veículos de emergência, unidades da polícia, vans de reportagem e pessoas que paravam para assistir. Paris perguntou para uma vizinha dos dorrie Se ela podia falar para a câmera sobre a família e a mulher aceitou alegremente. - eu sempre achei que ele era um bom homem - disse a mulher. - nunca poderia imaginar que ia enlouquecer desse jeito. Mas a gente nunca sabe mesmo. A maioria das Pessoas é doida, eu acho. Depois de uma hora de impasse, paris avistou dean malloy chegando num carro comum. Parecia não se importar com todas aquelas pessoas olhando, caminhou com determinação E muita segurança quando policiais uniformizados o escoltaram pela multidão de
repórteres até a van da swat, que estava estacionada no meio do caminho entre a barricada E a casa. Paris viu dean entrar na van, ligou para o seu editor de pauta e informou aquela novidade. - vocês querem calar a boca! - ele gritou para as vozes ao fundo. - não consigo ouvir meus pensamentos. - e então para paris: - quem é ele de novo? Paris repetiu o nome de dean. - ele é doutor em psicologia e criminologia, da equipe da polícia de houston. - e você o conhece? - pessoalmente. É treinado para negociar com seqüestradores com reféns. Não estaria aqui se não achassem que precisavam dele. Paris foi ao ar ao vivo com esse furo, na frente de todas as outras emissoras. Na terceira hora do impasse, todos estavam ficando meio entediados e perversamente desejando que alguma coisa acontecesse. Paris teve sorte quando avistou uma mulher pequena parada à margem da multidão de espectadores. Ela se apoiava num homem e chorava copiosamente, em silêncio. Paris deixou o microfone e o câmera para trás, aproximou-se do casal e se apresentou. A princípio, o homem foi hostil e, de um jeito ríspido, disse para ela dar o Fora, mas a mulher finalmente se identificou como irmã da sra. Dorrie. Relutou um pouco e não queria falar, mas paris acabou sabendo da tempestuosa história do casamento Dos dorrie. - essa informação pode ser muito útil para a polícia - disse paris gentilmente para a mulher. - a senhora estaria disposta a contar isso para um dos policiais? A mulher ficou desconfiada e amedrontada. O marido dela continuou agressivo. - o indivíduo que tenho em mente não é um policial comum - disse paris para os dois. - ele não é da swat. O único objetivo da presença dele aqui é cuidar para que sua irmã e as crianças saiam ilesos dessa situação. Vocês Podem confiar nele. Dou a minha palavra. Minutos depois, paris tentava convencer um policial de uniforme a levar um bilhete até a van da swat e entregá-lo pessoalmente a dean. - ele me conhece. Somos amigos. - eu não me importo se você é irmã dele. Malloy está ocupado e não vai querer falar com repórter nenhum. Ela apontou para a câmera avançar. - você está gravando? - agora estou - disse o câmera, pondo a câmera no ombro e espiando pelo visor. - trate de pegar um close da cara desse policial. Paris pigarreou e começou a falar ao microfone: - hoje o policial antónio garza, do departamento de polícia de houston, obstruiu os esforços para salvar uma família mantida como refém por um atirador armado. O Policial garza recusou-se a entregar uma mensagem importante para... - que porra a senhora está fazendo? - estou pondo você na televisão como o policial que atrapalhou o resgate de reféns. - dê-me a porra do bilhete - disse ele, arrancando o papel da mão de paris. Longos e agonizantes quinze minutos passaram até dean descer da van e caminhar na direção da barricada. Afastava com o braço os microfones enfiados na frente dele Enquanto examinava os rostos na multidão. Quando viu paris acenando do lado de fora da van de reportagem, foi direto até ela. - olá, dean. - paris. - eu jamais tiraria vantagem da nossa amizade. Espero que saiba disso. - eu sei. - não teria pedido para você vir até aqui se não achasse que isso é realmente importante.
- foi o que disse no seu bilhete. O que você tem? - vamos entrar. Os dois subiram na traseira da van, onde paris havia persuadido a irmã da sra. Dorrie e o cunhado a ficar esperando. Apresentou dean aos dois. O espaço era limitado, Apesar do câmera ter ficado do lado de fora. Paris não queria assustá-los com a câmera e as luzes. Dean ficou de cócoras na frente da mulher apavorada e falou com voz baixa e calma: - antes de mais nada, quero que saiba que vou fazer tudo que estiver ao meu alcance para evitar que sua irmã e a família dela se machuquem. - foi isso que paris disse. Ela nos deu sua palavra de que podíamos confiar no senhor. Dean olhou rapidamente para paris. - mas estou com medo da polícia querer invadir a casa - disse a mulher, com a voz entrecortada de emoção. - se fizerem isso, albert vai matá-la, e matar as crianças Também. Eu sei que vai. - ele já ameaçou a vida deles antes? - perguntou dean. - muitas vezes. A minha irmã sempre disse que ele ia acabar fazendo isso. Dean ouviu pacientemente o que ela queria contar e só interrompia quando precisava esclarecer algum ponto, incentivando suavemente quando parava de falar. A van Ficou quente e fedia a maconha. Dean parecia não notar o ambiente desconfortável, o suor que brotava na sua testa. Jamais desviava os olhos do rosto da mulher aos Prantos. Fez as perguntas pertinentes e deve ter guardado as respostas na memória porque não escreveu nada. Depois que ela contou tudo que sabia que podia ser relevante, Ele agradeceu, procurou tranqüilizá-la dizendo que ia tirar a irmã dela e as crianças em segurança de lá, e então perguntou se ela podia ficar por perto, caso precisasse Falar com ela de novo. A mulher e o marido concordaram. Quando saíram da van abafada, paris deu para dean uma garrafa de água. Ele bebeu, distraído, enquanto caminhavam até a barricada. Uma profunda ruga de preocupação Havia se formado entre as sobrancelhas dele. Finalmente, paris resolveu perguntar se a entrevista tinha sido útil. - demais. Mas, antes de poder ser útil, eu preciso fazer dorrie falar comigo. - agora você tem o número do celular dele. - graças a você. - fico feliz de ter podido ajudar. Garza e os outros policiais uniformizados contiveram a multidão de repórteres que faziam perguntas para dean ao passar pela barricada. Ele foi se afastando, mas Parou, virou para trás e disse: - fez um bom trabalho, paris. - e você também. Paris continuou onde estava, vendo dean desaparecer na van da swat, depois telefonou para o editor de pauta e contou o que tinha acontecido. - bom trabalho. Ajuda muito ter amigos em posições elevadas. Como você tem intimidade com o chefe kahuna, fique a postos e cuide da reportagem até o fim. - e o marshall? - estou dando essa para você, paris. Não me decepcione. Uma hora depois, paris ficou sabendo, junto com todos os Outros representantes da mídia, que malloy finalmente conseguira conversar com dorrie. Havia persuadido o homem a deixá-lo falar com a sra. Dorrie que, aos prantos, Contou que ela e as crianças ainda estavam vivos, ilesos fisicamente, mas
terrivelmente apavorados. Paris entrou ao vivo com essa informação no noticiário das cinco horas. Repetiu a reportagem às seis porque nada de novo aconteceu e, no final do telejornal, fez Uma recapitulação de tudo que tinha acontecido naquele longo dia. Também respondeu a perguntas extemporâneas dos âncoras do noticiário. Jack chegou às sete horas com hambúrgueres e fritas para ela e para o operador de câmera. - quem andou puxando fumo aqui? - perguntou ele. - ela - respondeu o câmera, jogando uma batata frita na boca. - não consigo fazê-la parar. Mas quando terminou de comer e saiu da van, ele hesitou. - jack, sobre o... É... Jack deu um sorriso franco. - eu não sei do que você está falando. O câmera ficou visivelmente aliviado. - obrigado, cara. Quando ficaram sozinhos, paris repreendeu jack com o olhar. - você vai ser um ótimo administrador. - um bom administrador inspira lealdade. - o sorriso fácil de jack se transformou numa expressão de preocupação quando ele estendeu o braço e acariciou o rosto de Paris. - você parece exausta. - meu blush acabou horas atrás. - lembrando-se da despreocupação de dean com o conforto pessoal, ela acrescentou: a minha aparência na frente da câmera não parece Tão importante diante do que estou informando. - você fez um trabalho fantástico. - obrigada. - estou falando sério. A emissora está no maior alvoroço. Aquela manhã, quando paris saiu na van da reportagem, estava tratando a história como uma oportunidade de se mostrar, merecer mais atenção, criar o alvoroço que Jack havia mencionado. No decorrer do dia, entretanto, aquilo mudou. O ponto da virada tinha sido a conversa de dean com a irmã da sra. Dorrie. Teve, então, consciência da realidade triste Da história, as pessoas envolvidas ganharam nomes, a tragédia passou a ser humana e não um veículo para impulsionar sua carreira. Parecia de mau gosto beneficiar-se Com o sofrimento alheio. - você viu o dean de novo? - perguntou jack, interrompendo os pensamentos dela. - só uma vez. Ele saiu no meio da tarde para perguntar para a irmã da sra. Dorrie o que as crianças mais gostavam de comer, quais eram seus brinquedos preferidos, Jogos, bichos de estimação. Ele queria tornar mais pessoal a conversa com o sr. Dorrie. Jack franziu a testa, pensativo. - será bem pessoal para dean se isso der errado. - tudo que ele pode fazer é o melhor que sabe fazer. - eu sei disso. Você sabe disso. Todo mundo sabe disso, exceto dean. Anote o que estou dizendo, paris. Se cinco pessoas não saírem andando daquela casa, ele vai Se culpar por isso. Jack ficou por lá mais meia hora, depois saiu com a promessa de paris de ligar para ele se a situação mudasse. Não mudou. As horas passaram. Paris estava sentada No banco do carona da van, organizando suas anotações e procurando um novo ângulo da história, quando dean bateu no pára-brisa. - alguma coisa aconteceu? - perguntou paris. - não, nada. Desculpe se assustei você - disse ele, parando ao lado da janela aberta. - eu só tinha de sair daquela van, respirar um pouco de ar puro, esticar
as Pernas. - jack pediu que eu lhe dissesse para agüentar firme. - ele esteve aqui? - para trazer hambúrgueres para nós. Você comeu alguma coisa? - um sanduíche. Mas aceito um pouco de água. Paris deu uma garrafa para ele. - eu bebi dessa garrafa... - como se eu me importasse com isso. - dean deu um longo gole, pôs a tampa e devolveu a garrafa a paris. - quero pedir um favor. Você pode ligar para o gavin? Sempre Que me envolvo numa coisa como essa, ele fica assustado. - dean deu um sorriso fugaz para ela. - muito filme policial na televisão. De qualquer modo, diga a ele Que falou comigo e que estou bem, para ele ficar tranqüilo. Lendo a pergunta nos olhos de paris, dean acrescentou. - eu já falei com ele. E pat também. Mas você sabe como são essas crianças. Elas acreditam mais quando ouvem de alguém que não é pai, nem mãe. - será um prazer. Mais alguma coisa? - só isso. - muito fácil. A gravata dele estava solta e as mangas da camisa, arregaçadas. Dean apoiou os braços na janela aberta, mas virou a cabeça na direção da casa. Ficou olhando para Lá por bastante tempo, e depois disse baixinho: - ele pode matá-los, paris. Ela não disse nada, sabendo que dean não esperava resposta. Ele estava confiando-lhe o seu maior medo, e paris ficou contente do amigo sentir-se suficientemente À vontade com ela para fazer aquilo. Só gostaria de poder dizer algo para tranqüilizá-lo que não soasse banal. - eu não sei como um homem pode atirar nos próprios filhos, mas é isso que ele diz que vai fazer. - dean abaixou a cabeça sobre as mãos cruzadas e passou os polegares Na testa franzida. A última vez que falei com ele, ouvi uma das menininhas chorando ao fundo. "por favor, papai. Por favor, não atire em nós." se ele resolver apertar Aquele gatilho, não haverá nada que eu possa dizer ou fazer para impedi-lo. - se não fosse você, ele provavelmente já teria apertado o gatilho. Você está fazendo o melhor que pode. Então, sem pensar, paris alisou o cabelo dele. Dean levantou a cabeça imediatamente e olhou para ela, talvez imaginando como é que paris sabia que ele estava fazendo o melhor possível, ou precisando ouvir que Estava. Ou talvez apenas para verificar que paris tinha tocado nele. - os comentários acabam chegando até nós, você sabe - disse ela, com a voz tão baixa que era quase menos que um sussurro. - dos outros policiais. Todos acham você incrível. Com a voz igualmente baixa, dean perguntou: - o que você acha? - eu também acho que você é incrível. Ela teria sorrido, como faria uma amiga com um amigo, mas um sorriso parecia inadequado por milhares de motivos. Para começar, a situação. A tensão que apertava Seu peito, até praticamente não poder respirar, em segundo lugar. Mas especialmente por causa da intensidade da emoção que havia no olhar de dean. Como na noite em que se conheceram, aquele olhar fixo ultrapassava uma simples troca entre amigos. Só que dessa vez durou ainda mais e a força gravitacional entre Os dois foi muito mais forte.
Paris devia ter abaixado a cabeça, que continuava levantada, culpada e revelada, que agia por vontade própria. Mas abaixar a cabeça só teria tornado a transgressão Mais óbvia e daria a ela o significado que paris não ousava reconhecer. Mais tarde, ficou imaginando se teriam se beijado caso o bipe dele não tivesse tocado. Mas tocou e quebrou o encanto. Dean leu a mensagem. - dorrie quer falar comigo. Ele não disse mais nada e saiu correndo para a van. Já era meia-noite quando finalmente conseguiu negociar a liberação das crianças. Dorrie tinha medo que a swat invadisse a casa. Dean garantiu que não ia permitir Que isso acontecesse se ele deixasse as crianças saírem. Dorrie concordou, com a condição de dean chegar até a varanda e levá-las para longe da casa pessoalmente. É claro que paris não conhecia os termos dessa negociação, e só ficou sabendo depois que a crise acabou. Paris estava conversando com a irmã da sra. Dorrie quando o operador de câmera se aproximou correndo e disse: - ei, paris, malloy está indo para a casa. Com o coração na boca, paris viu dean parado, com as mãos levantadas, no início da varanda. Ninguém podia ouvir o que dorrie e ele diziam um para o outro pela porta Fechada, mas dean continuou naquela posição por um tempo que pareceu uma eternidade. Finalmente, a porta foi aberta pelo lado de dentro e um menininho se esgueirou por ela, seguido por uma menina mais velha que carregava uma outra menor. Os três Choravam e protegiam os olhos dos holofotes que iluminavam a casa. Dean passou os braços pelas cinturas deles, carregou-os encostados ao corpo e entregou-os aos funcionários do serviço de proteção à criança, ali de prontidão para Recebê-los. Paris ficou sabendo mais tarde que um dos pontos da barganha de dorrie era que as crianças não ficassem com a cunhada dele, que sempre o odiou e que tinha tentado Pôr a mulher contra ele. Quando paris fez a reportagem sobre a libertação das crianças, sua voz estava rouca de cansaço e a aparência péssima, mas um espírito otimista tinha rejuvenescido Todas as pessoas no local. Paris concluiu a reportagem falando sobre essa mudança de ânimo: - durante horas, pareceu que esse impasse poderia ter um fim trágico. Mas a polícia agora está esperançosa de que a libertação das crianças ilesas possa significar Uma brecha. A última palavra que paris disse foi pontuada por dois estampidos de tiros. O barulho calou paris e os outros repórteres que falavam diante de suas câmeras. Na Verdade, paris nunca tinha visto silêncio tão súbito e tão profundo. Que se despedaçou com o terceiro e último tiro. Paris olhou para o artigo do jornal uma última vez, depois o dobrou exatamente como jack tinha feito e guardou-o de novo atrás da sua fotografia na carteira dele. Pôs a carteira na caixa, nauseada por saber que se jack um dia houvesse feito a ligação da noite do impasse com o que transpirou depois, ele talvez não tivesse guardado O artigo, o teria rasgado em pedacinhos.
Capítulo vinte Era uma mulher pequena. As mãos que torciam o lenço de papel molhado podiam ser de uma criança. As pernas estavam cruzadas na altura dos tornozelos e dobradas para Baixo da cadeira. O nervosismo era enorme, como o de uma aluna de piano num recital esperando sua vez de tocar. Curtis apresentou os dois: - sra. Toni armstrong, este é o dr. Dean malloy. - como vai, sra. Armstrong? Curtis estava sendo galante com ela, como tinha sido com paris. - posso pedir alguma coisa para a senhora beber? - não, obrigada. Quanto tempo o senhor acha que isso vai levar? Tenho de pegar meus filhos às quatro. - vai poder sair daqui bem antes disso. Antes daquela reunião, dean recebeu informações em trinta segundos, o tempo que levou para ir até o cubículo de curtis depois de se despedir de gavin e de liz. Não Tinha a menor idéia de por que havia sido chamado para assistir àquela entrevista. Ficou de pé, apoiado na parede, por um tempo um observador silencioso. A sra. Armstrong não era a florzinha tímida que a aparência requintada indicava. Devia estar achando que estava sendo atacada por uma quadrilha, porque resolveu Acabar com as amabilidades e ir direto ao assunto: - o sr. Hathaway disse que o senhor queria falar comigo, sargento curtis, por isso estou aqui. Mas ninguém explicou por que o senhor queria conversar comigo. Devo Chamar o meu advogado? O meu marido se meteu em alguma encrenca que eu não sei? - se ele se meteu em alguma encrenca, nós também não sabemos, sra. Armstrong respondeu curtis suavemente. - mas ele violou os termos da sua condicional, não foi? - certo. - e hathaway diz que a senhora observou recentemente um comportamento estranho dele. Toni abaixou a cabeça. — é verdade. Curtis meneou a cabeça com simpatia. - hathaway falou com um dos policiais da arcs, que então chamou minha atenção para o seu marido. Dean estava começando a entender onde aquilo ia dar. A arcs - apreensão e registro de criminosos sexuais - ficava sob os auspícios do bci. Os detetives que se especializavam Em crimes sexuais deviam saber da investigação de curtis. Muitas vezes aqueles crimes e homicídios se sobrepunham. - será que você pode, por favor, me pôr a par da história? Pediu dean. - dezoito meses atrás, bradley armstrong foi condenado por molestar uma menor de idade e sentenciado a cinco anos em condicional, terapia de grupo obrigatória e Assim por diante. Ultimamente ele vem faltando às reuniões. "o oficial da condicional marcou duas consultas com ele hoje. Ele não apareceu. A sra. Armstrong notificou o advogado dele, que foi até o consultório - ele é dentista - para fazê-lo comparecer, acertar as coisas. Ele tinha saído, apesar das consultas marcadas com pacientes para esta tarde. Ninguém sabe onde ele está. Não atende O celular." - ainda bem que hathaway ligou para vocês - disse toni armstrong. - eu prefiro que brad seja preso por violar a condicional do que... Do que por outra coisa. - como o quê? - perguntou dean. - temo que ele esteja a ponto de cometer outro delito. Está fazendo tudo que não deve. Curtis sentiu que a comunicação estava estabelecida e ofereceu para dean a sua
cadeira. Dean sentou e disse: - sei que é difícil falar sobre isso, sra. Armstrong. Não estamos tentando dificultar ainda mais a situação para a senhora. Na verdade, nós gostaríamos de ajudar. Ela fungou e concordou com a cabeça. - brad está colecionando pornografia de novo. Eu encontrei no escritório dele. Não posso entrar no seu computador porque está sempre mudando a senha para eu não Poder ver, mas sei o que ia encontrar. Durante o julgamento, foi revelado que ele visitava dúzias de sites assim. E não estou falando de erotismo artístico ou elegante. Brad gosta das coisas bem grosseiras, especialmente se as meninas são adolescentes. "mas isso não é o pior. Eu ainda nem contei tudo para o oficial da condicional", ela sorriu tristemente para dean. "e não sei por que estou contando para o senhor. Só que quero que segurem o brad antes dele se meter numa encrenca séria demais." - por que não contou para o sr. Hathaway? Aos trancos e barrancos, toni contou as freqüentes ausências do marido de casa e do consultório, suas mentiras e as justificativas que dava para seus atos. - tudo isso eu sei que são sinais de que ele está perdendo o controle sobre seus impulsos. Dean concordou com ela. Aqueles eram sinais básicos e ruins. - ele ficou na defensiva quando a senhora tentou conversar sobre isso? Sensível demais e furioso? Ele a acusa de ser desconfiada, de não confiar nele? - ele afasta todos os argumentos dele e procura jogar a culpa em mim por não apoiá-lo. - ele já se tornou violento? Toni contou o que tinha acontecido na cozinha deles na véspera. Quando terminou, dean perguntou, baixinho: - a senhora não o viu mais desde que saiu furioso de casa? - não, mas nos falamos pelo telefone esta manhã. Ele pediu desculpas, disse que não sabia o que tinha acontecido com ele. - ele já tinha sido grosseiro com a senhora antes? - nem de brincadeira. Nunca o vi daquele jeito antes. Outro mau sinal, pensou dean. Toni armstrong deve ter percebido a preocupação na expressão de dean. Os olhos dela pulavam dele para curtis. - ainda não me disseram por que estou aqui. - sra. Armstrong - disse curtis -, o seu marido costuma ouvir o rádio tarde da noite? - às vezes - respondeu ela, hesitando um pouco. - ele já desapareceu antes? - uma vez. Logo depois que os pais da paciente dele moveram o processo por molestar a filha deles. Ele sumiu três dias, depois o encontraram e o prenderam. - onde o encontraram? - num motel. Num daqueles residenciais. Ele disse que se escondeu porque tinha medo de que ninguém acreditasse no seu lado da história. - e a senhora? - perguntou dean. - se acreditei nele? - toni balançou a cabeça com tristeza. Não foi a primeira vez que uma paciente ou colega de trabalho reclamou de comportamento inadequado ou De ter sido agarrada. Clínicas dentárias diferentes, até cidades diferentes. Mas a mesma queixa. "o comportamento de brad antes daquele incidente era o mesmo que ele tem tido recentemente. Só que dessa vez está mais pronunciado. Ele não está se esforçando tanto Para esconder. Está mais desafiador, e é isso que o torna descuidado. Por isso foi tão fácil segui-lo."
- a senhora o seguiu? No mesmo instante em que dean fez essa pergunta, curtis perguntou quando aquilo tinha acontecido. - foi numa noite na semana passada. - toni esfregou a testa como se estivesse envergonhada de admitir isso. - não consigo lembrar exatamente. Brad tinha ligado do Consultório para dizer que ia chegar muito tarde. Ele inventou uma desculpa, mas eu não caí. Pedi para uma vizinha tomar conta dos nossos filhos. "cheguei ao consultório antes de ele sair, por isso pude seguilo de lá. Ele foi até uma loja de livros e vídeos só para adultos e ficou lá quase duas horas. Depois Foi até o lago travis." - para onde, especificamente? - eu não sei. Eu nunca teria encontrado o lugar se não estivesse seguindo o carro dele. Não era uma área construída. Não havia casas nem prédios comerciais por perto. Por isso fiquei surpresa de ver tanta gente lá. A maioria jovens. Adolescentes. - o que ele fez lá? - ficou muito tempo sem fazer nada. Sentado no carro observando. As pessoas bebiam, ficavam apenas vagando por lá, formando pares. Brad acabou saindo do carro e Foi falar com uma menina. - toni abaixou a cabeça. - eles conversaram um pouco, depois ela entrou no carro com ele. Então eu fui embora. - a senhora não o confrontou? - não - disse ela, sorrindo com tristeza. - eu me senti suja. Só queria sair dali, ir para casa e tomar uma longa chuveirada. E foi isso que fiz. Em consideração ao constrangimento dela, nem curtis nem dean disseram nada por algum tempo. Finalmente, curtis perguntou: - a senhora poderia identificar a jovem que viu com seu marido? Ela pensou um pouco e depois balançou a cabeça. - acho que não. A única coisa que ficou registrada na minha memória foi que ela devia estar no segundo grau. Estava escuro, de modo que não consegui ver direito Suas feições. - cabelo louro ou escuro? Alta, minhon? - loura, eu acho. Mais alta do que eu, mas mais baixa do que brad. Ele tem um metro e setenta e cinco. - essa poderia ser ela? - curtis pegou a fotografia de janey kemp que tinha aparecido no jornal e mostrou-a para toni. Ela olhou para a foto, depois para curtis e para dean. - agora sei por que queriam falar comigo - disse ela, e seus olhos se encheram de medo. - eu li sobre essa menina. Filha de juiz que está desaparecida. É isso, não É? É por isso que estou aqui. Em vez de responder, curtis disse: - a senhora alguma vez contou para o seu marido o que tinha visto, que o tinha flagrado? - não. Fingi estar dormindo quando ele voltou para casa aquela noite. Na manhã seguinte, ele estava animado e afetuoso. Brincando com as crianças, fazendo planos Com elas para o fim de semana. Bancando o marido e o pai perfeitos. Toni armstrong ficou pensativa. Dean sentiu que curtis já ia interromper os pensamentos dela com outra pergunta, mas fez um sinal sutil para ele esperar. Depois de um tempo, toni armstrong levantou a cabeça e disse diretamente para dean: - às vezes penso que brad realmente acredita nas suas mentiras. É como se ele vivesse num mundo de fantasia, onde não existem conseqüências para seus atos. Ele pode Fazer o que quiser sem medo de ser pego ou de cumprir pena. Essa foi a coisa mais perturbadora que toni disse para eles. Dean duvidava de
que ela soubesse disso, mas curtis sabia. Quando dean olhou para ele, o detetive estava Pensativo, com a testa franzida. Ele sabia, assim como dean sabia, que os perfis de assassinos em série e predadores sexuais sempre incluíam uma elaborada vida fantasiosa, tão atraente e tão real Para eles que passavam a agir de acordo com ela. Muitas vezes, acreditavam que estavam acima das leis de uma sociedade que os prejudicara enormemente, e só respondiam A um deus que compreendia, e até sancionava, suas perversidades. Curtis pigarreou. - agradeço seu tempo, sra. Armstrong. E como o assunto em questão é tão constrangedor, agradeço especialmente a sua sinceridade. Mas toni não seria descartada assim com tanta facilidade. - contei para vocês algumas verdades horríveis sobre o meu marido, mas ele não poderia estar envolvido com o desaparecimento dessa jovem. - não temos motivo para achar que está. Nenhum. Como já disse, estamos seguindo inúmeras pistas. - curtis fez uma pausa e depois disse: - com a sua ajuda, poderíamos Eliminá-lo da lista de suspeitos. - como posso ajudar? - deixando os nossos peritos entrarem no computador dele. Entrar nos arquivos, ver o que podem encontrar. Essa menina jogava pesado num site em que circulavam mensagens Sexualmente explícitas. Ela fez muitos contatos dessa forma. Se ela e o seu marido jamais se corresponderam, então são poucas as chances de tê-la conhecido. Toni pensou e disse: - não vou concordar com isso antes de consultar o advogado de brad. Curtis aceitou aquela condição, mas não ficou nada feliz. A opinião de dean sobre a sra. Armstrong subiu mais um ponto. Ela não era nenhuma maria-vai-com-as-outras. Aquela firmeza provavelmente não fazia parte da sua natureza Antes das dificuldades provocadas pelo vício do marido. Teve de adquirila para poder se agarrar à sanidade e sobreviver. Curtis esperou toni levantar da cadeira e acompanhou-a para fora do cubículo. - obrigado por atender ao nosso pedido, sra. Armstrong. Espero que o seu marido seja localizado logo e que procure a ajuda de que precisa. - ele não pode ser o homem que vocês estão procurando. - não deve ser. Além disso, nem temos certeza se janey kemp foi vítima de algum crime. Mas, como a senhora certamente deve saber, todos os criminosos com antecedentes Ficam sob suspeita toda vez que há um pretenso crime sexual. O seu marido escolheu uma péssima hora para faltar a um compromisso com seu oficial de condicional, É só isso. Não era só isso e toni tinha inteligência suficiente para saber. Mas também era educada demais para chamar curtis de mentiroso assim na lata. Em vez disso, ela se Despediu dos dois. - senhora simpática - observou curtis quando ela se afastou. - inteligente também. - curtis ficou olhando para dean, esperando que ele elaborasse aquela afirmação. - o marido está numa espiral descendente e ela sabe disso. Também reconheceu a sua enrolação. Apesar do que você disse para ela, ficou óbvio que acha que pode haver alguma ligação entre o desaparecimento de armstrong e o De janey. - não posso excluir essa possibilidade. - curtis se ajeitou na cadeira e apontou uma outra para dean.
Ele tirou uma barra de chocolate de um pote de vidro e ofereceu outra para dean. - não, obrigado. Enquanto desembrulhava o chocolate, curtis disse: - foi a própria mulher do armstrong que viu quando ele propôs sexo para uma menor de idade. Ele foi para aquele lugar Distante no lago com esse objetivo específico. E como é que ele sabia que tinha de ir até lá? Só tinha um jeito. - o clube do sexo - disse dean. - exatamente. Ele provavelmente usa o quadro de mensagens como um cardápio. Atiça seu apetite lendo os recados postos lá, depois sai à procura da menina que escreveu. E a menina que toni armstrong viu com ele combina com a descrição geral de janey kemp. - bem geral - disse dean. - ela descreveu a metade das meninas de segundo grau de austin e das redondezas. - mesmo assim, é uma coincidência muito grande. Você concorda? Dean inclinou a cadeira para trás. - é, é, concordo. Dean tinha simpatizado com toni armstrong. Ele se identificava com aquela esperança mística de estar certo em acreditar na inocência de um ente querido em quem você Confiava muito pouco. - se ela não liberar o computador dele logo, eu vou pedir uma ordem judicial disse curtis. - rondeau talvez consiga rastrear armstrong na lista de e-mails de janey, Mas será mais demorado. Nesse meio-tempo, pus todo mundo em alerta porque quero falar com o dr. Armstrong assim que ele aparecer. Já dei um aviso geral para interceptarem O carro dele. - por falar nisso, já recebeu do laboratório algum resultado do carro de janey? Curtis fez uma careta. - excesso de provas. Eles coletaram vestígios de cada fibra, natural ou manufaturada, que o homem conhece. Tapete, roupas, papel. Absolutamente tudo. Vão levar semanas Para analisar tudo. - impressões digitais diferentes das de janey? - só algumas dúzias. Estão procurando pares idênticos. Podemos ter sorte e uma delas ser de brad armstrong. Também recolheram vestígios de terra, comida, plantas E substâncias controladas. Pode citar qualquer coisa que encontramos e conseguimos identificar imediatamente. "a menina praticamente morava no carro. Segundo as amigas e até os pais dela, janey sempre recebia todo mundo no carro. Comia, bebia, dormia e trepava nele. A única Coisa que temos Certeza que identificamos foi um fio de cabelo humano, que é idêntico a outro que pegamos na escova de cabelo dela, no banheiro de casa. Ah, e um grão seco de matéria Fecal. Identificada como canina, o que faz sentido, porque também recolhemos diversos pêlos de cachorro que combinam com os do animal de estimação da família." - não lembro de ter visto ou ouvido nenhum cachorro. - ele fica preso na lavanderia. O juiz é alérgico. Curtis acabou de comer a barra de chocolate, amassou o invólucro e jogou na lata de lixo. - é isso até agora. - não encontraram nada que indique o que aconteceu com ela - observou dean. - nenhum sinal de luta, como roupas rasgadas ou marcas arranhadas nas superfícies dentro do carro. Apenas um fio de cabelo, e não um chumaço que
poderia ter sido Arrancado. Nenhuma unha quebrada que indicaria resistência. Nada de sangue. O tanque estava pela metade, por isso ela não ficou sem gasolina. Nenhum enguiço no motor. Ar suficiente em todos os pneus. Parece que ela saiu do carro porque quis e o deixou trancado. - porque pretendia voltar - acrescentou dean, pensativo. E quanto a outras marcas de pneu no local? - você tem idéia de quantas pessoas se registraram no site do clube do sexo desde o início até agora? Algumas centenas. Acho que todas elas estiveram lá aquela noite. Digamos que duas ou três foram juntas em um carro, mesmo assim são cem veículos. Tiramos algumas amostras e estamos procurando identificar as marcas e os modelos, Mas vamos levar dias, talvez semanas, e não temos esse tempo todo. "e testes de compatibilidade com amostras de DNA, mesmo depois de conseguir isolá-las, levam tempo. Muito tempo. E certamente não ficarão prontos em... ele consultou O relógio da parede - ... Menos de trinta e seis horas." - e a fotografia que janey deu para gavin? Alguma pista a partir dela? - foi tirada com uma câmera com filme, não digital. O filme não foi revelado na nossa loja de foto da esquina com revelação em uma hora. - o nosso cara tem um quarto escuro? - ou usa o de alguém. Tenho algumas pessoas trabalhando nisso, tentando descobrir os fornecedores de papel fotográfico e de produtos químicos de fotografia, mas Isso também... - leva tempo. - certo. E o nosso fotógrafo amador talvez nem compre seu material nas lojas. Ele pode encomendar pelo correio ou comprar pela internet. - o cabelo ralo, com corte De militar, certamente não precisava ser ajeitado, mas ele passou a mão na cabeça como se precisasse. - e tem mais uma coisa para jogar na gororoba. Lembra do marvin, Zelador? - o que tem ele? - também conhecido como morris green, marty benton e mark wright. Junto com marvin patterson, esses são os nomes falsos que nós conhecemos. - qual é a história dele? - o verdadeiro nome dele é lancy ray fisher. Com vários registros no juizado de menores por acusações leves. Aos dezoito anos, cumpriu sentença em huntsville por Furto de automóvel. Teve a sentença reduzida por delatar um companheiro de cela que se vangloriou de um assassinato para lancy ray. Mas assim que saiu da prisão, Cometeu outros delitos diversos, pelos quais cumpriu sentenças mínimas, em geral fazendo acordo com o promotor e reconhecendo a culpa. É mais conhecido por passar Cheques sem fundo e por furto de cartão de crédito. - onde ele está? - eu não sei. Ainda estamos procurando, e o oficial da condicional dele também. Ele desapareceu quando avisamos que íamos procurá-lo. Griggs e carson curtiram um Dobrado por causa disso. De qualquer modo, o fato de marvin estar nos evitando me leva a crer que a violação da condicional não é seu único crime, e que limpar os Banheiros da estação de rádio não é sua única fonte de renda. - ou que ele tem coisa pior para esconder - disse dean. - conseguimos um mandado e revistamos o apartamento dele. Nenhum computador.
- poderia ter levado com ele. - poderia, mas deixou para trás outras coisas de valor. - por exemplo? Curtis examinou uma lista de equipamentos eletrônicos que seria difícil comprar com o salário médio de um zelador. - a maior parte, equipamento de som. Coisa boa. Também retiramos caixas de coisas que ainda estamos examinando. Mas é aí que a história fica interessante. Sabe um Daqueles crimes que mencionei? Agressão sexual. O DNA dele consta dos registros da polícia. - se você pudesse identificá-lo com vestígios encontrados no carro de janey... - se eu tivesse tempo para fazer essa análise, você quer dizer. Dean sentiu a frustração do detetive. Era um caso de cabeça Para baixo. Tinham boas pistas, mas nenhum crime e nenhuma vítima. Estavam procurando um seqüestrador sem saber com certeza se janey kemp tinha sido seqüestrada. Trabalhavam de acordo com a suposição de que ela estava sendo mantida em cativeiro contra a sua vontade, que sua vida estava em perigo, mas pelo que sabiam... Dean teve uma idéia original: - e se... Curtis olhou para ele, querendo que continuasse. - pode dizer. Neste ponto, eu estou aberto para qualquer idéia. - será possível que a própria janey esteja por trás disso? - para chamar atenção? - ou para se divertir. Será que ela pediu para algum amigo ligar para paris só de brincadeira, para ver onde isso ia parar e o que aconteceria? - não é uma idéia tão improvável assim. Mas também não é original. Eu fui até o tribunal esta manhã para conversar com o juiz e... - ele continua trabalhando normalmente? - de toga preta e tudo - disse curtis com antipatia. - ele insiste em achar que janey está fazendo isso para contrariar a ele e à mulher dele. Com a eleição em novembro, O juiz não vai querer nenhuma publicidade negativa. Imagem de família exemplar e tudo isso. Ele pensa que janey está querendo prejudicar suas chances de manter a Posição. - merda. - o quê? - agora eu estou pensando como o juiz kemp? Curtis deu uma risadinha. - e vocês dois podem estar certos. Os dois ficaram meditando sobre aquilo alguns segundos. - mas acho que não, curtis - disse dean. - valentino me convenceu. Ou o amigo anônimo e brincalhão de janey conhece bastante psicologia para se fazer passar pelo Psicopata de verdade ou então é um. - eu tenho de pensar que ele é. - janey foi ao encontro desse cara. Eles se encontraram num lugar determinado. Ela trancou o carro dela e saiu com ele no dele. - é o que parece - disse curtis. - e isso é coerente com a história de gavin. O detetive ficou olhando fixo e pensativo para a ponta da bota bem engraxada. - gavin poderia tê-la levado no carro dele para que tivessem privacidade para acertar as contas. — e em vez disso gavin acertou janey? É isso que você está pensando? Curtis levantou a cabeça e deu de ombros como se dissesse: talvez. — depois de conversar rapidamente com janey, gavin foi para junto dos amigos. Ele lhe deu uma lista de nomes e números de telefone. Você verificou essa lista? - estamos verificando. A resposta sem compromisso do detetive irritou dean ainda mais:
- você acha que ele poderia disfarçar a voz a ponto de soar como a de valentino? Você não acha que eu poderia identificar a voz do meu próprio filho? - você ia querer identificá-la? Dean suportava bem as críticas. Às vezes sua análise de um suspeito, de uma testemunha potencial ou de um policial com problemas não era bem recebida e ele não era Bem-visto pelos colegas. Eram ossos do ofício que ele sabia aceitar. Mas aquela era a primeira vez que a sua integridade era posta em dúvida. Jamais tinha acontecido. E ficou furioso com isso. - você está me acusando de obstrução à justiça? Você pensa que estou omitindo provas? Você quer uma mecha do cabelo do gavin? - posso querer mais tarde. - quando quiser. É só pedir. - eu não pretendia ofender. O fato é que você omite muita coisa, doutor. - por exemplo? - você e paris gibson. Tem mais coisa aí do que você deu a entender. - porque não é da sua conta. - claro que é, porra - disse curtis, tão furioso quanto dean. - essa coisa toda começou com ela - ele inclinou o corpo para a frente e baixou a voz para que ninguém, fora do cubículo, ouvisse. - vocês dois formaram uma dupla dinâmica numa situação de impasse lá em houston. Apareceram em todos os jornais, nos noticiários da televisão. - pessoas morreram. - é, eu soube. Você ficou arrasado. Tirou um tempo para pôr a cabeça em ordem. Dean soltou fumaça pelas ventas em silêncio. - pouco tempo depois, o noivo de paris, seu melhor amigo outra coisa que você deixou de mencionar -, fica inválido. Ela sai do noticiário da tv e se dedica a cuidar Dele, e você... - eu conheço a história. Onde conseguiu essa informação? - tenho amigos na polícia de houston. Eu perguntei - respondeu ele, sem se desculpar. - por quê? - porque me ocorreu que talvez esse negócio de valentino tenha começado lá. - mas não começou. - você tem certeza? O problema de valentino parece ser com mulheres infiéis. Você acha que uma mulher atraente e vital como paris permaneceu fiel a jack donner os Sete anos inteiros que ficou cuidando dele? - eu não sei. Perdi contato com ela e com jack depois que eles saíram de houston. - completamente? - ela quis assim. - eu não entendo. Você ia ser padrinho no casamento deles. - a sua fonte em houston foi muito diligente. - ele não me disse nada que não tivesse saído nos jornais. Por que paris pediu para você se afastar? - ela não pediu, insistiu. Estava aderindo ao que achava que jack ia querer. Nós dois fomos atletas juntos na faculdade. Companheiros, e com todo aquele comportamento Valentão da idade. Ele não ia querer que eu o visse tão debilitado. Curtis meneou a cabeça como se aquela fosse uma resposta válida, mas talvez não completa. - e tem outra coisa que eu acho curioso - disse ele. - os óculos escuros. - os olhos dela são sensíveis à luz. - mas ela os usa no escuro também. Estava usando a noite passada, quando vocês chegaram à loja wal-mart. Era noite e não havia nem lua cheia. - curtis fixou um olhar Incisivo em dean. - é quase como se ela tivesse vergonha de alguma coisa, não é?
Capítulo vinte e um Stan preferia ter uma hora marcada com um proctologista do que com seu tio, wilkins. De qualquer maneira, ia levar no rabo, mas pelo menos o proctologista usaria Luvas e tentaria ser gentil. O local da reunião, o bar do saguão do hotel driskill, era favorável para stan. Como wilkins planejava voar de volta para atlanta aquela noite mesmo, não tinha reservado Uma suíte. Graças a deus, pensou stan, entrando num dos prédios mais famosos da cidade. Era pouco provável que o tio o esfolasse e fizesse picadinho dele em uma Arena pública. Wilkins detestava cenas. O saguão do hotel estava tranqüilo como um harém na hora da sesta. O teto de vitrais proporcionava uma iluminação fraca. As pessoas caminhavam no piso de mosaico De mármore fazendo o mínimo de ruído. E ninguém queria perturbar as copas brilhantes quando passava pelos vasos de palmeiras. Os sofás e poltronas convidavam ao Descanso nas almofadas fofas, aproveitando o solo de flauta que saía dos altofalantes invisíveis. Mas no centro desse oásis de serenidade e conforto havia Um sapo venenoso. Wilkins crenshaw tinha bem menos que um metro e oitenta de altura, e stan suspeitava de que ele usava saltos internos nos sapatos. O cabelo grisalho tinha um tom Amarelado e era tão ralo que mal escondia as manchas senis no couro cabeludo brilhoso. O nariz era exageradamente largo e combinava com os lábios carnudos, o inferior Virado para baixo. Parecia um anfíbio do tipo mais feio. Stan concluiu que a aparência do tio era o principal motivo de nunca ter se casado. A única coisa atraente que wilkins poderia ter para o sexo oposto era seu dinheiro, O segundo motivo para ele continuar solteiro. Era tão sovina que não pretendia dividir nem uma pequena parte da sua fortuna com uma esposa. Stan também achava que o tio tinha sido um esquisitão discriminado na academia militar para onde ele e o pai de stan tinham sido mandados pelo avô. De lá, os irmãos Não tiveram opção, senão ir para citadel. Depois da formatura, cada um serviu sua cota na força aérea. Depois, de posse das devidas distinções e tendo cumprido seu Dever patriótico, puderam entrar para o negócio da família. Em algum ponto nesses rituais de passagem para a idade adulta, o esquisitão wilkins ficou mesquinho. Ele aprendeu a revidar, mas sua arma preferida era o poder da Mente, e não os músculos. Não usava os punhos, mas tinha um admirável talento para instilar medo. Ele lutava sujo e não mantinha prisioneiros. Wilkins não se levantou quando stan se juntou a ele na pequena mesa redonda do bar. Nem o cumprimentou. Quando a garçonete jovem e bonita se aproximou, ele disse: - traga um club soda para ele. Stan desprezava club soda, mas não modificou o pedido. Ia fazer de tudo para tornar aquele encontro o menos doloroso possível. Sorriu com simpatia e iniciou a conversa Com lisonjas: - você está com uma aparência boa, tio. - isso é uma camisa de seda? - ha... É. Era marca da família vestir-se bem. Como se quisesse compensar seus defeitos
físicos, wilkins estava sempre imaculadamente vestido e arrumado. As camisas e os ternos Eram feitos sob medida, implacavelmente engomados e passados. Um amassadinho ou um fio solto não tinha a menor chance. - você se esforça muito para se vestir como uma bicha? Ou apenas adota naturalmente esse ar de boiola? Stan não disse nada, só agradeceu à garçonete meneando a cabeça quando ela levou o club soda. - você deve ter herdado esse estilo bombástico de vestir da sua mãe. Ela gostava de babados e coisas assim. Quanto mais, melhor. Stan não retrucou, apesar da camisa dele não ser nada bombástica, nem no estilo nem na cor. E duvidava muito de que a mãe tivesse usado babados um dia na vida. Ela Sempre pareceu perfeitamente correta no vestir. Tinha um gosto excelente e, na opinião dele, continuava a ser a mulher mais linda que já tinha visto. Mas discutir qualquer dessas coisas seria inútil, por isso stan mudou de assunto: - a sua reunião com o gerente-geral foi boa? - o lugar continua dando dinheiro. Então por que, pensou stan, ele fazia careta? - os últimos índices foram muito bons - observou ele. - alguns pontos acima do período anterior. Stan tinha feito seu dever de casa para poder impressionar o tio com citações. Só esperava que wilkins não o interrogasse, pedindo as datas do último período, ou Para explicar o que era um ponto. O tio deu um grunhido inexpressivo. - é por isso que esse negócio com paris gibson é tão problemático. - sim, senhor. - não podemos ter nossa estação de rádio envolvida nisso. - ela não está exatamente envolvida, tio. Só perifericamente. - mesmo que só um pouco, não quero estar associado a algo tão desagradável como o desaparecimento de uma adolescente. - claro que não, senhor. - por isso vou arrancar a porra da sua cabeça e mijar no buraco do seu pescoço se você teve alguma coisa a ver com aqueles telefonemas. Tio wilkins tinha aprendido outra coisa além de mesquinharia nos seus dias de militar. Aprendeu a se expressar com uma linguagem que não podia ter duplo sentido. A rudeza da sua afirmação só era superada pela eficiência em cumprir o que dizia. Stan se acovardou. - por que passaria pela sua cabeça que eu poderia ter... - porque você é um fodido. E tem sido desde que sua mãe expulsou você da barriga dela. Desde o momento em que respirou pela primeira vez, ela soube que você era Um merdinha chorão. Acho que foi por isso que quando ela ficou doente simplesmente deitou e morreu. - ela teve câncer no pâncreas. - que lhe deu uma boa desculpa para finalmente livrar-se de você. O seu pai também sabia que você não valia porra nenhuma. Não queria você de contrapeso na vida Dele. Por isso chupou O cano da pistola dele com tanta força que acabou explodindo a parte de trás da cabeça. A garganta de stan ficou bloqueada. Ele não conseguia falar. Wilkins continuou, implacável: - o seu pai era fraco desde sempre, e sua mãe o fez mais fraco ainda. Ele achou que era dever dele continuar casado, mesmo que o principal objetivo dela fosse foder
Com todos os homens que encontrava. Crueldade era a seiva da vida do tio dele. Com a experiência de trinta e dois anos, stan imaginava que já devia ter se acostumado. Mas não tinha. Olhou furioso para Wilkins, com o mais absoluto ódio. - meu pai também tinha casos. Constantemente. - mais do que qualquer um de nós sabe, tenho certeza. Ele trepava com todas as mulheres que podia para se convencer de que ainda podia fazer isso. A sua mãe não Permitia que ele deitasse na cama dela. Parecia que era o único homem por quem tinha aversão. - além de você. Wilkins fechou a mão com tanta força no copo de uísque que stan ficou imaginando por que o cristal não se quebrou. Tinha acertado um direto, e isso era gostoso. Sabia exatamente de onde partia aquele desdém que o tio sentia pela mãe dele. Inúmeras vezes stan ouviu a mãe rir e dizer: "wilkins, você é um sapo muito desagradável." Partindo da mãe dele, que adorava os homens, isso era uma desfeita colossal. Além do mais, ela jamais demonstrou nenhum medo de wilkins, e isso podia ser o maior Insulto. Ele se alimentava do medo que incutia nas pessoas. Com ela, havia falhado completamente. Stan tinha um prazer enorme de fazê-lo lembrar-se disso. Um gole ruidoso de uísque e o tio se recuperou. - levando em consideração seus pais disfuncionais, não é de admirar que você tenha problemas com sexo - disse wilkins. - eu não tenho. - todas as provas indicam o contrário. O rosto de stan ficou quente. - se está se referindo àquela mulher na flórida... - que você tentou enrabar em cima da máquina de fax. - essa é a versão dela - disse stan. - não foi nada disso. Ela se jogou para cima de mim e de repente ficou preocupada, com medo de que alguém aparecesse. - essa não foi a única vez que tive de pagar sua fiança porque você não conseguia ficar com o zíper da calça fechado. Igualzinho ao seu pai. Se você tivesse metade Da aptidão para os negócios que tem para foder, haveria mais dinheiro em caixa para todos nós. Stan suspeitava de que aquilo fosse o ponto central da animosidade do tio wilkins. Ele não podia encostar no patrimônio que os pais de stan haviam deixado para ele, Que incluía não só o que ele herdara com a morte dos dois, mas também uma polpuda parcela dos rendimentos do conglomerado ad infinitum. Os termos eram irrevogáveis E irrefutáveis. Nem mesmo wilkins, com todo o seu poder e influência, podia invalidar seu fideicomisso e roubar sua fortuna. - aquela vez na piscina do clube de campo, o que você estava tentando provar quando se expôs para aquelas meninas? Que podia ficar de pau duro? - nós tínhamos onze anos. Elas estavam curiosas. Imploraram para ver. - imagino que foi por isso que correram gritando para os pais delas. Eu tive de me desfazer de alguns milhares de dólares para abafar o incidente e para evitar que Você fosse permanentemente expulso do clube. Você foi expulso da escola por tocar punheta no chuveiro. - todo mundo tocava punheta no chuveiro. - mas só pegaram você, o que indica ausência de autocontrole. - você pretende listar todas as minhas indiscrições da adolescência para mim? Porque se é isso que vai fazer, vou pedir um drinque. - nós não temos tempo para eu enumerar todas as suas indiscrições. Não nessa reunião - ele verificou o relógio. - vou embora logo. Disse para o piloto que queria
Decolar às seis. Tomara que o seu avião caia e pegue fogo, pensou stan. - o que eu quero de você - disse wilkins - é que negue que andou dando telefonemas obscenos para aquela dj. - e por que eu faria isso? - porque você é um safado filho-da-mãe. Gastei uma fortuna para o seu analista contar o que eu já sabia. Os seus pais criaram uma merda - você. E me deixaram com A incumbência de limpar essa sujeirada. Ainda bem que... Pelo menos até agora... Todas as suas "indiscrições" foram com mulheres. - pare com isso - sibilou stan. Ele desejou ter a coragem de pular por cima da mesa, agarrar o pescoço curto e gordo do tio e apertar até os olhos esbugalhados de sapo saltarem das órbitas e a Língua ficar pendurada entre os lábios grossos. Adoraria vê-lo morto. Grotescamente, dolorosaMente morto. - eu não dei aqueles telefonemas - disse ele. - como poderia? Eu estava no prédio com paris quando as ligações foram feitas de telefones públicos, a quilômetros De distância da estação. - eu verifiquei tudo. É possível redirecionar ligações, fazer parecer que elas vêm de um telefone, quando na verdade são feitas de outro. Em geral um telefone celular Descartável, talvez roubado. Que torna praticamente impossível rastrear as ligações. Stan ficou estupefato. - você verificou como isso podia ser feito antes mesmo de perguntar se tinha sido eu? - eu não cheguei onde estou sendo burro e descuidado como você. Não queria que uma das suas chamadas indiscrições explodisse na minha cara. Não quero ficar parecendo Um cretino por confiar que você vai manter seu pau no lugar dele. Do jeito que as coisas estão, tenho de responder à diretoria por estar lhe pagando um salário, Se trocar uma lâmpada representa um desafio para você. Wilkins deu uma olhada firme para o sobrinho e não tirou os olhos dele até stan dizer alguma coisa. - eu não armei nenhum telefonema. - a única coisa em que você é bom é com essas maquininhas. - eu não armei nenhum telefonema - repetiu stan. Wilkins olhou desconfiado e tomou mais um gole de uísque. - essa paris. Você gosta dela? Stan continuou com a expressão séria. - gosto, ela é legal. O olhar do tio ficou mais contundente, mais cruel, e, como sempre, stan acabou cedendo. Depois de um tempo, ele sempre cedia. E se odiava por isso. Era mesmo um Merdinha chorão. Stan mexeu no guardanapo encharcado embaixo do copo intocado de club soda. - se está querendo saber se eu já tive fantasias sexuais com ela, a resposta é sim. De vez em quando. Ela é atraente e tem aquela voz aveludada, e passamos horas Sozinhos todas as noites. - você já tentou com ela? Stan balançou a cabeça. - ela deixou bem claro que não está interessada. - então você tentou e ela não quis. - não, eu nunca tentei. Ela vive como uma freira. - por quê?
- ela era noiva de um cara - disse stan, com um tom de voz que indicava exasperação com a inutilidade daquela conversa. Ele estava internado num hospital particular Perto de georgetown, ao norte daqui. Muito exclusivo. De qualquer modo, paris ia vê-lo todos os dias. As pessoas da estação me disseram que ela fez isso durante Anos. Ele morreu há pouco tempo. Ela reagiu mal e ainda não superou. Além do mais, paris não é do tipo que poderia ser... Você sabe... - não, eu não sei. Não é do tipo que poderia ser o quê? - que poderia ser seduzida. Wilkins fitou stan um tempo interminável, depois tirou cédulas suficientes do seu grampo de notas para pagar a conta deles. Pôs o dinheiro embaixo do seu copo vazio E se levantou. Pegou a pasta e olhou para stan por cima do seu nariz largo e feio. - seduzir é uma palavra que significa que você tem de persuadir uma mulher a fazer sexo com você. Não inspira muita confiança, stanley. Enquanto o tio se afastava, stan murmurou, baixinho: - bem, pelo menos eu não sou tão horroroso para ter de pagar por isso. Stan aprendeu uma coisa com aquele encontro. Não havia nada de errado com a audição do tio. A casa móvel não era mais móvel. Na verdade, estava no mesmo lugar há tantos anos que um dos cantos já estava enterrado no chão. Na frente, uma cerca anticiclone Rodeava um pequeno quintal onde nada crescia, exceto capim e alguns tufos de ouriços. A única concessão ao paisagismo eram dois potes de barro rachados dos quais Despontavam cravos-de-defunto desbotados, de plástico. Algum garoto da vizinhança tinha chutado uma bola por cima da cerca e nunca se incomodou em ir pegá-la no quintal. Tinha esvaziado havia muito tempo. Tinham posto Uma churrasqueira com dois pés, que havia sido comprada numa liquidação de garagem anos antes, encostada na parede externa da casa. A base estava completamente enferrujada E destruída. A antena da televisão no telhado estava torta e formava um ângulo quase reto. Era um lixo, mas um lar. Lar de três gatos geniosos e negligenciados que jamais seria invadido, e de uma mulher maltratada, viciada em café e cigarros winston, que fumava continuamente apesar Do balão de oxigênio com rodinhas, ligado a ela por uma cânula. A mulher ofegava ruidosamente quando a porta da casa móvel se abriu, lançando um raio de sol sobre a imagem da tela da televisão. - mama? - feche a porra da porta. Não consigo ver nada na televisão com essa luz em cima, e está passando a minha novela. - você e as suas novelas. Lancy ray fisher, também conhecido como marvin patterson, entrou no trailer e fechou a porta. O interior ficou mergulhado numa escuridão enfumaçada. A imagem em Preto e branco da televisão ficou mais nítida, mas só um pouquinho. Ele foi direto para a geladeira e espiou o que tinha dentro. - não há nada aqui para comer. - isso aqui não é a cafeteria do luby, e ninguém te convidou. Ele vasculhou a geladeira e encontrou uma fatia de salsichão. Em cima da geladeira, havia um pão de forma. Lancy afastou Um dos gatos para conseguir pegar o pão e pôs o salsichão numa fatia embolorada. Tinha de servir. A mãe dele não disse mais nada até a novela ser interrompida pelos anúncios. - o que você está tramando, lancy?
- por que acha que estou tramando alguma coisa? Ela bufou com desprezo e acendeu um cigarro. - você vai explodir um dia, fumando perto desse balão de oxigênio. Só espero não estar por perto quando isso acontecer. - faça um sanduíche para mim. Ele fez o sanduíche, deu para ela, e ela disse: - você só aparece por aqui quando está metido em encrenca. O que você fez dessa vez? - nada. O proprietário está pintando o meu apartamento. Preciso de um lugar para ficar alguns dias. - pensei que você estivesse firme com alguma nova namorada. Por que não foi para a casa dela? - nós terminamos. - faz sentido. Ela descobriu que você é um bandido? - eu não sou mais bandido. Sou um cidadão honesto. - e eu sou a rainha de sabá - disse ela, respirando com dificuldade. - eu me recuperei, mãe. Não dá para ver? Ele abriu os braços. Ela examinou o filho de alto a baixo. - o que eu vejo são roupas novas, mas o homem embaixo delas não mudou nada. - mudei sim. - você ainda está fazendo aqueles filmes sujos? - vídeos, mãe. Dois. E isso foi anos atrás, e só fiz como um favor para um amigo. Um amigo que pagou com cocaína. Tudo que ele pudesse cheirar, e a única coisa que tinha de fazer em troca era ficar pelado e foder. Mas então lancy começou a trepar Com uma das "atrizes" fora de cena também, e o diretor ciumento começou a reclamar do tamanho dos "documentos" dele. Num ambiente onde o tamanho contava muito, lancy Simplesmente não marcava pontos. - não é nada pessoal, você entende. Mas é claro que lancy tinha levado para o lado pessoal. Eles acabaram se desentendendo, não sem antes lancy fazer o diretor sangrar e implorar para os documentos Dele ficarem intactos. Isso tinha acontecido havia muito tempo. Ele não usava mais drogas pesadas. Não participava de vídeos pornográficos. Tinha aprimorado tudo nele. Mas parecia que a mãe não pensava assim. - você é igualzinho ao seu pai - disse ela enquanto mastigava ruidosamente o sanduíche. - ele era um sonso filho-da-mãe, e você tem o mesmo ar dissimulado. Você Nem fala naturalmente. Onde aprendeu a falar com tanta frescura assim de repente? - estou trabalhando na estação de rádio. Ouço as pessoas falando no rádio. Peguei o modo de falar deles. Andei praticando. - modo de falar porra nenhuma. Eu não confiaria em nada que vem de você. Ela voltou a assistir à novela. Lancy foi andando pelo corredor estreito, desviando de montes de bosta de gato, e se esgueirou no cubículo minúsculo onde dormia Quando estava nos intervalos de prisões ou empregos, ou em momentos como aquele em que precisava desaparecer por alguns dias. Aquele era seu último recurso. Sabia que a mãe vasculhava seu quarto toda vez que partia, por isso, quando abriu a placa solta de vinil do chão embaixo da cama-beliche, fez isso com medo do que Ia encontrar. Aliás, do que não ia encontrar. Mas o dinheiro, a maior parte notas de cem, estava lá na pequena caixa de metal onde ele tinha guardado. Metade pertencia por direito a um antigo sócio, que havia Sido condenado por outro crime e servia sua sentença na prisão. Quando saísse,
ia procurar marty benton e a sua parte da pilhagem. Mas lancy ia se preocupar com Isso quando e se o momento chegasse. A quantia tinha encolhido consideravelmente do que era originalmente. Lancy tinha usado uma porção razoável do dinheiro para comprar o carro e roupas novas. Havia Alugado um apartamento... Bem, na verdade, dois. Investiu no computador que agora estava dentro da mala do carro. A mãe ia repreendê-lo por jogar fora tanto dinheiro numa invenção idiota como um computador, enquanto ela ainda assistia A suas novelas numa televisão preto-e-branca. Ela não entendia que para ter sucesso em qualquer empreitada, legal ou não, a pessoa tinha de saber mexer no computador. Lancy tinha aprendido sozinho. Para evitar as reclamações da velha chata, levaria o laptop para seu quarto e só acessaria a internet pelo seu celular quando ela Estivesse dormindo. Lancy contou o dinheiro, enfiou algumas notas no bolso e devolveu o resto para o esconderijo sob o piso. Aquele era seu fundo de emergência, e odiava ter de dilapidá-lo Agora. Apesar da situação atual poder ser definitivamente rotulada de emergência. Logo depois de ser solto na última vez que foi para a prisão, lancy conseguiu um bom emprego, mas foi burro demais para dar valor a ele. Uma das coisas mais estúpidas Que fez na vida foi roubar da empresa. Não que tivesse considerado aquilo um furto, mas seu patrão certamente pensou que fosse. Se tivesse pedido para comprar o equipamento aposentado por um valor nominal, o patrão provavelmente lhe teria dito para levar o que quisesse, que ia até lhe fazer Um favor. Mas lancy não pediu. Retomou seu comportamento antigo. Passar a mão em tudo que puder. Apossar-se das coisas enquanto ainda tinham valor. Uma noite, antes De ir para casa, ele pegou o equipamento obsoleto, achando que ninguém sentiria falta. Mas alguém sentiu. E, como ele era o único ex-condenado na folha de pagamento, foi o primeiro suspeito do patrão. Quando o acusaram, ele confessou e pediu uma segunda Chance. Que nada. Foi mandado embora e escapou de um processo só porque devolveu tudo que tinha roubado. A experiência ensinou muita coisa para lancy, principalmente a nunca dizer a verdade numa ficha de inscrição para emprego. Por isso, quando marvin patterson se candidatou Ao emprego na estação de rádio, marcou com um x os retângulos que diziam não para as perguntas sobre prisões e condenações. Apesar de ser péssimo limpar a sujeira dos outros, aquele emprego foi uma bênção. Quando o conseguiu, achou que o destino, ou sua fada madrinha, ou algum poder maior O tinha levado a furtar aquelas coisas. Se não tivesse sido demitido do primeiro emprego, não teria se candidatado a trabalhar na 101.3. Além do trabalho de zelador ser um emprego proveitoso, que mantinha seu oficial de condicional satisfeito, servia para lancy não ter de usar suas economias. E o Que era mais importante, permitia que ficasse perto de paris gibson todas as noites. Infelizmente, não podia mais voltar para lá. E também não podia voltar para o seu apartamento, nem passar um cheque da conta de marvin patterson no banco, nem sacar Num caixa eletrônico, pois todas essas coisas eram modos seguros de ser encontrado quando não queríamos ser encontrados.
No minuto em que aqueles policiais telefonaram, dizendo para ele esperar, que estavam a caminho para conversar com ele sobre o telefonema obsceno para paris gibson, Ele soube que sua batata estava assando. E na mesma hora voltou a ser um excondenado, e agiu de acordo. Pegou seu celular, o computador, algumas roupas e fugiu. A primeira parada foi na sua segunda residência, um pardieiro que alugava com nome falso. O que talvez parecesse um luxo desnecessário provou ser bem útil. Mas quando se aproximou do estacionamento, avistou um carro da polícia do outro lado da rua. Passou direto, sem parar. Imaginou que devia ser apenas coincidência, Que se a polícia estivesse à espera dele ali, não usaria um carro oficial. Mas não ia correr risco nenhum. Tinha destruído as identidades falsas de marvin patterson. Olá, frank shaw. Também trocou as placas do carro por outras que havia roubado meses antes. Por mais que todos alardeassem recuperação e reabilitação, nenhum policial, nenhum juiz, nenhum cidadão decente, que cumpria as leis, ia conceder a um excondenado O benefício da dúvida. Você podia jurar sobre o livro santo que era outro homem. Podia implorar uma oportunidade de provar que tinha mudado. Podia jurar tornarse Um membro produtivo da comunidade. Nada disso importava. Ninguém lhe dava uma segunda chance. Nem a lei, nem a sociedade, nem as mulheres. Especialmente as mulheres. Faziam tudo em matéria de sexo com você, mas ficavam cheias de frescuras quando se tratava de Uma ficha criminal. Aí criavam caso. Aí estabeleciam o limite. Isso fazia sentido? Para lancy, não. Mas, razoável ou não, a regra era essa. Como ele não se inseria na regra, tinha tentado se transformar num homem que se inserisse. Passou a se vestir Melhor, a falar melhor, a tratar as mulheres como um cavalheiro. Até aquele ponto, a transformação não tinha sido nenhum sucesso surpreendente. Conseguira algumas perspectivas promissoras, mas depois de um tempo acabavam do mesmo Modo que seus outros relacionamentos. Era como se houvesse uma mancha nele que só podia ser vista pelas mulheres. Simplesmente não conseguia fazer com que gostassem dele, que o respeitassem. A começar pela própria mãe. Capítulo vinte e dois - nós sabemos que o convite é de última hora, mas queremos que venha jantar conosco. Paris olhou para dean e depois para gavin. Em sete anos, o menino tinha crescido, emagrecido e ficado bonito. O cabelo estava um pouco mais escuro e os ossos da Face mais definidos, mas paris o reconheceria de qualquer maneira. - isso é cliché - disse ela - e você vai me odiar por dizer isso, mas não acredito que tenha crescido tanto assim. - paris segurou a mão de gavin entre as dela. - é muito bom vê-lo de novo, gavin. Com um misto de constrangimento e timidez, gavin disse: - é bom ver você também, srta. Gibson. - quando você tinha nove anos, era correto me chamar de srta. Gibson. Mas agora isso faz com que eu pareça velhíssima. A partir de agora sou paris para você, está Bem? - está bem. - e o jantar? - perguntou dean.
- eu já tenho alguma coisa preparada. Dean levantou as sobrancelhas na expectativa, sem dar opção para paris a não ser convidá-los. - tem bastante, se você e gavin não se importam de comer Em casa. - será uma mudança bem-vinda. - dean cutucou gavin para ele entrar na casa dela. - qual é o jantar? - você arrancou o convite de mim e agora resolveu ficar exigente? - qualquer coisa, menos fígado ou nabo-da-suécia. - cabelinho-de-anjo com pernil de porco e legumes. Nada de nabo-da-suécia. - já estou com água na boca. Quer ajuda? - há... Paris ficou meio perdida. Fazia tanto tempo que não recebia ninguém que tinha esquecido como era. - nós podíamos beber alguma coisa. - boa idéia. - eu tenho uma garrafa de vinho... - ela apontou para os fundos da casa. - mostre o caminho — disse dean. Na cozinha, paris incumbiu dean de abrir o chardonnay, enquanto ela derramava uma coca sobre pedras de gelo para gavin. Dean ficou logo à vontade. Paris e gavin, Meio sem jeito com a situação. - tem um cd player na sala de estar - disse paris para o menino. - mas não sei se tenho alguma música de que você gosta. - vou gostar sim. Às vezes ouço o seu programa. Satisfeita com isso, paris explicou onde ficava o cd player. Gavin saiu da cozinha e foi para a sala. Assim que ele ficou fora do alcance da conversa deles, paris virou para dean. - devo falar do machucado no rosto dele ou não? - não. Era impossível não notar a mancha roxa e o leve inchaço embaixo do olho direito de gavin. Naturalmente, paris estava imaginando como o menino havia conseguido aquele Ferimento com aparência tão dolorosa. Mas a reação de dean foi de zanga e irritação com aquilo, por isso ela mudou de assunto e perguntou como tinha sido o encontro De gavin com curtis. - curtis disse que gavin contou a mesma história, e não disse nada que não já tivesse dito para mim. Janey e ele discutiram, depois ele se juntou a um grupo de amigos. E nunca mais a viu. - curtis acredita nele? - não se comprometeu. Não deteve gavin, o que considero um sinal positivo. Além disso, valentino tem voz de homem mais velho. Acho que gavin não ia conseguir imitar Aquela voz, nem se tentasse. E onde ia esconder a menina refém? Ele não tem acesso a lugar nenhum. Teria de matá-la aquela noite mesmo e... Meu deus, olha só o que Estou dizendo. Dean apoiou as mãos na beira da bancada da cozinha e ficou com o olhar parado na garrafa de vinho. - gavin não teve nada a ver com o desaparecimento de janey. Eu sei que não teve, dean. - eu também acho. Mas eu nunca teria adivinhado tampouco que ele estava fazendo aquilo. É desconcertante, para dizer o mínimo, descobrir que meu filho andava levando Uma vida secreta. - até certo ponto, você não acha que todos os adolescentes fazem isso? - é, acho que sim, mas eu facilitei as coisas para ele. Queria que ele gostasse
de morar comigo, por isso fui mais suave na disciplina. Não parecia que eu estava Sendo leniente com ele, mas creio que não fui tão diligente, nem consistente, como devia ter sido. E gavin se aproveitou disso. Dean virou de frente para paris. - com tudo que estudei de psicologia, eu não devia ter percebido que estava sendo enganado? Gavin gritou lá da sala: - rod stewart serve? - ótimo - respondeu paris, e depois disse para dean: - não seja tão duro com você mesmo. O dever do filho é tentar iludir os pais. Quanto à disciplina, as técnicas Do manual nem sempre podem ser traduzidas para a vida real. - mas como pode ser tão difícil acertar? Ela riu baixinho. - se fosse fácil, se houvesse um sistema que funcionasse para todas as crianças, um monte de supostos especialistas perderia o emprego. O que iam discutir nos programas Vespertinos de entrevistas? Pense só no caos, sem falar da crise econômica, que filhos bem-comportados e obedientes iam criar. Depois de conseguir fazer dean sorrir, paris parou de brincar. - não estou fazendo pouco da sua preocupação, dean. Na verdade, é admirável. Gavin pode ter saído dos trilhos, mas ele vai ficar bem. Dean serviu vinho nas duas taças que paris tinha tirado do armário e deu uma para ela. - temos de ter esperança - ele bateu a taça na dela. Paris olhou para ele por cima da borda da taça de vinho enquanto tomava um gole. - é natural nele, você sabe. - o quê? - gavin não é o único mestre em manipulação da família malloy. -ah, é? - muito engenhoso você aparecer aqui com ele a reboque depois de eu já ter recusado um convite para jantar. - funcionou, não funcionou? - como psicólogo, como classificaria um homem que usa o filho para arrancar de uma mulher um convite para jantar? - patético. - e quanto à traição? O sorriso de dean se desfez. - você está se referindo à liz. - você contou para ela quais eram seus planos para o jantar hoje? - eu disse que precisava ficar um tempo com gavin. - mas não falou de mim. - não. - ela pareceu ter direito de participar das suas noitadas. - ela teve mesmo. - direito exclusivo? -é. - quanto tempo? - uns dois anos. Um choque desagradável para paris. - uau! Quando o conheci em houston, seus namoros duravam no máximo umas duas semanas. - porque a mulher que eu queria estava comprometida. - nós não estamos falando disso, dean. - mas é claro que estamos. - estamos falando de você e de liz. Um relacionamento de dois anos implica... - nada do que você está pensando. - e o que a liz está pensando? - pai? - da porta aberta, gavin interrompeu os dois, meio sem graça, e deu um celular para dean. - está tocando.
- obrigado. Dean pegou o celular e leu no visor o número de quem estava ligando. - gavin, dê uma mão para paris. Saiu da cozinha antes de atender, e fez paris ficar imaginando se quem estava ligando era liz. - o que quer que eu faça? - ofereceu gavin. - quer pôr a mesa? - claro, tudo bem. Minha mãe pedia para eu fazer isso o tempo todo. Paris sorriu para ele. - eu lembro que sempre que jack e eu íamos jantar na casa do seu pai e você estava lá essa tarefa era sua. - por falar nisso, eu, é... Não tive chance de dizer isso para você. Sinto muito por ele, você sabe, ter morrido. - obrigada, gavin. - eu gostava dele. Ele era legal. - era sim. E agora - disse ela rapidamente - você acha que devíamos jantar na sala de jantar ou aqui na cozinha mesmo? - para mim, na cozinha está ótimo. - que bom. Paris mostrou para gavin onde ficavam os guardanapos, pratos e talheres, e ele começou a arrumar a mesa enquanto paris refogava os legumes e lascas de pernil. - está animado para o começo das aulas este ano? - estou. Quero dizer, acho que estou. Vai ser difícil sem conhecer ninguém. - sei bem o que é isso. Meu pai era do exército. - paris encheu uma panela de água para cozinhar o macarrão. - nós moramos em todos os lugares do mapa. Cursei três Escolas no jardim e duas no primeiro grau. Felizmente ele se aposentou, por isso pude fazer o segundo grau numa escola só. Mas lembro que era muito difícil ser a Menina nova. - é um nojo. - você vai se ajustar bem depressa. Lembro-me de quando você teve de trocar de time dente-de-leite de beisebol no meio da temporada. Você deixou de ser dos piratas E passou a ser dos... - pumas. Você se lembra disso? - muito bem. O seu técnico teve de ir embora. - a empresa em que ele trabalhava o transferiu para ohio ou algum lugar assim. - e todos os meninos do time dele foram distribuídos pelos outros times. Você não ficou nada contente com isso, mas acabou sendo a melhor coisa que podia ter acontecido. Os pumas precisavam de um bom shortstop, e você ficou com a posição. E o time foi campeão municipal. - só da cidade - disse ele modestamente. - bom, quando se ouve seu pai falar, dá para pensar que foi o campeonato mundial. Jack e eu passamos semanas ouvindo seu pai falar o tempo todo que "gavin fez isso, Gavin fez aquilo. Vocês deviam ter visto gavin ontem no jogo". Já estávamos enlouquecendo. Ele sentia tanto orgulho de você. - eu cometi um erro numa jogada. O outro time fez um home run por causa disso. - eu estava assistindo. - por isso foi tão horrível. Papai tinha convidado vocês todos para ir me ver jogar. Tenho certeza de que ele teve vontade de me matar, e depois morrer de vergonha. Paris desviou os olhos do fogão e virou para gavin. - dean teve mais orgulho ainda de você naquele jogo, gavin. - ele teve orgulho de mim por estragar tudo? - humm. Na jogada seguinte, você fez uma rebatida dupla e, com isso, um jogador pôde correr para a base e marcar um ponto. - acho que isso compensou.
- bem, compensou sim, para os fãs e para os seus companheiros de equipe. Mas quando jack deu um tapa nas costas do seu pai e disse que você tinha se redimido, dean Disse que você tinha se redimido por ter voltado imediatamente para o jogo. Ele ficou mais orgulhoso do modo que você encarou o erro do que com o fato de ter rebatido Bem. Paris virou para o fogão de novo e pôs o cabelinho-de-anjo na água fervente. Quando virou de novo para ele, gavin ainda franzia a testa, incrédulo. Paris meneou A cabeça. - é verdade. Ao dizer isso, ela teve um momento de descoberta. Ouça bem o que está dizendo, paris pensou. Depois de cometer um erro, Gavin entrou imediatamente no jogo. Não afundou no banco e passou o resto das jogadas sentado, arrastando as chuteiras na terra e se recriminando pelo erro. Na noite anterior, dean tinha dito que não deixou a culpa e o arrependimento comê-lo vivo. Disse que tinha deixado isso para trás. Talvez houvesse uma lição a ser Aprendida com aqueles homens malloy. Dean voltou para a cozinha e interrompeu os pensamentos perturbadores de paris. - era o curtis. Ele olhou para gavin como se relutasse em comentar o caso na frente do filho, mas continuou a falar sem pedir para gavin sair: - o caso está ficando complicado para ele. - o que houve? - a polícia especial está tentando prender lancy fisher. - quem? - você o conhece como marvin patterson. - dean fez um breve resumo da diversificada carreira criminosa de marvin: ele está sendo procurado para interrogatório. E Bradley armstrong também, um criminoso sexual condenado que violou a condicional e desapareceu. Os homens de curtis estão verificando o problema do telefone para Ver se descobrem como valentino desvia as ligações para outros aparelhos. E rondeau... Dean parou para olhar para gavin, que abaixou a cabeça. - ele ainda está trabalhando no que há no computador sobre essa história. Não encontraram um computador na casa do marvin, mas acharam disquetes e cds, e é muito Provável que tenha levado o computador com ele. Tudo isso para dizer que curtis está em ponto morto. Como nada de novo apareceu, sugeri que talvez pudéssemos provocar Valentino. - a fazer o quê? - a pôr a cabeça de fora. - como? - por seu intermédio. - eu? No ar? - a idéia é essa. Se você elogiar janey, transformá-la em vítima, talvez ele ligue para se justificar. Ele pode ficar falando mais tempo e não perceber que está nos dando uma pista de onde está ou de qual é sua identidade. "o objetivo é manter a ênfase na janey” continuou dean. "personalizá-la. Repetir freqüentemente o noine dela. Fazer com que ele pense nela como indivíduo, não apenas como sua prisioneira." Paris parecia duvidar daquilo. - você acha que essa tática vai funcionar com valentino? - inteiramente, não. Mas pode ofender o ego dele, se você ficar falando dela o tempo todo, e não dele. Ele quer ser o astro, sobre quem todo mundo comenta. Assim, se o foco for ela, talvez ele não resista e apareça para dizer: "ei,
olhem para nim." Paris olhou para o relógio. Dean disse em voz alta o que ela estava pensando. - certo. Temos pouco mais de vinte e quatro horas para impedir que ele faça o que ameaçou fazer. Esta noite pode ser a nossa última chance de fazê-lo mudar de idéia. Ele não deve ser provocado a fazer algo radical, que poderia ter conseqüências sérias. Mas você poderia convencê-lo a soltá-la. - essa não é uma tarefa fácil, dean. Existe uma linha tênue entre provocar e persuadir. Dean meneou a cabeça, preocupado. - eu quase me arrependo de ter inventado essa idéia por causa disso. - o que curtis acha? - ele achou a idéia ótima. Aceitou na mesma hora. Mas eu contive o ânimo dele, disse que isso não ia acontecer se você não estivesse cem por cento à vontade. Dean chegou mais perto de paris. - antes de você tomar essa decisão tem de pensar em mais uma coisa, e não é pouco séria. Na verdade é muito séria. Valentino começou tudo furioso com você. Ele está fazendo isso para punir a mulher que o traiu e você também. Se começar a pressioná-lo, de qualquer forma e com qualquer intensidade, ele deve ficar mais furioso ainda, e aí você será o alvo dele. Ele já fez uma ameaça velada. - você está tentando me convencer a não fazer isso? — é o que parece, não é? - disse ele com um sorriso triste. Nem se preocupe em deixar curtis ou eu desapontado. Assumir riscos faz parte do nosso trabalho, mas Você não se propôs a isso. A decisão tem de ser sua, paris. Se você não quiser, não vai acontecer. Pense nisso. Pode me dar a resposta depois do jantar. - eu não preciso pensar. Vou fazer ou dizer o que for necessário para trazer aquela menina a salvo para casa. Mas você terá de me orientar. Dean segurou a mão dela e apertou com firmeza. - ficarei ao seu lado, sugerindo o que deve dizer. Vou ficar com você de qualquer maneira. Notando que gavin observava os dois com interesse, paris se afastou de dean e disse: - o macarrão está pronto. - alô? Brad, é você? Se é, por favor, fale comigo. Não tinha planejado o que ia dizer se atendessem o telefone na casa dele, mas obedecia ao impulso de telefonar, mesmo que só para certificar-se de que sua família Continuava lá. Assim que ouvisse uma daquelas vozes doces, achava que pensaria em algo apropriado. Mas, ao ouvir o tremor na súplica da mulher, brad armstrong não conseguiu dizer nada. O evidente desespero de toni foi desconcertante. A garganta ficou apertada, E ele não conseguia falar. Apertou o fone com a mão suada e pensou em desligar. - brad, diga alguma coisa. Por favor. Eu sei que é você. Brad soltou o ar num quase soluço, quase suspiro. - toni. - onde você está? Onde ele estava? No inferno. Aquele quarto miserável não tinha nada do conforto do lar adorável que toni tinha arrumado para ele e para as crianças. Naquele quarto Não havia luz do sol, nenhum cheiro bom. As janelas estavam bem fechadas, bloqueando toda a luz, exceto a da lâmpada fraca do abajur. O quarto fedia, principalmente Ao desespero dele. O ambiente, contudo, não era o pior. O verdadeiro infern< era a cabeça dele. - você precisa voltar para casa, brad. A polícia está atrás de você. - meu deus. Já temia isso, mas o medo concretizado fazia seu estômago dar cambalhotas.
- fui à polícia esta tarde. - você fez o quê? - perguntou ele, com a voz entrecortada - toni, por que fez isso? - o sr. Hathaway teve de dar queixa de você. Toni explicou como tinha ido parar na sala de um detetive mas brad estava tão perturbado que só ouviu uma parte do que ela disse. - você entregou seu próprio marido para a polícia? - para tentar ajudá-lo. - ajudar? Me mandando para a prisão? É isso que quer para mim e para os nossos filhos? - é isso que você quer para eles? É você que está destruindo a nossa família, brad, não eu. - você está se vingando de mim por ontem à noite, não está? Então é isso. Você ainda está com raiva. - eu não estava com raiva. - então que nome dá a isso? - medo. - medo? - zombou ele. - porque eu queria fazer amor a partir de agora, será que devo avisá-la com antecedência que quero fazer sexo? - a questão não era sexo, e certamente não era fazer amor brad. Aquilo era agressão. Brad esfregou a testa e os dedos ficaram molhados de suor. - você nem tenta me compreender, toni. Nunca tentou. - não estamos falando de mim e das minhas limitações como esposa e ser humano. Estamos falando de você e do seu vício. - está bem, está bem, já entendi. Vou voltar a fazer terapia de grupo. Certo? Ligue para a polícia e diga que se enganou. Que nós brigamos e que você queria se vingar de mim. Eu converso com hathaway. Se eu for bem humilde, ele será leniente comigo. - é tarde demais para pedir desculpas e fazer promessas, brad. A determinação e a convicção com que toni disse aquilo assustaram brad ainda mais. - você já teve mais oportunidades do que merece - continuou toni. - além disso, não está mais nas minhas mãos, nem nas mãos do sr. Hathaway. Agora é um caso para A polícia e não tenho mais opção senão cooperar com eles. - fazendo o quê? - dando-lhes acesso ao seu computador. - oh, meu deus. Cristo. Você tem opção sim, toni. Não está vendo que isso vai acabar comigo? Por favor, querida, por favor, não faça isso. - se eu não der permissão para entrarem no seu computador, eles conseguirão uma ordem judicial, ou um mandado de busca, o que for necessário. Realmente não cabe A mim. - você poderia... Ouça, eu posso ensinar a você como formatá-lo, para que eles não encontrem nada. Por favor. Toni? Não é difícil. Bastam alguns cliques no mouse. Eu não estou pedindo para você assaltar um banco, nem nada parecido. Você faz isso por mim, querida? Por favor. Eu estou implorando. Toni não disse nada e brad prendeu a respiração, esperançoso. Mas aquela noite a mulher lhe tinha preparado sucessivas surpresas horríveis, uma atrás da outra. - uma noite, na semana passada, eu o segui até o lago travis, brad. O sangue subiu à cabeça dele e o espírito de penitência se transformou em ira. - você estava me espionando. Eu sabia. Está admitindo isso. - eu o vi com uma menina. Você e ela entraram no seu carro. Só posso deduzir que você transou com ela. - e tem razão, porra! Transei mesmo! - berrou ele. - porque a minha mulher se encolhe toda vez que encosto nela. Quem poderia me condenar por transar onde e quando Posso? - você alguma vez esteve com essa menina desaparecida? A filha do juiz, janey
kemp? Achou que sua respiração parecia extraordinariamente acelerada, e ficou imaginando se toni também percebia isso... Ou qualquer outra pessoa que pudesse estar escutando. Essa possibilidade deixou brad apavorado. Por que ela estava perguntando sobre janey kemp? - a polícia grampeou o telefone aí de casa? - o quê? Não. É claro que não. - enquanto você estava fazendo amizade com a polícia, vocês armaram para me pegar? Eles estão escutando essa conversa? Essa ligação está sendo rastreada? - brad, você está dizendo besteira. - errado. Não estou dizendo nada. Brad desligou e deixou o celular cair como se tivesse mordido sua mão. Começou a andar de um lado para outro no quarto abafado e claustrofóbico. Eles sabiam dele Com janey. Tinham descoberto, como ele temia. Aquele... Aquele curtis. Sargento curtis. Foi com ele que toni disse que conversou à tarde? Ele não estava encarregado de investigar o desaparecimento de janey? Era disso que brad tinha medo. Assim que viu a foto dela na primeira página do jornal matutino, soube que era apenas uma questão de tempo para a polícia começar A procurá-lo. Alguém devia tê-lo visto com janey e dado a informação. Agora teria de ter muito cuidado ao andar por aí. Se o vissem, podia ser preso. E isso não podia acontecer. Isso não podia acontecer. Na prisão, os outros presos Faziam coisas terríveis com homens como ele. Tinha ouvido histórias. Seu próprio advogado tinha contado os horrores que aguardavam um pervertido sexual na prisão. Deus, ele estava ferrado. E tinha de agradecer a janey kemp por isso, a putinha provocante. Estavam todos contra ele. Janey. A mulher dele, a megera furiosa. Hathaway Também, que não saberia o que fazer com um pau duro se tivesse um, o que era pouco provável. O oficial da condicional tinha ciúme do sucesso de brad com as mulheres. Por despeito, ficaria feliz de entregá-lo algemado para ser levado direto para a prisão. Porém, a fúria de brad não durou muito. O medo retornou e o dominou. Suando profusamente, mordendo a bochecha, ele andava de um lado para outro no quarto, completamente Perdido. Aquele negócio com a janey podia significar uma encrenca séria para ele. Devia ter ficado longe dela. Agora via isso claramente. Já conhecia sua reputação antes mesmo da menina abordá-lo pela primeira vez. Tinha lido as mensagens sobre Ela no site do clube do sexo, sabia que era uma aventureira do sexo, como ele. Também sabia que era uma pentelha mimada e rica, que tratava os ex-amantes como lixo E debochava deles no quadro de avisos da internet. Mas tinha ficado cheio de si quando uma das meninas mais desejadas do clube do sexo deu em cima dele. O que devia fazer, recusar? Que homem poderia recusá-la? Mesmo Sabendo que talvez representasse a própria condenação, não pôde resistir ao charme dela. Valia correr o risco para ficar com ela. Satisfazer suas fantasias significava aceitar o perigo. Brad sabia que estava flertando com o desastre toda vez que paquerava uma menina menor de idade, ou acariciava Uma paciente, ou gozava numa loja de vídeo, mas o risco de ser apanhado só fazia aumentar o tesão. Sempre impunha desafios para si mesmo, para ver até que ponto podia sair impune.
Paradoxalmente, seu desejo se alimentava da gratificação. Quanto mais longe suas Escapadas o levavam, mais fundo ele queria explorar. Novidades eram passageiras. Havia sempre uma outra fronteira para atravessar, mais um passo a dar. Mas enquanto agonizava no seu inferno particular, descobriu que talvez tivesse levado aquela fantasia longe demais. Capítulo vinte e três -bu! A reação de paris, que acabava de sair do refeitório e caminhava pelo corredor escuro, foi derramar chá quente na mão. - droga, stan! Isso não tem graça. - desculpe. Caramba. Eu não queria assustar você assim ele correu para a cozinha minúscula e rasgou vários pedaços de papel-toalha. - precisa de manteiga? Unguento? Quer ir para a enfermaria? Paris secou o chá com a mão. - não, obrigada. - não consigo ver seus olhos, mas tenho a impressão de que estão soltando faíscas. - isso foi uma estupidez. - por que você está tão nervosa? - por que você é tão infantil? - eu já pedi desculpa. Só estou me sentindo ótimo hoje. - o que houve? - tio wilkins está voando de volta para atlanta. Daqui a pouco haverá alguns estados entre nós, e isso é motivo para comemoração. - parabéns. Mas, só para constar, eu não gosto de levar susto. Nunca achei graça nenhuma nisso. Stan foi atrás dela, voltando para o estúdio. Quando entraram na sala iluminada, paris viu a mancha roxa. - ai, stan, o que aconteceu com o seu rosto? Stan encostou o dedo de leve no ponto ao lado da boca. - titio me deu um tapa. - você está brincando, não está? - não. - ele bateu em você? - exclamou paris, e ouviu espantada o relato do encontro dos dois no saguão do driskill. Stan terminou de contar a história e deu de ombros com indiferença. - ele ficou furioso com o que eu falei. Não foi a primeira vez. Não é nada de mais. Paris discordou, mas o relacionamento de stan com o tio não era da sua conta. - todos os homens que eu encontro estão levando porrada hoje - resmungou ela, pensando no inexplicado hematoma de gavin. Paris sentou no seu banco, olhou para o monitor e viu que ainda tinha cinco minutos de música na programação. Sem ser convidado, stan sentou no outro banco. - você está assustada com esse negócio do valentino? - você não estaria? - tio wilkins perguntou se eu era o cara misterioso dos telefonemas. Paris olhou de lado para ele enquanto mexia o conteúdo de um envelope de adoçante no chá. - não é você, é? - como se pudesse ser... - respondeu ele. - apesar de ser sexualmente incompetente. Pelo menos de acordo com o tio wilkins. - por que ele pensa assim? - genes ruins. Minha mãe era uma puta. Meu pai, um tarado. Titio paga as putas e pensa que ninguém sabe. Imagino que ele deve achar que esse fruto aqui não caiu Muito longe da árvore. Mas fora um transviado sexual, ele me considera um fodido
com "f" maiúsculo. - ele disse isso para você? - com todas as letras. - você já é um adulto. Por que aceita isso dele? Certamente não tem de aturar que bata em você. Stan olhou para paris como se ela fosse louca. - o que sugere que eu faça para impedi-lo? Stan tinha o dom de fazer paris querer estrangulá-lo e, no minuto seguinte, passar a mão na cabeça dele, consolando-o. Muitas fofocas picantes tinham circulado quando O pai de stan cometeu suicídio. No entanto, se havia alguma base de verdade, a família crenshaw era de fato disfuncional em muitos aspectos. Não era de admirar que stan tivesse problemas psicológicos para resolver. Quando a última música terminou, paris fez sinal para ele ficar quieto e ligou o microfone. - esse foi neil diamond. Antes dele, juice newton cantou "the sweetest thing". Espero que você tenha ouvido, troy. Essa música foi um pedido de cindy para você. Vou atender a outros pedidos até as duas horas. Ou então podem ligar e compartilhar suas idéias comigo e com os ouvintes. Telefonem, por favor. Em seguida, ela foi direto para dois minutos de anúncios. - você acha que ele vai ligar hoje? - perguntou stan depois que paris desligou o microfone. - suponho que esteja se referindo a valentino. Eu não sei. Não me surpreenderia. - não há nenhuma pista de quem ele pode ser? - a polícia está investigando diversas possibilidades, mas não tem muita coisa ainda. O sargento curtis torce para ele ligar esta noite, talvez dizer alguma coisa Que sirva de pista nova para eles. - paris olhou para as luzes das linhas telefônicas piscando na mesa de controle. - eu sei que outra ligação dele seria valiosa, mas fico arrepiada de pensar em falar Com ele. - agora estou me sentindo realmente mal de ter assustado você. Estava só brincando. - vou sobreviver. - grite se precisar de mim. - stan foi indo para a porta. - ah, stan, o dr. Malloy deve chegar daqui a pouco. Quer fazer o favor de ficar de olho na porta e abri-la para ele? Stan fez um muxoxo e voltou para o banco. - o que há entre você e o analista garanhão? Paris fez sinal para ele calar a boca e atendeu uma das ligações. - aqui é paris. O homem ao telefone pediu uma música de garth brooks, da trilha sonora do filme hope floats. - parece que jeannie é uma menina de sorte. - é por sua causa que estamos juntos. -eu? - jeannie recebeu uma proposta de trabalho em odessa. Nenhum de nós tinha dito para o outro o que sentia. Você aconselhou Jeannie a não viajar antes de revelar seus sentimentos. Ela fez isso, e eu disse que sentia a mesma coisa, por isso ela continuou no emprego daqui e vamos nos casar No ano que vem. - fico feliz que tenha dado tudo certo. - é, eu também. Valeu, paris. Paris incluiu "to make you feel my love" na programação e atendeu outra ligação. O ouvinte pediu para ela desejar feliz aniversário para alma. - noventa anos? Meu deus! E ela tem uma música predileta? Era uma canção de cole porter. Em poucos segundos, paris
Localizou na discoteca computadorizada e programou para tocar logo depois da balada de brooks. Depois de cuidar disso, paris olhou para stan. - você ainda está aqui? - estou, e mantenho a pergunta. E não me diga que você e malloy são velhos amigos de houston. - é exatamente isso que somos. - como se conheceram? - por intermédio do jack. A amizade deles durou mais que a faculdade. - mas não durou mais que você. - paris virou a cabeça rapidamente para ele. ah, estou só imaginando, mas percebo que acertei. - dê o fora, stan. - suponho que esse assunto é delicado. Exasperada, sabendo que stan ia insistir até conseguir alguma explicação, paris perguntou: - o que você quer saber? - se malloy era tão amigo, seu e do jack, quero saber por que nunca ouvi falar dele até a noite passada. - nós nos afastamos quando eu trouxe o jack para cá. - por que trouxe o jack para cá? - porque meadowview era o hospital que melhor atenderia às necessidades dele. Jack não foi capaz de manter a amizade. Eu estava ocupada providenciando o tratamento Dele e me estabelecendo neste emprego. Dean tinha a vida dele em houston, inclusive um filho pequeno. Acontece, stan. As circunstâncias afetam as amizades. Você Não perdeu contato com seus amigos de atlanta? Stan não mudou de assunto. - jack foi o motivo de você desistir da sua carreira na televisão e vir trabalhar nesse lixo? - quando ele sofreu o acidente, eu mudei minha carreira. Está bem? Está satisfeito? E essa é toda a história. - eu acho que não é - continuou stan, semicerrando os olhos. - parece lógico, até plausível, mas é conveniente demais. Acho que você não incluiu os sombreados. - sombreados? - as nuances que fazem uma boa história. - estou ocupada, stan. - além disso, nada que você contou explica a eletricidade que passou entre você e malloy ontem à noite. Quase queimou minhas sobrancelhas. Vamos lá, paris, desembuche - ele tentou convencê-la. - não vou ficar chocado. Você já viu a barriga feia da minha família e nada poderia ser mais escandaloso. O que aconteceu com vocês três? - eu já lhe contei. Se não acredita em mim, o problema é seu. Se quer sombreados, trate de inventá-los. Eu realmente não me importo, desde que o mantenha ocupado. E, nesse meio-tempo, será que não pode inventar alguma coisa produtiva para fazer? Paris voltou a prestar atenção na mesa de controle, nas linhas telefônicas, no monitor com a programação e no monitor de informação do estúdio, onde um novo boletim Meteorológico tinha sido apresentado por um meteorologista local. Stan deu um suspiro resignado e foi de novo para a porta. - não toque em nada quebrável - disse paris para ele, sem se virar. Mas a animação dela se desfez assim que stan saiu do estúdio. Jogou seu chá, que já estava morno e amargo, na lata de lixo. Queria esganar stan por ressuscitar aquelas Lembranças perturbadoras.
Mas não podia ficar pensando nelas. Tinha de fazer seu trabalho. Pegou o microfone e disse: - mais uma vez, feliz aniversário para alma. O pedido dela nos fez retroceder algumas gerações, mas toda canção de amor é um clássico aqui na fm 101.3. Sou paris Gibson e vou entretê-los até as duas da madrugada. Espero que fiquem comigo. Gosto Da companhia de vocês. E também gosto de tocar as músicas que vocês pedem. Telefonem para mim. Dean e ela tinham concordado que não diria nada para valentino, nem mencionaria janey, até ele chegar. Tinham saído da casa dela ao mesmo tempo, mas dean teve de Levar gavin em casa antes de ir para a estação. O jantar tinha sido bom. Por um acordo tácito, não falaram sobre o caso em que todos estavam envolvidos. Em vez disso, a conversa foi sobre filmes, música e esportes. E deram boas risadas com as lembranças que trocaram. Quando estavam saindo, gavin agradeceu a paris, educadamente, o jantar. - papai é um péssimo cozinheiro. - eu também não sou nenhuma mestre-cuca. - você chega mais perto do que ele. Paris percebeu que dean estava satisfeito de gavin e ela terem se entendido tão bem e do jantar ter sido tão tranqüilo. Tinha até ficado meio alegrinha e bebera Apenas meia taça de chardonnay, o seu limite numa noite de trabalho. A única coisa que comprometeu um pouco sua alegria foi o fato de saber que estava mantendo os Dois afastados de liz douglas aquela noite. Na série seguinte de comerciais, paris atendeu a todos os telefonemas. Cada vez que apertava um botão que piscava, sentia medo e, por isso, raiva de valentino. Ele A fez ter medo do trabalho que era sua salvação. Aquele emprego tinha sido seu chão nos sete anos em que ficou cuidando da saúde de jack. Só foi capaz de suportar Aqueles dias intermináveis no hospital porque sabia que podia fugir para a estação de rádio à noite. Recebeu uma ligação de uma jovem chamada joan, cuja personalidade era tão efusiva que paris resolveu pô-la no ar. - você disse que é fã do seal. - eu o vi uma vez, num restaurante em los angeles. Ele parecia superlegal. Você pode tocar "kiss from a rose"? Com movimentos automáticos, paris pôs a música pedida atrás das três outras que já estavam na programação. Por que dean estava demorando tanto? Ela pensou. Ele mantinha a pose, mas paris sabia que estava profundamente preocupado com a ligação de gavin com janey kemp. Qualquer pai que amasse o filho ficaria preocupado, mas dean se culpava pelo mau comportamento de gavin e considerava falha dele. Assim como havia assumido a culpa quando o impasse de albert dorrie com a polícia de houston resultou em tragédia. Aquilo de novo. Uma outra lembrança. Por mais que se esforçasse para evitar, sua mente sempre voltava para lá. Para aquela noite. Dean apareceu no apartamento dela dezoito horas depois do sr. Dorrie tornar órfãos seus três filhos, matando primeiro a ex-mulher e depois se suicidando. Chegou sem avisar e pediu desculpas: - sinto muito, paris. Eu não devia vir sem avisar primeiro disse ele assim que paris abriu a porta. Parecia que não tinha sentado nas últimas dezoito horas, dormido, nem pensado. O queixo estava escuro com a barba por fazer. E paris também tinha descansado muito pouco. Passara a maior parte do dia na sala do noticiário da televisão, onde editou uma perspectiva geral do incidente
para Os jornais noturnos. Tragicamente, a história não era tão incomum. Incidentes parecidos aconteciam sempre em outras cidades. Tinha até acontecido em houston antes. Mas nunca com ela. Paris nunca tinha testemunhado uma coisa como aquela de tão perto e com tanto envolvimento pessoal. Estar na cena e conviver com ela era muito diferente de ler sobre O caso no jornal ou escutar, sem prestar muita atenção, o noticiário da televisão, fazendo alguma coisa ou preocupada com outra. Até seu câmera estafado foi afetado. A atitude brincalhona foi substituída pela depressão quando a van da reportagem seguiu a ambulância com os dois corpos até o necrotério. Mas ninguém que tinha passado por aquilo sentiu tanto a calamidade como dean. O desespero estava marcado profundamente no seu rosto. Paris fez sinal para ele entrar. - quer alguma coisa? Um drinque? - obrigado. Dean sentou pesadamente na beira do sofá e paris serviu uma dose de uísque para cada um. Deu o copo alto para ele e sentou ao seu lado. - estou atrapalhando você? - ele perguntou, desanimado. - não. Paris apontou para seu roupão atoalhado branco. O rosto estava lavado. Tinha deixado o cabelo secar naturalmente depois de um longo banho de imersão. Dean normalmente Não via paris assim, mas ela não estava preocupada com sua aparência. As coisas que pareciam importantes vinte e quatro horas antes agora eram insignificantes. - eu não sei por que vim para cá - disse ele. - eu não queria ficar na rua, estar com as pessoas, mas também não queria ficar sozinho. - eu sinto a mesma coisa. Paris não tinha querido passar a noite com jack. Ele estava desesperado para animá-la e ajudá-la a tirar da cabeça o que tinha vivenciado. Mas paris ainda não estava Pronta para se alegrar. Queria algum tempo para refletir. Além do mais, estava exausta. Ir ao cinema, ou até jantar fora, parecia tão remoto como voar até a lua. Até mesmo conversar com jack teria exigido uma energia que paris não tinha. O objetivo da visita de dean não parecia ser conversar. Depois daquelas primeiras e poucas frases, ele ficou parado, com o olhar vazio, tomando uns goles de uísque De vez em quando. Não preencheu o silêncio com conversa inútil. Ambos sabiam que o outro estava péssimo com o final do impasse. Paris achava que dean também se consolava Apenas estando perto de alguém com quem tinha compartilhado aquela tragédia. Dean levou meia hora para terminar de beber o uísque. Deixou o copo vazio na mesa de centro, ficou olhando para ele alguns segundos e depois disse: - eu tenho de ir. Mas paris não podia deixar dean ir embora sem oferecer algum consolo. - você fez tudo que pôde, dean. - isso é o que todo mundo diz. - porque é verdade. Você fez o melhor possível. - mas não adiantou grande coisa, não é? Duas pessoas morreram. - mas três continuam vivas. Se não fosse você, talvez ele tivesse matado os filhos também. Dean meneou a cabeça sem muita convicção. Paris ficou de pé quando dean se levantou e seguiu-o até a porta. Ele virou de frente para ela. - obrigado pelo drinque. - de nada. Alguns segundos passaram e só depois dean disse:
- peguei sua história no noticiário das seis. - pegou? - estava boa. - corriqueira. - não, foi boa mesmo. - obrigada. - de nada. Dean prendeu paris com o olhar fixo, e os olhos dele pareciam implorar, uma súplica que paris sabia que os dela deviam estar espelhando. Emoções que não podia negar, Mas que abafava havia meses, explodiram dentro dela. Quando dean a segurou, paris já entreabria os lábios para receber o beijo dele. Mais tarde, relembrando, quando pôde ser brutalmente sincera com ela mesma, paris descobriu que quis que ele a beijasse, e que se ele não tivesse tomado a iniciativa, Ela tomaria. Tinha de tocá-lo, senão morreria. O desejo que sentia por ele era essencial. Dean deve ter sentido a mesma coisa. Sua boca uniu-se à dela com sede e possessividade. O fingimento e a educação se desmancharam. Os grilhões da consciência se Romperam. A tensão que se acumulava havia meses foi liberada. Paris enfiou os dedos no cabelo de dean. Ele desfez o nó da faixa do roupão dela e, quando enfiou a mão por dentro, paris não protestou, ficou na ponta dos pés para Unir mais ainda os corpos dos dois. Eles se encaixavam. E a perfeição disso interrompeu o beijo por um tempo. Eles só se abraçaram, com força. A cabeça de paris rodopiou com a sobrecarga de sensualidade. O metal frio da fivela do cinto de dean encostado na barriga Dela. A textura da calça dele contra suas coxas nuas. O algodão fino da camisa nos seus seios. O calor do corpo dele passando para a pele dela. Então os lábios de dean procuraram os dela mais uma vez. Eles se beijaram e dean pôs a mão no seio dela. Acariciou com o polegar o mamilo ereto, depois abaixou a Cabeça e o chupou com sofreguidão. Balbuciando o nome dele, paris apertou a cabeça de dean contra o peito. Dean fez paris deitar no chão, ela desabotoou a camisa dele e desnudou seus ombros, mas logo ele a beijava novamente. Entre as coxas, paris sentiu dean desafivelando O cinto e abrindo o zíper da calça. A cabeça do pênis roçou seus pêlos púbicos, explorou-a e a penetrou. A ereção de dean distendeu e preencheu paris. Ele pôs todo o seu peso nela, e paris o absorveu, feliz, apertando os quadris dele entre as coxas. A pressão era incrivelmente Doce. Os sons que subiam do peito dela eram uma jubilosa mistura de riso e choro. Dean beijou as lágrimas que escorriam dos cantos dos olhos de paris, então segurou-lhe a cabeça com as mãos fortes e encostou a testa na dela, rolando suavemente Para um lado e para outro, na troca do ar que respiravam e da intimidade completa. - deus me ajude, paris - disse ele com a voz rascante. - eu precisava estar dentro de você. Paris deslizou as mãos por dentro da roupa e apertou as nádegas de dean, forçando-o mais para dentro dela ainda. Dean aspirou rapidamente, sibilando, e começou a Se mexer. Com cada investida insinuante, a intensidade do prazer aumentava. E também o significado. Dean segurou o queixo de paris e levantou sua cabeça para beijá-la. Dean ainda a beijava quando paris gozou, de modo que seus gemidos suaves soaram na boca de dean. Segundos depois, ele gozou também. E continuaram agarrados um
ao Outro. A separação foi gradual e relutante. Quando o êxtase físico começou a diminuir, o significado moral do que tinham feito se avolumou. Paris tentou ignorar. Quis rebelar-se Contra a injustiça da situação. Mas era inexorável. - meu deus - gemeu ela, virou de lado e ficou de costas para ele. - eu sei. Dean pôs o braço na cintura de paris e puxou-a contra o peito. Beijou-lhe o pescoço de leve e afastou mechas de cabelo do rosto molhado. Mas a mão dele ficou paralisada quando o telefone tocou. Mais cedo, paris tinha ligado a secretária eletrônica para poder monitorar as ligações. Agora a voz de jack soava no alto-falante, transformando-o numa terceira Presença na casa. - oi, querida. Só liguei para saber de você, para ver como está. Se estiver dormindo, nem se preocupe em ligar de volta. Mas se estiver acordada e quiser conversar, Sabe que estou pronto para ouvir. Estou preocupado com você. Com o dean também. Estou ligando para ele a noite toda, mas ele não está atendendo nenhum telefone. Você sabe como ele é. Deve estar pensando que foi culpa dele o impasse ter dado no que deu. Tenho certeza de que ele está precisando de um amigo esta noite, por Isso vou continuar tentando falar com ele. De qualquer modo, te amo. Bom descanso. Tchau. Nenhum dos dois se mexeu por muito tempo. Então paris se desvencilhou de dean e se arrastou até a mesa de centro, encostou a cabeça na madeira com tanta força que Chegou a doer. - paris... - vá embora, dean. - estou me sentindo tão mal quanto você. Paris olhou para ele por cima do ombro nu, pois arrastava o roupão corno cauda de vestido de noiva. Puxou a manga, aflita para cobrir a parte do seio que estava Descoberta. - você não pode estar se sentindo tão mal quanto eu. Por favor, vá embora. - eu me sinto mal pelo jack, sim. Mas não me arrependo, de jeito nenhum, de ter feito amor com você. Tinha de acontecer, paris. Eu soube disso no primeiro minuto Que a vi, e você também. - não, eu não sabia. - você está mentindo - disse ele, baixinho. Paris abafou o riso. - uma ofensa pequena comparada com trepar com o padrinho do meu noivo. - você sabe muito bem que não foi nada disso. Podia ser muito mais fácil para nós se fosse apenas isso. Era verdade. Por trás da vergonha, o coração de paris se despedaçava ante o desespero de saber que nunca mais aquilo ia acontecer. Talvez pudesse se perdoar por Um simples tropeço, uma descarga hormonal, uma falta de sensatez temporária. Mas tinha sido significativo demais para poder ser descartado e perdoado. - vá embora, dean - soluçou paris. - por favor. Vá embora. Ela apoiou a cabeça na mesa outra vez e fechou os olhos. Lágrimas ardentes rolaram pelo rosto enquanto ouvia o farfalhar da roupa dele, o tilintar da fivela do cinto, O zíper se fechando e os passos abafados no tapete quando foi para a porta. Suportou um silêncio penoso até ouvir a porta abrir se e depois fechar devagar. - paris? Ela levou um susto e olhou para trás, para a porta do estúdio. Dean estava lá, parado, como se tivesse se materializado da sua lembrança.
Estava tão perdida em seus pensamentos que levou alguns segundos para entender que aquilo era o aqui e agora, não uma extensão do seu devaneio. Engoliu em seco e Fez sinal para ele entrar. - tudo bem. Meu microfone está desligado. - crenshaw disse que eu podia entrar se não fizesse barulho. Dean sentou no banco ao lado do dela e, por um momento De loucura, paris teve vontade de se jogar nos braços dele, recomeçar de onde tinham parado na sua memória. A barba por fazer tinha deixado a pele dela vermelha Aquela noite. Em poucos dias voltou ao normal. Mas as marcas sensuais em sua mente jamais desapareceram. O beijo da véspera tinha revelado que essas marcas eram Muito vivas e precisas. - nada ainda do valentino? Paris balançou a cabeça para responder, mas também para livrar-se dos persistentes puxões sexuais. - você deixou gavin em casa sem problemas? - com ordens para não sair, e acho que esta noite ele não vai me desobedecer. Ele ficou abalado de ser interrogado na delegacia. E certamente se comportou muito Bem no jantar. É claro que estava tentando impressionar você. - bem, e conseguiu, porque eu fiquei impressionada mesmo. Ele é maravilhoso, dean. Dean meneou a cabeça, pensativo. -é. Paris ficou observando dean um pouco e notou a ruga de preocupação que se formara entre as sobrancelhas dele. -mas? Dean focalizou o olhar nela. - mas ele está mentindo para mim. Capítulo vinte e quatro O sargento robert curtis trabalhava horas extras. Estava escondido no seu cubículo dentro do bci, onde apenas mais um detetive dava plantão, com um caso de assalto. O rádio na mesa de curtis estava sintonizado na 101.3. Ele ouvia a voz de paris gibson enquanto lia a informação que conseguira sobre a carreira dela, interrompida Na televisão, e a partida para houston. Os amigos dele na polícia de houston tinham sido muito eficientes e mandaram por fax tudo que já tinha sido publicado sobre Paris, jack donner e dean malloy. Era matéria interessante. A busca no apartamento de lancy ray fisher, também conhecido como marvin patterson, produziu algumas surpresas também, especificamente uma caixa de fitas cassete, Todas dos programas de rádio de paris gibson. Ora, por que, imaginou o detetive, um ex-condenado, que se fazia passar por zelador, se interessaria tanto por paris, a ponto de colecionar gravações de programas Antigos, se podia ouvi-la ao vivo todas as noites? A mãe de lancy não ajudou muito. Um detetive especial, depois de vasculhar milhas de papelada e resmas de registros, localizou a mulher. Atualmente morava num camping de trailers em san marcos, Uma cidade ao sul de austin. Curtis tinha feito a viagem de trinta minutos de carro até lá pessoalmente. Poderia ter despachado outro detetive para fazer a entrevista, mas queria ouvir em primeira Mão por que o filho da sra. Fisher, lancy, que vivia sob o codinome de marvin patterson, parecia tão obcecado por paris gibson.
O interior do domicílio da sra. Fisher era ainda pior do que o lado de fora, e ela era tão desleixada e pouco hospitaleira quanto seu lar. Quando curtis lhe mostrou O distintivo, a mulher primeiro ficou desconfiada, depois beligerante e finalmente agressiva: - por que você não se manda? Eu não tenho nada para dizer para nenhum maldito tira. - lancy veio visitá-la recentemente? - não. Curtis sabia que ela estava mentindo, mas teve a impressão de que não existia amor entre mãe e filho, e que ela gostaria de ter uma chance de desabafar as reclamações Que tinha dele. Em vez de desafiar a veracidade da resposta da mulher, curtis permaneceu em silêncio e ficou tirando os pêlos de gato da calça enquanto esperava A sra. Fisher dar uma tragada no cigarro e resolver se abrir. - lancy tem sido um espinho na minha vida desde que nasceu - ela começou. quanto menos ele aparecer por aqui, melhor para mim. Ele vive a vida dele e eu vivo a Minha. Além do mais, ele agora anda muito arrogante. - arrogante? - as roupas dele, coisas assim. Está de carro novo. Pensa que é melhor do que eu. O que não seria grande coisa, pensou curtis. - qual a marca e o modelo do carro dele? Ela bufou com desprezo. - eu não sei distinguir um carro japonês do outro. - a senhora sabia que ele estava trabalhando numa estação de rádio? - varrendo, foi o que ele me disse. Ele teve de aceitar esse emprego depois de ser demitido do outro por furto. Aquele era um bom emprego e ele estragou tudo. Ele É burro, além de irresponsável. - a senhora sabia que ele usava um nome falso? - não me surpreenderia com nada que aquele menino fizesse. Não depois de se viciar em cocaína e tudo. - a mulher chegou para a frente e disse, sem ar e com a voz Baixa: - sabe, foi por isso que ele fez aqueles filmes pornôs. Para conseguir a droga. - filmes pornôs? - sabe a minha vizinha? Que mora na segunda fileira? Ela chegou aqui correndo uma noite, não faz muito tempo, e disse que tinha visto o meu menino, lancy, balançando O troço dele num filme sujo que ela havia alugado na videolocadora. Eu disse Que ela era uma porra de uma mentirosa, mas ela disse: então venha ver. A sra. Fisher se endireitou na poltrona e assumiu a pose indignada de uma recémconvertida que só sente desprezo pelos não-penitentes. - e, é claro, lá estava ele, nuzinho em pêlo, fazendo coisas que eu nunca tinha visto na vida. Fiquei morrendo de vergonha. Curtis fingiu simpatia por uma mãe cujo filho saíra da linha. - ele ainda trabalha na, ha... Indústria cinematográfica? - não. E também não usa mais drogas. Pelo menos ele diz que não. Foi há muito tempo. Ele era apenas um garoto. Mas mesmo assim... A sra. Fisher acendeu outro cigarro. Curtis ia sair de lá com a sensação de ter fumado três maços, e com o fedor condizente também. - que nome ele usava quando fez os filmes? - não lembro. - quais eram os nomes dos filmes em que ele participou? - não lembro, nem quero saber. Você pode perguntar para a minha vizinha. Como é que pode uma senhora da idade dela assistindo a esse lixo? Ela devia se envergonhar
Disso. - lancy tem muitas namoradas? - você não ouve bem, não é? Ele não me conta nada. Como é que vou saber alguma coisa das namoradas dele? - ele alguma vez mencionou paris gibson? - quem? Isso é menino ou menina? A reação confusa da mulher foi autêntica demais para ser fingimento. - não importa. - curtis se levantou. - sabe, sra. Fisher, acobertar e favorecer é crime. - eu não acobertei nem favoreci ninguém. Eu já disse que lancy não esteve aqui. - então não se incomoda se eu der uma espiada. - você tem um mandado? - não. Ela soprou uma nuvem de fumaça na cara de curtis. - ah, que diabos. Pode olhar. Não era um lugar grande, por isso, fora o fato de ter de se esquivar de gatos sibilantes e da merda deles, a espiada não demorou muito. E também não levou muito Tempo para determinar que alguém tinha dormido no segundo quarto. A cama estreita estava desarrumada e havia um par de meias no chão ao lado. Quando se abaixou para Pegar uma das meias, notou a lajota solta embaixo da cama. Ela se desprendeu toda com uma cutucada do seu canivete. Curtis guardou de novo o que encontrou exatamente como estava e foi procurar a sra. Fisher no que supostamente era a sala de estar. Perguntou de quem eram as meias. - lancy deve ter deixado aí da última vez que esteve aqui. Há muito tempo. Ele nunca foi organizado com as coisas dele. Outra mentira, mas curtis perderia seu tempo contestando. Ela ia continuar mentindo. - a senhora sabe se lancy tem um computador? - ele pensa que eu não sei, mas eu sei. - e um gravador? - disso eu não sei, mas todos esses aparelhos modernos são dinheiro jogado fora, se quer a minha opinião. - vou deixar o meu cartão, sra. Fisher. Se lancy aparecer por aqui, faz o favor de me telefonar? - o que ele fez? — fugiu de um interrogatório. - sobre o quê? Não deve ser boa coisa. - eu só queria conversar com ele. Se souber dele, estará fazendo um favor para ele mesmo se me avisar. Ela pegou o cartão de visita e pôs na bandeja cheia de coisas ao lado da poltrona reclinável. Curtis não ouviu direito o que a mulher resmungou com o cigarro pendurado Nos lábios, mas não pareceu uma promessa de fazer o que ele tinha pedido. Curtis estava ansioso para sair para o ar livre, longe da ameaça de explodir em pedacinhos junto com o balão de oxigênio da sra. Fisher, mas parou quando estava Na porta e fez mais uma pergunta: - a senhora disse que lancy foi mandado embora de um bom emprego por furto. - foi isso que eu disse. - onde ele estava trabalhando? — na companhia telefônica. Assim que entrou no carro, curtis fez contato com a polícia de san marcos, explicou a situação e pediu para vigiarem o trailer da sra. Fisher. Depois, pediu para Outro detetive da sua unidade tirar a ficha de emprego de lancy fisher na companhia telefônica. O tráfego na interestadual 35 na direção norte estava se arrastando devido a
obras na estrada, por isso, quando o sargento curtis chegou ao quartel-general, a informação De que precisava já estava disponível. O registro do emprego de fisher na southwestern bell estava no nome verdadeiro dele. Tinha sido um funcionário exemplar até Ser pego furtando equipamento. - alta tecnologia na época - informou o detetive. - mais ou menos obsoleto agora, porque a tecnologia se modifica muito depressa. - mas ainda é utilizável? - segundo o especialista, sim. Armado com essa informação, curtis pôs lancy ray fisher na lista dos suspeitos e concentrou sua atenção no material que tinham enviado de houston por fax. Havia cópias de artigos de jornal, transcrições de cobertura na televisão e material impresso tirado da internet. Contavam uma trágica história e preenchiam algumas Lacunas que malloy não tinha querido explicar. Por exemplo, curtis agora compreendia por que paris gibson usava óculos escuros. Tinha sido ferida nos olhos no mesmo acidente de carro que vitimou jack donner, Deixando-o apenas com o coração batendo e funções cerebrais mínimas. Paris viajava no banco do carona, com cinto de segurança. Quando o carro bateu no pontilhão da ponte em alta velocidade, os air bags explodiram. Porém, não serviram Para protegê-la do vidro estilhaçado do pára-brisa, que devia ser à prova de estilhaços, mas não era, especialmente quando o motorista, de noventa quilos, foi catapultado Através dele. Jack donner não usava seu cinto de segurança. O air bag retardou sua ejeção do carro, mas não impediu que acontecesse. Ele sofreu traumatismo craniano muito grave. Os danos foram irreparáveis e extensos. Ficou fisicamente debilitado pelo resto da vida. Sua capacidade mental ficou reduzida a reações a estímulos visuais, táteis e auditivos. As reações eram fracas, equiparáveis a De um recém-nascido, mas suficientes para evitar a classificação como morte cerebral. Ninguém podia desligar a máquina. De acordo com o relatório, o dr. Dean malloy, da polícia de houston, foi o primeiro a chegar à cena do acidente. Ele estava seguindo o sr. Donner em seu próprio Carro, testemunhou o acidente e fez a chamada para o 911 do seu celular. Tudo indica que agiu como amigo carinhoso e dedicado, que ficou de vigília vários dias depois Do acidente no quarto do hospital da srta. Gibson e do cti onde estava o sr. Donner. A última história sobre o trágico destino do sr. Donner dizia que paris gibson tinha se recuperado dos ferimentos menores e que, depois de pedir demissão do seu Cargo na emissora de televisão, levou donner para uma clínica particular. Citaram paris agradecendo aos amigos, colegas de trabalho e fãs que enviaram flores e cartões desejando melhoras para ela e para o noivo. Ia sentir saudade do trabalho Na tv e de todas as pessoas maravilhosas de houston, mas sua vida tinha sofrido uma reviravolta inesperada e agora precisava seguir um novo caminho. Na última história, não havia menção a dean malloy, uma omissão que praticamente saltava aos olhos de curtis. Quando alguém desaparece do radar de uma amizade forte E duradoura, tem de haver um bom motivo. Aquilo não era nenhum mistério sombrio, nem profundo. Curtis tinha visto como malloy olhava para paris e vice-versa. Com tesão desenfreado. Mas o cuidado que os
Dois tomavam para não olhar um para o outro também denunciava o desejo que ia além do físico. Era o fato de estarem sempre evitando um ao outro que os incriminava. Se aquilo era tão visível para ele, que os conhecia havia apenas dois dias, devia ter sido perfeitamente óbvio para jack donner. Conclusão: num caso de amor, três era demais. Quando ouviu o programa de paris, sua raiva aumentou. Ela não falava dele, de valentino. Mas falava sem parar de janey kemp. Não cansava de repetir que os pais dela queriam muito que ela voltasse a salvo. Falava Dos amigos dela, preocupados com sua segurança. Exaltava suas qualidades. Que farsa! Janey tinha dito o quanto desprezava os pais e que esse sentimento era mútuo. Amigos? Janey tinha conquistas, não amigos. Quanto a virtudes, não possuía Nenhuma. Mas ouvindo paris falar, parecia que janey era uma santa. O ideal americano de bondade, amizade, charme e beleza. - se pudesse vê-la agora, paris - disse ele, rindo baixinho. Agora sentia tanta aversão a janey que tinha ficado bem pouco tempo com ela aquele dia. Não era mais linda e atraente. O cabelo, um dia cheio e sedoso, parecia corda Velha enrolada na cabeça. A pele tinha perdido o viço. Os olhos que podiam ser sedutores ou zombeteiros quando ela queria agora estavam opacos e sem vida. Janey Mal tomou conhecimento de sua presença no quarto, olhava o vazio, sem ver nem piscar, nem quando ele estalou os dedos a um centímetro do nariz dela. Parecia meio morta, e a aparência era ainda pior. Um banho melhoraria as coisas, mas não ia se dar ao trabalho de carregá-la até o banheiro para lavá-la. Ele não se preocupava com praticamente nada, a não ser cuidar daquela encrenca em que tinha se metido. O tempo para chegar a uma solução viável já estava se esgotando. Dera a paris um prazo de setenta e duas horas e, se tivesse um mínimo de caráter, algum orgulho, realmente deveria cumprir aquele prazo. Janey se tornara um compromisso maior do que ele havia previsto. E também havia a questão do que fazer com paris. Ele realmente não tinha planejado mais do que levar janey para lá e usá-la como a menina costumava implorar para ser usada. Ela era uma puta que alardeava estar Disposta a experimentar qualquer coisa. Ele pagou para ver, foi só isso. E suas bazófias também não eram sem fundamento. Ela provou ser uma verdadeira degustadora De baixarias e sacanagens. Não tinha planejado a sério que aquilo terminasse com a morte dela, assim como não planejara matar maddie robinson. Seu relacionamento com maddie tinha simplesmente Chegado àquele resultado. Ela disse "não quero vê-lo nunca mais", e ele tratou de providenciar para que não visse mesmo. Nunca mais. Por esse ângulo, a menina havia Decidido o próprio destino, não ele. E quanto a paris, não tinha planejado grande coisa além daquele primeiro telefonema, para dizer que tinha tomado uma atitude contra a mulher que o traíra. Quis assustá-la, Deixá-la abalada, e torcia para ela perceber sua bestice insuportável. Quem ela pensava que era para dar conselhos sobre amor, sobre a vida e sobre sexo e relacionamentos? O que não tinha previsto era que o seu telefonema pudesse deflagrar uma investigação policial e virar o acontecimento que tinha virado na mídia. Quem podia imaginar Que todo mundo ia se preocupar tanto com janey se ela estava recebendo exatamente o que tinha pedido?
Não, aquilo tinha crescido e se transformado em algo muito maior do que pretendia. Sentia que estava perdendo o controle da situação. Para sobreviver, ele precisava Recuperar esse controle. Mas por onde começar? Uma maneira seria soltar janey. É, podia fazer isso. Podia largá-la perto da casa dos pais. Janey não sabia o nome dele. Podia tirar tudo do quarto e sumir para que não o encontrassem, caso janey Algum dia levasse a polícia até a "cena do crime". Teria de parar de ir aos locais dos encontros do clube do sexo ou arriscar-se a ser visto por ela, mas encontrar O que fazer nunca seria um problema. O clube do sexo era apenas um dos recursos. Não era um plano perfeito, mas provavelmente o melhor curso de ação que lhe restava. Telefonaria para paris aquela noite, na hora marcada, e diria que sua intenção Fora apenas brincar com ela, para que ela entendesse que não devia brincar com as emoções das pessoas, distribuindo conselhos piegas. Nunca imaginei que você me Levaria a sério, paris. Não pode aceitar uma brincadeira? Sem ressentimentos, falou? Sim, esse era definitivamente um plano viável. - ... Aqui na fm 101.3 - ele ouviu paris dizer, interrompendo seus pensamentos. - fiquem comigo até as duas da madrugada. Acabei de receber uma ligação da melhor Amiga de janey, melissa. Melissa. - melissa, você gostaria de dizer alguma coisa para os nossos ouvintes? perguntou paris. - gostaria, eu só... Você sabe... Eu quero que janey volte para casa sã e salva. Janey, se você estiver ouvindo isso, e estiver bem, volte para casa. Ninguém vai Brigar com você. E se há alguém aí prendendo janey contra a vontade dela, devo dizer que isso não está com nada. Solte-a. Por favor. Nós só queremos janey de volta. Então... Acho que é isso. - obrigada, melissa. Espere aí, então era ele o vilão da história? Não tinha feito nada com janey kemp que ela não quisesse. E paris também não era a princesinha que queria que todos Acreditassem que era. Não era melhor do que ninguém. Discou o número que já sabia de cor, sabendo que não seria rastreado até o seu celular. Tinha providenciado isso. - aqui é paris. - o assunto desta noite é dean malloy. - valentino? Deixe-me falar com janey. - janey não está a fim de conversar - disse ele -, nem eu. - os pais de janey querem que eu peça para você... - cale a boca e ouça. Se você e o seu namorado não fizerem alguma coisa bem depressa, terão duas mortes na consciência. A de janey. E a de jack donner. - eu me sentiria melhor se você ficasse na minha casa até isso terminar. Tenho um quarto extra. Nada de mais, mas é confortável. E seguro. Dean tinha insistido em acompanhá-la até em casa e esperar que ela entrasse. Como das outras vezes, a ligação de valentino tinha sido rastreada até um telefone público Sem ninguém por perto, sem pista nenhuma. A polícia estava agora convencida de que ele jamais chegou perto daqueles telefones. A ligação foi a mais desconcertante de todas, porque ele parecia ainda mais furioso e irritado do que antes. Aludiu mais uma vez à morte de janey. E é claro que A referência que fez a dean e a jack foi um novo elemento alarmante. Ou
valentino era um excelente adivinho ou sabia com certeza que a morte de jack implicava paris E dean até certo ponto. - obrigada pela oferta, mas estarei segura aqui. Paris entrou em casa na frente de dean. Ele acendeu um abajur de mesa. Paris o apagou imediatamente. - estou me sentindo como um peixinho dourado com as luzes acesas. Eles podem ver tudo aqui dentro. Dean olhou para o carro de polícia estacionado na frente da casa. - estou vendo que substituíram griggs. - é a noite de folga dele. Curtis me disse que o pessoal seria diferente, mas que a equipe era toda muito atenta. Quando dean fechou a porta, ela perguntou: e O gavin? Valentino tinha falado de dean com tanto desprezo que estavam preocupados não só com a segurança do próprio dean e de paris, mas com a segurança de gavin também. - já cuidamos dele. Curtis despachou um carro da polícia para a minha casa. Telefonei para gavin e avisei a ele. - e liz? - achei que não precisava da polícia por perto, mas falei com ela e disse para ficar atenta. Para certificar-se de ligar o alarme e de telefonar para mim se acontecer Qualquer coisa fora do comum. - ela é que talvez devesse ficar no seu quarto vago. Em vez de pegar a luva e aceitar o duelo, dean disse: - isso é outra conversa, paris. Paris deu meia-volta e foi para a cozinha. Dean foi atrás. Eram duas e meia da madrugada, mas os dois estavam perturbados demais para dormir. - vou fazer um chocolate quente - disse ela. - quer um pouco? - está fazendo vinte e sete graus lá fora. Paris olhou para ele com uma cara de pegar ou largar. - tem suco? - perguntou dean. Enquanto esquentava a água no microondas, paris serviu um copo de suco de laranja para dean e pegou um pacote de biscoitos na despensa. - sobre o que você acha que ele está mentindo? - valentino? - gavin. Hoje mais cedo, você disse que achava que ele estava mentindo para você. Ficamos ocupados com todas as ligações e não terminamos aquela conversa. Dean ficou um tempo olhando para o copo de suco. - a merda é essa - disse ele. - eu não sei sobre o que ele está mentindo, só sei que está. Paris misturou um envelope de chocolate em pó na água quente da caneca, apontou para dean pegar o biscoito e ir com ela para a sala de estar. Ela sentou numa ponta Do sofá, ele na outra. O pacote de biscoitos ficou na almofada entre os dois. O abajur continuou apagado, mas o brilho das luzes da varanda entrava pelas janelas E dava para enxergar bem. Paris tirou os óculos escuros. - você acha que ele está mentindo sobre o que fez aquela noite? - perguntou paris. - por omissão, talvez. O meu medo é que tenha acontecido mais coisas no encontro com janey do que ele quer admitir. - acha que eles fizeram sexo? - possivelmente, e ele não quer que ninguém saiba. - porque isso tornaria a história de tê-la deixado para se juntar aos amigos menos verossímil. - certo. - dean mordeu um biscoito. - mas, falando sério, como gavin poderia ser valentino? A voz não soa como a dele. Ele não sabe de nós dois. - dean olhou bem Para paris. - aquela parte, de qualquer modo. Ele não tem habilidade técnica
para transferir chamadas telefônicas. - perguntei ao stan como funciona essa tecnologia. - por que ele saberia? - ele gosta de aparelhos de todo tipo, brinquedos caros. Não olhe para mim desse jeito - disse paris quando a sobrancelha de dean formou um arco suspeito. - ele Não é valentino. Não tem culhão para isso. - o que sabe sobre os culhões dele? - ah, por favor - gemeu ela. - você quer ouvir isso ou não? Dean pigarreou sem responder e pegou outro biscoito. Paris continuou: - stan disse que não seria difícil. Qualquer um que tivesse acesso a um certo equipamento devia poder aprender como fazer isso pela internet. - e alguém que tivesse trabalhado para a companhia telefônica? - talvez não tivesse dificuldade nenhuma. Por quê? - antes de ser zelador, marvin patterson era técnico da southwestern bell. Dean tinha seguido paris até a casa dela desde a estação de rádio no próprio carro. No caminho, teve uma longa conversa com curtis pelo celular. E contou para ela Tudo que o detetive havia descoberto sobre lancy fisher. - ele tinha uma coleção de fitas cassete? Do meu programa? O que isso pode significar? - não sabemos - respondeu dean. - por isso curtis mandou os caras da inteligência para a rua, consultar todos os informantes deles, para descobrir o tímido sr. Fisher. Temos muitas perguntas para ele, e a número um é por que essa preocupação toda com você. - que é uma coisa espantosa. Ele nunca demonstrou o menor interesse por mim. Ficava sempre de cabeça baixa e falava raramente. - comportamento estranho para um ex-ator. - ator? O marvin? - ele apareceu... Inteirinho... Em uns dois filmes pornô. - o quê?! - exclamou paris. - tem certeza de que estamos falando do mesmo homem? Dean contou o que curtis tinha descoberto com a mãe de lancy fisher. - nada disso explica por que ele gravava seu programa todas as noites. Pelo menos é o que parece. Ele tinha noventa e duas fitas cassete ao todo. Curtis disse que Não eram muito boas. Provavelmente gravadas diretamente do rádio. Horas de canções de amor e da voz sexy de paris gibson. Podia ser que marvin simplesmente se masturbasse Ouvindo você falar. Mas isso seria uma quantidade enorme de masturbações. - poupe-me dessa imagem, por favor. - ele alguma vez... - nada, dean. Ele nunca balbuciou mais do que duas ou três palavras para mim. E não me lembro de ter alguma vez olhado nos meus olhos. - então, no que diz respeito a esse caso, ele pode ser perfeitamente inocente. Talvez só tenha desaparecido porque é um ex-condenado e, como tal, tem uma aversão natural aos interrogatórios da polícia, mesmo não tendo nada a esconder. Dean parou de falar e ficou observando paris atentamente, tempo suficiente para ela perguntar: - o que foi? - curtis virou o próprio sherlock holmes do nosso passado. Paris assoprou o chocolate quente, mas subitamente perdeu A vontade de tomá-lo. - qual é a boa notícia? - não há nenhuma. Ele disse com todas as letras que conhecia os fatos por trás da sua saída de houston. O acidente. O trauma que jack sofreu. A sua demissão da televisão E assim por diante. - só isso? - bem, ele parou por aí, mas o silêncio depois transbordava de curiosidade e
insinuações. - deixe que ele insinue o que quiser. - foi o que eu fiz. Paris deixou a caneca na mesa de centro, deu um profundo suspiro e encostou a cabeça na almofada do sofá. - não estou surpresa com a curiosidade dele. Afinal de contas, é um detetive. E nem teve de ir muito fundo. Era só arranhar a superfície e exibir toda a minha vida Para quem quisesse ver. - sinto muito. Paris deu um sorriso triste. - não tem importância. Outros aspectos de tudo isso são mais importantes. Gavin, por exemplo - com a cabeça ainda encostada na almofada, ela virou e olhou para dean. - o que aconteceu com o rosto dele hoje? - eu não bati nele, se é o que está pensando. Ofendida com o tom e com a própria afirmação, paris endireitou o corpo de estalo. - não era nada disso que eu estava pensando. Paris pegou a caneca de chocolate e saiu zangada da sala. - tranque a porta quando sair - disse ela. Capítulo vinte e cinco Com movimentos ríspidos, furiosos, paris lavou a caneca de chocolate, depois apagou a luz sobre a pia da cozinha. Quando virou para trás, dean estava parado na porta Aberta, uma silhueta contra a luz fraca que vinha da sala de estar. - desculpe ter sido rude com você. - não foi isso que me irritou. Foi o fato de você pensar que eu podia imaginar que você tinha batido no gavin. - mas eu bati, paris. A admissão calou paris. - hoje não - continuou dean. - alguns dias atrás. Ele me provocou, eu perdi a paciência e dei um tapa na boca dele, com as costas da mão. A raiva de paris evaporou com a mesma rapidez que havia se formado. - ah. Então eu atingi um nervo exposto, não foi? - depois de um segundo, ela acrescentou suavemente: - eu sei o que aconteceu naquela época, na tech. Dean olhou para ela espantado. - jack te contou? - ele contou o suficiente. Mas só depois que comentei o seu rígido autocontrole. Dean encostou no batente da porta e fechou os olhos. - bem, o meu autocontrole falhou na outra noite com gavin, e hoje de novo, com rondeau. - rondeau? Dean contou a cena que interrompeu quando entrou no banheiro masculino. - ele segurava o rosto de gavin contra o espelho. Foi isso que o machucou. Eu queria matar o cara. - eu também ia querer. Por que ele fez tal coisa? - ele disse que tinha mãe e uma irmã, e que ficou tão ofendido com as mensagens obscenas que gavin deixou no site que, quando o viu, perdeu a cabeça. Uma desculpa Idiota que fedeu a mentira. - curtis sabe disso? - não contei a ele, e não imagino rondeau confessando. - você vai deixar esse assunto morrer? - não. Claro que não. Mas vou cuidar do rondeau do meu modo, e sem nenhuma interferência de curtis. - dean deu uma risada mal-humorada. - voltando para o
nosso amigo Detetive, ele é um cabeça-dura. Não vai desistir até saber tudo sobre o nosso "trio íntimo", como ele mesmo disse. - querendo se referir a você, jack e eu. - ele não é burro, paris. Sabe que essa história não é só o que apareceu na mídia, e que tem muito, muito mais, que não contamos para ele. - não é da conta dele. - ele acha que é. Pensa que o valentino pode voltar a esse assunto. Paris quis se afastar, mas dean a segurou e a fez virar de novo para ele. - precisamos conversar sobre isso, paris. Não falamos quando devíamos ter falado, sete anos atrás. Se tivéssemos encarado isso, talvez jack não tivesse tomado um Porre aquela noite. Devíamos tê-lo procurado e dito... - que o traímos. - que estávamos apaixonados, que nenhum dos dois tinha planejado nada, mas que aconteceu, e que as coisas eram assim mesmo. - sinto muito, jack. Que azar. Nós nos vemos por aí. - não teria sido assim, paris. - não, teria sido pior. - pior do que o que, pelo amor de deus? Pior do que o modo que tudo terminou? Dean respirou fundo e continuou a falar num tom de voz mais calmo, mais moderado: - jack era mais esperto do que você pensava. E muito mais sensível também. Ele percebeu que estávamos evitando nos Encontrar. Você não sabia que ele devia querer descobrir a causa disso? Claro que dean tinha razão. Paris tinha subestimado jack, achando que se fingisse que nada havia mudado, ele jamais saberia que tudo tinha mudado. A noiva e o melhor Amigo dele tinham feito amor. O relacionamento deles, dela com jack, dele com dean, dela com dean, tinha sido irremediavelmente alterado. Não podiam reverter ao Que eram antes. Tinha sido ingênua de pensar que podiam. - eu pensei... Eu pensei... - paris abaixou a cabeça e massageou as têmporas. nem lembro o que pensei, dean. Simplesmente não podia dizer para ele: "lembra daquela Noite depois do impasse, quando disse que queria ficar sozinha? Bem, o dean foi até a minha casa e nós transamos no tapete da sala." Em vez disso, paris tinha tomado uma atitude mais sutil, recusando toda vez que jack tentava reunir os dois. Suas desculpas foram ficando cada vez mais esfarrapadas. - depois de um tempo, jack quis saber por que eu não gostava mais de você. - eu tive uma conversa parecida com ele - disse dean. - ele perguntou se você e eu tínhamos brigado durante o seqüestro. Se a crise tinha despertado o policial em Mim e a repórter em você, os dois profissionais que nunca se entendem. Eu disse que ele estava completamente enganado, que gostávamos muito um do outro e que nos Respeitávamos. Então ele resolveu pôr isso à prova com aquele jantar surpresa. E, aquele jantar fatídico, pensou paris. Jack tinha combinado o encontro em um dos seus restaurantes favoritos. Dean e ela chegaram sozinhos e não esperavam ver O outro lá. Ficar cara a cara pela primeira vez desde aquela noite foi constrangedor, como paris temia que fosse. Fazer contato visual era difícil, mas ela não conseguia evitar Olhar para ele, e toda vez que fazia isso, pegava dean olhando para ela. E a conversa foi artificial e formal. - aquele jantar foi uma prova de resistência para mim disse dean. - você tinha recusado todas as minhas tentativas de conversar.
- tinha de ser aquela ruptura completa, dean. Não confiava em mim mesma, nem para falar com você pelo telefone. - meu deus, paris, eu estava morrendo por dentro. Precisava saber o que você estava pensando. Se estava bem. Se estava grávida. - grávida? - nós não usamos nada. - eu estava tomando pílula. - só que eu não sabia. - dean sorriu com tristeza. - por egoísmo, esperava que você tivesse engravidado. Nem agora paris podia admitir para dean que tinha se agarrado à mesma esperança vã, e que ficara desapontada quando a menstruação seguinte chegou. Um bebé forçaria Paris a contar a verdade para jack. Teria sido a justificativa dos dois para ter de magoá-lo. Só que não aconteceu. - foi um inferno para mim a aflição de não saber como você estava depois que a deixei aquela noite - dean estava dizendo. E de repente lá estava você, sentada a Um metro de mim, do outro lado da mesa, e eu não podia perguntar nem dizer o que queria. "e não era só isso. A traição com jack estava me matando", continuou dean. "toda vez que ele contava uma piada, ou punha o braço no meu ombro e me chamava de amigão, Eu me sentia como judas." - ele se esforçou para tornar a noite divertida. Sempre foi o animador da festa. Jack parecia determinado a ignorar o constrangimento deles. Bebeu demais, falou alto demais, riu demais. Porém, quando comiam a sobremesa, desistiu finalmente e Quis saber o que estava acontecendo. - olha, eu não agüento mais vocês dois - disse jack. - quero saber o que está havendo, e quero saber agora. O que aconteceu para vocês ficarem tão constrangidos Na presença um do outro? Estou achando que tiveram uma briga naquele seqüestro, ou andam se encontrando pelas minhas costas. Então contem como foi a briga, ou confessem. Achando que tinha dito algo muito engraçado, jack cruzou os braços sobre a mesa e deu um largo sorriso para os dois. Mas dean não retribuiu o sorriso de jack, e paris sentiu que seu rosto ia rachar se tentasse sorrir. O silêncio dos dois foi tremendamente eloqüente. Mesmo assim, jack levou alguns segundos para perceber, e, quando descobriu, foi uma cena horrível de ver. O sorriso desmoronou. Primeiro olhou Para ela, como se não estivesse entendendo nada. Depois olhou para dean, como se quisesse forçá-lo a dar uma risada e dizer: "não seja ridículo." e quando nenhum Dos dois disse nada, jack entendeu que de sua brincadeira tinha despontado a verdade. - filho-da-puta - disse ele. Jack levantou da mesa e deu um sorriso de desprezo para dean. - o jantar é por sua conta, amigo. Dean devia estar seguindo a mesma linha de pensamento de paris, porque ele disse: - nunca vou esquecer a cara que ele fez quando finalmente compreendeu. - nem eu. - na pressa de ir atrás dele para impedir que dirigisse naquele estado, derrubei a minha cadeira. Quando acabei de arrumá-la, vocês dois já tinham desaparecido. - não me lembro de ter corrido pelo restaurante atrás dele - disse paris. - mas me lembro claramente de alcançá-lo no estacionamento. Ele gritou comigo, disse para deixá-lo em paz. - mas você não deixou. - não, implorei para ele me deixar explicar. Ele só olhou furioso para mim e disse: "você trepou com ele?" Dean passou a mão no rosto, mas o gesto não adiantou muito para tirar o remorso
da sua expressão. - ouvi jack dizer isso do outro lado do estacionamento. Ouvi você dizer que ele não devia dirigir, que estava muito bêbado e muito furioso para isso. Sem dar ouvidos à súplica de paris, jack entrou no carro. Paris correu para a outra porta e por sorte estava destrancada. - eu entrei no carro com ele. Jack ordenou que eu saísse. Mas me recusei e prendi o cinto de segurança. Ele ligou o motor e pisou no acelerador. Ficaram em silêncio um tempo, perdidos nas lembranças daquela noite horrível. Dean foi o primeiro a falar: - jack tinha todo o direito de estar furioso conosco por termos transado. Se estivesse no lugar dele, eu... Meu deus, eu nem Sei o que teria feito. Acho que ia quebrá-lo em pedacinhos. Ele estava ferido e furioso, e se quisesse se matar por isso, nós não poderíamos fazer nada aquela noite, Nem em qualquer outra noite. Nós o traímos, paris. Temos de viver com isso pelo resto da vida. Mas ele traiu você quando partiu no carro daquele jeito. Dean pôs As mãos no pescoço dela e acariciou-a com as pontas dos dedos. - é por isso que eu o culpo. Ele podia ter te matado. - acho que ele não tinha intenção de matar ninguém. - tem certeza? - perguntou dean gentilmente. - o que vocês conversaram naqueles dois minutos entre o estacionamento do restaurante e aquela ponte na estrada? - eu disse que me arrependia de tê-lo magoado. Disse que nós dois o amávamos, que tinha sido um incidente isolado, um desabafo físico depois de uma experiência traumática, Que se ele pudesse nos perdoar, aquilo jamais aconteceria de novo. - ele acreditou em você? Uma lágrima escorreu pelo rosto dela e paris disse, com a voz embargada: - não. - e você acreditou no que disse? Paris fechou os olhos e liberou mais lágrimas. Moveu a cabeça lentamente de um lado para outro. Dean respirou fundo, puxou paris de encontro ao peito e alisou o cabelo dela. - talvez devêssemos ter dito mais - continuou ela. - mentido para ele? - podíamos salvá-lo. Ele estava enfurecido. Enlouquecido. Tentei convencê-lo a parar o carro e deixar eu dirigir, mas, em vez disso, ele acelerou mais ainda. Perdeu O controle do carro. Ele não bateu naquela mureta de propósito. - bateu sim, paris. - não - disse ela, desesperada, sem querer acreditar. - quando o motorista perde o controle, ele instintivamente pisa no freio. Eu estava logo atrás de vocês. As luzes de freio dele nunca acenderam. - dean inclinou A cabeça de paris para trás, para forçá-la, a olhar para ele. - jack amava você, não duvido disso. Amava tanto que queria casar com você. Amava tanto que teve uma crise de ciúme quando descobriu que você tinha estado comigo. "mas", enfatizou dean, "se amasse você como devia, sem possessividade e incondicionalmente, jamais teria pensado em levar você com ele. Por piores que tenham sido Os últimos anos dele, jamais o perdoei por tentar matá-la." Quando dean disse isso, paris o amou ainda mais. E ela o amava mesmo. Desde o momento em que se conheceram, paris descobriu que amar dean malloy era inevitável. Mas se deixar levar pela paixão era impossível naquele momento, e também agora. Sempre houve outras pessoas entre os dois. Jack, com certeza. E agora liz. Paris se desvencilhou do abraço dele e disse: - agora você precisa ir. - vou passar a noite aqui. - dean...
- eu durmo no sofá da sala - ele levantou as mãos num gesto de rendição. - se não acredita que não vou encostar as mãos em você, pode trancar a porta do seu quarto. Mas não vou deixá-la sozinha enquanto houver um lunático por aí à solta, querendo se vingar de você. - nem imagino como ele sabia que a morte de jack é um peso na minha consciência. - e na minha. - o que aconteceu conosco certamente não é de conhecimento público, e eu nunca comentei com ninguém. - ele deve ter pesquisado a sua vida e concluído o motivo do acidente de jack, como curtis fez. - o acidente de jack podia ter sido provocado por muitas coisas - argumentou paris. - mas só uma poderia acabar com a nossa amizade. Não é tão difícil de adivinhar assim, paris. Valentino tem um problema pessoal com mulheres infiéis. Se ele concluiu Que você traiu jack comigo, então você está personificando a nêmesis dele. E, mesmo se fosse uma suposição equivocada, valentino já transformou-a na realidade dele, E é com essa convicção que ele vai agir - dean balançou a cabeça obstinadamente. - eu fico. Cochilou no sofá até o dia amanhecer, e então saiu sem fazer barulho. Acenou para os dois policiais sentados na viatura policial que continuava estacionada na frente Da casa, para garantir que vissem que ele estava indo embora. Quase não tinha dormido. Estava com a aparência de quem tinha passado a noite em claro. E era assim que se sentia também. Mas o que tinha de fazer não podia esperar. Não queria adiar nem pelo tempo que levaria para ir até em casa, tomar uma chuveirada e fazer a barba. Tocou duas vezes a campainha, e só então ouviu a tranca se abrindo do outro lado da porta. Liz espiou sonolenta pela fresta estreita da porta presa na corrente e Então fechou-a só um pouco para tirá-la. - é imperdoável aparecer aqui a essa hora - disse dean assim que entrou. - eu o perdoo. - liz o segurou pela cintura e grudou seu corpo no dele. - na verdade, essa é uma surpresa deliciosa. Ele a abraçou. Por baixo do robe de seda, que era a única peça de roupa, o corpo dela era quente, macio e muito feminino. Mas dean não ficou nem um pouco excitado. Liz chegou para trás para poder ver o rosto dele e manteve a parte de baixo do corpo colada nele. - você está abatido. Trabalhou até tarde? - pode-se dizer que sim. - alguma novidade com o gavin? - perguntou ela, preocupada. - não. Ele ainda não está completamente liberado e vou ficar apreensivo até isso acontecer. Mas não é por causa dele que estou aqui. A capacidade de sentir o que as pessoas estão pensando ou sentindo tinha sido um impulso na carreira de liz, e não falhou naquele momento. Depois de estudá-lo mais Um pouco, ela disse: - eu ia oferecer um pouco de amor e carinho na cama. Mas acho que é melhor oferecer café. - não precisa. Não posso demorar. Como se quisesse defender o orgulho, liz deixou os braços caídos ao lado do corpo, endireitou as costas e jogou para trás o cabelo despenteado. - tempo suficiente para pelo menos sentar? - claro. Liz levou dean até o sofá da sala de estar e ocupou uma ponta, sentada sobre os pés. Dean sentou na beirada da almofada e apoiou os cotovelos nos joelhos. A
caminho Da casa dela, havia ensaiado diversas maneiras de abordar o assunto, mas acabou resolvendo que nenhuma delas seria gentil. Respeitava liz demais para mentir para Ela. Decidiu ser direto. - já faz algum tempo... Meses... Que estou deixando você acreditar que íamos acabar casando. Não vai acontecer, liz. Sinto muito. - entendo - ela respirou bem fundo e deixou o ar sair devagar. - eu pelo menos posso saber por quê? - primeiro pensei que era o medo clássico de tomar essa decisão. Depois de quinze anos solteiro, achei que a idéia de casar outra vez me deixava em pânico. Por isso Não disse nada, torcia para o medo acabar. Não quis discutir, nem aborrecê-la com isso. - bem, eu aprecio a sua consideração com os meus sentimentos. - será que há algum sarcasmo nisso? - definitivamente. - acho que eu mereço - disse dean. - acabei de romper o que tinha virado um compromisso. Você não precisa ser gentil. - ainda bem que você acha isso, porque estou quase tendo um ataque de raiva. - você tem esse direito. Liz olhou para dean furiosa, mas então a classe retornou. - pensando melhor, eu não vou brigar com você. Se eu fizesse um drama, ficaria mais fácil para você sair zangado daqui e nunca mais olhar para trás. Em vez disso, Vou torná-lo o centro das atenções. Porque acho que mereço uma explicação completa. Na verdade, dean esperava mesmo uma briga, na qual poderiam trocar denúncias e destruir qualquer afeto que pudessem sentir um pelo outro. Uma discussão séria seria Mais rápida, limpa e menos dolorosa para ela, e mais fácil para ele. Mas liz fechou aquela abertura para uma escapada covarde. - não sei bem se posso explicar - dean abriu as mãos, indicando que era inútil tentar. - não é você. Você continua inteligente, linda e atraente como no dia em que A conheci. Mais ainda. - por favor, poupe-me do discurso eu-não-mereço-você. - não é nada disso - disse ele, irritado. - estou sendo sincero. O problema não é você. É nós dois. É que eu não estou vivendo isso, liz. - nem precisava dizer isso. Ultimamente você não tem estado presente toda vez que fazemos amor. - engraçado, você nunca reclamou disso. - você está tentando começar uma briga de novo - disse ela, inflexível. - não faça isso. E não se irrite com as críticas. A questão não é o seu desempenho. É o seu Distanciamento emocional. - que eu reconheço. - será por causa do gavin, do fato de ele ter vindo morar com você? Uma exigência maior do seu tempo? - gavin foi uma boa desculpa para eu me ausentar - admitiu ele. - não me orgulho de tê-lo usado. - e não deve mesmo. Mas não tem nada a ver com ele também, não é? -é. - então é outra pessoa? Ele virou e olhou diretamente para ela. -é. - você está saindo com alguém? - não. Não é isso. - então o que é, dean? O que está havendo? - eu amo outra mulher. .
Liz silenciou com a simplicidade daquela afirmação. Ficou olhando para ele alguns segundos, assimilando o que dean tinha dito. - ah, você ama outra. Você me amou algum dia? - amei. E ainda amo de diversas maneiras. Você foi uma parte importante e crucial da minha vida. - só não fui a sua grande paixão. - quando começamos a namorar, pensei, sinceramente... Eu esperava que... Eu tentei... - você tentou - disse liz, dando uma risada amarga. - é exatamente o que toda mulher deseja ouvir. O sarcasmo estava de volta, mas era forçado. Liz segurava uma almofada contra o peito, algo em que se agarrar, literal e Figurativamente. Dean achou que devia ir embora antes que sua brutal sinceridade ferisse mais ainda o orgulho de liz. Mas quando ele levantou e se preparava para sair, ela disse baixinho: - a mulher de óculos escuros. Aquela com quem você estava conversando na delegacia. Paris? - liz levantou a cabeça e olhou para dean. - ora, dean, não faça essa Cara de espanto. Mesmo se eu fosse cega teria percebido que vocês já foram amantes. - anos atrás. Só uma vez, mas... - mas você nunca se recuperou. Dean deu um sorriso triste, como o de liz. - não. Eu nunca me recuperei. — só por curiosidade, quando começou a vê-la de novo? - anteontem. Liz ficou boquiaberta, surpresa. - é isso mesmo. Essa alienação de sentimentos, na falta de um termo melhor, começou muito antes de paris entrar na história. Vê-la só confirmou o que eu já sabia. - que não ia se casar comigo. Dean concordou com a cabeça. - bem, graças a deus você não fez isso. - liz jogou a almofada para o lado e ficou de pé. - eu não quero ser a segunda opção de ninguém. - e não deve ser mesmo - dean segurou e apertou a mão dela. - perdoe-me por ter ocupado dois anos do seu relógio biológico. - ah, mas acho que foi melhor assim - disse liz, petulante. - o que eu ia fazer com um bebê quando tivesse de viajar a trabalho? Levá-lo comigo, na minha pasta? Liz estava tentando levar na esportiva, mas dean sabia que ela estava profundamente decepcionada. Talvez até de coração partido. Era orgulhosa demais para chorar Na frente dele. E talvez, apenas talvez, gostasse demais dele para lançá-lo numa tortura de sentimento de culpa. - você é muito fina, tem muita classe e estilo, liz. - ah, é. Bela merda. - o que vai fazer? - hoje? Acho que uma massagem. Dean sorriu. - e amanhã? - quando mudei para cá, eu não vendi a minha casa em houston. -não? - você imaginou que eu tinha vendido, e nunca corrigi essa idéia. Talvez eu intuísse que ia precisar de uma rede de segurança. De qualquer modo, assim que puder Tratar disso, volto para lá. - você é especial, liz. - você também - respondeu ela rispidamente. Dean chegou para a frente, beijou liz no rosto e foi para a porta. Parou, virou para ela e disse:
- cuide-se. E foi embora. Capítulo vinte e seis -alô? - é o gavin? - sou eu. - aqui é o sargento curtis. Acordei você? - mais ou menos. - desculpe incomodá-lo. Não consegui falar com seu pai pelo celular dele. Por isso estou ligando para a sua casa. Posso falar com ele? - ele não está. Passou a noite na casa de paris. Gavin se arrependeu do que disse na hora em que pronunciou as palavras. Desconfiado como era, curtis ia tirar conclusões precipitadas. - nós jantamos na casa dela - explicou gavin. - depois do programa dela, sabe, por causa da última ligação do valentino, papai achou que ela não devia ficar sozinha. - há policiais de guarda na casa dela. - meu pai deve ter achado que não bastava. - é óbvio. Gavin resolveu parar enquanto estava na dianteira, com medo de falar demais. De qualquer modo, não era da conta de curtis onde o pai tinha passado a noite. - está bem, então vou tentar ligar para lá - disse o detetive. - eu tenho o número dela que não consta da lista. - posso dar o recado para ele - ofereceu gavin. - obrigado, mas preciso falar com ele pessoalmente. Gavin não gostou. Será que curtis tinha de conversar pessoalmente com o pai dele sobre ele? - alguma notícia de janey? - infelizmente não. Falo com você mais tarde, gavin. O detetive desligou antes de gavin poder se despedir. Ele levantou, foi ao banheiro, depois espiou pela janela da frente da casa e viu que o carro da polícia ainda Estava lá parado. Será que ele era a única pessoa que compreendia a ironia de estar sendo protegido do valentino e ao mesmo tempo suspeitarem que valentino era ele? Era cedo demais para sair da cama, por isso deitou de novo, mas descobriu que não conseguia dormir. Até encontrarem janey, teria de ficar preso em casa. Podia resignar-se Com isso. Mas podia ser pior. Se não fosse o pai dele, talvez estivesse na cadeia. Levando em conta que o pai o tinha pego em diversas mentiras e descoberto que era sócio do clube do sexo, até que não estava sofrendo muito. A noite passada, com Seu pai e paris, não tinha sido nada má. Quase teve medo de encontrá-la depois de tantos anos. E se tivesse mudado e agisse como uma pessoa mais velha? Gavin teve medo de que paris usasse um penteado alto E cheio de laquê, jóias demais, fosse efusiva e piegas, que não parasse mais de dizer que ele tinha crescido muito, que fizesse uma festa com ele como os parentes Da mãe sempre faziam nas reuniões da família. Mas paris foi legal, exatamente como a lembrança que tinha dela. Foi simpática, mas não exagerou como liz fazia. E também não agiu com superioridade. Mesmo antes Ela já o tratava de igual para igual, não como criança. Jack sempre chamava gavin de comandante, ou patrulheiro, ou parceiro, algum nome bonitinho, e falava impetuosamente, como se ele fosse um bebê que precisasse de
Atenção. Jack era legal, mas, dos dois, gavin sempre preferiu paris. Gostava mais de paris do que das namoradas do pai na época. Lembrou que pensava que se jack não existisse, seria muito maneiro se o pai namorasse paris. A mãe dele achava que isso acontecia. É claro que nunca conversou com ele sobre isso, mas gavin ouviu quando ela uma vez disse para uma amiga que achava que dean tinha uma "queda" por paris gibson, e Que só namorava outras mulheres porque ela era namorada de jack donner. Naquela época, gavin era pequeno demais para entender tudo aquilo. Não que se interessasse muito pelos relacionamentos dos Adultos. Mas depois de ver como o pai estava ansioso para chegar à casa dela na véspera, como tinha se olhado no espelho retrovisor antes de descer do carro, achou Que talvez a mãe tivesse razão. Nunca tinha visto o pai olhando no espelho antes de conhecer liz. Até onde sua memória alcançava, os pais eram divorciados. Quando pequeno, ele foi compreendendo aos poucos que sua família não era como as outras nos comerciais Da televisão, em que papai e mamãe tomavam café da manhã juntos, passeavam na praia de mãos dadas, viajavam no mesmo carro e até dormiam na mesma cama. Ele notou Que nas outras casas do quarteirão o papai estava presente o tempo todo. Fez perguntas à mãe e ao pai, e depois que eles explicaram o significado do divórcio, gavin torceu ardentemente para os pais ficarem juntos de novo e morar na mesma Casa. Mas, à medida que ia ficando mais velho, passou a compreender e a aceitar que a reconciliação era uma possibilidade muito remota. Mas como era um garoto burro, Continuou a ter esperança. Seu pai saía com muitas mulheres. Gavin esqueceu o nome de quase todas porque nenhuma durava muito tempo. Ouvia a mãe falando com a avó sobre o "sabor do mês", e Sabia que ela se referia às namoradas do pai. A mãe não saía tanto, por isso foi uma surpresa seu segundo casamento. Esse casamento destruiu toda a esperança que gavin tinha dos pais viverem juntos de novo, Por algum milagre. Foi então que realmente se enfureceu e resolveu transformar a vida dela com o novo marido num inferno. Relembrando, aquele tinha sido um comportamento idiota e infantil. Ele foi um completo babaca. Sua mãe devia amar o cara, senão não teria se casado com ele. Ela Não amava mais seu pai. E gavin tinha ouvido a mãe dizer isso também para a avó. - sempre vou amar dean por ter me dado gavin - dizia ela -, mas tomamos a decisão certa de nos separar logo no início. Gavin compreendeu que o pai também não amava a mãe e que talvez nunca tivesse amado. Procurou imaginar os pais como um casal, e constatou que simplesmente não combinavam. Como duas peças de quebra-cabeças diferentes, eles não se encaixavam. Não tinha funcionado antes e nunca funcionaria. Aprenda a viver com isso, gavin, ele pensou. A mãe agora estava feliz com o segundo casamento. Seu pai merecia ser feliz também. Mas gavin achava que liz não era a mulher que ia fazer seu pai feliz. Ficou sonolento, divagando, mas, antes de adormecer completamente, ouviu a campainha da porta. Meu deus! Por que todo mundo tinha inventado de acordar tão cedo aquela manhã? Foi até lá e destrancou a porta. Arrependeu-se de não ter espiado para ver quem tinha tocado. John rondeau estava parado na varanda. Os olhos de gavin voaram para o carro de polícia parado na frente da casa. Foi um consolo ver que ainda estava lá. Os policiais dentro do carro comiam sonhos.
Sem Dúvida, presente de rondeau. - não se preocupe, gavin, seus protetores estão a postos. O agradável tom de voz de rondeau não enganou gavin. Nem um segundo. Seu rosto tinha parado de latejar, mas ainda doía e permaneceria roxo por alguns dias. Rondeau tinha pelo menos quinze quilos a mais que ele. Já Sabia de antemão que o filho-da-puta era violento. Mas não ia se acovardar de jeito nenhum. - não estou preocupado com nada - retrucou gavin. - muito menos com você. O que quer? - eu queria acrescentar uma coisinha ao que eu disse ontem. - se meu pai descobrir que você veio aqui, ele vai te arrebentar. - por isso essa é uma boa hora, porque eu sei que ele não está em casa. rondeau estava sorrindo, por isso, para qualquer pessoa que os visse, inclusive os policiais Lambendo o açúcar dos dedos, aquilo ia parecer um bate-papo de amigos. - se você resolver contar para qualquer pessoa os meus... - crimes. O sorriso de rondeau só aumentou. - eu ia dizer atos extracurriculares. Se alguém ficar sabendo disso por você, não virei atrás de você. - eu não tenho medo de você. Rondeau ignorou gavin e continuou: - esqueço você e pego o seu velho. - isso é uma piada? Porque é engraçado pra caramba - gavin bufou com desprezo. você é um nerd de computador. - estou tratando de sair daquela unidade e entrar no bci. - não dou a mínima se promoverem você a chefe de polícia, você não tem culhão pra enfrentar meu pai. - eu não estava falando de atacá-lo pessoalmente. Isso seria uma burrice porque ele estaria de sobreaviso. Mas que tal algum preso psicótico que ele tivesse de entrevistar? "malloy entra nas celas o tempo todo, você sabe", ele continuou falando macio. "conversa com viciados, estupradores e maníacos homicidas, tentando arrancar informações Deles, manipulando os caras para obter confissões. E se um deles ficasse sabendo que o dr. Malloy estava dando em cima da mulher dele, bolinando ela enquanto o cara Está na prisão?" - isso está ficando mais engraçado ainda. - do mesmo jeito que ele enganou o amigo jack donner com paris gibson. A próxima resposta desaforada de gavin morreu em seus lábios. - quem disse? - curtis foi um. E qualquer pessoa com um pouco de bom senso que saiba somar dois mais dois. O seu pai trepou com a noiva do melhor amigo dele, e por isso jack donner Tentou cometer suicídio. - você está inventando isso. - se não acredita em mim, pergunta pra ele. - rondeau estalou a língua no céu da boca. - é uma história feia, não é? Mas alimenta qualquer boato que eu lance no Meio da população carcerária, que o dr. Malloy, apesar de todas as suas táticas de amizade com os presos, não merece confiança, especialmente com mulheres solitárias E suscetíveis. "está entendendo a jogada, gavin? Policiais armam a morte de outros policiais o tempo todo. Nós somos humanos, você sabe. Criamos inimigos no nosso meio. Acontece" Disse ele, dando de ombros. "ele não ia poder prever, mas morreria do mesmo jeito, e você ficaria órfão do mesmo jeito. O coração de gavin ficou apertado de medo.
- dê o fora daqui - disse ele, abalado. Sem demonstrar nenhuma pressa, rondeau se afastou da Porta. - tudo bem, vou embora agora. Mas recomendo seriamente que pense no que eu disse. Você não é nada. É cocô de cachorro no meu sapato, não vale o meu tempo, nem a Minha energia. Mas se você me dedurar - disse ele, cutucando com força o peito nu de gavin com o dedo indicador dobrado -, o malloy se ferra. Paris abriu os olhos devagar, mas ao ver dean sentado na beira da cama, ergueuse de um pulo. - o que aconteceu? - nada de novo. Eu não queria assustar você. Paris ficou aliviada de saber que não havia nenhuma má notícia, mas seu coração continuava aos pulos com o susto que tinha levado e com o fato de dean estar sentado Na sua cama. - que tal o sofá? - perguntou ela, ainda sem ar. - estreito. - você dormiu? - um pouco. Não muito. Trabalhei a maior parte do tempo, fiz algumas anotações sobre o perfil de valentino. Apesar de muito cansada, paris tinha demorado bastante para adormecer por saber que dean estava na sala ao lado. Aquilo ficou pairando no seu subconsciente e impediu Que tivesse um sono reparador. - eu quero um café. Dean meneou a cabeça, mas não se moveu, nem ela. O silêncio foi se prolongando enquanto eles se olhavam, com uma estreita faixa de cama entre os dois. - afinal, eu devia ter trancado a porta do meu quarto? Perguntou paris bem baixinho, quase sussurrando. - definitivamente. Porque acontece que eu não consigo ficar sem tocar em você. Ele se debruçou e paris chegou mais perto, mas logo antes do beijo, ela disse: - liz... - não é um fator. - mas... - confie em mim, paris. Ela confiou e se entregou ao beijo, o beijo sôfrego, possessivo e delicioso de dean. Paris pôs as mãos no rosto áspero pela barba por fazer, inclinou a cabeça para Modificar o ângulo dos lábios e facilitou uma intimidade maior. Dean empurrou o cobertor e o lençol que a cobriam, empurrou paris contra os travesseiros e deitou Ao lado dela. Chegou para trás para vê-la melhor, e examinou a camiseta e o short nada insinuantes que ela usava. - pijaminha interessante. - criado para incendiar. - está funcionando - rosnou ele. Paris explorou o rosto dele com as pontas dos dedos, alisou as sobrancelhas, a linha reta do nariz, depois seguiu a linha dos lábios e tocou na suave depressão na Ponta do queixo. - o seu cabelo está mais grisalho - observou ela. - o seu está mais curto. - acho que nós dois mudamos. - algumas coisas mudaram - ele olhou para os seios de paris e, quando os acariciou por cima da camiseta, os mamilos ficaram eretos. - isso não. Disso eu lembro. Dean beijou paris novamente, só que com mais sofreguidão do que antes. Espalmou
a mão no traseiro dela e a pôs sobre o pênis ereto que esticava a calça dele. Uma corredeira de calor fluido se espalhou pela parte de baixo do corpo dela e chegou às coxas. Fazia anos desde que sentira aquele desejo imenso de ter um homem Dentro dela. Suspirou de alegria com essa sensação renovada, e gemeu de vontade de satisfazer esse desejo. - nós esperamos muito - disse ele, e chegou só um pouco para trás para abrir o zíper da calça. - demais. Mas iam esperar ainda mais. O telefone tocou. Ambos ficaram imóveis. Eles se entreolharam e sabiam, sem ter de dizer nada um para o outro, que paris tinha de atender o telefone. Havia muita coisa em jogo. Dean Rolou de costas e xingou a tinta do teto. Paris afastou o cabelo embaraçado dos olhos e pegou o telefone sem fio na mesade-cabeceira. - alô? - ela formou o nome de curtis com os lábios. - não... Não, eu já estava acordada. Alguma novidade? - de certa forma - disse o detetive bruscamente. - nada sobre valentino ou janey diretamente. Brad armstrong e marvin parterson ainda estão foragidos. Mas na verdade Estou ligando para falar com malloy. Soube que ele está aí. Paris respondeu com mais tranqüilidade do que sentia: - um momento. Vou chamá-lo. Ela cobriu o bocal e apontou o fone para dean. Ele olhou para ela com expressão de interrogação, mas paris ergueu os ombros. - ele não disse. Dean pegou o fone e deu um bom dia ríspido para o detetive. Paris se levantou, foi para o banheiro e fechou a porta. Tomou uma chuveirada rápida e vestiu um roupão Antes de voltar para o quarto. Dean não estava mais lá e o fone estava no aparelho. Paris seguiu o barulho que vinha da cozinha. Dean estava pondo pó de café no filtro de papel. Ouviu paris chegar e olhou para trás. - você está cheirosa. - o que o sargento curtis queria? - o café estará pronto daqui a um minuto. - dean? - gavin disse para ele que eu estava aqui. Ele ligou para a minha casa porque não conseguia falar comigo pelo celular. Quando fui ver a liz esta manhã... - você foi ver a liz hoje de manhã? - quando amanheceu. Desliguei o celular e esqueci de ligar de novo. Por consideração a ela, não quis que uma ligação interrompesse o que eu tinha a dizer. Paris não disse nada, mas sentiu a pressão de uma dúzia de perguntas que queria fazer. Dean tirou calmamente duas canecas do armário e depois virou de frente para Ela. - que era que não vou voltar a vê-la. Paris engoliu em seco. - ela ficou irritada? - um pouco. Mas não surpresa. Já estava sentindo. -ah. Dean deve ter lido a mente de paris, porque ele disse em voz baixa: - não se culpe pelo rompimento, paris. Teria acontecido de qualquer jeito. - e você... Está bem? - aliviado. Foi injusto com ela deixar isso durar tanto tempo. A cafeteira gargarejou, avisando que o café estava quase pronto e propondo um modo sutil de mudar de assunto. Paris foi até a geladeira e pegou uma caixa de leite Com creme.
-
o que curtis queria? apenas informar a situação atual. do caso? não, do meu emprego na polícia de austin. Fui suspenso indefinidamente.
Capítulo vinte e sete - oi, mãe, é o lancy. - meu deus, que horas são? - quase nove. - o que você quer? Na véspera, lancy tinha voltado para o estacionamento de trailers por um portão nos fundos e deixou o carro duas filas distante da passagem onde ficava o trailer da mãe. Arriscou-se a enfrentar cães latindo e vizinhos nervosos que adorariam uma chance de atirar primeiro e fazer perguntas depois, e se esgueirou pelas ruelas estreitas. Aquele reconhecimento do terreno parecia um tanto melodramático, mas acabou sendo uma precaução justa. Avistou o carro à paisana da polícia imediatamente. Estava Estacionado a uns trinta metros do love da mãe dele. Qualquer um dentro do sedan discreto teria uma visão indevassável da porta da frente do trailer. Ainda bem que Tinha ido até lá antes, para pegar suas economias. Lancy havia ido sorrateiramente até o carro e voltado para austin porque não sabia mais aonde ir. Procurou um vizinho, que era tão confiável como qualquer um dos Poucos conhecidos que tinha. Ele confirmou o que lancy já suspeitava. A polícia havia feito uma busca nas coisas dele. - eu os vi saindo com caixas cheias de coisas - disse o vizinho. As fitas com os programas de paris gibson estavam naquelas Caixas. Merda! Lancy ignorou a pergunta que a mãe tinha feito. - a polícia apareceu por aqui? - quis ele saber. - um cara chamado curtis. De austin. - o que você disse para ele? - nada - resmungou ela. - porque não sei de nada. - ele vasculhou o trailer? - mexeu nas coisas. Encontrou suas meias. - ele levou as meias? - para que ele ia querer suas meias sujas? - vá até a janela e olhe para o lado sul da rua. - eu estou na cama - gemeu ela. - por favor, mãe. Faça esse favor pra mim. Veja se tem um carro escuro estacionado no fim da rua. Ela resmungou e xingou, mas o telefone fez barulho quando foi obviamente largado em cima da mesa-de-cabeceira. Lancy ficou esperando um tempo enorme. Ao voltar, Ela estava ofegante como uma gaita de foles. - está lá. - obrigado, mãe. Falo com você depois. - não quero que nenhuma encrenca sua respingue em mim, lancy ray. Você está me ouvindo, menino? Lancy pôs o gorduroso telefone público no gancho. Enfiou as mãos nos bolsos, curvou os ombros e foi andando pela varanda do motel residencial. Sob a aba do boné De beisebol, seus olhos espreitavam furtivamente carros da polícia que esperava que aparecessem a qualquer momento, com o guincho de freadas e ordens para ele parar. Depois que soube que não podia se esconder na casa da mãe, lancy voltou para o
seu apartamento secreto para passar a noite lá. Passou de carro pela frente uma vez. Não havia nenhum carro da polícia do outro lado da rua, nem em qualquer outro lugar à vista. Lancy entrou sem ser visto, mas aquele não era um refúgio confortável. Fedia. Era sujo. Fazia com que se sentisse sujo também. Ficou acordado a noite toda, e foi uma noite bem longa. - dessa vez você está ferrado, fodido e mal-pago, lancy ray - resmungou com seus botões quando destrancou a porta e mais uma vez entrou no covil úmido e escuro de um homem procurado. As brilhantes botas de vaqueiro de curtis estavam apoiadas na mesa, cruzadas nos tornozelos. Ele se concentrava no bico pontudo de uma delas quando um bloco de papel Aterrissou na mesa, a um centímetro do pé dele. Virou-se e viu paris gibson. Apesar de usar seus óculos escuros, curtis percebeu, pela linguagem corporal, que ela estava de péssimo humor. - bom-dia - disse curtis. - você vai se submeter àquele cretino egomaníaco? Curtis tirou os pés da mesa e apontou-lhe uma cadeira. Paris Recusou a oferta e continuou de pé. - aquele cretino é um poderoso juiz municipal. - que tem a polícia toda no bolso. - não fui eu que decidi suspender malloy. Nem poderia, se quisesse. Ele está acima de mim. Eu fui apenas o mensageiro. - então deixe-me refazer a frase - disse paris. - o juiz kemp tem toda a polícia covarde no bolso. Resistindo ao insulto, curtis explicou o problema: - o juiz foi direto ao topo com a reclamação dele. Depois que ele e a sra. Kemp ouviram você falar sobre a filha deles no rádio a noite passada, ele explodiu. Foi O que me disseram. Telefonou para a casa do chefe, tirou-o da cama, exigiu que malloy fosse demitido por difamar a sua filha publicamente, arrastando o nome da família Na lama, e trocando os pés pelas mãos numa situação familiar delicada, que devia ser tratada confidencialmente. Também citou conflito de interesses, já que gavin Malloy tinha sido trazido para cá para ser interrogado. - como ficou sabendo disso? - ele tem informantes dentro do departamento. De qualquer forma, ameaçou processar tudo e todo mundo se malloy não fosse afastado, não só do caso, mas da polícia De austin. O chefe não chegaria a esse ponto, mas concordou que a situação merecia uma suspensão temporária. Só até a poeira baixar. - só para agradar ao juiz. Curtis concordou dando de ombros. - recebi a ordem do chefe antes do sol nascer. Ele pediu - isto é, ordenou - que eu notificasse malloy, já que tinha sido eu que o chamara para trabalhar no caso. Acho que esse foi o meu castigo. - eu não falei nada, só elogiei janey a noite passada - argumentou paris. - na verdade, até fiz questão de nem mencionar sua má reputação, o clube na internet, nada Disso. Estávamos tentando humanizar janey para valentino, retratá-la como uma vítima indefesa que tem amigos e família que se importam com ela. - mas os kemp queriam evitar qualquer publicidade, lembra? Até a menção ao desaparecimento de janey. Por isso, quando você divulgou no rádio, sob orientação do psicólogo Do departamento de polícia, e falou sobre ela, aquilo lhes pareceu uma afronta. - dean me disse que você achou a idéia muito boa. - eu admiti isso para o chefe.
- então por que o juiz não exigiu que demitissem você também? - porque ele não quer brigar com o departamento inteiro. Ele sabe que tenho muitos amigos na polícia. Malloy não ficou tempo suficiente aqui para cultivar esse tipo De lealdade. "além do mais, o juiz queria se vingar de você também. Você e malloy foram até a casa dele mais ou menos como um time. Ele simplesmente não teve coragem de criticá-la Publicamente, graças à sua popularidade. Pode significar péssimas relações públicas com os eleitores dizer qualquer coisa contra paris gibson." - e dean sobrou como bode expiatório - concluiu paris. A mídia já soube da suspensão dele? - não tenho idéia. Se isso se tornar público, pode apostar que kemp vai explorar. Paris sentou, mas não porque estivesse satisfeita. Curtis sabia, pela sua expressão resoluta quando se inclinou para a frente e falou, olhando bem para ele: - fale com o seu chefe e diga que eu insisto que ele revogue a suspensão de dean. Imediatamente. E tem mais, se essa história sair no noticiário de hoje, estarei No rádio à noite falando sobre a máquina política que conduz essa polícia daqui. "vou falar para o público sobre o suborno, os policiais que recebem propina em troca de não prender quem deve ser preso e sobre o descarado favoritismo da polícia Com os ricos e poderosos. "em quatro horas, eu poderia fazer um estrago enorme, mais até do que o juiz kemp seria capaz. Apesar de toda aquela pose, duvido que alguns milhares de pessoas Tenham ouvido falar dele. Mas eu tenho essa quantidade de ouvintes fiéis todas as noites. E agora, quem você pensa que exerce mais influência, sargento curtis?" — o seu programa não é político. Você nunca o usou como plataforma. - mas hoje à noite eu vou fazer isso. - e amanhã wilkins crenshaw manda você embora. — o que me daria mais apoio e simpatia do público. Seria um incêndio na mídia que eu alimentaria por semanas a fio. A polícia de austin teria muita dificuldade para Recuperar a confiança do público. Curtis não podia enxergar direito os olhos dela atrás das lentes escuras, mas via o suficiente. Nem piscavam. Paris falava sério. - se coubesse a mim decidir... - ele ergueu as mãos, indefeso - ... Mas o chefe pode não ceder. - se ele se recusar, eu convoco uma coletiva de imprensa. E estarei na televisão ao meio-dia. "paris gibson faz declarações em público." "vista na televisão pela Primeira vez em anos." "revelado o rosto por trás da voz." já posso até ouvir as chamadas agora. Curtis também ouviu. - a história sobre malloy já pode ter vazado. - então o seu chefe vai divulgar para a imprensa que foi um enorme malentendido, informação prestada precipitadamente por alguém equivocado, et cetera. - malloy mandou você aqui para defender a causa dele? Paris nem se dignou a responder, e curtis não a recriminou Por isso. Malloy nunca faria isso. Curtis só tinha dado aquele golpe baixo porque não tinha realmente nenhuma munição contra os argumentos dela. - está bem, vou ver o que posso fazer. - leve isso com você - disse paris, empurrando o bloco de papel na direção dele. - o que é isso? - o trabalho que dean estava fazendo ontem à noite. Ficou acordado quase a noite
inteira formando o perfil do seqüestrador e estuprador de janey, enquanto o juiz Tramava desacreditálo e demiti-lo. "deve ser uma leitura interessante. O seu chefe vai descobrir que o dr. Malloy faz um trabalho insubstituível e que seria um erro notório tirá-lo desse caso. É claro Que dean pode dizer para Vocês todos irem à merda, e eu não o condenaria por isso. Mas vocês podem tentar convencê-lo a voltar." - você está muito segura da nossa aceitação. - só estou segura de que as pessoas em geral ficam muito sábias quando se trata de salvar o próprio rabo. - vou pensar nisso e depois falo com você. - dean apertou o botão do celular e encerrou a ligação. - enquanto isso - disse ele, cerrando os dentes -, vá se foder. Dean notou a reação espantada de gavin com aquela linguagem e deu uma risadinha. - a sua geração não inventou essa frase, sabia? Estavam tomando um desjejum tardio numa lanchonete Quando o chefe de polícia telefonou pessoalmente para anular a suspensão. - hoje bem cedo ele estava pronto para me demitir - dean contou a gavin enquanto comia seu omelete. - agora sou uma peça valiosa para o departamento. Um excelente Psicólogo, além de oficial da lei altamente treinado. Um cruzamento de sigmund freud com dick tracy. - ele disse isso? - foi quase tão ridículo. - se você está voltando para o caso, o pai de janey não vai ficar puto? - eu não sei como a polícia vai lidar com o juiz, e não dou a mínima. - você quer continuar trabalhando lá? - você quer que eu continue? -eu? - você gosta daqui, gavin? - e isso tem importância? - tem. Gavin mexeu distraído seu copo de leite com um canudo de plástico. - acho que gosto. Isto é, não tem sido muito ruim morar aqui. Dean sabia que aquilo era o mais próximo de um voto positivo que ia receber. - eu detestaria largar esse emprego antes de dar uma chance justa - admitiu dean. - acho que posso fazer muita coisa boa por aqui. Austin é um lugar movimentado. Gosto da cidade, da energia daqui. A música é maravilhosa. A comida é boa. O clima é bom. Mas também gosto de ter você morando comigo. Quero que você continue aqui. Então será que podemos fazer um trato? Gavin olhou para o pai com ar desconfiado. - que tipo de trato? - se eu der uma chance para esse emprego, você dá uma chance para o colégio? Não quero dizer apenas assistir às aulas, gavin. Estou falando de realmente se aplicar, Fazer amigos, participar das atividades da escola. Você terá de se esforçar tanto nos estudos como eu vou me esforçar no trabalho. Combinado? - posso ter meu computador de volta? - desde que eu tenha acesso a ele quando eu quiser. A partir de agora, vou monitorar o tempo que você passa no computador e como usa. Esse ponto é irredutível. Outra Condição é que você deve participar de alguma atividade ou esporte na escola. Não me importo se jogar croquê, desde que não passe todo o tempo livre trancado no Seu quarto, ou apenas saindo com os amigos. Gavin olhou de lado para dean e de volta para o prato. - estava pensando em talvez jogar basquete.
Dean ficou satisfeito de ouvir aquilo, mas não quis ter uma reação exagerada e estragar tudo. - temos um espaço perfeito nos fundos da casa para pôr uma cesta de basquete. Quer montar uma lá para poder praticar? — claro. Seria bom. - então está bem. Estamos nos entendendo. E quero que saiba que terminei com a liz. Gavin levantou a cabeça. - terminou? - hoje de manhã cedo. - isso foi meio de repente, não foi? - na verdade andava pensando nisso já fazia algum tempo. Gavin começou a brincar com o canudo de novo. - não estava dando certo por minha causa? Porque agora moro com você? - foi porque eu não a amava tanto quanto devia. - você não queria cometer o mesmo erro duas vezes. Dean sofria com o fato do filho considerar um erro seu casamento com pat, embora estivesse certo. - acho que pode ser isso sim. Gavin ficou pensativo por um tempo. - paris teve alguma coisa a ver com isso? - muita coisa. - é, foi o que pensei. - tudo bem para você? - claro, ela é maneira. - gavin tirou o canudo do copo e começou a dobrá-lo e torcê-lo. - você dormiu com ela quando ela era noiva do jack? - o quê? - quer que eu' repita? - essa é uma pergunta muito pessoal. - quer dizer que dormiu. - quero dizer que não vou discutir isso com você. Gavin se endireitou na cadeira e olhou para dean, ressentido. - mas não tem problema você se intrometer na minha vida sexual. Eu sou obrigado a contar o que eu fiz, e com quem eu fiz. - eu sou seu pai e você é menor de idade. - mesmo assim, não é justo. - justo ou não, você... Merda! - disse dean quando seu celular tocou de novo. Verificou quem era, viu o número de curtis e pensou em não atender. Mas gavin tinha se encolhido no canto do cubículo e espiava pela janela, de mau humor. De qualquer Maneira, a conversa seria um monólogo dali por diante. Dean atendeu no quarto toque. - malloy. - você falou com o chefe? - perguntou curtis. - falei. - vai continuar? Apesar de já ter tomado a decisão, dean não via motivo nenhum para dar pulos por isso. - estou pensando. - quer fique ou não, preciso que venha até aqui. - estou tomando café da manhã com o gavin. - traga-o com você. O coração de dean saltou no peito. - para quê? O que aconteceu? - quanto mais cedo vocês vierem para cá, melhor. Acabei de receber uma má notícia. Curtis foi direto ao assunto: - o seu amigo valentino atacou antes do prazo. O corpo de janey kemp foi encontrado meia hora atrás, no lago travis. Ato reflexo, dean segurou a mão de paris e a apertou com força. Tinha ficado surpreso ao vê-la esperando no cubículo de curtis quando gavin e ele chegaram.
Disse Que tinha sido chamada, como ele, sem explicação também. Curtis apareceu alguns minutos depois. Pediu para gavin esperar um pouco numa das salas de interrogatório, com outro detetive. Quando levavam seu filho embora, dean Teve um mau pressentimento. E, afinal, tinha razão. - dois pescadores encontraram o corpo nu, parcialmente submerso sob as raízes de um cipreste. Fui chamado imediatamente e corri para lá. Apesar de não ter sido oficialmente Identificada, é ela. "a unidade da cena do crime está vasculhando a área. O médico-legista está examinando o corpo, antes mesmo de removêlo. Espera encontrar alguma coisa. Ela está muito Mal", disse ele com um suspiro profundo. "marcas no rosto, no pescoço, no torso e nas extremidades. Parecem marcas de mordidas..." ele olhou para paris. "em vários Lugares." - como foi que ela morreu? - perguntou dean. - só vamos saber depois da autópsia. Mas o médico-legista estimou que ela não ficou dentro d'água mais do que seis ou sete horas. Deve ter sido posta lá ontem à noite. - se tivesse de dar um palpite... - eu acho que seria estrangulamento, como a maddie robinson. As marcas no pescoço de janey combinam com as dela. Por outro lado, os dois casos podem não ter ligação. - alguma violência sexual? - o médico-legista também vai determinar isso. E mais uma vez, se eu tivesse de dar um palpite, eu diria que é muito provável. Ficaram em silêncio por algum tempo, então paris perguntou em voz baixa: - os kemp foram avisados? - foi por isso que cheguei mais tarde. Parei na casa deles. O juiz ainda estava furibundo com o fato do chefe ter voltado atrás, e pensou que eu tinha ido lá para me desculpar. Quando contei para eles que tinham achado o corpo, a sra. Kemp ficou arrasada, mas não permitiu que o marido a consolasse. "um ficou culpando o outro. Trocaram acusações. Foi uma cena horrível. Quando saí de lá, eles ainda estavam aos berros. Vou encontrá-los no necrotério daqui a uma Hora para obter a identificação, e não estou achando isso nada bom." Ele ficou com o olhar vidrado e depois disse: - por mim, eles não venceriam um concurso de popularidade, mas tenho de admitir que senti pena. A única filha, brutalizada e assassinada. Deus sabe o que ela passou antes de morrer. Não pude deixar de pensar na minha filha, como me sentiria se alguém fizesse isso com ela e depois a jogasse no lago para servir de comida para os peixes. Dean viu com o canto do olho que paris apertava os dedos nos lábios como se quisesse conter a emoção à força. - por que você queria ver o gavin? - perguntou ele. - ele aceita passar por um detector de mentiras? - hora errada para fazer piada, sargento. - não estou brincando. Não estamos mais atirando no escuro. Tenho uma menina morta. Preciso apertar os parafusos. - no meu filho? - ele foi uma das últimas pessoas a vê-la viva. - fora a pessoa que a seqüestrou e matou. Você já verificou o álibi de gavin? - os amigos dele, você quer dizer? Já, falamos com alguns deles. - e daí? - foram unânimes em confirmar que gavin estava com eles. Mas estavam bêbados e drogados, por isso a memória ficou meio Embaçada. Nenhum conseguiu dizer com certeza a que horas ele chegou e a que
horas foi embora. - vocês só estão sujeitando gavin a isso porque ele é o único suspeito disponível - disse dean, zangado. - infelizmente, você tem razão - admitiu o detetive, com tristeza. - até agora não há sinal de lancy ray fisher, apesar de estarmos de olho no apartamento dele e Na casa da mãe. Mas surgiu uma coisa interessante na conta dele no banco. Alguns cheques sustados feitos para uma doreen gilliam, que é professora de teatro e oratória Do ensino médio. Curtis deu um olhar significativo para os dois. - a srta. Gilliam - acrescentou ele - faz bico dando aulas particulares na casa dela. Lancy, também conhecido como marvin, andou tendo aulas de oratória e dicção. - aulas de oratória? - exclamou paris. - ele quase não falava. Curtis deu de ombros. - para ajudar a disfarçar a voz, quem sabe? - perguntou dean. - foi isso que pensei - disse curtis. - ele trabalhou para a companhia telefônica e devia ter o know-how para redirecionar as ligações - raciocinou dean em voz alta. - e tem uma fixação em paris, senão Por que teria aquelas fitas? - é uma das primeiras coisas que vou perguntar a ele quando for encontrado disse curtis. - achar esse corpo torna tudo muito mais sério, por isso não usaremos Mais luvas de pelica. Com ninguém. Eu não tive notícia de toni armstrong, por isso consegui um mandado de busca para a casa dela. E incumbi rondeau pessoalmente De entrar no computador de brad armstrong. Pelo que sei, ele pode muito bem ser o nosso homem. A mulher dele testemunhou que o viu dando em cima de uma adolescente. "pedi ajuda ao xerife, aos texas rangers e à patrulha rodoviária do texas. Todo policial da cidade e da periferia está de olho em armstrong e em lancy ray fisher. De qualquer modo, não vamos apertar só o gavin." - isso é para eu me sentir melhor? - perguntou dean. Meu filho sendo posto ao lado de um criminoso sexual e de um astro de filmes pornô? E como não consegue encontrá-los, Está exigindo que gavin passe pelo detector de mentiras? - não estou exigindo, só pedindo. Paris pôs a mão no braço de dean. - talvez você deva concordar com isso, dean. Isso vai livrálo da suspeita. Dean queria acreditar que o resultado seria esse. Mas gavin estava escondendo alguma coisa. Era apenas uma intuição, mas suficientemente forte para deixá-lo com Medo do segredo que o filho guardava. Curtis franziu a testa olhando para a pasta sobre a mesa, que dean achava que continha fotos da cena do crime, do corpo de janey kemp. - a prova que temos do gavin é circunstancial. Nada de concreto. Você tem o direito de recusar o teste. Curtis olhou para dean, e dean reconheceu o desafio que o detetive apresentava. - ah, foda-se. Gavin vai fazer o teste. Capítulo vinte e oito - paris, é o stan. - stan? - você parece surpresa. Você me deu o número do seu celular meses atrás, lembra? - mas você nunca ligou. - você disse que era para um caso de emergência. Eu acabei de saber da janey
kemp no noticiário. Liguei para saber se você está bem. - nem dá para explicar. Estou péssima. - onde você está? - na delegacia, no centro. - aposto que isso aí está a maior confusão. O corpo tinha alguma pista de quem fez isso? - odeio decepcioná-lo, stan, mas o único detalhe sórdido que sei é que ela está morta. - você pretende fazer seu programa hoje à noite? - e por que não faria? - o gerente-geral contou para o tio wilkins que encontraram o corpo. Eles conversaram e acharam que, depois de tudo que aconteceu, talvez fosse melhor você tirar Essa noite de folga e rodar uma gravação de um programa antigo. - eu ligo para o gerente mais tarde e falo com ele. Mas, se alguém perguntar, diga que farei o programa ao vivo como sempre. Valentino não vai me assustar. - ele fez o que disse que ia fazer, paris. Você acha que ele vai ligar de novo? - espero que sim. Quanto mais ele falar comigo, mais chance nós teremos de identificá-lo. - pena que não o pegaram antes dele matar a menina. - depois de uma pausa, ele continuou: - acho que não devia ter lembrado Disso, não é? Tenho certeza de que você já está se sentindo bem mal por ter sido o gatilho inicial dele. - eu tenho de desligar, stan. - você está zangada? Parece zangada. - eu só não quero mais falar disso agora, está bem? Vejo você à noite. Paris desligou o celular. Stan queria que ela falasse mais porque assim ocupava o telefone dele mais tempo. Se o tio continuasse ouvindo o sinal de ocupado, talvez Cansasse e desistisse de ligar para ele. Desde que ficara sabendo que tinham encontrado o corpo de janey kemp, o tio wilkins telefonava periodicamente. Fingia estar preocupado com o envolvimento da estação, Mas stan sabia o motivo das ligações freqüentes. Tio wilkins queria controlar o sobrinho. Jamais devia ter admitido que sentia atração por paris. Era como se o tio só tivesse ouvido aquilo na reunião deles. Referia-se a isso desde aquele dia. Na última conversa que tiveram ao telefone, wilkins tinha dito, com voz quase ameaçadora: - se você fez qualquer coisa perversa, ou que não devia... - eu tenho sido um coroinha quando estou perto dela. Juro por deus. Como poderia se comportar de outra maneira com paris? Ela não era grossa, mas jamais parecia especialmente feliz quando o via. Às vezes, mesmo quando conversava Com ele, parecia preocupada, como se pensasse em algo mais importante, ou mais interessante do que ele. Stan tinha certeza de que se desse em cima dela paris o cortaria sumariamente. Ela jamais deu chance, nem do menor flerte. Na verdade, ela muitas vezes via através Dele, como se stan não estivesse lá. Igual aos pais dele, paris o tratava com uma desatenção casual que doía como uma rejeição direta. Ele era sempre uma lembrança Tardia. Sua chance de ter um romance com paris sempre foi remota. Mas ficou completamente pulverizada quando dean malloy entrou na história. Malloy era um filho-da-puta Arrogante, todo seguro de si e do charme com o sexo oposto. Ele jamais teria de obrigar uma secretária a levantar a saia, ou elogiar uma mulher para levá-la para a cama.
Era um fato na vida, que as coisas eram mais fáceis para homens como malloy. Outro fato da vida era que mulheres como paris sentiam atração por homens assim. Pessoas como paris e malloy não tinham idéia do que era ser rejeitado. Jamais passaria pela cabeça deles que amor e afeto não aconteciam com facilidade para os outros Como ocorria com eles. Brilhavam como pequenos planetas iluminados, sem a menor noção do que era ser alguém que só podia girar em volta deles. Não tinham idéia de Até que ponto alguém podia chegar para conseguir a adoração que para eles era normal. Não tinham idéia. A cabeça de gavin estava tão baixa que o queixo quase encostava no peito. - no lago? - o corpo dela está sendo transportado para o necrotério, onde será autopsiado para determinar a causa da morte. Gavin levantou a cabeça. A notícia da morte de janey fez o menino empalidecer. Ele engolia com dificuldade. - pai, eu... Você tem de acreditar em mim. Eu não fiz isso. - eu acredito. Mas também acredito com a mesma convicção que você está escondendo alguma coisa de mim. Gavin balançou a cabeça. - seja o que for, não acha melhor me contar, em vez de vir à tona durante o teste com o detector de mentiras? O que você não quer que eu saiba? - nada. - você está mentindo, gavin. Eu sei que está. O menino se levantou, com os punhos cerrados. - você não tem o direito de acusar alguém de estar mentindo. Você é o maior mentiroso que conheço. - do que você está falando? Quando foi que eu menti para você? - a minha vida toda! Desanimado, dean reparou nas lágrimas aflorando nos olhos do filho. Furioso, gavin secou-as com as mãos fechadas. - você. A mamãe. Sempre dizendo que me amavam. Mas eu é que sei. - por que está dizendo isso, gavin? Por que pensa que nós não amamos você? - vocês não me queriam - gritou ele. - você a engravidou acidentalmente, não foi? E foi por isso que vocês se casaram. Por que não se livraram logo de mim e evitaram Esse problema todo? Dean e pat nunca discutiram especificamente quanto contariam para gavin, se ele um dia fizesse essa pergunta. Talvez devessem ter conversado sobre isso. Ela não Estava lá para dean poder consultá-la, por isso tinha de responder sozinho às perguntas sofridas do filho. Apesar do constrangimento que poderia ser para pat, e Para ele também, dean resolveu que gavin merecia saber toda a verdade. - vou contar tudo que você quiser saber, mas só quando você sentar e parar de olhar para mim como se quisesse me estrangular. Gavin enfrentou a indecisão alguns segundos, depois caiu sentado na cadeira. Continuou com a expressão beligerante. - você tem razão. Sua mãe estava grávida quando nos casamos. Você foi concebido numa festa da fraternidade, num fim de semana, em nova orleans. Gavin deu uma risada amarga. - caramba. É pior ainda do que pensei. Vocês pelo menos eram namorados? - nós tínhamos saído algumas vezes. - mas ela não era alguém que você... Alguém especial. - não - admitiu dean em voz baixa. - então eu fui um erro. - gavin... - por que vocês não usaram alguma coisa? Estavam bêbados ou foi só burrice? - um pouco dos dois, eu acho. A sua mãe não tomava pílula. Eu devia ter sido
mais responsável. - aposto que se cagou de medo quando ela contou. - admito que foi um choque. Para a sua mãe e para mim também. Ela ia se formar e iniciar a carreira dela. Eu estava começando na faculdade. A gravidez foi uma complicação Com a qual não contávamos naquele momento das nossas vidas. Mas... E quero que acredite nisso, gavin... Ninguém pensou em aborto. Dean percebeu, pela expressão do filho, que ele queria desesperadamente acreditar nisso, mas ainda tinha dificuldade de aceitar. Dean não podia culpálo. Talvez Pat e ele tivessem errado não conversando sobre isso com gavin quando já tinha idade suficiente para entender como as mulheres ficam grávidas. Se tivessem explicado Para ele, não teria aquela insegurança toda quanto ao próprio valor e não guardaria tanto ressentimento contra eles. - e adoção também não foi cogitada. Desde o início, pat planejava ter você e ficar com você. Graças a deus, ela me fez o favor de dizer que eu era o pai. E quando Ela disse, fiz questão de que você tivesse o meu nome. Eu queria participar da sua vida. Nenhum de nós queria casar com o outro, mas eu queria que você fosse legalmente Meu. Ela finalmente concordou em ir adiante com a cerimónia. "nós não nos amávamos, gavin. Gostaria de poder lhe dizer o contrário, mas não seria verdade, e você pediu a verdade, e acho que merece ouvir. Nós gostávamos um Do outro. Éramos bons amigos e nos respeitávamos. Mas não nos amávamos. "só que nós amamos você. Quando segurei você pela primeira vez, fiquei completamente deslumbrado e eufórico. Sua mãe também. Nós moramos juntos até você nascer. "durante esse período, procuramos nos convencer de que o amor acabaria desabrochando e que íamos descobrir que queríamos ficar juntos o resto da vida. Mas isso não Ia acontecer, e nós dois sabíamos. "choramos no dia em que finalmente concordamos que ficar juntos só ia trazer infelicidade para três pessoas e adiar o inevitável. Era melhor nos separarmos logo, Antes de você guardar qualquer lembrança e não deixar para mais tarde. Por isso, quando você tinha três meses, ela pediu o divórcio." Dean abriu as mãos. - é isso, gavin. Acho que seria bom você conversar com sua mãe também. É compreensível ela não querer que você soubesse, Porque não queria que você a condenasse. E eu também não quero isso. Ela não era uma garota de programa que ia para a cama com todos os caras na faculdade. Aquele Fim de semana foi a última festa da fraternidade para nós, porque íamos nos formar logo. Ficamos embalados e loucos, e... Aconteceu. "sua mãe sacrificou muita coisa para criar você sozinha. Eu sei que você está aborrecido com ela por ter se casado de novo agora, mas isso é muito ruim. Pat não É apenas sua mãe, ela é uma mulher. E se você anda alimentando algum medo infantil, de que o marido dela vai substituir você na vida dela, está muito enganado. Pode Acreditar em mim, ele não poderia. Ninguém poderia." - eu não penso isso - disse ele, falando com a cabeça baixa. - não sou idiota. Eu sei que ela precisa de amor e tudo isso. - então talvez deva parar com esse mau humor e dizer para ela que você compreende. Gavin sacudiu os ombros, sem se comprometer. - eu só queria que vocês me contassem, você sabe, antes. Eu já sabia de qualquer
maneira. - bem, se você já sabia mesmo, e não fez nenhuma diferença significativa na sua vida, então por que está usando como desculpa agora? Gavin levantou a cabeça de estalo. - desculpa? - casamentos duradouros nem sempre resultam em lares felizes, gavin. Muitas crianças que moram com pai e mãe têm uma infância bem pior que a sua, e pode acreditar, Isso eu sei. "você está usando a sua concepção acidental como desculpa para se comportar como um idiota. Isso é uma fuga covarde. Sua mãe e eu somos seres humanos. Éramos jovens E descuidados, e cometemos um erro. Mas já não é hora de você parar de se aborrecer com o nosso erro e começar a aceitar a responsabilidade pelos seus erros?" O rosto de gavin ficou vermelho de raiva. Ele respirava ruidosamente pelo nariz. Mas as lágrimas afloraram de novo nos olhos dele. - eu te amo, gavin. De todo coração. Sou muito grato ao erro que sua mãe e eu cometemos aquela noite. Eu morreria por você. Mas me recuso a deixar que você use as circunstâncias que cercaram seu nascimento para me distrair do que é mais imperativo e, neste momento, consideravelmente mais crítico. Dean chegou a cadeira mais perto da cadeira de gavin e pôs a mão com firmeza no ombro dele. - eu conversei francamente com você, de homem para homem. Agora quero que você tenha uma atitude de homem e conte o que anda escondendo. - não é nada. - besteira. Tem alguma coisa que você não quer me dizer. - não tem não. - você está mentindo. - larga do meu pé, pai! - só quando você me contar. As feições de gavin refletiam o turbilhão que havia dentro dele, a luta contra o medo e possivelmente sua consciência. Finalmente, ele deixou escapar: - tudo bem, você quer saber? Eu estive no carro da janey com ela aquela noite. Paris olhou para o seu relógio. Estava esperando do lado de fora do bci há mais de uma hora. O advogado de dean, que reconheceu por ter visto no dia anterior, tinha Chegado. Ele desapareceu pela porta e entrou na delegacia. Fora isso, paris não sabia o que estava acontecendo. Não sabia se tinham começado o teste de gavin no Detector de mentiras ou não. A falta de sono começava a pesar. Paris encostou a cabeça na parede atrás do banco e fechou os olhos, mas mesmo assim não deu para descansar. Sua cabeça estava cheia De pensamentos sombrios. Janey kemp estava morta. Um indivíduo doente e pervertido a tinha matado, mas paris sentia que em parte era responsável. E stan tinha lembrado, completamente sem tato, que a motivação de valentino tinha sido o conselho que ela dera para janey. Se não tivesse posto no ar a ligação de Janey aquela noite, valentino não teria ouvido. Mas, tragicamente, a ligação foi ao ar. Depois que ele anunciou a ameaça de matar janey, o que ela, paris, podia fazer de Diferente? O que podia ter dito para impedir que ele desse aquele último passo e matasse a menina? - srta. Gibson? Paris abriu os olhos. E viu na sua frente uma mulher minhon, obviamente aflita. O rosto dela, apesar de bonito, estava retesado. Segurava a bolsa com uma força enorme. A pele estava tão esticada nas articulações dos dedos que pareciam ossos expostos. A angústia a reduzira de refinada a frágil. Mantinha um ar de bravura,
mas parecia Forte e firme como uma pluma. Paris procurou imediatamente abrandar a apreensão dela com um sorriso. - sim, sou paris. - achei que devia ser. Posso sentar com você? - claro que sim. - paris fez lugar para ela no banco, e a mulher sentou. desculpe, mas... Nós já nos conhecemos? - o meu nome é toni armstrong. Sra. Bradley armstrong. Paris reconheceu o nome, é claro, e entendeu na mesma hora Por que a mulher estava perturbada. - então sei por que está aqui, sra. Armstrong. Isso deve ser difícil demais para você. Gostaria que nos conhecêssemos em circunstâncias mais agradáveis. - obrigada. Ela se agarrava por um fio à serenidade, mas mantinha a pose, e isso mereceu o respeito de paris. - quando a polícia deu busca na nossa casa, eles não viram isso. - toni tirou um cd da bolsa. - já que confiscaram o computador de brad, achei melhor entregar isso Também. Pode ter alguma coisa importante. Paris ficou meio confusa e franziu a testa. - sra. Armstrong, como foi que me reconheceu? Mesmo com toda a cobertura que a história do desaparecimento de janey havia provocado no noticiário, a imagem de paris tinha ficado de fora. Wilkins crenshaw tinha Pessoalmente intervindo e pressionado a mídia local para não utilizar a fotografia dela. Paris não alimentava ilusões. Ele não se preocupava com ela. Queria proteger A reputação da estação de rádio. Em todo caso, a mídia local concordou em fazer essa cortesia profissional. Mas paris não sabia quanto tempo aquela generosidade ia durar. Toni armstrong umedeceu os lábios, nervosa, e abaixou a cabeça. - esse cd do computador de brad foi apenas uma desculpa para procurar o sargento curtis. O verdadeiro motivo é que não contei tudo para ele ontem. Paris não disse nada e o silêncio dela incentivou toni armstrong a continuar: - o sargento curtis perguntou para mim se brad ouvia rádio de madrugada. Eu disse que sim, às vezes. Ele perguntou outra coisa e não voltou mais a esse assunto. O seu nome não foi mencionado, por isso eu não informei que nós... Brad e eu... Conhecíamos você de houston. Os olhos dela imploravam, como se quisessem que paris lembrasse e ela não tivesse de contar a situação na qual as duas se conheceram. - desculpe, sra. Armstrong, mas não me lembro de tê-la visto antes. - na verdade, você e eu nunca nos vimos. Você era paciente do dr. Louis baker. Subitamente, a memória de paris foi ativada. Como poderia não se lembrar do nome dele? É claro que armstrong era um nome comum. E nem curtis, nem dean, tinham mencionado Que o suspeito brad armstrong era dentista. - o seu marido é dentista? Aquele dentista? Toni armstrong fez que sim com a cabeça. Paris inalou rapidamente entre os dentes. - eu sinto muito. - você não me deve desculpas. O que aconteceu não foi culpa sua. Eu não a culpo de nada. Você fez o que tinha de fazer. Mas brad não pensava assim, é claro. Ele disse que você... Que você havia flertado com ele, dado em cima dele - ela sorriu com tristeza. - ele sempre diz isso. Mas eu nunca pensei, nem por um momento, que Você o tivesse encorajado a fazer o que fez. Paris tinha ido consultar o dr. Louis baker para fazer um tratamento dentário, mas quando chegou na clínica, informaram que o dentista tinha sido chamado para atender uma emergência na família. A opção que paris tinha era marcar a consulta
para outro dia ou deixar que um dos sócios dele a tratasse. A consulta já tinha sido adiada duas vezes, ela já estava lá, por isso resolveu ver o outro dentista. Lembrava que brad armstrong era um homem bonito e bem cativante. Como paris ia tratar de mais de um problema, e alguns podiam doer, ele sugeriu usar óxido nitroso Para ajudar a relaxar. Paris concordou, pois sabia que o "gás hilariante" não tinha efeito duradouro quando a pessoa parava de respirá-lo, e que era seguro quando administrado num ambiente Hospitalar. Além do mais, se precisasse de uma injeção de anestésico, preferia não saber quando viria. E logo se sentiu completamente relaxada e despreocupada, como se flutuasse no ar. No início, pensou que havia apenas imaginado que alguém tocava nos seus seios. As carícias eram levíssimas. Certamente devia ser apenas uma sensação física falsa, provocada pelo estado de euforia. Mas quando aconteceu uma segunda vez, a pressão foi claramente mais forte e aplicada diretamente ao mamilo. Não havia engano nenhum. Paris abriu os olhos, sacudiu A cabeça para afastar a letargia e tirou a pequena máscara que cobria seu nariz. Brad armstrong sorriu para ela e o ar malicioso daquele sorriso convenceu paris De que não tinha imaginado nada. - o que você pensa que está fazendo? - não finja que não gostou - sussurrou ele. - seu mamilo ainda está duro. Mesmo reclinada na cadeira do jeito que estava, paris levantou de um pulo e derrubou com estardalhaço uma bandeja de metal com instrumentos no chão. Uma assistente Que o dentista tinha afastado, com o pretexto de fazer algum favor para ele, voltou correndo para a sala de consulta. - srta. Gibson, o que houve? - peça para o dr. Baker telefonar para mim quando puder disse paris para ela e saiu furiosa. O dentista telefonou para ela no fim daquele dia, preocupado. Paris contou o que tinha acontecido. Quando terminou de contar sua história, ele disse, constrangido: - tenho vergonha de dizer que pensei que a outra mulher estava mentindo. - ele já fez isso antes? - posso garantir, srta. Gibson, que essa será a última vez. Por , aceite o meu sincero pedido de desculpa. Cuidarei disso Imediatamente. O dr. Armstrong foi mandado embora. Dias depois, paris ainda estremecia de nojo toda vez que lembrava do incidente, mas acabou esquecendo. E não tinha mais pensado Naquilo até aquele momento. - seu marido deve ter me culpado por ter sido demitido. - sim. Apesar de ter sido mandado embora de outras clínicas devido a incidentes semelhantes, ele sempre teve uma antipatia por você. Enquanto ainda estava em houston, Ele desligava a televisão toda vez que você aparecia. Chamava você de nomes horríveis. E quando seu noivo se acidentou, ele disse que você merecia. - ele soube do jack, do acidente? - e do dr. Malloy. Ele achava que era um triângulo amoroso. - oh - exclamou paris em voz baixa. - quando nos mudamos para cá e brad descobriu que você tinha aquele programa no rádio, o ressentimento dele se inflamou de novo - a sra. Armstrong abaixou a cabeça E torceu as alças da bolsa. - eu devia ter contado isso ontem para o sargento curtis, mas fiquei com muito medo da polícia achar que brad estava envolvido
nesse Caso da menina desaparecida. - ela não está mais desaparecida. Paris contou que tinham encontrado o corpo de janey kemp, e toni armstrong finalmente perdeu sua corajosa batalha contra as lágrimas. Capítulo vinte e nove Toda vez que john rondeau cruzava o caminho de dean malloy, fazia de tudo para ser simpático. Malloy, entretanto, o tratava com evidente animosidade. Curtis havia Notado. Rondeau tinha ouvido o sargento perguntar para malloy qual era o problema. Malloy tinha respondido com um "nada" mal-humorado e curtis não insistiu mais. No que dizia respeito a rondeau, malloy podia fazer cara feia para ele até não poder mais. Era curtis que queria vaselinar, não malloy. O psicólogo tinha a patente Mais alta, mas era curtis que ia indicá-lo para o bureau central de investigações. E quanto ao garoto do malloy, estava bem do jeito que ele queria, se borrando de medo. O resultado do detector de mentira tinha sido a favor dele, e basicamente O tinha livrado das suspeitas. Então, as pessoas podiam pensar, por que ele andava tão nervoso? Gavin estava sentado numa cadeira perto da mesa de curtis, com os ombros curvados, numa pose de autodefesa. Muito nervoso, não conseguia ficar quieto. Seus olhos Dardejavam para todos os lados, aflitos. Parecia que ia se desintegrar se alguém gritasse "bu!". Só rondeau sabia por que o menino ainda parecia tão assustado, e não ia contar para ninguém. Nem o gavin. Rondeau tinha certeza de que o garoto ficaria de bico fechado. Estava suficientemente apavorado para não dedurá-lo. Tinha sido brilhante ameaçar o pai e não ele. Funcionou muito bem. O cubículo de curtis estava congestionado, pois tinham se reunido ali para discutir o caso. Curtis estava lá, é claro. Malloy. Gavin. E paris gibson. Rondeau aproveitava qualquer oportunidade que tinha para ficar perto dela, apesar de ser difícil paris notá-lo, com malloy Batendo o pé e repetindo ad nauseam que temia que ela fosse a próxima na lista de afazeres de valentino. Rondeau tinha se deparado por acaso com aquela reunião quando entrou para informar curtis do que havia encontrado no cd que a sra. Armstrong tinha entregue a paris. Não era nada sensacional, mas rondeau aproveitava ao máximo qualquer oportunidade de impressionar curtis e aumentar suas chances de entrar para o bci. Paris - inocentemente, é claro - roubou o show antes de rondeau chegar. O que toni armstrong não tinha contado para ele enquanto dava busca na casa ela revelou para Paris - que o marido dela era o dentista que tinha passado a mão em paris numa consulta. Se a sra. Armstrong tivesse contado isso para ele, e ele contasse para curtis, teria marcado um ponto e tanto. Só que não foi assim e ia ter de marcar aquele ponto De outra maneira. - tenho um pressentimento ruim com esse cara - disse o sargento curtis a respeito do dentista. - ele já entrou em contato com a mulher dele hoje? perguntou para Paris.
- ela disse que não. E que todas as tentativas para encontrálo foram inúteis. - se ele telefonasse para ela do celular dele, poderíamos localizá-lo via satélite - observou malloy. - tenho certeza de que foi por isso que ele não telefonou disse rondeau, querendo fazer malloy parecer bobo. Seu pescoço ainda doía por causa do aperto que malloy tinha dado no dia anterior. Malloy e ele jamais seriam amigos, mas rondeau não considerava isso uma grande Perda. - você verificou os registros das ligações telefônicas dele? Perguntou malloy. - estamos trabalhando nisso - respondeu curtis. - vai ficar muito ruim para ele se fez muitas ligações para a estação de rádio. - curtis virou para paris. - a sra. Armstrong não reconheceu a voz dele nas fitas? - ela está escutando as fitas de novo, mas não sei se a informação que ela pode dar será muito confiável. Ela está muito abalada. Quando contei sobre a janey, ela Teve uma crise emocional que acho que já cozinhava em banho-maria havia dias. - você reconheceria brad armstrong se o visse? Paris franziu a testa. - acho que não. O incidente foi há muito tempo. Eu o vi apenas aquela vez e estava chapada de óxido nitroso. - será que uma fotografia ajudaria? - perguntou rondeau, cutucando malloy para um lado e se enfiando no meio do cubículo. - talvez - disse paris. Rondeau apresentou o cd que toni armstrong tinha levado da casa dela e dado para paris. - aparentemente brad armstrong escaneava fotos e gravava em cds. Os que encontramos durante a busca tinham fotos pornográficas tiradas de revistas. "mas esse último tem fotos da família. Eu trouxe de volta para devolver para a sra. Armstrong, mas agora pode ser útil. Talvez desperte a sua memória, paris." - não fará mal dar uma olhada - disse curtis. Ele ligou o computador na mesa dele e se afastou para rondeau poder sentar. O policial percebeu que paris se aproximou por trás para ver melhor a tela do monitor. Sentiu uma lufada de um cheiro de limpeza, como o de xampu. Rondeau digitou algumas teclas e em poucos segundos uma fotografia preencheu a tela. A família de cinco pessoas posava diante de uma atração num parque temático. Pais e filhos usavam roupas americanas, davam sorrisos americanos, viviam o sonho americano. Rondeau virou para paris. - parece familiar? Paris estudou o homem da fotografia algum tempo. - sinceramente, não. Se o visse no meio de uma multidão, não o reconheceria imediatamente como o homem que passou a mão em mim. Foi há muito tempo. - tem certeza de que não o viu recentemente? - perguntou malloy. - se ele tinha tanta raiva de você como a sra. Armstrong contou, podia estar seguindo você. - se o vi, não me dei conta. Curtis, que continuava a examinar a fotografia da família armstrong, disse: Gostaria de saber quem tirou a foto. - deve ter sido ele - disse rondeau. - um cara que tem um scanner e faz um álbum de fotos num cd... - estaria familiarizado com câmeras. - curtis terminou a frase para ele e virou para gavin. - janey disse que o novo namorado tinha tirado aquela foto dela, correto? O garoto se encolheu com a atenção de todos voltada para ele. Seu joelho esquerdo executava uma imitação de britadeira. - sim, senhor. Quando ela me deu a foto, disse que ele tinha tirado aquela e um monte de outras. Disse que ele gostava de tirar fotos quase tanto quanto de
fazer Sexo. - não me lembro de terem encontrado nenhum equipamento fotográfico quando deram busca na casa deles - disse rondeau. - mas ele deve ter a aparelhagem, senão não teria essas fotos da família. Algumas foram tiradas com lentes grandes angulares ou teleobjetivas. - o laboratório já descobriu alguma coisa naquela foto que janey deu para o gavin? - perguntou malloy. Aborrecido, curtis balançou a cabeça. - as únicas impressões nela eram de gavin e de janey. - sargento curtis? - griggs enfiou a cabeça na abertura da porta e interrompeu a conversa. - um minuto - disse o detetive. - e os fornecedores locais de material fotográfico? - perguntou malloy. - ainda estão investigando - disse curtis. - verificar todos os clientes é um processo muito demorado. - não dá para imaginar que tanta gente assim tenha um quarto escuro em casa disse malloy. - clientes de encomenda postal. Pedidos por fax. Pessoas que compram pela internet. É um trabalhão. Griggs interrompeu outra vez: - sargento curtis, isso é importante. Mas a cabeça de curtis se movia numa única direção. Dirigiu-se aos detetives que se amontoavam do lado de fora de seu cubículo. Alguns não trabalhavam com casos De homicídio, mas curtis tinha pedido para todos os membros da unidade colaborar e dedicar seu tempo a isso se pudessem. - alguém verifique se há um quarto escuro na casa de brad armstrong. Garagem, sótão, quartinho de ferramentas, banheiro extra. Não me importo se for rudimentar. Um dos detetives se afastou do grupo às pressas. - precisamos dos registros das ligações telefônicas de brad armstrong o mais rápido possível. Descubram por que está demorando tanto. Outro detetive saiu correndo para cumprir essa tarefa. - imprimam o retrato dele - sem os membros da família, só ele. Mandem para todas as emissoras de televisão a tempo para entrar no primeiro noticiário da noite. Ele É procurado para interrogatório, entenderam? Para ser interrogado - ele enfatizou para o detetive que pegou o cd que rondeau, muito solícito, tirou do computador De curtis. "distribuam também para os investigadores que estão verificando aqueles fornecedores de material fotográfico", gritou curtis para além dos cubículos. "mandem por Fax para todas as outras agências que estão nos ajudando na busca." Providenciado isso, rondeau disse: - senhor, peço perdão por não ter ligado uma coisa à outra mais cedo. - tudo bem - disse curtis, e mandou rondeau embora de um jeito que doeu. - a mulher dele - disse curtis para paris - será nossa melhor fonte de informação. Tem certeza de que ela vai cooperar? - absoluta. Sendo ou não valentino, ela quer que ele seja encontrado e prometeu colaborar de todas as maneiras possíveis. Curtis balançou a cabeça para uma policial feminina à paisana. - pergunte para a sra. Armstrong quem tira as fotos da família. Faça como se estivesse conversando com ela. Quando todos estavam distraídos, rondeau olhou para gavin malloy e piscou um olho. O menino fez com a boca, vá se foder. Rondeau sorriu. - sargento? - griggs continuava incomodando. - com licença? Finalmente, curtis virou para ele e rugiu: - o que é, porra?
- t... Tem alguém procurando o senhor - gaguejou ele. - e... E a srta. Gibson. - alguém? Quem? Griggs apontou por cima das divisórias dos cubículos. Curtis e paris seguiram o policial pelo labirinto de salinhas minúsculas até a porta dupla da entrada, onde Dois patrulheiros uniformizados seguravam um homem algemado entre eles. - marvin! - exclamou paris. Lancy fisher estava sentado diante da mesa de uma das salas de interrogatório. Paris sentou na frente dele, curtis ficou de pé num canto e dean no outro. Apesar De terem se concentrado no dr. Brad armstrong, o homem que ela conhecia como marvin patterson ainda era um possível suspeito. Ele havia entrado no quartel-general da polícia e se apresentado para os policiais na recepção. Reconheceram-no imediatamente e o algemaram para subir de elevador Até o terceiro andar. Lancy não resistiu. Cada vez que paris o olhava nos olhos, ele desviava rapidamente, dando a impressão de ser culpado de alguma coisa. Paris ficou surpresa de ver como marvin era bonito sem o macacão largo e o boné de beisebol que usava para trabalhar. Jamais tinha visto o seu rosto bem iluminado. E ele também não tinha visto o dela, lembrou paris. Talvez por isso aqueles olhares, que não eram só de culpa, mas também de curiosidade. - devo arranjar um advogado? - lancy perguntou para curtis. - eu não sei, você acha que deve? - respondeu o detetive com calma. — foi você que convocou essa reunião e insistiu para paris estar presente. É você que vai me Dizer se precisa de um advogado. - não preciso. Porque posso dizer logo de cara e é a verdade, em nome de deus, que não tive nada a ver com o seqüestro e o assassinato daquela menina. - nós não o acusamos de nenhum envolvimento nisso. - então por que aqueles caras lá embaixo pularam em cima de mim e me prenderam desse jeito? - ele apontou os pulsos algemados para curtis. Sem se perturbar, curtis respondeu: - imaginei que devia estar habituado com elas, lancy. Você já teve de usá-las muitas vezes. O rapaz recostou curvado na cadeira, reconhecendo a veracidade da declaração. - marvin - disse paris, chamando a atenção dele -, encontraram fitas dos meus programas, uma enorme quantidade delas no seu apartamento. Gostaria de saber por que Guardava essas fitas. - o meu nome verdadeiro é lancy. - desculpe. Lancy. Por que colecionava todas aquelas fitas? - para nós - disse dean -, parece que você tem um interesse obsessivo por paris. - eu juro que não é o que vocês estão pensando. - o que eu estou pensando? - perguntou dean. - que é alguma espécie de tara. Não é. Eu... Eu andei estudando paris gibson ele olhou para as caras de espanto dos três. Eu, é... Eu quero ser igual a ela. Fazer O que ela faz, quero dizer. Quero trabalhar no rádio. Se lancy dissesse que queria pilotar um submarino nuclear através da rotunda do capitólio, eles não ficariam mais atónitos. Paris foi a primeira a se recuperar. - você quer fazer carreira de locução de rádio? - acho que vocês devem estar achando isso uma loucura, levando em conta minha ficha na polícia e tudo o mais. - eu não acho que é loucura. Só estou surpresa. Quando você resolveu seguir essa carreira? - uns dois anos atrás. Quando saí de huntsville e comecei a ouvir seu programa todas as noites. - e por que paris, especificamente? Por que não outro dj?
- porque eu gostava do jeito que ela conversava com as pessoas - disse lancy para dean e virou de novo para paris. - parecia que você realmente se importava com As pessoas que telefonavam, como se levasse a sério os problemas delas. - com jeito de envergonhado, ele acrescentou: - por algum tempo, as coisas foram muito difíceis Para mim. A volta para a vida aqui fora. Você foi como uma velha amiga. Curtis parecia cético. Dean também franzia a testa. Mas paris deu um sorriso para lancy que serviu de incentivo para ele continuar: - uma noite ligou um cara que contou que tinha sido demitido e que não conseguia arrumar outro emprego. Você disse que parecia que ele tinha ficado inseguro, e Que era exatamente nessa hora que devia sonhar mais alto, ir mais longe. "eu segui o conselho que você deu a ele. Parei de tentar conseguir empregos que pagavam uma ninharia e me candidatei na companhia telefônica. Eles me contrataram. Eu estava ganhando bem, o suficiente para pagar as aulas de impostação de voz. Roupas melhores. Um bom carro. Mas fiquei ganancioso, furtei equipamento de lá que sabia que poderia vender rápido. Eles não me processaram, mas me mandaram embora." Lancy parou de falar como se estivesse se punindo por uma decisão tão equivocada. Paris olhou para dean. Ele ergueu os ombros como se dissesse que lancy tanto podia Estar dizendo a verdade como contando uma grande mentira. - depois de algumas semanas desempregado - continuou lancy -, eu nem acreditei naquela sorte toda quando vi o anúncio no jornal, de um emprego na estação de rádio. Não me importaria se tivesse de limpar as latrinas... Ha... Os banheiros. Eu queria estar naquele lugar de qualquer maneira. Para poder observar você. Ver como você Trabalha. Talvez até aprender um pouco da tecnologia. "liguei um gravador no meu rádio em casa e pus o timer para gravar todos os programas. Durante o dia eu ouvia as fitas e tentava imitar seu jeito de falar. Eu ficava Treinando, procurando pegar a sua dicção e o ritmo da sua fala. E tive mais aulas para perder o sotaque." Lancy deu um sorriso largo. - e vocês já devem ter percebido que vou precisar trabalhar muito mais nisso. E é claro que eu também sei que nunca serei tão bom como você, por mais que eu me esforce. Mas estou determinado a investir o melhor de mim. Eu queria... Eu tinha de... Como é mesmo que eles chamam? - reinventar você? - paris adivinhou. Os olhos de lancy se iluminaram. - é, é isso aí. Por isso eu usei outro nome. Meu nome verdadeiro parece demais com o lugar de onde eu vim. Curtis jogou uma pasta em cima da mesa e, quando lancy viu que era sua ficha criminal, fez uma careta. - eu sei que depõe contra, mas juro por deus que larguei essa vida. - é uma longa lista de crimes, lancy. Você encontrou jesus em huntsville ou o quê? - não, senhor. Eu só não queria ser um lixo o resto da vida. Curtis pigarreou, sem se convencer. Lancy olhou em volta e deve ter percebido que os três continuavam céticos. Ele umedeceu os lábios e disse, num tom meio desesperado: - eu não faria nada para machucar a paris. Ela é meu ídolo. Não dei nenhum telefonema ameaçador. Quanto à menina que apareceu morta, eu não sei de nada. Curtis encostou o quadril num canto da mesa e dirigiu-se ao rapaz com falsa simpatia: - você gosta de meninas do ensino médio, lancy ray? - senhor?
- você largou a escola aos dezesseis anos. - fiz o supletivo quando estava na prisão. - mas perdeu toda a diversão do ensino médio. Talvez esteja compensando o que não teve. - o senhor quer dizer as meninas? - é, é isso que eu quero dizer. Lancy balançou a cabeça enfaticamente. - não paquero menores nem faço sexo com elas. Não sou perfeito, mas essa não é a minha praia. - você gosta de mulheres? - quer dizer, em vez de homens? Porra, é claro. - você tem uma cara bonita. Corpo bom. Na prisão, a solidão pode ser muito grande. Lancy olhou para paris sem graça e depois abaixou a cabeça e resmungou: - eles me deixavam em paz. Espetei um deles nos... Nos testículos com um garfo. Tive de cumprir um ano a mais da minha sentença por causa disso, mas depois eles Não me incomodaram mais. Paris ficou constrangida por ele. Torcia para curtis aliviar, mas temia que, se interferisse, ele pediria para ela sair e queria ouvir aquilo. - conheci sua mãe ontem - disse curtis. Lancy levantou a cabeça e olhou diretamente para o detetive. - ela é uma vaca. - espere aí! Ouviu isso, dr. Malloy? Isso não parece hostilidade latente contra uma mulher? Um ressentimento... - eu não gosto da minha mãe - disse lancy, irritado -, mas isso não reflete na minha vida sexual. Se ela fosse sua mãe, você gostaria? Curtis insistiu: - você tem namorada? - não. - queria ter uma? - às vezes? - às vezes - repetiu curtis. - quando você deseja uma namorada, o que você faz? - o que o senhor quer dizer? - ora, vamos, lancy ray. - curtis bateu na pasta com o dedo indicador. - você foi preso por crime sexual. - isso foi uma armação. - é o que todos os estupradores dizem. - esse cara, o produtor de cinema... - de filmes pornográficos. - certo. Estávamos fazendo um filme de sacanagem na garagem dele. Ele se irritou quando a namorada começou a dar em cima de mim. Não fazia mal fazer... Vocês sabem, quando a câmera estava filmando. Mas não fora de cena. Por isso ele e eu brigamos e... - e você o cortou todo. - foi legítima defesa. - o júri não se convenceu disso, nem eu - disse curtis. Quando você acabou o serviço nele, começou na garota. - não senhor! Lancy negou com tanta convicção e indignação que paris teve de acreditar que ele estava dizendo a verdade. - foi ele. Ele fez um estrago nela - lancy apontou para a pasta. - todas as coisas que foram feitas nela, foi ele que fez. - eles pegaram o seu DNA. - porque estive com ela mais cedo aquele dia. Ele nos pegou juntos. Foi por isso que começamos a brigar. - o testemunho dele foi corroborado sob juramento por duas pessoas da equipe de produção e pela própria garota. - todos eram viciados. Ele lhes deu a droga. Eu não tinha nada para oferecer em troca da verdade.
- por que acha que devemos acreditar na sua versão, lancy? - perguntou dean. - porque eu reconheço todos os meus outros crimes. Fiz coisas terríveis, mas nunca bati numa mulher. Paris inclinou o corpo sobre a mesa e ficou mais perto dele. - por que você fugiu quando a polícia telefonou para dizer que queriam interrogá-lo? Por que não contou a eles o que está nos contando agora? Ele suspirou profundamente e levantou as mãos algemadas para esfregar a testa. - eu entrei em pânico. Sou um ex-condenado. Isso me torna automaticamente suspeito. Além disso, eu sabia que se descobrissem que andei gravando seus programas, na Certa me levariam preso. - por que deixou as fitas? Ele deu um sorriso tímido. - porque sou burro. Entrei em pânico e fugi ventando, de lá. Esqueci as fitas. Talvez tenha perdido meu instinto criminoso. Espero que sim. Lancy tinha um jeito modesto e paris gostava disso. Mas parecia que curtis não. - se você tivesse admitido isso anteontem, talvez tivéssemos acreditado em você. Lancy olhou para paris e disse, ansioso: - estou dizendo a verdade. Não sei de nada sobre esse valentino, nem sobre os telefonemas. Não sei de nada sobre janey kemp, só o que ouvi no noticiário. A única Coisa da qual podem me acusar é de querer aprender a fazer o que você faz. - você ficou trabalhando meses na rádio - disse ela suavemente -, mas nunca conversou comigo. Porque não me contou da sua ambição? Por que não pediu conselhos? Orientação? - você está brincando? - exclamou ele. - você é uma estrela. Eu sou o cara que faz a faxina. Eu nunca tive coragem de falar com você. E se tivesse, você ia rir de Mim. - eu nunca faria isso. Lancy examinou os olhos de paris por trás dos óculos escuros. - e, talvez não fizesse mesmo. Agora eu sei. - onde você esteve esse tempo todo? - perguntou curtis. Você não voltou para a casa da sua mãe, nem para o seu apartamento. - eu tenho um... Acho que vocês chamam de... - esconderijo? - disse curtis. Lancy ficou embaraçado. - sim, senhor. Vou dar o endereço. Podem fazer uma busca por lá. - pode apostar que vamos - disse curtis, pondo a mão embaixo do braço de lancy e fazendo com que ele se levantasse da cadeira. - e enquanto isso, você fica morando Aqui conosco. Capítulo trinta Era um ótimo bar para ficar de bobeira. À beira do lago, feito de ripas de cedro, lugar bastante conhecido do pessoal da região. Pescadores podiam aparecer por ali, mas não era um bar que atraísse turistas Ou os jogadores de golfe dos clubes de campo. A clientela consistia basicamente de operários de construção, vaqueiros e ciclistas. Um profissional de colarinho branco Se sentiria fora do seu elemento, por isso era pouco provável que algum conhecido descobrisse brad armstrong ali. Esmagou alguns amendoins quando atravessou o salão mal iluminado do bar. A única fonte de luz eram placas de néon, quase todas com a bandeira do texas, a estrela Solitária, e uma marca de cerveja. As luminárias penduradas sobre as mesas de sinuca estavam acesas, mas obliteradas pela fumaça de cigarro.
A jukebox wurlitzer borbulhante num canto emitia um arco-íris rodopiante de cores pastel, mas não havia nada de sutil na música que dali soava altíssimo. Eram músicas Country antigas, do tipo anasalado, plangente, desolado, anteriores a garth, a mcgraw e similares. Os fregueses bebiam cerveja no gargalo da garrafa, jack daniel's ou josé cuervo puro. Que era o que a menina bebia quando brad aproximou-se dela no bar. Ele a reconheceu Imediatamente. O fato de estar ali naquele dia, naquele momento, era um sinal cósmico de que ele não fazia nada de errado. Brad viu os dois copos vazios na frente dela e sinalizou para o atendente do bar servir mais dois. - um para mim e um para a senhora com a argola no mamilo. Ela virou para ele. - como você... Ah, oi. Duas noites atrás, certo? Ele deu um sorriso largo. - ainda bem que você lembrou. - você é o cara que tinha um monte de pornografia. Ele fez cara de decepcionado. - esperava que você lembrasse da minha... Outra qualidade memorável. Ela lambeu o lábio superior e sorriu. - disso também. - não esperava encontrar você num lugar como esse - disse ele. — você tem classe demais para isso. - venho aqui às vezes. Ela mordeu um amendoim e comeu delicadamente. - antes de o clube do sexo começar a se reunir - ela deixou cair um amedoim no chão e esfregou as mãos. - você também não combina muito. - acho que o nosso destino era esse encontro aqui. - legal - disse ela. A maquiagem havia sido usada regiamente para parecer que tinha idade para beber. O barman caiu ou, o que era mais provável, nem se importava com o fato de ela não Ter idade. Ele serviu as doses de tequila que brad havia pedido. - vamos brindar o quê? Ela rolou seus grandes olhos escuros para o teto como se a resposta talvez estivesse escrita na camada de fumaça com poluentes químicos que pairava lá em cima. - que tal ao body piercing? Brad chegou para frente e sussurrou: - fico de pau duro só de pensar nisso. Ele bateu o copo no dela e os dois beberam de uma só vez e simultaneamente a bebida ardente. Aquilo era tão fácil, pensou ele. As mães não recomendavam mais para as filhas não falar com estranhos? Não diziam para elas nunca, jamais, irem com um homem que Não conheciam? Aonde aquele mundo ia parar? Brad temeu pelas próprias filhas. Pensar na família, porém, estragava a atmosfera, de modo que guardou aqueles pensamentos num lugar seguro e pediu mais uma rodada de tequila. Depois dessa segunda dose, eles resolveram sair. Brad sorriu com arrogância quando passaram pelas mesas de sinuca. Era motivo de inveja para os caras durões, com Tatuagens nos braços e facas presas aos seus largos cintos de couro. Ele obteve sucesso Onde eles aparentemente tinham fracassado. Talvez porque seu cabelo fosse limpo. - é melissa, certo? - perguntou ele enquanto segurava a porta do carro aberta para ela. Os lábios vermelhos e brilhantes sorriram com o fato de brad lembrar-se do seu nome. - para onde nós vamos? - eu tenho um quarto.
- maravilha. Ridiculamente fácil. Sair aquela noite não era muito aconselhável, mas enlouqueceria se ficasse mais um minuto trancado. Não podia voltar para casa. Toni tinha ligado o dia inteiro para O seu telefone celular, a cada cinco minutos, implorando para ele voltar. A polícia só queria conversar com ele, disse ela. Certo, ele pensou. Querem conversar comigo Atrás de barras de ferro. Não tinha atendido o telefone e não tinha ligado para ela, pois sabia que a polícia já devia ter instalado um sistema para rastrear o celular dele via satélite. A descoberta do corpo de janey não tinha sido nada bom para ele. Os noticiários diziam que estavam fazendo uma autópsia. Quando ouviu isso, ele quase entrou em pânico. Ficou nervoso, furioso, andou de um lado para outro, condenou a mulher por não compreendê-lo e janey por ser uma safada irresistível para ele, e até a mãe dele, Que o castigava severamente por se masturbar quando era pequeno. Por mais que pensasse, não se lembrava daquele tempo, mas os psicólogos perguntavam nas sessões de terapia se tinha sido punido por isso, e ele respondia que sim, Pois aquela parecia a explicação esperada e aceita para a sua preocupação sexual. Quando as notícias foram de más para piores, até incluindo o nome dele, a angústia aumentou. Procurou se distrair dando uma espiada nas revistas pornográficas, lendo As cartas e as experiências "reais" enviadas pelos assinantes. Mas logo a familiaridade se tornava entediante. Além do mais, o desejo que sentia não ia ser aplacado De outra forma. Estava com tesão e precisava extravasar. E quem podia condená-lo com toda a pressão que sofria recentemente? Decidiu Que o alívio não ia procurá-lo, por isso teria de sair e ir atrás dele. E agora tinha acabado de encontrar esse alívio. - esse não é o carro que você tinha naquela outra noite — observou melissa enquanto apertava os botões do rádio até encontrar uma estação onde tocavam um rap monótono. A polícia podia ver o carro dele, por isso telefonou e pediu um carro alugado de um local que entregava em casa. Nada de cadeia de lojas que exigiam todo tipo de Documentos, mas um lugar que, de acordo com o anúncio nas páginas amarelas, aceitava pagamento em dinheiro vivo. Isso indicou para brad um estabelecimento que não Se importava muito com leis e regulamentos. A única amenidade prometida era um condicionador de ar funcionando em todos os carros deles. Enquanto esperava o carro chegar, brad tomou uma ducha, vestiu-se, perfumou-se com aramis e pôs algumas camisinhas no bolso. Conforme o previsto, parecia que a próxima parada do homem que levou o carro para ele seria numa loja 7-eleven que pudesse assaltar. Brad mostrou a carteira de motorista Rapidamente e preencheu um formulário com informações falsas. Pagou o depósito exigido e acrescentou dez dólares como gorjeta. O homem não falava inglês direito E parecia não se importar com o dia que brad prometeu devolver o carro, que já tinha dez anos de uso. - nós já nos conhecíamos antes? - perguntou melissa. Antes da outra noite, quero dizer. Você parece familiar. - sou um famoso astro de cinema. - deve ser isso - disse ela, dando uma risadinha. Para distraí-la dessa associação de idéias, ele disse:
- você é sempre assim, sensacional? - você acha? Na verdade, ela parecia uma puta. O cabelo tingido estava mais espetado e mais alto do que na outra noite. Fora da escuridão do bar, a maquiagem parecia ainda mais Vulgar. O top que ela usava era feito de um tecido muito fino e dava para ver a argola de prata pendurada no mamilo. A maioria dos guardanapos era maior do que a saia dela. Resumindo, ela estava pedindo. Ia agradecer a ele por ter evitado que fosse currada por todos os caipiras daquele bar. Ele olhou para o próprio colo. - olha só o que você está fazendo comigo. Melissa avaliou a distensão na calça dele e disse: - isso é o melhor que você pode fazer? Ela encostou na porta do carro e passou lentamente as pontas dos dedos no mamilo com o piercing de argola. A menina conhecia o métier. A ereção dele aumentou. - não posso olhar para você e dirigir ao mesmo tempo. Melissa deu uma puxada provocante na argola do mamilo. Ele gemeu. - sabia que você está me matando? - mas você vai morrer feliz. Brad esticou o braço por cima do console e enfiou a mão por baixo da saia dela, sentiu a renda nas pontas dos dedos e foi além. - humm. É bem aí. - melissa fechou os olhos. - não deixe a polícia parar você por excesso de velocidade. Pelo menos até eu gozar. Gavin estava esperando na frente do bci quando dean, paris e o sargento curtis apareceram. Depositava muita esperança em lancy ray fisher. Ficou de pé e perguntou: - era ele o cara? - ainda não sabemos - respondeu-lhe o pai. - o sargento curtis vai segurá-lo lá e fazer mais algumas perguntas. Paris olhou para o relógio. - se não se importam, gostaria de passar em casa antes de ir para a estação. Saí apressada hoje de manhã. — eu levo você e deixo o gavin em casa no caminho - disse dean. - vamos ficar com os celulares ligados, curtis. Se qualquer coisa acontecer... - eu ligo na mesma hora - disse curtis para tranqüilizá-los. - vou pressionar lancy ray. - com todo respeito, não acredito que ele seja o valentino disse paris. O detetive meneou a cabeça. Gavin achou que ele parecia muito cansado. Uma sombra loura da barba por fazer começava a despontar no rosto rosado do sargento. - eu ainda aposto no dr. Brad armstrong - disse curtis -, mas não posso desistir do lancy fisher. Eu me comunico com vocês. Já estavam indo para os elevadores quando curtis chamou gavin. A primeira coisa que o menino pensou foi: o que será agora? - senhor? - respondeu gavin. - sinto ter feito você passar por isso hoje. Eu sei que não foi nada divertido. - tudo bem - disse gavin, apenas por educação. Não estava tudo bem. Odiava sentir-se culpado quando não era. - espero que descubram quem fez aquilo com a janey. Eu devia ter contado desde o início que estive com ela no carro. Mas tive medo de que o senhor pensasse, bem, O que o senhor pensou. Acho que ela encontrou quem a matou depois que se livrou de mim. - parece que sim. Você tem certeza absoluta de que ela nunca mencionou com quem ia se encontrar depois? Um nome? Profissão? - tenho certeza. - bem, obrigado - disse curtis. - agradeço a sua colaboração. Dean conduziu gavin para os elevadores e foram embora. Gavin sentou no banco de trás do carro a caminho de casa. Ninguém falou muito, os três pareciam perdidos
nos Próprios pensamentos. Quando chegaram, uma viatura policial com dois policiais já estava parada na frente da casa de dean. Gavin gemeu mentalmente. Tinha atingido Sua cota de policiais aquele dia. Se nunca mais visse um - fora o pai dele -, seria bom demais. - eu não preciso de babá, pai. Ou ainda estou de castigo? - você não está de castigo, mas a polícia está aqui para protegê-lo. Eles ficarão até pegarem o valentino. - ele não vai... - eu não vou me arriscar, gavin. Além do mais, os guardas têm ordem de curtis, não minha. - você poderia dispensá-los se quisesse. - mas não quero. Está bem? Quando o pai fazia aquela cara, era fim de papo. Gavin meneou a cabeça a contragosto. Então seu pai estendeu o braço por cima do banco e pôs a mão no ombro dele. - fiquei muito orgulhoso com o seu comportamento hoje. - correndo o risco de parecer condescendente, eu também fiquei, gavin - disse paris. - obrigado. - ligue para o meu celular imediatamente se alguma coisa acontecer. Prometa que vai fazer isso. - eu prometo, pai. - gavin desceu do carro. - tchau, paris. - tchau. Nós nos veremos logo, está bem? - tá. Seria legal. Gavin foi andando para casa, arrastando os pés. Dean não saiu com o carro até o menino entrar em casa. Diferentemente da mãe e do pai dele, os dois pareciam combinar Muito bem. Gavin torcia para tudo dar certo com eles. Acenou da porta da frente antes de fechá-la e trancá-la, tornando-se eficientemente seu próprio carcereiro. - um tostão pelos seus pensamentos. Paris olhou para dean. - meus pensamentos? Estava pensando em toni armstrong. Eu sinto por ela. Gostei dela. - eu também. Uma senhora corajosa. - acho que ela ama o marido. Profundamente. E, nas atuais circunstâncias, isso deve gerar um conflito muito grande. - curiosa, paris perguntou: - do ponto de vista Clínico, quando é que uma pessoa é considerada viciada em sexo? - pergunta difícil. - tenho certeza de que pode responder, dr. Malloy. - está certo. Se um cara fica de pau duro doze vezes por dia, eu dou os parabéns para ele, e talvez até diga para ele tentar a décima terceira. Mas se ele procura O ato para satisfazer essas doze ereções por dia, eu diria que é um excesso, e que podemos ter um problema. - você está brincando. - um pouco, mas há uma base de verdade - o sorriso se desfez e dean ficou sério. - o sexo pode virar um vício como qualquer coisa. Quando a compulsão pesa mais que O bom senso e a cautela. Quando a atividade começa a ter um efeito negativo no trabalho, na vida em família, nos relacionamentos. Quando se transforma na força dominante E no meio exclusivo de gratificação pessoal. Dean olhou para paris e com um movimento de cabeça ela pediu para ele continuar. - é o mesmo ponto em que alguém que bebe socialmente se transforma em alcoólatra. O indivíduo perde o controle sobre a obsessão. Ou seja, a obsessão é que passa a controlar o indivíduo.
- como torná-lo disposto a sacrificar a mulher e a família para obter prazer. - mas não significa que brad armstrong não ame a mulher dele - disse dean. deve amar. Paris ficou olhando para a frente, pensando naquilo. Mesmo com os óculos escuros, tinha de apertar os olhos diante do sol poente, que dava um espetáculo descendo No horizonte. Imaginou o que o juiz e marian kemp estavam fazendo naquele momento. Nem iam notar aquele pôr-do-sol sensacional. - eles têm de providenciar o enterro. - o que disse? - perguntou dean. - estava pensando em voz alta. Sobre os kemp neste momento. - é - ele disse, suspirando. - nem imagino a devastação que seria perder um filho. Aconselhei policiais que perderam, mas tudo que eu disse soava para mim mesmo Como um monte de baboseiras. Se alguma coisa acontecesse com o gavin... - dean parou de falar como se não pudesse articular aquela idéia apavorante. - quero ser um bom pai para ele, paris - disse ele, baixinho. - eu sei. - por causa do meu pai. - também sei disso. - quanto o jack contou para você? - o bastante. Jack contara que o relacionamento de dean com o pai fora explosivo. O sr. Malloy tinha um gênio agressivo, e dean costumava levar a pior. Às vezes, os ataques do pai tornavam-se violentos. - o seu pai batia em você, dean? - perguntou paris. - ele era muito duro comigo sim. - você não está atenuando demais as coisas? Dean deu de ombros com ar de indiferença, e paris sabia que era fingimento. - eu podia suportar os maus-tratos dele - disse ele. - quando ele ia para cima da minha mãe é que eu não agüentava. De acordo com jack, o incidente crucial tinha acontecido quando os pais de dean foram visitá-lo no fim de semana da volta ao lar no primeiro ano da texas tech. Numa Festa da fraternidade, o pai de dean começou uma briga com ele. Dean procurou ignorar, mas o pai foi ficando cada vez mais grosseiro e não queria desistir. A mãe dele, constrangida pelo filho, tentou intervir. Foi quando o pai de dean começou a desrespeitá-la. O que ele dizia era humilhante e cruel. Sem se importar Com os amigos e os outros pais que assistiam a tudo, dean partiu em defesa da mãe. O pai deu um soco nele. Antes de tudo terminar, dean estava montado no peito do Sr. Malloy e, segundo jack, "socando o velho até não poder mais". Depois daquela noite, o relacionamento dos dois ficou ainda mais antagônico e assim permaneceu até o pai de dean morrer. - fiquei meio louco aquela noite na tech - disse dean para paris. - nunca tinha agido daquela maneira antes e nunca mais perdi a cabeça daquele jeito. Se jack e Os outros caras não tivessem me tirado de cima dele, poderia tê-lo matado. Eu queria matá-lo. "odiei demais o que aconteceu, pelo constrangimento que foi para a minha mãe. Mas pelo menos isso fez com que o velho pensasse duas vezes antes de atacá-la de novo, Especialmente quando eu estava por perto." dean olhou para paris; paris nunca viu dean tão vulnerável. "mas fiquei apavorado, paris. Nem sei descrever. Uma fúria Assassina? Ela me consumiu e bloqueou todo o resto. "meu pai tinha crises como aquela o tempo todo. Aquela noite, aprendi que o que existia nele para ser do jeito que era, também existe dentro de mim. E apareceu Aquela única vez. Vivo com medo de que aconteça de novo."
Paris pôs a mão no braço dele. - ele o provocou de um jeito muito cruel. Você reagiu. Mas não quer dizer que você tenha essa fúria latente, capaz de explodir num instante. Você não é como ele, Dean - disse paris. - nunca foi e nunca poderia ser. "quanto ao gavin, você pode ficar zangado com ele. Os filhos dão raiva, decepcionam e enlouquecem os pais. É isso que eles fazem. É inerente aos filhos. E você tem O direito de sentir raiva dele quando faz isso. "na verdade, gavin poderia duvidar que você o ama se não ficasse com raiva dele. Ele precisa saber que você se importa com ele a ponto de ficar zangado. Ele vai Testá-lo muitas vezes, só para ter certeza de que você ainda se importa", então paris riu. "olha só como eu falo. Você é o psicólogo e o pai. Eu não sou nada disso." - mas tudo que você está dizendo é correto e eu preciso ouvir. Paris sorriu carinhosamente para ele. - desde que você o elogie tanto, ou até mais, do que o castiga, tudo dará certo. Dean ficou meditando sobre aquilo e depois piscou para paris. - inteligente, além de linda. Você é uma mulher perigosa, paris. - ah é, essa sou eu. A básica mulher fatal. - talvez isso tenha atraído lancy ray fisher. O seu elemento de mistério atraiu o instinto criminoso dele. Paris rolou os olhos nas órbitas. - ele quer o meu emprego. - é o que ele diz. - você acha que ele está mentindo? - se está, é muito convincente. Ou está sendo sincero ou é um artista perfeito. - essa também é a impressão que eu tenho. - como é ser ídolo de alguém? Paris deu um sorriso triste. - não recomendo para ninguém moldar a vida na minha. Então o celular de dean tocou. Ele atendeu. - malloy... E por falar no diabo. Não, paris e eu estávamos falando dele. Dean formou curtis com os lábios, e paris fez que sim com a cabeça. - e a outra casa de lancy? - dean ficou ouvindo um pouco, depois disse: provavelmente não é uma má idéia. - curtis falou mais, e então dean se despediu, dizendo: - tudo bem, fique em contato conosco. Depois de desligar o celular, dean contou as novidades para paris: - ele espremeu lancy ray até o fim, foi o que curtis disse. Mas lancy continuou contando a mesma história. Policiais que foram ao apartamento onde lancy se escondia informaram que lancy tinha estado lá, mas parecia que ninguém mais. - nenhum sinal de janey ter ficado presa lá? - perguntou paris. - nada. Nenhum laboratório de fotógrafo amador. Nada mais pervertido do que um número da playboy. Por isso curtis está mais aflito ainda para pegar o dentista. Resolveu Ter uma conversa com toni armstrong. - humm. Que dilema para ela. Por um lado, ela quer que peguem o marido para ele poder se tratar, mas, por outro, isso vai incriminá-lo. - ele se incriminou sozinho. - eu sei disso. Estou pensando como toni deve estar pensando. Ela o ama e quer que ele se cure, mas se não tiver mais cura, quanto tempo ela vai agüentar ficar do Lado do marido? - boa pergunta, paris. Tarde demais ela percebeu que o que tinha dito sobre toni armstrong podia se aplicar a ela mesma. Dean estacionou o carro na frente da casa dela. Desligou o motor, virou de frente para ela, pronto para dizer alguma coisa, mas paris cortou antes que ele
pudesse Começar: - jack precisava de mim. - eu preciso de você. - não do mesmo jeito. - isso mesmo. Você ficou com ele por obrigação. Eu quero que queira ficar comigo. Dean olhou nos olhos dela por alguns segundos, depois abriu a porta do carro e saltou. No caminho, paris parou para pegar a correspondência, negligenciada aqueles últimos dois dias. Já dentro de casa, jogou tudo na mesa da entrada. - deus sabe quando terei tempo para dar uma espiada nisso. Minha mesa no trabalho está mais... Foi tudo que teve tempo de dizer, antes de dean puxá-la e beijá-la. Ele tirou os óculos escuros de paris e deixou cair na mesa. Então abraçou-a com força, puxando-a Para ele. Reagindo imediatamente, paris também abraçou dean, apertando os dedos nos músculos das costas dele. Enquanto fundia a boca com a dela, dean puxou a saia de paris até poder acariciar a coxa nua. Paris derreteu por dentro, mas se libertou do beijo e disse, ofegante: - dean, eu só tenho uma hora. - então esse será um recorde para nós. Até agora nossos encontros sexuais não duraram mais de três minutos - ele enfiou o rosto no cabelo dela. - dessa vez quero Vê-la nua. Com um riso rouco e profundo, paris encostou a cabeça na testa dele. - e se não gostar do que vai ver? - não existe essa possibilidade. Dean enfiou as mãos na calcinha de paris e apertou as nádegas dela. Paris emitiu um som de prazer, mas a voz da razão falou mais alto: - e se o curtis ligar? - eu já aprendi a viver com as decepções. Mas é mais um motivo para nos apressarmos. Dean segurou a mão de paris e foi andando resoluto para o quarto, arrastando-a com ele. Um riso jovial borbulhou no peito de paris. O coração ficou acelerado. Sentia-se Terrivelmente depravada e maravilhosa, gloriosamente viva. Dean também ria, atrapalhado com os obstinados botões cobertos de tecido do top de paris. - essas coisas malditas. Paris foi mais habilidosa. Logo a camisa dele estava aberta e ela deu um beijo na pele quente logo abaixo do mamilo esquerdo, e sentiu o coração dele pulsando contra Seus lábios. Dean finalmente conseguiu desabotoar os botões, tirou a blusa e soltou a presilha frontal do sutiã. Então começou a acariciá-la, massageando os seios com dedos fortes. Paris observava a expressão dele, olhando para o corpo dela. Dean parecia tomado de paixão e ternura ao mesmo tempo, enquanto via os mamilos dela reagindo aos toques Das pontas dos dedos dele. Os olhos dos dois se encontraram apenas por um segundo, dean abaixou a cabeça e abocanhou um mamilo. Paris soltou o cinto e abriu o zíper da calça de dean, enfiou a mão no cós da cueca. Ele era macio como veludo, rijo e pulsante, cheio de vida. Paris passou o polegar Na glande e dean estremeceu. - paris, pare - disse ele, e se afastou. - se você... Não pode fazer isso. Assim eu vou gozar. E quero que isso dure.
Paris tirou o sutiã, abriu o fecho da saia nas costas, empurrou-a para baixo e tirou-a pelas pernas. Febris, os olhos de dean examinaram tudo. Com um movimento rápido, Ele tirou a calça e a cueca. Paris olhou para ele e gostou do que viu, mas quando estendeu a mão para tocá-lo de novo, ele a impediu. Então dean caiu de joelhos e beijou paris através da calcinha de seda. Apertou as mãos espalmadas nas nádegas dela, puxando seu corpo de encontro ao rosto. O calor E a umidade da respiração dele passavam pelo tecido e deixava paris trêmula. Ele a beijou novamente. E outra vez. Ela fechou os olhos e usou os ombros dele para Se apoiar. Então a seda pareceu se dissolver, porque aquela barreira não estava mais lá. Os lábios dele eram quentes e ágeis, e logo paris sentiu a língua de dean, separando, E procurando, e lambendo. Ela se entregou ao prazer, imenso. Mas guardava controle suficiente para implorar para dean parar quando a situação ficasse crítica. Ele se levantou e a abraçou. Ficaram agarrados um ao outro, os Seios dela apertados contra o peito dele, o pênis de dean sulcando profundamente a maciez do ventre dela. Finalmente eles deitaram e ficaram cara a cara na cama de paris, virgem até aquele momento. Ela passou a mão no torso dele, desceu até o umbigo e chegou aos pêlos Que cercavam o sexo. Passou o dedo no pênis de dean. Ele cobriu sua mão com a dele e a fez subir e descer. - meu deus - ele gemeu. - nem acredito que isso está acontecendo. - nem eu. - dean beijou um mamilo, acariciou-o com a língua. - fico só imaginando que vou acordar. - se você acordar, por favor, me deixa aqui nesse sonho. Dean afastou as pernas de paris e se posicionou no meio, Então foi penetrando aos poucos, dando tempo para ela envolvêlo, parando para provar cada sensação nova antes de penetrar mais fundo, até entrar todo. Banhados em prazer, evitaram qualquer movimento o tempo que agüentaram, mas quando dean recuou e bombeou novamente, foi melhor ainda.
Capítulo trinta e um Dean sacudiu a água do ouvido antes de atender o celular. - malloy. - curtis. - o que houve? - que barulho é esse? - é o chuveiro - respondeu dean, e piscou para paris, que tirava o xampu do cabelo, com a cabeça para trás, a água cheia de espuma escorrendo pelos seios e afunilando Entre as pernas. Meu deus, ela era sensacional. - você está tomando banho? - para parecer fresco como você. O que houve? — repetiu ele. - um dos outros detetives esteve conversando com lancy ray. Lembra quando paris perguntou para ele para que todo aquele disfarce, por que não tinha ido simplesmente Falar com ela? - ele tinha vergonha. - isso... E não queria invadir o território de outro cara. - que cara? Paris olhou para dean franzindo a testa quando saiu do chuveiro. Ele deu a toalha para ela.
- stan crenshaw - disse curtis. Essa talvez fosse a única informação que poderia desviar a atenção de dean do corpo nu de paris. - perdão? - isso mesmo. Lancy ray agia de acordo com a idéia equivocada que stan e paris eram amantes. - de onde ele tirou isso? - de crenshaw. Dean cobriu com a mão o bocal do celular e disse para paris se apressar e vestir logo a roupa. A urgência passou para ela e paris correu para o quarto. - pode falar - disse dean para curtis. Crenshaw avisou para o zelador não incomodá-la. Inventou alguma besteira, disse que só ele podia ter acesso a ela, que era política da empresa, que ela não gostava De que as pessoas ficassem olhando por causa dos óculos escuros, que gostava do escuro por motivos que não eram da conta de ninguém. "lancy ray queria continuar no emprego, por isso obedeceu, manteve distância e raramente falava com paris, com medo de que crenshaw ficasse com ciúme e o demitisse. Disse que o cara tinha ciúme de qualquer um que chegasse perto dela." - por que lancy não nos contou isso na primeira vez que conversamos com ele? perguntou dean, tentando se vestir com uma única mão. - ele supunha que todos soubessem que os dois estavam juntos. - uma ova. Tem alguma coisa no crenshaw que não bate. Percebi isso na noite que o conheci. Ele também assumiu essa atitude de proprietário comigo, mas achei que Era apenas um idiota. - pode ser que ele seja apenas um idiota. - e pode ser que não. Quero que o virem do avesso, curtis. Quero saber absolutamente tudo sobre ele, e não me importa quem é o tio dele, nem quanto dinheiro ele Tem. - entendi. Dessa vez vou ignorar o tio wilkins. Vamos direto à polícia de atlanta, ao promotor público, ao maldito governador da geórgia se for necessário. Uma coisa Boa é que ele continua trabalhando como sempre. Está na estação de rádio. Griggs e carson estão lá e acabaram de ligar. — nós já estamos a caminho. Diga para aqueles policiais segurarem o cara lá se ele tentar sair. Você já verificou os registros das ligações dele? - estamos verificando. - quem está investigando a vida dele? - rondeau se ofereceu. - rondeau. Dean fez um esforço para não demonstrar seu desprazer. - ele vai fazer uma investigação minuciosa no computador. - ele já devia ter feito isso. - dessa vez eu disse para ele ir mais fundo. - seria bom se ele tivesse ido mais fundo na primeira vez. - o que há entre você e ele? Sinto uma certa tensão. - ele é presunçoso. - é isso? Você não gosta da personalidade dele? - mais ou menos. Olha, nós temos de correr. - talvez seja melhor paris não fazer o programa esta noite. Para nos dar uma chance de investigar crenshaw. - diga isso para ela. Ela resolveu que vai fazer. Além do mais, não vou desgrudar dela. Até mais tarde. Antes do detetive poder dizer qualquer coisa, dean desligou e saiu apressado com paris. No carro, ela pediu detalhes da conversa. - pelo que pude ouvir, a ligação foi sobre o stan. Dean explicou o que lancy ray fisher tinha dito. Paris deu uma risada,
incrédula. - não acredito nisso. - não é engraçado. - não, é histérico. - eu não acho. - dean - disse ela, sorrindo com simpatia para ele -, diante dos, acontecimentos recentes, até entendo sua atitude machista. E fico lisonjeada. Gostaria que Existisse um dragão para você matar por mim. Mas não desperdice o seu machismo com o stan, pelo amor de deus. Ele não é o valentino. - não podemos afirmar isso. - eu sei. Ele é um idiota, como você disse. E me aborrece pensar que enganou marvin... Lancy. E só deus sabe quem mais. Mas ele não tem o cérebro nem a coragem do Valentino. - saberemos logo - disse dean, entrando com o carro no estacionamento. Griggs e carson acenaram do banco da frente do carro da polícia quando paris destrancou a porta. Como sempre, o prédio estava às escuras e as salas, vazias. Harry, O dj da noite, levantou o polegar pela janela do estúdio quando os dois passaram. Dean já conhecia a planta do prédio e seguiu na frente pelos corredores mal iluminados. Chegaram à sala dela e encontraram stan sentado, com os pés em cima da mesa, mexendo na correspondência de paris sem o menor constrangimento. - stan crenshaw, exatamente quem eu queria ver - disse dean entrando na sala com passos largos. Stan tirou os pés da mesa, mas mal tinham tocado no chão e dean já o segurava pela frente da camisa, arrancando-o da cadeira. - ei! - protestou stan. - que porra é essa? - precisamos ter uma conversinha, stan. - dean. Paris pôs a mão no braço de dean, para contê-lo. Ele largou a camisa de stan. - você andou contando mentiras sobre paris. Ofendido, stan se endireitou e passou a mão pela camisa Amassada. Mas seria a mesma coisa que querer enfrentar uma árvore enorme e ele percebeu isso. Então olhou para paris. - do que é que o seu namorado está falando? - lancy disse que você disse para ele que... - quem é esse lancy? - marvin patterson. - o nome dele é lancy? - você disse para ele que você e paris tinham um caso. Stan virou a cabeça para dean. - não disse nada. - você não insinuou que você e ela eram mais que colegas de trabalho? Não avisou para ele se afastar, deixá-la em paz, nem falar com ela? - porque eu sei como paris é - declarou stan. -ah, é? - ah, é. Eu sei que ela é uma pessoa que gosta de privacidade. Não gosta de ser incomodada por ninguém, especialmente quando está concentrada no trabalho. - então você disse para ele ficar longe para proteger a privacidade dela? - pode-se dizer que sim. - eu não preciso de você para filtrar as pessoas com quem me dou, stan - disse paris. - não pedi para você fazer isso e não gostei de você ter feito. - caramba, desculpe. Eu estava tentando ser seu amigo. - só amigo? Eu acho que não - disse dean. - eu acho que você andou fantasiando seu relacionamento com paris. Você se iludiu, acreditando que haveria um romance entre Vocês em algum ponto do futuro. Você tem ciúme de qualquer outro homem que manifeste algum interesse por ela, até platónico. - como você sabe que o interesse do marvin é platónico?
- ele disse que era. - ah, e vocês vão acreditar nele e não em mim? Num faxineiro que usa um nome falso? - stan bufou com desprezo. É você que está se iludindo, doutor. Stan foi indo para a porta, mas as palavras de dean o fizeram parar: - essa possessividade pode ser uma motivação muito forte. Stan deu meia-volta rapidamente. - para quê? — vejamos, criar uma situação ruim, pela qual paris seria parcialmente responsabilizada. Pôr em risco o emprego dela. Ameaçar a vida dela. Devo continuar? - você está falando daquela história do valentino? - perguntou stan, zangado. paris pediu para isso acontecer. - entendo. É culpa de paris o fato de valentino ter seqüestrado e assassinado uma menina de dezessete anos. - uma menina que procurava encrenca. Com calma aparente, dean sentou no canto da mesa. - então você acha que em geral as mulheres não prestam? - eu não disse isso. - não, você não disse exatamente isso, mas sinto que há uma enorme hostilidade contra o sexo frágil alojada bem no fundo da sua psique, stan. Como uma semente presa Entre dois molares. Incomoda à beça, mas não consegue se livrar dela. - uuuuu. - stan apontou o dedo a dois centímetros do rosto de dean. - não venha com esse vodu psicológico fajuto para cima de mim. Não há nada de errado comigo. Dean apertou o maxilar com raiva, mas sua voz continuou calma: - então devo acreditar que tudo que você tem com as mulheres é perfeitamente normal e sem problemas? Será que os relacionamentos de algum homem com as mulheres são perfeitamente normais e sem problemas? Os seus foram, malloy? - ele olhou para paris. - acho que Não. - você não é o dean - disse paris tranqüilamente. - ele não tem a sua história. A presunção e o ar de deboche desapareceram. No mesmo instante, stan passou a soltar fumaça pelas ventas. - você contou para ele sobre a acusação de assédio? Dean virou para paris. - o quê? - no emprego anterior dele, uma funcionária acusou stan de assédio sexual. O olhar de dean dizia que ele não estava acreditando que paris não tinha dado essa informação para ele antes. E paris entendeu que tinha agido mal em omitirlhe. Talvez devesse também ter contado sobre os pais promíscuos de stan e sobre a crueldade do tio dominador. Dean dirigiu-se a stan: - é óbvio que você tem problemas com mulheres, stan. - ela era a puta da firma! - exclamou ele. - tinha ido para a cama com todos os caras que trabalhavam lá. Fez boquete no âncora embaixo da mesa, durante a apresentação Do jornal. Ela ficava dando em cima de mim, e quando eu cedi, virou uma virgem vestal. - por quê? - porque tinha mais ambição do que tesão. Ela viu uma maneira de pôr as mãos no dinheiro da minha família. Ela botou a boca no mundo e meu tio pagou para ela ficar Calada e ir embora. Dean assimilou tudo que ele disse. - vamos voltar para o momento em que você "cedeu" aos avanços dela - disse dean. - espere aí. Por que tenho de responder às suas perguntas? - porque sou da polícia. - ou porque você andou transando com a paris? Dean semicerrou os olhos
perigosamente. - porque se não responder às minhas perguntas, vou levá-lo para a delegacia e prendê-lo até você resolver desembuchar. Essa é a minha resposta oficial, profissional. Mas cá entre nós, a minha Resposta pessoal é que se você disser mais uma vez qualquer coisa parecida com isso sobre paris, levo você lá para fora e arrasto seu rostinho bonito no estacionamento. - você está me ameaçando? - pode apostar seu rabo magricela que estou. Agora pare de bancar o valente e fale logo o que eu quero saber. Apesar do que tinha dito, dean não estava ali cem por cento oficialmente. Não estava interrogando stan do jeito calmo, que conquista a confiança, que normalmente Usava com os suspeitos. Mas stan provavelmente não ia corresponder à abordagem habitual. A linha mais pesada parecia que funcionava melhor. Stan olhou furioso para dean, lançou olhares quero-quevocê-morra para paris, mas cruzou os braços sobre o peito como se quisesse se proteger. - vou processá-lo por brutalidade policial. Meu tio vai... - o seu tio terá muito mais com que se preocupar se você for o valentino. - eu não sou! Está ouvindo? - quando aquela mulher disse não para você, você foi em frente e completou o ato? Stan olhou aflito de um para outro. - não. Quero dizer, sim. Mais ou menos. - e então, o que vai ser? Sim, não ou mais ou menos? - eu não a forcei a nada, se é onde você quer chegar. - mas você completou o ato? - eu já disse que ela era a... - puta da firma. Por isso ela estava pedindo. - certo. - para você estuprá-la. - você vive pondo palavras na minha boca! - gritou stan. - e você vai para a delegacia comigo. Agora mesmo. Stan se afastou de dean. - você não pode... - ele começou a falar, e olhou frenético para paris. - faça alguma coisa. Se você deixar isso acontecer, meu tio vai demiti-la. Paris nem pensou em questionar dean. Para dizer a verdade, agora ela estava com medo de stan. Talvez tivesse julgado mal o rapaz. Sempre pensou que ele era um imprestável, Desajustado e Ferrado, mas basicamente inofensivo. Talvez ele fosse mesmo capaz de cometer os crimes contra janey kemp. Se ficasse provado que stan não era valentino, ela teria de enfrentar a ira de wilkins crenshaw. E sem dúvida lhe custaria o emprego. Mas paris preferia perder o Emprego do que a vida. Dean segurou stan pelo braço e o fez virar para a porta. Stan começou a reagir e dean teve muito trabalho para contê-lo sem recorrer às algemas. Quando seu celular Tocou, jogou-o para paris atender. -alô? - paris? Ela mal conseguia ouvir com a gritaria de stan. - gavin? - preciso falar com meu pai, paris. É uma emergência. Gavin estava assistindo à televisão para passar o tempo, o único privilégio que o pai não tinha revogado. Tinha posto seu filme preferido no vídeo, mas os desafios Que mel gibson enfrentava pareciam brincadeira comparados com o que acontecia na
vida dele. Estava preocupado com o pai e com paris. Não se sentia nada tranqüilo como tinha dado a entender quando o pai disse que valentino podia ir atrás deles. Esse cara realmente pretendia prejudicá-los e parecia Não ter medo de tentar. Ele não devia ser subestimado. Quem ia pensar que mataria janey? Quando o telefone tocou, gavin gostou da distração. Correu para atender e o fez sem nem mesmo verificar o identificador de chamadas. -alô? - por que você não está atendendo o seu celular? - quem está falando? - melissa. Melissa hatcher? Ah, que ótimo. - meu celular está desligado. Está tudo meio caótico... - gavin, você precisa me ajudar. Ela estava chorando? - o que houve? - preciso falar com você, mas tem um carro da polícia estacionado na frente da sua casa, por isso passei direto. Você tem de vir me encontrar. - eu não posso sair. - gavin, isso não é brincadeira - melissa praticamente gritou, histérica. - venha até aqui. - com a polícia aí? De jeito nenhum. - por que não? Você está chapada? Ela choramingou e fungou, depois disse: - posso entrar pelos fundos sem ser vista? Gavin não queria se envolver com ela, fosse qual fosse o problema. Fazer o teste com o detector de mentiras clareava o raciocínio e fazia a pessoa reorganizar suas Prioridades, e rapidamente. Gavin tinha jurado para ele mesmo que se saísse daquela confusão razoavelmente incólume, passaria a cultivar um novo círculo de amizades. Mais uma infração importante e acabaria tendo de voltar para houston. Ele não queria voltar para a casa da mãe. Agora que tinha acertado as coisas com o pai, queria Ficar com ele, talvez até terminar o ensino médio. Era definitivamente melhor para ele dizer para melissa que estava ocupado e desligar o telefone. Mas ela parecia realmente desesperada. - está bem - disse gavin, ainda relutante. - estacione na rua atrás da minha casa e venha pelo caminho entre as casas. Não tem cerca. Deixo você entrar pela porta Do pátio. Em quanto tempo você pode estar aqui? - dois minutos. Gavin tratou de se certificar de que os dois policiais estavam no carro na frente da casa, de que um deles não tinha saído para dar a volta na casa como faziam de Hora em hora, depois foi até a cozinha e ficou esperando melissa. Ela apareceu pela sebe de espirradeira que dividia as duas propriedades e parecia fantasiada para O dia das bruxas. Lágrimas tinham desenhado riscos pretos de maquiagem no rosto dela. A roupa parecia mais uma fantasia do que qualquer coisa que uma pessoa normal usaria. Era um Mistério para gavin como alguém podia correr com aquelas sandálias plataforma, mas melissa conseguia. Ela deu a volta na piscina e trotou nas lajotas de calcário Do pátio. Gavin abriu a porta de correr de vidro e a menina se jogou em cima dele.
Gavin puxou-a para dentro e fechou a porta. Segurou-a de lado e praticamente a carregou até a sala de estar, onde a fez sentar numa poltrona. Ela balbuciava, incoerente, E continuou agarrada nele. - melissa, acalme-se. Não estou entendendo nada que você está dizendo. Conte o que aconteceu. Ela apontou para o bar do outro lado da sala. - preciso beber alguma coisa primeiro. Ela tentou levantar, mas gavin não deixou. - esqueça. Pode beber água. Gavin pegou uma garrafa do frigobar e, enquanto ela bebia, observou. - você parece o circo dos horrores. O que aconteceu? - eu estava... Eu estava com ele. - quem? - o cara... O... O dentista. Aquele armstrong. Gavin sentiu o maxilar cair. - o quê? Onde? - onde? É... Melissa olhou em volta como se brad armstrong pudesse estar parado num canto. Gavin queria dar um tapa nela. Como é que alguém podia ser tão burro? - onde, melissa? - não grite comigo. - melissa esfregou a testa como se quisesse extrair a resposta com uma massagem. - um motel. Acho que a placa do lado de fora tinha um vaqueiro, Ou uma sela, alguma coisa assim. Um motel em austin com tema do velho oeste. Isso limitava a busca a várias centenas, gavin pensou com ironia cáustica. - se você foi encontrá-lo lá... - não fui. Ele me encontrou num bar no lago e fomos no carro dele para lá. Eu estava de porre. Estava afogando as mágoas, você sabe, por causa da janey, com doses De tequila. Ele apareceu, pagou outra para mim. - e você foi para um motel com ele? - eu já o conhecia. Estive com ele alguns dias atrás e transamos. - onde foi isso? - naquele, é... Ah, você conhece o lugar. Onde nós todos vamos às vezes. Gavin, aflito, fez sinal para ela continuar. - fizemos no carro dele. - que tipo de carro? - o de hoje ou o daquele dia? Eram diferentes. - hoje. - vermelho, eu acho. Talvez azul. Não prestei muita atenção nenhuma das vezes. Ele foi legal comigo. Ficou doido com o meu piercing no mamilo. É novo. Melissa deu um enorme sorriso para gavin e levantou o top toda orgulhosa. - legal. Na verdade, ele achava melissa grotesca. Jamais gostou muito dela, nunca sentiu atração por ela, mas naquele momento sentia nojo. Também começou a questionar se Ela estava realmente histérica, ou se tudo aquilo era uma encenação, um artifício para entrar na casa dele, ou algo mais. Melissa tinha inveja de janey e podia estar Querendo um pouco da atenção que a amiga assassinada estava recebendo. Gavin puxou o top de volta para o lugar. - você tem certeza de que o cara com quem você estava era brad armstrong, melissa? - não acredita em mim? Eu ia andar por aí desse jeito de propósito? Era verdade. - quando foi que você ficou sabendo que esse era o cara que a polícia estava procurando? - nós fomos para esse motel. Fomos para a cama. Ele estava trepando comigo quando dei uma olhada para a televisão do outro
Lado do quarto. Estava ligada, mas sem som. E com a foto dele na tela. Enorme, como dalas. Toda a galera está à procura dele e ele está transando comigo. - o que você fez? - o que você acha? Tirei o cara de cima de mim. Disse que tinha que ir embora, que tinha lembrado de um compromisso. Ele começou a discutir. Tentou me convencer A ficar. Quanto mais ele falava, mais maluco ficava. Primeiro me chamou de tesão, depois disse que eu era uma putinha cruel, depois endoidou de vez. Ele me agarrou, Me sacudiu e disse que eu só ia embora depois que ele fizesse tudo que queria comigo. Melissa estendeu os braços para mostrar a gavin as marcas roxas que começavam a aparecer. - eu estou dizendo, gavin, ele ficou completamente louco. Ele me bateu, me chamou de vagabunda safada e disse que eu era uma vagabunda safada como a janey kemp. Essa foi a gota d'água pra mim. Comecei a berrar e ele me soltou. Peguei minhas roupas e vazei. - há quanto tempo foi isso? - desde quando eu saí correndo? Talvez uma hora. Pedi carona para um cara numa picape e vim até onde estava o meu carro, depois vim direto para cá e vi o carro da Polícia. E estou tentando esse tempo todo falar com você pelo celular. Finalmente, lembrei do seu telefone fixo. E você já sabe o resto. - melissa olhou para gavin Com expressão de súplica. - eu estou muito mal, gavin. Só uma dose de qualquer coisa, por favor? - já disse que não - ele se abaixou na frente dela. - você conversou com ele sobre a janey? - você acha que sou burra? Eu não queria acabar como a janey. - viu alguma foto dela por lá? - ele tinha os jornais. - alguma fotografia? - não. Mas assim que cheguei lá, não estava procurando nada e depois eu só pensava em escapar. - você disse que quando esteve com ele no início da semana ele parecia familiar. Já o tinha visto com a janey? - não tenho certeza. Posso ter visto o cara só se esgueirando no meio da galera. Ele visita ô site do clube do sexo e... - ele disse isso? - disse. E na outra noite ele tinha uma pilha imensa de revistas pornográficas. Ele gosta de farra. Gavin pegou o telefone sem fio e começou a apertar os números. Melissa pulou da poltrona. - para quem você está ligando? - meu pai. Ela arrancou o telefone da mão dele. - ele é da polícia. Não quero me envolver com a polícia. Nada disso. - então por que veio me procurar? - eu precisava de um amigo. Precisava de ajuda. Achei que você poderia me ajudar. Claro que eu não sabia que você tinha ficado careta desde a última vez que te vi. Nada de bebida, nada de... - estão caçando esse homem. - gavin pegou o telefone de volta, irritado. - se foi ele que matou a janey, tem de ser preso. As feições de melissa desmoronaram e ela começou a gemer e a esfregar as mãos. - não fique bravo comigo, gavin. Eu sei que eles têm de pegar esse cara, mas, caramba... Gavin ficou com pena dela.
- melissa, você veio me procurar, de todos os seus amigos, porque sabia que eu ia falar com o meu pai. Lá no fundo, você queria fazer o que é certo. Melissa mordeu o lábio. - tudo bem. Pode ser. Mas me dê um tempo para eu jogar uns bagulhos na privada. Porque, além de tudo isso, eu não vou ser presa por porte de drogas. Onde é o banheiro? Gavin apontou para o banheiro no corredor enquanto ligava para o celular do pai. Tocou quatro vezes. Ele mal ouviu o alô com a gritaria e o que parecia uma briga ao fundo. - paris? - gavin? - preciso falar com meu pai, paris. É uma emergência. Capítulo trinta e dois - sou paris gibson. Espero que vocês passem as próximas quatro horas comigo aqui na 101.3. Vou tocar para vocês músicas clássicas de amor e atender seus pedidos. As linhas telefônicas estão abertas. Telefonem para mim. "vamos começar esta noite com um sucesso dos stylistics. É assim que o amor devia ser, 'you make me feel br and new'." Paris desligou o microfone. As linhas telefônicas já começaram a acender. A primeira ouvinte pediu "hooked on a feeling", de b. J. Thomas, já que o tema de hoje É "como nos sentimos quando nos apaixonamos". - obrigada por ligar, angie. Sua música entra no ar logo em seguida. - tchau, paris. Paris seguia sua rotina normal, apesar desta noite não ser nada normal, nem rotineira. Já fazia quase uma hora que dean tinha saído correndo para encontrar gavin E melissa hatcher na delegacia do centro. Logo depois de falar com gavin, dean havia ligado para curtis e resumido a história de melissa. Curtis pediu todas as informações e agiu imediatamente. - vamos capturá-lo logo - disse dean para paris quando concluiu a conversa com curtis. - podemos começar no bar onde ele pegou melissa. Ela tem uma idéia aproximada Do tempo que armstrong levou de carro até o motel, de modo que isso nos dá um raio de busca. É uma área bem grande, mas não tão extensa como era antes. Paris perguntou se alguém tinha contado para toni armstrong esses novos acontecimentos. Dean indicou que sim balançando a cabeça. - curtis estava com ela quando recebeu a minha ligação. O advogado deles também - então ele abraçou paris com força. - ele será preso logo, e você estará segura. Esse caso vai terminar. - exceto pela lembrança do que ele fez com a janey. - é - suspirou dean com tristeza, mas a cabeça já estava a mil, ligada na modalidade policial. - curtis disse que o carro da polícia continua aí na frente até encontrar Armstrong. Além disso, griggs praticamente se considera seu guarda-costas particular ele olhou para stan, esquecido por um momento. - eu acho que isso inocenta você, Crenshaw. - você vai se arrepender do jeito que me tratou. - já me arrependo. Gostaria de ter chutado o seu traseiro enquanto ainda tinha uma boa desculpa. - ele beijou paris na boca rapidamente e saiu correndo. Stan seguiu dean para fora da sala, ofendido. Paris deixou-o ir, sem dizer nada. Ia ficar emburrado, mas sobreviveria, e enquanto isso ela precisava se preparar Para o programa. Podia esperar até ter mais tempo para acertar as contas com stan, quando o humor dele estivesse melhor.
Eram dez e meia e paris ligou o microfone. - estarei de volta depois do intervalo com mais músicas. Se você quiser pedir uma música, ou apenas conversar, telefone para mim. Paris cortou o microfone, sentiu que havia alguém no estúdio, rodou no banco giratório. Stan estava parado logo atrás dela. - não ouvi você entrar. - eu entrei sorrateiramente. - por quê? - achei que já que você e o seu namorado me consideram desagradável, devia me comportar de acordo. Era uma coisa bem típica do stan dizer aquilo, bem infantil, impertinente. - sinto muito por você ter ficado magoado com as alegações de dean, stan. Mas admita. Por um momento você parecia mesmo um suspeito. - de estupro e assassinato? - eu já disse que sinto muito. - achei que me conhecia melhor. - eu também pensei que o conhecia melhor - exclamou paris, perdendo a paciência com ele. - se o seu comportamento fosse acima de qualquer suspeita, ninguém teria Pensado nada disso de você. Mas fora a acusação de assédio sexual na flórida, você andou mentindo a meu respeito, dizendo para as pessoas que éramos namorados. - só para o marvin, ou sei lá qual é o nome dele. E não com tantas palavras. - não importa o que disse, você mandou o seu recado. Por que queria que alguém acreditasse nisso? - por que você acha? A voz dele falhou e subitamente pareceu que ia chorar. A exibição emocional deixou paris constrangida por ele. - eu não tinha idéia de que você sentia isso por mim, stan. - bem, mas devia, não acha? - nunca olhei para você como... Num contexto romântico. - esses malditos óculos escuros devem ter impedido que você visse o óbvio. - stan... - você só me via como um bode expiatório incompetente para o meu tio, e um fresco. Era uma verdade desagradável que paris não podia negar, mas ela pediu desculpa. - desculpe-me. - pelo amor de deus, essa foi a terceira vez que você pediu desculpa. Mas não está sendo sincera. Se quisesse mudar o que sente por mim, mudaria. Mas você não quer. Especialmente agora que tem o seu namorado de volta. Ele baba por você, não é? E você... Que sempre manteve essa política de não-me-toques... De repente está no Cio. "acho que saiu direto da cama para cá, não foi? Quando é que você vem para o trabalho de cabelo molhado? Andou se divertindo, paris? Não é legal não ter nenhum noivo Inconveniente para eliminar dessa vez?" - o que você está dizendo é nojento e extremamente cruel. Ele chegou mais perto e deu um sorriso maldoso. - eu feri sua consciência? Paris teve de encolher os dedos para evitar dar um tapa nele. - você não sabe nada sobre isso, nem sobre mim. Essa conversa acabou, stan. Ela virou de frente para a mesa de controle, verificou o cronômetro, olhou para as luzes piscando nas linhas telefônicas. AperTou uma. - aqui é paris. - oi, paris. Meu nome é geórgia. - olá, geórgia. Paris respirou lenta e silenciosamente pela boca para aplacar a raiva e poder se concentrar no trabalho.
- andei tendo algumas dúvidas sobre o meu namorado disse a ouvinte. Paris ficou escutando a jovem reclamar do medo que o namorado tinha de assumir um compromisso. Durante aquele monólogo, paris olhou para trás. Não havia mais ninguém No estúdio. Stan tinha saído sorrateiramente, do mesmo jeito que entrou. - nós o pegamos! - gritou curtis do seu cubículo no bci. - vão trazê-lo para cá em dez minutos. Dean encontrou o detetive na passagem estreita entre as salas. - ele resistiu? - os policiais que o prenderam pediram para o gerente do motel abrir a porta do quarto dele. Armstrong estava sentado na cama, com a cabeça apoiada nas mãos, chorando Feito um bebê. E ficava dizendo o tempo todo "o que foi que eu fiz?" Dean foi para a saída. - quero contar para o gavin. - agradeça a ele por mim. As pistas que ele nos deu reduziram consideravelmente a área de busca. E fique por perto, está bem? Gostaria que você estivesse presente No interrogatório. - pretendo estar. Eu volto logo. Gavin e melissa hatcher estavam sentados no mesmo banco do lado de fora do bci onde paris e ele tinham sentado... Quando foi mesmo? Ontem? Meu deus, tanta coisa Tinha acontecido nesse curto espaço de tempo, com o caso, com eles... Quando a porta dupla de vidro se fechou atrás dele, dean levantou o polegar para gavin e melissa. - ele acabou de ser preso. Estão trazendo para cá agora. Você fez um ótimo trabalho, filho - dean pôs o braço no ombro de gavin e deu-lhe um abraço rápido. - estou Orgulhoso de você. Gavin enrubesceu modestamente. - ainda bem que o pegaram. Dean virou para a menina e disse: - obrigado a você também, melissa. É preciso muita coragem para se apresentar. Quando dean chegou à delegacia de polícia, melissa e gavin já estavam com curtis. Ele e alguns outros detetives escutavam o relato detalhado do tempo que melissa Tinha ficado com brad armstrong. Melissa parecia gostar de ser o centro das atenções, mas a aparência dela estava um horror. Então lavou a maquiagem borrada do rosto e escovou o cabelo para não Ficar despontando da cabeça como as pontas de uma maça medieval. Alguém, provavelmente uma policial, havia encontrado um cardigã para melissa pôr sobre o top exíguo, Que provara ser uma distração até para os detetives mais velhos. A menina ficou contente com o cumprimento de dean, mas lambeu os lábios, nervosa. - eu sou obrigada a vê-lo? - precisamos que você o identifique oficialmente como o homem que a atacou. - não foi exatamente um ataque. Eu estava chapada, mas sabia o que estava fazendo quando saí do bar com ele. - você é menor de idade. Ele fez sexo com você. Isso é crime. Ele também bateu em você e tentou prendê-la contra a sua vontade. Podemos mantê-lo preso sob essas Acusações enquanto esperamos o relatório da autópsia de janey do médico-legista. Sei que não será fácil para você vê-lo de novo, mas a sua ajuda é essencial. Os Seus pais já chegaram? - ainda não. Ficaram histéricos quando liguei para eles, mas não tão furiosos como pensei que ficariam. Acho que imaginaram que eu também podia ter aparecido morta. O gavin pode ficar comigo?
- se você quiser. Gavin? Gavin ergueu os ombros, assentindo. - claro. - tudo bem, então, dr. Malloy - disse melissa. - podem trazer o pervertido. Fico o tempo que precisarem de mim. - aqui é paris. - sou eu. O simples som da voz de dean fez o coração dela palpitar e provocou um sorriso idiota. - você perdeu o número particular que eu te dei? Por que está ligando para essa linha? - queria ver como é ser um ouvinte comum. - você pode ser um ouvinte, mas certamente não é comum. - não? Que bom - havia um sorriso por trás da voz dele também, mas dean logo ficou sério. - prenderam o armstrong. Deve chegar aqui a qualquer minuto. - graças a deus. - paris ficou aliviada, mas logo sentiu um aperto no coração pela mulher dele. - você viu a toni? - há poucos minutos. Ela está confusa, mas acho que ficou contente do marido ter sido capturado antes de poder machucar mais alguém. - ou ele mesmo. - a possibilidade de suicídio me ocorreu também. Você está ficando tão boa quanto eu no meu trabalho. - nem chego perto. Opa, espere um segundo. Tenho de botar a vinheta da estação no ar - ela cuidou daquilo e voltou para o telefone. - pronto, tenho alguns minutos. - não vou tomar seu tempo. Prometi ligar assim que soubesse de alguma coisa. - e eu agradeço. O meu programa agora vai ser muito mais tranqüilo, sabendo que ele está preso. Eu não conseguia me concentrar, e toda vez que atendia uma chamada Prendia a respiração, com medo de ser ele. - agora não precisa mais se preocupar. - gavin ainda está com você? - está fazendo companhia para melissa. O que ele fez foi maravilhoso, hein? - eu achei. - eu também. Demonstra maturidade e noção de responsabilidade. - e confiança em você, dean. Essa foi a conquista mais significativa. - depois de alguns desvios, acho que agora ele está no caminho certo. - tenho certeza disso. - e por falar em jovens rebeldes, lancy ray fisher foi libertado. - estou pensando em contratá-lo. - o quê? Paris riu do susto de dean. - nunca trabalhei com um produtor, apesar de a administração ter me oferecido um. Seria uma boa maneira de lancy aprender, ter alguma experiência. - o que o stan vai achar disso? - não cabe a ele decidir. - alguma reação pelo que aconteceu mais cedo? Paris hesitou e depois disse: - ele está de mau humor, mas vai superar. Dean já tinha coisa demais na cabeça para paris contar sua mais recente altercação com stan. Tinha sido perturbadora. Depois de tudo que foi dito, será que os dois Podiam reparar os estragos e estabelecer um relacionamento de trabalho confortável? Era pouco provável. No entanto, a perspectiva de uma dissidência no local de trabalho não a incomodava como teria acontecido uma semana antes. Então a vida dela existia em função do Trabalho. Qualquer coisa que afetasse seu emprego provocava um efeito profundo nela, porque era tudo que tinha. Mas isso agora tinha mudado. Como se seguisse os pensamentos de paris, dean disse:
- quero passar a noite com você. A declaração evocou lembranças dos momentos breves, mas preciosos, que eles tiveram aquela noite na cama, e provocou um calor que percorreu todo o corpo de paris. - eu devo desligar quando os ouvintes dizem coisas como essa. Dean deu uma risadinha. - é o que eu quero, mas não sei quanto tempo vão precisar de mim aqui. - faça o que tem de fazer. Você sabe que eu compreendo. - eu sei - disse ele, suspirando. - mas a noite de amanhã vai demorar muito a chegar. Paris sentia a mesma coisa. Com todo profissionalismo possível, ela disse: - ouvinte, quer fazer um pedido? - quero sim. - estou ouvindo. - quero que você me ame, paris. Ela fechou os olhos, prendeu a respiração e disse com suavidade e firmeza ao mesmo tempo: - eu te amo. - eu também te amo. John rondeau preferiu subir de escada, em vez de esperar o elevador. Suas trocas de e-mails com outro policial da polícia de atlanta revelaram uma informação nova Sobre stan crenshaw e ele estava ansioso para contar para curtis. Não queria enviar por e-mail, nem dar a notícia por telefone. Rondeau queria falar pessoalmente Com o detetive. Mas quando chegou ao bci, encontrou uma grande agitação. Pelo número de pessoas correndo de um lado para outro, podia ser meio-dia, em vez de mais de meianoite. Uma polícia feminina passou apressada por ele, rondeau segurou o braço dela e a fez parar subitamente. - o que está havendo? - por onde você andou? - disse ela, franzindo a testa e puxando o braço. pegamos o armstrong. Já vão trazê-lo para cá. Rondeau avistou dean malloy conversando com toni armstrong e um homem de terno cinza que tinha a palavra "advogado" carimbada nele todo. Encontrou curtis no seu Cubículo, curvado sobre o telefone, esfregando a palma da mão no cabelo curtinho. - não, senhor juiz - dizia curtis -, ele não confessou, mas há muitas provas circunstanciais apontando para ele. Esperamos que a autópsia produza algum DNA, apesar Do corpo ter sido lavado... Curtis parou de falar e parecia que tinha sido interrompido. Esfregou a cabeça mais rápido. - é, eu sei bem que os testes de DNA demoram muito, mas talvez, quando armstrong souber que estamos examinando o dele para ver se combina, ele desembuche. Certamente, Senhor juiz. Claro que sim. Logo que soubermos mais alguma coisa. Meus pêsames, mais uma vez, para a sra. Kemp. Boa-noite. Curtis desligou, ficou olhando para o telefone por alguns segundos, depois para rondeau. - o que é? Rondeau mostrou a pasta que tinha na mão. - stan crenshaw. O cara tem comportamento fora do padrão desde o colégio. Levantar a saia das meninas. Exibição indecente. Leitura interessante. - sei disso, mas ele não é valentino. - então o que faço com isso? Jogo fora? Curtis ficou de pé, puxou os punhos da camisa com monogramas e alisou a gravata.
- deixe na minha mesa. - alguém devia dar uma espiada nisso. Uma súbita mudança no ambiente indicou que alguma coisa importante estava acontecendo fora das paredes do cubículo de curtis. Rondeau saiu atrás dele. E os dois Foram para o centro do bci. Rondeau reconheceu o dr. Brad armstrong pelas fotos de família tiradas do cd. De um lado e de outro havia dois policiais uniformizados. Algemado, armstrong estava De cabeça baixa, parecia um homem derrotado. Foi levado para uma sala de interrogatório. Malloy, o advogado e toni armstrong também foram para a sala. O último a Entrar foi curtis, que fechou a porta. Rondeau, sentindo-se rejeitado, batia a pasta na palma da mão. Se curtis achava que tinha capturado valentino, talvez devesse simplesmente deixar o assunto pra lá E esquecer stan crenshaw. Mas e se, depois de interrogar armstrong, curtis percebesse que tinham prendido o cara errado? E se o resultado da autópsia deixasse dúvida, ou até refutasse as Provas circunstanciais contra ele? E se seu DNA não combinasse com nenhuma das amostras coletadas dos restos de janey, se é que iam conseguir fazer isso, já que Seu corpo tinha sido lavado quimicamente? Rondeau tomou uma decisão e saiu apressado do bci. Quando passava pela porta dupla, avistou gavin malloy e uma menina sentados juntos num banco no vestíbulo. Não Os tinha visto quando chegou. Da escada, virara à direita para entrar no bci. Os dois estavam sentados à esquerda da escada. Ao som das portas se fechando, a menina Virou para ele. Que merda! Não sabia o nome dela, mas a tinha visto inúmeras vezes. Se ela o reconhecesse, estaria ferrado. John rondeau correu para a escada. - ei, gavin, quem é aquele cara? - hein? Os últimos dias tinham sido pesados para ele. Gavin cochilava, com a cabeça encostada na parede. Melissa cutucou o braço dele. - depressa! Olhe! - onde? Gavin levantou a cabeça, abriu os olhos sonolentos e olhou para onde melissa apontava. Através do corrimão de metal da escada, ainda viu de relance a cabeça de john Rondeau logo antes de chegar ao patamar de baixo e desaparecer. - o nome dele é john rondeau. - ele é policial? - crimes de informática - resmungou gavin. - foi ele que dedurou o clube do sexo. - sério? Porque eu já vi esse cara em algum lugar. Na verdade, acho que já transei com ele. Maravilha, pensou gavin. Se ela lembrasse que rondeau era alguém que saía e transava com adolescentes e desse com a língua nos dentes, rondeau podia pensar que ele, Gavin, o tinha dedurado. - não pode ser. Ele tem aquele tipo de cara que sempre lembra alguém. Não era uma boa explicação, mas gavin não conseguia pensar em outra. Melissa ficou pensativa. - acho que teria de ver o pau dele para ter certeza. Mas eu poderia jurar... Então eles ouviram o som que indicava a chegada do elevador. Viraram a tempo de
ver um casal bonito e bem-vestido. Melissa se levantou. - seus pais? - perguntou gavin, surpreso de ver que os dois eram tão apresentáveis e respeitáveis. Melissa foi andando desajeitada ao encontro deles, com suas sandálias plataforma, puxando, constrangida, a saia curta para baixo. - oi, mãe. Oi, pai. A chegada deles não poderia ser em melhor hora. Gavin não queria mais saber de rondeau, e isso incluía até falar sobre ele. Odiava ser o guardião do segredinho sujo Do policial, mas a lembrança da ameaça contra seu pai faria com que gavin levasse aquele segredo para o túmulo. Capítulo trinta e três - perdão, toni. Eu sinto muito. Você é capaz de me perdoar? O dr. Brad armstrong parecia mais preocupado com a opinião que a mulher tinha dele do que com as sérias alegações feitas contra ele, que potencialmente poderiam Custar-lhe a vida. Apelava melancólica e pateticamente para a mulher. - vamos resolver isso primeiro, brad. Teremos muito tempo depois para falar de perdão. Toni estava sendo estóica, com a voz calma, o que era incrível diante da provação pela qual teria de passar. Devia ter se enrolado com o equivalente emocional da Melhor fita adesiva para não desmoronar, e permanecia intacta. Dean meneou a cabeça para ela como se dissesse "segure as pontas" quando toni saiu da sala de interrogatório, Deixando o marido sozinho com ele, o advogado e curtis. Curtis identificou todos ali presentes para constar na gravação, depois começou a contar para bradley armstrong tudo que sabiam sobre ele e por que o consideravam Suspeito de ter seqüestrado e assassinado janey kemp. - eu não seqüestrei aquela menina. A negação fervorosa não impressionou curtis. - vamos chegar lá. Primeiro, vamos falar daquela vez em que você molestou paris gibson. - armstrong fez uma careta. Estou vendo que se lembra desse incidente observou Curtis. Você tem raiva da srta. Gibson até hoje, não é? - ela fez com que me demitissem de um emprego lucrativo. - você nega ter passado a mão nela? Brad abaixou e balançou a cabeça indicando que não. - responda em voz alta para o gravador, por favor. - não, eu não nego isso. - ligou para o programa dela no rádio recentemente? - não. — já ligou para lá alguma vez? - posso ter ligado. - se eu fosse você, não me esquivaria da parte fácil, dr. Armstrong - aconselhou curtis. - já ligou para ela alguma vez, com o programa no ar? Sim ou não? O dentista levantou a cabeça e suspirou. - sim, eu telefonei para ela, disse uma grosseria e desliguei. - quando foi isso? - há muito tempo. Logo depois que nos mudamos para austin e descobri que paris tinha um programa de rádio. - foi só essa vez? - perguntou dean. - eu juro. - você sabia que havia um envolvimento da srta. Gibson com o dr. Malloy e um homem chamado jack donner?
Dean olhou para curtis e já ia perguntar de onde tinha saído aquela pergunta, mas armstrong respondeu sem lhe dar essa chance: - saiu no noticiário em houston. Então dean entendeu a validade da pergunta do detetive. Valentino tinha dito que a morte de jack pesava na consciência deles, indicando que conhecia a história. - de onde você telefonou para ela? - da minha casa. Do meu celular. Não lembro, mas certamente nunca telefonei para falar de janey kemp. Curtis já sabia que não havia nenhuma ligação para a estação de rádio nos registros do telefone celular ou da casa de armstrong, mas só tinha pedido essa informação Dos meses anteriores. Armstrong podia estar dizendo a verdade, ou podia ter usado um telefone público para fazer as ligações de valentino, ou então talvez tivesse Usado um celular que não podia ser rastreado. Curtis perguntou se ele tinha disfarçado a voz quando ligou. - não precisava. Ela jamais reconheceria a minha voz. Nós só tínhamos nos visto... Naquele dia. - você se identificou para ela? - perguntou curtis. - não. Eu só disse "vá se foder", ou algo parecido, e depois desliguei. - de onde tirou valentino? Brad olhou para o advogado dele, depois para dean, como se pedisse uma explicação. - o quê? - valentino - repetiu curtis. As notícias citavam as ameaças por telefone a paris gibson como elemento-chave no caso, mas tinham omitido o nome da pessoa que ligava para evitar os confessores Crônicos que embaralhavam a investigação com pistas falsas. - você escolheu esse nome por causa do ator dos filmes mudos? - perguntou curtis. - e por que setenta e duas horas? Tirou esse prazo do nada? Por que não quarenta E oito, que se aproxima mais do que realmente aconteceu, não é mesmo? Armstrong virou para o advogado. - do que é que ele está falando? - deixa pra lá. Falaremos disso depois - disse curtis. - falenos sobre janey kemp. Onde a conheceu? Com o advogado monitorando bem de perto cada palavra, armstrong admitiu que freqüentava o site do clube do sexo e que acabou se tornando um de seus membros, indo Aos locais específicos de reunião. - eu inventava motivos para sair de casa. - você mentia para a sua mulher. - isso não é crime - disse o advogado. - mas fazer sexo com menores de idade é - acusou curtis. Quando encontrou janey pela primeira vez, dr. Armstrong? - não me lembro da data exata. Uns dois meses atrás. - em que circunstâncias? - eu já sabia quem ela era. Já a tinha visto de longe, feito perguntas, e descobri que o apelido que usava no site era gata de botas. Li as mensagens que ela deixava Nos fóruns, sabia que ela era... -armstrong gaguejou e refez a frase. - eu sabia que ela era sexualmente ativa e que se dispunha a fazer quase qualquer coisa. - ou seja, ela era uma presa para predadores como você. O advogado ordenou que brad não respondesse. Curtis fez um gesto desconsiderando a afirmação e quase se desculpando. - na noite que conheceu janey fez sexo com ela? -fiz. - janey kemp tinha dezessete anos - esclareceu o advogado. - recém-feitos - disse curtis.
Com a voz angustiada, armstrong disse: - vocês precisam entender que essas meninas estavam lá para isso. Estavam à procura disso. Nunca tive de forçar nenhuma delas a fazer sexo comigo. Na verdade, uma Delas - não janey, uma outra - cobrou cem dólares por cinco minutos do tempo dela, depois foi direto para seu próximo cliente. Disse que estava juntando dinheiro Para comprar uma bolsa vuitton. - você tem prova disso? - ah, claro, ela me deu um recibo - respondeu armstrong sarcasticamente. Curtis não achou graça nenhuma e continuou, impávido. Dean acreditava que o dentista estava dizendo a verdade sobre a prostituição, porque coincidia com o que gavin Havia contado. Curtis continuou o interrogatório: - na noite que conheceu janey, onde fez sexo com ela? - num motel. - no mesmo em que o encontramos hoje? Ele fez que sim com a cabeça. - eu mantenho um apartamento permanente lá. - que aluga com esse propósito? - não responda - instruiu o advogado. - você tirou fotos de janey? - perguntou curtis. - fotos? - é, fotografias. Com tema diferente daquelas que tira da sua família nas férias - acrescentou o detetive secamente. - pode ser. Eu não lembro. Curtis semicerrou os olhos, focalizando bem o dentista. - o seu antro de perversão está sendo vasculhado neste exato momento. Por que não nos conta o que podemos encontrar e economiza o nosso tempo? - eu tenho revistas pornográficas. Vídeos. Tirei fotos de... De mulheres de vez em quando, por isso pode ser que... Sim, deve ter algumas fotos de janey. - você revelou essas fotos lá no seu quarto escuro improvisado? Armstrong pareceu sinceramente confuso. - eu não sei revelar filmes. - então onde mandou revelar suas fotos de "mulheres"? - mandei o filme para um laboratório fora da cidade. - que laboratório? - não tem nome. É só um número de caixa postal. Posso dar esse número. - eu vou adivinhar. É um lugar que revela filmes que atende a clientes especializados como você? Envergonhado, brad meneou a cabeça. - não uso muito, mas já usei. As respostas de armstrong para aquela linha de perguntas eram inconsistentes em relação ao que janey contara para gavin sobre a paixão que o seu novo namorado tinha Por fotografia. Ou ele estava dizendo a verdade ou mentia muito bem. Curtis deve ter pensado a mesma coisa, porque deixou esse assunto de lado por um tempo e perguntou sobre a última vez que armstrong havia visto janey. - foi há três noites. Acho que foi na noite em que ela desapareceu. - onde foi que a viu? - num lugar à beira do lago travis. - você foi até lá com o propósito específico de encontrá-la? - fui - respondeu armstrong antes do advogado poder aconselhá-lo a não fazer isso. Armstrong viu tarde demais a mão do homem levantada. - não é crime marcar e comparecer a um encontro - disse brad para ele. O advogado virou para curtis. - só estou concordando que o meu cliente entre em detalhes aqui porque ele nega veementemente ter tido qualquer coisa além de contato físico com a vítima, que
era Adulta e tinha consentido. Isso não pode ser considerado uma confissão de qualquer alegação de seqüestro ou assassinato. Curtis assentiu com a cabeça e sinalizou para armstrong continuar. - janey estava à minha espera no carro. - que horas eram? - perguntou dean, lembrando que gavin tinha dito que ele também havia estado no carro de janey e que ela parecia estar esperando outra pessoa. - não lembro exatamente - disse armstrong. - por volta das dez, talvez. - o que vocês fizeram no carro dela? - perguntou curtis. - fizemos sexo. - tiveram uma relação sexual? - felação. - você usou camisinha? - usei. - e depois, o que aconteceu? - eu... Eu queria ficar mais um tempo com ela, mas ela disse que tinha o que fazer. Acho que estava esperando outra pessoa. - quem? - outro homem. Insistiu para eu ir embora, mas prometeu encontrar comigo na noite seguinte, no mesmo lugar, à mesma hora. Quando saí, ela ficou no carro, ouvindo um cd. Fui lá na noite seguinte. Ela não estava. Só fiquei sabendo que havia desaparecido quando li no jornal e vi a foto dela. - por que não se apresentou, então? - perguntou curtis. - tive medo. Você não teria? - eu não sei. Você me diz. Eu teria? - eu tinha violado os termos da minha condicional. Uma menina com quem eu tinha feito sexo algumas vezes estava desaparecida - ele ergueu os ombros num gesto de Impotência. - é só fazer as contas. Curtis deu um sorriso de desprezo. - eu já fiz, dr. Armstrong. Pelos meus cálculos, você queria mais de janey do que ela estava disposta a dar aquela noite. As coisas ficaram violentas. Você tende A se tornar violento quando uma mulher não dá o que você quer, na hora que você quer, não é verdade? - às vezes fico com raiva, mas estou tratando disso. - não com a rapidez necessária. E nesse meio-tempo, a sua raiva levou a melhor e, sem se dar conta, você acabou estrangulando janey. Talvez ela tivesse morrido naquela Hora mesmo, talvez tivesse apenas perdido a consciência e morrido mais tarde. "em todo caso, você entrou em pânico. Levou-a para aquele belo quarto, naquele seu motel vagabundo, e ficou imaginando o que ia fazer com ela, mas no fim rolou o Corpo dela para dentro do lago, rastejou para o seu esconderijo e pediu a deus para não ser acusado da morte dela." - não! Eu juro que não a forcei a fazer nada, e não a matei de jeito nenhum! O advogado massageava os olhos como se pensasse de que maneira ia construir uma defesa com as negações frenéticas do seu cliente. Curtis parecia sério e obstinado Como um índio de tabacaria. - não acho que fez isso intencionalmente - disse dean calmamente. Armstrong virou para ele com a expressão desesperada de um homem que está se afogando, à procura de um salva-vidas. O papel do policial bonzinho coube a ele porque desempenhava bem. Curtis era o durão. Nos minutos seguintes, dean seria o melhor amigo de brad armstrong e sua única Fonte de esperança. Dean cruzou os braços sobre a mesa e chegou o corpo para a frente. - você gostava de janey, brad? Não se importa que o chame de brad, não é?
- Claro que não. - você gostava dela? Como pessoa, quero dizer. - para ser sincero, não muito. Não me entenda mal, ela era maravilhosa subitamente cauteloso, brad olhou de lado para o advogado. - sensual e liberal? - disse dean. - o tipo de menina que todos queríamos namorar no colégio? - ela era exatamente assim. Mas eu não gostava particularmente da personalidade dela. - por que não? - como a maioria das meninas bonitas, ela era presunçosa e egocêntrica. Tratava as pessoas como se fossem lixo. Ou se fazia do jeito dela ou não tinha conversa. - ela o rejeitou alguma vez? - só uma. - por outro cara? Brad balançou a cabeça. - ela disse que estava com tpm, que não estava com vontade. Dean sorriu para ele como amigo. - nós todos passamos por isso. Então dean recostou na cadeira, cruzou os braços sobre o peito e o sorriso foi substituído pela testa franzida. - brad, o problema é que a maioria dos caras superaria isso. Ah, teriam alguma frustração e talvez uma discussão mais séria, mas depois de um tempo o cara normal Tomaria uma cerveja ou duas, assistiria a um jogo, talvez até encontrasse uma menina mais dócil. Mas você reage mal à rejeição. Você não tolera isso. E acaba tendo De revidar, não é? Brad engoliu em seco e balbuciou: - às vezes. - como fez esta noite com melissa hatcher. - eu não tive tempo de conversar com o meu cliente .sobre melissa hatcher disse o advogado. - por isso não posso permitir que ele fale sobre ela. - ele não precisa dizer nem uma palavra - disse dean. - eu vou conversar com ele - sem esperar a permissão do advogado, dean continuou: - essa menina anuncia a mercadoria. Ela fez propaganda para mim, para o sargento curtis aqui e para todos os detetives dessa unidade. Qualquer homem traduziria o que ela veste como "venha me pegar". - então como podem me acusar de... - não diga uma palavra - avisou irritado o advogado de brad. Dean ignorou o advogado e continuou prestando atenção Apenas em brad. - infelizmente para você, brad, o estado do texas pode acusálo. Se você penetrar o órgão sexual, a boca ou o ânus de uma criança, isso se chama "violência sexual Com agravante". Correto? - perguntou dean para o advogado, que assentiu com a cabeça. - quantos anos tem melissa? - perguntou brad. - dezesseis até fevereiro - respondeu dean. - ela afirma que vocês tiveram contato e relação sexual. - e se... E se foi de comum acordo? - perguntou armstrong, parecendo não ouvir os conselhos do advogado, que pedia para ele não dizer nada. - não importa - respondeu curtis. - você é um criminoso sexual condenado. Segundo o capítulo 62, isso torna o que você fez indefensável. Armstrong pôs as mãos na cabeça. - sua condenação anterior por ato indecente com uma menor de idade foi um delito de terceiro grau. Esse é o máximo, brad. É crime de primeiro grau - afirmou dean. - sem falar de assassinato, crime capital - ecoou curtis. Sem reagir à afirmação de curtis, dean continuou:
- você pagou muito caro pelo seu comportamento impróprio e ilegal. Perdeu alguns empregos, o respeito dos seus colegas. Está correndo o risco de perder a sua família. Os ombros do homem subiram e desceram com um soluço profundo. - mas, apesar das conseqüências graves do seu comportamento inaceitável, você não parou. - eu tentei - exclamou brad. - deus sabe que eu tentei. Pode perguntar para toni. Ela pode dizer. Eu a amo. Amo meus filhos. Mas... Mas não consigo me controlar. Dean chegou para a frente de novo. - é exatamente aí que eu quero chegar. Você não consegue evitar. Melissa deixou você tão excitado esta noite que quando ela disse não você perdeu o controle. Você A agarrou, sacudiu, estapeou. Você não queria, mas não conseguiu controlar o impulso, mesmo sabendo o quanto ia se arrepender dos seus atos mais tarde. "o seu desejo de dominar sexualmente essa menina mandou sua consciência e seu bom senso para o inferno. Tinha de possuíla, apenas isso. Nada mais importava. Nem O castigo que teria de enfrentar quando fosse pego. Nem o seu amor por toni e pelos seus filhos foi capaz de impedir. É uma compulsão que você não aprendeu a controlar. Por isso fez aquilo com melissa esta noite e com janey." - não responda - disse o advogado. Dean baixou a voz mais um tom e falou com armstrong como se os dois fossem as únicas pessoas na sala. - tenho uma idéia bem clara do que aconteceu há três noites, brad. Ali estava uma menina sexy e desejável que você pensava Que gostava de você como você gostava dela. Ela se encontrava regularmente com você e você pensava que era só com você. "aquela noite, ela faz você gozar. E é maravilhoso, mas você sabe que ela não está sendo sincera. Você sabe que ela é uma mentirosa, que provoca sem piedade. Você Sabe que ela está esperando seu novo interesse aparecer para substituir você. "quando exige dela uma explicação, ela diz para você sumir. Você fica com ciúme, possessivo, e ela não suporta mais suas reclamações. Acreditou mesmo que ela desistiria Dos outros homens por você?, ela pergunta. Pobre idiota iludido. "você fica furioso. E você pensa: 'quem ela pensa que é para me tratar desse jeito? Telefonando para paris gibson e falando de mim no rádio? Quem ela pensa que é?'" Os olhos de dean hipnotizavam o suspeito. - quando entrou no carro de janey aquela noite, acho que você ainda não tinha planejado o seqüestro e o assassinato. Acho que só planejava confrontá-la, acertar As contas com ela, esclarecer tudo. "e talvez, se ela não tivesse debochado de você, acabasse acontecendo exatamente isso. Mas janey riu da sua cara. Ela o castrou fazendo pouco de você, insultou-o De um jeito que você não podia tolerar. Você perdeu o controle. Queria puni-la. E foi o que fez. Criou um castigo de violência sexual, que combinava com o que ela Havia feito com você. Você a machucou até resolver que tinha se vingado, deixou para lá o prazo que tinha dado para paris e a estrangulou até a morte." Armstrong olhava para dean horrorizado, chocado. Virou para curtis, cuja expressão continuava fria e imutável. Então cruzou os braços em cima da mesa e apoiou a Cabeça neles. Com a voz atormentada e entrecortada, ele gemeu: - oh, deus. Meu deus! Curtis e dean atenderam ao pedido do advogado de ficar um tempo sozinho com seu cliente e saíram da sala. Curtis sorria e esfregava as mãos, curtindo o golpe de
Misericórdia. - ele ainda não assinou a confissão - lembrou dean. - é questão de papel e caneta. Aliás, você é bom nisso. - obrigado - disse dean, distraído. Aquele tinha sido o primeiro round do que devia ser um longo e exaustivo interrogatório, mas algumas coisas o incomodavam. - eu não perguntei especificamente se ele tinha ouvido janey no rádio, falando sobre o amante ciumento em quem ia dar o fora. - mas você aludiu a isso e ele não negou. - ele negou ter ligado para paris para falar de janey. - antes até de eu perguntar, o que para mim quer dizer "culpado" - argumentou o detetive. - ele sabia da conexão com paris porque saiu nos jornais. Os registros telefônicos dele refutam a alegação de que ele telefonou para ela. - há algumas maneiras de fazer aquelas ligações sem aparecer nos registros. - dar telefonemas estranhos não era parte do modus operandi de armstrong antes. Por que agora? - talvez ele precisasse de uma nova emoção. Os telefonemas de valentino foram um tempero a mais para ele e ao mesmo tempo deixavam paris atordoada. Ele queria ter Prazer e se vingar. Os telefonemas realizavam as duas coisas. Isso fazia sentido, mas só depois de amoldar bem para encaixar direito. - as ligações de valentino possuem uma crueldade que simplesmente não vejo em armstrong. Ele é doente, mas não acho que seja cruel. Curtis franziu a testa para dean, irritado. - esqueça a motivação por um segundo e pense nos fatos. - quais? - a ocupação dele. Ele é dentista. - a lavagem com produtos químicos - disse dean, pensando em voz alta. O médico-legista tinha conseguido confirmar que, como o de maddie robinson, o corpo de janey tinha sido lavado com adstringentes. - certo. É o tipo de coisa que um homem da medicina faria. - é o tipo de coisa que um psicopata meticuloso também faria. Alguém com a compulsão de esfregar tudo muito bem para se livrar da culpa. - armstrong pertence às duas categorias. Dean virou para trás e olhou para a porta fechada da sala de interrogatório. - janey foi amarrada. Foi torturada. Tinha marcas de mordidas, pelo amor de deus. - vamos tirar a impressão da mordida dele para comparar. - o que estou dizendo é que nenhum delito anterior de armstrong incluiu violência, nem indicou nenhuma propensão à violência. Ele era um pervertido, mas não um pervertido Violento. - o que é isso, malloy? - perguntou curtis, aborrecido. A própria mulher dele nos disse que a tendência à violência estava aumentando. Você disse que era uma progressão Natural para esse tipo específico de psicose. Está querendo mudar de idéia? - eu sei o que eu disse, e estava certo. - tudo bem, então. Ele deu uns trancos em melissa hatcher esta noite. - há um abismo imenso entre dar umas sacudidas numa mulher e torturar e depois estrangulá-la até a morte. - no meu livro não. E provavelmente não no livro da mulher que leva os trancos. - não seja obtuso, curtis - disse dean, irritado. - não estou desculpando ninguém. Só estou dizendo... - ah, merda, eu sei o que você está dizendo - resmungou curtis, e extravasou sua frustração bufando. Depois de uma breve pausa para acalmar os ânimos, ele perguntou: - mais alguma dúvida? - a fotografia.
- armstrong admitiu que poderia ter tirado algumas fotos de janey. - algumas. Poderia. Ele falou sobre a fotografia como se não fosse grande coisa. Janey insinuou o contrário. Antes de começar de novo com o armstrong, você se importa Se eu chamar o gavin para cá para fazer mais perguntas sobre isso? Curtis deu de ombros. - sou a favor de qualquer pessoa que ajude a trancar esse cara. Dean foi até o corredor e fez sinal para gavin. Ele se levantou e deixou melissa sentada com um casal que dean imaginou ser o pai e a mãe dela. - o que foi, pai? - perguntou gavin. - ele confessou? - ainda não. Enquanto isso, quero que você conte para o sargento curtis e para mim tudo que janey falou sobre o valentino. Qualquer detalhe que você lembre. Está Bem? - eu já fiz isso uma dúzia de vezes. - mais uma vez. Por favor. Encontraram curtis pegando um copo de café. Ofereceu para os dois, mas eles recusaram. Curtis bebeu um gole do copo de plástico e disse: - vou me arriscar a chover no molhado, mas mesmo uma observação que janey tenha feito sem pensar pode ser importante, gavin. - gostaria de poder me lembrar de mais alguma coisa, senhor. Ela me disse que o cara era mais velho. Mais velho do que nós, quero dizer. Que ele era legal, sabia Como a mulher gostava de ser tratada. — nós estamos mais interessados na fotografia - disse dean. - ela disse que ele era maníaco por câmeras - disse gavin. Iluminação, lentes, tudo muito elaborado. Ele mesmo inventava as poses para ela. Mexia nela, sabe, nos Braços, nas pernas. Na cabeça. Tudo. - ela poderia estar exagerando para impressionar você? Para você pensar que ela era uma modelo, como na revista penthouse? - é possível - respondeu gavin. - mas se estava exagerando, certamente estudou tudo direitinho, porque sabia muita coisa. Ela mencionou velocidade de obturador, Coisas assim. Disse que ele usava um monte de equipamento para cada foto sair direito e ficava furioso quando ela não cooperava. - ele não tirava apenas umas fotos obscenas - dean comentou com curtis. - se você analisar a foto que janey deu para gavin, dá para ver que foi tirada por um amador Tentando ser artístico. - e você acha que armstrong não seria capaz disso? - capaz ele seria - disse dean. - mas se você está traindo a sua mulher, que provavelmente está à sua espera acordada, vai gastar tanto tempo assim com fotografias? Enquanto curtis ainda meditava sobre aquilo, por acaso olhou por cima do ombro de dean. - o que você está fazendo aqui? Dean virou para ver quem tinha chamado a atenção de curtis e viu o policial griggs andando na direção deles. O sorriso do novato se desmanchou com a carranca de Curtis e o tom de desaprovação dele. - eu... Fui dispensado, senhor. Disseram que eu podia ir embora. Mas estava ansioso para saber se armstrong tinha confessado, por isso em vez de... - você deixou paris lá sozinha? - perguntou dean. - bem, senhor, não... - quem disse para você sair de lá? - john rondeau. Com o canto do olho, dean notou a reação de gavin à menção do nome de rondeau. Ele não reagiu com a antipatia que era de esperar, mas com medo.
- gavin? O que foi? - o filho de dean olhou para o pai com a cara branca. gavin? - pai... - o menino teve de engolir com dificuldade antes de continuar: — eu preciso te contar uma coisa. Capítulo trinta e quatro Através das paredes de vidro, a iluminação fluorescente brancoazulada da entrada da estação de rádio diminuía a escuridão em volta, mas só um pouco. As luzes do Centro da cidade eram bloqueadas por morros. A lua era quase um risco e não produzia luz suficiente. Naquela hora da noite passavam poucos carros pela rua estreita. O prédio comercial mais próximo era uma loja de conveniência a oitocentos metros de distância, que tinha fechado às dez. Do ponto privilegiado do prédio da fm 101.3, nada era visível, a não ser os morros pontilhados de cedros, rochas de calcário e, de vez em quando, um rebanho de gado De corte. Era o lugar ideal para a torre de transmissão que piscava intermitente suas luzes vermelhas como aviso para aviões particulares que voavam baixo. Rondeau ficou parado ao lado do carro dele até as lanternas traseiras da viatura policial de griggs desaparecerem atrás de uma colina. Ele franziu o cenho com desprezo Para os policiais que iam embora. É claro que queria que eles fossem mesmo. Mas não deviam ter verificado a ordem, que ele tinha dito que vinha direto de curtis, Em vez de acreditar na palavra dele? Aquele tipo de descuido era inaceitável. Daria queixa deles no dia seguinte. Não ia conquistar a simpatia dos dois, mas fazer Amigos não significava progresso na carreira. Foi caminhando para a entrada do prédio e levava com ele a pasta de informações sobre stan crenshaw. Era um perfil perturbador, de um homem cuja família desestruturada E inseguranças pessoais levaram a delitos sexuais desde a infância, prenúncios coerentes das aberrações de valentino. Porém, o que mais irritava rondeau era a injustiça que aquilo representava. Crenshaw havia escapado com sua conduta ilegal. O tio o livrara de todos os casos. Fazendo Isso, wilkins crenshaw Tinha aos poucos criado um monstro, capaz de seqüestrar, estuprar, torturar e assassinar uma jovem adorável. Graças ao foco míope concentrado em brad armstrong, o sargento curtis havia descartado o conteúdo picante daquela pasta. Primeiro, rondeau ficou ofendido com o descaso, Mas acabou sendo uma vantagem para ele. Sem querer, curtis entregou de bandeja uma ótima oportunidade para rondeau se tornar herói. Em vez de apertar a campainha, ele bateu na porta de vidro. Não teve de esperar muito para ver pela primeira vez a figura medíocre de stan crenshaw. Ele surgiu de um corredor escuro que partia do vestíbulo, aproximou-se da Porta desconfiado e espiou pelo vidro que rondeau sabia que devia estar refletindo como um espelho, por causa da escuridão que havia por trás. Crenshaw quase teve De pôr as mãos em concha do lado dos olhos para poder enxergar quem estava batendo. Examinou rondeau de cima a baixo, com a condescendência dos que nasciam em berço de ouro, depois espiou o estacionamento atrás do policial, onde a ausência da viatura De polícia era flagrante.
- onde estão os policiais? Rondeau, já sentindo o gosto do sucesso, apresentou seu distintivo. - esse, é claro, foi johnny mathis com seu clássico "misty". Certamente uma boa música para namorar. Espero que você tenha alguém esta noite, ouvindo as canções Clássicas de amor da fm 101.3. Sou paris gibson, tocando para vocês à meia-noite "i don't know how to love him", de melissa manchester. As linhas telefônicas estão abertas. Liguem para Mim. Quando a música começou a tocar, paris desligou o microfone. Duas linhas telefônicas piscavam. Ela apertou um dos botões, mas ouviu o tom de discar. Desculpou-se Mentalmente com o ouvinte que obviamente havia desistido pela demora. Paris apertou o segundo botão que piscava. - aqui é paris. - alô, paris. O coração dela chegou a parar e uma descarga de adrenalina o fez bater de novo, com força, como os pés de um atleta partindo numa corrida. - quem fala? - você sabe quem é - a risada dele era ainda mais assustadora do que a voz sussurrante. - seu mais fiel fã, valentino. Paris, angustiada, olhou para trás, torcendo para stan ter voltado silenciosamente para o estúdio. Naquele momento teria gostado de levar um susto com ele ali atrás Dela. Mas estava sozinha. - como... - eu sei, eu sei, o seu namorado pensa que capturou o culpado. Esse erro egoísta dele seria cómico se não fosse tão patético - ele deu risada de novo e provocou arrepios nos braços de paris. - eu fui um mau menino, não é, paris? Paris estava com a boca seca. O coração continuava a pular no peito e a pulsação vibrava ruidosamente em seus ouvidos. Procurou se disciplinar para manter a calma E raciocinar. Precisava alertar dean, o sargento curtis, griggs no estacionamento, alguém, que tinham prendido o homem errado e que valentino continuava solto. Mas Como? Mas que idéia era aquela? Tinha um microfone nas pontas dos dedos! Centenas de milhares de pessoas escutavam o seu programa. Só que pensou melhor quando já ia ligar o microfone. Será que devia divulgar pela rádio que a polícia de austin tinha cometido um erro? E se aquela ligação fosse Falsa, alguém fazendo uma brincadeira cruel com ela? E se provocasse pânico nas pessoas? Era melhor mantê-lo na linha até resolver o que fazer. - acima de tudo, você é um mentiroso, valentino. Você encurtou o prazo. - isso é verdade. Não tenho palavra. - você matou a janey antes de me dar uma chance de salvá-la. - injusto, não é? Mas eu nunca disse que era um cara honrado, paris. - então por que telefonou para mim? Se pretendia matá-la desde o início, para que fazer essa elaborada campanha pelo telefone? - para balançar o seu mundo. E funcionou, não funcionou? Você está se achando uma merda por não ter conseguido salvar a vida daquela puta. Paris não quis morder a isca. Já tinha trilhado aquele caminho e janey havia morrido mesmo assim. A única maneira de se redimir era identificar aquele filhoda-mãe E levá-lo a julgamento, e não podia fazer isso discutindo com ele. Podia ligar para dean pelo seu celular, mas... Droga! Estava na sala dela, dentro da bolsa. Será que podia criar um problema técnico para atrair stan? Em
breve, A música de manchester ia terminar. Era a última de uma série. O silêncio na transmissão faria stan ir para o estúdio, investigar qual era o problema. Enquanto paris raciocinava, valentino continuou falando: - ela precisava morrer, sabe, por ter me traído. Ela era uma vagabunda sem coração. Gostei de vê-la morrer bem devagar. Vi o momento em que ela percebeu que jamais Fugiria de mim. Ela sabia que não ia sobreviver. - isso deve ter sido uma viagem cabeça para você. - ah, certamente. Apesar de ter achado muito tocante o jeito que ela implorou com o olhar para eu poupar sua vida. Aquela afirmação fez paris esquecer a decisão recente de não se deixar levar por nada que ele dissesse. - seu doente, filho-da-mãe. - você acha que sou doente? - perguntou ele normalmente. - acho isso estranho, paris. Eu torturei e matei janey, sim, mas você torturou e matou seu noivo, não foi? Não era uma tortura para ele saber que você o tinha traído Com o melhor amigo dele? Você se acha doente? - eu não dirigi o carro de jack para aquela mureta, foi ele que fez isso. O acidente foi culpa dele. Foi ele que determinou seu destino, não eu. - isso está me parecendo racionalização - disse ele, com o tom de reprovação de um padre no confessionário. - não vejo diferença entre o seu pecado e o meu, só que A tortura do seu noivo durou muito mais e ele morreu muito mais devagar. O que a torna bem mais cruel do que eu, não é? E é por isso que você tem de ser punida. "seria justo deixar você continuar despreocupada e viver feliz para sempre com malloy? Acho que não", disse valentino, cantarolando com malícia. "isso não vai acontecer. Vocês nunca ficarão juntos, porque você, paris, vai morrer. Esta noite." O telefone ficou mudo. Paris pegou imediatamente seu telefone particular. Sem ruído de discar. Nada. Silêncio. Numa rápida sucessão, ela experimentou todas as linhas Telefônicas, mas sem sucesso. Estavam todas mudas. A compreensão foi chegando como uma sombra invasora. Ou ele tinha acesso e capacidade para desligar o equipamento telefônico computadorizado de fora do prédio ou... E era disso que paris tinha medo... Tinha simplesmente interrompido o serviço de telefonia de dentro do prédio. Paris pulou do banco. Abriu a porta pesada, toda acolchoada, e gritou no corredor escuro. - stan! A música de manchester estava terminando. Paris correu de volta para a mesa de controle e apertou o botão do microfone. - oi, aqui é paris gibson - a voz dela soou fina e alta, nada parecida com seu contralto normal -, isso não é uma... O som estridente de um alarme interrompeu o que ela dizia. Paris virou para o lado de onde vinha o som. Era do scanner, que gravava tudo que ia para o ar. Ninguém percebia que existia. O alarme só alertava quando havia uma Interrupção na transmissão. Dominada pelo pavor, paris apertou diversas vezes o botão do microfone, mas, como todos na mesa de controle, não acendia. Correu para a porta novamente. - stan! O eco do grito parecia persegui-la enquanto corria para sua sala. A bolsa estava onde a tinha deixado, em cima da mesa, mas caída de lado. O conteúdo estava todo Espalhado sobre a mesa. Com as mãos trêmulas, ela remexeu nos cosméticos, lenços de papel, dinheiro solto, com a esperança de encontrar o celular, mas já
prevendo Que não estaria lá. E não estava. E faltava mais uma coisa. Suas chaves. Procurou freneticamente no meio da correspondência espalhada pela mesa, e até ficou de joelhos para espiar embaixo dela, mas sabia que o chaveiro e o telefone celular Tinham sido levados pelo mesmo indivíduo que havia cortado as linhas telefônicas e desativado a transmissão. Todas as linhas de comunicação inutilizadas pelo homem Que matou janey e prometeu matá-la também. Valentino. Sua respiração estava tão ofegante que não ouvia mais nada. Parou de respirar por uns segundos para ver se escutava alguma coisa. Pé ante pé, foi até a porta da Sala, mas parou antes de atravessá-la. O corredor, como sempre, estava escuro. Aquela noite a escuridão familiar não provocava a sensação de segurança e conforto. Possuía um atributo sinistro, talvez porque o prédio estivesse silencioso como um túmulo. Onde o stan tinha se metido? Será que não tinha notado que não estavam transmitindo? Se ele tivesse ido até o estúdio e visto que ela não estava lá, por que não Estava correndo pelo prédio à sua procura, para saber o que tinha acontecido? Mas, antes mesmo do seu cérebro formar essa pergunta, já tinha a resposta: stan não podia ir ver o que estava acontecendo com ela. Valentino devia ter dado cabo dele, possivelmente até antes de ligar para ela. Ele podia estar no prédio havia algum tempo sem que ela soubesse, isolada como estava Dentro do estúdio à prova de som. Como valentino conseguiu passar por griggs e carson? E depois, como fez para abrir a porta do prédio? Era preciso ter a chave para destrancar a cavilha por dentro E por fora. Será que ele convenceu stan a abrir a porta? Como? Não tinha respostas para essas perguntas. Ficou tentada a bater a porta da sala, trancar-se lá dentro e ficar esperando o socorro chegar. Aquela altura, ouvintes de toda a região já deviam estar querendo Saber o que tinha feito a rádio sair do ar. Até dean podia estar sabendo. O sargento curtis. Logo alguém chegaria correndo para salvá-la. Enquanto isso, contudo, ela não podia se esconder ali. Griggs e carson podiam estar feridos. E stan. Paris saiu para o corredor. De costas para a parede, para poder olhar para os dois lados, ela foi avançando aos poucos, na direção da frente do prédio. Enquanto Seguia pelo corredor, foi apagando todos os interruptores de luz que encontrava. Uma grande vantagem que tinha sobre valentino era o fato de conhecer a planta do Prédio. Estava acostumada a se orientar na semiescuridão. Com movimentos rápidos, mas com o máximo de silêncio e cautela possíveis, paris foi seguindo para a entrada. Cada vez que se aproximava de uma intercessão de corredores, Temia o que podia estar lá à sua espera, mas, ao virar no último corredor, viu que estava livre até o saguão bem iluminado. Correu e atravessou o saguão, com a intenção De se lançar contra a porta e socar o vidro para chamar a atenção dos policiais que a protegiam. Mas o carro da polícia não estava lá e a porta da frente estava trancada. Com um grito sufocado, paris recuou e se afastou da porta, até bater na mesa da recepcionista. Apoiou-se nela para recuperar o fôlego e resolver o que ia fazer.
Subitamente, alguém agarrou seu tornozelo. Paris gritou. Ela olhou para baixo e viu a mão de um homem saindo de baixo da mesa. Mas antes de tentar se desvencilhar dela, os dedos relaxaram e a mão caiu sem vida no carpete Sujo. Paris deu a volta na mesa, tropeçando nos próprios pés, mas parou de repente ao ver o corpo de barriga para baixo no chão. Caiu de joelhos, segurou o homem pelos Ombros e virou-o de frente. John rondeau gemeu. Suas pálpebras tremiam, mas permaneciam fechadas. Ele sangrava profusamente de um ferimento na cabeça. Paris sentiu uma onda de alegria ao murmurar o nome dele. - john. Por favor, acorde. Por favor! Ela bateu no rosto dele, mas john só gemeu novamente, e a cabeça rolou para o lado. Ele estava inconsciente. Perto da mão esticada do policial havia uma pasta de documentos que parecia oficial. Paris leu o nome impresso na etiqueta: stanley crenshaw. O estômago dela colou nas costas. - oh, meu deus. Stan? Então era stan o tempo todo? E por que não?, raciocinou ela. A inaptidão dele podia ser um excelente disfarce. Teve tempo e oportunidade para cometer os crimes. Tinha os dias e as noites livres, Antes e depois do programa dela. Tinha conhecimento tecnológico suficiente para redirecionar chamadas telefônicas. Era fissurado em eletrônica e aparelhos. Certamente Entre os seus brinquedos devia haver equipamento fotográfico que ele podia pagar facilmente. Era suficientemente bonito para atrair uma adolescente em busca de emoções. E tinha a vida inteira de raiva e ressentimento acumulados, motivação mais do que suficiente para matar uma mulher que o tivesse humilhado. E com uma clareza arrepiante, Paris entendeu que exatamente naquela noite ela também havia rejeitado stan. - o socorro chegará logo - sussurrou paris para rondeau. Ele não reagiu. Tinha mergulhado numa inconsciência profunda. O policial estava fora de combate e ela, sozinha. Mas não ia ficar esperando valentino encontrá-la. Era ela que ia descobrir onde ele estava. Apalpou às pressas a roupa de rondeau. Não sabia se investigadores de crimes no computador andavam armados ou não, mas esperava que sim. Não gostava de armas, achava Repugnante toda a idéia em torno de armas, mas usaria uma se fosse preciso para salvar sua vida. Paris deu um suspiro de alívio quando sentiu um volume sob o paletó dele. Afastou o paletó e descobriu que o coldre preso ao cinto estava vazio. Stan deve ter tido a mesma idéia. Estava armado. Depois de murmurar que tudo ia acabar bem para tranqüilizar rondeau - que esperava que fosse verdade -, paris abandonou a falsa segurança do seu esconderijo atrás Da mesa. Antes de sair do saguão, paris apagou a luz fluorescente, mas lembrou que stan conhecia o prédio tão bem quanto ela, por isso a escuridão não seria mais uma vantagem Exclusiva. Acontece que não ia mais se esconder. Stan e ela estavam sozinhos no prédio, como tinham ficado centenas de noites antes daquela. Não ia brincar de gato-erato feito criança com ele. Se partisse para a ofensiva e o confrontasse, tinha certeza de que poderia ficar conversando com ele até o socorro chegar. A sala da engenharia de som estava deserta, o banheiro masculino e o refeitório
também. Todas as salas, inclusive a dela, estavam vazias. Aos poucos, ela foi chegando Aos fundos do prédio, onde havia um grande depósito. A porta estava fechada. A maçaneta de metal estava fria quando paris a segurou e abriu a porta. Foi recebida pelo cheiro de mofo do lugar pouco usado e de coisas velhas. O lugar era cavernoso, Mais escuro ainda do que o resto das salas. A porta aberta desenhava uma nesga de luz no piso de concreto, tão fraca que podia ser ignorada. Paris hesitou ali na porta, até os olhos se adaptarem à escuridão mais profunda. Então ela notou a espécie de despensa onde eram guardados o equipamento e o material De limpeza de lancy/ marvin. A porta estava entreaberta. Escutando com muita atenção, paris teve certeza de ouvir a respiração de alguém vindo lá de dentro. - stan, isso é bobagem. Saia daí. Pare com essa loucura antes que alguém mais se machuque, inclusive você. Reunindo toda a coragem que tinha, paris entrou no depósito. - eu sei que você agora tem uma arma, mas não acredito que vai atirar em mim. Se quisesse me matar, já teria feito isso qualquer noite dessas. Será que a respiração dentro da despensa estava mais agitada? Ou será que ela estava imaginando coisas? Ou será que o que ouvia era um eco da própria respiração? - sei que você está zangado comigo por eu ter rejeitado seu afeto, mas até esta noite eu nem sabia que você sentia isso por mim. Vamos conversar. Paris avançou nas pontas dos pés pelo piso de concreto, indo para a despensa, com os ouvidos atentos ao menor som por trás das paredes que indicassem que o socorro Estava a caminho. Naquele momento mesmo, será que os atiradores já estavam se posicionando? Será que policiais do batalhão especial já estavam escalando a parte De fora do prédio para chegar ao telhado? Ou será que ela havia assistido a filmes de ação demais? Quando estava a poucos passos da porta da despensa parcialmente aberta, paris parou. -stan? Ela estendeu o braço bem para a frente e empurrou a porta, que se abriu totalmente. Nenhum disparo perturbou o silêncio. Paris lembrou do que ele tinha feito com janey. Agora que sabia que iam prendê-lo, devia estar desesperado, sem consciência Nenhuma, capaz de fazer qualquer coisa. A situação exigia um treino que paris não tinha. Dean tinha. Dean. Com medo e saudade, o coração de paris bradou silenciosamente o nome dele ao dar o último passo para chegar à porta aberta. Avistou stan e ficou atônita. A respiração dele era ruidosa porque sua boca estava selada com uma fita isolante que também tinha sido usada para amarrar seus tornozelos e pulsos. As pernas estavam Dobradas de modo que os joelhos batiam no queixo e ele havia sido literalmente enfiado na pia industrial de aço inoxidável. - stan! O quê... Paris estendeu a mão para arrancar a fita isolante da boca dele quando os olhos de stan, já arregalados de pavor, olharam para alguma coisa atrás dela e ficaram Ainda maiores. Paris girou rapidamente. - surpresa! - disse john rondeau. Mas era a voz de valentino. Capítulo trinta e cinco
- porra, porra! - repetia dean, e apertava os dígitos emborrachados do seu telefone celular. Dirigia o carro apenas com uma das mãos e manuseava o celular com a outra. Tinha rediscado diversas vezes o número particular que paris lhe dera. Ela não atendia. Discou o número da estação de rádio repetidamente, mas só ouvia a gravação padrão que dizia que paris ia atender assim que pudesse. Telefonou para o celular dela, Mas caiu na caixa postal. - por que você não me contou sobre o rondeau? - curtis, muito tenso, também usava seu celular, esperando mais informações sobre rondeau. - você soube na mesma hora que eu. O detetive estava ao lado dele quando gavin revelou o que sabia sobre rondeau. Seria difícil dizer quem agiu primeiro. Dean lembrava de ter empurrado curtis para Fora do seu caminho enquanto corria para fora do prédio. Estava um pouco à frente quando curtis ordenou o envio de unidades para a estação de rádio. - a swat também! Agora, já, rápido! Dean não ia ficar lá parado esperando as ordens do sargento serem cumpridas e, aparentemente, curtis também tinha pressa. Saíram em disparada pela porta dupla, desceram A escada, dois ou três degraus de cada vez, e chegaram à garagem. O carro de dean estava mais próximo. E à velocidade que ele dirigia, chegariam antes dos carros Da polícia na rádio. - você não me contou que rondeau abordou seu filho no banheiro. - era pessoal. Eu pensei que rondeau não passava de um babaca. - um babaca com... - curtis parou de falar e ficou ouvindo alguém no celular. é, é - disse ele -, o que você descobriu? Enquanto curtis recebia as informações sobre john rondeau, dean discou os números de paris novamente. Obteve o mesmo resultado, xingou prodigamente e pisou firme No acelerador. Como se tivesse uma relação direta com a pressão no acelerador, o rádio do carro emudeceu. Os ouvidos de dean esperavam ouvir a voz de paris, por isso o súbito chiado De estática foi tão estarrecedor quanto um grito de pavor. O significado daquilo abalou seu autocontrole. Apertou, furioso, os botões do rádio. Todas as outras estações soaram em alto e bom som. Não era defeito do rádio. A 101.3 tinha parado de transmitir. - a estação acabou de sair do ar. Curtis, que estava concentrado na conversa ao celular, virou para dean. - hein? - ela está fora do ar. Parou de transmitir. - meu deus - disse então curtis ao celular. - chega, por enquanto - e desligou. - o que foi? Fale comigo - disse dean, fazendo uma curva praticamente em duas rodas. - rondeau não tinha pai. Nunca teve um pai em casa. Agora estão verificando se ele morreu quando john era criança, ou se algum dia houve um sr. Rondeau. Nenhum modelo De comportamento masculino significativo, como um tio, um chefe de escoteiros... - já entendi. Continue. - a mãe trabalhava para sustentar john e a irmã dele, um ano mais velha. - o que as duas dizem dele? - nada. As duas morreram. Dean virou a cabeça rapidamente para curtis. - ele se referiu a elas no presente.
- elas foram assassinadas em casa quando john tinha catorze anos. Foi ele que encontrou os corpos. A irmã afogada na banheira. A mãe com um picador de gelo enfiado Na medula enquanto dormia. - quem fez isso? - não se sabe. É um caso arquivado. - não é mais. Dean apertou o volante. - não podemos afirmar isso - disse curtis, lendo os pensamentos de dean. - ele foi interrogado, mas nunca considerado um suspeito de fato. A mãe e os filhos eram Muito chegados. A mãe trabalhava muito para sustentá-los. Eram crianças que ficavam sozinhas em casa. Tinham de contar um com o outro. Muito íntimos. - aposto que eram - disse dean, tenso. - muito íntimos. - você está pensando em incesto? - o comportamento de valentino é sintomático. Por que isso tudo não estava na ficha de rondeau? - os fatos estão. A polícia de austin investiga cuidadosamente cada candidato. - mas ninguém enxergou além da tragédia dele ter perdido toda a família. Ninguém pensou em incesto. O que aconteceu com o pequeno john depois do duplo assassinato? - foi adotado. Viveu com o mesmo casal até ter idade para se virar sozinho. - outras crianças nessa casa? - não. - que sorte. Ele se dava bem com o pai adotivo? - não há registro de qualquer problema. Eles o adoravam. - especialmente a mulher. - eu não sei - disse curtis. - mas falaram dele com admiração. Disseram que era o filho perfeito. Respeitoso. Bem comportado. - muitos psicopatas são assim. - ele teve um ótimo desempenho acadêmico - continuou curtis. - nenhum problema na escola. Fez dois anos na faculdade antes de se candidatar à academia de polícia. Queria se tornar policial... - deixe-me adivinhar. Para evitar que outras mulheres morressem do jeito que a mãe e a irmã morreram. - mais ou menos - disse curtis. - um detalhe minúsculo... - o quê? - quando morreu, a irmã estava grávida de cinco meses. Dean arriscou um olhar de interrogação. - não - disse curtis. - eles verificaram. Não era filho do rondeau. - eu poderia ter dito que não era - disse dean, carrancudo. - foi por isso que ele a matou. O telefone celular de curtis tocou. — sim — ele atendeu irritado. Dean já podia ver as luzes da torre de transmissão da rádio. Estavam a o quê? Dois quilômetros? Três? Seguia atrás da van da swat. A equipe especial os tinha alcançado Alguns quilômetros antes e dean deixou que passasse. A van ia em alta velocidade, mas dean forçava o motorista a acelerar ainda mais. Eram os dois veículos da frente de uma caravana que incluía diversas unidades da Polícia. O último da fila era uma ambulância. Dean procurou não pensar nisso. Curtis desligou o celular. - eles foram ao apartamento de rondeau. Não era grande coisa, mas tinha um equipamento fotográfico sofisticado. Álbuns cheios de fotos pornográficas. Muitas de janey. Fios de cabelo louro comprido na roupa de cama. Ele é o nosso homem. Dean olhava para a frente e apertava tanto os dentes que o maxilar chegava a doer.
Curtis verificou a pistola no coldre preso ao cinto e a outra, no tornozelo. - você tem uma arma? Dean indicou que sim com um movimento brusco da cabeça. - passei a usá-la quando ele começou a ameaçar paris. - tudo bem, mas ouça bem o que eu vou dizer. Quando a gente chegar lá, você vai ficar fora do caminho e deixar aqueles caras fazerem o trabalho deles - ele apontou Para a van da swat. - entendeu? - entendi. Sargento. Curtis não ignorou a lembrança das respectivas patentes, mas não recuou. - se você entrar lá e sacar essa arma, vai ferrar a nossa prisão e vamos acabar tendo de soltar o cara por alguma tecnicalidade legal idiota. - eu já disse que entendi - disse dean, irritado. - então você está calmo? - eu estou legal. Curtis guardou a pistola no coldre do tornozelo e resmungou: - está nada. - certo - disse dean. - se ele machucar paris, eu vou matá-lo. Ela olhou boquiaberta para a cara sorridente de rondeau, mas o espanto foi apenas momentâneo. Então reagiu rapidamente. Empurrou o peito dele com toda a força, mas Ele a jogou contra as prateleiras de ferro da despensa e ao mesmo tempo disparou a pistola contra stan. O disparo deixou paris surda. Ou talvez tivesse sido seu próprio grito. Rondeau deu um tapa nela. - cale a boca! Ele agarrou paris pelos cabelos, arrastou-a para fora da despensa e fechou a porta com um chute. Depois empurrou-a com tanta violência que paris caiu no piso de Concreto. - alô, paris - disse ele com a voz enregelante que ela já conhecia tão bem. - você o matou? - crenshaw? Espero que sim. Foi esse o objetivo de enfiar uma bala direto no coração dele. Que cara medíocre. Mas era mais forte do que parece. Ele fez isso em mim - disse ele, apontando para o ferimento na cabeça que ainda sangrava. - primeiro ele foi solícito. Mostrou como interromper a transmissão. Sob a mira da arma, é Claro. Depois ele fez essa tentativa ridícula, mas valorosa, de proteger você, e me acertou com uma garrafa de snapple. Rondeau continuava falando com a voz de valentino. - a voz... Esse é um truque e tanto. - não é? Para o caso de algum dos meus companheiros policiais ser também fã de paris gibson. Não queria que identificassem a minha voz quando ligava. - você era o valentino desde o começo - a boca de paris estava tão seca que a língua grudava no céu da boca a cada palavra que dizia. — É. E isso nos leva até... Vejamos - ele coçou o rosto com o cano da pistola. algum tempo antes de maddie robinson aparecer. - então você matou duas mulheres. Ele sorriu, complacente. - na verdade não, paris. - mais de duas? - hã-hã. Faça o homem falar. Quanto mais tempo ele ficar falando, mais tempo você ficará viva. - por que as matou? Rondeau voltou a falar com sua voz normal: - porque elas não mereciam viver. - elas o rejeitaram, como a janey fez. - janey, maddie, a minha irmã.
- você assassinou a sua irmã? - não foi assassinato. Eu fiz justiça. - compreendo. O que aconteceu? O que a sua irmã fez? Ele deu uma risada agradável. - tudo. Nós fazíamos tudo um com o outro. Eu dormia entre as duas, sabe? Entre ela e a minha mãe. Está entendendo? - ele levantou e abaixou as sobrancelhas. Rondeau queria chocá-la e tinha conseguido, mas paris procurava manter a expressão neutra. Não ia dar a ele a satisfação de ver a repulsa que sentia. - mantínhamos tudo em família. O nosso segredinho - disse ele, sussurrando como um ator no palco. - não conte para ninguém - mamãe avisava. - porque, se você contar, eles vão levá-lo embora e trancá-lo onde ficam os meninos e as meninas que brincam com os pintinhos e as xoxotinhas dos outros. Promete? Ótimo. Agora chupe as maminhas da mamãe e ela fará uma coisa muito especial com você. Paris ficou nauseada. Ele continuou daquele jeito blasé: - mas então começamos a crescer. Ela arrumou um emprego na loja de discos. Passava a tarde toda lá, em vez de ficar em casa comigo, fazendo o que mais gostávamos de fazer. Começou a ficar na loja até mais tarde, com um dos caras que trabalhava lá. Não tinha mais tempo para mim. "dizia que não estava a fim. Que estava muito cansada, mas a verdade é que ficava fodendo com aquele cara o tempo todo. E mamãe achava que era maravilhoso a mana ter se apaixonado. Não é romântico? Não está feliz por ela, johnny?"' Rondeau mergulhou num silêncio pensativo, depois deu um suspiro como se fosse chorar. - eu as amava. Aproveitando a preocupação dele, paris olhou para a porta e avaliou a distância. A risada dele atraiu o olhar dela novamente. - nem pense nisso, paris. Essa pequena viagem pelas minhas lembranças não me distraiu do que eu vim fazer. - se você me matar... - ah, eu vou te matar, mas eles vão culpar stan crenshaw. - ele está morto. - mortinho da silva. Tive de matá-lo. Sabe, quando cheguei aqui, encontrei você morta, estrangulada pelo crenshaw, que era um filho-da-mãe pervertido e doente desde Criança. Está tudo lá no arquivo dele, a receita perfeita de um psicopata e tarado sexual. "de qualquer maneira, avaliei a situação e tentei capturá-lo. Durante a briga, ele conseguiu acertar a minha cabeça, que, aliás, foi o que inspirou aquela brincadeirinha Que fiz com você. Bem esperto, não acha? Você caiu direitinho, não caiu?" - caí - admitiu ela. - desculpe, mas não pude resistir. Especialmente aquela parte do seu tornozelo disse ele, e deu uma risadinha. - onde é que eu estava? Ah, sim, eu vou contar que Finalmente consegui dominar crenshaw e estava prendendo seus tornozelos e pulsos com fita isolante que encontrei na despensa quando ele tentou escapar. Infelizmente Não tive escolha. Tive de atirar nele. - muito simples - disse ela. - mas não perfeito. Os especialistas da cena do crime vão encontrar discrepâncias. - tenho resposta para qualquer pergunta que surgir. - tem certeza de que pensou em tudo, john? - eu fiz a minha pesquisa. Sou um bom policial. - que ataca mulheres. - eu nunca "ataquei" as mulheres. Minha mãe e minha irmã nem foram vítimas. Elas me treinaram. Toda mulher que tive desde então se beneficiou com o que elas me ensinaram,
E todas consentiram em ser minhas parceiras. No início, eu nem sentia muita Atração pela maddie. Mas ela ficou atrás de mim. E depois foi ela que quis terminar. Vai entender - ele balançou a cabeça, como se não acreditasse. "e se você está se referindo às meninas do clube do sexo como vítimas, não estava prestando atenção. Elas são putas à procura de aventuras. Eu não sou nada inibido. Elas me adoram - sussurrou ele, agitando a língua para paris. E mais uma vez paris engoliu a ânsia de vômito que sentia. - parece que janey não adorava você. - a janey não gostava de ninguém além da janey. Mas adorava o que eu fazia com ela. Era uma vadiazinha sem coração que usava as emoções das pessoas como alvo para Prática de tiro. E você simpatizou com ela, paris. Você a pôs no rádio para reclamar de mim. E sabe por quê? Porque você é exatamente igual a ela. "você também brinca com as emoções das pessoas. Pensa que é o máximo. Tem o malloy, e até o curtis babando por você, implorando qualquer migalha de atenção que você Possa dar para eles." De repente, rondeau olhou para o relógio. - por falar em malloy, é melhor eu cuidar logo disso. Você já está fora do ar há cinco minutos. Cinco minutos? Parecia uma eternidade. - o pessoal vai começar a notar e tenho certeza de que o seu amigo psicólogo vai invadir isso aqui feito a cavalaria e... Da frente do prédio partiu um som como o de uma explosão de vidro quebrando, seguido de gritos e passos de pessoas correndo. Paris chutou o joelho de rondeau com toda a força. A perna dele dobrou e ele berrou de dor. Paris se levantou e correu para a porta. Só ouviu o disparo depois de sentir o impacto da bala. Foi mais potente do que jamais poderia imaginar. A dor que sentiu, queimando, deixou paris sem ar e ela quase desmaiou imediatamente, mas a adrenalina fez com que Continuasse a correr, passou pela porta, saiu da linha de visão dele e então caiu. Tentou gritar e alertar a polícia para que soubessem onde estava, mas só conseguiu emitir um gemido fraco. A escuridão se fechou sobre ela e o corredor apagado começou A se alongar e a estreitar, como o túnel de um pesadelo. Dean devia estar liderando a invasão. Até rondeau tinha dito isso. Paris precisava avisá-lo. Tentou se levantar, mas as pernas e os braços tinham virado gelatina, E sentia uma vontade enorme de vomitar. Abriu a boca para gritar, mas sua voz, bem impostada e cuidadosamente treinada, falhou completamente. Rondeau estava chegando perto da porta. Paris podia ouvir seus gemidos de dor enquanto ele saltitava no piso de cimento do depósito. Logo chegaria ao corredor. Rondeau Levaria vantagem sobre qualquer um que aparecesse na esquina cega no fim daquele corredor. - dean - coaxou paris. Mais uma vez, tentou ficar de pé. Chegou a se apoiar nos joelhos, mas balançou sem equilíbrio e depois caiu de novo, batendo com força na parede. A dor foi como Ferro em brasa queimando sua carne até o osso. Deixou um rastro de sangue na parede quando escorregou para o chão. Seus ouvidos zuniam, mas deu para perceber que as vozes estavam mais perto. Fachos de lanterna riscavam as paredes loucamente no fim do corredor. Ouviu outro som e virou bem na hora que rondeau apareceu na porta da despensa.
Ele grunhia de dor e se apoiava no batente. Paris ficou satisfeita com o ângulo estranho Da perna direita dele. Rondeau tinha o rosto coberto de suor e contorcido numa feia máscara de fúria olhando para ela. - você é igualzinha a elas - disse ele. - eu preciso matar você. - parado.' O grito ricocheteou nas paredes como os fachos das lanternas. Mas rondeau ignorou o aviso. Levantou a pistola e mirou diretamente em paris. A barragem de tiros foi ensurdecedora e encheu o corredor de fumaça. Quando caiu para a frente, paris ficou imaginando vagamente se estava perdendo a consciência ou morrendo. #break #capítulo trinta e seis - quem foi que acertou ele? - pode se dizer que foi um trabalho de equipe. Rondeau não nos deu escolha. Alguns de nós acertamos nele. Paris recostou no travesseiro do leito do hospital, aliviada com a resposta de curtis. Não ia querer que dean carregasse o peso de ter tirado a vida de john rondeau. Ficou sabendo mais tarde que ele foi o primeiro a entrar no corredor, como sabia que seria. Mas curtis e alguns policiais da swat estavam lá também. Qualquer bala Disparada contra rondeau podia ser o tiro fatal. Aquela manhã curtis estava mais alinhado do que nunca, como se tivesse se arrumado todo para visitá-la. Vestia um terno cinza bem moderno. As botas tinham um brilho Extra. Paris sentiu cheiro de colônia. Ele levou uma caixa de bombons godiva para ela. Mas a atitude de curtis era profissional. - rondeau sabia bastante de informática para aprender a redirecionar ligações telefônicas - disse curtis. - o nosso pessoal finalmente rastreou aquela última ligação Até um telefone celular. Mas ele também tinha previsto isso. O telefone não era registrado. Era descartável. Essa parte foi fácil para ele. - e ele podia mudar a voz quando bem queria também. Era sinistro. Paris passava alguns minutos sem pensar em rondeau e naqueles momentos angustiantes com ele dentro da despensa. Então, sem mais nem menos, a lembrança invadia sua Consciência e ela era forçada a reviver a experiência aterradora. Descreveu esse fenómeno para dean e ele procurou tranqüilizá-la, afirmando que a cada dia a lembrança voltaria com menos freqüência e ficaria um pouco mais fraca. Ela não poderia esquecer completamente a experiência, mas ia afundar no seu subconsciente. A análise dele tinha nota de rodapé: ele ia providenciar para que ela vivesse o presente e para o futuro e não se prendesse ao passado. - rondeau queria entrar para o bci - dizia curtis. - já tinha comentado isso comigo. Disse que queria trabalhar na unidade de violência contra crianças. - onde teria acesso ilimitado à pornografia infantil. Curtis meneou a cabeça, deixando claro sua revolta. - ele foi para a estação de rádio aquela noite para cumprir seus compromissos pessoais e ao mesmo tempo aparecer como policial, entregando valentino. "com você e crenshaw mortos, talvez conseguisse. O corpo de janey não tinha o DNA do criminoso. Parece que ele ficou sabendo de um reagente que tinha servido para Isso num caso de homicídio em dallas. - curtis balançou a cabeça com tristeza. - o trabalho na polícia foi uma boa escola para ele. - quanto ao stan, você tem alguma notícia sobre o estado dele? - perguntou paris.
- foi promovido a bom. Milagrosamente, stan tinha sobrevivido ao tiro que levou no peito e à cirurgia delicada para a remoção da bala. Teve um pulmão inutilizado e danos extensos nos tecidos, Mas ia sobreviver. Quando ficou bastante estável para ser removido, "wilkins crenshaw o levou no jatinho particular para atlanta. - pedi para o tio dele ligar para mim assim que stan puder falar ao telefone disse paris. - quero pedir desculpas. - tenho certeza de que ele não vai guardar rancor contra você. Vai dar graças a deus de estar vivo. - rondeau me disse que tinha atirado bem no coração dele. - se ele estava mirando no coração, devia ter passado mais tempo no exercício de tiro - disse curtis com um sorriso triste. - sorte de vocês que não fez isso. Tinham dito para paris que a perda de sangue dela foi grande porque a bala entrou nas costas, logo abaixo do ombro, e atravessou seu corpo. Ia ficar com uma cicatriz Feia e seu saque fortíssimo no tênis seria coisa do passado. Porém, estava viva. Se a bala tivesse feito um caminho alguns centímetros para baixo, ela teria morrido. Dean recomendou que não ficasse pensando nisso tampouco, apesar de ser essa a reação normal de um sobrevivente. - não fique examinando os motivos da sua vida ter sido poupada, paris. Isso é inútil. Jamais encontraria uma resposta. Apenas agradeça por estar aqui. É o que eu Faço - disse dean, com a voz rouca de emoção. Curtis trouxe paris de volta à conversa, dizendo que os relacionamentos incestuosos da infância de rondeau tinham servido para enfurecê-lo. - acho que nem ele sabia a raiva que sentia - disse ele. -aprendeu a ocultar essa raiva muito bem, mas alimentou uma fúria profunda contra as mulheres, graças ao Que a mãe abusiva fez com ele. - dean já explicou isso para mim. - estou repetindo o que ele disse - admitiu curtis, e depois perguntou se paris tinha visto o jornal aquela manhã. - o juiz kemp está usando o assassinato de janey Na sua plataforma de campanha. — isso é pior do que mau gosto. - que gente - disse o detetive, com desprezo. - o que vai acontecer com brad armstrong? - perguntou paris. - ele vai para a prisão? - ele tem de enfrentar a acusação de crime sexual qualificado, que pressupõe uma sentença séria, se for condenado. Melissa hatcher, entretanto, admitiu que consentiu E se dispôs a fazer várias coisas com ele antes de resolver parar. Ele pode tentar um acordo para obter uma acusação menor em troca de uma sentença mais branda, Mas estou achando que vai ter de cumprir pena. Vamos torcer para ele usar esse tempo para se curar. - gostaria de saber se a mulher vai ficar com ele. Paris olhou para o arranjo de flores que toni armstrong havia mandado. - isso nós vamos ver - disse curtis. - mas, se tivesse de apostar, eu diria que sim. - ele ficou calado por um tempo, depois bateu nas coxas, deu um suspiro e se Levantou. - é melhor eu ir embora e deixar você descansar. Paris deu risada. - já estou até roxa de tanto descanso. Não agüento mais esperar para receber alta. - está ansiosa para voltar ao trabalho? - espero voltar já na próxima semana.
- seus fãs ficarão contentes. E a equipe do hospital também. Disseram que todas as flores num raio de duzentos quilômetros estão na entrada principal do hospital Lá embaixo. - dean me levou na cadeira de rodas até lá embaixo ontem para vê-las. As pessoas foram excepcionalmente gentis. - eu senti falta do seu programa - todo o couro cabeludo de curtis ficou cor-derosa forte quando ele acrescentou: - você é especial, paris. - obrigada. Você também é, sargento curtis. Meio sem jeito, ele pegou a mão dela e apertou-a rapidamente antes de soltar. - tenho certeza de que verei você por aí. Quero dizer, agora que malloy e você... - ele não terminou a frase. Paris sorriu. - e, tenho certeza de que vamos nos ver por aí. Dean chegou quando paris dava os retoques finais na maquiagem. - paris? - aqui dentro - ela chamou do pequeno banheiro. Dean chegou por trás e os olhos dos dois se encontraram no espelho em cima da pia. - como estou? - deliciosa. Paris franziu a testa, examinando seu reflexo. - pentear o cabelo com uma mão só não é fácil. Pelo menos é a esquerda que está fora de combate. Dean segurou a mão direita de paris, cujas costas tinham a marca roxa do furo da intravenosa que tinham tirado no dia anterior. Ele beijou o ponto machucado. - para mim você está maravilhosa. - a sua opinião conta muito. Paris virou e ficou de frente para ele e, quando dean só deu um beijinho de leve, ela fez cara de decepcionada. - eu não quero machucar você - explicou ele, apontando para o braço enfaixado e numa tipóia. - eu não quebro. Com a mão direita, paris puxou a cabeça dele para baixo e deu-lhe um beijo de verdade, ao qual ele correspondeu na mesma moeda. Beijaram-se com paixão e também com O desespero de saber que quase tinham perdido um ao outro pela segunda vez. - recebi um cartão de pronto restabelecimento de liz douglas - disse paris quando se afastaram. - muito simpático da parte dela nessas circunstâncias. - ela é uma dama. Liz só tinha um problema. Não era você. Eles se beijaram de novo, dean continuou com os lábios encostados nos dela e sussurrou: - quando chegar em casa... - humm? - podemos ir direto para a cama? - você faz... - tudo. Vamos fazer tudo. - dean deu um beijo rápido e forte e disse: - vamos sair daqui. Pegaram o resto das coisas dela e puseram numa sacola. Paris pôs os óculos escuros. Dean a pôs sentada na cadeira de rodas obrigatória do hospital e a empurrou até O elevador. Quando estavam descendo para o térreo, paris disse: - pensei que gavin viria com você. - ele mandou lembranças, mas partiu para houston esta manhã para passar o fim de semana com pat. Quer acertar os ponteiros com ela. Talvez até oferecer um ramo de Oliveira para o marido dela. - bom para ele. - ele não me enganou.
- não acredita que esteja sendo sincero? - ah, ele foi sincero quanto a acertar as coisas com eles. Mas resolveu fazer isso exatamente nesse fim de semana, para nós dois podermos ficar sozinhos. A porta do elevador se abriu, dean se abaixou e sussurrou diretamente no ouvido de paris: - devo essa a ele. - e eu também - disse paris, retribuindo o sorriso dele. - você vai se casar comigo, não vai? Fingindo estar ofendida, paris disse: - não aceitaria uma lua-de-mel se não nos casássemos. - gavin vai ficar contente. Ele quer fazer amigos na nova escola e me disse que seria mais fácil com uma madrasta famosa e gata. - ele acha que sou uma gata? - e bem legal também. Você tem sua aprovação incondicional. - é bom ser querida. Deixando o humor de lado, dean passou para a frente da cadeira de rodas e se abaixou até ficar com o rosto bem na altura do dela. - eu quero você. Os dois tinham uma platéia formada pela equipe do hospital e visitantes no saguão. Sem se importar com eles, dean segurou a mão de paris novamente e dessa vez apertou A palma contra os lábios. Trocaram um olhar transbordante de significado e implicações, depois dean largou a mão dela e perguntou: - pronta? - pronta. - mas previna-se, paris. Vai enfrentar um desafio. Há um monte de câmeras do outro lado dessa porta. Toda a mídia de dalas até houston e el paso mandou um repórter E um fotógrafo para cá para cobrir a sua saída do hospital. Você é notícia. - eu sei. - e tudo bem? - tudo bem. Na verdade... - ela tirou os óculos escuros e sorriu para ele - ... Já era hora de eu me expor à luz. Com um enorme sorriso, dean empurrou a cadeira de rodas para as portas automáticas. Elas se abriram e os flashes das câmeras começaram a espocar. Paris nem piscou. agradecimentos Realmente não gosto de ter de pedir ajuda e informação às pessoas. Um exemplar autografado do livro e o agradecimento no final parecem reconhecimento insuficiente De todo o trabalho que esses profissionais tiveram comigo. Laura albrecht, especialista de informação ao público do departamento de polícia de austin, nunca perdeu a paciência comigo, nem quando eu ligava para ela repetidamente Com "só mais uma pergunta". Ela abriu portas que normalmente ficariam fechadas. Obrigada também aos detetives do bureau central de investigações, cujo trabalho difícil Que executam costuma ser ignorado e não recompensado. Eles foram cordiais e prestativos, mesmo depois que eu expliquei que havia um policial corrupto na minha história. Na minha próxima vida, quero ser uma dj da hora do rush, como bill kinder da kscs-fm. Ele conversa com os fãs de segunda a sexta, coisa que eu não faço. Eles telefonam Centenas de vezes. Que barato! Fez parecer fácil executar uma dúzia de tarefas ao mesmo tempo. Jamais perdeu o ritmo, nem mesmo para responder às minhas perguntas. Se traduzi a tecnologia do rádio toda errada, não foi culpa dele. Alguns infelizes trabalham comigo diariamente. A minha agente, maria carvainis,
merece mais gratidão do que eu jamais seria capaz de expressar. O nome do meio de Amie gray devia ser britannica, pela eficiência com que verifica os fatos e compila informações sobre os tópicos mais estapafúrdios. Também quero agradecer a sharon hubler por todos os anos que organizou a minha vida. Sem ela, eu estaria muitas vezes no lugar errado, na hora errada, fazendo a coisa errada. Desejo muita felicidade na sua nova vida. E ao homem querido que vive comigo, michael, muito obrigada É o meu amor, sempre. Sandra brown 19 de abril de 2003